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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ –
UNESPAR/FECILCAM
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
ÁREA DE PEDAGOGIA
CLAUDETE FAUSTINO DE SOUZA
GESTÃO DEMOCRÁTICA E O GRÊMIO ESTUDANTIL: EXERCÍCIO DE
CIDADANIA NO PROCESSO ESCOLAR
Artigo elaborado por meio do Programa de Desenvolvimento Educacional do Governo do Estado do Paraná, na área de Pedagogia, sob orientação da Professora Ms. Elaise Mara Ferreira Crepaldi desenvolvido no Colégio Estadual de Campo Mourão - Ensino Fundamental, Médio, Normal e Profissional.
CAMPO MOURÃO 2012
GESTÃO DEMOCRÁTICA E O GRÊMIO ESTUDANTIL: EXERCÍCIO DE
CIDADANIA NO PROCESSO ESCOLAR
SOUZA, Claudete Faustino1 CREPALDI, Elaise Mara Ferreira2 RESUMO: Este artigo objetiva apresentar o desenvolvimento e os resultados
da Proposta de Implementação Pedagógica sobre “Gestão Democrática e o Grêmio Estudantil: Exercício de cidadania no processo escolar” desenvolvido no Colégio Estadual de Campo Mourão - Ensino Fundamental, Médio, Normal e Profissional, realizada com Professores, alunos lideres do Ensino Fundamental, Médio e Profissionalizante, Gestores, representantes do grêmio estudantil e da comunidade. Apresenta como ocorre a participação da comunidade escolar no movimento de construção da gestão democrática no espaço da escola pública e do Grêmio Estudantil como forma de consolidar o projeto político pedagógico e incidir na qualidade de ensino. A implantação do projeto aconteceu de forma sistematizada, pode-se dizer que foi a parte mais significativa de todo o estudo por se tratar de um projeto que oportunizou momentos de reflexões com a comunidade escolar sobre a compreensão da gestão democrática na escola pública e a contribuição do Grêmio Estudantil através de ações educativas.
Palavras – chave: Gestão Democrática; Grêmio Estudantil; Participação;
Comunidade Escolar.
INTRODUÇÃO
Este artigo apresenta os resultados da implementação pedagógica do
PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional) da Secretaria de Estado da
Educação do Estado do Paraná. A proposta de trabalho foi desenvolvida com
os representantes da comunidade escolar, gestores, professores, pedagogos,
1 Professora pedagoga da Rede Estadual de Educação.
2 Professora Orientadora MS Elaise Mara Ferreira Crepaldi – Departamento de Pedagogia da
Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR/FECILCAM.
famílias e alunos lideres, vices lideres de turma e representantes do Grêmio
Estudantil do Colégio. A proposta foi desenvolvida em três (três) módulos.
A proposta da implementação surgiu à medida que passamos a
compreender o papel do pedagogo como articulador e mediador entre todos os
segmentos escolares interessados na construção de uma melhor qualidade de
ensino.
Dessa forma o desenvolvimento do projeto teve grande importância, pois
os segmentos escolares representam à existência de uma gestão democrática
do processo escolar, capaz de por em funcionamento movimentos importantes
de participação de alunos, funcionários, professores e pais, podendo influenciar
na própria dinâmica educacional, rompendo com os processos de exclusão,
além dos conflitos e contradições entre alunos e professores no interior do
espaço escolar.
Neste sentido, a democratização do processo de gestão deve garantir
através do exercício permanente de análise e de ações participativas o acesso
igualitário às informações a todos os segmentos da comunidade escolar e a
aceitação da diversidade de opiniões e interesses.
Dentro deste contexto, o segmento escolar “Grêmio estudantil” vem se
constituindo como excelente dispositivo para concretização de um processo
mais solidário entre os diversos grupos, pois a participação e atuação dos
alunos lideres por meio do Grêmio Estudantil na escola representa a existência
de uma gestão democrática.
Portanto, a participação efetiva da instância Colegiada “Grêmio
Estudantil” de uma escola, que tenha como perspectiva a participação social e
a valorização do diálogo na aplicabilidade das ações educativas devem
acompanhar e proporcionar condições para o desenvolvimento dos alunos,
visando à formação do cidadão, e para que isto ocorra o gestor escolar, equipe
pedagógica, professores devem ser profissionais comprometidos no
atendimento das diversidades e com capacidade para assumir e construir
coletivamente uma política educacional que dê prioridade ao ser humano.
De acordo com a Lei nº 7.398 de 4 de novembro de 1985:
A Secretaria de Estado da Educação entende que toda representação estudantil deve ser estimulada, pois ela aponta um caminho para democratização da Escola. Por isso, o grêmio nas escolas públicas deve ser estimulado pelos gestores da escola,
tendo em vista que ele é um apoio à direção numa gestão colegiada na escola.
Com isso pode-se inferir que a gestão democrática envolve o trabalho
participativo de todos que estão envolvidos com a escola, cabendo ao gestor
estabelecer uma orientação transformadora de acordo com o que é colocado
na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 em seu artigo 14,
que assim define entre seus objetivos e prioridades:
Democratização da gestão do ensino público, nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.
Portanto, a gestão democrática está vinculada aos mecanismos legais e
institucionais e à coordenação de atitudes que propõem a participação social.
No entanto é preciso acrescentar que para uma escola pública ser,
realmente, democrática o gestor escolar deve acreditar que é possível mudar e
o mesmo necessita ter conhecimento tanto do administrativo quanto do
pedagógico, buscando sempre, através do diálogo, a participação da
comunidade escolar em todo o processo de organização do ambiente de
trabalho conforme afirma Libâneo:
O conceito de participação fundamenta-se no princípio da autonomia, que significa a capacidade das pessoas e dos grupos para a livre determinação de si próprios, isto é, para a condução da própria vida. Como a autonomia opõe-se às formas autoritárias de tomada de decisão, sua realização concreta nas instituições dá-se pela participação na livre escolha de objetivos e processos de trabalho e na construção conjunta do ambiente de trabalho. (LIBÂNEO, 2001, p. 329).
Assim, em uma gestão democrática o diretor deve, necessariamente,
buscar a articulação entre as instâncias colegiadas em torno de uma educação
de qualidade, o que implica uma liderança democrática, capaz de interagir com
todos os segmentos da comunidade escolar.
CONSIDERAÇÕES ACERCA DA GESTÃO DEMOCRÁTICA
A gestão democrática no Brasil é um processo que vem ocorrendo ao
longo dos anos por toda a sociedade, no que se refere ao âmbito político,
aconteceram mudanças em todos os seus segmentos e a escola como
instituição que tem como compromisso, socializar o saber historicamente
construído não poderia estar alheia a todas estas mudanças. O compromisso
de todos na gestão democrática chama a atenção da comunidade escolar. Os
sistemas de ensino estão concretizando na prática o que determina a
Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº.
9394/96. A luta pela escola pública, mais especificadamente desde os anos 20,
iniciada pelos Pioneiros da Educação, não foi em vão, influenciou profissionais
que almejavam uma educação para todos e de qualidade. (Ghiraldelli JR,
1990).
A educação no Brasil teve um desenvolvimento muito lento e tardio.
Devido à herança colonial e o descaso com a escolarização das massas, a
educação atingia apenas às minorias só alcançando desenvolvimento político
social e econômico, com a chegada da industrialização por volta dos anos 20 e
30 (Ghiraldelli JR, 1990).
Esta década trouxe grandes progressos na área educacional. Muitos
educadores deixaram marcas com suas ideias e ações a respeito da educação
no país, entre eles: Anísio Teixeira, Fernando Azevedo, Lourenço Filho, que
divulgaram um documento histórico chamado O Manifesto dos Pioneiros da
Educação Nova (1932). O Manifesto trata especificamente sobre a função
social da escola:
Redigido por Fernando de Azevedo e assinado por mais vinte e seis educadores e intelectuais, o documento dirigido ao povo e ao governo trazia a marca da diversidade teórica e ideológica do grupo que o concebeu. Mas, apresentava ideias consensuais, como a proposta de um programa de reconstrução educacional em âmbito nacional e o princípio da escola pública, leiga, obrigatória e gratuita e do ensino comum para os dois sexos (co-educação). Movia-se, ainda, no âmbito das concepções educacionais de recorte escolanovista, enfatizando os aspectos biológicos, psicológicos, administrativos e didáticos do processo educacional (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2004, p. 23).
Em 1934, a Constituição incorpora a gravidade e obrigatoriedade do
ensino baseado no Manifesto. Porém só em 1961, é que o país tem suas
primeiras Leis Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB 4.024/61. Com o
Regime Autoritário, novas leis passam a definir a organização escolar desde a
Universidade (Lei 5.540/68) à educação elementar e média (Lei 5.692/71).
Estas leis instituíam a reforma dos ensinos primários e secundários, bem como
o ensino universitário, trazia a escolaridade obrigatória de quatro para oito anos
(articulando os ensinos primários e ginasiais) o ensino de 1º grau e a
profissionalização compulsória no ensino de 2º grau.
Mas só a lei não foi suficiente para efetivar a expansão da escola e
muitas denúncias foram feitas pela falta de recursos materiais e humanos
adequados, provocando uma queda na qualidade do ensino. Em 1998, houve
uma expansão nas taxas de escolarização da população com idade entre 7 a
14 anos de 95,3% apesar dos avanços o governo reconhece que:
"O Brasil ainda exibe um ensino fundamental caracterizado pela
distorção idade/série, frutos de taxas elevadas de repetência, que marcaram profundamente todo o sistema e uma baixa abrangência do ensino médio. Apesar de termos quase nove milhões de jovens de 15 a 17 anos de idade no sistema de educação básica, apenas cerca de 32% estão no ensino médio". (BRASIL, MEC/INEP, 2002, p.5 apud Penin & Vieira p. 18,2002).
Tendo em vista os problemas que perpassam a educação brasileira o
poder público tem buscado superá-las e um dos marcos estabelecido para a
educação de qualidade foi à implantação da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional nº 9.394/96, que exerce um papel marcante já que é a
legislação que especifica os fins da educação brasileira e preza pela
organização do sistema de ensino.
A LDB/96 e a Constituição Federal de 1988 apontam que a educação é
um dever do estado e da família promovê-la. E no artigo 205 da Constituição e
o artigo 2° da LDB diz que à finalidade da educação é o pleno desenvolvimento
da pessoa, seu preparo para a cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Significa dizer então que a escola tem como atribuição o desenvolvimento
pleno do indivíduo. Para que esta finalidade seja atingida a Lei nº 9.394/96
ainda estabelece as seguintes atribuições aos estabelecimentos de ensino:
I. Elaborar e executar sua proposta pedagógica;
II. Administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros;
III. Assegurar o cumprimento dos dias letivos e hora-aula estabelecidas;
IV. Velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente;
V. Prover meios para a recuperação de alunos de menor rendimento;
VI. Articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de
integração da sociedade com a escola;
VII. Informar os pais e responsáveis sobre a freqüência e o rendimento dos
alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica. (LDB, artigo
12).
A LDB/96 estabelece ainda a flexibilidade no que diz respeito às formas
de organização escolar de acordo com as necessidades de aprendizagem ou
localização geográfica, clientela ou outros aspectos.
O processo de construção da Escola Democrática no Brasil teve início a
partir da década de 80, com base legal na Constituição de 1988. A Lei tem
colocado como desafio para a educação subverter a lógica de uma escola
conservadora para uma nova concepção de homem, de mundo, de sociedade,
baseado em princípios humanísticos e democráticos. Segundo Hora (1994, p.
38):
A administração da educação é entendida como o conjunto de decisões e interesses da vida escolar, no sentido dos processos centralizadores acaba pôr reforçar capitalismo [...], entretanto, o novo panorama de mobilização da sociedade brasileira vem alcançando amplitude nas relações de poder em todas as áreas de ação política no país, [...] os processos se tornam mais abertos e democráticos na sociedade global e estabelece um perfil de democratização em setores específicos em especial na educação Essa tendência exige que a política educacional e a prática nas escolas assimilem o processo e criem possibilidades para que a manifestação democrática se consolide em cada
brasileiro.
Com o objetivo de implantar novos esquemas de gestão nas escolas
públicas, com a concessão de autonomia financeira, administrativa e
pedagógica às instituições públicas, o governo brasileiro em 1993, elaborou
com a participação de outros setores, o Plano Decenal de Educação para
todos, em decorrência da Conferência de Educação para todos que aconteceu
em Jontiem, Tailândia, no ano de 1990.
A gestão democrática introduz na escola movimentos importantes como
participação de alunos, funcionários, pais e comunidade como o grêmio
estudantil. O grêmio estudantil é caracterizado pelo regimento básico como um
espaço do exercício da cidadania.
A democratização da gestão da escola constitui-se numa das tendências atuais mais fortes do sistema educacional, apesar da resistência oferecida pelo corporativismo das organizações de educadores e pela burocracia instalada nos aparelhos de estado, muitas vezes associados na luta contra a inovação educacional (GADOTTI,1994, p.6).
As transformações que surgiram tanto no interior do sistema de ensino,
quanto no meio social provocaram mudanças na concepção da educação, do
papel da escola na sociedade e do papel do professor no processo de
aprendizagem.
...Ao dirigente cabe estar atento no sentido de canalizar as energias do grupo para comportamentos de discrição, apoio, respeito e confiança e outros. ...o trabalho de equipe, ao intervir com competências sobre situações, transformando-as, necessita ser reconhecido, valorizado, o que incentiva, estimula e fortalece o espírito de grupo; Relação da escola com a família e a comunidade. (RICCI, 2002, p. 11).
Aqui o autor trata da gestão participativa, contrapondo-a a antiga ótica
do controle. Trata dos conceitos de participação e de gestão democrática.
Focaliza as estratégias de participação e os pressupostos princípios de uma
gestão escolar participativa. Pois existem, alternativas viáveis à efetivação
deste objetivo de formação do educando, quando são eliminadas as relações
competitivas, corporativas, autoritárias e burocráticas no interior da escola.
Estas já estão sendo descobertas pelos educadores empenhados numa
Gestão Democrática da Escola, contando com a participação das famílias e da
sociedade no processo de tomada de decisão no ambiente escolar.
Se queremos uma escola transformadora, temos que transformar a escola que temos aí. E a transformação dessa escola passa necessariamente por sua apropriação por parte das camadas trabalhadoras. É nesse sentido que precisam ser transformados o sistema de autoridade e a distribuição do próprio trabalho no interior da escola. (PARO, 2002, p.10).
Nesse contexto, a possibilidade de um diálogo entre a escola e a
sociedade passa pela capacidade que essa tiver de interrogar as práticas ou
comportamentos dos envolvidos, no interior escolar e pela capacidade de
professores e gestores de ouvir o ambiente externo representado,
principalmente pelos familiares dos alunos.
A escola é um espaço de contradições e diferenças. Nesse sentido,
busca-se construir na escola um processo de participação baseado em
relações de cooperação, partilhamento de poder, diálogo, respeito às
diferenças, liberdade de expressão, garante-se a vivencia de processos
democráticos, a serem efetivados no cotidiano, em busca da construção de
projetos coletivos.
A Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional – LDB, lei nº. 9394/96, compuseram o cenário jurídico e
legal, ao determinarem à gestão democrática da escola como princípio na
forma da lei. Porém, as conquistas que orientam os atores educativos são
obtidas na vivência diária do cotidiano escolar, quebrando as esferas fechadas
das estruturas democráticas do sistema e as barreiras do pensamento de
alguns, acostumados à ação centralizadora e às rotinas autoritárias.
A escola, apoiada no paradigma da participação e da solidariedade,
precisa formar sujeitos capazes de pensar e construir com singularidade,
compreendendo a multidimensionalidade das relações intersubjetivas na escola
e na sociedade, aprendendo a lidar com as diferenças e cultivando o
sentimento de igualdade, em relações horizontais de respeito ao outro.
Entende-se a formação enquanto transversalidade, ou seja, como uma
rede sócio-política que ganha movimento nas relações concretas entre
professor, aluno e escola, produzindo sentidos, e a indisciplina e o desinteresse
do aluno, como tensão inerente ao processo educacional, o desafio da
comunidade escolar é transformar as turbulências em conhecimento (Castro,
1998).
Neste contexto é preciso levar em consideração a função do pedagogo
que, por fazer parte desta comunidade escolar, é um dos elementos
responsáveis para que esta transformação ocorra. Seu papel como supervisor
ou orientador educacional no atual contexto é assim analisado por Pimenta:
O contexto atual traz à escola e suas lideranças questões que, para além dos conteúdos específicos do currículo, requerem um trabalho inter e transdisciplinar de formação/ação educativa. E os supervisores e orientadores educacionais, unidos em torno dessas questões, estimulam e lideram os estudos e as práticas do cotidiano escolar (PIMENTA, 1995, p. 121).
Com isso pode-se inferir que a função da Equipe Pedagógica é a de agir
em todos os espaços para a garantia de um projeto de escola que cumpra com
sua função política, pedagógica e social.
A mesma autora acrescenta que:
Sem perder de vista o princípio de que a escola não pode dar conta dos problemas sociais, especialmente num tempo em que esses problemas se potencializam, pelos reflexos e implicações da globalização, da desigualdade e da pobreza, pode-se, entretanto, ampliar os debates sobre o que a formação educativa, no âmbito de suas possibilidades, como área em que se (re) constroem saberes e atitudes, pode fazer “por um mundo melhor”: expressão e esperança que se mantêm no senso e sentimento comum (PIMENTA, 1995, p.123).
Uma escola preocupada com essa formação educativa de qualidade,
que coloca como primordial para o crescimento da comunidade escolar a
participação e autonomia, necessita que a equipe pedagógica seja articuladora
do trabalho coletivo. Esta equipe tem sua função de mediadora do trabalho
pedagógico, agindo em todos os espaços de contradição para a prática
escolar.
Uma das funções fundamentais da Equipe Pedagógica é articular a
construção do Projeto Político-Pedagógico que na gestão democrática da
escola, pressupõe o funcionamento de diferentes instituições colegiadas que
apresentam características e funções próprias. Entre outras, as instâncias
colegiadas mais freqüentes nas escolas são: o Grêmio Estudantil, o Colegiado
Escolar, APMF e o Conselho de Classe.
A construção do Projeto Político Pedagógico é um ato deliberado de
sujeitos envolvidos com o processo educativo da escola. É o resultado de um
processo complexo de debate, que requer tempo, estudo, reflexão e
aprendizagem de trabalho coletivo.
O Grêmio Estudantil é constituído pelos estudantes e tem como objetivo
promover eventos culturais, artísticos, de lazer e outros. Pode ser constituída
em espaço de socialização, criação de novos conhecimentos, de criatividade,
de desenvolvimento dos sonhos e das utopias.
É um mecanismo democrático. É uma forma dos alunos aprenderem a
resolver seus problemas entre si. É o processo e o produto da ação dos alunos
como sujeitos coletivos concretos (VEIGA, 2003). Possibilita as parcerias, os
intercâmbios, as trocas de experiência, as competições esportivas e maior
visão do mundo, de sociedade e de homem. Os aprofundamentos de eixos
temáticos curriculares terão lugar nas palestras, representações teatrais,
debates e outros de interesse da comunidade escolar sob a coordenação do
Grêmio.
Nesse sentido, é fundamental a participação ativa do Grêmio Estudantil,
uma vez que é uma instância colegiada que pode desempenhar um papel
importante no exercício da prática da democracia na escola.
A INVESTIGAÇÃO E ANÁLISE SOBRE A GESTÃO DEMOCRÁTICA E O GRÊMIO ESTUDANTIL
Para buscar compreender como se efetua a Gestão Democrática e o
Grêmio Estudantil no Colégio Estadual de Campo Mourão-Ensino
Fundamental, Médio, Normal e Profissional foram realizados estudos,
pesquisa, aplicação de questionários e discussões oriundas dos estudos
promovidos com os representantes da comunidade escolar, gestores,
professores, pedagogos, família e alunos lideres, vices lideres de turma e
representantes do Grêmio Estudantil do Colégio. A proposta foi desenvolvida
em 03 (três) módulos.
Para a consecução dos objetivos da Proposta de intervenção
pedagógica foi realizada, com a comunidade escolar, uma pesquisa com
aplicação de questionário para obtenção de dados com a finalidade de verificar
as causas da indisciplina, evasão escolar, reprovação, cidadania e ensino
aprendizagem.
Na aplicação e efetivação das estratégias de ação, trabalhamos com a
seguinte problematização: O gestor e a equipe pedagógica tem efetivamente
promovido discussões, reflexões e estudos sobre Grêmio Estudantil como
instância de participação do aluno no processo educacional?
Para Libâneo (2004) - A gestão democrática participativa valoriza a
participação da comunidade escolar no processo de tomada de decisão,
concebe a docência como trabalho interativo, aposta na construção coletiva
dos objetivos e das práticas escolares no diálogo e na busca de consenso.
Partindo deste pensamento que a comunidade escolar deve participar na
tomada de decisão, desenvolvemos os objetivos do projeto de intervenção
pedagógica em três (03) módulos específicos, subdividido em ações educativas
para compreender qual a percepção e participação dos pais, alunos,
professores, equipe pedagógica, gestores em relação à gestão democrática
participativa e a instância colegiada do grêmio estudantil dentro do processo
escolar.
Inicialmente, no primeiro módulo a proposta foi apresentada aos
educadores na semana pedagógica para que tomassem conhecimento e
pudessem contribuir com sugestões de ações e estratégias para elaboração do
projeto final de qualificação profissional do Programa do Governo do Estado do
Paraná que visa à melhoria da qualidade educacional.
Neste primeiro módulo, realizamos uma pesquisa de campo qualitativa
exploratória com a comunidade escolar: gestores, equipe pedagógica, alunos e
representantes do grêmio estudantil, funcionários e pais, para obtenção de
dados com a finalidade de verificar a efetiva participação da comunidade
escolar nas ações tomadas por parte do gestor, e verificar o envolvimento das
instancias colegiadas, principalmente a participação do grêmio estudantil, no
desenvolvimento da gestão democrática – participativa para o exercício pleno
de cidadania .
Para Trivinos (2006) - o pesquisador planeja um estudo exploratório para
encontrar os elementos necessários que lhe permitam, em contato com
determinada população, obter os resultados que deseja. Um estudo
exploratório, por outro lado, pode servir para levantar possíveis problemas de
pesquisa. (pág.109)
Fundamentado metodologicamente em Trivinos (2006) “... a entrevista
semi-estruturada valoriza a presença do investigador, oferece todas as
perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberdade e a
espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação.” (pág.146).
Utilizamos à metodologia dos estudos qualitativos, conforme Trivinos
(1987), a pesquisa proporciona ao pesquisador aumento da sua experiência
sobre determinado problema. Por ser exploratória, requer o tratamento
cientifico obrigatoriamente presente nos trabalhos de pesquisa. A natureza da
pesquisa será qualitativa, pressupondo a necessidade do pesquisador em
conhecer a realidade, através da reflexão e percepção, para transformá-la em
processos conceituais dinâmicos complexos.
Aplicada por meio de questionários com perguntas semi-estruturadas
com abordagem dos seguintes eixos: dados de Identificação; dados sócio-
econômico; dados referentes ao curso; motivação e expectativa sobre o papel
da escola; a organização colegiada; participação no processo de construção do
projeto político pedagógico e, a participação dos alunos lideres, e
representantes do Grêmio estudantil na organização e participação da gestão
democrática.
Foram aplicados três questionários com o colegiado que foi distribuído
da seguinte forma, grupos 01, 02 e 03.
Grupo 01: gestores, equipe pedagógica, professores e funcionários (34
participantes).
Grupo 02: representantes do grêmio estudantil, alunos lideres – 18
participantes.
Grupo 03: Comunidade escolar (APMF, Conselho Escolar e pais ou
responsáveis). – 6 participantes
No segundo módulo, apresentamos os resultados da aplicação dos
questionários com objetivo de informar dados concretos para retomada de
ações que auxiliem os gestores do referido Colégio, bem como reestruturar
documentos pertinentes, como PPP, Regimento Escolar, Estatuto do Grêmio
Estudantil, Conselho Escolar, melhorando assim, o trabalho pedagógico e a
qualidade de ensino e aprendizagem com a participação de todas as instâncias
colegiadas.
No primeiro grupo 72% dos entrevistados disseram haver participado da
elaboração do projeto político pedagógico, no entanto, isto ocorreu com cerca
de 62% apenas na semana pedagógica. 58% considera que a responsabilidade
em construir o PPP na escola é de todas as instâncias colegiadas, 35% coloca
que é da Comunidade Escolar e 7% que é dos professores. Todos os
entrevistados, 100% disse que o PPP no Colégio é colocado em prática apenas
parcialmente.
Com relação ao conhecimento sobre as diretrizes curriculares e os
conteúdos estruturantes de sua disciplina, questão respondida apenas pelos
professores, 94% respondeu que conhece. 95% dos entrevistados colocou que
não conhece o Regimento Interno do Colégio, pois o mesmo nunca foi
apresentado.
As práticas de gestão democrática existentes no colégio para 100% dos
entrevistados são: eleição de diretor, Conselho Escolar e Grêmio Estudantil. Ao
que se refere à disciplina, 13% disse que a equipe gestora atua de modo a
oferecer apoio aos professores e aos alunos, 34% colocou que cultiva-se o
diálogo e a afetividade, praticando observação e a garantia dos direitos
humanos e 53% as responsabilidades são claramente definidas.
Para 100% dos que responderam as questões só os professores e
membros do Conselho Escolar participam nas ações e decisões da escola. Os
mecanismos e práticas de participação existentes no colégio para 87% é
apenas o diálogo e para 13% o diálogo e a descentralização.
Para 100% dos funcionários a representação no Grêmio estudantil é
inexistente, 90% entre os professores, equipe pedagógica e gestores
consideram importante esta representação para ouvir as expectativas e
anseios dos alunos e para subsidiar ações docentes e 10% também
consideram que a participação é a ponte entre professores, alunos e gestão,
pois por meio do Grêmio Estudantil os professores podem conhecer a visão
dos alunos sobre o processo educativo.
Para todos os entrevistados, os representantes de sala ajudam na
organização do ambiente escolar porque se sentem comprometidos e é um elo
de ligação com os outros alunos.
No segundo grupo, representantes do grêmio estudantil e alunos lideres
25% disseram conhecer o Regimento Escolar e, 75% não conhecem devido a
falta de divulgação. Sobre mecanismos e práticas de gestão democrática na
escola 62% colocou que é o Grêmio Estudantil e 38% que é o Conselho
Escolar e Eleição de Diretor. Para 100% dos entrevistados os alunos não
participam nas ações e decisões da escola porque não são convidados. Na
instituição para 88% há o envolvimento do coletivo escolar nas decisões. Todos
responderam que sabem como funciona o Grêmio Estudantil e 84% participam
do Grêmio Estudantil e 100% considera que o Colégio estimula a participação
dos alunos na formação do Grêmio Estudantil.
No terceiro grupo, comunidade escolar (APMF, Conselho Escolar e pais
ou responsáveis), sendo seis participantes com relação à pergunta se os filhos
gostam de frequentar o colégio 100% disse que sim, mas apenas 34% colocou
que participa das reuniões de pais e 23% participa de outras atividades da
escola como festinhas ou comemorações porque não encontram tempo
disponível. Entre os pais nenhum conhece o Regimento Escolar, já entre os
membros do Conselho Escolar e APMF todos disseram conhecer o Regimento.
Para todos os entrevistados do grupo 03 (três) a eleição de diretor,
Conselho Escolar e APMF são mecanismos e práticas de gestão democrática
existentes no colégio. Os pais disseram que não participam nas ações e
decisões da escola, e os representantes do Conselho Escolar e APMF
colocaram que sempre participam. 100% afirmaram que na gestão do colégio
existem diálogo e transparência. 10% nunca participaram como representante
da APMF e Conselho Escolar e todos sabem o que é o Grêmio Estudantil.
Após a aplicação da pesquisa de campo e a análise dos dados obtidos
por meio dos questionários, foi elaborado com os representantes do grêmio
estudantil o cronograma das atividades e reuniões de estudos programados.
Através da ação, aprofundando nosso conhecimento, formamos grupos
de estudos e de discussões sobre o tema “Gestão Democrática e o Grêmio
estudantil: Exercício de Cidadania no Processo Escolar”, fazendo-se assim
uma fundamentação teórica e uma reflexão sobre como deve ser a participação
da comunidade escolar e do Grêmio Estudantil numa escola democrática.
Os alunos levaram comunicado aos pais ou responsáveis esclarecendo
o objetivo das reuniões e o horário (cronograma), pois as reuniões aconteciam
em contra turno. Para isso foram distribuídos textos aos participantes visando
leitura prévia (em casa) para que depois possa haver a discussão.
Estudamos e desenvolvemos com os grupos as seguintes ações:
Discussão do Estatuto do Grêmio Estudantil do Colégio Estadual Campo
Mourão; Leitura da Lei Federal nº. 7.398 de 4 de novembro de 1985. Com
questões para reflexão e debate:
a) Faça uma reflexão sobre a importância e legalidade do grêmio estudantil.
b) A participação do estudante é importante? Por quê?
c) Qual pode ser o papel dos grêmios estudantis no processo de transformação
social, política e cultural na nossa sociedade?
Vídeo veiculado pela TV Paulo Freire em 12/04/2011
http://www.diaadia.pr.gov.br/. RECREIO COM HISTÓRIA; Gabriele
Sampaio Pedro. A aluna Gabriele nos conta como foi sua participação e de
seus colegas na eleição para o Grêmio Estudantil do Colégio Estadual Julio
Szymanski, de Araucária –Paraná. Agora pense em relação à escola na qual
você estuda ou trabalha: O que precisa melhorar ou mudar? Dê a sua
sugestão. Vídeos “O que são valores” e Vídeo: Fala Sério: Grêmio
Estudantil, como e por que? Após assistir os vídeos os participantes debateram
sobre as seguintes questão:
1 - Em sua opinião como deve ser a atuação dos estudantes hoje?
2 - O que você sabe sobre a história do movimento estudantil?
Texto: Os estudantes e os grêmios estudantis livres. Autor: Wilson Colares da
Costa, licenciado em Ciências Sociais, professor de Sociologia e autor do livro
Grêmio Livre: história e diretrizes – Teófilo Otoni/MG.
Endereço eletrônico: wilsoncolares@hotmail.com
Os alunos representantes do grêmio Estudantil participaram da
aplicação dos projetos educacionais previsto no Projeto Político Pedagógico,
Projeto “Rádio estudantil”, Datas Comemorativas - Festa Julina; Festival da
Canção: Jogos inter-classe e outros.
Os resultados obtidos nas atividades desenvolvidas com os participantes
da comunidade escolar foram divulgados através de cartazes, murais, painéis,
paródias, frases, pensamentos, publicação no site da escola e da rádio da
escola.
É importante ressaltar que toda a ação proposta pela comunidade
escolar teve a representação de todos os segmentos, favorecendo assim, o
amadurecimento dos educandos perante os seus problemas e a experiência
democrática, formando - se desse modo, verdadeiros cidadãos.
PIMENTA (1995, p. 7) a escola pública necessita de um profissional
denominado pedagogo, pois [...] o fazer pedagógico que ultrapassa a sala de
aula e a determina, configura-se como essencial na busca de novas formas de
organizar a escola para que esta seja, efetivamente, democrática.
Analisando a afirmação de autora, percebe-se que a organização do
trabalho pedagógico requer um profissional que coloque em pauta a
necessidade de rever o papel da escola na sociedade capitalista. Um
profissional que trabalhe o coletivo para que a escola cumpra a sua finalidade e
que desempenhe papel importante na luta pela transformação social e cultural.
Enfatizamos a importância de se compreender o papel do pedagogo
como articulador e mediador entre todos os segmentos escolares interessados
na construção de uma melhor qualidade de ensino. Enfim, faz-se necessário
um especialista que desempenhe a mediação entre a organização escolar e o
trabalho docente.
Nesta perspectiva o pedagogo deve promover e participar da articulação
de todos os segmentos da escola, refletindo a teoria sobre as mudanças
necessárias no sistema escolar.
Entretanto, a investigação da realidade escolar é um trabalho a ser
desenvolvido por todos os educadores, e consequentemente, é trabalho de
equipe, que pode ser desencadeado e coordenado pelos pedagogos e
gestores.
No terceiro módulo, apresentação das atividades: Todos os trabalhos
foram registrados em forma de Portfólio, organizados e confeccionados pelos
participantes envolvidos no projeto. A divulgação foi realizada pelo Grêmio
Estudantil a comunidade escolar. Os resultados das atividades desenvolvidas
com os participantes da comunidade escolar foram divulgados pelos
representantes do grêmio estudantil através de cartazes, murais, painéis,
paródias, frases, pensamentos, rádios entre outras, conforme as
possibilidades.
Os participantes fizeram a Produção de portfólio com as atividades
desenvolvidas no Colégio Estadual de Campo Mourão, ficando a produção do
material para consulta e acervo da biblioteca do Colégio e do grêmio estudantil.
A Gestão Democrática envolve a participação e a articulação com todo o
colegiado, criando assim processos de integração da sociedade com a escola
como a formação de Conselho Escolar, APMF, Grêmio Estudantil e a
participação da comunidade na elaboração do Projeto Político Pedagógico da
escola. Estas ações proporcionaram uma ampliação da concepção do Grêmio
Estudantil, bem como da importante função que este exerce dentro do espaço
escolar para busca de alternativas para melhorar o ensino aprendizagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consideramos que através da união entre grêmio estudantil, gestor,
professores e comunidade escolar, é possível promover articulações para
construir alternativas que ponham a educação a serviço do desenvolvimento
das relações verdadeiramente democráticas, pois, todas as suas atividades
são planejadas coletivamente com o corpo escolar qualitativamente.
Isto quer dizer que o PPP não pode ser abstrato, distante da realidade, mas
coeso e contextual. E para organizar e ter um grêmio estudantil atuante na
escola é necessário investir na formação politica-participativa dos alunos. E
fundamental que pedagogo perceba que para cumprir sua função de articulador
e organizador do trabalho pedagógico é necessário o fortalecimento das
instancias colegiadas.
Porém a viabilidade desta realidade, apenas será possível, quando
superarmos as práticas autoritárias que permeiam as práticas educativas, e
estas serem substituídas por processos de participação coletiva, que favoreça
o desenvolvimento humano, oferecendo novas possibilidades de olhares e
ações educativas.
REFERÊNCIAS
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<http://www.diaadia.pr.gov.br>. Acesso em: 28 jun. 2011.
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