análise do capítulo i da encíclica veritatis splendor

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FACULDADE CATÓLICA DE BELÉM CURSO DE TEOLOGIA JAVÉ DE OLIVEIRA SILVA ANÁLISE DO CAPÍTULO I DA ENCÍCLICA VERITATIS SPLENDOR ANANINDEUA / PA 2017

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FACULDADE CATÓLICA DE BELÉM

CURSO DE TEOLOGIA

JAVÉ DE OLIVEIRA SILVA

ANÁLISE DO CAPÍTULO I DA ENCÍCLICA VERITATIS SPLENDOR

ANANINDEUA / PA

2017

2

JAVÉ DE OLIVEIRA SILVA

ANÁLISE DO CAPÍTULO I DA ENCÍCLICA VERITATIS SPLENDOR

Trabalho apresentado a Faculdade

Católica de Belém como requisito

avaliativo da disciplina Moral

Fundamental, orientado pela Prof.

Pe. Glauco.

ANANINDEUA / PA

2017

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PAPA JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Veritatis Splendor. 8a ed. São Paulo, SP:

Paulinas, 2006.

Análise do capítulo I: Jesus Cristo e a resposta à questão moral

O homem, com a graça de Deus, vive em constante progresso científico e

técnico, um caminho que é trilhado em meio à liberdade ilusória (muitas vezes aquém

da verdade) a qual conduz ao erro e ao pecado, por isso emana lutas dentro de seu

coração e da consciência moral. É um dilema como o vivido por um jovem rico, após

seu diálogo com Jesus, donde emerge, acima de tudo, questões ligadas à prática do bem

moral e o mérito da vida eterna.

Vidal afirma que “o viver dos humanos é ação” (2003, p.11), sendo este

permeado por sentidos, ideais e valores e estes são aliados ao uso da razão, que por sua

vez pode perder-se quando é conduzida exclusivamente pelo racionalismo. Mas se o

homem não se “ensimesmar-se”, logo surgirão perguntas como “que devo fazer? Como

discernir o bem do mal? [...] A resposta decisiva a cada interrogação do homem, e

particularmente às suas questões religiosas e morais, é dada por Jesus Cristo” (VS, n°

2)1. Em Jesus está presente a inauguração da consciência da mudança crítica que deve

ocorrer de forma radical (cf. COMPAGNONI; PIANA; PRIVITERA, 1997, p. 828).

Um dos exemplos do ensinamento moral de Jesus está presente no capítulo 19

do Evangelho segundo Mateus, há a narração do diálogo de Jesus com o jovem rico,

onde está representado o anseio da buscar resposta para a “questão de plenitude de

significado para a vida” (VS. n° 7). O questionamento apresentado pelo jovem

culminará na resposta que tornar-se-á a vocação recebida em Cristo.

A inquietação do jovem emana do fundo do seu coração, ela está ligada a

pratica do bem moral e à vida eterna. A pergunta é: “Mestre, que farei de bom para ter a

vida eterna?” (Mt 19, 16). O questionamento do jovem, fiel observador da Lei,

provavelmente, segue aquilo que Compagnoni diz “a tradição, o culto, a lei, a sabedoria,

a profecia não são suficientes para dar luz e força a algumas decisões morais

eficazmente válidas” (1997, p. 816). Atualmente isto reflete na exigência da volta do

homem a Cristo, com o propósito de “obter dele a resposta sobre o que é bem e o que é

mal” (VS. n° 8).

1. Carta encíclica Veritatis Splendor (6 de Agosto de 1993): João Paulo II.

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Tanto a questão do jovem, quanto a resposta de Jesus ajudam a encontrar o

ponto central da moral evangélica que é imbuída de um conteúdo profundo e imutável,

pedagogicamente Jesus conduz o jovem em direção à verdade plena da bondade, a qual

é Deus, como se observa na fala inicial do Mestre “Por que me perguntas sobre o que é

bom? O Bom é um só. Mas se queres entrar para a Vida, guarda os mandamentos” (Mt

19, 17). Com esta resposta somos levados a compreender que não é possível separa a

nossa crença em Deus e agir moralmente, ligado intrinsecamente a observância dos

mandamentos.

No entanto, ainda considerando o questionamento do jovem, pode-se perguntar

o que move o moço a fazer tal indagação? Infere-se de modo particular sobre qual a

imagem de Deus apresenta pelos Mestres da Lei? Nas narrativas evangélicas é possível

concluir que estes homens apresentavam uma imagem deformada de Deus, como um

Deus a par da realidade do homem, que excluí a participação do homem no processo de

salvação, resumindo numa relação de medo do castigo ou o recebimento de um prêmio.

Para superar estes preconceitos o Filho nos ressalta a imagem de um Pai Bom que não

deseja ver seus filhos escolhendo o pecado como “modelo” do agir moral, por isso

decide estabelecer Decálogo, como um apelo: “Sede santos, porque eu, Iahweh vosso

Deus, sou santo” (Lv 19, 2).

A observância dos mandamentos, isto é, a vivência da moral é uma resposta ao

amor a Deus pelos homens, da mesma forma como reconhecê-Lo como Senhor único e

absoluto e só a ele prestar culto, por causa de sua santidade (cf. Ex 20, 2-11). É por isso

que Jesus oferece o caminho da vida eterna, uma vez que o intento dos mandamentos

quando observado é conduzir para este fim. Assim, nos diz Zuccaro (2007, p.21) “a

responsabilidade moral primordial dos seus interlocutores consiste no fato de que eles

são colocados diante de decisão urgente”, por isso o jovem retruca perguntando quais

mandamentos deve observar. São propostos aqueles que dizem respeito ao próximo:

“não matarás, não adulterarás, não roubarás, não levantarás falso testemunho; honra teu

pai e tua mãe, e amarás teu próximo com a ti mesmo” (Mt 19, 18-19).

Dessa forma, é revelada ao jovem a centralidade e ao mesmo tempo o

fundamento da Lei: o amor ao próximo. “É este o cerne escondido e a intenção profunda

da revelação veterotestamentária que Jesus coloca em primeiro plano e não, ao invés, o

frio juridicismo ao qual a havia reduzido à interpretação de muitas escolas rabínicas”

(ZUCCARO, 2007, p. 31). A Veritatis Splendor vem confirmar: os mandamentos

“constituem a primeira etapa necessária no caminho para a liberdade” (n° 13), dessa

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forma “sem o amor ao próximo, concretizado na observância dos mandamentos, não é

possível o autêntico amor a Deus” (n°14).

O jovem ainda insatisfeito com a resposta, pergunta: “tudo isso tenho

guardado. Que me falta ainda?” (Mt 19, 20), mostrando a inquietação de seguir uma

moral que demonstra faltar algo. Logo, Jesus dá a resposta decisiva, convidando a

seguir pelo caminho da perfeição: “Se queres ser perfeito, vai, vende o que possuis e dá

aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me” (Mt 19, 21). É um

convite radical, mas permeado de liberdade, da qual exige maturidade. A liberdade “é

concebida não apenas como o instrumento formal que o cristão emprega para o seu agir,

mas de modo muito mais radical como o escopo e o objetivo final da redenção”

(ZUCCARO, 2007, p. 32). Além do mais, a liberdade “encontra a sua realização na

caridade que constitui o seu critério de autenticidade e sua razão de ser” (ibidem, p. 33).

No “vem e segue-me” de Jesus tornar-se visível que Ele “é o fundamento

essencial e original da moral cristã” (VS, n° 19), logo “o comportamento de Jesus e a

sua palavra, as suas ações e os seus preceitos constituem a regra mora da vida cristã”

(ibidem, n° 20). Isto vai além de cumprimento de atos exteriores, mas de uma doação

completa que atinge o interior.

Quando não se está disposto a esta doação, toma-se a mesma atitude do jovem

que “ouvindo estas palavras, saiu pesaroso, pois era possuidor de muitos bens” (Mt 19,

22), pois as exigências do Mestre “superam as aspirações e as forças humanas” (VS, n°

22). O seguimento das práticas do Salvador exige mais que força de vontade, mas estar

aberto ao recebimento de um dom: a caridade. Um dom que recebemos pela graça, pelo

amor de Deus, porém “não diminui, mas reforça a exigência moral do amor” (VS, n°

22).

A Conversa de Jesus com o jovem rico está presente no coração do cada

homem que anseia pela vida eterna, por isso Cristo apresenta o mandamento com via

inicial e a adesão radical a mudança de vida, enraíza no amor de Deus. A expressão

maior do amor divino está na encarnação do Verbo que indica claramente um projeto de

moral cristã. Assim, foi confiado aos Apóstolos Jesus a promoção e a tutela a fé e a vida

moral, “que continua no ministério de seus sucessores” (VS, n° 27) para ajudar a

compreender as novas situações históricas e culturais à luz da fé.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. São Paulo, SP: Paulus, 2002.

COMPAGNONI, Francesco; PIANA, Giannino; PRIVITERA, Salvatore. Dicionário de

Teologia Moral. São Paulo, SP: Paulus, 1997.

PAPA JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Veritatis Splendor. 8a ed. São Paulo, SP:

Paulinas, 2006.

VIDAL, Marciano. Nova Moral Fundamental: O Lar Teológico da Ética. Aparecida,

SP: Editora Santuário; São Paulo, SP: Paulinas, 2003.

ZUCCARO, Cataldo. Cristologia e Moral: História, Interpretação, Perspectiva. São

Paulo, SP: Ave-Maria, 2007.