teoria geral e história do pensamento jurídico apostila 2º bimestre - 2011
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TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José E. Melhen - 2º bimestre - 2011
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PODER JUDICIÁRIO
O Poder, um dos elementos do Estado, possui tripartição de funções, a saber: uma função
legislativa, uma executiva e uma judiciária.
Ao Judiciário incumbe aplicar (dizer) o Direito em relação aos litígios que lhe são
apresentados.
Por litígio pode-se entender toda pretensão resistida colocada em Juízo. Há que se
considerar que apenas o Estado tem o monopólio do uso da força (salvo raras exceções
como a legítima defesa e o estado de necessidade), daí a razão pela qual ao Estado, na
função Judiciária, dizer o direito aplicável aos litígios (jurisdição). As únicas decisões
marcadas pela definitividade são as proferidas pelo Poder Judiciário. Essas, sim, fazem
“coisa julgada”. Logo, decisões administrativas e decisões de Tribunal de Contas NÃO
fazem coisa julgada. A jurisdição (juris dictio = dizer o direito) é substitutiva,
definitiva e inerte.
Conforme já mencionado em aula, os conceitos de litígio e conflito são diversos. O litígio é
o conflito deduzido perante o Judiciário para análise e decisão. O conflito, por sua vez, é
inerente ao ser humano e, ainda que o litígio tenha sido resolvido pelo Judiciário, o conflito
muitas vezes continuará existindo. Pense-se em um caso de separação litigiosa proferida
por sentença: o Judiciário solucionou o litígio, mas o conflito (rusgas pessoais) entre os
ex-cônjuges possivelmente perdurará.
Princípios fundamentais do Poder Judiciário: Inércia e devido processo legal (CF, 5º, LIV).
O Judiciário é inerte porque não pode agir de ofício, mas, somente, mediante provocação
das partes interessadas. Tal princípio visa resguardar sua independência, daí “Nemo
judex sine actore” (não há juiz sem autor). A inércia assegura, portanto, a imparcialidade
do juiz.
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A relação processual constitui um actum trium personarum, onde o Estado
(representado pelo juiz) encontra-se acima das partes e sem pender para o lado de
nenhuma delas.
Devido processo legal é aquele já previsto na legislação e, assim, ao menos em tese,
previamente conhecido pelas partes. O juiz não pode simplesmente criar um andamento
processual, mas, sim, obedecer àquele já previsto na legislação em vigor. A supressão de
atos, desrespeito às previsões processuais estampadas em lei e na Constituição podem
constituir violação a esse princípio.
Devido Processo Legal
Para entendermos a aplicação prática do princípio do Devido Processo Legal, devemos,
primeiro, entender o significado de Devido Processo Legal.
Sendo assim, não podemos perder de vista que o Devido Processo Legal é uma cláusula
geral.
E o que é uma “cláusula geral”? Cláusula geral é um tipo de texto normativo que
estabelece valores que serão preenchidos historicamente (valores a serem preenchidos
historicamente).
Ex. Imaginemos a seguinte placa em uma praia: “Proibido o uso de biquíni”. Se
estivéssemos em 1940, a interpretação seria a de que as mulheres deveriam permanecer
com roupas, sem colocar biquínis. Mas, se a placa for atual, dos tempos modernos,
entenderemos que aquela praia é uma praia de nudismo.
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O conceito de devido processo Legal depende da evolução social, do momento histórico
em que se vive. Assim, na época da Santa Inquisição, acreditava-se que existia devido
processo legal nos julgamentos levados a efeito, nas mortes na fogueira. De lá pra cá, a
sociedade evoluiu bastante e aquele conceito de devido processo legal não mais nos é
suficiente.
Os doutrinadores não têm receio de dizer que o devido processo Legal é o mais
importante princípio de direito processual.
É um princípio-mãe, está sempre gerando outros princípios. Nesse sentido, podemos
lembrar alguns princípios gerados pelo Devido Processo Legal:
- princípio do juiz natural;
- princípio do contraditório:
- princípio da efetividade;
- princípio da adequação;
- princípio da proibição de produção de provas ilícitas;
- princípio da duração razoável do processo.
Todos esses princípios são corolários, decorrentes do princípio do Devido Processo Legal.
A doutrina explica que o Devido Processo Legal possui duas diferentes dimensões:
- Devido Processo Legal Formal;
- Devido Processo Legal Substancial.
Devido Processo Legal Formal
Diz respeito a um prévio procedimento pautado nas formalidades legais. Ex. regras de
competência fixadas de maneira prévia, anterior. Existe um procedimento que deve ser
seguido. Assim, o juiz criminal não irá julgar causa trabalhista e vice-versa. O juiz do
trabalho não irá julgar se houve ou não um homicídio, se o réu é culpado. Existem regras
previamente traçadas sobre a competência dos órgãos jurisdicionais.
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Devido Processo Legal Substancial
De acordo com a dimensão substancial, material do Devido Processo Legal, as regras
devem ser razoáveis, justas. Em última análise, o Devido Processo Legal Substancial é
sinônimo (tem o mesmo significado) do Princípio da Proporcionalidade ou Princípio da
Razoabilidade.
Ex. imaginemos edital de concurso público para delegado de polícia, prevendo que, para
passar no concurso, a mulher precise fazer 10 barras. Muitos homens não conseguem
fazer uma barra sequer. Pensemos se há alguma razoabilidade, alguma justiça em se
exigir que a mulher consiga realizar 10 barras. E, como se controla isso? Pelo princípio do
Devido Processo Legal Substancial. No caso em exame, não há razoabilidade em se
exigir da mulher a realização de 10 barras. Percebamos, a partir desse exemplo, que o
Devido Processo Legal deve nortear não apenas o aplicador do Direito (o juiz no momento
do julgamento), mas também o Legislador (aquele que produz normas, ainda que
administrativas, como é o caso do edital).
Ex.2 – Edital de concurso para a magistratura que preveja a idade máxima de 45 anos
para que candidatos se inscrevam no concurso. Esse edital também não obedece ao
devido processo legal substancial, pois traz uma norma que é substancialmente
desproporcional. Ao contrário, a maturidade pode ser um elemento que só vem a
contribuir com o exercício da magistratura. Nesse sentido, o Conselho Nacional de Justiça
já declarou inválidas regras de editais de concurso para a magistratura, com reabertura
das inscrições, que previam a limitação da idade de 45 anos para a inscrição (caso
recente do TJ-MS).
Percebe-se, dessa maneira, que o Devido Processo Legal (substancial e formal) tem
aplicação em inúmeros casos. Então, p. ex., quem passou na parte escrita e oral do
concurso de delegado, mas não conseguiu fazer as barras impetra mandado de
segurança, alegando que a disposição editalícia é inconstitucional por ferir o princípio do
devido processo legal substancial (a disposição que prevê as 10 barras não contém
razoabilidade) e que possui o direito líquido e certo de tomar posse sem essa exigência
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desproporcional. O magistrado analisa o pedido e o candidato toma posse sem essa
exigência.
Existe Devido Processo Legal nas relações privadas?
Sim, é uma tendência nova no direito brasileiro.
Imagine-se que Caio seja sócio de um clube recreativo. Haverá um baile e Caio, muito
amigo do Tício, para ajudar o amigo, resolve colocá-lo no porta-malas do carro para entrar
no baile, dado que o amigo não é sócio do clube. Um funcionário do clube, entretanto,
flagra Tício saindo do porta-malas do carro de Caio. Imaginemos que no estatuto do clube
exista uma cláusula que diz que o associado que levar estranho no porta-malas será
expulso. E Caio acaba expulso do clube. Revoltado com a situação Caio vai procurar um
advogado. O advogado certamente perguntará a Caio: “o clube lhe concedeu
oportunidade para vc apresentar defesa e recurso antes de tomar a medida da expulsão?”
Se a resposta for negativa, não lhe foi assegurado o Devido processo legal, devendo Caio
tomar uma medida judicial para que a sua expulsão seja invalidada.
O art. 57 do Código Civil sofreu alteração no ano de 2005, para prever expressamente o
princípio do devido processo legal entre particulares, já que, a partir dessa alteração, a
exclusão de associado só será válida quando houver o direito de defesa e o de recurso.
Mas, e se o clube, ao invés da expulsão, suspende o associado? O raciocínio é o mesmo,
embora não haja artigo expresso. A suspensão só será válida se houver a possibilidade
de defesa. É a aplicação do princípio do devido processo legal aos particulares, às
relações privadas.
Exemplo 2. Imagine que um sujeito resida em um apartamento e que exista a seguinte
regra do condomínio: os condôminos podem ter cachorro, mas os cachorros não podem
pisar no chão do prédio, na área comum do prédio. Um dia tal pessoa está chegando em
casa com seu cão e a vizinha vê que o cachorro pisou no chão do elevador.
Conseqüência disso: o condomínio lhe aplica uma multa pelo fato de ele ter deixado o
cachorro tocar o solo. Pergunta: o condomínio lhe deu a oportunidade de defesa ou a
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pessoa recebeu a multa sem ser ouvida? Se não teve a oportunidade de defesa, poderá ir
a juízo pleitear a invalidade da multa que lhe foi aplicada.
O STF decidiu caso semelhante à situação colocada. Na decisão do STF, um associado
da União Brasileira de Compositores foi expulso sem que lhe fosse assegurada a
oportunidade de defesa. O STF considerou inválida a referida expulsão por violação ao
princípio do Devido Processo Legal.
Nesses exemplos (casos de expulsão, caso da aplicação da multa ao condômino), não
houve o devido processo legal formal, as partes não tiveram oportunidade de defesa.
Mais um exemplo. Imagine-se que exista a seguinte norma em um condomínio: O
condômino que não realizar o pagamento da taxa condominial não poderá utilizar os
elevadores. Então, um condômino, morador do 15º andar, que por uma infelicidade do
destino não pôde pagar o condomínio, estará impedida de usar o elevador.
Será que essa norma observa o princípio do devido processo legal substancial? Em outras
palavras, é uma norma razoável?
Em caso idêntico, o TJMG decidiu que a restrição ao uso dos elevadores, ainda que
prevista na Convenção do Condomínio, lança sobre o condômino punição vexatória, que
fere a dignidade da pessoa humana. Há, portanto, violação ao princípio do Devido
Processo Legal substancial, pois essa restrição não é razoável, proporcional.
Conclui-se, assim, que, nas relações privadas, é necessário que se observe o Devido
Processo Legal (formal e substancial).
Princípio do Juiz Natural
Em 1960, foi construído o muro de Berlim, que dividiu a Alemanha em Alemanha ocidental
(sob a influência dos EUA) e Alemanha oriental (sob a influência da ex-URSS). Ninguém
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podia atravessar o muro, vale dizer, as pessoas que se encontravam na parte oriental não
podiam ir à parte ocidental e vice-versa.
Logo após a construção do muro, um rapaz de 18 anos, chamado Peter, tentou, com um
amigo, atravessar o muro para encontrar a sua irmã. O amigo conseguiu passar, mas
Peter foi atingido pelos atiradores do muro, encarregados de não permitir a passagem das
pessoas. Muito bem, em 1989, cai o muro de Berlim e a Alemanha reunifica-se. Há, então,
o julgamento dos atiradores do muro de Berlim, que diziam estar cumprindo ordens.
Muitos atiradores foram julgados e condenados.
Houve aí obediência ao princípio do juiz natural?
Quando os atiradores praticaram a conduta, estariam submetidos ao julgamento por um
órgão jurisdicional da Alemanha Oriental. Após a queda do muro, foram julgados por um
tribunal da Alemanha unificada, em violação ao princípio do juiz natural, uma vez que o
tribunal da Alemanha unificada não detinha a atribuição originária para o julgamento
desses fatos.
Exemplo sobre a aplicação prática desse princípio no Brasil e sob a ótica do processo
civil:
Um extraordinário exemplo sobre a questão do juiz natural, no processo civil, é encontrado
na Reclamação n. 417 do STF.
Com a criação do Estado de Roraima (que até então era território), houve, também, a
necessidade de criação do Poder Judiciário Estadual de Roraima. Durante a criação do
Poder Judiciário de Roraima, foram nomeados os desembargadores do Tribunal de
Justiça. Alguém do povo, acreditando na existência de ilegalidades na nomeação desses
desembargadores, ajuizou ação popular para que fosse declarada a nulidade da
nomeação de todos os desembargadores do TJ de Roraima. E quem iria julgar essa ação
popular? Os juízes substitutos, que haviam acabado de passar no concurso da
magistratura, e que estavam diretamente vinculados aos RÉUS (desembargadores), pois
ainda não tinham a garantia da vitaliciedade.
O que os desembargadores do TJ de Roraima fizeram? “Me empreste um juiz aí, Estado
do Pará” “Pensando bem, me empreste dois juízes, para o caso de haver recurso”. O
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Estado do Pará disse: “pois não, empresto sim.” “Dr. Fulano e Dr. Siclano, julguem a
causa do pessoal de Roraima”.
O que o Procurador-Geral da República fez? Por entender que isso feria o princípio do juiz
natural, ingressou com uma medida judicial, pois os juízes do Pará não são juízes com
prévias atribuições para o julgamento dessa ação. Nesse caso, a competência é do STF.
O PGR ajuizou, então, reclamação ao STF para que órgão supremo julgasse a causa. E o
STF disse que o PGR estava certo, que não havia juiz natural para o caso e, portanto, o
próprio STF seria competente para o julgamento.
Princípio do contraditório
O princípio do contraditório traz duas idéias fundamentais: participação e poder de
influência.
O que isso quer dizer? Isso quer dizer que para existir o contraditório a parte tem o direito
de participar do processo, o magistrado tem de deixar a parte falar, a parte deve ser
ouvida. Não é possível impor alguma sanção, restringir bens, sem que se dê a
oportunidade para a parte contar a sua versão, participar do processo.
Mas, não se pode esquecer do poder de influência da parte, isto é, não basta que a parte
seja ouvida, a parte deve ser ouvida em condições de poder influenciar a decisão do
magistrado. Caso contrário, de nada adiantaria a participação da parte.
Princípio da efetividade
O princípio da efetividade não está previsto expressamente na CF, mas decorre do
princípio do Devido Processo Legal.
Vamos imaginar que, por uma grande infelicidade do destino, uma pessoa seja vítima de
um crime. A pessoa se envolveu em uma briga de trânsito e levou um tiro. Em decorrência
do tiro a pessoa precisa fazer um transplante de fígado urgente ou morrerá. Imagine que a
pessoa que te deu o tiro tem muito dinheiro. Imagine, por outro lado, que quem levou o tiro
não tem dinheiro para pagar o transplante. Imagine que para fazer a cirurgia o médico
cobrou R$ 200.000,00. A vítima ajuiza uma ação de indenização por danos materiais e
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morais em face da pessoa que te deu os tiros. Esse processo civil de indenização pode
durar anos, mas a sua cirurgia é para ontem. De que adiantaria ganhar o processo se a
sua morte já ocorreu? O Estado não pode deixar de efetivar o direito fundamental à vida.
E aí, imaginemos que a pessoa que atirou no na vítima está curtindo a vida em seu iate
em Angra dos Reis e a vítima vai morrer se não fizer a cirurgia. O advogado da vítima diria
“espere o término do processo para receber a sua indenização”? Ou será que existe a
possibilidade de receber essa indenização de uma forma célere, sem mesmo ouvir a parte
contrária? Sim, existe essa possibilidade, o advogado deverá fazer um pedido de tutela
antecipada para o juiz (ver os requisitos constantes do art. 273, do CPC).
O informativo nº 502 do STF traz situação muito semelhante ocorrida em Pernambuco.
Um cidadão caminhava em via pública, quando foi surpreendido por assaltantes.
Resultado: levou diversos tiros, ficou tetraplégico e respirava através de aparelhos. Nesse
caso, os assaltantes não tinham bens materiais. O que os advogados fizeram? Ajuizaram
ação contra o Estado de Pernambuco, já que o assalto havia ocorrido em via pública com
pedido de tutela antecipada, para que o Estado de Pernambuco pagasse todas as
despesas da cirurgia necessária, pois através daquela cirurgia a pessoa conseguiria
respirar sem a ajuda de aparelhos. O caso foi parar no STF. E o STF, por maioria,
concedeu a tutela.
Pelo princípio do contraditório, o juiz tem de ouvir as partes. Por outro lado, há situações
que o juiz, para fazer valer o princípio da efetividade, concede a tutela antecipada sem
ouvir a parte contrária. Não existe aí uma contradição?
Não há contradição. O que existe aí é uma ponderação de bens (no exemplo dado,
direito à efetividade da vida X direito ao contraditório).
Um bom exemplo sobre o princípio da ponderação de bens é a clássica história do
arremesso de anões na França. O dono de uma boate, para entreter o público, resolveu
criar uma competição, que consistia em arremessar o anão. Assim, o participante que
conseguisse lançar o anão mais longe na platéia, venceria o jogo.
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O fato é que a história foi parar nos tribunais franceses e os tribunais franceses proibiram
o famoso jogo do arremesso de anões. Mas, por que proibiram? Afinal, o jogo não
acontecia contra a vontade do anão. O anão ganhava dinheiro para isso. Percebe-se aí
um conflito, uma colisão entre o direito de liberdade individual (no caso, a liberdade do
anão, a autonomia privada do anão e o princípio da dignidade da pessoa humana). O
Tribunal entendeu que, naquele caso concreto, a dignidade humana do anão era violada
e, portanto, se sobrepunha ao princípio da liberdade individual.
O mesmo ocorre quando o juiz, diante de um caso concreto urgente, afasta a
preocupação imediata com o contraditório para efetivar o direito à vida. Há, aí, uma
ponderação de bens.
Além disso, o contraditório não é eliminado, mas jogado para depois (contraditório
postecipado). O juiz faz a seguinte ponderação: “se eu abrir a oportunidade para a parte
contrária dar a sua versão dos fatos agora, diante da urgência da situação, o autor pode
falecer. Então, em outro momento, abrirei oportunidade para o Réu contar a sua versão
dos fatos, mas não agora.”
Princípio da adequação
Processo Devido é processo adequado. O princípio da adequação impõe que as regras
processuais sejam adequadas.
Existe decisão recente do STJ, determinando que os processos judiciais de portadores do
vírus HIV, pessoas com câncer e pessoas que sofrem do mal de alzheimer terão
preferência temporal para julgamento. Vale lembrar que os idosos também têm
preferência na tramitação de processos judiciais. Essa preferência faz com que o tempo
de duração média dos processos (até a decisão final) caia pela metade.
Então, nos casos de portadores do vírus HIV, pessoas com câncer e mal de alzheimer,
essas pessoas precisam estar discutindo algo relacionado com a doença no processo
para que tenham preferência?
Não. Esse processo pode ser de qualquer espécie, pode ser um acidente de trânsito, um
dinheiro que ele tem pra receber. Qualquer tipo de processo merece atenção especial do
judiciário.
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O que é isso senão a aplicação do princípio da adequação? Quer dizer, as regras
processuais devem ser adequadas aos sujeitos que delas irão se valer. Não se pode dar a
um idoso, a alguém que está sofrendo de câncer o mesmo tratamento que conferido a um
jovem saudável.
Princípio da proibição de produção de provas ilícitas
O processo não é um jogo de espertezas, mas um instrumento a serviço da cidadania.
Logo, as provas devem ser produzidas em conformidade com as normas jurídicas e a
Constituição Federal, inclusive sem violação à intimidade dos envolvidos, salvo casos em
que há decisão judicial determinando que alguns órgãos (ex. Receita Federal do Brasil)
apresentem certos documentos.
Ex. juízes e tribunais podem obrigar um “suposto pai” a realizar exame de DNA? Ou essa
obrigatoriedade violaria o princípio da dignidade da pessoa humana e, portanto, seria
uma prova ilícita?
Levando em conta que essa situação poderia ser vexatória e ofender a dignidade humana
(e conseqüentemente a prova do resultado do exame de DNA seria considerada ilícita), o
STJ, para acabar com o problema, diz o seguinte: não precisa forçar o sujeito a realizar o
exame, mas a negativa será considerada como uma presunção de paternidade. Isso está
na súmula 301 do STJ.
Imagine, agora, a seguinte situação. O sujeito, casado, tem um filho com a sua esposa.
Com o passar do tempo ele desconfia que não é pai biológico do menino. Um belo dia,
sem que a esposa (mãe do garoto) saiba, o sujeito leva a criança a um laboratório e faz o
exame de DNA, vindo a descobrir, em seguida, que não é pai do menino. O sujeito, então,
ajuiza uma ação, negando a paternidade e utiliza como única prova aquele exame de
DNA. Pergunta: essa prova é lícita ou ilícita? A ação será julgada procedente ou
improcedente?
Se considerarmos que esse tipo de prova ofende a dignidade da pessoa humana, no
caso a dignidade da criança, a prova será considerada ilícita e ação julgada
improcedente.
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Na Alemanha, os juízes têm enfrentado essa questão e têm considerado que os dados
genéticos de uma pessoa não podem ser utilizados sem o seu consentimento (ou
sem o consentimento da mãe, no caso de filhos menores), pois isso violaria a
dignidade da pessoa humana. O pai teria de pedir que o exame fosse feito
judicialmente e a negativa da mãe poderia corresponder à presunção de que,
realmente, o pai não é o pai.
Outro caso interessante sobre a produção de provas ilícitas diz respeito ao caso real do
seqüestro do menino Pedrinho. Há alguns anos, a imprensa noticiou que uma mulher
(Wilma) havia seqüestrado um bebê e que, naquele momento, esse bebê estava com 17
anos. Na época em que o caso estava em alta na imprensa e iniciou-se a desconfiança de
que Roberta também havia sido “roubada” no hospital. Mas, a menina se negava a realizar
o exame de DNA. Então, o que fez o delegado? A menina estava prestando
esclarecimentos na delegacia e fumou um cigarro. O delegado, então, recolheu a bituca
do cigarro e, a partir da saliva da menina, realizou, sem que ela soubesse, exame de
DNA. Com isso, foi descoberto que Roberta também não era filha de Wilma e sim de uma
outra pessoa. A pergunta que se faz é: o recolhimento de saliva, a partir da bituca do
cigarro, sem o consentimento de Roberta, é uma prova lícita?
A discussão, então, foi calorosa. Havia a corrente daqueles que defendiam a licitude da
prova com fundamento de que o cigarro era um lixo da delegacia e que o delegado tinha a
liberdade na procura da verdade e a tese de que essa prova ofende a dignidade da
pessoa humana, já que foram utilizados dados genéticos sem o consentimento da pessoa.
O fato é que Roberta jamais se rebelou contra o fato. Mas, fica aí a discussão jurídica:
essa prova é válida?
Princípio da duração razoável do processo
Esse princípio está expressamente previsto na CF, no art. 5, inciso, LXXVIII (inserido pela
EC 45/04):
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A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
Processo com duração razoável significa que o processo deve ser rápido? Não. A
razoabilidade da duração do processo está ligada à complexidade da causa. Imagine uma
ação com 2.000 documentos a serem examinados.
Ex. Faz 06 anos que o processo está aqui na primeira instância e ainda não foi julgado. O
que eu faço para que se respeite o princípio da duração razoável do processo? Mandado
de segurança
Exemplo de caso real julgado pelo STJ. Mandado de Segurança n° 10.792-DF, de
Relatoria do Ministro HAMILTON CARVALHIDO, publicado no DJ 21.08.2006.
A Lei Federal nº 10.559⁄02 previu indenização para pessoas consideradas anistiadas
políticas (pessoas perseguidas ou que tiveram prejuízos durante a ditadura militar); essa
indenização seria concedida através de parecer favorável de uma Comissão de anistia,
que iria analisar cada caso (art.3°, §2°, da Lei 10559/02).
Nesse mandado de segurança, o impetrante pleiteava que o seu processo administrativo
de pedido de anistia fosse julgado, pois já havia 04 anos que o pedido tinha sido realizado
e até aquele momento nada acontecera.
O STJ analisou a situação e concluiu que o acúmulo de serviços não justificava tanta
demora para que o referido pedido administrativo de anistia fosse julgado e, portanto,
concedeu a ordem para que, no prazo de 90 dias, o processo administrativo do impetrante
fosse concluído.
SELEÇÃO DE MEMBROS DO PODER JUDICIÁRIO
1ª instância – sempre por concurso público de provas e títulos 93, I, CF.
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Promoções alternadas por antiguidade e merecimento: 93, II, CF.
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o
Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:
I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, mediante concurso
público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em
todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade
jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (IMPORTANTE - sobre os três anos de atividade
jurídica, vide a Resolução 11, do Conselho Nacional de Justiça);
II - promoção de entrância para entrância, alternadamente, por antigüidade e
merecimento, atendidas as seguintes normas:
a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes consecutivas ou cinco
alternadas em lista de merecimento;
b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício na respectiva
entrância e integrar o juiz a primeira quinta parte da lista de antigüidade desta, salvo se
não houver com tais requisitos quem aceite o lugar vago;
c) aferição do merecimento conforme o desempenho e pelos critérios objetivos de
produtividade e presteza no exercício da jurisdição e pela freqüência e aproveitamento em
cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
d) na apuração de antigüidade, o tribunal somente poderá recusar o juiz mais antigo
pelo voto fundamentado de dois terços de seus membros, conforme procedimento próprio,
e assegurada ampla defesa, repetindo-se a votação até fixar-se a indicação; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder além
do prazo legal, não podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho ou decisão;
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
Para Tribunais a CF estabelece a nomeação de alguns cargos pelo Chefe do Poder
Executivo.
Quinto constitucional: art. 94, CF:
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Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos
Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de membros, do Ministério
Público, com mais de dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de
reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em
lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes.
Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal formará lista tríplice, enviando-a
ao Poder Executivo, que, nos vinte dias subseqüentes, escolherá um de seus integrantes
para nomeação.
STF, STJ, TST, TSE e STM: 101, par. único, 104, par. único, 111-A e 123, CF).
Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre
cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de
notável saber jurídico e reputação ilibada.
Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo
Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado
Federal.
Art. 104. O Superior Tribunal de Justiça compõe-se de, no mínimo, trinta e três Ministros.
Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal de Justiça serão nomeados pelo
Presidente da República, dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de
sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, depois de aprovada a
escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo:
I - um terço dentre juízes dos Tribunais Regionais Federais e um terço dentre
desembargadores dos Tribunais de Justiça, indicados em lista tríplice elaborada pelo
próprio Tribunal;
II - um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público
Federal, Estadual, do Distrito Federal e dos Territórios, alternadamente, indicados na
forma do art. 94
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Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de vinte e sete Ministros,
escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco
anos, nomeados pelo Presidente da República após aprovação pela maioria absoluta do
Senado Federal, sendo:
I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e
membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício,
observado o disposto no art. 94;
II - os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da
magistratura da carreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior.
Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete membros,
escolhidos:
I - mediante eleição, pelo voto secreto:
a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal;
b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça;
II - por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis advogados de
notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal.
Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente
dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o Corregedor Eleitoral dentre os
Ministros do Superior Tribunal de Justiça.
Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze Ministros vitalícios, nomeados
pelo Presidente da República, depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal,
sendo três dentre oficiais-generais da Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exército,
três dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da
carreira, e cinco dentre civis.
Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República dentre
brasileiros maiores de trinta e cinco anos, sendo:
I - três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez
anos de efetiva atividade profissional;
II - dois, por escolha paritária, dentre juízes-auditores e membros do Ministério Público da
Justiça Militar.
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GARANTIAS DO PODER JUDICIÁRIO
Garantias Institucionais:
1ª) eleição do presidente do tribunal, bem como de seus órgãos diretivos, pelos próprios
tribunais (CF, 96, I, a);
2ª Elaboração de seu regimento interno (CF, 96, I, b);
3ª) organização de seus serviços auxiliares (CF, 96, I, b e II);
4ª) ampla autonomia administrativa e financeira (CF, 99).
Art. 96. Compete privativamente:
I - aos tribunais:
a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com observância das
normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a
competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos;
b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juízos que lhes forem
vinculados, velando pelo exercício da atividade correicional respectiva;
(...)
II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça
propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169:
a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores;
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços auxiliares e dos
juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus membros e
dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde houver;
c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores;
d) a alteração da organização e da divisão judiciárias;
Art. 99. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e financeira.
§ 1º - Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias dentro dos limites
estipulados conjuntamente com os demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias.
§ 2º - O encaminhamento da proposta, ouvidos os outros tribunais interessados,
compete:
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I - no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais
Superiores, com a aprovação dos respectivos tribunais;
II - no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territórios, aos Presidentes dos
Tribunais de Justiça, com a aprovação dos respectivos tribunais.
§ 3º Se os órgãos referidos no § 2º não encaminharem as respectivas propostas
orçamentárias dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder
Executivo considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os
valores aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limites
estipulados na forma do § 1º deste artigo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de
2004)
§ 4º Se as propostas orçamentárias de que trata este artigo forem encaminhadas em
desacordo com os limites estipulados na forma do § 1º, o Poder Executivo procederá aos
ajustes necessários para fins de consolidação da proposta orçamentária anual. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 5º Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a realização de
despesas ou a assunção de obrigações que extrapolem os limites estabelecidos na lei de
diretrizes orçamentárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura de
créditos suplementares ou especiais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de
2004)
Garantias de independência:
O exercício das funções jurisdicionais de forma independente exige algumas
garantias atribuídas ao Poder Judiciário como um todo, e outras garantias aos membros
desse Poder (os magistrados).
As garantias dos juízes são prerrogativas funcionais, e não privilégios pessoais,
sendo, portanto, irrenunciáveis:
a) Vitaliciedade
Em primeiro grau de jurisdição, é adquirida após dois anos de exercício.
Nos casos de nomeação direta para os Tribunais (a exemplo do provimento de
cargos pelo quinto constitucional ou dos cargos dos Tribunais Superiores), a vitaliciedade
é garantida desde a posse.
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Durante os dois primeiros anos a perda do cargo dá-se por deliberação da maioria
qualificada (2/3) dos membros do Tribunal (ou do órgão especial) a que o juiz estiver
vinculado, garantida a ampla defesa.
Após esse período, o Juiz de Carreira é vitaliciado, e a perda do cargo passa a
depender de sentença judicial transitada em julgado. Exceção aos ministros do Supremo
Tribunal Federal, sujeitos a processo de impeachment perante o Senado Federal.
Mesmo sem a sentença definitiva, o juiz vitalício pode ser colocado em
disponibilidade pelo voto de 2/3 dos membros do Tribunal a que estiver vinculado,
percebendo vencimentos proporcionais e não podendo exercer outro cargo ou função,
exceto uma de magistério.
b) Inamovibilidade
Pela inamovibilidade, o juiz titular somente deixa sua sede de atividades (por
remoção ou promoção) voluntariamente. Como exceção temos a remoção compulsória,
por motivo de interesse público, deliberada pelo voto de 2/3 dos membros do respectivo
Tribunal (ou Órgão Especial), assegurada a ampla defesa (arts. 93, inc. VIII, e 95, inc. II,
ambos da CF).
A remoção, a disponibilidade e a aposentadoria do magistrado, por interesse
público, somente são possíveis com o voto de 2/3 dos membros do respectivo Tribunal ou
Órgão Especial, assegurada a ampla defesa. A inamovibilidade, portanto, não é absoluta.
O magistrado da Justiça Militar pode ser obrigado a exercer suas funções nos
locais para onde as tropas forem deslocadas, em exceção à inamovibilidade.
c) Irredutibilidade de subsídios
Garantia estendida a todos os servidores públicos civis e militares pelo art. 37, inc.
XV, da Constituição Federal. De acordo com o Supremo Tribunal Federal, trata-se de
irredutibilidade meramente nominal, inexistindo direito à automática reposição do valor
corroído pela inflação.
Todos os magistrados estão sujeitos ao pagamento dos impostos legalmente
instituídos.
Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:
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I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício,
dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz
estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado;
II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII;
III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º,
150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
Garantias de imparcialidade – 95, par. único, CF (inclusive quarentena
de 3 anos, perante juízo ou tribunal ao qual atuavam).
Art. 95, Parágrafo único. Aos juízes é vedado:
I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de
magistério (IMPORTANTE – vide art.26, § 1º, da Lei Complementar 35/79 e Resolução 34,
do Conselho Nacional de Justiça);
II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;
III - dedicar-se à atividade político-partidária (IMPORTANTE - vide art. 26, II, c, da Lei
Complementar 35/79 e Resolução 34, do Conselho Nacional de Justiça).
IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas
físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos
três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
O inciso V trata da denominada “quarentena”. Nesse caso, deve se
entender, no caso do juiz, que estará ele proibido de exercer a advocacia perante a
comarca ou seção judiciária onde atuava e não somente na vara onde exercia suas
funções. Se o Ministro não pode advogar perante o Tribunal do que se afastou ou se
aposentou, não faria sentido que o juiz estivesse impedido de atuar somente perante a
vara. Essa é a interpretação dada por Alexandre de Moraes.
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ORGANOGRAMA DO PODER JUDICIÁRIO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (101 a 103, CF)
É o órgão de cúpula do Poder Judiciário Brasileiro (embora não haja hierarquia entre
juízes: juiz substituto e Ministro do STF são independentes; é preciso não confundir poder
de reformar decisão via recurso com hierarquia!).
O STF aprecia questões constitucionais e é, por excelência, o guardião e fomentador da
Constituição Federal. Não é apenas um Tribunal Constitucional, pois outras atribuições
também foram incluídas no âmbito de sua competência.
Composição
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Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre
cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de
notável saber jurídico e reputação ilibada.
Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo
Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado
Federal.
Só brasileiros natos (CF, 12, § 3º, IV, CF):
Art. 12, § 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
Competência – 102, CF
Competência originária – a ação é proposta diretamente no Tribunal.
Competência recursal – o Tribunal aprecia a matéria em razão de recurso interposto
contra decisão de órgão inferior.
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e
a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente-
Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-
Geral da República;
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de
Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o
disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da
União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente;(Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 23, de 1999)
d) o "habeas-corpus", sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas
anteriores; o mandado de segurança e o "habeas-data" contra atos do Presidente da
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República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de
Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal
Federal;
e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o
Distrito Federal ou o Território;
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou
entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta;
g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;
h) (revogado pela Emenda Constitucional 45/2004);
i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o
paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição
do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma
única instância; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 22, de 1999)
j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados;
l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de
suas decisões;
m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a
delegação de atribuições para a prática de atos processuais;
n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente
interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem
estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados;
o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer
tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal;
p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade;
q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for
atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do
Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo
Tribunal Federal;
r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do
Ministério Público; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
II - julgar, em recurso ordinário:
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a) o "habeas-corpus", o mandado de segurança, o "habeas-data" e o mandado de
injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a
decisão;
b) o crime político;
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última
instância, quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. (Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
§ 1.º A argüição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta
Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei.
(Transformado em § 1º pela Emenda Constitucional nº 3, de 17/03/93)
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas
ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade
produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do
Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e
municipal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral
das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal
examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois
terços de seus membros. (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
Efeito vinculante:
Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação,
mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre
matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial,
terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração
pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à
sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
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§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas
determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre
esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante
multiplicação de processos sobre questão idêntica.
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou
cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação
direta de inconstitucionalidade.
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que
indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a
procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e
determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o
caso."
A norma que regulamenta a Súmula Vinculante é a 11.417/2006.
Não se deve confundir a Súmula Vinculante com a Súmula Impeditiva de Recursos. A Lei
11.276/2006, inseriu, no artigo 518, do Código de Processo Civil, o parágrafo primeiro, diz:
"o juiz não receberá o recurso de apelação quando a sentença estiver em conformidade
com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal".
Aqui não se trata de súmula vinculante, porquanto só seja esta possível para as súmulas
do Supremo Tribunal Federal, de acordo com o imperativo constitucional do dispositivo
103-A, e sim de súmula impeditiva de recursos, permitida para súmulas do STF e do STJ
com as quais esteja acorde a sentença proferida. Assim, o dispositivo incluído pela Lei
11.276/2006 no artigo 518 do CPC, deve ser assim lido: o juízo não receberá o recurso de
apelação interposto contra sentença que esteja em conformidade com súmula do STJ ou
do STF.
Atualmente (maio/2011), temos 31 Súmulas Vinculantes no STF, a saber:
Súmula Vinculante 1
OFENDE A GARANTIA CONSTITUCIONAL DO ATO JURÍDICO PERFEITO A DECISÃO
QUE, SEM PONDERAR AS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO,
DESCONSIDERA A VALIDEZ E A EFICÁCIA DE ACORDO CONSTANTE DE TERMO DE
ADESÃO INSTITUÍDO PELA LEI COMPLEMENTAR 110/2001.
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Data de Aprovação: Sessão Plenária de 30/05/2007
Súmula Vinculante 2
É INCONSTITUCIONAL A LEI OU ATO NORMATIVO ESTADUAL OU DISTRITAL QUE
DISPONHA SOBRE SISTEMAS DE CONSÓRCIOS E SORTEIOS, INCLUSIVE BINGOS
E LOTERIAS.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 30/05/2007
Súmula Vinculante 3
NOS PROCESSOS PERANTE O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO ASSEGURAM-SE
O CONTRADITÓRIO E A AMPLA DEFESA QUANDO DA DECISÃO PUDER RESULTAR
ANULAÇÃO OU REVOGAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO QUE BENEFICIE O
INTERESSADO, EXCETUADA A APRECIAÇÃO DA LEGALIDADE DO ATO DE
CONCESSÃO INICIAL DE APOSENTADORIA, REFORMA E PENSÃO.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 30/05/2007
Súmula Vinculante 4
SALVO NOS CASOS PREVISTOS NA CONSTITUIÇÃO, O SALÁRIO MÍNIMO NÃO
PODE SER
USADO COMO INDEXADOR DE BASE DE CÁLCULO DE VANTAGEM DE SERVIDOR
PÚBLICO OU DE EMPREGADO, NEM SER SUBSTITUÍDO POR DECISÃO JUDICIAL.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 30/04/2008
Súmula Vinculante 5
A FALTA DE DEFESA TÉCNICA POR ADVOGADO NO PROCESSO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR NÃO OFENDE A CONSTITUIÇÃO.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 07/05/2008
Súmula Vinculante 6
NÃO VIOLA A CONSTITUIÇÃO O ESTABELECIMENTO DE REMUNERAÇÃO INFERIOR
AO SALÁRIO MÍNIMO PARA AS PRAÇAS PRESTADORAS DE SERVIÇO MILITAR
INICIAL.
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Data de Aprovação: Sessão Plenária de 07/05/2008
Súmula Vinculante 7
A NORMA DO §3º DO ARTIGO 192 DA CONSTITUIÇÃO, REVOGADA PELA EMENDA
CONSTITUCIONAL Nº 40/2003, QUE LIMITAVA A TAXA DE JUROS REAIS A 12% AO
ANO, TINHA SUA APLICAÇÃO CONDICIONADA À EDIÇÃO DE LEI COMPLEMENTAR.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 11/03/2008
Súmula Vinculante 8
SÃO INCONSTITUCIONAIS O PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 5º DO DECRETO-LEI
Nº 1.569/1977 E OS ARTIGOS 45 E 46 DA LEI Nº 8.212/1991, QUE TRATAM DE
PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 12/06/2008
Súmula Vinculante 9
O DISPOSTO NO ARTIGO 127 DA LEI Nº 7.210/1984 (LEI DE EXECUÇÃO PENAL) FOI
RECEBIDO PELA ORDEM CONSTITUCIONAL VIGENTE, E NÃO SE LHE APLICA O
LIMITE TEMPORAL PREVISTO NO CAPUT DO ARTIGO 58.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 12/06/2008
Súmula Vinculante 10
VIOLA A CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO (CF, ARTIGO 97) A DECISÃO DE
ÓRGÃO FRACIONÁRIO DE TRIBUNAL QUE, EMBORA NÃO DECLARE
EXPRESSAMENTE A INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI OU ATO NORMATIVO DO
PODER PÚBLICO, AFASTA SUA INCIDÊNCIA, NO TODO OU EM PARTE.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 18/06/2008
Súmula Vinculante 11
SÓ É LÍCITO O USO DE ALGEMAS EM CASOS DE RESISTÊNCIA E DE FUNDADO
RECEIO DE FUGA OU DE PERIGO À INTEGRIDADE FÍSICA PRÓPRIA OU ALHEIA,
POR PARTE DO PRESO OU DE TERCEIROS, JUSTIFICADA A EXCEPCIONALIDADE
POR ESCRITO, SOB PENA DE RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR, CIVIL E PENAL
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DO AGENTE OU DA AUTORIDADE E DE NULIDADE DA PRISÃO OU DO ATO
PROCESSUAL A QUE SE REFERE, SEM PREJUÍZO DA RESPONSABILIDADE CIVIL
DO ESTADO.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 13/08/2008
Súmula Vinculante 12
A COBRANÇA DE TAXA DE MATRÍCULA NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS VIOLA O
DISPOSTO NO ART. 206, IV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 13/08/2008
Súmula Vinculante 13
A NOMEAÇÃO DE CÔNJUGE, COMPANHEIRO OU PARENTE EM LINHA RETA,
COLATERAL OU POR AFINIDADE, ATÉ O TERCEIRO GRAU, INCLUSIVE, DA
AUTORIDADE NOMEANTE OU DE SERVIDOR DA MESMA PESSOA JURÍDICA
INVESTIDO EM CARGO DE DIREÇÃO, CHEFIA OU ASSESSORAMENTO, PARA O
EXERCÍCIO DE CARGO EM COMISSÃO OU DE CONFIANÇA OU, AINDA, DE FUNÇÃO
GRATIFICADA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA EM QUALQUER
DOS PODERES DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS
MUNICÍPIOS, COMPREENDIDO O AJUSTE MEDIANTE DESIGNAÇÕES RECÍPROCAS,
VIOLA A CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 21/08/2008
Súmula Vinculante 14
É DIREITO DO DEFENSOR, NO INTERESSE DO REPRESENTADO, TER ACESSO
AMPLO AOS ELEMENTOS DE PROVA QUE, JÁ DOCUMENTADOS EM
PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO REALIZADO POR ÓRGÃO COM COMPETÊNCIA
DE POLÍCIA JUDICIÁRIA, DIGAM RESPEITO AO EXERCÍCIO DO DIREITO DE
DEFESA.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 02/02/2009
Súmula Vinculante 15
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O cálculo de gratificações e outras vantagens do servidor público não incide sobre o
abono utilizado para se atingir o salário mínimo.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 25/06/2009
Súmula Vinculante 16
Os artigos 7º, IV, e 39, § 3º (redação da EC 19/98), da Constituição, referem-se ao total da
remuneração percebida pelo servidor público.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 25/06/2009
Súmula Vinculante 17
Durante o período previsto no parágrafo 1º do artigo 100 da Constituição, não incidem
juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 29/10/2009
Súmula Vinculante 18
A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a
inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 29/10/2009
Súmula Vinculante 19
A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e
tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis, não viola o artigo
145, II, da Constituição Federal.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 29/10/2009
Súmula Vinculante 20
A Gratificação de Desempenho de Atividade Técnico-Administrativa – GDATA, instituída
pela Lei nº 10.404/2002, deve ser deferida aos inativos nos valores correspondentes a
37,5 (trinta e sete vírgula cinco) pontos no período de fevereiro a maio de 2002 e, nos
termos do artigo 5º, parágrafo único, da Lei nº 10.404/2002, no período de junho de 2002
até a conclusão dos efeitos do último ciclo de avaliação a que se refere o artigo 1º da
Medida Provisória no 198/2004, a partir da qual passa a ser de 60 (sessenta) pontos.
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Data de Aprovação: Sessão Plenária de 29/10/2009
Súmula Vinculante 21
É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens
para admissibilidade de recurso administrativo.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 29/10/2009
Súmula Vinculante 22
A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por
danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propostas por
empregado contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam sentença de
mérito em primeiro grau quando da promulgação da Emenda Constitucional nº 45/04.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 02/12/2009
Súmula Vinculante 23
A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ação possessória ajuizada em
decorrência do exercício do direito de greve pelos trabalhadores da iniciativa privada.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 02/12/2009
Súmula Vinculante 24
Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da
Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 02/12/2009
Súmula Vinculante 25
É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 16/12/2009
Súmula Vinculante 26
Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou
equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2o da Lei n.
8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não,
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31
os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de
modo fundamentado, a realização de exame criminológico.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 16/12/2009
Súmula Vinculante 27
Compete à Justiça estadual julgar causas entre consumidor e concessionária de serviço
público de telefonia, quando a ANATEL não seja litisconsorte passiva necessária,
assistente, nem opoente.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 18/12/2009
Súmula Vinculante 28
É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de
ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 03/02/2010
Súmula Vinculante 29
É constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa, de um ou mais elementos da base
de cálculo própria de determinado imposto, desde que não haja integral identidade entre
uma base e outra.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 03/02/2010
Súmula Vinculante 30
É inconstitucional lei estadual que, a título de incentivo fiscal, retém parcela do ICMS
pertencente aos municípios.
Súmula Vinculante 31
É inconstitucional a incidência do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza – ISS
sobre operações de locação de bens móveis.
Data de Aprovação: Sessão Plenária de 04/02/2010
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32
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (104 e 105, CF)
Foi criado em 1988 após extinção do Tribunal Federal de Recursos. Tem por finalidade
apreciar questões relativas à lei federal, assegurando a supremacia da legislação federal
em todo o país, bem como a uniformidade de interpretação entre os tribunais das normas
emanadas da União.
Composição
Art. 104. O Superior Tribunal de Justiça compõe-se de, no mínimo, trinta e três
Ministros.
Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal de Justiça serão nomeados pelo
Presidente da República, dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de
sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, depois de aprovada a
escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo:(Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
- um terço dentre juízes dos Tribunais Regionais Federais e um terço dentre
desembargadores dos Tribunais de Justiça, indicados em lista tríplice elaborada pelo
próprio Tribunal;
II - um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público
Federal, Estadual, do Distrito Federal e Territórios, alternadamente, indicados na forma do
art. 94.
Competência
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I - processar e julgar, originariamente:
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes
e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e
do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito
Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do
Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do
Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;
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b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal;(Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999)
c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas
mencionadas na alínea "a", ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição,
Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada
a competência da Justiça Eleitoral; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de
1999)
d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art.
102, I, "o", bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados
a tribunais diversos;
e) as revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados;
f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de
suas decisões;
g) os conflitos de atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da União,
ou entre autoridades judiciárias de um Estado e administrativas de outro ou do Distrito
Federal, ou entre as deste e da União;
h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for
atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta,
excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da
Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal;
i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas
rogatórias;(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
II - julgar, em recurso ordinário:
a) os "habeas-corpus" decididos em única ou última instância pelos Tribunais
Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios,
quando a decisão for denegatória;
b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando
denegatória a decisão;
c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de
um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País;
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III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância,
pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e
Territórios, quando a decisão recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal;(Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.
JUSTIÇA FEDERAL (106 A 110, CF)
Composição:
Art. 106. São órgãos da Justiça Federal:
I - os Tribunais Regionais Federais;
II - os Juízes Federais.
Fazem parte, também, da Justiça Federal:
a) O Tribunal do Júri, para julgar os crimes dolosos (intencionais) contra a vida cometidos
em detrimento de funcionários dos órgãos da Administração direta e indireta da União, no
exercício de suas funções;
b) O Juizados Especiais Federais (CF, art. 98, parágrafo único e Lei 10.259/2001).
Tribunais Regionais Federais: composição e competência
Art. 107. Os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no mínimo, sete juízes,
recrutados, quando possível, na respectiva região e nomeados pelo Presidente da
República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo:
I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional
e membros do Ministério Público Federal com mais de dez anos de carreira;
II - os demais, mediante promoção de juízes federais com mais de cinco anos de
exercício, por antigüidade e merecimento, alternadamente.
§ 1º A lei disciplinará a remoção ou a permuta de juízes dos Tribunais Regionais
Federais e determinará sua jurisdição e sede. (Renumerado pela Emenda Constitucional
nº 45, de 2004)
§ 2º Os Tribunais Regionais Federais instalarão a justiça itinerante, com a realização
de audiências e demais funções da atividade jurisdicional, nos limites territoriais da
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respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 3º Os Tribunais Regionais Federais poderão funcionar descentralizadamente,
constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à
justiça em todas as fases do processo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de
2004)
Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais:
I - processar e julgar, originariamente:
a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da
Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do
Ministério Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;
b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais
da região;
c) os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato do próprio Tribunal ou de
juiz federal;
d) os "habeas-corpus", quando a autoridade coatora for juiz federal;
e) os conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal;
II - julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes
estaduais no exercício da competência federal da área de sua jurisdição.
Juízes Federais: competência
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem
interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de
falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do
Trabalho;
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou
pessoa domiciliada ou residente no País;
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou
organismo internacional;
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens,
serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas,
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excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça
Eleitoral;
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a
execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente;
V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste
artigo;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei,
contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;
VII - os "habeas-corpus", em matéria criminal de sua competência ou quando o
constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra
jurisdição;
VIII - os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato de autoridade federal,
excetuados os casos de competência dos tribunais federais;
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência
da Justiça Militar;
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de
carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as
causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;
XI - a disputa sobre direitos indígenas.
§ 1º - As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde
tiver domicílio a outra parte.
§ 2º - As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária
em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu
origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.
§ 3º - Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos
segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência
social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se
verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também
processadas e julgadas pela justiça estadual.
§ 4º - Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o
Tribunal Regional Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau.
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§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da
República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar,
perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo,
incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
Importante – a Justiça Federal é dividida no Brasil da seguinte forma:
Segunda instância (TRFs) – Regiões
Primeira instância – Seções Judiciárias
Ex. a Seção Judiciária de São Paulo está vinculada ao TRF da 3ª Região.
JUSTIÇA DO TRABALHO (111 a 117, CF)
Tem por função conhecer e dirimir litígios de natureza trabalhista.
Órgãos – TST, TRTs, Juízes do Trabalho – 111, CF.
Art. 111. São órgãos da Justiça do Trabalho:
I - o Tribunal Superior do Trabalho;
II - os Tribunais Regionais do Trabalho;
III - Juizes do Trabalho.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 24, de 1999)
Não há mais a representação classista na Justiça do Trabalho. Por tal motivo, a antiga
denominação “Junta de Conciliação e Julgamento” (órgão de primeira instância) foi
substituída por “Vara do Trabalho”.
Art. 112. A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas não
abrangidas por sua jurisdição, atribuí-la aos juízes de direito, com recurso para o
respectivo Tribunal Regional do Trabalho. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
45, de 2004)
TST:
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38
Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de vinte e sete Ministros,
escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco
anos, nomeados pelo Presidente da República após aprovação pela maioria absoluta do
Senado Federal, sendo: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
I um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional
e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício,
observado o disposto no art. 94;
II os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da
magistratura da carreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior.
Competência Justiça do Trabalho:
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
I as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público
externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
II as ações que envolvam exercício do direito de greve; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
III as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e
trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 45, de 2004)
IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data , quando o ato
questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
V os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o
disposto no art. 102, I, o; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
VI as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de
trabalho; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
VII as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores
pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
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VIII a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II, e
seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
IX outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 1º - Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros.
§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é
facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica,
podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas
legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do
interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo,
competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
TRTs
Art. 115. Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no mínimo, sete juízes,
recrutados, quando possível, na respectiva região, e nomeados pelo Presidente da
República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo:
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
I um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional
e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício,
observado o disposto no art. 94;
II os demais, mediante promoção de juízes do trabalho por antigüidade e
merecimento, alternadamente.
§ 1º Os Tribunais Regionais do Trabalho instalarão a justiça itinerante, com a
realização de audiências e demais funções de atividade jurisdicional, nos limites territoriais
da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários.
§ 2º Os Tribunais Regionais do Trabalho poderão funcionar descentralizadamente,
constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à
justiça em todas as fases do processo.
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No Estado de São Paulo há 2 TRTs, a saber: um, com sede na capital, com competência
para julgar recursos oriundos das varas do trabalho da capital; outro, em Campinas, com
competência para julgar recursos oriundos das varas do trabalho do interior do Estado.
JUSTIÇA ELEITORAL (118 a 121, CF)
Órgãos:
Art. 118. São órgãos da Justiça Eleitoral:
I - o Tribunal Superior Eleitoral;
II - os Tribunais Regionais Eleitorais;
III - os Juízes Eleitorais;
IV - as Juntas Eleitorais.
Composição:
Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete membros,
escolhidos:
I - mediante eleição, pelo voto secreto:
a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal;
b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça;
II - por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis advogados de
notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal.
Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-
Presidente dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o Corregedor Eleitoral
dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça.
TREs
Art. 120. Haverá um Tribunal Regional Eleitoral na Capital de cada Estado e no
Distrito Federal.
§ 1º - Os Tribunais Regionais Eleitorais compor-se-ão:
I - mediante eleição, pelo voto secreto:
a) de dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça;
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b) de dois juízes, dentre juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal de Justiça;
II - de um juiz do Tribunal Regional Federal com sede na Capital do Estado ou no
Distrito Federal, ou, não havendo, de juiz federal, escolhido, em qualquer caso, pelo
Tribunal Regional Federal respectivo;
III - por nomeação, pelo Presidente da República, de dois juízes dentre seis
advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Tribunal de
Justiça.
§ 2º - O Tribunal Regional Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente- dentre
os desembargadores.
Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais,
dos juízes de direito e das juntas eleitorais.
§ 1º - Os membros dos tribunais, os juízes de direito e os integrantes das juntas
eleitorais, no exercício de suas funções, e no que lhes for aplicável, gozarão de plenas
garantias e serão inamovíveis.
§ 2º - Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por dois
anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os substitutos
escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual para cada
categoria.
§ 3º - São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior Eleitoral, salvo as que
contrariarem esta Constituição e as denegatórias de "habeas-corpus" ou mandado de
segurança.
§ 4º - Das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais somente caberá recurso
quando:
I - forem proferidas contra disposição expressa desta Constituição ou de lei;
II - ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois ou mais tribunais eleitorais;
III - versarem sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas eleições federais ou
estaduais;
IV - anularem diplomas ou decretarem a perda de mandatos eletivos federais ou
estaduais;
V - denegarem "habeas-corpus", mandado de segurança, "habeas-data" ou mandado
de injunção.
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JUSTIÇA MILITAR
Composição – 122, CF:
Art. 122. São órgãos da Justiça Militar:
I - o Superior Tribunal Militar;
II - os Tribunais e Juízes Militares instituídos por lei.
Composição STM – 123, CF:
Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze Ministros vitalícios,
nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a indicação pelo Senado
Federal, sendo três dentre oficiais-generais da Marinha, quatro dentre oficiais-generais do
Exército, três dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais
elevado da carreira, e cinco dentre civis.
Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República
dentre brasileiros maiores de trinta e cinco anos, sendo:
I - três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez
anos de efetiva atividade profissional;
II - dois, por escolha paritária, dentre juízes auditores e membros do Ministério Público
da Justiça Militar.
Competência:
Art. 124. à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em
lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência
da Justiça Militar.
A CF estabelece a possibilidade de ser criada, mediante lei estadual proposta pelo TJ,
uma justiça militar estadual para julgar os crimes militares cometidos por policiais militares
e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressaltava a competência do Júri
quando a vítima for civil.
Em 1º grau – juízes de Direito e Conselhos de Justiça.
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Nos Estados em que o efetivo militar seja superior a 20 mil integrantes é possível a
criação de um TJ Militar Estadual.
Os juízes de direito do juízo militar julgam, de forma singular, os crimes militares
cometidos contra civis e ações judiciais contra atos disciplinares militares.
Os Conselhos de Justiça, compostos por Oficiais da Polícia Militar, sob a presidência do
juiz de direito, julgam os demais crimes militares.
A Justiça Militar Estadual não possui competência para julgar civis. Compete à Justiça
comum processar e julgar civis acusados da prática de crimes contra as instituições
estaduais militares (Súmula 53, STJ).
125, § 3º, CF: A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a
Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos
Conselhos de Justiça e, em segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por
Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil
integrantes. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
- Militares e civis PODEM ser julgados pela prática de infrações previstas na legislação
penal de competência da Justiça Militar da União.
- Entretanto, isso não ocorre em relação à Justiça Militar dos Estados, que se
aplica somente a policiais e bombeiros militares:
125, § 4º, CF Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos
Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares
militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal
competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das
praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
Importante – a CF retirou da competência da Justiça Militar o julgamento dos crimes
políticos (109, IV, CF).
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JUSTIÇA ESTADUAL – 125 e 126, CF
Órgãos – Tribunal de Justiça (A Emenda Constitucional 45/2004 extinguiu os antigos
Tribunais de Alçada), Juízes de Direito, Tribunal do Júri e Juizados Especiais (Lei
9.099/95).
Competência – é residual: o que não couber à federal comum e às federais
especializadas (trabalhista, eleitoral e militar) e à Justiça Militar Estadual será de sua
competência.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
Integra o Judiciário, porém, sem função jurisdicional (tem funções administrativas e
correicionais) – art. 92, I-A, CF.
Tem sede na capital federal, de natureza administrativa, sem o exercício de qualquer
atribuição jurisdicional, com a finalidade de atender ao controle (externo) do Judiciário.
Composição – 103-B, CF.
Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) membros com
mandato de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma) recondução, sendo: (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 61, de 2009)
I - o Presidente do Supremo Tribunal Federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 61, de 2009)
II um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respectivo tribunal;
III um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo respectivo tribunal;
IV um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;
V um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;
VI um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;
VII um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;
VIII um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do
Trabalho;
IX um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;
X um membro do Ministério Público da União, indicado pelo Procurador-Geral da
República;
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XI um membro do Ministério Público estadual, escolhido pelo Procurador-Geral da
República dentre os nomes indicados pelo órgão competente de cada instituição estadual;
XII dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
XIII dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela
Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.
§ 1º O Conselho será presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal e, nas suas
ausências e impedimentos, pelo Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 61, de 2009)
§ 2º Os demais membros do Conselho serão nomeados pelo Presidente da República,
depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal. (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 61, de 2009)
§ 3º Não efetuadas, no prazo legal, as indicações previstas neste artigo, caberá a escolha
ao Supremo Tribunal Federal.
§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder
Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de
outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura:
I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da
Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou
recomendar providências;
II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a
legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder
Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as
providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do
Tribunal de Contas da União;
III receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário,
inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços
notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem
prejuízo da competência disciplinar e correicional dos tribunais, podendo avocar
processos disciplinares em curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou a
aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar
outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa;
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IV representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a administração pública ou
de abuso de autoridade;
V rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e
membros de tribunais julgados há menos de um ano;
VI elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e sentenças prolatadas,
por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário;
VII elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias, sobre a
situação do Poder Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar
mensagem do Presidente do Supremo Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso
Nacional, por ocasião da abertura da sessão legislativa.
§ 5º O Ministro do Superior Tribunal de Justiça exercerá a função de Ministro-Corregedor
e ficará excluído da distribuição de processos no Tribunal, competindo-lhe, além das
atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura, as seguintes:
I receber as reclamações e denúncias, de qualquer interessado, relativas aos magistrados
e aos serviços judiciários;
II exercer funções executivas do Conselho, de inspeção e de correição geral;
III requisitar e designar magistrados, delegando-lhes atribuições, e requisitar servidores de
juízos ou tribunais, inclusive nos Estados, Distrito Federal e Territórios.
§ 6º Junto ao Conselho oficiarão o Procurador-Geral da República e o Presidente do
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.
§ 7º A União, inclusive no Distrito Federal e nos Territórios, criará ouvidorias de justiça,
competentes para receber reclamações e denúncias de qualquer interessado contra
membros ou órgãos do Poder Judiciário, ou contra seus serviços auxiliares, representando
diretamente ao Conselho Nacional de Justiça.
FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA
Considerando-se que a atividade jurisdicional é inerte e, portanto, só age mediante
provocação, a Constituição prevê certas entidades que, elevadas ao posto de funções
essenciais á Justiça, têm por finalidade provocar a atuação do Judiciário. Tais funções
encontram-se estampadas nos arts. 127/134, da Constituição Federal.
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MINISTÉRIO PÚBLICO
Arts. 127/130, CF
A CF trata do MP em capítulo posterior ao Poder Judiciário, chamado “das funções
essenciais à Justiça”.
Essa posição topográfica do MP tem justificativa. A prestação jurisdicional possui as
seguintes características: inércia, substitutividade e definitividade. Devido à inércia
jurisdicional, é essencial a presença de advogados e MP para provocar a justiça.
HUGO NIGRO MAZZILLI diz que essa justificativa é insuficiente. Para ele, a CF diz menos
do que deveria dizer. O MP e os advogados não são essenciais só para a Justiça, mas
sim à própria existência do Estado, pois eles atuam extrajudicialmente (ex: transações).
É instituição permanente (não pode ser dissolvido), essencial à função jurisdicional do
Estado, incumbida da defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis.
O Ministério Público não é vinculado funcionalmente ao Judiciário, ao Legislativo ou ao
Executivo. Por tal motivo, alguns chegam a defini-lo, erroneamente, como um “quarto
Poder”.
Compete a ele atuar:
a) como órgão de defesa dos interesses sociais; b) como fiscal do rigoroso cumprimento
da lei; c) como defensor de interesses individuais indisponíveis.
Evolução histórica da posição constitucional do MP
O primeiro registro mais concreto veio da França. No dia 25 de março de 1302, o Rei
Felipe IV criou uma instituição chamada “procuradores do rei”. Seria o nascimento do MP.
CF/24: não tratou do MP
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Em 1832, foi editado o código de processo criminal do império. Aqui foi feita referência aos
“promotores de ação penal”.
CF/91: afirmou que o Procurador-Geral da República será escolhido dentre os ministros
do STF. Assim, o MP estava posicionado dentro do Poder Judiciário.
CF/34: o MP veio no capítulo de atividades de cooperação governamental. Assim, o MP
veio posicionado dentro do Poder Executivo.
CF/37: fez referência ao MP em 1 só artigo, mas não o tratou como instituição.
CF/46: o MP veio como instituição independente, fora dos 3 Poderes.
CF/67: o MP veio dentro do Poder Judiciário
CF/69: o MP veio dentro do Poder Executivo.
CF/88: por fim, hoje, formalmente, temos 3 órgãos de Poder, sendo que o MP não
está dentro de nenhum deles e nem constitui um 4º Poder. O MP é uma instituição extra-
poder: sem ser um Poder, ele exerce atribuições de Poder e garantias de Poder.
HUGO NIGRO MAZZILI entende que: “não interessa ser Poder, o que importa é ter
atribuições e garantias de Poder.”
JOSÉ AFONSO DA SILVA, por sua vez, entende de maneira diversa: para ele o MP é
uma instituição parte do Executivo pois se ele não legisla e suas decisões não têm força
de definitivas, seu atos são administrativos e, assim, integra o Poder Executivo.
Organização do Ministério Público (art. 128, CF)
1. Ministério Público da União (regulado pela LC 75/93)
a. Ministério Público Federal (MPF)
b. Ministério Público do Trabalho (MPT)
c. Ministério Público Militar (MPM )
d. Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT)
2. Ministério Público Estadual (regulado pela Lei 8625/93 e respectivas leis
complementares estaduais)
Obs: não temos MPDF porque o DF é pessoa jurídica com maiores limites que os
estados-membros e menos autonomia. Só existe o MPDFT, que está dentro do MPU e
abrange DF e territórios.
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Ministério Público da União:
O chefe do MPU é o Procurador Geral da República: art. 128, §1º
- é escolhido dentre os integrantes da carreira
Obs: a maioria entende que só pode ser escolhido por membros do MPF, pois os outros
ramos são específicos. A minoria entende que abrange todos os ramos, pois a CF não
restringe.
- com idade mínima de 35 anos
- é o Presidente da República que indica o nome
- o nome indicado precisa de aprovação do Senado, por maioria absoluta
- o seu afastamento se dá só por votação do Senado também.
- o Procurador Geral da República (PGR) exercerá mandato de 2 anos, permitindo-se
quantas reconduções o Presidente desejar. Obs: para JOSÉ AFONSO DA SILVA não é
mandato, mas sim investidura por prazo certo, pois, por exemplo, se o PGR deixar o
cargo, um novo o substituirá com nova investidura; o substituto não exerce só pelo final do
mandato do substituído (como ocorre em mandatos).
Cada ramo do MPU possui seu Procurador Geral próprio (ex: Procurador Geral do MPM),
menos o MPF, pois seu chefe é o PGR.
Quem escolhe o Procurador Geral do MPT e MPM é o PGR. Já o Procurador Geral do
MPDFT é escolhido pelo Presidente. Os mandatos são de 2 anos, permitindo-se uma
única recondução.
Ministério Público Federal:
Procurador da República: oficia perante o juiz federal
Procurador Regional da República: oficia perante um dos TRFs.
Sub-procurador Geral da República: oficia perante o STJ
Procurador Geral da República: oficia perante o STF
Ministério Público Estadual:
O chefe é o Procurador Geral de Justiça, que é escolhido entre os integrantes da carreira
pelo Governador, por mandato de 2 anos, permitindo-se uma única recondução.
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Diferenças entre a escolha do Procurador Geral da República (PGR) e Procurador Geral
de Justiça (PGJ):
PGR PGJ
É escolhido pelo Presidente da
República
É escolhido pelos governadores
O nome é único. A escolha
pelo Presidente é livre.
O governador escolhe o nome dentro de uma lista tríplice. A
escolha, assim, torna-se vinculada.
O nome deve ser aprovado
pelo Senado
Não precisa de aprovação da Assembléia. O STF disse que
será inconstitucional a CE que colocar esse requisito.
Não tem limites de
reconduções
É permitida uma única recondução
Autoridades do Ministério Público Estadual:
Promotor de Justiça: oficia perante o juiz de direito
Procurador de Justiça: oficia perante o TJ
Procurador Geral de Justiça: oficia perante o STJ
Obs: depende da Constituição Estadual e de Lei Complementar estadual quem pode ser
escolhido como PGJ. Em SP, só podem sê-lo os Procuradores de Justiça. Em outros
estados (ex: GO), se permitem sê-los os Promotores de Justiça.
MP do art. 130, da CF:
O MP do art. 130 não faz parte do MPU ou MPE. E o CNMP não o fiscaliza. Esse
artigo criou um MP especial perante o Tribunal de Contas da União. É o entendimento do
STF.
No TCE, quem oficia é o MPE, mas em alguns estados já foi criado o MP especial
estadual (RJ, GO MT).
O CNMP editou a resolução 22, no sentido de que não é mais possível que os
membros do MPE oficiem em TCE. Foi dado prazo para a mudança;
MP eleitoral: não existe. O correto é MP com atribuições eleitorais.
Princípios institucionais do MP
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1. Princípio da unidade: só existe 1 MP com 1 chefe (procurador geral). Essa
unidade se refere a cada ramo (MPF, MPM, MPE...). No instante em que um
membro se manifesta, ele fala pela instituição MP.
2. Princípio da indivisibilidade: decorre da unidade. É possível substituir um
membro pelo outro sem qualquer interferência na representação da instituição.
3. Princípio da independência funcional: ausência de subordinação hierárquica
pelos seus membros. O procurador geral é o chefe administrativo. É diferente de
autonomia funcional (art. 127, §2º, CF). Esta é independência da instituição
perante os Poderes. Justificativa da independência funcional: para garantia
fundamental do cidadão, não ficando amarrado a ninguém. Obs: as
recomendações dos conselhos superiores do MP não violam esse princípio pois
elas não o vinculam.
4. Princípio do promotor natural: decorre do sistema constitucional. O STF já o
reconheceu. É uma garantia fundamental do cidadão contra designações
arbitrárias, de encomenda. O cidadão tem direito de se verem processados por
membros do MP previamente estabelecido. Art. 5º, LIII - “ninguém será
processado (MP) e sentenciado (juiz) ...”
5. Princípio da federalização: art. 37, I e art. 72, LC 75/93. Como a justiça eleitoral
é federal, quem deve exercer as atribuições eleitorais é o MPF.
6. Princípio da delegação: art. 78, LC 75/93. Ainda que a justiça eleitoral seja
federal, o MPF pode delegar ao MPE suas atribuições eleitorais, em 1º grau.
Os princípios 1, 2 e 3 são expressos na CF, já o 4º é implícito nela. O 5 e 6 são
infra-constitucionais.
Atribuições do MP
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O rol de atribuições é exemplificativo, visto que o art. 129, IX fala em “exercer outras
funções que lhe forem conferidas”. Porém, para que outras lhe sejam proferidas, são 3 os
requisitos necessários:
1. Requisito formal: lei federal ou estadual
2. Requisito material: desde que compatível com as atribuições
constitucionais.
3. Requisito negativo: a CF proíbe que o MP faça a defesa de entidades
públicas (judicial ou por consultoria).
Atribuições genéricas: art. 127, CF
“instituição permanente”: é o princípio da essencialidade do MP. Essa instituição não
pode ser extinta. Seria inconstitucional acabar com a independência do MP porque
ocorreria a hipertrofia de um Poder, em detrimento dos outros.
“defesa da ordem jurídica”: ordem jurídica é o conjunto de regras e princípios de um
Estado em um determinado momento. É organização, disciplina da sociedade pelo Direito.
Para a defesa da ordem jurídica, o MP atua como órgão:
1. Interveniente: a) em razão da natureza jurídica da parte ou; b) em razão da
natureza jurídica da relação jurídica processual. Obs: em ação penal, ele é
interveniente em ação penal privada, em defesa do princípio da indivisibilidade.
2. Agente: ajuíza ações penais e civis.
“regime democrático”: é a proteção da liberdade, igualdade e dignidade da pessoa
humana, ou seja, é muito mais que o exercício de direitos políticos.
“interesses sociais e individuais indisponíveis”: interesse é posição jurídica favorável
para satisfação de determinada necessidade. Os interesses sociais são os direitos de 2ª
dimensão e os individuais indisponíveis são os que não podem ser disponibilizados pelos
particulares. Obs: direitos individuais homogêneos disponíveis podem ser de interesse do
MP se tiverem repercussão social.
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Atribuições específicas:
I. Faz referência ao sistema processual penal acusatório em que o MP é o titular da
ação penal. Por decorrência desse inciso, o MP tem o dever de provar a
acusação.
II e III – zela pelas atribuições dos órgãos do Estado; zela por serviços de
relevância pública (ex: saúde); zela pelo patrimônio público (material, imaterial moral e
ético) e por outros interesses difusos.
IV- Promove a ação de inconstitucionalidade pelo PGR e PGJ. O MP defende a
força normativa da CF. Obs: o MP atuando na ação de inconstitucionalidade interventiva é
promover a defesa do pacto federativo.
V- É competência do MPF. A defesa do interesses indígenas também pode ser feita
pelos próprios índios, suas comunidades e por organizações (art. 232, CF)
VI- O CNMP regrou por meio de uma resolução todo esse procedimento
administrativo. Esses procedimentos podem ser peças de informação ou inquérito civil.
É nesse inciso que se encontra o poder de requisição do MP. Se a requisição for
desatendida configura crime do art. 10, LACP (não é crime de desobediência).
VII- O CNMP já regulamentou o controle externo da atividade policial, que
repercute na atividade finalística da polícia.
VIII- A resolução 13 do CNMP regra o denominado PIQUE – procedimento de
investigação criminal do MP.
Investigação pelo MP:
Argumentos contra:
1. O poder investigativo do MP fere o sistema acusatório
2. O poder é exclusivo da polícia: art. 144, §1º, IV, CP
3. Não há previsão legal: art. 4º, par. único
4. O MP perde a imparcialidade
5. O MP não tem controle externo quando investiga
Argumentos a favor que rebatem os argumento contra:
1. Não fere o sistema acusatório porque a tarefa de investigar não foi monopolizada
para ninguém. Ele investiga para ele mesmo acusar.
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2. A expressão “exclusividade” do art. 144, §1º, IV é referente às outras polícias
descritas no art. 144. Não se refere aos órgãos ministeriais. Além disso, polícia
judiciária tem função de auxiliar a justiça, sendo diferente de polícia investigativa.
3. Tem previsão legal
- Leis orgânicas do MP
- art. 39, §5º, CPP: se o MP já tiver os elementos não precisa do IP
- Lei dos crimes contra o sistema financeiro e estatuto do idoso
- CF, art. 129, inc. I: se o MP pode promover a denúncia, ele também pode
investigar, diligenciar para promover a ação – quem pode o mais pode o menos.
É a teoria dos poderes implícitos. Outros incisos também mencionam: VI-
“procedimentos administrativos de sua competência”, VIII- “requisitar diligências”.
4. O MP não perde a imparcialidade pois senão ocorreria o mesmo na IC
5. O controle externo é realizado pela resolução do CNMP prevendo prazo de
investigação; e o juiz também o controla pelo art. 28.
6. O Pacto de São José da Costa Rica e o Tratado de Palermo afirmam que o MP
pode investigar.
STJ: pode investigar com base na súmula 234: o membro do MP que realiza a
investigação pode oferecer acusação.
STF: o assunto está no Pleno, inquérito 1968. Porém, uma coisa é tranqüila: se a
investigação do MP ocorreu no IC, a denúncia dispensa o IP.
MP pode advogar?
A CF proíbe que membros do MP advoguem, no entanto, o ADCT (art. 29, §3º) traz
uma exceção: os membros do MPF que adentraram na carreira antes de 1988 podem
advogar.
Atividade político-partidária:
Membros do MP que adentraram até 1988 podem exercer atividade político-
partidária. Assim, se ganharem eleição ficam de licença do cargo.
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Membros do MP que adentraram a partir de 05/10/88 até EC45/04 – temos duas
posições:
1ª: pode, pois a EC45/04 só se aplica para frente (licença)
2ª: não pode se candidatar a não ser que se exonere do cargo
O CNMP tem uma resolução sobre o assunto que deixa margem à dúvida.
Membros do MP que adentraram após a EC/45 não podem exercer atividade
político-partidária. Caso queiram se candidatar, devem se exonerar.
Garantias e Vedações do MP– 128, § 5º, CF:
128, § 5º - Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada
aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o
estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros:
I - as seguintes garantias:
a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por
sentença judicial transitada em julgado;
b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do órgão
colegiado competente do Ministério Público, pelo voto da maioria absoluta de seus
membros, assegurada ampla defesa; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45,
de 2004)
c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § 4º, e ressalvado o disposto
nos arts. 37, X e XI, 150, II, 153, III, 153, § 2º, I; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)
II - as seguintes vedações:
a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou
custas processuais;
b) exercer a advocacia (IMPORTANTE – vide Resolução 8, do Conselho Nacional do
Ministério Público);
c) participar de sociedade comercial, na forma da lei;
d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de
magistério;
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e) exercer atividade político-partidária; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
45, de 2004) (IMPORTANTE – vide Resolução 5, do Conselho Nacional do Ministério
Público);
f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas,
entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei. (Incluída pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 6º Aplica-se aos membros do Ministério Público o disposto no art. 95, parágrafo
único, V. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
Art. 95, par. único, V, CF (“quarentena”) - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual
se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou
exoneração.
Nesses casos, o entendimento é o mesmo mencionado em relação aos membros do
Judiciário: o membro do MP não pode atuar junto ao Tribunal do qual se afastou (2ª
instância) ou junto à comarca ou à seção judiciária na qual atuava (1ª instância).
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO
É composto por 14 membros e presidido pelo PGR.
Atribuições:
- controla a atuação administrativa e financeira do MP
- fiscaliza se os membros do MP estão cumprindo o art. 37, CF.
Ele não pode adentrar no exercício das atribuições do MP nem discutir as
atribuições deste.
Composição, Competência e Funcionamento do CNMP
Art. 130-A. O Conselho Nacional do Ministério Público compõe-se de quatorze
membros nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela
maioria absoluta do Senado Federal, para um mandato de dois anos, admitida uma
recondução, sendo: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
I o Procurador-Geral da República, que o preside;
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II quatro membros do Ministério Público da União, assegurada a representação de
cada uma de suas carreiras;
III três membros do Ministério Público dos Estados;
IV dois juízes, indicados um pelo Supremo Tribunal Federal e outro pelo Superior
Tribunal de Justiça;
V dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil;
VI dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela
Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.
§ 1º Os membros do Conselho oriundos do Ministério Público serão indicados pelos
respectivos Ministérios Públicos, na forma da lei.
§ 2º Compete ao Conselho Nacional do Ministério Público o controle da atuação
administrativa e financeira do Ministério Público e do cumprimento dos deveres funcionais
de seus membros, cabendo-lhe:
I - zelar pela autonomia funcional e administrativa do Ministério Público, podendo
expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências;
II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a
legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Ministério
Público da União e dos Estados, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para
que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da
competência dos Tribunais de Contas;
III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Ministério
Público da União ou dos Estados, inclusive contra seus serviços auxiliares, sem prejuízo
da competência disciplinar e correicional da instituição, podendo avocar processos
disciplinares em curso, determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com
subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções
administrativas, assegurada ampla defesa;
IV - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de membros
do Ministério Público da União ou dos Estados julgados há menos de um ano;
V - elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias sobre a
situação do Ministério Público no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar a
mensagem prevista no art. 84, XI.
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§ 3º O Conselho escolherá, em votação secreta, um Corregedor nacional, dentre os
membros do Ministério Público que o integram, vedada a recondução, competindo-lhe,
além das atribuições que lhe forem conferidas pela lei, as seguintes:
I - receber reclamações e denúncias, de qualquer interessado, relativas aos membros
do Ministério Público e dos seus serviços auxiliares;
II - exercer funções executivas do Conselho, de inspeção e correição geral;
III - requisitar e designar membros do Ministério Público, delegando-lhes atribuições, e
requisitar servidores de órgãos do Ministério Público.
§ 4º O Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil oficiará
junto ao Conselho.
§ 5º Leis da União e dos Estados criarão ouvidorias do Ministério Público,
competentes para receber reclamações e denúncias de qualquer interessado contra
membros ou órgãos do Ministério Público, inclusive contra seus serviços auxiliares,
representando diretamente ao Conselho Nacional do Ministério Público.
Art. 129, CF:
§ 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á mediante concurso público
de provas e títulos, assegurada a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em sua
realização, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e
observando-se, nas nomeações, a ordem de classificação. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004) (IMPORTANTE – vide Resolução 29, do Conselho Nacional
do Ministério Público)
§ 4º Aplica-se ao Ministério Público, no que couber, o disposto no art. 93. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 5º A distribuição de processos no Ministério Público será imediata. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
ADVOCACIA
Divide-se em advocacia pública e privada.
ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO – art. 131, CF:
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Representa a União judicial e extrajudicialmente, além de exercer atividades de
consultoria e assessoramento.
Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição que, diretamente ou através de
órgão vinculado, representa a União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos
termos da lei complementar que dispuser sobre sua organização e funcionamento, as
atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo.
§ 1º - A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Geral da União, de livre
nomeação pelo Presidente da República dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos,
de notável saber jurídico e reputação ilibada.
§ 2º - O ingresso nas classes iniciais das carreiras da instituição de que trata este
artigo far-se-á mediante concurso público de provas e títulos.
§ 3º - Na execução da dívida ativa de natureza tributária, a representação da União
cabe à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, observado o disposto em lei.
Procuradoria Geral do Estado – art. 132, CF
Representa judicial e extrajudicialmente os Estados, além das atividades de consultoria e
assessoramento.
Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira,
na qual o ingresso dependerá de concurso público de provas e títulos, com a participação
da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão a representação
judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste artigo é assegurada estabilidade
após três anos de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho perante os
órgãos próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
Defensoria pública
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Não foi instituída, por ora, em todos Estados. Em SP, recentemente a Defensoria
Pública foi instituída, porém, haja vista o excesso de demanda promove-se a assessoria
jurídica dos hipossuficientes, também, por meio de convênio celebrado com a OAB/SP.
Art. 134. A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na
forma do art. 5º, LXXIV.)
§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal
e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em
cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e
títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício
da advocacia fora das atribuições institucionais. (Renumerado pela Emenda Constitucional
nº 45, de 2004)
§ 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e
administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos
na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
Art. 135. Os servidores integrantes das carreiras disciplinadas nas Seções II e III
deste Capítulo serão remunerados na forma do art. 39, § 4º. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)
Advocacia – art. 133
Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por
seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.
Ao advogado aplicam-se as disposições do Código de Ética e Disciplina da OAB, bem
como as disposições da Lei n.º 8.906/94.
Os advogados públicos sujeitam-se às normas próprias de suas carreiras, porém, aplica-
se, na omissão dessas e em caráter subsidiário, as disposições do Código de Ética e
Disciplina da OAB e da Lei 8.906/94 (Estatuto da Advocacia).
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O advogado encontra legitimidade para representar seu cliente em juízo por meio da
procuração ad judicia (ou “procuração para o foro em geral”). Sem ela, seus atos são
reputados nulos. Advogados públicos não precisam juntar procuração aos autos.
Considerando-se que há entre advogado e cliente um contrato de mandato, por meio do
qual um se obriga a representar o outro, o instrumento que viabiliza o mandato é a
procuração. Logo, a procuração é o instrumento do mandato (alguns, erroneamente e por
falta de técnica ou de vernáculo, utilizam a expressão “instrumento de procuração”; repita-
se: a procuração é instrumento do mandato).
Em questões urgentes o advogado pode atuar sem procuração, porém obriga-se a juntar,
nos 10 dias subseqüentes à prática do ato, o instrumento do mandato (procuração).
Far-se-á remissão aos dispositivos mais pertinentes da Lei 8906/94 e do Código de Ética
e Disciplina das OAB, conforme amplamente discutido em salas de aula.
Lei nº 8.906, de 04 de julho de 1994
CAPÍTULO I
Da Atividade de Advocacia
Art. 1º São atividades privativas de advocacia:
I - a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais; (Vide
ADIN 1127-8)
II - as atividades de consultoria, assessoria e direção jurídicas.
§ 1º Não se inclui na atividade privativa de advocacia a impetração de habeas corpus
em qualquer instância ou tribunal.
§ 2º Os atos e contratos constitutivos de pessoas jurídicas, sob pena de nulidade, só
podem ser admitidos a registro, nos órgãos competentes, quando visados por advogados.
§ 3º É vedada a divulgação de advocacia em conjunto com outra atividade.
Art. 2º O advogado é indispensável à administração da justiça.
§ 1º No seu ministério privado, o advogado presta serviço público e exerce função
social.
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§ 2º No processo judicial, o advogado contribui, na postulação de decisão favorável
ao seu constituinte, ao convencimento do julgador, e seus atos constituem múnus público.
§ 3º No exercício da profissão, o advogado é inviolável por seus atos e
manifestações, nos limites desta lei.
Art. 3º O exercício da atividade de advocacia no território brasileiro e a denominação
de advogado são privativos dos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),
§ 1º Exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao regime desta lei, além do
regime próprio a que se subordinem, os integrantes da Advocacia-Geral da União, da
Procuradoria da Fazenda Nacional, da Defensoria Pública e das Procuradorias e
Consultorias Jurídicas dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas
entidades de administração indireta e fundacional.
§ 2º O estagiário de advocacia, regularmente inscrito, pode praticar os atos previstos
no art. 1º, na forma do regimento geral, em conjunto com advogado e sob
responsabilidade deste.
Art. 4º São nulos os atos privativos de advogado praticados por pessoa não inscrita
na OAB, sem prejuízo das sanções civis, penais e administrativas.
Parágrafo único. São também nulos os atos praticados por advogado impedido - no
âmbito do impedimento - suspenso, licenciado ou que passar a exercer atividade
incompatível com a advocacia.
Art. 5º O advogado postula, em juízo ou fora dele, fazendo prova do mandato.
§ 1º O advogado, afirmando urgência, pode atuar sem procuração, obrigando-se a
apresentá-la no prazo de quinze dias, prorrogável por igual período.
§ 2º A procuração para o foro em geral habilita o advogado a praticar todos os atos
judiciais, em qualquer juízo ou instância, salvo os que exijam poderes especiais.
§ 3º O advogado que renunciar ao mandato continuará, durante os dez dias
seguintes à notificação da renúncia, a representar o mandante, salvo se for substituído
antes do término desse prazo.
CAPÍTULO II
Dos Direitos do Advogado
Art. 6º Não há hierarquia nem subordinação entre advogados, magistrados e
membros do Ministério Público, devendo todos tratar-se com consideração e respeito
recíprocos.
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Parágrafo único. As autoridades, os servidores públicos e os serventuários da justiça
devem dispensar ao advogado, no exercício da profissão, tratamento compatível com a
dignidade da advocacia e condições adequadas a seu desempenho.
Art. 7º São direitos do advogado:
I - exercer, com liberdade, a profissão em todo o território nacional;
II - ter respeitada, em nome da liberdade de defesa e do sigilo profissional, a
inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, de seus arquivos e dados, de sua
correspondência e de suas comunicações, inclusive telefônicas ou afins, salvo caso de
busca ou apreensão determinada por magistrado e acompanhada de representante da
OAB;
III - comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem
procuração, quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos em estabelecimentos
civis ou militares, ainda que considerados incomunicáveis;
IV - ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante, por motivo
ligado ao exercício da advocacia, para lavratura do auto respectivo, sob pena de nulidade
e, nos demais casos, a comunicação expressa à seccional da OAB;
V - não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala
de Estado Maior, com instalações e comodidades condignas, assim reconhecidas pela
OAB, e, na sua falta, em prisão domiciliar; (Vide ADIN 1127-8)
VI - ingressar livremente:
a) nas salas de sessões dos tribunais, mesmo além dos cancelos que separam a
parte reservada aos magistrados;
b) nas salas e dependências de audiências, secretarias, cartórios, ofícios de justiça,
serviços notariais e de registro, e, no caso de delegacias e prisões, mesmo fora da hora
de expediente e independentemente da presença de seus titulares;
c) em qualquer edifício ou recinto em que funcione repartição judicial ou outro serviço
público onde o advogado deva praticar ato ou colher prova ou informação útil ao exercício
da atividade profissional, dentro do expediente ou fora dele, e ser atendido, desde que se
ache presente qualquer servidor ou empregado;
d) em qualquer assembléia ou reunião de que participe ou possa participar o seu
cliente, ou perante a qual este deva comparecer, desde que munido de poderes especiais;
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VII - permanecer sentado ou em pé e retirar-se de quaisquer locais indicados no
inciso anterior, independentemente de licença;
VIII - dirigir-se diretamente aos magistrados nas salas e gabinetes de trabalho,
independentemente de horário previamente marcado ou outra condição, observando-se a
ordem de chegada;
IX - sustentar oralmente as razões de qualquer recurso ou processo, nas sessões de
julgamento, após o voto do relator, em instância judicial ou administrativa, pelo prazo de
quinze minutos, salvo se prazo maior for concedido; (Vide ADIN 1127-8)
X - usar da palavra, pela ordem, em qualquer juízo ou tribunal, mediante intervenção
sumária, para esclarecer equívoco ou dúvida surgida em relação a fatos, documentos ou
afirmações que influam no julgamento, bem como para replicar acusação ou censura que
lhe forem feitas;
XI - reclamar, verbalmente ou por escrito, perante qualquer juízo, tribunal ou
autoridade, contra a inobservância de preceito de lei, regulamento ou regimento;
XII - falar, sentado ou em pé, em juízo, tribunal ou órgão de deliberação coletiva da
Administração Pública ou do Poder Legislativo;
XIII - examinar, em qualquer órgão dos Poderes Judiciário e Legislativo, ou da
Administração Pública em geral, autos de processos findos ou em andamento, mesmo
sem procuração, quando não estejam sujeitos a sigilo, assegurada a obtenção de cópias,
podendo tomar apontamentos;
XIV - examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de
flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade,
podendo copiar peças e tomar apontamentos;
XV - ter vista dos processos judiciais ou administrativos de qualquer natureza, em
cartório ou na repartição competente, ou retirá-los pelos prazos legais;
XVI - retirar autos de processos findos, mesmo sem procuração, pelo prazo de dez
dias;
XVII - ser publicamente desagravado, quando ofendido no exercício da profissão ou
em razão dela;
XVIII - usar os símbolos privativos da profissão de advogado;
XIX - recusar-se a depor como testemunha em processo no qual funcionou ou deva
funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou foi advogado, mesmo
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quando autorizado ou solicitado pelo constituinte, bem como sobre fato que constitua
sigilo profissional;
XX - retirar-se do recinto onde se encontre aguardando pregão para ato judicial, após
trinta minutos do horário designado e ao qual ainda não tenha comparecido a autoridade
que deva presidir a ele, mediante comunicação protocolizada em juízo.
§ 1º Não se aplica o disposto nos incisos XV e XVI:
1) aos processos sob regime de segredo de justiça;
2) quando existirem nos autos documentos originais de difícil restauração ou ocorrer
circunstância relevante que justifique a permanência dos autos no cartório, secretaria ou
repartição, reconhecida pela autoridade em despacho motivado, proferido de ofício,
mediante representação ou a requerimento da parte interessada;
3) até o encerramento do processo, ao advogado que houver deixado de devolver os
respectivos autos no prazo legal, e só o fizer depois de intimado.
§ 2º O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou
desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em
juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos
que cometer. (Vide ADIN 1127-8)
§ 3º O advogado somente poderá ser preso em flagrante, por motivo de exercício da
profissão, em caso de crime inafiançável, observado o disposto no inciso IV deste artigo.
§ 4º O Poder Judiciário e o Poder Executivo devem instalar, em todos os juizados,
fóruns, tribunais, delegacias de polícia e presídios, salas especiais permanentes para os
advogados, com uso e controle assegurados à OAB. (Vide ADIN 1127-8)
§ 5º No caso de ofensa a inscrito na OAB, no exercício da profissão ou de cargo ou
função de órgão da OAB, o conselho competente deve promover o desagravo público do
ofendido, sem prejuízo da responsabilidade criminal em que incorrer o infrator.
CAPÍTULO III
Da Inscrição
Art. 8º Para inscrição como advogado é necessário:
I - capacidade civil;
II - diploma ou certidão de graduação em direito, obtido em instituição de ensino
oficialmente autorizada e credenciada;
III - título de eleitor e quitação do serviço militar, se brasileiro;
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IV - aprovação em Exame de Ordem;
V - não exercer atividade incompatível com a advocacia;
VI - idoneidade moral;
VII - prestar compromisso perante o conselho.
§ 1º O Exame da Ordem é regulamentado em provimento do Conselho Federal da
OAB.
§ 2º O estrangeiro ou brasileiro, quando não graduado em direito no Brasil, deve
fazer prova do título de graduação, obtido em instituição estrangeira, devidamente
revalidado, além de atender aos demais requisitos previstos neste artigo.
§ 3º A inidoneidade moral, suscitada por qualquer pessoa, deve ser declarada
mediante decisão que obtenha no mínimo dois terços dos votos de todos os membros do
conselho competente, em procedimento que observe os termos do processo disciplinar.
§ 4º Não atende ao requisito de idoneidade moral aquele que tiver sido condenado
por crime infamante, salvo reabilitação judicial.
Art. 9º Para inscrição como estagiário é necessário:
I - preencher os requisitos mencionados nos incisos I, III, V, VI e VII do art. 8º;
II - ter sido admitido em estágio profissional de advocacia.
§ 1º O estágio profissional de advocacia, com duração de dois anos, realizado nos
últimos anos do curso jurídico, pode ser mantido pelas respectivas instituições de ensino
superior pelos Conselhos da OAB, ou por setores, órgãos jurídicos e escritórios de
advocacia credenciados pela OAB, sendo obrigatório o estudo deste Estatuto e do Código
de Ética e Disciplina.
§ 2º A inscrição do estagiário é feita no Conselho Seccional em cujo território se
localize seu curso jurídico.
§ 3º O aluno de curso jurídico que exerça atividade incompatível com a advocacia
pode freqüentar o estágio ministrado pela respectiva instituição de ensino superior, para
fins de aprendizagem, vedada a inscrição na OAB.
§ 4º O estágio profissional poderá ser cumprido por bacharel em Direito que queira
se inscrever na Ordem.
Art. 10. A inscrição principal do advogado deve ser feita no Conselho Seccional em
cujo território pretende estabelecer o seu domicílio profissional, na forma do regulamento
geral.
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§ 1º Considera-se domicílio profissional a sede principal da atividade de advocacia,
prevalecendo, na dúvida, o domicílio da pessoa física do advogado.
§ 2º Além da principal, o advogado deve promover a inscrição suplementar nos
Conselhos Seccionais em cujos territórios passar a exercer habitualmente a profissão
considerando-se habitualidade a intervenção judicial que exceder de cinco causas por
ano.
§ 3º No caso de mudança efetiva de domicílio profissional para outra unidade
federativa, deve o advogado requerer a transferência de sua inscrição para o Conselho
Seccional correspondente.
§ 4º O Conselho Seccional deve suspender o pedido de transferência ou de inscrição
suplementar, ao verificar a existência de vício ou ilegalidade na inscrição principal, contra
ela representando ao Conselho Federal.
Art. 11. Cancela-se a inscrição do profissional que:
I - assim o requerer;
II - sofrer penalidade de exclusão;
III - falecer;
IV - passar a exercer, em caráter definitivo, atividade incompatível com a advocacia;
V - perder qualquer um dos requisitos necessários para inscrição.
§ 1º Ocorrendo uma das hipóteses dos incisos II, III e IV, o cancelamento deve ser
promovido, de ofício, pelo conselho competente ou em virtude de comunicação por
qualquer pessoa.
§ 2º Na hipótese de novo pedido de inscrição - que não restaura o número de
inscrição anterior - deve o interessado fazer prova dos requisitos dos incisos I, V, VI e VII
do art. 8º.
§ 3º Na hipótese do inciso II deste artigo, o novo pedido de inscrição também deve
ser acompanhado de provas de reabilitação.
Art. 12. Licencia-se o profissional que:
I - assim o requerer, por motivo justificado;
II - passar a exercer, em caráter temporário, atividade incompatível com o exercício
da advocacia;
III - sofrer doença mental considerada curável.
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Art. 13. O documento de identidade profissional, na forma prevista no regulamento
geral, é de uso obrigatório no exercício da atividade de advogado ou de estagiário e
constitui prova de identidade civil para todos os fins legais.
Art. 14. É obrigatória a indicação do nome e do número de inscrição em todos os
documentos assinados pelo advogado, no exercício de sua atividade.
Parágrafo único. É vedado anunciar ou divulgar qualquer atividade relacionada com o
exercício da advocacia ou o uso da expressão escritório de advocacia, sem indicação
expressa do nome e do número de inscrição dos advogados que o integrem ou o número
de registro da sociedade de advogados na OAB.
(...)
CAPÍTULO VI
Dos Honorários Advocatícios
Art. 22. A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na OAB o direito
aos honorários convencionados, aos fixados por arbitramento judicial e aos de
sucumbência.
§ 1º O advogado, quando indicado para patrocinar causa de juridicamente
necessitado, no caso de impossibilidade da Defensoria Pública no local da prestação de
serviço, tem direito aos honorários fixados pelo juiz, segundo tabela organizada pelo
Conselho Seccional da OAB, e pagos pelo Estado.
§ 2º Na falta de estipulação ou de acordo, os honorários são fixados por arbitramento
judicial, em remuneração compatível com o trabalho e o valor econômico da questão, não
podendo ser inferiores aos estabelecidos na tabela organizada pelo Conselho Seccional
da OAB.
§ 3º Salvo estipulação em contrário, um terço dos honorários é devido no início do
serviço, outro terço até a decisão de primeira instância e o restante no final.
§ 4º Se o advogado fizer juntar aos autos o seu contrato de honorários antes de
expedir-se o mandado de levantamento ou precatório, o juiz deve determinar que lhe
sejam pagos diretamente, por dedução da quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo
se este provar que já os pagou.
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§ 5º O disposto neste artigo não se aplica quando se tratar de mandato outorgado
por advogado para defesa em processo oriundo de ato ou omissão praticada no exercício
da profissão.
Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência,
pertencem ao advogado, tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta
parte, podendo requerer que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu
favor.
Art. 24. A decisão judicial que fixar ou arbitrar honorários e o contrato escrito que os
estipular são títulos executivos e constituem crédito privilegiado na falência, concordata,
concurso de credores, insolvência civil e liquidação extrajudicial.
§ 1º A execução dos honorários pode ser promovida nos mesmos autos da ação em
que tenha atuado o advogado, se assim lhe convier.
§ 2º Na hipótese de falecimento ou incapacidade civil do advogado, os honorários de
sucumbência, proporcionais ao trabalho realizado, são recebidos por seus sucessores ou
representantes legais.
§ 3º É nula qualquer disposição, cláusula, regulamento ou convenção individual ou
coletiva que retire do advogado o direito ao recebimento dos honorários de sucumbência.
§ 4º O acordo feito pelo cliente do advogado e a parte contrária, salvo aquiescência
do profissional, não lhe prejudica os honorários, quer os convencionados, quer os
concedidos por sentença.
Art. 25. Prescreve em cinco anos a ação de cobrança de honorários de advogado,
contado o prazo:
I - do vencimento do contrato, se houver;
II - do trânsito em julgado da decisão que os fixar;
III - da ultimação do serviço extrajudicial;
IV - da desistência ou transação;
V - da renúncia ou revogação do mandato.
Art. 26. O advogado substabelecido, com reserva de poderes, não pode cobrar
honorários sem a intervenção daquele que lhe conferiu o substabelecimento.
CAPÍTULO VII
Das Incompatibilidades e Impedimentos
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Art. 27. A incompatibilidade determina a proibição total, e o impedimento, a proibição
parcial do exercício da advocacia.
Art. 28. A advocacia é incompatível, mesmo em causa própria, com as seguintes
atividades:
I - chefe do Poder Executivo e membros da Mesa do Poder Legislativo e seus
substitutos legais;
II - membros de órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos tribunais e
conselhos de contas, dos juizados especiais, da justiça de paz, juízes classistas, bem
como de todos os que exerçam função de julgamento em órgãos de deliberação coletiva
da administração pública direta e indireta; (Vide ADIN 1127-8)
III - ocupantes de cargos ou funções de direção em Órgãos da Administração Pública
direta ou indireta, em suas fundações e em suas empresas controladas ou
concessionárias de serviço público;
IV - ocupantes de cargos ou funções vinculados direta ou indiretamente a qualquer
órgão do Poder Judiciário e os que exercem serviços notariais e de registro;
V - ocupantes de cargos ou funções vinculados direta ou indiretamente a atividade
policial de qualquer natureza;
VI - militares de qualquer natureza, na ativa;
VII - ocupantes de cargos ou funções que tenham competência de lançamento,
arrecadação ou fiscalização de tributos e contribuições parafiscais;
VIII - ocupantes de funções de direção e gerência em instituições financeiras,
inclusive privadas.
§ 1º A incompatibilidade permanece mesmo que o ocupante do cargo ou função
deixe de exercê-lo temporariamente.
§ 2º Não se incluem nas hipóteses do inciso III os que não detenham poder de
decisão relevante sobre interesses de terceiro, a juízo do conselho competente da OAB,
bem como a administração acadêmica diretamente relacionada ao magistério jurídico.
Art. 29. Os Procuradores Gerais, Advogados Gerais, Defensores Gerais e dirigentes
de órgãos jurídicos da Administração Pública direta, indireta e fundacional são
exclusivamente legitimados para o exercício da advocacia vinculada à função que
exerçam, durante o período da investidura.
Art. 30. São impedidos de exercer a advocacia:
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I - os servidores da administração direta, indireta e fundacional, contra a Fazenda
Pública que os remunere ou à qual seja vinculada a entidade empregadora;
II - os membros do Poder Legislativo, em seus diferentes níveis, contra ou a favor
das pessoas jurídicas de direito público, empresas públicas, sociedades de economia
mista, fundações públicas, entidades paraestatais ou empresas concessionárias ou
permissionárias de serviço público.
Parágrafo único. Não se incluem nas hipóteses do inciso I os docentes dos cursos
jurídicos.
CAPÍTULO VIII
Da Ética do Advogado
Art. 31. O advogado deve proceder de forma que o torne merecedor de respeito e
que contribua para o prestígio da classe e da advocacia.
§ 1º O advogado, no exercício da profissão, deve manter independência em qualquer
circunstância.
§ 2º Nenhum receio de desagradar a magistrado ou a qualquer autoridade, nem de
incorrer em impopularidade, deve deter o advogado no exercício da profissão.
Art. 32. O advogado é responsável pelos atos que, no exercício profissional, praticar
com dolo ou culpa.
Parágrafo único. Em caso de lide temerária, o advogado será solidariamente
responsável com seu cliente, desde que coligado com este para lesar a parte contrária, o
que será apurado em ação própria.
Art. 33. O advogado obriga-se a cumprir rigorosamente os deveres consignados no
Código de Ética e Disciplina.
Parágrafo único. O Código de Ética e Disciplina regula os deveres do advogado para
com a comunidade, o cliente, o outro profissional e, ainda, a publicidade, a recusa do
patrocínio, o dever de assistência jurídica, o dever geral de urbanidade e os respectivos
procedimentos disciplinares.
CAPÍTULO IX
Das Infrações e Sanções Disciplinares
Art. 34. Constitui infração disciplinar:
I - exercer a profissão, quando impedido de fazê-lo, ou facilitar, por qualquer meio, o
seu exercício aos não inscritos, proibidos ou impedidos;
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II - manter sociedade profissional fora das normas e preceitos estabelecidos nesta lei;
III - valer-se de agenciador de causas, mediante participação nos honorários a
receber;
IV - angariar ou captar causas, com ou sem a intervenção de terceiros;
V - assinar qualquer escrito destinado a processo judicial ou para fim extrajudicial que
não tenha feito, ou em que não tenha colaborado;
VI - advogar contra literal disposição de lei, presumindo-se a boa-fé quando
fundamentado na inconstitucionalidade, na injustiça da lei ou em pronunciamento judicial
anterior;
VII - violar, sem justa causa, sigilo profissional;
VIII - estabelecer entendimento com a parte adversa sem autorização do cliente ou
ciência do advogado contrário;
IX - prejudicar, por culpa grave, interesse confiado ao seu patrocínio;
X - acarretar, conscientemente, por ato próprio, a anulação ou a nulidade do
processo em que funcione;
XI - abandonar a causa sem justo motivo ou antes de decorridos dez dias da
comunicação da renúncia;
XII - recusar-se a prestar, sem justo motivo, assistência jurídica, quando nomeado
em virtude de impossibilidade da Defensoria Pública;
XIII - fazer publicar na imprensa, desnecessária e habitualmente, alegações forenses
ou relativas a causas pendentes;
XIV - deturpar o teor de dispositivo de lei, de citação doutrinária ou de julgado, bem
como de depoimentos, documentos e alegações da parte contrária, para confundir o
adversário ou iludir o juiz da causa;
XV - fazer, em nome do constituinte, sem autorização escrita deste, imputação a
terceiro de fato definido como crime;
XVI - deixar de cumprir, no prazo estabelecido, determinação emanada do órgão ou
de autoridade da Ordem, em matéria da competência desta, depois de regularmente
notificado;
XVII - prestar concurso a clientes ou a terceiros para realização de ato contrário à lei
ou destinado a fraudá-la;
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XVIII - solicitar ou receber de constituinte qualquer importância para aplicação ilícita
ou desonesta;
XIX - receber valores, da parte contrária ou de terceiro, relacionados com o objeto do
mandato, sem expressa autorização do constituinte;
XX - locupletar-se, por qualquer forma, à custa do cliente ou da parte adversa, por si
ou interposta pessoa;
XXI - recusar-se, injustificadamente, a prestar contas ao cliente de quantias
recebidas dele ou de terceiros por conta dele;
XXII - reter, abusivamente, ou extraviar autos recebidos com vista ou em confiança;
XXIII - deixar de pagar as contribuições, multas e preços de serviços devidos à OAB,
depois de regularmente notificado a fazê-lo;
XXIV - incidir em erros reiterados que evidenciem inépcia profissional;
XXV - manter conduta incompatível com a advocacia;
XXVI - fazer falsa prova de qualquer dos requisitos para inscrição na OAB;
XXVII - tornar-se moralmente inidôneo para o exercício da advocacia;
XXVIII - praticar crime infamante;
XXIX - praticar, o estagiário, ato excedente de sua habilitação.
Parágrafo único. Inclui-se na conduta incompatível:
a) prática reiterada de jogo de azar, não autorizado por lei;
b) incontinência pública e escandalosa;
c) embriaguez ou toxicomania habituais.
Art. 35. As sanções disciplinares consistem em:
I - censura;
II - suspensão;
III - exclusão;
IV - multa.
Parágrafo único. As sanções devem constar dos assentamentos do inscrito, após o
trânsito em julgado da decisão, não podendo ser objeto de publicidade a de censura.
Art. 36. A censura é aplicável nos casos de:
I - infrações definidas nos incisos I a XVI e XXIX do art. 34;
II - violação a preceito do Código de Ética e Disciplina;
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III - violação a preceito desta lei, quando para a infração não se tenha estabelecido
sanção mais grave.
Parágrafo único. A censura pode ser convertida em advertência, em ofício reservado,
sem registro nos assentamentos do inscrito, quando presente circunstância atenuante.
Art. 37. A suspensão é aplicável nos casos de:
I - infrações definidas nos incisos XVII a XXV do art. 34;
II - reincidência em infração disciplinar.
§ 1º A suspensão acarreta ao infrator a interdição do exercício profissional, em todo o
território nacional, pelo prazo de trinta dias a doze meses, de acordo com os critérios de
individualização previstos neste capítulo.
§ 2º Nas hipóteses dos incisos XXI e XXIII do art. 34, a suspensão perdura até que
satisfaça integralmente a dívida, inclusive com correção monetária.
§ 3º Na hipótese do inciso XXIV do art. 34, a suspensão perdura até que preste
novas provas de habilitação.
Art. 38. A exclusão é aplicável nos casos de:
I - aplicação, por três vezes, de suspensão;
II - infrações definidas nos incisos XXVI a XXVIII do art. 34.
Parágrafo único. Para a aplicação da sanção disciplinar de exclusão, é necessária a
manifestação favorável de dois terços dos membros do Conselho Seccional competente.
Art. 39. A multa, variável entre o mínimo correspondente ao valor de uma anuidade e
o máximo de seu décuplo, é aplicável cumulativamente com a censura ou suspensão, em
havendo circunstâncias agravantes.
Art. 40. Na aplicação das sanções disciplinares, são consideradas, para fins de
atenuação, as seguintes circunstâncias, entre outras:
I - falta cometida na defesa de prerrogativa profissional;
II - ausência de punição disciplinar anterior;
III - exercício assíduo e proficiente de mandato ou cargo em qualquer órgão da OAB;
IV - prestação de relevantes serviços à advocacia ou à causa pública.
Parágrafo único. Os antecedentes profissionais do inscrito, as atenuantes, o grau de
culpa por ele revelada, as circunstâncias e as conseqüências da infração são
considerados para o fim de decidir:
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a) sobre a conveniência da aplicação cumulativa da multa e de outra sanção
disciplinar;
b) sobre o tempo de suspensão e o valor da multa aplicáveis.
Art. 41. É permitido ao que tenha sofrido qualquer sanção disciplinar requerer, um
ano após seu cumprimento, a reabilitação, em face de provas efetivas de bom
comportamento.
Parágrafo único. Quando a sanção disciplinar resultar da prática de crime, o pedido
de reabilitação depende também da correspondente reabilitação criminal.
Art. 42. Fica impedido de exercer o mandato o profissional a quem forem aplicadas
as sanções disciplinares de suspensão ou exclusão.
Art. 43. A pretensão à punibilidade das infrações disciplinares prescreve em cinco
anos, contados da data da constatação oficial do fato.
§ 1º Aplica-se a prescrição a todo processo disciplinar paralisado por mais de três
anos, pendente de despacho ou julgamento, devendo ser arquivado de ofício, ou a
requerimento da parte interessada, sem prejuízo de serem apuradas as responsabilidades
pela paralisação.
§ 2º A prescrição interrompe-se:
I - pela instauração de processo disciplinar ou pela notificação válida feita
diretamente ao representado;
II - pela decisão condenatória recorrível de qualquer órgão julgador da OAB.
CÓDIGO DE ÉTICA E DISCIPLINA DA OAB
O conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, no uso das atribuições que lhe
são conferidas pelos artigos 33 e 54 V, da Lei no 8.906, de 04 de julho de 1994, aprova e
edita este código, exortando os advogados brasileiros a sua fiel observância.
(Publicado no Diário da Justiça, Seção I, de 01.03.95, pp. 4000-4004).
TÍTULO I
DA ÉTICA DO ADVOGADO
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CAPÍTULO I
DAS REGRAS DEONTOLÓGICAS FUNDAMENTAIS
Art. 1º. O exercício da advocacia exige conduta compatível com os preceitos deste
Código, do Estatuto, do Regulamento Geral, dos Provimentos e com os demais princípios
da moral individual, social e profissional.
Art. 2º. O advogado, indispensável à administração da Justiça, é defensor do estado
democrático de direito, da cidadania, da moralidade pública, da Justiça e da paz social,
subordinando a atividade do seu Ministério Privado à elevada função pública que exerce.
Parágrafo único. São deveres do advogado:
I - preservar, em sua conduta, a honra, a nobreza e a dignidade da profissão, zelando pelo
seu caráter de essencialidade e indispensabilidade;
II - atuar com destemor, independência, honestidade, decoro, veracidade, lealdade,
dignidade e boa-fé;
III - velar por sua reputação pessoal e profissional;
IV - empenhar-se, permanentemente, em seu aperfeiçoamento pessoal e profissional;
V - contribuir para o aprimoramento das instituições, do Direito e das leis;
VI - estimular a conciliação entre os litigantes, prevenindo, sempre que possível, a
instauração de litígios;
VII - aconselhar o cliente a não ingressar em aventura judicial;
VIII - abster-se de:
a) utilizar de influência indevida, em seu benefício ou do cliente;
b) patrocinar interesses ligados a outras atividades estranhas à advocacia, em que
também atue;
c) vincular o seu nome a empreendimentos de cunho manifestamente duvidoso;
d) emprestar concurso aos que atentem contra a ética, a moral, a honestidade e a
dignidade da pessoa humana;
e) entender-se diretamente com a parte adversa que tenha patrono constituído, sem o
assentimento deste.
IX - pugnar pela solução dos problemas da cidadania e pela efetivação dos seus direitos
individuais, coletivos e difusos, no âmbito da comunidade.
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Art. 3º. O advogado deve ter consciência de que o Direito é um meio de mitigar as
desigualdades para o encontro de soluções justas e que a lei é um instrumento para
garantir a igualdade de todos.
Art. 4º. O advogado vinculado ao cliente ou constituinte, mediante relação empregatícia ou
por contrato de prestação permanente de serviços, integrante de departamento jurídico,
ou órgão de assessoria jurídica, público ou privado, deve zelar pela sua liberdade e
independência.
Parágrafo único. É legítima a recusa, pelo advogado, do patrocínio de pretensão
concernente a lei ou direito que também lhe seja aplicável, ou contrarie expressa
orientação sua, manifestada anteriormente.
Art. 5º. O exercício da advocacia é incompatível com qualquer procedimento de
mercantilização.
Art. 6º. É defeso ao advogado expor os fatos em Juízo falseando deliberadamente a
verdade ou estribando-se na má-fé.
Art. 7º. É vedado o oferecimento de serviços profissionais que impliquem, direta ou
indiretamente, inculcação ou captação de clientela.
CAPÍTULO II
DAS RELAÇÕES COM O CLIENTE
Art. 8º. O advogado deve informar o cliente, de forma clara e inequívoca, quanto a
eventuais riscos da sua pretensão, e das conseqüências que poderão advir da demanda.
Art. 9º. A conclusão ou desistência da causa, com ou sem a extinção do mandato, obriga
o advogado à devolução de bens, valores e documentos recebidos no exercício do
mandato, e à pormenorizada prestação de contas, não excluindo outras prestações
solicitadas, pelo cliente, a qualquer momento.
Art. 10. Concluída a causa ou arquivado o processo, presumem-se o cumprimento e a
cessação do mandato.
Art. 11. O advogado não deve aceitar procuração de quem já tenha patrono constituído,
sem prévio conhecimento deste, salvo por motivo justo ou para adoção de medidas
judiciais urgentes e inadiáveis.
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Art. 12. O advogado não deve deixar ao abandono ou ao desamparo os feitos, sem motivo
justo e comprovada ciência do constituinte.
Art. 13. A renúncia ao patrocínio implica omissão do motivo e a continuidade da
responsabilidade profissional do advogado ou escritório de advocacia, durante o prazo
estabelecido em lei; não exclui, todavia, a responsabilidade pelos danos causados dolosa
ou culposamente aos clientes ou a terceiros.
Art. 14. A revogação do mandato judicial por vontade do cliente não o desobriga do
pagamento das verbas honorárias contratadas, bem como não retira o direito do advogado
de receber o quanto lhe seja devido em eventual verba honorária de sucumbência,
calculada proporcionalmente, em face do serviço efetivamente prestado.
Art. 15. O mandato judicial ou extrajudicial deve ser outorgado individualmente aos
advogados que integrem sociedade de que façam parte, e será exercido no interesse do
cliente, respeitada a liberdade de defesa.
Art. 16. O mandato judicial ou extrajudicial não se extingue pelo decurso de tempo, desde
que permaneça a confiança recíproca entre o outorgante e o seu patrono no interesse da
causa.
Art. 17. Os advogados integrantes da mesma sociedade profissional, ou reunidos em
caráter permanente para cooperação recíproca, não podem representar em juízo clientes
com interesses opostos.
Art. 18. Sobrevindo conflitos de interesse entre seus constituintes, e não estando acordes
os interessados, com a devida prudência e discernimento, optará o advogado por um dos
mandatos, renunciando aos demais, resguardado o sigilo profissional.
Art. 19. O advogado, ao postular em nome de terceiros, contra ex-cliente ou ex-
empregador, judicial e extrajudicialmente, deve resguardar o segredo profissional e as
informações reservadas ou privilegiadas que lhe tenham sido confiadas.
Art. 20. O advogado deve abster-se de patrocinar causa contrária à ética, à moral ou à
validade de ato jurídico em que tenha colaborado, orientado ou conhecido em consulta; da
mesma forma, deve declinar seu impedimento ético quando tenha sido convidado pela
outra parte, se esta lhe houver revelado segredos ou obtido seu parecer.
Art. 21. É direito e dever do advogado assumir a defesa criminal, sem considerar sua
própria opinião sobre a culpa do acusado.
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Art. 22. O advogado não é obrigado a aceitar a imposição de seu cliente que pretenda ver
com ele atuando outros advogados, nem aceitar a indicação de outro profissional para
com ele trabalhar no processo.
Art. 23. É defeso ao advogado funcionar no mesmo processo, simultaneamente, como
patrono e preposto do empregador ou cliente.
Art. 24. O substabelecimento do mandato, com reserva de poderes, é ato pessoal do
advogado da causa.
1º. O substabelecimento do mandato sem reservas de poderes exige o prévio e
inequívoco conhecimento do cliente.
2º. O substabelecido com reserva de poderes deve ajustar antecipadamente seus
honorários com o substabelecente.
CAPÍTULO III
DO SIGILO PROFISSIONAL
Art. 25. O sigilo profissional é inerente à profissão, impondo-se o seu respeito, salvo grave
ameaça ao direito à vida, à honra, ou quando o advogado se veja afrontado pelo próprio
cliente e, em defesa própria, tenha que revelar segredo, porém sempre restrito ao
interesse da causa.
Art. 26. O advogado deve guardar sigilo, mesmo em depoimento judicial, sobre o que
saiba em razão de seu ofício, cabendo-lhe recusar-se a depor como testemunha em
processo no qual funcionou ou deva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de
quem seja ou tenha sido advogado, mesmo que autorizado ou solicitado pelo constituinte.
Art. 27. As confidências feitas ao advogado pelo cliente podem ser utilizadas nos limites
da necessidade da defesa, desde que autorizado aquele pelo constituinte.
Parágrafo único. Presumem-se confidenciais as comunicações epistolares entre advogado
e cliente, as quais não podem ser reveladas a terceiros.
CAPÍTULO IV
DA PUBLICIDADE
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Art. 28. O advogado pode anunciar os seus serviços profissionais, individual ou
coletivamente, com discrição e moderação, para finalidade exclusivamente informativa,
vedada a divulgação em conjunto com outra atividade.
Art. 29. O anúncio deve mencionar o nome completo do advogado e o número da
inscrição na OAB, podendo fazer referência a títulos ou qualificações profissionais,
especialização técnico-científica e associações culturais e científicas, endereços, horário
do expediente e meios de comunicação, vedadas a sua veiculação pelo rádio e televisão e
a denominação de fantasia.
§ 1º. Títulos ou qualificações profissionais são os relativos à profissão de advogado,
conferidos por universidades ou instituições de ensino superior, reconhecidas.
§ 2º. Especialidades são os ramos do Direito, assim entendidos pelos doutrinadores ou
legalmente reconhecidos.
§ 3º. Correspondências, comunicados e publicações, versando sobre constituição,
colaboração, composição e qualificação de componentes de escritório e especificação de
especialidades profissionais, bem como boletins informativos e comentários sobre
legislação, somente podem ser fornecidos a colegas, clientes, ou pessoas que os
solicitem ou os autorizem previamente.
§ 4º. O anúncio de advogado não deve mencionar, direta ou indiretamente, qualquer
cargo, função pública ou relação de emprego e patrocínio que tenha exercido, passível de
captar clientela.
§ 5º. O uso das expressões "escritório de advocacia" ou "sociedade de advogados" deve
estar acompanhado da indicação de número de registro na OAB ou do nome e do número
de inscrição dos advogados que o integrem.
§ 6º. O anúncio, no Brasil, deve adotar o idioma português, e, quando em idioma
estrangeiro, deve estar acompanhado da respectiva tradução.
Art. 30. O anúncio sob a forma de placas, na sede profissional ou na residência do
advogado, deve observar discrição quanto ao conteúdo, forma e dimensões, sem qualquer
aspecto mercantilista, vedada a utilização de "outdoor" ou equivalente.
Art. 31. O anúncio não deve conter fotografias, ilustrações, cores, figuras, desenhos,
logotipos, marcas ou símbolos incompatíveis com a sobriedade da advocacia, sendo
proibido o uso dos símbolos oficiais e dos que sejam utilizados pela Ordem dos
Advogados do Brasil.
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§ 1º. São vedadas referências a valores dos serviços, tabelas, gratuidade ou forma de
pagamento, termos ou expressões que possam iludir ou confundir o público, informações
de serviços jurídicos suscetíveis de implicar, direta ou indiretamente, captação de causa
ou clientes, bem como menção ao tamanho, qualidade e estrutura da sede profissional.
§ 2º. Considera-se imoderado o anúncio profissional do advogado mediante remessa de
correspondência a uma coletividade, salvo para comunicar a clientes e colegas a
instalação ou mudança de endereço, a indicação expressa do seu nome e escritório em
partes externas de veículo, ou a inserção de seu nome em anúncio relativo a outras
atividades não advocatícias, faça delas parte ou não.
Art. 32. O advogado que eventualmente participar de programa de televisão ou de rádio,
de entrevista na imprensa, de reportagem televisionada ou de qualquer outro meio, para
manifestação profissional, deve visar a objetivos exclusivamente ilustrativos, educacionais
e instrutivos, sem propósito de promoção pessoal ou profissional, vedados
pronunciamentos sobre métodos de trabalho usados por seus colegas de profissão.
Parágrafo único. Quando convidado para manifestação pública, por qualquer modo e
forma, visando ao esclarecimento de tema jurídico de interesse geral, deve o advogado
evitar insinuações a promoção pessoal ou profissional, bem como o debate de caráter
sensacionalista.
Art. 33. O advogado deve abster-se de:
I - responder com habitualidade consulta sobre matéria jurídica, nos meios de
comunicação social, com intuito de promover-se profissionalmente;
II - debater, em qualquer veículo de divulgação, causa sob seu patrocínio ou patrocínio de
colega;
III - abordar tema de modo a comprometer a dignidade da profissão e da instituição que o
congrega;
IV - divulgar ou deixar que seja divulgada a lista de clientes e demandas;
V - insinuar-se para reportagens e declarações públicas.
Art. 34. A divulgação pública, pelo advogado, de assuntos técnicos ou jurídicos de que
tenha ciência em razão do exercício profissional como advogado constituído, assessor
jurídico ou parecerista, deve limitar-se a aspectos que não quebrem ou violem o segredo
ou o sigilo profissional.
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CAPÍTULO V
DOS HONORÁRIOS PROFISSIONAIS
Art. 35. Os honorários advocatícios e sua eventual correção, bem como sua majoração
decorrente do aumento dos atos judiciais que advierem como necessários, devem ser
previstos em contrato escrito, qualquer que seja o objeto e o meio da prestação do serviço
profissional, contendo todas as especificações e forma de pagamento, inclusive no caso
de acordo.
§ 1º. Os honorários da sucumbência não excluem os contratados, porém devem ser
levados em conta no acerto final com o cliente ou constituinte, tendo sempre presente o
que foi ajustado na aceitação da causa.
§ 2º. A compensação ou o desconto dos honorários contratados e de valores que devam
ser entregues ao constituinte ou cliente só podem ocorrer se houver prévia autorização ou
previsão contratual.
§ 3º. A forma e as condições de resgate dos encargos gerais, judiciais e extrajudiciais,
inclusive eventual remuneração de outro profissional, advogado ou não, para desempenho
de serviço auxiliar ou complementar técnico e especializado, ou com incumbência
pertinente fora da Comarca, devem integrar as condições gerais do contrato.
Art. 36 - Os honorários profissionais devem ser fixados com moderação, atendidos os
elementos seguintes:
I - a relevância, o vulto, a complexidade e a dificuldade das questões versadas;
II - o trabalho e o tempo necessários;
III - a possibilidade de ficar o advogado impedido de intervir em outros casos, ou de se
desavir com outros clientes ou terceiros;
IV - o valor da causa, a condição econômica do cliente e o proveito para ele resultante do
serviço profissional;
V - o caráter da intervenção, conforme se trate de serviço a cliente avulso, habitual ou
permanente;
VI - o lugar da prestação dos serviços, fora ou não do domicílio do advogado;
VII - a competência e o renome do profissional;
VIII - a praxe do foro sobre trabalhos análogos.
Art. 37. Em face da imprevisibilidade do prazo de tramitação da demanda, devem ser
delimitados os serviços profissionais a se prestarem nos procedimentos preliminares,
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judiciais ou conciliatórios, a fim de que outras medidas, solicitadas ou necessárias,
incidentais ou não, diretas ou indiretas, decorrentes da causa, possam ter novos
honorários estimados, e da mesma forma receber do constituinte ou cliente a
concordância hábil.
Art. 38. Na hipótese da adoção de cláusula quota litis, os honorários devem ser
necessariamente representados por pecúnia e, quando acrescidos dos de honorários da
sucumbência, não podem ser superiores às vantagens advindas em favor do constituinte
ou do cliente.
Parágrafo único. A participação do advogado em bens particulares de cliente,
comprovadamente sem condições pecuniárias, só é tolerada em caráter excepcional, e
desde que contratada por escrito.
Art. 39. A celebração de convênios para prestação de serviços jurídicos com redução dos
valores estabelecidos na Tabela de Honorários implica captação de clientes ou causa,
salvo se as condições peculiares da necessidade e dos carentes puderem ser
demonstradas com a devida antecedência ao respectivo Tribunal de Ética e Disciplina,
que deve analisar a sua oportunidade.
Art. 40. Os honorários advocatícios devidos ou fixados em tabelas no regime da
assistência judiciária não podem ser alterados no quantum estabelecido; mas a verba
honorária decorrente da sucumbência pertence ao advogado.
Art. 41. O advogado deve evitar o aviltamento de valores dos serviços profissionais, não
os fixando de forma irrisória ou inferior ao mínimo fixado pela Tabela de Honorários, salvo
motivo plenamente justificável.
Art. 42. O crédito por honorários advocatícios, seja do advogado autônomo, seja de
sociedade de advogados, não autoriza o saque de duplicatas ou qualquer outro título de
crédito de natureza mercantil, exceto a emissão de fatura, desde que constitua exigência
do constituinte ou assistido, decorrente de contrato escrito, vedada a tiragem de protesto.
Art. 43. Havendo necessidade de arbitramento e cobrança judicial dos honorários
advocatícios, deve o advogado renunciar ao patrocínio da causa, fazendo-se representar
por um colega.
CAPÍTULO VI
TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José E. Melhen - 2º bimestre - 2011
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DO DEVER DE URBANIDADE
Art. 44. Deve o advogado tratar o público, os colegas, as autoridades e os funcionários do
Juízo com respeito, discrição e independência, exigindo igual tratamento e zelando pelas
prerrogativas a que tem direito.
Art. 45. Impõe-se ao advogado lhaneza, emprego de linguagem escorreita e polida,
esmero e disciplina na execução dos serviços.
Art. 46. O advogado, na condição de defensor nomeado, conveniado ou dativo, deve
comportar-se com zelo, empenhando-se para que o cliente se sinta amparado e tenha a
expectativa de regular desenvolvimento da demanda.
CAPÍTULO VII
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 47. A falta ou inexistência, neste Código, de definição ou orientação sobre questão de
ética profissional, que seja relevante para o exercício da advocacia ou dele advenha,
enseja consulta e manifestação do Tribunal de Ética e Disciplina ou do Conselho Federal.
Art. 48. Sempre que tenha conhecimento de transgressão das normas deste Código, do
Estatuto, do Regulamento Geral e dos Provimentos, o Presidente do Conselho Seccional,
da Subseção, ou do Tribunal de Ética e Disciplina deve chamar a atenção do responsável
para o dispositivo violado, sem prejuízo da instauração do competente procedimento para
apuração das infrações e aplicação das penalidades cominadas.
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