anais vi semana de geografia de irati
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ANAIS DA VI SEMANA DE GEOGRAFIA DE IRATI CAMPUS DE IRATI
VOLUME 1 – NÚMERO 4 – ANO 2010
IRATI – PR 2010
ANAIS DA VI SEMANA DE GEOGRAFIA DE IRATI “O Ontem, o Hoje e o Amanhã: Algumas Reflexões Sobre o Espaço
Geográfico”
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE CAMPUS DE IRATI
Volume 1 – Número 4 – 2010
27 de setembro a 02 de outubro de 2010
Organizadores Profa. Andreza Rocha de Freitas
Prof. Emerson Rigoni Prof. Luiz Carlos Basso
Capa Bruno (2004)
Nota: A exatidão das informações, os conceitos e opiniões emitidos nos artigos e resumos são de exclusiva responsabilidade dos autores. É permitida a reprodução parcial ou total dessa obra, desde que citada a fonte.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE – UNICENTRO Campus Universitário de Irati
Setor de Ciências Agrárias e Ambientais – SEAA Departamento de Geografia – DEGEO – Fone (42) 3421-3230 PR 153 – Km7 – Bairro Riozinho – CEP: 84500-000 – Irati-PR
PATROCÍNIO
Cartuchos.com
Florença Papelaria
Gráfica do Garotinho
Auto Posto Rotta 400
APOIO
Projeto “Museu de Geociências (Irati)”
Projeto “A Memória das Práticas e Conhecimentos Tradicionais sobre o Uso Coletivo e a Preservação das Águas e Mananciais em Territórios
Faxinalenses”
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE CAMPUS DE IRATI
Reitor
Vitor Hugo Zanette
Vice-Reitor Aldo Nelson Bona
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
Mário Takao Inoue
Diretor do Campus de Irati Mario Umberto Menon
Diretora do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais
Joyce Jaqueline Caetano
Departamento de Geografia Chefe: Karla Rosário Brumes
Vice-chefe: Roberto França da Silva Júnior
Coordenação da Semana Luiz Carlos Basso Emerson Rigoni
Comissão Técnico-Científica Profa. Msc. Andreza Rocha de Freitas (UNICENTRO) Prof. Dr. Aparecido Ribeiro de Andrade (UNICENTRO) Prof. Mestrando Emerson Rigoni (UNICENTRO) Profa. Mestranda Ingrid Aparecida Gomes (UEPG) Profa. Mestranda Juliana Przybysc (UEPG) Profa. Karina Eugênia Fioravante (UEPG) Profa. Dra. Karla Rosário Brumes (UNICENTRO) Prof. Msc. Luiz Carlo Basso (UNICENTRO) Prof. Dr. Roberto França da Silva Júnior (UNICENTRO) Prof. Msc. Valdemir Antoneli (UNICENTRO) Profa. Dra. Wanda Terezinha Pacheco dos Santos (UNICENTRO) Prof. Doutorando Wilson Flávio Feltrim Roseghini (UFPR) Distribuição de Pareceristas Profa. Msc. Andreza Rocha de Freitas (UNICENTRO)
COMISSÃO ORGANIZADORA Alessandra Fernanda Bassani (Acadêmica) Profa. Msc. Andreza Rocha de Freitas (UNICENTRO) Prof. Dr. Aparecido Ribeiro de Andrade (UNICENTRO) Carla Caroline Holm (Estagiária do DEGEO/I) Prof. Msc. Daniel Luiz Stefenon (UNICENTRO) Prof. Mestrando Emerson Rigoni (UNICENTRO) Flaviana Zarpelon (Acadêmica) Gilmara Zakrzevski (Acadêmica) Profa. Dra. Karla Rosário Brumes (UNICENTRO) Kathusie Laysla de Souza (Acadêmica) Laís Camila de Oliveira (Acadêmica) Leocádia Maria Weretycky Dunice (Acadêmica) Prof. Msc. Luiz Carlo Basso (UNICENTRO) Marcelo de Barros (Acadêmico) Marcos Evandro Kovalski (Acadêmico) Maria Lourdes Iachechen (Acadêmica) Mariana Pereira (Acadêmica) Mariane Bonato (Acadêmica) Marlon Fábio Abreu Carvalho (Acadêmico) Miguel Angelo Basso (Acadêmico) Patrícia Kelte (Acadêmica) Regiane Schenemann (Acadêmica) Prof. Dr. Roberto França da Silva Júnior (UNICENTRO) Rubens Francisco Surek (Acadêmico) Sônia Vanessa Langaro (Acadêmica) Prof. Msc. Valdemir Antoneli (UNICENTRO) Vanessa dos Santos Pereira (Acadêmica) Profa. Dra. Wanda Terezinha Pacheco dos Santos (UNICENTRO) Willian Roberto da Silva (Acadêmico)
SUMÁRIO
PROGRAMAÇÃO DA VI SEMANA DE GEOGRAFIA DE IRATI ............................. 11 APRESENTAÇÃO .................................................................................................... 12 EIXO TEMÁTICO 1: ESPAÇO, SOCIEDADE, NATUREZA E ENSINO ANÁLISE DO USO DA TERRA E DA ARTIFICIALIZAÇÃO DO MEIO NATURAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DAS ANTAS Andreza Rocha de Freitas ......................................................................................... 15 MAPEAMENTO DA HEMEROBIA DO CENTRO POLITÉCNICO DA UFPR: UMA COMPARAÇÃO ENTRE O ANO DE 2002 E 2010 Carla Prichoa, Andreza Rocha de Freitas e Sandra Betineli Da Costa ..................... 29 PRODUÇÃO DE SEDIMENTOS NOS CARREADORES RURAIS SOBRE O SISTEMA DE FAXINAL MARMELEIRO DE CIMA, MUNICÍPIO DE REBOUÇAS – PR Dalton Renan Fleischer e Valdemir Antoneli ............................................................. 41 ELEMENTOS E CONTROLES MICROCLIMÁTICOS EM ÁREA DE MANANCIAL LOCALIZADA EM AMBIENTE RURAL DIVERSIFICADO Elias Trevisan e Aparecido Ribeiro de Andrade ........................................................ 42 EROSÃO DE SOLOS SOB O CULTIVO DO TABACO (NICOTINA TABACUN) EM UMA PEQUENA PROPRIEDADE NO MUNICÍPIO DE IRATI PARANÁ João Anésio Bednarz e Valdemir Antoneli ................................................................ 43 A IMPORTÂNCIA DO CULTIVO DO TABACO NO DISTRITO DE NOVA BOA VISTA MUNICÍPIO DE GUAMIRANGA-PR Laiane Penteado e Valdemir Antoneli ....................................................................... 44 MONTAGEM E FUNCIONAMENTO DAS FOSSAS SÉPTICAS BIODIGESTORAS, COMO ALTERNATIVA PARA O PROBLEMA DA FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO NA ÁREA RURAL DO MUNICÍPIO DE IRATI - PR Luciano Almeida De Sousa e Valdemir Antoneli ....................................................... 45 O ONTEM, O HOJE E O AMANHÃ: O MUSEU DE GEOCIÊNCIAS; UMA ALTERNATIVA EM EDUCAÇÃO Luiz Carlos Basso, Eneida Martins, Angela Guedes Moreira Lara, Adriane Corosque, Ana Maria Charnei, João Henrique de Almeida Cezário e Jeferson Machado Caetano ..................................................................................................................... 65 PRODUÇÃO DE SERRAPILHEIRA EM FLORESTAS DE FAXINAL: ESTUDO DE CASO DO FAXINAL PAPANDUVA DE BAIXO – PRUDENTÓPOLIS-PR Maricelli Perucelli e Valdemir Antoneli....................................................................... 67
MENSURAÇÃO DA PRODUÇÃO DE SEDIMENTOS ATRAVÉS DO CONTATO DIRETO DOS ANIMAIS COM OS RIOS NO FAXINAL MARMELEIRO DE CIMA REBOUÇAS- PR Marlon Fábio Abreu Carvalho, João Anésio Bednarz e Valdemir Antoneli ................ 68 ESPAÇO GEOGRÁFICO E PAISAGEM: CONTRIBUIÇÕES DE CONCEITOS DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA PARA PESQUISAS EM TURISMO Maycon Luiz Tchmolo e Nicolas Floriani ................................................................... 69 A INFLUÊNCIA DA VARIABILIDADE CLIMÁTICA (EVENTO ENOS) NA PRODUTIVIDADE DE SOJA NO MUNICÍPIO DE IRATI-PR Regiane Barteko e Aparecido Ribeiro de Andrade .................................................... 86 INFILTRAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO SOB TRÊS TIPOS DE USO DO SOLO NA FLORESTA NACIONAL DE IRATI (FLONA) Suellen Chemim de Almeida e Valdemir Antoneli ..................................................... 87 INTRODUÇÃO A PALEONTOLOGIA DO DEVONIANO: AS EXPERIÊNCIAS DE UM TRABALHO PRÁTICO NA REGIÃO DOS CAMPOS GERAIS DO PARANÁ, COMO FERRAMENTA ALTERNATIVA PARA ENSINOS DE BASE Thales Ravel Hetka Okonoski, Fernando Fernandes e Ian Navarro de Oliveira Silva ................................................................................................................................ 103 ANÁLISE DA DISPONIBILIDADE E VIABILIDADE HÍDRICA PARA O ABASTECIMENTO DA ÁREA URBANA NO MUNICÍPIO DE IRATI-PR Vinicius João Vienc, Susimara Souza e Aparecido Ribeiro de Andrade ................. 118 MONITORAMENTO DA DEPOSIÇÃO DE SERRAPILHEIRA EM TRÊS TIPOS DE USO DO SOLO NA FLONA DE IRATI-PR Viviane Moraes Francisquini Ulhoa e Valdemir Antoneli ......................................... 119 Eixo Temático 2: Espaço, urbano, cultura, representações e ensino
RELATOS DE UMA “PRÁTICA” DE OBSERVAÇÃO EDUCACIONAL EM GEOGRAFIA NO COLÉGIO ESTADUAL DE FAXINAL DOS FRANCOS – REBOUÇAS – PR (OU: CRÍTICAS DA PRÁTICA - UMA TENTATIVA DE PRÁXIS) Alessandra Fernanda Bassani e Almir Nabozny ..................................................... 121 REFLEXÕES ACERCA DO PLANEJAMENTO TURÍSTICO: O CASO DE IRATI/PR Carla Caroline Holm e Karla Rosário Brumes ......................................................... 135 UMA ANÁLISE GEOGRÁFICA DAS PRÁTICAS INTRACEMITERIAIS: O CASO DO CEMITÉRIO SÃO JOSAFAT NA CIDADE DE PRUDENTÓPOLIS-PR Ediane Iaciuk Alves e Roberto França da Silva Junior ............................................ 159 RESPONSABILIDADE SOCIAL, COMPETITIVIDADE E PSICOSFERA Eliselma Pereira e Roberto França da Silva Junior ................................................. 160
A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO E OS AGENTES FORMADORES: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A INFLUÊNCIA DA MADEIREIRA MADEPAR MADEIRAS LTDA EM INÁCIO MARTINS-PR Everton Luis Faustino Rodrigues e Emerson Rigoni ............................................... 174 FRAGMENTAÇÃO URBANA, (RE)PRODUÇÃO DA CIDADE E EVOLUÇÃO DA MOBILIDADE EM IRATI-PR: O EXEMPLO DO TRANSPORTE PÚBLICO Gilmar José Rutkovski e Roberto França da Silva Junior........................................ 175 GEOGRAFIA E LITERATURA: UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR PARA O ENSINO José Osvaldo Kozlinski e Karla Rosário Brumes ..................................................... 195 MOBILIDADE E ACESSIBILIDADE NO ESPAÇO URBANO DE IRATI Katya Elise Cicorum e Roberto França da Silva Junior ........................................... 196 DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS NO ESPAÇO URBANO DE IRATI-PR: OS CASOS DOS BAIRROS ALTO DA LAGOA E ALTO DA GLÓRIA Marina Bartiechen e Roberto França da Silva Junior .............................................. 197 NOTA SOBRE A MONITORIA REMUNERADA NA DISCIPLINA MÉTODOS DE PESQUISA EM GEOGRAFIA: AUXÍLIO PARA O TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Michele Serpe Fernandes e Karla Rosário Brumes ................................................ 198 REPRESENTAÇÕES INDÍGENAS NO BRASIL Rosenaldo de Carvalho e Oséias de Oliveira .......................................................... 199 FERNANDES PINHEIRO-PR: TREZE ANOS APÓS A EMANCIPAÇÃO Rosimeiri Rocha e Karla Rosário Brumes ............................................................... 209 PENSANDO GUARAPUAVA A LUZ DOS PLANOS NACIONAIS E ESTADUAIS DE DESENVOLVIMENTO E DA TEORIA PARA ESTUDOS DE CIDADES MÉDIAS Sandra Cristina Ferreira .......................................................................................... 210 Eixo Temático 3: Espaço agrário, economia, política e ensino
O CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO DAS EMBALAGENS DE AGROTÓXICOS E A LOGÍSTICA REVERSA Antonio Anselmo de Paula e Roberto França da Silva Junior ................................. 227 OS DISCURSOS, O PODER A REALIDADE: COMO SE FORMOU FERNANDES PINHEIRO? Elis Marina Ferreira de Jesus e Karla Rosário Brumes ........................................... 228 DADOS PRELIMINARES SOBRE O CONTEXTO HISTÓRICO POLÍTICO DO MUNICÍPIO DE IRATI-PR Emerson Rigoni ....................................................................................................... 229
A FORMAÇÃO DOS BLOCOS ECONÔMICOS: CONSIDERAÇÕES SOBRE A UNIÃO EUROPÉIA E O MERCOSUL Fátima Furmanowicz Brandalize ............................................................................. 230 OS MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO: UMA RESPOSTA À PRODUÇÃO CAPITALISTA Flaviana Zarpelon, Fátima F. Brandalize e Letícia Krol Santos .............................. 238 O TRANSPORTE INTERMUNICIPAL NA REGIÃO CENTRO-SUL DO PARANÁ: UM ENFOQUE A PARTIR DO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS NOS MUNICÍPIOS DE IRATI, SÃO MATEUS DO SUL E SÃO JOÃO DO TRIUNFO Gilmara Zakrzevski e Roberto França da Silva Júnior............................................. 250 SISTEMAS E TÉCNICAS DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO CENTRO-SUL DO PARANÁ Letícia Król Santos e Roberto França da Silva Junior ............................................. 251 BENEFÍCIOS DA REVALORIZAÇÃO DOS MATERIAIS RECICLÁVEIS Luis Roberto Taborda e Emerson Rigoni ................................................................ 252 A (RE)PRODUÇÃO E A VALORIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO IRATIENSE: A CIRCULAÇÃO NO ÂMAGO DOS FATORES QUE INFLUENCIAM ESSES PROCESSOS Maria Lourdes Iachechen e Roberto França da Silva Junior ................................... 253 AS FRAGILIDADES DO MERCOSUL E A CRISE NA ZONA DO EURO: UMA PERSPECTIVA ACADÊMICA DAS SINGULARIDADES DOS BLOCOS ECONÔMICOS Mariana Pereira ....................................................................................................... 254 PORTO DE PARANAGUÁ: SISTEMA DE ENGENHARIA PARA A COMPETITIVIDADE DA SOJA PARANAENSE Michele Serpe Fernandes e Roberto França da Silva Junior .................................. 262 O USO DO MÉTODO HERMENÊUTICO ASSOCIADO AO QUALITATIVO E QUANTITATIVO NO CASO DO ARRANJO PRODUTIVO DE MALHAS EM TRICOT DE IMBITUVA-PR Zaqueu Luiz Bobato e Luiz Alexandre Gonçalves Cunha ....................................... 263
PROGRAMAÇÃO DA VI SEMANA DE GEOGRAFIA DE IRATI “O Ontem, o Hoje e o Amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico”
Data Horário Atividades Início Término
27/0
9 Se
gund
a-fe
ira
08h00 17h00 Credenciamento Visita ao Museu de Geociências: exposição de Meliponídeos – abelhas sem ferrão
08h00 12h00
Mini-curso 01: “Sobre espaço, gênero e sexualidade: contribuições da geografia feminista ao conhecimento geográfico” Geógrafa Juliana Przybysc (UEPG) Geógrafa Karina Eugênia Fioravante (UEPG)
13h00 17h00 Mini-curso 08: “Territórios de identidade e a Política de desenvolvimento Territorial do MDA. A teoria e a Práxis no Território Centro-Sul do Paraná.” Geógrafa Msc. Heloisa Santos Molina Lopes (UNICAMP - SP) Bacharel em Comunicação Social Marcos Roberto Gregolin (FADESP)
19h00 23h00 Cerimônia de Abertura Apresentação artística – Peça teatral “A Tragédia De Hamlet, Príncipe Da Dinamarca (William Shakespeare)”
28/0
9
Terç
a-fe
ira
08h00 17h00
Mini-curso 02: “Abordagem geográfica na temática faxinal: discussões da cultura, identidade, Genesis, metodologias, ferramentas de pesquisa, ecossistema e prática do uso do solo” Professores: Fernando Fernandes (UNICENTRO); Jaqueline Bilek (UNICENTRO); Ilma Aparecida de Toledo (UNICENTRO), Silvana Aparecida Kowalski (UNICENTRO) Mini-curso 03: “Geotecnologias na Geografia: difusão e acesso” Geógrafa Ingrid Aparecida Gomes (UEPG)
19h00 23h00
Mesa redonda: “Quilombolas e Regularização Fundiária no Paraná e o Sistema Faxinais” Profª. Drª. Cicilian Luiza Löwen Sahr (UEPG) Prof. Dr .Jose Adilçon Campigoto (UNICENTRO) Profa Dra. Karla Rosário Brumes (UNICENTRO)
29/0
9 Q
uart
a-fe
ira 08h00 17h00
Atividade Solidária: “Sentindo a realidade dos excluídos: Asilo Santa Rita de Cássia, Orfanato São Valdomiro, Hemocentro de Irati” Profa Dra. Wanda Terezinha Pacheco dos Santos (UNICENTRO) Prof. Msc. Luiz Carlos Basso (UNICENTRO) Prof. Emerson Rigoni (UNICENTRO)
19h00 23h00 Mesa redonda: “Ser professor ou não: reflexões sobre a profissão e o ensino de Geografia” Prof. Msc Wilson Galvão (Assessor Pedagógico de Geografia - Gráfica e Editora Posigraf S/A) Prof Msc Daniel Stefenon (UNICENTRO) Profa Dra. Wanda Terezinha Pacheco dos Santos (UNICENTRO)
30/0
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uint
a-fe
ira
08h00 17h00 Apresentação de Painéis Prof. Dr. Aparecido Ribeiro De Andrade (UNICENTRO) Prof. Msc Valdemir Antoneli (UNICENTRO)
13h00 17h00
Mini-curso 04: “Nativas e exóticas – fitogeografia no campus de Irati” Profa Dra. Eneida Martins (UNICENTRO) Estagiária Gilmara Zakrzevski Mini-curso 05: “Valorização de resíduos – uma experiência em educação ambiental” Profa Esp. Angela Moreira Guedes de Lara (UNICENTRO) Estagiária Lais Camila de Oliveira
19h00 23h00
Espaço de diálogos – apresentações orais Prof. Dr. Aparecido Ribeiro de Andrade (UNICENTRO) Prof. Msc. Valdemir Antoneli (UNICENTRO) Profa. Dra. Wanda Terezinha Pacheco dos Santos (UNICENTRO) Prof Msc Daniel Stefenon (UNICENTRO)
01/1
0 Se
xta-
feira
08h00 17h00
Mini-curso 06: “Conhecendo os dinossauros e construindo seus modelos” Profa. Msc. Luiz Carlos Basso (UNICENTRO) Mini-curso 07: “Fotografia no contexto escolar: possibilidade de leitura do espaço” Profa Dra. Wanda Terezinha Pacheco dos Santos (UNICENTRO) Prof. Arno Bento Mussoi (PDE - UNICENTRO)
19h00 23h00 Mesa redonda: “o ontem, o hoje e o amanhã: reflexões sobre o aquecimento global” Prof. Msc. Carlos Bortoli (UNICENTRO) Prof. Dr. Elvio Pinto Bosseti (UEPG) Profa. Msc. Andreza Rocha de Freitas (UNICENTRO)
02/10 Sábado
Trabalho de Campo 01: Escarpa da Esperança e Prudentópolis Prof. Msc. Valdemir Antoneli Prof. Emerson Rigoni
APRESENTAÇÃO
A realização da VI Semana e Geografia de Irati “O ontem, o hoje e o amanhã: algumas reflexões sobre o espaço geográfico” possibilitou a discussão científica entre acadêmicos, professores de Geografia, profissionais de áreas afins, como História e Turismo, e de outras instituições de ensino superior. O evento possibilitou a disseminação do conhecimento geográfico por meio das pesquisas científicas desenvolvidas, através de seus resultados parciais ou finais. No total foram 120 inscritos e 42 trabalhos apresentados por meio de comunicação oral ou painel, entre resumos e trabalhos completos. Vale salientar que a realização desta semana de debates e discussões científicas é a concretização de um esforço coletivo entre professores, acadêmicos e convidados, cada qual cumprindo seu papel com igual dedicação. Os professores do DEGEO/I que dedicaram seu tempo dando idéias ou até mesmo ajudando no parecer dos trabalhos submetidos ao evento. Os acadêmicos do curso que se prontificaram a escrever seus trabalhos, ir à busca de patrocínio ou ajudar na organização para que tudo desse certo. Os convidados que vieram participar de mesas-redondas, ministrarem seus mini-cursos e que também contribuíram na avaliação de trabalhos. Os Anais da VI Semana de Geografia de Irati “O ontem, o hoje e o amanhã: algumas reflexões sobre o espaço geográfico” está dividido conforme o eixo temático de apresentação dos trabalhos, não havendo a separação entre resumos e trabalhos completos, sendo eles: EIXO TEMÁTICO 1: Espaço, sociedade, natureza e ensino; EIXO TEMÁTICO 2: Espaço, urbano, cultura, representações e ensino e EIXO TEMÁTICO 3: Espaço, agrário, economia, política e ensino.
Irati, outubro de 2010 Comissão Organizadora
Fabiane Soeli Langaro
''Não estando mais entre nós, temos suas profundas marcas e lembranças boas que deixou em nossas
vidas através da forma que agiu neste mundo representando uma infinidade de coisas boas e
inesquecíveis para quem a conheceu. É preciso que a saudade desenhe suas linhas perfeitas... O seu perfil
exato que foi marcado por infinita bondade, humildade, amizade, inteligência... Alguém que nunca
desistiu de seus sonhos e lutou por eles até o fim. A Geografia era sua paixão, a sua dedicação e empenho
eram totais, mas infelizmente partiu inesperadamente não podendo chegar ao fim de sua formação e o
que deixou para todos que a conheceram foi um enorme exemplo de acadêmica que esteve sempre
presente e prestativa.
Hoje a Fabiane está guardada por Deus... E viva em nossos corações!"
Estas são palavras de sua irmã Sonia Vanessa Langaro que ao seguir o exemplo e incentivos da Fabiane
escolheu cursar Geografia.
FREITAS, A. R. Análise do Uso da terra e da artificialização do meio natural da bacia hidrográfica do Rio das Antas
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
ANÁLISE DO USO DA TERRA E DA ARTIFICIALIZAÇÃO DO MEIO NATURAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DAS ANTAS
ANDREZA ROCHA DE FREITAS1
Resumo: O homem ao se apropriar do espaço gera transformações que devem ser acompanhadas e estudadas visando minimizar esses impactos. Para tanto as estratégias podem ser elaboradas por meio do levantamento do uso e cobertura da terra e da identificação das áreas que mais sofrem alterações em suas características naturais. Estudos desta natureza fazem parte do planejamento ambiental, pois oferecem informações necessárias ao desenvolvimento de estratégias e ações para amenizar os impactos causados pela interferência das atividades humanas. Sendo assim, é preciso definir unidades ambientais considerando suas características morfológicas que viabilizem o espaço da pesquisa, como, a bacia hidrográfica, por exemplo. A bacia hidrográfica em estudo é a do Rio das Antas, localizada nos municípios de Irati, Fernandes Pinheiro e Imbituva. O objetivo geral do presente trabalho é analisar a evolução do uso da terra e modificações do meio natural na bacia hidrográfica do Rio das Antas entre os anos de 2000 e 2009. Para tanto, foi necessário elaborar mapas de uso da terra para os dois anos que após a análise foram classificados como mapas de hemerobia para a identificação das áreas que mais sofreram influência das atividades humanas. Verificou-se que a classe de uso da terra que mais aumentou no período estudado foi a Área Urbanizada (11,37%). Por meio dos mapas de hemerobia, constatou-se que as áreas ahemeorobias, as mais naturais, são as predominantes na bacia, ocupando 43,84% e correspondem às áreas ocupadas por mata. Palavras-chave: Bacia Hidrográfica, Uso da terra, Rio das Antas, Hemerobia, Artificialização do meio
Introdução
A apropriação humana do espaço gera transformações que, muitas vezes, são
irreversíveis. Para que tais transformações causem o menor impacto possível são
necessárias estratégias que amenizem as alterações provocadas pelas atividades
humanas.
Estas alterações podem ser acompanhadas e identificadas por meio do
levantamento do uso da terra e da identificação das áreas que mais sofreram
modificações em suas características naturais.
Estudos desta natureza fazem parte do planejamento ambiental, pois oferecem
informações necessárias ao desenvolvimento de estratégias e ações para amenizar
1 Professora Mestre do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO/Irati, [email protected]
FREITAS, A. R. Análise do Uso da terra e da artificialização do meio natural da bacia hidrográfica do Rio das Antas
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
os impactos causados pela interferência antrópica. É um estudo que pode auxiliar na
delimitação de áreas a serem futuramente ocupadas ou recuperadas.
Portanto, há a necessidade de se estabelecer unidades ambientais a partir de suas
características morfológicas que viabilizem o espaço da pesquisa, como, por
exemplo, a bacia hidrográfica, que constitui um sistema natural delimitado no
espaço. Esta se apresenta como unidade de análise adequada em estudos
ambientais, pois, além de seus aspectos hidrológicos, podem ser analisadas sua
estrutura biofísica, a dinâmica de uso da terra e suas conseqüências ambientais.
A bacia hidrográfica em estudo é a do Rio das Antas localizada nos municípios de
Irati, Fernandes Pinheiro e Imbituva, no Estado do Paraná. Trata-se de uma bacia
onde ocorrem diferentes tipos de uso que têm influenciado significativamente a
dinâmica da área entre os anos de 2000 e 2009. Encontram-se na área da bacia
atividades agrícolas e urbanas que estão associadas às modificações na cobertura e
uso da terra.
Para a melhor identificação das áreas que mais sofreram a influência antrópica
foram elaboradas cartas enfatizando o grau de artificialização do meio através dos
mapas de uso e cobertura da terra para os anos de 2000 e 2009.
Portanto, o objetivo geral do presente trabalho é analisar a evolução do uso da terra
e modificações do meio natural na bacia hidrográfica do Rio das Antas entre os anos
de 2000 e 2009.
Alterações do meio – hemerobia Para estudar os efeitos causados pela ação humana sobre os diversos sistemas
biológicos, segundo Dueñas (2004), é necessário desenvolver um método
sistemático, comparativo e qualitativo, que permita estabelecer o efeito da
antropização sobre os diferentes elementos dos ecossistemas.
Surgem, assim, conceitos que servem como base para o acompanhamento das
evoluções e modificações causadas no uso da terra (Tabela 1). O conceito de
hemerobia é um deles. Este termo foi sugerido por Jalas (1953) que determina o
grau de alteração das paisagens, ou seja, o grau de artificialidade e naturalidade do
meio. Troppmair (1983) utilizou tal conceito na classificação dos ecossistemas e
geossistemas do Estado de São Paulo.
FREITAS, A. R. Análise do Uso da terra e da artificialização do meio natural da bacia hidrográfica do Rio das Antas
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
O termo hemerobia vem do grego hemeros (cultivado, domesticado) e foi introduzido
na ecologia por Jalas que propõe a seguinte classificação quanto ao grau de
hemerobia do meio:
Ahemeorobio – paisagens naturais ou de pequena interferência
antrópica, como mata tropical e mata galeria;
Oligohemeorobio – paisagens mais naturais do que artificiais, como
campos sujos utilizados para pecuária;
Mesohemeorobio – paisagens mais artificiais do que naturais, como
reflorestamento; e
Euhemeorobio – paisagens artificiais, como áreas de cultivo e área
urbanizada.
Estudos desta natureza, segundo Moletta, Nucci e Kröker (2006, p. 4970), fazem
parte do:
Planejamento da Paisagem, cujo objetivo principal é o de contribuir para o planejamento do espaço, procurando uma regulamentação dos usos do solo e dos recursos ambientais, segundo princípios da Ecologia, salvaguardando a capacidade dos ecossistemas e o potencial recreativo da paisagem, retirando-se o máximo proveito do que a vegetação pode fornecer para a melhoria da qualidade ambiental (MOLETTA, NUCCI e KRÖKER, 2006, p. 4970)
Tabela 1. Conceitos utilizados na determinação de artificialidade e naturalidade do meio Autor Ano Conceitos Classes JALAS 1953 Hemerobia: grau de
artificialidade e naturalidade do meio.
Ahemeorobio Oligohemeorobio Mesohemeorobio Euhemeorobio
SUKOPP 1972 Hemerobia: totalidade dos efeitos das ações humanas sobre a paisagem
Natural Quase-natural Semi(agri-)natural Agri-cultural Quase cultural Cultural
MONTEIRO 1978 “Derivação antropogênica”: alterações na paisagem causadas pelo homem
Transformações Positivas Transformações Negativas
HABER 1990 Classificação dos tipos de uso da terra conforme a diminuição da naturalidade e o aumento da artificialidade
Bio-ecossistemas Tecno-sistemas
FREITAS, A. R. Análise do Uso da terra e da artificialização do meio natural da bacia hidrográfica do Rio das Antas
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
HOUGH 1995 Grau de interferência humana na paisagem
Paisagem formal Paisagem natural
FÁVERO, NUCCI e
BIASI
2004 Hemerobia: avaliação das unidades de paisagem conforme elementos naturais e interferência antrópicas
A B C D E (A hemerobia aumenta conforme a ordem crescente das letras)
FREITAS (2007, p.37).
Para Sukopp (1972) hemerobia é a totalidade dos efeitos das ações humanas sobre
os ecossistemas e a classifica conforme seu grau de naturalidade e estado
hemerobiótico: natural (ahemerobiótico), quase-natural (oligohemerobiótico), semi
(agri-) natural (mesohemerobiótico), agri-cultural (euhemerobiótico), quase cultural
(polihemerobiótico) e cultural (metahemerobiótico). Esta classificação considera
mudanças causadas no solo e na vegetação.
Kröker, Nucci e Moletta (2005), classificam a paisagem em graus de hemerobia de
forma relativa comparando os diferentes usos e tipos de coberturas entre si. Os
autores optam em não utilizar os termos sugeridos por ser difícil pronunciá-los,
apesar de que todos procuram refletir a intensidade da ação humana na paisagem
natural.
As unidades de Paisagem, como resultados da conjunção de diferentes fatores
como a história geológica, a morfogênese do relevo, o clima em seu movimento, a
dinâmica biológica e a participação humana em sua evolução histórica
(BEROUTCHACHVILLI e BERTRAND, 1978), também podem ser avaliadas
conforme os elementos naturais e as interferências antrópicas concretizadas na
paisagem.
Fávero, Nucci e Biasi (2004), em trabalho realizado na Floresta Nacional de
Ipanema, Iperó-SP, identificaram cinco graus de hemerobia, por meio das unidades
de paisagem, sendo que o menor grau recebeu valor A e o maior valor E. Buch
(2007) segue as mesmas classificações e avalia os efeitos da ação antrópica sobre
a paisagem da mata ciliar ao longo do Médio Iguaçu através do mapa de hemerobia.
Outros autores adotam o conceito de hemerobia, no entanto muitas vezes sem fazer
referência direta ao termo. É o caso de Monteiro (1978) que trata das alterações na
paisagem causadas pelo homem através do termo “derivação antropogênica”. Para
o autor tais transformações podem ser positivas ou negativas. As derivações
FREITAS, A. R. Análise do Uso da terra e da artificialização do meio natural da bacia hidrográfica do Rio das Antas
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ocorrem quando o homem – parte integrante da natureza – é capaz de introduzir
circuitos regeneradores e auto-reguladores do sistema. A discriminação dos efeitos
negativos – naturais, sociais e sanitários vinculados aos processos, são básicos no
julgamento da efetividade econômica dos investimentos na proteção do ambiente. O
autor afirma que:
“a aspiração em compreender os graus de derivação dos sistemas naturais sob o impacto da tecnologia humana traz importantes implicações quanto às possibilidades das sociedades humanas em planejar seu próprio futuro” (MONTEIRO, 1978, p. 56).
Haber (1990) classifica os tipos de uso da terra conforme a diminuição da
naturalidade e o aumento da artificialidade. Ele divide os ecossistemas em dois
grupos: bio-ecossistemas e tecno-sistemas. Os bio-ecossistemas são divididos em:
ecossistemas naturais (sem influência humana direta e capaz de auto-regulação),
ecossistemas próximos de naturais (influenciado pelo ser humano, mas similar ao
anterior), ecossistemas seminaturais (resultantes do uso humano, com capacidade
limitada de auto-regulação) e ecossistema antropogênico (intencionalmente criado e
totalmente dependente do controle e manejo humano). Já os tecno-sistemas são
caracterizados pelo domínio de estruturas e processos técnicos, criados
intencionalmente pelo homem para atividades industriais, econômicas ou culturais.
Para se avaliar o grau de interferência humana na paisagem, Hough (1995) trata de
paisagem formal e natural. A paisagem formal apresenta pouca conexão com a
dinâmica dos valores naturais, requerendo muita energia e uso de tecnologia, com
um desenho padrão podendo ser encontrado em qualquer parte. A paisagem natural
é aquela que representa os processos naturais e sociais que, mesmo alterados,
estão presentes e atuam na cidade, como por exemplo, terrenos baldios
abandonados que necessitam de renovação urbana.
A interferência antrópica pode ser avaliada através de estudos que mostrem onde
estão as áreas mais degradadas e modificadas, principalmente por meio da análise
e representação têmporo-espacial de uso da terra.
Sendo assim, o conceito e as classes de hemerobia adotadas no presente trabalho
são as sugeridas por Jalas (1953) por ter sido o precursor da idéia e do termo
hemerobia, sendo que a etimologia das palavras adotadas na classificação facilita a
compreensão do que trata cada uma das classes.
FREITAS, A. R. Análise do Uso da terra e da artificialização do meio natural da bacia hidrográfica do Rio das Antas
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Metodologia As técnicas de geoprocessamento e sensoriamento remoto ampliaram a capacidade
do homem em obter informações sobre os recursos naturais em menor tempo,
colocando-se como uma ferramenta complementar agilizando trabalhos temáticos e
facilitando a manipulação de dados (FERNANDES NETO e ROBAINA, 2005).
A entrada, armazenamento, tratamento e saída de dados foram realizados através
do Software SPRING, na versão 5.1.5, elaborado pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais/Divisão de Processamento de Imagens (INPE/DPI, 1999).
Tendo como base as Cartas Topográficas, em meio digital, elaboradas pela Diretoria
de Serviços Geográficos (DSG) do Exército (1980), na escala 1:50.000, folhas
SG.22-X-C-I/4 (Irati) e SG.22-X-C-IV/2 (Rebouças), pelo método de digitalização em
tela foram retirados dados da drenagem estradas e rodovias. O perímetro da Bacia
do Rio das Antas foi interpretado e delimitado por meio das curvas de nível contidas
nas cartas topográficas.
Para a elaboração dos mapas de uso da terra utilizou-se as imagens CBERS de
2000 e 2009. A composição de bandas adotada no presente trabalho foi a R (3) G
(4) B (2) para que as áreas de vegetação obtivessem coloração verde se
diferenciando das áreas urbanizadas. O método adotado para a classificação das
imagens foi o da Classificação Supervisionada, através do algoritmo MaxVer. Para a
confirmação de dados obtidos através das classificações das imagens de satélite
foram realizados dois trabalhos de campo com emprego de GPS (Sistema de
Posicionamento Global) um no início e outro no fim da pesquisa.
As subclasses temáticas de uso da terra foram adaptadas do Manual Técnico de
Uso da Terra do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (IBGE, 2006).
Sendo assim, foram definidas as seguintes subclasses: área urbanizada, cultura
(incluindo culturas temporárias e permanentes), florestal, campestre e corpo d’água.
Além das subclasses sugeridas pelo IBGE foi adotada a reflorestamento.
A subclasse área urbanizada compreende áreas de uso intensivo estruturadas por
edificações e sistema viário, onde predominam as superfícies artificiais não-
agrícolas. Na classe cultura foram consideradas terras utilizadas para a produção de
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alimentos, fibras e outras commodities2 do agronegócio. A classe florestal áreas
ocupadas por formações arbóreas. A classe campestre corresponde às áreas com
formações não-arbóreas. Na classe corpo d’água continental foram considerados
corpos d’água naturais ou artificiais que não são de origem marinha, como rios,
canais, lagos e lagoas de água doce, represas e açudes.
Para levantar o grau de naturalidade/artificialidade existentes na bacia hidrográfica
do Rio das Antas utilizaram-se os cenários enfocando o uso da terra dos anos de
2000 e 2009.
Após a confecção dos cenários de uso da terra adotou-se o conceito e a
classificação de hemerobia de Jalas (1953) na elaboração das cartas de
artificialidade na bacia do rio Cará-Cará. Foram adotadas as classes: ahemeorobio –
paisagens naturais com pequena interferência humana; oligohemeorobio –
paisagens mais naturais do que artificiais; mesohemeorobio – paisagens mais
artificiais do que naturais; e euhemeorobio – paisagens artificiais. Resultados
Por meio das imagens do satélite CBERS foram elaborados dois cenários temporais
de uso da terra das bacias hidrográficas urbanas de Irati para os anos 2000 (figura
1) e 2009 (figura 2). Nos mapeamentos foram identificadas cinco classes de uso da
terra, sendo elas: área urbanizada, campestre, corpo d’água continental, cultura e
florestal (Tabela 2).
Tabela 2. Quantificação das classes de uso da terra
Classe 2000 2009 Var. 00/09 % Área (ha) % Área (ha) %
Área urbanizada 1.164,48 6,92 1.296,84 7,71 +11,37 Campestre 3.615,26 21,50 3.573,20 21,25 -1,16 Corpo d’água continental 7,04 0,04 7,04 0,04 0 Cultura 4.572,04 27,19 4.567,75 27,16 -0,09 Florestal 7.458,79 44,35 7.372,78 43,84 -1,15 Total 16.817,61 100 16.817,61 100
A classe área urbanizada compreende as áreas de uso intensivo estruturadas por
edificações e sistema viário onde estão presentes as superfícies artificiais não- 2 Artigos.
FREITAS, A. R. Análise do Uso da terra e da artificialização do meio natural da bacia hidrográfica do Rio das Antas
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agrícolas, na porção sul da bacia hidrográfica do Rio das Antas. Em 2000 as
atividades urbanas ocupavam 6,92% da área da bacia e em 2009 aumentou em
11,37%, totalizando 1.296,84ha. Esta classe foi a que mais aumento no período
estudado.
A Classe corpo d’água continental considera os corpos d’água naturais ou artificiais
que não são de origem marinha, como rios, canais, lagos e lagoas de água doce,
represas e açudes. Na bacia estudada esta classe ocupa 7,04% da área total e
corresponde ao Parque Aquático localizado na região noroeste do perímetro urbano.
Outra área ocupada por água pertence a Companhia de Saneamento do Paraná –
SANEPAR onde ocorre o tratamento da água que abastece a cidade.
A classe cultura considera terras utilizadas para a produção de alimentos, fibras e
outras commodities do agronegócio. Na bacia do Rio das Antas esta classe ocupava
em 2000 27,19% da área e em 2009 teve um decréscimo de 0,09%, totalizando em
27,16%. Estas áreas são predominantemente ocupadas por culturas de milho e soja.
A classe que mais ocupa bacia hidrográfica do Rio das Antas é a Florestal, sendo
mais significativa na porção norte/nordeste da área estudada. Esta classe
corresponde às áreas ocupadas por formações florestais. No entanto, foi a segunda
classe que mais reduziu (1,15%) entre 2000 e 2009. No primeiro período esta classe
ocupava 44,35% e em 2009 totalizou em 43,84% da área total. A redução das áreas
ocupadas por florestas diminuiu devido à supressão deste tipo de uso por atividades
urbanas e agrícolas existente na bacia.
A classe campestre, caracterizada por áreas com formações não-arbóreas, foi
classe que mais reduziu (1,16%) no período estudado, dando lugar à atividades
urbanas.
Como resultado dos mapas de artificialidade do meio obteve-se duas cartas de
hemerobia para a bacia hidrográfica do rio das Antas datadas de 2000 (Figura 3) e
2009 (Figura 4), que foram analisadas conforme o grau de interferência antrópica
existentes.
Foram identificadas e mapeadas quatro classes de hemerobia, sendo elas
ahemeorobio, oligohemeorobio, mesohemeorobio e euhemeorobio. A quantificação
de cada uma das classes pode ser observada na Tabela 3.
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Figura 1. Mapa de uso da terra na bacia do rio das Antas – 2000
Figura 2. Mapa de uso da terra na bacia do rio das Antas – 2009
FREITAS, A. R. Análise do Uso da terra e da artificialização do meio natural da bacia hidrográfica do Rio das Antas
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Figura 3. Carta de hemerobia da bacia do rio das Antas – 2000
Figura 4. Carta de hemerobia da bacia do rio das Antas – 2009
FREITAS, A. R. Análise do Uso da terra e da artificialização do meio natural da bacia hidrográfica do Rio das Antas
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Tabela 3. Quantificação das classes de hemerobia mapeadas na bacia do rio das Antas Classe 2000 2009 Var. 00/09
% Área (ha) % Área (ha) % Ahemeorobio 7.458,79 44,35 7.372,78 43,84 -1,15 Oligohemeorobio 3.615,26 21,50 3.573,20 21,25 -1,16 Mesohemeorobio 4.579,08 27,23 4.574,79 27,20 -0,09 Euhemeorobio 1.164,48 6,92 1.296,84 7,71 +11,37
Total 16.817,61 100 16.817,61 100 A classe ahemeorobio corresponde a remanescentes de Florestas Ombrófila Mista
em diferentes estágios sucessionais e áreas ocupadas por reflorestamento de pinus
(Pinnus spp.). As áreas ahemeorobias passaram a ser ocupadas por atividades
urbanas e de cultivo, representando um decréscimo de 1,15% da área da bacia,
sendo mais significativas na porção norte e nas margens dos rios.
A classe oligohemeorobio, representada por campos sujos utilizados na criação de
gado, também apresentou diminuição da área ocupada (1,16%), devido ao avanço
das atividades urbanas e de cultivo.
A classe mesohemeorobio é caracterizada em grande parte por cultivo de milho e
soja distribuídas por toda a área da bacia do Rio das Antas. Conforme a Tabela 3
pode ser constatado que esta classe diminuiu em 0,09% em relação à área da bacia.
Ao contrário das classes já citadas, a classe euhemeorobio representa as áreas
mais artificiais na bacia do rio Cará-Cará, ou seja, aquelas ocupadas por atividades
industriais e urbanas. A classe avançou 11,37% em relação a 2000.
As transformações ocorridas no uso da terra, que serviram de base na determinação
das classes de hemerobia, se deram devido às mudanças ocorridas no
planejamento territorial dos municípios localizados na bacia hidrográfica do Rio das
Antas.
Considerações Finais Os cenários de uso da terra possibilitaram observar a dinâmica do uso da terra na
bacia do rio das Antas, e foi possível constatar que entre 2000 e 2009, a classe que
mais aumentou foi a urbanizada (11,37%), como reflexo do aumento da população.
A classe florestal 1,15%, devido a mudanças no contexto econômico e produção
industrial, bem como a transferência da atividade para outras áreas. No entanto, as
classes campestre e florestal devem ser acompanhadas por caracterizarem a
FREITAS, A. R. Análise do Uso da terra e da artificialização do meio natural da bacia hidrográfica do Rio das Antas
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paisagem natural da bacia e estarem sendo suprimidas por atividades agrícolas e
urbanas.
Ao tratar do grau de artificialidade da bacia constatou-se que, no período estudado,
houve diminuição de 1,15% das áreas classificadas como ahemeorobio, ou seja,
classe que representa paisagens naturais ou de pequena interferência antrópica,
sendo essa a mais significante na bacia do Rio das Antas. A tendência destas áreas
mais naturais do que artificiais é continuar diminuindo, uma vez, que estão sendo
substituídas por atividades urbanas e de cultivo.
O uso do conceito de hemerobia, como significado de artificialidade e resultado das
ações humanas sobre o meio, serviu como base para identificar os graus de
naturalidade e artificialidade para a bacia hidrográfica do rio das Antas.
Para a realização do trabalho foi imprescindível o uso do SIG, pois é de grande valia
em estudos que analisam questões ambientais, e facilitam e agilizam a obtenção e
cruzamento de dados, trazendo resultados de uma forma mais rápida e segura.
O presente trabalho constitui-se em subsídio para estudos de planejamento
ambiental, bem como, pode fornecer informações a respeito da bacia do rio das
Antas para futuros trabalhos acadêmicos e projetos a serem realizados pelo órgão
público competente. Referências BEROUTCHACHVILLI, N.; BERTRAND G. Le géossystème ou système territoriel naturel. Révue Géographique des Pyrénées, et du Sud-Ouest, v. 49, n. 2, p. 167-180. BUCH, H. E. R. Matas ciliares e degradação da paisagem da área lindeira do Médio Iguaçu em relação à educação ambiental. 2007, 110f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2007. DSG/CODEPAR. Folha Topográfica de Irati. Rio de Janeiro: [s. n.], 1980. 1 mapa: SG.22-X-C-I-4. Escala 1:50.000; Lat. 25º 15’ – 25º 30’; Long. 50º 30’ – 50º 45’. Região Sul do Brasil. DSG/CODEPAR. Folha Topográfica de Rebouças. Rio de Janeiro: [s. n.], 1980. 1 mapa: SG.22-X-C-IV-4. Escala 1:50.000; Lat. 25º 30’ – 25º 45’; Long. 50º 30’ – 50º 45’. Região Sul do Brasil. DUEÑAS, W. A. M. Estudio integrado del grado de antropización (INRA) a escala del paisaje: propuesta metodológica y evaluación. IASCP, Colômbia, 2004.Disponível
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PRICHOA, C.; FREITAS, A. R. e COSTA, S. B. Mapeamento da hemerobia do Centro Politécnico da UFPR: Uma comparação entre o ano de 2002 e 2010
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MAPEAMENTO DA HEMEROBIA DO CENTRO POLITÉCNICO DA UFPR: UMA COMPARAÇÃO ENTRE O ANO DE 2002 E 2010
CARLA PRICHOA1
ANDREZA ROCHA DE FREITAS2 SANDRA BETINELI DA COSTA3
RESUMO No decorrer da história as transformações efetivadas pelas sociedades nas paisagens a partir do aperfeiçoamento de novas técnicas, de novos descobrimentos, inventos e do crescimento populacional desordenado, possibilitaram uma grande concentração de pessoas em uma determinada área, sobretudo nas paisagens urbanas, onde a transformação do espaço tornou-se inevitável, não assegurando a mínima qualidade ambiental e de vida. Buscar medidas que amenizem ou revertam os impactos das atividades antrópicas nas paisagens, sejam as urbanas ou rurais, compete às sociedades atuais sistematizar um processo eficaz de planejamento do espaço no sentido de buscar a melhoria da qualidade ambiental e, consequentemente a qualidade de vida. E neste sentido, o presente trabalho buscou construir a carta de hemerobia do Centro Politécnico da UFPR de 2010 para comparação com a carta de hemerobia de 2002 a fim aferir os indicadores de qualidade ambiental que poderão subsidiar o planejamento desta paisagem. Palavras-chave: Hemerobia, Centro Politécnico, Paisagem
Introdução Numa perspectiva geográfica, a história evolutiva humana pode ser vista como uma
progressiva apropriação e exploração da superfície terrestre pelos diferentes grupos
sociais e culturais, que imprimem na paisagem as características peculiares ao seu
modo de vida.
Observa-se, então, que a paisagem torna-se o reflexo e a marca impressa das
sociedades dos homens na natureza (BERTRAND & BERTRAND, 2007, p.263). E,
que, em virtude da tecnificação e do progresso econômico, o processo de ocupação
humana nos espaços geográficos vem alterando aceleradamente as paisagens. Os
resultados dessa produção são inquietantes. Alguns recursos essenciais se
1 Mestranda em Geografia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG 2 Professora Mestre do Departamento de Geografia de Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO/Irati, [email protected] 3 Mestre em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá – UEM
PRICHOA, C.; FREITAS, A. R. e COSTA, S. B. Mapeamento da hemerobia do Centro Politécnico da UFPR: Uma comparação entre o ano de 2002 e 2010
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degradam ou se esgotam; os grandes ciclos naturais estão ou parecem perturbados;
as paisagens familiares desaparecem para sempre (BERTRAND & BERTRAND,
2007, p. 83). A partir destes, intenta-se que há necessidade de um planejamento da
paisagem.
Assim, faz-se necessário dar aporte à noção de paisagem. Conceito este que vem
participando nas discussões de várias ciências e que foi e ainda é utilizado por meio
dos mais diversos olhares e sentido. Considerada, como um dos conceitos-chave
mais antigos da ciência geográfica pode ser classificado como “de uso mais
generalizado e, talvez se coloque entre aqueles sobre cujo significado seja mais
difícil de alcançar um consenso” até porque, cada nação, cada pessoa possui o seu
entendimento próprio ou, melhor, uma noção própria do que é paisagem (COSTA:
2009, p. 26 apud AMORIM FILHO, 1998, p. 123).
Em relação a este conceito, Costa (2009, p.26 apud PASSOS, 2007) afirma que
cada um de nós tem uma imagem associada à paisagem e a define através de suas
próprias referências. Ela é uma forma espacial do presente, porém testemunhos do
passado ainda persistem ou não. Revelando, um dinamismo diacrônico, confirmando
a evolução estrutural do processo espacial, demonstrado por meio de fases que
poderão ser de estabilidade, de reformulação parcial ou de completa remodelação,
engendrando novos espaços (COSTA, 2009, p.26 apud MARTINELLI, 2001).
Para G. e Claude Bertrand (2007, p.113) a paisagem não deve ser considerada
como uma simples adição de elementos geográficos disparatados. Ela é numa
determinada porção do espaço, homogênea, instável, entre elementos abióticos
(rocha, água, ar), elementos bióticos (vegetais, animais) e elementos antrópicos
(impactos da sociedade) que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da
paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução. Não se tratando
de uma adição apenas de elementos, mas de uma interdependência, sujeita também
a noção do tempo.
E, nesta evolução, equivale considerar as variações espaciais, de massas, de
energias e de suas combinações, junto às variações do tempo, pois, compreender
como estão estruturados os componentes da paisagem, como ele funciona, depende
de certo equilíbrio em que ela se encontra no momento em que foi realizada a
observação (COSTA, 2009, p.31).
PRICHOA, C.; FREITAS, A. R. e COSTA, S. B. Mapeamento da hemerobia do Centro Politécnico da UFPR: Uma comparação entre o ano de 2002 e 2010
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A paisagem então é o que vemos diante de nós. É uma realidade visível. É uma
visão de conjunto percebida a partir do espaço circundante. Não tem, assim, uma
existência própria, em si. Ela existe a partir do sujeito que a aprende: cada pessoa a
vê diferentemente da outra, não só em função do direcionamento de sua
observação, como também em termos de seus interesses individuais (COSTA, 2009,
p.27 apud MARTINELLI, 2001; BERTRAND & BERTRAND, 2007).
O que, a partir da afirmação de Monteiro apud Nucci (1996, p.9) equivale entender a
paisagem como uma entidade delimitada segundo um nível de resolução do
pesquisador, a partir dos objetivos centrais da análise, de qualquer modo sempre
resultando de uma interação dinâmica e, portanto, instável dos elementos de
suporte, de forma e cobertura (...), expressa em parte delimitáveis infinitamente, mas
individualizadas através das relações entre elas que organiza um todo Complexo
(sistema), verdadeiro conjunto solidário em perpétua mutação.
A análise das várias definições e evolução do conceito de paisagem possibilita a
compreensão de que hoje, a partir da afirmação de G. e Claude Bertrand (2007,
p.256), o termo paisagem é uma palavra reencontrada que possui relação direta
com as questões de identidade cultural, do meio ambiente e das transformações dos
territórios, em resumo, da qualidade ambiental e de vida. Isto porque,
a noção do conceito de paisagem remonta as correntes ambientalistas, que invadiram as ciências por meio de uma escala temporal e espacial, de uma mais complexa e muito anterior a chamada “crise ecológica. E hoje, ela explodiu tornando-se um dos termos mais banais da gestão do meio ambiente e da transformação dos territórios, sendo utilizada em todo o contexto social, desde os discursos e desafios ambientais, políticos, científicos, conquistando a linguagem comum e de uso interdisciplinar, descrevendo a emergência colocada pela sociedade de consumo: a conservação e preservação das paisagens. (COSTA, 2009, p. 28)
Desta forma, as alterações antrópicas sobre o meio, refletidas de forma ordenada e
desordenada têm (e vem) modificando as paisagens fazendo com que os elementos
naturais sejam cada vez mais raros e que urge a necessidade de planejamento das
paisagens. Um dos exemplos atualmente são as paisagens urbanas, que vem
demonstrando inúmeras formas de degradação da natureza, provocada
principalmente pelo uso e ocupação do espaço de maneira aleatória e
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inconseqüente, em uma quase totalidade de planejamento adequado que vise à
preservação/conservação do meio. A paisagem urbana muitas vezes mostra-se
artificializada, onde a natureza apresenta-se degradada, com uma desordenada
ocupação do solo, uma deficiência de saneamento básico, uma carência de
habitação adequada, falta de espaços verdes, entre outros.
Buscar alternativas que visem diminuir ou evitar os impactos das “organizações” das
diferentes sociedades culturais sobre as paisagens (urbanas e rurais) é uma tarefa
que compete às sociedades atuais em sistematizar um processo eficaz de
planejamento do espaço, no sentido de subsidiar a melhoria da qualidade ambiental
e, conseqüentemente a qualidade de vida.
Nesse sentido, o planejamento da paisagem deve fixar-se no entendimento das
questões ambientais, com bases na concepção do desenvolvimento sustentável. O
que será o subsídio para o planejamento urbano. Assim, o planejamento da
paisagem é considerado
(...) uma contribuição ecológica e de design para o planejamento do espaço, onde se procura uma regulamentação dos usos do solo e dos recursos ambientais, salvaguardando a capacidade dos ecossistemas e o potencial recreativo da paisagem, retirando o máximo proveito do que a vegetação pode oferecer para a melhoria da qualidade ambiental. (NUCCI, 1996, p.2)
Reitera-se que, quando se tenta avaliar e acompanhar as modificações causadas no
uso e cobertura da terra, surgem conceitos que servem de base para os estudos
desta natureza (FREITAS, 2008, p. 63-69). Um dos conceitos evidenciados pela
autora referenciada foi o de Hemerobia.
De acordo com Freitas (2008, p. 63-69), o termo hemerobia vem do grego hemeros
(cultivado, domesticado) e foi introduzido na ecologia por Jalas que propõe a
seguinte classificação quanto ao grau de hemerobia do meio:
Ahemeorobio – paisagens naturais ou de pequena interferência
antrópica, com mata tropical e mata de galeria;
Oligohemeorobio – paisagens mais naturais do que artificiais, como
campos sujos utilizados para pecuária;
Mesohemeorobio – paisagens mais artificiais do que naturais, como
reflorestamento; e
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Euhemeorobio – paisagens artificiais, com áreas de cultivo e área
urbanizada.
É notório ressaltar que, os estudos desta natureza possibilitam a classificação da
paisagem e a comparação dos diferentes usos e tipos de cobertura entre si, bem
como são os elementos que irão propiciar o planejamento da paisagem. Porém,
para Freitas (2008, p.63-69) Moletta et al (2006) optaram em não utilizar estes
termos sugeridos por ser difícil pronunciá-los, apesar de que todos procuram
subsidiar a reflexão quanto à intensidade da ação humana na paisagem natural.
Enquanto que, para Monteiro (1978) as alterações da paisagem pelo homem são
compreendidas a partir da “derivação antropogênica” e não pelo termo. Para o autor
tais transformações podem ser positivas ou negativas. Assim,
“a aspiração em compreender os graus de derivação dos sistemas naturais sob o impacto da tecnologia humana traz importantes implicações quanto às possibilidades das sociedades humanas em planejar seu próprio futuro”. (MONTEIRO, 1978, p. 56)
No trabalho realizado por Fávero et al (2004) na Floresta Nacional de Ipanema,
Iperó-SP, identificou-se cinco graus de hemerobia, por meio das unidades de
paisagem, sendo que o menor grau passa a ser compreendido pelo valor A e o
maior grau pelo valor E.
Outra classificação dos tipos de uso da terra é sugerida por Haber (1990) conforme
a diminuição da naturalidade e o aumento da artificialidade, onde o autor divide os
ecossistemas em dois grupos:
Bio-ecossistemas, que são divididos em ecossistemas naturais (sem
influência humana direta e capaz de auto-regulação), ecossistemas próximo
de naturais (influenciado pelo ser humano, mas similar ao anterior),
ecossistemas seminaturais (resultantes do uso humano, com capacidade
limitada de auto-regulação) e ecossistemas antropogênicos (intencionalmente
criado e totalmente dependente do controle e manejo humano).
Tecno-sistemas, que são caracterizados pelo domínio de estruturas e
processos técnicos, criados intencionalmente pelo homem para atividades
industriais, econômicas e culturais.
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Hough (1995) trata de paisagem formal e natural. A paisagem formal apresenta
pouca conexão com a dinâmica dos valores naturais, ou seja, requer mais energia e
uso de tecnologia. A paisagem natural representa processos naturais e sociais que,
mesmo alterados, estão presentes e atuam no ambiente urbanizado.
Sendo assim, conforme Beroutchachvilli e Bertrand (1978) as Unidades de
Paisagens, como resultados da conjunção de diferentes fatores como a histeria
geológica, a morfogênese do relevo, o clima em seu movimento, a dinâmica
biológica e a participação humana em sua evolução histórica, também podem ser
avaliadas conforme os elementos naturais e as interferências antrópicas
concretizadas na paisagem.
Portanto, a interferência antrópica sobre a paisagem pode ser avaliada através de
estudos que mostrem onde estão às áreas mais degradadas e modificadas,
principalmente por meio da análise e da representação têmporo-espacial do uso da
terra (FREITAS, 2008, p.63-69).
METODOLOGIA
Para identificar os graus de hemerobia do Centro Politécnico da UFPR foi elaborado
o mapa de uso da terra através da fotointerpretação da imagem do Google Earth
datada de 2009, sendo esta atualizada em campo.
A realização do mapeamento ocorreu por meio da organização de um banco de
dados em ambiente SIG. O Software utilizado para a entrada, armazenamento,
tratamento e saída dos dados foi o SPRING 5.1.5, do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais/Divisão de Processamento de Imagens (INPE/DPI).
No mapeamento do uso da terra foram adotadas as seguintes classes: área de
mata, plantas ruderais, acessos, áreas edificadas e áreas de atividades esportivas.
A partir da elaboração do mapa de uso da terra de 2010 foi possível a confecção da
carta de hemerobia do Centro Politécnico da UFPR, onde foi possível identificar as
alterações na paisagem causadas pela interferência humana.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No mapeamento do uso da terra do Centro Politécnico da UFPR (Figura 1) foi
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possível identificar cinco classes de uso (Tabela 1).
Tabela 1. Classes de Uso da terra
Classes de uso Área (ha) % Acessos 17,42 28,40 Área de Mata 6,99 11,39 Áreas Edificadas 8,91 14,53 Áreas de Atividades Esportivas 3,91 6,37 Plantas Ruderais 24,11 39,31 Total 61,34 100
Na classe área de mata considerou-se a vegetação com porte arbóreo, em qualquer
estágio sucessional, englobando tanto vegetação nativa quanto florestada. As áreas
de mata ocupam 6,99ha (11,39%) da área do Centro Politécnico e são
representadas por dois fragmentos localizados na porção Norte e Sudeste do
Campus.
A classe plantas ruderais compreende áreas com vegetação herbácea, contendo
indivíduos arbóreos ou não. Esta classe ocupa 24,11ha (39,31%) correspondendo à
classe mais encontrada no perímetro do Centro Politécnico. São as áreas que
passam por maior transformação devido à expansão das áreas edificadas.
A classe acessos corresponde às áreas pavimentadas ou não que dão acesso aos
prédios ou áreas edificadas. Ocupam 17,42ha (28,40%) da área do Campus.
A classe áreas edificadas correspondem às áreas ocupadas por edificações onde
estão localizadas as salas de aula, laboratórios e setores administrativos do Centro
Politécnico, representando 8,91ha (14,53%) da área estudada.
A classe correspondente às áreas de atividades esportivas representa os espaços
onde são desenvolvidas atividades esportivas, como as quadras e campos do
Centro de Educação Física. Essa classe de uso é a menos representativa, ocupando
3,91ha (6,37%) da área do Centro Politécnico.
Após a elaboração e quantificação das classes de uso da terra do Centro Politécnico
da UFPR foi possível a confecção da Carta de Hemerobia de 2010. Nesta carta
(Figura 2) puderam ser identificadas e quantificadas seis classes (Tabela 2)
representando o grau de alterações ocorridas na paisagem.
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Figura 1. Carta de Uso da terra
Tabela 2. Classes de Hemerobia Classes de Hemerobia Área (ha) % Vegetação Primitiva Remanescente 6,99 11,39 Espaços Livres 28,02 45,68 Área com Superfície não Pavimentada 3,26 5,32 Superfícies Pavimentadas 14,16 23,08 Espaços Edificados – 1, 2 ou 3 pavimentos 8,42 13,73 Espaços Edificados – 4 pavimentos ou mais 0,49 0,80 Total 61,34 100
A classe Vegetação Primitiva Remanescente representa as áreas ocupadas por
mata de Araucária. Estas áreas apresentam um grau de hemerobia muito baixo ou
quase nulo, pois suas características são iguais e/ou próximas às características da
paisagem original da área estudada (Figura 3a). Esta classe é a terceira que menos
ocupa área no Centro Politécnico, correspondendo a 6,99ha (11,39%).
Os Espaços Livres são as áreas com grau de hemerobia um pouco mais significativo
que às da Vegetação Primitiva Remanescente (Figura 3b). São áreas ocupadas por
plantas ruderais com ou sem arborização. Neste caso, essa unidade da paisagem é
considerada mais natural do que artificial. No entanto, são essas áreas que podem
ser as mais alteradas devido ao aumento das áreas edificadas no Centro
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Politécnico. Atualmente, elas ocupam 28,02ha (45,68%), sendo as mais expressivas
das classes de hemerobia.
Figura 2. Carta de Hemerobia
A classe que representa as áreas cobertas por areia, pedregulhos ou solo exposto é
denominada Áreas com Superfície Não Pavimentada (Figura 3c). Estas áreas
apresentam um grau de hemerobia mais próximo do artificial do que do natural, pois
estão em constante modificação e podem também ser ocupadas por edificações
dentro do Campus. Esta classe ocupa 3,26ha (5,32%).
As Superfícies Pavimentadas (Figura 3d) ocupam 14,16ha (23,08%) da área do
Centro Politécnico. Nesta classe a hemerobia torna-se mais significativa do que nas
classes anteriormente citadas. A superfície se torna pavimentada modificando as
características físicas originais do solo.
As classes com grau de hemerobia alto são Espaços Edificados – 1, 2 ou 3
pavimentos (Figura 3e) e Espaços Edificados – 4 pavimentos ou mais (Figura 3f).
Nestas classes encontramos os ambientais onde as alterações são mais
significativas, pois entram nessas classes as edificações onde ocorre um gasto
maior de energia para que esses ambientes sejam mantidos. Foram divididos
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conforme o número de pavimentos, pois quanto mais pavimentos tiverem, maior será
a alteração antrópica sobre o ambiente próximo a estas edificações. As alterações
podem ser observadas quanto a impermeabilização do solo e a diminuição da
incidência solar em áreas próximas à essas edificações.
Figura 3. Unidades de Paisagem: a) Área de mata (Vegetação Primitiva Remanescente); b) Espaços Livres e ao fundo construção de novo bloco; c) Estacionamento de Professores e Funcionários (Área com Superfície não Pavimentada); d) Superfícies Pavimentadas; e) Centro de Hidráulica e Hidrologia
Prof. Parigot de Souza (Espaços Edificados com 1, 2 ou 3 Pavimentos); f) Laboratório de Farmacologia em Construção (Espaços Edificados com 4 pavimentos ou mais)
A principal causa das transformações na paisagem do Centro Politécnico é a
construção de novos blocos e edificações. A classe que mais passa por alterações,
nesse caso, são as de Espaços Livres, ocupadas por plantas ruderais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatou-se com o presente trabalho que a classe de hemerobia que mais ocupa
área no Centro Politécnico da UFPR é a classe Espaços Livres, com 28,02ha
(45,68%), compreendendo as áreas ocupadas por plantas ruderais com ou sem
arborização.
A classe com maior grau de hemerobia, Espaços Edificados – 4 pavimentos ou mais
é a que menos ocupa área, totalizando 0,49ha (0,80%), o que pode ser considerado
um ponto positivo. No entanto, essa classe está aumentando com a construção de
dois novos blocos com mais de quatro pavimentos.
f
b c
d e
a
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Essas alterações ocorridas na paisagem e o aumento da classe com maior grau de
hemerobia estão ocorrendo devido à expansão da universidade e à necessidade da
construção de novos espaços físicos para salas de aulas e laboratórios.
O conceito de hemerobia, como significado de artificialidade e resultado das ações
humanas sobre o meio, serviram de base na identificação dos graus de naturalidade
e artificialidade do Centro Politécnico da UFPR. O presente estudo, ainda, pode
auxiliar no planejamento e na gestão ambiental do Campus.
REFERÊNCIAS BEROUTCHACHVILLI, N., BERTRAND, G. Le géossystème ou système territoriel naturel. Révue Géographique des Pyrénées, et du Sud-Quest, v.49, n.2. p. 167-180. BERTRAND, G. C. Uma Geografia Transversal – e de travessias (O meio ambiente através dos territórios e das temporalidades). Org. Messias Modesto Passos. Maringá: Massoni, 2007, 332p. COSTA, S. B. As transformações históricas e a dinâmica atual da bacia hidrográfica do córrego água da Marilena – Marilena/Paraná no período de 1970 – 2007. Dissertação de Mestrado. UEM, Maringá, 210p. FÁVERO, O. A., NUCCI, J. C., DE BIASI, M.. Hemerobia das Unidades de Paisagem da Floresta Nacional de Ipanema Iperó-SP. In: CONGRESSO NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 4., 2004, Curitiba. Anais..., v. 1. Curitiba: Fundação O Boticário de proteção à Natureza/Rede Nacional Pró Unidades de Conservação, 2004. p. 550-559. FREITAS, A. R., A Repercussão da Legislação na dinâmica do uso da terra na bacia do rio Cará-Cará, Ponta Grossa-PR no período de 1980 à 2007. Ponta Grossa, UEPG, 2008. (Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós Graduação em Gestão do Território da Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR). FREITAS, A. R. de. Classificação Hemeróbica das Unidades de Paisagem da Bacia Hidrográfica do Rio Cará-Cará, Ponta Grossa – Pr. Revista Cesumar, v. 10, n. 01, p.63-69. Jan/Jun. 2008 HABER, W. Using Landscape Ecology in Planning and Management. In: ZONNEVELD, I. S., FORMAN, R. T. T. (Eds) Changing Landscape: an ecological perspective. New York: Springer-Verlag, 1990.
PRICHOA, C.; FREITAS, A. R. e COSTA, S. B. Mapeamento da hemerobia do Centro Politécnico da UFPR: Uma comparação entre o ano de 2002 e 2010
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HOUGH, M. Naturaleza y Ciudad. Planificación Urbana y procesos ecológicos. Ed. Gustavo Gili, Barcelona, 1995. JALAS, J. Hemerokorit já hemerobit. Luonnon Tutkija, 1953, 57, p. 12-16. KROKER, R., NUCCI, J.C., MOLETTA, I. M. O conceito de hemerobia aplicado ao planejamento das paisagens urbanizadas. In INTERNATIONAL CONGRESS ON ENVIROMENTAL PLANNING AND MANAGEMENT – ENVIROMENTAL CHALLENGES OF URBANIZATION , Brasília, Anais…, 2005. MATEO RODRIGUEZ, J. M., Geografia de los paisajes – primeira parte paisajes naturales. Habana: Universidade de Habana, 2000, p.193. MOLETTA, I. M., NUCCI, J.C., KROKER, R. Carta de hemerobia de uma área de extração de areia no bairro do Umbará, Curitiba/PR/Brasil. In SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA, 11, São Paulo, Anais..., 2005, CD-ROM. MONTEIRO, C.A.F. Derivações antropogênicas nos sistemas terrestres no Brasil e alterações climáticas. In: Simpósio sobre comunidade vegetal como unidade biológica, turística e econômica, Anais..., São Paulo: ACIESP, nº15, 1978, p.43-78. MONTEIRO, C.A.F. Geossistemas. A história de uma procura. São Paulo: Contexto, 2000, 127p. NAVEH, Z.; LIEBERMAN, A.S. Landscape Ecology. Theory and Application. New York:Springer-Verlag, 1984, 105p.
FLEISCHER, D. R.; ANTONELI, V. Produção de sedimentos nos carreadores rurais sobre o sistema de Faxinal Marmeleiro de Cima,
Município de Rebouças – PR
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PRODUÇÃO DE SEDIMENTOS NOS CARREADORES RURAIS SOBRE O SISTEMA DE FAXINAL MARMELEIRO DE CIMA, MUNICÍPIO DE
REBOUÇAS – PR
DALTON RENAN FLEISCHER1 VALDEMIR ANTONELI2
Resumo: Esta pesquisa teve como objetivo avaliar a produção de sedimentos
oriunda dos caminhos preferências dos animais no Faxinal Marmeleiro de Cima,
Município de Rebouças, Paraná. O sistema de Faxinal é um sistema
agrosilvopastoril característico da Região Centro-Sul do Estado do Paraná, com
criação extensiva de animais em áreas comuns, havendo um fluxo contínuo de
animais neste sistema, onde são criados soltos (sem restrições de propriedades).
Essa concentração de animais sob a área de Faxinal exerce uma certa pressão
sobre os recursos naturais existentes, promovendo certo desequilíbrio das
condições naturais. Por não haver restrições de áreas sobre o sistema de Faxinal,
há um contato direto dos animais com os corpos hídricos, eliminando a vegetação
riparia e promovendo caminhos preferências nas margens dos rios além de
carreadores sobre as pastagens e florestas deste sistema. Estes caminhos
preferenciais devido ao constante pisoteio dos animais atuam como canais efêmeros
em períodos de chuva, servindo como conectores entre as respostas
hidrogeomorfológicas do sistema com os canais fluviais. Utilizou-se da técnica de
batimetria (perfis transversais) para avaliar o rebaixamento/acumulo de sedimentos
nestes caminhos. Como resultado, conclui-se que o constante pisoteio dos animais
implica na dinâmica de produção de sedimentos, mesmo que haja variações na
intensidade da precipitação. Foi observado que existem algumas saliências dentro
do próprio caminho preferencial que se alternam em períodos de acumulo e
remoção de material. Períodos com precipitação de intensidade menor há acúmulo
de material. Já períodos de intensificação nos índices pluviométricos há uma
remoção desse solo que foi depositado anteriormente.
Palavras-chave: Impacto dos animais, Erosão de solo, Faxinal
1 Acadêmico de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste- Campus de Irati-PR 2 Professor do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste- Campus de Irati-PR [email protected]
TREVISAN, E.; ANDRADE, A. R. Elementos e controles microclimáticos em área de manancial localizada em ambiente rural diversificado
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ELEMENTOS E CONTROLES MICROCLIMÁTICOS EM ÁREA DE MANANCIAL LOCALIZADA EM AMBIENTE RURAL DIVERSIFICADO
ELIAS TREVISAN1
APARECIDO RIBEIRO DE ANDRADE2
Resumo: O clima vem se destacando como variável de estudo, pois a mesmo se
destaca na dinâmica ambiental. Pela influencia que a mesma exerce através dos
elementos do clima, estes distribuem energia ao redor do globo pelo calor e umidade
afetando assim processos físicos, químicos e biológicos, implicando em
interferências no cotidiano das sociedades. A partir desta perspectiva, elege-se a
bacia hidrográfica como unidade de estudo topoclimático, sendo reduzido através de
um recorte de parte da bacia se definiu condições microclimáticas bem especificas.
A área de estudo conhecida com bacia hidrográfica do rio Manduca, se localiza no
município de Fernandes Pinheiro-PR, a qual vem sendo utilizada para a agricultura
pelos moradores. Através da distribuição de três postos de coleta próximo ao rio
principal de modo que se buscou instalar um posto na foz, metade da bacia e
cabeceira da mesma com a coleta dos valores de temperatura, umidade através de
sensores automáticos e precipitação diariamente, no período que se estendeu de 15
de dezembro de 2009 a 15 de maio de 2010, além da verificação da vazão do rio
Manduca em dias de precipitação, verificando-se a partir daí variabilidades e
correlações entre as variáveis. Pela verificação dos dados matemáticos distribuídos
de forma agrupada em períodos de 15 dias se identificando a mediados valores, se
identificou a transferência de energia no sistema de maneira clara, como a
identificação do aumento da umidade relativa do ar com a diminuição da temperatura
e ainda a variabilidade de ponto para ponto dentro do período de coleta.
Palavras-chave: Bacia hidrográfica, Elementos do clima, Microclimatologia
1 Bolsista de Iniciação Cientifica PAIC, Graduando Licenciatura Plena em Geografia, campus de Irati-PR UNICENTRO. [email protected] 2 Professor Adjunto Doutor do Departamento de Geografia da Unicentro, campus de Irati-PR. [email protected]
BEDNARZ, J. A.; ANTONELI, V. Erosão de solos sob o cultivo do tabaco (Nicotina tabacun) em uma pequena propriedade no Município
de Irati Paraná
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EROSÃO DE SOLOS SOB O CULTIVO DO TABACO (NICOTINA TABACUN) EM UMA PEQUENA PROPRIEDADE NO MUNICÍPIO DE IRATI
PARANÁ
JOÃO ANÉSIO BEDNARZ1 VALDEMIR ANTONELI2
Resumo: O objetivo deste trabalho, foi avaliar a taxa de erosão de solos no cultivo
do tabaco (Nicotina Tabacun. L) em uma pequena propriedade, sob plantio
convencional em Irati –Pr. Utilizou-se do método de áreas de contenção, sendo
estimadas taxas de deposição de sedimentos, oriundos de uma área de 1.432 m2. A
fumicultura na Região Centro-Sul do Estado do Paraná (onde a área de estudos está
inserida), é uma das alternativas viáveis das pequenas propriedades, por utilizar
uma área de apenas 2,5 ha para geração de renda. O desencadeamento dos
problemas ambientais causados por esta atividade está pautado, na utilização de
áreas com declives acentuados (>30%). O plantio convencional do tabaco é
realizado sob um camalhão (murundus), o qual contribui para a formação de um
canal efêmero de escoamento da água da chuva. A concentração de água na
entrelinha (entressulco) potencializa as perdas de solo, principalmente, por haver
remobilização constante deste solo para eliminação das ervas daninhas. Após o
monitoramento de uma safra (setembro a março), foram estimadas perdas em torno
de 39,4 ton./há, considerada uma taxa alta de perda de solo, quando comparados
com as perdas médias de outras formas de cultivo, cita-se como exemplo, os valores
encontrados por Thomaz (2005), em áreas com agricultura de subsistência (cultivo
de milho e feijão), onde a perda foi na ordem de 4,01 t/ha/ano. Já Sorrenson &
Montoya (1989, p.58) destacam que a perda média de solo no estado do Paraná
para agricultura em sistema convencional é de 3,3 t/ha/ano.
Palavras chaves: Uso do solo, Pequena propriedade, Erosão de solos, Fumicultura, Irati
1 Acadêmico de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste Campus de Irati-Pr 2 Professor Msc do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro- Oeste- Campus de Irati- PR [email protected]
PENTEADO, L.; ANTONELI, V. A importância do cultivo de tabaco no Distrito de Nova Boa Vista Município de Guamiranga-PR
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A IMPORTÂNCIA DO CULTIVO DO TABACO NO DISTRITO DE NOVA BOA VISTA MUNICÍPIO DE GUAMIRANGA-PR
LAIANE PENTEADO1 VALDEMIR ANTONELI2
Resumo: O estudo teve como objetivo discutir fatos relevantes que deram a
fumicultura um espaço garantido e de boa rentabilidade ao decorrer dos anos. O
foco de pesquisa foi a produção do Tabaco (Nicotina Tabacun) em pequenas
propriedades do distrito de Nova Boa Vista - Município de Guamiranga- PR. Por
volta da década de 1960 a situação dos produtores rurais era consideravelmente
caótica devido a baixa rentabilidade do então meio de sustentabilidade: roças de
coivara e criadouro comunitário (ou criação de animais em áreas extensivas). Devido
à situação desfavorecida, sentiu-se necessidade de novas formas de
sustentabilidade; foi quando surgiu a fumicultura. A produção fumageira exigia
muitas mudanças, desde a preparação do solo à mão-de-obra. No início a produção
era apenas mais uma fonte básica de renda dos pequenos produtores, com o passar
dos anos – apesar da lenta transição e devido a alguns receios dos produtores,
como a comercialização do produto, compra de insumos e outros problemas de
ordem social e ambiental – a produção foi crescendo e os meios foram melhorando,
dando melhores condições de trabalho e mais lucratividade; as áreas de produção
aumentaram e mais pessoas aderiam ao plantio de fumo. Pelos estudos realizados,
nota-se que há uma grande dependência da fumicultura para a geração de renda na
área de estudos, ou seja, a permanência do agricultor na localidade está atrelada a
atividade fumageira. Esta atividade promoveu uma alienação dos agricultores que
não praticam outra atividade para a geração de renda senão o cultivo do tabaco. A
grande maioria dos agricultores não cultiva feijão e milho nem para o consumo, não
possui rebanhos para geração de carne e leite. Portanto a fumicultura passa a
influenciar diretamente na forma de vida, das pessoas e na permanência do homem
no campo.
Palavras-chave: Fumicultura, Produção, Agricultores 1 Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO - Unidade Universitária de Irati-PR. E-mail: [email protected] 2 Doutorando em Geografia - UFPR, [email protected], Professor de Geografia na Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, PR 153 km 7 – Riozinho, Fone: (42) 3421-3000, CEP 84500-000, Irati – PR
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MONTAGEM E FUNCIONAMENTO DAS FOSSAS SÉPTICAS BIODIGESTORAS, COMO ALTERNATIVA PARA O PROBLEMA DA FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO NA ÁREA RURAL DO MUNICÍPIO DE IRATI -
PR
LUCIANO ALMEIDA DE SOUSA1 VALDEMIR ANTONELI2
Resumo: Este artigo tem por objetivos propor a utilização da fossa séptica
biodigestora como solução para a falta de saneamento básico nas áreas rurais do
município de Irati-PR, e propor a montagem destas fossas biodigestoras como uma
alternativa para redução da contaminação dos recursos hídricos, que são os
responsáveis por grande numero de internações pediátricas, como demonstra os
dados do Ministério da Saúde, no Brasil. A contaminação da água e a falta de
saneamento respondem por 63% das internações pediátricas e 30% da morte de
crianças com menos de um ano de vida. Descrever o seu funcionamento, para que
ao final do processo de biodigestão o efluente resultante possa ser depositado na
natureza reduzindo os dados ambientais. Esta preocupação dá-se em virtude da
falta de saneamento básico nas áreas rurais devido o destino incorreto que é dados
aos dejetos humanos. Portanto esta proposta surge como uma alternativa simples,
barata, de fácil montagem e que não exige uma manutenção especializada. As
fossas sépticas biodigestoras além serem utilizadas para depurar os dejetos
humanos que são os responsáveis pela proliferação de doenças com a cólera ou
hepatite, pode ainda ao final do processo de biodigestão fornecer biofertilizantes
para a utilização em pequenas hortas ou árvores frutíferas.
Introdução
A preocupação com o destino dos dejetos humanos principalmente na zona rural, foi
o propulsor do referido artigo para que fosse possível encontrar meios de minimizar
os riscos de comprometimento dos recursos hídricos, principalmente no que se
refere ao destino incorreto dos dejetos humanos, pois é neste ambiente que a 1 Graduando do curso de Geografia na Universidade Estadual do Centro Oeste - Campus Universitário de Irati - PR (UNICENTRO). E-mail: <[email protected]> 2 Professor Msc do Departamento de Geografia da Universidade Estadual Centro-Oeste – Campus Universitário de Irati - PR. (UNICENTRO). E-mail: [email protected]
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maioria das ocasiões são lançados no ambiente sem qualquer tratamento. Um
exemplo é a utilização das fossas negras3 que na maioria dos casos são construídos
sem os devidos cuidados necessários para evitar a contaminação das fontes de
água para o consumo, destas famílias. Uma outra questão a ser levada em
consideração é a preservação dos recursos hídricos para às futuras gerações, tendo
em vista a vulnerabilidade desse recurso. Segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) no Brasil cerca de 95% da população tem acesso a
redes de abastecimento de água, porém apenas 50% do esgoto produzido são
coletados e desses apenas 32 % são tratados (BRASIL, 2005).
Segundo dados do IBGE (2000), somente 11% dos domicílios rurais brasileiros
possuem coleta de esgoto, o que influencia no comportamento hídrico mundial tendo
em vista que o Brasil concentra aproximadamente 12% da água doce de todo o
planeta.
Segundo CEPAL (2005), no Brasil, há somente 35% de saneamento básico na zona
rural, situação que coloca nosso país numa das últimas colocações na América
Latina e Caribe, à frente somente de Bolívia e Haiti.
Segundo STRUJAK e VIDAL (2007), o lançamento “in natura” de esgotos
domésticos, águas residuárias de criatórios de animais e de agroindústrias são as
principais fontes de poluição de lagos, canais, rios e mares. Materiais orgânicos em
suspensão são indispensáveis para a proliferação de microrganismos patogênicos
ao homem. Material orgânico não biodegradável, como algumas substâncias
espumantes, derivados de petróleo e muitos resíduos industriais, pode proporcionar
problemas de poluição de diferentes intensidades, provocando alteração na
qualidade das águas.
Neste sentido, este artigo apresenta uma alternativa para redução dos impactos
ambientais (contaminação dos corpos hídricos) pela falta de saneamento básico na
área rural do Município de Irati - PR. A implantação da fossa séptica biodigestoras é
um método simples e barato de tratar o esgoto na área rural. Esse sistema consiste
em desviar a tubulação dos vasos sanitários para caixas de cimento de amianto ou
plásticos, onde os coliformes fecais são transformados em adubo orgânico, pelo
processo de biodigestão.
3 "É uma fossa séptica, uma escavação sem revestimento interno onde os dejetos caem no terreno, parte se infiltrando e parte sendo decomposta na superfície de fundo. Não existe nenhum deflúvio. São dispositivos perigosos que só devem ser empregados em último caso". (samotracia dicionário online)
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Após este tratamento, o resultado são águas residuárias livre de agentes poluidores
que podem ser lançados na natureza sem risco para a saúde pública, e os efluentes
resultantes do processo poderiam ser utilizados como fontes de produção de adubos
para utilização em pequenas culturas.
Dentre algumas questões selecionadas para análise a respeito da montagem e
funcionamento das fossas sépticas biodigestoras, para as populações rurais de
baixa renda são: os baixos custos, a pequena ocupação de área necessária para
implantação do sistema, número de habitações e pessoas atendidas, a baixa
complexidade de operação e manutenção.
Vale ressaltar que este artigo não teve por objetivo a construção e funcionamento
das fossas biodigestoras e sim como uma proposta alternativa para redução do
impacto ambiental causado pelos dejetos humanos. Este material servirá de base
para futuras pesquisas direcionadas a construção dessas fossas. É de nosso
entendimento que para a construção e funcionamento das fossas é necessário
primeiramente uma conscientização da população da área rural, para na seqüencial
ser implantado este sistema.
Metodologia utilizada
Para a realização da proposta de montagem das fossas sépticas biodigestoras na
zona rural do município, a estratégia geral de pesquisa utilizada foi o levantamento
na literatura técnico-científica das alternativas existente para tratamento de efluentes
sanitários e disposição local. Também foram consultados catálogos de fabricantes e
internet. Sendo realizadas pesquisas no que se referiam a utilização deste sistema,
e a sua eficácia para o tratamento dos dejetos humanos e possível utilização do
produto ao final do processo. Durante a pesquisa não foi encontrado nenhum
sistema para este fim na região, mas pode se verificar que existe uma outra técnica
semelhante para o tratamento dos dejetos de criações de suínos e aves, que
também não foi tido conhecimento deste sistema na região, nestes sistemas é
utilizado o biodigestor para produção de gás metano (CH) que alimentam geradores
para a produção de energia elétrica, fato este que promove redução no consumo de
energia na propriedade.
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Caracterização da área de estudos
O município de Irati está localizado na Região Centro Sul do Estado do Paraná, O
município teve sua origem na vila de "Covalzinho", na década de 1890, quando os
trilhos da Estrada de Ferro São Paulo/Rio Grande do Sul passaram pela vila. Foi ali
instalada uma estação ferroviária que recebeu o nome de "Iraty". Isso fez a vila
crescer e se tornar importante, o município de Irati possui como, municípios vizinhos
ao norte Imbituva e Prudentópolis, ao sul Rio Azul e Rebouças, já a leste enontra-se
o município de Fernandes Pinheiro e a oeste o limite é o municipio de Inácio Martins.
O município possui o relevo ondulado e acidentado, com variação de solo entre os
limites territoriais norte e sul , sendo que os solos predominantes são os solos
podzólico vermelho amarelo, terras brunas, cambissolo e litólico. Quanto à formação
geológica da Região Centro Sul do Paraná, onde á área de estudos está localizada,
esta, diz respeito aos depósitos sedimentares paleozóicos, correspondentes à
grande feição de sedimentação marinha e litorânea, conhecida como Bacia
Sedimentar do Paraná. (Antoneli 2004).
Quanto ao clima, segundo a classificação de Köppen4, o clima do município de Irati
esta classificado com do tipo Cfb, (Subtropical), apresentando verões amenos,
invernos com ocorrências de geadas frequentes e não apresentando estações
secas.
Figura 1. Localização do município. Fonte: Prefeitura Municipal de Irati – PR
4 A classificação climática de Köppen foi criada em 1900 pelo científico alemão Wladimir Peter Köppen e posteriormente modificada em 1918 e 1936. Consiste em uma classificação climática mundial baseada na temperaturas e precipitações ,outorgando letras aos diferentes valores que tomam estas duas variáveis.
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Na área urbana do município de Irati de acordo com a Companhia de saneamento
do Paraná (Sanepar, 2008), 84,75 % da população tem acesso à rede coletora de
esgotos, embora esta seja utilizada por apenas 76,58% dos moradores. Já o meio
rural é desprovido totalmente da rede de esgoto, não existindo um destino
apropriado para os dejetos humanos, Segundo dados do censo oficial do ano de
2007, a população total do município de Irati é de 54.151 mil habitantes, sendo que
22,08% vivem na zona rural, aproximadamente 12.000 mil habitantes.
A maioria dos moradores da zona rural é descendente dos primeiros colonizadores
do município, onde predominam as pequenas propriedades, com predomínio da
agricultura familiar com grande desenvolvimento das atividades de subsistência
(cultivo de milho, feijão, batata e cebola). Ocorrem também nestas lavouras os
desenvolvimentos da agricultura comercial, como é o caso do cultivo da soja e do
fumo. Dentre as atividades agrícolas voltadas para a comercialização, destaca-se a
fumicultura, prática característica de pequenas propriedades, onde emprega em
grande parte da mão-de-obra familiar.
Montagem de um sistema biodigestor na zona rural Na seqüência serão apresentados os passos para a implantação das fossas
biodigestoras. Segundo a EMBRAPA (2002), para montagem precisa-se de três
caixas-d’água de mil litros. Como ficarão enterradas, recomenda-se o uso de caixas
de fibra de vidro ou de cimento, pois esses materiais suportam altas temperaturas e
duram mais.
Antes de cavar os buracos no solo para colocar as caixas, é preciso furá-las para
inserir os tubos de policloreto de vinila (PVC). Deve ser utilizada uma serra copo
diamantada de 100 milímetros para fazer os orifícios. Os tubos e conexões devem
ser vedados com cola de silicone na junção com a caixa, para evitar vazamentos
dos efluentes ou a entrada de ar.
Após a construção dos três buracos no solo, com aproximadamente 80 centímetros
de profundidade e colocação das caixas, estas devem ser conectadas
exclusivamente ao vaso sanitário. O encanamento das pias e chuveiros não deve
ser ligado ao sistema biodigestor, pois a água que vem destes locais não são
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patogênica. Além disso, sabão e detergente inibem o processo de
biodigestão.(figura 2).
Figura 2. Instalação das caixas e ligação com os tubos de PVC Fonte: EMBRAPA (2002)
Para uma melhor vazão dos dejetos é recomendável a utilização de tubo de PVC de
100 milímetros para ligar o vaso sanitário a primeira caixa, deixando este cano com
uma inclinação de 5% entre o vaso e o sistema. Outro aspecto importante para não
correr o risco de sobrecarrega do sistema, também se recomenda que não use
válvulas de descarga. Deve-se dar preferência às caixas de descarga que liberem
entre sete e dez litros de água a cada vez que é acionada.
Antes da primeira caixa deve ser instalada uma válvula de retenção, que tem como
finalidade facilitar a colocação de uma mistura de água e esterco bovino, sendo que
esta mistura tem a finalidade de acelerar o processo de biodigestão.
A segunda caixa deve ser ligada à primeira através de um cano de PVC e uma curva
de 90 graus. A tampa das duas caixas devem ser bem fechadas para isso é
necessária a utilização de borracha para vedação de 15 por 15 milímetros. Em cada
caixa deve existir um cano que servirá de chaminé para liberar o gás metano
acumulado. Na extremidade superior deste cano deve ter um CAP5 de PVC com
quatro furos de 2 milímetros cada, para facilitar a liberação do gás metano e devido
a pressurização interna dentro das duas primeiras caixas e evitar a entrada de
5 CAP PVC – é uma espécie de tampão de PVC, utilizado nas instalações hidráulicas com a finalidade de impedir a passagem de líquidos.
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oxigênio. (Figura 3). Os tubos e conexões devem ser vedados na junção com a
caixa com cola de silicone e o sistema deve ficar enterrado no solo para manter o
isolamento térmico. Este fechamento serve para que ocorra o processo de
biodigestão anaeróbica que elimina os agentes patogênicos encontrados nos dejetos
humanos.
Figura 3. Fonte: EMBRAPA, adaptada por Sousa, L.A. 2010.
Segundo as pesquisas da EMBRAPA, aproximadamente 80% dos agentes
patogênicos são eliminados na primeira caixa e o restante na segunda, desta
maneira ao chegar a terceira caixa os dejetos humanos já foram transformados em
adubo ou em biofertilizantes.
A terceira caixa, não deve ser vedada, pois é por ela que irá se retirar o adubo. Um
aspecto importante que deve ser observado na instalação do sistema é que entre
cada caixa, deve ser colocado um “T” de inspeção para o caso de entupimento.
Segundo a EMBRAPA (2002), caso não queira utilizar o adubo, é possível a
eliminação do produto final do processo diretamente no ambiente sem que esta
eliminação cause contaminação. Para isso é necessário que se faça na terceira
caixa um filtro de areia para permitir a saída de água sem excesso de matéria
orgânica. Para a construção deste filtro no fundo da ultima caixa deve ser colocada
uma tela fina de nylon. Sobre esta tela, colocar uma camada de dez centímetros de
pedra britada nº 3 e dez centímetros da pedra nº 1, e mais uma tela de nylon. Na
seqüência coloca uma camada de areia fina lavada. Instala-se um registro de esfera
de 50 milímetros para permitir que essa água vá para o solo (Figuras 4 e 5).
VÁLVULA DE RETENÇÃO
“CAP” PARA ALIVIO DE PRESSÃO
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Figura 4. Funcionamento em corte da liberação de efluentes com a sobreposição das camadas para filtragem Fonte: Embrapa (2002).
Figura 5. Liberação de efluentes. Fonte: Embrapa (2002).
Na figura 6, é apresentado um sistema de fossa séptica biodigestora instalada numa
propriedade rural, onde pode-se observar que o espaço destinado a instalação é
pequeno com isso o sistema pode ser instalado ate nas proximidades das
residências sem causar transtornos quanto a utilização do espaço. Na figura 7 pode-
se observar uma figura representativa do esquema de funcionamento sistema
séptico biodigestor.
Segundo Novaes (2002), “esse tipo de sistema é ideal para uma família composta
por cinco pessoas que despejam 50 litros de água e resíduos por dia. Se o número
de pessoas for maior, recomenda-se colocar mais uma caixa de mil litros”.
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Figura 6. Sistema completo instalado Fonte: Embrapa (2002).
Figura 7. Esquema de funcionamento das caixas biodigestoras Fonte: NOVAES et al., (2002)
O material necessário para montagem de um sistema biodigestor conforme descrito
acima consta dos seguintes itens, que estão ordenados nas tabelas abaixo e que
podem ser encontrados facilmente em lojas de comércio de materiais para
construção civil (tabelas 1 e 2).
Tabela 1. Lista de material necessário para a implantação das caixas biodigestoras
Item Quantidade unidade Descrição 01 03 Peça Caixa cimento amianto de 1000 L 02 06 Metro Tubo de PVC 100 mm para esgoto 03 01 Peça Válvula de retenção de PVC 100 mm 04 02 Peça Curva de 90º longa de PVC 100 mm 05 03 Peça Luva de PVC 100 mm 06 02 Peça “T” de inspeção de PVC 100 mm 07 10 Peça O’ring1 100 mm 08 02 Metro Tubo de PVC soldável 25 mm 09 02 Peça CAP de PVC soldável 25 mm 10 02 Peça Flange de PVC soldável 25 mm 11 01 Peça Flange de PVC soldável 50 mm
1 São pequenos anéis fabricados em equipamentos ou objetos, com o intuito de impedir a passagem de gás ou liquido através de um determinado espaço. http://www.brasilmergulho.com.br/port/artigos/2004/025.shtml
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12 01 Metro Tubo de PVC soldável 50 mm 13 01 Peça Registro de esfera de PVC 50 mm 14 02 Tubo Cola de silicone de 300 gramas 15 25 Metro Borracha de vedação 15 x 15 mm 16 01 Tubo Pasta lubrificante de juntas elásticas em PVC rígido – 400
gramas 17 01 Tubo Adesivo para PVC – 100 gramas 18 01 Litro Neutrol
Fonte: EMBRAPA, fossas sépticas biodigestoras. Junho 2006.
Tabela 2 - Lista de ferramentas utilizadas para a implantação
Item Quantidade unidade Descrição 01 01 Peça Serra copo 100 mm 02 01 Peça Serra copo 50 mm 03 01 Peça Serra copo 25 mm 04 01 Peça Aplicador de silicone 05 01 Peça Arco de serra com lamina de 24 dentes 06 01 Peça Furadeira elétrica 07 01 Peça Pincel de ¾” 08 01 Peça Pincel de 4” 09 01 Peça Faca ou estilete 10 02 Folha Lixa comum número 100
Fonte: EMBRAPA, fossas sépticas biodigestoras. Junho 2006.
Funcionamento do sistema de fossa biodigestora Segundo Novaes (2002), a fossa séptica biodigestora funciona através da ausência
de oxigênio, transformando os dejetos do esgoto sanitário em adubo orgânico,
totalmente isento de germes patogênicos, ou seja, microorganismos causadores da
proliferação de doenças como diarréia, cólera, salmonelas e hepatite.
Inicialmente, com o objetivo de aumentar a atividade microbiana e
consequentemente à eficiência da biodigestão, na primeira caixa, através da válvula
de retenção deve ser colocado aproximadamente 20 litros de uma mistura de 50%
de água e 50% esterco bovino (fresco). Segundo a EMBRAPA (2002), este material,
junto com as fezes humanas, fermentam, sendo que este processo é o responsável
pela eliminação dos agentes patogênicos através da alta temperatura gerada pelos
micróbios no processo de fermentação. Para que seja possível esta eliminação dos
agentes patogênicos é importante a vedação das duas primeiras caixas.
Ao final do processo, ou seja, após os dejetos terem passados pelas três caixas o
líquido que inicialmente seria o responsável por contaminação e poluição do
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ambiente se fosse descartado sem o devido tratamento, está livre de micróbios e
agentes patológicos, podendo ser utilizado como adubo em pequenas culturas.
O efluente oriundo desse processo de biodigestão pode ter dois destinos bem
distintos, mas que não causam nenhuma espécie de dano ao ambiente, o primeiro
destino é a fertirrigacão de pequenas hortas ou árvores frutíferas (Figura 7 a, b)
outro destino seria a liberação do efluente resultante do processo diretamente no
solo.
Segundo as pesquisas da EMBRAPA (2002) realizada na fazenda de Belo Horizonte
em Jaboticabal, estado de São Paulo, a aplicação do efluente obtido através do
processo da biodigestão dos dejetos humanos, levou a um aumento do conteúdo de
matéria orgânica na primeira camada do solo analisada, este resultado deu-se em
virtude do material orgânico ser rico em macro e micro nutrientes, foi feito também
análise de nitrogênio na forma mineral, comparando os valores obtidos entre os dois
tipos de adubação.
O nitrogênio é um dos mais caros macronutrientes, o mais instável no solo e
considerado como o principal limitador da produção agrícola, sendo absorvido pelas
plantas na forma de nitrato e amônio. Esse macronutriente regula a velocidade de
decomposição e a atividade microbiana; As análises realizadas mostraram que,
quando aplicado o efluente do biodigestor, houve um aumento de aproximadamente
17% na concentração de amônio no perfil de 0 a 10 cm e 9% entre 10 e 20 cm. O
aumento para o nitrato foi de 23% de 0 a 10 cm e de 15% entre 10 e 20 cm.
Figura 7a. Pé de graviola sem a utilização da
fertirrigação. Figura 7b. Pé de graviola com adição do adubo orgânico com fertirrigação. Embrapa (2002)
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A reutilização do efluente, o mesmo mostrou-se ser uma fonte de macro e micro
nutrientes para as plantas, além de matéria orgânica para o solo. A produção de
adubo orgânico líquido, gerado ao término do processo de biodigestão do esgoto
oriundo dos vasos sanitários, podem ser utilizado para complementar a adubação
gerando economia com a compra dos adubos industrializados, pode se observar nas
figuras 7 a e 7 b a diferença entre os pés de graviola de uma mesma propriedade
que tiveram adubação diferenciada.
A preocupação com os recursos hídricos Atualmente uma das principais formas de poluição das águas superficiais e
subterrâneas é o destino incorreto do esgoto, devido ao aumento da população e a
falta de infra-estrutura que estão submetidos esses moradores. Tanto na área
urbana ou rural, as moradias não são servidas por sistema eficiente de coleta e
tratamento de esgotos. Sendo que na área rural esta infra-estrutura é praticamente
inexistente, e o esgoto tem como destino final os sistemas de fossas negras,
buracos rudimentares feitos no solo que são em grande parte os responsáveis pela
contaminação das águas subterrâneas. Na grande maioria das residências rurais a
água para consumo ou vem de fontes ou te poços que são perfurados ao redor da
própria casa, o que implica em um aumento no risco de doenças. Com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia houve o avanço de pontos
essenciais para melhoria da qualidade de vida, Sendo assim, torna-se necessário
tomar medidas possíveis para tentar reparar os danos causados ao meio ambiente
ou ao menos tornar a sociedade consciente de que existem recursos para impedir
um agravamento da situação degradante por que esta passando a natureza.
A construção de fossas sépticas biodigestoras deveria ser incentivada
principalmente nas zonas rurais, pela dificuldade de construção alternativa para o
tratamento dos dejetos humanos “in natura”. Numa relação de custo e beneficio a
instalação destas fossas segundo a Embrapa (2002), variam entre R$ 800,00 e R$
1.000,00.
A importância da construção das fossas biodigestoras
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Uma das principais preocupações com o destino incorreto dos dejetos humanos é a
utilização das “fossas negras”, que podem estar contaminando as águas
subterrâneas, independente da zona rural ou urbana, sendo que esta contaminação
é de difícil identificação devido a falta de monitoramento constante e testes de
potabilidade das águas principalmente na zona rural. Outro aspecto que deve ser
ressaltado que embora o solo tenha uma certa capacidade de filtragem, com o
passar dos anos os dejetos humanos depositados podem acarretar em uma
saturação desta capacidade de filtragem e os efluentes contaminados, através da
percolação podem atingir o lençol freático. Com o fluxo lento de percolação, seria
difícil o manejo para que se realizasse um possível tratamento destas águas
subterrâneas contaminadas, sendo que na zona rural a situação torna-se mais grave
pois o recurso para o abastecimento, são as águas provenientes dos poços.
É importante ser observado esta possível instalação do sistema de fossas sépticas
biodigestoras, principalmente na zona rural, pois existe um plano de metas proposto
pela Organização das Nações Unidas (ONU), onde o acesso ao saneamento básico
é um dos itens a ser atingido pelo Brasil até o ano de 2015.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na zona rural
brasileira, apenas 6,5% da população têm acesso a redes coletoras de esgoto, o
Brasil deve chegar em 2015 sem atingir as metas para o acesso da população ao
saneamento básico, conforme a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio
(Pnad).
Neste contexto de preocupação com os recursos hídricos, surgem às fossas
sépticas biodigestoras como uma alternativa para a redução da poluição deste
recurso, com a possibilidade de redução do impacto dos dejetos humanos sobre o
meio ambiente, podendo ser implantada nas casas, principalmente das propriedades
nas áreas rurais onde não existe a coleta e tratamento dos esgotos.
Uma das principais preocupações com o destino incorreto dos dejetos humanos é a
utilização das “fossas negras”, que podem estar contaminando as águas
subterrâneas, sendo que esta contaminação é de difícil identificação devido a falta
de monitoramento constante e testes de potabilidade das águas na zona rural, outro
aspecto que deve ser ressaltado que embora o solo tenha uma certa capacidade de
filtragem, conforme a figura 9, com o passar dos anos os dejetos humanos
depositados podem acarretar em uma saturação desta capacidade de filtragem e os
efluentes contaminados através da percolação pode atingir o lençol freático. Com o
SOUSA, L. A.; ANTONELI, V. Montagem e funcionamento das fossas sépticas biodigestoras, como alternativa para o problema da
falta de saneamento básico na área rural do Município de Irati – PR
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fluxo lento de percolação, seria difícil o manejo para que se realizasse um possível
tratamento destas águas subterrâneas contaminadas.
A biodigestão anaeróbia representa importante papel de preservação das fontes de
água principalmente na zona rural, pois além de permitir a redução significativa do
potencial poluidor, trata-se de um processo no qual não há geração de calor e a
volatilização dos gases, com isso além da produção de água para o reuso, existe a
produção de fertilizantes.
Um fator preponderante para a instalação deste sistema de tratamento dos dejetos
humanos é que com a construção “fossas negras” feitas sem uma previa análise
local, aumenta o risco de contaminação das águas subterrâneas, conseqüentemente
estas águas são as mesmas que abastecem as casas nestas propriedades sendo
que esta onde raramente é feito algum tratamento, como ferver ou clorar a água
antes de consumir como fator de precaução.
Nas águas subterrâneas é difícil reconhecer a contaminação, e quando ocorre pode
ficar oculta por muitos anos e atingir áreas muito extensas dos lençois freáticos.
Nas águas subterrâneas a contaminação ocorre principalmente através da infiltração
de esgotos a partir de sumidouros ou fossas negras. (Figura 8)
Importância das fossas biodigestoras no município de Irati
Segundo dados do censo oficial do ano de 2007, a população total do município de
Irati é de 54.151 mil habitantes e destes, 12.000 habitantes (22.08 %), vivem na
zona rural convivendo com a falta de saneamento básico.
Figura 8. Esquema de contaminação do lençol freático. Fonte: adaptada por Sousa, L.A. 2010.
SOUSA, L. A.; ANTONELI, V. Montagem e funcionamento das fossas sépticas biodigestoras, como alternativa para o problema da
falta de saneamento básico na área rural do Município de Irati – PR
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Nota-se que a falta de algumas políticas públicas, atuantes poderia amenizar os
gastos com a saúde pública. A solução poderia ser amenizada com o acesso ao
saneamento básico, a realização de campanhas com o intuito de conscientizar a
população, sobre a maneira de se prevenir. A implementação de projetos
experimentais dentro do município onde os moradores da zona rural pudessem
acompanhar os resultados das fossas sépticas biodigestoras. A realização de
palestras nos comunidades rurais explicando sobre os benefícios do tratamento dos
dejetos humanos, são algumas alternativas para a implantação. O poder público do
município deveria realizar parcerias com os moradores voluntários, para
implantação.
O grande entrave para a implantação da fossa séptica biodigestora na zona rural é
oferecer algumas vantagens para que os moradores utilizem esta tecnologia, pois se
não houver algum tipo de incentivo os moradores irão continuar com o paradigma
que vive a tantos anos num mesmo lugar e sempre foi daquela maneira. Deve-se
apresentar seus benefícios e mostrar os problemas que as fossas negras provocam
no meio ambiente, principalmente nos aspectos relacionados a saúde.
Os investimentos em água e esgoto nunca foram prioridades dos governantes,
porque se escondem debaixo da terra, ao contrário de pontes, viadutos e estradas, a
falta de interesse com a preservação e uso racional dos recursos naturais tem sido
uma das grandes preocupações da humanidade nas ultimas décadas, sendo que a
água tem recebido a maior atenção, até mesmo por sua essencialidade para a vida.
Sendo assim, a boa utilização e a não contaminação dos recursos hídricos é fator de
extrema importância quando se trata desse assunto.
Num contexto mais otimista a utilização dos biodigestores principalmente nas
localidades rurais, possa se transformar numa fonte ainda maior de economia, pois
existe a possibilidade de integrar a produção do gás metano proveniente da
decomposição dos dejetos, transformando-o em biogás que poderia ser utilizado
para conversão de energia elétrica, representando uma maior sustentabilidade para
as atividades da propriedade rural, tendo em vista a grande utilização da energia
elétrica em atividades dentro das propriedades rurais de pequeno porte.
Além da obtenção do biogás nos biodigestores, a digestão anaeróbia de matéria
orgânica produz, como resíduo, uma substância com aspecto de lodo, que, quando
diluída, pode ser utilizada como fertilizante agrícola. Esses fertilizantes, chamados
SOUSA, L. A.; ANTONELI, V. Montagem e funcionamento das fossas sépticas biodigestoras, como alternativa para o problema da
falta de saneamento básico na área rural do Município de Irati – PR
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de biofertilizante, apresentam grande quantidade de nitrogênio e de fósforo que são
os principais componentes dos adubos industrializados.
A falta de água tratada e de um destino adequado ao esgoto sanitário compromete
fortemente a saúde da população. Segundo dados do Ministério da Agricultura e
Abastecimento (2005), cerca de 75% das internações hospitalares estão
relacionadas à falta de saneamento básico. Na tabela 2, se pode observar a
evolução do saneamento básico no município de Irati - PR relacionando os censos
de 1991 e 2000. No ano de 2000, 58,9 % do esgoto recebiam algum tipo de
tratamento e outros 41,1 % eram despejados “in natura” nos solos, rios, córregos e
nascentes, observa-se que o esgoto não coletado contamina os corpos d’água e o
solo, criando um ambiente propício à propagação de microorganismos patogênicos
que, por sua vez, contaminam o córrego de onde a água para consumo na
residência é captada.
A poluição dessas águas na região de Irati se deve principalmente ao uso de
agrotóxicos em atividades agrícolas, à deposição de resíduos industriais sólidos e
líquidos, deposição de lixos urbanos e aterros, deposição de dejetos de animais
resultantes da atividade agropecuária e construção incorreta de “fossas negras”.
Tabela 3. Saneamento - Município: Irati/PR
Abastecimento Água 1991 2000 Rede geral 62.3 75.3 Poço ou nascente (na propriedade)
37.4 23.8
Outra forma 0.3 0.9 Instalação Sanitária 1991 2000
Rede geral de esgoto ou pluvial 15.3 40.8 Fossa séptica 26.9 18.1 Fossa rudimendar 54.0 31.7 Vala 0.5 2.7 Rio, lago ou mar - 1.1 Outro escoadouro 0.1 3.0 Não sabe o tipo de escoadouro - - Não tem instalação sanitária 3.1 2.6 Fonte: IBGE/Censos
Fonte: IBGE, 2000.
Considerações Finais
Devido ao baixo custo para confecção, a eficiência demonstrada na biodigestão dos
dejetos humanos e conseqüente eliminação de agentes patogênicos, esse modelo
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falta de saneamento básico na área rural do Município de Irati – PR
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de fossa séptica pode ser indicado para substituir a tradicional "fossa negra",
normalmente utilizada na área rural. Quanto à reutilização do efluente, o sistema
transforma os dejetos humanos numa fonte de macro e micro nutrientes para as
plantas, além de matéria orgânica para o solo.
A implantação de fossas sépticas biodigestoras apresenta algumas vantagens como
o baixo custo de implantação; não necessitar de mão-de-obra especializada para
montagem e manutenção; a ocupação de pouco espaço na propriedade e a
possibilidade da utilização do produto final como adubo e fertilizantes, reduzindo
gastos com estes produtos. Analisando o município de Irati e relacionando a
população residente na zona rural que é de aproximadamente doze mil habitantes.
Cada sistema biodigestor conforme o modelo descrito acima atente uma família de
cinco pessoas, onde o custo médio de implantação é de cerca de mil reais. Conclui-
se portanto que seria necessário a implantação de dois mil e quatrocentos sistemas
de biodigestão, o que seria necessário investimento na ordem de R$ 2.400,000,
(dois milhões e quatrocentos mil reis) para que se fosse atendida toda a população
da zona rural. Quanto a eficiência deste sistema, pode ser comprovado pelo projeto
piloto implantado em Jaboticabal, a disponibilidade de acesso a técnicas alternativas
para o tratamento e disposição dos efluentes sanitários pode se adequar a nova
realidade social de cada município.
Este projeto pretende despertar nos produtores rurais a consciência de que, com
medidas simples e baratas em torno de R$1.000,00 seria possível evitar uma
possível contaminação das águas subterrâneas ou ajudar a melhorar a qualidade da
água do município, o aspecto mais importante é quebrar alguns paradigmas sobre a
utilização dos efluentes resultantes das fossas biodigestoras.
Entretanto o que se pode concluir, que até o momento ainda existe grandes
limitações quando se trata da preservação do meio ambiente, pois mesmo com
tantas provas sobre a importância da preservação, ainda existe certa resistência das
pessoas quanto à necessidade de dispor algum recurso financeiro no sentido de
preservar um recurso natural de suma importância para a vida de todos os seres
vivos.
Seria viável ao município de Irati, propor a montagem de sistemas biodigestores em
comunidades em caráter experimental para que os moradores da zona rural do
município pudessem acompanhar todo o processo e aceitar a montagem em suas
propriedades, pois a construção de infra-estrutura de saneamento básico necessita
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de um elevado investimento em obras e constantes melhoramentos, o que faz com
que muitas vezes este tipo de estruturas seja inexistente ou pouco eficaz, na zona
rural do município de Irati. Como é inexistente o tratamento de esgoto, este
implementação poderia evitar a contaminação das águas subterrâneas, pois a zona
rural é um importante local de recarga dos aqüíferos, desta maneira asseguraria o
suprimento de água limpa e protegida através de uma tecnologia simples e barata.
Referencias bibliográficas:
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falta de saneamento básico na área rural do Município de Irati – PR
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
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BASSO, L. C. et al. O ontem, o hoje e o amanhã: o Museu de Geociências: uma alternativa em educação
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
O ONTEM, O HOJE E O AMANHÃ: O MUSEU DE GEOCIÊNCIAS; UMA ALTERNATIVA EM EDUCAÇÃO
LUIZ CARLOS BASSO1 ENEIDA MARTINS2
ANGELA GUEDES MOREIRA LARA3 ADRIANE COROSQUE4 ANA MARIA CHARNEI5
JOÃO HENRIQUE DE ALMEIDA CEZÁRIO6 JEFERSON MACHADO CAETANO7
Resumo: O Projeto “Museu de Geociências UNICENTRO - Campus Irati” foi
implantado em 1997 com objetivo de montar um acervo de coleções didáticas e
científicas para disponibilizar materiais de pesquisa e ensino para docentes e
acadêmicos do curso de Ciências Licenciatura da referente instituição. Atualmente o
acervo é utilizado pelos alunos dos cursos de Licenciatura em Geografia,
Engenharia Florestal e Engenharia Ambiental e disponibilizada também para o
empréstimo a pesquisadores, professores e alunos da rede pública e privada de
ensino da região. As coleções, compostas inicialmente por espécimes
zoobotânicas, geológicas e paleontológicas, estão conservadas via seca, úmida e
taxidermizadas. No Museu são realizadas várias atividades, tais como a manutenção
preventiva das coleções didática e científica do Museu, assim como a organização e
limpeza das coleções geológica, paleontológica e também dos insetários e animais
taxidermizados que estão disponíveis para o empréstimo. E as exposições
temporárias e itinerantes juntamente com o acervo do Museu estão disponíveis para
visitação de Escolas após agendamento, ou sistematicamente com
acompanhamento de um guia, que são acadêmicos fazendo estágio no projeto do
Museu. Até o momento as atividades previstas pelo cronograma do projeto Museu
de Geociências vem sendo promovidas em vários eventos, com uma boa aceitação
pelo público visitante, e cumprindo com os objetivos propostos nas Diretrizes
Nacionais de Extensão colaborando para o ensino, a pesquisa e extensão na
UNICENTRO.
1UNICENTRO [email protected] 2UNICENTRO [email protected] 3UNICENTRO [email protected] 4UNICENTRO [email protected] 5UNICENTRO [email protected] 6UNICENTRO [email protected] 7UNICENTRO [email protected]
BASSO, L. C. et al. O ontem, o hoje e o amanhã: o Museu de Geociências: uma alternativa em educação
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
Palavras-chave: Museu, Acervo, Educação, Coleção, Geociências
PERUCELLI, M.; ANTONELI, V. Produção de serrapilheira em florestas de Faxinal: Estudo de caso do Faxinal Papanduva de Baixo –
Prudentópolis-PR
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PRODUÇÃO DE SERRAPILHEIRA EM FLORESTAS DE FAXINAL: ESTUDO DE CASO DO FAXINAL PAPANDUVA DE BAIXO –
PRUDENTÓPOLIS-PR
MARICELLI PERUCELLI1 VALDEMIR ANTONELI2
Resumo: O Trabalho foi desenvolvido em uma área de Faxinal, porém em um local
cercado para criação “grossa” (eqüinos e bovinos). Para analisar a produção de
serrapilheira da Floresta Ombrófila com domínio do sistema de Faxinal, foram
instalados 8 coletores de 1m² em uma área de 5.000 m² (0,5 hectare), os quais
foram monitorados mensalmente durante 1 (um) ano. As amostras coletadas foram
secadas e separadas em categorias (frações) de folhas, galhos e miscelâneas
(flores, frutos, sementes e pequenos pedaços de inseto morto). Vale ressaltar que o
sistema de Faxinal é um sistema agrosilvopastoril característico da Região Centro-
Sul do Estado do Paraná, onde se desenvolve a criação extensiva de animais em
áreas comuns; extração florestal e policultura alimentar de subsistência. Há um fluxo
contínuo de animais neste sistema, onde são criados soltos (sem restrições de
propriedades). Essa concentração de animais na área de Faxinal exerce certa
pressão sobre os recursos naturais existentes, promovendo certo desequilíbrio das
condições naturais. Durante as campanhas de coletas, alguns meses foram
identificados como maiores produtores de serrapilheira, como é o caso do mês de
outubro e dezembro. O total encontrado durante o acompanhamento de 1(um) ano
foi de 6,096kg/ano, sendo um valor próximo encontrado por outros pesquisadores
em florestas ombrófila mista. As folhas foram responsáveis pela maior parte da
serapilheira produzida pela floresta (61%), seguindo-se os galhos (24%) e
miscelânea (15%). A primavera apresentou maior percentual de deposição,(42%),
seguida pelo verão (31%), inverno (17%) e outono (10%).
Palavras-chave: Faxinal, Serrapilheira, Avaliação Sazonal
1 Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste - Campus de Irati-PR. [email protected] 2 Professor Doutorando pela UFPR e Professor do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste - Campus de Irati-PR. [email protected]
CARVALHO, M. F. A.; BEDNARZ, J. A.; ANTONELI, V. Mensuração da produção de sedimentos através do contato direto dos animais com os rios no Faxinal
Marmeleiro de Cima, Rebouças-PR.
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MENSURAÇÃO DA PRODUÇÃO DE SEDIMENTOS ATRAVÉS DO CONTATO DIRETO DOS ANIMAIS COM OS RIOS NO FAXINAL
MARMELEIRO DE CIMA REBOUÇAS- PR
MARLON FÁBIO ABREU CARVALHO1 JOÃO ANÉSIO BEDNARZ2
VALDEMIR ANTONELI3
Resumo: Este artigo tem por objetivo avaliar a influência do contato dos animais
com os corpos hídricos e, por conseguinte a migração das margens no Faxinal
Marmeleiro de Cima no município de Rebouças-PR. O Sistema de Faxinal é uma
forma peculiar de uso e ocupação do solo, onde há um consorciamento entre
exploração dos recursos naturais e criação de animais sem restrições de áreas, o
que propicia uma pressão maior sob os corpos hídricos. O contato direto dos
animais com os corpos hídricos implica na inexistência da mata ciliar o que contribui
para os processos erosivos das margens. Para monitorar a migração das margens e
a movimentação dos bancos de sedimentos de fundo, foi utilizado o método de perfil
transversal (batimetria) e para avaliar a erosão das margens foi aplicada a técnica
de pinos de erosão. Por meio de avaliações batimétricas foi possível identificar que
os suínos revolvem o material de fundo dos rios construindo diques para
represamento da água para banharem-se. Essas “micro represas” quando se
rompem acabam aumentando a vazão momentaneamente e conseqüentemente
aumentando o poder de transporte de material e, em alguns casos esse aumento da
vazão remove esses bancos de sedimentos, os quais serão reconstruídos na
seqüência pelos próprios animais. O comportamento da erosão/ deposição de
sedimentos das margens se portou de maneira distinta, o período da coleta que
apresentou maior pluviosidade, correspondeu ao período em que ocorreram maiores
percas de solo (maior exposição dos pinos).
Palavras-chaves: Faxinal, Animais, Migração, Erosão de Margem
1 Acadêmico de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste Campus de Irati-PR 2 Acadêmico de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste Campus de Irati-PR 3 Professor Msc do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro- Oeste- Campus de Irati- PR [email protected]
TCHMOLO, M. L.; FLORIANI, N. Espaço geográfico e paisagem: contribuições de conceitos da ciência geográfica para pesquisas em
turismo
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ESPAÇO GEOGRÁFICO E PAISAGEM: CONTRIBUIÇÕES DE CONCEITOS DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA PARA PESQUISAS EM TURISMO
MAYCON LUIZ TCHMOLO1 NICOLAS FLORIANI2
Resumo: O objetivo do presente trabalho é compreender a relevância do estudo da
paisagem para o turismo, contudo a partir de uma visão contrária aos pressupostos
que indicam o turismo como somente uma atividade capitalista. Logo, se configura
como uma proposta inicial de pesquisa, que fundamentalmente abrange uma
discussão teórica sobre conceitos e características de termos estudados pela ciência
geográfica. Deste modo, justifica-se que na prática do turismo há constante
aproximação entre culturas (relações sociais), bem como uma interação do ser
humano com o ambiente (relação sujeito-coletividades-natureza), sendo que ambas
as relações ocorrem em um lugar, o qual faz parte do espaço geográfico. Assim, o
aporte teórico traz: reflexões sobre espaço geográfico e espaço turístico, discutindo
suas divergências conceituais; definições e características da paisagem, tendo em
vista, de maneira geral, os conceitos utilizados pelas diversas áreas do
conhecimento e, consequentemente, pelo turismo; e reflexões sobre turismo e
paisagem, mostrando a importância econômica que uma paisagem tem para a
atividade turística, contudo expondo e interrogando as inerentes causas deste uso
paisagístico. Portanto, a partir desta discussão, deixam-se algumas interrogações
quanto a este estudo, no intuito de se refletir os prós e contras quanto ao uso da
paisagem pelo turismo.
Palavras-chave: Espaço Geográfico, Espaço Turístico, Paisagem, Turismo
Introdução
Sob o ponto de vista que o turismo é uma área multidisciplinar há
necessidade de se buscar conhecimentos e experiências de outras ciências no
1 Bacharel em Turismo pela Universidade Estadual do Centro-Oeste, Campus de Irati. Discente do Programa de Pós-Graduação em Geografia (Mestrado em “Gestão do Território”) da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail: [email protected] 2 Graduado em Agronomia, Mestre em Ciências do Solo e Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná. Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia (Mestrado em “Gestão do Território”) da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail: [email protected]
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intuito de redirecionar as investigações e análises sobre este fenômeno, a partir de
uma abordagem abrangente e plural, buscando adicionar outras facetas ao estudo
do turismo. Logo, aparecem ramos do conhecimento científico que poderiam ajudar
o turismo a questionar-se sobre seu universo de pesquisa e a Geografia, tida como
um campo do conhecimento essencialmente interdisciplinar (ainda que na prática
sejam poucos e profícuos os diálogos entre as vertentes natural e humana) destaca-
se neste processo reflexivo.
Diante dos diversos conceitos e peculiaridades trabalhados pela ciência geográfica,
destacam-se as discussões quanto a dois conceitos relevantes para os estudos em
turismo, ou seja, espaço geográfico e paisagem. No espaço geográfico ocorrem as
práticas turísticas, porém em ambientes destinados para tal, e a paisagem é
utilizada como um recurso capital para o desenvolvimento turístico de um local.
Deste modo, apresenta-se a importância de se trabalhar estes conceitos da ciência
geográfica, no intuito de nortear uma pesquisa, bem como averiguar os prós e
contras da atividade turística durante o seu processo.
Para tanto, o presente trabalho apresenta-se como uma proposta inicial de pesquisa,
que foca fundamentalmente uma discussão teórica, sobre definições e
peculiaridades de espaço e paisagem. Logo, seu objetivo gira em compreender a
importância da paisagem para o turismo, porém com uma visão teoricamente
contrária aos pressupostos que indicam o turismo como somente uma atividade
capitalista, cuja finalidade é o consumo e a fetichização do espaço, de acordo a
visão hegemônica de mundo de uma determinada categoria social. Em suma, na
prática isso se mostra evidente, o que faz deste estudo um aporte para que se possa
enxergar o turismo com outros olhos, ou seja, demonstrar que se podem agregar
outros valores com a prática do turismo que não seja a de cunho estritamente
econômico. Nesse sentido, desloca-se a centralidade da premissa do turismo como
uma prática social que consome o espaço (Cruz, 2002, p. 109), para o turismo como
prática social que busca vivenciar o lugar, segundo escalas temporais e sócio
espaciais diversas.
Justifica-se, portanto, que quando se pratica turismo, as pessoas, que neste caso
são turistas, constantemente se relacionam com outras culturas (relações sociais),
bem como interagem com o ambiente (relação sujeito-coletividades-natureza). Para
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tanto, todas essas relações são originadas em um determinado local, que fazem
parte do espaço geográfico, o lugar.3
Assim, a partir das diversas interferências que o turismo acarreta no espaço,
procurou-se focar em um estudo da paisagem, pois “a paisagem [...] é
constantemente refeita de acordo com os padrões locais de produção, da sociedade,
cultura, fatores geográficos e tem importante papel no direcionamento turístico”
(YÁZIGI, 2003, p. 92). Logo, estudar o fenômeno turístico pressupõe uma reflexão
latente: como e em que medida as práticas sociais locais podem configurar e
revalorizar as paisagens dando novos sentidos ao turismo?
Portanto, estruturalmente este presente trabalho se dividirá em três capítulos
essencialmente teóricos, sendo: primeiro uma investigação sobre as diferenças
entre os termos espaço turístico e espaço geográfico, procurando demonstrar a
aproximação e a divergência entre estas duas terminologias; em seguida a
exposição sobre conceitos e peculiaridades sobre a paisagem, com o intuito de focar
nas suas características, bem como na sua importância multifacetada para as
diversas áreas do conhecimento; e, finalmente, discutir dialeticamente como o
turismo pode trabalhar com a paisagem através de um outro viés, isto é, ao contrário
da visão capitalista que imposta ao turismo.
Espaço Geográfico e Espaço Turístico: divergências conceituais
Sendo a paisagem a terminologia específica do presente estudo, ressalta-se que ela
insere-se dentro de uma área de maior abrangência, ou seja, o espaço. Deste modo,
Yázigi (1999) diz que não há como desvincular a paisagem da idéia de espaço. E
este espaço é entendido aqui como o espaço geográfico, procurando discernir de
espaço turístico.
Como em todos os outros estudos das ciências sociais, também há, quando se
questiona o que é espaço, um pensamento dialético. Mesmo que a partir de um
senso comum pareça simples esta definição, percebe-se que há complexidade em
conceituar pontualmente este termo. Nota-se, deste modo, no título do trabalho de 3 “No campo da Geografia Humanística este conceito surge no âmbito da sua consolidação no início da década de 70. Sua linha de pensamento caracteriza-se principalmente pela valorização das relações de afetividade desenvolvidas pelos indivíduos em relação ao seu ambiente.” (LEITE, 1998, p. 9); “O lugar pode ser entendido como a parte do espaço geográfico efetivamente apropriada para a vida, área onde se desenvolvem as atividades cotidianas ligadas à sobrevivência e às diversas relações estabelecidas pelos homens.” (LISBOA, 2009, p. 29). Então, “lugar é o somatório das dimensões simbólicas, emocionais, culturais, políticas e biológicas” (BUTTIMER, 1985, p. 228).
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Braga (2007, p. 65) a seguinte menção: “O espaço geográfico: um esforço de
definição”. Um de seus argumentos tange que a geografia física é inseparável da
geografia humana, assim considera que o espaço tem que ser analisado como um
todo, pois o ser humano está inserido na sociedade e não age sozinho.
Dentro do espaço que se inserem as configurações materiais, as quais possuem
várias e distintas formas estruturais, bem como suas funcionalidades, sendo que são
por meio delas que ocorrem as relações sociais, sejam elas de qualquer cunho
(culturais, econômicas, políticas, etc.) E nesta ótica que Milton Santos vinculou a
idéia de espaço através de dois elementos: fixos e fluxos.
Os elementos fixos, fixados em cada lugar, permitem ações que modificam o próprio lugar, fluxos novos ou renovados que recriam as condições ambientais e as condições sociais, e redefinem cada lugar. Fixos e fluxos juntos, interagindo, expressam a realidade geográfica e é desse modo que conjuntamente aparecem como um objeto possível para a geografia (SANTOS, 1999, p. 50)
Esta foi uma percepção inicial do autor, sendo que mencionou, posteriormente, que
o espaço pode ser entendido como uma entidade híbrida formada por sistema de
objetos e sistema de ações, ou seja, os objetos como uma materialidade e as ações
pertinentes às relações sociais. Deste modo, o sistema de objetos necessita do
sistema de ações, pois esta última que procede a funcionalidade da configuração
territorial (SANTOS, 1999).
Bem como a menção anterior, Carlos (2002, p. 165) diz que
O espaço é entendido como produto de um processo de relações reais que a sociedade estabelece com a natureza (primeira ou segunda). A sociedade não é passiva diante da natureza; existe um processo dialético entre ambas que reproduz, constantemente, espaço e sociedade, diferenciados em função de momentos históricos específicos e diferenciados. [...] O espaço é humano não porque o homem habita, mas porque o produz. Ele é um produto desigual e contraditório à imagem e semelhança da sociedade que o produziu com seu trabalho.
A partir disso, o espaço pode ser definido a partir de todas as relações existentes
entre as formas materiais e os seres humanos. Contudo, Santos (1985), analisa
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peculiarmente o espaço e estabelece categorias analíticas para a compreensão da
organização espacial, através da: forma, função, estrutura e processo4.
Logo, Santos (1985) salienta que se partir da premissa de analisar cada uma destas
categorias separadamente apresentam apenas realidades limitadas do mundo,
contudo relacionando-as constroem uma base metodológica e teórica para se
discutir os fenômenos espaciais numa totalidade. Assim, Silveira (2007) diz que
“está associação se dá também devido à interdependência entre formação sócio-
econômica, modo de produção e espaço”.
Diante a organização espacial e a relação que existe entre as categorias analíticas,
ressaltadas por Santos, existem ambientes que são notados como espaços
turísticos, pois são onde se encontram as atividades turísticas, através da inserção
de empresas de turismo como, por exemplo, hotéis, restaurantes e empresas de
entretenimento, bem como da aglomeração de indivíduos que consomem os
produtos e serviços oferecidos por estas empresas, juntamente com os atrativos
tangíveis inseridos naquele local.
Para tanto, para se conceituar espaço turístico, partiu-se dos pensamentos expostos
pela ciência geográfica. Logo, como há dificuldades para se definir o espaço
geográfico, acontece o mesmo com o espaço turístico. Roberto C. Boullón em sua
obra intitulada “Planejamento do espaço turístico”, entende que é complexo ter
noção do que é espaço, deste modo, afirma que “[...] na antiguidade, definia-se o
espaço como um fluido, o que era uma forma de reconhecer sua intangibilidade”,
porém considera está idéia equivocada, pois apesar de menos utilizada (usada
ainda por arquitetos) o espaço é entendido como “[...] o vazio entre a posição dos
corpos sólidos que se define sua própria massa.” (BOULLÓN, 2002, p. 73).
Assim, Boullón (2002) diz que há diferenças nos conceitos de espaço, pois cada
área que estuda esta terminologia possui uma visão diferente. Deste modo, define
que
o espaço turístico é conseqüência da presença e distribuição territorial dos atrativos turísticos que, não devemos esquecer, são a matéria-prima do turismo. Este elemento do patrimônio turístico, mais
4 A forma é o objeto como visto com materialidade; a função é o papel desempenhado pela forma; a estrutura torna-se invisível, pois referencia o modo das relações existentes entre as formas, para tanto não possui exterioridade imediata; e o processo é uma estrutura que continuamente está em transformação, isto é, as ações que se realizam visando algum resultado, o que implica em uma mudança temporal. In: SANTOS, Milton. Espaço e Método. São Paulo: Nobel, 1985.
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o empreendimento e a infra-estrutura turísticas, são suficientes para definir o espaço turístico de qualquer país (BOULLÓN, 2002, p. 79).
Contudo, a partir da premissa da ciência geográfica, nota-se que apesar de uma
coesão nesta definição, identifica-se que o autor explora apenas os objetos que
estão inseridos no espaço (patrimônio, empreendimento e infra-estrutura turísticas),
contudo questiona-se: e as relações sociais geradas nestes ambientes? Ou seja, os
atrativos turísticos são relevantes para o desenvolvimento da atividade turística, mas
para que este elemento se desenvolva há necessidade que existam seres humanos.
Então não há como excluir as relações sociais dentro destes meios, pois como
ressalta Siviero (2006, p. 9) “embora turismo e espaço não apresentem o mesmo
significado, ambos se complementam, e a reflexão sobre suas características
particulares permite uma futura e melhor compreensão do chamado espaço
turístico.”
Então, há necessidade de uma aproximação de conceitos (de espaço turístico e de
espaço geográfico), tendo em vista conglomerar as estruturas físicas provenientes
do turismo e as relações que o homem possui com estas, pois é o ser humano que
determina a função dos objetos inseridos no espaço, bem como ele está em
constante relação com as configurações materiais (urbanas ou naturais), dispostas
no espaço.
O espaço turístico também possui características próprias e pode ser dividido em
dois tipos: o urbano e o natural. Ward e Dubos (apud BOULLÓN, 2002, p. 111)
dizem que:
O homem habita dois mundos. Um é o mundo natural das plantas e dos animais, dos solos, do ar e das águas, que o precedeu em bilhões de anos e do qual faz parte. O outro é o mundo das instituições sociais e dos artefatos que constrói para si mesmo e com suas ferramentas e máquinas, sua ciência e seus olhos, para alcançar um meio obediente aos propósitos ou direções humanos.
Só que esta distinção de “mundos” é entendida de maneira intangível, pois ambos
os ambientes se relacionam, estando muitas vezes inseridos um nos outros. E a
partir disso, que Boullón (2002) entende que é por meio do método empírico que
surge a melhor maneira de determinar o espaço turístico, pois se pode observar a
distribuição dos atrativos turísticos dentro do território e, deste modo encontrar os
componentes do espaço turístico. Uma divisão então é proposta, logo o espaço
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turístico é determinado pelo tamanho de sua superfície, sendo em escala
descendente: zona, área, complexo, centro, unidade, núcleo, conjunto, corredor,
corredor de translado e corredor de estada; sendo que a zona abrange todas as
outras áreas e as superfícies conseqüentes cingem suas respectivas (BOULLÓN,
2002, p. 80).
Logo, um conceito profícuo a ser analisado é o de território, pois segundo Claude
Raffestin (1993)
É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente [...] o ator “territorializa” o espaço. (RAFFESTIN, 1993, p. 143)
Para tanto, através de processos sociais, econômicos e culturais unificados, se
compreende que a “formação territorial articula uma dialética entre a construção
material e a construção simbólica do espaço” (MORAES, 2005, p. 58). Assim, a
partir das vertentes econômicas, políticas e culturais delimitam-se à formação do
território, sendo que estes processos análogos concretizam o estudo sobre território.
Segundo Saquet (2003, p. 28)
[...] as forças econômicas, políticas e culturais, reciprocamente relacionadas, efetivam um território, um processo social, no (e com o) espaço geográfico, centrado e emanado na e da territorialidade cotidiana dos indivíduos, em diferentes centralidades/temporalidades/territorialidades. A apropriação é econômica, política e cultural, formando territórios heterogêneos e sobrepostos fundados nas contradições sociais.
Moraes (2005, p. 52), numa perspectiva histórica do século XX, diz que os territórios
passam a ser vistos como o “resultado histórico do relacionamento a sociedade com
o espaço, o qual só pode ser desvendado por meio do estudo de sua gênese e
desenvolvimento.” Logo, caracterizar um território significa abranger os processos
sociais estabelecidos, desde a sua constituição, até os processos procedidos
naquele ambiente, sejam esses por influências econômicas, políticas ou culturais, ou
ainda, na conglomeração destes fatores.
A partir destes aportes apresentados nota-se que há similaridades entre os
conceitos de espaço geográfico e espaço turístico, bem como existem diferenças
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pontuais. Contudo, observa-se que o território (a partir da economia, política e
cultura) tem uma maior aproximação conceitual com o termo espaço turístico. Logo,
estabelecer um elo entre as terminologias torna-se relevante, pois é o ser humano o
principal agente modificador destes espaços, sendo também o precursor das
funcionalidades e da distribuição dos objetos materiais. Deste modo, se tratando de
espaço turístico as paisagens inseridas no meio são planejadas de maneira que
atraiam turistas para estes respectivos locais, fazendo com que a atividade se
desenvolva, ou, por outro lado, se decline pela não preservação e degradação das
paisagens.
Conceitos e peculiaridades da paisagem
A paisagem pode ser entendida como
[...] uma qualificação estética outorgada aos elementos que constituem o meio ambiente natural, entendemos que o procedimento para defini-la de modo sistemático deva começar por um conhecimento o mais objetivo possível do meio que lhe serve de base (BOULLÓN, 2002, pp. 116-117)
Nota-se que para definir especificadamente o termo paisagem é necessário
compreender seu campo de estudo ou o local que será realizada a pesquisa. A partir
disso, Sauer (1998, p. 23) diz que “ela pode ser, portanto, definida como uma área
composta por uma associação distinta de formas, ao mesmo tempo físicas e
culturais.” Ou seja, uma porção do espaço geográfico onde se encontram,
juntamente, elementos visuais criados ou modificados pelo homem e configurações
provenientes do próprio meio.
Logo, Bertrand (1971, p. 141) entende que
A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados. É, em uma determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução. .
A paisagem, portanto, é um elemento fixo em determinada porção do espaço
geográfico, contudo se transforma durante o tempo, seja por fatores climáticos,
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geomorfológicos (físicos) ou pela ação do homem (sociais); assim, a paisagem traça
exterioridades culturais e naturais de uma determinada localidade. Yázigi (2002, p. 11) diz “[...] que há uma infinidade de paisagens no espaço e no
tempo, mutáveis, porque as configurações geográficas mudam com a história e com
a própria dinâmica da natureza.” A partir da premissa da mutação da paisagem em
âmbitos espacial e temporal, Carl Sauer ressalta que:
Não podemos formar uma idéia de paisagem a não ser em termos de suas relações associadas ao tempo, bem como suas relações vinculadas com o espaço. Ela está em um processo constante de desenvolvimento ou dissolução e substituição. Assim no sentido corológico, a alteração da área modificada pelo homem e sua apropriação para o uso são de importância fundamental. A área anterior à atividade humana é representada por um conjunto de fatos morfológicos. As formas que o homem introduziu são um outro conjunto. (SAUER, 1998, p.42).
Assim, a paisagem esta em constante mudança, sendo que ela pode ser subdivida
em dois conjuntos: a das modificações no meio fomentadas pelo homem e das
configurações anteriores as práticas humanas. Deste modo, a paisagem pode ser
analisada por sua importância multifacetada, ou seja, a partir de seus elementos
físicos, de seus aspectos culturais, de seu âmbito econômico, de sua história, etc.
Logo, a paisagem é um elemento de estudo multidisciplinar.
Conforme expõem Eduardo Yázigi e Carl Sauer sobre as mutações na paisagem,
estas se particularizam por categorias, deste modo Dollfus (1991) caracteriza as
paisagens em três classes: as paisagens naturais: que não possuem vestígios
recentes da ação do homem; as paisagens modificadas: as quais possuem traços de
intervenção do ser humano em algum momento (queimada, práticas pastoris); e as
paisagens organizadas: que se transformam por ações planejadas do ser humano
sobre o meio natural. Para Petroni e Kenigsberg (apud BOULLÓN, 2002, p. 118) a
paisagem divide-se em:
a paisagem natural: conjunto de caracteres físicos de um lugar que não foi modificado pelo homem; paisagem cultural: paisagem modificada pela presença e atividade do homem (lavouras, diques, cidades); paisagem urbana: conjunto de elementos plásticos naturais e artificiais que compõem a cidade: colina, edifícios, ruas, praças, árvores, focos de luz, anúncios, semáforos etc.
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Em uma cidade, por exemplo, podem-se encontrar estes tipos de paisagem
relacionados entre si ou em áreas delimitadas, mesmo que a paisagem natural seja
menos percebida, pois dificilmente o homem não interfere em elementos
paisagísticos inseridos dentro da área urbana. Rodriguez et al (2007) classifica e
define os seguintes tipos de paisagem: a natural que caracteriza-se pela interação
entre os elementos e componentes de origem natural; e a antroponatural que
condiciona-se a uma paisagem que já sofreu alguma intervenção, sendo que os
elementos naturais são dependentes das ações realizados pelos seres humanos.
A partir destas características peculiares, ocorre que o homem ao mesmo tempo em
que está em contato com as paisagens, intervém neste elemento mudando sua
configuração, consequentemente, com alguma finalidade. E um dos vieses é “usar”
a paisagem como um recurso para fomentar o turismo.
Logo, Cruz (2003) diz que as paisagens em geral são elementos visíveis dentro do
espaço geográfico, consequentemente, são importantes para a atividade turística
seja na constituição dos lugares turísticos ou no direcionamento dos fluxos turísticos.
Porém, ressalta que “as paisagens turísticas nada mais são, também, que
invenções, que criações culturais”, e citando Luchiari (1999) menciona que “as
paisagens turísticas não existem a priori, como um dado da natureza. Elas são uma
invenção cultural.” (CRUZ, 2003, p. 10). E esta criação paisagística tem como
objetivo a captação de turistas, através da atividade turística, o que
consequentemente, contribui para a arrecadação de divisas.
Então, a paisagem torna-se um recurso para o turismo. Deste modo, Castro (2002)
diz que por uma paisagem conter um conteúdo simbólico, ela é aproveitada pelo
turismo como um recurso. Sendo que este recurso turístico é empregado por
diversos países como uma mercadoria (MENESES, 2002), ou seja, na prática, a
paisagem é um objeto de venda para o turismo. E pelo grande apelo visual contido
em muitas paisagens, órgãos públicos e a iniciativa privada vinculadas ao turismo,
“vendem” estes elementos para o turista, sendo que as ações para isso, como
ressalta Cruz (2002), são realizadas por um marketing fomentado para as
paisagens, o qual prolifera problemas sociais, pois um lugar se privilegia diante
outro.
Portanto, esconder aquelas paisagens que destoam o visual de uma localidade e
enaltecer aquelas agradáveis aos olhos humanos são estratégias fomentadas pelo
marketing turístico, pois como destaca Rodrigues (1997, p. 72) “a paisagem é um
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notável recurso turístico, desvelando alguns objetos e camuflando outros, por meio
da posição do observador, quando pretende encantar e seduzir.”
A partir das considerações apresentadas, surgem interrogações quanto ao uso das
paisagens pelo turismo: há como planejar a utilização das paisagens pelo turismo de
outra forma? Existem possibilidades de gestores públicos e iniciativa privada
pensarem primeiramente na população local e posteriormente no turismo?
O turismo e as paisagens: uma visão díspar
Evidentemente, nota-se que o turismo não se preocupa em resguardar as paisagens
como frutos históricos e culturais de uma localidade, pois
As paisagens artificiais criadas pelo turismo destoam seus entornos, tanto no que se refere às características naturais e construídas desses entornos. A natureza e cultura recriadas são fruto de intervenções planejadas [...] não são produtos da história natural e social, são produtos do turismo (CRUZ, 2002, p. 112)
Acerca disso, Rodrigues (2000, p. 181) comenta que o turismo “é uma atividade que
sacraliza a natureza e, ao mesmo tempo, submete-se ao mundo da mercadoria, pois
paga-se para desfrutar da natureza, da paisagem natural ou do ambiente natural ou
construído.”
Por ser uma atividade que nasceu e se desenvolveu no capitalismo, o turismo
contempla um mundo da necessidade do indivíduo se afastar do cotidiano, em
busca de formas de lazer, entretenimento ou descanso. Embora referida
necessidade, nota-se no planejamento e na gestão do turismo que o intuito é
atender bem os visitantes, pois estes ali depositarão seus recursos financeiros,
contudo não há preocupação com o residente daquele local. Assim, o que interessa
para gestores do turismo (tanto de órgãos públicos como da iniciativa privada) é
desenvolver a atividade, aproveitando isso para a acumulação de capital. E a
paisagem é um recurso fundamental para esta finalidade comercial, pois como diz
Yázigi (2002, p. 12) “[...] no mais das vezes, a displicência na exploração de
recursos paisagísticos tem origem na fraqueza da administração pública em favor de
arbítrios pessoais.”
Logo, não há como desprezar o poder que o Estado tem sobre a paisagem, ainda
que em vários casos eles não se atenham a essas diligências mencionadas. Como
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diz Yázigi (2003, p. 79) “governos de todos níveis são legitimamente autorizados a
intervir na paisagem e de fato intervêm a cada momento.” Contudo, “seria muito
primário criticar os governos em bloco, pelo que já passou e do quê, muito hoje
estão particularmente isentos. Mas nunca é demais questionar sobre o que está
sendo feito de acordo com as exigências da modernidade” (YÁZIGI, 2003, p. 79).
Para pensar por outro viés, ou seja, uma visão contrária a imposta para o turismo,
salienta-se que “[...] com algumas referências muito mais ligadas à vida do que ao
turismo propriamente dito, é que se propugna por um meio melhor. Que como já
disse, interessando ao morador acabará interessando ao turismo” (YÁZIGI, 2003, p.
80).
Deste modo, esquece-se em um primeiro momento do turista, e preocupa-se
veemente com a população local e a partir das palavras de Yázigi (2003, p. 69)
chega-se a uma discussão quanto à preservação da paisagem:
Entretanto, uma clara advertência desde o começo: ao defender a preservação da paisagem lato sensu – natural e urbana – penso mormente em sua importância para o habitante do lugar, de que é tributária e só depois, no turista. Descarto assim, o caráter do voyerismo que o mundo inteiro tenta imprimir ao turismo. É que para o residente do lugar, a paisagem e o espaço são virtualmente conclamados a desempenhar várias funções, entre as quais: a de lugar mediador para a vida e as coisas acontecerem – não como receptáculo, mas sujeito a permanente transformação; a de referências múltiplas: geográficas, psicológicas (lúdicas, efetivas), informativas; a de fonte de contemplação que, como a arte, pode significar um contraponto ao consumo; a de fonte de inspiração e, sobretudo, a de alimento à memória social, através de todas as suas marcas.
E este princípio tange que a população autóctone é que se depara todos os dias
com as paisagens inseridas em sua localidade, independentemente de qualquer
turismo que esteja acontecendo naquele local, pois na rotina diária de uma pessoa,
desde o momento em que ela sai de sua residência para trabalhar, até o momento
de seu retorno, ela se depara com diversos tipos de paisagem.
E esta percepção condiz com a importância da paisagem para o habitante, pois “a
paisagem faz parte do dia a dia de todas as pessoas. Mesmo que sem perceber, é a
paisagem fonte de inspiração para as atividades diárias [...] Depende da paisagem
para ficarmos dispostos e muitas vezes desanimados” (BOLSON, 2004, s/p). Porém,
nota-se que a preocupação não abraça primeiramente a comunidade vivente
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naquelas áreas com que a paisagem inspira o residente no seu cotidiano, mas
aqueles que depositarão no município suas divisas.
Contudo, crê-se que há soluções para que seja mudada esta realidade, entretanto a
primeira iniciativa deve ser da própria população de um município, pois como
salienta Yázigi (2003, p. 85) “só a população conscientizada poderia reforçar a
resistência.” Mas, ainda, há esperança em que novos governantes possuam
consciência para estas parciais abdicações econômicas do turismo. Logo, há
necessidade que estas novas pessoas possuam uma instrução para entender que a
paisagem deve ser vista como um elemento em que o residente local vai usufruir
bem mais que o turista.
Então, as ações comunitárias são necessárias para interpelar o sistema e questionar
se as intervenções na paisagem estão sendo feitas realmente com preocupação à
comunidade local ou se essas têm por objetivo somente fins lucrativos. Logo, a
paisagem possui importante valor simbólico e além da realidade natural (ou
econômica no caso do turismo), ela faz parte também da cultura (CASTRO, 2002).
Acerca que os órgãos públicos do turismo devem ter uma primeira preocupação com
a população local, sendo que é a comunidade que possui mais afinidade com as
paisagens, principalmente pelos valores simbólicos ou culturais, faz-se um viés com
a geografia humana, que como indica Claval (2007, p. 46) “o que é fundamental para
os geógrafos de inspiração humanista ou radical não é a distribuição espacial dos
fatos sociais, mas a maneira como as pessoas vivem nos lugares onde residem ou
os que visitam, deles extraindo uma experiência”.
Mesmo, através destes pressupostos, não é possível afirmar que o turismo não é
importante para uma sociedade. O que se necessita então é relacionar de maneira
harmônica a atividade turística e a população local, pois como indica Ruschmann
(1997) se trabalhar e planejar o turismo de maneira que não descaracterize a
paisagem local, bem como não coloque em risco o modo de vida e o estilo
tradicional de uso e ocupação do espaço, a atividade turística surge como alternativa
de renda para a população autóctone. E, ainda, como não se pode desprezar a
atividade turística, pois Meneses (2002, p. 53) diz que “[...] o turismo é uma das
indústrias de maior peso econômico em nossos dias, em crescimento contínuo, e
capaz até mesmo de sustentar países desprovidos de outros recursos”.
Portanto, unindo órgãos públicos conscientes e população ativa e com desejo de
receber o turismo, faz-se uma atividade turística capaz de sustentar paisagens de
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turismo
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modo que não as degrade e nem descaracterize os valores que está possui para
uma sociedade.
Considerações finais
A partir dos pressupostos teóricos apresentados nota-se que o ser humano é o
principal mediador das mudanças que ocorrem no espaço, logo é ele quem
determina o molde das paisagens, bem como as transforma conforme suas
necessidades. Contudo, estas alterações são, em muitos casos, prejudiciais a outros
indivíduos que também se interagem com os elementos do meio. No caso do
turismo as modificações no espaço são evidentes, pois o que se procura é benefício
capital.
Vená (2007) diz que este processo de modificação da paisagem denomina-se
transformação antropogênica da paisagem, sendo que os resultados das
modificações resultam em uma paisagem antrópica. Deste modo, salienta que
“nesse processo de transformação antropogênica, o homem modifica a natureza,
pois introduz elementos novos, muitas vezes prejudiciais a ela.” (VENÁ, 2007, p. 21).
E estes elementos modificados, inseridos na natureza, partem de necessidades
econômicas, pois de acordo com Pires (2000) a paisagem torna-se um elemento
substancial para o turismo, pois paisagem e turismo estão intensamente ligados,
sendo que a paisagem é um recurso para o desenvolvimento e consolidação da
oferta turística.
Assim, por usufruir fundamentalmente o espaço, a prática do turismo colabora para
a destruição de paisagens ou acarreta mudanças drásticas em um lugar. Assim, o
que se mostra neste ambiente, por gestores do turismo, são somente os objetos que
seduzem o seu público-alvo; e as paisagens degradadas são ocultadas da visão dos
consumidores, para que não haja um declínio da atividade turística. Todavia,
interroga-se: mas a paisagem não preservada estará em contato cotidianamente
com os turistas ou com o morador? Caso, o turista execre aquela paisagem, quais
são os sentimentos da população local perante esta incúria?
Outro empecilho encontrado é a maior valorização de um lugar perante outro, pois
um não possui as mesmas características paisagísticas que possam encantar e,
consequentemente, acarretar a vinda de turistas. Deste modo, empreendedores
turísticos buscam desenvolver, nestes lugares “menos desprovidos” de paisagens,
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estratégias para fomentar o turismo. Ocorre, portanto, uma descaracterização total
do lugar, gerando impactos negativos, ou então, uma reprodução de um lugar que a
atividade turística é consolidada. Logo, este ambiente torna-se um não-lugar. Para
tanto, sobre esta terminologia destaca-se que
O espaço habitado era feito de lugares. Comporta agora “não-lugares”. Em face a estas áreas onde só se lêem geometrias a mais frias, os grupos acham-se esvaziados de conteúdo. Eles não conseguem se enraizar ao território para construir suas identidades. Os não-lugares engendram sociedades em vias de desculturação. A arquitetura e o urbanismo pós-modernos nasceram como uma reação a estes excessos (CLAVAL, 2007, p. 318).
Contudo, percebendo que a atividade turística possui relativa parcela neste
processo de reprodução de não-lugares, bem como na desculturação de
sociedades, tem-se, ainda, uma esperança condicional no turismo, pois se for
planejado de maneira responsável e que proporcione um consenso entre turista e
habitante há possibilidades de se preservar as paisagens. Como diz Yázigi (2003, p.
73): “Tenho alguma esperança no turismo, porque se trata de uma atividade que, se
bem conduzida, poderá promover a paisagem de modo conseqüente, ao contrário
de outras ações econômicas que a destroem [...]”
Assim, o objetivo desta discussão não é criticar ou reprovar o turismo, mas deixar
uma reflexão sobre: como esta atividade econômica pode contribuir para a
preservação das paisagens? Mesmo, entendendo que é um processo complexo de
contornar, crê-se que com trabalhos, como este, que se interrogam os principais
envolvidos neste processo, ou seja, administradores públicos do turismo e empresas
ligadas a atividade.
Portanto, o que se pretende com este trabalho não é extinguir as discussões sobre o
tema, mas abrir espaço para outros diálogos, no intuito de propiciar um pensamento
dialético entre os prós e contras da utilização dos elementos paisagísticos pela
atividade turística.
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BARTEKO, R.; ANDRADE, A.R. A influência da variabilidade climática (Evento Enos) na produtividade de soja no Município de Irati-PR
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
A INFLUÊNCIA DA VARIABILIDADE CLIMÁTICA (EVENTO ENOS) NA PRODUTIVIDADE DE SOJA NO MUNICÍPIO DE IRATI-PR
REGIANE BARTEKO1 APARECIDO RIBEIRO DE ANDRADE2
Resumo: As interferências ou variabilidades climáticas ocorrem e afetam a agricultura e a sociedade em geral. Desta forma buscou-se analisar as possíveis intervenções dos elementos do clima na produção e produtividade agrícola, correlacionando, principalmente, o evento ENOS (El Niño Oscilação Sul). Foi selecionada a safra de 2009 e a cultura da soja (Glycine Max (L.) para o estudo, numa área rural do município de Irati – Paraná. Os dados foram coletados durante um ano, num miniabrigo localizado a 25º30’ S e 50º 41’ O, contendo psicrômetro, termômetro de mínima e máxima e pluviômetro. A soja adapta-se melhor à temperaturas em torno de 30ºC. A média de produtividade para o município é de 2.750 kg/ha, avaliados da safra de 1999 a 2009. Sendo analisado uma área de 72 hectares localizada dentro do município, e observou-se que na safra de 2009, superou a média de produtividade municipal que foi de 2.950 kg/ha, nesta área ficou entre 3.250 kg/ha e 4.250 kg/ha. Dentro do período de desenvolvimento da planta o total pluviométrico nesta área, de outubro/2009 até março/2010, acumulou 1.602mm, sendo bem distribuídos. Este ano foi um ano de El Niño de forte intensidade, e os resultados se mostraram positivos na produtividade da soja. Na safra 2004/2005 de outubro/2004 até março/2005o total pluviométrico foi de 715mm, com uma média de produtividade de 2.430 kg/ha. Neste período o El Niño foi de fraca intensidade. Dessa forma, conclui-se que nos períodos que não ocorre déficit hídrico (anos de El Nino) a produtividade da soja é beneficiada. Palavras-chave: Variabilidade Climática, Soja, Produtividade
1 Acadêmica de Graduação do Curso de Geografia da Unicentro (campus de Irati). e-mail: <[email protected] > 2 Professor Adjunto Doutor do Departamento de Geografia da Unicentro (campus de Irati). e-mail: <[email protected]>
ALMEIDA, S. C.; ANTONELI, V. Infiltração de água no solo sob três tipos de uso do solo na Floresta Nacional de Irati (FLONA)
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INFILTRAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO SOB TRÊS TIPOS DE USO DO SOLO NA FLORESTA NACIONAL DE IRATI (FLONA)
SUELLEN CHEMIM DE ALMEIDA1 VALDEMIR ANTONELI2
Resumo: Esta pesquisa teve como objetivo comparar a capacidade de infiltração de água no solo mensurada durante o período de setembro de 2009 á julho de 2010 na Floresta Nacional de Irati (FLONA). Foram mensurados três tipos de uso do solo; Floresta Ombrófila Mista (Mata de Araucária), Reflorestamento de Pinus sp e Reflorestamento de Araucária angustifólia. A mensuração da infiltração foi realizada através de um infiltrômetro manual com anel duplo, sendo que, em cada uso, foram realizadas quatro repetições em cada período. Verificou-se que a infiltração de água no solo na área de reflorestamento de pinus foi de 13,3% superior em relação Mata de Araucária e 17,4% em relação ao Reflorestamento de Araucária.
Palavras-chave: Infiltração, Uso do solo, Geomorfologia Introdução
O presente estudo teve por objetivo avaliar os percentuais de infiltração de água no
solo em três tipos de uso do solo na Floresta Nacional (Flona) de Irati Paraná. Serão
mensurados os talhões com Floresta Ombrófila Mista (Mata de Araucária),
reflorestamento de pinus sp e reflorestamento de Araucária angustifólia (Figura 2).
A FLONA de IRATI, criada pela Portaria 559/68, encontra-se situada no Município de
Fernandes Pinheiro, distando 9 Km da cidade de Irati. Por estar localizada numa
região madeireira e apresentar reflorestamentos com idade de até 50 anos (de
Araucária angustifólia), o grande potencial da FLONA é a exploração madeireira.
Porém outras atividades, não menos importantes, também podem ser exploradas
como: produção de mudas, apicultura, recreação e lazer, resinagem, exploração de
folha de erva-mate, manejo de fauna, criação extensiva de gado, pesquisa e
educação ambiental.
1 Graduanda do Curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste –UNICENTRO Campus de Irati; – E-mail: [email protected] 2 Professor M.Sc. do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste –UNICENTRO Campus de Irati; E-mail: [email protected]
ALMEIDA, S. C.; ANTONELI, V. Infiltração de água no solo sob três tipos de uso do solo na Floresta Nacional de Irati (FLONA)
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O monitoramento dos índices de infiltração de água no solo em três tipos de uso do
solo serviu de base para avaliar a influência de diferentes tipos de florestas nos
processos de infiltração.
A infiltração de água no solo envolve três processos interdependentes: entrada de
água no topo do solo, armazenamento dentro do solo e transmissão de água através
do solo (REICHARDT, 1990). Qualquer alteração em um desses processos altera a
resposta hidrológica de uma vertente, sobretudo, a alteração na infiltração no topo
do solo que é influenciado por vários fatores como: intensidade e duração da chuva,
umidade antecedente, textura do solo, cobertura vegetal e uso da terra (manejo)
(DUNNE e LEOPOLD, 1978; McCAIG; 1985; IMENSON, 1985).
De acordo com CARDURO e DORFMAN (1988), condições, como porosidade,
umidade, atividade biológica, cobertura vegetal, rugosidade superficial e declividade
do terreno, dentre outras, influem grandemente na infiltração da água no solo.
A partir do início da precipitação o solo começa a aumentar seu teor de umidade,
diminuindo assim o poder de infiltração. A intensidade da precipitação é que indica o
potencial de absorção de água no solo. Se a intensidade da precipitação for igual ou
inferior a capacidade de infiltração, não ocorrerá escoamento superficial, mas se a
intensidade da precipitação exceder a capacidade de infiltração, o excedente iniciará
um pequeno fluxo na superfície.
SILVA (1999), afirma que após o término da precipitação, o solo começa perder
umidade por evaporação, absorção através das plantas, escoamento sub-superficial
ou hipodérmico, que se processa nas primeiras camadas do solo após a infiltração
da água da chuva, e escoamento subterrâneo ou escoamento de base, que é a água
que migra em direção ao lençol freático, sendo responsável pelo abastecimento dos
cursos de água em épocas de estiagem.
Solos sob florestas se caracterizam por expressiva camada de resíduos vegetais
(serrapilheira) e por um horizonte A rico em matéria orgânica. A matéria orgânica
atua na manutenção dos agregados do solo, preservando sua porosidade
(BERTONI e LOMBARDI NETTO 2005).
LIMA (1996) complementa que nas plantações industriais durante o preparo do solo
e período de crescimento das mudas, o solo permanece praticamente sem proteção.
Os regimes de corte raso ao final do período de rotação são fatores que também
podem resultar em perdas consideráveis de solo por erosão. As perdas de solo e de
nutrientes prejudicam tanto a qualidade da água quanto a manutenção da
ALMEIDA, S. C.; ANTONELI, V. Infiltração de água no solo sob três tipos de uso do solo na Floresta Nacional de Irati (FLONA)
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produtividade; dessa forma, é muito importante o manejo adequado das plantações
florestais.
Segundo ANTONELI (2004), a cobertura florestal, através da interceptação,
influencia a redistribuição da água da chuva, em que as copas das árvores formam
um sistema de amortecimento, direcionamento e retenção das gotas que chegam ao
solo, afetando a dinâmica do escoamento superficial e o processo de infiltração.
Portanto, a vegetação funciona como reguladora do fluxo natural das águas, sendo
um condicionante físico de maior importância na ocupação de uma determinada
área.
COELHO NETO (1995), afirma que a vegetação tem como uma de suas múltiplas
funções o papel de interceptar parte da precipitação (P), pelo armazenamento de
água nas copas arbóreas (A), de onde é perdida para a atmosfera através da
interceptação da vegetação, a água atinge o solo por meio das copas
(atravessamento At) e através do escoamento pelos troncos Ft (fluxo de água no
tronco).
O dossel de folhas intercepta em média de 10% a 25% da precipitação. Durante
uma chuva de pouca intensidade e de pequena duração, a interceptação chega a
atingir 100 %, ou seja, a água não entra em contato com o solo. Quando existe um
excedente de água e a mesma chega ao solo, fica armazenada na porção externa
superior do solo, que comporta os detritos orgânicos que caem da vegetação
(galhos, folhas, frutos sementes e flores), chamadas de serrapilheira (As). A
serrapilheira é formada por duas camadas que dão origem aos horizontes O1 e O2
do solo. O horizonte O1 é composto por detritos recém caídos, que ainda não
sofreram decomposição. O horizonte O2 no qual os detritos já sofreram
decomposição sendo transformado em matéria orgânica, rica em húmus que além
de fortalecer as raízes, tem maior facilidade de reter a água, contribuindo assim com
a frenagem da erosão.
LULL (1963), analisando a infiltração em diferentes fases sucessionais, em uma
floresta na Pensilvânia, concluiu que a infiltração é maior na floresta clímax onde a
infiltração média foi de 76,2 mm.h-1; já em uma floresta de pinheiro com
aproximadamente 60 anos a infiltração foi de 62,7 mm.h-1, na floresta de pinheiro
com 30 anos foi de 74,9 mm.h-1 e na pastagem abandonada observou-se infiltração
de 42,7 mm.h-1.
ALMEIDA, S. C.; ANTONELI, V. Infiltração de água no solo sob três tipos de uso do solo na Floresta Nacional de Irati (FLONA)
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
De modo geral, pode-se dizer que a taxa de infiltração é diretamente proporcional à
densidade e à idade do povoamento como também ao tamanho da cobertura
florestal. Ou seja, quanto maior a cobertura e a densidade, e mais idade possuir a
floresta, maior será a infiltração.
Portanto, a água que infiltra no solo movimenta-se através do espaço poroso
existente, através do processo de percolação e, eventualmente, atinge uma zona
totalmente saturada, formando o lençol freático, que irá alimentar rios e oceanos,
dando assim continuidade ao ciclo hidrológico.
Os percentuais de infiltração, são influenciados também pelo uso e ocupação do
solo, principalmente em áreas onde há constante pisoteio dos animais e áreas
agricultáveis.
ANTONELI e THOMAZ (2009), ao mensurarem as taxas de infiltração em 7 (sete)
tipos de uso do solo em período seco (agosto) e período úmido (dezembro) na Bacia
do Arroio Boa Vista – Guamiranga Paraná, concluíram que, a infiltração de água no
solo mensurada nos diferentes usos nos meses de agosto (período seco) e
dezembro (período úmido) apresentou diferenças estatísticas significativas. A
infiltração foi maior nos ensaios realizados em agosto, sendo que o uso com
agricultura mecanizada apresentou a maior taxa de infiltração total nos dois períodos
avaliados.
Em relação à redução na taxa de infiltração total em comparação a agosto e
dezembro, segundo os mesmos autores, verificou-se que os usos com capoeira e
reflorestamento com eucalipto registraram as menores reduções na infiltração. Os
usos da terra com floresta, agricultura mecanizada, Faxinal e erva-mate
apresentaram reduções na taxa de infiltração semelhante. Portanto, o padrão e a
dinâmica do uso da terra na área de estudos, apresentam diferentes respostas na
capacidade de infiltração de água.
DALLA ROSA (1981), afirma que em solos intensamente cultivados pelos preparos
convencionais, o surgimento de camadas compactadas, com redução do volume de
macroporos e aumento de microporos, determina uma diminuição do volume de
poros ocupado pelo ar e um aumento na retenção de água. Nos processos de
redução dos percentuais de infiltração de água no solo, ocorre um aumento nas
taxas de escoamento superficial e conseqüentemente uma taxa maior de remoção
do solo. SCHICK et al. (2000).
ALMEIDA, S. C.; ANTONELI, V. Infiltração de água no solo sob três tipos de uso do solo na Floresta Nacional de Irati (FLONA)
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
SHPAK (1971), conclui que existem variações no armazenamento de água no solo
sob diferentes tipos de vegetação. Em suas pesquisas em solo russo, conclui que na
estação de crescimento as camadas superficiais em áreas abertas secam mais
rapidamente do que em áreas florestadas, ao passo que no outono as camadas
mais profundas do solo são mais secas sob florestas do que em áreas abertas.
Conclui ainda que tais variações dependem do tipo de solo, e principalmente do uso
e ocupação deste solo.
Segundo BERTOL et al. (2001) em solos intensamente cultivados o surgimento de
camadas compactadas determina a diminuição do volume de poros ocupado pelo ar
e o aumento na retenção de água. Em decorrência disto, os autores concluem que
há uma diminuição da taxa de infiltração de água no solo, com conseqüente
aumento das taxas de escoamento superficial.
Caracterização da área de estudos Este trabalho foi realizado na Floresta Nacional de Irati (Flona de Irati), uma Unidade
de Conservação Federal de Utilização Sustentável, criada como Parque Florestal,
em 1946, e transformada em Flona em 1968. A Flona de Irati, com 3.395 ha, está
situada nos municípios de Fernandes Pinheiro e Teixeira Soares (Figura 1), na
coordenada 25°21’ de latitude sul e 50°35’de longitude oeste, tendo como limite os
municípios de Imbituva e Irati, no Segundo Planalto Paranaense, Microrregião
Colonial de Irati (MAZZA 2006).
É uma área relativamente extensa, coberta de vegetação de grande porte, composta
por espécies nativas e exóticas, a uma altitude média de 820 metros acima do nível
do mar, com relevo suave ondulado. O clima regional, conforme Köppen é do tipo
Cfb - Subtropical Úmido Mesotérmico, caracterizado por verões brandos, geadas
severas e freqüentes num período médio de ocorrência de 10 a 25 dias anualmente
e sem estação seca. Os solos as caracterizados por Podzólico Vermelho-Amarelo e
Latossolo Vermelho-escuro distrófico, com material originário do argilito do Grupo
Passa Dois e depósitos quaternários (Figura 1).
ALMEIDA, S. C.; ANTONELI, V. Infiltração de água no solo sob três tipos de uso do solo na Floresta Nacional de Irati (FLONA)
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Figura 1. Localização geográfica da Floresta Nacional de Irati. Fonte: MAZZA, 2006.
Com base nos dados apresentados por Mazza et. al. (2006), a Flona apresenta 6
classes de uso do solo (tabela 1).
Tabela 1. Classes de uso do solo e suas respectivas porcentagens Classe Área (ha) %
Agricultura 1,78 0,05 Capoeira 150,53 3,99 Mata nativa 2.240,45 59,36 Reflorestamento 802,4 21,26 Solo exposto 2,82 0,07 Mata de várzea 576,55 15,27
Os dados da tabela 01 são representados em um mapa de distribuição das classes
de uso do solo (Figura 2).
Segundo MAZZA (2005), as características do solo da Flona de Irati podem ser
divididas em 07 classes de solo distribuídas ao longo de sua área (Figura 3).
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Área de Estudo
Figura 2. Mapa de distribuição das classes de uso do solo. Fonte: MAZZA, 2006.
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Figura 3. Mapas de distribuição dos solos da Flona. Fonte: MAZZA, 2005.
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Os tipos de solos encontrados foram apresentados em uma tabela, juntamente com
suas respectivas porcentagens da área. (tabela 2).
Tabela 2. Distribuição das classes de uso do solo. Classe Área (ha) %
1
Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico câmbico, álico.
0.08
2
Associação Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico típico+ Cambissolo Háplico Distrófico típico + Latossolo Vermelho Distrófico típico.
9.59
3
Associação Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico típico + Latossolo Bruno Distrófico típico.
0.39
4
Associação Cambissolo Háplico Distrófico típico + Latossolo Bruno Distrófico típico.
0.10
5
Associação Cambissolo Háplico Distrófico típico, álico + Alissolo Crômico Húmico típico.
25.42
6
Associação Latossolo Vermelho Distrófico típico, álico + Nitossolo Hápico Distrófico típico, álico.
26.62
7 Latossolo Vermelho Distrófico típico, álico 37,80 Fonte: MAZZA, 2005.
Materiais e métodos
Para a mensuração de infiltração de água no solo nos três tipos de usos, foi utilizada
a metodologia proposta por LINSLEY, et al. in VILLELA (1975), constituído de dois
cilindros concêntricos (400 e 900 mm) e uma bureta graduada de PVC. Segundo
ANTONELI e THOMAZ (2009) o anel duplo tende a evitar que haja muita
transferência de água lateral, uma vez que, a água é adicionada no anel externo e
no anel interno, onde será feita a leitura da infiltração. (Figura 4)
Esse procedimento faz com que a infiltração ocorra verticalmente e não ocorra super
estimativa na taxa de infiltração. Os anéis foram enterrados cuidadosamente em
torno de 5 cm no solo para não perturbar em excesso a camada superficial do solo,
pois esta perturbação promoveria uma diferenças nos percentuais de infiltração.
Posteriormente, a água foi adicionada constantemente, mantendo-se uma lâmina de
2 a 5 cm de altura dentro dos anéis.
A mensuração foi feita durante uma hora em intervalos de 5 minutos (adotado como
tempo padrão), sendo realizadas mensurações mensais. A taxa de infiltração básica
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(infiltração constante) foi considerada quando a leitura do anel interno se repetiu
pelo menos três vezes seguidas (BRANDÃO et al., 2002). (Figura 4)
Figura 4. Infiltrômetro de anéis. Fonte: ALMEIDA (2010).
Vale ressaltar que o tempo de mensuração de sessenta minutos pode não ser
suficiente para que este padrão ocorra. Mas este estudo não se buscou
necessariamente obter a taxa de infiltração básica, mas sim comparar a infiltração
(total e velocidade) em diferentes usos no tempo de sessenta minutos. Não foi
estimada a umidade antecedente do solo, devido a dificuldade de mensuração logo
após a ocorrência dos eventos, portanto a pesquisa se limitou apenas a avaliar a
diferença de infiltração entre os três tipos de uso do solo.
Resultados e Discussão
Quando se propõe a avaliar a taxa de infiltração de água no solo, devem-se levar em
consideração alguns fatores que influenciam diretamente nessas taxas, como por
exemplo, a estrutura da vegetação, tipo de solo, declividade.
Quanto à estrutura da vegetação, apesar das três áreas estarem sob uma mesma
estrutura geomorfopedológica, ela se diferencia pela forma de manejo. As áreas de
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reflorestamento de pinus sp, se caracterizam pela sua homogeneidade e pela maior
quantidade de deposição de serrapilheira (observação em campo). Já o
reflorestamento de araucária, apresenta um dossel parcialmente “fechado” pela
própria araucária, e um sob bosque com espécies nativas. Por outro lado à mata de
araucária nativa apresenta uma estrutura diferenciada, pois o dossel é composto
não só por araucárias, mas sim por outras espécies nativas. Essa diferenciação na
estrutura da vegetação implica diretamente no índice de atravessamento da água da
chuva.
Portanto, a distribuição das precipitações surge como um dos principais fatores que
influenciam na taxa de infiltração. Neste sentido, fez-se uma tabela da distribuição
diária da precipitação ao longo do período de monitoramento onde foram estimados
os números de dias em que ocorreram os eventos, e a quantidade de precipitação
(Tabela 3).
Tabela 3. Distribuição da precipitação ao longo do monitoramento.
Meses Precipitação mm
nº de chuva
< 10 mm
11 a 20 mm
21 a 40 mm
40 a 60 mm
>60 mm
set/09 341,5 11 3 3 2 1 2 out/09 208,4 14 7 4 2 1 - nov/09 186,3 14 8 3 2 1 - dez/09 110 14 9 5 - - - jan/10 232,9 20 12 4 1 3 - fev/10 156,5 12 7 4 - - 1 mar/10 216,5 11 7 2 1 1 abr/10 322,1 11 5 1 2 1 2 mai/10 75 9 6 3 - - - jun/10 80 7 6 1 - - - Total 1929,2 123 70 30 10 8 5
Fonte: ALMEIDA, 2010.
Com base nos dados apresentados pela tabela 3, verifica-se que a grande maioria
das precipitações são inferiores a 10 mm. Vale ressaltar que estes valores de
precipitação são apenas da quantidade, onde não foi possível avaliar a intensidade
da precipitação. As precipitações inferiores a 10 mm, correspondem a 56,9% do total
dos eventos, o que implica em uma dinâmica diferenciada nos processo de
infiltração. Pois chuvas de fraca intensidade apresentam valores maiores de
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interceptação, e a quantidade de água que atravessa sofre influência direta da
retenção da água na serrapilheira.
Nas palavras de BLACKE 1975, chuvas inferiores a 3 mm a precipitação é toda
absorvida pela vegetação. Isso significa que nos meses em que houve um aumento
significativo nos eventos inferiores a 10 mm. Os índices de atravessamento foram
menores.
O mês de setembro de 2009 o percentual de chuvas inferiores a 10 mm foi de
27,7%. Sendo que cerca de 27,7% foram chuvas acima de 40 mm. Já junho de 2010
apresentou o maior percentual de eventos inferior a 10 mm, sendo que dos 7
eventos, 6 apresentaram valor inferior a 10 mm (85%).
Os meses de setembro e abril apresentaram os maiores valores de precipitação
maior que 20 mm, em torno de 45,5% do total de eventos, sendo que os referidos
meses à precipitação > 60 mm foi responsável por 18%. Essas chuvas excepcionais
implicam diretamente nos percentuais de infiltração. Neste tipo de evento, a
interceptação é menos eficiente, o que implica em uma maior quantidade de água
que chega até o solo.
Quando se avalia a pluviosidade e a correlaciona com as taxas de infiltração, deve-
se levar em consideração a característica da vegetação, pois mata da araucária
(nativa) apresenta três estágios; o dossel, o sub bosque e a vegetação herbácea,
isso implica em uma dinâmica diferenciada dos índices de atravessamento, pois
cada estrato arbóreo acaba armazenando uma certa quantidade de água.
A mata de araucária (reflorestada) também apresenta características semelhantes, o
que diferencia é a população de Araucária angustifolia que é plantada em um certo
espaçamento, evitando assim a superpopulação de espécies em um determinado
local e uma redução da mesma espécie em outro local, os quais acabam formando
mosaicos das espécies.
Com o término do monitoramento, nas três áreas distintas, os dados foram
tabulados, sendo avaliada a média mensal de cada tipo de uso, (Tabela 4).
Com base na tabela 4, conclui-se que a distribuição da infiltração nas três áreas
distintas não apresenta diferença significativa. Entre as áreas de mata nativa e
reflorestamento de araucária, a variação foi muito pequena, sendo que a mata nativa
a infiltração foi 3,6% maior em relação ao reflorestamento de araucária. Esta
pequena variação entre as duas áreas é explicada pelas características da
vegetação, onde a estimativa da taxa de serrapilheira é praticamente igual.
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Tabela 4. Percentual de infiltração mensal de cada tipo de uso do solo correlacionada com a precipitação mensal.
mês Reflorest pinus
% Mata nativa
% Reflorest Araucária
% chuva %
set/09 21,5 6,6 22,1 7,74 23,7 8,60 341,5 17,7 out/09 17,6 5,4 19,1 6,69 22,3 8,09 208,4 10,8 nov/09 30,7 9,5 27,5 9,64 28,8 10,45 186,3 9,7 dez/09 33 10,2 28,1 9,85 30,6 11,11 110 5,7 jan/10 38,6 11,9 33 11,56 27,3 9,91 232,9 12,1 fev/10 56,7 17,5 38,3 13,42 25,9 9,40 156,5 8,1 mar/10 21,4 6,6 15,9 5,57 18,7 6,79 216,5 11,2 abr/10 16,5 5,1 19,8 6,94 23,7 8,60 322,1 16,7 mai/10 42 13,0 38,1 13,35 34 12,34 75 3,9 jun/10 45,5 14,1 43,5 15,24 40,5 14,70 80 4,1 média 32,35 100 28,5 100 27,5 100 1929 100
Fonte: ALMEIDA, 2010.
O reflorestamento de pinus sp proporcionou um aumento maior na estimativa de
infiltração em relação aos outros dois tipos de uso. A infiltração neste domínio foi
13,3% maior em relação à mata nativa e, 17,4% maior que o reflorestamento de
araucária. Estes percentuais estão atrelados à dinâmica de cada área monitorada,
pois na mata nativa há uma variação maior de espécies do que na área de
reflorestamento de araucária. Já o reflorestamento de pinus sp, é considerado uma
vegetação homogênea. Estas especificidades contribuem de forma diferenciada na
produção de serrapilheira, nos índices de atravessamento da água da chuva e
principalmente no armazenamento dá água da chuva na serrapilheira. Sendo que
estes fatores atuam como controladores da infiltração de água no solo.
Quando comparados os índices de precipitação com os percentuais de infiltração,
percebe-se que a quantidade de precipitação é um condicionante expressivo nas
taxas de infiltração em determinados meses. Cita-se com exemplo os meses de
setembro e abril, onde as taxas de precipitação foram maiores (341,5 mm e 332,1
mm respectivamente). Nestes meses a infiltração foi menor nas três áreas. Já os
meses de maio e junho, apresentaram índices mais elevados de infiltração nas três
áreas, no entanto, a precipitação indicou as menores valores (75 % e 80%
respectivamente).
Através desses dados, foi confeccionado um gráfico com a distribuição média de
infiltração em cada leitura. (gráfico 1)
De posse deste gráfico, fica evidente que infiltração nas três áreas distintas segue
um mesmo padrão de infiltração, o que diferencia são apenas algumas
particularidades de cada tipo de uso do solo.
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Gráfico 1. Média de infiltração de cada leitura das três áreas
0,01,02,03,04,05,06,07,08,09,0
10,011,0
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60tempo em minutos
infil
traç
ão e
m m
m
mata nativa Reflorestamento Araucária Pinus
Vale ressaltar que a infiltração nos 10 primeiros minutos nas três áreas foram
diferenciados pela quantidade maior de serrapilheira. No reflorestamento de pinus
sp, a infiltração neste intervalo (10 minutos) foi de 14 mm, já a mata de araucária
neste mesmo intervalo foi de 12 mm e no reflorestamento de araucária este valor foi
de 10,7mm. Portanto a serrapilheira além de aumentar os índices de matéria
orgânica no solo implica, funciona como agente agregante, responsável pela
estabilidade dos agregados do solo. Esta estabilidade por sua vez implica
diretamente no controle da drenagem e erodibilidade do solo.
Conclusões
A pesquisa se propôs apenas em avaliar a taxa de infiltração de água no solo em
diferentes tipos de vegetação e, ao término da pesquisa conclui-se que a
precipitação é um fator que está diretamente ligado às taxas de infiltração de água
no solo, mas que outros condicionantes que atuam nos diferentes tipos de uso do
solo devem ser levados em consideração no momento em que se propõe avaliar as
diferentes taxas de infiltração em usos distintos.
A infiltração sob o reflorestamento de pinus sp, foi maior em relação às demais
devido ao acúmulo de serrapilheira, sendo que esta contribui para a retenção de
água na camada superficial do solo. Os valores de infiltração segundo Reichardt
(1990), podem ser classificados como baixo e muito baixo.
Quando correlacionados os índices de pluviosidade com as taxas de infiltração nas
três áreas distintas, conclui-se que a precipitação exerce influência diretamente nos
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percentuais de infiltração.
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OKONOSKI, T. R. H.; FERNANDES, F.; SILVA, I. N. O. Introdução a Paleontologia do Devoniano: as experiências de um trabalho prático na região dos Campos
Gerais do Paraná, como ferramenta alternativa para ensinos de base
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INTRODUÇÃO A PALEONTOLOGIA DO DEVONIANO: AS EXPERIÊNCIAS DE UM TRABALHO PRÁTICO NA REGIÃO DOS CAMPOS GERAIS DO PARANÁ, COMO FERRAMENTA ALTERNATIVA PARA ENSINOS DE
BASE
THALES RAVEL HETKA OKONOSKI1 FERNANDO FERNANDES2
IAN NAVARRO DE OLIVEIRA SILVA3
Resumo: Esse trabalho referente à abordagem paleontológica do período
devoniano, foi realizado através da discussão teórica e da prática de campo na
região dos campos gerais especificamente nas cidades de Castro, Ponta Grossa e
Tibagi-PR. Como interesse fez se o reconhecimento dos afloramentos fossilíferos e
consecutivamente a coleta e classificação de alguns exemplares. Estes, através da
taxonomia e a tafonomia servem de material para definir a estratificação cronológica
dos achados. De forma geral, esse trabalho teve como base a compreensão
paleontológica relacionado a saídas de campo feitas com o grupo de pesquisa
Palaios da Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG, contextualizando um
trabalho prático. Através da discussão teórica dos elementos abordados, e visto a
pouca abordagem da paleontologia em ensinos de base, buscou-se também uma
possível transposição das idéias de paleo-rotas para o ensino fundamental e médio,
enfatizando a importância da pesquisa na paleontologia e a conservação de sítios
com o pressuposto de uma educação ambiental, propiciando assim, ambientes
alternativos para o ensino.
Palavras-chave: Paleontologia, Formação Ponta Grossa, Educação Ambiental, Devoniano Paleontologia do Devoniano Estudos sobre a evolução do Planeta Terra, tanto em relação a aspectos biológicos,
geológicos, paleontológicos, entre outros, foram ordenado principalmente por Eras,
1 Mestrando em Geografia – Gestão do Território, UEPG, Universidade Estadual de Ponta Grossa, [email protected] 2 Mestrando em Geografia – Gestão do Território, UEPG, Universidade Estadual de Ponta Grossa, [email protected] 3 Mestrando em Geografia – Gestão do Território, UEPG, Universidade Estadual de Ponta Grossa, [email protected]
OKONOSKI, T. R. H.; FERNANDES, F.; SILVA, I. N. O. Introdução a Paleontologia do Devoniano: as experiências de um trabalho prático na região dos Campos
Gerais do Paraná, como ferramenta alternativa para ensinos de base
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Períodos e Épocas, que marcam etapas de evolução e de transformação no planeta
e dos seres que o habitam.
O Devoniano é um dos períodos da Era Paleozóica, entre 416 milhões e 354
milhões de anos atrás. Caracterizado por intensa sedimentação continental
intercalada com depósitos marinhos. Como também por intensas movimentações
geológicas, onde o continente Laurentia colide com a Báltica formando a
Euramérica, com isso o globo fica reduzido a três grandes continentes, sendo eles:
Euramérica, Sibéria e Gondwana.
Santos (2004, p 48) expõem que “As mais extensas transgressões marinhas do
Fanerozóico da América do Sul estão registradas no Devoniano” essa dinâmica
acarretou na formação de diversos ambientes com inúmeras formas paleontológicas
as quais através das análises atuais podem vir a trazer a compreensão da dinâmica
do globo e das formas biológicas existentes, também suas mudanças fenotípicas e
genotípicas. Inúmeros fósseis vêm a contribuir na caracterização das áreas e no
estudo destas.
A bacia sedimentar do Paraná segundo Bosseti et al (2010):
Possui um registro estratigráfico incompleto compreendendo o Período Ordoviciano Superior ou Neo-Cretáceo, atingindo aproximadamente 7000 m de espessura em seu eixo deposicional. De acordo com Milani et al. (2007 a) a Bacia originou-se como um golfo aberto para o mar Panthalassa, através do movimento convergente entre o continente Gondwana e o assoalho oceânico do Panthalassa que no fanerozóico, contribuiu para o fechamento progressivo da Bacia do Paraná até sua continentalização completa.
Em relação à idade da formação da Bacia do Paraná, Assine (1996) divide-a em três
seções estratigráficas deposicionais através de unidades litoestratigráficas de Lange
e Petri (1967), sendo a base a sequência Lochkoviana abrangendo a formação
furnas unidade I e II, seguida da sequência Praguina-Eifeliana a qual é constituída
pela Formação Furnas unidade III, Formação Ponta Grossa, membro Jaguariaiva e
Membro Tibagi. No topo a sequência Eifeliana-Frasniana, abrangendo a Formação
Ponta Grossa, topo do Membro Tibagi e Membro São Domingos (BOSSETI, 2010).
Quadros, (1999) através das associações de acritarcas encontradas em cada
membro indicou a idade correspondente a cada formação sendo Praguiana-Emsiana
para o membro Jaguariaiva, emsiana-eifeliana para o membro Tibagi e para o
OKONOSKI, T. R. H.; FERNANDES, F.; SILVA, I. N. O. Introdução a Paleontologia do Devoniano: as experiências de um trabalho prático na região dos Campos
Gerais do Paraná, como ferramenta alternativa para ensinos de base
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membro São Domingos a idade eifiliana- neofameniana. Grahn, (1999) baseando-se
em registros de quitinozoários apresentou idades diferentes as quais foram
apresentadas por Quadros, (SCHEFFLER et al, 2007), sendo respectivamente
praguiana-emsiana, emsiana e emsiana eofransniana. Contudo através de
conhecimentos e estudos estratigráficos, Bergamaschi (1999), (apud BOSSETI, et al
2010), aproveitando também estudos dos quitinozoários de Grahn, reconheceu seis
diferentes seqüências deposicionais siluro-devoniana, dentro da formação
litoestratigráfico da Formação Ponta Grossa e Formação Furnas, (SCHEFFLER,
2007; BOSSETI, et al 2010).
A formação Ponta Grossa como a formação Furnas do devoniano inferior compõem
parte da Bacia do Paraná, conjunto litoestratigráfico Grupo Paraná (LOBATO, 2005),
sendo esse sobreposto por rochas da formação Itararé através de contatos
discordantes na sobreposição de elementos sedimentados angulares.
A formação Furnas assenta-se sobre a base cristalina ou formação Iapó, sendo a
unidade mais antiga da Bacia do Paraná, para Maack (1947) apud (BOSSETI,
2010), essa formação na seção tipo a oeste da cidade de Castro é uma estrutura
geológica caracterizada por duas camadas respectivamente de material glacial de
drift, e mais recente material acinzentado sem origem vulcânica de fase pré-
devoniana. “A idade da Formação Furnas é considerada como estendendo-se do
Neo-Siluriano (Pridoliano) ao Eo-Devoniano (Lockoviano/ Praguiano), segundo
Assine (1996) e Bergamaschi (1999)” (MELO, 2004).
Sua formação é motivo de discussão teórica, alguns autores citam de a formação ter
origem marinha como é o caso de Bigarella et al. (1966) e Lange & Petri (1967),
enquanto uma proposição de uma formação fluvial é entendida por Northfleet et al.
(1969) e Schneider et al. (1974). Assine et al. (1994) propuseram que as furnas
foram depositadas em formatos de deltas os quais seriam construídos por rios
entrelaçados, já Borgui (1996) e Assine (1996) consideram a origem devido a
retrabalhamento marinho de paleo-correntes costeiras (apud MELLO, 2004).
Formada pelos membros Tibagi, Jaguaraíva e São Domingos, a Formação Ponta
Grossa situa cronologicamente acima da formação furnas, Lange & Petri (1967)
apud (MELO et al 2004), e abaixo da formação Itararé.
Assine (1996) e Bergamaschi, (1999 apud MELO, 2004), comentam que o membro
Jaguariaiva “é constituído de folhelhos laminados fossilíferos e bioturbados, com
lentes de arenitos finos subordinadas, depositados num contexto de plataforma
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marinha rasa, de idade correspondente ao intervalo Praguiano a Frasniano”. Lange
e Petri, 1967 (apud BOSSETI, et al 2010), citam que o contato da formação
Jaguariaiva com a Furnas é concordante gradacional e com a Itararé sendo
discordante. É uma formação fossilífera contendo bivalves gastrópodes, trilobitas,
braquiópodes, em ambiente de sedimentação marinho raso, o qual teve taxa de
sedimentação lenta e com pouca energia com intensa colonização bentônica do
fundo, embora esses levantamentos perdem sentido com os trabalhos que vieram a
ser desenvolvidos com Rodrigues (2002) e Bosseti, (2004), (apud ZABINI, 2007).
No membro Tibagi há presença de arenitos finos a muitos finos com lenticulares e
fossilíferos, estando de forma concordante e gradacional sobre o membro
Jaguariaiva e sob o São Domingos caracterizado pela forma gradacional (ZABINI,
2007). Há presença de micas e de folhelhos laminados que varia a coloração de
acordo o grau de intemperismo que podem estar sujeitos nos afloramentos. Para
Lange e Petri (1967) apud Bosseti (2010) no membro Tibagi á uma ciclicidade
arenito/folhelho os quais seriam provocados por movimentos eustáticos. De forma
geral, esses ciclos eustáticos foram responsáveis pela formação de estratos com
características granulométricas e de formas deposicionais distintas no membro
Tibagi.
Assine e Petri (1996) apresentam o membro Tibagi contendo arenitos grano
crescentes, tendo aumento da fração areia para o topo e Bosseti (1989) acrescenta
a composição fossilífera do membro Tibagi sendo muito rica (BOSSETI, 2010).
Característica essa que exemplifica a variação das intensidades deposicionais na
formação geológica do membro e a localização das áreas formadoras dos
sedimentos.
O membro São Domingos, de idade givetiana é unidade topo acima do membro
Tibagi, contem estratos laminados de cor cinza, os quais em alguns casos
apresentam-se na forma de betuminosos entremados por camadas de arenitos finos,
sendo o seu encontro com o Grupo Itararé discordante (LANGE e PETRI, 1967,
apud BOSSETI et al, 2010).
Para Bergamaschi, (1999, apud ZABINI, 2007) o membro São Domingos é o pico da
máxima transgreção marinha e conseqüente deposição do período Devoniano na
Bacia do Paraná.
Para Assine e Petri (1996) a transgreção acarretará em uma mudança ecológica
drástica causando a extinção da fauna da província mauvinocáfrica na passagem do
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eifeliano-givetiano. Entretanto Bosseti (2004) através de estudos fósseis expõem
que a fauna da Provincia Mauvinocáfrica não se extingue nessa fase e sim
ultrapassa o limite do givetiano alcançando a toposequência local no topo da
formação Ponta Grossa, compreendida pelo Frasniano, extinguindo apenas no
Frasniano/Fammeniano, (ZABINI, 2007).
O trabalho de campo sob o enfoque ambiental. A questão ambiental que se apresenta tem a ver segundo Souza (2000, p. 15), com
“o intenso processo de degradação generalizada do meio ambiente e dos recursos
naturais, provocada pela intensificação do crescimento econômico e populacional no
século XX”.
Sobre a mesma temática Gonçalves (2006) aponta como principais problemas: a
escassez - por contaminação e/ou esgotamento - do ar, da água, dos minerais, da
energia e do solo; as questões climáticas (camada de ozônio, efeito estufa,
mudanças climáticas); os resíduos tóxicos e o lixo.
Leff (2004) aborda a crise ambiental como uma crise mais ampla, do próprio modo
de pensar ocidental, da civilização, do conhecimento, da racionalidade. Nesse
sentido, afirma que “a crise ambiental veio questionar a racionalidade e os
paradigmas teóricos que impulsionaram e legitimaram o crescimento econômico,
negando a natureza.” (LEFF, 2004, p. 15).
Nesse contexto, o conhecimento do planeta Terra e do seu funcionamento é de
fundamental importância para a compreensão desta crise, bem como para sua
superação.
As Geociências, entre as quais Neves; Campos e Simões (2008) incluem a
astronomia, a cosmologia, a geologia, a oceanografia e a paleontologia, entre
outras, tem uma grande contribuição para a aquisição do conhecimento e o
desenvolvimento da compreensão necessária. No entanto, como afirmam os
mesmos autores, seu ensino “nos primeiros anos das escolas brasileiras ainda é
muito incipiente.” (NEVES; CAMPOS; SIMÕES, 2008, p. 106).
Isto se torna evidente quando se observa os resultados brasileiros no teste PISA
(Programa Internacional para Avaliação de Alunos) promovido pela OCDE
(Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Entre 57 países
avaliados, o Brasil alcançou a 52º colocação, obtendo uma média de 390 pontos em
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800 possíveis. Na área “Sistema espacial e planeta Terra” – que envolve tema de
astronomia, cosmologia e geologia – foram obtidos 375 pontos, o pior resultado
alcançado pelo país (JORNAL, 2010).
Os maus resultados alcançados por alunos brasileiros refletem uma sociedade que,
de um modo geral, não possui compreensão ou mesmo conhecimento sobre a Terra
e seu funcionamento, pois
A cultura em Ciências da Terra da população brasileira é ou quase nula ou imprecisa e, muitas vezes, equivocada, já que há apresentação dos temas nesta área como inserções dispersas, fragmentadas e desconectadas do ciclo natural em outras disciplinas escolares, como Ciências, Geografia, Biologia, Química e Física. (TOLEDO et al, 2005, p. 2).
Essa percepção de fragmentação curricular é corroborada por Carneiro; Toledo e
Almeida (2004, p. 3) ao afirmar que
Noções de Geologia e Geociências dispersam-se no currículo sob vários títulos, faltando uma ordenação capaz de explicar a Terra em conjunto, desde sua constituição, origem e evolução, fenômenos interiores e superficiais, as interações das esferas (oceanos, atmosfera, litosfera, biosfera), e as profundas e diversificadas relações entre meio físico e seres vivos.
Assim, em virtude da fragmentação e dispersão dos conteúdos sobre a Terra e seu
funcionamento, os alunos e a população brasileira, de um modo geral, apresentam
pouco conhecimento e compreensão sobre os mesmos, o que tem conseqüências
relevantes, principalmente em um momento como o atual, quando a questão
ambiental assume importância cada vez maior.
Dentre essas conseqüências podemos apontar: o conhecimento paleontológico fica
restrito à poucas instituições públicas e privadas (NEVES; CAMPOS; SIMÕES,
2008); a não percepção de que o tempo de uso de determinados bens é
infinitamente inferior ao tempo de formação dos recursos naturais a partir dos quais
são fabricados (BACCI, 2009); e, a concepção de que os problemas ambientais são
passíveis de resolução estritamente científica, sem envolver questões e decisões
políticas (COMPIANI, 2007).
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Reverter essa tendência é necessário para propiciar a formação de cidadãos
conscientes, críticos e participantes das decisões políticas que influenciam a
sociedade como um todo, principalmente no tocante às questões que envolvem o
ambiente em que vivem.
Podem ser consideradas tentativas para que ocorra às reformas curriculares
realizadas na Espanha e nos Estados Unidos da América, com a inclusão de temas
de Geologia em nível secundário/pré-universitário (CARNEIRO; TOLEDO;
ALMEIDA, 2004), e a criação do curso de licenciatura em Geociências e Educação
Ambiental pela Universidade de São Paulo - USP com objetivo de preparar
professores que
participem da formação de indivíduos capazes de opinar de forma consciente sobre as questões de ocupação e uso do ambiente pela sociedade, aproximando-a, assim, do caminho rumo ao desenvolvimento sustentável e aos objetivos das diretrizes curriculares traçadas para a educação básica.” (TOLEDO et al, 2005, p. 2).
Afirma Bacci (2009, p. 9),
O conhecimento em Geociências apresenta uma grande importância para o cotidiano dos cidadãos, pois abre possibilidades da sociedade tomar decisões e compreender as aplicações dos conhecimentos sobre a dinâmica natural na melhoria da qualidade de vida.
E também Carneiro; Toledo e Almeida (2004, p. 1), ao afirmar a necessidade de que
“[...] as questões de natureza ambiental passem a integrar o corpo de
conhecimentos básicos que uma pessoa deveria possuir, para exercer, ao longo de
sua vida, aquilo que se entende por cidadania responsável e consequente.”
Materiais e métodos
Este trabalho consiste em um levantamento teórico sobre os estudos geológicos e
paleontológicos do Período Devoniano (Era Paleozóica), intercalado a
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conhecimentos e observações adquiridas em trabalhos da “Prática de Campo:
Paleontologia do Devoniano dos Campos Gerais, Paraná, Brasil”, junto ao Grupo de
Pesquisas – Palaios coordenado pelo professor Dr. Elvio P. Bosetti (UEPG) e com a
participação do professor Dr. Roberto Iannuzzi (UFRGS). O trabalho procedera-se
em três dias estruturados em aulas expositivas, explicações em campo, observações
e coletas de materiais. As áreas visitadas dentro da rota pré-estabelecida pelo grupo
Palaios, fazem parte dos afloramentos de pesquisa do grupo, incluindo assim os
municípios de Castro, Tibagi e Ponta Grossa dentro da Bacia Sedimentar do Paraná.
Durante o trabalho de campo foram observados seções de duas Supersequências
da Bacia do Paraná (Milani, 1997 apud Bosetti, 2010), além de sua base que é
constituída pela Bacia de Castro. A primeira Supersequência da Bacia do Paraná
denominada Rio Ivaí é caracterizada como Formação Iapó e a segunda como Grupo
Paraná, sendo explorados nesse trabalho os Membros Tibagi e São Domingos
dentro da Formação Ponta Grossa (Devoniano Médio e Superior). Os pontos
visitados seguiram, na sua maior parte, uma ordem Paleocronológica dentro da
Paleo-rota sugerida por estudos do Grupo Palaios. Também fora feito a leitura sobre
práticas de campo e abordagens ambientais dentro de um enfoque relacionado à
educação de base, como pressuposto a formas alternativas de ensino.
Trabalho de Campo – Formação Ponta Grossa. O trabalho de campo foi constituído por inúmeros pontos de observação e coleta de
materiais, incluindo os afloramentos da formação Furnas e Ponta Grossa – Membros
Tibagi e São Domingos, porém aqui destacaremos alguns pontos que se
demonstraram ser relevantes, devido à importância estratigráfica ou a qualidade das
amostras fósseis encontradas para os objetivos estabelecidos durante a saída.
O primeiro ponto que destacaremos é caracterizado pelos afloramentos rochosos
localizados próximos a cidade de Castro as margens da PR – 151 e classificados
como pertencentes à Bacia de Castro que é a Base (escudo) da Bacia do Paraná
(figura 1). Considera-se que a Bacia de Castro é mais antiga que a Bacia do Paraná,
encontrando-se estratigraficamente abaixo da Bacia do Paraná. Caracterizada pela
presença de Rochas Metamórficas e Magmáticas, esse afloramento possui
importância geológica, porém, para a Paleontologia é irrelevante, pois não contém
fósseis.
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Figura 1. Afloramento da Bacia de Castro
Os afloramentos localizados as margens da PR – 340, entre os municípios de Castro
e Tibagi, foram o segundo ponto de observação, caracterizado como contato entre a
Formação Iapó e a Formação Furnas (figura 2). Sendo a formação Iapó, de origem
Glaciogênica.
Na Formação Furnas, a primeira do Grupo Paraná dentro de uma escala
estratigráfica, foi possível observar arenitos grossos e deposições de seixos
angulosos, identificando que a área fonte de formação, localizava-se próxima do
local de deposição e que ali ocorriam variações de intensidades deposicionais
decorrentes de mudanças climáticas. Essa formação abarca uma discussão sobre
sua origem, sendo essa fluvial ou marítima costeira, como discutindo anteriormente.
Figura 2. Contato entre a Formação Iapó e a Formação Furnas
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Próximo a entrada de Tibagi, o terceiro ponto é caracterizado como seção-tipo do
contato entre a Formação Furnas e a Formação Ponta Grossa (figura 3). Sendo um
contato hetereolítico, contendo variações nos estratos de sedimentos e energia na
fase de formação. È considerado uma área de deposição com características de
encontro das águas de rio com a água do mar (Delta). Nesse ponto durante a prática
de campo não foram encontrados exemplares de fósseis, embora existam nessa
região de contato. Um fator deve-se na época de formação ter havido grande
oscilação de energia e deposição de sedimentos oriundos da área fonte.
Figuras 3. Contato entre a Formação Furnas e a Formação Ponta Grossa
Seguindo, o quarto ponto de afloramento próximo a fazenda Cabanha, possui
folhelhos da formação Ponta Grossa, membro São Domingos (Devoniano Médio e
Superior). Nesse afloramento foram realizadas as primeiras buscas por fósseis,
encontrando apenas fragmentos vegetais pouco conservados. As amostras de
rochas sedimentares superficiais encontram-se intemperizadas, tais transformações
de agentes externos causam alteração do material, influenciando até na
classificação e na análise de material fóssil.
Em seqüência, foram coletados fósseis no afloramento Wolf, do Olgivetiano,
caracterizado pela extinção em massa, efeito lilliput (extinção em massa, poucas
espécies remanescentes, mas com grande população – variação de fenótipo/não de
genótipo, tendo na constituição geológica arenito conglomerático). Nessa área foi
observado também o Efeito Lazarus, neste, espécies aparecem em camadas
inferiores desaparecendo nas intermediárias e reaparecendo nas superiores
(BOSSETI et al, 2010).
O sétimo ponto, no afloramento São Bento (Figura 4), remete-se ao início Gevetiano,
situado no topo do devoniano, nessa fase há crise biótica. Longe das costas
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continentais ocorrem depósitos de argila em águas profundas, havendo pouca
presença de fósseis.
Figura 4. Afloramento São Bento.
Adiante, exploração na seção tipo Eusébio de Oliveira Seção de contato camadas
médio-inferior e médio-superior: Jaguariaíva-Tibagi-São Domingos. Durante essa
fase da visita a campo foi realizado nessa área a coleta de fósseis através do
método de quadrículas adotado por Bosseti et al(2010). Tais quadriculas, de
dimensão 3x2 m, respectivamente largura e altura, foram exploradas na tentativa de
obter amostras e a disposição destas dentro da área analisada. Usando-se de
interpretação dos fósseis fizeram-se esboços descritivos, dos fosseis encontrados
nas diferentes áreas marcadas.
Da esquerda para a direita, Figura 5. Amostra da formação Ponta Grossa – Membro Jaguariaiva;
Figura 6. Amostra da formação Ponta Grossa – Membro Tibagi; Figura 7. Amostra da formação Ponta Grossa – Membro São Domingos.
Em um dos afloramentos foram observadas estruturas estratigráficas curvadas
formadas por deposição de sedimentos causados por ondas, em fases de oscilação
de energia e deposição. Através da interpretação das formas presentes no
afloramento, observam-se estruturas heterogêneas representando fases de calmaria
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e alta energia denominada Ramoqui. Neste, através do método de coleta em
diferentes extratos horizontais, foram encontrados braquiópodes articulados também
orbiculoides.
Figura 8. Explicação do efeito Ramoqui
No âmbito deste trabalho, propomos a utilização metodológica do trabalho de campo
em paleo-rotas, com objetivo de despertar o interesse dos alunos sobre o planeta
Terra e seu funcionamento, propiciando a aquisição de conhecimentos e o
desenvolvimento de compreensão sobre a temática.
O trabalho de campo oferece a possibilidade de integrar os conteúdos dispersos em
várias disciplinas, significando-os e permitindo a sua compreensão, pois, tal como
afirma Compiani (2007, p. 32)
O trabalho de campo pode ser utilizado, no ensino, como estratégia em que todas as coisas podem tomar parte de um processo maior: o efeito holográfico. A idéia é enfrentar a dominante fragmentação do conhecimento, que bloqueia os mecanismos de análise de problemas reais ao não facilitar a relação de conceitos, procedimentos e de atitudes, trabalhados em diferentes disciplinas do currículo.
A integração entre os conteúdos de diferentes disciplinas é uma necessidade frente
à modernidade, definida por Leff (2003, p. 16) “como uma ordem coisificada e
fragmentada”, constituinte da crise do conhecimento da qual faz parte a atual crise
ambiental (SOUZA, 2000 e GONÇALVES, 2006).
O trabalho de campo é ainda uma oportunidade de estabelecer relações entre o
local e o global a partir do lugar, pois, “o focar para a relação global/local aponta
para a necessidade das metodologias de estudos do meio e trabalhos de campo.”
(COMPIANI, 2007, p. 32).
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A apreensão de conceitos científicos a partir do conhecimento empírico é também
outra possibilidade dos trabalhos de campo que, segundo Compiani (2007, p. 30),
“apontam para noções diferentes do empírico” e, para Compiani e Carneiro (1993, p.
91) contribui no “entendimento dos fenômenos e na formulação de conceitos
explicativos.”
Os trabalhos de campo constituem-se ainda na ocasião, por excelência, para tratar
das temáticas ambientais, relacionando os problemas ambientais locais e globais e
discutindo, além das possíveis soluções técnico-científicas, as questões político-
econômicas envolvidas.
Nesse sentido retomamos as palavras de Compiani (2007, p. 43), quando afirma que
Ao trabalhar os impactos ambientais provocados pelo descontrole do crescimento urbano acelerado, força-se a necessária relativização do papel da ciência e da tecnologia na resolução de problemas do dia a dia, pois fica evidente que os problemas ambientais são – antes de outra coisa políticos -, e isto se contrapõe à crença positivista de que a ciência é universalmente aplicável e eficaz (cientificismo). Essa visão oculta, por exemplo, a possibilidade de existir articulação entre degradação ambiental e injustiça social. Perante um ensino que tem fomentado a passividade, propõem-se a construção ativa de conhecimentos, ação, participação e tomada de decisões na solução de problemas que têm implicações políticas, sociais e ambientais.
Nesta perspectiva, espera-se que o trabalho de campo em paleo-rotas contribua
para a aquisição de conhecimento e desenvolvimento de compreensão sobre o
planeta Terra e seu funcionamento, através da integração de conteúdos, do
estabelecimento de relações locais/globais, da apreensão de conceitos científicos,
sob a perspectivas das problemáticas ambientais contemporâneas.
Do mesmo modo, que propicie a formação de cidadãos ativos e participantes, aptos
a discutir e decidir as múltiplas possibilidades de superação da situação ambiental
atual que, como visto, não tem apenas implicações ambientais, mas, também,
sociais, econômicas e políticas das mais importantes.
Conclusão
O trabalho de campo atrelado as sua mais diversa utilidades educacionais propicia a
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diversificação na forma de ensinar principalmente assuntos que atualmente não são
tratados em sala de aula da educação de base. O despertar para a ciência no caso
tratado para a paleontologia ajuda a compreensão dos elementos do meio e propicia
um despertar crítico dos alunos envolvidos melhorando seu desempenho em
atividades complementares da escola e do dia a dia.
A obsolescência do ensino e a forma conservadora empregada por muitos
professores podem ser “quebradas” com uso da dinâmica de ensino e pesquisa já
em educação de base, assim o uso da ciência paleontológica pode propiciar uma
variedade de inteligências colocando o aluno defronte a natureza e a possibilidade
de compreendê-la.
Referências bibliográficas BACCI, D. L. C. A contribuição do conhecimento geológico para a educação ambiental. Pesquisa em Debate, v. 6, n. 2, jul./dez. 2009. Disponível em http://www.saomarcostatuape.com.br/portal2/pesquisaEmDebate/docs/pesquisaEmDebate_11/artigo_7.pdf. BOSSETI, Elvio P.; MATSUMURA, Willian M. K; COMNISKEY, Jeanninny Carla; IANNUZZI, Roberto. Prática de campo: Paleontologia do Devoniano dos Campos Gerais. Universidade Estadual de Ponta Grossa. Ponta Grossa, 2010. CARNEIRO; C. D. R. Os papéis didáticos das excursões geológicas. Enseñanza de las Ciencias de la Tierra, v. 1, n. 1, p. 90-98, 1993. Disponível em <http://en.scientificcommons.org/41952887>. __________, C. D. R.; TOLEDO, M. C. M.; ALMEIDA, F. F. M. Dez motivos para a inclusão de temas de geologia na educação básica. Revista Brasileira de Geociências, Campinas, 2004. Disponível em <http://www.ige.unicamp.br/~forum/arquivos/Documentosuteis/Dez_argumentosRBGFinal8000palavras.pdf>. COMPIANI, M. O lugar e as escalas e suas dimensões horizontal e vertical nos trabalhos práticos: implicações para o ensino de ciências e educação ambiental. Ciência & Educação, Campinas, v. 13, n. 1, p. 29-45, 2007. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-73132007000100003. GONÇALVES, C. W. P. El desafio ambiental. México, D.F.: PNUMA, 2006. JORNAL da Ciência. Em ciência, 61% estão no pior nível. Disponível em <http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=52818>. LEFF, E. Pensar a complexidade ambiental. In: ___ (coord.) A complexidade ambiental. São Paulo: Cortez, 2003. p. 15-64.
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Gerais do Paraná, como ferramenta alternativa para ensinos de base
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
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VIENC, V. J.; SOUZA, S.; ANDRADE, A. R. Análise da disponibilidade e viabilidade hídrica para o abastecimento da área urbana no Município de
Irati-PR
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ANÁLISE DA DISPONIBILIDADE E VIABILIDADE HÍDRICA PARA O ABASTECIMENTO DA ÁREA URBANA NO MUNICÍPIO DE IRATI-PR
VINICIUS JOÃO VIENC1
SUSIMARA SOUZA2
APARECIDO RIBEIRO DE ANDRADE3
Resumo: O aumento populacional gera a necessidade de mais recursos para sobrevivência e satisfação de suas necessidades básicas. Prova desse aumento é a busca por novas fontes de água potável. Como determinadas regiões da superfície terrestre não possuem recursos hídricos suficientes e de qualidade para atender o crescente consumo humano, torna-se uma fonte alternativa a exploração de recursos hídricos subterrâneos além dos superficiais já existentes. Esse trabalho tem como objetivo principal realizar uma análise da disponibilidade e viabilidade hídrica para o abastecimento urbano no município de Irati em relação ao consumo da população, que até o momento conta com duas captações superficiais e três poços perfurados, apesar de um destes poços ainda não se encontrar em operação. Os procedimentos utilizados para a realização desse trabalho resumem-se na análise dos dados já existentes dos Boletins de Controle Operacional (BCO) e do Sistema de Informação Ambiental (SIA) da Companhia de Saneamento do Paraná – SANEPAR, bem como informações fornecidas pela Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental – SUDERHSA, além de questionários aplicados aos profissionais da área de recursos hídricos que atuam no município. O trabalho encontra-se em fase de desenvolvimento, sendo apresentado, por hora, apenas alguns resultados preliminares, tais como: observou-se a necessidade recente da perfuração de um terceiro poço, pois o primeiro poço perfurado não pode mais aumentar sua extração, notando que há falta de água em determinadas épocas do ano. Espera-se como resultado além da análise servir como base de estudo para futuras pesquisas disponibilizando dados informativos a todo o meio acadêmico e rede de ensino.
Palavras-chave: Recursos hídricos, Aqüífero, Água superficial, Disponibilidade hídrica
1 Acadêmico do 4º ano do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Campus de Irati-PR. Email: [email protected] 2 Ex-Professora do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Campus de Irati-PR e Agente de Pesquisas do IBGE. Email: [email protected] 3 Professor Doutor em Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Campus de Irati-PR. Email: [email protected]
ULHOA, V. M. F.; ANTONELI, V. Monitoramento da deposição de serrapilheira em três tipos de uso do solo na FLONA de Irati-PR
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MONITORAMENTO DA DEPOSIÇÃO DE SERRAPILHEIRA EM TRÊS TIPOS DE USO DO SOLO NA FLONA DE IRATI-PR
VIVIANE MORAES FRANCISQUINI ULHOA1 VALDEMIR ANTONELI2
Resumo: O presente estudo teve por objetivo avaliar a deposição de serrapilheira em três tipos de uso do solo na Floresta Nacional (FLONA) de Irati/Paraná. Para tanto foram mensurados talhões com reflorestamento de Pinus elliottii, reflorestamento de Araucaria angustifolia e Floresta Ombrófila Mista (Mata de Araucária), utilizando 12 coletores de 1m2, fixados a 1,2m do solo. Em cada um dos talhão foram instalados 4 coletores em pontos aleatoriamente escolhidos. As coletas foram realizadas mensalmente e, após uma pré-secagem feita à temperatura ambiente, o material de cada coletor foi separado em três frações distintas: folhas (constituída por folhas e acículas), galhos e miscelânea (flores, frutos, sementes e fragmentos pequenos). Após 12 meses de coleta, os totais de serrapilheira encontrados nas áreas monitoradas foram: Floresta Ombrófila Mista 8.157,3 kg/ha, reflorestamento de Araucária 8.510,5 kg/ha e reflorestamento de Pinus 13.082 kg/ha, onde a parcela Pinus apresenta uma produção em torno de 35% acima das outras. Palavras-chave: Serrapilheira, Mata de araucária, Reflorestamento de pinus
1 Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste - Campus de Irati- PR. e-mail [email protected] 2 Professor Msc do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro- Oeste- Campus de Irati- PR [email protected]
BASSANI, A. F.; NABOZNY, A. Relatos de uma “prática” de observação educacional em Geografia no Colégio Estadual Faxinal dos
Francos – Rebouças-PR (Ou: Críticas da prática – uma tentativa de práxis)
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RELATOS DE UMA “PRÁTICA” DE OBSERVAÇÃO EDUCACIONAL EM GEOGRAFIA NO COLÉGIO ESTADUAL DE FAXINAL DOS FRANCOS – REBOUÇAS – PR (OU: CRÍTICAS DA PRÁTICA - UMA TENTATIVA DE
PRÁXIS)
ALESSANDRA FERNANDA BASSANI1 ALMIR NABOZNY2
Resumo: O presente texto filia-se a um relato de uma experiência em observação educacional. Estando imbuído de uma dupla objetivação. Inicialmente, transcrevemos relações e discussões angariadas em leituras atinentes a técnicas e metodologias de pesquisas em educação, com destaque para as abordagens qualitativas e aproximações com o ensino de Geografia. Num segundo plano, tracejamos algumas observações referendadas em questões do cotidiano, dos fazeres educacionais do Colégio Estadual de Faxinal dos Francos, município de Rebouças - PR. Destacamos que as questões por nós levantadas são oriundas das atividades acadêmicas desenvolvidas durante a disciplina de “Prática de Observação da Escola e Prática Pedagógica do Professor de Geografia” (1° semestre de 2009) destinada à segunda série do curso de Licenciatura em Geografia (UNICENTRO, Campus de Irati-PR). Em que a disciplina visa possibilitar um primeiro contato do educando (licenciando), na condição de futuro campo de trabalho, com o universo escolar, por isso o contexto deste é a descrição e contextualização da prática realizada dentro do âmbito escolar. Na medida em que se constroem processualmente reconhecimentos e, análises acompanhadas pelo docente na Universidade, o licenciando no seu processo de formação se posiciona na escola e vai se deparando com uma tríplice relacional: educando (na Universidade), ex-educando na escola e, ao mesmo tempo educador em potencial. Disso, tem a possibilidade de reflexões sobre a Educação e o Ensino numa espacialidade que transcende os redutos das salas de aula. Em que fechamos o nosso relato com intenção que o mesmo transcenda para um convite de reflexão entre Práxis Pedagógicas na Universidade, nas Escolas e as Experiências transitivas dos licenciandos que perpassam por essas diferentes espacialidades e temporalidades distintas mas, ao mesmo tempo justapostas. Palavras-chave: Práxis pedagógicas, Observação educacional, Relatos de experiências.
Introdução Através de observações, entrevistas, questionários e conversas informais, é possível
aproximar-se de algumas implicações prévias aos contatos com o Ensino e, depois
do contato e, posteriormente em contato. Tendo-se imbricado o papel da escola no
1 (Pq.) Educanda do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual Centro-Oeste (UNICENTRO, Campus Universitário de Irati - PR). E-mail: [email protected] 2 (Or.) Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Orientador do trabalho na condição de ex-docente substituto na Universidade Estadual Centro-Oeste (UNICENTRO, Campus Universitário de Irati - PR). E-mail: [email protected]
BASSANI, A. F.; NABOZNY, A. Relatos de uma “prática” de observação educacional em Geografia no Colégio Estadual Faxinal dos
Francos – Rebouças-PR (Ou: Críticas da prática – uma tentativa de práxis)
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contexto educacional como angariadora de várias ideologias a serem avaliadas. Em
que consideramos as práxis pedagógicas dos educadores como necessariamente
integrantes de processos de transformação (emancipação) social da escola,
educação, ensino e na produção de conhecimentos (para além da reprodução
decodificada). Portanto, parte integrante dos contextos econômicos, políticos e
sociais, vigentes nas “realidades” da sociedade.
Emergindo dessas relações, evidencia-se o processo de ensino aprendizagem na
disciplina de Geografia, colocando-o como objeto irrefutável para análise do
contexto, pois reconhecendo que a educação é uma capacidade de promoção do
homem, é este um dos aspectos fundamentais a ser debatido. Se do contrário, qual
a finalidade da escola, da educação e da Geografia? Não há aqui uma crença
Iluminista , mas a tentativa de estabelecimento de sentidos para as práxis
pedagógicas em Geografia, especificamente nesse caso.
Cabe a este relato descrições e contextualizações, contudo, sem perder de foco o
foco. O universo escolar! Toda e qualquer dinâmica presente nele é sim fundamental
para que este seja objeto de análise verídico, ou melhor ao menos sincero, sem
demagogias e admitindo-o que o mesmo se constitui por relações de poderes,
destacando que as teorias possam serem permeadas pelas práticas, ou vice-versa,
contribua para o processo de construção das bases metodológicas do futuro
professor. E ao mesmo tempo possa delinear novos agenciamentos para as
atividades desenvolvidas pelos docentes da Universidade.
Enquanto organização interna dos argumentos destaquemos que inicialmente
tracejaremos algumas questões das observações na escola. E calcando uma opção
de escala geográfica de análise perpassamos por reflexões da Escola, das Práticas
Pedagógicas do Professor de Geografia e processos de Ensino e Aprendizagem na
Escola ancorados nas relações de educador-educandos.
Finalizamos destacando que é essencial que se experiencie na contemporaneidade
relações imbricadas de responsabilidades (Professores nas Universidades,
Professores em Potencial/Acadêmicos e Educadores das Escolas) nos processos
contínuos de formação daqueles que futuramente participarão com maior
intensidade nas práxis educacionais. Por isso, é inegável que se tenha ao final, as
reflexões acerca de atividades desenvolvidas em disciplinas (como a discutida em
tela), nos cursos de graduação e, nesse caso específico, de todos os preâmbulos de
inserção e reconhecimento intelectual da construção social da realidade
BASSANI, A. F.; NABOZNY, A. Relatos de uma “prática” de observação educacional em Geografia no Colégio Estadual Faxinal dos
Francos – Rebouças-PR (Ou: Críticas da prática – uma tentativa de práxis)
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educacional. Propõe-se uma análise que contribua para o amadurecimento e
formação crítica do acadêmico (e dos outros educandos), que também faz parte
dessa sociedade apregoada no modo total de produção capitalista, de relações de
poderes e desigualdades.
Alguns encaminhamentos metodológicos
A partir de um primeiro contato com o Colégio Estadual de Faxinal dos Francos,
localizado na zona rural do município de Rebouças, através de conversa formal com
o Senhor Diretor (Sr.D) e a Senhora Professora de Geografia (Sra.PdeG), indicada
para a atividade a ser desenvolvida, pode-se estabelecer relação: acadêmico da
disciplina de Prática de Observação da Escola e da Prática Pedagógica do Professor
de Geografia (com duplo foco) e a classe de educandos da 7° série do Ensino
Fundamental do referido estabelecimento.
De acordo com o Projeto Político Pedagógico (PPP) do Curso de Geografia
Habilitação em Licenciatura, a disciplina de Prática de Observação da Escola e
Prática Pedagógica do Professor de Geografia tem por objetivo geral proporcionar
ao educando em formação de educador a vivência do cotidiano da educação
escolar, por isso, realizou-se primeiramente as observações em sala de aula. O
porquê de se observar? Pois, para Ludke e André (1986) a observação como um
método de coleta de dados é muito útil e até crucial, pois quando
Usada como principal método de investigação a outras técnicas de coleta, a observação possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado, o que apresenta uma série de vantagens (...) o melhor teste de verificação da ocorrência de um determinado fenômeno. (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 26)
Partindo deste princípio, as observações em sala de aula ocuparam uma carga
horária de 10 horas. Durante essas horas se desenvolveram atividades como:
observações sistemáticas aos educandos e ao educador, compreendendo como
sistematizadas as observações em que se realiza, segundo Patton (1980), citado por
Ludke e André (1986), registros descritivos, separação de detalhes relevantes dos
triviais, anotações organizadas e utilização de métodos rigorosos para validar as
observações. Tais concepções se realizaram utilizando-se um Diário de Bordo, ou
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seja, um caderno de registros diários organizados de acordo com o planejamento
(elaborado e discutido com o docente da Universidade) traçando pontos importantes
para as observações, bem como espaços para observações do novo e do não
planejado (Ver anexo 01). Também realizou-se auxílio aos educandos em atividades
referente às aulas, a pedido do educador da disciplina, ocorreu um monitoramento
dos mesmos no laboratório de informática e, ainda em sala de aula, houve auxílios
em algumas atividades em grupo, bem como auxílio em correção sistemática de
uma avaliação dirigida aos educandos.
Durante o período de frequência ao Colégio, desenvolveram-se também atividades
paralelas às observações em sala de aula, essas relativas à Escola: observação ao
intervalo para refeição dos educandos, o qual tem sua duração 15 minutos diários, e
leituras sistematizadas do Projeto Político Pedagógico (PPP) do referido Colégio. A
última desenvolveu-se por alguns motivos, o PPP é considerado um documento,
visto que: “São considerados documentos quaisquer materiais escritos que possam
ser usados como fonte de informação sobre o comportamento humano” (PHILLIPS,
1974, p. 187 apud LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 38), e para Caulley (1981),
a análise documental busca identificar informações factuais nos documentos a partir de questões ou hipóteses de interesse […] não são apenas uma fonte de informação contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem informações sobre esse mesmo comtexto” (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 39-39).
Encerrados os processos de observações em sala de aula, foram direcionados
questionários para agregação quantitativa aos dados das observações, estes foram
dirigidos aos alunos da 7° série A e também aos da 7° série B, totalizando 34
educandos. Esse processo se desenvolveu para que através dos questionários se
referendassem as análises e discussões acerca do universo dos sujeitos envolvidos
no cenário da pesquisa.
O emprego de questionários se dá pelo fato que entre outras vantagens “os
informantes poderão se sentir mais seguros com os mesmos em função de seu
caráter anônimo e, com isto, se sentirem mais à vontade para expressar pontos de
vista que temam colocá-los em situação problemática ou que julguem não ter
aprovação” (COOK, 1987, p. 17). Além dos questionários, realizaram-se entrevistas,
pois “na entrevista e no questionário dá-se um grande peso aos relatos verbais dos
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sujeitos para obtenção de informações sobre os estímulos ou experiências a
questão expostos e para o conhecimento de seus comportamentos.” (COOK, 1987,
p. 15)
As entrevistas foram restritas e direcionadas ao diretor responsável pelo Colégio e à
Professora observada. Com relação ao Sr.D, este é representante e ao mesmo
tempo indicado pela Equipe Administrativa e Pedagógica do estabelecimento, o
mesmo consentiu em realizar uma entrevista focando assuntos mensurados pela
sua atuação e papel no Colégio. Assim, também ocorreu com a Sra.PdeG, a qual
trabalha integralmente na referida instituição de ensino.
As entrevistas basearam-se em alguns conceitos como o de que “a entrevista
representa um dos instrumentos básicos para a coleta de dados” (LUDKE; ANDRÉ,
1986, p. 33). E ainda, segundo os mesmos autores, que “ela permite a captação
imediata e corrente da informação desejada.” (p. 34). E, por conseguinte, a essas
afirmações, insere-se o contexto escolar e do ensino, e em seu leque de
problemáticas
podemos estar seguros de que, ao entrevistarmos professores, diretores, orientadores, supervisores e mesmo pais de educandos não lhes estaremos certamente impondo uma problemática estranha, mas, ao contrário, tratando com eles assuntos que lhes são muito familiares sobre os quais discorreram com facilidade. (LUDKE; ANDRÉ, 1986. p. 36)
Discutindo os cenários das observações Para vivenciar o cotidiano da educação escolar, objetivo geral da disciplina
mediadora de tais dinâmicas, segundo o PPP do Curso de Geografia (Habilitação
Licenciatura), é preciso contextualizar em questão o seu raio de ação, bem como
analisar a educação e o ensino estabelecidos por seus sujeitos, sejam eles
educadores, educandos, funcionários, orientadores, entre outros.
Para tanto se deve prioritariamente distinguir qual a finalidade da ”educação’'. Para
Saviani (1996) tem-se que, “[...] a educação visa o homem”, e ainda contesta “que
sentido terá a educação se ela não estiver voltada para a promoção do
homem?’’(p.35), O que significa para o autor “tornar o homem cada vez mais capaz
de conhecer os elementos de sua situação para intervir nela transformando-a no
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sentido de uma ampliação entre os homens” (p.38). Embora não concordemos com
a linguagem sexista do autor e tampouco sejamos tributários da Pedagogia Histórico
Crítica, trazemos-o para o debate no intuito de elencar um sentido de transformação
social no âmbito da práxis docente.
Quando se permeia os estabelecimentos educacionais, seus conflitos, suas
inquietações, suas ideologias, tudo o que media esses processos, os contextos
previamente e antecipadamente imaginados e conceituados, se transfiguram para
outro âmbito, o da realidade em produção social. Participando como sujeito
observador, tem-se a visão a priori de uma educação ainda conservadora e nos
moldes da “Pedagogia dominante” (FREIRE, 1996).
Para uma facilidade contextual, divide-se o nosso cenário em três itens: a escola,
práticas do educador e, por último, o ensino-aprendizagem pautados na relação
educador-educando. Empregando assim, níveis diferenciados de relações, em que
não podem ser desarticulados, visto que os espaços e as escalas interagem uns
com os outros.
a) A Escola
Conhecer a organização do espaço escolar e as relações entre os sujeitos é uma necessidade, na medida em que a aula não é um conhecimento isolado de uma sala, mas está inserida no espaço social de uma instituição de ensino (PASSINI; PASSINI; MALYSZ, 2007. p. 54).
Partindo desse princípio, durante o contato e as observações realizadas com e no
Colégio Estadual de Faxinal dos Francos, o qual disponibiliza Ensino Fundamental
desde 1993 e Médio desde 2003, percebeu-se a forte influência dos “valores
humanos’’ o qual aparece como o primeiro objetivo da escola no seu Projeto Político
Pedagógico (PPP, 2005). Fato exemplificado deste, é que durante as observações
notou-se uma grande preocupação com a pessoa do educando, tanto por parte de
seus funcionários, como também dos professores e sua equipe pedagógica.
Quando questionado ao Sr.D durante a entrevista, sobre o qual a maior dificuldade
em se administrar o Colégio, este declarou: “Quando a equipe não está unida e não
se fala a mesma língua, em termos de objetivos e de disciplina, por parte dos
professores, por exemplo, quando entra professores de PSS (Processo Seletivo
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Simplificado) e estes não dão continuidade ao trabalho realizado pelo outro
professor, ou pela escola”3.
Quanto à organização espacial, notou-se uma divisão entre os domínios da
instituição estadual e da municipal que funcionam no mesmo prédio, com aulas do
período oposto, gerando conflitos ideológicos entre os funcionários e a escola
enquanto instituição de educação torna-se uma arena política, por isso não se pode
descartar, e sim relacionar, as ideias de educação como um ato político.
Nessa situação tem-se Rodrigues (1992), que afirma:
a educação escolar não pode ser pensada como algo neutro em relação ao mundo, mas como algo que produz, na sua própria dinâmica caminhos diferenciados para a ação social concreto em função de interesses e necessidades dos próprios alunos. (RODRIGUES, 1992, p.23).
Este autor ainda explicita que qualquer que seja a atividade esta é política, visto que
se a tarefa da educação escolar é preparar os educandos para o exercício pleno da
cidadania, esta obviamente será comprometida a uma função política. No caso do
Colégio observado, o seu PPP contempla como um de seus objetivos o “exercício
consciente de cidadania”.
Mediante Rodrigues (1992), pode-se fazer uma análise evidenciando algumas
características da escola necessária:
A escola não pode concorrer para mascarar ou criar tampões nos olhos dos alunos. Não pode fazer o jogo de esconder a realidade porque ela não é uma arma para produzir felicidade ou infelicidade, mas mediação entre a realidade empírica e o seu conhecimento. A escola pode ser bisturi que abre os olhos para a compreensão do mundo. (RODRIGUES, 1992, p.64)
Em discurso durante entrevista o Sr.D mencionou que na sua opinião vê a educação
no referido estabelecimento como aquele que: “Busca que o aluno chegue a um
objetivo, e que o prepare para a vida, pronto para ver a realidade” . E que, nessa
perspectiva, o PPP se relaciona com o meio em que seus educandos advém e suas
3 Leitura das entrevistas baseadas nas reflexões de FISCHER, R.M.B. Foucault e a análise do discurso em educação. Cadernos de Pesquisa. Fundação Carlos Chagas. São Paulo: Autores Associados, nº 114, p. 197-223, nov. 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cp/n114/a09n114.pdf. Visitado em março de 2009.
BASSANI, A. F.; NABOZNY, A. Relatos de uma “prática” de observação educacional em Geografia no Colégio Estadual Faxinal dos
Francos – Rebouças-PR (Ou: Críticas da prática – uma tentativa de práxis)
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realidades, visto que foi elaborado por órgãos colegiados como: APMF - Associação
de Pais, Mestres e Funcionários em participação com Conselho Escolar.
Segundo os alunos em relação à escola, 85% respondeu que gosta de estudar
nesta, e em outra questão 50% estuda no Colégio porque é o mais perto de sua
residência ou porque o transporte escolar dessa é o único que passa perto de sua
casa.
E em entrevista com a Sra.PdeG a mesma afirmou, quando perguntada sobre as
motivações dos educandos em estudar no colégio, que a escola tem uma boa
imagem e consegue explicar o conteúdo, visto que os mesmos são interessados e
todos participam.
Contudo, considerando que 98% dos educandos desse Colégio, segundo dados da
Equipe Administrativa, são da zona rural e o próprio Colégio situa-se numa
localidade rural acreditamos que para que se efetivassem os desejos discursivos do
Sr.D e os próprios preceitos elencados no PPP do Colégio haveria a necessidade de
um maior atrelamento do ensino às condições e às vivências dos educando, sem
isso implicar num abandono dos conteúdos e debates atinentes a outras escalas das
construções sociais da realidade.
b) A(s) Prática(s) Pedagógica(s) do Professor de Geografia
A condução das aulas da Professora observada ocorre, na maioria das vezes, de
forma expositiva, permeando a prática com atividades em grupos e individuais. Inicia
o conteúdo, indagando aos educandos, sobre algo de sua vivência, depois explica o
conteúdo e abre para perguntas. Em geral, na sequência, aplica exercícios do livro
didático.
O livro didático utilizado é do Projeto Araribá: Geografia, de Virginia Aoki, além
desse, a professora utiliza-se, com menor freqüência, de recursos como, a televisão
pen-drive, demonstrando imagens e vídeos que potencializam discussões, também
se utilizou em uma das aulas observadas de uma música, em que os educandos
debateram e depois a interpretaram. Sobre este último, tem-se debatido que
A utilização de músicas no ensino de Geografia se constitui em uma prática de grande relevância, uma vez que nas letras dessas músicas transitam os agentes que com suas ações constroem o arranjo espacial que o homem habita, seja na zona rural ou urbana, e é esse
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espaço animado pela sociedade que nele se encontra e atua, que chamamos de espaço geográfico, definido pelo professor Milton Santos como conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações. (CASTRO, 2008, p. 79-80)
O conteúdo aplicado fundamenta-se em saberes didáticos e humanistas do
professor e este trabalha a escala global à local, de diferentes maneiras. Contudo,
remetendo-se ao levantamento de dados, têm-se, dos educandos questionados,
98% procedente da zona rural, e considerando que o PPP do Colégio tem como um
de seus objetivos a compreensão da cultura, e como afirma Freire (1996) “ensinar
exige respeito aos saberes do educando” (p. 30). Como está se desenvolvendo este
na Geografia?
A professora admite que como os alunos em sua maioria trabalham na agricultura
não se tem profundamente relações em suas práticas da Geografia com as
realidades dos educandos, e propõe que seja algo que tenha que se trabalhar mais.
Uma contradição é a avaliação que é aplicada pela professora, percebe-se que os
educandos decoram os conteúdos, visto que as respostas de todos eram
praticamente iguais. A professora afirma sobre a aprendizagem dos educandos que:
“não se desenvolve aqueles que não estudam (…), só não consegue aprender
aqueles que não estudam”. Ou seja, do que valeu todas as aulas e a construção do
conhecimento que “aconteceu”?
“A única função da avaliação é a aprendizagem” (DEMO, 2003, p.05). Segundo
Demo (2003), o professor deve avaliar para saber o que o aluno aprendeu, então ele
tem que avaliar todos os dias. As avaliações nessa classe, em forma de prova,
concretizam-se duas vezes ao bimestre, intercaladas por trabalhos e outras
atividades realizadas bimestralmente duas a três vezes.
c) O Ensino-aprendizagem em Geografia e relação educador-educandos
Compreendendo que a aprendizagem é o resultado de organizações internas,
sensoriais, motoras, perceptivas e cognitivas, sob influências endógenas e
exógenas, que possibilita armazenar informações, podemos dizer que a
aprendizagem resulta de um processo adaptativo.
A classe da 7° série, quando questionada sobre dificuldades em aprender na
disciplina de Geografia, 77% respondeu que não há dificuldades, 15% afirmou que
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há e 8% respondeu na média, nem que sim, nem que não. Fato interessante é que
dos 15% que se declarou com dificuldades, a memória foi um dos mais citados como
fator do problema.
É nesse sentido que se concorda com Vesentini (1993), quando o autor afirma que a
Geografia deve preocupar-se com o senso crítico do educando e não com o que ele
memoriza, pois
o conhecimento a ser alcançado no ensino, na perspectiva de uma Geografia crítica, não se localiza no professor ou na ciência a ser “ensinada” ou vulgarizada, e sim no real, no meio onde aluno e professo estão situados e é fruto da práxis coletivizados grupos sociais. Integrar o educando no meio significa deixá-lo descobrir que pode tornar-se sujeitos na história. (VESENTINI, 1993, p. 37)
Os assuntos que mais chamam atenção dos alunos são os fatores físicos, 35,2%
deles respondeu elementos da natureza como o mais interessante na disciplina,
17,6% declarou ser os mapas, 14,7% respondeu o mundo, essas foram as repostas
mais citadas. Levando-se em consideração que os conteúdos que estavam sendo
trabalhados pelo professor no momento eram clima e vegetação. Atrelando-se a
essa situação ocorrida com a aprendizagem dos educandos, tem-se em Castellar
que “saber ler as informações do espaço vivido significa explorar a observação da
paisagem e assim não restringir-se à percepção das formas, mas perceber o
significado de cada uma delas.” (CASTELLAR, 2000, p.34)
É talvez por isso que um dos objetivos do PPP do Curso de Geografia da referida
instituição seja: “Formar licenciados preparados para desenvolver na sua prática
docente o ensino visando à aprendizagem significativa do aluno.” (PPP, 2003, p. 02)
A educação deve conduzir o educando a ir além do seu ponto atual, contudo o
sistema educacional despreza, muitas vezes, o ponto de desenvolvimento em que o
educando está, a aprendizagem ocorre de maneira mais fácil quando há respeito às
condições apresentadas pelos mesmos.
Nas questões de relacionamento educador/educando, disciplina e motivações dos
mesmos, a classe é bem tranquila, considerando que são apenas 26 educandos, a
professora exige muita organização, visto que a primeira atitude ao entrar na sala de
aula é de enfileirar as carteiras corretamente e é rigorosa quanto à ordem e ao
silêncio. O que não é garantia nenhuma de aprendizagem.
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As turmas são atentas, em sua maioria, à aula, há participação apenas quando a
professora solicita. Nesse viés, quando perguntado à professora sobre as
motivações dos educandos do Colégio em geral, a mesma afirmou que são
interessados e que não há problemas graves de indisciplina. Confirmando tal
alegação, os educandos questionados responderam em 79,4% que gostam da
disciplina de Geografia.
Segundo a professora observada, os alunos do meio rural em geral, são mais
atentos e interessados do que os da cidade, o que motiva o professor a preparar a
aula com mais entusiasmo e diversificação, pois nota a reciprocidade dos mesmos.
Considerações finais A atividade de observação é uma etapa fundamental para inserção e conhecimento
do espaço escolar como um conector das diversas funções exercidas neles. A partir
do momento que vai se formando um pensamento crítico sobre a educação é
necessária a teoria aliada à prática (práxis), visto que nada adianta se pensar e
construir informações alienadas da construção social das realidades educacionais,
fato imprescindível para transformar informações em conhecimentos. Sendo válido
tanto para os acadêmicos da Universidade (nesse caso) quanto para os educadores
da mesma.
Destaca-se que os fatos são os melhores intercessores para a reflexão. Mediante a
reflexão é possível projetar o que se quer como profissional da educação. Ao se
comparar e relacionar as experiências das mais variadas características, surgidas
nos debates em sala de aula, durante a disciplina de Prática de Observação da
Escola e Prática Pedagógica ao Professor de Geografia, tornou-se viável uma
construção coletiva de um ideal para o que se quer na educação, direito iguais a
todos os indivíduos sejam eles de onde vierem, e práticas do professor que
valorizem a cidadania e uma necessária escola democrática, sem aliená-la da
realidade social, econômica e política.
É a partir da formação de docentes que se pode transformar as características do
ensino conservador para um ensino crítico e que tenha validade para a vida dos
educandos. O que não significa necessariamente mudanças na ordem das coisas,
podendo ser na ordem das práticas e sistemas de ideias. Em que o ideal seria em
ambos os dimensionamentos.
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Conhecer a fundo quais são as bases históricas, conjunturais e estruturas da
educação, desconstrói os conceitos trazidos de quando você está sentado em uma
carteira assistindo aula na rede pública de ensino, de que você esta ali apenas para
seu benefício próprio, e que aquilo que lhe é passado está totalmente desligado de
um sistema maior de ideologias.
A Habilitação Licenciatura no Curso de Geografia quer dizer que tudo lhe incumbe, é
para uma formação que vai dar base a um sujeito com funções de transformação na
sociedade, é, portanto, plausível mediante tal atividade desenvolvida que as demais
disciplinas também visem, mesmo que não explicitamente, à formação de um
docente capaz de relacionar espaço, tempo, escalas e desenvolvimento da
percepção dos futuros educandos sobre o mundo e suas fatalidades.
As disciplinas pedagógicas nos cursos de Licenciatura devem ser mais valorizadas,
no sentido de uma conscientização por parte dos futuros docentes, de que somente
a prática contempla a teoria plenamente e que se o objetivo do Curso em questão,
Geografia, é formar o licenciado “que possua embasamento teórico, domine as
práticas investigativas e as diferentes linguagens, tanto da sua própria prática,
quanto a da realidade do contexto em que irá atuar” (PPP, 2005, p.02), então é
necessário e fundamental que os acadêmicos se envolvam e dediquem-se para que
a teoria se solidifique em ações.
A disciplina Prática de Observação da Escola e Prática Pedagógica do Professor de
Geografia é um primeiro contato com o universo escolar e educacional, um início
com as teorias e métodos de ensino e da educação por parte do acadêmico, para
que este desenvolva, e haverá necessidade de desenvolvimento mais profundo, de
suas próprias práticas e adaptação a determinados métodos. Durante o processo de
formação, as ideias e construções do conhecimento se estabelecem da maneira
mais plausível e condizente com o ensino geográfico de qualidade e crítico.
Ver e analisar a “realidade” são passos significativos à formação do professor que
pretende ser transformador da realidade. Portanto, não há porque de se negar o real
papel da educação hoje e as reais consequências desencadeadas por estas nos
âmbitos escolares. A construção coletiva de ideias e conhecimento que houve
deixam ao acadêmico a tarefa de refletir e dialogar com as teorias e as práticas
realizadas, para que se estabeleça a compreensão do papel do professor na
sociedade.
BASSANI, A. F.; NABOZNY, A. Relatos de uma “prática” de observação educacional em Geografia no Colégio Estadual Faxinal dos
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BASSANI, A. F.; NABOZNY, A. Relatos de uma “prática” de observação educacional em Geografia no Colégio Estadual Faxinal dos
Francos – Rebouças-PR (Ou: Críticas da prática – uma tentativa de práxis)
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ANEXO 01 DIÁRIO DE BORDO. Referência para uma aproximação com a escola.4 Nome do colégio: Dia da observação: I O PROFESSOR DE GEOGRAFIA DA ESCOLA a) Como se relacionada com os alunos? b) Que metodologias utiliza? Soube se é sempre assim? (aulas dialogadas, expositivas, trabalhos em grupo, saída de campo...) c) Como conduz a disciplina em sala de aula? d) Demonstra motivação para o ensino? E os alunos agem reciprocamente? e) Quais os saberes demonstrados pelo professor? (didáticos, técnicos, humanistas...). II O CONTEÚDO a) Os alunos possuem livros didáticos? Como são efetivados os seus usos? b) Outros materiais são utilizados juntos com os livros didáticos? c) Como são pensados e articulados os conteúdos? III A AULA a) A aula é planejada? O conteúdo inscreve-se num planejamento reflexivo? b) Como a aula é estruturada? c) Como é iniciado um novo assunto ou tema? d) Como e quais são as atividades propostas aos alunos? e) Os alunos demonstram-se ativos intelectualmente no processo de ensino-aprendizagem? f) Que estratégias motivacionais são utilizadas? g) Que materiais didáticos são utilizados? (quadro negro, giz, retroprojetor, mapas etc). h) Como se efetiva a participação dos alunos? i) Quanto a avaliação. Como é conduzida? Por aula? No bimestre ? Etc... Essas questões são orientações para um registro sistemático em seus diários de observação (ou diário de campo, de bordo etc). O qual constitui-se enquanto um instrumento de pesquisa e sistematização das observações. Todavia, as questões expostas não se configuram em um questionário que deve ser respondido rigorosamente. Da mesma forma essas pontuações não são limítrofes, apenas sugestões. Devendo o discente observador trazer o máximo de elementos possíveis de suas observações, de modo a construir um arcabouço de sustentação para suas reflexões e validação metodológica (demarcação científica). O diário de bordo deve ser uma técnica de pesquisa complementada com outras. Entrevistas qualitativas com professores, alunos, funcionários etc. Aplicação de questionários. Levantamento quantitativos da estrutura física da escola. Leituras sistemáticas do Projeto Político Pedagógico da Escola. Técnicas de estimulação de discursos. Registros fotográficos, entre outros elementos.
4 Técnica de observação. Elementos para tecer múltiplas “cartografias do campo escolar” (apropriações, disputas, institucionalização, ensino etc... ). Disciplina: Prática de Observação da Escola e Prática Pedagógica ao Professor de Geografia.
HOLM, C. C.; BRUMES, K. R. Reflexões acerca do planejamento turístico: O caso de Irati/PR
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REFLEXÕES ACERCA DO PLANEJAMENTO TURÍSTICO: O CASO DE IRATI/PR
CARLA CAROLINE HOLM1
KARLA ROSÁRIO BRUMES2
Resumo: Este trabalho se propõe a fazer uma análise sobre a divisão do espaço na cidade de Irati/PR e como isto interfere no desenvolvimento local. Primeiramente fez-se uma abordagem teórica sobre planejamento turístico, desenvolvimento e atividade turística para saber qual influência o turismo exerce numa cidade e como esta cidade pode colaborar para com a atividade. Sendo assim, utilizou-se enquanto métodos de pesquisa principalmente fontes bibliográficas e os resultados obtidos da atividade de estágio realizada na Prefeitura Municipal de Irati (PMI) nos setores de turismo, lazer e obras e urbanismo. O trabalho não objetiva apresentar respostas exatas sobre a atividade turística, mas sim propor uma reflexão acerca do tema e do que ainda pode ser feito para que haja um desenvolvimento responsável do turismo e que este desenvolvimento possa ser não só no que tange a economia local, mas também no que está relacionado à sociedade e ambiente, podendo estes ser agentes participantes no processo de planejamento e desenvolvimento do turismo em Irati/PR que configura o objeto deste estudo. Palavras-chave: Planejamento, Turismo, Desenvolvimento, Urbano A atividade turística e suas relações com o planejamento
A atividade turística se dissemina em todo o mundo, ou seja, mostra que o
turismo é um importante fator que traz significativos benefícios aos locais, seja
porque gera empregos, ou porque transforma espaços e destinos em atração
para as pessoas. Além do mais, o turismo também fomenta o consumo de outros
produtos e serviços que estão direta e indiretamente relacionados com a
atividade.
Contudo, é preciso que as cidades que desejam desenvolvê-lo, tracem metas e
objetivos de modo a fomentar estratégias de planejamento turístico municipal.
Tais ações visam ordenar a atividade turística e, podem minimizar os impactos
negativos e maximizar os impactos positivos gerados a partir da prática da
atividade, como considerar o espaço em que irá se desenvolver, os recursos
1 Acadêmica do 4º ano do curso de Turismo da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) – [email protected] 2 Docente do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) – [email protected]
HOLM, C. C.; BRUMES, K. R. Reflexões acerca do planejamento turístico: O caso de Irati/PR
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utilizados, os profissionais envolvidos, bem como o público que se deseja atingir
com determinadas ações.
É neste sentido que Ansarah (2001) afirma que a atividade liga-se às questões
culturais, sociais e econômicas e atende à satisfação das necessidades vitais,
como comércio, esportes, eventos, etc. Diante deste contexto, o turismo pode ser
visto como importante fator que traz significativos benefícios aos locais em que se
faz presente; o se pensar em turismo não deve levar em consideração apenas a
geração de renda e o que esta pode proporcionar. É preciso que também se
analise o impacto que ele pode causar aos espaços em que se insere. A autora
afirma que turismo deve ser pensando de forma a estar em harmonia com a
região receptora, a fim da atividade preservar a localidade para as gerações
futuras. Ao turismo então se pode delegar um importante papel: o
desenvolvimento econômico, social e/ou ambiental.
Sendo assim, este trabalho se propõe analisar a atividade turística no município
de Irati/PR. É possível por meio da análise do espaço segmentar o público, saber
que tipo de atrativo ou equipamento pode ser instalado, bem como favorecer o
desenvolvimento da atividade turística plenamente consciente de seus impactos
positivos e negativos, tanto para o residente quanto para o turista. É preciso
também que sejam investigados os efeitos que o turismo pode gerar neste espaço
e, em detrimento de quê haverá a prática da atividade
A escolha do tema se dá mediante ao fato de que existem ações isoladas que têm
sido realizadas na cidade a fim de chegar-se mais próximo de um
desenvolvimento do turismo. Acredita-se neste sentido, que como estas ações
são pequenas ainda, há tempo hábil para que os espaços de inserção possam ser
analisados e trabalhados.
Configura-se neste contexto como a problemática da pesquisa compreender o
desenvolvimento do espaço urbano de Irati/PR relacionado à atividade turística.
Ainda buscar-se saber se é o espaço que condiciona o desenvolvimento da
atividade ou vice-versa e verificar como se encontra o espaço urbano de Irati/PR.
Neste sentido, o capítulo 1 tratará da atividade turística como um todo e sua
importância no mundo atual por meio de seu papel enquanto agente que colabora
para o desenvolvimento econômico e social das cidades.
HOLM, C. C.; BRUMES, K. R. Reflexões acerca do planejamento turístico: O caso de Irati/PR
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O capítulo 2 fará uma abordagem sobre o planejamento turístico e, como este
deve ser encarado para que as ações saiam do papel e sejam efetivamente
implantadas, visando um melhor ordenamento da atividade nos núcleos em que a
mesma se desenvolve.
O capítulo 3 fará uma análise da cidade trazendo sua história; os dados
referentes à população, renda, atividades econômicas e, sobretudo, a atividade
turística na cidade, para que se possa analisar o que ela dispõe para ser utilizado
pelo e para o turismo.
As abordagens teórico-metodológicas, as pesquisas empíricas que poderão ser
percebidas ao longo desta pesquisa, podem levar a uma melhor compreensão de
como a atividade turística se estabelece em Irati.
Metodologia de pesquisa
Na pesquisa foram utilizados diferentes procedimentos para que se pudessem
atingir os objetivos propostos. Assim, pontua-se:
A pesquisa bibliográfica em livros, artigos de internet, sites institucionais e
trabalhos científicos que abordavam os temas desenvolvimento; planejamento e
turismo, que teve por objetivo fornecer a base para falar com propriedade sobre
os temas que se farão presentes no trabalho.
A pesquisa qualitativa buscou relacionar o turismo e seus benefícios para as
localidades em que a atividade é implantada. Foram utilizados dados de
entidades voltadas para o turismo, órgãos que estudam questões relacionadas ao
desenvolvimento populacional, social e econômico. As informações relacionadas
ao objeto de estudo, a saber, a cidade de Irati/PR foram extraídas da prefeitura do
município, departamentos correlatos aos interesses da pesquisa e também
Secretaria de Estado e do Turismo (SETU). Esta forma de pesquisa visa perceber
a qualidade de vida que se tem a partir da implantação da atividade em dada
localidade e se ela é satisfatória para o meio e sociedade em que se insere.
Em relação aos trabalhos de campo, o primeiro já realizado no período de
estágio, entre 04 de janeiro e 19 de fevereiro do corrente ano, em que obtiveram-
se dados que fazem alusão às atividades de gabinete, que visam melhor
compreensão do trabalho que é desenvolvido pela Prefeitura Municipal de
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Irati/PR. Esta etapa contou com a realização de entrevistas com as equipes de
urbanismo, lazer e turismo da prefeitura. O segundo momento da análise de
campo acontece de forma empírica que objetiva identificar os pontos positivos e
negativos do planejamento urbano para o desenvolvimento turístico na cidade.
Esta etapa é para que se possa fazer o comparativo entre teoria e prática, além
de ser o momento em que possibilitará ao pesquisador saber da realidade do
objeto de estudo, permitindo que este parta para um breve diagnóstico da
localidade. Esta etapa contará com o apoio dos dados e informações fornecidas
pela prefeitura do município, bem como dos autores e títulos utilizados neste
trabalho.
Por meio das diferentes formas de pesquisas utilizadas para este estudo, será
possível analisar qual a relação que existe entre o espaço urbano e a atividade
turística no município de Irati/PR, uma vez que as metodologias apresentadas
fornecerão resultados pontuais para se esclarecer o objetivo proposto.
Turismo e planejamento: da teoria à prática Turismo: os valores expressos na atividade O turismo é uma atividade do terceiro setor econômico que envolve prestação de
serviços e tem como um de seus objetivos desenvolver as localidades
proporcionando geração de emprego e renda. Assim, ele é importante ao passo
que traz significativos resultados econômico e de desenvolvimento para o local
em que se insere.
Pearce (2002) diz que o turismo já é uma atividade sólida, estabelecida na
economia das cidades, estados e países e, a partir dele estão relacionadas outros
tipos de comércios que por sua vez, formam um ciclo para bem servir e atender
os clientes, mas também desenvolvem indiretamente a localidade.
Neste contexto a atividade vem ganhando gradativamente importância no cenário
econômico das localidades, pois, trabalha interligado com outros setores da
economia e justamente por este fato consegue movimentar grandes números da
receita da referida localidade.
HOLM, C. C.; BRUMES, K. R. Reflexões acerca do planejamento turístico: O caso de Irati/PR
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De la Torre (1968, apud BARRETTO 2003, p. 19) diz que a atividade é entendida
como sendo:
(...) fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupo de pessoas, que fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem de seu local de residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada gerando múltiplas inter-relações de importância social, econômica e cultural.
Ashton e Garcia (2008) afirmam que o turismo tornou-se popular e se massificou,
por este motivo a atividade ficou conhecida e cada vez mais praticada.
Percebendo então a expansão do fenômeno social já citada pelos autores, tanto o
setor público quanto a sociedade privada devem investir na estruturação do
núcleo receptor para melhor atender o turista e com isso aumentar cada vez mais
o número de deslocamentos motivados pela atividade.
Assim, nota-se que há uma percepção acerca da importância da atividade, pois
assim como aumentam o número de viagens, aumentam também os valores
consumidos pelas pessoas que estão viajando; e estes valores são reinvestidos
na própria atividade, gerando maiores inovações que, por sua vez, servem
enquanto atrativo para as pessoas, formando assim um ciclo de deslocamento,
consumo e investimento gerando números cada vez mais significativos para a
atividade.
Segundo Pearce (2002) os benefícios econômicos gerados pela atividade já
tiveram seus resultados comprovados, pois, o mesmo é capaz de fomentar a
geração de emprego e renda, lucros corporativos e também é o turismo um
estimulador do consumo.
Silva e Cid (2005) apontam a era industrial como parte responsável pela
propagação da atividade turística no mundo. As redes de telecomunicações, os
transportes e a infra-estrutura dos núcleos receptores, bem como as facilidades
de deslocamento nesta época, foram fundamental para a atividade se consolidar
no mercado. Para elas o turismo transforma-se então em uma das atividades
mais reconhecidas no século XX e também se torna um dos principais setores
que influenciam a sociedade e a economia do mundo.
HOLM, C. C.; BRUMES, K. R. Reflexões acerca do planejamento turístico: O caso de Irati/PR
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Isto posto, pode-se afirmar a importância da atividade e o quanto ela se
desenvolve, envolvendo cada vez mais setores e localidades e aquecendo a
economia destes. O crescimento do turismo também se deve ao fato das pessoas
reconhecerem que ele é uma alternativa de fuga, pelo menos temporária, do
cotidiano. As autoras então reafirmam a importância do turismo na atualidade e
reconhecem que a atividade é “considerada mundialmente como a segunda
atividade econômica mais importante, perdendo somente para a indústria de
armamentos” (SILVA e CID, 2005, s/p).
Estes contextos dão a entender a atividade turística enquanto um importante fator
econômico e social para as localidade em que se desenvolve, pois quanto mais
pessoas este núcleo recebe, mais ele acumulará de renda e terá disponibilidade
de investimentos no próprio setor e também naqueles que estão envolvidos.
O turismo sofreu transformações desde o início de sua prática, no entanto,
quando reconhecido, proporcionou ganhos econômicos e evoluções sociais
importantes. No caso do Brasil o turismo movimenta quantidade expressiva de
dinheiro, seja gerado pelo turismo doméstico ou recebendo pessoas de outros
países.
Vieira (2003) afirma que no período anterior a 1994 o governo do país, muito
embora soubesse das vantagens de investir no turismo, não demonstrava
maiores interesses. Mas a partir deste ano, com o governo de Fernando Henrique
Cardozo (FHC) começou-se a pensar na atividade enquanto uma das alternativas
para geração de emprego e renda no país, sendo ela uma atividade estratégica
para o período em questão.
Já com na gestão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (Lula), a partir do ano
de 2003 a atividade demonstrou maior importância, visto que foi criado o
Ministério do Turismo (MTUR), órgão este que ordena e fomenta a atividade,
gerando maiores oportunidades de investimento e giro de capital. Com o apoio do
Estado, o turismo passa a ser uma das prioridades porque demonstra que é
capaz de movimentar a economia do país
O autor ainda diz que em 1994 o país recebia cerca de 1,99 milhão de turistas. Já
no ano de 2008 o MTUR apontou que o país recebeu cerca de 5,1 milhões. Nota-
se então que há um gradativo aumento no número de turistas no país, e isto se
deve aos incentivos, divulgação e comercialização do destino Brasil.
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Em relação ao número de empregos formais gerados pela atividade turística, o
MTUR divulga no Plano Nacional de Turismo – 2007/2010 que em 2001 a
atividade gerava cerca de 1,1 milhões de empregos diretos e no ano de 2006 este
número já tinha um aumento significativo atingindo a marca de 2,01 milhões.
Com base nos dados apresentados, pode se observar a importância da atividade
para o país. Investir na atividade configura-se enquanto uma forma de incentivar o
consumo de produtos e destinos turísticos para que estes possam permanecer
impactando positivamente a economia do Brasil.
No município de Irati a atividade ainda é pouco representativa, pois não apresenta
dados relevantes e confiáveis em relação ao número de empregos, tampouco o
número de pessoas que chegam na cidade motivados pela prática do turismo.
Mesmo já tendo sido contemplado com alguns selos de certificação do Instituto
Brasileiro do Turismo (Embratur), ainda percebe-se que a atividade não é
prioridade no município.
Irati segundo o Embratur possui potencialidade para desenvolver o turismo, basta
que estas sejam estudadas para que o desenvolvimento seja promovido gerando
benefícios para uma significativa parcela da população local.
Na cidade se a atividade for organizada poderá se apresentar enquanto uma
referência para o turismo da região. Neste caso, além de ser uma alternativa de
lazer, também poderá ser uma opção de atividade que movimente a economia do
município, promovendo a geração de emprego e renda para a população.
Turismo e planejamento: compreendendo a relação
Planejamento é uma ação que visa mudança para o futuro. Para o turismo a
palavra se refere ao ordenamento da atividade, porque visa objetivos e propostas
de ação passíveis de controle desde o início do processo.
Alday (2000, p.12) diz que
Planejar é a palavra apropriada para se projetar um conjunto de ações para atingir um resultado claramente definido, quando se tem plena certeza da situação em que as ações acontecerão e controle quase absoluto dos fatores que asseguram o sucesso no alcance dos resultados.
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Planejar requer análises cuidadosas para que os objetivos propostos e as ações
a serem tomadas possam ser previstas a fim de organizar a atual situação para
se alcançar uma situação desejada.
Na atividade turística o planejamento é de fundamental importância, visto que é
necessário analisar um núcleo receptor ou um empreendimento turístico, adaptá-
lo e/ou transformá-lo para que atenda da melhor forma o turista e/ou cliente.
Fala-se muito sobre se fazer turismo, mas para que exista uma prática de
qualidade é necessário que a atividade seja minuciosamente pensada, sendo
positiva para a localidade que se torna destino e também para o turista que chega
em busca de algo diferente e que atenda as suas necessidades.
Por meio do planejamento é possível prever os impactos, positivos e/ou negativos
advindos da atividade turística, pois deve se levar em conta o que deseja para
esta localidade.
Planejar o turismo é também buscar atender às necessidades do local definido,
verificar se existe a oferta do produto turístico atual e se ela atende as
expectativas dos visitantes. Mesmo sendo complexo este tipo de estudo, é desta
forma que se pode garantir sucesso para o desenvolvimento da atividade.
Ruschmann e Widmer (2000, p.67) entendem o planejamento turístico enquanto
(...) o processo que tem como finalidade ordenar as ações humanas sobre uma localidade turística, bem como direcionar a construção de equipamentos e facilidades, de forma adequada, evitando efeitos negativos nos recursos que possam destruir ou afetar sua atratividade.
Neste sentido a ideia é o de ordenamento de uma localidade para satisfazer as
necessidades do público alvo. Os residentes e os turistas são beneficiados
quando as ações a serem tomadas visam a melhoria de uma situação, pois uma
atividade planejada tem maiores chances de agradar o cliente final.
Cardozo (2007, s/p) ainda afirma que
Pensar o planejamento turístico municipal é pensar não apenas no destino propriamente dito, mas, sobretudo pensar no entorno e na comunidade que este abriga. A relevância de se refletir sobre estas questões justifica-se porque a intervenção a ser realizada diz respeito a mudanças: na base econômica da cidade; utilização do espaço urbano; e vida cultural dos residentes.
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Assim sendo, mais do que almejar a atividade enquanto fator inovador as
localidades devem estar preparadas para enfrentar mudanças em seu cenário,
uma vez que o turismo transforma o meio no qual se insere e isto pode ser ou não
aceito pela comunidade como um todo.
O desenvolvimento de uma atividade comercial em uma localidade deve ser
pensado levando-se em conta não somente a geração de benefícios para os
empreendedores, mas também para toda a comunidade que estará ligada a tal
prática. Por isso o principal objetivo do planejamento turístico é analisar o que é
melhor para a comunidade e, posteriormente o que será adequado oferecer a um
visitante e/ou turista. Neste sentido Barbosa (2010, s/p) afirma que:
Ao analisar o fenômeno turismo deve levar em conta dois aspectos importantes: o interesse dos turistas e o interesse do local que recebe os turistas. O primeiro procura regiões que oferecem atividades que ocupem seu tempo livre e que atendam a seus interesses. O segundo visa atrair os turistas para ocupar o tempo livre dos mesmos por meio das atrações que já possui ou que pode criar.
É durante o planejamento turístico que se poderá pensar no espaço a ser
ocupado, atribuir responsabilidade, designar tarefas e unir diferentes grupos
sociais em busca do desenvolvimento da atividade, se este for o objetivo da
localidade.
Para a execução dessas tarefas é necessário então que existam representantes
das entidades públicas e privadas e também representantes da sociedade civil;
formando assim um grupo de interessados que consigam dialogar sobre o ônus e
o bônus do. Desta forma, planejamento e a atividade como um todo transformam-
se em multidisciplinares e participativos para melhor atender o grupo de
interessados.
Turismo e planejamento: os níveis de articulação
Planejar é comum ao cotidiano das pessoas por se tratar da ideia de organização
de ação orientada para o futuro. Para Cardozo (2007, s/p) o planejamento é um
“(...) sistema; processo de determinação de objetivos; mecanismo orientado para
o futuro; e processo contínuo”. Para que o turismo se desenvolva é preciso que
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haja planejamento e para este existir, faz-se necessárias pessoas, instituições
e/ou entidades dispostas a pensar na atividade.
O planejamento organizacional do turismo é constituído por meio de plano
(pensando em nível estratégico), programas (preparando-se de uma forma tática)
e projetos (agindo em nível operacional). Tais documentos que se fazem
presentes no planejamento da atividade visam ordená-la para que possa se
desenvolver a contento tanto dos envolvidos diretos, quanto dos que são
indiretamente afetados durante o processo.
Para que esses documentos sejam elaborados e para que a atividade seja
desenvolvida de forma responsável numa localidade existem diversos tipos de
planejamentos. Barretto (1991) afirma que o planejamento acontece em três
níveis distintos, sendo em nível federal, estadual e municipal.
O planejamento turístico federal quer, sobretudo, referir-se a elaboração de
planos e políticas relacionadas ao desenvolvimento da atividade; o planejamento
em nível estadual preocupa-se com a elaboração de estratégias de
desenvolvimento para os municípios e; o planejamento municipal executa a
melhor estratégia proposta pelo estado para que seja desenvolvida com
responsabilidade a atividade turística.
Embora existam diversos níveis de planejamento da atividade é importante que
estes estejam interligados, podendo se desenvolver em harmonia com o que se
estará sendo pensado para o todo, ou seja, é importante que o planejamento
turístico municipal esteja interligado com o estadual, que por sua vez esteja de
acordo com o proposto em nível federal, uma vez que conseguir atingir objetivos e
metas em conjunto pode ser mais fácil, por se conseguir parcerias dispostas a
trabalhar juntas em busca de um resultado em comum.
Estes níveis de planejamento são de suma importância porque todos visam o
desenvolvimento ordenado da atividade. Quanto mais houver órgãos, setores,
departamentos e as mais distintas esferas de interessados em trabalhar em prol
do turismo, melhor a atividade será pensada e desenvolvida com êxito.
No caso do planejamento municipal é necessário que administração pública,
empresas privadas e sociedade civil atuem juntas. É necessário também que
exista uma política voltada para o turismo, pois é baseado nela que os agentes de
desenvolvimento se apoiarão para desenvolver um turismo que agrade o
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residente, ou seja, um turismo que corresponda às necessidades e anseios da
população, em termos de qualidade de vida através de geração de emprego e
renda ou ainda por meio da divulgação da sua cultura e trabalho.
Para Cardozo (2007, s/p) “o planejamento turístico municipal tem seus objetivos
próprios, e isto independe das distintas motivações pelas quais uma localidade
decide desenvolver esta atividade.” Isto quer dizer que o motivo que leva (ou não)
cada localidade a desenvolver o turismo não é igual em todos os casos, pois cada
local possui uma especificidade de interesse e de atrativo para promoção, por
exemplo.
Sabe-se que o turismo não é visto enquanto prioridade por todos os municípios
por se tratar de uma atividade que está ligada ao lazer das pessoas e muitas
vezes não é levado a sério. No entanto, para que a atividade turística se
desenvolva é necessário que existam outros fatores que estejam atuantes com
êxito dentro do município, ou seja, faz-se necessário uma rede de saúde ativa,
infra-estrutura básica que atenda as necessidades tanto do residente quanto do
turista, é preciso que a localidade disponha de educação de qualidade, segurança
eficiente e por fim, também deve dispor de equipamentos e serviços que atendam
a comunidade local e posteriormente satisfaçam o turista e/ou visitante.
Muito embora nem sempre o turista seja o foco da atividade em alguns
municípios, o dinheiro que é trazido por eles se reverte em investimentos para o
próprio município, trazendo melhorias para a comunidade e, isso torna a atividade
um dos grandes atrativos para a localidade em que o turismo se insere
(BARBOSA, 2010).
Para Ruschmann e Widmer (2000) o planejamento do turismo não visa só o
destino ou os recursos propriamente ditos, mas preocupa-se com o entorno da
localidade, pois vale ressaltar que o lugar que é atrativo para o residente, também
será para o turista, daí vem a importância de planejar e dentro desse
planejamento se preocupar com o todo envolvido.
Os benefícios positivos podem ser percebidos na base econômica, na vida
cultural e também no desenvolvimento do espaço urbano da cidade em questão.
No caso de Irati, a atividade turística, se bem planejada e desenvolvida com
responsabilidade, tem grandes chances de sucesso, pois através dela será
possível fomentar a atividade e junto dela a geração de mais uma opção de
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emprego (diretos e indiretos), renda, além de proporcionar o desenvolvimento da
localidade como um todo. Aqui se entende por desenvolvimento as questões
relacionadas à infra-estrutura, saúde pública, educação e espaços de lazer que
também poderão ser úteis para a comunidade local.
Sendo assim, fica clara a importância do turismo não como apenas uma
ferramenta para o lazer a comunidade, mas também enquanto um agente de
desenvolvimento da mesma.
TURISMO E DESENVOLVIMENTO: DUAS FACES DE UMA MESMA MOEDA?
Um pouco do conceito de desenvolvimento para o turismo
O conceito de desenvolvimento é complexo para ser trabalhado visto que aborda
aspectos social, econômico, ambiental, dentre outros. Nota-se então que há
diferentes abordagens a respeito do desenvolvimento, visto que ele por si só é
transversal.
Para Furtado (1981) o desenvolvimento é um processo cultural, no qual o homem
não está totalmente satisfeito com o meio e inicia um processo de transformação
deste para que assim possa ficar (mesmo que temporariamente), ele é quase
sempre considerado um processo progressista e devido a isto, muitas vezes o
econômico é mais levado em conta.
Segundo Furtado (1981) desenvolvimento é frequentemente utilizado para se
referir à evolução do sistema social de produção e progresso das técnicas que
elevam a produtividade.
Souza (2002) afirma que o desenvolvimento está na maioria das vezes ligado
com as questões econômicas. Mas para ele o desenvolvimento deve ser mais
amplo que isto, visto que se o desenvolvimento for só econômico ele pode ser
mensurado através do crescimento econômico e modernização tecnológica. O
desenvolvimento para o autor é mais amplo, ele é:
Compreendido como um processo de superação de problemas e conquista de condições (culturais, técnico-tecnológicas, político-institucionais, espaço-territoriais) propiciadoras de maior felicidade individual e coletiva, o desenvolvimento exige a consideração simultânea das diversas dimensões constituintes das relações
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sociais (…) e, também, do espaço natural e social. (SOUZA, 2002, p.18-19)
Desta forma, reafirma-se que o desenvolvimento se dá em diferentes setores,
sejam eles relacionados à economia ou não.
Furtado (1981, p. 16) afirma que:
(…) a ideia de desenvolvimento possui pelo menos três dimensões: a do incremento da eficácia do sistema social de produção, a da satisfação de necessidades elementares da população e a da consecução de objetivos a que almejam grupos dominantes de uma sociedade e que competem na utilização de recursos escassos.
Neste sentido, a produção refere-se ao desenvolvimento econômico; às
necessidades da população, entende-se enquanto desenvolvimento social e;
quando se fala em utilização de bens escassos, faz-se referência às questões
ligadas ao desenvolvimento ambiental.
No caso da atividade turística, o conceito que melhor se enquadra é aquele
defendido por Pádua (1987 apud SILVEIRA, 2002, p.89), em que o autor afirma
que é
(...) preciso qualificar o desenvolvimento, diferenciando-o do simples crescimento econômico. Mais precisamente é preciso submeter todo e qualquer desenvolvimento a uma crítica ecológica e não apenas econômica. A qualificação ecológica do desenvolvimento propõe uma visão de toda a aparelhagem econômica, técnica e científica que permite à sociedade a sua sobrevivência, de tal forma que o meio ambiente não seja visto como objeto inerte, mas como patrimônio coletivo fundamental às condições de vida e de convivência democrática.
Este tipo de desenvolvimento se encaixa na atividade turística porque em muitos
casos o turismo busca, para sua sobrevivência, principalmente lucros. Ao mesmo
tempo em que está nesta busca a atividade depende da sociedade e do meio
ambiente, onde ambos tornam-se a matéria prima.
O turismo em muitos contextos visa o aspecto econômico, porém é preciso
mensurar o quanto isso é importante para a localidade. A busca pelo lucro pode
não garantir que a atividade permaneça para as gerações futuras. Isto quer dizer
que o desenvolvimento deve ser equilibrado para que a matéria prima e os
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consumidores do turismo não cheguem a um ponto de saturação rapidamente,
fazendo com que os recursos se esgotem e para que o turista em si não se canse
do local visitado.
Para Souza (2002) o desenvolvimento é compreendido como a solução para os
problemas de origens cultural, política, tecnológica e econômica. O autor afirma
que para que haja desenvolvimento é necessário que seja colocado na balança
todos os impactos que surgem com a ascensão da atividade, ou seja, é preciso
analisar quem ganha e quem perde com o turismo.
Barbosa, (2010, s/p) diz que
A atividade aproveita os bens da natureza sem consumi-los, nem esgotá-los; emprega uma grande quantidade de mão-de-obra; exige investimento de enormes somas de dinheiro; gera rendas individuais e empresariais; proporciona o ingresso de divisas na balança de pagamentos; origina receitas para os cofres públicos; produz múltiplos efeitos na economia do país (...)
Para a autora é viável ter o turismo enquanto um agente de desenvolvimento, pois
preserva o que já existe e movimenta a economia da localidade.
Desta forma pode-se perceber que muito embora citem-se outros benefícios da
atividade turística e o seu desenvolvimento nas localidades, o fator econômico é o
mais enfatizado. A argumentação é a de que ao movimentar a economia ele
estaria também promovendo indiretamente o desenvolvimento econômico e social
do núcleo receptor e, este desenvolvimento se daria no momento em que a oferta
e a procura efetivamente se encontram dentro do mercado econômico. Neste
sentido
(…) o turismo é uma das mais vigorosas atividades econômicas mundiais, principalmente o setor de serviços, sendo considerado um dos três lideres mundiais em produtividade, com consequente ampliação da oferta de emprego e geração de renda. (BARBOSA, 2010, s/p)
A partir da economia pode se mudar o contexto em que a localidade se encontra,
ao se valorizar as questões culturais e sociais. A consequência será a valorização
econômica para o desenvolvimento do local. Sendo assim, para que a atividade
se desenvolva em determinada localidade e que também propicie
desenvolvimento para esta, é necessário analisar todos os fatores que estão
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envolvidos direta e indiretamente, pois muito embora todos eles devam estar
interligados para um melhor aproveitamento da própria localidade e estes fatores
demonstrem importância, o retorno econômico e as possibilidades de mais
investimentos diretos também são importantes para o sucesso do
desenvolvimento de uma localidade.
TURISMO EM IRATI: QUAL A VERDADEIRA SITUAÇÃO?
Conhecendo Irati/PR
A cidade de Irati configura-se como uma pequena cidade. Olanda (2008) afirma
que estas cidades representam as ações sociais contemporâneas, onde o homem
a transforma para satisfazer-se. O autor aponta que as cidades em geral são
(…) concentração de pessoas; concentração que pode ser denominada material com objetos diversos, edificações, habitações, automóveis, máquinas, etc.; e concentração imaterial com ideias diversas, valores religiosos e laicos, crenças, tradição cultural, conhecimento científico (…) uma cidade pequena pode se relacionar com outras de diferentes portes, próximas ou distantes, no plano nacional ou internacional, numa complexidade de escalas que vai muito além da relação hierárquica (OLANDA, 2008, p.186)
Isto posto, vê-se que as cidades possuem especificidades não importando o
tamanho que elas possuem ou o nível de importância que exercem em seu meio,
pois cada uma delas atende a um determinado grupo de pessoas e se
desenvolve a partir de um determinado interesse, “as cidades em si, apresentam
características, problemas e especificidades singulares.” (SIVIERO, 2005, p.62)
Para o turismo, as cidades possuem uma grande importância, visto que é a partir
do espaço, e, por conseguinte a partir das cidades, que a atividade se
desenvolve. É a partir da particularidade de cada uma delas que a motivação ou o
interesse de cada turista surge. Para Siviero (2005, p.18)
“embora turismo e espaço não apresentem o mesmo significado, ambos se complementam, e a reflexão sobre suas características particulares permite uma futura e melhor compreensão do chamado espaço turístico.”
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Desta forma, pensar no turismo é também pensar no espaço em que ele irá
acontecer, nos impactos que esta atividade irá gerar, para que assim se possa ter
um desenvolvimento pleno. Faz-se necessário então que a atividade respeite o
espaço, otimizando-o para que possa usufruir do mesmo garantindo a satisfação
do público alvo e também da localidade em que a atividade irá se desenvolver.
A partir do deslocamento de famílias oriundas das cidades de Palmeira, Imbituva,
Lapa, Itaiacoca, Assungui e Curitiba nos anos de 1860, a cidade hoje denominada
Irati começou a se formar. Estas famílias fixaram residência na cidade
interessadas em extrair madeira e erva-mate características da região e
abundante no local. (ANDRADE, 2010).
Segundo dados da Prefeitura Municipal de Irati (2010), em 1903 foi criado o
Distrito Judiciário de Irati na cidade de Imbituva, onde começou a se pensar nas
questões político-administrativas do município que viria a se formar. Em 1907 este
distrito foi suspenso e recriado em Irati, com a Lei nº 716 de 02 de abril. A partir
de então, começaram a chegar no município as famílias de origem holandesa,
ucraniana, polonesa, italiana e alemã que colonizaram o município e iniciaram a
movimentação na economia deste.
Andrade (2010) afirma que as pessoas viram no plantio uma atividade de
subsistência e deram início, junto com as autoridades da época, à urbanização do
município, traçando o quadro urbano de Irati. A partir daí a população foi
crescendo e a cidade junto delas se desenvolvendo. Devido às transformações
sofridas, instalações de empresas e comércio, por exemplo, hoje a cidade serve
de referência para as cidades do entorno, como Rebouças, Rio Azul, Mallet,
Teixeira Soares (AMCESPAR, 2010).
Segundo o site institucional da cidade, Irati está localizada há 150 Km de Curitiba,
capital do estado, e compõem geograficamente a região Sudoeste do Paraná.
Pertencendo a esta região, a cidade faz limite com os municípios de Imbituva,
Prudentópolis, Rio Azul, Rebouças, Fernandes Pinheiro e Inácio Martins, figura 1.
A população é de aproximadamente 56.483 habitantes, distribuídas numa área de
1000 Km² (56,41/Km²), onde o Produto Interno Bruto (PIB) atinge a marca de
R$9.978 per capta, (IBGE, 2010). O IDH3 da cidade é de 0.743, considerado pelo
3 O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) a contagem baseada em educação, longevidade e renda da população que servem para se tomar base o quanto uma população é desenvolvida. Os número obtidos
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Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES) um
desenvolvimento médio. Já o Gini4 é 0,560 também é considerado médio.
Figura 1. Mapa das cidades limítrofes de Irati. Fonte: Prefeitura Municipal de Irati, 2010.
Para complementar, o IPARDES aponta que a População Economicamente Ativa
(PEA) é de 24.927 pessoas, ou seja, mais da metade da população total está
ocupada em alguma atividade (econômica ou não) no município.
A economia da cidade, figura 2, segundo dados da Prefeitura Municipal, está
baseada na prestação de serviços e comércios, seguida da indústria e por último,
agropecuária.
Figura 2. Distribuição das atividades que configuram a economia municipal. Fonte: Prefeitura
Municipal de Irati, 2010
variam de 0 a 1, onde quanto mais próximo de 1, atesta que há maior desenvolvimento na população estudada. 4 Índice de Gini mede o grau de desigualdade sofrida pela população, os números também variam de 0 a 1, onde quanto mais próximo de 1 indica que há maior desigualdade na população estudada.
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Desta forma, percebe-se que a cidade possui uma área para exploração bastante
ampla, sendo a maior cidade da região em que está localizada. Com índices
médios e uma economia ainda não diversificada, nota-se que há várias atividades
que podem ser exploradas no município.
No que diz respeito à economia da cidade, verifica-se que a maioria dela está
baseada na prestação de serviços e comércio, cujas atividades também dizem
respeito à atividade turística, o que tende a ser um ponto que favoreça o
desenvolvimento de tal atividade em Irati.
Com o apoio da administração pública, pode-se investir no turismo promovendo
mais empregos oriundos do setor, aumentando o número de pessoas envolvidas
com atividades econômicas do município e fomentando também o
desenvolvimento deste, a partir do turismo.
Turismo em Irati: a perspectiva do poder público municipal Dias (2003) afirma que as administrações públicas municipais devem assumir o
papel modificador para obter melhorias, pois assim como uma empresa, a
atividade turística se mal administrada e/ou planejada causa danos ao município,
por se tratar de um agente consumidor do espaço onde se desenvolve, sendo
este o elemento básico da atividade, abrigando características sociais, culturais e
ambientais.
Neste sentido o ainda afirma que o turismo pode gerar ganhos locais e “(...) seu
consumo deve ser administrado pelas próprias comunidades que, numa
perspectiva mais ampla, na realidade integram o produto turístico.” (DIAS, 2003,
p. 34). Isto quer dizer que é preciso ter a participação da comunidade e dos
órgãos públicos administrativos para que o turismo seja trabalhado de forma
harmônica nas localidades onde atua.
É válido ressaltar que o turismo não será o responsável por todas as mudanças
benéficas ou não no cenário de uma cidade, mas, por se tratar de uma atividade
multidisciplinar, contribui para parcerias que, trabalhando unidas, consigam
reverter situações ainda encontradas ao longo do cotidiano das pessoas.
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No caso do Paraná, o Plano Estadual do Turismo (PET) visa desenvolver a
atividade através da regionalização, fortalecendo assim cada região turística do
estado, figura 3.
Para fomentar a atividade no estado, encontrou-se a regionalização como uma
aliada, visto que os interesses da atividade podem ser discutidos em grupo e
também levando-se em conta as peculiaridades que cada região possui.
No Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo Regional 2008 –
2011/Região Turística Terra dos Pinheirais, a qual a cidade de Irati, objeto deste
estudo, pertence, sobre a regionalização da atividade é dito que
Cabe destacar que o processo de regionalização do turismo teve e tem o apoio da Câmara Temática de Regionalização do Turismo, do Conselho Consultivo de Turismo do Paraná, que em 2003 juntamente com o Fórum Estadual dos Secretários Municipais de Turismo, começou a discutir as estratégias de Regionalização do Turismo no Estado (...) (SETU, 2010).
As regiões turísticas bem como cada município pertencente a ela, devem
aproveitar o apoio recebido para desenvolver um turismo que represente a
especificidade do local, pois além de caracterizar a região, é possível que seja
desenvolvido um turismo pleno, onde o núcleo seja receptor e emissor de
pessoas, movimentando a atividade e fazendo com que ela não seja sazonal para
a região em questão. Se os municípios se unirem para desenvolver e promover o
turismo é possível ter caso de sucesso, uma vez que a carência de uma atrativo
ou equipamento em uma cidade, pode ser suprido pelo existente em outra da
mesma região.
Para trabalhar a regionalização é importante divulgar os pontos fortes da atividade
nas cidades, como estrutura de apoio5 e equipamentos que dão suporte à
atividade, mesmo que estes atrativos sendo pertencentes a municípios vizinhos.
Desta forma, é possível atrair pessoas para a região, divulgar os municípios sem
decepcionar o visitante com uma estrutura precária ou serviços que não o
agradem plenamente.
5 Neste caso, entenda-se por estrutura plenamente satisfatória aquela que possua atrativos, infra-estrutura básica e turística sólidas, equipamentos de apoio ao turismo em perfeitas condições de usos e desfruto tanto pela população local, quanto pelos turistas que estejam no destino.
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Figura 3. Mapa das regiões turísticas do estado do Paraná. Fonte: Secretaria de Estado do Turismo – SETU, 2010
HOLM, C. C.; BRUMES, K. R. Reflexões acerca do planejamento turístico: O caso de Irati/PR
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É preciso investir nos municípios separadamente, mas também investir na
regionalização, no caso da Terra dos Pinheiras, visto que os municípios de Antônio
Olinto, Bituruna, Cruz Machado, Fernandes Pinheiro, General Carneiro,
Guamiranga, Imbituva, Inácio Martins, Irati, Mallet, Paula Freitas, Paulo Frontin,
Porto Vitória, Prudentópolis, Rebouças, Rio Azul, São Mateus do Sul, Teixeira
Soares e União da Vitória que compõe a região não possuem sozinhos uma
estrutura plenamente satisfatória para a prática da atividade.
No caso de Irati, o site institucional afirma que o município recebeu em 1996 do
Ministério do Esporte e Turismo o Selo de Município com Potencial Turístico e
aponta-se enquanto atrativos turísticos da cidade os seguintes locais e monumentos:
Imagem de Nossa Senhora das Graças, Floresta Nacional de Irati, Caverna do
Canhadão, Morro das Comunicações, Parque Aquático e de Exposições Santa
Terezinha, Centro de Tradições Willy Laars, Kartódromo de Irati, Arquitetura
religiosa e, as praças Bandeira, Edgard Andrade Gomes e Etelvina Gomes.
(PREFEITURA MUNICIPAL DE IRATI, 2010)
Em visitas realizadas, percebeu-se que muitos desses locais e monumentos
apresentam pouca ou nenhuma condição de serem abertos a visitação, tampouco
podem ser considerados como atrativos turísticos, devido ao acesso, segurança e a
própria estrutura física que muitos possuem.
Preliminarmente, constatou-se que Irati não possui espaços para a prática de lazer e
nota-se que os empresários relacionados ao turismo não fazem investimentos
significativos em seus negócios para fomentar a atividade. Percebeu-se que a
cidade ainda não apresenta nenhuma pesquisa que aponte dados da demanda
turística na cidade e também que as ações tomadas pela prefeitura em relação ao
turismo, sua divulgação e consequentemente desenvolvimento são pequenas.
Nota-se a partir destas primeiras análises que a cidade ainda carece muito para
desenvolver o turismo. Faz-se necessário que haja maiores investimentos do poder
público e privado para que exista um turismo minimamente satisfatório,
investimentos estes no que se refere à infra-estrutura básica, infra-estrutura de apoio
ao turismo, melhoras nos espaços e monumentos considerados de lazer e turísticos,
para que posteriormente passe a existir a prática do turismo na cidade.
HOLM, C. C.; BRUMES, K. R. Reflexões acerca do planejamento turístico: O caso de Irati/PR
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ALVES, E. I.; SILVA JÚNIOR, R. F. Uma análise geográfica das práticas intracemiteriais: o caso do cemitério São Josafat na cidade de
Prudentópolis-PR
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UMA ANÁLISE GEOGRÁFICA DAS PRÁTICAS INTRACEMITERIAIS: O CASO DO CEMITÉRIO SÃO JOSAFAT NA CIDADE DE
PRUDENTÓPOLIS-PR
EDIANE IACIUK ALVES1 ROBERTO FRANÇA DA SILVA JUNIOR2
Resumo: Este trabalho tem como principal objetivo analisar as práticas socioespaciais desenvolvidas no interior do Cemitério São Josafat em Prudentópolis (PR) e a relação que as pessoas têm com esse subespaço, ou seja, os motivos pelos quais as pessoas atribuem diferentes significados a um mesmo lugar. “As pessoas atribuem estranhamento e fascínio em relação ao cemitério (...)” ( REZENDE, 2000, pg.16). Seus estudos serão relacionados ao vivenciado, a maneira de como as pessoas manifestam estas atividades socioespaciais fugindo da concepção determinada para esse subespaço e como se realizam mostrando diversificadas e inusitadas formas de uso espacial. Para tal análise, aplicamos questionários contendo questões fechadas e abertas, desenvolvendo inclusive pesquisa-ação com frequentadores e não frequentadores do cemitério. Levamos em consideração dois momentos distintos: o noturno e o diurno, tendo como principal enfoque as atividades noturnas, consideradas profanas pela população em geral, e suas relações com o sagrado (as práticas intracemiteriais diurnas, que estão diretamente relacionadas à religiosidade). Com base nesses pressupostos, compreendemos as contradições (inclusive as desigualdades sociais, expressados nas representações sociais e simbólicas tumulares) e a relação com o medo que as pessoas sentem ao falar no lugar (cemitério) esse medo sendo experimentados por indivíduos e, nesse sentido, são subjetivos, cada qual com sua credulidade, cultura e fantasias, dando sentido a um subespaço material e simbólico.
Palavras-chave: Lugar, Cemitério, Práticas intracemiteriais
1 Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro – Oeste Campus de Irati – PR [email protected] 2 Professor Doutor pela UNESP e professor do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro – Oeste – Campus de Irati – PR [email protected]
PEREIRA, E.; SILVA JÚNIOR, R. F. Responsabilidade social, competitividade e psicosfera
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RESPONSABILIDADE SOCIAL, COMPETITIVIDADE E PSICOSFERA1
ELISELMA PEREIRA2 ROBERTO FRANÇA DA SILVA JUNIOR3
Resumo: A organização das empresas está sendo, com o passar do tempo, uma das questões mais debatidas e analisadas em vários campos disciplinares. Agora, além das obrigações já estabelecidas em lei, as empresas estão sendo pressionadas a discutir e rever o impacto das suas operações, e desempenhar ações que incluam principalmente os interesses e necessidades da sociedade. A responsabilidade social está sendo vista por grande parte dos empresários como um meio de se diferenciar e de obter vantagens competitivas frente à concorrência que se apresenta, e assim, principalmente valorizar sua imagem perante a sociedade. Dessa forma, através dos referenciais teóricos encontrados e de uma pesquisa empírica qualitativa, o trabalho objetiva compreender os efeitos da atuação social das empresas na dinâmica empresarial, e analisar os principais fatores que contribuem para a responsabilidade social, quais as características que a definem e quais são os benefícios agregados para as empresas que realizam ações sociais no território. Palavras-chave: Responsabilidade social, Empresas, Ações sociais, Sociedade Introdução
Já faz algum tempo que as ações das empresas passaram a ser analisadas pela
sociedade. Mais exigente e consciente, o mercado consumidor está se questionando
sobre o papel das empresas e quais são suas contribuições e envolvimento na
solução dos problemas sociais que o afeta, em que o desemprego, exclusão social e
condições precárias de sobrevivência fazem com a sociedade esteja cada vez mais
voltada para as questões sociais.
A responsabilidade social empresarial está se tornando um dos temas mais
debatidos e propagados para a gestão empresarial da atualidade. Caracteriza-se
como um fator de grande importância e que agrega inúmeras vantagens
competitivas para as empresas, as quais passaram a competir num ambiente de
negócios cada vez mais complexo, onde não é mais suficiente oferecer à sociedade
apenas qualidade e preço baixo.
1 Este trabalho é parte integrante da monografia de conclusão de curso. 2 Graduanda em Geografia pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) - Campus de Irati. E-mail: [email protected] 3 Professor Adjunto Doutor da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) - (graduação e mestrado), Campus de Irati. E-mail: [email protected]
PEREIRA, E.; SILVA JÚNIOR, R. F. Responsabilidade social, competitividade e psicosfera
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Segundo Lanzarini: Muitas empresas redefinem suas atividades e não estão mais preocupadas somente com o lucro. Preocupam-se igualmente, com o desafio de acompanharem a rápida evolução que as afeta e percebem que podem ser agentes de mudança não só na esfera econômica, mas também no âmbito social e ambiental (LANZARINI, 2005, p. 13).
As ações sociais das empresas são regidas por ideias, crenças e princípios morais.
Essa psicosfera determina a organização das empresas, impõe normas e define o
comportamento eticamente correto diante do público consumidor.
Analisar a responsabilidade social das empresas é uma tarefa bastante complicada.
Pereira, (2007) considera que as estratégias utilizadas pelos empresários para obter
a lucratividade e realizar ações sociais, trazem em si um problema. “A política
pressupõe ações em prol da sociedade e do território, enquanto as empresas agem
segundo interesses parciais”, decorrendo em uma seletividade econômica e
geográfica pressuposta pela política praticada pelas empresas. Assim, algumas
empresas se utilizam de práticas sociais externas que geralmente levam seu nome,
e outras realizam ações a partir dos seus próprios departamentos vinculando-se a
setores específicos, como o marketing.
Entretanto, o presente artigo tem por objetivo apresentar o desempenho social das
empresárias Karina Rickli e Jussara Durski Rickli, franqueadas da empresa O
Boticário4, as quais, diante de um mercado no qual a competição é crescente e as
buscas por formas de se diferenciar são contínuas, agregam além da qualidade dos
seus produtos e serviços, práticas comprovadamente responsáveis em termos
sociais.
Através de uma pesquisa qualitativa e entrevista com as referidas empresárias foi
analisado a conduta social das mesmas, apresentando suas práticas socialmente
responsáveis, através do Projeto “Semeando o Futuro”5, o qual tem como tema, a
Educação e o Meio Ambiente, visando: contribuir para a formação do caráter infantil,
de uma educação ambiental, auxílio à alfabetização, combate ao trabalho infantil e
melhora das condições de vida da comunidade.
4 Rede de franquias de perfumaria e cosméticos, que atua no mercado há 33 anos, e possui 2.829 unidades no Brasil. 5 Projeto desenvolvido pelas empresárias Karina Rickli e Jussara Durski Rickli em conjunto com a Igreja Presbiteriana da cidade de Prudentópolis no Estado do Paraná.
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A responsabilidade social das empresas
As ações de responsabilidade social empresarial já podem ser observadas em
grande parte do comportamento do empresariado brasileiro.
Mesmo sendo um tema relativamente novo, as ações sociais já vêm recebendo
várias definições, entendimentos e um crescente envolvimento de significativa
parcela do empresariado nacional com as questões e as práticas relacionadas à
responsabilidade social.
Existe uma heterogeneidade de termos que são usados para descrever as ações
empresariais. Na década de 1980 o termo utilizado era “Filantropia Corporativa”, que
se relacionava a uma prática assistencialista baseada na caridade e doação. Esse
termo foi substituído por “Investimento Social Privado”, que se colocava numa
perspectiva voltada para a racionalidade, onde eram considerados os custos, o
retorno e o planejamento e impacto das ações na comunidade. Em seguida e mais
recentemente, surgiu o termo “Responsabilidade Social Empresarial”, que além de
tomar as ações sociais junto com a comunidade, implica na postura ética social da
empresa diante de seu público interno (PEREIRA, 2007).
Atualmente a responsabilidade social no Brasil é amplamente discutida nos meios
acadêmicos e empresariais, sendo característica de uma nova forma de gestão das
empresas, em que o “comportamento socialmente responsável é fator diferencial
que ajuda a construir e a consolidar a marca empresarial”. Ela é indispensável para
uma empresa ter sucesso, conquistar e ampliar mercado e ter competitividade,
contudo, a empresa que não ampliar suas políticas e não for socialmente
responsável não terá seu espaço no mercado (PASSADOR, 2002).
Embora ainda haja divergências quanto aos termos utilizados e aos seus
significados, é preciso estar claro que acima de produzir bens e serviços e evitar
danos à comunidade, a responsabilidade social empresarial é uma ação totalmente
voluntária que visa contribuir com a sociedade, sem que essas ações estejam
voltadas para a obtenção do lucro direto6.
Diante das transformações projetadas pela globalização as empresas vêem a
necessidade de analisar suas práticas continuamente, visando ampliar seu mercado
consumidor e abranger parcelas significativas da sociedade. No entanto, algumas
empresas utilizam-se da responsabilidade social como um meio de obtenção de 6 Muito embora saibamos que a maior parte das ações sociais sirva a propaganda e o abatimento de impostos.
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lucros e principalmente como forma de valorizar sua imagem perante a sociedade,
ou seja, como uma ferramenta de marketing. Essas empresas não estão
preocupadas com o desenvolvimento e com a ética social, mas simplesmente em
atrair cada vez mais consumidores. Segundo Pereira, (2007, p. 6), “a marca da
empresa passa a se associar não apenas ao produto em si e sua propaganda direta,
mas a todo o conjunto de valores que a empresa afirma reproduzir”.
Para Reis e Medeiros: A responsabilidade social das empresas não pode ser reduzida a mais uma nova e inovadora ferramenta de marketing, mas ser ampliada para um novo modelo de comportamento de gestão de negócio, que em sua essência, resgata valores humanos universais, pressupõe a tomada de decisões de maneira ética, preservando interesses de todas as partes direta e indiretamente envolvidas no negócio, assim como interesses de toda sociedade, numa relação na qual todos ganham, sociedade e empresas (REIS e MEDEIROS, 2007, p. 34).
A globalização se apresenta como a abertura do mercado e o aumento da
competitividade entre as empresas, tornando-se constante a busca por melhores
resultados como a maximização dos lucros e conquistar e manter os seus
consumidores. Assim, as ações de responsabilidade social representam grandes
vantagens competitivas para as empresas que as praticam, destacando-se frente à
concorrência. Segundo Petrella apud Silva Junior, (2009, p. 33), a competitividade “é
um meio convertido em fim e dotado de devastador sentido de confrontação e
aniquilação dos rivais. A competitividade constitui mais que um instrumento, uma
ideologia que se instala”.
O lucro, o desenvolvimento econômico e a diminuição da carga de impostos sempre
foram os principais objetivos das empresas. Entretanto, muitos empresários estão se
conscientizando de que as ações orientadas para fins econômicos já não são
suficientes para vencer a competitividade e conquistar o mercado consumidor, dessa
forma estão se voltando cada vez mais para as questões e necessidades das
pessoas envolvidas em suas ações, ou seja, da sociedade como um todo. Para
Borger:
A atuação das empresas orientada para a responsabilidade social empresarial não implica que a gestão empresarial abandone os seus objetivos econômicos e deixe de atender aos interesses de seus proprietários e acionistas; pelo contrário, uma empresa é socialmente responsável se desempenha o seu papel econômico na sociedade
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produzindo bens e serviços, gerando empregos, retorno para os seus acionistas dentro das normas legais e éticas da sociedade. Mas cumprir o seu papel econômico não é suficiente; a gestão das empresas é responsável pelos efeitos de sua operação e atividades na sociedade (BORGER, 2001, p. 9).
As expectativas dos consumidores em relação à ação das empresas foram
confirmadas por uma pesquisa sobre Responsabilidade Social das Empresas,
realizada pela Environics Internacional7 em 1999, em mais de 23 países, a qual
revelou que as pessoas ao formar uma impressão sobre uma empresa, se baseiam
mais em sua contribuição para causas sociais e sua relação com o meio ambiente
do que na reputação da marca ou questões financeiras (GRAYSON, 2002 apud
REIS e MEDEIROS, 2007, p. 7).
As discussões atuais sobre a responsabilidade social giram em torno das obrigações
legais que as empresas precisam cumprir como geração de empregos,
desenvolvimento da economia e garantia de condições mínimas de sobrevivência da
população.
Entretanto, com o decorrer do tempo tais ações passaram a ser vistas como
obrigações a serem cumpridas pela empresa e as ações só eram consideradas
sociais se envolvessem os interesses e preocupações da sociedade. Uma empresa
socialmente responsável é aquela que assume alguma responsabilidade além
daquela exigida por lei, “sendo a responsabilidade social a obrigação que a empresa
assume perante a sociedade no compromisso de maximizar os impactos positivos e
minimizar os negativos” (FERREL, 2001 apud REIS e MEDEIROS, 2007, p. 15).
A forma de conduzir as ações de uma empresa é um meio para a prática da
responsabilidade social. Diante dos valores éticos há uma integração entre clientes,
fornecedores, consumidores e a comunidade, ou seja, todos os stakeholders8 que
são diretamente ou não afetados por suas atividades contribuindo para a construção
de uma sociedade que promova a igualdade de oportunidades. Assim, as empresas
não devem satisfações apenas aos seus acionistas, muito pelo contrário, deve agora
7 Organização “sem fins lucrativos” dos Estados Unidos, cujo trabalho se concentra na compreensão das interrelações entre os problemas sociais, econômicos e ambientais, identificação e desenvolvimento de soluções integradas e sustentáveis. 8 Por stakeholders o discurso empresarial qualifica os clientes, governo, fornecedores, funcionários, enfim, a todos os interessados nas ações empresariais, exceto os proprietários, conhecidos como shareholders (GOMES E MORETTI, 2007, p.6).
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prestar contas aos funcionários, à mídia, ao governo, ao setor não-governamental e
ambiental e, por fim, às comunidades com que opera. As discussões sobre o tema compreendem vários aspectos, como a análise e
identificação dos envolvidos nas ações das empresas, bem como a importância de
cada um na elaboração de uma política social e sustentável. Dessa forma, a
responsabilidade social empresarial pode ser caracterizada como uma gestão que
se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com
os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que
impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos
ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e
promovendo a redução das desigualdades sociais. Psicosfera: elemento fundamental na dinâmica da responsabilidade social empresarial O mercado consumidor cada vez mais instruído e conhecedor dos seus direitos está
exigindo que empresas analisem e avaliem constantemente sua conduta social.
Através disso, o empresariado está se conscientizando de que suas ações devem
ser realizadas de forma ética, respeitando as preocupações e necessidades da
comunidade e obedecendo a rigorosos valores morais.
Ideias, crenças e princípios são fatores que regem a conduta social das empresas. A
psicosfera, como afirma Milton Santos (2006, p. 173), “é a esfera da ação” e está
relacionada a valores morais e a crenças pessoais sobre o comportamento
eticamente correto ou incorreto de uma empresa, em que esses valores e crenças
definem uma postura ética perante a sociedade.
O processo da globalização introduz no território as chamadas tecnologias de
informação, que “vieram a possibilitar a transmissão de informações
instantaneamente para todo o globo, favorecendo, sobretudo as estratégias
territoriais das empresas” (PEREIRA, 2007, p. 48). A tecnosfera caracterizada por
Milton Santos (2006, p. 173) como “o mundo dos objetos” e a introdução da técnica
e da ciência permitem a materialização e concretização das ações projetadas pela
psicosfera.
A psicosfera e a tecnosfera se apóiam, sendo uma fundamental para que a outra
exista: “Não se pode cogitar uma existência autônoma do sistema técnico, assim
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como não existe uma psicosfera independente da materialidade” (PEREIRA, 2009,
não paginado).
Para Milton Santos:
Tecnosfera e psicosfera são redutíveis uma à outra. O meio geográfico atual, graças ao seu conteúdo em técnica e ciência, condiciona os novos comportamentos humanos, e estes, por sua vez, aceleram a necessidade da utilização de recursos técnicos, que constituem a base operacional de novos automatismos sociais. Tecnosfera e psicosfera são dois pilares com os quais o meio científico–técnico introduz a racionalidade, a irracionalidade, e a contra–racionalidade, no próprio conteúdo do território (SANTOS, 2006, p. 172).
Para a realização das ações sociais das empresas é necessário considerar o
dinamismo e as especificidades de cada território, como também as desigualdades
no acesso às infraestruturas, em que a ação das empresas sustenta a lucratividade
e muitas vezes amplia essas desigualdades. Dessa forma, as empresas procuram
por meio da responsabilidade social aproximar-se da força comunicacional dos
lugares e dela tirar vantagens mercantis (PEREIRA, 2007).
As ideias, crenças e valores individuais, muitas vezes aceleram e aumentam as
diferenças entre os lugares. Sobre o assunto Pereira comenta: Assim, com base em valores individuais, as empresas alegam cumprir seu papel de responsáveis por uma mudança social profunda. Todavia, é através do espaço banal que poderemos perceber se este discurso apenas reproduz uma lógica segregadora ou se, de fato, ele fomenta a cidadania que nosso país reclama desde o início de sua história, considerando a totalidade do território brasileiro. (PEREIRA, 2007, p. 6)
A competitividade e o acesso à tecnologias cada vez mais eficazes são fatores que
fazem com que as empresas se desenvolvam continuamente e busquem meios para
se diferenciar, passando com isso a ter mais “obrigações” morais e éticas com a
sociedade. Bom preço e qualidade dos produtos não são mais as características
principais de uma boa gestão, sendo necessário o envolvimento das empresas na
resolução das questões de interesse da comunidade a qual ela se insere.
Contudo, para que a responsabilidade social aconteça efetivamente, é preciso que
as empresas repensem suas filosofias e técnicas esclarecendo quais são suas
PEREIRA, E.; SILVA JÚNIOR, R. F. Responsabilidade social, competitividade e psicosfera
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preocupações sociais e de que forma atuam em benefício delas, demonstrando aos
interessados em suas ações que seus propósitos vão além da busca pelo seu
próprio desenvolvimento econômico, ou seja, que existem outras preocupações
além do lucro.
Conduta social empresarial: o caso das empresárias Karina Rickli e Jussara Durski Rickli 9
A conduta social das empresas está diariamente exposta à sociedade. Suas ações
são analisadas constantemente desde as mais simples até as mais complexas.
Atualmente a sociedade, no papel de consumidores ainda desconhece em grande
parte seus direitos sociais. Contudo, com o acesso às informações, a sociedade em
geral está se tornando “mais exigente” e os consumidores estão certos que as
empresas podem e devem oferecer mais do que produtos eficientes e bom
atendimento. Dessa forma, sabem que elas têm possibilidades de contribuir para o
desenvolvimento sustentável da comunidade, e nesse sentido, exigem uma conduta
responsável baseada em princípios éticos, morais e sociais.
A diminuição da carga de impostos, a competitividade e a busca por formas de se
diferenciar estão despertando preocupações crescentes a muitos empresários
quanto ao seu desempenho social. Suas estratégias estão sendo reavaliadas e
estão mais voltadas além da eficiência e do lucro, para valores como cidadania,
ética, preocupação com o meio ambiente e atitudes socialmente responsáveis.
Karina Rickli e Jussara Durski Rickli são empresárias que atuam no ramo de
perfumaria e cosméticos. Atualmente são proprietárias de três lojas da rede O
Boticário, e são exemplos no desenvolvimento de ações de responsabilidade social
empresarial.
As três franquias estão localizadas nas cidades de Irati, Prudentópolis e Imbituva, no
Estado do Paraná. A carreira empresarial de Karina e Jussara teve início com a
aquisição da primeira loja na cidade de Prudentópolis em novembro de 1991,
seguida pela loja de Imbituva em novembro de 2002. Com o grande sucesso e
desenvolvimento das duas franquias, adquiriram em abril de 2009 a loja da cidade
de Irati.
9 As informações e dados contidos neste item foram obtidos através de entrevista qualitativa com as empresárias.
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Além das vendas, Karina e Jussara se preocupam com as questões sociais.
Segundo elas, o interesse em ações sociais sempre existiu, mas foi através do
incentivo e exemplo do Boticário que tomaram a decisão de investir na comunidade
em favor de um “mundo melhor”.10
O processo de globalização é socialmente desigual. No Brasil, apesar da melhoria
no acesso a bens tangíveis e intangíveis, existe ainda uma grande desigualdade
social e econômica. Segundo Queiroz:
Há um consenso da sociedade quanto ao maior desafio do nosso país: conquistar a igualdade na distribuição da renda e no acesso, com qualidade, aos serviços públicos essenciais. Atualmente, a desigualdade reinante impede grande parte da nossa população de usufruir os possíveis benefícios do processo tecnológico e econômico. Assim, o desafio maior da nossa sociedade é a integração social desses excluídos (QUEIROZ, Adele et al. 2006, p. 18).
O Estado brasileiro apesar de ter a obrigação de garantir à sociedade o
cumprimento dos seus direitos sociais, não atua ao modo de um Estado Providência,
sendo as empresas pressionadas a adotarem uma postura responsável retribuindo a
utilização dos recursos humanos e naturais. Assim, as empresas assumem papel
relevante no atendimento das necessidades da sociedade através da contribuição
social desempenhada por elas.
Segundo a análise de Passador:
No Brasil, como em toda parte, cresce o entendimento de que uma política de desenvolvimento social precisa da participação de novos atores. Trata-se, portanto, de buscar parceiros fora do Estado, isto é, na sociedade ou, mais especificamente, nas empresas privadas e no terceiro setor (PASSADOR, 2002, p. 2).
O terceiro setor11 é um espaço que pode ser explorado pelas empresas que desejam
exercer novas atividades, as quais surgem como uma nova proposta de ação no
campo social com foco em ações de parceria em projetos sociais e na disseminação
de práticas socialmente responsáveis.
10 O Boticário se apresenta como uma empresa comprometida em conduzir os seus negócios de “forma ética e responsável”, por meio de estratégias que integrem as dimensões social, econômica e ambiental, considerando os interesses de toda a sua rede de relações. 11 Definição caracterizada pela mistura dos dois setores econômicos clássicos da sociedade: o público, representado pelo Estado, e o privado, representado pelo empresariado em geral.
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Em fevereiro de 2006, a senhora Jussara Durski Rickli e sua filha Karina Rickli, em
conjunto com a Igreja Presbiteriana de Manduri, nas pessoas de Roberval Marçal de
Oliveira, Eliane Martins Rosa e demais membros da Igreja, fundaram e deram início
às atividades do Projeto “Semeando o Futuro”. O projeto está localizado em
Manduri, zona rural do município de Prudentópolis e tem como tema a Educação e o
Meio Ambiente, visando contribuir para a formação infantil, (educação ambiental,
alfabetização, etc), combater o trabalho infantil e melhorar as condições de vida da
comunidade.
A cidade de Prudentópolis localiza-se na região Centro-Sul do Estado do Paraná,
distante 208 quilômetros da capital Curitiba. Caracteriza-se por um município
essencialmente rural. Grande parte de sua população total, estimada em 51.008
habitantes12, vive na zona rural, em pequenas propriedades, tendo no setor primário
a base de sua economia, onde se destaca a cultura do feijão, milho e soja. A maioria
dessas propriedades está organizada através de um sistema de produção camponês
tradicional, conhecido como Sistema Faxinal, cujos traços marcantes são o uso
coletivo da terra para produção animal e agrícola e a conservação ambiental.
Manduri, bairro rural de Prudentópolis, formado por imigrantes, em especial
europeus, atualmente é composta principalmente por famílias de baixa renda
dedicando-se a plantação de fumo em pequenas lavouras de subsistência vivendo
de forma precária com pouco acesso a educação.
A comunidade do Manduri conta com uma única escola de 1ª a 4ª Série do Ensino
Fundamental, a qual ainda funciona nos moldes das escolas mutisseriadas. A escola
municipal já não é suficiente para o atendimento de todas as faixas etárias dos
alunos. Dessa forma, o Projeto é uma opção em termos de educação para as
famílias.
O objetivo geral do projeto é contribuir para a formação do caráter infantil e
ambiental, estabelecendo estratégias participativas entre os diversos atores sociais
através da promoção de ações que levem à melhoria das condições ambientais e da
vida da comunidade de Manduri. Karina e Jussara investem no projeto um por cento
do faturamento bruto da empresa, caracterizando cerca de R$ 30.000,0013 por ano,
e afirmam que o trabalho social desenvolvido não tem intenção de trazer benefícios
ou ganhos para as lojas e sim para a comunidade em que atuam, onde “os valores
12 Estimativa do IBGE (2009) 13 Segundo a empresária Karina Rickli.
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agregados aos envolvidos na execução e financiamento do projeto são valores
humanos não mensuráveis” (KARINA RICKLI).
O projeto é uma parceria da Igreja Presbiteriana, da Secretaria de Ação Social e da
franquia “O Boticário”, nas pessoas de Karina e Jussara. A Igreja Presbiteriana
investe recursos cedendo o espaço físico, uma servente para a limpeza e um lanche
para as crianças, três vezes por semana. A Secretaria de Ação Social remunera
uma pedagoga e oferece parte da merenda escolar. A franquia O Boticário contribui
com o Projeto através do custeio do material pedagógico e duas professoras para a
alfabetização das crianças.
Atualmente são 23 crianças matriculadas no projeto, sendo 10 alunos entre três e
cinco anos e 13 alunos que já frequentam a escola municipal da comunidade. As
atividades oferecidas no projeto seguem temas como meio ambiente, ecologia,
preservação e reciclagem. As crianças entre três e cinco anos recebem aulas de
ensino religioso através de histórias, desenhos, dramatização e conversação. São
aplicadas atividades de matemática, através de jogos e com a utilização de materiais
concretos para facilitar a assimilação dos conteúdos. Recebem também aulas de
música duas vezes por semana, ministradas por uma professora paga pelas
empresárias, e aulas de educação-física e informática, assim como também
atividades diárias de alfabetização e lazer e uma palestra mensal com um
profissional da área da saúde.
Jussara Rickli atua como coordenadora do projeto trabalhando voluntariamente duas
vezes por semana em atividades como tabuada e leitura com os alunos que já
frequentam a escola municipal oferecendo recuperação de estudos e atividades
extracurriculares.
O projeto constitui-se principalmente por trabalhos voluntários de pessoas que
desejam contribuir e beneficiar os moradores da comunidade, como é o caso do
trabalho de uma supervisora, (pedagoga, pós-graduada em Pedagogia e mestre em
Filosofia da Educação), do atendimento odontológico gratuito feito por profissionais
área e atendimento médico realizado no posto de saúde de Prudentópolis.
As crianças frequentam o projeto de segunda à sexta-feira e utilizam o transporte
escolar da Prefeitura, o qual faz apenas o trajeto de ida para o projeto, pois o retorno
dos alunos para suas casas é feito em carros particulares dos próprios
colaboradores que se disponibilizam a fazer esse trabalho, pelo fato de não existir
outra forma de condução, já que o horário coincide com o transporte das crianças
PEREIRA, E.; SILVA JÚNIOR, R. F. Responsabilidade social, competitividade e psicosfera
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que frequentam as escolas municipais e estaduais da cidade de Prudentópolis, feito
pelo ônibus escolar municipal.
Este projeto tem sua relevância na realidade contextual de Prudentópolis, pois a
maioria das famílias trabalha na plantação do fumo, onde os pais das crianças estão
sempre às voltas com o cultivo do fumo, ora no campo, ora nas estufas, as quais
possuem fornos quentes para a secagem das folhas e onde preparam o mesmo
para a indústria. Seus filhos os acompanham nessas atividades, em especial os de
dois a seis anos, devido não ter um lugar onde possam ser cuidados, e muito menos
educados na escola pública existente. Também são impedidos de irem para uma
creche escola, por serem ainda pequenos e não poderem tomar o ônibus escolar
rural, a fim de se deslocarem a grandes distâncias para serem atendidos conforme
suas necessidades infantis. Sendo assim, estas crianças encontram-se em situação
de vulnerabilidade não estando em condições de terem o bem estar mínimo e a
educação adequada, pois ficam com seus pais e irmãos nas estufas e nas
plantações de fumo, lugares pouco apropriados para uma criança nesta faixa etária,
e perdem o seu momento mais rico de aprendizado e ampliação de suas
experiências infantis.
Considerações finais
Na história das organizações empresariais, a competitividade sempre foi um dos
principais objetivos dos gestores para ampliar e manter seu mercado consumidor.
Entretanto, as novas exigências para a manutenção da competitividade das
empresas vêm trazendo para a gestão questões de cunho ético, moral e social.
Nesse contexto, a responsabilidade social associa-se a um conjunto de políticas,
práticas e rotinas que visam o desenvolvimento econômico, social e ambiental, em
que “as empresas sofrem pressão para que adotem uma postura responsável e
retribuam a sua utilização dos recursos humanos e naturais” (LANZARINI, 2005, p.
12).
No decorrer do tempo houve grandes mudanças na postura social dos empresários.
Diante das transformações projetadas pela globalização e a necessidade de
acompanhar a rápida evolução, muitos empresários se conscientizaram de que suas
ações devem estar voltadas não só para questões econômicas, como também para
as preocupações e necessidades que envolvem a sociedade na qual se insere.
PEREIRA, E.; SILVA JÚNIOR, R. F. Responsabilidade social, competitividade e psicosfera
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São muitos os casos de empresas que trabalham em prol da sociedade e
contribuem para o seu desenvolvimento. O caso estudado é um exemplo de
responsabilidade social empresarial, em que pode ser constatado que as
empresárias Karina Rickli e Jussara Durski Rickli, há aproximadamente quatro anos,
desempenham papéis fundamentais na vida social da comunidade do Manduri,
contribuindo na melhora da qualidade de vida das pessoas, e principalmente
propiciando o acesso aos serviços essenciais à vida como saúde e educação.
A responsabilidade social precisa ser assumida como um compromisso das
empresas. Sua conduta deve ser baseada em princípios morais, e consciência ética,
agindo corretamente para ajudar a sociedade a enfrentar seus problemas. As
empresas precisam se conscientizar que além de serem agentes do
desenvolvimento econômico podem ser também agentes do desenvolvimento
humano e social.
Para Pereira (2007), poucas são as empresas que se colocam somente como
doadoras para as organizações e para a sociedade, já que esta postura está
relacionada ao assistencialismo, que atualmente não faz parte das modernas
práticas da responsabilidade social. Dessa forma, pôde-se compreender que o
trabalho social desenvolvido por Karina e Jussara se difere da maioria das
empresas, constituindo-se como um caso raro entre elas. Sua conduta social não
tem por objetivo trazer benefícios e nem a obtenção de lucro para as lojas, mas sim,
agregar valores humanos os quais se refletem no bem-estar e desenvolvimento da
comunidade. Nesse sentido, a política de responsabilidade social e os
compromissos a ela relacionados assumidos pelas empresárias orientam a
condução dos negócios da empresa de forma ética e responsável, em que o
crescimento gerado pelo negócio impacte positivamente no desenvolvimento da
sociedade, acreditando que a garantia da qualidade de vida das gerações presentes
e futuras depende da construção de instrumentos que assegurem a igualdade de
direitos e oportunidades a todos.
Referências Bibliográficas
ASHLEY, Patrícia Almeida. (Coord.); CHAVES, Jorge Bezerra Lopes. Responsabilidade social empresarial: a fundamentação na ética e na explicitação de princípios e valores. IN: Ética e responsabilidade social nos negócios. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. 340 p.
PEREIRA, E.; SILVA JÚNIOR, R. F. Responsabilidade social, competitividade e psicosfera
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BORGER, Fernanda Gabriela. “Responsabilidade social: efeitos da atuação social na dinâmica empresarial”. 2001. 254 f. Tese (Doutorado em Administração) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo. GOMES, Adriano; MORETTI, Sérgio. A responsabilidade e o social. Uma discussão sobre o papel das empresas. São Paulo: Saraiva, 2007. 305 p. LANZARINI, Jociane. Responsabilidade social na comunicação empresarial: o caso da Amanco. 2005. 120 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Curso de Pós Graduação em Administração, Universidade Federal de santa Catarina, Florianópolis, 2005. PASSADOR, Cláudia Souza. A responsabilidade social no Brasil: uma questão em andamento. In: VII Congresso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública. 2002. Lisboa, Portugal. Disponível em: <http://unpan1.un.org/intradoc/groups/public/documents/clad/clad0044201.pdf> Acesso em: 16 de setembro de 2009. PEREIRA, Evelyn Andrea Arruda. A empresa e o lugar na globalização: A “responsabilidade social empresarial” no território brasileiro. 2007. 194 f. Dissertação (Mestrado em Geografia Humana) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. PEREIRA, Evelyn Andrea Arruda. Território, informação e cultura: algumas considerações. In: Encontro de Geógrafos da América Latina, 12, 2009, Montevideo, Uruguai. Disponível em: <http: // egal2009.easyplanners.info/area05/5694> Acesso em: 05 de julho de 2010. REIS, Carlos Nelson dos; MEDEIROS, Luiz Edgar. Responsabilidade Social das Empresas e Balanço Social. Meios propulsores do desenvolvimento econômico e social. São Paulo: Atlas, 2007. 185 p. SANTOS, Milton. A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006. 259 p. SILVA JUNIOR, Roberto França. Circulação e logística territorial: a instância do espaço e a circulação corporativa. 2009. 357 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Presidente Prudente, 2009.
RODRIGUES, E. L. F.; RIGONI, E. A produção do espaço urbano e os agentes formadores: Um estudo de caso sobre a influência da
madeireira Madepar Madeiras Ltda em Inácio Martins-PR
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO E OS AGENTES FORMADORES: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A INFLUÊNCIA DA MADEIREIRA
MADEPAR MADEIRAS LTDA EM INÁCIO MARTINS-PR
EVERTON LUIS FAUSTINO RODRIGUES1 EMERSON RIGONI2
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo realizar uma análise sobre produção do espaço urbano da cidade de Inácio Martins-PR. Nesse sentido buscou-se compreender a influência de uma empresa madeireira localizada na cidade e a produção do espaço local. A empresa em questão é a Madepar Madeiras Ltda., que foi escolhida por ter seu desenvolvimento atrelado ao contexto histórico do município, e por ter uma grande influência econômica no município. Essa importância da empresa é devido ao setor que a empresa segue, ou seja, o madeireiro. Dessa forma a análise foi respaldada por um levantamento teórico sobre os agentes produtores do espaço urbano seguido da apresentação histórica do local e da referida empresa, bem como a questão das empresas madeireiras em diferentes níveis. Por fim, as considerações a que se chegou após essa pesquisa onde o objetivo central do estudo foi contemplado, ou seja, compreendeu-se a importância da mesma na produção do espaço local em vários fatores, como empregos, geração de renda e crescimento econômico, a relação de produção do espaço urbano entre a empresa e o município ficou evidente.
Palavras-chave: Espaço urbano, Agente produtor do espaço, Desenvolvimento local
1 Acadêmico do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste – campus Irati-PR: [email protected] 2 Professor do departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste – campus Irati-PR: [email protected]
RUTKOVSKI, G. J.; SILVA JUNIOR, R. F. Fragmentação urbana, (re)produção da cidade e evolução da mobilidade em Irati-PR: O exemplo do
transporte público
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FRAGMENTAÇÃO URBANA, (RE)PRODUÇÃO DA CIDADE E EVOLUÇÃO DA MOBILIDADE EM IRATI-PR: O EXEMPLO DO TRANSPORTE PÚBLICO
GILMAR JOSÉ RUTKOVSKI1 ROBERTO FRANÇA DA SILVA JUNIOR2
Resumo: A apropriação dos espaços e o avanço da urbanização colaboram para o surgimento de espaços urbanos que se diferenciam por causa do seu desenvolvimento e pela localização no espaço geográfico. A localização dos bairros de uma cidade é responsável pela valorização dos terrenos e pela eficiência das infraestruturas materializadas no espaço, já que as áreas centrais possuem maiores privilégios em relação às áreas periféricas. Nesse viés, a localização dos bairros é fator decisivo para a mobilidade da população, pois a acessibilidade do bairro interfere nos deslocamentos dos indivíduos. Diante disso, buscou-se na análise do transporte coletivo da cidade de Irati, compreender a seletividade que a rede de transporte proporciona nos espaços urbanos e como se efetiva a mobilidade da população nesses bairros. Palavras-chave: Mobilidade, Transporte público, Produção do espaço urbano Introdução
A (re)produção do espaço urbano nas cidades implica no avanço das técnicas que
ao se inserirem no espaço produzido pelo homem, desenvolvem as estruturas e
infra-estruturas que possibilitam a produção do capital e da sociedade. Essa
materialização das técnicas no espaço produzido pelo homem é determinante para
que a circulação e a mobilidade se desenrolem no espaço urbano.
Desta forma, segundo Silva Júnior (2009) a circulação é a ação produtora da
redução dos tempos de deslocamentos no espaço geográfico, ou seja, a técnica que
possibilita os deslocamentos no espaço produzido em escalas de tempo reduzidas.
Essa produção da redução dos tempos que o autor se refere está relacionada com a
própria produção do espaço urbano e as relações de mobilidade engendradas no
espaço produzido e apropriado pela sociedade, onde os sistemas de movimentos
possibilitam a produção do espaço em movimento. Ainda segundo o autor:
1 Aluno do curso de Geografia da Unicentro, campus de Irati. E-mail: [email protected] 2 Professor Adjunto do Departamento de Geografia da Unicento, campus de Irati.
RUTKOVSKI, G. J.; SILVA JUNIOR, R. F. Fragmentação urbana, (re)produção da cidade e evolução da mobilidade em Irati-PR: O exemplo do
transporte público
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A circulação é uma ação mobilizada por técnicas e normas, servindo a objetivos econômicos e políticos. Do ponto de vista econômico, a circulação cria valor; do ponto de vista político, é através da circulação que se exerce o controle territorial. Portanto, a circulação é um importante elemento articulador e transformador do espaço, pois mais movimento conduz a mais mudanças espaciais (por extensão, sociais, econômicas e políticas).(SILVA JUNIOR, 2009. p. 29-30)
A produção do espaço que está em movimento por causa das relações que se
efetuam no espaço, bem como o acesso da sociedade a este espaço produzido ou à
própria cidade é possibilitada pelas técnicas da mobilidade. Segundo Levy (2001), a
mobilidade é uma relação social que está ligada à mudança de lugar, ou seja, como
que os indivíduos pertencentes a uma determinada sociedade, através de meios
técnicos, conseguem ocupar sucessivamente vários lugares.
O crescimento urbano das cidades propicia o surgimento de áreas que se
contrapõem e que ao mesmo tempo se complementam, sendo que, com a
ampliação do tecido urbano, surgem numa mesma cidade, áreas centrais e áreas
periféricas. Como os fluxos da população tendem a aumentar na medida em que se
expande o tecido urbano de Irati, a necessidade de se deslocar de um bairro da
cidade ao centro ou a outro bairro, torna-se um fator decisivo da produção do
espaço, pois ao mesmo tempo em que a mobilidade população precisa ser
efetivada, o crescimento desigual dos bairros acaba segregando o espaço
produzido, principalmente em relação às acessibilidades que cada bairro possui.
Acessibilidade é a forma com que cada parcela do espaço produzido se relacione
com o todo. O valor de uso da terra urbana, segundo Villaça (2001), é determinante
para diferenciar as acessibilidades que cada fragmento urbano têm em relação ao
todo e consequentemente, à cidade, como cada bairro se comunica e se articula
com o centro.
A demanda pela mobilidade da população está condicionada às acessibilidades dos
espaços produzidos, onde em alguns bairros da cidade a fluidez do território se
materializa na estrutura e pela localização do bairro. Existem outros que impõem
dificuldades à circulação e à mobilidade da população.
É nesse viés que o transporte público atua no espaço, ao mesmo tempo em que
desempenha um papel de inserção dos espaços menos “acessíveis” junto com
aqueles espaços dotados de melhor infra-estrutura. Destarte, o transporte público
acaba segregando os próprios espaços, especialmente os espaços periféricos,
RUTKOVSKI, G. J.; SILVA JUNIOR, R. F. Fragmentação urbana, (re)produção da cidade e evolução da mobilidade em Irati-PR: O exemplo do
transporte público
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elencando fatores que definem as linhas e horários que ficam a disposição das
populações que residem em tais bairros. Segundo Ornat e Silva:
O espaço da cidade é produto social e as ações dos grupos e/ou indivíduos são elementos integrantes do processo de produção e apropriação do espaço. Uma das formas em que esta apropriação se dá é através da interação entre os mais diversos locais no espaço urbano, ocorrendo o acesso aos diversos objetos espaciais através dos deslocamentos diários de pessoas (2007, p.177)
Diante do exposto, o presente trabalho de pesquisa tem como objetivo principal a
análise do transporte público da cidade de Irati diante das relações que atuam no
espaço urbano, sendo que a compreensão da relação existente entre a
acessibilidade dos bairros e a mobilidade da população é essencial para a análise
dos deslocamentos dos indivíduos pela cidade.
A metodologia que fora utilizada no trabalho de pesquisa esteve baseada no método
dialético, pois a necessidade de se compreender a segregação espacial que a rede
de transporte ocasiona no território da cidade, remete ao surgimento de
complementaridades e contradições entre os bairros e esses fatores são possíveis
de serem analisados dialeticamente. Junto a direção da empresa foram coletados os
dados referentes à história da operacionalidade da empresa na cidade, sendo que
alguns dados foram extraídos do EIA/RIMA (Estudo de Impactos Ambientais e
Relatório de Impactos Ambientais) da Transiratiense, averiguados e confirmados nas
entrevistas que foram realizadas.
Dessa forma, através de cinco entrevistas abertas com os diversos atores que
atuam direta ou indiretamente no transporte coletivo, como funcionários antigos da
empresa que atua na cidade, ex-funcionários e usuários em geral, foi possível a
coleta de diversos dados a respeito da história da empresa e do transporte coletivo
em Irati. As entrevistas estavam norteadas segundo os propósitos e necessidades
da pesquisa, sempre visando um levantamento verídico dos fatos e dos processos
que o transporte público passou durante o tempo de atuação da empresa.
As coletas de dados que foram realizadas nos bairros da cidade contribuíram com a
maior parte da pesquisa empírica, pois, com o acompanhamento de cada linha de
transporte, através de saídas de campo realizadas de dentro dos veículos e
percorrendo as linhas em suas totalidades, foi possível a visualização dos contextos
sociais e econômicos em que essas linhas se inserem, bem como observar as rotas
RUTKOVSKI, G. J.; SILVA JUNIOR, R. F. Fragmentação urbana, (re)produção da cidade e evolução da mobilidade em Irati-PR: O exemplo do
transporte público
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e horários. Dessa forma, o presente trabalho é uma análise do transporte público em
Irati-PR, que acaba elencando os fatores que são determinantes para a eficiência do
transporte, e também traz para a discussão a seletividade dos bairros e as
dificuldades que o espaço urbano impõe para os deslocamentos da população
periférica.
A compreensão da dinâmica que existe entre a acessibilidade territorial dos bairros
com a mobilidade da população, torna-se um fator preponderante para a análise do
transporte público, pois a relação entre a acessibilidade e a mobilidade caracteriza
os espaços, principalmente aqueles afastados das áreas centrais, onde são
apontados os bairros com maior concentração dos serviços de transporte coletivo e
outros bairros com menores possibilidades de mobilidade coletiva.
Essa diferenciação em relação ao serviço do transporte público que é ofertado de
maneiras diferentes em cada bairro é ocasionada pelos fatores atuantes na
produção capitalista do espaço, e que seria amenizada se fosse realizado um
planejamento que suprisse as necessidades dos bairros periféricos. No centro, esse
planejamento deveria contemplar técnicas que possibilitassem maior fluidez nas
vias.
Segundo Vasconcellos (2000), o planejamento urbano que cada cidade realiza deve
levar em consideração o planejamento dos transportes e o planejamento de
circulação, para que se crie toda a estrutura, física e administrativa para que os
sistemas de transporte tenham mais eficiência e funcionalidade no espaço das
cidades. Dessa forma, a análise do transporte coletivo, possibilita a compreensão da
(re) produção do espaço urbano de Irati, onde atuam as diferentes formas de
mobilidade e circulação (práticas espaciais e uso do território) que se relacionam
com o transporte coletivo e que atuam na produção do espaço bem como na
valorização das áreas urbanas.
A Produção do Espaço Urbano e a Mobilidade do Espaço Produzido
O crescimento dos centros urbanos através da apropriação do espaço geográfico
acaba transformando os lugares, recriando novos espaços dentro das escalas
temporais. Essa transformação causada pela apropriação do espaço em si, muitas
vezes torna-se condicionada a um fator político-econômico que define as direções
RUTKOVSKI, G. J.; SILVA JUNIOR, R. F. Fragmentação urbana, (re)produção da cidade e evolução da mobilidade em Irati-PR: O exemplo do
transporte público
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de crescimento, bem como norteia os investimentos em infra-estruturas que
permitam a valorização e desenvolvimento do lugar em questão.
Nesse processo de crescimento das cidades, a necessidade que se impõe aos
agentes produtores do espaço geográfico, é a criação de mecanismos que permitam
a implantação de infra-estruturas capazes de trazer à cidade, a mobilidade
necessária para que a operacionalidade do centro urbano seja possível de se
realizar.
O processo urbano estaria ligado então, a uma produção do espaço geográfico,
fundamentada na produção de bens de consumo e infra-estruturas nos capitais que
circulam nesse espaço, e na organização funcional do espaço, sendo que segundo a
proposta de Souza (2003), a cidade seria então o “centro de gestão do território”, ou
seja, a própria cidade tem a capacidade administrativa para delimitar os
investimentos e impor novas técnicas de mobilidade dentro do espaço produzido.
As relações sociais e de poder, que se desenvolvem dentro dos espaços habitados
pelo homem, são responsáveis pelas transformações que o espaço urbano sofre no
decorrer do tempo. Essa (re) produção do espaço urbano pode ser analisada sob o
ponto de vista da força de trabalho que fora acumulado ao espaço para transformá-
lo num espaço onde as características do urbano atuam com mais freqüência.
Esse trabalho despendido na (re) produção do espaço urbano, segundo Flávio
Villaça (2001) é responsável pelo surgimento de dois diferentes tipos de produtos: o
primeiro seria a ação do trabalho e das relações sociais transformadas em
materialidade física, isto é, a infra-estrutura que fora construída no espaço; já o
segundo produto oriundo do trabalho acumulado no espaço urbano, seria o valor
resultante da aglomeração que se forma conseguinte à materialidade física do
trabalho, onde a localização das infra-estruturas é essencial para a valorização ou
desvalorização do espaço urbano.
A ação do trabalho no espaço urbano resulta na formação das aglomerações que
por vezes se distanciam da área central das cidades, constituindo os bairros,
formando uma periferia que é polarizada por um centro principal. Esse crescimento
espacial da área urbana, em virtude das relações que se desenrolam no espaço,
não é uniforme para todos os lugares, isto é, não atuam com mesma freqüência e
intensidade em todos os espaços.
Essa diferenciação de produção urbana do espaço produz, nas cidades, a
diferenciação dos lugares, que são divergentes entre si por causa da forma com que
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se comunicam e se relacionam com a cidade em geral. Nesse sentido, Villaça (2001,
p.74) propõe que a localização ou ponto é “o valor de uso produzido pelo trabalho
coletivo despendido da construção da cidade”.
Desta forma, a valorização dos espaços e da materialidade construída depende da
localização que estes se encontram, não simplesmente de ordem física, mas social
e econômica e como esses espaços se relacionam com o restante da cidade, se
estão próximos ao centro ou se estão localizados em áreas afastadas. Ainda
segundo o autor, “a distância é tempo; não apenas tempo de um deslocamento, mas
do somatório de todos os deslocamentos, bem como seus custos e freqüências para
todos os membros da família” (VILLAÇA, 2001, p. 73).
A distância dos espaços apropriados pelo capital e palas populações exige que as
cidades possuam maior fluidez, que são oriundas das infra-estruturas que compõem
a mobilidade urbana desses espaços. Nesse sentido, ao valor que é despendido ao
espaço e suas materialidades são acrescentados outros tipos de valores oriundos
das formas com que estão interconectadas ao espaço da cidade. Segundo Villaça:
A acessibilidade é o valor de uso mais importante para a terra urbana, embora toda e qualquer terra o tenha em maior ou menor grau. Os diferentes pontos do espaço urbano têm diferentes acessibilidades a todo o conjunto da cidade. (VILLAÇA, 2001, p. 74)
A localização e ocupação do espaço urbano acabam condicionando as populações
conforme as necessidades que são impostas pelo urbano, isto é, as relações que a
população mantém com o espaço urbano produzido socialmente são condicionadas
pela localização, já que o fato de se “localizar” em um determinado lugar ou bairro
afastado do centro da cidade, é proporcional ao deslocamento que o indivíduo
precisa realizar para assim desenvolver suas atividades no centro da cidade.
Segundo Villaça:
Os pontos do espaço intra-urbano condicionam a participação do seu ocupante tanto na força produtiva social representada pela cidade como na absorção, através do consumo, das vantagens da aglomeração. É esse o valor de uso do ponto – sua capacidade de fazer com que se relacionem entre si os diversos elementos da cidade. Esse “relacionamento” se dá de diferentes formas e por meio de diversos fluxos – o transporte de mercadorias, de consumidores, de força de trabalho ou as comunicações (VILLAÇA, 2001, p. 78).
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A inserção do indivíduo no espaço urbano produzido requer uma forma de
deslocamento. O que diferenciaria os indivíduos seriam os propósitos que o
determinado deslocamento exerce no cotidiano das pessoas, ou seja, com quais
finalidades os indivíduos se locomovem e atuam no espaço urbano e com que
freqüência são realizados esses deslocamentos, sendo, portanto, um fator singular
ao indivíduo, que por sua vez, define com que meios realizará os deslocamentos.
Desta forma, a necessidade de deslocamentos de regiões distantes, em poucos
minutos, torna-se dever da rede de transporte público, que conecta os bairros ao
centro da cidade. O processo de urbanização é um fator propulsor e decisivo para a
consolidação de uma rede de transporte coletivo, e isto acontece por causa do
crescimento desigual entre os mais diversos lugares que compõem um dado
perímetro urbano.
Desta forma, o crescimento urbano e a necessidade de relacionamento da periferia
com o centro da cidade proporcionam diferentes formas de locomoção das
populações, bem como o surgimento de formas de mobilidade que possibilitam os
deslocamentos intra-urbanos.
Nesse viés, torna-se possível analisar questões a respeito dos deslocamentos que
cada indivíduo realiza, pois em bairros onde predomina as classes com poder
aquisitivo mais elevado, ou ainda, que se localizem próximos ao centro, pensando
num deslocamento bairro-centro, o uso de determinados meios de transportes, como
por exemplo, o transporte coletivo, não desempenha o mesmo papel como em
bairros mais afastados do centro e com população de poder aquisitivo inferior, pois
estes bairros afastados dependem do transporte coletivo. Este tipo de transporte
torna-se economicamente viável às populações desses bairros. Portanto, ao se
estudar a questão do transporte urbano, os geógrafos se deparam com vários
problemas de análise que se diferenciam entre si por causa do enfoque que lhes são
direcionados e, principalmente, pela necessidade do pesquisador.
A análise do transporte e dos deslocamentos dentro do espaço urbano pode ser
realizada a partir dos enfoques técnicos que seriam uma análise e constatação da
rede técnica produzida no espaço, a questão infra-estrutural e as condições de
veículos; e numa análise social que são responsáveis pela análise da importância
dos deslocamentos para a esfera social, sendo que estes possuem diferenciações
em relação a finalidade do deslocamento, isto é, enquanto algumas pessoas se
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utilizam do transporte para “passear”, outras dependem do mesmo para trabalhar e
estudar (VASCONCELLOS, 2001).
Uma terceira possibilidade de análise seria pautada num enfoque sociológico que
consegue acrescentar ao enfoque técnico e social, outras condicionantes que
trazem uma maior complexidade na análise e, portanto, uma melhor compreensão
do transporte urbano e dos deslocamentos da população no espaço. Segundo
Vasconcellos:
O enfoque sociológico, ao contrário, complementa as análises numéricas simples com a análise dos padrões de viagem em função de condições sociais, políticas, econômicas e institucionais que condicionam as decisões das pessoas e entidades envolvidas. Ele pressupõe a análise da distribuição do poder na sociedade e do seu impacto tanto nas decisões das políticas de transportes e trânsito, quanto nas formas segundo as quais as pessoas se apropriam das vias e dos meios de transporte. (VASCONCELLOS, 2001. p. 16).
A partir da compreensão do transporte pelo enfoque sociológico podem-se analisar
as relações sociais que estão envoltas nos deslocamentos diários da população,
quais seriam as necessidades que motivam a utilização do transporte urbano e
como este privilegia ou prejudica determinados grupos sociais.
Segundo Vasconcellos (2001), uma abordagem sociológica do transporte urbano
seria capaz de conciliar as análises dos processos de (re)produção com a circulação
em si e o uso do espaço, trazendo para a análise do transporte, a complexidade que
permite abordar a (re)produção sob o aspecto primordial para o uso e apropriação
do espaço e conseqüentemente a circulação e a mobilidade que nele se desenvolve.
A proposta assume que a circulação é uma necessidade física relacionada às necessidades de reprodução de grupos e classes sociais, que por sua vez são condicionadas por fatores sociais, econômicos, políticos e culturais que variam de uma sociedade para a outra. (VASCONCELLOS 2001, p. 26)
Desta forma, cada classe social que atua na produção do espaço se difere em
relação ao propósito e a forma de seus deslocamentos, existindo, portanto, não
apenas a diferenciação no tipo do deslocamento seja com veículo particular ou
coletivo, mas também nos propósitos que cada indivíduo atribui a um deslocamento.
Portanto, a necessidade de se haver a mobilidade no território torna-se importante
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para a circulação e reprodução social das classes que interagem no espaço
apropriado.
A evolução da rede de transporte público em Irati
O crescimento da cidade de Irati esteve historicamente ligado à construção da
ferrovia, que possibilitou o surgimento de dois pequenos núcleos localizados ao
longo das malhas ferroviárias, sendo que no mais próximo à estação principal
emergiu o centro da cidade. A outra estação era localizada próximo aos bairros de
Engenheiro Gutierrez, Riozinho e Vila São João. Dessa forma, toda a dinâmica que
a ferrovia conseguiu impor ao emergente aglomerado urbano, principalmente com a
circulação da produção da erva-mate e madeira, possibilitava um crescimento
urbano ao longo dos trilhos. Assim, com o surgimento de casas e do comércio, e
com os investimentos em infra-estruturas, surgia à cidade de Irati (ORREDA, 2007).
Com a intenção de trazer ao aglomerado urbano, melhores condições para a
população, em 1965, a Prefeitura Municipal de Irati realizou uma reforma urbana,
construindo uma avenida perimetral que partia da Rua da Liberdade, chegando ao
Rio Bonito, o que ocasionou a ocupação daquela área, proporcionando a expansão
do tecido urbano e o surgimento de novos bairros.A construção desta avenida
facilitava a circulação do centro da cidade com a periferia que ia surgindo em
direção ao bairro do Rio Bonito, trazendo possibilidades para a concretização
espacial a partir dos mais diferentes meios de transportes.
A reforma que fora realizada na cidade, com a abertura de novas ruas e estradas,
melhorava a circulação das áreas próximas ao centro, porém nas áreas distantes do
centro, o deslocamento era possibilitado pela ferrovia, que ao mesmo tempo em que
era um grande corredor de escoamento das produções extrativistas, era responsável
pelo deslocamento da população que vivia na cidade e daquela população que era
oriunda de outros lugares e que passavam por Irati. Sendo que em 1966 o principal
meio de transporte da região era o trem que ligava Guarapuava a Ponta Grossa,
passando por Engenheiro Gutierrez e o Centro (Dados do EIA/RIMA 2008).
Porém as necessidades que a população local enfrentava, já não eram supridas
pelos serviços de transporte ferroviário, devido à proximidade entre as duas
estações e ao longo tempo de espera (cerca de 2 horas). Desse modo, boa parte da
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população que precisava se deslocar ao centro da cidade era prejudicado pela falta
de uma alternativa para o deslocamento coletivo.
Essa necessidade de criar um meio alternativo de transporte público, que suprisse a
necessidade da população e amenizasse os problemas nos deslocamentos, tempo e
distância, possibilitou o surgimento, por parte do capital privado, da primeira
empresa de transporte coletivo automotor da cidade, que fora denominada de
Viação Arilur LTDA., que no início exercia o transporte de passageiros com uma
Kombi. Logo em seguida, as linhas se expandiram para fora do município para as
cidades de Rio Azul, Mallet e Rebouças, passando a atuar no transporte
intermunicipal.
Em 1972, os sócios venderam as linhas intermunicipais para outra empresa e
passaram a operar somente dentro da cidade de Irati, com duas linhas que
conectavam dois bairros periféricos ao centro da cidade, sendo as linhas do
Riozinho à Escola Francisco Vieira de Araújo e da Lagoa até a mesma escola. Na
década de 1980, o crescimento da cidade desencadeava novos fluxos e
intensificava os deslocamentos das pessoas, tornando-se necessário ampliar as
linhas existentes e construir novos itinerários para abarcar e suprir a demanda
existente. A necessidade de se atuar com novas linhas dentro da cidade acarretou
na venda da empresa que operava no transporte coletivo no ano de 1985 e, sob
nova direção, alguns investimentos foram sendo realizados, para que a demanda
ocasionada pelo crescimento urbano da cidade fosse suprida com mais linhas de
transporte coletivo e com veículos maiores. A partir de 1985, a então Viação Arilur
LTDA. passou a operar com veículos mais capacitados para o transporte em massa
de passageiros e passou a adotar um nome fantasia que persiste até os dias atuais,
sendo denominada de Transiratiense.
Na década de 1990, a demanda pelo transporte público aumentava de forma
acelerada, impulsionada pelo crescimento da cidade, pois as populações que viviam
nas áreas periféricas necessitavam cada vez mais se deslocarem para o centro, e
isso só se materializou quando foram colocadas em atividades duas novas linhas:
Rio Bonito e Alto da Lagoa.
O surgimento dos bairros Fragatas, Marcelo, Camacuã e Vila Matilde, no fim da
década de 1990, também foram propulsores para as reformas nas linhas e para a
criação de novas linhas. No ano de 2002 foi criada uma linha que percorria os
bairros do Jardim Planalto, Pedreira, Marcelo e Camacuã, porém, o baixo fluxo de
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passageiros e o vandalismo nos veículos foram responsáveis pela sua desativação.
Esse esboço de linha que conectava vários bairros foi concretizado no ano de 2003
com a criação da linha do Interbairros.
Com isso, o sistema técnico gerado para impulsionar o transporte público em Irati foi
se adequando às necessidades impostas pela produção do espaço geográfico e
pela população, que se beneficiaram das técnicas de circulação. Sendo assim, no
espaço compreendido pela cidade de Irati, sob a atuação dos meios técnicos
propostos por Santos e Silveira (2006), foi possível a reprodução da mobilidade para
suprir as necessidades temporais e espaciais do usuário do transporte público.
A Distribuição Atual da Rede de Transporte
A rede de transporte público que está em vigor nos dias atuais na cidade de Irati, por
causa da ausência de um terminal para o transporte intra-urbano, pode ser dividida
em dois principais eixos de deslocamento, sendo o eixo centro-bairro que
compreende as linhas do Riozinho, Lagoa e Rio Bonito; e o eixo bairro-bairro que
compreende as linhas do Alto da Lagoa e Interbairros.
A mobilidade da população dentro da cidade é efetivada pelas cinco principais linhas
que estão em atividade e que atuam no território, conectando o centro da cidade aos
bairros e vice-versa. O quadro abaixo mostra as principais características de cada
linha do transporte coletivo iratiense.
Quadro 1. As características das linhas que estão em atividade em Irati-PR
*a linha do Interbairros não possui ponto final, portanto a distância se refere ao trajeto total percorrido. Fonte: Dados coletados em trabalhos de campo junto à empresa no período de 01/02/2010 até 30/03/2010.
Cada linha do transporte coletivo, ao conectar diferentes bairros ao centro, possui
características próprias que diferem não apenas pela espacialidade que estas
PERCURSO DE IDA PERCURSO DE VOLTA TEMPO LINHA Distância
percorrida Número de
Pontos Distância percorrida
Número de Pontos
Duração
RIOZINHO 12 km 32 10 km 24 30 min LAGOA 10 km 31 11 km 30 30 min RIO BONITO 9,5 km 35 9,5 km 32 30 min ALTO DA LAGOA 14 km 43 14,5 km 47 40 min INTERBAIRROS NOTURNO
17 km 87 16,5 km 87 40 min
INTERBAIRROS* 25 km 83 1 hora
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apresentam, mas também pela dinâmica da população que se beneficia destas
linhas.Desta forma, alguns bairros da cidade acabam sendo privilegiados, pois são
incorporados a mais de uma linha, principalmente os bairros Rio Bonito e Lagoa, que
estão inseridos no itinerário das linhas do Alto da Lagoa, Lagoa e Interbairros e a
Vila São João que tem, possui em seus fluxos, as linhas do Riozinho, Lagoa e
Interbairros.
Das linhas que estão em atividade, a linha do Alto da Lagoa opera no eixo espacial
bairro-bairro, ligando um bairro ao outro. Essa linha é responsável pela
conectividade espacial entre o Alto da Lagoa com o Nhapindazal, passando pela
rodoviária. Desde o início dessa linha, o trajeto envolve outros bairros que acabaram
entrando na rota da linha, sendo o principal deles o bairro Lagoa e uma parte do
bairro Rio bonito. Após algumas reivindicações de usuários, que necessitavam de se
deslocar para trabalhar, foi incluído na mesma rota o bairro São Francisco e, com a
criação do bairro Fragatas no ano de 2000, foi tomado o mesmo bairro como ponto
final da linha.
A linha do Interbairros, que tem seu ponto de partida no bairro Canisianas, acaba
percorrendo um grande trajeto ligando vários bairros ao perímetro central da cidade
e a outros bairros também. Esta linha passa pelos bairros do Rio Bonito, Fósforo,
Lagoa, Cruzeiro do Sul, Jardim Orquídeas, Fernando Gomes e Vila São João e Vila
Matilde. No período noturno, a linha sofre uma mudança em seu itinerário, não
passando pela Vila Matilde, mais incorporando uma maior área do Bairro do Rio
Bonito.
As outras linhas são responsáveis pela conexão entre a rodoviária e os bairros, ou
seja, o fluxo de passageiros é no sentido bairro-centro e centro-bairro. Nesse eixo
espacial estão inseridas as linhas do Riozinho, Rio Bonito e Lagoa.
A linha do Riozinho possui o maior fluxo de passageiros de todas as linhas que
estão em atividade na cidade, pois permite a acessibilidade de bairros populosos
afastados do centro. Sem contar o fluxo de pessoas que utilizam a mesma linha para
o deslocamento até a universidade. Em média 1600 pessoas se utilizam dessa linha
diariamente para efetivarem seus deslocamentos. Destas, cerca de 40% são
universitários que se deslocam até a Unicentro, e que não se utilizam as linhas
especiais destinadas aos universitários.
A linha abrange vários bairros da cidade, sendo os principais o bairro Riozinho,
Engenheiro Gutierrez, Vila Raquel e Vila São João. Nesta linha fica visível a
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seletividade espacial, tanto se referindo a atuação espacial da rede, como na
atuação da escala de tempo, pois é a única linha que possui dois veículos
trabalhando simultaneamente, isto é, enquanto um está no trajeto bairro-centro, o
outro faz o trajeto centro-bairro.
Essa seletividade foi imposta pela demanda que se originou na mesma linha, que
conecta importantes bairros da cidade com o centro, e por envolver a universidade
em seu trajeto, criando-se uma demanda mais acentuada pelo transporte coletivo
que nas outras linhas. Por isso, o tempo de deslocamento deveria ser realizado no
menor tempo possível, sendo necessário que dois veículos operem em
simultaneidade, reduzindo o tempo dos deslocamentos para meia hora.
Já a linha da Lagoa, é responsável pelo deslocamento de populações de outras
áreas de relevante importância para a cidade. Essa linha envolve, em seu trajeto, os
bairros da Lagoa, Cruzeiro do Sul, Jardim Orquídeas, Fernando Gomes e Vila São
João. Esta linha possui uma demanda de passageiros bastante elevados, sendo a
segunda linha em número de passageiros transportados.
Outra linha que conecta um dos mais antigos e importantes bairros da cidade é a
linha do Rio Bonito. Esta linha é responsável pela conexão espacial dos bairros do
Rio Bonito, Fósforo, Vila São Pedro e o bairro DeR, com o centro da cidade. A
região é historicamente bastante povoada, porém, a proximidade com o centro e o
fato de sua população ter um razoável poder aquisitivo, faz com que os fluxos de
passageiros que partem daí não sejam tão intensos, como o observado nas linhas
do Riozinho e Lagoa.
O mapa a seguir representa as linhas em atividade do transporte coletivo em Irati.
Desta forma, a distribuição das linhas pela cidade é responsável por uma escolha
dos espaços, verificada nas diferenças que cada bairro ostenta em relação aos
serviços de transporte coletivo, enquanto que em alguns bairros as linhas atuam
com maior freqüência de horários e com itinerários mais extensos. Em outros
bairros, os deslocamentos da população são dificultados pela falta de planejamento
para o transporte público.
A fragmentação do espaço urbano e o planejamento para o transporte público
A produção do espaço urbano não se dá da mesma forma em todos os lugares que
são apropriados pelas sociedades, por causa da historicidade das relações que se
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desenrolam no espaço. Desta forma, surge a fragmentação urbana, que por sua vez
torna-se conseqüência de um processo de seleção do espaço que define os
espaços privilegiados em detrimento aos espaços menos favorecidos. Segundo
Ornat e Silva (2007), a fragmentação do espaço urbano é “é materializada pela
paisagem produzida pela justaposição dos diferentes usos do solo” desta forma
surgem os espaços dotados de altos valores e os menos valorizados.
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Fonte: Extraído de SANTOS (2009). Essa fragmentação do urbano, apesar de estar se referindo a uma ruptura dos
espaços (elencando espaços dotados e espaços não dotados de técnicas e infra-
estruturas), possui em seu seio algumas relações que se desenrolam no espaço e
que articulam esses espaços divergentes em relação às suas produções, mas que
em relação à circulação se complementam. Segundo Ornat e Silva:
A complementaridade entre os fragmentos do urbano é constituída por deslocamentos de várias naturezas e intensidades e, para esta discussão, privilegia-se o deslocamento de pessoas e os elementos que constituem estes deslocamentos. A ação dos sujeitos ao deslocar seus corpos através de diferentes localidades está estritamente relacionada com o objetivo de acessar os diferentes bens urbanos (2007, p.178).
O crescimento das cidades acarreta numa segregação forjada dos espaços que são
produzidos dentro do perímetro urbano, sendo que no âmbito de cada cidade se
formam novas localidades que são habitadas por populações que são da “mesma”
classe social. Desta forma, muitas são as diferenças entre os bairros da cidade
existindo, portanto, alguns bairros que são mais valorizados no mercado imobiliário,
localizados próximo ao centro; e os bairros menos valorizados que acabam
formando a periferia da cidade.
Com o crescimento das cidades, surgem os espaços segregados que são
desprovidos de infra-estruturas ou que são “rotulados” como “ruins” por parte da
população da cidade. Segundo Caiafa (2007), a marca que as cidades impregnam
no espaço produzido é fundamentada nos princípios da circulação e da dispersão, já
que a circulação da população dentro da cidade, que ocorre no cotidiano de cada
indivíduo, remete a uma dispersão no espaço urbano de pessoas e de meios de
serviço, onde alguns espaços são densamente povoados, mesmo que seja
temporariamente. Enquanto isso, outros apresentam uma força de dispersão,
geralmente bairros onde a população necessita se deslocar para trabalhar em outras
partes da cidade.
Esses espaços de atração e de dispersão da população ao mesmo tempo se
contrapõem e se complementam, pois a população que se dispersa durante uma
escala temporal, se desloca de um espaço para outro na cidade, caracterizando dois
espaços complementares.
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A partir dos pressupostos de Vasconcellos (2000), pode-se analisar o planejamento
de transportes, como a técnica que define toda a estrutura da circulação e que
possibilita e efetiva os deslocamentos. A esse planejamento segundo o autor, deve
ser incorporado o planejamento da circulação que é responsável pelas formas que a
estrutura viária é utilizada, tanto pelos veículos do transporte coletivo como os
veículos particulares.
Através desses planejamentos, o transporte público se efetiva no espaço com maior
eficiência e fluidez, pois a eficiência das linhas e dos deslocamentos torna-se
importante para a circulação da população entre os espaços da cidade. Porém, a
segregação socioespacial é percebida nas próprias linhas do transporte coletivo,
onde se percebe que existem bairros mais bem servidos do transporte com mais de
uma linha, com pontos de parada de ônibus bem estruturados e com vários horários
disponíveis para a população efetivar seus deslocamentos, enquanto que outros
bairros possuem uma única linha que não permite vários destinos para a população
a partir desse ponto inicial, e que os horários são escassos, existindo bairros em que
o ônibus passa apenas três vezes ao dia.
Na cidade de Irati alguns bairros possuem restrições dos serviços ofertados pelo
transporte público, possuindo poucos horários destinados aos deslocamentos da
população. É o caso da Vila Raquel, que mesmo sendo servida pela linha do
Riozinho (a maior linha e com dois veículos rodando simultaneamente), o ônibus
passa apenas três vezes ao dia, às 6h45min, às 13h00min e às 19h10min,
dificultando os deslocamentos dos moradores da vila. Outro bairro menos favorecido
com o transporte, é a Vila Nova que também possui apenas três horários de ônibus,
às 7h40, às 13h05 e às 18h10.
Aos domingos e feriados, a seletividade dos bairros é maior ainda, por haver menos
linhas em atividade nesses dias, três apenas (Riozinho, Lagoa e Rio Bonito). O
número de bairros que se inclui no rol dos menos favorecidos acaba aumentando e
os horários são bem escassos. Nesses dias de folga da maior parte da população e
que seria um dia propício para se deslocar até as áreas de lazer da cidade, as linhas
não fornecem o transporte a todos os bairros, sendo que muitos desses bairros
ficam sem ônibus o dia todo. É a situação da Vila Matilde e do bairro São Francisco.
Em alguns bairros a linha do transporte público permanece em atividade durante os
domingos e feriados, porém, o ônibus efetua os deslocamentos com menos horários.
São os casos do Bairro do Alto da Lagoa (que possui linha de ônibus às 9h30, às
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13h10, às 17h35 e às 18h45); do Nhapindazal (que circula ônibus às 8h35, às 11h15
e às 16h50); da Vila Nova (com ônibus às 10h00, às 13h20 e às 18h10) e da Vila
Raquel (com ônibus às 8h20, às 13h20 e às 18h50).
A falta de linhas e horários nos bairros não é o único problema do transporte coletivo
de Irati. Outros problemas, principalmente próximos ao centro da cidade são
verificados, como por exemplo, os pontos de ônibus que na sua maioria não são
devidamente regularizados com abrigo e sinalização, o que dificulta para os
passageiros e para os próprios motoristas dos ônibus, sem contar com as obras e
mudanças no trânsito que estão sendo realizadas na cidade: construção de
rotatórias em diversos cruzamentos da cidade, mudança de sentido das vias no
centro da cidade e a construção de ciclovias ao longo da Rua Trajano Grácia, que é
uma das principais vias para as linhas do transporte coletivo. Com a construção da
ciclovia, o espaço que antes era destinado à parada dos ônibus não existe mais, o
que dificulta até mesmo o trânsito pela via, pois os ônibus necessitam fazer suas
paradas, na mesma pista que é destinada ao tráfego de todos os veículos que se
utilizam desta via, causando transtornos consideráveis aos outros motoristas que
necessitam ficar esperando o ônibus efetuar sua parada. Entendemos que se
houvesse um recuo em cada ponto de parada ficaria mais bem organizado, com
mais segurança para os passageiros e motoristas.
Observando os fatores arrolados acima, vemos que o transporte público em Irati
apresenta sérios problemas que deveriam ser solucionados com a elaboração de
planejamento que não esteja apenas voltado ao transporte particular, mas que
contemple o transporte coletivo para assim facilitar a mobilidade no espaço urbano
da cidade, pois, segundo Grotta (2005), a mobilidade das populações depende da
acessibilidade que os espaços detêm e esse conjunto que envolve a mobilidade da
população e a acessibilidade dos espaços, se materializado no espaço através das
vias, sua organização e hierarquização, proporcionando fluidez à circulação dos
veículos de transporte público.
Considerações Finais
O crescimento da cidade acarreta em diversos problemas de circulação para a
população e para o transporte público. O conseqüente crescimento da periferia não
é atendido prontamente para a solução dos “novos” problemas de locomoção. Nem
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transporte público
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sempre os novos espaços produzidos e apropriados pelas sociedades possuem a
acessibilidade necessária para que a mobilidade se efetue.
A acessibilidade de cada bairro torna-se um reflexo dos fluxos do capital e dos
investimentos em obras por parte do poder público, e dos empreendimentos
comerciais e industriais da iniciativa privada, que acabam classificando os bairros e
excluindo ou incluindo tais áreas na “rota” de investimentos, para melhorar a
circulação tanto de mercadorias quanto de pessoas.
Da acessibilidade que cada bairro possui, possibilita-se a mobilidade da população
residente, pois bairros acessíveis ao capital possuem melhores infra-estruturas que
são condicionantes para a mobilidade da população. Onde existe infra-estrutura
adequada torna-se viável a aplicação das técnicas de circulação para o transporte
público.
Nesse viés surgem os espaços fragmentados dentro das cidades. Essas áreas
segregadas em relação ao centro são servidas das técnicas do transporte público de
forma razoável, existindo alguns empecilhos que dificultam uma melhor mobilidade
da população, como por exemplo, os horários e as linhas ofertadas em cada bairro.
Porém, é desses bairros que são forçados à segregação, que se deslocam a maior
parte dos trabalhadores do centro da cidade, e que são fundamentais para o
crescimento do comércio de uma cidade.
Existe uma contradição entre a segregação espacial dos bairros e a importância que
a população desses bairros segregados tem no mercado de trabalho e no mercado
consumidor, que deveria ser analisada com cuidado pelo poder público para atenuar
as diferenças de acessibilidade e melhorar a mobilidade da população, pois, se a
população possuir meios para se deslocar ao centro da cidade, consequentemente
os fluxos da área central serão maiores e o movimento do comércio do centro da
cidade tende a ser maior.
Deste modo, o planejamento para o transporte coletivo deve ser feito de forma a
solucionar os problemas de circulação dos veículos pelas vias do perímetro urbano
da cidade, e que também contemple eficientemente a população residente nos
bairros periféricos, que por sua vez, mais depende desse meio de transporte para
realizar seus deslocamentos diários. A eficiência no sistema de transporte não
depende apenas da empresa que opera, mas principalmente do poder público, pois
é este que deve fiscalizar e dar o suporte para que a rede de transporte possua uma
funcionalidade em todos os bairros da cidade.
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GEOGRAFIA E LITERATURA: UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR PARA O ENSINO
JOSÉ OSVALDO KOZLINSKI1 KARLA ROSÁRIO BRUMES2
Resumo: O presente trabalho pretende essencialmente verificar qual a possibilidade de se realizar um trabalho docente, utilizando-se de uma metodologia centrada na análise, percepção e compreensão de textos por parte dos alunos, distinguindo-se dentre eles os contos, provenientes de nossa literatura nacional, nos quais possam ser apreendidos os aspectos geográficos neles contidos, propondo classificá-los como um excelente complemento didático na construção de percepções da paisagem e do espaço. Assim, utilizaremos uma gama de referenciais teóricos que nos permitam validar esta possibilidade. Analisaremos os aportes geográficos que poderão ser utilizados para esta tarefa, relacionando-os com as principais instruções indicadas pelos órgãos educacionais, a partir das propostas nacionais de ensino, ou seja, pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. Na sequência, desenvolveremos uma explicação ao caráter interdisciplinar ao qual está inserida a Geografia e alguns pontos decorrentes quando de trabalhos interligados com a Literatura. Após esta constatação teórica, procuramos encontrar uma forma criativa para desenvolver uma metodologia onde se possa utilizar desta ligação, fazendo com que professores e alunos possam refletir suas práticas nas relações de ensino e aprendizagem que ocorrem nos momentos do estudo geográfico. Palavras-chave: Interdisciplinaridade, Leitura do espaço, Conteúdos didáticos, Interpretação textual
1 Acadêmico do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) 2 Docente do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) – [email protected]
CICORUM, K. E.; SILVA JUNIOR, R. F. Mobilidade e acessibilidade no espaço urbano de Irati
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MOBILIDADE E ACESSIBILIDADE NO ESPAÇO URBANO DE IRATI
KATYA ELISE CICORUM1 ROBERTO FRANÇA DA SILVA JUNIOR2
Resumo: As pessoas necessitam estar em constante movimento. Ir ao trabalho, escola, igreja, clube e às compras tornou-se um componente inerente aos citadinos. Os movimentos para os usos dos sistemas de circulação são os mais variados, no entanto, boa parte da população se movimenta com mais dificuldade devido às más condições financeiras. A mobilidade está vinculada ao nível de renda e o acesso aos diversos meios de transportes. A sociedade atual, de certa maneira, impulsiona os cidadãos para uma efetiva reprodução social. De certo modo, boa parte da população está inserida em um ciclo familiar, de estudos, de trabalho e de lazer. A cidade de Irati passou por transformações viárias nos últimos cinco anos, reforçando o caráter de uma circulação automotora sem se pensar na circulação dos transportes públicos e na acessibilidade da população sem acesso a veículos automotores. Diante da problemática, o objetivo da pesquisa foi o de analisar a mobilidade e a acessibilidade da população de Irati, a partir dos seus percursos e espacialidades, levando em consideração a questão da renda e dos fatores de mobilidade e uso das técnicas de transporte. Para tanto, especificamente levantamos informações sobre as condições de mobilidade da população; analisamos os deslocamentos (espacialidades) das pessoas para o centro; avaliamos a infra-estrutura voltada para a movimentação das pessoas, tais como: ruas, calçadas e segurança no trânsito. Palavras-chave: Circulação, Planejamento, Mobilidade, Acessibilidade
1 Acadêmica do 4º ano do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) 2 Professor Adjunto Doutor da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) - (graduação e mestrado), Campus de Irati. E-mail: [email protected]
BARTIECHEN, M.; SILVA JUNIOR, R. F. Desigualdades socioespaciais no espaço urbano de Irati-PR: os casos dos bairros Alto da Lagoa e Alto
da Glória
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DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS NO ESPAÇO URBANO DE IRATI-PR: OS CASOS DOS BAIRROS ALTO DA LAGOA E ALTO DA GLÓRIA
MARINA BARTIECHEN1 ROBERTO FRANÇA DA SILVA JUNIOR2
Resumo: O espaço urbano, contraditório, se apresenta como campo de lutas fragmentado e articulado ao mesmo tempo. As infraestruturas não se distribuem homogeneamente na cidade em razão da natureza do capital, que prioriza os espaços mais concentrados, mesmo em uma cidade de pequeno porte, como é o caso de Irati. Tendo como base esses pressupostos, objetivamos neste trabalho, analisar as desigualdades infraestruturais entre o bairro Alto da Lagoa, que está em estado de profunda segregação socioespacial, carente de infraestruturas, e o bairro Alto da Glória, que nos últimos anos, vem recebendo investimentos em infraestruturas por parte do poder público e pelas empresas. . Com isso, o Alto da Glória se valoriza ainda mais aprofundando as desigualdades socioespaciais em Irati, e exercendo uma força de repulsão das populações mais carentes para os bairros periféricos, como é o caso do Alto da Lagoa. Essa questão é abordada no decorrer do trabalho, juntamente com as relações que circunscrevem este “cenário”, como a desigualdade social, a segregação espacial e a especulação imobiliária. Diante deste contexto, constatamos alguns problemas existentes na organização espacial da cidade de Irati- PR, principalmente na distribuição de investimentos, sendo possível identificá-los através de entrevistas realizadas com moradores dos procedentes bairros (Alto da Glória e Alto da Lagoa), quando observamos um elevado percentual de desigualdade social, principalmente da renda de seus moradores, enfatiza ainda mais a disparidade entre os dois bairros analisados. Palavras-chave: Segregação sócio-espacial, Desigualdade social, Especulação imobiliária
1 Acadêmica do curso de Geografia da Unicentro, campus de Irati. E-mail: [email protected] 2 Professor adjunto do Departamento de Geografia da Unicentro, campus de Irati.
FERNANDES, M. S.; BRUMES, K. R. Nota sobre a monitoria remunerada na disciplina de Métodos de Pesquisa em Geografia: auxílio para o
trabalho de conclusão de curso
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NOTA SOBRE A MONITORIA REMUNERADA NA DISCIPLINA MÉTODOS DE PESQUISA EM GEOGRAFIA: AUXÍLIO PARA O TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
MICHELE SERPE FERNANDES1 KARLA ROSÁRIO BRUMES2
Resumo: A monitoria remunerada na disciplina de Métodos de Pesquisa em Geografia se deu no ano de 2009, no segundo semestre com carga horária de 12h semanais e totalizou 144 horas. As atividades realizadas consistiram no auxilio à professora regente na organização das atividades; leituras sobre os diferentes métodos de pesquisa e esclarecimentos de dúvidas aos acadêmicos sobre a disciplina. Entendo que essa disciplina é de grande importância para a formação do acadêmico, especialmente para aqueles que desejam seguir a carreira de pesquisador, pois esclarece muitas questões relacionadas à pesquisa, como os vários tipos de métodos de acordo com as temáticas trabalhadas. São métodos como o Hermenêutico Fenomenológico que abarca questões ontológicas, do ser, da essência, muito usado na Geografia para explicar a questão do lugar, ou seja, do sentimento de pertencimento ao lugar. Passamos a compreensão da indução, em que o pesquisador induz um pensamento predeterminado sobre um objeto e, dedução, que confere ao objeto a indução está correta. Também passamos pelo método Materialismo Histórico Dialético usado na compreensão do capital ora excludente ora includente, das contradições na sociedade capitalistas em que vivemos. Muitos outros métodos ainda foram apresentados os quais auxiliam o estudante graduando a desenvolver uma boa pesquisa. Neste sentido, utilizamos algumas horas da monitoria para realização do nosso Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) fato que contribuiu em muito para nosso enriquecimento teórico e amadurecimento intelectual, bem como, para o estimulo para ser um professor e pesquisador, uma vez que a disciplina trabalha com uma gama de situações muito recorrentes a quem está nos anos finais de um curso de graduação. Palavras-chave: Monitoria, Geografia, Trabalho de conclusão de curso
1 Discente do 4 ano do curso de Geografia de Irati – DEGEO/I – e-mail: [email protected] 2 Docente do Departamento de Geografia de Irati – DEGEO/I – e-mail: [email protected]
CARVALHO, R.; OLIVEIRA, O. Representações indígenas no Brasil
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
REPRESENTAÇÕES INDÍGENAS NO BRASIL1
ROSENALDO DE CARVALHO² OSÉIAS DE OLIVEIRA³
Resumo: O presente artigo busca refletir o papel do indígena em nossa sociedade contemporânea, fazendo um apanhado das situações que a eles dizem respeito, desde as definições e redefinições de seus territórios, como ele é visto pela sociedade e suas relações interculturais, Esta reflexão é fundamentada em obras reconhecidas da antropologia e etno História, como também nas discussões ocorridas durante a semana do Vídeo Índio Brasil - A Imagem dos Povos Indígenas no Século XXI. A imagem do indígena na sociedade nacional Nos últimos anos muito se tem falado sobre a diversidade cultural, o respeito as
diferenças culturais e a procura por parte de grupos que eram tidos como marginais
de seu reconhecimento. Exemplos são as etnias Indígenas que recentemente tem
lutado arduamente por seus direitos e buscando sua inserção na sociedade
abrangente, várias são estas atividades dentre elas podemos citar o Vídeo Índio
Brasil que já vem ocorrendo a quatro anos e em 2010 ocorreu de 31 de julho à 7 de
agosto em 111 cidades brasileiras, mostra vídeos feitos pelos próprios indígenas e
sua cultura e os problemas por eles enfrentados. Ajuda também em suas lutas, que
são em várias frentes, como a legalização e defesa de seus territórios, a busca de
políticas públicas que possam auxiliá-los na defesa de seus interesses.
Apesar de todos os esforços de nossa sociedade para o reconhecimento dos grupos
marginais, no qual se inclui os povos indígenas, parece ainda não ser suficiente para
que veículos de comunicação de grande circulação, como a revista Veja, na qual
vinculou na reportagem intitulada A farra da Antropologia oportunista (COUTINHO, et
al 2010), todo o preconceito contra os povos indígenas e as demarcações de seus
territórios. Analisemos um trecho da reportagem:
As dimensões continentais do Brasil costumam ser apontadas como um dos alicerces da prosperidade presente e futura do país. As vastidões férteis e inexploradas garantiriam a ampliação do agronegócio e do peso da nação no comércio mundial. Mas essas
1 Esta reflexão está associada às atividades desenvolvidas pelo Núcleo de Estudos Étnico-Raciais, à disciplina de Cultura Indígena, no curso de História e ao projeto de extensão Vídeo Índio Brasil em Irati-PR ² Graduando do curso de História (UNICENTRO) - [email protected] ³ Docente do departamento de História (UNICENTRO) - [email protected]
CARVALHO, R.; OLIVEIRA, O. Representações indígenas no Brasil
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avaliações nunca levam em conta a parcela do território que não é e nem será explorada, porque já foi demarcada para proteção ambiental ou de grupos específicos da população. Áreas de preservação ecológica, reservas indígenas e supostos antigos quilombos abarcam hoje 77,6 da extensão do Brasil... O Governo pretende criar outras 1514 reservas e destinar mais 50000 lotes para a reforma agrária. Juntos eles consumirão uma área equivalente à Pernambuco...Certas iniciativas são motivadas pela ideia maluca de que o território brasileiro deveria pertencer apenas aos índios.
Vemos um tom fortemente depreciativo e preconceituoso na reportagem, onde os
indígenas estão com suas demarcações diminuindo as terras cultiváveis do país,
sendo um obstáculo ao desenvolvimento da agricultura. As demarcações dependem
basicamente de dois pontos, a declaração da população como pertencente a
comunidades indígenas ou quilombolas e um laudo antropológico, estes
profissionais são também negativizados, acompanhemos como o trabalho destes
profissionais é tratado pela reportagem:
Os laudos antropológicos são encomendados e pagos pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Mas muitos dos antropólogos que os elaboram são arregimentados em organizações não governamentais (ONGs) que sobrevivem do sucesso nas demarcações. A quantidade de dinheiro que eles recebem está diretamente relacionada ao numero de quilombolas e índios que eles alegam defender (COUTINHO, et al 2010),
O caso mais conhecido nos últimos tempos no Brasil é no que diz respeito a reserva
no estado de Roraima, denominada Raposa Serra do Sol, a maior reserva indígena
em terras brasílicas, onde há o conflito entre os indígenas e produtores de arroz.
Segundo os indígenas os produtores de arroz estão invadindo seus territórios na
busca de aumentar a produção. Os indígenas foram recentemente até a capital
federal denunciar as ações dos produtores de arroz que fazem divisa com a sua
reserva, fato que gerou muita polêmica em vários locais, e os advogados dos
produtores reivindicarem a redefinição da reserva e que a mesma fosse diminuída
para haver mais espaço para a produção de arroz. Já os índios fizeram
manifestações contra a remarcação de suas terras e disseram que a luta iria até não
restar mais nenhum indígena, pois segundo os indígenas já teria ocorrido mortes e
vários conflitos entre indígenas e os jagunços contratados pelos plantadores de
arroz.
Esse fato é um exemplo da luta pelos direitos indígenas os quais muitas vezes são
CARVALHO, R.; OLIVEIRA, O. Representações indígenas no Brasil
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vistos como obstáculo ao desenvolvimento, como se fosse um ser exótico, que deve
ser mantido em estado puro, sendo aquele como em 1500, caçador e coletor, muitos
ainda os vêem dessa maneira, pois sendo assim o indígena não necessita de
extensos territórios para sobreviver.
O indígena de submisso a sujeito da História No que diz respeito a produção do conhecimento, principalmente o histórico o que
se pensava sobre estes grupos também teve uma substancial mudança. Até pouco
tempo atrás o indígena era aquele ao qual a historiografia reservava o papel de
conquistado, submisso, aculturado, aquele que durante muito tempo só foi visto pelo
prisma de quem desde o processo de colonização só teve perdas, perdas culturais,
de seus territórios.
Esta foi a visão dos historiadores ditos tradicionais, que pensavam o conhecimento
histórico como sendo feito em cima de documentos que falavam de grandes homens
e grandes fatos, sendo o resto de toda uma sociedade apenas massa amorfa. Papel
que também foi reservado a esfera que diz respeito aos indígenas, como a
historiadora Maria Regina Celestino de Almeida fala de os indígenas eram tidos em
nossa historiografia como massa amorfa matéria inerte. Como aqueles que não
tinham vontade ou ação própria, apenas reagindo a estímulos externos, mesmo
assim depois de perderem a luta passavam a ser apenas sujeitos nas mãos dos
colonizadores.
No início do século XX surge uma nova forma de se pensar História, com o grupo
dos Annales que pensavam a história como algo que devia ser mais viva. Para
Lucien :(FEBVRE, 1953, p.43.)
“A história se faz com documentos escritos, quando existem. Mas ela pode e deve ser feita com toda a engenhosidade do historiador... Com palavras e sinais. Paisagens e telhas. Formas de campos e ervas daninhas. Eclipses lunares e cordas de atrelagem. Análises de pedras dos geólogos e de espadas de metal pelos químicos.
O grupo dos Annales desde seu início propôs a interdisciplinaridade para a escrita
da História, mas isso só ocorreu de fato a pouco mais de duas décadas sob os
aspúcios da história cultural. Pois até então História e Antropologia andavam um
tanto quanto fechados em seus campos e conceitos. A Antropologia não
CARVALHO, R.; OLIVEIRA, O. Representações indígenas no Brasil
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reconhecendo a historicidade da cultura e nem a História via no campo da cultura
algo passível de pesquisa e criação do conhecimento histórico. Daí advinha os
problemas que citamos a pouco no que se relacionava ao papel dos povos indígenas
em nossa historiografia. Mesmo grandes nomes de nossa historiografia deixaram
passar despercebidos em seus trabalhos a grande contribuição que um campo
poderia dar ao outro. Exemplo são as sínteses de Sérgio Buarque de Hollanda e
Caio Prado Jr as quais em muitos momentos o indígena teve somente um papel
secundário, já que Sérgio Buarque em Raízes do Brasil se ateve mais ao tipo do
colonizador português e Caio Prado Jr ateve-se ao que ficou conhecido como
nossos ciclos econômicos. Gilberto Freyre em Casa Grande Senzala uma das
maiores sínteses de nossa História tratou o indígena de uma maneira que hoje
podemos dizer ser um tanto quanto errônea ou distorcida. Florestan Fernandes em
sua obra sobre a cultura Tupinambá não deu a devida atenção aos processos
históricos da cultura estudada (ALMEIDA, 2003).
Nos últimos anos houve uma maior aproximação das duas ciências, de forma que os
trabalhos deram melhores frutos, e então, a tão sonhada interdisciplinaridade pelos
Annales começou a criar raízes. Um desses trabalhos que uniu antropologia e
história foi a de Maria Regina Celestino (ALMEIDA, 2003), a qual mostra a vitalidade
e importância do campo da história cultural. Nessa obra a autora Maria Regina fala
das atitudes dos grupos indígenas para a manutenção de suas tradições e modo de
vida e de como eles sempre foram resistentes ao que lhes era imposto, pois para a
autora viver em aldeias não era a perda de sua cultura mas sim um modo de
resistência. Fazendo com que se quebre a visão de piedade sobre o índio, mas sim
um sujeito que se metamorfoseou para sobreviver em uma nova ordem social que
era violentamente lhe imposta.
No mesmo campo os historiadores paranaenses Lúcio Tadeu Mota e Éder da Silva
Novak em pesquisa sobre os índios Kaingang no Paraná, resultou no livro Os
Kaingang do vale do rio Ivaí: história e relações interculturais (MOTA; 2008), que
trata de todo o processo histórico do grupo dos Kaingang desde a pré-história até a
chegada dos europeus. Para tal período se utilizam de pesquisas do campo da
arqueologia na área. Os autores abordam as relações interculturais que os Kaingang
tiveram com os colonizadores e outros grupos indígenas como os Xetá e os
Guaranis. Os autores buscaram assim como Maria Regina Celestino de Almeida
mostrar que os índios não foram em momento nenhuns submissos, nem massa
CARVALHO, R.; OLIVEIRA, O. Representações indígenas no Brasil
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
amorfa, mas que lutaram por seus direitos. Para tanto eles analisaram discursos de
ambos os lados, tanto dos Kaingang como daqueles que estavam direta ou
indiretamente ligados a questão.
Em um trecho de Metamorfoses indígenas (ALMEIDA, 2003, p. 32) de Maria Regina
Celestino afirma que:
“Cabe ressaltar a contribuição de Sidney Mintz e Eric Wolf, antropólogos preocupados em enfatizar o dinamismo, a variabilidade e a historicidade da cultura. Destacaram a importância de se perceber que um sistema cultural apresenta variabilidade no que se refere ás intenções, conseqüências e significados dos atos escolhidos pelos indivíduos. Pessoas situadas em posições socialmente diferentes podem até agir da mesma forma, mas essas ações muito provavelmente não terão para eles os mesmos sentidos, nem tampouco as mesmas conseqüências. Os homens agem se relacionam, pois, conforme seus lugares sociais e objetivos. Uma visão que não estabeleça o entrosamento dinâmico entre o social e o cultural termina por não levar em conta as possibilidades de variação, tanto cultura quanto na estrutura social. Se, na maior parte das vezes, os homens na agem de acordo com padrões sociais, estes são malha de ferro, havendo sempre possibilidades de escolhas e alternativas que variam de grupo para grupo, conforme as condições”.
Essa afirmação nos permite interpretar o ofício (ARQUIVO PÚBLICO DO
PARANÁ. 12 jan 1879) do delegado Domingos Ferreira Pinto quando afirma:
“É portador desta (carta de recomendação), o índio Felisbino, filho do cacique Feliciano que vai com seus irmãos e família implorar de V. Exa um auxilio para coadjuvá-los na cultura de cana que segundo a carta junta do Delegado de Polícia de Guarapuava tem eles feito grandes plantações bem como de outros gêneros de cultura. Sobre o lugar denominado Barra Vermelha deste Termo onde se acham aldeados oitenta e tantos índios. Pelas informações que tenho consta-me serem estes índios laboriosos e morigerados. Por quanto levando ao conhecimento de V. Exa estes fatos espero que tomara as medidas que julgar mais acertada a fim de animar estes índios que tão boa vontade mostrarão pelo desenvolvimento da industria dedicando-se ao trabalho.”
Quando Eric Wolf e Sidney Mintz (ALMEIDA, 2003) afirmam que um sistema cultural
apresenta variabilidade nos atos escolhidos pelos indivíduos, notamos que o índio
Felisbino ao ir atrás de recursos para sua tribo, tem muitos intuitos, como o de
buscar o melhor possível para si e para sua tribo, não era o único interesse mais
aquele que mais lhe parecia conveniente para o momento. Quando Felisbino e seus
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parentes chegam até as autoridades para pedirem utensílios que posam ajudar na
fabricação e beneficiamento da cana de açúcar, mostra uma de suas esferas de
ação, a qual quer passar a imagem de quem quer fazer parte da sociedade
envolvente do trabalho e do desenvolvimento. Talvez esse não fosse o único ou real
objetivo de Felisbino e seus companheiros, mas para que conseguissem o que
queriam foi a imagem que passaram, pois era a que mais agradava as autoridades
da época.
Outro ponto que notamos no texto de Maria Regina Celestino de Almeida é a
afirmação que “os homens agem e se relacionam, conforme seus lugares sociais e
objetivos”,(ALMEIDA, 2003, p. 32) partindo desse pressuposto o ofício não pode ser
analisado como se mostrasse apenas interesses de uma das partes envolvidas, mas
sim das duas, índios e sociedade envolvente, um documento que tem interesses
variados.
Se por um lado os índios reivindicaram ferramentas que ajudassem na fabricação de
derivados de cana, os não índios intencionavam que com essas ferramentas se
adaptassem ao mundo civilizado.
No mesmo oficio vemos interesses cruzados de pessoas de posições sociais
diferentes, que agiram de forma muito parecida, mas que provavelmente não terão
os mesmos sentidos, que apesar de agirem da mesma forma tiveram diferentes
conseqüências.
Vemos, então, que quando procuramos abordar a temática indígena de diversos
prismas onde índios nunca foram os tais “coitadinhos” como por muito tempo foram
conhecidos, mas foram atores e autores de sua própria história, resistindo de
variadas maneiras e recriando seu modo de vida. Exemplos temos com Lúcio Tadeu
Mota e Éder da Silva Novak (MOTA; 2008) que trataram em sua obra sobre os
processos de desterritorialização dos Kaingangs no vale do rio Ivaí, mostrando as
formas de que se utilizaram várias estratégias ao decorrer do processo para
garantirem suas terras e seu modo de vida.
Não como empecilho ao desenvolvimento agrário e econômico do país como a
reportagem da revista Veja, mas como indivíduos que desde os primórdios da
colonização lutaram por aquilo que achavam que lhes fosse justo e de direito.
Sabemos que reportagens como essas podem forjar o pensamento de muitas
pessoas que não tem acesso a análises como de Maria Regina e de Lucio Tadeu
Motta que mostram a situação dos indígenas, e leva essas pessoas a negativizarem
CARVALHO, R.; OLIVEIRA, O. Representações indígenas no Brasil
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o índio mais do que ele já é, pensemos o que uma reportagem como essa causa em
uma pessoa que imagina o indígena como coletor e caçado, provavelmente sua
opinião será a favor dos grandes latifundiários.
Obras de antropólogos e historiadores como Maria Regina e Lucio Tadeu Motta são
de grande valia para desmistificar o papel do índio em nossa sociedade, temos que
fazer com trabalhos de excelência como esses sejam levados ao publico geral e
assim tenham o poder de revelar o que de fato o indígena representa e representou
e tenha o mesmo poder de forjar opiniões, não preconceituosas como da revista,
mas que ajude os preconceitos a caírem por terra.
O Indígena como obstáculo ao desenvolvimento Durante a semana do Vídeo Índio Brasil um dos documentários que mais chamou a
atenção foi Corumbiara de Vicent Carreli que mostra o encontro com índios que
ainda não tinham tido contato com as sociedades brancas. A trama do documentário
se da em volta de massacres de grupos indígenas em 1986 por fazendeiros e Vicent
Carreli busca provas para fazer a incriminação dos responsáveis, onde acontece o
encontro com os indígenas desconhecidos.
Corumbiara mostra uma das representações que mais se tem sobre o índio, como
um empecilho ao desenvolvimento da agricultura, pois os fazendeiros da região na
intenção de aumentar os territórios e também sua produção viram no índio e suas
reservas o maior problema, deram o seu jeito, não respeitando não só o direito das
terras indígenas, mas a vida dos índios. No Brasil desde a década de1960 e 1970
onde o governo militar criou programas para desenvolver os sertões do país,
exemplo foi a rodovia Transamazônica que pretendia integrar todo o norte do
território nacional.
Só que estas políticas não visaram o indígena que estava perdendo seus territórios,
mas que em momento nenhum deixou de lutar e que por muitas vezes foi
massacrado, é o que o documentário Corumbiara mostra, o advogado de um dos
fazendeiros faz uma afirmação:”Veja os Estados Unidos, eles acabaram com todos
os índios do oeste e são o país mais desenvolvido do mundo”, nessa afirmação
vemos todo o descaso e despreocupação que se tem quanto aos índios, para eles o
país só se desenvolve quando os índios forem exterminados.
Mas não é recente essa desterritorialização dos indígenas e também não ocorreu só
CARVALHO, R.; OLIVEIRA, O. Representações indígenas no Brasil
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no norte do país. No estado do Paraná os indígenas Kaingangs tiveram seus
territórios várias vezes re-demarcados e sempre que eram redefinidos esses
territórios eram diminuídos em favor dos emigrantes que chegavam de vários países,
especificamente poloneses e ucranianos. Nas políticas de povoamento de 1949, as
terras indígenas dos Kaingangs nas margens do rio Ivaí foram sendo paulatinamente
diminuídas a favor dos colonizadores, o SPI foi o órgão que responsável pelos locais
que foram demarcados sendo drasticamente reduzidos. Lucio Tadeu Motta afirma:
“Entre as áreas que foram “reestruturadas” em 1949 estava a Terra Indígena Ivaí. Pelos critérios adotados pelo governo para a determinação das extensões das novas áreas...Assim, dos 36.000 há concedidos pelo decreto de 1924, restaram apenas 7.200 há m 1949...Além de diminuir os territórios indígenas, apropriado-se das melhores terras para futuras negociações, o governo quis eliminar os vestígios da ocupação passada com a destruição das velhas moradias (MOTA, 2008)”
O governo com seu intuito de desenvolver o país muitas vezes ou quase nunca se
interessou pelo futuro dos povos indígenas, desde os inícios da colonização, o
indígena sempre foi visto como o maior empecilho e sempre foi desrespeitando
todos os seus direitos que aconteceu o tão sonhado desenvolvimento.
O indígena e a sociedade
A sociedade de uma maneira geral tem um olhar ainda muito preconceituoso sobre o
indígena, muitas vezes criando uma imagem do índio como aquele que só caça e
pesca e anda pelado de arco e flecha nas costas. Os meios de comunicação fazem
com que essa visão seja perpetuada. Na escola, no dia do índio as crianças põem
cocares na cabeça e se imaginam caçando e pescando.
Quando as pessoas veem o índio vestido usando celular, acreditou que esse
indivíduo não é mais índio ou é aculturado. O indígena nem sempre teve o
reconhecimento merecido, sempre foi um povo deixado a margem, da sociedade, do
desenvolvimento e de políticas publicas e não reconhecemos que eles também
podem ter acesso a situações parecidas com as nossas. Muito ainda se pensa na
questão do índio puro e parece que a sociedade quer que ele continue na floresta
sem ter contato com o que esta acontecendo com a sociedade que eles também
fazem parte, tendo os mesmos direitos e deveres de qualquer cidadão. O mais
CARVALHO, R.; OLIVEIRA, O. Representações indígenas no Brasil
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importante na inserção dos indígenas é que eles sejam reconhecidos e tenham seus
direitos respeitados, para tanto se faz necessário toda uma revisão do olhar de uma
sociedade que não da ao indígena o estatuto de cidadão, ou o vê como um cidadão
de segunda classe.
Nos últimos anos pesquisas do IBGE mostram uma maior confirmação dos povos
indígenas em nossa sociedade. Um reflexo da mudança que lentamente vem
ocorrendo na mentalidade do brasileiro sobre o indígena, por mais pequena que seja
mostra que aos poucos a sociedade conseguirá rever aquilo que representa o índio.
Nas décadas de 1980 e 1990 muitos cidadãos que tinham algum parentesco com
indígenas não se diziam como tal, por muitas vezes não querer expor sua pertença a
um grupo marginalizado e negativizado na sociedade, isso não ocorria apenas com
indígenas, mas com outras minorias étnicas como negros. Já do ano de 2000 para
cá percebe-se um maior sentimento de pertença à grupos que esses indivíduos
tenham alguma ligação, seja ela sanguínea, cultural ou qualquer outra que
possamos pensar.
Isso reflete mudanças, que podem ser pequenas diante da dívida que temos com
esses povos, mas pelo menos já há uma positivação de ser indígena, não sentem
mais vergonha medo ou qualquer outro empecilho para assumirem sua pertença a
determinado grupo ou etnia. Lembrando que isso não ocorre apenas com os
indígenas, mas com outros grupos étnicos como os negros, outras minorias como os
homossexuais. A partir de informações como essa, podemos concluir que aos
poucos nosso modo de pensar sobre o outro está mudando, a passos lentos, mas
está mudando.
Não podemos deixar que preconceitos sejam perpetuados em nossos meios de
comunicação nem na sociedade, mas infelizmente é o que acontece pois a grande
maioria dos veículos de comunicação estão em poder daqueles que concordam que
o indígena, suas terras e tradições são obstáculos ao desenvolvimento econômico
da nação. É de nossa responsabilidade procurar meios de vencer preconceitos que
estes sim são grandes empecilhos ao desenvolvimento da nação, não ao
econômico, mas ao desenvolvimento do ser humano que deveria ser o principal ideal
de qualquer governo.
Obras como de Maria Regina Celestino de Almeida e Lúcio Tadeu Mota devem ser
usadas para opôr, confrontar pensamentos como os expostos na referida
reportagem da revista Veja, mostrando os dois lados de uma mesma história, na
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qual por mais de cinco séculos o indígena só foi visto por um único lado. Que ainda
permanece em alguns setores da sociedade, que não sabem ou dizem não saber do
verdadeiro e importante papel do indígena na formação de nossa sociedade.
Mas de nada adianta que apenas um pequeno círculo de pensadores e
pesquisadores das faculdades e universidades discutam, construam e desconstruam
o conhecimento sobre o indígena, se este não for levado ao conhecimento de toda a
sociedade pra que esta também possa mudar seu modo de enxergar o índio, ou pelo
menos tenha a possibilidade de poder vê-lo de um outro prisma. E seja capaz de
aceitar a presença do indígena na sociedade e desconstrua a imagem do pobre
individuo que foi derrotado, aculturado e destituído de suas terras, e que agora só
incomoda o desenvolvimento da nação brasileira.
Para tanto eventos como a semana Vídeo Índio Brasil se fazem imprescindíveis para
que passemos a conhecer melhor o outro e a aceitar as diferenças como algo
normal e saudável, pois a partir do conhecer do outro podemos nos conhecer
melhor.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Maria Regina Celestino. Metamorfoses indígenas: identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro .RJ:Arquivo Nacional, 2003. ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ. Oficío. Delegado de Ponta Grossa, Domingos Ferreira Pinto. Curitiba, 12 jan 1879 COUTINHO, Leonardo. PAULIM, Igor. MEDEIROS, Júlia Farra da antropologia oportunista, Veja, São Paulo, 2163, p 53 67. 05 de maio de 2010. FEBVRE, Lucien. Combates pela História. Lisboa, Presença, 1986. FREYRE, Gilberto. Casa grande e senzala. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1969. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1978. MOTA, Lúcio Tadeu. Os Kaingang do vale do rio Ivaí :história e relações interculturais / Lúcio Tadeu Mota , Éder da Silva Novak. Maringá: Eduem, 2008. PRADO JUNIOR, Caio. Historia econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1993.
ROCHA, R.; BRUMES, K. R. Fernandes Pinheiro-PR: treze anos após a emancipação
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
FERNANDES PINHEIRO-PR: TREZE ANOS APÓS A EMANCIPAÇÃO
ROSIMEIRI ROCHA1 KARLA ROSÁRIO BRUMES2
Resumo: O presente trabalho tem como foco Fernandes Pinheiro no Paraná com uma população total de 5696 habitantes. A pesquisa tem permitido compreendê-la a partir de sua emancipação em 1995. Para isto, tem se buscado analisar esta pequena cidade observando como se estrutura em vários setores após a emancipação que surge em decorrência de alianças que visavam a busca do poder local, ou seja, nosso objetivo é entender como a cidade se mantém após a emancipação. Os discursos neste sentido, em especial os políticos, se fizeram presentes no momento de repassar a ideia da emancipação à comunidade. Nesta pesquisa utilizou-se como procedimentos, a investigação bibliográfica, os dados estatísticos fornecidos pela prefeitura municipal, sites governamentais e entrevistas. Temos constatado que Fernandes Pinheiro encontra-se, em estágio inicial de desenvolvimento após 13 anos de emancipação já que é muito dependente de municípios próximos em especial Irati, o centro local no contexto da região Centro Sul do Paraná. A Confederação Nacional dos Municípios – CNM (2010) afirma que os municípios-filho não ganham em prosperidade diante da emancipação municipal, contudo, em Fernandes Pinheiro este comportamento não se mantém. Os dados levantados até o momento demonstram que desde a emancipação, há uma melhoria significativa no acesso aos serviços básicos de saúde e educação se comparados ao período anterior à sua autonomia. Palavras-chave: Pequenas cidades, Emancipação, Poder local
1 Discente do curso de Geografia de Irati – DEGEO/I – e-mail: [email protected] 2 Docente do curso de Geografia de Irati – DEGEO/I – e-mail: [email protected]
FERREIRA, S. C. Pensando Guarapuava à luz dos Planos Nacionais e Estaduais de Desenvolvimento e da teoria pata
estudos de cidades médias
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PENSANDO GUARAPUAVA A LUZ DOS PLANOS NACIONAIS E ESTADUAIS DE DESENVOLVIMENTO E DA TEORIA PARA ESTUDOS DE
CIDADES MÉDIAS
SANDRA CRISTINA FERREIRA1 Resumo: Apresentamos nesse texto uma discussão que objetiva destacar como os planos de desenvolvimento do Paraná até a década de 1970, principalmente a PDU-PR (Política de Desenvolvimento Urbano do Paraná), definidas e implantada em 1972, contribuiu para o desenvolvimento socioeconômico e espacial diferenciado entre as cidades de porte médio paranaenses selecionadas pelo programa do Governo Federal denominado Programa Nacional de Apoio às Capitais e Cidades de Porte Médio (PNCCPM) integrado ao II Plano Nacional de Desenvolvimento, quais sejam: Londrina, Maringá, Cascavel, Ponta Grossa, Paranaguá e Guarapuava e, como tais cidades, se apresentam frente a possibilidade de desempenho de funções de cidade média na rede urbana paranaense. Palavras-chave: Rede urbana, Cidade de porte médio, Cidade média, Paraná
Introdução
Na década de 70, do século XX, o Governo Federal, por meio de políticas públicas
de ordenamento territorial, começou a incentivar a interiorização e dinamização de
áreas tidas como estagnadas com a finalidade de criar novos centros de
desenvolvimento no território, frear a migração rumo às metrópoles e incentivar o
desenvolvimento de cidades de porte médio. O Programa Nacional de Apoio às
Capitais e Cidades de Porte Médio – o PNCCPM -, integrante do II PND, por meio da
Comissão Nacional de Regiões Metropolitanas e Política Urbana do Ministério de
Planejamento (CNPU), estabeleceu intervenções de acordo com os objetivos
governamentais.
Essa Comissão, para fins metodológicos, dividiu as cidades de porte médio
brasileiras em dois grandes grupos: um formado pelas cidades integradas à rede
urbana e, o outro, pelas cidades situadas às margens das redes urbanas
hierarquizadas. O primeiro grupo de cidades foi representado por capitais que
estavam sob a influência da metrópole, localizadas predominantemente no Sul e
Sudeste do país. O segundo grupo foi constituído por cidades de porte médio,
caracterizadas como centros terciários das zonas de agricultura tradicional, que são
as cidades que servem de ponto de apoio às zonas de colonização agrícola, as
1 Docente do Departamento de Geografia da UNICENTRO – Guarapuava. [email protected].
FERREIRA, S. C. Pensando Guarapuava à luz dos Planos Nacionais e Estaduais de Desenvolvimento e da teoria pata
estudos de cidades médias
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cidades essencialmente administrativas e as cidades que canalizam produtos
básicos destinados à exportação (PONTES, 2000).
Para Rochefort (1998, p.93), as ações de desenvolvimento das cidades de porte
médio objetivavam desenvolver, prioritariamente, “algumas cidades para refrear o
crescimento das metrópoles e, à medida que as cidades são escolhidas no interior
do território, levar para esses espaços subdesenvolvidos atividades e homens que
permitam um desenvolvimento da economia regional.” Nesse sentido, os
investimentos foram pontuais e, entre as cidades escolhidas, nem todas tiveram
participação efetiva na proposta. No caso de Guarapuava, localizada na região
Centro Sul do Paraná, a divergência entre os objetivos das políticas de
desenvolvimento nacional e estadual, não a favoreceu no sentido da formação de
um eixo disseminador de desenvolvimento socioeconômico e espacial.
Assim, nesse texto apresentamos uma discussão que tem por objetivo destacar
como as principais medidas da PDU-PR (Política de Desenvolvimento Urbano do
Paraná), definidas e implantadas em 1972, contribuíram para o desenvolvimento
socioeconômico e espacial diferenciado entre as cidades de porte médio
paranaenses selecionadas para participarem do PNCCPM, quais sejam: Londrina,
Maringá, Cascavel, Ponta Grossa, Paranaguá e Guarapuava, diferenciando-as
também, quanto à posição que ocupam na rede urbana paranaense e a
possibilidade de desempenho de funções de cidade média.
Para tanto, apresentamos uma breve discussão teórica sobre a implantação do
referido programa federal e os planos estaduais; sobre a diferença entre cidade de
porte médio e cidade média, assim como, as reflexões entorno da noção de cidade
média. Não pretendemos esgotar aqui esse tema, tam pouco apontar as cidades
como sendo ou não médias, mas, inseri-las na discussão, trazendo a tona a cidade
de Guarapuava como centro desse debate.
Estudos sobre cidades de porte médio e médias no Brasil
Além de fazerem parte de planos de governo, as cidades de porte médio,
continuaram como objeto de preocupação, sendo estudadas por outros profissionais
no campo das pesquisas científicas; entre estes, geógrafos brasileiros têm se
dedicado à investigação e publicações sobre o tema. Diversos trabalhos como os de
Santos (1993, 2003), Amorim Filho (1976), Amorim Filho, Serra (2001), Soares
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estudos de cidades médias
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(2000, 2001, 2005), Pontes (2000) Sposito (2001, 2007), Andrade e Lodder (1979),
Andrade, Serra (2001), Steinberger e Bruna (2001), dentre outros, têm estimulado
debates sobre as cidades de porte médio e sobre cidades2 médias no intuito de
compreendê-las e contribuir com pesquisas empíricas com reflexões teórico-
metodológicas que destas partam. Tais trabalhos abrem espaço tanto para uma
necessária distinção das cidades de porte médio das cidades médias quanto para as
particularidades observáveis em cada cidade que se encontre num dado patamar
demográfico ou numa dada situação de intermediação.
Nos anos da década de 1970, Andrade e Lodder (1979) definiram como critério
norteador para o tamanho das cidades o número de habitantes considerando:
pequenas até 50 mil habitantes; porte médio de 50 mil a 250 mil habitantes, grandes
de 250 mil a 2 milhões de habitantes, metrópoles, acima de 2 milhões de habitantes.
Em estudo mais recente, Andrade & Serra (2001, p.129) adotaram parâmetros
demográficos mais amplos para a definição de cidades de porte médio, ao
considerarem centros com população entre 50 e 500 mil habitantes divididos em
cidades com população entre “50 a 100mil, 100 a 250 mil e 250 a 500 mil
habitantes”, não fazendo exceção entre cidades com posições distintas na rede
urbana e trabalhando, inclusive, com aquelas inseridas em regiões metropolitanas.
Amorim Filho e Serra (2001) tomaram para os estudos o critério do tamanho
demográfico, considerando como cidades de tamanho médio aquelas com
população urbana entre 100 mil e 500 mil habitantes. Essa é também a definição
adotada pelo IBGE, desde 1990. Para a PNCCPM, no momento de sua implantação,
na década de 1970, as cidades consideradas de porte médio eram aquelas
aglomerações com população entre 50 mil a 250 mil habitantes.
Além da dificuldade de definição de um parâmetro demográfico para a cidade de
porte médio, outra questão relevante em torno dessas cidades incide no emprego da
terminologia cidade média em referência à cidade de porte médio. Soares (2005,
p.2) destaca a diferença entre ambas, esclarecendo que “[...] as diferenças entre
cidades de porte médio, que considera o tamanho demográfico, e cidades médias,
regionais ou intermediárias, cuja compreensão passa por um caminho metodológico
2 As cidades previstas para essa fase foram Campos (RJ), Manaus (AM), Porto Velho (RO) Rio Branco (AC) e as aglomerações foram Aracaju (SE), Caxias do Sul (RS), Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha (CE), Londrina e Maringá (PR), Maceió e Arapiraca (AL) e João Pessoa (PB)
FERREIRA, S. C. Pensando Guarapuava à luz dos Planos Nacionais e Estaduais de Desenvolvimento e da teoria pata
estudos de cidades médias
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mais complexo, tendo em vista seu caráter funcional, influência regional, existência
de equipamentos urbanos e políticas publicas de preservação, entre outros”.
A cidade média exige mais que o número de habitante para sua definição e o
emprego desse parâmetro para defini-la, além de insuficiente, pode representar
equívocos uma vez que, algumas cidades [...], com número inferior de habitantes,
podem exercer funções de cidades médias em regiões menos desenvolvidas e
urbanizadas (AMORIM FILHO; BUENO; ABREU, 1982, p.35); assim, nem sempre
uma cidade de porte médio é uma cidade média e da mesma forma uma cidade
média não necessariamente deve apresentar porte médio no sentido demográfico.
Para qualificar uma cidade como média, além do tamanho populacional, deve-se
observar o papel que a mesma desempenha na rede urbana regional e em outras
escalas da rede, sua funcionalidade urbana (indústrias, comércio e serviços), a
relação com a região onde está situada, a complexidade de equipamentos urbanos e
a infraestrutura. A qualidade de vida oferecida por uma cidade média reflete a
singularidade que esta possui ao concentrar características tanto de pequenas
cidades como de grandes (SANTOS, 1997). A oferta de bens e serviços associada a
fatores como segurança e qualidade ambiental são importantes indicadores que
auxiliam na classificação de uma cidade média. Para Sposito (2001), existem outros
indicadores importantes para a definição de cidade média; conforme a autora, pode-
se caracterizar as cidades médias afirmando que,
a classificação delas, pelo enfoque funcional, sempre esteve associada à definição de seus papéis regionais e ao potencial de comunicação e articulação proporcionado por suas situações geográficas, tendo o consumo um papel mais importante que a produção na estruturação dos fluxos que definem o papel intermediário dessas cidades. (SPOSITO, 2001, p.635)
Nesse sentido, além dos dados secundários as pesquisas empíricas são
imprescindíveis para a obtenção de informações referentes ao consumo e que
demonstrarem as interações espaciais, sejam materiais ou imateriais, estabelecidas
no âmbito da rede urbana. As redes urbanas redefiniram a inte,r-relação entre as
cidades, inserindo-as dentro de uma escala de importância, sendo que cada cidade
se constitui numa “função” (SANTOS, 1996) dentro da rede, função diferenciada, já
que as redes apresentam desigualdade em sua formação e uso.
FERREIRA, S. C. Pensando Guarapuava à luz dos Planos Nacionais e Estaduais de Desenvolvimento e da teoria pata
estudos de cidades médias
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O aumento do número de cidades de porte médio no Brasil coincidiu com o período
em que se fortaleceu o processo industrial e se constituiu um mercado consumidor a
partir do Sudeste, tendo como marco cronológico a década de 1970. Com a
expansão e intensificação do meio técnico-científico-informacional, o papel dessas
cidades foi ampliado, assim como a rede urbana tornou-se mais difusa e complexa,
permitindo a ampliação das interações espaciais entre as redes de cidades por meio
da circulação, possibilitada pela telecomunicação e transporte, incidindo em novas,
multidirecionadas e intensas redes de fluxos.
Reafirmamos que isso não significa que todas as cidades apresentaram essas
transformações em igual intensidade, mas, certamente, essas reestruturações
causaram alterações significativas não só no padrão de acumulação como também
na organização espacial. Houve repercussão sobre o processo de urbanização no
âmbito da rede e consequentemente no arranjo da hierarquia urbana, que não se
define por um padrão rígido, fato que torna ainda mais complexo o estabelecimento
de critérios, os encaminhamentos metodológicos e a definição conceitual de cidade
média por critérios além do demográfico, que inserem atributos qualitativos à
análise.
Nessa perspectiva de discussão Amorim Filho e Serra (2001) apontam três grandes
problemas geográficos e socioeconômico, que, entre outros, estiveram na raiz da
preocupação com o tema das médias e pequenas cidades na década de 1970:
a exacerbação de problemas de desequilíbrios urbano-regionais, o agravamento das condições de qualidade de vida nas grandes aglomerações urbanas, bem como um aumento acelerado dos problemas sociais aí verificados; a frágil organização hierárquica das cidades e, obviamente, o fluxo insuficiente das informações e das relações socioeconômicas nas redes urbanas da maior parte dos países do mundo, com reflexos negativos sobre o funcionamento dos sistemas político-econômicos. (AMORIM FILHO e SERRA, 2001, p.5)
Frente ao contexto apresentado pelos autores, e a partir das intervenções
governamentais por meio do PNCCPM no Brasil, na década de 1970, e das
mudanças socioeconômica internacional e nacional houve o estímulo às redefinições
territoriais. Assim, na década de 1990, renasceu fortemente o interesse pelas
cidades médias, não mais apenas como concentradoras de população constituindo
barreira aos fluxos demográficos em direção às metrópoles e capitais, mas, com
funções mais complexas na região ou na rede urbana de que fazem parte.
FERREIRA, S. C. Pensando Guarapuava à luz dos Planos Nacionais e Estaduais de Desenvolvimento e da teoria pata
estudos de cidades médias
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Para Pontes (2000 e 2001), o papel das denominadas cidades médias ou
intermediárias na organização urbana está sofrendo profundas transformações,
tendo em vista o atual ambiente da globalização. Essas transformações dizem
respeito ao notável incremento populacional e econômico que tais cidades vêm
apresentando, refletindo quase que simultaneamente nos mais altos padrões de vida
por elas apresentados.
No entanto, quando se trata de empreender uma pesquisa sobre cidades médias,
estabelecem-se algumas variáveis norteadoras da análise como as que denotam a
intensidade de fluxos ou intensidade de demanda; a extensão ou alcance espacial
das áreas de influência de cada cidade e a disponibilidade de equipamentos
funcionais, como verificado em pesquisa sobre a repercussão das mudanças no
processo produtivo capitalista sob as cidades médias nordestinas (PONTES, 2006,
p. 336-337).
A diversificação do consumo, conforme exposto acima, constitui as cidades médias
em lugares ideais para a localização de serviços, distribuição de bens e terceirização
de tarefas, atividades que exigem uma mão-de-obra mais especializada. Desse
modo, as cidades médias estão se tornando, dado o ritmo de seu crescimento, o
local de concentração da técnica e do trabalho intelectual, atividades necessárias
para o desenvolvimento da economia de sua região, de sua hinterlândia (CORRÊA,
2007).
Sobre a complexidade que envolve tal objeto, Sposito (2001, p.632) enfatiza a
situação geográfica como um dos elementos determinantes dos papéis
desempenhados pelas cidades médias na rede urbana, quanto ao consumo, e que
tal situação, “dependerá das infraestruturas que articulam cada cidade média a
diferentes sistemas de circulação ou às redes de comunicação que possibilitam o
consumo à distância.” Por isso, a modernização da estrutura de transportes e
comunicações é primordial para uma cidade intermediária exercer os papéis que a
caracterizam, permitindo a sobreposição de redes, o movimento dos fluxos
independente de uma hierarquia rígida e a locomoção de pessoas para consumir
determinados bens e serviços.
Outras questões referentes à localização geográfica devem ser considerados, como
o isolamento ou a proximidade com outros centros urbanos de maior centralidade. O
isolamento em uma determinada região, por exemplo, pode tanto estimular quanto
dificultar sua atuação como cidade média. Por um lado, o estímulo acontece quando
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a cidade consiste no principal centro de atração da população de seu entorno e,
além disso, desenvolve atividades econômicas que atendam a contento essa
população. Por outro, o isolamento acarreta em dificuldade quanto a urbe não
apresenta uma dinâmica econômica que a torne atrativa para seu entorno e
competitiva com outros centros, mesmo que distantes. Também quando o contexto
em que está inserida apresenta características socioeconômicas que limitam a
capacidade de consumo dos habitantes como baixo IDH, atividades econômicas
com menor geração de empregos e valor de mercado.
Além disso, a cidade tem sua capacidade de atuação limitada se estiver sob a
influência direta ou indireta de uma metrópole nacional, metrópole regional, de uma
capital estadual ou se posicionar próxima a uma importante cidade com melhor
infraestrutura em serviços e oferta de bens, exercendo, assim, maior centralidade na
rede urbana. Portanto, a classificação de uma cidade média envolve questões como:
o tamanho demográfico, a formação socioespacial, a localização geográfica, a oferta
de bens e serviços, o setor industrial desenvolvido com atividades voltadas para
segmentos modernos da economia, população com potencial de consumo,
infraestrutura em redes modernas de transportes, telecomunicações, equipamentos
urbanos como shoppings centers, super e hipermercados, estabelecimentos de
ensino superior e pós-graduação, índices favoráveis às questões de segurança e
qualidade ambiental.
Acrescentamos que a existência de infraestrutura em transportes e comunicação
pouco contribui para o desenvolvimento socioespacial se não for utilizada, ou seja,
se a população residente nesse dado recorte, devido ao poder aquisitivo, tiver a
frequência de deslocamentos e de consumo inviabilizados. A referida autora enfatiza
ainda que a importância de uma cidade média “tinha e, ainda tem, relação direta
com a área sobre a qual ela é capaz de exercer influência, [...] ou a área a partir da
qual alguém está disposto a se deslocar até uma cidade média para nela ter acesso
ao consumo de bens e serviços” (SPOSITO et al, 2007, p. 37).
Dessa maneira, entendemos que uma cidade de porte médio localizada numa região
com predominância de pequenos centros locais com menos de 50 mil habitantes,
caracterizada como uma região socialmente crítica e economicamente inexpressiva,
depara-se com limitações significativas para a atuação como cidade média. Mesmo
polarizando alguns serviços como saúde e educação, a oferta de bens e serviços
fica restrita aos padrões de consumo de sua população e do seu entorno.
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Um setor industrial reduzido e atividades ligadas à exploração vegetal e a
segmentos tradicionais, madeira, papel, alimentos, bebidas, diminui a possibilidade
de geração de empregos formais e de riquezas para o município. Embora em menor
quantidade, os grupos sociais de maior poder aquisitivo existentes, como os
servidores públicos, comerciantes e a própria elite política e econômica, favorecidos
pelas redes de transportes, podem optar pelo deslocamento a centros maiores e
melhor equipados para satisfação de suas necessidades ou desejos concernentes
ao lazer, serviços especializados e mercadorias mais sofisticadas. Ao mesmo tempo,
por meio da comunicação virtual, acessar mercados on line evitando o deslocamento
material, atribuindo novo sentido a relação espaço-tempo. Segundo Sposito (2001,
p.630),
Podemos concluir que as relações, com base nas quais se considera a situação geográfica de uma cidade estão, na atualidade, medidas por duas escalas – a das distâncias espaciais e a da conectividade que as redes de transmissão de informações possibilitam – expressando a indubitável indissociação entre espaço e tempo.
Portanto, destaca-se como característica ímpar das cidades médias a capacidade de
exercer função articuladora com a demanda regional, resultando numa necessidade
metodológica a consideração tanto da continuidade quanto da contiguidade
(SPOSITO et al, 2007), definida pelas interações materiais e imateriais. Nesse
sentido, entre cada cidade média existem singularidades no espaço e no tempo em
que se localizam (SOARES, 1999, SPOSITO, 2007), levando à diferenciação de
papéis e função na rede urbana.
No contexto da globalização econômica, segundo Santos e Silveira (2001, p. 281),
as cidades, sobretudo, as médias, “constituem cada vez mais, uma ponte entre o
global e o local, em vista das necessidades de intermediação e da demanda também
crescente de relações”. A integração espacial de tais cidades foi incrementada, tanto
com seu espaço contíguo, assegurando hierarquizações como centros regionais,
quanto com cidades de hierarquia superior, em decorrência das especializações
produtivas, que impuseram complementaridades regionais e nacionais, resultando
no surgimento de uma rede de relações, marcada tanto pela contiguidade como pela
descontiguidade territorial (SANTOS, SILVEIRA, 2001). A desconcentração das
atividades industriais para as cidades médias tem revelado que essa categoria de
cidade passou a receber unidades de produção de grupos capitalizados, sobretudo,
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aquelas que podem associar uma boa qualidade de vida a mercados complexos,
sendo assim, atrativos para profissionais qualificados (SPOSITO, 2001).
Sobre a construção do objeto de estudo denominado cidade média, para Corrêa
(2007, p.23), ainda, “trata-se de uma expressão vaga, aberta a múltiplos significados
e impregnada do idealismo que a concebe como um ideal a ser alcançado,
apresentando as vantagens da pequena cidade sem ter, contudo, as desvantagens
das grandes”; por tais motivos, a noção é de difícil conceituação.
Sobre os planos nacionais e estaduais de desenvolvimento As medidas de caráter interurbanas almejavam que as cidades, ao expandirem sua
capacidade produtiva e o mercado da região por elas liderado, apresentassem
economias de aglomeração. Para tanto, pretendia-se localizar equipamentos
terciários de alcance regional como hospitais, universidades, shoppings centers e
oferecer incentivos, afim de atrair capitais industriais para as cidades selecionadas.
Ao mesmo tempo, previa-se uma atuação intraurbana nas áreas carentes de tais
cidades com a pavimentação de ruas, extensão da rede de transportes coletivos,
construção de postos de saúde e áreas de lazer, supondo-se que essa seria uma
maneira de redistribuir renda. Além disso, a assistência técnica, a ser fornecida às
prefeituras, visava preparar as administrações locais para orientar o crescimento
físico-territorial e ser mais eficiente na prestação de serviços urbanos, garantindo-
lhes, portanto, condições de se auto-gerenciar (BRUNA & STEINBERG,1984).
O programa, em 1974, envolveu 39 cidades. Entre 1978 e 1980, ampliou-se com
cidades distribuídas pelas cinco macrorregiões nacionais, que contabilizavam uma
população total de 13,5 milhões de pessoas residentes nas sedes dos municípios,
segundo o Censo de 1980. Dentre essas, a Sudeste e a Nordeste tiveram maior
número de cidades beneficiadas.
Tais medidas, segundo Bruna (1984, p.36), objetivavam alcançar uma população de
18,2 milhões, quando incluídos os habitantes das áreas polarizadas pelas cidades
beneficiadas. A partir de 1982, os recursos consignados ao programa no orçamento
da União foram insuficientes para montar uma programação consistente em nível de
cidades de porte médio. A paralisação do PNCCPM (Programa Nacional de Apoio às
capitais e Cidades de Porte Médio) não só comprometeu o andamento de diversas
obras como redundou na interrupção de um processo de trabalho já aceito pelos
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estados e municípios. Com o início do governo da Nova República, poucas cidades
tiveram continuidade nos programas de desenvolvimento para as cidades de médio
porte, que tiveram o encerramento em 1986. Como proposta do novo governo, em
1987, o programa passou a ser denominado “Fortalecimento de Núcleos Urbanos
Intermediários” e segundo Bruna, et al. (1984, p.53), a proposta não logrou grandes
êxitos até os anos de 1990, quando encerrou.
O programa de 1977 a 1980 esbarrou em dificuldades para a concretização de seus
objetivos. Em grande parte, além da escassez de recursos frente aos objetivos, pela
homogeneidade com que foram tratadas todas as cidades, sem levar em conta, as
especificidades quanto aos problemas urbanos e sociais, nem todas conseguiram
alcançar o fortalecimento previsto (BRUNA et al, 1984, p.55).
Até os anos 1960, o Paraná encontrava-se desarticulado em relação às suas
próprias regiões e à economia nacional. Sua base econômica estava ligada ao
extrativismo, à pecuária extensiva e a uma agricultura incipiente, destinada aos
mercados locais com a região do Norte Central sediando a principal base econômica
do Estado. Com o intuito de promover o desenvolvimento econômico do Paraná,
alguns planos foram implementados criando as condições necessárias para o
desenvolvimento industrial, dentre os quais destacaremos quatro como relevantes
para a consolidação socioeconômica do Paraná e a atual distribuição das cidades de
porte médio que configuram a rede urbana paranaense.
Na década de 1950, foi criado o Desenvolvimento do Estado do Paraná (PLADEP),
que se pautava nos tradicionais benefícios fiscais e financeiros, no entanto, nesse
momento, essa primeira tentativa de industrializar o Estado não se consolidou, mas,
criou perspectivas para o avanço de políticas nesse sentido. Nos anos de 1960, foi
criada a Companhia de Desenvolvimento do Paraná (CODEPAR), com o objetivo
principal de financiar a infraestrutura básica em energia, comunicação, rede de
transportes, ferrovias, adequação do Porto de Paranaguá para a modernização do
Estado, e assim dinamizar o escoamento da produção agrícola, ao mesmo tempo
em que estruturava o território (leia-se Curitiba e eixos rumo a Londrina, Maringá,
Ponta Grossa e Cascavel) para o recebimento da indústria.
É a partir da década de 1970 que ocorre no Paraná a reversão do centro econômico
de Londrina para Curitiba com a implantação da CIC (Cidade Industrial de Curitiba)
com o recebimento das plantas industriais da Volvo e New Rolland. Enquanto isso, o
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eixo Londrina e Maringá se tornava uma das porções do Estado de maior densidade
populacional e crescimento econômico.
A Política de Desenvolvimento Urbano do Paraná (PDU), formulada em 1972,
subsidiada pelos planos anteriores foi fundamental na distribuição das
infraestruturas e definição dos eixos de desenvolvimento espacial no Paraná,
quando estabeleceu que além de Curitiba, de Londrina e Maringá, regiões Oeste e
Sudoeste despontavam como áreas de potencialidade econômica (MOURA, 2009).
A política citada propôs três alternativas para o fortalecimento da rede de cidades: o
sistema polinuculear, com reforço a centralidades identificadas; o sistema biaxial,
com reforço aos eixos de exportação, integrando-se às metas do I Plano Nacional de
Desenvolvimento (PND); e um sistema tripolar, com o fortalecimento de três polos de
grande dinamismo (que de certa forma estavam explícitos nos três sistemas
propostos, de maneira que,
O primeiro polo compreende a cidade de Curitiba, somado à potencialidade do Centro Industrial da Transformação de Ponta Grossa. O segundo polo é formado pelas cidades de Maringá e Londrina, as quais dariam atendimento a todo o Norte do Estado. O terceiro polo fica no eixo das cidades de Cascavel e Guaíra provocando a concentração daquelas atividades necessárias a suportar e impulsionar o dinamismo do Sudoeste e do Oeste paranaense. (PARANÁ,1974, p.41)
As política de desenvolvimento que sucederam estas que brevemente destacamos
até a década de 1970, fortaleceram as referidas áreas promovendo a manutenção
das principais cidades de cada eixo (Curitiba, Londrina, Maringá, Cascavel, Ponta
Grossa como as maiores centralidades do Estado, segundo estudos do IPARDES
(2004, 2005, 2006) e do IBGE/REGIC(2000, 2008). O Plano de Desenvolvimento
Urbano de 1972, implantado no Paraná, divergiu da proposta do Governo federal
quanto a cidade de Guarapuava, de maneira que tal cidade teve menor participação
nas políticas e consequentemente, menor desenvolvimento.
Não obstante às políticas de desenvolvimento Estadual e Federal, é importante
ressaltar que, o papel dos agentes sociais locais principalmente a atuação das
representações políticas e econômicas atribui significativo peso às questões de
desenvolvimento socioeconômico, tendo em vista que, são vários os agentes que
promovem a produção do espaço entre eles o Estado em diferentes níveis de poder,
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o Capital seja público ou privado e, não menos importante, os agentes sociais que
atuam em escala local regional, articulando tais recortes à outras escalas.
A discussão desse texto, apresenta um viés para o entendimento da cidade de porte
médio ou média na rede urbana, sendo que, outras questões como a formação
socioespacial, a participação da elite empreendedora e as representações políticas
devem ser incorporadas em produções científicas mais amplas.
Principais questões desenvolvidas com a discussão apresentada No caso das cidades paranaenses mencionadas no programa Federal, o Governo
Estadual deu sustentação política e financeira desencadeando processos
socioespaciais que transformaram o perfil do Paraná, nas últimas décadas, em um
Estado eminentemente urbano, tendo a concentração econômica e populacional nas
cidades de porte médio e na capital. Por meio do PDU do Paraná, na década de
1970, foram identificadas as cidades que deveriam se converter nas principais
polaridades paranaenses, apoiadas pelos investimentos propostos pelo I PND do
Governo Federal, delineando, assim, o percurso para a consolidação das mesmas.
Entre as cidades elencadas no PDU/PR, Guarapuava não fazia parte como no
PNCCPM, mas, somente Londrina, Maringá, Cascavel, Ponta Grossa e Paranaguá.
Em Londrina e Maringá, grandes projetos imobiliários e um sistema de circulação
foram indutores das aglomerações e centros que atualmente se localizam entre elas
e articulam espacialmente a porção Norte do Estado. Essas cidades, no decorrer do
tempo, têm atraído investimentos comerciais, industriais e de serviços, integrando-se
à economia nacional e internacional por meio de atividades industriais modernas,
dentre elas, o setor de telefonia, informática, química, mecânica entre outras (Moura,
2004).
Cascavel, no Oeste do Estado, emerge do processo concentrador da atividade
econômica, particularmente a industrial, nos anos 1990, fortemente impulsionada
pela atividade agroindustrial, e rapidamente se aproxima da participação mantida
pelo Norte Central na economia paranaense (IPARDES, 2005 e 2006). Paranaguá
tem sua importância intensificada pelas atividades portuárias beneficiando-se da
rede de infraestruturas que interligam-na a Curitiba. No entanto, tem sua
centralidade ofuscada pela proximidade com a capital. Ponta Grossa, assim como
Paranaguá tem seu papel reduzido frente à demanda regional pela proximidade com
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Curitiba, mas, devido ao amplo setor industrial, apresenta atividades comerciais e de
serviços diversificados (IBGE/REGIC, 2008).
Resultados alcançados
Embora contemplada pelo plano Federal, a despeito das ações governamentais,
Guarapuava demonstrou menor desenvolvimento frente às demais urbes
paranaenses participantes do mesmo plano Federal. Em Guarapuava não ocorreu o
desenvolvimento do setor industrial para novos segmentos, permanecendo as
tradicionais atividades desempenhadas vinculadas principalmente à madeira,
alimentos e bebidas segundo a Federação das Indústrias do Estado do Paraná
(FIEP, 2010).
A consolidação desse quadro entre as cidades paranaenses pode ser atribuída a
duas questões em especial: a divergência de objetivos entre as políticas de
desenvolvimento Federal e Estadual e as especificidades da formação
socioespacial, considerando ainda a atuação dos agentes locais quanto aos
interesses político-econômicos para o desenvolvimento da cidade.
As medidas adotadas em relação ao fortalecimento das cidades de porte médio
tinham por objetivo na época em que foram pensadas, eliminar ou minimizar a
macrocefalia como característica da urbanização brasileira e evitar a proliferação de
um “deserto brasileiro”3. No Paraná, a dispersão das cidades e populacional não foi
totalmente eliminada. As redes de energia, telecomunicações, as rodovias e
ferrovias que interligam as principais cidades do Paraná até ao porto de Paranaguá,
não foram suficientes para a promoção do desenvolvimento socioespacial no Centro
do Estado que se caracteriza segundo os estudos do IPARDES (2004, 2005, 2006,
2008) como uma área socioeconomicamente crítica e carente de investimentos que
favoreçam uma reversão dessa condição.
As transformações socioespaciais ocasionadas pela desconcentração, ampliação e
diversificação das atividades industriais, modernização e capitalização do campo e a
urbanização, intensificadas após a década de 1970, propiciaram a reconcentração
das atividades econômicas no Paraná que incidiu sobre as cidades selecionadas
3 Michel Rochefort (1998) empregou a expressão “o deserto francês” ao fazer referência ao caso da macrocefalia na França em função da existência no contexto regional de grande cidade e uma extensa área com ausência de cidades ou com diversas pequenas cidades distribuídas distantes umas das outras.
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pelo Governo Estadual para constituírem os chamados polos de desenvolvimento,
sendo estas as cidades de porte médio com características mais evidentes de
desempenho de funções de cidade média.
Tendo em vista a análise sobre cidade média, precisamos considerar que nem todas
as cidades que correspondem a essa classificação são necessariamente polos
industriais. Isso também justifica que, independente das diferenças apresentadas em
relação às outras cidades paranaenses apresentadas, Guarapuava constitui
possibilidade de desempenho de funções de cidade média na região e por isso,
investigações mais precisas devem ser realizadas.
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O CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO DAS EMBALAGENS DE AGROTÓXICOS E A LOGÍSTICA REVERSA
ANTONIO ANSELMO DE PAULA1 ROBERTO FRANÇA DA SILVA JUNIOR2
Resumo: A competitividade empresarial inerente ao atual período histórico atinge recentes “ramos de atividade”, entre os quais, a “necessidade” de reciclar produtos, transformando os circuitos espaciais de produção. Neste trabalho, analisamos o circuito espacial de produção de materiais recicláveis, a partir das embalagens vazias de agrotóxicos. A principal técnica que intermedeia a existência desse circuito é a logística reversa, um dos mais novos instrumentos corporativos no setor de movimentação de mercadorias no espaço geográfico. Do ponto de vista normativo, as embalagens de agrotóxicos devem ter uma destinação adequada, de acordo com a Lei 9974/00. Diante desses fatores técnico-normativos, se estabeleceu no país o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev), que foi criado com a finalidade de gerir a destinação final de embalagens vazias de agrotóxicos, representando a indústria fabricante de produtos fitossanitários. Na “região Centro-Sul” do Paraná, a Associação Centro-Sul de revendedores agroquímicos (ACESA), vem atuando também no sentido de atuar nesse gerenciamento das embalagens vazias. A única empresa responsável pela movimentação das embalagens vazias de agrotóxicos, com a finalidade de reciclagem é a Luft, que realiza a logística reversa, exercitando um monopólio nesse “business ambiental”. Diante desses atores, mais os agricultores, analisaremos o circuito do ponto de consumo (produção) até o ponto de reciclagem das embalagens de agrotóxicos, com base em pesquisa qualitativa, compreendendo a logística enquanto prática corporativa e o circuito espacial de produção como estratégia do capital, evidenciando a importância da circulação. Palavras-chave: Logística, Circulação, Competitividade
1 Aluno do curso de licenciatura em Geografia da Unicentro, campus de Irati. 2 Professor Doutor do Departamento de Geografia da Unicentro, campus de Irati.
JESUS, E. M. F.; BRUMES, K. R. Os discursos, o poder a realidade: como se formou Fernandes Pinheiro?
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
OS DISCURSOS, O PODER A REALIDADE: COMO SE FORMOU FERNANDES PINHEIRO?
ELIS MARINA FERREIRA DE JESUS1 KARLA ROSÁRIO BRUMES2
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo entender o porquê do interesse do então distrito de Teixeira Soares, Fernandes Pinheiro, em se tornar um município independente. O início das emancipações municipais no Brasil deu-se por volta da década de 1930, intensificando-se entre 1950 e 1960, sendo restringida durante o governo militar no período de 1970 e 1980, e intensificando-se novamente após o término desse período, porém, com a Constituição Federal de 1988, priorizam-se as descentralizações em unidades administrativas territoriais menores, afim de que fiquem mais próximas do cidadão, e o governo possa identificar e conhecer melhor as necessidades locais. Para entender como se deu este processo utilizamo-nos de entrevistas, realizadas com os senhores Elias Francisco Loos e João Vilmar Antunes Guimarães, pessoas envolvidas no processo da emancipação e que eram moradoras de Fernandes Pinheiro, porém, ocupavam cargos dentro da Prefeitura de Teixeira Soares. Estes, no ano de 1995 iniciam o processo em prol da emancipação política e têm o apoio da população que a partir de propostas de melhoria na qualidade de vida votam a favor da criação do novo município. Hoje com quatorze anos, Fernandes Pinheiro, teve melhoras em alguns aspectos de infraestrutura, porém a população ainda depende de outros municípios, principalmente Irati, para realizar muitas das atividades básicas, como supermercado e lojas. Palavras-chave: Discurso, Poder, Fernandes Pinheiro
1 Discente do 4 ano do curso de Geografia de Irati – DEGEO/I – e-mail: [email protected] 2 Docente do Departamento de Geografia de Irati – DEGEO/I – e-mail: [email protected]
RIGONI, E. Dados preliminares sobre o contexto histórico político do Município de Irati-PR
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
DADOS PRELIMINARES SOBRE O CONTEXTO HISTÓRICO POLÍTICO DO MUNICÍPIO DE IRATI-PR
EMERSON RIGONI1
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo descrever a gênese do município de Irati e as diversas composições do poder político local ao longo de sua história. A partir dessa apresentação almeja-se compreender como se deu a formação política da cidade em diferentes épocas e ciclos. Outro momento que se destina o trabalho é apresentar os dados preliminares que contemplam o projeto de pesquisa intitulado “Geografia e política: a construção histórica dos territórios de poder na cidade de Irati – PR”. Para tal, utilizam-se como instrumento de informação as diversas composições pelo qual o poder político local passou desde sua formação até a atualidade, ou seja, o referencial para essa análise é composto por dados obtidos junto à Câmara Municipal de Irati, Prefeitura Municipal de Irati, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Tribunal Regional Eleitoral (TER) e a obra Irati do historiador local José Maria Orreda. Entretanto não serão elencadas apenas as composições do executivo, mas também o legislativo, pois o mesmo, em determinadas fases, apresentou atores que marcaram suas passagens pelo poder político iratiense. Num primeiro momento será feita a exposição do contexto histórico da formação de Irati seguido uma apresentação un passant, entre os anos de 1907 a 1982. Em seguida será dada uma maior ênfase a partir da eleição de 1982, momento do aparecimento dos personagens políticos que construíram o contexto temporal proposto pela pesquisa. Vislumbra-se com isso desvelar quais são esses “territórios de poder” que fazem parte da história política local. Palavras-chave: Poder político local, Atores políticos, Grupos políticos, Territórios de poder
1 Docente do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste – Campus Irati: [email protected]
BRANDALIZE, F. F. A formação dos blocos econômicos: considerações sobre a União Européia e o MERCOSUL
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
A FORMAÇÃO DOS BLOCOS ECONÔMICOS: CONSIDERAÇÕES SOBRE A UNIÃO EUROPÉIA E O MERCOSUL
FÁTIMA FURMANOWICZ BRANDALIZE1
Resumo: O desenvolvimento e as transformações provenientes da expansão do capitalismo no pós Segunda Guerra Mundial, tendo as multinacionais como principal característica deste processo, contribuíram para a formação de uma nova ordem mundial, caracterizada pela mundialização do capital. Assim, instituições supranacionais, como os blocos econômicos, surgem como estratégia dos Estados Nacionais para enfrentar a diminuição de seus poderes estatais e, buscar o fortalecimento de suas políticas externas. A União Européia constitui-se o exemplo mais avançado de bloco econômico, dentro da economia global, enquanto, o Mercosul, engatinha neste processo, longe de ser um bloco homogêneo, capaz de representar uma identidade unificada de seus Estados membros. Palavras-chave: Capitalismo, Multinacionais, Blocos econômicos, União Européia e Mercosul
INTRODUÇÃO Após a Segunda Guerra Mundial houve um amplo desenvolvimento do capitalismo e
as multinacionais passaram a ser características deste processo. Segundo Oliveira
(2005) as multinacionais são a expressão de um capitalismo, que depois da crise do
imperialismo, moldou novas formas de organização interna e de relações de
trabalho, que permitiram superar as contradições geradas pela disputa de mercados
e fontes de matérias – primas entre as empresas nacionais. O domínio e a expansão
destas empresas envolvem a necessidade de movimentos internacionais de capitais,
produção capitalista internacional e existência de ações de governos em nível
internacional, que decorrem da necessidade da intervenção do Estado na economia
e na definição de projetos de cooperação internacional. Assim,
as instituições internacionais constituem uma realidade do mundo pós – Segunda Guerra Mundial. A criação da ONU (Organização das Nações Unidas), do Banco Mundial, do FMI (Fundo Monetário Internacional), entre outros, e a presença de organismos supranacionais (os blocos econômicos), formados por governos nacionais empenhados numa economia internacionalizada,
1 Acadêmica do curso de Licenciatura em Geografia, na Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, Campus Universitário de Irati. E-mail: [email protected]
BRANDALIZE, F. F. A formação dos blocos econômicos: considerações sobre a União Européia e o MERCOSUL
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passaram a compor cada vez mais o capitalismo que se mundializava. (OLIVEIRA, 2005. p.245)
Portanto, podemos considerar que o desenvolvimento e as transformações
provenientes da expansão do capitalismo contribuíram para a construção de uma
nova ordem mundial, caracterizada pela mundialização do capital. Como
consequência, temos a globalização da economia e da sociedade baseada na
expansão do capitalismo e comandada pelo crescente domínio das corporações
transnacionais.
A formação dos blocos econômicos, como uma forma de governo internacional,
deve-se como estratégia dos Estados nacionais para enfrentar a diminuição de seus
poderes estatais em detrimento da mundialização do capitalismo, e a necessidade
de adequar suas políticas econômicas internacionais “à tendência de
internacionalização do capital e do trabalho pela empresa multinacional”. (OLIVEIRA,
2005.p.245)
O processo de globalização transformou as relações econômicas e as funções do
Estado. E, assim, a globalização tem se caracterizado por duas tendências postas: a
regionalização e a globalização2.
A regionalização configura-se na formação dos blocos econômicos regionais que
surgem como laço de integração de economias e estabelece restrições à entrada de
produtos de outras áreas que não pertencem ao mesmo bloco. E, ao mesmo tempo
temos o processo de globalização que busca integrar os mercados, eliminando o
protecionismo e as fronteiras.
A relação regional/ mundial esta presente na tendência de os blocos fazerem
alianças de comércio entre si, de tal modo que pertencer a um deles significa para
um país ter acesso ao mercado de um bloco aliado3.
BLOCOS ECONÔMICOS
Segundo Bezerra4 os blocos econômicos são associações de países, em geral, de
uma mesma região geográfica que estabelecem relações comerciais privilegiadas 2 BEZERRA JÚNIOR, Wilson Fernandes. O comércio internacional e os blocos econômicos. Disponível em: <www.nead.unama.br/site/bibdigital/pdf/artigos_revistas/251.pdf > . Acesso em: 10/05/10. 3 PETRI, Fernanda Calil ; WEBER, Beatriz Teixeira. Os efeitos da globalização nos processos de integração dos blocos econômicos. Revista dos alunos do Programa de Pós – Graduação em Integração Latino- Americana – UFSM- v.2, nº2, 2006. Disponível em: < www.ufsm.br/mila/publicacoes/reppilla/edicao02-2006/2006%20%20artigo%205.pdf > Acesso em: 10/05/10. 4 Idem nota 2.
BRANDALIZE, F. F. A formação dos blocos econômicos: considerações sobre a União Européia e o MERCOSUL
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
entre si e atuam de forma conjunta no mercado internacional .
A formação de blocos econômicos visa uma integração regional de países para atuar
nas relações da economia mundializada. A criação dos blocos visa em primeira
instância a criação de uma zona de livre comércio, onde há a redução ou eliminação
das alíquotas de importação entre os países membros e associados do bloco
econômico.
Em um segundo momento de sua trajetória o bloco assumirá a forma de uma união
aduaneira (a exemplo do Mercosul), que corresponde a uma etapa de integração
econômica na qual os países membros de uma zona de livre comércio adotam uma
mesma tarifa às importações provenientes de mercados externos, a Tarifa Externa
Comum , podendo também, adotar políticas econômicas comuns .
E, em nível mais elevado da integração há a constituição de um mercado comum,
onde há a livre circulação de pessoas (trabalhadores ou empresas) e,de outro, a
livre circulação de capitais (investimentos e remessas de lucro, entre outros). A livre
circulação implica a abolição de todas as barreiras fundadas na nacionalidade e a
instituição de uma verdadeira condição de igualdade de direitos em relação aos
nacionais de um país.5 E, por fim a adoção de uma união monetária. A União
Européia é o exemplo de bloco mais avançado, tendo alcançado o mercado comum,
encontra-se no processo de implantação da união monetária, embora já tenha
constituído a chamada zona do euro, esta ainda não abrange todos os países
pertencentes a este bloco.
Mas, estas relações de integração fazem com que o grau de interdependência das
economias dos países seja elevado, fazendo com que uma crise, por exemplo, que
ocorra em um dos países membros possa afetar os demais.
UNIÃO EUROPÉIA E MERCOSUL – BREVES CONSIDERAÇÕES O primeiro bloco econômico aparece na Europa, com a criação, em 1957, da
Comunidade Européia – CEE (que mais tarde se tornaria a União Européia). Mas a
tendência de regionalização da economia só é fortalecida nos anos 90: o
desaparecimento dos dois grandes blocos da Guerra Fria, liderados por Estados
5 SIMÕES, Regina Célia Faria; MORINI, Cristiano. A ordem econômica mundial.: Considerações sobre a formação de blocos econômicos e o Mercosul. Disponível em: < www.unimep.br/phpg/editora/revistaspdf/imp31art07.pdf 01/06 >. Acesso em: 12/05/10.
BRANDALIZE, F. F. A formação dos blocos econômicos: considerações sobre a União Européia e o MERCOSUL
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Unidos e União soviética, acaba estimulando a formação das zonas independentes
de livre comércio, um dos aspectos do processo de globalização.6
Desde 1993 a União Européia forma um espaço econômico, financeiro e monetário
único. Constituindo uma área onde as fronteiras nacionais não são obstáculos à livre
circulação das mercadorias, das pessoas e do capital. A unificação da moeda única
formou a chamada zona do euro, que inclui pelo menos 16 países dos 27 que a
compõe. Com a constituição deste espaço ampliaram-se as relações comerciais e,
deixou de existir uma nacionalidade para constituir-se uma cidadania européia.7
A União Européia está enfrentando uma grave crise interna, tendo como um dos
fatores de impulsionamento a dívida pública de seus Estados e a corrupção interna.
A visão de integração da União Européia faz a crise adquirir um caráter mais
alarmante, porque devido ao processo de interdependência dos Estados, acredita-se
que a crise possa afetar todos os outros Estados. Ou seja, a crise grega poderia se
espalhar pelos demais Estados e constituir um colapso do mercado europeu. Mas,
não é só a Grécia o problema da União Européia, Espanha, Portugal, Irlanda e Itália,
também apresentam problemas, talvez não tão sérios quantos os gregos, mas que
exigem atenção.
A crise que assola a União Européia pode atingir um caráter preocupante, frente a
importância deste bloco dentro da economia global. Mas, se considerarmos a
perspectiva de Fiori8 sobre as crises, em especial, a enfrentada pelos Estados
Unidos, após a década de 70, podemos ter outra visão desta crise.
Para Fiori (2008), o sistema mundial é um universo em expansão contínua na luta
pelo poder global, onde criam-se ao mesmo tempo, “ordem e desordem, expansão e
crise, paz e guerra”. Sendo que as “crises econômicas e guerras não são,
necessariamente, um anúncio do 'fim' ou do 'colapso' dos Estados e das economias
envolvidas”. (p.34)
As crises atuam como fatores modificantes da estrutura geopolítica e econômica das
potências, dentro do sistema mundial. Para Fiori (2008), a crise prevista como um
colapso dos Estados Unidos, na verdade, funcionou como uma alavanca para seu
desenvolvimento e, firmou sua posição de hegemonia mundial. Portanto, a crise da
União Européia pode ser um fator para a consolidação da posição do bloco na busca
6 BEZERRA JÚNIOR, Wilson Fernandes. O comércio internacional e os blocos econômicos. Disponível em: <www.nead.unama.br/site/bibdigital/pdf/artigos_revistas/251.pdf > . Acesso em: 10/05/10. 7 Informações disponíveis em Sua pesquisa .com . Disponível em:<www.suapesquisa.com/uniaoeuropeia/> 8 FIORI, José Luis. O sistema interestatal capitalista no inicio do século XXI. In MEDEIROS, Carlos Aguiar de. O mito do colapso do poder americano. Rio de Janeiro : Record, 2008.
BRANDALIZE, F. F. A formação dos blocos econômicos: considerações sobre a União Européia e o MERCOSUL
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da hegemonia mundial.
O Mercosul (Mercado Comum do Sul) foi, inicialmente, constituído pelo Brasil,
Argentina, Uruguai e Paraguai no Tratado de Assunção, assinado em 1991. O
Tratado estabelece que a partir de 1º de janeiro de 1995 “fica implantado de forma
definitiva a livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os países,
através da eliminação das barreiras tarifárias e não – tarifárias e do estabelecimento
de uma tarifa comum em relação aos outros países de fora do Mercosul.”
(OLIVEIRA, 2005.p.263). Busca-se também, pelo mesmo tratado chegar a uma
“harmonização das legislações”. (p.263). Atualmente, também, a Venezuela
constitui-se como membro do Mercosul.
O Mercosul em sua gênese constitui uma zona de livre comércio e, a partir desta
estabeleceu uma política comercial dos países membros em relação a outros,
estabelecendo uma tarifa externa comum e tornando-se uma união aduaneira. “Esta
visa, segundo a meta original do tratado de Assunção, a constituição de um mercado
comum (…) base indispensável de projetos mais ambiciosos ao estilo europeu.”
(ALMEIDA, 1998. p.2-3)
Segundo Almeida (1998) o Mercosul pressupõe um sistema de governo
democrático, deixando de ser um projeto de exclusivas questões de ordem
econômica ou comercial para buscar uma forma de organização política e social em
permanente transformação, em que se possa “mudar profundamente a vida dos
povos desta região.”(p.05).União Européia e o Mercosul se parecem quando da
imposição da condição democrática para que um Estado se torne e se mantenha
membro.9 A democracia é indiscutivelmente o princípio fundador do Mercosul, e disso estão plenamente conscientes os seus governos. Quando, em Abril de 1996, se deu a tentativa de golpe de Estado do general Oviedo no Paraguai, o Mercosul reagiu como um todo, e tornou claro que não seria tolerável que um Estado pusesse em causa a legitimidade democrática do conjunto. O perigo que correu a democracia no Paraguai levou à adoção pelo Mercosul de uma cláusula democrática, expressa na Declaração Presidencial sobre o Compromisso Democrático no Mercosul, de Junho de 1996, onde se considera não só que toda a alteração da ordem democrática constitui um obstáculo inaceitável para a continuidade do processo de integração, como também são previstas sanções que podem ir da suspensão à expulsão do Estado em que se verifique um atentado
9 Álvaro Vasconcelos. Relação entre a União Européia e o Mercosul: fundamentos de um novo multilateralismo. Disponível em:< www.ieei.pt/files/UE_Mercosul_Novo.Vasconcelos.Relacoes_UE_Mercosul.pdf >
BRANDALIZE, F. F. A formação dos blocos econômicos: considerações sobre a União Européia e o MERCOSUL
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grave à democracia.10
Apesar dos objetivos da Mercosul se assimilarem aos do Mercado Comum Europeu,
existe uma grande diferenciação entre eles. Os países membros da União Européia
renunciaram, de certa forma, à parte de sua soberania, especialmente em relação as
políticas comerciais, agrícolas e industriais, concedendo mais funções de decisão à
Comissão Européia (órgão supranacional da União Européia ). Já o Mercosul não
prevê a formação de órgãos supranacionais que tenham caráter de unificação de
suas políticas internas, para chegar ao Mercado comum. Mas segue este caminho,
através de uma estrutura intergovernamental dentro das características da união
aduaneira.
Segundo Almeida (1998) a ausência de órgãos de caráter supranacional dificulta a
efetivação dos objetivos de um mercado comum, pois as normas do Mercosul só se
tornam efetivas se todos os Estados adotarem e realizarem os procedimentos de
execução e administração pertinentes em seu próprio ordenamento legal e
constitucional.
Assim, fica-nos uma questão: será que os países membros do Mercosul estão
dispostos à formação de um mercado comum, em que teriam que renunciar,
progressivamente, à parte de sua soberania nacional em favor de uma soberania
regional? Há de considerar que esta é uma questão bastante complexa, visto que o
Mercosul não possuí homogeneidade em relação às expressões políticas e
comerciais, entre outras características próprias de cada Estado membro.
Teria, o Mercosul, vontade de adotar verdadeiramente, o caráter integracionista e
buscar, antes de mais nada, a eliminação de diferentes interesses políticos e
econômicos dentro de sua organização interna e , definir, concretamente, seus
objetivos comuns e, constituir uma personalidade única frente à economia mundial?
Talvez, a formação de órgãos supranacionais, semelhantes ao modelo europeu, não
fossem de todo ruim para o fortalecimento do Mercosul como um bloco de influência
no plano mundial. Mas, há de se convir, que em detrimento das diferentes
características políticas e econômicas de seus Estados membros, este seria um
processo bastante complexo.
Em relação a uma união monetária no Mercosul, para a formação de uma zona
semelhante a do euro, deve-se, antes de mais nada concretizar, primordialmente, o
10 Idem nota 9.
BRANDALIZE, F. F. A formação dos blocos econômicos: considerações sobre a União Européia e o MERCOSUL
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projeto de integração que consolide uma “identidade político, regional e
internacional, em face dos desafios hemisféricos e multilateral” dentro do capitalismo
global. (ALMEIDA, 1998.p.35). É muito prematuro se falar em uma moeda única em
um território que ainda não conseguiu homogenizar, nem mesmo, seus interesses
políticos e econômicos para atender seus objetivos de se tornar um mercado
comum.
Segundo Almeida (1998) o Mercosul deve seguir em direção aos objetivos de
mercado comum e “servir de anteparo aos atropelos políticos, sociais e econômicos
do processo de globalização”. (p.41). Sendo o Mercosul uma obra em construção de
um espaço econômico sul americano integrado, para atuar no contexto mundial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS A nova ordem mundial, caracterizada pelas relações capitalistas internacionalizadas,
a intensificação do processo de globalização e, a intervenção das multinacionais,
contribuem para a associação de países, na busca da integração regional que
possibilite um papel mais expressivo frente à economia mundial.
Portanto, a formação de blocos econômicos vem a ser uma articulação de
fortalecimento dos Estados, que através de uma integração regional passam a atuar
na esfera mundial. A consolidação destes blocos depende de um conjunto de fatores
que vão desde o comportamento das multinacionais até os interesses e/ou
características políticas e econômicas dos Estados nacionais.
Para a completa integração dos Estados membros dentro de um bloco econômico,
há a necessidade de um comprometimento com objetivos comuns, e a renúncia
progressiva da soberania nacional, em nome de uma identidade única. A União
Européia constitui o modelo mais avançado de bloco econômico e, a crise interna
que vem enfrentando pode ser um alicerce para sua consolidação na posição de
hegemonia mundial, a exemplo dos Estados Unidos.
Já o Mercosul, constitui uma união aduaneira com muitos problemas para atingir seu
objetivo de se tornar um mercado comum. Precisa, antes de mais nada, consolidar
seu projeto de integração e resolver os impasses gerados por diferentes interesses
políticos e econômicos entre seus Estados membros. Para depois, constituir uma
identidade regional fortalecida capaz de impor sua posição frente à esfera mundial.
BRANDALIZE, F. F. A formação dos blocos econômicos: considerações sobre a União Européia e o MERCOSUL
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Assim, concluímos que a integração se torna necessária para atuar como uma
proteção contra os efeitos negativos da globalização. Através dela, os países se
fortalecem para enfrentarem a concorrência internacional, característica da nova
ordem econômica mundial da atual fase capitalista.
Referências Bibliográficas: ALMEIDA, Paulo Roberto de. Mercosul: fundamentos e perspectivas. Brasília: Grande Oriente do Brasil, 1998. BEZERRA JÚNIOR, Wilson Fernandes. O comércio internacional e os blocos econômicos. Disponível em: <www.nead.unama.br/site/bibdigital/pdf/artigos_revistas/251.pdf > . Acesso em: 10/05/10. FIORI, José Luís. O sistema interestatal capitalista no início do século XXI. In: MEDEIROS, Carlos Aguiar de. O mito do colapso do poder americano. Rio de Janeiro: Record, 2008. OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. A mundialização do capitalismo e a Geopolítica mundial no fim do século XX. In: ROSS, Jurandyr L. Sanches (org.). Geografia do Brasil. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2005. PETRI, Fernanda Calil; WEBER, Beatriz Teixeira. Os efeitos da globalização nos processos de integração dos blocos econômicos. Revista dos alunos do Programa de Pós – Graduação em Integração Latino-Americana – UFSM- v.2, nº2, 2006. Disponível em: < www.ufsm.br/mila/publicacoes/reppilla/edicao02-2006/2006%20%20artigo%205.pdf > Acesso em: 10/05/10. SIMÕES, Regina Célia Faria; MORINI, Cristiano. A ordem econômica mundial.: Considerações sobre a formação de blocos econômicos e o Mercosul. Disponível em: < www.unimep.br/phpg/editora/revistaspdf/imp31art07.pdf 01/06 >. Acesso em: 12/05/10. SUA PESQUISA.COM. Disponível em: < www.suapesquisa.com>. Acesso em: 12/05/10 VASCONCELOS, Álvaro. Relação entre a União Européia e o Mercosul: fundamentos de um novo multilateralismo. Disponível em: < www.ieei.pt/files/UE_Mercosul_Novo.Vasconcelos.Relacoes_UE_Mercosul.pdf >. Acesso em: 12/05/10.
ZARPELON, F.; BRANDALIZE, F. F.; SANTOS, L. K. Os movimentos sociais no campo: uma resposta à produção capitalista
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
OS MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO: UMA RESPOSTA À PRODUÇÃO CAPITALISTA
FLAVIANA ZARPELON1
FÁTIMA F. BRANDALIZE2 LETÍCIA KROL SANTOS3
Resumo: O capitalismo expandiu-se pelo mundo, ultrapassando fronteiras, etnias e classes sociais, aplicando-se em lugares jamais tocados ou alcançados, áreas urbanas e rurais. As contradições e desigualdades implantadas por este modelo econômico e suas consequências sociais resultaram na expropriação dos camponeses. Desta forma, entre outros fatores, a questão da reforma agrária e os movimentos sociais, como a Contag e o MST aparecem como formas de resistência dos camponeses expropriados ao modelo imposto, que formaliza a estrutura latifundiária e a modernização agrícola, excluindo as formas de produção camponesas, que reivindicam o direito a terra e a políticas públicas que ofereçam condições de nela permanecer e dela sobreviver.
Palavras-chave: Capitalismo, Campesinato, Movimentos sociais Introdução O processo de expansão do capitalismo não privou o campo da influência de seus
processos de contradição, seja nas relações de produção ou nas formas de
apropriação e manutenção da terra, gerando conflitos entre camponeses e
latifundiários.
O campesinato, segundo Wanderley (1996), corresponde a um modo de produção e
tipo de vida dentro de uma sociedade, como um elemento particular da agricultura.
Entretanto, no campesinato brasileiro é possível identificar fundamentos particulares,
resultantes históricos de enfrentamentos sócio-culturais, como é o caso dos sem-
terra. Este, ao mesmo tempo em que trabalha na terra, assume-se como
proprietário, tornando estreitas relações entre família, trabalho e terra. Desta forma,
o campesinato é a formação social com base familiar que se dedicam à agricultura4.
Assim, os camponeses, enfrentaram o processo de expropriação capitalista através
1 Acadêmica do curso de Licenciatura em Geografia, na Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, Campus Universitário de Irati. E-mail: [email protected] 2 Acadêmica do curso de Licenciatura em Geografia, na Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, Campus Universitário de Irati. E-mail: [email protected] 3 Acadêmica do curso de Licenciatura em Geografia, na Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, Campus Universitário de Irati. E-mail: [email protected] 4 MST – Movimento dos Sem-Terra. Disponível em: http://www.mst.org.br. Acesso em: 16/03/2010.
ZARPELON, F.; BRANDALIZE, F. F.; SANTOS, L. K. Os movimentos sociais no campo: uma resposta à produção capitalista
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
de suas organizações e lutas de resistência ao modelo imposto e suas relações de
desigualdades. O processo de resistência dos trabalhadores do campo remete ao
contexto de formação das classes sociais e da acumulação de posses dentro da
sociedade capitalista. Lutam pelo direito de entrar em um pedaço de chão, nele
permanecer e prover seu sustento. A compreensão do campesinato e da questão
agrária torna-se fundamental para entendermos os processos sociais de resistência
originados no campo, como a CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores
na Agricultura), o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) e a Via
Campesina.
Os movimentos sociais no campo são formas de manifestação camponesa perante a
sociedade e o Estado, reivindicando seus direitos de posse de terra. São
manifestações contra latifúndios, que enfatizam a modernização agrícola e o
aumento da produção no campo, desconsiderando as formas camponesas de
produção. Mas, suas lutas vão muito além da oposição aos latifúndios, é uma luta
contra o sistema econômico e a estrutura social implantados, que geram
desigualdades. É uma luta social e política pelo direito a terra.
Camponeses e o processo de resistência O surgimento dos processos de resistência no campo está associado ao avanço do
capitalismo. E, é importante entender estes processos para compreender a questão
agrária. Segundo FABRINI, em síntese, o campesinato apresenta as seguintes
características:
a subordinação do camponês às relações capitalistas na circulação da produção, a base familiar na organização produtiva e, sobretudo, o seu potencial e capacidade de luta e resistência à imposição de modelos de organização social externos ao seu modelo de vida.(2003, p.21)
Os camponeses assumem uma forma que defende a importância da estrutura
familiar, com seus saberes e conhecimentos, perante outras formas sociais. Desta
forma, a família prove seu próprio alimento e a sua reprodução dentro do mesmo
âmbito, constituindo, assim, seu patrimônio familiar (WANDERLEY, 1996). Portanto,
os camponeses desenvolvem atividades de criação de animais e plantações
agrícolas. Estas só podem ser realizadas pelos membros da família, que dividem as
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atividades a serem realizadas, conforme a intensidade da atividade, que serão
passadas às gerações posteriores. Desta forma, realizam atividades que poderão
ser executadas no recinto familiar, identificando sua autonomia e garantindo sua
reprodução na sociedade.
Entretanto, os camponeses estão inseridos num território onde outras formas e
organizações sociais se encontram, formando uma relação mais ampla do que o
círculo familiar. Sendo assim, existe certa coletividade, onde os aspectos culturais
das famílias e grupos sociais se fundem, onde os conhecimentos se dispersam e há
a possibilidade de que outras formas sociais possam aparecer, inclusive gerando
conflitos.
Todavia, juntamente com a queda do feudalismo, o capitalismo surge como novo
sistema econômico. Este ultrapassa toda barreira, toda fronteira e se instala em todo
lugar, até mesmo no campo. Novas formas de produção camponesas foram
implantadas, máquinas surgiram para realizar o trabalho antes realizado por mãos
humanas, alterando as formas de plantio e de criação de animais. Todavia, alguns
camponeses resistiram, outros migraram e, outros ainda, envolveram em atividades
rurais não agrícolas, como o artesanato (ASSIS, 2005).
Para Fabrini, a questão agrária na obra marxista é apresentada “por meio da renda
da terra, ou seja, do ‘mecanismo’ que confere caráter capitalista ao campo.” (2003,
p.22). Ressalta–se que para Marx a questão agrária está “fundamentada na grande
propriedade e dominação do capitalismo sobre a agricultura”. (2003, p.25).
1 - renda fundiária é um produto social do capitalismo, da mesma forma que qualquer outro produto da sociedade burguesia (sic); 2 - a propriedade fundiária além de não ser um produto estranho ao modo de produção capitalista é, ao contrário, ‘um resultado da produção capitalista’. Marx precisa, em outra passagem, que a ‘forma moderna de propriedade fundiária’ resulta do investimento do capital na agricultura (AMIN e Veergopoulos, 1986, p. 54 Apud FABRINI, 2003, p. 25).
Assim, podemos considerar que no processo de resistência, “a revolta do camponês
atinge o capitalismo e não só os proprietários de terra, ou seja, atinge o ‘mecanismo’
de transferência de renda para o capitalismo (bancos, indústria, comércio).”
(FABRINI, 2003, p.33). Assim, a luta camponesa não é uma luta contra os
proprietários de terra, em si, mas contra a estrutura social que permite que as
desigualdades capitalistas sejam evidenciadas.
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Breve histórico das lutas camponesas no Brasil Por volta de 1850, se inicia no Brasil o processo capitalista de apropriação das
terras, consequência da Lei das Terras, que estipula a posse das terras através da
compra de títulos do governo. “Ou seja, o Estado, por meio de legislações
especificas, concentrará o poder de transformar as terras em propriedades
privadas”. (SILVA, 2004, 17). Segundo o mesmo autor, a Lei das Terras vinha como
barreira para a apropriação livre das terras que aconteciam neste período sob a
forma de posse. E, os preços estipulados para a compra eram altos, de forma que
trabalhadores e imigrantes não tivessem a possibilidade de adquiri-las.
Imigrantes estes que vinham, neste momento, ocupar o lugar dos escravos, a
serviço dos grandes proprietários de terra. Mas o fim da escravatura no Brasil não
significou novas condições de sobrevivência no campo. Os trabalhadores do campo
eram tratados em condições muito distintas dos trabalhadores assalariados. Devido
ao tratamento que recebiam podiam ser considerados colonos, parceiros ou
arrendatários. Aqui destacamos os colonos, ou camponeses, que viviam em colônias
praticamente em troca da subsistência, poucos recebiam pagamentos em dinheiro
pela força de trabalho empregada por eles e suas famílias.
Já no inicio do século XX, na região Sul “os imigrantes italianos, alemães e
poloneses desenvolveram a agricultura familiar, com base nos projetos de
colonização instaurados [...]” (SILVA, 2004, p. 20). A agricultura familiar, desprovida
da modernização tecnológica, predomina no Brasil até meados de 1950, quando se
inicia discussões políticas pela modernização agrícola, para uma equiparação ao
urbano, considerado industrializado.
O regime militar foi, em grande parte, responsável por este processo de
modernização. Houve a introdução de máquinas e a presença de empresas
nacionais e internacionais que dominavam a expansão capitalista. Este período
apresentou um processo elevado da modernização agrícola e um aumento
considerável na produção do país. Mas, consequentemente, este processo ocorreu
por meio da exploração dos “pobres do campo” (SILVA, 2004.) que trabalhavam em
condições próximas de escravos, e a violência frustrava as tentativas de
resistências. Segundo Silva (2004) o processo de modernização agrícola: “assentou-
se no tripé: militarização da questão agrária, expropriação de camponeses e
aumento da exploração dos trabalhadores […]”. (p. 22).
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Os movimentos de luta pela terra, de resistência camponesa surgem muito antes da
formação do movimento dos trabalhadores sem-terra (MST). A história agrária
brasileira retrata um cenário de contradições e de opressão dos trabalhadores rurais.
Após a década de 1950, os movimentos camponeses passam a ganhar força,
deixando de ser meramente localizados, para englobar uma massa de camponeses
dispostos a oferecer resistência ao sistema de opressão, na luta pela terra, pelo
direito de entrar nela e dela sobreviver. Segundo Fabrini (2001), a discussão da
reforma agrária ganha ênfase na década de 1960, sob a influência do Partido
Comunista. Mas, a reforma era vista sob a visão de que seria o fim dos latifundiários
e, alteraria toda a estrutura sócio-econômica estabelecida, o que desagradou a
muitos, que davam à proposta de reforma agrária caráter de uma “revolução
socialista”. As dificuldades dos camponeses em consolidar um movimento eram
muitas, principalmente, pelo fato de não possuírem voz política. Muitas tentativas de
reformas fracassaram, como por exemplo, a proposta da Liga Camponesa, que
segundo Fabrini (2001) tentava por meios legais, alterar a estrutura oligárquica que
concentrava a maior parte das terras.
Durante o período militar houve a formação do Estatuto da Terra que vinha,
sobretudo, conter as revoltas populares. As opressões do projeto desenvolvimentista
militar acabaram por agravar a situação no campo, aumentando apoio aos que
lutavam pela redemocratização do país. No Brasil, período de Ditadura Militar, o
governo implantou no país os mecanismos capitalistas, com o intuito de desenvolver
a produção e igualar-se aos mercados internacionais. Além das áreas urbanas, o
campo também foi afetado por este sistema, iniciando-se pelas regiões Sul e Centro-
Oeste. Esse fato alterou completamente a visão que se tinha do território. A partir
deste período, o governo estimulou a implantação de cooperativas e as relações
entre produtores rurais e agroindustriais.
Houve no campo a reprodução do trabalho capitalista a partir dos bóias-frias,
mesclando com as relações de produção familiar, como os camponeses (OLIVEIRA,
1998). Logo, os camponeses que não trabalharam para os médios e grandes
proprietários, mudaram-se para a cidade a fim de encontrar novos meios de
sobrevivência, pois muitas pequenas propriedades se tornaram grandes,
concentrando terras e despovoando o território, a partir do monocultivo.
Apesar de o Brasil ser um país que apresenta vasta extensão territorial, muitas lutas
têm se originado com o intuito de adquirir um pedaço de chão. Muitas famílias que
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não possuem terra clamam pela sobrevivência, enquanto muitos latifundiários gozam
de grandes porções territoriais; resultando em conflitos diários. Estas crises
agravaram-se com a mecanização agrícola, concentrando grandes propriedades de
terra em contraste da miséria e da pobreza camponesa. Os camponeses que
abandonaram ou venderam suas terras e mudaram para a cidade, foram absorvidos
pelas indústrias, enquanto outros perecem na busca pelo ganha pão, trabalhando
como ambulantes e catadores de lixo, por exemplo, enfim trabalhos informais,
agravando ainda mais a miséria do país. Estes não possuem direitos civis nem
sociais, não possuem liberdade e ficam presos neste sistema enquanto esperam por
um milagre governamental.
Outro problema que vem se agravando com este processo de monocultivo é a
exploração de grandes áreas ambientais, áreas onde ocorrem desastrosos impactos
ambientais, como é o caso da Amazônia. A luta pela terra ganha então evidência,
podemos destacar brevemente, neste momento, o papel da CONTAG
(Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) que passa a defender a
proposta de Reforma Agrária, mas seus resultados foram modesto devido,
principalmente, ao jogo de interesses.
Nos anos 70, com a mecanização do campo, fazendeiros adquiriram terras no
Paraguai e na Bolívia, tornando-se grandes sojicultores. Esta atitude fez com que
agricultores sem-terra emigrassem ao Paraguai, tornando-se posseiros.
Posteriormente, houve a criação da usina de Itaipu, que inundou muitas terras na
região, levando muitos camponeses a buscarem apoio do governo. Sem sucesso,
mudaram para o Paraguai, onde receberam ajuda do governo paraguaio que
forneceu terras para que assentassem. Porém, suas terras foram novamente
tomadas, obrigando-os a voltarem para o Brasil, precisamente no norte e oeste
paranaense, originando o MST – Movimento dos Sem-Terra.
Portanto, ao fim da década de 1970, surge o movimento dos sem-terra, com objetivo
de alterar a estrutura vigente no campo.
A origem da luta dos sem-terra tem início no final da década de 1970, por trabalhadores expulsos e expropriados com o processo de 'modernização' ocorrido no campo. Esses trabalhadores, através da ação de resistência, passaram a promover ocupações de grandes propriedades improdutivas, recusando a proletarização (…). Ao mesmo tempo em que ocorre a expulsão e expropriação com a evolução do capitalismo, abre-se a possibilidade de retorno à terra , através de ocupações de terra e lutas de resistência. (FABRINI,
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2001: p.65)
Assim, o movimento dos sem-terra adquire um caráter de resistência popular dos
excluídos, dando uma nova ênfase à luta pela terra. Segundo Fabrini (2001), para o
MST a Reforma Agrária era uma forma de modificar a estrutura de poder. Assim, o
acesso à terra, além de superar a exclusão seria uma forma de obter conquistas
econômicas e políticas. Depois de uma longa caminhada na consolidação do
movimento, o MST, assume uma postura que convoca a todos os segmentos da
sociedade a entrar na luta pela terra. A ocupação de áreas latifundiárias torna-se a
principal prática do movimento na efetivação de suas lutas. A partir da ocupação
passam a constituir os assentamentos.
Movimento dos trabalhadores sem terra – MST
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, também conhecido como
Movimento dos Sem Terra ou MST, é fruto de uma questão agrária que é histórica
no Brasil. Iniciado nas lutas pela terra, que foram retomadas a partir do final da
década de 70, na região Centro-Sul do país e, aos poucos, expandiu-se pelo Brasil
inteiro. O MST teve inicio no período de 1979 a 1984, mas foi criado formalmente no
Primeiro Encontro Nacional de Trabalhadores Sem Terra, que se realizou de 21 a 24
de janeiro de 1984, em Cascavel, no estado do Paraná e tem em seu objetivo
principal a reforma agrária, e vem tratar também da questão da apropriação das
terras improdutivas que servem apenas para a posse de seus donos.
Fernandes (2004) nos apresenta que para o MST crescer também significa
organizar-se nacionalmente, pois acreditam que um movimento em escala local ou
regional apresentaria menos oportunidades que um organizado nacionalmente.
Fernandes, também, nos apresenta a formação territorial do MST realizada em três
períodos: o primeiro, compreendido entre 1979 e 1985; denominado gestão e
nascimento - início das lutas, o segundo compreendido entre 1985 e1990 -
territorialização, o MST se consolida como movimento nacional, e o terceiro -
territorialização e institucionalização do MST ocorre uma territorialização continuada,
visando à recriação do campesinato expropriado pela territorialização do capital, este
terceiro período compreende desde o ano 1990 até os dias atuais.
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Atualmente, o MST está organizado em 24 estados nas cinco regiões do país. A
partir destas lutas e manifestações ao longo destes 25 anos o MST conseguiu
devolver terras para 350 mil famílias, formar mais de 400 associações que utilizam
de trabalho coletivo para produzir alimentos sem agrotóxicos, 2 mil escolas públicas
construídas nos assentamentos garantindo a educação de mais de 160 mil jovens e
adultos, 50 mil adultos alfabetizados e mais de 100 cursos superiores nas
universidades brasileiras5. Porém, o assentamento é o primeiro passo para a
conquista da reforma agrária6. Como os latifúndios assentados não possuem
infraestrutura adequada, depois que os ocupam, os assentados lutam em busca
dessas estruturas básicas (saneamento, luz, água encanada), aí também são
criadas escolas para atender esses assentados, para fazer reuniões e tomarem
decisões. Os assentamentos atendem às necessidades básicas, casa, escola e
alimentação, portanto, alimentos são produzidos nos assentamentos, afim de que
sejam garantidos não somente o direito de melhoria na renda e nas condições de
vida no campo, mas também oferecer alimentos de qualidade.
Podemos considerar que o MST pode ser visto não apenas pelo seu modo de lutar,
e sim por sua luta, isto é, ele esta formando cidadãos que pensam e que agem em
prol de seus direitos e de seu desenvolvimento, nesta perspectiva, podemos
apresentar que o movimento influenciará também no futuro, através de
ensinamentos deixados aos seus descendentes, como nos apresenta Caldart (1999)
ao nos dizer que:
[…] a herança que o MST deixará para seus descendentes será bem maior do que a quantidade de terra que conseguir libertar da tirania do latifúndio; será um jeito de ser humano e de tomar posição diante das questões de seu tempo; serão os valores que fortalecem e dão identidade aos lutadores do povo de todos os tempos, de todos os lugares. ( CALDART 1999)
Desta maneira é que jovens, adolescentes e crianças estão sendo criadas,
educadas e formadas, não apenas em prol da reforma agrária, mas também dos
direitos que têm enquanto indivíduos de uma sociedade. Os movimentos são
estudados e os alunos são estimulados a pensar e dessa forma, criam pessoas que
não se conformam em pensar que a exclusão é a única saída, mas pessoas que vão
5 Nossa História. Publicado em 07 de julho de 2009. Em: http://www.mst.org.br 6Entenda como estamos organizados. Publicado em 10 de junho de 2009. Em: http://www.mst.org.br
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em busca de seus direitos na sociedade. Com isso o movimento nos mostra que são
espaços não somente de lutas, mas também de formação de sujeitos, sujeitos
sociais sem terra.
Caldart nos apresenta que os sem terra educam participando ativamente das lutas e
essa participação é que humaniza as pessoas, isto é, essa participação, segundo
ele devolve à vida social pessoas que se encontravam excluídas, em outra
perspectiva, essa educação “forma indivíduos com postura diante da vida, nada é
impossível de mudar.” (1999)
Neste sentido, o MST visa o auxilio de famílias que são afetadas economicamente
pela mecanização agrícola, contribui para que estas pessoas consigam uma terra
para plantar, cultivar e morar; luta para que a Constituição seja cumprida, além de
requerer uma melhor condição de vida da sociedade brasileira. Entretanto, o
movimento é duramente repreendido pelo governo7. Nesta perspectiva, Fernandes,
(2004) nos apresenta que em seu ponto de vista, o MST não é um partido político,
um sindicato, nem um movimento sindical, é definido como um movimento
sociocultural que tem como objetivo a conquista do território para a sua permanente
recriação. Tendo seu início no período da Ditadura Militar, quando o governo
implantava a mecanização no campo, quando o uso de agrotóxicos era de forma
excessiva, quando as grandes indústrias começavam a ampliar seu poder sobre a
agricultura. Conquistas alcançadas mostram o poder da união, como a Constituição
de 1988, que visa à desapropriação de terras que não cumpram sua função social,
ou seja, acúmulos de terras sem uso.
Os Sem-Terra mostram o valor da solidariedade ao contemplar muitas violências,
mortes e repreensões governamentais ao longo dos anos. Deste o período do
governo Sarney, ao do Fernando Collor e se fizermos também uma revisão histórica
passando pelos governos de Fernando Henrique Cardoso ate chegarmos ao
governo de Luiz Inácio Lula da Silva poderemos constatar o não esforço por parte
dos governos em realmente ajudar os camponeses e em trabalhar em prol da
realização da reforma agrária. Porém, o interesse dos que realmente detinham o
poder é que era realizado. Com o golpe militar de 1964 houve um extermínio de
todos os movimentos camponeses e uma intervenção na Confederação dos
Trabalhadores na Agricultura, a Contag. No governo do presidente José Sarney foi
7 Nossas Lutas e Conquistas. Publicado em 18 de novembro de 2009, em: http://www.mst.or.br
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elaborado o Plano Nacional de Reforma Agrária – PNRA, derrubado posteriormente
pelos ruralistas. Depois surgiu a União Democrática Ruralista (UDR), aliada ao
governo, que derrubou o presidente do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e
reforma Agrária) e impediu que o PNRA fosse implantado. Com a elaboração da
Constituição de 1988 a Reforma Agrária sofreu novo golpe por parte dos ruralistas,
embora aprovada, era necessário uma lei complementar para que ela fosse válida,
portanto, somente em 1993 passou a ser regulamentada a desapropriação de terras,
mas não chegou a se realizar, pois os ruralistas conseguem impedi-la.
Em 1994, Fernando Henrique foi eleito presidente, ele defendia a idéia de que não
existiam mais latifúndios no país e acreditava que assentando as famílias
acampadas acabaria com o problema da Reforma Agrária (FERNANDES 2004). Ao
final de seu primeiro mandato (1998) o número de famílias assentadas subiu de 20
para 76 mil famílias e Fernando Henrique Cardoso não sabia o que deveria fazer. No
inicio de seu segundo mandato criou novas estratégias e políticas agrárias
extremamente opressoras. Na realidade, FHC apenas fez propagandas de seu plano
de política de Reforma Agrária, porém, isso nunca aconteceu no seu governo, pelo
contrario, houve um empobrecimento dos camponeses que foram abandonados pelo
governo sem ao menos conseguirem seus direitos de necessidades básicas para
sobrevivência.
Depois disso, em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente do Brasil.
Desde a vitória de Lula, a mídia vem fazendo um grande alarme sobre os princípios
da Reforma Agrária, porém, o que ela vem mostrando não é a realidade do campo -
estrutura fundiária altamente intensificada, problemas com trabalhadores sem infra-
estruturas, acampados à beira de estradas, empobrecimento e exclusão.
(FERNANDES 2004). A mídia apenas mostra o aumento dos conflitos, mas não suas
reais causas. Depositam a culpa nos movimentos sociais e, principalmente no MST,
convencendo a população de que os problemas são os conflitos, e não o que está
causando os conflitos.
O MST participou da escolha de alguns dos representantes do governo Lula (o
presidente do INCRA, por exemplo), devido a isso e, com o apoio da mídia, os
ruralistas foram contra as idéias política agrária do governo Lula. Rompendo com as
medidas criadas com o governo de Fernando Henrique Cardoso, o PT (Partido dos
Trabalhadores) pressionou Lula a substituir o presidente do INCRA e, com essa
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medida, o PT deixa claro seu objetivo de ter controle político sobre os conflitos
fundiários.
Portanto, para que haja uma política de Reforma Agrária seria necessário
descentralizar a grande concentração fundiária que há no Brasil, fato que nunca
ocorreu em 500 anos de história do país, e ainda tem se intensificado nos últimos
anos, o que vem tornar a Reforma Agrária um objetivo cada vez mais abstrato, com
menos expectativas de se transformar uma realidade. E é nesta realidade que o
governo Lula esta chegando a seu fim, e assim como FHC não conseguiu realizar
uma política de reforma agrária no país, e que devido à intensificação dos conflitos,
das marchas e invasões do MST, Fernandes (2004) vem nos apresentar que: Lula
vem afirmando constantemente na mídia que ninguém fará a reforma agrária “na
marra”, mas não tem afirmado, no mesmo tom, que ninguém impedirá a reforma
agrária na marra.
Nesta realidade, o povo brasileiro espera novamente por um presidente que venha
realmente solucionar os problemas no campo e apresentar condições de vida digna
ao camponês, que também deve ser tratado com respeito assim como os demais
membros da sociedade brasileira, e não ser excluído dessa sociedade simplesmente
porque se organizam e lutam em prol dos seus direitos. Pois um dos princípios do
MST é trazer benefícios também à sociedade, e não apenas aos camponeses.
Conclusão
A história agrária brasileira é tortuosa e favorável à acumulação de terras, ou seja, à
formação dos latifúndios. A partir disso, as políticas agrárias do Brasil não
pretendem auxiliar o desenvolvimento das pequenas propriedades ou facilitar que
sejam adquiridas pelos camponeses, que pretendem desenvolver uma agricultura
familiar. Porque as políticas beneficiam a formação de “indústrias” agrícolas, em prol
do aumento de produção, exigência do sistema capitalista de produção. Em
oposição a esta estrutura vigente, os movimentos sociais no campo são a expressão
de resistência camponesa. A luta dos movimentos sociais, como o MST e a
CONTAG, estão relacionadas à luta pelo direito à terra, à busca de representação
política e, por políticas públicas que beneficiem a Reforma Agrária. Assim, a luta
camponesa assume um papel de resistência que vai muito além da oposição ao
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latifúndio. É uma luta contra o sistema econômico, social e político imposto, que gera
contradições e desigualdades.
Referências:
ASSIS, T. R. de P. Agricultura Familiar e gestão social: ONGs, poder público e participação na construção do desenvolvimento rural. Dissertação. Universidade Federal de Laras: Laras, 2005, 157p. CALDART, R. S. O MST e a formação dos sem terra: o movimento social como princípio educativo. 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?%20script=sci_arttext&pid=S010340142001000300016>. Acesso em 10/05/10 FABRINI, João Edmilson. Assentamentos de trabalhadores sem - terra: experiências e lutas no Paraná. Marechal Cândido Rondon: LGEO, 2001. 140p. ______________ A Resistência camponesa nos assentamentos de sem - terra. Cascavel: Edunioeste, 2003. 275p. FERNANDES, B. M. Vinte anos do MST e a perspectiva da reforma agrária no governo Lula. In OLIVEIRA, A. U. de. E MARQUES, M. I. M. O Campo no século XXI; Território de vida, de luta e de construção da justiça social. São Paulo: Casa Amarela e Paz e Terra, 2004 Movimento dos Sem-Terra. Disponível em: <http://www.mst.org.br> Acesso em: 16/03/10 OLIVEIRA, A. U. de. Agricultura Brasileira: Transformações Recentes. In: ROSS, J. Y. S. (org). Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 2ª edição, 1998. SILVA , Maria Aparecida de Moraes. A luta pela terra: experiência e memória. São Paulo: UNESP, 2004 136p. WANDERLEY, Maria de N. B. Raízes Históricas do campesinato brasileiro. XX Encontro Anual da ANPOCS. GT 17. Processos Sociais Agrários. Caxambu, MG. Out./1996. Disponível em: <http://gipaf.cnptia.embrapa.br/publicacoes/artigo-e-trabalhos/nazareth96-1.pdf>. Acesso em: 16/03/10
ZAKRZEVSKI, G.; SILVA JUNIOR, R. F. O transporte intermunicipal na Região Centro-Sul do Paraná: um enfoque a partir do transporte de
passageiros nos Municípios de Irati, São Mateus do Sul e São João do Triunfo
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O TRANSPORTE INTERMUNICIPAL NA REGIÃO CENTRO-SUL DO PARANÁ: UM ENFOQUE A PARTIR DO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
NOS MUNICÍPIOS DE IRATI, SÃO MATEUS DO SUL E SÃO JOÃO DO TRIUNFO
GILMARA ZAKRZEVSKI1
ROBERTO FRANÇA DA SILVA JÚNIOR2 Resumo: Desde o século XIX, os transportes passaram por rápidas e profundas transformações que alteraram o uso do espaço e do tempo, conseqüentemente modificando as sociedades viventes sob a égide do capital. A partir de então, várias formas de circulação e transportes foram criadas para alterar a relação tempo-espaço, desde o advento do industrialismo. O transporte de passageiros se intensificou com as litorinas (trens voltados para o transporte de passageiros) e com o bonde elétrico. Este último passou por diversas inovações até chegar ao ônibus voltado para o transporte interurbano. No Brasil, o rápido processo de urbanização ocorrido no século XX com intensos fluxos migratórios campo-cidade e interregionais, atrelado ao desenvolvimento do transporte rodoviário, fez com que a matriz de transporte de passageiros no país se tornasse predominante nos dias de hoje. Este fato justifica esta pesquisa, procurando analisar as interações espaciais resultantes do transporte intermunicipal de passageiros a partir de Irati-PR, São Mateus do Sul-PR e São João do Triunfo-PR. Essas interações ocorrem a partir dos seus fluxos intra-regionais, interregionais e interestaduais, constituindo-se atividade fundamental para a economia local. Irati “polariza” esses fluxos em função de sua estrutura de comércio e serviços, tendo São Mateus do Sul, um papel intermediário nesse processo. Palavras-chave: Transporte intermunicipal, Circulação, Território usado
1Discente do 2° ano de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, E-mail : [email protected] 2Docente do departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, E-mail: [email protected]
SANTOS, L. K.; SILVA JUNIOR, R. F. Sistemas e técnicas de comunicação na Região Centro-Sul do Paraná
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VI Semana de Geografia de Irati. O ontem, o hoje e o amanhã: Reflexões Sobre o Espaço Geográfico. 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2010. Irati-PR. FREITAS, A. R. RIGONI, E. e BASSO, L. C. (orgs.)
SISTEMAS E TÉCNICAS DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO CENTRO-SUL DO PARANÁ
LETÍCIA KRÓL SANTOS1 ROBERTO FRANÇA DA SILVA JUNIOR2
Resumo: Historicamente as comunicações são responsáveis pelas interações espaciais mais significativas entre os homens, proporcionando o alargamento do ecúmeno em função das possibilidades de ocupação do espaço, trocas de mercadorias e fluxos de pessoas. A circulação, que atualmente ganha ainda mais vulto com as tecnologias da informação e das comunicações (TIC) é enquadrada no sistema de comunicações em tempo real, formando redes mundiais para a transmissão de dados e informações. No entanto, a partir do exercício de articulação de escalas geográficas, verifica-se um desenvolvimento desigual das técnicas de circulação no mundo, tanto em densidade quanto em qualidade dos sistemas, como é o caso da região Centro-Sul do Paraná, uma das regiões mais pobres do Estado e que possui sérias limitações técnicas, onde a deficiência das telecomunicações é um dos reflexos do processo de desenvolvimento desigual e consequente divisão territorial do trabalho, tendo como base a implantação e o desenvolvimento das técnicas de comunicação no território brasileiro.
Palavras-chave: Telecomunicações, Técnicas, Uso do território, Sistemas de objetos, Sistemas de ações
1Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste, campus de Irati-PR. E-mail: leticiakrol@hotmailcom 2 Professor Adjunto do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste, campus de Irati-PR.
TABORDA, L. R.; RIGONI, E. Benefícios da revalorização dos materiais recicláveis
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BENEFÍCIOS DA REVALORIZAÇÃO DOS MATERIAIS RECICLÁVEIS
LUIS ROBERTO TABORDA1 EMERSON RIGONI2
Resumo: O lixo vem se apresentando como um sério problema para as cidades, contudo, um correto gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos ainda é um difícil desafio para as administrações públicas proporcionado pela falta de instrumentos de gestão. Os compromissos com a gerência desses resíduos devem envolver setores públicos, iniciativa privada e segmentos organizados da sociedade. O crescimento do consumismo fez do lixo algo inevitável, pensar em soluções e estratégias para um destino melhor do mesmo é condicio sine qua non. Este trabalho propõe alternativas para melhorar a coleta de lixo na cidade de Irati / PR através de uma maior agregação de valor sobre os materiais recicláveis, administrado por uma cooperativa. Atualmente a cidade possui uma cooperativa de reciclagem que apenas coleta, classifica e prensa os materiais recicláveis e por condições financeiras e administrativas insuficientes os materiais acabam sendo comercializados no perímetro urbano de Irati para uma empresa de reciclagem particular que pratica o mesmo trabalho de valorização e “atravessamento”. Por exemplo, se a cooperativa vendesse os materiais para as indústrias de transformação e realizasse uma simples moagem dos materiais plásticos sua receita mensal poderia aumentar cerca de 55%. Com o aumento de faturamento da cooperativa seus cooperados ficariam mais satisfeitos e motivados no exercício de suas funções, a coleta de lixo efetuada por eles se tornaria mais eficiente além do município também ganhar na parte econômica e ambiental.
Palavras-chave: Resíduos, Gestão, Materiais recicláveis
1Acadêmico do Curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste – Campus Irati. [email protected] 2Professor do departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste – Campus Irati. [email protected]
IACHECHEN, M. L.; SILVA JUNIOR, R. F. A (re)produção e valorização do espaço urbano iratiense: a circulação no âmago dos fatores que
influenciam esses processos
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A (RE)PRODUÇÃO E A VALORIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO IRATIENSE: A CIRCULAÇÃO NO ÂMAGO DOS FATORES QUE
INFLUENCIAM ESSES PROCESSOS
MARIA LOURDES IACHECHEN1 ROBERTO FRANÇA DA SILVA JUNIOR2
Resumo: As cidades produzem e reproduzem a lógica capitalista de produção e reprodução de desigualdade, que são mais evidentes no espaço urbano. A cidade de Irati não é diferente, exacerbando suas desigualdades no plano de seu perímetro urbano, alongado e fragmentado. Nessa perspectiva, é notória a relação existente entre a valorização dos espaços urbanos e as vias de circulação. Este trabalho tem como objetivo precípuo demonstrar os agentes da esfera da circulação como principais promotores de agregação de valor ao solo urbano. O estudo em questão enfoca a cidade de Irati, localizada na região Centro Sul do Estado do Paraná, pelo qual se pretende analisar a (re) produção e valorização do espaço intra-urbano de Irati, tomando os meios de circulação como principais agentes neste processo. A presente pesquisa fundamenta-se em investigações bibliográficas, utilização de dados e informações buscadas junto ao Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Paraná (CREA-PR), Prefeitura Municipal de Irati (PMI), e imobiliárias, para a obtenção de dados que demonstrem quais são as áreas mais valorizadas pela circulação. Esses dados são relevantes para a compreensão da temática proposta pelo presente trabalho, na perspectiva de entender a maneira como o espaço intra-urbano iratiense é organizado. Ao final da pesquisa, espera-se relacionar todos os elementos previstos, para que se possa realizar a análise da estruturação urbana iratiense, no sentido de avaliar os elementos que condicionam as transformações do espaço, visando melhor entendimento dos processos que permeam as articulações e que proporcionam um grau diferenciado de incorporação de mobilidade e valorização.
Palavras-chave: Espaço urbano, Circulação, Valorização
1 Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste-Campus Irati: [email protected]. 2 Professor orientador do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste-Campus Irati: [email protected].
PEREIRA, M. As fragilidades do MERCOSUL e a crise na Zona do Euro: uma perspectiva acadêmica das
singularidades dos blocos econômicos
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AS FRAGILIDADES DO MERCOSUL E A CRISE NA ZONA DO EURO: UMA PERSPECTIVA ACADÊMICA DAS SINGULARIDADES DOS BLOCOS
ECONÔMICOS
MARIANA PEREIRA1
Resumo: O presente trabalho, aborda num primeiro momento, questões relacionadas a formação e estruturação tanto do MERCOSUL quanto da União Européias, propiciando dessa forma uma análise comparativa entre os mesmos. Não temos a pretensão, com este, de estabelecer compreensão total a cerca do assunto, nem mesmo de esgotar as possibilidades analíticas que perpassam essa temática, nossa intensão se limita na exposição de nossos conhecimentos, com o intuito de fomentar a investigação desse cenário, o qual a priori, se apresenta com certo distanciamento da realidade cotidiana da maior parte da sociedade, contudo imprime nesta os reflexos de suas ações e decisões. Palavras-chave: MERCOSUL, Zona do Euro, Relacionamentos Comercias, Fragilidades
Introdução
Dentro desses dois quadros que se apresentam o MERCOSUL e a União Européia
se faz necessário uma primeira abordagem no que diz respeito aos traços de sua
formação, para que, em seguida haja possibilidade de se investigar sua relações
internas (mencionando seus membros), alem de visualizar suas conseqüências no
cenário externo, passaremos, portanto ao terceiro momento, onde explicitaremos
nossas considerações de forma mais efetiva.
Características Gerais
Anterior a adentrarmos a questão da formação propriamente dita da União Europeia
e do MERCOSUL, devemos salientar que nem sempre esses momentos históricos
se apresentam de forma uniforme ou linear, trata-se de um momento de transição
abrupto, nas bases econômicas, políticas e sociais de aglomerado de territórios
autônomos independentes, que possuem características ou interesses em comum.
Dessa forma é completamente aceitável a presença de conflitos internos, bem como
de alianças de auxilio, como atualmente vem sendo divulgado o caso da Grécia e
também de outros países nesse bloco. 1 Graduanda do 5º Período de Geografia Licenciatura Plena – [email protected]
PEREIRA, M. As fragilidades do MERCOSUL e a crise na Zona do Euro: uma perspectiva acadêmica das
singularidades dos blocos econômicos
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Formação
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a União Europeia entra em vigor em
1º de novembro de 1993, através do Tratado de Maastrich, sendo o resultado de
décadas de negociações para o estabelecimento de alianças, visando a integração
Europeia. Contudo deriva de outra formação econômica, denominada Comunidade
Europeia do Carvão e do Aço (CECA) e constituída inicialmente por seis países,
passando em pouco mais de três décadas a quinze países membros. É valido
também ressaltar que em 1987 entrava em vigor o Ato Único Europeu, este forneceu
as bases para a criação do Mercado Único Europeu. E apenas em 1999 se implanta
de o sistema único monetário o Euro em onze dos países participantes. O que se
demonstra nas palavras de Hélio Jaguaribe(2002):
A queda do muro de Berlim e o colapso da União Soviética deixaram os Estados Unidos, neste fim de século, como a única superpotência mundial. Por outro lado, a Europa precedente do Tratado de Roma elevou significativamente o seu grau de integração socioeconômica e ampliou o numero de países integrantes do sistema, que passou a denominar-se União Europeia. A União Europeia tornou-se assim, economicamente, tão ou mais importante que os Estados Unidos (p. 03).
O caso do MERCOSUL assemelha em alguns pontos quanto a sua formação em
relação a União Européia, assim como salienta Kume &Piani (2005) “o MERCOSUL
foi precedido pelo Programa de Integração e Cooperação Econômica entre a
Argentina e o Brasil (PICE)” lançado em 1986, porem dois anos decorridos o
processo de integração foi acelerado mediante a assinatura do Tratado de
Integração, Cooperação e Desenvolvimento. De fato é em 1995 que o MERCOSUL
propriamente dito, entra em vigor, contudo deve-se ressaltar que o mesmo foi
estabelecido em 1991 pelo Tratado de Assunção o qual possuía por objetivo o ajuste
de um grande espaço econômico integrado, como forma de atingir uma melhor
inserção no cenário econômico internacional, dessa forma ficando caracterizado o
período de 1991 a 1995, como de transição.
Relações internas
Passado o período de transição, o MERCOSUL entra em vigor abrangendo quatro
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países com características sociais, políticas e econômicas bastante diferentes, visto
que em vias de sua formação uma serie de turbulências acometeram esses quatro
territórios, basta citar o colapso argentino no final da década passada , inicio da
atual, o qual se caracterizou como empecilho a uma política mais agressiva de
integração, dessa forma marcando um estagnação de crescimento do MERCOSUL,
uma vez que essa situação inibia naturalmente qualquer ação nesse sentido.
Contudo a estagnação não atingiu a presença deste; uma vez que juntaram-se aos
membros (fundadores) Chile e Bolívia. E atualmente o MERCOSUL se apresenta de
forma diferenciada, demonstrando as evoluções conquistadas internamente.
É evidente que dentro do bloco á um destaque maior ao Brasil e a Argentina, devido
a suas expressivas relações como salienta Giambiagi & Barenboim (2005):
A região composta por Brasil e Argentina constituiu, entre outras coisas, uma parte do globo onde o potencial de atentados terroristas é mínimo, o que não se pode dizer dos Estados Unidos e da Europa. É um espaço marcado pela ausência de conflitos entre países, tanto de natureza étnica, como religiosa, histórica, cultural ou de fronteira. Alem disso, é uma região na qual os países, individualmente, se caracterizam por terem: a) paz; b) democracia; c) um regime capitalista consolidado; d) certo grau de desenvolvimento institucional e; e) uma grande demanda reprimida, com largo potencial de expansão do consumo (p.06).
Com tantos atrativos econômicos, resta-nos a questão de que, como essa região do
globo não é se tornou um pólo atrativo de fluxos de investimentos externos? A
resposta segundo Giambiagi & Barenboim (2005) é clara, deve-se ao fato da
instabilidade macroeconômica e ao clima de negócios. Uma vez que apóia seus
pensamento na realidade, por exemplo brasileira, de que tantos os agentes
econômicos quanto os indivíduos de forma geral, possuem serias dificuldades em
prever o futuro (econômico) e fazer planos com o mínimo de segurança. Façamos
um breve e sucinto resgate do quadro político-econômico brasileiro e argentino,
segundo ainda Giambiagi & Barenboim (2005), que dão especial destaques aos
seguidos episódios de turbulência econômica:
tivemos a alta inflação de mais de 200% a.a. até 1986; cinco planos de estabilização fracassados nos cinco anos seguintes; o confisco do Plano Collor em 1990; taxas de juros reais de 22% a.a. no primeiro governo FHC; as incertezas associadas a crise mexicana em 1995, asiática em 1997, russa em 1998, do próprio Brasil em 1999, da
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singularidades dos blocos econômicos
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Argentina em 2001 e novamente a incerteza, desta vez eleitoral, em 2002, com duas ameaças de retorno da inflação, em 1999 e 2002/2003. Já na Argentina, houve a deflação de uma guerra (Malvinas) em 1982; a alta inflação durante toda a década de 1980; diversos planos de estabilização igualmente fracassados; três surtos de hiperinflação entre 1989 e 1991; a ameaça do fim da conversibilidade em 1995; o retorno a esse mesmo clima durante todo o período de 1999-2001; uma saída caótica da mesma em 2002; quatro anos de quedas sucessivas do Produto Interno Bruto (PIB) entre 1998 e 2002; e mais o pano Bonex, o ‘corralito’ e a moratória da divida externa. (p 06).
Dessa forma o Brasil e a Argentina ficam fadados a um clima desfavorável para
negócios, por não apresentarem garantias do direito de prosperidade, legislação
econômica de qualidade, e mesmo com tantas dificuldades, ainda assim não
direciona esforços para implementação de medidas, cujo o intuito seria o
fortalecimento do MERCOSUL, uma vez que todos os esforços são destinados a
solução de problemas de grande escala, não restando, portanto, campo de interesse
em iniciativas voltadas a microeconomia. Entretanto, a situação atual de relações
internas ao MERCOSUL evoluiu significativamente, ao menos quando
contemplamos a relação especifica de Argentina e Brasil, já que o crescimento tanto
do comercio quanto dos investimentos entre estes dois países significa uma maior
representatividade, frente a investimentos estrangeiros. Relação essa evidenciada
por Teruchkin (1999):
o comercio intrazona, no período 1992/97, cresceu a taxas superiores ao intercambio com outros países. Como Brasil e Argentina são os países com maior população, produto interno (PIB) e níveis de industrialização, o eixo do intercambio comercial intra-MERCOSUL é o comercio entre estes países, proveniente, em grande parte, do comercio intra-setorial e intra-industrial. (...) O Brasil é o principal sócio comercial da Argentina, absorvendo 26% de suas exportações, enquanto a Argentina tornou-se o segundo parceiro comercial (individual) do Brasil, adquirindo cerca de 13% das vendas externas brasileiras (p. 06).
Contudo vale ressaltar que, Brasil e Argentina só conseguiriam se beneficiar dessa
potencial atratividade de fluxos de Investimentos Direto Estrangeiro (IDE) em um
contexto onde estejam dentro de uma política de regionalismo aberto, e que haja
uma estabilidade macroeconômica alem é claro mediante o estabelecimento de
regras estáveis e confiáveis.
PEREIRA, M. As fragilidades do MERCOSUL e a crise na Zona do Euro: uma perspectiva acadêmica das
singularidades dos blocos econômicos
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Voltamos nossa atenção daqui em diante, ao quadro que contempla as relações
internas referentes a União Européia; dessa maneira iniciaremos por dizer que se
trata do maior bloco comercial do mundo, sendo ainda o primeiro exportador mundial
e o segundo importador. E em suas bases encontram-se três esferas de ação que
norteiam todo o processo de integração dessa região, sendo eles: 1) correspondente
a integração econômico-comercial, de livre circulação de bens, serviços, capitais e
trabalhadores entre os países membros; e para com os demais, o estabelecimento
de uma Tarifa Externa Comum (TEC); 2) correspondente a política externa e de
segurança comum; e 3) referente a políticas de imigração e de cooperação judiciária
e policial. Apesar de bases claras e sólidas a União Européia esbarra em fatores
sócio-culturais que dificultam a implementação de uma política internacional comum.
A formação da UE pode ser dividida em quatro fases, as duas primeiras já citadas e
a terceira, que ao nosso ver merece maior atenção, é caracterizada pela União
Monetária Européia, onde Alemanha, França, Itália, Portugal, Luxemburgo, Holanda,
Espanha, Bélgica, Irlanda, Áustria Finlândia, passaram a utilizar uma moeda
unificada, o Euro. No tocante a quarta etapa, diz respeito a ampliação da UE, a qual
se utilizara de critérios de avaliação da situação individual de cada país, seus focos
são: Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Eslováquia, Republica Tcheca, Hungria,
Eslovênia, Chipre, e Malta.
A grosso modo a formação da UE ocorreu de forma tranquila, pelo menos é o que
nos parece, contudo atualmente a situação se apresenta bastante complicada para
este bloco comercial. Haja visto que a crise bancaria e financeira, traduzida em crise
mundial afetou profundamente membros constituintes da UE. Segundo Michael
Krätke (2010) os países da UE (Espanha, Portugal, Itália e Grécia) apresentam
déficit publico em torno de 100% do PIB, alem disso, não há precedente histórico de
elevação do déficit publico de forma extrema, em países capitalistas desenvolvidos.
O conjunto dos Estados da união Europeia já possuem mais de 8 trilhões de dólares
inscritos como divida publica, garantindo assim, um florescimento ainda maior nos
negócios com divida publica. Sendo assim podemos caracterizar a atual situação da
UE como de instabilidade, mediante as turbulências econômicas, políticas e sociais
que a tingem esse bloco.
Relacionamento Brasil com a União Europeia
PEREIRA, M. As fragilidades do MERCOSUL e a crise na Zona do Euro: uma perspectiva acadêmica das
singularidades dos blocos econômicos
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O Brasil e a União Européia, em 1992 assinaram o “Acordo de Terceira Geração”
tendo entrado e vigor em 1995, o mesmo tinha por intuito a ampliação da
cooperação nos campos comercial, econômico, cientifico e tecnológico. A União
Europeia é o bloco com parcela mais significativa de atuação frente as exportações
e importação brasileiras, e vem seguidamente ampliando sua presença, no Brasil
sobretudo, devido a troca de experiências na área técnico-institucional alem de
investimentos diretos (Mendes, 2000).
Quanto ao comportamento brasileiro no comercio exterior Mendes (2000 p. 12)
realiza a seguinte afirmação:
O comportamento comercial externo brasileiro vem apresentando mudanças significativas ao longo dos últimos anos, associadas a certos fenômenos recentes, internos e externos. Do ponto de vista interno, os processos de abertura e de estabilização econômica, implementada no país a partir de 1990 e 1994, respectivamente, provocaram impactos em diversos âmbitos da economia nacional, assim como no comportamento dos setores produtivos, e isso teve repercussão no âmbito comercial externo do país. Do ponto de vista externo, a conclusão da Rodada Uruguai e a criação da Organização Mundial do Comercio e seus desdobramentos em termos de uma nova fase de abertura comercial e liberalização mundial também vêm influenciando de forma direta o comportamento externo brasileiro, e novas atitudes estão sendo impostas ao país
O comercio externo brasileiro, via de regra acaba por assumir as características de
sua produção, ou seja, essas categorias de relação encontram-se concentradas nas
regiões Sul e Sudeste, portanto pode-se dizer que cada estado brasileiro tem seu
papel particular dentro do quadro do comercio externo devido tanto a sua produção
quanto sua organização de influencia.
Dessa forma o a União Europeia é igualmente parceira do MERCOSUL, uma vez
que o comercio entre os dois blocos vem aumentando significativamente nos últimos
anos, sendo que 1995 os dois blocos assinaram um Acordo-Quadro de Cooperação
Inter-Regional que embora não contemplasse as preferências comerciais, abria
caminho para a criação de uma Associação Inter-Regional que possuiria também
natureza comercial. Passado quatro anos, em 1999, MERCOSUL e União Europeia
iniciaram as negociações para tal acordo, que obteria como resultado a liberação
comercial recíproca e diversificação do comercio entre as duas regiões.
Dessa maneira, o que nos fica claro que, em termos de relacionamento com o
comercio externo tanto o MERCOSUL quanto a União Europeia, se destacam na
PEREIRA, M. As fragilidades do MERCOSUL e a crise na Zona do Euro: uma perspectiva acadêmica das
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busca de ampliação de seus blocos, seja por meio de integração de novos membros,
ou mesmo por meio de acordos e alianças com os demais blocos e potenciais
consumidores.
Considerações Finais De forma geral quanto as fragilidades do MERCOSUL, podemos identificá-las no
exato momento de sua formação, uma vez que o próprio bloco tem que dar conta de
atender as necessidades político-econômicas de quatro territórios distintos (Brasil,
Argentina, Paraguai e Uruguai), sendo que dois deste (Paraguai e Uruguai) se
relacionam de forma muito mais dependente comercialmente, com o Brasil e a
Argentina. Brasil e Argentina podem ser considerados as bases, ate certo ponto
sólidas, para um maior desenvolvimento, não só do MERCOSUL mais da região de
forma geral. Falamos em bases sólidas ate certo ponto, por nos referirmos a esses
dois territórios como potencias atrativos de Investimento Direto Estrangeiro, contudo
entendemos que para uma aproveitamento potencializado desses investimentos
mudanças de ordem estruturais profundas devem ocorrer. Ainda dentro do quadro
desses fragilidades podemos situar os desequilíbrios de ordem político-
administrativa brasileira, onde evidenciamos a simples negação da MERCOSUL e
um discurso pró ALCA, dessa forma fica delicado uma mudança de postura que
tenha por objetivo o fortalecimento e afirmação do MERCOSUL como bloco
comercial, bem como o desenvolvimento individual do Brasil e demais membros.
No que tange a crise na zona do Euro, podemos ponderar os casos da Grécia e
também de Portugal, os quais ganharam mais destaque na mídia. O quadro Grécia e
constantemente vislumbrado sob o enfoque do escândalo da divida publica. É
evidente eu um país que sempre teve seus gastos superiores a sua arrecadação,
mais cedo ou mias tarde acabaria em crise, o que de fato é interessante, é que
mesmo a Grécia recebendo financiamento especial do FMI e também da União
Europeia precisará negociar com seus credores para obter descontos e prazos mais
longos para saldar suas dividas. Já Portugal para como plano para baixar seu déficit
publico desprende políticas que acabam por massacrar a população, pois abandona
o combate a pobreza, corta os apoios sociais aos mais desfavorecidos, impõe
reduções reais nos salários, mantendo elevado o nível de desemprego. Ao nosso
ver a União Européia de forma geral se empenha em prestar socorro aos seus
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singularidades dos blocos econômicos
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membros, mais devemos salientar que o bloco enfrenta apenas as consequências
de um problema que possui suas raízes na formação histórica dos mercados tato
internos quanto externos, dessa maneira tornando evidente que sem a mudança nas
estruturas político-administrativas, esse situação de instabilidade tende a perdurar.
Referencias Bibliográficas
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FERNANDES, M. S.; SILVA JUNIOR, R. F. Porto de Paranaguá: sistema de engenharia para a competitividade da soja paranaense
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PORTO DE PARANAGUÁ: SISTEMA DE ENGENHARIA PARA A COMPETITIVIDADE DA SOJA PARANAENSE
MICHELE SERPE FERNANDES1
ROBERTO FRANÇA DA SILVA JUNIOR2
Resumo: A produção da soja no território paranaense é expressiva, pois o Estado do Paraná se destaca como segundo maior produtor nacional, ficando atrás apenas do Estado de Mato Grosso. Então é necessário compreender os sistemas de engenharia e sistemas de movimento que dão base para a circulação dessa produção, nos propondo a conhecer seus circuitos espaciais produtivos a partir da região Oeste do território do Paraná. Utilizamos para realização desse trabalho, dados empíricos extraídos de sites como o da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Estrada de Ferro do Paraná (Ferroeste), bem como visita ao Porto de Paranaguá. Como embasamento teórico, partimos da compreensão da noção de regiões competitivas, onde elas aumentam sua competitividade através de “eficientes” sistemas infraestruturais e logísticos. A análise para a compreensão do circuito espacial produtivo da soja e de sua competitividade foi realizada a partir da quantidade produzida, quantidade de armazéns graneleiros, condições infraestruturais das ferrovias e rodovias, quantidade de portos secos e distância dos portos marítimos. Os resultados preliminares constam em que o aperfeiçoamento de todo esse sistema, juntamente com um gerenciamento logístico onde empresas privadas atuam em parceria com o Estado, contribuem para o aumento dessa competitividade. Nesse sentido, o fato de o Estado do Paraná possuir um porto marítimo competitivo em seu território, aumenta bastante sua competitividade, pois diminui as distâncias entre local de produção e local para a exportação, a partir da diminuição dos gargalos infraestruturais com aumento da fluidez e diminuição de custos que oneram a produção-circulação da soja. Palavras-chave: Regiões competitivas, Produção sojicultora, Porto de Paranaguá
1 Discente do 4 ano do curso de Geografia de Irati – DEGEO/I – e-mail: [email protected] 2 Docente do Departamento de Geografia de Irati – DEGEO/I – e-mail: [email protected]
BOBATO, Z. L.; CUNHA, L. A. G. O uso do método hermenêutico associado ao qualitativo e quantitativo no caso do arranjo produtivo de
malhas em tricot de Imbituva-PR
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O USO DO MÉTODO HERMENÊUTICO ASSOCIADO AO QUALITATIVO E QUANTITATIVO NO CASO DO ARRANJO PRODUTIVO DE MALHAS EM
TRICOT DE IMBITUVA-PR
ZAQUEU LUIZ BOBATO121 LUIZ ALEXANDRE GONÇALVES CUNHA122
Resumo: Nas ciências em suas mais diversas especificidades a metodologia científica se caracteriza de forma extremamente importante, pois, é através da aplicação de métodos adequados, pertinentes ao objeto de estudo almejado, que o pesquisador pode delinear um bom trabalho científico. Portanto, um método de pesquisa pertinente ao ser adotado pelo pesquisador, acaba se tornando um valioso instrumento que o permite obter resultados seguros em uma determinada pesquisa. Às vezes, um determinado foco de estudo acaba se caracterizando de forma complexa, dado os diversos processos que o permeiam, porém, quando o pesquisador percebe a dimensão do caso a ser pesquisado e desta forma, mensura um processo reflexivo, traçando o caminho metodológico a trilhar, com o intuito de desvendar e esclarecer aquilo em que se propôs a pesquisar, tal pesquisador, certamente apresentará resultados satisfatórios, dando contribuições para o meio científico e social como num todo. Portanto, o presente artigo explicita como será aplicado o método hermenêutico de pesquisa associado ao qualitativo e ao quantitativo no bojo das relações que permeiam o Arranjo Produtivo Local (APL) de malhas em tricot de Imbituva-PR. Uma vez que, a pesquisa projetada objetiva contribuir com o debate acerca das políticas públicas de fomento a APLs, e sendo assim, espera-se que a pesquisa resulte em contribuições que permitam uma maior atuação de políticas que visem desenvolver o APL Imbituvense. Para tanto far-se-á uma apresentação, buscando evidenciar as características, peculiaridades de tais métodos adotados para a pesquisa projetada.
Palavras-chave: Método, Hermenêutico, Qualitativo, Quantitativo, Arranjo Produtivo Local INTRODUÇÃO É sabido que em uma pesquisa científica, o pesquisador necessita definir seu objeto
de estudo, para a partir daí, elaborar, construir, um processo de investigação,
objetivando delimitar o universo que será estudado. Portanto, antes de aprofundar
na discussão concernente ao método adotado para a pesquisa projetada, pensou-se
121 Graduado/licenciado em Geografia (2009) pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) Irati-PR e Mestrando em Geografia “Gestão do Território: Sociedade e Natureza” pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). E-mail: [email protected] 122 Graduado em Geografia, licenciatura (1979) e bacharelado (1980), pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Mestre em História Econômica do Brasil pela Universidade Federal do Paraná (1987) e Doutor em Ciências Sociais: Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pelo CPDA da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2003). Atualmente é professor adjunto da Universidade Estadual de Ponta Grossa, atuando no curso de graduação em Geografia e nos Mestrados em Gestão do Território e Ciências Sociais Aplicadas. E-mail: [email protected]
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que, torna-se necessário discutir em um primeiro momento o foco da pesquisa, o
objeto de estudo.
Neste sentido, se trará a baila o caso do Arranjo Produtivo Local de malhas em tricot
de Imbituva, uma pequena123 cidade do Estado do Paraná, localizada na
mesorregião sudeste paranaense – distante a 76 km de Ponta Grossa (pólo
regional) e 181 km de Curitiba (capital do Estado).
Figura 1. Localização geográfica da cidade de Imbituva-PR. Extraído do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. Acesso em: 06 de setembro de 2010. Adaptado por BOBATO, Z. L. (2010).
Sendo que a mais de 30 anos, a cidade de Imbituva vem se especializando na
confecção de roupas de malhas em tricot. A consolidação do setor de malhas se dá
no ano de 1974, quando houve uma primeira tentativa em conjunto para se formar
uma empresa, a qual, a posteriori foi desfeita, dando origem a uma nova empresa. 123 Segundo dados da prefeitura de Imbituva, disponível em: http://www.imbituva.pr.gov.br/site_novo/index.php/populacao. Acesso em: junho de 2010. A cidade possui 16.730 habitantes e o município 27.052 habitantes.
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No delinear dos anos outras malharias foram surgindo, na cidade, impulsionadas
dado o sucesso observado com o surgimento da primeira malharia.
Com o aumento da produção de peças de roupas em malhas, no ano de 1985
realizou-se a primeira feira de malhas, apoiada pela Prefeitura Municipal de
Imbituva. Dada a expansão do setor, tornou-se necessária a criação de um ambiente
institucional, sendo assim, com o intuito de promover ações em prol do ramo das
malhas, no ano de 1988 surge a Associação das Malharias de Imbituva
(Imbitumalhas), com o objetivo de organizar a Feira de malhas de Imbituva (Femai),
um importante evento que passa a ser o principal canal de vendas para a maioria
das malharias existentes na cidade. As imagens a seguir retratam momentos da
Femai ocorrida no mês de maio deste ano (2010).
Figura 2. Imagem da FEMAI 2010 FOTO. Zaqueu Luiz Bobato. Maio/2010
Também com o passar dos anos, a Imbitumalhas passa a assumir o papel de mediar
relações de cooperação entre o empresariado local. De acordo com dados,
levantados na fase exploratória da pesquisa, para a concepção do projeto,
atualmente (2010) a Imbitumalhas conta com 38 malharias associadas.
Em 19 de novembro de 2004 o Instituto Euvaldo Lodi (IEL) do Paraná, integrante do
Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), realizaram um
“Planejamento Compartilhado”, contando com a participação de todos os
empresários das malharias de Imbituva e a partir dessa reunião, introduziram ideias
e direcionaram políticas de fomento ao setor, tendo como aporte o modelo APL.
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Figura 3. Imagem da FEMAI 2010 FOTO. Zaqueu Luiz Bobato. Maio/2010
Figura 4. Imagem da FEMAI 2010 FOTO. Zaqueu Luiz Bobato. Maio/2010
Nesta reunião realizada pelo IEL, foram levantados os seguintes projetos para o
então APL: escola técnica de Imbituva, exportação, comercialização nas quatro
estações do ano, centro comercial de malhas de Imbituva, central de cadastro, união
(instalação do comitê e governança do APL).
A partir daí, o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social
(Ipardes) com seus critérios teóricos e metodológicos passa a caracterizar Imbituva
como uma cidade paranaense detentora de Arranjo Produtivo Local.
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DISCORRENDO OS PRINCIPAIS PONTOS DA PESQUISA PROJETADA
O atual momento histórico marcado pela constante influência dos processos
disseminados pela então chamada “globalização”, tem gerado novas formas de
organização, reconfigurando a ordem espacial de atividades econômicas dentro do
espaço geográfico. Portanto, as transformações em curso, impulsionaram modelos
que passam a ser adotados pelas regiões nos mais diversos lugares do espaço
geográfico (BOBATO, 2008).
Neste sentido, pode-se destacar os formatos de organizações, tidos como Arranjos
Produtivos Locais (APLs), que derivam de um modelo europeu e norte americano de
produção, identificados por Marshall já no século XIX na Inglaterra (BOBATO, 2009).
As bem sucedidas políticas de desenvolvimento dessas regiões impulsionam o Brasil
nos anos 1990, a se interessar pelos parques tecnológicos, pólos tecnológicos,
incubadoras de empresas e, tentando em parte adaptar-se à realidade nacional.
De acordo com escritos contidos no Boletim Informativo da Política Nacional de
Desenvolvimento Regional (2010, p. 42):
Em meados da década de 1990 (...) estudos e experiências passaram a influenciar tanto a academia quanto os formuladores de políticas. Da Universidade de Harvard, Michel Porter lançou o conceito de clusters, que passou a ser usado cada vez mais como sinônimo de modernidade e de fronteira teórica. Paralelamente, as experiências dos Distritos Industriais Italianos e o caso de Mondragon no País Basco também passaram a ganhar espaço em função da proximidade com a estrutura produtiva da economia brasileira e com a formação cultural e religiosa do país, de origem latina e de maioria católica.
Portanto, ressalta-se que no Brasil a partir da década de 1990 as políticas acerca
dos APLs se intensificam, já que tal forma de organização passa a ser considerada,
como um forte mecanismo de desenvolvimento econômico regional.
Nos escritos, contidos no documento da Política Nacional de Desenvolvimento
Regional (PNDR) do Brasil, elaborado no ano de 2007, percebe-se a adoção de um
modelo europeu de produção, já que o documento explicita a seguinte afirmação:
Desde a década de 80, no entanto, uma visão diferente de desenvolvimento vem se traduzindo em iniciativas de planejamento voltadas à valorização do potencial endógeno das regiões. Inspiradas no sucesso de regiões como o Vale do Silício, na Califórnia, a Emília
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Romana, na Itália, ou regiões dinâmicas da Ásia, tais políticas apresentam duas características essenciais: são ancoradas em territórios específicos; e baseadas em pequenas e médias empresas, interdependentes e interativas e das condições de vida da população. (PNDR, p. 9).
Portanto, os APLs passam a ser estabelecidos no país, como alternativa de
desenvolver as potencialidades existentes nas diversas regiões. No estado do
Paraná, os APLs se intensificaram com os estudos desenvolvidos pelo Ipardes.
Enfim, com critérios teóricos e metodológicos o Ipardes no ano de 2006 caracteriza a
cidade de Imbituva sendo sede de APL dada a concentração geográfica espacial
das empresas de malhas ali existentes. No mapa a seguir, é possível perceber os
vários APLs caracterizados pelo Ipardes, dentro do Estado paranaense e, portanto,
Imbituva com o seu APL de malhas em tricot.
Figura 6. Mapa do Paraná com os principais APLs Fonte: Extraído da FIEP. Disponível em: http://www.ielpr.org.br/apl/. Acesso em: Agosto de 2010.
A definição do termo APL adotado pelo Ipardes (2006), em um trabalho versando
identificar APLs no Estado do Paraná e visando apresentar um conjunto de diretrizes
gerais e específicas, de políticas públicas e ações coletivas, que contribuísse para a
ampliação da competitividade, da eficiência produtiva, da capacidade de inovação e
do mercado de produtos dos APLs paranaenses, comparece em uma definição
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trivial, podendo ser definido como um, “(...) aglomerado de agentes econômicos,
políticos e sociais que operam em atividades correlatas, estão localizados em um
mesmo território e apresentam vínculos de articulação, interação, cooperação e
aprendizagem” (IPARDES, 2006, p.08).
Para Enderle et al (2005, p. 2) ao pesquisar arranjos produtivos, o mesmo explicita
que APL:
(...) não é delineado pela fronteira geográfica de algum local, seu recorte é determinado por um número significativo de empresas envolvidas numa atividade específica, supondo a existência de uma gama de interações que envolvem os mais diversos atores econômicos e sociais.
No entanto, no Boletim Informativo da Política Nacional de Desenvolvimento
Regional (2010, p 43) o termo APL comparece:
(...) para designar um espaço social, econômico e historicamente construído por meio de uma aglomeração de empresas (ou produtores) similares e/ou fortemente inter-relacionadas, ou interdependentes, que interagem numa escala espacial local definida e limitada através de fluxos de bens e serviços. Para tanto, desenvolvem suas atividades de forma articulada por uma lógica socioeconômica comum, que aproveita as economias externas, o binômio cooperação-competição, a identidade sociocultural do local, a confiança mútua entre os agentes do aglomerado, as organizações ativas de apoio para a prestação de serviços, os fatores locais favoráveis (recursos naturais, recursos humanos, cultura, sistemas cognitivos, logística, infraestrutura etc.), o capital social e a capacidade de governança da comunidade.
Percebe-se que nas definições acima elucidadas as relações sociais frutos da
proximidade geográfica/territorial das empresas, são imprescindíveis para o sucesso
de um APL, contudo, também é necessário que haja vinculação entre as esferas
políticas que permeiam um dado arranjo produtivo.
Enfim, essas definições de APLs são versões institucionalizadas de formas de
organizações industriais já identificadas por Alfred Marshall em 1890, com a
publicação de seus Princípios de Economia, sua obra mais célebre, na qual
desenvolveu uma teoria da organização industrial. No cerne de sua teoria, estava a
relevância da concentração espacial das empresas e dos fatores organizacionais e
institucionais.
Recentemente comparece na literatura econômica, o termo cluster, que, em sua
acepção mais ampla, é um agrupamento de empresas reunidas em um subespaço,
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bem balizado, e que essas se relacionam do ponto de vista institucional, ao mesmo
tempo em que forma um pólo especializado, com a possibilidade de auferir ao lugar,
vantagens competitivas.
Devido à importância dos APLs para a economia brasileira, diversos pesquisadores
têm dado contribuições bastante relevantes, com estudos voltados às aglomerações
produtivas especializadas. Dentre alguns autores, torna-se importante enfatizar
Igliori (2001); Diniz e Lemos (2005); Conti (2005); Lastres e Cassiolato (2004),
Suzigan, Garcia e Furtado (2005).
Em suas análises, estes autores empregam categorias e nomenclaturas conhecidas
pelo termo APL, mas outros autores preferem termos como SLPs (Sistemas Locais
de Produção/Inovação), Cluster dentre outros.
Torna-se importante destacar que no caso do setor de malhas de Imbituva, a partir
do surgimento das primeiras empresas e mais tarde no ano de 2004, com o projeto
APL, o ramo de malhas imbituvense, paulatinamente vai crescendo e as relações
entre o empresariado local e a articulação com segmentos públicos e institucionais
vão se tornando mais complexas.
Desta forma, com o intuito de compreender as complexidades muitas vezes
conflituosas estabelecidas no decorrer do processo histórico-geográfico de
constituição do ramo, delineia-se como objetivo central no projeto de pesquisa, “a
compreensão do processo histórico-geográfico de implementação das políticas
públicas na perspectiva de Arranjos Produtivos Locais, considerando a concentração
territorial de malharias em Imbituva-PR”.
Na busca de objetivar tal proposta, levam-se em considerações as relações de
produção e cooperação, materializadas internamente no circuito espacial de
produção de malhas em tricot de Imbituva-PR. Neste sentido, tem-se como um dos
aportes de compreensão Arranjo Produtivo Local (APL), sendo assim, destaca-se
que o mesmo (APL) perpassa por processos endógenos específicos por se tratar de
uma dinâmica espacial produtiva de uma pequena cidade do interior do Estado do
Paraná.
É válido ressaltar que a pesquisa projetada, tem por objetivo específico o de discutir
as políticas públicas de desenvolvimento regional, propostas, a partir, da perspectiva
dos modelos de desenvolvimento local. Sendo assim, percebe-se que as empresas
de malhas do APL de Imbituva, organizadas internamente no espaço, utilizam o
território ao seu modo, produzindo a partir de especificidades geradas localmente, e
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que tentam de modo ainda restrito se colocar de forma competitiva no mercado
nacional.
Tendo em vista a considerável concentração territorial das empresas, assim como as
relações sociais e de produção que ali se delineiam e é claro, aliado a outros fatores,
o Ipardes com seus critérios, como já explicitado anteriormente, caracterizou
Imbituva sendo sede de um Arranjo Produtivo Local. Tendo por base o Ipardes,
assim como, pesquisas de campo realizadas no setor durante a fase exploratória,
para a elaboração do projeto, percebe-se que Imbituva possui um importante APL.
Contudo, a situação do mesmo não é das mais frutíferas ao desenvolvimento (local
e regional) e a competitividade, tampouco condizente a alguns fundamentos centrais
de um APL. Desta forma, com o intento de compreender o caráter das políticas
públicas no modelo de APL, objetiva-se identificar, se tais políticas de fato,
contribuem em uma perspectiva de desenvolver regiões. Para isto tem-se como
aporte o APL imbituvense, já que este é alvo de tal política pública de
desenvolvimento. Pois, recentemente na literatura da Geografia Econômica, a
questão dos APLs tem sido amplamente discutida, já que esta forma de organização
empresarial é tida como um forte mecanismo de desenvolvimento regional,
principalmente para os países classificados como periféricos.
Os estudos de aglomerações produtivas, comumente chamadas no Brasil de
Arranjos Produtivos Locais, vêm ganhando impulso nas últimas décadas, em virtude
da importância na geração de empregos, tendo por base experiências bem-
sucedidas, de desenvolvimento de capacitações produtivas e empresariais, nesse
tipo de organização territorial da produção.
O projeto também tem por objetivo, identificar os elementos fundamentais do
processo de formação da concentração de empresas de malharia de Imbituva-PR.
Uma vez que os relatos da história de consolidação do ramo, comumente
reproduzidos por pesquisadores que se mergulham em pesquisar o setor, se diferem
das especificidades histórico-geográficas que foram recentemente identificadas no
ramo.
Por fim, o projeto traz à tona, o objetivo específico de compreender, como o projeto
de desenvolvimento regional do “APL de malhas de Imbituva-PR” insere-se na
dinâmica econômico-territorial relacionada à concentração territorial de malharias no
município. É válido frisar, que a pesquisa projetada tem por característica ser
desenvolvida sob um ponto de vista eminentemente geográfico, já que cabe a
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Geografia, contribuir com estudos que visem fomentar as políticas públicas, de
melhoramento nas relações de produção, beneficiando as mais diversas camadas e
classes sociais dentro do espaço geográfico.
Ressalta-se, que na busca de efetivar as propostas do projeto, a pesquisa utilizará
de critérios metodológicos, que permitam uma aproximação do pesquisador junto ao
objeto de estudo. Em vista disso, o pesquisador mergulhará no foco da pesquisa,
evitando se deixar levar por simplismos “achismos”, mas sim, por processos que o
permitam revelar a essência dos fenômenos, que se dão no bojo das relações,
ocorridas dentro da complexidade do APL de malhas em tricot de Imbituva.
REFLEXÃO ACERCA DO MÉTODO A SER UTILIZADO NO PROJETO PROPOSTO Mediante um processo reflexivo, tendo por base leituras e discussões com
professores, pesquisadores afins, chegou-se a optar pela escolha do método
hermenêutico, em consonância com o método qualitativo e quantitativo de pesquisa.
Contudo, faz-se primeiramente necessário salientar o que é um método.
Tendo por base os escritos de (ARAÚJO, 2000) compreende-se que a partir do
momento em que o agente humano, começou a tomar consciência do mundo
exterior e a questionar-se, interrogar-se a respeito dos fatos que permeavam a
natureza, o mesmo passa a ser impulsionado a "querer saber".
Essa inquietação, buscando adquirir conhecimentos levou-o ao desejo de "saber
fazer", ou seja, de descobrir os caminhos que pudessem conduzi-lo ao seu objetivo.
É neste contexto, de inquietação, que surge a necessidade do "método". Pensando
este termo etimologicamente, compreende-se que “método” é uma palavra que vem
do grego methodos (meta+hodós), que significa "caminho para se chegar a um fim".
Nas palavras de Oliveira (1997), compreende-se que, método é um conjunto de
processos pelos quais, se torna possível conhecer, uma determinada realidade,
produzir determinado objeto, ou desenvolver certos procedimentos, ou
comportamentos.
Entretanto, Lakatos e Marconi (2001), abordam o método, como um conjunto das
atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, admite
conseguir chegar ao objetivo.
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Para Leite (2008, p. 89) “O método é um caminho composto de várias fases a serem
vencidas para atingir um determinado objetivo.”. Portanto, tendo por base o autor
acima explicitado Leite (2008), é possível concluir que, a validade e a importância de
um método científico, dependem da boa adequação ao objetivo almejado, e sua
aplicação, a natureza do objetivo que está sendo pesquisado.
Enfim, pode-se dizer que, um método é um caminho traçado racionalmente e
cientificamente, visando chegar a um fim. Desta forma, primeiramente destacar-se-á
o método hermenêutico de pesquisa.
O pensar hermenêutico tendo por base Domingues (2004) passa a ser visto como a
arte de ler e interpretar textos abarcando a filologia clássica, a exegese bíblica e a
hermenêutica jurídica. Segundo Domingues (2004, p. 345) a hermenêutica nasce de:
(...) uma reflexão teórico-metodológica acerca da prática de interpretação dos textos sagrados, clássicos (literários) e jurídicos (leis), a hermenêutica até recentemente era considerada uma téchne (técnica ou arte), e, como tal, uma vez reunidas e fixadas as técnicas em um corpus de disciplinas passiveis de ser ensinadas e transmitidas, como uma disciplina auxiliar a serviço de magistrados, teólogos e eruditos.
A hermenêutica diz respeito a uma interpretação que se coloca entre o autor e o
leitor, a tarefa da hermenêutica é de mediar e de transmitir. Para Domingues (2004,
p. 346):
A palavra hermenêutica é uma substantivação do verbo grego hermeneuein, que em sua origem significa traduzir, interpretar, explicar e exprimir. Nessas quatro acepções hermeneuein tem o sentido de “trazer à compreensão”, “trazer à luz”, “decifrar o sentido”: a passagem obscura de um texto, a mensagem cifrada do oráculo, a intenção profunda do legislador ao formular a lei etc. dizendo respeito a um discurso que tem por objetivo um outro discurso e por objetivo compreendê-lo ou explicá-lo.
Compreende-se que a hermenêutica “hermeneuein”, está atrelado à figura de
Hermes, o tradutor da linguagem dos deuses, tornando-a acessível aos homens. O
deus Hermes vinculava-se a uma função de transmudação, isto é, transformava
aquilo que a compreensão humana não alcançava em algo que esta compreensão
pudesse alcançar. O primeiro homem a empregá-la como termo técnico foi o filósofo
Platão.
Pensando a origem da palavra hermenêutica surgida no mito grego do deus Hermes
explicita-se os escritos de Santos Lopes (2009, p. 116) em que:
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Hermes era um deus que transmitia as mensagens dos deuses para os mortais; dessa forma ele exercia dois papéis muito importantes, a saber: primeiro servia de intérprete dos deuses para os mortais e nessa interpretação ele assume o segundo aspecto importante, a inteligibilidade do que estava falando. A volta etimológica para compreender o conceito de hermenêutica não é apenas um exercício de curiosidade, mas, sobretudo, serve para aumentar o entendimento sobre ela.
De acordo com Weller (2007, p. 03):
Na busca de cientificidade para as ciências interpretativas o filósofo Wilhelm Dilthey publica no ano de 1900 um texto sobre o “Surgimento da Hermenêutica” no qual o autor estabelece uma distinção entre “explicar” (Erklären) e “compreender” (Verstehen) para as ciências humanas.
Na verdade tendo por base os escritos dessa pesquisadora Weller (2007), acerca do
método hermenêutico, compreende-se que, Dilthey passa a defender a necessidade
de pensar e estabelecer um método de pesquisa, que se diferisse aos comumente
utilizados nas ciências naturais.
Ainda tendo por base Weller (2007, p. 04), a:
(...) distinção realizada por Dilthey é retomada e aprimorada por Mannheim na elaboração de seu método documentário de interpretação como uma forma de análise das visões de mundo de uma determinada época e como uma metodologia centrada na análise dos fenômenos “culturais” e não dos fenômenos “naturais”.
Segundo Santos Lopes (2009) o mesmo ressalta que o método hermenêutico em
todos os seus estágios históricos, indo até os dias atuais, paulatinamente vai sendo
aprimorado, recebendo contribuições de diversos pensadores.
Compreende-se que o método hermenêutico de pesquisa, não se caracteriza por ser
apenas uma forma de interpretação de um texto bíblico, ou jurídico, muito pelo
contrário, a hermenêutica se apresenta como uma possibilidade de filosofia aplicada
às ciências humanas e possibilita o pesquisador, mergulhar no universo de análise,
procurando interpretar as teorias, os processos que se manifestam em um
determinado objeto de pesquisa.
Muitas vezes, o pesquisador cai em erros e acaba reproduzindo fatos, processos,
sem de fato, ter buscado a real interpretação, compreensão. No entanto, pautando-
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se na hermenêutica e apoiada em outras metodologias de pesquisas, o pesquisador,
pode ser encaminhado a trilhar um bom trabalho de pesquisa, resultando, em
contribuições para a comunidade em geral, revelando, compreendendo, as reais
faces de um processo.
Contemporaneamente, o conceito de hermenêutica possui uma caracterização mais
ampla e voltada à explicação das peculiaridades de trabalho no campo das ciências
humanas. A hermenêutica pode ser entendida então, como, “o estudo da
compreensão, é essencialmente a tarefa de compreender textos”. E precisamente
nesse sentido que se coloca a questão dos fundamentos dos processos de
interpretação enquanto compreensão como objeto de reflexão (SPAREMBERGER
2003).
Entretanto, é valido ressaltar que no atual momento histórico, muitos pesquisadores
vêm rompendo com o preconceito de desenvolverem pesquisas, pautadas em
apenas um método científico, mas sim, delineiam seus estudos combinando
métodos, que se apresentam dando suporte, resultando em uma boa pesquisa.
Neste sentido, o projeto desenvolvido, também terá o suporte do método qualitativo
e quantitativo de pesquisa. Por conseqüência, a pesquisa será desenvolvida,
levando em consideração a soma de metodologias, características dos três métodos
já ressaltados.
No entanto, ao pensar a pesquisa quantitativa e a pesquisa qualitativa como
correntes paradigmáticas que têm norteado pesquisas científicas, ressalta-se que
tais correntes se caracterizam por duas visões centrais que alicerçam as definições
metodológicas da pesquisa em ciências humanas nos últimos tempos.
Essas duas visões segundo Queiroz (2006, p. 88) são elas: “a visão
realista/objetivista (quantitativa) e a visão idealista/subjetivista (qualitativa).”. Diante
da problemática das diferenças metodológicas entre pesquisa científica em ciências
humanas e em ciências naturais, vários pensadores como Comte, Mill, Durkheim,
Dilthey, Rickert, Weber e Husserl, se lançaram a pensar gerando um profícuo
debate, já que diante do prestígio e consolidação metodológica das ciências físicas,
a grande questão a ser discutida era se a vida social humana podia ou devia ser
investigada por métodos das ciências exatas.
A partir de tal discussão e pensando as peculiaridades existentes nas ciências
sociais e humanas desenvolveu-se procedimentos metodológicos que contemplasse
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as especificidades dessas ciências. Desta forma as abordagens qualitativas e
quantitativas passam a ser adotadas nos trabalhos científicos de maneira intensa.
Sendo assim, ao pensar o método qualitativo, torna-se importante citar os escritos
de Leite (2008, p. 100), pois para ele:
(...) os métodos qualitativos são representados por trabalhos que não necessitam de ferramentas estatísticas. Os tipos de pesquisas qualitativas mais comuns são decorrentes de pesquisas teóricas, pesquisas exploratórias documentais e outras que possuam caráter de investigação lógica ou histórica.
Para Strauss (2008) o termo pesquisa “qualitativa” nos remete a pensar em qualquer
tipo de pesquisa que apresente resultados não obtidos através de procedimentos
estatísticos, ou de outros meios de quantificação. Para este autor, Strauss (2008, p.
23) a pesquisa qualitativa:
Pode se referir à pesquisa sobre a vida das pessoas, experiências vividas, comportamentos, emoções e sentimentos, e também à pesquisa sobre funcionamento organizacional, movimentos sociais, fenômenos culturais e interação entre nações. Alguns dados podem ser quantificados, como no caso do censo ou de informações históricas sobre pessoas ou objetos estudados, mas o grosso da análise é interpretativa.
Já para Liebscher (1998, apud DIAS 2000) o mesmo ressalta que:
Os métodos qualitativos são apropriados quando o fenômeno em estudo é complexo, de natureza social e não tende à quantificação. Normalmente, são usados quando o entendimento do contexto social e cultural é um elemento importante para a pesquisa. Para aprender métodos qualitativos é preciso aprender a observar, registrar e analisar interações reais entre pessoas, e entre pessoas e sistemas.
Uma pesquisa de análise qualitativa trabalha com valores, crenças, representações,
hábitos, atitudes e opiniões. Este tipo de investigação é indutivo e descritivo, na
medida em que o investigador desenvolve conceitos, ideias e entendimentos, a
partir, de padrões encontrados nos dados, em vez de recolher dados para
comprovar modelos, teorias ou verificar hipóteses.
Este tipo de investigação qualitativa contempla uma visão holística, na medida em
que as situações e os indivíduos são vistos como um todo e estudados numa base
histórica (MIRANDA 2008). Para Strauss (2008, p. 24):
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Basicamente, há três componentes principais na pesquisa qualitativa. Primeiro, há os dados, que podem vir de várias fontes, tais como entrevistas, observações, documentos, registros e filmes. Segundo, há os procedimentos, que os pesquisadores podem usar para interpretar e organizar os dados. Eles geralmente consistem de conceitualizar e reduzir os dados, elaborar categorias em termos de suas propriedades e dimensões, e relacioná-los por meio de uma série de declarações preposicionais. (...). Relatórios escritos e verbais são o terceiro componente. Eles podem ser apresentados como artigos em jornais científicos, em palestras (ex.: conferências) ou em livros.
Ao optar-se pela escolha do método qualitativo remeteu-se a Strauss (2008), pois
segundo as análises desse autor é pertinente dizer que os métodos qualitativos são
usados quando há necessidade de observar com o intuito de compreender detalhes
intrincados sobre fenômenos como sentimentos, processos de pensamento e
emoções.
Faz-se necessário evidenciar, no que concerne a pesquisa científica projetada
acerca dos processos que permeiam sobre o Arranjo Produtivo de malhas em tricot
de Imbituva-PR, que a mesma se validará, utilizando não apenas as metodologias
características dos métodos de pesquisa hermenêutico e qualitativo, mas também do
método quantitativo.
Visando desenvolver um bom trabalho de pesquisa, o projeto elaborado busca
romper com a primazia de modos de realizar pesquisas pautando-se em escolha ou
do método qualitativo ou do quantitativo. Sendo assim, a pesquisa projetada utilizará
da combinação de tais métodos, ou seja, a questão da escolha dos métodos não se
pauta na primazia de um sobre outro, mas sim, tal combinação visa resultar em
benefícios para melhor compreender o objeto de estudo.
Desta forma, elucida-se aqui Ruiz (2004), onde este autor salienta que a aplicação
do método qualitativo atrelado com o quantitativo, gera complementaridades que
acabam enriquecendo um trabalho científico.
Strauss (2008, p. 39) salienta que:
Muitos pesquisadores quantitativos tendem a descartar completamente estudos qualitativos alegando que não fornecem nenhum resultado válido – na verdade, alegando que são pouco melhores que relatos jornalísticos. Eles afirmam que pesquisadores qualitativos ignoram a amostragem representativa, com seus resultados baseados apenas em um único caso ou em poucos casos. (...). Igualmente obstinados são alguns pesquisadores qualitativos que rejeitam firmemente estatísticas e outros métodos quantitativos, alegando que geram informações superficiais ou completamente
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enganosas. Eles acreditam que, para entender valores culturais ou comportamento social é necessário entrevistar ou fazer observação de campo intensiva, sendo esses os únicos métodos de coleta de dados sensíveis o suficiente para capturar as nuanças da vida humana.
O autor acima citado, clarifica a questão da primazia que muitos pesquisadores
assumem, pautando-se em apenas um método de pesquisa, e isto muitas vezes,
gera problemas, interferindo nos resultados da pesquisa, pois, dependendo do
objeto de estudo, a adoção de método não levando em conta a complementação,
não possibilita resultados satisfatórios ao que se pretendeu estudar.
Para leite (2008), as divisões entre as pesquisas científicas qualitativas e
quantitativas são apenas teóricas, porque analisando na prática, toda a pesquisa
usa os dois tipos de métodos. Os métodos qualitativos são auxiliares dos
quantitativos e vice-versa.
Propondo-se utilizar o método quantitativo na pesquisa projetada, faz-se necessário
compreender as peculiaridades de tal método, desta forma traz-se a baila os escritos
de Leite (2008, p. 96) onde:
As pesquisas que aplicam métodos quantitativos, (...) são as que empregam a estatística e a matemática – os números e cálculos – como principal recurso para a análise das informações. Grande parte das pesquisas se relaciona com o método quantitativo. As pesquisas de campo utilizam em geral este método, assim como as pesquisas de mercado, as de opinião em campanhas políticas, pesquisas internas de controle de qualidade, controle de padrões e motivação. Experimentos e outros levantamentos quantitativos representam o conjunto de aplicações dos métodos quantitativos.
A investigação quantitativa caracteriza-se pela atuação, apresentação de dados,
indicadores e tendências observáveis. Este tipo de investigação mostra-se
geralmente apropriado quando existe a possibilidade de recolha de medidas
quantificáveis de variáveis e inferências, num dado objeto de pesquisa.
Para Ruiz (2004) a pesquisa qualitativa busca identificar a presença ou não de certo
atributo ou objeto no fenômeno sendo observado, enquanto a quantitativa mensura
tal atributo, medindo seu grau de presença ou atuação. Ainda de acordo com Ruiz
(2004, p. 41):
Enquanto a pesquisa qualitativa é mais interpretativa e subjetiva, dependendo do ponto de vista do pesquisador, a quantitativa é mais descritiva e objetiva. Mas é importante notar que o pesquisador tem
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de se mostrar o mais isento possível ao fenômeno nos dois tipos de abordagem.
CONCLUSÃO
Objetivando realizar a pesquisa projetada, planejou-se a seguinte metodologia: a
pesquisa será de cunho hermenêutico associada ao qualitativo e quantitativo.
Hermenêutica tendo em vista que será feita uma análise minuciosa, procurando
compreender como o conceito de APL foi transposto ao Brasil, já que a ideia de
APLs, são característicos de um modelo europeu de produção que foi adotado no
Brasil sob a forma de uma política de desenvolvimento regional e local. No entanto,
muitas experiências não têm corroborado ao sucesso que se tem nos países
europeus. Logo assim, propõem-se desvendar esta transposição de conceitos para
identificar se houve ou não distorções ao se transpor para o Brasil tais ideias.
Ressalta-se que a pesquisa terá também um cunho qualitativo. Isto porque será
feito pesquisas de campo procurando compreender as opiniões dos empresários de
malhas acerca do projeto APL implantado em Imbituva, se o mesmo está
satisfazendo as necessidades do setor ou não, assim como identificar as relações de
cooperação estabelecidas entre eles.
Também este tipo de pesquisa permitirá compreender se o projeto APL implantado
levou em consideração as especificidades culturais, os processos históricos
geográficos do local, dos empresários. Sendo assim, será necessário fazer o uso da
aplicação de questionário, pois este se caracteriza sendo um meio bastante utilizado
no sentido de coletar dados. A aplicação de um questionário de forma correta
permite ao pesquisador identificar com um melhor grau de exatidão as questões por
ele almejadas.
Para Leite 2008, p. 110 a elaboração de um questionário requer:
(...) a observância de normas de precisão, a fim de aumentar sua eficácia e validade. Em sua organização, devem-se levar em conta os tipos, a ordem, os grupos de perguntas, a formulação das mesmas e também tudo aquilo que se sabe por percepção, estereótipos, mecanismos de defesa, lideranças etc. depois de redigido, o questionário precisa ser testado antes de sua utilização definitiva. A análise de dados evidenciará possíveis falhas existentes. Verificadas as falhas,deve-se reformular o questionário, considerando, modificando, ampliando ou eliminando itens. O pré-teste pode ser aplicado mais de uma vez, tendo em vista o seu aprimoramento e o aumento de sua validez. O pré-teste serve
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também para verificar se o questionário apresenta três importantes elementos: a) Fidedignidade: qualquer pessoa que o aplique obterá sempre os mesmos resultados. b) Validade: os dados recolhidos são necessários à pesquisa. c) Operacionalidade: vocabulário acessível e significado claro.
A pesquisa projetada também utilizará de procedimentos quantitativos, serão
trabalhados dados de quantidade de peças de roupas em malhas produzidas, de
valores pagos em salários aos funcionários, de valores referentes a créditos de
fomento a processos inovativos dentro do setor, disponibilizados por programas
governamentais. Desta forma, espera-se que a pesquisa de cunho quantitativo
possibilite a compreensão se após a implantação do projeto APL o setor realmente
se desenvolveu, assim como, a região ao entorno.
Já do ponto de vista dos procedimentos técnicos, a pesquisa se revela com um
estudo de caso, pois para Silva e Menezes (2001, p.22) “Estudo de caso (...) envolve
o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que se permita
o seu amplo e detalhado conhecimento”.
Portanto, em um primeiro momento, o pesquisador fará um processo reflexivo,
buscando compreender o processo histórico-geográfico de implementação das
políticas públicas, na perspectiva de Arranjos Produtivos Locais, considerando a
concentração territorial de malharias em Imbituva-PR.
Para isto, o pesquisador fará um minucioso levantamento bibliográfico, junto a
autores que discutem os conceitos norteadores do problema de pesquisa, buscando
construir uma fundamentação teórico-metodológica condizente com a realidade
investigada. O mesmo processo metodológico acima descrito se dará em um
segundo momento, quando o pesquisador for refletir sobre a adoção do conceito de
APLs, na sustentação das políticas públicas de desenvolvimento regional e local.
Já no que tange ao processo de identificar os elementos fundamentais, do processo
de formação, da concentração de empresas de malharia de Imbituva-PR, o
pesquisador irá a campo e pautado no método hermenêutico com critérios também
qualitativos e quantitativos, o pesquisador realizará entrevistas. As entrevistas se
caracterizarão de forma descritivo-exploratória, pois o que se pretende é descrever e
compreender o fenômeno estudado junto aos fundadores do ramo e aos
empresários do APL de malhas em tricot imbituvense, assim como, com a
Imbitumalhas, instituição esta, responsável por mediar relações políticas,
econômicas e de cooperação entre o empresariado local.
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Já para compreender como o projeto de desenvolvimento regional do “APL de
malhas de Imbituva-PR”, insere-se na dinâmica econômico-territorial, relacionada à
concentração territorial de malharias no município, além do pesquisador ir a campo,
realizar entrevistas, observar, dialogar com as esferas do poder político municipal e
estadual, de Instituições de fomento como o Sebrae-PR, Instituto Euvaldo-Lodi/PR
(IEL/PR), Imbitumalhas. O pesquisador também fará análises de dados junto a sites
de instituições como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto
Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), entre outros.
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