anais da academia
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Brasília, a nova capital federal, deveria servir não apenas como núcleo habitacional voltado para as atividades administrativas, mas, também, como novo e importante foco irradiador de cultura que teria origem em uma grande área situada entre as Superquadras e o braço norte do futuro Lago – a Universidade de Brasília. Caberia à Faculdade de Ciências Médicas da UnB a responsabilidade pela educação dos futuros médicos da capital e, também – embora de forma não explicitada, mas por todos assumida – liderar as pesquisas científi cas na área da saúde.TRANSCRIPT
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ANAIS DA ACADEMIA
DE MEDICINA DE BRASÍLIA
Brasília, a nova capital federal, deveria servir não apenas
como núcleo habitacional voltado para as atividades adminis-
trativas, mas, também, como novo e importante foco irradia-
dor de cultura que teria origem em uma grande área situada
entre as Superquadras e o braço norte do futuro Lago – a Uni-
versidade de Brasília. Caberia à Faculdade de Ciências Mé-
dicas da UnB a responsabilidade pela educação dos futuros
médicos da capital e, também – embora de forma não explici-
tada, mas por todos assumida – liderar as pesquisas científi cas
na área da saúde.
Os cuidados com bem-estar da população seriam, por sua
vez, naturalmente atribuídos à recém-criada Secretaria de Saú-
de, que já dispunha, desde 1959, de planejamento médico-hos-
pitalar para todo o Distrito Federal – o Plano Geral da Rede
Médico-Hospitalar de Brasília. Elaborado por Henrique Bandei-
ra de Mello, propunha dotar os habitantes da nova capital de
assistência de alto padrão, apoiada numa rede médico-hospita-
lar ampla e diversifi cada, formada por unidades de dimensões e
funções complementares.
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ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA
O plano estabelecia a criação de um Hospital de Base – em
que as diversas especialidades e equipamentos mais sofi stica-
dos seriam concentrados –, Hospitais Distritais e Unidades Saté-
lites, de modo a oferecer uma cobertura que abrangesse prati-
camente toda a população. Bandeira de Mello pretendia
[...] revolucionar os sistemas até então conhecidos, rom-
per com a rotina, corrigir métodos ora existentes nas ve-
lhas cidades e impedir que pela multiplicidade de meios
de assistência, a Medicina se torne onerosa e, paradoxal-
mente, insufi ciente. O Serviço de Saúde da Nova Capital
será baseado na participação da própria sociedade, por
intermédio de representantes de todas as classes, em de-
fesa da saúde da comunidade – direito que todos devem
defender1.
Bandeira de Mello propunha um modelo regionalizado que
contemplava na atenção à saúde, ações preventivas, curativas e
de meio ambiente, evitando as distorções praticadas no atendi-
mento às populações pelos sistemas existentes no restante do
País. A coordenação desse plano seria realizada pela Fundação
Hospitalar do Distrito Federal, que centralizaria os diversos hos-
pitais, suas unidades satélites e as demais instituições de apoio2.
Nascida, nas palavras de Lucio Costa, “do gesto primário de
quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzan-
do-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da Cruz”, a utopia
1 Ernesto Silva. “Revista do Serviço Especial de Saúde Publica” in: AMBr Revista 84, 2007, p. 6.2 O plano Bandeira de Mello também previa a necessidade de hospitais especializados para pacientes crô-
nicos, centros de reabilitação, escola de enfermagem e um Laboratório Central. O Plano Piloto disporia de 2.500 leitos hospitalares, destinados a uma população de 500.000 habitantes.
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ANAIS • Ano I • Volume 1
de seu criador confrontou-se, a partir da inauguração da cida-
de, com a enorme carga de problemas da sociedade brasileira,
cuja realidade encontrava-se muito distante das pranchetas dos
escritórios que a criaram.
São justamente essas virtudes e vicissitudes pelas quais vem
passando a Medicina do Distrito Federal ao longo desses quase
cinquenta anos de história da cidade que compõem os textos
de uma série de conferências patrocinadas pela Academia de
Medicina de Brasília durante o ano de 2008, reunidas nesses
Anais. Neles, encontra-se o ponto de vista daqueles que foram,
em algum momento de suas vidas, protagonistas e testemunhas
das decisões que infl uenciaram as medidas tomadas a respeito
da assistência à saúde, educação médica e pesquisa avançada
no Distrito Federal.
Os primeiros textos correspondem ao eixo representado
pela assistência à saúde. Incluídos nesse bloco encontram-se o
relato de Ernesto Silva sobre o planejamento original à saúde
do Distrito Federal feito ainda no Rio de Janeiro, bem como
as primeiras difi culdades encontradas para implementá-lo na
nascente capital. A esse se junta o depoimento de Gustavo
Ribeiro sobre os múltiplos desafi os enfrentados pelos primei-
ros médicos a aqui chegar. Segue-se uma revisão de Pinhei-
ro Rocha sobre o porquê da necessidade de modifi cações
daquele planejamento, contrapondo a dura realidade de uma
Brasília que crescia em ritmo acelerado ao que havia sido pro-
posto pela burocracia da antiga capital. Finalizando, Jofran Fre-
jat conta como foi feita a regionalização da saúde no Distrito
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ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA
Federal e quais foram as implicações políticas que a antecede-
ram e, eventualmente, a sucederam.
O segundo bloco trata da educação médica. As conferências
de Luiz Carlos Lobo e Odílio Silva referem-se à fundação e aos
primeiros anos da Faculdade de Ciências Médicas da Universi-
dade de Brasília, responsável por introduzir na nova capital um
modelo inovador e revolucionário de ensino médico que privile-
giava o atendimento à comunidade sem, contudo, descuidar do
paciente. Os textos sob a responsabilidade de Antônio Márcio
Lisboa e Marcus Vinícius Ramos tratam desse modelo, observa-
do sob a ótica de professor e aluno, respectivamente.
A expansão da educação médica para novas instituições de
ensino é também abordada nesse capítulo, com Fábia Lassance
discorrendo sobre o projeto pedagógico do curso de Medicina
da Universidade Católica de Brasília, enquanto Mourad Belacia-
no demonstra a quebra de paradigmas na graduação médica
proporcionada pela Epecs, instituição subordinada à Secretaria
de Saúde do Governo do Distrito Federal.
Não menos importante, o terceiro bloco corresponde à pes-
quisa médica, liderada no Distrito Federal pela UnB e pela rede
Sarah. Uma ideia do que vem sendo feito nesse campo pode
ser encontrada nos testemunhos de Antônio R. Teixeira e Ri-
cardo Teixeira, com um levantamento estatístico dos avanços
nessa área em Brasília, e no de Campos da Paz, que acrescenta
à sua vivência no comando do Sarah as novas aberturas pro-
porcionadas pelo desenvolvimento acelerado da neurociência.
Esse bloco e a série de conferências encerram-se com a parti-
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ANAIS • Ano I • Volume 1
cipação de Izalci Lucas, Secretário de Ciência e Tecnologia do
Distrito Federal, que, expondo dados da própria Secretaria e
também da Fundação de Apoio à Pesquisa, mostra o que sua
pasta pretende e quais as medidas que tem tomado no sentido
de “fomentar ações de ciência e tecnologia no DF”.
A Comissão optou por publicar essa série de conferências
sem editá-las, com o intuito de preservar não só a originalidade
dos textos como o estilo de seus autores. Contudo, e por ra-
zões de natureza exclusivamente práticas e metodológicas, não
foram incluídos os recursos audiovisuais eventualmente utiliza-
dos por alguns dos expositores. Pelas mesmas razões, deixou
de ser aproveitada a participação da audiência nos debates que
se seguiram ao término de cada sessão.
Com a publicação desses Anais, a Academia de Medicina
de Brasília não só cumpre seu dever estatutário de contribuir
para a preservação da memória da Medicina de Brasília e cola-
borar com o Poder Público no estudo de soluções das questões
de caráter médico-social como dá também um passo à frente
na avaliação de algumas vertentes da história da Medicina em
Brasília, geralmente pouco estudada e, muitas vezes, injusta-
mente avaliada.
A Comissão