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VEREDAS ON-LINE VOL.19, N. 1 2015 p. 198-210. STICA/UFJF JUIZ DE FORA ISSN: 1982-2243
Traduo: Sexto Emprico, Contra os gramticos 176-218
Rodrigo Pinto de Brito (UFS)1
Rafael Hughenin (IFRJ)
RESUMO: Traduo de Sexto Emprico (c. II- III d.C.), Contra os gramticos (Adv. Gram. 176-218 = M I, 176-
218), feita a partir da fixao textual de Bekker (BEKKER, I. Sextus Empiricus [opera omnia]. Berlim: Typis et
Imprensis Ge. Reimeri, 1842). Neste extrato, o filsofo/mdico ctico investe contra a gramtica enquanto arte
do helenismo, opondo o bom grego engendrado pela analogia gramatical ao uso ordinrio da linguagem, para
Sexto, o derradeiro critrio dos falantes, uma vez que til, no molesta as convenes estabelecidas dentro das
prprias comunidades de falantes e se baseia na experincia.
Palavras-chave: Sexto Emprico; Contra os gramticos 176-218; traduo; pirronismo; gramtica antiga.
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(176) Que de fato preciso resguardar certa
pureza do discurso evidente por si prprio;
pois quem [incorre] constantemente em
barbarismos e solecismos zombado como
sem educao, quem fala o bom grego
competente para expressar ao mesmo tempo
clara e precisamente as coisas que pensa.
Mas, agora, h dois diferentes helenismos,
pois um divorciado do nosso uso comum, e
parece proceder de acordo com a analogia
gramatical, enquanto o outro, segundo o uso
de cada um dos helenos, procedendo da
assimilao e da observao das
conversaes.
(177) Quem declina, por exemplo, a partir do
nominativo (Zeus) as formas oblquas
, , , discursa de acordo com o
primeiro tipo de helenismo, mas quem
simplesmente diz , e
[discursa] de acordo com o segundo tipo,
mais familiar para ns. Embora haja dois
helenismos, dizemos que o segundo til,
pelas causas mencionadas anteriormente, e o
primeiro, por sua vez, intil, pelo que ser
1 Sob auspcios da CAPES, PGCI 041/14, e University of Kent Canterbury.
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dito.
(178) Pois, por exemplo, na cidade em que
corrente uma cunhagem de acordo com seu
costume, quem submeter-se [a esse uso] pode
assim fazer negcios nessa cidade sem
impedimentos, mas quem no admitir isso e
cunhar uma nova [moeda] para si prprio e
quiser faz-la correr ser tomado por tolo2;
desse modo, na vida, quem no quer se
juntar, assim como na cunhagem,
linguagem comumente aceita, mas talha uma
privada para si prprio, est perto da loucura.
(179) Portanto, os gramticos
professam transmitir certa arte chamada
analogia, por meio da qual nos foram a falar
aquele bom grego, preciso indicar que essa
arte inconsistente, e quem quer falar
corretamente deve atender no tcnica e
simples observncia, de acordo com a vida e
com o uso comum.
(180) Se de fato h alguma arte do
helenismo, ou tem princpios pelos quais se
organiza, ou no tem. Que no tem, os
gramticos no afirmariam; pois toda arte
deve organizar-se de acordo com algum
princpio. Por outro lado, se tem [princpios],
tem ou tcnicos ou no tcnicos. E se, de
fato, [tem] tcnicos, eles sempre se
organizam a partir de si prprios ou de outra
arte, e, novamente, essa [arte] de uma
terceira, e a terceira de uma quarta, e assim
ao infinito, de modo que se torna sem
princpio a arte do helenismo, e tampouco
seria arte;
(181) mas, se [tem] no tcnicos, nada se
encontrar alm do uso; portanto, o uso o
critrio do que vem a ser bom grego e no
bom grego, e no alguma arte do helenismo.
2 Imputao de tolice a quem no age de acordo com as convenes. Apesar de ter havido uma simbiose
entre ceticismo e cinismo pelo menos em Timo de Fliunte (CAIZZI, 1980), possivelmente em decorrncia da
acusao de que o ceticismo conduz apraxa, cticos posteriores alinharam a rejeio aos dogmatismos a um
modus vivendi extrado das convenes dos homens comuns, e precisamente este o ponto de ruptura com a vida
cnica, que abomina o (NAVIA, 2009).
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(187)
(182) Ademais, uma vez que, dentre as artes,
algumas so de fato artes, como a escultura e
a pintura, e outras, por sua vez, que
professam ser artes, mas no o so completa
e verdadeiramente, como a [astrologia]
caldaica e a haruspicao, [ento], para
aprendermos se a chamada arte do helenismo
somente uma promessa, ou um poder
consolidado, ser-nos- necessrio ter algum
critrio para test-la.
(183) Ento, esse critrio, novamente, ou
algo tcnico (e concernente ao helenismo,
uma vez que avalia se a [arte] que julga o
helenismo o faz de modo so), ou no
tcnico. Mas tcnico, por um lado, quanto ao
helenismo, no seria, por causa do regresso
ao infinito apontado anteriormente; se o
critrio for tomado como no tcnico,
nenhum outro se achar que no o uso. O
uso, portanto, sendo o prprio critrio acerca
do helenismo, no precisar de arte.
(184) Porm, se no possvel realmente
falar o bom grego de outro modo, a no ser
que aprendamos pela gramtica o bom grego,
isso algo evidente e visvel por si s, ou
obscuro. Mas no evidente, uma vez que
seria ento aceito por todos, como so as
outras coisas evidentes.
(185) E, alm disso, nenhuma arte
necessria para captar o que evidente,
assim como no o para ver o branco, ou
saborear o doce, ou tocar o quente; por outro
lado, para os gramticos, um mtodo e uma
arte so necessrios para falar o bom grego.
Portanto, o bom grego no evidente.
(186) Mas, se de fato obscuro, tendo em
vista novamente que o obscuro vem a ser
conhecido por meio de outra coisa, ou se
deve seguir algum critrio natural, pelo qual
se distingue o que helenismo e o que no
helenismo, ou se deve usar, para apreend-lo,
o uso do bom grego por um homem que [nele
seja] proeminente, ou o de todos.
(187) Mas, de fato, no temos critrio natural
para o helenismo e o que no o ; pois
quando o tico diz (mmia,
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(192) ' '
neutro) como bom grego, e o peloponsio
profere (mmia, masculino)
como incontroverso, e um denomina
(jarro, feminino), o outro,
(jarro, masculino), o gramtico
no tem um critrio por si s confivel para
que se deva falar desse modo em vez do
outro, a no ser o uso de cada um, que no
tcnico e nem natural.
(188) Porm, se, de fato, dizem que preciso
seguir o uso de algum, ou falam por mera
assero, ou utilizando um mtodo probativo.
Porm, se falam por mera assero,
responderemos com a assero de que
preciso seguir o uso da maioria, em vez do de
uma nica pessoa; se, por outro lado,
utilizando um mtodo probativo, [asserem]
que algum fala o bom grego, sero forados
a dizer que aquele mtodo pelo qual algum
demonstrou falar o bom grego o critrio do
helenismo, mas no a pessoa ela mesma.
(189) Resta ento aderir ao uso de todos.
Mas, se assim , no h necessidade da
analogia, mas da observncia de como a
maioria conversa e do que [os gregos]
adotam como helenismo ou como no o
evitam. No entanto, ou o helenismo por
natureza, ou por conveno. E no por
natureza, uma vez que [neste caso] uma
mesma coisa no viria a ser considerada bom
grego por uns e no bom grego por outros;
(190) por outro lado, se por conveno e
por costume dos homens, quem muito pratica
e versado no uso fala o bom grego, e no
quem sabe analogia. Pois possvel mostrar
de outro modo que no precisamos da
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