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s125 Acta Scientiae Veterinariae. 36(Supl 1): s125-s130, 2008. ISSN 1678-0345 (Print) ISSN 1679-9216 (Online) Análise da suinocultura nos Estados Unidos da América Analysis of pig production in the United States of America Jose Henrique Piva 1 & Rafael Kummer 2 INTRODUÇÃO A escala de produção de suínos tem mudado, consideravelmente, ao longo das últimas duas décadas. Embora o número de propriedades rurais tenha se mantido constante, o número de granjas que produzem suínos diminuiu de 240 mil em 1992 para menos de 70 mil em 2004 (Figura 1). Independente da queda do número de granjas, o inventário total de suínos tem se mantido bastante estável durante este período, em média 60 milhões de cabeças, com variações cíclicas de 56 milhões a 63 milhões [2]. 1 Product Performance Director, Pig Improvement Company (PIC), Hendersonville, TN/U.S.A. 2 Production Services Manager, Pig Improvement Company (PIC), Carlyle, IL/U.S.A. CORRESPONDÊNCIA: J.H. Piva [[email protected]]. Figura 1. Número de granjas produtoras de suínos e inventário médio de 1992 a 2005. Está claro que de uma forma rápida houve uma grande consolidação, resultando em um menor número de granjas, com inventários maiores, um maior nível de eficiência e produtividade não apenas em termos de leitões desmamados por matriz por ano, mas muito em termos de kg produzidos por fêmea por ano, kg produzidos por metro quadrado de construção, kg produzidos por kg de alimento entregue, kg produzido por empregado por ano. Em 1992, menos de 30% do número de matrizes estavam em granjas acima de 2000 cabeças, em 2004 este percentual era superior a 80%. Em 2004, granjas com 5000 fêmeas eram responsáveis por mais de 50% do total produzido (Figura 2). O método de produção mudou consideravelmente. Uma indústria que se caracterizava por unidades de ciclo completo com todas as fases passou para um sistema especializado mais precisamente de três fases, conhe- cidos por: sítio 1 - cobertura, gestação e maternidade; sítio 2 - creche; sítio 3 - finalização.

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Acta Scientiae Veterinariae. 36(Supl 1): s125-s130, 2008.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Análise da suinocultura nos Estados Unidos da América

Analysis of pig production in the United States of America

Jose Henrique Piva1 & Rafael Kummer2

INTRODUÇÃO

A escala de produção de suínos tem mudado, consideravelmente, ao longo das últimas duas décadas.Embora o número de propriedades rurais tenha se mantido constante, o número de granjas que produzem suínosdiminuiu de 240 mil em 1992 para menos de 70 mil em 2004 (Figura 1). Independente da queda do número de granjas,o inventário total de suínos tem se mantido bastante estável durante este período, em média 60 milhões de cabeças,com variações cíclicas de 56 milhões a 63 milhões [2].

1Product Performance Director, Pig Improvement Company (PIC), Hendersonville, TN/U.S.A. 2Production Services Manager, PigImprovement Company (PIC), Carlyle, IL/U.S.A. CORRESPONDÊNCIA: J.H. Piva [[email protected]].

Figura 1. Número de granjas produtoras de suínos e inventário médio de 1992 a 2005.

Está claro que de uma forma rápida houve uma grande consolidação, resultando em um menor número degranjas, com inventários maiores, um maior nível de eficiência e produtividade não apenas em termos de leitõesdesmamados por matriz por ano, mas muito em termos de kg produzidos por fêmea por ano, kg produzidos por metroquadrado de construção, kg produzidos por kg de alimento entregue, kg produzido por empregado por ano.

Em 1992, menos de 30% do número de matrizes estavam em granjas acima de 2000 cabeças, em 2004este percentual era superior a 80%. Em 2004, granjas com 5000 fêmeas eram responsáveis por mais de 50% do totalproduzido (Figura 2).

O método de produção mudou consideravelmente. Uma indústria que se caracterizava por unidades deciclo completo com todas as fases passou para um sistema especializado mais precisamente de três fases, conhe-cidos por: sítio 1 - cobertura, gestação e maternidade; sítio 2 - creche; sítio 3 - finalização.

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Em 1992, mais de 65% dos suínos eram produzidos em granjas de ciclo completo. Em 2004, menos de18%, com tendência cada vez maior de redução. Por aspectos diversos, principalmente de ordem operacional esanitário, nos últimos oito anos o enfoque foi mais voltado a ter somente os sítios 1 e 3. Esta prática, já consolidadana indústria, passou a ser chamada produção no sistema inicial de Nurfin e hoje como “wean to finish” (Figura 3).

Figura 2. Evolução da porcentagem de granjas com mais de 2.000 fêmeas ou mais de 5.000fêmeas de 1992 até 2004.

Figura 3. Típica unidade de “wean to finish” nos Estados Unidos.

Associado as mudanças na estrutura de produção diversas outras ocorreram, principalmente, em relaçãoao perfil do produtor, processos, controles, valores, bem como a grande preocupação do investidor na imagem dasunidades de produção e do produto final. Ao longo dos anos, o visual externo e interno das granjas é uma prioridadeda atividade.

As instituições financeiras passaram a ter uma interferência muito maior na forma, no controle operacional,nas estratégias, nos planos, nas decisões e no dia-a-dia da produção dos diferentes segmentos que formam acadeia do negócio.

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Embora houve uma grande profissionalização o aspecto humano ainda é altamente vinculado a um negó-cio com fortes raízes familiares. Grande parte dos animais na fase de crescimento está em mãos de produtores comparticipação direta no investimento.

I - VALORES

Tradicionalmente, a atividade, de uma forma, geral tem sido dirigida pela emoção, mas ao longo dos anosa ciência tem sido uma das ferramentas importante dentro das empresas bem sucedidas para a tomada das grandesdecisões. Aspectos relevantes como, o mercado, a biologia, a matemática, o ser humano, os animais e o dinheirosão aspectos relevantes na base das grandes estratégias.

Uma tendência bastante evidente na indústria suinícola americana é a profissionalização das empresasna área de pesquisa, desenvolvimento de tecnologias e privatização do sistema de informação. Diversas empresase sistemas de produção, nos Estados Unidos, têm construído granjas associadas a programas internos de pesquisa[1]. Criando animais em situações de maior controle associado à correta coleta de dados permite a empresa avaliar,de uma maneira mais segura, os resultados e tomar a decisão correta, reproduzindo os resultados no sistema, emuma grande escala de produção.

II - PRINCIPAIS MUDANÇAS E CARACTERÍSTICAS DO NEGÓCIO - OLHAR O PASSADO PARACONSTRUIR O FUTURO – MILESTONE

A pressão contínua do mercado em aspectos diversos ligados ao bem estar animal, a segurança detrabalho, os aspectos ambientais, a competitividade, a eficiência de produção, o mercado, a qualidade final doproduto, o desejo pela ciência, a ambição por ser melhor; são características comuns que forçam ou estimulamquem está no negócio, a seguir buscando melhorias.

Embora as perdas não eram constantes, entre 1998 e 2004, a atividade suína perdeu bilhões de dólares.Dezembro de 1998 foi o pico de perdas no qual para cada suíno vendido a perda era superior a U$ 70,00. Fatos como esteslevaram a modificações fortes na estrutura e na organização da atividade. De 2004 até final de 2007 a atividade viveu umperíodo de margens altamente positivas o qual levou a uma capitalização dos produtores e da indústria (Figura 4).

Figura 4. Evolução do preço do suíno (U$/100 pounds) e rentabilidade por animal abatido de 1987 a 2007 nos Estados Unidos.

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Nos últimos meses, as exportações crescentes não têm sido suficientes para compensar a elevação noscustos de produção em mais de 25% observados nos últimos 18 meses, esta nova situação tem levado perdas nosativos de muitos produtores.

No sistema operacional, embora o peso médio de abate na década de 70 fosse inferior a 100 kg, eracomum o suíno ser transferido até quatro vezes – maternidade, pré-creche, creche, recria e terminação. Nos diasatuais, o peso médio passa dos 125 kg e os animais são transferidos apenas uma vez, no momento do desmame(Figura 5).

Figura 5. Evolução do peso médio de abate (pounds) nos últimos 15 anos nos Estados Unidos.

Atualmente, granjas padrões variando de 2.500 fêmeas até projetos mais arrojados com 10.000 matrizesem um único lugar têm sido observados. O número, de certa forma, já é padronizado e está, geralmente, vinculadoàs unidades que recebem os leitões ao desmame. A produção integrada ou contratada tem sido altamente praticadae, constantemente, novas metas de produtividade e índices para controle da produção vêm sendo desenvolvidos.

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III - ALGUNS ASPECTOS ATUAIS DA SUINOCULTURA AMERICANA

Custo para construir uma granja de matrizes é entre U$ 1400 e U$ 1550 por fêmea alojada.

Custo para construir uma unidade de wean to finish é de U$ 250 por animal em uma instalação para 0.7m2.

Vinte e sete mil machos alojados em centrais de inseminação com 100 a 800 machos por central e umaumento da automação nas centrais de inseminação.

Doses inseminantes de 2,5 a 3 bilhões de espermatozóides viáveis.

Problemas sanitários relacionados a doenças virais como PRRS (custo anual de cerca de U$ 500milhões), influenza e circovirose.

Cuidados com a excessiva produção de dejetos através do controle do uso de água. O consumo diáriode água está calculado para 25 litros.

Para o armazenamento dos dejetos, o aspecto de fossa profunda tem sido a alternativa usada paracumprir com os requisitos ambientais onde os dejetos ficam estocados até nove meses e de uma maneirageral são usados em área destinada à produção agrícola.

Com o objetivo de melhorar o desempenho dos animais e facilitar a mão-de-obra existe uma preferên-cia para sistemas de alimentação automatizada em todas as áreas.

Investimentos em granjas construídas nas décadas passadas para automatizar área de maternidade.

Índice de produtividade Metas

Partos por fêmea por ano > 2.5

Taxa de parto > 88.0%

Nascidos totais por parto > 13.0

Natimortos < 5.0%

Mumificados < 3.0%

Nascidos vivos por parto > 12.0

Mortalidade na maternidade < 8.0%

Relação do numero de leitões desmamados pelos nascidos totais > 85%

Desmamados por parto > 11.1

Peso ao desmame (kg) > 6

Desmamados por fêmea por ano > 27.6

Kg. desmamados por fêmea por ano (kg) > 165

Taxa de reposição anual 50%

Idade ao descarte (numero de partos) > 5.0

Numero de leitões desmamados durante a vida > 55

Mortalidade de fêmeas < 6.0%

Duração da lactação (dias) > 20

Numero de leitões desmamados por funcionário por ano 8000

Numero de leitões desmamados por gaiola de maternidade por ano 160

Tabela 1. Metas de produtividade no sistema de produção americano.

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www.ufrgs.br/favet/revista

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Implementação constante de novas tecnologias como a filtração de ar em centros de inseminação paraminimizar riscos de contaminação por via aérea. Algumas granjas de matrizes consideram esta técnica.

O sistema de wean to finish tem motivado ou, até certo ponto, forçado um aumento na idade e peso aodesmame, passando de 14 a 15 dias de lactação para 19 a 21 dias e, peso de desmame superior a 6 kg.

Aumento no custo de produção com procura cada vez maior por alternativa para substituir o milhodevido ao alto custo. Aumento da utilização de DDGS na ração de fêmeas e wean to finish.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na busca cada vez maior da transparência, do controle, da eficiência de produção, do bem estar animal,da segurança de trabalho, da operacionalização, novas técnicas e processos de produção foram e continuarão sendodesenvolvidos dentro de uma dinâmica rápida, mesmo sabendo que algumas destas tecnologias, por razões diver-sas, não cheguem à fase de consolidação (Ex. sorting system). Novas tecnologias, embasadas na ciência, tendema construir novos alicerces para a atividade, proporcionando competitividade suficiente para a atividade no mercadomundial, seja pelo volume, pela qualidade ou pela eficiência de produção. Estas características, certamente, são abase para que a atividade siga crescendo a passos mais rápidos que muitos outros mercados produtores.

REFERÊNCIAS

1 Dritz S.S., Tokach M.D., Goodband R.D., DeRouchey J.M. & Nelssen J.L. 2007. The science of pig production: past, present, andfuture. In: Proceedings of the 38th Annual Meeting American Association of Swine Veterinarians (Orlando, U.S.A.). 1 CD-ROM.

2 USDA - United States Department of Agriculture. 2008. NASS, 1995-1999. Disponível em: <http://www.fas.usda.gov/>. Acessado em03/2008.