universidade federal de mato grosso para além da notícia
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Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde Coletiva
Graduação em Saúde Coletiva
Para além da notícia: características e sentidos das matérias sobre pessoas presas publicadas em dois
jornais online de circulação regional em Mato Grosso
Everton Rossi
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Saúde Coletiva.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Reni A. Barsaglini
Cuiabá-MT 2017
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Para além da notícia: características e sentidos das matérias sobre pessoas presas publicadas em dois
jornais on-line de circulação regional em Mato Grosso
Everton Rossi
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Saúde Coletiva.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Reni A. Barsaglini
Cuiabá-MT 2017
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Аоs meus pais, irmãos, esposa, minha filha е a toda minha família.
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AGRADECIMENTOS
À minha família singular em seu modo de ser, estar e sentir.
Aos amigos de turma do Curso de Graduação em Saúde Coletiva.
À Todos os professores que contribuíram com minha formação acadêmica. Em especial à Prof.ª Dr.ª Reni Barsaglini, por ter me orientado, neste e em outros vários trabalhos.
Aos amigos do Grupo de Pesquisa Saúde, Experiência, Cultura e Sociedade, pelos momentos de discussão e aprendizado.
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Motivo
Neste poema, o eu lírico trata do significado do fazer poético. Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: — mais nada.
Cecília Meireles
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RESUMO
ROSSI, Everton. Para além da notícia: características e sentidos das matérias sobre pessoas presas publicadas em dois jornais on-line de circulação regional em Mato Grosso. 62f. Monografia (Graduação em Saúde Coletiva) – Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá-MT, 2017.
As ideias sobre a população privada de liberdade e a instituição prisão remetem a noções predominantes e circulam na sociedade pelos diversos meios de comunicação. Assim, o uso da imprensa como fonte e documento de análise torna-se pertinente por permitir problematizar a construção de relações sociais e a realidade do cotidiano lembrando, no entanto, os filtros que constituem tais relações expressas por este veículo (o da propriedade dos meios de comunicação, do financiamento, dependente de grandes empresas, pelas críticas realizadas pelos vários grupos de pressão e pelo perfil do jornalista). Trata-se de estudo qualitativo, do tipo documental, cujo tratamento dos dados deu-se pela análise temática, tendo por objetivo apresentar e discutir os sentidos de notícias publicadas em dois jornais eletrônicos de circulação regional, Mato Grosso. Nota-se que, neste meio de comunicação específico, a instituição penitenciária e seu público, entre o período de maio de 2015 e abril de 2016, foram encontradas 40 notícias cujos conteúdos sobressaem e foram organizadas em quatro temas, a saber: ressocialização e reincidência; superlotação e a ineficiência infraestrutural; fatores ligados às rebeliões e fugas, simbolizando as reivindicações e não passividade diante de tal precariedade e; o engajamento de mulheres em atividades criminosas, descrito de maneira geral como subordinado à participação dos homens. As conclusões apontam para o papel da mídia no fortalecimento e legitimação da visão negativa (reportando a precariedade infraestrutural e a marginalização) da instituição prisão, muito raramente revelando os fatores sociais, institucionais e culturais (responsáveis pelo alto índice de aprisionamento e suas nuances) necessários para entender criticamente os fatos (para além da notícia).
Palavras-chave: Prisões; Mídia; Realidade.
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ABSTRACT
ROSSI, Everton. Beyond the news: characteristics and meanings of stories about prisoners published in two online newspapers of regional circulation in Mato Grosso. 62f. Monografia (Graduação em Saúde Coletiva) – Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá-MT, 2017.
The ideas about the population deprived of freedom and the prison institution refer to prevailing notions and circulate in society through the various media. Thus, the use of the press as a source and analysis document becomes pertinent because it makes it possible to problematize the construction of social relations and the reality of daily life, recalling, however, the filters that constitute such relations expressed by this vehicle (the ownership of the media of communication, of financing, dependent on large companies, the criticisms made by the various pressure groups and the profile of the journalist). It is a qualitative study, of the documentary type, whose treatment of the data was given by thematic analysis, with the purpose of presenting and discussing the meanings of news published in two electronic newspapers of regional circulation, Mato Grosso. It should be noted that, in this specific medium of communication, the prison institution and its public, between May 2015 and April 2016, 40 news items were found whose contents stand out and were organized into four themes: re-socialization and recidivism ; overcrowding and infrastructural inefficiency; factors associated with rebellion and escape, symbolizing the claims and not passivity in the face of such precariousness; the engagement of women in criminal activities, generally described as subordinate to men's participation. The conclusions point to the role of the media in strengthening and legitimizing the negative view (reporting on the infrastructural precariousness and marginalization) of the prison institution, very rarely revealing the social, institutional and cultural factors (responsible for the high rate of imprisonment and its nuances) to critically understand the facts (beyond the news). Keywords: Prisons; Media; Reality.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACD – Auxiliar de consultório dentário
AIDS – Acquired Immunodeficiency Syndrome
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
BVS – Biblioteca Virtual em Saúde
DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional
DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis
INFOPEN – Sistema Integrado de Informações Penitenciárias
ISC – Instituto de Saúde Coletiva
LEP – Lei de Execução Penal
MJ – Ministério da Justiça
MT – Mato Grosso
MS – Ministério da Saúde
ONU – Organização das Nações Unidas
PNAISP – Plano Nacional de Atenção Integral à Saúde de Pessoas em Privação de
Liberdade
PNAMPE – Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de
Liberdade e Egressas do Sistema Prisional
PNPD – Programa Nacional de Pós-Doutorado
PNSSP – Política Nacional de Saúde no Sistema Prisional
PROPeq- Pró-Reitoria de Pesquisa
SCIELO – Scientific Eletronic Library Online
SES – Secretaria Estadual de Saúde
SEJUDH – Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos
SUS – Sistema Único de Saúde
UF – Unidade da Federação
UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Características das notícias veiculadas pelos jornais A gazeta e Diário de Cuiabá, entre maio de 2015 e abril de 2016.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................10
2 OBJETIVOS.........................................................................................................14
2.1 Objetivo Geral....................................................................................................14
2.2 Objetivos Específicos.........................................................................................14
PARTE I – REVISÃO DE LITERATURA ................................................................15
3.1 Sobre as prisões................................................................................................15
3.2 A realidade atual do sistema penitenciário brasileiro.........................................17
3.3 Aparatos legais à saúde das pessoas privadas de liberdade ............................21
PARTE II – DELINEAMENTO METODOLÓGICO ..................................................27
4.1 Tipo de estudo ...................................................................................................27
4.2 O jornal como fonte de pesquisa .......................................................................28
4.3 Fontes, coleta, tratamento, organização e apresentação dos dados ................29
4.4 Aspectos éticos ..................................................................................................31
PARTE III - APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...................32
5.1 Características das notícias................................................................................32
5.2 Conteúdo das notícias........................................................................................34
5.2.1 Reincidência e ressocialização..................................................................35
5.2.2 Resistências ao aprisionamento................................................................39
5.2.3 Mulheres e as drogas.................................................................................41
5.2.4 Criminalidade e o domínio das facções.....................................................45
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................49
REFERÊNCIAS ........................................................................................................52
ANEXOS....................................................................................................................57
Anexo 1 – Quadro para sistematização dos dados coletados...................................57
Anexo 2 – Sistematização dos dados coletados no Jornal Diário de Cuiabá e A
Gazeta, entre maio de 2015 e abril de 2016..............................................................58
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1 INTRODUÇÃO
O Brasil ocupa a quarta posição em termos de população privada de
liberdade de acordo com os dados estatísticos do Departamento de Estudos
Penitenciários (DEPEN, 2014), compondo assim, em seu último consolidado em
2014, um total de 607.731 pessoas em privação de liberdade, correspondendo 300
(trezentos) presos para cada 100 (cem) mil habitantes, o qual faz com que o Brasil
perca em números, apenas para os EUA, China e Rússia (MINAYO e
CONSTANTINO, 2015).
Segundo o INFOPEN, em 2014, o Estado de Mato Grosso ocupava a 15ª
posição no ranking com maiores números de pessoas presas, que correspondia a
10.357 presos, e ocupava a 10ª posição segundo taxa de aprisionamento por
Unidade da Federação (UF), prevalecendo um total de 321,2 pessoas por 100 (cem)
mil habitantes (DEPEN, 2014).
Quanto ao perfil dos aprisionados no Estado de Mato Grosso, há
predominância de jovens entre a faixa etária de 18 e 24 anos (33%), negros (85%),
solteiros (43,3%), e quanto à escolaridade, a maioria cursou apenas o ensino
fundamental incompleto (55%). Deste total de presos, há maior envolvimento pelos
crimes de furto e roubo (32%), seguido pelo crime de tráfico (27,3%) e homicídio
(17,4%) (DEPEN, 2014). Levando em consideração os dados apresentados, nota-se
que o número de pessoas em privação de liberdade ao longo dos anos tem
aumentado, revelando-nos uma superlotação nas penitenciárias brasileiras que, por
conseguinte contribui para a manutenção de graves problemas (DEPEN, 2014).
Nesse sentido, há uma deterioração das condições de vida da população
em privação de liberdade que passa a conviver em situação degradante dentro das
penitenciárias (KOLLING et al., 2013). Ainda para esses mesmos autores, as
pessoas em privação de liberdade vivem diante de uma situação de negligência,
esquecidos e isolados pelo Estado, convivendo em um ambiente considerado
insalubre e insuficiente quando se trata em oferta de serviços de saúde.
Dentre os propósitos da pena de privação de liberdade, está o
impedimento da prática criminal, prisão de indivíduos, bem como sua reabilitação,
por vezes parecendo ser o maior desafio encontrado, por diversas circunstâncias.
Melhores condições infraestruturais, de organização e de serviços são
indispensáveis para alcançar os objetivos propostos (DAMAS, 2012).
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O crescimento populacional nas penitenciárias e as questões ligadas à
desigualdade social vêm tencionando as instituições responsáveis para a elaboração
de políticas sociais que visem melhorar as condições de vida dos presos no sistema
prisional. No que tange à saúde, nas últimas três décadas foram desenvolvidas
políticas específicas para esse público (LERMEN et al., 2015).
Historicamente existem três marcos fundamentais das políticas de saúde
voltadas à população em privação de liberdade: a Lei de Execução Penal (LEP) de
1984; o Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário (PNSSP), de 2003 e a
Política Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional
(PNAISP), de 2014 (SILVA, 2015).
Conforme supracitado existe um aparato legal que viabiliza as pessoas
privadas de liberdade o acesso aos serviços de saúde e, de acordo aos princípios do
SUS. No entanto, o julgamento moral em torno da criminalidade é de que a quebra
de um pacto social destitui a pessoa de seus direitos, inclusive o direito à saúde
(MARTINS et al., 2014). Essa opinião pública, historicamente construída, perpassa a
efetivação dos direitos das pessoas privadas de liberdade e constitui um desafio
para a efetivação das políticas de saúde voltadas para essa população, no âmbito
do Sistema Único de Saúde (SILVA, 2015).
Considerando que as pessoas ao serem inseridas no sistema prisional
levam consigo seus problemas de saúde, muitas vezes agravados pela precariedade
do local, alguns questionamentos são de extrema importância e relevância para as
políticas no âmbito do SUS.
Assim, para além de elementos concretos, materiais há também
elementos simbólicos que podem comprometer (ou acentuar, agravar) a saúde e a
atenção às pessoas privadas de liberdade, entre os quais se destacam neste
estudo, as ideias do senso comum sobre esta população porque se entende que não
se dissociam das práticas discriminatórias propriamente, mas se retroalimentam.
As ideias sobre a população privada de liberdade e a instituição prisão
remetem a noções predominantes e circulam na sociedade pelos diversos meios de
comunicação tais como: jornais, revistas, televisão, internet, dentre outros. Assim, o
uso da imprensa como fonte e documento de análise torna-se pertinente por permitir
problematizar a construção de relações sociais lembrando, no entanto, os filtros que
constituem tais relações expressas por este veículo, tais como: o da propriedade dos
meios de comunicação, do financiamento, dependente de grandes empresas, pelas
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críticas realizadas pelos vários grupos de pressão e pelo perfil do jornalista
(Azevedo, 2006). As regras de organização da imprensa produzem o que são vistos
como fatos e acontecimentos, pois envolve processo de seleção de temas,
hierarquia no destaque na notícia, influenciado pelo perfil cultural e político da
equipe, linha editorial, entre outros (SOUZA, 2007).
Neste sentido, há elementos invisíveis que organizam o percebido
determinando o que se vê ou não e, no caso da imprensa, o que se registra como
acontecimento constituindo-se em referência para transformá-lo em notícia.
Tais notícias são carregadas de características e de sentidos que nos dão
pistas de como se configura atualmente a situação de pessoas em privação de
liberdade e as possíveis consequências no processo saúde/doença, permitindo uma
reflexão para além do que está escrito para apreendê-las nas entrelinhas de uma
notícia.
Em síntese, em termos de sua determinação causal, pode-se dizer que, o
processo saúde-doença representa um conjunto de variáveis que acabam
condicionando o estado de saúde e de doença individual e coletivamente. Assim, a
atual realidade do sistema penitenciário nos dá ideia de que por uma diversidade de
aspectos, tais como: a precariedade infraestrutural, má alimentação, falta de
oportunidades de escolarização, bem como de trabalho, dentre outras, parecem
revelar que a saúde dos presos está de certa forma comprometida.
Nota-se que as produções científicas pelo enfoque da Saúde Coletiva,
sobre saúde penitenciária são escassas. GOIS et al. (2012) realizaram uma revisão
sistemática, tendo por objetivo principal verificar a temática e o foco que as
pesquisas vinham abordando e assim identificaram algumas lacunas. Diante do
exposto, deparou-se com uma série de estudos epidemiológicos (quantitativos) em
detrimento aos dos estudos de domínio qualitativo. É nesse sentido que os referidos
autores sinalizam que a problemática se torna um “campo aberto e amplo a ser
explorado” por outras pesquisas no âmbito da Saúde Coletiva.
Assim, este trabalho foi organizado em duas partes. Na primeira,
abordamos o delineamento teórico/metodológico deste estudo, inicialmente partindo
das contribuições dos estudos que foram revisados, na tentativa de aproximarmos
da atual realidade do sistema prisional, mais propriamente das pessoas em privação
de liberdade. Nesse sentido trazemos estudos que abordam os fatores ligados à
entrada nas prisões, bem como das reincidências; superlotação e fatores
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infraestruturais precários que motivam movimentos de rebeliões e fugas; o poder da
criminalidade dentro e fora das prisões, bem como o aumento do número de
mulheres presas nos últimos anos. Seguindo, trazemos um marco jurídico sobre a
garantia do direito à saúde aos presos, visto que, os fatores anteriormente
mencionados estão inteiramente ligados ao processo de adoecimento dessas
pessoas.
A segunda parte apresenta os resultados e a discussão. Aqui tratamos de
uma lista de situações empíricas da realidade. A partir das categorias/temas
elaboradas, emergiram os sentidos mais amplos que comportam tais situações.
Neste sentido, há elementos invisíveis que organizam o percebido determinando o
que se vê ou não e, no caso da imprensa, o que se registra como acontecimento
constituindo-se em referência para transformá-lo em notícia.
O objetivo deste trabalho é caracterizar as notícias segundo categorias
temáticas sobre pessoas em privação de liberdade, publicadas em matérias de dois
jornais online de circulação regional no Estado de Mato Grosso e entender
criticamente os acontecimentos transformados em notícias (para além da notícia)
que requer considerar os processos sociopolíticos e culturais nos quais se inserem.
Esta pesquisa se insere no Projeto Matricial “Fortalecimento da linha de
pesquisa: Diversidade sociocultural, ambiente e trabalho”, vinculado ao Mestrado em
Saúde Coletiva do ISC/UFMT” e financiado pela CAPES – PNPD/2011, processo nº
23028.007708/2011, sendo parte do subprojeto “Saúde Penitenciária: experiência de
profissionais atuantes na atenção em unidades prisionais de Cuiabá-MT e nas ações
no nível central” (BARSAGLINI e col., 2013).
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2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Caracterizar as notícias quanto aos sentidos sobre pessoas em privação de
liberdade, publicadas em matérias de dois jornais online de circulação regional em
Mato Grosso.
2.2 Objetivos Específicos
Levantar as notícias veiculadas no último ano, em dois jornais online de
circulação regional sobre o assunto “presos”;
Classificar as notícias conforme respectivos núcleos de sentidos.
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PARTE I
3 REVISÃO DE LITERATURA
Vislumbrando a configuração da atual realidade do Sistema penitenciário,
no que tange os aspectos ligados as questões sociais e de ordem jurídica, foi
necessário mergulhar em livros que contemplassem a temática do estudo, como
também em bases de dados da Scientific Eletronic Library Online (SCIELO),
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), bem como em bancos de dissertações e teses
da CAPES.
Esta revisão de literatura está organizada baseada em três tópicos: bases
históricas sobre a prisão; situação atual da realidade em que se encontra o Sistema
Penitenciário Brasileiro, em especial, os direitos vigentes para pessoas em privação
de liberdade, considerando os aspectos legais em relação à garantia do acesso à
saúde para essa população em específico.
3.1. Sobre as prisões
As prisões sustentam-se, basicamente em dois princípios: privação de
liberdade para os que infringem as leis, ou seja, nas normas e regras socialmente
acordadas bem como na transformação que presumidamente proporciona aos
indivíduos, ao ter como objetivo principal a ressocialização. Nesse sentido, quem
conjeturou a prisão como uma instituição que ressocializa, supôs que seria possível
privar as pessoas de liberdade e transformá-las (MINAYO e CONSTANTINO, 2015).
A obra Vigiar e Punir, de Michel Foucault, relata as formas impactantes de
penalidades até meados do século XVIII. Nessa época, o sistema de punir era
conduzido pela encenação do suplício em público, cujo efeito era de imprimir no
corpo do condenado, o sofrimento que o mesmo tinha causado à população. Havia
uma série de punições que levavam à morte do condenado, quais sejam o:
enforcamento, arrebentamento do corpo, tortura, estrangulamento e queima do
corpo em ato público (FOUCAULT, 2011).
Na França o pelourinho foi suspenso em 1789, mas as penas de suplício
continuaram a ser aplicadas nos subsolos das prisões até os anos 1970
(FOUCAULT, 2011).
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As prisões “modernas” apresentada por Foucault, nascem com a
transformação da sociedade do séc. XVIII. São mudanças de paradigma que
envolveram as dimensões sociais, políticas, jurídicas e científicas, criando uma nova
postura frente ao direito penal e suas consequências. FOUCAULT (2011, p. 19)
ainda corrobora ao afirmar que, “desaparece, destarte, em princípio do século XIX, o
grande espetáculo da punição física: o corpo supliciado é escamoteado; exclui-se do
castigo a encenação da dor”.
Dessa maneira, o corpo aí se encontra em posição de instrumento; pelo
encarceramento, pelo trabalho obrigatório, tem por finalidade privar o indivíduo por
seu direito à liberdade, colocando o corpo num sistema de coação, de obrigações e
de privação, não mais fazendo com que o sofrimento corporal seja um elemento
constitutivo da pena (FOUCAULT, 2011).
Para FOUCAULT (2011, p. 217), “a prisão é menos recente do se diz
quando se faz datar seu nascimento dos novos códigos”. Sua função consiste em
reintegrar pessoas ao convívio social, que modifiquem seu comportamento e não
permita mais, segundo ele, se constituir:
fora do aparelho judiciário, quando se elaboram por todo o corpo social, os processos para repartir os indivíduos, fixá-los e distribuí-los espacialmente, classificá-los, tirar deles o máximo de tempo e o máximo de forças, treinar seus corpos, codificar seu comportamento contínuo, mantê-los numa visibilidade sem lacuna, formar em torno deles um aparelho completo de observação, registro e notações, constituir sobre eles um saber que acumula e se centraliza (FOUCAULT, 2011, p. 217).
GOFFMAN (1961) define a instituição total “como um local de residência e de
trabalho onde um grande número de pessoas em situação semelhante, separados
da sociedade mais ampla por um período considerável de tempo, levam uma vida
fechada e formalmente administrada”
O autor explica que a prisão atua como uma instituição total
caracterizando-a pelo seu “fechamento” mediante barreiras que são levantadas para
segregar os internados do contato social com o mundo exterior atua na mortificação
do eu à medida que uma série de intervenções são realizadas sobre seus corpos
para que rompam com o mundo externo e, a partir de processos padronizados,
incorporem as regras da instituição
Entretanto, o autor enfatiza que esse processo de mortificação do eu não
ocorre sem resistências e se situa de forma concomitante, pois, ao adentrar na
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instituição o interno recebem diversos tipos de instrução formais e informais.
Aprende que existe as “regras da casa” e com elas alguns pequenos prêmios, que
lhe servem para acalmar suas angústias e ainda, aprende sobre a dinâmica dos
castigos. Assim, a pessoa privada de liberdade vai construindo seu mundo dentro da
instituição, culminando na mortificação do eu (GOFFMAN, 1961).
Ainda para GOFFMAN (1961), apesar do discurso de ressocialização e ao
controle social, as prisões são instituições totais que visam a proteção da sociedade
contra o crime e os perigos de ruptura social. Situando os enunciados de Foucault, a
cultura do medo e dos castigos trazidos no século XVIII, estabeleceram fortes
influências na formação do Sistema Penitenciário Brasileiro, a partir das
transgressões aos direitos humanos e dos castigos físicos, que comumente são
encontradas nas penitenciárias (FOUCAULT, 2011).
3.2. A realidade atual do sistema penitenciário brasileiro
Afirma-se que a população em privação de liberdade no Brasil, vive
abaixo da linha de dignidade mínima, não sendo garantidos a ela seus primordiais
direitos sociais, tais como à educação, cidadania, trabalho em particular aquela
(política de saúde) que lhe poderia conferir uma convivência saudável, no plano de
um “mínimo existencial”, pela dificuldade de articulação entre o executivo e o
judiciário e a efetivação de políticas públicas baseadas nas necessidades dessa
população (SOARES FILHO e BUENO, 2016).
Ainda para SOARES FILHO e BUENO (2016) o fenômeno do
aprisionamento, apresentados nos dois sistemas – “prisional e de justiça” se
retroalimentam; por um lado o sistema de justiça criminal contribui para o
encarceramento em massa, e por outro o executivo (sistema prisional) não tem nem
sequer condições de manter a população privada de liberdade minimamente,
violando assim, os seus direitos humanos. Essa díade configura-se em um grande
déficit de vagas, cuja superlotação inviabiliza as ações das políticas públicas
existentes, gerando iniquidades e vulnerabilizando a população privada de liberdade.
Dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias
(INFOPEN) apresenta o crescimento do número de pessoas privadas de liberdade
entre o período de 1990 a 2014, representando um percentual de 575%. Desde
2000, a população prisional vem crescendo em média, 7% ao ano, totalizando assim
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um crescimento de 161%, valor este, dez vezes maior que o crescimento total da
população brasileira (DEPEN, 2014).
No que diz respeito à realidade do sistema penitenciário brasileiro,
recorre-se às contribuições de ASSIS (2007) e anuncia em seu estudo alguns
indícios que indicam a fragilidade do Sistema, dentre os quais, destacam-se as
cotidianas rebeliões e fugas dos presos, lembrando, no entanto, ter outras causas.
Tais fatos evidenciam tanto uma resposta, quanto um alerta às autoridades para as
condições desumanas a que os presos são submetidos, apesar da legislação
protetiva existente.
Questões relacionadas à saúde e a violação dos direitos dos presos,
também foram identificadas no exercício de análise apresentada por ASSIS (2007),
além desses, outros aspectos relacionados ao perfil dos presos em várias cidades
do Brasil sinalizam problemas parecidos, no que se refere às variáveis
socioeconômicas e de saúde mental e pública, como se verificou em outros
estudiosos da área, tais como: CARVALHO et al. (2006); SILVA (2015), DELDUQUE
(2012); MARQUES (2013); DAMAS e OLIVEIRA (2013); OLIVEIRA (2015).
ROCHA (2006) analisa especificamente a superlotação, precariedade e
insalubridade nos estabelecimentos prisionais, como também todas as suas mazelas
e problemas decorrentes, principalmente por fatores socioeconômicos e políticos.
Ainda, além do problema da superlotação, constatou a impossibilidade de resultados
satisfatórios no tocante a ressocialização.
Problemas como a superlotação, precariedade e insalubridade das celas
são apontados, também, por CARVALHO et al. (2006) em sua pesquisa no Rio de
Janeiro, por DAMAS e OLIVEIRA (2013) em Santa Catarina, bem como por
MARQUES (2013) e OLIVEIRA (2015) no Sergipe. Assim, verifica-se que em
diferentes regiões do Brasil a realidade supracitada do preso é bastante próxima.
Tais situações tem favorecido um ambiente propício à proliferação de epidemias e
ao contágio de doenças.
Sabe-se que esses fatores estruturais, aliados à má-alimentação dos
presos, ao uso de drogas, o sedentarismo e a falta de higiene nas penitenciárias tem
comprometido a condição sadia do preso que adentra, podendo o mesmo ao sair da
prisão, ser acometido por uma doença ou, mesmo tornar sua resistência física e
saúde fragilizada (KOLLING et al. 2013).
19
Em entrevistas com pessoas em privação de liberdade, FERREIRA (2011)
evidencia que o vício da droga é um fator impulsionador para a criminalidade. De
acordo com os próprios presos, para manter o vício, utilizavam, fora da prisão, de
práticas delituosas, tais como furto e roubo, principalmente.
LERMEN et al. (2014) corroboraram com tal ideia ao relatarem que, o uso
exacerbado dessas substâncias, incide fortemente sobre a população privada de
liberdade, valendo-se destacar também, que o consumo de drogas ilícitas pode-se
iniciar antes do encarceramento e estar forte e diretamente ligado à conduta delitiva.
A revisão de literatura realizada ainda permitiu identificar que além das
questões referentes ao alto índice de drogadição nas penitenciárias, aliado a esse
aspecto, há também um grande número de mulheres adentrando ao mundo do
crime, pois em sua maioria são elas que fornecem esse tipo de serviço aos presos.
Apesar das mulheres em geral, terem ocupado expressivamente o espaço
público, sua participação no crime é considerada pequena quando comparada ao
homem. As mulheres presas representam menos de 10% do total da população
prisional do país, não obstante de 2000 à 2014 houve um expressivo aumento de
567,4% do número de mulheres presas (BRASIL, 2014).
A prevalência de certo perfis atesta a discrepância das tendências de
encarceramento de mulheres. Segundo dados consolidados do Levantamento
Nacional de Informações Penitenciárias- INFOPEN MULHERES (BRASIL, 2014),
das 37.380 mulheres privadas de liberdade em junho de 2014, 11.269 aguardam a
julgamento representado 30,1% de mulheres presas. Em sua maioria são jovens
(50% têm entre 18 e 29 anos), negras (68%), solteiras (57%), de baixa escolaridade
(50% não concluíram o ensino fundamenta) e estão presas por algum envolvimento
com o tráfico de drogas (58%).
Sem distinções de gênero, o fato é que, no cenário atual, o que se
vislumbra é a massiva participação de mulheres em delitos ligados ao tráfico de
drogas. A inserção da mulher no tráfico pode estar diretamente atrelada a fatores
sociais, relacionados ao desemprego, pela responsabilidade do sustento da família,
além do envolvimento afetivo com o companheiro que consome drogas ilícitas
(PEREIRA e ÁVILA, 2013).
Em sua análise na literatura criminológica BARCINSKI (2012) destaca o
papel masculino, em especial, os parceiros afetivos, na iniciação de suas parceiras
em atividades delituosas, principalmente no tocante ao tráfico de drogas. Os estudos
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que dão enfoque às mulheres referem seu papel coadjuvante no processo do tráfico,
destacando o envolvimento afetivo com homens de seu convívio social, sendo
poucas as situações nas quais aparecem sós, como em decorrência de sua própria
escolha.
No que concerne aos direitos humanos dos presos na sua execução da
pena, apesar de estarem previstos em diversos estatutos legais, o que tem
acontecido diariamente é a violação desses direitos, assim como a ‘total
inobservância das garantias legais previstas na execução das penas privativas de
liberdade’ (ASSIS, 2007, p. 75).
Na prisão, dentre várias outras garantias que são desrespeitadas, o preso
sofre principalmente com a prática de torturas e agressões físicas (SILVA e
DELDUQUE, 2012). Tais agressões, ora vem dos outros presos, ora dos próprios
agentes do ambiente prisional, o que reflete a má qualificação e preparação dos
profissionais que lidam diretamente com os presos em cárcere. ASSIS (2007)
corrobora tal proposição ao afirmar que:
O despreparo e a desqualificação desses agentes fazem com que eles consigam conter motins e rebeliões carcerárias somente por meio da violência, cometendo vários abusos e impondo aos presos uma espécie de “disciplina carcerária” que não está prevista em lei. Na maioria das vezes esses agentes acabam não sendo responsabilizados por seus atos e permanecem impunes (ASSIS, 2007, p. 75).
Tal situação é ainda mais agravada quando essas práticas de agressões
vêm dos presos e seus pares. Sobre esse aspecto, ASSIS (2007) sinaliza:
Entre os próprios presos à prática de atos violentos e a impunidade ocorrem de forma ainda mais exacerbada. Homicídios, abusos sexuais, espancamentos e extorsões são uma prática comum por parte dos presos que já estão mais “criminalizados” dentro do ambiente da prisão, os quais, em razão disso, exercem um domínio sobre os demais, que acabam subordinados a essa hierarquia paralela. Contribui para esse quadro o fato de não estarem separados dos condenados primários os marginais contumazes e sentenciados a longas penas (ASSIS, 2007, p. 75).
É importante dizer que também CARVALHO et al. (2006), MARQUES
(2013), DAMAS e OLIVEIRA (2013) e OLIVEIRA (2015) apresentam em seus dados,
a prática de violência entre agentes prisionais e presos, e destes últimos com seus
pares dentro das penitenciárias brasileiras. As discussões desses estudiosos se
aproximam ainda mais, quando os mesmos relatam que por vezes, os presos que
detêm esses ‘poderes paralelos’ dentro da prisão não são denunciados e, quase
21
sempre, também permanecem impunes em relação a suas ações e atitudes. Para
ASSIS (2007, p. 76), tal situação revela um fato comumente presente na prisão: “de
que, na prisão, o que rege é a “lei do mais forte”, e a “lei do silêncio”.
A soma de todos esses aspectos desfavoráveis referentes à prisão, assim
como à falta de segurança presente nesses ambientes tem levado a um alto nível de
fragilidade do sistema, o que revela a regularidade de rebeliões e fugas de presos.
De acordo com SALLA (2006), a partir de uma análise sociológica, as
rebeliões são articulações sincronizadas, lideradas por presos pertencentes a uma
determinada organização criminosa interna à penitenciária. Para ele, as rebeliões
ocorrem como uma forma de emergência de movimentos rebeldes devido as
privações impostas aos presos, ou seja, são formas de protestos e inconformismo
contra as imposições das mais variadas situações adversas, tais como: a
superlotação nas celas, má qualidade na alimentação, maus tratos, dentre outros.
Assim, as rebeliões se constituem em formas violentas de organização
dos presos, que buscam maior visibilidade social, cívica e política por parte das
autoridades afins. RAMALHO (2008) reafirma essa ideia ao dizer que o déficit no
número de vagas, precariedade infraestrutural, pedindo demanda de melhores
condições de assistência social e jurídica, têm sido responsáveis pelos constantes
movimentos de resistência e revolta por parte de pessoas em privação de liberdade.
Para ASSIS (2007), os fatos citados acima, juntamente com o elevado
número de “reincidência do preso”, têm contribuído de forma significativa para a
chamada “falência política prisional”. Neste sentido, sobrescreve ainda.
além da violação de direitos dentro do cárcere, chama a atenção para a ineficácia do sistema de ressocialização do egresso prisional já que, em média, 90% dos ex-detentos voltam a delinquir e acabam retornando à prisão. Conclui que a principal solução para o problema da reincidência é o efetivo apoio ao egresso, pois, ao permanecer a situação atual, o egresso desassistido de hoje continuará sendo o criminoso reincidente de amanhã (ASSIS, 2007, p. 74).
FERREIRA (2011) destaca também que alguns fatores favorecem a
permanência e o retorno ao crime, tais como: a dificuldade de inserção no mercado
de trabalho, por questões de preconceito e da discriminação, buscando no crime a
garantia pela sobrevivência. Essa é uma questão importante a ressaltar neste
cenário, pois grande parte das pessoas em privação de liberdade, durante suas
vidas, foram excluídos do mercado formal de trabalho, vivenciando processos de
exclusão social, quais se configuram como determinantes do processo saúde-
22
doença (MINAYO e CONSTANTINO, 2015). Assim, diante das adversidades que
lhes são apresentadas fora da prisão, à garantia de uma melhor condição de vida,
torna-se quase nula e, pela necessidade, acabam novamente infringindo as leis
impostas e retornam à prisão (FERREIRA, 2011).
Segundo FOUCAULT (2011), já no século XIX, se faziam críticas à prisão
que se resumiam nos seguintes pontos: - as prisões não diminuem a taxa de
criminalidade; - a detenção provoca a reincidência; - a prisão não pode deixar de
fabricar delinquentes, - a prisão torna possível, ou melhor, favorece a organização
de um meio de delinquentes, solidários entre si, hierarquizados, prontos para todas
as cumplicidades futuras; - as condições dadas aos detentos liberados condenam-
nos fatalmente à reincidência; - a prisão fabrica indiretamente delinquentes, ao fazer
cair na miséria à família do detento. Na verdade, estas formulações críticas têm se
repetido até hoje, e também se verificam no Brasil.
3.3. Aparatos Legais à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade
As políticas sociais podem ser definidas como ações de um modelo de
proteção social de executariedade do Estado, cuja função seria redistribuir os
benefícios sociais, que se associam a um conjunto de direitos sociais, dentre eles o
da saúde, buscando assim, diminuir as desigualdades (LERMEN et al., 2014).
Datado em 1955, o documento adotado pelo primeiro Congresso das
Nações Unidas (ONU) e aprovado pelo Conselho Econômico e Social das Nações
Unidas no tocante a prevenção do crime e tratamento dos delinquentes. Em tal
documento, o Conselho aprovou regras mínimas para o tratamento de reclusos,
dentre elas: recomendações acerca da higiene, alimentação e de serviços médicos
(ONU, 1955). Este, torna-se assim, mesmo que facultativamente, condições mínimas
aos presos.
Buscando a garantia dos direitos a população prisional, na década de
1980, mais precisamente em 1984, foi constituída a Lei de Execução Penal (LEP) nº
7.210, que previa o atendimento à saúde da população privada de liberdade.
Conforme rege a Lei de Execução Penal, em seus artigos 10 e 11, a
assistência ao preso e ao internado, é dever do Estado e deverá ser prestada de
diversas formas, tais como: material, à saúde, jurídica, educacional, social e
religiosa, assim como, dar condições para que a pessoa em privação de liberdade
23
tenha acesso aos serviços de saúde que atendam às suas necessidades pessoais
(BRASIL, 1984).
De acordo com a LEP, é previsto que os profissionais de saúde do
Sistema Penitenciário deverão compor uma equipe multidisciplinar. Conforme o
artigo 14 desta Lei, a assistência à saúde do preso e do internado, seja de caráter
preventivo e/ou curativo, prevê o atendimento médico, odontológico e farmacêutico
voltados aos presos, e quando a Instituição de Privação de Liberdade não estiver
aparelhada para prover tal assistência, esta será prestada em outro local, mediante
autorização da direção da instituição (BRASIL, 1984).
No entanto, é na a 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, que o
conceito ampliado de saúde é definido, tal que: “saúde é a resultante das boas
condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho,
transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços
de saúde” (BRASIL, 1988). Com a Constituição de 1988, a saúde passou a ser um
direito social, intrínseca à condição de cidadão, sendo de responsabilidade do poder
público a obrigatoriedade de garanti-lo: A saúde é direito de todos e dever do
Estado, disposto no art. 196. Esta conquista, de cunho político e social pode ser
atribuída pelas diversos esforços e lutas empreendidos pelo movimento da Reforma
Sanitária, entre o período de 1976 e 1988 (PAIM, 2013). Assim, essa definição nos
leva a reconhecer o ser humano como um ser integral e a saúde como qualidade de
vida.
Outro conceito importante de ser destacado é o de cidadania que a
Constituição assegura e pode ser traduzido nas condições de vida e da participação
social da população, expressando que: "A soberania popular será exercida pelo
sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos (…)" (art.
14, CF). Essas condições que são historicamente determinadas devem, por sua vez,
considerar as desigualdades, diversidades étnico-racial e cultural presentes na
sociedade brasileira (BRASIL, 2004). Assim, foram unificados à Constituição, os
princípios de saúde; universalidade do acesso, integralidade, descentralização e
participação social enquanto direitos de cidadania (FERREIRA, 2008).
Aprovada a Constituição, a regulamentação do Sistema Único de Saúde,
necessitava de uma regulação específica, a fim de esclarecer como aplicar essas
orientações gerais. Desta forma, foi regulamentada e aprovada a lei 8.080 em 19 de
setembro de 1990. Porém, por sofrer diversos vetos do presidente da República,
24
passou a ser complementada três meses após, pela lei 8.142/90 (PAIM, 2013),
dispondo “sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de
Saúde/SUS e sobre as transferências de recursos financeiros na área da saúde”
(BRASIL, 1990).
Este curto resgate apresenta os principais marcos legais conquistados em
prol de benefícios e ações de saúde enquanto direito à todos os cidadãos, válidos
não apenas somente para população em liberdade, mas também aos privados de
liberdade, que mantém este direito conservado, “ a circunstância ou o estado preso
não faz com que ele perca a condição de humano e de cidadão e que,
necessariamente, precisa fruir e gozar de saúde, embora nas condições atuais do
sistema prisional” (KOLLING et al., 2013). Espera-se que, desta forma, que tais
ações/serviços de saúde, promoção e prevenção, atinjam também a população em
privação de liberdade.
No entanto, passado décadas das primeiras iniciativas de assegurar os
direitos à comunidade privada de liberdade, somente em 2003, foi instituída pela
Portaria Interministerial nº 1.777, o Plano Nacional de Saúde no Sistema
Penitenciário (PNSSP). Tratou-se de um trabalho conjunto construído por diversas
áreas técnicas dos Ministérios da Saúde e da Justiça, orientados pelos princípios e
pelas diretrizes do SUS, na tentativa de minimização de agravos e doenças que
acometiam a população penitenciária. Esse Plano contempla, essencialmente, a
população recolhida em penitenciárias, presídios, colônias agrícolas e/ou
agroindustriais, e hospitais de custódia e tratamento, não incluindo presos do regime
aberto e presos provisórios, recolhidos em cadeias públicas e distritos policias
(BRASIL, 2003).
O PNSSP delibera como prioridades, a implantação de ações de
promoção da saúde, a implementação de medidas de proteção específicas para
hepatites, tuberculose, hanseníase, diabetes, hipertensão, DST/AIDS e agravos
psicossociais decorrentes do confinamento, a distribuição de preservativos e
insumos para a redução de danos associados ao uso de drogas, bem como garantia
de acesso aos demais níveis de atenção à saúde (MARTINS et al., 2014).
Em linhas gerais o plano presta assistência integral resolutiva, contínua e
de boa qualidade às necessidades de saúde da população penitenciária,
contribuindo para o controle e/ou redução dos agravos de maior incidência que
acometem a população penitenciária. Também define e implementa ações e
25
serviços consoantes com os princípios e diretrizes do SUS, proporcionando o
estabelecimento de parcerias por meio do desenvolvimento de ações intersetoriais,
por consequência contribui para a democratização do conhecimento do processo
saúde/doença, da organização dos serviços e da produção social da saúde,
provocando o reconhecimento da saúde como um direito da cidadania (BRASIL,
2003).
De acordo com o Plano, cada unidade prisional deve criar um serviço de
saúde que irá compõe a Rede de Atenção à Saúde (RAS). Estabelecimentos com
mais de 100 pessoas presas devem contar com uma equipe de atenção básica
composta por médico, enfermeiro, odontólogo, psicólogo, assistente social, auxiliar
de enfermagem, e auxiliar de consultório dentário (ACD), para atendimentos de até
500 presos. Os profissionais devem atuar de forma interdisciplinar, cumprindo a
jornada de trabalho de 20 horas semanais (BRASIL, 2003).
Observa-se, então, que a inclusão de outros profissionais de saúde, como
os psicólogos, enfermeiros e assistentes sociais, por exemplo, mostra uma visão
mais ampliada de saúde, não mais médico-centrada, como previsto na LEP.
A inserção de uma equipe de profissionais de saúde mais integrada, fez
com que o funcionamento e as fronteiras das prisões fossem colocados em questão,
visto que trouxe a necessidade de vincular as unidades prisionais com a rede de
serviços em saúde, redes intersetoriais e até mesmo com a família da pessoa
privada de liberdade. Ressalta-se que a inclusão da população penitenciária em
outros serviços e políticas de saúde está alicerçada pelo princípio de integralidade
do SUS e representa um passo relevante dado pelo Estado e pela sociedade
(LERMEN et al., 2014).
Assim, houve legalmente a inserção de profissionais de saúde ofertando
atendimentos às pessoas em privação de liberdade, reforçando o direito garantido e
instituído na Constituição de 1988 no Art.196 (BRASIL, 1988), incluindo, também,
pessoas privadas de liberdade. Vislumbra-se, então a proposição que dispõe sobre
“as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e
o funcionamento dos serviços correspondentes” (BRASIL, 1990).
Em Mato Grosso, o PNNSP foi contemplado e habilitado em 2004, e
conta com equipes de saúde em seis unidades prisionais de regime fechado, sendo
a gestão realizada em conjunto entre a Secretaria Estadual de Saúde (SES/MT) e
Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos (SEJUDH/MT), a qual conta com
26
uma gerência vinculada à Superintendência de Gestão Penitenciária (BARSAGLINI,
KEHRIG, ARRUDA, 2015) sendo que a partir de 2015 com a publicação do Decreto
297 que alterou a estrutura organizacional da SEJUDH/MT, e foi criada uma
Diretoria de Saúde (MATO GROSSO, 2015).
De acordo com SILVA (2015), o Plano tem seu valor por ser o primeiro
impulso para organização de uma atenção à saúde no ambiente prisional e traz
importantes modificações em relação à LEP. Um ponto a ser destacado é a ênfase
na prevenção e na promoção de saúde considerando a realidade de superlotação e
insalubridade do sistema prisional. Trata-se de um marco de suma importância para
a garantia de direitos e da universalização do SUS, para que as políticas já
existentes alcancem essa parcela da população. Assim, podemos dizer que além de
ser um marco legal, o PNSSP representa uma nova perspectiva de saúde no
sistema penitenciário.
Recentemente através da Portaria Interministerial nº 01 de 02 de janeiro
de 2014, instituiu-se a “Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas
Privadas de Liberdade” (PNAISP) no âmbito do Sistema Único de Saúde, com
objetivo de garantir o acesso dos presos do sistema prisional ao cuidado integral no
SUS, visando a ampliação dos serviços de saúde internos às penitenciárias, no
intento de melhorar a assistência à saúde de pessoas em privação de liberdade
(BRASIL, 2014).
Essa Política é fruto de um Grupo de Trabalho (GT) criado pelos
Ministérios da Saúde e da Justiça, o qual, em 2012 e 2013, uniu diferentes atores na
construção dessa política. O GT “Do plano à política: garantindo o direito à saúde
para todas as pessoas do sistema prisional” está ligado ao Programa de Direito
Sanitário da Fiocruz-Brasília e é composto pela gestão federal, pela academia e
pelas organizações de proteção às pessoas privadas de liberdade (SILVA, 2015).
Em abril de 2014, através da Portaria nº 482, é normatizada e
operacionalizada a PNAISP. Ela prevê os serviços de saúde em três diferentes
constituições, divididas e definidas pelo número de pessoas em cada complexo
penitenciário e/ ou unidades prisionais – até 100 pessoas (tipo I), de 101 a 500
pessoas (tipo II) e de 501 a 1200 pessoas (tipo III). Todas contam com uma equipe
multidisciplinar composta por cirurgião dentista, enfermeiro, médico, técnico de
enfermagem, técnico de higiene bucal, podendo ser acrescida, dependendo dos
tipos anteriormente citados, de outros profissionais como médico psiquiatra,
27
assistente social, farmacêutico, fisioterapeuta, psicólogo, terapeuta ocupacional e
nutricionista. Os serviços de saúde dentro dessas instituições devem estar
integrados a uma Unidade Básica de Saúde fora das instituições (BRASIL, 2014).
A PNAISP representa um expressivo avanço na atenção à saúde da
população prisional, bem como alarga a noção de garantia de direitos sociais. Tal
Política amplia a população alvo, caracterizando que pessoas presas no sistema
penitenciário são aquelas com maior idade e que estejam sob custódia do Estado
provisoriamente ou que estejam sentenciados para cumprimento de pena em
privação de liberdade ou em medida de segurança, na modalidade de tratamento
ambulatorial. Ainda, os trabalhadores do sistema prisional, familiares e pessoas que
mantêm relacionamentos afetivos com os presos, serão envolvidos em ações de
promoção à saúde e prevenção de doenças e agravos (BRASIL, 2014).
Outro importante avanço ocorreu em janeiro de 2014, com a instituição da
Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e
Egressas do Sistema Prisional (PNAMPE), instituída através da Portaria
Interministerial nº 210, de 16 de janeiro de 2014. A PNAMPE expande o olhar sobre
a população prisional feminina, pois inclui, dentre outras ações, a prevenção de
todos os tipos de violência contra essas mulheres. Abrange ainda a adoção de
normas e procedimentos de saúde no sistema penitenciário, tais como: análise das
políticas sociais de saúde voltadas à população prisional brasileira (BRASIL, 2014).
28
PARTE II
4 DELINEAMENTO METODOLÓGICO
4.1 Tipo de pesquisa
Do ponto de vista metodológico, este estudo é definido como qualitativo,
de análise exploratória documental. De acordo com MINAYO (2010), a pesquisa
qualitativa se ocupa em responder questões muito particulares. Nas Ciências Sociais
ela se preocupa, com um nível de realidade que não pode ser quantificada, ou seja,
trabalha com o universo de significados, aspirações, crenças, atitudes e valores.
Contrariamente ao que muitos creem, pesquisas nas quais as pessoas
são atingidas indiretamente, a partir de documentos, são as mais numerosas no
campo das Ciências Humanas (LAVILLE e DIONNE, 1997). Pesquisas documentais
apresentam algumas vantagens por ser “fonte rica e estável de dados”: sem altos
custos, sem contato direto com os sujeitos, como também possibilita uma leitura
aprofundada das fontes (GIL, 2008).
Na concepção de FLICK (2009), a pesquisa documental representa uma
forma que pode se revestir de um caráter inovador, trazendo importantes
contribuições aos estudos qualitativos. Assim, os documentos podem se constituir
em uma rica fonte de dados, e, no exame de materiais que ainda não receberam
tratamento analítico, o pesquisador pode buscar novas interpretações ou
interpretações complementares acerca do fenômeno estudado.
Nesta vertente, GIL (2008) diz que a pesquisa documental é muito
parecida com a pesquisa bibliográfica. A diferença está na natureza das fontes.
Enquanto a pesquisa bibliográfica utiliza-se fundamentalmente das contribuições
teóricas de vários autores sobre determinado assunto, a pesquisa de cunho
documental vale-se de materiais que não receberam nenhum tratamento.
FONSECA (2002) corrobora tal ideia ao dizer que:
A pesquisa documental trilha os mesmos caminhos da pesquisa bibliográfica, não sendo fácil por vezes distingui-las. A pesquisa bibliográfica utiliza fontes constituídas por material já elaborado, constituído basicamente por livros e artigos científicos localizados em bibliotecas. A pesquisa documental recorre a fontes mais diversificadas e dispersas, sem tratamento analítico, tais como: tabelas estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas, tapeçarias, relatórios de
29
empresas, vídeos de programas de televisão, etc. (FONSECA, 2002,
p. 32) .
Para este último autor, muitos dados importantes na pesquisa social
provêm de fontes documentais. Assim, elegemos como fonte documental central
para este estudo, o jornal, visando interpretar os conteúdos das notícias e elucidar
alguns dos elementos que estão nas entrelinhas que informam à população.
Consoante à isso, essa pesquisa também se classifica como exploratória porque,
segundo Gil (2008), tem como principal finalidade, desenvolver, esclarecer ideias e
conceitos.
Como as dimensões já deixam claro, materiais de cunho documental não
são apenas uma simples representação da realidade ou dos fatos. Alguém os
produz visando algum objetivo e algum tipo de uso. Assim, os documentos devem
ser vistos como forma de contextualização da informação, como meios de
construção de uma versão específica de um processo em si, como também em uma
perspectiva mais ampla (FLICK, 2009).
4.2 O jornal como fonte de pesquisa
No presente estudo trabalharemos com ideias sobre a população privada
de liberdade e a instituição prisão, que circulam na sociedade por um meio
especifico de comunicação – o jornal. Para MORAES (1996), o jornal se configura
como um discurso muito atrativo por expor a realidade do cotidiano, assim como por
ajudar a constituir o imaginário social de determinado grupo, ou seja, podendo
elaborar e definir a imagem do mundo no qual está inserido, dando significado a esta
imagem.
Ainda de acordo com MORAES (1996), o jornal torna-se construtor da
realidade de forma discursiva, pelo qual utiliza estratégias que resultam na formação
de opiniões. Suas mensagens atingem a opinião e modo de pensar das pessoas,
efetuando-se através de símbolos, palavras e ícones que traduzem a maneira de
lidar com o real.
Assim é que o uso da imprensa como fonte e documento de análise torna-
se pertinente por permitir problematizar a construção de relações sociais. As regras
de organização da imprensa produzem o que são vistos como fatos e
acontecimentos, pois envolvem processo de seleção de temas, hierarquia no
30
destaque na notícia, influenciado pelo perfil cultural e político da equipe (SOUZA,
2007).Neste sentido, há elementos invisíveis que organizam o percebido
determinando o que se vê ou não e, no caso da imprensa, o que se registra como
acontecimento constituindo-se em referência para transformá-lo em notícia.
De acordo com CALONGA (2012), por meio de discursos, os jornais
produzem estratégias e práticas, pois se trata de um produto advindo da sociedade.
Assim, os jornais procuram atrair o público e conquistar suas mentes e corações por
meio de seu conteúdo, cuja função é de despertar as consciências e modelá-las,
procurando dessa forma indicar uma direção ao comportamento desse público leitor.
Leva-se em consideração que meios midiáticos, em particular, os jornais,
fornecem aos acontecimentos visibilidade peculiar, pois levam informações para
pessoas em diferentes contextos e, assim, acabam modelando e influenciando o
rumo dos acontecimentos (BORGES e RIBEIRO, 2014). Desta forma, compreende-
se os textos jornalísticos como documentos de domínio público, os quais constrói
uma grande circulação de sentidos, reestruturando os espaços de interação. Ainda
para a autoras, esses documentos acabam proporcionando novas produções de
sentidos, oferecendo visibilidade para dinâmica de tal produção e que ao serem
publicados, tornam-se acessíveis, abertos para leituras e releituras, interpretações e
questionamentos.
No que diz respeito a utilização do jornal como fonte de pesquisa e
estratégia metodológica, SPINK (2006) afirma que os jornais fazem parte das
práticas do cotidiano e, portanto, ofertam pistas para a reflexão de realidades. Ainda
para a autora, nos conteúdos dos jornais é que a informação emerge do cotidiano,
onde é noticiada, citando nomes e causas, fugindo da estatística fria e distanciada
do acontecimento.
4.3 Fontes, coleta, tratamento, organização e apresentação dos dados
Levando em consideração alguns critérios, tais como: ser de grande
circulação no Estado de Mato Grosso e disponíveis eletronicamente para consulta,
escolheu-se dois jornais eletrônicos, a saber: Diário de Cuiabá e A Gazeta. Os
respectivos jornais circulam no Estado há várias décadas.
Mediante consulta às edições disponíveis foram levantadas as notícias do
período que se estendia entre maio de 2015 e abril de 2016 junto aos cadernos
31
“policiais”, “cidades” e “judiciário’. Pelos títulos das notícias foram selecionadas
aquelas referentes à população presa, excluindo-se duplicidades. Em
planilha/quadro, foram registradas as seguintes variáveis: notícia/título e data de
publicação, seção, número de edição e assunto, bem como os fragmentos/ excertos
considerados mais importantes de seu conteúdo, para que posteriormente fossem
caracterizadas e categorizadas segundo núcleos de sentidos.
Quanto ao tratamento dos dados, nos valemos da técnica proposta por
BARDIN (1994), para quem a análise de conteúdo, enquanto método, torna-se um
conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, neste caso, das
notícias e, a partir da análise dos dados e das relações entre eles, fazer inferências
sobre as mensagens contidas no texto.
De acordo com BARDIN (1994), a categorização é uma operação de
classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e,
seguidamente, por um agrupamento segundo o gênero (analogia). Desta maneira, a
análise de conteúdo categorial é alcançada por operações de desmembramento do
texto, em categorias, segundo agrupamentos analógicos. Assim sendo, as
categorias segundo o autor, são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de
elementos, em razão das palavras comuns apresentadas por tais elementos.
Para MINAYO (2010), a análise temática ou de conteúdo se constitui de
três momentos não estanques, quais sejam:
- pré-análise: o pesquisador deve estar em contato intenso com o material de
campo, respondendo a normas de validade no que diz respeito se o roteiro foi
contemplado; com características do universo pesquisado, pertinência e
adequabilidade de documentos analisados; exaustão de leitura exercitando
interpretações e abrindo caminho para novas indagações;
- exploração do material: momento de definição de categorias a partir de
expressões, palavras ou conteúdos, mas abertas a reorganizações ao longo do
processo;
- tratamento dos resultados obtidos e interpretação: o pesquisador realiza
interpretações, propondo relações dos resultados com o quadro teórico do estudo.
Baseando-me na análise temática foi realizada à leitura de cada notícia
na íntegra identificando assuntos e seus núcleos de sentidos e, posteriormente
construindo as categorias de sentidos. Em cada categoria a ser apresentada será
32
considerado o conjunto de características comuns contidas nos fragmentos
selecionados de cada notícia e apresentada na integra em excertos. Após a inclusão
dos excertos em comum será realizada a interpretação e a discussão dos mesmos,
indo além do que está escrito nas entrelinhas das notícias.
Para fins de apresentação, os dados foram organizados em 4 tópicos,
quais sejam: ressocialização e reincidência; resistências ao aprisionamento;
mulheres e a criminalidade e; criminalidade de domínio das organizações/facções
criminosas.
4.4 Aspectos éticos
Por se tratar de análise de documentos de domínio público, não há
necessidade de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa para o desenvolvimento
deste estudo.
33
PARTE III
5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Esta parte dos resultados se subdivide em dois subtópicos para fins de
apresentação: das características mais objetivas das notícias levantadas e dos
conteúdos das notícias propriamente. Os dados da pesquisa serão apresentados em
categorias e baseado na análise temática procedia-se a leitura de cada notícia na
íntegra identificando assuntos e seus núcleos de sentidos construindo-se as
seguintes categorias: ressocialização e reincidência; resistências ao aprisionamento;
mulheres e a criminalidade e criminalidade de domínio das organizações/facções
criminosas.
5.1 Características das notícias
Ao todo. Foram encontradas 43 notícias relacionadas à pessoas em
privação de liberdade, sendo 16 no Diário de Cuiabá e 26 no jornal A Gazeta. Na
sequência segue o quadro com as características das notícias sobre “os presos”,
veiculadas pelos jornais eletrônicos. Para tanto, neste trabalho, foram utilizadas
cinco notícias servindo como ilustração para cada categoria, consideradas
importantes pelo seu conteúdo, sendo capazes para caracterizar segundo núcleos
de sentidos.
Quadro 1: Características das notícias veiculadas pelos jornais A gazeta e Diário de Cuiabá, entre maio de 2015 e abril de 2016, em Cuiabá-MT.
REINCIDÊNCIA E RESSOCIALIZAÇÃO
Data: 10/05/2015 (domingo) - Edição nº14193 - Seção:cidades - Notícia: Menores de 21 terão celas separadas Excerto: ““Se não tiver ‘professores’ especializados em delitos, ainda poderá ser encaminhado para uma real ressocialização”, disse.
Data: 04/06/2015 – Edição:14214 – Seção: policial – Notícia: Ex-presidiário é preso novamente Excerto: “Um ex-presidiário foi novamente preso por comercializar drogas em um lava-jato, no bairro Araés, em Cuiabá, na manhã de ontem”.
Data: 10/06/2015 – Edição: 14217 – Seção: Polícia – Notícia: Detento usava um carro roubado Excerto:Um detento do regime semiaberto foi preso dentro do Fórum de Várzea Grande por ser suspeito de ter participado de um roubo de carro, na última segunda-feira (8). Data: 25/07/2016 – Edição: 14256 – Seção: Cidades – Notícia: Penitenciária agrícola passa por revitalização completa Excerto: “Segundo o diretor, a unidade será toda reestruturada com um planejamento voltado para o trabalho agrícola, qualificação profissional, educação e ressocialização dos presos de baixa periculosidade vindos do regime fechado”.
34
Data: 30/01/2016 – Edição:14406 – Seção: Polícia – Notícia: Presos passam no Enem e vão estudar Excerto: Três presos do Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC) foram aprovados para cursos na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e Universidade de Cuiabá (Unic). Com isso, eles poderão transformar a própria vida e hoje já conseguem enxergar com esperança uma nova chance de recomeçar.
RESISTÊNCIA AO APRISIONAMENTO
Data: 12/04/2016 – Edição:475537 – Seção: Policial – Notícia: Agentes descobrem túnel de 70 metros na PCE direto para a rua Excerto: “Buraco foi escavado no raio 4, onde cumprem pena 380 presos. Quinze deles foram flagrados sujos de barro. As informações são do diretor da unidade, Roberval Barros”.
Data: 25/05/2015 – Edição: 450039 – Seção: Policial – Notícia: Tentativa de fuga é frustrada por agentes Excerto: “Uma tentativa de fuga foi registrada na tarde deste domingo (24), por volta das 12h, na Penitenciária Central do Estado (PCE). Doze presos estariam envolvidos no caso. Agentes penitenciários flagrarem grades cerradas da janela, localizada em uma das celas do raio 4. O horário de visitas do dia foi suspenso”.
Data: 14/07/2015 - Edição: 453371 - Seção:Policial - Notícia: Presos iniciam princípio de motim na Penitenciária Central Excerto: “Quatro presos que cumprem pena na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá, iniciaram de motim durante o banho de sol, na tarde de segunda-feira (13), e precisaram ser contidos por agentes penitenciários”.
Data: 08/09/2015 – Edição: 457014 – Seção: Policial – Notícia: Presos serram grade e tentam fuga de penitenciária Excerto: “Detentos de um raio que cumprem pena na Penitenciária Central do Estado (PCE), no bairro Pascoal Ramos, em Cuiabá, tentaram fugir da unidade nesta segunda-feira (7). De acordo com a assessoria da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), o grupo conseguiu serrar parte de uma grade do Raio 3 e teve acesso ao pátio”. Data: 17/12/2015 – Edição:464653 – Seção: Policial – Notícias: Agentes penitenciários contêm fuga de 11 internos
Excerto: “internos tentaram fugir da Penitenciária Central do Estado (PCE) na última terça-feira (16). Agentes descobriram um túnel que levava até o pátio da Unidade. A ação foi imediatamente contida pelos servidores penitenciários e pelo Grupo de Intervenção Rápida (GIR)”.
MULHERES E AS DROGAS
Data: 27/07/2015 – Edição:454275 – Seção: Policial – Notícia: Cozinheira tenta entrar em presídio com maconha na vagina Excerto: “A cozinheira Márcia Regina da Cunha Moraes, 33 foi presa na tarde de domingo (26), ao tentar entrar no Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC), com uma porção de maconha introduzida na vagina. Ela visitaria o companheiro Renielson Pessoa de Barros.Ela foi autuada por tráfico de drogas e encaminhada ao Presídio Ana Maria do Couto May”.
Data: 18/05/2015 – Edição: 449580 – Seção: Policial – Notícia: Número de presas na liderança cresce
Excerto: “Diferente do entendimento da diretora do presídio, a delegada frisa que a mulher deixou de ser coadjuvante no crime e passou a ocupar a posição de liderança. “Antes, era comum falar que a mulher era usada como isca para facilitar a ação do homem. Não é isso que vemos hoje. Data: 14/05/2015 – Seção: 449329 – Seção: Policial – Notícia: Mulheres levam drogas na vagina e em molho de cachorro-quente Excerto: “Duas mulheres foram presas em flagrante tentando entrar na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá, com drogas para os respectivos companheiros. Uma delas escondeu tabletes de maconha em uma vasilha com molho de cachorro-quente. A outra carregava na vagina”.
Data: 28/09/2015 – Edição: 458468 – Seção: Policial – Notícia: Agentes penitenciários encontram celular em bife e prendem mulher Excerto: “Valdirene Gomes dos Santos, que levava a marmita com a comida e os celulares costurados ao bife foi presa e autuada em flagrante pelo crime. Ela foi encaminhada para o Presídio Feminino Ana Maria do Couto May”.
Data: 01/10/2015 – Edição: 458691 – seção: Policial – Notícia: Mulheres tentam entrar com drogas e fermento na PCE
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Excerto: “Elas são descobertas porque apresentam comportamento estranho e nervosismo", conta um agente. Uma delas, Ana Flávia Souza, foi autuada por tráfico de drogas e encaminhada para o Presídio Feminino Ana Maria do Couto May”.
CRIMINALIDADE E O DOMÍNIO DAS FACÇÕES
Data: 24/03/2016 – Edição: 14448 – Seção: Cidades – Notícia: Grande parte dos roubos e mortes ocorridos na Grande Cuiabá tem ligação com o crime organizado dentro de presídios Excerto: “A ordem de matar, como a do empresário Renato Cury, de 44 anos, em Várzea Grande, pode ter partido de dentro do presídio, segundo linha de investigação da Polícia Civil. L.P.S, que foi preso por latrocínio e agora está em liberdade, conta que, quando se associa a uma facção dentro do presídio, a regra é gerar dinheiro e muitas vezes através de golpe”[...]“Para Galindo, os presídios são locais sensíveis e potenciais alvos da criminalidade. "Em relação aos presídios, trata-se de um espaço onde está concentrada uma população que participou da vida criminosa no Estado e por isso precisamos conhecer quais são as articulações internas", afirmou”. Data:10/10/2015 – Edição: 459425 – Seção: Policial – Notícia: Comando Vermelho manda explodir açougue onde criminoso foi morto no CPA
Excerto: “O artefato explosivo estava dentro de uma mochila e junto colocados vários cacos de vidro. O material seria usado para explodir um açougue com o dono e o funcionário dentro. O estabelecimento, na Avenida Doutor Ulisses Guimarães, próximo ao Terminal do CPA III, é o mesmo local, onde no dia 30 de setembro, durante a manhã, houve uma tentativa de assalto e o proprietário reagiu e matou o ladrão”. Data:27/06/2015 – Edição: 14232 – seção: Polícia – Notícia: Ordens saíam de dentro do Pascoal
Excerto: “O peculiar nas ações da quadrilha era o fato de serem elas comandadas de dentro do Presídio Pascoal Ramos, onde o líder da turma cumpre pena”. Data: 31/05/2015 – Edição: 14211 – Seção: Polícia – Notícia: PC evita tentativa de morte encomendada por preso “O acusado, Cristian Jhones Rodrigues, 21, teria atentado contra a vítima a mando de um presidiário de Rondonópolis (212 km ao Sul)”.
Data: 05/04/2016 – Edição: 474755 – Seção: Policial – Notícia: Gaeco denuncia 14 do Comando Vermelho
Excerto: “Os líderes da quadrilha comandam o crime de dentro das unidades prisionais e contam com “soldados do crime” dentro e fora dos presídios, que atendem as demandas determinadas pelos líderes.
Fonte: construção do autor.
5.2 Conteúdo das notícias
Neste trabalho, consideramos as notícias como construção social, isto é,
como resultado de uma série de negociações entre os agentes interessados. Aqui,
entendemos o ato de selecionar (os dados, informações, títulos, notícias etc.) como
fator que contribui para ‘construir a realidade social’.
Desta forma, partimos da ideia de que a realidade social não é apenas um
conjunto de dados objetivos, nem como fenômenos que possam ser classificados
como bons ou maus. A seguir, apresentaremos as categorias elaboradas, partes do
processo social construído, de forma articulada que a linguagem permite elaborar,
comunicar e compartilhar.
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5.2.1 Reincidência e ressocialização
Um dos conteúdos recorrentes nas notícias se refere à reincidência dos
presos, indicando contradições entre a proposta institucional de reinserção social
comprometida pela precariedade do sistema expressa pelas reincidências.
A questão das prisões se coloca nessas críticas em termos de problemas
e soluções, repetidamente referidos. No entanto, a questão está em que os
problemas através dos quais se expressam as dificuldades do sistema prisional em
hipótese alguma questionam a existência mesma da cadeia e, as soluções, em
geral, não são mais que tentativas de a adaptar às novas consequências que o tipo
de desenvolvimento socioeconômico tem acarretado para o crescimento da
população das cadeias, sem, contudo, cogitar de redefinir a forma de punição por
transgressões à lei (RAMALHO, 2008).
Por mais graves que sejam as críticas ao sistema prisional, por mais que
se chegue à constatação de que ela não cumpre as finalidades básicas pela qual se
justifica que ele exista – punição do infrator e sua “recuperação” para a sociedade -,
por mais que se conclua que ele pune em excesso e devolve à sociedade um ser
humano marcado para sempre, exatamente por ter passado pela cadeia, ainda
assim os autores das críticas, eles mesmos, permanecem irremediavelmente presos
à ideia de que cadeia é vital para a existência da sociedade (RAMALHO, 2008).
Segundo FOUCAULT (2011), já no século XIX, se faziam críticas à prisão
que se resumiam nos seguintes pontos: - as prisões não diminuem a taxa de
criminalidade; - a detenção provoca a reincidência; - a prisão não pode deixar de
fabricar delinquentes, - a prisão torna possível, ou melhor, favorece a organização
de um meio de delinquentes, solidários entre si, hierarquizados, prontos para todas
as cumplicidades futuras; - as condições dadas aos detentos liberados condenam-
nos fatalmente à reincidência; - a prisão fabrica indiretamente delinquentes, ao fazer
cair na miséria à família do detento. Na verdade, estas formulações críticas têm se
repetido até hoje, e também se verificam no Brasil.
Sabe-se que existem vários fatores que influenciam na reincidência do
preso no crime. Dentre os diversos fatores existentes, dois merecem ser destacados.
Um deles seria o da deficiência nos programas de reabilitação/ressocialização e o
outro a exposição à redes/facções criminosas nas prisões.
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Tais fatores combinam-se e influem negativamente como aspectos
reprodutores da violência e do crime. Dessa forma, os presídios têm se configurado,
conforme WACQUANT (2007) denominou: “fábrica de exclusão”, compreendendo as
prisões como instituições organizadas com a finalidade de proteger a sociedade
contra os perigos de ruptura do tecido social pelo crime e que, na maioria das vezes,
impossibilitam a inclusão social das pessoas em privação de liberdade (GOFFMAN,
1961). Tal perspectiva foi apresentada por THOMPSON (2002), quando afirma que o
fato de um ex-presidiário tornar a cometer crimes é, em geral, visto com
naturalidade, pois, da prisão, exige-se, apenas, que mantenha seus internos longe
da sociedade.
Existem vários outros fatores que influenciam na reincidência da pessoa
privada de liberdade. A dificuldade de inserção no mercado de trabalho devido à
folha de antecedentes é permeada pela discriminação e pelo preconceito que essas
pessoas enfrentam, inclusive para se inserir novamente no mercado de trabalho,
visto que, a sociedade raramente abre portas para quem já experenciou/vivenciou a
privação de liberdade (FERREIRA, 2011).
Ainda para a última autora referida, muitas das vezes àqueles que já
foram presos, preferem ao invés do emprego, o crime. Em seu relato de pesquisa,
os próprios privados de liberdade relataram querer consumir os diversos produtos
que são ofertados no mercado. Para a autora, esses sujeitos buscam no mundo do
crime uma forma de garantia à sobrevivência material e social, no entanto, como não
possuem níveis altos de escolaridade, nem qualificação profissional,
consequentemente não possuem perspectiva de conseguir bens e dinheiro para o
consumo dos produtos ofertados pelo mercado. Para tanto, novamente, optam pela
vida do crime, pois lhes parece mais fácil.
Nessa perspectiva, ZALUAR (2004) salienta que: “a ilusão do “dinheiro
fácil" revela a sua outra face: o jovem que se encaminha para a carreira criminosa
enriquece não a si próprio, mas outros personagens que quase sempre
permanecem impunes e ricos: receptadores de produtos roubados, traficantes de
atacado, contrabandistas de armas, policiais corruptos e, por fim, advogados
criminais”.
Desta maneira, é possível dizer que, apesar de ser praticado por todas as
classes sociais, quem acaba indo para o sistema prisional é aquele qual está
38
inserido numa classe subordinada, o que acaba explicitando o caráter classista do
sistema prisional brasileiro.
Tais argumentos revelam que as instituições de privação de liberdade
vêm servindo de práticas que sedimentam a exclusão social, escancarando o
encarceramento de determinados perfis sociais assolados pela pobreza e
desemprego. Conforme supracitado, bem como da ausência de políticas de proteção
social sobrevivendo a todo custo ao que WACQUANT (2007) anuncia como sendo a
ditadura sobre os pobres, via pauperização do trabalho assalariado,
desregulamentação da economia e intensificação do aparelho policial e judiciário
incidindo sobres as camadas populares.
Outro fator motivador no tocante à reincidência são as drogas. HYGINO e
GARCIA (2003) afirmam que as drogas não podem ser vistas apenas "como um
entorpecente, um componente químico que produz sensações específicas no corpo
biológico, mas como um recurso mediador, ou seja, um artifício por meio do qual se
satisfaz uma necessidade psíquica e social". O conhecimento que se produz sobre o
produto e o consumidor da droga é ainda muito estigmatizador e preconceituoso a
partir de uma visão farmacológica e epidemiológica. Nessa perspectiva, as medidas
preventivas advertem para as implicações de seu uso abusivo, assim como para o
crescente mercado de produção, distribuição e circulação.
Pode-se afirmar que, a partir do uso, muitos se envolvem em um círculo
vicioso do qual não mais conseguem sair. Acredita-se que eles iniciam muito cedo
no uso das drogas e, não conseguindo sair, entram para o tráfico e perdem o
controle da própria vida. Do uso passam para a criminalidade como forma de
garantir a continuidade do consumo, porque não conseguem cobrir com os altos
custos, o que, para milhares de jovens/adultos no mundo, torna-se um caminho sem
volta. Não conseguindo se livrar do vício, passam a furtar, roubar ou traficar para se
manter. São presos, não são submetidos a nenhum tipo de tratamento nem dentro
das unidades nem fora delas -, muitos continuam usando drogas no interior das
próprias unidades prisionais -, o que acaba por forçá-los a repetir o percurso
criminoso, sendo que, para muitos, é por toda a vida (FERREIRA, 2010).
39
Por outro lado, é notória a possiblidade de reintegração do preso na
sociedade, através de políticas públicas que concebam a educação como direito
humano, investindo em suas dimensões escolares e em recursos didático-
pedagógicos, técnicos e humanos (ONOFRE e JULIÃO, 2013). Assim, pensar
educação nesse contexto denota repensar a instituição penitenciária como uma
comunidade de aprendizagens, dotando as pessoas em privação de liberdade de
conhecimentos e por competências que lhe possam permitir que se reconheçam
como sujeitos de direitos (ONOFRE e JULIÃO, 2013).
Pode-se dizer também que, o trabalho, junto ao isolamento, deveria ser
outro agente transformador dos indivíduos, atendendo a necessidade de
requalificação de “ladrão” em “operário dócil”. Desta maneira, o salário penal
passaria a funcionar como “a marca de transformações individuais: uma ficção
jurídica” (FOUCAULT, 2011, p. 229-230). Dessa forma, o trabalho não passa a ser
um corretivo ao regime de detenção, da reclusão, do encarceramento, mas sim,
concebido como uma necessidade.
É importante frisar, no entanto que tal reinserção, por vezes não ocorre de
forma simples, pois estudos revelam que será dificultada pela falta de acesso à
qualificação profissional intra/extramuros na maioria das vezes e pelo estigma que
sofrerão como ex-presidiários (MINAYO e CONSTANTINO, 2015). O ex-preso
carrega consigo um estigma, que o assume na condição de desacreditado e
depreciado (GOFFMAN, 1961) e o impede, na maioria das vezes alcançar a
reinserção no mercado de trabalho e de qualquer modo, a crítica detém a ordem
contrária em que as coisas estão acontecendo: tendo por objetivo reeducar o infrator
e deixá-lo apto à reintegração social ao fim de um período de segregação, no
entanto, o próprio documento pelo qual é liberado condena-o, ainda que fora das
grades, a permanecer segregado (RAMALHO, 2008).
Três presos do Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC) foram aprovados para cursos na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e Universidade de Cuiabá (Unic). Com isso, eles poderão transformar a própria vida e hoje já conseguem enxergar com esperança uma nova chance de recomeçar (Edição nº 14406 - Presos passam no Enem e vão estudar). “Segundo o diretor, a unidade será toda reestruturada com um planejamento voltado para o trabalho agrícola, qualificação profissional, educação e ressocialização dos presos de baixa periculosidade vindos do
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regime fechado” (Edição Nº 14256 – Penitenciária agrícola passa por revitalização completa). Um ex-presidiário foi novamente preso por comercializar drogas em um lava-jato, no bairro Araés, em Cuiabá, na manhã de ontem” (Edição Nº 14214 – Ex-presidário é preso novamente). “Se não tiver ‘professores’ especializados em delitos, ainda poderá ser encaminhado para uma real ressocialização”, disse. (Edição nº 14193 - Menores de 21 anos terão celas separadas).
“Um detento do regime semiaberto foi preso dentro do Fórum de Várzea
Grande por ser suspeito de ter participado de um roubo de carro, na última
segunda-feira (8)” (Edição nº 14256 - Detento usava um carro roubado).
WACQUANT (2007, p. 462) pontua que a "prisão apresenta a
particularidade de ser uma bomba social que regurgita: quase todos aqueles que
são 'sugados' por ela são eventualmente 'expelidos' de volta para a sociedade".
Porém a prisão devolve à sociedade pessoas com sequelas e marcadas para
sempre, uma vez que, quando o sujeito adquire a liberdade, a sociedade o rejeita, o
estigmatiza, o repugna e o força a voltar à criminalidade por ausência de condições
dignas de subsistência material e social.
Chamam a atenção para a necessidade de estudos aprofundados sobre a
função, ou não, ressocializadora das prisões, o fenômeno da reincidência criminal e
seus fatores determinantes, bem como sobre a eficácia de dispositivos alternativos
como meios de contornar esta crise no sistema prisional brasileiro.
5.2.2 Resistências ao aprisionamento
Outro grupo de notícias que se destaca se refere às resistências ao
aprisionamento, expressas pelas fugas (com êxito ou frustradas, por meio de túneis,
serras, cordas etc.) ou rebeliões, motins que simbolizam reinvindicações e não
passividade diante da ordem e precariedade institucional.
Na maior parte das penitenciárias do País, mesmo naquelas ditas de
segurança máxima, os controles sobre a massa carcerária são frouxos, incapazes
para conter a organização dos presos, as atividades ilegais, as revoltas e fugas. A
insuficiência da segurança dinâmica – isto é, as atividades que favorecem a
manutenção da ordem interna, como o trabalho, a educação, esporte, lazer,
atividades culturais– acaba por contrapor e anular as expectativas depositadas no
41
endurecimento da disciplina e da contenção do comportamento dos presos
(ADORNO e SALLA, 2007).
Rebeliões e motins, representam reinvindicações e não passividade
diante da ordem e precariedade institucional, combinadas tanto às péssimas
condições infraestruturais e degradadas de encarceramento, bem como a deficiência
do Estado em exercer controle sobre o cotidiano prisional. Muitas rebeliões são
desdobramentos de fugas frustradas, mas também, estratégia de reivindicações de
que direitos sejam respeitados. É um recurso de negociação do qual lançam mão as
pessoas privadas de liberdade que tentam a fuga e acabam fracassando,
procurando evitar a imposição de penalidades para a infração cometida. ‘Virar a
casa’, ou seja, provocar uma rebelião é também uma forma de criar um caos
momentâneo que permite, bem como amplia as possibilidades e chances de fuga
(SALLA, 2006).
A partir da análise sociológica desenvolvida por SALLA (2006), o autor
discorre dizendo que rebeliões são articulações sincronizadas, sempre lideradas por
presos pertencentes a alguma organização/facção criminosa. Para ele, essas
articulações ocorrem de maneira emergencial devido às privações que são impostas
aos presos, sendo assim, formas de protestos e inconformismo contra tais
imposições adversas, na maioria das vezes devido, principalmente, pelas condições
infraestruturais das penitenciárias, má alimentação e pelos maus tratos vivenciados
na prisão e se destinam a escapar ou enfrentar os rigores disciplinares das
penitenciárias. Contudo, o autor ainda diz que há outras possíveis explicações, mas
dá ênfase a relação entre movimentos de protestos que ocorrem fora das prisões, a
partir do afrouxamento dos controles de ordem, marcada pelas revoltas ocasionadas
na vida social.
Em situações frustrantes, de acordo com THOMPSON (2002), existem
vários tipos de reações. Quando não há conformismo por partes dos presos, há a
rebelião e tentativas de fugas, oposta a premissa na qual se funda a privação de
liberdade. Não obstante, Thompson diz que: “pode, pelo menos durante algum
tempo, transformar-se na escolhida por alguns presos, cuja preocupação concentra-
se, predominantemente, em preparar e tentar a evasão” (THOMPSON, 2002, p. 78).
Líderes de grupos criminosos/ facções- (alta periculosidade), envolvidos
com tráfico de drogas, roubo de cargas, grandes assaltos, sequestros, com
frequência, tentam ou conseguem fugir das prisões brasileiras contando com a rede
42
de ilegalidades e de corrupção existente nestes estabelecimentos. Assim,
conseguem subornar guardas, obter celulares, armas, ferramentas, planejar a fuga
contando com apoio externo e interno. Tudo sugere que passou a ser uma
estratégia de gerenciamento das prisões, deixar que o cotidiano seja administrado
pelos próprios presos, por suas lideranças, que são sempre construídas a partir do
prestígio adquirido nas atividades criminosas (SALLA, 2006).
“Uma tentativa de fuga, foi registrada na tarde deste domingo (24), por volta das 12 h, na Penitenciária central do Estado (PCE). Doze presos estariam envolvidos no caso. Agentes penitenciários flagraram grades cerradas na janela, localizada em uma das celas. O horário de visitas do dia foi suspenso”. (Edição nº 450039 - Tentativa de fuga é frustrada por agentes). “Quatro presos que cumprem pena na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá, iniciaram de motim e início de rebelião durante banho de sol, na tarde de segunda-feira (13), e precisaram ser contidos por agentes penitenciários”. (Edição nº 453371 - Presos iniciam princípio de motim na Penitenciária Central). “Detentos de um raio que cumprem pena na Penitenciária Central do Estado (PCE), no bairro Pascoal Ramos, em Cuiabá, tentaram fugir da unidade nesta segunda-feira (7). De acordo com a assessoria da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (SEJUDH), o grupo conseguiu serrar parte de uma grade do Raio 3 e tiveram acesso ao pátio” (Edição nº457014 - Presos serram grade e tentam fuga de penitenciária).
“Buraco foi escavado no raio 4, onde cumprem pena 380 presos. Quinze deles foram flagrados sujos de barro. As informações são do diretor da unidade, Roberval Barros [...] De acordo com Barros, o Núcleo de Inteligência do presídio recebeu a denúncia no domingo (10), e desde a data vem monitorando o local, já que segundo as informações, suspeitos que estariam do lado de fora da unidade, auxiliariam a fuga. Caso se concretizasse, a fuga em massa seria ‘uma das maiores do Estado’” (Edição nº 475537 - Agentes descobrem túnel de 70 metros na PCE direto para a rua). “Onze presos foram encontrados foram encontrados com serras e cordas artesanais, chamadas de” Maria Tereza” feitas de lençóis. Os presos são considerados de alta periculosidade”. (Edição nº 453450 - Onze presos tentam fugir da Penitenciária Central do Estado).
As privações materiais e de toda ordem continuam a ser impostas aos presos
no Brasil. Elas constituem um poderoso ingrediente na emergência dos movimentos
de revolta das pessoas em privação de liberdade.
43
5.2.3 Mulheres e as drogas
Em 2014 o Brasil ocupava a quinta maior população de mulheres
encarceradas no mundo (DEPEN, 2014). Com uma população feminina prisional de
37.380 mulheres, o país apresentou também um aumento significativo na taxa de
aprisionamento, sendo que no período de 2000 a 2014 o aumento dessa população1
foi de 567,4% (Idem). Esse montante forma uma população homogênea na qual se
predomina certos perfis demarcando as tendências de encarceramento de mulheres
nas penitenciárias brasileiras (CAMPOS, 2017). Presas principalmente devido ao
envolvimento com o tráfico de drogas (58%), são mulheres jovens (entre 18 e 29
anos) 50%, solteiras (57%), de baixa escolaridade (não concluíram o ensino
fundamental) 50% e negras (68%) de acordo com os dados do (DEPEN, 2014).
Esse montante forma uma população homogênea na qual se predomina
certos perfis demarcando as tendências de encarceramento de mulheres nas
penitenciárias brasileiras (CAMPOS,2017). Exclusas, principalmente devido ao
envolvimento com o tráfico de drogas (58%), são mulheres jovens (entre 18 e 29
anos) 50%, solteiras (57%), de baixa escolaridade (não concluíram o ensino
fundamental) 50% e negras (68%) de acordo com os dados do (DEPEN, 2014).
Dados revelam os motivos de encarceramento feminino evidenciando tais
questões. De acordo com o DEPEN (2014) quanto à distribuição por gênero de
crimes tentados/consumados entre os registros das pessoas privadas de liberdade
no Brasil, nota-se que 63% das mulheres estão presas pelo crime de tráfico de
drogas (DEPEN, 2014). O grande aumento de pessoas presas por este tipo de crime
pode estar ligado à criação da lei 11.343 de 2006, que institui “o Sistema Nacional
de Políticas Públicas sobre Drogas-Sisnad; prescreve medidas para prevenção do
uso indevido, atenção e reinserção social; estabelece normas de repressão a
produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, definindo-o como crime e dá
outras providências” (BRASIL, 2006).
Paralelo à essa questão as notícias indicam que tal organização
criminosa apresentada pelas mulheres, no que se refere ao atendimento de um
pedido do parceiro, qual seja, o manejo de drogas para dentro da prisão aumentou
nas últimas décadas. Dessa forma, a quantidade de mulheres nas prisões brasileiras
cresceu de maneira significativa. Segundo dados do Departamento Penitenciário
1O aumento da população masculina foi de 220,20% para o mesmo período (BRASIL, 2014).
44
Nacional (DEPEN, 2014) – no ano de 2013, chegaram a 240% de aumento,
chegando a 35 mil detentas.
Nas notícias encontradas no presente estudo, observam algumas
peculiaridades em que sobressai o aprisionamento enredado por ações (tráfico de
drogas) que envolvem o companheiro já preso.
Os estudos que enfocam as mulheres presas, na questão das drogas
ilícitas, referem sua participação como coadjuvantes do tráfico, destacando que o
envolvimento se dá por meio de relações de afeto com homens do seu entorno
social: companheiro, irmão, ou outro parente, sendo pouco exploradas situações nas
quais elas aparecem sós, como decorrência de escolhas pessoais (BARCINSKI,
2009).
O engajamento de mulheres em atividades criminosas, notadamente no
tráfico de drogas, é descrito de maneira geral como subordinado à participação dos
homens nessas mesmas atividades. Sem ignorar o fato de que parecem ser de fato,
os homens os maiores motivadores para a entrada das mulheres na rede do tráfico
de drogas (ZALUAR, 1993), a ênfase quase que exclusiva na criminalidade feminina
como decorrente de suas relações afetivas retira o protagonismo e reforça a
invisibilidade feminina na prática de crimes violentos e atividades ilícitas
(BARCINSKI, 2012).
Nota-se que, a situação de mulheres presas por envolvimento com o
tráfico de drogas é bastante diferente do caso dos homens, salvo algumas
exceções. Como citado anteriormente, a maioria das mulheres são detidas por se
associar aos companheiros (maridos, namorados) em atividades ilegais ou por lhes
entregar substâncias tóxicas dentro das prisões. Para conseguirem alcançar o
objetivo traçado, expõem-se ao risco da detenção que por vezes se concretiza.
É importante frisar que, no entanto, o atendimento específico para presas
nessa condição, não tem acompanhado o crescimento acelerado dessa modalidade
criminosa, o que tem preocupado as autoridades incumbidas da segurança pública.
Entender o comportamento criminoso dessas mulheres tem despertado a
atenção de pesquisadores das mais diferentes vertentes. E várias são as questões
endossadas frente a esse assunto, tais como: mulheres de delinquentes têm mais
chances de enveredar pelo mesmo caminho? Há um caráter biológico na atitude
violadora das leis ou ela é fruto do meio? Seria a dimensão afetiva a única
responsável por esse enveredamento para o crime? Dentre outras questões.
45
A maioria dos estudos tem indicado que o aspecto mobilizador da
entrada da mulher para esse mundo de criminalidade está bastante associado à
dimensão afetiva, conforme supracitado. Ao vender, guardar e, mesmo transportar
a droga para dentro da prisão, das mais diversas formas, não o faz somente
porque passa por dificuldades financeiras e tem no tráfico um meio de
subsistência, mas, em muitos casos, por que tenta dar provas de seu afeto pelo
companheiro e parentes. É como se houvesse uma idealização de um modelo de
amor e a necessidade de dar provas aos parceiros com os quais se relacionam
fossem tão fortes a ponto de levá-las ao envolvimento com as drogas e a correrem
os riscos de sofrer penalidades legais por suas práticas (MAGALHÃES, 2011).
Diante deste fato social, entendemos ser de suma importância à
realização de discussões e, ou reflexões que nos auxiliem a compreender os reais
motivos referentes a este crescimento, conforme tem anunciado as notícias
presentes nos recursos midiáticos locais.
De forma geral, a criminalidade é um fenômeno de enorme crescimento
no Brasil, sendo importante ressaltar que não apenas os homens, mas também as
mulheres estão cometendo mais crimes hoje do que no passado o faziam. Ao
longo dos anos a mulher tem assumido uma postura diferente perante a sociedade,
tem assumido várias funções e ocupações pessoais, profissionais e inclusive de
liderança na criminalidade, que no passado não eram admitidas.
Estudiosos como LOMBROSO (2001) e RATTON et al. (2011) indicam
em seus escritos que até a primeira metade do século XX, o que se tinha em pauta
eram perspectivas que localizam a mulher criminosa sob um ponto de vista
preconceituoso, buscando sempre restringir o debate às questões biopsicológicas,
não se atendo a elementos socioculturais. A partir da década de 1960 esta
realidade começa a se transformar, mas, ainda assim, podemos perceber muitas
lacunas nos estudos sobre a criminalidade feminina.
Da mesma forma, MAGALHÃES (2011) salienta que as discussões
frente à criminalidade feminina são baseadas em preconceitos, e por vezes, as
explicações são de cunho meramente biológico, no intuito de justificar a
inferioridade da mulher e sua consequente incapacidade “natural” de cometer
crimes da mesma forma que homens.
Sendo assim, por muito tempo as mulheres criminosas foram vistas, de
acordo com estes tópicos, como pessoas que fogem de sua condição natural, ou
46
seja, seres dotados de passividade e de submissão. Nessa categoria, percebe-se
que a violência e a criminalidade feminina são realmente crescentes em todo o
país, e que as causas são as mais diversas.
Nessa perspectiva, o gritante aumento da criminalidade feminina está
relacionado a vários fatores, incluindo, obviamente todos os motivos que levam ao
aumento da criminalidade em geral, tais como: pobreza, miséria, desemprego,
analfabetismo, etc. Porém, como a mulher ganhou (e está ganhando) mais espaço
no meio social, é fato que a mesma também tenha conquistado maior participação
no mundo do crime.
“Duas mulheres foram presas em flagrante tentando entrar na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá, com drogas para os respectivos companheiros. Uma delas escondeu tabletes de maconha em uma vasilha com molho de cachorro quente. A outra carregava na vagina”. (Edição nº 449329 - Mulheres levam drogas na vagina e em molho de cachorro quente). “Elas são descobertas porque apresentam comportamento estranho e nervosismo, conta um agente. Uma delas, A.F.S, foi autuada por tráfico de drogas e encaminhada para o Presídio Feminino Ana Maria do Couto May”. (Edição nº 458691 - Mulheres tentam entrar com drogas e fermento na PCE). “A cozinheira Marcia Regina da Cunha Moraes, 33, foi presa na tarde de domingo (26) ao tentar entrar no Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC) com uma porção de maconha introduzida na vagina. Ela visitaria o companheiro Ranielson Pessoa de Barros. Ela foi autuada por tráfico de drogas e encaminhada ao Presídio Feminino Ana Maria do Couto May”. (Edição nº 454275 - Cozinheira tenta entrar em presidio com maconha na vagina).
Quando tratamos da participação feminina no tráfico de drogas, a questão
da invisibilidade como motivadora de comportamentos criminosos ganha contornos
peculiares. Como o tráfico é, na maioria das vezes, reconhecido como uma atividade
masculina, participar dele dá às mulheres traficantes a possibilidade de se distinguir
de outras mulheres, tornando-as protagonistas.
Atualmente merece ser mais bem investigada cientificamente a ocupação, por
parte da mulher, de altos escalões do tráfico de drogas, já que a violência feminina
encontra-se cada vez mais relacionada ao tráfico, muitas das vezes também estão
ligadas à parceiros líderes de organizações criminosas.
47
5.2.4 Criminalidade e o domínio das facções
De acordo com a Lei nº 12.850, de 02 de agosto de 2013: Art.
1º, §1º: “Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais
pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda
que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de
qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas
sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional”
(BRASIL, 2013).
Para MINGARDI (1996), os grupos criminosos têm as seguintes
características: prática de atividades ilícitas; atividade clandestina; hierarquia
organizacional; previsão de lucros; divisão do trabalho; uso da violência; simbiose
com o Estado; mercadorias ilícitas; planejamento empresarial; uso da intimidação;
venda de serviços ilícitos; relação clientelista; presença da lei do silêncio; monopólio
da violência e controle territorial.
A constituição da organização decorre da assunção das vontades
individuais voltadas para a consecução de metas específicas, através de prévia
distribuição dos membros em uma estrutura hierárquica.
As organizações criminosas, associações criminosas, quadrilha ou bando,
em geral, conseguem se estruturar de maneira tão organizada que chegam a formar
uma força paralela ao Estado. Muitas vezes, contam com ramificações em diversos
segmentos da sociedade e do governo nos seus diferentes níveis, o que acaba por
vilipendiar o próprio estado democrático de direito (ARAÚJO e FONSECA, 2015).
Seguramente, o crime organizado e o domínio das facções não é uma
invenção comum. Sua versão moderna está profundamente marcada por
organizações europeias e desde a Idade Média e, mais recentemente, sobretudo por
organizações americanas. Atualmente, muitas das características observadas no
crime organizado já estavam de fato, presentes nas formas anteriores (ADORNO,
1998).
A noção de "Crime Organizado" esconde mais do que revela as pequenas
nuances e as grandes diferenças da diversidade de atores, redes e práticas que
caem sob a acusação social (e o respectivo processo de incriminação) por infringir,
regular e articuladamente, artigos do Código Penal e de Leis Especiais. O que se
pretende, afinal? Distinguir a articulação social de grupos criminosos
48
daqueles diversos fatos da crônica cotidiana da imprensa? O uso metonímico do
termo "máfia" incide a tal ponto nos mesmos problemas, que aquilo que no Código
Penal é tipificado simplesmente como "formação de quadrilha" ou máfia mesmo
(MISSE, 2007).
Tais características podem ser aqui mencionadas como: valor atribuído à
posse de armas de fogo, monopólio concentrado das atividades criminosas;
estruturas de mando hierarquizadas e personalizadas (característica mais marcante)
reatualizadas por rituais codificados por normas e regimentos; fixação de redes de
espias e informantes, dentre outros. Nesse conjunto de práticas Adorno (1998), diz
que as penitenciárias se tornam lugar estratégico à corrupção, e mais, talvez sem a
cumplicidade dos agentes públicos e segmentos estatais, certamente as atividades
não teriam se expandido.
De qualquer modo, o crime organizado também propõe problemas novos,
insolúveis em curto prazo, para a Justiça penal. O que tem sido evidenciado, seja no
tráfico, seja nos casos de alta corrupção envolvendo agentes do Estado, é que as
leis penais não podem ser aplicadas do mesmo modo que são aplicadas às
modalidades delituosas cometidas pelo delinquente comum. Os processos penais,
que têm como alvo o crime organizado, ensejam uma complexidade ímpar
(ADORNO, 1998).
CALDEIRA (2004) afirma que a política penitenciária se torna
condicionada de pelo menos dois fatores que se interligam e se condicionam
reciprocamente: os controles formais, aqueles autorizados pela legislação, que
deveriam orientar a atuação do sistema penal e os controles informais, enraizados
nas ações cotidianas. Para ele, em particular a política penitenciária, reage aos
problemas e acaba se adaptando às novas circunstâncias, onde diz que: “de fato, os
controles sociais formais suplementam os controles sociais informais cotidianos,
apesar de, às vezes, interferirem diretamente nesses mecanismos, produzindo
efeitos perversos”.
Focalizar uma política específica de controle sobre lideranças da
criminalidade organizada introduz, no entanto, sérios problemas. Primeiro, reduz a
visibilidade de uma das principais causas da desordem carcerária: as violências que
os "donos da cadeia" e os guardas penitenciários praticam contra os presos pobres.
Segundo, ao se selecionarem para análise episódios de crise prisional, como
tentativas de fuga seguidas de rebeliões com reféns, silencia-se sobre as condições
49
desumanas do encarceramento, que degradam cotidianamente a todos (CALDEIRA,
2004).
“Os líderes da quadrilha comandam o crime de dentro das unidades prisionais e contam com “soldados do crime” dentro e fora dos presídios que atendam as demandas determinadas pelos líderes. A denúncia feita pela Gaeco é baseada nas investigações realizadas pela polícia civil, que chegou a deflagrar as operações “Grená” e “Grená 2” para desarticular a organização criminosa. Ainda como parte das tentativas de desmobilizar o grupo criminoso, em fevereiro a “SEJUDH” transferiu sete presos para penitenciárias federais. Entre eles estavam líderes da facção criminosa”. (Edição:474755 - Gaeco denuncia 14 do Comando Vermelho). “A ordem de matar, como a do empresário Renato Cury, de 44 anos, em Várzea Grande, pode ter partido de dentro do presídio [...] Segundo L.P. S, que foi preso por latrocínio e agora está em liberdade, conta que, quando se associa a uma facção dentro do presídio, a regra é gerar dinheiro e muitas vezes através de golpe [...] (Edição: 14448 - Grande parte dos roubos e mortes ocorridos na grande Cuiabá tem relação com o crime organizado dentro dos presídios). “O peculiar nas ações da quadrilha era o fato de serem elas comandadas de dentro do presídio Pascoal Ramos, onde o Líder da turma cumpre pena”. (Edição: 14232 - Ordens saíam de dentro do Pascoal). “O artefato explosivo estava dentro de uma mochila e junto colocados vários cacos de vidro. O material seria usado para explodir um açougue com o dono e o funcionário dentro. O estabelecimento, na Avenida Doutor Ulisses Guimarães, próximo ao Terminal do CPA III, é o mesmo local, onde no dia 30 de setembro, durante a manhã, houve uma tentativa de assalto e o proprietário reagiu e matou o ladrão”. (Edição: 459425- Comando Vermelho manda Explodir açougue onde criminoso foi morto no CPA).
.
A Lei Penal no Brasil é apenas um paliativo na questão do avanço das
organizações criminosas, pois a evolução contínua do Crime Organizado se deve a
mais completa ausência de políticas de controle da criminalidade, associado à
miséria em que vive boa parte da população brasileira. Assim, perante a população
mais carente, O Estado não ocupou o seu lugar e paga caro por sua omissão.
50
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em conta as preocupações que nortearam e motivaram este estudo, os
resultados corroboram a compreensão de que os meios de comunicação operam
construindo a realidade social, recortando e selecionando discursos sociais
correntes de atores sociais diversos. Neste estudo, os sentidos produzidos pelos
jornais mostram que as notícias contribuíram para conformar a realidade.
Por diversos motivos, existe de certa forma uma inconformidade por parte de
alguns grupos/ classes sociais que se simpatizam à ideia de que “bandido bom é
bandido morto”. Fica inviável, muitas vezes, tecer comentários e provocar
discussões acerca do tema. Tal dificuldade faz parte da tentativa de negar os
privados de liberdade que, apesar de invisibilizados pelo estado e pela sociedade,
representam a quarta maior população em privação de liberdade do mundo, fator
este muito preocupante.
No referido trabalho, percebeu-se, ao longo da discussão, de tudo que foi
relatado e discutido, todos os fatores configuram-se como problemas crônicos, não
só nas prisões do Estado, mas de todo Brasil. Desta forma, não há como se
esquecer de pensar que todos essas questões relacionadas às questões estruturais
exercem influências explicitamente negativas na vida dos presos, reflexo da
deterioração da saúde dos mesmos.
Deste modo, no que tange às questões prisionais e os problemas oriundos
delas, há uma grande dificuldade em dar início a diálogos e considerações mais
humanas, visto que, a cultura de exclusão, herdada do estado de exceção dos
governos totalitários, sobretudo a ditadura militar brasileira, impera na nossa
sociedade, ficando muito mais confortável dar continuidade ao julgamento e preferir
fechar os olhos às problemáticas. É preciso considerar: porque o cenário é este? O
que é necessário para mudar esta realidade?
Entender criticamente os acontecimentos transformados em notícias (para
além da notícia) requer considerar os processos sociopolíticos e culturais nos quais
se inserem. Comporta, enfim, esforços em direção à emancipação intelectual diante
do inacabamento humano já que são verdades produzidas sobre o mundo e
pessoas.
Frente a tais reflexões, alerta-se para a necessidade de se repensar a
garantia de direitos sociais em todos os níveis de complexidade, voltada ao contexto
51
da atual realidade vivenciada atualmente, visto que muitos fatores relacionados à
falta de acesso ou a deficiência das políticas sociais estão interligados ao fenômeno
do aprisionamento.
As questões suscitadas neste estudo merecem aprofundamentos dadas as
suas complexidades. Há de se ter o reconhecimento do acesso às politicas sociais
enquanto direitos garantidos a esses sujeitos em específico e o acesso à saúde da
população prisional enquanto um direito inserido no Sistema único de Saúde. Nesse
sentido percebe-se que há uma deterioração das condições de vida da população
em privação de liberdade que passa a conviver em situação degradante, diante de
uma situação de negligência, esquecidos e isolados pelo Estado (KOLLING et al.,
2013).
Também é necessário levar em consideração as fragilidades vividas no
sistema penitenciário. Talvez as más condições que os presos são submetidos
facilitam o crescimento das facções criminosas dentro dos presídios, nos quais o
Estado parece ter cada vez menos influência.
É necessário, entretanto, que se considerem as limitações do presente
trabalho, tendo em vista que toda interpretação é parcial e conflitiva e pode, muitas
vezes ter uma reinterpretação – o que sugere o desenvolvimento de outros estudos
relativos ao tema, ampliando o debate e uma compreensão mais profunda, com
utilização de outros métodos.
.
52
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SOUZA, A. M. Relatos da cidade: nomadismo, territorialidades urbanas e imprensa: Cuiabá/MT, segunda metade do século XX. Cuiabá/MT: Ed. Entrelinhas; EdUFMT, 2007.
SPINK, M. J. (Org.). Práticas cotidianas e a naturalização da desigualdade: uma semana de notícias nos jornais. São Paulo: Cortez, 2006.
THOMPSON, A. A Questão Penitenciária. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
WACQUANT, L. As prisões da miséria. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
ZALUAR, A. Integração perversa: pobreza e tráfico de drogas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004, 440
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ANEXOS
Anexo 1: Quadro para sistematização dos dados coletados
Data Edição nº Seção Notícia Fragmentos (Excertos)
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Anexo 2: Sistematização dos dados coletados no Jornal Diário de Cuiabá e A Gazeta, entre maio de 2015 e abril de 2016.
DIÁRIO DE CUIABÁ
Data: 10/05/2015 (domingo) - Edição nº14193 - Seção:cidades - Notícia: Menores de 21 terão celas separadas Excerto: ““Se não tiver ‘professores’ especializados em delitos, ainda poderá ser encaminhado para uma real ressocialização, disse”.
Data:20/05/2015 - Edição: 14201 – Seção: Polícia – Notícia: Sobe para 11 o número de presos “Entre os acusados estão um professor de dança tradicional mato-grossense e um taxista”
Data: 28/05/2015 - Edição: 14208 – Seção: Polícia – Notícia: Chefe da facção é presa pela 3ª vez Uma das líderes do grupo denominado “Comando Vermelho de MT”, conhecida por “Ge”, está novamente atrás das grades.
Data: 31/05/2015 – Edição: 14211 – Seção: Polícia – Notícia: PC evita tentativa de morte encomendada por preso “O acusado, Cristian Jhones Rodrigues, 21, teria atentado contra a vítima a mando de um presidiário de Rondonópolis (212 km ao Sul)”
Data: 04/06/2015 – Edição:14214 – Seção: policial – Notícia: Ex-presidiário é preso novamente Excerto: “Um ex-presidiário foi novamente preso por comercializar drogas em um lava-jato, no bairro Araés, em Cuiabá, na manhã de ontem”
Data: 10/06/2015 – Edição: 14217 – Seção: Polícia – Notícia: Detento usava um carro roubado Excerto:Um detento do regime semiaberto foi preso dentro do Fórum de Várzea Grande por ser suspeito de ter participado de um roubo de carro, na última segunda-feira (8).
Data: 12/06/2015 – Edição: 14219 – Seção: Polícia – Notícia: Penas somadas de estuprador atingem 83 anos de reclusão “Vanderlei, de 32 anos, foi preso pela Polícia Civil, em novembro de 2014. Ele é apontado como autor de sete roubos, sendo que em quatro ocasiões também estuprou as vítimas
Data: 14/06/2015 – Edição: 14221 – Seção: Polícia – Notícia: Menos presos, mais crimes “O secretário-adjunto de Segurança, Fábio Galindo, tem posição semelhante. “Somos permanentemente preocupados com a reincidência, porque sabemos que os policiais e os delegados já estão cansados de, reiteradas vezes, prender e encaminhar à Justiça determinado cidadão, que por uma questão legal do sistema jurídico é colocado na rua devido a uma série de benefícios, como liberdade provisória, fiança ou uma presunção de inocência elevada à ultima potência e, só depois de a pessoa usar 50 recursos, é que ela será presa definitivamente”
Data:27/06/2015 – Edição: 14232 – seção: Polícia – Notícia: Ordens saíam de dentro do Pascoal Excerto: “O peculiar nas ações da quadrilha era o fato de serem elas comandadas de dentro do Presídio Pascoal Ramos, onde o líder da turma cumpre pena”.
Data: 01/07/2016 – edição: 14235 – Seção: Cidades – Notícia: Juiz Geraldo Fidélis lembra que presidiário tem direito à condicional desde 2013 e ao semiaberto há meses e só não foi solto por falta de exame “Considerado de alta periculosidade em outros tempos, Márcio Lemos chegou a ser transferido para o Presídio de Segurança Máxima de Porto Velho (RO) em 2012” “Condenado por três roubos qualificados e dois latrocínios (roubos seguidos de morte” “Segundo o diretor, a unidade será toda reestruturada com um planejamento voltado para o trabalho agrícola, qualificação profissional, educação e ressocialização dos presos de baixa periculosidade vindos do regime fechado”
Data: 02/09/2015 – Edição: 14289 – Seção: Polícia – Notícia: Rapaz deixa prisão e volta a matar “Foi preso pela Polícia Militar às 22h, cinco horas depois de ter sido solto”.
Data: 20/09/2015 – Edição: 14298 – Seção: Polícia – Notícia: Coquetel da morte” faz nova vítima Não bastasse o horror a que foi submetido o homem identificado como Antônio Casemiro, seus assassinos ainda o obrigaram a morrer de maneira lenta e dolorosa, fazendo-o ingerir uma bebida tóxica criada diretamente no inferno disfarçado de sistema prisional do Brasil, o conhecido e muito utilizado coquetel da morte.
Data: 30/01/2016 – Edição:14406 – Seção: Polícia – Notícia: Presos passam no Enem e vão estudar Excerto: Três presos do Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC) foram aprovados para cursos na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e Universidade de Cuiabá (Unic). Com isso, eles poderão transformar a própria vida e hoje já conseguem enxergar com esperança uma nova chance de recomeçar
Data: 24/03/2016 – Edição: 14448 – Seção: Cidades – Notícia: Grande parte dos roubos e mortes ocorridos na Grande Cuiabá tem ligação com o crime organizado dentro de presídios Excerto: “A ordem de matar, como a do empresário Renato Cury, de 44 anos, em Várzea Grande, pode ter partido de dentro do presídio, segundo linha de investigação da Polícia Civil. L.P.S, que foi preso por latrocínio e agora
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está em liberdade, conta que, quando se associa a uma facção dentro do presídio, a regra é gerar dinheiro e muitas vezes através de golpe”[...]“Para Galindo, os presídios são locais sensíveis e potenciais alvos da criminalidade. "Em relação aos presídios, trata-se de um espaço onde está concentrada uma população que participou da vida criminosa no Estado e por isso precisamos conhecer quais são as articulações internas", afirmou”.
Data: 12/04/2016 – Edição:475537 – Seção: Policial – Notícia: Agentes descobrem túnel de 70 metros na PCE direto para a rua Excerto: “Buraco foi escavado no raio 4, onde cumprem pena 380 presos. Quinze deles foram flagrados sujos de barro. As informações são do diretor da unidade, Roberval Barros”.
Data: 28/04/2016 – Edição: 14471 – Seção: Cidades – Notícia: Mais de 5,6 mil presos de Mato Grosso são provisórios, ou seja, não tiveram condenação em primeiro grau de jurisdição “Chamam a atenção ainda os dados sobre as atividades educacionais e laborterápicas, consideradas importantes para a ressocialização do apenado e para prevenção da criminalidade mediante a redução da reincidência e mesmo diminuição dos incidentes prisionais como rebeliões e motins”.
A GAZETA
Data:11/05/2015 – Edição: 449107 – Seção: Policial – Notícia: Agentes fazem apreensões de drogas e celulares na PCE e em cadeia “Agentes penitenciários fizeram uma série de apreensões na Penitenciária Central do Estado (PCE) e na Cadeia Pública de Alto Araguaia (415 km ao sul de Cuiabá) entre os dias 8 e 11 de maio. No primeiro dia, a direção da maior unidade prisional de Mato Grosso apreendeu, em revista de rotina, oito celulares, quatro carregadores, uma bateria e uma porção de substância análoga a maconha”.
Data: 14/05/2015 – Seção: 449329 – Seção: Policial – Notícia: Mulheres levam drogas na vagina e em molho de cachorro-quente. Excerto: “Duas mulheres foram presas em flagrante tentando entrar na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá, com drogas para os respectivos companheiros. Uma delas escondeu tabletes de maconha em uma vasilha com molho de cachorro-quente. A outra carregava na vagina”.
Data: 15/05/2015 – edição: 449386 – Seção: Policial – Notícia: Agente é preso com drogas e celulares em presídio “Agente penitenciário de 33 anos foi detido em flagrante com drogas e celulares na Penitenciária Central do Estado (PCE). Arlindo Ferreira da Silva Neto foi autuado por tráfico e encaminhado para o Presídio de Santo Antônio do Leverger (34 km ao sul de Cuiabá)”.
Data: 18/05/2015 – Edição: 449580 – Seção: Policial – Notícia: Número de presas na liderança cresce. Excerto: “Diferente do entendimento da diretora do presídio, a delegada frisa que a mulher deixou de ser coadjuvante no crime e passou a ocupar a posição de liderança. “Antes, era comum falar que a mulher era usada como isca para facilitar a ação do homem. Não é isso que vemos hoje.
Data: 25/05/2015 – Edição: 450039 – Seção: Policial – Notícia: Tentativa de fuga é frustrada por agentes Excerto: “Uma tentativa de fuga foi registrada na tarde deste domingo (24), por volta das 12h, na Penitenciária Central do Estado (PCE). Doze presos estariam envolvidos no caso. Agentes penitenciários flagrarem grades cerradas da janela, localizada em uma das celas do raio 4. O horário de visitas do dia foi suspenso”
Data: 10/06/2015 – Edição: 451057 – Seção: Policial – Notícia: População penitenciária de MT diminui em quatro anos “O secretário adjunto de Administração Penitenciária, cel. PM Clarindo Alves de Castro, afirma que a diminuição dessa população “não foi obra do acaso” e lembra algumas das ações desenvolvidas para que isso acontecesse, como o plano de educação em prisões. “A reestruturação da carreira dos profissionais do Sistema Penitenciário, o curso básico de inteligência no sistema penitenciário, o lançamento do Procedimento Operacional Padrão do Sistema Penitenciário e a aquisição de tornozeleiras eletrônicas foram essenciais para atingir este resultado”
Data: 06/07/2015 – Edição: 452850 – Seção: Policial – Notícia: Preso na PCE atualiza página no facebook “As legendas das imagens divulgadas nos dias 3 de julho e 27 de junho sugerem que trata-se de maconha. O assunto ganhou destaque nacional e, nesta segunda-feira, segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), foi realizada uma vistoria nas celas do raio 1, onde Rodrigo encontra-se preso”
Data: 14/07/2015 – Edição: 453371 – Seção: Policial – Notícia: Presos iniciam princípio de motim na Penitenciária Central “Quatro presos que cumprem pena na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá, iniciaram de motim durante o banho de sol, na tarde de segunda-feira (13), e precisaram ser contidos por agentes penitenciários”.
Data: 14/07/2015 - Edição: 453371 - Seção:Policial - Notícia: Presos iniciam princípio de motim na Penitenciária Central Excerto: “Quatro presos que cumprem pena na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá, iniciaram de motim
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durante o banho de sol, na tarde de segunda-feira (13), e precisaram ser contidos por agentes penitenciários”.
Data: 15/07/2015 – Edição: 453450 – Seção: Policial – Notícia: Onze presos tentam fugir da Penitenciária Central do Estado “Com os presos foram encontrados serras e cordas artesanais, chamadas de "Maria Tereza", feitas de lençóis. Os presos são considerados de alta periculosidade. A Secretaria de Justiça e Direitos Humanos de Mato Grosso (Sejudh), deve abrir procedimento administrativo disciplinar contra os detentos”.
Data: 27/07/2015 – Edição:454275 – Seção: Policial – Notícia: Cozinheira tenta entrar em presídio com maconha na vagina Excerto: “A cozinheira Márcia Regina da Cunha Moraes, 33 foi presa na tarde de domingo (26), ao tentar entrar no Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC) , com uma porção de maconha introduzida na vagina. Ela visitaria o companheiro Renielson Pessoa de Barros.Ela foi autuada por tráfico de drogas e encaminhada ao Presídio Ana Maria do Couto May”.
Data: 30/08/2015 – Edição: 455667 – Seção: Policial – Notícia: Detento é encontrado morto na Penitenciária Central “Detento de 30 anos foi encontrado morto em uma cela da Penitenciária Central do Estado (PCE). Elison Souza Moura cumpria pena por roubo, e segundo o Instituto Médico Legal (IML) morreu por asfixia. Ele tinha marcas de espancamento pelo corpo”.
Data: 08/09/2015 – Edição: 457014 – Seção: Policial – Notícia: Presos serram grade e tentam fuga de penitenciária Excerto: “Detentos de um raio que cumprem pena na Penitenciária Central do Estado (PCE), no bairro Pascoal Ramos, em Cuiabá, tentaram fugir da unidade nesta segunda-feira (7). De acordo com a assessoria da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), o grupo conseguiu serrar parte de uma grade do Raio 3 e teve acesso ao pátio”.
Data: 09/09/2015 – Edição: 457138 – Seção: Policial – Notícia: Arcanjo já está na PCE e nesta 5ª vai a júri popular “João Arcanjo Ribeiro chegou na manhã desta quarta-feira (9), a Cuiabá, sob forte esquema de segurança de policiais penitenciários federais e foi encaminhado para a Penitenciária Central do Estado (PCE), onde permanecerá preso durante o julgamento em que é réu por duplo homicídio. Atualmente ele está detido em um presídio de Porto Velho, Rondônia”.
Data: 28/09/2015 – Edição: 458468 – Seção: Policial – Notícia: Agentes penitenciários encontram celular em bife e prendem mulher Excerto: “Valdirene Gomes dos Santos, que levava a marmita com a comida e os celulares costurados ao bife foi presa e autuada em flagrante pelo crime. Ela foi encaminhada para o Presídio Feminino Ana Maria do Couto May”.
Data: 01/10/2015 – Edição: 458691 – seção: Policial – Notícia: Mulheres tentam entrar com drogas e fermento na PCE Excerto: “Elas são descobertas porque apresentam comportamento estranho e nervosismo", conta um agente. Uma delas, Ana Flávia Souza, foi autuada por tráfico de drogas e encaminhada para o Presídio Feminino Ana Maria do Couto May”
Data:10/10/2015 – Edição: 459425 – Seção: Policial – Notícia: Comando Vermelho manda explodir açougue onde criminoso foi morto no CPA Excerto: “O artefato explosivo estava dentro de uma mochila e junto colocados vários cacos de vidro. O material seria usado para explodir um açougue com o dono e o funcionário dentro. O estabelecimento, na Avenida Doutor Ulisses Guimarães, próximo ao Terminal do CPA III, é o mesmo local, onde no dia 30 de setembro, durante a manhã, houve uma tentativa de assalto e o proprietário reagiu e matou o ladrão”.
Data: 02/11/2015 – Edição: 461087 – Seção: Policial – Notícia: Detento é morto dentro da Penitenciária Central do Estado A vítima teria sido executado pelo "tribunal da morte", onde os próprios presos decidem como e quando alguém irá morrer [..]Segundo informações, o detento teria sido assassinado pouco antes do jantar. Ele foi encontrado por agentes penitenciários”.
Data: 11/12/2015 – Edição: 461828 – Seção: Policial – Notícia: Presos fazem greve de fome por 'mordomias' na PCE “O movimento teve início nesta terça-feira (10) e as refeições servidas foram recusadas por todos. De acordo com o Sindicato dos Agentes Penitenciários de Mato, entre as reivindicações estão o aumento na quantidade de dias de visitas e a flexibilização nas revistas pessoais”.
Data: 13/12/2015 – Edição: 461939 – Seção: Policial – Notícia: Operação apreende celulares, armas e bebidas na PCE; Presos continuam em greve de fome “Agentes penitenciários realizaram revista nesta sexta-feira (13), nos raios da Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá, onde os presos permanecem há 4 dias em greve de fome, e apreenderam dezenas de celulares, armas e bebidas artesanais, além de trouxinhas de drogas”.
Data: 17/12/2015 – Edição:464653 – Seção: Policial – Notícias: Agentes penitenciários contêm fuga de 11 internos Excerto: “internos tentaram fugir da Penitenciária Central do Estado (PCE) na última terça-feira (16). Agentes descobriram um túnel que levava até o pátio da Unidade. A ação foi imediatamente contida pelos servidores penitenciários e pelo
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Grupo de Intervenção Rápida (GIR)”
Data: 09/02/2016 – Edição: 469338 – Seção: Cidades – Notícias: Presos curtem carnaval exibindo 'dinheiro do tráfico' em selfies Agentes penitenciários que trabalham na Penitenciária Central do Estado (PCE), a maior de Mato Grosso com capacidade para 891 presos,mas superlotada em mais de 200%, denunciaram nesta terça-feira (9), de carnaval, que detentos da unidade comemoraram a folia de momo fazendo selfies (autoretratos) e exibindo dinheiro do tráfico de drogas que acontece dentro da penitenciária”.
Data: 05/04/2016 – Edição: 474755 – Seção: Policial – Notícia: Gaeco denuncia 14 do Comando Vermelho Excerto: “Os líderes da quadrilha comandam o crime de dentro das unidades prisionais e contam com “soldados do crime” dentro e fora dos presídios, que atendem as demandas determinadas pelos líderes[...]A denúncia feita pelo Gaeco é baseada nas investigações realizadas pela Polícia Civil, que chegou a deflagrar as operações “Grená” e “Grená 2” para desarticular a organização criminosa. Ainda como parte das tentativas de desmobilizar o grupo criminoso, em fevereiro a Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) transferiu sete presos para Penitenciárias Federais. Entre eles, estavam líderes da facção criminosa”.
Data: 11/04/2016 – Edição: 475425 – Seção: Policial – Notícia: Operação apreende 106 celulares na PCE “Garrafas de bebidas produzidas pelos próprios presos, armas feitas de barras de ferro (chuços) e porções de pasta base de cocaína e maconha também foram localizados e apreendidos”.
Data: 12/04/2016 – Edição:475537 – Seção: Policial – Notícia: Agentes descobrem túnel de 70 metros na PCE direto para a rua Excerto: “Buraco foi escavado no raio 4, onde cumprem pena 380 presos. Quinze deles foram flagrados sujos de barro. As informações são do diretor da unidade, Roberval Barros”.
Data: 26/04/2016 – Edição: 476992 – Seção: Policial – Notícia: Sistema Penitenciário de MT: colapso à vista Ainda na última semana, o juiz de Execuções Penais de Cuiabá, Geraldo Fidelis, fez um desabafo na imprensa, preocupado com a superlotação nas unidades de capital, recorde, inclusive, de lotação na Penitenciária Central do Estado (PCE), com apenas 891 vagas e que abriga mais de 2.100 presos.
Data: 21/04/2016 – Edição: 476647 – Seção: Judiciário – Notícia: Agente preso com drogas e celulares não pode contatar presos “Preso em flagrante em 14 de maio de 2015 quando entrava na Penitenciária Central do Estado (PCE) com 8 celulares e 84 gramas de maconha, o agente penitenciário Arlindo Ferreira da Silva Neto está proibido de manter contato com presos da unidade. A decisão é da juíza Célia Regina Vidotti que acatou, parcialmente, um pedido formulado pelo Ministério Público Estadual (MPE) para que ele fosse afastado do cargo. À época da prisão, foi constatado que o objetivo dele era vender a droga e os aparelhos para presidiários da PCE”.
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