anais jig 2014 - segunda tela ou tv social

Upload: gleice-bernardini

Post on 02-Nov-2015

224 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Artigo apresentado no Seminário Internacional de São Carlos. Sobre as diferenças entre a Segunda Tela e a TV Social.

TRANSCRIPT

  • SEGUNDA TELA OU TV SOCIAL: um debate sobre as diferenas e semelhanas das

    tecnologias1

    Gleice Bernardini2

    Resumo: O artigo visa levantar um debate sobre as inovadoras plataformas de reassistncia

    da TV Digital, que trouxe a possibilidade de interatividade com o contedo atravs de

    aparatos tecnolgicos, surgindo novas formas de manter o espectador acompanhando o fluxo

    de veiculao e interagindo com ele atravs de outros meios, sejam apps, plataformas de

    contedos para navegao ou redes sociais. Muitos estudiosos denominaram as novas

    experincias como Segunda Tela e TV Social, mas por muitas vezes estarem agregadas ao

    contedo televisional digital so confundidas como uma plataforma nica.

    Palavras-chave: Segunda Tela. TV Social. TV Digital. Interatividade. Internet.

    Abstract: The paper aims to raise a debate on innovative platforms reassistncia Digital TV,

    which brought the possibility of interaction with content through technological devices,

    emerging new ways to keep the viewer watching the stream serving and interacting with it

    through other means, are apps, content for browsing or social networking platforms. Many

    scholars have termed the new experiences as a Second Screen and Social TV, but often are

    aggregated to digital content televisional are confused as a single platform.

    Keywords: Second Screen. Social TV. Digital TV. Interactivity. Internet.

    Introduo

    Na busca de levantar um debate sobre as inovadoras plataformas de reassistncia da

    TV Digital, conhecidas como Segunda Tela e a TV Social, procuramos demonstrar como a

    experincia de utilizao destas as tecnologias, que so comumente confundidas entre si, vem

    sendo tratadas, e denominadas como apenas uma operao.

    A Televiso Digital proporcionou aps o incio de sua implantao, em 2007, a

    possibilidade de utilizao das diferentes formas de interatividade com o contedo do fluxo

    1 Trabalho apresentado no Seminrio Temtico Tecnologia e o Ensino nas Redes, durante a I Jornada Internacional GEMInIS, realizada entre os dias 13 e 15 de maio de 2014, na Universidade Federal de So Carlos. 2 Mestranda do Programa de Ps Comunicao Mestrado Acadmico em Comunicao Miditica, da Universidade

    Estadual Paulista UNESP, Cmpus Bauru, So Paulo, Brasil. Bolsista Capes. Especialista em Linguagem, Cultura e Mdia,

    no Curso de Especializao, Lato Sensu, pela mesma instituio. Jornalista. Orientada pela Profa. Dra. Maria Cristina Gobbi

    (orientadora da dissertao). E-mail: [email protected].

  • televisivo, atravs de gadgets3, como tablets, mobile e demais aparatos tecnolgicos que

    permitem a conexo internet.

    Com este novo cenrio comunicacional, surgiram novas formas de se manter o

    espectador acompanhando o fluxo de veiculao televisional e ainda sim interagindo com ele

    atravs de outros meios, seja com apps4, plataformas de contedos para navegao ou as

    famosas redes sociais. Assim, muitos estudiosos, pesquisadores, acadmicos ou empresariais,

    denominaram as novas experincias como Segunda Tela e TV Social, porm por muitas vezes

    estas tecnologias desenvolvidas em separado, mas em diversas situaes serem utilizadas

    agregadas e conjuntamente ao contedo televisional digital, so confundidas como uma

    plataforma nica.

    Apenas o ato de se comentar a programao utilizando as redes sociais, tais como

    Twitter, Facebook, Google +, entre outras, ou mesmo o ato de navegao na rede mundial de

    computadores em busca de mais informaes sobre o programa ou contedo que se assiste na

    televiso, no deve ser confundido com a utilizao de aplicativos desenvolvidos

    especialmente para se manter o pblico televisivo vinculado ao contedo da emissora ou ao

    programa, atravs da interatividade agregada em um ambiente fechado, ou seja, sem a

    possibilidade de perda de ateno do espectador e fuga para a internet, nos chamados apps.

    Com o avano e popularizao da rede mundial de computadores, a internet 2.0,

    originaram-se modificaes profundas na forma em como os telespectadores passaram a

    assistir a televiso. Muitos jovens j desanimados com o contedo e o fluxo televisivo

    deixaram o veculo substituindo-o pela navegao no ciberespao em busca de seu contedo

    sempre a sua espera, sem a necessidade de agendamento ou de horrios fixos. A conexo via

    banda larga, trouxe a praticidade, mais rapidez e maior eficincia para que esse cenrio se

    ampliasse, porm com a popularizao dos dispositivos mveis, como os smartphones e

    tablets, houve uma reaproximao das duas mdias, internet e televiso, criando uma

    experincia inovadora: a segunda tela.

    A esses fatores junta-se a interatividade, um termo antigo, estudado desde 1920 com

    Bertold Brecht e seus estudos sobre o rdio, que ganha novos ares, definies e diferentes

    graus com a internet. A rede mundial de computadores agora ligada a TV Digital, como seu

    3 Nome em ingls para os dispositivos utilizados complementarmente a uma tecnologia, como fones de ouvido,

    pranchas de desenho, tablets, smartphones, etc. 4 Abreviao para aplicativos desenvolvidos especificamente para funcionar em smartphones e tablets.

  • canal de retorno, em seu novo modelo de transmisso, o sistema brasileiro de televiso digital,

    modificado para o pas, traz novas possibilidades de uso para a tecnologia.

    O sinal de televiso digital brasileiro, mais conhecido por sua sigla SBTVD,

    implantado a partir de 2007, considerado segundo diversos estudiosos, um padro

    melhorado do padro de televiso digital japons e considerado o mais avanado padro de

    transmisso do mundo, com a melhor tecnologia. Mesmo ainda caminhando para conseguir

    uma cobertura total, cujo atualmente consta segundo dados oficiais com de cerca de 50% em

    todo o territrio nacional5, e com diversos problemas quanto s faixas de transmisso,

    produo de contedo, interferncia e, at mesmo, problemas ligados ao canal de retorno, com

    novas tecnologias, avana a passos largos no pas, sendo prometida uma cobertura total at

    20186.

    Cada vez mais pessoas assistem a televiso com algum dispositivo mvel nas mos,

    seja um tablet, smartphone, ou mesmo um notebook, dispositivos conectados a internet ou

    realizando outra atividade em conjunto a atividade televisiva. Atravs destes aparatos

    tecnolgicos, a comunicao pode ser estendida para alm da sala de estar, e para mais

    pessoas do que aquelas presentes ao seu redor, no estando mais sozinho, mas ampliando os

    horizontes, mesmo que virtualmente.

    Sendo assim, as chamadas segundas telas, como so denominados tais dispositivos,

    comeam a ganhar espao e a cair no gosto de telespectadores e internautas que no querem

    mais apenas ser receptores, mas buscam atuar no processo comunicacional. As conversas e

    mensagens trocadas atravs destas tecnologias ampliam laos sociais e fazem multiplicar o

    interesse desses novos agentes na produo de contedo nesse setor.

    E com esse panorama, novas formas de comunicao surgem, outras ferramentas so

    utilizadas, alm de novos desafios para a sua implantao e utilizao aparecem, ampliando os

    desafios de comunicao e tecnologia.

    Considerando o conceito defendido por alguns autores que definem a interatividade

    como uma interao mediada por um dispositivo7, esta deve ser estudada, em todos os seus

    graus, para compreenso dessa nova comunicao neste cenrio atual de tecnologias.

    5 Dados segundo a Anatel, agncia reguladora dos sinais no pas. Disponvel em www.anatel.org.br 6 A autora trata dos problemas da cobertura do sinal de TV Digital no Brasil em seu artigo TV Digital no Brasil: uma realidade no vista por todos os brasileiros, apresentado no XI Congresso da Lusocom, realizado na Universidade de Vigo, em Pontevedra, Espanha, nos dias 11 e 12 de abril de 2014. 7 A autora destaca as caractersticas da interatividade em seu artigo Interatividade: um conceito alm da internet, publicado na Revista GEMInIS, ano 4, n.2, v.1.

  • Compreender e abranger quais os entraves para a disseminao dessas ferramentas, para sua

    instalao e utilizao na TV Digital, em toda sua plenitude, o alto custo dos equipamentos,

    como set-up-box, tablets e outros, assim como a falta de incentivo e polticas governamentais,

    mesmo com programas que visam implantao da TV Digital no pas, porm priorizando

    apenas a internet, mas tambm, a baixa demanda e produo de aplicativos pelas empresas e

    governo, como tambm a utilizao e o no conhecimento da tecnologia, a falta de

    treinamento, educao e procura de informaes por parte da populao brasileira nesse

    panorama mais que necessrio, para o entendimento do andamento da tecnologia e o

    entendimento das relaes errneas feitas com as tcnicas de uso entre Segunda Tela e TV

    Social.

    A TV Digital e as novas tecnologias

    A grande maioria da populao brasileira s tem acesso televiso aberta. Segundo

    dados da Eletros8, em 2003, 94% dos televisores brasileiros dependiam desse tipo de

    transmisso. Com a digitalizao do sinal, a televiso passou a oferecer novos servios, alm

    de imagens e sons melhores ao espectador. A nova tecnologia trouxe com ela a interatividade

    dos computadores aos aparelhos televisivos, alm da ampliao e melhoria na experincia de

    assistir televiso, com a possibilidade de escolha de cmera, legenda, udios, sinopse da

    programao, etc. Com ela as emissoras conseguiram ampliar sua atuao e audincia,

    criando novas fontes de renda, como os novos formatos televisivos conjugados com

    aplicativos via internet, celular e tablets.

    Os novos aparelhos televisores, ganharam novas caractersticas, devido ao material

    que fabricado, como as TVs de plana, plasma, LCD, Led, Oled e tela curva, como por novas

    funes, como 3D, SmarTV, ou TV conectada, funes futebol, com melhorias de som,

    reconhecimento facial e personalizao de perfis, deixando os aparelhos mais pessoais e

    modificados conforme o desejo do espectador. Assim, no s as emissoras tiveram que se

    modificarem com a mudana do padro televisivo, mas as empresas fabricantes de aparelhos

    tambm tiveram que inovar para conquistar novos pblicos.

    8 Associao Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrnicos, TV digital, apresentao ao Ministrio das Comunicaes, Braslia, fevereiro de 2003. Disponvel em http://www.mc.gov.br/tv_digital_ap_eletros.htm. Acesso em

    agosto de 2013.

  • O trabalho desenvolvido por pesquisadores brasileiros no mbito do Sistema

    Brasileiro de Televiso Digital (SBTVD) tem condies de criar aqui a TV aberta

    mais interativa do planeta. s vezes ela se parece com a internet. Em outras, vai alm.

    O televisor ou o conversor, que transforma o sinal digital em analgico, para ser visto nos aparelhos atuais tem capacidade de processamento e de armazenamento como um computador. A inteligncia passa estar ao alcance dos dedos do espectador

    pelo controle remoto ou teclado sem fio9.

    A mudana do padro do sistema de televiso brasileira trouxe muitas novidades para

    o espectador. Porm, um problema enfrentado no incio da mudana foi a falta de celulares

    com recepo do sinal de TV, pois os modelos existentes no Japo no funcionavam nas redes

    brasileiras de telefonia mvel. Problema que comea a ser resolvido, devido mudana de

    viso dos fabricantes de aparelhos que comeam a lanar novos modelos que recebem o sinal.

    Desta forma, novas parcerias comeam a acontecer. Emissoras de TV e operadoras de

    telecomunicaes se unem. Os aparelhos celulares, telefone fixo e a internet tornam-se meios

    de distribuio de contedo televisivo e, consequentemente, novas fontes de receita, alm de

    se tornarem canais de interatividade da TV.

    Outra possibilidade de canal de retorno seria a instalao de pequenos transmissores

    nos terminais, o que exigiria do usurio investimentos adicionais, aumentando o valor a ser

    gasto pelo pblico, deixando desinteressante a tecnologia. Assim, faz bem mais sentido

    promover o trfego bidirecional da internet atravs de rede, fixa ou celular, desenhada para

    comunicaes ponto-a-ponto, ou seja, utilizar outro meio de comunicao, no caso a internet,

    como canal de retorno, barateando o servio para o consumidor.

    Assim, os usurios da internet podem ser considerados como o melhor pblico para a

    TV digital. Principalmente a interativa e de segunda tela. Pois, do ponto de vista do consumo,

    aqueles que possuem banda larga, j esto acostumados a baixar vdeos e assistir vdeos no

    YouTube, por exemplo. Desta forma, esses usurios esto acostumados a ter o contedo que

    desejam a hora que quiserem, no precisando aguarda o horrio do programa. Alm de estar

    familiarizado com a tecnologia, tambm so mais receptivos com a utilizao de mais de um

    dispositivo ao mesmo tempo, facilitando o uso da interatividade da TV digital e da segunda

    tela nos aparatos tecnolgicos.

    A digitalizao tira a TV da caixa, no estando mais somente no aparelho de televiso,

    mais agora em diversos dispositivos e com este cenrio que as emissoras de sinal aberto tm

    9 CRUZ, Renato. TV Digital no Brasil: Tecnologia versus poltica, cit., p. 119.

  • que se familiazar para conseguirem manter seus canais. Novos produtos e formatos deixam de

    ser um diferencial, passam agora a ser essencial para manter a audincia.

    A Segunda Tela e a TV Social vm como um diferencial para as emissoras, que se

    utilizam destes novos canais de mediao e interatividade para ampliar suas audincias e

    conseguir um feedback mais efetivo de sua programao. Alm de conseguirem verificar a

    opinio do pblico sobre o contedo veiculado na televiso, atravs das tecnologias, pode-se

    abrir um canal de feedback com o pblico analisando suas sugesto, que podem ser

    implantadas quase que instantaneamente.

    So novos canais convergentes, pois unem o universo offline e online. Somente assistir

    televiso no faz do espectador um usurio, mais atravs de um aplicativo especialmente

    desenvolvido para a programao do canal, ou mesmo para um programa especfico, o usurio

    pode se conectar com os demais espectadores, multiplicando assim a experincia de assistir

    televiso.

    Segunda tela so os aplicativos

    Assistir televiso sempre foi uma experincia coletiva, dividida com amigos,

    familiares e vizinhos. A popularizao dos aparelhos de TV e o surgimento de outras

    tecnologias ampliou esta experincia compartilhada, contrariando a previso de muitos

    cticos, crescendo o nmero de pessoas que se utilizam de aparelhos de segunda tela.

    O nmero de pessoas com acesso a TV cresceu consideravelmente nos ltimos anos,

    especialmente agregada a outros dispositivos, permitindo que a programao seja um

    elemento agregador do processo comunicativo e pauta constante de conversas, nos mais

    variados locais e meios sociais.

    Tal evidncia confirmada por Finger e Sousa (2012, p. 384), quando salientam que

    [...] com o avano da internet e a popularizao de outras telas, essas conversas perderam

    qualquer tipo de limitao fsica, imposta por longas distncias, por exemplo, e o que era

    apenas item da pauta da conversa de botequim, ganhou amplitude com a internet, se tornando

    assunto nas redes sociais e chats, por exemplo.

    Assim, as mudanas na televiso comeam a ser percebidas. No s no que se refere a

    produo de contedo em outros meios, mas em todos os setores envolvidos, destacando os

    telespectadores participantes, a mudana do padro de sinal, entre outras. A TV que sempre

    foi vista como meio agregador de pessoas, por proporcionar uma experincia coletiva no

  • simples ato de ver televiso, agora se reinventa, porm mantem essa caracterstica de

    integrao social. Neste sentido Finger e Sousa (2012) definem que o fato do sujeito assistir

    televiso o integra ao imenso grupo de outros indivduos tambm na mesma posio,

    destacando que esta uma caracterstica marcante do meio, sendo [...] a experincia em

    comum dessas pessoas em torno da TV o que os une num espao coletivo, mesmo que

    virtual (p. 386).

    Os autores destacam que [...] a televiso atualmente um dos principais laos sociais

    da sociedade, devido ser a nica atividade que pode ser compartilhada por todas as classes

    sociais e todas as idades.

    Porm muitos autores questionam que a televiso perdeu o primeiro lugar na ateno

    do pblico e alegam que com o surgimento da internet, a TV foi deixada de lado, esquecida

    pelos consumidores. Ainda sim, referendam que a mdia no deixar de existir, mas se

    transformar.

    Roger Fidler (1997), pesquisador dos meios de comunicao, defende que o

    aparecimento de uma nova tecnologia miditica no provoca necessariamente o fim da

    anterior ou das existentes. Segundo ele, da mesma forma que os seres vivos, no caso da

    biologia evolutiva, os meios de comunicao so afetados e entram num processo de

    evoluo, modificando-se para se adequar a nova realidade. O que pode ser evidenciado

    como, por exemplo, pelo rdio que no deixou de existir com a televiso. O pesquisador usa o

    termo midiamorfose para descrever esse processo de transformao passado pelas mdias

    para sua adaptao as novas necessidades de mercado. Destarte, a televiso est longe de

    desaparecer, mas seu processo de produo ir se modificar, e nessas adaptaes que

    devemos nos concentrar para obter resultados satisfatrios, como no novo modelo de

    transmisso adotado, a televiso digital.

    E com a segunda tela, e a possibilidade de interatividade atravs do uso da internet

    como canal de retorno da TV digital, a experincia de assistir TV fica mais atraente,

    provocando novos comportamentos nos telespectadores. As conversas sobre a programao

    vo para as redes sociais e novos aplicativos so disponibilizados oferecendo mais

    informaes para ampliar ainda mais essa conversao. Esse fenmeno foi batizado, em 2010,

    de TV Social por Marie Jos Montpetit, pesquisadora do Media Lab, do Instituto de

    Tecnologia de Massachusetts (MIT), um dos principais centros de pesquisa em novas

    tecnologias.

  • J o conceito de segunda tela pode ser entendido como qualquer dispositivo que

    permita o acesso internet, como os smartphones e tablets, sendo utilizados de forma

    simultnea programao da TV atravs de aplicativos especficos para o contedo

    televisivo. Tais aplicativos oferecem contedos complementares ao veiculado na tela da TV,

    disponibilizando ferramentas para interao entre pessoas, como redes sociais, e-commerce,

    entre outras. Diversas pesquisas apontam que as pessoas adquiriram o hbito de utilizar outro

    dispositivo enquanto assistem a televiso, Finger e Sousa (2012) ratificam isso,

    Uma pesquisa da empresa americana de tecnologia Ericsson realizada em 13 pases, inclusive

    no Brasil, aponta que mais de 60% das pessoas com acesso a internet tem o hbito de navegar

    na rede enquanto assistem TV. Quarenta por cento dos entrevistados usam plataformas de redes

    sociais simultaneamente TV. (p. 385)

    Esses novos hbitos esto sendo acompanhados de perto por empresas de

    telecomunicaes e emissoras de TV. Abre-se um leque muito grande de oportunidades para

    os produtores e novas fontes de renda ser geradas com esses novos contedos.

    A segunda tela integra o ato de assistir TV com navegar na internet, mas dentro de um

    aplicativo, mantendo o espectador ligado programao e no causando a fuga da audincia.

    Muitas caractersticas da TV foram reforadas com esse novo modelo, a valorizao

    do ao vivo, o carter do imediatismo, a produo em fluxo do contedo televisivo, como a

    organizao da programao em uma grade, destaca o carter de agrupamento dos

    telespectadores, facilitando as medies de audincia e aes na segunda tela, entre outros.

    O Ao vivo volta a ganhar destaque entre os espectadores, que fazem questo de

    acompanhar as transmisses em tempo real, alm de debaterem e levantarem questionamentos

    em outros meios, sobre o que esto vendo na tela. Os novos espectadores no so mais

    passivos, assistem televiso com seus dispositivos sincronizados em aplicativos e redes

    sociais, buscando mais informaes e socializando, com outras pessoas, informaes e

    opinies sobre o programa assistido. Essa ampliao do ato de ver TV causa uma maior

    repercusso sobre o que veiculado e faz com que, muitas vezes, a prpria programao

    televisiva seja influenciada. Essa tendncia explicada por Finger e Sousa (2012), quando

    afirmam que [...] o empoderamento do telespectador que pelo que diz leva outros a

    mudarem de canal e at ligar a TV para compreenderem o que est sendo comentado e

    discutido. (p. 387). Essa transformao pode ser observada, por exemplo, com a

  • possibilidade de mudana no padro de poder de deciso sobre a grade de programao, que

    poder passar das emissoras para as mos dos telespectadores.

    Podemos dizer que esse cmbio no cenrio, de valorizao dos espectadores, agora

    consumidores ativos de informao, aumenta a qualidade da audincia e atrai novos setores

    para a mdia. H uma necessidade, no s de novos produtores miditicos, mais tambm da

    criao de outros meios, processos, formatos, aplicaes e programas, incluindo nesse mote o

    entretenimento, para abastecer essas novas demandas. Ainda que em diferentes graus, de

    participao e influncia, os telespectadores partem para um novo modelo de consumidor,

    ativo e participante, interessado em no mais apenas receber um fluxo de notcias e

    informaes, mas em receber diversas experincias e construir novas formas de recepo e de

    produo de contedo.

    A experincia mais bem sucedida de segunda tela, como afirma alguns pesquisadores,

    o aplicativo da srie americana Hannibal, exibida pelo canal de TV a cabo AXN.

    Sincronizado ao udio do aparelho televisivo o aplicativo envia ao espectador informaes

    complementares a srie, para uma melhor compreenso da histria, com imagens das

    gravaes das cenas, relatos dos atores e curiosidades.

    Figura 1 Tela de incio do app (aplicativo) Hannibal, da srie televisiva de mesmo nome, do canal AXN.

    (Imagem captada pela autora)

  • No Brasil essas experincias ainda so bastante novas e muitos aplicativos ainda esto

    em fases de testes. Vrias emissoras possuem seus apps, como a Segunda Tela da Band, da

    Rede Bandeirantes de Televiso, que traz informaes sobre os jogos, com nmero de faltas,

    cartes, curiosidades sobre os times e jogadores e a Rede Globo que lanou um aplicativo de

    votao para um novo modelo de programa musical, o Superstar, onde o pblico tem a

    oportunidade de votar nos seus favoritos.

    Figura 2 Telas de incio, de votao e de entrada no app superstar, do programa televisivo com o mesmo

    nome, da Rede Globo. (imagem divulgada pela emissora)

    Quando trata-se de Segunda Tela, a dvida muitas vezes levantada, as vezes at como

    uma preocupao ou mesmo como argumento de crtica por parte de muitos pesquisadores

    descrentes na tecnologia, a questo da disperso de ateno. Porm, neste quesito pode-se

    afirma que um meio no compromete o outro. Segundo os dados da IAB e comSCORE

    indicam que, aproximadamente metade das pessoas que assistem TV e acessam a Internet ao

    mesmo tempo, presta igual ateno as duas telas10.

    O termo Segunda Tela ganhou destaque nos ltimos anos por ser atribudo ao hbito

    de ver TV (1 tela) e navegar na web (2 tela) ao mesmo tempo. Segunda tela pode ser

    entendido, na verdade, como um outro ambiente de significao, sendo pensado e estruturado

    para dialogar com a interface do primeiro meio, ou seja, do principal, no caso o contedo

    10 Pesquisa realizada pela IAB Brasil, disponvel em http://iabbrasil.net/portal/.

  • televisivo. Assim, na segunda tela o fluxo de informaes veiculadas fica ligado ao fluxo do

    outro aparelho, no caso a televiso.

    TV Social: comentando a programao televisiva

    J a explicao do termo TV Social, pode ser feita como sendo o ato de compartilhar,

    debater, questionar, divulgar, promover e escrever sobre a programao a qual est sendo

    veiculada e/ou est sendo assistida no momento, nas redes sociais, proporcionando uma

    divulgao ou mesmo promovendo uma alterao na audincia do meio televisivo.

    Lembramos que ambos os termos, Segunda Tela e TV Social, no possuem um

    conceito concreto, e sim, significaes mercadolgicas e acadmicas para separao e

    compreenso das tecnologias.

    Por ambas as tecnologias se utilizarem da TV digital e da internet como forma de

    existncia, muitos pesquisadores, e at mesmo profissionais de comunicao, tratam ambas

    como sendo apenas uma experincia.

    A TV Social pode sim, envolver o uso de apps. No ficando restritas apenas as

    pginas das redes sociais. Porm, a diferenciao se d pela forma de utilizao e contedo

    produzido. Enquanto a Segunda tela vista como uma forma de ampliao da audincia e da

    produo de contedo, a TV Social o feedback ou uma forma da emissora medir a audincia

    e o grau de aceitao da programao.

    A maioria das experincias de Segunda tela agregam a TV Social a sua plataforma,

    como por exemplo ambas as representaoes (figura 1 e 25) de apps apresentados. Dentro do

    aplicativo da srie Hannibal, o usurio pode postar comentrios em suas pginas do Facebook

    e Twitter. J no aplicativo da emissora brasileira, o usurio chamado a se conectar via sua

    conta das redes sociais, para que seja compartilhados dados destas redes, tais como foto e

    localizao.

    Mas, as diferenas entre as tecnologias, so maiores, pois enquanto o aplicativo da

    emissora americana AXN, considerado o exemplo mais bem acabado de experincia de

    Segunda Tela, com diversas opes para os usurios, o aplicativo da Rede Globo recebeu

    muitas crticas do pblico.

  • Figura 3 Imagem da pgina da rede social Twitter com opinies de usurios do app Superstar (Imagem

    captada pela autora)

    A Figura 3 mostra a reao dos usurios ao no conseguirem ter uma experincia

    satisfatria de segunda tela. Atravs das redes sociais, os usurios se manifestam

    negativamente, criticando o app, o que confirma nosso posicionamento que a segunda tela e a

    TV social esto juntas.

    No sempre que um aplicativo de segunda tela ter a TV social embarcado, podendo

    acontecer a experincia de TV social quando o espectador televisivo resolve comentar sobre a

    programao ou o que est assistindo nas redes sociais atravs de suas pginas, fora de uma

    aplicao.

    Estas diferenciaes devem ser observadas e levadas em conta, para que haja uma

    melhor compreenso das tecnologias e assim, possa ser utilizada de forma correta, tanto por

    pesquisadores, como por profissionais de comunicao.

    Consideraes Finais

    A pesquisa buscou levantar as mudanas que acontecem no setor televisivo e

    comunicacional, diferenciar as interatividades recorrentes na segunda tela, demonstrando

    como a TV digital e seu canal de retorno, a internet, podem trazer diversos modelos de novos

    negcios, renovando as audincias, ampliando o faturamento das emissoras e modificando de

  • vez a forma de se interagir com a televiso atravs dos novos dispositivos mveis e da

    segunda tela e TV social.

    Porm, fica o alerta de que no podemos somente criar aplicativos e tecnologias

    surpreendentes, mas complicadas no quesito usabilidade. As tecnologias existem, como

    dispositivos que permitem carregar a televiso no bolso, acessar a internet e estar conectado

    com as novidades, comentrios dos amigos, compartilhamento de informaes e

    sincronizao de programas atravs da segunda tela. O que falta a aplicao, a produo de

    contedo, de novos modelos e estudos para desenvolver outras experincias para este

    espectador atuante.

    Atravs de um levantamento terico, complementado com o estudo de muitos

    pesquisadores e levantamento de diversos questionamentos sobre a temtica, procurou-se

    disseminar questes a serem debatidas para o aprofundamento deste estudo, que tem a

    pretenso de servir de base futuramente para uma possvel definio concreta dos conceitos e

    esclarecimento das diferenas e semelhanas entre as novas tecnologias. No o objetivo

    deste artigo encerrar a discusso em conjunto a escrita do mesmo, pelo contrrio, o que se

    busca causar questionamentos sobre as experincias de utilizao tanto da Segunda Tela

    como da TV Social, para que se possa difundir e construir mais conhecimento agregado sobre

    as temticas.

    Tambm consideramos durante o decorrer do artigo as solues que as segundas telas

    podem fornecer, no somente ao no mais espectador e receptor, mas agora tambm produtor

    de contedo, ao agregar os meios de comunicao neste processo, mas tambm aos agentes do

    setor comunicacional que pode se utilizar desse novo perfil de pblico como mo de obra,

    mas auxiliando na produo e divulgao de contedos. Como tambm, incentivar o uso das

    tecnologias, em conjunto ou mesmo em separado, para ampliar a divulgao de informaes,

    a produo de contedo, a comunicao, a manuteno das mdias atuais e, porque no, a

    criao de novas formas comunicacionais e tecnolgicas, disseminando os novos processos e

    aparatos, causando um possvel barateamento de tecnologia e auxiliando estudiosos e

    pesquisadores com a ampliao de corpus de pesquisa, para que enfim, possamos melhor

    compreender os atuais fenmenos e desmitifica-los.

  • Referncias

    NEGROPONTE, Nicholas. (1996) Ser digital. Mxico: Atlntida-Ocano

    LVY, Pierre. Que o virtual? So Paulo: 34, 1996.

    MACHADO, Arlindo. Mquina e imaginrio. So Paulo: Edusp, 1993.

    MACHADO, Arlindo. O quarto iconoclasmo e outros ensaios hereges. Rio de Janeiro: Rios

    Ambiciosos, 2001.

    SANTAELLA, Lcia. Navegar no ciberespao: o perfil cognitivo do leitor imersivo. So

    Paulo: Paulus, 2004

    InteractiveTV - Notcias sobre a evoluo da TV social, que sobressai na televiso

    multiplataforma interativa. Fundada em 1998. www.itvt.com

    PRIMO, Alex. Quo interativo o hipertexto? Da interface potencial escrita

    coletiva. Fronteiras: Estudos Miditicos, So Leopoldo, v. 5, n. 2, p. 125-142, 2003

    COSTA, Ana Maria Nicolaci da (org.). Cabeas digitais. O cotidiano na era da

    informao. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006.

    LOJKINE, Jean. A revoluo informacional. So Paulo, Cortez, 1999.

    PRIMO, A. Interao mtua e reativa: uma proposta de estudo. In: CONGRESSO DA

    INTERCOM, 10, 1998. Anais... Recife: Intercom, 1998.

    SCOLARI, Carlos. Hipermediaciones - Elementos para una Teora da Comunicacin Digital

    Interactiva. Barcelona: Gedisa Editorial, 2008.

    OROZCO GMEZ, G. Televisin, audiencias y educacin. Buenos Aires: Norma, 2001.

    STRAUBHAAR, Josepf; LAROSE, Robert. Comunicao, mdia e tecnologia. So Paulo:

    Pioneira Thompson Learning, 2004.

    GOSCIOLA,Vicente. Roteiro para as novas mdias: do game TV interativa. So Paulo:

    Editora Senac So Paulo, 2003.

    MACHADO, Arlindo. A televiso levado a srio. So Paulo: Senac So Paulo. 3 edio,

    2003

    SILVEIRA, Srgio Amadeu da. Excluso digital: a misria na era da informao. So Paulo:

    Perseu Abramo, 2003.

    TV digital sem segredos. Guia como se faz especial. So Paulo: Escala (54-69).

    TV Digital: qualidade e interatividade. Braslia: Confez/CNI, 2007, (pp. 139- 150).

  • WARSCHAUER, Mark. Tecnologia e incluso social. A excluso digital em debate. So

    Paulo: SENAC, 2006

    JENKINS, Henry. A Cultura da Convergncia. Aleph, 2006

    SAAD, Beth. Estratgias para a mdia digital. So Paulo: SENAC

    BRENNAND, Edna e LEMOS, Guido. Televiso Digital interativa. Reflexes, sistemas e

    padres.So Paulo: Horizonte, 2007.

    CASTELLS, M. A sociedade em rede. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.

    MELO, Paulo Roberto de Souza. TV Digital: desafio ou oportunidade. Rio de Janeiro:

    BNDES, 2000.

    MORAES, Dnis de. Sociedade Midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006.

    MOURA, Alex Pereira de. TV Digital: Convergncia e perspectiva. Dissertao de mestrado,

    sob a orientao do prof. Dr. Joo Pedro Albino. UNESP-Bauru, 2006

    VILCHES, Loureno. Migrao digital. Rio de Janeiro: Loyola, 2003.

    ZUFFO, Marcelo Knrich. A convergncia da realidade virtual e internet avanada em

    novos paradigmas de TV digital interativa. 2001