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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde
Curso de Medicina Veterinária
CAMILA CAVASSIN
DOENÇA DO TRATO URINÁRIO INFERIOR DOS FELINOS – RELATO DE CASO
E
HÉRNIA PERINEAL EM GATO – RELATO DE CASO
CURITIBA
2017
CAMILA CAVASSIN
DOENÇA DO TRATO URINÁRIO INFERIOR DOS FELINOS – RELATO DE CASO
E
HÉRNIA PERINEAL EM FELINO – RELATO DE CASO
Relatório de Estágio Curricular apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médico Veterinário.
Professor Orientador: Prof. Vinícius Ferreira Caron
CURITIBA
2017
Reitor
Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos
Pró-Reitora Promoção Humana
Prof. Ana Margarida de Leão Taborda
Pró-Reitora
Sra. Camille Rangel
Pró-Reitor Acadêmico
Prof. João Henrique Faryniuk
Pró-Reitor de Planejamento
Sr. Afonso Celso Rangel dos Santos
Diretor de Graduação
Prof. João Henrique Faryniuk
Secretário Geral
Sr. Bruno Carneiro da Cunha Diniz
Coordenador do Curso de Medicina Veterinária
Prof. Welington Hartmann
Supervisora de Estágio Curricular
Prof. Jesséa de Fátima França
Campus Barigui
Rua Sydnei A Rangel Santos, 238
CEP: 82010-330 – Curitiba – PR
Fone: (41) 3331-7958
TERMO DE APROVAÇÃO
CAMILA CAVASSIN
DOENÇA DO TRATO URINÁRIO INFERIOR DOS FELINOS – RELATO DE CASO
E
HÉRNIA PERINEAL EM GATO – RELATO DE CASO
Este trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção do título de Médico Veterinário no Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do
Paraná.
Curitiba, ____ de _______ de 2017.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Orientador Prof. Vinícius Ferreira Caron
__________________________________________
__________________________________________
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, pelo esforço para que eu pudesse concluir essa
fase da minha vida, e a seus incentivos e carinho durante todo esse período.
APRESENTAÇÃO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso (T.C.C.) apresentado ao Curso
de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, da
Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de
Médico Veterinário, é composto pelo Relatório de Estágio, onde são descritas as
atividades realizadas durante o período de 20 de fevereiro a 11 de maio de 2017, na
Clínica Veterinária Pró-Animal, localizado no município de Almirante Tamandaré, e
relata dois casos acompanhados durante o estágio, um de doença do trato urinário
inferior dos felinos e outro de hérnia perineal em felino macho.
RESUMO
O presente trabalho foi desenvolvido com a finalidade de relatar o estágio curricular
supervisionado, realizado no período de 20 de fevereiro a 11 de maio de 2017, na
Clínica Veterinária Pró-Animal onde foram realizados 156 atendimentos, incluindo
consultas médicas, retornos e procedimentos cirúrgicos. Também faz parte deste
trabalho, duas revisões de literatura e dois relatos de caso, um sobre doença do
trato urinário inferior dos felinos, uma doença que afeta a vesícula urinaria e/ou a
uretra dos gatos. O relato de caso aconteceu com um gato de um ano de idade,
provocado por uma situação de estresse. O outro, sobre hérnia perineal, que é a
separação e/ou ruptura dos músculos do períneo, o caso aconteceu em um felino e
estava associada a uma fratura de cauda, provocada por um trauma.
Palavras-chave: cistite idiopática; cristalúria; felinos
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Recepção da Clínica Veterinária Pró-Animal ........................................... 15
Figura 2 – Consultório da Clínica Veterinária Pró-Animal ......................................... 15
Figura 3 - Sala de imunização da Clínica Veterinária Pró-Animal ............................. 16
Figura 4 – Internamento da Clínica Veterinária Pró-Animal ...................................... 16
Figura 5 - Sala de pré e pós-operatório da Clínica Veterinária Pró-Animal ............... 17
Figura 6 - Centro cirúrgico da Clínica Veterinária Pró-Animal ................................... 17
Figura 7 - Urólito de estruvita retirado do interior de uma vesícula urinária .............. 25
Figura 8 – Urólito de oxalato de cálcio retirado do interior de uma vesícula urinária 26
Figura 9 - Cristais de Oxalato de cálcio na urina ....................................................... 27
Figura 10 - Cristais de estruvita na urina ................................................................... 27
Figura 11 – Radiografia lateral de felino, onde se pode observar presença de urólitos
na vesícula urinária ................................................................................................... 30
Figura 12 - Massagem peniana em felino, para desobstrução uretral ....................... 32
Figura 13 – Desobstrução de um felino com cateterismo uretral .............................. 32
Figura 14 - Ultrassonografia do paciente, onde é possível observar grande
quantidade de sedimento no interior da vesícula urinária ......................................... 34
Figura 15 - Aumento perineal provocado por uma hérnia ......................................... 38
Figura 16 - Radiografia mostrando retroflexão de vesícula urinária .......................... 39
Figura 17 - Colocação das suturas em padrão simples separado, entre os músculos
que fazem parte da hérnia na técnica de herniorrafia clássica.................................. 41
Figura 18 - Incorporação do ligamento sacrotuberal na sutura ................................. 42
Figura 19 – Aspecto final da Herniorrafia Clássica .................................................... 42
Figura 20 - Gato atendido na Clínica Veterinária Pró-Animal .................................... 45
Figura 21 - Radiografia do paciente mostrando a hérnia perineal associada a fratura
de cauda ................................................................................................................... 46
Figura 22 - Preparo do gato para cirurgia ................................................................. 47
Figura 23 - Retroflexão da vesícula urinária, observada durante o procedimento .... 48
Figura 24 - Colocação de suturas entre os músculos coccígeo e elevador do ânus . 48
Figura 25 - Herniorrafia finalizada ............................................................................. 49
Figura 26 - Pós-operatório ........................................................................................ 49
Figura 27 - Retorno do paciente ................................................................................ 50
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Percentual dos 156 atendimentos realizados no período de 20 de
fevereiro a 11 de maio, na clínica veterinária Pró-Animal. ........................................ 19
Gráfico 2 - Relação entre machos e fêmeas, de acordo com a espécies dos
atendimentos realizados no período de 20 de fevereiro a 11 de maio, na clínica
veterinária Pró-Animal. .............................................................................................. 20
Gráfico 3 - Distribuição de consultas, de acordo com a idade dos animais atendidos
na Clínica Veterinária Pró-Animal no período de 20 de fevereiro a 11 de maio. ....... 21
Gráfico 4 - Distribuição de procedimentos cirúrgicos, de acordo com a idade dos
animais atendidos na Clínica Veterinária Pró-Animal no período de 20 de fevereiro a
11 de maio................................................................................................................. 21
Gráfico 5 - Percentual de sistemas afetados, diagnosticados durante o período de 20
de fevereiro a 11 de maio, na Clínica Veterinária Pró-Animal. .................................. 22
Gráfico 6 - Percentual de procedimentos cirúrgicos realizados durante o período de
20 de fevereiro a 11 de maio, na Clínica Veterinária Pró-Animal. ............................. 23
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
%: Porcentagem
CI: Cistite idiopática
DTUIF: Doença do trato urinário inferior dos felinos
Et al.: e colaboradores
Kg: Quilograma
Mg: Miligrama
Ml: Mililitro
Ph: Potencial hidrogeniônico
TCC: Trabalho de Conclusão de Curso
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 13
2. LOCAL DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO ....................................................... 14
2.1 DESCRIÇÃO DA CLÍNICA ............................................................................... 14
2.2. ATIVIDADES REALIZADAS NA CLÍNICA....................................................... 18
2.3. CASUÍSTICA ................................................................................................... 19
3. DOENÇA DO TRATO URINÁRIO INFERIOR DOS FELINOS ........................... 24
3.2 EPIDEMIOLOGIA ............................................................................................. 24
3.3 ETIOPATOGENIA ............................................................................................ 24
3.3.1 CISTITE IDIOPÁTICA ................................................................................ 24
3.3.2 UROLITÍASE ............................................................................................. 25
3.3.3 TAMPÕES URETRAIS .............................................................................. 26
3.3.4 AGENTES INFECCIOSOS ........................................................................ 28
3.4 SINAIS CLÍNICOS ............................................................................................ 28
3.5 DIAGNÓSTICO ................................................................................................ 28
3.6 TRATAMENTO ................................................................................................. 30
3.6.1 SEM OBSTRUÇÃO URETRAL .................................................................. 30
3.6.2 COM OBSTRUÇÃO URETRAL ................................................................. 31
3. 7 PREVENÇÃO .................................................................................................. 33
3.7 RELATO DE CASO .......................................................................................... 34
3.8 DISCUSSÃO .................................................................................................... 36
4. HERNIA PERINEAL ............................................................................................. 37
4.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 37
4.2 SINAIS CLÍNICOS ............................................................................................ 38
4.3 DIAGNÓSTICO ................................................................................................ 38
4.4 TRATAMENTO ................................................................................................. 39
4.4.1 Tratamento clínico ..................................................................................... 39
4.4.2 Tratamento cirúrgico .................................................................................. 40
4.4.2.2 Herniorrafia com transposição do músculo obturador interno ................. 43
4.3 CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS ................................................................... 44
4.4 RELATO DE CASO .......................................................................................... 45
4.5 DISCUSSÃO .................................................................................................... 51
5. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 52
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 53
13
1. INTRODUÇÃO
Esse relatório de estágio tem como objetivo descrever as atividades
realizadas durante o estágio curricular supervisionado, que foi realizado na Clínica
Veterinária Pró-Animal, no período de 20 de fevereiro a 11 de maio de 2017, sendo
supervisionado pelo médico veterinário Vinícius F. Tavares, totalizando 420 horas.
No relatório é descrito o local de estágio, as atividades desenvolvidas durante
esse período e a casuística observada na clínica. Além disso, consta o relato de dois
casos clínicos atendidos nesse período.
A realização do estágio na Clínica Veterinária Pró-Animal permitiu a
ampliação do conhecimento nas áreas de clínica médica e clínica cirúrgica de
pequenos animais, acrescentando tanto na vida profissional, quanto na pessoal. O
objetivo do estágio curricular é inserir o acadêmico na rotina veterinária, fazendo
com que o mesmo, possa colocar em prática os conhecimentos adquiridos durante a
graduação.
.
14
2. LOCAL DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO
2.1 DESCRIÇÃO DA CLÍNICA
A Clínica Veterinária Pró-Animal fica localizada na Rua Rachel Cândido de
Siqueira no centro do Município de Almirante Tamandaré. O horário de
funcionamento é das 8 às 12 horas e das 13:30 às 18 horas de segunda-feira à
sexta-feira e das 8 às 15 horas no sábado.
A clínica presta serviços de consultas médicas, vacinas, internamento e
cirurgias para cães e gatos.
O atendimento funciona através do agendamento prévio de consultas, vacinas
e cirurgias. Os casos emergenciais são prioridades. Também é oferecido o serviço
de consultas e vacinas em domicílio.
A clínica possui uma recepção (Figura 1), onde é realizado agendamento,
pagamento dos serviços oferecidos e cadastro dos pacientes e tutores. Apresenta
um consultório (Figura 2), sala de imunização (Figura 3), internamento (Figura 4),
sala de pré e pós-operatório (Figura 5) e centro cirúrgico (Figura 6).
No consultório há uma bancada de inox para a realização do exame físico dos
pacientes, prateleira de madeira com materiais utilizados para a consulta, armário
com alguns medicamentos, pia e mesa para realização da anamnese.
A sala de imunização conta com bancada de inox, para avaliação do paciente,
armário de madeira contendo os materiais para ser utilizados durante o exame e a
vacina, geladeira contendo as vacinas para cães e gatos e pia, para higienização
das mãos.
O internamento conta com gaiolas de diversos tamanhos e possui um armário
com os medicamentos além de outros materiais e alimentação para os pacientes
que necessitam de internamento.
O centro cirúrgico é composto por mesa de inox, onde são realizadas as
cirurgias, aparelho de anestesia inalatória, bombas de infusão, bisturi elétrico e
monitor multiparamétrico.
15
Figura 1 – Recepção da Clínica Veterinária Pró-Animal
Figura 2 – Consultório da Clínica Veterinária Pró-Animal
16
Figura 3 - Sala de imunização da Clínica Veterinária Pró-Animal
Figura 4 – Internamento da Clínica Veterinária Pró-Animal
17
Figura 5 - Sala de pré e pós-operatório da Clínica Veterinária Pró-Animal
Figura 6 - Centro cirúrgico da Clínica Veterinária Pró-Animal
18
2.2. ATIVIDADES REALIZADAS NA CLÍNICA
As atividades desenvolvidas no estágio foram acompanhamento e auxílio em
consultas médicas, procedimentos cirúrgicos e no internamento.
As funções desenvolvidas durante as consultas médicas foram realização do
exame físico geral dos pacientes, aferindo temperatura retal, frequência cardíaca e
respiratória, palpação de linfonodos, coloração de mucosas, entre outras, auxílio
durante a contenção dos animais para avaliação ou coleta de matérias para exames.
No centro cirúrgico, a função desempenhada era auxílio durante o pré-
operatório e auxílio na anestesia e preparação do paciente. Também foi realizado
auxílio ao cirurgião, além de avaliação dos parâmetros vitais no pós-operatório dos
pacientes.
No internamento, sob supervisão do médico veterinário responsável, foram
realizados procedimentos de coleta de sangue, acesso venoso, aplicação de
medicação, limpezas de feridas, curativos e colocação de talas nos animais
internados.
19
2.3. CASUÍSTICA
No período do estágio supervisionado, foram acompanhados 77 consultas, 19
retornos e 60 procedimentos cirúrgicos, totalizando 156 atendimentos (Gráfico 1).
49%
12%
39%
ATENDIMENTOS
Consultas
Retornos
Procedimentos Cirúrgicos
Gráfico 1 - Percentual dos 156 atendimentos realizados no período de 20 de fevereiro a 11 de maio, na clínica veterinária Pró-Animal.
20
Dos 156 atendimentos, 126 foram para cães, sendo que 73 eram machos e
53, fêmeas e 30 atendimentos foram de gatos, sendo 21 machos e 9 fêmeas
(Gráfico 2).
Os pacientes atendidos nesse período foram divididos em grupo por faixas
etárias de até 5 anos, de 6 a 10 anos e acima de 10 anos. Dos animais de até 5
anos, 42 passaram por consultas e 45 por cirurgias. Da faixa etária de 6 a 10 anos,
27 pacientes foram atendidos em consultas e 12 em cirurgias. Dos animais com
mais de 11 anos, 8 pacientes passaram por consulta e apenas 3 por cirurgia
(Gráficos 3 e 4).
73
21
53
9
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Cães Gatos
Nº
RELAÇÃO DE MACHOS E FÊMEAS
Machos Fêmeas
Gráfico 2 - Relação entre machos e fêmeas, de acordo com a espécies dos atendimentos realizados no período de 20 de fevereiro a 11 de maio, na clínica veterinária Pró-Animal.
21
As consultas foram divididas de acordo com o sistema afetado. 24 pacientes
apresentaram afecções gástricas, 16 dermatológicas, 8 reprodutivas, 5 hepáticas, 9
55%35%
10%
IDADE
0 a 5 anos
6 a 10 anos
Acima de 10 anos
75%
20%
5%
IDADE
0 a 5 anos
6 a 10 anos
Acima de 10 anos
Gráfico 3 - Distribuição de consultas, de acordo com a idade dos animais atendidos na Clínica Veterinária Pró-Animal no período de 20 de fevereiro a 11 de maio.
Gráfico 4 - Distribuição de procedimentos cirúrgicos, de acordo com a idade dos animais atendidos na Clínica Veterinária Pró-Animal no período de 20 de fevereiro a 11 de maio.
22
urinárias, 2 cardíacas e em 13 animais não foi possível definir um diagnóstico devido
a não realização de exames solicitados ou não retorno com o paciente.
Gráfico 5 - Percentual de sistemas afetados, diagnosticados durante o período de 20 de fevereiro a 11 de maio, na Clínica Veterinária Pró-Animal.
24
16
8
5
9
2
13
0
5
10
15
20
25
30
NºDIAGNÓSTICOS
Afecções Gástricas
Afecções Dermatológicas
Afecções Reprodutivas
Afecçoes Hepáticas
Afecções Urinárias
Afecções Cardíacas
Sem diagnóstico
23
Das cirurgias acompanhadas, 39 foram castrações (Ovário Salpingo
Histerectomias e Orquiectomias), sem que 31 foram eletivas e 8 com finalidade
terapêutica. Também foram acompanhados 10 mastectomias, 2 uretrostomias, 1
correção de hérnia perineal e 8 profilaxias dentárias.
31
8
10
21
8
0
5
10
15
20
25
30
35
NºPROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS
Castrações eletivas
Castrações terapêuticas
Mastectomias
Uretrostomia
Hérnia Perineal
Profilaxias dentárias
Gráfico 6 - Percentual de procedimentos cirúrgicos realizados durante o período de 20 de fevereiro a 11 de maio, na Clínica Veterinária Pró-Animal.
24
3. DOENÇA DO TRATO URINÁRIO INFERIOR DOS FELINOS
3.1 INTRODUÇÃO
É uma doença que afeta a vesícula urinária e a uretra dos gatos e possui
várias etiologias. É muito comum de ser encontrada na clínica de felinos. O quadro
clínico do paciente pode ser caracterizado por hematúria, disúria, polaciúria,
estrangúria e pode ou não causar obstrução (SILVA, 2009).
3.2 EPIDEMIOLOGIA
A doença do trato urinário inferior de felinos (DTUIF) é mais frequente em
gatos de meia idade, machos, com peso elevado, que praticam pouco exercício
físico e se alimentam de ração sólida (BOAVISTA, 2015).
Fatores comportamentais podem contribuir para o surgimento da DTUIF,
como pouca atividade física e estresse (PEREIRA, 2009).
3.3 ETIOPATOGENIA
3.3.1 CISTITE IDIOPÁTICA
A cistite idiopática (CI) é uma doença frequente em gatos, mas seu
diagnóstico ainda é difícil, já que sua etiologia ainda não está bem definida O
diagnóstico é feito por exclusão de outras causas de DTUIF, como a urolitíase,
tampões uretrais e agentes infecciosos. O estresse tem sido apontado como um dos
principais fatores predisponentes sendo o manejo ambiental uma indicação
terapêutica bem eficiente (SILVA et al., 2013). A maioria dos felinos com DTUIF,
apresentam a cistite idiopática (GUNN-MOORE, 2003). Os sinais clínicos são
inespecíficos e comuns como polaciúria, estrangúria, disúria, hematúria, periúria
(SILVA et al., 2013).
25
3.3.2 UROLITÍASE
Urolitíase é a formação de urólitos no trato urinário. A composição mineral
pode ser variada. Os urólitos mais observados são estruvita (Figura 7), geralmente
associado a urina básica e oxalato de cálcio (Figura 8), geralmente associado a
urina ácida. Dietas comercias são utilizadas para dissolver urólitos de estruvita
(GUNN-MOORE, 2003). Os menos comuns são o de urato de amônio, o fosfato de
cálcio, a cistina e a sílica (SILVA, 2016).
Figura 7 - Urólito de estruvita retirado do interior de uma vesícula urinária
Fonte: OneVet – Nutrição Veterinária
26
Fonte: OneVet – Nutrição Veterinária
3.3.3 TAMPÕES URETRAIS
Os tampões uretrais estão relacionados com processos obstrutivos. São
constituídos por uma matriz coloide proteica (mucoproteínas, albumina, globulinas,
células), e matriz cristalino (estruvita). Essa matriz proteica pode se soltar a partir de
processos inflamatórios (GUNN-MOORE, 2003). Essa inflamação pode ser
neurogênica, idiopática ou secundária a alterações neoplásicas. Tampões formados
por colóide denso podem causar obstrução sem cristalúria (PEREIRA, 2009).
A existência de uma cristalúria (Figura 9 e 10) poderá resultar em obstrução
uretral sem matriz coloidal, mas em muitos felinos, se manifesta de forma silenciosa
(GUNN-MOORE, 2003).
Figura 8 – Urólito de oxalato de cálcio retirado do interior de uma vesícula urinária
27
Fonte: Rosa, 2010
Fonte: Annunziata, 2009
Figura 9 - Cristais de Oxalato de cálcio na urina
Figura 10 - Cristais de estruvita na urina
28
3.3.4 AGENTES INFECCIOSOS
Infecções bacteriana são raras nos gatos, quando ocorrem, geralmente
aparecem em animais com o sistema imune debilitado devido a doenças ou
tratamentos concomitantes (MARTINS, 2016).
3.4 SINAIS CLÍNICOS
As manifestações clínicas variam de acordo com a presença ou a ausência de
obstrução, seu grau e a duração da doença (ROSA, 2010). Em felinos não
obstruídos os sinais geralmente são polaciúria, disúria, estrangúria, hematúria,
vocalização ao urinar e lambeduras na genitália, também podem urinar em locais
inapropriados (periúria) (KAUFMANN; NEVES; HABERRMANN, 2009). Quando
ocorre obstrução, os sintomas dependem da duração da obstrução. Inicialmente, o
gato irá fazer tentativas de urinar, andar de um lado para outro, se esconder, miar e
lamber a genitália. Também podem demostrar ansiedade, sensibilidade abdominal, o
pênis pode estar exposto e congesto. Dentro de 36 a 48 horas, a obstrução vai
provocar o aparecimento de sintomas de azotemia pós renal, induzindo vômito,
desidratação, depressão, fraqueza, colapso, estupor, hipotermia e morte súbita. Se a
obstrução for parcial, as várias tentativas de urinar resultarão em pouca quantidade
de urina, em gotas, com coloração avermelhada, permanecendo um longo período
em posição de micção (ROSA, 2010).
Na maioria das vezes o tutor demora para perceber essas alterações
comportamentais no paciente, levando ao veterinário tardiamente, quando já
aparecem sintomas de azotemia pós renal (ROSA, 2010).
3.5 DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é feito combinando dados do histórico do paciente, seus sinais
clínicos, exames físico e exames laboratoriais, que incluem urinálise, cultura e
antibiograma da urina e análise de urólitos, além de exames de imagem. Os exames
de imagem realizados incluem radiografias simples e contrastadas, ultrassonografia
abdominal e uroendoscopia (COSTA, 2009).
29
Geralmente exames de sangue como hemograma e perfil bioquímico renal
não apresentam alterações em caso de animais não obstruídos, a não ser que exista
uma insuficiência renal. Em casos de obstrução uretral prolongada, também se deve
incluir nos exames dosagem de ureia e creatinina, glicose, cálcio, fósforo, sódio,
potássio e proteínas totais (COSTA, 2009).
No exame físico do paciente não obstruído, os parâmetros podem estar
inalterados, exceto pela palpação abdominal desconfortável, com a bexiga pequena
e de fácil compressão . Se o paciente estiver obstruído, será possível perceber dor
evidente ao palpar a porção caudal do abdômen. A bexiga estará distendida e
repleta e de difícil compressão. O pênis pode projetar-se do prepúcio (FONTE,
2010).
A urinálise pode determinar a presença de tampões uretrais, urolitíases, e a
provável composição dos urólitos. Cristais de estruvita geralmente não estão
associados ao pH ácido. O oxalato de cálcio geralmente está associado a urina
ácida. Deve ser considerada a dieta, medicações, densidade, pH urinário e
conservação da amostra antes de interpretar os resultados (MARTINS, 2016). Em
caso de cistite idiopática, a urinálise pode apresentar hematúria e proteinúria, mas
sua ausência não exclui o diagnóstico de CI. Cristalúria pode aparecer, mas a
cultura da urina terá resultado sempre negativo (HOSTUTLER; CHEW; DIBARTOLA,
2005).
Na radiografia é possível determinar uma possível urolitíase (Figura 11) e
também permite a avaliação da coluna vertebral para verificar algum trauma
(GALVÃO et al., 2010). Quando não há obstrução ou presença de cálculos, os
achados radiográficos não são específicos, mostrando apenas a vesícula urinária
menor que o normal (FONTE, 2010).
No exame ultrassonográfico é possível analisar a integridade de todo o trato
urinário, e também detecta a presença de cálculos e tampões que estão na bexiga
(PORTELA, 2016). Pequenas partículas hiperecóicas representam células brancas e
cristais. A uretra distal não pode ser visualizada (PORTELA, 2016).
Quando existe suspeita de alterações uretrais ou neoplasias uretrais ou
vesicais, o exame de cistoscopia pode ser realizado. Também pode ser utilizado
para acessar cálculos uretrais e confirmar o diagnóstico de cistite. Nesse caso será
possível visualizar petéquias na vesícula (DOWERS, 2009).
30
Fonte: Daniel, 2015
3.6 TRATAMENTO
3.6.1 SEM OBSTRUÇÃO URETRAL
Animais que apresentam estrangúria, disúria e hematúria, geralmente
deixarão de ser sintomáticos dentro de 5 a 7 dias, com ou sem iniciar algum
tratamento (MARTINS, 2016). Em casos de cristais de estruvita, pode ser instituída
uma alimentação calculolítica, altamente energética, baixo nível de magnésio e com
teor proteico próximo de 40%, com intuito de diminuir o pH da urina. O cloreto de
sódio pode ser introduzido na alimentação com o intuito de aumentar a ingestão de
água e por consequência aumentar a diurese. Quando existe comprometimento
sistêmico, os gatos devem receber o tratamento de suporte antes de iniciar a nova
dieta. Acidificantes de urina podem ser inclusos, mas com cautela pois existe risco
de desenvolver acidose metabólica, hipocalcemia, disfunção renal e formação de
urólitos de cálcio (KAUFMANN, 2009).
Quando a etiologia for cistite idiopática, ela é auto limitante e tende a
desparecer em 2 a 3 dias. Nesses casos, deve ser fornecida apenas terapia
analgésica, recomenda-se buprenorfina por via oral (0,01 mg/kg), butorfanal por via
Figura 11 – Radiografia lateral de felino, onde se pode observar presença de urólitos na vesícula urinária
31
subcutânea ou via oral (0,2 mg/kg) e se necessário, adesivo de fentanil. O uso de
anti-inflamatórios não esteroidais também são prescritos, apresentando resultados
variáveis (NELSON, COUTO, 2015).
3.6.2 COM OBSTRUÇÃO URETRAL
Assim que for confirmada a obstrução, o paciente deve ser imediatamente
avaliado e estabilizado. Deve ser avaliada a presença de azotemia pós renal,
hipercalcemia e distúrbios ácido básicos. Se houver hipercalemia deve ser instituída
uma terapia a base de fluidoterapia, insulina regular (0,25 a 0,5 U/kg) e dextrose a
50%. A acidose geralmente é corrigida com a fluido intravenosa, mas, em casos
severos, pode-se usar bicarbonato de sódio (1-2 mq/kg). Após a radiografia para
identificar o cálculo, deve-se realizar uma cistocentese descompressiva. Uma agulha
de calibre 22 é inserida no interior da vesícula urinaria com o bisel em direção ao
trígono, então a agulha é acoplada em uma extensão, a uma torneira de 3 vias e
seringa de 20 ou 35 ml. Assim é necessária apenas uma inserção da agulha na
bexiga, então a urina é drenada. Deve ser administrado um analgésico, como a
buprenorfina 0,01mg/kg, intravenoso a cada 8 ou 12 horas (NELSON, COUTO,
2015).
Em poucos casos pode-se remover tampões uretrais com uma massagem na
parte distal do pênis (Figura 12). O cateterismo uretral é a forma mais fácil e segura
de aliviar a obstrução. Após a tricotomia e higienização da região peniana, o cateter
é inserido na uretra distal (Figura 13), usando-se uma técnica estéril, com o paciente
anestesiado. O cateter, então deve ser conectado a uma extensão e uma torneira de
3 vias, pois pode ser necessário uma lavagem da uretra com solução salina
(NELSON, COUTO, 2015). Se a desobstrução não for possível ou ocorrer recidiva é
necessário realizar o procedimento de uretrostomia (PEIXOTO, et al, 1997).
O procedimento mais realizado é o de uretrostomia perineal, mas em casos
de lesão permanente, a técnica pré-púbica e subpúbica podem ser indicadas
(FOSSUM, 2005).
A técnica de uretrostomia pré-púbica, faz o desvio urinário permanente, o
estoma uretral cutâneo é colocado no abdômen ventrocaudal. É um procedimento
de salvamento realizado quando os danos na uretra membranosa ou peniana são
32
irreparáveis (FOSSUM, 2005). A uretrostomia subpúbica apresenta menores riscos
de complicações pós-operatórias (MENEZES et al, 2014).
Fonte: Souza, 2016
Figura 13 – Desobstrução de um felino com cateterismo uretral
Fonte: Souza, 2016
Figura 12 - Massagem peniana em felino, para desobstrução uretral
33
3. 7 PREVENÇÃO
Aumentar a ingestão de água (FERREIRA, 2013) e fornecer alimentação
enlatada ao invés de ração seca, pode prevenir o aparecimento de DTUIF, pois
facilita a ingestão de água. A redução do estresse também pode ajudar a diminuir os
sinais clínicos (SENIOR, 2006).
34
3.7 RELATO DE CASO
Gato macho, de 1 ano de idade, sem raça definida, 4,1 kg, foi atendido na
Clínica veterinária Pró-Animal no dia 24 de fevereiro de 2017.
O tutor relatou que o paciente parecia ter dor ao urinar e tinha percebido
sangue na urina. Há duas semanas foi adotado outro gato e eles dividiam a mesma
caixa de areia (Liteira).
Durante o exame físico geral do paciente não foram encontradas alterações
significativas, porém o paciente demonstrou sentir dor durante a palpação
abdominal. Foram solicitados os seguintes exames: hemograma, ureia, creatinina,
alanina de aminotransferase (ALT), fosfatase alcalina (FA), urinálise, radiografia e
ultrassonografia abdominal.
Os exames de sangue e a radiografia se apresentaram dentro dos padrões.
Na ultrassonográfica foi possível observar uma grande quantidade de sedimento
urinário e cristais na vesícula urinária (Figura 14). Na urinálise, foram encontrados
cristais de estruvita.
Fonte: Pró-Animal
Figura 14 - Ultrassonografia do paciente, onde é possível observar grande quantidade de sedimento no interior da vesícula urinária
35
Foi realizado tratamento com tramadol 2 mg/kg/TID/VO por 5 dias e
meloxicam 0,1 mg/kg/SID/VO por 5 dias. Foi prescrito, também, uma ração
calculolítica, por 2 meses. Além de recomendado complementar a dieta com ração
úmida e a aquisição de pelo menos mais uma caixa de areia (Liteira).
A tutora retornou no dia 6 de março, 10 dias após a primeira consulta e
relatou que o paciente já se sentia melhor, não apresentavam mais hematúria e nem
estrangúria, apesar de não ter acrescentado outra caixa de areia na residência. No
dia 26 de abril (61 dias após início do tratamento), uma nova ultrassonografia foi
realizada e não foram detectados cristais, a dieta foi suspensa após esse dia.
36
3.8 DISCUSSÃO
A doença do trato urinário inferior dos felinos é mais comum em gatos de
meia idade, machos, com peso elevado (BOA VISTA, 2015), porém o gato atendido
era novo e estava com escore corporal dentro dos padrões. O estresse é um dos
fatores predisponentes para o surgimento de DTUIF (PEREIRA, 2009). No caso
relatado, o paciente passou recentemente por vários episódios de estresse, após a
tutora ter adquirido outro gato, o que pode ter levado ao aparecimento dos sinais
clínicos.
Em felinos não obstruídos os sinais clínicos são polaciúria, disúria,
estrangúria, hematúria, vocalização ao urinar e periúria (KAUFMANN; NEVES;
HABERRMANN, 2009). Nesse caso o tutor relatou apenas hematúria e estrangúria,
mas comparando com o histórico do paciente e exames complementares foi possível
diagnosticar DTUIF.
Nos felinos, o cálculo de estruvita e de oxalato de cálcio são os mais
incidentes (PEREIRA, 2009). No relato apresentado, o cristal encontrado foi
estruvita, o que condiz com a literatura.
Para o tratamento de cristais de estruvita, uma dieta calculolítica, altamente
energética, com baixo teor de magnésio, com teor proteico de 40%,
aproximadamente, pode ser instituída, com objetivo de diminuir o pH da urina e
consequentemente, eliminar esses cristais. Para o paciente, foi indicado uma ração
própria para cristais de estruvita, e o resultado foi satisfatório, o que comprova a
eficácia da dieta calculolítica. Além da dissolução dos cristais o paciente
provavelmente acabou se adaptando com a nova rotina e divisão da liteira, o que
pode ter contribuído para sua melhora.
A velocidade da dissolução de um cálculo de estruvita depende do tamanho e
da área de superfície exposta a urina (ARIZA et al, 2016). Nesse caso ainda não
havia a formação de cálculo, então os 2 meses com dieta calculolítica foram
suficientes.
37
4. HERNIA PERINEAL
4.1 INTRODUÇÃO
A hérnia perineal acontece quando os músculos perineais se separam
permitindo o deslocamento do conteúdo abdominal, retal ou pélvico. Dependendo de
sua localização pode ser classificado como hérnia caudal, hérnia isquiática, hérnia
dorsal ou hérnia ventral (FOSSUM, 2008).
O períneo é a musculatura que recobre caudalmente a pélvis, circundando o
canal anal e os canais urogenitais. É constituído pelo músculo elevador do ânus,
músculos coccígeos, músculo glúteo superficial, músculo obturador interno, esfíncter
anal externo e ligamento sacrotuberal (FERREIRA; DELGADO, 2003).
Essa doença é comum em cães machos não castrados e é rara em fêmeas e
gatos. Ocorre geralmente entre os sete e nove anos de idade e pode ser uni ou
bilateral (MONTARI, RAHAL, 2005). 97% dos animais acometidos são machos e
desses, 95% não são castrados (FERREIRA, 2003). Nas fêmeas geralmente está
associado a trauma (FOSSUM, 2003). Estudos mostram que o músculo elevador do
ânus é mais forte nas fêmeas (DUPRÉ, 2012).
É mais comum que aconteça a hérnia caudal, que é entre os músculos
elevador do ânus, esfíncter anal e obturador interno. Mas também pode acontecer
entre o ligamento sacrotuberoso e músculo coccígeo (hérnia isquiática), entre o
músculo elevador do ânus e músculo coccígeo (hérnia dorsal) e entre o músculo
isquiouretral, bulbocavernoso e isquiático (hérnia ventral) (FOSSUM, 2008). A causa
dessa fraqueza muscular não é conhecida, mas alguns fatores têm sido propostos,
como atrofia muscular neurogênica, miopatias, aumento do volume da próstata,
alterações hormonais e constipação crônica. Algumas raças como o Boston Terrier,
o Pequinês e o Boxer, apresentam predisposição. Podem ocorrer altos índices de
recidivas e complicações pós-operatórias (MONTARI, RAHAL, 2005). Qualquer
distúrbio que cause algum esforço crônico para defecar pode ter influência do
aparecimento da hérnia perineal em cães e gatos (SEIM, 2009).
38
4.2 SINAIS CLÍNICOS
O quadro sintomatológico do paciente pode ser muito variável (SOUZA. et al.,
2012). Os sinais clínicos mais comuns são tenesmo, constipação e aumento de
volume perineal (Figura 15) (MONTARI, RAHAL, 2005). Em caso de retroflexão da
vesícula urinária, pode acontecer estrangúria, disúria e anúria. Podem ser
encontradas diversas estruturas no saco herniário (MONTARI, RAHAL, 2005).
Os conteúdos herniários que podem ser encontrados nessa região são a
saculação retal, tecido adiposo retroperitonial, alça intestinal, partes do omento,
vesícula urinária e próstata (RAISER, 1994). A saculação retal é uma condição
patológica coexistente bastante observada (COSTA NETO et al, 2006).
Fonte: Fossun, 2008
4.3 DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é feito através da anamnese, sinais clínicos, exame físico e
exames radiográficos e ultrassonográficos (Figura 16). A palpação retal é muito
importante, pois é possível determinar as estruturas que formam o aumento de
volume (MORTARI, 2005).
Figura 15 - Aumento perineal provocado por uma hérnia
39
Os diagnósticos diferencias para a hérnia perineal são neoplasia perineal,
hiperplasia das glândulas perineais, inflamação ou neoplasia dos sacos anais
(ASSUMPÇÃO; et al, 2016).
Fonte: Fossun, 2008
4.4 TRATAMENTO
4.4.1 Tratamento clínico
O objetivo do tratamento clínico é aliviar e prevenir constipação, disúria e
estrangulamento de órgãos. Possíveis obstruções ou infecções no trato urinário,
megacólon e prostatite devem ser corrigidas. A defecação normal pode ser mantida
com o uso de laxantes, emolientes fecais, modificação da dieta, enemas frequentes
ou até mesmo evacuação retal manual. A vesícula urinária pode ser descomprimida
por cistocentese ou cateterização. No entanto, o uso dessas medidas por um longo
período não é indicado, pois pode acontecer encarceramento ou estrangulamento
visceral, que pode ser fatal (FOSSUM, 2008).
Figura 16 - Radiografia mostrando retroflexão de vesícula urinária
40
4.4.2 Tratamento cirúrgico
Em casos de encarceramento visceral e retroflexão da vesícula urinária é
necessário cirurgia de emergência. A orquiectomia durante a herniorrafia é indicada,
pois há relatos de redução de recidivas. Cães não castrados apresentam taxa de
recidiva 2,7 maior do que os castrados (FOSSUM, 2008).
As duas técnicas mais utilizadas são de reposição anatômica tradicional e a
da transposição do músculo obturador interno. A primeira é de fácil execução, porém
apresenta uma maior dificuldade de finalização da porção ventral da hérnia,
deformação anal temporária e por isso é frequente a ocorrência de prolapso retal e
tenesmo. A segunda técnica origina uma menor tensão na suturas, menor
deformação anal e cria um flap muscular ventral, encerrando a solução de
continuidade do diafragma pélvico, porém é de maior dificuldade de execução
(FERREIRA; DELGADO, 2003).
Para realizar o procedimento cirúrgico é necessário antes, uma avaliação
hematológica, bioquímica e urinálise para poder escolher o protocolo anestésico
mais adequado para o paciente (ASSUMPÇÃO; et al, 2016).
É aconselhável a administração de um antibiótico eficaz contra bactérias
gram-negativas e anaeróbias, não se reduzindo a preocupação com a assepsia
durante a cirurgia. Em caso de retroflexão da bexiga, pode ser realizada uma
cistocentese (ASSUMPÇÃO; et al, 2016).
A fezes do paciente devem ser removidas manualmente, a região perineal
deve passar por uma tricotomia ampla e passar pelo processo de antissepsia. Em
seguida deve-se suturar o ânus em bolsa de tabaco e cobrir com uma compressa. O
paciente deve ficar em decúbito ventral e se necessário, elevar a pelve do paciente,
em seguida faz-se antissepsia final (FERREIRA; DELGADO, 2003).
Após a colocação dos campos cirúrgicos e tomando cuidado para não expor o
ânus, realizar a incisão na pele, iniciando cranialmente aos músculos coccígeos e
estendendo-se por toda a hérnia. Em seguida realizar a incisão no tecido
subcutâneo e por dissecação, romper o saco herniário, em seguida deve-se
identificar o conteúdo do saco herniário, remover fluidos e excesso de gorduras.
Com a compressão por uma compressa úmida, presa a uma pinça de Alis, deve-se
41
reduzir o conteúdo da hérnia, depois disse deve-se identificar as estruturas
envolvidas (FERRREIRA, 2003).
4.4.2.1 Herniorrafia clássica
Com um fio não reabsorvível monofilamentoso e uma agulha grande e curva,
deve-se colocar suturas simples interrompidas (Figura 17) com aproximadamente 1
cm de distância, entre os músculos que rodeiam o anel herniário, que serão
apertadas somente no final, pode-se incorporar o ligamento sacrotuberal (Figura 18),
para conferir maior resistência a sutura (FERREIRA; DELGADO, 2003).
Ventralmente, os fios devem ser passados entre o esfíncter anal externo e o
músculo obturador interno, sempre cuidando com os nervos pudendos. Então as
suturas são fechadas e a compressa é retirada. Um segundo plano de sutura pode
ser aplicado, unindo a fáscia perineal à margem posterior do esfíncter anal externo.
Então pode-se seguir o fechamento do tecido subcutâneo e da pele (Figura 19)
(ASSUMPÇÃO; et al, 2016).
Fonte: Ferreira e Delgado, 2006
Figura 17 - Colocação das suturas em padrão simples separado, entre os músculos que fazem parte da hérnia na técnica de herniorrafia clássica
42
Figura 18 - Incorporação do ligamento sacrotuberal na sutura
Fonte: Ferreira e Delgado, 2006
Figura 19 – Aspecto final da Herniorrafia Clássica
Fonte: Ferreira e Delgado, 2006
43
4.4.2.2 Herniorrafia com transposição do músculo obturador interno
Para fortalecer a técnica da herniorrafia clássica, recomenda-se a
transposição do músculo obturador interno. Para isso, é feita uma incisão da fáscia e
do periósteo ao longo da borda caudal do ísquio, na origem do músculo obturador
interno, então eleva-se o periósteo e o obturador interno. Suturas de aposição
simples devem ser colocadas entre o esfíncter anal externo, o elevador do ânus e os
músculos coccígeos dorsalmente, o ligamento sacrotuberal pode ser incluído. Em
seguida, transpor o músculo obturador interno dorsoventralmente, cobrindo o anel
herniário, possibilitando sua união ao esfíncter anal externo e aos músculos
coccígeos e ao ligamento sacrotuberal (FERREIRA; DELGADO, 2003).
4.4.2.3. Herniorrafia com transposição do músculo glúteo superficial
Essa técnica é uma alternativa para a incorporação do ligamento sacrotuberal
em uma herniorrafia clássica em casos em que o músculo coccígeo está muito
atrofiado, ou para dar uma resistência maior a herniorrafia clássica. A incisão
cutânea deve ser prolongada cranialmente sobre o músculo glúteo superficial, e a
fáscia que o recobre deve ser rebatida e o músculo dissecado, a sua inserção ao
terceiro trocanter é seccionada e suturado ao esfíncter anal caudalmente e ao tecido
dorsal, ventralmente (FERREIRA, 2003). O tendão de inserção pode ser suturado no
músculo obturador interno, a borda caudal do retalho muscular suturado ao músculo
esfíncter anal externo e a borda cranial ao ligamento sacrotuberoso. Sem seguida
realiza-se a sutura do tecido subcutâneo e da pele (ASSUMPÇÃO; et al, 2016).
4.4.2.4. Outras técnicas
Quando a técnica de transposição do músculo obturador interno falha,
existem duas opções recomendadas. Uma delas é a reconstrução perineal pela
transposição do músculo semitendinoso, a outra é a preservação de estruturas
importantes através da colopexia por fixação do ducto deferente. A primeira opção é
mais útil em casos em que a porção ventral do períneo encontra-se comprometida
(BARBOSA, 2010).
44
4.3 CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS
Imediatamente no pós-operatório deve ser retirada a sutura do ânus do
paciente e verificar até que o paciente deambule pela sua gaiola (SEIM, 2009).
Muitas complicações podem aparecer após a cirurgia, como lesão do nervo
isquiático, incontinência fecal, infecção no local da incisão, deiscência de pontos,
colocação de suturas no lúmen retal ou sacos anais, necrose da vesícula urinária,
incontinência urinária, e também pode acontecer a recidiva da hérnia (POGGIANI,
2008).
Todas as correções de hérnias requerem um pós-operatório cauteloso e o
tutor é fundamental nesse processo (ACAUI; et al., 2010).
45
4.4 RELATO DE CASO
Gato, filhote, de aproximadamente 4 meses, macho, sem raça definida, 1,3kg,
foi atendido na Clínica Veterinária Pró-Animal no dia 30 de março de 2017 (Figura
20).
O tutor disse que viu o paciente sendo jogado para fora da janela de um carro
e então o resgatou. Foi relatado lesão na cauda do paciente e dificuldade para
defecar. Já havia sido atendido em outra clínica veterinária, onde foi receitado
aplicar uma pomada a base de antibiótico (Nebacetin®) na lesão, mas não obteve
melhora.
Figura 20 - Gato atendido na Clínica Veterinária Pró-Animal
46
Durante o exame físico do paciente, foi identificado um aumento na região
perineal do paciente, então foi solicitado uma radiografia (Figura 21) e exames de
hemograma, ureia, creatinina, alanina de aminotransferase (ALT) e fosfatase
alcalina (FA). Não houve alteração nos exames de sangue. Na radiografia foi
constatado hérnia perineal associada a fratura de cauda.
Fonte: Pró-Animal, 2017
O procedimento cirúrgico foi realizado no dia 05 de abril, no período da
manhã, com duração de aproximadamente 40 minutos.
A medicação pré anestésica utilizada foi 0,03 ml de dexmedetomidina e 0,02
ml de metadona, a indução e manutenção anestésica foi feita com propofol.
Figura 21 - Radiografia do paciente mostrando a hérnia perineal associada a fratura de cauda
47
Após tricotomia da região foram retiradas as fezes presentes e realizada a
antissepsia no paciente. Durante a antissepsia da cauda, ela se desprendeu do
corpo do paciente. O paciente permaneceu em posição ventral (Figura 22).
Após colocar os campos cirúrgicos, foi feita a primeira incisão na pele que se
estendeu por todo o percurso da hérnia, em seguida foi incisado o tecido subcutâneo
e depois realizada a dissecação da região até encontrar o conteúdo herniário. A
vesícula urinária estava presente na hérnia (Figura 23). A técnica utilizada foi a
herniorrafia tradicional.
Depois de reduzir o conteúdo herniário, um fio polipropileno 4-0, foi colocado
seguindo o padrão de sutura simples interrompida (Figura 24) entre os músculos que
rodeavam o anel herniário, que por se tratar de uma hérnia dorsal eram os músculos
coccígeo e elevador do ânus. Em seguida, com o fio ácido poliglicólico 3-0, o tecido
subcutâneo foi aproximado com uma sutura simples contínua e depois a pele (Figura
25) foi finalizada com fio de náilon 3-0 (Figura 26).
Figura 22 - Preparo do gato para cirurgia
48
Figura 23 - Retroflexão da vesícula urinária, observada durante o procedimento
Figura 24 - Colocação de suturas entre os músculos coccígeo e elevador do ânus
50
Após 15 dias o gato retornou a clínica para remoção dos pontos e estava em
ótimo estado, não apresentava mais tenesmo e estava ativo (Figura 27).
Figura 27 - Retorno do paciente
51
4.5 DISCUSSÃO
A hérnia perineal é mais comum nos cães, machos e não castrados. A idade
mais acometida é entre sete e nove anos (MONTARI, RAHAL, 2005). Nas fêmeas
geralmente está associado a trauma (FOSSUM, 2003). O caso de hérnia perineal
relatado, foge completamente à epidemiologia descrita na literatura, pois se trata de
um caso de hérnia perineal em um gato filhote, causada por trauma.
O tipo mais comum que acomete os animais, é a hérnia caudal, que ocorre
entre os músculos elevador do ânus, esfíncter anal e obturador interno. Mas também
pode acontecer entre o ligamento sacrotuberoso e músculo coccígeo (hérnia
isquiática), entre o músculo elevador do ânus e músculo coccígeo (hérnia dorsal) e
entre o músculo isquiouretral, bulbocavernoso e isquiático (hérnia ventral)
(FOSSUM, 2008). A hérnia descrita no caso, foi a dorsal, em um dos locais menos
acometidos.
Existem diversas técnicas para a correção desse tipo de hérnia, a mais
realizada é a herniorrafia clássica, uma técnica de fácil execução, porém apresenta
altas taxas de recidivas (FERREIRA; DELGADO, 2003). A técnica utilizada no caso
foi a de herniorrafia clássica, sua execução foi fácil, e o paciente se recuperou bem.
52
5. CONCLUSÃO
A doença do trato urinário inferior dos felinos tem grande importância na
clínica de felinos, pois é uma afecção que acomete grande parte dos gatos. Muitas
vezes, o tutor demora para perceber as alterações no comportamento do paciente,
que podem iniciar de maneira sútil mas evoluir de uma forma muita rápida e
agressiva e quando o paciente chega na clínica pode ser tarde, principalmente em
casos de obstrução. O tutor é fundamental para a melhora do paciente, pois em
grande parte dos casos, apenas medicamentos não são suficientes para o
tratamento. É importante que os tutores se atentem em qualquer alteração de
comportamento do paciente, durante a micção.
A hérnia perineal é bastante rara em felinos, mas quando diagnosticada é
muito importante que o tratamento cirúrgico seja realizado o mais rápido possível,
pois as complicações em casos de encarceramento de vísceras podem ser fatais. O
tutor e os médicos veterinários devem sempre ficar atentos a qualquer alteração na
rigidez na região perineal, não somente nos cães, mas também nos gatos,
independente de sua idade.
53
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