anais vi semana de geografia de irati

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A A N N A A I I S S V V I I S S e e m m a a n n a a d d e e G G e e o o g g r r a a f f i i a a O O O O n n t t e e m m , , o o H H o o j j e e e e o o A A m m a a n n h h ã ã : : A A l l g g u u m m a a s s R R e e f f l l e e x x õ õ e e s s S S o o b b r r e e o o E E s s p p a a ç ç o o G G e e o o g g r r á á f f i i c c o o UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE C C A A M M P P U U S S DE IRATI Volume 1 – Número 4 – Ano 2010 ORGANIZAÇÃO ANDREZA ROCHA DE FREITAS EMERSON RIGONI LUIZ CARLOS BASSO ISSN 1983-4667

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ANAIS DA VI SEMANA DE GEOGRAFIA DE IRATI CAMPUS DE IRATI

VOLUME 1 – NÚMERO 4 – ANO 2010

IRATI – PR 2010

ANAIS DA VI SEMANA DE GEOGRAFIA DE IRATI “O Ontem, o Hoje e o Amanhã: Algumas Reflexões Sobre o Espaço

Geográfico”

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE CAMPUS DE IRATI

Volume 1 – Número 4 – 2010

27 de setembro a 02 de outubro de 2010

Organizadores Profa. Andreza Rocha de Freitas

Prof. Emerson Rigoni Prof. Luiz Carlos Basso

Capa Bruno (2004)

Nota: A exatidão das informações, os conceitos e opiniões emitidos nos artigos e resumos são de exclusiva responsabilidade dos autores. É permitida a reprodução parcial ou total dessa obra, desde que citada a fonte.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE – UNICENTRO Campus Universitário de Irati

Setor de Ciências Agrárias e Ambientais – SEAA Departamento de Geografia – DEGEO – Fone (42) 3421-3230 PR 153 – Km7 – Bairro Riozinho – CEP: 84500-000 – Irati-PR

PATROCÍNIO

Cartuchos.com

Florença Papelaria

Gráfica do Garotinho

Auto Posto Rotta 400

APOIO

Projeto “Museu de Geociências (Irati)”

Projeto “A Memória das Práticas e Conhecimentos Tradicionais sobre o Uso Coletivo e a Preservação das Águas e Mananciais em Territórios

Faxinalenses”

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE CAMPUS DE IRATI

Reitor

Vitor Hugo Zanette

Vice-Reitor Aldo Nelson Bona

Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação

Mário Takao Inoue

Diretor do Campus de Irati Mario Umberto Menon

Diretora do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais

Joyce Jaqueline Caetano

Departamento de Geografia Chefe: Karla Rosário Brumes

Vice-chefe: Roberto França da Silva Júnior

Coordenação da Semana Luiz Carlos Basso Emerson Rigoni

Comissão Técnico-Científica Profa. Msc. Andreza Rocha de Freitas (UNICENTRO) Prof. Dr. Aparecido Ribeiro de Andrade (UNICENTRO) Prof. Mestrando Emerson Rigoni (UNICENTRO) Profa. Mestranda Ingrid Aparecida Gomes (UEPG) Profa. Mestranda Juliana Przybysc (UEPG) Profa. Karina Eugênia Fioravante (UEPG) Profa. Dra. Karla Rosário Brumes (UNICENTRO) Prof. Msc. Luiz Carlo Basso (UNICENTRO) Prof. Dr. Roberto França da Silva Júnior (UNICENTRO) Prof. Msc. Valdemir Antoneli (UNICENTRO) Profa. Dra. Wanda Terezinha Pacheco dos Santos (UNICENTRO) Prof. Doutorando Wilson Flávio Feltrim Roseghini (UFPR) Distribuição de Pareceristas Profa. Msc. Andreza Rocha de Freitas (UNICENTRO)

COMISSÃO ORGANIZADORA Alessandra Fernanda Bassani (Acadêmica) Profa. Msc. Andreza Rocha de Freitas (UNICENTRO) Prof. Dr. Aparecido Ribeiro de Andrade (UNICENTRO) Carla Caroline Holm (Estagiária do DEGEO/I) Prof. Msc. Daniel Luiz Stefenon (UNICENTRO) Prof. Mestrando Emerson Rigoni (UNICENTRO) Flaviana Zarpelon (Acadêmica) Gilmara Zakrzevski (Acadêmica) Profa. Dra. Karla Rosário Brumes (UNICENTRO) Kathusie Laysla de Souza (Acadêmica) Laís Camila de Oliveira (Acadêmica) Leocádia Maria Weretycky Dunice (Acadêmica) Prof. Msc. Luiz Carlo Basso (UNICENTRO) Marcelo de Barros (Acadêmico) Marcos Evandro Kovalski (Acadêmico) Maria Lourdes Iachechen (Acadêmica) Mariana Pereira (Acadêmica) Mariane Bonato (Acadêmica) Marlon Fábio Abreu Carvalho (Acadêmico) Miguel Angelo Basso (Acadêmico) Patrícia Kelte (Acadêmica) Regiane Schenemann (Acadêmica) Prof. Dr. Roberto França da Silva Júnior (UNICENTRO) Rubens Francisco Surek (Acadêmico) Sônia Vanessa Langaro (Acadêmica) Prof. Msc. Valdemir Antoneli (UNICENTRO) Vanessa dos Santos Pereira (Acadêmica) Profa. Dra. Wanda Terezinha Pacheco dos Santos (UNICENTRO) Willian Roberto da Silva (Acadêmico)

SUMÁRIO

PROGRAMAÇÃO DA VI SEMANA DE GEOGRAFIA DE IRATI ............................. 11 APRESENTAÇÃO .................................................................................................... 12 EIXO TEMÁTICO 1: ESPAÇO, SOCIEDADE, NATUREZA E ENSINO ANÁLISE DO USO DA TERRA E DA ARTIFICIALIZAÇÃO DO MEIO NATURAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DAS ANTAS Andreza Rocha de Freitas ......................................................................................... 15 MAPEAMENTO DA HEMEROBIA DO CENTRO POLITÉCNICO DA UFPR: UMA COMPARAÇÃO ENTRE O ANO DE 2002 E 2010 Carla Prichoa, Andreza Rocha de Freitas e Sandra Betineli Da Costa ..................... 29 PRODUÇÃO DE SEDIMENTOS NOS CARREADORES RURAIS SOBRE O SISTEMA DE FAXINAL MARMELEIRO DE CIMA, MUNICÍPIO DE REBOUÇAS – PR Dalton Renan Fleischer e Valdemir Antoneli ............................................................. 41 ELEMENTOS E CONTROLES MICROCLIMÁTICOS EM ÁREA DE MANANCIAL LOCALIZADA EM AMBIENTE RURAL DIVERSIFICADO Elias Trevisan e Aparecido Ribeiro de Andrade ........................................................ 42 EROSÃO DE SOLOS SOB O CULTIVO DO TABACO (NICOTINA TABACUN) EM UMA PEQUENA PROPRIEDADE NO MUNICÍPIO DE IRATI PARANÁ João Anésio Bednarz e Valdemir Antoneli ................................................................ 43 A IMPORTÂNCIA DO CULTIVO DO TABACO NO DISTRITO DE NOVA BOA VISTA MUNICÍPIO DE GUAMIRANGA-PR Laiane Penteado e Valdemir Antoneli ....................................................................... 44 MONTAGEM E FUNCIONAMENTO DAS FOSSAS SÉPTICAS BIODIGESTORAS, COMO ALTERNATIVA PARA O PROBLEMA DA FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO NA ÁREA RURAL DO MUNICÍPIO DE IRATI - PR Luciano Almeida De Sousa e Valdemir Antoneli ....................................................... 45 O ONTEM, O HOJE E O AMANHÃ: O MUSEU DE GEOCIÊNCIAS; UMA ALTERNATIVA EM EDUCAÇÃO Luiz Carlos Basso, Eneida Martins, Angela Guedes Moreira Lara, Adriane Corosque, Ana Maria Charnei, João Henrique de Almeida Cezário e Jeferson Machado Caetano ..................................................................................................................... 65 PRODUÇÃO DE SERRAPILHEIRA EM FLORESTAS DE FAXINAL: ESTUDO DE CASO DO FAXINAL PAPANDUVA DE BAIXO – PRUDENTÓPOLIS-PR Maricelli Perucelli e Valdemir Antoneli....................................................................... 67

MENSURAÇÃO DA PRODUÇÃO DE SEDIMENTOS ATRAVÉS DO CONTATO DIRETO DOS ANIMAIS COM OS RIOS NO FAXINAL MARMELEIRO DE CIMA REBOUÇAS- PR Marlon Fábio Abreu Carvalho, João Anésio Bednarz e Valdemir Antoneli ................ 68 ESPAÇO GEOGRÁFICO E PAISAGEM: CONTRIBUIÇÕES DE CONCEITOS DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA PARA PESQUISAS EM TURISMO Maycon Luiz Tchmolo e Nicolas Floriani ................................................................... 69 A INFLUÊNCIA DA VARIABILIDADE CLIMÁTICA (EVENTO ENOS) NA PRODUTIVIDADE DE SOJA NO MUNICÍPIO DE IRATI-PR Regiane Barteko e Aparecido Ribeiro de Andrade .................................................... 86 INFILTRAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO SOB TRÊS TIPOS DE USO DO SOLO NA FLORESTA NACIONAL DE IRATI (FLONA) Suellen Chemim de Almeida e Valdemir Antoneli ..................................................... 87 INTRODUÇÃO A PALEONTOLOGIA DO DEVONIANO: AS EXPERIÊNCIAS DE UM TRABALHO PRÁTICO NA REGIÃO DOS CAMPOS GERAIS DO PARANÁ, COMO FERRAMENTA ALTERNATIVA PARA ENSINOS DE BASE Thales Ravel Hetka Okonoski, Fernando Fernandes e Ian Navarro de Oliveira Silva ................................................................................................................................ 103 ANÁLISE DA DISPONIBILIDADE E VIABILIDADE HÍDRICA PARA O ABASTECIMENTO DA ÁREA URBANA NO MUNICÍPIO DE IRATI-PR Vinicius João Vienc, Susimara Souza e Aparecido Ribeiro de Andrade ................. 118 MONITORAMENTO DA DEPOSIÇÃO DE SERRAPILHEIRA EM TRÊS TIPOS DE USO DO SOLO NA FLONA DE IRATI-PR Viviane Moraes Francisquini Ulhoa e Valdemir Antoneli ......................................... 119 Eixo Temático 2: Espaço, urbano, cultura, representações e ensino

RELATOS DE UMA “PRÁTICA” DE OBSERVAÇÃO EDUCACIONAL EM GEOGRAFIA NO COLÉGIO ESTADUAL DE FAXINAL DOS FRANCOS – REBOUÇAS – PR (OU: CRÍTICAS DA PRÁTICA - UMA TENTATIVA DE PRÁXIS) Alessandra Fernanda Bassani e Almir Nabozny ..................................................... 121 REFLEXÕES ACERCA DO PLANEJAMENTO TURÍSTICO: O CASO DE IRATI/PR Carla Caroline Holm e Karla Rosário Brumes ......................................................... 135 UMA ANÁLISE GEOGRÁFICA DAS PRÁTICAS INTRACEMITERIAIS: O CASO DO CEMITÉRIO SÃO JOSAFAT NA CIDADE DE PRUDENTÓPOLIS-PR Ediane Iaciuk Alves e Roberto França da Silva Junior ............................................ 159 RESPONSABILIDADE SOCIAL, COMPETITIVIDADE E PSICOSFERA Eliselma Pereira e Roberto França da Silva Junior ................................................. 160

A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO E OS AGENTES FORMADORES: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A INFLUÊNCIA DA MADEIREIRA MADEPAR MADEIRAS LTDA EM INÁCIO MARTINS-PR Everton Luis Faustino Rodrigues e Emerson Rigoni ............................................... 174 FRAGMENTAÇÃO URBANA, (RE)PRODUÇÃO DA CIDADE E EVOLUÇÃO DA MOBILIDADE EM IRATI-PR: O EXEMPLO DO TRANSPORTE PÚBLICO Gilmar José Rutkovski e Roberto França da Silva Junior........................................ 175 GEOGRAFIA E LITERATURA: UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR PARA O ENSINO José Osvaldo Kozlinski e Karla Rosário Brumes ..................................................... 195 MOBILIDADE E ACESSIBILIDADE NO ESPAÇO URBANO DE IRATI Katya Elise Cicorum e Roberto França da Silva Junior ........................................... 196 DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS NO ESPAÇO URBANO DE IRATI-PR: OS CASOS DOS BAIRROS ALTO DA LAGOA E ALTO DA GLÓRIA Marina Bartiechen e Roberto França da Silva Junior .............................................. 197 NOTA SOBRE A MONITORIA REMUNERADA NA DISCIPLINA MÉTODOS DE PESQUISA EM GEOGRAFIA: AUXÍLIO PARA O TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Michele Serpe Fernandes e Karla Rosário Brumes ................................................ 198 REPRESENTAÇÕES INDÍGENAS NO BRASIL Rosenaldo de Carvalho e Oséias de Oliveira .......................................................... 199 FERNANDES PINHEIRO-PR: TREZE ANOS APÓS A EMANCIPAÇÃO Rosimeiri Rocha e Karla Rosário Brumes ............................................................... 209 PENSANDO GUARAPUAVA A LUZ DOS PLANOS NACIONAIS E ESTADUAIS DE DESENVOLVIMENTO E DA TEORIA PARA ESTUDOS DE CIDADES MÉDIAS Sandra Cristina Ferreira .......................................................................................... 210 Eixo Temático 3: Espaço agrário, economia, política e ensino

O CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO DAS EMBALAGENS DE AGROTÓXICOS E A LOGÍSTICA REVERSA Antonio Anselmo de Paula e Roberto França da Silva Junior ................................. 227 OS DISCURSOS, O PODER A REALIDADE: COMO SE FORMOU FERNANDES PINHEIRO? Elis Marina Ferreira de Jesus e Karla Rosário Brumes ........................................... 228 DADOS PRELIMINARES SOBRE O CONTEXTO HISTÓRICO POLÍTICO DO MUNICÍPIO DE IRATI-PR Emerson Rigoni ....................................................................................................... 229

A FORMAÇÃO DOS BLOCOS ECONÔMICOS: CONSIDERAÇÕES SOBRE A UNIÃO EUROPÉIA E O MERCOSUL Fátima Furmanowicz Brandalize ............................................................................. 230 OS MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO: UMA RESPOSTA À PRODUÇÃO CAPITALISTA Flaviana Zarpelon, Fátima F. Brandalize e Letícia Krol Santos .............................. 238 O TRANSPORTE INTERMUNICIPAL NA REGIÃO CENTRO-SUL DO PARANÁ: UM ENFOQUE A PARTIR DO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS NOS MUNICÍPIOS DE IRATI, SÃO MATEUS DO SUL E SÃO JOÃO DO TRIUNFO Gilmara Zakrzevski e Roberto França da Silva Júnior............................................. 250 SISTEMAS E TÉCNICAS DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO CENTRO-SUL DO PARANÁ Letícia Król Santos e Roberto França da Silva Junior ............................................. 251 BENEFÍCIOS DA REVALORIZAÇÃO DOS MATERIAIS RECICLÁVEIS Luis Roberto Taborda e Emerson Rigoni ................................................................ 252 A (RE)PRODUÇÃO E A VALORIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO IRATIENSE: A CIRCULAÇÃO NO ÂMAGO DOS FATORES QUE INFLUENCIAM ESSES PROCESSOS Maria Lourdes Iachechen e Roberto França da Silva Junior ................................... 253 AS FRAGILIDADES DO MERCOSUL E A CRISE NA ZONA DO EURO: UMA PERSPECTIVA ACADÊMICA DAS SINGULARIDADES DOS BLOCOS ECONÔMICOS Mariana Pereira ....................................................................................................... 254 PORTO DE PARANAGUÁ: SISTEMA DE ENGENHARIA PARA A COMPETITIVIDADE DA SOJA PARANAENSE Michele Serpe Fernandes e Roberto França da Silva Junior .................................. 262 O USO DO MÉTODO HERMENÊUTICO ASSOCIADO AO QUALITATIVO E QUANTITATIVO NO CASO DO ARRANJO PRODUTIVO DE MALHAS EM TRICOT DE IMBITUVA-PR Zaqueu Luiz Bobato e Luiz Alexandre Gonçalves Cunha ....................................... 263

PROGRAMAÇÃO DA VI SEMANA DE GEOGRAFIA DE IRATI “O Ontem, o Hoje e o Amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico”

Data Horário Atividades Início Término

27/0

9 Se

gund

a-fe

ira

08h00 17h00 Credenciamento Visita ao Museu de Geociências: exposição de Meliponídeos – abelhas sem ferrão

08h00 12h00

Mini-curso 01: “Sobre espaço, gênero e sexualidade: contribuições da geografia feminista ao conhecimento geográfico” Geógrafa Juliana Przybysc (UEPG) Geógrafa Karina Eugênia Fioravante (UEPG)

13h00 17h00 Mini-curso 08: “Territórios de identidade e a Política de desenvolvimento Territorial do MDA. A teoria e a Práxis no Território Centro-Sul do Paraná.” Geógrafa Msc. Heloisa Santos Molina Lopes (UNICAMP - SP) Bacharel em Comunicação Social Marcos Roberto Gregolin (FADESP)

19h00 23h00 Cerimônia de Abertura Apresentação artística – Peça teatral “A Tragédia De Hamlet, Príncipe Da Dinamarca (William Shakespeare)”

28/0

9

Terç

a-fe

ira

08h00 17h00

Mini-curso 02: “Abordagem geográfica na temática faxinal: discussões da cultura, identidade, Genesis, metodologias, ferramentas de pesquisa, ecossistema e prática do uso do solo” Professores: Fernando Fernandes (UNICENTRO); Jaqueline Bilek (UNICENTRO); Ilma Aparecida de Toledo (UNICENTRO), Silvana Aparecida Kowalski (UNICENTRO) Mini-curso 03: “Geotecnologias na Geografia: difusão e acesso” Geógrafa Ingrid Aparecida Gomes (UEPG)

19h00 23h00

Mesa redonda: “Quilombolas e Regularização Fundiária no Paraná e o Sistema Faxinais” Profª. Drª. Cicilian Luiza Löwen Sahr (UEPG) Prof. Dr .Jose Adilçon Campigoto (UNICENTRO) Profa Dra. Karla Rosário Brumes (UNICENTRO)

29/0

9 Q

uart

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ira 08h00 17h00

Atividade Solidária: “Sentindo a realidade dos excluídos: Asilo Santa Rita de Cássia, Orfanato São Valdomiro, Hemocentro de Irati” Profa Dra. Wanda Terezinha Pacheco dos Santos (UNICENTRO) Prof. Msc. Luiz Carlos Basso (UNICENTRO) Prof. Emerson Rigoni (UNICENTRO)

19h00 23h00 Mesa redonda: “Ser professor ou não: reflexões sobre a profissão e o ensino de Geografia” Prof. Msc Wilson Galvão (Assessor Pedagógico de Geografia - Gráfica e Editora Posigraf S/A) Prof Msc Daniel Stefenon (UNICENTRO) Profa Dra. Wanda Terezinha Pacheco dos Santos (UNICENTRO)

30/0

9 Q

uint

a-fe

ira

08h00 17h00 Apresentação de Painéis Prof. Dr. Aparecido Ribeiro De Andrade (UNICENTRO) Prof. Msc Valdemir Antoneli (UNICENTRO)

13h00 17h00

Mini-curso 04: “Nativas e exóticas – fitogeografia no campus de Irati” Profa Dra. Eneida Martins (UNICENTRO) Estagiária Gilmara Zakrzevski Mini-curso 05: “Valorização de resíduos – uma experiência em educação ambiental” Profa Esp. Angela Moreira Guedes de Lara (UNICENTRO) Estagiária Lais Camila de Oliveira

19h00 23h00

Espaço de diálogos – apresentações orais Prof. Dr. Aparecido Ribeiro de Andrade (UNICENTRO) Prof. Msc. Valdemir Antoneli (UNICENTRO) Profa. Dra. Wanda Terezinha Pacheco dos Santos (UNICENTRO) Prof Msc Daniel Stefenon (UNICENTRO)

01/1

0 Se

xta-

feira

08h00 17h00

Mini-curso 06: “Conhecendo os dinossauros e construindo seus modelos” Profa. Msc. Luiz Carlos Basso (UNICENTRO) Mini-curso 07: “Fotografia no contexto escolar: possibilidade de leitura do espaço” Profa Dra. Wanda Terezinha Pacheco dos Santos (UNICENTRO) Prof. Arno Bento Mussoi (PDE - UNICENTRO)

19h00 23h00 Mesa redonda: “o ontem, o hoje e o amanhã: reflexões sobre o aquecimento global” Prof. Msc. Carlos Bortoli (UNICENTRO) Prof. Dr. Elvio Pinto Bosseti (UEPG) Profa. Msc. Andreza Rocha de Freitas (UNICENTRO)

02/10 Sábado

Trabalho de Campo 01: Escarpa da Esperança e Prudentópolis Prof. Msc. Valdemir Antoneli Prof. Emerson Rigoni

APRESENTAÇÃO

A realização da VI Semana e Geografia de Irati “O ontem, o hoje e o amanhã: algumas reflexões sobre o espaço geográfico” possibilitou a discussão científica entre acadêmicos, professores de Geografia, profissionais de áreas afins, como História e Turismo, e de outras instituições de ensino superior. O evento possibilitou a disseminação do conhecimento geográfico por meio das pesquisas científicas desenvolvidas, através de seus resultados parciais ou finais. No total foram 120 inscritos e 42 trabalhos apresentados por meio de comunicação oral ou painel, entre resumos e trabalhos completos. Vale salientar que a realização desta semana de debates e discussões científicas é a concretização de um esforço coletivo entre professores, acadêmicos e convidados, cada qual cumprindo seu papel com igual dedicação. Os professores do DEGEO/I que dedicaram seu tempo dando idéias ou até mesmo ajudando no parecer dos trabalhos submetidos ao evento. Os acadêmicos do curso que se prontificaram a escrever seus trabalhos, ir à busca de patrocínio ou ajudar na organização para que tudo desse certo. Os convidados que vieram participar de mesas-redondas, ministrarem seus mini-cursos e que também contribuíram na avaliação de trabalhos. Os Anais da VI Semana de Geografia de Irati “O ontem, o hoje e o amanhã: algumas reflexões sobre o espaço geográfico” está dividido conforme o eixo temático de apresentação dos trabalhos, não havendo a separação entre resumos e trabalhos completos, sendo eles: EIXO TEMÁTICO 1: Espaço, sociedade, natureza e ensino; EIXO TEMÁTICO 2: Espaço, urbano, cultura, representações e ensino e EIXO TEMÁTICO 3: Espaço, agrário, economia, política e ensino.

Irati, outubro de 2010 Comissão Organizadora

Fabiane Soeli Langaro

''Não estando mais entre nós, temos suas profundas marcas e lembranças boas que deixou em nossas

vidas através da forma que agiu neste mundo representando uma infinidade de coisas boas e

inesquecíveis para quem a conheceu. É preciso que a saudade desenhe suas linhas perfeitas... O seu perfil

exato que foi marcado por infinita bondade, humildade, amizade, inteligência... Alguém que nunca

desistiu de seus sonhos e lutou por eles até o fim. A Geografia era sua paixão, a sua dedicação e empenho

eram totais, mas infelizmente partiu inesperadamente não podendo chegar ao fim de sua formação e o

que deixou para todos que a conheceram foi um enorme exemplo de acadêmica que esteve sempre

presente e prestativa.

Hoje a Fabiane está guardada por Deus... E viva em nossos corações!"

Estas são palavras de sua irmã Sonia Vanessa Langaro que ao seguir o exemplo e incentivos da Fabiane

escolheu cursar Geografia.

Eixo 01: Espaço, sociedade, natureza e ensino

FREITAS, A. R. Análise do Uso da terra e da artificialização do meio natural da bacia hidrográfica do Rio das Antas

15

VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

ANÁLISE DO USO DA TERRA E DA ARTIFICIALIZAÇÃO DO MEIO NATURAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DAS ANTAS

ANDREZA ROCHA DE FREITAS1

Resumo: O homem ao se apropriar do espaço gera transformações que devem ser acompanhadas e estudadas visando minimizar esses impactos. Para tanto as estratégias podem ser elaboradas por meio do levantamento do uso e cobertura da terra e da identificação das áreas que mais sofrem alterações em suas características naturais. Estudos desta natureza fazem parte do planejamento ambiental, pois oferecem informações necessárias ao desenvolvimento de estratégias e ações para amenizar os impactos causados pela interferência das atividades humanas. Sendo assim, é preciso definir unidades ambientais considerando suas características morfológicas que viabilizem o espaço da pesquisa, como, a bacia hidrográfica, por exemplo. A bacia hidrográfica em estudo é a do Rio das Antas, localizada nos municípios de Irati, Fernandes Pinheiro e Imbituva. O objetivo geral do presente trabalho é analisar a evolução do uso da terra e modificações do meio natural na bacia hidrográfica do Rio das Antas entre os anos de 2000 e 2009. Para tanto, foi necessário elaborar mapas de uso da terra para os dois anos que após a análise foram classificados como mapas de hemerobia para a identificação das áreas que mais sofreram influência das atividades humanas. Verificou-se que a classe de uso da terra que mais aumentou no período estudado foi a Área Urbanizada (11,37%). Por meio dos mapas de hemerobia, constatou-se que as áreas ahemeorobias, as mais naturais, são as predominantes na bacia, ocupando 43,84% e correspondem às áreas ocupadas por mata. Palavras-chave: Bacia Hidrográfica, Uso da terra, Rio das Antas, Hemerobia, Artificialização do meio

Introdução

A apropriação humana do espaço gera transformações que, muitas vezes, são

irreversíveis. Para que tais transformações causem o menor impacto possível são

necessárias estratégias que amenizem as alterações provocadas pelas atividades

humanas.

Estas alterações podem ser acompanhadas e identificadas por meio do

levantamento do uso da terra e da identificação das áreas que mais sofreram

modificações em suas características naturais.

Estudos desta natureza fazem parte do planejamento ambiental, pois oferecem

informações necessárias ao desenvolvimento de estratégias e ações para amenizar

1 Professora Mestre do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO/Irati, [email protected]

FREITAS, A. R. Análise do Uso da terra e da artificialização do meio natural da bacia hidrográfica do Rio das Antas

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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

os impactos causados pela interferência antrópica. É um estudo que pode auxiliar na

delimitação de áreas a serem futuramente ocupadas ou recuperadas.

Portanto, há a necessidade de se estabelecer unidades ambientais a partir de suas

características morfológicas que viabilizem o espaço da pesquisa, como, por

exemplo, a bacia hidrográfica, que constitui um sistema natural delimitado no

espaço. Esta se apresenta como unidade de análise adequada em estudos

ambientais, pois, além de seus aspectos hidrológicos, podem ser analisadas sua

estrutura biofísica, a dinâmica de uso da terra e suas conseqüências ambientais.

A bacia hidrográfica em estudo é a do Rio das Antas localizada nos municípios de

Irati, Fernandes Pinheiro e Imbituva, no Estado do Paraná. Trata-se de uma bacia

onde ocorrem diferentes tipos de uso que têm influenciado significativamente a

dinâmica da área entre os anos de 2000 e 2009. Encontram-se na área da bacia

atividades agrícolas e urbanas que estão associadas às modificações na cobertura e

uso da terra.

Para a melhor identificação das áreas que mais sofreram a influência antrópica

foram elaboradas cartas enfatizando o grau de artificialização do meio através dos

mapas de uso e cobertura da terra para os anos de 2000 e 2009.

Portanto, o objetivo geral do presente trabalho é analisar a evolução do uso da terra

e modificações do meio natural na bacia hidrográfica do Rio das Antas entre os anos

de 2000 e 2009.

Alterações do meio – hemerobia Para estudar os efeitos causados pela ação humana sobre os diversos sistemas

biológicos, segundo Dueñas (2004), é necessário desenvolver um método

sistemático, comparativo e qualitativo, que permita estabelecer o efeito da

antropização sobre os diferentes elementos dos ecossistemas.

Surgem, assim, conceitos que servem como base para o acompanhamento das

evoluções e modificações causadas no uso da terra (Tabela 1). O conceito de

hemerobia é um deles. Este termo foi sugerido por Jalas (1953) que determina o

grau de alteração das paisagens, ou seja, o grau de artificialidade e naturalidade do

meio. Troppmair (1983) utilizou tal conceito na classificação dos ecossistemas e

geossistemas do Estado de São Paulo.

FREITAS, A. R. Análise do Uso da terra e da artificialização do meio natural da bacia hidrográfica do Rio das Antas

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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

O termo hemerobia vem do grego hemeros (cultivado, domesticado) e foi introduzido

na ecologia por Jalas que propõe a seguinte classificação quanto ao grau de

hemerobia do meio:

Ahemeorobio – paisagens naturais ou de pequena interferência

antrópica, como mata tropical e mata galeria;

Oligohemeorobio – paisagens mais naturais do que artificiais, como

campos sujos utilizados para pecuária;

Mesohemeorobio – paisagens mais artificiais do que naturais, como

reflorestamento; e

Euhemeorobio – paisagens artificiais, como áreas de cultivo e área

urbanizada.

Estudos desta natureza, segundo Moletta, Nucci e Kröker (2006, p. 4970), fazem

parte do:

Planejamento da Paisagem, cujo objetivo principal é o de contribuir para o planejamento do espaço, procurando uma regulamentação dos usos do solo e dos recursos ambientais, segundo princípios da Ecologia, salvaguardando a capacidade dos ecossistemas e o potencial recreativo da paisagem, retirando-se o máximo proveito do que a vegetação pode fornecer para a melhoria da qualidade ambiental (MOLETTA, NUCCI e KRÖKER, 2006, p. 4970)

Tabela 1. Conceitos utilizados na determinação de artificialidade e naturalidade do meio Autor Ano Conceitos Classes JALAS 1953 Hemerobia: grau de

artificialidade e naturalidade do meio.

Ahemeorobio Oligohemeorobio Mesohemeorobio Euhemeorobio

SUKOPP 1972 Hemerobia: totalidade dos efeitos das ações humanas sobre a paisagem

Natural Quase-natural Semi(agri-)natural Agri-cultural Quase cultural Cultural

MONTEIRO 1978 “Derivação antropogênica”: alterações na paisagem causadas pelo homem

Transformações Positivas Transformações Negativas

HABER 1990 Classificação dos tipos de uso da terra conforme a diminuição da naturalidade e o aumento da artificialidade

Bio-ecossistemas Tecno-sistemas

FREITAS, A. R. Análise do Uso da terra e da artificialização do meio natural da bacia hidrográfica do Rio das Antas

18

VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

HOUGH 1995 Grau de interferência humana na paisagem

Paisagem formal Paisagem natural

FÁVERO, NUCCI e

BIASI

2004 Hemerobia: avaliação das unidades de paisagem conforme elementos naturais e interferência antrópicas

A B C D E (A hemerobia aumenta conforme a ordem crescente das letras)

FREITAS (2007, p.37).

Para Sukopp (1972) hemerobia é a totalidade dos efeitos das ações humanas sobre

os ecossistemas e a classifica conforme seu grau de naturalidade e estado

hemerobiótico: natural (ahemerobiótico), quase-natural (oligohemerobiótico), semi

(agri-) natural (mesohemerobiótico), agri-cultural (euhemerobiótico), quase cultural

(polihemerobiótico) e cultural (metahemerobiótico). Esta classificação considera

mudanças causadas no solo e na vegetação.

Kröker, Nucci e Moletta (2005), classificam a paisagem em graus de hemerobia de

forma relativa comparando os diferentes usos e tipos de coberturas entre si. Os

autores optam em não utilizar os termos sugeridos por ser difícil pronunciá-los,

apesar de que todos procuram refletir a intensidade da ação humana na paisagem

natural.

As unidades de Paisagem, como resultados da conjunção de diferentes fatores

como a história geológica, a morfogênese do relevo, o clima em seu movimento, a

dinâmica biológica e a participação humana em sua evolução histórica

(BEROUTCHACHVILLI e BERTRAND, 1978), também podem ser avaliadas

conforme os elementos naturais e as interferências antrópicas concretizadas na

paisagem.

Fávero, Nucci e Biasi (2004), em trabalho realizado na Floresta Nacional de

Ipanema, Iperó-SP, identificaram cinco graus de hemerobia, por meio das unidades

de paisagem, sendo que o menor grau recebeu valor A e o maior valor E. Buch

(2007) segue as mesmas classificações e avalia os efeitos da ação antrópica sobre

a paisagem da mata ciliar ao longo do Médio Iguaçu através do mapa de hemerobia.

Outros autores adotam o conceito de hemerobia, no entanto muitas vezes sem fazer

referência direta ao termo. É o caso de Monteiro (1978) que trata das alterações na

paisagem causadas pelo homem através do termo “derivação antropogênica”. Para

o autor tais transformações podem ser positivas ou negativas. As derivações

FREITAS, A. R. Análise do Uso da terra e da artificialização do meio natural da bacia hidrográfica do Rio das Antas

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ocorrem quando o homem – parte integrante da natureza – é capaz de introduzir

circuitos regeneradores e auto-reguladores do sistema. A discriminação dos efeitos

negativos – naturais, sociais e sanitários vinculados aos processos, são básicos no

julgamento da efetividade econômica dos investimentos na proteção do ambiente. O

autor afirma que:

“a aspiração em compreender os graus de derivação dos sistemas naturais sob o impacto da tecnologia humana traz importantes implicações quanto às possibilidades das sociedades humanas em planejar seu próprio futuro” (MONTEIRO, 1978, p. 56).

Haber (1990) classifica os tipos de uso da terra conforme a diminuição da

naturalidade e o aumento da artificialidade. Ele divide os ecossistemas em dois

grupos: bio-ecossistemas e tecno-sistemas. Os bio-ecossistemas são divididos em:

ecossistemas naturais (sem influência humana direta e capaz de auto-regulação),

ecossistemas próximos de naturais (influenciado pelo ser humano, mas similar ao

anterior), ecossistemas seminaturais (resultantes do uso humano, com capacidade

limitada de auto-regulação) e ecossistema antropogênico (intencionalmente criado e

totalmente dependente do controle e manejo humano). Já os tecno-sistemas são

caracterizados pelo domínio de estruturas e processos técnicos, criados

intencionalmente pelo homem para atividades industriais, econômicas ou culturais.

Para se avaliar o grau de interferência humana na paisagem, Hough (1995) trata de

paisagem formal e natural. A paisagem formal apresenta pouca conexão com a

dinâmica dos valores naturais, requerendo muita energia e uso de tecnologia, com

um desenho padrão podendo ser encontrado em qualquer parte. A paisagem natural

é aquela que representa os processos naturais e sociais que, mesmo alterados,

estão presentes e atuam na cidade, como por exemplo, terrenos baldios

abandonados que necessitam de renovação urbana.

A interferência antrópica pode ser avaliada através de estudos que mostrem onde

estão as áreas mais degradadas e modificadas, principalmente por meio da análise

e representação têmporo-espacial de uso da terra.

Sendo assim, o conceito e as classes de hemerobia adotadas no presente trabalho

são as sugeridas por Jalas (1953) por ter sido o precursor da idéia e do termo

hemerobia, sendo que a etimologia das palavras adotadas na classificação facilita a

compreensão do que trata cada uma das classes.

FREITAS, A. R. Análise do Uso da terra e da artificialização do meio natural da bacia hidrográfica do Rio das Antas

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Metodologia As técnicas de geoprocessamento e sensoriamento remoto ampliaram a capacidade

do homem em obter informações sobre os recursos naturais em menor tempo,

colocando-se como uma ferramenta complementar agilizando trabalhos temáticos e

facilitando a manipulação de dados (FERNANDES NETO e ROBAINA, 2005).

A entrada, armazenamento, tratamento e saída de dados foram realizados através

do Software SPRING, na versão 5.1.5, elaborado pelo Instituto Nacional de

Pesquisas Espaciais/Divisão de Processamento de Imagens (INPE/DPI, 1999).

Tendo como base as Cartas Topográficas, em meio digital, elaboradas pela Diretoria

de Serviços Geográficos (DSG) do Exército (1980), na escala 1:50.000, folhas

SG.22-X-C-I/4 (Irati) e SG.22-X-C-IV/2 (Rebouças), pelo método de digitalização em

tela foram retirados dados da drenagem estradas e rodovias. O perímetro da Bacia

do Rio das Antas foi interpretado e delimitado por meio das curvas de nível contidas

nas cartas topográficas.

Para a elaboração dos mapas de uso da terra utilizou-se as imagens CBERS de

2000 e 2009. A composição de bandas adotada no presente trabalho foi a R (3) G

(4) B (2) para que as áreas de vegetação obtivessem coloração verde se

diferenciando das áreas urbanizadas. O método adotado para a classificação das

imagens foi o da Classificação Supervisionada, através do algoritmo MaxVer. Para a

confirmação de dados obtidos através das classificações das imagens de satélite

foram realizados dois trabalhos de campo com emprego de GPS (Sistema de

Posicionamento Global) um no início e outro no fim da pesquisa.

As subclasses temáticas de uso da terra foram adaptadas do Manual Técnico de

Uso da Terra do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (IBGE, 2006).

Sendo assim, foram definidas as seguintes subclasses: área urbanizada, cultura

(incluindo culturas temporárias e permanentes), florestal, campestre e corpo d’água.

Além das subclasses sugeridas pelo IBGE foi adotada a reflorestamento.

A subclasse área urbanizada compreende áreas de uso intensivo estruturadas por

edificações e sistema viário, onde predominam as superfícies artificiais não-

agrícolas. Na classe cultura foram consideradas terras utilizadas para a produção de

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alimentos, fibras e outras commodities2 do agronegócio. A classe florestal áreas

ocupadas por formações arbóreas. A classe campestre corresponde às áreas com

formações não-arbóreas. Na classe corpo d’água continental foram considerados

corpos d’água naturais ou artificiais que não são de origem marinha, como rios,

canais, lagos e lagoas de água doce, represas e açudes.

Para levantar o grau de naturalidade/artificialidade existentes na bacia hidrográfica

do Rio das Antas utilizaram-se os cenários enfocando o uso da terra dos anos de

2000 e 2009.

Após a confecção dos cenários de uso da terra adotou-se o conceito e a

classificação de hemerobia de Jalas (1953) na elaboração das cartas de

artificialidade na bacia do rio Cará-Cará. Foram adotadas as classes: ahemeorobio –

paisagens naturais com pequena interferência humana; oligohemeorobio –

paisagens mais naturais do que artificiais; mesohemeorobio – paisagens mais

artificiais do que naturais; e euhemeorobio – paisagens artificiais. Resultados

Por meio das imagens do satélite CBERS foram elaborados dois cenários temporais

de uso da terra das bacias hidrográficas urbanas de Irati para os anos 2000 (figura

1) e 2009 (figura 2). Nos mapeamentos foram identificadas cinco classes de uso da

terra, sendo elas: área urbanizada, campestre, corpo d’água continental, cultura e

florestal (Tabela 2).

Tabela 2. Quantificação das classes de uso da terra

Classe 2000 2009 Var. 00/09 % Área (ha) % Área (ha) %

Área urbanizada 1.164,48 6,92 1.296,84 7,71 +11,37 Campestre 3.615,26 21,50 3.573,20 21,25 -1,16 Corpo d’água continental 7,04 0,04 7,04 0,04 0 Cultura 4.572,04 27,19 4.567,75 27,16 -0,09 Florestal 7.458,79 44,35 7.372,78 43,84 -1,15 Total 16.817,61 100 16.817,61 100

A classe área urbanizada compreende as áreas de uso intensivo estruturadas por

edificações e sistema viário onde estão presentes as superfícies artificiais não- 2 Artigos.

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agrícolas, na porção sul da bacia hidrográfica do Rio das Antas. Em 2000 as

atividades urbanas ocupavam 6,92% da área da bacia e em 2009 aumentou em

11,37%, totalizando 1.296,84ha. Esta classe foi a que mais aumento no período

estudado.

A Classe corpo d’água continental considera os corpos d’água naturais ou artificiais

que não são de origem marinha, como rios, canais, lagos e lagoas de água doce,

represas e açudes. Na bacia estudada esta classe ocupa 7,04% da área total e

corresponde ao Parque Aquático localizado na região noroeste do perímetro urbano.

Outra área ocupada por água pertence a Companhia de Saneamento do Paraná –

SANEPAR onde ocorre o tratamento da água que abastece a cidade.

A classe cultura considera terras utilizadas para a produção de alimentos, fibras e

outras commodities do agronegócio. Na bacia do Rio das Antas esta classe ocupava

em 2000 27,19% da área e em 2009 teve um decréscimo de 0,09%, totalizando em

27,16%. Estas áreas são predominantemente ocupadas por culturas de milho e soja.

A classe que mais ocupa bacia hidrográfica do Rio das Antas é a Florestal, sendo

mais significativa na porção norte/nordeste da área estudada. Esta classe

corresponde às áreas ocupadas por formações florestais. No entanto, foi a segunda

classe que mais reduziu (1,15%) entre 2000 e 2009. No primeiro período esta classe

ocupava 44,35% e em 2009 totalizou em 43,84% da área total. A redução das áreas

ocupadas por florestas diminuiu devido à supressão deste tipo de uso por atividades

urbanas e agrícolas existente na bacia.

A classe campestre, caracterizada por áreas com formações não-arbóreas, foi

classe que mais reduziu (1,16%) no período estudado, dando lugar à atividades

urbanas.

Como resultado dos mapas de artificialidade do meio obteve-se duas cartas de

hemerobia para a bacia hidrográfica do rio das Antas datadas de 2000 (Figura 3) e

2009 (Figura 4), que foram analisadas conforme o grau de interferência antrópica

existentes.

Foram identificadas e mapeadas quatro classes de hemerobia, sendo elas

ahemeorobio, oligohemeorobio, mesohemeorobio e euhemeorobio. A quantificação

de cada uma das classes pode ser observada na Tabela 3.

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Figura 1. Mapa de uso da terra na bacia do rio das Antas – 2000

Figura 2. Mapa de uso da terra na bacia do rio das Antas – 2009

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Figura 3. Carta de hemerobia da bacia do rio das Antas – 2000

Figura 4. Carta de hemerobia da bacia do rio das Antas – 2009

FREITAS, A. R. Análise do Uso da terra e da artificialização do meio natural da bacia hidrográfica do Rio das Antas

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Tabela 3. Quantificação das classes de hemerobia mapeadas na bacia do rio das Antas Classe 2000 2009 Var. 00/09

% Área (ha) % Área (ha) % Ahemeorobio 7.458,79 44,35 7.372,78 43,84 -1,15 Oligohemeorobio 3.615,26 21,50 3.573,20 21,25 -1,16 Mesohemeorobio 4.579,08 27,23 4.574,79 27,20 -0,09 Euhemeorobio 1.164,48 6,92 1.296,84 7,71 +11,37

Total 16.817,61 100 16.817,61 100 A classe ahemeorobio corresponde a remanescentes de Florestas Ombrófila Mista

em diferentes estágios sucessionais e áreas ocupadas por reflorestamento de pinus

(Pinnus spp.). As áreas ahemeorobias passaram a ser ocupadas por atividades

urbanas e de cultivo, representando um decréscimo de 1,15% da área da bacia,

sendo mais significativas na porção norte e nas margens dos rios.

A classe oligohemeorobio, representada por campos sujos utilizados na criação de

gado, também apresentou diminuição da área ocupada (1,16%), devido ao avanço

das atividades urbanas e de cultivo.

A classe mesohemeorobio é caracterizada em grande parte por cultivo de milho e

soja distribuídas por toda a área da bacia do Rio das Antas. Conforme a Tabela 3

pode ser constatado que esta classe diminuiu em 0,09% em relação à área da bacia.

Ao contrário das classes já citadas, a classe euhemeorobio representa as áreas

mais artificiais na bacia do rio Cará-Cará, ou seja, aquelas ocupadas por atividades

industriais e urbanas. A classe avançou 11,37% em relação a 2000.

As transformações ocorridas no uso da terra, que serviram de base na determinação

das classes de hemerobia, se deram devido às mudanças ocorridas no

planejamento territorial dos municípios localizados na bacia hidrográfica do Rio das

Antas.

Considerações Finais Os cenários de uso da terra possibilitaram observar a dinâmica do uso da terra na

bacia do rio das Antas, e foi possível constatar que entre 2000 e 2009, a classe que

mais aumentou foi a urbanizada (11,37%), como reflexo do aumento da população.

A classe florestal 1,15%, devido a mudanças no contexto econômico e produção

industrial, bem como a transferência da atividade para outras áreas. No entanto, as

classes campestre e florestal devem ser acompanhadas por caracterizarem a

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paisagem natural da bacia e estarem sendo suprimidas por atividades agrícolas e

urbanas.

Ao tratar do grau de artificialidade da bacia constatou-se que, no período estudado,

houve diminuição de 1,15% das áreas classificadas como ahemeorobio, ou seja,

classe que representa paisagens naturais ou de pequena interferência antrópica,

sendo essa a mais significante na bacia do Rio das Antas. A tendência destas áreas

mais naturais do que artificiais é continuar diminuindo, uma vez, que estão sendo

substituídas por atividades urbanas e de cultivo.

O uso do conceito de hemerobia, como significado de artificialidade e resultado das

ações humanas sobre o meio, serviu como base para identificar os graus de

naturalidade e artificialidade para a bacia hidrográfica do rio das Antas.

Para a realização do trabalho foi imprescindível o uso do SIG, pois é de grande valia

em estudos que analisam questões ambientais, e facilitam e agilizam a obtenção e

cruzamento de dados, trazendo resultados de uma forma mais rápida e segura.

O presente trabalho constitui-se em subsídio para estudos de planejamento

ambiental, bem como, pode fornecer informações a respeito da bacia do rio das

Antas para futuros trabalhos acadêmicos e projetos a serem realizados pelo órgão

público competente. Referências BEROUTCHACHVILLI, N.; BERTRAND G. Le géossystème ou système territoriel naturel. Révue Géographique des Pyrénées, et du Sud-Ouest, v. 49, n. 2, p. 167-180. BUCH, H. E. R. Matas ciliares e degradação da paisagem da área lindeira do Médio Iguaçu em relação à educação ambiental. 2007, 110f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2007. DSG/CODEPAR. Folha Topográfica de Irati. Rio de Janeiro: [s. n.], 1980. 1 mapa: SG.22-X-C-I-4. Escala 1:50.000; Lat. 25º 15’ – 25º 30’; Long. 50º 30’ – 50º 45’. Região Sul do Brasil. DSG/CODEPAR. Folha Topográfica de Rebouças. Rio de Janeiro: [s. n.], 1980. 1 mapa: SG.22-X-C-IV-4. Escala 1:50.000; Lat. 25º 30’ – 25º 45’; Long. 50º 30’ – 50º 45’. Região Sul do Brasil. DUEÑAS, W. A. M. Estudio integrado del grado de antropización (INRA) a escala del paisaje: propuesta metodológica y evaluación. IASCP, Colômbia, 2004.Disponível

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MAPEAMENTO DA HEMEROBIA DO CENTRO POLITÉCNICO DA UFPR: UMA COMPARAÇÃO ENTRE O ANO DE 2002 E 2010

CARLA PRICHOA1

ANDREZA ROCHA DE FREITAS2 SANDRA BETINELI DA COSTA3

RESUMO No decorrer da história as transformações efetivadas pelas sociedades nas paisagens a partir do aperfeiçoamento de novas técnicas, de novos descobrimentos, inventos e do crescimento populacional desordenado, possibilitaram uma grande concentração de pessoas em uma determinada área, sobretudo nas paisagens urbanas, onde a transformação do espaço tornou-se inevitável, não assegurando a mínima qualidade ambiental e de vida. Buscar medidas que amenizem ou revertam os impactos das atividades antrópicas nas paisagens, sejam as urbanas ou rurais, compete às sociedades atuais sistematizar um processo eficaz de planejamento do espaço no sentido de buscar a melhoria da qualidade ambiental e, consequentemente a qualidade de vida. E neste sentido, o presente trabalho buscou construir a carta de hemerobia do Centro Politécnico da UFPR de 2010 para comparação com a carta de hemerobia de 2002 a fim aferir os indicadores de qualidade ambiental que poderão subsidiar o planejamento desta paisagem. Palavras-chave: Hemerobia, Centro Politécnico, Paisagem

Introdução Numa perspectiva geográfica, a história evolutiva humana pode ser vista como uma

progressiva apropriação e exploração da superfície terrestre pelos diferentes grupos

sociais e culturais, que imprimem na paisagem as características peculiares ao seu

modo de vida.

Observa-se, então, que a paisagem torna-se o reflexo e a marca impressa das

sociedades dos homens na natureza (BERTRAND & BERTRAND, 2007, p.263). E,

que, em virtude da tecnificação e do progresso econômico, o processo de ocupação

humana nos espaços geográficos vem alterando aceleradamente as paisagens. Os

resultados dessa produção são inquietantes. Alguns recursos essenciais se

1 Mestranda em Geografia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG 2 Professora Mestre do Departamento de Geografia de Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO/Irati, [email protected] 3 Mestre em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá – UEM

PRICHOA, C.; FREITAS, A. R. e COSTA, S. B. Mapeamento da hemerobia do Centro Politécnico da UFPR: Uma comparação entre o ano de 2002 e 2010

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degradam ou se esgotam; os grandes ciclos naturais estão ou parecem perturbados;

as paisagens familiares desaparecem para sempre (BERTRAND & BERTRAND,

2007, p. 83). A partir destes, intenta-se que há necessidade de um planejamento da

paisagem.

Assim, faz-se necessário dar aporte à noção de paisagem. Conceito este que vem

participando nas discussões de várias ciências e que foi e ainda é utilizado por meio

dos mais diversos olhares e sentido. Considerada, como um dos conceitos-chave

mais antigos da ciência geográfica pode ser classificado como “de uso mais

generalizado e, talvez se coloque entre aqueles sobre cujo significado seja mais

difícil de alcançar um consenso” até porque, cada nação, cada pessoa possui o seu

entendimento próprio ou, melhor, uma noção própria do que é paisagem (COSTA:

2009, p. 26 apud AMORIM FILHO, 1998, p. 123).

Em relação a este conceito, Costa (2009, p.26 apud PASSOS, 2007) afirma que

cada um de nós tem uma imagem associada à paisagem e a define através de suas

próprias referências. Ela é uma forma espacial do presente, porém testemunhos do

passado ainda persistem ou não. Revelando, um dinamismo diacrônico, confirmando

a evolução estrutural do processo espacial, demonstrado por meio de fases que

poderão ser de estabilidade, de reformulação parcial ou de completa remodelação,

engendrando novos espaços (COSTA, 2009, p.26 apud MARTINELLI, 2001).

Para G. e Claude Bertrand (2007, p.113) a paisagem não deve ser considerada

como uma simples adição de elementos geográficos disparatados. Ela é numa

determinada porção do espaço, homogênea, instável, entre elementos abióticos

(rocha, água, ar), elementos bióticos (vegetais, animais) e elementos antrópicos

(impactos da sociedade) que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da

paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução. Não se tratando

de uma adição apenas de elementos, mas de uma interdependência, sujeita também

a noção do tempo.

E, nesta evolução, equivale considerar as variações espaciais, de massas, de

energias e de suas combinações, junto às variações do tempo, pois, compreender

como estão estruturados os componentes da paisagem, como ele funciona, depende

de certo equilíbrio em que ela se encontra no momento em que foi realizada a

observação (COSTA, 2009, p.31).

PRICHOA, C.; FREITAS, A. R. e COSTA, S. B. Mapeamento da hemerobia do Centro Politécnico da UFPR: Uma comparação entre o ano de 2002 e 2010

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A paisagem então é o que vemos diante de nós. É uma realidade visível. É uma

visão de conjunto percebida a partir do espaço circundante. Não tem, assim, uma

existência própria, em si. Ela existe a partir do sujeito que a aprende: cada pessoa a

vê diferentemente da outra, não só em função do direcionamento de sua

observação, como também em termos de seus interesses individuais (COSTA, 2009,

p.27 apud MARTINELLI, 2001; BERTRAND & BERTRAND, 2007).

O que, a partir da afirmação de Monteiro apud Nucci (1996, p.9) equivale entender a

paisagem como uma entidade delimitada segundo um nível de resolução do

pesquisador, a partir dos objetivos centrais da análise, de qualquer modo sempre

resultando de uma interação dinâmica e, portanto, instável dos elementos de

suporte, de forma e cobertura (...), expressa em parte delimitáveis infinitamente, mas

individualizadas através das relações entre elas que organiza um todo Complexo

(sistema), verdadeiro conjunto solidário em perpétua mutação.

A análise das várias definições e evolução do conceito de paisagem possibilita a

compreensão de que hoje, a partir da afirmação de G. e Claude Bertrand (2007,

p.256), o termo paisagem é uma palavra reencontrada que possui relação direta

com as questões de identidade cultural, do meio ambiente e das transformações dos

territórios, em resumo, da qualidade ambiental e de vida. Isto porque,

a noção do conceito de paisagem remonta as correntes ambientalistas, que invadiram as ciências por meio de uma escala temporal e espacial, de uma mais complexa e muito anterior a chamada “crise ecológica. E hoje, ela explodiu tornando-se um dos termos mais banais da gestão do meio ambiente e da transformação dos territórios, sendo utilizada em todo o contexto social, desde os discursos e desafios ambientais, políticos, científicos, conquistando a linguagem comum e de uso interdisciplinar, descrevendo a emergência colocada pela sociedade de consumo: a conservação e preservação das paisagens. (COSTA, 2009, p. 28)

Desta forma, as alterações antrópicas sobre o meio, refletidas de forma ordenada e

desordenada têm (e vem) modificando as paisagens fazendo com que os elementos

naturais sejam cada vez mais raros e que urge a necessidade de planejamento das

paisagens. Um dos exemplos atualmente são as paisagens urbanas, que vem

demonstrando inúmeras formas de degradação da natureza, provocada

principalmente pelo uso e ocupação do espaço de maneira aleatória e

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inconseqüente, em uma quase totalidade de planejamento adequado que vise à

preservação/conservação do meio. A paisagem urbana muitas vezes mostra-se

artificializada, onde a natureza apresenta-se degradada, com uma desordenada

ocupação do solo, uma deficiência de saneamento básico, uma carência de

habitação adequada, falta de espaços verdes, entre outros.

Buscar alternativas que visem diminuir ou evitar os impactos das “organizações” das

diferentes sociedades culturais sobre as paisagens (urbanas e rurais) é uma tarefa

que compete às sociedades atuais em sistematizar um processo eficaz de

planejamento do espaço, no sentido de subsidiar a melhoria da qualidade ambiental

e, conseqüentemente a qualidade de vida.

Nesse sentido, o planejamento da paisagem deve fixar-se no entendimento das

questões ambientais, com bases na concepção do desenvolvimento sustentável. O

que será o subsídio para o planejamento urbano. Assim, o planejamento da

paisagem é considerado

(...) uma contribuição ecológica e de design para o planejamento do espaço, onde se procura uma regulamentação dos usos do solo e dos recursos ambientais, salvaguardando a capacidade dos ecossistemas e o potencial recreativo da paisagem, retirando o máximo proveito do que a vegetação pode oferecer para a melhoria da qualidade ambiental. (NUCCI, 1996, p.2)

Reitera-se que, quando se tenta avaliar e acompanhar as modificações causadas no

uso e cobertura da terra, surgem conceitos que servem de base para os estudos

desta natureza (FREITAS, 2008, p. 63-69). Um dos conceitos evidenciados pela

autora referenciada foi o de Hemerobia.

De acordo com Freitas (2008, p. 63-69), o termo hemerobia vem do grego hemeros

(cultivado, domesticado) e foi introduzido na ecologia por Jalas que propõe a

seguinte classificação quanto ao grau de hemerobia do meio:

Ahemeorobio – paisagens naturais ou de pequena interferência

antrópica, com mata tropical e mata de galeria;

Oligohemeorobio – paisagens mais naturais do que artificiais, como

campos sujos utilizados para pecuária;

Mesohemeorobio – paisagens mais artificiais do que naturais, como

reflorestamento; e

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Euhemeorobio – paisagens artificiais, com áreas de cultivo e área

urbanizada.

É notório ressaltar que, os estudos desta natureza possibilitam a classificação da

paisagem e a comparação dos diferentes usos e tipos de cobertura entre si, bem

como são os elementos que irão propiciar o planejamento da paisagem. Porém,

para Freitas (2008, p.63-69) Moletta et al (2006) optaram em não utilizar estes

termos sugeridos por ser difícil pronunciá-los, apesar de que todos procuram

subsidiar a reflexão quanto à intensidade da ação humana na paisagem natural.

Enquanto que, para Monteiro (1978) as alterações da paisagem pelo homem são

compreendidas a partir da “derivação antropogênica” e não pelo termo. Para o autor

tais transformações podem ser positivas ou negativas. Assim,

“a aspiração em compreender os graus de derivação dos sistemas naturais sob o impacto da tecnologia humana traz importantes implicações quanto às possibilidades das sociedades humanas em planejar seu próprio futuro”. (MONTEIRO, 1978, p. 56)

No trabalho realizado por Fávero et al (2004) na Floresta Nacional de Ipanema,

Iperó-SP, identificou-se cinco graus de hemerobia, por meio das unidades de

paisagem, sendo que o menor grau passa a ser compreendido pelo valor A e o

maior grau pelo valor E.

Outra classificação dos tipos de uso da terra é sugerida por Haber (1990) conforme

a diminuição da naturalidade e o aumento da artificialidade, onde o autor divide os

ecossistemas em dois grupos:

Bio-ecossistemas, que são divididos em ecossistemas naturais (sem

influência humana direta e capaz de auto-regulação), ecossistemas próximo

de naturais (influenciado pelo ser humano, mas similar ao anterior),

ecossistemas seminaturais (resultantes do uso humano, com capacidade

limitada de auto-regulação) e ecossistemas antropogênicos (intencionalmente

criado e totalmente dependente do controle e manejo humano).

Tecno-sistemas, que são caracterizados pelo domínio de estruturas e

processos técnicos, criados intencionalmente pelo homem para atividades

industriais, econômicas e culturais.

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Hough (1995) trata de paisagem formal e natural. A paisagem formal apresenta

pouca conexão com a dinâmica dos valores naturais, ou seja, requer mais energia e

uso de tecnologia. A paisagem natural representa processos naturais e sociais que,

mesmo alterados, estão presentes e atuam no ambiente urbanizado.

Sendo assim, conforme Beroutchachvilli e Bertrand (1978) as Unidades de

Paisagens, como resultados da conjunção de diferentes fatores como a histeria

geológica, a morfogênese do relevo, o clima em seu movimento, a dinâmica

biológica e a participação humana em sua evolução histórica, também podem ser

avaliadas conforme os elementos naturais e as interferências antrópicas

concretizadas na paisagem.

Portanto, a interferência antrópica sobre a paisagem pode ser avaliada através de

estudos que mostrem onde estão às áreas mais degradadas e modificadas,

principalmente por meio da análise e da representação têmporo-espacial do uso da

terra (FREITAS, 2008, p.63-69).

METODOLOGIA

Para identificar os graus de hemerobia do Centro Politécnico da UFPR foi elaborado

o mapa de uso da terra através da fotointerpretação da imagem do Google Earth

datada de 2009, sendo esta atualizada em campo.

A realização do mapeamento ocorreu por meio da organização de um banco de

dados em ambiente SIG. O Software utilizado para a entrada, armazenamento,

tratamento e saída dos dados foi o SPRING 5.1.5, do Instituto Nacional de

Pesquisas Espaciais/Divisão de Processamento de Imagens (INPE/DPI).

No mapeamento do uso da terra foram adotadas as seguintes classes: área de

mata, plantas ruderais, acessos, áreas edificadas e áreas de atividades esportivas.

A partir da elaboração do mapa de uso da terra de 2010 foi possível a confecção da

carta de hemerobia do Centro Politécnico da UFPR, onde foi possível identificar as

alterações na paisagem causadas pela interferência humana.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No mapeamento do uso da terra do Centro Politécnico da UFPR (Figura 1) foi

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possível identificar cinco classes de uso (Tabela 1).

Tabela 1. Classes de Uso da terra

Classes de uso Área (ha) % Acessos 17,42 28,40 Área de Mata 6,99 11,39 Áreas Edificadas 8,91 14,53 Áreas de Atividades Esportivas 3,91 6,37 Plantas Ruderais 24,11 39,31 Total 61,34 100

Na classe área de mata considerou-se a vegetação com porte arbóreo, em qualquer

estágio sucessional, englobando tanto vegetação nativa quanto florestada. As áreas

de mata ocupam 6,99ha (11,39%) da área do Centro Politécnico e são

representadas por dois fragmentos localizados na porção Norte e Sudeste do

Campus.

A classe plantas ruderais compreende áreas com vegetação herbácea, contendo

indivíduos arbóreos ou não. Esta classe ocupa 24,11ha (39,31%) correspondendo à

classe mais encontrada no perímetro do Centro Politécnico. São as áreas que

passam por maior transformação devido à expansão das áreas edificadas.

A classe acessos corresponde às áreas pavimentadas ou não que dão acesso aos

prédios ou áreas edificadas. Ocupam 17,42ha (28,40%) da área do Campus.

A classe áreas edificadas correspondem às áreas ocupadas por edificações onde

estão localizadas as salas de aula, laboratórios e setores administrativos do Centro

Politécnico, representando 8,91ha (14,53%) da área estudada.

A classe correspondente às áreas de atividades esportivas representa os espaços

onde são desenvolvidas atividades esportivas, como as quadras e campos do

Centro de Educação Física. Essa classe de uso é a menos representativa, ocupando

3,91ha (6,37%) da área do Centro Politécnico.

Após a elaboração e quantificação das classes de uso da terra do Centro Politécnico

da UFPR foi possível a confecção da Carta de Hemerobia de 2010. Nesta carta

(Figura 2) puderam ser identificadas e quantificadas seis classes (Tabela 2)

representando o grau de alterações ocorridas na paisagem.

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Figura 1. Carta de Uso da terra

Tabela 2. Classes de Hemerobia Classes de Hemerobia Área (ha) % Vegetação Primitiva Remanescente 6,99 11,39 Espaços Livres 28,02 45,68 Área com Superfície não Pavimentada 3,26 5,32 Superfícies Pavimentadas 14,16 23,08 Espaços Edificados – 1, 2 ou 3 pavimentos 8,42 13,73 Espaços Edificados – 4 pavimentos ou mais 0,49 0,80 Total 61,34 100

A classe Vegetação Primitiva Remanescente representa as áreas ocupadas por

mata de Araucária. Estas áreas apresentam um grau de hemerobia muito baixo ou

quase nulo, pois suas características são iguais e/ou próximas às características da

paisagem original da área estudada (Figura 3a). Esta classe é a terceira que menos

ocupa área no Centro Politécnico, correspondendo a 6,99ha (11,39%).

Os Espaços Livres são as áreas com grau de hemerobia um pouco mais significativo

que às da Vegetação Primitiva Remanescente (Figura 3b). São áreas ocupadas por

plantas ruderais com ou sem arborização. Neste caso, essa unidade da paisagem é

considerada mais natural do que artificial. No entanto, são essas áreas que podem

ser as mais alteradas devido ao aumento das áreas edificadas no Centro

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Politécnico. Atualmente, elas ocupam 28,02ha (45,68%), sendo as mais expressivas

das classes de hemerobia.

Figura 2. Carta de Hemerobia

A classe que representa as áreas cobertas por areia, pedregulhos ou solo exposto é

denominada Áreas com Superfície Não Pavimentada (Figura 3c). Estas áreas

apresentam um grau de hemerobia mais próximo do artificial do que do natural, pois

estão em constante modificação e podem também ser ocupadas por edificações

dentro do Campus. Esta classe ocupa 3,26ha (5,32%).

As Superfícies Pavimentadas (Figura 3d) ocupam 14,16ha (23,08%) da área do

Centro Politécnico. Nesta classe a hemerobia torna-se mais significativa do que nas

classes anteriormente citadas. A superfície se torna pavimentada modificando as

características físicas originais do solo.

As classes com grau de hemerobia alto são Espaços Edificados – 1, 2 ou 3

pavimentos (Figura 3e) e Espaços Edificados – 4 pavimentos ou mais (Figura 3f).

Nestas classes encontramos os ambientais onde as alterações são mais

significativas, pois entram nessas classes as edificações onde ocorre um gasto

maior de energia para que esses ambientes sejam mantidos. Foram divididos

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conforme o número de pavimentos, pois quanto mais pavimentos tiverem, maior será

a alteração antrópica sobre o ambiente próximo a estas edificações. As alterações

podem ser observadas quanto a impermeabilização do solo e a diminuição da

incidência solar em áreas próximas à essas edificações.

Figura 3. Unidades de Paisagem: a) Área de mata (Vegetação Primitiva Remanescente); b) Espaços Livres e ao fundo construção de novo bloco; c) Estacionamento de Professores e Funcionários (Área com Superfície não Pavimentada); d) Superfícies Pavimentadas; e) Centro de Hidráulica e Hidrologia

Prof. Parigot de Souza (Espaços Edificados com 1, 2 ou 3 Pavimentos); f) Laboratório de Farmacologia em Construção (Espaços Edificados com 4 pavimentos ou mais)

A principal causa das transformações na paisagem do Centro Politécnico é a

construção de novos blocos e edificações. A classe que mais passa por alterações,

nesse caso, são as de Espaços Livres, ocupadas por plantas ruderais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constatou-se com o presente trabalho que a classe de hemerobia que mais ocupa

área no Centro Politécnico da UFPR é a classe Espaços Livres, com 28,02ha

(45,68%), compreendendo as áreas ocupadas por plantas ruderais com ou sem

arborização.

A classe com maior grau de hemerobia, Espaços Edificados – 4 pavimentos ou mais

é a que menos ocupa área, totalizando 0,49ha (0,80%), o que pode ser considerado

um ponto positivo. No entanto, essa classe está aumentando com a construção de

dois novos blocos com mais de quatro pavimentos.

f

b c

d e

a

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Essas alterações ocorridas na paisagem e o aumento da classe com maior grau de

hemerobia estão ocorrendo devido à expansão da universidade e à necessidade da

construção de novos espaços físicos para salas de aulas e laboratórios.

O conceito de hemerobia, como significado de artificialidade e resultado das ações

humanas sobre o meio, serviram de base na identificação dos graus de naturalidade

e artificialidade do Centro Politécnico da UFPR. O presente estudo, ainda, pode

auxiliar no planejamento e na gestão ambiental do Campus.

REFERÊNCIAS BEROUTCHACHVILLI, N., BERTRAND, G. Le géossystème ou système territoriel naturel. Révue Géographique des Pyrénées, et du Sud-Quest, v.49, n.2. p. 167-180. BERTRAND, G. C. Uma Geografia Transversal – e de travessias (O meio ambiente através dos territórios e das temporalidades). Org. Messias Modesto Passos. Maringá: Massoni, 2007, 332p. COSTA, S. B. As transformações históricas e a dinâmica atual da bacia hidrográfica do córrego água da Marilena – Marilena/Paraná no período de 1970 – 2007. Dissertação de Mestrado. UEM, Maringá, 210p. FÁVERO, O. A., NUCCI, J. C., DE BIASI, M.. Hemerobia das Unidades de Paisagem da Floresta Nacional de Ipanema Iperó-SP. In: CONGRESSO NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 4., 2004, Curitiba. Anais..., v. 1. Curitiba: Fundação O Boticário de proteção à Natureza/Rede Nacional Pró Unidades de Conservação, 2004. p. 550-559. FREITAS, A. R., A Repercussão da Legislação na dinâmica do uso da terra na bacia do rio Cará-Cará, Ponta Grossa-PR no período de 1980 à 2007. Ponta Grossa, UEPG, 2008. (Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós Graduação em Gestão do Território da Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR). FREITAS, A. R. de. Classificação Hemeróbica das Unidades de Paisagem da Bacia Hidrográfica do Rio Cará-Cará, Ponta Grossa – Pr. Revista Cesumar, v. 10, n. 01, p.63-69. Jan/Jun. 2008 HABER, W. Using Landscape Ecology in Planning and Management. In: ZONNEVELD, I. S., FORMAN, R. T. T. (Eds) Changing Landscape: an ecological perspective. New York: Springer-Verlag, 1990.

PRICHOA, C.; FREITAS, A. R. e COSTA, S. B. Mapeamento da hemerobia do Centro Politécnico da UFPR: Uma comparação entre o ano de 2002 e 2010

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FLEISCHER, D. R.; ANTONELI, V. Produção de sedimentos nos carreadores rurais sobre o sistema de Faxinal Marmeleiro de Cima,

Município de Rebouças – PR

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PRODUÇÃO DE SEDIMENTOS NOS CARREADORES RURAIS SOBRE O SISTEMA DE FAXINAL MARMELEIRO DE CIMA, MUNICÍPIO DE

REBOUÇAS – PR

DALTON RENAN FLEISCHER1 VALDEMIR ANTONELI2

Resumo: Esta pesquisa teve como objetivo avaliar a produção de sedimentos

oriunda dos caminhos preferências dos animais no Faxinal Marmeleiro de Cima,

Município de Rebouças, Paraná. O sistema de Faxinal é um sistema

agrosilvopastoril característico da Região Centro-Sul do Estado do Paraná, com

criação extensiva de animais em áreas comuns, havendo um fluxo contínuo de

animais neste sistema, onde são criados soltos (sem restrições de propriedades).

Essa concentração de animais sob a área de Faxinal exerce uma certa pressão

sobre os recursos naturais existentes, promovendo certo desequilíbrio das

condições naturais. Por não haver restrições de áreas sobre o sistema de Faxinal,

há um contato direto dos animais com os corpos hídricos, eliminando a vegetação

riparia e promovendo caminhos preferências nas margens dos rios além de

carreadores sobre as pastagens e florestas deste sistema. Estes caminhos

preferenciais devido ao constante pisoteio dos animais atuam como canais efêmeros

em períodos de chuva, servindo como conectores entre as respostas

hidrogeomorfológicas do sistema com os canais fluviais. Utilizou-se da técnica de

batimetria (perfis transversais) para avaliar o rebaixamento/acumulo de sedimentos

nestes caminhos. Como resultado, conclui-se que o constante pisoteio dos animais

implica na dinâmica de produção de sedimentos, mesmo que haja variações na

intensidade da precipitação. Foi observado que existem algumas saliências dentro

do próprio caminho preferencial que se alternam em períodos de acumulo e

remoção de material. Períodos com precipitação de intensidade menor há acúmulo

de material. Já períodos de intensificação nos índices pluviométricos há uma

remoção desse solo que foi depositado anteriormente.

Palavras-chave: Impacto dos animais, Erosão de solo, Faxinal

1 Acadêmico de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste- Campus de Irati-PR 2 Professor do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste- Campus de Irati-PR [email protected]

TREVISAN, E.; ANDRADE, A. R. Elementos e controles microclimáticos em área de manancial localizada em ambiente rural diversificado

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ELEMENTOS E CONTROLES MICROCLIMÁTICOS EM ÁREA DE MANANCIAL LOCALIZADA EM AMBIENTE RURAL DIVERSIFICADO

ELIAS TREVISAN1

APARECIDO RIBEIRO DE ANDRADE2

Resumo: O clima vem se destacando como variável de estudo, pois a mesmo se

destaca na dinâmica ambiental. Pela influencia que a mesma exerce através dos

elementos do clima, estes distribuem energia ao redor do globo pelo calor e umidade

afetando assim processos físicos, químicos e biológicos, implicando em

interferências no cotidiano das sociedades. A partir desta perspectiva, elege-se a

bacia hidrográfica como unidade de estudo topoclimático, sendo reduzido através de

um recorte de parte da bacia se definiu condições microclimáticas bem especificas.

A área de estudo conhecida com bacia hidrográfica do rio Manduca, se localiza no

município de Fernandes Pinheiro-PR, a qual vem sendo utilizada para a agricultura

pelos moradores. Através da distribuição de três postos de coleta próximo ao rio

principal de modo que se buscou instalar um posto na foz, metade da bacia e

cabeceira da mesma com a coleta dos valores de temperatura, umidade através de

sensores automáticos e precipitação diariamente, no período que se estendeu de 15

de dezembro de 2009 a 15 de maio de 2010, além da verificação da vazão do rio

Manduca em dias de precipitação, verificando-se a partir daí variabilidades e

correlações entre as variáveis. Pela verificação dos dados matemáticos distribuídos

de forma agrupada em períodos de 15 dias se identificando a mediados valores, se

identificou a transferência de energia no sistema de maneira clara, como a

identificação do aumento da umidade relativa do ar com a diminuição da temperatura

e ainda a variabilidade de ponto para ponto dentro do período de coleta.

Palavras-chave: Bacia hidrográfica, Elementos do clima, Microclimatologia

1 Bolsista de Iniciação Cientifica PAIC, Graduando Licenciatura Plena em Geografia, campus de Irati-PR UNICENTRO. [email protected] 2 Professor Adjunto Doutor do Departamento de Geografia da Unicentro, campus de Irati-PR. [email protected]

BEDNARZ, J. A.; ANTONELI, V. Erosão de solos sob o cultivo do tabaco (Nicotina tabacun) em uma pequena propriedade no Município

de Irati Paraná

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EROSÃO DE SOLOS SOB O CULTIVO DO TABACO (NICOTINA TABACUN) EM UMA PEQUENA PROPRIEDADE NO MUNICÍPIO DE IRATI

PARANÁ

JOÃO ANÉSIO BEDNARZ1 VALDEMIR ANTONELI2

Resumo: O objetivo deste trabalho, foi avaliar a taxa de erosão de solos no cultivo

do tabaco (Nicotina Tabacun. L) em uma pequena propriedade, sob plantio

convencional em Irati –Pr. Utilizou-se do método de áreas de contenção, sendo

estimadas taxas de deposição de sedimentos, oriundos de uma área de 1.432 m2. A

fumicultura na Região Centro-Sul do Estado do Paraná (onde a área de estudos está

inserida), é uma das alternativas viáveis das pequenas propriedades, por utilizar

uma área de apenas 2,5 ha para geração de renda. O desencadeamento dos

problemas ambientais causados por esta atividade está pautado, na utilização de

áreas com declives acentuados (>30%). O plantio convencional do tabaco é

realizado sob um camalhão (murundus), o qual contribui para a formação de um

canal efêmero de escoamento da água da chuva. A concentração de água na

entrelinha (entressulco) potencializa as perdas de solo, principalmente, por haver

remobilização constante deste solo para eliminação das ervas daninhas. Após o

monitoramento de uma safra (setembro a março), foram estimadas perdas em torno

de 39,4 ton./há, considerada uma taxa alta de perda de solo, quando comparados

com as perdas médias de outras formas de cultivo, cita-se como exemplo, os valores

encontrados por Thomaz (2005), em áreas com agricultura de subsistência (cultivo

de milho e feijão), onde a perda foi na ordem de 4,01 t/ha/ano. Já Sorrenson &

Montoya (1989, p.58) destacam que a perda média de solo no estado do Paraná

para agricultura em sistema convencional é de 3,3 t/ha/ano.

Palavras chaves: Uso do solo, Pequena propriedade, Erosão de solos, Fumicultura, Irati

1 Acadêmico de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste Campus de Irati-Pr 2 Professor Msc do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro- Oeste- Campus de Irati- PR [email protected]

PENTEADO, L.; ANTONELI, V. A importância do cultivo de tabaco no Distrito de Nova Boa Vista Município de Guamiranga-PR

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A IMPORTÂNCIA DO CULTIVO DO TABACO NO DISTRITO DE NOVA BOA VISTA MUNICÍPIO DE GUAMIRANGA-PR

LAIANE PENTEADO1 VALDEMIR ANTONELI2

Resumo: O estudo teve como objetivo discutir fatos relevantes que deram a

fumicultura um espaço garantido e de boa rentabilidade ao decorrer dos anos. O

foco de pesquisa foi a produção do Tabaco (Nicotina Tabacun) em pequenas

propriedades do distrito de Nova Boa Vista - Município de Guamiranga- PR. Por

volta da década de 1960 a situação dos produtores rurais era consideravelmente

caótica devido a baixa rentabilidade do então meio de sustentabilidade: roças de

coivara e criadouro comunitário (ou criação de animais em áreas extensivas). Devido

à situação desfavorecida, sentiu-se necessidade de novas formas de

sustentabilidade; foi quando surgiu a fumicultura. A produção fumageira exigia

muitas mudanças, desde a preparação do solo à mão-de-obra. No início a produção

era apenas mais uma fonte básica de renda dos pequenos produtores, com o passar

dos anos – apesar da lenta transição e devido a alguns receios dos produtores,

como a comercialização do produto, compra de insumos e outros problemas de

ordem social e ambiental – a produção foi crescendo e os meios foram melhorando,

dando melhores condições de trabalho e mais lucratividade; as áreas de produção

aumentaram e mais pessoas aderiam ao plantio de fumo. Pelos estudos realizados,

nota-se que há uma grande dependência da fumicultura para a geração de renda na

área de estudos, ou seja, a permanência do agricultor na localidade está atrelada a

atividade fumageira. Esta atividade promoveu uma alienação dos agricultores que

não praticam outra atividade para a geração de renda senão o cultivo do tabaco. A

grande maioria dos agricultores não cultiva feijão e milho nem para o consumo, não

possui rebanhos para geração de carne e leite. Portanto a fumicultura passa a

influenciar diretamente na forma de vida, das pessoas e na permanência do homem

no campo.

Palavras-chave: Fumicultura, Produção, Agricultores 1 Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO - Unidade Universitária de Irati-PR. E-mail: [email protected] 2 Doutorando em Geografia - UFPR, [email protected], Professor de Geografia na Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, PR 153 km 7 – Riozinho, Fone: (42) 3421-3000, CEP 84500-000, Irati – PR

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falta de saneamento básico na área rural do Município de Irati – PR 45

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MONTAGEM E FUNCIONAMENTO DAS FOSSAS SÉPTICAS BIODIGESTORAS, COMO ALTERNATIVA PARA O PROBLEMA DA FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO NA ÁREA RURAL DO MUNICÍPIO DE IRATI -

PR

LUCIANO ALMEIDA DE SOUSA1 VALDEMIR ANTONELI2

Resumo: Este artigo tem por objetivos propor a utilização da fossa séptica

biodigestora como solução para a falta de saneamento básico nas áreas rurais do

município de Irati-PR, e propor a montagem destas fossas biodigestoras como uma

alternativa para redução da contaminação dos recursos hídricos, que são os

responsáveis por grande numero de internações pediátricas, como demonstra os

dados do Ministério da Saúde, no Brasil. A contaminação da água e a falta de

saneamento respondem por 63% das internações pediátricas e 30% da morte de

crianças com menos de um ano de vida. Descrever o seu funcionamento, para que

ao final do processo de biodigestão o efluente resultante possa ser depositado na

natureza reduzindo os dados ambientais. Esta preocupação dá-se em virtude da

falta de saneamento básico nas áreas rurais devido o destino incorreto que é dados

aos dejetos humanos. Portanto esta proposta surge como uma alternativa simples,

barata, de fácil montagem e que não exige uma manutenção especializada. As

fossas sépticas biodigestoras além serem utilizadas para depurar os dejetos

humanos que são os responsáveis pela proliferação de doenças com a cólera ou

hepatite, pode ainda ao final do processo de biodigestão fornecer biofertilizantes

para a utilização em pequenas hortas ou árvores frutíferas.

Introdução

A preocupação com o destino dos dejetos humanos principalmente na zona rural, foi

o propulsor do referido artigo para que fosse possível encontrar meios de minimizar

os riscos de comprometimento dos recursos hídricos, principalmente no que se

refere ao destino incorreto dos dejetos humanos, pois é neste ambiente que a 1 Graduando do curso de Geografia na Universidade Estadual do Centro Oeste - Campus Universitário de Irati - PR (UNICENTRO). E-mail: <[email protected]> 2 Professor Msc do Departamento de Geografia da Universidade Estadual Centro-Oeste – Campus Universitário de Irati - PR. (UNICENTRO). E-mail: [email protected]

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maioria das ocasiões são lançados no ambiente sem qualquer tratamento. Um

exemplo é a utilização das fossas negras3 que na maioria dos casos são construídos

sem os devidos cuidados necessários para evitar a contaminação das fontes de

água para o consumo, destas famílias. Uma outra questão a ser levada em

consideração é a preservação dos recursos hídricos para às futuras gerações, tendo

em vista a vulnerabilidade desse recurso. Segundo dados do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) no Brasil cerca de 95% da população tem acesso a

redes de abastecimento de água, porém apenas 50% do esgoto produzido são

coletados e desses apenas 32 % são tratados (BRASIL, 2005).

Segundo dados do IBGE (2000), somente 11% dos domicílios rurais brasileiros

possuem coleta de esgoto, o que influencia no comportamento hídrico mundial tendo

em vista que o Brasil concentra aproximadamente 12% da água doce de todo o

planeta.

Segundo CEPAL (2005), no Brasil, há somente 35% de saneamento básico na zona

rural, situação que coloca nosso país numa das últimas colocações na América

Latina e Caribe, à frente somente de Bolívia e Haiti.

Segundo STRUJAK e VIDAL (2007), o lançamento “in natura” de esgotos

domésticos, águas residuárias de criatórios de animais e de agroindústrias são as

principais fontes de poluição de lagos, canais, rios e mares. Materiais orgânicos em

suspensão são indispensáveis para a proliferação de microrganismos patogênicos

ao homem. Material orgânico não biodegradável, como algumas substâncias

espumantes, derivados de petróleo e muitos resíduos industriais, pode proporcionar

problemas de poluição de diferentes intensidades, provocando alteração na

qualidade das águas.

Neste sentido, este artigo apresenta uma alternativa para redução dos impactos

ambientais (contaminação dos corpos hídricos) pela falta de saneamento básico na

área rural do Município de Irati - PR. A implantação da fossa séptica biodigestoras é

um método simples e barato de tratar o esgoto na área rural. Esse sistema consiste

em desviar a tubulação dos vasos sanitários para caixas de cimento de amianto ou

plásticos, onde os coliformes fecais são transformados em adubo orgânico, pelo

processo de biodigestão.

3 "É uma fossa séptica, uma escavação sem revestimento interno onde os dejetos caem no terreno, parte se infiltrando e parte sendo decomposta na superfície de fundo. Não existe nenhum deflúvio. São dispositivos perigosos que só devem ser empregados em último caso". (samotracia dicionário online)

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Após este tratamento, o resultado são águas residuárias livre de agentes poluidores

que podem ser lançados na natureza sem risco para a saúde pública, e os efluentes

resultantes do processo poderiam ser utilizados como fontes de produção de adubos

para utilização em pequenas culturas.

Dentre algumas questões selecionadas para análise a respeito da montagem e

funcionamento das fossas sépticas biodigestoras, para as populações rurais de

baixa renda são: os baixos custos, a pequena ocupação de área necessária para

implantação do sistema, número de habitações e pessoas atendidas, a baixa

complexidade de operação e manutenção.

Vale ressaltar que este artigo não teve por objetivo a construção e funcionamento

das fossas biodigestoras e sim como uma proposta alternativa para redução do

impacto ambiental causado pelos dejetos humanos. Este material servirá de base

para futuras pesquisas direcionadas a construção dessas fossas. É de nosso

entendimento que para a construção e funcionamento das fossas é necessário

primeiramente uma conscientização da população da área rural, para na seqüencial

ser implantado este sistema.

Metodologia utilizada

Para a realização da proposta de montagem das fossas sépticas biodigestoras na

zona rural do município, a estratégia geral de pesquisa utilizada foi o levantamento

na literatura técnico-científica das alternativas existente para tratamento de efluentes

sanitários e disposição local. Também foram consultados catálogos de fabricantes e

internet. Sendo realizadas pesquisas no que se referiam a utilização deste sistema,

e a sua eficácia para o tratamento dos dejetos humanos e possível utilização do

produto ao final do processo. Durante a pesquisa não foi encontrado nenhum

sistema para este fim na região, mas pode se verificar que existe uma outra técnica

semelhante para o tratamento dos dejetos de criações de suínos e aves, que

também não foi tido conhecimento deste sistema na região, nestes sistemas é

utilizado o biodigestor para produção de gás metano (CH) que alimentam geradores

para a produção de energia elétrica, fato este que promove redução no consumo de

energia na propriedade.

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Caracterização da área de estudos

O município de Irati está localizado na Região Centro Sul do Estado do Paraná, O

município teve sua origem na vila de "Covalzinho", na década de 1890, quando os

trilhos da Estrada de Ferro São Paulo/Rio Grande do Sul passaram pela vila. Foi ali

instalada uma estação ferroviária que recebeu o nome de "Iraty". Isso fez a vila

crescer e se tornar importante, o município de Irati possui como, municípios vizinhos

ao norte Imbituva e Prudentópolis, ao sul Rio Azul e Rebouças, já a leste enontra-se

o município de Fernandes Pinheiro e a oeste o limite é o municipio de Inácio Martins.

O município possui o relevo ondulado e acidentado, com variação de solo entre os

limites territoriais norte e sul , sendo que os solos predominantes são os solos

podzólico vermelho amarelo, terras brunas, cambissolo e litólico. Quanto à formação

geológica da Região Centro Sul do Paraná, onde á área de estudos está localizada,

esta, diz respeito aos depósitos sedimentares paleozóicos, correspondentes à

grande feição de sedimentação marinha e litorânea, conhecida como Bacia

Sedimentar do Paraná. (Antoneli 2004).

Quanto ao clima, segundo a classificação de Köppen4, o clima do município de Irati

esta classificado com do tipo Cfb, (Subtropical), apresentando verões amenos,

invernos com ocorrências de geadas frequentes e não apresentando estações

secas.

Figura 1. Localização do município. Fonte: Prefeitura Municipal de Irati – PR

4 A classificação climática de Köppen foi criada em 1900 pelo científico alemão Wladimir Peter Köppen e posteriormente modificada em 1918 e 1936. Consiste em uma classificação climática mundial baseada na temperaturas e precipitações ,outorgando letras aos diferentes valores que tomam estas duas variáveis.

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Na área urbana do município de Irati de acordo com a Companhia de saneamento

do Paraná (Sanepar, 2008), 84,75 % da população tem acesso à rede coletora de

esgotos, embora esta seja utilizada por apenas 76,58% dos moradores. Já o meio

rural é desprovido totalmente da rede de esgoto, não existindo um destino

apropriado para os dejetos humanos, Segundo dados do censo oficial do ano de

2007, a população total do município de Irati é de 54.151 mil habitantes, sendo que

22,08% vivem na zona rural, aproximadamente 12.000 mil habitantes.

A maioria dos moradores da zona rural é descendente dos primeiros colonizadores

do município, onde predominam as pequenas propriedades, com predomínio da

agricultura familiar com grande desenvolvimento das atividades de subsistência

(cultivo de milho, feijão, batata e cebola). Ocorrem também nestas lavouras os

desenvolvimentos da agricultura comercial, como é o caso do cultivo da soja e do

fumo. Dentre as atividades agrícolas voltadas para a comercialização, destaca-se a

fumicultura, prática característica de pequenas propriedades, onde emprega em

grande parte da mão-de-obra familiar.

Montagem de um sistema biodigestor na zona rural Na seqüência serão apresentados os passos para a implantação das fossas

biodigestoras. Segundo a EMBRAPA (2002), para montagem precisa-se de três

caixas-d’água de mil litros. Como ficarão enterradas, recomenda-se o uso de caixas

de fibra de vidro ou de cimento, pois esses materiais suportam altas temperaturas e

duram mais.

Antes de cavar os buracos no solo para colocar as caixas, é preciso furá-las para

inserir os tubos de policloreto de vinila (PVC). Deve ser utilizada uma serra copo

diamantada de 100 milímetros para fazer os orifícios. Os tubos e conexões devem

ser vedados com cola de silicone na junção com a caixa, para evitar vazamentos

dos efluentes ou a entrada de ar.

Após a construção dos três buracos no solo, com aproximadamente 80 centímetros

de profundidade e colocação das caixas, estas devem ser conectadas

exclusivamente ao vaso sanitário. O encanamento das pias e chuveiros não deve

ser ligado ao sistema biodigestor, pois a água que vem destes locais não são

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patogênica. Além disso, sabão e detergente inibem o processo de

biodigestão.(figura 2).

Figura 2. Instalação das caixas e ligação com os tubos de PVC Fonte: EMBRAPA (2002)

Para uma melhor vazão dos dejetos é recomendável a utilização de tubo de PVC de

100 milímetros para ligar o vaso sanitário a primeira caixa, deixando este cano com

uma inclinação de 5% entre o vaso e o sistema. Outro aspecto importante para não

correr o risco de sobrecarrega do sistema, também se recomenda que não use

válvulas de descarga. Deve-se dar preferência às caixas de descarga que liberem

entre sete e dez litros de água a cada vez que é acionada.

Antes da primeira caixa deve ser instalada uma válvula de retenção, que tem como

finalidade facilitar a colocação de uma mistura de água e esterco bovino, sendo que

esta mistura tem a finalidade de acelerar o processo de biodigestão.

A segunda caixa deve ser ligada à primeira através de um cano de PVC e uma curva

de 90 graus. A tampa das duas caixas devem ser bem fechadas para isso é

necessária a utilização de borracha para vedação de 15 por 15 milímetros. Em cada

caixa deve existir um cano que servirá de chaminé para liberar o gás metano

acumulado. Na extremidade superior deste cano deve ter um CAP5 de PVC com

quatro furos de 2 milímetros cada, para facilitar a liberação do gás metano e devido

a pressurização interna dentro das duas primeiras caixas e evitar a entrada de

5 CAP PVC – é uma espécie de tampão de PVC, utilizado nas instalações hidráulicas com a finalidade de impedir a passagem de líquidos.

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oxigênio. (Figura 3). Os tubos e conexões devem ser vedados na junção com a

caixa com cola de silicone e o sistema deve ficar enterrado no solo para manter o

isolamento térmico. Este fechamento serve para que ocorra o processo de

biodigestão anaeróbica que elimina os agentes patogênicos encontrados nos dejetos

humanos.

Figura 3. Fonte: EMBRAPA, adaptada por Sousa, L.A. 2010.

Segundo as pesquisas da EMBRAPA, aproximadamente 80% dos agentes

patogênicos são eliminados na primeira caixa e o restante na segunda, desta

maneira ao chegar a terceira caixa os dejetos humanos já foram transformados em

adubo ou em biofertilizantes.

A terceira caixa, não deve ser vedada, pois é por ela que irá se retirar o adubo. Um

aspecto importante que deve ser observado na instalação do sistema é que entre

cada caixa, deve ser colocado um “T” de inspeção para o caso de entupimento.

Segundo a EMBRAPA (2002), caso não queira utilizar o adubo, é possível a

eliminação do produto final do processo diretamente no ambiente sem que esta

eliminação cause contaminação. Para isso é necessário que se faça na terceira

caixa um filtro de areia para permitir a saída de água sem excesso de matéria

orgânica. Para a construção deste filtro no fundo da ultima caixa deve ser colocada

uma tela fina de nylon. Sobre esta tela, colocar uma camada de dez centímetros de

pedra britada nº 3 e dez centímetros da pedra nº 1, e mais uma tela de nylon. Na

seqüência coloca uma camada de areia fina lavada. Instala-se um registro de esfera

de 50 milímetros para permitir que essa água vá para o solo (Figuras 4 e 5).

VÁLVULA DE RETENÇÃO

“CAP” PARA ALIVIO DE PRESSÃO

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Figura 4. Funcionamento em corte da liberação de efluentes com a sobreposição das camadas para filtragem Fonte: Embrapa (2002).

Figura 5. Liberação de efluentes. Fonte: Embrapa (2002).

Na figura 6, é apresentado um sistema de fossa séptica biodigestora instalada numa

propriedade rural, onde pode-se observar que o espaço destinado a instalação é

pequeno com isso o sistema pode ser instalado ate nas proximidades das

residências sem causar transtornos quanto a utilização do espaço. Na figura 7 pode-

se observar uma figura representativa do esquema de funcionamento sistema

séptico biodigestor.

Segundo Novaes (2002), “esse tipo de sistema é ideal para uma família composta

por cinco pessoas que despejam 50 litros de água e resíduos por dia. Se o número

de pessoas for maior, recomenda-se colocar mais uma caixa de mil litros”.

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Figura 6. Sistema completo instalado Fonte: Embrapa (2002).

Figura 7. Esquema de funcionamento das caixas biodigestoras Fonte: NOVAES et al., (2002)

O material necessário para montagem de um sistema biodigestor conforme descrito

acima consta dos seguintes itens, que estão ordenados nas tabelas abaixo e que

podem ser encontrados facilmente em lojas de comércio de materiais para

construção civil (tabelas 1 e 2).

Tabela 1. Lista de material necessário para a implantação das caixas biodigestoras

Item Quantidade unidade Descrição 01 03 Peça Caixa cimento amianto de 1000 L 02 06 Metro Tubo de PVC 100 mm para esgoto 03 01 Peça Válvula de retenção de PVC 100 mm 04 02 Peça Curva de 90º longa de PVC 100 mm 05 03 Peça Luva de PVC 100 mm 06 02 Peça “T” de inspeção de PVC 100 mm 07 10 Peça O’ring1 100 mm 08 02 Metro Tubo de PVC soldável 25 mm 09 02 Peça CAP de PVC soldável 25 mm 10 02 Peça Flange de PVC soldável 25 mm 11 01 Peça Flange de PVC soldável 50 mm

1 São pequenos anéis fabricados em equipamentos ou objetos, com o intuito de impedir a passagem de gás ou liquido através de um determinado espaço. http://www.brasilmergulho.com.br/port/artigos/2004/025.shtml

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12 01 Metro Tubo de PVC soldável 50 mm 13 01 Peça Registro de esfera de PVC 50 mm 14 02 Tubo Cola de silicone de 300 gramas 15 25 Metro Borracha de vedação 15 x 15 mm 16 01 Tubo Pasta lubrificante de juntas elásticas em PVC rígido – 400

gramas 17 01 Tubo Adesivo para PVC – 100 gramas 18 01 Litro Neutrol

Fonte: EMBRAPA, fossas sépticas biodigestoras. Junho 2006.

Tabela 2 - Lista de ferramentas utilizadas para a implantação

Item Quantidade unidade Descrição 01 01 Peça Serra copo 100 mm 02 01 Peça Serra copo 50 mm 03 01 Peça Serra copo 25 mm 04 01 Peça Aplicador de silicone 05 01 Peça Arco de serra com lamina de 24 dentes 06 01 Peça Furadeira elétrica 07 01 Peça Pincel de ¾” 08 01 Peça Pincel de 4” 09 01 Peça Faca ou estilete 10 02 Folha Lixa comum número 100

Fonte: EMBRAPA, fossas sépticas biodigestoras. Junho 2006.

Funcionamento do sistema de fossa biodigestora Segundo Novaes (2002), a fossa séptica biodigestora funciona através da ausência

de oxigênio, transformando os dejetos do esgoto sanitário em adubo orgânico,

totalmente isento de germes patogênicos, ou seja, microorganismos causadores da

proliferação de doenças como diarréia, cólera, salmonelas e hepatite.

Inicialmente, com o objetivo de aumentar a atividade microbiana e

consequentemente à eficiência da biodigestão, na primeira caixa, através da válvula

de retenção deve ser colocado aproximadamente 20 litros de uma mistura de 50%

de água e 50% esterco bovino (fresco). Segundo a EMBRAPA (2002), este material,

junto com as fezes humanas, fermentam, sendo que este processo é o responsável

pela eliminação dos agentes patogênicos através da alta temperatura gerada pelos

micróbios no processo de fermentação. Para que seja possível esta eliminação dos

agentes patogênicos é importante a vedação das duas primeiras caixas.

Ao final do processo, ou seja, após os dejetos terem passados pelas três caixas o

líquido que inicialmente seria o responsável por contaminação e poluição do

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ambiente se fosse descartado sem o devido tratamento, está livre de micróbios e

agentes patológicos, podendo ser utilizado como adubo em pequenas culturas.

O efluente oriundo desse processo de biodigestão pode ter dois destinos bem

distintos, mas que não causam nenhuma espécie de dano ao ambiente, o primeiro

destino é a fertirrigacão de pequenas hortas ou árvores frutíferas (Figura 7 a, b)

outro destino seria a liberação do efluente resultante do processo diretamente no

solo.

Segundo as pesquisas da EMBRAPA (2002) realizada na fazenda de Belo Horizonte

em Jaboticabal, estado de São Paulo, a aplicação do efluente obtido através do

processo da biodigestão dos dejetos humanos, levou a um aumento do conteúdo de

matéria orgânica na primeira camada do solo analisada, este resultado deu-se em

virtude do material orgânico ser rico em macro e micro nutrientes, foi feito também

análise de nitrogênio na forma mineral, comparando os valores obtidos entre os dois

tipos de adubação.

O nitrogênio é um dos mais caros macronutrientes, o mais instável no solo e

considerado como o principal limitador da produção agrícola, sendo absorvido pelas

plantas na forma de nitrato e amônio. Esse macronutriente regula a velocidade de

decomposição e a atividade microbiana; As análises realizadas mostraram que,

quando aplicado o efluente do biodigestor, houve um aumento de aproximadamente

17% na concentração de amônio no perfil de 0 a 10 cm e 9% entre 10 e 20 cm. O

aumento para o nitrato foi de 23% de 0 a 10 cm e de 15% entre 10 e 20 cm.

Figura 7a. Pé de graviola sem a utilização da

fertirrigação. Figura 7b. Pé de graviola com adição do adubo orgânico com fertirrigação. Embrapa (2002)

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A reutilização do efluente, o mesmo mostrou-se ser uma fonte de macro e micro

nutrientes para as plantas, além de matéria orgânica para o solo. A produção de

adubo orgânico líquido, gerado ao término do processo de biodigestão do esgoto

oriundo dos vasos sanitários, podem ser utilizado para complementar a adubação

gerando economia com a compra dos adubos industrializados, pode se observar nas

figuras 7 a e 7 b a diferença entre os pés de graviola de uma mesma propriedade

que tiveram adubação diferenciada.

A preocupação com os recursos hídricos Atualmente uma das principais formas de poluição das águas superficiais e

subterrâneas é o destino incorreto do esgoto, devido ao aumento da população e a

falta de infra-estrutura que estão submetidos esses moradores. Tanto na área

urbana ou rural, as moradias não são servidas por sistema eficiente de coleta e

tratamento de esgotos. Sendo que na área rural esta infra-estrutura é praticamente

inexistente, e o esgoto tem como destino final os sistemas de fossas negras,

buracos rudimentares feitos no solo que são em grande parte os responsáveis pela

contaminação das águas subterrâneas. Na grande maioria das residências rurais a

água para consumo ou vem de fontes ou te poços que são perfurados ao redor da

própria casa, o que implica em um aumento no risco de doenças. Com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia houve o avanço de pontos

essenciais para melhoria da qualidade de vida, Sendo assim, torna-se necessário

tomar medidas possíveis para tentar reparar os danos causados ao meio ambiente

ou ao menos tornar a sociedade consciente de que existem recursos para impedir

um agravamento da situação degradante por que esta passando a natureza.

A construção de fossas sépticas biodigestoras deveria ser incentivada

principalmente nas zonas rurais, pela dificuldade de construção alternativa para o

tratamento dos dejetos humanos “in natura”. Numa relação de custo e beneficio a

instalação destas fossas segundo a Embrapa (2002), variam entre R$ 800,00 e R$

1.000,00.

A importância da construção das fossas biodigestoras

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falta de saneamento básico na área rural do Município de Irati – PR

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Uma das principais preocupações com o destino incorreto dos dejetos humanos é a

utilização das “fossas negras”, que podem estar contaminando as águas

subterrâneas, independente da zona rural ou urbana, sendo que esta contaminação

é de difícil identificação devido a falta de monitoramento constante e testes de

potabilidade das águas principalmente na zona rural. Outro aspecto que deve ser

ressaltado que embora o solo tenha uma certa capacidade de filtragem, com o

passar dos anos os dejetos humanos depositados podem acarretar em uma

saturação desta capacidade de filtragem e os efluentes contaminados, através da

percolação podem atingir o lençol freático. Com o fluxo lento de percolação, seria

difícil o manejo para que se realizasse um possível tratamento destas águas

subterrâneas contaminadas, sendo que na zona rural a situação torna-se mais grave

pois o recurso para o abastecimento, são as águas provenientes dos poços.

É importante ser observado esta possível instalação do sistema de fossas sépticas

biodigestoras, principalmente na zona rural, pois existe um plano de metas proposto

pela Organização das Nações Unidas (ONU), onde o acesso ao saneamento básico

é um dos itens a ser atingido pelo Brasil até o ano de 2015.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na zona rural

brasileira, apenas 6,5% da população têm acesso a redes coletoras de esgoto, o

Brasil deve chegar em 2015 sem atingir as metas para o acesso da população ao

saneamento básico, conforme a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio

(Pnad).

Neste contexto de preocupação com os recursos hídricos, surgem às fossas

sépticas biodigestoras como uma alternativa para a redução da poluição deste

recurso, com a possibilidade de redução do impacto dos dejetos humanos sobre o

meio ambiente, podendo ser implantada nas casas, principalmente das propriedades

nas áreas rurais onde não existe a coleta e tratamento dos esgotos.

Uma das principais preocupações com o destino incorreto dos dejetos humanos é a

utilização das “fossas negras”, que podem estar contaminando as águas

subterrâneas, sendo que esta contaminação é de difícil identificação devido a falta

de monitoramento constante e testes de potabilidade das águas na zona rural, outro

aspecto que deve ser ressaltado que embora o solo tenha uma certa capacidade de

filtragem, conforme a figura 9, com o passar dos anos os dejetos humanos

depositados podem acarretar em uma saturação desta capacidade de filtragem e os

efluentes contaminados através da percolação pode atingir o lençol freático. Com o

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fluxo lento de percolação, seria difícil o manejo para que se realizasse um possível

tratamento destas águas subterrâneas contaminadas.

A biodigestão anaeróbia representa importante papel de preservação das fontes de

água principalmente na zona rural, pois além de permitir a redução significativa do

potencial poluidor, trata-se de um processo no qual não há geração de calor e a

volatilização dos gases, com isso além da produção de água para o reuso, existe a

produção de fertilizantes.

Um fator preponderante para a instalação deste sistema de tratamento dos dejetos

humanos é que com a construção “fossas negras” feitas sem uma previa análise

local, aumenta o risco de contaminação das águas subterrâneas, conseqüentemente

estas águas são as mesmas que abastecem as casas nestas propriedades sendo

que esta onde raramente é feito algum tratamento, como ferver ou clorar a água

antes de consumir como fator de precaução.

Nas águas subterrâneas é difícil reconhecer a contaminação, e quando ocorre pode

ficar oculta por muitos anos e atingir áreas muito extensas dos lençois freáticos.

Nas águas subterrâneas a contaminação ocorre principalmente através da infiltração

de esgotos a partir de sumidouros ou fossas negras. (Figura 8)

Importância das fossas biodigestoras no município de Irati

Segundo dados do censo oficial do ano de 2007, a população total do município de

Irati é de 54.151 mil habitantes e destes, 12.000 habitantes (22.08 %), vivem na

zona rural convivendo com a falta de saneamento básico.

Figura 8. Esquema de contaminação do lençol freático. Fonte: adaptada por Sousa, L.A. 2010.

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Nota-se que a falta de algumas políticas públicas, atuantes poderia amenizar os

gastos com a saúde pública. A solução poderia ser amenizada com o acesso ao

saneamento básico, a realização de campanhas com o intuito de conscientizar a

população, sobre a maneira de se prevenir. A implementação de projetos

experimentais dentro do município onde os moradores da zona rural pudessem

acompanhar os resultados das fossas sépticas biodigestoras. A realização de

palestras nos comunidades rurais explicando sobre os benefícios do tratamento dos

dejetos humanos, são algumas alternativas para a implantação. O poder público do

município deveria realizar parcerias com os moradores voluntários, para

implantação.

O grande entrave para a implantação da fossa séptica biodigestora na zona rural é

oferecer algumas vantagens para que os moradores utilizem esta tecnologia, pois se

não houver algum tipo de incentivo os moradores irão continuar com o paradigma

que vive a tantos anos num mesmo lugar e sempre foi daquela maneira. Deve-se

apresentar seus benefícios e mostrar os problemas que as fossas negras provocam

no meio ambiente, principalmente nos aspectos relacionados a saúde.

Os investimentos em água e esgoto nunca foram prioridades dos governantes,

porque se escondem debaixo da terra, ao contrário de pontes, viadutos e estradas, a

falta de interesse com a preservação e uso racional dos recursos naturais tem sido

uma das grandes preocupações da humanidade nas ultimas décadas, sendo que a

água tem recebido a maior atenção, até mesmo por sua essencialidade para a vida.

Sendo assim, a boa utilização e a não contaminação dos recursos hídricos é fator de

extrema importância quando se trata desse assunto.

Num contexto mais otimista a utilização dos biodigestores principalmente nas

localidades rurais, possa se transformar numa fonte ainda maior de economia, pois

existe a possibilidade de integrar a produção do gás metano proveniente da

decomposição dos dejetos, transformando-o em biogás que poderia ser utilizado

para conversão de energia elétrica, representando uma maior sustentabilidade para

as atividades da propriedade rural, tendo em vista a grande utilização da energia

elétrica em atividades dentro das propriedades rurais de pequeno porte.

Além da obtenção do biogás nos biodigestores, a digestão anaeróbia de matéria

orgânica produz, como resíduo, uma substância com aspecto de lodo, que, quando

diluída, pode ser utilizada como fertilizante agrícola. Esses fertilizantes, chamados

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de biofertilizante, apresentam grande quantidade de nitrogênio e de fósforo que são

os principais componentes dos adubos industrializados.

A falta de água tratada e de um destino adequado ao esgoto sanitário compromete

fortemente a saúde da população. Segundo dados do Ministério da Agricultura e

Abastecimento (2005), cerca de 75% das internações hospitalares estão

relacionadas à falta de saneamento básico. Na tabela 2, se pode observar a

evolução do saneamento básico no município de Irati - PR relacionando os censos

de 1991 e 2000. No ano de 2000, 58,9 % do esgoto recebiam algum tipo de

tratamento e outros 41,1 % eram despejados “in natura” nos solos, rios, córregos e

nascentes, observa-se que o esgoto não coletado contamina os corpos d’água e o

solo, criando um ambiente propício à propagação de microorganismos patogênicos

que, por sua vez, contaminam o córrego de onde a água para consumo na

residência é captada.

A poluição dessas águas na região de Irati se deve principalmente ao uso de

agrotóxicos em atividades agrícolas, à deposição de resíduos industriais sólidos e

líquidos, deposição de lixos urbanos e aterros, deposição de dejetos de animais

resultantes da atividade agropecuária e construção incorreta de “fossas negras”.

Tabela 3. Saneamento - Município: Irati/PR

Abastecimento Água 1991 2000 Rede geral 62.3 75.3 Poço ou nascente (na propriedade)

37.4 23.8

Outra forma 0.3 0.9 Instalação Sanitária 1991 2000

Rede geral de esgoto ou pluvial 15.3 40.8 Fossa séptica 26.9 18.1 Fossa rudimendar 54.0 31.7 Vala 0.5 2.7 Rio, lago ou mar - 1.1 Outro escoadouro 0.1 3.0 Não sabe o tipo de escoadouro - - Não tem instalação sanitária 3.1 2.6 Fonte: IBGE/Censos

Fonte: IBGE, 2000.

Considerações Finais

Devido ao baixo custo para confecção, a eficiência demonstrada na biodigestão dos

dejetos humanos e conseqüente eliminação de agentes patogênicos, esse modelo

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de fossa séptica pode ser indicado para substituir a tradicional "fossa negra",

normalmente utilizada na área rural. Quanto à reutilização do efluente, o sistema

transforma os dejetos humanos numa fonte de macro e micro nutrientes para as

plantas, além de matéria orgânica para o solo.

A implantação de fossas sépticas biodigestoras apresenta algumas vantagens como

o baixo custo de implantação; não necessitar de mão-de-obra especializada para

montagem e manutenção; a ocupação de pouco espaço na propriedade e a

possibilidade da utilização do produto final como adubo e fertilizantes, reduzindo

gastos com estes produtos. Analisando o município de Irati e relacionando a

população residente na zona rural que é de aproximadamente doze mil habitantes.

Cada sistema biodigestor conforme o modelo descrito acima atente uma família de

cinco pessoas, onde o custo médio de implantação é de cerca de mil reais. Conclui-

se portanto que seria necessário a implantação de dois mil e quatrocentos sistemas

de biodigestão, o que seria necessário investimento na ordem de R$ 2.400,000,

(dois milhões e quatrocentos mil reis) para que se fosse atendida toda a população

da zona rural. Quanto a eficiência deste sistema, pode ser comprovado pelo projeto

piloto implantado em Jaboticabal, a disponibilidade de acesso a técnicas alternativas

para o tratamento e disposição dos efluentes sanitários pode se adequar a nova

realidade social de cada município.

Este projeto pretende despertar nos produtores rurais a consciência de que, com

medidas simples e baratas em torno de R$1.000,00 seria possível evitar uma

possível contaminação das águas subterrâneas ou ajudar a melhorar a qualidade da

água do município, o aspecto mais importante é quebrar alguns paradigmas sobre a

utilização dos efluentes resultantes das fossas biodigestoras.

Entretanto o que se pode concluir, que até o momento ainda existe grandes

limitações quando se trata da preservação do meio ambiente, pois mesmo com

tantas provas sobre a importância da preservação, ainda existe certa resistência das

pessoas quanto à necessidade de dispor algum recurso financeiro no sentido de

preservar um recurso natural de suma importância para a vida de todos os seres

vivos.

Seria viável ao município de Irati, propor a montagem de sistemas biodigestores em

comunidades em caráter experimental para que os moradores da zona rural do

município pudessem acompanhar todo o processo e aceitar a montagem em suas

propriedades, pois a construção de infra-estrutura de saneamento básico necessita

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de um elevado investimento em obras e constantes melhoramentos, o que faz com

que muitas vezes este tipo de estruturas seja inexistente ou pouco eficaz, na zona

rural do município de Irati. Como é inexistente o tratamento de esgoto, este

implementação poderia evitar a contaminação das águas subterrâneas, pois a zona

rural é um importante local de recarga dos aqüíferos, desta maneira asseguraria o

suprimento de água limpa e protegida através de uma tecnologia simples e barata.

Referencias bibliográficas:

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falta de saneamento básico na área rural do Município de Irati – PR

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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

<http://www.cori.unicamp.br/jornadas/completos/UFSCAR/CA4008%20-%20Thams%20H%20Martinetti.doc>. Acesso em: 02 maio 2010. Disponível em: www.esgotoevida.org.br/saude_saneamento.php . Acesso em: 18 Ago 2010. Disponível em: www.brasilmergulho.com.br/port/artigos/2004/025.shtml .Acesso em: 24 Ago 2010.

BASSO, L. C. et al. O ontem, o hoje e o amanhã: o Museu de Geociências: uma alternativa em educação

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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

O ONTEM, O HOJE E O AMANHÃ: O MUSEU DE GEOCIÊNCIAS; UMA ALTERNATIVA EM EDUCAÇÃO

LUIZ CARLOS BASSO1 ENEIDA MARTINS2

ANGELA GUEDES MOREIRA LARA3 ADRIANE COROSQUE4 ANA MARIA CHARNEI5

JOÃO HENRIQUE DE ALMEIDA CEZÁRIO6 JEFERSON MACHADO CAETANO7

Resumo: O Projeto “Museu de Geociências UNICENTRO - Campus Irati” foi

implantado em 1997 com objetivo de montar um acervo de coleções didáticas e

científicas para disponibilizar materiais de pesquisa e ensino para docentes e

acadêmicos do curso de Ciências Licenciatura da referente instituição. Atualmente o

acervo é utilizado pelos alunos dos cursos de Licenciatura em Geografia,

Engenharia Florestal e Engenharia Ambiental e disponibilizada também para o

empréstimo a pesquisadores, professores e alunos da rede pública e privada de

ensino da região. As coleções, compostas inicialmente por espécimes

zoobotânicas, geológicas e paleontológicas, estão conservadas via seca, úmida e

taxidermizadas. No Museu são realizadas várias atividades, tais como a manutenção

preventiva das coleções didática e científica do Museu, assim como a organização e

limpeza das coleções geológica, paleontológica e também dos insetários e animais

taxidermizados que estão disponíveis para o empréstimo. E as exposições

temporárias e itinerantes juntamente com o acervo do Museu estão disponíveis para

visitação de Escolas após agendamento, ou sistematicamente com

acompanhamento de um guia, que são acadêmicos fazendo estágio no projeto do

Museu. Até o momento as atividades previstas pelo cronograma do projeto Museu

de Geociências vem sendo promovidas em vários eventos, com uma boa aceitação

pelo público visitante, e cumprindo com os objetivos propostos nas Diretrizes

Nacionais de Extensão colaborando para o ensino, a pesquisa e extensão na

UNICENTRO.

1UNICENTRO [email protected] 2UNICENTRO [email protected] 3UNICENTRO [email protected] 4UNICENTRO [email protected] 5UNICENTRO [email protected] 6UNICENTRO [email protected] 7UNICENTRO [email protected]

BASSO, L. C. et al. O ontem, o hoje e o amanhã: o Museu de Geociências: uma alternativa em educação

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Palavras-chave: Museu, Acervo, Educação, Coleção, Geociências

PERUCELLI, M.; ANTONELI, V. Produção de serrapilheira em florestas de Faxinal: Estudo de caso do Faxinal Papanduva de Baixo –

Prudentópolis-PR

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PRODUÇÃO DE SERRAPILHEIRA EM FLORESTAS DE FAXINAL: ESTUDO DE CASO DO FAXINAL PAPANDUVA DE BAIXO –

PRUDENTÓPOLIS-PR

MARICELLI PERUCELLI1 VALDEMIR ANTONELI2

Resumo: O Trabalho foi desenvolvido em uma área de Faxinal, porém em um local

cercado para criação “grossa” (eqüinos e bovinos). Para analisar a produção de

serrapilheira da Floresta Ombrófila com domínio do sistema de Faxinal, foram

instalados 8 coletores de 1m² em uma área de 5.000 m² (0,5 hectare), os quais

foram monitorados mensalmente durante 1 (um) ano. As amostras coletadas foram

secadas e separadas em categorias (frações) de folhas, galhos e miscelâneas

(flores, frutos, sementes e pequenos pedaços de inseto morto). Vale ressaltar que o

sistema de Faxinal é um sistema agrosilvopastoril característico da Região Centro-

Sul do Estado do Paraná, onde se desenvolve a criação extensiva de animais em

áreas comuns; extração florestal e policultura alimentar de subsistência. Há um fluxo

contínuo de animais neste sistema, onde são criados soltos (sem restrições de

propriedades). Essa concentração de animais na área de Faxinal exerce certa

pressão sobre os recursos naturais existentes, promovendo certo desequilíbrio das

condições naturais. Durante as campanhas de coletas, alguns meses foram

identificados como maiores produtores de serrapilheira, como é o caso do mês de

outubro e dezembro. O total encontrado durante o acompanhamento de 1(um) ano

foi de 6,096kg/ano, sendo um valor próximo encontrado por outros pesquisadores

em florestas ombrófila mista. As folhas foram responsáveis pela maior parte da

serapilheira produzida pela floresta (61%), seguindo-se os galhos (24%) e

miscelânea (15%). A primavera apresentou maior percentual de deposição,(42%),

seguida pelo verão (31%), inverno (17%) e outono (10%).

Palavras-chave: Faxinal, Serrapilheira, Avaliação Sazonal

1 Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste - Campus de Irati-PR. [email protected] 2 Professor Doutorando pela UFPR e Professor do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste - Campus de Irati-PR. [email protected]

CARVALHO, M. F. A.; BEDNARZ, J. A.; ANTONELI, V. Mensuração da produção de sedimentos através do contato direto dos animais com os rios no Faxinal

Marmeleiro de Cima, Rebouças-PR.

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MENSURAÇÃO DA PRODUÇÃO DE SEDIMENTOS ATRAVÉS DO CONTATO DIRETO DOS ANIMAIS COM OS RIOS NO FAXINAL

MARMELEIRO DE CIMA REBOUÇAS- PR

MARLON FÁBIO ABREU CARVALHO1 JOÃO ANÉSIO BEDNARZ2

VALDEMIR ANTONELI3

Resumo: Este artigo tem por objetivo avaliar a influência do contato dos animais

com os corpos hídricos e, por conseguinte a migração das margens no Faxinal

Marmeleiro de Cima no município de Rebouças-PR. O Sistema de Faxinal é uma

forma peculiar de uso e ocupação do solo, onde há um consorciamento entre

exploração dos recursos naturais e criação de animais sem restrições de áreas, o

que propicia uma pressão maior sob os corpos hídricos. O contato direto dos

animais com os corpos hídricos implica na inexistência da mata ciliar o que contribui

para os processos erosivos das margens. Para monitorar a migração das margens e

a movimentação dos bancos de sedimentos de fundo, foi utilizado o método de perfil

transversal (batimetria) e para avaliar a erosão das margens foi aplicada a técnica

de pinos de erosão. Por meio de avaliações batimétricas foi possível identificar que

os suínos revolvem o material de fundo dos rios construindo diques para

represamento da água para banharem-se. Essas “micro represas” quando se

rompem acabam aumentando a vazão momentaneamente e conseqüentemente

aumentando o poder de transporte de material e, em alguns casos esse aumento da

vazão remove esses bancos de sedimentos, os quais serão reconstruídos na

seqüência pelos próprios animais. O comportamento da erosão/ deposição de

sedimentos das margens se portou de maneira distinta, o período da coleta que

apresentou maior pluviosidade, correspondeu ao período em que ocorreram maiores

percas de solo (maior exposição dos pinos).

Palavras-chaves: Faxinal, Animais, Migração, Erosão de Margem

1 Acadêmico de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste Campus de Irati-PR 2 Acadêmico de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste Campus de Irati-PR 3 Professor Msc do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro- Oeste- Campus de Irati- PR [email protected]

TCHMOLO, M. L.; FLORIANI, N. Espaço geográfico e paisagem: contribuições de conceitos da ciência geográfica para pesquisas em

turismo

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ESPAÇO GEOGRÁFICO E PAISAGEM: CONTRIBUIÇÕES DE CONCEITOS DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA PARA PESQUISAS EM TURISMO

MAYCON LUIZ TCHMOLO1 NICOLAS FLORIANI2

Resumo: O objetivo do presente trabalho é compreender a relevância do estudo da

paisagem para o turismo, contudo a partir de uma visão contrária aos pressupostos

que indicam o turismo como somente uma atividade capitalista. Logo, se configura

como uma proposta inicial de pesquisa, que fundamentalmente abrange uma

discussão teórica sobre conceitos e características de termos estudados pela ciência

geográfica. Deste modo, justifica-se que na prática do turismo há constante

aproximação entre culturas (relações sociais), bem como uma interação do ser

humano com o ambiente (relação sujeito-coletividades-natureza), sendo que ambas

as relações ocorrem em um lugar, o qual faz parte do espaço geográfico. Assim, o

aporte teórico traz: reflexões sobre espaço geográfico e espaço turístico, discutindo

suas divergências conceituais; definições e características da paisagem, tendo em

vista, de maneira geral, os conceitos utilizados pelas diversas áreas do

conhecimento e, consequentemente, pelo turismo; e reflexões sobre turismo e

paisagem, mostrando a importância econômica que uma paisagem tem para a

atividade turística, contudo expondo e interrogando as inerentes causas deste uso

paisagístico. Portanto, a partir desta discussão, deixam-se algumas interrogações

quanto a este estudo, no intuito de se refletir os prós e contras quanto ao uso da

paisagem pelo turismo.

Palavras-chave: Espaço Geográfico, Espaço Turístico, Paisagem, Turismo

Introdução

Sob o ponto de vista que o turismo é uma área multidisciplinar há

necessidade de se buscar conhecimentos e experiências de outras ciências no

1 Bacharel em Turismo pela Universidade Estadual do Centro-Oeste, Campus de Irati. Discente do Programa de Pós-Graduação em Geografia (Mestrado em “Gestão do Território”) da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail: [email protected] 2 Graduado em Agronomia, Mestre em Ciências do Solo e Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná. Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia (Mestrado em “Gestão do Território”) da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail: [email protected]

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intuito de redirecionar as investigações e análises sobre este fenômeno, a partir de

uma abordagem abrangente e plural, buscando adicionar outras facetas ao estudo

do turismo. Logo, aparecem ramos do conhecimento científico que poderiam ajudar

o turismo a questionar-se sobre seu universo de pesquisa e a Geografia, tida como

um campo do conhecimento essencialmente interdisciplinar (ainda que na prática

sejam poucos e profícuos os diálogos entre as vertentes natural e humana) destaca-

se neste processo reflexivo.

Diante dos diversos conceitos e peculiaridades trabalhados pela ciência geográfica,

destacam-se as discussões quanto a dois conceitos relevantes para os estudos em

turismo, ou seja, espaço geográfico e paisagem. No espaço geográfico ocorrem as

práticas turísticas, porém em ambientes destinados para tal, e a paisagem é

utilizada como um recurso capital para o desenvolvimento turístico de um local.

Deste modo, apresenta-se a importância de se trabalhar estes conceitos da ciência

geográfica, no intuito de nortear uma pesquisa, bem como averiguar os prós e

contras da atividade turística durante o seu processo.

Para tanto, o presente trabalho apresenta-se como uma proposta inicial de pesquisa,

que foca fundamentalmente uma discussão teórica, sobre definições e

peculiaridades de espaço e paisagem. Logo, seu objetivo gira em compreender a

importância da paisagem para o turismo, porém com uma visão teoricamente

contrária aos pressupostos que indicam o turismo como somente uma atividade

capitalista, cuja finalidade é o consumo e a fetichização do espaço, de acordo a

visão hegemônica de mundo de uma determinada categoria social. Em suma, na

prática isso se mostra evidente, o que faz deste estudo um aporte para que se possa

enxergar o turismo com outros olhos, ou seja, demonstrar que se podem agregar

outros valores com a prática do turismo que não seja a de cunho estritamente

econômico. Nesse sentido, desloca-se a centralidade da premissa do turismo como

uma prática social que consome o espaço (Cruz, 2002, p. 109), para o turismo como

prática social que busca vivenciar o lugar, segundo escalas temporais e sócio

espaciais diversas.

Justifica-se, portanto, que quando se pratica turismo, as pessoas, que neste caso

são turistas, constantemente se relacionam com outras culturas (relações sociais),

bem como interagem com o ambiente (relação sujeito-coletividades-natureza). Para

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tanto, todas essas relações são originadas em um determinado local, que fazem

parte do espaço geográfico, o lugar.3

Assim, a partir das diversas interferências que o turismo acarreta no espaço,

procurou-se focar em um estudo da paisagem, pois “a paisagem [...] é

constantemente refeita de acordo com os padrões locais de produção, da sociedade,

cultura, fatores geográficos e tem importante papel no direcionamento turístico”

(YÁZIGI, 2003, p. 92). Logo, estudar o fenômeno turístico pressupõe uma reflexão

latente: como e em que medida as práticas sociais locais podem configurar e

revalorizar as paisagens dando novos sentidos ao turismo?

Portanto, estruturalmente este presente trabalho se dividirá em três capítulos

essencialmente teóricos, sendo: primeiro uma investigação sobre as diferenças

entre os termos espaço turístico e espaço geográfico, procurando demonstrar a

aproximação e a divergência entre estas duas terminologias; em seguida a

exposição sobre conceitos e peculiaridades sobre a paisagem, com o intuito de focar

nas suas características, bem como na sua importância multifacetada para as

diversas áreas do conhecimento; e, finalmente, discutir dialeticamente como o

turismo pode trabalhar com a paisagem através de um outro viés, isto é, ao contrário

da visão capitalista que imposta ao turismo.

Espaço Geográfico e Espaço Turístico: divergências conceituais

Sendo a paisagem a terminologia específica do presente estudo, ressalta-se que ela

insere-se dentro de uma área de maior abrangência, ou seja, o espaço. Deste modo,

Yázigi (1999) diz que não há como desvincular a paisagem da idéia de espaço. E

este espaço é entendido aqui como o espaço geográfico, procurando discernir de

espaço turístico.

Como em todos os outros estudos das ciências sociais, também há, quando se

questiona o que é espaço, um pensamento dialético. Mesmo que a partir de um

senso comum pareça simples esta definição, percebe-se que há complexidade em

conceituar pontualmente este termo. Nota-se, deste modo, no título do trabalho de 3 “No campo da Geografia Humanística este conceito surge no âmbito da sua consolidação no início da década de 70. Sua linha de pensamento caracteriza-se principalmente pela valorização das relações de afetividade desenvolvidas pelos indivíduos em relação ao seu ambiente.” (LEITE, 1998, p. 9); “O lugar pode ser entendido como a parte do espaço geográfico efetivamente apropriada para a vida, área onde se desenvolvem as atividades cotidianas ligadas à sobrevivência e às diversas relações estabelecidas pelos homens.” (LISBOA, 2009, p. 29). Então, “lugar é o somatório das dimensões simbólicas, emocionais, culturais, políticas e biológicas” (BUTTIMER, 1985, p. 228).

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Braga (2007, p. 65) a seguinte menção: “O espaço geográfico: um esforço de

definição”. Um de seus argumentos tange que a geografia física é inseparável da

geografia humana, assim considera que o espaço tem que ser analisado como um

todo, pois o ser humano está inserido na sociedade e não age sozinho.

Dentro do espaço que se inserem as configurações materiais, as quais possuem

várias e distintas formas estruturais, bem como suas funcionalidades, sendo que são

por meio delas que ocorrem as relações sociais, sejam elas de qualquer cunho

(culturais, econômicas, políticas, etc.) E nesta ótica que Milton Santos vinculou a

idéia de espaço através de dois elementos: fixos e fluxos.

Os elementos fixos, fixados em cada lugar, permitem ações que modificam o próprio lugar, fluxos novos ou renovados que recriam as condições ambientais e as condições sociais, e redefinem cada lugar. Fixos e fluxos juntos, interagindo, expressam a realidade geográfica e é desse modo que conjuntamente aparecem como um objeto possível para a geografia (SANTOS, 1999, p. 50)

Esta foi uma percepção inicial do autor, sendo que mencionou, posteriormente, que

o espaço pode ser entendido como uma entidade híbrida formada por sistema de

objetos e sistema de ações, ou seja, os objetos como uma materialidade e as ações

pertinentes às relações sociais. Deste modo, o sistema de objetos necessita do

sistema de ações, pois esta última que procede a funcionalidade da configuração

territorial (SANTOS, 1999).

Bem como a menção anterior, Carlos (2002, p. 165) diz que

O espaço é entendido como produto de um processo de relações reais que a sociedade estabelece com a natureza (primeira ou segunda). A sociedade não é passiva diante da natureza; existe um processo dialético entre ambas que reproduz, constantemente, espaço e sociedade, diferenciados em função de momentos históricos específicos e diferenciados. [...] O espaço é humano não porque o homem habita, mas porque o produz. Ele é um produto desigual e contraditório à imagem e semelhança da sociedade que o produziu com seu trabalho.

A partir disso, o espaço pode ser definido a partir de todas as relações existentes

entre as formas materiais e os seres humanos. Contudo, Santos (1985), analisa

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peculiarmente o espaço e estabelece categorias analíticas para a compreensão da

organização espacial, através da: forma, função, estrutura e processo4.

Logo, Santos (1985) salienta que se partir da premissa de analisar cada uma destas

categorias separadamente apresentam apenas realidades limitadas do mundo,

contudo relacionando-as constroem uma base metodológica e teórica para se

discutir os fenômenos espaciais numa totalidade. Assim, Silveira (2007) diz que

“está associação se dá também devido à interdependência entre formação sócio-

econômica, modo de produção e espaço”.

Diante a organização espacial e a relação que existe entre as categorias analíticas,

ressaltadas por Santos, existem ambientes que são notados como espaços

turísticos, pois são onde se encontram as atividades turísticas, através da inserção

de empresas de turismo como, por exemplo, hotéis, restaurantes e empresas de

entretenimento, bem como da aglomeração de indivíduos que consomem os

produtos e serviços oferecidos por estas empresas, juntamente com os atrativos

tangíveis inseridos naquele local.

Para tanto, para se conceituar espaço turístico, partiu-se dos pensamentos expostos

pela ciência geográfica. Logo, como há dificuldades para se definir o espaço

geográfico, acontece o mesmo com o espaço turístico. Roberto C. Boullón em sua

obra intitulada “Planejamento do espaço turístico”, entende que é complexo ter

noção do que é espaço, deste modo, afirma que “[...] na antiguidade, definia-se o

espaço como um fluido, o que era uma forma de reconhecer sua intangibilidade”,

porém considera está idéia equivocada, pois apesar de menos utilizada (usada

ainda por arquitetos) o espaço é entendido como “[...] o vazio entre a posição dos

corpos sólidos que se define sua própria massa.” (BOULLÓN, 2002, p. 73).

Assim, Boullón (2002) diz que há diferenças nos conceitos de espaço, pois cada

área que estuda esta terminologia possui uma visão diferente. Deste modo, define

que

o espaço turístico é conseqüência da presença e distribuição territorial dos atrativos turísticos que, não devemos esquecer, são a matéria-prima do turismo. Este elemento do patrimônio turístico, mais

4 A forma é o objeto como visto com materialidade; a função é o papel desempenhado pela forma; a estrutura torna-se invisível, pois referencia o modo das relações existentes entre as formas, para tanto não possui exterioridade imediata; e o processo é uma estrutura que continuamente está em transformação, isto é, as ações que se realizam visando algum resultado, o que implica em uma mudança temporal. In: SANTOS, Milton. Espaço e Método. São Paulo: Nobel, 1985.

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o empreendimento e a infra-estrutura turísticas, são suficientes para definir o espaço turístico de qualquer país (BOULLÓN, 2002, p. 79).

Contudo, a partir da premissa da ciência geográfica, nota-se que apesar de uma

coesão nesta definição, identifica-se que o autor explora apenas os objetos que

estão inseridos no espaço (patrimônio, empreendimento e infra-estrutura turísticas),

contudo questiona-se: e as relações sociais geradas nestes ambientes? Ou seja, os

atrativos turísticos são relevantes para o desenvolvimento da atividade turística, mas

para que este elemento se desenvolva há necessidade que existam seres humanos.

Então não há como excluir as relações sociais dentro destes meios, pois como

ressalta Siviero (2006, p. 9) “embora turismo e espaço não apresentem o mesmo

significado, ambos se complementam, e a reflexão sobre suas características

particulares permite uma futura e melhor compreensão do chamado espaço

turístico.”

Então, há necessidade de uma aproximação de conceitos (de espaço turístico e de

espaço geográfico), tendo em vista conglomerar as estruturas físicas provenientes

do turismo e as relações que o homem possui com estas, pois é o ser humano que

determina a função dos objetos inseridos no espaço, bem como ele está em

constante relação com as configurações materiais (urbanas ou naturais), dispostas

no espaço.

O espaço turístico também possui características próprias e pode ser dividido em

dois tipos: o urbano e o natural. Ward e Dubos (apud BOULLÓN, 2002, p. 111)

dizem que:

O homem habita dois mundos. Um é o mundo natural das plantas e dos animais, dos solos, do ar e das águas, que o precedeu em bilhões de anos e do qual faz parte. O outro é o mundo das instituições sociais e dos artefatos que constrói para si mesmo e com suas ferramentas e máquinas, sua ciência e seus olhos, para alcançar um meio obediente aos propósitos ou direções humanos.

Só que esta distinção de “mundos” é entendida de maneira intangível, pois ambos

os ambientes se relacionam, estando muitas vezes inseridos um nos outros. E a

partir disso, que Boullón (2002) entende que é por meio do método empírico que

surge a melhor maneira de determinar o espaço turístico, pois se pode observar a

distribuição dos atrativos turísticos dentro do território e, deste modo encontrar os

componentes do espaço turístico. Uma divisão então é proposta, logo o espaço

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turístico é determinado pelo tamanho de sua superfície, sendo em escala

descendente: zona, área, complexo, centro, unidade, núcleo, conjunto, corredor,

corredor de translado e corredor de estada; sendo que a zona abrange todas as

outras áreas e as superfícies conseqüentes cingem suas respectivas (BOULLÓN,

2002, p. 80).

Logo, um conceito profícuo a ser analisado é o de território, pois segundo Claude

Raffestin (1993)

É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente [...] o ator “territorializa” o espaço. (RAFFESTIN, 1993, p. 143)

Para tanto, através de processos sociais, econômicos e culturais unificados, se

compreende que a “formação territorial articula uma dialética entre a construção

material e a construção simbólica do espaço” (MORAES, 2005, p. 58). Assim, a

partir das vertentes econômicas, políticas e culturais delimitam-se à formação do

território, sendo que estes processos análogos concretizam o estudo sobre território.

Segundo Saquet (2003, p. 28)

[...] as forças econômicas, políticas e culturais, reciprocamente relacionadas, efetivam um território, um processo social, no (e com o) espaço geográfico, centrado e emanado na e da territorialidade cotidiana dos indivíduos, em diferentes centralidades/temporalidades/territorialidades. A apropriação é econômica, política e cultural, formando territórios heterogêneos e sobrepostos fundados nas contradições sociais.

Moraes (2005, p. 52), numa perspectiva histórica do século XX, diz que os territórios

passam a ser vistos como o “resultado histórico do relacionamento a sociedade com

o espaço, o qual só pode ser desvendado por meio do estudo de sua gênese e

desenvolvimento.” Logo, caracterizar um território significa abranger os processos

sociais estabelecidos, desde a sua constituição, até os processos procedidos

naquele ambiente, sejam esses por influências econômicas, políticas ou culturais, ou

ainda, na conglomeração destes fatores.

A partir destes aportes apresentados nota-se que há similaridades entre os

conceitos de espaço geográfico e espaço turístico, bem como existem diferenças

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pontuais. Contudo, observa-se que o território (a partir da economia, política e

cultura) tem uma maior aproximação conceitual com o termo espaço turístico. Logo,

estabelecer um elo entre as terminologias torna-se relevante, pois é o ser humano o

principal agente modificador destes espaços, sendo também o precursor das

funcionalidades e da distribuição dos objetos materiais. Deste modo, se tratando de

espaço turístico as paisagens inseridas no meio são planejadas de maneira que

atraiam turistas para estes respectivos locais, fazendo com que a atividade se

desenvolva, ou, por outro lado, se decline pela não preservação e degradação das

paisagens.

Conceitos e peculiaridades da paisagem

A paisagem pode ser entendida como

[...] uma qualificação estética outorgada aos elementos que constituem o meio ambiente natural, entendemos que o procedimento para defini-la de modo sistemático deva começar por um conhecimento o mais objetivo possível do meio que lhe serve de base (BOULLÓN, 2002, pp. 116-117)

Nota-se que para definir especificadamente o termo paisagem é necessário

compreender seu campo de estudo ou o local que será realizada a pesquisa. A partir

disso, Sauer (1998, p. 23) diz que “ela pode ser, portanto, definida como uma área

composta por uma associação distinta de formas, ao mesmo tempo físicas e

culturais.” Ou seja, uma porção do espaço geográfico onde se encontram,

juntamente, elementos visuais criados ou modificados pelo homem e configurações

provenientes do próprio meio.

Logo, Bertrand (1971, p. 141) entende que

A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados. É, em uma determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução. .

A paisagem, portanto, é um elemento fixo em determinada porção do espaço

geográfico, contudo se transforma durante o tempo, seja por fatores climáticos,

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geomorfológicos (físicos) ou pela ação do homem (sociais); assim, a paisagem traça

exterioridades culturais e naturais de uma determinada localidade. Yázigi (2002, p. 11) diz “[...] que há uma infinidade de paisagens no espaço e no

tempo, mutáveis, porque as configurações geográficas mudam com a história e com

a própria dinâmica da natureza.” A partir da premissa da mutação da paisagem em

âmbitos espacial e temporal, Carl Sauer ressalta que:

Não podemos formar uma idéia de paisagem a não ser em termos de suas relações associadas ao tempo, bem como suas relações vinculadas com o espaço. Ela está em um processo constante de desenvolvimento ou dissolução e substituição. Assim no sentido corológico, a alteração da área modificada pelo homem e sua apropriação para o uso são de importância fundamental. A área anterior à atividade humana é representada por um conjunto de fatos morfológicos. As formas que o homem introduziu são um outro conjunto. (SAUER, 1998, p.42).

Assim, a paisagem esta em constante mudança, sendo que ela pode ser subdivida

em dois conjuntos: a das modificações no meio fomentadas pelo homem e das

configurações anteriores as práticas humanas. Deste modo, a paisagem pode ser

analisada por sua importância multifacetada, ou seja, a partir de seus elementos

físicos, de seus aspectos culturais, de seu âmbito econômico, de sua história, etc.

Logo, a paisagem é um elemento de estudo multidisciplinar.

Conforme expõem Eduardo Yázigi e Carl Sauer sobre as mutações na paisagem,

estas se particularizam por categorias, deste modo Dollfus (1991) caracteriza as

paisagens em três classes: as paisagens naturais: que não possuem vestígios

recentes da ação do homem; as paisagens modificadas: as quais possuem traços de

intervenção do ser humano em algum momento (queimada, práticas pastoris); e as

paisagens organizadas: que se transformam por ações planejadas do ser humano

sobre o meio natural. Para Petroni e Kenigsberg (apud BOULLÓN, 2002, p. 118) a

paisagem divide-se em:

a paisagem natural: conjunto de caracteres físicos de um lugar que não foi modificado pelo homem; paisagem cultural: paisagem modificada pela presença e atividade do homem (lavouras, diques, cidades); paisagem urbana: conjunto de elementos plásticos naturais e artificiais que compõem a cidade: colina, edifícios, ruas, praças, árvores, focos de luz, anúncios, semáforos etc.

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Em uma cidade, por exemplo, podem-se encontrar estes tipos de paisagem

relacionados entre si ou em áreas delimitadas, mesmo que a paisagem natural seja

menos percebida, pois dificilmente o homem não interfere em elementos

paisagísticos inseridos dentro da área urbana. Rodriguez et al (2007) classifica e

define os seguintes tipos de paisagem: a natural que caracteriza-se pela interação

entre os elementos e componentes de origem natural; e a antroponatural que

condiciona-se a uma paisagem que já sofreu alguma intervenção, sendo que os

elementos naturais são dependentes das ações realizados pelos seres humanos.

A partir destas características peculiares, ocorre que o homem ao mesmo tempo em

que está em contato com as paisagens, intervém neste elemento mudando sua

configuração, consequentemente, com alguma finalidade. E um dos vieses é “usar”

a paisagem como um recurso para fomentar o turismo.

Logo, Cruz (2003) diz que as paisagens em geral são elementos visíveis dentro do

espaço geográfico, consequentemente, são importantes para a atividade turística

seja na constituição dos lugares turísticos ou no direcionamento dos fluxos turísticos.

Porém, ressalta que “as paisagens turísticas nada mais são, também, que

invenções, que criações culturais”, e citando Luchiari (1999) menciona que “as

paisagens turísticas não existem a priori, como um dado da natureza. Elas são uma

invenção cultural.” (CRUZ, 2003, p. 10). E esta criação paisagística tem como

objetivo a captação de turistas, através da atividade turística, o que

consequentemente, contribui para a arrecadação de divisas.

Então, a paisagem torna-se um recurso para o turismo. Deste modo, Castro (2002)

diz que por uma paisagem conter um conteúdo simbólico, ela é aproveitada pelo

turismo como um recurso. Sendo que este recurso turístico é empregado por

diversos países como uma mercadoria (MENESES, 2002), ou seja, na prática, a

paisagem é um objeto de venda para o turismo. E pelo grande apelo visual contido

em muitas paisagens, órgãos públicos e a iniciativa privada vinculadas ao turismo,

“vendem” estes elementos para o turista, sendo que as ações para isso, como

ressalta Cruz (2002), são realizadas por um marketing fomentado para as

paisagens, o qual prolifera problemas sociais, pois um lugar se privilegia diante

outro.

Portanto, esconder aquelas paisagens que destoam o visual de uma localidade e

enaltecer aquelas agradáveis aos olhos humanos são estratégias fomentadas pelo

marketing turístico, pois como destaca Rodrigues (1997, p. 72) “a paisagem é um

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notável recurso turístico, desvelando alguns objetos e camuflando outros, por meio

da posição do observador, quando pretende encantar e seduzir.”

A partir das considerações apresentadas, surgem interrogações quanto ao uso das

paisagens pelo turismo: há como planejar a utilização das paisagens pelo turismo de

outra forma? Existem possibilidades de gestores públicos e iniciativa privada

pensarem primeiramente na população local e posteriormente no turismo?

O turismo e as paisagens: uma visão díspar

Evidentemente, nota-se que o turismo não se preocupa em resguardar as paisagens

como frutos históricos e culturais de uma localidade, pois

As paisagens artificiais criadas pelo turismo destoam seus entornos, tanto no que se refere às características naturais e construídas desses entornos. A natureza e cultura recriadas são fruto de intervenções planejadas [...] não são produtos da história natural e social, são produtos do turismo (CRUZ, 2002, p. 112)

Acerca disso, Rodrigues (2000, p. 181) comenta que o turismo “é uma atividade que

sacraliza a natureza e, ao mesmo tempo, submete-se ao mundo da mercadoria, pois

paga-se para desfrutar da natureza, da paisagem natural ou do ambiente natural ou

construído.”

Por ser uma atividade que nasceu e se desenvolveu no capitalismo, o turismo

contempla um mundo da necessidade do indivíduo se afastar do cotidiano, em

busca de formas de lazer, entretenimento ou descanso. Embora referida

necessidade, nota-se no planejamento e na gestão do turismo que o intuito é

atender bem os visitantes, pois estes ali depositarão seus recursos financeiros,

contudo não há preocupação com o residente daquele local. Assim, o que interessa

para gestores do turismo (tanto de órgãos públicos como da iniciativa privada) é

desenvolver a atividade, aproveitando isso para a acumulação de capital. E a

paisagem é um recurso fundamental para esta finalidade comercial, pois como diz

Yázigi (2002, p. 12) “[...] no mais das vezes, a displicência na exploração de

recursos paisagísticos tem origem na fraqueza da administração pública em favor de

arbítrios pessoais.”

Logo, não há como desprezar o poder que o Estado tem sobre a paisagem, ainda

que em vários casos eles não se atenham a essas diligências mencionadas. Como

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diz Yázigi (2003, p. 79) “governos de todos níveis são legitimamente autorizados a

intervir na paisagem e de fato intervêm a cada momento.” Contudo, “seria muito

primário criticar os governos em bloco, pelo que já passou e do quê, muito hoje

estão particularmente isentos. Mas nunca é demais questionar sobre o que está

sendo feito de acordo com as exigências da modernidade” (YÁZIGI, 2003, p. 79).

Para pensar por outro viés, ou seja, uma visão contrária a imposta para o turismo,

salienta-se que “[...] com algumas referências muito mais ligadas à vida do que ao

turismo propriamente dito, é que se propugna por um meio melhor. Que como já

disse, interessando ao morador acabará interessando ao turismo” (YÁZIGI, 2003, p.

80).

Deste modo, esquece-se em um primeiro momento do turista, e preocupa-se

veemente com a população local e a partir das palavras de Yázigi (2003, p. 69)

chega-se a uma discussão quanto à preservação da paisagem:

Entretanto, uma clara advertência desde o começo: ao defender a preservação da paisagem lato sensu – natural e urbana – penso mormente em sua importância para o habitante do lugar, de que é tributária e só depois, no turista. Descarto assim, o caráter do voyerismo que o mundo inteiro tenta imprimir ao turismo. É que para o residente do lugar, a paisagem e o espaço são virtualmente conclamados a desempenhar várias funções, entre as quais: a de lugar mediador para a vida e as coisas acontecerem – não como receptáculo, mas sujeito a permanente transformação; a de referências múltiplas: geográficas, psicológicas (lúdicas, efetivas), informativas; a de fonte de contemplação que, como a arte, pode significar um contraponto ao consumo; a de fonte de inspiração e, sobretudo, a de alimento à memória social, através de todas as suas marcas.

E este princípio tange que a população autóctone é que se depara todos os dias

com as paisagens inseridas em sua localidade, independentemente de qualquer

turismo que esteja acontecendo naquele local, pois na rotina diária de uma pessoa,

desde o momento em que ela sai de sua residência para trabalhar, até o momento

de seu retorno, ela se depara com diversos tipos de paisagem.

E esta percepção condiz com a importância da paisagem para o habitante, pois “a

paisagem faz parte do dia a dia de todas as pessoas. Mesmo que sem perceber, é a

paisagem fonte de inspiração para as atividades diárias [...] Depende da paisagem

para ficarmos dispostos e muitas vezes desanimados” (BOLSON, 2004, s/p). Porém,

nota-se que a preocupação não abraça primeiramente a comunidade vivente

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turismo

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naquelas áreas com que a paisagem inspira o residente no seu cotidiano, mas

aqueles que depositarão no município suas divisas.

Contudo, crê-se que há soluções para que seja mudada esta realidade, entretanto a

primeira iniciativa deve ser da própria população de um município, pois como

salienta Yázigi (2003, p. 85) “só a população conscientizada poderia reforçar a

resistência.” Mas, ainda, há esperança em que novos governantes possuam

consciência para estas parciais abdicações econômicas do turismo. Logo, há

necessidade que estas novas pessoas possuam uma instrução para entender que a

paisagem deve ser vista como um elemento em que o residente local vai usufruir

bem mais que o turista.

Então, as ações comunitárias são necessárias para interpelar o sistema e questionar

se as intervenções na paisagem estão sendo feitas realmente com preocupação à

comunidade local ou se essas têm por objetivo somente fins lucrativos. Logo, a

paisagem possui importante valor simbólico e além da realidade natural (ou

econômica no caso do turismo), ela faz parte também da cultura (CASTRO, 2002).

Acerca que os órgãos públicos do turismo devem ter uma primeira preocupação com

a população local, sendo que é a comunidade que possui mais afinidade com as

paisagens, principalmente pelos valores simbólicos ou culturais, faz-se um viés com

a geografia humana, que como indica Claval (2007, p. 46) “o que é fundamental para

os geógrafos de inspiração humanista ou radical não é a distribuição espacial dos

fatos sociais, mas a maneira como as pessoas vivem nos lugares onde residem ou

os que visitam, deles extraindo uma experiência”.

Mesmo, através destes pressupostos, não é possível afirmar que o turismo não é

importante para uma sociedade. O que se necessita então é relacionar de maneira

harmônica a atividade turística e a população local, pois como indica Ruschmann

(1997) se trabalhar e planejar o turismo de maneira que não descaracterize a

paisagem local, bem como não coloque em risco o modo de vida e o estilo

tradicional de uso e ocupação do espaço, a atividade turística surge como alternativa

de renda para a população autóctone. E, ainda, como não se pode desprezar a

atividade turística, pois Meneses (2002, p. 53) diz que “[...] o turismo é uma das

indústrias de maior peso econômico em nossos dias, em crescimento contínuo, e

capaz até mesmo de sustentar países desprovidos de outros recursos”.

Portanto, unindo órgãos públicos conscientes e população ativa e com desejo de

receber o turismo, faz-se uma atividade turística capaz de sustentar paisagens de

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turismo

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modo que não as degrade e nem descaracterize os valores que está possui para

uma sociedade.

Considerações finais

A partir dos pressupostos teóricos apresentados nota-se que o ser humano é o

principal mediador das mudanças que ocorrem no espaço, logo é ele quem

determina o molde das paisagens, bem como as transforma conforme suas

necessidades. Contudo, estas alterações são, em muitos casos, prejudiciais a outros

indivíduos que também se interagem com os elementos do meio. No caso do

turismo as modificações no espaço são evidentes, pois o que se procura é benefício

capital.

Vená (2007) diz que este processo de modificação da paisagem denomina-se

transformação antropogênica da paisagem, sendo que os resultados das

modificações resultam em uma paisagem antrópica. Deste modo, salienta que

“nesse processo de transformação antropogênica, o homem modifica a natureza,

pois introduz elementos novos, muitas vezes prejudiciais a ela.” (VENÁ, 2007, p. 21).

E estes elementos modificados, inseridos na natureza, partem de necessidades

econômicas, pois de acordo com Pires (2000) a paisagem torna-se um elemento

substancial para o turismo, pois paisagem e turismo estão intensamente ligados,

sendo que a paisagem é um recurso para o desenvolvimento e consolidação da

oferta turística.

Assim, por usufruir fundamentalmente o espaço, a prática do turismo colabora para

a destruição de paisagens ou acarreta mudanças drásticas em um lugar. Assim, o

que se mostra neste ambiente, por gestores do turismo, são somente os objetos que

seduzem o seu público-alvo; e as paisagens degradadas são ocultadas da visão dos

consumidores, para que não haja um declínio da atividade turística. Todavia,

interroga-se: mas a paisagem não preservada estará em contato cotidianamente

com os turistas ou com o morador? Caso, o turista execre aquela paisagem, quais

são os sentimentos da população local perante esta incúria?

Outro empecilho encontrado é a maior valorização de um lugar perante outro, pois

um não possui as mesmas características paisagísticas que possam encantar e,

consequentemente, acarretar a vinda de turistas. Deste modo, empreendedores

turísticos buscam desenvolver, nestes lugares “menos desprovidos” de paisagens,

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estratégias para fomentar o turismo. Ocorre, portanto, uma descaracterização total

do lugar, gerando impactos negativos, ou então, uma reprodução de um lugar que a

atividade turística é consolidada. Logo, este ambiente torna-se um não-lugar. Para

tanto, sobre esta terminologia destaca-se que

O espaço habitado era feito de lugares. Comporta agora “não-lugares”. Em face a estas áreas onde só se lêem geometrias a mais frias, os grupos acham-se esvaziados de conteúdo. Eles não conseguem se enraizar ao território para construir suas identidades. Os não-lugares engendram sociedades em vias de desculturação. A arquitetura e o urbanismo pós-modernos nasceram como uma reação a estes excessos (CLAVAL, 2007, p. 318).

Contudo, percebendo que a atividade turística possui relativa parcela neste

processo de reprodução de não-lugares, bem como na desculturação de

sociedades, tem-se, ainda, uma esperança condicional no turismo, pois se for

planejado de maneira responsável e que proporcione um consenso entre turista e

habitante há possibilidades de se preservar as paisagens. Como diz Yázigi (2003, p.

73): “Tenho alguma esperança no turismo, porque se trata de uma atividade que, se

bem conduzida, poderá promover a paisagem de modo conseqüente, ao contrário

de outras ações econômicas que a destroem [...]”

Assim, o objetivo desta discussão não é criticar ou reprovar o turismo, mas deixar

uma reflexão sobre: como esta atividade econômica pode contribuir para a

preservação das paisagens? Mesmo, entendendo que é um processo complexo de

contornar, crê-se que com trabalhos, como este, que se interrogam os principais

envolvidos neste processo, ou seja, administradores públicos do turismo e empresas

ligadas a atividade.

Portanto, o que se pretende com este trabalho não é extinguir as discussões sobre o

tema, mas abrir espaço para outros diálogos, no intuito de propiciar um pensamento

dialético entre os prós e contras da utilização dos elementos paisagísticos pela

atividade turística.

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2003.

BARTEKO, R.; ANDRADE, A.R. A influência da variabilidade climática (Evento Enos) na produtividade de soja no Município de Irati-PR

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A INFLUÊNCIA DA VARIABILIDADE CLIMÁTICA (EVENTO ENOS) NA PRODUTIVIDADE DE SOJA NO MUNICÍPIO DE IRATI-PR

REGIANE BARTEKO1 APARECIDO RIBEIRO DE ANDRADE2

Resumo: As interferências ou variabilidades climáticas ocorrem e afetam a agricultura e a sociedade em geral. Desta forma buscou-se analisar as possíveis intervenções dos elementos do clima na produção e produtividade agrícola, correlacionando, principalmente, o evento ENOS (El Niño Oscilação Sul). Foi selecionada a safra de 2009 e a cultura da soja (Glycine Max (L.) para o estudo, numa área rural do município de Irati – Paraná. Os dados foram coletados durante um ano, num miniabrigo localizado a 25º30’ S e 50º 41’ O, contendo psicrômetro, termômetro de mínima e máxima e pluviômetro. A soja adapta-se melhor à temperaturas em torno de 30ºC. A média de produtividade para o município é de 2.750 kg/ha, avaliados da safra de 1999 a 2009. Sendo analisado uma área de 72 hectares localizada dentro do município, e observou-se que na safra de 2009, superou a média de produtividade municipal que foi de 2.950 kg/ha, nesta área ficou entre 3.250 kg/ha e 4.250 kg/ha. Dentro do período de desenvolvimento da planta o total pluviométrico nesta área, de outubro/2009 até março/2010, acumulou 1.602mm, sendo bem distribuídos. Este ano foi um ano de El Niño de forte intensidade, e os resultados se mostraram positivos na produtividade da soja. Na safra 2004/2005 de outubro/2004 até março/2005o total pluviométrico foi de 715mm, com uma média de produtividade de 2.430 kg/ha. Neste período o El Niño foi de fraca intensidade. Dessa forma, conclui-se que nos períodos que não ocorre déficit hídrico (anos de El Nino) a produtividade da soja é beneficiada. Palavras-chave: Variabilidade Climática, Soja, Produtividade

1 Acadêmica de Graduação do Curso de Geografia da Unicentro (campus de Irati). e-mail: <[email protected] > 2 Professor Adjunto Doutor do Departamento de Geografia da Unicentro (campus de Irati). e-mail: <[email protected]>

ALMEIDA, S. C.; ANTONELI, V. Infiltração de água no solo sob três tipos de uso do solo na Floresta Nacional de Irati (FLONA)

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INFILTRAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO SOB TRÊS TIPOS DE USO DO SOLO NA FLORESTA NACIONAL DE IRATI (FLONA)

SUELLEN CHEMIM DE ALMEIDA1 VALDEMIR ANTONELI2

Resumo: Esta pesquisa teve como objetivo comparar a capacidade de infiltração de água no solo mensurada durante o período de setembro de 2009 á julho de 2010 na Floresta Nacional de Irati (FLONA). Foram mensurados três tipos de uso do solo; Floresta Ombrófila Mista (Mata de Araucária), Reflorestamento de Pinus sp e Reflorestamento de Araucária angustifólia. A mensuração da infiltração foi realizada através de um infiltrômetro manual com anel duplo, sendo que, em cada uso, foram realizadas quatro repetições em cada período. Verificou-se que a infiltração de água no solo na área de reflorestamento de pinus foi de 13,3% superior em relação Mata de Araucária e 17,4% em relação ao Reflorestamento de Araucária.

Palavras-chave: Infiltração, Uso do solo, Geomorfologia Introdução

O presente estudo teve por objetivo avaliar os percentuais de infiltração de água no

solo em três tipos de uso do solo na Floresta Nacional (Flona) de Irati Paraná. Serão

mensurados os talhões com Floresta Ombrófila Mista (Mata de Araucária),

reflorestamento de pinus sp e reflorestamento de Araucária angustifólia (Figura 2).

A FLONA de IRATI, criada pela Portaria 559/68, encontra-se situada no Município de

Fernandes Pinheiro, distando 9 Km da cidade de Irati. Por estar localizada numa

região madeireira e apresentar reflorestamentos com idade de até 50 anos (de

Araucária angustifólia), o grande potencial da FLONA é a exploração madeireira.

Porém outras atividades, não menos importantes, também podem ser exploradas

como: produção de mudas, apicultura, recreação e lazer, resinagem, exploração de

folha de erva-mate, manejo de fauna, criação extensiva de gado, pesquisa e

educação ambiental.

1 Graduanda do Curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste –UNICENTRO Campus de Irati; – E-mail: [email protected] 2 Professor M.Sc. do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste –UNICENTRO Campus de Irati; E-mail: [email protected]

ALMEIDA, S. C.; ANTONELI, V. Infiltração de água no solo sob três tipos de uso do solo na Floresta Nacional de Irati (FLONA)

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O monitoramento dos índices de infiltração de água no solo em três tipos de uso do

solo serviu de base para avaliar a influência de diferentes tipos de florestas nos

processos de infiltração.

A infiltração de água no solo envolve três processos interdependentes: entrada de

água no topo do solo, armazenamento dentro do solo e transmissão de água através

do solo (REICHARDT, 1990). Qualquer alteração em um desses processos altera a

resposta hidrológica de uma vertente, sobretudo, a alteração na infiltração no topo

do solo que é influenciado por vários fatores como: intensidade e duração da chuva,

umidade antecedente, textura do solo, cobertura vegetal e uso da terra (manejo)

(DUNNE e LEOPOLD, 1978; McCAIG; 1985; IMENSON, 1985).

De acordo com CARDURO e DORFMAN (1988), condições, como porosidade,

umidade, atividade biológica, cobertura vegetal, rugosidade superficial e declividade

do terreno, dentre outras, influem grandemente na infiltração da água no solo.

A partir do início da precipitação o solo começa a aumentar seu teor de umidade,

diminuindo assim o poder de infiltração. A intensidade da precipitação é que indica o

potencial de absorção de água no solo. Se a intensidade da precipitação for igual ou

inferior a capacidade de infiltração, não ocorrerá escoamento superficial, mas se a

intensidade da precipitação exceder a capacidade de infiltração, o excedente iniciará

um pequeno fluxo na superfície.

SILVA (1999), afirma que após o término da precipitação, o solo começa perder

umidade por evaporação, absorção através das plantas, escoamento sub-superficial

ou hipodérmico, que se processa nas primeiras camadas do solo após a infiltração

da água da chuva, e escoamento subterrâneo ou escoamento de base, que é a água

que migra em direção ao lençol freático, sendo responsável pelo abastecimento dos

cursos de água em épocas de estiagem.

Solos sob florestas se caracterizam por expressiva camada de resíduos vegetais

(serrapilheira) e por um horizonte A rico em matéria orgânica. A matéria orgânica

atua na manutenção dos agregados do solo, preservando sua porosidade

(BERTONI e LOMBARDI NETTO 2005).

LIMA (1996) complementa que nas plantações industriais durante o preparo do solo

e período de crescimento das mudas, o solo permanece praticamente sem proteção.

Os regimes de corte raso ao final do período de rotação são fatores que também

podem resultar em perdas consideráveis de solo por erosão. As perdas de solo e de

nutrientes prejudicam tanto a qualidade da água quanto a manutenção da

ALMEIDA, S. C.; ANTONELI, V. Infiltração de água no solo sob três tipos de uso do solo na Floresta Nacional de Irati (FLONA)

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produtividade; dessa forma, é muito importante o manejo adequado das plantações

florestais.

Segundo ANTONELI (2004), a cobertura florestal, através da interceptação,

influencia a redistribuição da água da chuva, em que as copas das árvores formam

um sistema de amortecimento, direcionamento e retenção das gotas que chegam ao

solo, afetando a dinâmica do escoamento superficial e o processo de infiltração.

Portanto, a vegetação funciona como reguladora do fluxo natural das águas, sendo

um condicionante físico de maior importância na ocupação de uma determinada

área.

COELHO NETO (1995), afirma que a vegetação tem como uma de suas múltiplas

funções o papel de interceptar parte da precipitação (P), pelo armazenamento de

água nas copas arbóreas (A), de onde é perdida para a atmosfera através da

interceptação da vegetação, a água atinge o solo por meio das copas

(atravessamento At) e através do escoamento pelos troncos Ft (fluxo de água no

tronco).

O dossel de folhas intercepta em média de 10% a 25% da precipitação. Durante

uma chuva de pouca intensidade e de pequena duração, a interceptação chega a

atingir 100 %, ou seja, a água não entra em contato com o solo. Quando existe um

excedente de água e a mesma chega ao solo, fica armazenada na porção externa

superior do solo, que comporta os detritos orgânicos que caem da vegetação

(galhos, folhas, frutos sementes e flores), chamadas de serrapilheira (As). A

serrapilheira é formada por duas camadas que dão origem aos horizontes O1 e O2

do solo. O horizonte O1 é composto por detritos recém caídos, que ainda não

sofreram decomposição. O horizonte O2 no qual os detritos já sofreram

decomposição sendo transformado em matéria orgânica, rica em húmus que além

de fortalecer as raízes, tem maior facilidade de reter a água, contribuindo assim com

a frenagem da erosão.

LULL (1963), analisando a infiltração em diferentes fases sucessionais, em uma

floresta na Pensilvânia, concluiu que a infiltração é maior na floresta clímax onde a

infiltração média foi de 76,2 mm.h-1; já em uma floresta de pinheiro com

aproximadamente 60 anos a infiltração foi de 62,7 mm.h-1, na floresta de pinheiro

com 30 anos foi de 74,9 mm.h-1 e na pastagem abandonada observou-se infiltração

de 42,7 mm.h-1.

ALMEIDA, S. C.; ANTONELI, V. Infiltração de água no solo sob três tipos de uso do solo na Floresta Nacional de Irati (FLONA)

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De modo geral, pode-se dizer que a taxa de infiltração é diretamente proporcional à

densidade e à idade do povoamento como também ao tamanho da cobertura

florestal. Ou seja, quanto maior a cobertura e a densidade, e mais idade possuir a

floresta, maior será a infiltração.

Portanto, a água que infiltra no solo movimenta-se através do espaço poroso

existente, através do processo de percolação e, eventualmente, atinge uma zona

totalmente saturada, formando o lençol freático, que irá alimentar rios e oceanos,

dando assim continuidade ao ciclo hidrológico.

Os percentuais de infiltração, são influenciados também pelo uso e ocupação do

solo, principalmente em áreas onde há constante pisoteio dos animais e áreas

agricultáveis.

ANTONELI e THOMAZ (2009), ao mensurarem as taxas de infiltração em 7 (sete)

tipos de uso do solo em período seco (agosto) e período úmido (dezembro) na Bacia

do Arroio Boa Vista – Guamiranga Paraná, concluíram que, a infiltração de água no

solo mensurada nos diferentes usos nos meses de agosto (período seco) e

dezembro (período úmido) apresentou diferenças estatísticas significativas. A

infiltração foi maior nos ensaios realizados em agosto, sendo que o uso com

agricultura mecanizada apresentou a maior taxa de infiltração total nos dois períodos

avaliados.

Em relação à redução na taxa de infiltração total em comparação a agosto e

dezembro, segundo os mesmos autores, verificou-se que os usos com capoeira e

reflorestamento com eucalipto registraram as menores reduções na infiltração. Os

usos da terra com floresta, agricultura mecanizada, Faxinal e erva-mate

apresentaram reduções na taxa de infiltração semelhante. Portanto, o padrão e a

dinâmica do uso da terra na área de estudos, apresentam diferentes respostas na

capacidade de infiltração de água.

DALLA ROSA (1981), afirma que em solos intensamente cultivados pelos preparos

convencionais, o surgimento de camadas compactadas, com redução do volume de

macroporos e aumento de microporos, determina uma diminuição do volume de

poros ocupado pelo ar e um aumento na retenção de água. Nos processos de

redução dos percentuais de infiltração de água no solo, ocorre um aumento nas

taxas de escoamento superficial e conseqüentemente uma taxa maior de remoção

do solo. SCHICK et al. (2000).

ALMEIDA, S. C.; ANTONELI, V. Infiltração de água no solo sob três tipos de uso do solo na Floresta Nacional de Irati (FLONA)

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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

SHPAK (1971), conclui que existem variações no armazenamento de água no solo

sob diferentes tipos de vegetação. Em suas pesquisas em solo russo, conclui que na

estação de crescimento as camadas superficiais em áreas abertas secam mais

rapidamente do que em áreas florestadas, ao passo que no outono as camadas

mais profundas do solo são mais secas sob florestas do que em áreas abertas.

Conclui ainda que tais variações dependem do tipo de solo, e principalmente do uso

e ocupação deste solo.

Segundo BERTOL et al. (2001) em solos intensamente cultivados o surgimento de

camadas compactadas determina a diminuição do volume de poros ocupado pelo ar

e o aumento na retenção de água. Em decorrência disto, os autores concluem que

há uma diminuição da taxa de infiltração de água no solo, com conseqüente

aumento das taxas de escoamento superficial.

Caracterização da área de estudos Este trabalho foi realizado na Floresta Nacional de Irati (Flona de Irati), uma Unidade

de Conservação Federal de Utilização Sustentável, criada como Parque Florestal,

em 1946, e transformada em Flona em 1968. A Flona de Irati, com 3.395 ha, está

situada nos municípios de Fernandes Pinheiro e Teixeira Soares (Figura 1), na

coordenada 25°21’ de latitude sul e 50°35’de longitude oeste, tendo como limite os

municípios de Imbituva e Irati, no Segundo Planalto Paranaense, Microrregião

Colonial de Irati (MAZZA 2006).

É uma área relativamente extensa, coberta de vegetação de grande porte, composta

por espécies nativas e exóticas, a uma altitude média de 820 metros acima do nível

do mar, com relevo suave ondulado. O clima regional, conforme Köppen é do tipo

Cfb - Subtropical Úmido Mesotérmico, caracterizado por verões brandos, geadas

severas e freqüentes num período médio de ocorrência de 10 a 25 dias anualmente

e sem estação seca. Os solos as caracterizados por Podzólico Vermelho-Amarelo e

Latossolo Vermelho-escuro distrófico, com material originário do argilito do Grupo

Passa Dois e depósitos quaternários (Figura 1).

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Figura 1. Localização geográfica da Floresta Nacional de Irati. Fonte: MAZZA, 2006.

Com base nos dados apresentados por Mazza et. al. (2006), a Flona apresenta 6

classes de uso do solo (tabela 1).

Tabela 1. Classes de uso do solo e suas respectivas porcentagens Classe Área (ha) %

Agricultura 1,78 0,05 Capoeira 150,53 3,99 Mata nativa 2.240,45 59,36 Reflorestamento 802,4 21,26 Solo exposto 2,82 0,07 Mata de várzea 576,55 15,27

Os dados da tabela 01 são representados em um mapa de distribuição das classes

de uso do solo (Figura 2).

Segundo MAZZA (2005), as características do solo da Flona de Irati podem ser

divididas em 07 classes de solo distribuídas ao longo de sua área (Figura 3).

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Área de Estudo

Figura 2. Mapa de distribuição das classes de uso do solo. Fonte: MAZZA, 2006.

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Figura 3. Mapas de distribuição dos solos da Flona. Fonte: MAZZA, 2005.

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Os tipos de solos encontrados foram apresentados em uma tabela, juntamente com

suas respectivas porcentagens da área. (tabela 2).

Tabela 2. Distribuição das classes de uso do solo. Classe Área (ha) %

1

Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico câmbico, álico.

0.08

2

Associação Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico típico+ Cambissolo Háplico Distrófico típico + Latossolo Vermelho Distrófico típico.

9.59

3

Associação Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico típico + Latossolo Bruno Distrófico típico.

0.39

4

Associação Cambissolo Háplico Distrófico típico + Latossolo Bruno Distrófico típico.

0.10

5

Associação Cambissolo Háplico Distrófico típico, álico + Alissolo Crômico Húmico típico.

25.42

6

Associação Latossolo Vermelho Distrófico típico, álico + Nitossolo Hápico Distrófico típico, álico.

26.62

7 Latossolo Vermelho Distrófico típico, álico 37,80 Fonte: MAZZA, 2005.

Materiais e métodos

Para a mensuração de infiltração de água no solo nos três tipos de usos, foi utilizada

a metodologia proposta por LINSLEY, et al. in VILLELA (1975), constituído de dois

cilindros concêntricos (400 e 900 mm) e uma bureta graduada de PVC. Segundo

ANTONELI e THOMAZ (2009) o anel duplo tende a evitar que haja muita

transferência de água lateral, uma vez que, a água é adicionada no anel externo e

no anel interno, onde será feita a leitura da infiltração. (Figura 4)

Esse procedimento faz com que a infiltração ocorra verticalmente e não ocorra super

estimativa na taxa de infiltração. Os anéis foram enterrados cuidadosamente em

torno de 5 cm no solo para não perturbar em excesso a camada superficial do solo,

pois esta perturbação promoveria uma diferenças nos percentuais de infiltração.

Posteriormente, a água foi adicionada constantemente, mantendo-se uma lâmina de

2 a 5 cm de altura dentro dos anéis.

A mensuração foi feita durante uma hora em intervalos de 5 minutos (adotado como

tempo padrão), sendo realizadas mensurações mensais. A taxa de infiltração básica

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(infiltração constante) foi considerada quando a leitura do anel interno se repetiu

pelo menos três vezes seguidas (BRANDÃO et al., 2002). (Figura 4)

Figura 4. Infiltrômetro de anéis. Fonte: ALMEIDA (2010).

Vale ressaltar que o tempo de mensuração de sessenta minutos pode não ser

suficiente para que este padrão ocorra. Mas este estudo não se buscou

necessariamente obter a taxa de infiltração básica, mas sim comparar a infiltração

(total e velocidade) em diferentes usos no tempo de sessenta minutos. Não foi

estimada a umidade antecedente do solo, devido a dificuldade de mensuração logo

após a ocorrência dos eventos, portanto a pesquisa se limitou apenas a avaliar a

diferença de infiltração entre os três tipos de uso do solo.

Resultados e Discussão

Quando se propõe a avaliar a taxa de infiltração de água no solo, devem-se levar em

consideração alguns fatores que influenciam diretamente nessas taxas, como por

exemplo, a estrutura da vegetação, tipo de solo, declividade.

Quanto à estrutura da vegetação, apesar das três áreas estarem sob uma mesma

estrutura geomorfopedológica, ela se diferencia pela forma de manejo. As áreas de

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reflorestamento de pinus sp, se caracterizam pela sua homogeneidade e pela maior

quantidade de deposição de serrapilheira (observação em campo). Já o

reflorestamento de araucária, apresenta um dossel parcialmente “fechado” pela

própria araucária, e um sob bosque com espécies nativas. Por outro lado à mata de

araucária nativa apresenta uma estrutura diferenciada, pois o dossel é composto

não só por araucárias, mas sim por outras espécies nativas. Essa diferenciação na

estrutura da vegetação implica diretamente no índice de atravessamento da água da

chuva.

Portanto, a distribuição das precipitações surge como um dos principais fatores que

influenciam na taxa de infiltração. Neste sentido, fez-se uma tabela da distribuição

diária da precipitação ao longo do período de monitoramento onde foram estimados

os números de dias em que ocorreram os eventos, e a quantidade de precipitação

(Tabela 3).

Tabela 3. Distribuição da precipitação ao longo do monitoramento.

Meses Precipitação mm

nº de chuva

< 10 mm

11 a 20 mm

21 a 40 mm

40 a 60 mm

>60 mm

set/09 341,5 11 3 3 2 1 2 out/09 208,4 14 7 4 2 1 - nov/09 186,3 14 8 3 2 1 - dez/09 110 14 9 5 - - - jan/10 232,9 20 12 4 1 3 - fev/10 156,5 12 7 4 - - 1 mar/10 216,5 11 7 2 1 1 abr/10 322,1 11 5 1 2 1 2 mai/10 75 9 6 3 - - - jun/10 80 7 6 1 - - - Total 1929,2 123 70 30 10 8 5

Fonte: ALMEIDA, 2010.

Com base nos dados apresentados pela tabela 3, verifica-se que a grande maioria

das precipitações são inferiores a 10 mm. Vale ressaltar que estes valores de

precipitação são apenas da quantidade, onde não foi possível avaliar a intensidade

da precipitação. As precipitações inferiores a 10 mm, correspondem a 56,9% do total

dos eventos, o que implica em uma dinâmica diferenciada nos processo de

infiltração. Pois chuvas de fraca intensidade apresentam valores maiores de

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interceptação, e a quantidade de água que atravessa sofre influência direta da

retenção da água na serrapilheira.

Nas palavras de BLACKE 1975, chuvas inferiores a 3 mm a precipitação é toda

absorvida pela vegetação. Isso significa que nos meses em que houve um aumento

significativo nos eventos inferiores a 10 mm. Os índices de atravessamento foram

menores.

O mês de setembro de 2009 o percentual de chuvas inferiores a 10 mm foi de

27,7%. Sendo que cerca de 27,7% foram chuvas acima de 40 mm. Já junho de 2010

apresentou o maior percentual de eventos inferior a 10 mm, sendo que dos 7

eventos, 6 apresentaram valor inferior a 10 mm (85%).

Os meses de setembro e abril apresentaram os maiores valores de precipitação

maior que 20 mm, em torno de 45,5% do total de eventos, sendo que os referidos

meses à precipitação > 60 mm foi responsável por 18%. Essas chuvas excepcionais

implicam diretamente nos percentuais de infiltração. Neste tipo de evento, a

interceptação é menos eficiente, o que implica em uma maior quantidade de água

que chega até o solo.

Quando se avalia a pluviosidade e a correlaciona com as taxas de infiltração, deve-

se levar em consideração a característica da vegetação, pois mata da araucária

(nativa) apresenta três estágios; o dossel, o sub bosque e a vegetação herbácea,

isso implica em uma dinâmica diferenciada dos índices de atravessamento, pois

cada estrato arbóreo acaba armazenando uma certa quantidade de água.

A mata de araucária (reflorestada) também apresenta características semelhantes, o

que diferencia é a população de Araucária angustifolia que é plantada em um certo

espaçamento, evitando assim a superpopulação de espécies em um determinado

local e uma redução da mesma espécie em outro local, os quais acabam formando

mosaicos das espécies.

Com o término do monitoramento, nas três áreas distintas, os dados foram

tabulados, sendo avaliada a média mensal de cada tipo de uso, (Tabela 4).

Com base na tabela 4, conclui-se que a distribuição da infiltração nas três áreas

distintas não apresenta diferença significativa. Entre as áreas de mata nativa e

reflorestamento de araucária, a variação foi muito pequena, sendo que a mata nativa

a infiltração foi 3,6% maior em relação ao reflorestamento de araucária. Esta

pequena variação entre as duas áreas é explicada pelas características da

vegetação, onde a estimativa da taxa de serrapilheira é praticamente igual.

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Tabela 4. Percentual de infiltração mensal de cada tipo de uso do solo correlacionada com a precipitação mensal.

mês Reflorest pinus

% Mata nativa

% Reflorest Araucária

% chuva %

set/09 21,5 6,6 22,1 7,74 23,7 8,60 341,5 17,7 out/09 17,6 5,4 19,1 6,69 22,3 8,09 208,4 10,8 nov/09 30,7 9,5 27,5 9,64 28,8 10,45 186,3 9,7 dez/09 33 10,2 28,1 9,85 30,6 11,11 110 5,7 jan/10 38,6 11,9 33 11,56 27,3 9,91 232,9 12,1 fev/10 56,7 17,5 38,3 13,42 25,9 9,40 156,5 8,1 mar/10 21,4 6,6 15,9 5,57 18,7 6,79 216,5 11,2 abr/10 16,5 5,1 19,8 6,94 23,7 8,60 322,1 16,7 mai/10 42 13,0 38,1 13,35 34 12,34 75 3,9 jun/10 45,5 14,1 43,5 15,24 40,5 14,70 80 4,1 média 32,35 100 28,5 100 27,5 100 1929 100

Fonte: ALMEIDA, 2010.

O reflorestamento de pinus sp proporcionou um aumento maior na estimativa de

infiltração em relação aos outros dois tipos de uso. A infiltração neste domínio foi

13,3% maior em relação à mata nativa e, 17,4% maior que o reflorestamento de

araucária. Estes percentuais estão atrelados à dinâmica de cada área monitorada,

pois na mata nativa há uma variação maior de espécies do que na área de

reflorestamento de araucária. Já o reflorestamento de pinus sp, é considerado uma

vegetação homogênea. Estas especificidades contribuem de forma diferenciada na

produção de serrapilheira, nos índices de atravessamento da água da chuva e

principalmente no armazenamento dá água da chuva na serrapilheira. Sendo que

estes fatores atuam como controladores da infiltração de água no solo.

Quando comparados os índices de precipitação com os percentuais de infiltração,

percebe-se que a quantidade de precipitação é um condicionante expressivo nas

taxas de infiltração em determinados meses. Cita-se com exemplo os meses de

setembro e abril, onde as taxas de precipitação foram maiores (341,5 mm e 332,1

mm respectivamente). Nestes meses a infiltração foi menor nas três áreas. Já os

meses de maio e junho, apresentaram índices mais elevados de infiltração nas três

áreas, no entanto, a precipitação indicou as menores valores (75 % e 80%

respectivamente).

Através desses dados, foi confeccionado um gráfico com a distribuição média de

infiltração em cada leitura. (gráfico 1)

De posse deste gráfico, fica evidente que infiltração nas três áreas distintas segue

um mesmo padrão de infiltração, o que diferencia são apenas algumas

particularidades de cada tipo de uso do solo.

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Gráfico 1. Média de infiltração de cada leitura das três áreas

0,01,02,03,04,05,06,07,08,09,0

10,011,0

5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60tempo em minutos

infil

traç

ão e

m m

m

mata nativa Reflorestamento Araucária Pinus

Vale ressaltar que a infiltração nos 10 primeiros minutos nas três áreas foram

diferenciados pela quantidade maior de serrapilheira. No reflorestamento de pinus

sp, a infiltração neste intervalo (10 minutos) foi de 14 mm, já a mata de araucária

neste mesmo intervalo foi de 12 mm e no reflorestamento de araucária este valor foi

de 10,7mm. Portanto a serrapilheira além de aumentar os índices de matéria

orgânica no solo implica, funciona como agente agregante, responsável pela

estabilidade dos agregados do solo. Esta estabilidade por sua vez implica

diretamente no controle da drenagem e erodibilidade do solo.

Conclusões

A pesquisa se propôs apenas em avaliar a taxa de infiltração de água no solo em

diferentes tipos de vegetação e, ao término da pesquisa conclui-se que a

precipitação é um fator que está diretamente ligado às taxas de infiltração de água

no solo, mas que outros condicionantes que atuam nos diferentes tipos de uso do

solo devem ser levados em consideração no momento em que se propõe avaliar as

diferentes taxas de infiltração em usos distintos.

A infiltração sob o reflorestamento de pinus sp, foi maior em relação às demais

devido ao acúmulo de serrapilheira, sendo que esta contribui para a retenção de

água na camada superficial do solo. Os valores de infiltração segundo Reichardt

(1990), podem ser classificados como baixo e muito baixo.

Quando correlacionados os índices de pluviosidade com as taxas de infiltração nas

três áreas distintas, conclui-se que a precipitação exerce influência diretamente nos

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percentuais de infiltração.

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OKONOSKI, T. R. H.; FERNANDES, F.; SILVA, I. N. O. Introdução a Paleontologia do Devoniano: as experiências de um trabalho prático na região dos Campos

Gerais do Paraná, como ferramenta alternativa para ensinos de base

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INTRODUÇÃO A PALEONTOLOGIA DO DEVONIANO: AS EXPERIÊNCIAS DE UM TRABALHO PRÁTICO NA REGIÃO DOS CAMPOS GERAIS DO PARANÁ, COMO FERRAMENTA ALTERNATIVA PARA ENSINOS DE

BASE

THALES RAVEL HETKA OKONOSKI1 FERNANDO FERNANDES2

IAN NAVARRO DE OLIVEIRA SILVA3

Resumo: Esse trabalho referente à abordagem paleontológica do período

devoniano, foi realizado através da discussão teórica e da prática de campo na

região dos campos gerais especificamente nas cidades de Castro, Ponta Grossa e

Tibagi-PR. Como interesse fez se o reconhecimento dos afloramentos fossilíferos e

consecutivamente a coleta e classificação de alguns exemplares. Estes, através da

taxonomia e a tafonomia servem de material para definir a estratificação cronológica

dos achados. De forma geral, esse trabalho teve como base a compreensão

paleontológica relacionado a saídas de campo feitas com o grupo de pesquisa

Palaios da Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG, contextualizando um

trabalho prático. Através da discussão teórica dos elementos abordados, e visto a

pouca abordagem da paleontologia em ensinos de base, buscou-se também uma

possível transposição das idéias de paleo-rotas para o ensino fundamental e médio,

enfatizando a importância da pesquisa na paleontologia e a conservação de sítios

com o pressuposto de uma educação ambiental, propiciando assim, ambientes

alternativos para o ensino.

Palavras-chave: Paleontologia, Formação Ponta Grossa, Educação Ambiental, Devoniano Paleontologia do Devoniano Estudos sobre a evolução do Planeta Terra, tanto em relação a aspectos biológicos,

geológicos, paleontológicos, entre outros, foram ordenado principalmente por Eras,

1 Mestrando em Geografia – Gestão do Território, UEPG, Universidade Estadual de Ponta Grossa, [email protected] 2 Mestrando em Geografia – Gestão do Território, UEPG, Universidade Estadual de Ponta Grossa, [email protected] 3 Mestrando em Geografia – Gestão do Território, UEPG, Universidade Estadual de Ponta Grossa, [email protected]

OKONOSKI, T. R. H.; FERNANDES, F.; SILVA, I. N. O. Introdução a Paleontologia do Devoniano: as experiências de um trabalho prático na região dos Campos

Gerais do Paraná, como ferramenta alternativa para ensinos de base

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Períodos e Épocas, que marcam etapas de evolução e de transformação no planeta

e dos seres que o habitam.

O Devoniano é um dos períodos da Era Paleozóica, entre 416 milhões e 354

milhões de anos atrás. Caracterizado por intensa sedimentação continental

intercalada com depósitos marinhos. Como também por intensas movimentações

geológicas, onde o continente Laurentia colide com a Báltica formando a

Euramérica, com isso o globo fica reduzido a três grandes continentes, sendo eles:

Euramérica, Sibéria e Gondwana.

Santos (2004, p 48) expõem que “As mais extensas transgressões marinhas do

Fanerozóico da América do Sul estão registradas no Devoniano” essa dinâmica

acarretou na formação de diversos ambientes com inúmeras formas paleontológicas

as quais através das análises atuais podem vir a trazer a compreensão da dinâmica

do globo e das formas biológicas existentes, também suas mudanças fenotípicas e

genotípicas. Inúmeros fósseis vêm a contribuir na caracterização das áreas e no

estudo destas.

A bacia sedimentar do Paraná segundo Bosseti et al (2010):

Possui um registro estratigráfico incompleto compreendendo o Período Ordoviciano Superior ou Neo-Cretáceo, atingindo aproximadamente 7000 m de espessura em seu eixo deposicional. De acordo com Milani et al. (2007 a) a Bacia originou-se como um golfo aberto para o mar Panthalassa, através do movimento convergente entre o continente Gondwana e o assoalho oceânico do Panthalassa que no fanerozóico, contribuiu para o fechamento progressivo da Bacia do Paraná até sua continentalização completa.

Em relação à idade da formação da Bacia do Paraná, Assine (1996) divide-a em três

seções estratigráficas deposicionais através de unidades litoestratigráficas de Lange

e Petri (1967), sendo a base a sequência Lochkoviana abrangendo a formação

furnas unidade I e II, seguida da sequência Praguina-Eifeliana a qual é constituída

pela Formação Furnas unidade III, Formação Ponta Grossa, membro Jaguariaiva e

Membro Tibagi. No topo a sequência Eifeliana-Frasniana, abrangendo a Formação

Ponta Grossa, topo do Membro Tibagi e Membro São Domingos (BOSSETI, 2010).

Quadros, (1999) através das associações de acritarcas encontradas em cada

membro indicou a idade correspondente a cada formação sendo Praguiana-Emsiana

para o membro Jaguariaiva, emsiana-eifeliana para o membro Tibagi e para o

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membro São Domingos a idade eifiliana- neofameniana. Grahn, (1999) baseando-se

em registros de quitinozoários apresentou idades diferentes as quais foram

apresentadas por Quadros, (SCHEFFLER et al, 2007), sendo respectivamente

praguiana-emsiana, emsiana e emsiana eofransniana. Contudo através de

conhecimentos e estudos estratigráficos, Bergamaschi (1999), (apud BOSSETI, et al

2010), aproveitando também estudos dos quitinozoários de Grahn, reconheceu seis

diferentes seqüências deposicionais siluro-devoniana, dentro da formação

litoestratigráfico da Formação Ponta Grossa e Formação Furnas, (SCHEFFLER,

2007; BOSSETI, et al 2010).

A formação Ponta Grossa como a formação Furnas do devoniano inferior compõem

parte da Bacia do Paraná, conjunto litoestratigráfico Grupo Paraná (LOBATO, 2005),

sendo esse sobreposto por rochas da formação Itararé através de contatos

discordantes na sobreposição de elementos sedimentados angulares.

A formação Furnas assenta-se sobre a base cristalina ou formação Iapó, sendo a

unidade mais antiga da Bacia do Paraná, para Maack (1947) apud (BOSSETI,

2010), essa formação na seção tipo a oeste da cidade de Castro é uma estrutura

geológica caracterizada por duas camadas respectivamente de material glacial de

drift, e mais recente material acinzentado sem origem vulcânica de fase pré-

devoniana. “A idade da Formação Furnas é considerada como estendendo-se do

Neo-Siluriano (Pridoliano) ao Eo-Devoniano (Lockoviano/ Praguiano), segundo

Assine (1996) e Bergamaschi (1999)” (MELO, 2004).

Sua formação é motivo de discussão teórica, alguns autores citam de a formação ter

origem marinha como é o caso de Bigarella et al. (1966) e Lange & Petri (1967),

enquanto uma proposição de uma formação fluvial é entendida por Northfleet et al.

(1969) e Schneider et al. (1974). Assine et al. (1994) propuseram que as furnas

foram depositadas em formatos de deltas os quais seriam construídos por rios

entrelaçados, já Borgui (1996) e Assine (1996) consideram a origem devido a

retrabalhamento marinho de paleo-correntes costeiras (apud MELLO, 2004).

Formada pelos membros Tibagi, Jaguaraíva e São Domingos, a Formação Ponta

Grossa situa cronologicamente acima da formação furnas, Lange & Petri (1967)

apud (MELO et al 2004), e abaixo da formação Itararé.

Assine (1996) e Bergamaschi, (1999 apud MELO, 2004), comentam que o membro

Jaguariaiva “é constituído de folhelhos laminados fossilíferos e bioturbados, com

lentes de arenitos finos subordinadas, depositados num contexto de plataforma

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marinha rasa, de idade correspondente ao intervalo Praguiano a Frasniano”. Lange

e Petri, 1967 (apud BOSSETI, et al 2010), citam que o contato da formação

Jaguariaiva com a Furnas é concordante gradacional e com a Itararé sendo

discordante. É uma formação fossilífera contendo bivalves gastrópodes, trilobitas,

braquiópodes, em ambiente de sedimentação marinho raso, o qual teve taxa de

sedimentação lenta e com pouca energia com intensa colonização bentônica do

fundo, embora esses levantamentos perdem sentido com os trabalhos que vieram a

ser desenvolvidos com Rodrigues (2002) e Bosseti, (2004), (apud ZABINI, 2007).

No membro Tibagi há presença de arenitos finos a muitos finos com lenticulares e

fossilíferos, estando de forma concordante e gradacional sobre o membro

Jaguariaiva e sob o São Domingos caracterizado pela forma gradacional (ZABINI,

2007). Há presença de micas e de folhelhos laminados que varia a coloração de

acordo o grau de intemperismo que podem estar sujeitos nos afloramentos. Para

Lange e Petri (1967) apud Bosseti (2010) no membro Tibagi á uma ciclicidade

arenito/folhelho os quais seriam provocados por movimentos eustáticos. De forma

geral, esses ciclos eustáticos foram responsáveis pela formação de estratos com

características granulométricas e de formas deposicionais distintas no membro

Tibagi.

Assine e Petri (1996) apresentam o membro Tibagi contendo arenitos grano

crescentes, tendo aumento da fração areia para o topo e Bosseti (1989) acrescenta

a composição fossilífera do membro Tibagi sendo muito rica (BOSSETI, 2010).

Característica essa que exemplifica a variação das intensidades deposicionais na

formação geológica do membro e a localização das áreas formadoras dos

sedimentos.

O membro São Domingos, de idade givetiana é unidade topo acima do membro

Tibagi, contem estratos laminados de cor cinza, os quais em alguns casos

apresentam-se na forma de betuminosos entremados por camadas de arenitos finos,

sendo o seu encontro com o Grupo Itararé discordante (LANGE e PETRI, 1967,

apud BOSSETI et al, 2010).

Para Bergamaschi, (1999, apud ZABINI, 2007) o membro São Domingos é o pico da

máxima transgreção marinha e conseqüente deposição do período Devoniano na

Bacia do Paraná.

Para Assine e Petri (1996) a transgreção acarretará em uma mudança ecológica

drástica causando a extinção da fauna da província mauvinocáfrica na passagem do

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eifeliano-givetiano. Entretanto Bosseti (2004) através de estudos fósseis expõem

que a fauna da Provincia Mauvinocáfrica não se extingue nessa fase e sim

ultrapassa o limite do givetiano alcançando a toposequência local no topo da

formação Ponta Grossa, compreendida pelo Frasniano, extinguindo apenas no

Frasniano/Fammeniano, (ZABINI, 2007).

O trabalho de campo sob o enfoque ambiental. A questão ambiental que se apresenta tem a ver segundo Souza (2000, p. 15), com

“o intenso processo de degradação generalizada do meio ambiente e dos recursos

naturais, provocada pela intensificação do crescimento econômico e populacional no

século XX”.

Sobre a mesma temática Gonçalves (2006) aponta como principais problemas: a

escassez - por contaminação e/ou esgotamento - do ar, da água, dos minerais, da

energia e do solo; as questões climáticas (camada de ozônio, efeito estufa,

mudanças climáticas); os resíduos tóxicos e o lixo.

Leff (2004) aborda a crise ambiental como uma crise mais ampla, do próprio modo

de pensar ocidental, da civilização, do conhecimento, da racionalidade. Nesse

sentido, afirma que “a crise ambiental veio questionar a racionalidade e os

paradigmas teóricos que impulsionaram e legitimaram o crescimento econômico,

negando a natureza.” (LEFF, 2004, p. 15).

Nesse contexto, o conhecimento do planeta Terra e do seu funcionamento é de

fundamental importância para a compreensão desta crise, bem como para sua

superação.

As Geociências, entre as quais Neves; Campos e Simões (2008) incluem a

astronomia, a cosmologia, a geologia, a oceanografia e a paleontologia, entre

outras, tem uma grande contribuição para a aquisição do conhecimento e o

desenvolvimento da compreensão necessária. No entanto, como afirmam os

mesmos autores, seu ensino “nos primeiros anos das escolas brasileiras ainda é

muito incipiente.” (NEVES; CAMPOS; SIMÕES, 2008, p. 106).

Isto se torna evidente quando se observa os resultados brasileiros no teste PISA

(Programa Internacional para Avaliação de Alunos) promovido pela OCDE

(Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Entre 57 países

avaliados, o Brasil alcançou a 52º colocação, obtendo uma média de 390 pontos em

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800 possíveis. Na área “Sistema espacial e planeta Terra” – que envolve tema de

astronomia, cosmologia e geologia – foram obtidos 375 pontos, o pior resultado

alcançado pelo país (JORNAL, 2010).

Os maus resultados alcançados por alunos brasileiros refletem uma sociedade que,

de um modo geral, não possui compreensão ou mesmo conhecimento sobre a Terra

e seu funcionamento, pois

A cultura em Ciências da Terra da população brasileira é ou quase nula ou imprecisa e, muitas vezes, equivocada, já que há apresentação dos temas nesta área como inserções dispersas, fragmentadas e desconectadas do ciclo natural em outras disciplinas escolares, como Ciências, Geografia, Biologia, Química e Física. (TOLEDO et al, 2005, p. 2).

Essa percepção de fragmentação curricular é corroborada por Carneiro; Toledo e

Almeida (2004, p. 3) ao afirmar que

Noções de Geologia e Geociências dispersam-se no currículo sob vários títulos, faltando uma ordenação capaz de explicar a Terra em conjunto, desde sua constituição, origem e evolução, fenômenos interiores e superficiais, as interações das esferas (oceanos, atmosfera, litosfera, biosfera), e as profundas e diversificadas relações entre meio físico e seres vivos.

Assim, em virtude da fragmentação e dispersão dos conteúdos sobre a Terra e seu

funcionamento, os alunos e a população brasileira, de um modo geral, apresentam

pouco conhecimento e compreensão sobre os mesmos, o que tem conseqüências

relevantes, principalmente em um momento como o atual, quando a questão

ambiental assume importância cada vez maior.

Dentre essas conseqüências podemos apontar: o conhecimento paleontológico fica

restrito à poucas instituições públicas e privadas (NEVES; CAMPOS; SIMÕES,

2008); a não percepção de que o tempo de uso de determinados bens é

infinitamente inferior ao tempo de formação dos recursos naturais a partir dos quais

são fabricados (BACCI, 2009); e, a concepção de que os problemas ambientais são

passíveis de resolução estritamente científica, sem envolver questões e decisões

políticas (COMPIANI, 2007).

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Reverter essa tendência é necessário para propiciar a formação de cidadãos

conscientes, críticos e participantes das decisões políticas que influenciam a

sociedade como um todo, principalmente no tocante às questões que envolvem o

ambiente em que vivem.

Podem ser consideradas tentativas para que ocorra às reformas curriculares

realizadas na Espanha e nos Estados Unidos da América, com a inclusão de temas

de Geologia em nível secundário/pré-universitário (CARNEIRO; TOLEDO;

ALMEIDA, 2004), e a criação do curso de licenciatura em Geociências e Educação

Ambiental pela Universidade de São Paulo - USP com objetivo de preparar

professores que

participem da formação de indivíduos capazes de opinar de forma consciente sobre as questões de ocupação e uso do ambiente pela sociedade, aproximando-a, assim, do caminho rumo ao desenvolvimento sustentável e aos objetivos das diretrizes curriculares traçadas para a educação básica.” (TOLEDO et al, 2005, p. 2).

Afirma Bacci (2009, p. 9),

O conhecimento em Geociências apresenta uma grande importância para o cotidiano dos cidadãos, pois abre possibilidades da sociedade tomar decisões e compreender as aplicações dos conhecimentos sobre a dinâmica natural na melhoria da qualidade de vida.

E também Carneiro; Toledo e Almeida (2004, p. 1), ao afirmar a necessidade de que

“[...] as questões de natureza ambiental passem a integrar o corpo de

conhecimentos básicos que uma pessoa deveria possuir, para exercer, ao longo de

sua vida, aquilo que se entende por cidadania responsável e consequente.”

Materiais e métodos

Este trabalho consiste em um levantamento teórico sobre os estudos geológicos e

paleontológicos do Período Devoniano (Era Paleozóica), intercalado a

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conhecimentos e observações adquiridas em trabalhos da “Prática de Campo:

Paleontologia do Devoniano dos Campos Gerais, Paraná, Brasil”, junto ao Grupo de

Pesquisas – Palaios coordenado pelo professor Dr. Elvio P. Bosetti (UEPG) e com a

participação do professor Dr. Roberto Iannuzzi (UFRGS). O trabalho procedera-se

em três dias estruturados em aulas expositivas, explicações em campo, observações

e coletas de materiais. As áreas visitadas dentro da rota pré-estabelecida pelo grupo

Palaios, fazem parte dos afloramentos de pesquisa do grupo, incluindo assim os

municípios de Castro, Tibagi e Ponta Grossa dentro da Bacia Sedimentar do Paraná.

Durante o trabalho de campo foram observados seções de duas Supersequências

da Bacia do Paraná (Milani, 1997 apud Bosetti, 2010), além de sua base que é

constituída pela Bacia de Castro. A primeira Supersequência da Bacia do Paraná

denominada Rio Ivaí é caracterizada como Formação Iapó e a segunda como Grupo

Paraná, sendo explorados nesse trabalho os Membros Tibagi e São Domingos

dentro da Formação Ponta Grossa (Devoniano Médio e Superior). Os pontos

visitados seguiram, na sua maior parte, uma ordem Paleocronológica dentro da

Paleo-rota sugerida por estudos do Grupo Palaios. Também fora feito a leitura sobre

práticas de campo e abordagens ambientais dentro de um enfoque relacionado à

educação de base, como pressuposto a formas alternativas de ensino.

Trabalho de Campo – Formação Ponta Grossa. O trabalho de campo foi constituído por inúmeros pontos de observação e coleta de

materiais, incluindo os afloramentos da formação Furnas e Ponta Grossa – Membros

Tibagi e São Domingos, porém aqui destacaremos alguns pontos que se

demonstraram ser relevantes, devido à importância estratigráfica ou a qualidade das

amostras fósseis encontradas para os objetivos estabelecidos durante a saída.

O primeiro ponto que destacaremos é caracterizado pelos afloramentos rochosos

localizados próximos a cidade de Castro as margens da PR – 151 e classificados

como pertencentes à Bacia de Castro que é a Base (escudo) da Bacia do Paraná

(figura 1). Considera-se que a Bacia de Castro é mais antiga que a Bacia do Paraná,

encontrando-se estratigraficamente abaixo da Bacia do Paraná. Caracterizada pela

presença de Rochas Metamórficas e Magmáticas, esse afloramento possui

importância geológica, porém, para a Paleontologia é irrelevante, pois não contém

fósseis.

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Figura 1. Afloramento da Bacia de Castro

Os afloramentos localizados as margens da PR – 340, entre os municípios de Castro

e Tibagi, foram o segundo ponto de observação, caracterizado como contato entre a

Formação Iapó e a Formação Furnas (figura 2). Sendo a formação Iapó, de origem

Glaciogênica.

Na Formação Furnas, a primeira do Grupo Paraná dentro de uma escala

estratigráfica, foi possível observar arenitos grossos e deposições de seixos

angulosos, identificando que a área fonte de formação, localizava-se próxima do

local de deposição e que ali ocorriam variações de intensidades deposicionais

decorrentes de mudanças climáticas. Essa formação abarca uma discussão sobre

sua origem, sendo essa fluvial ou marítima costeira, como discutindo anteriormente.

Figura 2. Contato entre a Formação Iapó e a Formação Furnas

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Próximo a entrada de Tibagi, o terceiro ponto é caracterizado como seção-tipo do

contato entre a Formação Furnas e a Formação Ponta Grossa (figura 3). Sendo um

contato hetereolítico, contendo variações nos estratos de sedimentos e energia na

fase de formação. È considerado uma área de deposição com características de

encontro das águas de rio com a água do mar (Delta). Nesse ponto durante a prática

de campo não foram encontrados exemplares de fósseis, embora existam nessa

região de contato. Um fator deve-se na época de formação ter havido grande

oscilação de energia e deposição de sedimentos oriundos da área fonte.

Figuras 3. Contato entre a Formação Furnas e a Formação Ponta Grossa

Seguindo, o quarto ponto de afloramento próximo a fazenda Cabanha, possui

folhelhos da formação Ponta Grossa, membro São Domingos (Devoniano Médio e

Superior). Nesse afloramento foram realizadas as primeiras buscas por fósseis,

encontrando apenas fragmentos vegetais pouco conservados. As amostras de

rochas sedimentares superficiais encontram-se intemperizadas, tais transformações

de agentes externos causam alteração do material, influenciando até na

classificação e na análise de material fóssil.

Em seqüência, foram coletados fósseis no afloramento Wolf, do Olgivetiano,

caracterizado pela extinção em massa, efeito lilliput (extinção em massa, poucas

espécies remanescentes, mas com grande população – variação de fenótipo/não de

genótipo, tendo na constituição geológica arenito conglomerático). Nessa área foi

observado também o Efeito Lazarus, neste, espécies aparecem em camadas

inferiores desaparecendo nas intermediárias e reaparecendo nas superiores

(BOSSETI et al, 2010).

O sétimo ponto, no afloramento São Bento (Figura 4), remete-se ao início Gevetiano,

situado no topo do devoniano, nessa fase há crise biótica. Longe das costas

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continentais ocorrem depósitos de argila em águas profundas, havendo pouca

presença de fósseis.

Figura 4. Afloramento São Bento.

Adiante, exploração na seção tipo Eusébio de Oliveira Seção de contato camadas

médio-inferior e médio-superior: Jaguariaíva-Tibagi-São Domingos. Durante essa

fase da visita a campo foi realizado nessa área a coleta de fósseis através do

método de quadrículas adotado por Bosseti et al(2010). Tais quadriculas, de

dimensão 3x2 m, respectivamente largura e altura, foram exploradas na tentativa de

obter amostras e a disposição destas dentro da área analisada. Usando-se de

interpretação dos fósseis fizeram-se esboços descritivos, dos fosseis encontrados

nas diferentes áreas marcadas.

Da esquerda para a direita, Figura 5. Amostra da formação Ponta Grossa – Membro Jaguariaiva;

Figura 6. Amostra da formação Ponta Grossa – Membro Tibagi; Figura 7. Amostra da formação Ponta Grossa – Membro São Domingos.

Em um dos afloramentos foram observadas estruturas estratigráficas curvadas

formadas por deposição de sedimentos causados por ondas, em fases de oscilação

de energia e deposição. Através da interpretação das formas presentes no

afloramento, observam-se estruturas heterogêneas representando fases de calmaria

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e alta energia denominada Ramoqui. Neste, através do método de coleta em

diferentes extratos horizontais, foram encontrados braquiópodes articulados também

orbiculoides.

Figura 8. Explicação do efeito Ramoqui

No âmbito deste trabalho, propomos a utilização metodológica do trabalho de campo

em paleo-rotas, com objetivo de despertar o interesse dos alunos sobre o planeta

Terra e seu funcionamento, propiciando a aquisição de conhecimentos e o

desenvolvimento de compreensão sobre a temática.

O trabalho de campo oferece a possibilidade de integrar os conteúdos dispersos em

várias disciplinas, significando-os e permitindo a sua compreensão, pois, tal como

afirma Compiani (2007, p. 32)

O trabalho de campo pode ser utilizado, no ensino, como estratégia em que todas as coisas podem tomar parte de um processo maior: o efeito holográfico. A idéia é enfrentar a dominante fragmentação do conhecimento, que bloqueia os mecanismos de análise de problemas reais ao não facilitar a relação de conceitos, procedimentos e de atitudes, trabalhados em diferentes disciplinas do currículo.

A integração entre os conteúdos de diferentes disciplinas é uma necessidade frente

à modernidade, definida por Leff (2003, p. 16) “como uma ordem coisificada e

fragmentada”, constituinte da crise do conhecimento da qual faz parte a atual crise

ambiental (SOUZA, 2000 e GONÇALVES, 2006).

O trabalho de campo é ainda uma oportunidade de estabelecer relações entre o

local e o global a partir do lugar, pois, “o focar para a relação global/local aponta

para a necessidade das metodologias de estudos do meio e trabalhos de campo.”

(COMPIANI, 2007, p. 32).

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A apreensão de conceitos científicos a partir do conhecimento empírico é também

outra possibilidade dos trabalhos de campo que, segundo Compiani (2007, p. 30),

“apontam para noções diferentes do empírico” e, para Compiani e Carneiro (1993, p.

91) contribui no “entendimento dos fenômenos e na formulação de conceitos

explicativos.”

Os trabalhos de campo constituem-se ainda na ocasião, por excelência, para tratar

das temáticas ambientais, relacionando os problemas ambientais locais e globais e

discutindo, além das possíveis soluções técnico-científicas, as questões político-

econômicas envolvidas.

Nesse sentido retomamos as palavras de Compiani (2007, p. 43), quando afirma que

Ao trabalhar os impactos ambientais provocados pelo descontrole do crescimento urbano acelerado, força-se a necessária relativização do papel da ciência e da tecnologia na resolução de problemas do dia a dia, pois fica evidente que os problemas ambientais são – antes de outra coisa políticos -, e isto se contrapõe à crença positivista de que a ciência é universalmente aplicável e eficaz (cientificismo). Essa visão oculta, por exemplo, a possibilidade de existir articulação entre degradação ambiental e injustiça social. Perante um ensino que tem fomentado a passividade, propõem-se a construção ativa de conhecimentos, ação, participação e tomada de decisões na solução de problemas que têm implicações políticas, sociais e ambientais.

Nesta perspectiva, espera-se que o trabalho de campo em paleo-rotas contribua

para a aquisição de conhecimento e desenvolvimento de compreensão sobre o

planeta Terra e seu funcionamento, através da integração de conteúdos, do

estabelecimento de relações locais/globais, da apreensão de conceitos científicos,

sob a perspectivas das problemáticas ambientais contemporâneas.

Do mesmo modo, que propicie a formação de cidadãos ativos e participantes, aptos

a discutir e decidir as múltiplas possibilidades de superação da situação ambiental

atual que, como visto, não tem apenas implicações ambientais, mas, também,

sociais, econômicas e políticas das mais importantes.

Conclusão

O trabalho de campo atrelado as sua mais diversa utilidades educacionais propicia a

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diversificação na forma de ensinar principalmente assuntos que atualmente não são

tratados em sala de aula da educação de base. O despertar para a ciência no caso

tratado para a paleontologia ajuda a compreensão dos elementos do meio e propicia

um despertar crítico dos alunos envolvidos melhorando seu desempenho em

atividades complementares da escola e do dia a dia.

A obsolescência do ensino e a forma conservadora empregada por muitos

professores podem ser “quebradas” com uso da dinâmica de ensino e pesquisa já

em educação de base, assim o uso da ciência paleontológica pode propiciar uma

variedade de inteligências colocando o aluno defronte a natureza e a possibilidade

de compreendê-la.

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VIENC, V. J.; SOUZA, S.; ANDRADE, A. R. Análise da disponibilidade e viabilidade hídrica para o abastecimento da área urbana no Município de

Irati-PR

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ANÁLISE DA DISPONIBILIDADE E VIABILIDADE HÍDRICA PARA O ABASTECIMENTO DA ÁREA URBANA NO MUNICÍPIO DE IRATI-PR

VINICIUS JOÃO VIENC1

SUSIMARA SOUZA2

APARECIDO RIBEIRO DE ANDRADE3

Resumo: O aumento populacional gera a necessidade de mais recursos para sobrevivência e satisfação de suas necessidades básicas. Prova desse aumento é a busca por novas fontes de água potável. Como determinadas regiões da superfície terrestre não possuem recursos hídricos suficientes e de qualidade para atender o crescente consumo humano, torna-se uma fonte alternativa a exploração de recursos hídricos subterrâneos além dos superficiais já existentes. Esse trabalho tem como objetivo principal realizar uma análise da disponibilidade e viabilidade hídrica para o abastecimento urbano no município de Irati em relação ao consumo da população, que até o momento conta com duas captações superficiais e três poços perfurados, apesar de um destes poços ainda não se encontrar em operação. Os procedimentos utilizados para a realização desse trabalho resumem-se na análise dos dados já existentes dos Boletins de Controle Operacional (BCO) e do Sistema de Informação Ambiental (SIA) da Companhia de Saneamento do Paraná – SANEPAR, bem como informações fornecidas pela Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental – SUDERHSA, além de questionários aplicados aos profissionais da área de recursos hídricos que atuam no município. O trabalho encontra-se em fase de desenvolvimento, sendo apresentado, por hora, apenas alguns resultados preliminares, tais como: observou-se a necessidade recente da perfuração de um terceiro poço, pois o primeiro poço perfurado não pode mais aumentar sua extração, notando que há falta de água em determinadas épocas do ano. Espera-se como resultado além da análise servir como base de estudo para futuras pesquisas disponibilizando dados informativos a todo o meio acadêmico e rede de ensino.

Palavras-chave: Recursos hídricos, Aqüífero, Água superficial, Disponibilidade hídrica

1 Acadêmico do 4º ano do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Campus de Irati-PR. Email: [email protected] 2 Ex-Professora do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Campus de Irati-PR e Agente de Pesquisas do IBGE. Email: [email protected] 3 Professor Doutor em Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Campus de Irati-PR. Email: [email protected]

ULHOA, V. M. F.; ANTONELI, V. Monitoramento da deposição de serrapilheira em três tipos de uso do solo na FLONA de Irati-PR

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MONITORAMENTO DA DEPOSIÇÃO DE SERRAPILHEIRA EM TRÊS TIPOS DE USO DO SOLO NA FLONA DE IRATI-PR

VIVIANE MORAES FRANCISQUINI ULHOA1 VALDEMIR ANTONELI2

Resumo: O presente estudo teve por objetivo avaliar a deposição de serrapilheira em três tipos de uso do solo na Floresta Nacional (FLONA) de Irati/Paraná. Para tanto foram mensurados talhões com reflorestamento de Pinus elliottii, reflorestamento de Araucaria angustifolia e Floresta Ombrófila Mista (Mata de Araucária), utilizando 12 coletores de 1m2, fixados a 1,2m do solo. Em cada um dos talhão foram instalados 4 coletores em pontos aleatoriamente escolhidos. As coletas foram realizadas mensalmente e, após uma pré-secagem feita à temperatura ambiente, o material de cada coletor foi separado em três frações distintas: folhas (constituída por folhas e acículas), galhos e miscelânea (flores, frutos, sementes e fragmentos pequenos). Após 12 meses de coleta, os totais de serrapilheira encontrados nas áreas monitoradas foram: Floresta Ombrófila Mista 8.157,3 kg/ha, reflorestamento de Araucária 8.510,5 kg/ha e reflorestamento de Pinus 13.082 kg/ha, onde a parcela Pinus apresenta uma produção em torno de 35% acima das outras. Palavras-chave: Serrapilheira, Mata de araucária, Reflorestamento de pinus

1 Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste - Campus de Irati- PR. e-mail [email protected] 2 Professor Msc do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro- Oeste- Campus de Irati- PR [email protected]

Eixo 02: Espaço, urbano, cultura, representações e ensino

BASSANI, A. F.; NABOZNY, A. Relatos de uma “prática” de observação educacional em Geografia no Colégio Estadual Faxinal dos

Francos – Rebouças-PR (Ou: Críticas da prática – uma tentativa de práxis)

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RELATOS DE UMA “PRÁTICA” DE OBSERVAÇÃO EDUCACIONAL EM GEOGRAFIA NO COLÉGIO ESTADUAL DE FAXINAL DOS FRANCOS – REBOUÇAS – PR (OU: CRÍTICAS DA PRÁTICA - UMA TENTATIVA DE

PRÁXIS)

ALESSANDRA FERNANDA BASSANI1 ALMIR NABOZNY2

Resumo: O presente texto filia-se a um relato de uma experiência em observação educacional. Estando imbuído de uma dupla objetivação. Inicialmente, transcrevemos relações e discussões angariadas em leituras atinentes a técnicas e metodologias de pesquisas em educação, com destaque para as abordagens qualitativas e aproximações com o ensino de Geografia. Num segundo plano, tracejamos algumas observações referendadas em questões do cotidiano, dos fazeres educacionais do Colégio Estadual de Faxinal dos Francos, município de Rebouças - PR. Destacamos que as questões por nós levantadas são oriundas das atividades acadêmicas desenvolvidas durante a disciplina de “Prática de Observação da Escola e Prática Pedagógica do Professor de Geografia” (1° semestre de 2009) destinada à segunda série do curso de Licenciatura em Geografia (UNICENTRO, Campus de Irati-PR). Em que a disciplina visa possibilitar um primeiro contato do educando (licenciando), na condição de futuro campo de trabalho, com o universo escolar, por isso o contexto deste é a descrição e contextualização da prática realizada dentro do âmbito escolar. Na medida em que se constroem processualmente reconhecimentos e, análises acompanhadas pelo docente na Universidade, o licenciando no seu processo de formação se posiciona na escola e vai se deparando com uma tríplice relacional: educando (na Universidade), ex-educando na escola e, ao mesmo tempo educador em potencial. Disso, tem a possibilidade de reflexões sobre a Educação e o Ensino numa espacialidade que transcende os redutos das salas de aula. Em que fechamos o nosso relato com intenção que o mesmo transcenda para um convite de reflexão entre Práxis Pedagógicas na Universidade, nas Escolas e as Experiências transitivas dos licenciandos que perpassam por essas diferentes espacialidades e temporalidades distintas mas, ao mesmo tempo justapostas. Palavras-chave: Práxis pedagógicas, Observação educacional, Relatos de experiências.

Introdução Através de observações, entrevistas, questionários e conversas informais, é possível

aproximar-se de algumas implicações prévias aos contatos com o Ensino e, depois

do contato e, posteriormente em contato. Tendo-se imbricado o papel da escola no

1 (Pq.) Educanda do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual Centro-Oeste (UNICENTRO, Campus Universitário de Irati - PR). E-mail: [email protected] 2 (Or.) Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Orientador do trabalho na condição de ex-docente substituto na Universidade Estadual Centro-Oeste (UNICENTRO, Campus Universitário de Irati - PR). E-mail: [email protected]

BASSANI, A. F.; NABOZNY, A. Relatos de uma “prática” de observação educacional em Geografia no Colégio Estadual Faxinal dos

Francos – Rebouças-PR (Ou: Críticas da prática – uma tentativa de práxis)

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contexto educacional como angariadora de várias ideologias a serem avaliadas. Em

que consideramos as práxis pedagógicas dos educadores como necessariamente

integrantes de processos de transformação (emancipação) social da escola,

educação, ensino e na produção de conhecimentos (para além da reprodução

decodificada). Portanto, parte integrante dos contextos econômicos, políticos e

sociais, vigentes nas “realidades” da sociedade.

Emergindo dessas relações, evidencia-se o processo de ensino aprendizagem na

disciplina de Geografia, colocando-o como objeto irrefutável para análise do

contexto, pois reconhecendo que a educação é uma capacidade de promoção do

homem, é este um dos aspectos fundamentais a ser debatido. Se do contrário, qual

a finalidade da escola, da educação e da Geografia? Não há aqui uma crença

Iluminista , mas a tentativa de estabelecimento de sentidos para as práxis

pedagógicas em Geografia, especificamente nesse caso.

Cabe a este relato descrições e contextualizações, contudo, sem perder de foco o

foco. O universo escolar! Toda e qualquer dinâmica presente nele é sim fundamental

para que este seja objeto de análise verídico, ou melhor ao menos sincero, sem

demagogias e admitindo-o que o mesmo se constitui por relações de poderes,

destacando que as teorias possam serem permeadas pelas práticas, ou vice-versa,

contribua para o processo de construção das bases metodológicas do futuro

professor. E ao mesmo tempo possa delinear novos agenciamentos para as

atividades desenvolvidas pelos docentes da Universidade.

Enquanto organização interna dos argumentos destaquemos que inicialmente

tracejaremos algumas questões das observações na escola. E calcando uma opção

de escala geográfica de análise perpassamos por reflexões da Escola, das Práticas

Pedagógicas do Professor de Geografia e processos de Ensino e Aprendizagem na

Escola ancorados nas relações de educador-educandos.

Finalizamos destacando que é essencial que se experiencie na contemporaneidade

relações imbricadas de responsabilidades (Professores nas Universidades,

Professores em Potencial/Acadêmicos e Educadores das Escolas) nos processos

contínuos de formação daqueles que futuramente participarão com maior

intensidade nas práxis educacionais. Por isso, é inegável que se tenha ao final, as

reflexões acerca de atividades desenvolvidas em disciplinas (como a discutida em

tela), nos cursos de graduação e, nesse caso específico, de todos os preâmbulos de

inserção e reconhecimento intelectual da construção social da realidade

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educacional. Propõe-se uma análise que contribua para o amadurecimento e

formação crítica do acadêmico (e dos outros educandos), que também faz parte

dessa sociedade apregoada no modo total de produção capitalista, de relações de

poderes e desigualdades.

Alguns encaminhamentos metodológicos

A partir de um primeiro contato com o Colégio Estadual de Faxinal dos Francos,

localizado na zona rural do município de Rebouças, através de conversa formal com

o Senhor Diretor (Sr.D) e a Senhora Professora de Geografia (Sra.PdeG), indicada

para a atividade a ser desenvolvida, pode-se estabelecer relação: acadêmico da

disciplina de Prática de Observação da Escola e da Prática Pedagógica do Professor

de Geografia (com duplo foco) e a classe de educandos da 7° série do Ensino

Fundamental do referido estabelecimento.

De acordo com o Projeto Político Pedagógico (PPP) do Curso de Geografia

Habilitação em Licenciatura, a disciplina de Prática de Observação da Escola e

Prática Pedagógica do Professor de Geografia tem por objetivo geral proporcionar

ao educando em formação de educador a vivência do cotidiano da educação

escolar, por isso, realizou-se primeiramente as observações em sala de aula. O

porquê de se observar? Pois, para Ludke e André (1986) a observação como um

método de coleta de dados é muito útil e até crucial, pois quando

Usada como principal método de investigação a outras técnicas de coleta, a observação possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado, o que apresenta uma série de vantagens (...) o melhor teste de verificação da ocorrência de um determinado fenômeno. (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 26)

Partindo deste princípio, as observações em sala de aula ocuparam uma carga

horária de 10 horas. Durante essas horas se desenvolveram atividades como:

observações sistemáticas aos educandos e ao educador, compreendendo como

sistematizadas as observações em que se realiza, segundo Patton (1980), citado por

Ludke e André (1986), registros descritivos, separação de detalhes relevantes dos

triviais, anotações organizadas e utilização de métodos rigorosos para validar as

observações. Tais concepções se realizaram utilizando-se um Diário de Bordo, ou

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seja, um caderno de registros diários organizados de acordo com o planejamento

(elaborado e discutido com o docente da Universidade) traçando pontos importantes

para as observações, bem como espaços para observações do novo e do não

planejado (Ver anexo 01). Também realizou-se auxílio aos educandos em atividades

referente às aulas, a pedido do educador da disciplina, ocorreu um monitoramento

dos mesmos no laboratório de informática e, ainda em sala de aula, houve auxílios

em algumas atividades em grupo, bem como auxílio em correção sistemática de

uma avaliação dirigida aos educandos.

Durante o período de frequência ao Colégio, desenvolveram-se também atividades

paralelas às observações em sala de aula, essas relativas à Escola: observação ao

intervalo para refeição dos educandos, o qual tem sua duração 15 minutos diários, e

leituras sistematizadas do Projeto Político Pedagógico (PPP) do referido Colégio. A

última desenvolveu-se por alguns motivos, o PPP é considerado um documento,

visto que: “São considerados documentos quaisquer materiais escritos que possam

ser usados como fonte de informação sobre o comportamento humano” (PHILLIPS,

1974, p. 187 apud LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 38), e para Caulley (1981),

a análise documental busca identificar informações factuais nos documentos a partir de questões ou hipóteses de interesse […] não são apenas uma fonte de informação contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem informações sobre esse mesmo comtexto” (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 39-39).

Encerrados os processos de observações em sala de aula, foram direcionados

questionários para agregação quantitativa aos dados das observações, estes foram

dirigidos aos alunos da 7° série A e também aos da 7° série B, totalizando 34

educandos. Esse processo se desenvolveu para que através dos questionários se

referendassem as análises e discussões acerca do universo dos sujeitos envolvidos

no cenário da pesquisa.

O emprego de questionários se dá pelo fato que entre outras vantagens “os

informantes poderão se sentir mais seguros com os mesmos em função de seu

caráter anônimo e, com isto, se sentirem mais à vontade para expressar pontos de

vista que temam colocá-los em situação problemática ou que julguem não ter

aprovação” (COOK, 1987, p. 17). Além dos questionários, realizaram-se entrevistas,

pois “na entrevista e no questionário dá-se um grande peso aos relatos verbais dos

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sujeitos para obtenção de informações sobre os estímulos ou experiências a

questão expostos e para o conhecimento de seus comportamentos.” (COOK, 1987,

p. 15)

As entrevistas foram restritas e direcionadas ao diretor responsável pelo Colégio e à

Professora observada. Com relação ao Sr.D, este é representante e ao mesmo

tempo indicado pela Equipe Administrativa e Pedagógica do estabelecimento, o

mesmo consentiu em realizar uma entrevista focando assuntos mensurados pela

sua atuação e papel no Colégio. Assim, também ocorreu com a Sra.PdeG, a qual

trabalha integralmente na referida instituição de ensino.

As entrevistas basearam-se em alguns conceitos como o de que “a entrevista

representa um dos instrumentos básicos para a coleta de dados” (LUDKE; ANDRÉ,

1986, p. 33). E ainda, segundo os mesmos autores, que “ela permite a captação

imediata e corrente da informação desejada.” (p. 34). E, por conseguinte, a essas

afirmações, insere-se o contexto escolar e do ensino, e em seu leque de

problemáticas

podemos estar seguros de que, ao entrevistarmos professores, diretores, orientadores, supervisores e mesmo pais de educandos não lhes estaremos certamente impondo uma problemática estranha, mas, ao contrário, tratando com eles assuntos que lhes são muito familiares sobre os quais discorreram com facilidade. (LUDKE; ANDRÉ, 1986. p. 36)

Discutindo os cenários das observações Para vivenciar o cotidiano da educação escolar, objetivo geral da disciplina

mediadora de tais dinâmicas, segundo o PPP do Curso de Geografia (Habilitação

Licenciatura), é preciso contextualizar em questão o seu raio de ação, bem como

analisar a educação e o ensino estabelecidos por seus sujeitos, sejam eles

educadores, educandos, funcionários, orientadores, entre outros.

Para tanto se deve prioritariamente distinguir qual a finalidade da ”educação’'. Para

Saviani (1996) tem-se que, “[...] a educação visa o homem”, e ainda contesta “que

sentido terá a educação se ela não estiver voltada para a promoção do

homem?’’(p.35), O que significa para o autor “tornar o homem cada vez mais capaz

de conhecer os elementos de sua situação para intervir nela transformando-a no

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sentido de uma ampliação entre os homens” (p.38). Embora não concordemos com

a linguagem sexista do autor e tampouco sejamos tributários da Pedagogia Histórico

Crítica, trazemos-o para o debate no intuito de elencar um sentido de transformação

social no âmbito da práxis docente.

Quando se permeia os estabelecimentos educacionais, seus conflitos, suas

inquietações, suas ideologias, tudo o que media esses processos, os contextos

previamente e antecipadamente imaginados e conceituados, se transfiguram para

outro âmbito, o da realidade em produção social. Participando como sujeito

observador, tem-se a visão a priori de uma educação ainda conservadora e nos

moldes da “Pedagogia dominante” (FREIRE, 1996).

Para uma facilidade contextual, divide-se o nosso cenário em três itens: a escola,

práticas do educador e, por último, o ensino-aprendizagem pautados na relação

educador-educando. Empregando assim, níveis diferenciados de relações, em que

não podem ser desarticulados, visto que os espaços e as escalas interagem uns

com os outros.

a) A Escola

Conhecer a organização do espaço escolar e as relações entre os sujeitos é uma necessidade, na medida em que a aula não é um conhecimento isolado de uma sala, mas está inserida no espaço social de uma instituição de ensino (PASSINI; PASSINI; MALYSZ, 2007. p. 54).

Partindo desse princípio, durante o contato e as observações realizadas com e no

Colégio Estadual de Faxinal dos Francos, o qual disponibiliza Ensino Fundamental

desde 1993 e Médio desde 2003, percebeu-se a forte influência dos “valores

humanos’’ o qual aparece como o primeiro objetivo da escola no seu Projeto Político

Pedagógico (PPP, 2005). Fato exemplificado deste, é que durante as observações

notou-se uma grande preocupação com a pessoa do educando, tanto por parte de

seus funcionários, como também dos professores e sua equipe pedagógica.

Quando questionado ao Sr.D durante a entrevista, sobre o qual a maior dificuldade

em se administrar o Colégio, este declarou: “Quando a equipe não está unida e não

se fala a mesma língua, em termos de objetivos e de disciplina, por parte dos

professores, por exemplo, quando entra professores de PSS (Processo Seletivo

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Simplificado) e estes não dão continuidade ao trabalho realizado pelo outro

professor, ou pela escola”3.

Quanto à organização espacial, notou-se uma divisão entre os domínios da

instituição estadual e da municipal que funcionam no mesmo prédio, com aulas do

período oposto, gerando conflitos ideológicos entre os funcionários e a escola

enquanto instituição de educação torna-se uma arena política, por isso não se pode

descartar, e sim relacionar, as ideias de educação como um ato político.

Nessa situação tem-se Rodrigues (1992), que afirma:

a educação escolar não pode ser pensada como algo neutro em relação ao mundo, mas como algo que produz, na sua própria dinâmica caminhos diferenciados para a ação social concreto em função de interesses e necessidades dos próprios alunos. (RODRIGUES, 1992, p.23).

Este autor ainda explicita que qualquer que seja a atividade esta é política, visto que

se a tarefa da educação escolar é preparar os educandos para o exercício pleno da

cidadania, esta obviamente será comprometida a uma função política. No caso do

Colégio observado, o seu PPP contempla como um de seus objetivos o “exercício

consciente de cidadania”.

Mediante Rodrigues (1992), pode-se fazer uma análise evidenciando algumas

características da escola necessária:

A escola não pode concorrer para mascarar ou criar tampões nos olhos dos alunos. Não pode fazer o jogo de esconder a realidade porque ela não é uma arma para produzir felicidade ou infelicidade, mas mediação entre a realidade empírica e o seu conhecimento. A escola pode ser bisturi que abre os olhos para a compreensão do mundo. (RODRIGUES, 1992, p.64)

Em discurso durante entrevista o Sr.D mencionou que na sua opinião vê a educação

no referido estabelecimento como aquele que: “Busca que o aluno chegue a um

objetivo, e que o prepare para a vida, pronto para ver a realidade” . E que, nessa

perspectiva, o PPP se relaciona com o meio em que seus educandos advém e suas

3 Leitura das entrevistas baseadas nas reflexões de FISCHER, R.M.B. Foucault e a análise do discurso em educação. Cadernos de Pesquisa. Fundação Carlos Chagas. São Paulo: Autores Associados, nº 114, p. 197-223, nov. 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cp/n114/a09n114.pdf. Visitado em março de 2009.

BASSANI, A. F.; NABOZNY, A. Relatos de uma “prática” de observação educacional em Geografia no Colégio Estadual Faxinal dos

Francos – Rebouças-PR (Ou: Críticas da prática – uma tentativa de práxis)

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realidades, visto que foi elaborado por órgãos colegiados como: APMF - Associação

de Pais, Mestres e Funcionários em participação com Conselho Escolar.

Segundo os alunos em relação à escola, 85% respondeu que gosta de estudar

nesta, e em outra questão 50% estuda no Colégio porque é o mais perto de sua

residência ou porque o transporte escolar dessa é o único que passa perto de sua

casa.

E em entrevista com a Sra.PdeG a mesma afirmou, quando perguntada sobre as

motivações dos educandos em estudar no colégio, que a escola tem uma boa

imagem e consegue explicar o conteúdo, visto que os mesmos são interessados e

todos participam.

Contudo, considerando que 98% dos educandos desse Colégio, segundo dados da

Equipe Administrativa, são da zona rural e o próprio Colégio situa-se numa

localidade rural acreditamos que para que se efetivassem os desejos discursivos do

Sr.D e os próprios preceitos elencados no PPP do Colégio haveria a necessidade de

um maior atrelamento do ensino às condições e às vivências dos educando, sem

isso implicar num abandono dos conteúdos e debates atinentes a outras escalas das

construções sociais da realidade.

b) A(s) Prática(s) Pedagógica(s) do Professor de Geografia

A condução das aulas da Professora observada ocorre, na maioria das vezes, de

forma expositiva, permeando a prática com atividades em grupos e individuais. Inicia

o conteúdo, indagando aos educandos, sobre algo de sua vivência, depois explica o

conteúdo e abre para perguntas. Em geral, na sequência, aplica exercícios do livro

didático.

O livro didático utilizado é do Projeto Araribá: Geografia, de Virginia Aoki, além

desse, a professora utiliza-se, com menor freqüência, de recursos como, a televisão

pen-drive, demonstrando imagens e vídeos que potencializam discussões, também

se utilizou em uma das aulas observadas de uma música, em que os educandos

debateram e depois a interpretaram. Sobre este último, tem-se debatido que

A utilização de músicas no ensino de Geografia se constitui em uma prática de grande relevância, uma vez que nas letras dessas músicas transitam os agentes que com suas ações constroem o arranjo espacial que o homem habita, seja na zona rural ou urbana, e é esse

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espaço animado pela sociedade que nele se encontra e atua, que chamamos de espaço geográfico, definido pelo professor Milton Santos como conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações. (CASTRO, 2008, p. 79-80)

O conteúdo aplicado fundamenta-se em saberes didáticos e humanistas do

professor e este trabalha a escala global à local, de diferentes maneiras. Contudo,

remetendo-se ao levantamento de dados, têm-se, dos educandos questionados,

98% procedente da zona rural, e considerando que o PPP do Colégio tem como um

de seus objetivos a compreensão da cultura, e como afirma Freire (1996) “ensinar

exige respeito aos saberes do educando” (p. 30). Como está se desenvolvendo este

na Geografia?

A professora admite que como os alunos em sua maioria trabalham na agricultura

não se tem profundamente relações em suas práticas da Geografia com as

realidades dos educandos, e propõe que seja algo que tenha que se trabalhar mais.

Uma contradição é a avaliação que é aplicada pela professora, percebe-se que os

educandos decoram os conteúdos, visto que as respostas de todos eram

praticamente iguais. A professora afirma sobre a aprendizagem dos educandos que:

“não se desenvolve aqueles que não estudam (…), só não consegue aprender

aqueles que não estudam”. Ou seja, do que valeu todas as aulas e a construção do

conhecimento que “aconteceu”?

“A única função da avaliação é a aprendizagem” (DEMO, 2003, p.05). Segundo

Demo (2003), o professor deve avaliar para saber o que o aluno aprendeu, então ele

tem que avaliar todos os dias. As avaliações nessa classe, em forma de prova,

concretizam-se duas vezes ao bimestre, intercaladas por trabalhos e outras

atividades realizadas bimestralmente duas a três vezes.

c) O Ensino-aprendizagem em Geografia e relação educador-educandos

Compreendendo que a aprendizagem é o resultado de organizações internas,

sensoriais, motoras, perceptivas e cognitivas, sob influências endógenas e

exógenas, que possibilita armazenar informações, podemos dizer que a

aprendizagem resulta de um processo adaptativo.

A classe da 7° série, quando questionada sobre dificuldades em aprender na

disciplina de Geografia, 77% respondeu que não há dificuldades, 15% afirmou que

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há e 8% respondeu na média, nem que sim, nem que não. Fato interessante é que

dos 15% que se declarou com dificuldades, a memória foi um dos mais citados como

fator do problema.

É nesse sentido que se concorda com Vesentini (1993), quando o autor afirma que a

Geografia deve preocupar-se com o senso crítico do educando e não com o que ele

memoriza, pois

o conhecimento a ser alcançado no ensino, na perspectiva de uma Geografia crítica, não se localiza no professor ou na ciência a ser “ensinada” ou vulgarizada, e sim no real, no meio onde aluno e professo estão situados e é fruto da práxis coletivizados grupos sociais. Integrar o educando no meio significa deixá-lo descobrir que pode tornar-se sujeitos na história. (VESENTINI, 1993, p. 37)

Os assuntos que mais chamam atenção dos alunos são os fatores físicos, 35,2%

deles respondeu elementos da natureza como o mais interessante na disciplina,

17,6% declarou ser os mapas, 14,7% respondeu o mundo, essas foram as repostas

mais citadas. Levando-se em consideração que os conteúdos que estavam sendo

trabalhados pelo professor no momento eram clima e vegetação. Atrelando-se a

essa situação ocorrida com a aprendizagem dos educandos, tem-se em Castellar

que “saber ler as informações do espaço vivido significa explorar a observação da

paisagem e assim não restringir-se à percepção das formas, mas perceber o

significado de cada uma delas.” (CASTELLAR, 2000, p.34)

É talvez por isso que um dos objetivos do PPP do Curso de Geografia da referida

instituição seja: “Formar licenciados preparados para desenvolver na sua prática

docente o ensino visando à aprendizagem significativa do aluno.” (PPP, 2003, p. 02)

A educação deve conduzir o educando a ir além do seu ponto atual, contudo o

sistema educacional despreza, muitas vezes, o ponto de desenvolvimento em que o

educando está, a aprendizagem ocorre de maneira mais fácil quando há respeito às

condições apresentadas pelos mesmos.

Nas questões de relacionamento educador/educando, disciplina e motivações dos

mesmos, a classe é bem tranquila, considerando que são apenas 26 educandos, a

professora exige muita organização, visto que a primeira atitude ao entrar na sala de

aula é de enfileirar as carteiras corretamente e é rigorosa quanto à ordem e ao

silêncio. O que não é garantia nenhuma de aprendizagem.

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As turmas são atentas, em sua maioria, à aula, há participação apenas quando a

professora solicita. Nesse viés, quando perguntado à professora sobre as

motivações dos educandos do Colégio em geral, a mesma afirmou que são

interessados e que não há problemas graves de indisciplina. Confirmando tal

alegação, os educandos questionados responderam em 79,4% que gostam da

disciplina de Geografia.

Segundo a professora observada, os alunos do meio rural em geral, são mais

atentos e interessados do que os da cidade, o que motiva o professor a preparar a

aula com mais entusiasmo e diversificação, pois nota a reciprocidade dos mesmos.

Considerações finais A atividade de observação é uma etapa fundamental para inserção e conhecimento

do espaço escolar como um conector das diversas funções exercidas neles. A partir

do momento que vai se formando um pensamento crítico sobre a educação é

necessária a teoria aliada à prática (práxis), visto que nada adianta se pensar e

construir informações alienadas da construção social das realidades educacionais,

fato imprescindível para transformar informações em conhecimentos. Sendo válido

tanto para os acadêmicos da Universidade (nesse caso) quanto para os educadores

da mesma.

Destaca-se que os fatos são os melhores intercessores para a reflexão. Mediante a

reflexão é possível projetar o que se quer como profissional da educação. Ao se

comparar e relacionar as experiências das mais variadas características, surgidas

nos debates em sala de aula, durante a disciplina de Prática de Observação da

Escola e Prática Pedagógica ao Professor de Geografia, tornou-se viável uma

construção coletiva de um ideal para o que se quer na educação, direito iguais a

todos os indivíduos sejam eles de onde vierem, e práticas do professor que

valorizem a cidadania e uma necessária escola democrática, sem aliená-la da

realidade social, econômica e política.

É a partir da formação de docentes que se pode transformar as características do

ensino conservador para um ensino crítico e que tenha validade para a vida dos

educandos. O que não significa necessariamente mudanças na ordem das coisas,

podendo ser na ordem das práticas e sistemas de ideias. Em que o ideal seria em

ambos os dimensionamentos.

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Conhecer a fundo quais são as bases históricas, conjunturais e estruturas da

educação, desconstrói os conceitos trazidos de quando você está sentado em uma

carteira assistindo aula na rede pública de ensino, de que você esta ali apenas para

seu benefício próprio, e que aquilo que lhe é passado está totalmente desligado de

um sistema maior de ideologias.

A Habilitação Licenciatura no Curso de Geografia quer dizer que tudo lhe incumbe, é

para uma formação que vai dar base a um sujeito com funções de transformação na

sociedade, é, portanto, plausível mediante tal atividade desenvolvida que as demais

disciplinas também visem, mesmo que não explicitamente, à formação de um

docente capaz de relacionar espaço, tempo, escalas e desenvolvimento da

percepção dos futuros educandos sobre o mundo e suas fatalidades.

As disciplinas pedagógicas nos cursos de Licenciatura devem ser mais valorizadas,

no sentido de uma conscientização por parte dos futuros docentes, de que somente

a prática contempla a teoria plenamente e que se o objetivo do Curso em questão,

Geografia, é formar o licenciado “que possua embasamento teórico, domine as

práticas investigativas e as diferentes linguagens, tanto da sua própria prática,

quanto a da realidade do contexto em que irá atuar” (PPP, 2005, p.02), então é

necessário e fundamental que os acadêmicos se envolvam e dediquem-se para que

a teoria se solidifique em ações.

A disciplina Prática de Observação da Escola e Prática Pedagógica do Professor de

Geografia é um primeiro contato com o universo escolar e educacional, um início

com as teorias e métodos de ensino e da educação por parte do acadêmico, para

que este desenvolva, e haverá necessidade de desenvolvimento mais profundo, de

suas próprias práticas e adaptação a determinados métodos. Durante o processo de

formação, as ideias e construções do conhecimento se estabelecem da maneira

mais plausível e condizente com o ensino geográfico de qualidade e crítico.

Ver e analisar a “realidade” são passos significativos à formação do professor que

pretende ser transformador da realidade. Portanto, não há porque de se negar o real

papel da educação hoje e as reais consequências desencadeadas por estas nos

âmbitos escolares. A construção coletiva de ideias e conhecimento que houve

deixam ao acadêmico a tarefa de refletir e dialogar com as teorias e as práticas

realizadas, para que se estabeleça a compreensão do papel do professor na

sociedade.

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Francos – Rebouças-PR (Ou: Críticas da prática – uma tentativa de práxis)

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Referências AOKI, V. Projeto Araribá: geografia/obra coletiva. 7a série São Paulo: Moderna, 2006. FISCHER, R.M.B. Foucault e a análise do discurso em educação. Cadernos de Pesquisa. Fundação Carlos Chagas. São Paulo: Autores Associados, nº 114, p. 197-223, nov. 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cp/n114/a09n114.pdf. Visitado em março de 2009. CASTELLAR, S. M.V. Alfabetização em Geografia. In: Espaços da Escola. No 37, jul/ set. 2000, p.29-46. CASTRO, J. R. B de. Desafios e Potencialidades da Geografia Cultural nos espaços educacionais: uma abordagem reflexiva e propositiva. In: Ateliê Geográfico, nº5, dez/ 2008, p.71-88. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. 36 Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. 150 p. LUDKE, M; ANDRÉ, M. E. D. A. Métodos de Coletas de Dados: observação, entrevista e análise documental. In. : LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação abordagens qualitativas. São Paulo: EPV, 1986.p. 25-44 Projeto Político Pedagógico do Colégio Estadual de Faxinal dos Francos. Rebouças, 2005. Projeto Político Pedagógico do Curso de Geografia - Habilitação Licenciatura. Universidade Estadual do Centro-Oeste. Guarapuava, 2003. RODRIGUES, N. Educação e Política. In. : RODRIGUES, N. Da mistificação da escola a escola necessária. 6a ed. São Paulo: Cortez Editora, 1992. p. 20-35 SAVIANI, D. Valores e objetivos na educação. In. : SAVIANI, D. Educação do senso comum à consciência filosófica. 12 ed. São Paulo: Editora Autores Associados, 1996. p. 35-40 SELLTIZ, W. ; COOK. (org). Questionários e Entrevistas. In.: COOK. (org) Métodos de Pesquisa nas relações sociais. São Paulo: EPU, 1987. p. 15-48 TUPYNANBÁ, J. P. Avaliar para quê? Entrevista com Pedro Demo. Pitágoras em Rede, Ano I, n. 01, mai. 2003, p. 5-7. VESENTINI, J. W. Geografia Crítica e Ensino. In: OLIVEIRA, A. (org.).Para onde vai o Ensino de Geografia? São Paulo: Contexto, 1993. p. 30-38

BASSANI, A. F.; NABOZNY, A. Relatos de uma “prática” de observação educacional em Geografia no Colégio Estadual Faxinal dos

Francos – Rebouças-PR (Ou: Críticas da prática – uma tentativa de práxis)

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ANEXO 01 DIÁRIO DE BORDO. Referência para uma aproximação com a escola.4 Nome do colégio: Dia da observação: I O PROFESSOR DE GEOGRAFIA DA ESCOLA a) Como se relacionada com os alunos? b) Que metodologias utiliza? Soube se é sempre assim? (aulas dialogadas, expositivas, trabalhos em grupo, saída de campo...) c) Como conduz a disciplina em sala de aula? d) Demonstra motivação para o ensino? E os alunos agem reciprocamente? e) Quais os saberes demonstrados pelo professor? (didáticos, técnicos, humanistas...). II O CONTEÚDO a) Os alunos possuem livros didáticos? Como são efetivados os seus usos? b) Outros materiais são utilizados juntos com os livros didáticos? c) Como são pensados e articulados os conteúdos? III A AULA a) A aula é planejada? O conteúdo inscreve-se num planejamento reflexivo? b) Como a aula é estruturada? c) Como é iniciado um novo assunto ou tema? d) Como e quais são as atividades propostas aos alunos? e) Os alunos demonstram-se ativos intelectualmente no processo de ensino-aprendizagem? f) Que estratégias motivacionais são utilizadas? g) Que materiais didáticos são utilizados? (quadro negro, giz, retroprojetor, mapas etc). h) Como se efetiva a participação dos alunos? i) Quanto a avaliação. Como é conduzida? Por aula? No bimestre ? Etc... Essas questões são orientações para um registro sistemático em seus diários de observação (ou diário de campo, de bordo etc). O qual constitui-se enquanto um instrumento de pesquisa e sistematização das observações. Todavia, as questões expostas não se configuram em um questionário que deve ser respondido rigorosamente. Da mesma forma essas pontuações não são limítrofes, apenas sugestões. Devendo o discente observador trazer o máximo de elementos possíveis de suas observações, de modo a construir um arcabouço de sustentação para suas reflexões e validação metodológica (demarcação científica). O diário de bordo deve ser uma técnica de pesquisa complementada com outras. Entrevistas qualitativas com professores, alunos, funcionários etc. Aplicação de questionários. Levantamento quantitativos da estrutura física da escola. Leituras sistemáticas do Projeto Político Pedagógico da Escola. Técnicas de estimulação de discursos. Registros fotográficos, entre outros elementos.

4 Técnica de observação. Elementos para tecer múltiplas “cartografias do campo escolar” (apropriações, disputas, institucionalização, ensino etc... ). Disciplina: Prática de Observação da Escola e Prática Pedagógica ao Professor de Geografia.

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REFLEXÕES ACERCA DO PLANEJAMENTO TURÍSTICO: O CASO DE IRATI/PR

CARLA CAROLINE HOLM1

KARLA ROSÁRIO BRUMES2

Resumo: Este trabalho se propõe a fazer uma análise sobre a divisão do espaço na cidade de Irati/PR e como isto interfere no desenvolvimento local. Primeiramente fez-se uma abordagem teórica sobre planejamento turístico, desenvolvimento e atividade turística para saber qual influência o turismo exerce numa cidade e como esta cidade pode colaborar para com a atividade. Sendo assim, utilizou-se enquanto métodos de pesquisa principalmente fontes bibliográficas e os resultados obtidos da atividade de estágio realizada na Prefeitura Municipal de Irati (PMI) nos setores de turismo, lazer e obras e urbanismo. O trabalho não objetiva apresentar respostas exatas sobre a atividade turística, mas sim propor uma reflexão acerca do tema e do que ainda pode ser feito para que haja um desenvolvimento responsável do turismo e que este desenvolvimento possa ser não só no que tange a economia local, mas também no que está relacionado à sociedade e ambiente, podendo estes ser agentes participantes no processo de planejamento e desenvolvimento do turismo em Irati/PR que configura o objeto deste estudo. Palavras-chave: Planejamento, Turismo, Desenvolvimento, Urbano A atividade turística e suas relações com o planejamento

A atividade turística se dissemina em todo o mundo, ou seja, mostra que o

turismo é um importante fator que traz significativos benefícios aos locais, seja

porque gera empregos, ou porque transforma espaços e destinos em atração

para as pessoas. Além do mais, o turismo também fomenta o consumo de outros

produtos e serviços que estão direta e indiretamente relacionados com a

atividade.

Contudo, é preciso que as cidades que desejam desenvolvê-lo, tracem metas e

objetivos de modo a fomentar estratégias de planejamento turístico municipal.

Tais ações visam ordenar a atividade turística e, podem minimizar os impactos

negativos e maximizar os impactos positivos gerados a partir da prática da

atividade, como considerar o espaço em que irá se desenvolver, os recursos

1 Acadêmica do 4º ano do curso de Turismo da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) – [email protected] 2 Docente do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) – [email protected]

HOLM, C. C.; BRUMES, K. R. Reflexões acerca do planejamento turístico: O caso de Irati/PR

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utilizados, os profissionais envolvidos, bem como o público que se deseja atingir

com determinadas ações.

É neste sentido que Ansarah (2001) afirma que a atividade liga-se às questões

culturais, sociais e econômicas e atende à satisfação das necessidades vitais,

como comércio, esportes, eventos, etc. Diante deste contexto, o turismo pode ser

visto como importante fator que traz significativos benefícios aos locais em que se

faz presente; o se pensar em turismo não deve levar em consideração apenas a

geração de renda e o que esta pode proporcionar. É preciso que também se

analise o impacto que ele pode causar aos espaços em que se insere. A autora

afirma que turismo deve ser pensando de forma a estar em harmonia com a

região receptora, a fim da atividade preservar a localidade para as gerações

futuras. Ao turismo então se pode delegar um importante papel: o

desenvolvimento econômico, social e/ou ambiental.

Sendo assim, este trabalho se propõe analisar a atividade turística no município

de Irati/PR. É possível por meio da análise do espaço segmentar o público, saber

que tipo de atrativo ou equipamento pode ser instalado, bem como favorecer o

desenvolvimento da atividade turística plenamente consciente de seus impactos

positivos e negativos, tanto para o residente quanto para o turista. É preciso

também que sejam investigados os efeitos que o turismo pode gerar neste espaço

e, em detrimento de quê haverá a prática da atividade

A escolha do tema se dá mediante ao fato de que existem ações isoladas que têm

sido realizadas na cidade a fim de chegar-se mais próximo de um

desenvolvimento do turismo. Acredita-se neste sentido, que como estas ações

são pequenas ainda, há tempo hábil para que os espaços de inserção possam ser

analisados e trabalhados.

Configura-se neste contexto como a problemática da pesquisa compreender o

desenvolvimento do espaço urbano de Irati/PR relacionado à atividade turística.

Ainda buscar-se saber se é o espaço que condiciona o desenvolvimento da

atividade ou vice-versa e verificar como se encontra o espaço urbano de Irati/PR.

Neste sentido, o capítulo 1 tratará da atividade turística como um todo e sua

importância no mundo atual por meio de seu papel enquanto agente que colabora

para o desenvolvimento econômico e social das cidades.

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O capítulo 2 fará uma abordagem sobre o planejamento turístico e, como este

deve ser encarado para que as ações saiam do papel e sejam efetivamente

implantadas, visando um melhor ordenamento da atividade nos núcleos em que a

mesma se desenvolve.

O capítulo 3 fará uma análise da cidade trazendo sua história; os dados

referentes à população, renda, atividades econômicas e, sobretudo, a atividade

turística na cidade, para que se possa analisar o que ela dispõe para ser utilizado

pelo e para o turismo.

As abordagens teórico-metodológicas, as pesquisas empíricas que poderão ser

percebidas ao longo desta pesquisa, podem levar a uma melhor compreensão de

como a atividade turística se estabelece em Irati.

Metodologia de pesquisa

Na pesquisa foram utilizados diferentes procedimentos para que se pudessem

atingir os objetivos propostos. Assim, pontua-se:

A pesquisa bibliográfica em livros, artigos de internet, sites institucionais e

trabalhos científicos que abordavam os temas desenvolvimento; planejamento e

turismo, que teve por objetivo fornecer a base para falar com propriedade sobre

os temas que se farão presentes no trabalho.

A pesquisa qualitativa buscou relacionar o turismo e seus benefícios para as

localidades em que a atividade é implantada. Foram utilizados dados de

entidades voltadas para o turismo, órgãos que estudam questões relacionadas ao

desenvolvimento populacional, social e econômico. As informações relacionadas

ao objeto de estudo, a saber, a cidade de Irati/PR foram extraídas da prefeitura do

município, departamentos correlatos aos interesses da pesquisa e também

Secretaria de Estado e do Turismo (SETU). Esta forma de pesquisa visa perceber

a qualidade de vida que se tem a partir da implantação da atividade em dada

localidade e se ela é satisfatória para o meio e sociedade em que se insere.

Em relação aos trabalhos de campo, o primeiro já realizado no período de

estágio, entre 04 de janeiro e 19 de fevereiro do corrente ano, em que obtiveram-

se dados que fazem alusão às atividades de gabinete, que visam melhor

compreensão do trabalho que é desenvolvido pela Prefeitura Municipal de

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Irati/PR. Esta etapa contou com a realização de entrevistas com as equipes de

urbanismo, lazer e turismo da prefeitura. O segundo momento da análise de

campo acontece de forma empírica que objetiva identificar os pontos positivos e

negativos do planejamento urbano para o desenvolvimento turístico na cidade.

Esta etapa é para que se possa fazer o comparativo entre teoria e prática, além

de ser o momento em que possibilitará ao pesquisador saber da realidade do

objeto de estudo, permitindo que este parta para um breve diagnóstico da

localidade. Esta etapa contará com o apoio dos dados e informações fornecidas

pela prefeitura do município, bem como dos autores e títulos utilizados neste

trabalho.

Por meio das diferentes formas de pesquisas utilizadas para este estudo, será

possível analisar qual a relação que existe entre o espaço urbano e a atividade

turística no município de Irati/PR, uma vez que as metodologias apresentadas

fornecerão resultados pontuais para se esclarecer o objetivo proposto.

Turismo e planejamento: da teoria à prática Turismo: os valores expressos na atividade O turismo é uma atividade do terceiro setor econômico que envolve prestação de

serviços e tem como um de seus objetivos desenvolver as localidades

proporcionando geração de emprego e renda. Assim, ele é importante ao passo

que traz significativos resultados econômico e de desenvolvimento para o local

em que se insere.

Pearce (2002) diz que o turismo já é uma atividade sólida, estabelecida na

economia das cidades, estados e países e, a partir dele estão relacionadas outros

tipos de comércios que por sua vez, formam um ciclo para bem servir e atender

os clientes, mas também desenvolvem indiretamente a localidade.

Neste contexto a atividade vem ganhando gradativamente importância no cenário

econômico das localidades, pois, trabalha interligado com outros setores da

economia e justamente por este fato consegue movimentar grandes números da

receita da referida localidade.

HOLM, C. C.; BRUMES, K. R. Reflexões acerca do planejamento turístico: O caso de Irati/PR

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De la Torre (1968, apud BARRETTO 2003, p. 19) diz que a atividade é entendida

como sendo:

(...) fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupo de pessoas, que fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem de seu local de residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada gerando múltiplas inter-relações de importância social, econômica e cultural.

Ashton e Garcia (2008) afirmam que o turismo tornou-se popular e se massificou,

por este motivo a atividade ficou conhecida e cada vez mais praticada.

Percebendo então a expansão do fenômeno social já citada pelos autores, tanto o

setor público quanto a sociedade privada devem investir na estruturação do

núcleo receptor para melhor atender o turista e com isso aumentar cada vez mais

o número de deslocamentos motivados pela atividade.

Assim, nota-se que há uma percepção acerca da importância da atividade, pois

assim como aumentam o número de viagens, aumentam também os valores

consumidos pelas pessoas que estão viajando; e estes valores são reinvestidos

na própria atividade, gerando maiores inovações que, por sua vez, servem

enquanto atrativo para as pessoas, formando assim um ciclo de deslocamento,

consumo e investimento gerando números cada vez mais significativos para a

atividade.

Segundo Pearce (2002) os benefícios econômicos gerados pela atividade já

tiveram seus resultados comprovados, pois, o mesmo é capaz de fomentar a

geração de emprego e renda, lucros corporativos e também é o turismo um

estimulador do consumo.

Silva e Cid (2005) apontam a era industrial como parte responsável pela

propagação da atividade turística no mundo. As redes de telecomunicações, os

transportes e a infra-estrutura dos núcleos receptores, bem como as facilidades

de deslocamento nesta época, foram fundamental para a atividade se consolidar

no mercado. Para elas o turismo transforma-se então em uma das atividades

mais reconhecidas no século XX e também se torna um dos principais setores

que influenciam a sociedade e a economia do mundo.

HOLM, C. C.; BRUMES, K. R. Reflexões acerca do planejamento turístico: O caso de Irati/PR

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Isto posto, pode-se afirmar a importância da atividade e o quanto ela se

desenvolve, envolvendo cada vez mais setores e localidades e aquecendo a

economia destes. O crescimento do turismo também se deve ao fato das pessoas

reconhecerem que ele é uma alternativa de fuga, pelo menos temporária, do

cotidiano. As autoras então reafirmam a importância do turismo na atualidade e

reconhecem que a atividade é “considerada mundialmente como a segunda

atividade econômica mais importante, perdendo somente para a indústria de

armamentos” (SILVA e CID, 2005, s/p).

Estes contextos dão a entender a atividade turística enquanto um importante fator

econômico e social para as localidade em que se desenvolve, pois quanto mais

pessoas este núcleo recebe, mais ele acumulará de renda e terá disponibilidade

de investimentos no próprio setor e também naqueles que estão envolvidos.

O turismo sofreu transformações desde o início de sua prática, no entanto,

quando reconhecido, proporcionou ganhos econômicos e evoluções sociais

importantes. No caso do Brasil o turismo movimenta quantidade expressiva de

dinheiro, seja gerado pelo turismo doméstico ou recebendo pessoas de outros

países.

Vieira (2003) afirma que no período anterior a 1994 o governo do país, muito

embora soubesse das vantagens de investir no turismo, não demonstrava

maiores interesses. Mas a partir deste ano, com o governo de Fernando Henrique

Cardozo (FHC) começou-se a pensar na atividade enquanto uma das alternativas

para geração de emprego e renda no país, sendo ela uma atividade estratégica

para o período em questão.

Já com na gestão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (Lula), a partir do ano

de 2003 a atividade demonstrou maior importância, visto que foi criado o

Ministério do Turismo (MTUR), órgão este que ordena e fomenta a atividade,

gerando maiores oportunidades de investimento e giro de capital. Com o apoio do

Estado, o turismo passa a ser uma das prioridades porque demonstra que é

capaz de movimentar a economia do país

O autor ainda diz que em 1994 o país recebia cerca de 1,99 milhão de turistas. Já

no ano de 2008 o MTUR apontou que o país recebeu cerca de 5,1 milhões. Nota-

se então que há um gradativo aumento no número de turistas no país, e isto se

deve aos incentivos, divulgação e comercialização do destino Brasil.

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Em relação ao número de empregos formais gerados pela atividade turística, o

MTUR divulga no Plano Nacional de Turismo – 2007/2010 que em 2001 a

atividade gerava cerca de 1,1 milhões de empregos diretos e no ano de 2006 este

número já tinha um aumento significativo atingindo a marca de 2,01 milhões.

Com base nos dados apresentados, pode se observar a importância da atividade

para o país. Investir na atividade configura-se enquanto uma forma de incentivar o

consumo de produtos e destinos turísticos para que estes possam permanecer

impactando positivamente a economia do Brasil.

No município de Irati a atividade ainda é pouco representativa, pois não apresenta

dados relevantes e confiáveis em relação ao número de empregos, tampouco o

número de pessoas que chegam na cidade motivados pela prática do turismo.

Mesmo já tendo sido contemplado com alguns selos de certificação do Instituto

Brasileiro do Turismo (Embratur), ainda percebe-se que a atividade não é

prioridade no município.

Irati segundo o Embratur possui potencialidade para desenvolver o turismo, basta

que estas sejam estudadas para que o desenvolvimento seja promovido gerando

benefícios para uma significativa parcela da população local.

Na cidade se a atividade for organizada poderá se apresentar enquanto uma

referência para o turismo da região. Neste caso, além de ser uma alternativa de

lazer, também poderá ser uma opção de atividade que movimente a economia do

município, promovendo a geração de emprego e renda para a população.

Turismo e planejamento: compreendendo a relação

Planejamento é uma ação que visa mudança para o futuro. Para o turismo a

palavra se refere ao ordenamento da atividade, porque visa objetivos e propostas

de ação passíveis de controle desde o início do processo.

Alday (2000, p.12) diz que

Planejar é a palavra apropriada para se projetar um conjunto de ações para atingir um resultado claramente definido, quando se tem plena certeza da situação em que as ações acontecerão e controle quase absoluto dos fatores que asseguram o sucesso no alcance dos resultados.

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Planejar requer análises cuidadosas para que os objetivos propostos e as ações

a serem tomadas possam ser previstas a fim de organizar a atual situação para

se alcançar uma situação desejada.

Na atividade turística o planejamento é de fundamental importância, visto que é

necessário analisar um núcleo receptor ou um empreendimento turístico, adaptá-

lo e/ou transformá-lo para que atenda da melhor forma o turista e/ou cliente.

Fala-se muito sobre se fazer turismo, mas para que exista uma prática de

qualidade é necessário que a atividade seja minuciosamente pensada, sendo

positiva para a localidade que se torna destino e também para o turista que chega

em busca de algo diferente e que atenda as suas necessidades.

Por meio do planejamento é possível prever os impactos, positivos e/ou negativos

advindos da atividade turística, pois deve se levar em conta o que deseja para

esta localidade.

Planejar o turismo é também buscar atender às necessidades do local definido,

verificar se existe a oferta do produto turístico atual e se ela atende as

expectativas dos visitantes. Mesmo sendo complexo este tipo de estudo, é desta

forma que se pode garantir sucesso para o desenvolvimento da atividade.

Ruschmann e Widmer (2000, p.67) entendem o planejamento turístico enquanto

(...) o processo que tem como finalidade ordenar as ações humanas sobre uma localidade turística, bem como direcionar a construção de equipamentos e facilidades, de forma adequada, evitando efeitos negativos nos recursos que possam destruir ou afetar sua atratividade.

Neste sentido a ideia é o de ordenamento de uma localidade para satisfazer as

necessidades do público alvo. Os residentes e os turistas são beneficiados

quando as ações a serem tomadas visam a melhoria de uma situação, pois uma

atividade planejada tem maiores chances de agradar o cliente final.

Cardozo (2007, s/p) ainda afirma que

Pensar o planejamento turístico municipal é pensar não apenas no destino propriamente dito, mas, sobretudo pensar no entorno e na comunidade que este abriga. A relevância de se refletir sobre estas questões justifica-se porque a intervenção a ser realizada diz respeito a mudanças: na base econômica da cidade; utilização do espaço urbano; e vida cultural dos residentes.

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Assim sendo, mais do que almejar a atividade enquanto fator inovador as

localidades devem estar preparadas para enfrentar mudanças em seu cenário,

uma vez que o turismo transforma o meio no qual se insere e isto pode ser ou não

aceito pela comunidade como um todo.

O desenvolvimento de uma atividade comercial em uma localidade deve ser

pensado levando-se em conta não somente a geração de benefícios para os

empreendedores, mas também para toda a comunidade que estará ligada a tal

prática. Por isso o principal objetivo do planejamento turístico é analisar o que é

melhor para a comunidade e, posteriormente o que será adequado oferecer a um

visitante e/ou turista. Neste sentido Barbosa (2010, s/p) afirma que:

Ao analisar o fenômeno turismo deve levar em conta dois aspectos importantes: o interesse dos turistas e o interesse do local que recebe os turistas. O primeiro procura regiões que oferecem atividades que ocupem seu tempo livre e que atendam a seus interesses. O segundo visa atrair os turistas para ocupar o tempo livre dos mesmos por meio das atrações que já possui ou que pode criar.

É durante o planejamento turístico que se poderá pensar no espaço a ser

ocupado, atribuir responsabilidade, designar tarefas e unir diferentes grupos

sociais em busca do desenvolvimento da atividade, se este for o objetivo da

localidade.

Para a execução dessas tarefas é necessário então que existam representantes

das entidades públicas e privadas e também representantes da sociedade civil;

formando assim um grupo de interessados que consigam dialogar sobre o ônus e

o bônus do. Desta forma, planejamento e a atividade como um todo transformam-

se em multidisciplinares e participativos para melhor atender o grupo de

interessados.

Turismo e planejamento: os níveis de articulação

Planejar é comum ao cotidiano das pessoas por se tratar da ideia de organização

de ação orientada para o futuro. Para Cardozo (2007, s/p) o planejamento é um

“(...) sistema; processo de determinação de objetivos; mecanismo orientado para

o futuro; e processo contínuo”. Para que o turismo se desenvolva é preciso que

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haja planejamento e para este existir, faz-se necessárias pessoas, instituições

e/ou entidades dispostas a pensar na atividade.

O planejamento organizacional do turismo é constituído por meio de plano

(pensando em nível estratégico), programas (preparando-se de uma forma tática)

e projetos (agindo em nível operacional). Tais documentos que se fazem

presentes no planejamento da atividade visam ordená-la para que possa se

desenvolver a contento tanto dos envolvidos diretos, quanto dos que são

indiretamente afetados durante o processo.

Para que esses documentos sejam elaborados e para que a atividade seja

desenvolvida de forma responsável numa localidade existem diversos tipos de

planejamentos. Barretto (1991) afirma que o planejamento acontece em três

níveis distintos, sendo em nível federal, estadual e municipal.

O planejamento turístico federal quer, sobretudo, referir-se a elaboração de

planos e políticas relacionadas ao desenvolvimento da atividade; o planejamento

em nível estadual preocupa-se com a elaboração de estratégias de

desenvolvimento para os municípios e; o planejamento municipal executa a

melhor estratégia proposta pelo estado para que seja desenvolvida com

responsabilidade a atividade turística.

Embora existam diversos níveis de planejamento da atividade é importante que

estes estejam interligados, podendo se desenvolver em harmonia com o que se

estará sendo pensado para o todo, ou seja, é importante que o planejamento

turístico municipal esteja interligado com o estadual, que por sua vez esteja de

acordo com o proposto em nível federal, uma vez que conseguir atingir objetivos e

metas em conjunto pode ser mais fácil, por se conseguir parcerias dispostas a

trabalhar juntas em busca de um resultado em comum.

Estes níveis de planejamento são de suma importância porque todos visam o

desenvolvimento ordenado da atividade. Quanto mais houver órgãos, setores,

departamentos e as mais distintas esferas de interessados em trabalhar em prol

do turismo, melhor a atividade será pensada e desenvolvida com êxito.

No caso do planejamento municipal é necessário que administração pública,

empresas privadas e sociedade civil atuem juntas. É necessário também que

exista uma política voltada para o turismo, pois é baseado nela que os agentes de

desenvolvimento se apoiarão para desenvolver um turismo que agrade o

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residente, ou seja, um turismo que corresponda às necessidades e anseios da

população, em termos de qualidade de vida através de geração de emprego e

renda ou ainda por meio da divulgação da sua cultura e trabalho.

Para Cardozo (2007, s/p) “o planejamento turístico municipal tem seus objetivos

próprios, e isto independe das distintas motivações pelas quais uma localidade

decide desenvolver esta atividade.” Isto quer dizer que o motivo que leva (ou não)

cada localidade a desenvolver o turismo não é igual em todos os casos, pois cada

local possui uma especificidade de interesse e de atrativo para promoção, por

exemplo.

Sabe-se que o turismo não é visto enquanto prioridade por todos os municípios

por se tratar de uma atividade que está ligada ao lazer das pessoas e muitas

vezes não é levado a sério. No entanto, para que a atividade turística se

desenvolva é necessário que existam outros fatores que estejam atuantes com

êxito dentro do município, ou seja, faz-se necessário uma rede de saúde ativa,

infra-estrutura básica que atenda as necessidades tanto do residente quanto do

turista, é preciso que a localidade disponha de educação de qualidade, segurança

eficiente e por fim, também deve dispor de equipamentos e serviços que atendam

a comunidade local e posteriormente satisfaçam o turista e/ou visitante.

Muito embora nem sempre o turista seja o foco da atividade em alguns

municípios, o dinheiro que é trazido por eles se reverte em investimentos para o

próprio município, trazendo melhorias para a comunidade e, isso torna a atividade

um dos grandes atrativos para a localidade em que o turismo se insere

(BARBOSA, 2010).

Para Ruschmann e Widmer (2000) o planejamento do turismo não visa só o

destino ou os recursos propriamente ditos, mas preocupa-se com o entorno da

localidade, pois vale ressaltar que o lugar que é atrativo para o residente, também

será para o turista, daí vem a importância de planejar e dentro desse

planejamento se preocupar com o todo envolvido.

Os benefícios positivos podem ser percebidos na base econômica, na vida

cultural e também no desenvolvimento do espaço urbano da cidade em questão.

No caso de Irati, a atividade turística, se bem planejada e desenvolvida com

responsabilidade, tem grandes chances de sucesso, pois através dela será

possível fomentar a atividade e junto dela a geração de mais uma opção de

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emprego (diretos e indiretos), renda, além de proporcionar o desenvolvimento da

localidade como um todo. Aqui se entende por desenvolvimento as questões

relacionadas à infra-estrutura, saúde pública, educação e espaços de lazer que

também poderão ser úteis para a comunidade local.

Sendo assim, fica clara a importância do turismo não como apenas uma

ferramenta para o lazer a comunidade, mas também enquanto um agente de

desenvolvimento da mesma.

TURISMO E DESENVOLVIMENTO: DUAS FACES DE UMA MESMA MOEDA?

Um pouco do conceito de desenvolvimento para o turismo

O conceito de desenvolvimento é complexo para ser trabalhado visto que aborda

aspectos social, econômico, ambiental, dentre outros. Nota-se então que há

diferentes abordagens a respeito do desenvolvimento, visto que ele por si só é

transversal.

Para Furtado (1981) o desenvolvimento é um processo cultural, no qual o homem

não está totalmente satisfeito com o meio e inicia um processo de transformação

deste para que assim possa ficar (mesmo que temporariamente), ele é quase

sempre considerado um processo progressista e devido a isto, muitas vezes o

econômico é mais levado em conta.

Segundo Furtado (1981) desenvolvimento é frequentemente utilizado para se

referir à evolução do sistema social de produção e progresso das técnicas que

elevam a produtividade.

Souza (2002) afirma que o desenvolvimento está na maioria das vezes ligado

com as questões econômicas. Mas para ele o desenvolvimento deve ser mais

amplo que isto, visto que se o desenvolvimento for só econômico ele pode ser

mensurado através do crescimento econômico e modernização tecnológica. O

desenvolvimento para o autor é mais amplo, ele é:

Compreendido como um processo de superação de problemas e conquista de condições (culturais, técnico-tecnológicas, político-institucionais, espaço-territoriais) propiciadoras de maior felicidade individual e coletiva, o desenvolvimento exige a consideração simultânea das diversas dimensões constituintes das relações

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sociais (…) e, também, do espaço natural e social. (SOUZA, 2002, p.18-19)

Desta forma, reafirma-se que o desenvolvimento se dá em diferentes setores,

sejam eles relacionados à economia ou não.

Furtado (1981, p. 16) afirma que:

(…) a ideia de desenvolvimento possui pelo menos três dimensões: a do incremento da eficácia do sistema social de produção, a da satisfação de necessidades elementares da população e a da consecução de objetivos a que almejam grupos dominantes de uma sociedade e que competem na utilização de recursos escassos.

Neste sentido, a produção refere-se ao desenvolvimento econômico; às

necessidades da população, entende-se enquanto desenvolvimento social e;

quando se fala em utilização de bens escassos, faz-se referência às questões

ligadas ao desenvolvimento ambiental.

No caso da atividade turística, o conceito que melhor se enquadra é aquele

defendido por Pádua (1987 apud SILVEIRA, 2002, p.89), em que o autor afirma

que é

(...) preciso qualificar o desenvolvimento, diferenciando-o do simples crescimento econômico. Mais precisamente é preciso submeter todo e qualquer desenvolvimento a uma crítica ecológica e não apenas econômica. A qualificação ecológica do desenvolvimento propõe uma visão de toda a aparelhagem econômica, técnica e científica que permite à sociedade a sua sobrevivência, de tal forma que o meio ambiente não seja visto como objeto inerte, mas como patrimônio coletivo fundamental às condições de vida e de convivência democrática.

Este tipo de desenvolvimento se encaixa na atividade turística porque em muitos

casos o turismo busca, para sua sobrevivência, principalmente lucros. Ao mesmo

tempo em que está nesta busca a atividade depende da sociedade e do meio

ambiente, onde ambos tornam-se a matéria prima.

O turismo em muitos contextos visa o aspecto econômico, porém é preciso

mensurar o quanto isso é importante para a localidade. A busca pelo lucro pode

não garantir que a atividade permaneça para as gerações futuras. Isto quer dizer

que o desenvolvimento deve ser equilibrado para que a matéria prima e os

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consumidores do turismo não cheguem a um ponto de saturação rapidamente,

fazendo com que os recursos se esgotem e para que o turista em si não se canse

do local visitado.

Para Souza (2002) o desenvolvimento é compreendido como a solução para os

problemas de origens cultural, política, tecnológica e econômica. O autor afirma

que para que haja desenvolvimento é necessário que seja colocado na balança

todos os impactos que surgem com a ascensão da atividade, ou seja, é preciso

analisar quem ganha e quem perde com o turismo.

Barbosa, (2010, s/p) diz que

A atividade aproveita os bens da natureza sem consumi-los, nem esgotá-los; emprega uma grande quantidade de mão-de-obra; exige investimento de enormes somas de dinheiro; gera rendas individuais e empresariais; proporciona o ingresso de divisas na balança de pagamentos; origina receitas para os cofres públicos; produz múltiplos efeitos na economia do país (...)

Para a autora é viável ter o turismo enquanto um agente de desenvolvimento, pois

preserva o que já existe e movimenta a economia da localidade.

Desta forma pode-se perceber que muito embora citem-se outros benefícios da

atividade turística e o seu desenvolvimento nas localidades, o fator econômico é o

mais enfatizado. A argumentação é a de que ao movimentar a economia ele

estaria também promovendo indiretamente o desenvolvimento econômico e social

do núcleo receptor e, este desenvolvimento se daria no momento em que a oferta

e a procura efetivamente se encontram dentro do mercado econômico. Neste

sentido

(…) o turismo é uma das mais vigorosas atividades econômicas mundiais, principalmente o setor de serviços, sendo considerado um dos três lideres mundiais em produtividade, com consequente ampliação da oferta de emprego e geração de renda. (BARBOSA, 2010, s/p)

A partir da economia pode se mudar o contexto em que a localidade se encontra,

ao se valorizar as questões culturais e sociais. A consequência será a valorização

econômica para o desenvolvimento do local. Sendo assim, para que a atividade

se desenvolva em determinada localidade e que também propicie

desenvolvimento para esta, é necessário analisar todos os fatores que estão

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envolvidos direta e indiretamente, pois muito embora todos eles devam estar

interligados para um melhor aproveitamento da própria localidade e estes fatores

demonstrem importância, o retorno econômico e as possibilidades de mais

investimentos diretos também são importantes para o sucesso do

desenvolvimento de uma localidade.

TURISMO EM IRATI: QUAL A VERDADEIRA SITUAÇÃO?

Conhecendo Irati/PR

A cidade de Irati configura-se como uma pequena cidade. Olanda (2008) afirma

que estas cidades representam as ações sociais contemporâneas, onde o homem

a transforma para satisfazer-se. O autor aponta que as cidades em geral são

(…) concentração de pessoas; concentração que pode ser denominada material com objetos diversos, edificações, habitações, automóveis, máquinas, etc.; e concentração imaterial com ideias diversas, valores religiosos e laicos, crenças, tradição cultural, conhecimento científico (…) uma cidade pequena pode se relacionar com outras de diferentes portes, próximas ou distantes, no plano nacional ou internacional, numa complexidade de escalas que vai muito além da relação hierárquica (OLANDA, 2008, p.186)

Isto posto, vê-se que as cidades possuem especificidades não importando o

tamanho que elas possuem ou o nível de importância que exercem em seu meio,

pois cada uma delas atende a um determinado grupo de pessoas e se

desenvolve a partir de um determinado interesse, “as cidades em si, apresentam

características, problemas e especificidades singulares.” (SIVIERO, 2005, p.62)

Para o turismo, as cidades possuem uma grande importância, visto que é a partir

do espaço, e, por conseguinte a partir das cidades, que a atividade se

desenvolve. É a partir da particularidade de cada uma delas que a motivação ou o

interesse de cada turista surge. Para Siviero (2005, p.18)

“embora turismo e espaço não apresentem o mesmo significado, ambos se complementam, e a reflexão sobre suas características particulares permite uma futura e melhor compreensão do chamado espaço turístico.”

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Desta forma, pensar no turismo é também pensar no espaço em que ele irá

acontecer, nos impactos que esta atividade irá gerar, para que assim se possa ter

um desenvolvimento pleno. Faz-se necessário então que a atividade respeite o

espaço, otimizando-o para que possa usufruir do mesmo garantindo a satisfação

do público alvo e também da localidade em que a atividade irá se desenvolver.

A partir do deslocamento de famílias oriundas das cidades de Palmeira, Imbituva,

Lapa, Itaiacoca, Assungui e Curitiba nos anos de 1860, a cidade hoje denominada

Irati começou a se formar. Estas famílias fixaram residência na cidade

interessadas em extrair madeira e erva-mate características da região e

abundante no local. (ANDRADE, 2010).

Segundo dados da Prefeitura Municipal de Irati (2010), em 1903 foi criado o

Distrito Judiciário de Irati na cidade de Imbituva, onde começou a se pensar nas

questões político-administrativas do município que viria a se formar. Em 1907 este

distrito foi suspenso e recriado em Irati, com a Lei nº 716 de 02 de abril. A partir

de então, começaram a chegar no município as famílias de origem holandesa,

ucraniana, polonesa, italiana e alemã que colonizaram o município e iniciaram a

movimentação na economia deste.

Andrade (2010) afirma que as pessoas viram no plantio uma atividade de

subsistência e deram início, junto com as autoridades da época, à urbanização do

município, traçando o quadro urbano de Irati. A partir daí a população foi

crescendo e a cidade junto delas se desenvolvendo. Devido às transformações

sofridas, instalações de empresas e comércio, por exemplo, hoje a cidade serve

de referência para as cidades do entorno, como Rebouças, Rio Azul, Mallet,

Teixeira Soares (AMCESPAR, 2010).

Segundo o site institucional da cidade, Irati está localizada há 150 Km de Curitiba,

capital do estado, e compõem geograficamente a região Sudoeste do Paraná.

Pertencendo a esta região, a cidade faz limite com os municípios de Imbituva,

Prudentópolis, Rio Azul, Rebouças, Fernandes Pinheiro e Inácio Martins, figura 1.

A população é de aproximadamente 56.483 habitantes, distribuídas numa área de

1000 Km² (56,41/Km²), onde o Produto Interno Bruto (PIB) atinge a marca de

R$9.978 per capta, (IBGE, 2010). O IDH3 da cidade é de 0.743, considerado pelo

3 O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) a contagem baseada em educação, longevidade e renda da população que servem para se tomar base o quanto uma população é desenvolvida. Os número obtidos

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Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES) um

desenvolvimento médio. Já o Gini4 é 0,560 também é considerado médio.

Figura 1. Mapa das cidades limítrofes de Irati. Fonte: Prefeitura Municipal de Irati, 2010.

Para complementar, o IPARDES aponta que a População Economicamente Ativa

(PEA) é de 24.927 pessoas, ou seja, mais da metade da população total está

ocupada em alguma atividade (econômica ou não) no município.

A economia da cidade, figura 2, segundo dados da Prefeitura Municipal, está

baseada na prestação de serviços e comércios, seguida da indústria e por último,

agropecuária.

Figura 2. Distribuição das atividades que configuram a economia municipal. Fonte: Prefeitura

Municipal de Irati, 2010

variam de 0 a 1, onde quanto mais próximo de 1, atesta que há maior desenvolvimento na população estudada. 4 Índice de Gini mede o grau de desigualdade sofrida pela população, os números também variam de 0 a 1, onde quanto mais próximo de 1 indica que há maior desigualdade na população estudada.

HOLM, C. C.; BRUMES, K. R. Reflexões acerca do planejamento turístico: O caso de Irati/PR

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Desta forma, percebe-se que a cidade possui uma área para exploração bastante

ampla, sendo a maior cidade da região em que está localizada. Com índices

médios e uma economia ainda não diversificada, nota-se que há várias atividades

que podem ser exploradas no município.

No que diz respeito à economia da cidade, verifica-se que a maioria dela está

baseada na prestação de serviços e comércio, cujas atividades também dizem

respeito à atividade turística, o que tende a ser um ponto que favoreça o

desenvolvimento de tal atividade em Irati.

Com o apoio da administração pública, pode-se investir no turismo promovendo

mais empregos oriundos do setor, aumentando o número de pessoas envolvidas

com atividades econômicas do município e fomentando também o

desenvolvimento deste, a partir do turismo.

Turismo em Irati: a perspectiva do poder público municipal Dias (2003) afirma que as administrações públicas municipais devem assumir o

papel modificador para obter melhorias, pois assim como uma empresa, a

atividade turística se mal administrada e/ou planejada causa danos ao município,

por se tratar de um agente consumidor do espaço onde se desenvolve, sendo

este o elemento básico da atividade, abrigando características sociais, culturais e

ambientais.

Neste sentido o ainda afirma que o turismo pode gerar ganhos locais e “(...) seu

consumo deve ser administrado pelas próprias comunidades que, numa

perspectiva mais ampla, na realidade integram o produto turístico.” (DIAS, 2003,

p. 34). Isto quer dizer que é preciso ter a participação da comunidade e dos

órgãos públicos administrativos para que o turismo seja trabalhado de forma

harmônica nas localidades onde atua.

É válido ressaltar que o turismo não será o responsável por todas as mudanças

benéficas ou não no cenário de uma cidade, mas, por se tratar de uma atividade

multidisciplinar, contribui para parcerias que, trabalhando unidas, consigam

reverter situações ainda encontradas ao longo do cotidiano das pessoas.

HOLM, C. C.; BRUMES, K. R. Reflexões acerca do planejamento turístico: O caso de Irati/PR

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No caso do Paraná, o Plano Estadual do Turismo (PET) visa desenvolver a

atividade através da regionalização, fortalecendo assim cada região turística do

estado, figura 3.

Para fomentar a atividade no estado, encontrou-se a regionalização como uma

aliada, visto que os interesses da atividade podem ser discutidos em grupo e

também levando-se em conta as peculiaridades que cada região possui.

No Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo Regional 2008 –

2011/Região Turística Terra dos Pinheirais, a qual a cidade de Irati, objeto deste

estudo, pertence, sobre a regionalização da atividade é dito que

Cabe destacar que o processo de regionalização do turismo teve e tem o apoio da Câmara Temática de Regionalização do Turismo, do Conselho Consultivo de Turismo do Paraná, que em 2003 juntamente com o Fórum Estadual dos Secretários Municipais de Turismo, começou a discutir as estratégias de Regionalização do Turismo no Estado (...) (SETU, 2010).

As regiões turísticas bem como cada município pertencente a ela, devem

aproveitar o apoio recebido para desenvolver um turismo que represente a

especificidade do local, pois além de caracterizar a região, é possível que seja

desenvolvido um turismo pleno, onde o núcleo seja receptor e emissor de

pessoas, movimentando a atividade e fazendo com que ela não seja sazonal para

a região em questão. Se os municípios se unirem para desenvolver e promover o

turismo é possível ter caso de sucesso, uma vez que a carência de uma atrativo

ou equipamento em uma cidade, pode ser suprido pelo existente em outra da

mesma região.

Para trabalhar a regionalização é importante divulgar os pontos fortes da atividade

nas cidades, como estrutura de apoio5 e equipamentos que dão suporte à

atividade, mesmo que estes atrativos sendo pertencentes a municípios vizinhos.

Desta forma, é possível atrair pessoas para a região, divulgar os municípios sem

decepcionar o visitante com uma estrutura precária ou serviços que não o

agradem plenamente.

5 Neste caso, entenda-se por estrutura plenamente satisfatória aquela que possua atrativos, infra-estrutura básica e turística sólidas, equipamentos de apoio ao turismo em perfeitas condições de usos e desfruto tanto pela população local, quanto pelos turistas que estejam no destino.

HOLM, C. C.; BRUMES, K. R. Reflexões acerca do planejamento turístico: O caso de Irati/PR

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Figura 3. Mapa das regiões turísticas do estado do Paraná. Fonte: Secretaria de Estado do Turismo – SETU, 2010

HOLM, C. C.; BRUMES, K. R. Reflexões acerca do planejamento turístico: O caso de Irati/PR

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É preciso investir nos municípios separadamente, mas também investir na

regionalização, no caso da Terra dos Pinheiras, visto que os municípios de Antônio

Olinto, Bituruna, Cruz Machado, Fernandes Pinheiro, General Carneiro,

Guamiranga, Imbituva, Inácio Martins, Irati, Mallet, Paula Freitas, Paulo Frontin,

Porto Vitória, Prudentópolis, Rebouças, Rio Azul, São Mateus do Sul, Teixeira

Soares e União da Vitória que compõe a região não possuem sozinhos uma

estrutura plenamente satisfatória para a prática da atividade.

No caso de Irati, o site institucional afirma que o município recebeu em 1996 do

Ministério do Esporte e Turismo o Selo de Município com Potencial Turístico e

aponta-se enquanto atrativos turísticos da cidade os seguintes locais e monumentos:

Imagem de Nossa Senhora das Graças, Floresta Nacional de Irati, Caverna do

Canhadão, Morro das Comunicações, Parque Aquático e de Exposições Santa

Terezinha, Centro de Tradições Willy Laars, Kartódromo de Irati, Arquitetura

religiosa e, as praças Bandeira, Edgard Andrade Gomes e Etelvina Gomes.

(PREFEITURA MUNICIPAL DE IRATI, 2010)

Em visitas realizadas, percebeu-se que muitos desses locais e monumentos

apresentam pouca ou nenhuma condição de serem abertos a visitação, tampouco

podem ser considerados como atrativos turísticos, devido ao acesso, segurança e a

própria estrutura física que muitos possuem.

Preliminarmente, constatou-se que Irati não possui espaços para a prática de lazer e

nota-se que os empresários relacionados ao turismo não fazem investimentos

significativos em seus negócios para fomentar a atividade. Percebeu-se que a

cidade ainda não apresenta nenhuma pesquisa que aponte dados da demanda

turística na cidade e também que as ações tomadas pela prefeitura em relação ao

turismo, sua divulgação e consequentemente desenvolvimento são pequenas.

Nota-se a partir destas primeiras análises que a cidade ainda carece muito para

desenvolver o turismo. Faz-se necessário que haja maiores investimentos do poder

público e privado para que exista um turismo minimamente satisfatório,

investimentos estes no que se refere à infra-estrutura básica, infra-estrutura de apoio

ao turismo, melhoras nos espaços e monumentos considerados de lazer e turísticos,

para que posteriormente passe a existir a prática do turismo na cidade.

HOLM, C. C.; BRUMES, K. R. Reflexões acerca do planejamento turístico: O caso de Irati/PR

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HOLM, C. C.; BRUMES, K. R. Reflexões acerca do planejamento turístico: O caso de Irati/PR

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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

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ALVES, E. I.; SILVA JÚNIOR, R. F. Uma análise geográfica das práticas intracemiteriais: o caso do cemitério São Josafat na cidade de

Prudentópolis-PR

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UMA ANÁLISE GEOGRÁFICA DAS PRÁTICAS INTRACEMITERIAIS: O CASO DO CEMITÉRIO SÃO JOSAFAT NA CIDADE DE

PRUDENTÓPOLIS-PR

EDIANE IACIUK ALVES1 ROBERTO FRANÇA DA SILVA JUNIOR2

Resumo: Este trabalho tem como principal objetivo analisar as práticas socioespaciais desenvolvidas no interior do Cemitério São Josafat em Prudentópolis (PR) e a relação que as pessoas têm com esse subespaço, ou seja, os motivos pelos quais as pessoas atribuem diferentes significados a um mesmo lugar. “As pessoas atribuem estranhamento e fascínio em relação ao cemitério (...)” ( REZENDE, 2000, pg.16). Seus estudos serão relacionados ao vivenciado, a maneira de como as pessoas manifestam estas atividades socioespaciais fugindo da concepção determinada para esse subespaço e como se realizam mostrando diversificadas e inusitadas formas de uso espacial. Para tal análise, aplicamos questionários contendo questões fechadas e abertas, desenvolvendo inclusive pesquisa-ação com frequentadores e não frequentadores do cemitério. Levamos em consideração dois momentos distintos: o noturno e o diurno, tendo como principal enfoque as atividades noturnas, consideradas profanas pela população em geral, e suas relações com o sagrado (as práticas intracemiteriais diurnas, que estão diretamente relacionadas à religiosidade). Com base nesses pressupostos, compreendemos as contradições (inclusive as desigualdades sociais, expressados nas representações sociais e simbólicas tumulares) e a relação com o medo que as pessoas sentem ao falar no lugar (cemitério) esse medo sendo experimentados por indivíduos e, nesse sentido, são subjetivos, cada qual com sua credulidade, cultura e fantasias, dando sentido a um subespaço material e simbólico.

Palavras-chave: Lugar, Cemitério, Práticas intracemiteriais

1 Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro – Oeste Campus de Irati – PR [email protected] 2 Professor Doutor pela UNESP e professor do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro – Oeste – Campus de Irati – PR [email protected]

PEREIRA, E.; SILVA JÚNIOR, R. F. Responsabilidade social, competitividade e psicosfera

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RESPONSABILIDADE SOCIAL, COMPETITIVIDADE E PSICOSFERA1

ELISELMA PEREIRA2 ROBERTO FRANÇA DA SILVA JUNIOR3

Resumo: A organização das empresas está sendo, com o passar do tempo, uma das questões mais debatidas e analisadas em vários campos disciplinares. Agora, além das obrigações já estabelecidas em lei, as empresas estão sendo pressionadas a discutir e rever o impacto das suas operações, e desempenhar ações que incluam principalmente os interesses e necessidades da sociedade. A responsabilidade social está sendo vista por grande parte dos empresários como um meio de se diferenciar e de obter vantagens competitivas frente à concorrência que se apresenta, e assim, principalmente valorizar sua imagem perante a sociedade. Dessa forma, através dos referenciais teóricos encontrados e de uma pesquisa empírica qualitativa, o trabalho objetiva compreender os efeitos da atuação social das empresas na dinâmica empresarial, e analisar os principais fatores que contribuem para a responsabilidade social, quais as características que a definem e quais são os benefícios agregados para as empresas que realizam ações sociais no território. Palavras-chave: Responsabilidade social, Empresas, Ações sociais, Sociedade Introdução

Já faz algum tempo que as ações das empresas passaram a ser analisadas pela

sociedade. Mais exigente e consciente, o mercado consumidor está se questionando

sobre o papel das empresas e quais são suas contribuições e envolvimento na

solução dos problemas sociais que o afeta, em que o desemprego, exclusão social e

condições precárias de sobrevivência fazem com a sociedade esteja cada vez mais

voltada para as questões sociais.

A responsabilidade social empresarial está se tornando um dos temas mais

debatidos e propagados para a gestão empresarial da atualidade. Caracteriza-se

como um fator de grande importância e que agrega inúmeras vantagens

competitivas para as empresas, as quais passaram a competir num ambiente de

negócios cada vez mais complexo, onde não é mais suficiente oferecer à sociedade

apenas qualidade e preço baixo.

1 Este trabalho é parte integrante da monografia de conclusão de curso. 2 Graduanda em Geografia pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) - Campus de Irati. E-mail: [email protected] 3 Professor Adjunto Doutor da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) - (graduação e mestrado), Campus de Irati. E-mail: [email protected]

PEREIRA, E.; SILVA JÚNIOR, R. F. Responsabilidade social, competitividade e psicosfera

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Segundo Lanzarini: Muitas empresas redefinem suas atividades e não estão mais preocupadas somente com o lucro. Preocupam-se igualmente, com o desafio de acompanharem a rápida evolução que as afeta e percebem que podem ser agentes de mudança não só na esfera econômica, mas também no âmbito social e ambiental (LANZARINI, 2005, p. 13).

As ações sociais das empresas são regidas por ideias, crenças e princípios morais.

Essa psicosfera determina a organização das empresas, impõe normas e define o

comportamento eticamente correto diante do público consumidor.

Analisar a responsabilidade social das empresas é uma tarefa bastante complicada.

Pereira, (2007) considera que as estratégias utilizadas pelos empresários para obter

a lucratividade e realizar ações sociais, trazem em si um problema. “A política

pressupõe ações em prol da sociedade e do território, enquanto as empresas agem

segundo interesses parciais”, decorrendo em uma seletividade econômica e

geográfica pressuposta pela política praticada pelas empresas. Assim, algumas

empresas se utilizam de práticas sociais externas que geralmente levam seu nome,

e outras realizam ações a partir dos seus próprios departamentos vinculando-se a

setores específicos, como o marketing.

Entretanto, o presente artigo tem por objetivo apresentar o desempenho social das

empresárias Karina Rickli e Jussara Durski Rickli, franqueadas da empresa O

Boticário4, as quais, diante de um mercado no qual a competição é crescente e as

buscas por formas de se diferenciar são contínuas, agregam além da qualidade dos

seus produtos e serviços, práticas comprovadamente responsáveis em termos

sociais.

Através de uma pesquisa qualitativa e entrevista com as referidas empresárias foi

analisado a conduta social das mesmas, apresentando suas práticas socialmente

responsáveis, através do Projeto “Semeando o Futuro”5, o qual tem como tema, a

Educação e o Meio Ambiente, visando: contribuir para a formação do caráter infantil,

de uma educação ambiental, auxílio à alfabetização, combate ao trabalho infantil e

melhora das condições de vida da comunidade.

4 Rede de franquias de perfumaria e cosméticos, que atua no mercado há 33 anos, e possui 2.829 unidades no Brasil. 5 Projeto desenvolvido pelas empresárias Karina Rickli e Jussara Durski Rickli em conjunto com a Igreja Presbiteriana da cidade de Prudentópolis no Estado do Paraná.

PEREIRA, E.; SILVA JÚNIOR, R. F. Responsabilidade social, competitividade e psicosfera

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A responsabilidade social das empresas

As ações de responsabilidade social empresarial já podem ser observadas em

grande parte do comportamento do empresariado brasileiro.

Mesmo sendo um tema relativamente novo, as ações sociais já vêm recebendo

várias definições, entendimentos e um crescente envolvimento de significativa

parcela do empresariado nacional com as questões e as práticas relacionadas à

responsabilidade social.

Existe uma heterogeneidade de termos que são usados para descrever as ações

empresariais. Na década de 1980 o termo utilizado era “Filantropia Corporativa”, que

se relacionava a uma prática assistencialista baseada na caridade e doação. Esse

termo foi substituído por “Investimento Social Privado”, que se colocava numa

perspectiva voltada para a racionalidade, onde eram considerados os custos, o

retorno e o planejamento e impacto das ações na comunidade. Em seguida e mais

recentemente, surgiu o termo “Responsabilidade Social Empresarial”, que além de

tomar as ações sociais junto com a comunidade, implica na postura ética social da

empresa diante de seu público interno (PEREIRA, 2007).

Atualmente a responsabilidade social no Brasil é amplamente discutida nos meios

acadêmicos e empresariais, sendo característica de uma nova forma de gestão das

empresas, em que o “comportamento socialmente responsável é fator diferencial

que ajuda a construir e a consolidar a marca empresarial”. Ela é indispensável para

uma empresa ter sucesso, conquistar e ampliar mercado e ter competitividade,

contudo, a empresa que não ampliar suas políticas e não for socialmente

responsável não terá seu espaço no mercado (PASSADOR, 2002).

Embora ainda haja divergências quanto aos termos utilizados e aos seus

significados, é preciso estar claro que acima de produzir bens e serviços e evitar

danos à comunidade, a responsabilidade social empresarial é uma ação totalmente

voluntária que visa contribuir com a sociedade, sem que essas ações estejam

voltadas para a obtenção do lucro direto6.

Diante das transformações projetadas pela globalização as empresas vêem a

necessidade de analisar suas práticas continuamente, visando ampliar seu mercado

consumidor e abranger parcelas significativas da sociedade. No entanto, algumas

empresas utilizam-se da responsabilidade social como um meio de obtenção de 6 Muito embora saibamos que a maior parte das ações sociais sirva a propaganda e o abatimento de impostos.

PEREIRA, E.; SILVA JÚNIOR, R. F. Responsabilidade social, competitividade e psicosfera

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lucros e principalmente como forma de valorizar sua imagem perante a sociedade,

ou seja, como uma ferramenta de marketing. Essas empresas não estão

preocupadas com o desenvolvimento e com a ética social, mas simplesmente em

atrair cada vez mais consumidores. Segundo Pereira, (2007, p. 6), “a marca da

empresa passa a se associar não apenas ao produto em si e sua propaganda direta,

mas a todo o conjunto de valores que a empresa afirma reproduzir”.

Para Reis e Medeiros: A responsabilidade social das empresas não pode ser reduzida a mais uma nova e inovadora ferramenta de marketing, mas ser ampliada para um novo modelo de comportamento de gestão de negócio, que em sua essência, resgata valores humanos universais, pressupõe a tomada de decisões de maneira ética, preservando interesses de todas as partes direta e indiretamente envolvidas no negócio, assim como interesses de toda sociedade, numa relação na qual todos ganham, sociedade e empresas (REIS e MEDEIROS, 2007, p. 34).

A globalização se apresenta como a abertura do mercado e o aumento da

competitividade entre as empresas, tornando-se constante a busca por melhores

resultados como a maximização dos lucros e conquistar e manter os seus

consumidores. Assim, as ações de responsabilidade social representam grandes

vantagens competitivas para as empresas que as praticam, destacando-se frente à

concorrência. Segundo Petrella apud Silva Junior, (2009, p. 33), a competitividade “é

um meio convertido em fim e dotado de devastador sentido de confrontação e

aniquilação dos rivais. A competitividade constitui mais que um instrumento, uma

ideologia que se instala”.

O lucro, o desenvolvimento econômico e a diminuição da carga de impostos sempre

foram os principais objetivos das empresas. Entretanto, muitos empresários estão se

conscientizando de que as ações orientadas para fins econômicos já não são

suficientes para vencer a competitividade e conquistar o mercado consumidor, dessa

forma estão se voltando cada vez mais para as questões e necessidades das

pessoas envolvidas em suas ações, ou seja, da sociedade como um todo. Para

Borger:

A atuação das empresas orientada para a responsabilidade social empresarial não implica que a gestão empresarial abandone os seus objetivos econômicos e deixe de atender aos interesses de seus proprietários e acionistas; pelo contrário, uma empresa é socialmente responsável se desempenha o seu papel econômico na sociedade

PEREIRA, E.; SILVA JÚNIOR, R. F. Responsabilidade social, competitividade e psicosfera

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produzindo bens e serviços, gerando empregos, retorno para os seus acionistas dentro das normas legais e éticas da sociedade. Mas cumprir o seu papel econômico não é suficiente; a gestão das empresas é responsável pelos efeitos de sua operação e atividades na sociedade (BORGER, 2001, p. 9).

As expectativas dos consumidores em relação à ação das empresas foram

confirmadas por uma pesquisa sobre Responsabilidade Social das Empresas,

realizada pela Environics Internacional7 em 1999, em mais de 23 países, a qual

revelou que as pessoas ao formar uma impressão sobre uma empresa, se baseiam

mais em sua contribuição para causas sociais e sua relação com o meio ambiente

do que na reputação da marca ou questões financeiras (GRAYSON, 2002 apud

REIS e MEDEIROS, 2007, p. 7).

As discussões atuais sobre a responsabilidade social giram em torno das obrigações

legais que as empresas precisam cumprir como geração de empregos,

desenvolvimento da economia e garantia de condições mínimas de sobrevivência da

população.

Entretanto, com o decorrer do tempo tais ações passaram a ser vistas como

obrigações a serem cumpridas pela empresa e as ações só eram consideradas

sociais se envolvessem os interesses e preocupações da sociedade. Uma empresa

socialmente responsável é aquela que assume alguma responsabilidade além

daquela exigida por lei, “sendo a responsabilidade social a obrigação que a empresa

assume perante a sociedade no compromisso de maximizar os impactos positivos e

minimizar os negativos” (FERREL, 2001 apud REIS e MEDEIROS, 2007, p. 15).

A forma de conduzir as ações de uma empresa é um meio para a prática da

responsabilidade social. Diante dos valores éticos há uma integração entre clientes,

fornecedores, consumidores e a comunidade, ou seja, todos os stakeholders8 que

são diretamente ou não afetados por suas atividades contribuindo para a construção

de uma sociedade que promova a igualdade de oportunidades. Assim, as empresas

não devem satisfações apenas aos seus acionistas, muito pelo contrário, deve agora

7 Organização “sem fins lucrativos” dos Estados Unidos, cujo trabalho se concentra na compreensão das interrelações entre os problemas sociais, econômicos e ambientais, identificação e desenvolvimento de soluções integradas e sustentáveis. 8 Por stakeholders o discurso empresarial qualifica os clientes, governo, fornecedores, funcionários, enfim, a todos os interessados nas ações empresariais, exceto os proprietários, conhecidos como shareholders (GOMES E MORETTI, 2007, p.6).

PEREIRA, E.; SILVA JÚNIOR, R. F. Responsabilidade social, competitividade e psicosfera

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prestar contas aos funcionários, à mídia, ao governo, ao setor não-governamental e

ambiental e, por fim, às comunidades com que opera. As discussões sobre o tema compreendem vários aspectos, como a análise e

identificação dos envolvidos nas ações das empresas, bem como a importância de

cada um na elaboração de uma política social e sustentável. Dessa forma, a

responsabilidade social empresarial pode ser caracterizada como uma gestão que

se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com

os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que

impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos

ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e

promovendo a redução das desigualdades sociais. Psicosfera: elemento fundamental na dinâmica da responsabilidade social empresarial O mercado consumidor cada vez mais instruído e conhecedor dos seus direitos está

exigindo que empresas analisem e avaliem constantemente sua conduta social.

Através disso, o empresariado está se conscientizando de que suas ações devem

ser realizadas de forma ética, respeitando as preocupações e necessidades da

comunidade e obedecendo a rigorosos valores morais.

Ideias, crenças e princípios são fatores que regem a conduta social das empresas. A

psicosfera, como afirma Milton Santos (2006, p. 173), “é a esfera da ação” e está

relacionada a valores morais e a crenças pessoais sobre o comportamento

eticamente correto ou incorreto de uma empresa, em que esses valores e crenças

definem uma postura ética perante a sociedade.

O processo da globalização introduz no território as chamadas tecnologias de

informação, que “vieram a possibilitar a transmissão de informações

instantaneamente para todo o globo, favorecendo, sobretudo as estratégias

territoriais das empresas” (PEREIRA, 2007, p. 48). A tecnosfera caracterizada por

Milton Santos (2006, p. 173) como “o mundo dos objetos” e a introdução da técnica

e da ciência permitem a materialização e concretização das ações projetadas pela

psicosfera.

A psicosfera e a tecnosfera se apóiam, sendo uma fundamental para que a outra

exista: “Não se pode cogitar uma existência autônoma do sistema técnico, assim

PEREIRA, E.; SILVA JÚNIOR, R. F. Responsabilidade social, competitividade e psicosfera

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como não existe uma psicosfera independente da materialidade” (PEREIRA, 2009,

não paginado).

Para Milton Santos:

Tecnosfera e psicosfera são redutíveis uma à outra. O meio geográfico atual, graças ao seu conteúdo em técnica e ciência, condiciona os novos comportamentos humanos, e estes, por sua vez, aceleram a necessidade da utilização de recursos técnicos, que constituem a base operacional de novos automatismos sociais. Tecnosfera e psicosfera são dois pilares com os quais o meio científico–técnico introduz a racionalidade, a irracionalidade, e a contra–racionalidade, no próprio conteúdo do território (SANTOS, 2006, p. 172).

Para a realização das ações sociais das empresas é necessário considerar o

dinamismo e as especificidades de cada território, como também as desigualdades

no acesso às infraestruturas, em que a ação das empresas sustenta a lucratividade

e muitas vezes amplia essas desigualdades. Dessa forma, as empresas procuram

por meio da responsabilidade social aproximar-se da força comunicacional dos

lugares e dela tirar vantagens mercantis (PEREIRA, 2007).

As ideias, crenças e valores individuais, muitas vezes aceleram e aumentam as

diferenças entre os lugares. Sobre o assunto Pereira comenta: Assim, com base em valores individuais, as empresas alegam cumprir seu papel de responsáveis por uma mudança social profunda. Todavia, é através do espaço banal que poderemos perceber se este discurso apenas reproduz uma lógica segregadora ou se, de fato, ele fomenta a cidadania que nosso país reclama desde o início de sua história, considerando a totalidade do território brasileiro. (PEREIRA, 2007, p. 6)

A competitividade e o acesso à tecnologias cada vez mais eficazes são fatores que

fazem com que as empresas se desenvolvam continuamente e busquem meios para

se diferenciar, passando com isso a ter mais “obrigações” morais e éticas com a

sociedade. Bom preço e qualidade dos produtos não são mais as características

principais de uma boa gestão, sendo necessário o envolvimento das empresas na

resolução das questões de interesse da comunidade a qual ela se insere.

Contudo, para que a responsabilidade social aconteça efetivamente, é preciso que

as empresas repensem suas filosofias e técnicas esclarecendo quais são suas

PEREIRA, E.; SILVA JÚNIOR, R. F. Responsabilidade social, competitividade e psicosfera

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preocupações sociais e de que forma atuam em benefício delas, demonstrando aos

interessados em suas ações que seus propósitos vão além da busca pelo seu

próprio desenvolvimento econômico, ou seja, que existem outras preocupações

além do lucro.

Conduta social empresarial: o caso das empresárias Karina Rickli e Jussara Durski Rickli 9

A conduta social das empresas está diariamente exposta à sociedade. Suas ações

são analisadas constantemente desde as mais simples até as mais complexas.

Atualmente a sociedade, no papel de consumidores ainda desconhece em grande

parte seus direitos sociais. Contudo, com o acesso às informações, a sociedade em

geral está se tornando “mais exigente” e os consumidores estão certos que as

empresas podem e devem oferecer mais do que produtos eficientes e bom

atendimento. Dessa forma, sabem que elas têm possibilidades de contribuir para o

desenvolvimento sustentável da comunidade, e nesse sentido, exigem uma conduta

responsável baseada em princípios éticos, morais e sociais.

A diminuição da carga de impostos, a competitividade e a busca por formas de se

diferenciar estão despertando preocupações crescentes a muitos empresários

quanto ao seu desempenho social. Suas estratégias estão sendo reavaliadas e

estão mais voltadas além da eficiência e do lucro, para valores como cidadania,

ética, preocupação com o meio ambiente e atitudes socialmente responsáveis.

Karina Rickli e Jussara Durski Rickli são empresárias que atuam no ramo de

perfumaria e cosméticos. Atualmente são proprietárias de três lojas da rede O

Boticário, e são exemplos no desenvolvimento de ações de responsabilidade social

empresarial.

As três franquias estão localizadas nas cidades de Irati, Prudentópolis e Imbituva, no

Estado do Paraná. A carreira empresarial de Karina e Jussara teve início com a

aquisição da primeira loja na cidade de Prudentópolis em novembro de 1991,

seguida pela loja de Imbituva em novembro de 2002. Com o grande sucesso e

desenvolvimento das duas franquias, adquiriram em abril de 2009 a loja da cidade

de Irati.

9 As informações e dados contidos neste item foram obtidos através de entrevista qualitativa com as empresárias.

PEREIRA, E.; SILVA JÚNIOR, R. F. Responsabilidade social, competitividade e psicosfera

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Além das vendas, Karina e Jussara se preocupam com as questões sociais.

Segundo elas, o interesse em ações sociais sempre existiu, mas foi através do

incentivo e exemplo do Boticário que tomaram a decisão de investir na comunidade

em favor de um “mundo melhor”.10

O processo de globalização é socialmente desigual. No Brasil, apesar da melhoria

no acesso a bens tangíveis e intangíveis, existe ainda uma grande desigualdade

social e econômica. Segundo Queiroz:

Há um consenso da sociedade quanto ao maior desafio do nosso país: conquistar a igualdade na distribuição da renda e no acesso, com qualidade, aos serviços públicos essenciais. Atualmente, a desigualdade reinante impede grande parte da nossa população de usufruir os possíveis benefícios do processo tecnológico e econômico. Assim, o desafio maior da nossa sociedade é a integração social desses excluídos (QUEIROZ, Adele et al. 2006, p. 18).

O Estado brasileiro apesar de ter a obrigação de garantir à sociedade o

cumprimento dos seus direitos sociais, não atua ao modo de um Estado Providência,

sendo as empresas pressionadas a adotarem uma postura responsável retribuindo a

utilização dos recursos humanos e naturais. Assim, as empresas assumem papel

relevante no atendimento das necessidades da sociedade através da contribuição

social desempenhada por elas.

Segundo a análise de Passador:

No Brasil, como em toda parte, cresce o entendimento de que uma política de desenvolvimento social precisa da participação de novos atores. Trata-se, portanto, de buscar parceiros fora do Estado, isto é, na sociedade ou, mais especificamente, nas empresas privadas e no terceiro setor (PASSADOR, 2002, p. 2).

O terceiro setor11 é um espaço que pode ser explorado pelas empresas que desejam

exercer novas atividades, as quais surgem como uma nova proposta de ação no

campo social com foco em ações de parceria em projetos sociais e na disseminação

de práticas socialmente responsáveis.

10 O Boticário se apresenta como uma empresa comprometida em conduzir os seus negócios de “forma ética e responsável”, por meio de estratégias que integrem as dimensões social, econômica e ambiental, considerando os interesses de toda a sua rede de relações. 11 Definição caracterizada pela mistura dos dois setores econômicos clássicos da sociedade: o público, representado pelo Estado, e o privado, representado pelo empresariado em geral.

PEREIRA, E.; SILVA JÚNIOR, R. F. Responsabilidade social, competitividade e psicosfera

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Em fevereiro de 2006, a senhora Jussara Durski Rickli e sua filha Karina Rickli, em

conjunto com a Igreja Presbiteriana de Manduri, nas pessoas de Roberval Marçal de

Oliveira, Eliane Martins Rosa e demais membros da Igreja, fundaram e deram início

às atividades do Projeto “Semeando o Futuro”. O projeto está localizado em

Manduri, zona rural do município de Prudentópolis e tem como tema a Educação e o

Meio Ambiente, visando contribuir para a formação infantil, (educação ambiental,

alfabetização, etc), combater o trabalho infantil e melhorar as condições de vida da

comunidade.

A cidade de Prudentópolis localiza-se na região Centro-Sul do Estado do Paraná,

distante 208 quilômetros da capital Curitiba. Caracteriza-se por um município

essencialmente rural. Grande parte de sua população total, estimada em 51.008

habitantes12, vive na zona rural, em pequenas propriedades, tendo no setor primário

a base de sua economia, onde se destaca a cultura do feijão, milho e soja. A maioria

dessas propriedades está organizada através de um sistema de produção camponês

tradicional, conhecido como Sistema Faxinal, cujos traços marcantes são o uso

coletivo da terra para produção animal e agrícola e a conservação ambiental.

Manduri, bairro rural de Prudentópolis, formado por imigrantes, em especial

europeus, atualmente é composta principalmente por famílias de baixa renda

dedicando-se a plantação de fumo em pequenas lavouras de subsistência vivendo

de forma precária com pouco acesso a educação.

A comunidade do Manduri conta com uma única escola de 1ª a 4ª Série do Ensino

Fundamental, a qual ainda funciona nos moldes das escolas mutisseriadas. A escola

municipal já não é suficiente para o atendimento de todas as faixas etárias dos

alunos. Dessa forma, o Projeto é uma opção em termos de educação para as

famílias.

O objetivo geral do projeto é contribuir para a formação do caráter infantil e

ambiental, estabelecendo estratégias participativas entre os diversos atores sociais

através da promoção de ações que levem à melhoria das condições ambientais e da

vida da comunidade de Manduri. Karina e Jussara investem no projeto um por cento

do faturamento bruto da empresa, caracterizando cerca de R$ 30.000,0013 por ano,

e afirmam que o trabalho social desenvolvido não tem intenção de trazer benefícios

ou ganhos para as lojas e sim para a comunidade em que atuam, onde “os valores

12 Estimativa do IBGE (2009) 13 Segundo a empresária Karina Rickli.

PEREIRA, E.; SILVA JÚNIOR, R. F. Responsabilidade social, competitividade e psicosfera

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agregados aos envolvidos na execução e financiamento do projeto são valores

humanos não mensuráveis” (KARINA RICKLI).

O projeto é uma parceria da Igreja Presbiteriana, da Secretaria de Ação Social e da

franquia “O Boticário”, nas pessoas de Karina e Jussara. A Igreja Presbiteriana

investe recursos cedendo o espaço físico, uma servente para a limpeza e um lanche

para as crianças, três vezes por semana. A Secretaria de Ação Social remunera

uma pedagoga e oferece parte da merenda escolar. A franquia O Boticário contribui

com o Projeto através do custeio do material pedagógico e duas professoras para a

alfabetização das crianças.

Atualmente são 23 crianças matriculadas no projeto, sendo 10 alunos entre três e

cinco anos e 13 alunos que já frequentam a escola municipal da comunidade. As

atividades oferecidas no projeto seguem temas como meio ambiente, ecologia,

preservação e reciclagem. As crianças entre três e cinco anos recebem aulas de

ensino religioso através de histórias, desenhos, dramatização e conversação. São

aplicadas atividades de matemática, através de jogos e com a utilização de materiais

concretos para facilitar a assimilação dos conteúdos. Recebem também aulas de

música duas vezes por semana, ministradas por uma professora paga pelas

empresárias, e aulas de educação-física e informática, assim como também

atividades diárias de alfabetização e lazer e uma palestra mensal com um

profissional da área da saúde.

Jussara Rickli atua como coordenadora do projeto trabalhando voluntariamente duas

vezes por semana em atividades como tabuada e leitura com os alunos que já

frequentam a escola municipal oferecendo recuperação de estudos e atividades

extracurriculares.

O projeto constitui-se principalmente por trabalhos voluntários de pessoas que

desejam contribuir e beneficiar os moradores da comunidade, como é o caso do

trabalho de uma supervisora, (pedagoga, pós-graduada em Pedagogia e mestre em

Filosofia da Educação), do atendimento odontológico gratuito feito por profissionais

área e atendimento médico realizado no posto de saúde de Prudentópolis.

As crianças frequentam o projeto de segunda à sexta-feira e utilizam o transporte

escolar da Prefeitura, o qual faz apenas o trajeto de ida para o projeto, pois o retorno

dos alunos para suas casas é feito em carros particulares dos próprios

colaboradores que se disponibilizam a fazer esse trabalho, pelo fato de não existir

outra forma de condução, já que o horário coincide com o transporte das crianças

PEREIRA, E.; SILVA JÚNIOR, R. F. Responsabilidade social, competitividade e psicosfera

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que frequentam as escolas municipais e estaduais da cidade de Prudentópolis, feito

pelo ônibus escolar municipal.

Este projeto tem sua relevância na realidade contextual de Prudentópolis, pois a

maioria das famílias trabalha na plantação do fumo, onde os pais das crianças estão

sempre às voltas com o cultivo do fumo, ora no campo, ora nas estufas, as quais

possuem fornos quentes para a secagem das folhas e onde preparam o mesmo

para a indústria. Seus filhos os acompanham nessas atividades, em especial os de

dois a seis anos, devido não ter um lugar onde possam ser cuidados, e muito menos

educados na escola pública existente. Também são impedidos de irem para uma

creche escola, por serem ainda pequenos e não poderem tomar o ônibus escolar

rural, a fim de se deslocarem a grandes distâncias para serem atendidos conforme

suas necessidades infantis. Sendo assim, estas crianças encontram-se em situação

de vulnerabilidade não estando em condições de terem o bem estar mínimo e a

educação adequada, pois ficam com seus pais e irmãos nas estufas e nas

plantações de fumo, lugares pouco apropriados para uma criança nesta faixa etária,

e perdem o seu momento mais rico de aprendizado e ampliação de suas

experiências infantis.

Considerações finais

Na história das organizações empresariais, a competitividade sempre foi um dos

principais objetivos dos gestores para ampliar e manter seu mercado consumidor.

Entretanto, as novas exigências para a manutenção da competitividade das

empresas vêm trazendo para a gestão questões de cunho ético, moral e social.

Nesse contexto, a responsabilidade social associa-se a um conjunto de políticas,

práticas e rotinas que visam o desenvolvimento econômico, social e ambiental, em

que “as empresas sofrem pressão para que adotem uma postura responsável e

retribuam a sua utilização dos recursos humanos e naturais” (LANZARINI, 2005, p.

12).

No decorrer do tempo houve grandes mudanças na postura social dos empresários.

Diante das transformações projetadas pela globalização e a necessidade de

acompanhar a rápida evolução, muitos empresários se conscientizaram de que suas

ações devem estar voltadas não só para questões econômicas, como também para

as preocupações e necessidades que envolvem a sociedade na qual se insere.

PEREIRA, E.; SILVA JÚNIOR, R. F. Responsabilidade social, competitividade e psicosfera

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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

São muitos os casos de empresas que trabalham em prol da sociedade e

contribuem para o seu desenvolvimento. O caso estudado é um exemplo de

responsabilidade social empresarial, em que pode ser constatado que as

empresárias Karina Rickli e Jussara Durski Rickli, há aproximadamente quatro anos,

desempenham papéis fundamentais na vida social da comunidade do Manduri,

contribuindo na melhora da qualidade de vida das pessoas, e principalmente

propiciando o acesso aos serviços essenciais à vida como saúde e educação.

A responsabilidade social precisa ser assumida como um compromisso das

empresas. Sua conduta deve ser baseada em princípios morais, e consciência ética,

agindo corretamente para ajudar a sociedade a enfrentar seus problemas. As

empresas precisam se conscientizar que além de serem agentes do

desenvolvimento econômico podem ser também agentes do desenvolvimento

humano e social.

Para Pereira (2007), poucas são as empresas que se colocam somente como

doadoras para as organizações e para a sociedade, já que esta postura está

relacionada ao assistencialismo, que atualmente não faz parte das modernas

práticas da responsabilidade social. Dessa forma, pôde-se compreender que o

trabalho social desenvolvido por Karina e Jussara se difere da maioria das

empresas, constituindo-se como um caso raro entre elas. Sua conduta social não

tem por objetivo trazer benefícios e nem a obtenção de lucro para as lojas, mas sim,

agregar valores humanos os quais se refletem no bem-estar e desenvolvimento da

comunidade. Nesse sentido, a política de responsabilidade social e os

compromissos a ela relacionados assumidos pelas empresárias orientam a

condução dos negócios da empresa de forma ética e responsável, em que o

crescimento gerado pelo negócio impacte positivamente no desenvolvimento da

sociedade, acreditando que a garantia da qualidade de vida das gerações presentes

e futuras depende da construção de instrumentos que assegurem a igualdade de

direitos e oportunidades a todos.

Referências Bibliográficas

ASHLEY, Patrícia Almeida. (Coord.); CHAVES, Jorge Bezerra Lopes. Responsabilidade social empresarial: a fundamentação na ética e na explicitação de princípios e valores. IN: Ética e responsabilidade social nos negócios. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. 340 p.

PEREIRA, E.; SILVA JÚNIOR, R. F. Responsabilidade social, competitividade e psicosfera

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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

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RODRIGUES, E. L. F.; RIGONI, E. A produção do espaço urbano e os agentes formadores: Um estudo de caso sobre a influência da

madeireira Madepar Madeiras Ltda em Inácio Martins-PR

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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO E OS AGENTES FORMADORES: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A INFLUÊNCIA DA MADEIREIRA

MADEPAR MADEIRAS LTDA EM INÁCIO MARTINS-PR

EVERTON LUIS FAUSTINO RODRIGUES1 EMERSON RIGONI2

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo realizar uma análise sobre produção do espaço urbano da cidade de Inácio Martins-PR. Nesse sentido buscou-se compreender a influência de uma empresa madeireira localizada na cidade e a produção do espaço local. A empresa em questão é a Madepar Madeiras Ltda., que foi escolhida por ter seu desenvolvimento atrelado ao contexto histórico do município, e por ter uma grande influência econômica no município. Essa importância da empresa é devido ao setor que a empresa segue, ou seja, o madeireiro. Dessa forma a análise foi respaldada por um levantamento teórico sobre os agentes produtores do espaço urbano seguido da apresentação histórica do local e da referida empresa, bem como a questão das empresas madeireiras em diferentes níveis. Por fim, as considerações a que se chegou após essa pesquisa onde o objetivo central do estudo foi contemplado, ou seja, compreendeu-se a importância da mesma na produção do espaço local em vários fatores, como empregos, geração de renda e crescimento econômico, a relação de produção do espaço urbano entre a empresa e o município ficou evidente.

Palavras-chave: Espaço urbano, Agente produtor do espaço, Desenvolvimento local

1 Acadêmico do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste – campus Irati-PR: [email protected] 2 Professor do departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste – campus Irati-PR: [email protected]

RUTKOVSKI, G. J.; SILVA JUNIOR, R. F. Fragmentação urbana, (re)produção da cidade e evolução da mobilidade em Irati-PR: O exemplo do

transporte público

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FRAGMENTAÇÃO URBANA, (RE)PRODUÇÃO DA CIDADE E EVOLUÇÃO DA MOBILIDADE EM IRATI-PR: O EXEMPLO DO TRANSPORTE PÚBLICO

GILMAR JOSÉ RUTKOVSKI1 ROBERTO FRANÇA DA SILVA JUNIOR2

Resumo: A apropriação dos espaços e o avanço da urbanização colaboram para o surgimento de espaços urbanos que se diferenciam por causa do seu desenvolvimento e pela localização no espaço geográfico. A localização dos bairros de uma cidade é responsável pela valorização dos terrenos e pela eficiência das infraestruturas materializadas no espaço, já que as áreas centrais possuem maiores privilégios em relação às áreas periféricas. Nesse viés, a localização dos bairros é fator decisivo para a mobilidade da população, pois a acessibilidade do bairro interfere nos deslocamentos dos indivíduos. Diante disso, buscou-se na análise do transporte coletivo da cidade de Irati, compreender a seletividade que a rede de transporte proporciona nos espaços urbanos e como se efetiva a mobilidade da população nesses bairros. Palavras-chave: Mobilidade, Transporte público, Produção do espaço urbano Introdução

A (re)produção do espaço urbano nas cidades implica no avanço das técnicas que

ao se inserirem no espaço produzido pelo homem, desenvolvem as estruturas e

infra-estruturas que possibilitam a produção do capital e da sociedade. Essa

materialização das técnicas no espaço produzido pelo homem é determinante para

que a circulação e a mobilidade se desenrolem no espaço urbano.

Desta forma, segundo Silva Júnior (2009) a circulação é a ação produtora da

redução dos tempos de deslocamentos no espaço geográfico, ou seja, a técnica que

possibilita os deslocamentos no espaço produzido em escalas de tempo reduzidas.

Essa produção da redução dos tempos que o autor se refere está relacionada com a

própria produção do espaço urbano e as relações de mobilidade engendradas no

espaço produzido e apropriado pela sociedade, onde os sistemas de movimentos

possibilitam a produção do espaço em movimento. Ainda segundo o autor:

1 Aluno do curso de Geografia da Unicentro, campus de Irati. E-mail: [email protected] 2 Professor Adjunto do Departamento de Geografia da Unicento, campus de Irati.

RUTKOVSKI, G. J.; SILVA JUNIOR, R. F. Fragmentação urbana, (re)produção da cidade e evolução da mobilidade em Irati-PR: O exemplo do

transporte público

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A circulação é uma ação mobilizada por técnicas e normas, servindo a objetivos econômicos e políticos. Do ponto de vista econômico, a circulação cria valor; do ponto de vista político, é através da circulação que se exerce o controle territorial. Portanto, a circulação é um importante elemento articulador e transformador do espaço, pois mais movimento conduz a mais mudanças espaciais (por extensão, sociais, econômicas e políticas).(SILVA JUNIOR, 2009. p. 29-30)

A produção do espaço que está em movimento por causa das relações que se

efetuam no espaço, bem como o acesso da sociedade a este espaço produzido ou à

própria cidade é possibilitada pelas técnicas da mobilidade. Segundo Levy (2001), a

mobilidade é uma relação social que está ligada à mudança de lugar, ou seja, como

que os indivíduos pertencentes a uma determinada sociedade, através de meios

técnicos, conseguem ocupar sucessivamente vários lugares.

O crescimento urbano das cidades propicia o surgimento de áreas que se

contrapõem e que ao mesmo tempo se complementam, sendo que, com a

ampliação do tecido urbano, surgem numa mesma cidade, áreas centrais e áreas

periféricas. Como os fluxos da população tendem a aumentar na medida em que se

expande o tecido urbano de Irati, a necessidade de se deslocar de um bairro da

cidade ao centro ou a outro bairro, torna-se um fator decisivo da produção do

espaço, pois ao mesmo tempo em que a mobilidade população precisa ser

efetivada, o crescimento desigual dos bairros acaba segregando o espaço

produzido, principalmente em relação às acessibilidades que cada bairro possui.

Acessibilidade é a forma com que cada parcela do espaço produzido se relacione

com o todo. O valor de uso da terra urbana, segundo Villaça (2001), é determinante

para diferenciar as acessibilidades que cada fragmento urbano têm em relação ao

todo e consequentemente, à cidade, como cada bairro se comunica e se articula

com o centro.

A demanda pela mobilidade da população está condicionada às acessibilidades dos

espaços produzidos, onde em alguns bairros da cidade a fluidez do território se

materializa na estrutura e pela localização do bairro. Existem outros que impõem

dificuldades à circulação e à mobilidade da população.

É nesse viés que o transporte público atua no espaço, ao mesmo tempo em que

desempenha um papel de inserção dos espaços menos “acessíveis” junto com

aqueles espaços dotados de melhor infra-estrutura. Destarte, o transporte público

acaba segregando os próprios espaços, especialmente os espaços periféricos,

RUTKOVSKI, G. J.; SILVA JUNIOR, R. F. Fragmentação urbana, (re)produção da cidade e evolução da mobilidade em Irati-PR: O exemplo do

transporte público

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elencando fatores que definem as linhas e horários que ficam a disposição das

populações que residem em tais bairros. Segundo Ornat e Silva:

O espaço da cidade é produto social e as ações dos grupos e/ou indivíduos são elementos integrantes do processo de produção e apropriação do espaço. Uma das formas em que esta apropriação se dá é através da interação entre os mais diversos locais no espaço urbano, ocorrendo o acesso aos diversos objetos espaciais através dos deslocamentos diários de pessoas (2007, p.177)

Diante do exposto, o presente trabalho de pesquisa tem como objetivo principal a

análise do transporte público da cidade de Irati diante das relações que atuam no

espaço urbano, sendo que a compreensão da relação existente entre a

acessibilidade dos bairros e a mobilidade da população é essencial para a análise

dos deslocamentos dos indivíduos pela cidade.

A metodologia que fora utilizada no trabalho de pesquisa esteve baseada no método

dialético, pois a necessidade de se compreender a segregação espacial que a rede

de transporte ocasiona no território da cidade, remete ao surgimento de

complementaridades e contradições entre os bairros e esses fatores são possíveis

de serem analisados dialeticamente. Junto a direção da empresa foram coletados os

dados referentes à história da operacionalidade da empresa na cidade, sendo que

alguns dados foram extraídos do EIA/RIMA (Estudo de Impactos Ambientais e

Relatório de Impactos Ambientais) da Transiratiense, averiguados e confirmados nas

entrevistas que foram realizadas.

Dessa forma, através de cinco entrevistas abertas com os diversos atores que

atuam direta ou indiretamente no transporte coletivo, como funcionários antigos da

empresa que atua na cidade, ex-funcionários e usuários em geral, foi possível a

coleta de diversos dados a respeito da história da empresa e do transporte coletivo

em Irati. As entrevistas estavam norteadas segundo os propósitos e necessidades

da pesquisa, sempre visando um levantamento verídico dos fatos e dos processos

que o transporte público passou durante o tempo de atuação da empresa.

As coletas de dados que foram realizadas nos bairros da cidade contribuíram com a

maior parte da pesquisa empírica, pois, com o acompanhamento de cada linha de

transporte, através de saídas de campo realizadas de dentro dos veículos e

percorrendo as linhas em suas totalidades, foi possível a visualização dos contextos

sociais e econômicos em que essas linhas se inserem, bem como observar as rotas

RUTKOVSKI, G. J.; SILVA JUNIOR, R. F. Fragmentação urbana, (re)produção da cidade e evolução da mobilidade em Irati-PR: O exemplo do

transporte público

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e horários. Dessa forma, o presente trabalho é uma análise do transporte público em

Irati-PR, que acaba elencando os fatores que são determinantes para a eficiência do

transporte, e também traz para a discussão a seletividade dos bairros e as

dificuldades que o espaço urbano impõe para os deslocamentos da população

periférica.

A compreensão da dinâmica que existe entre a acessibilidade territorial dos bairros

com a mobilidade da população, torna-se um fator preponderante para a análise do

transporte público, pois a relação entre a acessibilidade e a mobilidade caracteriza

os espaços, principalmente aqueles afastados das áreas centrais, onde são

apontados os bairros com maior concentração dos serviços de transporte coletivo e

outros bairros com menores possibilidades de mobilidade coletiva.

Essa diferenciação em relação ao serviço do transporte público que é ofertado de

maneiras diferentes em cada bairro é ocasionada pelos fatores atuantes na

produção capitalista do espaço, e que seria amenizada se fosse realizado um

planejamento que suprisse as necessidades dos bairros periféricos. No centro, esse

planejamento deveria contemplar técnicas que possibilitassem maior fluidez nas

vias.

Segundo Vasconcellos (2000), o planejamento urbano que cada cidade realiza deve

levar em consideração o planejamento dos transportes e o planejamento de

circulação, para que se crie toda a estrutura, física e administrativa para que os

sistemas de transporte tenham mais eficiência e funcionalidade no espaço das

cidades. Dessa forma, a análise do transporte coletivo, possibilita a compreensão da

(re) produção do espaço urbano de Irati, onde atuam as diferentes formas de

mobilidade e circulação (práticas espaciais e uso do território) que se relacionam

com o transporte coletivo e que atuam na produção do espaço bem como na

valorização das áreas urbanas.

A Produção do Espaço Urbano e a Mobilidade do Espaço Produzido

O crescimento dos centros urbanos através da apropriação do espaço geográfico

acaba transformando os lugares, recriando novos espaços dentro das escalas

temporais. Essa transformação causada pela apropriação do espaço em si, muitas

vezes torna-se condicionada a um fator político-econômico que define as direções

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de crescimento, bem como norteia os investimentos em infra-estruturas que

permitam a valorização e desenvolvimento do lugar em questão.

Nesse processo de crescimento das cidades, a necessidade que se impõe aos

agentes produtores do espaço geográfico, é a criação de mecanismos que permitam

a implantação de infra-estruturas capazes de trazer à cidade, a mobilidade

necessária para que a operacionalidade do centro urbano seja possível de se

realizar.

O processo urbano estaria ligado então, a uma produção do espaço geográfico,

fundamentada na produção de bens de consumo e infra-estruturas nos capitais que

circulam nesse espaço, e na organização funcional do espaço, sendo que segundo a

proposta de Souza (2003), a cidade seria então o “centro de gestão do território”, ou

seja, a própria cidade tem a capacidade administrativa para delimitar os

investimentos e impor novas técnicas de mobilidade dentro do espaço produzido.

As relações sociais e de poder, que se desenvolvem dentro dos espaços habitados

pelo homem, são responsáveis pelas transformações que o espaço urbano sofre no

decorrer do tempo. Essa (re) produção do espaço urbano pode ser analisada sob o

ponto de vista da força de trabalho que fora acumulado ao espaço para transformá-

lo num espaço onde as características do urbano atuam com mais freqüência.

Esse trabalho despendido na (re) produção do espaço urbano, segundo Flávio

Villaça (2001) é responsável pelo surgimento de dois diferentes tipos de produtos: o

primeiro seria a ação do trabalho e das relações sociais transformadas em

materialidade física, isto é, a infra-estrutura que fora construída no espaço; já o

segundo produto oriundo do trabalho acumulado no espaço urbano, seria o valor

resultante da aglomeração que se forma conseguinte à materialidade física do

trabalho, onde a localização das infra-estruturas é essencial para a valorização ou

desvalorização do espaço urbano.

A ação do trabalho no espaço urbano resulta na formação das aglomerações que

por vezes se distanciam da área central das cidades, constituindo os bairros,

formando uma periferia que é polarizada por um centro principal. Esse crescimento

espacial da área urbana, em virtude das relações que se desenrolam no espaço,

não é uniforme para todos os lugares, isto é, não atuam com mesma freqüência e

intensidade em todos os espaços.

Essa diferenciação de produção urbana do espaço produz, nas cidades, a

diferenciação dos lugares, que são divergentes entre si por causa da forma com que

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se comunicam e se relacionam com a cidade em geral. Nesse sentido, Villaça (2001,

p.74) propõe que a localização ou ponto é “o valor de uso produzido pelo trabalho

coletivo despendido da construção da cidade”.

Desta forma, a valorização dos espaços e da materialidade construída depende da

localização que estes se encontram, não simplesmente de ordem física, mas social

e econômica e como esses espaços se relacionam com o restante da cidade, se

estão próximos ao centro ou se estão localizados em áreas afastadas. Ainda

segundo o autor, “a distância é tempo; não apenas tempo de um deslocamento, mas

do somatório de todos os deslocamentos, bem como seus custos e freqüências para

todos os membros da família” (VILLAÇA, 2001, p. 73).

A distância dos espaços apropriados pelo capital e palas populações exige que as

cidades possuam maior fluidez, que são oriundas das infra-estruturas que compõem

a mobilidade urbana desses espaços. Nesse sentido, ao valor que é despendido ao

espaço e suas materialidades são acrescentados outros tipos de valores oriundos

das formas com que estão interconectadas ao espaço da cidade. Segundo Villaça:

A acessibilidade é o valor de uso mais importante para a terra urbana, embora toda e qualquer terra o tenha em maior ou menor grau. Os diferentes pontos do espaço urbano têm diferentes acessibilidades a todo o conjunto da cidade. (VILLAÇA, 2001, p. 74)

A localização e ocupação do espaço urbano acabam condicionando as populações

conforme as necessidades que são impostas pelo urbano, isto é, as relações que a

população mantém com o espaço urbano produzido socialmente são condicionadas

pela localização, já que o fato de se “localizar” em um determinado lugar ou bairro

afastado do centro da cidade, é proporcional ao deslocamento que o indivíduo

precisa realizar para assim desenvolver suas atividades no centro da cidade.

Segundo Villaça:

Os pontos do espaço intra-urbano condicionam a participação do seu ocupante tanto na força produtiva social representada pela cidade como na absorção, através do consumo, das vantagens da aglomeração. É esse o valor de uso do ponto – sua capacidade de fazer com que se relacionem entre si os diversos elementos da cidade. Esse “relacionamento” se dá de diferentes formas e por meio de diversos fluxos – o transporte de mercadorias, de consumidores, de força de trabalho ou as comunicações (VILLAÇA, 2001, p. 78).

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A inserção do indivíduo no espaço urbano produzido requer uma forma de

deslocamento. O que diferenciaria os indivíduos seriam os propósitos que o

determinado deslocamento exerce no cotidiano das pessoas, ou seja, com quais

finalidades os indivíduos se locomovem e atuam no espaço urbano e com que

freqüência são realizados esses deslocamentos, sendo, portanto, um fator singular

ao indivíduo, que por sua vez, define com que meios realizará os deslocamentos.

Desta forma, a necessidade de deslocamentos de regiões distantes, em poucos

minutos, torna-se dever da rede de transporte público, que conecta os bairros ao

centro da cidade. O processo de urbanização é um fator propulsor e decisivo para a

consolidação de uma rede de transporte coletivo, e isto acontece por causa do

crescimento desigual entre os mais diversos lugares que compõem um dado

perímetro urbano.

Desta forma, o crescimento urbano e a necessidade de relacionamento da periferia

com o centro da cidade proporcionam diferentes formas de locomoção das

populações, bem como o surgimento de formas de mobilidade que possibilitam os

deslocamentos intra-urbanos.

Nesse viés, torna-se possível analisar questões a respeito dos deslocamentos que

cada indivíduo realiza, pois em bairros onde predomina as classes com poder

aquisitivo mais elevado, ou ainda, que se localizem próximos ao centro, pensando

num deslocamento bairro-centro, o uso de determinados meios de transportes, como

por exemplo, o transporte coletivo, não desempenha o mesmo papel como em

bairros mais afastados do centro e com população de poder aquisitivo inferior, pois

estes bairros afastados dependem do transporte coletivo. Este tipo de transporte

torna-se economicamente viável às populações desses bairros. Portanto, ao se

estudar a questão do transporte urbano, os geógrafos se deparam com vários

problemas de análise que se diferenciam entre si por causa do enfoque que lhes são

direcionados e, principalmente, pela necessidade do pesquisador.

A análise do transporte e dos deslocamentos dentro do espaço urbano pode ser

realizada a partir dos enfoques técnicos que seriam uma análise e constatação da

rede técnica produzida no espaço, a questão infra-estrutural e as condições de

veículos; e numa análise social que são responsáveis pela análise da importância

dos deslocamentos para a esfera social, sendo que estes possuem diferenciações

em relação a finalidade do deslocamento, isto é, enquanto algumas pessoas se

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utilizam do transporte para “passear”, outras dependem do mesmo para trabalhar e

estudar (VASCONCELLOS, 2001).

Uma terceira possibilidade de análise seria pautada num enfoque sociológico que

consegue acrescentar ao enfoque técnico e social, outras condicionantes que

trazem uma maior complexidade na análise e, portanto, uma melhor compreensão

do transporte urbano e dos deslocamentos da população no espaço. Segundo

Vasconcellos:

O enfoque sociológico, ao contrário, complementa as análises numéricas simples com a análise dos padrões de viagem em função de condições sociais, políticas, econômicas e institucionais que condicionam as decisões das pessoas e entidades envolvidas. Ele pressupõe a análise da distribuição do poder na sociedade e do seu impacto tanto nas decisões das políticas de transportes e trânsito, quanto nas formas segundo as quais as pessoas se apropriam das vias e dos meios de transporte. (VASCONCELLOS, 2001. p. 16).

A partir da compreensão do transporte pelo enfoque sociológico podem-se analisar

as relações sociais que estão envoltas nos deslocamentos diários da população,

quais seriam as necessidades que motivam a utilização do transporte urbano e

como este privilegia ou prejudica determinados grupos sociais.

Segundo Vasconcellos (2001), uma abordagem sociológica do transporte urbano

seria capaz de conciliar as análises dos processos de (re)produção com a circulação

em si e o uso do espaço, trazendo para a análise do transporte, a complexidade que

permite abordar a (re)produção sob o aspecto primordial para o uso e apropriação

do espaço e conseqüentemente a circulação e a mobilidade que nele se desenvolve.

A proposta assume que a circulação é uma necessidade física relacionada às necessidades de reprodução de grupos e classes sociais, que por sua vez são condicionadas por fatores sociais, econômicos, políticos e culturais que variam de uma sociedade para a outra. (VASCONCELLOS 2001, p. 26)

Desta forma, cada classe social que atua na produção do espaço se difere em

relação ao propósito e a forma de seus deslocamentos, existindo, portanto, não

apenas a diferenciação no tipo do deslocamento seja com veículo particular ou

coletivo, mas também nos propósitos que cada indivíduo atribui a um deslocamento.

Portanto, a necessidade de se haver a mobilidade no território torna-se importante

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para a circulação e reprodução social das classes que interagem no espaço

apropriado.

A evolução da rede de transporte público em Irati

O crescimento da cidade de Irati esteve historicamente ligado à construção da

ferrovia, que possibilitou o surgimento de dois pequenos núcleos localizados ao

longo das malhas ferroviárias, sendo que no mais próximo à estação principal

emergiu o centro da cidade. A outra estação era localizada próximo aos bairros de

Engenheiro Gutierrez, Riozinho e Vila São João. Dessa forma, toda a dinâmica que

a ferrovia conseguiu impor ao emergente aglomerado urbano, principalmente com a

circulação da produção da erva-mate e madeira, possibilitava um crescimento

urbano ao longo dos trilhos. Assim, com o surgimento de casas e do comércio, e

com os investimentos em infra-estruturas, surgia à cidade de Irati (ORREDA, 2007).

Com a intenção de trazer ao aglomerado urbano, melhores condições para a

população, em 1965, a Prefeitura Municipal de Irati realizou uma reforma urbana,

construindo uma avenida perimetral que partia da Rua da Liberdade, chegando ao

Rio Bonito, o que ocasionou a ocupação daquela área, proporcionando a expansão

do tecido urbano e o surgimento de novos bairros.A construção desta avenida

facilitava a circulação do centro da cidade com a periferia que ia surgindo em

direção ao bairro do Rio Bonito, trazendo possibilidades para a concretização

espacial a partir dos mais diferentes meios de transportes.

A reforma que fora realizada na cidade, com a abertura de novas ruas e estradas,

melhorava a circulação das áreas próximas ao centro, porém nas áreas distantes do

centro, o deslocamento era possibilitado pela ferrovia, que ao mesmo tempo em que

era um grande corredor de escoamento das produções extrativistas, era responsável

pelo deslocamento da população que vivia na cidade e daquela população que era

oriunda de outros lugares e que passavam por Irati. Sendo que em 1966 o principal

meio de transporte da região era o trem que ligava Guarapuava a Ponta Grossa,

passando por Engenheiro Gutierrez e o Centro (Dados do EIA/RIMA 2008).

Porém as necessidades que a população local enfrentava, já não eram supridas

pelos serviços de transporte ferroviário, devido à proximidade entre as duas

estações e ao longo tempo de espera (cerca de 2 horas). Desse modo, boa parte da

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população que precisava se deslocar ao centro da cidade era prejudicado pela falta

de uma alternativa para o deslocamento coletivo.

Essa necessidade de criar um meio alternativo de transporte público, que suprisse a

necessidade da população e amenizasse os problemas nos deslocamentos, tempo e

distância, possibilitou o surgimento, por parte do capital privado, da primeira

empresa de transporte coletivo automotor da cidade, que fora denominada de

Viação Arilur LTDA., que no início exercia o transporte de passageiros com uma

Kombi. Logo em seguida, as linhas se expandiram para fora do município para as

cidades de Rio Azul, Mallet e Rebouças, passando a atuar no transporte

intermunicipal.

Em 1972, os sócios venderam as linhas intermunicipais para outra empresa e

passaram a operar somente dentro da cidade de Irati, com duas linhas que

conectavam dois bairros periféricos ao centro da cidade, sendo as linhas do

Riozinho à Escola Francisco Vieira de Araújo e da Lagoa até a mesma escola. Na

década de 1980, o crescimento da cidade desencadeava novos fluxos e

intensificava os deslocamentos das pessoas, tornando-se necessário ampliar as

linhas existentes e construir novos itinerários para abarcar e suprir a demanda

existente. A necessidade de se atuar com novas linhas dentro da cidade acarretou

na venda da empresa que operava no transporte coletivo no ano de 1985 e, sob

nova direção, alguns investimentos foram sendo realizados, para que a demanda

ocasionada pelo crescimento urbano da cidade fosse suprida com mais linhas de

transporte coletivo e com veículos maiores. A partir de 1985, a então Viação Arilur

LTDA. passou a operar com veículos mais capacitados para o transporte em massa

de passageiros e passou a adotar um nome fantasia que persiste até os dias atuais,

sendo denominada de Transiratiense.

Na década de 1990, a demanda pelo transporte público aumentava de forma

acelerada, impulsionada pelo crescimento da cidade, pois as populações que viviam

nas áreas periféricas necessitavam cada vez mais se deslocarem para o centro, e

isso só se materializou quando foram colocadas em atividades duas novas linhas:

Rio Bonito e Alto da Lagoa.

O surgimento dos bairros Fragatas, Marcelo, Camacuã e Vila Matilde, no fim da

década de 1990, também foram propulsores para as reformas nas linhas e para a

criação de novas linhas. No ano de 2002 foi criada uma linha que percorria os

bairros do Jardim Planalto, Pedreira, Marcelo e Camacuã, porém, o baixo fluxo de

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passageiros e o vandalismo nos veículos foram responsáveis pela sua desativação.

Esse esboço de linha que conectava vários bairros foi concretizado no ano de 2003

com a criação da linha do Interbairros.

Com isso, o sistema técnico gerado para impulsionar o transporte público em Irati foi

se adequando às necessidades impostas pela produção do espaço geográfico e

pela população, que se beneficiaram das técnicas de circulação. Sendo assim, no

espaço compreendido pela cidade de Irati, sob a atuação dos meios técnicos

propostos por Santos e Silveira (2006), foi possível a reprodução da mobilidade para

suprir as necessidades temporais e espaciais do usuário do transporte público.

A Distribuição Atual da Rede de Transporte

A rede de transporte público que está em vigor nos dias atuais na cidade de Irati, por

causa da ausência de um terminal para o transporte intra-urbano, pode ser dividida

em dois principais eixos de deslocamento, sendo o eixo centro-bairro que

compreende as linhas do Riozinho, Lagoa e Rio Bonito; e o eixo bairro-bairro que

compreende as linhas do Alto da Lagoa e Interbairros.

A mobilidade da população dentro da cidade é efetivada pelas cinco principais linhas

que estão em atividade e que atuam no território, conectando o centro da cidade aos

bairros e vice-versa. O quadro abaixo mostra as principais características de cada

linha do transporte coletivo iratiense.

Quadro 1. As características das linhas que estão em atividade em Irati-PR

*a linha do Interbairros não possui ponto final, portanto a distância se refere ao trajeto total percorrido. Fonte: Dados coletados em trabalhos de campo junto à empresa no período de 01/02/2010 até 30/03/2010.

Cada linha do transporte coletivo, ao conectar diferentes bairros ao centro, possui

características próprias que diferem não apenas pela espacialidade que estas

PERCURSO DE IDA PERCURSO DE VOLTA TEMPO LINHA Distância

percorrida Número de

Pontos Distância percorrida

Número de Pontos

Duração

RIOZINHO 12 km 32 10 km 24 30 min LAGOA 10 km 31 11 km 30 30 min RIO BONITO 9,5 km 35 9,5 km 32 30 min ALTO DA LAGOA 14 km 43 14,5 km 47 40 min INTERBAIRROS NOTURNO

17 km 87 16,5 km 87 40 min

INTERBAIRROS* 25 km 83 1 hora

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apresentam, mas também pela dinâmica da população que se beneficia destas

linhas.Desta forma, alguns bairros da cidade acabam sendo privilegiados, pois são

incorporados a mais de uma linha, principalmente os bairros Rio Bonito e Lagoa, que

estão inseridos no itinerário das linhas do Alto da Lagoa, Lagoa e Interbairros e a

Vila São João que tem, possui em seus fluxos, as linhas do Riozinho, Lagoa e

Interbairros.

Das linhas que estão em atividade, a linha do Alto da Lagoa opera no eixo espacial

bairro-bairro, ligando um bairro ao outro. Essa linha é responsável pela

conectividade espacial entre o Alto da Lagoa com o Nhapindazal, passando pela

rodoviária. Desde o início dessa linha, o trajeto envolve outros bairros que acabaram

entrando na rota da linha, sendo o principal deles o bairro Lagoa e uma parte do

bairro Rio bonito. Após algumas reivindicações de usuários, que necessitavam de se

deslocar para trabalhar, foi incluído na mesma rota o bairro São Francisco e, com a

criação do bairro Fragatas no ano de 2000, foi tomado o mesmo bairro como ponto

final da linha.

A linha do Interbairros, que tem seu ponto de partida no bairro Canisianas, acaba

percorrendo um grande trajeto ligando vários bairros ao perímetro central da cidade

e a outros bairros também. Esta linha passa pelos bairros do Rio Bonito, Fósforo,

Lagoa, Cruzeiro do Sul, Jardim Orquídeas, Fernando Gomes e Vila São João e Vila

Matilde. No período noturno, a linha sofre uma mudança em seu itinerário, não

passando pela Vila Matilde, mais incorporando uma maior área do Bairro do Rio

Bonito.

As outras linhas são responsáveis pela conexão entre a rodoviária e os bairros, ou

seja, o fluxo de passageiros é no sentido bairro-centro e centro-bairro. Nesse eixo

espacial estão inseridas as linhas do Riozinho, Rio Bonito e Lagoa.

A linha do Riozinho possui o maior fluxo de passageiros de todas as linhas que

estão em atividade na cidade, pois permite a acessibilidade de bairros populosos

afastados do centro. Sem contar o fluxo de pessoas que utilizam a mesma linha para

o deslocamento até a universidade. Em média 1600 pessoas se utilizam dessa linha

diariamente para efetivarem seus deslocamentos. Destas, cerca de 40% são

universitários que se deslocam até a Unicentro, e que não se utilizam as linhas

especiais destinadas aos universitários.

A linha abrange vários bairros da cidade, sendo os principais o bairro Riozinho,

Engenheiro Gutierrez, Vila Raquel e Vila São João. Nesta linha fica visível a

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seletividade espacial, tanto se referindo a atuação espacial da rede, como na

atuação da escala de tempo, pois é a única linha que possui dois veículos

trabalhando simultaneamente, isto é, enquanto um está no trajeto bairro-centro, o

outro faz o trajeto centro-bairro.

Essa seletividade foi imposta pela demanda que se originou na mesma linha, que

conecta importantes bairros da cidade com o centro, e por envolver a universidade

em seu trajeto, criando-se uma demanda mais acentuada pelo transporte coletivo

que nas outras linhas. Por isso, o tempo de deslocamento deveria ser realizado no

menor tempo possível, sendo necessário que dois veículos operem em

simultaneidade, reduzindo o tempo dos deslocamentos para meia hora.

Já a linha da Lagoa, é responsável pelo deslocamento de populações de outras

áreas de relevante importância para a cidade. Essa linha envolve, em seu trajeto, os

bairros da Lagoa, Cruzeiro do Sul, Jardim Orquídeas, Fernando Gomes e Vila São

João. Esta linha possui uma demanda de passageiros bastante elevados, sendo a

segunda linha em número de passageiros transportados.

Outra linha que conecta um dos mais antigos e importantes bairros da cidade é a

linha do Rio Bonito. Esta linha é responsável pela conexão espacial dos bairros do

Rio Bonito, Fósforo, Vila São Pedro e o bairro DeR, com o centro da cidade. A

região é historicamente bastante povoada, porém, a proximidade com o centro e o

fato de sua população ter um razoável poder aquisitivo, faz com que os fluxos de

passageiros que partem daí não sejam tão intensos, como o observado nas linhas

do Riozinho e Lagoa.

O mapa a seguir representa as linhas em atividade do transporte coletivo em Irati.

Desta forma, a distribuição das linhas pela cidade é responsável por uma escolha

dos espaços, verificada nas diferenças que cada bairro ostenta em relação aos

serviços de transporte coletivo, enquanto que em alguns bairros as linhas atuam

com maior freqüência de horários e com itinerários mais extensos. Em outros

bairros, os deslocamentos da população são dificultados pela falta de planejamento

para o transporte público.

A fragmentação do espaço urbano e o planejamento para o transporte público

A produção do espaço urbano não se dá da mesma forma em todos os lugares que

são apropriados pelas sociedades, por causa da historicidade das relações que se

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desenrolam no espaço. Desta forma, surge a fragmentação urbana, que por sua vez

torna-se conseqüência de um processo de seleção do espaço que define os

espaços privilegiados em detrimento aos espaços menos favorecidos. Segundo

Ornat e Silva (2007), a fragmentação do espaço urbano é “é materializada pela

paisagem produzida pela justaposição dos diferentes usos do solo” desta forma

surgem os espaços dotados de altos valores e os menos valorizados.

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Fonte: Extraído de SANTOS (2009). Essa fragmentação do urbano, apesar de estar se referindo a uma ruptura dos

espaços (elencando espaços dotados e espaços não dotados de técnicas e infra-

estruturas), possui em seu seio algumas relações que se desenrolam no espaço e

que articulam esses espaços divergentes em relação às suas produções, mas que

em relação à circulação se complementam. Segundo Ornat e Silva:

A complementaridade entre os fragmentos do urbano é constituída por deslocamentos de várias naturezas e intensidades e, para esta discussão, privilegia-se o deslocamento de pessoas e os elementos que constituem estes deslocamentos. A ação dos sujeitos ao deslocar seus corpos através de diferentes localidades está estritamente relacionada com o objetivo de acessar os diferentes bens urbanos (2007, p.178).

O crescimento das cidades acarreta numa segregação forjada dos espaços que são

produzidos dentro do perímetro urbano, sendo que no âmbito de cada cidade se

formam novas localidades que são habitadas por populações que são da “mesma”

classe social. Desta forma, muitas são as diferenças entre os bairros da cidade

existindo, portanto, alguns bairros que são mais valorizados no mercado imobiliário,

localizados próximo ao centro; e os bairros menos valorizados que acabam

formando a periferia da cidade.

Com o crescimento das cidades, surgem os espaços segregados que são

desprovidos de infra-estruturas ou que são “rotulados” como “ruins” por parte da

população da cidade. Segundo Caiafa (2007), a marca que as cidades impregnam

no espaço produzido é fundamentada nos princípios da circulação e da dispersão, já

que a circulação da população dentro da cidade, que ocorre no cotidiano de cada

indivíduo, remete a uma dispersão no espaço urbano de pessoas e de meios de

serviço, onde alguns espaços são densamente povoados, mesmo que seja

temporariamente. Enquanto isso, outros apresentam uma força de dispersão,

geralmente bairros onde a população necessita se deslocar para trabalhar em outras

partes da cidade.

Esses espaços de atração e de dispersão da população ao mesmo tempo se

contrapõem e se complementam, pois a população que se dispersa durante uma

escala temporal, se desloca de um espaço para outro na cidade, caracterizando dois

espaços complementares.

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A partir dos pressupostos de Vasconcellos (2000), pode-se analisar o planejamento

de transportes, como a técnica que define toda a estrutura da circulação e que

possibilita e efetiva os deslocamentos. A esse planejamento segundo o autor, deve

ser incorporado o planejamento da circulação que é responsável pelas formas que a

estrutura viária é utilizada, tanto pelos veículos do transporte coletivo como os

veículos particulares.

Através desses planejamentos, o transporte público se efetiva no espaço com maior

eficiência e fluidez, pois a eficiência das linhas e dos deslocamentos torna-se

importante para a circulação da população entre os espaços da cidade. Porém, a

segregação socioespacial é percebida nas próprias linhas do transporte coletivo,

onde se percebe que existem bairros mais bem servidos do transporte com mais de

uma linha, com pontos de parada de ônibus bem estruturados e com vários horários

disponíveis para a população efetivar seus deslocamentos, enquanto que outros

bairros possuem uma única linha que não permite vários destinos para a população

a partir desse ponto inicial, e que os horários são escassos, existindo bairros em que

o ônibus passa apenas três vezes ao dia.

Na cidade de Irati alguns bairros possuem restrições dos serviços ofertados pelo

transporte público, possuindo poucos horários destinados aos deslocamentos da

população. É o caso da Vila Raquel, que mesmo sendo servida pela linha do

Riozinho (a maior linha e com dois veículos rodando simultaneamente), o ônibus

passa apenas três vezes ao dia, às 6h45min, às 13h00min e às 19h10min,

dificultando os deslocamentos dos moradores da vila. Outro bairro menos favorecido

com o transporte, é a Vila Nova que também possui apenas três horários de ônibus,

às 7h40, às 13h05 e às 18h10.

Aos domingos e feriados, a seletividade dos bairros é maior ainda, por haver menos

linhas em atividade nesses dias, três apenas (Riozinho, Lagoa e Rio Bonito). O

número de bairros que se inclui no rol dos menos favorecidos acaba aumentando e

os horários são bem escassos. Nesses dias de folga da maior parte da população e

que seria um dia propício para se deslocar até as áreas de lazer da cidade, as linhas

não fornecem o transporte a todos os bairros, sendo que muitos desses bairros

ficam sem ônibus o dia todo. É a situação da Vila Matilde e do bairro São Francisco.

Em alguns bairros a linha do transporte público permanece em atividade durante os

domingos e feriados, porém, o ônibus efetua os deslocamentos com menos horários.

São os casos do Bairro do Alto da Lagoa (que possui linha de ônibus às 9h30, às

RUTKOVSKI, G. J.; SILVA JUNIOR, R. F. Fragmentação urbana, (re)produção da cidade e evolução da mobilidade em Irati-PR: O exemplo do

transporte público

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13h10, às 17h35 e às 18h45); do Nhapindazal (que circula ônibus às 8h35, às 11h15

e às 16h50); da Vila Nova (com ônibus às 10h00, às 13h20 e às 18h10) e da Vila

Raquel (com ônibus às 8h20, às 13h20 e às 18h50).

A falta de linhas e horários nos bairros não é o único problema do transporte coletivo

de Irati. Outros problemas, principalmente próximos ao centro da cidade são

verificados, como por exemplo, os pontos de ônibus que na sua maioria não são

devidamente regularizados com abrigo e sinalização, o que dificulta para os

passageiros e para os próprios motoristas dos ônibus, sem contar com as obras e

mudanças no trânsito que estão sendo realizadas na cidade: construção de

rotatórias em diversos cruzamentos da cidade, mudança de sentido das vias no

centro da cidade e a construção de ciclovias ao longo da Rua Trajano Grácia, que é

uma das principais vias para as linhas do transporte coletivo. Com a construção da

ciclovia, o espaço que antes era destinado à parada dos ônibus não existe mais, o

que dificulta até mesmo o trânsito pela via, pois os ônibus necessitam fazer suas

paradas, na mesma pista que é destinada ao tráfego de todos os veículos que se

utilizam desta via, causando transtornos consideráveis aos outros motoristas que

necessitam ficar esperando o ônibus efetuar sua parada. Entendemos que se

houvesse um recuo em cada ponto de parada ficaria mais bem organizado, com

mais segurança para os passageiros e motoristas.

Observando os fatores arrolados acima, vemos que o transporte público em Irati

apresenta sérios problemas que deveriam ser solucionados com a elaboração de

planejamento que não esteja apenas voltado ao transporte particular, mas que

contemple o transporte coletivo para assim facilitar a mobilidade no espaço urbano

da cidade, pois, segundo Grotta (2005), a mobilidade das populações depende da

acessibilidade que os espaços detêm e esse conjunto que envolve a mobilidade da

população e a acessibilidade dos espaços, se materializado no espaço através das

vias, sua organização e hierarquização, proporcionando fluidez à circulação dos

veículos de transporte público.

Considerações Finais

O crescimento da cidade acarreta em diversos problemas de circulação para a

população e para o transporte público. O conseqüente crescimento da periferia não

é atendido prontamente para a solução dos “novos” problemas de locomoção. Nem

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transporte público

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sempre os novos espaços produzidos e apropriados pelas sociedades possuem a

acessibilidade necessária para que a mobilidade se efetue.

A acessibilidade de cada bairro torna-se um reflexo dos fluxos do capital e dos

investimentos em obras por parte do poder público, e dos empreendimentos

comerciais e industriais da iniciativa privada, que acabam classificando os bairros e

excluindo ou incluindo tais áreas na “rota” de investimentos, para melhorar a

circulação tanto de mercadorias quanto de pessoas.

Da acessibilidade que cada bairro possui, possibilita-se a mobilidade da população

residente, pois bairros acessíveis ao capital possuem melhores infra-estruturas que

são condicionantes para a mobilidade da população. Onde existe infra-estrutura

adequada torna-se viável a aplicação das técnicas de circulação para o transporte

público.

Nesse viés surgem os espaços fragmentados dentro das cidades. Essas áreas

segregadas em relação ao centro são servidas das técnicas do transporte público de

forma razoável, existindo alguns empecilhos que dificultam uma melhor mobilidade

da população, como por exemplo, os horários e as linhas ofertadas em cada bairro.

Porém, é desses bairros que são forçados à segregação, que se deslocam a maior

parte dos trabalhadores do centro da cidade, e que são fundamentais para o

crescimento do comércio de uma cidade.

Existe uma contradição entre a segregação espacial dos bairros e a importância que

a população desses bairros segregados tem no mercado de trabalho e no mercado

consumidor, que deveria ser analisada com cuidado pelo poder público para atenuar

as diferenças de acessibilidade e melhorar a mobilidade da população, pois, se a

população possuir meios para se deslocar ao centro da cidade, consequentemente

os fluxos da área central serão maiores e o movimento do comércio do centro da

cidade tende a ser maior.

Deste modo, o planejamento para o transporte coletivo deve ser feito de forma a

solucionar os problemas de circulação dos veículos pelas vias do perímetro urbano

da cidade, e que também contemple eficientemente a população residente nos

bairros periféricos, que por sua vez, mais depende desse meio de transporte para

realizar seus deslocamentos diários. A eficiência no sistema de transporte não

depende apenas da empresa que opera, mas principalmente do poder público, pois

é este que deve fiscalizar e dar o suporte para que a rede de transporte possua uma

funcionalidade em todos os bairros da cidade.

RUTKOVSKI, G. J.; SILVA JUNIOR, R. F. Fragmentação urbana, (re)produção da cidade e evolução da mobilidade em Irati-PR: O exemplo do

transporte público

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KOZLINSKI, J. O.; BRUMES, K. R. Geografia e Literatura: uma proposta interdisciplinar para o ensino

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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

GEOGRAFIA E LITERATURA: UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR PARA O ENSINO

JOSÉ OSVALDO KOZLINSKI1 KARLA ROSÁRIO BRUMES2

Resumo: O presente trabalho pretende essencialmente verificar qual a possibilidade de se realizar um trabalho docente, utilizando-se de uma metodologia centrada na análise, percepção e compreensão de textos por parte dos alunos, distinguindo-se dentre eles os contos, provenientes de nossa literatura nacional, nos quais possam ser apreendidos os aspectos geográficos neles contidos, propondo classificá-los como um excelente complemento didático na construção de percepções da paisagem e do espaço. Assim, utilizaremos uma gama de referenciais teóricos que nos permitam validar esta possibilidade. Analisaremos os aportes geográficos que poderão ser utilizados para esta tarefa, relacionando-os com as principais instruções indicadas pelos órgãos educacionais, a partir das propostas nacionais de ensino, ou seja, pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. Na sequência, desenvolveremos uma explicação ao caráter interdisciplinar ao qual está inserida a Geografia e alguns pontos decorrentes quando de trabalhos interligados com a Literatura. Após esta constatação teórica, procuramos encontrar uma forma criativa para desenvolver uma metodologia onde se possa utilizar desta ligação, fazendo com que professores e alunos possam refletir suas práticas nas relações de ensino e aprendizagem que ocorrem nos momentos do estudo geográfico. Palavras-chave: Interdisciplinaridade, Leitura do espaço, Conteúdos didáticos, Interpretação textual

1 Acadêmico do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) 2 Docente do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) – [email protected]

CICORUM, K. E.; SILVA JUNIOR, R. F. Mobilidade e acessibilidade no espaço urbano de Irati

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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

MOBILIDADE E ACESSIBILIDADE NO ESPAÇO URBANO DE IRATI

KATYA ELISE CICORUM1 ROBERTO FRANÇA DA SILVA JUNIOR2

Resumo: As pessoas necessitam estar em constante movimento. Ir ao trabalho, escola, igreja, clube e às compras tornou-se um componente inerente aos citadinos. Os movimentos para os usos dos sistemas de circulação são os mais variados, no entanto, boa parte da população se movimenta com mais dificuldade devido às más condições financeiras. A mobilidade está vinculada ao nível de renda e o acesso aos diversos meios de transportes. A sociedade atual, de certa maneira, impulsiona os cidadãos para uma efetiva reprodução social. De certo modo, boa parte da população está inserida em um ciclo familiar, de estudos, de trabalho e de lazer. A cidade de Irati passou por transformações viárias nos últimos cinco anos, reforçando o caráter de uma circulação automotora sem se pensar na circulação dos transportes públicos e na acessibilidade da população sem acesso a veículos automotores. Diante da problemática, o objetivo da pesquisa foi o de analisar a mobilidade e a acessibilidade da população de Irati, a partir dos seus percursos e espacialidades, levando em consideração a questão da renda e dos fatores de mobilidade e uso das técnicas de transporte. Para tanto, especificamente levantamos informações sobre as condições de mobilidade da população; analisamos os deslocamentos (espacialidades) das pessoas para o centro; avaliamos a infra-estrutura voltada para a movimentação das pessoas, tais como: ruas, calçadas e segurança no trânsito. Palavras-chave: Circulação, Planejamento, Mobilidade, Acessibilidade

1 Acadêmica do 4º ano do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) 2 Professor Adjunto Doutor da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) - (graduação e mestrado), Campus de Irati. E-mail: [email protected]

BARTIECHEN, M.; SILVA JUNIOR, R. F. Desigualdades socioespaciais no espaço urbano de Irati-PR: os casos dos bairros Alto da Lagoa e Alto

da Glória

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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS NO ESPAÇO URBANO DE IRATI-PR: OS CASOS DOS BAIRROS ALTO DA LAGOA E ALTO DA GLÓRIA

MARINA BARTIECHEN1 ROBERTO FRANÇA DA SILVA JUNIOR2

Resumo: O espaço urbano, contraditório, se apresenta como campo de lutas fragmentado e articulado ao mesmo tempo. As infraestruturas não se distribuem homogeneamente na cidade em razão da natureza do capital, que prioriza os espaços mais concentrados, mesmo em uma cidade de pequeno porte, como é o caso de Irati. Tendo como base esses pressupostos, objetivamos neste trabalho, analisar as desigualdades infraestruturais entre o bairro Alto da Lagoa, que está em estado de profunda segregação socioespacial, carente de infraestruturas, e o bairro Alto da Glória, que nos últimos anos, vem recebendo investimentos em infraestruturas por parte do poder público e pelas empresas. . Com isso, o Alto da Glória se valoriza ainda mais aprofundando as desigualdades socioespaciais em Irati, e exercendo uma força de repulsão das populações mais carentes para os bairros periféricos, como é o caso do Alto da Lagoa. Essa questão é abordada no decorrer do trabalho, juntamente com as relações que circunscrevem este “cenário”, como a desigualdade social, a segregação espacial e a especulação imobiliária. Diante deste contexto, constatamos alguns problemas existentes na organização espacial da cidade de Irati- PR, principalmente na distribuição de investimentos, sendo possível identificá-los através de entrevistas realizadas com moradores dos procedentes bairros (Alto da Glória e Alto da Lagoa), quando observamos um elevado percentual de desigualdade social, principalmente da renda de seus moradores, enfatiza ainda mais a disparidade entre os dois bairros analisados. Palavras-chave: Segregação sócio-espacial, Desigualdade social, Especulação imobiliária

1 Acadêmica do curso de Geografia da Unicentro, campus de Irati. E-mail: [email protected] 2 Professor adjunto do Departamento de Geografia da Unicentro, campus de Irati.

FERNANDES, M. S.; BRUMES, K. R. Nota sobre a monitoria remunerada na disciplina de Métodos de Pesquisa em Geografia: auxílio para o

trabalho de conclusão de curso

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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

NOTA SOBRE A MONITORIA REMUNERADA NA DISCIPLINA MÉTODOS DE PESQUISA EM GEOGRAFIA: AUXÍLIO PARA O TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

MICHELE SERPE FERNANDES1 KARLA ROSÁRIO BRUMES2

Resumo: A monitoria remunerada na disciplina de Métodos de Pesquisa em Geografia se deu no ano de 2009, no segundo semestre com carga horária de 12h semanais e totalizou 144 horas. As atividades realizadas consistiram no auxilio à professora regente na organização das atividades; leituras sobre os diferentes métodos de pesquisa e esclarecimentos de dúvidas aos acadêmicos sobre a disciplina. Entendo que essa disciplina é de grande importância para a formação do acadêmico, especialmente para aqueles que desejam seguir a carreira de pesquisador, pois esclarece muitas questões relacionadas à pesquisa, como os vários tipos de métodos de acordo com as temáticas trabalhadas. São métodos como o Hermenêutico Fenomenológico que abarca questões ontológicas, do ser, da essência, muito usado na Geografia para explicar a questão do lugar, ou seja, do sentimento de pertencimento ao lugar. Passamos a compreensão da indução, em que o pesquisador induz um pensamento predeterminado sobre um objeto e, dedução, que confere ao objeto a indução está correta. Também passamos pelo método Materialismo Histórico Dialético usado na compreensão do capital ora excludente ora includente, das contradições na sociedade capitalistas em que vivemos. Muitos outros métodos ainda foram apresentados os quais auxiliam o estudante graduando a desenvolver uma boa pesquisa. Neste sentido, utilizamos algumas horas da monitoria para realização do nosso Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) fato que contribuiu em muito para nosso enriquecimento teórico e amadurecimento intelectual, bem como, para o estimulo para ser um professor e pesquisador, uma vez que a disciplina trabalha com uma gama de situações muito recorrentes a quem está nos anos finais de um curso de graduação. Palavras-chave: Monitoria, Geografia, Trabalho de conclusão de curso

1 Discente do 4 ano do curso de Geografia de Irati – DEGEO/I – e-mail: [email protected] 2 Docente do Departamento de Geografia de Irati – DEGEO/I – e-mail: [email protected]

CARVALHO, R.; OLIVEIRA, O. Representações indígenas no Brasil

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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

REPRESENTAÇÕES INDÍGENAS NO BRASIL1

ROSENALDO DE CARVALHO² OSÉIAS DE OLIVEIRA³

Resumo: O presente artigo busca refletir o papel do indígena em nossa sociedade contemporânea, fazendo um apanhado das situações que a eles dizem respeito, desde as definições e redefinições de seus territórios, como ele é visto pela sociedade e suas relações interculturais, Esta reflexão é fundamentada em obras reconhecidas da antropologia e etno História, como também nas discussões ocorridas durante a semana do Vídeo Índio Brasil - A Imagem dos Povos Indígenas no Século XXI. A imagem do indígena na sociedade nacional Nos últimos anos muito se tem falado sobre a diversidade cultural, o respeito as

diferenças culturais e a procura por parte de grupos que eram tidos como marginais

de seu reconhecimento. Exemplos são as etnias Indígenas que recentemente tem

lutado arduamente por seus direitos e buscando sua inserção na sociedade

abrangente, várias são estas atividades dentre elas podemos citar o Vídeo Índio

Brasil que já vem ocorrendo a quatro anos e em 2010 ocorreu de 31 de julho à 7 de

agosto em 111 cidades brasileiras, mostra vídeos feitos pelos próprios indígenas e

sua cultura e os problemas por eles enfrentados. Ajuda também em suas lutas, que

são em várias frentes, como a legalização e defesa de seus territórios, a busca de

políticas públicas que possam auxiliá-los na defesa de seus interesses.

Apesar de todos os esforços de nossa sociedade para o reconhecimento dos grupos

marginais, no qual se inclui os povos indígenas, parece ainda não ser suficiente para

que veículos de comunicação de grande circulação, como a revista Veja, na qual

vinculou na reportagem intitulada A farra da Antropologia oportunista (COUTINHO, et

al 2010), todo o preconceito contra os povos indígenas e as demarcações de seus

territórios. Analisemos um trecho da reportagem:

As dimensões continentais do Brasil costumam ser apontadas como um dos alicerces da prosperidade presente e futura do país. As vastidões férteis e inexploradas garantiriam a ampliação do agronegócio e do peso da nação no comércio mundial. Mas essas

1 Esta reflexão está associada às atividades desenvolvidas pelo Núcleo de Estudos Étnico-Raciais, à disciplina de Cultura Indígena, no curso de História e ao projeto de extensão Vídeo Índio Brasil em Irati-PR ² Graduando do curso de História (UNICENTRO) - [email protected] ³ Docente do departamento de História (UNICENTRO) - [email protected]

CARVALHO, R.; OLIVEIRA, O. Representações indígenas no Brasil

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avaliações nunca levam em conta a parcela do território que não é e nem será explorada, porque já foi demarcada para proteção ambiental ou de grupos específicos da população. Áreas de preservação ecológica, reservas indígenas e supostos antigos quilombos abarcam hoje 77,6 da extensão do Brasil... O Governo pretende criar outras 1514 reservas e destinar mais 50000 lotes para a reforma agrária. Juntos eles consumirão uma área equivalente à Pernambuco...Certas iniciativas são motivadas pela ideia maluca de que o território brasileiro deveria pertencer apenas aos índios.

Vemos um tom fortemente depreciativo e preconceituoso na reportagem, onde os

indígenas estão com suas demarcações diminuindo as terras cultiváveis do país,

sendo um obstáculo ao desenvolvimento da agricultura. As demarcações dependem

basicamente de dois pontos, a declaração da população como pertencente a

comunidades indígenas ou quilombolas e um laudo antropológico, estes

profissionais são também negativizados, acompanhemos como o trabalho destes

profissionais é tratado pela reportagem:

Os laudos antropológicos são encomendados e pagos pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Mas muitos dos antropólogos que os elaboram são arregimentados em organizações não governamentais (ONGs) que sobrevivem do sucesso nas demarcações. A quantidade de dinheiro que eles recebem está diretamente relacionada ao numero de quilombolas e índios que eles alegam defender (COUTINHO, et al 2010),

O caso mais conhecido nos últimos tempos no Brasil é no que diz respeito a reserva

no estado de Roraima, denominada Raposa Serra do Sol, a maior reserva indígena

em terras brasílicas, onde há o conflito entre os indígenas e produtores de arroz.

Segundo os indígenas os produtores de arroz estão invadindo seus territórios na

busca de aumentar a produção. Os indígenas foram recentemente até a capital

federal denunciar as ações dos produtores de arroz que fazem divisa com a sua

reserva, fato que gerou muita polêmica em vários locais, e os advogados dos

produtores reivindicarem a redefinição da reserva e que a mesma fosse diminuída

para haver mais espaço para a produção de arroz. Já os índios fizeram

manifestações contra a remarcação de suas terras e disseram que a luta iria até não

restar mais nenhum indígena, pois segundo os indígenas já teria ocorrido mortes e

vários conflitos entre indígenas e os jagunços contratados pelos plantadores de

arroz.

Esse fato é um exemplo da luta pelos direitos indígenas os quais muitas vezes são

CARVALHO, R.; OLIVEIRA, O. Representações indígenas no Brasil

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vistos como obstáculo ao desenvolvimento, como se fosse um ser exótico, que deve

ser mantido em estado puro, sendo aquele como em 1500, caçador e coletor, muitos

ainda os vêem dessa maneira, pois sendo assim o indígena não necessita de

extensos territórios para sobreviver.

O indígena de submisso a sujeito da História No que diz respeito a produção do conhecimento, principalmente o histórico o que

se pensava sobre estes grupos também teve uma substancial mudança. Até pouco

tempo atrás o indígena era aquele ao qual a historiografia reservava o papel de

conquistado, submisso, aculturado, aquele que durante muito tempo só foi visto pelo

prisma de quem desde o processo de colonização só teve perdas, perdas culturais,

de seus territórios.

Esta foi a visão dos historiadores ditos tradicionais, que pensavam o conhecimento

histórico como sendo feito em cima de documentos que falavam de grandes homens

e grandes fatos, sendo o resto de toda uma sociedade apenas massa amorfa. Papel

que também foi reservado a esfera que diz respeito aos indígenas, como a

historiadora Maria Regina Celestino de Almeida fala de os indígenas eram tidos em

nossa historiografia como massa amorfa matéria inerte. Como aqueles que não

tinham vontade ou ação própria, apenas reagindo a estímulos externos, mesmo

assim depois de perderem a luta passavam a ser apenas sujeitos nas mãos dos

colonizadores.

No início do século XX surge uma nova forma de se pensar História, com o grupo

dos Annales que pensavam a história como algo que devia ser mais viva. Para

Lucien :(FEBVRE, 1953, p.43.)

“A história se faz com documentos escritos, quando existem. Mas ela pode e deve ser feita com toda a engenhosidade do historiador... Com palavras e sinais. Paisagens e telhas. Formas de campos e ervas daninhas. Eclipses lunares e cordas de atrelagem. Análises de pedras dos geólogos e de espadas de metal pelos químicos.

O grupo dos Annales desde seu início propôs a interdisciplinaridade para a escrita

da História, mas isso só ocorreu de fato a pouco mais de duas décadas sob os

aspúcios da história cultural. Pois até então História e Antropologia andavam um

tanto quanto fechados em seus campos e conceitos. A Antropologia não

CARVALHO, R.; OLIVEIRA, O. Representações indígenas no Brasil

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reconhecendo a historicidade da cultura e nem a História via no campo da cultura

algo passível de pesquisa e criação do conhecimento histórico. Daí advinha os

problemas que citamos a pouco no que se relacionava ao papel dos povos indígenas

em nossa historiografia. Mesmo grandes nomes de nossa historiografia deixaram

passar despercebidos em seus trabalhos a grande contribuição que um campo

poderia dar ao outro. Exemplo são as sínteses de Sérgio Buarque de Hollanda e

Caio Prado Jr as quais em muitos momentos o indígena teve somente um papel

secundário, já que Sérgio Buarque em Raízes do Brasil se ateve mais ao tipo do

colonizador português e Caio Prado Jr ateve-se ao que ficou conhecido como

nossos ciclos econômicos. Gilberto Freyre em Casa Grande Senzala uma das

maiores sínteses de nossa História tratou o indígena de uma maneira que hoje

podemos dizer ser um tanto quanto errônea ou distorcida. Florestan Fernandes em

sua obra sobre a cultura Tupinambá não deu a devida atenção aos processos

históricos da cultura estudada (ALMEIDA, 2003).

Nos últimos anos houve uma maior aproximação das duas ciências, de forma que os

trabalhos deram melhores frutos, e então, a tão sonhada interdisciplinaridade pelos

Annales começou a criar raízes. Um desses trabalhos que uniu antropologia e

história foi a de Maria Regina Celestino (ALMEIDA, 2003), a qual mostra a vitalidade

e importância do campo da história cultural. Nessa obra a autora Maria Regina fala

das atitudes dos grupos indígenas para a manutenção de suas tradições e modo de

vida e de como eles sempre foram resistentes ao que lhes era imposto, pois para a

autora viver em aldeias não era a perda de sua cultura mas sim um modo de

resistência. Fazendo com que se quebre a visão de piedade sobre o índio, mas sim

um sujeito que se metamorfoseou para sobreviver em uma nova ordem social que

era violentamente lhe imposta.

No mesmo campo os historiadores paranaenses Lúcio Tadeu Mota e Éder da Silva

Novak em pesquisa sobre os índios Kaingang no Paraná, resultou no livro Os

Kaingang do vale do rio Ivaí: história e relações interculturais (MOTA; 2008), que

trata de todo o processo histórico do grupo dos Kaingang desde a pré-história até a

chegada dos europeus. Para tal período se utilizam de pesquisas do campo da

arqueologia na área. Os autores abordam as relações interculturais que os Kaingang

tiveram com os colonizadores e outros grupos indígenas como os Xetá e os

Guaranis. Os autores buscaram assim como Maria Regina Celestino de Almeida

mostrar que os índios não foram em momento nenhuns submissos, nem massa

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amorfa, mas que lutaram por seus direitos. Para tanto eles analisaram discursos de

ambos os lados, tanto dos Kaingang como daqueles que estavam direta ou

indiretamente ligados a questão.

Em um trecho de Metamorfoses indígenas (ALMEIDA, 2003, p. 32) de Maria Regina

Celestino afirma que:

“Cabe ressaltar a contribuição de Sidney Mintz e Eric Wolf, antropólogos preocupados em enfatizar o dinamismo, a variabilidade e a historicidade da cultura. Destacaram a importância de se perceber que um sistema cultural apresenta variabilidade no que se refere ás intenções, conseqüências e significados dos atos escolhidos pelos indivíduos. Pessoas situadas em posições socialmente diferentes podem até agir da mesma forma, mas essas ações muito provavelmente não terão para eles os mesmos sentidos, nem tampouco as mesmas conseqüências. Os homens agem se relacionam, pois, conforme seus lugares sociais e objetivos. Uma visão que não estabeleça o entrosamento dinâmico entre o social e o cultural termina por não levar em conta as possibilidades de variação, tanto cultura quanto na estrutura social. Se, na maior parte das vezes, os homens na agem de acordo com padrões sociais, estes são malha de ferro, havendo sempre possibilidades de escolhas e alternativas que variam de grupo para grupo, conforme as condições”.

Essa afirmação nos permite interpretar o ofício (ARQUIVO PÚBLICO DO

PARANÁ. 12 jan 1879) do delegado Domingos Ferreira Pinto quando afirma:

“É portador desta (carta de recomendação), o índio Felisbino, filho do cacique Feliciano que vai com seus irmãos e família implorar de V. Exa um auxilio para coadjuvá-los na cultura de cana que segundo a carta junta do Delegado de Polícia de Guarapuava tem eles feito grandes plantações bem como de outros gêneros de cultura. Sobre o lugar denominado Barra Vermelha deste Termo onde se acham aldeados oitenta e tantos índios. Pelas informações que tenho consta-me serem estes índios laboriosos e morigerados. Por quanto levando ao conhecimento de V. Exa estes fatos espero que tomara as medidas que julgar mais acertada a fim de animar estes índios que tão boa vontade mostrarão pelo desenvolvimento da industria dedicando-se ao trabalho.”

Quando Eric Wolf e Sidney Mintz (ALMEIDA, 2003) afirmam que um sistema cultural

apresenta variabilidade nos atos escolhidos pelos indivíduos, notamos que o índio

Felisbino ao ir atrás de recursos para sua tribo, tem muitos intuitos, como o de

buscar o melhor possível para si e para sua tribo, não era o único interesse mais

aquele que mais lhe parecia conveniente para o momento. Quando Felisbino e seus

CARVALHO, R.; OLIVEIRA, O. Representações indígenas no Brasil

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parentes chegam até as autoridades para pedirem utensílios que posam ajudar na

fabricação e beneficiamento da cana de açúcar, mostra uma de suas esferas de

ação, a qual quer passar a imagem de quem quer fazer parte da sociedade

envolvente do trabalho e do desenvolvimento. Talvez esse não fosse o único ou real

objetivo de Felisbino e seus companheiros, mas para que conseguissem o que

queriam foi a imagem que passaram, pois era a que mais agradava as autoridades

da época.

Outro ponto que notamos no texto de Maria Regina Celestino de Almeida é a

afirmação que “os homens agem e se relacionam, conforme seus lugares sociais e

objetivos”,(ALMEIDA, 2003, p. 32) partindo desse pressuposto o ofício não pode ser

analisado como se mostrasse apenas interesses de uma das partes envolvidas, mas

sim das duas, índios e sociedade envolvente, um documento que tem interesses

variados.

Se por um lado os índios reivindicaram ferramentas que ajudassem na fabricação de

derivados de cana, os não índios intencionavam que com essas ferramentas se

adaptassem ao mundo civilizado.

No mesmo oficio vemos interesses cruzados de pessoas de posições sociais

diferentes, que agiram de forma muito parecida, mas que provavelmente não terão

os mesmos sentidos, que apesar de agirem da mesma forma tiveram diferentes

conseqüências.

Vemos, então, que quando procuramos abordar a temática indígena de diversos

prismas onde índios nunca foram os tais “coitadinhos” como por muito tempo foram

conhecidos, mas foram atores e autores de sua própria história, resistindo de

variadas maneiras e recriando seu modo de vida. Exemplos temos com Lúcio Tadeu

Mota e Éder da Silva Novak (MOTA; 2008) que trataram em sua obra sobre os

processos de desterritorialização dos Kaingangs no vale do rio Ivaí, mostrando as

formas de que se utilizaram várias estratégias ao decorrer do processo para

garantirem suas terras e seu modo de vida.

Não como empecilho ao desenvolvimento agrário e econômico do país como a

reportagem da revista Veja, mas como indivíduos que desde os primórdios da

colonização lutaram por aquilo que achavam que lhes fosse justo e de direito.

Sabemos que reportagens como essas podem forjar o pensamento de muitas

pessoas que não tem acesso a análises como de Maria Regina e de Lucio Tadeu

Motta que mostram a situação dos indígenas, e leva essas pessoas a negativizarem

CARVALHO, R.; OLIVEIRA, O. Representações indígenas no Brasil

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o índio mais do que ele já é, pensemos o que uma reportagem como essa causa em

uma pessoa que imagina o indígena como coletor e caçado, provavelmente sua

opinião será a favor dos grandes latifundiários.

Obras de antropólogos e historiadores como Maria Regina e Lucio Tadeu Motta são

de grande valia para desmistificar o papel do índio em nossa sociedade, temos que

fazer com trabalhos de excelência como esses sejam levados ao publico geral e

assim tenham o poder de revelar o que de fato o indígena representa e representou

e tenha o mesmo poder de forjar opiniões, não preconceituosas como da revista,

mas que ajude os preconceitos a caírem por terra.

O Indígena como obstáculo ao desenvolvimento Durante a semana do Vídeo Índio Brasil um dos documentários que mais chamou a

atenção foi Corumbiara de Vicent Carreli que mostra o encontro com índios que

ainda não tinham tido contato com as sociedades brancas. A trama do documentário

se da em volta de massacres de grupos indígenas em 1986 por fazendeiros e Vicent

Carreli busca provas para fazer a incriminação dos responsáveis, onde acontece o

encontro com os indígenas desconhecidos.

Corumbiara mostra uma das representações que mais se tem sobre o índio, como

um empecilho ao desenvolvimento da agricultura, pois os fazendeiros da região na

intenção de aumentar os territórios e também sua produção viram no índio e suas

reservas o maior problema, deram o seu jeito, não respeitando não só o direito das

terras indígenas, mas a vida dos índios. No Brasil desde a década de1960 e 1970

onde o governo militar criou programas para desenvolver os sertões do país,

exemplo foi a rodovia Transamazônica que pretendia integrar todo o norte do

território nacional.

Só que estas políticas não visaram o indígena que estava perdendo seus territórios,

mas que em momento nenhum deixou de lutar e que por muitas vezes foi

massacrado, é o que o documentário Corumbiara mostra, o advogado de um dos

fazendeiros faz uma afirmação:”Veja os Estados Unidos, eles acabaram com todos

os índios do oeste e são o país mais desenvolvido do mundo”, nessa afirmação

vemos todo o descaso e despreocupação que se tem quanto aos índios, para eles o

país só se desenvolve quando os índios forem exterminados.

Mas não é recente essa desterritorialização dos indígenas e também não ocorreu só

CARVALHO, R.; OLIVEIRA, O. Representações indígenas no Brasil

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no norte do país. No estado do Paraná os indígenas Kaingangs tiveram seus

territórios várias vezes re-demarcados e sempre que eram redefinidos esses

territórios eram diminuídos em favor dos emigrantes que chegavam de vários países,

especificamente poloneses e ucranianos. Nas políticas de povoamento de 1949, as

terras indígenas dos Kaingangs nas margens do rio Ivaí foram sendo paulatinamente

diminuídas a favor dos colonizadores, o SPI foi o órgão que responsável pelos locais

que foram demarcados sendo drasticamente reduzidos. Lucio Tadeu Motta afirma:

“Entre as áreas que foram “reestruturadas” em 1949 estava a Terra Indígena Ivaí. Pelos critérios adotados pelo governo para a determinação das extensões das novas áreas...Assim, dos 36.000 há concedidos pelo decreto de 1924, restaram apenas 7.200 há m 1949...Além de diminuir os territórios indígenas, apropriado-se das melhores terras para futuras negociações, o governo quis eliminar os vestígios da ocupação passada com a destruição das velhas moradias (MOTA, 2008)”

O governo com seu intuito de desenvolver o país muitas vezes ou quase nunca se

interessou pelo futuro dos povos indígenas, desde os inícios da colonização, o

indígena sempre foi visto como o maior empecilho e sempre foi desrespeitando

todos os seus direitos que aconteceu o tão sonhado desenvolvimento.

O indígena e a sociedade

A sociedade de uma maneira geral tem um olhar ainda muito preconceituoso sobre o

indígena, muitas vezes criando uma imagem do índio como aquele que só caça e

pesca e anda pelado de arco e flecha nas costas. Os meios de comunicação fazem

com que essa visão seja perpetuada. Na escola, no dia do índio as crianças põem

cocares na cabeça e se imaginam caçando e pescando.

Quando as pessoas veem o índio vestido usando celular, acreditou que esse

indivíduo não é mais índio ou é aculturado. O indígena nem sempre teve o

reconhecimento merecido, sempre foi um povo deixado a margem, da sociedade, do

desenvolvimento e de políticas publicas e não reconhecemos que eles também

podem ter acesso a situações parecidas com as nossas. Muito ainda se pensa na

questão do índio puro e parece que a sociedade quer que ele continue na floresta

sem ter contato com o que esta acontecendo com a sociedade que eles também

fazem parte, tendo os mesmos direitos e deveres de qualquer cidadão. O mais

CARVALHO, R.; OLIVEIRA, O. Representações indígenas no Brasil

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importante na inserção dos indígenas é que eles sejam reconhecidos e tenham seus

direitos respeitados, para tanto se faz necessário toda uma revisão do olhar de uma

sociedade que não da ao indígena o estatuto de cidadão, ou o vê como um cidadão

de segunda classe.

Nos últimos anos pesquisas do IBGE mostram uma maior confirmação dos povos

indígenas em nossa sociedade. Um reflexo da mudança que lentamente vem

ocorrendo na mentalidade do brasileiro sobre o indígena, por mais pequena que seja

mostra que aos poucos a sociedade conseguirá rever aquilo que representa o índio.

Nas décadas de 1980 e 1990 muitos cidadãos que tinham algum parentesco com

indígenas não se diziam como tal, por muitas vezes não querer expor sua pertença a

um grupo marginalizado e negativizado na sociedade, isso não ocorria apenas com

indígenas, mas com outras minorias étnicas como negros. Já do ano de 2000 para

cá percebe-se um maior sentimento de pertença à grupos que esses indivíduos

tenham alguma ligação, seja ela sanguínea, cultural ou qualquer outra que

possamos pensar.

Isso reflete mudanças, que podem ser pequenas diante da dívida que temos com

esses povos, mas pelo menos já há uma positivação de ser indígena, não sentem

mais vergonha medo ou qualquer outro empecilho para assumirem sua pertença a

determinado grupo ou etnia. Lembrando que isso não ocorre apenas com os

indígenas, mas com outros grupos étnicos como os negros, outras minorias como os

homossexuais. A partir de informações como essa, podemos concluir que aos

poucos nosso modo de pensar sobre o outro está mudando, a passos lentos, mas

está mudando.

Não podemos deixar que preconceitos sejam perpetuados em nossos meios de

comunicação nem na sociedade, mas infelizmente é o que acontece pois a grande

maioria dos veículos de comunicação estão em poder daqueles que concordam que

o indígena, suas terras e tradições são obstáculos ao desenvolvimento econômico

da nação. É de nossa responsabilidade procurar meios de vencer preconceitos que

estes sim são grandes empecilhos ao desenvolvimento da nação, não ao

econômico, mas ao desenvolvimento do ser humano que deveria ser o principal ideal

de qualquer governo.

Obras como de Maria Regina Celestino de Almeida e Lúcio Tadeu Mota devem ser

usadas para opôr, confrontar pensamentos como os expostos na referida

reportagem da revista Veja, mostrando os dois lados de uma mesma história, na

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qual por mais de cinco séculos o indígena só foi visto por um único lado. Que ainda

permanece em alguns setores da sociedade, que não sabem ou dizem não saber do

verdadeiro e importante papel do indígena na formação de nossa sociedade.

Mas de nada adianta que apenas um pequeno círculo de pensadores e

pesquisadores das faculdades e universidades discutam, construam e desconstruam

o conhecimento sobre o indígena, se este não for levado ao conhecimento de toda a

sociedade pra que esta também possa mudar seu modo de enxergar o índio, ou pelo

menos tenha a possibilidade de poder vê-lo de um outro prisma. E seja capaz de

aceitar a presença do indígena na sociedade e desconstrua a imagem do pobre

individuo que foi derrotado, aculturado e destituído de suas terras, e que agora só

incomoda o desenvolvimento da nação brasileira.

Para tanto eventos como a semana Vídeo Índio Brasil se fazem imprescindíveis para

que passemos a conhecer melhor o outro e a aceitar as diferenças como algo

normal e saudável, pois a partir do conhecer do outro podemos nos conhecer

melhor.

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, Maria Regina Celestino. Metamorfoses indígenas: identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro .RJ:Arquivo Nacional, 2003. ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ. Oficío. Delegado de Ponta Grossa, Domingos Ferreira Pinto. Curitiba, 12 jan 1879 COUTINHO, Leonardo. PAULIM, Igor. MEDEIROS, Júlia Farra da antropologia oportunista, Veja, São Paulo, 2163, p 53 67. 05 de maio de 2010. FEBVRE, Lucien. Combates pela História. Lisboa, Presença, 1986. FREYRE, Gilberto. Casa grande e senzala. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1969. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1978. MOTA, Lúcio Tadeu. Os Kaingang do vale do rio Ivaí :história e relações interculturais / Lúcio Tadeu Mota , Éder da Silva Novak. Maringá: Eduem, 2008. PRADO JUNIOR, Caio. Historia econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1993.

ROCHA, R.; BRUMES, K. R. Fernandes Pinheiro-PR: treze anos após a emancipação

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FERNANDES PINHEIRO-PR: TREZE ANOS APÓS A EMANCIPAÇÃO

ROSIMEIRI ROCHA1 KARLA ROSÁRIO BRUMES2

Resumo: O presente trabalho tem como foco Fernandes Pinheiro no Paraná com uma população total de 5696 habitantes. A pesquisa tem permitido compreendê-la a partir de sua emancipação em 1995. Para isto, tem se buscado analisar esta pequena cidade observando como se estrutura em vários setores após a emancipação que surge em decorrência de alianças que visavam a busca do poder local, ou seja, nosso objetivo é entender como a cidade se mantém após a emancipação. Os discursos neste sentido, em especial os políticos, se fizeram presentes no momento de repassar a ideia da emancipação à comunidade. Nesta pesquisa utilizou-se como procedimentos, a investigação bibliográfica, os dados estatísticos fornecidos pela prefeitura municipal, sites governamentais e entrevistas. Temos constatado que Fernandes Pinheiro encontra-se, em estágio inicial de desenvolvimento após 13 anos de emancipação já que é muito dependente de municípios próximos em especial Irati, o centro local no contexto da região Centro Sul do Paraná. A Confederação Nacional dos Municípios – CNM (2010) afirma que os municípios-filho não ganham em prosperidade diante da emancipação municipal, contudo, em Fernandes Pinheiro este comportamento não se mantém. Os dados levantados até o momento demonstram que desde a emancipação, há uma melhoria significativa no acesso aos serviços básicos de saúde e educação se comparados ao período anterior à sua autonomia. Palavras-chave: Pequenas cidades, Emancipação, Poder local

1 Discente do curso de Geografia de Irati – DEGEO/I – e-mail: [email protected] 2 Docente do curso de Geografia de Irati – DEGEO/I – e-mail: [email protected]

FERREIRA, S. C. Pensando Guarapuava à luz dos Planos Nacionais e Estaduais de Desenvolvimento e da teoria pata

estudos de cidades médias

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PENSANDO GUARAPUAVA A LUZ DOS PLANOS NACIONAIS E ESTADUAIS DE DESENVOLVIMENTO E DA TEORIA PARA ESTUDOS DE

CIDADES MÉDIAS

SANDRA CRISTINA FERREIRA1 Resumo: Apresentamos nesse texto uma discussão que objetiva destacar como os planos de desenvolvimento do Paraná até a década de 1970, principalmente a PDU-PR (Política de Desenvolvimento Urbano do Paraná), definidas e implantada em 1972, contribuiu para o desenvolvimento socioeconômico e espacial diferenciado entre as cidades de porte médio paranaenses selecionadas pelo programa do Governo Federal denominado Programa Nacional de Apoio às Capitais e Cidades de Porte Médio (PNCCPM) integrado ao II Plano Nacional de Desenvolvimento, quais sejam: Londrina, Maringá, Cascavel, Ponta Grossa, Paranaguá e Guarapuava e, como tais cidades, se apresentam frente a possibilidade de desempenho de funções de cidade média na rede urbana paranaense. Palavras-chave: Rede urbana, Cidade de porte médio, Cidade média, Paraná

Introdução

Na década de 70, do século XX, o Governo Federal, por meio de políticas públicas

de ordenamento territorial, começou a incentivar a interiorização e dinamização de

áreas tidas como estagnadas com a finalidade de criar novos centros de

desenvolvimento no território, frear a migração rumo às metrópoles e incentivar o

desenvolvimento de cidades de porte médio. O Programa Nacional de Apoio às

Capitais e Cidades de Porte Médio – o PNCCPM -, integrante do II PND, por meio da

Comissão Nacional de Regiões Metropolitanas e Política Urbana do Ministério de

Planejamento (CNPU), estabeleceu intervenções de acordo com os objetivos

governamentais.

Essa Comissão, para fins metodológicos, dividiu as cidades de porte médio

brasileiras em dois grandes grupos: um formado pelas cidades integradas à rede

urbana e, o outro, pelas cidades situadas às margens das redes urbanas

hierarquizadas. O primeiro grupo de cidades foi representado por capitais que

estavam sob a influência da metrópole, localizadas predominantemente no Sul e

Sudeste do país. O segundo grupo foi constituído por cidades de porte médio,

caracterizadas como centros terciários das zonas de agricultura tradicional, que são

as cidades que servem de ponto de apoio às zonas de colonização agrícola, as

1 Docente do Departamento de Geografia da UNICENTRO – Guarapuava. [email protected].

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cidades essencialmente administrativas e as cidades que canalizam produtos

básicos destinados à exportação (PONTES, 2000).

Para Rochefort (1998, p.93), as ações de desenvolvimento das cidades de porte

médio objetivavam desenvolver, prioritariamente, “algumas cidades para refrear o

crescimento das metrópoles e, à medida que as cidades são escolhidas no interior

do território, levar para esses espaços subdesenvolvidos atividades e homens que

permitam um desenvolvimento da economia regional.” Nesse sentido, os

investimentos foram pontuais e, entre as cidades escolhidas, nem todas tiveram

participação efetiva na proposta. No caso de Guarapuava, localizada na região

Centro Sul do Paraná, a divergência entre os objetivos das políticas de

desenvolvimento nacional e estadual, não a favoreceu no sentido da formação de

um eixo disseminador de desenvolvimento socioeconômico e espacial.

Assim, nesse texto apresentamos uma discussão que tem por objetivo destacar

como as principais medidas da PDU-PR (Política de Desenvolvimento Urbano do

Paraná), definidas e implantadas em 1972, contribuíram para o desenvolvimento

socioeconômico e espacial diferenciado entre as cidades de porte médio

paranaenses selecionadas para participarem do PNCCPM, quais sejam: Londrina,

Maringá, Cascavel, Ponta Grossa, Paranaguá e Guarapuava, diferenciando-as

também, quanto à posição que ocupam na rede urbana paranaense e a

possibilidade de desempenho de funções de cidade média.

Para tanto, apresentamos uma breve discussão teórica sobre a implantação do

referido programa federal e os planos estaduais; sobre a diferença entre cidade de

porte médio e cidade média, assim como, as reflexões entorno da noção de cidade

média. Não pretendemos esgotar aqui esse tema, tam pouco apontar as cidades

como sendo ou não médias, mas, inseri-las na discussão, trazendo a tona a cidade

de Guarapuava como centro desse debate.

Estudos sobre cidades de porte médio e médias no Brasil

Além de fazerem parte de planos de governo, as cidades de porte médio,

continuaram como objeto de preocupação, sendo estudadas por outros profissionais

no campo das pesquisas científicas; entre estes, geógrafos brasileiros têm se

dedicado à investigação e publicações sobre o tema. Diversos trabalhos como os de

Santos (1993, 2003), Amorim Filho (1976), Amorim Filho, Serra (2001), Soares

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(2000, 2001, 2005), Pontes (2000) Sposito (2001, 2007), Andrade e Lodder (1979),

Andrade, Serra (2001), Steinberger e Bruna (2001), dentre outros, têm estimulado

debates sobre as cidades de porte médio e sobre cidades2 médias no intuito de

compreendê-las e contribuir com pesquisas empíricas com reflexões teórico-

metodológicas que destas partam. Tais trabalhos abrem espaço tanto para uma

necessária distinção das cidades de porte médio das cidades médias quanto para as

particularidades observáveis em cada cidade que se encontre num dado patamar

demográfico ou numa dada situação de intermediação.

Nos anos da década de 1970, Andrade e Lodder (1979) definiram como critério

norteador para o tamanho das cidades o número de habitantes considerando:

pequenas até 50 mil habitantes; porte médio de 50 mil a 250 mil habitantes, grandes

de 250 mil a 2 milhões de habitantes, metrópoles, acima de 2 milhões de habitantes.

Em estudo mais recente, Andrade & Serra (2001, p.129) adotaram parâmetros

demográficos mais amplos para a definição de cidades de porte médio, ao

considerarem centros com população entre 50 e 500 mil habitantes divididos em

cidades com população entre “50 a 100mil, 100 a 250 mil e 250 a 500 mil

habitantes”, não fazendo exceção entre cidades com posições distintas na rede

urbana e trabalhando, inclusive, com aquelas inseridas em regiões metropolitanas.

Amorim Filho e Serra (2001) tomaram para os estudos o critério do tamanho

demográfico, considerando como cidades de tamanho médio aquelas com

população urbana entre 100 mil e 500 mil habitantes. Essa é também a definição

adotada pelo IBGE, desde 1990. Para a PNCCPM, no momento de sua implantação,

na década de 1970, as cidades consideradas de porte médio eram aquelas

aglomerações com população entre 50 mil a 250 mil habitantes.

Além da dificuldade de definição de um parâmetro demográfico para a cidade de

porte médio, outra questão relevante em torno dessas cidades incide no emprego da

terminologia cidade média em referência à cidade de porte médio. Soares (2005,

p.2) destaca a diferença entre ambas, esclarecendo que “[...] as diferenças entre

cidades de porte médio, que considera o tamanho demográfico, e cidades médias,

regionais ou intermediárias, cuja compreensão passa por um caminho metodológico

2 As cidades previstas para essa fase foram Campos (RJ), Manaus (AM), Porto Velho (RO) Rio Branco (AC) e as aglomerações foram Aracaju (SE), Caxias do Sul (RS), Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha (CE), Londrina e Maringá (PR), Maceió e Arapiraca (AL) e João Pessoa (PB)

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mais complexo, tendo em vista seu caráter funcional, influência regional, existência

de equipamentos urbanos e políticas publicas de preservação, entre outros”.

A cidade média exige mais que o número de habitante para sua definição e o

emprego desse parâmetro para defini-la, além de insuficiente, pode representar

equívocos uma vez que, algumas cidades [...], com número inferior de habitantes,

podem exercer funções de cidades médias em regiões menos desenvolvidas e

urbanizadas (AMORIM FILHO; BUENO; ABREU, 1982, p.35); assim, nem sempre

uma cidade de porte médio é uma cidade média e da mesma forma uma cidade

média não necessariamente deve apresentar porte médio no sentido demográfico.

Para qualificar uma cidade como média, além do tamanho populacional, deve-se

observar o papel que a mesma desempenha na rede urbana regional e em outras

escalas da rede, sua funcionalidade urbana (indústrias, comércio e serviços), a

relação com a região onde está situada, a complexidade de equipamentos urbanos e

a infraestrutura. A qualidade de vida oferecida por uma cidade média reflete a

singularidade que esta possui ao concentrar características tanto de pequenas

cidades como de grandes (SANTOS, 1997). A oferta de bens e serviços associada a

fatores como segurança e qualidade ambiental são importantes indicadores que

auxiliam na classificação de uma cidade média. Para Sposito (2001), existem outros

indicadores importantes para a definição de cidade média; conforme a autora, pode-

se caracterizar as cidades médias afirmando que,

a classificação delas, pelo enfoque funcional, sempre esteve associada à definição de seus papéis regionais e ao potencial de comunicação e articulação proporcionado por suas situações geográficas, tendo o consumo um papel mais importante que a produção na estruturação dos fluxos que definem o papel intermediário dessas cidades. (SPOSITO, 2001, p.635)

Nesse sentido, além dos dados secundários as pesquisas empíricas são

imprescindíveis para a obtenção de informações referentes ao consumo e que

demonstrarem as interações espaciais, sejam materiais ou imateriais, estabelecidas

no âmbito da rede urbana. As redes urbanas redefiniram a inte,r-relação entre as

cidades, inserindo-as dentro de uma escala de importância, sendo que cada cidade

se constitui numa “função” (SANTOS, 1996) dentro da rede, função diferenciada, já

que as redes apresentam desigualdade em sua formação e uso.

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O aumento do número de cidades de porte médio no Brasil coincidiu com o período

em que se fortaleceu o processo industrial e se constituiu um mercado consumidor a

partir do Sudeste, tendo como marco cronológico a década de 1970. Com a

expansão e intensificação do meio técnico-científico-informacional, o papel dessas

cidades foi ampliado, assim como a rede urbana tornou-se mais difusa e complexa,

permitindo a ampliação das interações espaciais entre as redes de cidades por meio

da circulação, possibilitada pela telecomunicação e transporte, incidindo em novas,

multidirecionadas e intensas redes de fluxos.

Reafirmamos que isso não significa que todas as cidades apresentaram essas

transformações em igual intensidade, mas, certamente, essas reestruturações

causaram alterações significativas não só no padrão de acumulação como também

na organização espacial. Houve repercussão sobre o processo de urbanização no

âmbito da rede e consequentemente no arranjo da hierarquia urbana, que não se

define por um padrão rígido, fato que torna ainda mais complexo o estabelecimento

de critérios, os encaminhamentos metodológicos e a definição conceitual de cidade

média por critérios além do demográfico, que inserem atributos qualitativos à

análise.

Nessa perspectiva de discussão Amorim Filho e Serra (2001) apontam três grandes

problemas geográficos e socioeconômico, que, entre outros, estiveram na raiz da

preocupação com o tema das médias e pequenas cidades na década de 1970:

a exacerbação de problemas de desequilíbrios urbano-regionais, o agravamento das condições de qualidade de vida nas grandes aglomerações urbanas, bem como um aumento acelerado dos problemas sociais aí verificados; a frágil organização hierárquica das cidades e, obviamente, o fluxo insuficiente das informações e das relações socioeconômicas nas redes urbanas da maior parte dos países do mundo, com reflexos negativos sobre o funcionamento dos sistemas político-econômicos. (AMORIM FILHO e SERRA, 2001, p.5)

Frente ao contexto apresentado pelos autores, e a partir das intervenções

governamentais por meio do PNCCPM no Brasil, na década de 1970, e das

mudanças socioeconômica internacional e nacional houve o estímulo às redefinições

territoriais. Assim, na década de 1990, renasceu fortemente o interesse pelas

cidades médias, não mais apenas como concentradoras de população constituindo

barreira aos fluxos demográficos em direção às metrópoles e capitais, mas, com

funções mais complexas na região ou na rede urbana de que fazem parte.

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Para Pontes (2000 e 2001), o papel das denominadas cidades médias ou

intermediárias na organização urbana está sofrendo profundas transformações,

tendo em vista o atual ambiente da globalização. Essas transformações dizem

respeito ao notável incremento populacional e econômico que tais cidades vêm

apresentando, refletindo quase que simultaneamente nos mais altos padrões de vida

por elas apresentados.

No entanto, quando se trata de empreender uma pesquisa sobre cidades médias,

estabelecem-se algumas variáveis norteadoras da análise como as que denotam a

intensidade de fluxos ou intensidade de demanda; a extensão ou alcance espacial

das áreas de influência de cada cidade e a disponibilidade de equipamentos

funcionais, como verificado em pesquisa sobre a repercussão das mudanças no

processo produtivo capitalista sob as cidades médias nordestinas (PONTES, 2006,

p. 336-337).

A diversificação do consumo, conforme exposto acima, constitui as cidades médias

em lugares ideais para a localização de serviços, distribuição de bens e terceirização

de tarefas, atividades que exigem uma mão-de-obra mais especializada. Desse

modo, as cidades médias estão se tornando, dado o ritmo de seu crescimento, o

local de concentração da técnica e do trabalho intelectual, atividades necessárias

para o desenvolvimento da economia de sua região, de sua hinterlândia (CORRÊA,

2007).

Sobre a complexidade que envolve tal objeto, Sposito (2001, p.632) enfatiza a

situação geográfica como um dos elementos determinantes dos papéis

desempenhados pelas cidades médias na rede urbana, quanto ao consumo, e que

tal situação, “dependerá das infraestruturas que articulam cada cidade média a

diferentes sistemas de circulação ou às redes de comunicação que possibilitam o

consumo à distância.” Por isso, a modernização da estrutura de transportes e

comunicações é primordial para uma cidade intermediária exercer os papéis que a

caracterizam, permitindo a sobreposição de redes, o movimento dos fluxos

independente de uma hierarquia rígida e a locomoção de pessoas para consumir

determinados bens e serviços.

Outras questões referentes à localização geográfica devem ser considerados, como

o isolamento ou a proximidade com outros centros urbanos de maior centralidade. O

isolamento em uma determinada região, por exemplo, pode tanto estimular quanto

dificultar sua atuação como cidade média. Por um lado, o estímulo acontece quando

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a cidade consiste no principal centro de atração da população de seu entorno e,

além disso, desenvolve atividades econômicas que atendam a contento essa

população. Por outro, o isolamento acarreta em dificuldade quanto a urbe não

apresenta uma dinâmica econômica que a torne atrativa para seu entorno e

competitiva com outros centros, mesmo que distantes. Também quando o contexto

em que está inserida apresenta características socioeconômicas que limitam a

capacidade de consumo dos habitantes como baixo IDH, atividades econômicas

com menor geração de empregos e valor de mercado.

Além disso, a cidade tem sua capacidade de atuação limitada se estiver sob a

influência direta ou indireta de uma metrópole nacional, metrópole regional, de uma

capital estadual ou se posicionar próxima a uma importante cidade com melhor

infraestrutura em serviços e oferta de bens, exercendo, assim, maior centralidade na

rede urbana. Portanto, a classificação de uma cidade média envolve questões como:

o tamanho demográfico, a formação socioespacial, a localização geográfica, a oferta

de bens e serviços, o setor industrial desenvolvido com atividades voltadas para

segmentos modernos da economia, população com potencial de consumo,

infraestrutura em redes modernas de transportes, telecomunicações, equipamentos

urbanos como shoppings centers, super e hipermercados, estabelecimentos de

ensino superior e pós-graduação, índices favoráveis às questões de segurança e

qualidade ambiental.

Acrescentamos que a existência de infraestrutura em transportes e comunicação

pouco contribui para o desenvolvimento socioespacial se não for utilizada, ou seja,

se a população residente nesse dado recorte, devido ao poder aquisitivo, tiver a

frequência de deslocamentos e de consumo inviabilizados. A referida autora enfatiza

ainda que a importância de uma cidade média “tinha e, ainda tem, relação direta

com a área sobre a qual ela é capaz de exercer influência, [...] ou a área a partir da

qual alguém está disposto a se deslocar até uma cidade média para nela ter acesso

ao consumo de bens e serviços” (SPOSITO et al, 2007, p. 37).

Dessa maneira, entendemos que uma cidade de porte médio localizada numa região

com predominância de pequenos centros locais com menos de 50 mil habitantes,

caracterizada como uma região socialmente crítica e economicamente inexpressiva,

depara-se com limitações significativas para a atuação como cidade média. Mesmo

polarizando alguns serviços como saúde e educação, a oferta de bens e serviços

fica restrita aos padrões de consumo de sua população e do seu entorno.

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Um setor industrial reduzido e atividades ligadas à exploração vegetal e a

segmentos tradicionais, madeira, papel, alimentos, bebidas, diminui a possibilidade

de geração de empregos formais e de riquezas para o município. Embora em menor

quantidade, os grupos sociais de maior poder aquisitivo existentes, como os

servidores públicos, comerciantes e a própria elite política e econômica, favorecidos

pelas redes de transportes, podem optar pelo deslocamento a centros maiores e

melhor equipados para satisfação de suas necessidades ou desejos concernentes

ao lazer, serviços especializados e mercadorias mais sofisticadas. Ao mesmo tempo,

por meio da comunicação virtual, acessar mercados on line evitando o deslocamento

material, atribuindo novo sentido a relação espaço-tempo. Segundo Sposito (2001,

p.630),

Podemos concluir que as relações, com base nas quais se considera a situação geográfica de uma cidade estão, na atualidade, medidas por duas escalas – a das distâncias espaciais e a da conectividade que as redes de transmissão de informações possibilitam – expressando a indubitável indissociação entre espaço e tempo.

Portanto, destaca-se como característica ímpar das cidades médias a capacidade de

exercer função articuladora com a demanda regional, resultando numa necessidade

metodológica a consideração tanto da continuidade quanto da contiguidade

(SPOSITO et al, 2007), definida pelas interações materiais e imateriais. Nesse

sentido, entre cada cidade média existem singularidades no espaço e no tempo em

que se localizam (SOARES, 1999, SPOSITO, 2007), levando à diferenciação de

papéis e função na rede urbana.

No contexto da globalização econômica, segundo Santos e Silveira (2001, p. 281),

as cidades, sobretudo, as médias, “constituem cada vez mais, uma ponte entre o

global e o local, em vista das necessidades de intermediação e da demanda também

crescente de relações”. A integração espacial de tais cidades foi incrementada, tanto

com seu espaço contíguo, assegurando hierarquizações como centros regionais,

quanto com cidades de hierarquia superior, em decorrência das especializações

produtivas, que impuseram complementaridades regionais e nacionais, resultando

no surgimento de uma rede de relações, marcada tanto pela contiguidade como pela

descontiguidade territorial (SANTOS, SILVEIRA, 2001). A desconcentração das

atividades industriais para as cidades médias tem revelado que essa categoria de

cidade passou a receber unidades de produção de grupos capitalizados, sobretudo,

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aquelas que podem associar uma boa qualidade de vida a mercados complexos,

sendo assim, atrativos para profissionais qualificados (SPOSITO, 2001).

Sobre a construção do objeto de estudo denominado cidade média, para Corrêa

(2007, p.23), ainda, “trata-se de uma expressão vaga, aberta a múltiplos significados

e impregnada do idealismo que a concebe como um ideal a ser alcançado,

apresentando as vantagens da pequena cidade sem ter, contudo, as desvantagens

das grandes”; por tais motivos, a noção é de difícil conceituação.

Sobre os planos nacionais e estaduais de desenvolvimento As medidas de caráter interurbanas almejavam que as cidades, ao expandirem sua

capacidade produtiva e o mercado da região por elas liderado, apresentassem

economias de aglomeração. Para tanto, pretendia-se localizar equipamentos

terciários de alcance regional como hospitais, universidades, shoppings centers e

oferecer incentivos, afim de atrair capitais industriais para as cidades selecionadas.

Ao mesmo tempo, previa-se uma atuação intraurbana nas áreas carentes de tais

cidades com a pavimentação de ruas, extensão da rede de transportes coletivos,

construção de postos de saúde e áreas de lazer, supondo-se que essa seria uma

maneira de redistribuir renda. Além disso, a assistência técnica, a ser fornecida às

prefeituras, visava preparar as administrações locais para orientar o crescimento

físico-territorial e ser mais eficiente na prestação de serviços urbanos, garantindo-

lhes, portanto, condições de se auto-gerenciar (BRUNA & STEINBERG,1984).

O programa, em 1974, envolveu 39 cidades. Entre 1978 e 1980, ampliou-se com

cidades distribuídas pelas cinco macrorregiões nacionais, que contabilizavam uma

população total de 13,5 milhões de pessoas residentes nas sedes dos municípios,

segundo o Censo de 1980. Dentre essas, a Sudeste e a Nordeste tiveram maior

número de cidades beneficiadas.

Tais medidas, segundo Bruna (1984, p.36), objetivavam alcançar uma população de

18,2 milhões, quando incluídos os habitantes das áreas polarizadas pelas cidades

beneficiadas. A partir de 1982, os recursos consignados ao programa no orçamento

da União foram insuficientes para montar uma programação consistente em nível de

cidades de porte médio. A paralisação do PNCCPM (Programa Nacional de Apoio às

capitais e Cidades de Porte Médio) não só comprometeu o andamento de diversas

obras como redundou na interrupção de um processo de trabalho já aceito pelos

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estados e municípios. Com o início do governo da Nova República, poucas cidades

tiveram continuidade nos programas de desenvolvimento para as cidades de médio

porte, que tiveram o encerramento em 1986. Como proposta do novo governo, em

1987, o programa passou a ser denominado “Fortalecimento de Núcleos Urbanos

Intermediários” e segundo Bruna, et al. (1984, p.53), a proposta não logrou grandes

êxitos até os anos de 1990, quando encerrou.

O programa de 1977 a 1980 esbarrou em dificuldades para a concretização de seus

objetivos. Em grande parte, além da escassez de recursos frente aos objetivos, pela

homogeneidade com que foram tratadas todas as cidades, sem levar em conta, as

especificidades quanto aos problemas urbanos e sociais, nem todas conseguiram

alcançar o fortalecimento previsto (BRUNA et al, 1984, p.55).

Até os anos 1960, o Paraná encontrava-se desarticulado em relação às suas

próprias regiões e à economia nacional. Sua base econômica estava ligada ao

extrativismo, à pecuária extensiva e a uma agricultura incipiente, destinada aos

mercados locais com a região do Norte Central sediando a principal base econômica

do Estado. Com o intuito de promover o desenvolvimento econômico do Paraná,

alguns planos foram implementados criando as condições necessárias para o

desenvolvimento industrial, dentre os quais destacaremos quatro como relevantes

para a consolidação socioeconômica do Paraná e a atual distribuição das cidades de

porte médio que configuram a rede urbana paranaense.

Na década de 1950, foi criado o Desenvolvimento do Estado do Paraná (PLADEP),

que se pautava nos tradicionais benefícios fiscais e financeiros, no entanto, nesse

momento, essa primeira tentativa de industrializar o Estado não se consolidou, mas,

criou perspectivas para o avanço de políticas nesse sentido. Nos anos de 1960, foi

criada a Companhia de Desenvolvimento do Paraná (CODEPAR), com o objetivo

principal de financiar a infraestrutura básica em energia, comunicação, rede de

transportes, ferrovias, adequação do Porto de Paranaguá para a modernização do

Estado, e assim dinamizar o escoamento da produção agrícola, ao mesmo tempo

em que estruturava o território (leia-se Curitiba e eixos rumo a Londrina, Maringá,

Ponta Grossa e Cascavel) para o recebimento da indústria.

É a partir da década de 1970 que ocorre no Paraná a reversão do centro econômico

de Londrina para Curitiba com a implantação da CIC (Cidade Industrial de Curitiba)

com o recebimento das plantas industriais da Volvo e New Rolland. Enquanto isso, o

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eixo Londrina e Maringá se tornava uma das porções do Estado de maior densidade

populacional e crescimento econômico.

A Política de Desenvolvimento Urbano do Paraná (PDU), formulada em 1972,

subsidiada pelos planos anteriores foi fundamental na distribuição das

infraestruturas e definição dos eixos de desenvolvimento espacial no Paraná,

quando estabeleceu que além de Curitiba, de Londrina e Maringá, regiões Oeste e

Sudoeste despontavam como áreas de potencialidade econômica (MOURA, 2009).

A política citada propôs três alternativas para o fortalecimento da rede de cidades: o

sistema polinuculear, com reforço a centralidades identificadas; o sistema biaxial,

com reforço aos eixos de exportação, integrando-se às metas do I Plano Nacional de

Desenvolvimento (PND); e um sistema tripolar, com o fortalecimento de três polos de

grande dinamismo (que de certa forma estavam explícitos nos três sistemas

propostos, de maneira que,

O primeiro polo compreende a cidade de Curitiba, somado à potencialidade do Centro Industrial da Transformação de Ponta Grossa. O segundo polo é formado pelas cidades de Maringá e Londrina, as quais dariam atendimento a todo o Norte do Estado. O terceiro polo fica no eixo das cidades de Cascavel e Guaíra provocando a concentração daquelas atividades necessárias a suportar e impulsionar o dinamismo do Sudoeste e do Oeste paranaense. (PARANÁ,1974, p.41)

As política de desenvolvimento que sucederam estas que brevemente destacamos

até a década de 1970, fortaleceram as referidas áreas promovendo a manutenção

das principais cidades de cada eixo (Curitiba, Londrina, Maringá, Cascavel, Ponta

Grossa como as maiores centralidades do Estado, segundo estudos do IPARDES

(2004, 2005, 2006) e do IBGE/REGIC(2000, 2008). O Plano de Desenvolvimento

Urbano de 1972, implantado no Paraná, divergiu da proposta do Governo federal

quanto a cidade de Guarapuava, de maneira que tal cidade teve menor participação

nas políticas e consequentemente, menor desenvolvimento.

Não obstante às políticas de desenvolvimento Estadual e Federal, é importante

ressaltar que, o papel dos agentes sociais locais principalmente a atuação das

representações políticas e econômicas atribui significativo peso às questões de

desenvolvimento socioeconômico, tendo em vista que, são vários os agentes que

promovem a produção do espaço entre eles o Estado em diferentes níveis de poder,

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o Capital seja público ou privado e, não menos importante, os agentes sociais que

atuam em escala local regional, articulando tais recortes à outras escalas.

A discussão desse texto, apresenta um viés para o entendimento da cidade de porte

médio ou média na rede urbana, sendo que, outras questões como a formação

socioespacial, a participação da elite empreendedora e as representações políticas

devem ser incorporadas em produções científicas mais amplas.

Principais questões desenvolvidas com a discussão apresentada No caso das cidades paranaenses mencionadas no programa Federal, o Governo

Estadual deu sustentação política e financeira desencadeando processos

socioespaciais que transformaram o perfil do Paraná, nas últimas décadas, em um

Estado eminentemente urbano, tendo a concentração econômica e populacional nas

cidades de porte médio e na capital. Por meio do PDU do Paraná, na década de

1970, foram identificadas as cidades que deveriam se converter nas principais

polaridades paranaenses, apoiadas pelos investimentos propostos pelo I PND do

Governo Federal, delineando, assim, o percurso para a consolidação das mesmas.

Entre as cidades elencadas no PDU/PR, Guarapuava não fazia parte como no

PNCCPM, mas, somente Londrina, Maringá, Cascavel, Ponta Grossa e Paranaguá.

Em Londrina e Maringá, grandes projetos imobiliários e um sistema de circulação

foram indutores das aglomerações e centros que atualmente se localizam entre elas

e articulam espacialmente a porção Norte do Estado. Essas cidades, no decorrer do

tempo, têm atraído investimentos comerciais, industriais e de serviços, integrando-se

à economia nacional e internacional por meio de atividades industriais modernas,

dentre elas, o setor de telefonia, informática, química, mecânica entre outras (Moura,

2004).

Cascavel, no Oeste do Estado, emerge do processo concentrador da atividade

econômica, particularmente a industrial, nos anos 1990, fortemente impulsionada

pela atividade agroindustrial, e rapidamente se aproxima da participação mantida

pelo Norte Central na economia paranaense (IPARDES, 2005 e 2006). Paranaguá

tem sua importância intensificada pelas atividades portuárias beneficiando-se da

rede de infraestruturas que interligam-na a Curitiba. No entanto, tem sua

centralidade ofuscada pela proximidade com a capital. Ponta Grossa, assim como

Paranaguá tem seu papel reduzido frente à demanda regional pela proximidade com

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Curitiba, mas, devido ao amplo setor industrial, apresenta atividades comerciais e de

serviços diversificados (IBGE/REGIC, 2008).

Resultados alcançados

Embora contemplada pelo plano Federal, a despeito das ações governamentais,

Guarapuava demonstrou menor desenvolvimento frente às demais urbes

paranaenses participantes do mesmo plano Federal. Em Guarapuava não ocorreu o

desenvolvimento do setor industrial para novos segmentos, permanecendo as

tradicionais atividades desempenhadas vinculadas principalmente à madeira,

alimentos e bebidas segundo a Federação das Indústrias do Estado do Paraná

(FIEP, 2010).

A consolidação desse quadro entre as cidades paranaenses pode ser atribuída a

duas questões em especial: a divergência de objetivos entre as políticas de

desenvolvimento Federal e Estadual e as especificidades da formação

socioespacial, considerando ainda a atuação dos agentes locais quanto aos

interesses político-econômicos para o desenvolvimento da cidade.

As medidas adotadas em relação ao fortalecimento das cidades de porte médio

tinham por objetivo na época em que foram pensadas, eliminar ou minimizar a

macrocefalia como característica da urbanização brasileira e evitar a proliferação de

um “deserto brasileiro”3. No Paraná, a dispersão das cidades e populacional não foi

totalmente eliminada. As redes de energia, telecomunicações, as rodovias e

ferrovias que interligam as principais cidades do Paraná até ao porto de Paranaguá,

não foram suficientes para a promoção do desenvolvimento socioespacial no Centro

do Estado que se caracteriza segundo os estudos do IPARDES (2004, 2005, 2006,

2008) como uma área socioeconomicamente crítica e carente de investimentos que

favoreçam uma reversão dessa condição.

As transformações socioespaciais ocasionadas pela desconcentração, ampliação e

diversificação das atividades industriais, modernização e capitalização do campo e a

urbanização, intensificadas após a década de 1970, propiciaram a reconcentração

das atividades econômicas no Paraná que incidiu sobre as cidades selecionadas

3 Michel Rochefort (1998) empregou a expressão “o deserto francês” ao fazer referência ao caso da macrocefalia na França em função da existência no contexto regional de grande cidade e uma extensa área com ausência de cidades ou com diversas pequenas cidades distribuídas distantes umas das outras.

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pelo Governo Estadual para constituírem os chamados polos de desenvolvimento,

sendo estas as cidades de porte médio com características mais evidentes de

desempenho de funções de cidade média.

Tendo em vista a análise sobre cidade média, precisamos considerar que nem todas

as cidades que correspondem a essa classificação são necessariamente polos

industriais. Isso também justifica que, independente das diferenças apresentadas em

relação às outras cidades paranaenses apresentadas, Guarapuava constitui

possibilidade de desempenho de funções de cidade média na região e por isso,

investigações mais precisas devem ser realizadas.

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Eixo 03: Espaço agrário, economia, política e ensino

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O CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO DAS EMBALAGENS DE AGROTÓXICOS E A LOGÍSTICA REVERSA

ANTONIO ANSELMO DE PAULA1 ROBERTO FRANÇA DA SILVA JUNIOR2

Resumo: A competitividade empresarial inerente ao atual período histórico atinge recentes “ramos de atividade”, entre os quais, a “necessidade” de reciclar produtos, transformando os circuitos espaciais de produção. Neste trabalho, analisamos o circuito espacial de produção de materiais recicláveis, a partir das embalagens vazias de agrotóxicos. A principal técnica que intermedeia a existência desse circuito é a logística reversa, um dos mais novos instrumentos corporativos no setor de movimentação de mercadorias no espaço geográfico. Do ponto de vista normativo, as embalagens de agrotóxicos devem ter uma destinação adequada, de acordo com a Lei 9974/00. Diante desses fatores técnico-normativos, se estabeleceu no país o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev), que foi criado com a finalidade de gerir a destinação final de embalagens vazias de agrotóxicos, representando a indústria fabricante de produtos fitossanitários. Na “região Centro-Sul” do Paraná, a Associação Centro-Sul de revendedores agroquímicos (ACESA), vem atuando também no sentido de atuar nesse gerenciamento das embalagens vazias. A única empresa responsável pela movimentação das embalagens vazias de agrotóxicos, com a finalidade de reciclagem é a Luft, que realiza a logística reversa, exercitando um monopólio nesse “business ambiental”. Diante desses atores, mais os agricultores, analisaremos o circuito do ponto de consumo (produção) até o ponto de reciclagem das embalagens de agrotóxicos, com base em pesquisa qualitativa, compreendendo a logística enquanto prática corporativa e o circuito espacial de produção como estratégia do capital, evidenciando a importância da circulação. Palavras-chave: Logística, Circulação, Competitividade

1 Aluno do curso de licenciatura em Geografia da Unicentro, campus de Irati. 2 Professor Doutor do Departamento de Geografia da Unicentro, campus de Irati.

JESUS, E. M. F.; BRUMES, K. R. Os discursos, o poder a realidade: como se formou Fernandes Pinheiro?

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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

OS DISCURSOS, O PODER A REALIDADE: COMO SE FORMOU FERNANDES PINHEIRO?

ELIS MARINA FERREIRA DE JESUS1 KARLA ROSÁRIO BRUMES2

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo entender o porquê do interesse do então distrito de Teixeira Soares, Fernandes Pinheiro, em se tornar um município independente. O início das emancipações municipais no Brasil deu-se por volta da década de 1930, intensificando-se entre 1950 e 1960, sendo restringida durante o governo militar no período de 1970 e 1980, e intensificando-se novamente após o término desse período, porém, com a Constituição Federal de 1988, priorizam-se as descentralizações em unidades administrativas territoriais menores, afim de que fiquem mais próximas do cidadão, e o governo possa identificar e conhecer melhor as necessidades locais. Para entender como se deu este processo utilizamo-nos de entrevistas, realizadas com os senhores Elias Francisco Loos e João Vilmar Antunes Guimarães, pessoas envolvidas no processo da emancipação e que eram moradoras de Fernandes Pinheiro, porém, ocupavam cargos dentro da Prefeitura de Teixeira Soares. Estes, no ano de 1995 iniciam o processo em prol da emancipação política e têm o apoio da população que a partir de propostas de melhoria na qualidade de vida votam a favor da criação do novo município. Hoje com quatorze anos, Fernandes Pinheiro, teve melhoras em alguns aspectos de infraestrutura, porém a população ainda depende de outros municípios, principalmente Irati, para realizar muitas das atividades básicas, como supermercado e lojas. Palavras-chave: Discurso, Poder, Fernandes Pinheiro

1 Discente do 4 ano do curso de Geografia de Irati – DEGEO/I – e-mail: [email protected] 2 Docente do Departamento de Geografia de Irati – DEGEO/I – e-mail: [email protected]

RIGONI, E. Dados preliminares sobre o contexto histórico político do Município de Irati-PR

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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

DADOS PRELIMINARES SOBRE O CONTEXTO HISTÓRICO POLÍTICO DO MUNICÍPIO DE IRATI-PR

EMERSON RIGONI1

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo descrever a gênese do município de Irati e as diversas composições do poder político local ao longo de sua história. A partir dessa apresentação almeja-se compreender como se deu a formação política da cidade em diferentes épocas e ciclos. Outro momento que se destina o trabalho é apresentar os dados preliminares que contemplam o projeto de pesquisa intitulado “Geografia e política: a construção histórica dos territórios de poder na cidade de Irati – PR”. Para tal, utilizam-se como instrumento de informação as diversas composições pelo qual o poder político local passou desde sua formação até a atualidade, ou seja, o referencial para essa análise é composto por dados obtidos junto à Câmara Municipal de Irati, Prefeitura Municipal de Irati, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Tribunal Regional Eleitoral (TER) e a obra Irati do historiador local José Maria Orreda. Entretanto não serão elencadas apenas as composições do executivo, mas também o legislativo, pois o mesmo, em determinadas fases, apresentou atores que marcaram suas passagens pelo poder político iratiense. Num primeiro momento será feita a exposição do contexto histórico da formação de Irati seguido uma apresentação un passant, entre os anos de 1907 a 1982. Em seguida será dada uma maior ênfase a partir da eleição de 1982, momento do aparecimento dos personagens políticos que construíram o contexto temporal proposto pela pesquisa. Vislumbra-se com isso desvelar quais são esses “territórios de poder” que fazem parte da história política local. Palavras-chave: Poder político local, Atores políticos, Grupos políticos, Territórios de poder

1 Docente do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste – Campus Irati: [email protected]

BRANDALIZE, F. F. A formação dos blocos econômicos: considerações sobre a União Européia e o MERCOSUL

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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

A FORMAÇÃO DOS BLOCOS ECONÔMICOS: CONSIDERAÇÕES SOBRE A UNIÃO EUROPÉIA E O MERCOSUL

FÁTIMA FURMANOWICZ BRANDALIZE1

Resumo: O desenvolvimento e as transformações provenientes da expansão do capitalismo no pós Segunda Guerra Mundial, tendo as multinacionais como principal característica deste processo, contribuíram para a formação de uma nova ordem mundial, caracterizada pela mundialização do capital. Assim, instituições supranacionais, como os blocos econômicos, surgem como estratégia dos Estados Nacionais para enfrentar a diminuição de seus poderes estatais e, buscar o fortalecimento de suas políticas externas. A União Européia constitui-se o exemplo mais avançado de bloco econômico, dentro da economia global, enquanto, o Mercosul, engatinha neste processo, longe de ser um bloco homogêneo, capaz de representar uma identidade unificada de seus Estados membros. Palavras-chave: Capitalismo, Multinacionais, Blocos econômicos, União Européia e Mercosul

INTRODUÇÃO Após a Segunda Guerra Mundial houve um amplo desenvolvimento do capitalismo e

as multinacionais passaram a ser características deste processo. Segundo Oliveira

(2005) as multinacionais são a expressão de um capitalismo, que depois da crise do

imperialismo, moldou novas formas de organização interna e de relações de

trabalho, que permitiram superar as contradições geradas pela disputa de mercados

e fontes de matérias – primas entre as empresas nacionais. O domínio e a expansão

destas empresas envolvem a necessidade de movimentos internacionais de capitais,

produção capitalista internacional e existência de ações de governos em nível

internacional, que decorrem da necessidade da intervenção do Estado na economia

e na definição de projetos de cooperação internacional. Assim,

as instituições internacionais constituem uma realidade do mundo pós – Segunda Guerra Mundial. A criação da ONU (Organização das Nações Unidas), do Banco Mundial, do FMI (Fundo Monetário Internacional), entre outros, e a presença de organismos supranacionais (os blocos econômicos), formados por governos nacionais empenhados numa economia internacionalizada,

1 Acadêmica do curso de Licenciatura em Geografia, na Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, Campus Universitário de Irati. E-mail: [email protected]

BRANDALIZE, F. F. A formação dos blocos econômicos: considerações sobre a União Européia e o MERCOSUL

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passaram a compor cada vez mais o capitalismo que se mundializava. (OLIVEIRA, 2005. p.245)

Portanto, podemos considerar que o desenvolvimento e as transformações

provenientes da expansão do capitalismo contribuíram para a construção de uma

nova ordem mundial, caracterizada pela mundialização do capital. Como

consequência, temos a globalização da economia e da sociedade baseada na

expansão do capitalismo e comandada pelo crescente domínio das corporações

transnacionais.

A formação dos blocos econômicos, como uma forma de governo internacional,

deve-se como estratégia dos Estados nacionais para enfrentar a diminuição de seus

poderes estatais em detrimento da mundialização do capitalismo, e a necessidade

de adequar suas políticas econômicas internacionais “à tendência de

internacionalização do capital e do trabalho pela empresa multinacional”. (OLIVEIRA,

2005.p.245)

O processo de globalização transformou as relações econômicas e as funções do

Estado. E, assim, a globalização tem se caracterizado por duas tendências postas: a

regionalização e a globalização2.

A regionalização configura-se na formação dos blocos econômicos regionais que

surgem como laço de integração de economias e estabelece restrições à entrada de

produtos de outras áreas que não pertencem ao mesmo bloco. E, ao mesmo tempo

temos o processo de globalização que busca integrar os mercados, eliminando o

protecionismo e as fronteiras.

A relação regional/ mundial esta presente na tendência de os blocos fazerem

alianças de comércio entre si, de tal modo que pertencer a um deles significa para

um país ter acesso ao mercado de um bloco aliado3.

BLOCOS ECONÔMICOS

Segundo Bezerra4 os blocos econômicos são associações de países, em geral, de

uma mesma região geográfica que estabelecem relações comerciais privilegiadas 2 BEZERRA JÚNIOR, Wilson Fernandes. O comércio internacional e os blocos econômicos. Disponível em: <www.nead.unama.br/site/bibdigital/pdf/artigos_revistas/251.pdf > . Acesso em: 10/05/10. 3 PETRI, Fernanda Calil ; WEBER, Beatriz Teixeira. Os efeitos da globalização nos processos de integração dos blocos econômicos. Revista dos alunos do Programa de Pós – Graduação em Integração Latino- Americana – UFSM- v.2, nº2, 2006. Disponível em: < www.ufsm.br/mila/publicacoes/reppilla/edicao02-2006/2006%20%20artigo%205.pdf > Acesso em: 10/05/10. 4 Idem nota 2.

BRANDALIZE, F. F. A formação dos blocos econômicos: considerações sobre a União Européia e o MERCOSUL

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entre si e atuam de forma conjunta no mercado internacional .

A formação de blocos econômicos visa uma integração regional de países para atuar

nas relações da economia mundializada. A criação dos blocos visa em primeira

instância a criação de uma zona de livre comércio, onde há a redução ou eliminação

das alíquotas de importação entre os países membros e associados do bloco

econômico.

Em um segundo momento de sua trajetória o bloco assumirá a forma de uma união

aduaneira (a exemplo do Mercosul), que corresponde a uma etapa de integração

econômica na qual os países membros de uma zona de livre comércio adotam uma

mesma tarifa às importações provenientes de mercados externos, a Tarifa Externa

Comum , podendo também, adotar políticas econômicas comuns .

E, em nível mais elevado da integração há a constituição de um mercado comum,

onde há a livre circulação de pessoas (trabalhadores ou empresas) e,de outro, a

livre circulação de capitais (investimentos e remessas de lucro, entre outros). A livre

circulação implica a abolição de todas as barreiras fundadas na nacionalidade e a

instituição de uma verdadeira condição de igualdade de direitos em relação aos

nacionais de um país.5 E, por fim a adoção de uma união monetária. A União

Européia é o exemplo de bloco mais avançado, tendo alcançado o mercado comum,

encontra-se no processo de implantação da união monetária, embora já tenha

constituído a chamada zona do euro, esta ainda não abrange todos os países

pertencentes a este bloco.

Mas, estas relações de integração fazem com que o grau de interdependência das

economias dos países seja elevado, fazendo com que uma crise, por exemplo, que

ocorra em um dos países membros possa afetar os demais.

UNIÃO EUROPÉIA E MERCOSUL – BREVES CONSIDERAÇÕES O primeiro bloco econômico aparece na Europa, com a criação, em 1957, da

Comunidade Européia – CEE (que mais tarde se tornaria a União Européia). Mas a

tendência de regionalização da economia só é fortalecida nos anos 90: o

desaparecimento dos dois grandes blocos da Guerra Fria, liderados por Estados

5 SIMÕES, Regina Célia Faria; MORINI, Cristiano. A ordem econômica mundial.: Considerações sobre a formação de blocos econômicos e o Mercosul. Disponível em: < www.unimep.br/phpg/editora/revistaspdf/imp31art07.pdf 01/06 >. Acesso em: 12/05/10.

BRANDALIZE, F. F. A formação dos blocos econômicos: considerações sobre a União Européia e o MERCOSUL

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Unidos e União soviética, acaba estimulando a formação das zonas independentes

de livre comércio, um dos aspectos do processo de globalização.6

Desde 1993 a União Européia forma um espaço econômico, financeiro e monetário

único. Constituindo uma área onde as fronteiras nacionais não são obstáculos à livre

circulação das mercadorias, das pessoas e do capital. A unificação da moeda única

formou a chamada zona do euro, que inclui pelo menos 16 países dos 27 que a

compõe. Com a constituição deste espaço ampliaram-se as relações comerciais e,

deixou de existir uma nacionalidade para constituir-se uma cidadania européia.7

A União Européia está enfrentando uma grave crise interna, tendo como um dos

fatores de impulsionamento a dívida pública de seus Estados e a corrupção interna.

A visão de integração da União Européia faz a crise adquirir um caráter mais

alarmante, porque devido ao processo de interdependência dos Estados, acredita-se

que a crise possa afetar todos os outros Estados. Ou seja, a crise grega poderia se

espalhar pelos demais Estados e constituir um colapso do mercado europeu. Mas,

não é só a Grécia o problema da União Européia, Espanha, Portugal, Irlanda e Itália,

também apresentam problemas, talvez não tão sérios quantos os gregos, mas que

exigem atenção.

A crise que assola a União Européia pode atingir um caráter preocupante, frente a

importância deste bloco dentro da economia global. Mas, se considerarmos a

perspectiva de Fiori8 sobre as crises, em especial, a enfrentada pelos Estados

Unidos, após a década de 70, podemos ter outra visão desta crise.

Para Fiori (2008), o sistema mundial é um universo em expansão contínua na luta

pelo poder global, onde criam-se ao mesmo tempo, “ordem e desordem, expansão e

crise, paz e guerra”. Sendo que as “crises econômicas e guerras não são,

necessariamente, um anúncio do 'fim' ou do 'colapso' dos Estados e das economias

envolvidas”. (p.34)

As crises atuam como fatores modificantes da estrutura geopolítica e econômica das

potências, dentro do sistema mundial. Para Fiori (2008), a crise prevista como um

colapso dos Estados Unidos, na verdade, funcionou como uma alavanca para seu

desenvolvimento e, firmou sua posição de hegemonia mundial. Portanto, a crise da

União Européia pode ser um fator para a consolidação da posição do bloco na busca

6 BEZERRA JÚNIOR, Wilson Fernandes. O comércio internacional e os blocos econômicos. Disponível em: <www.nead.unama.br/site/bibdigital/pdf/artigos_revistas/251.pdf > . Acesso em: 10/05/10. 7 Informações disponíveis em Sua pesquisa .com . Disponível em:<www.suapesquisa.com/uniaoeuropeia/> 8 FIORI, José Luis. O sistema interestatal capitalista no inicio do século XXI. In MEDEIROS, Carlos Aguiar de. O mito do colapso do poder americano. Rio de Janeiro : Record, 2008.

BRANDALIZE, F. F. A formação dos blocos econômicos: considerações sobre a União Européia e o MERCOSUL

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da hegemonia mundial.

O Mercosul (Mercado Comum do Sul) foi, inicialmente, constituído pelo Brasil,

Argentina, Uruguai e Paraguai no Tratado de Assunção, assinado em 1991. O

Tratado estabelece que a partir de 1º de janeiro de 1995 “fica implantado de forma

definitiva a livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os países,

através da eliminação das barreiras tarifárias e não – tarifárias e do estabelecimento

de uma tarifa comum em relação aos outros países de fora do Mercosul.”

(OLIVEIRA, 2005.p.263). Busca-se também, pelo mesmo tratado chegar a uma

“harmonização das legislações”. (p.263). Atualmente, também, a Venezuela

constitui-se como membro do Mercosul.

O Mercosul em sua gênese constitui uma zona de livre comércio e, a partir desta

estabeleceu uma política comercial dos países membros em relação a outros,

estabelecendo uma tarifa externa comum e tornando-se uma união aduaneira. “Esta

visa, segundo a meta original do tratado de Assunção, a constituição de um mercado

comum (…) base indispensável de projetos mais ambiciosos ao estilo europeu.”

(ALMEIDA, 1998. p.2-3)

Segundo Almeida (1998) o Mercosul pressupõe um sistema de governo

democrático, deixando de ser um projeto de exclusivas questões de ordem

econômica ou comercial para buscar uma forma de organização política e social em

permanente transformação, em que se possa “mudar profundamente a vida dos

povos desta região.”(p.05).União Européia e o Mercosul se parecem quando da

imposição da condição democrática para que um Estado se torne e se mantenha

membro.9 A democracia é indiscutivelmente o princípio fundador do Mercosul, e disso estão plenamente conscientes os seus governos. Quando, em Abril de 1996, se deu a tentativa de golpe de Estado do general Oviedo no Paraguai, o Mercosul reagiu como um todo, e tornou claro que não seria tolerável que um Estado pusesse em causa a legitimidade democrática do conjunto. O perigo que correu a democracia no Paraguai levou à adoção pelo Mercosul de uma cláusula democrática, expressa na Declaração Presidencial sobre o Compromisso Democrático no Mercosul, de Junho de 1996, onde se considera não só que toda a alteração da ordem democrática constitui um obstáculo inaceitável para a continuidade do processo de integração, como também são previstas sanções que podem ir da suspensão à expulsão do Estado em que se verifique um atentado

9 Álvaro Vasconcelos. Relação entre a União Européia e o Mercosul: fundamentos de um novo multilateralismo. Disponível em:< www.ieei.pt/files/UE_Mercosul_Novo.Vasconcelos.Relacoes_UE_Mercosul.pdf >

BRANDALIZE, F. F. A formação dos blocos econômicos: considerações sobre a União Européia e o MERCOSUL

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grave à democracia.10

Apesar dos objetivos da Mercosul se assimilarem aos do Mercado Comum Europeu,

existe uma grande diferenciação entre eles. Os países membros da União Européia

renunciaram, de certa forma, à parte de sua soberania, especialmente em relação as

políticas comerciais, agrícolas e industriais, concedendo mais funções de decisão à

Comissão Européia (órgão supranacional da União Européia ). Já o Mercosul não

prevê a formação de órgãos supranacionais que tenham caráter de unificação de

suas políticas internas, para chegar ao Mercado comum. Mas segue este caminho,

através de uma estrutura intergovernamental dentro das características da união

aduaneira.

Segundo Almeida (1998) a ausência de órgãos de caráter supranacional dificulta a

efetivação dos objetivos de um mercado comum, pois as normas do Mercosul só se

tornam efetivas se todos os Estados adotarem e realizarem os procedimentos de

execução e administração pertinentes em seu próprio ordenamento legal e

constitucional.

Assim, fica-nos uma questão: será que os países membros do Mercosul estão

dispostos à formação de um mercado comum, em que teriam que renunciar,

progressivamente, à parte de sua soberania nacional em favor de uma soberania

regional? Há de considerar que esta é uma questão bastante complexa, visto que o

Mercosul não possuí homogeneidade em relação às expressões políticas e

comerciais, entre outras características próprias de cada Estado membro.

Teria, o Mercosul, vontade de adotar verdadeiramente, o caráter integracionista e

buscar, antes de mais nada, a eliminação de diferentes interesses políticos e

econômicos dentro de sua organização interna e , definir, concretamente, seus

objetivos comuns e, constituir uma personalidade única frente à economia mundial?

Talvez, a formação de órgãos supranacionais, semelhantes ao modelo europeu, não

fossem de todo ruim para o fortalecimento do Mercosul como um bloco de influência

no plano mundial. Mas, há de se convir, que em detrimento das diferentes

características políticas e econômicas de seus Estados membros, este seria um

processo bastante complexo.

Em relação a uma união monetária no Mercosul, para a formação de uma zona

semelhante a do euro, deve-se, antes de mais nada concretizar, primordialmente, o

10 Idem nota 9.

BRANDALIZE, F. F. A formação dos blocos econômicos: considerações sobre a União Européia e o MERCOSUL

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projeto de integração que consolide uma “identidade político, regional e

internacional, em face dos desafios hemisféricos e multilateral” dentro do capitalismo

global. (ALMEIDA, 1998.p.35). É muito prematuro se falar em uma moeda única em

um território que ainda não conseguiu homogenizar, nem mesmo, seus interesses

políticos e econômicos para atender seus objetivos de se tornar um mercado

comum.

Segundo Almeida (1998) o Mercosul deve seguir em direção aos objetivos de

mercado comum e “servir de anteparo aos atropelos políticos, sociais e econômicos

do processo de globalização”. (p.41). Sendo o Mercosul uma obra em construção de

um espaço econômico sul americano integrado, para atuar no contexto mundial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS A nova ordem mundial, caracterizada pelas relações capitalistas internacionalizadas,

a intensificação do processo de globalização e, a intervenção das multinacionais,

contribuem para a associação de países, na busca da integração regional que

possibilite um papel mais expressivo frente à economia mundial.

Portanto, a formação de blocos econômicos vem a ser uma articulação de

fortalecimento dos Estados, que através de uma integração regional passam a atuar

na esfera mundial. A consolidação destes blocos depende de um conjunto de fatores

que vão desde o comportamento das multinacionais até os interesses e/ou

características políticas e econômicas dos Estados nacionais.

Para a completa integração dos Estados membros dentro de um bloco econômico,

há a necessidade de um comprometimento com objetivos comuns, e a renúncia

progressiva da soberania nacional, em nome de uma identidade única. A União

Européia constitui o modelo mais avançado de bloco econômico e, a crise interna

que vem enfrentando pode ser um alicerce para sua consolidação na posição de

hegemonia mundial, a exemplo dos Estados Unidos.

Já o Mercosul, constitui uma união aduaneira com muitos problemas para atingir seu

objetivo de se tornar um mercado comum. Precisa, antes de mais nada, consolidar

seu projeto de integração e resolver os impasses gerados por diferentes interesses

políticos e econômicos entre seus Estados membros. Para depois, constituir uma

identidade regional fortalecida capaz de impor sua posição frente à esfera mundial.

BRANDALIZE, F. F. A formação dos blocos econômicos: considerações sobre a União Européia e o MERCOSUL

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Assim, concluímos que a integração se torna necessária para atuar como uma

proteção contra os efeitos negativos da globalização. Através dela, os países se

fortalecem para enfrentarem a concorrência internacional, característica da nova

ordem econômica mundial da atual fase capitalista.

Referências Bibliográficas: ALMEIDA, Paulo Roberto de. Mercosul: fundamentos e perspectivas. Brasília: Grande Oriente do Brasil, 1998. BEZERRA JÚNIOR, Wilson Fernandes. O comércio internacional e os blocos econômicos. Disponível em: <www.nead.unama.br/site/bibdigital/pdf/artigos_revistas/251.pdf > . Acesso em: 10/05/10. FIORI, José Luís. O sistema interestatal capitalista no início do século XXI. In: MEDEIROS, Carlos Aguiar de. O mito do colapso do poder americano. Rio de Janeiro: Record, 2008. OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. A mundialização do capitalismo e a Geopolítica mundial no fim do século XX. In: ROSS, Jurandyr L. Sanches (org.). Geografia do Brasil. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2005. PETRI, Fernanda Calil; WEBER, Beatriz Teixeira. Os efeitos da globalização nos processos de integração dos blocos econômicos. Revista dos alunos do Programa de Pós – Graduação em Integração Latino-Americana – UFSM- v.2, nº2, 2006. Disponível em: < www.ufsm.br/mila/publicacoes/reppilla/edicao02-2006/2006%20%20artigo%205.pdf > Acesso em: 10/05/10. SIMÕES, Regina Célia Faria; MORINI, Cristiano. A ordem econômica mundial.: Considerações sobre a formação de blocos econômicos e o Mercosul. Disponível em: < www.unimep.br/phpg/editora/revistaspdf/imp31art07.pdf 01/06 >. Acesso em: 12/05/10. SUA PESQUISA.COM. Disponível em: < www.suapesquisa.com>. Acesso em: 12/05/10 VASCONCELOS, Álvaro. Relação entre a União Européia e o Mercosul: fundamentos de um novo multilateralismo. Disponível em: < www.ieei.pt/files/UE_Mercosul_Novo.Vasconcelos.Relacoes_UE_Mercosul.pdf >. Acesso em: 12/05/10.

ZARPELON, F.; BRANDALIZE, F. F.; SANTOS, L. K. Os movimentos sociais no campo: uma resposta à produção capitalista

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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

OS MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO: UMA RESPOSTA À PRODUÇÃO CAPITALISTA

FLAVIANA ZARPELON1

FÁTIMA F. BRANDALIZE2 LETÍCIA KROL SANTOS3

Resumo: O capitalismo expandiu-se pelo mundo, ultrapassando fronteiras, etnias e classes sociais, aplicando-se em lugares jamais tocados ou alcançados, áreas urbanas e rurais. As contradições e desigualdades implantadas por este modelo econômico e suas consequências sociais resultaram na expropriação dos camponeses. Desta forma, entre outros fatores, a questão da reforma agrária e os movimentos sociais, como a Contag e o MST aparecem como formas de resistência dos camponeses expropriados ao modelo imposto, que formaliza a estrutura latifundiária e a modernização agrícola, excluindo as formas de produção camponesas, que reivindicam o direito a terra e a políticas públicas que ofereçam condições de nela permanecer e dela sobreviver.

Palavras-chave: Capitalismo, Campesinato, Movimentos sociais Introdução O processo de expansão do capitalismo não privou o campo da influência de seus

processos de contradição, seja nas relações de produção ou nas formas de

apropriação e manutenção da terra, gerando conflitos entre camponeses e

latifundiários.

O campesinato, segundo Wanderley (1996), corresponde a um modo de produção e

tipo de vida dentro de uma sociedade, como um elemento particular da agricultura.

Entretanto, no campesinato brasileiro é possível identificar fundamentos particulares,

resultantes históricos de enfrentamentos sócio-culturais, como é o caso dos sem-

terra. Este, ao mesmo tempo em que trabalha na terra, assume-se como

proprietário, tornando estreitas relações entre família, trabalho e terra. Desta forma,

o campesinato é a formação social com base familiar que se dedicam à agricultura4.

Assim, os camponeses, enfrentaram o processo de expropriação capitalista através

1 Acadêmica do curso de Licenciatura em Geografia, na Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, Campus Universitário de Irati. E-mail: [email protected] 2 Acadêmica do curso de Licenciatura em Geografia, na Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, Campus Universitário de Irati. E-mail: [email protected] 3 Acadêmica do curso de Licenciatura em Geografia, na Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, Campus Universitário de Irati. E-mail: [email protected] 4 MST – Movimento dos Sem-Terra. Disponível em: http://www.mst.org.br. Acesso em: 16/03/2010.

ZARPELON, F.; BRANDALIZE, F. F.; SANTOS, L. K. Os movimentos sociais no campo: uma resposta à produção capitalista

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de suas organizações e lutas de resistência ao modelo imposto e suas relações de

desigualdades. O processo de resistência dos trabalhadores do campo remete ao

contexto de formação das classes sociais e da acumulação de posses dentro da

sociedade capitalista. Lutam pelo direito de entrar em um pedaço de chão, nele

permanecer e prover seu sustento. A compreensão do campesinato e da questão

agrária torna-se fundamental para entendermos os processos sociais de resistência

originados no campo, como a CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores

na Agricultura), o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) e a Via

Campesina.

Os movimentos sociais no campo são formas de manifestação camponesa perante a

sociedade e o Estado, reivindicando seus direitos de posse de terra. São

manifestações contra latifúndios, que enfatizam a modernização agrícola e o

aumento da produção no campo, desconsiderando as formas camponesas de

produção. Mas, suas lutas vão muito além da oposição aos latifúndios, é uma luta

contra o sistema econômico e a estrutura social implantados, que geram

desigualdades. É uma luta social e política pelo direito a terra.

Camponeses e o processo de resistência O surgimento dos processos de resistência no campo está associado ao avanço do

capitalismo. E, é importante entender estes processos para compreender a questão

agrária. Segundo FABRINI, em síntese, o campesinato apresenta as seguintes

características:

a subordinação do camponês às relações capitalistas na circulação da produção, a base familiar na organização produtiva e, sobretudo, o seu potencial e capacidade de luta e resistência à imposição de modelos de organização social externos ao seu modelo de vida.(2003, p.21)

Os camponeses assumem uma forma que defende a importância da estrutura

familiar, com seus saberes e conhecimentos, perante outras formas sociais. Desta

forma, a família prove seu próprio alimento e a sua reprodução dentro do mesmo

âmbito, constituindo, assim, seu patrimônio familiar (WANDERLEY, 1996). Portanto,

os camponeses desenvolvem atividades de criação de animais e plantações

agrícolas. Estas só podem ser realizadas pelos membros da família, que dividem as

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atividades a serem realizadas, conforme a intensidade da atividade, que serão

passadas às gerações posteriores. Desta forma, realizam atividades que poderão

ser executadas no recinto familiar, identificando sua autonomia e garantindo sua

reprodução na sociedade.

Entretanto, os camponeses estão inseridos num território onde outras formas e

organizações sociais se encontram, formando uma relação mais ampla do que o

círculo familiar. Sendo assim, existe certa coletividade, onde os aspectos culturais

das famílias e grupos sociais se fundem, onde os conhecimentos se dispersam e há

a possibilidade de que outras formas sociais possam aparecer, inclusive gerando

conflitos.

Todavia, juntamente com a queda do feudalismo, o capitalismo surge como novo

sistema econômico. Este ultrapassa toda barreira, toda fronteira e se instala em todo

lugar, até mesmo no campo. Novas formas de produção camponesas foram

implantadas, máquinas surgiram para realizar o trabalho antes realizado por mãos

humanas, alterando as formas de plantio e de criação de animais. Todavia, alguns

camponeses resistiram, outros migraram e, outros ainda, envolveram em atividades

rurais não agrícolas, como o artesanato (ASSIS, 2005).

Para Fabrini, a questão agrária na obra marxista é apresentada “por meio da renda

da terra, ou seja, do ‘mecanismo’ que confere caráter capitalista ao campo.” (2003,

p.22). Ressalta–se que para Marx a questão agrária está “fundamentada na grande

propriedade e dominação do capitalismo sobre a agricultura”. (2003, p.25).

1 - renda fundiária é um produto social do capitalismo, da mesma forma que qualquer outro produto da sociedade burguesia (sic); 2 - a propriedade fundiária além de não ser um produto estranho ao modo de produção capitalista é, ao contrário, ‘um resultado da produção capitalista’. Marx precisa, em outra passagem, que a ‘forma moderna de propriedade fundiária’ resulta do investimento do capital na agricultura (AMIN e Veergopoulos, 1986, p. 54 Apud FABRINI, 2003, p. 25).

Assim, podemos considerar que no processo de resistência, “a revolta do camponês

atinge o capitalismo e não só os proprietários de terra, ou seja, atinge o ‘mecanismo’

de transferência de renda para o capitalismo (bancos, indústria, comércio).”

(FABRINI, 2003, p.33). Assim, a luta camponesa não é uma luta contra os

proprietários de terra, em si, mas contra a estrutura social que permite que as

desigualdades capitalistas sejam evidenciadas.

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Breve histórico das lutas camponesas no Brasil Por volta de 1850, se inicia no Brasil o processo capitalista de apropriação das

terras, consequência da Lei das Terras, que estipula a posse das terras através da

compra de títulos do governo. “Ou seja, o Estado, por meio de legislações

especificas, concentrará o poder de transformar as terras em propriedades

privadas”. (SILVA, 2004, 17). Segundo o mesmo autor, a Lei das Terras vinha como

barreira para a apropriação livre das terras que aconteciam neste período sob a

forma de posse. E, os preços estipulados para a compra eram altos, de forma que

trabalhadores e imigrantes não tivessem a possibilidade de adquiri-las.

Imigrantes estes que vinham, neste momento, ocupar o lugar dos escravos, a

serviço dos grandes proprietários de terra. Mas o fim da escravatura no Brasil não

significou novas condições de sobrevivência no campo. Os trabalhadores do campo

eram tratados em condições muito distintas dos trabalhadores assalariados. Devido

ao tratamento que recebiam podiam ser considerados colonos, parceiros ou

arrendatários. Aqui destacamos os colonos, ou camponeses, que viviam em colônias

praticamente em troca da subsistência, poucos recebiam pagamentos em dinheiro

pela força de trabalho empregada por eles e suas famílias.

Já no inicio do século XX, na região Sul “os imigrantes italianos, alemães e

poloneses desenvolveram a agricultura familiar, com base nos projetos de

colonização instaurados [...]” (SILVA, 2004, p. 20). A agricultura familiar, desprovida

da modernização tecnológica, predomina no Brasil até meados de 1950, quando se

inicia discussões políticas pela modernização agrícola, para uma equiparação ao

urbano, considerado industrializado.

O regime militar foi, em grande parte, responsável por este processo de

modernização. Houve a introdução de máquinas e a presença de empresas

nacionais e internacionais que dominavam a expansão capitalista. Este período

apresentou um processo elevado da modernização agrícola e um aumento

considerável na produção do país. Mas, consequentemente, este processo ocorreu

por meio da exploração dos “pobres do campo” (SILVA, 2004.) que trabalhavam em

condições próximas de escravos, e a violência frustrava as tentativas de

resistências. Segundo Silva (2004) o processo de modernização agrícola: “assentou-

se no tripé: militarização da questão agrária, expropriação de camponeses e

aumento da exploração dos trabalhadores […]”. (p. 22).

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Os movimentos de luta pela terra, de resistência camponesa surgem muito antes da

formação do movimento dos trabalhadores sem-terra (MST). A história agrária

brasileira retrata um cenário de contradições e de opressão dos trabalhadores rurais.

Após a década de 1950, os movimentos camponeses passam a ganhar força,

deixando de ser meramente localizados, para englobar uma massa de camponeses

dispostos a oferecer resistência ao sistema de opressão, na luta pela terra, pelo

direito de entrar nela e dela sobreviver. Segundo Fabrini (2001), a discussão da

reforma agrária ganha ênfase na década de 1960, sob a influência do Partido

Comunista. Mas, a reforma era vista sob a visão de que seria o fim dos latifundiários

e, alteraria toda a estrutura sócio-econômica estabelecida, o que desagradou a

muitos, que davam à proposta de reforma agrária caráter de uma “revolução

socialista”. As dificuldades dos camponeses em consolidar um movimento eram

muitas, principalmente, pelo fato de não possuírem voz política. Muitas tentativas de

reformas fracassaram, como por exemplo, a proposta da Liga Camponesa, que

segundo Fabrini (2001) tentava por meios legais, alterar a estrutura oligárquica que

concentrava a maior parte das terras.

Durante o período militar houve a formação do Estatuto da Terra que vinha,

sobretudo, conter as revoltas populares. As opressões do projeto desenvolvimentista

militar acabaram por agravar a situação no campo, aumentando apoio aos que

lutavam pela redemocratização do país. No Brasil, período de Ditadura Militar, o

governo implantou no país os mecanismos capitalistas, com o intuito de desenvolver

a produção e igualar-se aos mercados internacionais. Além das áreas urbanas, o

campo também foi afetado por este sistema, iniciando-se pelas regiões Sul e Centro-

Oeste. Esse fato alterou completamente a visão que se tinha do território. A partir

deste período, o governo estimulou a implantação de cooperativas e as relações

entre produtores rurais e agroindustriais.

Houve no campo a reprodução do trabalho capitalista a partir dos bóias-frias,

mesclando com as relações de produção familiar, como os camponeses (OLIVEIRA,

1998). Logo, os camponeses que não trabalharam para os médios e grandes

proprietários, mudaram-se para a cidade a fim de encontrar novos meios de

sobrevivência, pois muitas pequenas propriedades se tornaram grandes,

concentrando terras e despovoando o território, a partir do monocultivo.

Apesar de o Brasil ser um país que apresenta vasta extensão territorial, muitas lutas

têm se originado com o intuito de adquirir um pedaço de chão. Muitas famílias que

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não possuem terra clamam pela sobrevivência, enquanto muitos latifundiários gozam

de grandes porções territoriais; resultando em conflitos diários. Estas crises

agravaram-se com a mecanização agrícola, concentrando grandes propriedades de

terra em contraste da miséria e da pobreza camponesa. Os camponeses que

abandonaram ou venderam suas terras e mudaram para a cidade, foram absorvidos

pelas indústrias, enquanto outros perecem na busca pelo ganha pão, trabalhando

como ambulantes e catadores de lixo, por exemplo, enfim trabalhos informais,

agravando ainda mais a miséria do país. Estes não possuem direitos civis nem

sociais, não possuem liberdade e ficam presos neste sistema enquanto esperam por

um milagre governamental.

Outro problema que vem se agravando com este processo de monocultivo é a

exploração de grandes áreas ambientais, áreas onde ocorrem desastrosos impactos

ambientais, como é o caso da Amazônia. A luta pela terra ganha então evidência,

podemos destacar brevemente, neste momento, o papel da CONTAG

(Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) que passa a defender a

proposta de Reforma Agrária, mas seus resultados foram modesto devido,

principalmente, ao jogo de interesses.

Nos anos 70, com a mecanização do campo, fazendeiros adquiriram terras no

Paraguai e na Bolívia, tornando-se grandes sojicultores. Esta atitude fez com que

agricultores sem-terra emigrassem ao Paraguai, tornando-se posseiros.

Posteriormente, houve a criação da usina de Itaipu, que inundou muitas terras na

região, levando muitos camponeses a buscarem apoio do governo. Sem sucesso,

mudaram para o Paraguai, onde receberam ajuda do governo paraguaio que

forneceu terras para que assentassem. Porém, suas terras foram novamente

tomadas, obrigando-os a voltarem para o Brasil, precisamente no norte e oeste

paranaense, originando o MST – Movimento dos Sem-Terra.

Portanto, ao fim da década de 1970, surge o movimento dos sem-terra, com objetivo

de alterar a estrutura vigente no campo.

A origem da luta dos sem-terra tem início no final da década de 1970, por trabalhadores expulsos e expropriados com o processo de 'modernização' ocorrido no campo. Esses trabalhadores, através da ação de resistência, passaram a promover ocupações de grandes propriedades improdutivas, recusando a proletarização (…). Ao mesmo tempo em que ocorre a expulsão e expropriação com a evolução do capitalismo, abre-se a possibilidade de retorno à terra , através de ocupações de terra e lutas de resistência. (FABRINI,

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2001: p.65)

Assim, o movimento dos sem-terra adquire um caráter de resistência popular dos

excluídos, dando uma nova ênfase à luta pela terra. Segundo Fabrini (2001), para o

MST a Reforma Agrária era uma forma de modificar a estrutura de poder. Assim, o

acesso à terra, além de superar a exclusão seria uma forma de obter conquistas

econômicas e políticas. Depois de uma longa caminhada na consolidação do

movimento, o MST, assume uma postura que convoca a todos os segmentos da

sociedade a entrar na luta pela terra. A ocupação de áreas latifundiárias torna-se a

principal prática do movimento na efetivação de suas lutas. A partir da ocupação

passam a constituir os assentamentos.

Movimento dos trabalhadores sem terra – MST

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, também conhecido como

Movimento dos Sem Terra ou MST, é fruto de uma questão agrária que é histórica

no Brasil. Iniciado nas lutas pela terra, que foram retomadas a partir do final da

década de 70, na região Centro-Sul do país e, aos poucos, expandiu-se pelo Brasil

inteiro. O MST teve inicio no período de 1979 a 1984, mas foi criado formalmente no

Primeiro Encontro Nacional de Trabalhadores Sem Terra, que se realizou de 21 a 24

de janeiro de 1984, em Cascavel, no estado do Paraná e tem em seu objetivo

principal a reforma agrária, e vem tratar também da questão da apropriação das

terras improdutivas que servem apenas para a posse de seus donos.

Fernandes (2004) nos apresenta que para o MST crescer também significa

organizar-se nacionalmente, pois acreditam que um movimento em escala local ou

regional apresentaria menos oportunidades que um organizado nacionalmente.

Fernandes, também, nos apresenta a formação territorial do MST realizada em três

períodos: o primeiro, compreendido entre 1979 e 1985; denominado gestão e

nascimento - início das lutas, o segundo compreendido entre 1985 e1990 -

territorialização, o MST se consolida como movimento nacional, e o terceiro -

territorialização e institucionalização do MST ocorre uma territorialização continuada,

visando à recriação do campesinato expropriado pela territorialização do capital, este

terceiro período compreende desde o ano 1990 até os dias atuais.

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Atualmente, o MST está organizado em 24 estados nas cinco regiões do país. A

partir destas lutas e manifestações ao longo destes 25 anos o MST conseguiu

devolver terras para 350 mil famílias, formar mais de 400 associações que utilizam

de trabalho coletivo para produzir alimentos sem agrotóxicos, 2 mil escolas públicas

construídas nos assentamentos garantindo a educação de mais de 160 mil jovens e

adultos, 50 mil adultos alfabetizados e mais de 100 cursos superiores nas

universidades brasileiras5. Porém, o assentamento é o primeiro passo para a

conquista da reforma agrária6. Como os latifúndios assentados não possuem

infraestrutura adequada, depois que os ocupam, os assentados lutam em busca

dessas estruturas básicas (saneamento, luz, água encanada), aí também são

criadas escolas para atender esses assentados, para fazer reuniões e tomarem

decisões. Os assentamentos atendem às necessidades básicas, casa, escola e

alimentação, portanto, alimentos são produzidos nos assentamentos, afim de que

sejam garantidos não somente o direito de melhoria na renda e nas condições de

vida no campo, mas também oferecer alimentos de qualidade.

Podemos considerar que o MST pode ser visto não apenas pelo seu modo de lutar,

e sim por sua luta, isto é, ele esta formando cidadãos que pensam e que agem em

prol de seus direitos e de seu desenvolvimento, nesta perspectiva, podemos

apresentar que o movimento influenciará também no futuro, através de

ensinamentos deixados aos seus descendentes, como nos apresenta Caldart (1999)

ao nos dizer que:

[…] a herança que o MST deixará para seus descendentes será bem maior do que a quantidade de terra que conseguir libertar da tirania do latifúndio; será um jeito de ser humano e de tomar posição diante das questões de seu tempo; serão os valores que fortalecem e dão identidade aos lutadores do povo de todos os tempos, de todos os lugares. ( CALDART 1999)

Desta maneira é que jovens, adolescentes e crianças estão sendo criadas,

educadas e formadas, não apenas em prol da reforma agrária, mas também dos

direitos que têm enquanto indivíduos de uma sociedade. Os movimentos são

estudados e os alunos são estimulados a pensar e dessa forma, criam pessoas que

não se conformam em pensar que a exclusão é a única saída, mas pessoas que vão

5 Nossa História. Publicado em 07 de julho de 2009. Em: http://www.mst.org.br 6Entenda como estamos organizados. Publicado em 10 de junho de 2009. Em: http://www.mst.org.br

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em busca de seus direitos na sociedade. Com isso o movimento nos mostra que são

espaços não somente de lutas, mas também de formação de sujeitos, sujeitos

sociais sem terra.

Caldart nos apresenta que os sem terra educam participando ativamente das lutas e

essa participação é que humaniza as pessoas, isto é, essa participação, segundo

ele devolve à vida social pessoas que se encontravam excluídas, em outra

perspectiva, essa educação “forma indivíduos com postura diante da vida, nada é

impossível de mudar.” (1999)

Neste sentido, o MST visa o auxilio de famílias que são afetadas economicamente

pela mecanização agrícola, contribui para que estas pessoas consigam uma terra

para plantar, cultivar e morar; luta para que a Constituição seja cumprida, além de

requerer uma melhor condição de vida da sociedade brasileira. Entretanto, o

movimento é duramente repreendido pelo governo7. Nesta perspectiva, Fernandes,

(2004) nos apresenta que em seu ponto de vista, o MST não é um partido político,

um sindicato, nem um movimento sindical, é definido como um movimento

sociocultural que tem como objetivo a conquista do território para a sua permanente

recriação. Tendo seu início no período da Ditadura Militar, quando o governo

implantava a mecanização no campo, quando o uso de agrotóxicos era de forma

excessiva, quando as grandes indústrias começavam a ampliar seu poder sobre a

agricultura. Conquistas alcançadas mostram o poder da união, como a Constituição

de 1988, que visa à desapropriação de terras que não cumpram sua função social,

ou seja, acúmulos de terras sem uso.

Os Sem-Terra mostram o valor da solidariedade ao contemplar muitas violências,

mortes e repreensões governamentais ao longo dos anos. Deste o período do

governo Sarney, ao do Fernando Collor e se fizermos também uma revisão histórica

passando pelos governos de Fernando Henrique Cardoso ate chegarmos ao

governo de Luiz Inácio Lula da Silva poderemos constatar o não esforço por parte

dos governos em realmente ajudar os camponeses e em trabalhar em prol da

realização da reforma agrária. Porém, o interesse dos que realmente detinham o

poder é que era realizado. Com o golpe militar de 1964 houve um extermínio de

todos os movimentos camponeses e uma intervenção na Confederação dos

Trabalhadores na Agricultura, a Contag. No governo do presidente José Sarney foi

7 Nossas Lutas e Conquistas. Publicado em 18 de novembro de 2009, em: http://www.mst.or.br

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elaborado o Plano Nacional de Reforma Agrária – PNRA, derrubado posteriormente

pelos ruralistas. Depois surgiu a União Democrática Ruralista (UDR), aliada ao

governo, que derrubou o presidente do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e

reforma Agrária) e impediu que o PNRA fosse implantado. Com a elaboração da

Constituição de 1988 a Reforma Agrária sofreu novo golpe por parte dos ruralistas,

embora aprovada, era necessário uma lei complementar para que ela fosse válida,

portanto, somente em 1993 passou a ser regulamentada a desapropriação de terras,

mas não chegou a se realizar, pois os ruralistas conseguem impedi-la.

Em 1994, Fernando Henrique foi eleito presidente, ele defendia a idéia de que não

existiam mais latifúndios no país e acreditava que assentando as famílias

acampadas acabaria com o problema da Reforma Agrária (FERNANDES 2004). Ao

final de seu primeiro mandato (1998) o número de famílias assentadas subiu de 20

para 76 mil famílias e Fernando Henrique Cardoso não sabia o que deveria fazer. No

inicio de seu segundo mandato criou novas estratégias e políticas agrárias

extremamente opressoras. Na realidade, FHC apenas fez propagandas de seu plano

de política de Reforma Agrária, porém, isso nunca aconteceu no seu governo, pelo

contrario, houve um empobrecimento dos camponeses que foram abandonados pelo

governo sem ao menos conseguirem seus direitos de necessidades básicas para

sobrevivência.

Depois disso, em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente do Brasil.

Desde a vitória de Lula, a mídia vem fazendo um grande alarme sobre os princípios

da Reforma Agrária, porém, o que ela vem mostrando não é a realidade do campo -

estrutura fundiária altamente intensificada, problemas com trabalhadores sem infra-

estruturas, acampados à beira de estradas, empobrecimento e exclusão.

(FERNANDES 2004). A mídia apenas mostra o aumento dos conflitos, mas não suas

reais causas. Depositam a culpa nos movimentos sociais e, principalmente no MST,

convencendo a população de que os problemas são os conflitos, e não o que está

causando os conflitos.

O MST participou da escolha de alguns dos representantes do governo Lula (o

presidente do INCRA, por exemplo), devido a isso e, com o apoio da mídia, os

ruralistas foram contra as idéias política agrária do governo Lula. Rompendo com as

medidas criadas com o governo de Fernando Henrique Cardoso, o PT (Partido dos

Trabalhadores) pressionou Lula a substituir o presidente do INCRA e, com essa

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medida, o PT deixa claro seu objetivo de ter controle político sobre os conflitos

fundiários.

Portanto, para que haja uma política de Reforma Agrária seria necessário

descentralizar a grande concentração fundiária que há no Brasil, fato que nunca

ocorreu em 500 anos de história do país, e ainda tem se intensificado nos últimos

anos, o que vem tornar a Reforma Agrária um objetivo cada vez mais abstrato, com

menos expectativas de se transformar uma realidade. E é nesta realidade que o

governo Lula esta chegando a seu fim, e assim como FHC não conseguiu realizar

uma política de reforma agrária no país, e que devido à intensificação dos conflitos,

das marchas e invasões do MST, Fernandes (2004) vem nos apresentar que: Lula

vem afirmando constantemente na mídia que ninguém fará a reforma agrária “na

marra”, mas não tem afirmado, no mesmo tom, que ninguém impedirá a reforma

agrária na marra.

Nesta realidade, o povo brasileiro espera novamente por um presidente que venha

realmente solucionar os problemas no campo e apresentar condições de vida digna

ao camponês, que também deve ser tratado com respeito assim como os demais

membros da sociedade brasileira, e não ser excluído dessa sociedade simplesmente

porque se organizam e lutam em prol dos seus direitos. Pois um dos princípios do

MST é trazer benefícios também à sociedade, e não apenas aos camponeses.

Conclusão

A história agrária brasileira é tortuosa e favorável à acumulação de terras, ou seja, à

formação dos latifúndios. A partir disso, as políticas agrárias do Brasil não

pretendem auxiliar o desenvolvimento das pequenas propriedades ou facilitar que

sejam adquiridas pelos camponeses, que pretendem desenvolver uma agricultura

familiar. Porque as políticas beneficiam a formação de “indústrias” agrícolas, em prol

do aumento de produção, exigência do sistema capitalista de produção. Em

oposição a esta estrutura vigente, os movimentos sociais no campo são a expressão

de resistência camponesa. A luta dos movimentos sociais, como o MST e a

CONTAG, estão relacionadas à luta pelo direito à terra, à busca de representação

política e, por políticas públicas que beneficiem a Reforma Agrária. Assim, a luta

camponesa assume um papel de resistência que vai muito além da oposição ao

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latifúndio. É uma luta contra o sistema econômico, social e político imposto, que gera

contradições e desigualdades.

Referências:

ASSIS, T. R. de P. Agricultura Familiar e gestão social: ONGs, poder público e participação na construção do desenvolvimento rural. Dissertação. Universidade Federal de Laras: Laras, 2005, 157p. CALDART, R. S. O MST e a formação dos sem terra: o movimento social como princípio educativo. 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?%20script=sci_arttext&pid=S010340142001000300016>. Acesso em 10/05/10 FABRINI, João Edmilson. Assentamentos de trabalhadores sem - terra: experiências e lutas no Paraná. Marechal Cândido Rondon: LGEO, 2001. 140p. ______________ A Resistência camponesa nos assentamentos de sem - terra. Cascavel: Edunioeste, 2003. 275p. FERNANDES, B. M. Vinte anos do MST e a perspectiva da reforma agrária no governo Lula. In OLIVEIRA, A. U. de. E MARQUES, M. I. M. O Campo no século XXI; Território de vida, de luta e de construção da justiça social. São Paulo: Casa Amarela e Paz e Terra, 2004 Movimento dos Sem-Terra. Disponível em: <http://www.mst.org.br> Acesso em: 16/03/10 OLIVEIRA, A. U. de. Agricultura Brasileira: Transformações Recentes. In: ROSS, J. Y. S. (org). Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 2ª edição, 1998. SILVA , Maria Aparecida de Moraes. A luta pela terra: experiência e memória. São Paulo: UNESP, 2004 136p. WANDERLEY, Maria de N. B. Raízes Históricas do campesinato brasileiro. XX Encontro Anual da ANPOCS. GT 17. Processos Sociais Agrários. Caxambu, MG. Out./1996. Disponível em: <http://gipaf.cnptia.embrapa.br/publicacoes/artigo-e-trabalhos/nazareth96-1.pdf>. Acesso em: 16/03/10

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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

O TRANSPORTE INTERMUNICIPAL NA REGIÃO CENTRO-SUL DO PARANÁ: UM ENFOQUE A PARTIR DO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS

NOS MUNICÍPIOS DE IRATI, SÃO MATEUS DO SUL E SÃO JOÃO DO TRIUNFO

GILMARA ZAKRZEVSKI1

ROBERTO FRANÇA DA SILVA JÚNIOR2 Resumo: Desde o século XIX, os transportes passaram por rápidas e profundas transformações que alteraram o uso do espaço e do tempo, conseqüentemente modificando as sociedades viventes sob a égide do capital. A partir de então, várias formas de circulação e transportes foram criadas para alterar a relação tempo-espaço, desde o advento do industrialismo. O transporte de passageiros se intensificou com as litorinas (trens voltados para o transporte de passageiros) e com o bonde elétrico. Este último passou por diversas inovações até chegar ao ônibus voltado para o transporte interurbano. No Brasil, o rápido processo de urbanização ocorrido no século XX com intensos fluxos migratórios campo-cidade e interregionais, atrelado ao desenvolvimento do transporte rodoviário, fez com que a matriz de transporte de passageiros no país se tornasse predominante nos dias de hoje. Este fato justifica esta pesquisa, procurando analisar as interações espaciais resultantes do transporte intermunicipal de passageiros a partir de Irati-PR, São Mateus do Sul-PR e São João do Triunfo-PR. Essas interações ocorrem a partir dos seus fluxos intra-regionais, interregionais e interestaduais, constituindo-se atividade fundamental para a economia local. Irati “polariza” esses fluxos em função de sua estrutura de comércio e serviços, tendo São Mateus do Sul, um papel intermediário nesse processo. Palavras-chave: Transporte intermunicipal, Circulação, Território usado

1Discente do 2° ano de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, E-mail : [email protected] 2Docente do departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, E-mail: [email protected]

SANTOS, L. K.; SILVA JUNIOR, R. F. Sistemas e técnicas de comunicação na Região Centro-Sul do Paraná

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SISTEMAS E TÉCNICAS DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO CENTRO-SUL DO PARANÁ

LETÍCIA KRÓL SANTOS1 ROBERTO FRANÇA DA SILVA JUNIOR2

Resumo: Historicamente as comunicações são responsáveis pelas interações espaciais mais significativas entre os homens, proporcionando o alargamento do ecúmeno em função das possibilidades de ocupação do espaço, trocas de mercadorias e fluxos de pessoas. A circulação, que atualmente ganha ainda mais vulto com as tecnologias da informação e das comunicações (TIC) é enquadrada no sistema de comunicações em tempo real, formando redes mundiais para a transmissão de dados e informações. No entanto, a partir do exercício de articulação de escalas geográficas, verifica-se um desenvolvimento desigual das técnicas de circulação no mundo, tanto em densidade quanto em qualidade dos sistemas, como é o caso da região Centro-Sul do Paraná, uma das regiões mais pobres do Estado e que possui sérias limitações técnicas, onde a deficiência das telecomunicações é um dos reflexos do processo de desenvolvimento desigual e consequente divisão territorial do trabalho, tendo como base a implantação e o desenvolvimento das técnicas de comunicação no território brasileiro.

Palavras-chave: Telecomunicações, Técnicas, Uso do território, Sistemas de objetos, Sistemas de ações

1Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste, campus de Irati-PR. E-mail: leticiakrol@hotmailcom 2 Professor Adjunto do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste, campus de Irati-PR.

TABORDA, L. R.; RIGONI, E. Benefícios da revalorização dos materiais recicláveis

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BENEFÍCIOS DA REVALORIZAÇÃO DOS MATERIAIS RECICLÁVEIS

LUIS ROBERTO TABORDA1 EMERSON RIGONI2

Resumo: O lixo vem se apresentando como um sério problema para as cidades, contudo, um correto gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos ainda é um difícil desafio para as administrações públicas proporcionado pela falta de instrumentos de gestão. Os compromissos com a gerência desses resíduos devem envolver setores públicos, iniciativa privada e segmentos organizados da sociedade. O crescimento do consumismo fez do lixo algo inevitável, pensar em soluções e estratégias para um destino melhor do mesmo é condicio sine qua non. Este trabalho propõe alternativas para melhorar a coleta de lixo na cidade de Irati / PR através de uma maior agregação de valor sobre os materiais recicláveis, administrado por uma cooperativa. Atualmente a cidade possui uma cooperativa de reciclagem que apenas coleta, classifica e prensa os materiais recicláveis e por condições financeiras e administrativas insuficientes os materiais acabam sendo comercializados no perímetro urbano de Irati para uma empresa de reciclagem particular que pratica o mesmo trabalho de valorização e “atravessamento”. Por exemplo, se a cooperativa vendesse os materiais para as indústrias de transformação e realizasse uma simples moagem dos materiais plásticos sua receita mensal poderia aumentar cerca de 55%. Com o aumento de faturamento da cooperativa seus cooperados ficariam mais satisfeitos e motivados no exercício de suas funções, a coleta de lixo efetuada por eles se tornaria mais eficiente além do município também ganhar na parte econômica e ambiental.

Palavras-chave: Resíduos, Gestão, Materiais recicláveis

1Acadêmico do Curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste – Campus Irati. [email protected] 2Professor do departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste – Campus Irati. [email protected]

IACHECHEN, M. L.; SILVA JUNIOR, R. F. A (re)produção e valorização do espaço urbano iratiense: a circulação no âmago dos fatores que

influenciam esses processos

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A (RE)PRODUÇÃO E A VALORIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO IRATIENSE: A CIRCULAÇÃO NO ÂMAGO DOS FATORES QUE

INFLUENCIAM ESSES PROCESSOS

MARIA LOURDES IACHECHEN1 ROBERTO FRANÇA DA SILVA JUNIOR2

Resumo: As cidades produzem e reproduzem a lógica capitalista de produção e reprodução de desigualdade, que são mais evidentes no espaço urbano. A cidade de Irati não é diferente, exacerbando suas desigualdades no plano de seu perímetro urbano, alongado e fragmentado. Nessa perspectiva, é notória a relação existente entre a valorização dos espaços urbanos e as vias de circulação. Este trabalho tem como objetivo precípuo demonstrar os agentes da esfera da circulação como principais promotores de agregação de valor ao solo urbano. O estudo em questão enfoca a cidade de Irati, localizada na região Centro Sul do Estado do Paraná, pelo qual se pretende analisar a (re) produção e valorização do espaço intra-urbano de Irati, tomando os meios de circulação como principais agentes neste processo. A presente pesquisa fundamenta-se em investigações bibliográficas, utilização de dados e informações buscadas junto ao Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Paraná (CREA-PR), Prefeitura Municipal de Irati (PMI), e imobiliárias, para a obtenção de dados que demonstrem quais são as áreas mais valorizadas pela circulação. Esses dados são relevantes para a compreensão da temática proposta pelo presente trabalho, na perspectiva de entender a maneira como o espaço intra-urbano iratiense é organizado. Ao final da pesquisa, espera-se relacionar todos os elementos previstos, para que se possa realizar a análise da estruturação urbana iratiense, no sentido de avaliar os elementos que condicionam as transformações do espaço, visando melhor entendimento dos processos que permeam as articulações e que proporcionam um grau diferenciado de incorporação de mobilidade e valorização.

Palavras-chave: Espaço urbano, Circulação, Valorização

1 Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste-Campus Irati: [email protected]. 2 Professor orientador do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste-Campus Irati: [email protected].

PEREIRA, M. As fragilidades do MERCOSUL e a crise na Zona do Euro: uma perspectiva acadêmica das

singularidades dos blocos econômicos

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AS FRAGILIDADES DO MERCOSUL E A CRISE NA ZONA DO EURO: UMA PERSPECTIVA ACADÊMICA DAS SINGULARIDADES DOS BLOCOS

ECONÔMICOS

MARIANA PEREIRA1

Resumo: O presente trabalho, aborda num primeiro momento, questões relacionadas a formação e estruturação tanto do MERCOSUL quanto da União Européias, propiciando dessa forma uma análise comparativa entre os mesmos. Não temos a pretensão, com este, de estabelecer compreensão total a cerca do assunto, nem mesmo de esgotar as possibilidades analíticas que perpassam essa temática, nossa intensão se limita na exposição de nossos conhecimentos, com o intuito de fomentar a investigação desse cenário, o qual a priori, se apresenta com certo distanciamento da realidade cotidiana da maior parte da sociedade, contudo imprime nesta os reflexos de suas ações e decisões. Palavras-chave: MERCOSUL, Zona do Euro, Relacionamentos Comercias, Fragilidades

Introdução

Dentro desses dois quadros que se apresentam o MERCOSUL e a União Européia

se faz necessário uma primeira abordagem no que diz respeito aos traços de sua

formação, para que, em seguida haja possibilidade de se investigar sua relações

internas (mencionando seus membros), alem de visualizar suas conseqüências no

cenário externo, passaremos, portanto ao terceiro momento, onde explicitaremos

nossas considerações de forma mais efetiva.

Características Gerais

Anterior a adentrarmos a questão da formação propriamente dita da União Europeia

e do MERCOSUL, devemos salientar que nem sempre esses momentos históricos

se apresentam de forma uniforme ou linear, trata-se de um momento de transição

abrupto, nas bases econômicas, políticas e sociais de aglomerado de territórios

autônomos independentes, que possuem características ou interesses em comum.

Dessa forma é completamente aceitável a presença de conflitos internos, bem como

de alianças de auxilio, como atualmente vem sendo divulgado o caso da Grécia e

também de outros países nesse bloco. 1 Graduanda do 5º Período de Geografia Licenciatura Plena – [email protected]

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singularidades dos blocos econômicos

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Formação

Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a União Europeia entra em vigor em

1º de novembro de 1993, através do Tratado de Maastrich, sendo o resultado de

décadas de negociações para o estabelecimento de alianças, visando a integração

Europeia. Contudo deriva de outra formação econômica, denominada Comunidade

Europeia do Carvão e do Aço (CECA) e constituída inicialmente por seis países,

passando em pouco mais de três décadas a quinze países membros. É valido

também ressaltar que em 1987 entrava em vigor o Ato Único Europeu, este forneceu

as bases para a criação do Mercado Único Europeu. E apenas em 1999 se implanta

de o sistema único monetário o Euro em onze dos países participantes. O que se

demonstra nas palavras de Hélio Jaguaribe(2002):

A queda do muro de Berlim e o colapso da União Soviética deixaram os Estados Unidos, neste fim de século, como a única superpotência mundial. Por outro lado, a Europa precedente do Tratado de Roma elevou significativamente o seu grau de integração socioeconômica e ampliou o numero de países integrantes do sistema, que passou a denominar-se União Europeia. A União Europeia tornou-se assim, economicamente, tão ou mais importante que os Estados Unidos (p. 03).

O caso do MERCOSUL assemelha em alguns pontos quanto a sua formação em

relação a União Européia, assim como salienta Kume &Piani (2005) “o MERCOSUL

foi precedido pelo Programa de Integração e Cooperação Econômica entre a

Argentina e o Brasil (PICE)” lançado em 1986, porem dois anos decorridos o

processo de integração foi acelerado mediante a assinatura do Tratado de

Integração, Cooperação e Desenvolvimento. De fato é em 1995 que o MERCOSUL

propriamente dito, entra em vigor, contudo deve-se ressaltar que o mesmo foi

estabelecido em 1991 pelo Tratado de Assunção o qual possuía por objetivo o ajuste

de um grande espaço econômico integrado, como forma de atingir uma melhor

inserção no cenário econômico internacional, dessa forma ficando caracterizado o

período de 1991 a 1995, como de transição.

Relações internas

Passado o período de transição, o MERCOSUL entra em vigor abrangendo quatro

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países com características sociais, políticas e econômicas bastante diferentes, visto

que em vias de sua formação uma serie de turbulências acometeram esses quatro

territórios, basta citar o colapso argentino no final da década passada , inicio da

atual, o qual se caracterizou como empecilho a uma política mais agressiva de

integração, dessa forma marcando um estagnação de crescimento do MERCOSUL,

uma vez que essa situação inibia naturalmente qualquer ação nesse sentido.

Contudo a estagnação não atingiu a presença deste; uma vez que juntaram-se aos

membros (fundadores) Chile e Bolívia. E atualmente o MERCOSUL se apresenta de

forma diferenciada, demonstrando as evoluções conquistadas internamente.

É evidente que dentro do bloco á um destaque maior ao Brasil e a Argentina, devido

a suas expressivas relações como salienta Giambiagi & Barenboim (2005):

A região composta por Brasil e Argentina constituiu, entre outras coisas, uma parte do globo onde o potencial de atentados terroristas é mínimo, o que não se pode dizer dos Estados Unidos e da Europa. É um espaço marcado pela ausência de conflitos entre países, tanto de natureza étnica, como religiosa, histórica, cultural ou de fronteira. Alem disso, é uma região na qual os países, individualmente, se caracterizam por terem: a) paz; b) democracia; c) um regime capitalista consolidado; d) certo grau de desenvolvimento institucional e; e) uma grande demanda reprimida, com largo potencial de expansão do consumo (p.06).

Com tantos atrativos econômicos, resta-nos a questão de que, como essa região do

globo não é se tornou um pólo atrativo de fluxos de investimentos externos? A

resposta segundo Giambiagi & Barenboim (2005) é clara, deve-se ao fato da

instabilidade macroeconômica e ao clima de negócios. Uma vez que apóia seus

pensamento na realidade, por exemplo brasileira, de que tantos os agentes

econômicos quanto os indivíduos de forma geral, possuem serias dificuldades em

prever o futuro (econômico) e fazer planos com o mínimo de segurança. Façamos

um breve e sucinto resgate do quadro político-econômico brasileiro e argentino,

segundo ainda Giambiagi & Barenboim (2005), que dão especial destaques aos

seguidos episódios de turbulência econômica:

tivemos a alta inflação de mais de 200% a.a. até 1986; cinco planos de estabilização fracassados nos cinco anos seguintes; o confisco do Plano Collor em 1990; taxas de juros reais de 22% a.a. no primeiro governo FHC; as incertezas associadas a crise mexicana em 1995, asiática em 1997, russa em 1998, do próprio Brasil em 1999, da

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Argentina em 2001 e novamente a incerteza, desta vez eleitoral, em 2002, com duas ameaças de retorno da inflação, em 1999 e 2002/2003. Já na Argentina, houve a deflação de uma guerra (Malvinas) em 1982; a alta inflação durante toda a década de 1980; diversos planos de estabilização igualmente fracassados; três surtos de hiperinflação entre 1989 e 1991; a ameaça do fim da conversibilidade em 1995; o retorno a esse mesmo clima durante todo o período de 1999-2001; uma saída caótica da mesma em 2002; quatro anos de quedas sucessivas do Produto Interno Bruto (PIB) entre 1998 e 2002; e mais o pano Bonex, o ‘corralito’ e a moratória da divida externa. (p 06).

Dessa forma o Brasil e a Argentina ficam fadados a um clima desfavorável para

negócios, por não apresentarem garantias do direito de prosperidade, legislação

econômica de qualidade, e mesmo com tantas dificuldades, ainda assim não

direciona esforços para implementação de medidas, cujo o intuito seria o

fortalecimento do MERCOSUL, uma vez que todos os esforços são destinados a

solução de problemas de grande escala, não restando, portanto, campo de interesse

em iniciativas voltadas a microeconomia. Entretanto, a situação atual de relações

internas ao MERCOSUL evoluiu significativamente, ao menos quando

contemplamos a relação especifica de Argentina e Brasil, já que o crescimento tanto

do comercio quanto dos investimentos entre estes dois países significa uma maior

representatividade, frente a investimentos estrangeiros. Relação essa evidenciada

por Teruchkin (1999):

o comercio intrazona, no período 1992/97, cresceu a taxas superiores ao intercambio com outros países. Como Brasil e Argentina são os países com maior população, produto interno (PIB) e níveis de industrialização, o eixo do intercambio comercial intra-MERCOSUL é o comercio entre estes países, proveniente, em grande parte, do comercio intra-setorial e intra-industrial. (...) O Brasil é o principal sócio comercial da Argentina, absorvendo 26% de suas exportações, enquanto a Argentina tornou-se o segundo parceiro comercial (individual) do Brasil, adquirindo cerca de 13% das vendas externas brasileiras (p. 06).

Contudo vale ressaltar que, Brasil e Argentina só conseguiriam se beneficiar dessa

potencial atratividade de fluxos de Investimentos Direto Estrangeiro (IDE) em um

contexto onde estejam dentro de uma política de regionalismo aberto, e que haja

uma estabilidade macroeconômica alem é claro mediante o estabelecimento de

regras estáveis e confiáveis.

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Voltamos nossa atenção daqui em diante, ao quadro que contempla as relações

internas referentes a União Européia; dessa maneira iniciaremos por dizer que se

trata do maior bloco comercial do mundo, sendo ainda o primeiro exportador mundial

e o segundo importador. E em suas bases encontram-se três esferas de ação que

norteiam todo o processo de integração dessa região, sendo eles: 1) correspondente

a integração econômico-comercial, de livre circulação de bens, serviços, capitais e

trabalhadores entre os países membros; e para com os demais, o estabelecimento

de uma Tarifa Externa Comum (TEC); 2) correspondente a política externa e de

segurança comum; e 3) referente a políticas de imigração e de cooperação judiciária

e policial. Apesar de bases claras e sólidas a União Européia esbarra em fatores

sócio-culturais que dificultam a implementação de uma política internacional comum.

A formação da UE pode ser dividida em quatro fases, as duas primeiras já citadas e

a terceira, que ao nosso ver merece maior atenção, é caracterizada pela União

Monetária Européia, onde Alemanha, França, Itália, Portugal, Luxemburgo, Holanda,

Espanha, Bélgica, Irlanda, Áustria Finlândia, passaram a utilizar uma moeda

unificada, o Euro. No tocante a quarta etapa, diz respeito a ampliação da UE, a qual

se utilizara de critérios de avaliação da situação individual de cada país, seus focos

são: Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Eslováquia, Republica Tcheca, Hungria,

Eslovênia, Chipre, e Malta.

A grosso modo a formação da UE ocorreu de forma tranquila, pelo menos é o que

nos parece, contudo atualmente a situação se apresenta bastante complicada para

este bloco comercial. Haja visto que a crise bancaria e financeira, traduzida em crise

mundial afetou profundamente membros constituintes da UE. Segundo Michael

Krätke (2010) os países da UE (Espanha, Portugal, Itália e Grécia) apresentam

déficit publico em torno de 100% do PIB, alem disso, não há precedente histórico de

elevação do déficit publico de forma extrema, em países capitalistas desenvolvidos.

O conjunto dos Estados da união Europeia já possuem mais de 8 trilhões de dólares

inscritos como divida publica, garantindo assim, um florescimento ainda maior nos

negócios com divida publica. Sendo assim podemos caracterizar a atual situação da

UE como de instabilidade, mediante as turbulências econômicas, políticas e sociais

que a tingem esse bloco.

Relacionamento Brasil com a União Europeia

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O Brasil e a União Européia, em 1992 assinaram o “Acordo de Terceira Geração”

tendo entrado e vigor em 1995, o mesmo tinha por intuito a ampliação da

cooperação nos campos comercial, econômico, cientifico e tecnológico. A União

Europeia é o bloco com parcela mais significativa de atuação frente as exportações

e importação brasileiras, e vem seguidamente ampliando sua presença, no Brasil

sobretudo, devido a troca de experiências na área técnico-institucional alem de

investimentos diretos (Mendes, 2000).

Quanto ao comportamento brasileiro no comercio exterior Mendes (2000 p. 12)

realiza a seguinte afirmação:

O comportamento comercial externo brasileiro vem apresentando mudanças significativas ao longo dos últimos anos, associadas a certos fenômenos recentes, internos e externos. Do ponto de vista interno, os processos de abertura e de estabilização econômica, implementada no país a partir de 1990 e 1994, respectivamente, provocaram impactos em diversos âmbitos da economia nacional, assim como no comportamento dos setores produtivos, e isso teve repercussão no âmbito comercial externo do país. Do ponto de vista externo, a conclusão da Rodada Uruguai e a criação da Organização Mundial do Comercio e seus desdobramentos em termos de uma nova fase de abertura comercial e liberalização mundial também vêm influenciando de forma direta o comportamento externo brasileiro, e novas atitudes estão sendo impostas ao país

O comercio externo brasileiro, via de regra acaba por assumir as características de

sua produção, ou seja, essas categorias de relação encontram-se concentradas nas

regiões Sul e Sudeste, portanto pode-se dizer que cada estado brasileiro tem seu

papel particular dentro do quadro do comercio externo devido tanto a sua produção

quanto sua organização de influencia.

Dessa forma o a União Europeia é igualmente parceira do MERCOSUL, uma vez

que o comercio entre os dois blocos vem aumentando significativamente nos últimos

anos, sendo que 1995 os dois blocos assinaram um Acordo-Quadro de Cooperação

Inter-Regional que embora não contemplasse as preferências comerciais, abria

caminho para a criação de uma Associação Inter-Regional que possuiria também

natureza comercial. Passado quatro anos, em 1999, MERCOSUL e União Europeia

iniciaram as negociações para tal acordo, que obteria como resultado a liberação

comercial recíproca e diversificação do comercio entre as duas regiões.

Dessa maneira, o que nos fica claro que, em termos de relacionamento com o

comercio externo tanto o MERCOSUL quanto a União Europeia, se destacam na

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busca de ampliação de seus blocos, seja por meio de integração de novos membros,

ou mesmo por meio de acordos e alianças com os demais blocos e potenciais

consumidores.

Considerações Finais De forma geral quanto as fragilidades do MERCOSUL, podemos identificá-las no

exato momento de sua formação, uma vez que o próprio bloco tem que dar conta de

atender as necessidades político-econômicas de quatro territórios distintos (Brasil,

Argentina, Paraguai e Uruguai), sendo que dois deste (Paraguai e Uruguai) se

relacionam de forma muito mais dependente comercialmente, com o Brasil e a

Argentina. Brasil e Argentina podem ser considerados as bases, ate certo ponto

sólidas, para um maior desenvolvimento, não só do MERCOSUL mais da região de

forma geral. Falamos em bases sólidas ate certo ponto, por nos referirmos a esses

dois territórios como potencias atrativos de Investimento Direto Estrangeiro, contudo

entendemos que para uma aproveitamento potencializado desses investimentos

mudanças de ordem estruturais profundas devem ocorrer. Ainda dentro do quadro

desses fragilidades podemos situar os desequilíbrios de ordem político-

administrativa brasileira, onde evidenciamos a simples negação da MERCOSUL e

um discurso pró ALCA, dessa forma fica delicado uma mudança de postura que

tenha por objetivo o fortalecimento e afirmação do MERCOSUL como bloco

comercial, bem como o desenvolvimento individual do Brasil e demais membros.

No que tange a crise na zona do Euro, podemos ponderar os casos da Grécia e

também de Portugal, os quais ganharam mais destaque na mídia. O quadro Grécia e

constantemente vislumbrado sob o enfoque do escândalo da divida publica. É

evidente eu um país que sempre teve seus gastos superiores a sua arrecadação,

mais cedo ou mias tarde acabaria em crise, o que de fato é interessante, é que

mesmo a Grécia recebendo financiamento especial do FMI e também da União

Europeia precisará negociar com seus credores para obter descontos e prazos mais

longos para saldar suas dividas. Já Portugal para como plano para baixar seu déficit

publico desprende políticas que acabam por massacrar a população, pois abandona

o combate a pobreza, corta os apoios sociais aos mais desfavorecidos, impõe

reduções reais nos salários, mantendo elevado o nível de desemprego. Ao nosso

ver a União Européia de forma geral se empenha em prestar socorro aos seus

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singularidades dos blocos econômicos

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membros, mais devemos salientar que o bloco enfrenta apenas as consequências

de um problema que possui suas raízes na formação histórica dos mercados tato

internos quanto externos, dessa maneira tornando evidente que sem a mudança nas

estruturas político-administrativas, esse situação de instabilidade tende a perdurar.

Referencias Bibliográficas

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FERNANDES, M. S.; SILVA JUNIOR, R. F. Porto de Paranaguá: sistema de engenharia para a competitividade da soja paranaense

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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)

PORTO DE PARANAGUÁ: SISTEMA DE ENGENHARIA PARA A COMPETITIVIDADE DA SOJA PARANAENSE

MICHELE SERPE FERNANDES1

ROBERTO FRANÇA DA SILVA JUNIOR2

Resumo: A produção da soja no território paranaense é expressiva, pois o Estado do Paraná se destaca como segundo maior produtor nacional, ficando atrás apenas do Estado de Mato Grosso. Então é necessário compreender os sistemas de engenharia e sistemas de movimento que dão base para a circulação dessa produção, nos propondo a conhecer seus circuitos espaciais produtivos a partir da região Oeste do território do Paraná. Utilizamos para realização desse trabalho, dados empíricos extraídos de sites como o da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Estrada de Ferro do Paraná (Ferroeste), bem como visita ao Porto de Paranaguá. Como embasamento teórico, partimos da compreensão da noção de regiões competitivas, onde elas aumentam sua competitividade através de “eficientes” sistemas infraestruturais e logísticos. A análise para a compreensão do circuito espacial produtivo da soja e de sua competitividade foi realizada a partir da quantidade produzida, quantidade de armazéns graneleiros, condições infraestruturais das ferrovias e rodovias, quantidade de portos secos e distância dos portos marítimos. Os resultados preliminares constam em que o aperfeiçoamento de todo esse sistema, juntamente com um gerenciamento logístico onde empresas privadas atuam em parceria com o Estado, contribuem para o aumento dessa competitividade. Nesse sentido, o fato de o Estado do Paraná possuir um porto marítimo competitivo em seu território, aumenta bastante sua competitividade, pois diminui as distâncias entre local de produção e local para a exportação, a partir da diminuição dos gargalos infraestruturais com aumento da fluidez e diminuição de custos que oneram a produção-circulação da soja. Palavras-chave: Regiões competitivas, Produção sojicultora, Porto de Paranaguá

1 Discente do 4 ano do curso de Geografia de Irati – DEGEO/I – e-mail: [email protected] 2 Docente do Departamento de Geografia de Irati – DEGEO/I – e-mail: [email protected]

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O USO DO MÉTODO HERMENÊUTICO ASSOCIADO AO QUALITATIVO E QUANTITATIVO NO CASO DO ARRANJO PRODUTIVO DE MALHAS EM

TRICOT DE IMBITUVA-PR

ZAQUEU LUIZ BOBATO121 LUIZ ALEXANDRE GONÇALVES CUNHA122

Resumo: Nas ciências em suas mais diversas especificidades a metodologia científica se caracteriza de forma extremamente importante, pois, é através da aplicação de métodos adequados, pertinentes ao objeto de estudo almejado, que o pesquisador pode delinear um bom trabalho científico. Portanto, um método de pesquisa pertinente ao ser adotado pelo pesquisador, acaba se tornando um valioso instrumento que o permite obter resultados seguros em uma determinada pesquisa. Às vezes, um determinado foco de estudo acaba se caracterizando de forma complexa, dado os diversos processos que o permeiam, porém, quando o pesquisador percebe a dimensão do caso a ser pesquisado e desta forma, mensura um processo reflexivo, traçando o caminho metodológico a trilhar, com o intuito de desvendar e esclarecer aquilo em que se propôs a pesquisar, tal pesquisador, certamente apresentará resultados satisfatórios, dando contribuições para o meio científico e social como num todo. Portanto, o presente artigo explicita como será aplicado o método hermenêutico de pesquisa associado ao qualitativo e ao quantitativo no bojo das relações que permeiam o Arranjo Produtivo Local (APL) de malhas em tricot de Imbituva-PR. Uma vez que, a pesquisa projetada objetiva contribuir com o debate acerca das políticas públicas de fomento a APLs, e sendo assim, espera-se que a pesquisa resulte em contribuições que permitam uma maior atuação de políticas que visem desenvolver o APL Imbituvense. Para tanto far-se-á uma apresentação, buscando evidenciar as características, peculiaridades de tais métodos adotados para a pesquisa projetada.

Palavras-chave: Método, Hermenêutico, Qualitativo, Quantitativo, Arranjo Produtivo Local INTRODUÇÃO É sabido que em uma pesquisa científica, o pesquisador necessita definir seu objeto

de estudo, para a partir daí, elaborar, construir, um processo de investigação,

objetivando delimitar o universo que será estudado. Portanto, antes de aprofundar

na discussão concernente ao método adotado para a pesquisa projetada, pensou-se

121 Graduado/licenciado em Geografia (2009) pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) Irati-PR e Mestrando em Geografia “Gestão do Território: Sociedade e Natureza” pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). E-mail: [email protected] 122 Graduado em Geografia, licenciatura (1979) e bacharelado (1980), pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Mestre em História Econômica do Brasil pela Universidade Federal do Paraná (1987) e Doutor em Ciências Sociais: Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pelo CPDA da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2003). Atualmente é professor adjunto da Universidade Estadual de Ponta Grossa, atuando no curso de graduação em Geografia e nos Mestrados em Gestão do Território e Ciências Sociais Aplicadas. E-mail: [email protected]

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que, torna-se necessário discutir em um primeiro momento o foco da pesquisa, o

objeto de estudo.

Neste sentido, se trará a baila o caso do Arranjo Produtivo Local de malhas em tricot

de Imbituva, uma pequena123 cidade do Estado do Paraná, localizada na

mesorregião sudeste paranaense – distante a 76 km de Ponta Grossa (pólo

regional) e 181 km de Curitiba (capital do Estado).

Figura 1. Localização geográfica da cidade de Imbituva-PR. Extraído do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. Acesso em: 06 de setembro de 2010. Adaptado por BOBATO, Z. L. (2010).

Sendo que a mais de 30 anos, a cidade de Imbituva vem se especializando na

confecção de roupas de malhas em tricot. A consolidação do setor de malhas se dá

no ano de 1974, quando houve uma primeira tentativa em conjunto para se formar

uma empresa, a qual, a posteriori foi desfeita, dando origem a uma nova empresa. 123 Segundo dados da prefeitura de Imbituva, disponível em: http://www.imbituva.pr.gov.br/site_novo/index.php/populacao. Acesso em: junho de 2010. A cidade possui 16.730 habitantes e o município 27.052 habitantes.

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No delinear dos anos outras malharias foram surgindo, na cidade, impulsionadas

dado o sucesso observado com o surgimento da primeira malharia.

Com o aumento da produção de peças de roupas em malhas, no ano de 1985

realizou-se a primeira feira de malhas, apoiada pela Prefeitura Municipal de

Imbituva. Dada a expansão do setor, tornou-se necessária a criação de um ambiente

institucional, sendo assim, com o intuito de promover ações em prol do ramo das

malhas, no ano de 1988 surge a Associação das Malharias de Imbituva

(Imbitumalhas), com o objetivo de organizar a Feira de malhas de Imbituva (Femai),

um importante evento que passa a ser o principal canal de vendas para a maioria

das malharias existentes na cidade. As imagens a seguir retratam momentos da

Femai ocorrida no mês de maio deste ano (2010).

Figura 2. Imagem da FEMAI 2010 FOTO. Zaqueu Luiz Bobato. Maio/2010

Também com o passar dos anos, a Imbitumalhas passa a assumir o papel de mediar

relações de cooperação entre o empresariado local. De acordo com dados,

levantados na fase exploratória da pesquisa, para a concepção do projeto,

atualmente (2010) a Imbitumalhas conta com 38 malharias associadas.

Em 19 de novembro de 2004 o Instituto Euvaldo Lodi (IEL) do Paraná, integrante do

Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), realizaram um

“Planejamento Compartilhado”, contando com a participação de todos os

empresários das malharias de Imbituva e a partir dessa reunião, introduziram ideias

e direcionaram políticas de fomento ao setor, tendo como aporte o modelo APL.

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Figura 3. Imagem da FEMAI 2010 FOTO. Zaqueu Luiz Bobato. Maio/2010

Figura 4. Imagem da FEMAI 2010 FOTO. Zaqueu Luiz Bobato. Maio/2010

Nesta reunião realizada pelo IEL, foram levantados os seguintes projetos para o

então APL: escola técnica de Imbituva, exportação, comercialização nas quatro

estações do ano, centro comercial de malhas de Imbituva, central de cadastro, união

(instalação do comitê e governança do APL).

A partir daí, o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social

(Ipardes) com seus critérios teóricos e metodológicos passa a caracterizar Imbituva

como uma cidade paranaense detentora de Arranjo Produtivo Local.

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DISCORRENDO OS PRINCIPAIS PONTOS DA PESQUISA PROJETADA

O atual momento histórico marcado pela constante influência dos processos

disseminados pela então chamada “globalização”, tem gerado novas formas de

organização, reconfigurando a ordem espacial de atividades econômicas dentro do

espaço geográfico. Portanto, as transformações em curso, impulsionaram modelos

que passam a ser adotados pelas regiões nos mais diversos lugares do espaço

geográfico (BOBATO, 2008).

Neste sentido, pode-se destacar os formatos de organizações, tidos como Arranjos

Produtivos Locais (APLs), que derivam de um modelo europeu e norte americano de

produção, identificados por Marshall já no século XIX na Inglaterra (BOBATO, 2009).

As bem sucedidas políticas de desenvolvimento dessas regiões impulsionam o Brasil

nos anos 1990, a se interessar pelos parques tecnológicos, pólos tecnológicos,

incubadoras de empresas e, tentando em parte adaptar-se à realidade nacional.

De acordo com escritos contidos no Boletim Informativo da Política Nacional de

Desenvolvimento Regional (2010, p. 42):

Em meados da década de 1990 (...) estudos e experiências passaram a influenciar tanto a academia quanto os formuladores de políticas. Da Universidade de Harvard, Michel Porter lançou o conceito de clusters, que passou a ser usado cada vez mais como sinônimo de modernidade e de fronteira teórica. Paralelamente, as experiências dos Distritos Industriais Italianos e o caso de Mondragon no País Basco também passaram a ganhar espaço em função da proximidade com a estrutura produtiva da economia brasileira e com a formação cultural e religiosa do país, de origem latina e de maioria católica.

Portanto, ressalta-se que no Brasil a partir da década de 1990 as políticas acerca

dos APLs se intensificam, já que tal forma de organização passa a ser considerada,

como um forte mecanismo de desenvolvimento econômico regional.

Nos escritos, contidos no documento da Política Nacional de Desenvolvimento

Regional (PNDR) do Brasil, elaborado no ano de 2007, percebe-se a adoção de um

modelo europeu de produção, já que o documento explicita a seguinte afirmação:

Desde a década de 80, no entanto, uma visão diferente de desenvolvimento vem se traduzindo em iniciativas de planejamento voltadas à valorização do potencial endógeno das regiões. Inspiradas no sucesso de regiões como o Vale do Silício, na Califórnia, a Emília

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Romana, na Itália, ou regiões dinâmicas da Ásia, tais políticas apresentam duas características essenciais: são ancoradas em territórios específicos; e baseadas em pequenas e médias empresas, interdependentes e interativas e das condições de vida da população. (PNDR, p. 9).

Portanto, os APLs passam a ser estabelecidos no país, como alternativa de

desenvolver as potencialidades existentes nas diversas regiões. No estado do

Paraná, os APLs se intensificaram com os estudos desenvolvidos pelo Ipardes.

Enfim, com critérios teóricos e metodológicos o Ipardes no ano de 2006 caracteriza a

cidade de Imbituva sendo sede de APL dada a concentração geográfica espacial

das empresas de malhas ali existentes. No mapa a seguir, é possível perceber os

vários APLs caracterizados pelo Ipardes, dentro do Estado paranaense e, portanto,

Imbituva com o seu APL de malhas em tricot.

Figura 6. Mapa do Paraná com os principais APLs Fonte: Extraído da FIEP. Disponível em: http://www.ielpr.org.br/apl/. Acesso em: Agosto de 2010.

A definição do termo APL adotado pelo Ipardes (2006), em um trabalho versando

identificar APLs no Estado do Paraná e visando apresentar um conjunto de diretrizes

gerais e específicas, de políticas públicas e ações coletivas, que contribuísse para a

ampliação da competitividade, da eficiência produtiva, da capacidade de inovação e

do mercado de produtos dos APLs paranaenses, comparece em uma definição

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trivial, podendo ser definido como um, “(...) aglomerado de agentes econômicos,

políticos e sociais que operam em atividades correlatas, estão localizados em um

mesmo território e apresentam vínculos de articulação, interação, cooperação e

aprendizagem” (IPARDES, 2006, p.08).

Para Enderle et al (2005, p. 2) ao pesquisar arranjos produtivos, o mesmo explicita

que APL:

(...) não é delineado pela fronteira geográfica de algum local, seu recorte é determinado por um número significativo de empresas envolvidas numa atividade específica, supondo a existência de uma gama de interações que envolvem os mais diversos atores econômicos e sociais.

No entanto, no Boletim Informativo da Política Nacional de Desenvolvimento

Regional (2010, p 43) o termo APL comparece:

(...) para designar um espaço social, econômico e historicamente construído por meio de uma aglomeração de empresas (ou produtores) similares e/ou fortemente inter-relacionadas, ou interdependentes, que interagem numa escala espacial local definida e limitada através de fluxos de bens e serviços. Para tanto, desenvolvem suas atividades de forma articulada por uma lógica socioeconômica comum, que aproveita as economias externas, o binômio cooperação-competição, a identidade sociocultural do local, a confiança mútua entre os agentes do aglomerado, as organizações ativas de apoio para a prestação de serviços, os fatores locais favoráveis (recursos naturais, recursos humanos, cultura, sistemas cognitivos, logística, infraestrutura etc.), o capital social e a capacidade de governança da comunidade.

Percebe-se que nas definições acima elucidadas as relações sociais frutos da

proximidade geográfica/territorial das empresas, são imprescindíveis para o sucesso

de um APL, contudo, também é necessário que haja vinculação entre as esferas

políticas que permeiam um dado arranjo produtivo.

Enfim, essas definições de APLs são versões institucionalizadas de formas de

organizações industriais já identificadas por Alfred Marshall em 1890, com a

publicação de seus Princípios de Economia, sua obra mais célebre, na qual

desenvolveu uma teoria da organização industrial. No cerne de sua teoria, estava a

relevância da concentração espacial das empresas e dos fatores organizacionais e

institucionais.

Recentemente comparece na literatura econômica, o termo cluster, que, em sua

acepção mais ampla, é um agrupamento de empresas reunidas em um subespaço,

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bem balizado, e que essas se relacionam do ponto de vista institucional, ao mesmo

tempo em que forma um pólo especializado, com a possibilidade de auferir ao lugar,

vantagens competitivas.

Devido à importância dos APLs para a economia brasileira, diversos pesquisadores

têm dado contribuições bastante relevantes, com estudos voltados às aglomerações

produtivas especializadas. Dentre alguns autores, torna-se importante enfatizar

Igliori (2001); Diniz e Lemos (2005); Conti (2005); Lastres e Cassiolato (2004),

Suzigan, Garcia e Furtado (2005).

Em suas análises, estes autores empregam categorias e nomenclaturas conhecidas

pelo termo APL, mas outros autores preferem termos como SLPs (Sistemas Locais

de Produção/Inovação), Cluster dentre outros.

Torna-se importante destacar que no caso do setor de malhas de Imbituva, a partir

do surgimento das primeiras empresas e mais tarde no ano de 2004, com o projeto

APL, o ramo de malhas imbituvense, paulatinamente vai crescendo e as relações

entre o empresariado local e a articulação com segmentos públicos e institucionais

vão se tornando mais complexas.

Desta forma, com o intuito de compreender as complexidades muitas vezes

conflituosas estabelecidas no decorrer do processo histórico-geográfico de

constituição do ramo, delineia-se como objetivo central no projeto de pesquisa, “a

compreensão do processo histórico-geográfico de implementação das políticas

públicas na perspectiva de Arranjos Produtivos Locais, considerando a concentração

territorial de malharias em Imbituva-PR”.

Na busca de objetivar tal proposta, levam-se em considerações as relações de

produção e cooperação, materializadas internamente no circuito espacial de

produção de malhas em tricot de Imbituva-PR. Neste sentido, tem-se como um dos

aportes de compreensão Arranjo Produtivo Local (APL), sendo assim, destaca-se

que o mesmo (APL) perpassa por processos endógenos específicos por se tratar de

uma dinâmica espacial produtiva de uma pequena cidade do interior do Estado do

Paraná.

É válido ressaltar que a pesquisa projetada, tem por objetivo específico o de discutir

as políticas públicas de desenvolvimento regional, propostas, a partir, da perspectiva

dos modelos de desenvolvimento local. Sendo assim, percebe-se que as empresas

de malhas do APL de Imbituva, organizadas internamente no espaço, utilizam o

território ao seu modo, produzindo a partir de especificidades geradas localmente, e

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malhas em tricot de Imbituva-PR

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que tentam de modo ainda restrito se colocar de forma competitiva no mercado

nacional.

Tendo em vista a considerável concentração territorial das empresas, assim como as

relações sociais e de produção que ali se delineiam e é claro, aliado a outros fatores,

o Ipardes com seus critérios, como já explicitado anteriormente, caracterizou

Imbituva sendo sede de um Arranjo Produtivo Local. Tendo por base o Ipardes,

assim como, pesquisas de campo realizadas no setor durante a fase exploratória,

para a elaboração do projeto, percebe-se que Imbituva possui um importante APL.

Contudo, a situação do mesmo não é das mais frutíferas ao desenvolvimento (local

e regional) e a competitividade, tampouco condizente a alguns fundamentos centrais

de um APL. Desta forma, com o intento de compreender o caráter das políticas

públicas no modelo de APL, objetiva-se identificar, se tais políticas de fato,

contribuem em uma perspectiva de desenvolver regiões. Para isto tem-se como

aporte o APL imbituvense, já que este é alvo de tal política pública de

desenvolvimento. Pois, recentemente na literatura da Geografia Econômica, a

questão dos APLs tem sido amplamente discutida, já que esta forma de organização

empresarial é tida como um forte mecanismo de desenvolvimento regional,

principalmente para os países classificados como periféricos.

Os estudos de aglomerações produtivas, comumente chamadas no Brasil de

Arranjos Produtivos Locais, vêm ganhando impulso nas últimas décadas, em virtude

da importância na geração de empregos, tendo por base experiências bem-

sucedidas, de desenvolvimento de capacitações produtivas e empresariais, nesse

tipo de organização territorial da produção.

O projeto também tem por objetivo, identificar os elementos fundamentais do

processo de formação da concentração de empresas de malharia de Imbituva-PR.

Uma vez que os relatos da história de consolidação do ramo, comumente

reproduzidos por pesquisadores que se mergulham em pesquisar o setor, se diferem

das especificidades histórico-geográficas que foram recentemente identificadas no

ramo.

Por fim, o projeto traz à tona, o objetivo específico de compreender, como o projeto

de desenvolvimento regional do “APL de malhas de Imbituva-PR” insere-se na

dinâmica econômico-territorial relacionada à concentração territorial de malharias no

município. É válido frisar, que a pesquisa projetada tem por característica ser

desenvolvida sob um ponto de vista eminentemente geográfico, já que cabe a

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Geografia, contribuir com estudos que visem fomentar as políticas públicas, de

melhoramento nas relações de produção, beneficiando as mais diversas camadas e

classes sociais dentro do espaço geográfico.

Ressalta-se, que na busca de efetivar as propostas do projeto, a pesquisa utilizará

de critérios metodológicos, que permitam uma aproximação do pesquisador junto ao

objeto de estudo. Em vista disso, o pesquisador mergulhará no foco da pesquisa,

evitando se deixar levar por simplismos “achismos”, mas sim, por processos que o

permitam revelar a essência dos fenômenos, que se dão no bojo das relações,

ocorridas dentro da complexidade do APL de malhas em tricot de Imbituva.

REFLEXÃO ACERCA DO MÉTODO A SER UTILIZADO NO PROJETO PROPOSTO Mediante um processo reflexivo, tendo por base leituras e discussões com

professores, pesquisadores afins, chegou-se a optar pela escolha do método

hermenêutico, em consonância com o método qualitativo e quantitativo de pesquisa.

Contudo, faz-se primeiramente necessário salientar o que é um método.

Tendo por base os escritos de (ARAÚJO, 2000) compreende-se que a partir do

momento em que o agente humano, começou a tomar consciência do mundo

exterior e a questionar-se, interrogar-se a respeito dos fatos que permeavam a

natureza, o mesmo passa a ser impulsionado a "querer saber".

Essa inquietação, buscando adquirir conhecimentos levou-o ao desejo de "saber

fazer", ou seja, de descobrir os caminhos que pudessem conduzi-lo ao seu objetivo.

É neste contexto, de inquietação, que surge a necessidade do "método". Pensando

este termo etimologicamente, compreende-se que “método” é uma palavra que vem

do grego methodos (meta+hodós), que significa "caminho para se chegar a um fim".

Nas palavras de Oliveira (1997), compreende-se que, método é um conjunto de

processos pelos quais, se torna possível conhecer, uma determinada realidade,

produzir determinado objeto, ou desenvolver certos procedimentos, ou

comportamentos.

Entretanto, Lakatos e Marconi (2001), abordam o método, como um conjunto das

atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, admite

conseguir chegar ao objetivo.

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Para Leite (2008, p. 89) “O método é um caminho composto de várias fases a serem

vencidas para atingir um determinado objetivo.”. Portanto, tendo por base o autor

acima explicitado Leite (2008), é possível concluir que, a validade e a importância de

um método científico, dependem da boa adequação ao objetivo almejado, e sua

aplicação, a natureza do objetivo que está sendo pesquisado.

Enfim, pode-se dizer que, um método é um caminho traçado racionalmente e

cientificamente, visando chegar a um fim. Desta forma, primeiramente destacar-se-á

o método hermenêutico de pesquisa.

O pensar hermenêutico tendo por base Domingues (2004) passa a ser visto como a

arte de ler e interpretar textos abarcando a filologia clássica, a exegese bíblica e a

hermenêutica jurídica. Segundo Domingues (2004, p. 345) a hermenêutica nasce de:

(...) uma reflexão teórico-metodológica acerca da prática de interpretação dos textos sagrados, clássicos (literários) e jurídicos (leis), a hermenêutica até recentemente era considerada uma téchne (técnica ou arte), e, como tal, uma vez reunidas e fixadas as técnicas em um corpus de disciplinas passiveis de ser ensinadas e transmitidas, como uma disciplina auxiliar a serviço de magistrados, teólogos e eruditos.

A hermenêutica diz respeito a uma interpretação que se coloca entre o autor e o

leitor, a tarefa da hermenêutica é de mediar e de transmitir. Para Domingues (2004,

p. 346):

A palavra hermenêutica é uma substantivação do verbo grego hermeneuein, que em sua origem significa traduzir, interpretar, explicar e exprimir. Nessas quatro acepções hermeneuein tem o sentido de “trazer à compreensão”, “trazer à luz”, “decifrar o sentido”: a passagem obscura de um texto, a mensagem cifrada do oráculo, a intenção profunda do legislador ao formular a lei etc. dizendo respeito a um discurso que tem por objetivo um outro discurso e por objetivo compreendê-lo ou explicá-lo.

Compreende-se que a hermenêutica “hermeneuein”, está atrelado à figura de

Hermes, o tradutor da linguagem dos deuses, tornando-a acessível aos homens. O

deus Hermes vinculava-se a uma função de transmudação, isto é, transformava

aquilo que a compreensão humana não alcançava em algo que esta compreensão

pudesse alcançar. O primeiro homem a empregá-la como termo técnico foi o filósofo

Platão.

Pensando a origem da palavra hermenêutica surgida no mito grego do deus Hermes

explicita-se os escritos de Santos Lopes (2009, p. 116) em que:

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Hermes era um deus que transmitia as mensagens dos deuses para os mortais; dessa forma ele exercia dois papéis muito importantes, a saber: primeiro servia de intérprete dos deuses para os mortais e nessa interpretação ele assume o segundo aspecto importante, a inteligibilidade do que estava falando. A volta etimológica para compreender o conceito de hermenêutica não é apenas um exercício de curiosidade, mas, sobretudo, serve para aumentar o entendimento sobre ela.

De acordo com Weller (2007, p. 03):

Na busca de cientificidade para as ciências interpretativas o filósofo Wilhelm Dilthey publica no ano de 1900 um texto sobre o “Surgimento da Hermenêutica” no qual o autor estabelece uma distinção entre “explicar” (Erklären) e “compreender” (Verstehen) para as ciências humanas.

Na verdade tendo por base os escritos dessa pesquisadora Weller (2007), acerca do

método hermenêutico, compreende-se que, Dilthey passa a defender a necessidade

de pensar e estabelecer um método de pesquisa, que se diferisse aos comumente

utilizados nas ciências naturais.

Ainda tendo por base Weller (2007, p. 04), a:

(...) distinção realizada por Dilthey é retomada e aprimorada por Mannheim na elaboração de seu método documentário de interpretação como uma forma de análise das visões de mundo de uma determinada época e como uma metodologia centrada na análise dos fenômenos “culturais” e não dos fenômenos “naturais”.

Segundo Santos Lopes (2009) o mesmo ressalta que o método hermenêutico em

todos os seus estágios históricos, indo até os dias atuais, paulatinamente vai sendo

aprimorado, recebendo contribuições de diversos pensadores.

Compreende-se que o método hermenêutico de pesquisa, não se caracteriza por ser

apenas uma forma de interpretação de um texto bíblico, ou jurídico, muito pelo

contrário, a hermenêutica se apresenta como uma possibilidade de filosofia aplicada

às ciências humanas e possibilita o pesquisador, mergulhar no universo de análise,

procurando interpretar as teorias, os processos que se manifestam em um

determinado objeto de pesquisa.

Muitas vezes, o pesquisador cai em erros e acaba reproduzindo fatos, processos,

sem de fato, ter buscado a real interpretação, compreensão. No entanto, pautando-

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se na hermenêutica e apoiada em outras metodologias de pesquisas, o pesquisador,

pode ser encaminhado a trilhar um bom trabalho de pesquisa, resultando, em

contribuições para a comunidade em geral, revelando, compreendendo, as reais

faces de um processo.

Contemporaneamente, o conceito de hermenêutica possui uma caracterização mais

ampla e voltada à explicação das peculiaridades de trabalho no campo das ciências

humanas. A hermenêutica pode ser entendida então, como, “o estudo da

compreensão, é essencialmente a tarefa de compreender textos”. E precisamente

nesse sentido que se coloca a questão dos fundamentos dos processos de

interpretação enquanto compreensão como objeto de reflexão (SPAREMBERGER

2003).

Entretanto, é valido ressaltar que no atual momento histórico, muitos pesquisadores

vêm rompendo com o preconceito de desenvolverem pesquisas, pautadas em

apenas um método científico, mas sim, delineiam seus estudos combinando

métodos, que se apresentam dando suporte, resultando em uma boa pesquisa.

Neste sentido, o projeto desenvolvido, também terá o suporte do método qualitativo

e quantitativo de pesquisa. Por conseqüência, a pesquisa será desenvolvida,

levando em consideração a soma de metodologias, características dos três métodos

já ressaltados.

No entanto, ao pensar a pesquisa quantitativa e a pesquisa qualitativa como

correntes paradigmáticas que têm norteado pesquisas científicas, ressalta-se que

tais correntes se caracterizam por duas visões centrais que alicerçam as definições

metodológicas da pesquisa em ciências humanas nos últimos tempos.

Essas duas visões segundo Queiroz (2006, p. 88) são elas: “a visão

realista/objetivista (quantitativa) e a visão idealista/subjetivista (qualitativa).”. Diante

da problemática das diferenças metodológicas entre pesquisa científica em ciências

humanas e em ciências naturais, vários pensadores como Comte, Mill, Durkheim,

Dilthey, Rickert, Weber e Husserl, se lançaram a pensar gerando um profícuo

debate, já que diante do prestígio e consolidação metodológica das ciências físicas,

a grande questão a ser discutida era se a vida social humana podia ou devia ser

investigada por métodos das ciências exatas.

A partir de tal discussão e pensando as peculiaridades existentes nas ciências

sociais e humanas desenvolveu-se procedimentos metodológicos que contemplasse

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as especificidades dessas ciências. Desta forma as abordagens qualitativas e

quantitativas passam a ser adotadas nos trabalhos científicos de maneira intensa.

Sendo assim, ao pensar o método qualitativo, torna-se importante citar os escritos

de Leite (2008, p. 100), pois para ele:

(...) os métodos qualitativos são representados por trabalhos que não necessitam de ferramentas estatísticas. Os tipos de pesquisas qualitativas mais comuns são decorrentes de pesquisas teóricas, pesquisas exploratórias documentais e outras que possuam caráter de investigação lógica ou histórica.

Para Strauss (2008) o termo pesquisa “qualitativa” nos remete a pensar em qualquer

tipo de pesquisa que apresente resultados não obtidos através de procedimentos

estatísticos, ou de outros meios de quantificação. Para este autor, Strauss (2008, p.

23) a pesquisa qualitativa:

Pode se referir à pesquisa sobre a vida das pessoas, experiências vividas, comportamentos, emoções e sentimentos, e também à pesquisa sobre funcionamento organizacional, movimentos sociais, fenômenos culturais e interação entre nações. Alguns dados podem ser quantificados, como no caso do censo ou de informações históricas sobre pessoas ou objetos estudados, mas o grosso da análise é interpretativa.

Já para Liebscher (1998, apud DIAS 2000) o mesmo ressalta que:

Os métodos qualitativos são apropriados quando o fenômeno em estudo é complexo, de natureza social e não tende à quantificação. Normalmente, são usados quando o entendimento do contexto social e cultural é um elemento importante para a pesquisa. Para aprender métodos qualitativos é preciso aprender a observar, registrar e analisar interações reais entre pessoas, e entre pessoas e sistemas.

Uma pesquisa de análise qualitativa trabalha com valores, crenças, representações,

hábitos, atitudes e opiniões. Este tipo de investigação é indutivo e descritivo, na

medida em que o investigador desenvolve conceitos, ideias e entendimentos, a

partir, de padrões encontrados nos dados, em vez de recolher dados para

comprovar modelos, teorias ou verificar hipóteses.

Este tipo de investigação qualitativa contempla uma visão holística, na medida em

que as situações e os indivíduos são vistos como um todo e estudados numa base

histórica (MIRANDA 2008). Para Strauss (2008, p. 24):

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Basicamente, há três componentes principais na pesquisa qualitativa. Primeiro, há os dados, que podem vir de várias fontes, tais como entrevistas, observações, documentos, registros e filmes. Segundo, há os procedimentos, que os pesquisadores podem usar para interpretar e organizar os dados. Eles geralmente consistem de conceitualizar e reduzir os dados, elaborar categorias em termos de suas propriedades e dimensões, e relacioná-los por meio de uma série de declarações preposicionais. (...). Relatórios escritos e verbais são o terceiro componente. Eles podem ser apresentados como artigos em jornais científicos, em palestras (ex.: conferências) ou em livros.

Ao optar-se pela escolha do método qualitativo remeteu-se a Strauss (2008), pois

segundo as análises desse autor é pertinente dizer que os métodos qualitativos são

usados quando há necessidade de observar com o intuito de compreender detalhes

intrincados sobre fenômenos como sentimentos, processos de pensamento e

emoções.

Faz-se necessário evidenciar, no que concerne a pesquisa científica projetada

acerca dos processos que permeiam sobre o Arranjo Produtivo de malhas em tricot

de Imbituva-PR, que a mesma se validará, utilizando não apenas as metodologias

características dos métodos de pesquisa hermenêutico e qualitativo, mas também do

método quantitativo.

Visando desenvolver um bom trabalho de pesquisa, o projeto elaborado busca

romper com a primazia de modos de realizar pesquisas pautando-se em escolha ou

do método qualitativo ou do quantitativo. Sendo assim, a pesquisa projetada utilizará

da combinação de tais métodos, ou seja, a questão da escolha dos métodos não se

pauta na primazia de um sobre outro, mas sim, tal combinação visa resultar em

benefícios para melhor compreender o objeto de estudo.

Desta forma, elucida-se aqui Ruiz (2004), onde este autor salienta que a aplicação

do método qualitativo atrelado com o quantitativo, gera complementaridades que

acabam enriquecendo um trabalho científico.

Strauss (2008, p. 39) salienta que:

Muitos pesquisadores quantitativos tendem a descartar completamente estudos qualitativos alegando que não fornecem nenhum resultado válido – na verdade, alegando que são pouco melhores que relatos jornalísticos. Eles afirmam que pesquisadores qualitativos ignoram a amostragem representativa, com seus resultados baseados apenas em um único caso ou em poucos casos. (...). Igualmente obstinados são alguns pesquisadores qualitativos que rejeitam firmemente estatísticas e outros métodos quantitativos, alegando que geram informações superficiais ou completamente

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enganosas. Eles acreditam que, para entender valores culturais ou comportamento social é necessário entrevistar ou fazer observação de campo intensiva, sendo esses os únicos métodos de coleta de dados sensíveis o suficiente para capturar as nuanças da vida humana.

O autor acima citado, clarifica a questão da primazia que muitos pesquisadores

assumem, pautando-se em apenas um método de pesquisa, e isto muitas vezes,

gera problemas, interferindo nos resultados da pesquisa, pois, dependendo do

objeto de estudo, a adoção de método não levando em conta a complementação,

não possibilita resultados satisfatórios ao que se pretendeu estudar.

Para leite (2008), as divisões entre as pesquisas científicas qualitativas e

quantitativas são apenas teóricas, porque analisando na prática, toda a pesquisa

usa os dois tipos de métodos. Os métodos qualitativos são auxiliares dos

quantitativos e vice-versa.

Propondo-se utilizar o método quantitativo na pesquisa projetada, faz-se necessário

compreender as peculiaridades de tal método, desta forma traz-se a baila os escritos

de Leite (2008, p. 96) onde:

As pesquisas que aplicam métodos quantitativos, (...) são as que empregam a estatística e a matemática – os números e cálculos – como principal recurso para a análise das informações. Grande parte das pesquisas se relaciona com o método quantitativo. As pesquisas de campo utilizam em geral este método, assim como as pesquisas de mercado, as de opinião em campanhas políticas, pesquisas internas de controle de qualidade, controle de padrões e motivação. Experimentos e outros levantamentos quantitativos representam o conjunto de aplicações dos métodos quantitativos.

A investigação quantitativa caracteriza-se pela atuação, apresentação de dados,

indicadores e tendências observáveis. Este tipo de investigação mostra-se

geralmente apropriado quando existe a possibilidade de recolha de medidas

quantificáveis de variáveis e inferências, num dado objeto de pesquisa.

Para Ruiz (2004) a pesquisa qualitativa busca identificar a presença ou não de certo

atributo ou objeto no fenômeno sendo observado, enquanto a quantitativa mensura

tal atributo, medindo seu grau de presença ou atuação. Ainda de acordo com Ruiz

(2004, p. 41):

Enquanto a pesquisa qualitativa é mais interpretativa e subjetiva, dependendo do ponto de vista do pesquisador, a quantitativa é mais descritiva e objetiva. Mas é importante notar que o pesquisador tem

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de se mostrar o mais isento possível ao fenômeno nos dois tipos de abordagem.

CONCLUSÃO

Objetivando realizar a pesquisa projetada, planejou-se a seguinte metodologia: a

pesquisa será de cunho hermenêutico associada ao qualitativo e quantitativo.

Hermenêutica tendo em vista que será feita uma análise minuciosa, procurando

compreender como o conceito de APL foi transposto ao Brasil, já que a ideia de

APLs, são característicos de um modelo europeu de produção que foi adotado no

Brasil sob a forma de uma política de desenvolvimento regional e local. No entanto,

muitas experiências não têm corroborado ao sucesso que se tem nos países

europeus. Logo assim, propõem-se desvendar esta transposição de conceitos para

identificar se houve ou não distorções ao se transpor para o Brasil tais ideias.

Ressalta-se que a pesquisa terá também um cunho qualitativo. Isto porque será

feito pesquisas de campo procurando compreender as opiniões dos empresários de

malhas acerca do projeto APL implantado em Imbituva, se o mesmo está

satisfazendo as necessidades do setor ou não, assim como identificar as relações de

cooperação estabelecidas entre eles.

Também este tipo de pesquisa permitirá compreender se o projeto APL implantado

levou em consideração as especificidades culturais, os processos históricos

geográficos do local, dos empresários. Sendo assim, será necessário fazer o uso da

aplicação de questionário, pois este se caracteriza sendo um meio bastante utilizado

no sentido de coletar dados. A aplicação de um questionário de forma correta

permite ao pesquisador identificar com um melhor grau de exatidão as questões por

ele almejadas.

Para Leite 2008, p. 110 a elaboração de um questionário requer:

(...) a observância de normas de precisão, a fim de aumentar sua eficácia e validade. Em sua organização, devem-se levar em conta os tipos, a ordem, os grupos de perguntas, a formulação das mesmas e também tudo aquilo que se sabe por percepção, estereótipos, mecanismos de defesa, lideranças etc. depois de redigido, o questionário precisa ser testado antes de sua utilização definitiva. A análise de dados evidenciará possíveis falhas existentes. Verificadas as falhas,deve-se reformular o questionário, considerando, modificando, ampliando ou eliminando itens. O pré-teste pode ser aplicado mais de uma vez, tendo em vista o seu aprimoramento e o aumento de sua validez. O pré-teste serve

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também para verificar se o questionário apresenta três importantes elementos: a) Fidedignidade: qualquer pessoa que o aplique obterá sempre os mesmos resultados. b) Validade: os dados recolhidos são necessários à pesquisa. c) Operacionalidade: vocabulário acessível e significado claro.

A pesquisa projetada também utilizará de procedimentos quantitativos, serão

trabalhados dados de quantidade de peças de roupas em malhas produzidas, de

valores pagos em salários aos funcionários, de valores referentes a créditos de

fomento a processos inovativos dentro do setor, disponibilizados por programas

governamentais. Desta forma, espera-se que a pesquisa de cunho quantitativo

possibilite a compreensão se após a implantação do projeto APL o setor realmente

se desenvolveu, assim como, a região ao entorno.

Já do ponto de vista dos procedimentos técnicos, a pesquisa se revela com um

estudo de caso, pois para Silva e Menezes (2001, p.22) “Estudo de caso (...) envolve

o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que se permita

o seu amplo e detalhado conhecimento”.

Portanto, em um primeiro momento, o pesquisador fará um processo reflexivo,

buscando compreender o processo histórico-geográfico de implementação das

políticas públicas, na perspectiva de Arranjos Produtivos Locais, considerando a

concentração territorial de malharias em Imbituva-PR.

Para isto, o pesquisador fará um minucioso levantamento bibliográfico, junto a

autores que discutem os conceitos norteadores do problema de pesquisa, buscando

construir uma fundamentação teórico-metodológica condizente com a realidade

investigada. O mesmo processo metodológico acima descrito se dará em um

segundo momento, quando o pesquisador for refletir sobre a adoção do conceito de

APLs, na sustentação das políticas públicas de desenvolvimento regional e local.

Já no que tange ao processo de identificar os elementos fundamentais, do processo

de formação, da concentração de empresas de malharia de Imbituva-PR, o

pesquisador irá a campo e pautado no método hermenêutico com critérios também

qualitativos e quantitativos, o pesquisador realizará entrevistas. As entrevistas se

caracterizarão de forma descritivo-exploratória, pois o que se pretende é descrever e

compreender o fenômeno estudado junto aos fundadores do ramo e aos

empresários do APL de malhas em tricot imbituvense, assim como, com a

Imbitumalhas, instituição esta, responsável por mediar relações políticas,

econômicas e de cooperação entre o empresariado local.

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Já para compreender como o projeto de desenvolvimento regional do “APL de

malhas de Imbituva-PR”, insere-se na dinâmica econômico-territorial, relacionada à

concentração territorial de malharias no município, além do pesquisador ir a campo,

realizar entrevistas, observar, dialogar com as esferas do poder político municipal e

estadual, de Instituições de fomento como o Sebrae-PR, Instituto Euvaldo-Lodi/PR

(IEL/PR), Imbitumalhas. O pesquisador também fará análises de dados junto a sites

de instituições como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto

Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), entre outros.

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