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7/23/2019 Texto Nacional Desenvolvimentismo as Avessas 14-09-11 PDF
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Governo Lula e o Nacional-desenvolvimentismo s Avessas
Reinaldo Gonalves114 setembro 2011
Introduo
Este artigo tem como objetivo discutir a seguinte hiptese: no Governo Lula h o
que se pode denominar Nacional-desenvolvimentismo s Avessas. Portanto, este
trabalho uma crtica aos analistas que identificam trs traos distintivos do Governo
Lula: (i) grandes transformaes (Sader e Garcia, 2010); (ii) reverso de tendncias
estruturais (Mercadante, 2006); e (iii) predominncia da viso desenvolvimentista nas
polticas do governo a partir de 2005 (Barbosa e Dias, 2010).O Nacional-desenvolvimentismo (ND) pode ser conceituado, de forma
simplificada, como o projeto de desenvolvimento econmico assentado no trinmio:
industrializao substitutiva de importaes, intervencionismo estatal e nacionalismo. O
ND , na realidade, uma verso do nacionalismo econmico; ou seja, a ideologia do
desenvolvimento econmico assentado na industrializao e na soberania dos pases da
Amrica Latina, principalmente, no perodo 1930-80.2 Na perspectiva da Economia
Poltica, o ND significa deslocar o poder econmico e poltico na direo da burguesiaindustrial em detrimento dos grandes proprietrios de terras e recursos naturais
(Oliveira, 1981, p. 38).
No plano estratgico o ND tem como foco o crescimento econmico, baseado na
mudana da estrutura produtiva (industrializao substitutiva de importaes) e na
reduo da vulnerabilidade externa estrutural. Este ltimo aspecto est assentado nos
1 Professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro. reinaldogoncalves1@gmail.com.
http://www.ie.ufrj.br/hpp/mostra.php?idprof=772 Entretanto, o pensamento desenvolvimentista pode ser encontrado no Brasil no perodo colonial, napoca do Imprio e no perodo republicano que antecede a revoluo de 1930 (Fonseca, 2004, p. 226;Luz, 1975; Lima, 1976). Para ilustrar, Alves Branco est associado industrializao em meados dosculo XIX, Amaro Cavalcante ao nacionalismo e Rui Barbosa ao intervencionismo no final do sculoXIX. Pilares do desenvolvimentismo aparecem, por exemplo, no nacionalismo agrrio e nointervencionismo antiindustrialista em defesa do caf. A anlise da gnese e evoluo do ND no podetambm negligenciar a histria intelectual nem as experincias de industrializao e desenvolvimentoeconmico no mundo. As razes do pensamento desenvolvimentista no Brasil (nacionalismo,intervencionismo e defesa da indstria) esto nas ideologias e polticas de desenvolvimento econmico,por exemplo, na Gr-Bretanha nos sculos XVI (Henrique XVII e Elizabete I) e XVII (Robert Walpole),Frana no sculo XVII (Jean-Baptiste Colbert), Estados Unidos no final do sculo XVIII (Alexander
Hamilton) e na primeira metade do sculo XIX (Henry C. Carey) e na Alemanha no sculo XIX(Friedrich List).
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seguintes pilares: (i) alterao do padro de comrcio exterior (menor dependncia em
relao exportao de commodities, mudana na estrutura de importaes e reduo
do coeficiente de penetrao das importaes industriais); (ii) encurtamento do hiato
tecnolgico (fortalecimento do sistema nacional de inovaes), e; (iii) tratamento
diferenciado para o capital estrangeiro (ou seja, ausncia de tratamento nacional via, por
exemplo, discriminao nas compras governamentais, restrio de acesso a
determinados setores, imposio de critrios de desempenho e restrio na obteno de
incentivos governamentais). Vale notar que o ND reserva papel protagnico para o
capital nacional industrial e para o investimento estatal, ainda que conte com suporte do
financiamento e investimento externos. Ou seja, em termos estratgicos, o ND envolve
mudanas nas estruturas de produo, comrcio exterior e propriedade.3
No plano da poltica econmica o ND implica, antes de tudo, planejamento
econmico, poltica comercial protecionista, poltica industrial pr-ativa (incentivos ao
investimento privado na indstria de transformao), investimento estatal nos setores
bsicos, preferncia revelada pelo capital privado nacional e subordinao da poltica de
estabilizao macroeconmica poltica de desenvolvimento.4 Esta subordinao pode
se expressar em poltica fiscal expansionista, juro real negativo, expanso de crdito
seletivo e cmbio diferenciado.5
O objetivo central deste texto demonstrar empiricamente que as estratgias e
polticas no Governo Lula tm resultados que so consistentes com o que se pode
chamar de Nacional-desenvolvimentismo s Avessas. Ou seja, no Governo Lula ocorre
o nacional-desenvolvimentismo com sinal trocado visto que a conduta do governo, o
desempenho da economia e as estruturas de produo, comrcio exterior e propriedade
caminham no sentido contrrio ao que seria o projeto nacional-desenvolvimentista. A
3
Na tradio desenvolvimentista o pensamento da CEPAL dos anos 1950-60 no se posiciona claramenteem relao ao papel do capital estrangeiro na industrializao substitutiva de importaes (Gonalves,1984, p. 349). Neste perodo, os eixos estruturantes do pensamento cepalino so: desemprego estrutural,deteriorao dos termos de troca e desequilbrio externo.
4 Ver Bielschowsky (1988, p. 155). No entanto, alm de haver controvrsia a respeito do prprio conceitode nacional-desenvolvimentismo, no evidente o papel secundrio da poltica de estabilizaomacroeconmica no pensamento desenvolvimentista no Brasil tanto no sculo XIX como no sculo XX(Fonseca, 2004, p. 225-226).
5 No debate atual, no conjunto das 5 principais diferenas entre o antigo Nacional-desenvolvimentismo eo Novo-desenvolvimentismo h duas que se referem questo da estabilizao macroeconmica (BresserPereira, 2011, p. 14). Para uma crtica do Novo-desenvolvimentismo, ver Castelo (2010). Na Amrica
Latina o neoestruturalismo da CEPAL transformao produtiva com eqidade , com traosdesenvolvimentistas, recebe crtica de Carcanholo (2010.a).
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anlise emprica est dividida em oito partes: estrutura produtiva; padro de comrcio;
progresso tcnico; origem de propriedade; competitividade internacional;
vulnerabilidade externa; concentrao de capital; e dinmica financeira.
1. Estrutura produtiva: Desindustrializao e dessubstituio de importaes
A desindustrializao pode ser definida como a tendncia de queda da relao
entre o valor adicionado na indstria de transformao e o PIB. 6 Nos pases em
desenvolvimento a desindustrializao prematura e resulta do vis de deslocamento da
fronteira de produo na direo dos produtos intensivos em recursos naturais. Este
deslocamento ocorre, principalmente, na fase ascendente dos preos das commodities no
mercado mundial. 7
A participao da indstria de transformao no PIB no Brasil reduz-se de 18%
em 2002 para 16% em 2010 (IEDI, 2011). A taxa mdia anual de crescimento do PIB
real de 4,0% no perodo 2003-10. Neste perodo, a taxa de crescimento real do valor
adicionado da minerao 5,5%, da agropecuria 3,2% e da indstria de
transformao 2,7%. Os diferenciais entre estas taxas de crescimento informam, de
fato, um processo de desindustrializao da economia brasileira no Governo Lula
(Tabela 1, cols. 2-5).
Vale destacar que a participao do Brasil no valor adicionado da indstria de
transformao mundial caiu de 2,5% no perodo 1990-99 para 2,3% em 2000-07 (CNI,
2011, p. 15). E, ademais, nestes perodos a participao do Brasil no PIB mundial se
mantm estvel, enquanto aumentam as participaes dos setores de minerao e
agropecuria do pas nos respectivos valores adicionados nestes setores em escala
mundial. Ou seja, em termos comparativos, a fronteira de produo do Brasil tem vis
pr-minerao e pr-agropecuria e anti-indstria de transformao.
6 Este o conceito predominante no debate (Shafaeddin, 2005, p. 17); ou seja, a questo central a perdade peso relativo da indstria de transformao. Entretanto, a simples caracterizao da desindustrializaocomo perda de participao da indstria de transformao no PIB equivocada. H o processo secular deterciarizao das economias ao longo do processo de desenvolvimento decorrente dos diferenciais deelasticidade-renda da demanda. Ademais, desenvolvimento econmico implica upgrade da estruturaprodutiva via aumento da produo de servios com alto valor agregado. Portanto, h tendncia dereduo das participaes dos setores primrio e secundrio no PIB e a elevao da participao do setortercirio no longo prazo. A discusso sobre mudanas na estrutura produtiva deve levar em conta estastendncias.
7 No caso de pases com nvel baixo ou mdio de desenvolvimento e com baixa produtividade no setor deservios (como o Brasil), na anlise da evoluo da estrutura produtiva cabe confrontar o desempenho da
produo na indstria de transformao com o da produo dos segmentos do setor primrio. Rowthorn eCoutts (2004) j haviam chamado ateno para a desindustrializao prematura na Amrica Latina.
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No Governo Lula o processo de desindustrializao acompanhado pela
dessubstituio de importaes. Um dos fatores que contribui para isto a liberalizao
comercial. Para ilustrar, a tarifa mdia aplicada cai de 10,9% em 2002 para 9,2% em
2010 (Tabela 1, col. 6). E, h tendncia de contribuio cada vez mais negativa das
importaes (vazamento de renda) para o crescimento do PIB: -1,1% em 2003-06 e -
1,6% em 2007-10 (Tabela 1, col. 7).
Os dados para a indstria de transformao tambm mostram claramente o
processo de dessubstituio de importaes. O coeficiente de penetrao das
importaes (importaes / consumo aparente) aumenta, de forma praticamente
contnua, de 11,0% em 2002 para 11,5% em 2003 e 16,4% em 2010 (mdia mvel 4
anos, Tabela 1, col. 8).8
Tabela 1Desindustrializao e dessubstituio de importaes: Indicadores, 2002-10
Valor adicionado real ndice Coeficientes (%)
PIB Agropecuria MineraoInd.
TransformaoTarifa mdia
aplicada
Contribuiodas
importaespara o PIB
Coeficiente depenetrao
dasimportaes
Ind.transformao
2002 100,0 100,0 100,0 100,0 10,9 0,4 11,02003 101,1 105,8 104,7 101,9 10,5 0,1 10,92004 106,9 108,3 109,2 110,5 9,3 0,0 10,8
2005 110,3 108,6 119,3 111,9 8,8 -0,2 10,82006 114,7 113,8 124,6 112,9 8,5 -1,1 11,52007 121,7 119,3 129,1 119,3 8,4 -1,8 12,62008 127,9 126,6 133,7 122,8 8,5 -1,8 14,12009 127,1 120,8 132,3 112,7 8,8 -1,2 15,02010 136,6 128,6 153,0 123,6 9,2 -1,6 16,4
Fontes e notas: Elaborao do autor.Cols. 2-5: IBGE.Cols. 6-7: IPEADATA.Col. 8: FUNCEX, Coeficiente de penetrao das importaes = importaes / consumo aparente. Consumo aparente = valor brutoda produo + importaes exportaes. Valores constantes de 2008.Cols. 6-8: Mdia mvel 4 anos.
2. Padro de comrcio: Reprimarizao das exportaesNo ND a mudana do padro de comrcio significa menor dependncia em
relao s exportaes de commodities. No debate sobre comrcio e desenvolvimento h
destaque para o conjunto de problemas que so prprios as commodities: baixa
elasticidade-renda da demanda; elasticidade-preo da demanda desfavorvel; pequena
absoro dos benefcios do progresso tcnico; reforo de estruturas de produo
8 Vale notar que at na indstria extrativa h aumento do coeficiente de penetrao das importaes.Somente na indstria de extrao de carvo mineral h queda do coeficiente de penetrao das
importaes. Nos outros segmentos (extrao de petrleo, extrao de minerais metlicos e extrao deminerais no-metlicos) h elevao deste coeficiente.
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retrgradas baseadas nas grandes propriedades, que gera maior concentrao do
excedente e do poder econmico; concentrao da riqueza e da renda, que causa
vazamento de renda e pouco dinamismo do mercado interno; restrio externa visto que
commodities se caracterizam por alta volatilidade de preos e instabilidade da receita de
exportao; rpida e profunda transmisso internacional dos ciclos econmicos; maiores
barreiras de acesso ao mercado internacional; escalada tarifria; menor valor agregado;
dumping ambiental com reduo do nvel de bem-estar social; e, dumping social com
reduo do nvel de bem-estar social e riscos crescentes de litgios comerciais.
A participao dos produtos manufaturados no valor das exportaes (mdia
mvel 4 anos) mostra clara e forte tendncia de queda (56,8% em 2002 para 45,6% em
2010) (Tabela 2, col. 4). Por outro lado, h tendncia igualmente clara e forte de
aumento da participao dos produtos bsicos (25,5% em 2002 para 38,5% em 2010).
A reprimarizao determinada, em boa medida, pelo boom de preos das
commodities na maior parte do perodo em anlise. Entretanto, a tendncia de
deteriorao do padro de comrcio exterior (exportao) reforada pela anlise da
estrutura das exportaes de produtos industriais segundo a intensidade tecnolgica
(Tabela 2, cols. 6-10). A participao (mdia mvel 4 anos) dos produtos altamente
intensivos em tecnologia reduz-se 13,1% em 2002 para 8,8% em 2006 e 8,1% em 2010
enquanto a participao de produtos das indstrias de mdio-baixa tecnologia aumenta
de 21,7% em 2002 para 24,2% em 2006 e 25,1% em 2010.
Tabela 2Reprimarizao das exportaes: Indicadores, 2002-10(Distribuio % do valor das exportaes)
Produtos segundo o fator agregado Produtos industriais segundo a intensidade tecnolgica
BsicosSemimanufat
uradosManufaturad
osTotal
Ind. altatecnologia
Ind.mdia-
altatecnologia
Ind.mdio-baixa
tecnologia
Ind. baixatecnologia
Produtosindustriai
s total
2002 25,5 15,3 56,8 100 13,1 27,0 21,7 38,3 100
2003 26,6 14,9 56,1 100 12,7 27,2 22,0 38,2 100
2004 28,2 14,5 55,1 100 11,1 27,4 22,5 39,0 100
2005 29,0 14,3 54,7 100 9,7 28,7 23,3 38,2 100
2006 29,3 14,1 54,7 100 8,8 29,6 24,2 37,3 100
2007 30,1 13,8 54,2 100 8,8 29,9 25,0 36,3 100
2008 31,9 13,7 52,1 100 8,7 29,8 25,7 35,8 100
2009 34,7 13,7 49,4 100 8,5 28,7 25,6 37,2 100
2010 38,5 13,7 45,6 100 8,1 28,2 25,1 38,6 100
Fonte e nota: Elaborao do autor. Dados do MDIC. Mdia mvel 4 anos.
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3. Progresso tcnico: Dependncia tecnolgica
O ND procura a ruptura com o modelo Centro-Periferia na esfera comercial
(novo padro de comrcio via menor dependncia em relao as commodities), na esfera
produtiva (substituio de importaes e upgrade permanente da estrutura produtiva) e
na esfera tecnolgica (crescente capacidade de incorporao de tecnologias importadas
e de inovao prpria). De fato, no ND objetiva-se a industrializao com substituio
de importaes e o aperfeioamento da estrutura industrial (na direo de produtos de
maior valor agregado e maior elasticidade-renda da demanda). Estes resultados
dependem, entre outros fatores, do processo de desenvolvimento tecnolgico do pas.
Este processo determinado por inmeros fatores como acumulao de capital,
investimentos em educao, qualificao da mo-de-obra e investimentos no sistema
nacional de inovaes. Instala-se, assim, o crculo virtuoso de obteno de economias
de escala e aprendizado e ganhos de produtividade e competitividade.
No Governo Lula, alm da desindustrializao, dessubstituio de importaes e
reprimarizao, h tambm o processo de maior dependncia tecnolgica. O indicador
usado a relao entre as despesas com importaes de bens e servios intensivos em
tecnologia e os gastos com cincia e tecnologia no pas (Tabela 3, col. 4). Esta relao
(mdia mvel 4 anos) aumenta de 2,4 em 2002 para 2,6 em 2006 e 3,7 em 2010. Ou
seja, h duplicao do grau de dependncia tecnolgica. Este fenmeno se aplica tanto a
produtos das indstrias de mdia e alta tecnologia como a servios tecnolgicos. Na
realidade, desindustrializao, dessubstituio de importaes e reprimarizao podem
ser vistos como determinantes da maior dependncia tecnolgica ou do retrocesso
relativo do sistema nacional de inovaes.
Vale tambm notar o extraordinrio aumento do dficit tecnolgico, definido
como a diferena entre o valor das importaes de bens altamente intensivos em
tecnologia e maior valor agregado e dos servios tecnolgicos (computao, royalties ealuguel de equipamentos) e o valor das exportaes destes bens e servios. Este dficit
(mdia mvel 4 anos) aumenta significativamente de US$ 19,3 bilhes em 2002 para
US$ 60,7 bilhes em 2010 (Tabela 3, col. 7). Em 2010 o dficit tecnolgico atinge US$
85 bilhes (PROTEC, 2011).
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Tabela 3Dependncia tecnolgica: Indicadores, 2002-10
Importao debens daindstria dealta e mdia-
alta tecnologia/ Gastos deP&D
Total despesa- serviostecnolgicos
/ Gastos deP&D
Importaotecnologia(bens eservios) /Gastos deP&D
Saldo (exportaomenos importao)de produtos daindstria de alta e
mdia-altatecnologia US$milhes
Saldo - serviostecnolgicos US$
milhes
Dficit tecnolgicoUS$ milhes
correntes
2002 2,2 0,2 2,4 -15.674 -3.624 19.298
2003 2,1 0,3 2,3 -13.412 -4.051 17.462
2004 2,0 0,3 2,3 -11.901 -4.169 16.070
2005 2,1 0,3 2,3 -9.482 -4.907 14.389
2006 2,2 0,3 2,6 -9.804 -6.003 15.807
2007 2,5 0,4 2,9 -13.949 -7.343 21.291
2008 2,9 0,4 3,3 -24.225 -9.456 33.681
2009 3,0 0,4 3,4 -33.485 -11.205 44.690
2010 3,2 0,5 3,7 -46.669 -14.004 60.673
Fonte e nota: Elaborao do autor. Dados do PROTEC. Mdia mvel 4 anos.As despesas de importao de bens e servios tecnolgicos (cols. 2-4) usados para os clculos dos coeficientes so em US$constantes de 2010.
4. Origem de propriedade: Desnacionalizao
No ND h preferncia revelada pelo capital nacional, pblico ou privado. O
objetivo reduzir a vulnerabilidade externa estrutural do pas na esfera produtivo-real,
ou seja, menor dependncia em relao s matrizes de empresas estrangeiras no que se
refere ao nvel dos investimentos, conduta de mercado, estratgias empresariais,
desenvolvimento tecnolgico, comrcio exterior, etc. Neste sentido que o
nacionalismo econmico se manifesta de forma mais evidente. Portanto, no ND
procura-se mudar a estrutura de propriedade dos meios de produo via reduo da
importncia relativa das empresas estrangeiras no valor da produo.
No Governo Lula constata-se claramente a ausncia deste processo. H clara
tendncia da elevao da relao entre as remessas de lucros e dividendos ao exterior e
o PIB (Tabela 4, col. 2). Esta relao (mdia mvel 4 anos) aumenta 1,9% em 2002 para
2,1% em 2010.
Ainda como indicador da desnacionalizao da economia brasileira pode-se usar
a distribuio das vendas das 500 maiores empresas segundo a origem da propriedade.
Os dados mostram que a participao das empresas estrangeiras cai de 43,6% em 2002
para 41,0% em 2010.9 Estes nmeros apontam para reduo do elevado grau de
desnacionalizao da economia brasileira. Entretanto, deve-se levar em conta,
9
A fonte RevistaExame. Melhores e Maiores. Disponvel:http://exame.abril.com.br/negocios/melhores-e-maiores/empresas/maiores/7/2010/vendas.
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conforme visto acima, que h desindustrializao e reprimarizao no Governo Lula.
Estes processos envolvem, na realidade, o maior crescimento de empresas do setor
primrio da economia. Ademais, cabe destacar que as 3 maiores empresas do pas
(Petrobrs, BR Distribuidora e Vale) tm peso elevado na economia brasileira. No
conjunto, estas 3 empresas representam 13,3% e 16,1% das vendas das 500 maiores
empresas em 2002 e 2010 respectivamente. Estas empresas tm suas principais
atividades nos segmentos de energia, comrcio e minerao, respectivamente. Ou seja,
tm forte relao direta ou indireta com o setor primrio da economia. As duas
primeiras so controladas pelo governo e a ltima tambm tem participao estatal e
sofre influncia governamental. O fato que estas empresas (Petrobrs e Vale, em
particular) so atores protagnicos dos processos de desindustrializao e
reprimarizao. Cabe, ento, descontar a grande influncia destas empresas no valor das
vendas das 500 maiores empresas do pas para se ter melhor aproximao a respeito da
evoluo efetiva do grau de desnacionalizao da economia brasileira.
Em conseqncia, verifica-se que h aumento da participao das empresas
estrangeiras no valor das vendas das 497 maiores empresas no pas (mdia mvel 4
anos): 47,8% em 2002 e 48,5% em 2010 (Tabela 1, col. 4). Esta elevao
acompanhada pelas quedas de participao das empresas estatais e das empresas de
capital nacional. Na realidade, estas mudanas podem ser vistas como pouco
expressivas quando se considera o perodo de 8 anos do Governo Lula. Portanto, o
registro mais apropriado a ausncia de mudanas na estrutura de propriedade das
grandes empresas ou, ento, a desnacionalizao marginal quando se isola a influncia
das 3 grandes empresas.
No obstante, a desnacionalizao evidenciada no caso das 50 maiores
empresas brasileiras que constituem o ncleo central do capitalismo no Brasil.10 Neste
conjunto h 26 empresas estrangeiras. A participao das vendas destas 26 empresasestrangeiras no valor total das vendas das 50 empresas do ncleo central 40,0% em
2002, 38,4% em 2005-06 e 41,9% em 2009-10 (Tabela 4, col. 7). O aumento entre 2003
e 2010 ocorre em decorrncia da queda da participao relativa das empresas estatais
visto que as empresas privadas nacionais mantm sua participao (25%) relativamente
estvel no perodo em anlise. Ademais, a participao das vendas das 26 empresas
10 Este ncleo de 50 empresas inclui as que esto nas listas das 500 maiores empresas (por vendas) em
todos os anos do perodo 2002-2010. A fonte RevistaExame. Melhores e Maiores. Disponvel:http://exame.abril.com.br/negocios/melhores-e-maiores/empresas/maiores/7/2010/vendas.
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estrangeiras do ncleo central no valor total das vendas das 500 maiores empresas
aumenta de 17,6% em 2002 para 20,3% em 2010 (Tabela 4, col. 8). Em sntese, no
Governo Lula a predominncia das empresas estrangeiras no ncleo central do
capitalismo no Brasil evidente e aumenta e, ademais, cresce a importncia destas
empresas no ncleo moderno (500 maiores empresas).
H ainda evidncia sobre o aumento expressivo do investimento estrangeiro
direto (IED) no agronegcio, minerao e, principalmente, extrao de petrleo no
Brasil no passado recente. No Censo de Capital Estrangeiro de 2000 o setor primrio
responde por 2,3% do estoque de IED no pas. No perodo 2003-09 o setor primrio
representa 15,4% do fluxo acumulado de IED neste perodo.11 Na medida em que este
processo seja mantido, os avanos da desindustrializao e reprimarizao so
reforados pela maior desnacionalizao da economia brasileira.
Conforme visto mais adiante (seo 7), o processo de desnacionalizao est
associado ao processo de concentrao de capital no Brasil.
Tabela 4Desnacionalizao: Indicadores, 2002-10
Distribuio % das vendas das 500 (quinhentas)maiores empresas segundo a origem dapropriedade (exclusive Petrobrs, BR
Distribuidora e Vale)
Remessastotais de
lucros /PIB
EstatalEstrangei
raPrivadanacional
Total
Participao % dasvendas das 26
empresasestrangeiras no valortotal das vendas das
50 empresas doncleo central
Participao % dasvendas das 26
empresasestrangeiras do
ncleo central novalor total dasvendas das 500
maiores empresas
2002 1,9 8,9 47,8 43,3 100 40,0 17,62003 1,8 8,4 48,1 43,5 100 39,2 17,32004 1,7 8,4 48,1 43,4 100 38,6 16,92005 1,7 8,1 48,4 43,5 100 38,0 16,72006 1,8 8,2 48,4 43,4 100 38,4 17,52007 2,0 8,5 48,3 43,2 100 41,1 19,22008 2,0 8,3 48,5 43,2 100 42,7 20,22009 2,1 8,4 48,5 43,1 100 43,2 20,82010 2,1 8,6 48,5 42,8 100 41,9 20,3Fontes e notas: Elaborao do autor. Cols. 2-4: mdia mvel 4 anos; cols. 6-7: mdia mvel 2 anos (exceto 2002).Col. 2: BACEN e IBGE (US$ constante 2010). Cols. 3-6: RevistaExame Melhores e Maiores, anual. Cols. 7-10: Inclui 50 empresasque esto nas listas das maiores empresas (por vendas) em todos os anos do perodo 2002-2010. Revista Exame. Melhores e
Maiores. Disponvel: http://exame.abril.com.br/negocios/melhores-e-maiores/empresas/maiores/7/2010/vendas.
11 Ver dados em BACEN. Disponvel: http://www.bcb.gov.br/?INVEDIR.
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5. Competitividade internacional: perda
No ND a ruptura com o modelo Centro-Periferia implica substituio de
importaes, mudana no padro de comrcio na direo de produtos manufaturados e
ganhos de competitividade internacional. Este ltimo deriva da industrializao,
progresso tcnico, ganhos de economias de escala e aprendizado e integrao regional
no caso de mercados nacionais de pequeno porte. O comrcio internacional visto,
tambm, como canal de transmisso do progresso tecnolgico (Furtado, 1967, caps. 15
e 22).
No Governo Lula, constata-se, de um lado, ganhos de competitividade
internacional nos produtos primrios e, de outro, perda de competitividade nos
manufaturados. Para ilustrar este argumento, faz-se anlise comparativa entre a
evoluo do comrcio exterior do Brasil na indstria extrativa mineral e na indstria de
transformao. O coeficiente de exportaes (exportaes / valor bruto da produo)
aumenta (mdia mvel 4 anos) continua e significativamente na indstria extrativa
mineral de 42,3% em 2002 para 68,9% em 2010, enquanto o coeficiente correspondente
da indstria de transformao sobe no perodo 2002-07 e cai em seguida (Tabela 5, cols.
3-4).
Tabela 5Coeficiente de exportaes da indstria (%): 2002-10
Indstria brasileira Ind. de transformao setores segundo a intensidade fatorialIndstria
TotalInd.
ExtrativaInd. de
transformaototal
Escala Mo-de-obra
Recursosnaturais
Tecnologia
2002 12,9 42,3 11,6 7,5 5,5 5,1 15,02003 14,3 46,1 12,8 8,2 6,2 5,8 15,02004 16,0 50,4 14,2 9,1 6,9 6,6 15,02005 17,7 53,1 15,7 10,1 7,5 7,3 16,52006 19,0 55,4 17,0 11,1 8,1 8,0 18,02007 19,7 58,7 17,5 11,5 8,1 8,4 18,92008 19,8 60,8 17,4 11,6 7,7 8,4 18,62009 19,3 64,8 16,6 11,3 7,0 8,2 16,82010 18,7 68,9 15,7 11,0 6,3 7,7 15,3
Fonte: Elaborao do autor. Dados da FUNCEX, valores constantes de 2008.Notas: Coeficiente de exportaes = exportaes / valor bruto da produo (%). A classificao das atividades segundo aintensidade fatorial baseada em Ribeiro et al (2008).As mdias dos coeficientes segundo a intensidade fatorial so geomtricas. Mdia mvel 4 anos.
Quando se analisa a evoluo do coeficiente de exportao segundo a
intensidade fatorial dos produtos, verifica-se que na indstria de transformao as
atividades intensivas em recursos naturais experimentam maior elevao relativa
(Tabela 5, col. 7). Por outro lado, o coeficiente mdio das atividades intensivas em
tecnologia sobe no perodo 2002-08 e, em seguida, retorna aos nveis de 2002-04.
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A anlise da evoluo dos coeficientes de importao (importaes / valor bruto
da produo) mostra a queda praticamente contnua deste coeficiente na indstria
extrativa e aumento contnuo e significativo na indstria de transformao a partir de
2006 (Tabela 6, col. 4). De fato, h evidente dessubstituio de importaes visto que o
coeficiente mdio de importaes na indstria de transformao (mdia mvel 4 anos)
salta de 10,9% em 2002 para 16,5% em 2010.
Quando se analisa a evoluo do coeficiente de importao segundo a
intensidade fatorial dos produtos, verifica-se elevao deste coeficiente em todos os
grupos. H incremento, inclusive, nas atividades intensivas em recursos naturais e
intensivas em mo-de-obra (Tabela 6, cols. 7-8). Nas indstrias intensivas em
tecnologia o coeficiente de importao aumenta 35,2% em 2002 para 48,27% em 2010.
Este resultado convergente com a maior dependncia tecnolgica do pas.
Tabela 6Coeficiente de importaes da indstria (%): 2002-10
Indstria brasileira Ind. de transformao setores segundo a intensidadefatorial
IndstriaTotal
Ind.Extrativa
Ind. detransformao
total
Escala Mo-de-obra
Recursosnaturais
Tecnologia
2002 13,1 61,1 10,9 10,1 3,1 1,5 35,22003 12,8 56,2 10,6 10,2 2,9 1,5 32,12004 12,7 57,9 10,4 10,3 2,8 1,5 29,8
2005 12,5 54,6 10,2 10,2 2,8 1,5 28,72006 12,9 52,1 10,7 10,7 3,2 1,6 30,52007 14,1 51,8 11,8 11,7 3,8 1,8 34,32008 15,4 48,0 13,5 13,0 4,7 2,0 39,32009 16,5 47,1 14,7 14,1 5,4 2,1 43,3010 18,2 45,8 16,5 15,9 6,2 2,4 48,2Fonte: Elaborao do autor. Dados da FUNCEX, valores constantes de 2008.Notas: Coeficiente de importaes = importaes / valor bruto da produo (%). Este coeficiente foi calculado indiretamente apartir dos coeficientes de penetrao de importaes e de exportaes. A classificao das atividades segundo a intensidade fatorial baseada em Ribeiro et al (2008).As mdias dos coeficientes segundo a intensidade fatorial so geomtricas. Mdia mvel 4 anos.
A relao entre o coeficiente de exportao e o coeficiente de importao pode
ser vista como proxy para a competitividade internacional do pas. No perodo emanlise esta relao sobe extraordinria e continuamente para a indstria extrativa. Para
a indstria de transformao este coeficiente aumenta at 2006 e cai a partir deste ano
(Tabela 7, cols. 3-4). Vale notar que o ndice de competitividade da indstria de
transformao em 2010 inferior ao de 2002. Este fenmeno abarca todos os grupos de
atividades da indstria de transformao segundo a intensidade fatorial, com exceo
das atividades manufatureiras intensivas em recursos naturais. Mesmo neste caso h
perda de competitividade internacional a partir de 2006. De fato, a perda de
competitividade internacional na indstria de transformao ocorre em todos os grupos
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segundo a intensidade fatorial (Tabela 7, cols. 5-8). A maior perda de competitividade
internacional no grupo de produtos intensivos em mo-de-obra. A partir de 2008 a
queda de competitividade tambm marcante nos ramos da indstria de transformao
que so intensivos em recursos naturais.12 Ou seja, constata-se perda generalizada da
competitividade na indstria de transformao brasileira independentemente da
caracterstica quanto intensidade fatorial.13
Tabela 7Competitividade internacional da indstria brasileira (ndice): 2002-10
Indstria brasileira Ind. de transformao setores segundo a intensidade fatorialIndstria
TotalInd.
ExtrativaInd. de
transformaototal
Escala Mo-de-obra
Recursosnaturais
Tecnologia
2002 100 100 100 100 100 100 100
2003 113 119 113 108 121 117 1082004 127 126 129 119 140 139 1182005 144 141 146 133 150 152 1342006 149 155 150 140 146 158 1382007 143 165 140 134 121 149 1292008 131 184 123 121 94 134 1112009 119 200 107 109 74 122 912010 105 219 90 94 57 103 74
Memo: Relao entre o coeficiente de exportao e o coeficiente de importao2002 0,98 0,69 1,05 0,73 1,74 2,99 0,42Fonte: Elaborao do autor. Dados da FUNCEX, valores constantes de 2008.Notas: Coeficiente de competitividade = coeficiente de exportao / coeficiente de importao. A classificao das atividadessegundo a intensidade fatorial baseada em Ribeiro et al (2008). As mdias dos coeficientes segundo a intensidade fatorial sogeomtricas (mdia mvel 4 anos). ndice 2002 = 100.
Outro indicador de competitividade internacional a participao relativa das
exportaes de produtos brasileiros no total das importaes de produtos manufaturados
nos pases desenvolvidos. A perda de competitividade internacional evidente nos
produtos manufaturados, com exceo dos produtos com intensidade mdia em mo-de-
obra qualificada e tecnologia (Tabela 8, col. 5). Neste caso a participao mdia (mvel
4 anos) aumenta de 0,42% em 2002 para 0,44% em 2010. Mesmo neste caso, h perdas
significativas no final do perodo em anlise. interessante observar que a maior queda
relativa de competitividade ao longo do perodo analisado ocorre nos produtos
manufaturados intensivos em mo-de-obra e recursos naturais. Ou seja, a
reprimarizao das exportaes envolve, por um lado, maior competitividade
12 Estes ramos so: alimentos, bebidas, produtos do fumo, produtos de madeira, celulose, papel e produtosde papel, coque, refino de petrleo e combustveis e produtos de minerais no-metlicos.
13 A perda de competitividade internacional do Brasil explicada pela interao de tendncias estruturais(desindustrializao, dessubstituio de importaes, reprimarizao e atraso tecnolgico) e polticas
macroeconmicas (cambial, tributria e monetria). Com relao aos determinantes macroeconmicos,ver FIESP (2011).
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internacional em commodities (produtos agrcolas, matrias-primas e minerais) e, por
outro, menor competitividade em produtos manufaturados intensivos em recursos
naturais.14 Esta divergncia implica menor capacidade de gerao de renda e emprego
no pas.
Tabela 8Competitividade da indstria brasileira nos pases desenvolvidos (ndice): 2002-10
Manufaturados,total
Prods. intensivosem mo-de-obra erecursos naturais
Prods. com baixaintensidade de
mo-de-obraqualificada e
tecnologia
Prods. comintensidade mdia
em mo-de-obraqualificada e
tecnologia
Prods. comintensidade alta em
mo-de-obraqualificada e
tecnologia
2002 100 100 100 100 1002003 100 102 99 102 972004 104 108 105 107 972005 109 113 114 115 932006 111 114 119 121 91
2007 112 111 124 123 912008 110 101 118 124 922009 101 88 104 116 912010 94 78 96 106 88
Memo: participao relativa (%) nos mercados dos pases desenvolvidos2002 0,53 0,79 1,03 0,42 0,44Fonte: Elaborao do autor. Dados da UNCTAD, valores correntes.Disponvel: http://unctadstat.unctad.org/ReportFolders/reportFolders.aspx?sCS_referer=&sCS_ChosenLang=en.Notas: Manufaturados corresponde a SITC 5 a 8 menos 667 e 68. Coeficiente de competitividade = participao das exportaesbrasileiras no total das importaes dos pases desenvolvidos. As mdias dos coeficientes segundo a intensidade fatorial sogeomtricas (mdia mvel 4 anos), exceto 2002 (3 anos). ndice 2002 = 100.
6. Vulnerabilidade externa estrutural: Passivo externo crescente
No pensamento desenvolvimentista a questo central a relao do pas com o
resto do mundo. A elevao da capacidade do pas de resistncia a presses, fatores
desestabilizadores e choques externos condio necessria para o desenvolvimento.
Trata-se do afrouxamento da restrio externa ou, de outra forma, da reduo da
vulnerabilidade externa conjuntural e estrutural. No plano estrutural, a reduo da
vulnerabilidade externa ocorre na esfera comercial com a mudana no padro de
comrcio, na esfera tecnolgica com o avano do sistema nacional de inovaes e na
esfera produtivo-real com a reduo do grau de desnacionalizao da economia. Resta a
esfera financeira internacional. Neste caso, a menor dependncia em relao aos fluxos
financeiros internacionais torna-se fundamental. Aqui a questo no somente do
14 No conjunto do mercado mundial no se constata perda de competitividade dos produtosmanufaturados brasileiros no perodo 2002-07. A perda evidente somente a partir de 2008 ainda que osnveis de competitividade internacional em 2010 continuem, de modo geral, mais elevados do que em2002. Para ilustrar, a participao dos produtos manufaturados brasileiros no mercado mundial 0,65%
em 2002, 0,84% em 2008 e 0,77% em 2010. Ver UNCTAD, UNCTADstat. Disponvel:http://unctadstat.unctad.org/ReportFolders/reportFolders.aspx?sCS_referer=&sCS_ChosenLang=en.
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desequilbrio de fluxos (financiamento das transaes correntes - vulnerabilidade
externa conjuntural), mas principalmente do desequilbrio de estoques (vulnerabilidade
externa estrutural).15
No Governo Lula h aumento significativo do passivo externo total do pas, que
passa de US$ 343 bilhes no final de 2002 para US$ 1294 bilhes no final de 2010
(Tabela 9). O passivo externo financeiro passivo externo menos o valor do
investimento estrangeiro direto (participao no capital) aumenta de US$ 260 bilhes
em 2002 para US$ 916 bilhes em 2010. Considerando as reservas internacionais da
ordem de US$ 300 bilhes, verifica-se que o passivo externo financeiro do pas 3
vezes o valor das reservas no final de 2010.
O indicador relevante o passivo externo financeiro lquido, que igual ao
passivo externo financeiro menos as reservas internacionais.16 H significativo aumento
do passivo externo financeiro lquido, que aumenta de US$ 222 bilhes em 2002 para
US$ 628 bilhes no final de 2010 (Tabela 9, col. 5). Ou seja, no final do Governo Lula
o pas estaria a descoberto em mais de US$ 600 bilhes.
Em conseqncia do crescente desequilbrio de estoque e no contexto do trmino
da fase ascendente da economia mundial em 2008, a economia brasileira experimenta
piora significativa e crescente dos desequilbrios de fluxos do balano de pagamentos. O
saldo da conta de transaes correntes em relao ao PIB mostra ntida tendncia de
queda a partir de 2005 (Tabela 9, col. 7). Este saldo torna-se negativo a partir de 2008.
Um indicador relevante de vulnerabilidade externa financeira o peso relativo
das remessas de juros, lucros e dividendos que expressam a magnitude do passivo
externo (desequilbrio de estoque) e a taxa de retorno referente a este passivo.
Considerando que na conta de servios (no relativos a fatores) o pas tem dficit
15
No por outra razo que o tema do endividamento externo recorrente nos momentos crticos daevoluo das economias latino-americanas. No plano da poltica econmica vale notar que o regime e apoltica cambial so elementos centrais do desenvolvimentismo. Por exemplo, no sculo XIX ospapelistas eram contrrios ao sistema do padro-ouro que inibia a expanso autnoma da base monetria edo crdito. No sculo XX os desenvolvimentistas fizeram uso recorrente da poltica cambial paraestimular a acumulao de capital e a industrializao substitutiva de importaes. O melhor exemplo ocmbio mltiplo que abarca processo de via dupla: depreciao cambial para setores que eram foco dasubstituio de importaes e apreciao cambial para bens de capitais e componentes usados nestessetores.
16 A posio de investimento internacional deduz do passivo externo o total dos ativos externos.Entretanto, do ponto de vista de anlise de vulnerabilidade externa financeira no se deve considerar osativos de brasileiros no exterior, exceto, naturalmente as reservas internacionais do banco central. Em
situaes de crise, os residentes agem da mesma forma que os no-residentes: alm de no trazer, enviamrecursos para o exterior.
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estrutural, a conta geradora de supervits a balana comercial de bens. Portanto, a
relao entre remessas de juros, lucros e dividendos e o supervit da balana comercial
revela a dinmica entre desequilbrios de estoque e fluxo. Esta relao cai de 162,0%
em 2002 para 101,8% em 2007 e sobe para 231,1% em 2010 (Tabela 9, col. 6). O
resultado a crescente hiposuficincia do supervit comercial para cobrir as despesas
com o passivo externo. Ou seja, o crescente desequilbrio de estoque gera crescente
desequilbrio de fluxo de renda de fatores no Governo Lula.
Vale notar que as projees do FMI so que o Brasil dever experimentar
recorrentes dficits de transaes correntes do balano de pagamentos de 3,0% a 3,5%
no horizonte 2016. Estes dficits crescem de US$ 60 bilhes em 2011 a US$ 120
bilhes em 2016. Isto significa, na prtica, expressivo crescimento do passivo externo
do pas que, provavelmente, superar US$ 2 trilhes em 2016.17 Naturalmente, estes
indicadores colocam o pas em trajetria de risco crescente de crise cambial, financeira,
fiscal e real no futuro prximo.
Tabela 9Vulnerabilidade externa: Desequilbrios de fluxos e estoques, 2002-10
Passivo
externo bruto(PEB) (US$
bilhes)
Passivoexterno
financeiro
(PEF = PEB -PIED) (US$
bilhes)
Ativos dereservas
internacionais(RSI) (US$
bilhes)
Passivoexterno
financeirolquido (PEL
= PEF - RSI)(US$
bilhes)
Transaescorrentes do
balano depagamentos
como % PIB
Remessas juros,lucros e
dividendoscomo % do
supervit dabalana
comercial
2002 343 260 38 222 - 1,67 162,02003 407 294 49 245 0,79 87,62004 446 304 53 251 1,76 69,92005 499 322 54 268 1,58 64,92006 620 411 86 325 1,25 72,62007 920 658 180 478 0,12 101,82008 692 468 194 275 -1,79 144,12009 1080 758 239 520 - 1,54 167,52010 1294 916 289 628 - 2,27 231,1Fonte e notas: Elaborao do autor. Dados do BACEN.PIED = Posio do investimento estrangeiro direto (participao no capital). Dados final do perodo (US$ bilhes correntes).
7. Concentrao de capital
Na perspectiva da Economia Poltica o ND implica, antes de tudo, a substituio
da classe dos grandes proprietrios rurais, como setor dominante, pela burguesia
industrial (Oliveira, 1981, 38). Este processo de luta poltica e de apropriao do
excedente econmico dentro do bloco capitalista ruptura do modelo primrio-
17 Ver FMI, World Economic Outlook Database. Acesso: 3 de agosto de 2011. Disponvel:
http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2011/01/weodata/weorept.aspx?pr.x=56&pr.y=12&sy=2009&ey=2016&scsm=1&ssd=1&sort=country&ds=.&br=1&c=223&s=BCA%2CBCA_NGDPD&grp=0
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exportador resulta em desconcentrao do capital com o avano da industrializao
substitutiva de importaes e a ascenso da burguesia industrial.18 Por outro lado,
representantes do ND reconhecem que a concentrao de capital industrial (ou seja, o
controle crescente do estoque de capital pelas grandes empresas) deve ser evitado pois
isto gera ineficincia econmica e maior concentrao do poder econmico e poltico.19
No perodo 2003-10 h evidncia a respeito da concentrao de capital no
conjunto das 500 maiores empresas do pas.20 O ncleo central de 50 maiores empresas
experimenta crescente participao no valor das vendas totais das 500 maiores empresas
ao longo deste perodo. Verifica-se, na realidade, a tendncia de aumento de todos dos
coeficientes de concentrao. Por exemplo, a relao percentual entre o valor total das
vendas das 5 maiores empresas e o valor total das vendas do conjunto das 500 maiores
empresas (CR-5) aumenta de 15,7% em 2002 para 19,3% em 2010 (Tabela 10, col. 2).
O ncleo central das 50 maiores empresas controla 44,0% das vendas das 500 maiores
empresas do pas em 2002 e 48,6% em 2010 (Tabela 10, col. 7). 21
Alm de ocorrer concentrao de capital, h processo de desnacionalizao da
economia brasileira, principalmente, no ncleo central das 50 maiores empresas como
visto acima. De fato, este aumento da concentrao (CR-50) decorrncia, em grande
medida, da elevao da participao relativa das empresas estrangeiras nas vendas totais
das 500 maiores empresas (Tabela 10, col. 10). A participao das empresas
estrangeiras no ncleo central do capitalismo brasileiro aumenta de 17,6% em 2002 para
19,6% em 2010. Ou seja, no ncleo central do capitalismo no Brasil h dois processos
simultneos: concentrao e desnacionalizao.
18 Dentre os principais instrumentos de transferncia de renda dos proprietrios rurais para a burguesia noND, cabe destacar a poltica comercial (protecionismo e imposto de exportao), a poltica cambial(desvalorizao cambial e cmbio mltiplo), poltica tributria (incentivos e subsdios) e a poltica
creditcia (taxa de juro e prazo).19 Destacado empresrio e lder do pensamento nacional-desenvolvimentista no Brasil, RobertoSimonsen, argumentou que a livre proliferao de colossais empresas ... pode ocasionar, alm dodesemprego e do esmagamento de capitais e atividades na mdia e pequena indstria, uma indbitainterferncia na poltica das naes.ApudLima (1976, p. 164).
20 Os dados de vendas para o clculo dos coeficientes de concentrao so das 50 maiores empresas noperodo 2002-10. Este ncleo central inclui as 50 maiores empresas que, em todos os anos deste perodo,esto entre as 70 maiores da lista daRevista Exame. Melhores e Maiores.
21 Mesmo quando se desconta o efeito das trs maiores empresas do pas em 2010 (Petrobrs, BRDistribuidora e Vale) verifica-se a elevao dos coeficientes de concentrao visto que a participao
destas 3 empresas no conjunto das 50 maiores eleva-se de 30,3% em 2002 para 33,0% em 2010 enquantoos incrementos do CR-5 e do CR-10 so 3,6 p. p. e 5,5 p.p. (CR-10) respectivamente.
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Tabela 10Concentrao de capital: Indicadores 2002-10
Participao % das vendas das maiores empresas nasvendas das 500 maiores empresas
Participao % das vendas das 50 maioresempresas nas vendas das 500 maiores segundo
a origem
CR-5 CR-10 CR-20 CR-30 CR-40 CR-50 Estatal EstrangeiroPrivadonacional
Total
2002 15,7 19,9 29,2 35,6 39,7 44,0 15,6 17,6 10,7 44,02003 16,7 21,2 30,5 36,8 41,0 44,1 15,9 16,9 11,3 44,12004 15,9 20,5 29,9 36,1 40,0 43,2 14,9 16,8 11,5 43,22005 17,6 21,9 30,7 37,0 41,2 44,6 16,3 16,6 11,7 44,62006 18,2 23,4 32,3 38,6 43,0 46,4 16,9 18,4 11,1 46,42007 17,5 23,7 32,5 38,8 43,2 46,8 16,0 19,9 10,8 46,82008 18,5 24,3 33,4 40,1 44,4 48,0 16,6 20,6 10,8 48,02009 17,2 23,5 32,3 39,4 44,2 48,1 15,9 21,0 11,2 48,12010 19,3 25,4 33,5 40,0 44,9 48,6 16,0 19,6 13,1 48,6Fonte e nota: Elaborao do autor. RevistaExame. Melhores e Maiores, diversos nmeros.Os coeficientes de concentrao referem-se ao peso relativo das 50 maiores empresas (ncleo central do capitalismo brasileiro) quetm dados (vendas) para todos os anos do perodo 2002-10.
O processo de concentrao do capital ainda mais pronunciado no sistema
financeiro. O CR-5 (ativos) aumenta de 56,8% em 2002 para 68,0% em 2010 (Tabela11, col. 2). Quando se desconta a presena dos 3 grandes bancos pblicos federais
(Banco do Brasil, Caixa Econmica Federal e BNDES) o CR-5 aumenta 29,5% em
2002 para 47,8% em 2009-10 (Tabela 11, col. 5). Os outros coeficientes de
concentrao tambm aumentam de forma significativa.
Tabela 11Concentrao de capital no sistema financeiro: Indicadores 2002-10
Sistema financeiro brasileiro - total Total - exceto BNDES, CEF e BBCR-5 CR-10 CR-20 CR-5 CR-10 CR-20
2002 56,8 74,2 87,3 29,5 58,0 79,42003 59,3 77,1 87,9 32,2 61,8 79,82009 67,7 85,2 90,2 46,9 75,7 84,02010 68,0 85,0 90,6 47,8 75,4 84,6Fonte e nota: Elaborao do autor. BACEN. Disponvel: http://www4.bcb.gov.br/top50/port/Top50.asp.Dados referem-se aos ativos totais.
8. Poltica econmica: Dominao financeira
Com o risco de simplificao exagerada, pode-se dizer que no ND a
estabilizao macroeconmica elemento secundrio frente aos objetivos de
acumulao de capital, industrializao, crescimento econmico e mudanas nas
estruturas de produo e de comrcio exterior.22 Inclusive, pode-se identificar no ND a
subordinao da esfera monetrio-financeira esfera produtivo-real.23
22 Os novo-desenvolvimentistas tendem, neste ponto, simplificao exagerada, muito provavelmente,com o intuito de aumentar sua diferenciao em relao ao antigo desenvolvimentismo. O enfoque novo-desenvolvimentista tende a superestimar a importncia da poltica macroeconmica e subestimar e, at
mesmo, negligenciar questes estruturais de grande relevncia como: vis no deslocamento da fronteirade produo e mudanas na estrutura de propriedade; distribuio de riqueza; estrutura tributria;vulnerabilidade externa estrutural nas esferas comercial, produtiva e tecnolgica; e, influncia dos setores
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Em contraste, no Governo Lula verifica-se a dominao financeira. 24 Esta pode
ser entendida como a ascendncia do setor financeiro, inclusive sobre os outros setores
dominantes. A dominao financeira tem expresso concreta na apropriao do
excedente econmico. Para ilustrar, a taxa mdia de rentabilidade (lucro/patrimnio
lquido) dos 50 maiores bancos sempre superior das 500 maiores empresas em todos
os anos do perodo 2003-10 (Tabela 12, cols. 2-3). Neste perodo a taxa mdia de
rentabilidade das maiores empresas 11,0% enquanto a taxa dos bancos 17,5%.
O diferencial de rentabilidade entre o setor real e o setor financeiro est
associado ao diferencial de acumulao de capital entre estes setores. A dominao
financeira evidenciada pela crescente relao entre os ativos totais dos 50 maiores
bancos e das 500 maiores empresas do pas no perodo 2003-10 (Tabela 12, col. 4). Esta
relao aumenta de 0,99 em 2002 para 1,74 em 2010.
Os bancos se beneficiam do abuso do poder econmico, lenincia do Banco
Central, certeza da impunidade e da poltica monetria restritiva caracterizada por
elevadas taxas de juro. Para ilustrar, levantamento recente mostra que Turquia e Brasil
so os dois pases que tm os mais elevados custos da dvida pblica em amostra de 24
pases.25 O custo mdio da dvida pblica para a amostra de 4,% enquanto que no
Brasil de 8,6%. Isto faz com que a relao entre pagamento de juros da dvida pblica
e o PIB no Brasil seja o segundo maior da amostra (superado pela Grcia, que no
momento do levantamento encontrava-se em plena crise financeira). A mdia desta
relao para a amostra 2,0% e no Brasil 5,1%.
dominantes nas decises e, principalmente, nas no-decises governamentais. A nfase da crtica dosnovo-desenvolvimentistas est centrada no tridente satnico, ou seja, cmbio flexvel, polticamonetria recorrentemente restritiva e foco no supervit primrio. Portanto, esta nfase exagerada nainfluncia da apreciao cambial e dos juros altos compromete a realizao de anlises mais profundas arespeito dos problemas estruturais do pas.
23
Ver Bielschowsky (1988, p. 155). Em perspectiva histrica, esta generalizao parece equivocada.Ainda no Imprio, os papelistas, como uma das correntes que contriburam para a formao dopensamento nacional-desenvolvimentista do sculo XX, perceberam a necessidade de subordinar a esferamonetrio-financeira produtivo-real, embora ainda no se confundissem com os industrialistas e osnacionalistas. Da mesma forma, havia industrialistas que destacavam a importncia do equilbrio dasfinanas pblicas. Desenvolvimentistas histricos (e.g. Serzedelo Correa, defensor da indstria) tinhampreocupao com questes macroeconmicas como, por exemplo, o equilbrio fiscal (Fonseca, 2004, p.237-243).
24 A dominao financeira repercute diretamente na poltica macroeconmica e na vulnerabilidade externaestrutural do pas no Governo Lula. Ver Filgueiras et al (2010) e Carcanholo (2010.b).
25Dados daEconomist Inteligence Unite BBC Brasil.
Disponvel: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/07/110727_divida_brasil_juros_rw.shtml.Acesso: 31 de julho de 2011.
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Tabela 12Dominao financeira: Indicadores 2002-10
Rentabilidade do patrimnio (%) Ativos totais
Bancos Empresas 50 maiores bancos / 500 maiores empresas (%)
2002 15,5 0,8 0,992003 16,1 12,4 1,052004 12,8 11,3 0,972005 20,9 11,8 1,092006 19,1 11,7 1,172007 22,1 12,0 1,352008 14,8 8,1 1,452009 16,9 9,7 1,752010 17,6 10,7 1,74
Fontes: Elaborao do autor. Dados da RevistaExame Melhores e Maiores, 2011, p. 241.BACEN. Disponvel: http://www4.bcb.gov.br/top50/port/Top50.asp.
9. Sntese
Durante o Governo Lula os eixos estruturantes do ND foram invertidos (Quadro1). O que se constata claramente : desindustrializao, dessubstituio de importaes;
reprimarizao das exportaes; maior dependncia tecnolgica; maior
desnacionalizao; perda de competitividade internacional, crescente vulnerabilidade
externa estrutural em funo do aumento do passivo externo financeiro; maior
concentrao de capital; e crescente dominao financeira, que expressa a subordinao
da poltica de desenvolvimento poltica monetria focada no controle da inflao.
Quadro 1: Caractersticas do Nacional-desenvolvimentismo e do Nacional-desenvolvimentismo s Avessas do Governo Lula
Nacional-desenvolvimentismoNacional-desenvolvimentismo s
Avessas Governo Lula
Industrializao Desindustrializao
Substituio de importaes Dessubstituio de importaes
Melhora do padro de comrcio Reprimarizao das exportaes
Avano do sistema nacional de inovaes Maior dependncia tecnolgica
Maior controle nacional do aparelho produtivo Desnacionalizao
Ganhos de competitividade internacional Perda de competitividade internacional
Reduo da vulnerabilidade externa estrutural Crescente vulnerabilidade externa estrutural
Desconcentrao de capital Maior concentrao de capital
Subordinao da poltica monetria poltica dedesenvolvimento
Dominao financeira
Fonte: Elaborao do autor.
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Portanto, a inverso de sinais faz com que se possa atribuir ao Governo Lula a
responsabilidade pela implementao do Nacional-desenvolvimentismo s Avessas.26
Este resultado tem srias implicaes quanto trajetria futura do pas. Conforme
discutido, o ND tem como eixo estruturante a reduo da vulnerabilidade externa
estrutural. Na medida em que o Governo Lula implementa o ND com sinal trocado,
ele reduz da capacidade estrutural do Brasil de resistir a presses, fatores
desestabilizadores e choques externos. Isto ocorre em todas as esferas: comercial
(desindustrializao, dessubstituio de importaes, reprimarizao e perda de
competitividade internacional); tecnolgica (maior dependncia); produtiva
(desnacionalizao e concentrao do capital); e, financeira (passivo externo crescente e
dominao financeira). Em consequncia, lana-se o pas em trajetria de longo prazo
de instabilidade e crise no contexto de crescente globalizao econmica. Ou seja,
durante o Governo Lula so cometidos erros estratgicos que comprometem
estruturalmente o desenvolvimento do pas no longo prazo.
Por fim, cabe notar que se evitou neste texto o uso do acrnimo NADA
(Nacional-desenvolvimentismo s Avessas) em oposio ao acrnimo ND (Nacional-
desenvolvimentismo). Isto poderia sugerir a interpretao de que o autor no identifica
qualquer mrito no Governo Lula, responsvel pela execuo do NADA. Esta
interpretao seria equivocada porque os mritos do Governo Lula no devem ser
desprezados.27 Anlises tcnicas isentas de interesses devem confrontar pontos fortes e
pontos fracos.28 Entretanto, a concluso bsica deste trabalho que dentre os mritos
ou pontos fortes no se encontram grandes transformaes, reverso de tendncias
estruturais e polticas desenvolvimentistas.
26 Em outros trabalhos a estratgia de desenvolvimento do Governo Lula chamada de Modelo LiberalPerifrico (Filgueiras e Gonalves, 2007, p. 96).
27 bem verdade que os mritos do Governo Lula so poucos e, certamente, no compensam seusdemritos. Da a discusso sobre a herana nefasta deste governo, que transcende temas referentes economia e abarca questes polticas, sociais, institucionais e ticas. Ver Filgueiras e Gonalves (2007).
28
Contrario sensu, vale mencionar que autores que defendem o argumento de mudanas estruturais noGoverno LulaSader e Garcia (2010), Mercadante (2006) e Barbosa e Dias (2010)tinham interessesconcretos neste governo.
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