trabalho sociologia politica primeiro bimestre
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UniversidadeFederalRuraldoRiodeJaneiroProgramadePsGraduaodeCinciasSociaisemDesenvolvimento,
AgriculturaeSociedade
Disciplina:SociologiaPoltica
A ao coletiva em diferentes perspectivas analticas
Fabricio Tel
1. Introduo
Este trabalho tem por objetivo discutir os diferentes caminhos possveis para se
analisar a ao coletiva, construdos ao longo do desenvolvimento das cincias sociais,
especialmente na Europa e nos Estados Unidos. Busca-se identificar os conceitos
utilizados por cada corrente de pensamento, a maneira como se concebe a ao coletiva
e como so tratadas as possibilidades de ao para o sujeito poltico.
Nesse contexto, este trabalho est baseado na anlise de trs paradigmas
diferentes: o primeiro deles o pensamento marxista, cujo conceito principal o de
classe social e sobre o qual trata o segundo item; o segundo paradigma a teoria dos
novos movimentos sociais, que prope o estudo da ao coletiva no mais a partir da
classe social, mas a partir da identidade coletiva, conforme tratar o terceiro item do
trabalho. At aqui o centro das discusses estava localizado na Europa. Contudo,
durante as dcadas de 1960 e 1970, surge no Estados Unidos um grupo de cientistas
sociais que mudou o foco do debate e apresentou uma proposta nova para o estudo da
ao coletiva, como ser visto no ltimo item deste trabalho.
2. O pensamento marxista, o sujeito poltico e as possibilidades de ao
coletiva
O marxismo uma corrente de pensamento que foi capaz de influenciar tanto
estudos sociolgicos, filosficos, econmicos e polticos, quanto foi capaz de servir de
base para a prpria ao poltica de atores sociais como sindicatos e partidos polticos.
Tanto assim, que esse paradigma considerado por alguns estudiosos da sociologia
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poltica o modelo clssico dos estudo dos movimentos sociais e da ao coletiva
(ALEXANDER, 1998). Nesta seo do trabalho analisam-se, inicialmente, as
contribuies de Marx e Gramsci, como os principais tericos do conceito de classe
social, e posteriormente discutem-se as tentativas de atualizao deste conceito
propostas por Thompson e Eder.
2.1 As classes sociais em Marx
De acordo com Karl Marx, a ao coletiva era entendida como a ao
direcionada revoluo, ou seja, promoo de uma mudana radical na estrutura da
sociedade em que o proletariado, enquanto classe social desprovida dos meios de
produo, tomaria o poder da burguesia e implantaria a ditadura do proletariado, em que
todos os bens e capitais seriam distribudos igualmente a fim de construir uma
sociedade sem classes, que seria a sociedade comunista (MARX, 1948/1998).
Para construir esse argumento, o autor parte do pressuposto de que as classes
sociais se estabelecem a partir do lugar que ocupam no contexto da produo: os
detentores do capital necessrio para produzir constituiriam a classe dominante
(burguesia) e os que possuam to somente a fora de trabalho seriam a classe dominada
e a luta de classes se desenvolveria a partir disso. Essa forma de conceber as classes
sociais rendeu a Marx a principal crtica sua teoria, qual seja a do determinismo
econmico, que impedia o indivduo de desenvolver qualquer ao para alm daquelas
determinadas pela estrutura econmica em que se encontrasse.
Analisando-se, porm, a obra O 18 Brumrio de Luis Bonaparte (MARX,
1852/1982)1, percebe-se certa ambiguidade na forma de teorizar sobre a ao das
classes sociais, pois nesse texto, a ao dos sujeitos no totalmente determinada pela
estrutura tal como em outras obras do autor, mas conforme as escolhas dos mesmos
diante das diferentes possibilidades, especialmente no que se refere ao da burguesia
em relao ao Estado, visto que, em um dado momento ela decidiu que a busca pelo
poder do Estado j no era mais a melhor estratgia. Essa constatao, portanto, vai
1 Essetexto(MARX,1852/1982)constituiumaanlisedeconjunturaarespeitodolevantedooperariadoocorridoemdiversospasesdaEuropaem1848,tambmchamadodeprimaveradospovos.Estetrabalhoestfundamentalmentebaseadonestaobra.
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contra a teoria determinista de Marx que concebe o Estado unicamente como um
aparelho atravs do qual a burguesia exerce o domnio sobre a sociedade (MARX,
1848/1982).
Para alm dessa complexificao, nessa mesma obra o autor insere na discusso
o papel de outras classes sociais, alm das bsicas burguesia e proletariado, como o
campesinato, o lumpem-proletariado e a pequena-burguesia, ou seja, a sociedade no
to simplesmente dividida em duas classes sociais antagnicas. H a formao de outras
coletividades e agrupamentos que interferem no comportamento social e poltico uns
dos outros.
A viso de Marx sobre o campesinato, tal como a questo do determinismo
econmico, foi e motivo de muitas crticas, uma vez que, para o autor, o campesinato
estaria fadado ao desaparecimento em funo do avano do capitalismo no campo o
qual iria, necessariamente, transformar os camponeses em proletrios.2 Esse pressuposto
levava a uma perspectiva pessimista em relao ao coletiva do campesinato,
enquanto classe social, a ponto de esta classe ser considerada pelo autor como um
amontoado de pessoas sem organizao, tal como um saco cheio de batatas, que remete
a uma massa amorfa, sem participao poltica.
Tambm em O 18 Brumrio de Luis Bonaparte (MARX, 1852/1982), essa
questo complexificada, pois neste texto, o autor considera a existncia de
camponeses conservadores e revolucionrios, deixando claro que a dinastia de
Bonaparte representava, no o campons revolucionrio, aquele que lutava para fugir de
sua condio social, a pequena propriedade3, mas o campons conservador, que
objetivava manter-se na propriedade. Ainda assim, porm, os camponeses considerados
revolucionrios no teriam capacidade suficiente para agir politicamente com
autonomia. Eles deveriam ser liderados pelo proletariado, que seria seu dirigente
natural, cuja tarefa era derrubar o regime burgus.
2 Esseprocesso, de fato, ocorreu comboa parte docampesinato emgrandeparte domundo,pormnocomtodoocampesinato,noemtodososlugares.Apesardoavanodocapitalismo,aproduoagrcolafamiliarconseguiusereproduzir,integrandose,maloubem,dinmicaprodutivacolocadaporestenovomododeproduo.
3 ParaMarx,ocamponsrevolucionrioera,emltimainstnciaaquelequelutavaparadeixardesercampons,ouseja,quesejuntavaaoproletariado,poisesseseriaobrigatoriamente,emfunodoavanodocapitalismonocampo,oseudestinofinal.
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Nessa mesma anlise a respeito do campesinato, o autor aproveita para deixar
mais claro o seu entendimento sobre classe social:
Na medida em que milhes de famlias vivem em condies econmicas de existncia que as separam pelo seu modo de viver, pelos seus interesses e pela sua cultura dos das outras classes e os ope a estas de modo hostil, aquelas formam uma classe. Na medida em que subsiste entre os camponeses detentores de parcela uma conexo apenas local e a identidade dos seus interesses no gera entre eles nenhuma comunidade, nenhum unio nacional e nenhuma organizao poltica, no formam uma classe (MARX, 1852/1982, p. 503).
Os critrios de definio de uma classe social, portanto, no so apenas
estritamente econmicos. Marx leva em considerao a questo da coeso e da
capacidade das pessoas de, ao identificar interesses em comum em oposio a interesses
de outras pessoas ou grupos, organizarem-se de modo a lutar para que esses interesses
coletivos sejam alcanados.
Em relao ao lumpem-proletariado a viso de Marx era ainda mais pessimista.
Considerava-o como a escria da sociedade., os vagabundos, aqueles que no trabalham
e no se esforam para faz-lo. O desprezo do autor a essa classe talvez possa ser
explicado pelo fato de que ele considerava que o lumpem atrapalhava a ao poltica do
proletariado, uma vez que sustentava o poder de Luis Bonaparte, que lhes dava abrigo
na Sociedade 10 de Dezembro4. Era, portanto, um grupo sem articulao poltica, mas
utilizado politicamente por outrem.
Essa anlise de conjuntura feita por Marx (1852/1982) nos impede de
reduzirmos a dinmica poltica disputa por interesses, porque evidencia logo no incio
do texto a fora da influncia da tradio nas aes dos sujeitos polticos: A tradio de
todas as geraes mortas pesa sobre o crebro dos vivos como um pesadelo
(1852/1982, p. 417), ou seja, quando as pessoas pensam estar fazendo algo novo, na
verdade esto copiando algo j feito por outras pessoas no passado. Nesse sentido, no
haveria possibilidade de inovao em termos de ao poltica, uma vez que o sujeito
estaria condicionado a agir de acordo com as circunstncias estabelecidas pela estrutura,
ou seja, a partir da posio de classe.
4 DataemqueLuisBonaparteforaeleitopresidentedaFranaem1851.
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Ao mesmo tempo, porm, o texto nos possibilita pensar a classe em movimento,
isto , como ela se constitui e se comporta a partir de contextos concretos, tal como se
percebe na anlise feita pelo autor a respeito das disputas por interesses entre orleanistas
e legitimistas no interior da classe burguesa. Os primeiros defendiam os interesses do
capital industrial urbano, ao passo que os ltimos representam os latifundirios5, cujos
objetivos polticos e econmicos eram distintos. Assim, se toda a ao coletiva fosse
determinada pela posio de classe, no haveria sentido a existncia dessas disputas. Da
mesma forma, se assim o fosse, o proletariado deveria ter se organizado e lutado contra
a burguesia, fato que Marx procura identificar porque no aconteceu, uma vez que os
proletrios no estavam atuando, de fato, naquele contexto.
Nesta obra est muito presente a permanente tenso entre agncia e estrutura, tal
como se identifica no seguinte trecho: Os homens fazem sua prpria histria, mas no
a fazem segundo sua prpria vontade, em circunstncias escolhidas por eles prprios,
mas nas circunstncias imediatamente encontradas, dadas e transmitidas (MARX,
1852/1982, p. 417). Em outras palavras, isto significa que o sujeito poltico tem
possibilidade de agncia, pois ele que faz sua prpria histria, porm o leque de
opes de ao limitado pela estrutura.
Por fim, destarte este tensionamento constante entre possibilidade de ao
inovadora consciente e determinao da ao pela estrutura, pode-se dizer que o cerne
do pensamento marxista, no que se refere ao coletiva, est centrado no conceito de
classe social, ou seja, a partir dela (portanto, coletivamente) que, de modo autnomo
ou no, os sujeitos se organizam e atuam politicamente, sendo suas aes orientadas
majoritariamente pelas determinaes da materialidade estrutural-econmica.
2.2 A ao poltica em Gramsci
Antnio Gramsci foi um dos tericos marxistas que mais se destacaram dentro
dessa corrente de pensamento. Seu principal objetivo foi enfatizar a possibilidade de
ao poltica por parte das classes sociais, de modo a superar o determinismo
econmico que caracterizava o marxismo. Para tanto, argumentava que a dominao de
5 Entendidoscomoumafraodaclasseburguesa.
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uma classe sobre outra no se dava apenas atravs da relao capital-trabalho, mas
tambm atravs da hegemonia, ou seja, pela imposio de uma viso de mundo.
Desse modo, o autor procura entender como se d o processo de difuso do
modo de pensar (ideologia6) da burguesia ao proletariado e como este toma para si essa
nova forma de conceber o mundo como se fosse sua, sendo que, na verdade, ela foi
imposta de cima para baixo. Em ltima instncia, o objetivo entender as contradies
entre o pensar e o agir que as pessoas vivenciam no cotidiano, uma vez que isso que
lhes coloca em uma situao de subalternidade7. O que lhe motivou a realizar esta
reflexo foi o fato de o fascismo italiano ter conseguido se tornar hegemnico junto ao
operariado daquele pas, visto que no foi a partir de um golpe de Estado que o fascismo
conseguiu triunfar, mas atravs da construo da hegemonia. Como se deu esse
processo era o que Gramsci queria entender.
Para construir seu argumento, Gramsci parte da ideia de que a filosofia no
algo restrito aos intelectuais, ao contrrio, ela estaria na linguagem, no senso comum, na
religio, portanto todos seriam filsofos, ainda que inconscientemente, ou seja, sua
inteno era destacar que a habilidade do pensamento e da reflexo no era um
privilgio da classe hegemnica. Os grupos subalternos tambm teriam essa capacidade.
Com isso, queria dizer que a forma como as pessoas pensam, refletem e concebem o
mundo um fato poltico, isto , no se poderia separar a filosofia da poltica.
O autor, porm, na sequncia do texto (GRAMSCI, 2001), diferencia filosofia de
senso comum, dando primeira uma conotao de pensamento crtico e autnomo, e ao
segundo uma conotao de pensamento genrico, difuso, disperso, como que acrtico e
desprovido de reflexo8. A superao do senso comum seria possvel, ento, a partir da
filosofia da prxis, ou seja, quando as pessoas passassem a pensar de forma crtica: (...)
6 AideologiaparaGramsci(2001)osignificadomaisaltodeumaconcepodemundo(), se manifesta implicitamente na arte, no direito, na atividade econmica, em todas asmanifestaesdavidaindividuaisecoletivas(2001,pp.989).Esteconceitonotocentralnateoriagramsciana,talcomoonateoriadeMarx.AcentralidadedopensamentodeGramsciestnoconceitodehegemonia.7 Interessanteanalisarqueopensamentogramscianoconsideraasclassesemmovimento,porissoascaracteriza,namaioriadasvezes,enquantorelaoenotantocomoalgoemsi,ouseja,aoinvsdefalardasclassessubstantivadas(burguesia,proletariado),eleconcentrasuaanlisenacondioemqueseencontram(hegemonia,subalternidade)(MEDEIROS,1992).8 Nemtodosessestermosforamutilizadospeloautor.Estosendoutilizadosnestenumatentativa de externalizar de maneira mais clara a interpretao feita a partir da leitura deGramsci(2001).
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no se trata de introduzir ex-novo uma cincia na vida individual de 'todos' , mas de
inovar e tornar 'crtica' uma atividade j existente (GRAMSCI, 2001, p. 101). Por isso
que o autor deixou claro no incio que a habilidade do pensamento no era um privilgio
dos hegemnicos.
Compreendendo o estabelecimento desta filosofia da prxis como um
condicionamento fundamental para o processo revolucionrio, o autor chama ateno,
ento, ao papel do intelectual orgnico para o processo de aguar as pessoas
compreenso crtica de si mesmas e do mundo, ou seja, percepo de que o modo
como esto concebendo o mundo um modo de pensar imposto pelas classes
hegemnicas e no o seu prprio.
O intelectual orgnico central para a compreenso da proposta gramsciana.
No se trata do intelectual ligado institucionalizao da educao formal, ou do
contexto acadmico, mas daquela pessoa oriunda das prprias classes subalternas e que
foi capaz de pensar um pouco mais criticamente sobre o seu mundo. Ele no
necessariamente precisa ter passado pela escolarizao, visto que a questo no o
saber formal, mas a concepo de mundo. Alm isso, o intelectual orgnico que
Gramsci prope no um indivduo apenas, mas uma coletividade de pessoas. So as
pessoas que constituiro a liderana do processo revolucionrio. Para isso, tero que
ajudar as pessoas que ainda no adquiriram a viso critica do mundo, a faz-lo.
O que est em jogo nisso tudo a luta pela construo da hegemonia por parte
das classes subalternas. Nesse sentido, Gramsci chama ateno para o papel do partido.
Seria atravs dele que se daria esse processo de elaborao de novas intelectualidades
integrais e totalitrias e de unificao da teoria (intelectualidade orgnica) com a
prtica (massas) (GRAMSCI, 2001). Interessante destacar ainda que a proposta
gramsciana que esse processo se d sempre de maneira coletiva, ou seja, sua nfase
est na construo de uma vontade coletiva a fim de chegar Revoluo e, nesse
contexto, ao partido caberia a funo de cristalizador e difusor dessa vontade.
Todo este conjunto de aes polticas, tratadas at o momento, teriam seu lugar
na Sociedade Civil. Nela que deveria se dar a construo da hegemonia (das classes
subalternas) a partir da ao do partido. A Igreja, a imprensa e outras formas de
organizaes e entidades tambm eram, para Gramsci, consideradas partidos e, portanto,
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tambm fariam parte da Sociedade Civil. Este conceito era compreendido de maneira
diferente por Gramsci em relao a Marx, que o colocava como sendo parte da
estrutura, ou seja, do mundo do trabalho e das relaes materiais. A perspectiva
gramsciana, por sua vez, considera que a Sociedade Civil est na superestrutura, isto ,
no plano ideolgico, cultural, intelectual.
Nesse contexto, as escolas e o Estado tambm estariam inseridos nessa arena de
disputas pela construo da hegemonia. A escola seria um dos principais espaos de
consolidao e difuso de valores e onde se estabelecem as bases do senso comum nas
pessoas e o Estado atuaria como educador no sentido da construo de uma
determinada concepo de mundo. Um de seus principais instrumentos seria o uso do
direito, de modo que quem no se ajusta s leis, reprimido pelos diversos aparelhos
estatais e assim vai se consolidando a hegemonia das classes dominantes (GRAMSCI,
2002).
Em suma, a principal contribuio terica de Gramsci foi o desenvolvimento do
conceito de hegemonia, que possibilitou pensar a luta de classes a partir de uma
perspectiva no mais apenas econmica, mas tambm no plano dos valores e da viso
de mundo. Em Gramsci, as classes sociais parecem ter mais possibilidade de ao
poltica, ou seja, sua ao coletiva, apesar de ser fortemente influenciada pela estrutura,
no determinada por ela. O caminho da Revoluo passaria, ento, pela tomada de
conscincia crtica por parte das classes subalternas, para deixarem de ser dominadas e
passarem a disputar a construo da hegemonia na Sociedade Civil.
2.3 A formao das classes sociais em Thompson
Edward Thompson foi um historiador ingls do sculo XX que contribuiu
significativamente para o debate a respeito das classes sociais. Sua obra est baseada no
objetivo de compreender como se deu o processo de formao da classe operria inglesa
desde antes da Revoluo Industrial. Para ele, o conceito de classe no poderia ser
entendido como uma categoria prvia, estrutural e universal, tal como o era no
pensamento marxista tradicional, mas como um fenmeno histrico que pode ser
demonstrado nas relaes humanas (THOMPSON, 1987).
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Com vistas a compreender melhor o pensamento do autor, destacou-se um trecho
de sua obra, que sintetiza grande parte de sua teoria e sobre o qual ser desenvolvido o
raciocnio neste item do trabalho:
A classe acontece quando alguns homens, como resultado de experincias comuns (herdadas ou partilhadas), sentem e articulam a identidade de seus interesses entre si, e contra outros homens cujos interesses diferem (e geralmente se opem) dos seus (THOMPSON, 1987, p. 10).
A primeira ideia que se apresenta no trecho a de que a classe um
acontecimento que se situa no tempo. Ela no uma estrutura permanente que existe
independente da ao das pessoas. Nesse sentido, as classes poderiam ou no existir.
Elas seriam construes sociais em processo, ou seja, as classes no so estticas, mas
esto em um constante fazer-se: so definidas pelos homens ao viverem sua prpria
histria (THOMPSON, 1979, p. 34), de modo que s existe classe, porque as pessoas
se comportam repetidamente de modo classista.9
O segundo ponto, ligado ao primeiro, que a classe resultado de experincias,
uma vez que a partir delas que os indivduos formulam sua viso de mundo. Para o
autor, no bastava falar em explorao. H que se compreender como ela
experienciada pelos indivduos, ou seja, de forma semelhante a Gramsci, a subjetividade
dos sujeito poltico ganha importncia fundamental para a compreenso da ao
coletiva. Alm disso, a noo de experincia est estritamente ligada cultura e
conscincia de classe, que, de acordo com o pensamento thompsoniano, se manifesta
nas tradies, nos sistemas de valores, ideias e formas institucionais (THOMPSON,
1987, p. 10).
Por fim, o terceiro elemento que se destaca no trecho a dimenso relacional,
isto , uma classe existe em uma relao, que, na maioria das vezes de oposio a
outra. E isto s possvel quando as pessoas identificam e articulam interesses em
comum e passam a se identificar umas com as outras como pertencentes a um grupo
social que possui caractersticas e objetivos iguais ou semelhantes.10 Geralmente, o que
9 Nesse caso, o autor est assumindoexplicitamente sua simpatia ao empirismo e aohistoricismocomoperspectivasanalticasmaisadequadasaoestudodasclassessociais.
10 Nocontextodaformaodaclasseoperriainglesa,esseprocessoteriaocorridoentre1780a1832,quandoostrabalhadoresinglesespassaramasentirumaidentidadedeinteresses
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motiva esse processo seriam as relaes de produo. Esta forma de pensar, portanto,
a que mais aproxima Thompson de Marx, uma vez que as caractersticas elencadas at o
momento o distanciam.
Analisando-se ainda outros elementos do pensamento thompsoniano, destaca-se
sua crtica ao fato de o marxismo dar demasiada ateno ao conceito de classe em
detrimento da noo de luta de classes. Thompson, por sua vez, defendia que no
prprio processo de luta de classes, que os indivduos se percebem enquanto classe: a
classe e a conscincia de classe so sempre as ltimas, no as primeiras fases do
processo histrico real (THOMPSON, 1979, p. 37). Para o autor, haveria uma confuso
terica que seria derivada de uma compreenso errnea de que as classes existem
independentemente das relaes e lutas histricas e que elas lutam porque existem, no
lugar de compreender que elas existem porque lutam.
Thompson questiona, portanto, um dos pressupostos centrais do pensamento
marxista, qual seja, a universalidade da luta de classes baseada em uma estrutura pr-
determinada. Em funo disso, h quem diga que Thompson no era um marxista e
outros que afirmam o contrrio. No entanto, apesar de utilizar uma conceituao
diferenciada, com um papel importante dado s questes culturais, tal como fazem os
tericos do novos movimentos sociais, a partir da noo de classe social que o autor
desenvolve seu raciocnio:
Espero que nada do que eu tenha escrito anteriormente tenha levado compreenso de que eu acredito que a formao de classes independente de determinados objetivos, que se pode definir classe como uma formao cultural, etc. (THOMPSON, 1979, p. 38).
Para alm da rotulao marxista ou no, o que importa que Thompson
contribuiu significativamente para o debate sobre as classes sociais e sua teoria ajudou a
aproximar o marxismo da empiria e atentou para a importncia de valorizar as
realidades concretas e as experincias vivenciadas pelos sujeitos no seu fazer poltico.
2.4 Klaus Eder e o debate sobre as classes mdias
entresiecontraseusdirigenteseempregadores(THOMPSON,1987).
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Klaus Eder um autor alemo contemporneo que se props a discutir a
pertinncia da continuidade do uso da categoria classe social para o estudo da ao
coletiva, em um contexto em que a teoria dos novos movimentos sociais (como ser
visto no item seguinte) j havia sido formulada. Ele se colocou, portanto, diante de duas
perspectivas analticas no raro conflitivas entre si: o modelo clssico cujo ponto de
partida era o estudo da ao coletiva a partir das classes e o paradigma dos novos
movimentos sociais para quem a categoria classe j no dava mais conta de explicar a
ao coletiva no contexto ps-60, em virtude do surgimento de um considervel nmero
de movimentos sociais que no representavam classes sociais, mas grupos identitrios
que se formam a partir da etnia, da gerao, do gnero, da opo sexual, etc.
Diante disso, Eder utilizou elementos tericos de ambas as perspectivas para
desenvolver uma reflexo sobre a ao coletiva realizada pelas classes mdias na
contemporaneidade, tendo como inteno ltima, porm, a defesa de uma abordagem
mais prxima do modelo clssico. Assim, dentro do que ele chamou de explicao
tradicional da ao coletiva, aquela baseada nas classes, o autor identificou dois
modelos diferentes de explicao: o modelo socioestrutural, que considera a ao
coletiva como resultado da prpria estrutura de posio de classe, e o modelo cultural,
que concebe a ao coletiva como resultado da conscincia que os atores tm de sua
posio de classe (EDER, 2002).
A fim de superar a dualidade entre o objetivismo socioestrutural e o subjetivismo
cultural, Eder utilizou o conceito de habitus proposto por Bourdieu, uma vez que ele
permite levar em conta tanto a influncia externa da estrutura, quanto a conscincia
interna do sujeito. O intento do autor apontar para a presena de um habitus pequeno-
burgus (ou de classe mdia) nos novos movimentos sociais. Para ele, a pequena
burguesia aquele grupo que no conseguiu se tornar burguesia, de fato, e que, ao
mesmo tempo, no precisou se tornar proletariado. Ela no tem a propriedade dos meios
de produo, mas tem poder (capital) cultural por estar inserida no setor dos servios e
por ter mais contatos com os donos do capital industrial e financeiro. Ento, ela se sente
na necessidade de se colocar simbolicamente parte das classes mais baixas (EDER,
2002, p. 240). Para o autor,
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o dilema do habitus pequeno-burgus consiste em sua incapacidade de no se identificar nem com a posio objetiva ou com a identidade coletiva da (alta) burguesia, nem com a posio objetiva ou identidade coletiva do proletariado. O protesto pequeno-burgus permanece amarrado dentro dos limites desse dilema (EDER, 2002, p. 244).
O autor chama ateno em seu texto para o radicalismo que caracteriza essa
forma de ao coletiva e que se expressa a partir de trs maneiras: 1) a partir da
moralidade, que seria o principal tema do protesto coletivo pequeno-burgus11; 2) a
partir dos problemas gerados pela crise do Estado de bem-estar social e pela frustrao
em relao ao sistema de partidos polticos e burocratizao; e 3) a partir da crise na
sociedade industrial e sua lgica orientada produo (EDER, 2002).
Nesse contexto, o autor se questiona a repeito do grau de importncia que a
categoria classe social continua tendo, uma vez que ela foi criada para analisar as
sociedades industriais europeias no sculo XIX. Por que a classe deveria ser importante,
afinal? Qual seria a abrangncia terica desse conceito? Ele continuaria sendo til para
compreendermos as sociedades contemporneas, caracterizadas como sendo ps-
industriais? A resposta dada por Eder (2002) a essas questes caminha no sentido de
dizer que o que acabou foi uma forma especfica de conflito de classes, aquela
organizada em torno da contradio entre capital e trabalho, no o conflito de classes
enquanto um fenmeno social. Ao contrrio, estaramos diante de um novo tipo de
conflito, que se diferencia do tradicional, mas que mantm antagonismos de classe.
Dito de outra forma, o autor reconhece que os novos movimentos sociais so,
antes de tudo, movimentos culturais que transcendem o campo das relaes industriais
(EDER, 2002, p. 282), mas a definio de um novo campo de conflito social no
implica necessariamente que esse campo no esteja mais ligado possibilidade de
conflito de classes e, portanto, a um novo tipo de estrutura de classes (EDER, 2002, p.
282). Um elementos dicotomizador destacado pelo autor para evidenciar o que est
propondo a ideia de excluso dos meios sociais de realizao da identidade, ou seja, os
que possuem tais meios e os que no possuem.
interessante notar que, para chegar a essa proposio, o autor no utilizou o
conceito marxista tradicional de classe, que parte da posse ou no dos meios de
11 A essa forma de ao coletiva, preferida da pequena burguesia, o autor denomina cruzada moral. O radicalismo pequeno-burgus , fundamentalmente, de natureza moral (EDER, 2002, p. 255).
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produo. O conceito de classe que ele utiliza para desenvolver seu raciocnio baseado
em um conjunto de interesses, normas e valores partilhados por um grupo de pessoas,
de modo a estar relacionado a uma estrutura de oportunidades sociais e orientao
cultural do grupo, o que implica fazer uma anlise estrutural dos dados culturais (...)
(EDER, 2002, p. 278). Os conflitos de classe, portanto, so baseados em elementos
simblicos socialmente construdos por cada coletividade. Seu pensamento, nesse
sentido, aproxima-se da proposta thompsoniana, que questiona o uso do conceito de
classe como uma categoria prvia e natural.
No que se refere ligao entre classe e ao coletiva, Eder defende uma teoria
estruturalista da agncia, admitindo seu prprio posicionamento como um paradoxo
pois quanto mais as estruturas sociais produzem cursos de ao que tenham efeitos
sobre estruturas e at at mesmo criam estruturas, menos a estrutura tem um efeito
determinante (EDER, 2002, p. 261). De maneira semelhante a Gramsci, Eder defende
o estruturalismo, mas d nfase para o fato de que a estrutura no invarivel e que a
ao coletiva criativa pode promover transformaes na estrutura.
Assim, ao avaliar a ao coletiva na contemporaneidade, Eder afirma: (...) com
os novos movimentos sociais, as classes mdias tornaram-se, pela primeira vez, um
elemento constitutivo de uma emergente nova estrutura de classe (EDER, 2002, p.
268), ou seja, houve uma transformao na velha estrutura de classes, mas a sociedade
segue organizada em uma estrutura classista. O autor prope, portanto, no o abandono,
mas uma reviso da velha teoria de classes, uma vez que a maior parte da populao
atualmente faz parte das classes mdias, j que no modelo tradicional, apenas uma
pequena parcela da sociedade era constituinte da pequena burguesia. A nova classe
mdia entendida por Eder, ento, como chave de acesso a novas formas de incluso
universal de diferenas e a novas formas de conflito de classe emergentes nas
sociedades ps-industriais (EDER, 2002, p. 273).
Em suma, a contribuio de Eder para os estudos a respeito da ao coletiva
pode ser sintetizada na sua tentativa de atualizao da teoria das classes sociais no
contexto ps-industrial. Em outras palavras, seu objetivo foi mostrar que, ainda que os
novos movimentos sociais no se identifiquem como classistas, a categoria classe ajuda
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a compreender os conflitos antagnicos entre os grupos e, portanto, deve ser readequada
ao contexto atual.
3. As teorias dos novos movimentos sociais: novos temas ou novas
abordagens metodolgicas?
Este item discutir os principais argumentos e problematizaes levantados
pelos tericos do paradigma dos novos movimentos sociais. Os principais nomes desse
grupo so Alain Touraine, na Frana e Alberto Melucci, na Itlia. Esta nova abordagem
terica surgiu a partir da emergncia, nos anos 1960, de um conjunto de movimentos
sociais, cujo elemento aglutinador e motivador no era mais a relao capital-trabalho
no contexto da produo, mas uma diversidade de outros condicionantes sociais e
culturais, que formariam uma identidade coletiva.
Um dos principais exemplos desses novos movimentos sociais foi o movimento
negro nos Estados Unidos: o que gerava a condio de subalternidade aos negros no
era o fato de no possurem capital ou serem pobres, mas o fato de serem negros. A
propriedade dos meios de produo no impedia um negro de ser considerado
socialmente inferior. Tais evidncias levaram os estudiosos desses movimentos
concluso de que o conceito de classe j no seria mais adequado para se analisar a ao
coletiva na contemporaneidade. Alm do movimento negro, outros exemplos podem ser
citados para ilustrar situaes semelhantes, tais como os movimentos feministas,
estudantis, pacifistas, ambientalistas, indgenas, dentre outros.
3.1 A contribuio de Alain Touraine
De maneira geral, normalmente se atribui a Touraine a proposio do conceito
de novos movimentos sociais. De acordo com o autor, movimento social seria uma
categoria de natureza histrica, ligada sociedade industrial, de modo que no serviria
mais para se analisar o contexto atual, caracterizado por ele como sendo ps-industrial.
A globalizao, nesse sentido, remeteria ideia de que s vale pena estudar os
movimentos sociais capazes de transcender o territrio nacional (TOURAINE, 2006).
-
Uma das principais contribuies tericas de Touraine foi a defesa de uma
perspectiva analtica que parte do sujeito poltico, que se coloca a partir do ponto de
vista dos atores, isto , dos atores que so, ao mesmo tempo, conscientes do que tm
em comum, ou seja, dos mecanismos de conflitos e dos interesses particulares que os
definem uns contra os outros (TOURAINE, 2006, p. 20). A ao coletiva, portanto, no
uma consequncia da estrutura, mas das relaes sociais que se estabelecem no nvel
micro. A importncia maior dada ao processo de construo do ator organizado, isto ,
como os indivduos se articulam para se construrem como ator organizado. O
movimentos social, portanto, o ponto de chegada e no o ponto de partida.
Apesar de estarmos na sociedade ps-industrial, Touraine considera que ainda
importante se falar em movimentos sociais:
Ainda que seja, provavelmente, mais fecundo partir da hiptese de que os movimentos sociais propriamente ditos desapareceram e foram substitudos, de um lado, por puros movimentos histricos e, de outro, por movimentos culturais e sociais, parece-me indispensvel recusar essa concluso perigosa e manter todos os mecanismos intermedirios, ainda que fracos, que impeam um completa separao entre movimentos sociais propriamente ditos e movimentos nascidos da gesto dos processos de transformao histrica (TOURAINE, 2006, pp. 27-8).
A categoria novos movimentos sociais pode ser questionada, nesse sentido,
porque os entendimentos de novo e velho no so definies precisas e podem ser
compreendidos de maneiras diferentes, dependendo do contexto, tanto que o prprio
Touraine faz uso da categoria movimento social, chamando ateno para o fato de que
ela no pode ser aplicada a qualquer tipo de ao coletiva, conflito ou iniciativa poltica.
Um movimentos social, na sua concepo, seria uma ao coletiva que coloca em
causa um modo de dominao social generalizada (TOURAINE, 2006, p. 18).
Em suma, a obra de Touraine uma das que mais d importncia ao papel do
sujeito na construo da estrutura: a sociedade construda por indivduos, cuja
conscincia permite-lhes agir coletivamente em busca de um objetivo comum, atravs
da formao de um ator poltico, a que se chama movimento social.
3.2 A viso de Melucci sobre a ao coletiva
-
De maneira semelhante a Touraine, Melucci tambm critica profundamente as
teorias deterministas que consideram os movimentos sociais como produtos da
estrutura, resultados de foras naturais ou leis necessrias da histria. Ao contrrio,
partindo do que chamou de uma teoria da ao, Melucci prope pensar os movimentos
sociais como uma ao coletiva dotada de uma autonomia prpria, ou seja, como um
sistema de aes que se manifesta, no como resposta a uma crise, mas como expresso
de um conflito.
Nesse sentido, os conflitos sociais, em sua concepo, mobilizam atores q
buscam ser sujeitos de sua ao atravs de uma atribuio de sentido e de uma produo
de significados autnomos em relao ao espao e ao tempo (MELUCCI, 2001). A
partir da nfase na capacidade humana de refletir, destaca-se a possibilidade de o ser
humano promover mudanas na sociedade, o que faz as pessoas se reconhecerem como
capazes de produzir ao, de modo que a prpria identidade de grupos e indivduos
construda por eles mesmos. De fato, uma das preocupaes tericas de Melucci era a
compreenso de como se dava o processo de construo dessa identidade coletiva em
que os atores produzem uma definio interativa e partilhada que diz respeito s
orientaes e ao campos da sua ao (MELUCCI, 2001, p. 158).
Uma das principais contribuies do autor foi a desmistificao da ideia de
movimentos sociais12 como personagens unidos em torno de um interesse nico. Sua
compreenso aponta para diversidades e conflitos internos aos movimentos de modo a
chamar ateno para o fato de que a unio demonstrada oficialmente pelas organizaes
apenas aparente. Por detrs dela, h um conjunto de divises e diferenas que
complexificam a anlise, de modo que o campo analtico da ao de um movimento
social depende do sistema de relaes no qual tal ao coletiva se situa e ao qual se
refere (MELUCCI, 2001, p. 38), ou seja, o ator coletivo entendido uma unidade
socialmente construda com uma multiplicidade diversa de interesses em seu interior.
Assim, a unidade de um movimento deve ser sempre vista como um produto e no
como um dado ou um ponto de partida.
12 ParaMelucci(2001),movimentosocialumacategoriaanaltica,noumacoisa.Nopossuiumaessnciasubstancial,assimcomonoapossuemascategoriasatorpolticoeconflitosocial.Socategoriasqueseutilizaparamelhorcompreenderarealidadesocialnoquetangeaocoletiva.
-
Melucci (2001) chama ateno para a importncia de se analisar as redes de
relaes, ou seja, o lugar onde acontecem as negociaes, interaes entre os
indivduos, influncias recprocas e a produo de quadros cognitivos e motivacionais
para a ao. Nesse sentido, o conceito de identidade coletiva visto no como uma
essncia, mas como uma relao. O autor a considera como
uma definio interativa e compartilhada, que vrios indivduos produzem acerca das orientaes da ao e campo de oportunidades de vnculos no qual ela se coloca: interativa e compartilhada significa construda e negociada atravs de um processo repetido de ativao das relaes que ligam os atores (MELUCCI, 2001, p. 69).
Essa forma de ao poltica, dotada de conscincia, conforme o entendimento do
autor, viabilizada pelas caractersticas sociais da contemporaneidade que dispe aos
indivduos recursos simblicos que estendem o seu potencial de individualizao, isto
, de autonomia e de auto-realizao (MELUCCI, 2001, p. 72). Todavia, essa ao
poltica tambm possui limites, por exemplo, o fato de que os processos decisrios nas
sociedades complexas precisam funcionar por meio de representao. No possvel
que cada indivduo fale por si mesmo em funo da grande quantidade de pessoas que
existem no mundo. necessrio que se forme um grupo e que se delegue a um
representante a funo de falar em nome do grupo (MELUCCI, 2001).
De acordo com Melucci (2001), h momentos de latncia e momentos de
visibilidade nos movimentos sociais. O primeiro refere-se ao dia a dia das pessoas que
fazem parte de cada movimento; o segundo diz respeito aos perodos de mobilizaes e
atos pblicos em que os movimentos se tornam mais visveis. Os movimentos
contemporneos passam constantemente de um momento para outro e, nesse sentido, o
autor destaca a imbricao de um momento com o outro, ou seja, a mobilizao envolve
interesses e benefcios que esto relacionados ao cotidiano dos indivduos.
Numa tentativa de caracterizao dos movimentos sociais contemporneos,
Melucci (2001) elenca algumas condies necessrias para uma organizao ser capaz
de exercer com sucesso a representatividade poltica de algum grupo. So elas: uma
certa difuso dos recursos cognitivos (o conhecimento adquire importncia fundamental
pois ele fornece aos atores conscincia sobre sua ao); falta de desequilbrios de poder
(as decises no podem ser tomadas de maneira autoritria por uma pessoa que
-
concentre o poder); espaos de auto-reflexibilidade (tal como props Gramsci (2001)
com o conceito de filosofia da prxis); auto-gesto dos recursos econmicos (no deve
haver determinao externa ao movimento na gesto dos recursos); e, por fim os
movimentos devem adotar uma orientao transitria (a organizao deve ser vista
como um instrumento que se utiliza para alcanar determinados objetivos e no como
uma estrutura imutvel eternamente).
Em se tratando da relao sujeito-estrutura, Melucci (2001) parte do pressuposto
de que os indivduos tm a possibilidade de escolher caminhos diversos dentro de um
leque limitado de opes. Assim, a ao coletiva definida pelo autor como uma
orientao finalizada que se constri por meio de ralaes sociais, no interior de um
campo de possibilidades e limites que os atores percebem (MELUCCI, 2001, p. 157).
destaca-se nesse trecho a insistncia do autor em enfatizar a conscincia e a atribuio
de sentido ao que os sujeitos praticam, porque eles percebem e so cientes das
limitaes e das possibilidades que lhes so colocadas. Ao mesmo tempo, Melucci
(2001) registra sua preocupao em no cair no extremo do construtivismo e, nesse
sentido, aponta para a necessidade de se evidenciar que o processo de construo da
ao coletiva ocorre sempre dentro de limites.
Diante desse conjunto de argumentos, percebe-se a importncia da contribuio
terica de Melucci para os estudos sobre a ao coletiva. Sua obra oferece suporte
analtico para pesquisadores que pretendem enfatizar elementos normalmente invisveis
e/ou informais que constituem e caracterizam os movimentos sociais de um modo geral.
Ademais, sua perspectiva compreensivista de anlise contribui para a apreenso do
sentido que os sujeitos atribuem s aes que praticam no que diz respeito sua
participao nos movimentos sociais e, desse modo, ajuda na compreenso do prprio
processo de construo da ao coletiva e das organizaes de representao poltica
como um todo.
4. Contribuies e limites da sociologia americana para pensar a ao
coletiva
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Este captulo se prope a discutir as principais contribuies dos autores que
forjaram uma nova abordagem terica para o estudo dos movimentos sociais, dentre
eles, Charles Tilly, Sidney Tarrow, Doug McAdam e David Snow. Nesse grupo, Tilly o
mais antigo dos autores. Ele se destaca por ter iniciado sua carreira estando ainda mais
prximo de uma perspectiva estruturalista, ao focar sua ateno em grandes questes
como, por exemplo, tentar entender como o mundo se transforma, atravs de quais
processos, etc. Aos poucos, porm, especialmente a partir dos anos 1990, Tilly, junto
com Tarrow e McAdam, foi se aproximando da sociologia europeia e da perspectiva dos
novos movimentos sociais ao dar ateno especial ao papel da cultura e das identidades
para a compreenso da ao coletiva (BRINGEL, 2012).
Uma das principais contribuies de Tilly para os estudos da ao coletiva foi o
conceito de repertrios de ao coletiva (ou repertrios de contestao) que designa o
conjunto de performances desenvolvidas pelos movimentos sociais, que prprio de um
determinado perodo, ou seja, a estratgia utilizada pelo conjunto dos movimentos
sociais de um contexto histrico especfico a fim de externalizar suas demandas e torn-
las evidentes. O exemplo mais usual de repertrio a realizao de greves, por ser a
forma de ao coletiva que se tornou um repertrio marcante da atuao dos
movimentos sociais no sculo XIX. Um repertrio um modo de ao que se repete no
tempo. Ele influencia os indivduos de tal forma que funciona quase como que uma
determinao estrutural, de modo que movimentos sociais que surgem so influenciados
por movimentos j existentes a seguir o mesmo caminho, utilizando os mesmos
mtodos de luta. Nesse sentido, as mudanas de repertrios so geradas por mudanas
estruturais que influenciam os atores a adotarem uma nova forma de comportamento,
que, por sua vez, vai gerar um novo repertrio de ao, em ltima instncia, um novo
modo de ser (TARROW, 2009).
Tilly tambm reconhecido internacionalmente por sua capacidade de relacionar
a Histria com a Sociologia. Ao invs de analisar as diferentes formas de confronto que
ocorreram ao longo da histria, Tilly buscava analisar as diferenas entre os confrontos
a fim de identificar os elementos que se repetiam de modo a viabilizar uma possvel
generalizao terica a respeito dos movimentos sociais ao longo do tempo e do espao.
Em sua obra From mobilization to Revolution, de 1978, lanou mo das noes de
-
interesse de mobilizao e de oportunidades para a produo de aes coletivas,
bem como outras trs categorias importantes: organizao, mobilizao e ao coletiva.
Todos esses conceitos foram melhor aprofundados nos trabalhos em conjunto com
Tarrow e McAdam, ou ainda por Tarrow (2009) particularmente, tal como ser visto na
sequncia.
Em suas obras mais recentes, (TILLY, 2005; McADAM; TARROW; TILLY,
2001; TARROW; TILLY, 2008) o autor assumiu uma perspectiva que denominou
relacional, ou seja, passou a buscar entender como as relaes, interpessoais, a partir
das transaes interpessoais13 se transformam em identidades, criam e transformam
fronteiras sociais e acumulam agrupamentos sociais. Ele chama ateno para o fato de
que a identidade reside nas relaes com os outros, ou seja, o eu/ns se reconhece
enquanto tal na relao que estabelece com o ele/eles. Alm disso, as pessoas, grupos
e lugares assumem tantas identidades quanto forem as relaes que estabelecem com
outros indivduos, grupos ou lugares, de modo que seu entendimento de identidade
algo totalmente relacional (TILLY, 2005). Nesse sentido, as manifestaes e os
movimentos sociais, no so vistos pelo autor como aes apenas, mas como interaes
coletivas marcadas necessariamente por desigualdades hierrquicas entre grupos de
pessoas desprovidas de poder e grupos de poderosos (McADAM; TARROW; TILLY,
2009).
Outro autor de destaque Sidney Tarrow, que, em ltima instncia, elaborou
uma sistematizao das ideias lanadas previamente por Tilly, especialmente no que se
refere ao conceito de confronto poltico, a partir do qual Tarrow desenvolveu seu
raciocnio:
(...) as pessoas se engajam em confrontos polticos quando mudam os padres de oportunidades e restries polticas e ento, empregando estrategicamente um repertrio de ao coletiva, criam novas oportunidades que so usadas por outros, em ciclos mais amplos de confronto (TARROW, 2009, p. 38).
Tarrow compreende por estruturas de oportunidades polticas como um
conjunto de indcios de quanto surgir um confronto poltico, colocando em
movimento uma cadeia causal que pode levar a uma interao sustentada com
13 Paraoautor,umarelaoconstitudaporumasriedetransaesentreduaspartes,quepodeviraestabelecerumarelaodeamizade,rivalidadeeassimpordiante(TILLY,2005).
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autoridades e, portanto, a movimentos sociais (TARROW, 2009, p. 39). a prpria
mudana nas oportunidades e restries polticas que abre a possibilidade de as pessoas
se engajarem no confronto poltico. As situaes mais comuns de oportunidades
polticas so aquelas em que os oponentes encontram-se enfraquecidos.
Um confronto poltico pode ou no levar construo de um movimento social,
o qual existe quando h um confronto poltico em que as aes dos participantes esto
organizadas em redes sociais com quadros culturais consensuais orientadas para tais
aes, havendo o estabelecimento de polos antagnicos em conflito. Nesse sentido, um
movimento social tem o poder de acionar uma ao coletiva. Todavia, no tem o poder
de control-la. Ele aciona pessoas sobre as quais ele no tem poder de controle.
Quando um confronto se amplia, forma-se um ciclo de confronto, ou seja, a
fase do conflito acentuado que atravessa um sistema social: com uma rpida difuso da ao coletiva de setores mais mobilizados para outros menos mobilizados; com um ritmo rpido de inovao nas formas de confronto; com a criao de quadros interpretativos de ao coletiva, novos ou transformados; com uma combinao de participao organizada e no-organizada; com sequncia de fluxos intensificados de informao e de interao entre os desafiantes e as autoridades (TARROW, 2009, p. 182).
Dois exemplos de ciclos de confronto dados pelo autor so as revoltas do
operariado europeu de 1848, tambm conhecido como a primavera dos povos em que
houve uma difuso da insatisfao dos trabalhadores em diversos pases e irrompeu-se
uma onda de greves e barricadas contra a explorao do patronato, o que foi objeto de
estudo do prprio Marx (1848/1982), como visto na primeira parte deste trabalho. Outro
exemplo a luta por direitos civis iniciada pelos movimentos negro, feminista e
estudantil, especialmente nos Estados Unidos e na Europa, durante a dcada de 1960.
Tarrow tambm d ateno especial dimenso simblica para a compreenso
da ao coletiva. Para ele, o maior dilema dos movimentos sociais fazer a mediao
entre smbolos herdados, que so familiares, mas levam passividade, e os novos, que
so eletrizantes, mas podem ser estranhos demais para levar ao (TARROW, 2009,
p. 140). Existiria, portanto, uma relao entre a formao de smbolos e os conflitos de
interesses, o que, por sua vez, subjacente transformao do confronto em movimento
social. Assim, surgem questes tais como: os smbolos so criados a partir do qu?
Como as pessoas interpretam os smbolos? Qual a relao entre os smbolos e a
-
formao da identidade coletiva? Como os movimentos sociais conseguem produzir a
unidade poltica em meio a um contexto de grande diversidade de identidades? Enfim,
Tarrow se prope a entender como o discurso simblico se materializa no processo de
luta e como a dimenso simblica interfere no confronto poltico.
O recebimento da mensagem de tais smbolos e a interpretao dos mesmos no
tempo e no espao por diferentes sujeitos sociais constitui uma cultura poltica prpria
que, por sua vez, est relacionada ao conceito de quadros interpretativos da ao
coletiva que foi desenvolvido com maior profundidade por David Snow: um conjunto
de crenas e significaes orientadas para a ao que inspiram e legitimam as atividades
e campanhas dos segmentos organizativos de um movimento social14 (SNOW, 2001, p.
28). Ao aderir a um movimento, os atores passam a enquadrar de uma maneira
alternativa a realidade que o cerca. Objetivamente, o que era visto como desgraa ou
fatalidade reenquadrado e passa a ser visto como injustia social ou transgresso
moral. essa mudana de viso da realidade que condiciona a possibilidade de
mobilizao. Por si s, ela no mobiliza, mas condio para os atores se mobilizarem.
Esse processo chamado por Snow de alinhamento do quadro interpretativo,
no qual o movimento social promove uma adaptao dos quadros de significados das
pessoas mudando de tradicional para uma nova forma baseada nos valores do
movimento. Inicialmente, os movimentos sociais apenas ampliam ou abrem o quadro
interpretativo das pessoas para novos valores. Depois procuram transform-los de fato,
o que constitui a fase mais desafiadora, pois justamente a transformao dos valores
dos atores que condiciona o sucesso do movimento. Sobre essa questo, portanto,
Tarrow conclui: (...) os smbolos culturais no esto automaticamente disponveis
como smbolos mobilizadores, mas exigem agentes concretos para transform-los em
quadros interpretativos de confronto (2009, p. 157).
Tarrow descendente da tradio terica da mobilizao dos recursos
inaugurada por Mancur Olson, porm sua tentativa foi de superao dos limites dessa
abordagem. De acordo com Tarrow, nem tudo pode ser explicado a partir da escolha
14 Ospressupostos tericos que sustentamessa interpretaoprovmdas contribuiesdadaspelaEscoladeChicago,atravsdointeracionismosimblico,especialmenteaobraFrameAnalysisdeErwinGoffman.
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racional dos indivduos. H elementos que independem da vontade ou racionalidade e
influenciam as escolhas dos atores e, nesse ponto a teoria olsoniana limitada.
A outra abordagem da qual Tarrow se aproxima a culturalista. Os conceitos de
repertrio, enquadramento interpretativo, identidade coletiva e difuso foram
desenvolvidos pelo autor a partir das contribuies dadas pelos estudiosos dessa
perspectiva terica. Todavia, tal como o fez em relao abordagem racionalista,
Tarrow evidenciou limitaes da perspectiva culturalista, por exemplo, a explicao de
tudo a partir da produo de significados, sem considerar as influncias externas como
as oportunidades e restries oferecidas pela realidade.
Em sntese, Tarrow se props a mostrar como as oportunidades polticas
provocam respostas discursivas e a analisar o que as pessoas escolhem quando agem
coletivamente. Sua abordagem parece apresentar-se como uma sada coerente para o
dilema clssico das cincias sociais da tenso entre sujeito e estrutura, pois procura
levar em conta tanto a dimenso subjetiva dos indivduos, atravs do conceito de
quadros interpretativos da ao coletiva, quanto a dimenso objetiva da realidade,
atravs dos conceitos de oportunidades e restries polticas. Ao mesmo tempo que
analisa a racionalidade dos atores, sua capacidade de ler e interpretar o mundo que os
cerca e, a partir disso, fazer escolhas a respeito de qual a melhor maneira de atuar,
Tarrow no deixa de considerar os elementos que existem mesmo que esses atores no
queiram que eles existam, ou seja, as determinaes econmicas, as hierarquias de
poder, as limitaes humanas, dentre outros elementos.
Uma das principais contribuies da sociologia americana para o estudo da ao
coletiva talvez esteja sintetizada na obra Dynamics of Contention (McADAM;
TARROW; TILLY, 2001), na qual os autores, a partir de uma abordagem relacional e
comparativa, focam a ateno nas interaes entre os atores polticos, os quais so
entendidos pelo autores como conjuntos de pessoas e relaes entre pessoas, cuja
organizao interna e conexes com outros atores polticos mantm uma continuidade
no tempo e no espao.
Nesse livro os autores se propem a explicar o confronto poltico partindo da
anlise dos mecanismos e processos15 que se repetem a fim de identificar quais so as
15 Osautorescompreendempormecanismoumaclassedelimitadadeeventosquealterarelaes entreconjuntos especficos deelementos emcaminhos idnticos ousimilares numa
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sequncias causais recorrentes que possibilitam compreender como surge e como
acontece um confronto poltico, o qual entendido pelos autores como interaes
coletivas, episdicas e pblicas entre demandantes e seus objetos, em que o Estado
constitui-se como um ator integrante dessa interao e em que, quando realizadas as
reivindicaes, elas afetam os interesses do grupo que recebe as reivindicaes.
Para desenvolver o raciocnio os autores lanam mo do conceito de episdios,
ou seja, uma srie contnua de confrontos. O objetivo do uso desse conceito pensar
comparativamente atravs da identificao de semelhanas (uniformidades recorrentes)
e diferenas entre os diferentes conflitos que ocorreram em lugares e momentos
histricos distintos, a fim de apreender os mecanismos causais que explicam o
surgimento e o desaparecimento dos confrontos e, em ltima instncia, desenhar um
panorama terico a respeito da ao coletiva a nvel geral. Desse modo, os episdios so
utilizados como ferramentas de descrio, ao passo que os mecanismos e processos so
utilizados como instrumentos de explicao.
O foco central do livro a busca por mecanismos e processos explicativos em
substituio s variveis criadas pelos prprios autores no incio de suas carreiras, como
oportunidades, restries, mobilizao de estruturas, repertrios, enquadramento, dentre
outras, que formavam o que esto denominando agora de agenda clssica dos
movimentos sociais. Tilly, Tarrow e McAdam (2001), portanto, inauguram uma nova
agenda de estudos para o campo da ao coletiva, cuja marca distintiva a abordagem
comparativa e relacional.
5. Consideraes finais
Este trabalho objetivou apresentar as contribuies tericas de trs das principais
abordagens analticas para o estudo da ao coletiva: a perspectiva marxista, como foco
no conceito de classe e nas determinaes estruturais; a dos novos movimentos sociais,
que enfatiza a dimenso cultural e identitria, portanto a subjetividade dos atores; e a
sociologia americana, mais especificamente, a teoria das oportunidades polticas. Esta
variedade de situaes. () Processos so sequncias regulares de tais mecanismos queproduzemtransformaessemelhantesqueleselementos(McADAM;TARROW;TILLY,2001,p.24).
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ltima, talvez por ser a mais recente, parece se apropriar dos elementos principais das
perspectivas anteriores e sintetizar uma abordagem que leva em conta a estrutura,
especialmente a partir dos conceitos de repertrio e oportunidades, mas no deixa de
analisar a subjetividade dos atores individualmente, como eles fazem escolhas e se
colocam diante da realidade conflitiva, fundamentalmente a partir do conceito de
quadros de interpretao.
Ressalta-se que essa rotulao das abordagens demasiado simplista e foi
utilizada aqui apenas com o objetivo de facilitar o raciocnio. Como este prprio
trabalho demonstrou, no marxismo tambm houve autores preocupados com a
subjetividades dos atores e os culturalistas tambm no ignoram por completo as
limitaes estruturais da ao social, mas existem tendncias gerais que diferenciam
uma abordagem da outra. Dependendo do tipo de movimento social que se quer estudar,
uma abordagem pode ser mais til do que outra no sentido de fornecer os instrumentos
necessrios para analisar um conjunto ou outro de elementos que constituem
determinada realidade. O ideal que o pesquisador esteja aberto utilizao das
ferramentas oferecidas por cada abordagem, na medida em que elas so teis,
independentemente de suas preferncias poltico-ideolgicas.
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