ANLISE COMPARATIVA ENTRE CAF PRODUZIDO A PLENO SOL E NO SISTEMA AGROFLORESTAL EM MACHADINHO DOESTE RO

1Joo A. de C. Mangabeira, 2Clia Regina Grego, 3Evaristo Eduardo de Miranda, 4Ademar

Ribeiro Romeiro, 5Maria Fernanda Leme Bento 1Doutorando em Desenvolvimento Econmica na Unicamp e pesquisador da Embrapa Monitoramento

por Satlite, manga@cnpm.embrapa.br, 2Doutora e pesquisadora da Embrapa Monitoramento por Satlite. crgrego@cnpm.embrapa.br,3Doutor e Chefe da Embrapa Monitoramento por Satlite,

mir@cnpm.embrapa.br, 4Doutor e Professor do Instituto de Economia da Unicamp, ademar@eco.unicamp.br, 5Estagiria na Embrapa Monitoramento por Satlite,

fernanda@cnpm.embrapa.br RESUMO O principal objetivo deste trabalho fazer uma analise comparativa via produtividade agrcola, com intuito de valorar os servios ambientais de caf em sistema agroflorestal (sombreado) versos caf a pleno sol, a partir de uma amostra de 172 pequenos agricultores familiares que plantam e produzem caf na rea de assentamento agrcola em Machadinho dOeste, RO, na fronteira agrcola da Amaznia. Os produtores so acompanhados sistematicamente pela equipe da Embrapa Monitoramento por satlite por mais de 22 anos. Em 2008, foi realizado mais um levantamento de campo, por intermdio de dados declaratrios pelos produtores rurais, em toda a amostra de propriedades familiares que serviu como base para este trabalho. Os dados da produtividade mdia agrcola dos dois sistemas de cultivos foram comparados pelo teste t a nvel de 5% de probalidade, bem como foram descritos alguns indicadores comparativos de forma descritivas para os dois sistemas. Com o intuito de corroborar a importncia dos sistemas agroflorestais (SAFs) alguns exemplos positivos destes sistemas em relao aos servios ambientais foram descritos por intermdio de dados secundrios oriundos da literatura citada. Os primeiros resultados alcanados mostram a vantagem aparente do caf sombreado em relao a pleno sol em Machadinho dOeste-RO. Os SAFs com caf, neste caso, mostram-se favorveis do ponto de vista ambiental. Apresentam-se tambm favorveis do ponto de vista social pelo bem estar do trabalho, pelo fato do agricultor manejar o caf sombra. E do ponto de vista econmico altamente vivel se computar no futuro a possibilidade da explorao da madeira dos SAFs. Palavras-chave: Servios ambientais, biodiversidade, produo de biomassa, sustentabilidade agrcola. INTRODUO Os sistemas agroflorestais prestam servios ecossistmicos para produo das culturas produtivas. Neste contexto, por enfatizar as funes ecolgicas do sistema solo-planta para manuteno ou melhoria da capacidade produtiva do solo, e por tambm prestar diversos servios ambientais, os sistemas agroflorestais (SAFs), seriam mais viveis para as condies dos trpicos midos e submidos, porque so sistemas de uso sustentveis da terra. Os SAFS combinam de maneira simultnea ou em seqncia, a produo de cultivos agrcolas com plantaes de rvores frutferas ou florestais e, ou, animais, utilizando mesma unidade de terra e aplicando tcnicas de manejo que so compatveis com as prticas culturais da populao local (GAMA-RODRIGUES et. al, 2006). Este trabalho focado no monitoramento e levantamento dos servios ambientais dos sistemas agroflorestais na cultura do caf em Machadinho dOeste RO. Estes servios ambientais so oriundos do funcionamento saudvel dos ecossistemas naturais ou modificados pelo homem. Orientados para agricultura, esses servios so traduzidos em: reduo dos desmatamentos, absoro do carbono atmosfricos, conservao de gua, conservao do solo, preservao da biodiversidade e reduo do risco de fogo, entre outros. Neste caso, os tipos de servios podem resultar em aumento na ciclagem de nutrientes, na reduo da eroso, no sequestro de carbono (aumento da biomassa), entre outros (ASSAD & PELEGRINO, 2007). Para este trabalho o servio ambiental ser considerado principalmente pelo aspecto do clima, do bem estar do agricultor ao trabalhar na sombra, em relao ao desgaste fsico trabalhando a pleno sol. Alguns trabalhos j comprovaram os benefcios dos sistemas agroflorestais ou silvipastoris. Segundo Carvalho & Xavier (2005), mais de 89% do carbono armazenado em sistemas agroflorestais correspondeu ao carbono do solo. Nos sistemas a pasto, o carbono total armazenado foi maior nos sistemas silvipastoris do que nas pastagens em monocultura.

Quanto a parte econmica de Sistemas Agroflorestais em comparao com monocultivos, Gama (2003), estudou a produo, a eficincia do uso da terra, o retorno financeiro e o risco de investimento em sistemas agroflorestais (SAFs). Os dados dos sistemas agroflorestais foram originrios de um experimento de 15 anos, pertencente Embrapa, instalado no Campo Experimental de Machadinho dOeste, no nordeste do Estado de Rondnia. As espcies utilizadas foram: banana (Musa sp.) - Ba, pimenta-do-reino (Piper nigrum L.) - Pm, cupuau (Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K. Schum.) - Cp, castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa H.B.K.) - Ca, freij (Cordia alliodora ((Ruiz & Pav.) Oken) - Fr e pupunha (Bactris gasipaes Kunth) - Pu. Os tratamentos consistiram em sistemas agroflorestais: T1 (Ca-Ba-Pm-Cp), T2 (Fr-Ba-Pm-Cp), T3 (Pu-Ba-Pm-Cp) e monocultivos: T4 Ca, T5 Fr, T 6 Pu, T7 Ba

e T8 Pm. Os dados dos sistemas agroflorestais (SAFs) foram analisados de forma comparativa com os dos monocultivos e a situao observada nos SAFs foi considerada desejvel. Todos os sistemas de produo foram economicamente viveis, sendo T1 com melhor desempenho financeiro; e, apesar do alto custo de implantao e manuteno, o risco de investimento neste sistema agroflorestal foi comprovadamente menor, com resultados favorveis ao investimento, de acordo com as simulaes de risco e os resultados dos indicadores financeiros aplicados (GAMA, 2003). De acordo com Duarte (2008), do ponto de vista da lgica econmica dos agricultores familiares agroecolgicos, o enfoque sobre a produtividade deve ser alterado: em vez de procurarmos saber quanto produz o caf sombreado em comparao com o caf solteiro, devemos verificar quanto produz o conjunto do sistema agroflorestal e qual o gasto para a sua manuteno. Quando foram comparados dois sistemas agroflorestais e dois sistemas convencionais, o caf agroflorestal produziu um pouco menos (0,17 kg/p a menos), mas o gasto foi menor (R$ 1550, 00 a menos) e a produo da rea foi diversificada. Concluso: mesmo sem considerar os produtos consumidos pelas famlias, animais domsticos e silvestres, o rendimento econmico foi maior no sistema agroflorestal. Um outro enfoque sobre os servios ambientais dos SAFs, so a proteo e regenerao da biodiversidade, a conservao e melhoria da qualidade da gua e a manuteno e embelezamento da paisagem. O manejo da biodiversidade importante no s para se ter um solo frtil, mas para obter um agroecossistema saudvel e produtivo. Por isso, os SAFs diversificados apresentam inmeras vantagens e vm sendo cada vez mais reconhecidos como mtodo importante no manejo sustentvel do solo, levando ao reencontro do equilbrio dos agroecossistemas e amenizando as adversidades ambientais e econmicas (DUARTE, et. al, 2008). Este trabalho tem como objetivo o monitoramento de sistemas agroflorestais com caf em Machadinho dOeste RO, utilizando dados de pesquisa de campo de 2008, mas faz parte do projeto Sustentabilidade Agrcola da Amaznia, que teve inicio em 1986, com perspectiva temporal de 100 anos! Os lotes so monitorados, anualmente por sensoriamento remoto, e a cada 3 anos por levantamento de dados declatrios em campo: 1986, 1989, 1993, 1996, 1999 , 2002 e 2005, e recentemente, em fase de tratamento dos dados, 2008. (MIRANDA, 1987; MIRANDA & MATTOS, 1993; MIRANDA et. al. 1995; MIRANDA, et. al, 1997; MIRANDA, et. al, 2002; MANGABEIRA et. al. 2005; MIRANDA, et. al, 2007; e http://www.machadinho.cnpm.embrapa.br ). Os produtores pesquisados foram os que declararam em 2008 possurem caf sombreados ou no, mas seus lotes j vinham sendo monitorados desde 1986. LOCALIZAO DA REA DE ESTUDO O trabalho vem sendo realizado no Projeto de Assentamento Machadinho dOeste, no Municpio de Machadinho dOeste que localiza-se entre os municpios de Ariquemes e Jaru, a cerca de 400 km da capital do Estado de Rondnia, Porto Velho, entre as coordenadas geogrficas 61o47' e 63o00' de longitude WGr e 9o19' e 10o00' de latitude S (Figura 1). MTODOS E PROCEDIMENTOS UTILIZADOS Foram aplicadas fichas de levantamento pelos tcnicos da Embrapa Monitoramento por Satlite, da EMATER de Machadinho dOeste, da SEDAN e por tcnicos agrcolas autnomos, com apoio logstico da Estao Experimental da Embrapa em Machadinho dOeste-RO. A ltima campanha de levantamento foi realizada em outubro de 2008. Dos 463 lotes estudados, somente 351 foram considerados vlidos para pesquisa, pois foram encontrados 62 lotes abandonados e 50 lotes que foram anexados e caracterizaram como pequenas fazendas dentro do projeto. Dos 351 lotes vlidos, 238 declararam que cultivam caf robusta (Cofeea canephora), ou seja cerca de 68% dos lotes tm o caf robusta como fonte de renda. Dos 238 produtores com caf, 98 declararam cultivar caf sombreado, ou seja aproximadamente 30% dos produtores em Machadinho dOeste-RO cultivam caf em sistemas agroflorestais, porm somente 72 tinham caf em produo.

Tambm, dos 238 produtores com caf, somente 100 produtores tinham caf em produo a pleno sol que pudessem ser comparados com os sombreados.

Figura 1 - Localizao do municpio de Machadinho dOeste - RO

RESULTADOS ALCANADOS E APRENDIZADO De acordo com a proposta metodolgica deste trabalho, e de forma preliminar para possveis valoraes dos servios ambientais, foram comparados a priori valores da produtividade mdia do caf em pleno sol e sombreado nos lotes amostrados. Foram comparados 100 lotes com caf a pleno sol e 72 sombreados. Na Tabela 1 verifica-se que, para os valores mdios, as informaes declaradas de produtividade de caf a pleno sol e sombreados so muito prximas. Tabela 1- Comparao da produtividade mdia de caf a pleno sol e agrofloresta em Machadinho dOeste-RO, em 2008. INDICADOR PLENO SOL AGROFLORESTA Produtividade (kg/ha) 497,00 478,00 Sem diferena estatstica a nvel de 5% de probabilidade (teste t Student )

Nesta primeira fase de comparao entre as produtividades mdias, no houve estatisticamente diferenciao das produtividades. Pesquisas posteriores sero necessrias, j que o monitoramento comeou recentemente. Na tabela 2 encontram-se os resultados da estatstica descritiva de algumas variveis do manejo de produo dos dois sistemas de cultivos do caf, considerando o uso de insumos, o nmero mdio de capinas e custo de produo anual. O resultados so quase semelhantes, com exceo do tamanho mdio das reas cultivadas que se apresentou maior no caf sombreado. Quanto ao custo de produo anual, a diferena pequena, basicamente devido os sistemas de produo a pleno sol utilizaram mais mo de obra na operao de capina. Tabela 2- Comparao do manejo, rea mdia cultivada e custo mdio de produo anual dos sistemas de cultivo do caf a pleno sol e agrofloresta em Machadinho dOeste-RO, em 2008.

INDICADORES PLENO SOL AGROFLORESTA rea mdia cultivada (ha) 5,50 8,10 Nmero mdio de capinas 1,60 1,00 Custo mdio de produo anual R$/ha 289,00 275,00 Uso de inseticida (%)*** 0,00 0,00 Uso de fungicida (%)*** 0,00 0,00 Uso de herbicida (%)*** 5,00 6,90 *** (%) Percentual de produtores que usam em relao ao total que produzem.

As principais espcies florestais que foram declaradas pelos produtores no sombreamento do caf, foram: freij (Cordia goeldiana), cedro (Cedrella fissilis ), ip (Tabebuia chrysotricaha); bandarra ou pinho cuiabano (Schizolobium amazonicum), castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa), seringueira (Hevea brasiliensis), ing (Ing ssp), sumama (Ceiba pentandra ), caroba (Jacaranda caroba), sucupira (Pterodon emarginatus), teca (Tectona grandis), e garapa (Apuleia mofaris). Os primeiros resultados alcanados, mesmo que de forma preliminar, j mostram a vantagem aparente do caf sombreado em relao a pleno sol em Machadinho dOeste-RO. Os SAFs com caf, neste caso, mostram-se favorveis do ponto de vista ambiental pelo exposto acima.

Apresentam-se tambm favorveis do ponto de vista social pelo bem estar do trabalho, pelo fato do agricultor manejar o caf sombra (fato este que merece uma pesquisa futura mais detalhada). E do ponto de vista econmico altamente vivel se computar no futuro a possibilidade da explorao da madeira dos SAFs. Este trabalho inicial est servindo de aprendizado para um monitoramento por satlite, com sensores para detectar com maior preciso os benefcios dos servios ambientais entre os sistemas de produo, e no levantamento de campo de forma mais detalhado. O projeto de monitoramento prope a longo prazo, acompanhar os sistemas de produo de caf perto e longe das reservas florestais em blocos existente no assentamento, lotes que possuem matas com caf perto desta mata, e lotes com caf sombreados (SAFs), com o intuito de detectar e valorar os possveis servios ecossistmicos favorveis na produo deste tipo de cultivo. Portanto, o grande desafio motivar e ampliar os sistemas de produo agroflorestais nesta regio, que so formas de agricultura compatveis com os processos ecolgicos e biofsicos, num momento em que as mudanas climticas so um fato a ser encarado e que colocaro prova a resilincia social e ecolgica das sociedades humanas. REFERNCIA BIBLIOGRFICA ASSAD E. D.; PELEGRINO, G. Q.: O clima e a potncia Ambiental. Revista Agroanalysis, FGV, v. 27, nmero 04, abril 2007, p. E3-E4. CARVALHO, M.M.; XAVIER, D. F.: Sistemas Silvipastoris para recuperao e desenvolvimento de pastagens. In: In: AQUINO, A. M. de; ASSIS, R.L de.: AGROECOLOGIA: princpios e tcnicas para uma agricultura orgnica sustentvel. Braslia, DF: Embrapa Informao Tecnolgica, 2005, 517 p. DUARTE, E. M G.; CARDOSO I. M.; FVERO C. Terra Forte. In. Revista Agriculturas: experincias em agroecologia. 2008, v. 5 nmero 3, p. 11-15. GAMA, Michelliny de Matos Bentes,. Anlise tcnica e econmica de sistemas agroflorestais em Machadinho dOeste, Rondnia. Tese de doutorado, Universidade Federal de Viosa, novembro de 2003, 112p. GAMA-RODRIGUES, A. C.; BARROS, N. F. de; GAMA-RODRIGUES, E. F. da: Sistemas agroflorestais: bases cientficas para o desenvolvimento sustententvel. Campos de Goytacazez, RJ: Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, 2006.) MIRANDA, E.E. de. Rondnia: a terra do mito e o mito da terra - os colonos do Projeto Machadinho. Jaguarina: Embrapa-CNPDA, 1987. 175p. MIRANDA, E.E. de; MATTOS, C. De colonos a muncipes na floresta tropical de Rondnia - Machadinho dOeste. Campinas: Ecofora / Embrapa-NMA, 1993.154p. MIRANDA, E.E. de; MATTOS, C.O; MANGABEIRA, J.A.C. Na fora das idias: indicadores de sustentabilidade agrcola na Amaznia, o caso de Machadinho d'Oeste, Rondnia. Campinas: Ecofora / Embrapa-NMA, 1995. 95p. il. MIRANDA, E. E. de; MANGABEIRA, J. A. de C.; MATTOS, C.; DORADO, A. J. Perfil agroecolgico e scio-econmico de pequenos produtores rurais: o caso de Machadinho d'Oeste (RO), em 1996. Campinas: ECOFORA/Embrapa-NMA, 1997. 117 p. (Documentos, 2). MIRANDA, E. E. de; MANGABEIRA, J. A. de C.; BATISTELLA, M.; DORADO, A. J. Diagnstico agroecolgico e socioeconmico dos produtos rurais de Machadinho dOeste (RO), em 1999. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satlite, 2002. 88 p. (Documentos, 18). MANGABEIRA, J. A. de C.; MIRANDA, E. E. de; GOMES, E. G. Perfil Agrossocioeconmico dos Produtores Rurais de Machadinho dOeste (RO) em 2002. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satlite, 2005. (Documentos, 38). MIRANDA, E. E. de; MANGABEIRA, J. A. de C.; GREGO, C. R. Desmistificao da terra: o perfil em 2005 dos produtores rurais de Machadinho dOeste (RO), 23 anos depois. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satlite, 2007. 65 p. (Documentos, 62).