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Carlos Jaca 1
TERRAMOTO DE 1755
1º PARTE: Reconstrução de Lisboa
Carlos Jaca
«Diário do Minho» 5 / 5 / 2004
A opção e desenvolvimento deste tema surgiu ao elaborar uma breve
memória, "O Terramoto de 1755 e a Lisboa Pombalina" para a revista “De
Facto”, publicação anual da Escola Secundária Alberto Sampaio (Braga).
Tratando-se de uma revista temática, foi proposta" A Cidade" como tema a
explorar para o ano lectivo 2003-2004.
Daí a opção, apanhando a "boleia" da referida memória, a fim de lhe
dar aqui maior amplitude – já que, tal como na
reconstrução de Lisboa, não era possível
"meter o Rossio na Betesga".
Quanto ao capítulo "Impacto do
terramoto na Cidade de Braga" (a publicar na
próxima edição deste suplemento de Cultura)
que em princípio não estava previsto, só foi
possível a sua elaboração devido à recente
publicação na revista "Bracara Augusta" de um
trabalho de investigação, notável a todos os
títulos (Estado do Tempo e Outros Fenómenos,
na Região de Braga, no século XVIII), do Professor Doutor José Marques.
Repercussão da Catástrofe.
No primeiro dia de Novembro de 1755, um sábado, dia de Todos-
os-Santos, pouco depois das nove horas da manhã, Lisboa foi sacudida por
um violento sismo que reduziu muitos dos seus bairros a escombros,
ficando o terramoto como legenda trágica na História da capital.
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Ao escrever para Londres, duas semanas depois do terramoto,
Edward Hay, cônsul britânico, testemunha da catástrofe, dizia que, parte
da cidade, era "uma coisa que não se acredita sem se ver".
A Europa ficou profundamente impressionada. A grande tragédia
que acontecia a Portugal foi motivo de especulações científicas e
metafísicas, acabando por provocar um extraordinário debate filosófico
sobre o optimismo,
sobre Deus e sobre os
fenómenos naturais.
Uma vasta
literatura internacional,
em que figuram os
nomes de Voltaire e
Kant, ocupou-se do
trágico acontecimento.
Copiosa bibliografia
surgiu sobretudo na Alemanha, mas também na Holanda, Inglaterra, Itália
e Espanha. Em França, representava-se em Paris, ainda em 1804, no
Teatro da Porte-Saint-Martin, um drama heróico em três actos intitulado
"La Destruction de Lisbonne". No frontispício destes livros e brochuras
vêem-se os nomes de Leipzig, Nuremberga, Dantzig, Augsburgo,
Francoforte, Haia, Amsterdão, Utreque, Basileia, Zurique, Londres, Madrid,
Roma, Paris, Estocolmo, Copenhaga...
Em Portugal, obviamente, abundam as descrições, destacando-se,
entre as fontes mais credíveis, a "História Universal dos Terramotos",
publicada por Moreira de Mendonça em 1758, e um longo manuscrito do
Padre Manuel Portal, datado de 1756, conservado nos Arquivos da
Congregação e recolhido in Francisco Pereira de Sousa, "O Terramoto do 1º
de Novembro de 1755 em Portugal" (Lisboa, 1919-1926) - obra básica para
o estudo desta matéria. Existem ainda relatórios, cartas particulares, me-
mórias manuscritas que esclarecem inúmeros pormenores. Estes
documentos são muitas vezes contraditórios, e na própria, época se
travaram polémicas.
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Não se confinaram ao Reino os efeitos do megassismo. Embora
Lisboa fosse a zona mais atingida (não esquecendo a província do Algarve,
Coimbra, Setúbal e Santarém), também a Andaluzia sofreu as suas
consequências em Cádis, Sevilha, Huelva e Córdova, havendo ainda notícia
de os abalos se terem feito sentir em Olivença e Cória e, com menos força,
em Madrid e no Escorial, conforme refere a "Gazeta de Lisboa" de 13 de
Novembro de 1755.
O violento sismo de 1755, segundo hipótese formulada por F. L.
Pereira de Sousa, em "Efeitos do Terramoto de 1755 nas construções de
Lisboa", teve o seu epicentro não ao largo da capital, como se supunha,
mas mais para sul, "no oval descrito pela costa meridional da Península
Ibérica e pela costa norte do Continente africano, a oeste do estreito de
Gibraltar. Isto explicaria que o terramoto se tenha propagado a Marrocos
(em Agadir e em Rabat encontram-se indícios bastante nítidos) com a
mesma violência que em Portugal".
Em Lisboa, à magnitude do terramoto foi atribuído o grau 9, o
máximo na escala de Gutenberg e Richter, hoje geralmente aplicada; a sua
intensidade (medida subjectiva dos estragos verificados) variou entre os
graus VIII e X da escala de Mercalli de 1909 (máximo XII), ou da nova
escala MSK, 1964.
No séc. XVIII já se tinham sentido tremores de terra em Lisboa, em
1724 e 1750, este no próprio dia da morte de D. João V. Um manuscrito da
época (citado por Pereira de Sousa) refere que "pelas três para as quatro
horas tremeu a terra, não
causando mais dano que o
susto...", e que "daí por
diante a terra nunca mais
deixou de tremer, como
ensaiando-se para o que
sucedeu em sábado, 1.º
de Novembro".
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Descrição sumária do Terramoto. Acção e Providências
do Marquês de Pombal.
Seguindo, fundamentalmente, testemunhos contemporâneos,
atente-se numa sumária descrição da tragédia.
De súbito, pelas nove e meia da manhã, pouco mais ou menos (os
testemunhos não condizem), depois de um grande ruído subterrâneo que
aterrorizou toda a gente, a terra começou a tremer, numa violenta
oscilação, semelhante à duma embarcação sobre o mar, de norte a sul,
depois de leste a oeste, para voltar à direcção anterior, e assim de seguida,
por espaço de sete minutos, entrecortados apenas por dois breves
momentos de intervalo. O movimento parece ter sido vertical.
Ao segundo minuto, já as casas se fendiam e desmoronavam, tão
violento foi o abalo. Ao mesmo tempo abriam-se fendas compridas e
estreitas nas ruas, por onde se escapavam os vapores sulfúricos, e, ao
destruírem os edifícios, uma poeira densa se elevava em nuvem que
tomava a atmosfera irrespirável. O terror da população foi indescritível.
Logo nos primeiros momentos milhares de pessoas ficaram sepultadas nos
escombros das casas e dos templos que abateram.
Junto ao rio, as águas recuaram um dilatado momento, deixando o
lodo do fundo a descoberto numa considerável extensão, para em seguida
se erguerem em vagas alterosas que varreram o Terreiro do Paço e as ruas
e os terrenos próximos das margens. Os gritos das vítimas e dos fugitivos
juntavam-se ao rugido da terra em convulsão.
Durante vinte e quatro horas a terra não deixou de tremer, num
"movimento vibratório quase contínuo". Nos dias seguintes, outros abalos
de terra foram sentidos: quatro até 18 de Novembro e outro ainda em
Dezembro num total de 500 até 1756, segundo o Padre Portal, uma fonte
que, já referi, não pode ser ignorada.
À queda dos edifícios, ao pavor do terramoto, sucedeu o horror dos
incêndios, que começaram no centro da cidade - a parte mais duramente
atingida - pelo Palácio do Marquês do Louriçal e pela Igreja de S.
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Domingos, no Rossio. Depois foi o recolhimento do Castelo, depois outros
edifícios em pontos diversos. Quando a noite desceu, Lisboa estava
envolvida numa cortina de labaredas. O incêndio, que durou seis dias, veio
completar a "obra" do terramoto.
Considera-se mesmo ter sido o fogo o causador da maior parte dos
prejuízos: "Se a cidade o não tivesse sofrido, a sua ruína teria sido
rapidamente reparada", escreve uma testemunha da catástrofe. O fogo que
alastrava de rua em rua não pôde ser combatido, porque a população,
dominada pelo pânico, fugiu para longe, instalando-se em abrigos
provisórios nos campos limítrofes.
O nível de destruição foi colossal. Todos os cálculos vindos a lume
avançam números incontroláveis, mas cuja importância significa bem o
prejuízo que a fazenda nacional e privada sofreu. Para o País, já
empobrecido pelo estado da sua agricultura, do seu comércio e duma
indústria inexistente, a ruína da capital em que se encontravam as suas
forças, com dez por cento da população, foi calamitosa.
As acções combinadas do terramoto e do incêndio fizeram milhares e
milhares de vítimas. Quantas? Os testemunhos divergem
consideravelmente, pois todo o cálculo feito no momento foi falseado, quer
pelo estado de espírito das pessoas, quer pela falta de método dos
investigadores. Os informes da época oscilam entre seis mil e noventa mil
mortos. Os cálculos mais autorizados fixaram este número em doze mil,
número também considerado
pelo Padre Portal. O futuro
Marquês de Pombal, na
participação aos governadores
ultramarinos, computava em
seis a oito mil o número de
mortos.
As destruições não foram
apenas em vidas e edifícios. Foi
elevadíssimo o número de tesouros artísticos e documentais que se
perderam para sempre, devorados pelo incêndio que se ateou nas ruínas.
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Preciosidades artísticas e literárias, foram inúmeras as que ficaram
soterradas ou reduzidas a cinzas.
De sessenta e cinco conventos só onze ficaram habitáveis, ainda que
parcialmente destruídos; trinta e três palácios das maiores famílias do
Reino foram destruídos, quer pelo terramoto quer pelas chamas, e entre
eles encontravam-se os da Casa de Bragança, onde se acumulavam os
valores da família reinante, dos Duques de Cadaval, de Lafões, de Aveiro e
do Marquês do Louriçal - Conde da Ericeira, onde existia uma colecção de
manuscritos e livros antigos; as livrarias dos dominicanos e do convento de
S. Francisco ficaram igualmente destruídas. Colecções de quadros e
tapeçarias de grande valor, tudo foi perdido. Porém, a maior perda foi a da
Casa Real: todo o conjunto monumental edificado por D. João V e D. José,
que compreendia o Paço da Ribeira, a Patriarcal e a Ópera, tendo resistido
aos abalos do terramoto, não foi poupado pelo incêndio que se lhe seguiu.
As suas riquezas, as suas colecções de quadros e objectos de culto, a
Biblioteca Real, com os seus 70.000 volumes, o tesouro guardado nos
armazéns da Casa da índia, tudo desapareceu. A fúria dos elementos, da
terra, das águas e do fogo tudo consumiu...
Nesta trágica conjuntura, D. José, aterrorizado de assombro,
colocou a autoridade total nas mãos do único ministro que parecia mostrar
capacidade para
enfrentar as
consequências da
catástrofe.
Efectivamente, foi
o terramoto que lançou
Sebastião José de
Carvalho e Melo, então
Secretário dos Negócios
Estrangeiros e da
Guerra, nomeado em 5 de Maio de 1756 Secretário de Estado dos Negócios
do Reino, futuro Conde de Oeiras (1759) e Marquês de Pombal (1769),
para o poder praticamente absoluto que iria conservar durante mais vinte e
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dois anos, até à morte do Rei, em 1777.
O violento terramoto que destruíra apreciável parte da cidade de
Lisboa, iria pôr à prova a capacidade e energia do futuro Marquês de
Pombal. Era o baptismo de fogo e, também, a rampa de lançamento do ex-
embaixador em Londres e Viena de Áustria, o qual terá compreendido que
a terrível calamidade era uma oportunidade política.
Aceite-se ou não, no dizer de alguns historiadores, qualquer outro
teria ficado desorientado perante a catástrofe destruidora que
impressionara toda a Europa. De facto, parece ter sido o homem certo no
lugar certo, o homem talhado para o momento, o cérebro de um real
governo de salvação... lisboeta.
De imediato toma medidas rápidas, eficazes e até impiedosas, para
estabilizar a situação. No próprio dia do desastre já assinava decretos. A
seu lado, na execução das primeiras decisões estiveram, por cargo ou
nomeação imediata, o Duque de Lafões, Regedor das Justiças, o Marquês
de Alegrete, Presidente do Senado da Câmara, o Marquês de Marialva,
Governador das Armas.
Ainda no dia 1 de Novembro, o Rei viu-se aconselhado a "enterrar
os mortos e cuidar dos vivos", frase que a tradição atribui indevidamente,
parece, a Carvalho e MeIo, pois teria sido D. Pedro de Almeida, Marquês de
Alorna, que a exprimira como lema da actuação governativa. Foi, porém, o
Secretário de Estado quem melhor soube impor-se aos acontecimentos.
Mesmo os historiadores críticos de Pombal jamais puseram em dúvida este
aspecto positivo da sua acção governativa. A História fez-lhe justiça quanto
ao acerto das medidas que tomou para diminuir as dificuldades da
martirizada população.
Assim, imediatamente, organiza socorros, manda distribuir
alimentos, estabelece um cordão militar à volta de Lisboa, impedindo,
desse modo, a fuga da população e obrigando as pessoas a regressar à
capital. Toma medidas drásticas no sentido de impedir a perturbação da
ordem pública, manda enforcar ou fuzilar todos aqueles que fossem
apanhados a pilhar; e destes, cerca de 200, julgados sumariamente,
pagaram com a vida a rapinagem em igrejas e casas de Lisboa.
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Providencia no sentido de fazer face às necessidades vitais da
população - organiza serviços de abastecimento, procede à diminuição de
impostos sobre produtos de maior carência e manda construir pavilhões
para aqueles que ficaram destelhados. Os víveres, ao entrar na cidade,
deixavam de pagar direitos e os preços foram fixados pelos que estavam
em vigor antes da tragédia; igualmente os salários e as rendas de casa, a
fim de evitar toda a especulação.
O comércio da cidade faz à Corte um donativo muito importante,
passando a pagar uma taxa de quatro por cento sobre o valor de todas as
manufacturas e mercadorias importadas.
A população entusiasma-se com a energia e combatividade de Carvalho e
MeIo, e o próprio Cardeal Patriarca de Lisboa não deixa, publicamente, de
exaltar o dinamismo e humanitarismo do administrador e estadista de D.
José. Diplomatas estrangeiros, credenciados em Lisboa, testemunham aos
seus governos a surpreendente faculdade de improvisação e comando do
futuro Marquês de Pombal e, assim, algumas cortes europeias manifestam
a sua solidariedade, complementada através de preciosos auxílios ma-
teriais. Refira-se que, neste aspecto, o Governo português aceitou a ajuda
material que lhe foi
enviada
espontaneamente,
demarcando-se, no
entanto, da posição
de solicitante.
A oferta foi
excelente, mas,
segundo certas memórias da época, "o dinheiro deu-se a quem menos o
precisava, distribuindo-se pelos titulares, grandes e apaniguados do
Secretário de Estado, os mantimentos desencaminharam-se em grande
parte"...
A Conspiração
A ascensão política de Sebastião José provocou os maiores ódios por
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parte da velha nobreza, que não aceitava o seu predomínio junto de D.
José, tanto mais que em Março de 1756 recebeu a pasta do Reino.
O momento era extremamente difícil Carvalho e Meio sabia-o. Um
outro "terramoto" estava a ser preparado com a finalidade de o fazer
"abalar". Mas... este outro "terramoto" fora por ele previsto, talvez Pombal
tivesse em si qualquer coisa de "sismógrafo"... político.
O golpe palaciano estava na forja, mas Sebastião José sabia do que
se tramava. Bem informado, a sua polícia secreta estava em campo, ia
procedendo muito discretamente a algumas sindicâncias. Parece mesmo
ponto assente ter havido um plano urdido com o objectivo de alterar o
xadrez político, deitando por terra o odiado estadista.
Em Fevereiro de 1756 começou a circu1ar uma "Carta que de
Portugal se escreveu a um Grande de Espanha", em que o nome de
Carvalho e MeIo e dos seus familiares era alvo de injúrias, pondo-se em
destaque as intrigas de bastidor que o Secretário de Estado utilizara para a
sua ascensão política. Veio a provar-se que o autor do panfleto era
Francisco Xavier Teixeira de Mendonça, que em 1744 fora advogado de
Sebastião de Carvalho e agora vinha divulgar casos íntimos de família.
Pretendia-se com o escrito chamar a atenção de D. José para a baixa
extracção de Carvalho e MeIo e para os abusos de poder que, com a
ignorância do soberano, ele ia praticando.
Foi veícu1o da intentona o mercador alemão Oldemberg, que após o
terramoto cedera a sua morada para instalar a Família Real, o qual
entregou ao monarca - a exposição cumprindo assim o plano urdido pelo
Desembargador António da Costa: Freire e que tivera o tácito apoio dos
Duques de Lafões e Aveiro, dos Marqueses de Angeja e Marialva e de
outras pessoas ligadas ao Paço ou fora dele. Mas D. José defendeu o seu
ministro, pelo que os implicados foram presos e alguns degredados para
África. Nenhum membro da nobreza foi por então molestado, o que
constituía um claro aviso quanto ao futuro.
O certo é que a corrente desafecta ao Primeiro-Ministro não lograria
os seus intentos, reconhecendo que tinha pela frente um homem enérgico,
decidido e que não hesitava aplicar método truculentos, e até brutais, para
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elininar resistências.
Pombal não recuava, não dava tréguas e, assim, Lisboa começava a emer-
gir das cinzas.
Os Arquitectos.
A Legislação da Construção.
A decisão de erguer uma nova Lisboa surgiu de imediato à
tragédia de 1755, na concretização de um projecto que vinha de longe. De
Viena trouxera o antigo embaixador ideias próprias sobre o urbanismo que
mais convinha aplicar na capital portuguesa. Por manifesta pressão do
Secretário de Estado, o terramoto obrigou a Câmara a encarar de frente o
problema da reconstrução da cidade.
Carvalho e MeIo convoca para "cimeiras" de alto nível arquitectos,
engenheiros, artistas e, com eles, discute o plano da reconstrução.
O esforço reconstrutivo da cidade obedecia a uma bem conseguida
planificação, tratava-se de um trabalho de grupo, coisa inédita e avançada
para aquele tempo (tanto mais que hoje, por vezes, não há planeamento a
qualquer prazo). A tarefa era gigantesca, hercúlea, mas... politicamente
aliciante.
Concebe-se um arrojado plano para a nova cidade, que viria a
contrastar com os velhos bairros, os quais constituem, hoje por hoje,
autêntico "ex – libris” com os seus becos e ruelas tortuosas.
Engenheiros e avaliadores militares chefiados pelo General Manuel
da Maia, engenheiro-mor, já à beira dos oitenta anos, pelo Coronel Carlos
Mardel, húngaro imigrado em 1733 e pelo Capitão Eugénio dos Santos,
"batido" nas obras de Mafra, foram encarregados de fazer inventários e de
reclamações de propriedade, além de terem de se envolver numa
multiplicidade de decisões práticas para que as operações de sanidade e de
remoção de escombros fossem levadas a cabo com segurança. Além de ser
engenheiros de profissão eram, também, na arquitectura civil os primeiros
arquitectos.
Com efeito, os três, sempre controlados de perto por Pombal, mais
do que uma equipa, formaram um triângulo de forças convergentes para
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uma obra comum - a nova Lisboa. A ideia de reconstrução da capital,
segundo um plano imposto pelo Gabinete de Carvalho e MeIo, com
expressa proibição de obras de iniciativa particular, foi da autoria do
Ministro. Conhecem-se cartas que trocou com o Duque Teles da Silva,
radicado na Corte de Viena, dando vários conselhos sobre a reconstrução.
No entanto, era Pombal quem pensava que "deixada a fábrica dos edifícios
à liberdade do povo, comummente bárbaro em seus gostos e desprezador
do que lhe não é útil", o resultado seria a cidade ficar sem a
monumentalidade e regularidade que, a seu ver, a deviam caracterizar.
Efectivamente, a leitura dos vários decretos sobre a reconstrução mostra
que a intervenção de Carvalho e Meio foi decisiva.
O ministério pombalino determina medidas tendentes a evitar o
encarecimento dos materiais, fixa o preço dos terrenos, preconiza a
adopção de processos no sentido de tomar os prédios mais resistentes aos
abalos sísmicos, procede à demolição das velhas construções que tinham
ficado de pé e deveriam demolir-se para dar integral cumprimento ao
projecto.
Para apressar a construção, e ao mesmo tempo estimular as
empresas nacionais, foi privilegiado o esforço inovador de pré-fabricação:
trabalhos de ferro, juntas de madeira, telhas e cerâmicas fabricavam-se
segundo os mesmos padrões, igualmente acontecendo com o desenho
geométrico das fachadas dos novos prédios.
Pode considerar-se a legislação de Pombal relativa às obras a
realizar (alvará de 12 de Maio de 1758), a peça básica de um processo que
determinava obrigações, garantias, direitos, previa situações especiais de
propriedade e tendia a evitar especulações.
Cada proprietário receberia uma área de terreno igual à perdida,
com indemnização pelos espaços ocupados pelos novos armamentos, e, de
acordo com o projecto geral, era obrigado a construir no prazo de cinco
anos. Quem não construísse durante o prazo estipulado, perdia o direito à
construção, sendo forçado a vender a quem o quisesse fazer. Por essa
forma, muitas parcelas foram transaccionadas e ficaram nas mãos de
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burgueses endinheirados, porque os d antigos proprietários não podiam
suportar os encargos que o projecto implicava.
Capitais emprestados para as obras seriam salvaguardos por
hipotecas preferenciais, e as novas edificações & ficavam isentas de
aposentadoria; assim, se lhes garantia a rentabilidade como se
tranquilizavam os capitais, atraindo construtores e prestamistas.
Em 19 de Junho de 1759, um ano depois do envio dos planos à
Inspecção de Obras, Carvalho e MeIo deu instruções sobre a maneira como
os proprietários deviam tomar posse dos seus terrenos, a fim de iniciar a
reedificação da Baixa, começando simultaneamente do Terreiro do Paço
para o norte e do Rossio para o sul, para maior urgência. Em Outubro as
ruas estavam traçadas, os terrenos mais ou menos loteados e delimitados,
as infraestruturas asseguradas, ao longo de quatro anos de preparação que
tornaram os planos exequíveis. Alguns dias mais tarde, a 5 de Novembro,
Pombal decretava a instalação dos comerciantes e das oficinas nos locais
da Baixa, de tal maneira que cada rua tivesse a sua especialidade
corporativa.
Pombal, por decreto, atribuía, rua a rua, aos diferentes mesteres
corporativos, por vezes fixados na nova toponímia (ruas dos Sapateiros,
Correeiros, Douradores, mais tarde dos Retroseiros, Capelistas,
Fanqueiros).
A bem dizer, a localização dos negociantes e dos artífices nas ruas
do centro, datava já dos fins do século XIV e, nascida dum compromisso
medieval, o hábito ficou vivo numa cidade que jamais se afastara das suas
estruturas antigas. Para Pombal tratava-se antes de um caso de lógica ou
de disciplina, e tratava-se também de dar, ou impor, locatários aos novos
edifícios logo que estivessem prontos a ser habitados.
No entanto, a este propósito, Jácome Ratton, grande burguês da
época, não deixou de assinalar nas suas "Recordaçoens" (livro raro,
existente na secção de ‘‘Reservados" da Biblioteca Pública de Braga), que
na segunda metade do século XVIII, e dada a inevitável extensão da nova
cidade, uma tal legislação era anacrónica.
De qualquer modo, com aquele diploma se concluía, em termos
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simbólicos, o processo da Nova Baixa.
Reconstrução da Capital. Princípios e Processos Técnicos
Aprovada, entre seis planos de reforma, a nova planta da cidade
enquadrava-se no espírito iluminista da época, mais por empirismo, por
resposta às necessidades, que por princípios teóricos.
Tudo se processou segundo um "novo plano regular e decoroso" ,
desenvolvendo-se entre dois focos principais o Rossio e a Praça do
Comércio (Terreiro do Paço) através de uma malha de ruas, geometri-
camente normalizadas. Ao Terreiro do Paço iam confluir três grandes
artérias, Rua Áurea, Rua Augusta e Rua Nova da Rainha (Rua da Prata) e
eram cruzadas por outras entre as colinas de S. Francisco e do Castelo.
A organização do espaço urbano, a partir de dois polos centrais,
reflecte bem o espírito centralizador. A
Praça do Comércio (onde ficariam a
Sede do Governo e a Administração, a
Bolsa representando o Alto Comércio e a
estátua de equestre de D. José e um
arco triunfal) e o Rossio (onde ficariam o
Palácio da Inquisição e outros edifícios
públicos) mostram quer o espírito
simbólico de monumentalidade e
centralização, quer o papel privilegiado
que as actividades mercantis ocupam no projecto. Efectivamente, o centro
vivo de Lisboa passava a ser o Terreiro do Paço, cujo nome foi corrigido
para Praça do Comércio. No entanto, a mudança não teve poder contra a
força do hábito, e a denominação que ficou foi a anterior ao terramoto. A
direcção do processo urbanístico centralizado na Casa do Risco das Obras
Públicas impunha os princípios da simplicidade, proporção e economia de
meios, já neoclássicos, que marcam a empresa.
A parte reconstruída de Lisboa é um dos mais expressivos
documentos da época pombalina. Todo o emaranhado de ruelas e becos da
Baixa foi substituído por um traçado geométrico, com ruas de grande
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dimensão para a época. As casas deveriam ser semelhantes em largura e
altura, devendo respeitar-se a simetria em portas e janelas. O prédio surge
em função de uma ordenação urbanística que atribui a prioridade ao
conjunto ("quarteirão"), a vantagem da estrutura sobre a decoração
privilegiando o utilitário.
De referir, ainda, que surge também com o plano de reconstrução o
espírito novo do interesse público. A largueza das ruas destina-se a
assegurar o ar e a luz, além de outras vantagens. São propostas, embora
não totalmente realizadas, soluções para o problema dos esgotos, fontes e
canalizações.
O sentido pragmático, que orientou o processo urbanístico, impôs
soluções técnicas novas e a estandardização dos métodos de construção.
Se urgia construir sem demora, também era indispensável construir bem,
em segurança, tanto mais que a população, traumatizada pela catástrofe,
receava sempre a sua repetição. Lisboa continuava a ser sacudida por
tremores de terra, que, mesmo abrandando o seu ritmo, não contribuíam
para acalmar as pessoas.
Manuel da Maia havia persistido na redução da altura dos novos edifícios a
dois andares, até que outras leis de rentabilidade afastaram tal princípio de
prudência.
No entanto, era imperioso tornar os prédios de três a quatro andares
resistentes aos abalos sísmicos. De maneira empírica, mas plenamente
funcional e satisfatória, a solução foi encontrada.
Tratava-se de um sistema de "gaiola", em que uma estrutura de
madeira facilmente adaptável aos movimentos do sismo sustenta ~
edifício, sendo depois preenchidos os espaços por pedra e tijolo.
Para fazer face à propagação de eventuais incêndios, perigo
complementar, senão maior que o terramoto, procedeu-se ao levantamento
de paredes acima do nível dos telhados, separando cada prédio do vizinho
por um "guarda fogo", técnica que já figurava no desenho - modelo
apresentado por Eugénio dos Santos.
A reconstrução tomou-se possível graças a uma legislação que
soube ligar o facto urbanístico ao facto político, dentro duma visão global
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onde se verificam perspectivas sociais e económicas, tanto culturais como
ecológicas.
O nome de Carvalho e Meio fica para sempre ligado à reconstrução
de Lisboa, fazendo erguer a "Baixa Pombalina", conjunto arquitectónico que
ainda hoje mostra toda a grandeza da concepção. Foi ele, sem dúvida, em
Portugal, o primeiro governante a preocupar-se com necessário e prévio
estudo urbanístico e arquitectónico antes das respectivas realizações.
Sem que constitua qualquer motivo para surpresa, alguns dos seus
detractores não lhe reconheceram qualquer mérito na reconstrução da
cidade, afirmando que o plano era infeliz, e que Pombal fez aquilo que
qualquer outro faria em emergência semelhante.
Em contrapartida, observadores estrangeiros que passaram por
Lisboa, testemunham em obras impressas em Paris, Amsterdão e Londres a
sua profunda impressão, não deixando de assinalar a beleza do ambicioso
plano, de vastas proporções para o tempo.
Notável, por vir de quem vem, é o comentário do jesuíta alemão Anselmo
Eckart, que passou dezoito longos anos numa cela subterrânea de S. Julião
da Barra. Em 1771, falecido D. José e o consequente afastamento do
Marquês, Eckart é libertado. Quando, pela primeira vez, observou a nova
cidade, exclamou: "As três maiores praças recentemente edificadas, todas
com prédios de quatro andares, são belíssimas".
Embora aceitando que a reconstrução ficou incompleta e que muita
coisa deixou de ser realizada na prática, cumpre assinalar, em amor à
verdade, que a traça pombalina não foi levada por diante no reinado
seguinte, deixando por concluir obras que mereciam conclusão e
privilegiando outras que bem podiam ter sido adiadas. Neste aspecto, o
Governo de D. Maria I terá revelado uma acção verdadeiramente
inconsequente. Sofreu de... "paralisia".
Concluindo, direi que a reconstrução da cidade poderia ter sido o
capital político do ''homem forte" de D. José só que... parece, não soube
tirar partido do investimento.
Personalidade eminentemente controversa, Sebastião José de Carvalho e
Carlos Jaca 16
Melo, diplomata em Londres e em Viena de Áustria, Conde de Oeiras e
Marquês de Pombal, julgo que a História não o poderá elevar à craveira de
um semi-deus, nem deixá-lo ao nível da vulgaridade. Teve as suas sombras
e os seus méritos. As suas qualidades e os seus defeitos terão sido as
qualidades e os defeitos da sua época.
TERRAMOTO DE 1755
2ª PARTE: Impacto na Cidade de Braga
«Diário do Minho» 12 / 5 / 2004
Recordando uma excelente peça jornalística assinada por Cláudia
Pereira e publicada, há relativamente pouco tempo, no Diário do Minho,
pode, desde já, afirmar-se que esta província é uma zona de sismicidade
baixa a moderada. Nesta região os sismos são frequentes, mas de baixa
intensidade, razão pela qual as pessoas praticamente não os sentem,
conforme opinião dos professores do Departamento de Ciências da Terra da
Universidade do Minho, Lopes Nunes, Jorge Pamplona e Alberto Lima.
Afirmam, ainda, que "na região noroeste de Portugal continental e sul da
Galiza, a sismicidade é difusa, sendo explicada pelo reticulado de direcções
das falhas, com sismos de magnitude baixa a moderada". Saliente-se que,
nesta região, a maior incidência
sísmica se regista nas zonas a
sul do Cávado e no litoral do Alto
Minho.
Os professores Lopes
Nunes, Jorge Pamplona e Alberto
Lima consideram haver no Minho
"sismos com intensidade inferior
à trepidação provocada pela
passagem de um camião". E
mais: como alguns ocorrem durante o dia, numa altura em que os ruídos
são maiores, as populações acabam por não os sentir.
Carlos Jaca 17
Feita esta introdução deve já adiantar-se que, em Braga, o terramoto
de 1755, não obstante se ter feito sentir, não deixou marcas visíveis, em
relação ao que aconteceu em tantas outras localidades, para já não
considerar o caso de Lisboa.
O já referido estudo do Prof. José Marques, "Estados do Tempo e
Outros Fenómenos, na Região de Braga, no Século XVIII", fundamenta-se
numa valiosa e diversificada documentação original, na sua maior parte
conservada no Arquivo Distrital de Braga, cujo núcleo primitivo, sem dúvida
o mais notável, é constituído pelos Arquivos do Cabido e da Mitra
apropriados pelo Estado em 1911.
A partir, essencialmente, de algumas dessas fontes documentais e
recorrendo a outros textos relativos à época, o objectivo é apresentar e
divulgar um conjunto de situações que, julgo, muito poucos têm
conhecimento: versões transmitidas pelas fontes bracarenses, chegadas
até nós, acerca do terramoto de 1755 e como foi sentido e vivido na cidade
de Braga e região circundante.
O "Livro Curioso"
De valor inegável é o relato incluído no "Livro Curioso que contem as
principais novidades sucedidas no discurso de 35 anos prencipiando pelo de
1755 athe 1790, escrito por um curioso natural da nobre e sempre lial
cidade de Braga".
O extenso manuscrito, de autor anónimo, com mais de seiscentas páginas,
é uma compilação de tudo quanto o memorialista bracarense considerou
digno de registo para memória futura, podendo cotar-se como uma fonte
fidedigna, pois muitas das suas referências coincidem, ou são confirmadas
por outras fontes.
O "Livro Curioso" abre, precisamente, com a descrição do Terramoto
de 1755, de que foi testemunha ocular. Após ter relatado o que lhe foi dado
observar, informando que nos dias seguintes os abalos continuaram a
Carlos Jaca 18
repetir-se, sensivelmente, de 15 em 15 minutos, o autor anónimo refere os
efeitos do maremoto, os incêndios e as pilhagens, acrescentando:
"De todo este lastimoso sucesso fui eu testemunha de vista por me
achar nessa cidade e hum dos que por mizericordia de Deos escapei com
vida fugindo das casas em que vivia na Rua dos Odreiros para o largo do
Rucio e sahindo della com outra munto perto para o citio da Senhora da
Penha de França ahi passei alguns dias e noutes sufrendo o frio, fome que
Deos save e vendo o continuo das mizerias que a cada instante se
manifestavão e o pouco remedio que havia para eles e o não ter mais de
meu n' aljibeira que duzentos e trinta reis e sem chapéu na cabessa assim
mesmo me resolvi a vir pedindo esmolla pelo caminho athe a cidade do
Porto padecendo mil encomodos athe chegar a essa cidade na qual tendo
algum conhecido ahi me restabeleci da penosa jornada que tinha trazido e
combalessido alguns dias voltei para esta cidade com favor de deos onde
me tenho conservado athe o prezente" .
O “Diário Bracarense”
De mais largo alcance, e com textos de grande interesse para o
estudo de vários aspectos da História de Braga, é o "Diário Bracarense das
Épocas, Fastos, e Annaes mais remarcáveis, e sucessos dignos de mençam
que succederam em Braga, Lisboa, e mais partes de Portugal e Cortes da
Europa. Escripto em fidelissima verdade pelos dias dos mezes por Manoel
Joze da Silva Thadim. Presbytero secular, advogado nos Auditorios da
Cidade de Braga, e natural da mesma".
Importa sublinhar que o autor do "Diario", Manuel José da Silva
Thadim (Tedim, por actualização do Prof. José Marques) recolheu
memórias, registou acontecimentos do seu tempo, quer através de
manuscritos, quer de obras impressas: "Papeis publicos, que se
estamparam pela Secretaria de Estado, leys extravagantes, breves
pontificios, sentenças, promemorias", etc.
Atendendo a que Silva Tedim era presbítero secular e advogado no
Auditório de Braga, não é de estranhar que as suas descrições sejam mais
completas e de maior valor literário.
Carlos Jaca 19
Vejamos, então, o relato que nos deixou no seu "Diário Bracarense",
fundamentado, certamente, em testemunhos orais e com muitas
probabilidades de ter consultado, ou mesmo ouvido, o autor anónimo do
"Livro Curioso", dada a sua condição de testemunha ocular do Terramoto:
"- No primeiro dia de Novembro do anno de mil setecentos e
cincoenta e cinco, em hum sabbado pelas nove horas da manham se sintio
em todo o Reino por espaço de dez minutos, tremer a terra, e foi hum dos
mayores terramotos, que viram as idades no nosso Continente. Abalaram-
se os templos mais fortes e os edifícios mais seguros. Acompanhava-se
este horrível therramoto de hum rugido medonho como o de hum
espantoso trovam. O mar com indizivel braveza sahio dos seus limites. Em
Lisboa foi onde o terramoto fez maior estrago. Cahiram os templos do Deus
vivo, os edifícios, os palacios. Os homens que ficaram vivos mais palidos,
que os mesmos cadaveres, vagavam loucamente sem acertar caminho a
seo descanso. Huns cobrindo com um lençol a desnudez saltavam do leito,
buscando o lugar de refugio. Outros com corpos meyos enterrados nas
minas pediam com desconcertados gritos socorro aos que passavam junto
de si. Outros com os braços e pernas quebradas lamentavam a sua
desgraçada miseria. Tudo era pasmo, horror e confusam e em toda a Corte
se nam viam mais que minas e imagens da morte 'Luctus ubique pavor et
plurima noctis imago'. Calcula-se que de quinze mil habitantes foram
sepultados debaixo da terra.
A cidade, a grande cidade de Lisboa, que pouco era o theatro mais
florente, a republica mais luzida e a Corte mais pomposa, em breve espaço
se vio reduzida a huum montam de pedras: os bens do Principe, da Igreja
e do Estado soffreram todos a mesma sorte, e a terra recebeo de novo no
seyo os metaes que a avareza dos homens tinha arrancado das suas
entranhas. No meyo desta confuzam os Ministros do Evangelho se pozeram
em campo a semiar a palavra divina, pregando penitencia; e depois do
terramoto se atiou improvisamente das proprias minas hum horrível fogo
que queimou muita gente e incendiou os templos mosteiros e palacios,
secretarias, cartorios, ouro, prata, tapeçarias e quanto havia de mayor
Carlos Jaca 20
concideraçam. Durou este fogo seis dias sem haver quem o athalhasse. Os
ladroens se aproveitaram desta conjuntura, fazendo muitos furtos,
roubando casas e templos".
Ao extenso relato acrescenta, ainda, que o terramoto se estendeu a
todo o Mundo, com maior incidência no nosso território, destacando, para
além de Lisboa, o Algarve, Alentejo, Cascais, Peniche e Setúbal, e que em
todos estes lugares o mar embravecido engoliu muita gente que se tinha
refugiado nas praias. E concluía, "em hua palabra: espectaculo tam
lastimozo, objecto tam infausto, horror tam formidavel, nam se explica,
nem se descreve, nem se pinta, so se sente".
Também, e seguindo uma lógica que passa sucessivamente do geral
para o particular, o memorialista bracarense registou e descreveu como o
Terramoto foi sentido e vivido na sua cidade e agora, julgo, na qualidade
de testemunha presencial:
"- Em Braga onde se sentio violentamente este terramoto, e à mesma
hora que em todo o Reino, parece devemos crer piamente que amam
poderosissima de Deos Nosso Senhor a livrou de experimentar os infelices
destroços e lastimozos estragos por que passaram Lisboa e tantas villas
notaveis pois no tempo em que durou o fIagello estando o sol claro e o ar
sereno so fez abalar os edifícios mais seguros e so racharam muitas
paredes e contrapadieiras, afastaram-se as fronteiras dos sobrados. As
torres da cidade e a da Sé tremeo com tanto impeto que o relogio por si
principiou a tocar:
abriram e racharam
muitos edifícios e
cahiram alguas couzas
de pedra.
No choro da Sé
onde os Conegos
estavam resando laudes
tremeo com tanta
violencia e deram nelIe
Carlos Jaca 21
tam grandes estallos que cauzando tal medo aos capitulares que fogiam
deixando a reza e a vieram concluir na capella de Nossa Senhora da
Piedade do claustro. As gentes dezampararam as igrejas e alguns
sacerdotes os mesmos altares".
Referi, logo no início, que os efeitos materiais do Terramoto na cidade de
Braga foram, praticamente, nulos, bem como nas freguesias do termo do
concelho, o que pode comprovar-se não só pelas informações transmitidas
pelos memorialistas, mas também pelas respostas aos inquéritos
paroquiais de 1758. Reportando-me a estes últimos, apenas quatro fre-
guesias apresentam referências mais desenvolvidas:
Arcos (São Paio) - "26. Teve grande tremor de terra e repetio mais
moderado algumas vezes, mas não houve deterimento em cazas nem
edeficios".
Semelhe (São João) - "26. Ao vigessimo seisto, respondo que não
padecceo alguma ruina grave com o terramoto de mil setecentos e
sincoenta e sinco, mas somente se abalaram algumas cazas, mas sem
prejuizo consideravel. E morreu uma menina que já estava doente nessa
ocasião".
Tenões - "A pergunta vigessima sexta que
trata do Terramoto, idem, porque inda que o arco
cruzeiro da capelIa mor do Bom Jesus do Monte
abrio alguma couza e tambem o coro delIa, não foi
couza que lhe cauzasse danno".
Real (S. Jerónimo) - "Não padeceo esta freguesia no
Terremoto ruina, somente a Igreja abriu as paredes
em algumas partes porém, sem prigo de cahir, na
oppiniam dos officiais predreiros".
Nas restantes freguesias, os párocos limitaram-se a informar que não
havia notícias de ruínas (Vilaça, Arentim, Cabreiros, Espinho, Esporões,
Fraião, Frossos, Lomar), ou, então, nada ter a declarar (Celeirós,
Escudeiros, Este-S. Mamede, Figueiredo, Gualtar).
No entanto, "ainda que nesta cidade nam houve nella mais que
sustos", o clima era de angústia e expectativa. O medo tinha-se
Carlos Jaca 22
generalizado e ao mais pequeno abalo, o povo enchia as igrejas suplicando
que o castigo fosse afastado, na ideia de que os pequenos abalos fossem
avisos de um castigo mais severo.
As notícias aterradoras chegadas de Lisboa sobre as deploráveis
desgraças provocadas pelo Terramoto causaram a mais profunda
impressão em toda a cidade, tanto na população anónima como nas
numerosas comunidades religiosas aí existentes, levando-as, pelo
contraste, a reconhecer que Braga tinha sido protegida e poupada por
graça divina.
Em consequência, e de acordo com o "Diário Bracarense", foram
feitas, durante os meses de Novembro e Dezembro, actos penitenciais
colectivos, de acção de graças e de sufrágio pelos mortos. Durante o
mesmo período fizeram-se procissões de preces organizadas, entre outros,
pelos Religiosos do Carmo, Religiosos Capuchos, Irmãos da Misericórdia,
Congregados de S. Filipe de Néri, Padres Jesuítas, Irmãos de Santa Cruz,
Irmãos do Senhor dos Passos, Religiosos do Pópulo, devotos de Nossa
Senhora das Necessidades, da Igreja Paroquial de S. Vítor.
A este propósito, considere-se que o Governo de Carvalho e Melo,
apesar do primeiro ministro ser um declarado inimigo dos Jesuítas, Ordens
Religiosas, e até de algum clero secular, determinou "... que em todo o
reino se fizessem preces para applacar a Deos justamente irado contra os
pecados dos homens. Que no Domingo 2º de Novembro dedicado à Santa
Virgem com o titolo do Patrocínio em todos os annos se fizessem preces
publicas; precedendo na vespera jejum ecclesiastico para todos" .
De todas as procissões de penitência e acção de graças, levadas a
efeito, a mais solene e imponente, realizou-se, a partir da Sé, em 21 de
Novembro, participando para além de muitos penitentes vestidos de
branco, descalços, ''huns com ferros aos pes, outros com espadas nas
mãos, huns açoutando-se, andando a rastos, huns com cruzes ao hombro e
outros com grandes pezos", as várias comunidades religiosas, o Cabido e o
Arcebispo D. José de Bragança, tendo sido referida por todos os
memorialistas.
Carlos Jaca 23
As "Memórias Particulares"
Um desses memorialistas é Inácio José Peixoto, nascido em Braga a
27 de Julho de 1732. Antes de completar os vinte anos forma-se em Direito
pela Universidade de Coimbra, vindo a exercer com ''honra'' a advocacia e
tomando-se membro do Tribunal da Relação e Procurador Geral da Mitra
Primaz.
O autor de "Memórias Particulares de Ignacio José Peixoto" – Braga e
Portugal na Europa do Século XVIII, e também de cerca de dezassete
publicações de natureza jurídica e histórica, é, inegavelmente, "um
memorialista bem informado e em relação aos fenómenos naturais que não
eram passíveis de interpretações subjectivas, mais garantidas são as suas
informações".
Eleito para sócio correspondente da Academia Real das Ciências,
confidencia à família a recusa de tal honraria, "por me evitar despesas e
trabalhos com que não podia, crescendo-me a idade".
Obviamente, o desembargador Inácio José Peixoto não podia deixar
de registar nas suas "Memórias Particulares", o modo como a cidade de
Braga ia reagindo ao Terramoto e às notícias que foram chegando do que
tinha acontecido em Lisboa:
"Tudo era dissabor em Braga quando o memorável terramoto do 1º de
Novembro de 1755 destruio Lisboa e abalou todo o Reino. Na tarde deste
celebre dia sahio a pregar penitencia o padre João de Mendonça, jesuita,
grande missionario por hua parte e por outra, o padre João Marcos,
também jesuita. O povo, contudo, não fazia juíso ainda do estrago. Mas no
dia três de Novembro à noite, se entrou a divulgar a destruição de Lisboa e
se confirmou inteiramente no dia cinco. Então cresceu o susto e a
proporção se fizerão preces e penitencias publicas. O povo da cidade tomou
por sua protectora a Virgem Senhora Nossa na sua devota imagem da
Torre, collocada na da cidade que então era dos jesuitas. Juntavão-se
muitos na igreja de São Tiago a orarem: dahi sahião a vesitar a Santa
Imagem. O padre João Marcos, jesuita, no fim lhe fazia praticas.
Commoverão-se a sahir com procissoens de terços e finalmente a
Carlos Jaca 24
fundarem a irmandade de Nossa Senhora da Torre pera perpetuamente
continuar esta santa devoção todos os sabados do anno, no dia de Todos
os Santos, em volta dos muros da cidade e nos das principais festas da
Virgem Maria ou hua ves em cada mes. Os devotos de São Tiago não
querião sahir daquella igreja, mas vence-os o maior numero dos que se
separarão pera a Torre e la persistem.
Os ánimos, ainda os mais duros, estavão em comoção. O Prelado
publicou hua procissão geral de penitencia, a que elle assistio com hua
corda ao pescosso e descalsso; à sua imitação, o clero secular e regular.
Assim se executou sahindo da Sé e voltando no giro costumado. Pareceo
necessário dar hum exemplo de arrependimento: foi o senhor D. Jose, a
primeira e unica ves, vesitar o seu cabbido e na vesita não houve senão
lagrimas de parte aparte".
Conflito Mitra-Cabido
Neste registo de Inácio José Peixoto torna-se evidente a devoção a
Nossa Senhora da Torre e, entende-se ou subentende-se, que as relações
entre a Mitra (Arcebispo) e o Cabido (Cónegos) não eram, ou não tinham
sido as melhores, porquanto havia anos que estavam pleiteando.
Pode dizer-se que o conflito, entre os dois poderes, teve o seu início,
praticamente, desde que D. José de Bragança (irmão natural de D. João V)
tomou conta do Arcebispado (1741-56) após um período de treze anos de
"sede vacante" (diocese, neste caso arquidiocese, temporariamente sem
bispo) propício a reforçar, e até ultrapassar, os poderes do Cabido.
Com efeito, acontecia que o Cabido, para além de superintender a
tudo quanto dizia respeito à Sé, "assegurava o Governo da Arquidiocese
nos períodos de Sede vacante. Ao longo dos séculos foi recebendo um sem
número de doações e propriedades espalhadas por todo o país mas com
uma concentração maior em Braga; e, também, criando vários hábitos
bastante maus, principalmente nos períodos de Sede vacante que, por
vezes, eram muito longos".
Ao chegar a Braga, não é de estranhar que D. José de Bragança
procurasse zelar os privilégios da sua Igreja e proceder à reforma de um
Carlos Jaca 25
clero dissoluto por via de longa "sede vacante".
Efectivamente, sucedem-se os litígios e agravos logo que o Arcebispo
"inconformado com a comissão de contas da vacatura e empenhado nas
reformas eclesiásticas e morais da Arquidiocese, não aceita a desobediência
dos Cónegos em não quererem levar as maças na procissão da Quinta-feira
da Semana Santa desse ano de 42, e manda a este pretexto os 47
refractários para o aljube".
Ao caso das maças (ceptros), que os Cónegos recusaram pegar
alegando ser essa uma obrigação dos clérigos ecónomos ou terçanários,
seguiram-se outras pendências, nomeadamente a das contas da "sede
vacante" pelas quais D. José teve em sequestro as rendas de muitos
cónegos por vários anos.
A discórdia entre a Mitra e o Cabido manteve-se acesa, e por vezes
ao rubro, arrastando-se durante treze anos, até que a tragédia do 1º de
Novembro veio alterar uma situação que de modo algum prestigiava a
Igreja Bracarense.
O primeiro passo para o desanuviamento no sentido de estabilizar as
relações entre as partes em litígio, parece ter sido dado pelo Cabido que,
em carta datada de Novembro, sem referir o dia, dirigida a D. José de
Bragança, entre outras considerações sobre o Terramoto, terminava
apelando ao Prelado se dignasse "receber esta communidade no seu real
agrado, de que ha tantos annos nos tem privado a nossa infelicidade – para
que, no descanço d'uma verdadeira paz, possamos efficassissimamente
pedir a Deus a vida e saude de Vossa Alteza Serenissima, para o bem
d'este Arcebispado".
Com toda a humildade respondia o Arcebispo ao Cabido, a 21 de
Novembro, ordenando que na cidade e arcebispado se fizessem preces
públicas, e "que se concluam em procissão penitente, a que havemos de
assistir com affecto paternal, desejando a conservação de nossos subditos,
e vêr estabelecida entre todos urna verdadeira paz e concordia.
Sempre, quanto é da nossa parte, estivemos e estaremos promptos, para a
reconciliação de todos e quaesquer, em que se possam considerar motivos
para algum resentimento"...
Carlos Jaca 26
Congratulando-se com a resposta de D. José de Bragança, e ansiando dar
por findo tão celebrado litígio, os cónegos desejavam "... que dos annos da
nossa infelicidade não fiquem nem memorias, que nos possam perturbar o
consentimento; temos determinado não continuar os pleitos, em que nos
vimos precisados de ser auctores.
Mas porque no das contas da Sé vacante, por sermos reos, não ha egual
poder, estimaremos summamente, que el1as se concluam sem os ruídos
dos auditorios, para que a fazenda de Vossa Alteza Serenissima – se está
prejudicada – fique resarcida; e a paz, que é todo o nosso interesse, não
pareça violada aos que não conhecem os corações".
De facto, parece que só um Terramoto poderia pôr termo a tão prolongada
como lamentável questão, e, assim, impedir a tempo, que D. José de
Bragança levasse para a sepultura o desgosto do conflito, porquanto viria a
falecer sete meses depois, a 3 de Junho de 1756.
Conclusão.
O terramoto de 1755, com todas as suas dramáticas consequências,
veio polemizar a discussão acerca das causas dos tremores de terra,
embora não tão acentuada como no resto da Europa.
Não cabe aqui abordar, nem sequer pela rama, tal questão, que, na
época, levou mesmo a um extremar de posições. Por um lado, eram as
interpretações de carácter religioso, por outro, as de carácter filosófico e
naturalista. Perante um acontecimento que tamanhas consequências
acarretou, tornava-se necessário encontrar uma explicação de modo a
aquietar as consciências, dando-lhe um sentido que pudesse abranger ao
mesmo tempo as duas interpretações, isto é, o natural e o sobrenatural.
Finalmente, e ainda no que diz respeito a Braga e seu termo,
considere-se o juízo formulado pelo Prof. José Marques acerca dos
tremores de terra setecentistas: "... Apesar de serem geralmente bem
sentidos por toda a população, foram maiores as consequências dos abalos
psicológicos por eles desencadeados do que os prejuízos materiais. Para
esta situação – sem rejeitarmos a possibilidade de protecção sobrenatural –
deveremos procurar explicações científicas plausíveis, uma das quais
Carlos Jaca 27
reside, naturalmente, no facto de a cidade de Braga e as zonas envolventes
estarem assentes numa extensa massa rochosa, aspecto, possivelmente,
então desconhecido da grande maioria da população.
Por sua vez, a consciência da insegurança e da impotência do homem
face a estes fenómenos naturais não podia deixar de estimular as
populações a implorarem a misericórdia divina, através da intercessão da
Mãe de Deus, aqui venerada também como Nossa Senhora da Torre – a
torre, símbolo de refúgio e protecção – , dos Santos da especial devoção
das diversas comunidades, de actos de penitência, etc.".
Já depois de concluído este trabalho foi noticiada a realização do VI
Congresso Nacional de Sismologia e Engenharia Sísmica, sob a égide da
Universidade do Minho, no Auditório da Escola de Engenharia de
Guimarães.
Sendo do conhecimento geral o nosso país
encontrar-se implantado numa zona de risco
sísmico, o VI Congresso Nacional, segundo Paulo
Lourenço, presidente da Comissão Organizadora,
visa contribuir para a melhoria da construção, para
a definição de áreas estratégicas de investigação e
desenvolvimento, para a protecção do património
arquitectónico e para a redução da vulnerabilidade
sísmica do edificado nacional. Acrescenta, ainda,
que o Departamento de Engenharia Civil da
Universidade do Minho desenvolve, há alguns anos, trabalhos ao nível da
caracterização dos edifícios e dos materiais que os constituem, o que faz
com que a Universidade do Minho possua um currículo relevante nesta
área.
Bibliografia consultada
Barata, M. R. Themudo - Sismicidade de Portugal. Estudo da Documentação dos Séculos
XVII e XVIII. Apêndice Documental. Ministério do Planeamento e da Administração do
Território.
Braga, Maria Luísa - "A Polémica dos Terramotos em Portugal". Cultura-História e Filosofia.
Carlos Jaca 28
VoI. V – 1986. Instituto Nacional de Investigação Científica.
Eckart, Anselmo - Memorias de um Jesuíta Prisioneiro de Pombal .Livraria A I. – Braga.
Edições Loyola – S. Paulo, 1987.
França, José-Augusto - A Reconstrução de Lisboa e a Arquitectura Pombalina. Biblioteca
Breve. Instituto de Cultura Portuguesa.
França, José-Augusto - Lisboa Pombalina e o numinismo. Prefácio de Pierre Francastel.
Livraria Bertrand, Lisboa.
Freitas, Bernardino José de Senna – Memórias de Braga. Tomo III Braga. Imprensa
Catholica, 1890.
Lemos, Rui de - VI Congresso Nacional de Sismologia e Engenharia Sísmica, in "Diário
do Minho", 10-04-2004.
Macedo, Ana Maria da Costa - Família, Sociedade e Estratégias de Poder (1750-1830): A
Família Jácome de Vasconcelos da Freguesia de S. Tiago da Cividade – Braga. Braga,
APPACDM, 1996.
Marques, José – "Estados do Tempo e Outros Fenómenos na Região de Braga, no Século
XVIII", in Bracara Augusta. VoI. L, n.2 104-105 (117-118), Ano 2001/02.
Oliveira, Eduardo Pires de – ''Estudos sobre o Século XVIII em Braga", História de Arte.
Edições APPACDM Distrital de Braga. Braga, 1993.
Peixoto, Inácio José- ''Memórias Particulares de José Inácio Peixoto" - Braga e Portugal na
Europa do Século XVIII. Estudo introdutório de Luís A Oliveira Ramos. Leitura e fixação do
texto de José Viriato Capela (Coord.). Arquivo Distrital de Braga/Universidade do Minho.
Braga, 1992.
Pereira, Cláudia - Minho é Zona de Sismicidade Baixa a Moderada, in ''Diário do Minho",
16-02-2004.
Ratton, Jácome – Recordaçoens. Londres, 1813. Biblioteca Pública de Braga,
"Reservados", 323.
Serrão, Joaquim Veríssimo – História de Portugal. VoI. VI Editorial Verbo, 1982.
Sousa, Francisco Luís Pereira de – O Terramoto do 1.ºde Novembro de 1755 em Portugal e
um Estudo Demográfico. VoI. III Tipografia do Comércio, Lisboa, 1928.
Carlos Jaca
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