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1
IV SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PRODUÇÃO DE RUMINANTES NO
CERRADO
Uberlândia-MG, 12 e 13 de abril de 2018
ANAIS
Tema: Eficiência Produtiva e Impacto Ambiental na Produção de Ruminantes
COORDENAÇÃO: Prof. Dr. Gilberto de Lima Macedo Júnior
Profa. Dra. Simone Pedro da Silva
FAMEV UFU
2
IV SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PRODUÇÃO DE RUMINANTES NO
CERRADO
Uberlândia-MG, 12 e 13 de abril de 2018
ANAIS
Tema: Eficiência Produtiva e Impacto Ambiental na Produção de Ruminantes
COORDENAÇÃO: Prof. Dr. Gilberto de Lima Macedo Júnior
Profa. Dra. Simone Pedro da Silva
Uberlândia
FAMEV UFU
2018
3
IV Simpósio Brasileiro de Produção de Ruminantes no Cerrado
Promoção e Organização
Universidade Federal de Uberlândia
Faculdade de Medicina Veterinária
Realização
Universidade Federal de Uberlândia/Faculdade de Medicina Veterinária
Comissão Organizadora
Prof. Dr. Gilberto de Lima Macedo Júnior
Profa. Dra. Janine França
Profa. Dra. Simone Pedro da Silva
Ana Caroline Rodrigues da Cunha
Andressa Rodrigues Gomes
Beatriz Mendes Cardoso
Ester Ferreira Felipe
Fernanda Colen Barboza
Gabriel Corsino Borges
Paulo Arthur Cardoso Ruela
Raphaella Arantes Pereira
Vitor Gabriel Resende Olive
Comissão Técnico Científica
Prof. Dr. Gilberto de Lima Macedo Júnior
Profa. Dra. Simone Pedro da Silva
Comissão Editorial Profa. Dra. Simone Pedro da Silva
Paulo Arthur Cardoso Ruela
Revisão ortográfica
Prof. Dr. Gilberto de Lima Macedo Junior
Profa. Dra. Simone Pedro da Silva
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
S612 a
Simpósio Brasileiro de Produção de Ruminantes no Cerrado (4. : 2018:
Uberlândia, MG)
Anais / IV Simpósio Brasileiro de Produção de Ruminantes no
Cerrado, 12 e 13 de abril de 2018 em Uberlândia, Minas Gerais;
coordenadores Gilberto de Lima Macedo Júnior, Simone Pedro da Silva. -
Uberlândia : UFU, 2018.
272 p.
ISBN: 978-65-80045-00-6
Inclui bibliografia.
Tema: Eficiência produtiva e impacto ambiental na produção de
ruminantes.
1. Veterinária - Congressos. 2. Ruminante - Congressos. 3.Bovino –
Nutrição. 4. Meio ambiente. 5. Sustentabilidade. I. Macedo Júnior, Gilberto
de Lima. II. Silva, Simone Pedro de III.. Universidade Federal de
Uberlândia. IV. Título.
CDU: 619
Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Medicina Veterinária Campus
Umuarama - Bloco 2T - Av. Pará, 1720 - Bairro Umuarama
Uberlândia - MG - CEP 38400-902 simprucerrado@gmail.com
http://www.eventos.ufu.br/iv-simprucerrado/
4
PREFÁCIO A palavra simpósio é de origem grega, sendo formada pela junção do prefixo
syn, que significa “junto”, com o sufixo posion, com significado de “beber”. Dessa
forma, simpósio pode ser definido etimologicamente como “beber em grupo”. De fato,
na Grécia Antiga, os simpósios eram encontros sociais nos quais os participantes
bebiam e filosofavam. O ato de filosofar consiste em meditar, raciocinar, discorrer ou
discutir sobre questões relacionadas a um tema qualquer. Nesse contexto, nesta quarta
edição do Simpósio Brasileiro de Produção de Ruminantes no Cerrado
(SIMPRUCERRADO), realizado pela Faculdade de Medicina Veterinária, da
Universidade Federal de Uberlândia, o tema a ser apresentado e analisado é a
“Eficiência produtiva e o impacto ambiental na produção de ruminantes”.
A busca por eficiência deve ser uma constante nos sistemas de produção de
ruminantes, isto é, sempre que possível deve-se almejar a melhor produção com o
mínimo de erros. E dentre os possíveis erros, aqueles relacionados às questões
ambientais (e.g. degradação do solo, poluição da água e da atmosfera, perda de
biodiversidade) estão em evidência, são relevantes e, portanto, não podem ser
negligenciados.
A produção de ruminantes é importante para o Brasil, pois está presente em
praticamente todos os municípios, é fonte de divisas e gera milhões de empregos diretos
e indiretos. Porém, essa atividade necessita de constante aperfeiçoamento, a fim de se
manter competitiva frente às alternativas de uso da terra. Por isso, a divulgação e a
análise crítica das mais recentes tecnologias geradas no Brasil e no mundo são
fundamentais para o desenvolvimento sustentável dos sistemas brasileiros de produção
de ruminantes.
Nesse sentido, a realização de simpósios, como o SIMPRUCERRADO, por
reunirem profissionais e pesquisadores que são referências em suas áreas de atuação,
consiste em maneira efetiva de divulgar o conhecimento e, certamente, contribui para a
formação dos profissionais da área.
Tenho certeza que os temas apresentados e discutidos durante o evento (e agora
reunidos neste Anais!) serão de grande auxílio para todos aqueles que acreditam que o
uso do conhecimento é premissa para a adequada gestão dos sistemas de produção de
ruminantes.
Manoel Eduardo Rozalino Santos Professor na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia
5
APRESENTAÇÃO
Diante da importância da agropecuária na produção de alimentos e geração de
renda, recentemente muito se discute sobre o impacto ambiental das atividades
pecuárias e agrícolas, principalmente pertinentes às mudanças climáticas, sendo a
pecuária muito criticada por emitir grandes quantidades de gases de efeito estufa (GEE)
oriunda da fermentação entérica. O Brasil devido ao grande tamanho do rebanho, idade
ao abate tardia e sistema de criação em pastagens, com predomínio de áreas em estágio
de degradação é visto como um dos maiores contribuintes nas emissões de GEE.
Gases gerados durante o processo de fermentação ruminal, metano em
particular, representam não só problemas de ordem ambiental, mas constitui perda
parcial de energia da alimentação. Dessa forma, o desenvolvimento de estratégias para
reduzir a emissão de metano por ruminantes consiste em melhorar a eficiência de uso da
energia por esses animais. Nesse sentido, diversas pesquisas têm sido desenvolvidas
para buscar aumento de eficiência alimentar e com isso gerar menor produção de GEE.
Várias alternativas como manejo adequado da pastagem, alta produtividade animal,
melhoramento genético e redução da demanda por novas áreas de pastagens têm
contribuído para uma pecuária mais sustentável. Ademais, novas tecnologias utilizadas
na nutrição de ruminantes, como o uso de aditivos alimentares podem gerar menor
emissão de gases do efeito estufa para a atmosfera.
Além da responsabilidade relacionada à emissão de GEE oriundas da produção
animal, nos últimos anos tem crescido também a preocupação com o uso da água nos
sistemas de produção. Valores de pegada hídrica recentemente publicados são
extremamente altos para produção de carne e leite no mundo e tem levado organizações
governamentais e não governamentais, bem como a sociedade discutir e desenvolver
ferramentas para diminuir o consumo de água na produção de produtos de origem
animal. Dessa forma, torna-se de fundamental importância o desenvolvimento de
pesquisas realizadas no Brasil para quantificar o consumo de águas nesses sistemas.
Nessa perspectiva, verifica-se grande demanda por profissionais da área de
Medicina veterinária, Zootecnia e Agronomia, também pela comunidade acadêmica por
informações atualizadas sobre a produção de ruminantes visando máxima eficiência
produtiva e redução nos impactos ambientais. A Faculdade de Medicina Veterinária da
Universidade Federal de Uberlândia oferece os cursos de Zootecnia e Medicina
Veterinária, sendo assim, existe uma constante busca por informações técnicas
relacionadas à produção de ruminantes, de forma a gerar dados de pesquisa e atender a
demanda da sociedade que está ligada a este tema. Por este motivo, o IV Simpósio
Brasileiro de Produção de Ruminantes: eficiência produtiva e impacto ambiental na
produção de ruminantes, tem por objetivo trazer informações sobre produção, nutrição
de ruminantes e manejo das pastagens visando à sustentabilidade do sistema produtivo.
Os Editores
6
ÍNDICE
PALESTRAS
1. Eficiência na produção de bovinos e o impacto ambiental da atividade
pecuária
12
Ricardo Andrade Reis, Abmael da Silva Cardoso, Lutti Maneck Delevatti,
Rhaony Gonçalves Leite, Débora Siniscalchi, Ana Cláudia Ruggieri
2. Estratégias de manejo do pastejo para redução de impactos ambientais 20
Marília Barbosa Chiavegato, Guilhermo Francklin de Souza Congio, Sila
Carneiro da Silva
3. Oportunidades de mitigação de metano por meio do melhoramento
genético animal
42
Maria Eugênia Zerlotti Mercadante, Roberta Carrilho Canesin, Elaine
Magnani
4. Pegada hídrica na produção de carne e leite bovino no Brasil 55
Julio Cesar Pascale Palhares
5. Produção de Carne carbono neutro: um novo conceito para carne
sustentável produzida nos trópicos
73
Patrícia Perondi Anchão Oliveira, José Ricardo Macedo Pezzopane, André
de Faria Pedroso, Maria Luiza F. Nicodemo, Alexandre Berndt
6. Técnicas para mensurar emissão de metano em bovinos 85
Alexandre Berndt, Paulo de Méo Filho, Leandro Sannomiya Sakamoto,
Marcela Morelli
7. Uso de taninos para melhorar a eficiência de uso da energia e reduzir
emissão de CH4
97
Marcelo Manella, Iorrano Andrade Cidrini
8. Emissão de gases do efeito estufa em métodos de conservação de
forragem
Patrick Schmidt e Camilla Maciel de Souza
116
9. Sistema Produtivo para uma Pecuária Sustentável
Gustavo Rezende Siqueira, Ivanna Moraes de Oliveira, Cleisy Ferreira do
Nascimento, Valquíria Alencar Beserra, Felipe Almeida Nascimento, Flávio
Dutra de Resende
129
7
RESUMOS EXPANDIDOS
1. Acesso à Informação e Caracterização da Produção de Bovinos de Corte
do Sudeste Goiano
145
Vitória Mendes André, Jéssica M. Paranhos Borges, Isadora de Ávila
Caixeta, Laya Kannan S. Alves, Janine França
2. Analise econômica em Brachiaria híbrida Convert HD 364 submetida à
aplicação de adubo foliar no final na época das águas
150
Hygor Luís G. de Fátima, Paulo Vitor Pereira, Camilla Souza Ferreira,
Lorena Borba Vilela, Leandro Martins Barbero, Natascha Almeida Marques
da Silva
3. Análise de metabólitos hepáticos e energéticos em ovelhas adultas
recebendo volumoso extrusado com leveduras e óleo essencial como
aditivos
154
Mylena Cristina Ribeiro Borges, Gilberto de Lima Macedo Junior, Rosemar
Alves de Carvalho Júnior, Tamires Soares de Assis, Karla Alves Oliveira,
Carolina Moreira Araújo
4. Avaliação de metodologias para estimativa de massa de forragem
disponível em capim-braquiária
159
Nathalia Tami Nishida, Jorge Luis Malafatti, Lucas da Rocha Carvalho,
Valdo Rodrigues Herling, Lilian Elgalise Techio Pereira
5. Avaliação do metabolismo energético de ovelhas gestantes alimentadas
com diferentes fontes lipídicas
164
Luciana Melo Sousa, Thauane Ariel Valadares de Jesus, Maria Júlia
Pereira de Araújo, Adriana Lima Silva, Marco Túlio Santos Siqueira,
Gilberto de Lima Macedo Júnior
6. Avaliação do metabolismo protéico em borregas alimentadas com níveis
crescentes de um complexo enzimático exógeno
169
Marcio Henrique Viana, Jhone Tallison Lira de Sousa, Adriana Lima Silva,
Marco Túlio Santos Siqueira, Gilberto de Lima Macedo Junior, Luciano
Fernandes Sousa
7. Avaliação dos metabólitos proteicos de ovelhas adultas com dieta
baseada em volumoso extrusado com diferentes aditivos
174
Mylena Cristina Ribeiro Borges, Gilberto de Lima Macedo Junior, Rosemar
Alves de Carvalho Júnior, Tamires Soares de Assis, Karla Alves Oliveira,
Carolina Moreira Araújo
8. Avaliação dos metabólitos proteicos de ovinos alimentados com
volumoso extrusado contendo diferentes aditivos
178
Débora Adriana de Paula Silva, Gilberto de Lima Macedo Junior, Laura
8
Ferrari Monteiro Varanis, Karla Alves Oliveira, Carolina Moreira Araújo,
Tamires Soares de Assis
9. Avaliação dos metabólitos proteicos em ovinos consumindo volumoso
extrusado com diferentes aditivos
183
Jhoanny Rodrigues Dutra, Gilberto de Lima Macedo Júnior, Rosemar Alves
de Carvalho Júnior, Tamires Soares de Assis, Laura Ferrari Monteiro
Veranis, Karla Alves de Oliveira, Carolina Moreira Araújo
10. Comportamento ingestivo de borregas alimentadas com níveis
crescentes de enzima amilolítica
188
Jhone Tallison Lira de Sousa, Debora Adriana de Paula Silva, Paulo Arthur
Cardoso Ruela, Paola Rezende Ribeiro, Gilberto de Lima Macedo Junior,
Luciano Fernandes Sousa
11. Consumo de água e escore fecal de borregas alimentadas com níveis
crescentes de um complexo enzimático exógeno
193
Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor
dos Santos, Lucas Rodrigues Queiroz, Gilberto de Lima Macedo Junior,
Luciano Fernandes Sousa
12. Determinação da lignina em feno de capim-tifton 85 por diferentes
métodos
198
Bruno Fernandes Vireira, Leandro Galzerano, Eliane da Silva Morgado
13. Dinâmica do alongamento de folhas e colmos ao longo da rebrotação em
pastos de Brachiaria decumbens cv. Basilisk submetidos a regimes de
fertilização
202
Lilian Elgalise Techio Pereira, Bruna Scalia de Araújo Passos, Jorge Luis
Malafatti, Luan Jardim de Sousa, Caio Augusto Bertolini, Valdo Rodrigues
Herling
14. Efeito de diferentes aditivos alimentares sobre os metabólitos hepáticos
e energéticos de ovinos
207
Débora Adriana de Paula Silva, Gilberto de Lima Macedo Junior, Laura
Ferrari Monteiro Varanis, Karla Alves Oliveira, Carolina Moreira Araújo,
Tamires Soares de Assis
15. Metabólitos energéticos e hepáticos de ovelhas no final da gestação
suplementadas com dois níveis de concentrado
212
Marco Túlio Santos Siqueira, Gilberto de Lima Macedo Júnior, Thauane
Ariel Valadares de Jesus, Maria Julia Pereira de Araújo, Adriana Lima
Silva, Paulo Arthur Cardoso Ruela
16. O Lactobacillus buchneri pode afetar as perdas fermentativas em um
período curto de armazenagem da silagem de milho?
217
Marina Elizabeth Barbosa Andrade, Luis Gustavo Rossi, Carlos Henrique
Silveira Rabelo, Ricardo Andrade Reis
9
17. Padrão da distribuição nictemeral do comportamento de borregas
alimentadas com níveis crescentes de um complexo enzimático exógeno
221
Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, Karla Alves
Oliveira, Carolina Moreira Araújo, Gilberto de Lima Macedo Junior,
Luciano Fernandes Sousa
18. Perfil glicêmico de borregas alimentadas com níveis crescentes de um
complexo enzimático exógeno
226
Marcio Henrique Viana, Jhone Tallison Lira de Sousa, Maria Julia Pereira
de Araújo, Thauane Ariel Valadares de Jesus, Gilberto de Lima Macedo
Junior, Luciano Fernandes Sousa
19. Perfil metabólico energético e enzimático de ovinos recebendo volumoso
extrusado com diferentes aditivos
230
Jhoanny Rodrigues Dutra, Gilberto de Lima Macedo Júnior, Rosemar Alves
de Carvalho Júnior, Tamires Soares de Assis, Laura Ferrari Monteiro
Veranis, Karla Alves de Oliveira, Carolina Moreira Araújo
20. Presença de urânio em fontes de fósforo para a nutrição animal 235
Avelar A.C1., Ferreira W.M., Faria P.H.R., Torres S.A., Eller J.C
21. Produção de forragem de pastos de Brachiaria brizantha cv. Xaraés em
resposta à adubação nitrogenada
240
Jorge Luis Malafatti, Caio Augusto Bertolini, Lucas da Rocha Carvalho,
Luan Jardim de Sousa, Nathalia Tami Nishida, Lilian Elgalise Techio
Pereira
22. Qualidade da silagem de sorgo confeccionada com diferentes tipos de
vedação
245
Karin Van Den Broek, Felipe Antunes Magalhães, João Victor Silva
Barbosa, Vinícius Pereira da Silva, Gustavo Segatto Borges, Matheus
Felipe Barbosa Dias
23. Relação entre interceptação luminosa e altura pré-corte em pastos de
Brachiaria decumbens cv. Basilisk submetidos a regimes de fertilização
250
Lilian Elgalise Techio Pereira, Bruna Scalia de Araújo Passos, Jorge Luis
Malafatti, Luan Jardim de Sousa, Caio Augusto Bertolini, Valdo Rodrigues
Herling
24. Taxas de acúmulo de forragem em pastos de Arachis pintoi cv. Belmonte
submetidos a estratégias de pastejo rotativo
255
Lucas da Rocha Carvalho, Bia Anchão Oliveira, Luiz Henrique Goulart
Bernardes, Lilian Elgalise Techio Pereira, Sila Carneiro da Silva
25. Tendência genética de características de conformação corporais de
touros Gir Leiteiros de centrais de inseminação
260
10
Isadora de Ávila Caixeta, Nayara Ferreira Gomes, Vitória Mendes André,
Laya Kannan S. Alves, Janine França
26. Utilização do Foragge 52,5% em substituição à silagem de milho sobre
parâmetros metabólicos de ovinos
264
Marco Túlio Santos Siqueira, Gilberto de Lima Macedo Júnior, Carolina
Moreira Araújo, Karla Alves Oliveira, Tamires Soares de Assis, Rosemar
Alves de Carvalho Júnior
27 Avaliação do metabolismo proteico de ovelhas gestantes alimentadas
com diferentes fontes lipídicas
268
Luciana Melo Sousa, Thauane Ariel Valadares de Jesus, Maria Júlia
Pereira de Araújo, Adriana Lima Silva, Marco Túlio Santos Siqueira,
Gilberto de Lima Macedo Júnior
11
PALESTRAS
12
Eficiência na produção de bovinos e o impacto ambiental da atividade pecuária
Ricardo Andrade Reis
1, Abmael da Silva Cardoso
1, Lutti Maneck Delevatti
1, Rhaony Gonçalves
Leite1, Débora Siniscalchi
1, Ana Cláudia Ruggieri
1
1 Departamento de Zootecnia, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal, Universidade Estadual
Paulista (UNESP), Jaboticabal-SP, email: rareis@fcav.unesp.br
Resumo: A ingestão de proteínas de origem animal provocou um aumento no tamanho
do cérebro dos seres humanos que posteriormente associada a conquista do fogo
possibilitou o desenvolvimento de ferramentas e o estabelecimento da civilização. Na
sociedade contemporânea, modernas técnicas são utilizadas para a produção de animais.
Porém, a produção de alimentos de origem animal necessita de constantes
aprimoramentos para responder aos desafios ambientais, econômicos e sociais. Entre os
desafios ambientais está o uso da terra, pois, essa atividade demanda extensas áreas de
terras, que associada a ineficiência do uso de nitrogênio e a consequente emissão deste
como óxido nitroso, um potente gás de efeito estufa, volatilização de amônia e
lixiviação do nitrato e a emissão de metano pelos ruminantes. No que se refere a parte
econômica tem-se a remuneração ao produtor (custo de produção x preço da arroba) e o
acesso ao produto carne pelos consumidores. Mormente aos aspectos sociais temos a
qualidade de vida dos pecuaristas e os hábitos de consumo de proteína animal pela
população. Neste texto abordaremos os impactos ambientais para a produção de bovinos
de corte e como aumentar a eficiência agronômica, zootécnica e ambiental da produção
de bovinos em sistemas de produção a pasto.
Palavras-chave: bovinocultura de corte, emissão de gases efeito estufa, suplementação
animal, adubação de pastagens.
1. Introdução
Em 2017 a bovinocultura de corte brasileira mais uma vez foi grande
responsável pela geração de receitas e saldo comercial para o Brasil. De acordo com a
consultoria Safras & Mercados em 2017 o Brasil exportou 1,21 bilhões de toneladas de
carne bovina, um aumento de 12,4% sobre o ano anterior e o total exportado foi
equivalente a aproximadamente 17,3 bilhões de reais. A atividade pecuária ocupa em
torno de 170 milhões de hectares de terra e atingiu em 2016 um rebanho de 218 milhões
de hectares (IBGE, 2017).
O sucesso da pecuária brasileira está em parte relacionado a sua produção com
base na utilização de pastagens. Com a introdução de forrageiras do continente africano
e algumas melhorias no manejo das pastagens (ex. adubação e controle de invasoras) a
taxa de lotação média passou de 0,5 UA no começo dos anos 1970 para 1,29 nos
meados da corrente década (Wedekin et al., 2017). Atualmente as principais forrageiras
utilizadas no Brasil central são as cultivares de Brachiaria (Marandu, Xaraés e Piatã),
13
Panicum (Tanzânia e Mombaça) e em menor quantidade forrageiras dos gêneros
Penissetum, Cynodon, Andropogon e Hyparrenia. As forrageiras tropicais são
caracterizadas, em geral por possuírem baixo teor de proteína e elevados teores de fibra.
Além de uma variação sazonal na produção de massa de forragem e composição
química. Portanto, exigindo estratégias para contornar essa variação e as deficiências
nutricionais.
Dentre as estratégias de manejo de pastagens, a suplementação da dieta do animal
em pastejo tem como objetivo oferecer os minerais que não são supridos pelo consumo
de forragem, aumentar o sincronismo entre as liberações de energia e proteína e a
quantidade de nutrientes digestíveis totais ingeridos pelos animais de forma a aumentar
o desempenho animal (Reis et al., 2009). A suplementação animal é estratégica para o
aumento da eficiência da produção animal, pois, além de aumentar o ganho de peso
também reduz as taxas de mortalidade e pode elevar a lucratividade. Os suplementos
podem estimular o crescimento microbiano aumentando a fermentação e,
consequentemente aumentar a digestibilidade das fibras e aproveitamento da forragem.
Atualmente os principais impactos ambientais ocasionados pela produção de
ruminantes em pastagens estão relacionados a emissão de gases de efeito estufa (GEE).
O aumento da concentração destes gases na atmosfera pode estar ocasionando um
incremento na temperatura média da superfície. Entre 2001 e 2016 o recorde de
temperatura média global foi superado 8 vezes. A temperatura média global já está 1,8
ºC acimada da temperatura média anterior a 1750. Os principais GEE são o dióxido de
carbono (CO2) que em sistemas de pastagens é emitido principalmente quando ocorre
oxidação da matéria orgânica do solo, ou seja, perda de estoques de carbono. O segundo
gás mais relevante é o metano (CH4), este é produzido durante a fermentação dos
alimentos no rúmen sendo eructado pelos animais e em menor parte pelas fezes dos
animais. O terceiro gás emitido de forma significativa é o óxido nitroso (N2O) que é
emitido pelas excreções de fezes e urina pelos animais e utilização de adubos
nitrogenados.
Os dados mais recentes sobre emissão de GEE pelo Brasil, referentes ao ano de
2015, mostram que a agropecuária é responsável por 31% do total de gases emitidos
pelo país. A participação da agropecuária no total emitido pelo país tem diminuído nos
anos recentes, principalmente devido a melhoria nos índices produtivos. Dentro das
atividades agropecuárias a fermentação entérica é responsável por 17,6%, os solos
agrícolas por 11,1% e o manejo de dejetos de animais por 1,2% do total emitido pelo
Brasil (MCTI, 2017).
Para reduzirmos o impacto ambiental causado pela produção de bovinos de corte
um conceito bastante discutido atualmente é a intensificação sustentável. A
intensificação sustentável visa aumentar a produção de alimentos sem aumentar a área
necessária para produção e ao mesmo tempo aumentar os processos e serviços
ecossistêmicos. Na bovinocultura de corte isso significa aumentar a taxa de desfrute do
rebanho e, principalmente manejar as pastagens para aumentar as taxas de lotação
médias que são muito baixas no Brasil.
2. Impactos ambientais
Como citado acima a fermentação entérica é responsável por 17.4% de todas as
emissões de GEE do Brasil. Isto ocorre porque durante a fermentação dos alimentos no
rúmen do animal é produzido o gás CH4. A produção deste gás é um processo natural
14
para remover o excesso de hidrogênio do rúmen que é produzido durante a fermentação
de carboidratos fibrosos. Sem a remoção do hidrogênio o processo de fermentação seria
inibido levando ao colapso do processo de digestão. Entre 3 e 11% da energia bruta
ingerida pelos ruminantes é perdida na forma de CH4. Quanto maior for a quantidade de
fibra na dieta e pior a sua qualidade, maior será a produção de CH4. O processo de
produção de CH4 é mediado por micro-organismos, principalmente do grupo Archaea
(Cottle et al., 2011).
Diversas estratégias têm sido apontadas para redução da emissão de CH4 por
bovinos. As estratégias para mitigação são a inibição da metanogênese, redução da fonte
de substrato, promover outros processos ou aumentar a vida de outros organismos que
consomem hidrogênio e assim aumentar a produtividade animal (Hristov et al., 2013).
A metanogênese pode ser inibida por substâncias como o 2-bromoetanosulfanato
(BES), a utilização de metabolitos secundários de plantas tais como taninos
condensados, óleos essenciais e vacinação para reduzir a população de archaeas. A
influência destes inibidores varia de acordo com o grupo de micro-organismos
metanogênicos.
A quantidade de hidrogênio disponível para produção de CH4 pode ser
influenciada pela ingestão de ionóforos como monensina, aumentar a quantidade de
concentrado na dieta, inclusões de nitrato e sulfato na dieta.
Já o aumento de produtividade, por exemplo, aumento do peso e rendimento de
carcaça, pode levar a redução de CH4 por kg de carne produzida. Essa estratégia é
atingida através da oferta de alimento de alta qualidade, manejo e genética. Para
avaliarmos essa estratégia de mitigação o melhor indicador é a pegada de carbono que
mede a intensidade de emissão.
Cardoso et al., (2016) estudaram a pegada de carbono de diferentes sistemas de
produção de bovinos de corte no Brasil central. Eles observaram que a pegada de
carbono foi de 58.3, 40.9, 29.6, 32.4 e 29.4 kg/kg carcaça em sistema extensivo, semi-
intensivo, intensivo com leguminosas, intensivo e intensivo com terminação em
confinamento, respectivamente. De Figueiredo et al., (2016) avaliaram o efeito da
degradação e sistemas integrados sobre a intensidade de emissão em sistemas de
produção de bovinos de corte. Estes autores observaram que a maior emissão ocorre em
sistemas de pastagens degradadas 37.0 kg CO2/kg de carcaça que é praticamente o
dobro do emitido por kg de carcaça em pastagens produtivas (Tabela 1).
Tabela 1 – Pegada de carbono (kg CO2/kg) em diferentes sistemas de produção de
bovinos de corte no Brasil Central.
Sistema de Produção Pegada de carbono Autores
Extensivo 58,3 Cardoso et al., (2016)
Semi-intensivo 40,9 Cardoso et al., (2016)
Intensivo com leguminosas 29,6 Cardoso et al., (2016)
Intensivo 32,4 Cardoso et al., (2016)
Intensivo com terminação em
confinamento
29,4 Cardoso et al., (2016)
Pastagens degradadas 37,0 De Figueiredo et al., (2016)
Pastagens produtivas 18,8 De Figueiredo et al., (2016)
Integração lavoura-pecuária-
floresta
25,2 De Figueiredo et al., (2016)
15
A avaliação de CH4 de origem entérica é custosa, especialmente a pasto o que
dificulta a realização de estudos massivos em nível de país. No que se refere ao efeito
do manejo do pasto sobre a emissão de CH4, Barbero et al., (2015) avaliaram o efeito da
intensidade de pastejo (3 alturas de manejo de capim-marandu, 15, 25 e 35 cm) e
encontraram uma produção de metano por animal dia que variou de 123 a 132
g/animal/dia que não foram estatisticamente diferentes. Porém, o total emitido foi
inferior ao preconizado pelo IPCC (Painel Intergovernamental para Mudanças
Climáticas) 46,5 kg/cabeça/ano medido no estudo de Barbero et al. (2015) versus 56 kg/
cabeça/ano definidos no guia do IPCC de 2006.
Outra estratégia de manejo do pasto (manejo da adubação nitrogenada) encontra-
se em avaliação como estratégia para mitigar as emissões de CH4. Neste estudo
conduzido na Unesp de Jaboticabal no nordeste paulista está-se avaliando o efeito de
doses de nitrogênio (0, 90, 180 e 270 kg/ha/ano) em pastos de capim-marandu
manejados em sistema de lotação continua e carga variável a 25 cm de altura sobre a
emissão de CH4 por tourinhos Nelore. Os resultados preliminares indicam que não há
diferenças na emissão por animal em função da dose de adubo em média 113,6
g/animal/dia. Porém, decaiu quando a emissão de metano foi avaliada em relação ao
ganho de peso (g de CH4/ kg de ganho de peso). De forma similar ao trabalho de
Barbero et al. (2015) neste estudo em progresso as emissões também são inferiores a
preconizada pelo IPCC.
No que tange aos impactos ambientais causado pelo uso de nitrogênio está a
emissão de N2O. O óxido nitroso é um potente gás de efeito estufa; o seu potencial de
aquecimento global é 265 vezes maior do que o do CO2 em um horizonte de 100 anos.
A emissão de N2O ocorre durante as reações de nitrificação e desnitrificação do ciclo do
nitrogênio, depende da quantidade de N disponível (amônio e nitrato) e carbono
disponível do solo, este processo é regulado, principalmente pela umidade e temperatura
do solo (Cowan et al., 2017).
Para realização de inventários de gases ou calcular a pegada de carbono o fator de
emissão (quantidade de N excretada ou aplicada emitida como N2O) estabelecido pelos
autores do IPCC é de 2% para o N excretado na forma de urina e fezes em pastagens e
de 1% pela aplicação de adubos nitrogenados, independente da fonte, forma de
aplicação ou dose (Herron et al., 2017). No entanto, avaliações em pastagens tropicais
tem demostrado que a emissão de N2O por excretas bovinas é muito menor do que o
preconizado pelo IPCC. Cardoso et al. (2018) avaliaram a emissão por fezes, urina,
fezes + urina e aplicação de ureia em pastos de capim-marandu. Os autores encontraram
emissões de 0.47, 0.32, 0.34 e 0.71% do N aplicado, respectivamente, nas fezes, urina,
fezes + urina e ureia.
A opções de redução do impacto ambiental pela emissão de N2O foram
compiladas por Ruggieri e Cardoso (2017) que são: Manejo da pastagem visando
reduzir a compactação do solo pelo uso do maquinário e pisoteio dos animais, aumentar
a matéria orgânica do solo através da manutenção de resíduos culturais do pasto.
Aumentar a utilização do N pelos animais através do balanço entre proteína e energia
metabolizável. Melhorar o uso de N pelas forrageiras através do parcelamento da
adubação nitrogenada e época de adubação. Aumentar o uso de forrageiras leguminosas.
Reduzir o uso de fertilizantes nitrogenados. Evitar queimadas. Utilizar fertilizantes
protegidos ou com inibidores de uréase. Igualar a quantidade de N aplicado com a
quantidade exigida pela forrageira. Integrar a produção animal e vegetal. Evitar
16
aplicação de fertilizantes a lanço. Utilizar fertilizantes de liberação controlada e
inibidores de nitrificação.
Além da poluição por N2O ainda temos as perdas de nitrogênio na forma de
amônia (NH3). Estima-se que até 50% do N aplicado pode ser perdido na forma de NH3.
Entre os fatores que afetam a produção de NH3 está a umidade do solo e a forma de
aplicação do fertilizante nitrogenado. Para o melhor aproveitamento do fertilizante é
necessário que haja umidade no solo disponível para hidrolise da ureia e evitar
aplicação a lanço (Zhao et al., 2016). Avaliações realizadas no verão de 2018 em pastos
de capim-marandu na Unesp de Jaboticabal encontrou-se que a fonte de nitrogênio e a
dose afetaram significativamente as perdas de N na forma de NH3. A produção de NH3
foi de 3,53%, 4,30% e 27,62% do N aplicado, respectivamente, quando se aplicaram o
sulfato de amônio, nitrato de amônio e ureia. Em relação as doses de N as perdas
aumentaram linearmente de 6,05% para 19,18% do N aplicado, quando variaram as
doses de 90 para 270 kg/N/ha. (Correa et al., dados não publicados).
No que se refere ao manejo nutricional dos bovinos de corte para diminuir os
impactos ambientais derivados do nitrogênio a oferta da correta necessidade de proteína
para os animais e a busca por um sincronismo entre energia e proteína da dieta podem
resultar em uma melhor eficiência do uso de N. Como sabemos em função das
características morfofisiológicas e de manejo, o valor nutritivo de gramíneas tropicais
pode ser muito baixo e ocorre uma variação tanto no teor de proteína como no de fibras
ao longo do ano, portanto, é necessário ajustes na dieta através da suplementação
estratégica para aumentar o desempenho animal e reduzir as perdas de N.
3. Eficiência na produção de bovinos de corte
Para discutirmos eficiência em sistemas de produção de bovinos de corte
necessitamos de indicadores para comparar os diversos sistemas de produção entre si.
Dentre os indicadores de eficiência temos o agronômico que é expresso em kg de
forragem por kg de insumo, o zootécnico que é expresso através de kg de carne
produzida por kg de insumo, o econômico em termos de lucro por kg de carne
produzida e o ambiental, geralmente reportado na forma de pegada de carbono ou água.
Com o intenso desenvolvimento de novos cultivares de forrageiras e a adoção de
sistemas integrados de produção forrageira novos estudos sobre adubação de forrageiras
se fazem necessários. Em média, no Brasil se aplica 80 kg de N/ha/ano (Cardoso et al.,
2016). Dellevatti et al. (dados não publicados) avaliaram por 3 anos o efeito de doses de
nitrogênio sobre a produção de forragem no período das águas para o capim-marandu. A
taxa de acúmulo de forragem aumentou linearmente de 42 para 120 kg/MS/dia/ha sem
aplicação de nitrogênio para aplicação de 270 kg/N/dia/ha (Figura 1). Para cada kg de N
aplicado resultou-se em um incremento de 0,29 kg/MS/dia/ha.
17
Figura 1. Produção de forragem (kg /MS/dia/ha) em função da aplicação de diferentes
doses de nitrogênio.
Os autores acima citados também avaliaram o desempenho animal em função de
doses nitrogenadas. Em média, o ganho médio diário foi de 925 g/animal/dia,
independente da dose de N aplicada. Porém, o ganho de peso corporal por hectare
durante a recria nas águas aumentou de 514 kg/ha para 967 kg/ha. A adubação
nitrogenada possibilitou dobrar a taxa de lotação de 3.37 UA/ha para 6.55/ha nas águas
(Tabela 2). No Brasil, a média de ganho médio diário nas águas é inferior a 300
g/animal/dia e a taxa de lotação inferior a 2 UA/ha. A aplicação de doses moderadas de
nitrogênio elevou a eficiência agronômica e zootécnica em pastos de capim-marandu.
Para obtenção de alta produção de forragem e desempenho animal, portanto,
aumentar a eficiência de produção e a ambiental é necessário o correto manejo do pasto.
No estudo acima os altos resultados foram obtidos em pastos de capim-marandu
manejados visando atingir 95% de interceptação luminosa que segundo Broughan et al
(1958) ocorre a taxa máxima de acumulo liquido de forragem e a melhor relação valor
nutritivo e produção de forragem. Além do manejo para obtenção de alta produção de
forragem é necessário o ajuste correto da taxa de lotação de forma que a oferta de
forragem, sobretudo de massa de folhas, seja elevada o suficiente para altos
desempenhos. No estudo aqui escrito a oferta de forragem em média foi de 2.50
kg/MS/kg/peso corporal.
Tabela 2. Efeito da adubação do capim-marandu com diferentes doses de nitrogênio
sobre o desempenho de tourinhos nelore na recria. (Médias de 3 dias de avaliação).
Item Tratamento (kg Nha) Efeito (p-valor)
0 90 180 270 SEM Linear Quad Cúb
Desempenho animal Taxa de lotação (AU/ha) 3,37 4,64 5,81 6,55 0,23 <0,001 0,213 0,711 GMD (kg/animal/dia) 0,939 0,985 0,879 0,898 0,017 0,138 0,702 0,074 GPH (kg PC/ha) 514 769 848 967 51 <0,001 0,175 0,401 GPN (kg PC kg/N aplicado - 2,84 1,86 1,68 0,36 <0,001 0,787 0,289
Unidade animal (UA) = 450 kg peso corporal (PC), matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína
bruta (PB), ganho médio diário (GMD), ganho por área (GPH), ganho por kg N aplicado (GPN), erro
padrão da média (SEM). ANOVA significância (Taxa de lotação P<0.001; GMD P=0.032; GPH P<0.001;
GPN P<0.001).
Ainda para se aumentar a eficiência da produção de bovinos de corte a pasto
devemos considerar o conceito clássico de Mott (1960), que esse autor traça uma
relação entra a taxa de lotação (TL) e as produções por área e por animal, em condições
18
de subpastejo podemos aumentar o desempenho por área, e em condições de
superpastejo temos o desempenho individual e por área prejudicados. Segundo este
autor temos uma relação entre a TL e TL no ótimo da pressão de pastejo aproxima-se de
1,0. Nessa condição obtemos a capacidade de suporte (CS) de uma pastagem. A CS de
um sistema de produção animal em pastagens pode se definido como a TL no ótimo da
pressão de pastejo ou oferta de forragem, na qual se garante a persistência da pastagem,
sem, contudo, obter os máximos ganhos por animal e área (Reis et al., 2017). O manejo
inadequado da pastagem leva a degradação que resulta em perdas de produtividade e
impactos ambientais com a redução dos estoques de C do solo, uma eficiente forma de
mitigar as emissões de C.
5. Considerações finais
A pecuária de corte é atividade fundamental para a adequada nutrição animal,
pois, fornece proteína de alta qualidade. No entanto, causa impactos ambientais tais
como a produção de gases de efeito estufa que atualmente são considerados os
responsáveis pelo incremento da temperatura média do planeta. Esses impactos podem
ser mitigados com estratégias de manejo dos pastos que elevam a eficiência agronômica
e zootécnica da produção de bovinos de corte.
A utilização de doses moderadas de nitrogênio tem resultado em alta eficiência de
produção de forragem, desempenho animal e impactos ambientais menores do que os
preconizados pelo IPCC. Além desta estratégia de manejo do pasto ainda devemos
estudar estratégias de suplementação a pasto para reduzir as emissões de gases, tais
como a utilização de substâncias como tanino, 3-nitroxipropanol, sulfatos e nitratos.
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19
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20
Estratégias de manejo do pastejo para redução de impactos ambientais
Marília Barbosa Chiavegato
1, Guilhermo Francklin de Souza Congio
1, Sila Carneiro da Silva
1
1 Departamento de Zootecnia, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ/USP), São Paulo. Email:
marilia.chiavegato@usp.br; gcongio@gmail.com; siladasilva@usp.br
Resumo: Atualmente, a preocupação ambiental é indissociável da produção pecuária
bem-sucedida. Nesse contexto, os pecuaristas possuem o desafio de suprir a demanda
por alimentos e produtos agrícolas por meio de práticas que sejam ambientalmente
seguras e economicamente favoráveis, atingindo, dessa forma, a intensificação
sustentável dos sistemas de produção. Os componentes do ecossistema (e.g. solo,
planta, animal, atmosfera) estão intimamente ligados e modificações num determinado
componente podem resultar em alterações em um ou mais componentes, gerando um
efeito entre impactos ambientais ou entre tipos de impactos. Uma abordagem sistêmica
das estratégias de manejo do pastejo, que permita a quantificação simultânea de
diferentes impactos ambientais assim como de sua produtividade, é necessária para
identificar estratégias que proporcionem o equilíbrio entre sustentabilidade e
produtividade. Comparado a um ecossistema natural, um ecossistema manejado (ou
agroecossistema) é mais complexo, apresentando maior número de fluxos de nutrientes
para dentro e para fora do ecossistema, menor capacidade de estocar nutrientes e menor
ciclagem de nutrientes. O manejo do pastejo que promove redução dos impactos
ambientais e mitigação do fluxo líquido de emissões em CO2 equivalente é aquele que
tem como objetivo manter ou melhorar a produção de forragem e a eficiência de pastejo
por meio da melhoria das propriedades químicas, físicas e hidrológicas do solo. O
manejo do pastejo bem-sucedido promove serviços ecossistêmicos por meio do uso
eficiente e sustentável dos recursos solo, água e planta. O manejo do pastejo com essas
características combina princípios científicos e conhecimento local para encontrar
estratégias de manejo que intensificam os quatros principais processos ecossistêmicos:
conversão eficiente da energia solar pelas plantas, interceptação e retenção da água da
chuva pelo solo, otimização da ciclagem de nutrientes e aumento da biodiversidade.
Palavras-chave: intensificação, ciclagem de nutrientes, emissões de gases de efeito
estufa, processos ecossistêmicos.
21
1. Introdução
O crescimento da população global demandará 100% mais alimento até 2050
(Godfray et al., 2010). Atualmente, a preocupação ambiental é indissociável da
produção pecuária bem-sucedida. Nesse contexto, os agricultores e pecuaristas possuem
o desafio de suprir a demanda por alimentos e produtos agrícolas por meio de práticas
que sejam ambientalmente seguras (Tilman et al., 2002) e economicamente favoráveis
(Foote et al., 2015; Gregorini et al., 2017), atingindo, dessa forma, a intensificação
sustentável dos sistemas de produção (Godfray et al., 2010). Uma vez que as pastagens
são característica comum dos diferentes sistemas de produção animal no Brasil, a
identificação de práticas adequadas e eficientes de manejo do pastejo é essencial. A
estratégia de manejo ideal deve permitir o aumento da produção por animal e por área
além de promover o desenvolvimento sustentável da atividade com mínimo impacto
ambienta.
As atividades antrópicas podem ser prejudiciais ou favoráveis ao ecossistema
natural, ou seja, podem gerar ou diminuir pressões ambientais. Pressão ambiental se
refere ao uso dos recursos naturais (tais como energia, terra, água) como input às
atividades humanas e a geração de subprodutos (resíduos, emissões de gases de efeito
estufa (GEE), poluição da água e do ar; Miedzinski et al., 2013). As pressões ambientais
impostas nos ecossistemas envolvem uma variedade de processos naturais e causam
modificações nas características ambientais do ecossistema. Essas modificações podem
resultar em impactos nas funções sociais e econômicas do ecossistema, afetando a
disponibilidade de recursos ambientais e a biodiversidade. Os impactos ambientais
normalmente ocorrem em sequência, por exemplo, o aumento das emissões de GEE
causam aquecimento global (efeito primário) que, por sua vez, resulta em aumento da
temperatura atmosférica (efeito secundário), levando ao aumento dos níveis do mar
(efeito terciário) e, finalmente, resultando em perda de biodiversidade (Miedzinski et
al., 2013).
Os componentes do ecossistema (e.g. solo, planta, animal, atmosfera) estão
intimamente ligados e modificações num determinado componente podem resultar em
alterações em um ou mais componentes. Nesse sentido, o manejo do pastejo empregado,
por exemplo, determina as taxas dos processos ecofisiológicos das plantas tais como
crescimento, senescência e decomposição (Da Silva et al., 2009; 2015) que por sua vez
afetam as respostas animais tais como perdas de forragem por pastejo (Carnevalli et al.,
2006; Silveira et al., 2013), taxa de lotação (Voltolini et al., 2010; Gimenes et al., 2011),
distribuição de dejetos (White et al., 2001; Auerswald et al., 2010) e quantidade de
nutrientes excretados pelos animais (Vibart et al., 2017). Esses fatores afetam as
condições do solo (i.e. umidade, temperatura, pH, aeração e densidade) que, por sua
vez, interferem no crescimento da comunidade microbiana do solo e na sua atividade
(Bardgett et al., 1999) determinando a intensidade dos processos associados a produção
de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) no solos de
pastagens. Além disso, o manejo do pastejo modifica a estrutura do dossel forrageiro,
determinando a qualidade da forragem e consequentemente a produção de CH4 entérico
(Chiavegato et al., 2015a; Congio et al., 2018). Outro exemplo seria o aumento na
produção primária das pastagens pela adição de fertilizantes nitrogenados, que pode
favorecer o estoque de carbono (C) abaixo da superfície do solo, mas simultaneamente
aumentar as emissões de N2O e CH4 (Vuichard et al., 2007). Esse efeito compensatório
(ou trade-off) pode ocorrer tanto entre impactos ambientais, um refletindo em outro, ou
22
entre tipos de impactos (econômicos e ambientais). A avaliação dos impactos
ambientais precisa levar em consideração os efeitos compensatórios para permitir a
compreensão de como os impactos ambientais ocorrem frente aos benefícios sociais e
econômicos da atividade, ou se a atividade produtiva pode gerar benefícios ambientais
significativos ainda que com algum custo econômico.
Uma abordagem sistêmica das estratégias de manejo do pastejo, que permita a
quantificação simultânea de diferentes impactos ambientais assim como de sua
produtividade, é necessária para identificar estratégias que proporcionem o equilíbrio
entre sustentabilidade (redução dos impactos ambientais) e produtividade (fornecimento
de produtos agrícolas e animais).
2. Ciclagem de nutrientes em pastagens manejadas
De maneira geral a ciclagem de nutrientes é bastante eficiente em ecossistemas
naturais ou pouco perturbados como florestas e pastagens nativas (Crossley et al.,
1984). Nesses ecossistemas existe um alto nível de sincronização entre a oferta de
nutrientes disponíveis e a demanda pelas plantas. O resultado é uma baixa concentração
de nutrientes disponíveis na solução do solo, promovendo uma ciclagem eficiente entre
solo-planta-solo (Magdoff, 1997).
Comparado a um ecossistema natural, um ecossistema manejado (ou
agroecossistema) é mais complexo, apresentando maior número de fluxos de nutrientes
para dentro e para fora do ecossistema, menor capacidade de estocar nutrientes e,
consequentemente, menor ciclagem de nutrientes (Figuras 1 e 2; Hendrix et al., 1992).
Ainda, em agroecossistemas existe uma maior quantidade de nutrientes em condições
solúveis, maior perturbação do solo e períodos mais longos com solo descoberto
(Magdoff, 1997). Em ecossistemas de pastagens, as entradas de nutrientes ocorrem por
alimentos oferecidos aos animais, fertilizantes orgânicos ou inorgânicos e deposição de
excretas dos animais. Numa estimativa bastante abrangente, Whitehead (1995) sugeriu
que uma pastagem adubada com 250 kg N/ha.ano receberia entrada de 5000 a 8000 kg
MS/ha.ano em resíduos vegetais. Considerando um teor médio de nitrogênio (N) na MS
de 1,7%, haveria uma entrada anual de 85 a 140 kg N/ha. Nesse cenário, a
decomposição das raízes adicionaria aproximadamente 5000 kg MS/ha.ano, com teor
médio de N de 1%, representando um adicional de 50 hg N/ha. Finalmente,
aproximadamente 80% do N ingerido pelos animais é excretado, resultando em entrada
de N da ordem de 200 kg/ha.ano. Essas entradas somam aproximadamente 390 kg
N/ha.ano, os quais são potencialmente recicláveis. Nos ecossistemas, nutrientes em
excesso, não utilizados pelas plantas ou imobilizados pela biomassa microbiana, são
perdidos. As perdas de nutrientes em agroecossistemas podem ocorrer por escoamento
superficial, erosão, lixiviação, volatilização ou emissão de GEE.
23
Figura 1. Ciclo simplificado e fluxos de nutrientes em ecossistemas naturais (adaptado
de Magdoff, 1997).
Figura 2. Ciclo simplificado e fluxos de nutrientes em ecossistemas manejados
(adaptado de Magdoff, 1997).
Os nutrientes na forragem representam uma porção mínima do total de nutrientes
contidos no ecossistema de pastagem, em contraste com a matéria orgânica do solo
(MOS), que é o maior reservatório de nutrientes (Dubeaux et al., 2004). Entretanto, os
pools nutrientes na forragem e na excreta se tornam mais relevantes devido à sua
decomposição mais acelerada em relação à MOS e à biomassa abaixo da superfície do
solo (Dubeaux et al., 2006a). Porém, o retorno de nutrientes via excreta animal nas
pastagens não é uniforme, uma vez que os animais tendem a se agrupar em
determinados locais, normalmente perto de sombras ou bebedouros (Mathews et al.,
1996; Haynes e Williams, 1999). O agrupamento dos animais nesses locais cria áreas de
concentração de nutrientes em contraste a outras áreas de menores fertilidade (Dubeaux
et al., 2006b).
Mais de 60% do N é excretado via urina, sendo aproximadamente 80% na forma
de ureia (Haynes e William, 1993). Os destinos possíveis do N da urina após deposição
no solo são: imobilização, absorção pela planta, adsorção por colóides ou saída do
sistema via volatilização de amônia (NH3), perda de N2 e N2O ou lixiviação (Saggar et
24
al., 2004). A deposição de urina em solos fornece condições ótimas para produção de
N2O, tais como umidade, temperatura e pH. As perdas de N da urina na forma de NH3 e
N2O estão diretamente relacionadas ao teor de N na dieta animal. Sendo assim, o teor de
proteína bruta (PB) da dieta é um dos fatores mais importantes na determinação da taxa
de reciclagem de ureia e utilização pelos microrganismos no rúmen (Reynolds e
Kristensen, 2008). O aumento da PB na dieta de vacas leiteiras pode aumentar o teor de
proteína no leite produzido, mas também resulta em maior quantidade de N excretado
via urina (Hristov et al., 2011). Chiavegato et al. (2015b) observaram que a redução da
concentração de PB na dieta de novilhos de 13% para 10% não afetou o peso vivo ou o
consumo de MS dos animais, mas diminuiu as emissões de NH3 provenientes do
armazenamento de dejetos (urina e fezes misturados). Os autores ainda verificaram que
a modificação na concentração de PB da dieta não aumentou as emissões de CH4
entérico pelos animais, ou a perda de NH3, CH4 e N2O provenientes dos dejetos quando
aplicados sobre a superfície de solos de pastagens.
O uso eficiente de N é considerada a principal estratégia associada a redução das
emissões de N2O provenientes dos solos (Eckard et al., 2010). A reciclagem e a
manutenção do N no sistema diminuem a necessidade de aporte inorgânico externo e
aumentam a utilização de N da urina pelas plantas ou comunidade microbiana do solo.
De Klein e Eckard (2008) sugeriram que se a urina dos animais fosse depositada de
maneira mais uniforme nos piquetes, a taxa efetiva de aplicação de N pela urina
diminuiria, potencialmente diminuindo as emissões de N2O. O método de pastejo
rotativo foi associado a deposição mais uniforme de urina nas áreas (White et al., 2001).
Porém, a melhor distribuição de urina nas áreas de pastagens ainda não foi
conclusivamente associada a reduções de N2O provenientes dos solos (Eckard et al.,
2010).
Dentre os macronutrientes primários presentes nas fezes, o N e o fósforo (P)
assumem papel importante pela quantidade disponibilizada (Rowarth et al., 1985) e
possíveis impactos ambientais. As fezes contêm pouco N rapidamente metabolizável
(Whitehead, 1995), diferentemente do N presente na urina. Como consequência, o
processo de degradação e transformação do N das fezes em formas prontamente
disponíveis para as plantas é mais lento e gradual, diminuindo as perdas desse nutriente
por lixiviação ou volatilização. A excreção fecal de N independe da concentração de PB
da dieta (Lantinga et al., 1987). Trabalhando com vacas leiteiras, Lantinga et al. (1987)
encontraram valores de N contido nas fezes de aproximadamente 132 g N/vaca.dia,
independente do valor de N na MS consumida (450 ou 775 g N/vaca.dia). Sendo assim,
a manipulação da dieta não é considerada estratégia viável para modificar a excreção e a
ciclagem do N das fezes. Dessa maneira, o principal fator que afeta a ciclagem do N
fecal é a taxa de decomposição da fezes.
Existem dois processos principais responsáveis pela degradação de fezes e
liberação de nutrientes nos solos de pastagens: (i) quebra física das fezes, causada pelo
impacto da chuva e pisoteio animal e (ii) degradação biológica pela biota do solo como
fungos, bactérias, minhocas e insetos. A liberação inicial de nutrientes é muito
dependente de fatores que afetam a quebra física das fezes (Rowarth et al., 1985). O
pisoteio pode ser manejado modificando a densidade de lotação, de modo que altas
densidades de lotação promovem maior pisoteio das fezes e rápida liberação de
nutrientes. Pastejo rotativo com 1 dia de ocupação foi associado a distribuição mais
uniforme de fezes na área relativamente a pastejo rotativo com 7 dias de ocupação ou
lotação contínuo (Vendramini et al., 2007). Por outro lado, outros autores afirmam que a
25
estratégia de pastejo tem pouca influência sobre a distribuição de excretas na área,
principalmente quando há variação das áreas de concentração, como movimentação dos
bebedouros e diversos pontos de sombra (Matthews et al., 1994). Com relação às
emissões de GEE, a perda por N2O pode ocorrer em fezes embora com menor
proporção do que ocorre com N da urina. Yamulki et al. (1999) registraram 0,56% de
perdas por N2O em patches de urina e 0,19% em fezes.
Normalmente as fezes estão associadas à produção de CH4, pois fornecem todas
as condições adequadas para o desenvolvimento de metanogênicos (microrganismos
produtores de CH4), tais como temperatura e umidade adequadas e alto teor de C
prontamente disponível (substrato). As emissões de CH4 proveniente das fezes ocorrem
durante um período de 4 dias a 2 semanas (Williams 1993; Flessa et al. 1996; Saggar et
al., 2004). Os metanogênicos são microrganismos anaeróbicos e, quando as condições
favoráveis ao seu desenvolvimento não mais permanecem (i.e. quando o processo de
decomposição das fezes resulta em condições aeróbicas e diminuição do teor de C), a
produção de CH4 cessa. Nesse momento, a população de microrganismos
metanotróficos (que retiram o CH4 da atmosfera, produzindo CO2) predomina e o
sequestro de CH4 da atmosfera ocorre. O sequestro de CH4 em locais onde as fezes
foram depositadas e decompostas pode permanecer por até 1 ano (Maljanen et al.,
2012). Zhou et al. (2008) sugerem que intensidades de pastejo diferentes afetam
diferentemente a comunidade de metanotróficos. Nazaries et al. (2011) estudaram
fluxos de CH4 provenientes de solos de pastagem e observaram que o sequestro de CH4
podia ser manipulado e até aumentado com variações no manejo do solo. Maiores
densidades de pastejo, com subdivisões do pasto, poderiam diminuir a oportunidade de
seleção de forragem dos animais, promovendo pastejo mais homogêneo dos piquetes
(diminuindo a rejeição de consumo de forragem em locais onde as fezes foram
depositadas no ciclo de pastejo anterior; Mathews et al., 1999).
Os efeitos de diferentes estratégias de manejo do pastejo na ciclagem e
distribuição de C no ecossistema pastagem foram (e têm sido) intensamente estudados.
Nos solos sob pastagens, particularmente, foi identificado alto potencial de sequestro de
C atmosférico. Entretanto, a literatura indica que o potencial de sequestro de C dos
solos sob pastagem varia de acordo com o manejo implantado, principalmente
intensidade do pastejo, aplicação de fertilizante e irrigação (Soussana et al., 2004; Smith
et al., 2008; van Wesemael et al., 2010). Os resultados relacionando efeito do manejo no
potencial de sequestro de C dos solos de pastagens ainda são contrastantes e a literatura
ainda não oferece relação clara entre manejo do pastejo e sequestro de C. Alguns
estudos reportam que ausência de efeito da estratégia de manejo sobre o C orgânico do
solo (e.g. Milchunas e Laurenroth, 1993), outros reportaram aumento no sequestro de C
(e.g. Smith et al., 2014) e outros redução (e.g. Ward et al., 2016). A falta de associação
clara entre manejo do pastejo e sequestro de C foi associada a diferenças de clima,
propriedades do solo, relevo, composição da comunidade de plantas, densidade do solo
e práticas de manejo (Reeder e Schuman, 2002; Ward et al., 2016), fatores que afetam a
ciclagem de C e o potencial de sequestro das pastagens. Soussana et al. (2010)
sugeriram que o principal fator que modifica o fluxo de C no solo pela excreta é a
pressão de pastejo. Efeitos secundários do pastejo no ciclo do C em ecossistemas de
pastagens incluem o papel dos dejetos sobre a mineralização da MOS e ciclagem de N
(principalmente em pastagens de solos de baixa fertilidade) e os efeitos do pisoteio e
desfolhação que reduzem a área foliar e fotossíntese (Soussana et al., 2010).
26
3. Manejo do pastejo e intensificação dos processos ecossistêmicos
O manejo do pastejo que promove redução dos impactos ambientais e mitigação
do fluxo líquido de emissões em CO2 equivalente é aquele orientado para conservação
ou conservation-oriented livestock grazing (Teague et al., 2011). Esse tipo de manejo
tem como objetivo manter ou melhorar a produção de forragem e a eficiência de pastejo
por meio da melhoria das propriedades químicas, físicas e hidrológicas do solo. A
intensificação de sistemas de produção baseados em pastagens (i.e. maior produção por
unidade de área; Foote et al., 2015) foi associada ao aumento de inputs ao sistema como
fertilização nitrogenada e suplementos externos (Beukes et al., 2012; Foote et al., 2015;
Macdonald et al., 2017). Entretanto, essas práticas também estão associadas a impactos
ambientais, tais como aumento das emissões de GEE (Foote et al., 2015). Assim,
estabeleceu-se que a intensificação dos processos produtivos estaria associada aos
impactos ambientais ou à degradação das pastagens. Para que essa associação seja feita
apropriadamente é necessário especificar a que se refere o termo intensificação. Quando
intensificação representa aumento de inputs externos, de fato o resultado será o aumento
das perdas de nutrientes ou C e, consequentemente, dos impactos ambientais. Porém, se
a intensificação ocorrer sobre a otimização do uso da forragem produzida e sobre a
utilização dos nutrientes, ela será acompanhada de intensificação na ciclagem e no
reaproveitamento de nutrientes, diminuindo as perdas. Esse caso poderia ser classificado
como a intensificação dos processos ecossistêmicos.
Estratégias de manejo do pastejo que otimizem a utilização de forragem pelos
animais e aumentem a digestibilidade da MS permitem a intensificação sustentável em
sistemas de produção baseados em pastagens (Muñoz et al., 2016; Gregorini et al,
2017). Estratégias que aumentem a senescência podem reduzir a ciclagem de nutrientes,
a entrada da luz solar no dossel, a fotossíntese e a produção como consequência da
diminuição da qualidade da forragem (Pieper, 1994; Olff e Ritchie, 1998). Em manejos
controlados e com adequada pressão de pastejo, a biomassa senescente torna-se resíduo
vegetal que serão incorporados no solo pela ação do pisoteio e movimentação animal,
contribuindo para aumento do teor de MOS (Teague et al., 2011). Considerado o
animal, metas de pastejo que otimizem a produção de folhas e o valor nutritivo da
forragem consumida (e.g. meta de entrada baseada em 95% de interceptação luminosa
(IL) pelo dossel forrageiro) maximizam o consumo de MS devido à maior proporção de
folhas no estrato pastejável (Da Silva e Carvalho, 2005; Gregorini et al., 2011) e o
desempenho animal (Voltolini et al., 2010; Gimenes et al., 2011).
As emissões de GEE foram identificadas como o impacto ambiental mais
significativo de sistemas de produção pecuária (O´Brien et al., 2012; Guerci et al., 2013;
Gregorini et al., 2016). O CH4 entérico é o principal GEE proveniente desses sistemas
(Crosson et al., 2011; Aguirre-Villegas et al., 2017), variando de 30% (em sistemas com
alta proporção de concentrados na dieta animal) a 84% (em sistemas
predominantemente baseados em pastagens) do total de CO2 equivalente em sistemas de
produção de leite (Guerci et al., 2013). A produção entérica de CH4 proveniente da
digestão animal está associada ao consumo de MS e à composição química da forragem
consumida (Janssen et al., 2010). As estratégias de manejo do pastejo podem ser
definidas no sentido de reduzir a intensidade das emissões de CH4 (i.e. g CH4/kg de
produto final).
Congio et al. (2018) avaliaram estratégias de manejo do pastejo definidas com o
objetivo de otimizar os processos relativos ao crescimento das plantas, a interface
27
animal-planta e animal-microrganismos do rúmen. O objetivo do estudo foi aumentar os
benefícios ambientais do sistema por meio da redução da intensidade de emissão de
CH4 entérico e do aumento na produtividade de leite. Os autores avaliaram estratégias
de pastejo rotativo caracterizadas pelas metas de entrada nos piquetes de 95% e máxima
IL pelo dossel forrageiro (IL95% e ILMáx) durante a rebrotação de capim-elefante
(Pennisetum purpureum Schum. cv. Cameroon) pastejado por vacas em lactação. As
alturas de manejo associadas às metas de entrada de IL95% e ILMáx foram 100 e 135 cm,
respectivamente. As características morfológicas e químicas da forragem estão
apresentadas na Tabelas 1 e 2.
Tabela 1. Características de manejo e composição morfológica da forragem em
pastagens de capim-elefante manejadas com meta de entrada baseada em 95% e máxima
interceptação luminosa pelo dossel (IL95% e ILMáx, respectivamente), durante o período
experimental (dezembro 2015 a abril 2016).
Item
Tratamentos
EPM
Efeitos
IL95% ILMáx Trat Per
Trat ×
Per
Ciclos de pastejo, n⁰ 5,6 3,5 0,16 <0,001 - -
Período de ocupação, dias 1 1,4 0,06 <0,001 - -
Período de descanso, dias 21,1 31,7 0,6 <0,001 - -
Massa de forragem, kg MS/ha 2890 4890 207,9 <0,001 0,362 0,341
Folhas, % 95,1 81,1 0,93 <0,001 0,765 0,105
Colmos, % 3,5 16,6 0,52 <0,001 0,092 0,200
Material morto, % 1,4 2,3 0,2 0,313 0,014 0,446
Relação folha:colmo 32,8 4,6 3,5 <0,001 0,001 0,001
Acúmulo de forragem, kg MS/ha 15441 16683 847 0,108 - -
Acúmulo de folhas, kg MS/ha 14611 13276 730,2 0,013 - -
Acúmulo de colmos, kg MS/ha 795 3322 264,2 <0,001 - -
Oferta de forragem, kg
MS/vaca.dia 21,2 29,7 2,53 0,016 0,503 0,441
Perda forragem, kg MS/ha 292 1203 100,3 <0,001 <0,001 <0,001
Eficiência de pastejo, % 89,3 79,9 2,88 0,001 0,004 0,775
A meta de entrada IL95% proporcionou maior número de ciclos de pastejo, com
períodos de descanso mais curtos, assim como menores perdas de forragem, maior
acúmulo de folhas e maior eficiência de pastejo. O período de descanso mais longo
resultante da meta de entrada ILMáx proporcionou maior massa de forragem pré-pastejo,
com maior porcentagem de colmos, menor porcentagem de folhas e menor relação
folha:colmo. Adicionalmente, a meta de entrada IL95% resultou em maior concentração
de PB e menor concentração de FDA e lignina na forragem.
Tabela 2. Composição química da forragem em pastagens de capim-elefante manejadas
com meta de entrada baseada em 95% e máxima interceptação luminosa pelo dossel
28
(IL95% e ILMáx, respectivamente), durante o período experimental (dezembro 2015 a
abril 2016).
Composição química
da forragem, % MS
Tratamentos EPM
Efeitos
IL95% ILMáx Trat Período Trat × Per
Matéria seca 19,5 19,2 0,91 0,699 0,072 0,275
Proteína bruta 21,0 19,4 0,5 0,001 <0,001 0,039
FDN 61,2 63,0 1,26 0,112 0,144 0,286
FDA 33,9 36,3 1,14 0,025 0,260 0,735
Lignina 3,3 3,8 0,16 0,004 0,243 0,468
A taxa de lotação foi 33% mais alta para a meta de entrada de IL95%. Os animas
mantidos nas pastagens manejadas com meta de entrada IL95% tiveram maior consumo
de forragem, maior produção de leite (aumento de 15%) e incrementos na qualidade do
leite, tais como aumento de 8% na concentração de proteína, 15% na concentração de
lactose e 6% na concentração de sólidos do leite. Não houve efeito de meta de entrada
sobre o peso vivo e o escore de condição corporal dos animais. A emissão diária de CH4
entérico não foi afetada pelas metas de entrada. Entretanto, uma vez que houve aumento
na produção de leite, acompanhada de emissão de CH4 entérico constante para as metas
de entrada, a intensidade de emissão (g CH4/kg leite) e a produção de CH4 entérico (g
CH4/ MS consumida) foram reduzidas em 21% e 18%, respectivamente, para a meta
IL95% comparada a ILMáx (Tabela 3).
Tabela 3. Produção de leite e intensidade de emissão de CH4 entérico de vacas leiteiras
mantidas em pastagens de capim-elefante manejadas com meta de entrada baseada em
95% e máxima interceptação luminosa pelo dossel (IL95% e ILMáx, respectivamente),
durante o período experimental (dezembro 2015 a abril 2016).
Item Tratamentos
EPM Efeitos
IL95% ILMáx Trat Período Trat × Per
Taxa de lotação, vacas/ha 9,3 7 0,98 0,005 - -
Consumo forragem, kg MS/vaca 12,3 10,1 0,52 0,002 0,007 0,178
Produção, kg/dia
Leite 18,1 15,7 1,01 <0,001 <0,001 0,777
Gordura 0,646 0,608 0,04 0,200 0,071 0,355
Proteína 0,556 0,515 0,03 0,001 0,001 0,836
Lactose 0,792 0,687 0,05 <0,001 <0,001 0,559
Sólidos do leite 2,07 1,95 0,11 0,006 0,001 0,795
Ganho de peso 0,437 0,553 0,36 0,611 0,003 0,609
Variação escore corporal -0,06 0,01 0,05 0,133 0,828 0,714
Emissões CH4 g/dia 297,8 296,1 13,3 0,853 <0,001 0,898
g/kg leite 16,2 20,5 1,09 <0,001 <0,001 0,136
g/kg gordura leite 438,9 515,3 24,7 0,001 <0,001 0,999
g/kg proteína leite 525,2 604,6 22,4 <0,001 <0,001 0,193
g/kg sólidos do leite 133,5 159,5 6,71 <0,001 <0,001 0,467
g/kg MS consumida 20,2 24,7 1,33 0,012 <0,001 0,001
29
Quando os resultados foram expressos por hectare, houve aumento das emissões
de CH4 entérico nas pastagens manejadas com IL95%, como consequência das maiores
taxas de lotação (Tabela 3). Simultaneamente, houve maior produção de leite e dos
componentes do leite por hectare para a meta de IL95%. Sendo assim, houve aumento de
51% na produção de leite por hectare, acompanhado de 29% de aumento produção de
CH4, resultando em mitigação de 16% das emissões de CH4 associada a meta de entrada
IL95%. Wims et al. (2010) e Munoz et al. (2016) reportaram redução de 10% para
pastagens de clima temperado a partir de modificações no manejo do pastejo. Vale
mencionar que a intensidade de emissão de CH4 nas áreas manejadas com meta de
entrada IL95% foi 16,8 g CH4/kg leite, valor menor que os resultados reportados em
pastagens de clima temperado (18,8 g CH4/kg leite) e a produção de CH4 por unidade de
MS consumida foi semelhante àquela relatada para pastagens de clima temperado
(Wims et al., 2010; Munoz et al., 2016).
Tabela 4. Produção de leite e de seus componentes por hectare e relação entre
produtividade e emissões de CH4 entérico de vacas leiteiras mantidas em pastagens de
capim-elefante manejadas com meta de entrada baseada em 95% e máxima
interceptação luminosa pelo dossel (IL95% e ILMáx, respectivamente), durante o período
experimental (dezembro 2015 a abril 2016).
Item Tratamentos
EPM Efeitos
IL95% ILMáx Trat
Leite, kg/ha.dia 169,8 112,4 20,4 0,001
Gordura, kg/ha.dia 6,1 4,3 0,71 0,015
Proteína, kg/ha.dia 5,2 3,7 0,62 0,003
Sólidos do leite, kg/ha.dia 19,5 13,9 2,42 0,006
CH4, kg/ha.dia 2,7 2,1 0,24 0,005
Produtividade e emissão de CH4 Leite, kg/kg de CH4/ha.dia 62,2 53,8 4,79 0,001
Gordura, kg/kg de CH4/ha.dia 2,22 2,06 0,132 0,115
Proteína, kg/kg de CH4/ha.dia 1,91 1,76 0,135 <0,001
Sólidos do leite, kg/kg de CH4/ha.dia 7,13 6,66 0,55 0,001
Esses resultados diferem do que é normalmente apontado na literatura, de que
pastagens de clima tropical resultam em maiores emissões de CH4 entérico devido à
baixa qualidade da forragem consumida. Esses resultados sugerem a necessidade de
rever a afirmação de que pastagens tropicais têm baixa qualidade de forragem quando
manejadas em condições controladas de manejo (Stobbs, 1975; Sollenberger e Burns,
2001). O manejo do pastejo estratégico otimiza os processos ecológicos ligando plantas
e herbívoros com a saúde do ecossistema para melhorar os sistemas produtivos
(Gregorini et al., 2017).
4. Efeito compensatório das medidas de redução de impactos ambientais
Os fluxos de GEE em ecossistemas de pastagens estão intimamente ligados ao
manejo do pastejo. Em pastagens, o CO2 é trocado entre o solo e a vegetação, o N2O é
emitido pelos solos e o CH4 é emitido pela atividade biológica do rúmen e pelo solo.
Sendo assim, as decisões a respeito da estratégia de manejo do pastejo para reduzir o
30
balanço líquido de GEE podem causar efeitos compensatórios ou trade-offs. Allard et
al. (2007) observaram que as emissões de CH4 entérico, expressas em CO2 equivalente,
afetam grandemente o balanço de GEE em pastagens manejadas intensivamente e
extensivamente (diminuindo em média 70% do efeito sequestrador total em termos de
CO2 equivalente do sistema). Por outro lado, Soussana et al. (2007) observaram que a
adição de CH4 entérico e N2O dos solos de pastagens resultaram em redução relativa do
total de CO2 sequestrado (19% em média). Quando o CO2 consumido pela vegetação é
incluído no balanço líquido de GEE, esses ecossistemas são normalmente classificados
como sequestrados de GEE (Allard et al., 2007; Soussana et al., 2007).
Semelhantemente, quando o acúmulo de C orgânico no solo é considerado no balanço
líquido de GEE os resultados também tendem a ser negativos, classificando os sistemas
como sequestradores (Liebig et al., 2010). As pastagens modificam o acúmulo de C
orgânico do solo pela modificação das entradas de C, principalmente pela decomposição
de raízes e alocação de C entre parte aérea e sistema radicular (Ogle et al., 2004).
O solo é um importante componente de C, sensível ao manejo implantando na
área. Teague et al. (2016) indicaram que a erosão causada pelas práticas agrícolas
resulta em perda total de C de 1,86 Gt C/ano e adição de 0,5 ppm de CO2 por ano para a
atmosfera. O solo pode ser fonte ou dreno de CO2 e, nesse contexto, tem importância
significativa em balanço de GEE de sistemas de produção. Em muitos estudos de
balanço total de GEE o C do solo não foi considerado (Stackhouse-Lawson, et al., 2012;
Capper & Bauman, 2013), apesar de ter sido observado o grande impacto que possui
quando explicitamente adicionado no cálculo (Liebig, et al., 2010; Wang, et al., 2015).
O estoque de C orgânico no solo apresenta alta variabilidade espacial e temporal,
especialmente em pastagens. Pesquisas anteriores demonstraram que a variabilidade é
devida principalmente a coletas em diferentes profundidades (Bird et al., 2002), clima
(Conant et al., 2001), textura do solo (Parton et al., 1987) e falta de avaliação da
distribuição de C nos piquetes (Schuman et al., 1999). A habilidade de identificar
diferenças nos estoques de C orgânico do solo depende do tempo desde o primeiro
monitoramento, a homogeneidade espacial do solo e a intensidade da coleta e do
monitoramento (Schipper et al., 2010).
Em estudo realizado em condições de clima temperado, Chiavegato et al.
(2015c) monitoraram o fluxo de C em estratégias contrastantes de manejo do pastejo. O
fluxo de C foi determinado a partir das emissões de N2O, CH4 e CO2 em CO2
equivalente e estoques de C e N no solo. Foram comparados um sistema extensivo, com
taxa de lotação de 1 animal/ha e densidade de lotação de 112.000 kg PV/ha, sem
irrigação ou adubação (SysA) e um sistema intensivo, com irrigação e adubação (no
primeiro ano), taxa de lotação de 4 animais/ha e densidade de lotação de 32.000 kg
PV/ha (SysB). O estudo foi realizado no início e no final da estação de crescimento das
pastagens, durante 3 anos consecutivos em condições de campo não simuladas. Os
sistemas foram comparados a uma área de pastagem sem pastejo animal (GE). Os
autores observaram aumento no estoque de C orgânico no solo, até 30 cm de
profundidade, no SysB tanto em relação ao SysA quanto em relação a GE.
Semelhantemente, houve aumento no estoque de N orgânico. Os autores sugerem que o
período de descanso mais longo no SysA (60 a 90 dias) em relação ao SysB (18 a 30
dias) promoveu deposição de grande quantidade de material vegetal na superfície do
solo. A deposição de resíduos vegetais, associada ao pastejo com alta densidade de
lotação, promoveu a quebra física de partículas e acelerou sua decomposição. A
decomposição de raízes também foi associada ao aumento no C orgânico do solo, pois a
31
desfolhação intensiva durante o pastejo (consequência da alta densidade de lotação)
resultou em diminuição da respiração das plantas, causando morte de raízes e
decomposição.
De maneira geral a principal diferença referente às emissões de GEE entre
tratamentos ocorreu nas emissões de CH4 entérico, resultante da maior taxa de lotação
do SysB em relação ao SysA. As emissões diárias de CH4 entérico não variaram entre
tratamentos, apesar a diferença em valor nutritivo da forragem. Entretanto, quando o
fluxo foi avaliado em termos de CO2 equivalente, considerando as emissões dos três
gases (CH4, CO2 e N2O) e das duas fontes de emissão (solo e animal), não houve
diferença entre os tratamentos. Ou seja, o aumento no CH4 entérico não foi suficiente
para aumentar o fluxo total de GEE para a atmosfera. Vale ressaltar, que avaliando o
fluxo de GEE separadamente por período em cada ano, os autores observaram que
durante o primeiro período do ano de 2013 (início da estação de pastejo), houve
aumento das emissões de CH4 entérico no SysB devido ao aumento da taxa de lotação,
mas esse aumento foi compensando pelas emissões de N2O que foram mais altas no
SysA, não havendo diferenças entre tratamentos em termos de CO2 equivalente,
sugerindo que CH4 entérico não é sempre o principal responsável pelas diferenças no
fluxo líquido de GEE entre estratégias de manejo. Robertson et al. (2000) mostraram
que metade do total de CO2 equivalente de solos agrícolas resulta da contribuição do
N2O. O estudo de Chiavegato et al. (2015) sugere que o mesmo padrão possivelmente
se aplica a solos de pastagens. Esses resultados refletem a importância de considerar
diferentes fontes de GEE para a definição de sustentabilidade das estratégias de manejo
do pastejo.
5. Princípios de manejo do pastejo bem-sucedido
O ecossistema de pastagens está em constante modificação (Teague et al., 2013).
O manejo do pastejo bem-sucedido promove os serviços ecossistêmicos por meio do
uso eficiente e sustentável dos recursos solo, água e planta (Walters et al., 1986; Holling
e Meffe, 1996; Walker et a., 2002; Teague et al., 2013). O manejo do pastejo com essas
características combina princípios científicos e conhecimento local para encontrar
estratégias de manejo que intensificam os quatros principais processos ecossistêmicos:
conversão eficiente da energia solar pelas plantas, interceptação e retenção da água da
chuva pelo solo, otimização da ciclagem de nutrientes e aumento da biodiversidade
(Stinner et al., 1997; Reed et al., 1999; Savory e Butterfield, 1999; Sayre, 2001; Gerrish,
2004; Barnes et al., 2008; Diaz-Solis et al., 2009; Teague et al., 2009b).
O manejo do pastejo que possibilita a maximização dos processos
ecossistêmicos são aqueles que seguem cinco princípios básicos (i) produção de
forragem de qualidade para oferecimento de dieta equilibrada e em quantidade
adequada; (ii) consumo homogêneo do dossel forrageiro, evitando super-pastejo de
plantas específicas; (iii) manutenção da biomassa foliar pós-pastejo para garantir a
capacidade fotossintética e interceptação e infiltração da precipitação, resultando em
rebrota rápida e eficiente; (iv) recuperação adequada da biomassa vegetal pós-pastejo,
mantendo o vigor das plantas e composição de plantas adequada; e (v) planejamento e
implantação de pressão de pastejo adequada para possibilitar os quatro princípios
anteriores (Teague et al., 2013).
Os cinco princípios podem ser implantados utilizando estratégias de manejo com
foco ecológico, fisiológico e comportamental. Essa estrutura compreende quatro ações
32
operacionais: fornecer recuperação adequada da área foliar, como demonstrado no
estudo realizado por Congio et al. (2018); modificar a distribuição dos animais na área;
regular a intensidade de pastejo; e modificar a nutrição dos animais e o comportamento
ingestivo, como demonstrado por Chiavegato et al. (2015; Figura 3).
Figura 3. Princípios básicos de manejo do pastejo para maximização dos processos
ecossistêmicos e ações operacionais necessárias para sua implantação (adaptado de
Teague et al., 2013).
6. Considerações finais
Os componentes do ecossistema (e.g. solo, planta, animal, atmosfera) estão
intimamente ligados e modificações num determinado componente podem resultar em
alterações em um ou mais componentes. As estratégias de manejo do pastejo
determinam as taxas dos processos ecofisiológicos das plantas, as respostas animais,
distribuição de dejetos e quantidade de nutrientes excretados pelos animais. Por meio de
efeitos compensatórios, as estratégias de manejo afetam as condições do solo que, por
sua vez, interferem no crescimento da comunidade microbiana do solo e na sua
atividade determinando a intensidade dos processos associados as impactos ambientais.
Dessa forma, a identificação de estratégias de manejo do pastejo que permitam a
quantificação simultânea de diferentes impactos ambientais, assim como de sua
produtividade, depende de uma abordagem sistêmica.
Estratégias de manejo do pastejo que otimizem a utilização de forragem pelos
animais e aumentem a digestibilidade da matéria seca permitem a intensificação
sustentável em sistemas de produção baseados em pastagens. Entretanto, Quando
intensificação representa aumento de inputs externos, o resultado será o aumento das
perdas de nutrientes ou C e, consequentemente, dos impactos ambientais. Porém, se a
intensificação ocorrer nos processos ecossistêmicos (uso da forragem produzida,
utilização, ciclagem e no reaproveitamento de nutrientes) as perdas e, consequentemente
33
os impactos ambientais, poderão ser reduzidos. O manejo do pastejo bem-sucedido
promove os serviços ecossistêmicos por meio do uso eficiente e sustentável dos
recursos solo, água e planta. O manejo do pastejo com essas características combina
princípios científicos e conhecimento local para encontrar estratégias que intensificam
os quatros principais processos ecossistêmicos: conversão eficiente da energia solar
pelas plantas, interceptação e retenção da água da chuva pelo solo, otimização da
ciclagem de nutrientes e aumento da biodiversidade.
7. Referências
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pattern of cattle excreta patches on a low intensity pasture. Nutrient Cycling in
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BARDGETT, R.D.; MCALISTER, E. The measurement of soil fungal: bacterial
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42
Oportunidades de mitigação de metano por meio do melhoramento genético
animal
Maria Eugênia Zerlotti Mercadante
1, Roberta Carrilho Canesin
1, Elaine Magnani
1
1Centro APTA Bovinos de Corte, Instituto de Zootecnia, Sertãozinho, SP
Resumo: O setor pecuário enfrenta o difícil desafio de reduzir as emissões de GEE
enquanto responde a um crescimento significativo da demanda por produtos. As
intervenções possíveis para reduzir as emissões são, em grande parte, baseadas em
tecnologias e práticas que melhoram a eficiência da produção animal e do rebanho. Esta
revisão traz um resumo das técnicas de fenotipagem dos animais para emissão de
metano entérico, definição das características relativas à emissão de metano e
estimativas de herdabilidade, correlações fenotípicas e genéticas dessas características
com outras características de importância econômica em bovinos, seleção direta e
seleção indireta para diminuir as emissões de metano, e redes de pesquisa de cooperação
internacional.
Palavras-chave: emissão de metano, fenotipagem, herdabilidade, correlação genética.
1. Introdução
O setor pecuário tem um papel importante nas mudanças climáticas pois
contribui com emissões mundiais estimadas em 7,1 gigatoneladas de CO2-eq por ano,
representando 14,5% das emissões dos gases de efeito estufa (GEE) induzidas pelo
homem. Os bovinos são os principais contribuintes para as emissões do setor com cerca
de 4,6 gigatoneladas de CO2-eq, representando 65% das emissões da pecuária. A
produção e processamento de alimentos bem como a fermentação entérica dos
ruminantes são as duas principais fontes de emissões, representando, respectivamente,
45 e 40% das emissões do setor. Os bovinos emitem a maior parte do CH4 entérico
(77%), seguidos dos búfalos (13%) e pequenos ruminantes (10%).
O setor pecuário enfrenta o difícil desafio de reduzir as emissões de GEE
enquanto responde a um crescimento significativo da demanda por produtos (projetado
para +70% entre 2005 e 2050), impulsionado pela crescente população mundial (9,6 mil
milhões até 2050) e pelo aumento da riqueza e urbanização. Reduzir a emissão de CH4
do rebanho bovino é uma necessidade para diminuir a pegada de carbono da produção
de carne bovina, que varia de 17 kg equivalentes de dióxido de carbono (CO2 eq)/kg de
carne de carcaça para bovinos terminados em confinamento no Canadá (Verge et al.,
2008; Beauchemin et al., 2010; Basarab et al., 2012) até 40 CO2 eq/kg de carne de
carcaça para bovinos terminados a pasto no Brasil (Cederberg et al., 2011). Além disso,
a produção de metano pelos bovinos é uma perda de energia, afetando a eficiência
energética, e representa entre 2 a 12% do consumo total de energia bruta (Nagaraja,
2012).
43
As intervenções possíveis para reduzir as emissões são, em grande parte,
baseadas em tecnologias e práticas que melhoram a eficiência da produção animal e do
rebanho. Uma gama de tecnologias promissoras, tais como aditivos alimentares, vacinas
e métodos de seleção genética, têm forte potencial para reduzir as emissões (Gerber et
al., 2013). No entanto, o procedimento de mitigação mais prático e rápido, pode ser
reduzir a emissão de CH4 através da seleção genética, pois essa é permanente e
cumulativa (Alford et al., 2006).
A seleção de bovinos para aumento do ganho de peso (assim como a seleção
para aumento da fertilidade) tende a diminuir as emissões de metano por unidade de
produto. Isso ocorre porque as emissões de metano têm alta correlação com o consumo
de alimentos, e os animais de maior ganho de peso diluem o consumo de alimentos para
mantença sobre mais unidades de produto (carne). Do mesmo modo, animais mais
férteis também diluem o consumo de alimentos para mantença sobre maior número de
bezerros nascidos e, novamente, mais unidades de produto (carne). As características de
crescimento em bovinos têm herdabilidade de média magnitude (de 0,30 a 0,40) e
respondem bem à seleção (Ceacero et al., 2016). O Brasil trabalhou e trabalha
fortemente, tanto na seleção dos animais como na comercialização do material genético
melhorado, e tem tido muito sucesso (por exemplo,
http://www.ancp.org.br/sumario#.WrkHTi7waM9, https://qualitas.agr.br/sumarios/,
http://agrocfm.com.br/touros-cfm/, http://www.deltagen.com.br/ ).
Entretanto, a seleção para diminuição dos níveis de emissão de metano será mais
rápida e efetiva se os animais forem selecionados diretamente com base nas
características altamente correlacionadas com os níveis de emissão de metano (Hayes et
al., 2013), como o consumo de matéria seca ou mesmo a própria característica “emissão
de metano”, havendo a necessidade nesse caso de obter esses fenótipos diretamente nos
animais, ou seja, quantificar individualmente o consumo de alimentos e a emissão de
metano entérico de todos os animais, de todos os machos, ou em parte deles, por
exemplo, após a desmama.
Com o desenvolvimento e aperfeiçoamento das técnicas de mensuração da
emissão individual de metano entérico, tais como câmeras respirométricas (Donoghue et
al., 2015), técnica do Fourier transform infrared (Lassen e Løvendahl, 2016),
GreenFeed systems (Hristov et al., 2015) e gás traçador SF6 (Deighton et al., 2014),
atualmente é possível incluir características relativas à emissão de metano nos
programas de melhoramento genético de bovinos. Entretanto, a sua mensuração é difícil
e de alto custo.
O consumo alimentar residual (CAR) tem sido usado como critério de seleção
para bovinos de corte visando o aumento da eficiência alimentar individual (Grion et al.,
2014; Ceacero et al., 2016). Animais mais eficientes (baixo CAR) têm, evidentemente,
vantagem econômica significativa, pois consomem menos matéria seca que o esperado
para seu peso e ganho de peso (Carberry et al., 2012), e, portanto, a seleção de animais
de baixo CAR tem potencial para reduzir, significativamente, os custos da produção de
carne. Além disso, a seleção de animais mais eficientes pode resultar em menor emissão
de metano entérico proporcionalmente ao menor consumo alimentar (Hegarty et al.,
2007).
Revisão de literatura
1. Fenotipagem dos animais para emissão de metano
44
A mensuração da emissão de metano individual em bovinos é difícil e onerosa.
Sabe-se que a emissão diária de metano entérico individual está principalmente
relacionada à quantidade e à fermentabilidade da dieta. Entretanto, é necessário o
entendimento das variâncias dentro e entre os dias de mensuração, dentro de indivíduo,
para garantir que os dados coletados reflitam o fenótipo de emissão de metano de um
animal durante um certo período de sua vida, ou seja, que o fenótipo tenha certa
repetibilidade, como outros fenótipos de características de produção. A obtenção de
registros para fins de melhoramento genético será sempre uma escolha entre a acurácia
de um fenótipo e o número de registros factíveis de ser obtido (Pickering et al., 2015),
uma vez que para estudos de melhoramento genético, e para inclusão da característica
em programas de seleção, são necessários milhares de animais medidos.
A emissão de metano entérico individual pode ser mensurada utilizando uma série
de equipamentos e técnicas, e elas diferem com relação à unidade da medida e a
duração. Há técnicas que medem a massa de metano por dia (continuamente por 24 h,
como as câmaras respirométricas e a do gás traçador SF6) e outras que medem a
concentração de metano no ar excretado via respiração e eructação (amostras pontuais,
como métodos sniffer, o GreenFeed Emission Monitoring system e o sistema de
detecção de metano a laser) (Haas et al., 2018). Câmaras respirométricas e gás traçador
SF6 têm sido as metodologias usadas para estimar a emissão de metano entérico em
bovinos de corte com propósito de seleção (Donoghue et al., 2016; Manzanilla-Pech et
al., 2016).
O princípio das câmeras respirométricas é coletar todo o ar exalado do animal e
medir a concentração de metano e, portanto, são consideradas o método padrão para
estimar a emissão de metano uma vez que o ambiente pode ser controlado e a
confiabilidade e a estabilidade dos instrumentos pode ser mensurada (Johnson e
Johnson, 1995). Entretanto, as mesmas têm a limitação de serem de alto custo,
capacidade de apenas um animal por vez, e ser um ambiente diferente e estressante para
o animal, influenciando o consumo alimentar e, consequentemente, a mensuração da
emissão de metano. Piñares-Patino et al. (2013) relataram alta repetibilidade entre
emissão de metano (g CH4/dia) em dias consecutivos (0,94) e em anos consecutivos
(0,53) usando essa técnica em ovinos, assim como Herd et al. (2014) que também
relataram alta repetibilidade (0,95) entre emissão de metano em dias consecutivos em
bovinos. Os últimos autores recomendaram período de 48 horas para estimar a emissão
de metano de bovinos com um ano de idade em câmaras respirométricas, entretanto
Arthur et al. (2016) observaram alta correlação genética (0,99) entre emissão de metano
obtida em 24h e a obtida em 48h, indicando que 24h são suficientes para obter a
emissão de metano de bovinos de corte em câmeras respirométricas.
Na técnica do gás traçador hexafluoreto de enxofre (SF6), a idéia básica é que a
emissão de metano pode ser mensurada se a taxa de um gás traçador (atóxico,
fisiologicamente inerte, estável, e que se misture com os gases no rúmen da mesma
maneira que o CH4) no rúmen é conhecida. Esta técnica possibilita estimar a emissão de
metano de grande número de indivíduos sem a necessidade de confiná-los.
Recentemente, Deighton et al. (2014) identificaram, corrigiram erros substanciais e
validaram a técnica comparando as emissões estimadas por esta técnica modificada do
gás traçador SF6 e por câmera respirométrica. As estimativas de emissão de metano
obtidas por SF6 e por câmeras respirométricas foram estatisticamente similares, a
correlação entre as duas medidas foi alta (0,83) e o coeficiente de variação entre animais
(cerca de 7%) foi similar para as duas técnicas, sugerindo que a técnica modificada do
45
gás traçador SF6 é o método mais acurado depois das câmeras respirométricas
(Deighton et al., 2013 e 2014).
Um método de amostragem pontual (a cada 5 s durante a alimentação e ordenha em
sistema robotizado, por 7 dias) foi descrito por Lassen et al. (2012), que usou uma
unidade portátil Gasmet DX-4000 (Gasmet Technologies, Helsinki, Finland) em
propriedades comerciais de bovinos de leite para estimar a emissão de metano de mais
de 3.000 vacas (Lassen e Løvendahl, 2016). A técnica FTIR (infrared transmission
spectrum) usa um espectro infravermelho de uma amostra de ar, e pode ser calibrado
para fornecer densidades dos gases de cada amostra. A razão entre CH4 e CO2 é medida
(em ppm) pela unidade FTIR, e é combinada com unidades de produção de calor de
cada vaca, estimado usando os registros de produção de leite corrigida para energia,
peso vivo e dias em gestação. O fenótipo final emissão de metano é expresso l/dia
(Zetouni et al., 2018). Uma vez que a atividade influencia a quantidade de CO2
produzido, a metodologia pode ser menos acurada que os métodos de quantificação
contínuo (Storm et al., 2012). A característica de todo sistema de mensuração de metano
on-line em amostras pontuais durante a alimentação é que as medidas são altamente
variáveis, entretanto inúmeras medidas são obtidas em um pequeno período de tempo e
a média de emissão de metano da vaca pode ser estabelecida, sendo repetível e
relacionada às emissões verdadeiras. A vantagem esmagadora das técnicas on-line, em
comparação com o SF6 e o laser, é que a coleta é automatizada, sem necessidade de
mão de obra.
2. Definição das características relativas à emissão de metano e estimativas de
herdabilidade
Há várias maneiras de definir características relativas à emissão de metano entérico
com o propósito de inclui-las em programas de melhoramento genético de bovinos de
corte (Donoghue et al., 2016; Herd et al., 2014 e 2016; Hayes et al., 2016; Lassen e
Løvendahl, 2016; Manzanilla-Pech et al., 2016; Zetouni et al., 2018). Características
como: emissão de metano (CH4 l/dia ou g/dia), rendimento de metano (CH4/consumo
de matéria seca), intensidade de emissão de metano (g CH4/kg de ganho em peso) e
aquelas definidas como resíduo baseadas na regressão genética ou fenotípica de CH4
sobre o consumo de matéria seca, ou CH4 sobre o consumo de matéria seca e peso vivo,
têm sido avaliadas quanto a estimativas de herdabilidade (Tabela 1) para delinear
programas de melhoramento genético.
Tabela 1. Definição de características relativas a emissão de metano e estimativa de
herdabilidade
Característicaa unidade definição h
2
Taxa de produção de
metano (TCH4)
g ou L/dia Emissão diária (obtida por um dos
métodos descritos acima)
0,25b
Rendimento de
metano (RCH4)
g ou L/kg MS TCH4 por kg de matéria seca
consumida (CMS)
0,23b
Intensidade de metano
(ICH4)
g ou L/kg GMD TCH4 por kg de ganho em peso 0,19b
Metano residual
(CH4Res)
g ou L/dia Resíduo da equação de regressão
TCH4 observado=CMS
0,17b
Ganho médio diário kg/dia Ganho médio diário em teste de 0,41c
46
(GMD) desempenho de no mínimo 70 dias
Consumo de matéria
seca (CMS)
kg/dia Consumo de matéria seca em teste
de desempenho de, no mínimo, 70
dias
0,45c
aDonoghue et al. (2016); Herd et al. (2016).
bMetanálise de Brito et al. (2018), somente
resultados em bovinos, incluindo tanto metano mensurado como metano predito. cCeacero et al. (2016).
Além da variação no método de obtenção da TCH4, há variação no período de
obtenção do CMS e GMD, essenciais para o cálculo de RCH4, ICH4 e CH4Res. Em
geral, recomenda-se no mínimo 63 dias para obter GMD e 35 dias para obter CMS
(Wang et al., 2006). Nos estudos há variação do período de obtenção do CMS, que em
geral refere-se ao consumo de matéria seca somente durante o período de mensuração
da emissão de metano (Pinares-Patiño et al., 2013; Donoghue et al., 2016).
As estimativas de herdabilidade, obtidas exclusivamente em Bos taurus, tanto em
raças de corte como em raças leiteiras, são de média magnitude e, portanto, a seleção
para menor TCH4 ou RCH4 pode responder à seleção. As estimativas de ICH4 e CH4Res
são de menor magnitude, provavelmente porque parte da variação genética é devido à
variação no CMS e no GMD.
3. Correlações fenotípicas e genéticas com outras características de importância
econômica
Há poucos resultados sobre as associações, principalmente genéticas, entre emissão
de metano obtido por umas das técnicas comentadas anteriormente e outras
características de relevância econômica em bovinos. Há estudos em que a emissão de
metano foi predita por equações contendo consumo alimentar, peso corporal, produção
de leite, e esses resultados não foram incluídos abaixo.
a) Emissão de metano x crescimento ou produção de leite.
A taxa de produção de metano (TCH4) é fenotipicamente (0,50 a 0,61) e
geneticamente (0,79 a 0,86) correlacionada com os pesos a desmama, peso ao ano e
peso final (20 meses de idade) em bovinos de corte (Herd et al., 2014; Donoghue et al.,
2016). TCH4 também é fenotipicamente (0,43 a 0,52) e geneticamente (0,71 a 0,80)
correlacionada aos pesos ao desmame e aos 8 meses de idade em ovinos (Pinares-Patiño
et al., 2013). Em bovinos leiteiros não é diferente (Lassen et al., 2016; Breider et al.,
2018). TCH4 é correlacionada à produção de leite corrigida ou não para gordura e
proteína, tanto fenotipicamente (0,12 a 0,17) quanto geneticamente (0,26 a 0,43); sendo
também geneticamente correlacionada (0,42) com o peso vivo das vacas (Breider et al.,
2018). Portanto, a seleção para diminuição da TCH4 invariavelmente levará à seleção
para menor ganho de peso e menor produção de leite, diminuindo a produtividade
animal, e por essa razão foram propostas outras formas de expressar a TCH4 (Tabela 1).
b) Emissão de metano x consumo alimentar ou consumo alimentar residual.
Dos fatores que influenciam a emissão de metano, o consumo alimentar é o que
causa maior variação nas emissões diárias de metano. Há aumento da emissão de
metano após 15 minutos de um evento de alimentação e subsequente fermentação, e
essa emissão elevada perdura por várias horas (Haas et al., 2017). Em bovinos de corte,
47
a taxa de produção de metano (TCH4) é altamente correlacionada com o consumo de
matéria seca (CMS), tanto fenotipica (rf=0,71) quanto geneticamente (rg=0,86)
(Donoghue et al., 2016). O mesmo ocorre em bovinos de leite (rf=0,51; rg=0,34)
(Breider et al., 2018), em em ovinos (rf=0,46; rg=0,42) (Paganoni et al. (2017).
Portanto, a seleção para diminuição da TCH4 invariavelmente levará à seleção para
menor consumo alimentar, que por sua vez é altamente geneticamente correlacionado ao
peso corporal e ganho de peso em bovinos de corte (Ceacero et al., 2016) e à produção
de leite (Breider et al., 2018), diminuindo a produtividade animal. Uma alternativa é
selecionar com base na característica rendimento de metano (RCH4) ou na característica
metano residual (CH4Res), as quais são minimamente, fenotipica (-0,01 a -0,02) e
geneticamente (-0,04 e -0,05), correlacionadas com o consumo alimentar (Donoghue et
al., 2016), embora apresentem herdabilidade inferior à TCH4, provavelmente porque
parte da variância genética de TCH4 é devido à variância genética do CMS, o que leva a
uma menor mudança genética. A seleção com base em uma característica definida como
uma razão de duas outras dificulta a predição da mudança genética devido à pressão
desproporcional exercida no numerador e no denominador, e por essa razão, a seleção
com base em CH4Res é mais recomendada do que a seleção com base em RCH4.
Se as emissões de metano são tão fortemente positivamente correlacionadas
(fenotipica e geneticamente) com o consumo alimentar, o consumo alimentar residual
(CAR) também deve ser fortemente (ou pelos menos medianamente) e positivamente
correlacionado à emissão de metano, uma vez que bovinos CAR negativo consomem
menos que o esperado em relação ao seu peso vivo e ganho em peso. Espera-se,
portanto, que a emissão de metano seja menor em animais CAR negativo
proporcionalmente ao menor CMS.
Durante a última década, estudos recomendaram fortemente a seleção de animais
mais eficientes (CAR negativo) como um meio indireto para reduzir as emissões de
metano pelos bovinos, embora essas recomendações tenham sido feitas com base em
associações fenotípicas, e não genéticas, entre essas características. Entretanto, com o
aumento no número de estudos essa hipótese não se mostrou totalmente verdadeira. Os
resultados mostraram que a associação entre emissão de metano e CAR é positiva em
dietas de alta digestibilidade (Nkrumah et al. 2006; Hegarty et al., 2007; Jones et al.,
2011), e que bovinos CAR negativo apresentam menor TCH4 e menor RCH4. Por
outro lado, em bovinos alimentados com dietas de baixa digestibilidade, como as que
predominam no Brasil, a associação fenotípica entre emissão de metano (TCH4) e CAR
é nula ou mesmo negativa (Jones et al., 2011; Freetly e Brown-Brandl, 2013;
Mercadante et al., 2015; Velazco et al., 2016), sugerindo que a emissão de metano
entérico individual por CMS (rendimento de metano-RCH4) seja maior em animais
mais eficientes (CAR negativo). Esse fato é provavelmente relacionado à maior
digestibilidade e taxa de fermentação ruminal em bovinos CAR negativo, aumentando a
produção total de ácidos graxos de cadeia curta com proporcional aumento da emissão
de metano. Embora essas correlações simples e fenotípicas forneçam uma indicação das
correlações genéticas, elas não são exatamente apropriadas para inferir sobre resposta à
seleção.
Em relação às estimativas de correlação genética entre CAR e TCH4 ou RCH4,
não foram encontrados resultados com esse parâmetro genético em bovinos de corte ou
de leite, embora Donoghue et al. (2016) e Breider et al. (2018) tenham relatado
estimativas de herdabilidade para TCH4, RCH4 e CMS, em corte e leite, e correlação
genética entre TCH4, RCH4 e CMS. Em ovinos, Paganoni et al. (2017) verificaram
48
correlação fenotípica (0,16) e genética (0,17) positiva entre CAR e TCH4 e concluíram
que a seleção de animais com menor CMS e menor CAR reduzirá a emissão de metano
em animais alimentados com dieta de alta qualidade.
c) Emissão de metano x microorganismos do rumen
A metagenômica possibilita a identificação da composição total da comunidade
microbiana do rumen, assim como a abundância de seus genes. As archaea
metanogênicas presentes no rumen contribuem significativamente para a emissão de
metano entérico. Wallace et al. (2014) verificaram que a razão archaea:bactéria no
conteúdo ruminal de animais vivos pode ser usada para predizer as emissões de metano,
pois são fenotipicamente correlacionadas (0,49). O elo genético do hospedeiro que
controla a produção microbiana de metano é desconhecido. Com este desafio, Roehe et
al. (2016) investigaram a abundância de genes microbianos como uma característica
alternativa para reduzir a emissão de metano de bovinos de corte. Animais extremos
para emissões de metano foram selecionados e seus genes microbianos ruminais
determinados usando metagenômica. A razão archea:bactéria (obtida dos animais vivos
logo após a saída das câmaras respiratórias) e as emissões de metano, expressas como
TCH4 ou RCH4, foram altamente correlacionadas (rf=0,80 e rf=0,65). As correlações
também foram altas (rf=0,72 e rf=0,67, respectivamente) entre as emissões de metano e
as razões archeas:bactérias obtidas nas amostras do conteúdo ruminal no abatedouro. Os
autores verificaram que há um efeito genético aditivo do animal hospedeiro na
quantidade de metano emitido via efeitos da comunidade microbiana ruminal, ou seja,
características da comunidade microbiana ruminal de cada hospedeiro (por exemplo,
razão archaea:bactérias) podem ser usadas como critério de seleção para mitigar as
emissões de metano. Roehe et al. (2016) verificaram ainda que a abundância relativa
dos genes microbianos está mais intimamente associado à emissão de metano que a
abundância da comunidade microbiana (para a qual a razão archaea:bactérias é o melhor
preditor), sugerindo ser essa uma característica melhor para ser selecionada.
4. Seleção direta para diminuir as emissões de metano
Um dos desafios de selecionar para reduzir as emissões de metano é decidir
sobre o objetivo de seleção. Atualmente, não há um consenso claro sobre qual
característica deve ser alterada por seleção e ainda há pouco conhecimento sobre a
arquitetura genética das diferentes medidas (Manzanilla-Pech et al., 2016). Os estudos
mostram que variação genética na emissão de metano está presente nas populações
bovinas e ovinas avaliadas e há potencial para aplicar seleção genética direta para
reduzir as emissões de metano em ruminantes. Em bovinos de corte, a seleção para
baixo TCH4 pode inadivertidamente levar à seleção para menor crescimento e pode ter
efeitos indesejáveis na produtividade, por isso a seleção para menor RCH4 ou CH4Res
(regressão TCH4 sobre DMI) é recomendada por Donoghue et al. (2015). Em bovinos
de leite a seleção genética direta para menor TCH4 também diminuirá a produção de
leite, como ressaltado por Lassen e Løvendahl (2016). Nos programas de melhoramento
atuais, os animais para reprodução são selecionados com base em um índice de seleção
composto por várias características produtivas. Quando a TCH4 tiver um valor
econômico e/ou social, seja por venda de créditos de CO2 ou pelo maior valor agregado
49
ao produto com menor pegada de CO2, a característica TCH4 receberá uma ponderação
apropriada no índice de seleção (que incluirá, além de características de produção e
funcionais, também características de impacto ambiental). Isso resulta em menor ganho
genético para cada uma das características do índice, mas uma boa resposta para o
objetivo de seleção “eficiência de produção e impacto ambiental" (Pickering et al.,
2015). O ganho genético em um programa de seleção é afetado pela acurácia de seleção
(que, por sua vez, é afetado pelo número de registros), intensidade de seleção (que, por
sua vez também é afetada pelo número de registros) e intervalo de gerações. Portanto, as
possibilidades de seleção direta para TCH4 (ou uma das características definidas
anteriormente) necessitarão de grande quantidade de animais fenotipados, o que pode
demorar um tempo, considerando a dificuldade e o custo dos métodos de mensuração
descritos acima. A população referência a ser mensurada (Haas et al., 2017) tem que ser
bem delineada de modo a representar e conectar geneticamente um grande número de
rebanhos de seleção, para maximizar os benefícios do alto custo investido na
fenotipagem da TCH4. A genômica auxiliará no aumento da acurácia de seleção e
diminuição do intervalo de gerações, aumentando o ganho genético na característica.
5. Seleção indireta para diminuir as emissões de metano
Vários grupos de pesquisa têm trabalho fortemente na análise de características
indicadoras e/ou preditoras da emissão de metano, mais especificamente para bovinos
leiteiros (Negussie et al., 2016), sendo algumas delas tão difíceis e caras de serem
obtidas em grandes populações como a mensuração direta da TCH4. Toda a abordagem,
e resultados, no sentido de diminuir as emissões de metano por meio do melhoramento
genético são muito recentes e podem mudar rapidamente com o avanço das pesquisas.
Mas além da seleção visando diretamente a diminuição de TCH4 direta ou
indiretamente (através de características indicadoras de TCH4), há a possibilidade real
de selecionar para obter respostas correlacionadas no sistema (ou rebanho) como um
todo, no sentido de diminuição de TCH4: 1) aumento da eficiência e 2) redução do
desperdício (Wall et al., 2010). A seleção para aumento da eficiência resulta em menos
CH4 por kg de carne ou leite produzido, simplesmente porque menor número de
animais (novilhos e vacas de corte e de leite) é necessário para produzir a mesma
quantidade de carne ou leite. Ou seja, reduzindo o número de animais necessários para
produzir uma quantidade fixa de produto (carne ou leite, e animais geneticamente
melhorados para maior GMD ou maior produção de leite), reduzirá a emissão de gases
de efeito estufa (incluindo CH4) por unidade de produto. Além da seleção para
características de produção (peso, GMD, leite), a seleção para características adaptativas
(duração da vida produtiva, saúde, fertilidade) tem também grande impacto na redução
das emissões pela redução do desperdício/descarte de animais (Haas et al., 2017).
6. Redes internacionais de pesquisa
Várias redes internacionais se formaram no intuito de estudar as metodologias e
treinar pessoal, e formar uma base de dados internacional para avaliar os (poucos)
resultados de TCH4 entre metodologias, raças, países, etc, deixando claro que
cooperação internacional é essencial para obter avanços mais rápidos nesta área:
METHAGENE (www.methagene.eu), ASGGN (www.asggn.org), The eficient dairy
genome project (http://genomedairy.ualberta.ca/).
50
7. Referências
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Pegada hídrica na produção de carne e leite bovino no Brasil
Julio Cesar Pascale Palhares
1
1 Pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, São Paulo, email: julio.palhares@embrapa.br
Resumo: As ameaças à quantidade e qualidade das águas no Brasil e no mundo
compreendem: o crescimento populacional, a urbanização, a industrialização, as formas
de uso do solo, a produção agropecuária, as mudanças climáticas e as fontes de poluição
(pontuais e difusas). No Brasil também é um problema crônico a falta de saneamento
urbano e rural. Quanto maior o grau de poluição e contaminação de nossas águas maior
o impacto econômico do uso da água nos custos de produção dos alimentos, maior a
vulnerabilidade sanitária e menor a competitividade do país na produção de
commodities agropecuárias. O setor agropecuário precisa internalizar o manejo hídrico
definido como: uso cotidiano de conhecimentos e práticas que garantam a oferta de
água em quantidade e qualidade. O cálculo da pegada hídrica pode auxiliar na geração
de conhecimento a fim de manejar os recursos hídricos nas atividades agropecuárias e
agroindustriais. A pegada hídrica é definida como o volume de água consumido, direta e
indiretamente para produzir o produto. A avaliação da pegada se propõe a ser uma
ferramenta analítica, auxiliando no entendimento de como o produto se relaciona com a
demanda e a escassez hídrica. As análises e cálculos da pegada são ações multiatores,
pois necessitam do conhecimento e engajamento de todos para que seja reconhecida
como instrumento de suporte a decisão. Portanto, incentiva-se e discussão, reflexão e
negociação sobre a atividade e seus impactos ambientais, o que tem como consequência,
a redução dos conflitos na cadeia de produção e desta com a sociedade. Também insere
uma ação educativa, pois possibilita que produtores, técnicos, profissionais, empresários
e agentes de governo ampliem seu conhecimento ambiental. A falta deste conhecimento
é uma das maiores barreiras para uma evolução ambiental perene e próspera.
Palavras-chave: consumo de água; dessedentação animal; mitigação, nutrição;
poluição
1. Introdução
Na 5ª edição da pesquisa “O que o Brasileiro pensa do Meio do Ambiente”,
publicada pelo Ministério do Meio Ambiente (2012) a preservação, conservação,
poluição e desperdício de recursos hídricos são citados com frequência pelos
respondentes. Dentre as opiniões analisadas nas várias edições, a que apresenta maior
variação nos últimos quinze anos é a concordância sobre a insustentabilidade da forma
como a água vem sendo utilizada. Em 1997, 55% dos respondentes brasileiros
concordavam com a afirmação. Atualmente, 82% da população concorda com a
afirmação. Das intenções citadas visando mudar o comportamento a fim de tornar a
relação com o meio ambiente mais amigável destaca-se: comprar produtos que utilizem
menos água, citado por 82%.
As ameaças a quantidade e qualidade das águas no Brasil e no mundo
compreendem: o crescimento populacional, a urbanização, a industrialização, as formas
56
de uso do solo, a produção agropecuária, as mudanças climáticas e as fontes de poluição
(pontuais e difusas). No Brasil também é um problema crônico a falta de saneamento
urbano e rural. Quanto maior o grau de poluição e contaminação de nossas águas maior
o impacto econômico do uso da água nos custos de produção dos alimentos, maior a
vulnerabilidade sanitária e menor a competitividade do país na produção de
commodities agropecuárias.
Em nossa cultura gastronômica algumas duplas são indissociáveis, café com leite,
arroz com feijão, goiabada com queijo, frango com polenta, etc. Todas elas estão
baseadas em outra dupla indissociável: água e alimento. Não é possível existir produção
de alimentos sem água em quantidade e com qualidade. Se um dia consumirmos
proteína animal produzida em laboratório, ainda assim, necessitaremos de água para
produzi-las. Enfim, o que fazemos, seja na produção de carnes, ovo, leite, soja, milho,
etc. é produzir água enriquecida com nutrientes essenciais a vida.
Os estudos mostram que nos países em desenvolvimento, como o Brasil, a maior
parte da água captada e consumida é utilizada pela agropecuária. Em países
desenvolvidos a maior parte é utilizada pelos setores industrial e de serviços.
Anualmente, a Agência Nacional de Águas divulga a publicação Conjuntura dos
Recursos Hídricos no Brasil. A edição de 2016 traz a informação que 75% da água
consumida no país foi utilizada pela irrigação e 9% para dessedentação animal.
Portanto, a agropecuária representou 84% do consumo. Em vista desses números,
podemos concluir que a produção de alimentos é intensiva no uso da água, tendo assim
o dever de prezar pelo uso eficiente deste recurso natural.
Historicamente, a relação da produção animal brasileira com a água é de
exploração do recurso. Isso se deve a perpetuação da ideia de que o país é rico em água,
por isso ela nunca irá faltar. Essa ideia não é de toda verdade. O Brasil detém
aproximadamente 12% da água doce do mundo, mas quase 70% desta está concentrada
na região Norte do país (Bacia Amazônica). O Sudeste, região mais urbanizada, detém
em torno de 6% para ser consumido entre cidades, indústrias, serviços e agropecuária,
então se não houver gestão hídrica, situações de escassez e conflito serão cada vez mais
comuns, independente, da falta de chuva. Em diversas regiões brasileiras conflitos pelo
uso da água estão presentes, pois a necessidade dos usuários é maior do que a oferta de
água.
O setor agropecuário precisa internalizar o manejo hídrico definido como: uso
cotidiano de conhecimentos e práticas que garantam a oferta de água em quantidade e
qualidade. Não existe o melhor manejo! Deve-se considerar as características
produtivas, econômicas, culturais e ambientais para propor o manejo hídrico mais
adequado a essa. A imposição de “receitas” não irá dar segurança hídrica, trará maiores
custos econômicos e frustrações. Qualquer manejo que for proposto deve prezar pela
segurança hídrica. Segurança Hídrica é aqui definida como: condição na qual o uso e o
consumo de água propiciam a manutenção dos benefícios ambientais, econômicos e
sociais ao indivíduo e a sociedade e a conservação do recurso natural em quantidade e
qualidade.
É possível desenvolver atividades agroindustriais e agropecuárias sem agredir o
meio ambiente, mas para isso temos que querer. Simplesmente, achar que temos as
produções mais sustentáveis do planeta, não irá torná-las sustentáveis. O meio ambiente
tem que ser parte da tomada de decisão que produtores, agroindústrias e todos os elos
das cadeias produtivas, incluindo consumidores, fazem diariamente. Dispomos de
57
muitos conhecimentos e tecnologias para utilizar a água de forma eficiente, reduzir os
impactos ambientais negativos e produzir alimentos sem culpa ambiental.
2. Pegada Hídrica
Uma pergunta que começa a ser feita pela sociedade e por aqueles que têm como
missão gerenciar os recursos hídricos é: quanto de água se consome para produzir um
quilograma de carne, leite, ovo, milho, soja, etc.? Nos últimos anos, estudos com o
objetivo de responder a essa pergunta começaram a ser feitos. Existem vários métodos
que podem ser utilizados nesses estudos. Um dos que tem tido maior aceitação pela
comunidade científica, governos e destaque na mídia é o método da pegada hídrica. O
cálculo da pegada hídrica pode auxiliar na geração de conhecimento a fim de manejar os
recursos hídricos nas atividades agropecuárias e agroindustriais. O Brasil deve ter
estudos que avaliem as demandas hídricas de suas commodities agropecuárias, caso
contrário, o país será sempre refém de estudos internacionais.
A pegada hídrica é definida como o volume de água consumido, direta e
indiretamente para produzir o produto. A avaliação da pegada se propõe a ser uma
ferramenta analítica, auxiliando no entendimento de como o produto se relaciona com a
demanda e a escassez hídrica. A proposição de cálculo da pegada hídrica surgiu no
início do século (2001/2002) e foi proposta pelo pesquisador Arjen Hoekstra da
UNESCO, sendo aprimorada por pesquisadores da Universidade de Twente na Holanda.
Atualmente, grande parte dos estudos são feitos pela Water Footprint Network
(www.waterfootprint.org). A essência do cálculo é a mesma que já vinha sendo
desenvolvida pelas pegadas ecológica e de carbono, entender os sistemas de produção
como elos de uma cadeia produtiva, que se inicia na geração de insumos e termina na
oferta de produtos ao consumidor.
Recentemente, outras escolas científicas surgiram realizando cálculos de pegada
hídrica, mas de forma diferente da escola holandesa. Dessas escolas, a de maior
destaque é a que utiliza a metodologia de Análise de Ciclo de Viva. O conceito de ciclo
de vida relaciona determinado produto a um fluxo de processos executados ao longo de
uma cadeia produtiva e além dela. A análise abrange a extração e processamento de
matérias-primas, manufatura, transporte, distribuição, uso, reuso, manutenção,
reciclagem e disposição final do produto. Portanto, a análise de ciclo de vida é bem
mais ampla que o método de cálculo da pegada hídrica, pois considera todos os aspectos
e impactos ambientais relacionados a um produto. Em 2014, a Organização
Internacional de Normalização (ISO) editou a ISO 14046 que estabelece os princípios e
requerimentos para o cálculo da pegada hídrica, seguindo a metodologia de análise de
ciclo de vida. No dia 10/05/2017 a Associação Brasileira de Normas Técnicas finalizou
o processo Consulta Nacional do Projeto de norma ABNT NBR ISO 14046 – Gestão
ambiental – Pegada hídrica – Princípios, requisitos e diretrizes. Este Projeto foi
elaborado pela Comissão de Estudo de Avaliação do Ciclo de Vida e pelo Comitê
Brasileiro de Gestão Ambiental. A norma brasileira é prevista para ser idêntica à norma
internacional ISO 14046:2014.
O método holandês entende consumo de água como: consumo de águas
superficiais e subterrâneas; água evaporada e transpirada na produção das culturas
vegetais (processo de evapotranspiração), água que retorna para outra unidade
58
hidrográfica que não a sua unidade de origem ou para o mar e água incorporada ao
produto. A pegada pode ser expressa em: m3 de água/ano, m
3 de água/hectare e m
3 de
água/kg de produto.
O cálculo também diferencia o consumo de água verde (água evapotranspirada
pelas culturas vegetais). Ressalta-se que a água verde não significa a água da chuva,
pois essa não considera as águas que escorrem ou infiltram no solo. Entende-se que essa
água não é consumida pela cultura agrícola. Água azul, consumida de fontes superficiais
e subterrâneas, e utilizada na irrigação das culturas vegetais, dessedentação dos animais,
lavagem de equipamentos, etc. Água cinza, volume de água necessário para diluir os
efluentes da atividade. Portanto, a pegada hídrica é composta por componentes indiretos
(ex. água utilizada na produção dos alimentos) e diretos (ex. água consumida na
dessedentação dos animais e serviços).
Existem vários estudos calculando a pegada hídrica dos produtos animais. Na
Tabela 1, observa-se a quantidade de água consumida por várias espécies e para três
sistemas de produção. Os valores da Tabela 1 são médias mundiais, portanto para
calculá-los fez-se muitas inferências. Certamente, para países com dimensões
continentais e diversos sistemas de produção como o Brasil, o melhor valor será aquele
calculado para as realidades produtivas brasileiras. Isso não invalída as médias globais,
pois um dos objetivos do cálculo da pegada é explicitar a íntima relação entre produção
de um produto e os recursos hídricos.
Tabela 1. Valor da pegada por categoria animal e sistema de produção (Gm3/ano).
Categoria Sistema de Produção a Pasto Sistema de Produção Misto*
Sistema
Industrial Verde Azul Cinza Verde Azul Cinza Verde Azul Cinza
Bov. de Corte 185 4,5 2,1 443 20 12 112 10 9,0
Bov. de Leite 83 3,6 3,7 269 27 26 48 4,1 3,8
Total 461 17,8 13,2 1210 90 90 442 43 55
*Sistema de produção que envolve pastejo e confinamento dos animais.
Fonte: Mekonnen & Hoekstra (2011)
É possível que a pegada seja calculada sem considerar todos os consumos,
podendo ter como fronteira a fazenda, região, o estado ou país. Na interpretação do
valor deve estar claro o que foi considerado no cálculo e qual a fronteira. Portanto,
pode-se ter uma pegada de 40 L/kg de carne bovina, neste caso a “fronteira” utilizada
foi reduzida, se limitando aos galpões de uma propriedade rural, sendo considerado
somente o consumo de água azul (dessedentação). Para o mesmo produto o valor pode
ser de 15.000 L/kg de carne bovina, aqui o cálculo considera toda a cadeia de produção,
da extração e manufatura dos insumos a oferta dos produtos ao consumidor. Sem esses
esclarecimentos a interpretação do valor conduz a erros. A Figura 1 apresenta as
possíveis fronteiras de cálculo para a cadeia produtiva de bovinocultura de corte. Por
exemplo, a fronteira pode ser a propriedade rural, o abatedouro, o hipermercado ou toda
cadeia produtiva.
59
Figura 1. Fronteira de cálculo da pegada hídrica na cadeia de bovinocultura de corte.
Deve-se ressaltar que o mais importante não é o valor numérico da pegada, mas
sim a relação deste com a disponibilidade hídrica do local e região e a proposição de
ações mitigatórias. Na Figura 2, apresentam-se as etapas de cálculo da pegada hídrica.
Observa-se que a geração do valor numérico é somente uma das etapas e não o objetivo
fim do método. O objetivo fim é utilizar o indicador para promover o uso eficiente da
água e a gestão do recurso natural. O método também considera a análise de
sustentabilidade no qual são avaliados aspectos econômicos e sociais relacionados ao
uso da água.
Calcular a pegada sem propor ações e soluções para melhorar o manejo hídrico
não promoverá grandes avanços e poderá gerar mais conflitos do que consensos.
Quando os primeiros valores da pegada começaram a ser divulgados no Brasil, os
setores agropecuários se mostraram contra o conceito e seus resultados. A razão dessa
revolta inclui erros da mídia na forma de comunicação do conceito e a falta de
conhecimento dos setores ao cálculo. Hoje, o conceito é mais aceito e já internalizado
por algumas agroindústrias, pois o método foi esclarecido e melhorado e se entendeu
que o indicador tem conteúdo para subsidiar a gestão hídrica.
ESTABELECER OS OBJETIVOS E O ESCOPO DE CÁLCULO
CÁLCULO DA PEGADA HÍDRICA (águas verde, azul e cinza)
AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO DA DISPONIBILIDADE HÍDRICA DO LOCAL COM O VALOR DA PEGADA
PROPOSIÇÃO DE AÇÕES MITIGATÓRIAS (envolvendo as culturas vegetais, os manejos produtivos, os processos
industriais e as tecnologias disponíveis)
60
Figura 2. Etapas de cálculo da pegada hídrica.
Para interpretar os valores de pegada hídrica, relacionando-os com o aumento da
eficiência do uso da água é necessário entender e manejar a água nas três dimensões que
ela tem em um sistema de produção animal: alimento, insumo e recurso natural. A água
é o alimento mais importante para os animais, é uma fonte de nutrientes, devendo ser
conservada, manejada e oferecida de acordo com os padrões de qualidade. O
desempenho e o bem-estar dos animais dependem deste alimento oferecido em
quantidade e com qualidade. A água é um insumo quando usada para lavar uma
instalação ou equipamento, refrescar os animais ou remover os resíduos da produção.
Na condição de recurso natural a água deve ser conservada a fim de proporcionar a
resiliência do sistema produtivo. A Figura 3 mostra como essas três dimensões estão
relacionadas com águas verde, azul e cinza. A melhoria da eficiência hídrica é um
processo dinâmico. Portanto, é fundamental atualizar os conhecimentos e promover a
capacitação de agricultores e profissionais.
Figura 3. Dimensões da água em um sistema de produção animal e suas relações com a
pegada hídrica.
DIMENSÕES DA ÁGUA
ALIMENTO INSUMO RECURSO NATURAL
INTERPRETAÇÃO Águas Verde, Azul e
Cinza Água Azul e
Cinza
Avaliação de Impacto (Relacionar a
disponibilidade com a demanda hídrica e o
impacto na qualidade das águas)
BOAS PRÁTICAS Práticas agrícolas, de conservação de uso
do solo e uso de eficiente de
fertilizantes. Manejo e tecnologias em nutrição animal
Internalização do manejo
hídrico. Práticas para o correto manejo dos
resíduos
Práticas para conservação das águas
superficiais e subterrâneas e do solo
Eficiência Hídrica
Melhoria da eficiência hídrica da água verde e redução do valor
da pegada hídrica
Melhoria das eficiências hídricas das águas azul e
cinza e redução do potencial de
impacto ambiental da atividade
Melhoria da condição de segurança hídrica e resiliência do sistema e da sustentabilidade da
pegada hídrica.
61
Independente do método utilizado no cálculo da pegada hídrica as limitações para
os produtos de origem animal são: inexistência de uma cultura hídrica nas cadeias de
produção; falta de informações para o cálculo, aumenta a necessidade de inferências,
aumenta as incertezas e os conflitos; pouca interação pecuária e agricultura; a produção
animal é uma fonte de poluição pontual e difusa, por isso é preciso dimensionar essas
duas fontes para ter um cálculo mais robusto; determinação das fronteiras do cálculo
(sistemas de produção e áreas geográficas); ausência de visão sistêmica dos atores das
cadeias e tomadores de decisão; baixo entendimento do método pelos atores e pela
sociedade; sensacionalismo da mídia na divulgação da pegada e poucas ações que visem
o esclarecimento da sociedade quanto ao método.
3. Cálculos da pegada hídrica
Neste item apresentam-se estudos de cálculo em pegada hídrica, bem como
proposições de manejos e intervenções a fim de tornar o uso da água pela atividade mais
eficiente.
3.1. Bovinocultura de Leite
Esse estudo teve o objetivo de avaliar as pegadas hídricas verde, azul e cinza de
dois sistemas de produção de leite, convencional e orgânico. Os cálculos foram feitos
para o período de um ciclo de lactação (10 meses). Ambos os sistemas possuíam
características comuns: manejo alimentar baseado em sistemas rotacionados de pastejo,
no período seco foi realizada a suplementação de volumoso com silagem de milho na
propriedade convencional e com silagem de cana-de-açúcar na orgânica e ambos
utilizavam irrigação para aumento da oferta de alimentos na seca. Na Tabela 2 são
apresentados os valores das pegadas para os dois sistemas.
Tabela 2. Pegadas hídricas de sistemas convencional e orgânico de produção de leite.
Águas Convencional Orgânico
Pegada Hídrica Verde
Pegada Hídrica Azul
Pegada Hídrica Cinzanitrato
884
75
3,6
702
97
8,6
(Litros de água/Volume de Leite corrigido*) 962,6 807,6
*Volume de Leite corrigido: expressa a quantidade de energia no leite produzido e
ajustado para 3,5% de gordura e 3,2% de proteína. Fonte: Palhares (2015).
Alimentos concentrados representaram 62,5% de pegada de água verde no sistema
convencional e 68,27% no orgânico. Em geral, a intensificação é acompanhada de
redução da dependência sobre a alimentação a pasto e aumento do uso de alimentos
concentrados. Os sistemas de produção precisam aproveitar a capacidade do rúmen de
converter a proteína das forragens em proteína do leite. Isto irá reduzir os custos de
produção e a pegada hídrica e permitir que os sistemas se tornem mais independentes de
recursos externos.
Tanto no convencional, como no orgânico, o consumo de água para irrigação
representou a maior percentagem de água azul. Os resultados são importantes para
mostrar o impacto que essa técnica tem na demanda hídrica de um sistema de produção
de leite, principalmente, em regiões e bacias hidrográficas onde já existem conflitos
62
pelo uso da água. Nesta situação, a irrigação deve ser planejada e manejada buscando a
máxima eficiência de uso do recurso natural. Se não houvesse irrigação nos sistemas, a
pegada azul para o sistema convencional seria de 3 litros por kg de volume de leite
corrigido e de 4 litros por kg de volume de leite corrigido para o sistema orgânico. A
manutenção da produção de leite por ano nos dois sistemas poderia ser alcançada sem
irrigação, mas utilizando-se elevadas quantidades de concentrado na dieta. Esta seria
uma estratégia recomendada para regiões e bacias hidrográficas com escassez de água,
ainda que o custo de produção de leite seja superior. Outra estratégia seria reutilizar o
efluente da sala de ordenha para fertirrigação. Com isso, além de reduzir os valores de
pegada azul, também haveria impactos positivos sobre a eficiência de utilização de
nutrientes presentes nas águas de lavagem da ordenha.
Também foi calculado o indicador de escassez de água azul em ambas as
propriedades. No sistema convencional o valor foi de 0,11 e no orgânico, de 0,13. Os
resultados mostram que o sistema convencional consumiu 11% da água azul disponível
no ano de referência e o orgânico, 13%. Isso ocorreu devido às menores
disponibilidades de águas superficiais e subterrâneas na propriedade orgânica. Para
calcularmos essas disponibilidades consideramos os volumes de água outorgados e a
vazão ecológica dos rios que atravessam as propriedades. A transição para o estresse
hídrico ocorre com valores de 0,2 e de estresse para escassez com 0,4. Apesar dos
indicadores de escassez de água azul serem confortáveis, melhorias na eficiência de uso
da água azul podem permitir a distribuição de água para outros usos e consumidores,
além de contribuir para a redução dos conflitos sociais. O cálculo da pegada hídrica azul
e sua relação com a disponibilidade de água na região de produção auxiliam na tomada
de decisão, pois fornecem informações para se avaliar o risco de escassez hídrica da
atividade.
A produção de alimentos é o maior utilizador de água em um sistema de produção
animal. Esta situação pode ser entendida como uma oportunidade para melhorar a
eficiência de uso da água na agricultura e promover a integração entre agricultura e
pecuária. Portanto, deve-se ter atenção na eficiência da produção dos alimentos e
conversão destes em produtos de origem animal. Melhorar a eficiência da água no
desenvolvimento das culturas vegetais é uma abordagem eficaz para otimizar o uso da
água e reduzir os valores das pegadas. Os especialistas em nutrição animal devem ser os
responsáveis por encontrar a combinação mais sustentável destes elementos, ou seja,
menor utilização de água pela cultura vegetal, mantendo os requisitos de proteína e
energia para os animais. No manejo nutricional o custo da alimentação tem grande
importância. A análise hídrica e econômica para a produção de uma tonelada de
forragem, grãos ou silagem pode demonstrar qual tipo de alimento tem menor consumo
de água e custo de água.
O consumo de água no processamento do produto também pode ser considerado
nos cálculos de pegada hídrica. Devido ao setor agroindustrial também ser um relevante
consumidor do recurso utilizou-se uma unidade de produção de leite tipo A, queijos,
iogurtes e manteiga para calcular a pegada hídrica azul do laticínio, bem como apontar
possíveis práticas de gestão do recurso. No cálculo da pegada hídrica azul foi
considerado somente o uso direto de água pela unidade industrial para suas demandas
de processamento do produto e higienização das instalações.
O leite foi originado de um rebanho de 1,5 mil vacas em lactação, de um total de
3,6 mil fêmeas holandesas entre jovens e adultas, criadas em instalações FreeStall. A
produção média foi de 11.500 kg por vaca por ano, com vacas ordenhadas três vezes por
63
dia em uma sala de ordenha “sidebyside” 2x30. O manejo alimentar era baseado em
ração e volumoso acrescidos de caroço de algodão, polpa cítrica e minerais.
O consumo foi mensurado pela leitura diária, durante 63 dias, de um hidrômetro
instalado na rede hidráulica de entrada da unidade industrial.
Na Figura 4, observa-se os valores da pegada hídrica azul. O valor médio da
pegada foi de 0,25 L de água kg de leite-1, sendo a máxima pegada de 1,29 a mínima
0,06 L de água kg de leite-1.
Figura 4. Pegada hídrica azul da unidade industrial.
Silva (2006) e Castro (2007) encontraram relações de 6,1 L de água kg de leite-1
e
5,7 L de água kg de leite-1
, respectivamente. Saraiva et al. (2009) obteve 3,2 L de água
kg de leite-1
e Machado et al.(2002) valores entre 3 e 4,5 L de água kg de leite-1
. Saraiva
et al.(2009) é importante ressaltar que o consumo de água em um laticínio pode variar
conforme as técnicas, os processos e equipamentos utilizados nas etapas de
processamento e até mesmo o mês em que os dados foram coletados.
O estudo de caso demonstrou que leite e derivados podem ser produzidos com
reduzida pegada hídrica azul. É importante destacar que existem diferenças entre
unidades industriais de produção de leite e essa variabilidade deve ser objeto de futuras
pesquisas para que mais melhorias e melhor gestão possam ser atingidas e propostas.
Com isso o setor poderá desenvolver novos processos, visando reduzir a pressão sob os
recursos hídricos.
Em outro estudo calculou-se a pegada hídrica cinza de um sistema de produção de
leite.
Os dados produtivos utilizados no estudo foram levantados por entrevistas com os
responsáveis e coletas a campo em fazenda localizada no município de Descalvado-SP.
O efluente da ordenha era conduzido para um sistema de separação de sólidos (peneira e
prensa) e armazenado em três lagoas em série com tempo de retenção hidráulica
estimado em 20 dias. Diariamente, o efluente era bombeado da terceira lagoa e aplicado
superficialmente em área de 100 ha cultivada com milho e capim Tifton 85.
Os dados da produção de leite (kg) foram disponibilizados pela fazenda e se
referem ao ano de 2016. A produção média diária até novembro de 2016 foi de 56.217
kg de leite. O laticínio da propriedade produz leite tipo A, iogurte e manteiga.
64
Segundo a empresa, o volume de água utilizado para o flushing das instalações do
sistema de produção é de 600.000 L dia-1. Oito coletas no período 2014/2015 para
caracterização do efluente quanto às concentrações de nitrato foram realizadas após a
terceira lagoa de tratamento. As concentrações de nitrato no efluente estão representadas
na Tabela 1.
O cálculo da pegada hídrica cinza foi feito com base em (Hoekstra et al, 2011) e
nas concentrações mensais de nitrato do efluente gerado pelo sistema de produção. A
fonte poluidora foi considerada como difusa devido ao aproveitamento desse efluente
como fertilizante na propriedade rural.
No caso de fontes difusas de poluição, estimar a porcentagem da carga aplicada
que foi escorrida e/ou infiltrada não é simples. Neste estudo optou-se por utilizar o
cenário Tier-1, no qual o valor de α é estimado de forma qualitativa. Portanto, estima-se
a fração geral de escoamento-infiltração. Assim, atribuiu-se o valor de 10% para α. O
cenário Tier-1 é suficiente para uma primeira estimativa, mas os resultados devem ser
interpretados com cuidado, (Franke et al., 2013). A concentração máxima aceitável para
o elemento nitrato nos corpos d´água brasileiros é de 10 mg L-1
(CONAMA 357, 2005).
Considerou-se o valor zero para a concentração natural do elemento no corpo hídrico.
Na Figura 5 observam-se os valores da pegada hídrica cinza por mês e o valor
médio do período. Quanto maior for o valor de nitrato no efluente, maior será a pegada
hídrica cinza. Portanto, justifica-se a observação do maior valor de pegada no mês de
julho e a menor no mês de fevereiro.
A variação da concentração de nitrato no efluente é multifatorial, sendo um dos
fatores de maior influência o manejo nutricional dos animais. Por exemplo, nos meses
de inverno a relação volumoso/concentrado da dieta é diferente da dos meses de verão.
Isso irá determinar diferentes eficiências de uso de nutrientes e, conseqüente, diferentes
composições de fezes, urina e dos efluentes.
Figura 5. Pegada hídrica cinza no período.
Comparando-se o valor médio da pegada hídrica cinza (2,7 L de água kg-1
de
leite) com os valores de cada mês, é possível observar as variabilidades. Na maioria dos
casos de intervenção ambiental, a tomada de decisão é baseada em valores médios,
65
justamente por não se dispor de dados precisos como neste caso, por mês. Os resultados
mostram que tomar decisão a partir de dados médios poderá incorrer na escolha de
práticas e/ou opções tecnológicas sub ou superestimadas o que pode significar maiores
custos e capacitação da mão de obra.
Antes da tomada de decisão é necessário entender a variabilidade da concentração
de nitrato no efluente, visando à redução do elemento. O tipo de tratamento é um dos
fatores que interfere na qualidade final do efluente. Assim, faz-se necessário o
aprimoramento do sistema de tratamento, com monitoramentos frequentes e gestão
eficiente.
O estudo de caso demonstrou que o sistema de produção pode reduzir seu impacto
ambiental utilizando práticas e tecnologias que melhorem a qualidade do efluente. Com
isso, é importante incorporar nos processos produtivos técnicas de produção mais
limpas, reuso de materiais e medidas ambientalmente corretas, sem impactar de maneira
negativa a economia da atividade. Destaca-se a importância da utilização de ferramentas
que promovam a gestão de recursos hídricos como a abordagem da pegada hídrica. Esta
deve ser objeto de pesquisa visando o manejo e a eficiência do uso da água no setor
agropecuário.
3.2. Bovinocultura de Corte
Confinamentos de bovinos podem provocar impactos ambientais negativos nos
recursos hídricos, no ar e no solo. Apesar de o Brasil ser o segundo maior produtor e
exportador de carne do mundo, ainda é pequena a produção em confinamento, porém os
especialistas preveem a tendência de aumento futuro desse tipo de sistema.
Considerando esse cenário, calculou-se a pegada hídrica de 17 fazendas de bovinos de
corte da raça Nelore terminados em confinamento do estado de São Paulo. Os cálculos
foram feitos considerando somente os usos diretos e indiretos da água na fazenda: fase
de cultivo das culturas vegetais, manejo nutricional e a água consumida pelos animais e
a contida nos produtos. O período foi de um ciclo de produção (de 80 a 110 dias, média
de 90). Para o cálculo foi considerada a somatória da pegada azul (água consumida na
dessedentação dos animais, no processamento dos alimentos e embutida no produto) e
da pegada verde, com base nos dados locais de cada fazenda (precipitação diária,
produtividade da cultura vegetal e sua evapotranspiração).
A pegada hídrica apresentou média de 5.718 litros por quilo de carne, variando de
1.935 a 9.673 litros/kg (Tabela 3). A pegada azul representou 15% desse valor e a
verde, 85%. Esses valores não devem ser comparados com a média global para
produção de um quilo de carne, que é de 15,4 mil litros de água. Essa média foi
calculada para sistema de semiconfinamento e considerando toda a cadeia produtiva,
desde a produção de insumos até a oferta do produto ao consumidor. Os resultados
demonstram a expressiva variabilidade que pode existir entre os valores de pegada de
uma fazenda para outra quando se calcula com base em dados específicos de cada
fazenda e região.
As maiores eficiências no uso da água foram observadas nas fazendas que
utilizaram alimentos com elevada produtividade agrícola (T/ha). Os menores valores,
1.935 e 3.871 litros por quilo de carne, estão relacionados a porcentagens elevadas de
volumoso (cana picada, bagaço de cana ou silagem de milho) nas dietas.
As fazendas com maiores quantidades de concentrado na dieta apresentaram altos
valores de pegada, ou seja, demandaram mais água por quilo de carne produzido, já que
66
a água verde é a maior contribuinte para a pegada total. Nos casos em que a propriedade
usou 90% da dieta com concentrado, a pegada hídrica variou de 6.685 a 9.673 litros por
quilo de carne. Já, a redução de concentrado para 80% representou uma variação de
4.628 a 5.236 litros. Por exemplo, as fazendas 4 e 5 utilizaram bagaço de cana e
apresentaram os mesmos ganhos de peso diário (1,5 kg/dia), pesos inicial e final dos
animais e período de confinamento (90 dias). No entanto, a fazenda 4 usou 80% de
concentrado na dieta e a fazenda 5 utilizou 90%. A pegada da propriedade 4 foi de
4.628 e a 5, de 7.103 litros por quilo de carne, ou seja, usou 53,5% mais água. O
aumento da quantidade de concentrado na dieta resulta em pegadas mais elevadas. A
decisão sobre utilizar mais ou menos concentrado depende de muitos fatores. Aspectos
como o desempenho dos animais, as condições econômicas e gestão das fazendas
devem ser considerados. A quantidade de concentrado também afeta outros indicadores,
como a pegada de carbono e as de nitrogênio e fósforo. A utilização de subprodutos na
alimentação animal pode reduzir os valores da água, bem como pegadas ecológicas ou
de carbono, já que apenas parte da água consumida pelo produto principal é alocada ao
subproduto.
As diferenças locais de evapotranspiração e rendimentos da cultura agrícola
também determinaram valores de pegadas menores ou maiores. Maior
evapotranspiração resulta em maior uso da água, indicando que, dependendo da região,
a pegada hídrica total muda significativamente. A produtividade agrícola dos alimentos
também desempenha papel fundamental, isto é, maior produtividade resultará em menor
pegada hídrica. Isso demonstra que a eficiência hídrica de uma proteína animal é
dependente da eficiência hídrica na agricultura, pois todos os aspectos produtivos estão
interligados. Independentemente do fato de o pecuarista produzir ou não a alimentação
do gado em sua propriedade, o desempenho hídrico dos insumos produtivos devem ser
considerados no cálculo da pegada hídrica. Os resultados mostram que o aumento da
produtividade agrícola tem impactos positivos na pegada hídrica. Em média, o aumento
da produtividade significou uma redução de 19,4% no valor da pegada. Por outro lado, a
menor quantidade de toneladas de grãos por hectare resultou em um aumento médio de
26,4% do valor da pegada. Se os grãos utilizados pelas 17 fazendas tivessem aumento
de 25% na produtividade agrícola, resultaria numa redução de 20% da superfície
agrícola necessária. Por outro lado, uma redução de 25% na produtividade resultaria em
33% mais área à produção de ração.
O consumo médio de água por animal por dia foi de 37,8 litros para uma ingestão
de matéria seca de 10 kg por dia. A temperatura máxima nas fazendas variou de 25 a
31,3°C e precipitação de 2,7 a 4,8 mm ao dia. As fazendas com temperaturas mais
elevadas apresentaram maior consumo de água, 39,6 litros por animal ao dia. Nas
propriedades com temperaturas menores o consumo foi 34,9. A quantidade de água
consumida pelo animal é determinada pelo tipo de dieta, condições zootécnicas dos
animais e conforto térmico do sistema de produção.
A fazenda 5, que mostrou a maior temperatura máxima, poderia implementar
práticas e tecnologias para dar mais conforto térmico. Se a temperatura fosse reduzida
em 2°C, o consumo de água por animal ao dia seria de 38,2 litros, uma diferença de 1,4
litros ao dia.
Os resultados demonstram que os valores de pegada hídrica são determinados, em
grande parte, pelo tipo de alimentação dos animais, bem como pelos seus indicadores de
desempenho zootécnico. A relação volumoso-concentrado e o tipo de volumoso são os
aspectos nutricionais que mais influenciam no valor da pegada hídrica. Volumoso com
67
menor valor nutricional demanda maior inclusão de concentrado por outro lado se esse
volumoso for um subproduto ele terá uma menor pegada hídrica verde o que pode ser
uma vantagem se o alimento for produzido em uma região de escassez hídrica, bem
como uma vantagem econômica, pelo subproduto ter um valor de aquisição menor do
que a matéria-prima original. Se a maior inclusão de concentrado significar maior ganho
de peso diário e produtividade de carne e, consequentemente, menor ciclo de produção,
isso pode ter impactos positivos na redução do valor da pegada, mas para que isso seja
alcançado não só o manejo nutricional é determinante. O manejo zootécnico também
tem que ser adequado, inclusive na fase anterior ao início do confinamento. A nutrição
animal é um fator importante na determinação da eficiência hídrica do produto carne
bovina, mas se os outros aspectos do sistema de produção não forem manejados da
melhor forma, esses influenciarão no desempenho nutricional.
Tabela 3. Pegada hídrica verde e azul de bovinos terminados em confinamento.
Fazenda
Consumo de
água pelo
volumoso
(%)
Consumo de
água pelo
concentrado
(%)
Água
Verde
(%)
Água
Azul
(%)
Pegada
Azul
(L/kg)
Pegada
Verde
(L/kg)
Pegada
Hídrica
(L/kg)
1 12,7 87,3 85,8 14,2 773 4.686 5.459
2 1,9 98,1 87,5 12,5 769 5.400 6.169
3 4,1 95,9 80,2 19,8 768 3.103 3.871
4 1,0 99,0 83,4 16,6 769 3.859 4.628
5 0,3 99,7 89,2 10,8 770 6.334 7.104
6 0,8 99,2 85,3 14,7 767 4.468 5.235
7 0,4 99,6 89,5 10,5 774 7.378 8.151
8 1,0 99,0 92,0 8,0 773 8.899 9.672
9 12,1 87,9 84,0 16,0 768 4.021 4.789
10 8,9 91,1 60,2 39,8 769 1.165 1.934
11 1,3 98,7 87,1 12,9 768 5.210 5.978
12 1,3 98,7 89,7 10,3 771 6.703 7.474
13 4,8 95,2 88,3 11,7 767 5.818 6.585
14 19,1 80,9 76,0 24,0 766 2.422 3.188
15 2,8 97,2 80,0 20,0 766 3.058 3.824
16 0,3 99,7 88,5 11,5 769 5.916 6.685
17 0,01 99,99 90,4 9,6 770 7.221 8.991
Fonte: Palhares (2017).
Neste estudo de caso o objetivo foi monitorar a pegada hídrica cinza de um
abatedouro de bovinos e propor medidas mitigadoras para reduzir o valor da pegada.
Os dados produtivos utilizados no estudo foram levantados em abatedouro
localizado no Estado de São Paulo. As águas residuais provenientes da unidade eram
oriundas das atividades de recebimento dos animais, processos industriais e
higienização, além de esgotamento sanitário. Havia duas linhas distintas de efluentes
líquidos, linha verde (constituída por esterco e material orgânico proveniente da
68
lavagem do bucho) e linha vermelha (constituída basicamente de sangue).
Primeiramente, ambos os efluentes passavam por peneiramento estático. O líquido
proveniente do peneiramento originário da linha vermelha passava por flotação. Após,
ambos os efluentes se misturavam, sendo direcionados dois biodigestores que
trabalhavam em série. Após o tratamento por biodigestores o efluente era conduzido
para um sistema de três lagoas em série. O destino final era o despejo em curso d´água
superficial.
O cálculo da pegada hídrica cinza foi feito com base em (Franke et al., 2013) e na
concentração de fósforo total do efluente gerado pelo abatedouro. A fonte poluidora foi
considerada como pontual, uma vez que o efluente é liberado em curso d´água
superficial. A concentração máxima aceitável para o elemento fósforo nos corpos
d´água superficiais em ambientes lóticos é de 0,1 mg L-1
(CONAMA 357, 2005).
Considerou-se o valor zero para a concentração natural do elemento no corpo hídrico.
Nas Figuras 6 e 7 observam-se os valores das pegadas hídricas cinza nos anos de
2013 e 2015. No ano de 2013 o valor o médio foi de 3.199 m³ Ton-¹de carne e no ano de
2015 1.265 m³ Ton-¹ de carne. No ano de 2013, o mês que obteve maior valor foi junho
(4.866 m³ Ton-1
de carne), enquanto que no ano de 2015, o mês com maior valor foi
março (2.800 m³ Ton-1
de carne).
Comparando-se o valor médio da pegada hídrica cinza de 2013 com os valores de
cada mês, é possível observar diferenças. A variável TAQ é calculada a partir da vazão
do efluente multiplicada pela concentração de fósforo neste. Assim, quanto maior a
concentração de fósforo no efluente maior o valor da pegada. O tipo e manejo do
sistema de tratamento são fatores que interferem na qualidade final do efluente. O
aprimoramento e monitoramento da eficiência do sistema de tratamento proporcionarão
efluentes com menores cargas de elementos e, consequentemente, menores pegadas
cinzas.
Muitas vezes, a tomada de decisão como tentativa de mitigar os danos negativos,
é baseada em valores médios, pelo fato de não se dispor de dados precisos como neste
caso, por mês. Logo, os resultados do estudo mostram que tomar decisão a partir de
dados médios poderá implicar na escolha de práticas e/ou opções tecnológicas não
fundamentadas, o que pode significar maiores custos e capacitação da mão de obra.
Portanto, antes da tomada de decisão é necessário descobrir quais fatores interferem
para o aumento da pegada, para posteriormente fazer uma escolha embasada.
69
Figura 6. Pegada hídrica cinza no ano de 2013.
Figura 7. Pegada hídrica cinza no ano de 2015.
70
4. Considerações finais
O conhecimento da pegada hídrica é uma oportunidade para:
Assegurar a disponibilidade de água em quantidade e qualidade;
Conhecer o consumo das águas verde, azul e cinza pelos diversos
sistemas de produção e nas diferentes regiões a fim de facilitar a gestão desse recurso
natural;
Promover a eficiência do uso da água e o estabelecimento de boas
práticas hídricas, principalmente, nas áreas de concentração das produções;
Reduzir a vulnerabilidade mercadológica dos produtos nacionais;
Reduzir os conflitos entre a cadeia produtiva e a sociedade e com os
atores externos;
Detectar áreas vulneráveis, identificando onde a demanda tem o maior
impacto ambiental, social e econômico;
Formular políticas e estabelecer metas de redução da demanda hídrica
(aumento da eficiência e da produtividade hídrica);
Auxiliar na formulação de zoneamentos e programas de gestão da água;
Conhecer os fluxos de água virtual;
Identificar a dependência hídrica de outros países pela importação de
nossos produtos;
Mudar a visão de unidade de produção para a de sistema de produção, a
unidade faz parte do sistema e é neste que ocorrem os fluxos e processos ambientais,
econômicos e sociais;
Facilitar a adequação ambiental a legislação, pois a análise ambiental
explicita todas as relações da atividade com o meio ambiente e seus recursos,
possibilitando intervenções precisas, planejadas e de menor custo e o cumprimento das
políticas federal e estaduais de recursos hídricos e de seus instrumentos de gestão
(outorga e cobrança pelo uso da água);
As análises e cálculos da pegada são ações multiatores, pois necessitam do
conhecimento e engajamento de todos para que seja reconhecida como instrumento de
suporte a decisão. Portanto, incentiva-se e discussão, reflexão e negociação sobre a
atividade e seus impactos ambientais, o que tem como consequência, a redução dos
conflitos na cadeia de produção e desta com a sociedade. Também insere uma ação
educativa, pois possibilita que produtores, técnicos, profissionais, empresários e agentes
de governo ampliem seu conhecimento ambiental. A falta deste conhecimento é uma
das maiores barreiras para uma evolução ambiental perene e próspera.
10. Referências
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Pesquisadores da Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP. email:patricia.anchao-oliveira@embrapa.br
Resumo: Do ponto de vista do aquecimento global e das mudanças climáticas, os
sistemas de produção agropecuários podem ser benéficos ou maléficos ao ambiente,
visto que podem funcionar tanto como dreno ou fonte de emissões de GEE. Sistemas
intensivos, integrados ou não, apresentaram potencial de mitigação dos GEE e
possibilidade de zerar a pegada de C da carne e ainda gerar créditos de carbono.
Sistemas integrados possuem vantagem no abatimento das emissões de GEE por causa
do sequestro de C do componente arbóreo. Esses fatos tornam possível a produção e
carne com o selo “Carne Carbono Neutro”; que é uma marca-conceito desenvolvida
pela Embrapa, que visa atestar a carne bovina, que tiver seus volumes de emissão de
gases de efeito estufa neutralizados durante o processo de produção, pela presença de
árvores em sistemas de integração do tipo silvipastoril (pecuária-floresta) ou
agrossilvipastoril (lavoura-pecuária-floresta), por meio de processos produtivos
parametrizados e auditados. Planejamento estratégico de longo prazo em que ações
como investimentos em PD&I, extensão rural e transferência de tecnologia, bônus aos
produtores adotantes de tecnologias sustentáveis, isenções fiscais e linhas de crédito
competitivas para fomento à pecuária sustentável são importantes para incentivar a
produção de “Carne Carbono Neutro”. As questões relacionadas às ferramentas para
mensuração e reportação das emissões e remoções de cada propriedade agrícola, aos
meios para ordenar mercado e aos mecanismos de precificação e bonificação dos
créditos de carbono também são entraves atuais que precisam de atenção para trilharmos
o caminho da pecuária sustentável.
Palavras-chave: Emissão de Gases de Efeito Estufa, Sequestro de Carbono, Produção
Sustentável, Pecuária de Corte.
1. Introdução
As mudanças climáticas são foco de atenção e preocupação mundial, devido aos
iminentes desastres ambientais nos seus diferentes graus de intensidade, como
tempestades, enchentes, secas, elevação do nível do mar e eventos extremos como
tornados e furacões. As consequências desse processo são a fome, sede, prejuízos e
desalojamento de famílias e a perda de áreas, quer seja por inundação ou por
desertificação. O aquecimento global pode contribuir e acentuar essas mudanças
climáticas. A emissão de gases de efeito estufa (GEE) por ações antrópicas contribui
para o aquecimento global e deve ser estudada profundamente de forma a diminuir seu
impacto sobre o ambiente (OLIVEIRA, 2015). As emissões contínuas de GEE causarão
mais aquecimento e terão o potencial de prejudicar gravemente o ambiente natural e
afetar a economia global, tornando-se a ameaça global mais premente a longo prazo
para a prosperidade e segurança mundiais futuras (SILVA E SANQUETTA, 2017).
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Dentre as ações antrópicas, a contribuição da pecuária para as mudanças
climáticas ganhou destaque no início desse século. Um dos artigos mais debatidos foi
“LIVESTOCK'S LONG SHADOW: environmental issues and options”, (A extensa
sombra da pecuária: questões ambientais e opções), publicado pela FAO em 2006, em
que o papel da pecuária sobre as mudanças climáticas era discutido, havendo muitos
questionamentos acerca de como era realizada a pecuária no Brasil, sendo atribuído a
ela a degradação das terras, a emissão de gases de efeito estufa e a perda de
biodiversidade, visto que a pecuária se expandia sobre florestas convertidas em
pastagens.
Como o setor pecuário é muito importante no Brasil, por responder por parcela
importante do PIB, por contribuir com a balança comercial, por estar presente em todo o
território nacional e se tratar de atividade de milhões de produtores rurais e dessa forma
contribuir com a estabilidade social e financeira brasileira, tais questionamentos foram
internalizados e geraram muitas preocupações na cadeia produtiva da carne que
começaram a se mobilizar para entender o real papel da pecuária e para procurar formas
de melhorar a forma como a carne é produzida no país, ação essa estratégica, visto que
existem projeções de crescimento dessa atividade no Brasil.
Além disso, os alimentos pecuários tem sido foco relevante de questionamentos
por parte dos consumidores. Preocupações como a qualidade, a segurança e a
rastreabilidade dos alimentos tornaram-se mais presentes nas cadeias produtivas,
tornando-se necessários novos arranjos produtivos para atender aos mercados
consumidores. A preocupação é tão premente, que, em alguns casos, ações extremas
como a adoção de dietas restritivas ao consumo de carne tornou-se realidade.
Quando se considera as exportações, uma das principais preocupações com
relação ao crescimento da pecuária no Brasil está relacionada aos possíveis impactos
ambientais, o que certamente colocará em evidência o tratamento dispensado pelo nosso
país em relação às questões ambientais (OLIVEIRA, 2015).
Esse artigo tem por objetivo discutir a possibilidade e a importância de se realizar
a produção de carne com suas emissões de gases de efeito estufa mitigadas, os
principais entraves para que isso se torne realidade e possíveis formas de fomentar esse
tipo de produção sustentável.
2. A Problemática na interface pecuária e meio ambiente
No Brasil, o agronegócio é um setor muito importante, sendo responsável por
parcela relevante da economia, respondendo por mais de 20% do PIB. Em 2016
somente a pecuária respondeu por 4,21% do PIB brasileiro, com uma renda anual da
cadeia de corte de 200,4 bilhões de reais (BARROS, et al./CEPEA/USP, 2017). Trata-se
de um setor importante para a estabilidade financeira e social do país (OLIVEIRA et al.,
2015), que está presente em todos os munícipios do Brasil (IBGE, 2010). O setor
contribui também com a balança comercial brasileira, sendo que no ano de 2017 as
exportações de bovídeos foram de U$ 8,65 bilhões e representaram 9% das exportações
do agronegócio brasileiro (BARROS, et al./CEPEA/USP, 2017).
As projeções do agronegócio brasileiro 2015/2016 a 2025/2026 (MAPA, 2016)
preveem aumento para o setor pecuário. As projeções de carnes para o Brasil mostram
que esse setor deve apresentar intenso crescimento nos próximos anos e a expectativa é
que a produção de carne no Brasil continue seu rápido crescimento na próxima década
(OECD-FAO, 2015, citado por MAPA, 2016). Ainda segundo essas instituições, os
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preços ao produtor devem crescer fortemente durante os próximos dez anos,
especialmente para carne de porco e carne bovina, enquanto os preços do frango devem
crescer a taxas mais modestas (OECD–FAO, citado por MAPA, 2016). A produção de
carne bovina tem um crescimento projetado de 2,4% ao ano, o que também representa
um valor relativamente elevado, pois consegue atender ao consumo doméstico e às
exportações.
Tão importante quanto o desempenho econômico e o crescimento da pecuária, a
forma como os alimentos pecuários vem sendo produzidos, tem sido foco relevante de
questionamentos por parte dos consumidores. Preocupações como a qualidade, a
segurança e a rastreabilidade dos alimentos tornaram-se mais presentes nas cadeias
produtivas, fazendo com que novos arranjos produtivos aparecessem para atender aos
mercados consumidores. Por exemplo, restrições quanto ao uso de agrotóxicos e seus
possíveis resíduos nos alimentos, impulsionaram a produção de alimentos orgânicos.
Apreensões éticas sobre a forma como os animais são criados e abatidos e o
impacto da produção de carne sobre as mudanças climáticas levaram a questionamentos
sobre a real necessidade do consumo de carne, aparecendo movimentos como o
vegetarianismo e o veganismo, que preconizam dietas restritivas ao consumo de carne.
O vegetarianismo é o regime alimentar que exclui todos os tipos de carnes e costuma ser
classificado da seguinte forma: Ovolactovegetarianismo: utiliza ovos, leite e laticínios,
Lactovegetarianismo: utiliza leite e laticínios, Ovovegetarianismo: utiliza ovos e
Vegetarianismo estrito: não utiliza nenhum produto de origem animal na sua
alimentação. As razões para se tornarem vegetarianos são: ética com os animais, saúde,
meio ambiente e reponsabilidade social, esse último relacionado ao uso de mão de obra
escrava na pecuária e uso da maioria dos grãos, como soja e milho, para a alimentação
dos animais (SBV, 2018). A filosofia do veganismo (não consumo de qualquer produto
que gere exploração e/ou sofrimento animal) adota o vegetarianismo estrito no âmbito
da alimentação. Além disso, o veganismo é o modo de vida que busca eliminar toda e
qualquer forma de exploração animal, não apenas na alimentação, mas também no
vestuário, em testes, na composição de produtos diversos, no trabalho, no
entretenimento e no comércio. Veganos opõem-se, obviamente, à caça e à pesca, ao uso
de animais em rituais religiosos, bem como a qualquer outro uso que se faça de animais
(SV, 2018).
Essas preocupações muitas vezes têm sido tratadas pelo público de forma leiga e
autônoma, dispensando informações estatísticas e visão mais ampla dos processos
produtivos embasadas por critérios científicos imparciais.
Durante a 140 Semana Nacional de Ciência e Tecnologia em São Carlos, SP,
Oliveira, 2017, ponderou que “Parece plausível que para se evitar os efeitos das
mudanças climáticas devemos nos alimentar segundo recomendações de entidades
científicas especializadas no tema, o equilibrando a pirâmide alimentar dupla, que traz
tanto a recomendação de consumo alimentar quanto do impacto ambiental da produção
dos alimentos, Figura 1 (BCFN, 2016). Felizmente os alimentos que mais causam
impactos ambientais, apesar de essenciais, são aqueles menos requeridos para a boa
nutrição. É necessário repensar nossas atitudes, priorizando a alimentação adequada,
evitando os excessos e especialmente os desperdícios de alimentos (a emissão de GEE
relativa ao desperdício de alimentos, se fosse um país ocuparia a terceira posição no
ranking mundial de emissões) e a substituição dos veículos por transportes coletivos,
uso de bicicletas e caminhadas, atitudes simples que ajudam a minimizar os efeitos do
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aquecimento global, além de contribuírem para nutrição adequada e prática de
atividades físicas, que garantem uma vida mais saudável”.
Figura 1. Pirâmide alimentar dupla. Fonte: BCFN, 2016.
Com relação às mudanças climáticas, deve-se considerar que a atividade pecuária
produz gases de efeito estufa na forma de metano (CH4), oriundo da fermentação
entérica dos ruminantes, óxido nitroso (N2O), devido ao uso de fertilizantes
nitrogenados, e ambos os gases, a partir do manejo de dejetos e da deposição de dejetos
sobre as pastagens (O´MARA, 2012). Em menor proporção também existe a emissão de
CO2 devido ao uso de combustíveis fósseis e de energia nos sistemas de produção
(O´MARA, 2012). No Brasil em 2014, a agropecuária emitiu 424.473 gG CO2eq (GWP
– SAR) e foi responsável por 33% dos emissões líquidas totais de gases de efeito estufa
do Brasil, que foram no total de 1.284.495 gG CO2eq. Dos 424.473 gG CO2eq emitidos
pela agropecuária, 60% foram oriundos da fermentação entérica de metano (MCTIC,
BRASIL, 2017, o que evidencia a alta participação da pecuária nessas emissões
reforçando a necessidade de adoção de medidas mitigatórias).
Cientistas preocupados com os motivos para a adoção das dietas restritivas em
alimentos de origem animal e com os impactos da pecuária sobre o meio ambiente,
decidiram unir esforços na rede de pesquisa PECUS com a finalidade de esclarecer qual
a verdadeira contribuição da pecuária brasileira nas questões ambientais e iniciaram
estudos sobre o balanço de carbono nos principais sistemas de produção pecuários com
o objetivo de garantir a sustentabilidade da pecuária brasileira.
Como resultado desses estudos, verificou-se que a degradação das pastagens é o
principal problema da pecuária de corte brasileira e está associada à emissão de GEE e
necessidade de maior quantidade de área para produção pecuária, fazendo pressão sobre
a floresta (OLIVEIRA et al., 2018). Mas por outro lado verificou-se que é possível
produzir carne de forma sustentável, a carne carbono neutro (OLIVEIRA et al., 2017).
Para tal foi necessário a realização de estudos multidisciplinares para a avaliação do
balanço entre as emissões de GEE e o sequestro de carbono (C) em pastagens
degradadas, em pastagens recuperadas e intensificadas em diferentes níveis de uso e nos
sistemas integrados de produção, no sentido de verificar o melhor equilíbrio entre os
malefícios ambientais das emissões de gases de efeito estufa e os benefícios do
sequestro de C, e consequente mitigação dos gases de efeito estufa, tanto pela pastagem
como pela inclusão do componente arbóreo.
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3. Balanço de Carbono e ações para a mitigação da emissão de gases de efeito
estufa (adaptado de Oliveira et. al., 2017)
Na agropecuária os balanços de emissões e remoções de GEE (balanço GEE)
envolvem a medição dos fluxos de emissões de CO2, CH4 e N2O do sistema solo-planta,
da emissão de metano entérico (CH4) emitido pelos animais e a taxa de sequestro de C
do solo e da floresta plantada, todos expressos em CO2eq. num determinado período,
normalmente um ano. Para expressar esses gases em CO2eq. usa-se o Potencial de
Aquecimento Global (PAG 100), um fator que descreve o impacto do forçamento
radiativo (grau de dano à atmosfera) de uma unidade de determinado GEE relativamente
a uma unidade de CO2 (GHG Protocol), para 100 anos. Existem várias métricas para se
realizar a conversão dos gases para o CO2eq. e elas são constantemente discutidas e
questionadas, entretanto, os inventários e balanços devem explicitar claramente o que
foi utilizado de forma a gerar condições de comparação entre inventários e publicações
científicas. Para fins de inventário é utilizado o PAG-100 – IPCC 1996, acordado no
protocolo de Quioto, em que CO2 equivale a 1 CO2eq., CH4 a 21CO2eq. e N2O a 310
CO2eq., enquanto que cada unidade de C sequestrada equivale a 3,67 CO2eq. Detalhes
sobre o cálculo do balanço de C e limitações para comparação de balanços de C
oriundos de diferentes trabalhos científicos podem ser obtidos em Oliveira, et al., 2017.
Figueiredo et al., 2016 estimaram o balanço de GEE (emissões menos drenos) e a
pegada de carbono para a produção de bovinos de corte em três cenários contrastantes
de sistemas de produção com pastagens de Brachiaria para o Brasil, usando pastagens
degradadas, pastagens manejadas e pastagens integradas com agricultura e floresta
(ILPF). Com relação a pegada de carbono, a emissão total estimada em dez anos foi
maior para o sistema com pastagens manejadas (84.541 kg CO2eq.ha-1
), seguido pelo
sistema de ILPF (64.519 kg CO2eq.ha-1
) e pelo sistema degradado (8.004 kg CO2eq.ha-
1), o que parece ruim para os sistemas mais intensificados; mas resultou em pegada de
carbono de 18,5 kg CO2eq.kg peso vivo-1
no sistema degradado, seguido por 12,6 kg
CO2eq.kg peso vivo-1
para o sistema de ILPF e 9,4 kg CO2eq.kg peso vivo-1
para o
sistema com pastagens manejadas; sem considerar o potencial de sequestro de C dos
solos para o sistema com pastagens manejadas e do solo mais o eucalipto para os
sistemas com pastagens integradas no ILPF. Com relação ao balanço de carbono,
quando considerou o sequestro de C a pegada de C reduziu para 7,6 e - 28,1 kg
CO2eq.kg peso vivo-1
para as pastagens manejadas e para as integradas no ILPF,
respectivamente. Considerando-se o sequestro de carbono do solo e do eucalipto, o
sistema de ILPF é capaz de sequestrar mais carbono, superando a emissões de GEE,
gerando créditos de C.
Cunha, et al., 2016 realizaram o inventário de emissão de GEE e o balanço de C
para dois sistemas de produção de bovinos leiteiros, um mais intensivo e outro em
sistema integrado e utilizaram dois métodos para calcular a emissão de metano entérico,
pelo tier 2 do IPCC (2006) e por medida direta utilizando o gás traçador hexafluoreto de
enxofre (SF6). O sistema de produção integrado possuía 12 animais e área total de 15,6
hectares, 7,8 ha usados para a produção de 37,01 mil litros de leite ao ano, ocupado por
pastagens, cana, milho e eucalipto. O balanço de C foi calculado como a diferença entre
drenos e emissões, ou seja, a diferença entre o estoque das culturas e pastagem e as
emissões de GEE originárias da atividade leiteira (emissão de CH4 da fermentação
entérica e dejetos animais, emissão de N2O da fertilização nitrogenada e emissão de
CO2 do uso de óleo diesel das operações agrícolas e o consumo de energia elétrica com
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a irrigação e com o sistema de ordenha e refrigeração do leite. O balanço de C (usando o
IPCC, 2006 para estimar a emissão CH4 entérico) considerando os drenos de C foi de
162.8 t CO2e/ano e sem os drenos de C foi de - 25.1 t CO2e/ano para a área de 7.8 ha. Já
com a medida direta das emissões de CH4 entérico, o balanço de C foi de 154.0 t
CO2e/ano considerando os drenos de C e - 33.9 t CO2e/ano sem os drenos de C em 7.8
ha, o que resulta em um balanço anual de 19,74 t CO2e/ha.ano e -4,35 t CO2e/ha.ano,
respectivamente. A falta de consideração dos drenos de C sugere que os sistemas de
produção podem emitir mais C do que são capazes de estocar. Entretanto, quando se
considera os drenos de C, o sistema possui potencial de mitigação, zera a pegada de C
do leite e ainda gera créditos de C.
A Embrapa Pecuária Sudeste possui um experimento comparando vários sistemas
de produção para criação de bovinos de corte (garrotes Canchim) em relação às
questões de produtividade, eficiência e sustentabilidade, ocupando área bastante
uniforme quanto às condições edáficas e de relevo. Os sistemas de produção avaliados
são a floresta estacional semidecidual (Bioma Mata Atlântica) e cinco distintos sistemas
de produção: sistema agrossilvipastoril ou de integração lavoura-pecuária-floresta
(iLPF), sistema silvipastoril ou de integração pecuária-floresta (iPF), sistema
agropastoril ou de integração lavoura-pecuária (iLP), sistema extensivo (EXT) com
pastagem de Brachiaria decumbens, e o sistema intensivo (INT). Os sistemas de iLPF,
iLP, iPF e INT foram formados com Urochloa brizantha cv. Piatã, sendo os sistemas
iLPF e iLP com rotação entre lavoura e pastagem (um ano com lavoura e três anos com
pastagem rotacionada). A renovação da pastagem ocorre em um terço de cada área por
ano agrícola, em 2013 foi realizada a ressemeadura do capim simultaneamente com a
cultura do milho (Zea Mays L. var. DKR 390 PRO 2) para produção de silagem.
Em abril de 2011, nos sistemas de iPF e iLPF foi plantada a floresta de eucalipto
(Eucaliptys urograndis clone GG100) com um espaçamento de 15m entre linhas e 2m
entre plantas, resultando em uma densidade de 333 árvores ha. Nos sistemas de iLP,
iPF, iLPF e INT as pastagens foram adubadas a lanço na safra 2013/2014 com 156.6 kg
de nitrogênio (N). ha-1
ano, aplicados parceladamente em doses iguais em quatro
fertilizações, duas na forma de ureia e duas na forma de sulfato de amônio. Somente o
sistema EXT não recebeu nenhum tipo de fertilização ou correção do solo.
Para esses sistemas, a emissão de CH4 entérico representou mais de 98% do total
das emissões de GEE (Tabela 2); esse valor é maior que os utilizados por Cunha et al.,
2016 e Figueiredo et al., 2016, em que, apesar de alta representatividade, a participação
da emissão de CH4 entérico variou de 50% até 87%. A emissão total de GEE dos
sistemas também foi menor que as encontradas por Cunha et al, 2016. Para o sistema
intensivo e ILPF, esse autor reportou emissões de 8,4 e 6,45 t CO2 eq./ha.ano, enquanto
na Pecuária Sudeste, as emissões foram de 5,5 e 3,44, respectivamente. Nos dois
trabalhos, os sistemas intensivos apresentaram as maiores emissões de GEE,
provavelmente devido a maior lotação animal e ao maior ganho de peso dos animais.
As razões para a maior representatividade do metano entérico nos sistemas da
Embrapa Pecuária Sudeste foram as menores emissões medidas no sistema solo-planta,
em função do solo utilizado, um Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico, com textura
média/argilosa, bem aerado e drenado, e do ano seco, que evitou o encharcamento do
solo e a formação de ambientes anaeróbios, desfavorecendo os microrganismos e
processos de emissão de GEE, como a desnitrificação. Outro fato é que nos trabalhos de
Cunha et al., 2016 e Figueiredo et al., 2016 foram usadas as equações estimativas do
IPCC 2006 para quantificar as emissões de GEE, enquanto que, na Pecuária Sudeste, os
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resultados foram obtidos por medidas em câmaras aleatórias, avaliadas em 80 dias a
cada ano, distribuídos nas quatro estações climáticas. Além disso, por enquanto na
Embrapa Pecuária Sudeste, somente as emissões diretas de GEEs foram considerados,
sendo necessário acrescentar no balanço de C as emissões indiretas de GEE pelos
processos de voltatilização de amônia e runoff de N e as provenientes do consumo de
óleo diesel nas diferentes operações realizadas com implementos e máquinas agrícolas
(fertilização das pastagens, plantio, fertilização de cobertura do milho e eucalipto, entre
outras) usadas nos sistemas agropecuários.
O balanço entre as emissões e remoções antrópicas de GEE foi realizado para
todos os sistemas de produção e variou de 3,29 a 29,15 t CO2eq./ha.ano (Tabela 2),
sendo o menor valor para as pastagens extensivas e o maior valor para o iLPF,
evidenciando que os drenos de C (sequestro de C no solo e no fuste do eucalipto) foram
maiores que as emissões de GEE e mostrando que todos apresentaram potencial de
mitigação dos GEE e possibilidade de zerar a pegada de C da carne e ainda gerar
créditos de carbono. Vale ressaltar que os sistemas integrados contendo floresta, como o
silvipastoril e o agrossilvipastoril, pela presença do eucalipto possuem um potencial
superior em relação aos outros sistemas avaliados para a mitigação das emissões
(Tabela 1). Apesar da alta lotação e maior ganho de peso médio do sistema intensivo,
ainda assim foi possível mitigar as emissões de GEE por meio da taxa anual de
sequestro de C no solo das áreas de pastagens, gerando créditos de C.
1
Tabela 1. Balanço entre as emissões e remoções antrópicas de GEEs, considerando-se apenas os principais processos produtivos em
sistemas de produção de bovinos de corte com ou sem integração.
Sistemas de Produção
Lotação Acúmulo Acúmulo Carbono CH4 emitido N2O solo CH4 solo Emissões Diferença
Animal&
C solo † C fuste* sequestrado£ bovino
€ emitido
§ emitido
§ totais líquida
n./ha ----t/ha . ano--- ----------------------------t CO2 eq / ha . ano--------------------------
Pastagem Extensiva 2.04 1.7
6.24 2.95 0.00203 0.00068 2.9527 3.29
IPF (silvipastoril) 2.73 3.13 5.18 30.5 4.42 0.00193 0.00013 4.4221 26.08
ILP (agropastoril) 2.66 3.13
11.49 3.86 0.03869 0.00108 3.8998 7.59
ILPF(agrossilvipastoril) 2.57 3.13 5.75 32.59 3.40 0.03957 0.00078 3.4404 29.15
Pastagem Intensiva 3.13 3.13
11.49 5.55 0.00068 0.00068 5.5514 5.94
& Resultados obtidos nos sistemas, considerando a área total de cada um, por Oliveira et al., dados não publicados.
† segundo Segnini, et.al, 2007 – resultados para a profundidade de 0-100 cm.
* Resultados obtidos nos sistemas por Pezzopane et al., dados não publicados.
£ usado o fator de conversão 3,67
€ Resultados obtidos nos sistemas por Berndt et al., dados não publicados e considerando-se um fator de correção de 28, oriundo do
potencial de aquecimento 28 vezes maior do metano em relação ao gás carbônico (IPCC, 2013).
§ Resultados obtidos nos sistemas para pastagens por Alves, 2017 e segundo Besen, 2015 para milho. As emissões da lavoura de milho
foram consideradas somente para os sistemas integrados com o componente lavoura, a ocupação com milho foi de 33,33% da área e
50% do tempo do ano agrostológico, representando portanto 16,67% das emissões de GEE. Para o CH4 considerou-se um fator de
correção de 18 e para o N2O um fator de 265, oriundos do potencial de aquecimento de 28 e 265 vezes maior do CH4 e do N2O em
relação ao gás carbônico, respectivamente (IPCC, 2013).
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4. Produção de Carne Carbono Neutro
Sabendo-se do potencial de mitigação das emissões dos gases de efeito estufa
criou-se o selo “Carne Carbono Neutro”; que é uma marca-conceito desenvolvida pela
Embrapa, que visa atestar a carne bovina, que tiver seus volumes de emissão de gases
de efeito estufa neutralizados durante o processo de produção, pela presença de árvores
em sistemas de integração do tipo silvipastoril (pecuária-floresta) ou agrossilvipastoril
(lavoura-pecuária-floresta), por meio de processos produtivos parametrizados e
auditados (ALVES, et al., 2015). Num segundo momento, o ideal seria que fossem
consideradas as emissões líquidas da pecuária, que consideram as remoções de GEE,
por meio do sequestro de C tanto no solo das áreas de pastagens recuperadas e
intensificadas, como no fuste das árvores dos sistemas integrados com a presença do
componente arbóreo. Dessa forma, regiões onde existem limitações para inserção de
árvores nos sistemas produtivos também tornar-se-iam aptas a receber incentivos, desde
que realizassem a recuperação e manutenção das áreas de pastagens apresentando
emissões líquidas com créditos de C, conforme apresentado na Tabela 1.
De certa forma, esse tipo de produção de carne de forma sustentável já possui
incentivos nacionais e estaduais, por meio de ações como o Plano Setorial de Mitigação
e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de
Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC), MAPA, 2012, que fomenta a
recuperação de áreas de pastagens e a adoção de sistemas integrados de produção por
meio de crédito rural e incentivo à divulgação, transferência de tecnologia e pesquisa
sobre o assunto nacionalmente e como Projeto Integra SP (ILPF) para produção
agropecuária e florestal no Estado de São Paulo (CATI, 2013), que prioriza a
recuperação de pastagens e a conservação do solo por meio de recursos em parte
subvencionado.
Apesar de importante; os incentivos por meio de crédito rural ou subvenção não
tem condições de garantir a sustentabilidade econômica dos sistemas de produção de
carne carbono neutro, dada a dificuldade de garantir a continuidade dessas linhas de
crédito por longos períodos a medida que outras prioridades forem surgindo. Além
disso, o crédito gera dependência de recursos públicos por parte do setor produtivo
privado.
A situação ideal viria de solução que garantisse o fomento em longo prazo da
produção sustentável de carne. Entretanto, a grande dificuldade é transformar o selo em
algum benefício; bônus aos pecuaristas que se esforçarem para produzir carne com
mínimo impacto ambiental evitando que o selo se torne somente mais um ônus, pelo
custo de certificação e obrigação de cumprir normas impostas ao produtor rural. Outro
entrave a ser superado é a precificação e o estabelecimento de normas de mercado para
esses créditos de carbono, bem como seu cálculo e certificação.
Segundo Mesquita, 2018, até o início de abril de 2018, especialistas do setor
agropecuário devem divulgar as primeiras sugestões para estabelecer os termos de
remuneração compensatória na emissão de gases de efeito estufa (GEE). Este é o prazo
estabelecido para a finalização da Carta sobre Potencial de Precificação de Carbono na
Agropecuária Brasileira, discutida no fórum nacional “Oportunidades de precificação de
carbono no setor agropecuário”. O documento será enviado ao Ministério da Fazenda,
responsável pela coordenação do Projeto PMR (Partnership for Market Readliness –
Parceria para Preparação do Mercado). O PRM Brasil tem por objetivo discutir a
possibilidade de estabelecer preços para as emissões, em forma de
82
tributo ou em mercado de carbono (compra e venda) junto à Política Nacional sobre
Mudança do Clima (PNMC) após 2020.
Outra forma de incentivo seriam as isenções fiscais. Nessa linha a Secretaria de
Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar de MS
estabelece que os pecuaristas com propriedades no Pantanal e dentro dos limites do
Mato Grosso do Sul passarão a ter direito à isenção fiscal sobre o recolhimento de
ICMS na comercialização de carne bovina sustentável ou orgânica produzida dentro do
bioma. As isenções fiscais previstas são de até 50% do ICMS para carne sustentável e
de até 67% do valor do tributo devido para quem produzir carne bovina orgânica. Os
parâmetros que delineiam as características desses dois produtos são os mesmos
adotados no protocolo da Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO), que
enfatiza os efeitos benéficos da ação além das questões das mudanças climáticas, como
a fixação do homem pantaneiro no bioma, o uso de tecnologias limpas e a abertura para
novos negócios, sobretudo em certificações e originação de produtos (Mesquita, 2018).
5. Considerações finais
A factibilidade da produção de “Carne Carbono Neutro” per si não resolverá o
problema, para mitigar suas emissões a pecuária de corte depende de planejamento
estratégico de longo prazo em que ações como investimentos em PD&I, extensão rural e
transferência de tecnologia, bônus aos produtores adotantes de tecnologias sustentáveis,
isenções fiscais e linhas de crédito competitivas para fomento à pecuária sustentável
sejam planejadas e implementadas.
As questões relacionadas às ferramentas para mensuração e reportação das emissões
e remoções de cada propriedade agrícola, aos meios para ordenar mercado e aos
mecanismos de precificação e bonificação dos créditos de carbono também são entraves
atuais que precisam de atenção para trilharmos o caminho da pecuária sustentável.
Ações de comunicação tornam-se importantes no sentido de esclarecer a população
quanto aos menores impactos ambientais e a possibilidade de produção de carne
carbono neutro, quando a pecuária é realizada de forma sustentável. Esse
esclarecimento pode evitar a adoção de dietas que possam colocar a saúde pública em
risco e ao mesmo tempo proporcionar um consumo mais consciente, evitando
especialmente o desperdício de alimentos e nutrientes, que causam emissão de GEE e
ineficiência nas cadeias produtivas.
6. Referências
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85
Técnicas para mensurar emissão de metano em bovinos
Alexandre Berndt
1, Paulo de Méo Filho
2, Leandro Sannomiya Sakamoto
2, Marcela Morelli
3
1Pesquisador Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos-SP) 2 Doutorando em Qualidade e Produtividade Animal, FZEA/USP - Pirassununga 3Doutoranda em Nutrição e Produção Animal, FMVZ/USP - Pirassununga
Resumo: Na evolução da humanidade a produção pecuária sempre assumiu papel
importante no desenvolvimento das civilizações até como hoje são conhecidas. Com o
aumento progressivo da população mundial, este setor é exposto a novas barreiras e
desafios, para que possa contribuir significativamente com a crescente demanda por
alimentos. Outro enfoque que traz preocupação ao se tratar desta questão, são os
impactos causados com o uso da terra e emissão de gases de efeito estufa. No caso de
animais ruminantes a maior preocupação é em relação as emissões de gás metano, pois
representam cerca de 22% das emissões de metano globais produzidas por fontes
antrópicas. A compreensão acerca dos processos de emissão de gases de efeito estufa
(GEE) na agropecuária se faz cada vez mais importante, sendo fundamental a
mensuração e quantificação do metano entérico emitido em diferentes sistemas de
produção, a pasto ou em confinamento. Estudos sobre as emissões de GEEs na
agropecuária são fundamentais para a elaboração de inventários nacionais, definição de
novas prioridades de pesquisa, aprimoramento de metodologias e estabelecimento de
estratégias de mitigação, de forma a auxiliar o setor pecuário a aumentar sua produção
em harmonia com a sociedade e o meio ambiente. Este capítulo dedica-se a explanar as
diferentes metodologias disponíveis para quantificar a emissão de metano entérico de
ruminantes em geral, apresentando vantagens, desvantagens e aplicação de cada uma.
Palavras-chave: bovinocultura de corte, fermentação entérica, gases de efeito estufa,
hexafluoreto de enxofre, metano entérico, ruminantes
1. Introdução
Com o crescente aumento da população mundial e expectativa desta alcançar 9,2
bilhões de pessoas em 2050, ou seja, um aumento de aproximadamente 30% existe uma
tendência de crescimento no consumo global de alimentos, em particular aqueles de
origem animal, em função do aumento da renda da população e do processo de
urbanização (FAO, 2013). Segundo pesquisa de orçamento familiar realizada no Brasil
em 2002-2003 (IBGE, 2004) verificou-se a tendência de que quanto maior a renda em
salários mínimos, maior a participação das proteínas de origem animal na dieta da
família. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) o
leite é um dos produtos que apresenta grande possibilidade de crescimento de demanda,
sua produção deverá crescer a uma taxa anual entre 2,4 e 3,3%. Isso corresponderá a
uma produção de 47.474 milhões de litros de leite cru no final do período das projeções
de 2025 (MAPA, 2015).
Para acompanhar essa crescente demanda por alimentos, o rebanho mundial de
bovinos de corte tem demostrado forte crescimento, chegando ao final do ano de 2016
com 998 milhões de cabeças. Deste total, cinco países abrigam mais de 80% dos
animais: Índia (30,39%), Brasil (22,64%), China (10,03%), EUA (9,37%) e União
Europeia (8,94%), de acordo com o USDA (2016). Segundo a publicação Agricultural
86
Outlook 2016-2025 (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico
(OECD-FAO, 2016), a produção de carnes deverá ser 16% maior em 2025. Nos países
em desenvolvimento a produção de carne bovina se projeta ainda maior, alcançando
20% e o Brasil é visto como um dos países de grande capacidade em suprir essa
demanda de proteína animal. O Brasil ocupa uma importante posição no mercado
internacional de carne bovina, sendo o segundo colocado em produção, atrás dos
Estados Unidos da América e frequentemente primeiro exportador, disputando com
Índia e Austrália.
A pecuária está diretamente relacionada à emissão de gases de efeito estufa –
GEE, em função da fermentação entérica decorrente dos processos digestivos dos
ruminantes. Dentre os gases de efeito estufa (GEE) emitidos por diferentes setores, a
agropecuária em geral contribui de forma significativa para as emissões de dióxido de
carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) (FAO, 2013). Por isso, os sistemas
de produção de carne tem sido motivo de estudos e discussão no setor agrícola nos
últimos anos devido à sua contribuição para o aquecimento global, principalmente
devido à emissão de metano entérico (Moss, JOUANY e NEWBOLD, 2000).
O CH4 é um hidrocarboneto proveniente de diversos setores, dentre eles a
geração de energia (principalmente a queima de combustíveis fosseis), os processos
industriais, a agropecuária e os sistemas de tratamento de resíduos (MCTI, 2014).
Dentro do setor da agropecuária, o metano pode ter origem a partir dos processos de
fermentação entérica, durante o manejo de dejetos, nos processos relacionados à cultura
de arroz e em na queima de resíduos agrícolas. De todo o metano global produzido por
fontes antrópicas, 22% corresponde à produção entérica (USEPA, 2000). A dinâmica
fisiológica do metano produzido por fermentação no rúmen é de que 95% dele sejam
expelidos por eructação, e a porção de metano que é produzida no trato digestivo
posterior, tem 89% do gás sendo excretado através da respiração e apenas 11% pelo
ânus (Murray, BRYANT e LENG, 1976).
Em 2010, a fermentação entérica contribuiu com 94,9% das emissões totais de
metano da pecuária no Brasil e os bovinos contribuíram com 96,8% destas emissões
(MCTI, 2015). A fermentação entérica do gado de corte é a principal fonte de emissão
de metano, com cerca de 75% das emissões registradas, seguida da fermentação entérica
do gado de leite, que representa 12% das emissões entéricas totais (MCTI, 2014).
De acordo com o Terceiro Inventário Nacional de Emissões de Gases do Efeito Estufa –
Relatórios de Referência, os bovinos emitem cerca de 57 kg de metano por ano, quando
não é aplicada nenhuma estratégia mitigadora de emissão (MCTI, 2015). Porém ainda
há escassez de dados e distorções nas informações relacionadas aos impactos ambientais
que geram preocupações e barreiras ao desenvolvimento do setor. Em recente
publicação na Folha de Paulo, Jank (2018) discutiu a visão internacional negativa sobre
a pecuária brasileira, assim como os reais cálculos da emissão e remoção de carbono
considerando o balanço de GEE e o ciclo de vida da atividade, cujos resultados mostram
que as pastagens tropicais possuem alto potencial de sequestro de carbono e mitigação
das emissões.
Para o Brasil é muito importante aumentar a compreensão acerca dos processos
de emissão e remoção de GEE na agropecuária, sendo fundamental a mensuração e
quantificação do metano entérico emitido em diferentes sistemas de produção, a pasto
ou em confinamento, nos seis biomas brasileiros.
87
2. Metodologias para a determinação da emissão de CH4 entérico
Para uma avaliação e mensuração correta de gases emitidos pelos animais
ruminantes, é importante sempre considerar alguns aspectos relevantes:
1. Interferência da metodologia na rotina do animal;
2. Interferência ou mudança no gás emitido a ser avaliado;
3. Mudanças em seu ambiente natural ou produtivo;
4. Facilidade para análise das amostras e dos dados.
Considerando todos esses pontos, ao longo de mais de 60 anos, desde o surgimento
dos primeiros trabalhos com avaliação de emissão de metano entérico, as técnicas e
metodologias foram se aprimorando e se adequando as condições produtivas. Métodos
de pesquisa utilizados para estudar as emissões de CH4 entérico e as práticas de
mitigação possuem elementos em comum, porém diferem em termos de aparatos e
abordagens utilizadas. A medida precisa das emissões provenientes dos ruminantes é
necessária para publicação de inventários nacionais, criação e avaliação das estratégias
de mitigação e desenvolvimento de protocolos para seleção genética (HAMMOND
et.al., 2016). Existem diversas tecnologias utilizadas em todo o mundo para quantificar
a emissão de metano entérico, podendo ser realizadas por métodos in vitro ou in vivo.
Estas diferem em seu modo de aplicação, custo, acurácia e precisão, entre as mesmas
podemos citar:
Câmara respirométrica;
Técnica do gás traçador hexafluoreto de enxofre (SF6);
Face mask system (método do capuz);
Câmara de cabeça para amostragens pontuais (GreenFeed®);
Laser portátil;
Produção de gases in vitro.
3. Câmara respirométrica:
Câmaras respirométricas têm sido utilizadas como calorímetros indiretos para a
mensuração das trocas respiratórias e as perdas de energia na forma de CH4 de
ruminantes por mais de 120 anos (ARMSBY, 1903; KELLNER, 1913), sendo que,
atualmente seu principal foco de uso dentro da pesquisa é medir as emissões de CH4
entérico. O princípio deste sistema é que o ar recolhido do ambiente para o interior da
câmara circula em seu interior e em torno do animal, homogeneizando-se ao CH4
emitido, durante este processo ocorre a amostragem do ar de entrada e o de saída. A
produção de metano é determinada multiplicando-se o fluxo de ar através do sistema
pela diferença entre a concentração do ar de entrada e o de saída (HAMMOND et al.,
2016).
Os diferentes modelos de câmaras são construídos seguindo este princípio, sendo
que os mais sofisticados incluem isolamento, sistema de exaustão anti-sufocamento,
laterais transparentes, controle de umidade e temperatura, enquanto os mais simples não
possuem isolamento térmico (WAINMAN e BLAXTER, 1958), ou apenas a cabeça do
animal é introduzida no equipamento (PLACE et al., 2011). É considerado um método
confiável para a estimativa da emissão de CH4 de ruminantes, já que o ambiente pode
ser controlado e a estabilidade dos instrumentos podem ser medidas (JOHNSON e
JOHNSON, 1995). Em contrapartida, um ambiente artificial indesejável pode ser criado
no interior do equipamento, o que pode afetar por exemplo o comportamento e a
88
ingestão de matéria seca do animal (IMS). Considerando que o consumo é um fator
diretamente relacionado à produção de CH4, uma diminuição na IMS não apenas afetará
a emissão total, mas também as estimativas derivadas da mesma (ELLIS et al., 2007).
As medidas de emissão de CH4 são normalmente realizadas por um período de 5-7 dias,
dependendo da finalidade e dos recursos (HERD et al., 2014), medidas durante um
período prolongado demandam controle da temperatura e umidade, para que não haja
interferência destes fatores nos resultados. Fontes críticas de variação para a medição da
emissão de CH4 através de câmaras respirométricas são a taxa de fluxo de ar através da
câmara e a dinâmica de mistura de ar, que determina o tempo de resposta do sensor que
analisa os gases, como também a conduta ao operar o equipamento dentro do
experimento (HAMMOND et al., 2016). Este sistema pode ser utilizado para investigar quase todos os aspectos da
nutrição, e quando empregado em dias sequenciais apresenta resultados com CV abaixo
de 10%, o design e a disposição espacial da câmara podem reduzir o risco de redução da
IMS. O delineamento experimental mais adequado para a comparação é o quadrado
latino (STORM et al., 2012). Porém apesar de sua confiabilidade, o custo de instalação
e a capacidade do equipamento restringem o número de animais que podem ser
avaliados em um mesmo experimento.
4. Técnica do gás traçador hexafluoreto de enxofre (SF6)
De acordo com Hammond et al., 2016, a técnica do gás traçador SF6 foi
desenvolvida e patenteada por Zimmerman em 1993, com o objetivo de medir a
emissão metabólica de gases de animais criados livres (ZIMMERMAN, 1993; STORM
et al., 2012), já que os resultados obtidos em câmaras respirométricas eram
questionáveis pela impossibilidade de aplicar a tecnologia em animais criados em
pastejo (OKELLY e SPIERS, 1992; JOHNSON et al., 1995; STORM et al., 2012). O
primeiro uso para mensurar CH4 entérico de bovinos foi relatado por Johnson et al.
(1994). No Brasil, a técnica foi adaptada por Primavesi et al. (2002) e aprimorada por
Berndt et al. (2014).
O método tem por base que a emissão de CH4 entérico pode ser estimada se a
taxa de emissão de um gás traçador dentro do rúmen for conhecida. Para isso se faz
necessário um gás não-tóxico (LESTER e GREENBERG, 1950; STORM et al., 2012),
estável e que se comporte dentro da dinâmica de gases no rúmen, do mesmo modo que
o metano. O SF6 atende todos esses fundamentos, além de possuir um limite de detecção
extremamente baixo e poder ser aplicado em baixíssimas concentrações (JOHNSON et
al., 1992; STORM et al., 2012).
Esta técnica é adequada tanto para animais confinados bem como livres em
pastejo e baseia-se no uso de um tubo de permeação (cápsula), que é administrado pela
boca do animal e permanece no rúmen/retículo liberando uma pequena e conhecida taxa
do gás traçador. O SF6 liberado pela cápsula mistura-se aos gases da fermentação
ruminal atuando como um traçador do gás metano produzido e eructado pelo animal. O
ar expirado pela narina e boca do animal é continuamente coletado por meio de um tubo
de teflon com cerca de 1 mm de diâmetro interno, equipado com limitador de fluxo
(capilar) para regular a taxa de amostragem. Este tubo é fixado a um cabresto e
conectado a um recipiente de armazenamento previamente evacuado (canga), utilizando
engates rápidos. O intervalo de amostragem recomendando é de 24 h, ao longo de um
período mínimo de cinco dias consecutivos, além de amostras de ar do ambiente
89
(brancos), os animais presentes nos diferentes tratamentos devem ser amostrados ao
mesmo tempo (HAMMOND et al., 2016).
As emissões de CH4 são calculadas através da proporção de CH4:SF6 na canga, com
cada um dos gases corrigidos para a concentração do branco, em conjunto com a taxa de
permeação pré-determinada das cápsulas de SF6. Na seguinte equação, onde está
subscrito M indica amostra medida do animal, e o subscrito BG indica a concentração
do branco:
e, ainda, RCH4 (g/d) é a taxa de emissão de CH4 ruminal calculada em g/d; RSF6
representa a taxa de liberação da cápsula de SF6 (mg/d); MWCH4 é a massa molecular do
CH4 (16), e MWSF6 é a massa molecular do SF6 (146). As concentrações de CH4 são
expressas em ppm e as de SF6 em ppt. O fator 1000 realiza a conversão da unidade para
que RCH4 seja expressa na unidade de g/d.
A técnica do gás traçador SF6 vem sendo utilizada e aprimorada a mais de duas
décadas, período em que foram descritas dificuldades e formas de acurar os resultados
(STORM et al., 2012). Se realizada corretamente a técnica do SF6 estima uma emissão
média de CH4 que pode diferir cerca de ± 5-10% da obtida dos mesmos animais em
câmaras respirométricas (HAMMOND et al., 2016). A taxa de emissão das cápsulas de
SF6 é importante e pode afetar a estimativa de emissão de CH4 se não estiver
corretamente determinada, para isso é necessário que a taxa de emissão seja
determinada em condições de laboratório utilizando o método gravimétrico, ou seja
pesando as cápsulas semanalmente por pelo menos seis semanas e que sejam utilizadas
aquelas com emissões altamente lineares (R2
> 0,997) (PINARES-PATIÑO e CLARK,
2008). Para reduzir possiveis erros experimentais inerentes à técnica, devem ser
utilizadas cápsulas com taxas de emissão semelhantes dentro de um experimento
(PINARES-PATIÑO et al., 2008). A distância entre o tubo de amostragem e a boca e
narinas do animal afeta a concentração dos gases mas não a proporção de CH4:SF6 que
será amostrada em relação a que foi expirada e eructada pelo animal, por isso o
posicionamento do dispositivo de coleta se torna fundamental (BERENDS et al., 2014).
Um dos principais requisitos de um gás traçador, é que suas concentrações no
ambiente sejam extremamente baixas, em relação a concentração do traçador nas
amostras coletadas, conhecer as concentrações de fundo no ambiente, são importantes
para isso e para a precisão das estimativas de emissão de CH4 (BERNDT et al., 2014;
STORM et al., 2012). Altas concentrações de fundo do SF6 criam incertezas, gerando
perda de precisão e menor acurácia, contribuindo substancialmente para uma alta
variação nas determinações de SF6 (LASSEY, 2013). As estimativas de emissão através
da técnica do SF6, tanto intra animal como entre animais costumam apresentar um maior
CV quando comparados com as câmaras respirométricas. Em decorrência deste maior
CV podem ser necessários mais dias de coleta e mais animais para detectar diferenças
entre tratamentos (STORM et al., 2012).
5. Método do capuz (Face mask system)
O método do capuz ou face mask system também é citado por diferentes autores
(JOHNSON e JOHNSON, 1995; BHATTA, ENISHI e KURIHARA, 2007; OSS et al.,
90
2016) como um sistema alternativo simples e de baixo custo para mensurar a emissão
de CH4 em ruminantes. Esta técnica se assemelha ao princípio das câmaras
respirométricas em termos das medidas de trocas gasosas e mudanças na concentração
de CH4 exalado. A técnica consiste em o animal colocar apenas a cabeça dentro de uma
máscara completamente vedada, dessa forma, todo o ar expirado e eructado é coletado e
quantificado, incluindo a emissão de metano entérico (YOUNG, KERRIGAN e
CHRISTOPHERSON, 1975).
Para a realização das coletas através das máscaras, a forma e o número de
medidas que serão feitas ao animal, podem impactar em seu comportamento diário, pois
há o acesso restrito a água e alimentos (OSS et al., 2016). O hábito alimentar de
ruminantes é, preferencialmente, durante o dia, sendo registrados maior consumo de
alimentos e água (HṺNERBERG et al., 2015). Este hábito padrão resulta em um
aumento contínuo durante o dia até que ocorra um pico seguido por um período de
declínio razoavelmente linear na emissão de CH4 entérico (OSS et al., 2016). A máscara
facial é mais utilizada quando se desejava uma resposta rápida para a medida de trocas
gasosas de animais em curtos períodos de tempo (FERNÁNDEZ, LÓPEZ e LACHICA,
2012). Recentes trabalhos (PICKERING et al., 2015; ROBINSON et al., 2015; OSS et
al., 2016) mostraram que medidas de curto prazo podem estar fortemente
correlacionadas com a emissão diária de metano dependendo do tempo em que, após a
alimentação, a coleta de amostras é realizada.
Esse método apesar de apresentar um menor custo comparado com a técnica do
SF6 e a câmara respirométrica, possui algumas restrições em relação aos resultados
coletados (JOHNSON e JOHNSON, 1995), principalmente em relação a maior variação
nos valores diários de emissão, tendo um impacto negativo na mensuração do metano
nos animais (OSS et al., 2016).
6. Câmara de cabeça para amostragens pontuais (GreenFeed®)
Câmaras respirométricas e a técnica do SF6 são normalmente utilizados para se
obter medidas da emissão de CH4 de um número limitado de animais pelo período de 24
h. Porém existe uma demanda cada vez maior em determinar a emissão de forma
precisa, de um grande número de animais em determinados momentos, durante a
alimentação e a ordenha por exemplo. Medidas repetidas a curto prazo utilizando
máscaras vêm sendo utilizadas (WASHBURN e BRODY, 1937) para se obter
estimativas das taxas diárias das trocas respiratórias e emissão de CH4.
O sistema GreenFeed® (C-Lock Inc., Rapid City, South Dakota, USA) é um
dispositivo estático de medição a curto prazo, que mede individualmente a emissão de
CH4 e CO2 de bovinos, através da integração das medidas de fluxo de ar, concentração
de gás e detecção da posição da cabeça durante a visita de cada animal ao equipamento
(ZIMMERMAN e ZIMMERMAN, 2012). A medida das emissões ocorre após o animal
introduzir a cabeça no cocho, através da combinação de um exaustor e sensor de
posição que induz o fluxo de ar passando pela cabeça do animal, permitindo que o ar
expirado seja recolhido e amostrado. O ar recolhido é homogeneizado, filtrado e a taxa
de fluxo de ar é medida por meio de um anemômetro ultrassônico. A concentração de
CH4, CO2 e O2 presente nas amostras é determinada através de um analisador de
espectro infravermelho não dispersivo (HAMMOND et al., 2016). Similar a outras
técnicas é necessário que os animais sejam treinados a utilizar o equipamento, nem
91
sempre todos os indivíduos de cada grupo experimental se tornam usuários frequentes
do GreenFeed (WAGHORN et al., 2013).
Os animais têm liberdade de visitar o equipamento a qualquer momento, porém
a amostragem dos gases só acontece após certo intervalo entre visitas o que é
determinado pela programação pré-estabelecida no sistema. As medidas da emissão de
CH4 através de uma unidade GreenFeed® são normalmente realizadas ao longo de
períodos curtos (5 min), distribuídos durante dias/semanas/meses e dependendo da
visita voluntária do animal. Para distribuir as medidas ao longo do dia, o software de
controle permite ao pesquisador o controle do tempo e da oferta de alimento ao longo
do ciclo circadiano de 24 horas. Este equipamento pode ser utilizado em uma variedade
de sistemas de produção, inclusive a pasto. O software do equipamento agrega os dados
e calcula a emissão de CH4 durante o período de amostragem e apresenta resultados
somente quando o animal visitou a unidade, recebeu uma recompensa alimentar,
manteve adequada posição da cabeça dentro do cocho de amostragem por tempo
suficiente para a tomada de número satisfatório de eructações é também importante
garantir que o equipamento seja instalado de forma que nenhum outro animal
permaneça próximo ao equipamento quando outro animal o estiver visitando
(HAMMOND et al., 2016).
7. Detector portátil de metano a laser
Outra tecnologia que pode monitorar a concentração de CH4 do ar expirado
pelos animais é o “laser detector methane” (LDM) (RICCI et al., 2014). As medidas da
concentração de CH4 são tomadas manualmente por meio de um aparelho portátil na
distância de 1 a 3 metros a partir do animal e são baseadas em espectroscopia de
absorção do infravermelho para o CH4. A coleta dos dados por meio do aparelho ocorre
continuamente por curtos períodos de tempo (2 a 4 min), os dados resultantes consistem
de uma série de picos que representam o ciclo respiratório do animal, apenas os picos
que refletem a expiração ou eructação do animal são considerados durante a análise e
são ajustados de acordo com a distância e medidas do ambiente também obtidas através
do LDM (RICCI et al., 2014). O sistema atual “de mão” acaba acrescendo variação e
demanda por mão-de-obra treinada, outra preocupação é o efeito que as condições
ambientais têm sobre as medidas (CHAGUNDA, 2013).
8. Produção de gases In Vitro
Os métodos in vitro são utilizados usualmente como uma alternativa inicial na
mensuração de produção de metano, devido a facilidade e rapidez na mensuração,
menores custos operacionais e permitem a avaliação dos efeitos dos ingredientes da
dieta e do uso de aditivos nas rações sobre a metanogênese (STORM et al., 2012).
A técnica de produção de gases é muito utilizada para simular a fermentação ruminal de
alimentos e dietas (RYMER et al., 2005), e atualmente tem sido modificada para
estimar a produção de metano (NAVARRO-VILLA et al., 2011). A técnica se baseia na
simulação dos processos metabólicos que acontecem normalmente no rúmen onde a
degradação do alimento depende dos microrganismos e do ambiente ruminal adequado,
formando AGCC, CO2, CH4 e produção de massa microbiana (BLUMMEL, GIVENNS
e MOSS, 2005).
92
As amostras de alimentos são fermentadas em condições laboratoriais simulando
as condições ruminais em cultura contínua ou em frascos de fermentação. O método
requer acesso ao fluido do rúmen fresco, obtido a partir de ruminantes fistulados
(MOULD et al., 2005). São coletadas alíquotas de gases dos frascos de fermentação, e a
análise da concentração de CH4 é realizada por cromatografia gasosa.
A principal desvantagem desse método é a mensuração apenas da emissão de metano
ligada a fermentação ruminal, não contabilizando o as emissões de metano e a digestão
do alimento no trato gastrointestinal. Técnicas de traçador isotópico também foram
desenvolvidas e são úteis em condições controladas, mas são limitadas em condições de
produção (STORM et al., 2012).
9. Considerações finais
Atualmente existem muitos métodos para mensurar e estimar as emissões de
metano de ruminantes aplicáveis a animais confinados ou em pastejo, avaliando desde
animais individuais até grupos. Nenhum método, entretanto, é perfeito e se faz
necessário um conhecimento profundo das vantagens e desvantagens das técnicas
experimentais além de um cuidadoso planejamento com objetivo de selecionar qual
metodologia melhor se adapta a cada necessidade.
Neste contexto, é extremamente importante o planejamento de experimentos
desde a concepção até a interpretação de resultados, pois com rigor e imparcialidade na
avaliação haverá confiabilidade nos resultados obtidos.
10. Literatura citada:
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97
Uso de taninos para melhorar a eficiência de uso da energia e reduzir emissão
de CH4
Marcelo Manella1, Iorrano Andrade Cidrini
2
1 Diretor de Nutrição Animal SilvaFeed Brasil. 2 Mestrando/UNESP, Jaboticabal, São Paulo, email: iorranoandrade@gmail.com
Resumo: Na presente revisão buscou-se abordar aspectos relacionados ao uso de
taninos em dietas para ruminantes, explorando sua capacidade em promover a mitigação
de GEE e seus efeitos adicionais na melhoria do desempenho. Além disso, desmistificar
seus mecanismos de ação quanto a antigos conceitos. Pois a definição de composto
antinutricional construída de forma mais intensa para aves e suínos, limita a percepção
do imenso potencial atribuído ao seu uso. Taninos possuem a capacidade de modular a
fermentação ruminal, tornando-a mais eficiente e, ainda, promovendo um maior aporte
de proteína metabolizável, através da formação de complexos junto a proteínas em pH
ruminal e posteriormente, ao chegarem no abomaso liberam as proteínas para que seja
absorvidas no intestino pela ação do pH reduzido. Adicionalmente, influenciam a
população de microrganismos ruminais, manipulando diversas rotas que viabilizam seu
uso, como o metabolismo de proteínas e carboidratos. Dessa forma, a utilização dos
taninos em dietas para bovinos tem gerado resultados de desempenho elevado, com
status adicional de produto de origem natural. A busca pelo maior entendimento quanto
aos taninos e seus mecanismos de ação torna-se fundamental.
Palavras-chave: Aditivos, Archeas, by pass, ruminantes, sustentabilidade.
1. Introdução
A agropecuária é apontada como uma das principais responsáveis pela emissão de
gases de efeito estufa (GEE), sendo uma parcela significativa creditada à pecuária,
devido eliminação de metano (CH4) pela fermentação entérica dos ruminantes, assim
como emissão de óxido nitroso (N2O) decorrente de suas fezes (IPCC, 2006). Estima-se
que a produção anual de CH4 seja de 80 milhões de toneladas, representando algo
entorno de 28% da emissão antropogênica (BEAUCHEMIN et al., 2008).
Em termos de potencial de aquecimento, o CH4 se destaca por ser o gás orgânico
com maior abundância na atmosfera (IPCC, 1995), adicionalmente, capta por volta de
23 vezes mais calor em relação ao CO2, ou seja, absorvem mais radiação ultravioleta
por molécula, para o N2O a captação é 295 vezes maior (MOSIER et al.,1991; IPCC,
2006).
Contudo, a emissão de GEE oriundos da pecuária configura-se como uma das
poucas fontes passíveis de manipulação, e isso ocorre, necessariamente, através de
melhoria na composição e formulação de dietas, com maior produção de propionato e,
consequentemente, restando menos H2 para formar CH4 (MOSS et al., 2000), também
pela seleção de animais com potencial produtivo elevado, assim como o uso de aditivos
moduladores da fermentação, inibindo diretamente a produção de CH4 (aumentando a
eficiência do uso da energia), e todos estes contribuindo de forma conjunta para uma
menor produção de CH4 por kg de produto produzido (RIVERA et al., 2010; COTTLE
et al., 2011).
98
Neste contexto, o uso de extratos de taninos vem ganhando destaque quando a
eficácia e consistência que apresenta em reduzir a emissão de CH4 entérico
(JAYANEGARA et al., 2012). Além disso, os taninos alteram a rota de excreção de
nitrogênio (N), reduzindo sua eliminação via urina e, consequentemente, reduzindo a
emissão de N2O (PATRA e SAXENA, 2011). Deve-se considerar ainda, o benefício
quanto ao apelo por uso de produtos de origem natural na produção animal.
A presente revisão irá abordar aspectos relacionados ao uso de taninos em dietas
para ruminantes, explorando sua capacidade em promover a mitigação da emissão de
GEE e os efeitos adicionais na melhora do desempenho. Além disso, desmistificar seus
mecanismos de ação quanto a antigos conceitos
2. Taninos, a nova perspectiva de um antigo conceito
Presentes na maioria das plantas, os taninos, representam uma importante classe
de metabólitos secundários, sendo produzidos por seu metabolismo intermediário
(MUELLER-HARVEY, 2006). Podem ser definidos como um heterogêneo complexo
de polifenóis de origem vegetal com alto peso molecular (500 a 3000 Da) (FERREIRA
e NOGUEIRA, 2000; AGANGA e MONASE, 2001).
Atuam nas plantas como agente protetor ao ataque de insetos e herbívoros,
variando sua concentração e composição nas plantas em função de diversos fatores
(Tabela 1.), dentre eles: diferenças genéticas dentre espécies, fertilidade do solo, estágio
vegetativo, estresse hídrico, época do ano, entre outros (MAASS, 1996; LASCANO,
2001).
Tabela 1. Concentração de taninos em diferentes espécies de plantas.
Amostra Fenóis* Taninos* Taninos
condensados
Alfafa 12,51 7,92 0,30
Angico 138,45 126,39 9,00
Aroeira 204,15 194,19 43,50
Feijão bravo 26,02 25,26 1,40
Feijão guandu 27,70 20,34 6,20
Feno de leucena 30,38 24,30 10,00
Gliricídia 13,72 6,86 0,30
Jurema preta 140,06 122,50 69,20
Leucena 92,85 79,33 65,40
Malva branca 74,60 59,55 97,20
Mela-bode 21,69 16,11 0,30
Moleque duro 46,53 39,16 0,20
Sesbânia 14,35 10,60 1,90
*valores expressos em g/kg de MS Adaptado de Nozella, (2001).
99
Em relação a sua estrutura molecular, os taninos são classificados como taninos
condensados (TC – polímeros de flavonoides) ou taninos hidrolisáveis (TH – poliésteres
de ácido gálico e vários açucares individuais) (MAKKAR, 2003).
Os TH’s são moléculas complexas com uma fração central, como glicose,
glucitol, ácido quinico, quercitol e ácido chiquímico, parcialmente ou totalmente
esterificado do grupo fenólico, como o ácido gálico ou dímeros de ácido gálico
hexahidroxidiphenico (Figura 1.). São susceptíveis à hidrólise por ácidos, bases ou
esterases, fazendo com que sua estabilidade no rúmen seja baixa (PATRA e SAXENA,
2010).
Figura 1. Estrutura química de tanino hidrolisado.
Figura 2. Estrutura química de tanino condensado.
Os TC’s, ou protoacinidinas, são basicamente polímeros de catequinas e unidades
de galocatequinas, ligados por pontes interflavanóides, monômeros como a
profisetinidinas encontradas no quebracho também estão presentes (Figura 2.). Possuem
elevada estabilidade no rúmen, podendo formar complexos com a proteína no pH
ruminal (6 a 7) e, posteriormente, no abomaso (pH < 3,5) essas ligações serem rompidas
(Figura 3.), possibilitando a digestão gástrica e pancreática da proteína, estando assim
relacionados ao aumento do fluxo de proteína by pass para o intestino (JONES e
MANGAN, 1977; PATRA e SAXENA, 2010).
100
Figura 3. Modelo proposto da formação e dissociação dos complexos taninos e
proteína (ZELTER et al., 1970).
Apesar do potencial para se explorar as diversas características descritas acima, os
taninos, foram caracterizados no passado apenas pela capacidade em se combinar com
proteínas da pele animal inibindo a putrefação, processo conhecido como curtimento do
couro (DESHPANDE et al., 1986), ou pela adstringência e, em função disso, inibição
do consumo voluntario (FRUTOS et al., 2002).
No entanto, sabe-se atualmente que restrições quanto ao consumo são observada
apenas em concentrações muito elevadas (60 a 120 g/kg de MS) (FRUTOS et al.,
2002), sendo mais comum encontrar dificuldades quanto a nutrição de aves e suínos,
fator determinante para que o conceito equivocado se difundisse.
3. Taninos determinando a eficiência no uso da energia, mitigação de GEE e
metabolismo de proteínas e carboidratos
Em ruminantes, o alimento ingerido passa pelo processo de fermentação no
rúmen, o qual é realizado pela população de microrganismos ruminais, onde
carboidratos celulósicos são convertidos a ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), sendo
estes utilizados pelo animal como a principal fonte de energia (cerca de 70%)
(MERTENS, 1997).
Contudo, produtos indesejáveis também são gerados durante esse processo de
fermentação, como o CO2 e o CH4. A produção de metano no rúmen reduz a eficiência
de utilização da energia pelos ruminantes, gerando perdas de 2 a 12% da energia bruta
ingerida pelos bovinos, dependendo do tipo, qualidade e quantidade de alimento
consumido (HOLTER e YOUNG, 1992). Porém, sua produção se faz necessária, uma
vez que a fermentação ruminal gera H+ e seu acúmulo resultaria em queda do pH,
podendo ainda haver inibição dos processos enzimáticos, principalmente os que
envolvam a nicotinamida adenosina difosfato (NADH + H+ ↔ NAD
+) (MCALLISTER
e NEWBOLD, 2008).
Dessa forma, o CH4 é um dos principais drenos de moléculas de H2 produzidas e,
responsáveis por manter um ótimo funcionamento do rúmen. Os principais responsáveis
pela sua formação são as Archeas metanogênicas, que utilizam H2 para reduzir o CO2,
101
obtendo assim energia e, gerando CH4 como produto final (COTTLE et al., 2011).
Embora seja parte do processo digestivo dos herbívoros, a produção de CH4 entérico
proveniente do rúmen, constitui uma das únicas fontes de emissão passível de ser
manipulada, pois se relaciona a fatores como a dieta, consumo, digestibilidade, tipo de
animal e uso de aditivos (RIVERA et al., 2010).
Neste contexto, o uso de taninos como aditivo, ganha destaque pela consistência
que possuem em reduzir a emissão de metano entérico. Ao se avaliar in vivo as emissões
de metano por vacas leiteiras em pastejo, alimentadas ou não com blend’s compostos
por taninos, obteve-se uma redução média de 23% do grupo recebendo os blend’s em
relação ao controle (Figura 4.). Bhatta et al. (2009), relata supressões na ordem de 12%
da população de matanogênicas com TH em experimentações in vitro, passando 29%
quando as incubações foram realizadas com blend’s de TH e TC.
Em compilação de dados oriundos de 15 experimentos e 41 tratamentos dirigidos
ao estudo do efeito de taninos sobre diferentes parâmetros, Jayanegara et al. (2012),
obteve decréscimos lineares (p<0,05, R² = 0,29; Figura 5.) na relação CH4/MO
digestível.
A literatura tem-se apresentado concisa em relação às reduções de CH4 por parte
do uso de taninos, sobretudo quanto à inibição da Methanobrevibacter ruminantium,
uma das maiores contribuintes para a emissão do gás (TAVENDALE et al., 2005). No
entanto, ela também atua de forma indireta, inibindo um dos principais microrganismos
que liberam H2, os protozoários, que possuem uma associação de simbiose com grupos
de metanogênicas (VOGELS et al., 1980; BEAUCHEMIN et al., 2008).
Os três filos bacterianos (Bacteroidetes, Firmicutes e Proteobacterias) mais
abundantes no ambiente ruminal (OLIVEIRA et al., 2013; MCCANN et al., 2014)
podem sofrer influência dos taninos (ARCHANA et al., 2010). A relação
Firmicutes/Bacteroidetes sofre elevação com o uso de taninos nas dietas e, com isso, há
benefícios diretos na eficiência dos animais. Pois dentre os Bacteroidetes estão
presentes grupos que degradadores de proteínas, produtores de metano e os
Streptococos Bovis, principais produtores de lactato. Assim, a inibição dos
Bacteroidetes proporciona uma maior eficiência de utilização da dieta e seus nutrientes.
102
Figura 4. Produção de metano através da técnica do SF6 de vacas holandesas em pastejo
suplementadas ou não com taninos (Silvafeed blend de.Quebracho + Castanheiras).
Adaptado de Barbaro et al. (2007).
Figura 5. Relação entre os taninos na dieta (g/kg de MS) e CH4/MO digestível (ml/g)
em experimentos de avaliação in vivo. Adaptado de Jayanegara et al. (2012).
Dentre os efeitos mais conhecidos dos taninos, está a sua capacidade de
complexar proteínas, reduzindo sua degradação ruminal e, aumentando o fluxo de
proteína metabolizável para os intestinos (MAKKAR, 2003). Por isso, a incorporação
de taninos nas dietas, em concentrações específicas, permite reduzir a deaminação por
bactérias ruminais sem interferir na síntese de proteína microbiana.
A redução da degradação proteica no rúmen pelos taninos pode ocorrer em função
de:
Formação de complexos tanino-proteínas no rúmen (ZELTER et al., 1970) e;
Inibição do crescimento e da atividade proteolítica da microbiota ruminal
(JONES et al., 1994).
Dessa forma, taninos de Quebracho e Castanheira reduzem a fermentação da
proteína verdadeira (Figura 6.), promovendo o by pass, sem alterar os padrões de
produção de AGCC (JOUANY et al., 1993). A degradação proteica no rúmen ocorre,
sobretudo, pela ação de enzimas (proteases, peptidases e deaminases) secretadas
principalmente por bactérias (XIA et al., 2016) e, os taninos por inibirem o grupo das
proteolíticas, afetando inclusive as hiperamoníacas que apresentam baixa taxa de
multiplicação, há uma maior eficiência de utilização do N no rúmen. Assim, o N-NH3
não é gerado em excesso, com menores perdas por absorção pelas papilas, que seria
convertido, posteriormente, à ureia no fígado e excretado pela urina, alterando a rota de
excreção do N.
Y = 46.2 – 0.123 X
p = 0.036; RMSE = 10.21;
R² = 0.286; n = 30
103
Figura 6. Fermentabilidade da proteína do farelo de soja (A) e produção de ácidos
graxos voláteis (B). Adaptado de Jouany et al. (1993).
Em trabalho in vivo, Mezzomo et al. (2011), ao adicionar taninos de quebracho na
dieta de animais fistulados, observou uma redução na degradação proteica no rúmen
(Figura 7.), porém sem afetar a digestão total da MS e ou proteína. Observou também,
uma redução significativa da concentração da amônia ruminal (20,17 x 15,11 mg/dl,
p<0,01), indicando não só a redução da degradação proteica pelo complexo proteína-
tanino, como também por inibição de bactérias hiperamoníacas. Dessa forma, há um
favorecimento do uso efetivo dos aminoácidos para que as bactérias façam sua
multiplicação. Tais ações explicam não apenas o aumento total de proteína
metabolizável para os intestinos, como também o aumento de proteína microbiana
(Figura 8.).
Em consequência, temos outro benefício ambiental dos taninos que é a redução na
emissão de óxido nitroso (N2O), também considerado um GEE, devido mudanças nas
rotas de excreção do N, com redução nas excreções via urina e aumento da excreção
fecal. O N fecal apresenta-se principalmente na forma orgânica, com menor
volatilidade, enquanto o nitrogênio urinário é excretado principalmente na forma de
ureia, sendo hidrolisada em amônia e, em seguida, em nitrato. Além de infiltrar-se nos
lençóis freáticos, o nitrato pode ser convertido em N2O e contribuir com a emissão dos
GEE (PATRA e SAXENA, 2011).
104
Figura 7. Digestão da MS, MO e proteína no rúmen e intestinos de animais
recebendo ou não taninos. Adaptado de Mezzomo, et al. (2011).
Figura 8. Fluxo de proteína microbiana e metabolizável em animais recebendo ou
não tanino de quebracho na dieta. Adaptado de Mezzomo, et al. (2011).
Os mecanismos de ação dos taninos sob a população microbiana são diversos, isso
se deve ao grande renque de compostos polifenólicos presentes em sua composição, o
quebracho, por exemplo, apresenta 57 compostos químicos na formação de seus
taninos. Assim na literatura estão descritos diversos efeitos, formando “coberturas de
polímero” sobre a membrana celular, impedindo a produção de enzimas e agregação aos
nutrientes por parte das bactérias, podendo romper a membrana celular, ou causar
aglutinação das mesmas (JONES et al., 1994). Enwa et al. (2014) descreve a capacidade
dos taninos “bloqueando” algumas enzimas essenciais para metabolismo bacteriano.
Akiyama et al. (2001), sugere também a capacidade adstringente dos taninos em romper
a membrana, além da capacidade de se ligar a íons de Fe+, impedindo seu uso pelas
bactérias.
Os taninos, também tem demonstrado interagir com carboidratos, complexando e
mudando a velocidade de degradação dos mesmos, sem que a degradação total seja
alterada (MARTINEZ et al., 2005), possibilitando a mudança do sítio de digestão dos
105
carboidratos, proporcionando segurança no controle do pH ruminal (Tabela 2.). Jones et
al. (1994), observaram que os taninos podem afetar a população de Butyriofibrio
fibrosalfens e Streptococus bovis, sendo esta ultima além de degradadora de proteína,
uma importante produtora de lactato, corroborando com a manutenção do pH.
Tabela 2. Parâmetros de degradação de cevada no rúmen de bovinos com diferentes
doses de tanino de quebracho.
Doses de Taninos de Quebracho
(g/kg de MS)
Degradação 0 10 25 50
A 41,36a 33,38b 20,56c 12,73
B 50,18a 58,50b 74,34 79,44
C 0,159a 0,110b 0,090c 0,080d
DE 8%h 74,71a 67,27ab 59,91b 0,975c
Adaptado de Martinez et al. (2005).
A partir do exposto, têm-se uma amplitude elevada de efeitos relacionados ao uso
dos taninos em dietas para ruminantes (Figura 9), deve-se entender o conceito para
então emprega-lo de maneira estratégica, assim como qualquer outro aditivo que se
esteja trabalhando
Figura 9. Representação dos efeitos e interações causados pelos taninos. Fonte:
elaborado pelos autores.
4. Taninos para bovinos de corte: o conceito aplicado ao cocho
Vimos até então, os principais mecanismos conhecidos dos taninos e a forma com
que podem contribuir para a nutrição de bovinos. No entanto, para que um produto
106
tecnológico se consagre, é necessário que imprima ganho aos animais e que isso se
reverta em lucro.
Dessa forma, Barajas et al., (2011), realizou um estudo avaliando o uso de taninos
em dietas para confinamento, onde as respostas foram potencializadas e condizentes
com o conceito, ou seja, os animais foram mais eficientes no aproveitamento dos
nutrientes da dieta, apresentaram um maior consumo de MS (kg) e, ainda com menor
concentração NUP acarretando em menos perdas de N via urina (Tabela 3.). Em relação
a dietas de confinamento, outro fator que merece ser mencionado, é a redução da
incidência de timpanismo, as proteínas solúveis presentes em excesso no rúmen formam
bolhas que retém gases, assim, quando os taninos complexam com as proteínas o
aparecimento do quadro de timpanismo é reduzido (Mueller-Harvey, 2006), este efeito
contribui também para a elevação do consumo, com menores oscilações ao longo dos
dias de confinamento. Segundo Rivera, et al. (2016) os efeitos dos taninos na
performance animal, não podem ser explicados apenas pela melhora no metabolismo
proteico e na modulação da função ruminal, mas também por fatores associados a saúde
intestinal.
Contudo, para um maior entendimento quanto ao uso dos taninos nas dietas,
restava-se definir a dose na qual a resposta seria mais vantajosa. A partir disso, Barajas
et al. (2015), conduziram um experimento com doses crescentes, com o objetivo de
determinar o ponto ótimo para inclusão de taninos nas dietas (Tabela 4.). Foram
observados efeitos quadráticos para o GMD (p = 0,10) e para a CA (p = 0,05), dessa
forma, através dos estudos dose-resposta (Figura 10. A e B) determinou-se que
inclusões na ordem de 1,5 g/kg foram a de melhor retorno.
107
Tabela 3: Uso de Taninos em confinamentos de bovinos de corte.
GMD: Ganho médio diário; CMS: Consumo de matéria seca; CA: conversão alimentar;
NUP: Nitrogênio ureico no plasma. Adaptado de Barajas et al.( 2011).
Tabela 4: Efeito da dose resposta da mistura de taninos (Quebracho + Castanheira) em
confinamentos de bovinos de corte
Taninos, g/kg de MS
Parâmetros 0 1 2 3 EPM Efeito
Quadrático
Peso Inicial, kg 400,2 399,9 401,7 399,3 2,884 0,33
Peso Final, kg 476,4 485,8 480,8 477,0 3,295 0,10
GMD, kg/dia 1,346 1,533 1,412 1,388 0,059 0,10
CMS, kg/dia 8,620 8,822 8,570 9,009 0,189 0,56
CA, kg/kg 6,320 5,755 6,076 6,491 0,244 0,05
GMD: Ganho médio diário; CMS: Consumo de matéria seca; CA: conversão alimentar.
Adaptado de Barajas et al. (2015).
Parâmetros Controle Taninos EPM1 P - valor
Peso vivo inicial, kg 183,75 184,15 0,22 0,46
Peso vivo final, kg 492,40b 529,20
a 7,63 0,04
Ganho total, kg 308,65b 345,05
a 8,05 0,05
Peso de Carcaça 313,12b 338,55
a 5,25 0,05
Dias para atingir 480 kg, dias 217,4a 194,1
b 5,19 0,02
Dias para ganhar 100 kg 73,3a 65,5
b 1,71 <0,01
GMD, kg/dia 1,365b 1,527
a 0,04 0,04
CMS, kg/dia 8,446b 8,994
a 0,09 <0,01
CA, kg/kg 6,207 5,862 0,16 0,16
NUP dia 2 9,12a 7,66
b 0,55 0,10
NUP dia 56 6,70ab
5,21b 0,43 <0,01
NUP dia 161 12,79a 10,85
b 0,67 0,05
108
Para uma avaliação quando aos efeitos adicionais oriundos da inclusão dos
taninos nas dietas de confinamento, foram extraídos de alguns trabalhos, 17 tratamentos
distintos e comparados a seus respectivos controles (Tabela 5.), embora não seja uma
comparação inteiramente justa para com o tanino, pois há na comparação tratamentos
com níveis de inclusão acima dos preconizados para melhores respostas, assim como
tratamentos com níveis de proteína verdadeira menor quando na presença dos taninos e
não no controle. Observa-se que para o GMD e CA houve uma melhora de 5%, dessa
forma, todo o conceito em relação ao uso dos taninos se confirma.
Porém, os confinamentos são pagos pela carcaça que produzem, e quando se
utilizou o tanino houve um incremento médio de 5,92 kg de carcaça, com o custo
adicional único e exclusivo do tanino, assim as recomendações do seu uso devem ser
calcadas nesse raciocínio.
A
B
Figura 10. Estudo de doses respostas. A – GMD em função da concentração de
taninos. B – CA em função da concentração de taninos. Adaptado Barajas et al.
(2015).
109
Tabela 5: Resumo de dados de Ganho de peso, conversão alimentar e peso de carcaça
de trabalhos publicados com bovinos de corte em confinamento.
Autores GMDc GMDt Adic.
GMD CAc CAt
Adic.
CA
PCc
(kg)
PCt
(kg)
Dif
(kg)
Barajas et al. (2010) 1,33 1,52 14% 5,90 5,42 -9% - - -
Barajas et al. (2011a) 1,37 1,53 12% 6,21 5,86 -6% 313,12 338,55 25,43
Barajas et al. (2011b) 1,35 1,45 7% 6,89 6,55 -5% 309,19 316,37 7,18
Barajas et al. (2011b) 1,35 1,50 11% 6,89 6,27 -10% 309,19 320,05 10,86
Barajas et al. (2012) 1,58 1,77 12% 6,74 6,00 -12% - - -
Mezzomo et al. (2015) 1,12 1,14 2% 6,39 5,68 -13% 207,80 214,50 6,70
Mezzomo et al. (2015) 1,12 1,06 -5% 6,39 6,02 -6% 207,80 208,20 0,40
Mezzomo et al. (2015) 1,12 1,01 -10% 6,39 6,47 1% 207,80 207,90 0,10
Mezzomo et al. (2015) 1,12 1,06 -5% 6,39 6,08 -5% 207,80 207,40 -0,40
Rivera et al. (2016) 1,37 1,42 4% 8,17 7,81 -5% - - -
Rivera et al. (2016) 1,37 1,48 8% 8,17 7,77 -5% - - -
Rivera et al. (2016) 1,37 1,50 9% 8,17 7,80 -5% - - -
Rivera et al. (2016) 1,53 1,64 7% 6,53 6,28 -4% - - -
Rivera et al. (2016) 1,53 1,61 5% 6,53 6,33 -3% - - -
Rivera et al. (2016) 1,53 1,65 8% 6,53 6,48 -1% - - -
Tabke et al. (2017) 1,62 1,66 2% 6,11 6,27 3% 387,00 390,00 3,00
Tabke et al. (2017) 1,62 1,64 1% 6,11 6,26 2% 387,00 387,00 0,00
Média 1,38 1,45 5% 6,74 6,43 -5% 281,86 287,77 5,92
GMDc: ganho médio diário dos tratamentos controle; GMDt: ganho médio diário dos
tratamentos com inclusão de tanino; Adic.GMD: % do ganho adicional comparado aos
grupos controle; CAc: conversão alimentar dos tratamentos controle; CAt: conversão
alimentar dos tratamentos com inclusão de tanino; Adic. CA: % de melhora de CA em
relação ao controle; PCc: peso de carcaça dos tratamentos controle; PCt: peso de
carcaça dos tratamentos com inclusão de tanino; Dif (kg): diferencial em kg de carcaça
dos tratamentos tanino em relação ao controle.
110
5. Taninos para bovinos de leite: novamente aplicando o conceito ao cocho
Visto o potencial a ser explorado quanto ao uso de taninos para dietas de bovinos
de corte, passamos agora para uma breve abordagem voltada as vacas leiteiras, pois se
deve considerar que o conceito não se altera.
Dschaak, et al. 2011, utilizaram os taninos na dieta de vacas e observaram que os
valores de nitrogênio ureico no leite (NUL) apresentaram reduções significativas,
melhorando a qualidade do leite. Para vacas leiteiras isso possui uma conotação
especial, pois sabe-se que há uma influencia negativa da concentração elevada de NUL
e nitrogênio ureico no plasma (NUP) na reprodução das vacas, ou seja, os taninos
teriam um efeito indireto melhorando a eficiência reprodutiva. Contudo, isso ainda se
limita ao campo de conceito, pois estudos como esses são onerosos muito carentes na
literatura.
Dschaak, et al. (2011) também observaram que a eficiência alimentar (kg Leite/
kg Ms consumida) melhorou sem que a produção de leite (PL) fosse alterada (Tabela
6.). Explorando os resultados de maneira mais ampla, podemos inferir que o uso dos
taninos nos permite reduzir os custos de produção, pois flexibiliza a formulação de
dietas a partir da adição de substitutos da proteína verdadeira, como a ureia, sabendo
que os níveis de NUL e NUP serão parcialmente manipulados. Assim, teríamos uma
dieta com um custo inferior, mas com a produção mantida, ou seja, o lucro seria
aumentado.
Tabela 6: Uso de Taninos em dietas para vacas leiteiras.
Parâmetros Sem tanino Com Tanino
Leite, kg/dia 34,1 35
Composição
Gordura, % 3,75 3,69
Proteína Verdadeira, % 3,07 3,05
Lactose, % 4,83 4,81
NUL 14,8a 12,3b
Eficiência
Leite/CMS 1,23a 1,37b
Nitrogênio Leite/Ingestão de N 0,229 0,231
NUL: nitrogênio ureico no leite (mg/dl). Adaptado de Dschaak et al. (2011).
6. Considerações finais
Os taninos possuem ação comprovada quanto à inibição da produção de CH4,
aumentando assim a eficiência do uso da energia da dieta. Dessa forma, configuram-se
como uma ferramenta altamente eficiente no auxílio à mitigação da emissão de GEE.
O metabolismo dos ruminantes pode ser manipulado através do uso dos taninos
em dietas com a finalidade de aumentar a produção e, de forma indireta, contribuir para
uma pecuária sustentável. Contudo, uma pequena parcela de seus efeitos é explorada e
conhecida, mas já sendo o suficiente para desmitificar antigos e equivocados conceitos.
111
Por fim, deve-se ter em mente que os taninos abrangem um vasto repertório de
compostos, assim, os objetivos para o qual serão utilizados devem levar em
consideração os fatores descritos anteriormente.
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116
Emissão de gases do efeito estufa em métodos de conservação de forragem
Patrick Schmidt e Camilla Maciel de Souza Centro de Pesquisas em Forragicultura – Universidade Federal do Paraná
1. Introdução
Os processos de conservação de forragens são indispensáveis na produção de
ruminantes em todo o mundo, para contornar a escassez sazonal de pastagens ou suprir
a demanda contínua de animais confinados. Como qualquer atividade humana, a
produção de forragens conservadas está associada a um impacto ambiental, que pode ser
maior ou menor conforme as etapas executadas durante o processo. Segundo a
resolução do CONAMA (BRASIL, 1986) o impacto ambiental pode ser definido como:
[...] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades
humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da
população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições
estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais.”
Sabendo que o impacto ambiental da conservação de forragens está altamente
relacionado às perdas no processo produtivo, e que o mesmo sempre ocorrerá em maior
ou menor escala, os esforços para elevar a recuperação de matéria seca (MS), de
nutrientes ou de energia, reduzirão de forma indireta parte importante dos danos
ambientais causados pela atividade.
Dentre os diversos setores produtivos, a agropecuária está incluída como atividade
emissora dos chamados Gases do Efeito Estufa (GEE), sendo muitas vezes criticada e
responsabilizada como atividade prejudicial ao ambiente. Contudo, não há consenso
sobre a contribuição real das atividades agrícolas nas mudanças climáticas no planeta.
Dados do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) indicam que a
Agricultura responde por apenas 13,5% das emissões globais de GEE, em termos de
CO2 equivalente (IPCC, 2007). Frequentemente os meios de comunicação divulgam
informações onde a agricultura e a pecuária aparecem como vilãs, cabendo à
comunidade científica gerar informações técnicas e cientificamente embasadas, bem
como tecnologias para minimizar os impactos ambientais.
O objetivo desta revisão é descrever a emissão de gases oriunda dos processos de
conservação de forragens, e o impacto dos processos produtivos de ensilagem e fenação,
com base nos dados disponíveis.
2. Impacto da produção da forragem
A produção de forragens conservadas impacta o ambiente de diferentes maneiras.
Aqui descreveremos pontos importantes relacionados às principais etapas envolvidas
nos processos convencionais.
O uso de uma grande área com uma única cultura (monocultura) tem conhecidas
implicações na biodiversidade da fauna, flora, e microbiota do solo.
O impacto no ambiente e no solo causado pela atividade agrícola em si depende
de vários fatores, como nível de adubação, grau de mecanização, status hídrico do solo
durante as operações de campo, tecnologias de cultivo e colheita, entre outras (Domizal
e Hodara, 1990; Domizal et al., 1991 apud Horn et al., 1995). A preparação do solo
117
pode ser feita da forma convencional ou utilizando o sistema de plantio direto. O plantio
convencional tem um maior impacto devido à etapa de revolvimento, que expõe o solo
sem a presença de cobertura morta, aumentando a possibilidade de degradação física e
química do mesmo, com danos ao meio ambiente (Andrioli e Prado, 2012). O sistema
de plantio direto, uma prática conservacionista, perturba o solo somente na linha de
plantio, e proporciona uma camada de forragem seca que protege o solo da chuva,
reduzindo a erosão e a lixiviação de matéria orgânica e nutrientes. A redução de etapas
mecanizadas proporcionada pelo plantio direto tem efeitos benéficos na redução de
custos (Duarte Jr. et al., 2008) e na menor compactação do solo. Assim, embora o
impacto ao ecossistema seja inevitável, práticas conservacionistas na produção de
forragens minimizam os danos ao solo e acarretam maior produção da forragem.
O outro aspecto de teor mais prático do impacto ambiental diz respeito a escolha
da variedade de planta a ser utilizada e a produtividade do cultivar. Observa-se que a
produtividade de grãos tem grande efeito do híbrido utilizado (Paziani et al., 2018).
Características agronômicas como produtividade, maturidade e composição morfológica
devem ser observadas. Os autores recomendam a observação da produção de MS
digestível como um bom parâmetro de escolha do híbrido, já que engloba características
de produtividade total e digestibilidade de várias frações da planta. Se considerarmos o
impacto ambiental causado durante todo o processo produtivo de forragens, não faz
sentido desprezar a alta produtividade e qualidade de híbridos selecionados. A escolha
de melhores híbridos (produtivos e adaptados), portanto, leva ao menor impacto
ambiental relativo por tonelada de forragem produzida.
2.1. Adubação nitrogenada
Segundo De Jong et al. (2009), a utilização de adubação nitrogenada tem crescido
em vistas de otimizar a produtividade e atender a crescente demanda por alimentos e
energia; por isso, faz-se necessário um balanço preciso entre os requerimentos de
nitrogênio (N) e a eficiência do seu uso, de forma a minimizar as perdas desse nutriente
nos sistemas agropecuários. Dentro do sistema tradicional de produção, a redução no
impacto ambiental é possível evitando-se o uso excessivo de fertilizantes. Porém, o uso
de fertilizantes químicos em si tem provocado um dos maiores impactos da atividade
humana no planeta. Segundo o relatório do Millenium Ecosystem Assessment (2005), a
quantidade de nitrogênio reativo produzido pela atividade humana aumentou nove vezes
entre 1890 e 1990, e a maior parte desse aumento aconteceu na segunda metade do
século vinte.
Em artigo publicado na seção News Focus da revista Science, Kaiser (2001) relata
os principais assuntos discutidos na Segunda Conferência Internacional sobre
Nitrogênio (Second International Nitrogen Conference, 14 – 18/10/2001). A autora
ressalta que, segundo os especialistas, a poluição por nitrogênio se iguala à provocada
pelos gases do efeito estufa em termos de ameaça ambiental. Ela explica que a principal
fonte é a produção de fertilizantes químicos pelo processo de Haber-Bosch, descoberto
em 1913, que faz reagir o N2 inerte da atmosfera com hidrogênio resultando em
amônia, que pode ser utilizada pelas plantas. Ressalta ainda que quando o nitrogênio é
convertido em nitrogênio reativo, ele passa de uma para outra forma de poluição, desde
ácido nítrico (causadores de chuva ácida), nitratos (responsáveis por eutrofização de
cursos de água) até o óxido nitroso (potente gás do efeito estufa). Independentemente de
qual for fonte sintética de nitrogênio (petróleo ou síntese química), em ambos os casos o
118
nitrogênio foi retirado de um estado latente ou inerte, e a desnitrificação bacteriana
natural nunca vai contrabalancear esse desequilíbrio.
Por outro lado, vale ressaltar que a redução do uso de fertilizantes nitrogenados
sem uma estratégia para suprimento das demandas das plantas resultaria em queda
marcante de produtividade, tornando necessária a expansão horizontal no uso da terra.
Este cenário não é o desejado, uma vez que poderia aumentar o impacto ambiental da
atividade. Pimentel et al. (1973) propuseram o uso de fontes alternativas de maior
eficiência energética para suprir a demanda de N na cultura de milho, como a aplicação
de esterco e a utilização de adubação verde pela rotação de culturas com leguminosas,
como o trevo doce ou a ervilhaca, economizando de 2,7 a 3,7 milhões de kcal ha-1 em
relação a utilização de fertilizante nitrogenado comercial. Contudo, desde então essas
práticas têm sido sistematicamente abandonadas.
2.2. Uso de maquinário
A utilização de maquinário, apesar de não ser normalmente mencionada, deve ser
computada dentre as fontes de impacto da produção de forragens conservadas. Além das
operações mecanizadas da preparação da terra, plantio e manejo da cultura, a produção
de feno conta com mais sete operações mecanizadas (sega, reviragens, enleiramento,
enfardamento e recolhimento dos fardos) e mais uma operação (embalagem) no caso da
produção de silagens pré-secadas em fardos embalados. Já na produção de silagens de
milho e cana em silos de grande porte, apenas duas operações são requeridas (colheita e
picagem e compactação no silo com trator).
Uma máquina agrícola, como outros veículos automotores, impacta o ambiente
em três fases: fabricação (desde a extração da matéria prima até o gasto de água, energia
e materiais no processo de fabricação da máquina), vida útil (que inclui o uso de
combustível, fluídos de motor, pneus e materiais de manutenção) e sucata (o que sobra
após terminar a vida útil da máquina). Mikkola e Ahokas (2010) classificaram o “input”
de energia do maquinário agrícola em direto (combustível e eletricidade durante o uso)
e indireto (energia utilizada em fabricação, entrega, armazenamento, reparo e
manutenção). Os autores apontam que o “input” de energia direto é fácil de identificar e
mensurar, enquanto que o indireto é também relativamente fácil de identificar, porém,
mais difícil de analisar. Com base em dados da literatura, os autores estimaram que o
“input” indireto de energia equivale a 30% do “input” total de energia durante a vida
útil de um trator.
Os equipamentos de colheita disponíveis para a ensilagem de plantas eretas de
grande porte são ensiladeiras acopladas ao trator (normalmente pertencentes à fazenda)
e ensiladeiras automotrizes (normalmente pertencem a um prestador de serviço). Apesar
de a ensiladeira automotriz ser uma máquina de maior potência e consumo de
combustível muito mais alto por hora de trabalho, ela proporciona menor produção de
gases por tonelada de forragem colhida, em função de sua alta eficiência. Ainda, a
maior velocidade de enchimento do silo proporcionada por esses equipamentos, reduz
as perdas na forma de gás ocasionadas pela respiração da planta e ação de
microrganismos aeróbios antes da vedação do silo.
119
3. Aspectos inerentes ao processo de ensilagem
A ensilagem consiste no processo de fermentação controlada, através do qual
carboidratos solúveis são fermentados a ácido lático (Weinberg et al., 2007), reduzindo
o pH e protegendo o material contra a degradação microbiana. O fator mais importante
que influencia a eficiência desse processo de conservação é o grau de anaerobiose
obtido em todo o silo, em todas as fases do processo (Woolford, 1990). A qualidade de
um material ensilado depende diretamente da qualidade inicial da forragem, mas
também das perdas que ocorrem no processo.
3.1. Impacto do tipo e dimensionamento do silo
A escolha do tipo de silo também influencia o impacto no ambiente. Por muito
tempo, o silo torre foi considerado a forma mais efetiva de conservar forragem na forma
de silagem, devido à pequena área do silo exposta ao oxigênio e à alta compactação
obtida nesses silos (McDonald et al., 1991). Com o advento da lona plástica e a
popularização dos tratores, o silo em torre caiu em desuso. Hoje, os silos mais usuais
são: silo de superfície, silo trincheira, silo de fardo embalado e silo tipo bag. Segundo
levantamento recente realizado por Bernardes e Rêgo (2014) em 260 fazendas leiteiras
no Brasil, os silos em trincheira foram os mais comuns, presentes em 60,4% das
fazendas. Os silos em superfície estiveram presentes em 38,1% das propriedades, e os
silos em bag em apenas 1,5%.
Os silos em bag e em fardos embalados são protegidos por camadas sobrepostas
de filme plástico (não reutilizável), embora exista a possibilidade de reciclagem. Os
silos de superfície podem ser montados sobre lona plástica ou diretamente sobre a terra,
e revestidos com lona plástica, enterrada nas laterais. Os silos trincheira são
normalmente construídos aproveitando a declividade natural do terreno, e podem ser
revestidos de vários materiais, como lona, madeira, concreto ou terra, e sempre são
cobertos com lona plástica para vedação. Silos revestidos de concreto são mais duráveis
que silos revestidos de terra ou madeira; em contrapartida, o resíduo gerado ao fim da
vida-útil do mesmo é de difícil reincorporação ao meio ambiente.
Forragens úmidas podem produzir grande quantidade de efluente, que é altamente
corrosivo ao concreto (O’Donnell et al., 1995), reduzindo a vida útil dos silos
(Barbhuiya et al., 2010), gerando impacto ambiental dos resíduos da construção antiga e
da matéria-prima e energia envolvidas na reforma ou construção de um novo silo.
O’Donnell et al. (1995) avaliaram o efeito do efluente da silagem na corrosão do
concreto e perceberam uma propriedade muito interessante: a silagem próxima (<3 mm)
do concreto foi submetida a uma neutralização de pH por ação do concreto, que levou à
fermentação secundária por ação de clostrídios. Barbhuiya et al. (2010) avaliaram o
efeito da substituição de parte da areia utilizada na preparação do concreto por resíduo
da refinaria da bauxita, sobre a resistência do concreto ao efluente de silagem. A adição
do resíduo na proporção de 10% proporcionou maior resistência do concreto tanto à
exposição prolongada ao efluente de silagem, aumentando a vida útil deste.
O dimensionamento do silo é uma etapa importantíssima, e muitas vezes
negligenciada pelos produtores. É comum, em pequenas propriedades, que a área da
face do silo seja muito grande para o número de animais consumindo silagem, fazendo
com que a taxa de remoção diária (ou seja, a espessura média da fatia retirada do silo
por dia) seja muito pequena. A consequência disso é que o ar atmosférico, que contém
120
oxigênio, penetra pela face exposta do silo mais rapidamente do que a silagem é
retirada, causando degradação aeróbica do material, com perdas em quantidade e
qualidade. Quando se perde em qualidade ou quantidade, o impacto ambiental acontece
por duas vias: pela geração de resíduos da perda (gases) e por redução na eficiência do
processo, com aumento do impacto relativo. Desta forma, o silo deve ter um tamanho
máximo de área de secção transversal, que permita uma taxa de remoção diária de, no
mínimo, 20 cm. Se a área da face do silo for muito menor do que este tamanho máximo,
o impacto relativo à massa de silagem também aumenta, pois em um painel de pequena
área, a silagem próxima à lona e às bordas que precisa ser descartada representa uma
maior porcentagem em relação ao todo, se comparado a silos com painéis maiores. A
recomendação de 20 a 30 cm pressupõe condições ideais de compactação, pois, se esta
for insuficiente, o ar atmosférico penetrará a uma maior velocidade no silo, aumentando
a fatia mínima que deve ser retirada por dia.
O correto dimensionamento do silo é prática fundamental para minimizar as
perdas no processo e, diretamente, o impacto ambiental oriundo dessa etapa.
3.2. Impacto do ponto de colheita e do tamanho de partícula
A decisão sobre o momento da colheita para silagem é um dos pontos críticos do
processo, uma vez que erros aparentemente pequenos podem aumentar as perdas de MS
e reduzir a qualidade da silagem de forma drástica. De forma geral, observa-se que para
qualquer forragem, a fermentação ótima ocorre quando o teor de MS está compreendido
entre 30 e 35%. Forragens mais úmidas tendem a apresentar maior perda de matéria
seca por efluentes, apesar de o teor de MS certamente não ser o único fator que
influencia a produção de efluentes (Jones e Jones, 1995). O milho, o sorgo e a cana-de-
açúcar atingem naturalmente o teor de matéria seca ideal para ensilagem com boa
qualidade nutricional, bastando que, para isso, o momento da colheita seja preciso.
Entretanto, os capins tropicais e de clima temperado apresentam alto teor de umidade no
momento ótimo de colheita, necessitando, portando de práticas de manejo para elevar o
teor de MS do material, tal como a pré-secagem ou a utilização de aditivos absorventes
de umidade (Schmidt et al., 2014). O monitoramento do teor de matéria seca pode ser
feito da forma tradicional, por secagem de amostra em estufa de circulação forçada a
60°C por 72h, ou por secagem e micro-ondas, com a vantagem da rapidez deste último
método, apesar da menor precisão.
Johnson et al. (2002) fizeram seis experimentos em arranjo fatorial para
determinar a influência da maturidade e do processamento mecânico na estabilidade
aeróbica da silagem de milho e na densidade de compactação dos silos. Os autores
concluíram que tamanho de partícula, densidade de compactação e estabilidade aeróbica
são variáveis inter-relacionadas. A densidade de compactação tende a aumentar quando
o tamanho de partícula diminui. Os autores concordaram que a maior densidade de
compactação faz com que menos oxigênio penetre na silagem durante o
armazenamento, o que leva a uma maior estabilidade aeróbica durante o
descarregamento da silagem, provavelmente pelo menor desenvolvimento de
microrganismos aeróbicos espoliadores na fase de armazenamento. Os autores também
encontraram menor densidade de compactação à medida que o estádio de maturação do
milho avançava (parcialmente devido ao aumento no teor de MS e parcialmente porque
a planta fica mais “grosseira” com o avanço da maturidade).
121
Rabelo et al. (2012) avaliaram cinco estádios de maturidade na ensilagem de
milho com ou sem inoculantes bacterianos. A inoculação reduziu perdas de MS em 1,7
pontos percentuais, porém, a variação maior foi entre estádios de maturação: as silagens
feitas de milho nos estádios “sem linha do leite”, “1/3 da linha do leite” e “1/2 da linha
do leite” apresentaram quase o dobro (8,96; 8,17; 7,56%, respectivamente) das perdas
de MS observadas nas silagens das plantas colhidas nos estádios “2/3 da linha do leite”
ou “camada negra” (4,86; 4,31%, respectivamente). Estes dois últimos estádios de
maturação também proporcionaram menores perdas por efluentes (3,368; 1,642 contra
26,138; 22,348; 11,647 kg t-1 MV).
Associado ao teor de MS no momento da colheita, o tamanho de partícula é outro
fator a ser considerado. Forragens mais secas grosseiramente picadas apresentam
dificuldade de compactação, pois as estruturas fibrosas tendem a reassumir a posição
inicial após a passagem do trator. A compactação deficiente, além de aumentar a
quantidade de ar residual no silo, reduz a capacidade de armazenamento do mesmo, o
que é econômica e ambientalmente inviável. Durante a fase de descarregamento, silos
mal compactados apresentam maior porosidade, o que aumenta a taxa de infiltração de
ar atmosférico pela face exposta do silo resultando em maiores perdas de MS (Pitt,
1986). Se, por outro lado, a forragem for picada em partículas muito pequenas (<10
mm), o principal ponto de perda é no âmbito nutricional, principalmente se a silagem
for a única fonte de fibra longa da dieta dos ruminantes. O tamanho reduzido diminui a
efetividade da fibra, reduzindo a ruminação, o que pode levar a acidose e queda no teor
de gordura do leite (Mertens, 1997). A perda de valor nutritivo de uma forragem
aumenta o impacto ambiental relativo a maior necessidade de alimento para
proporcionar o mesmo desempenho.
3.3. Tempo para enchimento de vedação do silo
O tempo de enchimento do silo deve ser o menor possível, preferencialmente não
ultrapassando 1 ou 2 dias. A vedação deve ser realizada logo após o enchimento, pois o
atraso prolongado na vedação causa conhecidos efeitos deletérios na qualidade da
silagem (Kim e Adesogan, 2006).
A lona utilizada na vedação e/ou revestimento do silo (normalmente constituída
de polietileno ou outro polímero) é fonte importante de resíduo, pois são materiais
provenientes de petróleo, de longo período de decomposição, pequena durabilidade e
normalmente não são reaproveitados por mais que uma vez. A qualidade da lona tem
importância fundamental na preservação da silagem, pois lonas comuns podem rachar
devido à incidência de raios solares, expondo o material à deterioração aeróbica. Lonas
de dupla-face com proteção contra raios ultravioleta são de maior qualidade, e são
usadas por 77,7% das fazendas de leite no Brasil, enquanto 18,8% ainda utilizam a lona
preta comum (Bernardes e do Rêgo, 2014). Uma lona chamada “barreira de oxigênio”,
com permeabilidade ao oxigênio dez vezes menor que a lona comum, foi avaliada por
Borreani et al. (2007) em dois silos em fazendas diferentes: um silo com silagem de
milho não aditivada, com taxa de remoção de silagem de 19 cm dia-1; e um silo com
silagem de milho aditivada com Lactobacillus buchneri, com taxa de remoção de 33 cm
dia-1. Na primeira fazenda (considerada como uma situação de desafio), a lona barreira
de oxigênio reduziu drasticamente as perdas de MS da silagem próxima à lona. Já na
segunda fazenda, não houve diferença entre lonas, mas as perdas em geral foram
pequenas. Isso mostra que o bom manejo ainda é o melhor investimento.
122
Lonas de baixa permeabilidade ao oxigênio estão disponíveis no Brasil, e seu uso
pode ser considerado, embora o preço possa ser restritivo. Além de utilizar uma lona de
qualidade, deve-se prezar pela integridade da mesma até o término do uso da silagem,
protegendo a superfície do silo de animais (tanto pequenos animais selvagens como as
próprias vacas) através de cercamento da área em que se encontra o silo. Convém
utilizar algum material sobre a lona, como terra ou sacos de areia, para evitar a entrada e
propagação do ar pela superfície do silo. A silagem bem vedada, com menores perdas
impacta menos o ambiente. Contudo, o descarte adequado da lona plástica, reutilizando-
a na propriedade, ou encaminhando o material para reciclagem, deve ser obedecido. A
prática comumente adotada de incinerar restos de lonas deve ser abolida das
propriedades.
3.4. Perdas e gases do efeito estufa
Sem dúvida, as perdas no processo de ensilagem são a fonte de impacto ambiental
com maior relevância econômica para o produtor e, portanto, onde há maior
preocupação com a redução das mesmas. Elas ocorrem durante todas as etapas do
processo de ensilagem, e o aumento das perdas reflete diretamente no aumento do
impacto ambiental relativo, pois o mesmo impacto total será dividido por uma menor
quantidade ou qualidade de alimento no final da cadeia.
As perdas de campo, sejam mecânicas ou por respiração, não geram impacto pelo
resíduo deixado, porem reduzem a produtividade final da silagem. As perdas por gases
(CO2) e compostos orgânicos voláteis (COV) são potencialmente impactantes ao meio
ambiente, porém, a quantidade produzida desses voláteis parece ser insignificante, em
relação a outras fontes emissoras de gases em uma fazenda (Schmidt et al., 2013).
Schmidt et al. (2013) mediram produção média de 113 g de equivalente-carbono (CO2-
eq) por tonelada de forragem ensilada, muito abaixo das estimativas de 6 kg de CO2-eq
por litro de leite produzido.
As perdas por oxidação foram classificadas por McDonald et al. (1991) em quatro
fases aeróbicas que ocorrem no processo de ensilagem: fase de campo, fase aeróbica
inicial no silo, fase de infiltração de ar e fase de deterioração após a abertura. O contato
com o oxigênio atmosférico deve ser minimizado em todas essas fases, através da
adoção de boas práticas de manejo, tais como: menor intervalo possível entre o corte da
forragem e o fechamento do silo; compactação eficiente para redução do ar residual
dentro do silo; vedação perfeita, com lona de qualidade e camada de terra ou outro
material sobre o silo, a fim de evitar a entrada de ar no silo durante o período de
armazenamento; cuidado com a integridade da lona, evitando o acesso de animais ao
local onde se encontra o silo; dimensionamento do silo compatível com a retirada de
uma fatia mínima diária de 20 cm; manejo cuidadoso do painel do silo para manter a
estrutura do silo e evitar a penetração excessiva de ar; retirada de uma camada uniforme
do silo, evitando a formação de “degraus”; e reduzindo ao mínimo o intervalo entre a
retirada da silagem do silo e o fornecimento aos animais.
Dentre todas as perdas na ensilagem, a perda por efluentes é a de maior impacto,
devido ao alto potencial poluente desse resíduo. A produção de efluentes da ensilagem
foi bastante estudada no passado, principalmente em silagens de capins. Paterson e
Walker (1979) avaliaram a composição de efluentes de silagens de capim, e
encontraram teores de MS entre 6,2 e 11,0%, e a composição média de PB de 26,2% da
MS; cinzas de 14,9 a 21,7% MS; de ácidos de 11,8% (com predominância de ácido
123
acético); e estimaram teor médio de carboidratos de 42,0% MS. Devido à sua
composição, o efluente de silagem é considerado uma das fontes mais perigosas de
poluição de cursos de água (Barry e Colleran, 1984). Ao mesmo tempo, a produção de
efluentes representa a perda de compostos de alta digestibilidade, reduzindo a
recuperação de nutrientes na silagem.
Sabe-se que o volume de efluente produzido está inversamente relacionado ao teor
de MS da forragem ensilada (Foy et al., 1994). Estes pesquisadores fizeram análise de
correlação entre diversas variáveis e a taxa de incidentes de poluição por silagem. O
teor de MS esteve correlacionado (R2 = 0,29) com a redução dos incidentes, sendo que
cada ponto percentual de aumento de MS esteve associado à redução de 9,5 incidentes
Mt-1 de silagem. As perdas por efluente normalmente são poucas quando o teor de MS
excede 25%, mas podem chegar a mais de 200 L t-1 de capim ensilado quando o teor de
MS é menor que 15% (Bastiman, 1976 apud Foy et al., 1994). Galanos et al. (1995)
encontraram valores de demanda química de oxigênio (DQO) para efluentes de silagens
de capim entre 54.600 e 72.500 mg L-1, mas sabe-se que este valor pode ultrapassar
80.000 mg L-1 (Foy et al., 1994; Arnold et al, 2000). Nosso grupo analisou efluente de
silagens de cana-de-açúcar, e encontrou impressionantes 568.000 mg L-1 em análise de
DQO (Novinski et al., 2011), valor 1000 vezes superior ao encontrado em esgoto
doméstico (Peralta-Zamora et al. 2005). Estimou-se que um silo de 200 t de silagem de
capim pode produzir uma carga de poluição equivalente à poluição diária de uma cidade
de 75 mil habitantes (National Rivers Autority, 1993 apud Stephens et al., 1997). Uma
forma de pesquisa de contaminação por efluentes foi investigada através do uso das
reações de glucose oxidase e lactato oxidase para detectar a presença de glucose e
lactato (provenientes de efluentes de silagens) em água fluvial. O sensor de lactato foi
capaz de detectar efluente de silagens maduras em diluições de 1/1000, enquanto que o
sensor de glucose foi mais eficiente para detectar efluentes de materiais recém
ensilados, que apresentam maior concentração de glucose que efluentes de silagens
prontas (Stephens et al., 1997).
Um dos possíveis destinos que se pode dar ao efluente produzido na silagem é a
fertirrigação. Apesar de esta prática necessitar de um monitoramento ambiental, o
impacto certamente é menor do que simplesmente deixar que o efluente seja levado por
águas de chuva até os cursos de água ou lençóis freáticos superficiais. Espalhar o
efluente no solo tem, porém, suas limitações, pois pode ocorrer queima das folhas da
pastagem ou de outras culturas (Burford, 1976, apud Arnold et al., 2000). Patterson e
Walker (1979) estudaram a possibilidade de inclusão de efluente na dieta de porcos em
terminação, e concluíram que 10% MS de inclusão supriria praticamente todos os
requerimentos protéicos e minerais estabelecidos pelo NRC. Leidmann et al. (1994)
avaliaram o potencial de remoção de metais pesados de solos contaminados através de
lixiviação por efluente de silagem de capim. Os testes, feitos em coluna e em batelada,
mostraram variadas taxas de remoção para cada metal pesado avaliado (Cd 74,7%; Zn
55,7%; Cu 53,5%; Ni 38,9%, Cr 12,7% e Pb 8,9%).
O tratamento de resíduos é um destino alternativo para os efluentes produzidos na
ensilagem. Tratamentos com leveduras, tratamentos aeróbicos e sistemas de tratamento
vegetal já foram estudados por, respectivamente, Arnold et al. (2000), Deans e Svoboda
(1992) e Faulkner et al. (2011), todos com algum efeito positivo na redução do
potencial poluente dos efluentes.
Apesar da viabilidade teórica desses sistemas, o grande problema ainda
permanece na realidade de campo. Mesmo que algumas medidas apresentem ótimos
124
resultados em escala laboratorial, normalmente as estações de tratamento requerem
plantas complexas de custo elevado. Deans e Svoboda (1992) apontam que, apesar da
sazonalidade na produção de efluentes (o que deixaria a planta inativa, aumentando os
custos), as estações de tratamento poderiam ser adaptadas para outros resíduos, como
dejetos do gado. A sazonalidade também representa um problema na destinação dos
efluentes para outros fins, uma vez que o armazenamento dos mesmos nem sempre é
higiênico ou viável. Dessa forma, operações de manejo que visem reduzir ao máximo as
perdas de matéria seca e produção de efluentes ainda são a melhor opção, considerando
que podem ser implementadas no tempo presente, sem depender de grandes
investimentos ou de medidas impostas pela legislação.
4. Aspectos inerentes ao processo de fenação
O processo de fenação é parecido, em alguns aspectos, com a ensilagem de
forragens pré-secadas em fardos embalados. As vantagens ambientais do feno em
relação à silagem pré-secada são a ausência de embalagem com lona ou filme plástico e
a ausência de produção de efluentes. As perdas no processo de fenação são variáveis e
dependem principalmente do manejo e das condições climáticas, porém impactam
muito pouco o ambiente, sendo rapidamente degradadas e recicladas. As perdas na
fenação só aumentam o impacto devido à redução na recuperação de MS de forragem, e
o maior gasto energético por unidade de feno efetivamente produzida.
A necessidade de várias operações mecanizadas, entre sega, reviragens,
enleiramento, enfardamento e recolhimento dos fardos, impacta o ambiente tanto pela
utilização de combustível fóssil do maquinário, como pela compactação do solo.
Em condições climáticas favoráveis para a fenação, este método é menor
impactante ao meio ambiente do que a produção de silagem pré-secada em fardos
embalados. Porém, este último método pode ser uma alternativa quando as condições
climáticas inviabilizem a secagem completa da forragem, principalmente quando há alta
possibilidade de chuvas na fase final de desidratação. É preferível utilizar o filme
plástico a perder todo o capital investido e todo o impacto já causado até essa etapa final
na conservação da forragem.
Dessa forma, além dos fatores previamente discutidos, as etapas mecanizadas de
produção de fenos, realizadas por tratores movidos a óleo diesel são as responsáveis
pelo principal impacto ambiental da produção dos fenos. Contudo, alternativamente é
possível produzir feno de forma totalmente manual, em pequena ou média escala.
Fazendas com preocupação ambiental têm resgatado tecnologias usadas na era “pré-
mecanização”, para aplicar na rotina de produção de forragens conservadas, de forma
manual e envolvendo trabalho familiar (http://onescytherevolution.com).
4. Considerações finais
Como qualquer atividade antrópica, a conservação de forragens impacta
negativamente o ambiente onde é realizada. A magnitude deste impacto é muito difícil
de ser quantificada, bem como o número de variáveis a se considerar nessa avaliação.
Os gases do efeito estufa provenientes da conservação de forragens são oriundos
de várias fontes, como mudança de uso do solo, adubação, queima de combustíveis
fósseis, gases provenientes da fermentação, entre outras fontes.,
125
A redução nas perdas durante os processos de conservação deve ser o primeiro
objetivo dos técnicos e produtores, no intuito de reduzir o impacto ambiental
(principalmente o decorrente dos efluentes da silagem), pois acarreta diretamente
benefícios econômicos e nutricionais.
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Sistema Produtivo para uma Pecuária Sustentável
Gustavo Rezende Siqueira1, Ivanna Moraes de Oliveira
2, Cleisy Ferreira do
Nascimento3, Valquíria Alencar Beserra
3, Felipe Almeida Nascimento
3, Flávio Dutra de
Resende1
1Pesquisador, APTA-Colina; Professor na Pós-graduação, UNESP-Jaboticabal 2Pesquisadora PNDP=CAPES, UNESP-Jaboticabal 3Doutorando em Zootecnia, UNESP-Jaboticabal
Resumo
Para que os sistemas produtivos tenham longevidade, a produção de alimentos
deve atender a demanda do crescimento populacional visando os quatro pilares
fundamentais da sustentabilidade: econômico, social, ambiental e tecnológico. Estes
pilares são aplicados de forma sinérgica e de acordo com as condições próprias de cada
sistema de produção. Estratégias que abordam o uso eficiente da terra, pastagens e
criação de animais são adotadas a fim de reduzir as limitações tecnológicas dos sistemas
de produção brasileiros. O manejo adequado de pastagens pode minimizar efeitos
negativos associados a fatores climáticos e, consequentemente, da sazonalidade de
produção no desempenho animal. Cada período de produção da forragem possui
particularidades, as quais devem ser levadas em consideração no planejamento de uma
propriedade. O uso da suplementação, por exemplo, contribui de maneira positiva para
ajustar o antagonismo entre estes períodos (seca e águas), fornecendo nutrientes
necessários para adequar o sincronismo entre proteína e energia na dieta dos animais.
Adicionalmente, devido à crescente preocupação com o aquecimento global, os sistemas
devem ser produtivos e, ao mesmo tempo, atender a demanda mundial para
desenvolvimento limpo, com menor emissão de gases do efeito estufa (GEE). Devido
aos processos naturais de fermentação de matéria orgânica, os ruminantes contribuem
para a emissão de metano. O fornecimento balanceado dos nutrientes pode influenciar
na utilização da dieta pela população microbiana do rúmen, reduzindo as perdas na
forma de metano, culminando em incremento no desempenho animal (metano/kg
produto final) e produção mais limpa. Pastagens produtivas também podem contribuir
para mitigação de GEE, por terem a capacidade de armazenar maior quantidade de
carbono no solo. A Integração Lavoura Pecuária é uma das estratégias utilizadas para
recuperar pastagens, maximizando o uso dos ciclos biológicos na interface planta-
animal e seus resíduos. Outra forma de contribuir para a mitigação de GEE é a redução
130
no ciclo de vida do animal. Por fim, a perspectiva sustentável somente é possível, no
contexto mencionado, quando levamos em consideração o pilar econômico,
identificando a diferença entre o empresário rural e o produtor, para que ele possa
decidir o que será melhor para o seu sistema de produção, unificando o pensamento
racional (lucro) e emocional (apego). Além de ter em mente que a educação, em todos
os níveis sociais, é sempre o primeiro passo para resolver os desafios atuais e futuros da
indústria pecuária.
Palavras-chave: ambiental, econômico, metano, pastagem, social, tecnológico
Introdução
Com uma área total de pouco mais de 8,5 milhões de km², o Brasil possui 165
milhões de hectares de pastagem natural e 219 milhões de cabeças de gado (ABIEC,
2017). Tal fato, coloca-nos em uma posição significativa, uma vez que a estimativa de
crescimento populacional será de 9,4 bilhões até 2050 (U.S. CENSUS BUREAU,
2016). Dessa forma, a produção de alimentos para atender essa demanda requer
preocupação tanto do ponto de vista produtivo, no qual, a produção deve ser eficiente e
economicamente viável, quanto do ponto de vista racional no uso de recursos naturais,
garantindo o fornecimento constante e inesgotável destes para as gerações atuais e
futuras.
Os sistemas de produção de ruminantes podem variar de subsistência para tipo
intensivo de agricultura, disponibilidade de recursos, acessibilidade de infraestrutura,
demanda de alimentos e potenciais de mercado, dependendo da localidade (WANAPAT
et al., 2015). De maneira geral, os sistemas de produção brasileiros possuem adoção de
tecnologia limitada e, com isso, produtividade comprometida. Estratégias como manejo
e adubação de pastagens, suplementação, confinamento, entre outros, podem ser
utilizadas como opções na busca de uma produção mais sustentável.
A intensificação dos sistemas de produção deve ser realizada de acordo com a
estrutura disponibilizada e adequada para o sinergismo entre o empresário e o produtor.
Dada a complexidade de tais sistemas, o uso de metas produtivas é necessário para que
as ferramentas adotadas, para o aumento da produtividade, se adequem da melhor forma
na estrutura de uma determinada fazenda. A utilização de metas possibilita executar e
131
verificar se os resultados estão de acordo com as propostas iniciais e identificar as
mudanças necessárias para a obtenção do objetivo estipulado. Dessa forma, a empresa
rural conduzirá o sistema de produção de forma efetiva e sustentável, visando atingir
suas metas de produção (MAKKAR, 2016; TEDESCHI et al., 2017).
Ao considerarmos os pontos citados, propomos um sistema de produção
sustentável, o qual é baseado em quatro pilares fundamentais: econômico, ambiental,
social e tecnológico. Estes pilares são aplicados de forma sinérgica, adequando a
estrutura, tamanho da propriedade, capital disponibilizado para investimentos e uso da
mão de obra na região da propriedade (THOMAS; CALLAN, 2010). A partir disso,
podemos avaliar quais são as melhores tecnologias para serem adotadas em determinado
sistema de produção.
Revisão de literatura
Pecuária brasileira
O uso de pastagem como alimento para os rebanhos é a base dos sistemas de
produção brasileiro, desta forma, é importante conhecer as características da planta e
seu valor nutritivo durante as diferentes épocas do ano (período da seca e das águas).
Este conhecimento permite adequar o fornecimento de alimento aos requerimentos
nutricionais dos animais, para que eles atinjam determinado nível de produção. Em
função de fatores climáticos, a produção de forragem é desuniforme ao longo do ano, o
que pode comprometer a produção de alimento e, consequentemente, o consumo pelo
rebanho. Entretanto, com o manejo adequado da pastagem, pode-se garantir a redução
de efeitos negativos da sazonalidade no desempenho animal, assim como a possível
degradação da pastagem em situações de superpastejo.
O diferimento da pastagem é uma estratégia que pode ser utilizada para garantir
quantidade de pasto suficiente para o rebanho no período seco do ano. Tal prática
consiste na preservação de determinada área, normalmente no período das águas, que
será utilizada posteriormente, no período de escassez de pasto (FONSECA et al., 2014).
Embora esta área preservada garanta taxa de lotação constante ao longo do tempo, o
valor nutritivo da gramínea é reduzido. Para que a redução na qualidade da forragem
não implique em maiores prejuízos ao desempenho animal e garanta a longevidade do
sistema, é importante ter cautela quanto: a área a ser diferida, tanto no tamanho quanto
132
na taxa de lotação que pode ser estabelecida; qual o tipo de forrageira mais apropriada
ao diferimento; época do ano; início e duração do diferimento e, também, manejo da
altura do pasto, por meio de pastejo intenso anterior ao diferimento, removendo o
material velho, para garantir melhor rebrota.
Cada período de produção da forragem possui particularidades inerentes, as quais
devem ser consideradas no planejamento de uma propriedade. Por um lado, o período
seco pode comprometer o desempenho dos animais devido redução nos teores de
carboidratos solúveis e proteína bruta e aumento da fração de fibra indisponível,
decrescendo o valor nutritivo da gramínea (DETMANN et al., 2014). Por outro lado, no
período das águas a qualidade da forragem é melhor, porém o desempenho animal ainda
pode ser limitado. Nesta estação, a forragem apresenta alto teor de proteína degradável
no rúmen, exigindo maior demanda de energia. Normalmente, não há sincronismo entre
a liberação de amônia e energia, pois, com o avanço na maturidade fisiológica há maior
concentração de tecidos de sustentação e teores de nitrogênio complexados nas frações
fibrosas (SOLLENBERGER; VANZANT, 2011). A suplementação, por exemplo, pode
contribuir de maneira positiva para incrementar o nível de proteína bruta na estação seca
e ajustar a relação entre proteína e energia na estação das águas.
Diversas estratégias podem ser adotadas para a melhoria do sistema de produção,
tendo como consequência o aumento da rentabilidade em um ambiente sustentável,
entre elas, a manutenção do sistema de manejo solo-planta (análise de solo, correção e
adubação - proveniente de fonte orgânica ou mineral) conciliada com manejo de pasto
adequado. Pois, ainda que a pastagem apresente teor de nutriente suficiente para o
desempenho animal, a taxa de lotação, altura de pastejo e oferta de forragem são fatores
inerentes a utilização da área, os quais causam impacto direto no consumo de forragem
e, consequentemente, na conversão em produto comercializável (REIS et al., 2009). O
manejo da altura de pastejo implica em diferenças quanto ao ganho médio diário dos
animais, taxa de lotação, ganho por área (DA SILVA et al., 2013; BARBERO et al.,
2015) e pode melhorar a qualidade nutricional da forragem (BOLAND et al., 2013).
Após todas as medidas adequadas tomadas, os processos de digestão nos bovinos
ainda passam por entraves quanto ao uso eficiente dos nutrientes. E, embora a perda de
energia por meio da formação de metano no ambiente ruminal seja necessária para o
133
funcionamento de tal ambiente, ela afeta a sustentabilidade do sistema, existindo formas
de redução da emissão deste gás. Este será assunto para o próximo tópico.
A pecuária e o aquecimento global
A decomposição da matéria orgânica em meio aquoso é realizada por bactérias
que fermentam o substrato em condições anaeróbicas, seja este ambiente, campos
alagados para o cultivo de arroz ou o ecossistema ruminal. Tal processo resulta em
diversos produtos inerentes ao tipo de substrato fermentado, sendo a produção de
metano inevitável. Em função da crescente preocupação com o aquecimento global,
dentre as atividades antrópicas, a agricultura pode ter uma importante participação na
emissão dos GEE. Segundo o IPCC (2007), a emissão de metano representa 14% do
total gerado por atividades antrópicas e, dentro deste percentual, 13,5% corresponde a
agricultura no mundo.
Contextualizando, o Brasil, por ser um país agrícola, possui participação
significativa na emissão de GEE, principalmente quando consideramos o tamanho do
rebanho bovino, o qual é responsável por 69% do total de emissão de metano do país.
Vale lembrar que, embora a percentagem seja significativa a nível nacional, esta
emissão corresponde a 2,5% do total produzido no mundo (IPCC, 2007). Assim, a
contribuição do Brasil, a nível mundial, representa menos de 3% do total da emissão de
GEE oriundos de atividades antrópicas e, devido a programas de incentivo e
conscientização (mecanismos de desenvolvimento limpo – MDL), os países com maior
índice de emissão de GEE investem em países em desenvolvimento, para que a emissão
desses gases seja quantificada e racionalizada (SOUZA et al., 2012). Ou seja, nós
produzimos gases de efeito estufa abaixo dos níveis globais e o pouco que produzimos
já está sendo quantificado e trabalhado para que a produção seja eficiente e
ambientalmente viável.
Seguindo essa perspectiva, nas duas últimas décadas observou-se maior interesse
em pesquisas que propõem alternativas para a redução da metanogênese ruminal,
levando-se em conta a possibilidade de melhoria da eficiência na utilização do alimento,
com redução da produção e liberação de gás metano (RUVIARO et al., 2016;
MAKKAR, 2016). Resolver esse dilema ajudará a aumentar a produção de carne, por
meio do aumento na eficiência de produção, para o atendimento da crescente demanda
134
global por produtos pecuários (WANAPAT et al., 2015; MAKKAR, 2016; GUYADER
et al., 2016).
O fornecimento de uma alimentação adequada e balanceada pode influenciar no
uso da dieta pela população microbiana do rúmen, reduzindo as perdas em forma de
metano, culminando em incremento no desempenho animal (metano/kg produto final).
Todo incremento no desempenho implica em produção eficiente e/ou redução no ciclo
de produção. Sistemas intensivos podem proporcionar este cenário em função do
manejo de pasto adequado, utilização de integração, entre outros, concomitante, ou não,
ao uso de suplementação, e uso de dietas com melhor qualidade durante a terminação
(RUVIARO et al., 2016; MAKKAR, 2016), seja ela realizada no confinamento ou de
forma intensiva no próprio pasto.
Pastagens produtivas podem contribuir para a mitigação de GEE por terem a
capacidade de armazenar maior quantidade de carbono no solo, superando muitas vezes
a incorporação por matas nativas (ALVES et al., 2006). No processo de fotossíntese, as
plantas absorvem dióxido de carbono da atmosfera e o incorporam nos carboidratos,
armazenando carbono no solo. Em pastagens produtivas haverá maior taxa de renovação
e, consequentemente, maior sequestro de carbono; enquanto em matas nativas e
florestas, esse sequestro é mais acentuado somente durante o crescimento da planta.
A estratégia de recuperação de pastagens é uma prática importante para sequestrar
o carbono excedente da atmosfera, além de tornar o sistema mais produtivo
(BERNEDTI et al., 2010). Os benefícios ambientais potenciais dos sistemas baseados
em forragens recuperadas podem ser ampliados, considerando suas outras contribuições
ecológicas, como conservação da biodiversidade, melhoria da saúde do solo e da
qualidade da água e o fornecimento de habitat natural (GUYADER et al., 2016).
A recuperação das pastagens, em geral, é feita por meio de adubação nitrogenada
para a reposição de nitrogênio do solo. Ressalta-se que essa prática, quando realizada de
forma inadequada, pode contribuir para o aumento nas emissões de óxido nitroso, em
função do acúmulo via adubação e/ou pelas excretas dos animais (fezes e urina). A
recuperação de maneira indireta e integrada pode representar uma alternativa viável, na
qual, a Integração Lavoura Pecuária é uma das estratégias utilizadas no momento.
Os sistemas integrados propõem maximizar o uso dos ciclos biológicos na
interface planta-animal e seus resíduos, sendo ideal do ponto de vista sustentável, uma
135
vez que propõem a redução do uso de compostos inorgânicos, por meio do plantio
consorciado, em sucessão ou rotacionado, para promover o sinergismo entre os
componentes do ecossistema. Isso implica no uso mais eficiente de máquinas e
equipamentos, mão-de-obra e preservação do meio ambiente (KICHEL et al., 2011).
Outra forma de contribuir para a mitigação de GEE e, consequentemente, praticar
a sustentabilidade do sistema, é a redução do ciclo de vida do animal. Tal proposta se
estabelece de estratégias que otimizem o máximo potencial de produção do animal, por
meio do manejo e fornecimento de dieta adequada, e a maior eficiência da utilização da
mesma. Dentre estas tecnologias, algumas se destacam por melhorar uma fase
específica da vida do animal ou por ser empregada em mais de uma fase, trazendo
benefícios econômicos e vantagens ambientais.
Construindo uma pecuária sustentável
Conforme já mencionado, devido as flutuações sazonais na qualidade e
quantidade da forragem ao longo do ano, raramente existe um equilíbrio entre os
nutrientes fornecidos pela planta e a exigência dos animais (DETMANN et al., 2014).
Para contornar esta limitação, a suplementação é utilizada para melhorar a eficiência de
utilização das pastagens e otimizar o ganho animal e por área (CASAGRANDE et al.,
2011; SOLLENBERGER; VANZANT, 2011; REIS et al., 2013).
Segundo Barbero et al. (2015) animais recebendo suplementos com maiores
teores de carboidratos solúveis apresentam melhor desempenho, além de produzirem
menos metano por kg de ganho de peso corporal. Vários ingredientes podem ser
utilizados na dieta dos animas para o uso mais eficiente da mesma, seja por
concentração de nutrientes, ou por manipulação da população microbiana. Dentre eles,
destaca-se a gordura protegida, a qual pode incrementar o desempenho dos animas e o
ganho por área, através do aumento na densidade energética da dieta. Além disso,
atualmente, sabe-se que os ácidos graxos têm a capacidade de alterar a expressão
gênica, através da velocidade da codificação de fatores de transcrição (JUMP, 2002),
sendo a composição da gordura protegida importante para a ativação destes genes.
Vellini (dados não publicados) forneceu suplementação na quantidade de 0,3% do
peso corporal, sem ou com adição de blend de ácidos graxos específicos, para novilhos
Nelore na recria. A autora observou que o consumo de blend de ácidos graxos
136
proporcionou incremento de 8,75% no ganho médio diário e de 6,38% no ganho por
área, com aumento médio de 15 kg de peso corporal ao final da recria. Nascimento
(2017) trabalhando com a inclusão de óleo de soja protegido e blend de óleo vegetal
protegido (mistura de ácidos graxos saturados e insaturados) em dietas de terminação,
observou que os animais que consumiram a dieta com o blend de óleo vegetal
apresentaram 13 kg a mais de carcaça, comparados aos animais que consumiram a dieta
com óleo de soja protegido.
Vellini (dados não publicados) e Nascimento (2017) não avaliaram a emissão de
metano, mas, segundo Machado et al. (2011) pode haver redução na produção de
metano com a adição de lipídeos, em função da redução de matéria orgânica
fermentável no rúmen, redução da atividade de microrganismos metanogênicos,
toxicidade deste nutriente para bactérias celulolíticas e captura de hidrogênio do meio
pela biohidrogenação.
Além do adensamento da dieta, o uso de aditivos em suplementos e rações é uma
prática comum para manipular o ecossistema ruminal, a fim de otimizar a utilização dos
nutrientes e/ou minimizar os impactos negativos do uso de alimentos menos fibrosos no
ambiente ruminal. Com intuito de reduzir o impacto ambiental, a utilização de nitrato
encapsulado é uma alternativa viável. Hristov et al. (2013) classifica o nitrato como um
aditivo que tem efetividade e alto potencial em mitigar metano. Isso ocorre pois há
consumo de 8H+ para reduzir nitrato a nitrogênio amoniacal ruminal, ao mesmo tempo
em que há uso de H+ para produção de metano. Porém, reduzir nitrato a nitrogênio
amoniacal ruminal conserva mais energia para os microrganismos quando se compara
com a produção de metano (GUO et al., 2009).
Considerando a dinâmica da fermentação ruminal, para cada mol de nitrato
ingerido, seria mitigado 1 mol de metano, ou seja, a cada 100 g de nitrato ingeridos,
seria mitigado 25,8 g de metano (VAN ZIJDERVELD et al., 2010). Fernandes (2018)
avaliou a utilização de nitrato encapsulado durante a recria e terminação intensiva a
pasto de bovinos Nelore. O autor observou que, no período seco da recria, o uso do
nitrato tendeu a diminuir a produção de metano (g/dia) em 17%. No período das águas,
a emissão de metano tendeu a ser reduzida em 34 g/dia com nitrato, reduzindo também
a emissão de metano a cada kg de peso corporal ganho e a cada kg de matéria seca
consumida.
137
Em dietas de terminação, o milho é o ingrediente mais utilizado como fonte de
energia para os animais (OLIVEIRA; MILLEN, 2014), dessa forma, tem-se buscado
aumentar a eficiência de utilização deste grão para alimentação de ruminantes. Uma
técnica de processamento que tem apresentado bons resultados no aumento da
digestibilidade do amido do milho é a ensilagem dos grãos de milho (FERRARETTO et
al., 2013; SILVA, 2016). Durante o processo de ensilagem, os ácidos produzidos
durante a fermentação ajudam na solubilização e proteólise da matriz proteica
(VIERSTRA, 1996). Com isso, há melhora na digestibilidade ruminal do amido, devido
maior acesso dos microrganismos ruminais aos grânulos do mesmo (Hoffman et al.,
2011).
Segundo Silva (2016), o fornecimento de silagem de grão úmido de milho, na
terminação de bovinos Nelore, reduz o consumo de matéria seca em 19,6%, sem afetar
o ganho médio diário e o peso de carcaça quente, melhorando a eficiência alimentar em
21%, quando comparado ao uso de milho seco. Estes resultados ocorrem devido ao
aumento na digestão do amido, em consequência do incremento na sua fermentação
ruminal (SILVA, 2016).
Conforme mencionado, o processamento do milho é uma alternativa muito
eficiente para melhorar o aproveitamento dos nutrientes do mesmo, seja na forma de
silagem de grão úmido, floculação, moagem, entre outros. No entanto, cada tipo de
processamento apresenta variações quanto a disponibilidade de nutrientes e coeficiente
de digestibilidade. Desta forma, o fornecimento de enzimas que façam o ajuste fino na
maximização do uso deste ingrediente é pertinente, uma vez que o uso de enzimas é
baseado em mecanismos naturais e já existentes no ambiente ruminal.
Nascimento et al. (2016) observaram 9 kg a mais de carcaça em animais Nelore
recebendo enzimas amilolíticas na dieta de terminação. Concomitante a avaliação do
desempenho, Nascimento et al. (2017) avaliaram diferenças no metabolismo dos
animais recebendo enzimas amilolíticas e identificaram incremento de 8,72% na
concentração molar de propionato comparada àquela dos animais que não receberam
enzima, além de aumento na digestibilidade da proteína bruta e da fibra da dieta. Tais
resultados podem elucidar as possíveis respostas encontradas no desempenho,
demonstrando que a adição de enzimas pode contribuir para maior aproveitamento de
ingredientes da dieta e, consequentemente, melhora no desempenho.
138
Assim como enzimas amilolíticas, enzimas fibrolíticas são utilizadas para
melhorar a digestibilidade da fibra e, com isso, incrementar o consumo voluntário do
animal. Miorin et al. (2017) testaram a adição de enzimas fibrolíticas na terminação a
pasto de bovinos Nelore, relatando aumento de 8 kg na carcaça dos animais que
consumiram dieta com adição de enzimas.
Todas estas tecnologias citadas têm por finalidade reduzir o ciclo de produção e,
com isso, aumentar a produtividade e a qualidade da carne no país. A redução na idade
de abate, indiretamente, diminui a produção de resíduos e a emissão de gases de efeito
estufa, como o metano (CHIZZOTTI et al., 2011). Assim, o aumento da produtividade
dentro de um sistema de produção, sem a necessidade de novas áreas, contribui também
para o uso adequado do solo e preservação do ecossistema local (RUVIARO et al.,
2016; MAKKAR, 2016; GUYADER et al., 2016), permitindo paralelamente maior
sustentabilidade dos sistemas.
Entendendo os pilares da sustentabilidade
A perspectiva sustentável somente é possível, no contexto mencionado, quando
levamos em consideração o pilar econômico, identificando a diferença entre o
empresário rural e o produtor, para que ele possa decidir o que será melhor para a sua
propriedade, unificando o pensamento racional (lucro) e o emocional (apego).
O uso de metas produtivas, que organizem e planejem a introdução de novas
ferramentas, para a melhoria da fazenda, permite a sustentabilidade da empresa rural.
Isso porque a utilização das metas faz com que o pecuarista comece a conhecer os
fatores de produção da sua propriedade (terra, capital e trabalho) e identificar quais
fatores podem ser melhorados para maior rentabilidade e lucratividade do sistema. Este
processo possibilita executar e verificar se os resultados estão de acordo com as
propostas iniciais e identificar as mudanças necessárias para a obtenção do objetivo
estipulado. A partir disso, é possível realizar a tomada de decisão operacional para a
melhoria do sistema, como por exemplo, quais as vantagens e desvantagens de
terceirizar máquinas e equipamentos; aluguel de pasto para terceiros ou rebanho
próprio; intensificar ou agregar valor no rebanho. Dessa forma, a empresa rural
conduzirá o sistema de produção de forma efetiva e sustentável, visando atingir as metas
de produção (MAKKAR, 2016; TEDESCHI et al., 2017).
139
É importante esclarecer a relação entre pecuária e meio ambiente, visto que
existem várias fontes poluidoras, as quais impactam na aceleração do aquecimento local
e do ecossistema (THOMAS; CALLAN, 2010; MAKKAR, 2016). Dentro do pilar
ambiental, observando o eixo animal, a melhoria dos índices zootécnicos traz benefícios
econômicos e ambientais. A melhoria dos ganhos/unidade é uma redução no número de
animais para “produzir” os mesmos ganhos produtivos anteriores, tendo como
consequência o aumento da produtividade e redução da emissão de gás metano/área.
No pilar social devemos ter em mente que a maior parte da produção de carne
bovina do país é destinada para o mercado interno. No mesmo raciocínio, a educação
em todos os níveis sociais é o primeiro passo para resolver os desafios atuais e futuros
da indústria pecuária (TEDESCHI et al., 2017). Desta forma, com aumento na
remuneração da mão de obra brasileira como um todo, haverá aumento do consumo de
carne de forma indireta. E, mesmo a mão de obra estando entre os maiores custos dentro
do sistema de produção, é necessário que os trabalhadores sejam bem remunerados e
tenham tratamento digno. E, ao serem bem remunerados, estes tendem a realizar as
tarefas de forma melhor, ocasionando vários efeitos diretos e indiretos para o sistema de
produção (THOMAS; CALLAN, 2010).
O pilar tecnológico, per si, deve ser considerado a partir da interação solo-planta-
animal, como já discorrido acima, pois percebemos que a tecnologia escolhida foi a
mais sustentável, para determinada fase da propriedade, no sistema de produção. Como
dito anteriormente, o aumento do uso de tecnologias, dentro dos sistemas de produção,
deve ocorrer de acordo com a capacidade produtiva, econômica e estrutural da
propriedade (THOMAS; CALLAN, 2010). Alinhando isso, ao uso da mão de obra no
campo, podemos trabalhar a produção de forragem e uso de suplementos com efeito na
taxa de lotação, produtividade do rebanho e custo de produção, por exemplo.
Considerações finais
Percebemos que possuímos ferramentas para a introdução de uma pecuária mais
sustentável nos sistemas de produção brasileiros. Sendo necessária a interação e
sinergismo entre as tecnologias disponíveis no mercado e as particularidades das
propriedades rurais ao longo do país, adequando as tecnologias em função das
necessidades e recursos disponíveis no local. Assim, desmitificamos a
140
insustentabilidade dos sistemas de produção de bovinos brasileiros e aumentamos a
eficiência e eficácia das propriedades.
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144
RESUMOS
EXPANDIDOS
145
Acesso à Informação e Caracterização da Produção de Bovinos de Corte do
Sudeste Goiano1
Vitória Mendes André2, Jéssica M. Paranhos Borges
3, Isadora de Ávila Caixeta
2, Laya
Kannan S. Alves2, Janine França
4
1Parte do trabalho de conclusão de curso do segundo autor 2Aluna de graduação do curso de zootecnia. e-mail: vitoriamendesandre@hotmail.com ; isadoraa80@gmail.com;
layakannan@outlook.com 3Zootecnista. e-mail: jessikinhamp@hotmail.com 4Zootecnista. Docente na Universidade Federal de Uberlândia. e-mail: madalosse@yahoo.com.br
Resumo: A pecuária de corte é de grande importância dentro da produção animal
brasileira, sendo importante a caracterização da produção e acesso a informação de
produtores de bovinos de corte. Assim, foi aplicado um questionário simples, impresso,
presencial para 31 produtores de bovinos de corte do sudeste goiano com o objetivo de
caracterizar a produção em suas propriedades e a busca por informações e atualizações,
abordando os temas: (1) Sistema de Criação; (2) Solos e Pastagens (3) Água; (4)
Melhoramento Genético; (5) Manejo Reprodutivo; (6) Informação e Atualizações.
Verificou-se que 97% dos produtores utilizavam sistema de criação com suplementação
mineral e terminação a pasto. Todas as propriedades utilizavam a Brachiaria,
predominando pastagens de idade média e antiga. Apesar de 29 dos entrevistados
realizarem adubação do solo apenas dois realizavam análise de solo. Outro ponto
relevante é uso da água, em que 100% dos produtores não realizavam o uso racional.
Para o manejo reprodutivo 93% dos produtores utilizavam a monta natural e 27
buscavam por gado melhorado e conheciam algum programa de melhoramento
genético. A grande maioria dos produtores possuía acesso a informação e atualizações
na área principalmente em programas de televisão com conteúdo rural. Portanto, ainda é
necessário um maior incentivo em relação ao uso racional de água e adubação correta
do solo para um sistema solo-planta-animal ideal visando uma criação sustentável e
rentável.
Palavras–chave: acessibilidade; bovinocultura de corte; produtividade, sustentabilidade
Access to Information and Characterization of Beef Cattle Production in Southeast
Goiás
Abstract: Cattle breeding is of great importance within Brazilian animal production,
being important the characterization of the production and access to information of beef
cattle producers. A simple, questionnaire was then applied to 31 producers of beef cattle
from southeast Goiás State, Brazil, with the purpose of characterizing the production in
their properties and the search for information and updates, addressing the following
themes: (1) Creation System; (2) Soil and Grassland (3) Water; (4) Genetic
Improvement; (5) Reproductive Management; (6) Information and Updates. It was
verified that 97% of the producers used breeding system with mineral supplementation
and pasture termination. All properties used Brachiaria, predominating pastures of
middle and old age. Although 29 of the producers did fertilize the soil, only two
performed soil analysis. Another relevant point is water use, in which 100% of the
producers did not rational use. For the reproductive management 93% of the producers
used the natural mount and 27 opted for genetically improved cattle and knew of some
146
breeding program. Most producers had access to information and updates in the area
mainly on television programs with rural content. Therefore, a greater incentive is still
needed in relation to the rational use of water and correct fertilization of the soil for an
ideal soil-plant-animal ideal system at a sustainable and useful husbandry.
Keywords: accessibility; beef cattle; productivity, sustainability
Introdução
A pecuária de corte tem ocupado lugar de destaque dentro da produção animal, e
vem assumindo posição de liderança no mercado mundial de carnes. O Brasil sendo um
país de clima tropical e com ampla extensão de terra, possui grande potencial para
atender essa demanda mundial, principalmente devido a carne bovina brasileira advir de
sistemas de produção que usam recursos nutricionais de baixo custo relativo, como as
gramíneas tropicais sob pastejo (Hoffmann et. al., 2014).
Nesse cenário brasileiro, vários estados contribuem para o desenvolvimento da
pecuária de corte, entre eles o estado de Goiás que segundo relatório do IBGE (2017), o
abate de 49,62 mil cabeças de bovinos a mais no primeiro trimestre de 2017, em relação
ao mesmo período do ano anterior, foi impulsionado por aumentos em 11 das 27
Unidades da Federação (UFs). Os aumentos mais intensos ocorreram em Goiás (+97,26
mil cabeças), e no ranking das UFs, o estado de Goiás subiu da 5ª para 3ª posição no
comparativo dos primeiros trimestres 2017/2016, com uma contribuição de 10,1% da
participação nacional.
Porém, para o sucesso da atividade pecuária, destaque-se a atuação do produtor
rural, buscando rentabilidade e lucratividade, controlando diversos fatores que
influenciam a produção. Dentre esses fatores o sistema solo-planta-animal Ñ essencial
para a atividade, sendo complexo e abordando componentes como: manejo reprodutivo,
melhoramento genético, forrageira utilizada, uso da Água, sistema de criação adotado.
Assim, a pecuária vem exigindo cada vez mais que o produtor se atualize e busque
informações, pois, manter-se informado e atualizado Ñ um diferencial perante os
demais produtores, tornando-o capaz de favorecer a sua produção. Para isso o
levantamento de dados a respeito do acesso do produtor a informações e atualizações na
Área da atividade Ñ de suma importância para a caracterização das propriedades e
apontamentos que possam ser melhorados na atividade de pecuária de corte,
contribuindo de forma significativa para atender eticamente o mercado consumidor e
meio ambiente. Neste sentido o presente estudo visou avaliar o acesso a informações e
atualização do produtor e a caracterização da produção de bovinos de corte na região do
Sudeste Goiano.
Material e Métodos
Para condução deste trabalho, foram utilizadas 31 fazendas de bovinos de corte
situadas no sudeste goiano, com animais anel orados. Foi aplicado um questionário
simples, impresso, no ano de 2015 aos produtores de bovinos de corte com o objetivo
caracterizar a produção em suas propriedades e a busca por informações e atualizações
na Área. O questionário foi estruturado abordando as seguintes questões: (1) Sistema de
Criação – (1a). animais suplementados e terminados em confinamento; animais
suplementados e terminados a pasto? (2) Solos e Pastagens – (2a). realiza análise de
solos?: sim ou não?; (2b). executa adubação do solo: sim ou não?; (2c). tipo de
147
forrageira cultivada – especificar; (3) água – (3a). executa alguma técnica de uso
racional de água: sim ou não?; (3b). Realiza análise da água de bebida do gado: sim ou
não?; (4) Melhoramento Gentio – (4a). gado utilizado na atividade Ñ melhorado
geneticamente: sim ou não?; (4b). conhece algum programa de melhoramento genético
de bovinos de corte: sim ou não? (5) Manejo Reprodutivo – (5a). qual o tipo de manejo
reprodutivo adotado: monta natural; inseminação artificial; ambas ou outra
biotecnologia reprodutiva?; (6). Acesso a informação e Atualizações – (6a). acessa a
internet: sim ou não?; (6b). participa de eventos (palestras; eventos científicos;
encontros de produtores; dias de campo) na área da atividade: sim ou nÉo?; (6c).
participa de leilão: sim ou não?; (6d). prefere buscar informações relacionadas ä
atividade: programas de televisão; revistas e catálogos; internet? Das propriedades
avaliadas, 11 possuía entre 50 a 100 animais e 20 mais de 100 animais, todas com
bovinos anelorados, em fase de terminação. A aplicação dos questionários foi realizada
presencial, e os dados obtidos foram tabulados e os resultados obtidos através do
programa Microsoft Excel (2010).
Resultados e Discussão
Em relação ao sistema de produção verificou-se que 97% das propriedades o
sistema de criação e caracterizado por animais suplementados apenas com sal mineral, e
terminados a pasto. E em apenas 3% os animais além de ser suplementados eram
terminados em confinamento. No estado de Goiás, há predominância da forrageira
braquiária, devido baixo custo de produção e boa rentabilidade ao produtor, de acordo
com o referido estudo em 100% das propriedades cultivavam essa forrageira para a
produção de bovinos de corte.
Adubar o pasto Ñ necessário quando a pastagem encontra-se em algum nível de
degradação, devido ä ausência de prática de manejo relevante como a adubação, tendo
um ciclo de produção naturalmente decadente, assim, no estudo, 29 entrevistados
realizavam adubação do solo visando melhor a produção de forragem, porém apenas
dois realizavam análise do solo para verificar a real necessidade, isso pode acarretar
excessos e/ou deficiências no solo, além de investimentos em adubação que poderão ser
desnecessários ou de menor valor.
O fato de 60 a 80% das pastagens do Brasil Central Pecuário apresentarem-se
com algum grau de degradação, ou seja, sem produtividade compatível com a condição
ecológica local, permite imaginar o impacto e a relevância econômica do processo de
degradação das pastagens em âmbito nacional. Pastagens mais velhas este em níveis
maiores de degradação (Martha Junior & Vilela, 2002). Assim Ñ de extrema
importância a realização do manejo correto do sistema solo-pastagens. De acordo com
os resultados obtidos, a idade das pastagens em 45% das fazendas era média, 45%
antiga e apenas 10% eram novas, sendo que em todas as propriedades foram
encontradas a pastagem estabelecida Braquiária. Ainda, segundo Martha Junior &
Vilela (2002), isso possivelmente está relacionado ao fato de que por ser uma planta
pouco exigente, a Braquiária se configura como suporte alimentar essencial na criação
de gado, tanto de corte quanto de leite.
Integrando a sustentabilidade do sistema de produção de bovinos de corte, a
água tem papel fundamental dentro dessa produção animal. A água é um elemento
essencial ao animal, em caso de restrição poderá ocasionar perdas produtivas à
bovinocultura de corte. Mesmo com os questionamentos gerados atualmente sobre o uso
148
da água na pecuária, nenhum dos produtores praticavam o uso racional de água em suas
propriedades. Além disso, a água fornecida aos animais, deve ser de boa qualidade e
livre de patógenos, mesmo assim apenas duas propriedades realizam análise da água
que o animal ingere, o que poderá acarretar em prejuízos na produção. De acordo com
Palhares (2015), o manejo hídrico adequado na propriedade rural pode contribuir para
reduzir o consumo de água na agropecuária e tornar a atividade mais sustentável e
rentável, melhorando a gestão da água na propriedade, sendo importante ferramenta
para a preservação e conservação dos recursos naturais.
A eficiência do gado em produzir carne é outro fator extremamente importante
para um clico mais curto e menor demanda em quantidade, por exemplo, de pasto.
Assim, o cruzamento constitui uma forma rápida, e muitas vezes econômica, de
produzir carne bovina, porém não eliminando a necessidade, nem diminuindo a
importância, da seleção como método de melhoramento genético a ser realizado
concomitantemente (Euclides Filho, 1997). O gado estudado foi anelorado, a pesquisa
apontou que das 31 propriedades, 27 utilizavam gado melhorado geneticamente,
otimizando a produção e obtendo um melhor ganho de peso. Isso se deve ao fato
também desses mesmos produtores terem conhecimento de algum programa de
melhoramento genético.
No Brasil o manejo mais adotado de reprodução é a monta natural em bovinos
de corte criados em sistemas extensivos a pasto, com uma relação de um touro para
vinte e cinco vacas, em condições normais (Machado, 2008). Verificou-se que em 93%
das fazendas estudadas, adotam o manejo reprodutivo de monta natural, e 7% realizam
manejo de inseminação artificial associada com a monta natural. Esses dados podem ser
explicados, pois a monta natural é um sistema de fácil aplicação pelo fato de não
necessitar mão-de-obra especializada para sua utilização. Porém, se a relação 1:25 não é
seguida, isso acarretará em uma baixa quantidade de bezerros/ano impactando de forma
negativa nos índices zootécnicos e produtividade da atividade.
O acesso a informação e atualizações na área contribuem para o sucesso da
atividade, portanto dentre os produtores estudados, vinte e nove acessavam a internet,
mostrando que o produtor busca novas informações e procura se atualizar. A frequência
do uso da internet foi significativa diariamente e a cada 15 dias, representando
respectivamente dez e dezenove dos produtores entrevistados, sendo que apenas dois
produtores não acessavam à internet. Outro fator significativo foi que grande parte dos
produtores (61%) participavam de eventos na área de bovinocultura. A busca de
informação não fica apenas na internet com páginas específicas de conteúdo rural, que
contam com apenas 2% dos produtores, mas sim 93% buscam informações relacionadas
à atividade em programas de televisões com conteúdo rural, que na maioria das vezes se
trata de leilões virtuais que atualiza o produtor com preço da arroba, preço do boi gordo,
dentre outras informações.
Conclusões
Ficou evidente que as propriedades do sudeste goiano, devido às condições
favoráveis para a atividade de pecuária de corte, essa é caracterizada pela terminação a
pasto, monta natural, com adubação de solo, porém sem análise de solo e uso racional
de água. Apesar do grande número de produtores que buscam atualização e informações
na área, ainda é necessário um maior conhecimento a respeito do uso racional de água e
149
solo obtendo de forma efetiva sistema de criação a pasto com animais eficientes em
sistemas sustentáveis e rentáveis.
Literatura citada
EUCLIDES FILHO, K. O melhoramento genético e os cruzamentos em bovino de
corte. 1.reimp. Campo Grande: EMBRAPA-CNPGC, 1997. 35p. (EMBRAPA-CNPGC.
Documentos, 63).
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estatística da Produção Pecuária -
Junho de 2017. Instituto HOFFMANN, A.; MORAES, E. H. B. K.; MOUSQUER, C. J.;
SIMIONI, T. A.; JUNIOR GOMES, F.; FERREIRA, V. B.; SILVA, H. M. Produção de
bovinos de corte no sistema de pasto-suplemento no período seco. Nativa, Sinop, v. 02,
n. 02, p. 119-130, abr./jun. 2014. Pesquisas Agrárias e Ambientais.
IBGE. 2017, 47p. disponível em: <
ftp://ftp.ibge.gov.br/Producao_Pecuaria/Fasciculo_Indicadores_IBGE/abate-leite-couro-
ovos_201701caderno.pdf >. Acessado em: 13/03/2018.
MACHADO, G.P.E, Inseminação artificial versus monta natural em bovinos de corte:
aspectos reprodutivos, produtivos e econômicos, Belo Horizonte, UFMG-EV, 2008.
MARTHA JÚNIOR, G. B; BUENO, L. Pastagem no Cerrado: baixa produtividade pelo
uso limitado de fertilizantes. Planaltina, DF: Embrapa Cerrados, 2002. 32 p. (Embrapa
Cerrados. Documentos, 50).
PALHARES, J. C. Consumo de água na pecuária pode ser reduzido com manejo
correto. Disponível em: < https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-
/noticia/2514861/consumo-de-agua-na-pecuaria-pode-ser-reduzido-com-manejo-correto
>. EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Acessado em:
20/03/2015
150
Analise econômica em Brachiaria híbrida Convert HD 364 submetida à aplicação
de adubo foliar no final na época das águas
Hygor Luís G. de Fátima¹, Paulo Vitor Pereira², Camilla Souza Ferreira², Lorena
Borba Vilela³, Leandro Martins Barbero4, Natascha Almeida Marques da Silva
4
1Estudante de Zootecnia. e-mail: hygorluis@hotmail.com
²Estudante de Agronomia. e-mail: paulovitt.pereira@gmail.com 3Estudante de Medicina Veterinária. e-mail: lborbavilela@gmail.com 4Faculdade de Medicina Veterinária FAMEV. e-mail l: leandrobarbero@famev.ufu.br
Resumo: As áreas de pastagens no Brasil, em sua grande maioria encontram-se
em algum estágio de degradação. Degradação esta que se dá pela falta de
reposição de nutrientes ao solo. O objetivo do presente estudo foi analisar
economicamente estratégias de adubação de pastagens na vedação do pasto. O
experimento foi conduzido em Uberlândia - MG, durante a vedação do pasto e
consistiu em quatro tratamentos, com quatro repetições, sendo eles: a adubação
com uréia, adubação com 2 litros de OROGRASS/ha, adubação com uréia + 2
litros de OROGRASS/ha e a testemunha. A cultivar utilizada foi a Brachiaria
híbrida Convert HD 364. A análise dos resultados mostrou que todos os três
tratamentos obtiveram melhor desempenho do que a testemunha. A aplicação de
ureia otimizou a produção de massa de forragem e possibilitou o aumento da taxa
de lotação, o que também foi possível com a aplicação do adubo foliar
OROGRASS, porém, no que se refere à lotação, a ureia possibilitou um aumento
ligeiramente maior e no que se refere ao custo de implantação, o OROGRASS
possui o menor preço. A união dos dois tratamentos apresentou os melhores
resultados em todos os aspectos analisados, sendo, portanto, a melhor forma de
incrementar a produtividade de pastagens através de adubação. Diante dos
resultados, conclui-se que a aplicação de ureia combinada com adubação foliar na
vedação do pasto, proporciona melhor retorno econômico para a atividade.
Palavras–chave: adubação, pastagens, produção, micronutrientes, uréia,
Abstract: The pasture areas in Brazil, for the most part, are at some stage of
degradation. This degradation is due to the lack nutrient replacement to the soil.
The objective of the present study was to analyze economically strategies of
pasture fertilization in the pasture. The experiment was conducted in Uberlândia,
MG, during the pasture sealing and consisted of four treatments, with four
replications: urea fertilization, fertilization with 2 liters of OROGRASS / ha,
fertilization with urea + 2 liters of OROGRASS / ha and the witness. The forage
used was the hybrid Brachiaria Convert HD 364. Analysis of the results showed
that all three treatments performed better than the control. The application of urea
optimized forage mass production and allowed the increase of the stocking rate,
which was also possible with the application of the OROGRASS leaf fertilizer,
however, with regard to the stocking, urea allowed a slightly larger increase and
in terms of the cost of implementation, OROGRASS has the lowest price. The
union of the two treatments presented the best results in all aspects analyzed,
being, therefore, the best way to increase the productivity of pastures through
fertilization. In view of the results, it was concluded that the application of urea
151
combined with leaf fertilization in the pasture fence, provides a better economic
return for the activity.
Keywords: fertilization, pasture, production, micronutrients, urea,
Introdução
Podemos definir como pecuária qualquer atividade ligada a criação,
tratamento e reprodução de rebanhos. A pecuária bovina brasileira se comparada
mundialmente, apresenta o maior rebanho comercial e atividade voltada
principalmente para a produção de carne. Na contemporaneidade, as áreas de
pastagem ocupam cerca de 170 milhões de hectares no Brasil. Sendo assim, as
pastagens são a forma mais econômica e prática de alimentação dos bovinos, com
isso torna-se prioridade aumentar a produção de forragens via otimização do
consumo e disponibilidade de nutrientes (Zanine & Macedo JR., 2006).
Contudo, aproximadamente 80% das áreas destinadas a produção de pasto
encontra-se em algum estado de degradação, limitando o potencial produtivo de
inúmeras cultivares forrageiras distintas. Fatores como solos inférteis, baixo
investimento tecnológico, aliado a altas taxas de lotação, são delineadores dessa
degradação, que tende a aumentar com a baixa procura por profissionais e
técnicos especializados.
A pecuária nacional apresenta uma sazonalidade, sendo justificado pelo alto
desenvolvimento forrageiro na época das águas e o inverso na seca, tendo como
forte variável, a chuva. Fato que ocorre anualmente e pode ser otimizado pelo
produtor, se este adotar uma adubação estratégica, aproveitando todo o potencial
genético da forrageira escolhida e consequentemente um alimento de maior
qualidade para o rebanho. O clima tropical unido a forrageiras de alto potencial
produtivo, proporciona uma atividade pecuária de baixo custo e alta rentabilidade,
desde que bem planejada e atribuídas técnicas cabíveis.
Material e Métodos
O experimento foi realizado no setor de forragicultura na Fazenda
experimental Capim Branco da Universidade Federal de Uberlândia, localizada no
município de Uberlândia –MG no período das secas do ano de 2017. Constituído
de 4 tratamentos (tabela 1) com 4 repetições, sendo destes: uma testemunha (sem
produto); testemunha (sem produto) + 50 kg de N/ha; ORO-GRASS (2L/ha);
ORO-GRASS (2L/ha) +50 kg de N/ha, em 16 parcelas experimentais com
tamanho único de 16m2 cada.
As parcelas foram implantadas em novembro de 2013, utilizando adubadeira
manual tipo entre covas com sementes da gramínea Brachiaria hibrida Convert
HD 364. No início do mês abril do ano de 2017, as parcelas foram rebaixadas a
aproximadamente 10 cm da altura do solo, manejo característico de vedação de
pasto e então, foi aguardado aproximadamente 15 dias para se fazer a aplicação
do adubo foliar e adubação de base. A aplicação do produto foi realizada em
22/04/2017, aproveitando a queda do regime de chuvas da região.
Após o estabelecimento do experimento as parcelas foram submetidas a
corte com roçadeira manual motorizada com intuito de simular um pastejo com
152
lotação rotativa. As amostragens foram retiradas com o uso de armação metálica
de 1,0 x 0,50 m, colocadas à 15cm do solo em 4 pontos por parcela,
representativos a altura média de meta do pasto, onde toda forragem dentro da
armação foi cortada. Após o corte, as amostras foram armazenadas em saco
plástico identificados, pesadas e feitas quantificação e homogeneização da massa
de forragem. De cada amostra, foram apanhadas duas sub-amostras, sendo uma
para mensuração do teor de matéria seca e outra para separação manual dos
componentes morfológicos folha, colmo e material morto. Após a esses processos
as sub- amostra e todos os componentes morfológicos foram colocados para secar
em estufa a 65°C por 72 horas, obtendo assim o peso seco, que representa toda
porção nutricional da planta ao animal, com o peso seco dividido pelo peso verde
tem-se a matéria. As avaliações foram realizadas durante 3 ciclos de rebrotação
até vedação das parcelas, sendo avaliado com intervalo de 28 dias.
A partir da produção de forragem foi feito a estimativa de retorno econômico
com o uso das estratégias de adubação. Foram considerados os seguintes
parâmetros para cálculo econômico: Animais com 400 kg de peso vivo; Ingestão
de Matéria seca de 2,2% do peso vivo; eficiência de pastejo de 80%; ganho médio
diário de 600g por animal por dia; custo da ureia R$12000/t; Custo Orograss
R$50/há; diária animal no pasto R$0,25 (sal mineral, medicamentos, etc); Valor
de venda da arroba R$123,00.
Resultados e Discussão
Os resultados econômicos do presente experimento estão apresentados na
tabela 01. Nota-se como os dados que os custos com produtos foram maiores nas
parcelas submetidas ao tratamento com ureia + 2L de Orograss por hectare. Isso
indica que nesta situação o produtor teria um maior desembolso com tecnologia.
Entretanto, quando avaliada a produção de forragem, nota-se que neste tratamento
a produção foi maior se comparada aos demais, sendo 103% a mais que as
parcelas controle. Isso indica um aumento substancial com o uso da tecnologia.
Quando observamos a taxa de lotação (número de animais em pastejo),
percebe-se um aumento substancial com o uso das tecnologias, em virtude da
maior produção de forragem e consequentemente maior oferta de alimento para
que uma lotação maior pudesse ser suportada nestes pastos. Consequentemente,
com uma maior taxa de lotação, à medida que as tecnologias foram sendo
inseridas, a produção de @ por hectare também aumentou, seguida também da
receita bruta.
Quando observado a receita bruta menos o custo da tecnologia, verifica-se
que com o uso de ureia mais adubo foliar, possibilita melhores resultados. Sendo
assim, a diferença em reais para o controle, quando comparadas as tecnologias,
verifica-se também um grande aumento.
Finalizando, em termos percentuais fica claro que o uso, seja do adubo foliar
ou ureia exclusivo, ou então os dois associados, são percentualmente melhores do
que não se usar destas tecnologias no pasto. Quando extrapolados os valores para
uma área de 500 hectares, verifica-se que o produtor teria anta rentabilidade
quando do uso das tecnologias.
153
TABELA 01. Estimativa de receita com o uso das tecnologias em Convert HD364
submetido a aplicação de adubo foliar e ureia na vedação do pasto, em uma área de
aplicação de 500ha
Tratamentos
CONTROLE UREIA
2L
OROGRASS/
HA
UREIA+2L
OROGRASS/
HA
Custo ureia R$0,00 R$133,00 R$0,00 R$133,00
Custo Orograss R$0,00 R$0,00 R$50,00 R$50,00
Operacional Orograss R$0,00 R$0,00 R$30,00 R$30,00
Operacional ureia R$0,00 R$50,00 R$0,00 R$50,00
Produção de forragem (kg de MS/ha)* 1684,29 2645,47 2486,27 3435,17
Número de animais em pastejo 60
dias** 2,55 4,01 3,77 5,20
Produção de @ ** 3,98 6,25 5,88 8,12
Receita bruta (R$/ha)** R$489,67 R$769,11 R$722,83 R$998,70
Custo da tecnologia (R$/ha)** R$0,00 R$183,00 R$80,00 R$263,00
Gastos com animais (sal, vacinas,
etc...)** R$38,28 R$60,12 R$56,51 R$78,07
Receita bruta - custo tecnologia
(R$/ha)** R$451,39 R$525,99 R$586,32 R$657,63
Diferença para o controle (R$/ha)** R$74,60 R$134,93 R$206,24
Diferença para o controle (%)** 17% 30% 46%
Diferença em 500 hectares de
aplicação**
R$37.298,
12 R$67.465,32 R$103.117,92
*Dado coletado; **Dado calculado
Conclusão
Em vista dos dados apresentados, é possível c que o uso de tecnologias de
adubação de pastos antes da vedação, seja ureia ou foliar exclusivo, ou os dois
combinados, aumentam a produção de forragem, taxa de lotação e rentabilidade do
produtor. Vale ressaltar que o uso combinado de ureia mais adubo foliar apresenta
melhor retorno econômico ao produtor.
Literatura citada
ZANINE, A.M. MACEDO JUNIOR, G.; Importância do consumo de fibra para
nutrição de ruminantes. Revista Eletrônica de Veterinária. v.7, n.4, p.1-12, 2006ª
154
Análise de metabólitos hepáticos e energéticos em ovelhas adultas recebendo
volumoso extrusado com leveduras e óleo essencial como aditivos¹
Mylena Cristina Ribeiro Borges², Gilberto de Lima Macedo Junior³, Rosemar Alves de
Carvalho Júnior4, Tamires Soares de Assis
4, Karla Alves Oliveira
4, Carolina Moreira
Araújo4
1Trabalho financiado com recursos do CNPq. 2Graduanda em Zootecnia pela Universidade Federal de Uberlândia . e-mail: mylenaborges04@gmail.com 3Professor Associado FAMEV/UFU. e-mail: gilbertomacedojr@gmail.com 4Mestrando do programa de pós graduação FAMEV/UFU. e-mail: rosemarjunior@hotmail.com,
karla.alves.oliveira@hotmail.com, carolina.am@hotmail.com, tamires.manejo@gmail.com.
Resumo: A inclusão de diferentes aditivos no volumoso extrusado da dieta dos
pequenos ruminantes possibilita maior rendimento na produção, pois melhora o
processo de absorção de nutrientes, auxilia no ganho energético e fermentação do
animal. O experimento ocorreu na Universidade Federal de Uberlândia em Outubro de
2017, no intervalo de tempo de quinze dias, sendo dez para adaptação e cinco para
coleta. Foram manuseadas 20 ovelhas adultas da raça Santa Inês com idade acima de
quatro anos, mantida em gaiolas metabólicas individuais de piso ripado suspenso,
dispostos de comedouro e bebedouro (padrão INCT). Os tratamentos foram
caracterizados pela inclusão de diferentes aditivos no volumoso extrusado: Foragge®
Essential; Foragge®
AA; Foragge® Factor; Foragge
®, fornecidos duas vezes ao dia, às
8:00 e 16:00 horas. O delineamento foi inteiramente ao acaso. As amostras de sangue
foram coletadas em três dias alternados, no período de coleta do experimento, para a
análise dos metabólitos hepáticos e energéticos - Colesterol, Triglicerideos, VLDL -
lipoproteína de muito baixa densidade e AST - enzima asparto transiminase. O estudo
dos metabolitos hepáticos e energéticos resultou-se em médias gerais dos tratamentos
fora dos valores de referência, com exceção da média dos triglicerídeos que
apresentaram um bom resultado evidenciando o aumento do fornecimento de energia
que a dieta concedeu aos animais.
Palavras–chave: aditivos, extrusado, metabólitos, volumoso, ovelhas
Analysis of hepatic and energetic metabolites in adult sheep receiving bulk
extruded with yeasts and essential oil as additives
Abstract: The inclusion of different additives in the extruded bulk of the diet of the
small ruminants allows a higher production yield, as it improves the process of nutrient
absorption, helps the energy gain and fermentation of the animal. The experiment took
place at the Federal University of Uberlândia in October 2017, at the interval of fifteen
days, ten for adaptation and five for collection. Twenty adult female sheep of the Santa
Inês breed, aged over four years old, were kept in individual cages of suspended slatted
floor, disposed of feeder and drinking fountain (standard INCT). The treatments were
characterized by the inclusion of different additives in the extruded bulk: Foragge®
Essential; Foragge® AA; Foragge® Factor; Foragge®, supplied twice a day at 8:00
a.m. and 4:00 p.m. The design was entirely randomized. Blood samples were collected
on three consecutive days in the collection period of the experiment for the analysis of
hepatic and energetic metabolites - Cholesterol, Triglycerides, VLDL - very low density
lipoprotein and AST - aspartic transiminase enzyme. The study of hepatic and energetic
155
metabolites resulted in general means of treatments outside the reference values, except
for the average triglycerides that showed a good result evidencing the increase in the
energy supply that the diet gave the animals.
Keywords: additive, bulky, extruded, metabolites, sheep
Introdução
A produtividade na ovinocultura está ligada diretamente à boa alimentação
oferecida aos animais. Nesse sentido, vem sendo adotado a implementação de aditivos
na dieta do animal, visto que eles auxiliam no ganho energético – aditivos com inclusão
de óleos, melhora na fermentação, que consequentemente aumenta o processo de
absorção dos nutrientes e com isso proporciona uma melhora significativa na formação
de proteína microbiana no rúmen animal.
A avaliação dos metabolitos hepáticos e energéticos (Colesterol, Triglicerídeos,
VLDL e AST) proporciona análise para corrigir os desbalanços nutricionais do animal.
Entende-se que estudos buscam elucidar melhor a inter-relação entre o que é consumido
e qual resposta ou sinal metabólico venham a ocorrer, devam ser realizados com a
intenção primeira de adequações de manejo alimentar e nutricional e, por fim, da
possibilidade de se evitar a ocorrência de problemas de ordem produtiva e sanitária dos
rebanhos, como deve ser desejado (JUNIOR, 2010). O trabalho teve como objetivo
verificar os efeitos sobre o metabolismo energético e hepático de ovinos com a inclusão
de diferentes aditivos no volumoso extrusado.
Material e Métodos
O experimento foi efetuado na Universidade Federal de Uberlândia, na fazenda
experimental Capim Branco no setor de caprinos e ovinos, ocorreu em Outubro de
2017, no intervalo de tempo de quinze dias, sendo dez para adaptação e cinco para
coleta. Foram utilizadas 20 ovelhas adultas, com média de peso inicial de 64,40kg, de
idade acima de quatro anos, da raça Santa Inês. Os animais foram mantidos em gaiolas
metabólicas individuais de piso ripado suspenso, dispostos de comedouro e bebedouro
(padrão INCT).
A alimentação baseava-se nos produtos fornecidos pela empresa Nutratta® (tabela 1).
Os tratamentos foram caracterizados pela inclusão de diferentes aditivos no volumoso
extrusado: Foragge®
Essential – associado com óleo essencial, Foragge® AA –com
resíduo de levedura, Foragge® Factor –com levedura purificada, Foragge
® - sem
inclusão de aditivos, fornecidos duas vezes ao dia, às 8:00 e 16:00 horas. O volumoso
extrusado utilizado para a produção do Foragge® foi a Uruchloa.
Tabela 1. Composição bromatológica dos tipos de Foragge®
. Dados fornecidos pela
fabricante Nutratta.
Nutriente (%) Foragge®
Essential
Foragge®
Foragge®
AA
Foragge®
Factor
Matéria Seca 90,0 90,0 90,0 90,0
Proteína bruta 7,2 7,1 7,2 7,2
Fibra em detergente
Neutro
42,2 42,3 42,3 42,3
Fibra em detergente 26,3 26,3 26,3 26,3
156
Foragge® Essential – associado com óleo essencial, Foragge
® AA – com resíduo de
levedura, Foragge® Factor –com levedura purificada, Foragge
® - sem inclusão de
aditivos
As amostras de sangue foram coletadas em três dias alternados durante o período
de coleta antes da primeira refeição do dia, foram realizadas por venupução jugular com
o auxilio de tubos Vacutainer sem anti-coagulante. Essas amostras foram centrifugadas
a 3000 rpm por 10 minutos, sendo os soros separados em alíquotas, guardado em
microtubo e armazenados em freezer a -5ºC para uma analise laboratorial. Os
metabólitos proteicos determinados foram: Colesterol, Triglicerídeos, VLDL -
lipoproteína de muito baixa densidade - obtida pela divisão dos valores de triglicerídeos
por cinco e AST - enzima asparto transiminase. Não houve adição de mais nenhum
alimento, exceto sal mineral para ovinos.
O delineamento foi inteiramente ao acaso. Obteve-se cinco repetições por
tratamento. Todos os dados apresentam normalidade e homogeneidade. Para avaliação
dos resultados utilizou-se teste T (P<0,05).
Resultados e Discussão
Observa-se que o índice da média geral de colesterol (Tabela 2) está 6,6%
abaixo dos valores de referência e não apresentou diferença entre os tratamentos.
Tabela 2. Concentração dos metabólitos hepáticos e energéticos em função dos
tratamentos com volumosos extrusados com diferentes aditivos.
VLDL – obtida pela divisão dos valores de triglicerídeos por cinco. Médias seguidas de
letras distintas nas colunas diferem pelo teste de T a 5%. Foragge® ES –associado com
óleo essencial; Foragge® AA –com resíduo de levedrua; Foragge® Factor –com
levedura purificada®; Foragge® - sem inclusão de aditivos; MG – média geral; CV (%)
– coeficiente de variação; VR: valor de referência (KANEKO, HARVEY e BRUSS,
1997).
O colesterol é imprescindível na formação de hormônios sexuais, na produção
das membranas das células, de sucos digestivos e vitamina D, além de desempenhar
Ácido
Extrato Etéreo 1,9 2,0 1,9 2,0
Matéria Mineral 3,7 3,7 3,7 3,7
NDT 55,7 55,8 55,8 55,7
Amido 25,5 25,6 25,4 25,5
Tratamentos Colesterol
(mg/dL)
Triglicerídeos
(mg/dL)
VLDL
(mg/dL)
AST (U/L)
Foragge®
42,86 14,40 2,88 111,40
Foragge® Essential 48,19 17,26 3,45 145,73
Foragge® AA 50,20 13,46 2,69 111,86
Foragge® Factor 53,00 14,26 2,85 130,73
MG 48,56 14,85 2,96 124,93
CV (%) 18,38 23,65 23,65 39,90
Valor de P
VR
0,3597
52-76
0,3698
9,0-30,0
0,3698
3-4
0,7884
0-90
157
papel importante nos tecidos nervosos e originar sais biliares (LEONARDO, 2014). O
menor tamanho da partícula do volumoso extrusado, baixas quantidades de lipídeos
podem explicar os valores de colesterol abaixo da recomendação de literatura.
Nos resultados da tabela 2 os triglicerídeos não apresentaram diferenças entres os
tratamentos e a média geral obtida está dentro dos valores de referência. Esse indicador
bioquímico evidencia boa qualidade dos tratos fornecidos, pois indica o aumento do
fornecimento de energia que a dieta proveu. Os triglicerídeos servem, principalmente,
como fonte de energia metabólica celular, acumulando-se no tecido adiposo, seu
principal local de metabolismo endógeno nos ruminantes, de onde são mobilizados em
resposta às demandas de energia do corpo (ESPINOZA et al., 2008).
Não houve diferenças estatísticas de VLDL - lipoproteína de muito baixa
densidade (Tabela 2), semelhante aos triglicerídeos, entre os tratamentos. Ao comparar
os índices da média geral desse indicador bioquímico entende-se que seu nível está
abaixo de 1,33% do necessário. O VLDL possui como função transportar e secretar o
triglicerídeo endógeno (GODOY et.al., 2008). Mas como esse valor foi pequeno não
resultou em mudanças ao animal.
A média geral de AST - enzima asparto transiminase - está 38,8% acima do
valor de referência (Tabela 2). Essa enzima quando analisada acima das concentrações
consideradas normais, indica que o animal pode desenvolver lesão hepatocelular
secundária, devido à excessiva mobilização lipídica (SANTOS et.al., 2015).
Mesmo os dados das médias gerais apresentados (Tabela 2) indicarem resultados
fora do valor de referência não foram observados nenhum distúrbio metabólico nos
animais avaliados.
Conclusões
A inclusão de aditivos no Foragge® não promoveu alterações nas médias dos
metabólitos energéticos e hepáticos. Contudo não houve relato de distúrbio metabólico
durante o experimento.
Literatura citada
ESPINOZA, J. L. et al. Efecto de lasuplementación de grasas sobre lasconcentraciones
séricas de progesterona, insulina, somatotropina y algunos metabolitos de los lípidos e
novejas Pelibuey. Archivos de medicina veterinaria, v. 40, n. 2, p. 135-140, 2008.
GODOY, H.B.R. et.al. O uso da silagem de subprodutos da filetagem de peixe na
alimentação de suínos em crescimento – parâmetros séricos. Revista animal Science.
São Paulo, v. 45, n. 6, p. 430, 2008.
JÚNIOR, C.O.P., Perfil Metabólico Energético em dois Grupos Genéticos de Vacas
Holandês x Gir de Segunda Ordem de Parição em Dois Períodos da Lactação na Época
da Seca nos Trópicos. 2010. 15 f. Dissertação (Mestre em Ciências Veterinárias) -
Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre, 2010.
KANEKO, J.J.; HARVEY, J.W.; BRUSS, M.L. (Eds.) Clinical biochemistry of
domestic animals. 5 th ed. New York: Academic Press, 1997. P. 877-901
158
LEONARDO, A. P. Composição dos ácidos graxos e teor de colesterol da carne de
ovinos pantaneiros. 2014. 28 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Faculdade de
Ciências Agrárias, Univerdidade Federal da Grande Dourados, Dourados, 2014.
SANTOS, R.P. et.al. Parâmetros sanguíneos de cordeiros em crescimento filhos de
ovelhas suplementadas com níveis crescentes de propilenoglicol. Revista Brasileira de
Ciências Agrárias. Recife, v.10, n.3, p.476, 2015.
159
Avaliação de metodologias para estimativa de massa de forragem disponível em
capim-braquiária¹
Nathalia Tami Nishida2, Jorge Luis Malafatti
3, Lucas da Rocha Carvalho
4, Valdo
Rodrigues Herling5, Lilian Elgalise Techio Pereira
5
1Parte do trabalho de conclusão de curso da primeira autora 2Graduação em Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA/USP). e-mail:
nathalia.nishida@usp.br 3Mestrando do Programa de Pós-graduação em Zootecnia, FZEA/USP. e-mail: jorge.malafatti@usp.br 4Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciências, na área de Ciência Animal e Pastagens, USP. e-mail:
lucasrochacarvalho@usp.br 5Departamento de Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA/USP). e-mail:
vrherlin@usp.br; ltechio@usp.br
Resumo: Um dos principais desafios de sistemas baseados em pastagens é a elaboração
de planejamentos estratégicos capazes de incorporar a produção sazonal de forragem ao
longo do ano para definição das taxas de lotação a serem empregadas. As estimativas de
forragem apresentam-se como fundamentais para nortear o planejamento forrageiro
porém, os mesmos apresentam variação conforme a metodologia empregada. O objetivo
do trabalho foi analisar as possíveis diferenças encontradas nas metodologias de
estimativa de massa de forragem disponível e os seus impactos na taxa de lotação. O
experimento foi realizado na FZEA-USP, de dezembro de 2017 a março de 2018.
Realizaram-se 5 cortes em um intervalo médio de 21 dias no final de primavera e 28
dias no verão, e as avaliações de MFD foram realizadas sempre na condição pré-corte
(C1 em 01/12/17; C2 em 22/12/17, C3 em 13/01/18, C4 em 10/02/18 e C5 em
10/03/18). Foram monitoradas 6 parcelas (40 m²), sendo que três delas receberam 30
kg/ha/corte de N e as demais não receberam adubação. A MFD foi estimada pelas
seguintes metodologias: Salman, que considera toda a forragem acima do nível do solo
sem nenhum ajuste, DiasFilho, toda a forragem é colhida acima do nível do solo com
ajustes para eficiência de pastejo (50%) e perdas (30%); ‘Acima’, onde a MFD é
determinada acima da altura de resíduo (10 cm) mas sem correção para perdas,
‘AcimaP20’ e ‘AcimaP30’ similar ao anterior, mas com ajustes para perdas estimadas
em 20% e 30%, respectivamente. A metodologia proposta por Salman apresentou
valores superestimados em todos os ciclos. De forma geral, quanto maior a quantidade
de forragem que cresce acima da altura de resíduo (seja pela adoção de adubação ou
ajuste de manejo), mais próximas as estimativas de MFD e, por sua vez, das taxas de
lotação, obtidas por DiasFilho, AcimaP20 e AcimaP30.
Palavras–chave: adubação nitrogenada, método destrutivo, taxas de lotação,
Brachiaria decumbens
Instructions for elaborating abstract of IV Brazilian Symposium of Ruminant
Production
Abstract: One of the main challenges of pasture-based systems is the elaboration of
strategic plans capable of incorporating the seasonal forage production throughout the
year in order to define the stocking rates to be used. The estimatives of available forage
mass (AFM) are essential to guide the fodder planning, but significant differences in the
estimated values can be obtained according the method used for calculation. The aim of
this work was to analyze the possible differences in the AFM estimated from different
160
methodologies as well as their impacts on stocking rates. The experiment was carried
out at FZEA-USP, from December 2017 to March 2018. Five cuts were performed at
21-day-intervals during late spring and 28 days-interval during summer, and AFM
evaluations were always performed at pre-harvest (C1 in 01/12/17; C2 in 22/12/17, C3
in 13/01/18, C4 in 10/02/18 and C5 in 10/03/18). Six plots (40 m²) were monitored,
three of which received 30 kg/ha/cut of N and the others did not receive fertilization.
For all plots, AFM was estimated by the following methodologies: Salman, which
considers all the material above ground level without any adjustment, DiasFilho,
material is harvested above ground level but AFM is adjusted for grazing efficiency
(50%) and losses (30%); and estimates of herbage mass above the stubble
recommended for the species (10 cm), with no correction for losses ('Above'), or with
losses estimated in 20% ('AboveP20') and 30% ('AboveP30'). Salman's methodology
resulted in overestimated values in all cycles. In a general way, as high is the amount of
forage growing above the stubble (as a result of fertilization or adjustments in grazing
management) as similar will be the estimated values of AFM, and thus the stocking
rates, from DiasFilho, AboveP20 and AboveP30.
Keywords: Brachiaria decumbens, destructive method, nitrogen fertilization, stocking
rates
Introdução
A eficácia dos sistemas baseados em pastagens está intimamente ligada a adoção
de estratégias de manejo que assegurem quantidade e qualidade da forragem a ser
consumida pelo animal. Todavia, um dos principais desafios desses sistemas é a
elaboração de planejamentos estratégicos capazes de incorporar a produção sazonal de
forragem ao longo do ano para definição das taxas de lotação a serem empregadas.
Segundo Cóser et al. (2002), há uma estreita ligação entre a frequência de estimativa da
disponibilidade de forragem e um adequado manejo da pastagem, tendo em vista que,
com o aumento da frequência de avaliações, é possível mitigar a ocorrência de sub ou
superpastejo. Os métodos diretos de estimativa da massa de forragem são baseados na
extração de parte ou de toda a forragem existente desde o nível do solo, sendo que a
adoção de um ou outro método possui impacto direto sobre as taxas de lotação
preconizadas. Os cortes são realizados com o auxílio de um quadrado de área conhecida
e, consecutivamente, realiza-se a extração de toda forragem contida em seu interior ao
nível do solo (Salman, 2006) ou acima da altura de resíduo recomendada para a espécie
forrageira utilizada. Todavia, Salman et al. (2006) relatam que essa ligeira diferença
entre as duas formas de determinação da massa de forragem disponível no método
direto pode causar uma diferença significativa na estimativa, uma vez que a parte
inferior do dossel, que não é consumida pelos animais, é considerada no cálculo, no
caso de cortes realizados rentes ao solo. Além disso, os possíveis impactos da adoção
destes distintos métodos de estimativa de massa sobre as taxas de lotação a serem
empregadas são pouco explorados na literatura. Dessa forma, o presente trabalho teve
por objetivo analisar as possíveis diferenças encontradas nas metodologias de estimativa
de massa de forragem disponível e os seus impactos na taxa de lotação em pastos de
Brachiaria decumbens cv. Basilisk na época das águas.
Material e Métodos
161
O experimento foi realizado na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de
Alimentos (FZEA-USP), Campus Fernando Costa, Pirassununga-SP (21º 36’ N; 47º 15’
W, 620 m de altitude), no período de dezembro de 2017 a março de 2018. A área
experimental, constituída de capim braquiária (Brachiaria decumbens cv. Basilisk), foi
dividida em 6 parcelas de 40 m², sendo que três delas receberam (com adubação) 30
kg/ha/corte de N (nitrato de amônio 32%) e as demais não receberam adubação
nitrogenada (sem adubação). A adubação de correção consistiu na aplicação de 45 kg/ha
de P2O5 (superfosfato triplo 46%) e 40 kg/ha de K2O (cloreto de potássio), aplicadas de
forma parcelada em 20/10 e 01/12/17. Roçada de uniformização a 10 cm foi realizada
em novembro de 2017, sendo os ciclos (C) subsequentes monitorados. Realizaram-se 5
cortes em um intervalo médio de 21 dias na época de final de primavera e 28 dias no
verão (Pereira et al., 2018), e as avaliações de massa de forragem (MF) foram realizadas
em cada ciclo, sempre na condição pré-corte, nas seguintes datas: C1 em 01/12/17; C2
em 22/12/17, C3 em 13/01/18, C4 em 10/02/18 e C5 em 10/03/18. Os tratamentos
consistiram em duas metodologias que se baseiam no corte da forragem ao nível do
solo, sendo estas de Salman (2006), que considera toda a forragem acima do nível do
solo sem nenhum ajuste, e Dias-Filho (2012), que sugere ajustes para eficiência de
pastejo (valor recomendado de 50%) e perdas (em torno de 30%); e outras três
metodologias que consideram a estimativa de massa acima da altura de resíduo
recomendada para a espécie (10 cm), mas sem correção para perdas (‘Acima’), ou com
ajustes para perdas estimadas em 20% (‘AcimaP20’) e perdas de 30% (‘AcimaP30’). Os
tratamentos principais (dose de N e metodologias) foram alocados em um arranjo
fatorial 2 x 5, e distribuídos em um delineamento em blocos completos casualizados,
com 3 repetições, sendo os ciclos avaliados separadamente. A análise dos dados foi feita
com o PROC MIXED, do SAS®, as médias foram estimadas pelo LSMEANS, e a
comparação entre elas realizada com o comando ‘PDIFF’. Diferenças foram declaradas
significativas quando P<0,05.
Resultados e Discussão
Houve efeito da dose de nitrogênio e metodologia adotada em todos os ciclos de
avaliação (Tabela 1). A metodologia proposta por Salman apresentou-se sempre com
maiores estimativas que as demais, reforçando que ao computar a quantidade de
forragem ao nível do solo sem nenhum ajuste, resulta em super-estimativa da massa de
forragem disponível (MFD), dado que o animal não ingere o estrato abaixo da altura de
resíduo (Salman et al., 2006). A adubação resultou em valores médios de MFD cerca de
45% maiores em C1 e C2, e 91% maiores em C3, C4 e C5. Nos pastos que não
receberam adubação, os valores de MFD acima da altura de resíduo corresponderam a,
em média, 34% da massa de forragem total, enquanto nos dosséis adubados, esse valor
correspondeu a 45%. Isso indica que, em pastos não adubados, as taxas de lotação
calculadas seriam superestimadas também em Dias Filho, já que nesta foi considerado
que 50% da massa de forragem total estaria disponível para consumo. Houve interação
entre dose de nitrogênio e metodologia em C2 e C3. Em C2, não foram registradas
diferenças entre os métodos DiasFilho, Acima, AcimaP20 e AcimaP30 para pastos sem
adubação, enquanto menores valores foram estimados em AcimaP30 em pastos
adubados. Em C3, para ambos, pastos sem adubação ou com adubação, e em C4,
menores valores foram estimados por AcimaP20 e AcimaP30 comparativamente aos
162
demais métodos. Em C5, novamente, não houveram diferenças entre os métodos
DiasFilho, Acima, AcimaP20 e AcimaP30.
As taxas de lotação médias estimadas (UA/ha considerando 2,5% de consumo)
pelo método DiasFilho em pastos adubados e não adubados foram, respectivamente, 3,6
e 5,4, enquanto em AcimaP20 os valores foram de 2,6 e 5,5 e AcimaP30 de 2,3 e 4,8,
respectivamente. O que se observa, de forma geral, é que quanto maior a quantidade de
forragem que cresce acima da altura de resíduo (seja pela adoção de adubação ou ajuste
de manejo), mais próximas as estimativas de MFD e, por sua vez, das taxas de lotação,
entre os métodos DiasFilho, AcimaP20 e AcimaP30. Entretanto, essa espécie forrageira
possui ampla plasticidade de adaptação, sendo capaz de modificar seu padrão de
crescimento e alocar parte de suas estruturas abaixo da altura de resíduo (Pereira et al.,
2018). Como consequência, a forragem efetivamente disponível acima do resíduo varia
entre 30 e 40% nessa espécie, particularmente sob menores doses de adubação, fato que
torna os métodos AcimaP20 e AcimaP30 mais adequados para estimativa da MFD
nessa situação.
Tabela 1 – Massa de forragem disponível (kg/ha de MS) em função de distintas
metodologias de estimativa, ao longo de cinco ciclos de avaliação durante a época das
águas, em pastos de Brachiaria decumbens cv. Basilisk. Ciclos de
avaliação C1 C2 C3 C4 C5
Metodologias de
estimativa
Média Sem
adubação
Com
adubação
Sem
adubação
Com
adubação
Média Média
Salman 3797 A 3148 Ab 5431 Aa 3032 Ab 4619 Aa 3539 A 5188 A
DiasFilho 1329 B 1102 Bb 1901 Ba 1061 Bb 1617 Ca 1239 B 1816 B
Acima 1550 B 962 Bb 2094 Ba 1010 BCb 2031 Ba 943 B 2341 B
AcimaP20 1240 B 769 Bb 1675 Ba 808 Cb 1625 Ca 755 BC 1873 B
AcimaP30 1085 BC 673 Bb 1466 Ca 707 Cb 1422 Ca 660 C 1639 B
E.P.M.4 ± 121,4 ± 175,6 ± 175,6 ± 112 ± 112 ± 218,4 ± 298
P-valor
Dose de N <0,0001 0,0382 <0,0001 <0,0001 0,0026
Metodologia <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001
Dose x
Metodologia
0,3317 0,0021 0,0022 0,1301 0,8566
¹C1, C2, C3, C4 e C5 correspondem, respectivamente, às avaliações de massa de forragem disponível
realizadas nas datas 01/12/17, 22/12/17, 13/01/18, 10/02/18 e 10/03/18; ²Pastos com adubação receberam
o equivalente a 45 kg/ha de N após cada corte. 3Letras iguais, maiúsculas nas colunas e minúsculas nas
linhas, não diferem entre si pelo teste t-student (P>0,05); 4EPM, erro padrão médio.
Conclusões
A metodologia proposta por Salman resulta em superestimativas da massa de
forragem disponível. O método DiasFilho, considerando uma eficiência de pastejo de
50%, bem como o método ‘Acima’ sem correção de perdas, não são capazes de
expressar corretamente a massa de forragem disponível em pastos de Brachiaria
decumbens cv. Basilisk submetidos a baixas doses de adubação, sendo os métodos
AcimaP20 e AcimaP30 mais adequados para estimativa da MFD nessa situação.
Literatura citada
163
CÓSER, A.C.; MARTINS, C.E.; DERESZ, F. Metodologias para estimativa de
produção de forragem em pastagens de capim-elefante. Juiz de Fora: Embrapa,
2002.
DIAS-FILHO, M. B. Formação e Manejo de Pastagens. Belém: Embrapa, 2012. 6 p
PEREIRA, L.E.T. et al. Morphogenetic and structural characteristics of signal grass in
response to liming and defoliation severity. Pesquisa Agropecuária Tropical, v. 48, p.
1-11, 2018.
SALMAN, A. K. D. Método do quadrado para estimar a capacidade de suporte de
pastagens. Embrapa Rondônia, 2006.
SALMAN A. K. D.; SOARES J. P. G.; CANESIN R. C. Métodos de amostragem
para avaliação quantitativa de pastagens. Porto Velho, RO: Embrapa 2006.
164
Avaliação do metabolismo energético de ovelhas gestantes alimentadas com
diferentes fontes lipídicas¹
Luciana Melo Sousa2, Thauane Ariel Valadares de Jesus, Maria Júlia Pereira de
Araújo², Adriana Lima Silva², Marco Túlio Santos Siqueira², Gilberto de Lima Macedo
Júnior3
1Parte do trabalho de conclusão de curso da primeira autora. 2Estudantes de Zootecnia. FAMEV, UFU. E-mail: lumelosousa@gmail.com 3Professor do curso de Zootecnia, FAMEV/UFU. Uberlândia, MG.
Resumo: As principais fontes de lipídeos para a alimentação de ruminantes são os
óleos, as gorduras protegidas e as sementes de oleaginosas. Todos esses alimentos
precisam ser mais estudados na alimentação de ovelhas gestantes, a fim de maximizar o
consumo de energia e evitar distúrbios metabólicos. Objetivou-se avaliar o efeito da
inclusão de diferentes fontes lipídicas sobre o metabolismo energético de ovelhas
gestantes. Foram utilizadas 24 ovelhas, com 60 dias de gestação no início do
experimento, idade média de 12 meses e peso corporal médio de 50kg. O experimento
foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, durante 90 dias. Foram utilizados
três concentrados com diferentes fontes de gordura: controle, nutrigordura (gordura
protegida de palma) e caroço de algodão. A avaliação dos metabólitos energéticos foi
feita quinzenalmente sempre pela manhã, antes da primeira refeição do dia. O
delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com repetição no tempo. Os
metabólitos energéticos analisados foram: colesterol total e frações (HDL e LDL),
triglicerídeos e VLDL. Os metabólitos estudados apresentaram dentro dos valores de
referência ao longo do período e em função do tratamento. Destaca-se o aumento do
colesterol total e suas frações no tratamento com gordura protegida. Conclui-se que a
inclusão de diferentes tipos de gordura altera o metabolismo energético de ovelhas
gestantes.
Palavras–chave: gordura, metabólitos, nutrição, ruminantes
Evaluation of energetic metabolism of pregnant sheep fed different fat sources
Abstract: The main sources of fat for ruminants diets are oils, protected fats and
oilseeds. All these food need to be further studied on pregnant sheep feeding in order to
maximize energy consumption and avoid metabolic disorders. The objective was to
evaluate the inclusion of different fat sources on the energetic metabolism of pregnant
sheep. Twenty four sheep were used - 60 days of pregnancy at the beginning of the
experiment, with an average age of 12 months and average weight of 50 kg. The
experiment was conducted at the Federal University of Uberlândia, during 90 days.
Three concentrates with different sources of fat were used: control, nutrigordura
(rumen-protected palm fat) and cottonseed. The evaluation of energetic metabolites was
made biweekly on the morning, always before the first meal of the day. The
experimental design was completely randomized. The energetic metabolites analyzed
were: total cholesterol and parts (HDL and LDL), triglycerides and VLDL. The
metabolites studied presented regular values compared to the references throughout the
period and due to the treatment. It is important to highlight the total cholesterol
increasement and its fractions in the treatment with protected fat. It was concluded that
165
the inclusion of different fat sources increases the energetic metabolism of pregnant
sheep.
Keywords: fat, metabolites, nutrition, ruminants
Introdução
As gorduras protegidas são ácidos graxos que são combinados com cátions
bivalentes como o cálcio, formando sais insolúveis no pH ruminal, que confere proteção
a esses ácidos graxos permitindo passarem pelo rúmen “inertes”. Estes ácidos graxos de
cadeia longa fornecidos através da suplementação lipídica são absorvidos e utilizados
com alta eficiência para a lactação, pois podem ser diretamente transferidos para a
gordura do leite poupando energia para outras funções produtivas da glândula mamária
(Palmquist, 1980).
Sabe-se que o peri-parto é um período crítico, e que nele há maior possibilidade
de ocorrerem perdas econômicas. Estas perdas, normalmente decorrentes de manejo
inadequado, podem desencadear problemas metabólicos, nutricionais e reprodutivos
(Caldeira et al., 2007). A avaliação dos parâmetros metabólicos em função de diferentes
alimentos e ou rações permite visualizar o efeito desses no metabolismo dos animais,
auxiliando assim o entendimento das respostas produtivas.
O objetivo do presente estudo é avaliar o efeito da inclusão de diferentes fontes
lipídicas sobre o metabolismo energético de ovelhas gestantes.
Material e Métodos
O experimento foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, Fazenda
Experimental Capim Branco, setor de ovinos e caprinos, durante os meses de agosto a
novembro de 2015. Foram utilizadas 24 ovelhas gestantes, com idade média de 12
meses e peso corporal médio de 50 kg. Os animais foram mantidos em três baias
coletivas (oito animais em cada baia) de piso ripado com saleiro, cocho externo e
bebedouro de tambor de plástico, que era limpo e reposto todos os dias. Passaram por
procedimento padrão de pesagem, identificação, vermifugação e posteriormente foram
sorteados nos tratamentos. Esses animais receberam três rações com diferentes fontes de
gordura: controle (isento de gordura suplementar), nutrigordura (gordura protegida de
palma) e caroço de algodão inteiro (Tabela 1). E silagem de milho (volumoso).
Tabela 1. Ingredientes e suas proporções nos concentrados experimentais (%).
Ingredientes Controle Nutrigordura® Caroço de Algodão
Farelo de milho 75,40 65,32 68,60
Farelo de soja 25,60 24,68 19,40
Sal mineral 1,0 4,0 2,0
Ureia 1,0 1,0 1,0
Gordura protegida XXX 5,0 XXX
Caroço de algodão inteiro XXX XXX 9,0
O experimento teve duração de 90 dias. As ovelhas estavam com
aproximadamente 60 dias de gestação no início do experimento. Antes desse período as
ovelhas estavam em pasto de capim Urochloa brizantha, cultivar Marandu recebendo
166
suplemento proteico e energético na forma de proteinado. As mesmas foram
protocoladas e foi realizado ultrassonografia para a confirmação da prenhez.
As rações foram balanceadas segundo o NRC (2007) para ovelhas em gestação.
As mesmas foram compostas por silagem de milho e os concentrados descritos na tabela
1. A relação volumoso:concentrado foi de 60:40, respectivamente. A oferta de ração foi
à vontade (cerca de 3,5% do peso corporal), de forma que sobrasse 10% da ração total
fornecida. O fornecimento da ração ocorreu duas vezes ao dia (8 e 16 horas).
As coletas de sangue foram realizadas quinzenalmente durante a gestação (60,
75, 90, 105, 120, 135 e 150 dias, no momento do parto), estas ocorreram no período da
manhã antes da primeira alimentação, por venopunção jugular com auxílio de
vacuntainner e tubos sem anticoagulante. Logo após as amostras de cada animal foram
centrifugadas e pipetadas em eppendorfs para posterior análise laboratorial usando kit
comercial da Lab Test®. Os metabólitos energéticos que foram determinados são:
colesterol total (mg/dL) e frações – HDL e LDL, triglicerídeos (mg/dL), VLDL e as
relações Colesterol/HDL e LDL/HDL.
O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com
medidas repetidas no tempo. Cada tratamento teve oito repetições (animais). As médias
foram comparadas pelo teste SNK a 5% de probabilidade.
Resultados e Discussão
Na tabela 2 podem ser observadas as médias dos metabólitos energéticos.
Observa-se diferença estatística para HDL entre tratamentos e para o colesterol e LDL
houve interação entre período e tratamento. Para o período gestacional, apenas as
relações CT/HDL e LDL/HDL não apresentaram diferença significativa.
A média geral do colesterol apresentou-se dentro da faixa de valores normais
(52-76 mg/dL) preconizado por Kaneko et al., (2008). Os níveis de colesterol total são
indicadores adequados do total de lipídeos no plasma, pois correspondem a,
aproximadamente, 30% do total e tem relação direta com alimentação do animal (Villa
et al., 2009). Nota-se maior valor no tratamento nutrigordura (135 dias de gestação),
uma vez que contém gordura protegida rica em ácido linoleico. O ácido linoleico (n-6),
segundo Gulliver et al. (2012), está associado à elevação nos níveis de colesterol total. É
verificado menor valor de colesterol e LDL no tratamento com caroço de algodão, o que
pode estar relacionado com o perfil de ácidos graxos dessa fonte lipídica.
Tratamento Triglicerídeos
(mg/dL) HDL (mg/dL) VLDL (mg/dL) CT/HDL LDL/HDL
Controle 22,78 12,19 B 4,55 5,02 3,60
Nutrigordura 25,82 15,00 A 5,08 4,66 3,28
Algodão 23,57 14,23 AB 4,71 4,40 3,01
Período (dias
de gestação)
Triglicerideos1
(mg/dL) HDL2 (mg/dL)
VLDL3
(mg/dL) CT/HDL LDL/HDL
60 30,55 10,00 6,06 4,14 2,55
75 17,70 14,37 3,54 3,12 1,98
90 21,29 14,91 4,25 4,56 3,26
105 31,82 13,78 6,36 5,06 3,55
120 26,40 16,20 5,28 5,07 3,43
135 23,71 18,57 4,74 5,05 3,50
Parto 16,81 11,75 3,36 6,98 5,62
MG 23,90 13,77 4,77 4,70 3,30
CV 20,56 32,56 20,45 31,58 39,32
167
Interação Tratamento x Período – Colesterol (mg/dL)
Período/Trat. Controle4 Nutrigordura5 Algodão6
60 31,83 37,66 37,33
65 44,25 43,00 42,75
90 58,37 71,42 57,44
105 58,62 70,42 60,62
120 68,75 81,33 71,66
135 73,50 AB 104,50 A 64,66 B
Parto 58,66 68,60 76,40
MG = 57,22 CV = 20,71
Interação Tratamento x Período – LDL (mg/dL)
Período/Trat. Controle7 Nutrigordura8 Algodão9
60 18,53 21,76 20,70
65 29,90 27,92 24,70
90 40,93 52,40 38,00
105 42,30 44,82 43,57
120 48,45 67,66 48,80
135 69,20 AB 98,40 A 60,60 B
Parto 45,45 52,48 59,32
MG = 40,61 CV = 25,97
Valores de referência (Kaneko et al., 2008)
Triglicerídeos
(mg/dL) 9-30
HDL (mg/dL) VLDL (mg/dL) Colesterol (mg/dL)
52-76
LDL (mg/dL)
1 y=12,103934 + 0,315254x – 0,001775x² R²=16,37%; 2 y=-10,787751 + 0,476988x – 0,002102x² R²=56,35%; 3
y=2,262057 + 0,065837x – 0,000367x² R²=16,48%; 4 y=-70,580357 + 2,215377x – 0,008856x² R²=93,00%; 5 y=-
100,075170 + 2,855911x – 0,011041x² R²=76,07%; 6 y=14,884127 + 0,417275x R²=88,95%; 7 y=-62,487202 +
1,701769x – 0,006214x² R²=77,80%; 8 y=-100,030119 + 2,461114x – 0,008904x² R²=64,41%; 9 y=-7,372857 +
0,472524x R²=96,13%; HDL: lipoproteína de alta densidade; VLDL: lipoproteína de densidade muito baixa, CT:
Colesterol, LDL: lipoproteína de baixa densidade, MG: média geral, CV: coeficiente de variação
Ghoreishi et al. (2007) sugeriram que dieta suplementada com gordura aumenta
o nível plasmático e folicular do colesterol ligado às HDL-colesterol, o que foi
verificado neste experimento, em que o valor de colesterol total e suas frações foi maior
no tratamento suplementado com gordura protegida. Segundo Freitas Júnior et al.
(2010), o aumento na concentração de colesterol total no sangue ocorre em razão da
elevação da demanda necessária para digestão, absorção e transporte de ácidos graxos
de cadeia longa ingeridos, presentes nas fontes de gordura, o que poderiam, também,
explicar as elevações verificadas nos níveis de colesterol do tratamento nutrigordura. O
aumento da HDL traz benefícios ao animal, pois essa lipoproteína faz o transporte do
colesterol para o fígado, onde pode ser metabolizado e gerar energia ao animal.
Foram observadas equações quadráticas para os metabólitos estudados em
função do período, com exceção, da variável colesterol no tratamento com caroço de
algodão. As equações quadráticas nos mostram que os animais diminuíram o nível
desses metabólitos próximo ao parto, o que pode estar relacionado com a capacidade de
consumo no final da gestação, que diminui à medida que o parto se aproxima.
Os triglicerídeos são moléculas que consistem em três cadeias longas de ácidos
gordos esterificados para uma molécula de glicerol e têm por função basicamente
estocar energia (Lehninger, 2005). No presente estudo, a média geral dos triglicerídeos
apresentou-se dentro da faixa preconizada (9-30 mg/dL) (Kaneko et al., 2008). A
regulação da síntese dos triglicerídeos não é completamente entendida, de modo que
ocorre de diferentes maneiras entre os tecidos. Contudo, sabe-se que esse processo de
síntese ocorre em uma célula adiposa, o triglicerídeo permanecerá nessa célula, sendo
estocado sob a forma de gotícula lipídica. Se a síntese ocorrer no fígado, normalmente
168
será exportado para o tecido adiposo sob a forma de VLDL. A lipoproteína VLDL
encontrou-se dentro dos valores de referência.
Os metabólitos estudados apresentaram dentro dos valores de referência ao
longo do período e em função do tratamento. Destaca-se o aumento do colesterol total e
HDL no tratamento com gordura protegida, justificado pelo maior consumo de ácidos
graxos na ração, que proporcionou elevação das respectivas frações relativas ao
metabolismo de lipídeos, transportadas no sangue (Freitas Júnior et al., 2010) e pela
utilização de uma silagem provavelmente de boa qualidade nutricional.
Conclusões
O avanço do período gestacional provocou alterações em todos os metabólitos
estudados, dando ênfase ao aumento da concentração de colesterol total e suas frações
no tratamento com gordura protegida. Contudo, os resultados estão dentro do normal da
espécie. A suplementação de ovelhas gestantes com lipídeos é interessante do ponto de
vista metabólico.
Literatura citada
Caldeira R.M., Belo A.T., Santos C.C., Vazques M.I. & Portugal A.V. 2007. The effect
of body condition score on blood metabolites and hormonal profiles in ewes. Small
Rum. Res. 68:233-241.
Freitas Júnior, J.E.; Rennó, F.P.; Prada e Silva, L.F.; Gandra, J.R.; Maturana Filho, M.;
Foditsch, C.; Venturelli, B.C. Parâmetros sanguíneos de vacas leiteiras suplementadas
com diferentes fontes de gordura. Ciência Rural, v.40, n.4, p.950- 956, 2010.
Gulliver, C.E.; Friend, M.A.; King, B.J.; Clayton, E.H. The role of omega-3
polyunsaturated fatty acids in reproduction of sheep and cattle. Animal Reproduction
Science, v.131, n.1-2, p.9- 22, 2012.
Ghoreishi, S.M.; Zamiri, M.J.; Rowghani, E.; Hejazi, H. Effect of a calcium soap of
fatty acids on reproductive characteristics and lactation performance of fat-tailed sheep.
Pakistan Journal of Biological Sciences, v.10, n.14, p.2389-2395, 2007.
Kaneko J.J., Harvey J.W. & Bruss M.L. 2008. Clinical Biochemistry of Domestic
Animals. 6th ed. Academic Press, San Diego. 916p.
Lehninger, A. L. Principles of Biochemistry. 4th ed. Freeman Press. 2005.
169
Avaliação do metabolismo protéico em borregas alimentadas com níveis crescentes
de um complexo enzimático exógeno¹
Marcio Henrique Viana2, Jhone Tallison Lira de Sousa
3, Adriana Lima Silva
4, Marco
Túlio Santos Siqueira4, Gilberto de Lima Macedo Junior
5, Luciano Fernandes Sousa
6
1Parte da tese de doutorado do segundo autor. 2Mestre em Ciência Animal, Departamento de Reprodução Animal, Escola de Veterinária – UFMG. E-mail:
mhvvet@yahoo.com.br 3Doutorando do Programa de Ciência Animal Tropical, PPGCat/UFT. 4Discente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. 5Docente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. 6Docente do Programa de Ciência Animal Tropical, PPGCat/UFT.
Resumo: O objetivo deste trabalho foi avaliar a suplementação de níveis crescentes de
complexo enzimático na dieta de borregas e seu reflexo no metabolismo proteico.
Foram utilizadas 5 borregas com 8 meses de idade. As dietas foram calculadas para um
com ganho de peso médio diário de 200 g.dia-1. O delineamento experimental utilizado
foi quadrado latino 5x5, sendo 5 tratamentos e 5 repetições por tratamento totalizando
25 unidades experimentais sendo as porcentagens de enzimas (0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%)
calculada em função do consumo de matéria seca animal dia (CMS.animal-1.dia-1).
Para determinação do perfil bioquímico proteico foi analisado as concentrações de
proteínas totais, albumina, creatinina, ácido úrico e uréia. Não houve diferença
significativa (P>0,05) para concentrações sanguíneas de creatinina, uréia, ácido úrico e
proteínas totais. Para as concentrações séricas de albumina houve diferença significativa
(P<0,05) apresentando comportamento linear decrescente e diminuição de 0,085 mg/dL
para cada 0,5% de inclusão do complexo enzimático. No presente estudo não foi
observado diferenças nas concentrações séricas da maioria dos componentes proteicos
do sangue, creatinina, uréia, ácido úrico e além das proteínas totais sob efeito de
suplementação de complexo enzimático na dieta. No entanto, para concentrações séricas
de albumina foi observado diminuição significativa com aumento da inclusão do
complexa enzimático na dieta.
Palavras–chave: metabolismo, nutrição, proteína sérica, ruminantes
Evaluation of protein metabolism in ewes fed with increasing levels of an
exogenous enzyme complex¹
Abstract: The objective of this work was to evaluate the supplementation of increasing
levels of enzyme complex in the diet of lambs and their reflex in the protein
metabolism. Five lambs, 8 months old, were used. The diets were calculated for one
with a daily average weight gain of 200 g.day-1. The experimental design used was 5x5
Latin square, with 5 treatments and 5 replicates per treatment, totaling 25 experimental
units, with percentages of enzymes (0.0, 0.5, 1.0, 1.5 and 2.0%) calculated in function
of the intake dry matter of animal day (IDM.animal-1.day-1). To determine the protein
biochemical profile, total protein, albumin, creatinine, uric acid and urea concentrations
were analyzed. There was no significant difference (P> 0.05) for blood concentrations
of creatinine, urea, uric acid and total proteins. For serum albumin concentrations, there
was a significant difference (P <0.05) with decreasing linear behavior and a decrease of
0.085 mg/dL for each 0.5% inclusion of the enzymatic complex. In the present study no
differences were observed in serum concentrations of most of the protein components of
170
blood, creatinine, urea, uric acid and in addition to total proteins under the effect of
enzyme complex supplementation in the diet. However, for serum albumin
concentrations a significant decrease was observed with increased inclusion of the
enzymatic complex in the diet.
Keywords: metabolism, nutrition, ruminants, serum protein
Introdução
O plasma sanguíneo, de acordo com sua composição, reflete a situação
metabólica dos tecidos animais, de forma a poder avaliar lesões teciduais, transtornos no
funcionamento de órgãos, adaptação do animal diante de desafios nutricionais e
fisiológicos, além de desequilíbrios metabólicos específicos ou de origem nutricional.
A concentração sanguínea de um determinado metabólito é indicador do volume
de reservas de disponibilidade imediata. Essa concentração é mantida dentro de certos
limites de variações fisiológicas, consideradas como valores de referência ou valores
normais. Alguns que apresentam níveis sanguíneos fora dos valores de referência são
animais que podem estar em desequilíbrio nutricional ou com alguma alteração orgânica
que condiciona uma diminuição na capacidade de utilização ou biotransformação dos
nutrientes (WITTWER, 2000).
A proteína da dieta desempenha um papel importante na nutrição de ruminantes,
pois, além de fornecer aminoácidos, é também uma fonte de nitrogênio para a síntese de
proteína microbiana. Dessa forma, é considerada como um importante nutriente, na
maioria das vezes o mais caro da dieta, que deve ser utilizado de forma eficiente
(CHERDTHONG & WANAPAT, 2010).
O objetivo deste trabalho foi avaliar as diferenças do perfil bioquímico proteico
de borregas submetidas a alimentação com diferentes níveis de complexo enzimático na
dieta.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido na Universidade Federal de Uberlândia -UFU, no
Setor de ovinos e caprinos nas dependências da Fazenda Capim Branco no estado de
Minas Gerais de setembro a novembro de 2016. Todos os procedimentos foram
aprovados pelo Comitê de Ética na Utilização de Animais (CEUA) da UFU, registrado
pelo protocolo de nº 017/16.
Foram utilizadas cinco borregas, com peso inicial médio de 61,16 ± 5,80 kg e
aproximadamente oito meses de idade. No período de adaptação, todos os animais
foram vermifugados, identificados, pesados e distribuídos aleatoriamente em gaiolas
metabólicas, as quais eram providas de comedouro, bebedouro, cocho com sal mineral e
dispositivo apropriado para coleta de fezes e urina. As dietas foram calculadas para
atender às exigências nutricionais de borregas de porte médio, com ganho médio diário
de 200 g.dia-1. As dietas foram fornecidas duas vezes ao dia, às 08 e às 16h:00, na
forma de ração total misturada (RTM). O delineamento experimental utilizado foi
quadrado latino 5x5, sendo 5 tratamentos e 5 repetições por tratamento totalizando 25
unidades experimentais sendo as porcentagens de enzimas (0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%)
calculados de acordo com as recomendações do fabricante, sendo cada porcentagem de
enzima calculada em função do consumo de matéria seca animal dia (CMS.animal-
1.dia-1).
171
Para determinação do metabolismo proteico foi analisado as concentrações de
proteínas totais, albumina, creatinina, ácido úrico e ureia. Todas as amostras foram
processadas em analisador bioquímico automatizado, usando kit comercial da Lab Test.
As colheitas de sangue foram por venopunção jugular com auxílio de vacuntainer.
Todas as colheitas de sangue foram realizadas no período da manhã, antes do
fornecimento da primeira alimentação. As amostras de sangue coletadas foram
centrifugadas a 5000 rotações por minuto (RPM) por 10 minutos, sendo os soros
separados em alíquotas, guardados em microtubos e armazenados em freezer a -5ºC
para posterior análise laboratorial. As análises das amostras sanguíneas obtidas durante
o período experimental foram procedidas no Laboratório de Análise de Alimentos
pertencente ao curso de Zootecnia da UFU, campus Umuarama.
As análises estatísticas foram realizadas utilizado e as médias dos tratamentos
sendo avaliadas por estudo de regressão com nível de significância de 5% de
probabilidade.
Resultados e Discussão
Na Tabela 1 é apresentado o perfil bioquímico sanguíneo de borregas
alimentadas com níveis crescentes do complexo enzimático exógeno. Pode-se observar
que não houve diferença significativa (P>0,05) para creatinina tendo média de 0,84
mg/dL situada abaixo dos valores recomendados que são 1,2 - 1,9 mg/dL (KANEKO et
al., 2008). Não houve diferença significativa (P>0,05) para ureia apresentando valor
médio de 65,8 mg/dL estando acima dos valores recomendados que são 17,12 – 42,8
(GONZÁLEZ e SILVA, 2006). A concentração sanguínea de ureia está em relação
direta com o aporte proteico da ração, bem como da relação energia e proteína da dieta
(GONZÁLEZ, 2000), no entanto, as dietas do presente trabalho não tinham déficit
proteico.
Pode-se observar que não houve diferença significativa (P>0,05) para o ácido
úrico apresentando média de 0,19 mg/dL estando dentro dos valores recomendados por
KANEKO et al., (2008) entre 0 – 1,9 mg/dL. Diferenças nas concentrações de ácido
úrico podem estar associadas a atividades da uricase no fígado e tecido extra-hepático,
alterações na rota de excreção de alantoína e ácido úrico via urina, leite, saliva e outros
meios de excreções e alterações na quantidade e na proporção de perdas endógenas de
purinas, via urina, devido aos diferentes estádios fisiológicos que se encontram os
animais (GIESECKE et al., 1994).
Na análise de proteínas totais (PT) não foi observada diferença significativa
(P>0,05) e o valor médio encontrado para PT foi de 5,71 g/dL estando próximo do
recomendado para a espécie ovina que é de 6 – 7,9 g/dL (GONZÁLEZ & SILVA,
2006). Uma hipótese para o valor médio abaixo do normal para PT pode estar
relacionada a deficiência de PB na dieta; em que dietas nutricionais com baixos teores
de proteína ou casos de subnutrição severa diminuem as concentrações sanguíneas de
PT o que não ocorreu no presente experimento, visto que as dietas foram balanceadas
para ganho de peso de 200 g.anima-1.dia-1 e a relação volumoso concentrado era a
mesma para todos os tratamentos.
172
Tabela 1 – Bioquímica sanguínea de borregas alimentadas com níveis crescentes de um
complexo enzimático exógeno.
Variáveis Tratamentos Valor de P CV
(%) 0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% L Q DL
Creatinina (mg/dL) 0,77 0,88 0,85 0,89 0,85 0,122 0,099 0,422 8,89
Ureia (mg/dL) 62,40 67,20 67,53 62,06 69,80 0,292 0,995 0,131 9,41 Ácido Úrico (mg/dL) 0,15 0,21 0,25 0,20 0,16 0,916 0,126 0,901 52,68
Proteínas Totais (g/L)1 5,52 5,90 5,69 5,73 5,69 0,667 0,243 0,285 5,05
1Albumina (g/L) 4,62 4,79 4,48 4,37 4,40 0,041 0,882 0,237 5,92
1Y = 4,710800-0,174400X (R2=61,67%);
Houve diferença significativa (P<0,05) para as concentrações séricas de
albumina apresentando comportamento linear decrescente e diminuição de 0,085 mg/dL
para cada 0,5% de inclusão do complexo enzimático. A albumina sérica é considerada o
indicador mais sensível para determinar o status nutricional proteico. No presente
estudo, o valor médio foi de 4,53 g/dL acima do esperado para espécie 2,4 – 3,0 g/dL
(GONZÁLEZ & SILVA, 2006).
Conclusões
Com o presente trabalho concluímos que a medida que os tratamentos
aumentaram a concentração sérica de albumina diminuiu, contudo, não foi observada
modificações nas concentrações séricas dos outros metabolitos proteicos.
Literatura citada
CHERDTHONG, A. & WANAPAT, M. Development of Urea Products as Rumen
SlowRelease Feed for Ruminant Production: A Review. Australian Journal of Basic
and Applied Sciences, v.4, n.8, p.2232-2241, 2010.
GIESECKE, D.; EHRENTREICH, L.; STANGASSINGER, M. Mammary and renal
excretion of purine metabolites in relation to energy intake and milk yield in dairy cows.
Journal of Dairy Science, Champaign, v.81, n.9, p.2408 - 2420, 1998.
GONZÁLEZ, F.H.D. & SILVA, S.C. Introdução à bioquímica clínica veterinária.
2.ed. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2006.
GONZÁLEZ, F.H.D. Uso de perfil metabólico para determinar o status nutricional em
gado de corte. In: GONZÁLEZ, F.H.D.; BARCELLOS, J.O; OSPINA, H.; RIBEIRO,
L.A.O. (Eds). Perfil Metabólico em ruminantes: seu uso em nutrição e doenças
nutricionais. Porto Alegre, Brasil, Gráfica da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, 2000.
KANEKO J.J., HARVEY J.W. & BRUSS M.L. Clinical Biochemistry of Domestic
Animals. 6th ed. Academic Press, San Diego. 916p. 2008.
WITTWER, F. Diagnóstico dos desequilíbrios metabólicos de energia em rebanhos
bovinos. In: GONZALEZ F. H. D.; BARCELLOS J. O.; OSPINA H.; RIBEIRO L. A.
173
O. (ed) Perfil Metabólico em Ruminantes: seu uso em nutrição e doenças nutricionais.
Gráfica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2000.
174
Avaliação dos metabólitos proteicos de ovelhas adultas com dieta baseada em
volumoso extrusado com diferentes aditivos¹
Mylena Cristina Ribeiro Borges², Gilberto de Lima Macedo Junior³, Rosemar Alves de
Carvalho Júnior4, Tamires Soares de Assis
4, Karla Alves Oliveira
4, Carolina Moreira
Araújo4
1Trabalho financiado com recursos do CNPq. 2Graduanda em Zootecnia pela Universidade Federal de Uberlândia . e-mail: mylenaborges04@gmail.com 3Professor Associado FAMEV/UFU. e-mail: gilbertomacedojr@gmail.com 4Mestrando do programa de pós graduação FAMEV/UFU. e-mail: rosemarjunior@hotmail.com,
karla.alves.oliveira@hotmail.com, carolina.am@hotmail.com, tamires.manejo@gmail.com.
Resumo: Boa lucratividade e desempenho do rebanho são pautas imprescindíveis na
produção de ovinos. Com isso o uso de aditivos no volumoso extrusado se torna uma
boa opção, visto que melhora a fermentação, gera melhor produção de ácidos graxos
voláteis e melhora o processo de absorção de nutrientes dos animais. O objetivo do
trabalho foi avaliar a inclusão de três diferentes aditivos no volumoso extrusado.
Utilizou-se 20 ovelhas adultas, da raça Santa Inês, mantida em gaiolas metabólicas
individuais de piso ripado suspenso, dispostos de comedouro e bebedouro. Os
tratamentos foram caracterizados pela inclusão de diferentes aditivos no volumoso
extrusado: Foragge® Essential; Foragge
® AA; Foragge
® Factor; Foragge
®, fornecidos
duas vezes ao dia, às 8:00 e 16:00 horas. O experimento ocorreu na Universidade
Federal de Uberlândia, no mês de Outubro de 2017, no intervalo de tempo de quinze
dias, sendo dez para adaptação e cinco para coleta. Foram coletadas amostras de sangue
para a análise dos metabolitos proteicos – Ureia, Proteínas Totais, Albumina e
Creatinina. Os níveis de ureia apresentaram diferenças estatísticas entre os tratamentos,
em que o Foragge® com aditivos, possuíram melhor aproveitamento de nitrogênio. O
delineamento foi inteiramente ao acaso. Os demais indicadores bioquímicos não
apresentaram diferenças estatísticas e as medias gerais apresentaram dissemelhanças
dos valores de referência, porém não foram relatados distúrbios metabólicos nos
animais avaliados.
Palavras–chave: aditivos, extrusado, metabólitos, volumoso, ovelhas
Evaluation of the protein metabolites of adult sheep with diet based on extruded
roughage with different additives
Abstract: Good profitability and herd performance are essential guidelines in sheep
production. With this, the use of additives in the extruded bulky becomes a good option,
since it improves the fermentation, generates better production of volatile fatty acids
and improves the process of absorption of nutrients of the animals. The objective of this
work was to evaluate the inclusion of three different additives in the extruded roughage.
Twenty adult sheep of the Santa Inês breed were used, kept in individual metabolic
cages of suspended slatted floor, with a feeder and drinking fountain. The treatments
were characterized by the inclusion of different additives in the extruded bulk:
Foragge® Essential; Foragge® AA; Foragge® Factor; Foragge®, supplied twice a day
at 8:00 a.m. and 4:00 p.m. The experiment took place at the Federal University of
Uberlândia, in October 2017, at the interval of fifteen days, ten for adaptation and five
for collection. Blood samples were collected for the analysis of protein metabolites -
175
Urea, Total Proteins, Albumin and Creatinine. Urea levels showed statistically
significant differences between the treatments, in which the Foragge ® with additives,
had better nitrogen utilization. The design was entirely randomized. The other
biochemical indicators did not present statistical differences and the general averages
presented dissimilarities of the reference values, but no metabolic disturbances were
reported in the evaluated animals.
Keywords: additive, bulky, extruded, metabolites, sheep
Introdução
O uso desses aditivos na alimentação proporciona melhora significativa no
desempenho dos pequenos rminantes, visto que aumentam o processo de absorção dos
nutrientes, e consequentemente proporciona melhora na formação de proteína
microbiana no organismo do animal. O uso de aditivos com a inclusão de óleos tem
função de melhorar o ganho energético do animal, já aditivos com inserção de leveduras
auxilia e melhora a fermentação no organismo dos pequenos ruminantes.
A analise do perfil metabólico permite evitar ou reverter quadros de desbalanços
nutricionais que afetam a saúde e a produção do rebanho, considerando o custo-
benefício que tais medidas possam provocar (Gonález et.al, 2000).
O trabalho teve como objetivo verificar os efeitos sobre o metabolismo proteico
de ovinos com a inclusão de diferentes aditivos no volumoso extrusado.
Material e Métodos
O experimento foi efetuado na Universidade Federal de Uberlândia, na fazenda
experimental Capim Branco no setor de caprinos e ovinos, ocorreu no mês de Outubro
de 2017, no intervalo de tempo de quinze dias, sendo dez para adaptação e cinco para
coleta. Foram utilizadas 20 ovelhas, com media de peso inicial de 64,40kg, adultas com
a idade acima de quatro anos, de raça Santa Inês. Os animais foram mantidos em gaiolas
metabólicas individuais de piso ripado suspenso, dispostos de comedouro e bebedouro
(padrão INCT).
A alimentação baseava-se nos produtos fornecidos pela empresa Nutratta®
(tabela 1). Os tratamentos foram caracterizados pela inclusão de diferentes aditivos no
volumoso extrusado: Foragge®
Essential – associado com óleo essencial, Foragge® AA
–com resíduo de levedura, Foragge® Factor –com levedura purificada, Foragge
® - sem
inclusão de aditivos, fornecidos duas vezes ao dia, às 8:00 e 16:00 horas. O volumoso
extrusado utilizado para a produção do Foragge® foi a Uruchloa.
Tabela 1. Composição bromatológica dos tipos de Foragge®
. Dados fornecidos pela
fabricante Nutratta.
Nutriente (%) Foragge®
Essential
Foragge®
Foragge®
AA
Foragge®
Factor
Matéria Seca 90,0 90,0 90,0 90,0
Proteína bruta 7,2 7,1 7,2 7,2
Fibra em detergente Neutro 42,2 42,3 42,3 42,3
Fibra em detergente Ácido 26,3 26,3 26,3 26,3
Extrato Etéreo 1,9 2,0 1,9 2,0
Matéria Mineral 3,7 3,7 3,7 3,7
176
Foragge® Essential – associado com óleo essencial, Foragge
® AA – com resíduo de levedura,
Foragge® Factor –com levedura purificada, Foragge
® - sem inclusão de aditivos
As amostras de sangue foram coletadas em três dias alternados durante o período
de coleta antes da primeira refeição do dia, foram realizadas por venupução jugular com
o auxilio de tubos Vacutainer sem anti-coagulante. Essas amostras foram centrifugadas
a 3000 rpm por 10 minutos, sendo os soros separados em alíquotas, guardado em
microtubo e armazenados em freezer a -5ºC para uma analise laboratorial. Os
metabólitos proteicos determinados foram: Ureia, Proteínas Totais, Albumina,
Creatinina. Não houve adição de mais nenhum alimento, exceto sal mineral para ovinos.
O delineamento foi inteiramente ao acaso. Obtiveram-se cinco repetições por
tratamento. Todos os dados apresentam normalidade e homogeneidade. Para avaliação
dos resultados utilizou-se teste T (P<0,05).
Resultados e Discussão
O Foragge®, sem aditivos, teve concentração de ureia maior estatisticamente que
os outros tratamentos com aditivos (Tabela 2). Logo para esse volumoso extrusado
houve menor aproveitamento do nitrogênio proveniente da proteína, no qual é excretado
do rúmen e desloca-se para a corrente sanguínea.
Tabela 2. Concentração dos proteicos em função dos tratamentos com volumosos
extrusados com diferentes aditivos.
Médias seguidas de letras distintas nas colunas diferem pelo teste de T a 5%. Foragge® Essential
– associado com óleo essencial, Foragge® AA – com resíduo de levedura, Foragge
® Factor –
com levedura purificada, Foragge® - sem inclusão de aditivos; ; MG – média geral; CV (%) –
coeficiente de variação; VR – valor de referência (KANEKO, HARVEY e BRUSS, 1997).
Já nos demais tratamentos com aditivos se destacaram positivamente, visto que
apresentaram melhor aproveitamento do nitrogênio e proporcionando uma maior
produção de proteína microbiana no rúmen do animal. De acordo com Gonález et.al
(2000), a ureia é originada pela excreção do metabolismo do nitrogênio e sua
concentração no sangue do animal indica a qualidade da proteína da dieta ingerida.
A média geral dos valores encontrados de proteínas totais, em consequência do
maior valor de ureia no sangue dos animais, está abaixo dos valores de referencia (VR)
NDT 55,7 55,8 55,8 55,7
Amido 25,5 25,6 25,4 25,5
Tratamentos Ureia (mg/dL)
Proteínas
Totais (g/dL) Albumina(g/dL)
Creatinina
(mg/dL)
Foragge® 39,77,A 5,54 3,66 1,23
Foragge® ES 19,70B 5,64 3,85 1,10
Foragge® AA 27,38B 5,67 3,94 1,17
Foragge®
Factor 21,48B 5,56 3,84 1,08
MG 27,08 5,60 3,82 1,14
CV (%) 32,50 3,97 5,06 16,89
Valor de P
VR
0,0099
17,1-42,8
0,7727
6,0-7,9
0,1903
2,4-3,0
0,5887
1,2-1,9
177
(Tabela 2). O déficit desse indicador bioquímico pode acarretar em transtornos renais e
intestinais, falhas hepáticas, hemorragias ou carência na nutrição (Gonález et.al, 2000).
Mas como esse valor resultou em apenas 6% abaixo do VR, não apresentou nenhum
dano às ovelhas.
O teor de albumina da média geral (Tabela 2) se encontra 27% acima do valor de
referência. A síntese da albumina ocorre no fígado e auxilia com 80% da osmolaridade
do plasma sanguíneo e forma uma necessária reserva proteica (Gonález et.al, 2000, ou
seja, com o aumento da pressão osmótica no sangue aumenta também a concentração
desse metabólito, e consequentemente ocorre um importante crescimento de reserva
proteica no organismo do animal.
Com base no VR (Tabela 2) o valor de creatinina está 5% abaixo do
recomendado. A creatinina é utilizada como referência para corrigir mudanças nas
alterações de ureia sanguínea. Nesse sentido, a quantidade de creatinina formada por dia
depende da quantidade de creatina no organismo, que por sua vez depende da massa
muscular. Entretanto, a quantidade de creatinina formada é relativamente constante para
um determinado indivíduo, sendo pouco afetada pela alimentação, principalmente pelo
consumo de proteína (Kaneko et al., 1997). Mesmo os dados das medias gerais
apresentados na tabela indicarem resultados fora do valor de referencia não foi
observado nenhum distúrbio metabólico nos animais avaliados.
Conclusões
A utilização de diferentes aditivos no volumoso extrusado não altera os
metabólitos proteicos com exceção da ureia, que apresentou melhora no uso do
nitrogênio com a inclusão dos aditivos. Não foram observados distúrbios metabólicos.
Literatura citada
GONZALEZ, F.H.D. et.al., Perfil metabólico em ruminantes. Seu uso em nutrição e
doenças nutricionais. Porto Alegre: UFRGS, 2000, 22-81pg.
KANEKO, J.J.; HARVEY, J.W.; BRUSS, M.L. (Eds.) Clinical biochemistry of
domestic animals. 5 th ed. New York: Academic Press, 1997. P. 877-901
178
Avaliação dos metabólitos proteicos de ovinos alimentados com volumoso
extrusado contendo diferentes aditivos¹
Débora Adriana de Paula Silva2, Gilberto de Lima Macedo Junior
3, Laura Ferrari
Monteiro Varanis4, Karla Alves Oliveira
4, Carolina Moreira Araújo
4, Tamires Soares de
Assis4
1Trabalho financiado com recursos do CNPq. 2Graduanda em Zoot ecnia pela Universidade Federal de Uberlândia e-mail: debora.aps@hotmail.com 3Professor Associado FAMEV/UFU email: gilbertomacedojr@gmail.com 4Mestranda do programa de pós graduação FAMEV/UFU e-mail: laura_ferrari@ymail.com,
karla.alves.oliveira@hotmail.com, carolina.am@hotmail.com, tamires.manejo@gmail.com.
Resumo: A utilização de aditivos alimentares é uma forma de incrementar o
desempenho dos animais de produção, promovendo melhoras no desempenho e na
sanidade desses animais. Objetivou-se através de experimentação analisar e comparar os
efeitos do volumoso extrusado Foragge® com diferentes aditivos sobre o perfil
metabólico de ovinos. Para isso utilizou-se 20 ovelhas adultas da raça santa Inês acima
de quatro anos, com média de peso 64,50kg, não gestantes e não lactantes alocadas em
gaiolas metabólicas previamente vermifugadas e vacinadas. O experimento teve duração
de 20 dias divididos em duas fases com dez dias de adaptação e cinco de coleta em
cada. O experimento foi delineado em blocos casualizados com cinco tratamentos e oito
repetições, sendo os tratamentos cinco diferentes volumosos extrusados: Foragge®
Essential; Foragge® Max ; Foragge® AA; Foragge® Bypro e Foragge® Factor,
ofertados duas vezes ao dia, as 8h e as 16h. Foram feitas três coletas de sangue para
análise laboratorial, sempre antes da oferta do alimento. Os componentes bioquímicos
proteicos analisados foram ureia, albumina, creatinina, acido úrico e proteínas totais e
não foram encontradas diferenças estatísticas entre os tratamentos porém os valores de
proteínas totais e creatinina ficaram abaixo dos valores de referência e albumina ficou
acima destes. Conclui-se que os aditivos não tem efeito sobre os metabólitos proteicos
dos ruminantes.
Palavras–chave: extrusão; perfil metabólico; proteínas.
Evaluation of protein metabolites of sheep fed with extrudate containing different
additives
Abstract: The use of food additives is a way of increasing the performance of the
production animals promoting improvements in the performance and health of these
animals. The objective of this study was to analyze and compare the effects of the
extrudated roughage Foragge® with different additives on the metabolic profile of
sheep. Were used twenty Santa Inês ewes over four years, with a mean weight of 64.50
kg, non-pregnant and non-lactating allocated in metabolic cages previously vaccinated
and dewormed. The experiment lasted 20 days divided in two phases with ten days of
adaptation and five of collection each. The experiment was designed in a randomized
block with five treatments and eight replicates, with five different extruded treatments:
Foragge® Essential; Foragge® Max; Foragge® AA; Foragge® Bypro and Foragge®
Factor, offered twice a day, 8am and 4pm. Three blood samples were collected for
laboratory analysis, always before the food supply. The protein biochemical
179
components analyzed were urea, albumin, creatinine, uric acid and total proteins and no
statistical differences were found between the treatments, but total protein and
creatinine values were below the reference values and albumin remained above these. It
is concluded that the additives have no effect on the protein metabolites of ruminants.
Keywords: extrusion; metabolic profile; proteins.
Introdução
Aditivos como as leveduras, taninos, óleos essenciais e virginiamicina são muito
eficientes no que diz respeito a melhorar a função ruminal dos animais, auxiliando em
uma melhor digestão, aproveitamento dos nutrientes e na sanidade do ambiente ruminal
(Nicodemo, 2001; De Oliveira, De Moura Zanine e Santos, 2005).
Para avaliar o metabolismo proteico de ruminantes usa-se principalmente a ureia
e a albumina como indicadores, visto que a ureia demonstra o estado proteico do animal
em curto prazo pois pode sofrer alterações passageiras durante o dia, principalmente
após a alimentação, enquanto que a albumina o demonstra em longo prazo devido à
baixa velocidade de síntese e de degradação desta proteína nos ruminantes, é necessário
um período mais longo para detectar anomalias. (Payne & Payne, 1987).
O objetivo do estudo foi observar e comparar os efeitos dos Foragges®
aditivados com óleos essenciais, tanino, virginiamicina e leveduras (purificadas ou não)
sobre o perfil metabólico proteico de ovinos.
Material e Métodos
O Experimento foi conduzido no setor de caprinos e ovinos da Universidade
Federal de Uberlândia – MG. Foram utilizadas 20 ovelhas adultas da raça Santa Inês,
acima de quatro anos, com peso médio de 64,50 kg não gestantes e não lactantes,
alocadas em gaiolas metabólicas equipadas com comedouro, bebedouro, saleiro, piso
ripado e artefato para separação de fezes e urina. As gaiolas foram colocadas em galpão
de alvenaria com telhas de barro. O experimento teve duração de 30 dias (outubro a
novembro de 2017), dividido em duas fases de quinze dias cada, onde em cada fase dez
foram para adaptação dos animais às condições experimentais e cinco dias de coletas de
dados. Os animais foram vermifugados com Monepantel e vacinados contra
leptospirose, raiva, clostridioses e botulismo.
O alimento (Foragge®) foi ofertado duas vezes ao dia, as 08h da manhã e as 16h
da tarde. Os animais tinham acesso a sal mineral e agua à vontade. Foram realizadas
diariamente as pesagens do ofertado e das sobras de cada animal para determinar o
consumo. Os animais receberam cinco tipos de volumoso extrusado, divididos entre os
tratamentos. Sendo esses, Foragge® Essential - com óleos essenciais; Foragge® Max –
com Virginiamicina®; Foragge® AA – associado com resíduo de levedura; Foragge®
Bypro – com Tanino; Foragge® Factor – com levedura purificada, todos os produtos
foram oferecidos pela empresa Nutratta®. A composição se encontra na tabela 1.
As colheitas de sangue para avaliação dos componentes bioquímicos foram
realizadas por venopunção jugular com auxílio de tubos Vacutainer® sem anti-
coagulante, durante o período de coleta de dados em três dias alternados, sempre no
período da manhã, antes do fornecimento da primeira alimentação. As amostras de
sangue coletadas foram centrifugadas a 3000 rpm por 10 minutos, sendo os soros
separados em alíquotas, guardados em microtubos e armazenados em freezer a -5ºC
180
para posterior análise laboratorial. Todas as amostras foram processadas em analisador
bioquímico automatizado (Bioplus® 2000), usando kit comercial da Biotécnica®. Os
componentes bioquímicos proteicos analisados foram ureia, albumina, creatinina, ácido
úrico e proteínas totais.
Tabela 1. Composição bromatológica dos diferentes tipos de Foragge®*.
Nutriente (%) Foragge®
Essential
Foragge®
Max Foragge® AA
Foragge®
Bypro
Foragge®
Factor
MS 90,0 90,0 90,0 90,0 90,0
PB 7,2 7,1 7,2 7,0 7,2
FDN 42,2 42,3 42,3 44,7 42,3
FDA 26,3 26,3 26,3 29,8 26,3
EE 1,9 2,0 1,9 1,6 2,0
MM 3,7 3,7 3,7 3,9 3,7
NDT 55,7 55,8 55,8 61,2 55,7
Amido 25,5 25,5 25,4 23,2 25,5
MS – matéria seca; PB – proteína bruta; FDN – fibra em detergente neutro; FDA – fibra em
detergente ácido; EE – extrato etéreo; MM – matéria mineral; NDT – Nutrientes digestíveis
totais. *Dados fornecidos pela fabricante Nutratta.
O experimento foi delineado em blocos casualizados com cinco tratamentos e
oito repetições. Foram feitas duas fases, trocando os animais de tratamento e blocando o
efeito de fase. Todos os dados apresentam normalidade e homogeneidade. Para
avaliação dos resultados utilizou-se teste T (P<0,05%).
Resultados e Discussão
Não foram observadas diferenças estatísticas entre os tratamentos para os
metabólitos avaliados (Tabela 2). Contudo pode-se verificar que alguns valores
encontrados ficaram fora dos valores de referência de Kaneko et al (2008), a natureza
dos aditivos utilizados pode ter influenciado nesses resultados.
Tabela 2. Valores médios dos metabólitos energéticos, hepáticos e proteicos de ovelhas
adu ltas em função dos tratamentos.
Metabólitos proteicos
Tratamentos Ureia Proteínas Totais Albumina Creatinina Ácido Úrico
Foragge® Essential 36,52 5,67 3,11 0,79 0,189
Foragge® Max 38,27 5,56 3,08 0,76 0,191
Foragge® AA 39,27 5,66 3,24 0,81 0,204
Foragge® Bypro 47,68 5,90 3,21 0,76 0,295
Foragge®Factor 41,16 5,95 3,26 0,86 0,183
MG 40,58 5,75 3,18 0,79 0,212
CV (%) 21,02 10,30 6,18 19,65 32,14
Valor de P 0,1104 0,6260 0,2752 0,6215 0,2447
VR* 17-43 6-7,9 2,4-3 1,2-1,9 0-1,9
Médias seguidas de let ras distintas nas colunas diferem pelo teste de T a 5%. Foragge®
Essential - com óleos essenciais; Foragge® Max com Virginiamicina®; Foragge
® AA –
associado com resíduo de levedura; Foragge® Bypro –com T anino; Foragge
® Factor –com
181
levedura purificada; MG – média geral; CV (%) – coeficiente de variação – Valores de
referencia segundo Kaneko et al. (2008).
A média dos valores de proteínas totais encontrados ficou 4,1% abaixo do valor
de referência. Considerando descartadas causas patológicas isso poderia indicar
deficiência alimentar (Kaneko et al., 2008), entretanto pode-se observar que os valores
de ureia e ácido úrico ficaram dentro da referência e a albumina ficou 6% acima,
descartando a hipótese de deficiência proteica.
A média da creatinina também se apresentou abaixo dos valores de referencia.
Visto que a creatinina é um produto da atividade muscular e os animais encontravam-se
em confinamento e com restrições de movimento, essas condições podem indicar os
valores de creatinina encontrados. (Gonzalez et al., 2000).
Os níveis de ureia e acido úrico mantiveram-se dentro dos valores de referência.
Ambos refletem o aproveitamento proteico no ambiente ruminal. Após a transformação
da amônia em ácido úrico este é utilizado pelos microorganismos ruminais para a
produção de proteína microbiana. Já a ureia é sintetizada no fígado a partir da amônia
não reciclada no rumem, sendo que a utilização do nitrogênio pelos microoganismos
ruminais afeta diretamente a concentração da amônia e consequentemente a quantidade
de ureia sanguínea. Logo, os valores séricos destes metabólitos tendem a ser
inversamente proporcionais, visto que se a maior parte da amônia é utilizada pelos
microorganismos para produção de proteína haverá menor síntese de ureia no figado.
(Paula, 2015; Fontanelli, 2001; Harmeyer & Martens, 1980; Ortolani, 2002).
Conclusões
A utilização de diferentes aditivos não tem efeitos benéficos ou deletérios sobre os
metabólitos proteicos dos ruminantes.
Literatura citada
FONTANELLI, Roberto Serena. Uso do leite para monitorar a nutrição e o
metabolismo de vacas leiteiras. 2001.
GONZÁLEZ, F. H. D. et al. Variações sangüíneas de uréia, creatinina, albumina e
fósforo em bovinos de corte no Rio Grande do Sul. A hora veterinária, v. 20, p. 59-62,
2000.
HARMEYER, J.; MARTENS, H. Aspects of urea metabolism with reference to the
goat. Journal of Dairy Science, v.63, p.1707-1728, 1980.KANEKO, J.J.; HARVEY,
J.W.; BRUSS, M.L. (Eds.) Clinical biochemistry of domestic animals. 6 ed. New
York: Academic Press, 2008
OLIVEIRA, Juliana Silva; MOURA ZANINE, Anderson; SANTOS, Edson Mauro. Uso
de aditivos na nutrição de ruminantes (Additive use in the nutrition. REDVET. Revista
Electrónica de Veterinaria, v. 6, n. 11, p. 1-23, 2005.
ORTOLANI, Enrico Lippi. Diagnóstico de doenças nutricionais e metabólicas por meio
de exame de urina em ruminantes. In: GONZÁLEZ, FHD; ORTOLANI, EL;
BARROS, L.; CAMPOS, R. Avaliação metabólico-nutricional de vacas leiteiras
182
por meio de fluídos corporais (sangue, leite e urina). Arquivos do 29º Congresso
Nacional de Medicina Veterinária, Gramado, RS. 2002. p. 18-26.
NICODEMO, Maria Luiza Franceschi. Uso de aditivos na dieta de bovinos de corte.
Campo Grande^ e54 54: Embrapa Gado de Corte, 2001.
PAULA, C, G. Suplementação com melaço de soja na dieta de ovinos: parâmetros
sanguíneos, consumo, digestiblidade e comportamento ingestivo. 2015. 61f.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós-
Graduação em Ciências Veterinárias, 2015
PAYNE, J.M.; PAYNE, S. The metabolic profile test. Oxford, oxford University Press.
1987.
183
Avaliação dos metabólitos proteicos em ovinos consumindo volumoso extrusado
com diferentes aditivos
Jhoanny Rodrigues Dutra1, Gilberto de Lima Macedo Júnior
2, Rosemar Alves de
Carvalho Júnior3, Tamires Soares de Assis
3, Laura Ferrari Monteiro Veranis
3, Karla
Alves de Oliveira3, Carolina Moreira Araújo
3
1Graduanda em Zootecnia – FAMEV/UFU, Uberlândia, MG. jhoannyrodriguesd@hotmail.com 2Professor Associado I FAMEV/UFU, Uberlândia, MG 3Pós-graduando do mestrado em Ciências Veterinárias/UFU, Uberlândia, MG
Resumo: Uma das formas de ampliar a eficácia alimentar e ou ganho diários, é com a
utilização de aditivos alimentares. Objetivou-se avaliar o perfil metabólico proteico de
ovelhas recebendo dieta a base de volumoso extrusado 52,5% Foragge®, Foragge
®
Bypro, Foragge®
Max® e Foragge
® BV. Foram utilizadas 20 ovelhas adultas, da raça
Santa Inês, com idade superior a 3 anos, e peso médio corporal de 64,5 kg, alocadas em
gaiolas metabólicas individuais de piso ripado suspenso, dispostas de bebedouro,
comedouro e cocho para sal mineral. O delineamento experimental utilizado foi o
inteiramente ao acaso, com quatro tratamentos e cinco repetições. A coleta de sangue
foi feita por meio de venopunção jugular, durante três dias alternados anterior à primeira
alimentação, para avaliação dos metabólitos proteicos: Ureia, Proteínas Totais,
Albumina, Creatinina e Ácido Úrico. Houve diferença estatística apenas para os valores
de ureia, com uma maior concentração de ureia nos animais tratados com Foragge®, e
menor concentração para os animais tratados com Foragge® Max. A albumina se
manteve dentro dos valores de referência, as proteínas totais e a creatinina estiveram
levemente abaixo do normal. A utilização das rações extrusadas com diferentes aditivos
manteve os metabólitos proteicos em níveis normais e não foram observados distúrbios
metabólicos nos animais analisados contribuindo para um bom desempenho animal.
Palavras–chave: extrusão, ovinos, ruminantes
Evaluation of protein metabolites in sheep consuming extruded beef with different
additives
Abstract: One of the ways to increase the daily efficacy of food and / or gain is through
the use of food additives. The objective of this study was to evaluate the protein
metabolic profile of sheep receiving a 52.5% Foragge®, Foragge
® Bypro, Foragge
®
Max® and Foragge
® BV extrudate based diet. Twenty adult sheep of the Santa Inês
breed, aged over 3 years, and mean body weight of 64.5 kg were used in individual
cages of suspended slatted floor, disposed of drinking fountain, feeder and trough for
mineral salt. The experimental design was completely randomized, with four treatments
and five replicates. Blood collection was done by means of jugular venipuncture, for
three days before the first feeding, to evaluate the protein metabolites: Urea, Total
Proteins, Albumin, Creatinine and Uric Acid. There was statistical difference only for
urea values, with a higher concentration of urea in Foragge®-treated animals, and lower
concentration for animals treated with Foragge® Max. Albumin remained within
reference values, total proteins and creatinine levels were slightly below normal. The
use of extruded feeds with different additives kept the protein metabolites at normal
levels and no metabolic disturbances were observed in the analyzed animals,
contributing to a good animal performance.
184
Keywords: extrusion, sheep, ruminants
Introdução
Atualmente no sistema de produção se faz necessário adotar práticas que
melhorem o manejo e desempenho animal sem aumentar a área de produção, o uso de
aditivos na alimentação de ruminantes tem como objetivo melhorar a eficiência
alimentar. A adição de taninos na alimentação animal pode propiciar características
favoráveis, como a proteção das proteínas de degradação do rúmen, prevenção ao
timpanismo e também uma tolerância maior dos animais às helmintoses (Getachew,
1999). Já a virginiamicina proporciona alterações no padrão de fermentação ruminal que
podem aumentar a eficácia da utilização de energia da dieta, além disso, seu uso pode
provocar a estabilização do pH ruminal e reduzir doenças metabólicas como a acidose e
incidência de abcessos hepáticos.
De acordo com González (2000) a avaliação do status nutricional no animal pode
ser abordada mediante a determinação da concentração de alguns metabólitos
sanguíneos, sendo assim é necessário a avaliação de quais serão os impactos nas
condições fisiológicas do animal com a dieta fornecida. O objetivo deste trabalho foi
avaliar os metabólitos proteicos de ovelhas adultas, alimentadas com volumoso
extrusado com inclusão de diferentes aditivos.
Material e Métodos
O experimento foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, no mês de
outubro de 2017. Foram utilizadas vinte ovelhas adultas, da raça Santa Inês, com idade
superior a três anos, e peso médio corporal de 64,5 kg, alocadas em gaiolas metabólicas
individuais de piso ripado suspenso, dispostas de bebedouro, comedouro e cocho para
sal mineral. O experimento teve duração de quinze dias, sendo 10 de adaptação e 5 de
coleta de dados, sendo realizado quatro tratamentos com cicno repetições. Os
tratamentos foram caracterizados pela utilização do volumoso extrusado (Foragge) com
diferentes aditivos incluídos (Tabela 1), sendo: 52% Foragge® sem inclusão de aditivos,
Foragge® BV – Foragge associado com Virginiamicina
® + Tanino; Foragge
® Bypro –
Foragge®
com Tanino; Foragge®
Max – Foragge® com Virginiamicina
®. O volumoso
extrusado utilizado para a produção do Foragge® 52,5% foi a Uruchloa. As dietas com
os Foragges foram fornecidas duas vezes ao dia (8:00 e 16:00 horas) e os animais
possuíam acesso ao sal mineral à vontade. Para o acompanhamento do consumo as
sobras foram pesadas e sempre que os valores foram iguais à zero, aumentou-se a
quantidade de alimento fornecido em 10% até atingir sobras equivalentes a 10% do
ofertado.
Tabela 1. Composição bromatológica dos tratamentos. Dados fornecidos pela Empresa
Nutratta®.
Descrição Foragge®
Foragge®
BV
Foragge®
Bypro
Foragge®
Max
Matéria Seca (CMS) % 90,0 90,0 90,0 90,0
Proteína (PB) % 7,1 7,0 7,0 7,1
NDT (NDT) % 55,8 61,2 61,2 55,8
Extrato Etéreo % 2,0 1,6 1,6 2,0
185
Fibra Det. Neutra
(FDN)
% 42,3 44,7 44,7 42,3
Fibra Det. Ácida
(FDA)
% 26,3 29,8 29,8 26,3
Virginiamicina mg/kg XXX 30,0 XXX 30,0
A coleta de sangue para avaliação dos componentes bioquímicos fora por
venopunção jugular com auxilio de Vacuntainer®
acoplado a tubo sem anticoagulante,
todas as coletas foram realizadas durante três dias alternados antes da primeira refeição
do dia, durante a coleta de dados, as amostras de sangue coletadas foram centrifugadas a
3000 rpm por 10 minutos, sendo os soros separados em alíquotas, guardados em
microtubos e armazenados em freezer a -5ºC para posterior analise laboratorial. Todas
as amostras foram processadas em analisador bioquímico automatizado (Bioplus®
2000), usando kit comercial da Biotécnica®. Os metabólitos proteicos analisados foram:
Ureia, Proteínas Totais, Albumina, Creatinina e Ácido Úrico.
Foi utilizado o delineamento ao acaso, com quatro tratamentos e cinco repetições.
Para comparações das médias obtidas os dados foram submetidos ao teste SNK a 5 %
de probabilidade de erro.
Resultados e Discussão
Dentre os metabólitos avaliados observou-se diferença estática apenas para os
valores de ureia (Tabela 2). No tratamento Foragge® nota-se maior concentração de
ureia em relação aos outros tratamentos. De acordo com González et al. (2000) a
concentração de ureia no sangue possui relação direta com o aporte proteico da ração,
sendo um indicador de excesso ou carência do nutriente na dieta. O equilíbrio
energia/proteína na dieta de ruminantes é fundamental para o bom aproveitamento da
ureia. O elevado nível de ureia no Foragge®
pode estar relacionado a ausência de
aditivos em sua composição. Os aditivos são utilizados na dieta com o objetivo de
melhorar a eficácia na alimentação dos ruminantes, eles proporcionam modificações na
fermentação ruminal e mudanças na população microbiana do rúmen, fazendo com que
a proteína seja melhor aproveitado pelo animal.
Para os tratamentos Foragge® Bypro e Foragge
® BV não foram observadas
diferenças estatísticas nos níveis de ureia. Isso pode ser explicado devido a adição de
tanino nos dois tratamentos (Tabela 2). Tanto o tanino quanto a virginiamicina e a
associação de ambos modulam a fermentação ruminal, isso afeta o metabolismo
microbiano e o do Nitrogênio no rúmen. Os taninos se ligam a certas proteínas e
protegem as mesmas da degradação ruminal excessiva. Essas proteínas passam pelo
rúmen e são liberadas no duodeno, onde o processo de absorção de aminoácidos ocorre
de forma mais intensa, ocasionando o melhor aproveitamento da proteína da dieta. Além
disso, ocorre maximização da síntese de proteína microbiana no rúmen, com aumento
do fluxo de nitrogênio não-amoniacal para o intestino (Sliwinski, 2002; Makkar, 2003).
A constante reciclagem da ureia produzida no metabolismo nitrogenado dos
ruminantes garante um aporte de nitrogênio no rúmen para síntese de proteína
microbiana. A maior ou menor quantidade de ureia reciclada está relacionada com o
nível de nitrogênio na dieta, assim como o nível de ureia plasmática serve como
regulador da ureia reciclada, e não a quantidade de ureia presente no rúmen, como
poderia supor (OWENS & BERGEN, 1983). As alterações na fermentação ruminal
186
proporcionadas pela virginiamicina, pode otimizar a utilização de energia da dieta. Ela
age contra bactérias gram-positivo, inibindo o crescimento de bactérias ruminais
produtoras de ácido láctico, aumentando a produção de propionato no rúmen, podendo
diminuir a produção de metano. No tratamento Foragge® Max o valor de ureia foi o
menor comparado aos outros, o mesmo possuía apenas virginiamicina em sua
composição. É importante ressaltar que aumento na produção de amônia e ureia pode
reduzir o apetite do animal e também sua eficácia na produção, desta forma, o
tratamento Foragge® Max mostrou um melhor resultado comparado aos outros.
Tabela 2. Valores médios dos metabólitos proteicos de ovelhas adultas em função dos
tratamentos
Tratamentos Ureia Proteínas Totais Albumina Creatinina Ácido úrico
Foragge®
31,82A 5,30 3,70 1,18 0,08
Foragge® BV 22,12B 5,49 3,63 1,12 0,153
Foragge®
Bypro
21,96B 5,27 3,52 1,26 0,153
Foragge®
Max 14,43C 5,32 3,43 1,12 0,153
MG 22,58 5,35 3,57 1,17 0,135
CV (%) 22,72 5,49 10,11 15,07 44,85
Valor de P 0,0007 0,6443 0,6602 0,6005 0,1817
VR* 17,1-42,8 6,0-7,9 2,4-3,0 1,2-1,9 0,1-2,0
Médias seguidas de letras distintas nas colunas diferem pelo teste de T a 5%. Foragge®
BV – Foragge associado com Virginiamicina® + Tanino; Foragge® Bypro – Foragge®
com Tanino; Foragge® Max – Foragge® com Virginiamicina®; Foragge® - sem
inclusão de aditivos; MG – média geral; CV (%) – coeficiente de variação. *VR =
Valores de Referência (Kaneko et al., 2008)
Segundo González et al. (2000) as proteínas totais e albumina irão refletir na
condição nutricional do animal e na quantidade proteica da dieta, sendo assim níveis
baixos desses metabólicos poderão resultar deficiência de proteína na dieta. Enquanto as
proteínas totais mantiveram-se apenas 10,83% abaixo do valor mínimo de referência, a
albumina está dentro da faixa de referência, indicando que as exigências dos animais
foram atendidas.
A creatinina é um metabólito usado para o armazenamento de energia no músculo
(González et al., 2000), a creatinina apresentou valor de 3% abaixo dos valores de
referência. Isso pode estar relacionado com a idade dos animais, pois a creatinina está
relacionada com o crescimento muscular, como os animais já eram adultos e não
estavam em fase crescimento mais, pode ter ocasionado os níveis de creatinina baixos.
Além disso, os animais permaneceram em gaiolas metabólicas durante o período
experimental, isto pode ter limitado o gasto energético pelos animais, provocando
também a queda nos valores de creatinina sanguínea.
O ácido úrico está ligado diretamente com a síntese de proteína microbiana pelos
microrganismos ruminais, o mesmo permaneceu dentro da faixa de referência nos
tratamentos Foragge® Bypro, Foragge® Max e Foragge® BV, ficando 20% abaixo do
valor de referência apenas no tratamento Foragge®, o que pode estar relacionado à
ausência do aditivo no volumoso extrusado.
187
Conclusões
Conclui-se que apesar dos valores analisados fora da faixa de referência, não
foram observados distúrbios metabólicos nos animais com a adição de tanino e
virginiamicina na ração extrusada, sendo viável seu uso na alimentação de ruminantes.
Literatura citada
GETACHEW,G. Tannins in tropical multipurpose tree species: localization and
quantification of tannins using histochemical approaches and the effect of tannins on in
vitro rumen fermentation. Stuttgart: Verlag Ulrich E. Grauer, 186p, 1999.
GONZÁLEZ, F.H.D.; BARCELLOS, J.; PATIÑO, H.O.; RIBEIRO, L.A. (Eds.). Perfil
metabólico em ruminantes: seu uso em nutrição e doenças nutricionais. 1. ed. Porto
Alegre, 2000. p. 23-30
KANEKO, J.J.; HARVEY, J.W.; BRUSS, M.L. (Eds.) Clinical biochemistry of
domestic animals. 6 ed. New York: Academic Press, 2008
MUI, N.T.; BINH, D.V.; ORSKOV, V.B. Effect of foliages containing condensed
tannins and on gastrointestinal parasiters. Animal Feed Science and Technology, v.121,
n.1, p.77-87, 2005.
OWENS, F. N.; BERGEN, W. G. Nitrogen metabolism of ruminant animals: historical
perspective, current understanding and future implications. Journal of Animal Science.
v. 57, p. 498-518, 1983.
SLIWINSKI, B.J.; SOLIVA, C.R.; MACHMÜLLER, K.M. Efficacy of plant extracts
rich in secondary constituents to modify rumen fermentation. Animal Feed Science and
Technology, v.101, p.101-114, 2002.
188
Comportamento ingestivo de borregas alimentadas com níveis crescentes de
enzima amilolítica¹
Jhone Tallison Lira de Sousa2, Debora Adriana de Paula Silva3, Paulo Arthur Cardoso
Ruela3, Paola Rezende Ribeiro
4, Gilberto de Lima Macedo Junior
5, Luciano Fernandes
Sousa6
1Parte da tese de doutorado do primeiro autor 2Doutorando do Programa de Ciência Animal Tropical, PPGCat/UFT. E-mail: jhonelira@hotmail.com. 3Discente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. 4Mestranda em Nutrição e Alimentação Animal, FCAV - UNESP, Jaboticabal, SP. 5Docente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. 6Docente do Programa de Ciência Animal Tropical, PPGCat/UFT.
Resumo: O objetivo do presente trabalho foi avaliar o comportamento e eficiência
alimentar de borregas alimentadas com níveis crescentes de enzima amilolítica exógena
na dieta. O experimento foi conduzido na Universidade Federal de Uberlândia -UFU, no
Setor de ovinos e caprinos nas dependências da Fazenda Capim Branco no estado de
Minas Gerais de setembro a novembro de 2016. Foram utilizadas cinco borregas
mestiças (Santa Inês/Dorper), com peso inicial médio de 54,04 ± 4,5 kg. O
delineamento experimental utilizado foi quadrado latino 5x5, sendo 5 tratamentos e 5
repetições por tratamento totalizando 25 unidades experimentais sendo os tratamentos
as porcentagens de enzimas (0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%). Para a avaliação do
comportamento ingestivo os animais foram submetidos à observação visual por vinte e
quatro horas (24 h), no período noturno o ambiente recebeu iluminação artificial sendo
que dias antes as luzes ficavam acesas para que ocorresse adaptação dos animais. Não
houve diferença significativa (P>0,05) para ingestão, ruminação e mastigação, sendo
observadas médias em porcentagem de 10,29%, 19% e 29,16% respectivamente. Não
houve diferença significativa (P>0,05) para a variável ócio. Não houve diferença
significativa (P>0,05) para a eficiência alimentar de ingestão, ruminação e mastigação.
Concluiu-se com este trabalho que o comportamento de borregas não foi alterado com a
inclusão de enzima amilolítica nos níveis testados.
Palavras–chave: alfa-amilase, concentrado, eficiência de alimentação, nutrição, ovinos
Ingestive behavior of ewes fed with increasing levels of amylolytic enzyme¹
Abstract: The objective of the present work was to evaluate the feeding behavior and
efficacy of lambs fed with increasing levels of exogenous amylolytic enzyme in the diet.
The experiment was conducted at the Universidade Federal de Uberlândia (UFU), in the
sheep and goat sector at the Fazenda Capim Branco in the state of Minas Gerais, Brazil,
from September to November 2016. Five mestizo lambs (Santa Inês/Dorper) initial
mean of 54.04 ± 4.5 kg. The experimental design used was 5x5 Latin square, with 5
treatments and 5 replicates per treatment, totaling 25 experimental units. The treatments
were the percentages of enzymes (0.0, 0.5, 1.0, 1.5 and 2.0%). For the evaluation of the
ingestive behavior the animals were submitted to visual observation for twenty-four
hours (24 h), at night the environment received artificial lighting and days before the
lights were on for the adaptation of the animals. There was no significant difference (P>
0.05) for ingestion, rumination and chewing, and averages were observed in percentage
of 10.29%, 19% and 29.16%, respectively. There was no significant difference (P>
189
0.05) for the leisure variable. There was no significant difference (P> 0.05) in feed
intake, rumination and chewing efficiency. It was concluded with this work that the
behavior of lambs was not altered with the inclusion of amylolytic enzyme at the levels
tested.
Keywords: alpha-amylase, concentrate, feed efficiency, nutrition, sheep
Introdução
A utilização de enzimas exógenas na nutrição de ruminantes vem sendo cada vez
mais estudada, devido ao grande potencial que esta pode fornecer a nutrição e
consequentemente a produção animal, uma vez que pode aumentar a degradabilidade
ruminal dos nutrientes e diminuir dessa forma o desperdício.
As amilases são enzimas que hidrolizam as moléculas de amido em polímeros
compostos por unidades de glicose Reddy et al. (2003), sendo principalmente utilizadas
na alimentação de animais de alta produção, que geralmente tem dietas com elevado
nível de concentrado. O entendimento e a compreensão de como as enzimas exógenas
se comportam no metabolismo dos ruminantes é de extrema importância para o
desenvolvimento da nutrição e produção animal (REIS et al., 2015). O estudo do
comportamento ingestivo é uma ferramenta que pode ser útil quando utilizada como
parâmetro na avaliação de novos alimentos a serem empregados na nutrição animal.
Diante do exposto o objetivo do presente trabalho foi avaliar o comportamento e
eficiência alimentar de borregas alimentadas com níveis crescentes de enzima
amilolítica exógena na dieta.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido na Universidade Federal de Uberlândia -UFU, no
Setor de ovinos e caprinos nas dependências da Fazenda Capim Branco no estado de
Minas Gerais de setembro a novembro de 2016. Todos os procedimentos foram
aprovados pelo Comitê de Ética na Utilização de Animais (CEUA) da UFU, registrado
pelo protocolo de nº 017/16.
Foram utilizadas cinco borregas mestiças (Santa Inês/Dorper), com peso inicial
médio de 54,04 ± 4,5 kg e aproximadamente oito meses de idade. No período de
adaptação, todos os animais foram vermifugados, identificados, pesados e distribuídos
aleatoriamente em gaiolas metabólicas, as quais eram providas de comedouro,
bebedouro, cocho com sal mineral e dispositivo apropriado para coleta de fezes e urina.
As dietas foram calculadas para atender às exigências nutricionais de borregas de porte
médio, com ganho médio diário de 200 g.dia-1. As dietas foram fornecidas duas vezes
ao dia, às 08 e às 16h:00, na forma de ração total misturada (RTM).
Os animais dispunham de água e sal mineral especifico para espécie ad libitum.
As rações eram compostas de milho moído, farelo de soja, sal mineral e ureia como
concentrado, que compunha 80% da ração, e silagem de milho como volumoso
perfazendo os outros 20%. O delineamento experimental utilizado foi quadrado latino
5x5, sendo 5 tratamentos e 5 repetições por tratamento totalizando 25 unidades
experimentais sendo os tratamentos as porcentagens de enzimas (0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e
2,0%). A enzima que foi utilizada é um produto comercial (AMAIZETM) composto por
alfa-amilase, os níveis de enzimas foram calculados de acordo com as recomendações
190
do fabricante, sendo cada porcentagem de enzima calculada em função do consumo de
matéria seca animal dia (kg.animal-1.dia-1).
Tabela 1 – Descrição da enzima pelo fabricante
Produto Amaize Composição Básica
Enzima alfa-amilase
Mín. 600 u*/g
Levedura inativada e produto seco de fermentação de Aspergillus oryzae
*Uma unidade de atividade enzimática alfa-amilase equivale a quantidade de enzima
que dextriniza 1 grama de amido solúvel por minuto, a pH 4,8 e 30ºC. Aspecto:
AMAIZE é um pó de coloração marrom.
Para a avaliação do comportamento ingestivo os animais foram submetidos à
observação visual por vinte e quatro horas (24 h), no período noturno o ambiente
recebeu iluminação artificial sendo que dias antes as luzes ficavam acesas para que
ocorresse adaptação dos animais. Foram observadas a cada cinco minutos as variáveis
de ingestão de alimento e água, ruminação e ócio, de acordo com a metodologia
proposta por (FISCHER et al. 1998). As observações comportamentais foram realizadas
por observadores treinados, em sistema de revezamento e posicionados estrategicamente
de modo a não incomodar os animais. As observações foram iniciadas às 08:00h da
manhã com término no mesmo horário do dia seguinte. Os cálculos das atividades
foram feitos em minutos por dia, admitindo-se que nos cinco minutos subsequentes a
cada observação, o animal permaneceu na mesma atividade. Já o tempo total de
mastigação foi determinado somando-se os tempos de ingestão e ruminação.
As análises estatísticas foram realizadas utilizado e as médias dos tratamentos
sendo avaliadas por estudo de regressão com nível de significância de 5% de
probabilidade.
Resultados e Discussão
Na Tabela 2 são apresentados os valores relativos ao comportamento ingestivo e
a eficiência alimentar de borregas recebendo diferentes inclusões de enzima amilolítica.
Não houve diferença significativa (P>0,05) para ingestão, ruminação e mastigação,
sendo observadas médias em porcentagem de 10,29%, 19% e 29,16% respectivamente.
Esperava-se uma redução no tempo de ingestão com a inclusão da enzima devido sua
atividade degradativa sobre o amido, disponibilizando maior quantidade de energia. A
ausência de diferença estatística sobre as variáveis comportamentais com a adição da
enzima pode estar relacionada a semelhança das dietas experimentais.
Os tempos despendidos em ingestão e ruminação estão diretamente relacionados
a qualidade da dieta, nesse contexto animais consumindo alimentos com elevado teor de
nutrientes digestíveis totais deverão passar menos tempo exercendo tais atividades.
Consequentemente a qualidade da dieta influenciará os tempos de mastigação, já que
esta é resultante da soma de ingestão e ruminação. Oliveira, (2012) avaliando o efeito de
enzima amilolítica em bovinos de corte não observou diferença na ingestão de alimento,
semelhante ao observado no presente trabalho.
191
Tabela 2 - Comportamento ingestivo e eficiência alimentar de borregas alimentadas
com níveis crescentes de enzima amilolítica exógena na dieta
Variáveis Tratamentos Valor de P
CV(%) 0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% L Q DL
Ingestão (min) 157 150 152 134 148 0,266 0,536 0,447 13,91
Ruminação (min) 255 267 280 268 298 0,244 0,898 0,754 18,37
Mastigação (min) 412 417 432 402 446 0,479 0,707 0,472 12,16
Ócio (min) 1028 1023 1008 1038 994 0,479 0,707 0,472 5,04
CMS.Ing (g/h-1) 0,451 0,444 0,422 0,529 0,471 0,375 0,870 0,299 20,66
CMS.Rum (g/h-
1) 0,280 0,262 0,238 0,250 0,224 0,099 0,810 0,742 19,58
CMS.Mast (g/h-
1) 0,163 0,163 0,151 0,163 0,148 0,310 0,886 0,452 13,14
Consumo de matéria seca em função da ingestão (CMS.Ing); consumo de matéria seca em
função da ruminação (CMS.Rum); Consumo de matéria seca em função da mastigação
(CMS.Mast); Efeito Linear (L); Efeito Quadrático (Q); Desvio da linearidade (DL); Coeficiente
de variação (CV).
Não houve diferença significativa (P>0,05) para a variável ócio. Pode-se
observar que o tempo despendido em ócio foi em média 1018,2 minutos,
correspondendo a 70,7% do tempo diário. Considerando-se que as dietas possuíam 80%
de concentrado, era esperado que os animais aumentassem o tempo em ócio, contudo,
essa porcentagem está abaixo do encontrado por outros autores que avaliaram o
comportamento de ovinos recebendo altas quantidades de concentrado na dieta e
verificaram 79% e 77% de ócio/dia, respectivamente para os seguintes autores Mendes
et al., 2010 e Cirne et al., 2014.
Não houve diferença significativa (P>0,05) para a eficiência alimentar de
ingestão, ruminação e mastigação de borregas alimentadas com níveis crescentes de
enzima amilolítica (Tabela 2). Cirne et al. (2014) trabalhando com cordeiros
alimentados com dietas exclusivas de concentrado encontraram média para eficiência de
ingestão de matéria seca de 0,415 g.h-1 valor abaixo da média encontrada no presente
trabalho de 0,463 g.h-1, ressalta-se que nesse experimento que 20% da dieta era
composto por silagem de milho.
Conclusão
Concluiu-se com este trabalho que o comportamento de borregas não foi
alterado com a inclusão de enzima amilolítica nos níveis testados.
Literatura Citada
CIRNE, L. G. A.; OLIVEIRA, G. J. C.; JAEGER, S. M. P. L.; et al. Comportamento
ingestivo de cordeiros em confinamento, alimentados com dieta exclusiva de
concentrado com diferentes porcentagens de proteína. Arquivo Brasileiro de Medicina
Veterinária e Zootecnia, v. 66, n. 1, p. 229–234, 2014.
FISCHER, V.; DESWYSEN, A.G.; AMOUCHE, E.H. et al. Efeitos da pressão de
pastejo sobre o padrão Nectemeral do comportamento ingestivo de ovinos em pastagem.
Rev. Bras. Zootec., v.27, p.164-170, 1998.
192
MENDES, C.Q.; TURINO, V.F.; SUSIN, I. et al. Comportamento ingestivo de
cordeiros e digestibilidade dos nutrientes de dietas contendo alta proporção de
concentrado e diferentes fontes de fibra em detergente neutro. Rev. Bras. Zootec., v.39,
p.594-600, 2010.
OLIVEIRA, L. G. Desempenho de bovinos alimentados com dietas contendo enzimas
amilolíticas exógenas. Dissertação (Ciência Animal). Universidade Federal de Goiás.
35p. 2012.
REDDY, N. S.; NIMMAGADDA, A.; RAO, K. R. S. S. An overview of the microbial
α-amylase family. African Journal of Biotechnology, v.2, n.12, p.645-648, 2003.
REIS, R. A, LARA, E. C. RABELO, C. H. S. Enzimas na Nutrição de Ruminantes.
Palestras. Anais... X ução Animal, Teresina, PI: SNPA. p.22. 2015.
193
Consumo de água e escore fecal de borregas alimentadas com níveis crescentes de
um complexo enzimático exógeno¹
Thaís Gabriela Taveira Bittar2, Jhone Tallison Lira de Sousa
3, José Victor dos Santos
2,
Lucas Rodrigues Queiroz4, Gilberto de Lima Macedo Junior
5, Luciano Fernandes
Sousa6
1Parte da tese de doutorado do segundo autor 2Discente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. E-mail: thais_gbittar@hotmail.com. 3Doutorando do Programa de Ciência Animal Tropical, PPGCat/UFT. 4Discente de Medicina Veterinária, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG 5Docente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. 6Docente do Programa de Ciência Animal Tropical, PPGCat/UFT.
Resumo: O objetivo do presente trabalho foi avaliar o consumo de água e o escore fecal
de borregas alimentadas com níveis crescentes de um complexo enzimático exógeno. O
experimento foi conduzido na Universidade Federal de Uberlândia -UFU, no Setor de
ovinos e caprinos. Foram utilizadas cinco borregas mestiças (Santa Inês/Dorper), com
peso inicial médio de 61,16 ± 5,80 kg e aproximadamente oito meses de idade. O
delineamento experimental utilizado foi quadrado latino 5x5, sendo 5 tratamentos e 5
repetições por tratamento totalizando 25 unidades experimentais sendo as porcentagens
de enzimas (0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%). Não houve diferença significativa (P>0,05) para
o consumo de água (CH2O.animal-1.dia-1), consumo de água em função do consumo
de matéria seca ingerida (L.kgMS), consumo de água em função do peso vivo
(CH2O.%PV-1), consumo de água em função do peso metabólico (CH2O.PV-0,75). O
volume e a densidade da urina não sofreram influência (P>0,05) dos tratamentos. Não
houve diferença significativa (P>0,05) para o peso das fezes na matéria natural o escore
fecal também não foi afetado pela inclusão do complexo enzimático. Concluiu-se que os
níveis testados de enzima exógena no presente trabalho não afetaram nem o consumo de
água nem o escore fecal das borregas.
Palavras–chave: celulase, fezes, hidratação, nutrição, ovinos, protease
Water consumption and faecal score of ewes fed with increasing levels of an
exogenous enzyme complex¹
Abstract: The objective of the present study was to evaluate the water consumption and
fecal score of ewes fed with increasing levels of an exogenous enzymatic complex. The
experiment was conducted at the Universidade Federal de Uberlândia - UFU, in the
sheep and goat sector. Five mestizo lambs (Santa Inês/Dorper) were used, with a mean
initial weight of 61.16 ± 5.80 kg and approximately eight months of age. The
experimental design used was 5x5 Latin square, with 5 treatments and 5 replicates per
treatment, totaling 25 experimental units, with the percentages of enzymes (0.0, 0.5, 1.0,
1.5 and 2.0%) being used. There was no significant difference (P> 0.05) for water
consumption (CH2O.animal-1.day-1), water consumption as a function of intake of dry
matter intake (L.kgDM), water consumption of the live weight (CH2O.% LW-1), water
consumption as a function of metabolic weight (CH2O.LW-0.75). Urine volume and
density were not influenced (P> 0.05) by the treatments. There was no significant
difference (P> 0.05) for faecal weight in the natural matter, and the fecal score was not
affected by inclusion of the enzyme complex. It was concluded that the levels of
194
exogenous enzyme tested in the present study did not affect neither the water
consumption nor the faecal score of lambs.
Keywords: cellulase, feces, hydration, nutrition, protease, sheep
Introdução
Pouco se sabe sobre a utilização de enzimas na nutrição de ruminantes visto que
estes possuem mecanismos diferentes de obtenção de energia via fermentação de
carboidratos no ambiente ruminal. Enzimas, amilolíticas, fibrolíticas e proteolíticas,
vem sendo testadas ao longo dos últimos anos visando a melhoria do valor nutritivo de
silagens de cereais (YOUNG et al., 2012), uma vez que estas estão entre os principais
alimentos utilizados na nutrição de ruminantes no Brasil (BERNARDES e RÊGO,
2014).
Para atingir máximo benefício com o uso de enzimas na nutrição de ruminantes,
um grande número de enzimas diferentes ou uma enzima com ação sobre diversos
substratos deveria ser usado na dieta, visto que as rações de ruminantes são compostas
por uma enorme variedade de alimentos incluindo volumosos, concentrados, sub e
coprodutos (TAKIYA, 2016).
O consumo de matéria seca está diretamente relacionado ao fornecimento e
qualidade de água consumida sendo o consumo de água uma variável muito importante
na avaliação de novas dietas para ruminantes. Diante do exposto o objetivo do presente
trabalho foi avaliar o consumo de água e o escore fecal de borregas alimentadas com
níveis crescentes de um complexo enzimático exógeno.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido na Universidade Federal de Uberlândia -UFU, no
Setor de ovinos e caprinos nas dependências da Fazenda Capim Branco no estado de
Minas Gerais de setembro a novembro de 2016. Todos os procedimentos foram
aprovados pelo Comitê de Ética na Utilização de Animais (CEUA) da UFU, registrado
pelo protocolo de nº 017/16.
Foram utilizadas cinco borregas mestiças (Santa Inês/Dorper), com peso inicial
médio de 61,16 ± 5,80 kg e aproximadamente oito meses de idade. No período de
adaptação, todos os animais foram vermifugados, identificados, pesados e distribuídos
aleatoriamente em gaiolas metabólicas, as quais eram providas de comedouro,
bebedouro, cocho com sal mineral e dispositivo apropriado para coleta de fezes e urina.
O experimento teve duração de sessenta dias, sendo compostos por cinco dias de
adaptação e cinco dias de coleta de sobras, fezes, urina.
As dietas foram calculadas para atender às exigências nutricionais de borregas
de porte médio, com ganho médio diário de 200 g.dia-1. As dietas foram fornecidas
duas vezes ao dia, às 08 e às 16h:00, na forma de ração total misturada (RTM), e o
consumo era ajustado de acordo com as sobras do dia anterior, sendo admitido as sobras
de 5 a 10% do total fornecido.
Os animais dispunham de água e sal mineral especifico para espécie ad libitum.
As rações eram compostas de milho moído, farelo de soja, sal mineral e ureia como
concentrado, que compunha 80% da ração, e silagem de milho como volumoso
perfazendo os outros 20%. As enzimas utilizadas compõem um produto comercial
(ALLZYME® SSF) composto por pectinase, protease, fitase, Betaglucanase, xilanase,
195
celulase e amilase, os níveis de enzimas foram calculados de acordo com as
recomendações do fabricante, sendo cada porcentagem de enzima calculada em função
do consumo de matéria seca animal dia (CMS.animal-1.dia-1). As enzimas eram
fornecidas diariamente junto com a alimentação e misturadas ao concentrado no
momento do fornecimento.
Tabela 1 – Proporção dos ingredientes na composição do concentrado da dieta
experimental.
Ingredientes g/kg
Milho Moído 605,0
Farelo de Soja 360,0
Ureia 10,00
Sal Mineral 25,00
A determinação do consumo foi feita pela diferença entre a quantidade ofertada
e as sobras durante cinco dias consecutivos. O delineamento experimental utilizado foi
quadrado latino 5x5, sendo 5 tratamentos e 5 repetições por tratamento totalizando 25
unidades experimentais sendo os tratamentos as porcentagens de enzimas (0,0; 0,5; 1,0;
1,5 e 2,0%).
As análises estatísticas foram realizadas utilizado-se as médias dos tratamentos
sendo avaliadas por estudo de regressão com nível de significância de 5% de
probabilidade.
Resultados e Discussão
Na Tabela 2 são apresentados os dados de consumo de água (CH2O.animal-
1.dia-1), consumo de água em função do consumo de matéria seca (CH2O.CMS),
consumo de água em função do peso vivo (CH2O.%PV-1), consumo de água em função
do peso metabólico (CH2O.PV-0,75), volume, densidade da urina, peso das fezes e
escore fecal de borregas alimentadas com diferentes níveis de um complexo enzimático
exógeno.
Não houve diferença significativa (P>0,05) para os o CH2O.L; CH2O.CMS;
CH2O.%PV -1; CH2O.PV- 0,75. O CH2O médio foi de 3,875 L.animal-1.dia-1 estando
abaixo do normal segundo Nunes, (1998) para animais de clima quente, que é de 5 a 6
L.animal.-1dia-1. De acordo com o NRC (2007), o consumo voluntário de água em
ovinos é de duas a três vezes a ingestão de matéria seca, dessa forma os animais
consumiram o recomendado para espécie.
O volume e a densidade da urina não sofreram influência (P>0,05) dos
tratamentos. A densidade específica da urina está diretamente relacionada com a
capacidade dos rins do animal em concentrá-la. A média para a densidade urinária dos
animais desse experimento foi de 1,034 kg.L estando dentro do recomendado para
pequenos ruminantes que varia de 1,015 a 1,045 (Carvalho, 2008).
196
Tabela 2 - Consumo de água (CH2O.animal-1.dia-1), consumo de água em
função do consumo de matéria seca ingerida (L.kgMS), consumo de água em função do
peso vivo (CH2O.%PV-1), consumo de água em função do peso metabólico (CH2O.PV-
0,75), volume, densidade da urina, peso das fezes e escore fecal de borregas alimentadas
com diferentes níveis de um complexo enzimático exógeno.
Variáveis Tratamentos CV
(%) 0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% L Q DL CH2O (L.dia) 4,102 3,583 4,181 3,630 3,881 0,591 0,654 0,119 13,12
CH2O.CMS
(L,kgMS) 3,956 2,917 3,446 3,051 3,424 0,351 0,120 0,223 20,26
CH2O.%PV-1 6,29 5,55 6,38 5,54 5,97 0,501 0,570 0,086 11,36
CH2O
(mL.PV-0,75) 178,83 157,47 181,60 157,59 169,52 0,524 0,591 0,094 11,80
Volume da
Urina (L) 0,833 0,889 0,932 0,825 0,743 0,371 0,197 0,897 22,05
Densidade da
Urina (kg.L) 1,029 1,030 1,028 1,044 1,042 0,149 0,706 0,585 1,78
Peso das fezes
(g) 0,704 0,610 0,653 0,587 0,703 0,911 0,278 0,673 25,14
Efeito Linear (L); Efeito Quadrático (Q); Desvio da linearidade (DL); Coeficiente de variação
(CV).
Não houve diferença significativa (P>0,05) para o peso das fezes na matéria
natural. O peso das fezes aliado com o escore fecal pode nos indicar a saúde do trato
gastrointestinal o escore fecal também não foi afetado pela inclusão do complexo
enzimático. Novos trabalhos dever ser conduzidos afim de elucidar os mecanismos com
que agem as enzimas no metabolismo animal.
Conclusão
Concluiu-se que os níveis testados de enzima exógena no presente trabalho não
afetaram nem o consumo de água nem o escore fecal das borregas.
Literatura Citada
BERNARDES, T. F.; RÊGO, A. C. Study on the practices of silage production and
utilization on Brazilian dairy farms. Journal of Dairy Science, v.97, n.3, p.1852 -1861,
2014.
CARVALHO, M. B. Semiologia do Sistema Urinário. In: FEITOSA, F.L. Semiologia
Veterinária: a arte do diagnóstico. São Paulo: Roca. Cap. 9, p.389- 409, 2008.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirements of small
ruminants. Washington, D. C.: National Academy Press., 362 p. 2007.
NUNES, I. J. Nutrição animal básica. 2 ed. Belo Horizonte: UFMG, 388 p. 1998.
197
TAKIYA, C, S. Desempenho de bovinos alimentados com dietas contendo enzimas
amilolíticas exógenas. 2016. 83 p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de São Paulo, Pirassununga. 2016.
YOUNG, K. M.; LIM, J. M.; DER BEDROSIAN, M. C. et al. Effect of exogenous
protease enzymes on the fermentation and nutritive value of corn silage. Journal of
Dairy Science, v.95, n.11, p.6687-6694, 2012.
198
Determinação da lignina em feno de capim-tifton 85 por diferentes métodos
Bruno Fernandes Vireira1, Leandro Galzerano
2, Eliane da Silva Morgado
3
1Graduando do Curso de Zootecnia da Universidade Federal de Uberlândia. e-mail: brunofer11@live.com 2Instituto Federal de Brasília – IFB. e-mail: galzeranorural@hotmail.com 3Universidade Federal de Uberlândia. Faculdade de Medicina Veterinária. e-mail: esmorgado@ufu.br
Resumo: A lignina é um componente da parede celular dos vegetais e sua determinação
é de grande importância na nutrição de ruminantes, pois pode limitar a digestão dos
carboidratos fibrosos. Objetivou-se comparar três metodologias para determinação da
lignina em detergente ácido no feno de capim-tifton 85. As metodologias testadas
foram: método 1 - determinação da lignina pelo método INCT-CA F-005/1; método 2 -
determinação da lignina pelo o método 8 da Ankom Technology modificado; método 3
- determinação da lignina após análise da fibra em detergente ácido (FDA) com abertura
do saco de TNT. Não foram observadas diferenças significativas entre os três métodos
avaliados. Os valores médios de lignina obtidos foram: 7,17 %, 7,10 % e 7,11 % de
lignina na matéria seca, respectivamente, para os métodos 1, 2 e 3. Os métodos 2 e 3
podem ser utilizados quando se pretende realizar as análises sequênciais da fibra em
detergente neutro, fibra em detergente ácido e lignina utilizando-se o equipamento
digestor de fibra. Os três métodos avaliados apresentaram-se satisfatórios na
quantificação do teor de lignina no feno de capim-tifton 85.
Palavras–chave: compostos fenólicos, fenilpropanóides, fibra, parede celular vegetal
Determination of lignin in Tifton 85 hay by different methods
Abstract: Lignin is a component of the cell wall of vegetables and its determination is
of great importance in ruminant nutrition as it may limit the digestion of fibrous
carbohydrates. The objective of this study was to compare three methodologies for acid
detergent lignin determination in tifton 85 hay. The methodologies tested were: method
1 - determination of lignin by the INCT-CA method F-005/1; method 2 - determination
of lignin by method 8 of the modified Ankom Technology; method 3 - determination of
lignin after analysis of acid detergent fiber (FDA) with opening of the bag of TNT. No
significant differences were observed between the three evaluated methods. The mean
values of lignin obtained were: 7.17%, 7.10% and 7.11% lignin in the dry matter,
respectively, for methods 1, 2 and 3. Methods 2 and 3 may be used when performing the
sequential analyzes of the neutral detergent fiber, acid detergent fiber and lignin using
the fiber digester equipment. The three evaluated methods were satisfactory in the
quantification of lignin content in tifton 85 hay.
Keywords: fiber, phenolic compounds, phenylpropanoids, plant cell wall
Introdução
A lignina é um componente da parede celular vegetal formada por um complexo
polímero fenólico altamente condensado e considerada indigestível pelos animais
mamíferos (Van Soest, 1994). A sua estimativa é de grande importância na nutrição de
animais herbívoros, pois está associada a fatores que limitam a digestibilidade dos
nutrientes com: a possível a ação tóxica dos ácidos fenólicos sobre os micro-organismos
ruminais não adaptados; a barreira física que a lignina provoca entre os carboidratos da
199
parede celular e as enzimas dos micro-organismos ruminais, e a ligação covalente entre
a lignina e os carboidratos da parede celular, que seria o principal mecanismo pelo qual
a lignina inibe a digestão desses carboidratos (Van Soest, 1994).
Objetivou-se com o este estudo comparar três metodologias de determinação da
lignina em detergente ácido utilizando-se como amostra o feno de capim-tifton 85.
Material e Métodos
O experimento foi realizado no Laboratório de Bromatologia e Nutrição Animal
pertencente à Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de
Uberlândia. Foram avaliados três diferentes métodos analíticos para a determinação da
lignina em detergente ácido, com 10 repetições para cada método. O feno de capim-
tifton 85 foi utilizado como amostra, sendo moído em moinho de facas contendo
peneira com crivo de 1mm, e acondicionado em pote plástico devidamente identificado.
As soluções de detergente ácido e de ácido sulfúrico foram preparadas no laboratório
anteriormente as análises, conforme preconizado por Detman et al. (2012).
Os métodos avaliados para quantificação da lignina foram: Método 1:
determinação da lignina em ácido sulfúrico 12 M, pelo método INCT-CA F-005/1
(Detman et al., 2012), no resíduo da análise da fibra em detergente ácido (FDA)
utilizando-se cadinho filtrante e autoclave; Método 2: determinação da lignina em ácido
sulfúrico 12M pelo método 8 da Ankom Technology (2017) modificado, com
substituição do saco F57 (Ankom
®) pelo saco de TNT (100g/m2). A análise da lignina, neste método, foi realizada no
resíduo da análise da FDA sem abertura dos sacos de TNT, sendo estes colocados em
um béquer e adicionado ácido sulfúrico 12M em quantidade suficiente para cobrir todos
os sacos, misturando os sacos a cada 30 minutos, por um período de 3 horas. A análise
da FDA foi feita segundo o método segundo o método INCT-CA F-003/1 (Detman et
al., 2012) utilizando-se o equipamento determinador de fibra e sacos de TNT (100g/m2),
medindo 5 cm de comprimento por 5 cm de largura, mantendo-se a relação de 20 mg de
matéria seca por centímetro quadrado de superfície (Nocek, 1988); Método 3 –
determinação da lignina em ácido sulfúrico 12M, com abertura do saco de TNT após
análise da FDA. A análise da FDA foi realizada segundo o método INCT-CA F-003/1
(Detman et al., 2012) utilizando-se o equipamento determinador de fibras e sacos de
TNT (100g/m2) medindo 5 cm de comprimento por 5 cm de largura, mantendo-se a
relação de 20 mg de matéria seca por centímetro quadrado de superfície (Nocek, 1988).
Para a análise da lignina foi feita a abertura dos sacos de TNT e transferência
quantitativa do resíduo da FDA para cadinhos filtrantes. Foi adicionada, a cada cadinho
contendo os resíduos, solução de ácido sulfúrico 12M até atingir a metade da altura dos
cadinhos, sendo homogeneizado a cada 30 minutos com bastão de vidro até completar 3
horas. Em sequência, os cadinhos foram filtrados sob vácuo e lavados com água
destilada quente e levados para estufa a 105°C por 16 horas. Em seguida os cadinhos
foram pesados e transferidos para forno mufla a 500°C por 3 horas. A quantificação da
lignina foi feita pela perda de peso após incineração.
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualisado com três
tratamentos (métodos) e dez repetições. Os dados foram avaliados por meio da análise
de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade,
utilizando-se o programa estatístico R 3.3.2 (2015).
200
Resultados e Discussão
Não foram observadas diferenças significativas entre os três métodos avaliados
para quantificar o teor de lignina no feno de capim-tifton 85 (Tabela 1).
Tabela 1. Valores médios do teor de lignina do feno de capim-tifton 85 pelos três
diferentes métodos avaliados.
Item % de lignina na matéria seca
Método 1- INCT-CA F-005/1 7,17 a
Método 2- método 8 Ankom Technology modificado 7,10 a
Método 3 – Abertura do saco de TNT da FDA 7,11 a
CV1
9,37
Valor de P 0,95 1Coeficiente de variação. Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre
si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
A determinação da lignina pelos métodos 2 e 3 (Tabela 1) pode ser uma boa
alternativa quando se pretende realizar analises sequênciais da fibra em detergente
neutro, fibra em detergente ácido e lignina utilizando-se o equipamento digestor de fibra
e sacos de TNT (100g/m2).
Comparando a demanda de tempo entre os três métodos avaliados e a quantidade
da solução de ácido sulfúrico gasta nas análises, o método 2 apresentou-se como mais
rápido e com menor gasto de solução.
O método 8 Ankom Technology (2017), descreve a análise da lignina em
detergente ácido utilizando saco F57 (Ankom ®
). No presente estudo, o método 2
testado foi o método 8 da Ankom Technology modificado, com o uso de sacos de TNT
(100g/m2) ao invés do saco F57 (Ankom
®). Valente et al. (2011) avaliaram a
determinação da fibra em detergente neutro em aparelho digestor de fibra de diferentes
amostras em diferentes sacos e observaram que a utilização de sacos F57 (Ankom ®) e
de TNT (100g/m2), não diferiram na análise da fibra em detergente neutro, indicando
que o sacos de TNT pode ser utilizado como um tecido alternativo ao F57 (Ankom ®)
de maior custo. No entanto, não foram encontrados trabalhos na literatura com
substituição do saco F57 (Ankom ®) pelo saco de TNT (100g/m
2).
Com os resultados obtidos, no presente estudo, pode-se inferido que o uso de
ácido sulfúrico 12M não causou dano aparente nos sacos de TNT, uma vez que a
solução ácida poderia promover a alteração da estrutura física do tecido de TNT, e
proporcionar perda de partículas da amostra avaliada. No entanto, mais estudos devem
ser realizados relacionados à alteração da estrutura física dos sacos de TNT, após o
tratamento ácido. Como o realizado por Casali et al. (2009), que avaliaram a estrutura
física dos sacos de TNT (100g/m2) e do saco F57 (Ankom
®), por meio de microscopia,
após incubação ruminal para a determinação da fibra em detergente neutro indigestível,
e verificaram que os sacos de TNT não sofrem alteração em sua integridade física após
incubação ruminal e após o tratamento com detergente neutro.
Conclusões
Os três métodos avaliados apresentaram-se satisfatórios na quantificação do teor
de lignina no feno de capim-tifton 85.
201
Literatura citada
ANKOM. 2017. Method 8 – determining Acid Detergent Lignin in beakers. Disponível
em: https://www.ankom.com/sites/default/files/document-
files/Method_8_Lignin_in_beakers.pdf. Acesso em: 05/08/2017.
CASALI, A.O.; DETMANN, E.; VALADARES FILHO, S.C.; PEREIRA, J.C.;
CUNHA, M.; DETMANN, K.S.C.; PAULINO, M.F. Estimação de teores de
componentes fibrosos em alimentos para ruminantes em sacos de diferentes tecidos.
Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, p.130-138, 2009.
DETMAM, E.; SOUZA, M.A.; VALADARES FILHO, S.C.; QUEIROZ, A.C.;
BERCHIELLI, T.T.; SALIBA, E.O.S.; CABRAL, L.S.; PINA, D.S. LADEIRA, M.M.;
AZEVEDO, J.A.G. Métodos para análise de alimentos – INCT Ciência Animal.
Visconde do Rio branco: Suprema, 2012. 214p.
NOCEK, J. In situ and other methods to estimate ruminal protein and energy
digestibility: a review. Journal of Dairy Science, v.71, p.2051-2069, 1988.
VALENTE, T.N.P; DETMANN, E.; VALADARES FILHO, S.C.; QUEIROZ, A.C;
SAMPAIO, C.B.; GOMES, D.I. Avaliação dos teores de fibra em detergente neutro em
forragens, concentrados e fezes bovinas moídas em diferentes tamanhos e em sacos de
diferentes tecidos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.40, n.5, p.1148-1154, 2011.
VAN SOEST, P.J. Nutrition ecology of the ruminants. Ithaca, New York: Cornell
University Press, 1994. 6p.
202
Dinâmica do alongamento de folhas e colmos ao longo da rebrotação em pastos de
Brachiaria decumbens cv. Basilisk submetidos a regimes de fertilização¹
Lilian Elgalise Techio Pereira2, Bruna Scalia de Araújo Passos
3, Jorge Luis Malafatti
3,
Luan Jardim de Sousa4, Caio Augusto Bertolini
4, Valdo Rodrigues Herling
2
1Parte da dissertação de mestrado da segunda autora 2Departamento de Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA/USP). e-mail:
ltechio@usp.br; vrherlin@usp.br 3Mestrando do Programa de Pós-graduação em Zootecnia, Área de concentração:
Qualidade e Produtividade Animal, Departamento de Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos
(FZEA/USP). e-mail: brunascalia@usp.br; jorge.malafatti@usp.br 4Graduação em Engenharia de Biossistemas,
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA/USP). e-mail: luan.jardim.sousa@usp.br;
caio.augusto.bertolini@usp.br
Resumo: A compreensão da plasticidade para ajuste em características de crescimento
ao longo da rebrotação é essencial para estabelecer metas de manejo compatíveis com a
amplitude de resistência e tolerância das plantas à desfolhação. Para compreender a
dinâmica do alongamento de folhas e colmos ao longo da rebrotação, pastos de
Brachiaria decumbens cv. Basilisk submetidos a combinações entre regimes de
fertilização e severidades de desfolhação foram avaliados no final de primavera e verão.
O experimento foi realizado na USP/FZEA, de outubro/2016 a março/2017. Os
tratamentos corresponderam a três regimes de fertilização (calagem para elevar a
saturação de base do solo (V%) e adubação com nitrogênio, fósforo e potássio (NPK)):
Fert1= V% de 35 + 1% K/CTC + 9 mg/dm3 de P no solo + 40 kg de N/ha por ano;
Fert2= V% de 50 + 2% K/CTC + 12 mg/dm3 de P no solo + 60 kg de N/ha por ano; e
Fert3= V% de 65 + 3% K/CTC + 15 mg/dm3 de P no solo + 90 kg de N/ha por ano.
Para cada regime de fertilização, os dosséis foram submetidos a duas severidades de
corte (resíduo de 15 e 10 cm). Os tratamentos foram distribuídos em um delineamento
em blocos completos casualizados com três repetições, em arranjo fatorial 3 x 2. A taxa
de alongamento de folhas diminuiu a partir do 15º dia de rebrotação,
independentemente do regime de fertilização ou severidade de corte. Sob menores
níveis de fertilização, a adoção da altura de resíduo a 15 cm favoreceu maiores taxas de
alongamento de folhas, enquanto a maior severidade de desfolhação (10 cm) maximizou
o alongamento foliar quando associada a maiores níveis de fertilização, mas apenas nas
fases intermediárias da rebrotação. O alongamento de colmos ocorre ao final do período
de rebrotação, independentemente do regime de fertilização ou severidade de corte, e
prioritariamente no verão, sendo consequência da entrada da planta no período
reprodutivo nessa época.
Palavras–chave: época de florescimento, fertilidade de solo, saturação por bases
Leaf and stem elongation dynamics during regrowth of Brachiaria decumbens cv.
Basilisk pastures subjected to fertilization regimes
Abstract: The comprehension of plasticity to adjusting growth traits during regrowth is
essential to establish management targets compatible with the range of resistance and
tolerance of plants to defoliation. In order to understand the dynamics of leaf and stem
elongation along regrowth, Brachiaria decumbens cv. Basilisk pastures subjected to
combinations between fertilization regimes and defoliation severities were evaluated
203
during late spring and summer. This experiment was carried out at USP/FZEA from
October/16 to March/17. Treatments corresponded to three fertilization regimes,
characterized by limestone to increase soil base saturation (V%) to 35, 50 or 65% plus
levels of nitrogen (N), phosphorus (P) and potassium (K) fertilization (Fert1, Fert2, and
Fert3), combined with two defoliation severities (stubble of 15 and 10 cm). Treatments
were distributed in a randomized complete block design with three replications (plots of
80 m²), in a factorial arrangement 3 x 2. Leaf elongation rates decreased from 15º day of
regrowth onwards, regardless fertilization regimes or defoliation severities. Under low
fertilization levels, the stubble at 15 cm promoted higher leaf elongation rates,
meanwhile for higher levels of fertilization, the maximization of this trait was favored
when a stubble of 10 cm was adopted, but only at intermediate phases of regrowth.
Stem elongation occurred during the final phases of regrowth, regardless fertilization
regimes or defoliation severities, and prioritarily during summer, being a consequence
of the entrance in the flowering period of the species during this season.
Keywords: flowering period, soil base saturation, soil fertility
Introdução
A compreensão da plasticidade para ajuste em características de crescimento do
indivíduo ao longo do processo de rebrotação é essencial para estabelecer metas de
manejo compatíveis com a amplitude de resistência e tolerância das plantas à
desfolhação. Para a grande maioria das espécies forrageiras tropicais, esse
conhecimento tem sido utilizado para estabelecer metas pré- e pós-pastejo capazes de
assegurar rápida recuperação da área foliar ao longo da rebrotação e máximo acúmulo
de folhas aliado ao mínimo acúmulo de colmos e material morto, de forma a
disponibilizar forragem com elevado valor nutritivo para o animal em pastejo (Da Silva
et al., 2015). Espécies do gênero Brachiaria são as mais utilizadas em sistemas
baseados em pastagens no Brasil. Neste gênero, a Brachiaria decumbens possui
destaque dado sua plasticidade de ajuste em atributos morfofisiológicos que a permitem
manter persistência sob condições de baixa fertilidade de solo, além de adaptar-se e se
manter produtiva sob amplas condições de manejo (Pedreira et al., 2017). Todavia, sua
habilidade de ajuste em atributos de crescimento do indivíduo ao longo da rebrotação,
particularmente folhas e colmos, permanece pouco explorada (Pereira et al., 2018).
Assim, o objetivo deste trabalho é compreender a dinâmica do alongamento de folhas e
colmos ao longo do processo de rebrotação em pastos de Brachiaria decumbens cv.
Basilisk nas épocas de final de primavera e verão, em resposta a níveis de calagem
associada a adubação com nitrogênio, fósforo e potássio (regimes de fertilização) e
submetidos a distintas severidades de desfolhação.
Material e Métodos
O experimento foi realizado na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de
Alimentos (USP/FZEA), Pirassununga, São Paulo, Brasil (21º 36’ N; 47º 15’ W, 620
m), de outubro de 2016 a março de 2017. A espécie estudada foi a Brachiaria
decumbens cv. Basilisk, estabelecida em Latossolo vermelho distrófico, cuja área
experimental era composta por 18 piquetes com 80 m² (10 m x 8 m). As atividades deste
experimento tiveram início a partir do corte de uniformização a 5 cm de altura,
realizado em julho de 2016. Os tratamentos corresponderam a três regimes de
204
fertilização (calagem para elevar a saturação de base do solo (V%) e adubação com
nitrogênio, fósforo e potássio (NPK)), definidas com o objetivo de construir distintos
níveis de fertilidade do solo: Fert1= V% de 35 + 1% K/CTC + 9 mg/dm3 de P no solo
+ 40 kg de N/ha por ano; Fert2= V% de 50 + 2% K/CTC + 12 mg/dm3 de P no solo +
60 kg de N/ha por ano; e Fert3= V% de 65 + 3% K/CTC + 15 mg/dm3 de P no solo +
90 kg de N/ha por ano. Para cada regime de fertilização, os dosséis foram submetidos a
duas severidades de corte, correspondentes a alturas de resíduo de 15 e 10 cm. Os
tratamentos foram distribuídos em um delineamento de blocos completos ao acaso com
três repetições, em esquema fatorial 3 x 2. O critério para definir a condição pré-corte
foi o momento em que o dossel interceptava 95% da radiação solar fotossinteticamente
ativa (IL95%), e os cortes foram realizados com auxílio de roçadora costal. As taxas de
alongamento de folhas (TAlF) e colmos (TAlC), em cm/perfilho por dia, foram obtidas
a partir do monitoramento de 5 perfilhos ao longo do processo de rebrotação, durante
um ciclo de rebrotação no final de primavera e dois no verão, e os valores médios são
apresentadas para intervalos de 5 dias. A análise da variância foi realizada
separadamente para cada estação do ano. Os regimes de fertilização, severidades de
corte, fase de rebrotação e suas interações foram considerados fatores fixos e bloco um
fator aleatório. A fase de rebrotação foi considerada medida repetida no tempo. A
matriz de covariância utilizada para ambas as variáveis no final de primavera foi CSH, e
no verão AR(1) e VC para TAlF e TAlC, respectivamente. Os dados foram analisados
com o PROC MIXED, as médias estimadas pelo LSMEANS, e a comparação entre elas
realizada pelo PDIFF, sendo diferenças declaradas significativas quando P<0,05.
Resultados e Discussão
As taxas de alongamento de folhas variaram com a interação regimes de
fertilização x severidade de corte x fase de rebrotação (P=0,0015) no final de primavera.
Todavia, não houveram efeitos significativos sobre a taxa de alongamento de colmos
(P>0,05) nessa época, a qual manteve-se constante ao longo da rebrotação (0,10 ± 0,03
cm/perfilho por dia), indicando que a meta de IL95% foi efetiva em controlar esse
processo (Da Silva et al., 2015). Diferenças em taxas de alongamento de folhas entre os
regimes de fertilização foram registradas na fase correspondente ao 11o e 15º dias de
rebrotação e na fase seguinte, 16o e 20º dias de rebrotação. De forma geral, a adoção da
altura de resíduo a 15 cm favoreceu a manutenção de maiores taxas de alongamento de
folhas para o menor nível de fertilização, enquanto a maior severidade de desfolhação
maximizou o alongamento foliar quando associada aos maiores níveis de fertilização.
No verão, houve efeito apenas da fase de rebrotação para ambas as variáveis
(P<0,0001), com decréscimos nas taxas de alongamento de folhas entre o 11o e 15º dias
de rebrotação, atingindo os menores valores nas fases finais de rebrotação (Figura 1).
Aumentos de cerca de 146% nas taxas de alongamento de colmos nessa época foram
registradas após os 20 dias de rebrotação, independentemente do regime de fertilização
ou severidade de desfolhação (Figura 1). Maiores taxas de alongamento de colmos no
verão, comparativamente ao final de primavera, também foram reportadas por Fagundes
et al. (2006) para a mesma espécie, sendo este padrão de resposta atribuído à entrada no
reprodutivo, fato que afeta inclusive a altura em que os dosséis atingem o ponto de
IL95% (Pereira et al., 2018).
205
Figura 1 – Taxas de alongamento de folhas (TAlF) e colmos (TAlC) ao longo do período de
rebrotação de pastos de Brachiaria decumbens cv. Basilisk no final de primavera e verão. Para cada
variável e em cada época do ano, letras minúsculas comparam fases do período de rebrotação
(P<0,05).
Conclusões
A taxa de alongamento de folhas em Brachiaria decumbens cv. Basilisk diminui
a partir do 15º dia de rebrotação, independentemente do regime de fertilização ou
severidade de corte. Sob menores níveis de fertilização, a adoção da altura de resíduo a
15 cm favorece maiores taxas de alongamento de folhas, enquanto a maior severidade
de desfolhação (10 cm) maximiza o alongamento foliar se associada a maiores níveis de
fertilização. O alongamento de colmos nessa espécie ocorre prioritariamente no verão,
ao final do período de rebrotação.
Agradecimentos
Ao CNPq, pela concessão de apoio financeiro (Processo Número: 403263/2016-
6) e ao Grupo de Estudos em Forragicultura e Pastagens (GEFEP/FZEA), pelo apoio
nas atividades de campo.
Literatura citada
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understanding plant growth for optimizing their use and management. Agriculture, v.
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Fagundes, J.L.; Fonseca, D.M.; Mistura, C.; Morais, R.V.; Vitor, C.M.T.; Gomide, J.A.;
Nascimento Jr., D.; Casagrande, D.R.; Costa, L.T. Características morfogênicas e
206
estruturais do capim-braquiária em pastagem adubada com nitrogênio avaliadas nas
quatro estações do ano. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, p. 21- 29, 2006.
Pedreira, C.G.S.; Braga, G.J.; Portela, J.N. Herbage accumulation, plant-part
composition and nutritive value on grazed signal grass (Brachiaria decumbens) pastures
in response to stubble height and rest period based on canopy light interception. Crop
& Pasture Science, v. 68, p. 62-73, 2017.
Pereira, L.E.T.; Herling, V.R.; Avanzi, J.C.; Da Silva, S.C. Características morfogênicas
e estruturais de capim- braquiária em resposta a calagem e severidade de corte.
Pesquisa Agropecuária Tropical, v.48, p.1-11, 2018.
207
Efeito de diferentes aditivos alimentares sobre os metabólitos hepáticos e
energéticos de ovinos ¹
Débora Adriana de Paula Silva2, Gilberto de Lima Macedo Junior
3, Laura Ferrari
Monteiro Varanis4, Karla Alves Oliveira
4, Carolina Moreira Araújo
4, Tamires
Soares de Assis4
1Trabalho financiado com recursos do CNPq. 2Graduanda em Zootecnia pela Universidade Federal de Uberlândia e-mail: debora.aps@hotmail.com 3Professor Associado FAMEV/UFU email: gilbertomacedojr@gmail.com 4Mestranda do programa de pós graduação FAMEV/UFU e-mail: laura_ferrari@ymail.com,
karla.alves.oliveira@hotmail.com,
carolina.am@hotmail.com, tamires.manejo@gmail.com.
Resumo: A suplementação através de aditivos é uma ferramenta valiosa na
maximização do desempenho dos animais, melhorando conversão alimentar, ganho de
peso, produção de leite e até mesmo estabilização do ambiente ruminal. Objetivou-se
com o experimento analisar e comparar os efeitos do volumoso Foragge® com
diferentes aditivos sobre o perfil metabólico de ovinos. Para isso ut ilizou-se 20 ovelhas
adultas da raça santa Inês acima de quatro anos, com média de peso 64,50kg, não
gestantes e não lactantes alocadas em gaiolas metabólicas, previamente vermifugadas e
vacinadas. O experimento teve duração de 20 dias sendo duas fases com 10 dias de
adaptação e 5 dias de coleta em cada e foi delineado em blocos casualizados com 5
tratamentos e 8 repetições. Os tratamentos foram: Foragge® Essential; Foragge® Max;
Foragge® AA; Foragge® Bypro e Foragge® Factor, ofertados duas vezes ao dia, as 8h
e as 16h. Foram feitas três coletas de sangue para análise laboratorial, sempre antes da
oferta do alimento para analisar triglicerídeos, colesterol, VLDL, AST, GGT e fosfatase
alcalina. Apenas os valores de colesterol e AST apresentaram diferenças est atísticas.
Triglicerídeos, VLDL e fosfatase alcalina não apresentaram diferenças e mantiveram-se
dentro dos valores de referência, os valores de GGT não apresentaram diferenças,
porém a média dos dados coletados ficou acima do valor de referência. Conclui-se que o
Foragge® Bypro e Factor promovem aumento do colesterol e melhor aproveitamento
energético.
Palavras–chave: tanino; leveduras; extrusão.
Effect of different types of food on the hepatic and energetic metabolites of sheep
Abstract: Feed supplementation through additives is a valuable tool in maximizing
animal performance, improving feed conversion, weight gain, milk production and even
stabilization of the ruminal environment. The objective of this experiment was to
analyze and compare the effects o f the extrudated roughage Foragge® with different
additives on the metabolic profile of sheep. Twenty Santa Inês ewes over four years old
were used, with a mean weight of 64.50 kg, non-pregnant and non-lactating, allocated in
metabolic cages previously vaccinated and dewormed. The experiment was designed in
a complete randomized block with five treatments and eight replications and lasted 20
days, divided in two phases with ten days of adaptation and five days of collection in
each phase. The animals received five types of feed: Foragge® Essential; Foragge®
Max; Foragge® AA; Foragge® Bypro and Foragge® Factor, offered twice a day, 8 am
and 4 pm. Three blood samples were taken for laboratory analysis, always before the
food supply to analyze triglycerides, c holesterol, VLDL, AST, GGT and alkaline
208
phosphatase. Only the values of cholesterol and AST presented statistical differences.
Triglycerides, VLDL and alkaline phosphatase showed no differences and remained
within the reference values, the GGT values did not show differences but the average of
the data collected was above the reference value. It is concluded that Foragge® Bypro
and Factor promote cholesterol increase and better energy utilization.
Keywords: tannin; yeasts; extrusion.
Introdução
Existem diversos suplementos alimentares capazes de promover melhorias no
desempenho de animais ruminantes, entre eles aditivos. Eles são capazes de incrementar
na conversão alimentar, ganho de peso, produção de leite e até mesmo na sanidade dos
animais atuando de diversas maneiras, influenciando na fermentação ruminal,
manutenção do pH e estabilização do ambiente ruminal protegendo-o de agentes
patogênicos (Nicodemo, 2001; De Oliveira, De Moura Zanine e Santos, 2005).
Para estudar os efeitos fisiológicos emprega-se desde 1970 o estudo dos perfis
metabólicos, que é a análise de alguns componentes hemato-bioquimicos específicos
que fornecem informações sobre a homeostase dos animais e até mesmo em relação ao
status nutricional do rebanho (Diaz González et al., 2000). O objetivo do estudo foi
observar e comparar o efeito do Foragge® aditivado com óleos essenciais, tanino,
virginiamicina e leveduras sobre o perfil metabólico energético e hepático de ovinos.
Material e Métodos
O Experimento foi conduzido no setor de caprinos e ovinos da Universidade
Federal de Uberlândia – MG. Foram utilizadas 20 ovelhas adultas da raça Santa Inês,
acima de quatro anos, com peso médio de 64,50 kg não gestantes e não lactantes,
alocadas em gaiolas metabólicas equipadas com comedouro, bebedouro, saleiro, piso
ripado e artefato para separação de fezes e urina. As gaiolas foram colocadas em galpão
de alvenaria com telhas de barro. O experimento teve duração de 30 dias (outubro a
novembro de 2017), dividido em duas fases de quinze dias cada, onde em cada fase dez
foram para adaptação dos animais às condições experimentais e cinco dias de coletas de
dados. Os animais foram vermifugados com Monepantel e vacinados contra
leptospirose, raiva, clostridioses e botulismo.
O alimento (Foragge®) foi ofertado duas vezes ao dia, as 08h da manhã e as 16h
da tarde. Os animais tinham acesso a sal mineral e agua à vontade. Foram realizadas
diariamente as pesagens do ofertado e das sobras de cada animal para determinar o
consumo. Os animais receberam cinco tipos de volumoso extrusado, divididos entre os
tratamentos. Sendo esses, Foragge® Essential - com óleos essenciais; Foragge® Max –
com Virginiamicina®; Foragge® AA – associado com resíduo de levedura; Foragge®
Bypro – com Tanino; Foragge® Factor – com levedura purificada, todos os produtos
foram oferecidos pela empresa Nutratta®. A composição se encontra na tabela 1.
209
Tabela 1. Composição bromatológica dos diferentes tipos de Foragge ®*.
Nutriente (%) Foragge®
Essential
Foragge®
Max Foragge® AA
Foragge®
Bypro
Foragge®
Factor
MS 90,0 90,0 90,0 90,0 90,0
PB 7,2 7,1 7,2 7,0 7,2
FDN 42,2 42,3 42,3 44,7 42,3
FDA 26,3 26,3 26,3 29,8 26,3
EE 1,9 2,0 1,9 1,6 2,0
MM 3,7 3,7 3,7 3,9 3,7
NDT 55,7 55,8 55,8 61,2 55,7
Amido 25,5 25,5 25,4 23,2 25,5
MS – matéria seca; PB – proteína bruta; FDN – fibra em detergente neutro; FDA – fibra em
detergente ácido; EE – extrato etéreo; MM – matéria mineral; NDT – nutrientes digestíveis
totais. *Dados fornecidos pela fabricante Nutratta.
As colheitas de sangue para avaliação dos componentes bioquímicos foram
realizadas por venopunção jugular com auxílio de tubos Vacutainer® sem anti-
coagulante, durante o período de coleta de dados em três dias alternados, sempre no
período da manhã, antes do fornecimento da primeira alimenta ção. As amostras de
sangue coletadas foram centrifugadas a 3000 rpm por 10 minutos, sendo os soros
separados em alíquotas, guardados em microtubos e armazenados em freezer a -5ºC
para posterior análise laboratorial. Todas as amostras foram processadas em analisador
bioquímico automatizado (Bioplus ® 2000), usando kit comercial da Biotécnica®. Os
componentes bioquímicos energéticos e hepáticos analisados foram triglicerídeos,
colesterol, lipoproteína de baixíssima densidade (VLDL), aspartato aminotransferase
(AST), gama glutamiltransferase (GGT) e fosfatase alcalina. A VLDL foi obtida pela
divisão dos valores de triglicerídeos por cinco (FRIEDEWALD; LEVV e
FREDRICKSON, 1972).
O experimento foi delineado em blocos casualizados com cinco tratamentos e
oito repet ições. Foram feitas duas fases, trocando os animais de tratamento e blocando
o efeito dessas fases. Todos os dados apresentam normalidade e homogeneidade. Para
avaliação dos resultados utilizou -se teste T (P<0,05%).
Resultados e Discussão
Podemos observar que houve influência dos tratamentos sobre os metabólitos e
apenas as concentrações séricas de colesterol e AST apresentaram diferenças estatísticas
entre os tratamentos (tabela 2). Triglicerídeos, VLDL e fosfatase não apresentaram
diferenças. Contudo, as médias gerais se mantiveram dentro dos valores de referência.
No entanto a média geral da GGT ficou acima do valor de referência, mesmo não tendo
apresentado diferenças estatísticas.
Tabela 2. Valores médios dos metabólitos energéticos e hepáticos de ovelhas adultas em
função dos tratamentos.
Tratamentos Colesterol Triglicerídeos VLDL AST GGT Fosfatase
Foragge® Essential 42,45B 14,56 2,91 99,46B 59,17 259,95
Foragge® Max 44,58B 15,25 3,05 138,03B 65,27 277,41
Foragge® AA 45,20B 15,67 3,13 129,29B 50,86 248,50
210
Foragge® Bypro 50,05AB 17,53 3,50 170,61AB 83,82 348,12
Foragge®Factor 53,33A 14,76 2,95 242,68A 79,36 281,79
MG 47,12 15,55 3,11 156,02 67,70 283,15
CV (%) 15,94 35,79 35,79 38,96 36,71 37,13
Valor de P 0,0411 0,9239 0,9239 0,0398 0,2194 0,3796
VR* 52-76 9-30 3-4 60-280 20-52 68-387
VLDL – lipoproteínas de baixíssima densidade; AST – aspartato aminotransferase; GGT - gama
glutamiltranferase
Médias seguidas de letras distintas nas colunas diferem pelo teste de T a 5%. Foragge® Essential
- com óleos essenciais; Foragge® Max –com Virginiamicina
®; Foragge
® AA –associado com
resíduo de levedura; Foragge® Bypro –com T anino; Foragge
® Factor –com levedura purificada;
MG – média geral; CV (%) – coeficiente de variação. - * Valores de referência segundo Kaneko
et al. (2008)
Os tratamentos o Foragge® Bypro (contendo tanino) e Foragge® Factor
(contendo leveduras purificadas) se destacaram por elevar significativamente os valores
de colesterol e AST. Esse aumento indica maior aproveitamento energético e
consequentemente maior degradação de celulose e hemicelulose, devido ao fato de que
a síntese do colesterol ocorre no fígado a partir do acetil-CoA, provindo do ácido
acético produzido no rúmen pela fermentação da fibra da dieta ou de aminoácidos
provindos de proteínas degradadas no abomaso (Diaz Gonzalez et al., 2003). Esse efeito
pode ser explicado pelos componentes da dieta utilizada uma vez que aditivos como a
levedura tem capacidade de otimizar o funcionamento ruminal e os taninos de melhorar
aproveitamento da proteína ingerida. Os taninos são polifenóis de origem vegetal
capazes de interagir com moléculas de proteína, aminoácidos e polissacarídeos. Uma de
suas propriedades é a proteção de proteínas da degradação ruminal devido à formação
do complexo t aninoproteína, que é insolúvel e estável nas condições do rúmen. A
dissociação e degradação ocorre então no abomaso, proporcionando melhor utilização
da proteína dietética que será degradada em aminoácidos a serem aproveitados no
metabolismo do animal (Cordão et al. 2010). As leveduras também são muito utilizadas
na alimentação de ruminantes devido ao fato de proporcionarem melhor
desenvolvimento da microbiota ruminal, aumentando a população de bactérias
celulolíticas e diminuindo o número de protozoários (Nicodemo, 2010) ocasionando
melhorias na degradação da fibra no ambiente ruminal.
A aspartato aminotransferase (AST) e a gama glutamiltransferase (GGT) são
enzimas bastante utilizadas como indicadoras de atividade hepática (Souza Meira JR. et
al 2009). O aumento da concentração sérica da enzima AST se associado a outros
sintomas como icterícia está relacionado a lesões graves no fígado (De Jesus, De Souza
e Barcelos, 2014). Entretanto visto que as diferenças nos tratamentos promoveram
aumento do colesterol que este é sintetizado no fígado é possível deduzir que houve
maior atividade do órgão, elevando assim os valores de AST e GGT sanguíneos (De
Jesus, Waitzberg e Campos, 2000).
Conclusões
Concluiu-se que o uso de volumoso extrusado aditivados com levedura
purificada e tanino promovem aumento dos níveis séricos de colesterol e maior
aproveitamento energético sem gerar hepatopatias.
211
Literatura citada
CORDÃO, M.A. et al. Taninos e seus efeitos na alimentação animal: Revisão
bibliográfica. PUBVET, Londrina, V. 4, N. 32, Ed. 137, Art. 925, 2010.
DIAZ GONZALEZ, Felix Hilario et al. Perfil metabólico em ruminantes: seu uso em
nutrição e doenças nutricionais. 2000.
DIAZ GONZALEZ, Felix Hilario; SCHEFFER, Jean LFS. Perfil sangüíneo: ferramenta
de análise clínica, metabólica e nutricional. Simpósio de Patologia Clínica
Veterinária (1.; 2003, Porto Alegre), 2003.
FRIEDEWALD, W. T,; LEVV, R. I.; FREDRICKSON, D. S. Estimation of the
concentration of low-density use of the preparative ultracentrifuge. Clin Chem, v. 18, p.
499-502, 1972.
212
Metabólitos energéticos e hepáticos de ovelhas no final da gestação suplementadas
com dois níveis de concentrado¹
Marco Túlio Santos Siqueira2, Gilberto de Lima Macedo Júnior
3, Thauane Ariel
Valadares de Jesus2, Maria Julia Pereira de Araújo
2, Adriana Lima Silva
2, Paulo Arthur
Cardoso Ruela2
1Parte do trabalho de conclusão de curso do primeiro autor 2Graduando em Zootecnia, bolsista PIBIC/CNPQ. E-mail: marcotulio.s.siqueira@gmail.com 3Professor Adjunto FAMEV/UFU. E-mail: gilbertomacedojr@gmail.com
Resumo: Dentro do sistema de produção de ruminantes a nutrição é responsável pela
maior porcentagem dos custos de produção. A suplementação materna no terço final da
gestação tem mostrado efeitos positivos tanto para a mãe quanto para os fetos. Diante
do exposto objetivou-se avaliar os parâmetros metabólicos energéticos e hepáticos de
ovelhas suplementadas com dois níveis de concentrado na dieta durante o final da
gestação. Para isso utilizou-se 41 ovelhas Santa Inês, ½ sangue e ¾ Santa Inês x Dorper,
com idade superior a dois anos e peso médio de 64 kg, separadas em dois grupos de
acordo com o tratamento, que foram diferentes níveis de concentrado na dieta (300 e
400 gramas/animal/dia). A dieta era composta de silagem de milho e concentrado, sendo
o trato fornecido duas vezes ao dia. Obteve-se o sangue coletado por venopunção
jugular, que foi centrifugado e separado o soro para posterior análise em laboratório. Foi
utilizado delineamento inteiramente casualizado, com medidas repetidas ao tempo. Não
houve diferença entre os tratamentos para as concentrações dos metabólitos energéticos
e hepáticos. LDL, CT/HDL, LDL/HDL e AST apresentaram diferença estatística dentro
do período experimental. Conclui-se que as diferentes quantidades de concentrado não
foram totalmente eficientes em manter o metabolismo energético e hepático dos
animais, alterando a concentração de alguns metabólitos no sangue durante o final da
gestação.
Palavras–chave: ovinos, nutrição, ruminantes
Energetic and hepatic metabolites of sheep at the end of gestation supplemented
with two levels of concentrate
Abstract: Within the ruminant production system, nutrition accounts for the highest
percentage of production costs. Maternal supplementation in the final third of gestation
has shown positive effects for both mother and fetus. The objective of this study was to
evaluate the energetic and hepatic metabolic parameters of sheep supplemented with
two levels of concentrate in the diet during the end of gestation. Thirty-one Santa Inês,
½ blood and ¾ Santa Inês x Dorper ewes, aged over two years and mean weight of 64
kg, were separated into two groups according to the treatment, which were different
levels of concentrate in the diet (300 and 400 grams / animal / day). The diet was
composed of corn silage and concentrate, the tract being supplied twice a day. The
blood collected by jugular venipuncture was obtained, which was centrifuged and
separated the serum for later analysis in the laboratory. A completely randomized
design with repeated measurements was used. There was no difference between the
treatments for the concentrations of energetic and hepatic metabolites. LDL, CT / HDL,
LDL / HDL and AST presented statistical difference within the experimental period. It
was concluded that the different amounts of concentrate were not totally efficient in
213
maintaining the energetic and hepatic metabolism of the animals, altering the
concentration of some metabolites in the blood during the end of gestation.
Keywords: nutrition, ruminants, sheep
Introdução
A suplementação com concentrado para ovelhas gestantes no terço final da
gestação tem se mostrado eficaz em vários aspectos, como aumento do peso ao nascer
de cordeiros e aumento da produção de leite, o que influencia o peso à desmama e causa
redução da duração do anestro pós-parto, impactando diretamente no período de serviço
e no intervalo de partos (GERASEEV et al., 2006). Avaliando o perfil metabólico dos
animais é possível saber se esta nutrição está adequada e atende às exigências
nutricionais dos mesmos, uma vez que em algumas situações de desbalanço nutricional
podem ocorrer alterações nas concentrações de alguns metabólitos sanguíneos
(GONZÁLEZ et al., 2000).
Diante do exposto, objetivou-se avaliar o efeito da utilização de dois níveis de
suplementação com concentrado sobre os parâmetros metabólicos energéticos e
hepáticos de ovelhas gestantes.
Material e Métodos
O experimento foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, nos meses
de julho a agosto de 2016. Foram utilizadas 41 ovelhas gestantes, com idade superior a
dois anos, Santa Inês, ½ sangue e ¾ Santa Inês x Dorper, com peso médio de 64 kg, nas
quais foi realizado ultrassonografia para diagnóstico de gestação, um mês após a
cobertura. Todos os animais foram mantidos em piquetes de 800m2 compostos de
Urochloa brizantha cv. Marandu rico em material fibroso de péssima qualidade devido
ao período seco, até o momento do experimento. Todos os animais tinham acesso à
água, sombra e proteinado.
Para início do experimento os animais foram confinados aos 135 dias de
gestação até o momento do parto, em baias coletivas, distribuídas em dois tratamentos
que se diferenciaram quanto ao nível de inclusão de concentrado (tabela 1) na dieta,
sendo cinco baias para cada tratamento com aproximadamente quatro animais em cada,
deste modo foram colocados 21 animais no tratamento com 300 gramas/animal/dia e 20
animais no tratamento com 400 gramas/animal/dia. A dieta, composta por silagem de
milho e concentrado foi ofertada de modo a suprir o consumo de 2,5% do peso corporal,
sendo divida em duas refeições diárias ofertadas às 8:00 e 16:00 horas.
Tabela 1. Composição centesimal do concentrado.
Ingrediente %
Farelo de milho
Farelo de soja
Farelo de glúten de milho/Promil
Sal mineral
60
22
15
2,25
Ureia protegida 0,75 Houve a inclusão de 200 gramas de adsorvente para cada 100 kg de concentrado batido.
214
As colheitas de sangue para avaliação dos componentes bioquímicos foram por
venopunção jugular com auxílio de tubos Vacutainer® sem anti-coagulante realizadas
aos 135 dias de gestação e depois a cada cinco dias. Todas foram realizadas no período
da manhã, antes do fornecimento da primeira alimentação. As amostras de sangue
coletadas foram centrifugadas a 3500 rpm por 10 minutos, sendo os soros separados em
alíquotas, guardados em microtubos e armazenados em freezer a -5ºC para posterior
análise laboratorial. Os componentes bioquímicos para determinação do metabolismo
energético foram: colesterol, triglicerídeos, LDL (lipoproteína de baixa densidade),
HDL (lipoproteína de alta densidade) e VLDL (lipoproteína de muito baixa densidade).
Para determinação da atividade hepática foram analisados os seguintes componentes
bioquímicos: AST (aspartatoaminotransferase), fosfatase alcalina e GGT
(gamaglutamiltransferase). O LDL foi obtido pela fórmula proposta por Friedewald et
al. (1972); o VLDL dividindo o valor de triglicerídeos por cinco.
LDL = CT – HDL – (TG/5)
Onde: LDL = LDL – colesterol; CT = colesterol total; HDL = HDL – colesterol;
TG = triglicerídeos; TG/5 = VLDL.
Todas as amostras foram processadas em analisador bioquímico automatizado
(Bioplus® 2000), usando kit comercial da GT Lab®.
Adotou-se o delineamento inteiramente casualizado com medidas repetidas ao
tempo, sendo dois tratamentos comparados com o teste de Tukey a 5% e 21 repetições
para o tratamento 300g/dia e 20 repetições para o tratamento 400g/dia. Para comparação
das médias ao longo do tempo foi usado estudo de regressão a 5% de probabilidade.
Resultados e Discussão
Não foi observado diferença entre os tratamentos para as concentrações dos
metabólitos energéticos e hepáticos (tabela 2), porém para os metabólitos lipoproteína
de baixa densidade (LDL), relação entre colesterol total e HDL, relação entre LDL e
HDL (lipoproteína de alta densidade) e aspartato aminotransferase (AST) observou-se
diferença estatística dentro do período experimental.
Os valores de triglicerídeos encontram-se dentro da referência, uma vez que a
dieta dos animais era constituída basicamente de silagem de milho, e alimentos
volumosos são responsáveis pela maior produção de ácido acético no rúmen que é um
dos ácidos graxos voláteis (AGV’s) precursores da síntese de gordura em ruminantes.
Os teores de colesterol também estiveram dentro do esperado em todos os tratamentos e
em quase todos os períodos, o que mostra que a dieta foi eficiente em manter o
metabolismo energético dos animais.
Os valores de HDL estiveram abaixo da faixa de referência nos dois tratamentos
e durante todo o período experimental. Esta lipoproteína é responsável pelo transporte
de colesterol dos tecidos para o fígado para que estes sejam metabolizados, o que indica
que não houve mobilização de colesterol para o fígado. Por outro lado, o LDL esteve
dentro do esperado e consiste de uma lipoproteína originária do fígado e responsável
pelo transporte de colesterol deste para os tecidos periféricos. Quando há predominância
de LDL, existe a tendência maior de deposição de colesterol nos tecidos, porque eles
não conseguem catabolizar o excesso de LDL.
215
A aspartato aminotransferase (AST) é uma enzima citoplasmática e
mitocondrial, presente em vários tecidos como fígado, músculos esquelético e cardíaco.
Observou-se efeito linear negativo para esta enzima quando se avaliou o período
experimental. Porém estes valores se encontram dentro do valor de referência,
indicando que não houve alteração hepática nestes animais. Já a fosfatase alcalina é
usada como indicador de diversas condições patológicas, como a sobrecarga hepática.
De forma geral, os valores desta enzima estiveram dentro da faixa de referência
(KANEKO et al., 2008), também indicando bom funcionamento hepático dos animais.
A gama glutamiltransferase (GGT) é uma enzima usada como parâmetro bioquímico
para indicar alterações hepáticas e biliares. Em ambos os tratamentos essa enzima está
dentro dos valores de referência descritos por Kaneko et al. (2008), indicando que o
fígado desses animais encontravam-se em um metabolismo adequado, no entanto, nos
períodos 145 e 150, os valores de GGT ficaram acima do esperado o que pode indicar o
início de uma sobrecarga hepática, porém não suficiente para afetar os animais.
Tabela 2. Concentração média dos metabólitos energéticos e enzimas hepáticas em
função dos tratamentos e período experimental em dias de gestação e no momento do
parto.
Tratamento (g) Colesterol
(mg/dL)
Triglicerídeos
(mg/dL)
HDL
(mg/dL)
LDL
(g/dL)
VLDL
(g/dL)
300 59,58 20,94 24,62 38,92 4,18
400 61,59 23,98 24,70 41,77 4,79
Período
(dias de gestação)
Colesterol
(mg/dL)
Triglicerídeos
(mg/dL)
HDL
(mg/dL)
LDL1
(mg/dL)
VLDL
(g/dL)
135 60,65 18,92 23,85 35,43 3,78
140 52,48 22,68 24,36 35,75 4,53
145 63,98 26,25 24,79 47,42 5,25
150 (parto) 77,53 23,46 27,76 52,16 4,69
MG 60,63 22,53 24,66 40,41 4,50
CV 15,36 13,14 11,41 21,91 20,48
VR 52-76 9-30 49-53 29,4-65,9 3-4
Tratamento (g) CT/HDL
(mg/dL)
LDL/HDL
(mg/dL) AST (U/L)
Fosfatase
Alcalina
(U/L)
GGT (U/L)
300 2,66 1,86 115,03 87,81 47,77
400 2,97 2,16 107,23 89,89 49,17
Período (dias de
gestação)
CT/HDL2
(mg/dL)
LDL/HDL3
(mg/dL)
AST4
(mg/dL)
Fosfatase
Alcalina (g/dL)
GGT
(g/dL)
135 2,77 1,76 138,72 85,62 45,70
140 2,64 1,90 117,19 104,68 45,02
145 2,94 2,39 80,29 74,70 52,85
150 (parto) 3,29 2,19 85,96 86,38 56,76
MG 2,82 2,02 110,94 88,90 48,50
CV 34,68 12,11 7,07 10,87 7,99
VR 60-280 68-387 20-52 *Valores de referência por Kaneko, Harvey e Bruss (2008) e Ghoreishi et al., 2007; HDL:
lipoproteína de alta densidade; LDL: lipoproteína de baixa densidade; VLDL: lipoproteína de
216
muito baixa densidade; CT/HDL: relação entre colesterol e lipoproteína de alta densidade;
LDL/HDL: relação entre lipoproteína de baixa densidade e lipoproteína de alta densidade; AST:
Conclusões
Conclui-se que a suplementação com concentrado foi eficiente em manter o
metabolismo energético e hepático dos animais alterando a concentração de alguns
metabólitos no sangue durante o final da gestação. Além disso, é importante destacar
que a nutrição durante a fase inicial da gestação pode influenciar negativamente a
produção desses animais, de modo que passam a necessitar de maiores suplementações
ao final da gestação.
Literatura citada
FRIEDEWALD, W. T.; LEVV, R. I.; FREDRICKSON, D. S. Estimation of the
concentration of low-density lipoprotein in plasma, without use of the preparative
ultracentrifuge. Clin Chem, v. 18, p. 499-502, 1972.
GERASEEV, L. C. PEREZ, J. R. O. CARVALHO, P. A. et al. Efeitos das restrições pré
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KANEKO, J.J.; HARVEY, J.W.; BRUSS, M.L. (Eds.) Clinical biochemistry of
domestic animals. 6 ed. New York: Academic Press, 2008. 916 p.
217
O Lactobacillus buchneri pode afetar as perdas fermentativas em um período curto
de armazenagem da silagem de milho?¹
Marina Elizabeth Barbosa Andrade2, Luis Gustavo Rossi
3, Carlos Henrique Silveira
Rabelo4, Ricardo Andrade Reis
5
1Parte da tese de doutorado da primeira autora 2Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Zootecnia, UNESP/FCAV. e-mail:
marina.elizabeth.15@hotmail.com 3Doutorando do Programa de Pós-graduação em Zootecnia, UNESP/FCAV. e-mail: luisrossi@zootecnista.com.br
4Discente do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Pelotas/UFPel. e-mail:
carlos.zoo@hotmail.com 5Discente do Departamento de Zootecnia UNESP/FCAV. e-mail: rareis@fcav.unesp.br
Resumo: Objetivou-se avaliar o efeito da inoculação bacteriana sobre as perdas
fermentativas de silagens de milho armazenadas por 30 dias. O híbrido de milho
Impacto Víptera (Syngenta®) foi colhido mecanicamente com aproximadamente 35% de
matéria seca (MS), e o tamanho médio de partículas foi próximo a 10 mm. Após a
colheita, parte do milho permaneceu sem a aplicação de inoculante (tratamento
controle) e outra parte foi ensilada com Lactobacillus buchneri em uma concentração de
1 × 105 unidades formadoras de colônia (ufc)/g. Tubos de PVC com capacidade de 5 L
foram utilizados como silos experimentais com três repetições por tratamento, os quais
permaneceram fechados por 30 dias. O experimento foi conduzido em delineamento
inteiramente casualizado e as médias foram comparadas pela diferença mínima de
Fisher (opção PDIFF do LSMEANS do SAS; p < 0,05). Em comparação com a silagem
controle, a inoculação da silagem de milho com L. buchneri não alterou (p > 0,05) as
perdas de MS (média geral = 4,58%), produção de efluentes (média geral = 25,4 kg/t de
matéria verde) e perdas por gases (média geral = 0,02% da MS) após o período de 30
dias de armazenamento. O L. buchneri não altera as perdas fermentativas da silagem de
milho armazenada por um curto período de tempo.
Palavras–chave: bactéria heterofermentativa, perda de matéria seca, tempo de
fermentação
Can does Lactobacillus buchneri change fermentative losses of corn silage stored
for a short-period?
Abstract: The objective of this study was to evaluate the effect of bacterial inoculation
on the fermentative losses of corn silages stored for 30 days. The corn hybrid Impacto
Víptera (Syngenta®) was mechanically harvested at ~35% dry matter (DM) content in
order to obtain particles with 10 mm. After harvest, part of the corn remained untreated
(control treatment) and part of the corn was ensiled with at Lactobacillus buchneri at 1
× 105 colony forming unit (cfu)/g of fresh forage. The PVC tubes with 5 L capacity
were used as experimental silos in triplicate. Silos remained stored at room temperature
for 30 days. The experiment was conducted under a completely randomized design, and
means were compared by the Fisher's least significant difference test (PDIFF option of
SAS LSMEANS; p <0.05). As compared with the untreated silage, inoculation with L.
buchneri did not alter DM losses (overall mean = 4.58%), effluent production (overall
mean = 25.4 kg/t fresh matter), and gas losses (overall mean = 0.02% of DM) of corn
silage stored for 30 days. In conclusion, the L. buchneri did not change fermentative
losses of corn silage stored for a short-period time.
Keywords: dry matter loss, fermentation length, heterofermentative bacterium
218
Introdução
A silagem de milho representa a principal fonte de volumoso na alimentação de
ruminantes no Brasil (Bernardes & Rêgo, 2014). Desta maneira, a busca por estratégias
que melhorem a qualidade de fermentação da mesma é imprescindível. Uma dessas
estratégias é a adição de inoculantes bacterianos, destacadamente o Lactobacillus
buchneri (bactéria ácido-lática heterofermentativa), que reduz a proliferação de fungos e
leveduras após a abertura do silo por meio da maior produção de ácido acético (Pedroso
et al., 2007). Outro ponto importante se refere aos parâmetros fermentativos, em que a
ação do L. buchneri deve modular o processo fermentativo resultando na alteração dos
produtos finais da fermentação e, consequentemente, resultar em alteração das perdas
fermentativas (Oliveira et al., 2013). Com isso, o objetivo do nosso trabalho foi avaliar
o efeito do L. buchneri sobre as perdas fermentativas de silagens de milho armazenadas
por 30 dias.
Material e Métodos
O híbrido de milho Impacto Víptera (Syngenta®) foi colhido com 2/3 da linha
de leite no grão, correspondendo a aproximadamente 35% de matéria seca (MS) em
toda a planta. A colheita do milho foi realizada de forma mecanizada com a ensiladeira
New Pecus® da Nogueira Máquinas, contendo quebrador de grãos, visando obterem-se
partículas com tamanho médio próximo a 10 mm. Após a colheita, parte do milho foi
ensilado com L. buchneri CNCM I-4323 (Lallemand Animal Nutrition, Goiânia, GO,
Brasil) em uma concentração de 1 × 105 unidades formadoras de colônia (ufc)/g de
forragem, e outra parte permaneceu sem a adição do inoculante (controle). O inoculante
foi diluído em água destilada (5 L/t) e aplicado sobre a forragem com auxílio de
borrifador manual sob constante homogeneização da forragem. A mesma quantidade de
água foi aplicada sobre a forragem do tratamento controle.
Tubos de PVC com capacidade de 5 L foram utilizados como silos
experimentais em triplicata por tratamento. A compactação da forragem foi realizada
com auxílio de soquetes de madeira visando obter-se uma massa específica próxima a
600 kg/m3 de matéria natural. Posteriormente, os silos foram lacrados com fita adesiva,
pesados e armazenados em temperatura ambiente por 30 dias. No momento da
ensilagem (tempo 0) e posteriormente (tempo 30), a forragem foi amostrada para
determinação do teor de MS, através do processo de secagem em estufa de ventilação
forçada a 55ºC por 72 horas.
Decorridos 30 dias de armazenagem, os silos foram novamente pesados para a
quantificação das perdas de MS, efluentes e perdas por gases, conforme proposto por
Jobim et al., (2007).
O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado. Os
dados foram analisados utilizando-se o procedimento MIXED do SAS (v. 9.4 SAS
Institute Inc., Cary, NC), considerando inoculação bacteriana como efeito fixo e o erro
como fator aleatório. As médias foram comparadas pela diferença mínima de Fisher
(opção PDIFF do LSMEANS do SAS). Em todos os testes, diferenças significativas
foram consideradas a 5% de probabilidade.
Resultados e Discussão
219
Não se observou diferença estatística entre a silagem de milho controle e a silagem de
milho inoculada com L. buchneri, armazenadas por 30 dias, para as variáveis perdas de
MS, produção de efluente e perdas de gases (p > 0,05; Tabela 1). O fato de não ter sido
observado diferenças entre os tratamentos provavelmente está associado ao baixo tempo
de armazenamento da silagem de milho (30 dias). Efeitos do uso de inoculantes
utilizando bactéria ácido-lática heterofermentativa são melhores observados quando a
silagem é armazenada por períodos maiores, devido, principalmente, ao contínuo
aumento na concentração de ácido acético e 1,2- propanodiol (produtos do metabolismo
do ácido lático pelo L. buchneri; Kleinschmit & Kung, 2006).
Tabela 1. Perdas fermentativas em silagem de milho armazenadas por 30 dias em
função da inoculação ou não com L. buchneri.
Silagem Perdas de MS (%
MS)
Produção de efluente (kg/t
MV) Perdas de gases (% MS)
Controle 4,21 ± 1,36 21,5 ± 4,46 0,020 ± 0,006
Inoculada 4,94 ± 1,36 29,3 ± 4,46 0,021 ± 0,006
p-valor 0,723 0,281 0,879
As perdas de MS verificadas neste estudo estão de acordo com àquelas
reportadas por Kleinschmit & Kung (2006), os quais verificaram perdas em torno de 5%
em silagem de milho por meio de uma abordagem meta-analítica.
Conclusões
A utilização do inoculante L. buchneri em silagem de milho armazenadas por 30
dias não diminuiu as perdas fermentativas.
Agradecimentos
Os autores são gratos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP) pela concessão da bolsa de estudos e auxílio
ceiro.
Literatura citada
Bernardes, T.F.; Rêgo, A.C. Study on the practices of silage production and utilization
on Brazilian dairy farms. Journal of Dairy Science, v. 97, p. 1852-1861, 2014.
Jobim, C,C,; Nussio, L,G,; Reis, R,A,; Schmidt, P, Avanços metodológicos na avaliação
da qualidade da forragem conservada, Revista Brasileira de Zootecnia, v, 36,
suplemento especial, p, 101-119, 2007.
Kleinschmit, D.H.; Kung, Jr., L. The effects of Lactobacillus buchneri 40788 and
Pediococcus pentosaceus R1094 on the fermentation of corn silage during various
stages of ensiling. Journal of Dairy Science, v. 89, p. 3999-4004, 2006.
220
Oliveira, M. R.; Neumann, M.; Ueno, R. K.; Neri, J.; Marafon, F. Avaliação das perdas
na ensilagem de milho em diferentes estádios de maturação. Revista Brasileira de Milho
e Sorgo, v.12, n.3, p. 319-325, 2013.
Pedroso, A. de F.; Nussio, L.G.; Loures, D.R.S.; Paziani, S. de F.; Igarasi, M.S.;
Coelho, R.M.; Horii, J.; Andrade, A. de A. Efeito do tratamento com aditivos químicos
e inoculantes bacterianos nas perdas e na qualidade de silagens de cana-de-açúcar.
Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, p.558-564, 2007.
221
Padrão da distribuição nictemeral do comportamento de borregas alimentadas
com níveis crescentes de um complexo enzimático exógeno¹
Thaís Gabriela Taveira Bittar2, Jhone Tallison Lira de Sousa
3, Karla Alves Oliveira
4,
Carolina Moreira Araújo4, Gilberto de Lima Macedo Junior
5, Luciano Fernandes Sousa
6
1Parte da tese de doutorado do segundo autor 2Discente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. E-mail: thais_gbittar@hotmail.com. 3Doutorando do Programa de Ciência Animal Tropical, PPGCat/UFT. 4Discente de Mestrado em Zootecnia, FAMEVZ/UFU, Uberlândia, MG. 5Docente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. 6Docente do Programa de Ciência Animal Tropical, PPGCat/UFT.
Resumo: Objetivou-se com esse trabalho avaliar o comportamento ingestivo de
borregas alimentadas com diferentes inclusões de enzimas exógenas na dieta. O
experimento foi conduzido na Universidade Federal de Uberlândia -UFU, no Setor de
ovinos e caprinos. Foram utilizadas cinco borregas, com peso inicial médio de 61,16 ±
5,80 kg e aproximadamente oito meses de idade. O delineamento experimental utilizado
foi quadrado latino 5x5, sendo 5 tratamentos e 5 repetições por tratamento totalizando
25 unidades experimentais sendo as porcentagens de enzimas (0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%).
O comportamento ingestivo foi realizado durante o período de 24 horas, com
observações de 5 em 5 minutos sendo as variáveis comportamentais: Ócio (O),
Ruminação (R), Ingestão (I) (considerando ingerindo sal, água e alimento) e Mastigação
(M). Não foi observado diferença estatística (P>0,05) para a variável ingestão, ócio,
mastigação consumo de matéria seca em função da ruminação (CMS.Rum), Consumo
de matéria seca em função da mastigação (CMS.Mast). Observou-se diferença
estatística (P<0,05) para as variáveis ruminação e consumo de matéria seca em função
da ingestão (CMS.Ing). Concluiu-se com este trabalho que o comportamento de ovinos
pode ser alterado com a inclusão de complexo enzimático exógeno.
Palavras–chave: aditivo, concentrado, enzimas, nutrição, ovinos, suplementação
Intake behavior nycterohemeral patterns ofewes fed with increasing levels of an
exogenous enzyme complex
Abstract: The objective of this work was to evaluate the ingestive behavior of lambs
fed with different exogenous enzymes in the diet. The experiment was conducted at the
Universidade Federal de Uberlândia - UFU, in the sheep and goat sector. Five lambs
were used, with a mean initial weight of 61.16 ± 5.80 kg and approximately eight
months of age. The experimental design used was 5x5 Latin square, with 5 treatments
and 5 replicates per treatment, totaling 25 experimental units, with the percentages of
enzymes (0.0, 0.5, 1.0, 1.5 and 2.0%) being used. The intake behavior was performed
during the 24 hour period, with observations of 5 in 5 minutes being the behavioral
variables: leisure (L), rumination (R), intake (I) (considering ingesting salt, water and
food) and chew (C). The dry matter intake as a function of chewing (IDM.Chew) was
not statistically significant (P> 0.05) for the intake, leisure, chewing dry matter
consumption as a function of rumination (IDM.Rum). Statistical difference (P <0.05)
was observed for rumination and dry matter intake as a function of intake (IDM.Int). It
was concluded with this work that sheep behavior can be altered with the inclusion of
exogenous enzymatic complex.
Keywords: additive, concentrate, enzymes, nutrition, sheep, supplementation
222
Introdução
Estudos sobre a eficiência de utilização de alimentos vêm sendo cada vez mais
utilizados visando um maior aproveitamento dos nutrientes pelos animais, diminuindo
assim as perdas econômicas e a poluição ambiental com os dejetos da produção. A
utilização de enzimas na nutrição animal vem crescendo bastante nas últimas décadas,
contudo, poucos trabalhos são encontrados na literatura sobre o efeito de enzimas sobre
o comportamento ingestivo de ovinos.
Takia (2016) destaca que um grande número de enzimas diferentes ou uma
enzima com ação sobre diversos substratos deveria ser usado na dieta, visto que as
rações de ruminantes são compostas por uma enorme variedade de alimentos incluindo
volumosos, concentrados, sub e coprodutos.
O conhecimento do comportamento ingestivo de animais que recebem enzimas
como parte da dieta contribuirá na elaboração de rações, maximizando seu uso e
diminuindo as perdas econômicas. Esse trabalho teve como objetivo avaliar o
comportamento ingestivo de borregas alimentadas com diferentes inclusões de enzimas
exógenas na dieta.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido na Universidade Federal de Uberlândia -UFU, no
Setor de ovinos e caprinos nas dependências da Fazenda Capim Branco no estado de
Minas Gerais de setembro a novembro de 2016. Todos os procedimentos foram
aprovados pelo Comitê de Ética na Utilização de Animais (CEUA) da UFU, registrado
pelo protocolo de nº 017/16.
Foram utilizadas cinco borregas, com peso inicial médio de 61,16 ± 5,80 kg e
aproximadamente oito meses de idade. No período de adaptação, todos os animais
foram vermifugados, identificados, pesados e distribuídos aleatoriamente em gaiolas
metabólicas, as quais eram providas de comedouro, bebedouro, cocho com sal mineral e
dispositivo apropriado para coleta de fezes e urina. As dietas foram calculadas para
atender às exigências nutricionais de borregas de porte médio, com ganho médio diário
de 200 g.dia-1
. As dietas foram fornecidas duas vezes ao dia, as 08h e às 16h, na forma
de ração total misturada (RTM). O delineamento experimental utilizado foi quadrado
latino 5x5, sendo 5 tratamentos e 5 repetições por tratamento totalizando 25 unidades
experimentais sendo as porcentagens de enzimas (0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%) calculados
de acordo com as recomendações do fabricante, sendo cada porcentagem de enzima
calculada em função do consumo de matéria seca animal dia (CMS.animal-1
.dia-1
).
Os animais dispunham de água e sal mineral especifico para espécie ad libitum.
As rações eram compostas de milho moído, farelo de soja, sal mineral e ureia como
concentrado, que compunha 80% da ração, e silagem de milho como volumoso
perfazendo os outros 20%. As enzimas utilizadas compunham um produto comercial
(ALLZYME® SSF) composto por pectinase, protease, fitase, betaglucanase, xilanase,
celulase e amilase.
Para a avaliação do comportamento ingestivo os animais foram submetidos à
observação visual por vinte e quatro horas (24 h), no período noturno o ambiente
recebeu iluminação artificial sendo que dias antes as luzes ficavam acesas para que
ocorresse adaptação dos animais. Foram observadas a cada cinco minutos as variáveis
de ingestão de alimento e água, ruminação e ócio, de acordo com a metodologia
223
proposta por (FISCHER et al. 1998). As observações comportamentais foram realizadas
por observadores treinados, em sistema de revezamento e posicionados estrategicamente
de modo a não incomodar os animais. As observações foram iniciadas às 08h da manhã
com término no mesmo horário do dia seguinte. Os cálculos das atividades foram feitos
em minutos por dia, admitindo-se que nos cinco minutos subsequentes a cada
observação, o animal permaneceu na mesma atividade. Já o tempo total de mastigação
foi determinado somando-se os tempos de ingestão e ruminação.
As análises estatísticas foram realizadas utilizadas e as médias dos tratamentos
sendo avaliadas por estudo de regressão com nível de significância de 5% de
probabilidade.
Resultados e Discussão
Na Tabela 1 são apresentados os valores relativos ao comportamento ingestivo e
a eficiência alimentar de borregas recebendo diferentes inclusões de um complexo
enzimático exógeno (CEE). Não houve diferença significativa (P>0,05) para ingestão e
mastigação, sendo observadas médias em porcentagem de 24h de 12,81% e 31,59%
respectivamente para essas atividades. A ausência de diferença estatística sobre as
variáveis comportamentais ingestão e mastigação pode estar relacionadas à semelhança
das dietas experimentais. Entretanto, esperava-se uma redução no tempo de ingestão
com a inclusão do CEE devido atividade degradativa das enzimas sobre os componentes
da dieta, disponibilizando maior quantidade de energia e proteína para o hospedeiro.
Houve diferença significativa (P<0,05) para a ruminação apresentando
comportamento linear decrescente, tendo diminuição de 8,6 minutos para cada 0,5% de
inclusão do CEE. O tempo dedicado à ruminação está diretamente relacionado à
qualidade e à quantidade de alimento consumido (MENDES et al., 2010). No presente
trabalho o tempo médio de ruminação em h.dia-1
para essa atividade foi 4,5 h.dia-1
valor
bem abaixo do encontrado por Figueiredo et al, (2013), que avaliaram o efeito de dietas
distintas sobre o comportamento ingestivo em ovinos, utilizaram dieta a base de silagem
de cana-de-açúcar e observaram o tempo de ruminação de 10,38 h.dia-1. Deve-se
ressaltar que no presente trabalho as rações eram compostas por 80% de concentrado.
Pode-se observar que houve diferença significativa (P>0,05) para a eficiência
alimentar de ingestão (E.Ing), apresentando comportamento quadrático e ponto máximo
estimado (Y = 0,321923+0,181129X-0,070314X2) para E.ing em 0,77% de inclusão do
CEE. O menor valor encontrado para E.Ing foi para o tratamento controle de (0,313 g.h-
1), e o maior para (0,433 g.h
-1) o tratamento com 1% de inclusão. Cirne et al. (2014)
trabalhando com cordeiros alimentados com dietas exclusivas de concentrado
encontraram média para eficiência de ingestão de matéria seca de 0,415 g.h-1
valor
próximo da média encontrada no presente trabalho de 0,397 g.h-1
.
224
Consumo de matéria seca em função da ingestão (CMS.Ing); consumo de matéria seca em
função da ruminação (CMS.Rum); Consumo de matéria seca em função da mastigação
(CMS.Mast); Efeito Linear (L); Efeito Quadrático (Q); Desvio da linearidade (DL); Coeficiente
de variação (CV).
Não foi observado diferença estatística (P>0,05) para a variável ócio. Pode-se
observar que o tempo despendido em ócio foi em média de 985 minutos,
correspondendo a 68,4% do tempo diário. Considerando-se que as dietas possuíam 80%
de concentrado, era esperado que os animais aumentassem o tempo em ócio, contudo,
essa porcentagem está abaixo do encontrado por outros autores que avaliaram o
comportamento de ovinos recebendo altas quantidades de concentrado na dieta e
verificaram 79% e 77% de ócio/dia, respectivamente para os seguintes autores Mendes
et al., 2010 e Cirne et al., 2014.
Conclusões
Concluiu-se com este trabalho que o comportamento de ovinos pode ser alterado
com a inclusão de complexo enzimático exógeno nos níveis testados. Contudo mais
trabalhos devem ser realizados para elucidar os mecanismos com os quais as enzimas
interferem no comportamento dos ruminantes.
Literatura Citada
CIRNE, L. G. A.; OLIVEIRA, G. J. C.; JAEGER, S. M. P. L.; et al. Comportamento
ingestivo de cordeiros em confinamento, alimentados com dieta exclusiva de
concentrado com diferentes porcentagens de proteína. Arquivo Brasileiro de Medicina
Veterinária e Zootecnia, v. 66, n. 1, p. 229–234, 2014.
FIGUEIREDO, M. R. P.; SALIBA, E. O. S.; BORGES, I.; et al. Comportamento
ingestivo de ovinos alimentados com diferentes fontes de fibra. Arquivo Brasileiro de
Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 65, n. 2, p. 485–489, 2013.
FISCHER, V.; DESWYSEN, A.G.; AMOUCHE, E.H. et al. Efeitos da pressão de
pastejo sobre o padrão Nectemeral do comportamento ingestivo de ovinos em pastagem.
Rev. Bras. Zootec., v.27, p.164-170, 1998.
Tabela 1 - Comportamento ingestivo e eficiência alimentar de borregas alimentadas com
níveis crescentes de um complexo enzimático exógeno.
Variáveis Tratamentos Valor de P
CV (%) 0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% L Q DL
Ingestão (min) 456 430 487 448 454 0,883 0,776 0,421 14,44 1Rum (min) 217 178 176 178 174 0,051 0,141 0,558 15,18
Mast (min) 239 252 311 270 280 0,180 0,226 0,314 18,37
Ócio (min) 984 1010 953 992 986 0,883 0,776 0,421 6,67 2CMS.Ing (g/h
-1) 0,313 0,412 0,433 0,417 0,411 0,060 0,054 0,674 17,33
CMS.Rum (g/h-1
) 0,286 0,313 0,265 0,284 0,255 0,334 0,690 0,561 23,00
CMS.Mast (g/h-1
) 0,146 0,174 0,161 0,166 0,154 0,843 0,243 0,630 18,94 1Y = 201,800000-17,200000X (R
2=55,89%);
2Y = 0,321923+0,181129X-0,070314X
2 (R
2=91,60%).
225
MENDES, C.Q.; TURINO, V.F.; SUSIN, I. et al. Comportamento ingestivo de
cordeiros e digestibilidade dos nutrientes de dietas contendo alta proporção de
concentrado e diferentes fontes de fibra em detergente neutro. Rev. Bras. Zootec., v.39,
p.594-600, 2010.
TAKIYA, C, S. Desempenho de bovinos alimentados com dietas contendo enzimas
amilolíticas exógenas. 2016. 83 p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de São Paulo, Pirassununga. 2016.
226
Perfil glicêmico de borregas alimentadas com níveis crescentes de um complexo
enzimático exógeno¹
Marcio Henrique Viana2, Jhone Tallison Lira de Sousa
3, Maria Julia Pereira de Araújo
4,
Thauane Ariel Valadares de Jesus4, Gilberto de Lima Macedo Junior
5, Luciano
Fernandes Sousa6
1Parte da tese de doutorado do segundo autor. 2Mestre em Ciência Animal, Departamento de Reprodução Animal, Escola de Veterinária – UFMG. E-mail:
mhvvet@yahoo.com.br 3Doutorando do Programa de Ciência Animal Tropical, PPGCat/UFT. 4Discente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. 5Docente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. 6Docente do Programa de Ciência Animal Tropical, PPGCat/UFT.
Resumo: Objetivou-se com esse trabalho avaliar a curva glicêmica de borregas
suplementadas com níveis crescentes de um complexo enzimático exógeno. Foram
utilizadas 5 borregas com 8 meses de idade. O delineamento experimental utilizado foi
quadrado latino 5x5, sendo 5 tratamentos e 5 repetições por tratamento totalizando 25
unidades experimentais sendo as porcentagens de enzimas (0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%)
calculada em função do consumo de matéria seca animal dia (CMS.animal-1.dia-1).
Para mensuração da glicemia, realizou-se coletas de sangue por venopunção jugular em
tubos siliconizados com anticoagulante. Os tempos de coleta preestabelecidos foram
(0h, 3h, 6h e 9h e 12h). No presente trabalho o nível de glicose plasmática médio foi de
74,24 mg/dL. Houve diferença significativa (P<0,05) para a glicemia das borregas
alimentadas com 0,5% de enzimas, havendo comportamento linear decrescente e
diminuição de 0,53 mg/dL para cada 0,5% de enzima incluída. Concluímos com o
presente trabalho que a glicemia de borregas pode ser afetada com a utilização de
complexos enzimáticos exógenos.
Palavras–chave: energia, enzimas, glicemia, nutrição, ovinos
Glycemic profile of ewes fed with increasing levels of an exogenous enzyme
complex
Abstract: The objective of this work was to evaluate the glycemic curve of lambs
supplemented with increasing levels of an exogenous enzymatic complex. Five lambs, 8
months old, were used. The experimental design used was 5x5 Latin square, with 5
treatments and 5 replicates per treatment, totaling 25 experimental units, with
percentages of enzymes (0.0, 0.5, 1.0, 1.5 and 2.0%) calculated in function of the inteke
dry matter of animal day (IDM.animal-1.day-1). Blood samples were collected by
jugular venipuncture in siliconized tubes with anticoagulant. The pre-established
collection times were (0h, 3h, 6h and 9h and 12h). In the present study, the mean
plasma glucose level was 74.24 mg/dL. There was a significant difference (P <0.05) for
the glycemia of ewes fed with 0.5% of enzymes, with decreasing linear behavior and
decrease of 0.53 mg/dL for each 0.5% enzyme included. We conclude with the present
work that the glycemia of lambs can be affected with the use of exogenous enzymatic
complexes.
Keywords: energy, enzymes, glycemia, nutrition, sheep
227
Introdução
O interesse do uso de enzimas como aditivos na alimentação de animais em
produção vem crescendo nos últimos anos, em vista do crescente número de trabalhos,
onde tem-se estudado os efeitos de misturas enzimáticas no valor nutritivo dos
alimentos, bem como seu mecanismo de ação, dose, formas de aplicação, e as possíveis
consequências no desempenho animal (BEEFPOINT, 2003).
A glicose continua sendo o componente de escolha no perfil metabólico de
ruminantes, uma vez que pode ser observada variações nos níveis de glicemia quando
ocorre um balanço de energia negativo ou positivo (PEIXOTO & OSORIO, 2007).
Segundo Caldeira (2005), a informação oriunda destes controles em conjunto com a
avaliação da condição corporal, fase do ciclo produtivo e dietas utilizadas permite aferir
adequação de planos alimentares implementados, possibilitando correções imediatas ou
alterações dos ciclos produtivos seguintes.
Objetivou-se com esse trabalho avaliar a curva glicêmica de borregas
suplementadas com níveis crescentes de um complexo enzimático exógeno.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido na Universidade Federal de Uberlândia -UFU, no
Setor de ovinos e caprinos nas dependências da Fazenda Capim Branco no estado de
Minas Gerais de setembro a novembro de 2016. Todos os procedimentos foram
aprovados pelo Comitê de Ética na Utilização de Animais (CEUA) da UFU, registrado
pelo protocolo de nº 017/16.
Foram utilizadas cinco borregas, com peso inicial médio de 61,16 ± 5,80 kg e
aproximadamente oito meses de idade. No período de adaptação, todos os animais
foram vermifugados, identificados, pesados e distribuídos aleatoriamente em gaiolas
metabólicas, as quais eram providas de comedouro, bebedouro, cocho com sal mineral e
dispositivo apropriado para coleta de fezes e urina. As dietas foram calculadas para
atender às exigências nutricionais de borregas de porte médio, com ganho médio diário
de 200 g.dia-1. As dietas foram fornecidas duas vezes ao dia, às 08 e às 16h:00, na
forma de ração total misturada (RTM). O delineamento experimental utilizado foi
quadrado latino 5x5, sendo 5 tratamentos e 5 repetições por tratamento totalizando 25
unidades experimentais sendo as porcentagens de enzimas (0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%)
calculados de acordo com as recomendações do fabricante, sendo cada porcentagem de
enzima calculada em função do consumo de matéria seca animal dia (CMS.animal-
1.dia-1).
Para mensuração da glicemia referente a cada fase experimental, realizou-se o
seguinte; as coletas de sangue foram realizadas por venopunção jugular em tubos
siliconizados com anticoagulante (Fluoreto de Sódio com EDTA 10%) para obtenção de
plasma o sangue foi posteriormente centrifugado e o plasma foi armazenado em
eppendorf para posteriores análises de glicose, os tempos de coleta preestabelecidos
foram (zero hora ou antes do fornecimento da dieta, 3h, 6h e 9h e 12h pós-prandial). As
análises das amostras sanguíneas obtidas durante o período experimental foram
procedidas no Laboratório de Análise de Alimentos pertencente ao curso de Zootecnia
da UFU, campus Umuarama.
O ensaio foi realizado em um delineamento em quadrado latino com medidas
repetidas no tempo para os parâmetros de fluxo contínuo, sendo os tratamentos as
inclusões das dietas e as medidas repetidas os tempos de coleta (zero, 3, 6, 9 e 12h) com
cinco repetições. As análises estatísticas foram realizadas utilizado e as médias dos
228
tratamentos sendo avaliadas por estudo de regressão com nível de significância de 5%
de probabilidade.
Resultados e Discussão
Na Tabela 1 é apresentado o perfil glicêmico de borregas alimentadas com
níveis crescentes de um complexo enzimático exógeno na dieta. Pode-se observar que
houve diferença significativa (P<0,05) para a glicemia das borregas alimentadas com
0,5% de enzimas, havendo comportamento linear decrescente e diminuição de 0,53
mg/dL para cada 0,5% de enzima. Cunningham, (2008), ressalta o controle deste
metabólito é realizado pela insulina e pelo glucagon, sob influência do cortisol,
mantendo as médias dentro do intervalo da normalidade.
Tabela 1 – Glicemia de borregas (mg/dL) alimentadas com níveis crescentes de um
complexo enzimático exógeno.
Efeito Linear (L); Efeito Quadrático (Q); Desvio da linearidade (DL); Coeficiente de variação
(CV).
Kozloski (2011), cita que os ruminantes possuem uma versatilidade bioquímica
diferente dos não-ruminantes pois dispõem de várias rotas metabólicas gliconeogênicas
hepáticas para a manutenção dos níveis glicêmicos na circulação no período pós-
prandial e jejum. Uma queda linear nos níveis de glicose poderia ser causada por uma
diminuição na fermentação ruminal e menor produção de AGCC, principalmente o
propionato que é o principal precursor gliconeogênicos em ruminantes, (KOZLOSKI,
2011), contudo não foram realizadas avaliações ruminais de AGCC, não sendo possível
associar essa diminuição a da glicose plasmática a produção de AGCC.
No presente trabalho o nível de glicose plasmática médio foi de 74,24 mg/dL
estando dentro do recomendado por Kaneko et al. (2008), 50 – 80 mg/dL. São poucos
os trabalhos referentes ao uso de complexos enzimáticos na nutrição de ovinos e pouco
se sabe sobre os mecanismos de ação desses aditivos, dessa forma faz-se necessário
novas pesquisas que busquem compreender e elucidar o funcionamento das enzimas no
metabolismo de ruminantes.
Conclusões
Concluímos com o presente trabalho que a glicemia de borregas pode ser afetada
com a utilização de complexos enzimáticos exógenos. Contudo outros trabalhos devem
Tratamentos Tempo (h) Valor de P
CV (%) 0 3 6 9 12 L Q DL
0,0% 68,20 64,80 63,00 68,40 66,20 0,979 0,601 0,741 10,5% 81,20 75,20 75,40 73,20 66,20 0,043 0,811 0,768
1,0% 68,20 65,20 67,20 63,20 63,80 0,487 0,948 0,870
1,5% 63,80 69,80 77,60 66,80 66,00 0,928 0,083 0,429 15,78 2,0% 66,00 80,40 76,60 66,20 68,40 0,545 0,095 0,144
L 0,223 0,151 0,103 0,542 0,812
Q 0,535 0,475 0,695 0,893 0,653
DL 0,146 0,222 0,300 0,514 0,960 1Y = 89,173333-1,066667X (R2=87,95%).
229
ser realizados para que seja melhor explicado como as enzimas afetam o nível glicêmico
em ovinos.
Literatura citada
BEEFPOINT, 2003. Enzimas fibrolíticas como aditivos na alimentação de bovinos de
corte – parte 1/3. Disponível em: http://www.beefpoint.com.br/enzimas-fibroliticas-
como-aditivos-na-alimentacao-de-bovinos-de-corte-parte-13-17199/. Acessado em:
22/03/2018.
CALDEIRA, R. M. Monitorização da adequação do plano alimentar e do estado
nutricional em ovelhas. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, v. 100, n. 555-
556, p. 125-139, 2005.
CUNNINGHAM, J. G. Tratado de fisiologia veterinária / 4.ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 710 p. 2008.
KANEKO J.J., HARVEY J.W. & BRUSS M.L. Clinical Biochemistry of Domestic
Animals. 6th ed. Academic Press, San Diego. 916p. 2008.
KOZLOSKI, G. V. Bioquímica dos ruminantes. 3ª ed. Revist a e ampliada. Santa
Maria: Editora da UFSM, 2011
PEIXOTO, L. A. O. & OSORIO, M. T. M. Perfil metabólico proteico e energético na
avaliação de desempenho reprodutivo em ruminantes. Revista Brasileira Agrociência,
Pelotas, v.13, n.3, p. 299-304, jul-set, 2007
230
Perfil metabólico energético e enzimático de ovinos recebendo volumoso extrusado
com diferentes aditivos
Jhoanny Rodrigues Dutra1, Gilberto de Lima Macedo Júnior
2, Rosemar Alves de
Carvalho Júnior3, Tamires Soares de Assis
3, Laura Ferrari Monteiro Veranis
3, Karla
Alves de Oliveira3, Carolina Moreira Araújo
3
1Graduanda em Zootecnia – FAMEV/UFU, Uberlândia, MG. jhoannyrodriguesd@hotmail.com 2Professor Associado I FAMEV/UFU, Uberlândia, MG 3Pós-graduando do mestrado em Ciências Veterinárias/UFU, Uberlândia, MG
Resumo: O estudo do perfil metabólico energético e hepático nos animais é importante
para verificar possíveis disfunções diante da dieta fornecida. Objetivou-se com este
estudo avaliar os metabólitos energéticos e hepáticos de ovelhas recebendo dieta a base
de volumoso extrusado Foragge®, Foragge
® Bypro, Foragge
® Max
® e Foragge
® BV.
Foram utilizadas 20 ovelhas adultas da raça Santa Inês, com idade superior a três anos e
peso médio corporal de 64,5 kg, alocadas em gaiolas metabólicas individuais de piso
ripado suspenso, dispostas de bebedouro, comedouro e cocho para sal mineral. O
delineamento experimental utilizado foi o inteiramente ao acaso, com quatro
tratamentos e cinco repetições. A coleta de sangue foi feita por meio de venopunção
jugular, durante três dias alternados anterior à primeira alimentação, para avaliação dos
metabólitos energéticos e hepáticos: colesterol, triglicerídeos, lipoproteína de baixa
densidade (VLDL), aspartato aminotransferase (AST), gama glutamil transferase (GGT)
e fosfatase alcalina. Não houve diferença estatística para nenhum dos parâmetros no
período de tratamento e avaliação. A gama glutamil transferase, e triglicerídeos
apresentaram valores acima dos níveis recomendados e o colesterol apresentou valores
menores que a faixa normal. De maneira geral, o metabolismo energético e hepático
permaneceu nos níveis normais para a espécie ovina.
Palavras–chave: energia, fígado, nutrição, ruminantes
Energetic and enzymatic metabolic profile of sheep receiving voluminous extruded
with different additives
Abstract: The study of energetic and hepatic metabolic profile in animals is important
to verify possible dysfunctions in relation to the diet provided. The objective of this
study was to evaluate the energetic and hepatic metabolites of ewes receiving a diet
based on extruded forage 52.5% Foragge®, Foragge® Bypro, Foragge® Max® and
Foragge® BV. Twenty adult sheep, crossbred Santa Inês, older than 3 years old, and
mean body weight of 64.5 kg were used, allocated to individual metabolic cages of
suspended slab floor, equipped with a drinking fountain, feeder and trough for salt
mineral. The experimental design was completely randomized, with four treatments and
five replicates. Blood collection was done by jugular venipuncture for three days before
the first feeding, for the evaluation of energy and liver metabolites: cholesterol,
triglycerides, very low density lipoprotein (VLDL), aspartate amino transferase (AST),
gamma glutamyl transferase (GGT) and alkaline phosphatase. There was no statistical
difference for any of the parameters in the treatment and evaluation period. The gamma
glutamyl transferase, and triglycerides presented values above the recommended levels
and cholesterol presented values lower than the normal range. In general, energetic and
hepatic metabolism remained at normal levels for the ovine species.
231
Keywords: energy, liver, nutrition, ruminants
Introdução
A inclusão de aditivos na ração extrusada visa a melhorar a eficiência na
alimentação. A adição de tanino e virginiamicina na dieta de ruminantes modulam a
fermentação ruminal e afetam seu metabolismo microbiano. Desta forma, é necessária
avaliação de quais serão os impactos fisiológicos no animal. Segundo González et al.
(2000) situações de desbalanço nutricional podem alterar as concentrações de alguns
metabólitos sanguíneos. Sendo assim, analisar o perfil metabólico dos animais é uma
das formas de concluir que a nutrição atende as exigências nutricionais dos mesmos ou
não.
Objetivou-se com este trabalho avaliar os metabólitos energéticos e hepáticos
em ovelhas recebendo volumoso extrusado com diferentes aditivos.
Material e Métodos
O experimento foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, no mês de
outubro de 2017. Foram utilizadas vinte ovelhas adultas, da raça Santa Inês, com idade
superior a três anos, e peso médio corporal de 64,5 kg, alocadas em gaiolas metabólicas
individuais de piso ripado suspenso, dispostas de bebedouro, comedouro e cocho para
sal mineral. O experimento teve duração de quinze dias, sendo 10 de adaptação e cinco
de coleta de dados, sendo realizado quatro tratamentos com cinco repetições. Os
tratamentos foram caracterizados pela utilização do volumoso extrusado (Foragge®)
com diferentes aditivos incluídos (Tabela 1), sendo: Foragge®
sem inclusão de aditivos,
Foragge® BV – Foragge associado com Virginiamicina
® + Tanino; Foragge
® Bypro –
Foragge®
com Tanino; Foragge®
Max – Foragge® com Virginiamicina
®. O volumoso
extrusado utilizado para a produção do Foragge® foi a Uruchloa. As dietas com os
Foragges foram fornecidas duas vezes ao dia (8:00 e 16:00 horas) e os animais
possuíam acesso ao sal mineral à vontade. Para o acompanhamento do consumo as
sobras foram pesadas e sempre que os valores foram iguais à zero, aumentou-se a
quantidade de alimento fornecido em 10% até atingir sobras equivalentes a 10% do
ofertado. Não houve restrição ao consumo.
Tabela 1. Composição bromatológica dos tratamentos. Dados fornecidos pela Empresa
Nutratta®.
Descrição
Foragge®
Foragge
®
BV
Foragge®
Bypro
Foragge®
Max
Matéria Seca (CMS) % 90,0 90,0 90,0 90,0
Proteína (PB) % 7,1 7,0 7,0 7,1
NDT (NDT) % 55,8 61,2 61,2 55,8
Extrato Etéreo % 2,0 1,6 1,6 2,0
Fibra Det. Neutra
(FDN)
% 42,3 44,7 44,7 42,3
Fibra Det. Ácida
(FDA)
% 26,3 29,8 29,8 26,3
Virginiamicina mg/kg XXX 30,0 XXX 30,0
232
A coleta de sangue para avaliação dos componentes bioquímicos foram por
venopunção jugular com auxilio de Vacuntainer®
acoplado a tubo sem anticoagulante,
todas as coletas foram realizadas durante três dias alternados antes da primeira refeição
do dia, durante a coleta de dados, as amostras de sangue coletadas foram centrifugadas a
3000 rpm por 10 minutos, sendo os soros separados em alíquotas, guardados em
microtubos e armazenados em freezer a -5ºC para posterior analise laboratorial. Todas
as amostras foram processadas em analisador bioquímico automatizado (Bioplus®
2000), usando kit comercial da Biotécnica®. Foram analisados: colesterol, triglicerídeos,
lipoproteína de baixa densidade (VLDL), aspartato aminotransferase (AST), gama
glutamil transferase (GGT) e fosfatase alcalina. Os níveis de VLDL foram obtidos pela
divisão dos valores de triglicerídeos por cinco (Friedewald et al. 1972).
Foi utilizado o delineamento inteiramente ao acaso, com quatro tratamentos e
cinco repetições. Para comparações das médias obtidas os dados foram submetidos ao
teste SNK a 5 % de probabilidade de erro.
Resultados e Discussão
Não houve diferença estatística para as variáveis analisadas (Tabela 2). Os
valores de colesterol ficaram 8% abaixo do valor de referência. O colesterol é precursor
da síntese de hormônios esteróides, sais biliares e vitaminas D, e participa da formação
das membranas celulares. Além do mais, é constituinte das lipoproteínas que são
sintetizadas no fígado e no intestino delgado, e atuam no transporte de lipídios no
organismo (Kaneko et al. 2008). A baixa concentração de colesterol pode estar
relacionada ao alimento extrusado que não é tão eficaz como o volumoso convencional
em produzir ácido acético, principal ácido graxo volátil precursor da síntese de gordura
em ruminantes. Outra explicação é a baixa concentração de lipídeos na dieta.
Tabela 2. Valores médios dos metabólitos energéticos e hepáticos de ovelhas adultas
em função dos tratamentos
Metabólitos energéticos e hepáticos
Tratamentos Colester
ol
Trigliceríde
os
VLDL AST GGT Fosfatase
Foragge®
49,86 37,66 7,53 114,20 56,40 222,26
Foragge® BV 43,66 51,66 10,33 116,13 69,13 152,66
Foragge®
Bypro
46,66 31,80 6,35 75,51 67,80 220,33
Foragge® Max 49,80 48,66 9,73 80,37 62,95 179,64
MG 47,50 42,45 8,48 96,55 64,07 193,72
CV (%) 14,40 30,17 30,17 44,50 37,90 27,97
Valor de P 0,4464 0,0848 0,0848 0,3203 0,8380 0,1649
VR* 52,0-
76,0
9,0-30,0 3,0-4,0 60,0-
280,0
20,0-52,0 0-387,0
Médias seguidas de letras distintas nas colunas diferem pelo teste de T a 5%. Foragge® BV –
Foragge associado com Virginiamicina® + Tanino; Foragge® Bypro – Foragge® com Tanino;
Foragge® Max – Foragge® com Virginiamicina®; Foragge® - sem inclusão de aditivos; MG –
média geral; CV (%) – coeficiente de variação. *VR = Valores de Referência (Kaneko et al.,
2008)
233
Os valores de triglicerídeos se encontram 41,5% acima da taxa normal. Os
triglicerídeos funcionam como sistema eficiente em acumular energia nas épocas em
que a ingestão ultrapassa as necessidades do animal e quando em fases de profunda
necessidade de energia como períodos de restrição alimentar, ocorre a mobilização de
gordura do tecido adiposo para que a demanda energética seja suprida. Os triglicerídeos
presentes no tecido adiposo após sofrer mobilização darão origem aos ácidos graxos que
na corrente sanguínea e são capturados pelo fígado onde será utilizado como fonte de
energia ou convertido em corpos cetônicos que permanecem como reserva de energia
para vários tecidos. Os valores elevados para os triglicerídeos podem ser em função do
Forrage® que possui amido em sua composição, o amido possui uma alta taxa de
digestão ruminal e é uma das maiores fontes de energia usadas na alimentação de
ruminantes. Outra explicação pode ser o baixo gasto energético pelos animais, que se
encontravam em gaiolas metabólicas, com alimento e água de fácil acesso.
Os níveis de VLDL apresentaram valores superiores à faixa de referência
(112%). A VLDL apresentou comportamento semelhante aos triglicerídeos, pois os
triglicerídeos são recobertos por proteínas para a formação de lipoproteínas de baixa
densidade (VLDL), que transporta os triglicerídeos, do fígado para o tecido adiposo, o
que pode explicar seu valor elevado.
A enzima aspartato aminotransferase (AST) quando identificada acima das
concentrações consideradas normais, evidencia que o animal pode desenvolver lesão
hepatocelular secundária, oriundo da excessiva mobilização lipídica. No entanto, no
presente estudo, as concentrações de AST estiveram dentro do intervalo indicando que
esses animais não desenvolveram lesão hepática. A AST, é uma enzima mitocondrial e
citossólica que necessita de uma lesão maior para que seja liberada na corrente
sanguínea, por isso, a avaliação conjunta com outras enzimas deve ser realizada.
A GGT é uma enzima localizada na membrana celular de tecidos como fígado,
rins, pâncreas e intestino, sua maior concentração é nas células tubulares renais e no
epitélio dos ductos biliares. Sua atividade é relativamente alta no fígado de bovinos,
ovinos e caprinos. Aumentos séricos da GGT são verificados principalmente em
animais com desordens hepáticas (Kaneko et al., 2008). No presente estudo, os valores
de GGT permaneceram 23,21% acima dos valores referenciais para espécie, porém para
indicar que houveram lesões ou alterações no fígado também deve-se levar em
consideração os valores de AST e Fosfatase alcalina, que no presente estudo se
mostraram normais. Segundo Kaneko et al. (2008), a fosfatase alcalina é uma enzima
sintetizada em vários tecidos, sendo as maiores concentrações no intestino, rins, ossos e
fígado. Aumento nos níveis de Fosfatase no plasma sanguíneo é consequência de lesões
nos tecidos hepáticos. Os valores para fosfatase alcalina permaneceram dentro da faixa
de referência indicando que não houve nenhuma lesão.
Conclusões
De modo geral, a adição de tanino e virginiamicina no volumoso extrusado
manteve o metabolismo energético e hepático nos níveis normais para a espécie ovina,
indicando não haver distúrbios metabólicos ou lesões nos animais, sendo uma
alternativa benéfica na alimentação de ruminantes.
234
Literatura citada
FRIEDEWALD, W.T., LEVY, R.I., and FREDERICKSON, D.S. 1972. Estimation of
the concentration of low-density lipoprotein cholesterol in plasma, without use of the
preparative ultracentrifuge. Clinical Chemistry 18: 499-502.
GONZÁLEZ, F.H.D.; BARCELLOS, J.; PATIÑO, H.O.; RIBEIRO, L.A. (Eds.). Perfil
metabólico em ruminantes: seu uso em nutrição e doenças nutricionais. 1. ed. Porto
Alegre, 2000. p. 23-30
KANEKO, J.J.; HARVEY, J.W.; BRUSS, M.L. (Eds.) Clinical biochemistry of
domestic animals. 6 ed. New York: Academic Press, 2008.
235
Presença de urânio em fontes de fósforo para a nutrição animal
Avelar A.C1., Ferreira W.M.
1, Faria P.H.R.
2, Torres S.A.
2, Eller J.C.
2
1Department Of Animal Sciences Dzoo Escola De Veterinaria, Universidade Federal de Minas Gerais Belo
Horizonte, Minas Gerais. Email: avelara@ufmg.br 2Neurofort Belo Horizonte, Minas Gerais. Email: phfribeiro@yahoo.com.br
Resumo: Os fosfatos são as fontes de fósforo mais importantes para a agropecuária na
atualidade. Porém estes produtos de origem mineral possuem contaminantes em sua
composição que podem causar danos à saúde humana e animal. O Urânio é o foco deste
trabalho. O elemento foi quantificado em três fosfatos nacionais e comparado e os
teores foram comparados com valores internacionais. O método de análise escolhido é
conhecido como Análise por Nêutrons Retardados, método nuclear instrumental,
preciso, rápido e não destrutivo. Os teores elevados de Urânio encontrado nos fosfatos
apontam para a necessidade de estudos da deposição do Urânio de origem fosfática no
ambiente e nos tecidos animais.
Palavras-chave: bovinos, fosfatos, ração, contaminantes
Abstract: Phosphates are currently the major source of phosphorus in agriculture and
livestock. However, these mineral products present some contaminants in their
structures which may cause harmful effects in animal and man health. This study deals
with Uranium content in phosphates. Three Brazilian phosphates were analysed and
compared with international values. The analytical method was the Analysis by Delayed
Neutrons, a nuclear technique what is instrumental, highly precise, fast and non-
destructive. Monoamonium (MAP) and dicalcium (DCP) phosphates have presented
high Uranium content in their compositions. Results point out the need to evaluate the
deposition of Uranium released by phosphates in the environment and animal tissues.
Keywords: cattle, phosphates, animal formulation, hazardous elements
Introdução
A deficiência de fósforo é um fator constritor severo para a produção vegetal e
animal, especialmente para bovinos criados em pastos tropicais (Tokarnia, Döbereiner e
Peixoto, 2000).
Os fosfatos minerais produzidos a partir de rochas fosfáticas são as fontes de
fósforo mais usadas na nutrição dos solos, sendo também as mais empregadas nas
formulações industriais para a nutrição animal. No Brasil, os principais depósitos de
rochas fosfáticas estão localizados nos estados da Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais,
Pará, Paraíba, Pernambuco, Santa Catarina, Rio Grande do Norte e São Paulo (Data...,
2002). Oitenta por cento das reservas brasileiras de rocha fosfática são de origem ígnea
(Guimarães, Araújo e Peres, 2005). A produção brasileira de rocha fosfática está
concentrada nos estados de Minas Gerais (Triângulo Mineiro e Alto Parnaíba), Goiás e
São Paulo. Em 2003, o mercado interno movimentou um volume aproximado de 5,5
milhões de toneladas de concentrado de rocha fosfática, ocorrendo um crescimento de
8,8% em relação ao ano anterior (Informe..., 2004).
Com a elevação do preço das fontes tradicionais de fósforo, se vislumbra o uso
de produtos alternativos na formulação de dietas para animais; porém a eficiência e a
segurança destes produtos não são completamente conhecidas (Veloso e Medeiros,
236
1999). Um aspecto a ser explorado na busca de fontes de fósforo é o dos contaminantes
que são trazidos como elementos acessórios nas fontes inorgânicas de fósforo.
Praticamente toda rocha fosfática possui elementos tóxicos em sua constituição, como
Arsênio, Cádmio e Urânio (Van Kauwenbergh, 1997 citado por Use..., 2004). É este
último elemento que colocaremos em foco, pois com o aumento na produção
agropecuária, sua entrada no ambiente é cada vez mais freqüente, o que torna o assunto
uma questão ambiental e de saúde pública (Mangini et al, 1979; Scholten &
Timmermans, 1996; Toxicological..., 1999; Use..., 2004).
O Urânio é o elemento natural mais pesado que existe; é nocivo à saúde humana
e animal, não só pela sua radioatividade tão comumente lembrada, mas também pela sua
toxicidade como metal pesado. O Urânio não é um elemento raro no planeta, sendo mais
abundante que a Prata (Ag). O elemento está presente no solo, rochas, águas, vegetais e
animais; praticamente todos organismos vivos possuem Urânio em sua constituição,
mesmo que em diminutas quantidades, geralmente apresentadas em ppm - partes por
milhão ou ppb - partes por bilhão (Mineral..., 1980; Toxicological..., 1999).
Diversos depósitos naturais de fosfatos em todo o mundo apresentam
quantidades significativas de Urânio (Data..., 2002; Use..., 2004). As atividades
antropogênicas como a mineração e a agropecuária, aumentam a quantidade de
contaminantes expostos sobre o meio-ambiente e na cadeia alimentar (Mangini et al,
1979; Toxicological..., 2002).
O Urânio pode entrar no organismo por três principais formas: inalação, ingestão
e contato sobre a pele (Health..., 2002; Toxicological..., 2002). O público em geral que
não trabalha em atividades nucleares, também está exposto ao Urânio, uma vez que
grande parte dos vegetais cultivada extensivamente é produzida em solos adubados com
fertilizantes fosfatados, que sabidamente possuem Urânio em sua constituição. Plantas
subaéreas como a batata Solanum tuberosum e a mandioca Manihot esculenta captam
Urânio através de suas raízes e o armazenam em seu caule; no caule destas plantas
podem ser encontradas concentrações de Urânio mais elevadas que as do solo em que
foram cultivadas. A água potável também é veículo para a entrada de Urânio no
organismo humano (Toxicological..., 1999). Em 1979, pesquisadores alemães
apresentaram evidências do aumento da concentração de Urânio em rios de zonas
agrícolas onde havia um elevado consumo de fertilizantes fosfatados; o Urânio presente
nos fosfatos é carreado para o rio desde as camadas superiores do solo onde este estava
adsorvido na formulação do fertilizante fosfatado. A concentração do Urânio
proveniente dos fosfatos, na água se correlaciona à concentração de HCO3- no rio
(Mangini et al, 1979).
Material e Métodos
O método utilizado é conhecido como Análise por Nêutrons Retardados. O
método é rápido, preciso e não destrutivo (Determination..., 2006). Os nêutrons podem
ser produzidos a partir da fissão - quebra de um núcleo pesado, formando dois novos
núcleos - do Urânio presente na amostra desconhecida quando esta é bombardeada com
nêutrons livres (oriundos do combustível nuclear do reator de pesquisa onde se processa
a análise). Vários produtos de fissão são possíveis na fissão do núcleo de Urânio. Um
exemplo de fissão possível de um núcleo de Urânio é mostrado abaixo: 235
U da amostra + nêutron liberado do combustível 236
U instável 90
Kr + 143
Ba + 3 nêutrons
237
Nesta reação são formados dois novos núcleos (dois novos elementos) a partir de
um núcleo de Urânio presente na amostra. Neste exemplo o Kriptônio e o Bário são
chamados núcleos precursores de nêutrons. Durante a irradiação da amostra, diversos
núcleos de Urânio da amostra são fissionados. Na quebra do núcleo de Urânio são
liberados 2 ou 3 nêutrons. Porém, nem todos nêutrons são liberados ao mesmo tempo.
Primeiro (tempo<10-12
segundos) são emitidos os chamados nêutrons prontos, que
formam aproximadamente 99% do total de nêutrons liberados, e com um atraso entre
0,0001 ou de até vários segundos, surgem 1% de nêutrons, são os nêutrons ditos
retardados. Os nêutrons prontos de fissão são emitidos com uma distribuição contínua
de energia, enquanto os nêutrons retardados apresentam um aspecto discreto. Os
parâmetros experimentais da fissão do Urânio (tais como a probabilidade da formação
dos precursores de nêutrons, energia e fração de nêutrons liberados com retardado) são
bem estudados pela Física Nuclear, o que permite a quantificação do teor de Urânio na
amostra a partir da detecção de nêutrons retardados. O instrumento utilizado na
contagem é o detector proporcional contendo BF3 (trifluoreto de boro), especifico para
detecção de nêutrons. O sistema de detecção contém dois contadores proporcionais de
BF3 simetricamente colocados em uma caixa de paredes grossas de metal que blindam
possíveis radiações ionizantes externas, evitando interferências. Um sistema eletrônico é
acoplado aos detectores, permitindo controlar o tempo de contagem pré-estabelecido
(Determination..., 2006).
Preparo das amostras: os fosfatos foram adquiridos no mercado de Minas Gerais.
Amostras de 100 gramas foram retiradas e moídas em moinho elétrico com o intuito de
se obter uma granulometria de 0,063 mm (#250 na escala Tyler mesh) em mais de 90%
dos grãos e com ao menos 98% dos grãos passantes na peneira de 0,125 mm (#115 na
escala Tyler mesh). Após a peneiragem, o fosfato foi misturado e homogeneizado para
se garantir maior representatividade de amostra. A amostra com a massa de 1,000 grama
foi colocada dentro de um tubo de polietileno, que é o receptáculo próprio para ser
levado à irradiação no reator. Este tubo de amostra depois de fechado foi acondicionado
em um tubo externo de polistireno, padronizado para a irradiação. No reator IPR-R1 do
CDTN/CNEN (Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear da Comissão
Nacional de Energia Nuclear, Belo Horizonte, Minas Gerais) a amostra foi
bombardeada por nêutrons liberados durante a fissão controlada dentro do reator. A
amostra permaneceu pelo período de 60 segundos sob este fluxo de nêutrons. A amostra
foi retirada do reator pelo sistema pneumático, sendo levada até o local onde fica o
contador de nêutrons. Aos 75 segundos após o início da irradiação se deu o início da
contagem. Depois do 60 segundos, a contagem foi interrompida e a amostra foi retirada
de dentro do equipamento. O tempo de contagem de 60 segundos é suficiente para
garantir a precisão estatística. São necessárias as análises de dois padrões com
concentrações conhecidas de Urânio, certificados pela IAEA (International Atomic
Energy Agency). Foram traçadas curvas de detecção de nêutrons tanto para os padrões
quanto para a amostra desconhecida. Com o uso de equações se calculou a concentração
de átomos de Urânio na amostra.
Resultados:
238
Fosfato Teor de Urânio [µg/g]
Monoamônico, 22% P totala
183 ± 9b
Triplo, 19% P totala 34 ± 4
b
Bicálcico, 20% P totala
187± 9b
Rocha, 31% P2O5, Estados Unidos
59c
Rocha, 33% P2O5, Marrocos
82c
Rocha, 29% P2 O5, Mali
123c
Rocha, 28% P2O5, Venezuela
51c
aResultados de fósforo por Colorimetria método vanadato-molibdato (Sarruge & Haag,
1974) bResultados da Análise por Nêutrons Retardados
cVan Kauwenbergh,1997 citado
por Use...,2004.
Discussão dos resultados
O teor de Urânio encontrado nos fosfatos analisados é superior aos valores
encontrados na literatura mundial. A origem geológica dos fosfatos determina os
elementos acessórios e contaminantes que estão presentes no fosfato. No Brasil, a
maioria dos fosfatos explorados é do tipo ígneo, que comumente apresentam altos teores
de Urânio.
Conclusões
O uso dos fosfatos na nutrição de solos e de animais é de vital importância para
a sustentabilidade das atividades agropecuárias. O uso de determinadas rochas fosfáticas
ricas em Urânio contribui para o aumento da exposição deste contaminante no meio-
ambiente e na cadeia alimentar humana e animal. O teor de Urânio nos fosfatos deve ser
investigado e comunicado aos trabalhadores da indústria do fosfato, que estão expostos
a estes produtos diariamente em seu ambiente de trabalho (Scholten & Timmermans,
1996). Os produtores de fosfato devem analisar o teor de Urânio nas frentes friáveis de
fosfato antes de explorá-las, preferindo-se explorar as frentes de menor concentração de
Urânio. Deve ser incentivado o desenvolvimento de novos métodos físicos e químicos
para a retirada de Urânio dos fosfatos.
A presença de Urânio na água, nos alimentos e no ambiente deve ser avaliada.
Estudos verificando a possível deposição de Urânio nos tecidos animais devem ser
desenvolvidos in-vivo, utilizando animais de laboratório.
Literatura citada
DATA set of world phosphate mines, deposits, and occurrences - Part A. Geologic
Data, USA: USGS, 2002. 352 p.
DETERMINATION of delayed neutron parameters and Uranium content of a sample.
Budapest: Department of Nuclear Techniques, Budapest University of Technology and
Economics, 2006. Disponível em:
<http://www.reak.bme.hu/nti/Education/Wigner_Course/WignerManuals/Budapest>.
Acesso em: 01 junho 2006.
239
GUIMARÃES R.C., ARAÚJO A.C., PERES A.E.C. Reagents in igneous phosphate
ores flotation Minerals Engineering, Vol. 18, p. 199-204, 2005.
HEALTH risks of exposure to depleted uranium. The Hague: Health Council of the
Netherlands. Holanda: Gezondheidsraad, 2002 ISBN: 90-5549-387-2, 87 p.
INFORME mineral – Diretoria de Desenvolvimento e Economia Mineral,
Departamento Nacional de Produção Mineral, Ministério de Minas e Energia. Brasília:
Governo Federal do Brasil, 2004. p. 17.
240
Produção de forragem de pastos de Brachiaria brizantha cv. Xaraés em resposta à
adubação nitrogenada¹
Jorge Luis Malafatti2, Caio Augusto Bertolini
3, Lucas da Rocha Carvalho
4, Luan Jardim
de Sousa3, Nathalia Tami Nishida
5, Lilian Elgalise Techio Pereira
6
1Trabalho desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Forragicultura e Pastagens (GEFEP/FZEA) 2Mestrando do Programa de Pós-graduação em Zootecnia, Área de concentração: Qualidade e Produtividade Animal,
Departamento de Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA/USP). e-mail:
jorge.malafatti@usp.br 3Graduação em Engenharia de Biossistemas, FZEA/USP. e-mail: luan.jardim.sousa@usp.br,
caio.bertolini58@gmail.com 4Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciências, Ciência Animal e Pastagens, USP. e-mail: lucasrochacarvalho@usp.br 5Graduação em Zootecnia, FZEA/USP. e-mail: nathalia.nishida@usp.br 6Departamento de Zootecnia, FZEA/USP. e-mail: ltechio@usp.br
Resumo: A Brachiaria brizantha cv. Xaraés possui grande facilidade de adaptação aos
mais variados tipos de solo e clima, sendo altamente responsiva a adubação nitrogenada.
No intuito de avaliar o potencial produtivo dessa espécie para as condições da região
Sudeste, foram avaliadas as taxas de acúmulo e a produção de forragem ao longo da
época das águas em resposta a adubação nitrogenada. O experimento foi realizado na
USP/FZEA, de outubro de 2017 a março de 2018. Os tratamentos correspondem a três
níveis de adubação nitrogenada: 15, 30 e 45 kg/ha de N, sendo as adubações realizadas
após cada corte, utilizando nitrato de amônio (32% N). Os tratamentos foram
distribuídos em delineamento em blocos completos casualisados, com 3 repetições
(parcelas de 40 m²). Os cortes foram realizados a cada 28 dias, com resíduo de 15 cm de
altura. As taxas de acúmulo de forragem (TXAc) de cada ciclo foram calculadas pela
diferença entre a massa de forragem pré e pós-corte de cada ciclo, dividido pelo
intervalo entre cortes, e a produção total de forragem (PTF) do período foi calculada
como o somatório da diferença entre as massas de forragem pré e pós-corte de cada
ciclo avaliado. As TXAc e a PTF responderam linearmente ao aumento nas doses de
nitrogênio aplicadas (P=0,0126 e P= 0,0049, respectivamente). Aumentos da ordem de
2,6 kg MS/ha por dia e cerca de 0,28 t MS/ha foram registrados por cada kg de N
aplicado após o corte. Dentre as doses testadas, a utilização de 45 kg/ha de N por corte é
recomendada para essa espécie.
Palavras–chave: acúmulo de forragem, perfilhamento, fertilidade do solo, degradação
de pastagens.
Forage production of Brachiaria brizantha cv. Xaraés in response to nitrogen
fertilization
Abstract: The Brachiaria brizantha cv. Xaraés has great adaptability to the most varied
types of soils and climates, being highly responsive to nitrogen fertilization. In order to
evaluate the yield potential of this species to the conditions of Southeastern region, it
was evaluated the daily herbage accumulation rate (HAR) and total herbage production
(THP) throughout the rainy season in response to nitrogen fertilization. The experiment
was carried out at USP/FZEA, from October 2017 to March 2018. Treatments
corresponded to levels of nitrogen fertilization, as follow: 15, 30 and 45 kg/ha of N,
being these levels applied after each cutting using ammonium nitrate (32% N).
Treatments were distributed in completely randomized block design, with 3 replicates
241
(plots 40 m²). The harvests were performed every 28 days and the stubble corresponded
to 15 cm. The HAR for each regrowth cycle were calculated as the difference between
pre and post-harvest herbage mass, divided by the cutting interval, and the THP of the
period was obtained from the sum of the differences between pre and post- harvest
herbage mass of each cycle. The HAR and THP linearly increased with nitrogen
fertilization (P=0,0126 e P= 0,0049, respectively). For each kg of N applied after
cuttings, HAR and THP increased, approximately, 2,6 kg MS/ha per day and 0,28 t
MS/ha, respectively. Thus, among the nitrogen fertilization rates evaluated, adoption of
45 kg/ha of N after cuttings is recommended to this species.
Keywords: herbage accumulation, tillering, soil fertility, pasture degradation.
Introdução
O Brasil possui o maior rebanho comercial do mundo, sendo que cerca de 20%
de sua área agricultável é ocupada por pastagens, as quais representam a base dos
sistemas de produção de bovinos (Moreira et al., 2006). Nesses sistemas, os capins do
gênero Brachiaria representam mais de 50% das pastagens cultivadas, recebendo
destaque por sua adaptação às mais variadas condições de solo e clima, e por propiciar
produções satisfatórias de forragem. Dentre essas a Brachiaria brizantha cv. Xaraés
apresenta características agronômicas notáveis, por ser uma planta muito vigorosa e
altamente produtiva, gerando índices de produtividade por área maiores que outras
cultivares da mesma espécie (Euclides et al., 2009). Todavia, para garantir elevada
produção de forragem nesta espécie, é essencial a adoção de níveis de fertilização
adequados. O nitrogênio é o principal nutriente para as plantas e aquele requerido em
maiores quantidades, uma vez que afeta diretamente o perfilhamento, a expansão foliar
e, consequentemente o potencial produtivo (Cabral et al., 2012). Contudo, a baixa
disponibilidade natural deste nutriente no solo, assim como o baixo investimento
tecnológico no tocante a ajustes de manejo e monitoramento da fertilidade do solo, pode
levar a sua deficiência, sendo a combinação de ambas uma das principais causas da
degradação de pastagens. Cabral et al. (2012), avaliando as respostas do capim-xaraés a
doses crescentes de adubação nitrogenada no Mato Grosso, observaram aumentos de
87% na disponibilidade total de forragem por hectare com a aplicação de 333 kg/ha de
N comparativamente aos pastos não adubados, mas recomendam a adoção de cerca de
250 kg/ha de N na época das águas para maximização da disponibilidade de folhas. No
intuito de avaliar o potencial produtivo da Brachiaria brizantha cv. Xaraés para as
condições da região Sudeste, foram avaliadas as taxas de acúmulo e a produção de
forragem de dosséis manejados sob intervalos de cortes de 28 dias em resposta à
adubação nitrogenada.
Material e Métodos
O experimento foi realizado na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de
Alimentos (FZEA-USP), Campus Fernando Costa, Pirassununga, São Paulo (21º 36’ N;
47º 15’ W, 620 m de altitude), de outubro de 2017 a março de 2018. O solo é
classificado como Latossolo Vermelho Distrófico, e o clima da região é o Cwa, com
temperatura média anual de 21,5oC e precipitação total média anual de 1.395 mm. A
espécie forrageira estudada foi a Brachiaria brizantha cv. Xaraés, e a área experimental
era composta por 9 parcelas de 40 m2. Os tratamentos corresponderam a três níveis de
242
adubação nitrogenada (15, 30 e 45 kg/ha de N após cada corte), utilizando nitrato de
amônio (32% N). Os tratamentos foram distribuídos em um delineamento em blocos
casualizados, com 3 repetições, e o critério de bloqueamento foi a fertilidade inicial do
solo. A roçada de uniformização à 15 cm foi realizada em 20/10/2017. Os cortes
subsequentes foram realizados a cada 28 dias à altura de 15 cm (Pedreira et al., 2007). O
primeiro ciclo de crescimento (20 de outubro a 15 de novembro de 2017) foi destinado à
aplicação das adubações de correção (45 kg/ha de P2O5 (superfosfato triplo, 43%) e 30
kg/ha de K2O). A segunda adubação de correção foi realizada em 01 de dezembro de
2017, com o equivalente a 15 kg/ha de P2O5 e 10 kg/ha de K2O por unidade
experimental. Os ciclos de monitoramento foram: C1, de 15/11 a 13/12/17; C2, de
13/12/17 a 10/01/18; e C3 de 10/01 a 10/02/18. As avaliações de massa de forragem
(MF) foram realizadas em cada ciclo, nas condições pós- e pré-corte, a partir de duas
amostras (0,25 m²) coletadas ao nível do solo. Após pesagem, as amostras foram
homogeneizadas e, em seguida, sub-amostradas para determinação do teor de matéria
seca (MS). As taxas de acúmulo de forragem (TXAc) de cada ciclo foram calculadas
pela seguinte equação: TXAc=[(MFpré-MFpós)/intervalo entre cortes, em dias]. A
produção total de forragem (PTF) do período foi calculada como o somatório da
diferença entre as MF pré e pós-corte de cada ciclo avaliado. Os dados foram analisados
com o PROC MIXED do SAS, as médias estimadas pelo LSMEANS, e a comparação
entre elas realizada pelo PDIFF (P<0,05). Para descrever as relações entre dose de
nitrogênio e TXAc e PTF, foi utilizado o procedimento REG, do software SAS®, sendo
as equações escolhidas com base na significância e no coeficiente de determinação (R²).
Resultados e Discussão
As taxas de acúmulo de forragem (TXAc) e a produção total de forragem (PTF)
variaram apenas com as doses de nitrogênio, respondendo de forma linear à adubação
(Figura 1). Aumentos da ordem de 2,6 kg MS/ha por dia e cerca de 0,28 t MS/ha foram
registrados por cada kg de N aplicado via adubação. O aumento na dose de adubação de
15 para 30 kg/ha de N por corte promoveu aumentos de 19,3% e 18,8% em TXAc e
PTF, respectivamente (Tabela 1). Todavia, a aplicação de 45 kg/ha de N por corte,
resultou em aumento de 62,6% e 86,6% em TXAc e PTF, respectivamente, quando
comparada a 30 kg/ha de N por corte. O N é constituinte essencial das proteínas
vegetais e clorofila, interferindo diretamente no processo fotossintético. Além disso, é
necessário no aproveitamento dos carboidratos e auxilia na absorção de outros
nutrientes (Taiz e Zeiger, 2013), sendo o elemento com maior impacto positivo na
produção de forragem, por estimular o perfilhamento, aumentar o índice de área foliar e
a captação de luz pelo dossel (Cabral et al., 2012). Pedreira et al. (2007), trabalhando
com intervalos entre cortes de 28 dias e 120 kg/ha de N, registraram TXAc em torno de
130 kg MS/ha por dia, valores estes inferiores aos observados neste experimento para
uma dose similar de N. Esses resultados evidenciam elevado potencial de resposta dessa
espécie à adubação nitrogenada.
243
Tabela 1: Taxa de acúmulo (kg MS/ha/dia) e produção total de forragem (t MS/ha) em
pastos de Brachiaria brizantha cv. Xaraés submetidos a doses de adubação nitrogenada
Doses (kg de N/ha por
corte) Taxa de Acúmulo de Forragem Produção total de forragem
15 83±10,4 C 6,9±0,88 C
30 99±10,4 B 8,2±0,88 B
45 161±10,4 A 15,3±0,88 A
P-valor para dose P=0,0126 P=0,0049
Médias seguidas de letras maiúsculas distintas na coluna diferem entre si (p<0,05).
Figura 1 – Relação entre as doses de nitrogênio (kg/ha por corte), taxa de acúmulo de forragem
(kg MS ha/dia), e a produção total de forragem (ton MS/ha) em pastos de Brachiaria brizantha
cv. Xaraés
Conclusões
A adubação nitrogenada contribui positivamente para aumentos em taxa de
acúmulo e produção total de forragem em pastos de Brachiaria brizantha cv. Xaraés,
sendo a utilização de 45 kg/ha de N por corte recomendada para essa espécie.
Literatura citada
CABRAL, W.B. et al. Características estruturais e agronômicas da Brachiaria brizantha
cv. Xaraés submetidas a doses de nitrogênio. Revista Brasileira de Zootecnia, v.41,
p.846-855, 2012.
EUCLIDES, V.P.B.; MACEDO, M.C.M.; VALLE, C.B.; DIFANTE, G.S.; BARBOSA,
R.A.; CACERE, E.R.
244
Valor nutritivo da forragem e produção animal em pastagens de Brachiaria brizantha.
Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.44, p.98-106, 2009.
MOREIRA, F.L.M.; MOTA, F.O.B.; CLEMENTE, C.A.; AZEVEDO, B.M.;
BOMFIM, G.V. Adsorção de fósforo em solos do Estado do Ceará. Revista Ciência
Agronômica, v. 37, p. 7-12, 2006.
PEDREIRA, B.C.; PEDREIRA, C.G.S.; SILVA, S.C. Estrutura do dossel e acúmulo de
forragem de Brachiaria brizantha cultivar Xaraés em resposta a estratégias de pastejo.
Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.42, p.281- 287, 2007.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. 954p.
245
Qualidade da silagem de sorgo confeccionada com diferentes tipos de vedação1
Karin Van Den Broek2, Felipe Antunes Magalhães
3, João Victor Silva Barbosa
2,
Vinícius Pereira da Silva2, Gustavo Segatto Borges
2, Matheus Felipe Barbosa Dias
2
1Parte do projeto de iniciação científica da primeira autora. Bolsista PIBIC/FAPEMIG. e-mail:
karin_broek@hotmail.com 2Graduando – UFU. 3Faculdade de Medicina Veterinária – UFU.
Resumo: Objetivou-se avaliar as características qualitativas da silagem de sorgo
submetidas a diferentes tipos de cobertura do silo, apenas com lâmina de polietileno e
com a lâmina associada com uma camada de terra por cima da mesma. O delineamento
experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com 10 repetições. Não foi
verificada diferença entre os tratamentos para as médias das variáveis de temperatura,
pH, fibra em detergente neutro, fibra em detergente ácido, matéria mineral, proteína
bruta e perdas por efluente. Contudo, o teor de matéria seca apresentou
significativamente superior para o tratamento que continha uma camada de terra por
cima do polietileno, 4% superior ao outro tratamento. A adição de terra sobre a lâmina
de polietileno melhora a preservação da silagem.
Palavras chave: controle de perdas, estratégia de vedação, temperatura
Quality of sorghum silagem made from different types of sealings1
Abstract: The objective of this study was to evaluate the qualitative characteristics of
sorghum silage submitted to different types of silo cover, with only a polyethylene
blade and with the blade associated with a layer of soil above it. The experimental
design was completely randomized with 10 replicates. No difference was observed
between the treatments for the average of the variables of temperature, pH, neutral
detergent fiber, acid detergent fiber, mineral matter, crude protein and effluent losses.
However, the dry matter content was significantly higher for the treatment containing a
layer of soil over polyethylene, 4% higher than the other treatment. The addition of soil
on the polyethylene sheet improves silage preservation.
Keywords: losses control, sealing strategies, temperature
Introdução
A ensilagem é uma das técnicas mais conhecidas e empregadas para conservação
de forragens. A planta é colhida e passa por um processo fermentativo anaeróbio, pouco
alterando suas qualidades nutricionais. E, a cultura do sorgo para produção de silagem
tem se mostrado como uma alternativa viável aos produtores rurais, principalmente em
regiões com particularidades edafoclimáticas que limitam o cultivo e/ou o potencial
produtivo da cultura do milho.
Apesar da técnica de ensilagem ser historicamente conhecida e difundida, esta
apresenta perdas, as quais devem ser minimizadas. Assim, para que haja um mínimo de
perdas durante a confecção da silagem além das características das forrageiras, é
importante também o rápido fechamento, boa compactação e expulsão do ar. Logo, este
trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar o efeito de diferentes tipos de
cobertura do silo sobre a qualidade nutricional da silagem de sorgo.
246
Material e Métodos
O híbrido de sorgo AGX-213 foi plantado no início de novembro de 2015 na
Fazenda Experimental Capim Branco da Universidade Federal de Uberlândia. Utilizou-
se um espaçamento entre linhas de 0,8 metros e distribuição de 5,8 sementes por metro
linear. As plantas de sorgo foram colhidas com cerca de 31% de matéria seca (MS),
utilizando colhedora de forragem tracionada por trator. O equipamento foi regulado para
tamanho teórico de corte de partículas de 10 mm.
O tamanho médio de partículas das silagens foi avaliado por estratificação das
amostras com conjunto de peneiras "Penn State Particle Size Separator superior a 19
mm (0,17%), entre 19 e 8 mm (0,3%), entre 8 e 1,18 mm (0,33%) e inferior a 1,18 mm
(0,2%). O tamanho médio de partículas foi estimado por meio da ponderação da
proporção de retenção do material em cada peneira.
Foram avaliados diferentes tipos de cobertura do silo, apenas com lâmina de
polietileno e com a lâmina associada com uma camada de terra por cima da mesma.
Como silos experimentais (unidades experimentais) foram utilizados vinte caixas
d’águas de polietileno com capacidade de 500 litros e superfície superior de 1,13m².
Durante a ensilagem os silos foram abastecidos em camadas e a computação da
forragem foi realizada por pisoteio humano até uma densidade média de compactação
de 200 quilos de MS/m3. Durante o processo de ensilagem foram colocadas três bolsas
de nylon ao longo do perfil de cada silo (porção inferior, média e superior). Cada bolsa
refere-se a um saco de nylon maleável 100% poliamina, com poros de 85 micrômetros e
dimensões de 12 x 50 cm de diâmetro e comprimento, respectivamente, com capacidade
média de 2.000 g e nível de compactação semelhante ao restante do material ensilado.
Cada bolsa foi identificada, pesada individualmente vazia e novamente pesada após seu
enchimento. Para a vedação do mesmo foi utilizado lacre tipo braçadeira flexível de
PVC (policloreto de vinila).
A determinação da produção de efluente foi realizada mediante diferença de
pesagens do conjunto bolsa de nylon mais braçadeira, depois e antes da ensilagem, em
relação à quantidade de matéria verde ensilada. Efetuou-se a estimativa da produção de
efluente drenado pelo saco de nylon, conforme a equação:
PE = Pef x 1000
MVi
Onde: PE = perdas por efluente (kg/t de MV); Pef = peso de efluente (peso do
conjunto vazio após a abertura – peso do conjunto vazio antes do enchimento); MVi =
quantidade de massa verde de forragem ensilada (kg).
Os silos permaneceram fechados e expostos ao ambiente sem proteção durante
um período de 56 dias. Logo após a abertura dos silos, a temperatura média da silagem
foi medida com termômetro digital tipo “espeto”, na profundidade de 0 a15 cm ao longo
do perfil de cada silo (porção inferior, média e superior).
A camada inicial de silagem, de aproximadamente 10 cm foi descartada, e parte
da forragem foi retirada e homogeneizada em uma bandeja plástica. Após a
homogeneização, foi retirada uma amostra representativa da silagem de cada silo. Uma
amostra de 9 gramas de silagem, na forma in natura, foi colocada em um béquer de 250
mL e adicionado 60 mL de água destilada. A leitura do pH é realizada três vezes
consecutivas por intermédio de potenciômetro digital (Digimed), após um repouso de
30 minutos, com agitação do béquer durante as leituras. Posteriormente, amostras da
247
silagem foram pré-secas em estufa de ventilação forçada, a 55ºC por 72 horas. Logo
após, as amostras foram pesadas e moídas em moinho estacionário tipo Willey,
utilizando-se malha de 1mm. O material moído foi armazenado em frascos de
polietileno devidamente vedados e identificados para posteriores análises químicas.
Foi determinado os teores de matéria seca (MS) (INCT-CA, 2012; método G-
003/1), cinzas (INCT-CA, 2012; método M-001/1), proteína bruta (PB)(INCT-CA,
2012; método N-001/1) e conteúdo de nitrogênio (N) pelo método de Kjeldahl; fibra em
detergente neutro (FDN)(INCT-CA, 2012; método F-001/1), fibra em detergente ácido
(FDA)(INCT-CA, 2012; método F-003/1) das amostras pré-secas tanto da forragem no
momento da ensilagem quanto das silagens.
Utilizou-se um delineamento experimental em blocos ao acaso (2 tratamentos x
10 repetições). Os dados coletados para cada parâmetro foram submetidos à análise de
variância, por intermédio do programa estatístico SAS (1999).
Resultados e Discussão
Na Tabela 1 estão apresentadas as variáveis relacionadas com o valor nutritivo
das silagens em função dos tratamentos com ou sem adição de terra sobre o filme de
polietileno em cobertura do silo. Não foi verificada diferença (P>0,05) entre os
tratamentos para as variáveis temperatura, pH, fibra em detergente neutro (FDN), fibra
em detergente ácido (FDA), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB) e perdas por
efluente (kg/t de matériaa verde).
Tabela 1 – Valores médios das variáveis de temperatura, pH, químico-bromatológica e
a perda por efluente da silagem da planta de sorgo submetida a uma vedação adicional
com terra sobre o filme de polietileno ou não no momento da ensilagem
Variáveis Tratamentos CV (%)
Com terra Sem terra
Temperatura 24,50 24,74 8,91
pH 3,71 3,71 1,70
MS 26,00A
25,00B
2,63
FDN1
70,34 70,70 2,30
FDA1
40,20 40,30 4,70
MM1
0,06 0,06 8,34
PB1
5,12 5,30 5,20
Perdas por efluente 10,40 7,10 47,82 MS = matéria seca; MM = matéria mineral; FDN = fibra em detergente neutro; FDA = fibra em
detergente ácido; PB = proteína bruta. CV = Coeficiente de variação em porcentagem. Médias
seguidas por letras maiúsculas distintas na mesma linha diferem estatisticamente entre si pelo
teste Tukey (P<0,05). 1 % na MS
Avaliando os valores médios encontrados nos tratamentos para as variáveis de
MS (25,5%), MM (0,06%), PB (5,21%), FDN (70,52%), FDA (40,3%), perda por
efluente (8,75 kg/t de matéria verde) e pH (3,7), percebe-se que são valores típicos para
silagens nacionais (Valadares et al., 2006). Isso nos mostra que nestas variáveis
analisadas a diferença entre cada tratamento não refletiu em mudança da qualidade da
silagem padrão.
Esperava-se que o uso da terra sobre a lâmina de polietileno iria diminuir a
temperatura da silagem em consequência a promoção de uma barreira aos raios solares
248
sobre a lona. No entanto, não foi encontrado diferença significativa na variável de
temperatura em função do fator terra.
Ao avaliar o pH das silagens, seus valores médios foram de 3,7. Segundo
McDonald et al. (1991), por apresentarem valores de pH entre 3,60 e 4,30 podem
garantir a redução da proteólise e inibição de crescimento de microrganismos
indesejáveis. Desta forma, mesmo não sabendo a velocidade de queda do pH das
silagens durante o processo de fermentação, a classificação para a silagem AGX-213 foi
como de boa qualidade para os diferentes tratamentos.
A silagem submetida a uma cobertura de uma camada de terra sobre o filme de
polietileno apresentou maior (P<0,05) média de MS em relação ao outro tratamento,
26% de MS, valor este 4 % maior comparada a silagem sem cobertura de terra. O
resultado é justificado à maior adesão do filme sobre a forragem, evitando a entrada de
oxigênio. Este mesmo resultado foi observado por Benardes et al., (2009), onde
testaram a efetividade de algumas estratégias de vedação objetivando a redução nas
perdas nas camadas periféricas. As menores perdas foram observadas onde sobre o
filme plástico colocou-se cerca de 100 kg de terra por m2.
Já a redução (17% menor) no teor médio de MS (25,5%) em relação à forragem
fresca (31%) é decorrente do processo respiratório da planta e do metabolismo dos
microrganismos anaeróbios durante a ensilagem. Além das perdas na produção de MS,
as atividades de respiração da planta e crescimento de microrganismos produzem água e
contribuem para a formação de efluentes, embora neste trabalho não tenha sido
observada maior produção de efluentes quando aplicada apenas vedação com lâmina de
polietileno. Isto posto, fica explícito que diferentes formas de vedação não é um fator
relacionado às perdas por efluente.
Os teores de FDN e FDA foram superiores aos encontrados por (Neumann et al.,
2002), que avaliaram diferentes híbridos de sorgo (AGX-213, AG-2002, AGX-217 e
AG-2005E) e obtiveram média de 58,27 e 35,38%, respectivamente para o também
híbrido AGX-213. Estes valores superiores, se devem, possivelmente, por uma menor
densidade de compactação no presente estudo, acarretando à um maior consumo de
constituintes do conteúdo celular da planta por parte dos microrganismos na fase
fermentativa.
Bem como, os teores de PB também foram superiores aos encontrados por
Neumann et al.(2002), que obtiveram média de 4,8% de PB para o hibrido AGX-213, o
qual pode ser justificado pelo efeito de concentração em consequência da redução dos
teores de MS observados. Com isso, fica clara a importância de uma vedação adequada
no momento da ensilagem, já que, a perpetuação no teor de MS da silagem ao longo do
tempo demonstra maior preservação de nutrientes.
Conclusão
O uso de terra como estratégia de proteção do filme de polietileno em cobertura
do silo se mostrou eficiente em reduzir as perdas de matéria seca, porém sem promover
alterações na composição química da silagem.
Literatura citada
BERNARDES, T.F.; AMARAL, R.C.; NUSSIO, L.G. Sealing strategies to control the
top losses in horizontal silos. In: The International Symposium on forage quality and
249
conservation, 2009, São Pedro. Proceedings of the III International Symposium of
forage quality and conservation São Pedro, 2009a, p. 190-209.
DETMANN, E.; SOUZA, M.A.; FILHO, S.C.V.; et al. Métodos para análise de
alimentos. (INCT - Ciência animal). Viçosa: Editora UFV, 2012. 214p.
McDONALD, P.; HENDERSON, N.; HERON, S. The biochemistry of silage. 2.ed.
Marlow: Chalcombe Publications, 1991. 339p.
NEUMANN, M.; RESTLE, J.; ALVES-FILHO, D. C.; et al. Avaliação de diferentes
híbridos de sorgo (Sorghum bicolos L. Moench) quanto aos componentes da planta e
silagens produzidas. Revista Brasileira De Zootecnia, v. 31, n. 1, p. 302–312, 2002.
SAS INSTITUTE. SAS Language reference. Version 6, Cary, NC: 1042p. 1999.
VALADARES FILHO, S.C.; MAGALHÃES, K.A.; ROCHA JUNIOR, V.R.;
CAPELLE, E.R. Tabelas brasileiras de composição de alimentos para bovinos.
Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2006. 329p.
250
Relação entre interceptação luminosa e altura pré-corte em pastos de Brachiaria
decumbens cv. Basilisk submetidos a regimes de fertilização¹
Lilian Elgalise Techio Pereira2, Bruna Scalia de Araújo Passos
3, Jorge Luis Malafatti
3,
Luan Jardim de Sousa4, Caio Augusto Bertolini
4, Valdo Rodrigues Herling
2
1Parte da dissertação de mestrado da segunda autora 2Departamento de Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA/USP). e-mail:
ltechio@usp.br; vrherlin@usp.br 3Mestrando do Programa de Pós-graduação em Zootecnia, Área de concentração: Qualidade e Produtividade Animal,
FZEA/USP. e-mail: brunascalia@usp.br; jorge.malafatti@usp.br 4Graduação em Engenharia de Biossistemas, FZEA/USP. e-mail: luan.jardim.sousa@usp.br;
caio.augusto.bertolini@usp.br
Resumo: A Brachiaria decumbens cv. Basilisk possui ampla plasticidade fenotípica,
sendo capaz de modificar a arquitetura da parte aérea em resposta a oscilações na
disponibilidade de fatores de crescimento, fato que poderia afetar a altura em que os
dosséis atingem a condição pré-corte (IL95%). O experimento foi realizado na
USP/FZEA, de outubro/2016 a março/2017, final de primavera e verão, para avaliar a
relação entre a interceptação luminosa (IL) e a altura pré-corte em pastos de Brachiaria
decumbens cv. Basilisk. Os tratamentos corresponderam a três regimes de fertilização
(níveis crescente de calagem para elevar a saturação de base do solo (V%) e adubação
com nitrogênio, fósforo e potássio (NPK)): Fert1= V% de 35 + 1% K/CTC + 9 mg/dm3
de P no solo + 40 kg de N/ha por ano; Fert2= V% de 50 + 2% K/CTC + 12 mg/dm3 de P
no solo + 60 kg de N/ha por ano; e Fert3= V% de 65 + 3% K/CTC + 15 mg/dm3 de P no
solo + 90 kg de N/ha por ano, e submetidos a duas severidades de corte (resíduo de 15 e
10 cm). Os tratamentos foram distribuídos em um delineamento em blocos completos
casualizados com três repetições, em arranjo fatorial 3 x 2. A altura da condição pré-
corte, correspondente ao ponto de IL95%, variou apenas com a época do ano (P<0,0001),
independentemente dos regimes de fertilização ou severidades de corte (P>0,05). A
relação entre IL e altura variou segundo uma equação quadrática em ambas as épocas do
ano (final de primavera e verão). Manejo sazonal deve ser utilizado em dosséis de
Brachiaria decumbens cv. Basilisk, quando a altura correspondente a IL95% é utilizada
para definir a condição pré-corte, sendo esse ponto correspondente a 20,2 cm no final de
primavera e 28,0 cm no verão.
Palavras–chave: época de florescimento, fertilidade de solo, lotação intermitente,
saturação por bases
Canopy light interception and sward surface height relationship in Brachiaria
decumbens cv. Basilisk pastures subjected to fertilization regimes
Abstract: The Brachiaria decumbens cv. Basilisk is characterized by its wide
phenotypic plasticity, being capable of modify the shoot architecture in response to
variations in the availability of growth factors, which could affect the height in which
the canopies reach the pre-harvest phase (LI95%). This experiment was carried out at
USP/FZEA, from October/16 to March/17, late spring and summer, aiming to evaluate
the relationship between canopy light interception (LI) and the canopy height at the pre-
harvest stage in pastures of Brachiaria decumbens cv. Basilisk. Treatments
corresponded to three fertilization regimes, characterized by limestone to increase soil
251
base saturation (V%) to 35, 50 or 65% plus levels of nitrogen (N), phosphorus (P) and
potassium
(K) fertilization (Fert1, Fert2, and Fert3), and subjected to two severities of defoliation
(stubble of 15 and 10 cm). Treatments were distributed in a randomized complete block
design with three replications (plots of 80 m²), in a factorial arrangement 3 x 2. The pre-
harvest canopy height, corresponding to the point of LI95%, varied only with the season
(P<0.0001), regardless fertilization regimes and severities of defoliation (P>0.05). The
variations of LI and canopy height along regrowth followed a quadratic relationship in
both seasons. Seasonal management should be adopted on B. decumbens cv. Basilisk
pastures, when the canopy height corresponding to LI95% is used to define the pre-
harvest stage. This point corresponded to 20.2 cm during late spring and 28.0 cm in
summer.
Keywords: flowering period, intermittent stocking, soil base saturation, soil fertility
Introdução
Grandes avanços com relação ao manejo de pastagens têm sido obtidos no Brasil
nos últimos anos. Metas de manejo têm sido estabelecidas para as gramíneas tropicais
perenes de maior expressão no cenário produtivo nacional, incluindo-se as espécies do
gênero Brachiaria. Apesar disso, critérios adequados de manejo de pastos de Brachiaria
decumbens cv. Basilisk mantidos sob lotação intermitente ainda não foram claramente
definidos.
Metas de manejo são definidas com o objetivo de maximizar o acúmulo de
folhas e, por consequência, o valor nutritivo da forragem disponível ao animal em
pastejo, ao mesmo tempo em que minimizam o alongamento de colmos e estiolamento
dos indivíduos, e acúmulo de material morto. O alongamento de colmos é uma resposta
típica de escape ao sombreamento, fato que torna frequência de desfolhação o principal
modulador da disponibilidade de luz que penetra o dossel, já que define a duração do
período de rebrotação (Da Silva et al., 2015). Em gramíneas tropicais cespitosas, o
alongamento de colmos e a mortalidade de perfilhos são intensificados quando o
período de rebrotação ultrapassa o momento em que o dossel intercepta 95% da luz
incidente (IL95%), sendo esse ponto altamente correlacionado com a altura do dossel.
Portela et al. (2011) descreveram que as metas de manejo que maximizam o
aparecimento e sobrevivência de perfilhos em pastos de Brachiaria decumbens cv.
Basilisk são aquelas em que a interrupção da rebrotação ocorre no ponto correspondente
a IL95% associada a severidade de desfolhação correspondente ao resíduo de 10 cm.
Todavia, Pedreira et al. (2017) e Pereira et al. (2018) relataram que essa espécie possui
ampla plasticidade fenotípica, sendo capaz de modificar a arquitetura da parte aérea em
resposta a oscilações na disponibilidade de fatores de crescimento, fato que poderia
afetar a altura em que os dosséis atingem o ponto de IL95% quando submetida a distintos
condições de fertilidade do solo ou níveis de adubação. Com base no exposto, o
objetivo deste trabalho foi avaliar a relação entre a interceptação luminosa e a altura do
dossel atingida na condição pré-corte em pastos de Brachiaria decumbens cv. Basilisk
submetidos a regimes de fertilização (distintos níveis de calagem + adubação com
NPK), nas épocas de final de primavera e verão.
252
Material e Métodos
O experimento foi realizado na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de
Alimentos (USP/FZEA), Pirassununga, São Paulo, Brasil (21º 36’ N; 47º 15’ W, 620
m), de outubro de 2016 a março de 2017. A espécie estudada foi a Brachiaria
decumbens cv. Basilisk, estabelecida em Latossolo vermelho distrófico, cuja área
experimental era composta por 18 piquetes com 80 m² (10 m x 8 m). As atividades deste
experimento tiveram início a partir do corte de uniformização a 5 cm de altura,
realizado em julho 2016. Os tratamentos experimentais corresponderam a três regimes
de fertilização (calagem para elevar a saturação de base do solo (V%) e adubação com
nitrogênio, fósforo e potássio (NPK)), definidas com o objetivo de construir distintos
níveis de fertilidade do solo: Fert1= V% de 35 + 1% K/CTC + 9 mg/dm3 de P no solo
+ 40 kg de N/ha por ano; Fert2= V% de 50 + 2% K/CTC + 12 mg/dm3 de P no solo +
60 kg de N/ha por ano; e Fert3= V% de 65 + 3% K/CTC + 15 mg/dm3 de P no solo +
90 kg de N/ha por ano. Para cada regime de fertilização, os dosséis foram submetidos a
duas severidades de corte, correspondentes a alturas de resíduo de 15 e 10 cm. Os
tratamentos foram distribuídos em um delineamento de blocos completos ao acaso com
três repetições, em esquema fatorial 3 x 2. O critério para definir a condição pré-corte
foi o momento em que o dossel interceptava 95% da radiação solar fotossinteticamente
ativa (IL95%), e os cortes foram realizados com auxílio de roçadora costal. A IL foi
monitorada semanalmente durante a rebrotação, com um analisador de dossel LAI-
2000. As leituras foram realizadas em duas áreas amostrais por parcela, compostas por
uma medida acima do dossel e cinco ao nível do solo. Para determinação da altura
média pós- e pré-corte, foram tomadas 20 leituras em pontos aleatórios dentro de cada
parcela, utilizando-se régua graduada em centímetros (cm). A análise da variância foi
realizada utilizando o procedimento MIXED, considerando regimes de fertilização,
severidades de corte, estação do ano e suas interações como fatores fixos e bloco como
fator aleatório. A estação do ano foi considerada medida repetida no tempo. A matriz de
covariância utilizada para altura foi CS. Para descrever a relação entre IL e altura, foi
utilizado o procedimento REG, do software SAS®, sendo escolhidas as equações que
melhor descreveram a relação entre as variáveis com base na significância e no
coeficiente de determinação (R²).
Resultados e Discussão
As alturas na condição pós-corte foram mantidas de acordo com as metas pré-
definidas, com valores médios de 10,4±0,17 cm e 14,4±0,17 cm no final de primavera e
11,1±0,17 cm e 15,3 ±0,17 cm no verão, respectivamente, para as severidades de corte
de 10 e 15 cm. A altura da condição pré-corte, correspondente ao ponto de IL95%, variou
apenas com a época do ano (P<0,0001), independentemente dos regimes de fertilização
ou severidades de corte (P>0,05). Marcantes variações sazonais em atributos da
estrutura do dossel foram previamente reportadas por Pedreira et al. (2017) em pastos de
B. decumbens, sendo atribuídas a transição do período vegetativo para o reprodutivo
entre o final de primavera e verão nessa espécie. Durante a fase reprodutiva das
gramíneas ocorre a elevação do meristema apical, sendo o processo de alongamento do
colmo intensificado no verão para emissão de hastes reprodutivas (Pereira et al., 2018),
fato que contribuiu decisivamente para aumentos em altura do dossel na condição pré-
corte. A relação entre IL e altura variou segundo uma equação quadrática em ambas as
253
épocas do ano (Figura 1). Com base nessa relação, o ponto em que os dosséis atingiram
IL95% correspondeu a altura média de 20,2 cm no final de primavera e 28,0 cm no verão.
Amplitudes similares de manejo (entre 18 e 30 cm) também foram indicadas por
Pedreira et al. (2017), os quais ressaltaram que no limite inferior dessa recomendação
seria possível obter forragem com maior valor nutritivo, enquanto a adoção de metas
próximas ao limite superior da recomendação resultaria em maior acúmulo de lâminas
foliares. Cabe ressaltar que, enquanto para a maior parte das gramíneas tropicais perenes
a altura correspondente ao ponto de IL95% varia pouco entre épocas do ano (Da Silva et
al., 2015), os resultados registrados neste experimento indicam que manejo sazonal
deveria ser adotado em dosséis de Brachiaria decumbens cv. Basilisk, quando a altura
correspondente a IL95% é utilizada para definir a condição pré-corte.
Figura 1 - Relação entre a altura do dossel (Alt, cm) e interceptação luminosa (IL, %) em pastos de
Brachiaria decumbens cv. Basilisk no final de primavera (FP) e verão (V).
Conclusões
Manejo sazonal deve ser utilizado em dosséis de Brachiaria decumbens cv.
Basilisk, quando a altura correspondente a IL95% é utilizada para definir a condição pré-
corte, sendo esse ponto correspondente a 20,2 cm no final de primavera e 28,0 cm no
verão, independentemente dos regimes de fertilização ou severidades de corte adotados.
Agradecimentos
Ao CNPq, pela concessão de apoio financeiro (Processo Número: 403263/2016-
6) e ao Grupo de Estudos em Forragicultura e Pastagens (GEFEP/FZEA), pelo auxílio
nas atividades de campo.
254
Literatura citada
DA SILVA, S. C.; SBRISSIA, A. F.; PEREIRA, L. E. T. Ecophysiology of c4 forage
grasses- understanding plant growth for optimizing their use and management.
Agriculture, v. 5, p. 598-625, 2015.
PEDREIRA, C. G. S.; BRAGA, G. J.; PORTELA, J. N. Herbage accumulation, plant-
part composition and nutritive value on grazed signal grass (Brachiaria decumbens)
pastures in response to stubble height and rest period based on canopy light
interception. Crop & Pasture Science. v. 68, p. 62-73, 2017.
PEREIRA, L.E.T.; HERLING, V.R.; AVANZI, J.C.; DA SILVA, S.C. Características
morfogênicas e estruturais de capim-braquiária em resposta a calagem e severidade de
corte. Pesquisa Agropecuária Tropical (Agricultural Research in the Tropics), v.48,
p.1-11, 2018.
PORTELA, J.N.; PEDREIRA, C.G.S.; BRAGA, G.J. Demografia e densidade de
perfilhos de capim‑braquiária sob pastejo em lotação intermitente. Pesquisa
Agropecuária Brasileira, v. 46, p. 315-322, 2011.
255
Taxas de acúmulo de forragem em pastos de Arachis pintoi cv. Belmonte
submetidos a estratégias de pastejo rotativo¹
Lucas da Rocha Carvalho2, Bia Anchão Oliveira
3, Luiz Henrique Goulart Bernardes
3,
Lilian Elgalise Techio Pereira4, Sila Carneiro da Silva
5
1Parte da tese de doutorado do autor. 2Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciências, na área de Ciência Animal e Pastagens, USP. e-mail:
lucasrochacarvalho@usp.br 3Graduação em Engenharia Agronômica, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP). e-mail:
bia.oliveira@usp.br; luiz.bernardes@usp.br. 4Departamento de Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA/USP). e-mail:
ltechio@usp.br. 5 Departamento de Zootecnia, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP). e-mail:
siladasilva@usp.br.
Resumo: A dinâmica de crescimento de folhas e colmos e seus impactos sobre as taxas
de acúmulo de forragem em pastagens submetidas a pastejos frequentes ou sob longos
períodos de rebrotação é amplamente descrita para gramíneas forrageiras. Todavia,
estudos com leguminosas são escassos. No intuito de avaliar a taxa acúmulo de folíolos
e estolões em amendoim forrageiro (Arachis pintoi cv. Belmonte) em resposta regimes
de desfolhação sob lotação intermitente, as pastagens foram submetidas a combinações
entre duas frequências e duas severidades de pastejo. As frequências de desfolhação
foram definidas com base na interceptação luminosa pelo dossel (IL), e corresponderam
a IL95% e ILMáx (máxima interceptação de luz durante a rebrotação), e as severidades de
pastejo corresponderam a 40 e 60% da altura pré-pastejo. Os tratamentos foram
distribuídos em um arranjo fatorial 2x2, em delineamento de blocos completos
casualizados, com quatro repetições. As medidas de massa de forragem e composição
botânica e morfológica foram realizadas por meio do corte de duas (condições pré- e
pós-pastejo durante um ciclo acompanhado por época do ano, e a partir de onde foram
calculadas as taxas de acúmulo. Marcantes efeitos da época do ano foram observados
para a taxa de acúmulo total de forragem, de folíolos e de estolões (p<0,0001 para todas
as variáveis), com valores superiores registrados no verão I, caracterizando uma fase de
estabelecimento e ocupação da área. Não houve efeito da severidade de desfolhação
sobre essas características, indicando que essa amplitude (40 a 60%) parece estar dentro
dos limites de tolerância da espécie à desfolhação. A taxa de acúmulo de estolões variou
com a frequência de desfolhação (p<0,0301), com maiores valores registrados para
ILMáx.
Palavras–chave: adaptação morfológica, lotação intermitente, interceptação luminosa
do dossel, leguminosas
Forage accumulation rates of Arachis pintoi cv. Belmonte pastures subjected to
rotational stocking strategies
Abstract: Leaf and stem growth dynamics and their impacts on herbage accumulation
rates of pastures subjected to frequent grazing regimes or long grazing intervals are
widely described for forage grasses. However, knowledgement related with growth
dynamics of forage legumes are scarce. In order to evaluate the accumulation rates of
leaflets and stolons of forage peanut (Arachis pintoi cv. Belmonte) in response
defoliation regimes under rotational stocking, pastures were subjected to combinations
256
of two frequencies and two severities of grazing. Frequency of defoliation was based in
the canopy light interception (LI), and corresponded to LI95% and LIMáx (maximum
canopy light interception during regrowth), and severities of defoliation were equivalent
to 40 and 60% of the pre-grazing canopy height. Treatments were distributed in a
factorial arrangement 2x2, in a completely randomized block design, with four
replications. Measurements of herbage mass, botanical and morphological composition
were made by cutting at soil level and weighing all forage contained in two metallic
frames at pre and post-grazing conditions in one grazing cycle per season of the year.
From those measurements, the herbage accumulation rates were calculated. Season of
the year had a pronounced effect on total, leaflet and stolons accumulation rates
(p<0.0001 for all variables), and the highest values were observed during summer I,
characterizing an establishment phase and a strategy to soil colonization and occupation.
There were no effects of grazing severities on these responses, indicating that this range
(40 a 60%) appears to be within the limits of tolerance of the species to defoliation.
Stolon accumulation rates were affected by frequency of defoliation (p<0.0301), and the
highest value was observed in LIMáx.
Keywords: morphological adaptation, intermittent stocking, canopy light interception,
legumes
Introdução
As gramíneas formam a base dos sistemas de produção de animais a pasto no
Brasil, contudo algumas espécies de leguminosas com potencial de utilização sob
pastejo têm sido identificadas, dentre as quais destaca-se o Arachis pintoi Krapovickas
& Gregory (amendoim forrageiro). Contudo, a ausência de informações acerca de suas
características morfofisiológicas, estratégias de perenização e plasticidade para
expressão de adaptações morfológicas em resposta a distintas metas de manejo ainda
limita de forma marcante sua adoção (Fernandes et al., 2017). O manejo do pastejo sob
lotação intermitente deve priorizar a adoção de metas pré e pós-pastejo compatíveis com
os limites de tolerância da planta, os quais são específicos a cada espécie vegetal. Com
relação à condição pré-pastejo, diversas pesquisas com gramíneas tropicais
determinaram que a frequência ideal de pastejo seria aquela associada com a interrupção
da rebrotação quando o dossel forrageiro intercepta cerca de 95% da luz incidente (IL),
caracterizando pastejos frequentes ou curtos períodos de rebrotação. Esse padrão de
resposta está ligado ao fato de que a frequência de desfolhação modula a
disponibilidade de luz que penetra o dossel, já que define a duração do período de
rebrotação. Sob longos períodos de rebrotação, onde quase toda luz que chega ao topo
do dossel é interceptada (ILMáx), mudanças na qualidade da luz, representadas
principalmente pela baixa relação vermelho:vermelho distante, indicam situações de
potencial competição por recursos luminosos, desencadeando respostas morfológicas
como forma de adaptação à condição vigente. Nessa situação, ocorre redução acentuada
no acúmulo de folhas e aumento no acúmulo de colmos e de mate rial morto com
consequente redução no valor nutritivo da forragem produzida (Da Silva et al., 2015).
Quanto às condições pós-pastejo, severidades de desfolhação correspondentes a uma
amplitude de remoção da altura pré-pastejo entre 40 e 60% têm sido reconhecidas como
as metas que maximizam a produção de forragem. Apesar dessa dinâmica de
crescimento ser amplamente reconhecida e descrita para gramíneas forrageiras, estudos
com leguminosas são escassos. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar a taxa
257
acúmulo de folíolos e estolões em pastos de amendoim forrageiro submetidos a
combinações entre duas frequências e duas severidades de pastejo.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido na Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz” (ESALQ/USP), Piracicaba, São Paulo, Brasil (22º42’ N, 47º38’ W, 546 m), de
novembro de 2014 até abril de 2016. A espécie estudada foi o Arachis pintoi cv.
Belmonte, estabelecida em Nitossolo vermelho eutroférrico. A área experimental foi
dividida em 16 piquetes de 200 m². Os tratamentos corresponderam a combinações
entre duas condições pré- (95% e máxima interceptação de luz durante a rebrotação –
IL95% e ILMáx, respectivamente) e duas condições pós-pastejo (alturas pós-pastejo
correspondentes a 40 e 60% da altura pré-pastejo), e foram alocados às unidades
experimentais segundo arranjo fatorial 2x2 e delineamento de blocos completos
casualizados, com quatro repetições. O monitoramento da IL foi realizado com aparelho
analisador de dossel LAI 2000 (LI-COR, Lincoln, Nebraska, EUA) logo após cada
pastejo, e semanalmente durante todo o período de rebrotação, sendo tomadas oito
leituras acima do dossel e 40 ao nível do solo por unidade experimental. A altura do
dossel foi mensurada na condição pré- e pós-pastejo, utilizando-se bastão medidor
adaptado de sward stick, sendo as medidas tomadas em 50 pontos aleatórios por
piquete.
As avaliações de massa de forragem e de sua composição botânica e
morfológica foram realizadas por meio do corte de duas amostras por piquete nas
condições pré- e pós-pastejo. Foram utilizadas armações metálicas de 0,33 m2
(0,90 m x
0,37 m), a forragem foi cortada no nível do solo e as amostras levadas para laboratório,
pesadas separadamente e fracionadas em duas sub-amostras. Uma das sub-amostras foi
submetida a separação manual, de onde obteve-se os seguintes componentes: plantas
invasoras, material morto, estolões, folíolos e pecíolos. Cada componente foi
acondicionado em sacos de papel devidamente identificados e levados à estufa de
circulação forçada de ar para secagem a 65ºC até massa constante. O acúmulo de
forragem foi determinado a partir das amostras colhidas para as avaliações de massa de
forragem, por meio da diferença entre a massa de forragem pré-pastejo atual e o pós-
pastejo imediatamente anterior. A taxa de acúmulo de forragem durante o período de
rebrotação foi obtida dividindo-se o acúmulo de forragem pelo número de dias
compreendido entre as condições de pós e de pré-pastejo e a respectiva porcentagem de
cada componente.
Os dados foram agrupados de acordo com épocas do ano pré-determinadas, e
submetidos à análise de variância utilizando-se o PROC MIXED do pacote estatístico
SAS® (Statistical Analysis System). A escolha da matriz de variância foi feita
utilizando-se o critério bayesiano de Schawrz (BIC). A porcentagem de invasoras na
massa de forragem foi utilizada como covariável, e a matriz selecionada para esses
banco de dados foi ARH(1). As médias dos tratamentos foram estimadas utilizando-se o
“LSMEANS”, a comparação entre elas, quando necessária, realizada por meio do teste
de “Student” e diferenças foram declaradas significativas quando P<0,05.
258
Resultados e Discussão
A taxa de acúmulo total de forragem e de folíolos variou apenas entre as épocas
do ano (p<0,0001). Maiores valores de taxa de acúmulo foram registrados durante o
verão I, intermediários no início e final de primavera e verão II e menores no
outono/inverno. Com relação à taxa de acúmulo de folíolos, maiores valores foram
registrados durante o verão I e verão II, intermediários durante o início e final de
primavera e menores durante o outono/inverno. A taxa de acúmulo de estolões variou
com a IL (p<0,0301) e época do ano (p<0,0001). Maiores taxas de acúmulo de estolões
foram registradas nos pastos manejados com a meta ILMáx relativamente àqueles
manejados com a meta IL95%. Com relação às épocas do ano, maiores valores foram
registrados durante o verão I, intermediários durante o início e final de primavera e
verão II e menores durante o outono/inverno. A prioridade no desenvolvimento de
estolões foi evidenciada no verão I, caracterizando uma fase de estabelecimento e
ocupação da área (horizontal e vertical). Este fato elucidaria as diferenças em taxa de
acúmulo total e de estolões entre o primeiro e o segundo período de crescimento (verão
I e verão II). Além disso, o maior tempo para crescimento e desenvolvimento vegetativo
(ILMáx) das plantas proporcionou aumentos no acúmulo de estolões. Esse padrão de
resposta é típico de plantas submetidas à competição por luz, em que restrições em
quantidade e qualidade da luz estimulam o investimento em estolões. As severidades de
pastejo exerceram menores impactos, resposta coerente com aquele descrito para
gramíneas forrageiras submetidas a regimes análogos de desfolhação.
Tabela 1 – Taxa de acúmulo total de forragem (TA), de folíolos (TAF) e de estolões
(TAE) (médias ± erro-padrão da média) em pastos de Arachis pintoi cv. Belmonte
submetidos a estratégias de pastejo rotativo caracterizadas pelas metas de IL95% e ILMáx
de fevereiro de 2015 a abril de 2016
Meta IL TAE
(kg ha-1
dia-1
)
IL95% 37±6,4 B
ILMáx 58±5,9 A
Época TA TAF TAE
(kg ha-1
dia-1
)
Verão I 206±26,4 A 71±6,4 A 93±16,6 A
Outono/Inverno 33±5,0 C 20±1,9 C 9±1,7 C
Início Primavera 103±15,9 B 53±5,6 B 45±6,8 B
Final Primavera 108±13,0 B 63±4,1 AB 51±7,6 B
Verão II 143±16,0 AB 72±3,2 A 40±6,1 B
Médias seguidas de letras maiúsculas distintas na coluna diferem entre si (p<0,05).
Conclusões
O amendoim forrageiro possui padrão de resposta semelhante ao descrito para
gramíneas forrageiras tropicais, uma vez que maiores taxas de acúmulo de estolões
foram registradas em ILMáx, mesmo que não haja impacto negativo sobre o acúmulo de
folíolos. As severidades de desfolhação aplicadas parecem estar dentro dos limites de
tolerância da espécie, uma vez que não afetaram as taxas de acúmulo em Arachis pintoi
cv. Belmonte.
259
Literatura citada
DA SILVA, S. C.; SBRISSIA, A. F.; PEREIRA, L. E. T. Ecophysiology of C4 forage
grasses- understanding plant growth for optimizing their use and management.
Agriculture. v. 5, n. 3, p. 598-625, 2015.
FERNANDES, F. D.; RAMOS, A. K.; CARVALHO, M. A.; MACIEL, G. A.; ASSIS,
G. M.; BRAGA, G. J. Forage yield and nutritive value of Arachis spp. genotypes in the
Brazilian savanna. Tropical Grasslands-Forrajes Tropicales, v. 5, p. 19-28, 2017.
260
Tendência genética de características de conformação corporais de touros Gir
Leiteiros de centrais de inseminação¹
Isadora de Ávila Caixeta2, Nayara Ferreira Gomes
3, Vitória Mendes André
4, Laya
Kannan S. Alves5, Janine França
6
1Parte do trabalho de conclusão de curso do segundo autor 2Aluna de graduação do curso de zootecnia. e-mail: isadoraa80@gmail.com 3Zootecnista. e-mail: nayaragomeszoo@yahoo.com.br 4Aluna de graduação do curso de zootecnia. e-mail: vitoriamendesandre@hotmail.com 5Aluna de graduação do curso de zootecnia. e-mail: layakannan@outlook.com 6Zootecnista. Docente na Universidade Federal de Uberlândia. e-mail: madalosse@yahoo.com.br
Resumo: A seleção de animais é de suma importância para a eficiência produtiva de um
rebanho, assim a seleção de reprodutores pode ser realizada a partir da avaliação
genética de características de conformação corporais que são de grande valia dentro do
melhoramento genético da raça. Assim, o presente estudo avaliou dados de 73 touros da
raça Gir leiteiro de diferentes centrais de coleta de sêmen, com ano de nascimento de
1987 a 2012. Foram utilizadas as STA (Spand Transmitting Animal) das características
de conformação corporais: altura de garupa, perímetro torácico, comprimento corporal,
comprimento da garupa, largura entre ísquios, largura entre íleos, ângulo de garupa. Os
dados foram coletados de 8 catálogos de 2010 até 2015 de 3 centrais de inseminação.
Para os valores genéticos das características comprimento corporal e torácico, verificou-
se uma evolução nos animais mais jovens, que apresentaram uma maior capacidade
cardíaca, pulmonar e digestiva, já para altura de garupa, os animais mais velhos
apresentaram maiores valores para essa característica. Para comprimento de garupa e
largura de íleos, houve um aumento nos valores genéticos dos animais jovens. Para o
ângulo de garupa os animais mais velhos apresentaram valores mais próximos de zero,
diminuindo para os mais jovens. As características de conformação corporais evoluem
de acordo com a necessidade de seleção ao longo dos anos, sendo importante ferramenta
para o sucesso produtivo dentro de bovinos de leite da raça Gir.
Palavras–chave: bovinos de leite, medidas morfométricas, reprodutores, valores
genéticos
Genetic trend of body conformation traits of bulls Dairy Gir of insemination
centers
Abstract: The selection of animals is of importance for the productive efficiency of a
herd, so the selection of breeders can be performed from the genetic evaluation of body
conformation characteristics that are of great value within the genetic breeding of the
breed. Thus, the present study evaluated data from 73 bulls of the Gir dairy breed from
different semen collection centers, with year of birth from 1987 to 2012. The Spand
Transmitting Animal (STA) of the body conformation characteristics were used: rump
height, thoracic perimeter, body length, rump length, angle rump and hip measures were
evaluated. Data were collected from 8 catalogs from 2010 to 2015 of 3 insemination
centers. For the genetic values of the body and chest length characteristics, there was an
evolution in the younger animals, which presented a higher cardiac, pulmonary and
digestive capacity, already for croup height, the older animals had higher values for this
characteristic. For rump length and width of ileus, there was an increase in the genetic
values of young animals. For the rump angle, the older animals presented values closer
261
to zero, decreasing for the younger animals. Body conformation characteristics evolve
according to the need of selection over the years, being an important tool for productive
success in Gir cattle.
Keywords: dairy cattle. morphometric measures, breeder, genetic values
Introduçao
Os primeiros bovinos da raça Gir foram trazidos ao Brasil, por volta de 1906,
após esse período também outras importações realizadas, foram de grande importância
para a constituição do Gir brasileiro (Ledic et al., 2008). Já nos anos 30 alguns criadores
viram que necessitavam selecionar o Gir, afim da produção de leite, e começaram a
reunir animais de diferentes fazendas dando início a seleção do Gir leiteiro, que mais
tarde despertou interesse de órgãos governamentais da área de pesquisa (Santos, 2007).
Com isso, perceberam a necessidade de implantar um programa para analisar os touros e
as matrizes dos cruzamentos que já haviam sido realizados (Verneque, 2011).
De acordo com Panetto et al. (2015), os dados sobre as características de
conformação e manejo são de grande importância, por possibilitarem a criação de um
rebanho com uma maior eficiência, mais produtivo e econômico, através da seleção dos
melhores reprodutores. Essas características são o foco do Programa Nacional de
Melhoramento do Gir Leiteiro (PNMGL), que tem como objetivo favorecer o
melhoramento genético da raça Gir através da identificação e seleção de touros
geneticamente superiores para as características de conformação, manejo e produção.
Os resultados desse programa são obtidos em PTA (Predicted Transmitting Animal);
STA (Spand Transmitting Animal) e Acurácia e confiabilidade, sendo que a STA é a
PTA (que é a capacidade prevista de transmissão, sendo uma medida do desempenho
(produção) esperado nas filhas de um touro em relação à média genética dos rebanhos)
padronizada para as características de conformação e manejo, ela permite que essas
características possam ser comparadas mesmo que tenham sido medidas em unidades
diferentes. Essa característica é fundamental para auxiliar o criador na avaliação em
conjunto, informando de que forma o touro pode melhorar o rebanho quando acasalado
com vacas médias. Assim, estudos que demonstram a evolução genética das
características de conformação ao longo dos anos de seleção de touros da raça Gir são
necessários.
Material e Métodos
Para o presente estudo foram utilizados dados de 73 touros da raça Gir leiteiro
de diferentes centrais de coleta de sêmen, anos de nascimento variando de 1987 a 2012.
Foram utilizadas as STA das características de conformação corporais: altura de garupa
(AG), perímetro torácico (PT), comprimento corporal (CC), comprimento da garupa
(CG), largura entre ísquios (LEIS), largura entre íleos (LEIL), ângulo de garupa (AG).
Os dados para todas essas características juntamente com a data de nascimento dos
animais foram coletados em 8 diferentes catálogos publicados desde 2010 até 2015 de 3
centrais de inseminação. Para realizar a análise descritiva, primeiramente todos os dados
foram tabulados de acordo com o ano de nascimento de cada touro avaliado. Todas as
empresas utilizavam o mesmo programa de avaliação genética para essas características.
Para cada ano de nascimento foi realizado a média para todas as características de todos
os animais nascidos no mesmo ano. Para avaliação das características foi realizada uma
262
análise descritiva através da elaboração de gráficos, tipo linhas com a inserção de linha
de tendência através de regressão linear, elaborados no programa Microsoft® Excel
®
(2013), para cada característica analisada de acordo com os anos de nascimentos dos
animais.
Resultados e Discussão
Os resultados para as características de conformação corporais são apresentados
na figura 1:
Figura 1. Tendência genética de características de conformação corporais de touros da raça Gir
leiteiro
Os valores genéticos para as características comprimento corporal, torácico,
foram próximos aos esperados por Verneque et al. (2014). Demonstrando que houve
uma evolução nos animais mais jovens quando comparados aos mais velhos, onde esses
animais apresentam uma maior capacidade cardíaca, pulmonar e digestiva. Os valores
genéticos para altura de garupa foram menores do que o esperado por Verneque et al.
(2014). Provavelmente isso ocorreu pelo fato de que o foco no início do melhoramento
genético era selecionar animais com alturas de garupa cada vez maiores, isso fez com
que as progênies advindas desses animais apresentassem um tamanho muito acentuado.
O tamanho dos animais Ä importante para os produtores que direcionavam a seleção
dos animais para a pista de julgamento, uma vez que as vacas mais altas e fortes
recebem uma maior pontuação. Sendo assim para que fosse possível corrigir a altura
média do rebanho iniciaram uma seleção de animais que apresentassem valores
genéticos menores, sugerindo uma possível mudança de direcionamento da seleção de
animais para a pista em relação a animais que atendam os critérios de seleção.
As características analisadas tanto de comprimento de garupa como de largura
de Íleos, apresentaram um aumento nos valores genéticos dos animais jovens. Sendo
que ambas as características estão relacionadas ao suporte dorsal do úbere, e conforme
263
Panetto et al. (2015) os valores desejados são os maiores, pois permitem uma maior
capacidade de colocação do úbere. Sendo assim os dados analisados estão dentro do
esperado, e indicam que o processo de seleção para essas características vem sendo bem
aplicado, resultando em ganhos para o rebanho que utiliza esses animais.
Segundo Panetto et al. (2015), a característica de largura entre Ísquios
juntamente com a largura entre Íleos influencia no suporte dorsal do úbere e na
facilidade de parto. Sendo assim os valores esperados para as progênies dos animais
avaliados são de que eles sejam maiores que 5 (Panetto et al., 2015). Porém os valores
genéticos para largura entre Ísquios demonstraram um valor diferente do esperado, pois
eles foram menores nos animais jovens, diminuindo com o passar da seleção.
O ângulo de garupa auxilia no momento do parto, sendo que os valores extremos
podem causar problemas de parto. Com isso, espera-se que os valores genéticos dos
animais sejam intermediários (Verneque et al., 2014). Entretanto, os dados obtidos neste
estudo foram com valores contrários, sendo que, para os animais mais velhos os valores
estavam mais próximos de zero, diminuindo para os animais mais jovens.
Conclusões
Os produtores de leite podem selecionar animais mais velhos ou mais jovens,
baseando-se nas STAs das características de conformação corporais que evoluem de
acordo com a necessidade de seleção dentro de cada rebanho ao longo dos anos, sendo
importante ferramenta para o sucesso produtivo dentro de bovinos de leite da raça Gir.
Literatura citada
LEDIC, I. L. et al. Gir Leiteiro brasileiro. Gir Leiteiro. Informativo Agropecuário.
Belo Horizonte, MG: EPAMIG. 2008. V.29, n. 243, p. 7-25.
PANETO, C. C. J., et al. Programa nacional de melhoramento do Gir leiteiro – sumário
brasileiro de touros - resultado do teste de progÜnie – 6ª Prova de Pré-Seleção de
Touros. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2015. 82 p. (Embrapa Gado de Leite.
Documentos, 177).
SANTOS, R. O Gir e o Leite na pecuária fundamental. Uberaba, MG: Editora
AgropecuÇria Tropical. 2007. 456p.
VERNEQUE, R. S. et al. Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro –
Sumário Brasileiro de Touros – Resultado do Teste de Progênie – Maio 2011. Juiz de
Fora: Embrapa Gado de Leite, 2011. 58 p. (Embrapa Gado de Leite. Documentos, 145).
VERNEQUE, R. S. et al. Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro –
SumÇrio Brasileiro de Touros – Resultado do Teste de Progênie – 5ª Prova de Pré-
Seleção de Touros – Maio 2014. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2014. 80 p.
(Embrapa Gado de Leite. Documentos, 169).
264
Utilização do Foragge 52,5% em substituição à silagem de milho sobre parâmetros
metabólicos de ovinos¹
Marco Túlio Santos Siqueira2, Gilberto de Lima Macedo Júnior
3, Carolina Moreira
Araújo4, Karla Alves Oliveira
4, Tamires Soares de Assis
4, Rosemar Alves de Carvalho
Júnior4
1Parte do trabalho de conclusão de curso do primeiro autor 2Graduando em Zootecnia, bolsista CNPQ. E-mail: marcotulio.s.siqueira@gmail.com 3Professor Adjunto FAMEV/UFU. E-mail: gilbertomacedojr@gmail.com 4Pós-graduando do mestrado em Ciências Veterinárias/UFU
Resumo: O volumoso extrusado Foragge® é composto por 52,5% de fibra da parte
aérea da planta da cana de açúcar, possui alta digestibilidade, é capaz de otimizar o
sistema de produção, se utilizado de forma correta, além disso tem maior palatabilidade.
O objetivo do trabalho foi avaliar os níveis de metabólitos proteicos e energéticos de
ovelhas não gestantes, alimentadas com diferentes níveis de volumoso extrusado
(Foragge®) em substituição à silagem de milho (80F:20S, 60F:40S, 40F:60S, 20F:80S e
100%S, F- Foragge® e S- Silagem de milho). Para isso foram utilizadas vinte ovelhas
da raça Santa Inês, com mais de três anos e peso médio de 54,580Kg, alimentadas duas
vezes ao dia. Todas as coletas sanguíneas foram realizadas no período da manhã,
anteriormente à primeira alimentação, através de venopunção jugular com auxílio de
Vacuntainer® acoplado a tubo sem anticoagulante. A coleta de sangue foi feita no
primeiro e último dia da fase experimental. Logo após a colheita do sangue, as amostras
foram processadas em espectrofotômetro Bioplus® 2000 utilizando kit comercial da
LabTest®. O delineamento utilizado foi inteiramente ao acaso. Nenhum metabólico
analisado apresentou diferença estatística. Porém, colesterol, proteína total, ácido úrico
e creatinina ficaram abaixo dos valores de referência e albumina ficou acima destes
valores. Conclui-se que pode-se utilizar o Foragge® 52,5% fibra de cana substituindo a
silagem de milho em até 80%, sem prejuízos metabólicos aos ovinos.
Palavras–chave: energia, extrusão, nutrição, ovinos, ruminantes
Use of Foragge 52.5% to replace corn silage on ovine metabolic parameters
Abstract: The extruded roughage Foragge® is composed of 52.5% fiber from the aerial
part of the sugar cane plant, has high digestibility, is capable of optimizing the
production system, if used correctly, and has a greater palatability. The objective of this
study was to evaluate the protein and energy metabolite levels of non-pregnant sheep
fed with different levels of extruded roughage (Foragge®) to replace corn silage (80F:
20S, 60F: 40S, 40F: 60S, 20F: 80S and 100% S, F-Foragge® and S-Corn Silage). For
this purpose, twenty Santa Inês sheep were used, with more than three years and
average weight of 54,580 kg, fed twice a day. All blood collections were performed in
the morning, prior to the first feeding, through jugular venipuncture using Vacuntainer®
coupled to an anticoagulant tube. Blood collection was done on the first and last day of
the experimental phase. Soon after blood collection, the samples were processed in
Bioplus® 2000 spectrophotometer using commercial LabTest® kit. The design was
entirely randomized. No metabolic analysis showed any statistical difference. However,
cholesterol, total protein, uric acid and creatinine were below the reference values and
265
albumin was above these values. It is concluded that Foragge® 52.5% cane fiber can be
used replacing corn silage up to 80%, without metabolic losses to sheep.
Keywords: energy, extrusion, nutrition, ruminants, sheep
Introdução
A extrusão é um processamento mecânico que melhora a digestibilidade e a
palatabilidade do alimento por meio de pressão, umidade e temperatura controlados,
sendo capaz de melhorar a estrutura do alimento para que o animal possa aproveitá-lo
melhor. Outro benefício está relacionado com a facilidade de realização do manejo
alimentar diário, trazendo otimização para o processo de produção (GUERREIRO,
2007).
A avaliação do perfil metabólico é de suma importância, pois revela o estado de
homeostasia dos animais, a quebra da homeostasia pode provocar alterações no
desempenho afetando a produção (González, 2000) e gerando prejuízos ao sistema de
produção. O conhecimento do perfil metabólico possibilita a avaliação e prevenção de
transtornos metabólicos servindo como indicador do status nutricional dos animais.
O objetivo do trabalho foi avaliar os metabólitos energéticos e proteicos de
ovelhas alimentadas com volumoso extrusado (Foragge® 52,5%) feito com a parte
aérea da cana de açúcar em substituição à silagem de milho.
Material e Métodos
O experimento foi realizado na fazenda experimental Capim Branco, da
Universidade Federal de Uberlândia, no setor de Caprinos e Ovinos, no mês de Abril de
2017, com duração de quinze dias, sendo dez dias de adaptação e cinco dias de coletas.
Foram utilizados cinco tratamentos com diferentes níveis de Foragge® 52,5% (F) e
Silagem de milho (S), sendo 80F:20S, 60F:40S, 40F:60S, 20F:80S e 100%S. A coleta
sanguínea foi feita no primeiro, terceiro e quinto dia de avaliação.
Foram utilizadas vinte ovelhas da raça Santa Inês, não gestantes, com mais de
três anos de idade, alocados em gaiolas metabólicas e peso médio de 54,58Kg,
recebendo diferentes relações de silagem de milho e volumoso extrusado (Foragge®)
52,5% feito com a parte aérea da cana de açúcar. Além disso, os animais tinham um
recipiente específico para sal mineral e um balde para água, que ficavam disponíveis
para livre ingestão. A área das gaiolas era coberta, protegendo os animais do sol e
chuva.
O alimento era oferecido duas vezes ao dia, as 8:00 e as 16:00 horas, com dieta
calculada para ter sobras de 10% ao dia. Os metabólicos analisados foram: ureia,
triglicerídeos, colesterol, proteína total, albumina, creatinina e ácido úrico. Todas as
coletas foram realizadas no período da manhã, anteriormente à primeira alimentação,
através de venopunção jugular com auxílio de Vacuntainer® acoplado a tubo sem
anticoagulante. Logo após a colheita do sangue, as amostras foram processadas em
espectrofotômetro Bioplus® 2000 utilizando kit comercial da LabTest®.
Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado com cinco tratamentos e
quatro repetições. Para comparação das médias foi usado estudo de regressão a 5% de
probabilidade. O tratamento que apresentou diferença foi analisado por estatística não
paramétrica, com o teste de Kruskal e Wallis (1952).
266
Tabela 1. Composição bromatológica do Foragge® 52,5%* e silagem de milho
Nutriente Foragge® (%) Silagem de milho (%)
Matéria Seca 92,62 33,25
Proteína Bruta 9,81 6,3
Fibra em Detergente Neutro 32,27 54,6
Nutrientes Digestíveis Totais 71,34 92,27 *Valores fornecidos pelo fabricante; o material fibroso utilizado no processo de extrusão é
composto pela parte aérea da cana-de-açúcar.
Resultados e Discussão
Tanto os metabólitos proteicos, quanto os energéticos não apresentaram
diferença estatística com exceção do ácido úrico. Além disso, colesterol, proteína total,
creatinina e ácido úrico ficaram abaixo dos valores de referência e albumina ficou acima
destes valores (tabela 2).
Segundo Puchala & Kulasek (1992), o Ácido Úrico informa indiretamente a
quantidade de microrganismos ruminais e é indicador do metabolismo ruminal recente.
Os animais que receberam o tratamento 80F:20S tiveram maior concentração de ácido
úrico no sangue, o que pode estar relacionado com maior equilíbrio microbiano dentro
do rúmen, uma vez que quanto maior a fermentação maior a atividade microbiana,
devido à associação da produção de proteína microbiana com os derivados de purina.
Tabela 2. Concentração média dos metabólitos proteicos e energéticos em função dos
tratamentos em mg/dL.
Tratamento Ureia Triglicerídeo Colesterol
Proteínas
Totais
Ácido
úrico1 Albumina Creatinina
80%F:20%S 14,00 19,40 29,90 3,90 0,18 3,58 0,84
60%F:40%S 20,00 15,62 29,25 3,57 0,025 3,25 0,80
40%F:60%S 14,12 18,87 27,25 3,37 0,10 4,05 1,00
20%F:80%S 17,00 18,75 22,00 3,40 0,025 4,07 0,82
100%S 13,75 20,62 31,12 3,52 0,10 3,80 0,95
MG 15,83 18,69 28,00 3,57 0,09 3,74 0,88
CV 27,49 25,41 32,84 13,43 - 27,23 12,35
VR 8,0-20,0 9,0-30,0 52,0-76,0 6,0-7,9 0,1-2,0 2,4-3,0 1,2-1,9 1Estatística não paramétrica - sem distribuição normal; MG: média geral; CV: coeficiente de
variação; VR: valor de referência segundo: Dukes et al. (2006) e Kaneko, Harvey e Bruss
(2008);
De acordo com Gonzales et al. (2000) a creatinina plasmática é oriunda do
catabolismo da creatina presente no tecido muscular, ela é um metabólito utilizado para
armazenamento de energia nos músculos, portanto, pode-se relacionar o fato de os
valores de creatinina deste trabalho estarem 46,3% abaixo dos valores de referência com
a falta de movimentação, os animais estavam em gaiolas metabólicas, com
movimentação limitada. Os valores de proteína total também deram abaixo da
referência. A proteína total apresentou-se 45,1% abaixo do esperado, sendo que, estas
alterações não foram suficientes para prejudicar nutricionalmente os animais.
Quando ocorre concentrações muito baixas de albumina pode indicar dano
severo ao fígado, ou aos rins, porém, neste trabalho a concentração de albumina não
267
ficou abaixo dos valores de referência, o que nos indica que os animais não tiveram
problemas no fígado e rins.
O colesterol apresentou-se 36,8% abaixo dos valores de referência, pode-se
inferir que o volumoso extrusado provocou alteração nos níveis normais de colesterol,
indicando que havia poucos lipídeos no plasma sanguíneo, que pode ter sido causado
pelo fato de que o alimento é um volumoso extrusado da parte aérea da cana de açúcar,
e por esse motivo, não é um alimento rico em lipídeos, além disso pode ter havido falta
de carboidratos solúveis, uma vez que o colesterol pode ser tanto de origem exógena
(fermentação dos carboidratos da dieta) quanto endógena (sintetizado a partir do acetil-
CoA). A ureia e os triglicerídeos ficaram dentro dos valores de referência propostos por
Dukes et al. (2006) e Kaneko et al. (2008).
Conclusões
Conclui-se que o uso do Foragge® 52,5% substituindo à silagem de milho para ovinos
altera a concentração dos metabólitos energéticos e proteicos, dependendo da relação na
dieta, sem prejudicar o animal nutricionalmente.
Literatura citada
DUKES, H. H. et al (Ed.). Fisiologia dos Animais Domésticos. 12. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2006. 954 p.
GONZÁLEZ, F. H. D.; BARCELLOS, J.; PATIÑO, H. O.; RIBEIRO, L. A. Perfil
metabólico em ruminantes: seu uso em nutrição e doenças nutricionais. 1. ed. Porto
Alegre, 2000. 108 p.
GUERREIRO, L. Produtos extrusados para consumo humano, animal e industrial.
Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro – REDETEC, 2007. 24 p. Disponível em:
<http://sbrt.ibict.br/dossie-tecnico/downloadsDT/MTcy>. Acesso em: 05 abr. 2018.
KANEKO, J.J.; HARVEY, J.W.; BRUSS, M.L. (Eds.) Clinical biochemistry of
domestic animals. 6 ed. New York: Academic Press, 2008.
KRUSKAL, W. H.; WALLIS, W. A. Use of ranks in one-criterion variance analysis.
Journal American Statistical Association, v. 47, 1952. p. 583-621.
PUCHALA, R., KULASECK, G.W. Estimation of microbial protein flow from the
rumen of sheep using nucleic acid and urinary excretion of purine derivatives.
Canadian journal of Animal Science. V.72, P.821-830, 1992.
268
Avaliação do metabolismo proteico de ovelhas gestantes alimentadas com
diferentes fontes lipídicas¹
Luciana Melo Sousa2, Thauane Ariel Valadares de Jesus, Maria Júlia Pereira de Araújo,
Adriana Lima Silva, Marco Túlio Santos Siqueira, Gilberto de Lima Macedo Júnior3
1Parte do trabalho de conclusão de curso da primeira autora. 2Estudantes de Zootecnia. FAMEV, UFU. E-mail: lumelosousa@gmail.com 3Professor do curso de Zootecnia, FAMEV/UFU. Uberlândia, MG.
Resumo: A utilização de fontes lipídicas na dieta de ruminantes depende
principalmente da disponibilidade regional e do custo. Geralmente as fontes oleaginosas
substituem o milho e o farelo de soja na formulação das dietas, sendo assim, é
interessante saber se a inclusão não prejudicaria o desempenho dos animais. Objetivou-
se avaliar o efeito da inclusão de diferentes fontes lipídicas sobre o metabolismo
proteico de ovelhas gestantes. Foram utilizadas 24 ovelhas – 60 dias de gestação no
início do experimento, com idade média de 12 meses e peso corporal médio de 50 kg. O
experimento foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, durante 90 dias.
Foram utilizados três concentrados com diferentes fontes de gordura: controle,
nutrigordura (gordura protegida de palma) e caroço de algodão. A avaliação dos
metabólitos proteicos foi feita quinzenalmente sempre pela manhã, antes da primeira
refeição do dia. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com
repetição no tempo. Os metabólitos proteicos analisados foram: ácido úrico, albumina,
creatinina, proteína total e ureia. Não foi observada diferença estatística para nenhum
dos metabólitos em função dos tratamentos. Para o período gestacional foram
observadas equações quadráticas para todos os metabólitos, evidenciando o fato de os
animais diminuírem consumo próximo ao parto. Conclui-se que a inclusão de diferentes
tipos de gordura afeta o metabolismo proteico de ovelhas gestantes.
Palavras–chave: gordura, metabólitos, nutrição, ruminantes
Evaluation of protein metabolism of pregnant sheep fed different fat sources
Abstract: The use of fat sources on ruminants diet depends mainly on regional
availability and cost. Generally, oil sources replaces corn and soybean meal at the diet
formulation, so it is interesting to know if the inclusion would not affect the
performance of the animals. Twenty four sheep were used - 60 days of pregnancy at the
beginning of the experiment, with an average age of 12 months and average weight of
50 kg. The experiment was conducted at the Federal University of Uberlândia, during
90 days. Three concentrates with different sources of fat were used: control,
nutrigordura (rumen-protected palm fat) and cottonseed. The evaluation of protein
metabolites was made biweekly on the morning, always before the first meal of the day.
The experimental design was completely randomized. The protein metabolites analyzed
were: uric acid, albumin, creatinine, total protein and urea. No statistical difference was
observed for any of the metabolites from any treatments. For the gestational period,
quadratic equations were observed for all the metabolites, evidencing the fact that the
animals decreased consumption near the birth. It was concluded that the inclusion of
different sources of fat changes the protein metabolism of pregnant sheep.
269
Keywords: fat, metabolites, nutrition, ruminants
Introdução
Cada tipo de alimento rico em gordura como soja grão, o caroço de algodão, a
linhaça, óleo de palma, óleo de girassol, possuem suas próprias particularidades e
limites de uso, portanto devem ser estudados de modo a não prejudicar o funcionamento
do rúmen. Segundo Berchielli et al. (2011), quando a gordura representa mais de 10%
da energia metabolizável, em muitas espécies, o consumo de matéria seca tende a
declinar, provavelmente ocasionado pelos limites metabólicos de utilização da gordura,
tanto para oxidação quanto para armazenamento nos tecidos.
Em ovelhas, os distúrbios do metabolismo e a mastite acarretam perdas
econômicas significativas ao produtor, pois podem comprometer a produção de leite,
reduzir o ganho de peso do borrego e até mesmo promover a morte precoce; tais
prejuízos podem ser minimizados a partir do conhecimento das possíveis variações
metabólicas sistêmicas que são desencadeadas na fêmea no periparto e durante a
lactação (Ribeiro et al. 2004).
O objetivo do presente estudo é avaliar o efeito da inclusão de diferentes fontes
lipídicas sobre o metabolismo proteico de ovelhas gestantes.
Material e Métodos
O experimento foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, Fazenda
Experimental Capim Branco, setor de ovinos e caprinos, durante os meses de agosto a
novembro de 2015. Foram utilizadas 24 ovelhas gestantes, com idade média de 12
meses e peso corporal médio de 50 kg. Os animais foram mantidos em três baias
coletivas (oito animais em cada baia) de piso ripado com saleiro, cocho externo e
bebedouro de tambor de plástico, que era limpo e reposto todos os dias. Passaram por
procedimento padrão de pesagem, identificação, vermifugação e posteriormente foram
sorteados nos tratamentos. Esses animais receberam três rações com diferentes fontes de
gordura: controle (isento de gordura suplementar), nutrigordura (gordura protegida de
palma) e caroço de algodão inteiro (Tabela 1). E silagem de milho (volumoso).
Tabela 1. Ingredientes e suas proporções nos concentrados experimentais (%).
Ingredientes Controle Nutrigordura®
Caroço de
Algodão
Farelo de milho 75,40 65,32 68,60
Farelo de soja 25,60 24,68 19,40
Sal mineral 1,0 4,0 2,0
Ureia 1,0 1,0 1,0
Gordura protegida XXX 5,0 XXX
Caroço de algodão inteiro XXX XXX 9,0
O experimento teve duração de 90 dias. As ovelhas estavam com
aproximadamente 60 dias de gestação no início do experimento. Antes do início
experimental as ovelhas estavam em pasto de capim Urochloa brizantha, cultivar
Marandu recebendo suplemento proteico e energético na forma de proteinado. As
270
mesmas foram protocoladas e foi realizado ultrassonografia para a confirmação da
prenhez.
As rações foram balanceadas segundo o NRC (2007) para ovelhas em gestação.
As dietas foram compostas por silagem de milho e os concentrados descritos na tabela
1. A relação volumoso:concentrado foi de 60:40, respectivamente. A oferta de ração foi
à vontade (cerca de 3,5% do peso corporal), de forma que sobrasse 10% da ração total
fornecida. O fornecimento da ração ocorreu duas vezes ao dia (8 e 16 horas).
As coletas de sangue foram realizadas quinzenalmente (60, 75, 90, 105, 120, 135
e 150, no momento do parto), estas ocorreram no período da manhã antes da primeira
alimentação, por venopunção jugular com auxílio de vacuntainner e tubos sem
anticoagulante. Logo após as amostras de cada animal foram centrifugadas e pipetadas
em eppendorfs para posterior análise laboratorial usando kit comercial da Lab Test®. Os
metabólitos proteicos que foram determinados são: albumina (g/dL), creatinina
(mg/dL), ureia (mg/dL), proteína total (g/dL) e ácido úrico (mg/dL).
O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com
medidas repetidas no tempo. Cada tratamento com oito repetições (animais). As médias
foram comparadas pelo teste SNK a 5% de probabilidade.
Resultados e Discussão
Na tabela 2 podem ser observadas as médias dos metabólitos proteicos. Não se
observa diferença estatística em nenhuma das variáveis para tratamento. Em função do
período gestacional houve diferença significativa para creatinina, ureia e ácido úrico.
Na avaliação da proteína total não foram observadas diferenças significativas
entre os tratamentos e entre os períodos (Tabela 2), estando à média geral 10% abaixo
da normalidade (Kaneko et al., 2008). Pinheiro & Andrioli (2002) relataram situação
igual no período de estiagem no semi-árido nordestino, em que ovelhas sem raça
definida (SRD) apresentaram no periparto valores desta variável abaixo da normalidade,
sendo recomendada a suplementação proteica para as ovelhas gestantes e lactantes nesta
época do ano. Não podemos dizer que essa diferença de 10% ocorreu devido a falta de
nutrientes na dieta dos animais, como relatado por Pinheiro & Andrioli. Essa
diminuição pode estar relacionada com o fato de a variável responder mais lentamente a
mudanças. O mesmo ocorre com a albumina. Contudo, os valores de albumina
encontram-se situados 18% acima da normalidade considerada por Kaneko et al. (2008).
A albumina é considerada o indicador mais sensível para determinar o estado
nutricional proteico, de modo que valores persistentemente baixos sugerem inadequado
consumo proteico.
No que diz respeito à ureia, não houve diferença estatística entre os tratamentos,
contudo verifica-se aumento em função do período. Esse aumento se deve,
principalmente, pelo fato de os animais estarem a pasto anteriormente e depois
receberem concentrados com ureia em sua composição. A ureia responde mais
rapidamente em relação à albumina a mudanças no aporte proteico da dieta para
caracterização de deficiência proteica e sua concentração no soro sanguíneo reflete
diretamente a quantidade de proteína ingerida (González et al. 2000). A ureia sanguínea
reflete diretamente a amônia gerada no rúmen pela degradação dos compostos
nitrogenados e que não foi convertida em proteína microbiana. Essa amônia excedente
atravessa a parede ruminal, indo diretamente para ser transformada em ureia no fígado
com alto gasto energético. Essa ureia pode ser eliminada na urina, retornar ao rúmen via
271
saliva ou difusão na parede ruminal e ser eliminada no leite em caso de animal em
lactação (Wittwer, 2000). É observada variação da ureia no período indicando maior
escape de amônia do rúmen. Além disso, pode refletir na incapacidade da microbiota
fermentar as fontes de carboidratos em função dos efeitos deletérios do lipídeo.
Ocasionando assim aumento da ureia ao longo do experimento. Contudo, a média geral
da ureia encontra-se dentro dos valores de referência (17,12 – 42,80) (Kaneko et al.,
2008).
Tabela 2. Média dos metabólitos proteicos em função do tratamento e do período de
gestação
Tratamento
Albumina
(g/dL)
Creatinina
(mg/dL)
Ureia
(mg/dL)
Potreína total
(g/dL)
Controle 3,46 0,48 35,20 5,34
Nutrigordura 3,58 0,52 29,05 5,29
Algodão 3,60 0,56 31,47 5,57
Período (dias de
gestação)
Albumina
(g/dL)
Creatinina1
(mg/dL)
Ureia2
(mg/dL)
Proteína total
(g/dL)
60 3,22 0,83 9,33 5,44
75 3,46 0,49 37,87 4,96
90 3,76 0,37 39,54 5,50
105 3,60 0,43 40,13 5,72
120 3,21 0,56 30,90 5,34
135 3,60 0,54 30,71 5,26
Parto 3,81 0,54 26,96 5,53
MG 3,54 0,52 32,00 5,40
CV 12,01 30,79 27,16 10,07
Interação Tratamento x Período - Ácido Úrico (mg/dL)
Período/Trat. Controle3
Nutrigordura4
Algodão5
60 0,21 0,25 0,30
75 0,18 0,17 0,17
90 0,32 0,25 0,32
105 0,57 0,62 0,58
120 0,37 0,43 0,56
135 0,40 0,65 0,33
Parto 0,24 0,12 0,08
MG = 0,32 CV = 35,89
Valores de referência (Kaneko et al., 2008)
Albumina
(g/dL)
Creatinina
(mg/dL) Ureia (mg/dL)
Proteína total
(g/dL)
Ácido úrico
(mg/dL)
2,40 – 3,00 1,20 – 1,90 17,12 – 42,80 6,00 – 7,90 0 – 1,90 1
y=1,952361 – 0,027576x + 0,000125x² R²=61,32%; 2
y=-78,671180 + 2,186141x –
0,010071x² R²=67,24%; 3 y=-0,935417 + 0,024735x – 0,000112x² R²=59,05%;
4 y=-
1,290459 + 0,032150x – 0,000145x² R²=39,28%; 5 y=-1,307103 + 0,034394x – 0,000165x²
R²=55,39%; MG = média geral; CV = coeficiente de variação
Não foram observadas diferenças estatísticas em função do tratamento para a
variável creatinina, contudo, nota-se diferença significativa em função do período
gestacional. Os valores de creatinina estão 57% abaixo dos valores de referência
272
descritos por Kaneko et al. (2008), o que pode estar relacionado com o fato de os
animais estarem confinados, o que resulta em baixo consumo de energia pelo músculo.
Existe uma correlação positiva entre conteúdo corporal de creatina, que é dependente da
massa muscular e do ECC e taxa de proteólise e utilização de compostos endógenos de
nitrogênio (Caldeira et al., 2007).
Em relação ao ácido úrico, houve interação entre os tratamentos e o período de
gestação. O mesmo se encontra dentro dos valores de referência (0-1,9) relatados por
Kaneko et al. (2008). Foram observadas equações quadráticas em função do período. As
equações quadráticas nos mostram que os animais diminuíram o nível desses
metabólitos próximo ao parto, o que pode estar relacionado com a capacidade de
consumo no final da gestação, que diminui à medida que o parto se aproxima. A mesma
situação é observada para as variáveis creatinina e ureia. A ocorrência de redução desses
metabólitos proteicos com o avanço da gestação está associada ao balanço proteico
negativo (Ribeiro, 2002).
Conclusões
A inclusão de diferentes tipos de gordura afeta o metabolismo proteico de ovelhas
gestantes. Destaca-se um aumento da ureia em função do período gestacional, o que está
relacionado com a velocidade de fermentação dos carboidratos no rumem. Tanto a
proteína total quanto albumina não apresentaram diferença significativa para tratamento
e período, o que está relacionado com a velocidade de resposta dessas variáveis a
mudanças no aporte proteico da dieta.
Literatura citada
BERCHIELLI, T. T.; PIRES, A. V.; OLIVEIRA, S. G. Nutrição de Ruminantes.
Jaboticabal: Funep, 2011, 616 p.
CALDEIRA, R.M. 2005. Monitoração da adequação do plano alimentar e do estado
nutricional em ovelhas. Revista Port. Ciênc. Vet. 100(555/556):125-139.
GONZÁLEZ F.H.D., BARCELLOS J.O., PATIÑO H.O. & RIBEIRO L.A.O. 2000.
Perfil Metabólico em Ruminantes: Seu Uso em Nutrição e Doenças Nutricionais.
Gráfica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 108p.
KANEKO, J.J., HARVEY, J.W. & BRUSS, M.L. 2008. Clinical Biochemistry of
Domestic Animals. 6th
ed. Academic Press, San Diego. 916p.
PINHEIRO R.R. & ANDRIOLI A. 2002. Constituintes bioquímico-séricos em ovinos
sem raça definida (SRD) no semi-árido nordestino. Revista Bras. Med. Vet. 24(2):65-
66.
RIBEIRO, L.A.O. 2002. Perdas reprodutivas em ovinos no Rio Grande do Sul
determinadas pelas condições nutricionais e de manejo no encarneiramento e na
gestação. Tese de Doutorado em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, RS. 106p.
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