análise territorial da estância turística de...
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Análise territorial da
Estância Turística de
Cananéia:
da questão ambiental ao
Plano Diretor
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO –
ARQUITETURA E URBANISMO
Patrícia Dias Geraldo
Profª orientadora – Nilce Aravecchia
dezembro / 2009
Dedico esse trabalho aos meus avós,
Almeido e Francelina (in memoriam).
O casal de caiçaras que deixou como herança
para a sua e para as futuras gerações
a lição de que o “ter” não é nada perto do “ser”.
Agradeço a Deus em primeiro lugar, por ter me
concedido a oportunidade de chegar até aqui.
Agradeço a Deus por ter me abençoado com uma
família que se transformou na minha Fortaleza para que eu, de
fato, pudesse chegar até aqui.
Mas também agradeço a Deus, por ter me concedido
uma generosa orientadora, Nilce Aravecchia, que com seu
olhar atento às necessidades do Homem, consegue recriar um
pouco do que deve ser o Reino.
Agradeço a Deus pela colaboração da profª Almerinda
Fadini, por ter me transmitido com tanta energia o ideal de um
modo de vida sustentável na Terra.
Senhor, eu Te agradeço pelos Mestres com os quais
eu pude entender que “a Arquitetura é música petrificada”.
(Goethe)
Agradeço a Deus pelos meus amigos e por nossa
relação de cumplicidade e ajuda mútua durante o nosso curso.
Agradecendo a Deus por todos os que passaram por
mim durante esses anos, agradeço pessoalmente a cada um
por tudo que representaram na minha vida pessoal,
profissional e acadêmica.
ÍNDICE DE FIGURAS, MAPAS, GRÁFICOS E TABELAS
Figura 1: Setorização do Litoral Paulista – Vale do Ribeira e Complexo
Estuarino Lagunar
Figura 2: Setorização do Litoral Paulista – Baixada Santista e Litoral Norte
Figura 3: vista aérea do município de Cananéia
Figura 4: boto cinza
Figura 5: mata de restinga de Cananéia
Figura 6: manguezal
Figura 7: Gravatá e palmeira Juçara
Figura 8: sambaqui
Figura 9: antigo casario
Figura 10: piso do Acervo de Lisboa
Figura 11: lateral da Igreja com as seteiras
Figura 12: Ocupação urbana entre os séculos XVII e XVIII
Figura 13: antigo casario da rua Tristão Lobo – Rua do Fogo
Figura 14: antigo casario da rua Tristão Lobo
Figura 15: antigo casario da rua Tristão Lobo
Figura 16: igreja matriz de São João Batista
Figura 17: Ocupação urbana no século XIX
Figura 18: Ocupação urbana no século XX
Figura 19: Acesso do porto Bacharel à praça Martim Afonso de Souza,
onde está situada a igreja. Em destaque, o casario. Anos de 1940.
Figura 20: Ilha da Casca
Figura 21: Porto Bacharel nos anos 40 e nos dias atuais
Figura 22: Igreja de São João Batista – antiga fortificação
Figuras 23: Praça Martim Afonso de Souza nos anos 40
Figura 24: Praça Martim Afonso de Souza nos dias atuais
Figura 25: Morro de São João
Figura 26: Morro de São João
Figura 27: aterro para implantação da avenida Beira Mar
Figura 28: avenida Beira Mar anos 40
Figura 29: avenida Beira Mar
Figura 30: Figueira Centenária
Figura 31: Rua do Artesanato
Figura 32: Circuito de Turismo na Agricultura Familiar
Figura 33 – Câmara Municipal
Figura 34: Fórum
Figura 35: delegacia
Figura 36: Museu Municipal “Victor Sadovsk
Figura 37: Ilha Comprida - Boqueirão Sul
Figura 38: Porto Cubatão
Figura 39:caiçaras tecendo redes
Figura 40: cerco
Figura 41: Conjunto arquitetônico tombado no centro histórico de
Cananéia
Figura 42: Conjunto arquitetônico tombado no centro histórico de
Cananéia
Figura 43: casario da rua Dom João
Figura 44: casario da rua Dom João
Figura 45: casario da rua Bandeirante
Figura 46: casario da rua Bandeirante
Figura 47: Praça Martim Afonso de Souza
Figura 48: casario da rua Tristão Lobo
Figura 49: localização de bairros
Figura 50: bairro do Itapitangui, foto tirada do interior do ônibus
Figura 51: “lixão” do Ariri
Figura 52: orla de Cananéia sem a garagem náutica
Figura 53: atividade pesqueira caiçara
Figura 54: garagem náutica de uso particular
Figura 55: mansão à beira-mar e garagem náutica
Figura 56: acesso restrito e área de uso exclusivo dos sócios da marina
Figura 57: acesso restrito e área de uso exclusivo dos sócios da marina
Figura 58: placa na avenida Beira Mar
Figura 59: calçada
Figura 60: calçada
Figura 61: calçada
Figura 62: calçada
Figura 63: calçada
Figura 64: calçada
Figura 65: piso tátil
Figura 66: acesso à balsa
Figura 67: acesso à balsa
Figura 68: transição de pavimentos
Figura 69: avenida Independência antes do asfalto
Figura 70: avenida Independência depois do asfalto
Figura 71: avenida Beira Mar
Figura 72: lixeiras no passeio da avenida Beira Mar
Figura 73: praça no bairro do Carijo
Figura 74: praça no bairro do Carijo
Figura 75: praça da Alameda do Descobrimento
Figura 76: praça no bairro do Carijo
Figura 77: praça Theodolina Gomes
Figura 78: praça Theodolina Gomes
Figura 79: praça Theodolina Gomes
Figura 80: bancos na rua do Artesanato
Figura 81: bancos na rua do Artesanato
Figuras 82: mobiliário urbano da rua do Artesanato
Figura 83: rampa
Figura 84: acesso à rua do Artesanato junto à praça Theodolina Gomes
Figura 85: Praça da Figueira Centenária
Figura 86: Praça na avenida Independência
Figura 87: passage de pedestre
Figura 88: heliponto
Figura 89: Portal da cidade
Figura 90: localização do empreendimento
Figura 91: arruamento e lotes do empreendimento
Figura 92: licença de operação do loteamento
Figura 93: área durante a implantação
Figura 94: área atual
Figura 95: portaria do empreendimento – acesso restrito
Figura 96: nascente dentro da área do loteamento
Figura 97: casa
Figura 98: córrego
Figura 99: esgoto doméstico sendo despejado diretamente no córrego
no bairro Acaraú
Figura 100: lixo doméstico despejado no mangue
Figura 101: lixo doméstico despejado sobre área de mangue
Figura 102: degradação de mata ciliar
Figura 103: ociosos
Figura 104: ociosos
Figura 105: ociosos
Figura 106: ociosos
Figura 107: ociosos
Figura 108: ociosos
Figura 109: equívocos na linguagem arquitetônica
Figura 110: ruínas da rua Tristão Lobo – área tomabada pelo
CONDEPHAAT
Figura 111: ruínas da rua Tristão Lobo – área tomabada pelo
CONDEPHAAT
Figura 112: edificação ao lado direito do Museu Municipal não respeitou
gabarito de altura da rua
Figura 113: edificação ao lado direito do Museu Municipal não respeitou
gabarito de altura da rua
Figura 114: área de restinga
Figura 115: área de restinga
Figura 116: Ariri
Figura 117: Ariri
Figura 118: Ariri
Figura 119: Ariri
Figura 120: macrozoneamento na imagem de satélite
Figura 121: localização em imagem de satélite
Figura 122: localização em imagem de satélite
Figura 123: localização em imagem de satélite
Figura 124: Canal do Ariri
Figura 125: comunidade do Ariri
Figura 126: localização em imagem de satélite
Figura 127: localização em imagem de satélite
Figura 128: localização em imagem de satélite
Figura 129: localização em imagem de satélite
Figura 130: localização em imagem de satélite
Figura 131: localização da EU 1 em imagem de Satélite
Figura 132: rio Olaria
Figura 133: lixo domestic
Figura 134: lixo doméstico
Figura 135: bairro Acaraú
Figura 136: bairro Acaraú
Figura 137: Retiro das Caravelas
Figura 138: Retiro das Caravelas
Figura 139: Retiro das Caravelas
Figura 140: Retiro das Caravelas
Figura 141: comércio local
Figura 142: comércio local
Figura 143: Hotel Glória
Figura 144: localização em imagem de satélite
Figura 145: localização em imagem de satélite
Figura 146: bairro Itapitangui
Figura 147: bairro Porto Cubatão
Figura 148: localização em imagem de satélite
Figura 149: praia da Freguesia São Paulo Bagre
Figura 150: localização em imagem de satélite
Figura 151: localização em imagem de satélite
Figura 152: orla de Cananéia
Figura 153: localização em imagem de satélite
Figura 154: avenida Independência
Figura 155: avenida Independência
Figura 156: calçada
Mapa 1 – Situação atual do ZEE no Brasil
Mapa 2 – Localização do município no Estado de São Paulo
Mapa 3 – Parque Estadual da Ilha do Cardoso
Mapa 4 – Reserva Extrativista do Mandira
Mapa 5 – Mosaico de Jacupiranga
Mapa 6 – Limite de municípios
Mapa 7 – principais vias de acesso
Mapa 8 – escala aproximada
Mapa 9 – bacia hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape
Mapa 10- Cartograma da Bacia Hidrográfica do Ribeira de Iguape
Mapa 11: Arruamento do município e segregação espacial
Mapa 12 – localização das barragens
Mapa 13: Macrozoneamento
Mapa 14: Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo
Mapa 15: Estância Urbana 1 – EU 1
Mapa 16: Estância Urbana 2 – EU 2
Mapa 17: Estância Urbana 3 – EU 3
Mapa18 : EIXO URBANO 1
Gráfico 1 – população de Cananéia por situação – IBGE 2000
Gráfico 2 – número de habitantes de Cananéia – IBGE 2000
Gráfico 3 – frota municipal de veículos
Tabela 1 – Dados gerais – IBGE 2000
Tabela 2 – fluxo de veículos na balsa Cananéia / Ilha Comprida
Tabela 3 - Parâmetros de Uso e Ocupação do Solo do Anel para
Consolidação
Tabela 4 – Parâmetros de Uso e Ocupação do Solo da EU 2
Tabela 5 - Parâmetros de Uso e Ocupação do Solo para a ZOP 2
Tabela 6 – Parâmetros de uso e ocupação do solo para o EIXO URBANO 1
Tabela 7 – Parâmetros de uso e ocupação do solo para o EIXO URBANO 2
Tabela 8 – Parâmetros de uso e ocupação do solo para o EIXO TURÍSTICO
– ET
Tabela 9 – Parâmetros de Uso e Ocupação do Solo para o SUB-EIXO
TURÍSTICO
SUMÁRIO
1 – Introdução e objetivos, 1
2 – Procedimentos metodológicos, 4
3 – Justificativa e revisão bibliográfica, 4
3.1 - origens e desenvolvimento da questão ambiental
e do conceito se sustentabilidade, 4
3.1.1 - algumas origens dos problemas
ambientais, 4
3.1.2 - o desenvolvimento econômico e as
questões urbana e ambiental, 6
3.2 – Políticas e programas ambientais: o Brasil, o
Estado de São Paulo, o Vale do Ribeira, 15
4 – caracterização do objeto de estudo: Cananéia – SP, 22
4.1 – aspectos físicos, 22
4.1.1 – localização, 22
4.1.2 – bacia hidrográfica, 27
4.1.3 – fauna e flora, 28
4.2 – aspectos demográficos, 30
4.3 – aspectos históricos, 32
4.4 – evolução urbana, 36
4.5 – turismo, 39
4.5.1 – principais pontos turísticos, 39
4.6 – aspectos culturais, 45
4.7 – patrimônio arquitetônico, 47
5 – Diagnósticos, 48
5.1 – aspectos gerais - problemas sociais, 48
5.2 – aspectos específicos, 51
5.2.1 – Barragem de Tijuco Alto, 51
5.2.2 – aterro sanitário, 53
5.2.3 – garagens náuticas, 54
5.2.4 – tratamento de água e coleta de esgoto,
55
5.2.5 – mobiliário, equipamentos urbanos,
comunicação visual, 56
5.2.6 – loteamento horizontal fechado, 62
5.2.7 – transporte urbano, 65
5.2.8 – degradação ambiental e urbana, 65
6 – Análise das propostas de Minutas de Lei, 68
6.1 – Análise da Minuta de Lei do Plano Diretor, 68
6.2 – Análise da Minuta de Lei do Zoneamento, Uso e
Ocupação do Solo Urbano e Rural, 81
6.3 – Análise da Minuta de Lei do Sistema Viário, 96
6.3.1 – Análise dos Parâmetros de Uso e
Ocupação do Solo dos EIXO URBANOS, 98
7 – Diretrizes e gestão de planejamento, 101
8 – Propostas e conclusões, 103
1
1 – Introdução e objetivos
A minha aproximação com o município de Cananéia
deu-se a partir da relação com o lugar como turista e por
ser a terra natal de muitos dos meus familiares.
Ao visitar Cananéia em seguidas férias de verão,
pude observar as mudanças na área urbana que me
impuseram alguns questionamentos sobre Planejamento
Urbano, preservação da cultura e do patrimônio histórico, o
desgaste da infraestrutura da cidade em função do uso
turístico e, principalmente a questão da preservação
ambiental.
No decorrer do curso, as disciplinas de Urbanismo e
Planejamento Urbano e Regional foram fundamentais para
que eu desenvolvesse um olhar mais crítico e argumentado
sobre a Cidade, esse espaço de inter-relações sociais e da
relação das pessoas com o próprio espaço.
Recuperando Leonardo Benevolo:
“A cidade – local de estabelecimento aparelhado,
diferenciado e ao mesmo tempo privilegiado, sede da
autoridade – nasce da aldeia, mas não é apenas uma aldeia
que cresceu. Ela se forma, (...), quando as indústrias e os
serviços já não são executados pelas pessoas que cultivam
a terra, mas por outras que não tem essa obrigação, e que
2
são mantidas pelas primeiras com o excedente do produto
total.” (BENEVOLO, 2005: 23)
Da aldeia Neolítica à cidade contemporânea, o
espaço urbano configurou-se em um verdadeiro cenário
onde os atores sociais desempenham seus papéis
relacionados ao trabalho e ao lazer e às suas necessidades
básicas de habitação e circulação.
Para o desenvolvimento das cidades foi necessária a
ocupação de ambientes naturais. Entretanto, a falta de uma
consciência ecológica na expansão urbana provocou
impactos negativos sobre o Meio Ambiente. A adequação
dos espaços ao cumprimento das funções da Cidade seguiu
uma lógica pautada no desenvolvimento econômico não-
sustentável, com um modelo de produção industrial que
esgota os recursos naturais e não prevê a reciclagem dos
produtos finais.
A globalização é um elemento muito importante e que
provoca forte pressão sobre o espaço urbano e sua
identidade, alterando os valores que o cidadão possa ter
estabelecido com o seu lugar de vivência. Na lógica da
globalização o espaço urbano é consolidado como espaço
de fluxos. O meio ambiente também é drasticamente
impactado pois o consumo, peça-chave do sistema
econômico, é cada vez mais incentivado, promovendo o
esgotamento das fontes de energia utilizadas na produção,
agravando os problemas relacionados à poluição e
aumentando os resíduos não-recicláveis despejados na
Natureza.
O desgaste das relações sociais é sintomático da
globalização, pois a mesma, ao não promover a eqüidade e
privar o cidadão do convívio com sua família e com os
demais, em função da urgência do volume da produção, faz
com que a cidade seja o cenário da desigualdade, da falta
de perspectiva e da degradação do meio ambiente e do
Homem.
E a perversidade do tipo de consumo implementado
pelo sistema econômico se estende também ao turismo. No
Estado de São Paulo, o fluxo turístico, entre outros
roteiros, avança sobre as parcelas mínimas ainda
preservadas de Mata Atlântica na região litorânea.
Consideradas como verdadeiros “paraísos naturais”,
pequenas cidades tem incrementado suas economias com o
aumento do fluxo turístico. Entretanto, sem um planejamento
adequado de infraestrututura urbana e instrumentos de
proteção do meio ambiente, o que pode ser
economicamente lucrativo, também provocará o desgaste
do lugar e a deterioração de sua identidade, fazendo com
que esse fluxo turístico abandone a visitação à cidade e
migre para outros “paraísos”.
3
A localização de reservas de petróleo no litoral
paulista já está provocando o incremento da população
nessas regiões bem como o aumento de empreendimentos
imobiliários que visam atender a demanda que migrará para
esses locais.
Para regular o uso do território das cidades,
especialmente as que apresentam fragilidades ambientais
como as litorâneas, o Plano Diretor é uma ferramenta de
fundamental importância para a preservação ambiental a nível
local.
As diretrizes, objetivos e pressupostos do
Gerenciamento Costeiro Nacional, das AGENDA 21 Global,
AGENDA 21 Brasileira e AGENDA 21 Local oferecem os
subsídios necessários à elaboração de Planos Diretores
que, através de instrumentos específicos de ação,
fiscalização e gestão democráticas, garantam a integridade
do espaço urbano, do meio ambiente e das relações
sociais.
Como objetivo geral desse trabalho, pretende-se
analisar o Plano Diretor do município de Cananéia - SP,
especificamente o zoneamento urbano, identificando os
seus princípios e sua efetividade e a relação deste
instrumento com outros planos de políticas públicas
voltadas à sustentabilidade sócio-ambiental, dentre eles as
ações propostas pela AGENDA 21.
Para subsidiar essa análise, estabeleceu-se os
objetivos específicos:
a) Verificar o alinhamento do Plano Diretor do
município com as questões ambientais segundo o
Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, a
AGENDA 21, AGENDA 21 BRASILEIRA e AGENDA
21 LOCAL.
b) Aferir a viabilidade das ações propostas no Plano
Diretor que objetivam atender as exigências e
restrições de uma área costeira e de
preservação ambiental.
c) Analisar se o zoneamento proposto para o
município alinha-se com o Zoneamento Ecológico-
Econômico.
d) Analisar as ações propostas para o
fortalecimento do turismo no município e se
atendem às legislações ambientais municipais,
estaduais e federais.
e) Verificar se os equipamentos e mobiliário urbanos
atendem a demanda do fluxo turístico de modo
adequado e diagnosticar se o município promove
o uso de sua estrutura e de seus atributos de
forma a gerar renda à população local sem
degradar a área de uso turístico.
4
f) Verificar as ações de preservação do patrimônio
histórico do município, bem como o uso das
áreas tombadas pelo CONDEPHAAT.
g) Identificar se as ações propostas pelo Plano
Diretor, bem como seus instrumentos legais,
promovem a afirmação da identidade do lugar e
as relações sociais da população local.
Este trabalho de conclusão de curso pretende
contribuir com o pensamento sobre a ocupação urbana em
relação às questões ambientais, a partir do caso específico
de Cananéia. Por ser um município que está localizado na
APA Iguape – Peruíbe – Cananéia, por ainda conservar
porções significativas de Mata Atlântica e pela fragilidade
ambiental que caracteriza de forma geral o seu território,
ele merece um debruçar específico sobre os seus
problemas de planejamento.
2 – Procedimentos Metodológicos
A metodologia utilizada na realização desse Trabalho
de Conclusão de Curso envolveu:
a) o estudo de uma base teórica pertinente ao tema
geral proposto;
b) a análise das Minutas de Lei do Plano Diretor do
Município de Cananéia e do Zoneamento e Uso e
Ocupação do Solo;
c) o registro fotográfico em diversas regiões do
município em agosto de 2009;
d) entrevistas informais com a população e funcionários
públicos municipais.
3 – justificativa e revisão bibliográfica
3.1 – origens e desenvolvimento da questão ambiental e do
conceito se sustentabilidade
3.1.1 – algumas origens dos problemas ambientais
O modelo de desenvolvimento econômico vigente,
pautado na lógica capitalista do lucro constante e
renovável, que implica na produção em massa, no consumo
e no uso de combustíveis fósseis, comprometeu a vida na
Terra, tanto no aspecto ambiental como social.
O papel das cidades nesse sistema é o de ser o
“centro de gestão e acumulação do capital, núcleos de comando de
uma vasta rede que integra o urbano e o rural.” (GRAZIA, 1993:
281).
A expansão urbana, impulsionada pela economia,
ocorreu de forma desordenada e desconectada de
5
princípios de uso sustentável e preservação das matrizes
energéticas não-renováveis. “Hoje, milhões de pessoas vivem nos
centros urbanos em críticas condições de poluição, privados de
qualquer perspectiva de satisfazer suas mais elementares necessidades
de alimentação, moradia, etc.” (GRAZIA, 1993: 281)
O gás carbônico que a Natureza levou milhões de
anos para fossilizar sob profundas camadas de terra, a
partir da Segunda Revolução Industrial, no século XIX, vem
sendo liberado através da combustão dos motores da
indústria e dos veículos de locomoção que utilizam o
petróleo como fonte de energia.
A sustentação de um padrão de consumo instituído
pela economia capitalista, principalmente pós-Segunda
Guerra Mundial, exigiu o aumento da velocidade de
produção e do controle sobre a mão-de-obra operária e
estabeleceu um círculo vicioso que promoveu a degradação
do meio ambiente e a exclusão de uma parcela da
sociedade de alguns benefícios, gerando fortes impactos
negativos no âmbito social. Nesse sistema o indivíduo é
valorizado por sua capacidade de consumir, deixando à
margem dos atributos sociais e urbanos aqueles que não
conseguem contribuir de modo efetivo com o funcionamento
da chamada “economia de materiais”.
Segundo a pesquisadora norte-americana Annie
Leonard, a “economia de materiais” é um sistema em crise
pois trata-se de modelo linear em um planeta finito, ou seja,
não é auto-sustentável em relação às características
naturais dos recursos enérgicos não-renováveis da Terra.
(WWW.storyofstuff.com)
Especificamente após os anos de 1950, introduziu-
se nos meios de produção e consumo os conceitos de
“obsolescência planejada” e o da “obsolescência
perceptiva”. Como a mola propulsora do sistema é o
mercado consumidor, estudiosos americanos defendiam que
a solução para a crise econômica instaurada após a
Segunda Guerra Mundial, era intensificar o consumo para
manter em funcionamento o sistema capitalista. Para tanto,
os novos produtos lançados no mercado eram projetados
para ter uma durabilidade menor em relação aos modelos
anteriores, ou seja, a aplicação prática do conceito da
obsolescência planejada. Para garantir o consumo, os
anúncios e propagandas convenciam as pessoas de que era
necessário jogar fora o que estava “obsoleto”, -
obsolescência perceptiva, - para que elas se enquadrassem
ao sistema. Segundo a pesquisadora Annie Leonard,
atualmente os americanos têm muito mais coisas dentro de
suas casas quando comparados com as famílias de 50 anos
atrás, porém esses objetos de consumo duram muito
menos, quebram muito mais e são descartados numa
velocidade muito grande: 99% do que se adquiri é
descartado em 6 meses.
6
Para garantir a velocidade de produção e consumo,
os fortes impactos negativos sofridos pelo planeta são
vários, e vão do aspecto ambiental ao social. A exploração
dos recursos naturais como fonte de matéria-prima e
produção de energia para a indústria, não ocorre apenas no
território onde será produzido o bem de consumo, mas
também nas reservas dos países sub-desenvolvidos. Por
sua vez, é gerado forte impacto social, pois com o
esgotamento dos bens naturais e com a falta de
alternativas, a comunidade local é forçada a migrar rumo aos
centros urbanos, que, inchados, correspondem a um
cenário de desemprego, falta de assistência social, déficit
habitacional, violência urbana, entre outros.
O aumento da produção representa maior emissão
de gases tóxicos na atmosfera e resíduos líquidos e sólidos
no meio ambiente, além de exigir um grande esforço dos
trabalhadores, que além de trabalhar, precisam consumir e,
dessa forma, trabalhar cada vez mais, tendo menos tempo
para o convívio social.
Em um dos extremos da cadeia do sistema está a
problemática da produção de lixo. Grande parte do lixo
produzido não é reciclável e a sua produção é proporcional
ao consumo. Os aterros sanitários ou a incineração do lixo
é extremamente prejudicial ao meio ambiente e às pessoas,
pois libera grande quantidade de produtos tóxicos no ar,
solo e lençóis freáticos.
A questão colocada é a da cultura do “usar e jogar
fora”, em contraposição à eqüidade e sustentabilidade. A
pesquisadora Leonard defende que um sistema sustentável
deve ser composto por uso de química verde, produção
zero de resíduos, produção em círculo fechado, uso de
energia renovável e incentivo às economias locais.
3.1.2 – o desenvolvimento econômico e as questões
urbana e ambiental
A necessidade de controle sobre a produção e sua
distribuição desenhou o espaço urbano e estabeleceu uma
lógica de organização das cidades. “... os processos
sociais exercem influência no espaço, atuando no ambiente
construído...” (CASTTELS, 2007)
Apesar de todo esse panorama negativo em relação
aos centros urbanos como protagonistas da catástrofe
ambiental, o urbanista Marcos Virgílio da Silva (2004)
defende que há preconceitos anti-urbanos por parte dos
ambientalistas que responsabilizam a cidade pela destruição
da natureza. No artigo “Feridas e curativos – a questão
ambiental urbana em debate”, ele cita que para um grupo de
ambientalistas “o ideal de vida parece corresponder a um
espaço muito pouco povoado (densidade populacional baixa)
7
e repleto de “verde” e critica esse modo de pensar a
questão ambiental problematizando a questão social.
“Foi mostrado como a cidade de São Paulo tem sofrido os
dramas dessa ideologia fugere urbem: a região provida da maior oferta
de infra-estrutura perdeu população na última década (em grande parte
a população que busca os condomínios fechados e chácaras nos
arredores da metrópole), deixando terrenos e imóveis vagos ou
subutilizados que, no entanto, permanecem "valorizados" o suficiente
para que as populações de menor renda não tenham nenhuma condição
de aquisição de moradia no mercado "formal". Ao mesmo tempo – e
também por esse motivo – as regiões mais periféricas da metrópole
apresentaram verdadeira explosão populacional, ocupando exatamente
as áreas ambientalmente mais frágeis (mananciais, remanescentes
florestais, e áreas de relevo mais acidentado e solo mais frágil, ou mais
sujeitas a inundações). Mais do que isso: o número de imóveis vagos
corresponde exatamente ao déficit habitacional na Região Metropolitana
(500.000 unidades). Em resumo: é hora de levar seriamente em
consideração o “impacto ambiental da natureza”.
(WWW.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp278.asp)
O panorama de esgotamento dos recursos naturais e
do colapso do planeta, agravado ainda pelo patamar de
mais 6 bilhões de habitantes, não é mérito dos países
desenvolvidos, mas é um problema resultante também da
globalização da economia e diz respeito a todos os países,
a cada cidade, a cada comunidade presente na Terra e
perpassa por importantes questões sociais.
A profa. dra. Almerinda Fadini, no capítulo “Os
descompassos do desenvolvimento e a busca por uma
sustentabilidade ambiental”, em sua tese de doutorado,
cita o autor Morin para contextualizar a complexidade do
atual processo de globalização:
“este mundo torna-se cada vez mais um todo. Cada parte do
mundo faz, mais e mais, parte do mundo e o mundo, como um todo,
está cada vez mais presente em cada uma de suas partes. Isto se
verifica não apenas para as nações e povos, mas para os indivíduos.”
(MORIN in FADINI, 2005: 67)
Segundo Fadini, “enquanto alguns têm acesso à era
da informação e do consumo universal, outros tantos vivem
da exploração de sua mão-de-obra e da descaracterização
de sua cultura.”
A globalização da economia exerce forte pressão
sobre os recursos ambientais e energéticos dos países
sub-desenvolvidos e em desenvolvimento e não significam,
de forma alguma, a globalização das riquezas, mas sim, dos
problemas ambientais. Os países de Primeiro Mundo
transferem a esses países a instalação de fábricas que
lançam poluentes em seu ambiente e exploram a mão-de-
obra local, com a intenção de reduzir os impactos negativos
da produção em seu território e de aumentar os lucros de
sua matriz.
Para Fadini, a tradução do mundo contemporâneo se
dá
“por duas imagens que se entrelaçam e se sobrepõem, sendo
que uma projeta o avanço tecno-científico... a outra retrata a
desigualdade social, a falta de acesso a bens necessários para suprir o
8
essencial, a ausência de políticas de qualidade educacional e cultural, a
degradação ambiental e o descompromisso com a qualidade de vida da
maioria da população residente no planeta.” (FADINI, 2005: 22)
Desestruturação social e degradação ambiental
compõem a máxima do mundo moderno e globalizado,
pautado numa teoria de desenvolvimento econômico e
progresso que não considerou o indivíduo e seu ambiente
nos processos de produção.
“a questão ambiental problematiza as próprias bases da
produção; aponta para a desconstrução do paradigma econômico da
modernidade, para uma compreensão da insustentabilidade ambiental
como um sintoma da crise da civilização e para a construção de futuros
possíveis, fundados nos limites das leis da natureza, nos potenciais
ecológicos, na produção de sentidos sociais e na criatividade humana.”
(LEFF, 2004, in FADINI, 2005:17)
Dessa forma, a partir da segunda metade do século
XX, a ação humana sobre o ambiente passou a ser
questionada pois eram notórios os riscos provocados à sua
própria sobrevivência. A partir da década de 1960 as
discussões são aprofundadas em encontros e conferências
impulsionando, “o surgimento de novos paradigmas em
torno do conceito de sustentabilidade.” Mas deve-se fazer
a ressalva de que esses encontros e conferências mundiais
geraram mudanças de conceitos e atitudes necessários à
sustentabilidade ambiental, porém intrinsecamente ligados
aos interesses econômicos. (FADINI, 2005)
A Organização Mundial das Nações Unidas (ONU)
convoca os países para a Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente Humano, em 1972, em Estocolmo
que contou com a presença de 113 países e 250
Organizações não-governamentais (ONGs) e inaugurou o
conceito de sustentabilidade.
A preparação da Conferência revelou duas posições
opostas a respeito dos impactos do crescimento
econômico sobre o meio ambiente. As idéias desenvolvidas
pelo Clube de Roma, denominadas Limites do Crescimento
influenciaram diretamente aqueles que defendiam o
crescimento zero, ou seja, a estagnação do crescimento
demográfico econômico como único meio de se evitar o
“apocalipse”. Do outro lado, os “defensores do
crescimento a qualquer custo” defendiam que todas as
preocupações a respeito do assunto eram descabidas e
que comprometiam a industrialização dos países em
desenvolvimento.
Embora extremista, o Clube de Roma apresenta
pontos importantes em seu relatório, um deles, a
constatação de que os países altamente industrializados
mantém uma relação de dependência dos recursos naturais
dos demais países, subdesenvolvidos em sua maioria,
exercendo forte pressão sobre o ambiente e a comunidade
local para manter as atividades de produção e a demanda
do consumo:
“a visão de vários economistas que defendem que o progresso
dos países do terceiro mundo ocorrerá mediante a reprodução dos
sistemas adotados pelos países que lideram a sociedade industrial, ou
seja, através do acúmulo do capital e dos investimentos nos meios
tecnológicos, reforçam o mito de um desenvolvimento econômico. Esse
mito não considera as conseqüências da tese do crescimento, que
9
expressam-se em diversos e significativos impactos sócio-ambientais e
culturais.” (FURTADO, 1974 in FADINI, 2005:24)
Durante a Conferência de Estocolmo as posições
extremistas foram descartadas e novos paradigmas foram
formulados, pautados no conceito de desenvolvimento
sustentável. Os países participantes assinaram dois
documentos, a Declaração sobre o Meio Ambiente Humano
e um Plano de Ação que convocava a todos para a busca de
soluções ambientais.
Em 1987, a Comissão Mundial para o Meio Ambiente
e Desenvolvimento - CMMA -, apresentou o importante
documento Nosso Futuro Comum. A sua representatividade
se dá pela definição do termo desenvolvimento sustentável
como
“aquele que responde às necessidades do presente de forma
igualitária, mas sem comprometer as possibilidades de sobrevivência e
prosperidade das gerações futuras”,
estabelecendo que a questão ambiental não é estanque e
que ela deve ser analisada em conjunto com os problemas
sociais de pobreza e desigualdade. (COMISSÃO MUNDIAL
SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO – CMMA,
1991).
Embora representasse um avanço no
desenvolvimento conceitual, segundo alguns autores e
estudiosos, a noção de sustentabilidade vai além da
questão técnico-econômica e alcança as noções de:
“respeito e responsabilidade à existência e diversidade da
natureza e aos princípios de igualdade, de educação e justiça, das
culturas, dos valores humanos e da gestão participativa.”
(FADINI,2005:25)
Em 1992, tendo como um dos objetivos a
verificação das ações das quais os países haviam se
comprometido, a ONU convoca a Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio
de Janeiro, conhecida como “Cúpula da Terra” (EARTH
SUMMIT) e ECO ou RIO-92. O evento avaliou a situação
ambiental desde 1972 e sua relação com o sistema de
desenvolvimento vigente; estabeleceu mecanismos de
transferência de tecnologias dos países desenvolvidos aos
sub-desenvolvidos e um sistema de cooperação
internacional na prevenção de ameaças ambientais e
prestação de socorro em casos emergenciais; examinou a
incorporação de critérios ambientais nas estratégias dos
processos de desenvolvimento; criou novas instituições
para garantir maior eficiência na implementação das
decisões das conferências.
“No entanto, embora os países em desenvolvimento
tenham aprofundado as análises da responsabilidade dos países
desenvolvidos, que apresentam desde a Primeira Revolução Industrial,
padrões elevados de vida, consumo, desperdício e poluição, estes
10
países ricos, em especial os Estados Unidos, tentaram conduzir as
discussões no plano global e sem fixar pontos específicos, deste
modo, não assumiram responsabilidades quanto à questão da produção
e do próprio funcionamento do capitalismo.” (NOVAES, 2002;
FOLADORI, 2001 in FADINI, 2007:25)
Os documentos assinados pelos países nesse evento
e considerados como pontos favoráveis do encontro foram:
A AGENDA 21 é o produto de um debate
internacional a respeito da compatibilização do
desenvolvimento econômico e proteção ambiental, e como
conseqüência, da sustentabilidade da vida humana no
planeta, através de medidas governamentais e não-
governamentais envolvendo todos os setores da
sociedade, alcançando escalas mundiais, regionais e locais.
Entre o intervalo de 20 anos entre as conferências,
importantes relatórios foram publicados e serviram de
subsídio para a formulação da AGENDA 21.
Foram eles:
A AGENDA 21 é um abrangente plano de ações de
longo prazo organizado em temas, projetos, objetivos,
metas, planos e mecanismos de execução, a ser
implementado pelos governos, agências de
desenvolvimento, ONU e grupos ambientais. Propõe que se
leve em consideração os aspectos particulares dos países
e regiões e que se observe os princípios da Declaração do
Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Está
organizada em 4 seções:
1- Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento
2 – AGENDA 21
3 – Princípios para a Administração Sustentável
das Florestas
4 – Convenção da Biodiversidade
5 – Convenção sobre Mudança do Clima
1 – Estratégia Mundial para a Conservação da
Natureza, resultado dos trabalhos da WWF e IUCN
(1980); 2 – O Nosso Futuro Comum, da Comissão
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU
(1987); 3 – Cuidando do Planeta Terra: uma Estratégia
para o Futuro da Vida, relatório produzido pela WWF,
ONU e IUCN (1991).
1- dimensões econômicas e sociais;
2 – conservação e administração de recursos;
3 – fortalecimento dos grupos sociais;
4 – meios de implementação.
11
O capítulo da AGENDA 21 de importância
preponderante para o planejamento de cidades, pautado na
sustentabilidade, intitula-se “Promoção do Desenvolvimento
Sustentável dos Assentamentos Humanos”, que abrange as
seguinte áreas de planejamento:
Em 2000, a Comissão da Carta da Terra assinou
documento de mesmo título, na sede da Unesco, em Paris.
Ele conclama os povos da Terra a somar esforços para
gerar
“uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela
natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa
cultura de paz”.
Em 2002, na África do Sul ocorreu a Conferência
Rio+10, em Johannesburgo, do qual resultou o
Compromisso de Johannesburgo para o Desenvolvimento
Sustentável”. Os resultados do encontro não foram muito
satisfatórios, pois não foi estabelecida uma agenda de
ações objetivas, mesmo os países concordando com o
cumprimento das convenções de redução de emissão de
poluentes e conservação da diversidade biológica, além do
incremento de ajuda econômica dos países ricos aos mais
pobres.
O atentado ao World Trade Center, nos Estados
Unidos em 2001, fragilizou as discussões sobre ações
práticas de sustentabilidade, que foram substituídas pelas
questões do combate ao terrorismo.
“... embora os interesses não essencialmente ambientais
apresentem-se constantemente nas conferências mundiais, as
discussões sobre o agravamento dos problemas de poluição,
contaminações, uso dos recursos não-renováveis, juntamente com a
maior atenção e divulgação destes conteúdos por parte dos veículos
1 – oferecer a todos habitação adequada;
2 – aperfeiçoar o manejo dos assentamentos
humanos;
3 – promover o planejamento e manejo
sustentável do uso da terra;
4 – promover a existência integrada de infra-
estrutura ambiental: água, saneamento, drenagem e
manejo de resíduos sólidos;
5 – promover sistemas sustentáveis de energia
e transporte nos assentamentos humanos;
6 – promover o planejamento e manejo dos
assentamentos humanos localizados em áreas sujeitas a
desastres;
7 – promover atividades sustentáveis na
indústria da construção;
8 – promover o desenvolvimento dos recursos
humanos e da capacitação institucional e técnica para o
avanço dos assentamentos humanos.
12
de comunicação, vêm acentuando e aprofundando a discussão da
questão ambiental em todas as esferas da sociedade, extrapolando as
decisões estritamente técnicas e governamentais. Estes avanços se
apresentam na implantação de instrumentos de mudanças de atitudes e
de valores, como os projetos de educação ambiental, a gestão
integrada e planejamentos participativos que apontam para decisões
conjuntas, como planos diretores, estatuto das cidades, projetos de
cidades sustentáveis e a implantação de AGENDAS 21 regionais e
locais, os quais vêm se fortalecendo e consolidando como importantes
agentes de ação sustentável.” (FADINI, 2007:26)
No período de 1996 a 2002, a Comissão de
Políticas e de Desenvolvimento Sustentável desenvolve a
AGENDA 21 BRASILEIRA, juntamente com a Comissão da
AGENDA 21 NACIONAL. A AGENDA 21 BRASILEIRA
constitui-se em “processo e instrumento de planejamento
participativo para o desenvolvimento sustentável e que tem
como eixo central a sustentabilidade, compatibilizando a
conservação ambiental, a justiça social e o crescimento
econômico”. (WWW.mma.gov.br).
O documento “Cidades Sustentáveis” serviu de
subsídio para a formulação da AGENDA 21 BRASILEIRA com
os temas centrais:
As premissas colocadas pelo documento são:
1 – Agricultura sustentável
2 – Cidades Sustentáveis
3 – Infra-estrutura e integração regional
4 – Gestão dos recursos naturais
5 – Redução das desigualdades sociais
6 – Ciência e Tecnologia para o desenvolvimento
sustentável.
a) Crescer sem destruir: crescimento dos
fatores positivos para a sustentabilidade
urbana e redução dos impactos ambientais,
sociais e econômicos;
b) Indissociabilidade da problemática ambiental
e social;
c) Diálogo entre a AGENDA 21 e atuais
opções de desenvolvimento;
d) Inovação e disseminação das boas práticas;
e) Fortalecimento da democracia: sem
democracia não há sustentabilidade;
f) Gestão integrada e participativa;
g) Foco na ação local: descentralização das
políticas urbanas e ambientais;
h) Mudança do enfoque das políticas de
desenvolvimento e preservação ambiental:
substituição gradual dos instrumentos de
caráter punitivo por instrumentos de
incentivo e auto-regulação dos agentes
sociais e econômicos;
i) Informação para tomada de decisão:
aumento da consciência ambiental da
população urbana.
13
O diagnóstico ao qual chegou a comissão que
desenvolveu o documento, é que existem problemas comuns
entre cidades de qualquer porte, dentre eles,
Tais problemas são as conseqüências do processo
histórico de urbanização. A rede urbana brasileira sofreu um
desenvolvimento espacial em forma de eixos, que criou
corredores de desenvolvimento, primeiro ao longo das
ferrovias e, após os anos de 1950, acompanhando o
perímetro das rodovias. Tudo sem considerar os impactos
ambientais dos grandes centros e os problemas sociais e
urbanos decorrentes da polarização dos investimentos em
infra-estrutura urbana e social.
Segundo o documento AGENDA 21, o atual modelo
de desenvolvimento econômico é injusto e excludente, pois
privilegia espaços que oferecem maior dinâmica para o
escoamento de todos os fluxos necessários ao sistema e
relega áreas com menor aporte, condenando-as ao estado
de estagnação.
É necessário estabelecer um círculo virtuoso de
produção, pautado em critérios de conservação ambiental
para a atual e futuras gerações, proporcionando divisão de
riquezas e melhora progressiva das condições de vida dos
menos abastados.
Para tanto, novos marcos de gestão e estratégias
de sustentabilidade urbana são propostos na AGENDA 21
BRASILEIRA, visando um planejamento que otimize o uso do
espaço e concilie crescimento econômico com conservação
ambiental. A participação da comunidade local, através de
uma democracia participativa, é a via política da mudança de
paradigmas sociais e ambientais.
Ainda segundo o documento, é necessário
aperfeiçoar e regulamentar o uso e ocupação do solo
urbano, promovendo o ordenamento do território e, através
dele, garantir a eqüidade social. E, um dos pontos mais
importantes da questão da sustentabilidade é a promoção
da mudança nos padrões de produção e consumo da
cidade.
a) a dificuldade de acesso à terra
urbanizada;
b) déficit de moradias adequadas;
c) déficit de serviços de saneamento
ambiental;
d) baixa qualidade de transporte público;
e) poluição ambiental;
f) desemprego e precariedade de
emprego;
g) violência e precariedade urbana;
h) marginalização social.
14
A sustentabilidade urbana está ancorada no
cruzamento de estratégias ecológicas e sociais e no
fortalecimento da gestão democrática da cidade.
Sustentabilidade quer dizer:
“respeito à capacidade de sustentação da Terra e a
possibilidade de se obterem continuamente condições iguais ou
superiores de vida para um grupo de pessoas e seus sucessores em
dado ecossistema... é necessário adotar um modo de vida dentro dos
limites do possível, o que se pode interpretar também em termos de
desaceleração do ritmo de utilização de matéria e energia.”
(CAVALVANTI, 1998 in FADINI, 2005: 27)
Para Fadini,
“deve-se buscar um novo estilo de vida, que coloque freios
éticos no comportamento econômico dos indivíduos, liberando-os da
tarefa de acumular para o de usufruir mais tempo livre para viver com
prazer.
Esta mudança de paradigma deve ocorrer de forma planetária,
porém é através dos lugares de vivência que este processo deve ser
mais consistente e incisivo, pois tanto o acesso aos meios de
comunicação e pedagógicos são mais próximos e facilitados como pelo
fato de que estes se consistem em espaços topofílicos envoltos em
valores que podem concretizar-se em atitudes sustentáveis. Neste
contexto é que os planos voltados para a organização e ordenamento
espacial devem contemplar a todos os envolvidos, tornando-se desta
forma, um instrumento participativo e pedagógico de ação local.”
(FADINI, 2005:27)
Os problemas sócio-ambientais gerados pelo modelo
de desenvolvimento econômico vigente, potencializados
pela globalização da economia, estão presentes em toda e
qualquer cidade e para todas são necessárias ações que
compatibilizem crescimento econômico, proteção do meio
ambiente e dos recursos naturais, eqüidade social.
Neste trabalho, objetiva-se problematizar o
planejamento urbano de cidades em áreas ecologicamente
frágeis, tomando como caso específico o município de
Cananéia, que além de estar inserido em um complexo
estuarino, é dotado de patrimônio histórico, arquitetônico e
cultural de grande relevância.
Para tanto, se faz necessário conhecer sob vários
aspectos a região e sua inserção nas políticas federal,
estadual e municipal de preservação do meio ambiente, de
desenvolvimento econômico e de planejamento urbano.
15
3.2 – Políticas e programas ambientais: o Brasil, o Estado
de São Paulo, o Vale do Ribeira
Preocupado com as questões ambientais,
especificamente com o ordenamento do território litorâneo
e com a sustentabilidade dos recursos das áreas costeiras,
o governo brasileiro implantou em 16/05/1988 o Plano
Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), regulamentado
pela Lei 7.661. Tratou-se de um conjunto de mecanismos
de gestão ambiental integrada que estaria em constante
processo de aprimoramento e adequação, especialmente
após a Rio-92, quando foi elaborada a AGENDA 21.
A relevância do assunto dá-se pelo fato de que, a
maior parte da população mundial vive em zonas costeiras e,
a qualidade de vida dessa população, - que apresenta
tendência de incremento demográfico nessas áreas -, está
diretamente relacionada à qualidade dos recursos
ambientais das áreas costeiras.
O PNGC exige que haja cooperação entre os
diversos setores do Governo e da sociedade a fim de que
seja possível se estabelecer ações que se consolidem de
fato, e que haja flexibilidade para que essas ações sejam
aprimoradas à medida que surjam novas demandas.
O Governo Federal considerou que a Zona Costeira é
um patrimônio nacional e, para garantir a sustentabilidade
do uso de seus recursos naturais, estabeleceu um conjunto
de princípios, objetivos, ações programadas e instrumentos
no PNGC, além de atribuir a cada setor governamental –
federal, estadual e municipal – as suas responsabilidades na
implementação do plano e estabeleceu a sua área de
abrangência.
Como princípio geral, o PNGC propõe que, através
da descentralização das ações e de tomadas de decisões
de forma transparente e em constante relação de
cooperação entre todas as esferas envolvidas, inclusive as
comunidades locais, se garanta a manutenção e preservação
dos ecossistemas das zonas costeiras, preservando a sua
integridade, prevendo e evitando conseqüências negativas
do tipo de uso e se impeça ou minimize a degradação
ambiental.
A finalidade do PNGC é estabelecer normas gerais
de gestão ambiental da Zona Costeira, visando a formulação
de políticas, planos e ações a nível estadual e municipal.
O diagnóstico da qualidade ambiental da Zona
Costeira, expresso através de suas potencialidades e
fragilidades, passou a ser considerado elemento essencial
para o processo de gestão, sendo necessária a
incorporação da dimensão ambiental nas políticas setoriais e
o controle efetivo dos agentes causadores de poluição.
16
Dentre as ações propostas pelo PNGC, destaca-se a
consolidação do Zoneamento Ecológico-Econômico
Costeiro dos Estados, que deveria ser elaborado de forma
participativa e que contemplaria a valorização das atividades
econômicas sustentáveis nas comunidades costeiras.
Ao Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos
Hídricos e da Amazônia Legal (MMA) coube a
responsabilidade de implementar o PNGC, acompanhando e
avaliando a compatibilização dos Planos Estadual e Municipal
com o PNGC. Também coube ao MMA a implementação e
consolidação do Sistema de Informações do Gerenciamento
Costeiro (SIGERCO).
Os Estados deveriam garantir a articulação
intergovernamental com os municípios e com a sociedade,
elaborando, implementando, executando e acompanhando o
Plano Estadual e Municipal de Gerenciamento Costeiro.
O Decreto não previa prazos e sanções aos Estados
e municípios que não atendessem ao PNGC, e que não
implementassem as suas ações. Talvez por isso, fato que
nos chama a atenção, no Estado de São Paulo, apenas o
Litoral Norte tenha desenvolvido e implementado o ZEE, um
dos instrumentos colocados pelo PNGC para o
ordenamento do território da Zona Costeira.
Atendendo ao PNGC, o Estado de São Paulo
instituiu em 1988 o Programa Estadual de Gerenciamento
Costeiro, fundamentado no Artigo 5 da Lei numero
7.661/88. A Zona Costeira Paulista foi dividida em quatro
áreas de planejamento:
- Litoral Norte;
- Baixada Santista;
- Complexo Estuarino Lagunar de Iguape e Cananéia;
e
- Vale do Ribeira.
Figura 1 - Setorização do Litoral Paulista – Vale do Ribeira e
Complexo Estuarino Lagunar
Fonte: Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo
17
Figura 2 - Setorização do Litoral Paulista – Baixada Santista e
Litoral Norte
Fonte: Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo
No caso do Litoral Norte, os estudos para a
definição do macrozoneamento foram iniciados em 1990,
objetivando sistematizar informações para estabelecer o
zoneamento ecológico-econômico.
Os estudos desenvolvidos na área do
macrozoneamento ambiental incluiu a caracterização sócio-
econômica da região, com o objetivo de subsidiar ações de
planejamento regional, no que tange à proteção dos
recursos ambientais e ao ordenamento do espaço regional.
Se fez isso devido à necessidade de se sintonizar as
questões sócio-econômicas com os elementos ambientais.
Mapa 1 – Situação atual do ZEE no Brasil
Fonte: Ministério do Meio Ambiente – março/2009
18
Analisando o mapa que apresenta a situação atual do
ZEE no Brasil, constata-se que a região do Litoral Sul de
São Paulo não realizou o ZEE, bem como grande parte do
território paulista e, principalmente das Zonas Costeiras.
Não conseguimos identificar os motivos que levaram ao
impedimento do planejamento ambiental, apesar de todo o
amparo legal da proposta.
Não foram identificados os motivos da não
implementação desse instrumento do Complexo Estuarino
Lagunar de Iguape e Cananéia, apesar de todo o
comprometimento legal. Entretanto, o ZEE era uma
condição necessária à regulamentação da APA Cananéia-
Iguape-Peruíbe e, MORAES dá a entender que o
zoneamento foi concretizado, porém não implementado:
“O Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) seria condição
necessária, mas não suficiente para o funcionamento dessa APA, que
mostrava-se com propriedades para conduzir o desenvolvimento da
região, congregando diversas funções. Ademais, o zoneamento
proposto pelo Gerenciamento Costeiro, no início dos anos 90,
mantinha-se válido dada a pouca dinâmica verificada na região. Um
terceiro fator, e importante, refere-se à necessidade de compreensão
e discussão desse instrumento técnico por uma parcela ampliada da
população abrangida pelo zoneamento a ser implementado.” (MORAES,
2004: 84).
Moraes descreve que no processo de
regulamentação da APA, os mapas das Unidades de
Paisagem foram integrados ao ZEE – do Complexo Estuarino
Lagunar e do Vale do Ribeira, bem como o mapa das
Unidades de Conservação da região.
Então, é pertinente inserir aqui um questionamento,
sobre o porquê apenas o Litoral Norte paulista implementou
o seu planejamento ambiental e o ZEE. Sabe-se que essa
região apresenta contrastes sociais, que também são
presentes em todo o território brasileiro. Mas, neste caso
específico, sabe-se que é para essa região que migra a
elite paulistana em busca de lazer, principalmente no verão.
Portanto, investimentos financeiros na área representam
lucratividade e o Poder Público, com certeza, atento a
essas questões, empenhou-se em organizar o território,
conforme exigia as legislações federal e estadual.
Uma parte considerável do território nacional
concluiu o ZEE, mas é preocupante que os Estados do
Amazonas, com toda a sua fragilidade ambiental, e de São
Paulo, com altos níveis de poluição e de degradação
ambiental, não estarem, se- quer, com o processo em
andamento. São regiões com áreas extremamente sensíveis
do ponto de vista ambiental e o ZEE representa um
instrumento de grande relevância para o atendimento dos
princípios da AGENDA 21 BRASILEIRA.
Um caso muito particular é o das cidades dotadas
de patrimônio natural, como é o caso de Cananéia, objeto
19
específico deste estudo, que se localiza no extremo sul do
litoral paulista. Essas cidades em especial, cuja economia
está pautada na atividade turística, devido à sazonalidade,
sofrem forte impacto sobre os recursos naturais e urbanos
– água, esgoto, espaços públicos, praias, moradias
temporárias, comércio e serviços. Por um lado, há o
incremento da receita do município, mas o consumo do
lugar promove o rebaixamento da qualidade de vida dos
munícipes e a depredação do espaço público urbano. Dessa
forma, não é possível sustentar por muito tempo esse tipo
de desenvolvimento e a cidade perde seu interesse aos
olhos dos veranistas, que migram para consumir outros
lugares. (YÁZIGI, 2002)
Portanto, parece que o plano proposto pelo
Governo Federal, que deveria promover a interação entre
todas as esferas da sociedade instaladas nas Zonas
Costeiras, visando a elaboração de um conjunto de ações
que poderiam garantir a sustentabilidade do uso dos
recursos naturais costeiros, não foi, de fato, implementado
pelos Estados e Municípios.
Independente disso, outras propostas a nível federal
foram desenvolvidas e implementadas, denotando de certa
forma que o Brasil assumiu uma postura comprometida com
os argumentos das conferências internacionais sobre o meio
ambiente.
Exemplo disso é a aprovação no Congresso Nacional,
em 18 de junho de 2000, da Lei 9985 que instituiu o
SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza, regulamentando o art.225 da Constituição
Federal de 1988.
O sistema abrange todas as unidades de
conservação nos níveis municipal, estadual e federal e tem
como principais objetivos a proteção à biodiversidade e a
promoção do desenvolvimento sustentável, assegurando
criar mecanismos de participação das comunidades no
entorno dessas unidades.
As unidades de conservação dividem-se em dois
grupos com características específicas, as Unidades de
Proteção Integral e as Unidades de Uso Sustentável.
Nessas enquadra-se a APA – Área de Proteção Ambiental,
geralmente uma grande extensão com ocupação humana e
com atributos bióticos, abióticos, estéticos ou culturais.
Regulamentar uma área como APA tem como objetivos
proteger a diversidade biológica, disciplinar a ocupação
humana, assegurar a sustentabilidade dos recursos naturais
e melhorar a qualidade de vida da população.
As APAs já haviam sido criadas pela lei n.6.902/81,
que permitia “ao Poder Executivo declarar área de interesse para a
proteção ambiental certas porções do território, a fim de assegurar o
bem-estar das populações urbanas e conservar, ou melhorar, as
20
condições ecológicas locais, para o que deverá estabelecer normas,
limitando ou proibindo:
a) a implantação e o funcionamento de indústrias
potencialmente poluidoras, capazes de afetar mananciais de
água;
b) a realização de obras de terraplenagem e a aberturas de
canais, quando essas iniciativas importarem em sensível
alteração das condições ecológicas locais;
c) o exercício de atividades capazes de provocar uma
acelerada erosão das terras e/ou um acentuado
assoreamento das coleções hídricas;
d) o exercício de atividades que ameacem extinguir na área
protegida as espécies raras da biota regional. (MORAES,
2004, p.37-38)
A Resolução CONAMA 10/88 dispõe sobre o
zoneamento das APAs e prevê “o estabelecimento de condições
para atividades como projetos de urbanização, atividades agrícolas ou
pecuárias, terraplanagem, mineração, dragagem e escavação, de modo
a discipliná-las, mas sem desobrigá-las do licenciamento prévio.”
(MORAES, 2004, p.38)
Para a implantação de projeto de urbanização em uma
APA, a entidade administradora deverá exigir:
a) adequação com o zoneamento ecológico-
econômico;
b) implantação de sistema de coleta e tratamento
de esgoto;
c) sistema de vias públicas sempre que possível em
curvas de nível e rampas suaves com galerias de
águas pluviais;
d) lotes de tamanho mínimo suficiente para o plantio
de árvores em pelo menos 20% da área do
terreno;
e) programação de plantio de áreas verdes com o
uso de espécies nativas;
f) traçado de ruas e lotes comercializáveis com
respeito à topografia com inclinação inferior a
10%.
Em 1984 foi regulamentada a APA federal Cananéia-
Iguape-Peruíbe com uma área de abrangência de
234.000ha, cujo objetivo inicial era a proteção da laguna e
da população local.
O Brasil tem-se mantido em sintonia com as
questões ambientais de ordem mundial, ciente de que cada
país tem a sua parcela de responsabilidade a respeito da
preservação dos recursos naturais e da sustentabilidade da
vida na Terra e que, enquanto elabora-se conceitos e
21
princípios em nível global, as ações para a implementação
daqueles devem acontecer em nível local.
Dessa forma, a AGENDA 21 BRASILEIRA desdobrou-
se na AGENDA 21 LOCAL, que, além de proporcionar ações
pontuais, privilegia a participação local ao representar uma
importante referência ao Plano Diretor municipal.
Também de abrangência local é o Plano de
Desenvolvimento Territorial Sustentável do Vale do Ribeira,
desenvolvido a partir de 2005, quando 32 municípios entre
os estados de São Paulo e Paraná, inseridos na bacia
hidrográfica do Vale do Ribeira e, - detentores de uma das
maiores áreas contínuas remanescentes de Mata Atlântica, -
formaram um consórcio em parceria com o governo federal,
através do Ministério do Meio Ambiente, Ministério de
Desenvolvimento Agrário e o Ministério de Desenvolvimento
Social.
Os municípios participantes são Adrianópolis, Apiaí,
Barra do Chapéu, Barra do Turvo, Bacaiúva do Sul, Cajati,
Cananéia, Cerro Azul, Doutor Ulisses, Eldorado, Iguape, Ilha
Comprida, Iporanga, Utariri, Itapirapuã Paulista, Itaóca,
Itaperuçu, Jacupiranga, Juquiá, Juquitiba, Miracatu,
Pariquera-Açu, Rio Branco do Sul, São Lourenço do Serra,
Sete Barras, Tapiraí e Tunas do Paraná.
Para elaborar o plano da AGENDA 21 LOCAL é
necessário criar um grupo de trabalho composto por
sociedade e governo. Os diversos setores da sociedade
devem estar representados e devem ser escolhidos de
acordo com as particularidades locais. E deve-se
estabelecer qual o papel dos diferentes participantes do
processo.
As metas do projeto da AGENDA 21 LOCAL são:
1 – mobilizar para sensibilizar, visando a
participação;
2 – criar um Fórum Permanente de
Desenvolvimento Sustentável Local, que através de
oficinas de formação e capacitação de equipe
técnica, aborda os aspectos ambientais, sociais e
econômicos locais;
3 – promover o uso dos meios de comunicação
para facilitar o acesso à informação e divulgar as
atividades do projeto;
4 – diagnosticar ;
5 – elaborar um Plano Local de Desenvolvimento
Sustentável; A Lei Federal estabelecia que cada Estado deveria
instituir o seu próprio plano de gerenciamento costeiro. Por sua
vez, o Governo do Estado de São Paulo, através da Secretaria
22
do Meio Ambiente desenvolveu o Macrozoneamento do Litoral
Norte. Não conseguimos confirmar se os municípios das demais
regiões costeiras também realizaram o zoneamento, conforme
previa a Legislação Federal e Paulista.
6 – implementar o Plano;
7 – monitorar e avaliar a aplicação do Plano.
É importante verificar o nível de integração dos
temas propostos para a elaboração do plano, prever o
tempo necessário à sua implantação e definir qual instituição
é responsável pela sua adoção.
Embora a AGENDA 21 tenha um forte destaque para
a questão de planejamento urbano e sustentabilidade, o
Brasil já mostrava preocupação com as questões ambientais
antes mesmo da ECO-92.
O panorama das questões ambientais aqui
apresentado, tanto na esfera global, bem como a níveis
nacional e local, acrescido do breve histórico da expansão
urbana brasileira são subsídios fundamentais para se verificar
o alinhamento do projeto de Lei do Plano Diretor do
Muncípio de Cananéia com essas questões. Para a análise
objetiva e argumentada desse instrumento, a caracterização
ambiental do território será um importante e indispensável
subsídio, bem como o levantamento histórico, cultural e
social do Município.
4 – caracterização do objeto de estudo: Cananéia - SP
4.1 – aspectos físicos
4.1.1 - localização
Mapa 2 – Localização do município no Estado de São Paulo
Fonte: WWW.wikipedia.org
O município de Cananéia, no Vale do Ribeira, está
inserido na Área de Proteção Ambiental de Cananéia-
Iguape-Peruíbe (APA federal). Na região constam 3
Unidades de Conservação: - o Parque Estadual da Ilha do
Cardoso (PEIC), criado em 1962; - uma parte do Parque
Estadual do Lagamar (Mosaico de Jacupiranga); e a Reserva
Extrativista do Mandira, criada em 13 de dezembro de
2002, onde encontram-se comunidades de caiçaras e
quilombolas. Existem ainda aldeias indígenas Guarani.
23
Mapa 3 – Parque Estadual da Ilha do Cardoso
Fonte: www.cananet.com.br/peic/
Mapa 4 – Reserva Extrativista do Mandira
Fonte: WWW.ibama.gov.br
24
Mapa 5 – Mosaico de Jacupiranga
Fonte: www.peabirus.com.br/redes/form/post?pub_id=11528
O Vale do Ribeira contém a maior extensão contínua
e conservada de Mata Atlântica, com 78% de sua área
cobertos por remanescentes originais e com alto grau de
preservação e endemismo.
Com 140km de extensão, entre a Foz do Ribeira de
Iguape (SP) e a Baía de Paranaguá (PR), e com área de
10.000 hectares , o complexo estuarino lagunar, também
denominado Lagamar, tem Cananéia inserida em sua área, e
é um dos maiores criadouros de vida marinha do Atlântico
Sul.
“ O sistema está assentado sobre uma planície costeira arenosa
e se compõe de um complexo sistema de canais lagunares de maré e
rios entre quatro grandes ilhas: Ilha do Cardoso, Ilha de Cananéia, Ilha
Comprida e Ilha de Iguape. Os corpos d’água que delimitam as ilhas
são: Baía do Trapambé, entre as Ilhas de Cananéia e do Cardoso; Mar
de Itapitangui e de Cubatão entre a Ilha de Cananéia e o continente;
Mar de Cananéia, entre as Ilhas de Cananéia e Comprida; o Mar
Pequeno, entre a Ilha Comprida e o continente; e o Valo Grande e o Rio
Ribeira de Iguape, entre a Ilha de Iguape e o continente.” (Comitê da
Bacia Hidrográfica do Ribeira de Iguape e Litoral Sul – Relatório de
Situação dos Recursos Hídricos da UGRHI 11)
25
Figura 3: vista aérea do município de Cananéia
Fonte: WWW.cananet.com.br
Na posição mais meridional do Estado de São Paulo,
Cananéia localiza-se à latitude 25°00'53" sul e à longitude
47°55'36"oeste. Altitude média de 8 metros. Mesorregião
do litoral sul paulista e Microrregião de Registro. O clima
da região é subtropical e fuso horário UTC-3.
Tendo como municípios limítrofes Iguape, Pariquera-
Açu, Ilha Comprida, Jacupiranga, Barra do Turvo e
Guaraqueçaba. Cananéia está a 270km da capital paulista e
tem como principais rodovias de acesso as BR-116, SP-
226 e SP-193.
Mapa 6 – Limite de municípios
Ilha do Cardoso
Ilha Comprida
Mar do Itapitangui
26
Mapa 7 – principais vias de acesso
Fonte: www.googlemaps.com
Mapa 8 – escala aproximada
Fonte: www.googlemaps.com
27
4.1.2 – bacia hidrográfica
Cananéia está inserida na bacia hidrográfica do Rio
Ribeira de Iguape e no Complexo Estuarino Lagunar de
Iguape-Cananéia-Paranaguá, também denominado Lagamar.
Mapa 9 – bacia hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape
Fonte: Instituto Sócio Ambiental
Mapa 10- Cartograma da Bacia Hidrográfica do Ribeira de Iguape
Fonte: fundação SOS Mata Atlântica
A Bacia Hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape e o
Complexo Estuarino Lagunar de Iguape- Cananéia-Paranaguá,
possuem uma área de 2.830.666 hectares, sendo que
1.119.133 hectares no Estado do Paraná e 1.711.533
hectares no Estado de São Paulo. É a maior reserva de
água doce dos Estados de São Paulo e Paraná e, em um
futuro bem próximo, poderá ser disputada para abastecer
as regiões metropolitanas das capitais em questão.
28
Atualmente fala-se na possibilidade de transposição
de bacias a fim de desviar a água para o abastecimento de
São Paulo e Curitiba.
A Bacia divide-se em 13 sub-bacias:
4.1.3 – fauna e flora
Um dos maiores criadouros do Atlântico Sul,
Cananéia conta com grande diversidade de peixes,
crustáceos, moluscos e aves, além de cinco espécies de
tartarugas marinhas. Há a presença de diversos animais
endêmicos – encontrados apenas nessa região – correndo
risco de extinção.
Uma das espécies mais facilmente observadas por
turistas e moradores da região é o boto-tucuxi, ou boto
cinza (Sotalia guianensis).
Figura 4 - boto cinza
Fonte: WWW.cananet.com.br
A flora conta com mais de 1000 espécies
catalogadas. A paisagem natural é constituída por mata de
- Alto Ribeira nos municípios de Barra do Chapéu, Itapirapuã Paulista, Apiaí, Itaóca,
Iporanga e Ribeira;
- Baixo Ribeira nos municípios de Apiaí, Iporanga, Eldorado e Sete Barras;
- Rio Ribeira de Iguape nos municípios de Registro, Pariquera-Açú e Iguape;
- Alto Juquiá nos municípios de São Lourenço da Serra, Juquitiba e Tapiraí;
- Médio Juquiá nos municípios de Tapiraí, Juquiá e Miracatú;
- Baixo Juquiá nos municípios de Juquiá, Tapiraí e Sete Barras;
- Rio São Lourenço nos municípios de Miracatú, Pedro de Toledo e Juquiá;
- Rio Itariri nos municípios de Itariri e Pedro de Toledo;
- Rio Una da Aldeia no município de Iguape;
- Rio Pardo no município de Barra do Turvo;
- Rio Jacupiranga nos municípios de Jacupiranga, Cajatí e Registro;
- Vertente Marítima Sul nos municípios de Cananéia e Ilha Comprida;
- Vertente Marítima Norte no município de Iguape.
29
encosta, mata de planície litorânea, vegetação de restinga
(aroeira, guanandi, caxeta, ingá, pindaíba, cauná e mangue.
Figura 5 – mata de restinga de Cananéia
Fonte: www.googlemaps.com
Figura 6 – manguezal
Fonte: www.googlemaps.com
O gravatá e a palmeira Juçara (palmeira da qual é
extraído o palmito), são exemplares recorrentes da flora
local. O desmatamento para implantação de pastos, plantios
diversos e extração da madeira tem colocado, entre outras
espécies, o palmito em risco de extinção, além da extração
ilegal do produto.
Figura 7 - Gravatá e palmeira Juçara
Fonte: www.googlemaps.com
Cananéia foi declarada em 1992 “Reserva da
Biosfera da Mata Atlântica” e em 1999 “Patrimônio Natural
da Humanidade” pela UNESCO.
30
4.2 – aspectos demográficos
A origem da população tem raízes italiana, suíça,
eslovena, japonesa e espanhola. A população total atual,
segundo o IBGE, é de 12.298 habitantes. (Fonte: IBGE-
2000)
Embora o IBGE não tenha considerado, através dos
dados históricos sabe-se que a população indígena da tribo
Carijó teve grande contribuição na formação da população
de Cananéia.
Dados do IBGE revelam a distribuição da população
nas áreas urbana e rural no período de 1970 a 2000:
Gráfico 1 – população de Cananéia por situação – IBGE
2000 - Fonte: IBGE 2000
A partir da década de 1980 observa-se o
incremento da população urbana. Nesse período ela
representava 74,32% da população total; em 1991 esse
percentual sobe para 79,20%, para 80% em 1996 e
82,97% em 2000.
Esse incremento foi uma conseqüência imediata da
duplicação da BR-116, que provocou um maior fluxo de
turistas no município, fortalecendo a atividade comercial e
fazendo com que a população das áreas rurais migrasse
para a área urbana.
Gráfico 2 – número de habitantes de Cananéia – IBGE 2000
Fonte: IBGE 2000
1,963
5,7488,034 7,678
10,204
4,1171,986 2,110 1,913 2,094
1970 1980 1991 1996 2000
população de Cananéia por situação
urbana rural
10,144
8,976
12,298
12,029
Censo 1.991 contagem 1.996 Censo 2.000 contagem 2.007
número de habitantes
31
Tabela 1 – Dados gerais – IBGE 2000
indicadores CANANÉIA SÃO PAULO
dens.demográfica 9,9 hab/km² 141,81hab/km²
mortalidade inf.(até 1 ano) 11,32/mil 15,5/mil
esperança de vida 73,85 anos 74,2 anos
tx de fecundidade 3,34 filhos/mulher 2,17 filhos/mulher
tx de alfabetização 89,11% 95,4%
IDH 0,7 75 0,841
PIB R$ 71.587.000,00 R$ 282.852.338,00
PIB/capita R$ 5.148,00 R$ 25.675,00
Fonte: IBGE - 2000
Educação – IBGE 2000
O Censo de 2000 contabilizou 6 pré-escolas, 22
escolas de Ensino Fundamental e 4 de Ensino Médio. Para
cursar o Ensino Superior os cananeenses precisam se
deslocar para outros municípios.
Saúde – IBGE 2000
A população contava na época com apenas 3
estabelecimentos de saúde públicos municipais.
Gráfico 3 – frota municipal de veículos
Fonte: IBGE 2000
Segundo o Censo Agropecuário de 2006, Cananéia
contava com 21 estabelecimentos agropecuários
assentados em 7.647 hectares, sendo 6 com lavoura
permanente e 3 com lavoura temporária. Desses
estabelecimentos, 8 tinha pastagens naturais numa área
total de 4.684 hectares, 11 com matas e floretas
ocupando 2.615 hectares. Com criação de bovinos eram 8
propriedades com 1.638 cabeças, 2 com caprinos, 2 com
suínos, 4 com 320 cabeças de aves e 1 com gado leiteiro.
663
345
75
57
46
9
2
automoveis
motocicletas
caminhonetes
caminhoes
motonetas
onibus
microonibus
Frota - IBGE 2000
32
4.3 – aspectos históricos
Indícios arqueológicos comprovam a presença
humana na região entre 1.500 e 5.000 a.C. nos chamados
sambaquis (1). A presença indígena é posterior e deve ter
ocorrido durante as migrações neolíticas.
Sambaquis são sítios arqueológicos formados na
região costeira, resultado das atividades diárias do povo
nômade, após a última Era Glacial. O acúmulo de conchas de
moluscos, restos de cozinha e carapaças, disposto camada
por camada, originaram essa forma de uma colina.
Figura 8 – sambaqui ; Fonte: www.cananet.com.br
(1) samba=concha; qui=monte
Os sambaquis estão presentes em toda a extensão
do Lagamar e nesses montes também são encontrados
restos de sepultamento, ossos de animais, utensílios de
pedras lascadas e adornos. Dos muitos sambaquis
existentes em Cananéia, apenas 3 foram tombados em
1987, devido à denúncias de destruição. O seu material foi
usado também na construção do antigo casario, um
conjunto arquitetônico tombado pelo CONDEPHAAT.
Figura 9 – antigo casario
Fonte: WWW.cananet.com.br
Em 1502, uma expedição exploratória comandada
por Gaspar Lemos e com o cartógrafo Américo Vespúcio,
atracou em Cananéia. Junto com a frota chegou um
degredado de Portugal pelo Rei D. Manoel, o Bacharel
Mestre Cosme Fernandes.
Em 12 de agosto de 1531 chegou à colônia uma
armada, agora comandada por Martin Afonso de Souza, que
atraca na Ilha do Bom Abrigo, em Cananéia, na antiga
33
comunidade Maratayama, (mara=mar; taiama=terra – “lugar
onde a terra encontra o mar”), como era chamada na
época. O capitão encontra em Cananéia um povoado já
consolidado junto com o Bacharel, alguns europeus e 1500
índios Carijó, da nação Guarani.
A colonização da região se deu devido à
necessidade do controle da navegação, da defesa do
território nas proximidades limítrofes estabelecidas pelo
Tratado de Tordesilhas. “Cananéia deu origem a uma das primeiras
vilas do Brasil, e mesmo anteriormente à sua fundação, já se ouvia falar
na ilha de Caniné. Aliás, antes mesmo de Cabral chegar por aqui, um
citado Bacharel atuava na região. Sabia-se da existência de ouro e muita
prata, e a rota através do futuro Rio da Prata era conhecida pelos
indígenas.” (MORAES, 2004: 61).
A constatação desses fatos históricos está gravada
pelos portugueses no piso de mármore do Acervo de
Lisboa, em Portugal. Nesse piso, uma rosa-dos-ventos
contém no centro um mapa-mundi, conforme normas
cartográficas da época. Nesse mapa, o contorno da costa
brasileira é assinala por datas e pontos importantes: 1500
– Porto Seguro, 1502 – Cananea e 1514 – Rio da Prata.
Figura 10 – piso do Acervo de Lisboa
Fonte: www.cananet.com.br
O colonizador português fundou dois pequenos
núcleos que serviam como acesso ao interior, a “cabeça-
de-ponte”. Esses núcleos eram Cananéia e Iguape e os rios
navegáveis por esse território na época conduziam ao
Eldorado, no Alto Ribeira. Nesses dois núcleos vemos
retratadas épocas diferentes, principalmente nos séculos
XVI e XVII, quando a busca por ouro e prata era o que
movia a história do Brasil.
Para resistir aos ataques estrangeiros, foram
construídas a atual Praça Martin Afonso de Souza e a Igreja
de São João Batista no século XVI. A Igreja funcionava
como uma fortificação com suas paredes espessas e
pequenas fendas, por onde os nativos atiravam com seus
mosquetões.
34
Figura 11 – lateral da Igreja com as seteiras
Fonte: www.cananet.com.br
Durante os séculos XVIII e XIX, a corrida por metais
preciosos e a cultura e comercialização do arroz fomentaram
a construção naval. Dotada de um notável porto natural,
Cananéia desenvolveu uma estrutura naval com 16 estaleiros
que produziram mais de 200 embarcações.
O declínio da região, portanto, está ligado à
desativação do porto e à abertura do canal Vale Grande,
em 1825, em Iguape. Com o intuito de encurtar o caminho
das embarcações carregadas de arroz, que antes tinham
que dar a volta na barra do Ribeira de Iguape, o canal
pretendia interligar o rio Ribeira de Iguape com o Mar de
Cananéia. O canal sofreu processo de erosão e, dos menos
de 10m iniciais, ele chegou a quase 200m. A água doce
sobrecarregou a laguna, alterou a salinidade e afetou a
reprodução dos peixes. (MORAES, 2004)
A produção de arroz declinou a medida que
expandiram-se as lavouras de café e com a abolição do
tráfico de escravos, o que significou uma forte estagnação
econômica de Cananéia.
A população do século XIX, sendo a maior parte
ocupados na lavoura de arroz, era de 3.945 habitantes,
segundo estatísticas de 1876. Desse total, 428,
aproximadamente 11%, eram escravos.
O Censo Demográfico de 1920 registrou 8.371
habitantes. Já em 1940 essa população decresceu para
5.589 habitantes e manteve-se estável até os anos 70. A
partir desse período, a população aumenta, assim como as
áreas urbanizadas.
O quadro ao lado apresenta o Ciclo Econômico do
município entre 1502 e 1965, elaborado pela SETURC –
Secretária de Esporte e Turismo de Cananéia.
35
Com a abertura da BR-116, a comercialização da
pesca, principal atividade econômica a partir de 1910, foi
destinada ao mercado de São Paulo. Na época, o município
passou por dificuldades porque chegou a faltar o pescado
para a população local, necessitando da intervenção da
Câmara Municipal junto aos comerciantes locais.
Nos anos 70, Cananéia era considerada o maior
centro de desembarque de pescado do litoral sul do
Estado de São Paulo, apesar da precariedade de suas
instalações portuárias.
A manjuba e o camarão representam a principal fonte
do setor pesqueiro da região lagunar. Tainhas, robalos,
corvinas, ostras e crustáceos diversos também são
encontrados na região.
No século XX as culturas de banana e chá, aliadas à
construção de estradas, alavancou a economia local.
1502
Início da "Preagem" de índios
1554
Seguindo o rastro de Pero Lobo começam as primeiras explorações de ouro
no Rio das Minas de 800m a 908 m de altitude.
1637
Descobertas as Minas de Ouro na Serra do Cadeado e Cintra no Morro do
Gigante.
1692
Primeira viagem de Cananeenses para garimpar nas terras de Cataguases,
achando ouro e principalmente diamantes ao norte da Capitania de Santo
Amaro (Minas Gerais).
1767
Fundado o Povoado de Ararapira e mais ou menos nessa época a Armação
da Baleia na Ilha do Bom Abrigo.
1767
Elevada à Freguesia sob o nome de São José da Marinha, o Ararapira.
1787
Em setembro é publicado um Edito Real, por ordem do Capitão General
Bernardo José de Lorena, pelo qual todas as embarcações que zarpassem
dos portos do Litoral (Cananéia, Iguape e São Sebastião) ficavam obrigadas
a escalas em Santos.
Nessa época São Paulo vivia entre a fome e a miséria e a desculpa para tal
Edito era a arrecadação de impostos. Porém a verdadeira finalidade era
desviar, para a futura capital, as mercadorias necessárias para o seu
sustento e desenvolvimento. Isso impedia o primeiro o comércio direto e
mais lucrativo com o Rio de Janeiro e o resto da Colônia e em conseqüência
o desenvolvimento dessas cidades.
1910
Iniciada a Pesca Comercial em Cananéia com a introdução do papel moeda na
compra de Pescado. Fim do Escambo.
1919
O Ararapira passa a pertencer ao Paraná.
1921
Nasce o Ariri cujos habitantes migram de Ararapira.
Inaugurada uma Fabrica de Barris.
1936
Construído o Entreposto de Pesca em Cananéia para a regulamentação e
fomento da Indústria Pesqueira.
1952
Inaugurado o Canal do Varadouro ligando a Região Lagunar de Cananéia a
Paranaguá.
O Canal foi construído usando como leito a antiga trilha caiçara, medindo 6
km de extensão, 50 metros de largura e 6 m de calado.
1958
Na cidade existiam duas fábricas de conservas, um engenho de beneficiar
arroz, uma fábrica de gelo e duas olarias.
Na sede de distrito do Ariri existiam uma fábrica de aguardente, uma
serraria, uma carpintaria e um engenho de beneficiar arroz.
1965
Inaugurado o Hotel Estância Municipal de Cananéia.
36
4.4 – evolução urbana
Em 1531, quando Martim Afonso de Souza chegou a
Cananéia, encontrou um grupo de índios Carijó, degredados
portugueses, castelhanos e o Bacharel Mestre Cosme
Fernandes Pessoa, também degredado pela Coroa
Portuguesa. Esse grupo formou um dos primeiros
povoamentos da costa litorânea paulista.
O primeiro povoamento originou-se na Ilha Comprida,
na aldeia de Maratayama, mas seu desenvolvimento foi
comprometido pela carência de água potável. O
deslocamento para a ilha de Cananéia proporcionou maior
adensamento populacional.
Sobre a Igreja Matriz de São João Batista há
controvérsias entre os historiados com relação à data exata
de sua construção: 1550, 1577, 1660 ou 1680. O que
é certo é que em sua edificação foram utilizados cal feita de
concha e óleo de baleia, originando paredes espessas e
seteiras, já que ela também cumpria a função de fortificação
contra os ataques de piratas.
Segundo o historiador Antônio Paulino de Almeida,
em 1587 é fundada a Vila de São João Batista de Cananéa,
como era chamada, habitada por pescadores e lavradores.
Figura 12: Ocupação urbana entre os séculos XVII e XVIII.
Igreja São João Batista
Casario na rua Tristão Lobo – Rua do Fogo
Fonte: Museu Municipal de Cananéia
“No século XVIII a agricultura com o cultivo de arroz, cana e
mandioca associada à pesca para subsistência eram os destaques da
economia local, além do estabelecimento de uma armação de pesca
baleeira na Ilha do Bom Abrigo, cujo óleo extraído servia como
combustível para as candeias, construção e calafetação das
embarcações, sendo em 1734 o ano do apogeu da construção naval.
Em 1782 ocorre a instalação de 16 estaleiros, que se espalhavam
desde o Morro São João até a embocadura do Mar Pequeno, onde
cerca de 200 embarcações eram nele aportadas.” (MAGDALENA,
BIANCA)
37
Figura 13: antigo casario da rua Tristão Lobo – Rua do Fogo
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Figura 14: antigo casario da rua Tristão Lobo
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Figura 15: antigo casario da rua Tristão Lobo
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Figura 16: igreja matriz de São João Batista
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Em 1889 é criado o porto de Cananéia, às margens
do Mar Pequeno ou Mar de Cananéia, importante ponto
para a exportação de farinha, erva-mate e arroz.
Em 1892 a vila é elevada a categoria de cidade.
38
Figura 17: Ocupação urbana no século XIX
Fonte: Museu Municipal de Cananéia
Com o declínio da produção de arroz e incremento
das lavouras de café no planalto paulista, a principal fonte
da economia do município passa a ser a pesca. Nas
primeiras décadas do século XX é criada a Colônia de
Pescadores.
Rua do Bandeirante
Porto Bacharel Avenida Beira Mar
Figura 18: Ocupação urbana no século XX
Fonte: Museu Municipal de Cananéia
39
Figura 19:
Acesso do porto Bacharel à praça Martim Afonso de Souza,
onde está situada a igreja. Em destaque, o casario. Anos de 1940.
Fonte: www.cananet.com.br
4.5 – turismo
O município de Cananéia conta com diversos pontos
de interesse turístico, tanto de ordem natural quanto
arquitetônico e cultural. Porém não há um serviço receptivo
eficiente para receber o grande número de turistas que
migram para o município na temporada de férias de verão e
durante as festas locais. Com isso, há um grande consumo
da infra-estrutura do município sem o aproveitamento
adequado dos atributos culturais e naturais que a cidade
oferece.
Há uma consolidada rede de hotéis e pousadas,
concentrados principalmente no centro histórico de
Cananéia, além de restaurantes e lanchonetes. Apenas uma
agência bancária atende a população local e veranistas e
não há no município caixas 24 horas.
Uma única empresa de transporte rodoviário faz o
traslado de São Paulo e Jundiaí até Cananéia, passando por
vários municípios ao longo da rodovia Régis Bittencourt.
A população local complementa a renda nos períodos
de veraneio e festividades vendendo passeios de barco,
visitas a cachoeiras, trilhas ecológicas diversas, tanto na
Ilha de Cananéia quanto na Ilha do Cardoso, além de servir
de mão-de-obra nos serviços domésticos aos veranistas.
4.5.1 – principais pontos turísticos
- Samabaquis
Esses sítios arqueológicos são remanescentes da
presença do homem entre 5.000 a.C. e 1.500 a.C,
presentes em Cananéia, na Ilha Comprida e na Ilha do
Cardoso.
No trajeto pelo canal entre Cananéia e a Ilha do
Cardoso pode-se avistar a Ilha da Casca, com grandes
exemplares de sambaquis.
40
Figura 20: Ilha da Casca
Fonte: www.googlemaps.com
- Porto Bacharel
Figura 21: Porto Bacharel nos anos 40 e nos dias atuais
Fonte: www.cananet.com.br
- Igreja Matriz
Figura 22: Igreja de São João Batista – antiga fortificação
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
- Praça Martim Afonso de Souza
Figuras 23 e 24 – Praça Martim Afonso de Souza nos anos 40
e nos dias atuais
Fonte: www.cananet.com.br
41
- Morro de São João
Figuras 25 e 26: Morro de São João ao fundo
Fonte: www.cananet.com.br
- Avenida Beira Mar
Figura 27: aterro para implantação da avenida Beira Mar
Fonte: www.cananet.com.br
Para a implantação da avenida Beira Mar foi
necessária a construção de um aterro.
Abaixo, a avenida nos anos 40 e nos dias atuais após
a requalificação da primeira década de 2000.
Figuras 28 e 29: avenida Beira Mar anos 40 e anos 2000
Fonte: www.cananet.com.br
- Figueira Centenária
Segundo as estórias populares, dentro da figueira há
uma pedra em forma de pirâmide, que hoje encontra-se no
meio de seu tronco e é inacessível. Não se sabe como a
árvore cresceu nesse lugar mas supõe-se que um pássaro
tenha depositado a semente da figueira nesse local e o
clima favorável possibilitou o crescimento da figueira. Há
outras lendas que afirmam que debaixo dessa frondosa
árvore, piratas enterraram seus tesouros.
42
Figura 30: Figueira Centenária
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
- Rua do Artesanato
Figura 31: Rua do Artesanato
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
A rua do artesanato foi idealizada para dar apoio aos
artesãos da cidade. São quiosques implantados em uma
alameda onde o turista encontra diversas manifestações
artísticas e folclóricas, produções indígenas e culinária
local.
Outra opção de turismo em Cananéia reúne famílias
de agricultores das comunidades locais que oferecem
comida caseira e produtos artesanais e agroecológicos aos
visitantes. A partir de Cananéia pode-se acessar o Circuito
tanto através da balsa que vai para o continente como pela
rodovia José Herculano de Oliveira Rosa, conhecida na
região como Estrada da Aroeira ou Estrada da Ponte.
Figura 32 – Circuito de Turismo na Agricultura Familiar
Fonte: www.cananet.com.br
43
Nas indicações 01,02 e 03 encontram-se os sítios
e chácaras da Freguesia da Aroeira e vizinhança; nos pontos
04 e 05 as da comunidade Rio Branco; no 06 encontra-se
o Itapitangui; 07,08 e 09 o Mandira; 10 e 11, Santa
Maria.
O turista passa a conhecer também a porção
continental de Cananéia através da visita aos sítios e
chácaras que fazem parte do circuito.
- Prédio da Câmara Municipal
Figura 33 – Câmara Municipal
Fonte: www.cananet.com.br
O prédio da atual Câmara Municipal já foi o presídio
da cidade. Aí já funcionaram o Fórum, a delegacia e a
cadeia.
- Fórum
Figura 34 e 35 – Fórum e delegacia
Fonte: www.cananet.com.br
- Museu Municipal
Figura 36 - Museu Municipal “Victor Sadovsk
O projeto de restauro desse casario foi
desenvolvido por Lina Bo Bardi.
44
As técnicas caiçara estão aí representadas nos
artefatos de pesca e o turista também pode conhecer o
“cerco”, um modo de pesca que não usa linha nem anzol.
É possível conhecer um pouco a história de algumas
famílias que contribuíram para a construção da história de
Cananéia, bem como os artefatos usados pelos índios
Carijós.
- Ilha Comprida
Embora não faça parte do território de Cananéia, é
através da balsa que parte do Porto Bacharel que se
acessa o Boqueirão Sul da Ilha Comprida.
Figura 37: Ilha Comprida - Boqueirão Sul
Fonte: www.googlemaps.com
Na Tabela abaixo pode-se constatar os períodos de
maior fluxo de pessoas e automóveis que partem do Porto
Bacharel rumo à Ilha Comprida, em uma travessia que dura
pouco mais de cinco minutos.
Nos períodos de maior movimento, a balsa não tem
horários específicos e o transporte, principalmente de
turistas, não pára.
Tabela 2 – fluxo de veículos na balsa Cananéia / Ilha Comprida
pedestres automoveis motocicletas bicicletas
janeiro 36.477 7.750 476 3.773
fevereiro 25.738 4.379 417 2.516
marco 10.679 1.983 201 2.132
abril 12.190 2.678 275 2.183
maio 6.150 837 97 1.694
junho 6.019 1.002 100 1.609
julho 9.103 2.057 162 2.499
agosto 8.460 1.352 167 1.971
setembro 7.700 1.577 122 1.616
outubro 9.590 1.957 233 2.036
novembro 10.279 2.610 246 2.205
dezembro 29.527 6.464 575 3.015
total 171.912 34.646 3071 27.249
Fonte: DERSA - 2000
Parque Estadual da Ilha
do Cardoso Ilha do Bom Abrigo
Ilha Comprida
45
Janeiro é o mês de maior movimento turístico no
Município e maio e junho representam o período de baixa
temporada.
Em 2007, segundo o DERSA, 88.879 veículos,
54.963 bicicletas, 362.263 pedestres fizeram a travessia
Cananéia - Ilha Comprida. Nota-se então o aumento do fluxo
turístico rumo a Cananéia, o que teve como conseqüência
na época a falta de água em alguns pontos da cidade.
- Porto Cubatão
A ligação com a porção continental do município
pode ser feita via ponte ou via balsa através do Porto
Cubatão. A opção pelo uso da ponte na Estrada da Aroeira
representa um acréscimo de aproximadamente 40km no
trajeto entre a ilha e o continente.
A partir do porto é possível acessar a estrada que
liga o Município a Pariquera-Açu ou à zona rural do
Município.
Figura 38 – Porto Cubatão
Fonte: www.cananet.com.br
4.6 – aspectos culturais
As festas regionais fazem parte da cultura de
Cananéia e são responsáveis pelo incremento do turismo no
Município.
- principais festas:
Carnaval : Cananéia possui um carnaval de rua com o
desfile de blocos tradicionais como o “Bloco Rafaelo” e
o “Bloco das virgens”, o mais antigo da cidade.
Festa do Mar : Realizada no mês de junho, garante o
incremento turístico no período de baixa temporada. O
turista pode apreciar comidas típicas, apresentações
culturais, exposições, shows, entre outras atrações.
46
Festa da Tainha : Realizada no meio do ano na Vila do
Marujá, na Ilha do Cardoso, a festa é tradicional no
município e, conta com muitos pratos típicos da região,
incluindo, é claro, a tainha.
Festa de Agosto : Em 12 de agosto e comemorada
a fundação da cidade e no dia 15 e realizada a festa de
“Nossa Senhora dos Navegantes”. Nesses dias há muitos
turistas na cidade e o ponto máximo da festa e a Procissão
Marítima, onde as embarcações decoradas e romeiros
devotos desfilam pela baia conduzindo o andor com a
imagem da padroeira dos navegantes.
Formados através de gerações, os pequenos
núcleos familiares compõem as comunidades tradicionais
caiçaras. Alternam o seu sustento entre a pesca e a
agricultura de subsistência. Sua vida está diretamente
relacionada com a natureza, seus ciclos e recursos
renováveis.
Ao longo dos 140Km de extensão do Lagamar vivem
80 comunidades caiçara formadas por 2.456 famílias. Em
Cananéia cerca de 25 comunidades caiçara dedicam-se a
pesca do camarão. A comunidade Mandira dedica-se
principalmente ao viveiro de ostras.
A pesca artesanal tem como instrumentos a rede, a
canoa e o cerco.
Figura 39 e 40 – caiçaras tecendo redes e o cerco armado
Fonte: www.cananet.com.br
Os conhecimentos dessas comunidades são
passados de pai para filho, e às futuras gerações são
ensinados os regimes da pesca, os ciclos da lua, a cura
através de ervas medicinais, técnicas para se fiar as redes
e de caça. Infelizmente, boa parte da cultura caiçara vem
desaparecendo com seu rico artesanato, a culinária, lendas
e mitos, enfim, toda a sua tradição.
Durante as décadas de 50 e 60 do século XX, houve
um grande êxodo de Cananéia rumo aos grandes centros
urbanos como a capital paulista e a região do ABC e esse
fato comprometeu muito a preservação da cultura caiçara.
Em todo Vale do Ribeira há 50 comunidades
quilombolas que vivem da agricultura de subsistência,
produção e comércio de bananas. Na região há também dez
aldeias da comunidade Guarani.
47
4.7 - patrimônio arquitetônico
O centro histórico de Cananéia, com suas ruas e
casario, constitui-se em patrimônio tombado pelo
CONDEPHAAT – Conselho Nacional de Defesa do Patrimônio
Histórico, Artístico, Arquitetônico e Turístico.
Há indícios de povoamento na Ilha Comprida marcado
por construções de taipa de pilão, assim como na Ilha do
Bom Abrigo, mas infelizmente, até hoje não foi possível
identificar o ponto exato do primeiro povoamento
cananeense, a lendária Maratayama.
Constitui o centro histórico a Praça Martim Afonso
de Souza; Rua Dom João III; Rua Capitão Ernesto Martins
Simões (Antiga Américo Vespúcio); Rua Francisco Chaves
(Antiga Martim Afonso de Souza); Rua Pêro Lopes; Avenida
Beira Mar (Antiga Dr. Alcoforado); Rua Rodolfo de Lima
(Antigo Beco do Inferno); Rua Tristão Lobo (Antiga Rua do
Fogo).
Figura 41 e 42: Conjunto arquitetônico tombado no centro
histórico de Cananéia (GP – 2: fachadas, volumetria, cobertura e
ornatos exteriores)
Fonte: www.cananet.com.br
Rua Dom João – Casa n.ºs 32 / 44 / 56 / 64 / 74 / 84; Rua
Bandeirante – Casas n.ºs 01 / 03 / 12 / 21; Praça Martim Afonso de
Souza – Casa 01D / n.º 64 / esquina do Mar e Igreja; Rua Tristão Lobo
– Casas n.ºs 25 /27 /35 / 37 / 39 / 41 / 43 / 45 / 47 / 75 / 77 / 79 /
87.
Figura 43 e 44: casario da rua Dom João
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
48
Figura 45 e 46: Casario da rua Bandeirante
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Figura 47: Praça Martim
Afonso de Souza; Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Figura 48: casario da rua
Tristão Lobo; Fonte: Patrícia Dias Geraldo
5 – Diagnósticos
5.1 – aspectos gerais - problemas sociais
O Vale do Ribeira é uma das regiões do Estado de
São Paulo que apresenta um dos menores IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano).
Cananéia apresenta índice médio – 0,775, menor
que o de Ilha Comprida que é de 0,803.
O IDH é pautado nos índices de educação,
longevidade e renda, importante instrumento para se
compreender os problemas sociais de um país, estado ou
município.
No município de Cananéia há um forte contraste
social marcado pela segregação espacial. As porções
Noroeste e Sudoeste do município, na sua porção insular, é
ocupada pelas camadas de baixa renda, com muitas áreas
de ocupação irregular e moradias de baixo padrão.
Já na porção Nordeste, o território está reservado
às casas de altíssimo padrão, que passam a maior parte do
ano fechadas pois não pertencem aos habitantes do
município. O bairro Retiro das Caravelas é privilegiado pela
quase exclusiva vista para o canal de Cananéia, com as suas
garagens náuticas particulares e casas de alto padrão.
49
Mapa 11: Arruamento do município e segregação espacial
(vide ANEXO 1)
Na porção continental está concentrada a maior área
rural do município. O bairro de Porto Cubatão e o do
Itapitangui são os que apresentam as melhores condições
de infra-estrutura urbana.
No bairro de Porto Cubatão está instalada a balsa
que liga as porções insular e continental do município, o que
faz do lugar um elo de ligação do município. Durante muitos
anos esse foi o único acesso entre ilha e continente e,
somente nos anos de 1990 é que foi criada uma rota
alternativa através da instalação de uma ponte. Porém essa
rota aumenta em 40km a distância percorrida pelos
motoristas, quando comparada à antiga travessia via balsa.
50
Figura 49: localização de bairros
Fonte: www.googlemaps.com
Na porção continental há postos de saúde e escolas
de Ensino Fundamental Ciclo I. Os estudantes do Ciclo II
tem que deslocar-se para a ilha ou para o município mais
próximo, Pariquera-Açu ou Registro. Já o habitante que
necessitar de atendimento hospitalar, o encontrará na ilha,
que conta com uma unidade para atendimentos de
emergência e maternidade, ou então deverá deslocar-se
para os municípios vizinhos.
O bairro de Porto Cubatão e Itapitangui são
predominantemente residências, com alguns
estabelecimentos comerciais de pequeno porte.
A agricultura desenvolvida nos bairros rurais
destinam-se principalmente à subsistência dos seus
habitantes.
Figura 50: bairro do Itapitangui, foto tirada do interior do
ônibus
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
A população jovem de Cananéia é obrigada a
deslocar-se para outros municípios a fim de estudar e
encontrar colocação profissional.
O setor de comércio e serviços é praticamente a
única fonte de emprego do município e a oferta de vagas é
comprometida pela sazonalidade do fluxo turístico. O perfil
dessas vagas é de baixa escolaridade e nenhuma formação
técnica. Não há no município nenhum curso profissionalizante
Porto Cubatão –
travessia via balsa
travessia via
ponte
Itapitangui
51
que qualifique a mão-de-obra especificamente para o
serviço receptivo turístico.
Outra fonte de renda dos habitantes é o aluguel de
barcos para passeios, o artesanato, a pesca e a criação de
ostras.
O município tem um ginásio de esportes no bairro
Acaraú freqüentado pelos jovens, com algumas atividades
oferecidas pela municipalidade.
A falta de emprego, principalmente para a população
mais jovem, tem trazido alguns problemas, segundo relato
de moradores, como o uso de entorpecentes. Porém, o
índice de criminalidade é baixo, limitando-se a pequenos
roubos e furtos. Mas, de qualquer forma, isso não fazia
parte do cotidiano de Cananéia há pouco tempo.
O déficit habitacional do município motivou à
ocupação de terras, principalmente no bairro do Carijo,
segundo informações coletadas com os moradores. Não há
dados exatos sobre o problema, mas de qualquer forma, o
município não tem um plano habitacional a apresentar.
Também segundo os habitantes locais, há algumas glebas
sem nenhum uso, de posse de proprietários desconhecidos
e que, praticam especulação imobiliária, aguardando uma
possível valorização de suas terras.
O Plano Diretor do município, que ainda não foi
votado, não prevê uma ZEIS – Zona Especial de Interesse
Social, importante instrumento para garantir a regularização
fundiária. Entretanto, exatamente no bairro do Carijo, um
empreendedor paulistano implantou em 2005, um
loteamento fechado horizontal de alto padrão, - quando
comparado ao padrão do bairro – o Village Ilha de
Cananéia, com casas que variam de cento e oitenta mil a
seiscentos mil reais e lotes de cinqüenta mil reais.
5.2 – aspectos específicos
5.2.1 – Barragem de Tijuco Alto
O Rio Ribeira de Iguape, com 470km, com 350km
no território paulista e 120km no território paranaense, é o
único federal sem intervenções em seu curso com a
construção de barragens. Ele está localizado na maior área
contínua de preservação de Mata Atlântica do país e
atualmente, um empreendimento privado, a BARRAGEM DE
TIJUCO ALTO, pode colocar em risco toda a área declarada
Patrimônio Natural da Humanidade, pela UNESCO.
Em agosto de 2007, o governador José Serra
vetou o Projeto de Lei que transformava o Ribeira do
Iguape em Patrimônio Histórico e Cultural do Estado de São
Paulo. A justificativa para o veto é a de que, por ser um rio
52
federal, dentro dos territórios paulista e do Paraná, é
necessário um Projeto de Lei Federal.
O projeto da barragem foi solicitado pela Companhia
Brasileira de Alumínio (CBA), uma empresa do grupo
Votorantim, cujo propósito é a geração de energia para a
produção de alumínio da indústria siderúrgica ha 250km da
barragem, na cidade de Alumínio.
O plano contempla uma barragem com 153m de
altura e 65km de extensão para a geração de 150MW de
energia. Sua implantação seria no alto curso do Ribeira, nas
divisas de SP e PR, a 333 km de sua foz, no Complexo
Estuarino-Lagunar de Iguape-Cananéia-Paranaguá.
Tijuco Alto representa a maior ameaça à complexa
diversidade sócio-ambiental e cultural do entorno do rio
Ribeira de Iguape. Mesmo sendo uma área protegida, com
quilombolas implantados nesse território, o Ministério de
Minas e Energia é favorável à construção, o que de certa
forma pressiona o IBAMA a conceder a licença, sob a
alegação de que serão gerados mais impactos positivos do
que negativos.
Além da barragem de Tijuco Alto a CESP ainda prevê
mais 3 usinas ao longo do rio, - FUNIL, ITAÓCA e BATATAL
-, à jusante de Tijuco Alto.
Mapa 12 – localização das barragens
Fonte: Instituto Socialambiental
Os prováveis impactos desse empreendimento sobre
o meio ambiente enumeram-se abaixo:
- aumento da contaminação, principalmente de metais
pesados, devendo inviabilizar o uso múltiplo dos
reservatórios;
53
- provável deterioração da qualidade da água em
todo o curso do rio;
- alteração na diversidade e abundância dos
organismos aquáticos;
- prejuízos à produção pesqueira;
- redução da produtividade do estuário e da zona
costeira;
- eliminação ou degradação das áreas de várzea;
- problemas legais por se tratar de área protegida.
5.2.2 – aterro sanitário
No site do jornal “O Estado de São Paulo”, de
02/10/2008, uma matéria publicou a análise da CETESB
que classificava como em “situação crítica” os aterros
sanitários de Cananéia e Ilha Comprida.
A proximidade com a Serra do Mar e as áreas de
preservação de Mata Atlântica são as principais dificuldades
para a instalação de aterros sanitários, segundo gestores
locais. Além disso, as condições geográficas do litoral sul
paulista, com lençol freático superficial e um regime
pluviométrico generoso, configuram-se em mais dificuldades
para a instalação dos aterros.
Também segundo alguns gestores, é difícil cumprir as
exigências da CETESB em Parques Estaduais e APAs.
Atualmente, toda a área urbana tem coleta de lixo
que é destinado à área próxima à manguezais.
Figura 51: “lixão” do Ariri
Fonte: www.googlemaps.com
Em 2004 a Prefeitura Municipal de Cananéia assinou
um TAC – Termo de Ajustamento de Conduta, visando a
adequação da destinação dos resíduos sólidos recolhidos
no município.
A CETESB cobrou providências com relação ao
“lixão” despejado a céu aberto, muitas vezes incinerado, a
menos de 200m de córregos e nascentes.
54
Em agosto de 2009, através de entrevista com
funcionários da Secretaria do Meio Ambiente, fomos
informados de que, já existe um projeto adequado para a
instalação do aterro sanitário de Cananéia, porém a CETESB
de Registro, - município ao qual Cananéia está subordinada,
- ainda não aprovou o projeto.
5.2.3 – garagens náuticas
Implantadas sobre as áreas de mangue ao longo do
canal de Cananéia, as garagens náuticas representam um
grande risco a preservação dos mangues.
O próprio movimento de ondas provocado pelo
deslocamento de embarcações no canal tem impactado de
forma negativa a preservação da área de mangue ao longo
do canal entre Cananéia, Ilha Comprida e a Ilha do Cardoso.
Figura 52: orla de Cananéia sem a garagem náutica
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Figura 53: atividade pesqueira caiçara
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Figura 54: garagem náutica de uso particular
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Observa-se a completa modificação da orla, inclusive
com a impermeabilização do solo, e a redução da área de
atuação de pescadores artesanais.
55
Figura 55: mansão à beira-mar e garagem náutica
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Na orla há uma marina que conta com uma área de
uso exclusivo de seus sócios à beira-mar.
Figuras 56 e 57:
acesso restrito e área de uso exclusivo dos sócios da marina
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
5.2.4 – tratamento de água e coleta de esgoto
A Sabesp é a empresa responsável pelo
abastecimento de água e coleta de esgoto do município de
Cananéia. A empresa atende cerca de 90% do município
com água tratada e 60% com coleta de esgoto, sendo que
existem áreas de difícil acesso, segundo funcionários.
Dados da empresa revelam que a demanda aumenta em
torno de 500% no período do Carnaval, mas sem
comprometimentos dos serviços. Entretanto, no Revellion
de 2007 faltou água em algumas regiões do município e eu
pude testemunhar a situação pois passava férias em
Cananéia.
A água que atende o município é coletada na bacia
do rio Itapitangui.
Na Ilha do Cardoso, a comunidade do Marujá dispõe
de um sistema natural de tratamento de esgoto, que
segundo técnico da Sabesp é eficiente para uma
comunidade pequena, e que portanto, no período de alta
temporada, é inadequado.
56
5.2.5 – mobiliário, equipamentos urbanos, comunicação
visual
De um modo geral, há carência em equipamentos e
mobiliário urbano no município.
Embora seja uma cidade turística, não há placas
adequadas à orientação dos visitantes, que identifique os
pontos de interesse turístico, seja de ordem natural ou
cultural. A comunicação visual é extremamente deficiente.
Figura 58: placa na avenida Beira Mar
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Um dos meios de transporte mais utilizado em
Cananéia é a bicicleta, mas não há nenhum bicicletário no
município que tenha sido implantado pela Prefeitura
Municipal.
– calçadas e acessibilidade
As calçadas em grande parte não são adequadas e
impossibilitam a acessibilidade integral dos munícipes e
visitantes.
Figuras 59 à 64: calçada em diversos pontos do Município
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
57
No passeio da avenida Beira Mar há piso tátil e
guarda-corpo, mas o acesso à balsa que atravessa para Ilha
Comprida, é difícil até mesmo para os automóveis.
Figuras 65 e 66: piso tátil e acesso à balsa
Figura 67: acesso à balsa
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Não há pontos de ônibus.
Parte do calçamento do centro histórico é em
paralelepípedo, conforme a imagem do acesso à balsa.
Os bairros mais novos têm as vias pavimentadas com
piso intertravado.
Figura 68: transição de pavimentos
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
– pavimentação das vias
A principal via da cidade, a avenida Independência,
tinha o pavimentado também em piso intertravado, mas há
aproximadamente 3 anos, e contra a vontade de boa parte
da população, o piso foi substituído por asfalto, o que
considera-se como inadequado pois impermeabiliza o solo e
dificulta a drenagem das águas pluviais.
58
Figuras 69 e 70: avenida Independência antes e depois do
asfalto
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
A avenida Beira Mar é pavimentada com asfalto e,
segundo a administração local, isso é necessário para a
passagem dos blocos carnavalescos.
Figura 71: avenida Beira Mar
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
– coletores de lixo
O município está inserido em uma APA federal, mas
mesmo assim, não há lixeiras adequadas à coleta de lixo e
em número suficiente à demanda. Estão localizadas em
alguns pontos privilegiados como no passeio da avenida
Beira Mar.
Figura 72: lixeiras no passeio da avenida Beira Mar
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
– praças e equipamentos
Observa-se que não há um critério urbanístico para a
implantação de bancos nas praças e não há um projeto
paisagístico adequado que preserve ou recomponha a
vegetação nativa.
59
Figuras 73 e 74: Praça no bairro do Carijo
Figura 75: Praça da Alameda do Descobrimento
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Figuras 76 e 77:
Praça no bairro do Carijo e Praça Theodolina Gomes
Figuras 78 e 79: Praça Theodolina Gomes
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
60
Figuras 80 e 81: bancos na rua do Artesanato
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Em uma extremidade da rua do Artesanato há uma
tipologia de banco e, no extremo oposto, vemos outra.
Na segunda imagem, o espaço ali configurado é de
“não-lugar”, pois não exerce nenhum tipo de atração. Trata-
se de um espaço de circulação e acesso, via escada, à rua
do Artesanato, com um banco implantado sem nenhum
critério urbanístico.
Figuras 82 e 83: mobiliário urbano da rua do Artesanato e
rampa
Figura 84:
acesso à rua do Artesanato junto à praça Theodolina Gomes
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
61
A rua do Artesanato é uma alameda que estende-se
por 2 quadras.
Na imagem anterior observa-se que é possível
acessar a alameda através de rampa, porém, na ponta
oposta há uma escada.
A Praça da Figueira, importante ponto turístico do
município, não conta com nenhum tipo de mobiliário ou
equipamento urbano e não há no município nenhuma placa
que indique a sua localização.
Figura 85: Praça da Figueira Centenária
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Figura 86: Praça na avenida Independência
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Implantada na principal avenida do município, a Praça
do Descobrimento tem alguns brinquedos nela implantados.
- acesso à orla e heliponto
No bairro Retiro das Caravelas, ao lado de uma
pousada há uma passagem de pedestres rumo à orla.
Precária, também é usada como depósito de entulho.
Figuras 87 e 88: passagem de pedestre e heliponto
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
62
Como contraponto, no mesmo bairro, há um
heliponto particular.
- portal de entrada da cidade
A entrada de uma cidade turística merece tratamento
urbanístico específico, pois ela representa a porta de
entrada para o visitante. Em Cananéia, um grande portal de
aspecto “brutalista”, com uma caravela sobre ele, fazendo
menção ao período do Descobrimento, dá às boas-vindas
ao turista.
Figura 89: Portal da cidade
Fonte: www.cananet.com.br
Embora haja no portal um espaço para abrigar o
serviço receptivo, ele está ocioso e não há nenhum
funcionário municipal ali trabalhando.
5.2.6 – loteamento horizontal fechado
No bairro do Carijo foi implantado em 2005 por um
empreendedor paulistano, um loteamento horizontal fechado
de alto padrão, o Village Ilha de Cananéia.
Embora hajam algumas controvérsias com relação a
essa figura jurídica, existe previsão genérica na Lei
4591/64 para os loteamentos fechados, mas a
regulamentação se dá pela Legislação Municipal.
Figura 90: localização do empreendimento
Fonte: www.villageilhadecananeia.com.br
A área é dotada de flora e fauna nativas e também de
uma nascente de água e de um afluente do rio Olaria. Houve
dúvidas em relação à implantação do empreendimento por
63
parte da sociedade, mas segundo o próprio loteador, as
exigências do IBAMA, CETESB, DEPRN e demais órgãos
foram cumpridas e todas as medidas compensatórias foram
adotadas.
Figura 91: arruamento e lotes do empreendimento
Fonte: www.villageilhadecananeia.com.br
Figura 92: licença de operação do loteamento
Fonte: www.villageilhadecananeia.com.br
64
Figuras 93 e 94: área durante a implantação e atualmente
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Figura 95: portaria do empreendimento – acesso restrito
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
A principal polêmica com relação ao
empreendimento é em relação à questões ambientais de
proteção de nascentes e da flora nativa.
Figura 96: nascente dentro da área do loteamento
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Figuras 97 e 98: casa e córrego
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
65
O empreendedor fez um alto investimento no local e
também construiu 3 casas para venda, além da própria,
cujos valores variam entre cento e oitenta mil e seiscentos
mil reais. Desde a implantação do loteamento, apenas um
lote foi vendido, cujo valor é de, no mínimo, cinqüenta mil
reias, segundo informações coletadas no local.
5.2.7 – transporte urbano
O transporte urbano do município é feito por uma
empresa particular, que inclusive é a mesma que faz o
traslado rodoviário entre Jundiaí e Cananéia; e São Paulo e
Cananéia, passando pelos vários municípios da região.
A freqüência de ônibus para o continente, que
passam pelo bairro Porto Cubatão é muito baixa – às
5:15h, 10:15 e 18:00h apenas. Em sua maioria, o
itinerário é feito via ponte, com paradas próximas às
freguesias Agrossolar, São Paulo Bagre, da Aroeira e mais
duas sem denominação.
Existem áreas intransitáveis em períodos de muita
chuva e, independente desse fator, há comunidades que
são mais facilmente acessadas através de barcos. É o caso
da comunidade do Ariri, no extremo sul do Município.
Boa parte da população depende do transporte
marítimo feito por pequenas embarcações.
5.2.8 – degradação ambiental e urbana
Figuras 99 e 100: esgoto doméstico sendo despejado
diretamente no córrego no bairro Acaraú; lixo doméstico
despejado no mangue.
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Figuras 101 e 102: lixo doméstico despejado sobre área de
mangue; degradação de mata ciliar
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
66
Figuras 103 a 108: lotes e edificações ociosos na área urbana
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Figura 109: equívocos na linguagem arquitetônica
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Figuras 110 e 111: ruínas da rua Tristão Lobo – área tomabada
pelo CONDEPHAAT.
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
67
Figuras 112 e 113: edificação ao lado direito do Museu
Municipal não respeitou gabarito de altura da rua
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Figuras 114 e 115: área de restinga está destinada à Zona
Industrial segundo Plano Diretor. A rodovia passa sobre o rio
Itapitangui, de onde é coletada a água que abastece o município de
Cananéia.
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Figuras 116 a 119: comunidade do Ariri, onde é despejado o
lixo do Município.
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
68
6 – Análise das propostas de Minutas de Lei
A partir da base teórica, dos diagnósticos e do
levantamento de campo será elaborada a análise da Minuta
de Lei do Plano Diretor do Município de Cananéia.
A proposta de Plano Diretor para o Município de
Cananéia é, na verdade, uma carta de intenções pautada em
princípios sócio-ambientais.
De um modo geral, o Plano Diretor não estabelece
prazos para a implementação das ações determinadas nas
minutas de lei, muito menos as sanções para o caso de não
cumprimento.
No decorrer dessa análise serão tecidos
comentários a cerca dos pontos mais frágeis do ponto de
vista legal e em relação a sua aplicabilidade.
6.1 – Análise da Minuta de Lei do Plano Diretor
As Leis que integram o Plano Diretor, segundo o Art.
3 do Capítulo I são:
I – Lei do Perímetro Urbano e Expansão Urbana;
II – Lei do Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo
Urbano e Rural;
III – Lei do Sistema Viário;
IV – Lei do Parcelamento do Solo Urbano;
V – Código de Edificações e Obras;
VI – Código de Posturas.
No Art. 5° o Plano Diretor apresenta um conjunto de
Diretrizes Setoriais da Política de Desenvolvimento
Municipal e para isso propõe estratégias de:
a – Seção I: desenvolvimento territorial e meio ambiente, cujo
objetivo geral é preservar e recuperar o meio ambiente através de um
conjunto de ações que envolvem a participação da população e do
Poder Público.
Como já foi pontuado, aqui não há o estabelecimento
de prazos para a aplicação desse conjunto de ações.
b – Seção II: desenvolvimento econômico e turístico, cujo
objetivo geral é o desenvolvimento da economia local. Isso ocorreria
através do incremento do turismo receptivo, da consolidação e
ampliação da área industrial, com a implantação de indústrias não
poluentes e do incentivo à produção agrícola familiar.
c – Seção III: infra-estrututura, visando a melhoria da qualidade
de vida da população, através da adequação dos serviços de coleta de
esgoto e lixo, distribuição de água, iluminação pública, pavimentação,
habitação popular, acessibilidade e locomoção.
d – Seção IV: desenvolvimento social, a fim de garantir a
qualidade de vida dos munícipes.
Assim como os demais itens, o plano estratégico de
desenvolvimento social estabelece diretrizes mas não atribui
69
responsabilidades e não prevê prazos específicos para o
cumprimento das ações necessárias. Neste item, são
propostas a melhoria da distribuição geográfica dos
equipamentos públicos; a criação de maternidade e aumento
do corpo médico, bem como dos estabelecimentos de
saúde; educação de qualidade; programas de habitação
popular e regularização fundiária. Na questão habitacional,
ao analisar a Minuta de Lei do zoneamento, uso e ocupação
do solo urbano e rural constataremos que não há uma Zona
Especial de Interesse Social.
Na seção de Política Urbana para o município, o Art.
20 apresenta os princípios do cumprimento da função social da
cidade e da propriedade, do equilíbrio na distribuição e acessibilidade
aos serviços públicos e na gestão democrática.
Alguns dos objetivos gerais apresentados no Art. 21,
visam garantir o acesso à moradia e coibir o uso
especulativo de imóveis urbanos. No Capítulo III, dos
Instrumentos da Política Urbana, o Art. 50 prevê a aplicação
de alíquotas progressivas do Imposto Predial Territorial Urbano – IPTU,
caso o proprietário não cumpra a obrigação de parcelar, edificar ou
utilizar o imóvel. O Código Tributário é que estabelecerá a gradação das
alíquotas e o prazo para a adequação do uso da área. Decorrido esse
prazo sem o cumprimento das obrigações, o Art. 51 prevê a
desapropriação do imóvel com destinação exclusiva a fins de interesse
social.
O Art. 48, § 3º classifica como solo urbano não
utilizado todo o tipo de edificação que esteja comprovadamente
desocupada há mais de dois anos.
Para o cumprimento do Art. 50 é necessário o
levantamento das propriedades que se enquadram na
situação determinada no Art. 48. O Estatuto da Cidade
orienta para a aplicação de IPTU progressivo no tempo
sobre os imóveis ociosos, mas é atribuição do Município,
através do Plano Diretor, identificar esses imóveis e
notificar os seus proprietários. O Plano Diretor de Cananéia
prevê a aplicação do IPTU progressivo no tempo sobre
imóveis inseridos na Macrozona Urbana que caracterizem-se
como ociosos, mas estabelece que uma lei específica com
regulamentações próprias é que identificará esses imóveis,
o que contraria, nesse ponto, o Estatuto da Cidade.
A questão ambiental está presente nos objetivos
gerais da Política Urbana, item IX do Art. 21, com a
proposta de
conter a ocupação de margens de rios e proteger as faixas de
mata ciliar.
Entretanto, não fica estabelecido o modo de como
esses objetivos serão atendidos na prática, com a
demarcação de um sistema de parques, por exemplo.
A acessibilidade universal, item XII do Art. 21, é um
ponto delicado. A proposta prevê
o acesso a qualquer ponto do território através de rede viária e
do sistema de transporte público,
porém há algumas comunidades que são inacessíveis,
principalmente no período de chuvas. A proposta não
70
contempla o deslocamento aquático, meio de transporte
extremamente utilizado pela população.
A proposta de promoção do desenvolvimento
econômico e social, Capítulo II, está articulada à proteção
do meio ambiente, porém, nas diretrizes apresentadas para
a consecução dessa política, não há nenhum item que
contemple as questões ambientais.
A Política Municipal de Habitação, Capítulo III, objetiva
normatizar e divulgar os critérios para ocupação de áreas para
habitação para a população de baixa renda através de empreendimentos
de produção de Habitação de Interesse Social e Habitação de Mercado
Popular,
esta pela iniciativa privada. Nesse item, além de
envolver a iniciativa privada, não estão determinadas quais
serão as áreas de implantação dessas habitações.
É citada no item IV do Art. 25 a promoção do acesso
à terra e a utilização adequada de áreas ociosas, porém,
não é especificado de que forma e com quais instrumentos
esse acesso será garantido. O art.27 do capítulo III do
Plano Estratégico de Desenvolvimento Social cita os
conteúdos dos Programas de Regularização de
Loteamentos e de Contenção de Áreas de Risco e
Proteção Ambiental. No item V cita que caberá aos
programas definir as ZEIS (Zona Especial de Interesse
Social), quando na verdade, isso já deveria aparecer
definido no Macrozoneamento do município.
No Capítulo III do Ordenamento Territorial, o Art. 51
prevê a desapropriação de imóveis ociosos com a
destinação dos mesmos para fins de interesse social, mas
como já vimos anteriormente, se o Plano Diretor não
identifica a área com os imóveis nessas condições, o
cumprimento do Art. 51 fica totalmente comprometido.
O Capítulo IV, no Art. 52, trata Das Zonas Especiais
de Interesse Social
como porções territoriais destinadas prioritariamente à
urbanização e produção de Habitação de Interesse Social, destinada à
famílias com renda mensal limitada a 1 (um) salário mínimo.
O Art. 53 diz que será permitido nas ZEIS
o estabelecimento de padrões de uso e ocupação conforme
aprovação do órgão municipal competente.
O Art. 55 diz que
uma Lei Municipal, baseada no Plano Diretor Municipal,
estabelecerá os critérios para a delimitação das ZEIS,
porém, as ZEIS já deveriam encontrarem-se
delimitadas no Macrozoneamento do Município.
O capítulo IV trata do saneamento básico de forma
integrada ao meio ambiente, com o objetivo
de promover a sua preservação através do tratamento do
esgoto, do manejo dos resíduos sólidos e do reuso das águas.
71
Entretanto, o município não prevê a instalação de uma
estação de tratamento de esgoto. Cerca de 60% das
residências dispõe do serviço de coleta e, por volta de
96% conta com abastecimento de água tratada. Segundo
técnicos da Sabesp, há regiões do município de difícil
acesso e que não justificam o investimento financeiro para a
instalação da infra-estrutura necessária aos serviços.
Para alcançarem-se os objetivos da promoção do
Saneamento Ambiental Integrado, no Art. 30 propõe-se
como instrumento de gestão a elaboração do Plano
Integrado de Macrodrenagem e Saneamento Ambiental.
Mas, como nos demais itens já vistos, o Artigo não
estabelece prazos, sanções e nem a qual esfera política
compete a efetividade da proposta.
No item XIV do Art. 29, embora apresentada a
proposta de se estabelecer um Sistema Municipal de Áreas
Verdes e de Lazer, isso de fato não acontece no
documento, e nem é identificado qual órgão deverá fazê-lo.
No item IX do Art. 30 é estabelecido
o prazo de 5 anos para o estabelecimento e implementação
dessas áreas, objetivando atingir o índice de 12m2 de áreas verdes e
de lazer públicas por cidadão,
mas não fica claro a partir de quando começa a contar
essa prazo e quais as sanções previstas no caso de não
cumprimento. Nos itens subseqüentes, propõe-se
estabelecer uma série de áreas e programas, mas sem
identificar os setores responsáveis por nenhum deles, o
que faz com que o artigo fique extremamente vago e
permite que as propostas, que são relevantes, se percam.
O capítulo V das Políticas Urbanas trata do Patrimônio
Cultural e Ambiental. Os Artigos 32 e 33 propõem a
valorização do legado cultural e a preservação dos
ambientes naturais, mas não lança nenhum instrumento para
a efetivação dos objetivos específicos. Trata-se de uma
série de intenções, que entre outras, pretende também
desenvolver o potencial turístico apoiado nos exemplares
do patrimônio arquitetônico e ambiental, mas não prevê os
meios de divulgação e preservação dos mesmos.
Sabe-se que o turismo é uma forma de consumo que
pode ser nocivo ao município, mas que também pode ser
muito bem aproveitado economicamente. Entretanto, é
necessário que se garanta a integridade do patrimônio, seja
ele cultural ou ambiental, por meio de instrumentos de
gestão muito específicos e de planos de uso com diretrizes
de conservação e sanções no caso de não cumprimento
das normas.
O Capítulo I do Ordenamento Territorial, no Art. 36,
objetiva a organização o desenvolvimento da cidade
de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano
com efeitos negativos sobre o meio ambiente e qualidade das áreas
urbanizadas.
Propõe a regulamentação de condições e restrições
de uso e ocupação do solo de modo integrado às Áreas de
72
Proteção Permanente, mas não o faz objetivamente neste
capítulo.
O Plano Diretor, juntamente com os projetos de lei
que o complementam, especificamente o Macrozoneamento
e a Minuta de Lei do Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo
Urbano e Rural, são os principais objetos de análise desse
trabalho. É através desses instrumentos que se pode
verificar se o conjunto de intenções tem correspondência
com a política de tratamento do território, o que revela a
efetividade das ações propostas.
O Capítulo II apresenta o Macrozoneamento. Cabe
aqui identificar se os objetivos gerais dos itens anteriores
serão plenamente atingidos, respondendo aos princípios
sócio-ambientais propostos pelo Plano Diretor.
O Art. 37 estabelece os objetivos fundamentais do
Macrozoneamento:
I – estabelecimento de padrões de urbanização
adequados à cada porção do território municipal;
II – preservação das áreas de proteção ambiental;
III – regulação da atividade rural de forma a garantir a
preservação dos recursos naturais.
O Art. 38 define as macrozonas em:
I – MURP – MACROZONA DE URBANIZAÇÃO
PRIORITÁRIA: destinada à consolidação e estruturação das
atividades urbanas.
II – MURAR – MACROZONA DE URBANIZAÇÃO
ALTAMENTE RESTRITIVA: destinada à conservação e à
preservação dos recursos naturais de forma sustentável
onde os empreendimentos voltados à produção artística,
artesanal, turismo e lazer devam ser incentivados como
alternativa para gerar renda à população.
III – MAPRO 1 – MACROZONA DE PRODUÇÃO 1 –
INDÚSTRIA: destinada ao desenvolvimento econômico do
Município, das atividades predominantemente industriais não
poluentes.
73
Mapa 13: Macrozoneamento (ver ANEXO 2)
Fonte: Prefeitura Municipal de Cananéia – maio/2007
Figura 120: macrozoneamento na imagem de satélite
Fonte: www.googlemaps.com
Canal do Ararapira
Parque Estadual
Ilha do Cardoso
Parque Estadual
Jacupiranga
MAPA
MAPRO 1
Ariri
Santa
Maria
Ipiranguinha
Mandira
Rio Branco
74
IV – MAPRO 2 – MACROZONA DE PRODUÇÃO 2 –
SISTEMAS AGROECOLÓGICOS: destinada ao
desenvolvimento econômico do Município, mediante o
estímulo à produção primária, utilizando-se basicamente a
mão-de-obra familiar; à agregação de valor aos produtos
com sustentabilidade; e à facilitação do escoamento da
produção e à integração entre as diversas localidades do
Município.
A Macrozona destina-se à implantação de sistemas
agroecológicos, onde se adotam técnicas específicas,
mediante a otimização do uso dos recursos naturais e
sócio-econômicos disponíveis e o respeito à integridade
cultural das comunidades rurais.
Dá-se numa faixa de 1km ao longo da ligação
rodoviária entre as localidades de Ariri e Taquari e numa
faixa de 1km ou até o limite com o Parque Estadual
Jacupiranga, ao longo da ligação rodoviária entre as
localidades de Taquari, Santa Maria, Ipiranguinha, Rio das
Minas, Sítio das Oliveiras e Mandira.
Figura 121: localização em imagem de satélite
Fonte: www.googlemaps.com
V – MAPRO 3 – MACROZONA DE PRODUÇÃO 3 –
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: destinada ao
desenvolvimento econômico-sustentável do Município, das
atividades predominantemente de manejo florestal,
atividades pesqueiras e de agricultura, compatibilizadas com
o Plano de Desenvolvimento Pesqueiro do Município.
A Macrozona se dá ao longo do canal do Ararapira até
o limite do Parque Estadual Jacupiranga.
Sítio das
Oliveiras
Rio das Minas
Mandira
75
Figura 122: localização em imagem de satélite
Fonte: www.googlemaps.com
VI – MATRA – MACROZONA DE COMUNIDADES
TRADICIONAIS: destinada ao desenvolvimento das
peculiaridades locais, formando elos para os arranjos
produtivos, preservando as tradições e o desenvolvimento
sócio-econômico equilibrado entre as comunidades.
Nesta Macrozona estão as comunidades de Ariri,
Santa Maria, Ipiranguinha, Mandira e Rio Branco.
Comunidade do Ariri
Figura 123: localização em imagem de satélite
Fonte: WWW.googlemaps.com
Figuras 124 e 125: Canal e comunidade do Ariri
Fonte: WWW.googlemaps.com
Parque Estadual
Jacupiranga
Canal de Ararapira
76
Comunidade Santa Maria
Figura 126: localização em imagem de satélite
Fonte: WWW.googlemaps.com
É pertinente uma observação a partir da imagem
anterior. É possível identificar que uma estrada estadual, a
SP – 101, corta o Parque Estadual Jacupiranga e liga os
estados de São Paulo e Paraná. Trata-se de uma via sem
pavimentação e, entende-se que deveria ser estabecida
aqui uma estrada-parque, a fim de se garantir o uso
adequado da área, sem riscos ao meio ambiente e
incrementar as atividades turísticas de cunho ecológico. O
Art. 44, §1°, determina que o Parque Estadual Jacupiranga,
bem como o Parque Estadual da Ilha do Cardoso, sejam
áreas cujo uso visam a preservação de mananciais, do meio
ambiente em geral, atividades educacionais e de lazer.
Comunidade Ipiranguinha
Figura 127: localização em imagem de satélite
Fonte: WWW.googlemaps.com
Comunidade Mandira
Figura 128: localização em imagem de satélite
Fonte: WWW.googlemaps.com
SP PR
77
Comunidade Rio Branco
Figura 129: localização em imagem de satélite
Fonte: WWW.googlemaps.com
VII – MATRAN – MACROZONA DE TRANSIÇÃO:
destinada à ampliação da área do Parque Estadual
Jacupiranga, cuja possibilidade de uso é restrita às
questões de preservação, conservação, recuperação ou
educação ambiental, com normas regidas por legislações
estaduais instituídas.
VIII – MAPA – MACROZONA DE PROTEÇÃO
AMBIENTAL: destinada às questões de proteção ambiental,
onde a preservação dos recursos naturais pode ocorrer de
forma sustentável e as possibilidade de uso são restritas às
atividades de preservação, conservação, recuperação ou
educação ambiental.
A Macrozona abrange as áreas protegidas de
Itapitangui, Arrepiado e Cordeiro, embora no mapa de
Macrozoneamento conste apenas a ZVS Arrepiado como
MAPA. A ZVS Itapitangui aparece no mapa como MATRAN e
a ZVS Cordeiro como MAPRO 2.
78
Figura 130: localização em imagem de satélite
Fonte: www.googlemaps.com
IX – MAJA – MACROZONA DO PARQUE ESTADUAL
JACUPIRANGA: destinada às questões de proteção
ambiental, cuja possibilidade de uso é restrita às questões
de preservação, conservação, recuperação ou educação
ambiental, onde as normas são regidas por legislações
estaduais instituídas.
X – MAICA – MACROZONA DO PARQUE ESTADUAL
DA ILHA DO CARDOSO: destinada às questões de
proteção ambiental, cuja possibilidade de uso é restrita às
questões de preservação, conservação, recuperação ou
educação ambiental, onde as normas são regidas por
legislações estaduais instituídas.
A Macrozona abriga atividades de desenvolvimento
turístico, buscando o controle e a educação ambiental.
O Macrozoneamento não estabelece as Áreas de
Preservação Permanente, mas o Art. 43 do Zoneamento,
Seção III, estabelece que
para assegurar a proteção necessária às nascentes, canais e
cursos d’água, bem como à vegetação de interesse à preservação,
ficam definidas na presente Lei como Áreas de Preservação
Permanente, correspondentes às áreas de matas nativas ao longo de
rios e córregos, áreas alagáveis e com declividade superior a 30%.
ZVS
ITAPITANGUI
ZVS ARREPIADO
ZVS CORDEIRO
79
O §4° determina que,
a Prefeitura Municipal deverá promover a retirada das edificações
precárias e de famílias declaradas de baixa renda, que estejam situadas
em Área de Preservação Permanente, mediante o cadastro e inclusão
de seus moradores em Programas Habitacionais de Interesse Social. E
as edificações que não se encontram nas condições do parágrafo
anterior, terão o prazo de até 10 (dez) anos para promover a total
remoção.
O §6° determina que
caberá à Prefeitura Municipal, juntamente com a população local,
a recuperação da vegetação das Áreas de Preservação Permanente que
se encontram degradadas.
Em primeiro lugar, nota-se a falta de correspondência
entre o Macrozoneamento e o Zoneamento.
No caso apresentado aqui, as Áreas de Proteção
Permanente já deveriam estar definidas no
Macrozoneamento e não apenas em um artigo à parte,
distante da visualização e apreciação da proposta de
ocupação e uso do solo.
O §4°, ao invés de garantir a integridade dessas
áreas, ele “engessa” as ações ao vincular a retirada de
edificações precárias e de famílias de baixa renda do local
mediante a um programa habitacional que não tem prazo
para ser implementado. Além do mais, não está previsto no
Macrozoneamento as ZEIS – Zonas Especiais de Interesse
Social para o assentamento dessas famílias.
As edificações e famílias que não se enquadram como
em situação precária terão um prazo extremamente longo
para a remoção da área ocupada. As Áreas de Preservação
Permanente não poderiam ser ocupadas em hipótese alguma
e a remoção dessas áreas deveria ser imediata, já que
essas famílias não se enquadram no perfil social de baixa
renda.
O §6° determina que a responsabilidade da
recuperação ambiental deva ser dividida entre a Prefeitura
Municipal e a população local, mas cabe ao Poder Executivo
e Judiciário Municipais em primeiro lugar, garantir que as
Legislações Federais e Estaduais sobre a preservação do
meio ambiente sejam respeitadas; cabe ao Poder Legislativo
Municipal a criação de Leis que sejam objetivas e aplicáveis;
e cabe à todos os setores da gestão municipal promover
ações de conscientização da comunidade local visando a
educação ambiental.
O Capítulo III trata dos Dispositivos para Uso e
Ocupação do Solo Urbano e Rural.
O Art. 39 define que o zoneamento é
a divisão das áreas urbanas e rurais do Município em zonas de
usos e ocupações distintos, segundo os critérios de uso
predominantes e de aglutinação de usos afins e separação de usos
conflitantes, objetivando a ordenação do território e o desenvolvimento
urbano e rural, seguindo critérios urbanísticos e ambientais desejáveis
estabelecidos pelo Plano Diretor Municipal.
80
O objetivo geral da política de estruturação urbana e
rural é o de orientar, ordenar e disciplinar o crescimento da
cidade, através de instrumentos específicos de regulação
que definem a distribuição espacial das atividades.
O item III do Art. 40 apresenta como diretriz
o fortalecimento da identidade e da paisagem, através da
manutenção das escalas de ocupação de forma compatível com os
valores naturais, culturais, históricos e paisagísticos, sobretudo na área
central.
Entretanto, não ficam regulamentados os instrumentos
necessários à efetivação dessa diretriz e nem que ações
deverão ser desenvolvidas para isso.
A questão da “identidade do lugar” ainda é muito
forte em Cananéia e é necessária a sua consolidação
mediante o consumo turístico que o município sofre. A
empatia pelo lugar de vivência deve ser fomentada e isso é
um modo de garantir a participação da população na gestão
do município e no planejamento urbano.
O Art. 45 da Seção III, da Paisagem, dá condições à
Prefeitura Municipal de se estabelecer um consórcio para
operações urbanas em áreas que necessitem de
transformações estruturais ou superação de problemas
ambientais. As Operações Urbanas Consorciadas são o
conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo
Município com a participação de proprietários, moradores,
usuários e investidores privados e estão previstas no
Estatuto das Cidades.
A Seção III trata do Parcelamento do Solo. O Art. 46
prevê a implementação de condomínios horizontais fechados,
assegurando a observância das normas federais e estaduais relativas à
matéria.
Trata-se de um ponto controverso mas o Município
tem autonomia para estabelecer esse tipo de uso
transferindo ao loteador todo o ônus da infra-estrutura
urbana.
O Capítulo I, dos Instrumentos da Política Urbana,
prevê a Adoção de Instrumentos de Desenvolvimento
Municipal. O Art. 47 apresenta os seguintes instrumentos
de política urbana:
I – Instrumentos de Planejamento
II – Instrumentos jurídicos e urbanísticos
III – Instrumentos de regularização fundiária
IV – Instrumentos tributários e financeiros
V – Instrumentos jurídicos-administrativos
VI – Instrumentos de democratização da gestão
urbana.
Embora o Art. 47 apresente esse conjunto de
instrumentos, eles não estão regulamentados.
81
Sobre o Parcelamento, Edificação ou Utilização
Compulsórios, o Art. 48 não identifica os imóveis em
condição de ociosidade.
No Art. 58 do Capítulo V, da Outorga Onerosa do
Direito de Construir e de Alterações de Uso, não ficam
definidas as zonas onde poderá ser aplicado esse
instrumento. A lei de zoneamento deveria contemplar essas
áreas mas o Plano Diretor prevê que uma lei específica,
ainda a ser elaborada, sem prazo determinado, determine
essas áreas.
6.2 – Análise da Minuta de Lei do Zoneamento, Uso e
Ocupação do Solo Urbano e Rural
O Capítulo II , dos Dispositivos para Uso e Ocupação
do Solo Urbano e Rural, na Seção I trata do Zoneamento.
A leitura dos mapas de macrozoneamento e
zoneamento é dificultada pela falta de conexão entre as
macrozonas e as zonas.
Cada zona está regulamentada em um artigo
específico, apresentadas da seguinte forma:
Mapa 14: Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo (ver ANEXO 3)
Fonte: Prefeitura Municipal de Cananéia – maio/2007
82
Artigo 12 – ZONAS DA ESTÂNCIA URBANA 1 – EU 1:
I – Anel Histórico
II – Anel para Revitalização
III – Anel para Consolidação
IV – Anel para Reestruturação
V – Zona Residencial Especial Retiro das Caravelas
Mapa 15: Estância Urbana 1 – EU 1 (ver ANEXO 4)
Fonte: Prefeitura Municipal de Cananéia – maio/2007
Figura 131: localização da EU 1 em imagem de Satélite
Fonte: WWW.googlemaps.com
manguezais
Loteamento
horizontal
fechado
Córrego do Jacó
Morro de
São João
Manguezais / rio Olaria
83
A ESTÂNCIA URBANA 1 é a mais densamente
povoada e ela reúne a maioria dos estabelecimentos de
comércio e serviços, especialmente restaurantes, hotéis e
pousadas.
O ANEL HISTÓRICO segue as diretrizes
discriminadas na Resolução de 12/12/1969 do Egrégio
Conselho Deliberativo do CONDEPHAAT. É composto pelas
edificações que compõem o patrimônio histórico do
município, com vários exemplares do século XVI.
O ANEL PARA REVITALIZAÇÃO, segundo o Art. 19,
tem a função de zona de transição com o uso controlado
para não provocar pressão sobre as unidades históricas.
A taxa de ocupação máxima de 65% é aplicada aos
estabelecimentos de comércio e serviços em geral; taxa de
permeabilidade mínima de 25% para todos os usos –
habitação unifamiliar e transitória, comércio e serviços; O
número de pavimentos é limitado a dois.
No ANEL PARA CONSOLIDAÇÃO estão inseridas uma
área de manguezais e a foz do rio Olaria.
Figura 132: rio Olaria
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Entende-se que para essa área deveria ser
delimitada uma zona especial para a preservação e uso
sustentável desse ecossistema. O rio Olaria, assim como o
mangue, é uma importante fonte de renda para a
comunidade caiçara e a pressão urbana sobre esse conjunto
ecológico frágil pode comprometer a integridade do meio
ambiente e a fonte de economia local.
Morro de São João
Rio Olaria
84
Tabela 3 - Parâmetros de Uso e Ocupação do Solo do
Anel para Consolidação:
USO OCUPAÇÃO
PERMITIDO TOLERADO
testada/lote
mín.
coef.aprov.máx
.
tx
ocupação
(%)
n°pavs
.
hab. unifamilar 10m/250m² 1,0 50 2
hab. em séries 10m/250m² 1,0 50 2
hab. transitória 10m/500m² 1,8 50 3
com. serv. local
de bairro
com. e
serv. geral 10m/250m² 1,3 65 2
comunitário 10m/500m² 1,8 50
Fonte: Prefeitura Municipal de Cananéia – maio/2007
Analisando a tabela constatam-se usos inadequados
para as áreas de manguezais e da foz do rio Olaria. É
inadmissível o gabarito de 3 pavimentos em qualquer parte
do Anel para Consolidação, mesmo respeitando os recúos
mínimos de 1,5m em cada uma das divisas e de 4,0m
frontal. Não foi considerada aqui a interação do ambiente
terrestre com o mar e da ventilação natural.
No ANEL PARA REESTRUTURAÇÃO identifica-se
outra área que deveria seguir parâmetros de uso
sustentável. Na Figura 139 esta área está identificada
como “manguezais”, localizada entre a Avenida Municipal e o
canal do Porto Cubatão.
Foi constatado através da análise de campo, que
parte da área tem sido utilizada como depósito de lixo
doméstico, como mostram as imagem seguintes,
registradas em agosto de 2009.
Figuras 133 e 134: lixo doméstico
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
A Estrada do Acaraú, bem como o bairro de mesmo
nome, também avançam sobre área de manguezais e
córregos e veremos na tabela de Parâmetros de Uso e
Ocupação do Solo do Anel para Reestruturação que a taxa
de permeabilidade mínima para essa zona é de apenas 25%.
Figuras 135 e 136: bairro Acaraú
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
85
Por essas imagens pode-se detectar o avanço das
residências sobre as margens do córrego e o despejo de
esgoto doméstico em suas águas.
O Plano Diretor prevê um Sistema de Áreas Verdes
e Parques e essas áreas deveriam aparecer delimitadas no
Zoneamento. Dentro da zona Estância Urbana 1 deveriam
estar demarcadas áreas de proteção de mananciais e de
parques lineares para garantir a integridade ambiental e
impedir a pressão urbana sobre o meio ambiente, já que
uma das diretrizes do Plano Diretor é a compatibilização
entre desenvolvimento urbano e condições ambientais.
O Art. 22 apresenta a ZONA ESPECIAL RESIDENCIAL
RETIRO DAS CARAVELAS como uma área que necessita de
políticas de restrição à ocupação, a fim de se assegurar a
localização adequada para as diferentes funções e
atividades urbanas. Uma Lei Municipal, a 1735/06, se
sobrepõe à Lei de Zoneamento no que diz respeito ao uso
e ocupação dessa zona.
O artigo é bastante evasivo e falta objetividade no
que diz respeito à “adequação para as diferentes funções e
atividades urbanas”.
Visitando a área pode-se identificar que existe uma
faixa privilegiada de lotes com sua frente voltada para o
canal de Cananéia, com edificações de alto padrão e
garagens náuticas exclusivas.
É, sem dúvida, uma área de segregação espacial
entre a população de baixa renda moradora do município e
uma elite abastada de veranistas. Nas imagens seguintes
pode-se constatar o nível de moradias e suas exclusivas
garagens náuticas, o que provoca impactos negativos sobre
o canal, além de restringir o uso à população.
Figuras 137 a 140: bairro Retiro das Caravelas
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Nas imagens anteriores pode-se constatar como é o
uso do lugar pelos pescadores locais sem as garagens
náuticas que avançam sobre o canal e a vista privilegiada à
beira do canal dos veranistas.
86
Segundo os Parâmetros de Uso e Ocupação do Solo
para a Zona Residencial Especial Retiro das Caravelas não é
permitida a instalação de habitações transitórias – hotéis,
pousadas, entre outros do gênero -, e comércio e serviço
local e de bairro. Os parâmetros prevêem apenas habitação
unifamiliar de até 2 pavimentos. Entretanto, há hotéis e
pousadas nessa zona, bem como restaurantes, lojas de
pequeno porte, entre outros. Durante visita ao local
observou-se que alguns estabelecimentos comerciais
passam por reformas e o seu gabarito de altura está sendo
elevado para 3 (três) pavimentos.
Figuras 141 e 142: comércio local no bairro Retiro das
Caravelas
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Segundo informações dos habitantes locais, o antigo
hotel Glória foi adquirido da Prefeitura Municipal por um
empresário paulista, que inclusive tem casa de veraneio em
Cananéia, no próprio bairro.
A Universidade de São Paulo – UNESP, já havia
demonstrado interesse em adquirir a área e transformá-la
em um campus, o que foi recusado, também segundo
pessoas entrevistadas na cidade.
O projeto previsto para o hotel Glória é o de
reformar as suas instalações e transformá-lo em um resort,
o que vai totalmente contra aos parâmetros de uso e
ocupação do solo no bairro.
Figura 143: Hotel Glória
Fonte: WWW.cananet.com.br
avenida Beira-Mar
Hotel Glória
87
Artigo 13 – ZONAS DA ESTÂNCIA URBANA 2 – EU 2:
I – Anel para Consolidação
II – Anel para Reestruturação
Mapa 16: Estância Urbana 2 – EU 2 (ver ANEXO 5)
Fonte: Prefeitura Municipal do Município de Cananéia – maio/2007
Porto
Cubatão
Bairro
Itapitangui
88
Figuras 144 e 145: localização em imagem de satélite
Fonte: WWW.googlemaps.com
Segundo o Art. 24, o ANEL PARA CONSOLIDAÇÃO
é a área mais adequada à urbanização da Estância Urbana 2.
Tem como diretrizes o incentivo ao uso de comércio e
serviços com coeficiente de aproveitamento máximo de 1,3
para lotes de no mínimo 10m de testada e área de 250m².
Outra diretriz objetiva propiciar o uso habitacional
com adensamento controlado, mas não fornece parâmetros
específicos para esse fim e não define o controle proposto.
Tabela 4 – Parâmetros de Uso e Ocupação do Solo da EU
2
USO OCUPAÇÃO
PERMITIDO TOLERADO testada/lote mín. Coef.aprov.
tx ocupação (%) n°pav perm.mín
hab. em séries
hab. familiar 10m/250m² 1,0 50 2 25
hab. Coletiva 10m/500m² 1,8 50 3 25
com. serv. local de bairro 10m/250m² 1,3 65 2 25
com. serv. Geral 10m/500m² 1,0 50 2 25
indústria caseira 10m/250m² 0,5 50 1 25
comun. 20m/500m² 1,8 50 3 50
Bairro Porto
Cubatão
Bairro Itapitangui
Rio Itapitangui
89
Figuras 146 e 147: bairros Itapitangui e Porto Cubatão
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
Ambos os bairros abrigam uma população de baixa e
média renda. Há escolas, postos de saúde a poucos
estabelecimentos de comércio e serviços. As famílias vivem
principalmente da agricultura de subsistência e têm
dificuldade para comercializar os seus produtos, embora
estejam à beira da rodovia.
O trânsito pela SP-226 reduziu após a construção
da ponte que liga o continente à ilha. Embora o trajeto
tenha sido aumentado em 40km, muitos motoristas
preferem não submeter-se ao horário da balsa, que parte
para a ilha a cada 1 hora.
Os bairros da Estância Urbana 2 são na verdade
lugares isolados ao longo da rodovia.
O ANEL PARA REESTRUTURAÇÃO é determinado
como uma área que necessita de políticas de investimentos
de infra-estrutura e de ocupação ordenada, priorizando os
investimentos em saneamento básico.
Artigo 14 – ZONAS DA ESTÂNCIA URBANA 3 – EU 3:
I – Núcleo da Freguesia
II – Entorno do Eixo da Freguesia
Mapa 17: Estância Urbana 3 – EU 3 (ver ANEXO 6)
Fonte: Prefeitura Municipal de Cananéia – maio/2007
90
Figura 148: localização em imagem de satélite
Fonte: WWW.googlemaps.com
A Estância Urbana 3 ficou destinada principalmente
ao incremento das atividades turísticas, porém não fica
qualifica de forma mais objetiva essas atividades. É formada
por mata de restinga e de manguezais, sendo boa parte
ainda intocados.
É habitada por pequenas comunidades que vivem da
agricultura de subsistência e da pesca.
Figura 149: praia da Freguesia São Paulo Bagre
Fonte: www.googlemaps.com
Para o Núcleo da Freguesia estão definidas taxas de
ocupação entre 50 e 65% para o uso de comércio e
serviços, em lotes de até 500m², com taxa de
permeabilidade mínima de 25%. Para as habitações
unifamiliar não há parâmetros.
Para o Eixo da Freguesia são permitidos apenas os
usos de habitação unifamiliar com até 2 pavimentos e
habitação transitória com até 3 pavimentos.
Freguesia da Aroeira
Freguesia
Freguesia
Freguesia São
Paulo Bagre
Freguesia
Agrossolar
91
Artigo 15 – ZONAS DE USO DIVERSIFICADO – ZUD:
I – Zona de Uso Diversificado para Consolidação - ZUDC
II – Zona de Uso Diversificado para Expansão – ZUDE
Figura 150: localização em imagem de satélite
Fonte: WWW.googlemaps.com
O Art. 30 estabelece que a ZUDC é área destinada
à atividades industriais de grande porte e o Art. 31 define
a ZUDE como área no entorno e ao longo da Zona Industrial
para Consolidação, visando a ampliação das atividades
industriais.
O Plano Diretor orienta para a observação das Leis
federais e estaduais na implantação de indústrias nessa
região.
O Art. 39 define a classificação das atividades
industriais como Indústria Caseira, cuja área é de até
100m², e Indústria Geral, com área máxima indeterminada.
O Art. 2° do Decreto 47.397/02 legisla sobre o Fator de
Complexidade da Fonte Poluidora, tolerando para a ZUD-I e
ZUD-II, segundo classificação estadual, níveis inferiores a
2,5.
O Art. 4° da Lei 5.597/87 trata as ZUDs como
zonas destinadas à
localização de estabelecimentos industriais cujo processo
produtivo seja complementar das atividades do meio urbano ou rural ou
que se situem, e com elas se compatibilizem, independente de métodos
especiais de controle de poluição, não causando inconvenientes à
saúde, ao bem-estar e segurança das populações vizinhas.
ZUD I – Zona de Uso Diversificado Tipo 1 –
indústrias virtualmente sem risco ambiental e indústrias de
risco ambientalmente leve;
Eixo industrial – EI
(SP – 226)
ZUDC
ZUDE
Criação de alevinos
92
ZUD II – Zona de Uso Diversificado Tipo II –
indústrias virtualmente sem risco ambiental.
A partir de toda a classificação apresentada,
consultando tabela anexa ao Decreto 47.397/02,
constata-se que há uma diversidade de atividades que
poderão ser desenvolvidas nas ZUDC e ZUDE, que vão de
produção de sucos de frutas a fabricação de turbinas de
avião.
A rodovia SP-226, definida no Zoneamento como
Eixo Industrial – EI, corta o rio Itapitangui, bacia hidrográfica
que abastece o município de Cananéia. A paisagem do
entorno da rodovia é formada por mata de restinga,
portanto, uma área extremamente frágil e de importância
vital ao Município.
A mata de restinga é aquela que fixa o solo arenoso
e o protege no embate com as marés. O Código Florestal
determina a faixa de 50m ao longo do mar como non-
aedificandi. O Plano Diretor deve contemplar a preservação
de áreas com valor paisagístico como a restinga, pois a
ocupação urbana sobre elas tem provocado a
“desestabilização progressiva de seus componentes biológicos e
paisagístico-ambientais, com a conseqüente degradação”. (HOLZER;
CRICHYNO; PIRES, 1986)
Pela figura 157 observa-se a devastação da mata em
alguns pontos da área, muito próxima a cursos d’água que
desembocam no canal Mar do Cubatão.
No Artigo 38 do Macrozoneamento está prevista a
MAPRO 1 – Macrozona de produção 1 – Indústria, a
instalação de indústrias predominantemente não poluentes,
mas não garante que a totalidade dessas indústrias o
sejam.
A ZONA DE USO DIVERSIFICADO PARA EXPANSÃO
– ZUDE representa uma área reserva para futuras
ampliações das atividades industriais do Município. Ambas,
a ZUDE e a ZUDC ficam ao longo da rodovia SP-226 entre
o bairro Itapitangui e a freguesia da Anunciação.
Observando o mapa do Macrozoneamento é possível
observar que essas zonas são contíguas à MAPRO 2 –
MACROZONA DE PRODUÇÃO 2 – SISTEMAS
AGROECOLÓGICOS e à MAPA – MACROZONA DE
PROTEÇÃO AMBIENTAL.
No Art. 38 do Macrozoneamento, item VIII, está
definido que a MAPA tem o uso restrito às atividades de
preservação, recuperação ou educação ambiental e abrange
as áreas protegidas de Itapitangui, Arrepiado e Cordeiro.
Entretanto, no Macrozoneamento apenas a área de
Arrepiado aparece como Macrozona de Proteção Ambiental,
sob a sigla ZVS (Zona de Vida Silvestre) ARREPIADO, sem
correspondência com as Minutas de Lei. O Itapitangui
consta como Macrozona de Urbanização Altamente
restritiva, sob a sigla ZVS ITAPITANGUI e a suposta ZVS
CORDEIRO está elencada como Macrozona de Produção 2
– Sistemas Agroecológicos.
93
Artigo 16 – ZONAS DE PROTEÇÃO E RESTRIÇÃO:
I – ZONA ECO-URBANA – ZEU
II – ZONA DE PROTEÇÃO 1 – MORRO DE SÃO
JOÃO – ZOP1
III – ZONA DE PROTEÇÃO 2 – MANGUEZAIS – ZOP2
IV – ZONA DE PROTEÇÃO 3 – INFLUÊNCIA DA
QUARENTENÁRIA – ZOP 3
V – ZONA DE PROTEÇÃO 4 – FUNDOS DE VALE –
ZOP 4
A ZONA ECO-URBANA é o entorno da Estância
Urbana 3 – EU 3, formada pelas Freguesias. De um modo
geral, objetiva-se que o uso dessas áreas seja precedido
por questões ambientais de pesquisa e de uso sustentável,
mas por outro lado, revela-se que há a intenção de se
estender a ocupação urbana por praticamente toda a ilha.
A ZONA DE PROTEÇÃO 1 – Morro de São João está
em área contígua ao centro do município e destaca-se pela
altura em relação à grande planície costeira do Município de
Cananéia.
Figura 151: localização em imagem de satélite
Fonte: WWW.googlemaps.com
Morro de São João
94
Figura 152: orla de Cananéia
Fonte: WWW.cananet.com.br
Pela imagem aérea observa-se a ocupação na base
do morro e poucas edificações isoladas próximas à base.
No lado oposto encontram-se os argolões onde as
naus de Martin Afonso atracavam suas embarcações.
Portanto, essa Zona de Proteção tem potencial turístico e
de educação ambiental, também devido à rica diversidade
da vegetação. Não consta em tabela nenhum parâmetro de
uso para essa área.
Segundo o Artigo 36, a Zona de Manguezais é
destinada à preservação permanente, em função de sua
fragilidade ambiental.
Entretanto, no Mapa de Macrozoneamento, essa
área está designada como de Urbanização Altamente
Restritiva – MURAR, quando na verdade ela não aceita
nenhum tipo de urbanização, por menor que seja.
Figura 153: localização em imagem de satélite
Fonte: WWW.googlemaps.com
ZONA DE
PROTEÇÃO 2 –
Manguezais – ZOP 2
ZONA DE PROTEÇÃO 3 –
Influência da
Quarentenária
95
Tabela 5 - Parâmetros de Uso e Ocupação do Solo para a
ZOP 2:
É absolutamente equivocada a proposta de uso e
ocupação dessa área que deveria constar como de
Proteção Permanente e nota-se a fragilidade da Minuta de
Lei do Zoneamento e do Macrozoneamento estabelecido
para o Município de Cananéia.
A ZONA DE PROTEÇÃO 3 é definida no Art.37 como
área no entorno de empreendimento do Poder Público
Federal e não dá mais detalhes do que isso significa.
Nessa área está instalada a ESTAÇÃO
QUEARENTENÁRIA DE CANANÉIA, que depois de alguns
anos desativada, voltará às suas atividades segundo a
gestão atual. O médico veterinário da Defesa da Saúde
Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, dr° Odemilson Donizete Mossero,
acompanhou a recuperação das instalações da estação e
busca aprovação da mesma como área de segurança
nacional.
O objetivo da Estação é o de manter animais
estrangeiros em quarentena, a fim de evitar que vírus não
nativos ou doenças se instalem no país. Pretende-se
também que o local sirva para cursos e treinamentos na
área veterinária e de ações de biossegurança, além do
apoio técnico e logístico ao Programa Nacional de
Sanidade Avícola. Em maio de 2009 a Estação estava
sendo preparada para receber 350 embriões de bovinos
originários da Índia que seriam transmitidos à fêmeas
brasileiras.
A Estação é de difícil acesso e, com certeza, a sua
reativação implicará em investimentos na pavimentação, o
que poderá atrair o adensamento urbano na região.
Embora a atividade da Estação seja de alto risco,
prevê-se o uso da área para habitação familiar e chácaras
que terão a permissão de cultivar plantas ornamentais
exóticas e/ou criação de animais silvestres. O lote mínimo
tem área de 15.000m², com coeficiente de aproveitamento
máximo de 0,05, taxa de permeabilidade mínima de 90% e
número de pavimentos limitado a dois.
O que nota-se aqui é um grande equívoco e uma
situação confusa e contraditória de usos e ocupação do
solo dessa zona. A presença de uma estação quarentenária
pode representar sérios riscos à saúde animal e humana e
requer ações muito específicas no manejo das espécies em
quarentena. A sua instalação em uma ilha pode significar
para a sociedade uma condição de segurança à população,
mas a área é cercada por mata nativa, cursos d’água e um
USO OCUPAÇÃO
PERMITIDO TOLERADO testada/lote mín. coef.aprov.máx.
tx ocupação (%) n°pavs.
perm.mínima (%)
hab. Unifamiliar 100m/15.000m² 0,05 5 2 90
96
canal que é fonte de renda e alimento para a comunidade
local, que contaminados, rapidamente disseminariam vírus e
doenças à boa parte da população insular e continental,
além do que, os próprios funcionários da estação poderiam
ser os portadores desses vírus e disseminá-los com muita
facilidade.
A área de influência da Estação Quarentenária é
contígua à outra que deveria ser de preservação
permanente. O complexo estuarino lagunar é um
ecossistema extremamente frágil e de importância
incomensurável para a preservação de espécies marinhas e
jamais deveria estar em contato com uma área que
pretende-se que seja de segurança máxima nacional.
Outro ponto inaceitável nos parâmetros de uso e
ocupação do solo da ZOP 3 é a permissão de se cultivar
espécies de plantas ornamentais exóticas, ou seja, que não
fazem parte da rica paisagem natural local, formada pela
Mata Atlântica e a criação de animais silvestres. Esses
parâmetros são totalmente contrários às diretrizes
apresentadas na Minuta de Lei do Plano Diretor, que se
propunha a proteger o meio ambiente.
Cananéia está inserida na Área de Proteção
Ambiental Iguape-Peruíbe-Cananéia e nota-se que as
diretrizes de uso da APA não foram considerados nessa
proposta de zoneamento, que por sua vez, fica em
dissonância com as AGENDA 21 LOCAL e BRASILEIRA e
com os objetivos da AGENDA 21 proposta na Rio-92. Além
disso, também não foram considerados os pressupostos do
Zoneamento Ecológico-Econômico, que parte justamente
das questões sociais e das fragilidades e potencialidades
ambientais para organizar o uso territorial.
A ZOP 4 – Fundos de Vale é composta pela áreas de
fundo de vale ou sujeitas à inundação e/ou erosão.
O mapa de zoneamento não deixa claro onde essas
áreas estão localizadas, mas de qualquer forma, entende-se
que todo e qualquer curso d’água deva ter preservada a
sua mata ciliar e pode-se obter o desenvolvimento do
turismo ambiental nessas áreas desde que providas dos
equipamentos e instrumentos necessários a tal uso.
6.3 – Análise da Minuta de Lei do Sistema Viário
O Art.2°, da Seção I, das Disposições Gerais
estabelece objetivos do Sistema Viário Básico, dos quais
destacamos:
I – complementar as diretrizes de uso e ocupação do solo
no ordenamento funcional territorial do Município;
II – estabelecer um sistema hierárquico das vias de
circulação para a adequada circulação do tráfego e segura
locomoção do usuário;
III – implementar um sistema de ciclovias, como alternativa
de locomoção e lazer;
97
IV – proporcionar segurança e conforto ao tráfego de
pedestres e ciclistas.
No Art. 6°, as vias de circulação foram classificadas
de acordo com sua função e características físicas em:
I – Eixo Urbano I – EXU 1: eixo estruturante da organização
funcional do sistema viário na Estância Urbana 1 e o que
acumula os maiores fluxos de tráfego do Município;
II – Eixo Urbano 2 – EXU 2: eixo estruturante da
organização funcional do sistema viário da Estância Urbana
2, com ligação ao EXU 1 após a travessia da balsa;
III – Eixo Industrial – EI: via de tráfego pesado que estrutura
a organização funcional da Zona Industrial;
IV – Eixo Turístico – ET: ligação entre as Freguesias,
objetiva o fluxo turístico ao longo de sua extensão;
V – Sub-eixo Turístico – SET: ligação entre os núcleos das
Freguesias e os piers.
Observa-se aqui que falta uma conexão objetiva entre
a lógica da classificação do sistema viário, bem como a sua
proposição, com o zoneamento. Através da análise dos
parâmetros de uso e ocupação do solo dos eixos do
sistema viário constataremos a discrepância entre estes e
os parâmetros propostos pelo zoneamento. Os eixos
viários foram tratados como elementos independentes, sem
nenhuma interação com o zoneamento. Além do mais, as vias
abertas à circulação de veículos, com passeios e pavimento
definitivos permanecerão com as dimensões existentes,
exceto se um projeto de urbanização determinar uma nova
configuração. As dimensões mínimas apresentadas para as
vias públicas são aplicáveis às vias a serem implantadas.
Dessa forma, constata-se que o artigo não promove
nenhuma mudança sobre a malha viária existente.
Caberia ao artigo em questão a definição do sistema
de ciclovias, visto que ele consta como um dos objetivos
do sistema viário e é um dos meios de transporte mais
utilizado pelos munícipes. Atualmente, apenas a avenida
Independência tem área determinada para ciclovia no eixo
da via, mas a mesma não está prevista no Art 8º, nos parâmetros mínimos das vias. O pavimento original era de
piso intertravado e foi substituído pelo asfalto. O canteiro
central com palmeiras cedeu lugar à ciclovia.
Figuras 154 e 155: avenida Independência
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
O Parágrafo 2° do Art. 8° prevê a implantação de
rampas de acesso nos passeios dos logradouros urbanos,
98
conforme a Norma Brasileira – NBR 9050 da ABNT, mas
especialmente no centro histórico haverá muita dificuldade
para se cumprir o que está previsto em Lei.
Figura 156: calçada no centro
histórico.
Fonte: Patrícia Dias Geraldo
A questão das ciclovias volta no Art. 13 que
determina que se desenvolva no prazo de 1 (um) ano, um
Plano de Trânsito, Transporte e Mobilidade Municipal que
contemple, entre outros, um programa de ciclovias na
cidade, interligadas ao sistema de transporte coletivo; que
hajam bicicletários e que a interligação entre todas as áreas
da cidade seja garantida.
6.3.1 – Análise dos Parâmetros de Uso e Ocupação do
Solo dos EIXO URBANOS
EIXO URBANO 1
Mar de Cananéia
N
Retiro das Caravelas
EIXO URBANO 1 - EXU 1
rios e córregos
Mapa18 : EIXO URBANO 1
Tabela 6 – Parâmetros de uso e ocupação do solo para o
EIXO URBANO 1
USO OCUPAÇÃO
PERMITIDO TOLERADO testada/lote mín. coef.aprov.máx.
tx ocupação (%) n°pavs.
hab. Coletiva hab.unif./série 20m/500m² 3,0 50 3
hab. transitória 20m/500m² 3,0 50 3
com. serv. local de bairro 10m/250m² 3,0 50 3
com. serv. Geral 20m/500m² 3,0 50 3
comunitário
O Eixo Urbano 1 passa por diferentes Anéis da
Estância Urbana 1: Anel para reestruturação, Anel para
Consolidação, Anel para Revitalização e Anel Histórico.
99
Em nenhum dos Anéis é permitido o coeficiente de
aproveitamento máximo igual a 3,0 (três) e o gabarito de 3
pavimentos está previsto para habitações transitórias
apenas no Anel para Consolidação e habitações coletivas no
Anel para Reestruturação, questões criticadas na análise do
zoneamento.
No caso do Anel Histórico deverá ser seguida a
Resolução 12.12.1969 do Conselho Deliberativo do
CONDEPHAAT.
EIXO URBANO 2
Tabela 7 – Parâmetros de uso e ocupação do solo para o
EIXO URBANO 2
USO OCUPAÇÃO
PERMITIDO TOLERADO testada/lote mín. coef.aprov.máx.
tx ocupação (%) n°pavs.
hab. Coletiva hab.unif./série 20m/500m² 3,0 50 3
hab. transitória 20m/500m² 3,0 50 3
com. serv. local de bairro 10m/250m² 3,0 50 3
comunitário 20m/500m² 3,0 50 3
O Eixo Urbano 2 passa pelo Anel para Consolidação
e Anel para Reestruturação da Estância Urbana 2.
Apenas no Anel para Reestruturação que é permitida
a habitação coletiva com 3 pavimentos. O coeficiente de
aproveitamento máximo igual a 3,0 (três) somente é
permitido no Anel para Reestruturação para habitação
coletiva e habitação comunitária.
EIXO TURÍSTICO
Tabela 8 – Parâmetros de uso e ocupação do solo para o
EIXO TURÍSTICO – ET
USO OCUPAÇÃO
PERMITIDO TOLERADO testada/lote mín. coef.aprov.máx
tx ocupação (%) n°pavs.
hab.unifamiliar
hab. transitória 40m/1.000m² 2,0 50 2
O Eixo Turístico corta a Zona Eco-urbana e, através
de ponte, liga a ilha ao continente, até a intersecção com a
SP -226. É a conexão entre os núcleos das Freguesias.
O lote mínimo da ZEU é de 50m de testada com
área de 7.500m², dimensões muito diferentes das
propostas para o Eixo Turístico; a taxa de ocupação máxima
da ZEU é de 5% contra 50% proposta para o ET; a taxa de
permeabilidade mínima do ET é de 25% contra 80% da
ZEU; o coeficiente de aproveitamento máximo da ZEU é de
0,1% contra 2,0% do Eixo Turístico.
100
Valores e coeficientes tão discrepantes entre si,
com certeza configurarão uma outra zona ao longo da via em
questão.
SUB-EIXO TURÍSTICO
Tabela 9 – Parâmetros de Uso e Ocupação do Solo para o
SUB-EIXO TURÍSTICO
USO OCUPAÇÃO
PERMITIDO TOLERADO testada/lote mín. coef.aprov.máx tx ocupação (%) n°pavs.
hab.unifamiliar 20m/500m² 1,0 50 2
hab. em série 20m/500m² 1,0 50 2
O Sub-eixo turístico divide as ZOP 2 - Manguezais e
a ZOP 3 – Influência da Quarentenária. É o único acesso
terrestre à Estação Quarentenária de Cananéia, segundo o
Mapa de Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo Urbano.
Entretanto, o Art. 6°, Capítulo III, das Funções das
Vias, o SET é definido como a via que liga o núcleo das
Freguesias aos piers, ou seja, inserido na Estância Urbana
3, no Entorno do Eixo da Freguesia. Não há coerência entre
os mapas e a Minuta de Lei do Sistema Viário.
Em qualquer situação haverá discrepância entre os
parâmetros propostos e a via passa a ter uma configuração
à parte do zoneamento proposto para a área.
Não existem Parâmetros de Uso e Ocupação do Solo
para o EI - EIXO INDUSTRIAL, o que não poderia acontecer
visto que a atividade industrial é uma das com maior
potencial de impactos negativos sobre o desenho urbano e
ao meio ambiente.
101
7 – Diretrizes e gestão de planejamento
Desde os anos de 1950, está incutido na idéia da
maioria dos cidadãos, que todo lugar tem que seguir o
modelo de progresso imposto às grandes cidades, como
se, todo pequeno município, tende-se ao “crescimento” e
“desenvolvimento” nos moldes dos grandes centros
urbanos.
Segundo o pesquisador Eduardo Yázigi, o que de
fato acontece quando se tenta promover o desenvolvimento
de um lugar, sem levar em consideração as suas
identidades mais autênticas, é que a cidade pequena
“assume ares de fragmento de cidade grande, sem as qualidades do
pequeno e com muitas desvantagens do grande”. (YÁZIGI, 2002: 13)
Ao se repetir as soluções urbanísticas e mobiliário
urbano já adotados em outros lugares, ao se negligenciar a
identidade paisagística de uma comunidade, suprime-se
alguns dos elementos essenciais e principais indicadores do
desenvolvimento mais adequados àquele lugar e àquela
cidade.
Ainda segundo Yázigi, as relações sociais
consolidadas em um lugar específico não se submetem às
leis de uso e ocupação do solo e ao zoneamento. Portanto,
o planejamento de uma cidade começa com o modo como o
cidadão relaciona-se com o seu lugar de vivência.
A dinâmica da cidade está fundamentada nas quatro
funções-chave do Urbanismo que são o habitar, trabalhar,
circular e recrear. A partir das necessidades vitais de cada
indivíduo, um conjunto de ações deve ser desenvolvida pela
gestão pública, a fim de favorecer à coletividade. Essas
funções-chave são autônomas entre si e relacionam-se de
maneira íntima com os condicionantes ambientais e culturais
do lugar.
Entretanto, não se pode perder de vista que cada
lugar é singular, que o seu grupo social tem um conjunto de
relações culturais, sociais e econômicas muito próprias,
inserido numa paisagem específica e única. Para se
promover o uso racional da cidade é de fundamental
importância levar em consideração todas as identidades do
lugar, formadas por todas as relações concretas e
abstratas entre os cidadãos e deles com o meio.
A globalização impõe um modelo de desenvolvimento
que imprime às cidades o aspecto da mesmice e da falta de
personalidade, subjuga os preceitos do Urbanismo e
enfatiza as relações financeiras. A sua lógica espacial é a do
espaço de fluxos e o mecanismo dessa dominação é a
articulação das elites em contraponto à desorganização das
massas. Uma elite cosmopolita, detentora do poder e da
riqueza, subjuga a vida das pessoas da pequena cidade,
enraizada no lugar, na cultura e na história. (CASTELLS,
2007)
102
As pequenas cidades com aporte turístico, como
Cananéia, vêm se transformando em cenários para a criação
de um estilo de vida e projeção de formas espaciais que
unificam o ambiente simbólico da elite global e que substitui
a especificidade histórica do lugar. O espaço é submetido
ao fluxo turístico e às demandas desse uso.
O planejamento de Cananéia exige uma agenda urbana
e ambiental que integre gestão urbana e desenvolvimento
econômico com eqüidade e justiça social e um dos seus
princípios deve ser o da recuperação e promoção dos
espaços públicos pois eles são os objetos que incrementam
as relações sociais, - base da democracia, - e permitem a
relação do cidadão com o lugar.
Yázigi afirma que, a homogeneização dos espaços
públicos, sem levar em consideração o seu entorno, é
absolutamente desfavorável ao conjunto de identidades do
lugar e, aos poucos, resulta em espaços vazios de valores
autênticas daquele lugar. São as relações sociais que dão
forma ao espaço, lhe imprimem uma função e sentido.
O partido urbanístico que leva em consideração a
afirmação da personalidade do lugar garante “meio de vida e
de sentimento de pertença que permitem resistir a diversos aspectos
da globalização... reconhecer a personalidade - do lugar - como
indicadora do planejamento, representa uma forma mais refinada de
democracia, na medida em que reconhece o direito a formas diferentes
de ser, mesmo que algumas normas possam ser generalizadas para
todos, justamente em vista da melhor sobrevivência de todo o grupo. É
óbvio que a identidade tem de incluir a reconstrução sobre bases
progressistas, isto é, a conquista da cidadania e não o congelamento
de “formas típicas” por culto ao folclore.” (YÁZIGI, 2002: 20; 45)
O município é dotado de uma personalidade
paisagística muito forte pois está inserido na Área de
Proteção Ambiental Iguape – Peruíbe – Cananéia. Portanto,
o planejamento urbano municipal deverá considerar as
características naturais do lugar e garantir a proteção da
diversidade biológica, disciplinando o processo de uso e
ocupação do solo e assegurando a sustentabilidade dos
recursos naturais. É fundamental que se proteja os recursos
naturais necessários à subsistência da população
tradicional, respeitando e valorizando seu conhecimento e
sua cultura e promovendo-as social e economicamente.
O Plano Diretor de Cananéia é uma ferramenta
fundamental para se garantir a integridade ambiental pois os
seus instrumentos é que regulamentarão o uso do solo e o
zoneamento do território. Mas a participação da população
é condicionante fundamental à efetivação do conjunto de
ações intrínsecas ao Plano Diretor Municipal. A gestão
democrática é pressuposto da ação local de proteção
ambiental.
O Estatuto das Cidades trouxe um novo
entendimento sobre o Plano Diretor, que de base
tecnocrática e essencialmente físico-espacial, passou a ser
103
um instrumento de processo social de gestão do
planejamento participativo. (GRAZIA, 2007)
Entende-se portanto que o Plano Diretor do
Município de Cananéia deva considerar as dimensões social,
econômica, espacial, ambiental e institucional para lançar
instrumentos urbanísticos que possibilitem, de fato, a
implementação de planos de ação cujos objetivos
primordiais sejam o do desenvolvimento sustentável com
eqüidade social.
Considerando-se as questões aqui expostas, indica-
se que o Projeto de Lei do Plano Diretor de Cananéia seja
revisado, tendo como orientação as seguintes diretrizes
gerais:
- conciliação do planejamento urbano e ambiental
visando a promoção, o desenvolvimento sustentável das
culturas locais e a especificidade histórica do lugar;
- instituição de um sistema de planejamento que
preveja as etapas de implementação do Plano Diretor, as
metas a serem atingidas com os respectivos prazos, etapas
e sanções, os indicadores a serem observados, o sistema
de fiscalização e acompanhamento por parte da população;
- a regulamentação dos instrumentos de
planejamento urbano e ambiental, de forma a tornar o Plano
Diretor auto-aplicável;
- a discriminação de recursos públicos na Lei de
Diretrizes Orçamentárias do Município para a implementação
das diretrizes do Plano Diretor.
8 – Propostas e Conclusões
O Plano Diretor Municipal é o mais importante
instrumento de gestão política da cidade, que envolve
processo social e pacto territorial. Como define o modo
sobre o qual a coletividade fará uso de seu território, a
elaboração do Plano Diretor deve ser um processo
absolutamente democrático e participativo. É um
instrumento de ação local onde o cidadão e a gestão
pública tem a oportunidade de formalizar um pacto em prol
da comunidade e em consonância com os condicionantes
ambientais.
O Plano Diretor do Município de Cananéia observou a
Lei n° 10.257/01 – Estatuto da Cidade, mas poderia ter
estabelecido ações de maior efetividade para
“garantir o direito a cidades sustentáveis, entendido como
direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-
estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e
ao lazer, para as presentes e futuras gerações.” (Art. 2°)
O Município perdeu o prazo de entrega do seu Plano
Diretor. Haverá revisão da Minuta de Lei em 2010 para que
104
ele passe pela Câmara Municipal a fim de ser aprovado.
Portanto é muito pertinente que se faça uma análise
minuciosa de todos os planos de ação e dos instrumentos
propostos, a fim de adequá-lo melhor às diretrizes da
AGENDA 21 e do Gerenciamento Costeiro Estadual.
Na elaboração do Plano Diretor do Município de
Cananéia entende-se que não foi considerado, pelo menos
de forma integral, o Zoneamento Ecológico-Econômico
(ZEE), que já deveria ter sido implementado, conforme
orientava o Gerenciamento Costeiro Estadual. Essa seria
uma importante ferramenta para a elaboração do Plano
Diretor do município, pois o ZEE é o
“principal instrumento de ordenamento territorial, que
estabelece as normas disciplinadoras para ocupação do solo e uso dos
recursos naturais que compõem os ecossistemas, e aponta as
atividades econômicas mais adequadas para cada tipologia de zona.”
(www.mma.gov.br)
O Decreto de Lei n° 4297/02 regulamentou o ZEE
como instrumento a ser obrigatoriamente seguido na
elaboração dos planos, obras e atividades públicas e
privadas, como meio de se garantir o desenvolvimento
sustentável e a eqüidade social. Contando com a
participação da comunidade local, o ZEE deveria ter sido
desenvolvido e implementado buscando a sustentabilidade
ecológica, econômica e social, com vistas a compatibilizar o
desenvolvimento econômico e a proteção dos recursos
naturais para as atuais e futuras gerações.
O Art. 15 do mesmo decreto estabelece em seu
Parágrafo único que todos os dados do ZEE deverão ser
disponibilizados para o público em geral. O Art. 17 atribui
ao Poder Público a responsabilidade de divulgar junto à
sociedade o conteúdo do ZEE e de sua implementação.
Como não encontrou-se nenhuma informação a respeito do
ZEE de Cananéia, conclui-se que ele não foi implementado.
O zoneamento de Cananéia deveria considerar as
fragilidades e potencialidades ambientais do território, bem
como os indicadores sociais. A elaboração do Plano Diretor
de Cananéia, no que diz respeito às questões ambientais,
respeitou os parques estaduais já instituídos – o Parque
Estadual Jacupiranga e o Parque Estadual Ilha do Cardoso.
Entretanto não foram estabelecidos:
- zoneamento de áreas específicas para a proteção
permanente dos manguezais e da restinga, como sendo
área “non-aedificandi marítima”;
- zoneamento de parques lineares ou corredores
ecológicos com vistas à preservação de nascentes e mata
ciliar de córregos e rios;
- zoneamento da faixa marítima, a fim de estabelecer
um instrumento de gestão dos recursos do mar,
105
respeitando os períodos de procriação das espécies e sua
ocupação no território aquático;
- área específica para manejo dos resíduos sólidos e
aterro sanitário; políticas de conscientização da
necessidade de mudança no modo de consumo e da
reciclagem;
- políticas para fomentar o uso de energia renovável
nos estabelecimentos de moradia transitória, bem como o
reuso das águas pluviais;
- políticas públicas para se garantir o saneamento
básico a toda a população, envolvendo também o
tratamento dos efluentes domésticos e da rede de
pousadas e hotéis.
Na esfera social e de gestão urbana, o Plano Diretor
de Cananéia não estabeleceu as ZEIS, um importante
instrumento de planejamento e gestão dos problemas
habitacionais para a população de baixa renda e de
promoção da qualidade de vida. A delimitação dessas áreas
e a implementação de programas habitacionais garante a
não-ocupação ilegal de áreas ambientalmente frágeis, outro
motivo que justifica a preponderância desse instrumento.
Uma série de temas urbanos ficou sem uma proposta
objetiva e sua respectiva regulamentação. O Plano Diretor
não determina as políticas públicas e instrumentos de
gestão a serem aplicados em cada setor. Ao invés disso,
ele projeta para o futuro, sem estabelecer prazos, a
elaboração de planos de ação, como é o caso do
estabelecimento das ZEIS, do Sistema Municipal de Áreas
Verdes e de Lazer, do Plano Integrado de Macrodrenagem
e Saneamento Ambiental, a localização dos imóveis urbanos
não edificados, subutilizados ou não-utilizados, entre
outros.
O turismo é a principal fonte de receita do Município
e o Plano Diretor não estabelece políticas específicas para
esse setor, visando o seu incremento e a consolidação do
turismo ecológico. Cananéia é dotada de rico patrimônio
natural, cultural, histórico e arquitetônico e que poderia ser
aproveitado de forma mais efetiva, visando também a
obtenção de recursos para a sua preservação. Vale lembrar
que o uso turístico pode esgotar a infra-estrutura e o
patrimônio do Município, mas o estabelecimento de normas
consistentes à regulação da atividade turística poderiam
garantir a sustentabilidade desse tipo de consumo.
Para o incremento do turismo também é necessário
um amplo projeto de adequação do mobiliário e
equipamentos urbanos, o que também seria desfrutado pela
população local. O Plano Diretor deveria ter estabelecido
instrumentos para a obtenção de recursos a fim de serem
aplicados em toda a área de atração turística.
106
A Minuta de Lei do Sistema Viário é um documento
com pouco alcance sobre a melhoria atual das condições de
locomoção e acesso do Município. As vias de circulação
classificadas como eixos, já estão consolidadas e alguns
trechos não poderão ter as suas dimensões alteradas.
Outro ponto muito importante é que a minuta de lei não
regulamenta o tipo de pavimento a ser utilizado no
município, que deveria ser o mais permeável possível, para
permitir a drenagem das águas pluviais.
O Plano Diretor do Município de Cananéia projeta
para um futuro incerto a elaboração de uma séries de
regulamentações que já devem constar das Minutas de Lei
como definições.
De uma forma geral, o Plano segue a formatação do
Estatuto das Cidades, aplicando os mesmos instrumentos.
Mas ele poderia ser mais incisivo sobre as questões
fundamentais do município que está inserido em uma APA.
Não se partiu da realidade integral do Município
estabelecimento de um pacto de gestão territorial, mas fez-
se o caminho contrário: o município foi enquadrado de
forma fragmentada em uma série de leis e decretos
ambientais e urbanos.
Com a proposta de planos estratégicos para cada
setor do planejamento territorial e das políticas públicas, o
projeto do Plano Diretor de Cananéia é uma carta de
intenções que não é auto-aplicável e que necessita de
regulamentações específicas, o que de certa forma,
“engessa” a sua aplicabilidade.
Para se atingir objetivamente as diretrizes de
planejamento propostas nesse trabalho, que por sua vez
estão ancoradas na base teórica apresentada no capítulo 3
– justificativa e revisão bibliográfica – , entende-se que o
Plano Diretor do Município de Cananéia poderia estabelecer
instrumentos que respondam de forma mais efetiva à
realidade sócio-ambiental do Município.
A fim de qualificar o uso turístico para além do
caráter ecológico, as características histórico-culturais
devem gerar um zoneamento específico, que embora não
seja obrigatório nos Planos Diretores, incorpora o aspecto
cultural ao zoneamento urbano-ambiental, aproximando ainda
mais a população do planejamento urbano e garantindo que
a identidade do lugar seja parte integrante desse
planejamento.
Visando a integridade ambiental, o zoneamento deve
ser reelaborado considerando a zona marítima costeira e a
frágil composição paisagística formada por manguezais e
restinga.
A análise do frágil processo de planejamento, apenas
pseudo-instituído em Cananéia, revela que todo o histórico
107
da questão ambiental, incluindo as conferências mundiais,
tratados e agendas 21, ainda que tenha representado
avanços, não garantiu a efetivação universal das políticas e
práticas voltadas ao planejamento e à sustentabilidade
sócio-ambiental.
Do ponto de vista da regulamentação dos
instrumentos urbanísticos, a promulgação do Estatuto da
Cidade, representou de fato uma vitória para os
movimentos que lutam por melhores condições de vida nas
cidades brasileiras. Mas, a partir do caso de Cananéia,
também é possível atestar que a real implementação,
sobretudo no que tange ao ideal de planejamento
democrático e participativo está longe de ser alcançado.
A construção diária da cidadania, sendo o
planejamento participativo uma das formas para alcançá-la, é
condição fundamental para o êxito do planejamento,
sobretudo no caso de Cananéia, onde o descaso parece
imperar e onde é latente a falta de interesse político na
preservação e no planejamento econômico sustentável do
território.
Por fim, a partir do caso de Cananéia, concluiu-se
que a sustentabilidade das cidades apenas será possível
se, de forma democrática, os paradigmas do consumo e do
desenvolvimento econômico forem transformados por uma
consciência de que Homem e Planeta são uma coisa só e
que o “ter” não é nada perto do “ser”.