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TRAJETÓRIA PREGRESSA DE CARREIRAS LONGEVAS DE PARLAMENTARES FEDERAIS
Cesar Canato1
RESUMO: Busca-se expor o perfil e os possíveis padrões de comportamento individual e partidário, da trajetória pregressa de 84 políticos que se elegeram nas eleições gerais brasileiras de 1994 e se reelegeram por mais três eleições seguintes (1998, 2002, 2006). Com base na biografia apresentada pela Câmara dos Deputados, buscou-se o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade profissional e política. Os dados relevam uma forte presença dos profissionais liberais tradicionais. Também fora visível a coerente distribuição social e profissional com as orientações políticas e ideológicas do início da filiação partidárias.
PALAVRAS-CHAVE: Carreira Parlamentar, Partidos Políticos, Deputados Federais.
INTRODUÇÃO
Busca-se no texto, expor o perfil e os possíveis padrões de comportamento
individual e partidário, da trajetória pregressa de políticos que permaneceram por um
longo tempo num mesmo exercício do cargo eletivo proporcional federal. Partindo do
início de sua primeira filiação partidária até o ano de 2006, ano este que marca a
terceira eleição consecutiva da carreira estática e longeva da pesquisa, 84 políticos
permaneceram no mínimo por 16 anos como Deputados Federais, na medida em que
se elegeram nas eleições gerais brasileiras de 1994 e se reelegeram por mais três
eleições seguintes (1998, 2002, 2006), configurando uma carreira estática por quatros
mandatos consecutivos e ininterruptos.
Fora analisada a trajetória política que antecede a carreira estática e longa dos
parlamentares na Câmara dos Deputados brasileira (1995-2010). Em se tratando de
um grupo específico de parlamentares com carreira estática e longa, pressuponho que
a variável mais comum é a de um perfil político com trajetória política que lhe forneça:
estrutura e experiência eleitoral, partidária e legislativa longa. Este argumento vai de
encontro à afirmação de SANTOS (2000, p.92), ao se referir ao período pós
1 CANATO, Cesar: Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM),
canatocesar@hotmail.com, graduado em Ciências Econômicas (UNESP) e doutorando em Ciência Política (UFSCar).
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Constituição de 88, de que políticos “que tendem a permanecer na Câmara não
possuem experiência prévia relevante”.
Com base nos dados levantados da biografia apresentada pela Câmara dos
Deputados citadas aqui, é importante buscar no perfil dos parlamentares aqui
investigados o tempo de filiação e de carreira política partidária. Dados como idade,
gênero, escolaridade e atividade profissional e política são buscadas, dentro do que
KELLER (1967) chamou-os de atributos adstritos e adquiridos, ou que SANTOS
(2000) se referiu ao background dos parlamentares e que RODRIGUES (2002)
chamou de socioocupacional.
Os dados revelam que, dada uma trajetória pregressa longa, não houve
exclusividade pelo grupo, de trajetória modal: local, burocrática e empresarial, utilizado
por AMES (2003). Também não fora constatada forte migração partidária no tempo de
filiação longa, o que fortalece argumentos que dizem da importância da presença da
organização partidária para a construção da carreira política no parlamento. Se as
análises sobre parlamentares federais brasileiros, dizem de um padrão de baixa
experiência legislativa anterior ao ingresso, alta circulação e mobilidade no cargo, os
dados sobre o grupo de 84 parlamentares revelam serem predominantemente
homens, com ingresso de idade avançada e considerável tempo de trajetória
partidária, ocupantes antes de cargos eletivos proporcionais e majoritariamente
pertencentes do bloco ideológico de direita.
A preocupação aqui é fazer a caracterização partidário-ideológica com menor
interesse com relação ao recrutamento partidários dos políticos e maior interesse em
destacar que; dado um perfil ideológico-partidário, o político estaria iniciando sua
atividade político-partidária com maior ou menor autonomia frente à organização
partidária. O que pode ser explicativa do perfil da trajetória pregressa deste grupo de
84 parlamentares é que, eles possuem trajetória partidária média de 13 anos (até
1994), migração em média por mais de três legendas e alta concentração advinda de
bloco ideológico de direita e centro.
Parte-se do pressuposto, que o recrutamento parlamentar de cada partido
ocorre de meios sociais e profissionais variados, a expectativa aqui é encontrar se
existem padrões de ocupação socioocupacional para os três grupos de geração de
políticos, ao longo da sua trajetória pregressa. Outro prisma que foi perseguido é o
cruzamento ideológico-partidário e socioocupacional. Os dados relevam uma forte
presença dos profissionais liberais tradicionais. Também fora visível a coerente
distribuição social e profissional com as orientações políticas e ideológicas do início da
filiação partidárias.
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A ANÁLISE DE TRAJETÓRIA PREGRESSA
Partindo do ano que inicia a primeira filiação partidária até o ano de 2006, ano
este que marca a terceira eleição consecutiva da carreira estática e longeva da
pesquisa, 84 políticos permaneceram no mínimo por 16 anos como Deputados
Federais, ao se elegeram nas eleições gerais brasileiras de 1994 e se reelegeram por
mais três eleições seguintes (1998, 2002, 2006), configurando uma carreira estática
por quatros mandatos consecutivos e ininterruptos.
Busca-se expor e analisar a trajetória política que antecede a carreira estática e
longa dos parlamentares na Câmara dos Deputados brasileira (1995-2010). Dado que
o ingresso no partido tenha se iniciado em longa data e de forma variada, sejam elas:
passando pelas três esferas políticas federativas, pela disputa de cargos proporcional
ou majoritário e na ocupação de cargos executivos não eletivos; é possível inferir que
a entrada e permanência por 4 mandatos de deputado federal não ocorre com
trajetória político-partidária pregressa curta. Em se tratando de um grupo específico de
parlamentares com carreira estática e longa, pressuponho que a variável mais comum
é a de um perfil político com trajetória política que lhe forneça: estrutura e experiência
eleitoral, partidária e legislativa longa. Este argumento vai de encontro à afirmação de
SANTOS (2000, p.92), ao se referir ao período pós Constituição de 88, de que
políticos “que tendem a permanecer na Câmara não possuem experiência prévia
relevante”.
A pesquisa se apoia nos trabalhos de AMES (2003), que utilizou três trajetórias
modais para investigar o caso brasileiro. São elas: política local, atividade empresarial
e burocracia. As trajetórias de deputados “locais” seriam aquelas em que o
parlamentar, no momento anterior a entrada na Câmara dos Deputados, tenha
exercido o cargo de prefeito ou vereador. Neste caso, pressupõe-se que uma base
eleitoral fora formada, experiência política seja adquirida e por motivos diversos, mas
próximo de uma ambição progressiva, pleiteou e conquistou o cargo de deputado
federal. Já uma trajetória “empresarial” seriam aquelas carreiras que, no momento
anterior, exerciam atividade profissional no setor privado. Aqui, o que conta como
vantajosa é a capacidade de financiamento de campanha e a proximidade com a
clivagem social; por outro lado, o ingresso pode ter sido possibilitado à revelia do
partido político, com maior independência frente à organização partidária. O terceiro
caso seriam as trajetórias “burocráticas”, em que os cargos do setor público,
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principalmente existentes nas esferas estaduais e federal, o tenham cacifado
eleitoralmente, para a conquista do mandato parlamentar.
O autor chama a atenção para a trajetória modal “empresarial” como a que
apresenta maior diferença frente às outras duas. Poderiam estar ocorrendo uma
carreira política que “prolongue” a atividade dos seus interesses econômicos. Seriam
representações de cunho mais corporativista, pouco preocupada em manter uma base
eleitoral e que a aproximação com o poder Executivo se faz maior do que o
fortalecimento do poder legislativo, onde atua, uma vez que se tem o entendimento de
que é naquela instância de poder que a regulamentação da política econômica se dá
com maior força de iniciativa política. (AMES, 2003, p.189) Neste caso, mesmo em
função da maior autonomia organizacional partidária, pressuponho que carreiras
estáveis e longas na Câmara dos Deputados não sofreriam empecilhos de serem
almejadas.
Cabe ressaltar que, com uma trajetória política anterior longa, maiores as
chances que tenha havido uma combinação de duas ou mais atividade de trajetórias
“distintas”. Neste caso, o que se pode priorizar na pesquisa é o maior tempo de
atividade política ou empresarial que tenha prevalecido, assim como, destacar a
atividade profissional/política que fora exercida no tempo de mandato eleitoral
imediatamente anterior (4 anos) ao ingresso no cargo no ano de 1995.
No entanto, observa-se que a trajetória modal utilizada por AMES (2003) pouco
evidencia o papel que a organização partidária tenha contribuído para se chegar à
conquista do cargo proporcional legislativo. Sendo assim, Incluo aqui a investigação
feita por MARENCO DOS SANTOS (2001), uma vez que no Brasil, os candidatos ao
um cargo político eletivo, desde as eleições de 1945, obrigatoriamente tenham que
estar filiado e concorrer por um partido político. Pode-se inferir que em sistema
pluripartidário, os partidos políticos são desafiados a selecionar e ter o controle do
ingresso e continuidade da carreira política de seus membros integrantes. Para
MARENCO DOS SANTOS (2001, p. 82) deve-se olhar com prudência para o
“tratamento uniforme conferido às organizações partidárias brasileiras”. Entre os
achados da pesquisa do autor, destacam-se três: Primeiro, os partidos apresentam
uma configuração híbrida quanto às trajetórias e vínculos de lealdade de seus
membros; segundo, migração e lealdade partidárias constituem fenômenos cuja
explicação não parece residir em variáveis demográficas e terceiro, quando se
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encontra nas regras eleitorais, no modelo de RPLA, a causa para a adoção de
estratégias não leias.
Com base nas pesquisas citadas aqui, é importante buscar no perfil dos
parlamentares aqui investigados o tempo de filiação e de carreira política partidária.
Dados como idade, gênero, escolaridade e atividade profissional e política são
buscadas, dentro do que KELLER (1967) chamou-os de atributos adstritos e
adquiridos, ou que SANTOS (2000) se referiu ao background dos parlamentares e
RODRIGUES (2002) chamou de dados socioocupacionais. Com isto, a trajetória
pregressa dos 84 parlamentares será investigada com o intuito de se buscar
evidências de perfis ou padrões de comportamento que dizem da construção de uma
carreira parlamentar estática e longa na Câmara dos Deputados.
A TRAJETÓRIA PREGRESSA PROJETA CARREIRAS PARLAMENTARES
LONGAS?
O objetivo deste tópico não é percorrer a trajetória pregressa dos 84
parlamentares federais com carreiras longas no intuito de mensurar a seletividade do
recrutamento parlamentar e muito menos identificar a presença de gerações políticas
distintas presentes no Congresso Nacional. Estamos tratando de um grupo específico
de parlamentares que já apresentaram sucesso eleitoral e permaneceram por quatro
mandatos consecutivo e ininterrupto no cargo proporcional federal.
Com base nas definições das três trajetórias modais trabalhas por AMES
(2003) constata-se que duas delas, “locais e burocráticas” possibilitam que logo no
início da vida adulta o indivíduo que deseja ingressar na vida política possa fazê-lo
quando atingir a idade de 18 anos, para os cargos de prefeitos, secretarias municipais
e vereador. Já para concorrer ao cargo de Deputado Federal a idade mínima é de 21
anos. Este início precoce na carreira pode ser estimulado seja em função de um
projeto individual de construção de uma vida profissional na política, seja por influência
de um ambiente familiar e social estimulante. Já com relação à trajetória “empresarial”,
que também pode ocorrer na mesma faixa de idade, muitas vezes propicia ao político
um ingresso um pouco mais tardio, após o término do curso superior. O ingresso na
vida política, quando ocorre, pode ser em função de uma posição privada e
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profissional bem sucedida que tenha estimulado para a inclinação em buscar uma vida
política posterior.
Mas não basta desejar o cargo político, é preciso conquista-lo numa eleição e
ser filiado a um partido político. Para MARENCO DOS SANTOS (2000, p.86-87) o
primeiro cargo “representa o rito de passagem”. Quando se pretende prosseguir na
carreira política, é necessária a posse de requisitos individuais, disposição vocacional
e afinidade eletiva que podem ter sido conferidos ao político na medida em que a
primeira eleição tenha resultado em sucesso eleitoral e se inicia o mandato político. Os
dados de sua pesquisa sobre a idade do primeiro mandato para deputado federal no
Brasil (1946 – 1998) apresentou uma maior concentração na faixa entre 30 a 40 anos.
Mas, importante análise pode ser contrastada entre os que iniciam precocemente na
carreira política, destacada pela pesquisa com outra duas, ou seja, na idade de até 30
anos e com os parlamentares em primeiro mandato, com a idade acima dos 40 anos.
Quando se soma em observação na pesquisa, a proporção de carreiras de
empresários e profissionais de formação superior, as percentagens demonstram uma
tendência de queda, para a carreira que se inicia antes dos 30 anos. No caso
específico para o ano de 1994, a carreira para empresários ficou em torno de 7% e
profissionais com formação superior em 16%, ante 25% e 20 % para o ano de 1946.
Para os deputados em primeiro mandato com mais de 40 anos, acentuam as
percentagens para empresários e profissionais de formação superior, com patamares
de 50% e 37% nas eleições de 1994, respectivamente.
Segundo MARENCO DOS SANTOS (2000, p. 91), isto se deve ao fato de se
tratar de um perfil de indivíduos que ingressam na carreira com a vida profissional e
formação superior já estabelecida, o que diz de não dependerem da “carreira pública
para sobreviver”. Outro contraste empírico destacado pelo autor é em relação aos
“precoces” iniciarem como vereadores e prefeitos e cargos de confianças na
administração pública. Já os deputados que ingressam com mais de 40 anos, é mais
frequente a entrada direta ao cargo de deputado federal.
Outra análise a ser destaca no trabalho de MARENCO DOS SANTOS (2000, p.
93) é a “discrepância” entre o tipo de posto ocupado inicial e o intervalo de tempo
marcado entre o início da trajetória política e a conquista de uma carreira parlamentar.
O autor considera que existam “diferenças significativas”, ainda que, ao serem
comparados entre os três ciclos partidários, ao longo de 14 legislaturas, as evidencias
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se acentuaram no último dos três ciclos, caraterizado pelo segundo período
pluripartidário (1986-1998).
MARENCO DOS SANTOS (2000) não está interessado apenas em destacar a
entrada na carreira de deputado federal advinda de trajetórias modais “locais”,
trabalhada por AMES (2003), que de forma menos detalhada, considerada este modal
como um dos três modelos possíveis. O autor registra dois argumentos que diz do
porque o tempo gasto na trajetória pública de deputados que iniciam como
vereadores, por exemplo, possuírem um tempo sempre superior a outros perfis de
ingresso. Primeiro, os indivíduos devem possuir recursos mais escassos, e utilizam a
escala de competição local mais acessível antes de uma empreitada mais ousada.
Segundo, este tempo maior irá resultar em treinamento político importante para a
ocupação de cargos políticos de maior destaque, como o de Deputado Federal.
Ao analisar o tempo de carreira política que o parlamentar federal teve antes de
ingressar ao primeiro mandato, MARENCO DOS SANTOS (2000) elenca elementos
importantes que podem elucidar tais comportamentos. Primeiro, a presença de uma
estabilidade ao sistema político. Tal elemento se mostra um importante fator
explicativo para estudar a continuidade na representação parlamentar. Segundo o
autor, na medida em que haja uma estabilidade favorável para que a classe política
possa construir sua vida partidária, ocupação de cargos públicos, participar de
campanhas eleitorais. No Brasil, o cargo de Deputado Federal é considerado de nível
médio na hierarquia na estrutura de cargos políticos eletivos. Muitos mais postos, em
termos absolutos são oferecidos para os cargos de prefeito, vereador e deputado
estadual. Portanto, na medida em que uma estabilidade política esteja presente, mais
difícil torna-se o ingresso ao posto de forma desafiante e mais favorável aos que
buscam carreiras estáveis. Principalmente quando a taxa de circulação de postos se
apresenta de forma reduzida.
Dado um cenário político de maior estabilidade política, mas importante se
mostra ao aspirante, o tempo de experiência pregressa ao cargo. Os dados da
pesquisa do autor, que trabalhou 14 legislaturas e percorreu três ciclos de regime
partidários, constatou uma tendência de queda do contingente de parlamentares que
chegam à Câmara dos Deputados com longas experiências política. Divididos estes
contingentes em três grupos: menos de 4 anos, entre 5 e 15 anos e mais de 15 anos;
a mudança de queda mais significativa fora para o grupo de mais de 15 anos, que
inicia no ano de 1946, com 30% e termina para o ano de 1998 com 16%, sendo que
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em 1994 fora de 9%. Prevalece como maioria e de forma ascendente o grupo entre 5
e 15 anos de trajetória política. O primeiro grupo, com até 4 anos de experiência
política é ressaltado pelo autor, com estável frequência nos dados que dizem de laços
de descendentes de parentesco a políticos e baixa inexperiência política, os indivíduos
que são estranhos ao mundo da política e que queima etapas ao ocupar ao cargo de
deputado federal, aparecem como uma nova tendência do aspirante ao cargo
parlamentar.
Chamados de outsiders, estre grupo vem apresentando proporção de 30%
dentre os membros da Câmara que não possuem nem sequer nenhuma carreira
anterior. Somando-se as proporções dos outsiders com os de Trajetórias Locais
(vereadores e prefeitos), o contingente de ingressantes com vida política pregressa
chega a 60%. O que evidencia que, em tempos de estabilidade política e sistema
pluripartidário, como é caraterístico do último ciclo estudo por MARENCOS DOS
SANTOS (2000), a trajetória política anterior dos parlamentares quando alcançam o
primeiro mandato na Câmara constitui um perfil de político com baixa experiência
política e capaz de se mostrar um desafiante com sucesso eleitoral.
O que dizer da trajetória política do grupo de parlamentares que atuaram no
terceiro ciclo pluripartidário e demonstraram forte capacidade de sucesso eleitoral e
que construíram longa e estável carreira no parlamento federal?
A TRAJETÓRIA PREGRESSA DOS PARLAMENTARES LONGEVOS.
O objetivo aqui não é analisar os padrões de circulação no recrutamento
parlamentar brasileiro, mas, evidenciar, ainda que seja de forma percentualmente
descritiva, perfis e padrões de parlamentares federais que construíram uma carreira
estática e longeva, no atual período de experiência democrática e pluripartidária
brasileira.
Se a trajetória política de um parlamentar federal inicia-se em longa data de
atividade política e partidária, podendo ocorrer dentre as três esferas políticas
federativas; é possível inferir que a entrada e conquista eleitoral do primeiro mandato
de deputado federal não ocorre com trajetórias curtas e que, portanto, ficar no
exercício do cargo por um longo período requer experiência eleitoral e partidária
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pregressa. Em pesquisa realizada sobre o primeiro ciclo pluripartidário brasileiro,
MARENCO DOS SANTOS (2000) encontrou o predomínio de tempo de atividade
política pregressa mais longa, entre 5 e 15 anos, comparada com o segundo ciclo
pluripartidário. Segundo o autor, ainda que seja pequeno o grupo de parlamentarem
com 5 legislatura, suas trajetórias apresentam forte associação (r=.876, P>0.01) “entre
continuidade parlamentar e o tempo prévio de carreira antes do ingresso na Câmara”.
MARENCO DOS SANTOS (2000, p. 151) Com relação a idade, SANTOS (2000)
examinou a distribuição por faixa etária dos deputados federais brasileiros, entre 1946
até 1999, encontrou 68% dos deputados eleitos com idade entre 40 e 59 anos.
Uma primeira consideração é por se tratar de um grupo específico de 84
parlamentares, que alcançaram um longo tempo de exercício de mandato de
Deputado Federal. Suponho que a variável mais comum é a de experiência eleitoral e
legislativa longa anterior ao inicio da carreira estática. Portanto, ficará difícil a análise
comparativa com a maior parte dos trabalhos sobre o tema, que utilizaram dados
empíricos do total de integrantes da Câmara dos Deputados e em alguns casos,
inserindo parlamentares suplentes, que assumem o mandato e decidem concorrer à
reeleição.
Uma primeira análise descritiva é com o auxílio do “atributo adstrito” idade
(KELLER, 1967), que se refere à característica que diferenciam os indivíduos e que
permanecem com eles continuamente vinculadas, mas que podem ser importantes
para traçar perfis socioeconômicos de parlamentares.
Antes, esclareço que em relação ao outro atributo adstrito gênero, apenas uma
parlamentar, dentre os 84, fora verificada. Entre 1946 e 1999, SANTOS (2000, p. 96)
observa cresce incorporação das mulheres no legislativo, partindo de 6 (seis) casos
entre 1946-1967 para 88 casos entre 1987-99. Só para o ano das eleições gerais de
2010, segundo FEITOSA (2012) menciona apenas 45 candidatas eleitas,
demonstrando uma baixa frequência de casos com sucesso eleitoral, dado uma
elevação no número de candidaturas de mulheres para o cargo naquela eleição. Este
relativo interesse na carreira e ingresso no cargo parece não ter efeitos significativos
quando se trata de permanecer por mais tempo na casa legislativa federal.
Já com relação à idade, a média para os 84 parlamentares é de 46 anos,
quando vencem as eleições em 1994. Em 2010, que seria o último ano ao final de
quatro mandatos, a média de idade é de 62 anos, o que demonstra atributo adstrito
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idade factível e apropriado ao exercício de um cargo político de nível hierárquico na
estrutura de oportunidades médio. Ou seja, em média, ingressaram com idade
avançada para uma carreira política que poderia ter se iniciado aos 21 anos e quando
completam quatro mandatos, ainda possuem fôlego em relação ao fator idade para
pleitear uma carreira de ambição política progressiva.
TABELA 01 Faixa de idade (%) do ingresso no mandato (1995-1998)
Faixa etária 1995 % Acumulado
18 a 20 - - -
21 a 25 - - -
26 a 30 1 1% 1%
31 a 35 5 6% 7,0%
36 a 40 11 13% 20,0%
41 a 45 19 23% 42,7%
46 a 50 20 24% 66,5%
51 a 55 12 14% 80,8%
56 a 60 10 12% 92,7%
61 a 70 6 7% 99,8%
71 ou mais - - -
Total 84 100,0%
Fonte: TSE, Câmara dos Deputados/biografia: elaborada pelo autor.
Até a faixa de idade entre 51 e 55 anos, perto de 80% dos 84 parlamentares
venceram as eleições de 1994 para o cargo de Deputado Federal, demonstrando um
perfil de idade avançada e tardia. Dentre uma escala de idade (10 anos), predomina a
ocorrência de 36 (43%) para parlamentares que nasceram entre os anos de 1941 e
1950. A faixa posterior (1951 e 1960) vem em segundo lugar com 27 casos (32%).
Somados, acumulam 75% de políticos que nasceram ao longo do primeiro ciclo
pluripartidário (1945-1965). Como pode ser observado na tabela 01 acima, ao se
desmembrar a faixa de idade para 5 anos e remeter ao ano de 1995, quase 80% dos
84 parlamentares tinham até 55 anos de idade. Até a idade de 30 anos apresenta
apenas uma ocorrência, o que diz de uma faixa de idade de perfil de carreira política
que muito se afasta de um ingresso outsiders. Curta atividade política e carreiras
laterais parecem não caracterizar parlamentares federais com carreira estática e
longa. Qual foi a trajetória modal para estes indivíduos anterior ao inicio do mandado
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em 1995? Qual atividade profissional e política teriam prevalecido? Onde houve o
acúmulo de experiência eleitoral e partidária?
Dentro do que se distribui a trajetória modal, selecionei as atividades de cargos
políticos eletivos ocupados pelos 84 parlamentares antes de ocupar o mandato em
1995. Em média, os 84 parlamentares ocuparam quase 8 (oito) anos de alguma
atividade política eleitoral partidária Com base nas informações fornecidas na biografia
dos Deputados Federais da Câmara, pode-se constatar que prevalece a experiência
anterior adquirida em cargos legislativos proporcionais, com grande destaque para as
esferas estaduais e federais. Houve 16 ocorrências para a ocupação do cargo de
vereador em igual número para a ocupação do cargo executivo municipal, que
caracteriza a trajetória local de 19% dos parlamentares de carreira longa. È baixa a
porcentagem, comparada com a ocorrência estatística de 22 (26%) casos para
deputado estadual com os 39 (46%) para Deputado Federal, cuja ocupação do cargo
que depois pleiteará permanecer por mais tempo. A princípio, parece haver pouca
procedência de uma carreira política local, que representa a base na estrutura de
cargos políticos no Brasil e que poderia fornecer ao parlamentar federal com carreira
longa, base eleitoral, experiência política e recursos políticos e partidários para que a
construção de uma carreira com ambições políticas maiores fosse alcançada.
TABELA 02 Trajetória pregressa de cargos políticos eletivos.
Municipal Estadual Federal
Prefeito Vereador Governador Dep. Estadual Dep. Federal Senador
16 16 1 22 39 1
Prefeito /vereador
12
Prefeitos/vereador/demais 16
Deputado Estadual
9
Deputado Estadual e Federal
6
Deputado Federal
22
Outros
19
Total 84
Fonte: Câmara dos Deputados: Biografia, elaborada pelo autor.
Em vista de uma trajetória política partidária pregressa longa, com média de
oito anos, busquei somar e apresentar na tabela 02 as ocorrências de acúmulos de
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cargos eletivos. Observa-se que, dentre os casos isolados: somente ter sido: prefeito e
vereador, deputado estadual ou deputado federal, se destaca em ocorrência o cargo
de Deputado Federal. Foram 22 casos de parlamentares que ocuparam o cargo de
Deputado Federal, antes de permanecem por mais quatro mandatos no mesmo cargo
proporcional. Pode-se ainda, somar os casos mais próximos em perfis, quando
constatamos 16 casos de prefeitos/vereador/demais, com outros 6 casos de deputado
estadual e federal. Pode-se inferir que para quase 44 casos, houve um ou mais a
ocupação da atividade política de um cargo proporcional, que exige a capacidade de
ter sido filiado por algum partido, eleito pelo sistema eleitoral de RPLA, atividade e
experiência em legislativo. Para ser mais preciso nos dados, são 39 casos de
parlamentares que ocuparam o cargo de Deputado Federal no mandato anterior
(1990-1994).
A ocorrência “outros”, com 19 ocorrências, não pode ser desprezada na
análise, uma vez que abarca todas as outras possibilidades de atuação, tanto
profissional como política, uma vez que representa a ocupação de cargos políticos não
eletivos, representação em associações, como: sindicatos, partidos e demais
existentes na sociedade civil. No entanto, representa uma trajetória mais próxima do
que AMES (1003) chama de burocrática e empresarial.
DADOS PARTIDÁRIOS DA TRAJETÓRIA PREGRESSA
Haveria um padrão ideológico e partidário predominante na trajetória pregressa
de parlamentares que conquistaram uma carreira estática e longeva na Câmara?
Mesmo que a literatura consagre que os políticos buscam uma ambição estática ou
progressiva de suas carreiras, MARENCO DOS SANTOS; SERNA (2007)
encontraram padrões de carreira política não homogêneos para parlamentares filiados
à partidos de direita e esquerda, de três países: Brasil, Chile e Uruguai; ao buscar
explicações de padrões de recrutamento para o legislativo. RODRIGUES (2002, 2006)
também encontra relação consistente e coerente entre os meios socioocupacionais de
recrutamento partidário e orientações político-programáticas dos partidos no Brasil.
Como se configura a trajetória dos políticos e qual seria esta não
homogeneidade, inseridos e atuantes partidariamente em mais de um sistema
partidário vigente? Mantendo a base de dados biográficos dos parlamentares eleitos
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por quadro mandatos consecutivos (1995-2010), serão levantados: 1) o ano e partido
político da primeira filiação partidária e mais o partido pelo qual concorreu nas eleições
de 1994 e 2006, (primeiro e quarto mandatos); 2) o número de legendas até 2010, que
marca a trajetória de filiação partidária dos 84 parlamentares; 3) a formação e
profissão do parlamentar e qual atividade política/profissional exercia no mandato
imediato anterior as eleições de 1994.
Existem diferenças observadas nos padrões de carreira política, explicadas por
haver variações no “perfil social e recursos individuais dos candidatos eleitos por cada
legenda partidária” (partidos de esquerda e direita). (MARENCO DOS SANTOS;
SERNA, 2007, p.93) Os partidos de esquerda apresentariam um perfil de carreira
endógena. Os políticos dependeriam mais da estrutura organizacional partidária e
associativa, por terem menos recursos eleitorais próprios, assim como, predomina o
recrutamento da bancada eleita de atividade profissional exercida no setor público,
classe média assalariada, sindicatos, lideranças associativas e lideranças de
movimento sociais. No caso dos parlamentares eleitos por partidos de direita, o
recrutamento social é mais elitista, de proprietários, profissionais liberais e com
recursos materiais próprios; que os torna mais independente da estrutura
organizacional financeira do partido pelo qual esteja filiado, implicando também, em
menor lealdade à filiação partidária. Para além de identificarmos os recursos
individuais advindo da posição social, a pesquisa irá percorrer também as diferentes
bases sociais de recrutamento partidários para os 84 parlamentares.
O ano em que ocorreu a primeira filiação partidária tipifica a geração política
pela qual são advindos os políticos. Com base nos dados que mensuram o número de
legendas partidárias pelo qual os 84 parlamentares foram membros até 2010, obtemos
uma média de 3,5 legendas. Com um caso extremo de político que passou por 10
legendas, somente 14 ocorrências são verificadas para políticos que ficam com
exclusividade em uma única legenda partidária. Isto significa também que
organizações partidárias estão consolidando e oferecendo estrutura partidária para
seus membros filiados construam carreiras políticas longas. Cabe observar também,
que algumas legendas importantes mudaram de nome, como por exemplo: MDB para
PMDB, ARENA para PDS/PPB/PP e PFL para DEM, dentre outras, o que contribui
para elevar a média do número de legendas.
Recortando os dados em três grupos do sistema partidário brasileiro, Verificou-
se 27 indivíduos para o primeiro grupo demarcado (1954 – 1979). O ano de 1954
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marca o ano da primeira filiação constatada até o ano da lei que amplia o número de
partidos políticos após o sistema bipartidário. Para o segundo grupo (1980 – 1989),
verificou-se 53 casos de políticos que efetivaram a primeira filiação na década de 80,
que representa um contexto político de abertura política e partidária, onde novas e
antigas legendas voltam a existir enquanto estrutura organizacional partidária. Por fim,
o terceiro grupo (1990 até 1994) tiveram apenas 14 parlamentares que iniciaram como
filiados após as eleições legislativas proporcionais de 1990, configurado num contexto
de maior estabilidade no sistema partidário brasileiro.
RODRIGUES (2002, p. 20) encontrou uma relação consistente e coerente entre
os meios socioocupacionais de recrutamento partidário e as orientações político-
programáticas dos partidos, na escala ideológica direita-centro-esquerda. Pesquisando
somente a 51ª legislatura federal brasileira (1999-2003), o autor estava interessado
em fornecer informações sobre as fontes de recrutamento “da parcela” de
representantes da Câmara e que ajuda na avaliação dos partidos brasileiros. O autor
analisou seis partidos (PFL, PSDB, PMDB, PPB, PT, PDT) dentre as 18 legendas que
possuíam representação partidária na Câmara e abarca 84% das cadeiras. No caso
dos dados coletados por esta pesquisa, foram identificadas 18 legendas pelo qual se
distribuiu a primeira filiação dos 84 parlamentares. Conforme podem ser observadas
na Tabela 03, elas foram separadas por três blocos ideológicos. Os critérios teóricos
da orientação ideológica-partidário seguem a orientação de RODRIGUES (2002). No
caso do PTB, por exemplo, existe uma filiação com data de 1963 e outra com data de
1989. O PSD, PL, PTN, UDN e PDC (1); são legendas que remontam ao primeiro
período pluripartidário (1945-1965). ARENA e MDB remontam ao período bipartidário
(1996-1979). PDS, PDC (3), PFL, PP, PRN, PSDB, PMDB, PDT, PT e PV; são
partidos políticos constituídos no atual período pluripartidário.
Tabela 03 Primeira filiação por três blocos ideológicos.
Direita Centro Esquerda
ARENA (11) PSD (2) MDB (8) PDT (3)
PDC (4) PMDB (16) PT (5)
PDS (7) PSDB (5) PTB (1)
PFL (14)
PV (1)
PL (1)/PP (1)/ PRN (1)
PTB (1)/PTN (1)
UDN (2)
15
43 31 10
51% 37% 12%
Fonte: Câmara dos Deputados/biografia: elaborada pelo autor.
Os dados revelam que metade dos 84 parlamentares inicia a filiação em
partidos do bloco ideológico de direita. Quase 40% no bloco ideológico de centro.
Somente 12% são oriundos no bloco de esquerda. A definição de determinado
partidos serem de direita, centro ou esquerda, tem sido adotada, discutida e
caracterizada com muitas controvérsias, dentre os pesquisadores brasileiros e
brasilianistas. A preocupação aqui é fazer a caracterização partidária-ideológica com
menor interesse com relação ao recrutamento partidários dos políticos e maior
interesse em destacar que; dado um perfil ideológico-partidário, o político estaria
iniciando sua atividade político-partidária com maior ou menor autonomia frente a
organização partidária. O que pode ser explicativa do perfil da trajetória pregressa
deste grupo de 84 parlamentares é que possuem trajetória partidária média de 13
anos (até 1994), migração em média por mais de 3 legendas e alta concentração
advinda de bloco ideológico de direita e centro.
Já o perfil educacional dos 84 parlamentares classifica-se ao lado do perfil
socioocupacional como atributos adquiridos (KELLER, 1971), ou seja, que podem ser
conquistados ou aperfeiçoados pelos indivíduos ao longo da vida. No caso do atributo
escolaridade, surpreende que 13 (15%) dos 84 parlamentares não possuíam
escolaridade de superior completo, uma vez que a educação é um requisito importante
para os políticos atingirem postos médios de poder político, como é o caso para
Deputado Federal. No entanto, estes percentuais de escolaridade sem curso superior
completo não se distanciam muito, quando comparados, por exemplo, com os dados
para todos os integrantes da 51ª legislatura, em que 17,2% (88) parlamentares
possuíam escolaridade até superior incompleto. (RODRIGUES, 2006, P. 163)
Partindo do pressuposto que o recrutamento parlamentar de cada partido
ocorre de meios sociais e profissionais variados, a expectativa aqui é encontrar se
existem padrões de ocupação socioocupacional para os três grupos de geração de
políticos, ao longo da sua trajetória pregressa. Outro prisma que pode ser perseguido
é o cruzamento ideológico-partidário e socioocupacional. Os dados foram obtidos na
seção de biografia, da Câmara dos Deputados. Seguindo os termos trabalhados por
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RODRIGUES (2002), que distribui ao profissões/ocupações de forma desagregada, o
dados do grupo de 84 parlamentares na tabela 04 demonstrou uma alta porcentagem
para a categoria ocupacional de “Profissionais liberais tradicionais”. Dentre elas, se
destacam profissionais com formação superior nas áreas do: direito (28 casos),
engenharia (14 diversas) e médicos (10 casos).
Tabela 04 Atividade socioocupacional para 84 parlamentares
Categorias Ocupacionais Absolutos %
Profissionais liberais tradicionais 69 82%
Empresários urbanos 17 20%
Empresários rurais 5 6%
Comunicadores 5 6%
Trabalhadores industriais qualificados 3 4%
Pastores e padres 1 1%
Lavradores e trabalhadores rurais 1 1%
Total 84 (17) 120%
Fonte: Câmara dos Deputados/biografia: elaborado pelo autor
Alguns parlamentares indicaram mais de uma atividade profissional e
acumulou-se para 17 casos, o que revela uma forte presença (82%) dos profissionais
liberais tradicionais. RODRIGUES (2002, p. 64) já havia chamado a atenção para a
“forte representação nos três blocos ideológicos” da categoria profissionais liberais
tradicionais, ao analisar o perfil dos 513 integrantes referente à 51ª legislatura (1999-
2003). É um ramo de atividade bastante heterogêneo. Nas palavras do autor:
“Alguns grandes nomes, de muita legitimidade, podem conseguir
uma taxa elevada de conversão de capital cultural e intelectual em
capital econômico e chegar a rendimentos muitos altos, superiores a de
muitos empresários. Outros (principalmente jovens em início de
carreiras) podem estar nos estratos intermediários de renda e status.”
(RODRIGUES, 2002, p. 64)
17
Na Tabela 05, foram cruzados os dados absolutos das categorias
socioocupacionais para os 84 parlamentares, eleitos em 1994, por três blocos
ideológico-partidários, dando prioridade à atividade profissional de “empresário”,
quando o político informava também sua “profissão liberal tradicional”. Observa-se em
relação a anterior tabela 04, algumas quedas percentuais, uma vez que não se
trabalha mais com duplicidade de informações das categorias socioocupacionais. Com
este critério adotado, fica mais visível a coerente distribuição social e profissional com
as orientações políticas e ideológicas do início da filiação partidárias, encontrada por
RODRIGUES (2002) para a Câmara dos Deputados brasileira e MARENCOS DOS
SANTOS; SERNA (2007) para os legisladores de Brasil, Chile e Uruguai.
Tabela 05 Categoria socioocupacional por bloco ideológico.
Blocos ideológicos Direita Centro Esquerda T.
Profissões/Ocupações, 1994
PFL
PL
PP
PPR
PTB
PMDB
PSDB
PCdoB
PDT
PT
PV
PSB %
Profissionais liberais tradicionais. 12 2 2 6 3 13 9
2 3
3 65%
Empresários urbanos 7
2 1 1 2 2
2
20%
Empresários rurais 1
1
2
5%
Comunicadores 1
1
1
4%
Trabalhadores ind. qual.
3
4%
Pastores e padres
1
1%
Lavradores e trab. rurais
1
1%
Total 21 2 6 7 4 17 11 1 4 7 1 3 84
Fonte: Câmara dos Deputados/biografia: elaborado pelo autor.
A categoria de “empresários” fora dividida entre urbana e rural. Muitos políticos
são construtores, diretores de empresa, ocupam cargos de direção em empresas
públicas, agropecuaristas e demais atividade que podemos denomina-los como
empresários. A relação que quero estabelecer é a de que, no momento do ingresso na
atividade política, marcada pela primeira filiação partidária, seja para ocupar cargos no
partido político, cargos de confiança no poder executivo ou disputar eleições; tem uma
forte relação com a sua autoatribuição de atividade socioocupacional mencionada em
18
sua biografia na Câmara dos Deputados. Fora significativa a presença da categoria
“empresariado” nos partidos pertencentes ao bloco de direita, com menor presença no
bloco de centro e quase inexistente entre os partidos do bloco de esquerda. Com
relação ao bloco de esquerda, cabe observar a presença de categoria como:
lavradores rurais, trabalhadores da indústria qualificados e comunicadores. O bloco de
centro, com maior presença de profissionais liberais tradicionais, como é típico desde
grupo, observa-se que; dentre os três blocos, uma nítida gradação de maior para
menor nos números de casos, quando se cruza a análise com o espectro ideológico-
partidário da direção direita-centro-esquerda.
Na tabela 06 que segue abaixo, os dados priorizaram a atividade dos 84
parlamentares nos 4 anos anteriores ao ingresso, no período (1990-94). A
mensuração neste período busca enxergar com maior precisão o capital intelectual,
político e econômico que o projetou para o primeiro, dentre os quatro mandatos
seguintes.
Tabela 06 Categoria socioocupacional em 1990-94, por bloco ideológico.
Blocos ideológicos/1990-94 direita centro esquerda Total
Profissões/Ocupações.1990-94 PFL PL PP PPR PTB PMDB PSDB PCdoB PDT PT PV PPS PSB %
Deputado Federal 9 5 3
4 9 2 1 1 3 1 1
46%
Deputado Estadual 1
1
3 4 1
2
1 15%
Vereador/Prefeito 2
3
3 2
1 1
14%
Altos funcionários públicos
1
2 1
1 6%
Profissionais liberais trad.
2
2%
Empresários urbanos
e rurais 1 1 1
1
5%
Associações/políticos
3
2
1
7%
Comunicadores
1
1
1
4%
Total 13 6 13 0 7 21 9 1 2 7 2 1 2 84
Fonte: Câmara dos Deputados/biografia: elaborada pelo autor.
Pode-se constatar agora uma forte percentagem de “políticos profissionais”,
entendido aqui não como atividade profissional exclusiva, mas como atividade última
anterior, demarcando um mínimo de 4 anos de experiências em eleições no sistema
eleitoral RPLA, atividade legislativa e partidária. Se somarmos as três atividade
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legislativas (vereador, deputado estadual e federal) chegamos a 75% do grupo e se
consideramos as atividade política de “altos funcionários públicos” e
associações/políticos” como também, oportunidades de os torna-los mais propensos a
uma construção de uma carreira de “políticos profissionais”, esta percentagem chega a
87% dos 84 dos parlamentares federais com carreira estática e longa. Portanto, no
que é percurso da trajetória pregressa, desde o momento inicial da primeira filiação até
o ano de 1994, que marca o início da carreira estática e longa aqui investigada, fora
mensurada um tempo médio de 13 anos para os 84 parlamentares.
Ao se comparar os números de partidos políticos por bloco ideológico direita-
centro-esquerda e suas percentagens, constata-se uma leve inclinação positiva para o
bloco da esquerda e negativa na direita, mas, mantendo um perfil majoritariamente do
bloco de direita, somando-se a segunda maior força o bloco de centro e uma menor
presença de partidos representantes do bloco de esquerda.
Tabela 07 Três períodos da trajetória partidária por bloco ideológico.
Trajetória pregressa direita centro esquerda
Partidos 1ª filiação 51% 37% 12%
Partido eleição 1994 48% 33% 19%
Partido eleição 2006 46% 36% 18%
Fonte: Câmara dos Deputados/biografia: elaborada pelo autor.
Por fim, ao se comparar os números de partidos, observa-se uma maior
pluralidade no momento de primeira filiação partidária, com 10 legendas no bloco de
direita, explicada pelo fato de que, os 84 parlamentares realizaram este passo na vida
política partidária em três distintos períodos do sistema partidário brasileiro. Quando
se mensura o número de partidos para as eleições de 1994 e 2006, ano este último
que demarca a terceira eleição disputada pelos 84 parlamentares no recorte desta
pesquisa, para ambos os anos, o número cai para 5 partidos. Já em relação aos
números do bloco de esquerda, que era de 4 legendas do momento da primeira
filiação, cresce para 5 e 6, para as eleições de 1994 e 2006. Não só em
representação política que o bloco de esquerda levemente aumenta, mas também no
número de partidos políticos que garantem espaço organizacional para carreiras
estática e longa na Câmara dos Deputados.
20
CONSIDERAÇÕES
Duas considerações devem ser iniciadas neste momento da pesquisa.
Primeiro, tendo em vista que, parte da literatura acadêmica argumentar que, o sistema
de eleições proporcionais uninominais de lista aberta, principalmente em
circunscrições eleitorais de magnitude muito elevada, facilita a entrada de
“desafiadores” e dificulta a reeleição dos “veteranos”, foram altas a percentagens de
deputados federais que alcançaram a reeleição, nas eleições de 1994. Buscar a
trajetória pregressa para os 84 parlamentares federais evidenciou uma alta
percentagem de políticos que já estavam sob a experiência e vigência dos sistemas
eleitoral e partidário, foram bem sucedidos eleitoralmente quando do momento que
construíram uma carreira estática e longa na Câmara dos Deputados.
Dentre os 84 parlamentares, 39 (75%) exerciam o mesmo cargo no mandato
imediatamente anterior (1990-1994) e quase 69 (88%) dos parlamentares podem ser
considerados “políticos profissionais”, na medida em que já exerciam cargos políticos
outros, seja no poder executivo, seja no legislativo e tiveram sucesso eleitoral em suas
carreiras políticas, tanto quando apostaram a ambição estática como na ambição
progressiva.
Um segundo ponto a considerar, é voltar a análise para o quadro dos partidos,
dentro da distribuição por bloco ideológico-partidário. Para as eleições de 2002,
RODRIGUES (2006, p. 157) verificou mudanças em relação ao quadro sucessório na
Câmara dos Deputados. Para o autor, os partidos de direita e centro “tiveram mais
dificuldade para renovar suas bancadas do que os partidos de esquerda”. Seguindo
suas análises, o fato dos partidos de esquerda estarem ampliando suas bancadas no
Congresso, explica a maior renovação de seus quadros representativos. No caso dos
partidos de direita e esquerda, apresentaram maiores proporções percentuais de
reeleitos por partidos. Dentro de uma análise do autor quer observou mudanças da
classe política no total dos integrantes da Câmara dos Deputados para as 51ª e 52ª
legislaturas, um dos resultados foi verificar bancadas mais experientes para os
partidos de direita e centro, uma vez que taxas de renovação foram menores e com
tendência de menor tamanho.
21
Considerado que, para os dados apresentados por bloco ideológico-partidário
dos 84 parlamentares com carreira estática e longevas, numa perspectiva de três
grandes períodos de suas trajetórias partidárias que percorre, do momento de sua
primeira filiação até as eleições de 2006, que houve uma diminuição da representação
partidária, para os partidos de direita transportada para os partidos de esquerda,
permanecendo quase inalterada, mudanças nas percentagens dos partidos de centro.
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