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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
A SEMELHANÇA ENTRE A MOTRICIDADE INATA DO RECÉM-NATO
NORMAL ATÉ A IDADE DE 1 ANO E A ESTIMULAÇÃO
NEUROPSICOMOTORA
HILDA MURTINHO
ORIENTADORA: PROFª. FABIANE MUNIZ
RIO DE JANEIRO MARÇO/2004
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
Apresentação de monografia ao Conjunto UniversitárioCandido Mendes como condição prévia para aconclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”em Psicomotricidade.
RIO DE JANEIRO MARÇO/2004
A SEMELHANÇA ENTRE A MOTRICIDADE INATA DO RECÉM-NATO
NORMAL ATÉ A IDADE DE 1 ANO E A ESTIMULAÇÃO
NEUROPSICOMOTORA
HILDA MURTINHO
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AGRADECIMENTOS
Agradeço à todos aqueles que fizeram despertarmeu interesse para este tema quando mepassaram seus conhecimentos, o que setransformou no meu método de trabalho. Agradeço às crianças e adultos que confiaram e sedeixaram reeducar por mim. Agradeço aos meus amigos que sempre meestimularam a continuar com este trabalho, com apesquisa e com o estudo. Agradeço à minha Madrinha (in memoriam), queme ajudou através de conversas, conselhos, livrose experiências pessoais e profissionais. Agradeço à Gabriela que sempre confiou eapostou em mim. Agradeço à minha mãe, que sempre me incentivoua estudar e a trabalhar naquilo que eu mais queria. Agradeço principalmente à Deus, que há 32 anosme colocou neste caminho.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à todas as pessoas, crianças eadultos, que fizeram terapia comigo e que de algumaforma me fizeram ver quão vasto, misterioso e rico é ouniverso de cada um. Com vocês eu aprendi mais do que nos cursos, noslivros, nos congressos e seminários. Aprendi que apenasa estimulação e a terapia não são suficientes se nãohouver respeito, dedicação e amor.
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RESUMO
A MOTRICIDADE é uma das grandes habilidades do Sistema
Nervoso. Através dela, realizam-se e coordenam-se movimentos amplos e
finos; desenvolvem-se os cinco sentidos, as percepções e discriminações
visuais, táteis, gustativas, olfativas e auditivas e alcançam-se o equilíbrio e os
padrões posturais. A influência dos estímulos cerebrais, ambientais, dos
padrões genéticos e emocionais, determina a evolução do recém-nascido do
estado estático ao dinâmico, passando pelos reflexos, reações e chegando a
uma postura e à manutenção desta. Melhorando constantemente suas
capacidades motoras, juntamente com o psiquismo e sua capacidade
reacional, a criança adquire sua independência e sua adaptação à vida em
sociedade. A falta deste conjunto coordenado resulta numa nova situação
modificada, com mecanismos adaptativos, a uma situação a mais ideal
possível.
A MOTRICIDADE deve-se principalmente à evolução do Sistema
Nervoso que inicialmente foi uma célula primária unicelular (composta por três
propriedades: sensibilidade, condutibilidade e reação), e que mais tarde se
organizou para o surgimento das primeiras células nervosas com seus
prolongamentos, os axônios, que passaram a transformar em impulsos
nervosos, os variados estímulos físicos e químicos. Mais tarde, surgiu um
sistema mais avançado, atualmente chamado Sistema Nervoso Central (com
axônios aferentes, eferentes e de associação), que transmitem seus impulsos
através de sinapses (conexão entre neurônios sensitivos e neurônios motores).
O sistema Nervoso Central localiza-se dentro da cavidade craniana e do canal
vertebral (encéfalo e medula). Flehmig (1987), considera que a evolução
estático-motora do recém-nascido depende do amadurecimento do sistema
Nervoso Central e de outros padrões (genéticos, emocionais e ambientais). A
manutenção da postura e os padrões de movimento estão diretamente ligados
à MOTRICIDADE, que depende do aparecimento de mecanismos reflexos e de
reações posturais. Paralelamente a este quadro, aparentemente apenas motor,
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está o desenvolvimento das estruturas cognitivas, que influem de forma
definitiva na afetividade, na personalidade e na socialização da criança. Este
conjunto de estímulos e amadurecimentos transformam o bebê, que
inicialmente não tinha motilidade, apenas mobilidade, em uma criança com
motilidade (deslocando-se por si só) e com mobilidade.
A estimulação neuropsicomotora torna-se necessária a partir do
momento que a criança passando ou não por este processo evolutivo, não
tenha conseguido se desenvolver de maneira satisfatória. A ação reeducativa
deve acontecer o mais precocemente possível, com qualidade, pois desta
forma as possibilidades de recuperação, são mais positivas e mais rápidas
(atentando-se para a precisão dos movimentos e das ações), com o objetivo de
se adquirir o PADRÃO. Antes de acontecer a reeducação, deve-se observar o
bebê atenta e constantemente, pois uma intervenção durante o processo
evolutivo (uma ESTIMULAÇÃO), é a atitude mais indicada. Caso isso não
tenha sido possível, a reeducação deve ser iniciada para que o corpo do
indivíduo não se torne um estranho para ele próprio, pois segundo Bérthèrat
(1985), “seu corpo é sua casa...”.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Organização do Sistema Nervoso 11
CAPÍTULO II
Organização da motricidade 21
CAPÍTULO III
Estimulação neuropsicomotora 47
CONCLUSÃO 50
BIBLIOGRAFIA 53 ÍNDICE 54 ANEXOS 55 FOLHA DE AVALIAÇÃO 56
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INTRODUÇÃO
"A semelhança entre a motricidade inata do recém-nato normal até a
idade de 1 ano e a estimulação neuropsicomotora."
Quais as semelhanças entre o desenvolvimento da motricidade
normal do recém-nato até 1 ano e os exercícios, estimulações e manobras
psicomotoras usadas nas terapias com indivíduos portadores de qualquer
dificuldade ligada direta ou indiretamente a esta área de atuação?
A evolução entre o estado estático e o dinâmico do recém-nato até a
idade adulta depende da maturação dos padrões genéticos, emocionais e dos
estímulos ambientais. Estas reações acontecem desde o nascimento em
sucessão determinada (as etapas neuropsicomotoras) e caracterizam-se pelo
desenvolvimento aos mecanismos reflexos da atitude ou postura e da
manutenção desta, que permitem ao homem erguer-se contra a força da
gravidade e conservar o seu equilíbrio.
Para a criança, a melhora constante das capacidades motoras
significa a aquisição da sua independência e da sua adaptação à sociedade.
As fases motoras e os processos psíquicos e cognitivos influenciam-se
reciprocamente de modo imediato, manifestando-se quase sempre mediante
modalidades comportamentais motoras, como, por exemplo, pela mímica ou
por meio da atitude corporal.
Existem capacidades inatas que são reflexas, pois ninguém
necessita aprender a manter a própria temperatura corporal ou a pressão
arterial; não se ensina a um recém nascido a respirar, a sugar, a deglutir etc.
Quando se assume uma atitude, seja o movimento ou a manutenção
da postura, entram em jogo circuitos funcionais sensoriomotores impondo
normas biológicas. A percepção e o movimento condicionam-se
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reciprocamente e são encarados como unidades biológicas. Todo
desenvolvimento motor precisa basear-se sempre nos estímulos externos,
organismo e meio ambiente são dependentes um do outro neste conjunto de
normas.
Segundo Annunciato e Silva (1995), “tudo o que somos e fazemos
depende de como funciona o nosso Sistema Nervoso. As mais complexas e
diversas funções como percepção, análise, planejamento, coordenação,
execução de movimentos e memória, por exemplo, são resultado de interações
precisas, finas e corretas entre os milhares de tipos neuronais".
O conjunto coordenado destes sistemas no cérebro de uma criança
em desenvolvimento, junto com seu psiquismo e sua capacidade reacional,
torna possível sua reação a estímulos ambientais. Seu sistema sensorial e seu
intelecto reagem a tais estímulos, através de vias nem sempre pré-
determinadas, isto é, existe certo espaço para reações livres, que acabam em
conjunto por produzir o que se chama de evolução.
No inicio da formação cerebral, as células nervosas são minúsculas
e a distância entre elas é enorme. Segundo o neuropediatra Herry Chugani
(Universidade de Wayne, EUA), em entrevista dada a Newsweek, "as primeiras
experiências da vida são tão importantes que podem mudar por completo a
maneira como as pessoas se desenvolvem. Conclusão: o cérebro precisa de
ginástica".
Na falta deste conjunto coordenado resulta uma nova situação que
só pode ser superada pela modificação de mecanismos adaptativos, o que faz
com que o sistema encontre uma saída a fim de configurar a adaptação de
maneira tão ideal quanto possível. Quando ocorre lesão de um sistema que
ainda não está em pleno funcionamento, a possibilidade de adaptação é maior,
ao contrário de um sistema já amadurecido, ocorrendo isto por vias que ainda
estão abertas (plasticidade neuronal). Quanto mais evoluído estiver o
organismo, maior será a multiplicidade das suas reações e mais vulnerável a
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desarranjos estará o sistema como um todo. Daí resulta que cada reação, na
transição para uma nova, sofre influência de experiências anteriores para uma
melhor adaptação as circunstâncias (ex: o amadurecimento dos reflexos em
atividades motoras adquiridas).
O objetivo deste trabalho é o de tentar estabelecer a semelhança
entre o amadurecimento do Sistema Nervoso quando este evolui normalmente
dos reflexos para as reações e conseqüentemente para os padrões corporais
estabelecidos e a estimulação psicomotora a partir do momento em que
alguma etapa não é cumprida auxiliando assim o indivíduo a reencontrar suas
funções motoras, emocionais, cognitivas, perceptivas, sensitivas,
discriminativas etc.
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CAPÍTULO I
ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO
1.1. FILOGÊNESE DO SISTEMA NERVOSO
Os seres vivos mais primitivos, unicelulares (protozoários ou
citozoários) são compostos apenas de protoplasma (citoplasma e núcleo) que
apresentam três propriedades importantes: irritabilidade (sensibilidade a um
estímulo que permite que uma célula perceba as modificações do meio
ambiente); condutibilidade (impulso gerado a partir da irritabilidade, que é
conduzido através do protoplasma) e contratibilidade (resposta manifestada a
partir da condutibilidade, através de um encurtamento da célula visando fugir
de um estímulo nocivo). O exemplo de uma célula primitiva com reações muito
rudimentares que apresenta estas três propriedades, é a ameba.
Em seguida apareceram os metazoários ou histozoários que são
caracterizados por terem o corpo formado por numerosas células,
responsáveis pela formação de tecidos mais especializados.
Nestes seres vivos, as células musculares passaram a ocupar
uma posição mais profunda, perdendo o contato direto com o meio externo.
Neste momento, surgem células que se diferenciam para poderem receber os
estímulos do meio ambiente, transmitindo-os às células musculares
subjacentes. Estas células especializadas em irritabilidade e condutibilidade,
foram os primeiros neurônios ou células nervosas com prolongamentos
chamados de axônios.
No decorrer desta evolução surgiram receptores muito complexos
(transformadores de vários tipos de estímulos físicos ou químicos em impulsos
nervosos), para estímulos mais variados.
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Mais tarde, este sistema nervoso difuso foi substituído por um
Sistema Nervoso mais avançado no qual os elementos nervosos tendem a se
agrupar em Sistema Nervoso Central (centralização do Sistema Nervoso).
Aparecem então os Neurônios Sensitivos ou Neurônios Aferentes
(especializados em receber os estímulos e a conduzi-los ao centro nervoso), os
neurônios Motores ou Neurônios Aferentes (especializados na condução do
impulso, do centro nervoso até o músculo) e os neurônios de Associação que
fazem à associação de um segmento a outro (um segmento estimulado dá
origem à um impulso que é conduzido pelo neurônio sensitivo, ao centro
(Gânglio).
Segundo Angelo Machado (1991), são Aferentes os neurônios,
fibras ou feixes de fibras que trazem impulsos a uma determinada área do
Sistema Nervoso e Eferentes são os que levam impulsos desta área.
AFERENTE se refere ao que entra e EFERENTE ao que sai de uma
determinada área do Sistema Nervoso.
Desta forma, neurônios cujos corpos estão no cérebro e
terminam no cerebelo, são eferentes ao cérebro e aferentes ao cerebelo.
Deve-se sempre especificar o órgão ou área do Sistema Nervoso em
relação a qual os termos são empregados.
A conexão entre o neurônio sensitivo e o neurônio motor
chama-se SINAPSE. Através das SINAPSES ocorrem os elementos
básicos para um ARCO REFLEXO simples (um neurônio aferente com
seu receptor, um centro onde ocorre a sinapse e um neurônio eferente
que se liga ao efetuador. Exemplo: o reflexo patelar no homem - ao bater
no joelho de um paciente, a perna se projeta para frente).
Todos os neurônios existentes no Sistema Nervoso do
homem podem ser oriundos destes três neurônios (aferente, eferente e de
associação), algumas vezes sofrendo modificações durante a evolução.
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1.1.1. Neurônios aferentes (ou sensitivos)
Surgiu na filogênese com a função de levar ao Sistema Nervoso
Central, informações sobre modificações ocorridas no meio externo,
estando inicialmente em relação com a superfície anormal.
Aconteceram mudanças na posição do corpo do Neurônio
Sensitivo: em alguns seres vivos eles se encontram nas camadas mais
superficiais do epitélio, portanto em contato com o meio externo; em
outros, eles estão situados em camadas mais internas, mantendo desta
forma um prolongamento até a superfície; na grande totalidade dos
vertebrados, eles se encontram nos GANGLIOS SENSITIVOS situados
junto ao Sistema Nervoso Central, sem, entretanto, penetrar nele.
Houve, portanto uma tendência de centralização do corpo do
neurônio sensitivo (a evolução mostrou que sua localização na superfície
não é vantajosa), pois fica mais sujeito à lesões e ao contrário dos
axônios que podem regenerar, as lesões no corpo de um neurônio são
irreversíveis.
1.1.2. Neurônios eferentes (ou motores)
Têm como função, conduzir os impulsos nervosos de um
músculo ocasionando uma contração de uma glândula ocorrendo desta
forma uma secreção. O corpo deste neurônio surgiu dentro do Sistema
Nervoso Central e a maioria deles permaneceu nesta posição durante
toda a evolução. No entanto os Neurônios Eferentes que inervam os
músculos lisos e os músculos cardíacos têm seus corpos fora do Sistema
Nervoso Central, em estruturas chamadas de GANGLIOS VICERAIS.
Desta forma, eles passam a pertencer ao Sistema Nervoso Autônomo.
Já os Neurônios Eferentes que inervam os músculos estriados
esqueléticos, têm o seu corpo dentro do Sistema Nervoso Central.
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1.1.3. Neurônios de Associação
Permaneceram com seu corpo dentro do Sistema Nervoso
Central aumentando sua complexidade, sua quantidade e seu número de
sinapses, permitindo a realização de padrões de comportamento cada vez mais
elaborados. Este aumento foi maior nas extremidades anteriores dos animais,
permitindo desta forma que esta região seja a primeira a entrar em contato com
as mudanças ambientais. Estas extremidades se especializaram e evoluíram
desenvolvendo um aparelho bucal e órgãos de sentido mais complexos como
os olhos, ouvidos e sua concentração deu origem ao encéfalo e assim surgiram
as funções psíquicas superiores que originaram o Sistema Nervoso mais
requintado.
1.2. EMBRIOLOGIA E ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO
Durante as primeiras semanas que se sucedem à fecundação,
formam-se as partes do corpo que são mais indispensáveis, como o coração e
o sistema nervoso. Aproximadamente cinco dias após a fertilização, já
aconteceram na célula de origem (ovo), várias divisões.
Nesta época, este formato passa a chamar-se BLÁSTULA, em
seguida, três dias após, surge o disco embrionário e finalmente uma semana
após, aparecem as camadas ECTODÉRMICAS e ENDODERMICAS.
O ECTODERMA dá origem ao Sistema Nervoso, à pele, aos dentes,
aos cabelos e às unhas dos dedos.
O ENDODERMA, formará os tratos respiratório e digestivo, e à todos
os órgãos a eles relacionados. Mais tarde, uma terceira camada se formará
entre as duas primeiras, que será o MESODERMA. Ele não dá origem ao
Sistema Nervoso, mas é um elemento de grande importância na formação do
mesmo.
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Pouco tempo depois, algumas células do Ectoderma iniciam um
processo de diferenciação, quando se dividem e se agrupam numa
determinada região da superfície embrionária e formam uma estrutura
denominada PLACA NEURAL. Algumas regiões desta estrutura formarão mais
tarde, partes especificas do neuro-eixo (encéfalo e medula espinal).
A Placa Neural sofre um afundamento formando um sulco
longitudinal que se denomina SULCO NEURAL, o qual continua se
aprofundando para formar a GOTEIRA NEURAL. AS bordas desta Goteira se
fundem e formam o TUBO NEURAL. O processo de fechamento da goteira, a
formação do Tubo, se inicia na região que no futuro será o MESENCEFALO.
As paredes deste Tubo Neural vão crescendo de maneira não
uniforme e vão dando origem a neurônios e a grupos de neurônios situados na
parte superior,de onde se formará o Encéfalo e na parte mais inferior (caudal-
que não participa das dilatações), dando origem à Medula Espinal.
No ponto em que o Ectoderma encontra as bordas da Goteira
Neural, desenvolvem-se células que formam de cada lado uma lâmina
denominada CRISTA NEURAL: suas células darão origem a neurônios do
Sistema Nervoso Autônomo (simpático e parassimpáticos pós-ganglionares) e
dos gânglios sensitivos das raízes dorsais, assim como as células da medula
da supra-renal, células de Schwann, melanócitos da pele e células dos tecidos
mesenquimais da face e cabeça (Le Douarin, 1986; Anderson, 1989).
Da região ao Encéfalo, se originarão as vias visuais (vesículas
ópticas), o hipocampo (telencéfalo), Sistema Límbico, núcleos da base
(coordenação do sistema sensitivo-motor) e córtex cerebral.
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1.2.1. Divisões do Sistema Nervoso
O Sistema Nervoso é um todo e sua divisão é puramente didática,
pois suas várias partes estão intimamente relacionadas sob o ponto de vista
morfológico e funcional. Ele pode ser dividido em partes, levando-se em conta
a anatomia, a embriologia, e sua funcionalidade.
O Sistema Nervoso Central localiza-se dentro da cavidade craniana
e do canal vertebral. Dentro do crânio, ele recebe o nome de ENCEFALO e a
porção que se encontra dentro do canal vertebral, é chamado de MEDULA. É
importante lembrar-se que esta é apenas uma divisão didática, pois não se
deve esquecer que os NERVOS e as RAÍZES NERVOSAS fazem conexão
com o Sistema Nervoso Central penetrando no crânio e no Canal Vertebral.
Sabe-se também que alguns Gânglios se localizam dentro do ESQUELETO
AXIAL, isto é, na cavidade craniana e no canal vertebral.
Segundo Ângelo Machado (1991), O Encéfalo divide-se em três
partes: CEREBRO, CEREBELO E TRONCO ENCEFÁLICO. O Tronco
Encefálico por sua vez, divide-se em MESENCEFALO, PONTE E BULBO. A
PONTE é o elemento que separa o BULBO (situado caudalmente) do
MESENCEFALO (situado cranialmente). Atrás desta estrutura, localiza-se o
CEREBELO.
Como foi acima citado, os nervos são cordões que unem o Sistema
Nervoso Central aos órgãos periféricos. Se esta conexão é feita com o
ENCEFALO, estes nervos são denominados CRANIANOS e se a conexão é
feita com a MEDULA, estes nervos denominam-se ESPINAIS.
A MEDULA apresenta uma forma cilíndrica e seu calibre não é
uniforme, pois apresenta duas dilatações denominadas:
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INTUMESCÊNCIA CERVICAL – área onde as raízes nervosas
fazem conexão com a medula, formando o PLEXO BRANQUIAL, destinada à
inervação dos membros superiores:
INTUMESCÊNCIA LOMBAR – área onde as raízes nervosas fazem
conexão com a medula, formando o plexo lombo-sacral, destinada à inervação
dos membros inferiores.
Neste local há uma maior quantidade de neurônios, isto é, uma
maior quantidade de fibras nervosas que entram ou saem desta área e que são
necessárias à inervação dos membros superiores e inferiores.
Como vimos anteriormente, o Tronco Encefálico é uma das divisões
do Encéfalo (local onde estão localizados vários núcleos de nervos cranianos e
vicerais ou somáticos (além de centros vicerais como o centro respiratório e o
vasomotor). A ativação destas estruturas por impulsos nervosos, ocorre nos
estados emocionais resultando nas diversas manifestações que acompanham
a emoção, tais como o choro, as alterações fisionômicas, a sudorese, a
salivação, o aumento de ritmo cardíaco etc).
Ainda segundo Machado, muitos dos núcleos do Tronco Encefálico
recebem e emitem fibras nervosas que entram na constituição dos NERVOS
CRANIANOS (detalhado mais adiante), sendo que dos DOZE PARES, DEZ
fazem conexão nesta região (Tronco Encefálica).
Do BULBO (componente do Tronco Encefálico + Caudal), emergem
filamentos radiculares:
- o XII par, o HIPOGLOSSO, tem função motora;
- o X par, o VAGO, é misto;
- o IX par, o GLOSSOFARINGEO, é um nervo misto e
- o XI par, o ACESSÓRIO, tem função motora e inerva o músculo
esternocleidomastoídeo e o músculo do trapézio e está diretamente ligado à
esta pesquisa.
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Da PONTE (que apareceu durante a filogênese), emerge:
- o V par, o TRIGEMEO, nervo misto e ainda da PONTE, mais precisamente
do SULCO BULBO-PONTINO (como se fosse uma fronteira entre a Ponte e o
Bulbo) estão:
- o VI par, o ABDUCENTE, que é motor;
- o VII par, o FACIAL, tem função motora e função sensitivo viceral e
- o VIII par, o VESTÍBULO COCLEAR, tem função sensorial. Na porção
vestibular relaciona-se com o equilíbrio e na porção coclear, relaciona-se com
a audição, originada no órgão de Corti (labirinto).
O Mesencéfalo interpõe-se entre a Ponte e o Cérebro. Do sulco
medial emerge:
- o III par, o OCULOMOTOR, com função motora que inerva a musculatura
extrínseca do olho, o músculo ciliar (que regula a convergência do cristalino) e
o músculo esfincter da pupila e
- o IV par, o TROCLEAR, tem função motora.
O CEREBELO que ainda não foi citado, situa-se na parte dorsal do
Bulbo e da Ponte e repousa sobre uma depressão do osso occipital. Liga-se à
medula, ao bulbo, à ponte e ao mesencéfalo. Sua função está relacionada à
manutenção do equilíbrio, à coordenação dos movimentos e à manutenção do
tônus muscular e da postura. Ele se diferencia do cérebro, pois funciona em
nível involuntário e inconsciente, sendo que sua atividade é exclusivamente
motora.
Didaticamente, se divide em:
- arquicerebelo - responsável pelo equilíbrio;
- paleocerebelo - responsável pelo tônus;
- neocerebelo - responsável pela lapidação dos movimentos.
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Através das conexões aferentes, o Arquicerebelo recebe impulsos
que dão informações sobre a posição da cabeça a partir desta informação, vem
uma resposta cerebelar no sentido de manter este equilíbrio.
No caso do Paleocerebelo, o cérebro recebe impulsos
próprioceptivos que informam sobre o grau de tensão da musculatura e a
resposta será a regulação do tônus e da postura, sendo que a ação acontece
sobre a musculatura extensora.
Já o Neocerebelo, segundo Angelo Machado (1991), também é
chamado de CEREBELO CORTICAL por causa de suas amplas conexões com
o córtex cerebral.
Os impulsos eferentes do Neocerebelo que vão até o córtex
cerebral, terminam principalmente nas áreas motoras do lobo frontal, onde se
originam os movimentos voluntários.
Ainda segundo Machado (1991), “... cada hemisfério cerebelar
controla os neurônios motores do seu lado... (clinicamente a lesão de um
hemisfério cerebelar dá sintomatologia do mesmo lado, enquanto que no
hemisfério cerebral a sintomatologia é do lado oposto)".
A partir de agora passa-se a analisar didática e superficialmente o
córtex cerebral e cerebelar.
Tanto o cerebelo como o cérebro, apresentam um córtex que
envolve um centro de substância branca (tecido nervoso formado por axônios
com bainha de mielina), onde são observadas massas de substância cinzenta
(tecido nervoso constituído de axônios que não possuem bainha de mielina).
Enquanto que o córtex cerebelar possui uma estrutura uniforme, o córtex
cerebral, apresenta uma estrutura não homogênea que possui várias áreas.
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O córtex cerebral, segundo Roberto Lent, é formado por milhões de
neurônios, que são as "unidades de informação" do Sistema Nervoso e um
número equivalente de células, as "gliais" que têm como função manter
Íntegros, saudáveis e bem nutridos, os neurônios.
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CAPÍTULO II
ORGANIZAÇÃO DA MOTRICIDADE
2.1. EVOLUÇÃO NORMAL DA MOTRICIDADE - ONTOGENIA
Segundo Flehmig (1987), “a evolução estático-motora do neonato
até a idade adulta depende da maturação do Sistema Nervoso Central, sendo
determinada por padrões geneticamente estabelecidos e estímulos
ambientais”.
Brandão (1984), compartilha da idéia dizendo que: “podem
considerar que quando a criança nasce, suas respostas motoras são
essencialmente medulares, todas as suas ações básicas são reflexas,
coordenadas e dirigidas pelas formações medulares e similares do tronco
cerebral (núcleos motores de origem dos nervos cranianos e raquianos)”.
Estas atividades são importantíssimas, pois é a partir delas que se
origina a aprendizagem de todas as nossas ações. São os elementos que
dispomos para conseguir o inicio da aquisição das ações por reações
circulares, portanto, do desenvolvimento da maturidade”.
“(...) As alterações da motricidade ou das funções sensoriais,
tendem a prejudicar a evolução da inteligência, mas o desenvolvimento das
funções intelectivas é, no entanto extraordinariamente importante para o
desenvolvimento da maturidade.
Cada período do desenvolvimento da motricidade corresponde a um
nível de amadurecimento das funções intelectivas, das afetivas e das
sensoriais”.
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“Toda ação implica uma reação, e é através desse inter-jogo de
impulsos neurógenos aferentes e eferentes que se integram e se organizam
todas as posturas, as posições, os equilíbrios, os movimentos, as atitudes, as
sensações, as percepções e as discriminações nas sucessivas etapas
evolutivas do ser humano.” (SCHRAGER)
2.2. TÔNUS MUSCULAR, REFLEXO POSTURAL E POSTURA
Como foi visto anteriormente, no capítulo sobre divisão do Sistema
Nervoso, o PALEOCEREBELO, é o responsável pela manutenção do
equilíbrio, manutenção do tônus muscular e da postura bem como a
coordenação dos movimentos.
Esta tonicidade é fundamental para que o desenvolvimento motor
aconteça, e o inicio é a partir dos reflexos os quais vão evoluindo para reações,
que por sua vez evoluem para os padrões de aquisição definitivas.
Todo o desenvolvimento motor se inicia com uma atividade reflexa
(comando reflexo) e não se tem controle sobre estes movimentos.
E indispensável, para o exercício normal de nossas atividades, que o
tônus muscular esteja normal e que a criança possa se manter com facilidade
na postura em que a ação deve ser exercida.
O desenvolvimento das posturas e do tônus deve acontecer de
maneira progressiva ao mesmo tempo que o desenvolvimento dos padrões de
movimento. As novas conquistas relativas ao tônus muscular e a aquisição dos
padrões posturais preparam para a aprendizagem de novas atividades.
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Duas condições são indispensáveis para a boa execução dos
nossos movimentos; que a postura em que a nossa atividade for executada
possa se adaptar às condições da ação praticada e que, por outro lado, os
padrões de movimento possam se ajustar à postura em que a ação vai ser
executada.
O aparecimento de mecanismos reflexos e reações posturais são
fatores essenciais para a evolução da motricidade nos primeiros meses.
E necessário que haja:
a) reações posturais e de equilíbrio;
b) modificação dos movimentos primitivos para movimentos
especializados;
c) construção de um tônus muscular que aos poucos vai se
modificando para resistir à força da gravidade.
O mecanismo reflexo postural comanda o controle da cabeça no
espaço, a coordenação da cabeça com o tronco e do tronco com os membros
inferiores e superiores mediante rotação (adaptação da musculatura agonista e
antagonista). A capacidade do homem em manter-se na postura ereta, de
manipular com habilidade, de falar e de pensar, exige um mecanismo reflexo
de manutenção postural, que coordene os padrões motores correspondentes.
Existem condições para o aprendizado normal de uma postura:
1) motivação para assumir uma determinada postura (realizar
movimentos contra a gravidade);
2) percepção da postura sob o ponto de vista sensitivo
(propriocepção, tato e visão);
3) tomar a postura pela primeira vez (reflexos posturais);
4) estabelecer a coordenação sensitivo-postural correspondente
(coordenar todas as informações que “entram” e não apenas as informações
trazidas pelos 5 sentidos);
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5) desenvolvimento dos diferentes padrões posturais, desde os
iniciais até os da fase adulta (coordenação dos movimentos ĺ para fazer um
movimento é necessário que se faça um outro anterior);
6) integração e adaptação da postura a diferentes objetivos (sempre
se necessita de uma motivação: de pé para quê; sentado para quê);
7) controle à nível cortical, sobre os reflexos posturais responsáveis
pela postura (através do reflexo, o bebê se interessa pelo movimento e a partir
daí, ele passa a coordenar e então não existe mais o reflexo):
1º - reflexo
2º - reflexo e coordenação cortical
3º - “abandono” do reflexo para passar para a coordenação sensório
postural (comando pelo córtex).
Fatores Responsáveis pela Formação de um Padrão de Postura:
1) situação estimuladora – elemento formador (o que leva ao
movimento);
– condições facilitadoras (envolve o elemento formador e o
interesse para continuar o movimento).
2) interação entre o reflexo postural e o padrão adquirido.
Fases de Aquisição de Padrão de Postura:
1) reflexa;
2) coordenação sensitivo-postural (ainda não voluntário, é apenas
coordenação)
3) voluntário (a criança escolhe o que vai fazer).
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Existem elementos que precisam ser respeitados para a formação
dos padrões de postura:
1) maturidade do Sistema Nervoso (a criança não aprende por
acaso);
2) qualidade dos estímulos (há uma evolução nesta qualidade), por
exemplo:
a) a criança olha o rosto humano;
b) olha o rosto do boneco e dos bichinhos;
c) olha objetos que não têm rosto.
3) situação estimuladora (envolve o elemento formador e as
condições facilitadoras);
4) seqüência completa em um mesmo estágio;
5) coincidência nos diferentes estágios: as posturas são mais ou
menos respeitadas por todas as crianças que se encontram numa mesma
idade;
6) desenvolvimento de todas as funções do Sistema Nervoso –
cognição, linguagem, motor etc).
2.3. DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA
Segundo Brandão (1984), são três os períodos do desenvolvimento
das estruturas cognitivas, intimamente ligadas ao desenvolvimento da
motricidade, da afetividade, da personalidade da socialização da criança.
Neste estudo vai interessar apenas o 1º período: sensório-motor que
se subdivide em 6 estágios.
26
Estágio I
Idade de 0 à 1 mês
O exercício dos reflexos:
O bebê encontra-se num total estado de indiferenciação com o meio
por sua própria falta de estrutura psíquica.
Tanto sob o ponto de vista fisiológico quanto psicológico, o bebê que
acaba de nascer, é totalmente desprovido de recursos e na falta de assistência
humana, sua sobrevivência é quase que impossível.
O que é de seu corpo e o que é do meio exterior não é distinguido.
Mas ele vai aos poucos tomando “consciência” de seu poder de agir a distancia
sobre o meio que o envolve, gritando quando está com fome, desconfortável,
com dor, etc (egocentrismo inicial – Piaget).
Mas o bebê apresenta um conjunto de reflexos, que lhe permitirão
respostas às solicitações exteriores e é através delas que o recém nascido
entra em relação com o meio exterior para ele se adaptar.
É no exercício do reflexo (fazendo-o “funcionar”), que ele se
consolida e se firma, dando lugar à constituição de esquemas.
A assimilação e a acomodação ainda não estão diferenciadas.
Estagio II
Idade de 1 a 4 meses
Adaptações adquiridas ou comportamentos adquiridos e a reação
circular primária (RCP).
27
Neste estágio, iniciam-se os primeiros elementos do
desenvolvimento psicológico (intelectivo e afetivo). Através das ações
executadas a partir de agora, o bebê passará a ter a oportunidade de captar e
iniciar a sua atividade perceptiva, inicialmente em imagens sensoriais isoladas,
que passarão a se coordenar e formar quadros sensoriais. Nesta fase ainda há
conduta inteligente (repetição de movimentos que já experimentou como
agradáveis).
A assimilação e a acomodação começam a se dissociar, pois a
adaptação adquirida supõe uma aprendizagem relativa aos dados novos do
meio exterior.
No exercício reflexo, há uma fixação do mecanismo e na adaptação
adquirida, a atividade do bebê retém algo que é exterior a ela ou melhor, há
uma transformação em função da experiência.
Estágio III
Idade de 4 a 8 meses
Procedimentos para fazer durar espetáculos (adaptações sensório-
motoras intencionais) e a reação circular secundária (RCS).
Existe uma pré-intencionalidade: repetição da ação já realizada e não
invenção de novos meios.
A partir de agora, a criança vai pouco a pouco utilizar os
procedimentos sobre objetos exteriores.
Os resultados interessantes foram descobertos por acaso e agora
são repetidos> A RCS marca a passagem entre a atividade reflexa e a
atividade propriamente inteligente. Neste momento, encontra-se a criança,
entre atos pré-inteligentes e atos intencionais, segundo Piaget (1975).
28
A criança se voltará pela primeira vez, de fato para os objetos e para
os efeitos. Antes deste momento, tal fato era impossível, já que a criança, não
tinha o domínio sobre o seu funcionamento.
A assimilação e a acomodação já estão bem diferenciadas, embora
ainda predomine a assimilação.
Estágio IV
Idade de 8 a 12 meses
Coordenação dos esquemas secundários e suas aplicações a
situações novas.
Neste estágio, há a construção do objeto permanente diante da
busca ativa ante o “desaparecimento” e com isso supera-se a ansiedade.
Surgem as primeiras condutas inteligentes com a distinção entre
meios (que já foram utilizados) e fins.
A aquisição mais importante deste estágio é a noção de
permanência do objeto, quando a criança vai procurá-lo onde o viu
desaparecer.
Ainda encontramos a intencionalidade nas ações; a exploração dos
objetos (as modificações que suas ações provocam); a construção dos objetos
afetivos (superando-se mais uma vez a ansiedade) e o início das imitações de
modelos presentes (dar adeus, mandar beijos etc).
29
Estágio V
Idade de 12 a 18 meses
A descoberta de novos meios por experimentação ativa e a reação
circular terciária (RCT).
Na experimentação ativa constitui-se novos esquemas de ação pela
busca da novidade, pela invenção de novos meios (é quando a criança vai
mexer em tudo).
A descoberta de meios novos por experimentação ativa (principal
característica desta fase) coloca-se num conjunto de condutas que são as
formas mais elevadas da atividade intelectual antes que surja a inteligência
sistemática.
A assimilação é dissociada da acomodação e depois se torna
complemento dela.
Estágio VI
Idade a partir dos 18 meses
A invenção de meios novos por combinação mental.
Este estágio efetua a transição entre a inteligência sensoriomotora e
a inteligência representativa que inicia com a idade dos dois anos com o
aparecimento da função simbólica.
Diante de uma situação problema (em que seus esquemas habituais
não funcionem) a criança “inventa”, por experimentação interna, a solução para
alcançar seu objetivo.
30
Imagem simbólica – é a capacidade de representar mentalmente um
fato ausente (objeto ou acontecimento) ou algo abstrato por um outro objeto
(brincadeira do “faz de conta”).
2.4. EVOLUÇÃO DA MOTRICIDADE NORMAL DA CRIANÇA DE
0 À 1 ANO
1º mês
Fase Reflexa (funções medulares):
Neste período o recém nascido apresenta um centro nervoso que
ainda não está em pleno funcionamento. Segundo Delacato (1966), “a
progressão da organização neurológica processa-se verticalmente em direção
ao córtex, à medida que a mielinização se realiza”.
Nesta fase a criança tem movimento, mas não tem mobilidade.
a TÔNUS
Predominância do tônus flexor, apesar de que a atitude do recém
nascido não é fixa. Com o passar dos dias, a dominância do tônus dos
músculos flexores, vai diminuindo.
O reflexo tônico cervical assimétrico (RTCA), comandado
neurologicamente pela protuberância anular, está presente desde o nascimento
até aproximadamente o 5º mês de vida. Consiste no seguinte movimento:
quando o bebê roda a cabeça para o lado, o braço e a perna deste lado se
fletem e a mão se fecha. O braço e a perna do lado oposto se estendem.
31
a VISÃO
Neste período a visão do bebê é bi-ocular ou monocular (os olhos
são usados em geral, alternadamente e só raras as vezes em conjunto. Os
olhos do bebê apresentam um quadro de estrabismo) e ele passa por diversas
fases de acordo com a posição em que se encontra:
Posição em supino
Fase reflexa
Reflexo foveano (1º dia de vida) – a criança percebe a luminosidade
quando esta é tênue;
Reflexo fixação foveano (2ª semana) – segue com os olhos o
contraste de branco e preto;
Reflexo tônico cervical assimétrico (RTCA) – é uma das 1as vezes
que o bebê olha a sua mão;
Fase da coordenação óculo cefálica (COC) – sensação visual mais
movimento de cabeça;
Posição prono – reflexo tônico labiríntico (RTL) – aparece no
nascimento e persiste até a 5ªŹ semana, quando desaparece;
- O bebê aumenta a flexão em decúbito ventral e diminui a flexão em
decúbito dorsal.
a AUDIÇÃO
Nesta fase é bi-auricular (uso de um ouvido independente do outro).
Não localiza a origem dos sons e nem tem a sensação de profundidade ou
distancia do som (Delacato – 1996).
- reflexo de Moro (a criança abre braços e pernas esticando o
pescoço, quando se assusta e em seguida volta à posição normal);
32
- reage ao som – para o que está fazendo para prestar atenção ao
som ou se agita demais;
- sorri ao som (voz humana) mais agudo (atividade reflexa)
a TATO BUCAL
Fase reflexa – reação palmar-mentalis (R. Palmomentoniano) –
fazendo uma pressão na palma da mão do bebê, ele franze o queixo.
2º MÊS
A criança ainda apresenta o predomínio da flexão, mas para ela,
está mais fácil realizar a extenção (o tônus flexor diminuiu).
Esperneia alternadamente (movimentos alternados: extenção de um
lado e flexão do outro), coloca a cabeça para o lado preferido; os braços estão
em angulo junto ao corpo e as mãos estão abertas com freqüência.
Aparecimento da reação corporal de retificação (decúbito ventral),
ocasionando o reflexo de anfíbio (puxar o bebê em decúbito ventral pela crista
ilíaca e a perna deste lado dobra e a do outro lado permanece esticada).
a TÔNUS
O tônus flexor ainda está presente quando a criança esta em
decúbito ventral e diminui a flexão em decúbito dorsal (reflexo tônico labiríntico
(RTL) reflexo este que desaparece no final do 2º mês.
33
a VISÃO
Na posição de:
- supino – aumenta a trajetória de seu olhar: além de horizontal,
acompanha também de forma vertical.
- prono – aparece o reflexo de retificação labiríntica (RRL) – a
criança em decúbito ventral, estica o pescoço e vira a cabeça para um lado e
para o outro.
Neste momento há a participação do córtex cerebral. Seu comando
é manter a cabeça em 90º (um bebê em decúbito ventral não sufoca, pois
eleva um pouco a cabeça e a vira para um lado para aliviar as vias aéreas).
a AUDIÇÃO
- fase de coordenação áudio-cefálica (CAC) – o bebê acomoda (gira)
a cabeça em direção do som.
3º Mês
A partir deste mês, o bebê começa a virar-se através do estimulo
visual, para os dois lados (ventral e costal), já não em bloco, mas com certa
rotação. O movimento se inicia quando a cabeça gira através de um estímulo
visual; depois, a cintura escapular e por último, a cintura pélvica. Bem mais
tarde, o bebê percebe que este movimento é uma função. A cabeça já pode ser
mantida em linha média, mas preferencialmente ele a coloca para um lado,
enquanto que o tronco se mostra virado para o lado do rosto. As mãos já são
trazidas para a linha média do corpo e são observadas. A criança brinca com
as mãos e pode segurar objetos que lhe são colocados nas mãos.
34
Os movimentos em bloco (de membros superiores e inferiores), são
mais escassos e todos os movimentos já se produzem com alguma
coordenação. Executa o movimento de pedalagem.
Quando em posição ventral, a cabeça já se ergue 45º, porém o
apoio sobre o antebraço ainda é instável. O quadril ainda se mostra
freqüentemente fletido, assim como os joelhos.
Quando um adulto quer levantá-la, a criança já colabora, sendo que
o controle da cabeça ainda é instável, quando ela oscila, mas não cai de forma
descontrolada. Neste momento o adulto tem que se preocupar mais com o
tronco e não com a cabeça. Levantando-a pelas axilas, ela já se apóia por
tempo limitado, porém se torna mais estável na posição de pé.
a TÔNUS POSTURAL
O tônus flexor já não predomina e a criança se mostra com o padrão
extensor. Neste momento, o bebê sai da cifose e começa a retificar a coluna e
daí ele se projeta para frente, mas as mãos não o acompanham. Ele ainda tem
capacidade de pegar um objeto e trazê-lo para si.
a EQUILIBRIO
A criança torna-se mais equilibrada em todas as posições: primeiro
na posição dorsal, depois na posição ventral e por último na posição ereta.
Alguns reflexos e reações ainda aparecem, mas cada vez com
menos freqüência.
a VISÃO
- supino – a movimentação ocular torna-se mais rápida de forma
horizontal, vertical e diagonal.
35
- prono – a movimentação ocular é vertical e horizontal. O reflexo de
retificação labiríntica (RRL) ainda está presente.
a AUDIÇÃO
Já ao nível de córtex, o bebê localiza a fonte sonora, girando a
cabeça e localizando o objeto.
a TATO BUCAL
O reflexo palmar-mandibular permanece até o 3º mês (fazendo-se
uma pressão na palma da mão do bebê, ele gira a cabeça e abre a boca).
4º mês
Ainda sob a influência à nível de Ponte.
O bebê é capaz de vira-se para os dois lados. A criança brinca com
as mãos e pode segurar um objeto e este já é trazido para a boca. Na posição
dorsal, segura os pés e na posição ventral, a cabeça é erguida quase a 90º e a
criança já se apóia nos antebraços com bastante estabilidade, porem ainda não
adquiriu o equilíbrio completo.
Este é o momento que aparece o movimento de báscula, quando o
bebê passa a alterar o peso de um braço para o outro. Ele pode começar a
rastejar (arrastar o corpo) neste momento passando do reflexo do anfíbio, para
a reação do anfíbio. Nota-se que o bebê permanece em contato com o chão e
são feitos movimentos de propulsão num padrão homolateral típico do anfíbio
(braço e perna estendidos do lado oposto à face e braço e perna flexionados
do lado da face).
36
a EQUILIBRIO
Há uma maior estabilidade da criança em todas as posições
(sobretudo ventral e dorsalmente). A criança tenta ficar numa posição até
perder o equilíbrio e desta forma ela esta “aprendendo”.
Também neste momento ela começa a segurar os pés.
a REFLEXO E REAÇÕES
Alguns estão presentes, mas vão abandonando a criança que vai
passando para posturas aprendidas.
a MOTRICIDADE FINA
Os movimentos de preensão ainda são incoordenados e grosseiros.
O objeto pode ser agarrado, trocado de lugar e largado ao acaso.
Mãos, dedos e objetos são levados à boca e sugados.
a VISÃO
Inicio da visão periférica e dos movimentos horizontal, vertical e
diagonal sem parar no centro. Devido a este amadurecimento, desaparece o
estrabismo.
Neste momento, o bebê já está sentado com apoio e usa os braços
e mãos para frente para se equilibrar e não cair. Nesta posição passa a ter o
olhar horizontal.
37
a AUDIÇÃO
Ouvindo um ruído, a criança fica atenta e passa a ter preferência por
alguns sons. Tenta provocar os ruídos e já reconhece alguns.
a TATO BUCAL
Ainda presente o reflexo da mordida que vai evoluir para a
mastigação, quando então desaparece o reflexo.
5º mês
Aparecem os movimentos natatórios, mas a criança ainda não se
desloca com muita desenvoltura.
Surge o reflexo tônico cervical simétrico (RTCS) o bebê começa a se
deslizar para trás. Surgem pontos de apoio: região palmar, joelhos e região
anterior da perna.
Ele começa a ser colocado na posição sentado e esta é uma das
condições necessárias para que ele adquira esta postura (esta é uma postura
aprendida). Amadurecem as reações de retificação na postura sentada, o
equilíbrio na mesma postura e o reflexo tônico cervical simétrico (associação
das cinturas pélvica e escapular).
Neste momento ele desenvolve a reação do paraquedista (a qual vai
acompanhá-lo por toda a vida), para que mais tarde amadureça a função de
apoio dos membros superiores que é a preparação para a postura de gatas.
Após a báscula (4 meses), o bebê se equilibra melhor e soltando
uma das mãos, pega o objeto.
38
Come sozinho um biscoito que lhe dão na mão e é capaz de passar
um objeto de uma mão para outra se for uma criança suficientemente bem
estabilizada.
a VISÃO
Em supino, apresenta um campo visual completo de 180º e em
prono já faz movimentos oculares em diagonal.
6º mês
A criança em posição dorsal segura os pés e os põe na boca.
Estende os braços para frente e arqueia a cabeça.
Já pode se sentar sem esboçar muitos movimentos. Quando se
cansa, perde o equilíbrio e se joga para frente.
Segurando-se a criança ao nível de quadris, ela não cai (até o meio
da coluna lombar, está retificado).
Quando colocamos a criança de pé no colo, ela suporta bem o seu
peso por um determinado tempo (o tronco e o joelho estão fletidos), porém
ainda não pode ser solta.
As articulações tornam-se mais independentes, a manutenção das
atitudes torna-se mais estável e as transições para a movimentação ativa,
torna-se melhor.
A cabeça está bem colocada no espaço e quando a criança perde o
equilíbrio, recupera-se, isto é, reequilibra-se quando vai cair. Segundo Delacato
(1966), nesta idade a criança começa a mover-se em nível de mesencéfalo, por
onde correm as fibras da retina, que no bebê estão associadas à luz e à
postura. Existe, segundo ele, uma grande quantidade de nervos sensitivos nos
39
músculos oculares e há uma conexão com os centros posturais do
mesencéfalo o que sugere uma inter-relação de postura, mobilidade e visão
neste nível. Conseqüentemente há uma relação estreita entre os movimentos
dos olhos e as alterações de postura, entre os nervos extra-oculares e os
labirintos, com inter-relação concomitante da audição com os músculos do
pescoço e do tronco.
a REAÇÕES DE EQUILÍBRIO
Na posição sentada, há instabilidade de tronco, porém já possui um
maior movimento de extensão que com isso gera maior estabilidade.
a MOTRICIDADE FINA E PREENSÃO
A motricidade está estabilizada, pois a criança já pode estender os
braços e as mãos e com isso agarra objetos. Ainda usa a preensão palmar e
transfere brinquedos de uma mão para outra e às vezes os leva à boca.
As mãos já estão abertas e os dedos já estão preparados para as
atividades mais finas. Surge então, o movimento de pinça para pegar objetos
pequenos.
Começa a apalpar os objetos e distinguir as superfícies agradáveis e
desagradáveis.
a VISÃO
Quando sentada, tem uma visão horizontal e pode seguir objetos ou
pessoas lentamente de forma horizontal. Já apresenta uma boa coordenação
motora-visual.
Ainda há associação da cabeça com as cinturas escapular e pélvica.
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a AUDIÇÃO
A criança se vira para a fonte sonora e distingue a qualidade. Presta
atenção a ruídos que lhe são agradáveis. Nesta fase provoca muitos ruídos
próprios e os repete.
7º Mês
Quando deitada em decúbito dorsal, estende os dois braços eleva a
cabeça quando quer que alguém a levante. Se alguém a pega, ela se ergue
quase que sozinha. Neste momento, ela escolhe o que vai fazer: entra na fase
voluntária.
Quando em decúbito ventral, a cabeça está bem levantada. Ela se
prepara para a posição de gatas e se esforça para alcançar um objeto que a
atraia.
Quando sentada, já usa as mãos lateralmente para não cair. Neste
momento o bebê olha para as grades do berço e se puxa para ficar de pé.
a TONUS POSTURAL E EQUILIBRIO
O tônus é normal e a motricidade por esta razão é mais estável. A
manutenção da atividade torna-se mais estável. Ela vai dia a dia melhorando
seu equilíbrio e vai experimentando até que ponto pode ir.
a MOTRICIDADE FINA E PREENSÃO
Os objetos são agarrados com as palmas das mãos. Aprende a
identificar dois objetos diferentes, batendo-os um contra o outro. Os dedos já
estão preparados para atividades mais finas e algumas vezes o polegar, o
indicador e o médio, agem sozinhos.
41
A criança olha o que pega, fazendo desta forma a coordenação
óculo-manual.
Come alimentos que lhe sejam oferecidos e começa a beber de uma
xícara, se alguém segura para ela. Come de colher ainda de forma grosseira.
a VISÃO
Já existe uma boa coordenação dos músculos oculares e uma boa
coordenação mão x olho. Surge a visão binocular.
8º mês
Segundo Samarão (1984), o aparecimento da inteligência prática se
dá a partir desta idade, quando a criança demonstra através das condutas, que
já é capaz de combinar duas ou mais ações usando-as como meios para
vencer as situações que a impedem de executar um ato desejado, como, por
exemplo, afastar primeiro um obstáculo interposto entre a sua mão e o
brinquedo que quer manipular e só então aproximar a mão do objeto e segurá-
lo.
Neste momento a criança passa a se colocar na postura de gatas.
Pode engatinhar de forma não satisfatória. Para que isso aconteça
(engatinhar), o bebê precisa ter vivenciado algumas condições:
- o bebê deverá ter vivenciado atitudes seletivas nas posturas
anteriores;
- tem que ter aprendido a alternar movimentos de um segmento do
corpo e movimentos segmentares diferentes;
42
- precisa ter evoluído para poder elevar a cintura escapular e pélvica;
- precisa ter passado pelas fases de rolar (reações de retificação
corporal);
- precisou ter aprendido à distribuir a carga (tirar um membro do
apoio e se equilibrar – báscula);
Os quadris já estão fazendo a rotação externa e as penas movem-se
livremente. Senta-se, às vezes com ajuda e outras vezes consegue passar da
posição ventral para a posição sentada. Cada vez mais rapidamente a criança
consegue mudar de posição e passa a movimentar-se muito mais.
Já pode se erguer apoiando-se em objetos e fica de pé (base
alargada), com ligeira oscilação, balançando o quadril em movimentos antero-
posteriores.
a EQUILIBIO E REAÇÕES POSTURAIS
Boa colocação da cabeça no espaço. As reações posturais da
cabeça sobre o corpo e do corpo no espaço são muito marcadas com a
melhora do equilíbrio e por isso a criança começa a fazer experiências. Se o
equilíbrio for perdido, o restabelecimento do mesmo é alcançado mais
rapidamente.
a MOTRICIDADE FINA E PREENSÃO
Pega em todos os brinquedos que estão à sua volta e tenta alcançar
os que estão fora de seu alcance. Procura descobrir o que acontece quando
joga alguma coisa no chão (ou para baixo) e acompanha com o olhar esta
trajetória. Bate com uma mão na outra e dá adeus.
43
9º Mês
A criança quase que abandona a posição ventral e dorsal, ficando
mais na posição lateral e sentada.
Quando está sentada e perde o equilíbrio, reage com contra-
movimentos de corpo, apoiando-se para frente ou para o lado e mostra boa
rotação do tronco.
Já se levanta segurando-se em objetos e ao ficar de pé, já o faz com
mais estabilidade. A partir daqui, dá os primeiros passos com apoio (marcha
lateral e anterior). Arrisca soltar uma das mãos do apoio e assim pode andar a
casa toda (sempre se apoiando).
Locomove-se com bastante rapidez quando está na posição de
gatas, o que visivelmente lhe dá muito prazer (pode alternar entre engatinhar e
andar com apoio).
a TONUS POSTURAL, REAÇÕES POSTURAIS E EQUILIBRIO
O tônus se regulariza a partir da estabilidade. A criança pode por
este motivo, realizar movimentos e manter atitudes. Tem uma boa posição de
cabeça no espaço, um bom esquema corporal e bom equilíbrio nas posições
dorsal, ventral e sentada.
Perde-se o equilíbrio, realiza contra-movimentos, ainda instáveis,
para manter ou restabelecer a postura.
44
a MOTRICIDADE FINA E PREENSÃO
Atira brinquedos e usa o movimento de pinça para pegar qualquer
coisa que a atraia. Indica figuras com o dedo e tenta beber numa xícara,
segurando-a com as duas mãos. Tira coisas que são colocadas em sua cabeça
(chapéu, lenço, boné etc.).
a AUDIÇÃO
Passa a se interessar por ruídos mais requintados tipo o tique-taque
do relógio, o som do telefone, etc.
10º Mês
A partir do engatinhar de forma rápida e desembaraçada, a criança
se prepara para andar. Nesta fase, ela pode usar a postura do urso, como se
fosse um estágio intermediário entre as duas posturas corporais.
a MOTRICIDADE FINA E PREENSÃO
Tira objetos de uma caixa e torna a colocá-los. Ainda não acha os
objetos que são escondidos de sua vista. Brinca com cubos e outros objetos
parecidos.
11º Mês
Preparar-se para andar, dando alguns passos, sem apoio, com a
base aumentada e os braços abetos.
Algumas crianças conseguem, mesmo sem muito equilíbrio,
segurando-se com uma das mãos, mover-se para diante e já andam ao longo
de móveis e paredes de forma mais rápida.
45
a MOTRICIDADE E PREENSÃO
Presta atenção quando se esconde um objeto à sua vista e tenta
encontrá-lo. Prepara-se para o jogo do encaixe, jogando coisas através de
aberturas estreitas.
Começa a empilhar cubos e segura uma colher e tenta comer
sozinha.
a AUDIÇÃO
Passa a ouvir, dele mesmo, as primeiras palavras.
12º Mês
Ainda insegura, a criança já pode andar livremente na maior parte
dos casos, adaptando-se bem à modificação da sua posição no espaço e
consegue ficar sentada por muito tempo, brincando.
O engatinhar começa a ser abandonado da mesma forma que a
posição do urso.
a EQUILIBRIO
A criança ainda se apresenta com o equilíbrio de forma instável
quando está de pé e ao caminhar.
a MOTRICIDADE E PREENSÃO
Neste momento começa a imitar o trabalho caseiro das pessoas que
estão à sua volta. Passa a comer sozinha, porém de forma tosca e ainda
derrubando o alimento.
46
Rabisca quando lhe dão um lápis, constrói torre com dois cubos e
junta objetos, sem ordem, atirando-os todos de uma vez e apanha com
habilidade migalhas e fiapos, com preensão em pinça.
47
CAPÍTULO III
ESTIMULAÇÃO NEUROPSICOMOTORA
A estimulação pode ser feita obedecendo-se diversas linhas de
trabalho, o que não vem ao caso neste estudo. Alguns autores acreditam que
os reflexos devem ser inibidos, pois é desta forma que se estimula no bebê, o
padrão correto. Outros autores acreditam que se estimulando o reflexo, ele
amadurece e se transforma no padrão normal.
De qualquer forma, deve haver estimulação e é isso que faz com
que a criança vença suas dificuldades e caminhe no sentido de desenvolver
seus movimentos, sua inteligência, seus sentidos e percepções.
Os distúrbios mais comuns encontrados em criança estão ligados à
percepção (visual e auditivas), orientação espacial e temporal, esquemas
corporal, discriminação visual e auditiva, coordenação motora global e fina,
alteração no processo do pensamento (organização de pensamento e
pensamento abstrato), memória visual e auditiva, atraso na linguagem falada,
escrita e pensada, lateralidade etc.
Para que a reeducação alcance o seu objetivo, os exercícios
deverão ser voltados para determinadas áreas cerebrais responsáveis por
certas funções.
Como o Sistema Nervoso não é um órgão que possua atividades
restritas a uma só área, deve haver uma estimulação como um todo pois as
sinapses se encarregarão de fazer com que os estímulos percorram todo este
sistema.
Para que haja uma boa APRENDIZAGEM e MEMÓRIA, são
utilizados os cinco sentidos, os quais têm a função de captação de
informações. Estes estímulos captados pelos sentidos são transmitidos através
48
destas terminações nervosas até uma área chamada Hipocampo, que funciona
como um arquivo. Ao receber um mesmo estímulo (já anteriormente recebido),
o Hipocampo é estimulado à procurar e a liberar a informação de seu arquivo.
Estes arquivos além de estarem no Hipocampo, também estão presentes no
Lobo Occipital (da visão), no Lobo Temporal (da audição) e em outras áreas
cerebrais.
O EQUÍLIBRIO está ligado ao sistema vestibular, à audição e à
visão, os quais regem a posição e o movimento da cabeça e o movimento
conjugado dos olhos.
Sabe-se que na MOTRICIDADE (uma das funções desempenhadas
pelo Tálamo), quanto mais automático for o movimento, menor é o número de
sinapses e quanto mais cognitivo forem os movimentos, maior será a
quantidade das sinapses.
Os movimentos desejados são regidos pelo Córtex Cerebral; o
Cerebelo controla estes movimentos e a Medula e o Tronco Encefálico, os
controlam através dos músculos e dos sentidos.
O Tálamo, que segundo Machado (1991), mantém conexões e ativa
o Córtex Cerebral e além de manter funções como a MOTRICIDADE, faz
conexões com a área pré frontal e por isso tem participações com o
comportamento emocional. As funções sensitivas do Tálamo são conhecidos e
importantes, com exceção dos impulsos olfatórios. Entretanto, a sensibilidade
talâmica, ao contrário de cortical, não é discriminativa e não permite o
reconhecimento da forma e do tamanho de um objeto pelo tato (estereognosia).
O ESQUEMA CORPORAL tem uma vital importância em seu
desenvolvimento. O bebê vai gradativamente descobrindo seu corpo e
formando sua imagem corporal, sempre em movimento corporal e através de
experiências. Caso isso não aconteça de forma espontânea, a reeducação
passará por vários estágios, conscientizando o indivíduo através de sua
49
respiração, dos movimentos dos diversos segmentos corporais, de seu controle
postural, de sua tonicidade muscular, da lateralidade etc.
A criança começa a lidar com o ESPAÇO da forma em que tudo é
uma extensão dela própria. Após este estágio, ela percebe que pode deslocar
os objetos de um lugar para o outro.Depois, ela adquire a capacidade de
localizar e avaliar a distância e a profundidade em que os objetos se encontram
e graças a isso, ela poderá buscá-los e reencontrá-los. Após o estabelecimento
destas relações, a criança começa a se perceber como um objeto no espaço.
Nesta relação de corpo x espaço x objeto, surge a noção da LATERALIDADE
que implica em sabermos distinguir o lado Direito e Esquerdo do nosso corpo,
de nossa imagem refletida num espelho ou na imagem de uma outra pessoa. O
conhecimento da LATERALIDADE tem uma grande importância para nos
orientarmos e podermos localizar objetos no espaço.
De acordo com Piaget (1975), o tempo é construído a partir do
objeto, do espaço e da causalidade. A criança vai tomando “consciência”
destas séries corporais e por volta dos 8 anos, ela consegue organizar as
noções de ordem e de duração. O indivíduo relaciona sua imagem com o
mundo exterior, reagindo e se adaptando a ele. É uma relação dinâmica de
conscientização e integração do TEMPO E DO ESPAÇO.
A reeducação da LATERALIDADE, do TEMPO e do ESPAÇO se
dará através das posições do corpo (vertical e horizontal), no ritmo próprio da
criança, na exploração da velocidade, duração, distancia e intervalo, enfim na
relação da criança com tudo que a cerca, com a 3ª dimensão e com a
estruturação e integração das relações espaciais e temporais com a
lateralidade corporal.
50
CONCLUSÃO
De acordo com este estudo percebe-se que existe uma regra para o
amadurecimento do Sistema Nervoso, desde que o ser humano é formado (na
fecundação), até mais ou menos os sete anos de vida.
Neste trabalho, esta evolução é acompanhada e analisada a partir
do nascimento do bebê quando constata-se que uma criatura totalmente
dependente, um ano depois, transformou-se num ser inteligente, que se move,
com vontades próprias, que realiza experiências, movimentos, que se
comunica através de gestos, fala, de expressões faciais e corporais.
Paralelamente à anatomia do Sistema Nervoso, estudou-se as áreas
neurológicas responsáveis por esta evolução e transformação do bebê numa
criança e sua passagem por cada etapa, obedecendo a escala evolutiva.
Tentou-se estabelecer uma comparação entre a evolução neurológica e a
evolução motora do ser humano, quando todas as etapas, são cumpridas e
todos os padrões são obedecidos.
Como foi colocado anteriormente, se não houver estimulação, este
amadurecimento pode não acontecer ou se a estimulação não for o suficiente,
o amadurecimento ocorre de forma não satisfatória e desta forma traz alguma
dificuldade para a criança, ou durante seu progresso evolutivo ou
posteriormente quando seu Sistema Nervoso já estiver amadurecido.
Os padrões que devem ser observados são os genéticos, os
emocionais e os ambientais. Estes padrões geram outros que acabam levando
a criança ao desenvolvimento dos reflexos em atitudes ou posturas e à
manutenção destes até a conservação do equilíbrio.
51
Quando alguma coisa acontece neste emaranhado de reações,
emoções, movimentos etc. e a criança chega a apresentar dificuldades
psicomotoras, existe uma solução no sentido de se estimular este individuo
através de exercícios que venham a organizar ou reorganizar todo o seu
sistema visando sua adaptação, da melhor forma possível, aos padrões e
aptidões consideradas como satisfatórias.
Quanto mais precoce for esta ação reeducativa, maiores serão as
possibilidades de recuperação, principalmente quando isso acontece dentro
desta idade (0 a um ano), pois modificar ou adaptar um sistema em
desenvolvimento é muito mais fácil do que se reeducar um sistema que já está
amadurecido. Desta forma tentou-se estabelecer um paralelo entre a evolução
neuropsicomotora do bebê e a estimulação que ele poderá receber caso seu
desenvolvimento não esteja sendo satisfatório.
Se o bebê passar por todas as etapas descritas no capitulo II,
dificilmente ele apresentará algum tipo de dificuldade em sua vida desde a
infância até a idade adulta. Mas, se o bebê “pular” ou melhor, dizendo, não
cumprir de forma satisfatória alguma destas fases, e não for estimulado
imediatamente, ele poderá vir a apresentar alguma dificuldade ao longo de sua
vida.
Na estimulação neuropsicomotora, serão trabalhadas todas as áreas
em conjunto, embora na maioria das vezes possa haver maior progresso em
uma ou algumas delas, enquanto que a evolução em outras áreas seja mais
demorada. São utilizadas as vias EFERENTES ou SENSITIVAS que levam ao
Sistema Nervoso as informações (que são transformadas em informações
neurais), através dos exercícios de estimulação e as vias AFERENTES ou
MOTORAS, que trazem as respostas corrigidas (informações neurais) do
Sistema Nervoso aos músculos e aos órgãos dos sentidos (transformados em
energia física).
52
Para que as respostas passem a ser positivas, é necessário que a
estimulação se faça de forma qualitativa, com precisão dos movimentos e das
ações de forma que o indivíduo saiba realizá-las sem nenhuma dificuldade (é
quando sabemos que o padrão ficou “gravado” no Sistema Nervoso, melhor
dizendo, o padrão faz parte de seu molde cortical). Neste momento, o Indivíduo
adquiriu o padrão, livrou-se da dificuldade e pode ser comparado a alguém que
percorreu todos os caminhos da motricidade inata quando bebê, durante o
período de 0 à um ano.
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BIBLIOGRAFIA ANNUNCIATO, Nelson Francisco.; SILVA, Ciro Ferreira da. Revista tema sobre
desenvolvimento. Desenvolvimento do Sistema Nervoso. Ano 4, nº 24,
Editora Memnon, maio/junho 1995.
BERTHERAT, Thérèse. O corpo tem suas razões. São Paulo: Martins Fontes,
1985.
BRANDÃO, Joércio Samarão. O Desenvolvimento Psicomotor das Mãos.
1984.
DELACATO, Carl H. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Fala e
Leitura. 7a. ed., S/l: Editado por Centro de Reabilitação N. S. Glória, 1966.
DOLLE, Jean-Marie. Para Compreender Jean Piaget. São Paulo: Zahar,
1975.
FLEHMIG, Inge. Desenvolvimento Normal e seus Desvios no Lactente.
1987.
LAROSA, Marco Antonio.; AYRES, Fernando Arduini. Como produzir uma
monografia passo a passo... Rio de Janeiro: WAK, 2003.
MACHADO, Ângelo. Neuroanatomia Funcional. Biblioteca Biomédica. São
Paulo: Livraria Atheneu, 1991.
NASCIMENTO, Lucia S.; MACHADO, Maria Terezinha C. Psicomotricidade e
Aprendizagem. Rio de Janeiro: s/e, 1976.
REVISTA VEJA. Como funciona o cérebro das crianças. Edição 1436, ano
29, nº 12, São Paulo: Abril, 1996.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Organização do Sistema Nervoso 11 1.1. Filogênese do Sistema Nervoso 11 1.1.1. Neurônios aferentes (ou sensitivos) 13 1.1.2. Neurônios eferentes (ou motores) 13 1.1.3. Neurônios de associação 14 1.2. Embriologia e organização do Sistema Nervoso 14 1.2.1. Divisões do Sistema Nervoso 16 CAPÍTULO II Organização da motricidade 21 2.1. Evolução normal da motricidade - ontogenia 21 2.2. Tônus muscular, reflexo postural e postura 22 2.3. Desenvolvimento da inteligência 25 2.4. Evolução da motricidade normal da criança de 0 à 1 ano 30 CAPÍTULO III Estimulação neuropsicomotora 47 CONCLUSÃO 50 BIBLIOGRAFIA 53 ANEXOS 55 FOLHA DE AVALIAÇÃO 56
55
ANEXOS
56
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES Instituto de Pesquisa Sócio-Pedagógicas Pós-Graduação “Latu Sensu” Título da Monografia A semelhança entre a motricidade inata do recém-nato normal até a idade de 1 ano e a estimulação neuropsicomotora. Data da Entrega: ___________________________ Avaliado por: ______________________________Grau: ________________
Rio de Janeiro, ______ de ______________________ de ________ _______________________________________________________________
Coordenação do Curso
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