anatomia couraca

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ANATOMIA E COURAÇA MUSCULAR DO CARÁTER * Ricardo Amaral Rego ** INTRODUÇÃO Desde há 20 anos, já aos meus primeiros contatos com a obra de Reich e com trabalhos nela  baseados, tem havido um enorme fascínio pela possibilidade de trabalho na interface mente-corpo, e ao lado disso uma grande admiração pela genialidade de Reich, ue abriu as portas desse novo mundo! "ntretanto, tamb#m desde o início, algumas concepç$es do campo reichiano me pareciam um pouco difíceis de encai%ar com o ue me era ensinado na &aculdade de 'edicina ue eu então cursava! "ram teorias ue falavam dos mesmos assuntos ue eu estudava nas aulas de (natomia e outras mat#rias, e havia muita coisa interessante, )til e perfeitamente coerente com o conhecimento científico! 'as haviam alguns pedaços ue não se encai%avam!  *o começo, atribuía o problema a mim mesmo+ eu # ue entendo pouco de 'edicina e de Reich, e uando eu crescer e souber mais, tudo se esclarecer! tempo passou, e eu passei de estudante-paciente-curioso a psicoterapeuta e depois tamb#m professor, e nem tudo se esclareceu! .em daí uma vontade, uase uma necessidade, de buscar uma melhor coer/ncia na articulação entre estas duas vertentes tão importantes+ a ci/ncia biolgica e o psicoterapia reichiana! 1ma primeira tentativa foi o meu trabalho sobre bioenergia 34425! (gora, apresento aui uma discussão sobre a concepção reichiana dos an#is da couraça muscular, principalmente a partir do referenc ial da (nat omia , da &isiol og ia e da "mbr iolo gi a, ma s ta mb#m tecendo al gu mas consideraç$e s a partir da teoria e da t#cnica de autores neo-reichianos! 6alve7 não seja muito tran8ilo e nem agradável para alguns leitores ver colocados em %eue conceitos antigos e tradicionais! 9uando da apresentação do conte)do deste artigo em palestras, colhi reaç$es tanto de entusiasmo por ousar desafiar o estabelecido, como de mágoa e raiva por tentar destruir o pai Rei ch! ( partir de uma pos tura amadureci da de e%a min ar, ref letir e dis cut ir sem id#ias pr# - concebidas, ficar logo evidente ue não se trata de atacar e destruir, e sim uma tentativa de desenvolver a teoria reichiana! 6endo em vista a e%ist/ncia de alguns erros de tradução, a discussão foi baseada no te%to em  portugu/s da edição de 34:4, cotejada - e corrigida uando necessário - com a edição em ingl/s Reich, 34::5! n)mero das páginas referidas em citaç$es corresponde sempre ; edição em  portugu/s! &inalmente, acredito ue o acompanham ento do ue ser e%posto se tornar bastante difícil sem o aspecto visual, ou seja, sem ue se tenha ; mão algum livro de (natomia e "mbriologia! Deste modo, recomendo ue se providencie isto antes de se iniciar a leitura! A COURAÇA MUSCULAR DO CARÁTER <ilhelm Reich foi um dos pioneiros da aplicação ; psicoterapia de uma compreensão do ser humano ue não dissociasse corpo e mente! 1m dos pilares de sua abordagem # a noção de couraça muscular do caráter, onde a musculatura estriada aparece como base para tal concepção integrada! = 6rabalho apresentado >. "ncontro Reich no ?edes, 3443!  @ublicado na Revista Reichiana 2! >nstituto ?edes ?apientiae, ?ão @aulo, 344A, p! A2-BC! == fone 0335 2:A A0BB - fa% 0335 2:4 :A4C  R! (lm! 'arues eão E:B, ?! @aulo, ?@ F"@ 03AA0 G 030  "-mail+ ric!regoHuol!com!br 

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7/27/2019 Anatomia Couraca

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ANATOMIA E COURAÇA MUSCULAR DO CARÁTER *

Ricardo Amaral Rego **

INTRODUÇÃO

Desde há 20 anos, já aos meus primeiros contatos com a obra de Reich e com trabalhos nela baseados, tem havido um enorme fascínio pela possibilidade de trabalho na interface mente-corpo, eao lado disso uma grande admiração pela genialidade de Reich, ue abriu as portas desse novomundo! "ntretanto, tamb#m desde o início, algumas concepç$es do campo reichiano me pareciamum pouco difíceis de encai%ar com o ue me era ensinado na &aculdade de 'edicina ue eu entãocursava! "ram teorias ue falavam dos mesmos assuntos ue eu estudava nas aulas de (natomia eoutras mat#rias, e havia muita coisa interessante, )til e perfeitamente coerente com o conhecimentocientífico! 'as haviam alguns pedaços ue não se encai%avam!

 *o começo, atribuía o problema a mim mesmo+ eu # ue entendo pouco de 'edicina e deReich, e uando eu crescer e souber mais, tudo se esclarecer! tempo passou, e eu passei deestudante-paciente-curioso a psicoterapeuta e depois tamb#m professor, e nem tudo se esclareceu!.em daí uma vontade, uase uma necessidade, de buscar uma melhor coer/ncia na articulação entreestas duas vertentes tão importantes+ a ci/ncia biolgica e o psicoterapia reichiana!

1ma primeira tentativa foi o meu trabalho sobre bioenergia 34425! (gora, apresento auiuma discussão sobre a concepção reichiana dos an#is da couraça muscular, principalmente a partir doreferencial da (natomia, da &isiologia e da "mbriologia, mas tamb#m tecendo algumasconsideraç$es a partir da teoria e da t#cnica de autores neo-reichianos!

6alve7 não seja muito tran8ilo e nem agradável para alguns leitores ver colocados em %eueconceitos antigos e tradicionais!

9uando da apresentação do conte)do deste artigo em palestras, colhi reaç$es tanto de

entusiasmo por ousar desafiar o estabelecido, como de mágoa e raiva por tentar destruir o paiReich! ( partir de uma postura amadurecida de e%aminar, refletir e discutir sem id#ias pr#-concebidas, ficar logo evidente ue não se trata de atacar e destruir, e sim uma tentativa dedesenvolver a teoria reichiana!

6endo em vista a e%ist/ncia de alguns erros de tradução, a discussão foi baseada no te%to em portugu/s da edição de 34:4, cotejada - e corrigida uando necessário - com a edição em ingl/sReich, 34::5! n)mero das páginas referidas em citaç$es corresponde sempre ; edição em

 portugu/s!

&inalmente, acredito ue o acompanhamento do ue ser e%posto se tornar bastante difícil semo aspecto visual, ou seja, sem ue se tenha ; mão algum livro de (natomia e "mbriologia! Deste

modo, recomendo ue se providencie isto antes de se iniciar a leitura!A COURAÇA MUSCULAR DO CARÁTER 

<ilhelm Reich foi um dos pioneiros da aplicação ; psicoterapia de uma compreensão do serhumano ue não dissociasse corpo e mente! 1m dos pilares de sua abordagem # a noção de couraçamuscular do caráter, onde a musculatura estriada aparece como base para tal concepção integrada!

= 6rabalho apresentado >. "ncontro Reich no ?edes, 3443!  @ublicado na Revista Reichiana 2! >nstituto ?edes ?apientiae, ?ão @aulo, 344A, p! A2-BC!

== fone 0335 2:A A0BB - fa% 0335 2:4 :A4C  R! (lm! 'arues eão E:B, ?! @aulo, ?@ F"@ 03AA0 G 030  "-mail+ ric!regoHuol!com!br 

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?egundo ele, a couraça está disposta em segmentos, uero di7er ue ela funciona demaneira circular, na frente, dos dois lados, e atrás, isto #, como um anel p! AA35! 6ais an#is, emn)mero de sete, estariam dispostos perpendicularmente ao ei%o c#falo-caudal do corpo humano!Fada segmento ou anel compreende aueles rgãos e grupos de m)sculos ue t/m um contatofuncional entre si e ue podem indu7ir-se mutuamente a participar no movimento e%pressivoemocional, sendo ue um segmento termina e outro começa uando um dei%a de afetar o outro em

suas aç$es emocionais p! AA3-25!"sta concepção # bastante difundida nos meios reichianos e neo-reichianos, e fundamenta

in)meras t#cnicas psicoterápicas! "ntretanto, um e%ame mais atento dos seus pormenores levantavárias d)vidas, ue iremos e%aminar! *ão será discutido o conceito de couraça muscular do caráter, esim apenas sua disposição segmentar! 6amb#m não será objeto de análise a inclusão feita por Reichde rgãos sensoriais e viscerais como integrantes da couraça, nos atendo ; discussão dos gruposmusculares envolvidos!

( discussão # bastante dificultada pela maneira vaga e pouco precisa com ue Reich muitasve7es se refere aos grupos de m)sculos pertencentes a cada anel! (l#m disso, tamb#m nos deparamoscom a uestão de se todos os m)sculos devem ser enuadrados em algum anel, ou se e%istem

m)sculos ue não pertencem a nenhum anel! @ela lgica da concepção reichiana, parece ue todo eualuer m)sculo deveria ser parte de um anel, pois a e%ist/ncia de m)sculos e%tra-anelares não parece coerente com o conceito de segmentação das e%press$es emocionais, a menos ue taism)sculos fossem desprovidos de significado emocional! "ntretanto, dado não haver uma respostadefinitiva a esta uestão, na discussão a seguir nos limitaremos ; análise dos m)sculos, grupos dem)sculos, regi$es e aç$es e%plicitamente mencionados por Reich no trecho em ue discute o temap! AA0-C:5!

OS ANÉIS DA COURAÇA MUSCULAR 

F(I"J( " @"?FJ

 *o anel ocular estariam os m)sculos dos globos oculares, das pálpebras e da testa! Reichmenciona ainda a imobilidade dos dois lados do nari7 como característica do bloueio deste anel, e amobili7ação e afrou%amento dos m)sculos das bochechas uando o anel # trabalhado p! AA35!

anel oral compreende toda a musculatura do uei%o e da faringe, e a musculaturaoccipital, incluindo os m)sculos em torno da boca p! AA25, e sua mobili7ação pode liberar o desejode sugar!

anel cervical abrangeria a musculatura profunda do pescoço, os m)sculos platisma eesternocleidomastideo, e a língua! "m relação ; )ltima, Reich afirma ue a musculatura da língualiga-se ao sistema sseo cervical, e não aos ossos faciais inferiores! >sso e%plica porue os espasmosda musculatura da língua estão ligados funcionalmente ; compressão do pomo-de-adão e ; contraçãoda musculatura profunda e superficial da garganta p! AAB5!

 *a região da cabeça e do pescoço, os seguintes uestionamentos podem ser feitos uanto ;distribuição da couraça muscular do caráter em an#is+

a5 Fomo parte do anel ocular, Reich menciona os m)sculos das bochechas, cujamobili7ação provocaria um sorriso peculiar! (pesar de não especificado, parece ue isto deve serentendido em sentido restrito! u seja, não todos os m)sculos ue comp$em as bochechas, masapenas aueles com inserção na região infra-orbital, descrita como pertencente ao anel ocular!?eriam, portanto, o m! 7igomático maior, m! 7igomático menor, m! levantador do lábio superior, m!levantador do lábio superior e da asa do nari7! "ntretanto, estes m)sculos t/m um papel importantena movimentação da boca sugar, rir, chorar, mastigar5! (natomicamente, a movimentação destaregião se dá atrav#s de um ei%o circular m! orbicular da boca5 entrelaçado por braços radiais,estrutura da ual fa7em parte os m)sculos citados acima Kollinshead e Rosse, 3443, p! ECC-L5! (l#mdisso, na definição de Reich, o anel oral inclui os m)sculos em torno da boca! Deste modo, este

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grupo de m)sculos deveria ser enuadrado em ambos os an#is, tanto pela definição de Reich como pela locali7ação e funç$es, o ue contraria a prpria definição de an#is vista acima!

 b5 ( função de morder # considerada e%pressão típica do anel oral! "ntretanto, os dois principais m)sculos responsáveis pela movimentação da articulação temporo-mandibular poderiamtopograficamente serem considerados como parte do segmento ocular+ o m! temporal, ue está aolado do olho e acima da orelha de cada ladoM e o m! masseter, um m)sculo da bochecha de inserção

na região malar e 7igomática, e ue fica ao lado do grupo de m)sculos citados no item anterior!c5 Ká dois m)sculos ue atuam sobre o nari7 e ue se originam do ma%ilar superior+ m!

depressor do septo e m! nasal porç$es transversa e alar5! ?ua classificação # duvidosa, pois apesar deatuarem sobre o nari7 anel ocular5, sua locali7ação parece estar parcialmente no Nmbito do anel oral!

d5 m)sculo occipital enuadra-se no anel oral segundo Reich p! AA25! "ntretanto,anatOmica e funcionalmente ele está relacionado com o m! frontal, a ponto de ambos seremconsiderados como partes de um mesmo m)sculo+ ventre frontal e ventre occipital do m!occipitofrontal Kollinshead e Rosse, 3443, p! ECL5M venter frontalis e venter occipitalis do m!epicrani <olf-Keidegger, 34:3, p! 3C:5M ventre anterior e ventre posterior do m! occipitofrontalocPhart et al!, 34LB, p! 3BA5!

e5 "%istem muitos outros m)sculos na região occipital cuja inclusão no anel oral # discutível!"m primeiro lugar, os m)sculos retos e oblíuos da cabeça+ são L pares de m)sculos peuenos,descritos anatomicamente como parte da musculatura motora da cabeça e pescoço, e ue atuamsinergicamente com os m)sculos oculares, fa7endo com ue a cabeça se vire para a direção ue seolha Kollinshead e Rosse, 3443, p! 2LC-L5! @ela locali7ação e função, somos levados a uestionar seestes m)sculos devem ser enuadrados no anel ocular ou cervical, mas parece ue não há nenhumara7ão para incluí-los no anel oral, a não ser a tentativa de completar um suposto anel muscular!

 *ote-se ue IaPer parece se referir a este grupo de m)sculos uando inclui no anel ocular osm)sculos profundos na base do occipital IaPer, 34:0, p! E25! (l#m destes, e%istem diversos outrosm)sculos ue t/m inserção total ou parcial no osso occipital, e ue nitidamente fa7em parte da

musculatura cervical, e não oral+ m! reto anterior da cabeça, m! trap#7io, m! esternocleidomastideo,m! espl/nio da cabeça, m! semi-espinhal da cabeça!

f5 m! platisma # classificado como parte do anel cervical, mas tem ação na região oral+ajuda a bai%ar os cantos da boca na e%pressão de melancolia, e pode pu%ar a mandíbula para bai%omantendo a boca aberta5 contra resist/ncia ocPhart et al!, 34LB, p! 3BB-L5!

g5 ( língua # uma massa mvel e compacta de fibras musculares entrelaçadas! Q composta por m)sculos intrínsecos, ue se inserem no septo lingual ou na mucosa, e pelos m)sculose%trínsecos bilaterais+ m! genioglosso, m! estiloglosso, m! hioglosso! m! genioglosso nasce doma%ilar inferior! m! estiloglosso nasce da apfise estilide do osso temporal! m! hioglosso nascedo osso hiide Kollinshead e Rosse, 3443, p! EL45! @ortanto, e contrariamente ao ue Reich afirmou,

a musculatura da língua tem origem nos ossos da face, e%ceto apenas o m! hioglosso! 'esmo nestecaso, parece inadeuado falar ue o osso hiide pertence ao sistema sseo cervical, sendo naverdade um elemento intermediário entre o pescoço e a mandíbula, como será analisado no pr%imoitem! 9uanto ;s aç$es da língua, ela está intimamente envolvida nos movimentos de sucção,mastigação, deglutição e fonação, de modo ue poderíamos classificá-la no anel oral, no anelcervical, ou em ambos!

h5 s m)sculos hiideos! osso hiide tem forma de 1 e # um osso mvel, não articulado,ue serve como plataforma para os movimentos da língua, e para a mastigação, deglutição e fonação!

 *ele se insere um grupo de m)sculos ue o traciona para bai%o m! esterno-hiideo, m! tireo-hiideo,m! omo-hiideo5, um grupo de m)sculos ue o traciona para cima m! digástrico, m! estilo-hiideo5,

al#m de um m)sculo da língua m! hioglosso5 e m)sculos do assoalho da boca m! g/nio - hiideo,m! milo-hiideo5! "stes m)sculos t/m ação coordenada entre si, e poder-se-ia di7er ue representamuma transição topográfica e funcional entre o anel oral e cervical, dessa maneira contradi7endo aafirmação de Reich da não influ/ncia m)tua na e%pressão emocional dos an#is!

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i5 ( prpria fonação não pode ser compreendida ou tratada se pensarmos a boca, faringe elaringe dissociadas entre si! ( integração destas áreas # condição imprescindível para ofuncionamento normal desta atividade e%pressiva! (ssim, mais uma ve7, fa7-se praticamenteimpossível separar estas regi$es a nível anatOmico, funcional ou clínico!

6R*F " '"'IR?

anel torácico compreenderia todos os m)sculos intercostais, os grandes m)sculostorácicos peitorais5, os m)sculos do ombro deltides5 e o grupo muscular sobre e entre asescápulas e a musculatura dos membros superiores! (l#m disso, entre as escápulas há dois fei%esde m)sculos dolorosos na região do m)sculo trap#7io p! AAL-E5!

&a7em parte do anel diafragmático o m! diafragma, e dois fei%es de m)sculos salientes uese estendem ao longo das v#rtebras torácicas inferiores p! AA45!

 *o anel abdominal estariam o m! reto abdominal e dois m)sculos laterais transversosabdominais5, ue vão das costelas inferiores at# a margem superior da pelve! "ste anel secompletaria nas costas pelas porç$es inferiores dos m)sculos ue correm ao longo da colunagrande dorsal, eretor da espinha etc!5 p! ACL-E5!

Fomo parte do anel p#lvico estão uase todos os m)sculos da pelve, os mm! adutores daco%a, o m! esfíncter anal, os mm! gl)teos p! ACE5!

 *estas regi$es, encontram-se tamb#m m)sculos e grupos de m)sculos ue não respeitam aid#ia de segmentação, de não interfer/ncia nos segmentos adjacentes! "%aminam-se a seguir os casosmais importantes+

a5 m! trap#7io origina-se do osso occipital e coluna vertebral cervical e torácica, inserindo-se na clavícula e omoplata! 6em aç$es a nível dos ombros e do pescoço, cobrindo portanto dois an#isreichianos, com funç$es ue afetam a ambos de maneira inseparável!

 b5 m! reto abdominal # descrito como pertencendo ao anel abdominal! "ntretanto, Reich

menciona uma tensão no epigástrio como relacionada com o anel diafragmático! 6al tensão não poderia ser causada pelo diafragma, mas sim pelo m! reto abdominal! (l#m disso, na descrição dosdist)rbios do anel p#lvico, # dito ue o m)sculo abdominal acima da sínfise p)bica fica doloridoibidem, p! ACE5! Desta maneira, o m)sculo citado parece estar relacionado com os an#isdiafragmático, abdominal e p#lvico, ligando o tra% ao uadril, e não seguindo assim a delimitaçãosegmentar necessária para a caracteri7ação de um anel reichiano! s m)sculos oblíuos abdominaise%terno e interno5 tamb#m parecem cumprir esta função de interligação entre o tra% e a pelve!

c5 ( porção inferior do m! grande dorsal # classificada como parte do anel abdominal! "stem)sculo origina-se da crista ilíaca, coluna lombar e dorsal bai%a, e vai se inserir no )mero! (ge

 principalmente na movimentação do braço, tanto ue # descrito nos te%tos de (natomia como umm)sculo da articulação escápulo-umeral ocPhart et al!, 34LB, p! 20A-BM Kollinshead, 3443, p! 3B2-

E5! >nflui tamb#m na compressão da parte posterior da cavidade abdominal, com efeitos na e%piração,micção e defecação! (ssim, sua classificação estaria mais adeuada dentro do anel torácico, mas ele

 parece desafiar a segmentação pela locali7ação e pelas aç$es secundárias, ue poderiam levar aconsiderar sua inclusão no anel abdominal! (l#m disso, para ue o m! grande dorsal aja a nívelabdominal, # preciso ue outros m)sculos do ombro imobili7em o braço para ue este sirva como

 ponto de apoio ao inv#s de mover-se! u seja, # necessária uma ação coordenada de dois segmentos para ue ocorra esta ação e%pressiva!

d5 Fertas funç$es de grande importNncia psicolgica, e ue parecem ser nitidamente p#lvicas,como o defecar, o urinar e o trabalho de parto, na verdade dependem grandemente de todos osm)sculos do anel abdominal e do diafragma! "stes mesmos m)sculos e outros do anel cervical e oral

estão envolvidos no refle%o do vOmito, ue # utili7ado na vegetoterapia reichiana! "ncontram-se, portanto, aç$es e%pressivas importantes ue envolvem ação coordenada e indivisível de váriossegmentos!

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 e5 m! psoas maior tem origem em v#rtebras torácicas e lombares, inserindo-se no f/mur!(ge principalmente no andar e na fle%ão do tronco! @or sua locali7ação e funç$es poderia serclassificado tanto no anel abdominal como no anel p#lvico!

f5 ( respiração não se restringe aos an#is torácico e diafragmático! ')sculos cervicais m!esternocleidomastideo, mm! escalenos, m! trap#7io5 podem agir na inspiração profunda e namanutenção de um tra% cronicamente inspirado! ')sculos do anel abdominal m! transverso, m!

reto abdominal, mm! oblíuos, m! uadrado lombar5 tamb#m t/m influ/ncia no processo respiratrio, principalmente na e%piração! (ssim sendo, a respiração envolve m)sculos de pelo menos uatroan#is, e mesmo ue haja uma diferenciação entre o bloueio torácico e o bloueio diafragmático, ficadifícil separar a influ/ncia dos m)sculos cervicais sobre o tra%, e a dos m)sculos abdominais sobrea ação do diafragma!

g5 prprio Reich revela a interação anatOmica, fisiolgica e e%pressiva entre os diversossegmentos uando trata do refle%o de vOmito! "ste refle%o, focali7ado no movimento do m)sculodiafragma, mas com participação da musculatura do tra%, abdome, pescoço, garganta e boca, al#mda musculatura lisa do tubo digestivo alto, tem efeito sobre vários segmentos! Fonforme Reich, aliberação do refle%o de vOmito pode mobili7ar o segmento oral p! AA25! ?e o refle%o de vOmito

começa a agir ou mesmo chega ao ponto de fa7er o paciente vomitar, as emoç$es contidas pelacouraça do pescoço são liberadas p! AAB5! Fonseguimos liberar o segmento diafragmático dacouraça fa7endo o paciente liberar, repetidas ve7es, o refle%o de vOmito p! ACC5! u seja, tudo issodesafia a concepção de an#is isolados entre si uanto ao movimento e%pressivo emocional!

A MUSCULATURA DORSAL

"ste # um caso especial, ue merece ser analisado detalhadamente, devido ;s implicaç$es ueserão discutidas adiante!

"sta musculatura se organi7a basicamente em torno do ei%o da coluna vertebral! ( camadamais profunda # constituída por peuenos m)sculos ue ligam as v#rtebras adjacentes mm!interespinhais, mm! intertransversários, mm! rotadores curtos5!

( camada seguinte # constituída por uma massa muscular ue recebe o nome de grupotransversoespinhal, cujas subdivis$es recebem nomes específicos! (s fibras mais profundascaminham poucas v#rtebras antes de se inserirem, e as mais superficiais percorrem distNnciasmaiores, sempre paralelamente ; coluna! s fei%es mais profundos e os ue nascem na região lombarrecebem o nome de m! multífido! (s fibras mais superficiais se denominam, conforme a altura, mm!semi-espinhais do tra%, do pescoço e da cabeça! (pesar dos diversos nomes, trata-se de uma massaindivisível anatOmica e funcionalmente, ue vai da pelve at# a cabeça!

 *a camada mais superficial o mesmo acontece! riginando-se na pelve, o m! eretor daespinha continua-se por tr/s colunas musculares+

a5 uma mais e%terna, o m! ileocostal com porç$es lombar, dorsal, cervical5M b5 uma coluna m#dia, o m! dorsal longo constituído pelos mm! longos do tra%, do pescoço e

da cabeça5M

c5 uma coluna interna m! espinhal5!

( coluna vertebral # o ei%o ue organi7a e integra o organismo! 6odos estes m)sculos, al#mde outros, funcionam coordenadamente para movimentar a coluna vertebral, ou para fi%á-la e

 possibilitar o movimento de outras partes do corpo, al#m de au%iliar no euilíbrio postural! 6/m participação importante no caminhar e na movimentação da pelve! (gem na movimentação sin#rgicado tronco com os olhos e a cabeça! bserva-se ue mesmo peuenas distens$es destes m)sculoslimitam severamente boa parte dos movimentos corporais!

@elo e%posto acima, pode-se concluir ue a coluna vertebral e os m)sculos descritos formamum todo indivisível, ue funciona e se e%pressa de forma articulada e interdependente! ?ua e%tensão

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abrange praticamente todos os an#is da couraça muscular, com e%ceção do anel ocular! Dentro doconceito reichiano de segmentação, talve7 at# se pudesse pensar esta estrutura como um segmentolongitudinal independente dos demais! 'as isso # descartado por Reich com a afirmação de ue ossegmentos da couraça t/m sempre uma estrutura hori7ontal - nunca vertical !!! formando Nngulosretos com a espinha dorsal p! AA25!

(l#m disso, Reich insiste na id#ia de an#is musculares, e coloca como parte do anel

abdominal as porç$es inferiores dos m)sculos ue correm ao longo da coluna grande dorsal, eretorda espinha etc!5 p! ACE5! Fomo parte do anel diafragmático, dois fei%es de m)sculos salientes uese estendem ao longo das v#rtebras torácicas inferiores p! AA45! " no anel torácico, dois fei%es dem)sculos !!! na região do m)sculo trap#7io p! AAE5! u seja, a unidade anatOmica e funcional damusculatura dorsal # desconsiderada para ue não se abale o conceito de an#is da couraça

 perpendiculares ao ei%o longitudinal! 6alve7 não seja por acaso ue a minhoca, modelo da estruturareichiana, não possua coluna vertebral!

DA MINHOCA AO HOMEM

Fomo foi visto, a id#ia de an#is da couraça muscular pode ser contestada pela análise de suas bases anatOmicas! "%aminemos agora como fica a comparação com a minhoca enuanto modelo de

segmentação longitudinal, e tamb#m as possíveis bases embriolgicas da disposição segmentar dacouraça muscular!

>nicialmente, percebe-se ue o organismo humano # bem mais comple%o e diferenciado doue os anelídeos como as minhocas e os vermes! "ntre outras diferenças, os humanos possuem ossos,incluindo uma coluna vertebral, o ue permite uma grande variedade de movimentos comple%os,envolvendo muitas ve7es diversas regi$es do corpo simultaneamente! "%istem braços e pernas comgrande fle%ibilidade de aç$esM um euipamento sensorial sofisticado, incluindo olhos, para cujofuncionamento adeuado e%ige-se sinergia de movimentos! (l#m disso, a postura bípede leva ;necessidade de uma integração rápida e precisa dos movimentos ue garanta o euilíbrio! Ká ainda amusculatura da mímica, com função basicamente e%pressiva!

6udo isso reforça a hiptese de ue as diversas regi$es do corpo humano não sãoindependentes, mas sim profundamente relacionadas e interligadas! organismo funciona como umtodo, e evolutivamente está muito distante de organismos mais simples, nos uais as partescomponentes podem funcionar de maneira mais autOnoma! *este sentido, a proposição reichiana deue um segmento pode se e%pressar sem afetar outros parece não representar a realidade da estruturae funcionamento do corpo!

De acordo com a concepção de ue a ontog/nese repete a filog/nese, podemos encontrar noembrião humano um estágio semelhante aos anelídeos, um esboço de organismo segmentar! *ãoseria esta a base de uma possível disposição segmentar da musculatura ue se ajustasse ; id#iareichiana de an#is musculares 1m e%ame deste aspecto da uestão mostrará ue tamb#m deste

 ponto de vista não encontramos fundamentação para tal id#ia!(companhando a embriologia humana percebe-se ue, ao fim da terceira semana de vida, o

embrião desenvolve segmentos chamados somitos, formados por parte do mesoderma! "stes somitoschegam a ser pouco mais de C0, e deles derivam ossos, m)sculos e derme! @or volta do fim dosegundo m/s não são mais visíveis, diluindo-se progressivamente na diferenciação dos tecidos ergãos!

 *o fim do processo, algumas estruturas ainda apresentam sinais evidentes de sua origemsegmentar, como demonstra a inervação da pele! "ntretanto, em relação ; musculatura o mesmo nãose aplica!

"m primeiro lugar, e%istem muitos m)sculos ue derivam do mesoderma não somítico, comoos m)sculos dos membros superiores e inferiores, e parte da musculatura da cabeça!

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( musculatura derivada dos somitos sofre grandes transformaç$es, atrav#s da fusão comoutros segmentos, da migração e da mudança de direção! @or e%emplo, o m! grande dorsal origina-sede somitos cervicais e torácicos, mas se estende at# a pelve e região lombar! s )nicos m)sculos uemant/m a segmentação original são os m)sculos intercostais e os m)sculos mais profundos dacoluna vertebral! s demais m)sculos se originam de mais de um somito Sunueira e Tago, 34:EMangman, 34:25!

sistema nervoso perif#rico tamb#m não respeita a segmentação estanue! (s raí7esnervosas t/m origem segmentar, mas misturam-se nos ple%os nervosos, ue são estruturas onde háinterligação e entrelaçamento de fibras de diversas origens! (ssim, as origens segmentares são comoue embaralhadas, de maneira ue os nervos perif#ricos são multisegmentares! (l#m disso, asimilitude de nível de inervação não corresponde aos an#is reichianos, sendo ue a musculatura domembro superior tem inervação segmentar semelhante ; do pescoço, e na musculatura do membroinferior ela # semelhante ; dos m)sculos abdominais ocPhart et al!, 34LB, p! 2:05! u seja, por essecrit#rio os braços fariam parte do segmento cervical, e as pernas do segmento abdominal!

(s prprias v#rtebras, ue parecem ser o e%emplo mais palpável de segmentação, na verdadesão constituídas pela fusão da metade superior de um segmento com a metade inferior do segmento

adjacente!Desta maneira, percebe-se ue a segmentação no embrião humano # parcial, e logo se dilui

em estruturas mais comple%as e interligadas! (l#m disso, seria de se perguntar se os restos destasegmentação são compatíveis com a segmentação proposta por Reich, já ue os cerca de C0 somitosteriam ue caber nos sete an#is da couraça!

(ui tamb#m não se observa uma compatibilidade, com m)sculos pertencentes a an#isdiferentes tendo origem e inervação de um mesmo nível embriolgico, e m)sculos de um mesmoanel tendo origem e inervação diversas! Fomo e%emplo do primeiro caso, os mm! escalenoscervicais5, o m! serrátil anterior torácico5, o m! grande dorsal abdominal5, e o diafragma t/morigem nos somitos cervicais! *o segundo caso, m)sculos do anel torácico podem ter origem

cervical mm! rombides5 ou torácica mm! intercostais5M e m)sculos do anel abdominal podem terorigem torácica m! reto abdominal5 ou lombar m! uadrado lombar, m! psoas ilíaco5 ocPhart etal!, 34LB, p! 2:05!

REICHIANOS, NEOREICHIANOS E OS ANÉIS DA COURAÇA

( forma de psicoterapia proposta por Reich gerou muitos desdobramentos! "%istem osreichianos, ue continuam a pensar e a trabalhar basicamente dentro dos moldes originais, comalgumas modificaç$es, detalhamentos e aperfeiçoamentos! "%istem tamb#m outras propostas de

 psicoterapia de abordagem corporal ue, embora influenciadas pelo pensamento reichiano, sedistanciam do mesmo uanto ; teoria e ; t#cnica! s membros deste segundo grupo t/m sidochamados genericamente de neo-reichianos!

Deve-se notar ue nenhuma das correntes neo-reichianas mais importantes está fundamentadano conceito de an#is da couraça tal como descritos por Reich! 9uanto aos reichianos atuais, a uestãodos an#is tem sido tratada de maneira tradicional IaPer, 34:05 ou modificada *avarro, 34:E5!

"m IaPer encontramos o conceito de an#is da couraça muscular, perpendiculares ao ei%o dacoluna vertebral, e uma descrição dos m)sculos componentes de cada anel basicamente igual ;encontrada no livro (nálise do Faráter! ?egundo ele, cada segmento responde como um todo e #mais ou menos independente dos demais, com a ressalva de ue esta autonomia não deverá sertomada em termos radicais IaPer, 34:0, p! L:5!

Sá a abordagem de *avarro parece levar em conta muitas das uest$es levantadas nesteartigo! conceito de anel da couraça # encontrado muito raramente nos seus livros sobre terapiareichiana na verdade, apenas uma ve7, na página 2B do segundo volume5! termo mais usado # o deníveis da couraça! ?egmento # outro nome utili7ado, por#m sempre afirmando e e%emplificando ainterdepend/ncia dos vários segmentos, e nunca confirmando a tese reichiana de ue a e%pressão de

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um segmento não se estende a outros! ( divisão dos níveis tamb#m não segue e%atamente a propostade Reich, sendo ue a língua e a fonação estão classificadas no segundo nível boca5, e os membrossuperiores e a parte alta do tra% no terceiro nível pescoço5! tra% não # considerado como umnível distinto, sendo a porção superior estudada em conjunto com o pescoço, e a parte inferior emconjunto com o diafragma! *ão se encontra em *avarro uma classificação anatOmica detalhada damusculatura componente de cada nível! ( /nfase # posta na e%pressão emocional, psíuica e

 psicossomática relacionada com cada segmento!Desta maneira, percebe-se ue hoje em dia e%istem propostas IaPer5 ue preservam uase

ue integralmente o pensamento reichiano original sobre a uestão! "%istem outras *avarro5, ue preservam a t#cnica da vegetoterapia segmentar, com algumas modificaç$es mais ou menosimportantes na teoria ue a embasa! " ainda os neo-reichianos Ioadella, IoUesen, Vaiarsa,Weleman, oXen5, cuja teoria e t#cnica não estão baseadas na segmentação da couraça muscular aolongo do ei%o longitudinal do organismo!

trabalho com t#cnicas neo-reichianas mostra claramente ue a mobili7ação não se restringeao nível transversal trabalhado! &re8entemente um trabalho de olhos mobili7a o diafragma, ou as

 pernas, por e%emplo! 1m trabalho p#lvico pode produ7ir o famoso bolo na garganta, e a dissolução

desse bloueio levar por sua ve7 a uma sensação de aperto e ang)stia no peito! u uma massagem na barriga levar a tremores e movimentos involuntários do uei%o e dos lábios! 6ais cenas são tãocomuns para a maioria dos psicoterapeutas reichianos e neo-reichianos ue não nos damos conta deue elas contradi7em a afirmação reichiana de ue sY m)sculos e rgãos do mesmo segmento sãocapa7es de indu7ir-se mutuamente a participar no movimento e%pressivo emocional p! AA35!

"ste fato # incorporado ;s t#cnicas de mobili7ação das várias correntes neo-reichianas, para permitir um trabalho adeuado sobre as e%citaç$es, pulsaç$es e mobili7aç$es ue não secircunscrevem a um s segmento! *a teoria isso tamb#m aparece nas diversas maneiras de conceberas couraças e bloueios corporais!

ser humano em seu corpo pode ser olhado de várias perspectivas! 1ma # a de segmentação

transversalmente ao ei%o longitudinal+ em E níveis e não an#is5 como na concepção reichianaM ou emA bolsas cabeça, tra%, abdome-pelve5 separadas por diafragmas pescoço e m)sculo diafragma5como proposto por Weleman! utra perspectiva # a da polaridade entre tronco e e%tremidadesperspectiva n)cleo-periferia ou da amebaZmedusa5, como proposta pela Iioenerg#tica oXen,34:25! (inda dentro da Iioenerg#tica, # possível raciocinar em termos da polaridade entre amusculatura da parte da frente do corpo e a musculatura das costas, uma perspectiva ue poderíamoschamar de Nntero-posterior! Diversos autores Ioadella, IoUesen, Weleman5 trabalham tamb#m comuma perspectiva derivada das camadas embriolgicas primitivas endoderma, mesoderma,ectoderma5, ue poderíamos chamar de conc/ntrica! (l#m destas, e%istem propostas de trabalhocorporal como as de Vodelieve ?truUf-DenUs, ue derivam de uma concepção de cadeias musculareslongitudinais, ou seja, uma forma de perceber a organi7ação da couraça onde os grupos de m)sculos

se disporiam de maneira perpendicular aos an#is reichianos! ue tudo isso demonstra # a riue7a de possibilidades de compreensão e intervenção sobre

um mesmo corpo biolgico! Fonforme se priori7em grupos musculares transversais, longitudinais ouNntero-posteriores, emergem t#cnicas )teis e maneiras de ver o ser humano ue abrem hori7ontes! mesmo ocorre tanto ao se priori7ar uma visão das diversas camadas conc/ntricas de tecidos e rgãoscomo ao se priori7ar uma visão da energia ue pulsa entre um n)cleo tronco5 e uma periferiae%tremidades5! @arece claro ue, mais uma ve7, todas estas abordagens são muito maiscomplementares do ue antagOnicas! @arecem fruto de um período inicial onde pioneiros foramdesbravando territrios ine%plorados e de repente descobrem-se todos vi7inhos uns dos outros!

CONCLUS!ES

Reich e%plicita seu conhecimento de ue as manifestaç$es físicas da histeria não seguem aanatomia e fisiologia dos m)sculos, nervos e tecidos, e sim parecem depender do significadoemocional das regi$es atingidas! @or#m, logo em seguida, ao tratar da couraça muscular do caráter,

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afirma ue os bloueios musculares individuais não seguem o percurso de um m)sculo ou de umnervoM são completamente independentes dos processos anatOmicos! (o e%aminar cuidadosamentecasos típicos de várias doenças, ; procura de uma lei ue governe esses bloueios, descobri ue acouraça muscular está disposta em segmentos p! AA05!

Desta maneira, parece ue Reich tentou escapar de uma concepção anatOmica estreita, mas se prendeu logo adiante a uma teoria ue padece, como vimos acima, dos mesmos defeitos básicos!

Freio ue a lgica dos bloueios musculares não deve ser buscada em estruturas perif#ricas, esim a partir da compreensão psicodinNmica de regi$es e estruturas afetivamente significativas! >stotradu7ido para a anatomia e a fisiologia significa caminhar na compreensão do funcionamento dasinstNncias do sistema nervoso central responsáveis pela integração entre a e%pressão emocional e aatividade locomotora!

Depois de todos estes uestionamentos, abrem-se dois caminhos+ manter a id#ia de divisão dacouraça muscular em an#is, reclassificando os m)sculos em uma nova divisão mais apropriadaM ouabandonar a id#ia de segmentação nos moldes reichianos!

(credito ue a segunda via # a mais adeuada, já ue a id#ia da e%ist/ncia de um verdadeiro

anel muscular não se verifica pelo menos nos segmentos ocular, oral, torácico, diafragmático eabdominal! " a concepção de segmentos estanues entre si tamb#m não se mostrou verdadeira,havendo m)sculos ue são dificilmente classificáveis e ue representam estruturas intermediárias oude transição entre dois ou mais segmentos! Fomo e%emplo maior deste caso está a musculatura

 paravertebral já discutida, e ue perpassa uase todos os an#is, numa massa indivisível anatOmica efuncionalmente!

(ssim, creio ue a concepção da e%ist/ncia, nos seres humanos, de an#is musculares perpendiculares ao ei%o c#falo-caudal, constituindo unidades isoladas e não-comunicantes umascom as outras uando participantes num movimento e%pressivo emocional, deva ser abandonadacomo anatomicamente inadeuada!

(os ue argumentam ue o conceito de an#is # funcional e não anatOmico, deve serlembrado ue+ a5 Reich, ao descrever os segmentos, o fe7 em bases anatOmicas, citando os m)sculoscomponentes, di7endo ue a mobili7ação de um segmento não chegaria at# os m)sculos de outrosegmento, e afirmando ue o anel seria um anel mesmo, na frente, dos dois lados, e atrás p! AA35Me b5 mesmo funcionalmente, percebe-se ue não se pode falar de uma segmentação estanue doorganismo humano, tendo sido mostrados in)meros e%emplos de ação coordenada e integrada, em)tua influ/ncia entre as diversas regi$es! (ssim, realmente parece ue não há espaço para oconceito de an#is musculares! @ode-se sim falar em níveis ou segmentos da couraça, desde ue see%plicite ue isso não implica serem eles estanues e independentes!

6em-se dito tamb#m ue os an#is citados por Reich não seriam musculares, e simenerg#ticos, correspondendo aos chaPras das tradiç$es hinduístas! "ntretanto, a comparação comte%tos destas tradiç$es 'uPtananda, 34:E5 revela ue esta correspond/ncia # parcial, havendo doischaPras em alguns an#is ocular e p#lvico5, e nenhum em outros oral e diafragmático5!

Reich disse ue na disposição segmentar da couraça muscular encontramos o verme nohomem p! AE25! comportamento de certas pessoas realmente nos fa7 acreditar na e%ist/ncia dealgo de um verme nos seres humanos, mas talve7 não e%atamente na segmentação do organismo!

?e a teoria dos an#is da couraça muscular parece tão sujeita a uestionamentos, cabe perguntar como fica a t#cnica baseada nessa teoria! Desde a sua formulação, na d#cada de A0, avegetoterapia vem sendo utili7ada, e tem se mostrado eficiente! @essoalmente já tive a oportunidadede verificar sua eficácia enuanto psicoterapeuta, e tamb#m como paciente! Reich afirmou ue umaatitude terica incorreta condu7, necessariamente, a uma t#cnica incorreta p! 2LA5! >sto #epistemologicamente incorreto, como já foi argumentado e e%emplificado em artigo anterior Rego,34425, sendo ue muitas ve7es uma teoria errOnea pode embasar atitudes e t#cnicas adeuadas!

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( vegetoterapia não depende do conceito de an#is da couraça muscular! *a verdade, bastaadmitir ue certas regi$es do corpo concentram possibilidades de e%pressão emocional, e ue amobili7ação adeuada das mesmas numa certa ordem na direção c#falo-caudal5 pode ser )til em

 psicoterapia! iteralmente conforme o dito popular, vão-se os an#is e ficam os dedos davegetoterapia! ue parece ruir sem o conceito de an#is musculares # a sua proposição enuanto)nica t#cnica correta de psicoterapia de abordagem corporal! 'as isso não # nenhuma novidade+ as

diversas correntes neo-reichianas tamb#m se mostram efica7es, apesar de abordagens bastantediferentes na prática e na teoria!

6alve7 uma das principais lacunas do trabalho baseado no conceito de an#is seja asubestimação do papel psicolgico da musculatura ligada ; movimentação da coluna vertebral! Daí avalidade, e a complementaridade, de concepç$es como a Iioenerg#tica, ue dá grande /nfase t#cnica; mobili7ação da musculatura dorsal, atrav#s de e%ercícios de arcos e outros oXen e oXen,34:B5!

ue se discute aui não desmerece a importNncia do trabalho pioneiro de Reich com acouraça muscular do caráter! @ercebe-se ue as bases gerais de suas concepç$es e as t#cnicas por ele

 propostas permanecem válidas, e ue a visão segmentar do organismo fa7 sentido não como a )nica

 possível, e sim como uma entre outras abordagens5! ue se uestiona verdadeiramente aui #simplesmente o conceito de an#is musculares!

Reich repetidas ve7es afirmou em seus escritos ue sabia estar pisando em terreno ainda nãodesbravado, e ue suas conclus$es teriam ue ser testadas, aperfeiçoadas, e mesmo refutadas caso semostrassem inadeuadas! "ntendo este artigo não como uma negação da obra de Reich, e sime%atamente o contrário, ou seja, uma contribuição ao seu desenvolvimento e uma afirmaçãoineuívoca de ue suas propostas continuam vivas e gerando desdobramentos tericos e práticos!

"nuanto não se chega a uma adeuada fundamentação anatOmica e fisiolgica do trabalho psicoterápico reichiano e neo-reichiano, acredito ser mais sábio seguirmos o e%emplo de &reud! "stetentou inicialmente, em 3:4B, descrever seus achados em termos neurolgicos no seu @rojeto para

uma psicologia científica! "ntretanto, ao perceber ue o ue descobrira não era compatível com aneurologia conhecida, desistiu de dar um substrato biolgico ;s suas concepç$es psicolgicas! Sá a partir de ( >nterpretação de ?onhos, ele falou sempre em um aparelho psíuico, dei%ando acone%ão com a base física do organismo para ser discutida e descoberta posteriormente Ricoeur,34EE5! Fomo bem pontua Ricoeur, o [@rojeto[ # um adeus ; anatomia sob a forma de uma anatomiafantástica! ?em d)vida, a tpica se enunciará sempre na linguagem de uma uase anatomia !!! masnenhuma locali7ação das funç$es e dos pap#is atribuídos ;s instNncias da tpica ulterior será jamaistentada! Deve-se mesmo ir mais longe+ essa )ltima tentativa tamb#m # o primeiro ato deemancipação da psicologia Ricoeur, p! EL- EE5!

Do mesmo modo, enuanto psicoterapeutas, o ue importa realmente # a imagem corporal, o

corpo simblico, o corpo ertico, o corpo onírico, o corpo virtual no di7er de Iriganti 34:E5, e não ocorpo puramente anatOmico e fisiolgico! ( nossa mat#ria prima imediata # o corpo psíuico!Fertamente devemos caminhar na integração deste corpo virtual com o corpo biolgico, real econcreto! " o primeiro passo neste sentido # nos livrarmos corajosamente de concepç$esinadeuadas, admitindo ue há muito por se fa7er nesse sentido! ?e acharmos ue já sabemos, nãohaverá o ue procurar!

RE"ER#NCIAS $I$LIO%RÁ"ICAS

I(W"R, "! &! - O La&iri'(o H)ma'o! ?ummus, ?ão @aulo, 34:0!

I\"?"*, V! - E'(re +i)- e Soma! ?ummus, ?ão @aulo, 34:L!

IR>V(*6>, F! R! - Cor.o /ir()al! ?ummus, ?ão @aulo, 34:E!

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&R"1D, ?! - @rojeto para uma @sicologia Fientífica 3:4B5! "dição ?tandard Irasileira das O&ra++icol0gica+ Com.le(a+ - 2a! ed!, vol! >! >mago, Rio de Saneiro, 34:E, p! A0A-C04!

V(>(R?(, S! (! - Co)ra1a M)+c)lar do Car2(er! ]gora, ?ão @aulo, 34:C!

K>*?K"(D, <! K! ^ R??", F! - A'a(omia Ca!ed!! >nterlivros, Rio de Saneiro, 3443!

S1*91">R(, ! F! ^ T(V, D! - Em&riologia M3dica e Com.arada  Aa! ed!! Vuanabara-

Woogan, Rio de Saneiro, 34:E! W""'(*, ?! - A'a(omia Emocio'al! ?ummus, ?ão @aulo, 3442!

(*V'(*, S! - Em&riologia M3dica Ca! ed!! "d! 'edica @anamericana, Iuenos (ires, 34:2!

FWK(R6, R! D! et al! - A'a(omia H)ma'a! >nteramericana, 'e%ico, 34LB!

<"*, (! - $ioe'erg3(ica! ?ummus, ?ão @aulo, 34:2!

<"*, (! ^ <"*, ! - E4erc5cio+ de $ioe'erg3(ica! ?ummus, ?ão @aulo, 34:B!

'1W6(*(*D(, ?! - 6)'dali'i! "l secreto de la vida 2a! ed!! "d! ?iddha \oga, 'e%ico, 34:E!

 *(.(RR, &! - Tera.ia Reic7ia'a 2 vol!5! ?ummus, ?ão @aulo, 34:E!

R">FK, <! - A'2li+e do Car2(er! 'artins &ontes, ?ão @aulo, 34:4!

 _________ - C7arac(er A'al8+i+ Ard! ed!! &arrar, ?traus ^ Virou%, *eX \orP, 34::!

R"V, R! (! - Fonceitos de bioenergia! Re/i+(a de Homeo.a(ia AH, BE+ A-34, 3442!

R>F"1R, @! - Da I'(er.re(a19o! "nsaio sobre &reud! >mago, Rio de Saneiro, 34EE!

?6R1\&-D"*\?, V! - Le+ C7ai'e+ M)+c)laire+ e( Ar(ic)laire+! 'imeo, Iru%elles, s!d!

<&-K">D"VV"R, V! - A(la+ de A'a(omia H)ma'a Ca! ed!!Vuanabara-Woogan, Rio de Saneiro,34:3!