uma aproximação geopolítica ao atlas de pedro teixeira de 1634
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Armando Teixeira Carneiro(Vice-Presidente do CPG – Centro Português de Geopolítica)
Palestra no Museu Marítimo de Ílhavo
2007.03.16 21:00Hm
uma aproximação geopolítica ao Atlas de Pedro Teixeira de 1634
Armando Teixeira Carneiro(Vice-Presidente do CPG – Centro Português de Geopolítica)
Palestra no Museu Marítimo de Ílhavo
2007.03.16 21:00HmRotary Club de AveiroRotary Club de Ílhavo
O Atlas de Pedro Teixeira• enquadramento conceptual geopolítico
modelos terrestres e modelos marítimos
• excursus histórico nos séculos XV a XVII
o período filipino do Reino de Portugal
deslizamento de circunstância de Portugal
as costas da península como nova frente de combate
• a justificação estratégica do Atlas
• a tradição cartográfica portuguesa
Pedro Teixeira, o seu tempo e sua obra
• análise da cartografia do Atlas
enquadramento conceptual 1
geopolítica: a interpretação e a condução da política em
função do enquadramento geográficoconceitos que surgem na viragem do século XIX para o XX
(Rudolf Kjelen e Friederich Ratzel) baseado nalguns key concepts:
o Homem e a sua circunstânciaJosé Ortega y Gasset
as Comunidades num referencial espaço-tempo
determinismo probabilístico Arnold Toynbee (A Study in History)
Raymond Aroninfluência das características intrínsecas de um povo
(o carácter nacional)
enquadramento conceptual 2
oposição mar-terramodelo continental versus modelo marítimo
Halford John Mackinder (1861-1947) Alfred Thayer Mahan (1840-1914)
(teoria dos grandes espaços)
poder aéreoGiulio Douhet (1869-1930) Alexander Seversky (1894-1974)
poderes conjugadosNicholas Spykman (1893-1943) Saul Bernard Cohen (1930- )
modelos de Mackinder
modelo de 1904 modelo de 1943
Hearthland Midland Ocean
massa continental eurasiana potências marítimas
modelo terrestre hausshoferiano
Karl Hausshofer (1869-1946)
modelo terrestre desenvolvido sobre os meridianos (espaços Norte-Sul)
recuperação de conceito de Friederich Ratzel: Lebensraum (espaço vital)
Pacto de Aço: 1939.05.22 reafirmando o Eixo Roma-Berlim de 1936
Pacto de Não Agressão Germano-Soviético: 1939.08.23
evolução recente dos modelos geopolíticos2
mundo unipolar USA (1989 …)
mundo multipolar
emergência de blocos (EU, ALCA, Mercosul, NAFTA,…)
turbulência do mundo árabe
emergência da China
emergência da Índia
evolução recente dos modelos geopolíticos1
acordo de Yalta: 1945.02.04-11(Winston Churchill, Franklin D. Roosevelt, Josef V. Stalin)
mundo bipolar USA-URSS (1945-1989)
modelo hausshoferiano modificado pelo controlo dosespaços marítimoseespaços aéreos (G. Douhet , 1921 e A N P Seversky, 1942)
nível atmosféricoespaço aéreo: nível estratosférico
nível astronáutico
evolução recente dos modelos geopolíticos3
mundo multipolar modulado pelos novos espaços reticulares
envolvente reticular
(Teoria das Envolventes: Javier Echeverría)
modelo geopolítico reticulardomínio sobre os “nodos” das redes de conhecimento
reforço da posição internacional(Teoria do modelo geopolítico reticular: ATC)
evolução recente dos modelos geopolíticos4
modelo geopolítico reticular
Quem assumir um determinado domínio sobre os “nodos” principais das “redes de conhecimento” garante um reforço do seu “posicionamento internacional”. Os fluxos de informação que passam por essas redes são suportados num veículo linguístico específico, donde ser prioritária a defesa e difusão do uso da língua aglutinante.
Diagrama relacional de Portugal no mundo
América Europa N Península Ibérica Linha equatorial Portugal S África Ásia
Algoritmos geopolíticos 1
equação do poder de Ray S. Cline :
P = f [Σ(C+E+M).Σ(S+W)]
factores potenciadores de modulaçãoP: potencial estratégico percebido,C: massa crítica: C = f (T,P) T: território, P: população,E : capacidade económica do Estado, M: capacidade militar,S: valor da estratégia nacional e W: determinação nacional.
equação de potencial de Nicholas Spykman:
Pl,t = f (Q, E-1, D-1)
P: poder em dado local, l, e em determinado momento, t, Q: potencial mássico = somatório das forças materiais,E: dinâmica (resiliência) do meio, D: distância do centro de poder ao ponto de aplicação local, l.
Algoritmos geopolíticos 2
os resultados do domínio prolongado de um Estado-nação sobre outras sociedades diversas e com diferentes populações e graus civilizacionais próprios são analisados pelo algoritmo:
grau de influência civilizacional de A. Estrela Teixeira:
G = f (T, P%, D-1, CA-1, CS-1)
T: tempo de domínio, P%: percentagem da população da sociedade dominante deslocada relativamente à população local, D: distância entre o território dominado e o centro da sociedade dominadora, CA: características civilizacionais da sociedade antecedente no local, CS: grau de coesão social.
Um dos componentes mais importantes da cultura transferida, ou cultura absorvida, é a língua como vector fundamental de comunicação.
posicionamento geopolítico de Portugalaté ao começo do século XVII 1
núcleo geo-histórico: Condado portucalenseas “bacias paralelas” dos rios conduzem à diversidade a partir do isolamento (análise de
Amorim Girão)
1139: declaração de independência de Portugal por D. Afonso Henriques
1143.10.05: tratado de Zamora(Afonso VII de Castela e Leão reconhece o Reino de Portugal)
Península Ibérica fragmentada em pequenos reinos:A partir do Reino das Astúrias faz-se a reconquista criando-se reinos de base visigoda coexistindo
com reinos muçulmanos: Leão, Castela, Navarra, Aragão, Portugal, Catalunha, Granada, …
Portugal assume os seus primeiros vectores estratégicos:
o) estabelecimento de alianças através do Atlântico para NorteAs relações com os cruzados do Norte: Berengária (1194-1221), filha de D. Sancho I casou-se com
Valdemar II da Dinamarcab) consolidação das fronteiras a leste na Penínsulac) expansão a sul
posicionamento geopolítico de Portugal até ao começo do século XVII 2
etapas de aglutinação ibérica:
1230: primeira união Leão + Castela, com Portugal a aproximar-se a sua fronteira sul ao Algarve
1249-1250: Portugal consolida as suas fronteiras actuais
1385.08.14: Batalha de Aljubarrota: Castela verifica não conseguir pelas armas dominar Portugal (D. João I de Portugal versus D. Juan I de Castilla)
eventos estelares na Europa:
1453.05.29: Queda de Constantinopla frente aos Turcos Otomanos
1453.07.17: Batalha de Castillon, fim da Guerra dos Cem Anos (1337-53)(entre a França e a Inglaterra e respectivos aliados)
posicionamento geopolítico de Portugal até ao começo do século XVII 3
1476.03.02: Batalha de Toro: Portugal não tem força para se impor a Castela (D. Afonso V versus Isabel I): questão dinástica de Castela
(Juana la Beltraneja filha de Juana de Portugal e de Henrique IV ?)
1479: união Castela + Aragão (reis Católicos: Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão)
eventos estelares na Península Ibérica:
1492.01.02: queda de Granada (queda do Rei de Granada Boabdil)
1492.03.30: Decreto de Alhambra (expulsão dos judeus)(um acto de graves e prolongados efeitos para a Península Ibérica)
1492.10.12: Cristóvão Colombo chega à Ilha de Guanahani (Bahamas)
1492: Gramática Castellana de Antonio de Nebrija (Universidade de Salamanca)(a primeira gramática de língua europeia, com objectivos estratégicos)
posicionamento geopolítico de Portugal até ao começo do século XVII 4
tendências geo-estratégicas de Portugal nos séculos XV a XVI
• consolidação da viragem de Portugal a África e ao Atlântico(tentativas de consolidação nas costas marroquinas, navegação ao longo da costa africana
e exploração do oceano largo)
• uso de meios técnico-militares superiores, políticas adequadas de desenvolvimento e consolidação do conhecimento
(que pouco duraram em virtude do esgotamento do modelo e de uma acumulação de erros estratégicos)
• assunção de centralidade enquanto Estado predominante
que se iria lentamente, até hoje, transformar-se em periferialidade…
posicionamento geopolítico de Portugal até ao começo do século XVII 5
tendências geo-estratégicas de Portugal do século XVI para o XVII
• a unificação da política externa dos Reinos Ibéricos unificados sob a Casa de Áustria (Habsburgo) envolve Portugal numa situação de mudança repentina de alianças, afastando-se dos seus interesses de potência marítima para assumir-se como parte interessada dum império de raiz predominantemente continental
• as suas costas atlânticas passam a ser fronteira de conflito com os inimigos da Casa de Áustria
• os territórios de além-mar passam a ser atacados pelos novos interesses marítimos (Inglaterra, Holanda, França)
O declínio do domínio marítimo português começa a verificar-se no segundo quartel do século XVI e agrava-se com a unificação ibérica já que Castela se encontrava também em fase descendente e nunca havia sido uma verdadeira nação marítima.
os Reis da Dinastia de Aviz principais actores
do momento estelar de PortugalD. Afonso V D. João II D. Manuel I D. João III D. Sebastião
1432-1481 1455-1495 1469-1521 1502-1557 1554-1578
1438-1481 1481-1495 1495-1521 1521-1557 1557-1578
Acordos peninsulares conducentes a um mundo bipolar
Tratado de Alcáçovas 1479.09.04
entre representantes de D. Afonso V e D. Fernando II e D. Isabel I (Reis Católicos)
Canárias para Castela Madeira, Açores e Cabo Verde para Portugal
paralelo de partição do Cabo Bojador
Ratificação de Toledo 1480.03
Bula Æterni Regis (Papa Sixto VI), 1481, ratifica o paralelo de Alcáçovas.
Acordos peninsulares conducentes a um mundo bipolar
Bula Inter Cætera (Papa Alexandre VI) 1493.05.03 meridiano de partição: 100 léguas a Oeste de Cabo Verde e Açores
Tratado de Tordesillas 1494.06.07
entre representantes de D. João II e D. Fernando II e D. Isabel I
semi-meridiano de partição : 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde
(hoje calculado na longitude 46º 37’ W)
Bula (Papa Júlio II) 1506 ratifica o Tratado de Tordesilhas
Acordos peninsulares conducentes a um mundo bipolar
Escritura de Zaragoza 1529.04.22
entre representantes de D. João III e do Imperador Carlos V
novo semi-meridiano de partição :
297.5 léguas a leste das ilhas Molucas
(hoje calculado na longitude 145º E, afastado para E de 14º 37’ do antimeridiano de Tordesillas em 133º 23’ E o que dava a Portugal um
espaço de dominância de 194º 37’ em 360º)
as Molucas para Portugal e as Filipinas para Espanha
A partilha resultante do Tratado de Tordesillas e da Escritura de Zaragoza
o primeiro modelo bipolar mundial
Felipe II Felipe III Felipe IV
A dinastia da Casa de Áustria começada com Carlos I de Castela (Imperador Carlos V) e continuada por Felipe II teve com eles um período de expansão e grandeza mas a partir de Felipe III iniciou-se o ciclo dos “Austrias menores” que marcou o começo do declínio de Espanha como grande potência.
os Reis da Dinastia Filipina em PortugalD. Filipe I D. Filipe II D. Filipe III
1527-1598 1578-1621 1605-1665
1580-1598 1598-1621 1621-1640
posicionamento geopolítico de Portugal a partir do 2º quartel do século XVII 5
Paz de Westfáliaintroduziu alguns novos conceitos como os de
soberania estatal e Estado-nação
(importante intervenção do Cardeal Richelieu (Louis XIII), nos anos de guerra, e do Cardeal Mazarin (Louis XIV), principal obreiro do Tratado dos Pirenéus)
1648.01.30: Tratado de Münster paz entre Espanha e as Províncias Unidas (Guerra dos 80 anos)
1648.10.24: Tratado de Osnabrückpaz entre França, Suécia e o Sacro Império
1659: Tratado dos Pirenéuspaz entre Espanha e a França
Portugal foi excluído dos Acordos da Paz de Westfália por pressão da Espanha
técnicas de orientação em navegação
navegação primitiva:rumos (agulha magnética) + distâncias
cartas por irradiação de rumos
cartas-portulanos(portulano = roteiro)
grande imprecisão no cálculo de latitudes: (pela altura do Sol e de estrelas)
incapacidade de cálculo de longitudes(problema só resolvido em meados do século XVIII pelo cronógrafo de Harrison)
a cartografia portuguesa 1
cartografia sec. XIV e XV: escolas italiana e aragonesao referencial do Mediterâneo
os conhecimentos portugueses eram muito reduzidos
1415-1434: início da investigação portuguesa:• regime dos ventos• modificação da forma e estrutura dos navios e do seu sistema vélico• técnicas de velejar (contra o vento – à bolina e volta pelo mar largo)
1445: início da cartografia náutica em Portugaldefinição de légua portuguesa (= 4 léguas italianas)
(1 légua portuguesa = 3,197 milhas náuticas de hoje, 1 milha náutica = 1852 m)
a cartografia portuguesa 2
dificuldades da cartografia da época:• processos de levantamento e representação• inexistência de cálculo exacto de latitudes• desconhecimento do fenómeno da declinação magnética• incapacidade de determinação das longitudes
1520: explosão da cartografia náutica portuguesa
• primeiro cartógrafo português de registo: Lopo Homem (1519)• levantamento hidrográfico das costas atlânticas, indianas e chinesas• estudos matemáticos de Pedro Nunes (propõe a navegação pelas
loxodrómicas e a solução para a correcção das cartas náuticas)
a cartografia portuguesa 3
declínio e decadência da cartografia portuguesa:
a partir da 2ª metade do sec. XVI:
• diminuição da quantidade de cartas produzidas• estagnação técnica• a projecção Mercator *cujos princípios haviam sido definidos, havia
mais de 50 anos, por Pedro Nunes** e implantada nas novas cartografias holandesa e inglesa não era seguida
* projecção Mercator (1569) de autoria de Gehrard Kremer** ler Tratado da Sphera de Pedro Nunes
a família de cartógrafos Teixeira1ª geração
Pêro Fernandes2ª geração
Luís Teixeira Marcos Fernandes Domingos Teixeira(Cosmógrafo-Mór do Reino de Portugal)3ª geração
Pedro Teixeira Albernaz João Teixeira Estevão Teixeira
4ª geração
João Teixeira Albernaz5ª geração
Francisco Albernaz
a importância dos cartógrafos portugueses em Espanha
João Batista Lavanha:
professor de Matemática de Felipe IV de Espanha
Cosmógrafo-Mór do Reino de Portugal
Pedro Teixeira Albernaz:
vários trabalhos para Felipe III e Felipe IV
em co-autoria com o irmão João Teixeira Albernaz
e sob orientação de seu Mestre João Batista Lavanha
último trabalho: Cartografia Monumental da Villa de Madrid (1656)
Descripción de la España y de las Costas y Puertos de sus Reynos
Pedro Teixeira Albernas1634
Texto manuscrito descoberto na Biblioteca Nacional de Madrid[B.N.M. Ms. 1802]
1ª publicação no Boletín de la Real Sociedad Geográfica, Madrid, 1910Texto introdutório de A Blázquez
OATLAS DOREI PLANETA Cartografia das Costas e Portos
da Península I bérica1634
Pedro Teixeira Albernas( , 1595- , 1662)Lisboa Madrid
Cartografia descoberta o na Biblioteca Nacional de Madrid[B.N.M. Ms. 1802]
1ª publicação no Boletín de la Real Sociedad Geografica, Madrid, 1910Texto introdutório de A Blázquez
A costa de Portugal é a mais detalhada e surge com 20 cartas particulares, não só por ser a mais conhecida do cartógrafo mas, certamente, pelo seu sistemático levantamento e as escalas variam entre a meia légua e as três léguas.
O conceito de navegação em águas restritas não existia pelo que a cartografia náutica servia apenas a navegação em mar aberto.
A representação cartográfica da costa é feita em projecção plana, sem referências de posição nem retícula de meridiana e paralelos.
Os desenhos são efectuados em perspectiva, como se o cartógrafo contemplasse a costa de um lugar elevado, situado no mar, característica da escola cartográfica náutica portuguesa, permitindo reconhecer o litoral e alguns aspectos morfológicos do interior.
Os portos e troços de costa, assumindo mais o aspecto de roteiro do que de carta náutica, surgem numa pseudo-perspectiva que não é totalmente sobreponível com as representações cartográficas dos dias de hoje.
Vários planos portuários são apresentados como sendo vistos do mar, numa orientação ortogonal em relação ao plano cartográfico normal (i.e. com o ponto cardeal Leste no topo), o que, no fundo, acaba por não destoar da tradição geográfica ptolemaica/medieval.
Ausência de informação batimétrica fora dos canais de acesso estabelecidos. Dos aspectos urbanísticos só se relevam aqueles que do ponto de vista do embarcado sejam conhecenças com interesse para a navegação, como acontece com a topografia e morfologia do terreno assinaladas.
Na generalidade notam-se nos planos portuários os seguintes tipos de distorções:
c) pequenas rotações do plano portuário em relação à orientação geográfica real – independentemente do plano ser apresentado em orientação cartográfica normal ou ortogonal – para que o porto se apresente a um observador virtual voltado para a sua entrada;
e) grandes e indisfarçáveis distorções de distâncias com o objectivo deliberado de incluir todos os elementos corográficos com interesse estratégico;
g) arredondamento/alisamento das línguas de areia, que surgem, quase sempre, com um aspecto demasiado regular, sendo este, no entanto, um elemento efémero e dinâmico.
unidades de distância:
milha italiana ≈ 180 metroslégua portuguesa ≈ 5920 metros = 3,197 milhas marítimas
actuais
unidades de curtas distâncias: no mar era comum o uso de braças (antiga: 8 palmos ≈ 1,76 m)
em terra usavam léguas, varas e passos,
do mar para terra usavam o alcance das armas:
tiro de besta ≈ 10m, tiro de canhão ≈ 15m,tiro de pedreiros ≈ 20m, tiro de arcabuz ≈ 50m,tiro de canhão pedreiro ou tiro de mosquete ≈ 100m,tiro de columbina ou tiro de bombas ≈ 200m
A técnica de levantamento utilizada para recolha da informação tinha duas fases:
a) por terra, efectuando numerosas observações astronómicas e reconhecendo com grande minúcia o litoral, sem se afastar muito da linha de costa, sendo uma tarefa difícil, realizada a pé ou a cavalo, raramente utilizando caminhos, por inexistentes;
b) por mar, usando os mesmos métodos rudimentares dos levantamentos oceânicos, ou seja: os rumos da agulha para definir ângulos e direcções entre lugares; as distâncias estimadas para avaliar o caminho percorrido pelos navios; as latitudes para definir a localização das principais posições da costa donde se marcavam as principais conhecenças costeiras por triangulação, usando a técnica conhecida entre os marinheiros de hoje como “marcar, navegar e tornar a marcar”.
As deslocações por mar, além de serem as formas mais rápidas de viajar junto ao litoral, eram essenciais para reconhecer os pontos inacessíveis por terra e para obter uma imagem fiel da orla costeira e das vistas desenhadas nas cartas particulares. Os navios usados, certamente que variaram em função da época, das necessidades de cada momento, do local e da disponibilidade. Os portugueses usaram barcas, barinéis, caravelões, caravelas e naus. Porém, nos levantamentos hidrográficos costeiros, as caravelas desempenharam as maiores tarefas.
As deslocações por mar, além de serem as formas mais rápidas de viajar junto ao litoral, eram essenciais para reconhecer os pontos inacessíveis por terra e para obter uma imagem fiel da orla costeira e das vistas desenhadas nas cartas particulares. Os navios usados, certamente que variaram em função da época, das necessidades de cada momento, do local e da disponibilidade. Os portugueses usaram barcas, barinéis, caravelões, caravelas e naus. Porém, nos levantamentos hidrográficos costeiros, as caravelas desempenharam as maiores tarefas.
Os problemas começam a surgir quando os navios, por razões de intensificação do comércio mundial, têm de navegar fora das águas onde os seus pilotos estão "práticos", isto é, onde navegam de "cor". Nesta altura, é necessário usar pilotos da zona, ou então estar de posse da informação redigida e apresentada segundo padrões compatíveis com os conhecimentos dos seus utilizadores: os pilotos.
Para efeitos de segurança de navegação é essencial que as profundidades das águas costeiras e interiores, bem como dos baixios existentes nos oceanos, sejam conhecidas. Para além disso, também é importante o conhecimento da constituição do fundo, visto que permite caracterizar a tença e, consequentemente, a segurança do fundeadouro. Os instrumentos imprescindíveis para estas investigações eram a sonda e o prumo.
Bandeira Armorial da Casa de Áustria durante o domínio filipino no Reino de Portugal
Campo I: armas de Castela
Campo II:
(dextra): armas de Aragão
(sinistra): armas de Duas Sicílias
Em ponta (I/II): armas de Granada
Campo III:
(em chefe): armas da Áustria
(em ponta): antigas armas de Borgonha
Campo IV:
(em chefe): novas armas da Borgonha
(em ponta): armas do Brabante
Em abismo:
(em chefe): armas de Portugal
(o da ponta partido):
(dextra): armas da Flandres
(sinistra): armas do Tirol
Desta barra y rio Duero camina la costa al mediodia aziendo muy apazibles y anchas plaias de arena. Dos leguas se entra en el mar vn pequeño arroio, por junto a una peña que llaman de la Asorcira, adonde se trato azer vn fuerte, y para ese efecto fue alli el yngeniero Felipe Tercio, con yntento de que quitase a los piratas el sorgidero que hes cerca de tierra en diez y doze bracas de agua, adelante se estiende vna larga plaia al mediodia toda de arena, donde no puede parar nuio ninguno por la muncha resaca que la marea aze y aziendo sus ensenadas dura por espacio de nuebe leguas hasta la barra del rio bouza y antes de llegar vna legua dan fondo los nauios aunque sin muncho abrigo por ser baxa y toda plaia pero enel berano y con seguro tiempo ancoran en tres y quatro bracas de fondo, tiro de mosquetes apartados a la mar no auicado adonde parar en todo el espacio dicho sino este mal seguro sorgidero.
Esta lauilla de Aueiro cituada en vn espacioso llano diuidela de sus arrebales el rio Vouga, hes toda cercada de fuertes muros y tan metida en la orilla meridional del dicho rio que le laua sus murallas comonicase con en burgo que queda ala otra parte del setentrion por vna hermosa y alta puente de cantaria adonde llegan los nauios adescargar sus mercancias su poblacion hes tan grande como noble, mostrando anthiguedad en sus ydeficios, muy rica de trato por la muncha sal que en su puerto se enbarca para munchas partes esta distante esta famosa villa de su barra tres leguas siendo el rio en toda esta distancia tan angosto que no llega atener por la parte por donde mas se ensancha vn tiro de escopeta.
Legua y media de lauilla orilla del dicho rio de vna parte y de la otra son todo salinas que se ynchen quando quieren con la marea por munchos braços de agua y esteros y despues les sierran coaxandose se benificia la sal quedando el otro espacio asta la barra todo vn alto y espacioso arenal de vna parte y de la otra la barra hes muy estrecha y dificil de tomar, tiene en medio vn banco de arena que en diferentes tiempos se muda y vnas bezes se alla con mas fondo y otras con menos y de ordinario poco mas omenos tiene vna braça y dentro dos y asi ba por todo el rio menguando el fondo o cresiendo conforme se hallen los bancos de arena que en todo el son munchos hasta la villa. La corriente es apacibilisima por que aunque la mar ande por el cielo como los marineros dizen dentro no se conoçe diuidese este rio en tres bracos mas, que la marea ynche que son los principales y que se nauegan, el primero entrando por su barra a la parte del setentrion ba a vn lugar que llaman obar que queda de lauilla de Abeiro sinco leguas y a la del medio dia se entra otro que se nauega dos leguas esta la villa de bergos el otro camina al oriente otras dos leguas asta lauilla de engenga asiendo con estos referidos bracos de mar y otros munchos asi naturales como los que para el beneficio de la sal abren vn agradable leberintio de agua que aze apazible bista fabricanse eneste puerto orillas del rio galeones y nauios y otras enbarcaciones vzadas eneste Reyno de Portugal muy ligeras que llaman carabelas. Desta barra de Aueiro continua la costa como siempre vamos caminando al medio dia, toda como la pasada sin ningun abrigo nin surgidero, sinco leguas asta vna villa que en vn alto queda tiro de cañon apartado de la plaia, sin puerto mas que vna laguna donde ay grande pescaria, llamase el lugar Mira ...
Como refere o Capitão Tenente Moreira Silva trata-se mais de um roteiro do que de uma carta náutica. E comenta, relativamente a Aveiro:“Plano portuário ortogonal em relação à orientação cartográfica normal.Temos neste porto outro exemplo em que as construções portuárias alteraram em muito a sua configuração, nomeadamente em termos da orientação dos canais. A batimetria do Canal Principal surge muito alterada pelo efeito das dragagens. A orientação geral da costa é correcta, embora actualmente o molhe Norte tenha provocado uma notória acumulação de areias junto à embocadura Norte, prolongando-a para Oeste.”
… el lugar de Mira, nombre bien apropiado asu puerto porque descubre del todo lo que la bista puede alcansar de la mar de aqui nuebe leguas, todas casi deziertas sin poblacion surgidero ny plaia mas que vnos montes de arena y costa braua donde no puede parar baxel ninguno por ser syn ningun amparo, asta el monte de Buarcos que de la parte de setentrion se aze vna pequeña plaia donde estan vnas pocas cazas de pescadores que en sus barcos en bonanza salen apescar. Hes la altura deste monte de Buarcos apasible ala bista por se entrar mas que la costa dentro enel mar y ser la tierra que le queda a la parte del setentrion baxa se aze ael mas yminente, buelto de la parte del medíodia esta cituada en sus faldas algo llebantada de la plaia la villa de Buarcos, dan fondo en vna ensenada que con el dicho monte se abriga, enfrente de lauilla tiro de mosquete en seis y sinco bracas la villa es abierta y sin defenca si bien hes de grande población, tiene alas espaldas en vna parte eminente vn castillo antiguo asido siempre perseguida de los moros e ingleses que la an acometido y saqueado por berla tan desapercibida y sin defenca de aqui ba continuando al leuante aziendo la costa vna ensenada por espacio de vna legua asta la barra del rio Mondego que tiene la misma deficultad de tomar que las hia que las ya referidas por su angostura y poco fondo, no teniendo mas que treze palmos de agua y en el medio doze dentro dan fondo los nauios de la parte del mediodia enfrente de vn lugar de poca población que llaman Figeiras adonde se fabrican algunos nauios dentro se ensancha el rio a la parte del mediodia aziendo vna ensenada que tiene de ancho vna legua que con plena mar hesta toda cubierta y con baxa mar queda en seco tiene también salinas donde se beneficia tambien la sal, desta barra de Mondego continua toda la costa de arena syn puerto ny sorgidero, teniendo della tierra adentro algunas aldeas doze leguas asta vna punta de tierra alta taxada de la parte del poniente y mar, en lo alto della hesta vna iglesia muy suntuosa que llaman Nuestra Sra de Nazareth ….
Como refere o Capitão Tenente Moreira Silva trata-se mais de um roteiro do que de uma carta náutica. E comenta: “O Cabo Mondego está no Atlas mais chegado para Sul, formando uma baía mais pronunciada do que é na realidade (a costa a Sul do Cabo tem a orientação W-E, quando na realidade toma uma direcção SE). A configuração do porto foi muito alterada pelas construções portuárias, onde a “barriga” fluvial das salinas foi substituída pelas docas do Cochim e dos Bacalhoeiros. O forte de Santa Catarina, que constituía o limite Norte da embocadura, está hoje rodeado pelas areias acumuladas pelo novo molhe Norte, mais exterior. A língua de areia no limite Sul (Cabedelo) está hoje mais recuada, tendo-se espraiado para W sobre o Molhe Sul.”
ATLAS DOS PORTOS PORTUGUESES DE PEDRO TEIXEIRA (1634)a estrutura da próxima edição portuguesa
PRIMEIRAS PALAVRASDoutor Armando Teixeira Carneiro
PORTUGAL ENTRE O MAR E A TERRA: UMA REFLEXÃO DE GEOPOLÍTICA SOBRE A ÉPOCA DE PEDRO TEIXEIRA
Major-General José Manuel Freire Nogueira
CARTOGRAFIA NÁUTICA PORTUGUESA SEISCENTISTACapitão de Mar-e-Guerra António Silva Ribeiro
AS CIDADES E AS FORTIFICAÇÕES PORTUGUESAS NA TRANSIÇÃO DOS SÉCULOS XVI E XVII E AS SUAS REPRESENTAÇÕES
Doutor Rui Carita
A IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DO ESTREITO DE GIBRALTAR E TÂNGER E CEUTADoutor Rui Carita
O ATLAS DO REI PLANETA: FELIPE III E PEDRO TEIXEIRADoutor Felipe Pereda e Doutor Fernando Marias
OS TEXTOS DE PEDRO TEIXEIRA E A CARTOGRAFIA COMPARADACapitão Tenente José Manuel Moreira Silva
NOTASINDICE
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