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Governo do Estado do Pará
Curso de Formação Profissional
Concurso Público para provimento de Cargos Efetivos de Policial Penal
Concurso C199/Sub judice.
Edital n° 001/2017 – SEAD/SUSIPE, de 15/12/2017
TEXTO BASE
Parte 1
Eixo Fundamental
1. Fundamentos Políticos e Sociológicos da Prisão e da Pena.
2. Fundamentos Jurídicos da Responsabilização Criminal
Eixo Intermediário
1. População Prisional e Políticas Públicas
Eixo Avançado
1. Atividade Física
2. Procedimento Disciplinar Penitenciário
3. Relações Interpessoais e Ética Profissional
Helder Zaluth Barbalho
Governador do Estado do Pará
Jarbas Vasconcelos do Carmo
Secretário de Estado de Administração Penitenciária
João Claudio Tupinambá Arroyo
Diretor da Escola de Administração Penitenciária
Paulo Rocha Cunha
Coordenação de Planejamento e Pesquisa
Lianna Calliare Costa
Coordenação de Educação em Serviços Penais
Suzana Karolina Cardoso de Jesus
Coordenação de Apoio Pedagógico
Luanderson Sardinha Vieira
Secretário da Diretoria
Realização: Secretaria de Estado de Administração Penitenciaria
Execução: Escola de Administração Penitenciaria
EQUIPE TÉCNICA E ADMINISTRATIVA - EAP
Adriana Rodrigues Caxias - Assistente Administrativo
Ana Rita de Nazaré Sarmento Bezerra - Assistente Administrativo
André Silva de Oliveira - Consultor Jurídico
Camila Guimarães Rodrigues Cruz - Assistente Administrativo
Fádua Ferreira Antônio - TGP - Estatística
Fernanda Carolina Matos Ferreira - Assistente Administrativo
Gerson Haroldo Nobre Barbosa - Auxiliar de Informática
Jhéssyca Dias de Carvalho - TGP - Psicóloga
Joelson Ribamar Araújo de Amorim - Vigia
José Alvanderly Mesquita - Motorista
Karina de Oliveira Silva - TGP - Biblioteconomia
Marcelo Sérgio Genu Lima - Auxiliar Operacional
Marcya Bernadeth Pinto Henriques - Agente Penitenciário
Oberdan Pacheco Damasceno da Silva - Agente Penitenciário
Renata Maia Damasceno - Agente Penitenciário
Sandro Luís Gaia Pamplona - TGP – Administração
Sara Oliveira de Sousa Carvalho - Assistente Administrativo
Silvia Cristina Pinheiro Siqueira - Assistente Administrativo
Telma Maria Medeiros de Lima – TGP - Serviço Social
Thainan Azevedo de Oliveira - Assistente Administrativo
SUMÁRIO
Apresentação ................................................................................................................... 5
DISCIPLINA I - FUNDAMENTOS POLÍTICOS E SOCIOLÓGICOS DA
PRISÃO E DA PENA. .................................................................................................... 6
DISCIPLINA II - FUNDAMENTOS JURÍDICOS DA RESPONSABILIZAÇÃO
CRIMINAL ................................................................................................................... 22
DISCIPLINA III - POPULAÇÃO PRISIONAL E POLÍTICAS PÚBLICAS ....... 42
DISCIPLINA IV - ATIVIDADE FÍSICA .................................................................. 54
DISCIPLINA V - PROCEDIMENTO DISCIPLINAR PENITENCIÁRIO ........... 63
DISCIPLINA VI - RELAÇÕES INTERPESSOAIS E ÉTICA PROFISSIONAL 75
Apresentação
Sejam bem-vindos a etapa final do concurso C-199/Sub judice!
Esta etapa que se inicia nos coloca um duplo desafio. Ao mesmo tempo que se
constitui na etapa final do concurso, de caráter classificatório e eliminatório, também se
constitui no Curso de Formação Profissional dos novos Policias Penais do Sistema
Penitenciário do Pará. E, estamos juntos com cada candidato, cada candidata, por seu
pleno sucesso, cada um fazendo a sua parte.
O desafio de realizarmos o concurso é resultado de uma prioridade do Governo
estadual para que os servidores estaduais possam ter melhores condições de executar
suas tarefas e podermos cobrar serviços cada vez melhores, de acordo com as
expectativas da Sociedade.
O desafio de qualificarmos os novos servidores do sistema prisional paraense
através do Curso de Formação Profissional, é central para que possamos avançar e
consolidar uma nova mentalidade baseada na LEP (Lei de Execução Penal) que
estabelece como missão do sistema prisional a ressocialização, a partir da garantia dos
direitos e da dignidade dos custodiados e de uma rigorosa disciplina, que deve se
estabelecer a partir do exemplo dos próprios Policiais Penais.
Estes desafios ocorrem em um momento muito especial para o Sistema Prisional
paraense. A partir da instalação da nova gestão estadual, novas políticas orientam as
ações já trazendo resultados que sinalizam estarmos no caminho certo, particularmente
no setor da Segurança Pública. A abordagem da Segurança como problema integrado e
transversal que inaugurou uma articulação com a Educação, a Saúde, a Infraestrutura e a
Economia sem precedente, como estamos vendo acontecer no programa Territórios pela
Paz (TerPaz), somado ao fortalecimento da Polícia Civil, Polícia Militar e Sistema
Prisional, já rendendo uma importante redução nos indicadores da criminalidade, o que
interessa a todos, incluindo nossas famílias.
Particularmente no Sistema Prisional, estamos implementando, criteriosa e
intensamente, novos protocolos de gestão, a partir do padrão federal do DEPEN (Depto.
Penitenciário Nacional). Tarefa na qual estamos contando com a Força Tarefa de
Intervenção Prisional (FTIP) que proporciona a oportunidade única de termos novos
conhecimentos e procedimentos trabalhados tanto no próprio Curso de Formação
Profissional, quanto no dia-a-dia das unidades prisionais. Aproveitem ao máximo esta
oportunidade. Por fim, convidamos as Senhoras e Senhores a vir somar conosco, para
juntos fazermos uma nova história.
Jarbas Vasconcelos do Carmo
Secretário de Estado de Administração Penitenciária do Estado do Pará
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DISCIPLINA I - FUNDAMENTOS POLÍTICOS E SOCIOLÓGICOS DA
PRISÃO E DA PENA.
EIXO: Fundamental.
CARGA HORÁRIA: 08 horas.
PROFESSOR CONTEUDISTA: Eber Barreto de Souza. Mestre Profissional em
Gestão Pública - NAEA / UFPA; Especialista em Ensino de Sociologia no Ensino
Médio - UEPA / UAB; Aperfeiçoado em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e
Raça - UFPA; Graduado em Antropologia - UFPA; Graduado em Ciência Política –
ESAMAZ.
OBJETIVO: Apresentar aos discentes do Concurso C-199/Sub Judice os fundamentos
políticos e sociológicos da prisão e da pena através de conceitos, noções e perspectivas
(teóricas e ideológicas) por meio de reflexões acuradas e análises críticas.
EMENTA:
1. Controle e Repressão na Formação das Sociedades Modernas;
2. Poder Punitivo e Democracia: Estado Penal e Estado Democrático de Direito;
3. Responsabilização Criminal: Respostas institucionais alternativas à prisão e outros
mecanismos de solução de conflitos;
4. Sistema de Justiça Penal;
5.Sociedade Brasileira e Prisões: O fenômeno do encarceramento massivo no Brasil
contemporâneo;
6.Teorias da Punição: Restrição e Privação de Liberdade.
METODOLOGIA: Apresentação oral.
MATERIAL DIDÁTICO: Utilização de slides em formato Power Point, exibidos
através de Data Show, além do texto base em formato PDF.
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1 CONTROLE E REPRESSÃO NA FORMAÇÃO DAS SOCIEDADES
1.1 CONTROLE SOCIAL
“Todos os mecanismos formais e informais e controles internos e externos que
funcionam para gerar conformidade” (GIDDENS; SUTTON, 2017, p. 276).
O controle social é exercido em todas as situações sociais de formas variadas e
imprevisíveis objetivando adaptar a conduta do indivíduo aos padrões comportamentais
dominantes (LOUREIRO; CHAVES, 2009).
“Controle social é o lado oposto do desvio” (GIDDENS; SUTTON, 2017, p.
278).
Desvio é a “realização de ações que não obedecem a normas ou valores aceitos
de modo geral na sociedade” (GIDDENS; SUTTON, 2017, p. 281).
Desvio e crime não são sinônimos, “ainda que em muitos casos eles se
sobreponham” (GIDDENS; SUTTON, 2017, p. 282).
Desvio “é muito mais abrangente do que crime, que se refere apenas à conduta
de não conformidade que infringe a lei” (GIDDENS; SUTTON, 2017, p. 282).
O conceito de desvio “pode ser aplicado tanto ao comportamento individual
como à atividade de grupos” (GIDDENS; SUTTON, 2017, p. 282).
1.2 CONTROLE INTERNO E EXTERNO
Através da aprendizagem a pessoa “internaliza” a forma como deve atuar em
cada situação (SABADELL, 2013).
Meios de Controle:
Interno: Externo:
Objeto: O próprio indivíduo A transgressão da norma
Objetivo:
“Interiorização” de regras
e de mecanismos
socialmente aprovados
Restaurar a ordem coletiva
Aplicação: Nos processos de
socialização Após falha do controle interno
Fiscalizador: O próprio indivíduo Os demais entes (outros indivíduos, grupos,
Estado)
Fonte: Própria do autor.
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1.3 CONTROLE NEGATIVO E POSITIVO
Dependendo do tipo de atuação, os meios de controle podem ser negativos ou
positivos. (SABADELL, 2013).
Meios de Controle: Controle Negativo: Controle Positivo:
Comportamento: Indesejado Desejado
Interação: Reprovação Aceitação
Ação: Aplicação de sanção Aplicação de sanção
Intensidade:
(Baixa, média ou alta) Repressão
Gratificação, orientação,
persuasão
Efeito para o indivíduo: Coerção Reforço
Efeito para os demais: Intimidação Validação
Fonte: Própria do autor.
1.4 SANÇÕES FORMAIS E INFORMAIS
De acordo com o grau de organização, os meios de controle social podem ser
informais ou formais (SABADELL, 2013).
Sanções: Informais: Formais:
Tipo: Difusa, mutável e espontânea Pontual, estável, induzida
Forma: Pressupõe institucionalização Pressupõe institucionalização
Âmbito de realização: Em grupos sociais Na sociedade
Agente de realização: Indivíduos Estado
Fonte: Própria do autor.
1.5 REPRESSÃO SOCIAL
Repressão: “Ato ou efeito de reprimir” (FERREIRA, 2008).
2 PODER PUNITIVO E DEMOCRACIA: ESTADO PENAL E ESTADO
DEMOCRÁTICO DE DIREITO
2.1 HISTORICIDADE DA PRISÃO E DA PENA
Idade Antiga: 1) Ausência de código (formal) de regulamento social e/ou de
ordenamento jurídico; 2) A prisão não possuía caráter de pena, mas sim, de simples
acondicionamento para posterior execução; 3) A pena era martírio/suplício corporal
(PARÁ, 2020).
Idade Média: 1) O cárcere continuava, apenas, como o local de custódia para
posterior penalização; 2) A penitência (reclusão, nos casos eclesiásticos) passou a ser
9
adotada com vistas ao arrependimento do culpado; 3) A pena ainda era corporal (PARÁ,
2020).
Idade Moderna: 1) Instituída a penitenciária como estabelecimento oficial para
custodiar réus no aguardo de julgamento (a maioria) e os já condenados; 2) A prisão
passou a possui caráter de pena: a) Pena de detenção: Aplicada em casos menos graves,
não admitindo o início da pena em regime fechado; a) Pena de reclusão: Aplicada em
casos mais graves, sendo o regime de cumprimento fechado, semiaberto ou aberto,
normalmente cumprida em penitenciária de segurança máxima ou média (PARÁ, 2020).
2.2 FILOSOFIA CLÁSSICA
“[...] os primeiros filósofos eram designados por Aristóteles como ‘aqueles que
discorrem sobre a natureza’ (STRAUSS; CROPSEY, 1994 apud NOGUEIRA FILHO,
2006, p. 27).
“[...] a natureza e seus fenômenos eram investigados pelos gregos, não como
manifestação ou emanação dos deuses, mas como fenômenos naturais” (NOGUEIRA
FILHO, 2006, p. 27).
“A natureza significava para os filósofos as qualidades, as características de uma
coisa ou de um gênero de coisas [...] a capacidade que as coisas têm de produzir
resultados” (NOGUEIRA FILHO, 2006, p. 29).
“[...] para os gregos, a natureza [...] não tinha sido feita pelos deuses, da mesma
forma que os filósofos gregos sabiam não ter sido feita tampouco pelos homens”
(NOGUEIRA FILHO, 2006, p. 29).
“Eles tinham consciência de que cada coisa da natureza tinha sua ‘maneira’ ou
seu ‘costume’, ou seja, a forma de seu comportamento. Mas havia uma distinção nas
maneiras ou costumes da natureza de um lado e a ‘convenção’ ou a ‘lei’ (nomos) do
outro” (NOGUEIRA FILHO, 2006, p. 29).
“Esta diferença era fundamental para que os filósofos pudessem compreender e
distinguir o que separa as coisas naturais das coisas convencionais” (NOGUEIRA
FILHO, 2006, p. 29).
2.3 FILOSOFIA POLÍTICA CLÁSSICA
“[...] o costume, a convenção e a lei [...] eram coisas naturais ou convencionais?”
(NOGUEIRA FILHO, 2006, p. 30). “[...] todo direito é convencional ou existe um
direito natural?” (NOGUEIRA FILHO, 2006, p. 30).
Sócrates: Platão:
Produto da natureza Produto da convenção
Fonte: Própria do autor.
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O primeiro grande salto da Humanidade foi a separação (analítica) entre religião
e natureza, bem como entre natureza e a natureza do homem (e da sociedade).
2.4 FILOSOFIA POLÍTICA MODERNA
“O outro enorme salto dado pela Humanidade ocorreu entre os séculos XVII e
XVIII de nossa era e resultou da revolução científica que libertou a Filosofia e a Ciência
moderna dos padrões que hoje chamamos clássicos [...]” (NOGUEIRA FILHO, 2006, p.
37).
Entre o fim do século XVI e meados do século XVII tivemos a contribuição do
inglês Thomas Hobbes (1588-1674), entre as grandes contribuições para a evolução do
pensamento e da filosofia política (NOGUEIRA FILHO, 2006).
Entre meados do século XVII e meados do século XVIII, as contribuições mais
expressivas foram a do inglês John Locke (1650-1704), a do francês Montesquieu
(1689-1755) e, a do francês, nascido na Suíça, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
(NOGUEIRA FILHO, 2006).
Ainda daquele período, outro que merece destaque é o francês
Charles-Louis de Secondat, mais conhecido como barão de
Montesquieu (1689-1755) que se notabilizou como formulador da
teoria da separação das funções do poder estatal por diferentes
instituições em sua obra: ‘O Espírito das Leis’ (COELHO, 2013;
NOGUEIRA FILHO, 2006). Estado Absolutista
Estado
Moderno
Soberano
Função
Legislativa
Função
Judiciária
Função
Executiva
Fonte: Própria do autor.
Objetou evitar a concentração excessiva de poder nas mãos de um único
governante (o rei ou assembleia) para evitar que atentassem contra a liberdade dos
governados (COELHO, 2013).
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No século XIX destacam-se o alemão Karl Marx (1818-1883), o francês Émile
Durkheim (1858-1971) e o também alemão Max Weber (1864-1920) (COELHO, 2013;
NOGUEIRA FILHO, 2006; SANTOS, 2012).
Para Max Weber, a autoridade (ou dominação) pode ser exercida através: do
carisma; da tradição ou de regras (SANTOS, 2012). Também foi ele quem caracterizou
o poder do Estado como o monopólio legítimo do exercício da violência (SANTOS,
2012). “[...] o Estado é a mais complexa de todas as instituições” (NOGUEIRA FILHO,
2006, p. 92).
Independentemente do Regime Político (Autocracias ou Democracias), da
Forma de Governo (Monarquia ou República) ou do Sistema de Governo
(Parlamentarismo ou Presidencialismo), o Estado possui características que diferenciam
seu poder das demais instituições sociais COELHO (2013).
Características do Poder do Estado
Exclusividade Universalidade Inclusividade
Detém o monopólio
legítimo da coação física
para manter a ordem
vigente.
Decide sobre toda a
coletividade que
representa.
Pode intervir em todas as esferas
da vida social mesmo que não
tenha que regular tudo.
Fonte: Própria do autor.
2.5 ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
São duas as dimensões fundamentais para a classificação e análise dos diferentes
regimes políticos, em geral, e dos existentes no mundo atual, em particular (COELHO
(2013):
O grau de participação dos
governados no processo de escolha
dos governantes.
O grau de independência, ou de
liberdade, dos governados em relação
aos governantes.
Diz respeito à abertura dos regimes
políticos à participação popular na
seleção dos governantes.
Diz respeito à esfera de liberdade
assegurada aos governados nos
diferentes regimes.
Fonte: Própria do autor.
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2.6 ESTADO PENAL
Pode-se caracterizar o Estado Penal pelo aumento da repressão estatal sobre as
camadas excluídas como forma de conter efeitos reducionistas das políticas sociais
(OLIVEIRA, 2019).
Um país de capitalismo tardio como o Brasil possui acentuado déficit de
efetivação dos comandos do Estado democrático de direito nos âmbitos federal e
estaduais, e isto porque tanto a sua produção normativa quanto às atuações abusivas e
violadoras do aparato policial não obedecem aos preceitos fundamentais (SOUZA,
2013).
Persistem ainda “as punitivas sentenças sem lastro constitucional” somadas “as
arbitrariedades do sistema penitenciário” (OLIVEIRA, 2019 apud SOUZA, 2013, p.
243). As políticas de encarceramento e as práticas de extermínio vem se tornando, por
excelência, a forma de criminalizar a pobreza (OLIVEIRA, 2019).
“Na história da humanidade existem inúmeros exemplos de como se tentou
inferiorizar o outro, sejam os bárbaros, os pagãos, os hereges, todos aqueles que
pudessem representar alguma espécie de perigo para a ‘civilização’. Hoje, a história
retoma alguns desses elementos para auferir políticas severas contra as populações
negras, indígenas, imigrantes e pobres, apresentadas ao mundo como razão de ser do
perigo à sociedade em geral” (OLIVEIRA, 2019, p. 13).
“No cenário brasileiro, o que vem ocorrendo é a continuação sangrenta da
criminalização das populações mais precarizadas e a legitimação institucional de uma
guerra aos pobres. Desta forma, fica evidente a quem serve este modelo de Estado
baseado na política de encarceramento em massa e no trabalho precário, crescentes nos
países centrais, e no encarceramento em massa combinado às práticas de extermínio, em
países como o Brasil, cuja legitimação do seu poder se dá por meio da necropolítica,
cujo racismo se apresenta como a forma de distribuir os critérios para tais mortes, sendo
esta, parte do crivo para a própria necessidade de reprodução do capital” (OLIVEIRA,
2019, p. 13).
3 RESPONSABILIZAÇÃO CRIMINAL: RESPOSTAS INSTITUCIONAIS
ALTERNATIVAS À PRISÃO E OUTROS MECANISMOS
3.1 ANÁLISE DO FUNCIONAMENTO INSTITUCIONAL
A perspectiva funcionalista considera que uma sociedade, bem como sua cultura,
deve ser estudada enquanto uma totalidade, tal como funciona no momento em que é
observada (ASSIS; KÜMPEL, 2011).
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Por esse prisma, a sociedade e a cultura são vistas como um todo em que as
partes estão intimamente interligadas, numa integração funcional, tal como o organismo
biológico e seus respectivos órgãos (ASSIS; KÜMPEL, 2011).
O funcionalismo ocupa-se em estudar e explicar o funcionamento da cultura em
dado momento e elegeu como unidade básica da sua análise a instituição, uma unidade
funcional concreta e observável equiparada a um agrupamento social definido
(MALINOWSKI, 1970 apud ASSIS; KÜMPEL, 2011).
3.2 RESPOSTAS INSTITUCIONAIS ALTERNATIVAS À PRISÃO
Art. 32. As penas são: I – privativas de liberdade (detenção e reclusão); II –
restritivas de direitos (prestação pecuniária, perda de bens e valores, prestação de
serviço à comunidade ou a entidades públicas, interdição temporária de direitos,
limitação de fim de semana; III – de multa (BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848/1940).
3.3 HISTORICIDADE DE ALGUMAS DAS RESPOSTAS INSTITUCIONAIS
ALTERNATIVAS À PRISÃO:
Período: Local: Institutos:
1960 e 1970 Mundo Suspensão da pena e Multa.
Final da década de
1970
Brasil Prisão aberta, Prisão albergue, Ampliação do
SURSIS1 (Lei nº 6.416/1977 - Alterou dispositivos
do Código Penal, do Código de Processo Penal e da
Lei das Contravenções Penais).
Anos de 1980 Brasil Liberdade vigiada, Reparação do dano, Prestação de
serviço à comunidade.
Transição da Ditadura
Militar para o Estado
Democrático de Direito
Brasil Reforma da Parte Geral do Código Penal, Edição da
Lei de Execução Penal, Promulgação da
Constituição Federal.
1984 Brasil Prestação de serviços à comunidade, Interdição
temporária de direitos, Limitação de fim de semana.
1990 Mundo Utilização de medidas e penas alternativas para
delitos e criminosos de menor potencial ofensivo.
1995 Brasil Lei dos Juizados Especial Criminais (Lei nº
9.099/95) e Lei nº 9.714/98 (Alterou o Código
Penal).
Fonte: Própria do autor.
1 SURSIS: Instituto da Suspensão Condicional da Pena (Artigos 77 a 82 do Código Penal Brasileiro).
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3.4 CARACTERÍSTICAS DAS PENAS ALTERNATIVAS À PRIVAÇÃO DE
LIBERDADE
As penas restritivas de direito alternativas à privação de liberdade são medidas
que: 1) Possuem caráter educativo; 2) Trazem benefícios à sociedade; 3) São aplicadas
nos casos de crimes de menor potencial ofensivo; 4) Mantém os infratores em convívio
com a sociedade (SECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA DO
ESTADO DE SÃO PAULO).
3.5 OUTROS MECANISMOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS:
Mecanismos: Formas de Solução:
Arbitragem (Lei nº
9.307/1996);
Apenas extrajudicial, mas o compromisso para aceitá-la
pode ocorrer em juízo.
Conciliação (Lei nº
13.105/2015);
Judicial ou extrajudicial.
Mediação (Lei nº
13.140/2015).
Judicial ou extrajudicial.
Fonte: Própria do autor.
4 SISTEMA DE JUSTIÇA PENAL
4.1 BASES FUNCIONAIS
Baseia-se nos Tratados e Convenções internacionais (entre outras), no Código
Penal, no Código de Processo Penal e na Lei de Execução Penal (FERREIRA;
OLIVEIRA FONTOURA, 2008).
Abrange órgãos dos Poderes Executivo e Judiciário em todos os níveis da
federação e organiza-se em três principais frentes de atuação: 1) Segurança Pública; 2)
Justiça Criminal; 3) Execução Penal (FERREIRA; OLIVEIRA FONTOURA, 2008).
Primando pela supremacia do interesse público, cada frente atua (em suas
funções) dando continuidade ao esforço das outras buscando a consolidação da ordem
pública e aplicação da justiça, em benefício da preservação da incolumidade das pessoas
e do patrimônio (FERREIRA; OLIVEIRA FONTOURA, 2008).
Visa alcançar os objetivos previstos na legislação, necessários à quebra do ciclo
nocivo à ordem, à justiça e à paz social: a reeducação, a reintegração social e a
ressocialização dos apenados (FERREIRA; OLIVEIRA FONTOURA, 2008).
Busca otimizar as ligações, o compartilhamento de deveres e um conjunto de
ações e processos que envolvem: prevenção, contenção de delitos, investigação,
denúncia, defesa, processo, julgamento, sentença e, execução penal (FERREIRA;
OLIVEIRA FONTOURA, 2008).
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4.2 OPERACIONALIZAÇÃO
A operacionalização do conjunto de ações e processos divide-se em três:
prevenção primária, prevenção secundária e prevenção terciária (FERREIRA;
OLIVEIRA FONTOURA, 2008).
A prevenção primária abrange: 1) Policiamento ostensivo; 2) Implementação e
apoio aos programas educativos (como o de prevenção às drogas); 3) Capacidade do
sistema de justiça criminal em punir (FERREIRA; OLIVEIRA FONTOURA, 2008).
Por sua vez, a prevenção secundária foca em: 1) Ações dirigidas às pessoas mais
suscetíveis a praticar crimes e violências; 2) Ações dirigidas às pessoas mais suscetíveis
de serem vítimas de crimes e violências; 3) Não permitir que o trabalho do sistema de
justiça criminal possa atribuir estigma ao apenado (FERREIRA; OLIVEIRA
FONTOURA, 2008).
Por fim, a prevenção terciária é responsável por: 1) Ações dirigidas para pessoas
que já praticaram crimes; a) Evitar reincidências; 2) Registrar crimes; 3) Apurar crimes;
4) Realizar prisões (FERREIRA; OLIVEIRA FONTOURA, 2008).
5 SOCIEDADE BRASILEIRA E PRISÕES: O FENÔMENO DO
ENCARCERAMENTO MASSIVO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
5.1 CINCO PROBLEMAS CRÔNICOS DAS PRISÕES BRASILEIRAS
1. Superlotação: Com a quarta maior população carcerária do mundo, o Brasil
possui, segundo o Ministério da Justiça, 622 mil detentos, mas apenas 371 mil vagas. A
cada mês, penitenciárias de todo o país recebem 3 mil novos presos. Desde 2000, a
população carcerária praticamente dobrou de tamanho (BARRUCHO; BARROS,
2017).
2. Reincidência: A reincidência, ou seja, voltar a praticar o crime ─ é um
problema global. Mas no Brasil tem dimensões muito maiores. Segundo estatísticas
oficiais, 70% dos que deixam a prisão acabam cometendo crimes novamente
(BARRUCHO; BARROS, 2017).
3. Saúde Precária: Estudos mostram que detentos brasileiros têm 30 vezes mais
chances de contrair tuberculose e quase dez vezes mais chances de serem infectados por
HIV (vírus que causa a AIDS) do que o restante da população. Além disso, estão mais
vulneráveis à dependência de álcool e drogas (BARRUCHO; BARROS, 2017).
4. Má Administração: O sistema prisional brasileiro sofre com a má
administração. Prisões geridas tanto pelo poder público quanto pelo capital privado
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enfrentam problemas como superlotação, condições insalubres e rebeliões
(BARRUCHO; BARROS, 2017).
5. Falta de Apoio da Sociedade: Especialistas alertam para a falta de apoio da
sociedade na reintegração dos presos. Scandurra, do Observatório Europeu das
Prisões, afirma que: "Em todo o mundo, e talvez em maior grau no Brasil, discursos
políticos que apelam para um endurecimento do combate ao crime ganham votos, não
o oposto“ (BARRUCHO; BARROS, 2017).
6 TEORIAS DA PUNIÇÃO: RESTRIÇÃO E PRIVAÇÃO DE LIBERDADE
6.1 TEORIAS DA PUNIÇÃO
Teorias Clássicas: 1) Possuem caráter eminentemente repressivo; 2)
Compreendem a pena como finalidade básica para o restabelecimento da ordem jurídica
lesada; 3) Entendem a prevenção como resultado do controle social; 4) A pena seria o
instrumento mais efetivo para incutir na sociedade a responsabilidade social
(HASSEMER; MUÑOZ CONDE, 1989 apud LOUREIRO; CHAVES, 2009).
Teorias Oposicionistas: 1) Pugnam pela ressocialização do criminoso; 2) É neste
sentido que caminham as modernas teorias sobre a pena no mundo ocidental; 3) Sua
fraqueza teórica conflita com a realidade, pois são raros os casos de ressocialização ou
de perfeita integração de ex-detentos à sociedade (HASSEMER; MUÑOZ CONDE,
1989 apud LOUREIRO; CHAVES, 2009).
Teorias Ecléticas: 1) Combinam os objetivos das duas anteriores, em especial,
no que tange às finalidades preventivas da pena; 2) Limitam o caráter repressivo das
duas anteriores e substituem pelo caráter formador e educativo; 3) Entendem que a
coação, a repressão e a violência não contribuem no sentido da ressocialização do
pessoa (HASSEMER; MUÑOZ CONDE, 1989 apud LOUREIRO; CHAVES, 2009).
6.2 TEORIAS SOCIOLÓGICAS
Perspectiva Funcionalista: Para Durkheim (1960), a conduta criminosa faz parte
inevitavelmente da vida de uma sociedade sadia, posto que em todas elas haverá sempre
pessoas portadoras de comportamentos antissociais produtores de crimes (LOUREIRO;
CHAVES, 2009). “[...] o crime é normal porque seria inteiramente impossível uma
sociedade que se mostrasse isenta dele” (DURKHEIM, 1960, p. 64).
A criminalidade somente alcançaria o caráter de anormalidade ou patologia
social quando, pela sua elevada incidência, ameaçasse a ordem social, impedindo o
bem-estar da sociedade em geral, como é o caso brasileiro (LOUREIRO; CHAVES,
2009). Para Durkheim (1960), a pena exerceria as seguintes funções: corrigir o culpado,
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mas apenas secundariamente; intimidar possíveis imitadores; mas sua verdadeira função
seria a de manter intacta e não ameaçar a coesão social (LOUREIRO; CHAVES, 2009).
Na visão de Durkheim o crime colabora com a dinâmica social ao contribuir
para que o restante da sociedade respeite os princípios sociais e morais valorizados pela
coletividade (LOUREIRO; CHAVES, 2009).
Perspectiva Interacionista: Demonstram a existência de uma subcultura dentro
dos presídios que impede a ressocialização do preso e mostram como certos
mecanismos de aprendizagem na prisão funcionam no sentido de fazer o preso
interiorizar a nova cultura do presídio (LOUREIRO; CHAVES, 2009).
Erving Goffman (2005), trata da questão da subcultura e dos comportamentos
dela decorrentes nas instituições fechadas (como a prisão) e de como os presos acabam
por ajustar suas condutas a essas regras impostas, com vistas a sobreviverem no novo
ambiente (LOUREIRO; CHAVES, 2009). A esta adaptação aos costumes, ao
vocabulário, aos sentimentos, às adesões, etc. No submundo do crime, Goffman (2005)
dá o nome de deculturação (LOUREIRO; CHAVES, 2009).
Nessa mesma linha pode-se incluir outros autores que entendem a impossibilidade de
regeneração do preso, porque as prisões são portadoras de uma subcultura, um
submundo de valores, normas e comportamentos que são interiorizados pelo preso, o
que torna dificílima sua recuperação (LOUREIRO; CHAVES, 2009).
Perspectiva do Controle Social: Também chamada de produtora de
conformidade, rejeita a perspectiva funcionalista e a do Conflito (LOUREIRO;
CHAVES, 2009). Entende que o conceito de crime é relativo, já que são determinados
grupos sociais, especialmente legisladores e operadores do direito, que definem para a
sociedade em geral o que é crime (LOUREIRO; CHAVES, 2009).
Acredita que para os criminosos, que têm uma escala de valores diferentes, o
crime não é visto da mesma maneira, mas sim como outra modalidade de
comportamento social (LOUREIRO; CHAVES, 2009).
O desvio não é uma qualidade do ato cometido por uma pessoa, mas antes
consequência da aplicação, pelos outros, de normas e sanções a um “transgressor”
(LOUREIRO; CHAVES, 2009). O desviante é aquele ao qual essa etiqueta foi aplicada
com êxito e o comportamento desviante é aquele ao qual a coletividade cola essa
etiqueta (LOUREIRO; CHAVES, 2009).
Postula que grupos sociais que definem o que é crime colocam etiquetas
identificadoras de “criminoso” em pessoas de outras camadas sociais (LOUREIRO;
CHAVES, 2009).
Perspectiva do Conflito “a nova criminologia”: Com raiz marxiana, possui
coerência com a dialética-materialista como recurso de análise da realidade, focalizando
sua reflexão no sistema social e suas estruturas fundamentais e não o crime visto
isoladamente (LOUREIRO; CHAVES, 2009).
18
Entende que não o crime, mas a criminalidade, tem um fundamento social que
reside na exclusão imposta a enormes segmentos da sociedade (LOUREIRO; CHAVES,
2009). A culpabilidade não pode ser atribuída somente ao criminoso, mas sim à
exclusão social da qual o indivíduo foi vítima, do que resulta que quanto mais ampla e
profunda é a exclusão numa dada sociedade, mais elevados são seus índices de
criminalidade, o que de fato as estatísticas demonstram (LOUREIRO; CHAVES, 2009).
No caso brasileiro, esta corrente tem influenciado grandemente os defensores dos
direitos humanos que têm lutado para que a redução da maioridade penal não se efetive,
pelo fato de que as camadas excluídas socialmente seriam ainda mais penalizadas
(LOUREIRO; CHAVES, 2009).
À esta corrente aderem também amplos setores governamentais, mas, por outras
razões, a redução da maioridade penal produziria uma avalanche de novas prisões, o
que, em consequência, exigiria um aporte muito maior de recursos para o sistema
prisional em detrimento de outras ações próprias do Estado (LOUREIRO; CHAVES,
2009).
Enquanto os teóricos do desvio e crime analisam por que as pessoas infringem
normas e leis sociais, os teóricos do controle social procuram descobrir o porquê que as
pessoas obedecem? (GIDDENS; SUTTON, 2017). Uma das formas de pensar as
diversas teorias de controle social é dividi-las em duas abordagens: a ‘produtora de
conformidade’ e a ‘repressora do desvio’ (HUDSON, 1997 apud GIDDENS; SUTTON,
2017).
As teorias de produção de conformidade (Perspectiva do Controle Social)
costumam se concentrar no aprendizado dos papéis sociais e na internalização das
normas sociais, enquanto as teorias da repressão do desvio (Perspectiva Interacionista)
analisam as associações entre comportamento desviante e as medidas empregadas para
reduzi-lo GIDDENS; SUTTON, 2017).
Problemática: “[...] embora haja um consenso em relação à existência de
condutas criminosas que clamam por uma pena, não há, em contrapartida, idêntico
acordo quando se questiona a capacidade da pena em cumprir qualquer das funções para
as quais é aplicada e que se espera que cumpra” (LOUREIRO; CHAVES, 2009, p. 177).
“O merecimento da pena apresenta-se como um componente concreto do
exercício da Justiça, mas o outro componente, o utilitário, é que se converteu cada vez
mais num objeto de controvérsias entre penalistas, sociólogos e muitos segmentos da
sociedade, pelo menos no caso brasileiro” (LOUREIRO; CHAVES, 2009, p. 177).
“[...] se a pena é necessária, ela parece ser ao mesmo tempo inútil, dado que não
consegue cumprir suas funções” (LOUREIRO; CHAVES, 2009, p. 177).
Para concluir e refletir: Um aspecto que se deve levar em consideração é que,
no Brasil, a Justiça, o Executivo, o Legislativo e vários setores e segmentos da
sociedade têm considerado a criminalidade como uma variável independente do
contexto social no qual ocorre (LOUREIRO; CHAVES, 2009).
19
Daí porque, embora os crimes comuns ocorram prioritariamente entre
populações que apresentam enormes carências sociais e que ocupam espaços que
apresentam grandes limitações de infraestruturas sociais e urbanas e sujeitas a enormes
constrangimentos culturais, a tendência das análises do poder público tem sido a de
desvincular este contexto da criminalidade que nele ocorre (LOUREIRO; CHAVES,
2009).
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conflitos no âmbito da administração pública; altera a Lei nº 9.469, de 10 de julho de
1997, e o Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972; e revoga o § 2º do art. 6º da Lei nº
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WEBER. Max, Economia e Sociedade: Fundamentos da sociologia compreensiva.
Petrópolis. UNB: S/D.
22
DISCIPLINA II - FUNDAMENTOS JURÍDICOS DA RESPONSABILIZAÇÃO
CRIMINAL
EIXO: Fundamental.
CARGA HORÁRIA: 08 horas.
PROFESSOR: Mário Célio da Silva Morais. Mestrando em Direitos Fundamentais;
Especialista em: Ciências Criminais, Processo Civil além de Processo com ênfase em
Direito Constitucional, Civil, Penal e Trabalhista. Atuou Como Professor de
Legislações da Escola de Agentes Penitenciários - EAP e do Instituto de Ensino de
Segurança do Pará - IESP Membro do Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação
(CONPEDI). Tem experiência como Diretor jurídico e Professor Conteudista na
disciplina Direitos Humanos Aplicado ao Cárcere.
OBJETIVO DA DISCIPLINA: Compreender as transformações do processo punitivo
contemporâneo, a partir dos aspectos jurídicos. a) Limites Constitucionais do Poder
Punitivo do Estado. b) O Sistema Prisional sob a ótica constitucional: competências e
papeis tripartites (Legislativo, Judiciário e Executivo). c) Estudo a Lei de Execução
Penal-Lei nº7.210, de 11 julho de 1984. d) Noções das Prerrogativas da Atividade do
Advogado.
CONTEUDO PROGRAMÁTICO:
▪ Limites Constitucionais do Poder Punitivo do Estado.
▪ O Sistema Prisional sob a ótica constitucional: competências e papeis tripartites
(Legislativo, Judiciário e Executivo).
▪ Estudo a Lei de Execução Penal (Lei nº7.210, de 11 julho de 1984).
▪ Noções das Prerrogativas da Atividade do Advogado.
23
1 LIMITES CONSTITUCIONAIS DO PODER PUNITIVO DO ESTADO
O Estado tem a prerrogativa de submeter a sua força àqueles que não se
integram às normas jurídico-penais.
Em nossa sociedade, tendemos a pensar que os delitos se exaurem quando
condenamos o delinquente. Por isso, confundimos pena com castigo; justiça com
vingança. A expansão do poder punitivo é fomentada pelos clamores populares por
segurança pública.
Contudo, o agir repressivo das forças policiais não soluciona questões sociais –
que, em sua maioria, são causadas pela omissão do próprio Estado em difundir reais
oportunidades de ascensão econômica e oferecer condições que possibilitem ao
indivíduo uma perspectiva de vida fora do crime. Isto porque as questões coletivas vêm
sendo suprimidas das pautas políticas, de modo a, praticamente, reduzir o direito
público ao direito penal. Assim, o Estado distancia sua atuação das demais esferas de
interesse da população, limitando-se a exercer o monopólio legítimo da força.
O processo penal tem como escopo, sobretudo, limitar o poder de punir estatal,
evitando o uso arbitrário da força e garantindo ao réu a disponibilidade dos mesmos
instrumentos utilizados pela acusação, a fim de equilibrar a relação essencialmente
desigual que existe entre o Estado e o particular. Desse modo, não pode ser manuseado
apenas sob a ótica técnica; e sim, observando o fim social a que se destina, garantindo
um julgamento baseado em pilares verdadeiramente harmônicos com o Estado
Democrático de Direito, e não se deixando sucumbir frente aos desejos vingativos
revestidos sob a forma de medidas urgentes, defendidas por parte do corpo social.
Segundo Batista (2011), o combate que o direito penal é capaz de produzir
atinge apenas os delitos já realizados, sendo precário seu desempenho preventivo. Isto
porque a pena não atua na esfera da moralidade; ao contrário, exerce seu papel por meio
da coerção. Ao não afetar o indivíduo em sua consciência, não implica o
arrependimento necessário a sua ressocialização.
Como finalidade da pena nós temos a opinião de Cesare Beccaria, quando afirma
que o fim, portanto, não é outro que o de impedir que o réu cometa novos danos aos
seus cidadãos e de intimidar os outros de fazerem o mesmo. Aquelas penas, e aquele
método de infringi-las, devem ser eleitos de tal forma que, observada a proporção,
causará uma impressão mais eficaz e mais durável sobre os ânimos dos homens, e a
menos tormentosa sobre o corpo do réu.
Não restam dúvidas de que, diante da falência do sistema carcerário, a imposição
de pena não cumpre a função preventiva idealizada por Beccaria. Seu fracasso prático
pode ser facilmente extraído dos números que apontam para o crescimento da
reincidência e da criminalidade. Por não trazer qualquer benefício à coletividade,
implica, unicamente, em castigo para o condenado. Como consequência direta, desperta
24
o ódio em seu destinatário e o sentimento de vingança popular; revolta mais do que
coíbe, não desempenhando papel educativo.
O interesse comum não é pautado somente no não cometimento de crimes, mas
na aplicação de sanções proporcionais, que, de fato, cumpram a função social da pena.
A mão forte do Estado deve ser instrumento de garantia da exata correspondência entre
o delito e sua consequência penal. É temerário acreditar que o endurecimento do poder
punitivo gere outra consequência que não a violência institucionalizada. São falaciosas
as conclusões baseadas na premissa de que o cárcere seja instrumento hábil a controlar a
criminalidade. Ao contrário do que é sustentado por grande parte dos agentes políticos,
a atuação com maior rigor no regime carcerário não é capaz de coibir a prática de
crimes, tampouco de reinserir o indivíduo no convívio coletivo. A implementação de
medidas que deleguem à privação de liberdade a tarefa de transformar a realidade social
é ineficaz e não atenta para os perigos latentes trazidos por um poder punitivo
desenfreado.
Não restam dúvidas de que, sob os moldes atuais, e diante da falência do sistema
carcerário, a imposição de pena não cumpre a função preventiva idealizada por
Beccaria. Seu fracasso prático pode ser facilmente extraído dos números que apontam
para o crescimento da reincidência e da criminalidade. Por não trazer qualquer benefício
à coletividade, implica, unicamente, em castigo para o condenado. Como consequência
direta, desperta o ódio em seu destinatário e o sentimento de vingança popular; revolta
mais do que coíbe, não desempenhando papel educativo.
Conclusão
Os problemas de segurança pública não servem de fundamento à utilização de
vias que a Constituição repudia. Quanto maior for o direcionamento do pensamento
crítico à observação da desproporção entre aquilo que é teorizado e a realidade social,
menos frequentes serão as ilegalidades e os abusos de autoridade, pois a ignorância
sobre a dignidade humana conduz à aceitação da violência praticada pelas instituições
responsáveis por combatê-la.
A contenção do poder punitivo é o único modo de prevenir massacres. O século
XX provou que a potestade punitiva quando exercida sem limites conduz a genocídios
de proporções irrefreáveis. O maior instrumento para submeter a força à ordem jurídica
é o Direito Penal, que atua como limitadora da tirania do Estado.
Apenas um Direito Penal Humano para todos os seres humanos é capaz de
promover uma força justa.
25
2 O SISTEMA PRISIONAL SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL:
COMPETÊNCIAS E PAPÉIS TRIPARTITES (LEGISLATIVO,
JUDICIÁRIO E EXECUTIVO)
É fato notório que os estabelecimentos prisionais estão fora do controle do
Estado. A Constituição Federal atribui a execução penal ao Estado, não às facções
criminosas. Aos Poderes Executivo e Legislativo soma-se à responsabilidade, por
omissão, do Poder Judiciário e do Ministério Público pela ausência do poder público na
administração penitenciária. Não há nada mais contrário à lei que o controle privado das
prisões por grupos criminosos e, certamente, a omissão de todas as autoridades, sem
exceção, contribuiu para isso. Se todos cumprissem devidamente seu papel, a realidade
seria bem diferente. O próprio STF já reconheceu a legitimidade de o Poder Judiciário
intervir nos casos de violação massiva de direitos fundamentais, com o uso da lei para
obrigar o Poder Executivo a cumprir os preceitos para a tutela da pessoa humana. O
ideal, é claro, seria cada poder exercer devidamente sua função, entretanto, quando
houver falhas, o Ministério Público e o Poder Judiciário podem, e devem exigir o
cumprimento da lei.
Se cada instituição jogar a culpa nas costas de outra, a situação somente se
agravará e a população, como um todo, sairá perdedora. Corporativismo tem limites e os
agentes públicos não podem se esquecer que prestam serviços para a sociedade. O
Brasil possui excelentes leis e basta que estas sejam cumpridas para termos um sistema
de justiça penal eficiente. Só haverá expectativa de melhorias para a população
carcerária quando todos os envolvidos assumirem seu papel e cumprirem suas
obrigações.
As recentes rebeliões ocorridas em alguns presídios brasileiros escancararam
algo que já era de conhecimento de quem tem um mínimo de preocupação com a
execução penal: o Estado não tem controle sobre os estabelecimentos prisionais. Para
aqueles que já saíram da pré-história, episódios como esses são lamentáveis,
considerando que a segurança pública e a execução penal são atividades típicas da
Administração Pública, responsável pela custódia de todos os presos do país, sejam os
condenados, sejam os que ainda aguardam julgamento. A responsabilidade pelo caos do
sistema carcerário é de todos os poderes e envolvidos no sistema de justiça: Poder
Executivo, Poder Legislativo, Poder Judiciário e Ministério Público.
Em pelo menos três aspectos podemos apontar a parcela de responsabilidade do
Poder Judiciário, e também do Ministério Público, em três aspectos: (a) a demora no
julgamento; (b) o excesso de aprisionamento; (c) ausência de fiscalização dos
estabelecimentos prisionais.
Prevalece no ordenamento jurídico brasileiro, orientado pelos valores
constitucionais, o princípio da presunção de inocência. Apesar da visão predominante
no STF, ninguém poderá ser preso antes de condenação definitiva, salvo em casos
excepcionais em que o réu não possa responder ao processo em liberdade.
Nosso Código de Processo Penal possui suas raízes num sistema ditatorial, pois sua
26
edição se deu durante o Estado Novo, na vigência da
denominada Constituição “polaca”. A partir da Carta Magna de 1988, todos os
dispositivos processuais devem ser interpretados conforme a nova ordem constitucional,
não se permitindo a mera aplicação da letra da lei. Nesse sentido, a denominação
“liberdade provisória” caiu por terra e seu significado não mais se aplica. A quem ainda
não foi condenado, a liberdade deve ser a regra; provisória é apenas a prisão.
No Brasil, 40% dos presos são provisórios, ou seja, ainda considerados
inocentes. Segundo dados do INFOPEN, 60% deles aguardam por mais de 90 dias o
julgamento, tempo considerado minimamente razoável para a primeira decisão. Em
relação ao julgamento dos recursos, não há dados disponíveis. Em síntese, o Poder
Judiciário não cumpre seu papel de julgar em tempo aceitável, infringindo dispositivos
da Constituição Federal e da Convenção Americana de Direitos Humanos que preveem
o direito à duração razoável do processo. Ao considerar que nem todos os réus sejam
condenados, fica evidente o inchaço dos estabelecimentos prisionais pela demora nas
decisões.
Ademais, há uma cultura de encarceramento enraizada tanto no Poder Judiciário
quanto no Ministério Público. Inverte-se a lógica do processo acusatório, no qual a
prisão provisória deveria ser exceção. Prende-se por qualquer infração, desde uma
tentativa de furto, na qual o objeto é recuperado, até graves crimes violentos. É claro
que há situações em que a prisão provisória é inevitável, não obstante, em muitos casos
esta é desnecessária. A própria legislação prevê as medidas cautelares alternativas à
prisão, cuja fiscalização de cumprimento cabe ao Ministério Público. Há, também,
verdadeiras ilegalidades provenientes dos próprios órgãos judiciais. No final de 2016,
por determinação do Tribunal de Justiça de São Paulo, estavam proibidas as audiências
de custódia durante o recesso de final de ano. Ora, uma norma editada por um tribunal
não pode violar um dispositivo previsto num tratado internacional de direitos humanos,
no caso, a Convenção Americana de Direitos Humanos. A audiência de custódia
mostra-se importante instrumento para evitar prisões provisórias desnecessárias e a
Corte Paulista a proibiu de maneira arbitrária.
Cabe, ainda, destacar que a Lei de Execução Penal determina que o juiz e o
representante do Ministério Público responsáveis pela execução possuem obrigação de
“inspecionar, mensalmente, os estabelecimentos penais, tomando providências para o
adequado funcionamento e promovendo, quando for o caso, a apuração de
responsabilidade” (arts. 66 e 68 da LEP). A lei obriga as autoridades citadas a fazerem a
fiscalização dos estabelecimentos e tomarem as medidas necessárias para que estes
estejam adequados aos preceitos legais. O preso está apenas privado de liberdade, não
de dignidade. Qualquer situação que esteja em desacordo com a lei, com a Constituição
Federal e com os tratados internacionais de direitos humanos deve ser objeto de ação
imediata do Ministério Público e do Poder Judiciário, mesmo que isso implique atrito
com os demais poderes, principalmente o Executivo.
27
3 ESTUDO A LEI DE EXECUÇÃO PENAL - LEI Nº 7.210, 11 DE JULHO DE
1984
Art. 1°: “A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou
decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do
condenado e do internado”.
Art. 2°: “A jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais de Justiça, em todo o Território
Nacional, será exercida no processo de execução, na conformidade desta Lei e do
Código de Processo Penal. Parágrafo único. Esta Lei aplicar-se-á igualmente ao preso
provisório e ao condenado pela Justiça Eleitoral ou Militar, quando recolhido a
estabelecimento sujeito à jurisdição ordinária”.
3.1 ESTABELECIMENTOS PENAIS
Através de Lei Estadual no 6.115, de 26 de março de 1998, os estabelecimentos
penais do Estado do Pará, passaram a ser chamados de Centros de Recuperação, salvo
aqueles de denominação específica. Sofrendo alteração posterior, passaram a ser
denominados Centros de Recuperação Regionais.
Pela resolução 016/2007, o Tribunal de Justiça do Estado desmembrou a
responsabilidade pela execução da pena. Em cada município que exista unidade penal, o
juiz da respectiva comarca é o responsável pela execução da pena.
Na região metropolitana de Belém até o Pólo Penitenciário do Pará, a
responsabilidade pela execução da pena é da Vara Única de Execuções Penais da
Região Metropolitana de Belém.
▪ Penitenciária: Regime fechado
Pena acima de 08 anos
Cela individual
Local: Distante da área urbana
▪ Colônia Penal: Regime Semiaberto
Pena de 04 a 08 anos
Alojamento coletivo
▪ Casa do Albergado: Regime Aberto
Pena: até 04 anos
Centro Urbano
▪ Hospital Geral Psiquiátrico
28
▪ Cadeia Pública: Area urbana (presos provisórios)
Obs: PEM’s e Centrais de Triagem
3.2 INSTITUTOS JURIDICOS DA LEP
▪ Permissão de saída;
▪ Remição de pena;
▪ Progressão de regime;
▪ Saída temporária;
▪ Regressão de regime;
▪ Livramento condicional;
▪ Indulto;
▪ Comutação de pena.
3.2.1 Permissao de Saida
Art. 120. Os condenados que cumprem pena em regime fechado ou semiaberto e
os presos provisórios poderão obter permissão para sair do estabelecimento,
mediante escolta, quando ocorrer um dos seguintes fatos:
I - falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou
irmão;
II - necessidade de tratamento médico (parágrafo único do artigo 14).
Paragrafo unico. A permissão de saída será concedida pelo diretor do estabelecimento
onde se encontra o preso.
3.2.2 Remicao
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto
poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena.
§ 1° A contagem do tempo para o fim deste artigo será feita à razão de:
▪ 1 (um) dia de pena por 3 (três) de trabalho;
▪ 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar;
§ 4° O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos,
continuará a beneficiar-se com a remição;
29
§ 6° O condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto, e o que usufrui
liberdade condicional poderá remir pela frequência, a curso de ensino regular ou de
educação profissional, parte do tempo da execução da pena ou do período de prova.
Art. 127. Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do
tempo remido, observado o disposto no art. 57, recomeçando a contagem a partir da
data da infração disciplinar.
Em 2011 a Lei 12.433, surge com modificações à Lei de Execução Penal ao instituto da
remição onde se acrescentou que:
▪ O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3 (um terço) no
caso de conclusão do ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento
da pena, desde que certificada pelo órgão competente do sistema de educação;
▪ Possibilidade de acumulação dos casos de remição – trabalho + estudo -, desde que
exista compatibilidade das horas diárias (art. 126, § 3o, LEP).
3.2.3 Progressao de Regime
Art. 112: A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva
com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o
preso tiver cumprido ao menos um sexto (1/6) da pena no regime anterior e ostentar
bom comportamento carcerário (requisito objetivo mais subjetivo), comprovado pelo
diretor do estabelecimento e dois quintos (2/5) para crimes hediondos, sendo réu
primário e três quintos (3/5) se for reincidente.
3.2.4 Saida Temporaria
Art. 122. Os condenados que cumprem pena em regime semiaberto poderão
obter autorização para saída temporária do estabelecimento, sem vigilancia direta, nos
seguintes casos:
I - Visita à família;
II - Frequência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do 2° grau
ou superior, na Comarca do Juízo da Execução;
III - Participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social.
Obs.1: Com a alteração da LEP, ocorrida em 2010, todos os internos, no momento da
saída temporária, deverão ser submetidos ao monitoramento eletrônico para fins de
controle extramuros.
Obs. 2: O intervalo entre uma saída temporária e outra deve ser, no mínimo, de 45 dias.
Obs. 3: A somatória das saídas temporárias durante 01(um) ano, não poderão
ultrapassar 35 dias.
30
3.2.5 Regressao de Regime
Art. 118: A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma
regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o
condenado:
I – Praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;
II – Sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em
execução, torne incabível o regime.
3.2.6 Livramento Condicional
E um benefício previsto no art. 83 do Código Penal, ao preso condenado que:
- Cumpre 1/3 da pena para crime comum;
- Cumpre 2/3 da pena para crime hediondo;
- Cumpre metade da pena para o reincidente;
- Reincidente: é aquele que comete outro crime após ter sido condenado por crime
anterior.
3.2.7 Indulto
Ato privativo do Presidente da República, através de decreto, publicado sempre
ao final de cada ano, onde se tem “perdoada” a pena imposta pelo Estado, respeitando
alguns requisitos.
3.2.8 Comutacao de Pena
Perdão de parte da pena, na fração de 1/4, se não reincidente e 1/5 se reincidente,
respeitando alguns requisitos.
3.3 REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO – RDD (art. 52)
A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando
ocasione subversão da ordem ou disciplina interna, sujeita o preso provisório, ou
condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as
seguintes características:
I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da
sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena
aplicada;
31
II - recolhimento em cela individual;
III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de
duas horas;
IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol.
§ 1° O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios
ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a
segurança do estabelecimento penal ou da sociedade.
§ 2° Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso
provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou
participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando.
3.4 DIREITOS E DEVERES DA PESSOA PRESA
3.4.1 Direitos (art. 41 – lep):
I - alimentação suficiente e vestuário;
II - atribuição de trabalho e sua remuneração;
III - previdência social;
IV - constituição de pecúlio;
V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a
recreação;
VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas
anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena;
VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;
VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;
IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;
X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;
XI - chamamento nominal;
XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena;
XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento;
XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito;
XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de
outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes.
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XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da
autoridade judiciária competente.
3.4.2 DEVERES (Art. 39 – LEP):
▪ Comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença;
▪ Obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se;
▪ Urbanidade e respeito no trato com os demais condenados;
▪ Conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subversão
à ordem ou à disciplina;
▪ Execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas;
▪ Submissão à sanção disciplinar imposta;
▪ Indenização à vítima ou aos seus sucessores;
▪ Indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com a sua
manutenção;
▪ Higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento;
▪ Conservação dos objetos de uso pessoal.
3.5 DISCIPLINA (Art. 44 e seguintes):
A disciplina consiste na colaboração com a ordem, na obediência às
determinações das autoridades e seus agentes e no desempenho do trabalho. Estarão
sujeitos à disciplina os presos condenados e o preso provisório. O poder disciplinar será
exercido pela autoridade administrativa a que estiver sujeito o condenado.
3.6 FALTAS DISCIPLINARES
▪ Leves e Medias: Previstas no Regimento Interno da SEAP (arts: 29 e 30);
▪ Graves: art. 50 da LEP.
As faltas graves, mesmo que de forma tentada, ou seja, não tenha sido
concretizada de forma plena, deverão ser apuradas e punidas.
E obrigatório a instauração do Processo Disciplinar Penitenciário-PDP para
apurar as faltas graves praticadas pelos presos. Após a instauração do PDP, a autoridade
administrativa deverá comunicar o Juiz da Execução Penal, comunicando o fato e o
isolamento preventivo de 10 dias, se ocorreu a necessidade deste último.
33
3.6.1 Faltas graves (art. 50 da LEP)
I. Incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;
II. Fugir/evadir-se;
III. Possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de
outrem;
IV. Provocar acidente de trabalho;
V. Descumprir, no regime aberto, as condições impostas;
VI. Deixar de prestar obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem
deva relacionar-se;
VII. Deixar de executar o trabalho, as tarefas e as ordens recebidas;
VIII. Tiver em sua posse, utilizar, fornecer ou ocultar aparelho telefônico, de rádio ou
similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.
3.7 SANCOES
As sanções que poderão colocar em perigo a integridade física e moral do preso
são proibidas pela LEP. Sendo vedado o emprego de cela escura e sanções
coletivas.(art. 45 §1o)
De acordo com o art. 53 da LEP, as sanções disciplinares são:
▪ Advertência verbal;
▪ Repreensão;
▪ Suspensão ou restrição de direitos;
▪ Isolamento na própria cela ou em local adequado (Conselho Disciplinar).
▪ Inclusão no Regime Disciplinar Diferenciado – RDD;
▪ Perda de até 1/3 (um terço) do tempo remido;
3.8 RECOMPENSAS
▪ Elogio;
▪ Concessão de regalias.
34
4 NOÇÕES DAS PRERROGATIVAS DA ATIVIDADE DO ADVOGADO
4.1 PRERROGATIVAS DA ATIVIDADE DO ADVOGADO
Os direitos e prerrogativas legalmente assegurados aos advogados, mormente
preconizados nos artigos 6º e 7°, incisos e parágrafos, da Lei Federal nº 8.906/94,
exprimem condutas e situações que tem o escopo de resguardar o livre e regular
exercício da advocacia.
Com efeito, o advogado, no seu ministério privado, presta serviço público e
exerce função social, porquanto, na defesa dos interesses dos seus outorgantes, está a
postular pela correta aplicação da lei, assegurando, notoriamente, a manutenção dos
institutos de direito e, em última instância, do Estado Democrático de Direito.
Nesse contexto, as pessoas, em geral, confiam seus reais interesses aos
advogados, mediante outorga de poderes, fornecimento de informações e apresentação
de documentos, para possibilitar o desenvolvimento dos atos próprios da representação,
em perseguição aos legítimos direitos dos seus outorgantes e na melhor forma da lei.
O termo “prerrogativa” significa garantia, pois a lei assegura aos advogados as
condutas e situações fundamentais para o exercício de sua profissão, decorrendo daí,
naturalmente, a ideia de que há uma garantia legal para a prática desses atos.
Aparentemente, o termo “privilégio”, que carrega uma conotação de benefício ou
vantagem oferecida a alguém em detrimento de outros, está distante das condições
legais, especiais e indispensáveis ao nobre exercício da função de advogado.
4.2 PRECEITOS LEGAIS NORTEADORES DA ATIVIDADE ADVOCATÍCIA
Os preceitos legais que circundam a atividade advocatícia encontram previsão
no Novo Código de Ética e Disciplina, Resolução nº 02/2015 da OAB, quais sejam:
Princípio Da Conduta Ilibada – conduta ilibada é o comportamento sem mácula,
aquele sobre o qual nada se possa moralmente levantar.
Princípio do Coleguismo – é um sentimento derivado da consciência de pertença ao
mesmo grupo, a inspirar certa homogeneidade comportamental, encarado como
verdadeiro dever.
Princípio da Confiança – O advogado deve prezar por sua confiabilidade, posto que vá
lidar com informações confidenciais de seus clientes.
Princípio da reserva – Se estende a todas as demais circunstâncias nas quais parte ou
terceiro venham a ser direta ou indiretamente implicados, devendo o advogado prezar
pela segurança das informações de seus clientes. Esse princípio é meio que uma
consequência esperada do princípio da confiança, pois como o advogado tem que
inspirar confiança para com o seu cliente, consecutivamente deve este guardar sigilo dos
fatos de que tome conhecimento no exercício da profissão, ou seja, as comunicações de
qualquer natureza que teve com seu cliente. Até mesmo em um processo ou
35
procedimento judicial, administrativo ou arbitral, pode o advogado se recusar a depor
sobre esses fatos confidenciais.
Princípio da Dignidade e do Decoro Profissional – O profissional incumbido no
exercício da advocacia não deve atuar divergindo com sua qualidade de operador da
justiça, ferindo a dignidade da classe e maculando o decoro profissional.
Assim como todos os demais princípios supracitados, o advogado, de igual
maneira deve prezar pelo princípio do decoro profissional, uma vez que a sua profissão,
além de ser envolta de seriedade tem que deixar explícita essa seriedade não só nas
vestimentas do profissional da advocacia, mas sim em suas atitudes, devendo estas
serem sempre concomitantes ao profissionalismo, ao bom senso, à moral, aos bons
costumes e ao respeito com a carga histórica e influente do exercício da advocacia.
4.3 PLENO EXERCÍCIO DA ADVOCACIA
As prerrogativas previstas na Lei 8.906/1994 garantem ao advogado o direito pleno
de defender seus clientes, contando com independência e autonomia, sem temer a
autoridade judiciária ou quaisquer outras autoridades que por acaso tentem usar de
constrangimento ou outros artifícios que possam levar à diminuição de sua atuação
como defensor da liberdade.
Dentre as prerrogativas inerentes aos advogados está, por exemplo, o direito do
profissional em consultar um processo, mesmo sem procuração, ou nos casos protegidos
por sigilo judicial.
Tal direito jamais pode ser confundido com privilégio, pois é uma ferramenta de
trabalho que pode ser utilizada para que o profissional possa representar os direitos de
seus clientes.
4.4 COMUNICAÇÃO RESERVADA COM CLIENTE PRESO
O Estatuto da Advocacia garante ao advogado o direito de comunicação com
seus clientes, pessoal e reservadamente, quando estes se acharem presos, detidos ou
recolhidos em estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados
incomunicáveis.
Basta, pois, que o advogado, comparecendo ao local onde seu cliente se encontra
preso ou recolhido, identifique-se como advogado deste último, para que possa exercer
seu direito, até porque o preso pode decidir-se pelo patrocínio do advogado durante a
entrevista.
Quanto à incomunicabilidade do preso, vale dizer que se trata de situação,
atualmente, excepcional, posto que vedada, até mesmo, no Estado de Defesa (art. 136, §
3º, IV, da Constituição Federal). Caso, entretanto, adotada em situações extremas,
36
preservado estará de todo modo o direito do advogado de comunicar-se com o seu
cliente.
Ocorrendo desobediência por parte de qualquer autoridade à regra exposta,
ocorre verdadeira situação de ofensa à lei e às próprias regras constitucionais.
O direito de comunicação com o cliente detido justifica que não se admita a
presença de quaisquer terceiros, tais como agentes da polícia, escrivães, delegados, etc.,
o que também se exige, em razão do direito de sigilo profissional, com a diferença de
que este último, pela maior amplitude, impede quaisquer triagens em relação às
correspondências, aos telefonemas, ou qualquer outra forma de comunicação, entre
advogado e cliente preso.
Também não se permite a imposição de quaisquer meios impeditivos do contato
direto, tais como a separação de ambientes entre o cliente e o advogado, com
comunicação por sistemas de som.
4.5 PRISÃO DE ADVOGADOS E SALA DE ESTADO MAIOR
O advogado presta serviço público e exerce função social na defesa dos
interesses dos seus outorgantes, a lei lhe confere garantias próprias ao desempenho da
profissão, no que se refere a sua prisão.
Com efeito, é notório que durante o exercício da profissão, perseguindo os
direitos dos seus outorgantes, o advogado se depara com as autoridades constituídas em
diversas situações passíveis de discussões e enfrentamentos, que culminam muitas vezes
com o acaloramento das argumentações, defesas, posturas e entendimentos pessoais, e
podem resultar na imputação de conduta incompatível às funções do advogado e,
consequentemente, na prolação de voz de prisão, em flagrante delito, decorrente de
alegada conduta, praticada no exercício da profissão de advogado.
Mas, os dispositivos legais referentes à prisão do advogado, por ato ocorrido no
exercício profissional, constantes no Estatuto da Advocacia, mesmo após o
conhecimento e provimento da matéria pelo STF, estabelecem que o advogado só será
preso, em flagrante delito, por crimes inafiançáveis, sendo exigida a presença de
representante da OAB ao ato de lavratura do auto de prisão em flagrante, sob pena de
nulidade.
Aliás, nesses casos, o Regulamento Geral da Advocacia ainda prevê, no seu art.
16, que o advogado será assistido por representante da OAB nos inquéritos policiais e
ações penais, dos quais venha a constar como indiciado, acusado ou ofendido, sem
prejuízo da constituição e atuação de patrono próprio.
Nos demais casos, ou seja, nos casos em que se esteja diante de crimes
praticados fora do contexto do exercício da profissão, na prisão em flagrante do
advogado, dever-se-á proceder a comunicação expressa ao Órgão de Classe, mas a
37
presença de representante da OAB não constituirá, neste caso, requisito de validade do
auto de prisão em flagrante.
Oportuno ressaltar, que em qualquer hipótese, o direito de comunicação à
Ordem dos Advogados do Brasil não exclui o direito constitucional de comunicação da
prisão a sua família.
Igualmente, denota-se que a inteligência desses dispositivos repousa na
necessidade de amparar o advogado na prática de atos essenciais ao desenvolvimento da
profissão e sem temor de desagradar quaisquer autoridades. Ademais, o advogado
estará, em regra, postulando por direito alheio e pugnando pela correta aplicação das
leis.
Cumpre esclarecer que a Ordem dos Advogados do Brasil tem por finalidade
legal, entre outras, promover, a defesa e a disciplina dos advogados.
Destarte, resta apresentada a razão da presença de representante da Entidade de
classe por ocasião da prisão de advogado no exercício da profissão, pois além dessas
competências exclusivas conferidas pela lei, a OAB também tem como finalidade legal
pugnar pela correta aplicação da lei, portanto, com estrita observação ao princípio da
não existência de presunção legal de culpa.
A prisão, em flagrante delito, por crime afiançável, em face de advogado, no
exercício da profissão, é vedada pela previsão legal própria, conferida ao advogado pelo
§ 3º do art. 7º do Estatuto da Advocacia.
No caso do crime de desacato, o mesmo não comporta a prisão em flagrante
delito, pois, em virtude da pena em abstrato cominada para esse delito, caberá, tão
somente, a lavratura de termo circunstanciado e o conhecimento da matéria será de
competência do Juizado Especial.
Desta forma, a autoridade que “der voz” de prisão ao advogado no exercício
profissional estará incorrendo em crime de abuso de autoridade (Lei nº 4.898/65), que
pode resultar na perda do cargo (Lei nº 4.898/65, § 3º, letra “c”), processo
administrativo perante a OAB (desagravo público), Corregedoria e Conselho Nacional
de Justiça, além de eventual crime contra a honra e reparação por danos morais.
Nos casos de crimes que não guardem nexo de causalidade com o exercício da
profissão, a prisão em flagrante do advogado deverá ser comunicada à Ordem dos
Advogados do Brasil.
Por fim, em relação ao advogado recolhido preso, antes de sentença com trânsito
em julgado, nos termos do inciso V, do art. 7º, do Estatuto da Advocacia, é imperioso
destacar que o recolhimento de determinado profissional será obrigatoriamente em sala
de Estado Maior, com instalações e comodidades condignas, e na sua falta, em prisão
domiciliar.
Primeiramente, é válido esclarecer que não existe um entendimento pacífico
acerca do conceito de sala de Estado Maior. No entanto, o próprio STF, que manteve o
38
texto legal, no que concerne ao direito desse tipo de acomodação, já se manifestou,
definindo como sala de Estado Maior qualquer uma dentre as existentes nas
dependências do comando das Forças Armadas ou forças auxiliares: Polícia Militar e
Corpo de Bombeiros.
Saliente-se que na falta de recinto penitenciário adequado ao advogado, nos
termos da lei, está previsto o seu recolhimento através da modalidade prisão domiciliar,
não sendo admissível que seja recolhido à prisão comum ou dependência especial,
separada dos demais presos, como, aliás, já decidiu o STF.
4.6 LEI 4.898/65 – ABUSO DE AUTORIDADE
O abuso de poder decorre essencialmente da não observância do Princípio da
Legalidade, pois o agente exacerba-se na conduta de forma a transgredir a norma,
atingindo o direito do advogado.
O abuso de poder que anule quaisquer das prerrogativas do advogado deve ser
coibido de imediato e continuamente, não apenas pelo profissional, mas também por
toda a classe na forma do art. 44, inc. II do Estatuto da Advocacia, e pelo próprio
Estado, pois vai de encontro aos fundamentos e princípios de sua estrutura orgânica,
podendo trazer prejuízos irreparáveis aos patrimônios da parte, do advogado e da
própria administração pública, o que repercute na harmonia que devem ter os seres
humanos no convívio em sociedade, e por consequência na Ordem Pública.
As prerrogativas do advogado são verdadeiros direitos humanos, decorrentes dos
direitos invioláveis à liberdade, dignidade e ao livre exercício de trabalho lícito, alçados
a nível constitucional. Por conseguinte, a sua defesa em face do abuso de poder,
constitui-se em luta legítima em favor do exercício da advocacia e da legalidade,
normas estas, que acima de tudo, são fruto da vontade soberana do povo, direta ou
indiretamente, representado.
Dentre os meios de coerção, encontramos algumas criações do direito,
instrumentos, que podem ser judiciais ou extrajudiciais, para a defesa das prerrogativas
do advogado em face do abuso de poder. Tais instrumentos, de modo geral, têm
fundamento no mais amplo direito constitucional de petição, aos Poderes Públicos em
defesa de direito ou contra ilegalidade ou abuso de poder previsto no art. 5º, inc.
XXXIV, ‘a’, da CF/88.
O mandamento constitucional, no caso do abuso de autoridade, recepcionou a
Lei nº 4.898/65, que regula o direito de representação e o Processo de Responsabilidade
Administrativa, Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade.
Passando então à verificação dos meios extrajudiciais para que se coíba o abuso
de poder frente às prerrogativas do advogado, um dos mais importantes é o do
desagravo público previsto no artigo 7º, inc. XVII do Estatuto da Advocacia da OAB,
que consiste na publicação em jornal ou escrito, na sede da OAB ou em veículo de
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comunicação, de texto tornando pública a solidariedade da classe ao colega ofendido,
mediante ato da OAB, e o repúdio coletivo ao ofensor.”
Em suma, o exercício da advocacia é tido não somente como um ofício qualquer
(com todo respeito aos demais) que se adquire ao longo da vida, é uma missão, ou
melhor, é uma vocação. Os valores e os princípios devem ser os maiores emblemas que
um advogado ambicione carregar no peito e ornar no caráter. Deve este agir sempre
com decoro, veracidade, confiabilidade, dignidade e companheirismo, sendo uma
pessoa proba e acima de tudo, humana, nunca deixando que as causas ganhas, ou a
imagem aclamada desvie seu olhar dos que precisam de justiça.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Revan, 2011.
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40
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BRASIL. Lei 10.792, de 1 de dezembro de 2003. Altera a Lei no 7.210, de 11 de junho
de 1984 - Lei de Execução Penal e o Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 -
Código de Processo Penal e dá outras providências.. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.792.htm. Acesso em:
10/08/2017.]
BRASIL. OAB. Estatuto de Advocacia da ordem dos Advogados do Brasil. 11. rev. e
atual. Brasília, DF: OAB, Conselho Federal, 2012. Disponível em:
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GALLI, Marcelo. 40% dos presos no brasil são provisórios, aponta levantamento
oficial. Consultor Jurídico, 26 abr. 2016. Disponível em:
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MARTINELLI, João Paulo Orsini. O caos do sistema carcerário é também
responsabilidade do poder judiciário e do ministério público: Sobre a infeliz
entrevista do corregedor-geral de Justiça. Jusbrasil, 2017. Disponível em:
https://jpomartinelli.jusbrasil.com.br/artigos/423635828/o-caos-do-sistema-carcerario-e-
tambem-responsabilidade-do-poder-judiciario-e-do-ministerio-publico. Acesso em: 4
fev. 2020.
PARÁ. Lei n° 6.115, de 26 de março de 1998. Dá nova denominação às Penitenciárias
e Cadeias Públicas e dá outras providências. Disponível em:
http://www.pge.pa.gov.br/sites/default/files/lo6115.pdf. Acesso em: 15/04/2020.
PARÁ. Tribunal de Justiça do Estado do Pará. Resolução nº 016, de 26 de abril de
2007. Dispõe sobre a Execução Penal no Estado, determina a instalação de Varas
criadas pela Lei nº 6.870, de 20 de junho de 2006, nas Comarcas de Santarém e Marabá,
41
especializando-lhes a competência, e dá outras providências. Disponível em:
http://www.tjpa.jus.br/CMSPortal/VisualizarArquivo?idArquivo=8735. Acesso em:
15/04/2020.
TUPINAMBÁ, Renata Moura. Poder punitivo estatal: justificativa e limitações.
Disponível em: https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/51099/poder-
punitivo-estatal-justificativas-e-limitacoes. Acesso em: 4 fev. 2020.
42
DISCIPLINA III - POPULAÇÃO PRISIONAL E POLÍTICAS PÚBLICAS
EIXO: Intermediário.
CARGA HORÁRIA: 08 horas
PROFESSORA: Risolete Gesta Farias. Possui graduação em Psicologia pela
Universidade da Amazônia (2003). Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase
em Psicologia Especialização em saúde mental Experiência profissional na área
organizacional, comunitária, clínica e jurídica Professora da EAP.
OBJETIVO DA DISCIPLINA: Relacionar a organização administrativa e as
atribuições do DEPEN com o ciclo de políticas públicas penitenciárias: a) Plano
Nacional de Política Criminal e Penitenciária: Interfaces entre políticas públicas e
política criminal. b) Formulação de Políticas para a População Prisional:
Intersetorialidade e Multidimensionalidade da política prisional. c) Arranjo de políticas
penitenciárias: federalismo, FUNPEN, recursos e implementação. Papel do DEPEN na
articulação interfederativa, instrumentos de gestão (ex: termos de parceria, convênios).
d) Diversidade Populacional e Transversalidade de políticas: interseccionalidade
raça/etnia, nacionalidade, gênero, orientação sexual, deficiência, questões culturais e
outras.
CONTEUDO PROGRAMÁTICO:
▪ Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária: Interfaces entre políticas
públicas e política criminal.
▪ Formulação de Políticas para a População Prisional: Intersetorialidade e
multidimensionalidade da política prisional.
▪ Arranjo de políticas penitenciárias: federalismo, FUNPEN, recursos e
implementação. Papel do DEPEN na articulação interfederativa, instrumentos de
gestão (ex.: termos de parceria, convênios).
▪ Diversidade Populacional e Transversalidade de políticas: interseccionalidade
raça/etnia, nacionalidade, gênero, orientação sexual, deficiência, questões
culturais e outras.
43
1 PLANO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA –
INTERFACE ENTRE POLÍTICAS PÚBLICAS E POLÍTICA CRIMINAL
Políticas Públicas relacionam-se a ação do Estado como promotor e provedor de
serviços essenciais à sociedade (saúde, educação, saneamento, segurança etc.). A
agenda de questionamentos, problemas ou demais temas de interesse público capazes de
se tornarem políticas públicas parte, normalmente, de debates e articulações entre a
sociedade e os agentes políticos, antes ou depois do processo eleitoral, quando estes
fazem suas promessas de mandato. Neste sentido, ao estudar políticas pública (ciclo
político: formação da agenda, formulação, implementação e avaliação), o leitor precisa
entender que, mesmo quando se tratam de políticas nacionais, a implementação e gestão
destas estão vinculadas, também, à critérios locais.
Uma temática que, nos últimos anos, tem sido recorrente nos meios de
informação (jornais, revistas, redes sociais), dentre outras, é o agravamento da violência
no Brasil, decorrente de fatores econômicos, sociais e, inclusive, ambientais. Isto vem
provocando demandas maiores da sociedade aos dirigentes do Estado quanto a
melhorias na Segurança Pública a partir de políticas públicas mais efetivas.
No Brasil, a Gestão das Políticas de Segurança Pública está organizada em uma
estrutura massiva de órgãos e entidades que objetivam garantir a execução e
manutenção das ações de segurança, dentre eles, os que atuam diretamente com a
Política Penitenciária Nacional.
Segundo o Departamento Penitenciário Nacional, a estrutura organizacional e
institucional entorno desta política e do Sistema Penitenciário Nacional é composta,
dentre outros, por:
1. Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) - com sede na
Capital da República e subordinado ao Ministro da Justiça – contribui com informações,
análises, deliberações, estímulo intelectual e material às atividades de prevenção a
criminalidade em todo o território nacional, através de avaliações periódicas do sistema
criminal e penitenciário;
2. Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) - órgão executivo que
acompanha e controla a aplicação da Lei de Execução Penal, das diretrizes da Política
Penitenciária Nacional, além de ser gestor do Fundo Penitenciário Nacional – FUNPEN.
Seus objetivos são: a) isolamento das lideranças do crime organizado, b) cumprimento
rigoroso da Lei de Execução Penal e custódia de: presos condenados e provisórios
sujeitos ao regime disciplinar diferenciado; líderes de organizações criminosas; presos
responsáveis pela prática reiterada de crimes violentos; presos responsáveis por ato de
fuga ou grave indisciplina no sistema prisional de origem; presos de alta periculosidade
e que possam comprometer a ordem e segurança pública; réus colaboradores presos ou
delatores premiados;
3. Lei de Execução Penal (LEP) – criada por meio da Lei nº 7.210, de 11 de julho
de 1984, como normativa à regular a execução penal no Sistema Penitenciário Nacional
44
e objetiva “efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar
condições para a harmônica integração social do condenado e do internado” (BRASIL,
1984);
4. Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN) – Criado pela Lei Complementar
79/94 - prevê o repasse de recursos para os fundos dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios a título de transferência obrigatória e independentemente de convênio
ou de instrumento congênere, com a finalidade de proporcionar recursos e meios para
financiar e apoiar as atividades e os programas de modernização e aprimoramento do
sistema penitenciário nacional (BRASIL, 1994).
5. Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária (PNPCP) – elaborado a cada
quatro anos pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, em que são
fixadas as diretrizes para essa política, em atendimento ao contido no artigo 64, incisos I
e II da Lei nº 7.210, de 11 de julho e 1994 (Lei de Execução Penal).
Toda a estrutura organizacional e institucional do Sistema Penitenciário
Nacional, segundo suas próprias normativas, deve se articular e organizar de forma
integrada a princípios (principalmente o da Dignidade da Pessoa Humana), leis,
normativas, regras, medidas, diretrizes e postulados atuais e, inclusive de abrangência
internacional sobre a condução de políticas de segurança e de criminalização,
principalmente no que tange à alternativas penais e despenalização, em um novo
Modelo de Gestão da Política Prisional.
Dentre essas normativas, o DEPEN apresenta alguns postulados para um modelo
de gestão da política Prisional.
1. Reconhecimento e igual dignidade entre todos os atores que interagem com o
sistema penitenciário;
2. Empoderamento e protagonismo dos sujeitos encarcerados;
3. Perspectiva de desencarceramento.
Já o Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária, lançado em 2015 pelo
Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, subordinado ao Ministério da
Justiça, é dividido em duas partes, e busca compreender a crise da política criminal
brasileira, cuja população carcerária vem crescendo a cada ano sem impacto na
melhoria dos indicadores de segurança pública, além de apontar diretrizes para uma
formulação apta a superar os desafios atuais. O documento se divide em duas partes:
PARTE 1: Porta de Entrada - medidas relacionadas à porta de entrada do sistema
penal, com o objetivo de revelar o que ocorreu para o crescimento contínuo da
população carcerária:
1. Governança da política criminal e penitenciária - crescimento progressivo da
população carcerária devido a agenda legislativa aumentar paulatinamente as penas de
crimes;
45
2. Alternativas penais, com justiça restaurativa e mediação penal priorizada -
Apesar dos avanços alcançados pela política de alternativas penais nos últimos anos, a
privação de liberdade segue sendo o mecanismo central da política criminal brasileira;
3. Prisão Provisória sem abuso - A prisão provisória continua sendo um dos
instrumentos mais utilizados na política criminal brasileira, apesar da presunção de
inocência ser um princípio constitucional da Federação;
4. Implementação dos direitos das pessoas com transtornos mentais - pessoas
que poderiam estar sendo acompanhadas em meio aberto continuam entrando no
sistema de internação;
5. Redução do encarceramento feminino – Principalmente pelo tráfico. As
mulheres em regra não têm com quem deixar seus filhos;
6. Reconhecimento do racismo como elemento estrutural do sistema punitivo -
racismo é um eixo estruturante da política criminal brasileira, sendo uma prática que se
atualiza, retroalimenta e que sustenta privilégios consolidados;
7. A vulnerabilidade dos mais pobres ao poder punitivo - A concentração da
população carcerária entre as pessoas de baixa renda é uma característica que se
perpetua no sistema punitivo brasileiro;
8. Novo tratamento jurídico para os crimes Contra o Patrimônio - A pena de
prisão deve se restringir apenas aos crimes mais graves, sobretudo àqueles cometidos
com violência ou grave ameaça. No entanto, ainda é significativamente aplicada em
casos de crimes cujo bem jurídico atingido é tão somente o patrimônio;
9. O impacto das “drogas” – A chamada “guerra às drogas’ desvirtua a atividade
policial, sobrecarrega o judiciário, superlota os estabelecimentos penais de pessoas
pobres, encontradas com pequenas quantidades de drogas, longe de atingir qualquer
resultado positivo ou mesmo a apreensão de qualquer dos verdadeiros investidores neste
mercado milionário que se constitui o mercado das drogas tornadas ilícitas;
10. Defensoria Pública plena - Ainda há Estados no País em que a
Defensoria Pública tem quadros de pessoal muito aquém do necessário. A maioria dos
presos brasileiros é pobre, e sem a Defensoria Pública plenamente instalada não tem
direito à defesa ou ao acompanhamento na fase da execução penal.
PARTE II – O Sistema – Diretrizes para o funcionamento do sistema prisional, do
cumprimento de medida de segurança, do monitoramento eletrônico e das alternativas
penais:
1. Adequação das medidas de segurança à reforma psiquiátrica
2. Implantação do sistema nacional de alternativas penais
3. Monitoramento Eletrônica para fins de desencarceramento
4. Fortalecimento da política de interação social no sistema prisional
46
5. Ampliação da transferência, da participação social e do controle da execução
penal
6. Trabalhadores e metodologia prisional nacional
7. Respeito à diversidade
8. Condições do cárcere e tratamento digno do preso
9. Gestão prisional e combate aos fatores geradores de ineficiência
10. Egressos e política de reintegração social
A partir da análise dos determinantes das medidas da “porta de entrada” do
Plano Nacional da Política Criminal e Penitenciária, fica demonstrado um contexto
histórico de descredibilidade do/com o governo em relação à política criminal
penitenciária, o que dificultou mudanças significativas no processo de redução de
crimes e violência e ressocialização de apenados. Pois, na definição de políticas
públicas há articulação e conflitos de interesses (estado x sociedade) em arranjos que
perpassam por normativas, diretrizes e leis provenientes das esferas de poder
(executivo, legislativo e judiciário) até que a política seja formulada e implementada,
sendo influenciado por diversos fatores sociais, econômicos e, inclusive, culturais,
construídos historicamente, a partir de processos diferenciados de representação,
aceitação, rejeição e incorporação das conquistas sociais de uma sociedade, na luta pela
garantia de direitos fundamentais.
Assumir o controle do sistema penal e dar outra direção para a violência e a
criminalidade neste País é um grande desafio. Há duas direções passíveis de serem
adotadas.
A primeira é continuar alimentando a espiral da criminalidade: apoiar o
endurecimento penal, aumentar as taxas de encarceramento, adotar o modelo de
superprisões, ignorar a seletividade penal, idolatrar a pena privativa de liberdade, eleger
as facções criminosas como problema central, apoiar a privatização do sistema penal,
combater apenas a corrupção da ponta, judicializar todos os comportamentos da vida,
potencializar o mito das drogas, enfraquecer e criminalizar os movimentos sociais e
defensores de Direitos Humanos e considerar o sistema prisional adjacente e
consequente das polícias. Vinculado a concepções autoritárias e totalitárias ser
estruturado com a finalidade de perseguir os inimigos do sistema jurídico imposto.
A segunda, proposta pelo Plano Nacional da Política Criminal e Penitenciária, é
criar uma nova espiral, da cidadania e da responsabilização: reduzir as taxas de
encarceramento, descriminalizar condutas, ter modelos distintos de prisões para cada
segmento, combater a seletividade penal, buscar menos justiça criminal e mais justiça
social, investir na justiça restaurativa, empoderar a população para busca de solução dos
conflitos, priorizar as penas alternativas à prisão, eleger o sistema prisional como
problema central, fortalecer o Estado na gestão do sistema penal, combater todos os
níveis da corrupção, enfrentar a questão das drogas nas suas múltiplas dimensões
47
(social, econômica, de saúde, criminal), fortalecer o controle social sobre o sistema
penal e ter política, método e gestão específica para o sistema prisional, a partir de
concepções garantidas pelo Estado Democrático de Direito, sendo utilizado como
instrumento de controle social legitimado e limitado pelo consenso entre os cidadãos de
uma dada sociedade (BITENCOURT, 2015), conforme reza a Carta Magna de 1988.
2 FORMULAÇÃO DE POLÍTICA CRIMINAL: INTERSETORIALIDADE E
MULTIDIMENSIONALIDADE DA POLÍTICA PRISIONAL
Como já expresso, o processo de estruturação de uma política pública inicia com
a formação da agenda política, em que são reunidas temáticas relevantes sobre a
temática a ser discutida na política. Nesta etapa até a formulação da política, há a
articulação de atores provenientes de diversas áreas, entidades governamentais, da
sociedade civil (organizações sociais e não governamentais) e do mercado
(representantes de empresas).
No que tange à política criminal e penitenciária, cuja base, segundo organismos
internacionais de direitos humanos, deve se fundamentar, atualmente, na humanização
do sistema penitenciário de forma geral em que, aos apenados, deverão ser garantidos
todos os seus direitos fundamentais, visto que somente a privação de liberdade pode
lhes ser imputada na maioria dos casos, num intuito de lhes sensibilizar e ressocializar.
Neste sentido, na formulação de uma política com esse intuito, diversos setores devem
estar integrados e articulados de forma a contribuir com esse processo de
ressocialização, numa perspectiva de intersetorialidade.
A participação de diversos setores como educação, saúde, segurança, assistência
social etc., torna-se necessária, pois conforme previsto no Art. 11 da Lei de Execução
Penal ao apenado será garantido assistências de cunho a) material; b) a saúde; c)
Jurídica; d) educacional; e) social; e f) religiosa.
Essas assistências devem ser garantidas durante a execução penal, como
obrigatoriedade pelos órgãos do sistema penal, contudo, não exclui a
possibilidade/necessidade de participação de órgãos não pertencentes a este sistema,
cujas finalidades de prestação de serviço incluam as assistências previstas na lei, além
de outras organizações que objetivem contribuir com a ressocialização dos apenados,
com oferta de cursos, trabalho etc., tal como preconizado nas diretrizes do modelo de
gestão para a política prisional do DEPEN.
DIRETRIZ Nº 10: Os estabelecimentos prisionais deverão ser
compreendidos como espaços intersetoriais, nos quais se
articulem diferentes políticas públicas e sociais, com vistas ao
cumprimento da legislação pertinente e das diversas assistências
e serviços a que têm direito as pessoas privadas de liberdade.
(DEPEN, 2016).
48
Ainda, em associação a intersetorialidade, de forma a estimular o campo das
alternativas penais que podem e devem estar articuladas com a própria pena privativa de
liberdade e sua gestão no interior dos estabelecimentos penitenciários, há estratégias e
metodologias de mediação de conflitos e de justiça restaurativa, as quais podem ser
incorporadas à resolução de conflitos do cotidiano do convívio carcerário, reduzindo os
níveis de tensão e de sanções que caracterizam o ambiente prisional.
Ademais, além do fomento, da organização e sistematização das práticas, da
produção de espaços e iniciativas de alternativas penais, para a construção de uma via
de desencarceramento e de mudança no paradigma punitivo brasileiro, é necessário
ainda conceber a prisão como um espaço multidimensional, em que diferentes saberes
devem ser articulados com vistas tanto à garantia e promoção dos direitos fundamentais
- o que, tomado num viés emancipador, também contribui para o desencarceramento,
favorecendo a concessão de benefícios e contribuindo, em princípio, para diminuir os
índices de retorno à prisão -, quanto à produção de um reordenamento nas prioridades
do sistema prisional.
É preciso aprofundar o processo de abertura das prisões a outros órgãos e
instituições, seja no que tange à interface das políticas públicas e sociais – caso das
políticas de saúde e educação, por exemplo, articuladas com seus respectivos
Ministérios e Órgãos Gestores Estaduais e Municipais -, seja por meio do
aprimoramento e da inovação nos processos de participação e controle social, conforme
discutir-se-á mais à frente.
Nesse sentido, a gestão do cotidiano nos espaços penitenciários deve privilegiar
uma abordagem multidimensional das rotinas, fluxos e procedimentos, com vistas a
garantir às pessoas em privação de liberdade a efetivação dos direitos fundamentais, o
acesso a um conjunto de políticas públicas e sociais, o direito à vida e à dignidade, além
de assegurar que os aspectos de vigilância e contenção estejam articulados à garantia
dos direitos, produzindo ambientes seguros para todos os sujeitos – pessoas em privação
de liberdade, visitantes e servidores – que interagem no interior dos estabelecimentos
prisionais.
3 ARRANJO DE POLÍTICAS PENITENCIÁRIAS, FEDERALISMO, FUNPEN
RECURSOS E IMPLEMENTAÇÃO, PAPEL DO DEPEN NA
ARTICULAÇÃO INTERFEDERATIVA, INSTRUMENTOS DE GESTÃO
Segundo o Modelo de Gestão para a Política Prisional do DEPEN (2016), a os
estabelecimentos prisionais precisam, em sua atuação, assegurar o reconhecimento do
pressuposto de igual dignidade dos sujeitos em privação de liberdade, os quais, por
variados motivos, devem ser compreendidos como o centro das políticas prisionais.
Nesse sentido, faz-se necessária a integralidade do sistema penitenciário com as demais
organizações e institutos vinculados a esta política.
49
O DEPEN, neste contexto, tem o papel de Induzir, apoiar e atuar na execução
penal brasileira, promovendo a dignidade humana, com profissionalismo e
transparência, com vistas a uma sociedade justa e democrática. Ser reconhecido como
órgão fomentador da correta Execução Penal e da plena garantia dos direitos
fundamentais de todos os seres humanos envolvidos no fenômeno criminoso.
E, para que consiga implementar a política com eficiência, eficácia e efetividade,
utiliza-se e gere os recursos do Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN), em que, no
ano 2016 e 2017 efetuou repasses, conforme disposição do Federalismo brasileiro, para
os fundos penitenciários de todas as unidades da federação e do Distrito Federal.
Conforme Dutra (2018), o elemento fundamental do estilo Federalista brasileiro
em políticas públicas é a adesão voluntária dos estados, municípios e Distrito Federal,
aos programas e ações que compõem uma determinada Política Nacional, cabendo à
união criar incentivos para que se torne “interessante” a sua proposta e seja utilizado
pelos demais entes. Ou seja, cabe às unidades federativas a iniciativa de participar dos
denominados “chamamentos públicos” para propor e solicitar recursos por meio de
repasse proveniente do Fundo Penitenciário Nacional.
Desde a criação do FUNPEN em 1994, não havia condicionalidades impostas
aos concedentes dos recursos, em que os repasses ocorriam a partir somente de ações
pontuais que os governos estaduais adotavam como necessárias, prioritárias e passíveis
de financiamento para a sua gestão, portanto sem uma iniciativa real de descentralização
da política pública (DUTRA, 2018). Somente a partir de 2011, o DEPEN adota maior
racionalidade no repasse dos recursos do FUPEN aos demais entes.
Neste sentido, o uso dos recursos do FUNPEN, a partir de diversas legislações
correlatas, delimitou um rol de possibilidades de utilização dos recursos (Art. 3º da Lei
do FUNPEN), logo, sob uma ótica racional de repasses financeiros em sintonia com o
Plano Nacional da Política Criminal e Penitenciária, cujo foco é a situação do apenado
nos estabelecimentos penitenciários sob jurisdição de outros entes federativos além da
União, em relação a direitos e garantis fundamentais e cumprimentos das medidas
proposta no plano.
E, para que ocorra o repasse destes recursos de nível federal para os demais
entes federativos, a Lei do FUNPEN esclarece que, estes entes devem se utilizar
Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse (SICONV) do governo federal
para acompanhar os processos de “chamamento público”, aos quais poderão enviar
propostas com vistas a receber recursos. Este sendo, em nível nacional, o instrumento
de gestão de repasses de recursos financeiros do FUPEN por meio de convênios entre o
governo federal os demais entes proponentes2 que desejam recursos para aplicar em
seus sistemas locais de penitenciárias.
2 Proponente é o órgão ou entidade pública ou entidade privada sem fins lucrativos que manifeste, por
meio de proposta ou plano de trabalho, interesse em celebrar instrumento regulado por meio da Portaria
nº 424/2016 que estabelece normas relativas a transferências da União a outros entes federativos.
50
4 DIVERSIDADE POPULACIONAL E TRANSVERSALIDADE DE
POLÍTICA, INTERSECCIONALIDADE, RAÇA/ETNIA,
NACIONALIDADE, GÊNERO, ORIENTAÇÃO SEXUAL, DEFICIÊNCIA,
QUESTÕES CULTURAIS
O contexto histórico de formação do Brasil, sua cultura, sua sociedade, sua
economia etc., foi iniciado, desde sua colonização, baseado na escravidão e no poder de
uma aristocracia. Não obstante os avanços significativos quanto a melhorias na
qualidade de vida de parte da população e a promulgação de uma constituição cidadã
(Constituição Federal de 1988) na qual são preconizados direitos e garantias
fundamentais a todas as pessoas, fundamentadas no princípio da Dignidade da Pessoa
Humana, os estigmas da colonização, escravidão e segregação econômico social, são
marcantes na sociedade brasileira, principalmente quando se trata da temática
criminalização e penalização.
Somado a isto, questões “atuais” (tão antigas quanto as sociedades mundiais),
como as relacionadas ao preconceito de gênero, orientação sexual, deficiência,
nacionalidade, raça, cultura, religião etc., fazem parte do contexto em que se estruturou
o encarceramento brasileiro, até o sistema penal atual.
Ao estudar estas relações, surge o conceito de interseccionalidade, cujo intuito é
compreender a dinamica da dominação social e “a complexidade da situação de pessoas
e grupos (minorias), afirmando a coexistência de diferentes fatores como:
vulnerabilidades, violências, discriminações” (PERPETUO, 2016, p. 4), que vem sento
eixo de discussão na política pública criminal e penal, sendo integrada às normativas,
medidas e postulados relativas à temática no sistema penal, numa perspectiva
transversal.
O conceito Transversalidade compreende ações que, tem por objetivo a
promoção de igualdade, articulando determinada situação enfrentada por um ou mais
destes grupos, articulando diversos órgãos setoriais, níveis da Federação ou mesmo
setores da sociedade na sua formulação e/ou execução (IPEA, 2009, p. 780).
A origem da transversalidade, como instrumento de implementação de políticas
públicas, tem sido atribuída à discussão de gênero. Definia-se que a perspectiva de
gênero deveria ser uma “corrente principal”, a perpassar, impregnar e atravessar as
demais políticas e ações a fim de garantir efetivamente igualdade entre homens e
mulheres em todos os campos da vida social.
A implantação de políticas de promoção da igualdade de gênero e raça foi
intensificada no Brasil no início dos anos 2000, juntamente com um conjunto de
diretrizes que deveriam orientar as práticas de gestão, em especial as noções de
transversalidade e intersetorialidade. Tais noções são compreendidas, conforme o Plano
Nacional de Direitos Humanos, como imprescindíveis para alcançar condicionantes
“multidimensionais” de situações de desigualdade e estão ancoradas na “perspectiva da
universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos”.
51
Assim, no que tange ao sistema penitenciário nacional, a partir de uma análise da
interseccionalidade e, baseando-se nos conceitos de transversalidade e
intersetorialidade, percebe-se que seguindo normativas internacionais e nacionais, há
uma busca da política pública criminal e prisional em reduzir as desigualdades na
criminalização e execução da pena.
Tanto o no Modelo de Gestão para a política Prisional quanto o Plano Nacional
da Política de Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária trazem em seu bojo
postulados, princípios e medidas a serem adotados em todo o sistema penitenciário, cujo
alicerce é a transversalidade e igualdade de tratamento.
O Modelo postula que os sistemas penitenciários Federal e Estaduais deverão ter
como foco o reconhecimento da igual dignidade entre os diferentes atores que com eles
interagem, promovendo os direitos humanos, a justiça social e a vida e, como
princípios:
1. Respeito às diferenças e da qualificação dos sujeitos - Deverá ser garantido o
respeito às diferenças (de sexo/gênero, raça/etnia, idade, origem, nacionalidade, religião
e outras) e seu reconhecimento nos processos de promoção da cidadania, ao que
contribui os procedimentos de singularização da pena e matriciamento dos sujeitos em
função de suas trajetórias criminais e grupos de pertencimento, respeitando os interesses
dessas pessoas. (PRINCÍPIO N.º 5);
2. Políticas para mulheres - Deverão ser assegurados direitos e políticas para as
mulheres encarceradas, de acordo com as especificidades de gênero, no tocante à
arquitetura prisional e aos serviços penais voltados às áreas de cidadania, saúde,
educação, trabalho, entre outras políticas. (PRINCÍPIO N.º 13)
Assim, são necessidades observadas no sistema penitenciário nacional, de forma
geral, conforme as medidas presentes no Plano Nacional de Política Criminal e
Penitenciária quando do reconhecimento do racismo como elemento estrutural do
sistema punitivo, pois o racismo vem mostrando ser um eixo estruturante da política
criminal brasileira, sendo uma prática que se atualiza, retroalimenta e que sustenta
privilégios consolidados, principalmente pela população carcerária brasileira ser, em sua
maioria, formada por negro e pardos, além da vulnerabilidade dos mais pobres ao poder
punitivo, por esta população se maioria composta de pessoas de baixa renda, o que é
uma característica que se perpetua no sistema punitivo brasileiro, a ser combatida pelas
ações públicas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Dina. Rés negras, juízes brancos: Uma análise da interseccionalidade de
gênero, raça e classe na produção da punição em uma prisão paulistana. CS, n. 21, p.
97-120, 2017.
52
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal 1: Parte Geral. São Paulo:
Saraiva, 2015.
BRASIL. Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. Plano Nacional de
Educação em Direitos Humanos. Brasília, DF: Secretaria Especial dos Direitos
Humanos; Ministério da Educação, 2003. Disponível em:
http://new.netica.org.br/prevencao/cartilha/plano-educdh.pdf. Acesso em: 14/04/2020.
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1988. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em:
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Política Prisional 2016. Disponível em: http://depen.gov.br. Acesso em: 10 ago. 2019.
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desenvolvimento: Estado, planejamento e políticas públicas. Brasília, DF: IPEA, 2009.
3 v. (Brasil: o estado de uma nação). Disponível em:
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Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso em: 10/08/2017.
BRASIL. Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997. Define os crimes de tortura e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9455.htm.
Acesso em: 14/04/2020.
BRASIL. Lei Complementar nº 79, de 07 de janeiro de 1994. Cria o Fundo
Penitenciário Nacional - FUNPEN, e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br. Acesso em: 10/08/2017.
BRASIL. Portaria Interministerial n° 424, de 30 de dezembro de 2016. Estabelece
normas para execução do estabelecido no Decreto nº 6.170, de 25 de julho de 2007, que
dispõe sobre as normas relativas às transferências de recursos da União mediante
convênios e contratos de repasse, revoga a Portaria Interministerial nº
507/MP/MF/CGU, de 24 de novembro de 2011 e dá outras providências. Disponível
em: http://plataformamaisbrasil.gov.br/legislacao/portarias/portaria-interministerial-n-
424-de-30-de-dezembro-de-2016. Acesso em: 15/04/2020.
DUTRA, Walkiria Zambrzycki. Sistema Penitenciário Brasileiro e o Conflito
Federativo: impasses e avanços na construção de uma política nacional. In:
ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS, 42, Caxambu, MG. 2018. Anais, 2018.
Disponível em: https://anpocs.com/index.php/encontros/papers/42-encontro-anual-da-
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ORDEM DOS ADVOGADS DO BRASIL. Resolução nº 02/2015 da OAB. Aprova o
Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. Disponível
53
em: https://www.oab.org.br/arquivos/resolucao-n-022015-ced-2030601765.pdf. Acesso
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PERPÉTUO, Claudia Lopes. O conceito de interseccionalidade: contribuições para a
formação no ensino superior. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL EM EDUCAÇÃO
SEXUAL: saberes/trans/versais currículos identitários e pluralidades de gênero, 5,
Maringá, 2017. Anais p. 26-28, 2017. Disponível em http://www.sies.uem.br/. Acesso
em: 15/04/2020.
54
DISCIPLINA IV - ATIVIDADE FÍSICA
EIXO: Avançado.
CARGA HORÁRIA: 16 horas
PROFESSOR: Paulo Sergio Nascimento Farias. Graduado em Licenciatura Plena em
Educação Física pela Escola Superior da Amazônia (2012). Pós-graduação em Gestão
de pessoas. Atualmente é Subtenente da Policia Militar do Estado do Pará, instrutor de
defesa pessoal geral - Polícia Militar do Pará, Cabo PM - Polícia Militar do Pará,
Soldado PM - Polícia Militar do Pará e 1º Sargento PM.
OBJETIVO DA DISCIPLINA: Proporcionar aos candidatos conhecimentos a fim de
que compreendam os conceitos associados à prática regular de atividades físicas e
outros fatores do estilo de vida, e sua relação com a saúde e qualidade de vida: a)
Condicionamento físico e saúde: importância para as rotinas prisionais. b) Treinos de
resistência, flexibilidade e força. c) Informações sobre a execução das atividades físico-
desportivas. d) Instruções e métodos de treinamento adequados. e) Incentivo à
organização e à participação em competição desportiva.
CONTEUDO PROGRAMÁTICO:
▪ A importância da atividade física
▪ Qualidade de vida
▪ Diferenciação entre atividade física e exercício físico
▪ Evolução do treinamento
55
1 CONDICIONAMENTO FÍSICO E SAÚDE: IMPORTÂNCIA PARA AS
ROTINAS PRISIONAIS
O nosso organismo foi feito para o movimento. Neste sentido, nosso coração,
nossos pulmões músculos e ossos precisam de movimento corporal para permanecer
saudáveis;
Se pararmos de nos movimentar, nosso corpo começa a mostrar que alguma
coisa não vai bem. Cansamo-nos facilmente, ficamos fracos e com menos flexibilidade,
entre outras coisas. Esse estado nos leva a crer que saúde não significa simplesmente,
ausência de doenças! Muitos fatores estão relacionados com a saúde como o bem-estar
físico, mental, social e espiritual.
Para alcançar esse bem-estar completo, necessitamos de hábitos de saúde como
evitar o estresse, não fumar, alimentar-se adequadamente, procurar alguma forma de
lazer e principalmente, praticar atividade física, pois vivemos num mundo que valoriza
muito o bem-estar material, em uma época agitada, e muitas vezes deixamos de usar
nosso corpo, sendo que alguns passam muito tempo sentados e outros executando
sempre os mesmos movimentos. Precisamos compensar o tempo que passamos inativos,
reservando algum tempo para fazermos atividade física.
Um organismo bem condicionado é capaz de enfrentar esforços maiores e
vencer melhor as doenças, pois quando permanecemos sedentários por longos períodos,
podem surgir doenças como hipertensão arterial, diabetes, colesterol alto, osteoporose,
obesidade e doenças do coração. Neste cenário, você pode não se preocupar com elas
agora, porque é jovem e cheio de vida, mas se não se conscientizar e praticar atividade
física, não o fará quando for adulto e então poderá desenvolver alguma dessas doenças.
Podemos citar alguns artigos que nos auxiliam no entendimento deste processo.
2 SAÚDE DOS AGENTES PENITENCIÁRIOS NO CONTEXTO BRASILEIRO
O agente penitenciário por ser o profissional responsável por acompanhar e
vigiar as pessoas em cárcere, está continuamente exposto a situações de risco, como
intimidações, agressões, ameaças, homicídios e rebeliões nas quais, entre outros, correm
o risco de serem reféns. Esses eventos traumáticos trazem consequências
psicopatológicas, como o estresse pós-traumático, e ainda a reconstrução de
pensamentos problemáticos que são fatores de causa e manutenção de transtornos
mentais. São, da mesma forma, fatores para o surgimento e/ou manutenção de doenças
metabólicas.
No estudo de COSTA et al., 2011, com o título “Possível Relação entre Estresse
Ocupacional e Síndrome Metabólica”, os autores tinham o objetivo de investigar a
possível relação entre estresse ocupacional e síndrome metabólica. Observou-se maior
frequência de transtornos e síndromes metabólicos entre indivíduos submetidos à maior
56
demanda psicológica no exercício da profissão sugerindo possível relação dessa
entidade clínica com o estresse ocupacional.
Em outro estudo, FERREIRA et al., 2012, tendo “Relação da Prevalência de
Atividade Física com Variáveis Psicológicas e Componentes da Síndrome Metabólica
em Agentes Penitenciários de Belo Horizonte/MG” por título, os autores buscaram
relacionar a prevalência da prática regular de exercícios físicos com a síndrome
metabólica (pressão alta, diabetes, colesterol alto, etc), com a ansiedade de traço e de
estado e com distúrbios psíquicos menores em Agentes do Serviço Penitenciário de
Belo Horizonte/MG. Houve maiores alterações no perfil metabólico dos agentes
penitenciários do sexo masculino que não praticaram exercício físico nas três unidades
prisionais estudadas, pois, encontrou-se pressão arterial sistólica, índice de massa
corporal, circunferência da cintura e glicemia em jejum com valores significativamente
diferentes (para p<0,05) comparados com não praticantes de atividade física.
Diante do que foi exposto, percebemos que a falta de atividade física e um
ambiente de trabalho com um contato interpessoal mais exigente causando grande
estresse ocupacional podem desencadear maior risco de desenvolvimento de doenças
metabólicas e psicopatias. Podemos concluir, então, que a prática regular de atividades
físicas é de fundamental importância para os agentes prisionais, reduzindo assim os
riscos de desenvolver essas doenças. Vale ressaltar que a profissão em questão exige
muito do condicionamento físico do indivíduo e que por isso manter a saúde em boas
condições é crucial para o bom desempenho da profissão.
3 TREINOS DE RESISTÊNCIA, FLEXIBILIDADE E FORÇA
Para determinarmos os tipos de treinos a serem seguidos, precisamos entender a
diferença entre atividade física e exercício físico, sendo assim:
ATIVIDADE FÍSICA - É qualquer movimento corporal em que se utilizam os
músculos e se usa mais energia do que no repouso, sendo que elas podem ser
classificadas em cinco grandes categorias:
1. Refeições, higiene e outras;
2. Trabalho (ou Laboral);
3. Tarefas domésticas;
4. Lazer e tempo livre;
5. Atividade esportiva e programas de condicionamentos físicos.
Não podemos confundir atividade física com exercício físico, apesar de o
exercício físico ser considerado atividade física;
EXERCÍCIO FÍSICO - É toda atividade planejada, estruturada e repetitiva, com
o objetivo de melhorar a condição física. Nestes sim, com o acompanhamento de um
57
profissional da área de educação física, que poderá prescrever um programa de
treinamento adequado, levando em consideração o condicionamento físico da pessoa,
incluindo nesse treinamento exercícios de flexibilidade, resistência e força.
1. Resistência:
Ex: - Resistência de velocidade;
-Resistência muscular localizada –RML;
-Resistência de força.
2. Força:
Bompa (2002) define Força como a capacidade de se aplicar esforço contra uma
resistência. Barbanti (1996), no entanto, como a capacidade de se exercer tensão
muscular contra uma resistência, envolvendo fatores mecânicos
2.1 Tipos de força:
2.1.1.Força máxima
2.1.2. Força explosiva
2.1.3. Força de resistência
3. Flexibilidade:
Qualidade motriz que depende da elasticidade muscular e da mobilidade
articular expressa pela máxima amplitude de movimento necessária para execução de
qualquer atividade física, sem que ocorram lesões anatomopatológicas (ARAÚJO,
1987).
A flexibilidade depende principalmente de 3 fatores físico:
1. A amplitude articular
2. Da elasticidade muscular
3. Da mobilidade articular.
PORTANTO, tenha corpo e mente saudáveis, PRATIQUE EXERCICIOS
FÍSICOS, estes proporcionam-nos muitos benefícios, dentro os quais podemos destacar:
1. Aumento do consumo de glicose como combustível por parte do músculo em
atividade;
2. Durante os Exercícios Físicos, a glicose entra nas células sem a necessidade de
insulina;
3. Contribui para o controle da glicemia;
4. O efeito hipoglicemiante pode se prolongar por horas e até dias após o fim do
exercício físico;
58
5. Melhora o condicionamento cardiorrespiratório;
6. Reduz fatores de riscos cardiovasculares, por diminuição da Pressão Arterial e dos
lipídeos;
7. Melhor utilização da insulina, tanto endógena quanto exógena;
8. Diminuição das doses dos medicamentos.
4 INFORMAÇÕES SOBRE EXECUÇÃO DAS ATIVIDADES FÍSICO-
DESPORTIVAS
O Treinamento é a forma fundamental de preparação, baseada em exercícios
sistemáticos representando um processo organizado pedagogicamente com o objetivo de
direcionar a evolução do desportista, ganhar e aumentar o desenvolvimento multilateral
e físico, melhorando assim, as capacidades físico-biológicas dos indivíduos.
Para Bompa (1993), o treinamento desportivo apresenta-se como uma atividade
física de longa duração, graduada de forma progressiva, individualizada, atuando
especificamente nas funções humanas, fisiológicas e psicológicas, com objetivos de
superar tarefas mais exigentes que as habituais.
Esses exercícios sistemáticos, progressivos, de longa duração são organizados
em ciclos de acordo com as metas a serem atingidas. A essa organização chamamos de
Periodização do Treinamento, que é uma forma de facilitar e tornar mais eficaz a
organização de um Programa de Treinamento, adequando cada fase e suas variáveis,
para alcançar os objetivos do indivíduo, seja ele atleta ou não.
4.1 OBJETIVOS DO TREINAMENTO DESPORTIVO
▪ Assegurar e melhorar os desenvolvimentos físicos específicos determinados pelas
necessidades de cada desporto em particular;
▪ Realizar e aperfeiçoar as técnicas do desporto escolhido;
▪ Melhorar e aperfeiçoar as estratégias necessárias;
▪ Cultivar as qualidades necessárias;
▪ Assegurar e procurar uma preparação ótima para a equipe;
▪ Fortalecer o estado de saúde de cada atleta;
▪ Prevenir lesões;
▪ Incrementar o conhecimento teórico do atleta.
59
5 INSTRUÇÕES E MÉTODOS DE TREINAMENTO ADEQUADOS
Conceitua-se treinamento como a preparação do indivíduo para movimentos
voluntários específicos que envolvem desde atividades gerais da vida diária até
atividades especifica e altamente complexas. Essas atividades demandam: Força,
Resistência, Velocidade, Flexibilidade, Coordenação, Destreza e Agilidade.
Independente do quão especializada uma formação possa se tornar, no início o
treinamento deve ter como critério primordial o desenvolvimento multilateral, essa base
ampla e multilateral do desenvolvimento físico é uma condição básica para a
especialização física e maestria técnica; porém essa abordagem não exclui a
especificidade do treinamento. O treinamento multilateral quando iniciado nos
primeiros anos do desenvolvimento, proporcionará uma base sólida, no
desenvolvimento do indivíduo, evitando assim, entre outras coisas:
1. Lesões por estresse;
2. Monotonia de treino;
3. Supertreinamento.
6 INCENTIVO À ORGANIZAÇÃO E À PARTICIPAÇÃO EM COMPETIÇÃO
ESPORTIVAS
O esporte sem dúvida sempre exerceu uma grande influência nas mais diversas
sociedade em torno de todo o planeta. Em algumas sociedades, o esporte é visto como
um direito garantido para sua população, deixando claro que este fenômeno transcende
na formação efetiva, social e educacional das pessoas nas quais são impactadas por essa
manifestação. No Brasil, o esporte é tratado como um complemento na formação
humana, ou pelo menos deveria ser. No final da década 80 com a ampliação dos diretos
civis, o esporte deixou de ser visto como uma prática restrita das classe mais
favorecidas e atletas que tinham como foco a representação do país e suas respectivas
agremiações, tornando assim um direito de todos, sendo entendido como esporte
contemporâneo.
Segundo Tubino (2010, p. 30), “No final da década de 80, a partir da aceitação
do direito de todos ao esporte, tem início ao Esporte Contemporaneo”, e com a
constituição de 1988, o esporte passou a ser tratado como dever do estado perante a
sociedade brasileira. Brasil (1988), Ar.t 217. É dever do Estado fomentar práticas
desportivas formais e não formais, como direito de cada um. Partindo do pressuposto no
qual o esporte é visto como um direito social garantido, o governo vem aplicando
diversas políticas públicas que visam fomentar a prática esportiva na sociedade.
Entretanto, cabe-se refletir como vem sendo utilizados os recursos públicos nos diversos
estados em nosso território. Neste momento não estaremos estudando o esporte como
manifestação e suas diversas criticas oriundas, principalmente da sociologia esportiva,
não que não seja relevante investigar como o capitalismo influenciou e influência
60
diversas formas do desporto, porém, as políticas públicas esportivas podem contribuir é
o mais importante. A grande desigualdade existente em nosso país pode está sendo
reproduzida claramente na utilização dos recursos oriundos da Lei de Incentivo ao
Esporte do Governo Federal. Principalmente se analisarmos a distribuição destes
recursos entre os estados e regiões. Entretanto, garantir o esporte como um direito social
tornando o Estado como responsável para o fomento, faz-se necessário investigar como
a população vem sendo contemplada pelos recursos destinados pela Lei de Incentivo ao
Esporte em suas respectivas regiões e estados.
A organização e participação em atividades desportivas requer uma disciplina
consciente de cada um participante, entendendo que a competição não pode ser uma
“guerra” entre equipes, mas uma socialização entre as pessoas, uma forma de deixar de
lado o individualismo e exercer mais a coletividade, a “cooperação para um bem
comum”, o que pode representar uma ótima oportunidade para conhecer melhor o
profissional que quase todos os dias trabalha ao seu lado e ambos precisam desta
“cooperação”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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em: 12/03/2019.
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61
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CORREA, Alexandre Seixas. A lei de incentivo ao esporte como política de fomento
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PRESTES, Jonato et al. Prescrição e Periodização do Treinamento de Força em
academias. 2 ed. São Paulo: Manole, 2016.
63
DISCIPLINA V - PROCEDIMENTO DISCIPLINAR PENITENCIÁRIO
EIXO: Avançado.
CARGA HORÁRIA: 12 horas.
PROFESSOR: José Williams Freitas Cordeiro. Graduado em direito pela Faculdade de
Belém (2011). Atualmente trabalha na Fundação de Atendimento Sócio Educativo do
Pará. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Segurança Pública.
OBJETIVO DA DISCIPLINA: Investigar e apurar atos infracionais cometidos por
pessoas privada de liberdade, bem como, compreender o processo de instalação, as
diversas etapas e procedimentos que devem ser executados para a investigação de atos
infracionais cometidos pela pessoa privada de liberdade. a) Procedimentos de
disciplinas voltadas aos internos: diretos e deveres das pessoas privadas de liberdade;
responsabilidades da Administração. b) Importância da disciplina para organização e
funcionamento das unidades e do sistema.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
▪ Tipos de faltas e aplicação de sanções disciplinares
▪ Procedimento Disciplinar Penitenciário
1 TIPOS DE FALTAS E APLICAÇÃO DE SANÇÕES DISCIPLINARES
▪ Art. 47 da LEP. Competência para instauração: Diretor da UP ou Secretário
Especial para Assuntos Penitenciários.
▪ Art. 54 da LEP. Por quem serão aplicadas essas sanções?
▪ Art. 44 da LEP. Disciplina e seus sujeitos.
▪ Art. 45 da LEP. “Não haverá falta nem sanção sem expressa e anterior previsão
legal ou regulamentar”.
▪ Art. 5º, X e XLVII da CF de 1988. Garantias e direitos da pessoa presa.
▪ Assunto relevante: as sanções cruéis, desumanas e degradantes podem, conforme
o caso, caracterizar crime de tortura (art. 1º, §1º, da Lei nº 9.455/97) e/ou crime de
abuso de autoridade.
64
Critérios para aplicação
Faltas disciplinares:
▪ Art. 49 da LEP
GRAVE: Regulado na LEP
LEVES e MÉDIAS: Regulado pelos Estados
No Estado do Pará, a Portaria 108/2004 – GAB/SUSIPE, de 06/04/2004, em
conjunto com o Manual de Procedimentos Disciplinares Penitenciários, aprovado pela
Portaria 604/2015 – GAB/SUSIPE, de 16/10/2015.
Algumas faltas de natureza leve
▪ Inobservar os princípios de higiene pessoal, de sua cela e demais dependências da
unidade prisional;
▪ Manusear equipamento de trabalho sem autorização ou sem conhecimento do
encarregado, mesmo a pretexto de reparos ou limpeza;
▪ Adentrar em cela ou cela alheia, sem autorização;
▪ Improvisar varais e cortinas na cela ou alojamento comprometendo a vigilância,
salvo situações excepcionais, autorizadas pelo diretor da unidade prisional;
Algumas faltas de natureza média
▪ Receber, confeccionar, portar, consumir ou concorrer para que haja em qualquer
local do estabelecimento, indevidamente:
▪ Bebida alcoólica.
▪ Objetos que possam ser utilizados em fugas.
▪ Simular ou provocar doença, ou estado de precariedade física ou mental, para
eximir-se de obrigações ou alcançar vantagem de natureza pessoal;
▪ Atrasar, sem justa causa, o retorno ao estabelecimento, nas saídas autorizadas;
▪ Induzir ou instigar alguém a praticar falta disciplinar grave, média ou leve;
▪ Destruir objetos de uso pessoal, fornecidos pela unidade prisional;
Obs.: A prática de crime previsto como crime culposo ou contravenção penal, constitui
falta de natureza média e sujeita o preso à sanção disciplinar, sem prejuízo da sanção
penal.
Faltas de natureza grave – Art. 50 e 52 da LEP (Rol taxativo)
▪ Incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;
▪ Fugir
65
▪ Obs: Art. 352 CP: Se a fuga ocorrer com utilização de violência contra a pessoa. Pena:
detenção de 03 meses a 01 ano.
▪ Possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de outrem.
▪ Descumprir, no regime ABERTO, as condições impostas.
▪ Obs: Não há previsão legal para o descumprimento das condições no período de prova
durante o livramento condicional.
▪ Tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo (conforme o STJ,
a posse de carregadores e chips também configura a infração em epígrafe).
▪ Art. 52- A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave (...) Súmula
526-STJ: O reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento de fato
definido como crime doloso no cumprimento da pena não precisa do trânsito em
julgado de sentença penal condenatória no processo penal instaurado para apuração
do fato. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 13/05/2015.
Sanções
O juiz da execução penal poderá aplicar as seguintes sanções (art. 48, §único, LEP):
1. Regressão de regime (art. 118, I, LEP);
2. Revogação de saída temporária (art. 125, LEP);
3. A perda de até 1/3 dos dias remidos (art. 127, LEP);
4. A conversão de pena restritiva de direitos em privativa de liberdade (art. 181, § 1º, d, e
§ 2º).
5. A interrupção do prazo para progressão de regime.
“Súmula 534-STJ: A prática de falta grave interrompe a contagem do prazo para a
progressão de regime de cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir do cometimento
dessa infração”. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, DJE 15/06/2015.
Livramento Condicional: não interrompe o prazo para obtenção de livramento condicional
(Súmula 441-STJ).
Indulto e Comutação de Pena: não interfere no tempo necessário à concessão de
indulto e comutação da pena (Súmula 535-STJ).
Sanções disciplinares – ART. 53 da LEP
O rol é taxativo:
a) Advertência verbal;
66
b) Repreensão;
c) Suspensão ou restrição de direitos;
d) Isolamento na própria cela ou em local adequado;
e) Inclusão no Regime Disciplinar Diferenciado.
▪ Advertência verbal - É uma admoestação ao condenado, em que o Diretor da
Unidade Prisional chama a atenção do preso VERBALMENTE. Deverá ser
registrado no prontuário carcerário (Ficha evolutiva) e INFOPEN-PA.
▪ Repreensão
É uma admoestação ESCRITA e FORMAL, devendo haver registro do fato nos
assentamentos carcerários (Ficha evolutiva) e INFOPEN-PA.
▪ Suspensão ou restrição de direitos – ART. 41, § ÚNICO DA LEP. Ato motivado do
diretor do estabelecimento penal.
- Trabalho, descanso e recreação;
- Direito de visita do cônjuge, companheira (o), parentes e amigos;
- Contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, leitura e outros
meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes.
▪ Isolamento na própria cela ou local adequado
▪ Restringe ainda mais a locomoção e comunicação com os demais presos. Poderá ser:
▪ Na própria cela ou em outro local na mesma UP.
▪ Em outra UP dentro da mesma jurisdição (RMB).
▪ Em outra UP de jurisdição diferente (outra Comarca), nesse caso somente com
autorização judicial e da DAP. Exceção: Em casos emergenciais (rebelião).
▪ Isolamento preventivo (medida disciplinar - MD) – Art. 60 DA LEP
▪ Tem caráter cautelar, ou seja, antes da finalização do PDP - 10 dias, que será
computado no período da sanção disciplinar.
▪ Obs.: art. 58 da LEP – prazo máximo: 30 dias. Aplicado após a conclusão do PDP.
Regime Disciplinar Diferenciado - RDD
Hipóteses: art. 52, incisos, caput, §§ 1º e 2º.
1. Características.
2. Tipos de crimes.
3. A quem se destina.
67
TIPO DE FALTA SANÇÕES DISCIPLINARES
Falta leve Advertência
Reincidência Repreensão
Falta média Repreensão
Reincidência Restrição de direitos
Falta grave Isolamento e suspensão
Fonte: própria do autor.
Critérios para aplicação de sanções disciplinares - Art. 57 da LEP
A natureza, os motivos, as circunstâncias e as consequências do fato, bem como a
pessoa do faltoso e seu tempo de prisão.
1 PROCEDIMENTOS DISCIPLINAR PENITENCIÁRIO
O Procedimento Disciplinar Penitenciário deve ser entendido como instrumento
apto a apurar e atribuir sanções aos presos que incorrerem em transgressões disciplinares,
segundo o disposto na LEP e regulamentos, assegurando o direito de defesa e o
contraditório.
PRINCÍPIOS NORTEADORES
▪ Ampla defesa e o contraditório – ART. 5º, LV DA CF.
▪ A ampla defesa tem a ver com a comunicação da denúncia, depoimento pessoal,
produção de provas, alegações finais e etc. O contraditório significa dar ao acusado o
direito de defesa de qualquer alegação feita contra ele.
▪ O preso poderá juntar documentos, pareceres, requerer diligências e perícias,
apresentar razões escritas referentes à matéria objeto do processo, solicitar oitivas de
testemunhas, garantindo a ampla defesa e o contraditório. Caso essas provas sejam
ilícitas, elas poderão ser indeferidas.
▪ Princípio da oralidade - Os atos processuais serão orais, com vistas a abreviar a
instrução do feito e, consequentemente, obter uma resposta mais célere.
▪ Princípio da informalidade - Vai de encontro ao formalismo processual rígido e
exacerbado, visando um resultado prático, efetivo, com o mínimo de tempo gastos,
sem, contudo, suprimir garantias individuais.
▪ Princípio da economia processual - E a obtenção do máximo rendimento com o
mínimo de atividades processuais, gerando, com a diminuição de fases e de atos
processuais, a rapidez, economia de tempo e de custos.
▪ Princípio da celeridade - Visa permitir que o procedimento, desde a instauração até a
decisão final, ocorrera de maneira rápida, sem ferir ou cancelar princípios
68
constitucionais.
▪ Princípio da concentração - É uma junção com o princípio da oralidade e diz respeito
à concentração dos atos processuais em uma ÚNICA AUDIÊNCIA ou, quando isso
não for possível, em poucas audiências.
QUANDO O PDP SERÁ OBRIGATÓRIO?
“Art. 48, parágrafo único, LEP: nas faltas graves, a autoridade representará ao Juiz da
Execução para os fins dos artigos 118, inciso I, 125, 127, 181, §§ 1º, letra d, e 2º desta
Lei”.
OBRIGATORIEDADE DO DIREITO DE DEFESA
“Art. 59, LEP: Praticada a falta disciplinar, deverá ser instaurado o procedimento para
sua apuração, conforme regulamento, assegurado o direito de defesa”.
OBRIGATORIEDADE DA PRESENÇA DE ADVOGADO/DEFENSOR
PÚBLICO
Súmula 533 do STJ: “para o reconhecimento da prática de falta
disciplinar no âmbito da execução penal, é imprescindível a
instauração de procedimento administrativo pelo diretor do
estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser
realizado por advogado constituído ou defensor público nomeado”.
Competência, Portaria e Comissão Apuradora
Competência para a instauração
Diretor do Estabelecimento Prisional, que o faz por meio de Portaria no prazo de 03
(três) dias úteis, a contar do conhecimento da falta cometida. A instauração do PDP deverá ser
formalizada mediante expedição de portaria.
Portaria deve conter
▪ Exposição sucinta dos fatos, abordando o tempo, modo, lugar, indicação da falta e demais
informações pertinentes, bem como os nomes dos envolvidos;
▪ Decisão de isolamento preventivo, se houver.
Comunicar instauração
A Autoridade Administrativa da Unidade deve encaminhar, via memorando ou
ofício, cópia da Portaria de Instauração e demais documentos de instrução inaugural do PDP
para:
1- O Juízo da Vara de Execuções Penais (ofício).
2- A Promotoria de Execuções Penais (ofício).
3- A Corregedoria-Geral da SEAP (memorando)
69
Itens 1 e 2: Se o preso estiver na condição de réu provisório, deve ser comunicao ao Juiz
do processo-crime de conhecimento e ao Promotor, competentes em julga pelo respectivo
procedimento.
Comissão Apuradora
Composta por, no mínimo, 03 (três) membros, servidores de conhecida competência
e isenção. A Comissão Apuradora será indicada pelo Diretor do estabelecimento.
Instalação
▪ A Comissão Apuradora deve iniciar os trabalhos com a ata de instalação. É o ato
procedimental que delibera as providências iniciais, como solicitação de documentos,
das testemunhas a serem ouvidas, etc.
▪ “À Comissão compete apurar os fatos ocorridos, adotando as providências necessárias,
podendo convocar testemunhas e solicitar documentos”.
Fases do procedimento
Instauração
▪ O PDP, o preso deverá ser cientificado dessa instauração e deverá, nesta
oportunidade, ser notificado para apresentar, no prazo de três dias, Defesa Prévia e rol
de testemunhas, em obediência aos princípios do contraditório e ampla defesa.
▪ O preso é notificado
1) Da instauração do PDP, destinado à apuração de FALTA DISCIPLINAR
(específica e falta disciplinar);
2) Para apresentar defesa prévia, com rol de testemunhas, no prazo de 03 (três) dias;
ATENÇÃO: Essa defesa prévia deve ser apresentada pelo próprio preso. Não é uma
defesa técnica.
Advogado Particular, Advogado da SEAP ou Defensor Público
▪ Deverá ser comunicado da instauração, através de correio eletrônico, no prazo máximo de
02 (dois) dias, a contar da data da instauração.
▪ Junto com a comunicação, deverá ser remetida cópia da portaria de abertura do
procedimento e do livro de ocorrências.
▪ Na hipótese de advogado, caso a comunicação por meio de correio eletrônico não seja
possível, deverá ser efetivada por meio de correspondência ou por qualquer outra
forma prevista em lei.
Defesa Prévia
▪ Recebida ou não a Defesa Prévia do preso, com indicação das testemunhas, a comissão
irá designar o dia e hora para a realização da audiência una. Se o preso não apresentar a
Defesa Prévia, deve ser certificado.
70
Deverão ser intimadas para comparecimento em audiência una de instrução:
▪ As testemunhas da representação;
▪ As testemunhas indicadas pelo preso;
▪ O preso (para comparecer e para ser interrogado);
▪ O advogado ou defensor público antecedência: mínima de 3 dias.
▪ Juntar os mandados cumpridos aos autos.
Testemunhas
▪ Na instrução de procedimento poderão ser inquiridos até 05 (cinco) testemunhas
arroladas pelo acusado e outras que a Comissão entender pertinentes.
Advogado Particular, Advogado da SEAP e Defensor Público
▪ Será facultada a produção de provas e a inquirição de testemunhas, por intermédio do
responsável pelo procedimento, sendo indeferidas as indagações e diligências
impertinentes ou protelatórias.
Audiência
A audiência obedecerá às seguintes regras gerais:
a) Serão ouvidas, as testemunhas indicadas pela Comissão, depois as testemunhas
indicadas pela Defesa.
b) A testemunha (preso, servidor, etc.) não poderá eximir-se da obrigação de depor: arts.
206 e 207 do CPP.
c) O servidor que, apesar de devidamente intimado, não comparecer ou se recusar a
depor, ficará sujeito às sanções cabíveis.
“Art. 177, RJU. São deveres do servidor:
a) [...] IX - atender com presteza: [...];
b) às informações, documentos e providências solicitadas por autoridades
judiciárias ou administrativas”.
d) Todas as audiências deverão ser reduzidas a termo (Termo de Audiência), o qual será
juntado aos autos do PDP.
Novas Diligências
Caso se demonstre necessária e realização de novas diligências, estas deverão ser
reduzidas a termo pelo defensor do acusado, necessariamente, ao final da audiência, sob pena
de não mais poder fazê-lo (preclusão temporal).
Interrogatório do Acusado
▪ Finda a oitiva das testemunhas e não havendo mais diligências, será realizado o
INTERROGATÓRIO do acusado (sempre o último ato).
71
▪ Haverá a qualificação, será cientificado da acusação, o acusado será informado, antes de
iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de não responder às
perguntas que lhe forem formuladas, dando-se continuidade à audiência com as
perguntas da comissão.
▪ A autoridade deverá franquear oportunidade para que algum fato, ainda não esclarecido
quando do término do interrogatório pela Comissão apuradora possa ser elucidado
mediante perguntas feitas pela Defesa, respeitado a pertinência e relevância das questões
formuladas.
Alegações Finais
▪ A Defesa fará as alegações finais, quando serão oferecidas sob a forma oral por 10 (dez)
minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez) minutos.
▪ Em caso de realização de diligência, cumprida esta, as alegações deverão ser ofertadas no
prazo de 03 (três) dias por meio de correio eletrônico.
O Sobrestamento do Feito
▪ A interrupção do andamento do procedimento disciplinar penitenciário se dará, por
exemplo, em caso de fuga do preso, até a sua recaptura, devendo ser informado o juízo
competente, o juiz da vara de execução penal e o promotor competente.
▪ Na prática, também há o sobrestamento do PDP quando o preso é transferido para outra
unidade penal. Nesse caso, a UP que tiver a custódia do preso poderá substituir a portaria
inaugural e dar continuidade ao procedimento, caso as testemunhas e o acusado ainda
não tenham sido ouvidos ou instaurar nova portaria.
Não Apresentação das Alegações Finais
▪ A Comissão lavrará uma certidão e comunicará à Corregedoria-Geral Penitenciária.
▪ Caso o acusado desista do advogado particular, deverá o diretor da UP solicitar um
advogado da SUSIPE ou Defensor Público.
Relatório Final
▪ Após, a Comissão apresentará Relatório Final, no prazo de 05 (cinco) dias, opinando
fundamentadamente sobre a aplicação da sanção disciplinar ou a absolvição do preso e
encaminhará os autos para apreciação do diretor do estabelecimento penal.
Julgamento
▪ O Diretor do Estabelecimento Prisional, após avaliar o procedimento, proferirá decisão
final (Homologação) no prazo de 05 (cinco) dias, contados da data do recebimento dos
autos.
Na decisão deverão constar as seguintes providências
a) Ciência por escrito ao preso (mandado) e seu defensor ou advogado (E-mail).
72
b) Registro no prontuário carcerário físico e prontuário carcerário informatizado do
preso (INFOPEN-PA).
c) Arquivamento do procedimento disciplinar.
d) Remessa de cópia do Relatório Final e da respectiva homologação à Corregedoria-
Geral Penitenciária, ao Ministério Público e cópia integral ao Juízo competente.
Se a falta grave, promover a representação para fins do artigo 48, §único (ao Juiz da
Execução ou responsável pelo processo, no caso de preso provisório).
Recursos
Das punições de isolamento celular, suspensão ou restrição de direitos, ou de
repreensão:
- Prazo: 05 dias;
- Meio de Interposição: correio eletrônico, direcionado ao Diretor da Unidade
Prisional;
- Sem efeito suspensivo;
- Órgão Julgador: Corregedoria-Geral Penitenciária da SEAP.
▪ Das punições de advertência verbal:
- Pedido de reconsideração;
- Prazo: 48 horas;
- Meio de Interposição: correio eletrônico, direcionado ao Diretor da Unidade
Prisional.
Prescrição
A LEP é omissa com relação ao prazo prescricional para apuração de faltas
disciplinares na execução penal. No entanto, utilizando por analogia, o art. 109, IV, do
Código Penal, entende o STJ que o prazo é de 03 anos, tendo como prazo inicial a data da
falta, exceto para casos de fuga, ocasião em que o termo inicial será a data da recaptura,
por se tratar de infração de natureza permanente. (STJ – HC 421.639/RS – 12/12/2017 e
HC 410.757/SP – 02/03/2018).
CONCLUSÃO
Após tudo o que foi apresentado, podemos extrair algumas conclusões:
A competência para instaurar, conduzir a instrução do PDP, reconhecer a prática de
falta grave e aplicar sanções administrativas é diretor da casa penal;
A Vara de Execução Penal não tem competência para aplicar sanções disciplinares, e
sim para aplicar as punições judiciais, previstas na Lei de Execuções Penais, quais sejam:
73
regressão de regime, alteração da data base para futuras progressões de regime e perda de até
1/3 dos dias remidos.
A Vara de Execução Penal também não tem competência para reconhecer ou deixar
de reconhecer as faltas graves;
A Vara de Execução Penal é competente para homologar ou deixar de homologar
(confirmar) o PDP;
Se provocado, poderá o Judiciário exercer o controle de
legalidade/constitucionalidade dos atos administrativos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm. Acesso em:
15/04/2020.
BRASIL. Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997. Define os crimes de tortura e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9455.htm.
Acesso em: 14/04/2020.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus: HC 421639/ RS. Habeas
corpus substitutivo de recurso. Descabimento. Execução penal. Fuga. Falta grave.
Apuração. Prazo prescricional. Aplicação das normas previstas no código penal.
Constrangimento ilegal não evidenciado. Partes litigantes: Impetrante Defensoria
Pública do Rio Grande do Sul, Advogado Rafael Raphaelli , Impetrado Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul, Pacienete Ernane Otavio Lassen. Acórdão 12 de
dezembro de 2017, Ministro da Quinta turma Superior Tribunal de Justiça, por
unanimidade, não conheder do pedido. Relator: Ministro Joel Ilan Paciornik. 12 de
Dezembro de 2017. Disponível em:
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/549828412/habeas-corpus-hc-421639-rs-
2017-0274636-8/relatorio-e-voto-549828477?ref=juris-tabs. Acesso em 16/04/2020.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus: HC 410757/ SP. Habeas
corpus substitutivo de recurso. Descabimento. Execução penal. Fuga. Falta grave.
Apuração. Prazo prescricional. Aplicação das normas previstas no código penal.
Constrangimento ilegal não evidenciado. Partes litigantes: Impetrante e Advogado
Maria Tereza Montalvão Serrano, Impetrado Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo, Pacienete Alan de Almeida (Preso). Acórdão 20 de fevereiro de 2018, Ministro
da Quinta turma Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conheder do
pedido. Relator: Ministro Joel Ilan Paciornik. 20 de fevereiro de 2018, Disponível em:
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/559910146/habeas-corpus-hc-410757-sp-
2017-0191810-7?ref=juris-tabs. Acesso em 16/04/2020.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n° 526, de 18 de maio 2015. Recurso
74
especial repetitivo. Pena. Execução penal. Recurso especial representativo de
controvérsia. Execução penal. Falta grave. Fato definido como crime doloso. Trânsito
em julgado da sentença penal condenatória. Disponível em:
https://www.legjur.com/sumula/busca?tri=stj&num=526. Acesso em: 16/04/2020.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n° 533, de 15 de junho de 2015. Para
o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da execução penal, é
imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do
estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado
constituído ou defensor público nomeado. Disponível em:
http://www.coad.com.br/busca/detalhe_16/2501/Sumulas_e_enunciados. Acesso em:
16/04/2020.
PARÁ. Lei n° 5.810, de 24 de janeiro de 1994. Dispõe sobre o Regime Jurídico Único
dos Servidores Públicos Civis da Administração Direta, das Autarquias e das Fundações
Públicas do Estado do Pará. Disponível em:
http://www.pge.pa.gov.br/sites/default/files/lo5810.pdf. Acesso em: 15/04/2020.
PARÁ. Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social. Superintendência do Sistema
Penitenciário do Estado do Pará. Portaria n. 108 de 06 de abril de 2004. Disponível
em:
http://www.susipe.pa.gov.br/sites/default/files/Portaria%20108%2004Regimento_Intern
o_Estabelecimentos_Carcerarios.pdf. Acesso em: 15/04/2020.
PARÁ. Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social. Superintendência do Sistema
Penitenciário do Estado do Pará. Corregedoria-Geral Penitenciária. Manual de
Procedimentos Disciplinares Penitenciários.Coordenação Gustavo Henrique Holanda
Dias – 2014. 42 p. Disponível em:
http://www.susipe.pa.gov.br/sites/default/files/MANUAL%20DE%20PDP.pdf. Acesso
em: 15/04/2020.
PARÁ. Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social. Superintendência do Sistema
Penitenciário do Estado do Pará. Portaria n. 604 de 16 de outubr de 2015. Disponível
em: http://www.susipe.pa.gov.br/sites/default/files/21.10.2015.pdf. Acesso em:
15/04/2020.
75
DISCIPLINA VI - RELAÇÕES INTERPESSOAIS E ÉTICA PROFISSIONAL
EIXO: Avançado.
CARGA HORÁRIA: 08 horas
PROFESSORA CONTEUDISTA: Jhéssyca Dias de Carvalho. Técnica em Gestão
Penitenciária/ Psicóloga (SEAP); Psicóloga da Secretaria Municipal de Saúde
(SESMA); Especialista em Atenção à Saúde Mental (UEPA/FPHCGV); Especialista em
Fundamentos da Psicanálise (Faculdade Inspirar).
EMENTA:
Compreender a importância de suas condições pessoais (físicas, psicológicas, éticas,
relacionais) no exercício das funções desempenhadas. Assimilar a importância de
trabalho no âmbito da cooperação. a) O espaço do trabalho no DEPEN e unidades
penitenciárias federais: equipes e comunicação. b) Equipes integradas, unidades
eficientes e seguras. c) Comunicação interpessoal e relacionamento profissional.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:
• Conceitos de Ética e Moral;
• Princípios éticos e Urbanidade, conforme Manual de Procedimentos
Operacionais da SEAP;
• Atribuições do Agente Penitenciário;
• Princípios éticos voltados à atuação do Agente Penitenciário;
• Perfil do Servidor Penitenciário;
• O espaço do Trabalho no DEPEN e as unidades penitenciárias federais: equipes
e comunicações;
• Conceitos de Grupo e Equipe;
• Equipes integradas, unidades eficientes e seguras;
• Comunicação interpessoal e relacionamento interpessoal.
76
1 CONCEITOS DE ÉTICA E MORAL
1.1 ÉTICA
Apesar da abordagem a ser utilizada nesta disciplina estar voltada para a
conceituação da Ética aplicada à prática, faz-se importante saber, ainda que de forma
breve, sobre os antecedentes filosóficos que serviram como base para a construção deste
conceito tão estudado pelos mais diversos autores ao longo das épocas, pois embora as
questões éticas estejam a todo momento presentes na mídia, nos materiais de
publicidade, internet, dentre outros meios de comunicação, é importante frisar que se
trata de um ramo da Filosofia e que vem sendo elaborado desde filósofos como
Pitágoras e Aristóteles, há mais de 2.000 anos.
Grosso modo, para Aristóteles, em sua obra Ética a Nicômano, a ética está
relacionada à busca que todos os seres humanos fazem na intenção de alcançar um bem
comum, e somente aqueles que conhecem o bem poderão desfrutar da eudemonia, isto é,
da busca por uma felicidade que apenas é possível de ser vivenciada pelos seres
racionais.
Autores mais contemporâneos também abordam esse conceito, como é o caso de
Reale (1999) ao afirmar que ética é a ciência que padroniza os comportamentos
apresentados pelos seres humanos, demonstrando que, além de se tratar de um estudo
científico, baseado em normas e o devido rigor, diz respeito às intenções que a conduta
humana possui ao praticar determinada ação.
De forma semelhante, em sua obra, Sá (2009, p. 17) ensina que a ética deve ser
compreendida como “a ciência da conduta humana perante o ser e seus semelhantes”,
sendo assim, esse saber atravessa as relações que estabelecemos com outras pessoas nos
grupos aos quais estamos inseridos.
Já Maximiano (1974, p. 28), a define:
A disciplina ou campo do conhecimento que trata da definição e
avaliação de pessoas e organizações. É a disciplina que dispõe
sobre o comportamento adequado e os meios de implementá-lo,
levando-se em consideração os entendimentos presentes na
sociedade ou em agrupamentos sociais particulares.
Desse modo, a Ética estuda os valores e princípios morais de uma sociedade,
bem como dos grupos que a compõem.
A ética associa a conduta de uma pessoa à sua relação com outra e está presente
na vontade e nas atitudes virtuosas de uma pessoa em relação a ela mesma e àqueles
com quem convive. Como exemplo, pode-se citar a seguinte afirmativa: “a liberdade de
uma pessoa termina quando começa a liberdade do outro”, o que significa que nas
relações humanas, no convívio em sociedade, existem limites, normas e regras que
precisam ser respeitadas para que se consiga minimamente lidar com as questões que
permeiam a vida em sociedade.
77
Por fim, o estudo da ética, conforme ensina Srour (2003, p. 15) está vinculado
“aos códigos e normas que regulam as relações e condutas entre os agentes sociais, os
discursos normativos que identificam, em cada coletividade, o que é certo ou errado
fazer”. Observa-se que neste conceito temos alguns componentes importantes para a
compreensão da ética, quais sejam: as normas reguladoras; a distinção da ética segundo
o grupo social; a escolha entre o certo e o errado. Vale ressaltar que, ao normatizar a
convivência entre os indivíduos, a ética examina a moral.
1.2 MORAL
É comum ouvirmos dizer que ética e moral são sinônimos, mas pode-se
visualizar a partir dos estudos de alguns autores que, apesar de serem termos diferentes
entre si, se complementam. É o que postula Hanashiro et al (2008, p. 80-81 apud
WACHOWICZ, 2011), pois a “noção de moral requer a concepção do homem em
convivência com seus semelhantes, e a necessidade de regras mínimas para a
preservação desse convívio.”
Assim, pode-se compreender que, enquanto a ética diz respeito à disciplina
teórica e à sistematização por meio de regras a serem seguidas e que estabelecem o que
é bom para a coletividade, a moral direciona a prática cotidiana. Observa-se ainda,
que a moral diz respeito ao indivíduo inserido no contexto social e que os padrões éticos
estabelecem a norma a ser seguida pelas pessoas na busca pelo convívio para o bem.
Isto significa que a moral não necessariamente é universal, visto que um
comportamento considerado moral em um continente ou país, pode ser entendido como
imoral em outro, sendo necessário levar em consideração os costumes, hábitos, assuntos
políticos, étnicos, religiosos, dentre outros elementos de determinado contexto ou
cultura.
Apesar da sua relevância para a vida em sociedade, ética e moral são temas
amplos e nem sempre discutidos e/ou aplicados nos contextos das instituições. Porém,
autores como Stoner e Freeman (1999 apud WACHOWICZ, 2011) abordam que as
questões éticas devem ser encaradas em tudo aquilo que contempla as atividades
executadas em uma instituição, haja vista que é justamente o que envolve as regras
básicas do comportamento das pessoas que integram a instituição, mas alertam para o
fato de que praticar a ética é um trabalho dificultoso, pois faz-se necessário o
questionamento das regras que nós mesmos trazemos enquanto sujeitos e assim nos
deparemos com a busca pela melhora destas.
Antes de avançar nesse estudo, é necessário indagar: há uma única ética correta,
aplicável a uma determinada situação, ou a ética é passível de interpretação diversa em
função de fatores circunstanciais? E ainda, existem valores universais que se aplicam a
todos os povos de todos os tempos ou os valores éticos são relativos?
O mundo presente vive mergulhado no relativismo ético. Sob a égide do
relativismo, a ética torna-se subjetiva, sendo impossível chegar a qualquer conclusão
78
objetiva e permanente. Esse é o grande dilema e limitação do mundo moderno: a ética
esqueceu as suas origens como estudo filosófico, na Grécia clássica, sob a luz da
sabedoria de Sócrates.
Assim, torna-se imprescindível que a atuação profissional seja pautada em
normatizações e padronizações, até mesmo como forma de lidar com os embates éticos
que se desenvolvem nas relações estabelecidas nos ambientes de trabalho. Como forma
de sistematizar, padronizar e direcionar estas práticas, foi instituído em 24 de abril do
ano de 2020, o “Manual de Procedimentos Operacionais: normas e rotinas de segurança
para unidades prisionais do Estado do Pará”.
Neste, é possível ter acesso aos diversos procedimentos operacionais e de
segurança a serem aplicados no âmbito do sistema penitenciário do Estado, bem como
da sistematização das práticas vivenciadas nas unidades prisionais a partir da adoção de
protocolos de atuação funcional que observam regras de segurança, custódia,
movimentação de pessoas privadas de liberdade, dentre outros aspectos essenciais à
regularidade do ambiente carcerário.
Tendo isso em vista, o Manual de Procedimentos Operacionais não poderia
deixar de tratar sobre a importância de manter a ética profissional e a urbanidade no dia
a dia laboral dos profissionais que atuam no Sistema Penitenciário.
2 MANUAL DE PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS DA SEAP (Portaria GM
368/2020 – GAB/SEAP/PA)
2.1 DA ÉTICA PROFISSIONAL E URBANIDADE
No âmbito do estudo principalmente da filosofia e ciências sociais, a disciplina
da ética trata dos pressupostos que orientam e motivam o comportamento do ser
humano, a partir do exercício reflexivo dos valores histórico-culturais, normas e
referências presentes na realidade de um indivíduo, grupo ou sociedade. Assim, o
comportamento/pensamento ético se baseia nas escolhas que o homem faz, enveredadas
para o caminho da virtude, justiça e retidão.
Nesse sentido, a ética profissional vem a ser um dos aspectos mais valorizados
tanto no ambiente de trabalho, como no meio social. Logo, o profissional que apresenta
conduta ética conquista respeito, credibilidade e confiança quanto às ações por ele
desenvolvidas.
No âmbito do serviço público, todas as atividades governamentais atingem as
vidas e rotinas dos cidadãos, circunstância que, per si, requer a observância dos
pressupostos éticos por parte dos servidores públicos, a fim de que o cidadão possa
visualizar a moralidade, impessoalidade, eficiência de forma concreta.
79
Nesse ínterim, o servidor penitenciário necessita pautar sua conduta com estrita
observância dos preceitos éticos, seja no exercício da função, ou fora dela, além de ter a
plena sensibilidade de que o trabalho exercido é regido por princípios que se
concretizam na adequada resolução de problemas e prestação dos serviços públicos.
Exercer um ofício no âmbito do sistema prisional não é fácil, configura-se uma
das mais espinhosas e árduas tarefas, já que os níveis altos de tensão demandam que os
servidores estejam 24h em estado de alerta e prontidão, sendo extremamente necessária
a implementação de procedimentos operacionais e rotinas de comportamento (não
mecanizadas) para tornar o ambiente organizado, com fluidez dos serviços e respeito
pelas normas e valores instituídos.
Hoje, a ética, para além de uma virtude enraizada na conduta do indivíduo,
tornou-se estratégia organizacional, em que os profissionais necessitam melhorar
diariamente suas habilidades, trazendo para suas rotinas concepções de liderança,
trabalho em equipe, planejamento, fortalecimento das relações interpessoais e
gerenciamento de crises.
2.2 PRESSUPOSTOS ÉTICOS APLICADOS À ATIVIDADE DO SERVIDOR
PENITENCIÁRIO
Ainda segundo o Manual de Procedimentos Operacionais da SEAP, os
pressupostos éticos que devem embasar as práticas profissionais do conjunto de
servidores que fazem parte do sistema penitenciário do Pará constam nos tópicos a
seguir:
a) Reconhecimento da importância de seu papel na sociedade e de protagonismo no
âmbito da segurança pública, com a consequente consciência da nobreza e da dignidade
de sua função;
b) Conduta compatível com a moralidade, probidade e eficiência administrativas;
c) Observância e respeito aos direitos humanos, à dignidade, à humanização da pena, às
assistências e aos princípios que regem o Estado Democrático de Direito;
d) Zelo pela instituição, denunciando e afastando-se da ineficiência, improbidade e da
corrupção;
e) Zelo pelo preparo próprio, moral, intelectual e físico;
f) Capacidade de agir de forma imparcial, diferenciando as relações pessoais das
profissionais, para que não subsistam interferências negativas na condução do serviço;
g) Capacidade de agir de forma ilibada na vida pública e particular;
h) Preservação do sigilo sobre toda e qualquer comunicação / informação sensível /
documentação reservada que possa causar implicações ao regular andamento da gestão
80
prisional ou colocar em risco a integridade de agentes públicos, familiares, presos,
serventuários, autoridades, etc.;
i) Atuação com responsabilidade técnica e perícia profissional em situações de crise no
ambiente prisional;
j) Atuação com imparcialidade e profissionalismo, estabelecendo limites nas relações
com presos e familiares, primando pela objetividade e impessoalidade nas rotinas
diárias.
Nota-se que os pontos abordados acima estão intimamente alinhados aos
Princípios que regem a Administração Pública, quais sejam: Legalidade, Moralidade,
Impessoalidade, Publicidade e Eficiência, e que, portanto, devem ser seguidos pelos
servidores públicos no exercício de suas funções, até mesmo para que cumpram
efetivamente e com excelência a missão institucional da SEAP, a saber: “Planejar,
coordenar, implementar, fiscalizar e executar a custódia, reeducação e reintegração
social de pessoas presas, internadas e egressos”, em cumprimento ao disposto na Lei
Federal nº 7.210, de 11 de julho de 1984 - Lei de Execução Penal.
3 PRINCÍPIOS ÉTICOS APLICADOS À ATIVIDADE DO AGENTE
PENITENCIÁRIO
Em se tratando especificamente dos servidores que ocupam o cargo de agente
penitenciário, outro importante material que embasa o seu fazer profissional é o Manual
do Agente Penitenciário, texto elaborado pelo DEPEN que traz dentre outros conteúdos,
os princípios éticos que norteiam a prática profissional deste servidor, elencando, então,
os seguintes pontos:
01 – O Agente Penitenciário é, antes de tudo um cidadão, e na cidadania deve permear
sua razão de ser. Em suas relações sociais deverá também, igualar-se a todos os cidadãos
da comunidade em direitos e deveres;
02 – O Agente Penitenciário deve ser um profissional qualificado, simbolicamente um
referencial para o bem estar da sociedade;
03 – Reconhecer a importância de seu papel social, com a conseqüente consciência da
nobreza e da dignidade da sua função;
04 – Respeitar os direitos humanos, a segurança, a vida, a integridade física e moral;
05 – Resguardar a visibilidade moral como forte argumento de sua responsabilidade;
06 – Ter uma dimensão pedagógica no agir, inserindo-a com primazia no rol de suas
atividades;
07 – Manter atitudes coerentes e moralmente retas no ambiente profissional, não
permitindo atitudes perversas;
08 – Caracterizar-se pela honestidade e probidade no exercício das atividades;
81
09 – Intervir preventivamente ou repressivamente com responsabilidade técnica em
momentos de crise, sempre fundamentado na moralidade;
10 – Intervir pelo uso de meios de contenção física e da autoridade, na exata e
necessária medida, devendo estas cessar ao atingir o objetivo da ação;
11 – Guardar sigilo sobre toda e qualquer comunicação que possa causar prejuízos ou
embaraços à administração em geral ou às pessoas e entidades;
12 – Estabelecer limites de relacionamentos com presos e seus familiares;
13 – Zelar pela instituição, denunciando e afastando-se da ineficiência e da corrupção;
14 – Alicerçar as ações tendo por princípio os instrumentos legais;
15 – Buscar a motivação em sua atividade, através do aperfeiçoamento pessoal e
profissional;
16 – Promover no exercício da profissão através da interdisciplinaridade, a busca
constante de melhores resultados.
Tendo tais princípios em vista, é possível desempenhar as inúmeras atribuições
referentes ao cargo que ocupa com eficácia, efetividade e excelência, e assim,
contribuindo para que o Sistema Penitenciário realize um trabalho exitoso ao custodiar e
ressocializar pessoas.
4 ATRIBUIÇÕES DO AGENTE PENITENCIÁRIO
Ainda citando o Manual do Agente Penitenciário, outro aspecto abordado é a
descrição básica das atribuições de um agente penitenciário, conforme o que dispõe a
Resolução n. 3027/04-SEAP - PR:
Efetuar a segurança da Unidade Penal em que atua, mantendo a
disciplina. Vigiar, fiscalizar, inspecionar, revistar e acompanhar
os presos ou internados, zelando pela ordem e segurança deles,
bem como da Unidade Penal.
Nessa esteira, o trabalho do policial penal está voltado para a segurança das
unidades prisionais onde estejam lotados, bem como ao público que nela se encontra,
seja as pessoas privadas de liberdade (PPL), seus familiares nos dias de visitas e os
demais servidores que ali atuam, bem como advogados e outros profissionais que
porventura precisem exercer suas funções no Sistema. Igualmente, nas situações em que
o deslocamento da PPL se faz necessário, o policial penal atuará mantendo a segurança
no acompanhamento desta.
Sendo assim, o referido manual enumera as atividades e procedimentos que um
agente penitenciário deverá executar no exercício de sua função, quais sejam:
82
1. Participar das propostas para definir a individualização da pena e tratamento
objetivando a adaptação do preso e a reinserção social;
2. Atuar como agente garantidor dos direitos individuais do preso em suas ações;
3. Receber e orientar presos quanto às normas disciplinares, divulgando os direitos,
deveres e obrigações conforme normativas legais;
4. Revistar presos e instalações;
5. Prestar assistência aos presos e internados encaminhando-os para atendimento nos
diversos setores sempre que se fizer necessário;
6. Verificar as condições de segurança comportamental e estrutural, comunicando as
alterações à chefia imediata;
7. Acompanhar e fiscalizar a movimentação de presos ou internados no interior da
Unidade;
8. Acompanhar presos em deslocamentos diversos em acordo com as determinações
legais;
9. Efetuar a conferência periódica dos presos ou internados de acordo com as normas de
cada Unidade;
10.Observar o comportamento dos presos ou internados em suas atividades individuais
e coletivas;
11. Não permitir o contato de presos ou internos com pessoas não autorizadas;
12. Revistar toda pessoa previamente autorizada que pretenda adentrar ao
estabelecimento penal;
13. Verificar e conferir os materiais e as instalações do posto, zelando pelos mesmos;
14.Controlar a entrada e saída de pessoas, veículos e volumes, conforme normas
específicas da Unidade;
15.Conferir documentos, quando da entrada e saídas de presos da unidade;
16.Operar o sistema de alarme, monitoramento audiovisual e demais sistemas de
comunicação interno e externo;
17.Executar outras atividades correlatas.
5 DIMENSÕES DO AGIR PROFISSIONAL
Segundo o Manual disponibilizado pelo DEPEN, o funcionário que trabalha no
Sistema Penitenciário realiza um importante serviço público de alto risco, por
salvaguardar a sociedade civil contribuindo através do tratamento penal, da vigilância e
custódia da pessoa privada de liberdade no sistema penitenciário durante a execução da
83
pena de prisão ou de medida de segurança, conforme determinadas pelos instrumentos
legais.
Desta sorte, existe a necessidade de que os agentes penitenciários apresentem um
perfil adequado para o efetivo exercício da função, o que requer um engajamento e um
compromisso para com a instituição a que pertençam, devendo apresentar atitudes
estratégicas e criteriosas, para corroborar com mudanças no tratamento da PPL, e
realizá-las conforme a legalidade e a ética.
O agente penitenciário precisa desenvolver, então, ao longo de sua prática
operacional, um perfil profissional que possa contemplar de forma eficaz o exercício de
função tão importante para a sociedade. Para Thomphson (1980), é necessário ainda que
este profissional tenha a humildade de reconhecer a sua incapacidade em relação aos
meios capazes de transformar criminosos em não criminosos, visto que existem
determinadas variáveis que tendem a impedir que essa mudança se efetive, parecendo
provável, inclusive, que algumas delas até contribuam para o aumento da criminalidade
e da violência em nossa sociedade. Até mesmo porque, esta é uma questão que não se
restringe às práticas profissionais dos agentes penitenciários somente, mas envolve
múltiplos fatores que estão para além do próprio Sistema Penitenciário.
Enfim, aos agentes penitenciários caberá reconhecer as contradições inerentes à
própria função; as possíveis orientações que variam conforme os pressupostos
ideológicos de cada administração, pois devem transcender a estas questões a fim de
contribuir para a promoção da cidadania e assumir-se como protagonista de seu papel de
ordenador social, de funcionário público ético. Para tanto, o Manual do Agente
Penitenciário lista as seguintes habilidades e competências que um agente deverá
desenvolver para executar as suas atribuições:
01 – APTIDÃO: que tenha disposição inata, um dom natural de lidar com pessoas;
02 – HONESTIDADE: que seja íntegro. Precisa ser parte exemplar da instituição a que
pertença e conduta inatacável;
03 – CONHECER FUNÇÕES E ATRIBUIÇÕES: distinguir com clareza uma ação
própria, de seus direitos e prerrogativas;
04 – RESPONSABILIDADE: que tenha capacidade de entendimento ético e uma
determinação moral;
05 – INICIATIVA: que seja capaz de propor ou empreender ações iniciais e principiar
conhecimentos;
06 – DISCIPLINA: que sua observância dos preceitos ou normas seja uma ação
natural;
07 – LEALDADE: que não seja apenas sincero e franco, mas principalmente fiel aos
seus compromissos e honesto com seus pares;
84
08 – EQUILÍBRIO EMOCIONAL: que sua estabilidade mental seja definida por
ações comedidas e prudentes;
09 – AUTORIDADE: que não tenha apenas direito ao poder, mas que tenha o encargo
de respeitar as leis com competência indiscutível;
10 – LIDERANÇA: que seu comando tenha tom condutor, um representante de um
grupo;
11 – FLEXIBILIDADE: que a destreza, bom senso e transigência estejam sempre a
serviço do bem comum;
12 – CRIATIVIDADE: que sua capacidade de criação e inovação possa superar as
adversidades;
13 – EMPATIA: que saiba sempre se colocar no lugar do outro, antes de uma decisão
importante;
14 – COMUNICABILIDADE: que se comunique de forma expansiva e franca;
15 – PERSEVERANÇA: que seja firme e constante em suas ações e ideais.
6 O ESPAÇO DO TRABALHO NAS UNIDADES PENITENCIÁRIAS
ESTADUAIS: EQUIPES E COMUNICAÇÃO
EQUIPES INTEGRADAS, UNIDADES EFICIENTES E SEGURAS.
6. 1 CONCEITOS DE GRUPO E EQUIPE
Wachowicz (2011) aborda não ser mais possível que em pleno século XXI ainda
exista algum profissional que atue de forma isolada e sem depender de outros para
executar suas funções, e traz como a base da estrutura das organizações a divisão
abaixo:
• Micro-organizacional: corresponde a pessoas ou indivíduos que compõem uma
organização.
• Meso-organizacional: diz respeito a setores, departamentos ou grupos que
fazem parte de determinada organização.
• Macro-organizacional: corresponde à organização como um todo.
Ao trazer essa classificação para a realidade do sistema penitenciário, é possível
verificar que o conceito de micro-organizacional corresponde aos servidores
penitenciários que atuam nas diversas unidades do sistema. Já a ideia de meso-
organizacional está atrelada aos vários setores e departamentos que compõem a SEAP,
ao passo que a definição de macro-organizacional volta-se para a Secretaria de
Administração Penitenciária como um todo.
85
Para Spector (2010 apud WACHOWICZ, 2011) um grupo de trabalho se forma
através da união de duas ou mais pessoas que ao interagirem umas com as outras,
também dividem tarefas e apresentam objetivos que se inter relacionam.
Por se tratar de uma instituição constituída por pessoas, que juntas, formam
grupos, faz-se relevante diferenciar os conceitos de grupo e equipe, apesar de ambos
estarem interligados de alguma forma. O dicionário Aurélio (2010, p. 216), traz a
seguinte definição de equipe: “grupo de pessoas que juntas participam duma competição
esportiva ou se aplicam a uma tarefa ou trabalho”.
Donnellon (2006, p. 4) indica que equipe é um “grupo de pessoas organizadas de
forma a trabalhar em conjunto, ou como um grupo que executa tarefas semelhantes ou
se reporta a uma mesma pessoa”, explicitando assim, que é possível construir uma ou
mais equipes a partir de um grupo de pessoas que tenham tarefas e objetivos comuns a
serem alcançados.
Segundo Wagner III e Hollenbeck (2006, p. 171), equipe “é um tipo especial de
grupo em que, entre outros atributos, evidencia-se elevada interdependência na execução
das atividades”. Isso significa que um grupo não necessariamente é uma equipe, haja
vista ser indispensável que o mesmo mantenha certos aspectos, como é o caso da
interdependência pelas pessoas que o compõem.
Apesar disso, um grupo pode se transformar em uma equipe, desde que exista a
busca pela mudança por parte das pessoas envolvidas e que estas se utilizem de
estratégias de diálogo, apaziguamento, negociação para o enfrentamento e solução das
adversidades que emergem no ambiente em que esteja inserido (MOSCOVICI, 1999).
Em resumo, grupo e equipe são termos que se distinguem pela forma em que as
tarefas são realizadas. Ao passo que os grupos agem de maneira individualizada, as
equipes atuam de forma integrada, firmando uma visão compartilhada do que deve ser
feito pelos membros que a compõem, e conseguindo estabelecer um vínculo de sinergia
(WACHOWICZ, 2011).
Por sua vez, sinergia é uma definição derivada do grego synergia, que
significa,cooperação sýn, juntamente com érgon, trabalho, e é conceituada como o efeito
ativo e retroativo do trabalho ou esforço coordenado de vários subsistemas na realização
de uma tarefa complexa ou função. Para que o servidor compactue com as necessidades
da organização a qual pertença é preciso que essa sinergia seja autêntica, que se firme
uma relação de cumplicidade entre esses atores e que isso parta de cada um deles, a fim
de que o setor interaja de forma pacífica, harmoniosa e criativa (WACHOWICZ, 2011).
Diante desse cenário, Donnellon (2006, p. 5) classificou o conceito de equipe em
cinco tipos, como pode ser observado na Tabela 1 a seguir:
6.2 TIPOS DE EQUIPE
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Tabela 1: Tipos de equipes e suas descrições
Tipos de equipes Descrição da equipe
Equipe funcional Um grupo organizado que se reporá a um único
chefe e pode ou não ser obrigado a trabalhar em
conjunto, para atingir os objetivos do grupo.
Equipe multifuncional Um grupo formado por membros provenientes de
diferentes áreas de uma mesma organização cujo
tempo é em parte dedicado ao trabalho em equipe e,
em parte, dedicado a outras responsabilidades
funcionais.
Equipe de ataque Um grupo formado por membros provenientes de
diferentes áreas de uma mesma organização cujo
tempo é totalmente dedicado ao trabalho em equipe.
Equipe ad-hoc ou força tarefa Um grupo temporariamente reunido, a fim de
resolver determinado problema ou aproveitar
determinada oportunidade.
Comitê ou comissão Um grupo constituído em caráter permanente, que
desenvolve e monitora determinada filosofia ou
política de trabalho ou ainda um conjunto de
procedimentos.
Fonte: DONNELLON, 2006.
Diante das mudanças constantes nos ambientes organizacionais, equipes de alto
desempenho necessitam desenvolver habilidades extras para que possam interagir na
busca de um mesmo objetivo e ainda adquirindo sucesso. Tais habilidades associadas a
um senso de responsabilidade coletivo, experiências e motivação empoderam de tal
maneira o grupo e tornam-no capaz de agir com presteza diante da dinâmica
organizacional e assim obtendo melhores resultados na execução das tarefas.
Mas, manter essa convivência em comunidade, na família, nas equipes e grupos
em geral nem sempre é uma tarefa simples, haja vista que requer das pessoas certo
manejo para enfrentar determinadas questões como a frustração, o medo, os conflitos, as
falhas na comunicação, dentre outros (WACHOWICZ, 2011). Isso ocorre devido ao fato
de que, cada ser humano é singular e traz consigo sua história de vida, aspectos de sua
personalidade, crenças, conflitos internos e tantos outros aspectos que o constituem, e,
no lidar com outros seres humanos, é inevitável que as diferenças apareçam.
Neste contexto, a cooperação para obtenção de um objetivo comum é a base da
sociedade humana (MARK, 2002), pois entende-se que, ainda que existam diferenças
entre nós, seres humanos, é possível nos relacionar uns com os outros, assim como
aprender com as trocas afetivas, de conhecimentos e de experiências que fazemos
através das nossas relações. No ambiente de trabalho, é preciso ter clareza que a ação de
um servidor penitenciário vai influenciar nas ações dos demais e, consequentemente,
afetar o objetivo a ser atingido. Desse modo, o trabalho isolado torna-se danoso e até
87
mesmo pode oferecer riscos diversos, já que estamos nos referindo à atuação
profissional no âmbito da segurança pública.
Os atos de contribuir e de cooperar para atingir o objetivo em comum de um
grupo de trabalho são indispensáveis para formar uma equipe, sendo que tal
transformação somente se dá a partir do momento em que os sujeitos sentem-se
motivados para participarem e persistirem em determinada equipe, ainda que percebam
que não precisam necessariamente concordar em tudo (CHIAVENATO, 2005).
Executar processos e construir projetos de forma eficiente e em alto nível requer
empenho no aprimoramento de algumas qualidades. São elas:
a. Autogerenciamento: todos os membros da equipe devem conhecer claramente as
funções a ele destinadas e saber como executá-las de forma eficiente.
b. Antecipação: os membros necessitam de uma visão ampla, sistêmica, e possuir a
percepção para variáveis que venham a surgir, criando maneiras objetivas, criativas e
eficazes de lidar com elas, cientes de que há situações que podem ser evitadas ou
controladas já que dependem exclusivamente de fatores internos e também existem
contingências inevitáveis, pois organizações estão inseridas em ambientes que sofrem
influências externas e para tais a equipe deve estar preparada para enfrentá-las. Em
ambos os casos deve-se evitar ao máximo o improviso, cercando-se o quanto possível de
um ambiente seguro.
c. Adaptação: a capacidade de se adaptar é essencial, encarar o imprevisível de maneira
positiva. Os ambientes organizacionais estão em constante mudanças e adaptar-se a elas
é muito importante, essencial mesmo.
d. Cooperação: a individualidade deve dar lugar à cooperação e o trabalho em equipe.
Juntos um grupo se torna forte e mais capaz.
e. Desenvolvimento: constante treinamento, capacitação e aperfeiçoamento deve ser
preocupação prioritária para uma equipe que pretende se manter com alta performance e
evolução. Nesse contexto deve-se considerar a importância de preparar pessoas para
sucessão garantindo assim a continuidade, o nível de excelência e a vantagem
competitiva das organizações.
f. Desenvolver e motivar: o espírito empreendedor de cada membro das equipes,
estimulando para que a criatividade dentro das empresas seja potencializado.
g. Empowerment: a liberdade dada aos membros da equipe para que tragam e
exponham suas ideias, conhecimentos, experiências e motivação é extremamente bem
vinda, pois enriquece o capital intelectual de toda a equipe que compartilhará das
informações.
h. Diversidade: diferentes tipos de pessoas formam uma Equipe de Alta Performance,
apresentam diferentes habilidades, complementando-se e aprimorando o trabalho, com o
potencial de cada um. Talentos individuais, juntos, podem resultar em tarefas bem
sucedidas.
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i. Relacionamento e Feedback: é imprescindível que cada membro saiba respeitar o
outro e criar uma relação de confiança. Pessoas possuem crenças, culturas e valores
diferentes, o que resulta em comportamentos diversos. Para que pessoas diferentes
possam conviver em harmonia, o uso do feedback e a redução dos ruídos na
comunicação são ferramentas bastante eficazes promovendo o desenvolvimento dos
membros e evidenciando a diferenciação entre processos e pessoas.
j. Interdependência: uns auxiliando os outros, esforço conjunto e cada um caminhando
para que juntos alcancem um mesmo objetivo. Foco sempre no futuro, enxergar além o
horizonte, criar estratégias embasadas no máximo possível de informações seguras, e
mesmo tentar prever e/ou reagir em improváveis cenários.
Estar ciente da diversidade de personalidades e que todos possuem autonomia,
expressam suas opiniões sem objeções, potencializa o nível intelectual dos diálogos nas
organizações, assim como o ato de identificar e investir em fatores motivacionais para
os membros de uma equipe, considerando a importância de sua realização pessoal,
facilita a promoção de um ambiente amistoso de parceria e colaboração.
7 COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL E RELACIONAMENTO PROFISSIONAL
Sabe-se que antes mesmo do nosso nascimento, a forma como nossos pais ou
responsáveis interage e se comunica conosco influencia sobremaneira em nosso
desenvolvimento e amadurecimento enquanto sujeitos. Ao nascermos, somos totalmente
dependentes do outro para a manutenção de nossas vidas, e isso acontece desde questões
simples, como os cuidados básicos de que necessitamos, até as mais complexas.
Um desses importantes aspectos da nossa existência diz respeito à forma como
expressamos a nossa comunicação. Esta é definida pelo dicionário Aurélio como um
“fazer saber, tornar comum, participar”. E, podemos fazê-lo através de duas formas,
quais sejam: verbal, expressada mediante palavras escritas e/ou faladas, e a não-verbal,
manifestada através de símbolos, gestos, imagens e expressões faciais e corporais.
No ambiente de trabalho, a comunicação precisa ser oportunizada para que
lideranças e integrantes de uma equipe conversem claramente sobre as questões
envolvidas no cotidiano da instituição. Nestes encontros, são valorizadas as trocas
simultâneas de informações, o feedback e o esclarecimento de dúvidas importantes,
necessitando que se façam presentes alguns aspectos básicos, conforme os estudos de
Robbins (2002 apud WACHOWICZ, 2011). São eles:
• Emissor: sujeito ou fonte da mensagem.
• Receptor: objeto a quem a mensagem é dirigida.
• Canal: meio pelo qual a mensagem é enviada.
• Mensagem: unidade básica da comunicação, é o produto real da codificação da
fonte (emissor).
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• Informacao: conteúdo da mensagem. A informação difere do conceito de
“dão” por encerrar uma organização e um processamento que a tornam imediatamente
consumível, ao contrário de “dado” que é potencialmente disponível.
• Código: padrão comum da comunicação convertido em um conjunto de signos
onde emissor e receptor compreendam.
• Sinal: signo antecipadamente convencionado ou inteligível que transmite
informação.
• Feedback: retorno ou devolução do receptor à mensagem enviada pelo
emissor.
• Ruido: distorção na transmissão da mensagem.
• Sistema: conjunto complexo organizado por partes interativas.
A comunicação é um aspecto inerente às relações que construímos com outras
pessoas e, no âmbito das instituições pode ser uma potente aliada ou mesmo algo danoso
aos processos de trabalho, a depender da forma como a equipe utiliza a comunicação
para executar as tarefas, solucionar os problemas e tomar decisões.
Moscovici (1985) conceitua as relações interpessoais como todos os contatos que
ocorrem entre sujeitos em diferentes circunstâncias e espaços, como a família ou uma
equipe de trabalho, e que envolvem comportamentos variados, sentimentos e emoções.
Desse modo, em uma equipe de trabalho as pessoas invariavelmente exprimem suas
ações, expondo-se de diversas maneiras, como no modo como falam, calam, riem, etc.
Talvez uma das tarefas mais complexas e desafiadoras para os profissionais na
atualidade está em se relacionar com os colegas de trabalho, pois precisam lidar
cotidianamente com pessoas diferentes, e que muitas vezes, passam mais tempo juntas
do que com sua própria família. Logo, sentir-se minimamente bem com quem se passa
mais tempo é fundamental para se ter motivação no ambiente de trabalho. Aliás,
conviver com pessoas de uma maneira sinérgica não é uma tarefa muito simples e
tampouco restrita às chefias, mas sim de todos que estão no setor (WACHOWICZ,
2011).
7.1 CONFLITOS NA INTERAÇÃO
Os conflitos que podem se desencadear nas relações interpessoais estabelecidas
nos ambientes laborais são de duas formas (SCHERMERHORN, 1999 apud
WACHOWICZ, 2011). São elas:
a) Conflitos verticais: correspondem às desavenças entre pessoas de níveis
hierárquicos diferentes;
b) Conflitos horizontais: ocorrem quando as desavenças são entre pessoas de
mesmo nível de hierarquia.
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Como vimos, os conflitos são algo comum às relações humanas e podem se
estabelecer nos mais diversos grupos. É importante que se saiba não somente identificá-
los quando os mesmos ocorrerem, mas manejá-los de forma que eles acarretem menos
danos possíveis, e possa, inclusive, se tornar algo produtivo ao favorecer algum
aprendizado.
Moscovici (1999 apud WACHOWICZ, 2011) divide em quatro as maneiras que nós
temos de “lidar com os conflitos”, quais sejam:
a) evitar o conflito: apenas é eficaz caso a pessoa o utilize de forma pontual, mas
se for utilizado reiteradas vezes, pode ocasionar em prejuízos na sinergia da
equipe.
b) reprimir o conflito: ao fingir que as situações incômodas não existem, a longo
prazo, poderá incorrer em desavenças maiores ainda, acarretando danos para a
sinergia da equipe.
c) aguçar as divergências: pode ser utilizada para avaliar o lugar que cada um
ocupa no grupo, mas deve-se atentar ao risco de intensificar as diferenças
entre as pessoas, e consequentemente, ocasionar em danos para a sinergia.
d) transformar as diferenças em resolução de problemas: considerada o modo
mais adequado e eficiente de lidar com situações conflituosas, justamente por
exigir das pessoas a construção de habilidades importantes de resolução das
questões da equipe, que ao serem discutidas e resolvidas, acabam por
reafirmar a sinergia da equipe.
Tendo isso em vista, faz-se fundamental reconhecer quando um conflito pode ser
danoso às pessoas e à instituição de uma forma geral, e assim, favorecer a construção de
estratégias importantes a fim de solucioná-los e dar continuidade na execução das
atividades, sendo que se trata de um papel a ser assumido por cada pessoa, afinal, cada
um traz consigo habilidades e conhecimentos que precisam emergir a favor de sua
própria atividade, e ainda, para atingir os objetivos da equipe a qual pertence, e
consequentemente, da instituição a qual faz parte.
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