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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
BULLYING E APRENDIZAGEM
Por: Zuleica da Silva Fonseca Oliveira
Orientador
Prof. Magaly Vasques
Rio de Janeiro
2012
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
BULLYING E APRENDIZAGEM
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Psicopedagogia Institucional
Por: Zuleica da Silva Fonseca Oliveira
3
AGRADECIMENTOS
Ao Deus que me deu o dom de amar o
conhecimento, ao meu querido esposo
Eric, por ser meu grande incentivador.
Aos meus professores pelo amor ao
ato de ensinar. E a todos que direta,
ou indiretamente, contribuíram para
que eu chegasse até aqui, agradeço
imensamente.
4
DEDICATÓRIA
Ao meu esposo, meus familiares queridos
e as muitas vítimas de bullying, dedico
esta pesquisa.
5
RESUMO
Bullying é um termo que está sendo muito utilizado, porém nem todos
sabem exatamente o que o mesmo significa, banalizando o seu uso.
O seguinte trabalho acadêmico teve como objetivo compreender o que é
o fenômeno bullying, identificar as especificidades de tal comportamento e
suas formas de manifestação. Também foi feito um estudo de como a emoção
e o meio são importantes na aquisição de conhecimento, para entendermos as
possibilidades existentes de as vítimas de bullying serem afetadas no processo
de aprendizagem.
6
METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada em caráter descritivo, ou seja, foram analisadas
e descritas as características do tema proposto. A pesquisa foi bibliográfica,
com enfoque dentro da abordagem da análise qualitativa.
Para um maior entendimento do tema e das discussões propostas foram
consultados autores como Cléo Fante (2005), Aramis Lopes Neto (2005) Sônia
Maria de Souza Pereira (2009) Ana Beatriz Barbosa Silva (2010) e Gustavo
Teixeira (2011), Marta Pires Relvas (2009) entre outros. Alguns outros autores
também foram citados para o enriquecimento da pesquisa, além de pesquisas
na internet.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Considerações Iniciais: Conceito de Violência e Suas Diferentes
Formas de Manifestação 10
CAPÍTULO II - Conceito de Bullying e Suas Formas de Manifestação 16
CAPÍTULO III - Possíveis Efeitos do Bullying na Aprendizagem 23
CONCLUSÃO 30
BIBLIOGRAFIA 32
ÍNDICE 34
FOLHA DE AVALIAÇÃO 35
8
INTRODUÇÃO
A violência, embora sempre tenha existido, vem crescendo de forma
alarmante em todo o mundo. E a escola não está livre disso. Várias são as
formas de violência observadas no ambiente escolar: do vandalismo ao
assassinato. Existem também os tipos de violência que não são tão
“perceptíveis” e que, ainda assim, podem causar estragos emocionais sem
precedentes. A falta de respeito, os apelidos pejorativos, as agressões verbais
e físicas entre os alunos etc estão entre as muitas manifestações de violência
que hoje são conhecidas como bullying.
Cada vez mais temos ouvido falar de bullying no ambiente escolar. Mas,
sabemos de fato o que é isso? Esta pesquisa teve por objetivo geral nos levar
a uma reflexão sobre o bullying escolar e a conhecer as possibilidades de as
vítimas de tal comportamento terem a aprendizagem prejudicada.
A violência, muitas vezes sutil e velada, advinda do Bullying pode trazer
trágicas consequências para a vida das vítimas desta prática. Daí a
importância de um estudo sobre esse fenômeno e de o levarmos ao
conhecimento de todos os que estão, ou que estarão, envolvidos com essa
prática. Neste trabalho conceituamos violência, o bullying escolar e a emoção e
o meio como fatores importantes para a aprendizagem e, mediante estas
informações, buscamos respostas para as seguintes questões: o que é
bullying? Quais são as possíveis consequências deste comportamento na
aprendizagem das vítimas?
A justificativa para esta pesquisa se baseia no fato de que muitos
educadores e pais ainda desconhecem o fenômeno bullying, mesmo porque no
Brasil ainda não são tantos os estudos sobre o tema, embora esteja crescendo
o interesse devido ao fato de muitos casos estarem ocorrendo em diferentes
estados e ganhando espaço na Mídia. Ouvimos falar em violência na escola,
mas há pouco tempo que se passou a falar sobre a violência intencional e
9
repetitiva, sempre contra a mesma vítima, seja por questões religiosas, de
etnia, opção sexual etc. Através dessa pesquisa, pretendemos contribuir para o
entendimento do bullying, sendo este um sério problema que assola as escolas
e que ainda é confundido com as agressões casuais e corriqueiras. O que
motivou a realização desta pesquisa foi a intenção de contribuir para
esclarecer as dúvidas de muitos educadores e pais de alunos no que tange ao
bullying e, assim, ajudar as vítimas de tal comportamento.
Os objetivos específicos de nossa pesquisa foram conceituar violência e
sua relação com o bullying, conceituar o bullying propriamente dito; com suas
particularidades e formas de manifestação e mostrar as possíveis
consequências de tal comportamento no processo de aprendizagem das
vítimas.
No primeiro capítulo, intitulado “Considerações iniciais: Conceito de
violência e suas diferentes formas de manifestação” falamos do conceito geral
de violência e analisamos a abrangência desse termo, mostrando alguns de
seus enfoques. Falamos, também, de suas diferentes formas de manifestação
na sociedade.
No segundo capítulo, intitulado “Conceito de bullying e suas formas de
manifestação” conceituamos o bullying no espaço escolar, mostrando suas
especificidades e foi feito um histórico do fenômeno, a fim de contextualizar
nossa pesquisa.
No terceiro capítulo, intitulado “Possíveis efeitos do bullying na
aprendizagem” abordamos a importância da emoção e do meio no processo de
aprendizagem e os sintomas mais comuns identificados nas vítimas de
bullying.
Tendo conhecimento do que é o bullying escolar e quais as suas
possíveis consequências na aprendizagem, os profissionais da Educação e os
pais de nossos alunos terão os subsídios necessários para lidar com essa
realidade que está inserida no ambiente escolar. Dessa forma, poderão
contribuir para a formação de um cidadão, uma escola e uma sociedade mais
humana, justa e pacífica.
10
CAPÍTULO I
CONSIDERAÇÕES INICIAIS: CONCEITO DE VIOLÊNCIA E SUAS DIFERENTES FORMAS DE MANIFESTAÇÃO
Ao abrir um jornal, ao folhear uma revista, ao assistir a um noticiário ou
ao acessar um site de notícias na internet, uma coisa é certa: vamos nos
defrontar com a violência por todos os lados, ao redor do mundo. Ela encontra-
se mais presente em nosso cotidiano do que já paramos para pensar. As
notícias vão de infrações e incivilidades, tais como depredação de bens
públicos e brigas a guerras e massacres. Em todos os espaços podemos ver
algum tipo de violência sendo praticado: no lar, na escola, no trabalho, no
trânsito etc. Não estamos livres dela em nenhum lugar. Nos filmes, nas
novelas, nos jogos eletrônicos, a violência acaba sendo uma representação do
“mundo real” (grifo meu).
Devido ao avanço tecnológico e a rapidez na troca e veiculação de
informação, a cada dia somos assolados com notícias chocantes de violência.
São exemplos recentes, só no Brasil: uma mãe abandona um bebê numa
caçamba de lixo no litoral de São Paulo; doze crianças foram brutalmente
assassinadas por Wellington Menezes de Oliveira em uma escola municipal na
Cidade do Rio de Janeiro; dois homens foram encontrados mortos e degolados
em um canavial num município de Maceió. Estes são apenas alguns dos
muitos exemplos que poderiam ser listados. Muitos atos violentos são tão
corriqueiros, que já foram banalizados. O Psiquiatra da Infância e da
Adolescência Levinsky (2003, p. 1-2) nos alerta a respeito da banalização da
violência, quando diz
Em uma sociedade onde a violência está banalizada, ou não é identificada como sintoma de uma patologia social, corre-se o risco de que ela se transforme num valor cultural válido que vem sendo incorporado. Torna-se um modelo identificatório, um modo de ser. São geradas na sociedade, ainda que inconscientemente, condições para que a violência física e moral se transforme em um elemento de afirmação do jovem dentro desta cultura.
11
Fala-se tanto em violência, mas, afinal, o que significa esse termo?
Como ela se manifesta? O que pode caracterizar um ato ou atitude como
violência?
A seguir, serão trazidos elementos para auxiliar na compreensão de tais
questões.
1.1 CONCEITUANDO VIOLÊNCIA
O termo violência é muito abrangente. Ele pode ter diferentes
conotações, dependendo da cultura, do contexto econômico e social e da
história. Recorrendo a etimologia, Michaud (2001, p.18), a define da seguinte
forma:
Violência vem do latim violentia, que significa violência, caráter violento ou bravio, força. O verbo violare significa tratar com violência, profanar, transgredir. Tais termos devem ser referidos a vis, que quer dizer força, vigor potência, violência, emprego da força física, mas também quantidade, abundância, essência ou caráter essencial de uma coisa.
Geralmente, associamos a violência aos atos que envolvem a força
física ou o poder, porém, em seu clássico texto Sobre a Violência (2010, p.18),
onde trata sobre a relação entre guerra e política, violência e poder, Hannah
Arendt nos mostra que esses termos são distintos quando diz “Posto que a
violência – distintamente do poder, da força ou do vigor – sempre necessita de
implementos (...)”. Isso dá ainda mais complexidade ao termo.
No site dicionarioweb.com temos a seguinte definição: “Qualidade ou
caráter de violento. Ação violenta: cometer violências. Ato ou efeito de
violentar. Opressão, tirania: regime de violência. Direito: Constrangimento
físico ou moral exercido sobre alguém” (disponível em
http://www.dicionarioweb.com.br/violência.html. Acesso em 22/04/2012). Pela
12
definição do dicionário, já conseguimos ter uma visão mais ampla sobre a
violência, pois percebemos que ela vai além do que diz respeito ao físico e
alcança o psicológico.
Fante (2005, p.157), uma educadora que tem pesquisado sobre a
questão da violência na escola, trabalha a violência com base em diversas
definições de renomados autores, como sendo “todo ato, praticado de forma
consciente ou inconsciente, que fere, magoa, constrange ou causa dano a
qualquer membro da espécie humana.” Mais uma vez, podemos notar que a
violência acontece também na esfera psicológica, o que é perceptível quando
Fante fala sobre mágoa e constrangimento.
A filósofa Chauí (1999) nos leva a refletir sobre a violência em
contraposição a ética quando diz
(...) violência é um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo medo e pelo terror. A violência se opõe à ética porque trata seres racionais e sensíveis, dotados de linguagem e liberdade, como se fossem coisas, isto é, irracionais, insensíveis, mudos, inertes ou passivos.
A autora nos dá uma definição clara de que a violência e a ética são
opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou
psicológicas.
A partir dessas definições, podemos perceber de forma mais clara que
a violência não é algo ligado somente ao uso de força física. Ela ultrapassa o
limite da agressão física, existindo também a violência de cunho psicológico e
moral. A seguir, trataremos das formas de manifestação da violência.
1.2 AS DIFERENTES FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DA
VIOLÊNCIA
13
Como vimos anteriormente, a violência tem um significado amplo e
diversificado. Segundo Schilling (2004, p.33-34) a violência é multidimensional,
no sentido de que ela abrange várias esferas diferentes dentro da sociedade
Uma pergunta que sempre faço quando me pedem para falar de violência é: “De que violência vocês querem que eu fale? Da violência das paixões? Da violência que acontece na família (...)? Da violência do desemprego, da fome, da falta de acesso e de oportunidades, da falta de justiça? Da violência das instituições? Da violência das escolas,das prisões, da polícia? Da violência da corrupção? Da violência do preconceito, do racismo, da discriminação, dos crimes do ódio (...)? Da violência da criminalidade?
Analisando as reflexões de Schilling, podemos concluir que se existe
multidimensionalidade na violência, logo suas manifestações também serão
variadas. Isso nos leva a uma compreensão das questões anteriormente
discutidas, e nos evidencia que ela pode ir de violência brutal a violência sutil.
Segundo Pereira (2009, p.18), podemos utilizar a seguinte definição:
Por violência brutal podemos caracterizar as agressões físicas (matar, roubar, bater, chutar, dar pontapés etc.) ou ao patrimônio das pessoas (depredar, pichar, roubar objetos etc.) São chamadas as violências explícitas ou diretas. Por violência sutil, podemos entender as manifestações de agressões indiretas (xingar, insultar, desrespeitar, falar mal de outro etc.), incluindo nesse último caso as formas de violência simbólicas e institucionais.
Podemos, então, considerar que a violência brutal está relacionada aos
aspectos físicos do ser humano e que a violência sutil está relacionada aos
aspectos psicológicos.
Baseando-se nos estudos de Abramovay e Rua (2003), Abramovay
(2003) e Bordieu e Passeron (1975), Pereira (2009, p.19) nos trás uma
compreensão de mais dois tipos de violência: a simbólica e a institucional.
Pereira define violência simbólica como sendo
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o abuso do poder baseado no consentimento que se estabelece e se impõe mediante o uso de símbolos de autoridade. A violência, nesse caso, seria exercida pelo uso de símbolos de poder que não necessitam do recurso da força física, nem de armas, nem do grito, mas que silenciam protestos.
A violência simbólica é aquela onde existe a imposição do poder de
uns sobre os outros. Esse tipo de violência pode ser visto nas relações de
trabalho e no ambiente escolar, onde aqueles que detêm a autoridade (patrão,
diretor, professor) muitas vezes a utilizam de modo déspota, a fim de alcançar
um objetivo.
Ainda baseando-se nos estudos dos autores supracitados, Pereira
(ibid) classifica como violência institucional
a marginalização, discriminação e práticas de assujeitamento utilizadas por instituições diversas que instrumentalizam estratégias de poder, ou seja, o abuso de poder por parte das instituições que impõem suas regras sem margens de defesa e contra-argumentação por parte dos que são submetidos a ela.
A violência institucional também pode ser observada no ambiente de
trabalho e na escola e acontece quando o detentor da autoridade a utiliza para
humilhar e constranger no momento em que não tem a capacidade de dialogar
e de buscar entender a necessidade do outro.
Seja qual for o tipo de violência que a pessoa seja submetida,
pesquisas apontam que elas geralmente deixam marcas profundas na psique
da vítima: medo, apreensão, depressão, síndrome do pânico ou do estresse
pós-traumático. Além disso, pode levar a vítima a desenvolver problemas
cardíacos, de pressão arterial, diabetes e até mesmo pode levá-la a
desenvolver vícios. Mesmo que a violência não seja um problema específico
da área da saúde, ela pode afetar (e geralmente afeta) a saúde das vítimas,
seja na parte física ou mental. Em muitos casos, a vida da vítima nunca mais
será a mesma, trazendo consequências também para o âmbito social, fazendo
com que ela passe a levar uma vida de reclusão.
15
Agora que temos, em linhas gerais, as informações necessárias sobre
a violência e suas manifestações, a pesquisa será direcionada para a violência
entre estudantes no espaço escolar, que é conhecida como bullying escolar,
buscando trazer uma explicação sobre o que é este fenômeno e identificar se
ele pode ter efeitos negativos na aprendizagem da vítima.
16
CAPÍTULO II
CONCEITO DE BULLYING E SUAS FORMAS DE
MANIFESTAÇÃO
Como vimos no capítulo anterior, a violência está em todos os
espaços. Suas consequências para os indivíduos e para a sociedade são
muito sérias. No Brasil, os jovens são suas maiores vítimas e também seus
maiores causadores, como mostra uma pesquisa realizada pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no ano de 2008
(http://oglobo.globo.com/pais/mat/2008/05/20/jovens_sao_as_maiores_vitimas
_da_violencia_diz_ipea-427473113.asp. Acesso em 15/05/2012). Sendo a
escola o lugar onde podemos encontrar a maioria desses jovens, a violência
nesse espaço é real e vem ganhando a atenção de muitos estudiosos. Hoje, a
violência entre estudantes é vista como um fenômeno e já tem um nome
específico: bullying escolar. Esse é o assunto deste capítulo, juntamente com
um histórico do fenômeno.
2.1 – BULLYING ESCOLAR: COMPORTAMENTO AGRESSIVO ENTRE
ESTUDANTES
Teixeira (2011, p.19), um médico psiquiatra especializado em questões
comportamentais, que vem estudando o fenômeno bullying, o define da
seguinte maneira:
O bullying pode ser definido como o comportamento agressivo entre estudantes. São atos de agressão física, verbal, moral ou psicológica que ocorrem de modo repetitivo, sem motivação evidente, praticados por um ou vários estudantes contra outro indivíduo, em uma relação desigual de poder, normalmente dentro da escola. Ocorre principalmente em sala de aula e no horário do recreio.
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O termo bullying é uma palavra de origem inglesa, que deriva do verbo
to bully, cujo significado é ameaçar, intimidar, e dominar. O verbo dá origem
ainda ao termo bully, que significa “valentão” e que serve para denominar os
agressores e praticantes do bullying. Falando da origem do termo bullying e de
seu significado, Fante (2005, p.27) nos explica:
Bullying: palavra de origem inglesa, adotada em muitos países para definir o desejo inconsciente e deliberado de maltratar uma outra pessoa e colocá-la sob tensão; termo que conceitua os comportamentos agressivos e antissociais, utilizado pela literatura psicológica anglo-saxônica nos estudos sobre o problema da violência escolar.
Não existe uma tradução exata para esse termo, mas ele se tornou
uma expressão que cabe perfeitamente ao comportamento violento entre
estudantes e já faz parte do vocabulário de todos os que estão preocupados
com a segurança e o desenvolvimento dos alunos, sejam pais ou professores.
Essa preocupação se dá pelo bullying ser uma forma de violência velada, por
ser, como afirma Fante (2005), cruel, intimidadora e repetitiva e por ter o poder
de ferir a alma do ser humano, que é o seu bem mais precioso.
O pediatra Aramis Lopes Neto (2005) frisa, além do caráter repetitivo e
cruel, o caráter intencional e sem motivação evidente do bullying, assim como
a desigualdade de poder entre os envolvidos. Para Lopes Neto (2005, p.165),
o bullying
Compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudante contra outro(s), causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder . Essa assimetria de poder associada ao bullying pode ser consequente da diferença de idade, tamanho, desenvolvimento físico ou emocional, ou do maior apoio dos demais estudantes.
Teixeira (2011, p.21) também nos esclarece que a principal
característica do bullying é a desigualdade de poder
18
Então, o comportamento bullying sempre segue um padrão: uma relação desigual de poder em que um ou mais alunos tentam subjugar e dominar outros jovens. O estudante alvo de bullying pode ser exposto a diferentes formas de agressão, entretanto não é capaz de se defender. Esse desequilíbrio de poder determina a repetição e a manutenção do comportamento agressivo de estudantes que tentam a todo custo dominar e humilhar o outro aluno.
Concluímos então, através das definições apresentadas pelos autores,
que existe muita similaridade no que se refere ao termo bullying e que ele é
bem específico: agressividade entre estudantes, de forma repetitiva, numa
relação de desigualdade de poder. O mesmo não aconteceu quando falamos
sobre violência, que é muito mais abrangente. A seguir, traremos um breve
histórico do bullying, a fim de contextualizar a nossa discussão sobre as
consequências desse fenômeno.
2.1.1 FORMAS DE BULLYING
Conforme citado pela médica psiquiatra Silva (2010, p.23-34) as formas
de bullying são:
Verbal: insultar, ofender, xingar, fazer gozações, colocar apelidos
pejorativos, fazer piadas ofensivas, “zoar”.
Físico o Material: bater, chutar, espancar, empurrar, ferir, beliscar,
roubar; furtar ou destruir pertences da vítima, atirar objetos contra as vítimas.
Psicológico e Moral: irritar, humilhar e ridicularizar, excluir, isolar, ignorar;
desprezar ou fazer pouco caso, discriminar, aterrorizar e ameaçar, chantagear
e intimidar, tiranizar, dominar, perseguir, difamar, passar bilhetes e desenhos
entre os colegas de caráter ofensivo, fazer intrigas, fofocas ou mexericos (mais
comum entre as meninas)
Sexual: abusar, violentar, assediar, insinuar.
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Virtual: difusão de calúnias e maledicências através da utilização de
aparelhos e equipamentos de comunicação (celular e internet). Essa forma de
bullying é conhecida como cyberbullying.
Esses tipos de comportamentos agressivos podem estar presentes em
vários espaços e nos relacionamentos interpessoais, porém, quando isso
acontece na escola, que é, segundo Silva (2010, p.22) “o templo do
conhecimento e do futuro de nossos jovens”, contribuem para a exclusão
social e para a evasão escolar, o que faz com que mais jovens deixem de
concluir as etapas educacionais que são tão importantes para as suas
descobertas e para o desenvolvimento de seus talentos.
2.2 – HISTÓRICO DO BULLYING
Segundo Fante (2005, p.44) “o bullying é um fenômeno tão antigo
quanto a própria escola”. Porém, estudos sistemáticos a respeito do assunto
surgiram apenas na década de 1970, na Suécia. Nessa época, houve uma
grande preocupação de toda a sociedade a respeito dos problemas advindos
da violência na escola, tanto para o agressor, quanto para a vítima. Logo essa
preocupação se estendeu por outros países escandinavos. Na Noruega, o
fenômeno despertou o interesse de pais, professores e da mídia por muito
tempo, mas não havia um comprometimento oficial por parte das autoridades
educacionais. Entretanto, em 1982, foi noticiado pelos jornais noruegueses o
suicídio de três jovens entre 10 e 14 anos, que haviam sido vítimas de bullying
e esse teria sido o motivo do atentado contra a própria vida. Conforme cita
Teixeira (2011, p.20) “uma grande comoção tomou conta do país e culminou
com uma campanha nacional de prevenção ao comportamento bullying,
coordenada pelo Ministério da Educação norueguês nas escolas de ensino
fundamental”.
Foi Dan Olweus, pesquisador da Universidade de Bergen, Noruega, o
primeiro a associar o termo bullying ao comportamento agressivo entre
estudantes. Olweus desenvolveu uma pesquisa onde delineou critérios
20
específicos para detectar o problema, sendo possível diferenciá-lo de
comportamentos e a atitudes entre iguais, que são característicos do processo
de amadurecimento do ser humano. Falando da pesquisa de Olweus e dos
resultados, Fante (2005, p.45) explica
Olweus pesquisou inicialmente cerca de oitenta e quatro mil estudantes, trezentos a quatrocentos professores e em torno de mil pais, incluindo vários períodos de ensino. Um fator fundamental foi avaliar a sua natureza e ocorrência. Esse estudo constatou que a cada sete alunos, um estava envolvido em casos de bullying. Essa situação gerou uma campanha nacional, com o apoio do governo norueguês, que reduziu em quase 50% os casos de bullying nas escolas e; tal fato incentivou outros países, como Reino Unido, Canadá e Portugal, a promoverem campanhas de intervenção.
Pesquisas realizadas em vários países indicam que o problema do
bullying vem crescendo. As estimativas são de que de 5% a 35% das crianças
em idade escolar estejam envolvidas em casos de violência, sejam como
agressores ou como vítimas. Se pensarmos que ainda existem os
espectadores do bullying, que também podem ser afetados pelo problema,
essas pesquisas teriam um aumento significativo em seus resultados. Nos
Estados Unidos, o interesse e a preocupação com o bullying é muito grande,
devido ao crescimento absurdo do fenômeno e aos casos graves já ocorridos,
como o da escola de Columbine, em 1999,onde dois jovens entre 17 e 18 anos
mataram doze alunos e um professor. Pesquisas locais apontam que o futuro
para a maioria dos jovens agressores será de delinquência e/ou violação de
regras básicas da boa convivência e isso vem preocupando a população e as
autoridades.
A partir dos anos 1990, devido aos casos e números supracitados, os
estudos a respeito do bullying passam a ser mais intensos e a contar com a
participação de instituições privadas e governamentais. No Brasil, as pesquisas
sobre o fenômeno caminham lentamente, mas já podemos contar com
algumas informações e estudos esparsos. Uma pesquisa da Associação
Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e ao Adolescente (Abrapia)
21
realizada no Rio de Janeiro, com 5.482 alunos do segundo segmento do
Ensino Fundamental, de onze escolas (nove públicas e duas particulares) entre
novembro de 2002 e março de 2003, trouxe os seguintes dados: 28,3%
admitiram ter sido alvo de bullying, 15% sofreram bullying várias vezes por
semana, os tipos mais frequentes de bullying foram: apelidar 54,2%, agredir
16,1%, difamar 11,8%, ameaçar 8,5%, pegar pertences: 4,7%, admitiram ter
sofrido bullying na sala de aula 60%. (Disponível em
http://www.observatoriodainfancia.com.br/article.php3?id_article=232. Acesso
em 15/05/2012).
Pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) apontou Brasília como a capital do bullying. Segundo o estudo, 35,6% dos
estudantes entrevistados disseram ser vítimas constantes da agressão. Belo
Horizonte, em segundo lugar com 35,3%, e Curitiba, em terceiro lugar com 35,2 %,
foram, junto com Brasília, as capitais com maior frequência de estudantes que
declararam ter sofrido bullying alguma vez.
A população-alvo da pesquisa foi formada por estudantes do 9º ano do
ensino fundamental (antiga 8ª série) de escolas públicas ou privadas das capitais
dos estados e do Distrito Federal. O cadastro de seleção da amostra foi
constituído por 6.780 escolas.
Durante a pesquisa, foi feita a seguinte pergunta aos estudantes: "Nos
últimos 30 dias, com que frequência algum dos seus colegas de escola te
esculacharam, zoaram, mangaram, intimidaram ou caçoaram tanto que você ficou
magoado, incomodado ou aborrecido?”
Os resultados mostraram que 69,2% dos estudantes disseram não ter
sofrido bullying. O percentual dos que foram vítimas deste tipo de violência,
raramente ou às vezes, foi de 25,4% e a proporção dos que disseram ter sofrido
bullying na maior parte das vezes ou sempre foi de 5,4%. No ranking das capitais
com mais vítimas de bullying, aparecem ainda Vitória, Porto Alegre, João Pessoa,
São Paulo, Campo Grande e Goiânia. Teresina e Rio Branco estão empatadas na
10ª posição. São Paulo ocupa a 7ª posição. Palmas apresenta o melhor resultado
da pesquisa. Na capital do Tocantins, 26,2 % dos estudantes afirmaram ter sofrido
22
bullying. Em seguida, estão Natal e Belém, ambas com 26,7%, e Salvador, com
27,2%. (Disponível em /0http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/06/pesquisa-do-
ibge-aponta-brasilia-como-campea-de-bullying.html. Acesso em 16/05/2012).
Muitos estudos deverão acontecer daqui para frente, pois os casos de
bullying estão aumentando assustadoramente, como já foi citado nessa
pesquisa. Em alguns Estados e municípios do Brasil já estão sendo criadas leis
que amparam as vítimas do comportamento. A necessidade de estudos é real,
para que tenhamos maior compreensão do que o bullying pode causar na vida
da vítima e quais são as possibilidades de enfrentamento. Adiante,
discutiremos sobre as possíveis consequências do bullying na aprendizagem
da vítima.
23
CAPÍTULO III
POSSÍVEIS EFEITOS DO BULLYING NA
APRENDIZAGEM
Abordaremos os possíveis efeitos do bullying no processo de
aprendizagem das vítimas de tal comportamento. Porém, precisamos entender
algumas questões importantes referentes ao papel da emoção e do meio na
aprendizagem. A partir daí, teremos uma maior compreensão de como as
vítimas de bullying podem vir a ter dificuldades em sua vida escolar,
principalmente no que se refere a aprendizagem.
3.1. EMOÇÃO E APRENDIZAGEM
Conforme explicado por Relvas (2009, p. 95) “as emoções são conjuntos
de reações químicas e neurais que ocorrem no cérebro emocional (...). As
emoções são fontes valiosas de informações e ajudam-nos a tomar decisões.”
Sabemos que é no sistema límbico, personagem importante para o cérebro,
que se situa o elemento responsável pelo prazer e pelo aprendizado. Ainda
segundo Relvas (2009, p.59) “a emoção está para o prazer assim como o
prazer está para o aprendizado, e a autoestima é a ferramenta que movimenta
os estímulos para gerar bons resultados.” Sem prazer e autoestima não existe
aprendizado efetivo, pelo menos segundo os estudos da Neurociência. Para
Relvas (2009, p.127)
As experiências vividas pelo educando em seu desenvolvimento são
referidas e imprimem significação determinante em seu processo de
construção pessoal. A aprendizagem coloca em foco as diferentes
dimensões do educando sob uma ótica integradora do aspecto
cognitivo, afetivo, orgânico e social. O “olhar” sob esses aspectos, ao
mesmo tempo em que revitaliza a importância da escola na
24
aprendizagem, coloca em foco a importância de toda a reunião de
fatores “extraclasses” que interferem no processo de construção do
conhecimento e do papel do aprendente.
Através dessas informações, podemos perceber que o aprendizado
depende de um ambiente propício a este processo, onde o prazer e a
autoestima sejam incentivados e cultivados.
3.2. IMPORTANTES CONSIDERAÇÕES SOBRE A APRENDIZAGEM E
SUA RELAÇÃO COM O MEIO, SEGUNDO PIAGET, VYGOTSKY E WALLON
Relvas (2009, p. 115-124) nos traz algumas considerações importantes
sobre a aprendizagem e sua relação com o meio, segundo os teóricos da
educação abaixo:
Jean Piaget: de acordos com suas teorias, o conhecimento é gerado
pela interação do sujeito com o seu meio, a partir de estruturas previamente
existentes no sujeito. Dessa forma, a aquisição do conhecimento depende
tanto de certas estruturas cognitivas inerentes ao próprio sujeito como de sua
relação com o objeto.
Lev S. Vygotsky: ele chama a atenção para a ação recíproca existente
entre o organismo e o meio. Em sua abordagem sociointeracionista, ele
defende que não é somente o esforço individual que define o aprendizado,
mas primordialmente o contexto no qual o indivíduo se insere.
Henri Wallon: considera a pessoa como um todo. Afetividade, emoção,
movimento e espaço físico se encontram em um mesmo plano. Para ele, o
meio exerce influência fundamental sobre o desenvolvimento da pessoa
humana.
Apesar dos contrapontos existentes nos estudos dos teóricos
supracitados, um ponto de convergência pode ser facilmente identificado: os
três comungam da ideia de que as trocas sociais constituem o fator essencial
25
para a viabilização do pensamento. Esse pensamento é importante para a
construção do conhecimento e da aprendizagem.
Conforme veremos a seguir, através dos problemas mais comuns
encontrados entre as vítimas de bullying, esses indivíduos podem ter suas
emoções abaladas por tal comportamento, que cada vez mais é observado no
meio escolar.
3.3. PROBLEMAS MAIS COMUNS ENTRE AS VÍTIMAS DE BULLYING
Como já vimos, para que um comportamento seja considerado bullying,
a vítima se encontra em desigualdade de poder, segundo Silva (2010, p. 25)
“geralmente este também já apresenta uma baixa autoestima”. Ainda segundo
Silva, “a prática de bullying agrava o problema preexistente, assim como pode
abrir quadros graves de transtornos psíquicos e/ou comportamentais que,
muitas vezes, trazem prejuízos irreversíveis”. E alguns desses prejuízos podem
estar ligados à aprendizagem ao afetá-la diretamente. Numa escola onde o
indivíduo é vítima de bullying, numa sala de aula onde os educandos sentem
medo, rejeição, sofrem violência física e/ou verbal etc. a aprendizagem pode
ser prejudicada, devido às consequências que esses sentimentos podem
gerar.
Conforme encontrado em Silva (2010, p. 25-32), os problemas mais
comuns entre as vítimas são:
a - Sintomas psicossomáticos: Cefaleia, cansaço crônico, insônia,
dificuldades de concentração, náuseas, diarreia, boca seca, palpitações,
alergias, crises de asma, sudorese, tremores, sensação de “nó” na garganta,
tonturas ou desmaios, calafrios, tensão muscular, formigamentos. Esses
sintomas podem se apresentar individual ou coletivamente, o que pode causar
níveis elevados de desconforto e prejudicar as atividades cotidianas do
indivíduo.
26
b - Transtorno do Pânico: Caracteriza-se pelo medo intenso e infundado.
O indivíduo é tomado por uma sensação enorme de medo e ansiedade que
vem acompanhada de uma série de sintomas físicos (taquicardia, calafrios,
boca seca etc.), sem razão aparente. O transtorno do pânico já pode ser
observado em crianças bem jovens (6 a 7 anos), muito em função de situações
de estresse prolongado e o bullying pode ser uma dessas condições.
c - Fobia escolar: Caracteriza-se pelo medo intenso de frequentar a
escola, ocasionando repetências por faltas, problemas de aprendizagem e/ou
evasão escolar. Quem sofre de fobia escolar passa a apresentar diversos
sintomas psicossomáticos e todas as reações do transtorno do pânico, dentro
da própria escola; ou seja, a pessoa na consegue permanecer no ambiente
onde as lembranças são traumatizantes.
d - Fobia Social (Transtorno de Ansiedade Social – TAS): Quem
apresenta fobia social, também conhecida por timidez patológica, sofre de
ansiedade excessiva e persistente, com tremor exacerbado de se sentir o
centro das atenções ou de estar sendo julgado e avaliado negativamente.
Assim, com o decorrer do tempo, tal indivíduo passa a evitar qualquer evento
social, ou procura esquivar-se deles, o que traz sérios prejuízos em suas vidas
acadêmica, profissional, social e afetiva. O fóbico social de hoje pode ter o
transtorno deflagrado em função das inúmeras humilhações no seu passado
escolar; danos e sofrimentos que são capazes de refletir por toda vida.
e - Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): A ansiedade
generalizada é uma sensação de medo e insegurança persistente. A pessoa
que sofre de TAG preocupa-se com todas as situações ao seu redor, desde as
mais corriqueiras até as mais importantes. Está sempre com a sensação de
que se esqueceu de fazer algo importante ou de que não dará conta de suas
responsabilidades. Geralmente são pessoas apressadas, negativistas e que
costumam sofrer de insônia e irritabilidade. Se a pessoas não passar por um
tratamento adequado, pode haver uma exacerbação dos sintomas e se
transformar num transtorno muito mais grave.
27
f - Depressão: A depressão não é apenas uma sensação de tristeza.
Trata-se de uma doença que afeta o humor, os pensamento, a saúde e o
comportamento. Seus sintomas mais característicos são: tristeza persistente,
ansiedade ou sensação de vazio; sentimento de culpa; inutilidade e
desamparo; insônia ou excesso de sono; perda ou aumento de apetite; fadiga
e sensação de desânimo; irritabilidade e inquietação; dificuldades de
concentração e de tomar decisões; sentimento de desesperança e
pessimismo; perda de interesse por atividades que antes despertavam prazer;
ideias ou tentativas de suicídio. Estudos sugerem um alto nível de incidência
de sintomas depressivos na população escolar. Sabemos que adolescentes
apresentam oscilações de humor e mudanças relevantes de seus hábitos e
costumes. Isso faz parte da natureza humana, mas é necessário observar se
esses jovens deixam de levar uma vida normal, com rebaixamento da
autoestima, irritabilidade, isolamento, baixo desempenho escolar, dificuldades
em suas relações sociais e familiares. Uma situação de bullying pode estar por
trás disso.
g - Anorexia e bulimia: Esses transtornos alimentares acometem
especialmente mulheres (em 90% dos casos), sobretudo as adolescentes e
adultas jovens. A anorexia nervosa se caracteriza pelo pavor descabido e
inexplicável que a pessoa tem de engordar, com grave distorção da sua
imagem corporal. A pessoa anoréxica de submete a regimes alimentares
bastante rigorosos e agressivos. É uma doença muito grave, de difícil controle,
e que pode levar à morte por desnutrição, desidratação e outras complicações
clínicas. Já a bulimia nervosa se caracteriza pela ingestão compulsiva e
exagerada de alimentos, geralmente muito calóricos, seguida por um enorme
sentimento de culpa, que leva a pessoa bulímica a lançar mão de diversas
ações compensatórias (rituais purgativos), tais como: vômitos autoinduzidos,
abuso de diuréticos e laxantes, exercícios físicos em excesso e longos
períodos de jejum. A formação da autoimagem corporal de cada pessoa é
fortemente influenciada pela maneira coma a sociedade impõe o que é ter um
corpo esteticamente apreciável, e essa pressão pode vir da família e dos
amigos e colegas da escola.
28
h - Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC): Popularmente conhecido
como “manias”, o transtorno obsessivo-compulsivo se caracteriza por
pensamento sempre de natureza ruim, intrusivos e recorrentes (obsessões),
causando muita ansiedade e sofrimento. Na tentativa de ser ver livre de tais
pensamentos e de aliviar a ansiedade, o portador de TOC passa a adotar
comportamentos repetitivos (compulsões), de forma sistemática e ritualizada.
Essas manias trazem prejuízos incalculáveis para a vida do indivíduo, pois
além de torná-lo prisioneiro da própria mente, ele perde muito tempo do dia
cumprindo seus rituais. Portadores de TOC geralmente são tachados de
loucos e esquisitos, trazendo grande constrangimento. Momentos de forte
estresse, como pressões psicológicas, como o bullying, podem abrir um quadro
de TOC em pessoas com predisposição genética ou até mesmo intensificar o
problema preexistente.
i - Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT): Esse transtorno se
caracteriza por ideias intrusivas e recorrentes de um evento traumático, com
flashbacks e lembranças de todo o horror que abateu o indivíduo. Pode
acontecer com pessoas que passaram por experiências que lhes trouxeram
medo intenso. O TEPT pode levar a um quadro de depressão, ao
embotamento emocional (frieza com as pessoas queridas), à sensação de vida
abreviada, à perda de seus prazeres, afetando diretamente todos os seus
setores vitais. Observa-se um número crescente de TEPT em adolescentes
que estiveram envolvidos com bullying, especialmente quando sofreram
agressões ou presenciaram cenas de extrema violência e abusos sexuais.
Quadros menos frequentes:
a- Esquizofrenia: Popularmente conhecida como psicose ou loucura, é
uma doença mental que faz com que o indivíduo rompa com a barreira da
realidade e passe a vivenciar um mundo imaginário, paralelo. Caracteriza-se
pela presença de delírios e/ou por alucinações. Pessoas suscetíveis à
esquizofrenia ou psicoses podem iniciar o quadro quando submetidas a uma
forte pressão ambiental ou psicológica.
29
b- Suicídio e homicídio: ocorrem quando os jovens-alvo não conseguem
suportar a coação de seus algozes. Em total desespero, essas vítimas lançam
mão de atitudes extremas como forma de aliviar o sofrimento.
Referindo-se aos quadros citados, Silva (2010, p.32) nos conscientiza
que
os problemas relatados, em sua maioria, apresentam uma marcação genética considerável, ou seja, podem ser herdados dos pais ou parentes próximos, No entanto, a vulnerabilidade de cada indivíduo, aliada ao ambiente externo, às pressões psicológicas e às situações de estresse prolongado, pode deflagrar transtornos graves que se encontrava, até então, adormecidos.
Todos estes transtornos e comportamentos podem afetar a
aprendizagem, na medida em que os mesmos afastam os educandos da
escola, dificultam suas relações sociais, mexem com a concentração; atenção
e com as emoções, contribuem para a baixa autoestima e abalam a
autoconfiança.
Através dessas informações podemos compreender a face cruel e
destruidora do bullying no desenvolvimento e aprendizagem das vítimas. Sem
dúvidas, suas marcas são profundas.
30
CONCLUSÃO
Diante de tudo o que foi exposto, percebemos que a violência, de modo
geral, e consequentemente o bullying, vêm crescendo de forma assustadora
no mundo. O bullying, que antes era “brincadeira de criança” ou “coisa da
idade”, vem ganhando proporções enormes e causando danos, muitas vezes,
irreparáveis. Porém, junto com o crescimento dos casos de bullying, estão
crescendo os estudos que podem nos ajudar na prevenção e enfrentamento ao
mesmo. Além disso, concluímos que ele é altamente prejudicial ao
desenvolvimento socioeducacional de nossas crianças e jovens. Os
problemas psíquicos e comportamentais advindos do bullying podem retardar,
ou até mesmo acabar, com o progresso de nossos alunos.
Outra conclusão a qual chegamos é a de que são poucos os
profissionais da educação e familiares que sabem com o que estão lidando.
Bullying é algo muito sério e delicado de se tratar, principalmente no que diz
respeito as suas consequências na vida da vítima. A necessidade de fazer com
que a escola e a família tenham uma verdadeira compreensão do bullying é
fundamental para que possamos enfrentá-lo. Enquanto ainda tivermos pessoas
que não compreendam do que se trata esse comportamento, infelizmente
veremos muitos casos tristes acontecerem, como os que temos acompanhado
pela Mídia (o de Columbine em 1999, na cidade de Colorado, nos Estados
Unidos é um terrível exemplo, além do ocorrido bem próximo de nós, em
Realengo, bairro do da cidade do Rio de Janeiro, no Brasil).
Seria muito importante que mais políticas públicas fossem adotadas em
relação ao bullying e que fossem respeitadas. O artigo 5º do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA) diz que “nenhuma criança ou adolescente
será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por
ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais” (Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm. Acesso em 20/06/2012). O
mais importante é que esse fenômeno já vem sendo reconhecido como algo
31
específico e grave. No Estado do Rio de Janeiro foi sancionada, em 24 de
setembro de 2010, uma lei que torna obrigatória a notificação de casos de
bullying a Conselhos Tutelares e a Polícia (Disponível em
http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/escola-tera-de-avisar-policia-em-caso-
de-bullying-no-rio. Acesso em 21/06/2012). A Assembleia Legislativa do Estado
do Rio de Janeiro (Alerj) também aprovou, em 22 de março de 2011, um
projeto de lei que pretende criar um programa antibullying nas escolas públicas
e privadas do Estado (Disponível em
http://www.alerj.rj.gov.br/common/noticia_corpo2.asp?num=38108. Acesso em
21/06/2012).
Apesar de estarem surgindo várias ações para o combate ao bullying,
tudo isso ainda não é o suficiente. Precisamos de mais conhecimento sobre o
assunto, a fim de estarmos preparados para ensinar, prevenir, enfrentar,
intervir e principalmente, para podermos trabalhar na construção de uma
escola eficiente, de famílias mais estruturadas e de cidadãos mais conscientes
da liberdade e dos direitos alheios.
32
BIBLIOGRAFIA
ARENDT, Hannah. Sobre a violência. Tradução André de Macedo Duarte. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. CHAUÍ, Marilena. Uma ideologia perversa. Folha de São Paulo, 14 de mar.1999, Caderno Mais, p. 3. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/dc_1_4.htm. Acesso em 14/05/2011 FANTE, Cleo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e
educar para a paz. Campinas: Verus, 2005
LOPES NETO, Aramis. Bullying: comportamento agressivo entre estudantes.
Jornal de Pediatria, vol. 81, nº. 5. Porto Alegre, nov. 2005, p. S164-S172.
Disponível em: www.scielo.br/pdf/jped/v81n5s0/v81n5Sa06.pdf . Acesso em:
27/09/2010
MICHAUD, Yves. A violência. Tradução L. Garcia São Paulo: Ática, 2001.
PEREIRA, Sônia Maria de Souza Pereira. Bullying e suas implicações no
ambiente escolar. São Paulo: Paulus, 2009.
SCHILLING, Flávia. A sociedade da insegurança e a violência na escola. São
Paulo: Moderna, 2004.
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2010.
TEIXEIRA, Gustavo. Manual Antibullying: para alunos, pais e professores. Rio
de Janeiro: Best Seller, 2011.
33
RELVAS, Marta Pires. Fundamentos biológicos da educação: despertando
inteligências e afetividade no processo de aprendizagem. Rio de Janeiro: Wak,
2009.
34
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
CONSIDERAÇÕES INICIAIS: CONCEITUANDO VIOLÊNCIA E SUAS
DIFERENTES FORMAS DE MANIFESTAÇÃO 10
1.1 – Conceituando a violência 11
1.2 – As diferentes formas de manifestação da violência 12
CAPÍTULO II
CONCEITO DE BULLYING E SUAS DIFERENTES FORMAS DE
MANIFESTAÇÃO 16
2.1 – Bullying escolar: comportamento agressivo entre estudantes 16
2.1.1 – Formas de bullying 18
2.2 – Histórico do bullying 19
CAPÍTULO III
POSSÍVEIS EFEITOS DO BULLYING NA APRENDIZAGEM 23
3.1 – Emoção e aprendizagem 23
3.2 – Importantes Considerações sobre a aprendizagem e sua relação com o
meio, segundo Piaget, Vygotsky e Wallon 24
3.3 – Problemas mais comuns entre as vítimas de bullying 25
CONCLUSÃO 30
BIBLIOGRAFIA 32
ÍNDICE 34
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