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INSTITUTO AVM
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO NO NÍVEL LATO SENSU DE GESTÃO EM
SEGURANÇA CORPORATIVA
CLEIDSON JOSÉ ROCHA VASCONCELOS
A PREPARAÇÃO DO AGENTE DE SEGURANÇA PRIVADA PARA O
ENFRENTAMENTO NO CONFRONTO ARMADO DA VIOLÊNCIA URBANA
Brasília
2012
2
CLEIDSON JOSÉ ROCHA VASCONCELOS
A PREPARAÇÃO DO AGENTE DE SEGURANÇA PRIVADA PARA O
ENFRENTAMENTO NO CONFRONTO ARMADO DA VIOLÊNCIA URBANA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Instituto A Vez do Mestre, como requisito
parcial para a obtenção do Grau de
Especialista em Segurança Corporativa.
.
Orientador: Jacinto Rodrigues Franco
Brasília
2012
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CLEIDSON JOSÉ ROCHA VASCONCELOS
A PREPARAÇÃO DO AGENTE DE SEGURANÇA PRIVADA PARA O
ENFRENTAMENTO NO CONFRONTO ARMADO DA VIOLÊNCIA URBANA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Instituto A Vez do Mestre, como requisito
parcial para a obtenção do Grau de
Especialista em Segurança Corporativa.
Aprovado em: ______/________________/______
COMISSÃO DE AVALIAÇÃO
_______________________________________________
– Presidente
__________________________________________________
– 1 Membro
_______________________________________________________
– Membro
4
À minha família e amigos, uma
homenagem como recompensa pela
execução deste trabalho diante da grandeza
de suas pessoas.
5
AGRADECIMENTOS
Ao meu Orientador Jacinto Rodrigues Franco meus sinceros agradecimentos pela
orientação firme e objetiva na realização deste trabalho.
Aos meus pais pelo amor com que me conceberam e educaram, pelas inúmeras horas
que velaram meu sono, e pelas palavras de incentivo a cada tropeço de minha jornada, minha
eterna gratidão.
A todos aqueles que direta ou indiretamente colaboraram para este projeto fosse
concluído.
6
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO..................................................................................................8
1.1 OBJETIVO ..........................................................................................................9
2 PROCESSO METODOLÓGICO ..................................................................10
3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS..........................11
3.1 A VIOLÊNCIA URBANA................................................................................11
3.1.1 Estatísticas Relevantes.....................................................................................11
3.1.2 Abrangência da Violência ..............................................................................13
3.2 O CONFRONTO URBANO E SEUS EFEITOS..............................................14
3.2.1 Generalidades...................................................................................................15
3.2.2 Efeitos Psicológicos do Combate Urbano.......................................................15
3.3 ANÁLISE DE RISCO.......................................................................................17
3.3.1 Percepção da ameaça.......................................................................................18
3.3.2 Reação................................................................................................................19
3.4 A PREPARÇÃO DO HOMEM PARA O COMBATE URBANO...................20
3.4.1 Aspectos gerais..................................................................................................20
3.4.2 Gradação do estado mental.............................................................................23
3.5 O TREINAMENTO DE TIRO PARA O CONFRONTO URBANO................24
3.5.1 A modernização do combate e as evoluções das técnicas de tiro...............24
3.5.2 A dinâmica do tiro de pistola e os treinos de tiro..........................................26
3.6 COMO A PREPARAÇÃO ADEQUADA PODERÁ CONTRIBUIR PARA O
SUCESSO DE UMA OPERAÇÃO REAL NOS PÓLOS DE VIOLÊNCIA....30
4 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES......................................................32
REFERENCIAS...............................................................................................35
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A PREPARAÇÃO DO AGENTE DE SEGURANÇA PRIVADA PARA O
ENFRENTAMENTO NO CONFRONTO ARMADO DA VIOLÊNCIA URBANA
Cleidson José Rocha Vasconcelos 1; Jacinto Rodrigues Franco
2
Resumo: A sociedade atual vive em um mundo cada vez mais violento e o Estado por diversos motivos não
consegue fornecer uma eficiente segurança aos povos modernos. Nesta conjuntura o mercado da segurança
privada cresceu consideravelmente, vindo a ocupar lacunas deixadas pelo governo, por isso que o profissional
desse sistema deverá estar preparado à altura do crescimento do setor. O profissional privado por estar inserido constantemente no meio da sociedade, labutando com valores das mais diversas espécies, não estará imune à
violência urbana, pelo contrário, estará sempre bem próxima dela, por esses motivos que deverão ser preparados
para saber evitar a violência, entretanto também deverão saber combatê-la quando necessário. Por muitas vezes
esses profissionais estarão armados, fazendo escolta de valores ou de pessoas, estarão protegendo um
estabelecimento comercial etc, sendo assim deverão ser possuidores de diversas técnicas avançadas de defesa e
proteção, deverão saber utilizar com perícia diversos tipos de armamento, contudo esta preparação não
acontecerá repentinamente e sim com muito esforço e adaptação das doutrinas adotadas nas diversas escolas de
formação desse tipo de profissional. É neste contexto que a legislação deverá estar atenta para contemplar os
profissionais não somente com aumento da carga horária, mas com treinamentos modernos, dinâmicos e
realistas que insiram o aluno na sensação de estar enfrentando a violência e ainda ter que cumprir a sua missão
que é proteger e o mais importante, aprender a sobreviver no meio da extrema violência social.
PALAVRAS-CHAVE: Violência urbana, técnicas avançadas de defesa e proteção, treinamentos modernos.
1 Bacharel em Ciências Militares – Departamento de Ensino e Cultura do Exército (DECEx) 2
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1. INTRODUÇÃO
A violência urbana é uma realidade que infelizmente se faz presente em todos os locais
do globo terrestre, claro que em proporções diferentes e peculiares de cada região. Esta
violência por vezes se torna letal vindo a vitimar diversas pessoas inocentes que muitas vezes
nada tem a ver com as falhas da estrutura social. Sabe-se que a violência letal urbana é
multifacetada, ou seja, é determinada por várias causas, tais como o grande efetivo
populacional nos centros urbanos, o desemprego, o incontrolável crescimento da natalidade, a
falência do sistema educacional, a lentidão da justiça, a impunidade o anacronismo da
legislação, o caos do sistema prisional, o desrespeito à autoridade e à pessoa humanas, entre
outras. Ela, como fenômeno social, sempre esteve ligada à incapacidade de controle e ou à
omissão do Estado.
Neste cenário que entra a necessidade da boa preparação segurança privado, justamente
para cobrir os espaços que o Estado deixou de proteger, sendo assim o vigilante, o segurança
de carro forte, o “guarda costas” etc, não poderá se dar ao desleixo de não se preparar
adequadamente, pois estará, de qualquer maneira, inserido no tecido social que por sua
própria natureza já é hostil e violento.
Dentro deste contexto, a eficiente preparação técnica profissional desses profissionais
se torna primordial e prioritária. Sendo assim, necessita-se um envolvimento estratégico
eficaz e inteligente para minimizar a violência que essas pessoas possam vir a sofrer e o mais
importante, minimizar os efeitos colaterais que uma ação de um profissional despreparado
possa causar na sociedade e em pessoas inocentes.
É muito importante que os profissionais privados entendam que não são policiais, mas
que estão cumprindo um serviço legalizado e amparado por legislações específicas e, portanto
se estão armados e fazendo escoltas ou vigiando uma grande empresa, muitas vezes serão a
única força para conter uma violência imediata. Se não forem eficazes, além de não cumprir
corretamente a missão a que se predispuseram, poderão ainda por em risco o patrimônio e a
vida de terceiros, além da sua própria vida.
No sentido de analisar os fatos se questiona:
A doutrina atual empregada pelas Escolas de Formação de Vigilantes está adequada
para a preparação do profissional em face da atual violência urbana?
No sentido de direcionar a pesquisa em pauta, foram formuladas diversas questões de
estudo que envolvem a problemática desta investigação, conforme listadas abaixo:
a) O que vem a ser a violência urbana?
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b) Quais as características do confronto urbano e seus efeitos?
c) Como preparar o homem para o combate urbano?
d) Como se fazer uma análise de riscos?
d) Como adequar a instrução de tiro para ser eficaz no enfrentamento armado?
O presente estudo pretende ampliar o conhecimento com relação a violência urbana e
maneiras de evitá-las antes de se tornar realmente um problema ou um enfrentamento armado
e ainda abordar os conhecimentos necessários para contê-la mesmo se já estiver se
transformado em um confronto armado. Tudo tendo como referência o que vem sendo
empregado por instituições que já observam a necessidade de um treinamento mais dinâmico
para seus profissionais.
Pretende-se, ainda, comprovar que somente um treinamento inteligente e que busque a
iniciativa do profissional poderá fazê-lo obter alguma vantagem em face de possíveis
oponentes fora da lei e mostrar que os treinamentos de tiro realizado por anos não mais
resistem a avanços técnicos e táticos, que elevem o potencial do conjunto homem-arma,
surgindo assim a necessidade de atualização das técnicas de tiro ensinadas nas escolas
especializadas.
Consequentemente, o presente estudo poderá servir de subsídio para adaptações no
padrão de treinamento e manutenção das escolas de segurança e estudos por parte dos
legisladores. Vindo a colaborar e facilitar o êxito de diversas outras ações futuras por parte
de sérios profissionais da segurança privada.
Dentro desse contexto, o presente trabalho desenvolver-se-á de uma forma escalonada.
Inicialmente será apresentado o ambiente operacional em que se insere o tema, suas
características, especificidades e influencias. Em seguida faz-se necessário caracterizar os
aspectos inerentes do confronto armado e logo após a preparação do Recurso Humano para o
enfrentamento. Serão abordados, ainda, os aspectos técnicos e táticos do emprego do
armamento; as doutrinas de tiro a serem utilizadas na preparação do homem. E, por último,
como foco principal, situar o ator do cenário (o profissional de segurança privado), no
contexto geral da violência contemporânea e analisar a importância da sua preparação.
1.1 OBJETIVO
O presente estudo pretende verificar como é preparado o profissional de segurança
privado e confrontar com as novas ideias doutrinárias, que visam desenvolver atributos
10
importantes no profissional fazendo com que os mesmos se antecipem aos problemas e
possam combatê-los se necessário. A fim de viabilizar a consecução do objetivo geral de
estudo, foram formulados objetivos específicos, de forma a encadear logicamente o raciocínio
descritivo apresentado neste estudo.
a. Descrever as características da violência urbana;
b. Descrever sobre o confronto urbano e os efeitos psicológicos causados nos
operadores desse ambiente;
c. Abordar sobre a preparação do homem para o enfrentamento armado;
d. Descrever sobre avaliação de riscos;
e. Explicar sobre o treinamento de tiro para enfrentar a violência; e
f. Explicar concluindo como a preparação adequada e adaptada para a realidade
profissional, poderá contribuir para o sucesso de uma operação real nos pólos de violência.
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Quanto à natureza, o presente estudo utiliza o conceito de Pesquisa Aplicada, que
objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigida à solução de problemas
específicos. Quanto ao método de abordagem que esclarece acerca dos procedimentos lógicos
seguidos nesta investigação científica, e que viabilizarão a tomada de decisões sobre o
alcance da investigação, das regras de explicação dos fatos e da validade de suas
generalizações, o presente estudo enquadra-se no método indutivo.
Os aspectos doutrinários quando se estabelece padrões de preparação e treinamentos, se
baseiam em experiência de profissionais que trabalham na segurança pública e privada e
também em treinamentos realizados por escolas de tiro e segurança no Brasil e no Exterior,
onde se procurou conflitar o que já se tinha escrito a respeito do assunto. Também se
observou doutrinas policiais que foram adapdatas para a atividade segurança privada e em
diversos confrontos no cenário da violência.
Tratou-se de um estudo bibliográfico que, para sua consecução, teve por método a
leitura exploratória e seletiva do material de pesquisa. A pesquisa bibliográfica utilizou as
seguintes técnicas: levantamento da bibliografia; seleção da bibliografia; leitura analítica da
bibliografia selecionada.
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3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A seguir serão abordados os principais conceitos necessários à contextualização do
tema em estudo quais sejam: A Violência urbana, o confronto urbano e seus efeitos, a análise
de riscos, a preparação para do homem para o combate urbano, o treinamento de tiro para o
combate urbano, bem como contribuições, da inteligente preparação profissional do
segurança privado.
3.1 A VIOLÊNCIA URBANA
A violência se transforma a cada dia, por diversos motivos ele cresce vertiginosamente
nas diversas regiões do Brasil. Aspectos culturais, políticos e socioeconômicos são fatores
que contribuem sensivelmente para a explosão de diversos problemas conjunturais que
desenvolvem diversas manifestações de violência regional. O Crescimento da criminalidade
também eleva os sintomas de violência na sociedade e isto ocorre principalmente pelo uso
indevido de armamentos pesados.
As principais causas do aumento do tráfico de armas no Brasil são o crescimento da
criminalidade com a expansão das atividades das organizações criminosas; a permeabilidade
dos quase 16.000 ( dezesseis mil) Km de fronteiras terrestres, com grande parte em linha
seca e com inúmeros locais de passagem para os países vizinhos; o litoral extenso com cerca
de 7.400 (sete mil e quatrocentos) Km e sem guarda costeira; a proximidade com países que
facilitam a importação de armas; e o atrativo de lucro certo elevado. O problema é agravado
pelo deficiente sistema de proteção e vigilância da fronteira, em particular na região
Amazônica, onde existem numerosos campos de pouso clandestinos e farta malha
hidroviária. A tudo isso se soma as aéreas de pobreza sem oferta de trabalho, a fiscalização
ineficaz, a corrupção, a impunidade e o fraco aparato dos órgãos de segurança pública.
(FILHO, 2004, p. 83).
3.1.1 Estatísticas Relevantes
O aumento das taxas violência está diretamente relacionado ao crescimento urbano
acelerado, ou seja, apresenta-se um substancial crescimento da criminalidade, exatamente às
capitais e às regiões metropolitanas que apresentam urbanização acelerada, alta concentração
de moradores nos bairros periféricos, com desigualdade social acentuada e má distribuição de
12
renda. Geralmente estes bairros não possuem infraestrutura básica, ocorre ausência de
serviços públicos e falta de acesso para a justiça, dando espaço para grupos organizados se
estruturarem, enfraquecendo o poder do estado e impondo as suas regras e diretrizes.
Normalmente as atividades desenvolvidas nessas áreas são financiadas pelo dinheiro ilícito de
roubos e tráfico de drogas.
A violência letal (violência no seu grau extremo) é uma realidade nacional, assim como
os homicídios são efeitos do crescimento populacional das cidades brasileiras e diretamente
ligados ao congelamento econômico, responsável por criar um quadro de retração social,
principalmente para os jovens, pois os mesmos deixam de se inserirem no mercado formal de
trabalho aumentando consideravelmente a queda de expectativa, restando apenas a procura
por ações criminosas para poderem usufruir de algum tipo ponderável de riqueza.
Apesar dos problemas citados, existem dados que comprovam que o Governo e a
sociedade não ficaram e não estão de braços cruzados em relação aos graves problemas da
segurança pública, entretanto os dados também indicam que o país ainda se encontra em uma
situação de equilíbrio instável, aonde por diversas vezes ocorre a “interiorização da
violência”, ou seja, a violência migra dos grandes centros para outras áreas menores em
cidades do interior e ainda se espalha pelas grandes cidades em bairros com deficiências
generalizadas em infraestrutura e segurança.
No histórico de 30 anos que atualmente disponibiliza o Sistema de Informações de
Mortalidade do Ministério da Saúde consta que o Brasil passou de 13.910 homicídios em
1980 para 49.932 em 2010, um aumento de 259% equivalente a 4,4% de crescimento ao ano,
mas segundo os censos nacionais a população do país, também cresceu, embora de forma
bem menos intensa. Passou de 119,0 para 190,7 milhões de habitantes, crescimento de
60,3%.
Considerando a população, passamos de 11,7 homicídios em 100 mil habitantes em
1980 para 26,2 em 2010. Um aumento real de 124% no período ou 2,7% ao ano que faz com
que no total desses 30 anos o país já ultrapassou a casa de um milhão de vítimas de
homicídio.
Infelizmente a média anual de mortes por homicídio no país supera, e em casos de
forma avassaladora, o número de vítimas em muitos e conhecidos enfrentamentos armados
no mundo.
Júlio Jacob Waiselfisz, no seu relatório denominado “Mapa da Violência 2012 – Os
Novos Padrões da Violência Homicida no Brasil” aborda sobre o citado acima ao explicar o
Relatório sobre o Peso Mundial da Violência Armada (Geneva Declaration Secretariat.
13
Global Burden of Armed Violence. Suíça, 2008) que tomou como base fontes considerada
altamente confiável. Diz que o Relatório constrói o quadro de mortes diretas em um total de
62 conflitos armados no mundo, registrados entre 2004 e 2007 e conclui que nos 12 maiores
conflitos, que representam 81,4% do total de mortes diretas, nos 4 anos foram vitimadas
169.574 pessoas. Nesses mesmos 4 anos, no total dos 62 conflitos, morrem 208.349 pessoas.
No Brasil, país sem disputas territoriais, movimentos emancipatórios, guerras civis,
enfrentamentos religiosos, raciais ou étnicos, morreram mais pessoas (192.804) vítimas de
homicídio, que nos 12 maiores conflitos armados no mundo. Mais ainda, esse número de
homicídios se encontra bem perto das mortes no total dos 62 conflitos armados registrados
nesse relatório.
Os dados supracitados poderão dar a impressão que estão relacionados diretos as
dimensões continentais do Brasil, porém seria errado pensar assim pois países com número
de habitantes semelhante ao do Brasil, como Paquistão, com 185 milhões habitantes, têm
números e taxas bem menores que os nossos. E nem falar da Índia, também elencada, com
mais de 1 Bilhão de habitantes.
3.1.2 Abrangência da violência
A violência aqui relacionada ocorre quando, em situação de interação, um ou vários
atores agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando dano em uma ou mais
pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física, seja em sua integridade moral, em
suas posses, ou em suas participações simbólicas e culturais (MICHAUD, 1989), porém a
morte revela a violência levada ao seu grau extremo. Já criminalidade engloba todas as ações
criminosas que envolvem violência ou não mas que trazem conseqüências inesquecíveis para
os atores que dela participam.
A criminalidade e a violência são parceiras, pois se a violência não se apresenta
fisicamente, provavelmente se apresentará de forma moral, tornando necessário que os
atingidos ou potenciais vítimas, sempre tomem medidas proativas e preventivas, muitas vezes
corretivas, por já terem sido vítimas de algum tipo de violência, causada pelo
desenvolvimento e aprimoramento da criminalidade.
A maioria dos estudos recentes sobre violência tem-se concentrado nas áreas urbanas
pelo fato das grandes questões sociais estarem localizadas principalmente nas grandes
cidades, mesmo com o fenômeno da interiorização. Segundo Dubet (1995), o espaço urbano
aparece como sintonia, símbolo, representação “da civilização das barbáries modernas”.
14
A manifestação de violência letal ou não também ocorre por diversos fatores sociais que nada
parecem ter em comum com a criminalidade cotidiana, mas que aumenta em muito as tristes
estatísticas sobre o tema. Sérgio Adorno explica, por meio do Dossiê – Exclusão
socioeconômica e violência urbana (2002) que estas manifestações ocorrem por tensões nas
relações intersubjetivas que se trata de um infindável número de situações, em geral
envolvendo conflito entre pessoas conhecidas, cujo desfecho acaba, muitas vezes até
acidental e inesperadamente, na morte de um dos contendores. Compreendem conflitos entre
companheiros e suas companheiras, entre parentes, entre vizinhos, entre amigos, entre
colegas de trabalho, entre conhecidos que freqüentam o mesmo espaço de lazer, entre pessoas
que cruzam diariamente as vias públicas, entre patrões e empregados, entre comerciantes e
seus clientes. Resultam em não poucas circunstâncias, de desentendimentos variados a cerca
da posse ou propriedade de algum bem, acerca das paixões não correspondidas, a cerca de
compromissos não saldados. No mais das vezes revelam quanto o tecido social encontra-se
sensível a tensões e confrontos que, no passado, não pareciam convergir tão abruptamente
para um desfecho fatal.
Pode-se entender que houve mudanças na sociedade e nos padrões convencionais de
delinqüência e violência e em particular nos últimos cinqüenta anos. Novas formas de
acumulação de capital e de concentração industrial e tecnológico; mutações substantivas no
processo de trabalho; transbordamento das fronteiras do Estado-Nação, promovendo
acentuada mutação nas relações de indivíduos entre si, dos indivíduos com o Estado e entre
diferentes Estados, são fatores que repercutem também no domínio do crime, da violência e
dos direitos humanos. Na atualidade, cada vez mais, o crime organizado opera segundo
moldes empresariais e com bases transnacionais. Os sintomas mais visíveis da atual onda de
violência compreendem o uso de violência excessiva mediante o uso de potentes armas de
fogo, corrupção de agentes do poder público, desorganizando as formas convencionais de
controle social, em uma onda de disseminação agrava-se o cenário das graves violações aos
direitos humanos.
3.2 O CONFRONTO URBANO E SEUS EFEITOS
3.2.1 Generalidades
Geralmente neste tipo de combate as atividades de confronto ocorrem a reduzidas
15
distâncias entre os oponentes. Sendo assim o tempo de reação se torna muito curto,
valorizando sempre o condicionamento adquirido nos treinamentos. Além do pouco tempo
ainda pode-se encontrar pessoas inocentes circulando pelas ruas e ainda pequenos ambientes
com pouco espaço para combater
As pequenas distâncias também tornam o combate muito mais pessoal, quase que
particular. E isto tem um efeito devastador sobre o nível de estresse do combatente. O perigo
de morte espreita a todo o momento, elevando o grau de atenção ao máximo e
conseqüentemente acelerando o desgaste mental e físico. (MARCELO AUGUSTO, 2011).
Começa então a surgir o medo da morte e os efeitos do estresse se manifestam no
atirador, podendo se tornar seu maior inimigo. Por isso é muito importante ao profissional de
segurança entender os efeitos psicológicos para poder controlá-los e conseguir continuar na
ação proposta.
3.2.2 Efeitos Psicológicos do Combate Urbano
De acordo com Alexandre Flecha o ser humano em situação de estresse, tende a perder
o seu raciocínio intelectual, trabalhando apenas com seu raciocínio intuitivo ou por meio de
seu condicionamento psicomotora. Assim o seu conhecimento de quando atirar fica
prejudicado.
Situações como essas podem gerar conseqüências irremediáveis, como alvejar pessoas
inocentes ou se deixar ser alvejado.
Storani (2000, p. 8) explica que ao sofrer uma situação de estresse físico e emocional, o
indivíduo desencadeia em seu organismo um conjunto de reações que se denomina Reação de
Alarme do Sistema Nervoso Simpático. Esta reação é a resposta ao organismo se preparando
para sobreviver à situação de perigo, decidindo se ele fica e luta ou se foge razão pela qual
também recebe a denominação de Reação de Fuga e Luta.
Oliveira, Gomes e Flores (2001, p. 288) descrevem em detalhes, na obra Tiro de
Combate Policial – Uma Abordagem Técnica, a reação do organismo em situação de estresse
e quando se teme perder a vida:
O cérebro manda o resultado de sua analise para o hipotálamo, glândula que controla as
atividades mais importantes do organismo, e este envia comandos à hipófise, glândula e funções
múltiplas, situada no crânio. A hipófise libera substâncias químicas para a glândula
suprarenal,que, por sua vez, joga adrenalina, noradrenalina, cortisona e outras substancias ativas
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no sangue. Começam, a seguir as reações de defesa: o coração acelera, a pressão sobe, os
músculos se contraem, tudo em questão de segundos (...)
O policial utiliza sua arma, sempre, sob circusntâcias de grande estresse, originado pelo real
temor em perder a vida. Este temor causa uma serie de efeitos sobe seu organismo. Inicialmente,
há a chamada reação de alarme, quando a mente, através de um ou mais sentidos, percebe a
existência do perigo, desencadeando uma reação imediata no metabolismo. A pressão arterial
aumenta, o pulso acelera, a concentração se intensifica, a respiração acelera e se torna ofegante, a
adrenalina é secretada em grande quantidade pelas glândulas supra-renais, diretamente na
circulação sanguínea. O sangue é desviado para os grandes músculos prejudicando a irrigação
para o cérebro, em consequência, a interferência no raciocínio lógico, e o corpo se preparam para
reagir à fonte de perigo, e para, em ultima instancia, sobreviver.
Em situações assim a adrenalina é lançada na corrente sanguínea, buscando
instintivamente aumentar a força física do indivíduo, seu rendimento e diminuir a sensação de
dor, necessita-se de técnicas especiais para superar os problemas destas reações de
sobrevivência.
Os mesmos autores (p. 288), assim dissertam sobre os efeitos da adrenalina e da sua
potencialidade a favor do atirador:
À medida que a adrenalina circula no organismo, o corpo se prepara para um esforço muito
grande. Esta mesma adrenalina é a que faz o organismo suportar disparos de munições potentes,
em locais onde a incapacitarão seria, normalmente imediata. Faz também pessoas comuns capazes
de feitos surpreendentes, como erguer um automóvel a fim de salvar alguém muito próximo. A
visão e a audição, também, tornam – se, frequentemente, em túnel, ou seja, consegue-se apenas
ver e ouvir o que imediatamente esta à frente fixa no foco da atenção e a representação do perigo,
prejudicando a visão e audição periférica. O instinto de sobreviver leva o homem a concentrar
todos os esforços no chamado “reflexo de luta ou fuga”, preparando-se par o memento do
confronto.
O profissional de segurança que precisa usar a sua arma para se defender ou defender
outra pessoa, poderá passar pelas diversas influências dos efeitos citados acima, além de na
ocasião de ter que realmente usar a arma, ficar em dúvida a partir dos efeitos psicológicos,
com a criação de diversos bloqueios para a tomada de uma decisão, tais como o medo de
responder um processo judicial pela ação, a decisão de ter que tirar a vida de alguém,
principalmente se for a primeira vez e ainda poderá desenvolver bloqueios de ordem
ideológicas ou religiosas.
17
Tendo a possibilidade de participar destes diversos cenários, o tiro do segurança
privado também poderá tecnicamente ser gravemente comprometido, poderá haver
contrações musculares que desviarão os disparos. Marcelo Augusto (2011) explica que nessas
situações será nítido o aumento de gatilhadas (puxada violentas no gatilho fazendo com que
os disparos sejam perdidos). Por isso faz-se de extrema importância a execução das técnicas
de disparo rápidos
O surgimento da “visão em túnel” e da “exclusão auditiva” também são características
sempre presentes nos momentos de elevada tensão. A primeira se caracteriza por só
enxergarmos o inimigo, excluindo do registro mental tudo o que acontece à nossa volta. É
diferente do termo “túnel de tiro”, utilizado para designar setores de tiro estreitos, também
chamados de seteiras, que são mais freqüentes em áreas edificadas. A segunda impede que
ouçamos um grito de alerta ou uma ordem, por exemplo, pois só temos ouvido para o
oponente à nossa frente. Aprender a disparar e acertar com os dois olhos abertos diminui a
zona cega de onde pode surgir alguma ameaça letal. Treinamentos de situações de estresse
desenvolvem a capacidade de continuar agindo de forma racional e minimizam os efeitos
negativos da adrenalina, mas nenhum treinamento simula a sensação de que você está sendo
atacado mortalmente. (MARCELO AUGUSTO 2011).
Os efeitos e consequências diretas da reação de alarme sobre atiradores são estudados
por diversos especialistas, justamente por serem determinantes para um sucesso ou uma
derrota no enfrentamento. Massad Ayoob, uma das maiores autoridades no assunto de
combate tático com armas em todo o mundo, escreveu em sua obra “Stressfire” em 1986, que
nesses casos é normal o aumento da frequência respiratória, podendo levar à hiperventilação
e consequente vertigem, ainda levar o tremor e entorpecimento nas extremidades do corpo;
aumento limiar da dor, provocando analgesia corporal; limitação da audição e ângulo de
visão; perda da destreza com a arma de fogo; e perda da noção de espaço de tempo.
Com a explicação de Ayoob corroborada com todos os estudos supracitados, percebe-se
que em um enfrentamento, muito mais do que estar atualizado nas doutrinas atuais de
combate, o profissional deverá estar também preparado psicologicamente e saber utilizar os
fatores psicológicos a seu favor ao invés de ser controlado por eles, além de, ainda, também
estar consciente das consequências advindas de um ou vários disparos oriundo de sua arma.
3.3 ANÁLISE DE RISCO
O marginal escolhe suas vítimas pesando quais serão os riscos em comparação aos
18
benefícios que serão alcançados. A escolha da vítima envolve levantar informações e planejar
a ação criminosa, é neste ponto que a maior parte das pessoas tem a opção de se tornar um
alvo mais difícil. Antes de pensar em reagir em uma situação de confronto, devemos mudar
nossos hábitos de vida e começar a adotar pequenas regras no dia-a-dia para diminuir o risco
de nos tornarmos vítimas. A proteção contra a violência deve ser uma estrutura sólida que
trabalha em diferentes níveis para consolidar uma segurança plena. Muitas pessoas temem a
violência, mas não devemos ser dominados por este medo. Quando tememos em excesso
transformamos o medo em paranóia
3.3.1 Percepção da ameaça
Certamente, para qualquer cidadão ou profissional da segurança, conhecer e acreditar
que uma determinada pessoa representa uma ameaça é uma tarefa muito difícil, mas que
poderá ser realizada com segurança e com sucesso se for observadas algumas informações
importantes que a própria leitura corporal do indivíduo nos transmitirá em forma de “sinais” a
serem interpretados e que possivelmente nos mostrará as atitudes que a pessoa irá tomar.
O marginal procura comparar os riscos e os benefícios que terá se agir. A primeira
etapa é o levantamento para a ação criminosa, em que há a escolha da vítima. Neste momento
há diversos indicadores que chamam a atenção e que devem ser percebidos. Analisaremos os
indicadores mais claros à percepção do homem.
Roupa – Dependendo do clima da região, será muito simples suspeitar de uma pessoa
que, por exemplo, usa um casaco de frio em uma cidade muito quente, pois poderá estar com
a vestimenta para camuflar uma arma ou coisa do gênero, além de bonés cobrindo causando
sombras e cobrindo a face do rosto, significa que o individuo propositalmente esta se
escondendo por estar planejando uma ação criminosa ou mesmo por já tê- la executado.
Acessórios – O uso de acessórios em situações desnecessárias, como bolsas que podem
ocultar armas, luvas em lugares quentes, jornais etc.
Posicionamento – O marginal sempre ocupará posições que possa obter vantagem
sobre a vítima, então se deve suspeitar de pessoas próximo a portas de banco, pedindo
esmola, no meio de um cruzamento movimentado sem ter motivo para permanecer uma
pessoa por ali, por exemplo.
Movimentação – Sempre deverá ser observado os olhos e mãos de suspeitos, pois estes
costumam se comunicar por sinais e olhares para membros da sua gangue, manusear rádios
de tipo Walk Talk, celulares, armas brancas, armas de fogo etc.
19
Porte Físico – Também deverá ser levado em consideração, pois bandidos com porte
avantajados tendem a menosprezar vítimas mais franzinas.
Além dos indicadores citados acima, vários estudos já abordaram sobre os efeitos de
tensão que pessoas sofrem antes de cometer uma ação hostil e criminosa, esses sinais são
desencadeados quase sempre em conjuntos com outros sinais se ansiedade e tensão, são eles:
Face avermelhada, boca semiaberta, dentes cerrados, respiração rápida, movimentos
repetitivos, muitas vezes exagerados, fechar punho, estalar dedos e articulações, colocar mãos
atrás da cabeça ou do pescoço, vários tiques nervosos e olhar fixamente ou encarar sem
conseguir discrição.
Pode-se observar que uma ameaça poderá estar se mostrando às vítimas de forma
indireta, cabe estar atento e procurar sem nenhuma atitude paranoica desvendar sempre que
possível sinais como esses, interpretá-los dentro de um contexto real e sem dúvida alguma
ficar sempre em condições de reagir se for a única saída.
3.3.2 Reação
Reagir com sucesso depende de vários fatores. Os animais em situações de perigo
preparam o seu corpo para fugir ou lutar. O ser humano em sua complexidade tem muitas
outras saídas. A reação em geral é dividida em reação passiva e reação ativa.
(NAKAYAMA).
A reação ativa se divide em reação letal e não letal, a reação não letal é aquela que
visa preservar a integridade física do agressor, com técnicas e equipamentos apropriados,
seguindo os modernos preceitos adotados ao redor do mundo em relação ao uso da força,
podendo até ser aplicada por profissionais de segurança ou policias, que provavelmente
estarão equipados com equipamentos para tal fim, também poderão ser usadas por cidadão
habilitados para isso. O uso da arma de fogo, mesmo não tendo o objetivo de matar será
considerado como reação letal. Para que um profissional da segurança privada possa realizar
uma ação letal terá que primeiramente possuir uma arma de fogo, deverá analisar a ameaça e
não apenas empregar deliberadamente o seu armamento, pois nem sempre mesmo estando
portando uma arma, esta deverá ser empregada diante de uma ameaça. Deverá ainda observar
o lugar em que se encontra se, por exemplo, possui aglomeração de pessoas, se possui abrigos
de fogos etc. Por fim avaliar se está realmente preparado para se defender ou defender
alguém tirando a vida de outra pessoa e se essa é realmente a melhor maneira.
20
Para reagir deve-se primeiro entender a Intenção do marginal, ao mesmo tempo
analisar seu comportamento e executar uma breve avaliação de risco. Esses itens são
medidas fundamentais para a sobrevivência.
A análise do comportamento deverá ser feita por intermédio de “leituras” do indivíduo.
Deverá ser feita a leitura dos sinais verbais e não verbais do marginal. Um indivíduo drogado,
bêbado ou com nervosismo excessivo, pode mesmo por descuido, acidente, ou imperícia
matar a vítima. Se forem demonstrados sinais semelhantes pelo marginal, maior será a
necessidade de uma possível reação.
Entende-se por avaliação de risco, um estudo rápido, dinâmico e objetivo, em que se
coloca em questão a nossa capacidade de reação em relação ao inimigo, vindo a ponderar a
distancia que nos encontramos o equipamento e armas que utilizamos tudo em comparação
com as possibilidades do inimigo. Sendo assim, se houver uma correta prevenção, mesmo
assim percebemos a provável ameaça e tivermos que reagir que o façamos, porém somente
após uma correta avaliação de risco que nos propicie uma vantagem competitiva diante do
meliante, para isso devermos ter treinado várias técnicas evoluídas, dinâmicas e coerentes
com as novas formas da violência urbana.
3.4 A PREPARAÇÃO DO HOMEM PARA O COMBATE URBANO
3.4.1 Aspectos gerais
O homem é de fundamental importância em qualquer sistema de segurança e proteção,
não adianta se ter bons equipamentos se não existir bons módulos de instrução e técnicas de
ensino com metodologias dinâmicas com táticas eficientes. “A tática é – sempre foi e deve
ser, pelo menos - a arte, a ciência de fazer os homens combaterem com seu máximo de
energia, máximo que somente pode dar a organização contraposta ao medo” (ARDANT DU
PICQ).
O combate urbano apresenta suas características peculiares de dificuldades das mais
diversas, em um confronto desse tipo, por muitas vezes, estaremos sozinhos tendo que
incapacitar um agressor ou mesmo em um aglomerado de pessoas e mesmo assim teremos
que nos defendermos e a terceiros sem por em risco a vida de outras pessoas, mas
independente do cenário, temos que estar conscientes da decisão de reagir a uma ação
criminosa e por consequência atingir alguém com um disparo de arma de fogo, por muitas
vezes, vindo a tirar a vida da mesma. Somente com essa probabilidade e com o sentimento
21
do risco da morte, já encontraremos diversos fatores psicológicos nos influenciando nas
atitudes que tomamos. Entretanto deveremos estar preparados tecnicamente e
psicologicamente para enfrentar os efeitos vindos por intermédio do medo e do estresse. Essa
preparação não acontecerá de uma hora para outra, mas sim através de diversos trabalhos
psicológicos e estudos técnicos e táticos sobre o assunto, incrementado com treinamentos
práticos que simulem situações reais, em que se possam desenvolver todas as influências do
estresse na simulação de combate.
Qual a sensação se estar na frente de um indivíduo armado disposto, não a intimidá-lo,
mas a matá-lo? Imagine a possibilidade de um ou vários disparos chegar a seus ouvidos, além
de gritaria, medo e terror por todos os lados. Muitos de nós nunca passamos por uma
situação real em que se coloca a prova nossa capacidade de superar nossos medos e colocar
em prática o que aprendemos. Geralmente não vivemos com perigo de vida iminente, mesmo
os policiais por diversas vezes tem dias tranquilos com ocorrências rotineiras e simples de se
resolver, porém se em algum momento acontece algo que coloca as nossas vidas em perigo, a
imprevisibilidade de nossas reações dita se iremos viver ou morrer.
Em um combate os ferimentos são reais, muitas vezes sérios e podem demandar
grandes cuidados médicos posteriores. Além disto, mesmo pequenos ferimentos podem levar
a incapacitação parcial ou total. É fato que um simples tiro de raspão pode afetar nossa
concentração, nossa confiança e nosso espírito de luta, além de incapacitar certos
movimentos. Muitas pessoas chegam a apresentar hipotensão ao verem sangue. Algumas
chegam até a desmaiar ou vomitar. (NAKAYAMA).
O Coronel da Policia Militar do Estado de São Paulo, Nilson Giraldi, pela sua
experiência nas ruas violentas, descreve da seguinte maneira um confronto armado:
Os fatos, com a morte presente, desenrolam-se com extrema rapidez, dramaticamente e com as
situações se alternando a cada segundo, quase sempre com gritos, correrias, barulhos, pessoas
desesperadas e em pânico, às vezes feridas e até morrendo. É assustador! O agressor, com
iniciativa e fator surpresa ao seu lado, atuando totalmente fora da lei e, normalmente, não dando a
mínima importância à vida de terceiros, movimentando-se com rapidez, dispara sem qualquer
raciocínio, esconde-se, coloca-se de tocaia. O final é imprevisível. (Tiro Defensivo na Preservação
da Vida – MÉTODO GIRALDI, p 11).
O controle da dor é essencial, assim como a tranquilidade para lidar com sangue e
ferimentos, tanto próprio como dos oponentes, além disso, é preciso estar preparado
22
psiquicamente, pois as cenas e os sons em um contexto de luta real diferem muito daqueles
presenciados nos treinos, por mais realistas que estes possam ser.
Nakayma explica que nos treinos, quando recebemos um golpe fatal ou quando
estamos acuados ou se nos ferimos, damos uma pausa e depois continuamos. Este é um
hábito que pode criar condicionamentos desfavoráveis, fatais num combate real (no qual,
mesmo com grande desvantagem ou feridos, não podemos simplesmente “jogar a toalha”). O
comedimento e o respeito frente ao nosso colega de treinamento também podem limitar nosso
condicionamento, pois moldam nossa atitude. Numa luta real podemos desviar a atenção do
adversário com atitudes, gestos ou palavras por tempo necessário para que se desfira um
golpe fatal. Deve-se lembrar de que para sobreviver não há regras. O domínio do emocional
do oponente pode estar em nossas palavras, assim como sua forma de lutar (com mais ou
menos precaução). Intimidá-lo, induzi-lo a erros, enganá-lo pode ser uma forma de vencê-lo.
O controle emocional é de fundamental importância em um confronto, pois como os
seus gestos e atitudes poderão influenciar no estado emocional do oponente, os dele em
relação a você também poderá lhe influenciar. Tente ficar sempre no controle da situação sem
muita manifestação emocional. Também nunca tente bancar o herói subestimando o oponente
por mais fraco que o mesmo pareça ser. É muito importante saber quando atacar, quando
fugir e quando se defender.
A habilidade motora e o ritmo cardíaco, sem dúvidas serão comprometidos
drasticamente no combate e manifestará vários efeitos. Deverá se buscado pelos profissionais
modernos uma resposta motora adequada, a fim de se evitar erros e se evitar o que se chama
de “Stray Shoot” as “balas perdidas” e decisões equivocadas.
Ayoob (1986) aborda sobre o importante tema ao transcrever uma entrevista com um
policial americano ferido em um confronto armado:
“-Não entendo o que aconteceu, consegui nos treinos de qualificação ótimos resultados atirando a
oito metros, porém errei um ladrão a dois metros que acabou me atingindo com um tiro ”
Assim como já citado, entende-se que somente uma preparação psicológica adequada
com treinamentos repetitivos, intensivos e próximos da realidade que levem a um
desenvolvimento da memória muscular e à automatização dos reflexos, ajudará a aumentar
um pouco a mobilidade nas faixas de batimentos cardíacos altíssimas, vindo a levar o
atirador a um provável sucesso em suas ações. Por todas essas necessidades, surge a
necessidade dos treinamentos avançados e modernos de técnicas de tiro.
23
3.4.2 Gradação do Estado mental
Para a obtenção de uma boa percepção, deve-se buscar sempre que portando uma arma
na cintura estar alerta. O Nível de Alerta que a pessoa se encontra no momento da ameaça é
fator fundamental para o sucesso de uma ação defensiva, assim como o bom conhecimento do
material, equipamento e da arma usada. Também chamado de concentração ou gradação de
estado mental, esses níveis de alerta são entendidos como o grau de atenção dispensada por
uma pessoa armada e preparada a reagir em situações críticas. Em uma escala de 0 a 4 se
descreve os níveis de alerta do seguinte modo:
Nível 0 – É o estado de atenção em que as pessoas se encontram diariamente,
geralmente dispersas e desligadas. È uma atitude normal e não combatente em que não se
espera problemas. Nesta situação poderão tornar-se vítimas fáceis dos agressores e não é
recomendada a reação sob o risco de serem gravemente feridas ou mortas pelo agressor. Para
um profissional de segurança que pretende portar uma arma nunca deverá fazer quando se
encontrar neste nível.
Nível 1 – Este nível de alerta é o próximo do ideal para todo usuário de uma arma de
fogo. Nesta condição, não esperamos quaisquer atos hostis, mas estamos conscientes de que
atos hostis são possíveis, consequentemente ficaremos atento aos acontecimentos
relacionados a por exemplo, trânsito, pessoas a nossa volta. Conseguimos não nos distrair
demasiadamente, sendo assim muitas situações de perigo poderão ser evitadas previamente,
sem a necessidade do emprego da arma.
Nível 2 – Nesta situação, geralmente a pessoa já procura identificar potenciais ameaças
e várias situações de perigo. Seria o nível ideal para um profissional portador de uma arma
de fogo, porém é muito desgastante. Neste nível temos situações táticas em mente e
consideramos os acontecimentos que podem surgir que justifiquem o uso letal de nossas
armas. Ainda, se exige, neste nível constante observação e atenção. Para evitar desgaste do
sistema nervo este nível deve ser atingido e mantido por curtos períodos de tempo,
geralmente quando transportando valores ou em locais desconhecidos.
Nível 3 – Neste nível, considerado a preparação para o estado de alerta mais alto,
caracteriza-se por uma situação iminente e clara, porém ainda não em curso. Toda a atenção
do agressor deverá ser canalizada para as atitudes do agressor sem que se perca o que ocorre
ao redor. Salientando que assaltantes não costumam agir sozinhos.
24
Nível 4 – Este é o estado mais alto de alerta. Trata-se de uma atitude de combate, de
defesa ou de ataque. Neste nível nada mais resta ao usuário do que responder à uma agressão
em curso com sua arma, procurando agir da forma mais estudada e controlada possível. A sua
arma deverá estar pronta, carregada e em mãos e já se justifica o uso da força letal.
Para se obter sucesso e se manter nos níveis de alerta necessários, é muito importante
um treinamento constante e uma antecipada conscientização e estudo de como empregar uma
arma de fogo em diversas situações.
3.5 O TREINAMENTO DE TIRO PARA O CONFRONTO URBANO
Nos conflitos da última década do século passado, com as novas regras e cobranças
referentes a efeitos colaterais dos combates, mortes de não combatentes e opinião pública é
que os combates no interior de localidades começaram a sofrer mudanças significativas. Hoje
é preciso neutralizar o inimigo mais rapidamente e a curtas distâncias, mas, com técnicas e
táticas para fazer isto, evitando causar baixas de civis e/ou dano desnecessárias à localidade.
(MARCELO AUGUSTO, 2011).
3.5.1 A modernização do combate e a evolução das técnicas de tiro
No século passado, nas grandes guerras, as cidades eram invadidas, mas somente após
imensos bombardeios realizados pela artilharia e pela aviação, geralmente não restavam nelas
muitos inimigos. Como o armamento na 1ª Guerra mundial era em sua maioria de repetição o
ritmo de combate era lento e os combatentes se mantinham distantes em lados opostos um
dos outros. Os armamentos se modernizaram e já na 2ª Guerra mundial houve uma relativa
aceleração no modo de combater devido à adoção de armas semiautomáticas e automáticas.
Na ocasião o combate começou a aproximar os oponentes pela necessidade mais avançada de
guerrear, porém ainda ocorria em campos de batalhas e os combates urbanos ainda se davam
em áreas fracamente habitadas e já esvaziadas, após terem sido bombardeadas por completo .
No Brasil o Exército foi que introduziu o esporte e a instrução de tiro e muita
instituição policial, ainda mantém a doutrina de tiro de combate, onde o objetivo é
exterminar e destruir o inimigo o aniquilando da batalha. A consequência é que muitos
policiais formadas por essas doutrinas ainda militares, disseminam esse conhecimento por
escolas e clubes de tiros, traçando assim um perfil de aprendizagem relativamente
ultrapassado para os tempos atuais e principalmente para o combate urbano moderno .
25
O Oficial da PM do estado do Goiás, Alexandre Flecha Campos, manifesta em um
artigo científico de sua autoria a seguinte opinião sobre a doutrina de tiro das forças policias
no Brasil:
Como podemos verificar, durante o período do regime militar as Polícias Militares do Brasil
receberam uma influência direta das Forças Armadas, e no que tange ao treinamento, este foi
voltado para a perspectiva militar – Tiro de Combate – com enfoque na eliminação do inimigo,
conforme a doutrina militar do Exército. Foi assim que, a partir daí, formou-se uma cultura de treinamento para os policiais militares aos moldes do Exército, através de gerações de instrutores
até que, com o advento da Constituição de 1988, que reforçou uma série de direitos, incluindo os
contemplados na Declaração de Direitos Humanos,iniciou-se uma busca, mesmo que lenta, porém
contínua, da adequação dos treinamentos específicos de armamento e tiro. Desta feita, com uma
conotação policial voltada às questões atuais de segurança pública que procura romper com a
Doutrina de Segurança Nacional, à luz de Lei e respeitando os Direitos Humanos.( A Importância
da preparação do policial quanto ao uso da força letal – REBESP, Goiânia, n.1, v.1 )
O que se observa é que as doutrinas de treinamento de tiro tanto das Forças Armadas
como das forças policias e privadas precisam ser atualizadas e adaptadas para a conjuntura
moderna do combate urbano, isto já esta ocorrendo em algumas instituições policiais e
segmentos específicos das Forças Armadas e órgãos afins.
A instrução prática em estande de tiro é sempre orientada por um Instrutor de Tiro, o
atirador é sempre colocado em frente a um mesmo tipo de alvo (silhueta humanóide padrão
”Colt”ou outra semelhante), portando uma arma de fogo carregada, e para todas as séries de
disparos o tiro é comandado pelo instrutor. Segundo Storani (2000) não há, na prática, a
opção de decisão de não atirar ou em qual alvo atirar, a decisão é de atirar sempre no alvo
que estiver à frente. Na instrução, não há trabalho que desenvolva e aprimore um gesto
motor adequado, que parta de uma posição de expectativa com a arma de fogo para uma
tomada de posição e enquadramento do alvo.
O que deve ser buscado por profissionais da aérea de segurança que pretendem
utilizar a sua arma em um propósito de sobreviver no combate urbano é a tática de tiro
policial defensivo ou com um intuito semelhante. Claro que os fundamentos de tiro são
imutáveis, porém devem ser adaptados para o tiro de defesa, incluindo em seus treinamentos
fatores que levem o atirador a vivenciar sensações físicas e psicológicas que ocorrem no
combate real. O treinamento estático de tiro, apreendido nos bancos escolares e clube de tiro,
onde tudo é feito a comando, perdeu espaço para um tiro prático e dinâmico, sempre
revestido de caráter defensivo voltado para a sobrevivência do atirador em qualquer hipótese.
Dentre os métodos existentes no Brasil e já aplicado em diversos órgãos destaca-se o método
Giraldi, que engloba um treinamento completo baseado sempre na prática e imitação do
confronto urbano real com suas inúmeras possibilidades.
26
3.5.2 A dinâmica dos treinos de tiro
A pessoa que se predispõe a utilizar uma arma deverá conhecer muito bem suas
próprias capacidades e limitação, além de ter em mente as possíveis ações ofensivas que
possa vir a sofrer. Claro que seria impossível visualizar como cada ameaça poderá surgir,
porém pesquisando em protocolos de segurança, onde são abordadas estatísticas e casos
verídicos, o profissional de segurança poderá fazer análises com a finalidade de traçar um
parâmetro de regularidades e ocorrências que possam sedimentar um plano de treinamento
eficiente e próximo da realidade.
O plano de treinamento deverá ser sistematizado, de modo que o atirador que o realiza,
deverá estar no mesmo nível de ativação e alerta que se encontraria se a situação fosse
verdadeira, sendo necessário para isso uma predisposição mental muito grande e uma grande
concentração nas atividades a serem desenvolvidas. É importante que o atirador esteja
consciente que o resultado a obter em um confronto armado estará diretamente relacionado
com o seu método de treinamento, por isso o treinamento deverá ser realístico, forte e
gradativo, ou seja, o atirador deverá desenvolver tarefas com dificuldades crescentes que o
leve finalmente a um cenário próximo do combate propriamente dito.
Como já estudado, em uma situação real de enfrentamento, os níveis de adrenalina do
atirador estarão altíssimos, produzindo consequentemente, um conjunto de reações físicas e
orgânicas que será de extrema importância o atirador conhecer, antes de entrar em combate, e
aprender a desenvolver estratégias pessoais de controle das mesmas. Nem todas as pessoas
experimentam os efeitos causados pela adrenalina e pelo estresse, os quais normalmente estão
ligados ao fator surpresa, sendo que aqueles que estão desprevenidos e são surpreendidos,
muito provavelmente, experimentarão todos os efeitos como a diminuição das habilidades
motoras, a confusão, o encurtamento da focalização visual e auditiva, a aceleração da do
batimento cardíaco e uma excitação generalizada que poderá gerar no atirador a sensação de
que o tempo não passa ou mesmo que as coisas acontecem em câmera lenta e as distâncias
permanecem mais curtas. Porém aqueles que já se encontram num nível de alerta
considerável, por saber que a qualquer momento poderá sofrer uma ação ameaçadora, não
sentirá estes efeitos de maneira tão intensa, pois já começou a combatê-los desde antes de se
manifestarem.
Dificilmente o profissional saberá o nível de prontidão que deverá permanecer, até
porque é muito desgastante e quase impossível ficar por horas em alerta total, por isso é
27
importante manter esses fatores em mente em quanto o atirador é adestrado, para se
condicionar a entrar e permanecer no mais alto nível de alerta quando necessário. Deverá
estabelecer sempre, um conjunto de respostas condicionadas às quais possa recorrer com
garantia de sucesso, para isso também é importante uma excelente condição física, pois
quanto melhor o preparo físico, menor será os efeitos sofridos pelo corpo durante um
confronto armado, sendo que desta forma resistirá melhor ao rápido aumento do nível de
adrenalina e os efeitos da fadiga que naturalmente seguirão durante o combate.
Ao precisar usar uma arma em um confronto, o atirador não terá tempo de parar para
pensar, agirá instantaneamente, por isso a importância de se habituar nos treinamentos de tiro
a realizar os procedimentos em situações dinâmicas em que o atirador terá sempre que se
preocupar em no mais curto espaço de tempo, ter sua arma pronta para o disparo e se preciso
for o fazer e atingir como eficácia a ameaça que se deseja parar.
O que pode acontecer nos treinamentos é que algum atirador tenha alguma dificuldade
na tomada de decisões críticas e na falta de habilidade em manter a concentração nas tarefas
previstas, porém em uma situação real não há lugar para discussões mentais e os
procedimentos deverão estar automatizados e a atenção e concentração voltados para o que
acontece em sua volta, minimizando assim os riscos iminentes. Cabe salientar que quando a
ameaça for neutralizada será importante que se procure outros alvos em potencial, a fim de
não ser surpreendido por outra ameaça que lhe escapou à observação. Em treinamentos este
procedimento deverá ser treinado exaustivamente e incorporado sempre aos novos
procedimentos.
Os estudos relativos à segurança e atividades policiais divulgam que nas situações de
confronto armado aonde foram executados disparos, em mais de 80% dos casos ocorreram a
uma distância não superior a 7 metros e sendo que a maioria ocorreu a mais ou menos 5
metros ou menos, o que dá para entender que o treinamento a curtas distâncias será essencial
para a formação do atirador. Estes relatórios de estudo ainda relatam que os confrontos são
violentos, rápidos e que duram em média 3 segundos e que geralmente a ameaça estará em
movimento, portanto no treinamento deverá constar, rapidez, tiro em movimento, tiro com
alvo em movimento e eficácia nos resultados. Os relatórios continuam descrevendo que na
maioria das vezes, ou pelo menos em mais de 50%, existe mais de uma ameaça, fazendo
agora necessário a realização de treinamentos em alvos múltiplos, de vários tipos e em
diversos cenários onde se deve buscar não apenas o ato físico de sacar e disparar a arma, mas
também o entendimento visual do alvo e a análise mental que determinará se é ou não uma
ameaça e se deve ou não ser acertada por disparos de arma de fogo.
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O correto domínio da arma de fogo deverá ser adquirido através de ma minuciosa
prática, aonde deve ocorrer constantemente por intermédio de treinos próximos da realidade
com a finalidade de se buscar um conjunto de repostas controladas e automatizadas, e não de
improvisação, o que será a saída para quando o atirador tiver de enfrentar uma situação real
de combate urbano envolvendo armas de fogo.
O Tiro de Defesa a ser treinado numa concepção geral é uma evolução do tiro prático,
porém voltado para a atividade de defesa em um caráter autodefensivo e não de esporte. Esse
treinamento, antes de qualquer concepção, é um tiro policial técnico que é adaptado para as
diversas necessidades e muitas vezes assumindo outros nomes como Tiro instintivo, Tiro
intuitivo, Tiro defesa, Tiro defensivo, Tiro de combate policial, dentre outra denominações.
O Tiro de Autodefesa é consequentemente um tiro visado, em que a precisão é
buscada pelo perfeito enquadramento do alvo, nos fundamentos de tiro, mas também poderá
ser realizado com a visada condicionada, o seja por cima da arma, e já adaptada pela
memória muscular. O profissional de segurança ou qualquer cidadão que aplicarem às
técnicas propostas, certamente a usarão em legítima defesa ou de outrem e de forma rápida,
no qual importa a velocidade da ação, qualidade e legitimidade. A qualidade esta diretamente
ligada ao acerto em uma região ou zona aonde existam vasos calibrosos ou órgãos vitais, em
que se atingidos por um ou poucos disparos incapacitará de imediato oponente. Nada adianta
ser muito preciso se a ação não for rápida e determinante.
As técnicas e fundamento de tiro policial que existem são disseminadas foi
desenvolvido por pessoas com conhecimento na área que buscou diversas linhas de
conhecimento, em outras fontes especializadas e outros países. Serpa (2008, p.58) diz que
não existem técnicas certas ou erradas, e sim técnicas mais evoluídas que outras. Estas
técnicas são voltadas para as mais variadas necessidades funcionais e operacionais, algumas
mais confiáveis até surgirem evoluções e adaptações pelo surgimento de novos conceitos e
procedimentos.
O que se transformou em unanimidade é que em uma atitude de tiro defensivo, o
atirador deverá procurar usar a mínima força ao participar de uma ação, como já citado
anteriormente, começou-se a valorizar o ser humano e os seus direitos com maior
responsabilidade.
O conceito de tiro de defesa, a que se propõe ser utilizado pelo profissional de
segurança, sem dúvidas é uma mistura de várias técnicas estudadas e analisadas dentro de
uma perspectiva da legitimidade para um profissional da segurança pública ou privada,
militares e cidadão comuns que procuram se defender, pode inclusive ser chamado de
29
autodefesa, pois parte do princípio que para que possamos defender alguém, primeiro
precisaremos nos defender de forma eficiente para depois propiciarmos a defesa a quem quer
que seja, porém para que o tiro de autodefesa seja eficiente e funcional a Doutrina será
sempre flexível, acompanhando a evolução e mudando procedimentos, se preciso for, para
acompanhar as tendências de defesa contra criminosos que operam nos dias atuais; O
Treinamento deverá ser constante, prático, objetivo e o mais importante, sempre imitando o
confronto urbano real, em que se devem buscar nos adestramentos um equilíbrio nos vetores
do Tiro de Autodefesa, PPS ( Procedimento, Precisão e Segurança) ou seja, nada adianta um
atirador colocar todos os disparos bem acertados no alvo se não souber se abrigar
corretamente, ou então não sanar as diversas panes da sua arma, ou mesmo o contrário ter
excelente conduta de posição de tiro, por exemplo se abriga corretamente, mas quando
dispara, os seus tiros não atingem a zona proposta. A segurança se busca em todos os
exercícios e atividades reais de tiro e sempre deverá ser crescente, não se admitirá atitudes
relapsas em relação à Segurança.
Para que um treinamento de tiro se enquadre nas propostas de Autodefesa, a
Preparação mental e psicológica (Mental Preparendness) se faz de fundamental
importância, inclusive com módulos de treinamentos voltados especificamente para isso. Nos
adestramentos deverão ser colocadas situações que se assemelhem com o estresse ocorrido
durante um confronto, deverão ser criadas ocasiões que o atirador precise ser inteligente,
visando raciocinar durante o combate e ainda parecer se encontrar em situação que tenha que
lidar com a visão de túnel e aprender a sair dela, aprender a controlar a ansiedade, respiração,
se movimentar em detrimento da rigidez muscular desenvolvida, dentre outras situações que
levem o atirador a buscar uma excelente desenvoltura trabalhando vários aspectos
psicológicos. O atirador deverá saber atirar em movimento, em alvos se movimentando,
deverá sempre que possível saber atirar abrigado, realizar disparos em múltiplas ameaças,
disparar por para-brisas, realizar trocas táticas de carregador e de emergências por término de
munição, realizar transição de armas, sanar as diversas panes de seu armamento.
Guardadas a devidas proporções para o tiro de defesa, o qual seleciona precisamente
seus alvos, mas sabendo da importância do condicionamento, analisemos o que o Coronel
Dave Grosmam, do Exército Americano, autor de várias obras importantes sobre combates,
declara em um de seus livros: “... na ideia do Exército, o condicionamento leva o soldado a
fazer a coisa certa no campo de batalha, atirar sem restrições”.
O treinamento de autodefesa obviamente se veste de algumas diferentes características
dependendo do profissional a ser treinado. As pistas de treinamentos poderão ser adaptadas
30
para cada necessidade, mas a desenvoltura de combate deve ser buscada sempre, apenas
deverá ser observado os preceitos legais do emprego da força.
3.6 COMO A PREPARAÇÃO ADEQUADA PODERÁ CONTRIBUIR PARA O
SUCESSO DE UMA OPERAÇÃO REAL NOS PÓLOS DE VIOLÊNCIA.
Na execução do treinamento de Segurança e Autodefesa o profissional poderá
encontrar múltiplos cenários e terá que por diversas vezes interpretar e agir de acordo ao seu
próprio entendimento, assumindo para si as consequências gerais do desfecho do
enfrentamento.
Um bom profissional da segurança deverá não somente apenas ver a ameaça e acertá-
la com eficácia, como ouvir e sentir a aproximação ou influência de alguma, para isso deverá
conhecer o som de um fechar de arma, o som do estampido de uma arma, deverá ainda ter a
percepção de que poderá ser atacado por alguém, pois se não estiver pronto para combater e
for surpreendido, provavelmente não conseguirá reagir ou assim fará por puro instinto de
sobrevivência, podendo vir a certar outros alvos (pessoas) inocentes ou outras coisas que não
estavam o ameaçando.
A denominação de “tiro instintivo” usada nas modalidades defensivas, para muitos
especialistas já entrou em desuso, pelo fato de que a palavra “instintiva” denota algo que o
homem fará inconscientemente, apenas agindo pelo instinto natural das coisas, como por
exemplo, ao levantarmos os braços para nos protegermos quando é jogado algum objeto na
nossa direção. Porém o tiro de defesa deverá ser encarado como uma atividade em que o
atirador sempre estará consciente do está fazendo ou venha a fazer, por exemplo, se uma
pessoa começar a gritar para um segurança armado e falar que vai matá-lo, o mesmo já estará
em um considerável nível de atenção, então a provável ameaça coloca a mão no bolso e retira
um estilingue, normalmente o profissional já sacou a sua arma e apontou para o agressor,
porém ao identificar que não se trata de uma arma de fogo, deverá verbalizar e fazer com que
a ameaça abandone o objeto e não disparar com a sua arma sobre o mesmo. Esta concepção é
o que resultará no tiro considerado seletivo.
Na verdade, sempre que o profissional sacar sua arma para se defender, naturalmente já
deverá estar selecionando os alvos (ameaças) que deverá atingir. Estes alvos, dentro da
concepção do tiro de defesa, serão atingidos apenas para que cessem a ameaça que
disseminam, porém com o desenvolver do combate, será natural que todos que sacarem uma
arma sejam alvejados pelo defensor e ainda qualquer coisa que se movimente e represente
31
uma ameaça para o atirador também assim seja recebido por disparos. Entretanto em um
combate urbano, muitas vezes poderão surgir pessoas inocentes no meio do tiroteio, ou
pessoas assustadas que possam correr na direção do atirador por total desorientação e
estresse. Estes percalços não permitirão que os profissionais de segurança, por mais que
estejam agindo em legítima defesa, justifiquem que acertou uma pessoa inocente apenas
porque esta estava no lugar errado e na hora errada. Além das consequências jurídicas
cabíveis, o profissioanl terá que conviver o resto de seus dias com a culpa de ter tirado a vida
ou incapacitado por toda ela, uma pessoa inocente, apenas pelo despreparo técnico, tático ou
emocional. Por isso se faz de extrema importância os quatro elementos (regras) de segurança:
1- Considere toda e qualquer arma carregada;
2- Nunca aponte a arma para algo ou alguém que realmente não queira acertar
3- Mantenha o dedo fora do gatilho
4- Certifique-se do seu alvo e do que está por trás dele
E se, por exemplo, você está se defendendo ou defendendo alguém, existir apenas
uma ameaça e esta levantar os braços com arma na mão e se render? E se ao receber a ordem
de colocar a arma no chão, voltá-la contra você e apertar o gatilho? E se ao colocar a arma no
chão, surgir outra ameaça e começar a disparar na sua direção? E se o disparo não for à sua
direção e sim na direção de outra ameaça? E se ao mesmo tempo em que surge outra ameaça
mais duas pessoas correm em sua direção pedindo socorro? E se estas duas se tornarem
ameaças por sacar uma arma? E se apenas uma sacar uma arma dizendo que é polícia? E se
você atirar na primeira ameaça e ela não cair?
No combate urbano se pensar em não reagir, já poderá perder a vida, se reagir e não
for eficiente, provavelmente também será atingido e diversas outras possibilidades poderão
ocorrer. O que não pode acontecer é o profissional não estar preparado para o enfrentamento
e sair com uma arma achando que vai intimidar prováveis ameaças apenas por ser
profissional da segurança.
O tiro seletivo especificamente ocorre quando o atirador já sacou a sua arma para
realizar o tiro de defesa, porém por algum motivo percebeu que aquele não é o momento para
disparar, até que encontra uma oportunidade e assim o faz com eficiência e perfeição. Vamos
a um exemplo prático, alguém é feito refém por uma ameaça, o segurança de um shopping,
por exemplo, já estava com a sua arma na mão combatendo, então apontará a mesma para a
ameaça, porém não há nível de segurança para disparar sem acertar o refém, sendo assim
mantém a arma apontada para a ameaça, dedo fora do gatilho, observando a ameaça por entre
o aparelho de pontaria ou por cima da arma (dependendo do adestramento do atirador),
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sempre em condições de apertar o gatilho com determinação, sem causar desestabilidade na
arma e em condições de incapacitar a mesma. Ao observar que o refém se abaixou, por
exemplo, e teve todo o corpo e cabeça da ameaça livre para ser acertado, resolve disparar, ou
seja, seleciona o alvo e momento para atirar, então ao atirar percebe que a ameaça não foi
cessada, consequentemente realizará, outros disparos a fim de atingir seu objetivo.
O exemplo acima é apenas uma possibilidade do momento do tiro seletivo, dentro do
Tiro de defesa, pois o atirador poderá estar apontando e atirando automaticamente, quase que
instintivamente, porém pensando no que vai fazer e então ter que com todo o efeito da
adrenalina, parar controlar a respiração, por vezes verbalizar com ameaça e ainda assim ter
que atirar e ser eficiente, eficaz e preciso, cessando definitivamente seus oponentes do
combate ao selecionar como, aonde e quando vai atirar.
Observa-se que fica claro que todo o sucesso de uma investida em um confronto
armado deverá consubstancialmente estar diretamente ligado ao conjunto arma munição,
porém principalmente à atitude do operador da arma e ao seu preparo técnico e tático, tudo
dentro da dinâmica do tiro das armas, neste caso do tiro revestido de uma postura
autodefensiva.
4. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
O profissional de segurança do século XXI não deve ser mais aquele cidadão alto e
forte somente e sim um profissional proativo e inteligente. Por diversas vezes ele estará no
cenário das Barbáries sociais e terá que agir com a força física ou técnica, terá que saber
manipular muito bem os seus equipamentos, terá que ter apoio de um processo de
inteligência, caso contrário será inviável operar nos núcleos populacionais estressados pelos
fatores socioeconômicos.
A sociedade mudou e também se mudou o modo de combater. Hoje uma equipe escolta
não vai confrontar com dois elementos portando um revólver calibre 32 como antigamente e
sim, uma equipe com técnicas terroristas portando armamentos pesados e trabalhando dentro
de uma doutrina criminosa, assim sendo sem dúvida alguma existe a necessidade de mudança
nos protocolos de treinamentos e nos amparos legais dos profissionais que têm como
companheira de trabalho um armamento com poder de fogo considerável.
As técnicas convencionais e atualmente ensinadas não garantem um desempenho
satisfatório no combate urbano atual, que se caracteriza por ser extremamente violento. A
legislação atual obriga que o vigilante frequente um curso de 160 horas-aula, melhor do que
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120 horas-aula como a anos passados, mas não satisfatório para uma excelente formação
profissional. Existem também outros cursos, como o de extensão em escolta armada, com
duração de 50 horas e cursos de reciclagens específicos, dessa forma o vigilante frequentara
aulas específicas do curso de formação enquanto os vigilantes que possuem cursos de
extensão frequentarão aquelas reciclagens especificas ao curso do qual ele trabalha. A
legislação consegue dessa maneira, desenvolver especificamente e não genericamente o
conhecimento do vigilante, melhorando um pouco o seu desempenho, mas não
satisfatoriamente.
É de conhecimento de todos que a formação e qualificação de profissionais da área de
segurança são dispendiosas, mas estamos falando aqui de proteção a bens de valores, de
pessoas e principalmente do bem de valor imensurável a vida de pessoas. Apesar de a norma
vigente determinar, por exemplo, que os profissionais participem bienalmente do curso de
reciclagem, ainda se faz insuficiente devido ao grande avanço da globalização que determina
também um desenvolvimento dos modos de operação dos criminosos, meliantes e foras da
lei. Entendo que é necessária uma atualização constante, continua e duradoura. A qualificação
profissional, contudo não pode nos tempos atuais resumir-se as matérias ministradas nos
cursos de formação e qualificações. Observa-se a necessidade de se ajustar a legislação de
modo que se tenha um adestramento constante, com padrões mínimos a serem atingidos
durante períodos pré-estabelecidos durante todos os anos que o profissional atua. Não se deve
ter uma cartilha fixa e sim uma direção do que tem de ser cumprido legalmente, mas com a
flexibilidade de uma atualização constante a fim de acompanhar a evolução do setor frente às
ameaças que surgirão cada vez mais complicadas e perigosas.
Conforme foi abordada em seções anteriores a violência e a criminalidade urbana
conseguiu se transformar em transnacionais, ou seja, a rede criminosa se organiza e age de
maneira descentralizada e em qualquer lugar buscando as vulnerabilidades do tecido social.
Por isso a formação dos profissionais tem que ter subdivisões e atingir a área cognitiva e
psicomotora. Foi visto que não basta apenas o profissional receber uma quantidade de
munição, alimentar e carregar sua arma e atirar em um alvo imóvel de papel, porém esta é a
formação básica de tiro que é dada atualmente aos profissionais. Deve-se buscar criar
cenários dinâmico em que o profissional de segurança possa pensar, atirar em alvos que
surgem do nada e desaparecem, obter iniciativa, se comunicar, se deslocar, resolver
problemas sem disparar e se preciso for, saber trabalhar com consciência o uso moderado da
força chegando inclusive à força letal de assim for preciso. Este mesmo profissional deverá
saber identificar prováveis ameaças, pessoas suspeitas, deverá ter noção de balística para
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saber como e onde utilizar determinado tipo de cartucho de munição, deverá saber verbalizar
com os oponentes, deverá ser proativo e se antecipar à violência, mas quando encontrá-la
saber se desvencilhar e cumprir a sua única missão, proteger o que tem de proteger.
De todas as informações acima, entende-se que o moderno profissional de segurança,
inteligente por preparação, deverá ter total controle sobre sua mente e seu corpo, antes,
durante e depois do combate, o que quer dizer que deverá aprender a se “programar” para o
desgaste físico e emocional do enfrentamento, sempre adotando atitudes pró-ativas que lhe
forneçam significativas vantagens sobre as suas ameaças e manter atitude discreta após as
ações. Assim explica Moreira (2008, p. 118), antes de irmos à luta é preciso estar alerta,
prontos e decididos. Durante a luta, concentremo-nos na solução dos problemas que forem
surgindo, o que implica termos sempre a preocupação de disparar bem. Depois da luta,
devemos estar conscientes de ter cumprido o nosso dever, mas mantendo sempre a tal
discrição.
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