análise do uso dos incentivos fiscais à inovação em 2011
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UM OLHAR DA INVENTTA:
Análise do uso dos Incentivos Fiscais à Inovação em 2011Bruna Soly, Manuela Soares e Maria Carolina Rocha
#LeiDoBem
Resultado nas empresas
Mais emprego e renda
Mais gastos em P&D
Mais arrecadaçãoIncentivo Fiscal
Dezembro | 2012
I - Introdução
Os incentivos fiscais à inovação tecnológica foram instituídos pela
Lei n.º 11.196/2006 - Lei do Bem e regulamentados pelo Decreto
n.º 5.798/2006, que estabeleceu a obrigatoriedade da empresa
de prestar ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação - MCTI
informações sobre seus programas de pesquisa tecnológica e
desenvolvimento de inovação tecnológica, até 31 de julho do ano
subsequente de cada exercício fiscal.
Posteriormente ao recebimento das informações das empresas
beneficiárias, cabe ao MCTI a análise se os projetos encaminhados
são de pesquisa e desenvolvimento de inovação tecnológica e se os
dispêndios efetuados pela pessoa jurídica podem ser considerados como dispêndios
vinculados aos mesmos1.
Após a análise dos documentos recebidos, o MCTI remete à Secretaria da Receita
Federal do Brasil - RFB as informações relativas aos incentivos fiscais à inovação
tecnológica, sendo esta última responsável pela fiscalização das empresas que
utilizaram os benefícios.
A RFB durante a fiscalização verificará se os requisitos contábeis formais para a
fruição dos benefícios previstos na Lei do Bem estão sendo atendidos pelas empresas.
Ressalta-se que a definição técnica se a empresa realiza atividades de pesquisa,
desenvolvimento e/ou inovação tecnológica do MCTI vincula a RFB2, que não poderá
realizar questionamento com relação a natureza inovativa dos projetos da empresa.
No que se refere ao ano base de 2011, o Formulário para Prestação de Informações
Anuais sobre os Programas de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico das Empresas
(Prestação de Contas) foi disponibilizado para as empresas somente em abril de 2012,
trazendo como principal alteração o esclarecimento de que no formulário devem ser
apresentadas as informações individuais de cada projeto e não mais em linhas de
P&D, como anteriormente era realizado.1 Solução de Consulta da Receita Federal n.º 277, de 31 de outubro de 2011.2 Acórdão n.º 12-44550, da 8ª Turma - Rio de Janeiro, publicado em 16 de março de 2012.
2
O principal benefício fiscal utilizados pelas empresas é o da exclusão adicional dos
dispêndios
Em 17 de dezembro de 2012, o MCTI divulgou o Relatório Anual da Utilização dos
Incentivos Fiscais, consolidando as informações prestadas pelas empresas para o
ano base 2011. O Relatório apresenta informações quantitativas relacionadas aos
benefícios e será objeto de análise no presente artigo.
II – Benefícios fiscais
A Lei do Bem prevê os seguintes benefícios fiscais:
a) Exclusões adicionais dos dispêndios de 60%, para efeito de apuração do IRPJ e da
CSLL, da soma dos dispêndios realizados com Pesquisa Tecnológica e Desenvolvimento
de Inovação Tecnológica.
Esta exclusão poderá ser acrescida dos seguintes percentuais:
•Em 10% dos dispêndios em razão do acréscimo em até 5% no número de
pesquisadores contratados;
•Em 20% dos dispêndios no caso de acréscimo superior a 5% no número de
pesquisadores contratados.
•Em mais 20% dos dispêndios ou pagamentos vinculados à Pesquisa Tecnológica e
Desenvolvimento de Inovação Tecnológica objeto de patente concedida ou cultivar
registrado no Brasil ou no exterior;
b) Redução de 50% do Imposto sobre Produtos Industriais (IPI) incidente sobre
equipamentos, máquinas, aparelhos e instrumentos (nacionais ou importados)
destinados à Pesquisa Tecnológica e Desenvolvimento de Inovação Tecnológica;
c) Redução à zero da alíquota do IRRF incidente sobre despesas com registro e
manutenção de marcas, patentes e cultivares no exterior;
d) Depreciação3, no próprio ano de aquisição, sem prejuízo da depreciação normal,
dos equipamentos, máquinas, aparelhos e instrumentos destinados à Pesquisa
Tecnológica e Desenvolvimento de Inovação Tecnológica para fins de IRPJ e CSLL;
e) Amortização acelerada³, mediante dedução como custo ou despesa operacional,
no período de apuração em que forem efetuados, dos dispêndios relativos à aquisição
de bens intangíveis, vinculados exclusivamente às atividades de pesquisa tecnológica
e desenvolvimento de inovação tecnológica, classificáveis no ativo intangível do
beneficiário, para efeito de apuração do IRPJ;
3 Os incentivos de depreciação e amortização tratam-se, na verdade, apenas de um diferimento (postergação) dos tributos a pagar, uma vez que a lei obriga, após a utilização do incentivo, a adição dos valores do benefício à base do IRPJ e da CSLL (esta última, quando aplicável).
3
f) Exclusão, para efeito de apuração do IRPJ e da CSLL, de no mínimo a metade
e no máximo duas vezes e meia o valor dos dispêndios efetuados em projetos de
pesquisa científica e tecnológica e de inovação tecnológica a ser executado por
Instituição Científica e Tecnológica pública ou privada. Note-se que para utilização
deste incentivo, é necessária uma prévia aprovação de um Comitê para realização do
projeto (incentivo criado pela Lei nº 11.487/07, através da inserção do artigo 19-A na
Lei nº 11.196/05).
Os incentivos fiscais à inovação tecnológica, acima descritos, incidem sobre os
dispêndios relacionados as atividades que o Decreto n.º 5.798/06 considera como
de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica, conforme
demonstrado de forma ilustrativa na figura abaixo:
Figura 1- Atividades de P,D&I beneficiadas
Fonte: Inventta
É imprescindível para a utilização dos incentivos fiscais previstos na Lei do Bem que
a empresa tenha apurado lucro real e apresente regularidade fiscal.
A empresa deve também ter estruturado tecnicamente os projetos de pesquisa
tecnológica e desenvolvimento de inovação, com controles analíticos dos custos e
despesas integrantes de cada projeto apresentado.
Inovação tecnológica é:“concepção de novo produto ou processo de fabricação, bem como a agregação de novas funcionalidades ou características
ao produto ou processo que implique melhorias incrementais e efetivo ganho de
qualidade ou produtividade, resultando maior competitividade no mercado”.
Fonte: Decreto n° 5.798/2006
Pesquisa Aplicada
Novos Produtos / Processos
Melhores Produtos / Processos
Pesquisa Básica Dirigida
Atividades beneficiadasAtividades não beneficiadas
Atividades não beneficiadas
Novos Fenômenos Propriedades
da Matéria
Ideação
Desenvolvimento Experimental
Testes do Produto / Processo
Validação do Produto/ Processo
Produção
Comercialização
Tecnologia Industrial Básica
Serviço de Apoio Técnico
4
III – Utilização da Lei do Bem no ano base 2011
No ano base de 2011, 962 empresas apresentaram o formulário junto ao MCTI, sendo
que 157 apresentaram inconsistências e dessa forma não constaram na lista de
empresas habilitadas. Não fizeram parte da lista de habilitadas também, de acordo
com o Relatório do MCTI, 30 empresas que apresentaram prejuízo fiscal e 8 que foram
excluídas, 5 a pedido da própria empresa e 3 por terem entregue os formulários fora
do prazo legal.
Relativamente aos anos anteriores, percebe-se no gráfico a seguir que houve um
aumento de 10% no número de empresas que apresentaram o formulário, e uma
queda com relação a proporção das não habilitadas4.
Gráfico 1- Evolução do número de empresas participantes da Lei do Bem
Fonte: Inventta
Do total de empresas habilitadas, somente 46 apareceram nas listagens de empresas
beneficiárias desde 2006, primeiro ano de aplicação dos benefícios. Ressalta-se que
nos 6 anos de existência dos incentivos fiscais previstos pela Lei do Bem, 1.475
empresas já se cadastraram, o que demonstra que somente 3% delas utiliza os
incentivos fiscais de forma contínua. No ano base de 2011, aproximadamente 200
empresas utilizaram pela primeira vez o benefício.
Quanto ao investimento, as 962 empresas que preencheram o formulário da Prestação
de Contas investiram em despesas de capital e de custeio o total de R$ 8,5 bilhões
em P,D&I em 2011, sendo que o valor total de renuncia fiscal do Governo Federal foi
de R$ 1,6 bilhão.4 Até o ano de 2011 as empresas que não apareciam na lista de habilitadas podiam reunir-se com o MCTI para demonstrar o caráter inovativo dos projetos, podendo o MCTI realizar um processo de reavaliação do Formulário. Posteriormente, dependendo da análise técnica, tal órgão providenciaria um comunicado à Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda informando sobre a regularidade da Prestação de Contas da empresa.
300
32
2007
332
460
92
2008
552
542
93
2009
635
2006
130
2010
875
639
236
2011
962
767
195
Não habilitadas Total Habilitadas
130
Em 2001, houve um aumento de 10% no número de empresas que apresentaram o formulário e de
20% no número de empresas habilitadas
5
Se considerarmos apenas as 767 empresas habilitadas, o investimento total em P,D&I
corresponde a R$ 6,8 bilhões, sendo que aproximadamente 98% deste valor se refere
a despesas de custeio, que são os dispêndios relacionados ao pagamento de pessoal,
material de consumo e contratação de serviços de terceiros. Os investimentos em
ativos para P,D&I representam aproximadamente de 2% do total. O gráfico a seguir
demonstra essa análise desde 2006:
Gráfico 2- Dispêndios x renúncia fiscal
Fonte: Inventta
Percebe-se que com relação ao primeiro ano (2006) houve um aumento de 312% e
615% no valor investido pelas empresas e renunciado pelo Governo, respectivamente.
Ao comparar o valor investido em P,D&I em 2011 em relação ao de 2010, percebe-se
que houve uma redução de aproximadamente 20%. Credita-se essa redução a dois
principais fatores:
– O cenário econômico de 2011, em que as crises da Europa e dos Estados Unidos
afetaram diretamente as empresas brasileiras e o crescimento econômico do Brasil
foi abaixo do esperado:
– A promulgação da Instrução Normativa n.º 1.187, em 29 de agosto de 2011.
A IN disciplinou os incentivos fiscais às atividades de pesquisa tecnológica e
desenvolvimento de inovação tecnológica dispondo expressamente sobre os
dispêndios que poderiam ser beneficiados e quais deveriam ser excluídos, o que
trouxe maior rigor e clareza na apuração dos valores5.
Quanto as bases da renúncia fiscal do Governo, a mesma é apurada considerando os
benefícios fiscais previstos na Lei do Bem utilizados pelas empresas habilitadas pelo 5 Destaca-se que mesmo após a promulgação da IN n.º 1.187/2011 alguns pontos continuam omissos, tais como àqueles relacionados ao beneficiamento dos dispêndios com materiais, viagens, dentre outros.
889
8.114
225
8.400
558
4.580
20072006 2008 2009 2010 2011
x R$1.000,00
Despesas de custeio Renúncia fiscalDespesas de capital
7.915
884389
1.803
229
1.583 1.3831.727
149
6.695
1.410
217
6
MCTI, com exceção dos valores referentes aos benefícios da depreciação integral e
amortização acelerada, pois os mesmos possuem efeitos meramente financeiros, já
que nos anos seguintes deverão ser adicionados às bases de cálculo do IRPJ e da
CSLL. Não são considerados também os valores referente ao incentivo de redução
à zero da alíquota do IR incidente sobre as remessas ao exterior destinadas aos
pagamentos de registro de manutenção de marcas, patentes e cultivares, por não ser
possível mensurar de forma absoluta o ganho real.
III.1. Por tipo de benefício
A seguir serão apresentados os resultados dos benefícios apurados por tipo de
incentivo.
Exclusão adicional dos dispêndios:
A base de cálculo do benefício da exclusão adicional correspondeu a R$ 4,1 bilhões,
em 2011 sendo a respectiva renuncia fiscal no valor de R$ 1,4 bilhão, a média de
renúncia fiscal por empresa em 2011 foi de R$ 1,8 milhão.
Gráfico 3- Evolução da utilização do benefício fiscal da exclusão adicional
Fonte: Inventta
Os valores referentes ao benefício da exclusão adicional representam 99% da renúncia
fiscal do Governo, sendo que desde o primeiro ano de utilização da Lei do Bem houve
o aumento de aproximadamente 630%.
2006 2007 2008 2009 2010 2011
CSLL (9%) IR (25%)Base para cálculo dos benefícios (IR+CSLL)
662
5.033
4.144 3.9614.467
2.513
x R$1.000.000,00
377
1.036 1.258
453
990
3571.116
402
628226
60165
7
Redução de 50% do IPI:
Já o valor apurado do benefício de redução da alíquota de IPI foi de R$ 328 mil, sendo
utilizado consideravelmente por empresas dos setores de: mecânica e transporte,
petroquímica e química, mineração e papel e celulose.
Gráfico 4- Evolução da utilização do benefício fiscal da redução do IPI
Fonte: Inventta
Como se percebe, o benefício da redução da alíquota de IPI ainda é pouco utilizado e
não há constância em sua utilização. Destaca que este incentivo deve ser pleiteado
no momento de aquisição de máquinas, equipamentos, aparelhos e instrumentos,
bem como os acessórios sobressalentes e ferramentas que acompanhem esses bens,
destinados à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico.
III.2. Por região
As regiões Sul e Sudeste concentram aproximadamente 93% das empresas que
utilizam os benefícios da Lei do Bem e são responsáveis por 97% do valor apurado de
benefício fiscal no ano base de 2011.
Alinhado aos dados apurados pelo Relatório Anual da Utilização dos Incentivos Fiscais,
segundo a Pesquisa de Inovação Tecnológica 2008 – Pintec 2008, realizada pelo IBGE,
essas regiões possuem cerca de 80% das empresas que implementaram produto e/ou
processo novo ou substancialmente aprimorado.
Conforme se verifica no gráfico abaixo, a região com maior representatividade de
empresas habilitadas é a Sudeste, sendo a média de renúncia R$ 7,1 milhões por
empresa.
37
303
2.382
152329
2006 2007 2008 2009 2010 2011
IPI
329
x R$1.000,00
8
Gráfico 5- Número de empresas beneficiárias e renúncia fiscal por região
Fonte: Inventta
As regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste possuem baixa representatividade nas
empresas que aderiram a Lei do Bem. Isso ocorre pois essas regiões possuem outros
incentivos fiscais governamentais6 que impactam diretamente na redução de base de
cálculo do IRPJ e CSLL.
Conforme se observa abaixo, os estados com a maior concentração de empresas que
utilizam a Lei do Bem são São Paulo (46%) e Rio Grande do Sul (18%), seguidos por
Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina (aproximadamente 7% cada).
Gráfico 6- Concentração de empresas beneficiárias por estado
Fonte: Inventta
6 Por exemplo: Lucro sobre a exploração (Decreto-lei no 1.598, de 1977), Lucro da atividade rural (Lei nº 9.249, de 1995), dentre outros.
AM
RR AP
RO
MT
TO
MS
PR
SP RJ
MG
BA
GO
DF
ES
SC
RS
AC
MA
PI
CE RNPBPE
ALSE
PA
0 2 a 6
7 a 50 51 a 139
140 a 350 Acima de 351
245
464
32
13
13
R$ 75.200,53
R$ 15.700,98
R$ 37.775,38
R$ 3.291.523,40
R$ 736.221,39
Nº de empresas habilitadas
Dispêndios reais em P,D&I
x R$1.000,00Apesar da baixa participação das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste houve um aumento
considerável no número de empresas habilitadas em relação a 2010
O Estado de São Paulo concentra mais empresas habilitadas que o total das regiões Norte,
Nordeste, Centro-Oeste e Sul
9
No ano base de 2011, 8 estados não tiveram empresas habilitadas nos incentivos
fiscais à inovação tecnológica. O Estado de São Paulo concentra mais empresas
habilitadas que o total das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul.
III.3. Por setor
O relatório do MCTI traz a análise das empresas habilitadas por setor da economia,
com base na Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE informado
pela própria empresa no Formulário.
O setor com principal destaque é o mecânica e transporte, com a utilização por 154
empresas habilitadas, com média de renúncia fiscal de aproximadamente R$ 3,5
milhões por empresa.
Gráfico 7- Renúncia fiscal por setor x Número de empresas
Fonte: Inventta
O setor de mecânica e transportes teve um aumento de empresas habilitadas de
513% com relação ao primeiro ano. Ressalta-se que segundo informações do MCTI,
o setor automotivo é o que possui a maior representatividade de empresas com
benefício superior a R$ 5 milhões7.
No primeiro ano de utilização da Lei do Bem, o setor moveleiro não teve nenhuma
empresa na lista de habilitadas, apresentando desde 2007 participação média de 10
empresas. Em 2011, 21 empresas foram habilitadas, o que significou um aumento de
7 SACRAMENTO, Pedro. Incentivos fiscais, inovação e valorização das empresas nacionais, acessado em 07.11.2012.
100000,000
Agroind
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Química
0
20
40
60
80
10
120
140
160
200000,000
300000,000
400000,000
500000,000
600000,000
Nº de empresasRenúncia fiscal
,000
Números de empresasRenúncia fiscal
10
160% de participação. Contudo, a média de renúncia fiscal é de apenas R$ 332 mil, o
que representa menos de 1% da renúncia total.
Assim como o setor moveleiro, as empresas do setor de telecomunicações também
utilizaram os benefícios da Lei do Bem pela primeira vez em 2007, quando foram
apenas 3 empresas habilitadas. O ano de 2009 foi o de maior representatividade, com
21 empresas habilitadas e média da renúncia fiscal de R$ 2,1 milhões. Entretanto,
desde 2010 esse setor vem apresentando uma redução significativa no número de
empresas habilitadas, sendo tão somente 2 empresas habilitadas em 2011, sendo
a média da renúncia fiscal de R$ 1,1 milhão. A causa, segundo exposto pelo MCTI
é a prática usual de terceirização das atividades de pesquisa e desenvolvimento
tecnológico neste setor8.
Setor que tem grande destaque nos investimentos realizados em P,D&I, o petroquímico,
é representado por 4 empresas no ano de 2011. Percebe-se também que houve uma
diminuição das empresas habilitadas desde 2007, primeiro ano de participação de
empresas do setor. Destaca-se que não é possível fazer a média da renúncia fiscal do
setor, pois os números da renuncia fiscal são apresentados juntamente com o setor
de química.
IV - Conclusões
A Estratégia Nacional para Ciência, Tecnologia e Inovação (Encti) prevê para o período
de 2012–2015 que a proporção de investimento em pesquisa e desenvolvimento, em
relação ao produto interno bruto (PIB) seja 1,8%.
Os dados mais atualizados são de 2010, em que 1,16%9 do PIB foi destinado a pesquisa
e desenvolvimento, sendo que cerca de 53% refere-se a investimentos públicos e 47%
privados.
Segundo os dados apresentados pelo MCTI, o investimento realizado pelas empresas
que se utilizaram dos benefícios previstos na Lei do Bem representa 0,13% do PIB
brasileiro, percentual menor que o apresentado no ano base 2010, que foi de 0,19%
do PIB.
8 SACRAMENTO, Pedro. Incentivos fiscais, inovação e valorização das empresas nacionais, acessado em 07.11.2012.9 Fonte: MCTI - Brasil: Comparação dos dispêndios em P&D (em valores de 2010) com o produto interno bruto (PIB), 2000-2010
11
De acordo com o Relatório ano base 2011, tal redução pode ter sido motivada pela
crise econômica da Europa e dos Estados Unidos que repercutiu no Brasil, afetando
diretamente os investimentos privados em pesquisa e desenvolvimento, pois quando
se compara a média dos investimentos por empresa habilitada realizado em 2011 –
R$ 8,9 milhões, com a de 2010 – R$ 13,5 milhões, percebe-se essa redução.
Ressalta-se, entretanto, que somente são considerados para essas análises os
dispêndios passíveis de benefício pela Lei do Bem, sendo excluídos, por exemplo,
valores com importados, pagamentos de terceiros para execução das atividades de
P,D&I, entre outros.
Assim, entendemos que os dados apresentados pelo Relatório não são suficientes
para retratar a realidade de investimento em P,D&I do setor privado.
E ainda, percebe-se que houve um aumento significativo no número de empresas que
aderiram a Lei do Bem. O MCTI considerou que as informações foram prestadas de
forma mais consistentes, razão pela qual o número de empresas não relacionadas na
lista de habilitadas, por informações imprecisas e/ou incompatíveis ao atendimento
dos dispositivos da Lei nº 11.196/05, reduziu em 17%.
Verifica-se que os mecanismos de incentivo à inovação do Governo Federal têm
apresentado resultados positivos, mesmo com o cenário econômico atual. Ao longo
dos anos mais empresas se estruturam para o desenvolvimento de inovação, o que
garante a competitividade das empresas brasileiras no contexto atual.
Contudo, espera-se ainda maior amadurecimento tanto por parte das empresas
como por parte do Governo Federal. O número de empresas que aderiram a Lei do
Bem representa somente 15%10 do total de empresas que realizam atividades de
pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação tecnológica no Brasil11. Dessa
forma, a constante prática de atividades de inovação pelas empresas, atrelada com a
estruturação técnica e contábil de acordo com o exigido pela legislação fará com que
se mantenha o crescimento constante da adesão à Lei do Bem.
Espera-se do Governo Federal um constante aperfeiçoamento dos marcos legais
relacionados à inovação e que esses sejam elaborados de acordo com a realidades
das empresas, de forma a efetivamente incentivar a prática da inovação. Uma das
medidas que auxiliaria, seria um processo formal de comunicação entre as empresas
contribuintes e o MCTI.
10 Segundo dados apresentados no próprio Relatório do MCTI.11 Ressalta-se que somente as empresas que realização apuração com base no lucro real podem utilizar os incentivos fiscais previstos na Lei do Bem.
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É necessário também a expansão do mecanismo de incentivos fiscais às atividades
de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica a empresas de
outros portes, que apuram pelo lucro presumido e micro e pequenas empresas, de
forma que todo o empresariado brasileiro se sinta estimulado a inovar.
13
AUTORAS
Bruna Soly é analista de projetos da Inventta+bgi, graduada em Direito pela Faculdade de Direito Milton Campos, com
especialização em Direito Tributário pela mesma faculdade. Atua em projetos de incentivos fiscais à inovação tecnológica e
estruturação de centros de pesquisas de grandes empresas, como Inhotim, Magneti Marelli, M. Dias Branco, Philips, Votorantim
Cimentos.
Manuela Soares é sócia-diretora da Inventta+bgi. Consolidou a área de Recursos Financeiros para Inovação, na qual desempenha
um papel importante de desenvolvimento de competências e metodologias. Atualmente é responsável pela prospecção de novos
clientes. Foi responsável pela gestão de projetos de incentivos fiscais à inovação e fomento à inovação em empresas como
Grupo Usiminas, Grupo Votorantim, Fiat Automóveis, Magneti Marelli, Teksid, CNH, Iveco, Scania, Natura, Fibria, Suzano, Sadia
e Kraft Foods. Formou-se no Ibmec-MG em Administração de Empresas. Antes de tornar-se sócia da Inventta+bgi, atuou no
Instituto Inovação como gestora de projetos de elaboração de plano de negócios, mapeamento de tecnologias, valoração de
tecnologias, avaliação de tecnologias em programas governamentais junto à universidades.
Maria Carolina Rocha é coordenadora da Inventta+bgi e trabalha a 6 anos com Inovação. Atua principalmente na área de Gestão
Estratégica de Recursos para Inovação e planejamento tributário, coordenando equipes na análise de projetos, enquadramento
legal e avaliação fiscal dos benefícios. Possui experiência também na elaboração de pareceres na área fiscal e tributária acerca
da utilização dos incentivos e outros temas da área tributária e empresarial; estruturação de empresas e entidades sem fins
lucrativos; captação de recursos e acompanhamento dos mecanismos de fomento disponíveis. Já coordenou projetos de
incentivos fiscais à inovação e fomento à inovação em empresas CNH, Magneti Marelli, Teksid, Natura, Usiminas, Unigal, Kraft
Foods, Fibria, Aethra, Vale, entre outros. Formou-se na Faculdade Milton Campos em Direto, local onde fez Pós Graduação em Direito
Tributário.
+ a Braithwaite Global Group member