universidade de caxias do sul centro de ciÊncias da ... · 2015 . 2" " Ísis laroque...
Post on 14-Aug-2020
0 Views
Preview:
TRANSCRIPT
1
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
CENTRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO CURSO FOTOGRAFIA - TECNOLOGIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO II
ÍSIS LAROQUE CORNELLI
ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS
Caxias do Sul 2015
2
ÍSIS LAROQUE CORNELLI
ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS
Trabalho de Conclusão – TCC do Curso Fotografia – Tecnologia da Universidade de Caxias do Sul – UCS, apresentado como requisito parcial para obtenção de Grau de Tecnólogo em Fotografia. Orientador Prof.ª. Ms. Myra Adam de Oliveira Gonçalves
Caxias do Sul 2015
3
ÍSIS LAROQUE CORNELLI
ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS
Trabalho de Conclusão – TCC do Curso Fotografia – Tecnologia da Universidade de Caxias do Sul – UCS, apresentado como requisito parcial para obtenção de Grau de Tecnólogo em Fotografia. Orientador Prof.ª. Ms. Myra Adam de Oliveira Gonçalves Aprovado pela banca examinadora em ___ de julho de 2015.
Banca Examinadora
_________________________________________________________
Prof.ª. Ms. Myra Adam de Oliveira Gonçalves
Universidade de Caxias do Sul - UCS
_________________________________________________________
Prof. Me. Edson Luiz Corrêa
Universidade de Caxias do Sul - UCS
_________________________________________________________
Prof. Me. Ronei Teodoro da Silva
Universidade de Caxias do Sul – UCS
4
AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente aos meus pais, Joel e Mauren, pelo apoio e
incentivo em todas as minhas escolhas, e por me preencherem de confiança e amor
incondicional.
Agradeço ao meu namorado e parceiro Leco, pelo amor e pela paciência.
Agradeço a todos os meus amigos e familiares que me ajudaram direta ou
indiretamente a concretizar esse projeto.
E agradeço a minha professora orientadora Myra, pela paciência, pelo
turbilhão de idéias e por me ajudar a organizá-las e colocá-las em prática.
5
RESUMO
O presente projeto tem como objetivo a produção de ensaios fotográficos a partir de
narrativas baseadas nas características de determinados gêneros e subgêneros
cinematográficos. Optamos por mostrar o trabalho imagético através de um fotolivro.
Acreditando que a fotografia e o cinema são duas formas belas e singulares de arte,
buscou-se um tema que conseguisse aproximar os dois assuntos e exercitasse a
capacidade de criação. Com o intuito de dar consistência ao projeto, buscamos
apoio teórico no método de Pesquisa em Arte e na teoria da Formatividade de Luigi
Pareyson, que nos propõe uma visão da arte que não busca somente o contemplar
e sim o criar. Passamos também pela redação de um diário de procedimentos, que
nos possibilitou um acompanhamento mais próximo da execução dos ensaios e nos
presenteou com uma forma mais intimista de perceber os processos de criação.
Palavras-chave: Fotografia. Cinema. Gêneros Cinematográficos. Narrativas.
6
ABSTRACT
This project aims to produce photo essays from narratives based on the
characteristics of certain cinematographic genres and subgenres. We chose to show
the imagery work through a photobook. Believing that photography and cinema are
two beautiful and unique art forms, we attempted to a topic that could bring the two
issues and exercise the ability to create. In order to give consistency to the project,
we seek theoretical support in the search method in art and in the theory of
formativity of Luigi Pareyson, it proposes a vision of art that seeks not only the look
but the create. We also went by writing a daily procedures, which enabled us closer
monitoring of the execution of the essays and presented us with a more intimate way
of perceiving the processes of creation.
Keywords: Photography. Cinema. Cinematographic Genres. Narrative.
7
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 8 2 CINEMA: CONTEXTUALIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO .....................….. 11 2.1 GÊNEROS ......................…........................…........................…..........… 12
2.1.1 Noir ......................…........................…........................…......……….... 14 2.1.2 Surrealismo ......................…........................…................................... 16 2.1.3 Trash ......................…........................…........................….....………... 18 2.1.4 Drama ......................…........................…......................…......……….. 20 3 NARRATIVA: O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO ROTEIRO …….... 25
4 FERRAMENTAS DE PESQUISA ………………………………………….... 31
4.1 METODOLOGIA ………………………………………………….………..... 31
4.2 TRATAMENTO DA CENA E DIÁRIO DE PROCEDIMENTOS …….…... 34
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 67 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 69 REFERÊNCIAS FILMOGRÁFICAS.............................................................. 71
8 INTRODUÇÃO
Dentro do universo cinematográfico, a fotografia sempre teve uma importante
parcela de cuidado e dedicação, pois ela foi de crucial importância para a invenção
do que hoje chamamos de a sétima arte. Como nos conta Kemp (2010), dos irmãos
Lumière no final do século XIX até o mais inovador cinema contemporâneo, muito
se foi explorado e muito se foi experimentado no universo da fotografia e do cinema.
Mesmo nos primórdios, no tempo em que os recursos tecnológicos para a
experimentação eram extremamente escassos, já se observava uma vontade de ir
além do convencional e explorar todas as possibilidades que essa grandiosa forma
de expressão artística proporcionava.
Acreditando que é possível que uma fotografia conte uma história, tal qual o
cinema conta, e, como aspirante a fotógrafa e apreciadora dessa arte tão completa
que é o cinema, foi entendido que encontrar um tema que se aproximasse dos dois
assuntos era quase uma necessidade de escolha para o trabalho de conclusão de
curso.
Tendo isto como justificativa, foi proposto como tema para este trabalho, a
produção de quatro ensaios que se enquadrem dentro de determinados gêneros e
subgêneros cinematográficos, usando como critério para escolha destes a afinidade
de estilo e aproximação no campo estético e narrativo.
A apresentação do presente texto está ordenada em três capítulos. O
primeiro, chamado “Cinema: Contextualização e Classificação” nos traz uma breve
contextualização sobre a história do cinema e sua classificação de acordo com os
gêneros e subgêneros cinematográficos, que também são explicados no texto. O
segundo capítulo, intitulado “Narrativa: O Processo de Construção do Roteiro” é
uma passagem pelos elementos de narrativa dentro do cinema e a construção do
roteiro em todos os seus aspectos. O terceiro e último capítulo, sendo este
denominado “Ferramentas de Pesquisa”, nos fala sobre a metodologia utilizada,
passando pelo estudo teórico feito para a construção da imagem e a produção de
um diário de procedimentos, com objetivo de enriquecer o trabalho com todas as
fases do processocriativo antes de chegar a imagem final. Nessa etapa, busco
entender como são pensadas as narrativas para a grande tela, como é feita sua
9 estruturação e sua classificação. Essa fase é um importante passo no processo de
criação imagético e não pode ser deixada de lado tendo em vista que nada pode ser
criado sem a pesquisa e o conhecimento prévio do que já se foi produzido na área,
e de como se foi produzido. É como nos diz Luigi Pareyson:
O artista a procura do próprio estilo o tenta formando: eis as primeiras
obras, em que o modo de formar não é ainda espiritualidade que se fez estilo, mas espiritualidade
que utiliza um estilo herdado ou imitado, e então existe uma certa clivagem entre a espiritualidade e
o modo de formar, pois a primeira é pobre e imatura e precisa de se definir melhor e esclarecer para
poder aspirar a uma vocação formal, e nesse meio tempo se exercita em um estilo acolhido de fora,
até o momento em que, tendo se esclarecido no próprio caráter, irá buscar o seu próprio estilo e,
melhor dizendo, os processos irão pari passu, em que a espiritualidade se esclarece a si mesma e
em que ela define e realiza a própria vocação formal. (PAREYSON; LUIGI, 1993, p. 45)
Este projeto visa reunir, em três fotografias por ensaio, algumas das
características cinematográficas de enquadramento, construção de cena, estética e
narrativa que cada gênero ou subgênero apresenta, passando pelas etapas de:
a) Construção do tratamento inicial para a criação da fotografia, feito com a
ajuda da pesquisa filmográfica dentro do gênero ou subgênero cinematográfico
selecionado, construindo um tratamento curto que conte toda a ideia da história,
passando por um começo, meio e fim;
b) Elaboração do esboço do que foi o esquema de iluminação, feito através
de desenhos que são elaborados a mão;
c) Construção dos cenários e figurinos, que são separados anteriormente
com todos os elementos de cena, a escolha dos modelos e das locações utilizadas
nas fotografias;
d) Escolha da iluminação adequada, também tentando se enquadrar dentro
das características visuais de estética e iluminação que cada gênero ou subgênero
apresenta;
e) E por fim, o click em si.
Como forma de apresentar o trabalho optou-se pela produção de um fotolivro.
Essa escolha foi feita por tratar-se de ser um bom meio de apresentação das
10 imagens finalizadas, que precisam vir precedidas do texto narrativo feito na etapa de
tratamento. No fotolivro são expostos os ensaios, cada um com três fotografias,
buscando dar essa ideia de mobilidade, de início-meio-fim que o cinema traz.
Anterior as fotografias, apresento no fotolivro o tratamento criado para cada um dos
quatro ensaios, também de acordo com o gênero ou subgênero cinematográfico
proposto.
Desejamos que o trabalho produzido possa de alguma forma contribuir para
as áreas da fotografia e do cinema, reafirmando a importância de revisitar as obras
clássicas para dar nova roupagem ao que já foi feito na história, e usando a
fotografia como ferramenta, possibilitando a criação de trabalhos contemporâneos
com características que remetem (e de certa forma homenageiam) os precursores
do que hoje é a arte que tanto nos toca e emociona, o cinema.
11
2 CINEMA: CONTEXTUALIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO
Para produzirmos uma obra fotográfica com características e linguagem
cinematográfica é preciso, primeiramente, estudarmos a origem do cinema.
Como nos conta Kemp (2010), em 1880 muito se havia experimentado com a
imagem fotográfica visando a reprodução da imagem em movimento. Por todo
mundo havia máquinas que tiravam fotografia em sequência que, ao serem
expostas rapidamente davam a impressão de movimento. Foi em 1894, que os
irmãos Auguste e Louis Lumière, filhos de Antoine Lumière (fotógrafo e fabricante
de películas fotográficas) criaram o primeiro modelo experimental do cinematógrafo.
Inspirados pelo kinetoscópio de Thomas Edison e William Dickinson, o
cinematógrafo era, ao mesmo tempo, uma máquina de filmar e um projetor de
cinema.
Figura 1:Cinematógrafo
Fonte:Wikipédia
No dia 22 de março de 1895, os irmãos Louis e Auguste projetaram o
primeiro filme exibido: “A saída dos operários da Fábrica Lumière”, para os
integrantes da Societe d ́Encourgement pour l ́Industrie Nationale. Em seguida, no
12 dia 28 de dezembro do mesmo ano, teria sido feita a primeira exibição de filme para
um público pagante de todos os tempos.
Daí em diante, sua disseminação para o grande público se deu muito
rapidamente: em menos de 20 anos, filmes podiam ser assistidos por diferentes
plateias ao redor do mundo. Foi no século XX que os filmes pararam de exibir
somente cenas cotidianas de poucos segundos para, enfim, apresentarem
narrativas identificáveis. Ainda segundo Kemp:
As técnicas cinematográficas se tornaram mais complexas e as estruturas
narrativas, cada vez mais sofisticadas, porém o fundamento criativo do cinema – reinventar e reinterpretar a realidade – permaneceu uma constante desde seus primórdios. (KEMP; PHILLIP, 2010, p. 19)
2.1 GÊNEROS
Assim como a popularização do cinema, o aparecimento dos primeiros
gêneros também se deu de forma rápida. Bergan (2010) nos conta que apenas
alguns meses após a exibição dos irmãos Lumière, surgia Georges Méliès (1861-
1938) com seus filmes de fantasia, ficção científica e terror. Méilès, que era
ilusionista, caricaturista, inventor e mecânico, desenvolveu alguns dos famosos
truques da fotografia aplicada ao cinema, tais quais podemos citar a sobreposição, a
exposição múltipla, os fundos pintados, a transição de imagens (fade) e a animação
quadro a quadro (stop motion).
13
Figura 2:Cena do Filme de GeorgesMéliès “Viagem a Lua” (1902)
Fonte: Youtube
Na sequência, apareceriam os documentários, a comédia, o drama de época,
os romances, filmes de guerra, filmes de ação, drama psicológico, a farsa e os
épicos da antiguidade. Segundo Kemp, até 1910 a maioria dos gêneros que hoje
reconhecemos já havia, de forma primitiva, se estabelecido.
Nos dias de hoje, o cinema nos apresenta uma infinidade de gêneros e
subgêneros, ficando cada vez mais difícil fazer a classificação somente em
determinado grupo. Luís Nogueira nos fala que:
Estando a delimitação e a caracterização dos gêneros sujeitas à constante
mutação e hibridação dos mesmos, tornasse difícil atingir um consenso definitivo sobre os critérios e as fronteiras que permitem identificar e balizar cada gênero. No entanto, podemos afirmar, resumidamente, que um gênero cinematográfico é uma categoria ou tipo de filmes que congrega e descreve obras a partir de marcas de afinidade de diversa ordem, entre as quais as mais determinantes tendem a ser as narrativas ou as temáticas. (NOGUEIRA, LUIS; 2010, p. 3)
Com isto em mente, a escolha dos gêneros para a produção do trabalho final
se deu por afinidade, tanto em termos de narrativa quanto em termos de
cinematografia técnicos, como luz e enquadramentos e fotografia.
A seguir, discorro brevemente separadamente sobre cada um dos gêneros
escolhidos para esse trabalho: Noir, Surrealismo, Trash e Drama; e exemplifico
cadaum através de um ou mais filmes, por perceber que as referências
cinematográficas se tornaram fundamentais para a execução do trabalho prático.
14 2.1.1 Cinema Noir
Definir o que é o cinema Noir sempre foi um problema. Existe uma dúvida
sobre o que ele é ao certo. Pode ser um gênero, um estilo, uma aparência, ou todos
esses aspectos combinados. O certo é que identificamos facilmente características
que são comuns a maioria deles, densos filmes de crime, filmados em preto e
branco. A nomenclatura só veio muito tempo depois, sendo uma criação histórica
dos críticos Franceses, que definiam o gênero Noir como, para eles, um reflexo da
ansiedade e do cinismo pós-guerra (BERGAN, 2010).
Phillip Kemp explica que:
Essa tendência (de filmes americanos exibidos em massa na França após
a ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial) foi batizada numa referência a uma famosa publicação policial conhecia como Série noire. O termo foi cunhado para se referir ao submundo sombrio e triste do crime e da corrupção. O critico francês Nino Frank1foi o primeiro a usar o termo em 1946. Fora da França, contudo, a expressão “filme Noir” só se tornou popular na década de 1960. (KEMP, PHILLIP; 2010, p. 168)
Surgem dúvidas quanto ao ano de surgimento desse gênero, mas sabemos
que o período clássico do cinema noir hollywoodiano coincide com os anos da
Segunda Guerra Mundial e ao pós-guerra. Suas origens estéticas derivam, em
parte, dos ângulos, as fortes sombras e ao mundo paranoico do Expressionismo
Alemão2 da década de 1920. Outra referência direta para as atmosferas e a
cenografia do cinema noir vem da literatura, do clássico romance policial americano.
Existem, como em todo aspecto do cinema Noir, algumas discordâncias
sobre qual filme deu início a esse ciclo de produções, porém o filme mais defendido
como sendo o precursor desse gênero é “O Falcão Maltes” (1941) de John Huston.
A trama segue, como na maioria dos filmes da obra do diretor, em torno de um
grupo de pessoas em busca do mesmo objetivo, que nesse filme especificamente
seria uma estatueta de falcão. Durante a trama identificamos personagens comuns
_____________________ 1Nino Frank (1904 – 1988) foi um famoso crítico francês, autor de diversos ensaios sobre cinema e literatura. 2Os filmes do Expressionismo Alemão eram caracterizados pelo uso de sombras exageradas, iluminação de alto contraste e ângulos de câmera oblíquos, buscando traduzir o alterado estado psicológico de seus personagens. Os filmes estilizados desse movimento influenciaram o cinema Noir e os clássicos do Terror.
15 a maioria dos filmes Noir, como o investigador, interpretado por Humphrey Bogart; a femme fattale sedutora, interpretada por Mary Astor; e o maquiavélico vilão, interpretado por Kasper Gutman.
Figura 3:Cena do filme “O Falcão Maltes” da esquerda para direita vemos: Humphrey Bogart, Peter Lorre, Mary Astor e Sydney Greenstreet.
Fonte DVD “O Falcão Maltes”
Outra obra que remetemos as origens do cinema Noir é o filme “Pacto de
Sangue” (1944) de Billy Wilder, onde podemos notar um dos recursos que seriam
recorrentes nesse estilo, a narração em off em primeira pessoa. A trama que
começa na luxuria e vai caminhando em direção ao assassinato, fala de um corretor
de seguros, interpretado por Fred MacMurray, que é envolvido em um plano para
assassinar o marido de uma femme fatale, interpretada por Barbara Stanwyck. Na
cena a seguir, vemos o momento em que Fred MacMurray e Barbara Stanwick (Neff
e Phyllis) se encontram para planejar o assassinato, em um supermercado que faz
clara referência a cultura burguesa do consumismo e ao Sonho Americano.
(BERGAN, 2010)
16
Figura 4:Cena do filme "Pacto de Sangue", de Billy Wilder
Fonte: DVD “Pacto de Sangue”
2.1.2 Surrealismo
Segundo Costa (2003), o surrealismo nasceu com a literatura, com seu
precursor sendo o escritor francês André Breton (1896 – 1966) que via o cinema
como uma maneira de liberar o subconsciente e escreveu, em 1924, o Manifesto
Surrealista. O cinema surrealista se caracteriza pela utilização de recursos
experimentais da fotografia, como a superposição de diversas imagens, tudo para
corroborar com essa atmosfera perturbadora e irreal, característica do gênero.
O primeiro filme do estilo foi “Entreato” (1924), do cineasta Rene Clair3 (1898
– 1981), que na verdade pretendia fazer um ataque a Breton. O filme, que ao fim foi
considerado precursor do surrealismo, contava com participações do Man Ray e de
Marcel Duchamp4.
_____________________ 3Rene Clair (1998 – 1981) foi um grande cineasta e escritor francês, considerado um mestre do
cinema e um dos precursores do cinema falado e dos filmes de autoria. 4Marcel Duchamp (1887 – 1968) foi um pintor, escultor e poeta francês, que introduziu a ideia de
ready made (elemento comum a vida cotidiana trazido para a arte) como objeto de arte.
17
Em 1929, veio o aclamado “Um Cão Andaluz” dirigido por Luis Buñuel e que
teve participações no roteiro de Salvador Dali. A película é uma sequência de
imagens subversivas, sem sentido ou ligação entre elas. O filme ajudou ambos a
serem aceitos na sociedade como surrealistas.
A cena mais clássica do filme, aparece logo na abertura. Um homem separa
as pálpebras de uma mulher, que tem expressão calma olhando para a câmera. Em
seguida, pega uma navalha e corta o seu globo ocular.
Figura 5:Cena do filme "Um Cão Andaluz"
F Fonte: Youtube
2.1.3 Trash
A estética chamada de trash pode se aplicar a vários gêneros
cinematográficos, porém, é mais comumente utilizada em filmes de terror e de
ficção científica, sendo considerada assim um subgênero. Filmes com essa estética
são caracterizados pela presença constante do humor negro em suas narrativas,
que não apresentam roteiros brilhantes nem elenco de estrelas. Na verdade, suas
produções são em grande maioria de baixo custo, apresentando um visual (que na
maioria das vezes é feito propositalmente) que seria considerado tecnicamente mal
feito.
18
Castellano, nos diz que:
Autores como Sconce (1995, 2007) e Jancovich (2002) defendem o
consumo de filmes trash como uma subcultura cinematográfica, que, assim como as definições clássicas de subcultura, comporta, de diferentes formas e intensidades, subjetivos conceitos como autenticidade, diferença, resistência, transgressão etc. (CASTELLANO, MAYKA; 2011, p. 123)
No senso comum, esses filmes são frequentemente caracterizados como
“horríveis”, “bizarros” e “assustadores”, e é justamente essa repulsa que o
públicomainstream tem para com eles, o elemento chave para que um determinado
filme do gênero seja cultuado ou não.
Figura 6:Cena do filme “Trash – Náusea Total” de Peter Jackson, 1987
Fonte: Youtube
Os filmes com estética trash se enquadram muitas vezes também nos
chamados filmes Cult. Bergan define o cinema Cult como:
(...) qualquer filme que, independentemente de sua qualidade intrínseca
artística, conquista a devoção de um grupo de fãs. Em geral, obras cult são anticonvencionais, as vezes cafonas e ultrajantes, com personagens unidimensionais e enredos extravagantes. (...) O Cult passeia por todos os gêneros, com mais recorrência no terror e na ficção científica. (BERGAN, RONALD; 2011, p. 145)
19
Muitos diretores que eram considerados ruins, ganharam reconhecimento
dentro desse subgênero. É o caso de Ed Wood Jr. Ed Wood (1924 – 1978) que
segundo Bergan “(…) ganhou status de ídolo, por exemplo, por ser considerado o
pior cineasta de todos os tempos.” (BERGAN, 2011, p. 132). Ed Wood produzia,
dirigia e atuava em seus filmes e, sem medo de ser ridicularizado, produzia filmes
de terror e ficção científica com baixíssimos recursos técnicos e orçamentários. O
diretor ganhou status de ídolo dentro da audiência do cinema trash e cult, com
produções como “Plano 9 do Espaço Sideral” que em 1959, na época de seu
lançamento, chegou a ser considerado o pior filme já feito.
“Plano 9 do Espaço Sideral” conta a história de uma dupla de alienígenas que
pretendem criar um exército de zumbis para conquistar as capitais do mundo.
Figura 7: Cena do Filme “Plano 9 do Espaço Sideral”
Fonte: Youtube 2.1.4 Drama
O gênero dramático está entre os gêneros clássicos, sendo entre esses, um
dos precursores e mais utilizados na história do cinema. O objeto do gênero drama
20 é o ser humano e tudo que o envolve, seus conflitos interpessoais, relações
humanas, relações afetivas, traumas, vivencias e medos.
A origem da palavra drama vem do grego, que tem o significado de ação.
Para definirmos o que é ao certo o drama, precisamos ir muito além do cinema e
buscarmos a definição do dicionário. Segundo o Dicionário Michaelis UOL,
definimos drama como:
Dra.ma sm (gr dráma) 1 Peça teatral. 2 Gênero de composição teatral, que
ocupa o meio-termo entre a tragédia e a comédia, quando não participa de ambas. 3 Peça literária para ser representada. 4 Acontecimento comovente. 5 Desastre, desgraça, catástrofe. 6 Crime. D. épico: drama episódico moderno que visa a estabelecer o entendimento objetivo de um problema social mediante uma sequência de cenas livremente ligadas, que evitam ilusões, e mediante a interposição de discursos diretos ao auditório com análises ou argumentos (por um narrador, p ex), ou mediante documentação (com um filme, p ex). D. histórico: o que tem assunto extraído da História. D. lírico: ópera ou composição dramática entremeada de música. D. musical: nome dado, desde Wagner, às óperas que fundem, em um todo orgânico, música, diálogo e representação cênica. D. sacro: drama religioso ou moral, inspirado em episódios ou personagens bíblicos ou, então, na vida dos santos. D. sentimental: melodrama. (MICHAELIS; 2012, p. 87)
O cinema, como muitas outras artes, se utilizou dessa classificação para
definir o estilo cinematográfico onde o foco da narrativa são os problemas cotidianos
do personagem principal, podendo ir mais ou menos afundo nas questões
psicológicas dos personagens. Nogueira (2010) nos fala que o gênero dramático é
um dos territórios cinematográficos mais vastos de possibilidades, e muitas vezes
difícil de definir. Dentro dele, cabem as mais variadas obras e o cruzamento de
diversos estilos, ao passo que, independentemente de gênero, é quase impossível
um filme não possuir nenhuma característica dramática.
Ainda citando Nogueira (2010), podemos dividir o gênero dramático em
diversos subgêneros, os agrupando a partir de seu grupo temático. São eles:
a) O Drama social, onde os personagens são expostos a situações em que
confrontam o mundo como lhes é imposto, apresentando dificuldade para
encontrarem um lugar nele;
b) O Drama bélico, em que o personagem é colocado em situações de
extrema violência (como guerra, morte, inimigos), onde é constantemente
questionado sobre sua essência;
21
c) O Drama psicológico, que propõe um constante confrontamento do
personagem consigo mesmo, com suas convicções, fraquezas, medos e incertezas,
sendo uma jornada de reconhecimento íntimo;
d) O Drama romântico, que focaliza as relações afetivas de maior intimidade
e cumplicidade entre os personagens, muitas vezes é o subgênero que mais prende
a atenção dos espectadores por apresentar as compulsões, dificuldades e
incompatibilidade das relações;
e) O Drama familiar, que é outro subgênero recorrente no drama, podendo
tratar das mais diversas situações familiares, passando pelas disfuncionalidades, o
conflito de gerações e o preconceito moral;
e) O Drama político, onde vemos conflitos que visam promover ou questionar
certos paradigmas ou valores políticos atuais, relatando épocas e acontecimentos
decisivos na história;
f) O Biopic, que é o retrato ficcionado de determinada personalidade de
importância na sociedade, muitas vezes expondo suas fragilidades e defeitos. Vai
de políticos a artistas, sendo diversos os alvos de atenção dos cineastas.
Um dos mais clássicos filmes do drama americano é o cultuado “Taxi Driver”
(1976), do diretor norte-americano Martin Scorsese. “Taxi Driver” foi um dos oito
filmes da bem-sucedida parceria entre diretor e ator que Scorsese e Robert De Niro
fizeram entre os anos de 1973 e 1982.
A trama fala de um atormentado veterano do Vietnã, Travis Bickle (Robert De
Niro), que vira motorista de táxi nas ruas da cidade de Nova York, cujos objetivos
vão do assassinato de um políticoaté a salvação de uma prostituta menor de idade
(Jodie Foster).
22 Figura 8:Cena clássica do filme “Taxi Driver”, onde Travis conduz uma conversa imaginaria diante do espelho, planejando o assassinato de um político local
Fonte: DVD "Taxi Driver"
Falando dos dias de hoje, dos ótimos filmes de drama recentemente
lançados, destaco o drama romântico “Ela” (2014), do diretor norte-americano Spike
Jonze. O diretor Jonze tem uma carreira recente no cinema, tendo começado
dirigindo videoclipes musicais até chegar a alcançar trabalhos mais importantes
como os filmes Adaptação (2002) e Quero Ser John Malkovich (1999). O filme “Ela”
se passa em uma sociedade um pouco mais evoluída tecnologicamente que a atual,
e gira em torno de um solitário escritor chamado Theodore, que acaba se
envolvendo em um relacionamento amoroso com seu sistema operacional.
23
Figura 9:Cena do filme “Ela”, em que Theodore se diverte junto ao seu sistema operacional
Fonte: DVD "Ela"
24
3 CINEMA: O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO ROTEIRO
Como no cinema tudo é feito com muita preparação, planejamento prévio e
principalmente uma boa ideia inicial para o roteiro, foi proposto para o presente
trabalho um o processo de criação imagética com uma fase anterior ao da execução
da imagem em si, o processo de criação de uma narrativa, como o do cinema, para
a fotografia.
Segundo Costa, o roteiro envolve não só a ideia principal do filme, como
também:
(…) constitui o ponto de referência para o preparo de todas as ações
técnico organizativas da realização. (...) Ele deve ter qualidades expressivas ou dramáticas enquanto contém os diálogos que os atores terão de dizer; além disso, tais qualidades devem ser funcionais para a compreensão de todos os aspectos psicológicos, estéticos, etc. por parte de todos aqueles (dos atores aos técnicos) que podem contribuir para o sucesso da obra. (COSTA, ANTONIO; 2003, p. 166)
A ideia do trabalho prático não consiste na criação de um roteiro, mas sim na
construção de uma narrativa que passe pelas fases anteriores e que nos levam até
o roteiro, que segundo Costa (2003) podem ser compostas por: a) Argumento; b)
Tratamento; c) Pré-roteiro.
a) O Argumento pode ser constituído de um texto do próprio autor ou por uma
obra literária e teatral já existente. Nessa fase o texto é feito na forma coloquial e
literária, não havendo indicações técnicas ou de ambientação.
b) O Tratamento é o texto onde as pistas narrativas do argumento são
aprofundadas e desenvolvidas. Ainda é feita na forma literária de narrativa, mas
adquire na narração uma caracterização mais definida para a articulação das cenas.
Já se veem definidos a cidade e os locais da ação, assim como a definição das
situações apresentadas.
c) O Pré-roteiro representa a parte do projeto onde se dá a descrição das
cenas com a indicação sumária do que acontece. Com esses conceitos,
construiremos uma narrativa para cada ensaio que se enquadre ora como
Argumento, ora como Tratamento, ora como Pré-roteiro.
25
Para definirmos agora, o conceito de narrativa, buscamos o que Nogueira
nos diz em seu Laboratório de Guionismo (2010), onde ele explica que a palavra
significa etimologicamente conhecer ou dar a conhecer, e a entendemos como o
conjunto formado essencialmente pela história e pelo enredo, ao qual poderá se
juntar a própria narração. Segundo Nogueira:
Ela (a narrativa) é uma das formas fundamentais de conhecimento da
realidade humana (de dar a conhecer e de tomar conhecimento, como vimos anteriormente), isto é, de tornar a existência inteligível. É a condição praxeológica da humanidade – o conjunto de agentes e eventos, com as suas causas e efeitos, propósitos e consequências, motivações e intenções – que dá forma ao devir humano e é este que se torna o objecto da narrativa. (NOGUEIRA, LUIS; 2010, p. 64)
A narrativa procura buscar o jeito mais entusiasmante e envolvente de contar
uma história, sendo uma boa estrutura uma característica fundamental para que ela
possa ser melhor sucedida. As histórias apresentadas precisam ter uma relação
clara entre si, e a sequência de ações precisa fazer sentido no andamento da
história.
Assim como os gêneros, a narrativa pode ser dividida em diversas
categorias, lembrando sempre que elas podem coexistir em um determinado roteiro.
Nogueira (2010) faz uma separação que é calcada muitas vezes em designações já
convencionalmente adaptadas, e em outras vezes, é feita pela apropriação de
metáforas utilizadas para melhor compreender a configuração da narrativa.
Podemos citar os seguintes tipos de enredo:
a) Enredo principal: é aquele que normalmente nos referimos ao contar uma
história, centra-se no conflito principal da história, seu desenvolvimento e sua
conclusão. A sua manifestação mínima compreende a sinopse da história.
b) Enredo secundário: é constituído de pequenas narrativas que se integram
e se desenvolvem simultaneamente ao enredo principal, servindo constantemente
para dar consistência e contexto a trama principal.
c) Enredo mosaico: nesse tipo de enredo, não é apresentado uma linha
central narrativa, mas sim diversas histórias independentes que acabam por se
cruzar em determinado momento. Não existe somente um protagonista, uma vez
26 que todos os personagens assumem uma relevância narrativa equivalente.
Podemos citar como exemplo dessa narrativa o filme vencedor do Oscar de 2006 de
melhor filme Crash dirigido por Paul Haggis.
Figura 10:Cena do filme "Crash"
Fonte: DVD "Crash"
d) Enredo temático: é quando se contam duas ou mais histórias,
desenroladas paralela ou sucessivamente sem pertencerem ao mesmo universo,
mas apresentando alguma espécie de semelhança.
e) Enredo em forma de demanda: nesse tipo de enredo é narrada a trajetória
de determinado personagem em busca de algum objeto ou objetivo, podendo ser
apresentado de forma real ou simbólica. É originalmente característico das
narrativas mitológicas, sendo possível contemporâneas.
f) Enredo puzzle: é o tipo de enredo que é apresentado na forma de um
desafio intelectual que é muitas vezes insolúvel, permanecendo até a mercê da
própria lógica. Trata-se de uma espécie de jogo onde, mais do que o conteúdo da
narrativa, importa mais o próprio processo narrativo e sua desconstrução.
g) Enredo de mistério: nesse enredo podemos identificar uma inversão das
premissas estruturais no relato da história, ou seja, a narrativa se constrói partindo
27 de um determinado efeito para ir de encontro com a sua causa correspondente, e
não o contrário como normalmente é feito. A curiosidade do espectador é
constantemente desafiada e estimulada, como é o caso do filme À Beira do Abismo
(1946), de Howard Hanks.
Figura 11:Cena do filme "À Beira do Abismo" (1946), de Howard Hanks
Fonte: DVD “À Beira do Abismo"
h) Enredo minimal: é caracterizado pela redução ao mínimo necessário do
número de elementos da história como, personagens, ações, cenários ou durações.
É uma modalidade narrativa que se contrapõe as convenções comuns, baseada na
complexidade narrativa ou na espetacularidade das ações.
i) Narrativa épica: é o extremo oposto da narrativa minimal, aqui, todos os
elementos ganham a característica da grandiosidade, seja dos personagens,
acontecimentos ou até dos próprios cenários. Busca-se enaltecer o heroísmo dos
personagens, conduzindo a história para um desfecho de êxtase e superação.
j) Enredo documental: é o enredo que procura evidenciar as características
realistas de uma história, partindo de dois valores fundamentais da narrativa: a
verossimilhança e a veracidade.
k) Enredo mashup: é caracterizado pelo cruzamento, justaposição ou
sobreposição que faz de elementos originalmente heterogêneos. Esse cruzamento
pode suceder ao nível dos materiais ou dos personagens.
28
l) Filmeensaio: se caracteriza por submeter uma eventual história a uma
reflexão temática ou uma experimentação estilística. O mais importante nesse tipo
de narrativa não é a história em si, mas sim a construção do discurso a cerca de um
determinado tema ou fenômeno.
m) Filmemanifesto: é o enredo que é claramente marcado por uma
mensagem explicita, podendo ela ser de teor mais ético, estético, político ou
filosófico. Podemos perceber que existe sempre um conjunto de intenções muito
claro que o filme deve cumprir.
n) Enredo retrato: é o tipo de enredo que tende a privilegiar a caracterização
do personagem em detrimento ao da ação, é aquilo que usualmente se designa por
filme de personagem. É uma espécie de perfil ou biografia de um determinado
personagem. Como exemplo podemos citar o filme do diretor Anton Corbijn
“Control” (2007), que narra a vida e a morte de Ian Curtis, vocalista da banda
inglesa de póspunk Joy Division.
Figura 12:Cena do filme "Control" (2007), de Anton Corbijn
Fonte:DVD "Control"
29 4 FERRAMENTAS DE PESQUISA
4.1 METODOLOGIA
Entendendo o cinema e a fotografia como arte, e na busca de um método
científico para estruturar a presente pesquisa e transformá-la posteriormente em
outra obra, me utilizo do método de Pesquisa em arte para dar sustentação teórica
ao trabalho prático apresentado posteriormente.
Zamboni (1998), nos fala que a pesquisa dentro da arte está longe de ser
compreendida como uma fórmula matemática exata, sem variáveis. Muitas vezes,
pode até mesmo ser baseada somente em princípios intuitivos, diferentemente da
pesquisa científica. Porém, para dar sustentação ao trabalho, é de extrema
importância entender que as pesquisas científica e artística não estão tão distantes
uma da outra, só é preciso saber balanceá-las.
O método de Pesquisa em Arte apresenta uma forma de análise que pode
ser ordenada e lógica, visando facilitar as diversas interpretações que o resultado
final pode conceber. Dentro da lógica desse método em relação aos resultados
obtidos, posso entender também, que o resultado final não deverá ser de uma
interpretação única e universal, sendo, como toda obra artística, passível de
diferentes leituras.
A interpretação dos resultados da pesquisa em arte não converge para a
univocidade, mas para a multivocidade, uma vez que cada interlocutor deverá fazer a sua interpretação pessoal e proceder a uma leitura subjetiva para analisar o resultado da pesquisa contido na própria obra de arte. (ZAMBONI, SILVIO; 1998, p. 58)
Busca-se também, visando a compreensão do projeto prático que será
apresentado ao final desse estudo, apoio na teoria da formatividade de Luigi
Pareyson. Luigi nos propõe em seu estudo, uma visão da arte que não busca
somente o contemplar, e sim o fazer, trazendo a intervenção do homem e de sua
“espiritualidade” como crucial não só para o resultado final, bem como para todo o
processo de criação e desenvolvimento da arte. A obra de arte tem como conteúdo a pessoa do artista, não no sentido de
tomá-la como seu objeto próprio, fazendo dela o seu “tema” ou assunto ou argumento, mas no sentido de que o “modo” como esta foi formada é o modo próprio de quem tem aquela determinada e
30 irrepetível espiritualidade: entre a espiritualidade do artista e seu modo de formar existe um vínculo tão estreito e uma correspondência tão precisa que um dos dois termos não pode subsistir sem o outro, e variar um significa necessariamente variar também o outro. (LUIGI, PAREYSON; 1993, p. 31)
Em outro apontamento, ainda sobre o conceito da formatividade, Pareyson
(1993) traz a ideia de que a obra atua como formante antes mesmo de ser
concebida como formada. Ele nos diz que toda a obra de arte está, ao mesmo
tempo, em processo de invenção e de produção, uma vez que essa filosofia é
baseada na inseparabilidade entre a experiência e a reflexão.
No processo de “fazer” a obra de arte, entendido aqui tanto no sentido de
executar como no sentido de inventar, Pareyson (1993) nos mostra que passamos
inevitavelmente pela fase de tentativa e erro, e não devemos subjugá-la, sabendo
que este é um passo importante para o sucesso do resultado final da obra.
O formar, portanto, é essencialmente um tentar, porque consiste em uma
inventividade capaz de figurar múltiplas possibilidades e ao mesmo tempo encontrar entre elas a melhor, a que é exigida pela própria operação para o bom sucesso. (LUIGI, PAREYSON; 1993, p. 61)
Entendendo, com apoio da teoria da formatividade, que o resultado final do
processo criativo é um reflexo das características pessoais do artista que o propôs,
e de seu esforço através da fase de tentativa e erro, foi elaborado um processo
metodológico que auxiliasse na construção do ensaio e das imagens finais.
Esse processo passa primeiramente, pela construção do argumento inicial
que será usado para a criação da fotografia, feito com a ajuda da pesquisa
filmográfica dentro do gênero ou subgênero selecionado, de onde são retiradas as
referências para a construção da narrativa. Após essa etapa, é feita a elaboração do
esboço do esquema de iluminação, através de desenhos que serão feitos usando
lápis e caneta para finalização. Feito isso, passamos para a etapa de construção e
escolha dos cenários, figurinos, modelos e das locações utilizadas nas fotografias.
Escolhemos também a iluminação adequada, tudo isso feito previamente e pensado
para se encaixar nas características estéticas do ensaio.
Ao passar por todos esses processos, elaboramos paralelamente um diário
de procedimentos, com o objetivo de esclarecer todas as fases da construção
imagética, todos os detalhes, conquistas, frustrações e dificuldades que ocorreram
31 durante a produção dos ensaios. Esse diário constitui-se a partir de uma ficha
técnica, que foi redigida com a formatação clássica que os cineastas utilizam para
escrever o roteiro, com a fonte escolhida sendo a Courrier New e o espaçamento
duplo. É como nos explica Doc Comparato:
Quando o profissional lê um script, gosta de encontrar sua função bem
especificada e clara sem que falte informação. É fundamental escrever em espaço duplo para que o script fique o mais limpo possível, já que os profissionais têm o costume de fazer anotações nele. Isso deve ser levado em conta na formatação da página. (COMPARATO,DOC; 2009, p. 242)
O texto do diário teve uma estrutura preparada previamente e que é utilizada
para descrever todos os ensaios.
A estrutura escolhida, inicia com a data que o ensaio foi produzido; em
seguida, passa para a identificação do gênero ou subgênero escolhido para o
ensaio; após isso, apresenta a contextualização da cena, com a descrição do
cenário; logo após, traz a narrativa construída para cada cena, com o texto em
itálico; e finalmente, apresenta um texto descritivo, o diário de procedimentos
propriamente dito escrito em primeira pessoa, com todas as etapas enfrentadas até
a construção da imagem final.
Visando uma estruturação mais completa para os conteúdos teóricos
adjacentes ao trabalho aplicado, buscamos o suporte necessário na pesquisa
bibliográfica. O método supracitado não pode ser descartado dentro dessa
pesquisa, uma vez que para poder escrever e produzir sobre determinado assunto,
devemos antes conhecer o que já foi feito e pesquisado. Como nos coloca Ida
Regina C. Stumpf, “Descobrir o que os outros já escreveram sobre um assunto,
juntar ideias refletir, concordar, discordar e expor seus próprios conceitos pode se
tornar uma atividade criativa e prazerosa.” (STUMPF, REGINA; 2005, p. 61)
Na busca de referências para a construção do argumento narrativo e das
características visuais e estéticas de cada gênero ou subgênero, e possibilitada pela
pesquisa bibliográfica, é preciso utilizar também a pesquisa filmográfica, que é feita
através de uma seleção de filmes a serem assistidos dentro de cada estilo, para
posteriormente serem utilizados como referência.
O método de Pesquisa em Internet, também será de papel importante neste
trabalho, pois não podemos mais fugir e nem ignorar a imensa base de dados que
32 temos contidos na rede. É importante, porém, saber onde e como pesquisar, que
ferramentas utilizar e verificar as fontes antes de aplicá-las ao trabalho, já que hoje
na internet estão disponibilizadas mais de três mil ferramentas de busca. Segundo
Eloi Juniti Yamaoka:
A riqueza da internet como fonte de informação independe das motivações
e dos objetivos da busca. Ela materializa algumas das marcantes características da nossa era, como a sobrecarga informacional, a fragmentação da informação e a globalização, todas provocadoras de estudos, pesquisas, discussões e polêmicas. (ELOI, JUNITI; YAMAOKA, 2005 p. 146)
4. 2 TRATAMENTO DA CENA E DIÁRIO DE PROCEDIMENTOS
Com o objetivo de explorar o processo por trás da criação de cada ensaio,
propomos a apresentação do que o autor Antonio Costa chama de tratamento. O
tratamento é a fase posterior a criação do argumento inicial do roteiro, onde as
ideias apresentadas são desenvolvidas e aprofundadas (2003). Este tratamento é
escrito utilizando a fonte Courrier New, fonte típica na redação de roteiristas. Na
sequência de itens proposta para apresentar o trabalho, o tratamento sempre
aparece como primeiro item.
Logo em seguida, é feita a redação de um diário de procedimentos, feito em
uma linguagem mais coloquial, escrito no calor dos acontecimentos, característica
que consideramos apropriada na constituição de um diário. Ele contempla todos as
fases da construção da imagem, desde o surgimento da ideia até o resultado final.
Além dos dois tipos de texto apresentados, consideramos importante mostrar,
através de desenhos, o esquema de luz criado para a produção de cada ensaio.
33
Dia 1 – 30 de março de 2015
Ensaio 1 – Noir
Cena 1 – Interior – Escritório – Noite
Já sabia o que a esperava.
O implacável destino estava chegando para cobrar sua
dívida. Juliette! Ele chamou. Ela fingiu que não ouviu,
desviou o olhar, achou um atalho e bem, atalhou.
Carma ruim, pensou. Carma existe, concluiu.
Como uma faca certeira que não poupa a carne fresca do
cervo, ela estava a mercê do fio da navalha. Afiada. Maldita
navalha do destino que não perdoa nenhuma dívida.
Dívida de sangue se paga com sangue e o seu sangue, ela
bem sabia, era o próximo a ser derramado.
Em sua mesa vislumbrava o que parecia ser tudo que nessa
vida havia conquistado. Caos e desordem.
Brindou com um cigarro o que lhe pareceu um adeus. Velho
amigo e bom companheiro, o cigarro. Este que nunca havia
falhado na função que foi criado para exercer:
“Ah!”
Um minuto e meio de alívio.
34
Primeira cena da primeira foto. Tudo já combinado com a modelo, enchi
sacoladas de roupas e objetos cotidianos que poderiam compor a cena. Reservei a
tarde no Estúdio Jordani, estúdio no qual eu trabalho, para produzir essa foto. Em
um primeiro momento, pensei em uma Femme Fatale, com longas luvas de seda e
cabelo glamouroso, mas logo vi que essa personagem dentro do cinema Noir não
tem papel de protagonista, muito menos de detetive. Resolvi me adequar, uma
detetive, mulher. Dispensei o visual Femme Fatale e segui com um look mais
andrógeno, com roupas masculinas. Figurino resolvido.
Parti para a montagem do cenário e, como estava em estúdio montei
manualmente o escritório todo. Para a mesa, utilizei dois cavaletes de madeira com
um pedaço de MDF para servir de topo. Em cima da mesa, comecei a bagunça com
diversos materiais de escritório, papéis, canetas, livros, etc. Coloquei também
objetos pessoais que poderiam construir melhor a personalidade do personagem,
como garrafas vazias de bebida, um maço de cigarros e binóculos. Para fazer a
fumaça do cigarro, levei também incensos, que produziam fumaça porém, sem o
cheiro desagradável do cigarro. Para as paredes, utilizei tapadeiras móveis pretas,
colocadas uma ao lado da outra.
Comecei a pensar, então, na iluminação. Quis fazer uma iluminação lowkey5
que, como nos coloca Bergan, é típica do cinema noir. (2010) Para ela, utilizei um
Fresnel6 e na frente venezianas para criar um desenho de sombras bem
característico do estilo. Prendi a veneziana solta em um tripé, bem alto, ao lado da
cena. Atrás do tripé, posicionei o Fresnel direcionado para a cena. Comecei com o
tripé mais afastado, mas fui aproximando ele da veneziana para dar mais forma a
sombra, que gostaria que marcasse bem o rosto da modelo.
Posicionei, do lado oposto ao do fresnel, uma tocha com um Snut, para dar
um preenchimento ao outro lado da parede que não estava iluminado o suficiente.
______________________ 5Iluminação lowkey é a técnica utilizada para produzir uma fotografia com sombras marcadas e um
alto contraste, utilizando para isso uma luz dura. 6Fresnel é um tipo de lente inventada pelo físico francês AugustinJean Fresnel (1788-1827), criada
originalmente para uso em faróis de sinalização marítima, seu desenho possibilita a construção de
lentes de grande abertura e curta distância focal, que permitem a passagem de mais luz e são
visíveis de distâncias maiores que as convencionais.
35 Posicionei a câmera no tripé, e utilizei uma lente 18105 mm.
Segue abaixo, esquema da iluminação utilizada.
Figura 13: Esquema de iluminação
Fonte: Autoria Própria
36
Ensaio 1 – Noir
Cena 2 – Interior – Sala de Estar – Noite
Quanto sangue já não viu escorrer nesses anos?
As marcas da idade que seu semblante escondia em uma
máscara de beleza e dor, eram visíveis em seus olhos. Grandes
olhos carregados de histórias, nem sempre belas.
Nunca foi belo o caminho que escolheu para si. Sinuoso e
violento, mas verdadeiramente era o SEU caminho.
Na hora do acerto, Juliette não viu a ninguém. Havia
alguém ao certo, mas o que seus grandes olhos enxergavam era a
personificação de seu carrasco: o destino. Não uma pessoa, mas
um acúmulo de dívidas que foram quitadas, todas, de uma vez
só.
37
Para essa cena, como eu havia pensado em um enquadramento bem
fechado, não me preocupei com figurino, apenas com a maquiagem do rosto da
modelo, que ficaria em evidência. Utilizei na câmera uma lente fixa 50 mm, que
destacaria seus grandes olhos e o bonito seu rosto.
A foto toda para mim, se resumiria numa forte expressão de medo. No
princípio pensei a foto somente com o rosto da modelo, com olhos assustados e
cheios de lágrimas, mas no decorrer do ensaio fui mudando de ideia.
Comecei com uma luz dura de Fresnel apontada para o rosto da modelo,
mas logo me dei conta que o Fresnel era muito potente e a luz muito dura para a
foto que tinha imaginado. Posicionei então, a minha direita, um tripé com um softbox
quadrado para fazer uma luz mais suave. A iluminação tinha ficado correta, porém
senti que a foto estava muito vazia, não dizia muito. Decidi acrescentar um
elemento: o assassino.
Então para essa segunda cena, utilizei mais de um modelo. Comecei a
posicionar o segundo modelo atrás da primeira, em segundo plano. Como estava
utilizando uma lente 50 mm, o objeto em segundos plano estava desfocado, que era
a minha intenção para seguir com a ideia de dar ênfase na expressão assustada da
modelo.
Com a câmera na mão, fiz o click de diversos ângulos e com variadas
expressões, para ter opção de escolha no tratamento e edição.
Segue abaixo, esquema de iluminação utilizada.
38
Figura 14: Esquema de iluminação
Fonte: Autoria Própria
39
Cena 3 – Interior – Sala de Estar (chão) – Noite
Vazio...
Uma eternidade de alívio.
40
A ideia para essa foto de fechamento do ensaio eu acabei tendo depois.
Alguém viu minhas fotos e leu o texto, e achou que faltava algum elemento
imagético ali, de conclusão, que realmente passasse a ideia de que a personagem
principal havia de fato sido assassinada.
Decidi montar uma pequena cena apenas com os elementos do assassinato,
a faca e o sangue. Para o sangue, como a foto era em preto e branco, eu achei que
serviria uma calda de chocolate. E serviu.
Peguei uma mesa de vidro, derramei a calda de chocolate e fui posicionando
a faca de diversas maneiras, até encontrar um ângulo que me agradasse
esteticamente e que parecesse minimamente realista. Utilizei minha lente fixa 50
mm e uma iluminação bem simples, somente com uma tocha apontada para cima e
espalhando luz que refletia nas paredes brancas.
Figura 15: Esquema de iluminação
Fonte: Autoria Própria
41
Dia 2 – 15 de Abril de 2015
Ensaio 2 – Surreal
Cena 1 – Interior – Quarto – Dia
Houve um tempo em uma realidade não tão distante da
nossa, onde existia uma menina chamada Valerie.
Valerie vivia confusa. Vazia e cheia ao mesmo tempo,
acordada e adormecida, lúcida e atordoada.
Sempre viveu entre seres humanos e monstros, entre sonhos
e cantos escuros. Os monstros ela nunca soube dizer de onde
vinham, muito menos esses tão tão estranhos seres, os humanos.
Mas deles, ela nunca quis mesmo saber.
42
Pensei esse ensaio para ser do gênero Terror. Imaginei cenas sangrentas,
com bastante sangue falso e imagens em preto e branco. Ao longo da construção
do tratamento, suscitado pelo teor um pouco romantizado do texto, decidimos a
procurar um gênero alternativo para esse ensaio, o gênero Surreal.
Comecei a procurar referências em filmes surreais, cheguei inevitavelmente
ao Cão Andaluz, de Luis Buñuel7 e Salvador Dalí8. Fui, partindo daí, chegando a
ideia de buscar referência em um estilo de um artista próximo ao surrealismo, o Man
Ray9
Para a primeira foto, quis acentuar as características da personalidade da
personagem principal. Um olhar vago, perdido, uma expressão de deslocamento e
inadequação na sociedade onde vivia. Utilizei uma lente 18105 mm. A foto crua foi
feita em um esquema muito simples de iluminação, utilizando apenas uma luz
incandescente que já estava no ambiente. Optei por uma foto simples pois o
trabalho mais elaborado e que traria características surrealistas a foto seria feito na
pós-produção, em softwares como LightRoom e Photoshop.
______________________ 7Luiz Buñuel (1900 – 1983) foi um realizador de cinema espanhol, cuja produção foi sempre foi
marcada por uma aura de escândalo. Entre suas obras estão “Um Cão Andaluz” (1928), “Viridiana”
(1966) e “O Fantasma da Liberdade” (1974) 8Salvador Dali (1904 – 1989) foi um importante pintor catalão, conhecido pelo seu trabalho
surrealista. Teve trabalhos também na área do cinema, escultura e fotografia, tendo no cinema,
participado da produção de “Um Cão Andaluz” (1928) ao lado de Luis Buñuel e do curta da Walt
Disney “Destino” (2003). 9Man Ray (1890 – 1976) foi pintor, artista gráfico, escritor e um grande explorador da arte, que
oscilou entre várias disciplinas ao longo de sua vida. Mas foi na fotografia que ganhou fama, com
imagens que serviam menos para mostrar a realidade e mais para exprimir sua visão surrealista com
fantasias e visões.
43 Ensaio 2 – Surreal
Cena 2 – Interior – Quarto – Noite
Já os monstros... Esses interessantes e intrigantes
companheiros! Apareciam vez ou outra durante seu sono, sempre
acompanhados de uma aura mágica.
Mas um aparecia mais que os demais, e marcava mais que os
outros.
O estranho palhaço. Sua presença causava calafrios, ele
era diferente dos outros seres dos cantos escuros, sempre
vinha acompanhado de uma luz forte, quase cegante.
Quando ele surgia da escuridão, sempre acompanhado de seu
feixe de luz, ela sentia toda sua estrutura vibrar. Saia de
seu estado entorpecido do dia a dia e sentia que a vida tomava
conta do seu corpo.
Valerie encontrou ali, seu único e real amigo, seu
companheiro, seu estranho amor.
Só se sentia viva ao seu lado. Ao mesmo tempo, sabia que
no mundo desses estranhos seres humanos, não havia lugar para
um monstro mágico daquele tipo.
44
A segunda fotografia desse ensaio, teve como locação escolhida para o
quarto da menina o quarto de meus avós, que tinha um clima meio antigo e sombrio.
Para montar a cena, comecei a procurar objetos que pudessem compor o quarto,
nesse clima de vida entorpecida e de sentimentos de inadequação. Escolhi vários
objetos, como caixas de remédios e brinquedos antigos, mas optei, depois de fazer
vários testes de cena, por não utilizá-los, para não desviar a atenção do que
realmente queria mostrar na foto.
Nessa foto precisaria, também, de mais de um modelo. Já havia a
personagem principal, precisava agora, de alguém para ser o monstro que
atormentava e ao mesmo tempo despertava o sentimento de paixão na jovem. No
começo da construção do tratamento, não sabia exatamente o que o monstro seria.
Pensei em diversas coisas, um animal estranho e gigante, um ser fantástico sem
definição específica, algum personagem de fábulas de terror. Pesquisei em lojas de
fantasias, mas nenhuma fechava com a ideia de visual freak que eu queria dar a
foto. Enfim, consegui com o próprio modelo trajes de palhaço, que fecharam
perfeitamente com a ideia de personagem freak que eu estava procurando.
Depois de montar os dois personagens, a menina apenas com um pijama
simples e o palhaço com toda a sua caracterização, foi hora de pensar a luz. Como
eu não tinha equipamento de iluminação disponível naquele dia, improvisei. Arrumei
uma fonte de luz retirada de um antigo armário, que tinha uma luzinha que acendia
dentro do bar. Após muita relutância da parte da minha mãe, consegui retirar a fonte
para adaptar a minha luz enjambrada. Coloquei uma lâmpada mais forte e usei um
cabo de vassoura como tripé. O acabamento não ficou excelente, mas funcionou
perfeitamente para o que eu precisava no momento!
45
Figura 16: Iluminação improvisada
Fonte: Autoria Própria
Com o “equipamento” de iluminação preparado, coloquei minha lente 18-
105mm e montei a cena. Tive que improvisar também um tripé, já que estava
utilizando velocidade bem baixa. A menina deitada na cama, com o estranho
palhaço ao seu lado, com a luz vinda de trás para dar essa aura sombria. Utilizei
como segunda luz uma luz que vinha do banheiro, suave e que dava o
preenchimento necessário. Pensei também, para reforçar as características
surrealistas, na dupla exposição, uma foto com a menina deitada e outra em
seguida com ela levantando. O resultado ficou bem satisfatório.
46
Figura 17: Esquema de iluminação
Fonte: Autoria Própria
47
Ensaio 2 – Surreal
Cena 3 – Interior – Quarto – Noite
Entre os sonhos e os cantos escuros, Valerie decidiu
fazer uma longa viagem sem volta, de encontro ao seu monstro.
E foi.
Quem ficou, sentiu pena e deu o diagnóstico clinico:
— Ela sempre foi mesmo uma menina perturbada!
Quanto a Valerie?
Bem, Valerie, fez boa viagem. Ela estava enfim, entre os
seus.
48
Para a foto final, quis dar um clima mais romântico, afinal, era o momento do
encontro de dois seres teoricamente apaixonados. Primeiro pensei nos dois em
cima da cama, abraçados, ela entregue ao seu estranho palhaço. Posicionei os
dois, ele com uma rosa e ela com seus longos cabelos para trás, em uma posição
submissa, mas como os recursos de iluminação não eram vastos, a foto final não
saiu do jeito que eu esperava. Então parti para outra ideia.
Posicionei os dois na frente da cama, com a luz enjambrada posicionada
atrás dos dois. Quis dar um ar de proximidade e afeto, com os dois bem próximos
um do outro com uma rosa entre eles. O resultado ficou interessante, mas a
característica surrealista que eu tinha planejado para essa foto eu sabia que só ia
conseguir dar na pós-produção, com a edição. Utilizei minha lente 18105 mm sem
tripé, pois na posição em que eu estava, ficava difícil o seu manuseio.
Figura 18: Esquema de iluminação
Fonte: Autoria Própria
49 Dia 3 – 15 de Maio de 2015
Ensaio 3 – Trash
Cena 1 – Interior – Quarto – Noite
Eram 5 da manhã na caótica cidade das Flores.
Entre os ventos violentos da noite, um forte clarão
surpreendeu Clara, que levantou com um susto. Uma imensa fonte
de luz vinda do céu rasgou seu quarto em dois e durou apenas
poucos segundos. Segundos que bastaram para derrubar tudo que
havia em cima de sua cabeceira, incluindo um antigo urso que
seu avó tinha lhe dado na infância, que ela carinhosamente
chamava de Fuxo.
No dia seguinte Clara acordou em meio a notícias sobre o
acontecido da noite anterior. Todos os vizinhos comentavam
sobre um estranho objeto pairando o parque da cidade durante a
madrugada. O estranho disco cintilante ficou alguns minutos
pairando sobre o céu, quando então desapareceu em uma bola de
fogo que se dissipou no ar.
50
Para esse ensaio, pensei em uma locação realista, nada montado em
estúdio, com luzes claras e cenário limpinho, afinal a temática era a estética Trash.
Comecei indo atrás de lugares para locação, primeiramente pensei que
poderia ser no quarto da minha casa, mas logo vi que era muito colorido e poluído
visualmente, os elementos iam se misturar até acabarem se perdendo, tornando
mais difícil a sua identificação. Depois de ir em alguns lugares, acabei optando pelo
quarto de uma amiga minha, que era meio escuro e sem muita poluição visual, o
que tornaria mais fácil a caracterização do cenário.
Quando comecei a escrever o argumento, não sabia bem o que seria o
assustador objeto que ganha vida e assassina as pessoas da cidade. O que eu
tinha certeza era de que seria um brinquedo, para dar essa característica de apego
que a personagem tinha para com ele, só não tinha decidido ainda qual brinquedo
seria.
Primeiro pensei em uma coisa que nunca tinha visto ser filmada, como, por
exemplo, um boneco Sr. Cabeça de Batata. Gostei de como imaginei as cenas com
esse boneco, seriam fotos bem plásticas e que esteticamente eu acho que me
agradariam, mas desisti pelo fato do nome Sr. Cabeça de Batata ser muito comprido
e pouco usado no Brasil, não daria a mesma sonoridade do seu nome em seu
idioma original, o famoso Mr. Potato Head.
Fui a procura de outro brinquedo macabro, mas tive dificuldade na escolha.
Acabei optando por um palhacinho de brinquedo que achei na minha casa meio
esquecido, mas ainda não estava satisfeita com essa escolha, pois no ensaio
anterior eu já havia utilizado o elemento palhaço e não queria parecer redundante.
No dia da foto, cheguei na casa da minha amiga com todos os apetrechos
necessários para o ensaio, incluindo o nada carismático palhacinho. Em meio as
preparações para as fotos notei um ursinho, que me pareceu bem antigo, deitado no
sofá da sala. Ele tinha aquele olhar perdido e sem expressão, meio querendo ser
simpático e mais parecendo assustador dos ursinhos antigos. Perguntei de quem
era aquele brinquedo e ela me contou que aquele era o Fuxo, um ursinho que ela
tinha ganhado na infância e que guardava até hoje. Pronto. Estava ai meu
brinquedo assassino, com a história perfeita, a aparência perfeita e até o nome
perfeito!
51
Depois que encontrei o Fuxo, parti para o figurino. Ele foi bem simples de se
resolver. Como a personagem principal estaria em todos os momentos da foto em
seu quarto, pensei em um pijama, nada muito elaborado.
Levei minha luz enjambrada com tripé de cabo de vassoura (que no final me
foi muito útil em todos os ensaios) e parti pros clicks. Para essa primeira foto, queria
um close do rosto da menina no momento em que seu quarto é invadido pela luz
alienígena que possui o corpo do ursinho. Como a luz bagunçou seu quarto todo,
pensei que tinha que ter vento. Posicionei o ventilador direto no rosto da modelo, e
pedi para que ela cobrisse o rosto, como se aquilo estivesse sendo extremamente
perturbador. Para dar mais veracidade, peguei minha luz enjambrada e apontei para
seu rosto, pois segundo o argumento, havia uma luz muito forte invadindo seu
quarto naquela noite.
Posicionei a luz de diversas formas, vindo de baixo, de cima, dos lados, de
trás de mim. No fim, o jeito que melhor coube na imagem foi o da luz vindo de cima,
com ela protegendo seus olhos com uma mão e o ventilador bagunçando seus
cabelos. Utilizei a lente fixa 50 mm para essa foto. Figura 19: Esquema de iluminação
Fonte:Autoria Própria
52 Ensaio 3 – Trash
Cena 2 – Interior – Quarto – Noite
Clara, que nunca tinha acreditado em seres de outros
planetas, foi dormir assustada.
Acordou no meio da noite para ir ao banheiro e logo
sentiu que alguém se aproximava.
Rapidamente se virou e deu de cara com ele, seu velho
ursinho Fuxo, vivo e com uma faca apontada para seu olho! O
olhar de Fuxo não escondia, ele estava completamente fora de
si, já não era o seu velho amigo ursinho.
Fuxo e Clara duelaram pelas suas vidas, o chão virou um
rio de sangue e algodão, foi quando Clara, vendo que já não
tinha alternativa, aproveitou um ponto cego de Fuxo, desviou
do ursinho, pulou a janela e antes que se desse por conta
estava correndo como uma louca para dentro da floresta.
53
Para a segunda foto, quis mostrar a cena em que o ursinho Fuxo surpreende
a sua dona com o assassino alienígena possuindo o seu corpo.
Quis fazer aquelas cenas bem características do terror, com a personagem
principal abrindo o armário com espelho e se deparando com o seu brinquedo de
infância possuído atrás dela, com uma arma na mão.
Quis usar o espelho do banheiro, mas o espaço que eu tinha disponível era
muito pequeno, assim como o espelho que eu ia utilizar, ficou quase impossível
fazer uma fotografia legal com aqueles recursos. Optei então pelo espelho do
quarto, que era a porta inteira do armário, indo dos pés à cabeça, mas fiz um corte
no busto para parecer que era somente um espelho simples utilizado em banheiro.
Posicionei a modelo na frente do espelho e nesse momento, tive que arrumar
um jeito do ursinho Fuxo ficar fixo atrás dela, como se o brinquedo tivesse ganhado
vida. Utilizei a luz natural que o ambiente tinha, só baixei um pouco a minha
velocidade para dar um clima mais sombrio. Com a câmera na mão, utilizei a lente
fixa 50 mm para dar a sensação de menor profundidade de campo.
Figura 20: Esquema de iluminação
Fonte: Autoria Própria
54
Ensaio 3 – Trash
Cena 3 – Interior – Sala – Noite
Mal sabia Clara que seu inocente boneco estava servindo
de hospedeiro de um ser criminoso do espaço, que foi expulso
de sua terra natal e exilado em nosso planeta na noite
anterior.
E os crimes naquela noite não param por aí: 5 pessoas do
vilarejo foram encontradas mortas naquela noite, por um
estranho urso destroçado.
Fuxo nunca foi capturado, e nas noites de ventania, todos
no vilarejo sentem sua presença esperando sua desavisada
próxima vítima.
55
Na foto que encerra a saga do ursinho Fuxo assassino, pensei em uma cena
onde o vilão observava a cidade por uma janela na calada da noite, planejando seu
próximo assassinato.
Essa fotografia foi planejada para ser feita com técnicas de sobreposição de
imagens, que seria feita posteriormente utilizando o Photoshop.
Para a foto crua, utilizei a iluminação do ambiente que era a sala da casa, e
coloquei o ursinho Fuxo em cima da mesa. Utilizei uma lente fixa 50 mm e fiz um
retrato do rosto do brinquedo. E foi isso.
Feito isso, chega a parte de manipulação da imagem. As outras imagens dos
outros ensaios também foram manipuladas no Photoshop, mas resolvi relatar
somente essa pois foi a que mais despendeu tempo, entre pesquisa de banco de
imagens para achar uma fotografia que coubesse ali e as horas de edição até que a
foto ficasse como eu gostaria.
Quando fui manipular a foto no Photoshop, tive que procurar primeiramente
uma imagem que ornasse perfeitamente com o retrato de Fuxo que eu havia feito
anteriormente. Comecei procurando em banco de imagens e então, achei em um
site de papéis de parede para computador uma imagem que fechava com o que eu
procurava.
Figura 21:Imagem utilizada para manipulação da terceira foto
Fonte: Img Stock
56
Feito isso, fiz toda a manipulação com a sobreposição das imagens, dei uns
últimos retoques e estava feito.
Havia, porém, ainda uma dúvida. Se o ensaio seria em preto e branco ou em
cor. Como eu havia feito dois ensaios em cor e um em preto e branco, decidi optar
pelo preto e branco, já que pessoalmente é um estilo que me agrada e que
funcionou bem para o que eu estava querendo propor.
Apliquei também, já na parte da pós-produção, um filtro em todas as fotos,
para dar a aparência de um negativo antigo, riscado e mal cuidado. Somente um
toque a mais para complementar a estética do Trash.
57
Dia 4 – 29 de Maio de 2015
Ensaio 4 – Drama
Cena 1 – Externo – Rua – Dia
Saiu de sua antiga cidade sem olhar pra trás, depois do
fatídico acontecimento da noite anterior. Correu com as poucas
moedas que tinha no seu bolso, e pegou o primeiro trem rumo ao
desconhecido. O cheiro do cabelo dela mal teve tempo de se
desprender de sua camisa. ‘Merda...', pensou.
Partiram ELE e seu violão, como sempre fora desde que se
conhece por gente. Passam cidades, passam mulheres, passam
amigos, e o único que sempre permanecia era o seu violão.
No momento em que colocou o primeiro pé em sua nova
cidade, o único pensamento que ecoou em sua mente foi o de
fazer tudo diferente da última vez.
58
Parti agora, para o último ensaio. Tive muitas dúvidas sobre o gênero a ser
escolhido. Com a ajuda da professora orientadora, passei por várias opções que me
agradariam: musical, western, terror...
Depois de muito pensar e de muita pesquisa sobre os gêneros, acabei tendo
a ideia para um argumento de drama. A ideia é sempre uma etapa importante na
fase da construção da narrativa.
A procura da ideia ou a sua descoberta são atividades nem sempre fáceis
de abarcar. As ideias são por vezes sutis e difíceis de alcançar. No entanto, obrigatoriamente se convertem no fundamento do roteiro. Isso exige o maior cuidado para descobrir, isolar e definir ideias dramaticamente pertinentes. (COMPARATO,DOC; 2009, p. 30)
O drama me atraiu bastante pela forma da narrativa, que poderia ser
explorada de diversas formas. Me atraiu também porque, para esse último ensaio,
gostaria de utilizar uma locação externa, e essa história do drama romântico, do
andarilho que sai fugido da cidade, me pareceu bem apropriada para uma locação
externa.
A locação! Foi uma viagem enorme até chegar a ela. Saímos no fim de
semana anterior, eu e meu modelo (que é também meu namorado), atrás de um
lugar para fotografarmos. Nem chegamos a virar a esquina de casa, caiu um grande
toro d'água. Desisti de fazer as fotos naquele final de semana, decidi deixar para o
próximo.
Chegando o próximo domingo, saímos novamente. O dia não estava tão
ensolarado quanto eu gostaria, mas decidi tentar assim mesmo. Separei uma roupa
que achei que se pareceria com a de um andarilho, com uma boina e um casaco
meio amarrotado. Peguei também o violão, que é uma parte importante da história.
Comecei a procurar uma locação indo para os caminhos da colônia,
passando os pavilhões da Festa da Uva. Queria uma estradinha, bem deserta para
essa primeira foto. Para mostrar ele saindo, se desprendendo da cidade em que
antes morava. Percorrendo alguns quilômetros, achei uma estradinha que me
agradava, e lá paramos.
Fiz clicks de diversas formas, com o sol entrando na lente, de cima, de baixo,
de trás, de frente. Utilizei a lente fixa 50 mm pra dar bem pouca profundidade de
59 campo. Depois de vários clicks, saiu a foto final, que eu gostei bastante. Só utilizei a
luz natural do dia para essa foto.
Figura 22: Esquema de iluminação
Fonte: Autoria Própria
60
Ensaio 4 – Drama
Cena 2– Externo – Rua – Dia
Achou um canto e sentou com suas ideias e seu violão. No
primeiro acorde, que inevitavelmente soou triste, lhe veio à
mente a imagem dos olhos escuros dela no momento em que ouviu
o barulho do revólver. BAM! “Fiz um favor aquela moca,
sofrendo aprisionada nas mãos daquele velho escroto!”, afirmou
para si mesmo. Lembrou do sorriso de canto de boca dela quando
ouviu o som do corpo do marido caindo estirado no chão.
Continuou com sua música. Enquanto seus dedos passeavam por
entre as cordas, ele imaginava mil ninfas com a forma DELA
dançando, em sua volta. Sentiu o sol batendo em seu rosto,
estava confortavelmente quente ali.
O barulho da moeda de 1 real caindo sobre a case vazia
aberta de seu violão o fez voltar para a realidade.
“Gratidão!”, disse para a senhora que havia lhe dado a moeda.
61
Depois de feita a primeira foto do ensaio, precisava encontrar outra locação
para a segunda. Andamos pelas mesmas estradas e não encontramos nada. A
vegetação ia ficando cada vez mais fechada e já não víamos mais o sol entrando, e
eu precisava do sol.
Queria uma grama com um pouco de asfalto, mas com mais elementos rurais
do que urbanos, pois queria dar a ideia de uma cidade pequena, sem muita
movimentação. Pensei na própria UCS para usar de locação, justamente pelo
campus apresentar essa característica de ter bastante elementos urbanos mas
também bastante verde. Busquei um bloco mais escondido, que não tivesse tanta
movimentação de pessoas. Acabei escolhendo o bloco da Biologia, pois estava bem
pouco movimentado.
Para essa fotografia, pensei no personagem principal sentado, tocando suas
músicas e pensando na garota que deixou para trás. Para representar esses
pensamentos, quis fazer uma fotografia com a velocidade bem baixa, com ele no
centro e alguém caminhando e pulando ao seu redor, representando a imaginação
dele indo de encontro com a figura de sua garota.
Combinei com uma amiga para ser modelo, e ela no dia não pode ir. Como
não havia mais tempo para adiar essa fotografia, decidi ser eu mesma a modelo.
Para isso, no lugar de uma fotografia com a velocidade bem baixa, fiz duas, com a
mesma iluminação. Na primeira, posicionei apenas o modelo no centro da imagem,
tocando violão. Depois posicionei o tripé e lá fui, bancar a garota da história. Pulei e
fiz diversos movimentos, pois queria a imagem bem borrada. Utilizei uma lente 18-
105 mm.
Cheguei em casa e manipulei no Photoshop, utilizando as duas imagens
sobrepostas. Deu certo.
62 Figura 23: Esquema de iluminação
Fonte: Autoria Própria
63
Ensaio 4 – Drama
Cena 3 – Externo – Rua – Dia
Levantou e foi atrás de algum boteco barato para trocar
aquela moeda por uma dose de pinga. Pensou que sentira o
cheiro DELA ao passar por um jardim. Se enganou. “Tudo
diferente da última vez... Tudo diferente.... Diferente...”
Seguiu em frente sem pestanejar. Sentiu uma sensação de alívio
quando saiu dali. Foi bom, bom colocar cada coisa em seu
devido lugar.
Tomou a pinga e, ao final dela, se deu conta que a vida
era mesmo aquilo que lhe parecia – uma longa caminhada, ao
lado de seu velho parceiro violão.
64
Para essa última fotografia, quis mostrar o “relacionamento” que o
personagem tinha com a música, com seu violão. Quis dar ideia de proximidade, de
intimidade.
Ainda na UCS, paramos nas ruas paralelas a universidade, dentro do bairro.
Fiz o modelo fazer vários movimentos, com o violão. Além da luz do sol, queria que
as fotografias desse ensaio ficassem bem naturais. Utilizei a lente fixa 50 mm.
Figura 24: Esquema de iluminação
Fonte: Autoria Própria
65 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do trabalho trilhado ao longo desse último semestre da graduação,
pude descobrir mais sobre a minha forma de fotografar, de perceber os elementos
que me rodeiam e de criar. Passei por muitas fases, tive muitas ideias, fui e voltei
em grande parte delas, mudei o projeto e finalmente encontrei um tema que me
trouxesse satisfação e plenitude em meus objetivos como fotógrafa.
O presente estudo me possibilitou grandes descobertas teóricas e práticas no
campo da fotografia e do cinema. Ao longo do trabalho, o projeto aplicado foi
tomando forma, ao mesmo tempo que foi se resinificando cada vez que me
aprofundava no tema. Muitos elementos que hoje considero importantes no trabalho
teórico, eu descobri e incorporei ao longo do estudo e da execução do texto como,
por exemplo, a narrativa que produzi para cada um dos ensaios, que começou como
um elemento secundário e acabou sendo uma importante parcela do projeto.
Houve muitas dificuldades ao longo do percurso, como havia falado
anteriormente o tema foi mudado, o projeto foi mudado. Dificuldades em relação a
modelos, locações, recursos e tempo. A ideia inicial era de apresentar o trabalho de
outra forma, expor as fotografias em um formato que remetesse ao cinema,
acompanhadas da narrativa. Como o tempo e os recursos financeiros não eram
vastos, tive que me desapegar dessa ideia e partir para uma forma de apresentação
mais simplificada, que foi o caso do fotolivro. Pretendo dar continuidade ao projeto e
talvez, num futuro não muito distante conseguir colocar em prática uma exposição
interativa, com fotografias ampliadas em grandes formatos.
O primeiro ensaio, com o tema Noir, me possibilitou mais conhecimentos das
técnicas de iluminação dentro do estúdio, pude controlar melhor minha luz e saber
exatamente onde e como queria usá-la. Pude tambem fazer cenários exatamente
com todos os detalhes que pensei e construir a atmosfera desejada.
No segundo ensaio, sendo esse com o tema Surrealista, consegui construir a
atmosfera esperada mesmo sem a estrutura de um estudio, seja em termos de
iluminação ou de espaço. Vi que era possível obter uma iluminação com coisas que
se encontram dentro de uma casa, sem a necessidade de equipamentos de estudio.
66 Pude exercitar tambem a criatividade na manipulação das imagens, pois o tema
Surrealista me proporcionou essa liberdade de criação.
No terceiro ensaio, calcado na estética Trash, consegui seguir utilizando uma
iluminação com elementos caseiros, mas que funcionaram bem. Mesclei iluminação
natural com iluminação artificial, e utilizei bastante programas de manipulação para
a finalização das imagens. A estética Trash, assim como a Surrealista, me
proporcionou bastante liberdade para manipulação das imagens, sem medo de soar
fake, pois afinal isso não era um problema dentro das características do subgênero
escolhido.
O ensaio final, que se encaixava dentro do gênero Drama, me possibilitou a
utilização da iluminaçao inteiramente natural, e vi que poderia criar muitos efeitos
utilizando somente a luz do sol como recurso. Pude explorar mais na busca de
locações, e não me prender somente a cenarios fechados.
Cada ensaio me presenteou tambem, com descobertas singulares sobre mim
mesma, sobre o que eu podia ou não fazer. Vi que era possível ir além de somente
ter uma boa ideia, e me dei conta que conseguir de fato traduzir uma imagem que é
criada na mente para a forma de fotografia é algo que exige muito trabalho e que ao
mesmo tempo traz extrema realização pessoal.
67 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGAN, Ronald. Guia Ilustrado Zahar Cinema. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
2007
BERGAN, Ronald. Ismos: Para entender o cinema. São Paulo: Globo, 2010.
BUSSELLE, Michael. Tudo sobre Fotografia, 3.ed. São Paulo: Pioneira, 1977.
Comparato, Doc. Da Criação ao Roteiro: teoria e prática. São Paulo: Summus,
2009.
COSTA, Antonio. Compreender o Cinema – 3.ed. - São Paulo: Globo, 2003.
Distinção pelo “Mau Gosto” e Estética Trash: Quando Adorar o Lixo Confere Status. Disponível em <https://www.metodista.br/revistas/revistas-
ims/index.php/CSO/article/view/2136>. Acesso em 04. maio, 2015.
FURASTÉ, Pedro Augusto. Normas técnicas para o trabalho científico: explicitação das normas da ABNT. – 15. ed. - Porto Alegre: s.n., 2009.
Gênero Dramático – parte I. Disponível em
<http://educaterra.terra.com.br/literatura/temadomes/2003/04/16/001.htm> Acesso
em 03 de junho de 2015
NOGUEIRA, Luís. Manuais de Cinema I: Laboratorio de Guionismo. Covilhã: Livros 105 LabCom, 2010.
NOGUEIRA, Luís. Manuais de Cinema II: Gêneros Cinematográficos. Covilhã:
Livros 105 LabCom, 2010.
68 NOGUEIRA, Luís. Manuais de Cinema III: Planificação e Montagem. Covilhã:
Livros 105 LabCom, 2010.
NOGUEIRA, Luís. Manuais de Cinema IV: Cineastas. Covilhã: Livros 105
LabCom, 2010.
OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processos de Criação. 29. Rio de Janeiro:
ed. Vozes, 2013.
Pareyson, Luigi. Estética: Teoria da Formatividade – Petropolis, RJ: Vozes, 1993.
DUARTE, Jorge, BARROS, Antonio – organizadores – Métodos e técnicas de
pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005.
SCHNEIDER, Steven Jay. 1001 Filmes para ver antes de morrer. Rio de Janeiro:
Sextante, 2010.
Trash – Que … é essa. Disponível em <http://janela.art.br/artigos/trash-que-e-
essa>
Acesso em 07 de maio de 2015.
ZAMBONI, Sílvio. Pesquisa em Arte. - 4.ed. São Paulo: Autores Associados, 2012.
KEMP, Philip. Tudo sobre cinema. Rio de Janeiro: Sextante, 2011.
69 REFERÊNCIAS FILMOGRÁFICAS
A Beira do Abismo. Direção: Howard Hawks. Produção: Howard Hawks. EUA:
Warner Bros, 1946, DVD.
Adaptação. Direção: Spike Jonze. Produção: Jonathan Demme, Vincent Landay e
Edward Saxon. EUA: Columbia Pictures, 2002, DVD.
Control. Direção: Anton Corbijn. Produção: Anton Corbijn, Todd Eckert, Orian
Williams, Iain Canning, Peter Heslop, Tony Wilson e Deborah Curtis. Reino Unido:
Momentum Pictures, 2007, DVD.
Crash– No limite. Direção: Paul Haggis. Produção: Cathy Schulman, Don Cheadle,
Bob Yari, Mark R. Harris, Bobby Moresco e Paul Haggis. EUA: Lionsgate, 2005,
DVD.
Ela. Direção: Spike Jonze. Produção: Megan Ellison, Spike Jonze e Vincent Landay.
EUA: Warner Bros, 2013, DVD.
Entreato. Direção: Rene Claire. Produção: Rene Claire. França, 1924, DVD.
O Falcão Maltes. Direção: John Huston. Produção: Hal B. Wallis. EUA: Warner
Bros,1941, DVD.
Pacto de Sangue. Direção: Billy Wilder. Produção: Billy Wilder. EUA: Warner Bros,
1944, DVD.
Plano 9 do Espaço Sideral. Direção: Edward D. Wood Jr. Produção: J. Edward
Reynolds. EUA: Distributors Corporation of America, 1959, DVD.
Quero ser John Malkovich. Direção: Spike Jonze. Produção: SteveGolin, Vincent
Landay, Sandy Stern e Michael Stipe. EUA: USA Films, 1999, DVD.
70
Taxi Driver. Direção: Martin Scorsese. Produção: Julia Phillips e Michael Phillips.
EUA: Columbia Pictures, 1976, DVD.
Trash - Náusea Total. Direção: Peter Jackson. Nova Zelândia, 1987, DVD.
Um Cão Andaluz. Direção: Luis Buñuel Salvador Dalí. Produção: Luis Buñuel
Salvador Dalí. França: 1929, DVD.
Viagem a Lua. Direção: Georges Méliès. Produção: Georges Méliès. França: Star,
1902, DVD.
top related