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COLEGIADO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE Farmácia ANEMIA FERROPRIVA NA GESTAÇÃO Patrícia Buono dos Santos Rio de Janeiro 2012

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COLEGIADO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

Farmácia

ANEMIA FERROPRIVA NA GESTAÇÃO

Patrícia Buono dos Santos

Rio de Janeiro

2012

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PATRÍCIA BUONO DOS SANTOS

Aluna do Curso de Farmácia

Matrícula: 0823800147

ANEMIA FERROPRIVA NA GESTAÇÃO

Rio de Janeiro

Setembro de 2012

Trabalho de Conclusão de Curso, TCC,

apresentado ao Curso de Graduação em

Farmácia, da UEZO como parte dos

requisitos para a obtenção do grau de

Farmacêutico Generalista, sob a orientação

do Prof. Dr. André Luiz Fonseca de Souza.

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FICHA CATALOGRÁFICA

dos Santos, Patrícia Buono.

Anemia ferropriva na gestação. Rio de Janeiro, 2012.

I-X, f.: 43pg.

Monografia (Centro Universitário Estadual da Zona Oeste). Faculdade de

Farmácia, 2012.

Orientador: Prof. Dr. André Luiz Fonseca de Souza.

1. Anemia 2. Ferro 3. Gestação 4. Hemoglobina.

Monografia. I. dos Santos, Patrícia Buono. II. de Souza, André Luiz Fonseca.

III. Centro Universitário Estadual da Zona Oeste. IV. Anemia ferropriva na

gestação.

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ANEMIA FERROPRIVA NA GESTAÇÃO

Elaborado por Patrícia Buono dos Santos

Aluna do Curso de Farmácia da UEZO.

Esse trabalho de Graduação foi analisado e aprovado com

GRAU: 8

Rio de Janeiro, 17 de Setembro de 2012

Prof. Francisco José Rocha de Sousa, Doutor.

______________________________________________ Prof.ª Sabrina da Silva Dias, Doutora. ______________________________________________ Prof. André Luiz Fonseca de Souza, Doutor. Presidente

RIO DE JANEIRO, RJ- BRASIL

SETEMBRO DE 2012

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus e à minha família.

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Agradecimentos

A Deus, pela força espiritual e coragem durante toda esta longa caminhada.

Aos meus pais, Plínio e Silvana, pelo enorme orgulho a mim dedicado. Graças aos

seus esforços em me proporcionarem uma vida rica de oportunidades, construíram

as bases necessárias para minha chegada até aqui. A eles, que sempre acreditaram

em mim e me apoiaram ao longo deste percurso, o meu muito obrigado.

Ao meu namorado Marcelo Sundin, por estar ao meu lado sempre, independente

das circunstâncias. Agradeço pelo seu amor, carinho, compreensão, grande ajuda

que sempre me deu e, principalmente, pelas horas de lazer deixadas de lado para

me apoiar, me dar conselhos e fazer com que eu erguesse a minha cabeça para

seguir em frente.

Aos meus amigos e colegas de curso, em especial kamilla Vieira, Thays Leal,

Samira Julião, pela cumplicidade, ajuda e amizade.

Ao professor André Luiz, pela paciência na orientação deste trabalho.

E a todos os professores do curso, que foram tão importantes na minha vida

acadêmica.

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“É melhor tentar e falhar, que

preocupar-se e ver a vida

passar; é melhor tentar, ainda

que em vão, que sentar-se

fazendo nada até o final. Eu

prefiro na chuva caminhar, que

em dias tristes em casa me

esconder. Prefiro ser feliz,

embora louco, que em

conformidade viver..."

Martin Luther King

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Resumo

A anemia é uma doença causada principalmente pela diminuição da

concentração de hemoglobina no organismo que pode ser acompanhado pela baixa

contagem de eritrócitos e diminuição do hematócrito. Vários fatores etiológicos

podem desencadear um quadro anêmico nos diversos segmentos populacionais,

dentre eles, destacam-se os fatores nutricionais, sendo a carência de ferro a causa

mais comum das anemias. Estima-se que aproximadamente metade das mulheres

grávidas no mundo tenha anemia por deficiência de ferro, principalmente nos países

em desenvolvimento, sendo referido como o problema hematológico mais comum do

ciclo gestatório que pode levar a várias complicações materno-fetais. Sabe-se que

devido ao aumento do consumo de nutrientes, a gestação é um período

especialmente propício ao desenvolvimento de anemias carenciais, favorecendo

assim a manifestação de outras doenças, entre elas a anemia ferropriva. A baixa

concentração de hemoglobina pode ter efeito deletério para a mãe e para o feto. O

objetivo do presente trabalho consiste em revisar a literatura científica em bases de

dados sobre a anemia ferropriva na gestação, os fatores que desencadeiam esta

patologia, revisar alguns métodos clássicos de diagnóstico e tratamento no intuito de

buscar um melhor entendimento para esse importante problema de saúde pública.

Palavras- chave: anemia ferropriva, gestantes, concentração de hemoglobina.

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Abstract

Anemia is a disease caused mainly by decreasing the concentration of

hemoglobin in the body which may be accompanied by low red blood cell count and

hematocrit decrease. Several etiologic factors can trigger an anemic in various

population segments, among which stand out the nutritional factors, and iron

deficiency the most common cause of anemia. It is estimated that approximately half

of pregnant women worldwide have anemia due to iron deficiency, especially in

developing countries, referred to as the most common hematologic problem

obstetrical cycle that can lead to various maternal and fetal complications. It is known

that due to increased nutrient intake, pregnancy is a particularly favorable to the

development of deficiency anemia, thus favoring the manifestation of other diseases,

including iron deficiency anemia. The low hemoglobin concentration may have

deleterious effects for the mother and the fetus. The objective of this paper is to

review the literature in databases on anemia in pregnant women, the factors that

trigger this disease, review some classical methods of diagnosis and treatment in

order to obtain a better understanding to this important health issue public.

Key words: anemia, pregnant women, hemoglobin concentration.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Quantidade de glóbulos vermelhos.......................................................... 4

Figura 2. O enterócito e as proteínas envolvidas na absorção do ferro.................. 9

Figura 3. Sangue periférico de paciente com anemia ferropriva grave.................. 10

Figura 4. Hemácias na anemia ferropriva............................................................... 11

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Valores laboratoriais encontrados na anemia ferropriva em gestantes... 17

Tabela 2. Necessidade de Fe na gestante, por idade gestacional.......................... 17

Tabela 3. Absorção intestinal de ferro por via oral................................................... 19

Tabela 4. Indicações do tratamento da anemia ferropriva por via parenteral.......... 20

Tabela 5. Principais compostos com ferro disponíveis para o tratamento da anemia

ferropriva por via oral................................................................................................ 22

Tabela 6. Falhas no tratamento com ferro por via oral............................................ 22

Tabela 7. Principais características farmacológicas e diferenças entre sais ferrosos e

a ferripolimaltose...................................................................................................... 24

Tabela 8. Uso do ferro sacarato por via endovenosa.............................................. 28

Tabela 9. Comparação entre os principais compostos com ferro para uso

endovenoso.............................................................................................................. 29

Tabela 10. Número e percentagem de gestantes normais, ferro-deficientes e

anêmicas, segundo estrato social............................................................................ 32

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

VCM Volume Corpuscular Médio

NADPH Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo Fosfato, Forma Reduzida

CCD Centro de Controle de Doenças

CTLF Capacidade Total de Ligações de Ferro

DMT1 Transportadora de Metal Divalente 1

PM Peso Molecular

EUA Estados Unidos da América

OMS Organização Mundial da Saúde

EA Evento Adverso

dL Decilitro

Fe Ferro

fL Fentolitros

g Grama

Hb Hemoglobina

mL Mililitro

ng Nanograma

Da Dalton

KDa KiloDalton

x

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SUMÁRIO

RESUMO .................................................................................................................. vi

ABSTRACT............................................................................................................... vii

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................... viii

LISTA DE TABELAS ................................................................................................ ix

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS..................................................................... x

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 01

2 OBJETIVOS ......................................................................................................... 03

2.1 OBJETIVOS GERAIS ................................................................................... 03

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................................... 03

3 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................... 04

3.1 Anemia........................................................................................................... 04

3.2 Metabolismo do ferro..................................................................................... 05

3.3 Anemia ferropriva........................................................................................... 09

3.3.1 Fisiopatologia da anemia ferropriva...................................................... 11

3.3.2 Sintomas e diagnóstico ........................................................................ 14

3.3.3 Tratamento .......................................................................................... 18

3.3.3.1Tratamento: via oral ou parenteral........................................... 19

3.3.3.2 Via oral ................................................................................... 21

3.3.3.3 Via parenteral.......................................................................... 25

3.3.4 Consequências da anemia na gestação............................................... 30

3.3.5 Prevalência........................................................................................... 31

3.3.6 Prevenção............................................................................................. 32

3.3.7 Assistência farmacêutica...................................................................... 33

4 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 35

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 36

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1- INTRODUÇÃO

A anemia é uma das mais frequentes manifestações de doenças

hematológicas em todo o mundo. Até em países desenvolvidos, um terço dos

pacientes admitidos em nível hospitalar são anêmicos1. Na maioria dos casos, as

alterações hematológicas passam despercebidas ou são negligenciadas deixando

de serem diagnosticadas patologias graves cujo prognóstico poderia ter sido

mudado perante um diagnóstico mais adequado1. Anemia significa uma deficiência

de hemácias, que pode ser causada por perda muito rápida ou produção demasiado

lenta de hemácias2. Para detectar inicialmente um quadro anêmico é preciso realizar

uma análise detalhada do hemograma através da linhagem eritrocitária (série

vermelha do sangue). Já as dosagens de ferro e ferritina sérica garantem a etiologia

ferropriva da anemia3.

Na prática, um paciente é anêmico quando apresenta menos de 11g de

hemoglobina por 100mL de sangue (11g/dL) para mulher e criança e, menos de

12g/100mL (12g/dL) para o homem. No entanto, deve-se, acrescentar a esse

critério, que a hemoglobina seja funcionante e não desnaturada (meta-hemoglobina,

carboxi-hemoglobina ou sulfa-hemoglobina) e que o volume sanguíneo seja normal4.

As anemias podem ocorrer por diversos fatores etiológicos (perda sanguínea,

destruição excessiva de eritrócitos ou deficiência de sua produção). No entanto, as

anemias carenciais (deficiência de ferro, de vitamina B12 ou de folatos) se destacam

como as mais comuns, após as anemias por perda sanguínea5.

Isoladamente, a anemia por deficiência de ferro é a mais comum das

deficiências nutricionais do mundo e ocorre como resultado de perda sanguínea

crônica, perdas urinárias, ingestão e/ou absorção deficiente e aumento do volume

sanguíneo, bem como com o aumento do consumo, como é o caso das gestantes6.

Anemia ferropriva é definida como uma diminuição na concentração de

hemoglobina, tendo como consequência redução da reserva de ferro no organismo7.

O ferro é um nutriente essencial ao organismo, associado à produção de glóbulos

vermelhos e ao transporte de oxigênio dos pulmões para todas as células do corpo8.

A população de risco à deficiência de ferro são os lactentes, pré-escolares,

adolescentes e gestantes, independente da classe social e o estado nutricional, com

maior tendência nas classes de menor nível sócio-econômico7.

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Do ponto de vista da necessidade orgânica de ferro, as mulheres gestantes

constituem o grupo mais crítico. A demanda total do mineral durante o processo

gestacional, com um único feto, é triplicada, em virtude das necessidades do feto e

da placenta em crescimento, da volemia materna em expansão, bem como do

aumento da massa de eritrócitos e das perdas sanguíneas do parto. Além da

gestante, o feto precisa de ferro para formar hemoglobina e constituir uma reserva

para os primeiros três meses após o nascimento7.

Anemia na gravidez, definida como a presença no sangue periférico, de níveis

inferiores a 11g/dL de hemoglobina, é o problema hematológico mais frequente da

gestação, acometendo mais de 50% das grávidas no mundo, principalmente nos

países mais pobres, onde pode alcançar 88%, como na Índia. Dentre as diversas

causas etiológicas, a deficiência de ferro, é de longe, a mais prevalente86.

Neste contexto, o objetivo do presente trabalho consiste em revisar a

literatura científica em bases de dados sobre a anemia ferropriva em gestantes, os

fatores que desencadeiam esta patologia, revisar alguns métodos clássicos de

diagnóstico e tratamento no intuito de buscar um melhor entendimento para esse

importante problema de saúde pública, o que, por si só, justifica a realização deste

trabalho, bem como alertar o descaso para com esta doença que tem uma

prevalência bastante considerável.

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2- OBJETIVOS

2.1- OBJETIVOS GERAIS

Através da revisão bibliográfica, alertar o descaso dessa patologia que é

bastante incidente na população, mostrando a importância da adesão ao tratamento

da anemia ferropriva em gestantes.

2.2- OBJETIVOS ESPECÍFICOS

▪ Relatar sobre a fisiopatologia da anemia ferropriva;

▪ Relatar sobre a fisiopatologia da anemia ferropriva na gestação;

▪ Mostrar os possíveis diagnósticos para esta patologia;

▪ Mostrar as possíveis formas de tratamento;

▪ Relatar a importância da assistência farmacêutica na anemia ferropriva em

gestantes.

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3- REVISÃO DA LITERATURA

3.1- ANEMIA

Anemia é definida como a condição na qual o conteúdo de hemoglobina no

sangue está abaixo do normal (Hb < 11g/dL) como resultado da carência de um ou

mais nutrientes essenciais, seja qual for a causa dessa deficiência. As anemias

podem ser causadas por deficiência de vários nutrientes como Ferro, Zinco,

Vitamina B12 e Proteínas. Porém, a anemia causada por deficiência de Ferro,

denominada Anemia Ferropriva, é muito mais comum que as demais (estima-se que

90% das anemias sejam causadas por carência de Ferro)9.

A anemia é uma das complicações mais frequentes durante a gestação e,

dependendo da gravidade, pode ter efeito deletério para a mãe e para o feto. Logo,

são necessários prevenção e tratamento eficazes. Pode ser definida como

concentração sanguínea de hemoglobina abaixo dos valores de normalidade para

determinada faixa etária e sexo10.

Fonte: http://drauziovarella.com.br/doencas-e-sintomas/anemia

Figura 1. Quantidade de glóbulos vermelhos

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3.2- METABOLISMO DO FERRO

Presente na hemoglobina, este mineral é de extrema importância para o

transporte de oxigênio e dióxido de carbono, essenciais à respiração celular

aeróbica, além de participar de componentes de numerosas enzimas celulares,

importantes para o funcionamento do sistema imunológico, assim como dos

citocromos que são indispensáveis para a produção de energia, de enzimas no ciclo

do ácido cítrico, ribonucleotídeo redutase e NADPH redutase e, ainda, na síntese de

dopamina, serotonina, catecolaminas e, possivelmente, do ácido gama aminobutírico

e na formação de mielina. O ferro é um metal de transição e a extensão de sua

utilização biológica está na capacidade de existir em diferentes estados de oxidação,

formar diversos complexos, além de agir como um centro catalítico para diversas

funções metabólicas25,26.

Em condições normais, quando não há perdas sanguíneas ou processo de

gestação, a quantidade de ferro presente no organismo é altamente preservada,

sendo que apenas uma pequena quantidade é perdida a cada dia27.

Aproximadamente 40mg de ferro são necessários, por dia, para a utilização interna

do organismo humano, principalmente para substituição da hemoglobina. Grande

parte desta quantidade é proveniente da reciclagem dos suplementos de ferro

existentes no próprio organismo. A reciclagem fisiológica é tão eficaz que apenas 1

a 1,5mg de ferro, proveniente da absorção intestinal, é necessário para manter o

balanço interno25.

As quantidades médias necessárias diariamente para os homens adultos e

para as mulheres em idade fértil são cerca de 1,0mg e 1,5mg de ferro,

respectivamente. Na gestação, principalmente no segundo e terceiro trimestres, para

se preservar o balanço de ferro, são necessários 4 a 5mg de ferro, por dia. Na

infância, particularmente em períodos de rápido crescimento (6 a 24 meses), e na

adolescência, as necessidades de ferro são também bastante elevadas. As

necessidades diárias de ferro para crianças, adolescentes masculinos e

adolescentes femininos são 1,0mg, 1,2mg e 1,5mg, respectivamente25,27.

No organismo do homem adulto saudável existem de 4 a 5g de ferro. Desta

quantidade, 60 a 70% são classificados como essencial ou funcional e 30 a 40%

como reserva ou não-essencial28. O total de ferro hematínico (heme; orgânico) e

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ferro não-hematínico (não-heme; inorgânico) são distribuídos da seguinte forma: 70 -

75% ligado a hemoglobina; 3 - 5% a mioglobina; 20 - 25% como depósito no fígado,

no baço, na medula óssea, ligado à ferritina e à hemossiderina; 0,1 - 0,5% em

enzimas intracelulares e no plasma ligado à transferrina29.

O ferro essencial está incorporado à hemoglobina, mioglobina e certas

enzimas respiratórias (citocromos), que catalisam os processos de oxidação-redução

no interior da célula. O ferro não essencial pode ser encontrado nos estoques de

ferro do organismo, como a ferritina e a hemossiderina, além da transferrina28.

Os mecanismos de absorção e a biodisponibilidade das duas formas de ferro,

heme e não-heme, diferem-se marcadamente. Detalhes precisos quanto aos

mecanismos específicos da absorção intestinal de ferro, tanto seus mecanismos

bioquímicos como sua regulação, não são totalmente conhecidos. No entanto, a

absorção de ferro consiste de sua captação pelas células da mucosa, de seu

movimento através da célula e, por fim, sua liberação pela célula, para que possa

atingir a circulação30.

O ferro hematínico, altamente biodisponível e pouco afetado por fatores

dietéticos, é absorvido de forma distinta à do ferro não-hematínico, como complexo

de porfirina-heme intacto pelas células da mucosa intestinal. A porção heme é

absorvida após ser liberada da globina, no lúmem intestinal. Na célula da mucosa, o

radical heme sofre degradação enzimática pela ação da heme-oxigenase e o ferro é

liberado31.

O ferro não-hematínico é insolúvel em água e tem a absorção afetada pela

composição da dieta, além de outros fatores25,32. Encontrado nos alimentos,

principalmente na forma férrica, após a digestão, pela ação do ácido clorídrico

contido no suco gástrico, este tipo de ferro é reduzido a uma forma ferrosa, mais

facilmente absorvida. Apesar de ambas as formas serem solúveis no pH ácido do

estômago, somente o ferro ferroso permanece solúvel no duodeno31. A absorção do

ferro não-hematínico pode ser aumentada por substâncias, como o ácido ascórbico,

que formam quelantes de ferro de baixo peso molecular26, assim como as proteínas,

a frutose e o citrato, que formam complexos solúveis com o ferro, facilmente

absorvidos. Por outro lado, a absorção do ferro não-hematínico pode ser reduzida

por alguns componentes da dieta como os fosfatos, taninos, polifenóis e oxalatos,

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7

pois formam complexos insolúveis com o ferro, afetando assim sua

biodisponibilidade31.

No estômago, tanto o ferro heme quanto o ferro não-heme são liberados do

alimento e rapidamente formam complexos de ferro, solúveis e insolúveis,

respectivamente. No intestino, os complexos de ferro solúveis são captados pela

membrana da borda em escova. Depois da absorção, dependendo do estado

nutricional de ferro do organismo, este pode ser armazenado como ferritina no

citosol da célula intestinal, podendo retornar ao lúmem intestinal pela descamação

natural das células da mucosa, ocorrendo em um período que pode envolver de dois

a quatro dias ou ser rapidamente transportado através da célula e entrar no fluído

intracelular e no plasma26,31.

A absorção de ferro é afetada pela mucosa intestinal, pela quantidade e

natureza química do ferro ingerido nos alimentos, por alimentos presentes na dieta e

uma variedade de outros fatores, como o estado nutricional de ferro do organismo e

a taxa de produção de células vermelhas sanguíneas, que podem aumentar ou

reduzir sua biodisponibilidade. Quando os níveis de ferro absorvidos pela dieta são

adequados, a mucosa intestinal regulariza a sua absorção para manter constante o

conteúdo de ferro do organismo. Desta forma, apenas valores entre 5 e 10% do ferro

ingerido são absorvidos, por dia. Na deficiência do mineral, sua absorção pode

aumentar de 10 a 20% ou até 30%27,33 e, se as reservas de ferro no organismo

estiverem reduzidas ou caso a eritropoese seja acelerada, sua absorção pode variar

de 25 a 50%34.

A necessidade total de ferro elementar durante o período gestacional é de

aproximadamente 800 a 1000mg, o que equivale a um terço do ferro total do

organismo. Para suprir esta necessidade o organismo utiliza diversos mecanismos,

priorizando o novo ser que se desenvolve, pois, por exemplo, para a produção da

hemoglobina fetal, a utilização do ferro materno obtido através da placenta

independe do estoque do ferro da mãe35. Cerca de 300mg de ferro, ou mais, são

transferidos para o feto e a placenta. O feto necessita de ferro para formar

hemoglobina e constituir uma reserva para os primeiros três meses após o

nascimento, quando a ingesta do bebê é baixa. Até 500mg de ferro são

incorporados à hemoglobina materna à medida que o volume de glóbulos vermelhos

se expande36. Mesmo que parte dessa demanda seja compensada pela amenorréia

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e pelo aumento da absorção intestinal de ferro, a necessidade é tão elevada que

dificilmente pode ser preenchida somente com ferro alimentar, sendo que o aumento

da absorção de ferro varia de 0,8mg/dia no primeiro trimestre da gestação para

6,3mg/dia no segundo e terceiro trimestres37.

A deficiência de ferro pode ocorrer como resultado do balanço negativo

prolongado do mineral ou devido à falha do organismo em atender às necessidades

fisiológicas aumentadas. Fatores etiológicos múltiplos, em muitos casos, estão

envolvidos no desenvolvimento da deficiência. O balanço negativo de ferro pode

ocorrer em condições de baixo consumo de ferro biodisponível, de prejuízo na

absorção (acloridria, cirurgia gástrica e doença celíaca) e de aumento nas perdas de

ferro pelo organismo (sangramento gastrintestinal, fluxo menstrual excessivo,

doação de sangue, hemoglobinúria, sangramento auto-induzido, hemossiderose

pulmonar idiopática, telangiectasia hemorrágica hereditária, distúrbio de hemostasia,

insuficiência renal crônica, hemodiálise e “anemia do corredor”). As necessidades

fisiológicas aumentadas correspondem à infância, gravidez e lactação, pois

caracterizam-se por estados que apresentam necessidades aumentadas de ferro.

Dessa forma, os grupos mais vulneráveis ao desenvolvimento dessa deficiência são

os lactentes, crianças menores de 5 anos, gestantes e mulheres em idade fértil28,38.

A deficiência de ferro, caracterizada por longos períodos de balanço negativo,

pode levar ao esgotamento das reservas do organismo, dificultando assim a

produção de hemácias, ocasionando a anemia ferropriva. Neste sentido, a definição

de três estágios da deficiência no organismo é reconhecida. A deficiência de ferro

pré-latente ou a depleção de ferro, refere-se à redução nas reservas (ferritina sérica)

sem diminuição dos níveis de ferro sérico. A deficiência latente de ferro ocorre

quando são exauridas as reservas de ferro, mas o nível de hemoglobina permanece

acima do limite inferior do normal. Tal estágio caracteriza-se por algumas alterações

bioquímicas no metabolismo de ferro, principalmente a redução da saturação da

transferrina, assim como um aumento na capacidade total de ligação de ferro –

CTLF. A anemia ferropriva ocorre quando a concentração de hemoglobina no

sangue encontra-se abaixo do limite inferior do normal, ocorrendo também produção

de eritrócitos microcíticos34,38.

A absorção do ferro na sua forma ferrosa (Fe+2) ocorre por absorção ativa

através da proteína transportadora de metal divante 1 (DMT1) e por difusão passiva

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na membrana apical do enterócito e intercelular ou paracelular. Uma vez no

enterócito, o ferro (Fe+2) pode ser utilizado pela célula; permanecer sob a forma de

ferritina ou se dirigir à membrana baso-lateral onde, após passar pela ferroportina e

ser oxidado à Fe+3, será levado para locais de utilização ou armazenamento pela

transferrina61,62.

Fonte: http://radicaislivresbiobio.com.br/p/metabolismo-do-ferro_04.html

Figura 2. O enterócito e as proteínas envolvidas na absorção do ferro

3.3- ANEMIA FERROPRIVA

O ferro é um nutriente essencial ao organismo, associado à produção de

glóbulos vermelhos e ao transporte de oxigênio dos pulmões para todas as células

do corpo8.

Os alimentos constituem as principais fontes de ferro e podem oferecer dois

tipos diferentes desse nutriente: o ferro heme e o ferro não-heme. O primeiro, é

melhor aproveitado pelo organismo, e é encontrado especialmente na carne

vermelha e no fígado de todos os animais, assim como na carne das aves, peixes e

nos ovos. A absorção do ferro não-heme, presente nas verduras de folhas escuras

(espinafre, brócolis, couve, salsa, etc.), leguminosas (feijão, lentilhas, grão-de-bico,

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ervilhas, etc.); frutas (uvas, maçãs, nozes, amêndoas, castanhas, etc.) é menor e

menos eficiente8.

Em países desenvolvidos, cerca de 20% das gestantes apresentam anemia

durante a gestação. Nos países em desenvolvimento, o índice aumenta

significativamente, variando em torno de 35% a 75%11.

Entre as deficiências nutricionais mais comuns na gestação destaca-se a

anemia ferropriva, não só pela frequência com que se manifesta, mas também pelos

efeitos deletérios resultantes da baixa concentração de hemoglobina no sangue

tanto para a saúde materna como para a do recém-nascido12.

No ciclo gestatório, a anemia, especialmente por carência de ferro, pode estar

associada a aumento da mortalidade materna, mortalidade perinatal, prematuridade,

baixo peso ao nascer e morbidade do infante. Quarenta por cento de todas as

mortes maternas perinatais estão ligadas à anemia13,14.

As gestantes anêmicas devem ser tratadas imediatamente através da

modificação dos hábitos alimentares, fortificação de alimentos e suplementação

medicamentosa com sais de ferro15,16.

Constituem grupo de risco para a anemia ferropriva as mulheres em idade

fértil, idosos, crianças e adolescentes em fase de crescimento, e indivíduos que

passaram por cirurgia de redução de estômago. Contudo, qualquer pessoa

pode desenvolvê-la, se não receber a quantidade adequada de ferro na dieta ou

tiver dificuldade de absorção, que ocorre, sobretudo, nos intestinos e pode ser

mais eficiente quando associada à ingestão de vitamina C e proteínas8.

Fonte:http://www.ciencianews.com.br/doencaeritro/Principais%20Alt.%20Morf%20eritr.%20-%206/althemog.htm

Figura 3. Sangue periférico de paciente com anemia ferropriva grave (Hb: 5,8 g/dL)

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11

Fonte:http://www.mdsaude.com/2011/07/anemia-ferropriva-carencia-de-ferro.html

Figura 4. Hemácias na anemia ferropriva

3.3.1- FISIOPATOLOGIA DA ANEMIA FERROPRIVA

No período gestacional, ocorrem diversas modificações e adaptações do

organismo que têm como objetivo suprir o bom desempenho do funcionamento

fisiológico da mulher, suas demandas metabólicas e proporcionar um meio favorável

para o desenvolvimento fetal. A inadequação do estado nutricional materno tem

impacto sobre o crescimento e desenvolvimento do recém-nascido, pois o período

gestacional é uma fase no quais as necessidades nutricionais são elevadas,

ocasionadas pelos ajustes fisiológicos da gestação e das demandas de nutrientes

para o crescimento fetal17.

As modificações fisiológicas no organismo materno incluem alterações no

volume sanguíneo e nos fatores envolvidos com hemostasia, que têm como

consequência, a diminuição da concentração de hemoglobina10.

O volume sanguíneo começa a aumentar desde o primeiro trimestre, por ação

dos hormônios estrogênio e progesterona e sob a influência do sistema renina-

angiotensina- aldosterona. Atinge platô ao redor da 30ª semana, com aumento de

50% (1.200 a 1.500mL) em relação ao encontrado no período pré-conceptual18,19,

constituindo-se em um mecanismo protetor e essencial para a providência de uma

reserva de líquido que compensa a perda de sangue durante o parto e puerpério20.

Analogicamente, o débito cardíaco se eleva em 40% a 50%. Há um aumento da

massa eritrocitária em menores proporções, 20% a 30% (300mL) principalmente em

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12

resposta à atividade aumentada da eritropoetina e hormônio lactogênio placentário,

que estimulam a eritropoese medular (hiperplasia medular eritroide). A resistência

vascular periférica diminui, para acomodação desta expansão volumétrica18,19.

As adaptações gravídicas são possíveis não só pelo aumento da taxa de

absorção do ferro como também pelo aumento da transferrina circulante devido ao

estímulo estrogênico. No entanto, apesar de todos estes mecanismos

compensatórios, o aumento do volume eritrocitário é desproporcional ao aumento do

volume plasmático, gerando gradativamente queda do hematócrito, hemoglobina e

viscosidade sanguínea, conduzindo a um estado de hemodiluição (anemia fisiológica

da gravidez). As menores concentrações de hemoglobina circulante, decorrente das

adaptações gravídicas, não causam prejuízo para o binômio materno-fetal. A

perfusão e oxigenação tecidual são mantidas à custa do estado hipervolêmico, nesta

condição21.

As alterações no volume sanguíneo iniciam-se por volta da sexta semana de

gestação, e os mecanismos que as determinam são: o aumento da síntese proteica,

a maior absorção de sódio e água e a retenção hídrica resultante de sobrecarga

cardíaca imposta pela circulação útero-placentária. O aumento do volume

plasmático estabiliza-se por volta da trigésima segunda semana da gestação10.

Em decorrência do aumento do volume, ocorre um estado de hemodiluição

que caracteriza a anemia fisiológica, onde o aumento do plasma é superior à

produção de eritrócitos ocasionando, portanto, uma diminuição nos valores normais

de hemoglobina e do hematócrito10.

A anemia nutricional é definida como um estado em que a concentração de

hemoglobina no sangue é baixa em consequência da carência de um ou mais

nutrientes essenciais, qualquer que seja a origem dessa carência. É denominada

anemia ferropriva, quando este quadro ocorre devido à deficiência de ferro11. Esta

deficiência pode ocorrer como consequência do consumo insuficiente de ferro,

infecções, deficiências de vitamina A, ácido fólico ou vitamina B12, entre outras22.

Para compreender melhor a anemia ferropriva é preciso saber a forma como

a deficiência de ferro se instala no organismo humano. Têm sido apontadas três

etapas no seu desenvolvimento: a primeira delas é caracterizada pela diminuição

das reservas de ferro, a segunda pela depleção dessas reservas e na terceira ocorre

redução do nível de hemoglobina circulante7.

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13

A primeira etapa da deficiência envolve um desequilíbrio no balanço entre a

quantidade do mineral biologicamente disponível e a necessidade orgânica. Nessa

fase, além de promover maior absorção intestinal do mineral, o organismo passa a

mobilizar o ferro dos depósitos. Assim, para se diagnosticar a deficiência de ferro é

preciso avaliar a sua reserva. Antigamente, esse procedimento requeria técnica

complicada que envolvia o exame histológico da medula óssea para pesquisar a

presença de mancha de ferro. Atualmente, a determinação da reserva é feita pela

medida da concentração de ferritina no soro, a qual mantém estreita correlação com

o compartimento de reserva, onde o ferro se encontra sob a forma de ferritina e

hemossiderina7.

Na segunda etapa, quando as reservas do mineral estão praticamente

esgotadas, são utilizadas duas medidas para avaliar a adequação do suprimento de

ferro para a síntese de hemoglobina. São elas: a saturação da transferrina e a

concentração de protoporfirina eritrocitária7.

Já na terceira etapa da deficiência de ferro, a depleção das reservas do

mineral acarreta deterioração da qualidade e quantidade dos eritrócitos formados

(células menores e com baixa concentração de hemoglobina). Nesta etapa, quando

a anemia já instalada, é que a determinação da concentração de hemoglobina é

capaz de diagnosticar o quadro7.

O diagnóstico de anemia por deficiência de ferro na gravidez é difícil. Uma

vez que, comumente, as mulheres com esta anemia são assintomáticas, ela é

descoberta ao se realizar testes laboratoriais de rotina de acompanhamento pré-

natal23.

O volume corpuscular médio (VCM) aumenta discretamente durante os dois

primeiros trimestres e tende a mascarar uma carência não acentuada. Os estudos

do ferro, como as determinações séricas e a capacidade máxima de transporte, são

usualmente utilizados para a investigação da carência do mineral. O melhor teste

laboratorial para avaliar a quantidade do ferro disponível é a dosagem da ferritina

sérica, a qual está diretamente relacionada aos depósitos de ferro24.

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14

3.3.2- SINTOMAS E DIAGNÓSTICO

Estabelecer o diagnóstico de anemia por deficiência de ferro na gravidez é

difícil, uma vez que a hemoglobina está alterada pela hemodiluição de maneira

muito variável. Além disso, nesta condição, as mulheres comumente são

assintomáticas ou apresentam sintomas que podem ser atribuídos às alterações

fisiológicas que ocorrem normalmente na gestação23,39. Por ocasião do

acompanhamento pré-natal, o rastreamento para anemia deve ser realizado de

forma universal nas gestantes. Avaliação clínica adequada, com detalhada

investigação dos sintomas apresentados e minucioso exame físico são elementos

úteis para determinar a gravidade da patologia, bem como orientar o tratamento.

Nos quadros leves, sintomas como mal-estar, cansaço, fadiga podem se confundir

aos apresentados na gestação normal. Taquicardia, palidez cutânea, dispneia aos

esforços, ou mesmo ao repouso, indicam anemias moderadas ou severas40. Desse

modo, seria ideal conhecer o status de ferro da mulher no período pré-concepcional,

com a finalidade de verificar se a mesma iniciou ou não a gestação com bons

estoques do mineral39.

O hemograma é o exame fundamental para o diagnóstico da anemia. Hoje em

dia, é realizado em contadores eletrônicos de grande porte que contam e medem os

eritrócitos e geram curvas de frequência com médias e coeficientes de variação,

definindo os parâmetros numéricos da população eritróide. As máquinas mais

eficazes distinguem e contam os eritrócitos mais jovens (reticulócitos), permitindo-se

assim uma avaliação da produção diária e da resposta regenerativa à anemia5.

Com a utilização do microscópio é possível caracterizar a grande maioria dos

casos de anemia quanto a seu mecanismo de produção (patogênese), o que leva ao

diagnóstico da doença ou evento básico causal (etiologia). Desta forma, quando a

patogênese é a produção inadequada de hemoglobina, seja por falta de ferro ou por

defeito genético na síntese, o hemograma evidenciará a presença de eritrócitos

menores que o normal (microcitose), por falta de conteúdo41.

Para decisões clínicas individuais ou em regiões onde haja recursos

adequados de diagnóstico, a hemoglobina deveria, sempre que possível, ser

interpretada juntamente com outros critérios para o esclarecimento do diagnóstico,

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15

uma vez que a utilização de mais de um indicador aumenta consideravelmente a

especificidade do mesmo11,42,43.

As modificações fisiológicas da composição sanguínea tornam difícil o

reconhecimento da condição patológica e o diagnóstico correto de anemia na

gestação, exigem, por vezes, extensa investigação laboratorial44. Na avaliação das

alterações hematimétricas que ocorrem na gestação, com frequência, têm sido

utilizados, valores de hematócrito, hemoglobina, volume corpuscular médio (VCM) e

ferritina sérica45. Entretanto, em regiões onde os recursos de saúde são baixos ou

intermediários, com incidência elevada de anemia, a hemoglobina e o hematócrito

podem ser utilizados como testes de triagem ou até mesmo para confirmação

diagnóstica. Amplamente, dentre os testes para avaliar o status do ferro no

organismo, pode-se utilizar a dosagem do ferro sérico, a capacidade total de fixação

de ferro, a saturação da transferrina, a protoporfirina eritrocitária e mais

recentemente, o receptor de transferrina11.

Com base na morfologia dos eritrócitos, a anemia pode ser classificada em

normocítica, microcítica ou macrocítica. Com o advento dos contadores eletrônicos

de células, critérios mais apropriados foram acrescentados na avaliação morfológica

dos eritrócitos sendo que o VCM, por não estar tão intimamente relacionado com

deficiências agudas de ferro, torna-se o índice de excelência para definição

morfológica. Uma vez que a anemia por deficiência de ferro é em geral do tipo

microcítica, ou seja, um VCM abaixo de 80 fentolitros (fL), seria conveniente associá-

lo à hemoglobina para firmar o diagnóstico, particularmente na gestação, devido à já

referida hemodiluição fisiológica que por si só altera os valores da hemoglobina44.

A ferritina sérica tem sido referida como a medida mais sensível para detectar

a depleção do ferro armazenado, na ausência de infecção ou inflamação, e tem sido

também um critério útil para o diagnóstico da anemia por deficiência de ferro46.

Utilizada juntamente com a dosagem de hemoglobina, a ferritina sérica aumenta a

especificidade do diagnóstico42,46. Todavia, durante o período gestacional, sua

utilização e interpretação fica prejudicada pela ocorrência de um consumo

significativo desses estoques, levando a valores reduzidos de ferritina no fim da

gravidez, mesmo considerando a suplementação de ferro adequada nesse período e

havendo produção adequada de eritrócitos pela medula óssea47,48.

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16

Os níveis de ferritina são geralmente baixos na mulher durante toda vida

reprodutiva e desta forma muitas mulheres já iniciam a gestação com baixas

reservas de ferro46.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece o limite de 11,0g/dL,

abaixo do qual se define a anemia na gestação11,39. Alguns autores baseados no

fato de que os efeitos indesejáveis atribuídos à anemia não são evidenciados com

esse ponto de corte, ressaltam a necessidade de se rever os critérios atualmente

vigentes na definição de anemia na gestação, propondo limites de concentração de

hemoglobina de 10,0 ou 10,5g/dL39.

O Centro de Controle de Doenças (CCD), com base em dados obtidos de

mulheres norte-européias não suplementadas e gestantes norte-americanas em

início de gestação, propõe uma curva normal de hemoglobina com diferentes pontos

de corte, de acordo com o período da gestação, admitindo um limite inferior, por

volta de 10,3g/dL entre 20 e 24 semanas de gestação, equivalente a meados do

segundo trimestre45.

Puolakka et al., 46 utilizam pontos de corte da hemoglobina para definir anemia

de acordo com o trimestre de gestação, sendo 11,0g/dL para o primeiro e terceiro

trimestre e 10,5g/dL para o segundo.

Marinho e Chaves49, consideram anemia na gestação quando a concentração

de hemoglobina está abaixo de 11,0g/dL ao término do primeiro trimestre e abaixo

de 10,0g/dL, no segundo e terceiro trimestres.

Segundo Rezende e Coslovsky50, as modificações fisiológicas dificultam o

reconhecimento de condições patológicas e assim consideram que o diagnóstico

correto de anemia na gestação exige extensa investigação laboratorial, tais como:

dosagem de hemoglobina, VCM, ferritina, ferro sérico, capacidade total de fixação

de ferro no sangue periférico e saturação da transferrina.

De acordo com as definições de morbidade materna, considera-se anemia

grave quando a ocorrência de níveis de hemoglobina é abaixo de 7,0g/dL e anemia

moderada quando os valores estiverem entre 7,0g/dL e 10,0g/dL11,45. Por outro lado,

a concentração da hemoglobina apresenta variações individuais e depende de

circunstâncias que nem sempre estão relacionadas com deficiências nutricionais.

Entretanto, esta tem sido usada para avaliar a anemia em consequência da

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17

necessidade de se estabelecer uma definição aplicável à população com um teste

sanguíneo simples51.

A quantificação dos índices hematimétricos apresenta valor limitado para o

diagnóstico da anemia ferropriva. Na gestação, o VCM aumenta, discretamente

durante os dois primeiros trimestres, podendo mascarar uma deficiência de ferro. A

ferritina sérica é considerada o melhor teste laboratorial para avaliar a quantidade de

ferro disponível, por estar diretamente relacionada ao seu depósito orgânico. Na

tabela 1 encontramos os valores dos testes utilizados para o diagnóstico de anemia

ferropriva na gestação40.

Tabela 1. Valores laboratoriais encontrados na anemia ferropriva em gestantes

Exame Valor I

Hemoglobina < 11g/dL

Ferritina sérica < 12ng/mL

Capacidade total de ligação do ferro > 400mcg/dL

Ferro plasmático < 50mcg/dL

Índice de saturação da transferrina < 16%

Volume corpuscular médio (VCM) Diminuído

Hemoglobina corpuscular média (HCM) Diminuída

Fonte: Adaptado de Cançado, R.D., 2009.

A necessidade extra de ferro de uma gestante pode ser esquematizada

conforme verificado na tabela 2.

Tabela 2. Necessidade de ferro na gestante, por idade gestacional

Idade gestacional (meses)

Fe mg/mês 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Total

Expansão da volemia (1,21) 04 12 32 39 61 95 114 101 --- 458

Feto + placenta 06 11 15 30 38 47 65 93 63 370

Perdas no parto --- --- --- --- --- --- --- --- 150 150

Total 10 23 47 69 99 142 182 194 213 1.178

Fonte: Adaptado de INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP (INACG). Iron deficiency in women. New York, 1981.

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18

3.3.3- TRATAMENTO

O tratamento da anemia ferropriva foi introduzido por Blaud, em 1832, com

um composto cujo principal constituinte era o carbonato férrico. A "pílula de Blaud"

permaneceu por mais de cem anos como o melhor tratamento para deficiência de

ferro, até o aparecimento de novos compostos com ferro52.

O tratamento consiste da orientação nutricional, administração por via oral ou

parenteral de compostos com ferro e, eventualmente, transfusão de hemácias52.

A estratégia de combate à deficiência de ferro e à anemia ferropriva está bem

estabelecida, consistindo nos seguintes pontos: modificação dos hábitos

alimentares, diagnóstico e tratamento das causas da perda de sangue, controle de

infecções que contribuem com a anemia, fortificação de alimentos e suplementação

medicamentosa com sais de ferro11,39.

Uma vez instalada a anemia, deve-se corrigir o déficit e repor os estoques de

ferro através do uso de ferro medicamentoso e, em caso de perda crônica de

sangue, identificar e tratar a causa. O medicamento sulfato ferroso é o melhor

indicado devido a sua boa absorção e baixo custo53.

Para gestantes, a dose de ferro para o tratamento é de 60mg/Kg/dia. Por mais

que a melhora clínica e a normalização das concentrações de glóbulos vermelhos e

de hemoglobina ocorram precocemente com a reposição de ferro, a dose

terapêutica deve ser mantida durante 3 a 4 meses para a reposição dos estoques

deste mineral. Alguns cuidados devem ser tomados para aumentar a absorção do

ferro, como: ingerir 30 a 60 minutos antes das refeições; não diluir o medicamento

em nenhum líquido e ingerir suco de frutas cítricas após a administração do

medicamento. O sulfato ferroso pode provocar alguns eventos adversos com o seu

uso como: náuseas, indigestão, constipação e diarreia que, em geral, são

proporcionais à quantidade de ferro ingerida5.

Pode-se tentar solucionar esse problema através do aumento gradativo e do

escalonamento das doses ao longo do dia. Caso essas medidas não resolvam,

pode-se substituir o sulfato ferroso pelo gliconato ferroso, no entanto, exige um

tratamento mais prolongado devido ao seu menor conteúdo de ferro elementar5.

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19

3.3.3.1- TRATAMENTO: VIA ORAL OU PARENTERAL

A terapia por via oral é a primeira opção de tratamento. Recomenda-se dose

de 120 a 180mg de ferro elementar (2 a 5mg/kg/dia), administrada duas ou três

vezes, de preferência uma hora antes das principais refeições. A resposta ao

tratamento é considerada adequada quando se constata incremento de 50% ou mais

dos valores iniciais da hemoglobina após trinta dias de administração, e o tempo de

tratamento para reposição das reservas maternas depende da intensidade da

deficiência de ferro e correção da causa da patologia. Contudo, a efetividade do

tratamento depende da capacidade de absorção intestinal, da intensidade da anemia

e, principalmente, da tolerância ao tratamento oral, acompanhado por efeitos

colaterais, principalmente os gastrointestinais. Em aproximadamente 10 a 40% dos

pacientes, a intolerância é tão intensa que inviabiliza o tratamento por via oral35,54.

Na tabela 3 observa-se o aumento do valor basal em jejum da concentração

do ferro sérico menor do que 100µg/mL, sugerindo absorção intestinal de ferro

inadequada55.

Tabela 3. Absorção intestinal de ferro por via oral

Teste de absorção intestinal do ferro por via oral

Dosagem do ferro sérico com o paciente em jejum

Ingestão de 60mg de ferro elementar por via oral com água

Após uma a duas horas, dosar novamente o ferro sérico e comparar este valor com o do paciente em jejum

Fonte: Adaptado de Cook, J.D., 2005.

A reposição com ferro por via oral é eficaz no tratamento da maioria dos

pacientes com anemia ferropriva, entretanto, em alguns casos específicos, nos quais

a terapia por via oral é insuficiente para normalizar a Hb e/ou restabelecer os

depósitos normais de ferro, a administração do mineral por via parenteral é uma

alternativa eficaz, efetiva e segura, e deve ser considerada55,56.

A terapia com ferro parenteral constitui uma alternativa eficaz para os casos

de intolerância ao tratamento oral, quer seja por dificuldade de ingestão ou

absorção, onde a reposição oral mostra-se insuficiente para suprir as necessidades

orgânicas, ou, ainda, em situações em que a deficiência de ferro é grave

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20

(hemoglobina inferior a 7,0g/dL), após a 14ª semana, e também quando se pretende

resposta mais rápida para diminuir as chances de transfusão de hemácias57.

As principais indicações de tratamento com ferro por via parenteral estão

relacionadas na tabela 455.

Tabela 4. Indicações do tratamento da anemia ferropriva por via parenteral

Principais indicações do tratamento da anemia ferropriva com ferro por via parenteral

Intolerância ao ferro por via oral determinada pela ocorrência de eventos adversos que levaram ao abandono do tratamento

Resposta insatisfatória com o ferro por via oral, geralmente devido à má absorção, que ocorre em situações tais como: gastroplastia redutora, gastrectomia, doença gastrintestinal inflamatória crônica, incluindo infecção pelo H. pylori, doença celíaca e gastrite atrófica autoimune

Situações de hemorragia recorrente (gastrointestinal, ginecológica) nas quais a quantidade de ferro absorvida por via oral não é suficiente para atender a demanda proveniente da perda excessiva de ferro secundária ao sangramento

Anemia ferropriva intensa (Hb < 8g/dL) em paciente hemodinamicamente estável com o objetivo de se obter resposta terapêutica mais rápida e diminuir o risco da necessidade de transfusão de hemácias

Anemia moderada a intensa em gestantes (a partir do segundo trimestre de gestação), pós-parto ou puerpério, principalmente quando há necessidade de rápida recuperação dos níveis de Hb e dos depósitos de ferro, minimizando eventual necessidade de transfusão de hemácias

Resposta terapêutica mais rápida, sobretudo em pacientes em programação de cirurgia eletiva de médio a grande porte, cujo intervalo entre o tratamento e o procedimento cirúrgico seja de pelo menos 3 semanas

Normalização mais rápida dos estoques de ferro evitando o uso prolongado da terapia por via oral e seus efeitos adversos

Pacientes com doença renal crônica não dialítica com ferritina sérica < 100ng/mL ou em diálise com ferritina sérica < 200ng/mL a fim de assegurar e otimizar a resposta à administração de agente estimulador da eritropoese

Situações especiais, como programas de autotransfusão de pré-depósito, questões religiosas (pacientes testemunhas de Jeová)

Fonte: Adaptado de Cook, J.D., 2005.

A transfusão de hemácias é indicada mais raramente no período pré-natal,

porém, nos casos de anemia intensa, grave, com hemoglobina menor que 7,0g/dL,

com descompensação materna; associação com outras doenças; prejuízo da

vitalidade fetal; risco de procedimento cirúrgico ou parto emergencial, tal

procedimento se justifica para prevenir as complicações maternas fetais

provenientes da anemia57,58.

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21

3.3.3.2- VIA ORAL

Os principais suplementos de ferro disponíveis e comercializados em

diferentes países, inclusive no Brasil, são: sais ferrosos; sais férricos; ferro

aminoquelado; complexo de ferro polimaltosado (ferripolimaltose) e ferro carbonila55.

A dose terapêutica de ferro elementar recomendada para o tratamento da

anemia ferropriva é de 3 a 5mg/kg/dia por um período suficiente para normalizar os

valores da hemoglobina (Hb), de um a dois meses; e restaurar os estoques normais

de ferro do organismo, de dois a seis meses, ou até obter o valor de ferritina sérica

de, pelo menos, 15 e 30ng/mL para crianças e adultos, respectivamente. Portanto, a

duração do tratamento pode mudar amplamente, dependendo da intensidade da

deficiência de ferro, da sua causa e da dose diária administrada55,59.

Administração de doses diárias acima de 200mg não são recomendadas.

Nesse caso, a mucosa intestinal atua como barreira, impedindo a interiorização e

absorção do ferro60.

Os principais critérios de uma boa resposta ao tratamento por via oral são:

maior tolerância à atividade física; redução ou desaparecimento de sintomas e sinais

relacionados à deficiência de ferro (cansaço, queda de cabelo, etc); reticulocitose,

que já pode ser observada entre o 3° e o 5° dia do início do tratamento e é máxima

entre o 8° e 10° dia; e o aumento do valor da Hb de, pelo menos, 2g/dL após duas a

três semanas de tratamento59,61.

Os principais sais de ferro disponíveis para suplementação por via oral estão

relacionados na tabela 561.

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22

Tabela 5. Principais compostos com ferro disponíveis para tratamento da anemia

ferropriva por via oral

Composto com ferro

Peso em mg do sal de ferro por comprimido

Quantidade em mg de ferro elementar

por comprimido

Observação

Ferripolimaltose 333 100 1mL (20 gotas) contém 50mg de ferro

elementar; 10mL do xarope contém 100mg

de ferro elementar

Sulfato ferroso 300 40 a 60 1mL (20 gotas) contém 25mg de ferro

elementar; 10mL do xarope contém 80mg

de ferro elementar

Fumarato ferroso 200 30 a 60 ---

Gluconato ferroso 300 36 ---

Ferro quelato glicinato

150 a 300 30 a 100 Flaconete de 5mL com 50mg de ferro

elementar

Fonte: Adaptado de Cook, J.D., 2003.

As causas mais frequentes de falha no tratamento com ferro por via oral, ou

de sua refratariedade, estão relacionadas na tabela 660.

Tabela 6. Falhas no tratamento com ferro por via oral

Causas mais frequentes de falha no tratamento com ferro por via oral

Continuidade da perda de sangue por falha na identificação ou correção de sangramento e/ou de distúrbio de absorção de ferro

Medicação usada inadequadamente – baixa adesão ao tratamento devido aos EA gastrointestinais e/ou dose inadequada e/ou duração insuficiente

Doença coexistente interferindo na resposta ao tratamento com ferro por via oral – doença renal crônica; doença inflamatória ou infecciosa associada

Doenças associadas com distúrbio de absorção do ferro – doença celíaca, gastrite atrófica autoimune e infecção pelo helicobacter pylori

Diagnóstico incorreto

Interação medicamentosa

Deficiências nutricionais combinadas

Causas genéticas de deficiência de ferro

Fonte: Adaptado de Alleyne, M.; Horne, M.K.; Miller, J.L., 2008.

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23

a) VIA ORAL: SAIS FERROSOS

São rapidamente absorvidos e bastante eficazes em corrigir os níveis de

hemoglobina e normalizar os estoques de ferro do organismo. Entretanto, o ferro

ferroso apresenta algumas desvantagens que acabam limitando o seu uso e sua

efetividade, comprometendo assim o sucesso terapêutico55.

Os sais ferrosos podem interagir com substâncias como fitatos, polifenóis e

outros componentes da dieta na luz intestinal, formando complexos insolúveis que

impedem a sua absorção. Por isso, recomenda-se que o ferro ferroso seja ingerido

com o estômago vazio, uma hora antes das refeições, entre as refeições ou até

mesmo antes de dormir. Estima-se que a quantidade de ferro absorvida com um

comprimido de sulfato ferroso, quando administrado antes da refeição, corresponde

à quantidade de ferro absorvida com três comprimidos deste composto quando

administrado após a refeição55,60.

Por outro lado, a possibilidade de absorção ativa e passiva confere ao sal

ferroso duas importantes desvantagens. Uma maior quantidade de ferro absorvida

pode ultrapassar a capacidade de saturação da transferrina, e ocasionar a presença

de ferro não ligado à transferrina e, sobretudo, do ferro livre plasmático, que

corresponde à fração do ferro livre mais tóxica para o organismo e maior risco de

intoxicação aguda em casos de sobredose deste sal. Doses excessivas do sal pode

superar facilmente a proteção da mucosa e ocasionar uma toxicidade aguda61,62.

A quantidade de ferro elementar varia conforme o sal ferroso. O sulfato

ferroso, fumarato ferroso e gluconato ferroso contêm 20%, 33% e apenas 12% de

ferro elementar, respectivamente. A quantidade absorvida varia entre < 5% a no

máximo 50%, e dá-se predominantemente por absorção ativa nos enterócitos

duodenais, independente do tipo de sal ferroso utilizado61,62.

b) VIA ORAL: COMPLEXO DE FERRO POLIMALTOSADO

O hidróxido de ferro férrico (Fe+3) polimaltosado não iônico, também

conhecido como ferripolimaltose, é um complexo hidrossolúvel, constituído de

hidróxido de ferro férrico polinuclear e dextrina parcialmente hidrolizada

(polimaltose). A superfície dos núcleos de hidróxido de ferro (Fe+3) polinuclear está

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rodeada por várias moléculas de polimaltose ligadas por união covalente, o que

resulta em um complexo de peso molecular (PM) de aproximadamente 52.300 Da63.

Acredita-se que a ferripolimaltose liga-se às moléculas de DMT1 na superfície

apical dos enterócitos, predominantemente duodenais, e que haja um intercâmbio

competitivo de ligantes, denominada absorção fisioativa ou fisiologicamente

controlada, ou seja, o ferro férrico desliga-se da polimaltose e, após a redução à

Fe+2 na membrana apical, este se liga a receptores da proteína DMT1 através da

qual o ferro Fe+2 chega ao citoplasma onde pode permanecer sob a forma de

ferritina ou dirigir-se à membrana baso-lateral onde, após passar pela ferroportina e

ser oxidado à Fe+3, será levado para locais de utilização ou armazenamento pela

transferrina62,63.

Na tabela 7 é relatado as principais diferenças entre os sais ferrosos e a

ferripolimaltose64.

Tabela 7. Principais características farmacológicas e diferenças entre sais ferrosos e

a ferripolimaltose

Parâmetro Sais ferrosos Ferripolimaltose

Absorção Mais rápida, difusão ativa e passiva não

controlada

Mais lenta, difusão ativa fisiologicamente

controlada

Administração Jejum Durante ou após a refeição

Eficácia Elevada Elevada

Frequência de eventos adversos

Elevada (5% a 45%) Baixa (0% a 15%)

Estresse oxidativo nas células da mucosa do trato gastrointestinal

Presente Ausente

Mancha nos dentes Sim Não

Tolerância e adesão ao tratamento

Menor Maior

Fonte: Adaptado de Jacobs, P.; Wood, L.; Bird, A., 2000.

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25

c) VIA ORAL: SAIS AMINOQUELADOS

Os sais aminoquelados são resultado da união covalente do ferro em sua

forma ferrosa (Fe+2) ou férrica (Fe+3) a um ligante orgânico. A molécula resultante é

um metal quelado, que tem como finalidade apresentar uniões de quelação

suficientemente fortes para resistir à ação de enzimas e proteínas da digestão, e de

substâncias naturais presentes nos alimentos, como fitato, folato, ácido tânico. Além

disso, protege os átomos de ferro, diminuindo a exposição direta das células da

mucosa gastrointestinal a este metal, o que poderia reduzir a toxicidade local65.

Os aminoácidos são os ligantes orgânicos mais frequentemente utilizados,

pelo fato destes serem captados em sua grande maioria no jejuno, onde estas

proteínas são hidrolisadas e absorvidas65.

Embora dezenas de compostos aminoquelados tenham sido formulados, os

mais estudados são o bisglicinato (que contém 20% de ferro elementar), o

trisglicinato férrico e a glicina-sulfato ferroso65.

3.3.3.3- VIA PARENTERAL

Os principais medicamentos com ferro disponíveis e comercializados em

diversos países para uso por via parenteral são: ferro dextran, ferro gluconato, ferro

sacarato e, atualmente, a carboximaltose férrica66,67.

a) VIA PARENTERAL: FERRO DEXTRAN

O ferro dextran é uma solução coloide de óxi-hidróxido férrico com dextran

polimerizado, de PM de aproximadamente 96.000 Da, que pode ser administrado

por via endovenosa ou intramuscular. Na década de 80, o ferro dextran de alto PM

foi considerado como o medicamento de escolha para o tratamento da anemia

ferropriva por via endovenosa55,56.

Por ser uma macromolécula, de baixa estabilidade e elevada antigenicidade,

a administração tanto intramuscular como endovenosa exige a realização de dose

teste com 0,5mL ou 25mg previamente ao início do tratamento. No caso de

aplicação endovenosa, dilui-se a dose total do composto a ser administrado em

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500mL de solução salina, administra-se como pré-medicação difenidramina com ou

sem corticosteroide, e os primeiros 20 a 30mL devem ser administrados em pelo

menos cinco minutos. Deve ocorrer o monitoramento do paciente quanto ao

aparecimento de sinais e sintomas de reações alérgica, de hipersensibilidade e

anafilática. Se não houver eventos adversos, após 15 a 30 minutos da dose teste,

recomenda-se continuar a infusão da solução em três a quatro horas55,56.

O ferro dextran tem uma vida média plasmática de seis horas. Uma vez

administrado, o ferro desliga-se do dextran e é liberado para o sistema mononuclear

fagocitário, onde é armazenado sob a forma de ferritina ou transportado pela

transferrina à medula óssea. A vantagem deste composto é a possibilidade de

serem administradas doses relativamente altas, de 500 a 2.000mg em uma única

administração68.

Dor e hiperpigmentação da pele por impregnação do ferro no tecido celular

subcutâneo são as principais reações locais com a aplicação do ferro dextran por via

intramuscular. Já em relação à aplicação endovenosa, o evento adverso (EA) mais

temido é a reação anafilática grave, cuja incidência é da ordem de 0,5% a 1%; pode

ocorrer dentro de alguns minutos após o início da infusão e, em alguns casos, essa

complicação é fatal. Segundo a OMS, houve a notificação de 31 óbitos em 12

milhões de doses administradas do ferro dextran por via endovenosa, mas nenhum

óbito em 25 milhões de doses administradas do ferro gluconato e ferro sacarato68.

Podem ser observadas também reações de hipersensibilidade tardias, de 24

a 48 horas até semanas após a aplicação, tais como: febre, mal-estar, cefaleia,

linfonodomegalia, artralgia e mialgia. A ocorrência de reação tardia pode ser

observada em mais de 10% dos pacientes tratados68.

Foi introduzido no mercado, há alguns anos, o ferro dextran de baixo PM, que

acredita-se ser uma molécula mais estável, menos imunogênica e, portanto, com

menor taxa de reações anafiláticas que as observadas com o de alto PM. Este

produto ainda merece estudos científicos mais pormenorizados e com mais

indivíduos analisados, embora estudos clínicos prospectivos tenham demonstrado a

eficácia e segurança deste composto em gestantes e pacientes com doença renal

crônica. Este produto não se encontra disponível no Brasil66,68.

Na década de 80, a constatação de EA graves mencionados anteriormente

gerou grande temor na utilização de ferro por via endovenosa. Por outro lado, diante

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da necessidade de tratamento da deficiência de ferro em grupos selecionados de

pacientes, desde o início da década de 90, foram desenvolvidos e comercializados

novos compostos para uso parenteral, como: o ferro gluconato, o ferro sacarato e,

atualmente, a carboximaltose férrica. Estes compostos apresentam excelente perfil

de eficácia e segurança, e estão disponíveis em diversos países66,68.

b) VIA PARENTERAL: FERRO GLUCONATO

É um complexo de gluconato férrico sódico com PM aproximado de 350.000

Da, contém o mesmo núcleo de hidróxido de ferro que o ferro dextran; entretanto, o

gluconato é utilizado para estabilizar e solubilizar o composto. A ocorrência de

reação anafilática grave e de reação tardia com esse complexo é da ordem de

0,04% e 0,4%, respectivamente. Estudos têm mostrado a eficácia e segurança do

ferro gluconato em pacientes em hemodiálise, no tratamento da anemia no paciente

com câncer e em pacientes graves em centros de unidade intensiva. Há mais de 10

anos, este produto foi aprovado para comercialização nos Estados Unidos da

América (EUA) e na Europa, porém não está disponível no território brasileiro55,56,66.

c) VIA PARENTERAL: FERRO SACARATO

O sacarato de hidróxido férrico ou ferro sacarato é um complexo polinuclear

similar ao da ferritina (complexo proteico de ferro férrico com hidróxido de fosfato),

no qual a apoferritina é substituída por um composto carboidratado. Tal substituição

é necessária pelo fato de que a ferritina possui propriedades antigênicas importantes

quando administrada por via parenteral. O ferro sacarato contém o ferro em sua

forma não iônica, como um complexo solúvel em água de ferro férrico (Fe+3) com

hidróxido de sacarato. Os filamentos polinucleares de hidróxido de ferro (Fe+3)

encontram-se rodeados perifericamente por um grande número de moléculas de

sacarato unidas por ligação não covalente63,69.

É um complexo férrico de alto PM, aproximadamente 43 (kilodalton) kDa, que

não é excretado por via renal, seguro, estável em condições fisiológicas, pois não

libera ferro não iônico e com mínima imunogenicidade (ocorrência de reação

alérgica < 1/100.000 infusões). Tais qualidades tornaram este ferro o produto de

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escolha para o tratamento da anemia ferropriva em pacientes com doença renal

crônica e em várias outras especialidades, como: ginecologia, obstetrícia, cirurgia,

gastroenterologia, hematologia e hemoterapia, na maioria dos países63,68,69.

A única opção para tratamento com ferro por via parenteral no Brasil é o

sacarato de hidróxido férrico, que é comercializado em ampolas contendo 2mL e

10mg de ferro elementar para uso por via intramuscular e em ampolas contendo

5mL e 100mg de ferro elementar para uso por via endovenosa. Também está

aprovado nos EUA e em vários países do continente europeu e latino-americano69.

Na tabela 8 é relatado o uso do ferro sacarato por via endovenosa70.

Tabela 8. Uso do ferro sacarato por via endovenosa

Principais orientações práticas para o uso de sacarato de hidróxido férrico (ferro sacarato) por via endovenosa

Não há necessidade de se realizar a dose teste de hipersensibilidade antes da aplicação;

Diluir o composto apenas em solução fisiológica (SF) a 0,9%. Não diluir em soro glicosado;

Diluir cada ampola (5mL, 100mg) em, pelo menos, 100mL de SF;

Para cada solução contendo 100mg de ferro sacarato, o tempo de infusão deve ser de, pelo menos, 15 minutos. Portanto, a infusão da solução contendo 200mL (ou mais) de SF e 200mg de ferro sacarato deve ser feita em, pelo menos, 30 minutos;

É importante respeitar o tempo de infusão do medicamento;

Respeitar o intervalo entre as aplicações, que é de, pelo menos, 24 horas;

Respeitar o limite da dose máxima por aplicação, que é de 200mg (2 ampolas), e da dose máxima semanal de 500mg;

Recomenda-se que a aplicação por via endovenosa seja feita em ambiente hospitalar ou, preferencialmente, em Serviços ou Clínicas com experiência na aplicação de medicamentos por via endovenosa por profissionais da área e com supervisão médica.

Fonte: Adaptado de Cançado, R.D, et al., 2007.

d) VIA PARENTERAL: CARBOXIMALTOSE FÉRRICA

É o composto mais recentemente registrado na Europa para o tratamento da

anemia ferropriva por via endovenosa que combina as propriedades positivas do

ferro dextran com as do ferro sacarato67.

Estudos em animais demonstraram que a dose de carboximaltose necessária

para provocar toxicidade aguda é cem vezes maior comparada à dose de sulfato

ferroso. Estudos clínicos em doença renal crônica, anemia pós-parto e doença

inflamatória gastrointestinal demostraram tratar-se de um complexo seguro e

eficaz67.

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Estudo aleatório, controlado e comparativo, com o objetivo de demonstrar a

não inferioridade da eficácia da carboximaltose em relação ao sulfato ferroso,

demonstrou que o tempo necessário para obter a elevação da Hb de 2g/dL foi de

sete dias para o grupo com carboximaltose com uma única aplicação de até

1.000mg e de 14 dias para o grupo com sulfato ferroso, que recebeu 325mg duas

vezes ao dia. O valor médio da ferritina inicial e após 42 dias de tratamento foi de

30ng/mL e 30ng/mL com sulfato ferroso; e de 30ng/mL e 230ng/mL com

carboximaltose, respectivamente71.

A vantagem mais importante deste produto em relação ao ferro sacarato é

que a carboximaltose pode ser administrada em dose de até 1.000mg de ferro

infundida em apenas 15 minutos, com risco mínimo de EA. Esta posologia facilita o

tratamento, evita perda de tempo e a necessidade do paciente ter de retornar ao

serviço várias vezes durante a terapia71.

Este produto encontra-se em processo de aprovação pelas autoridades

regulatórias de saúde dos EUA e de vários países latino-americanos, inclusive do

Brasil71.

e) VIA PARENTERAL: COMPARAÇÃO

A tabela 9 compara os principais compostos com ferro disponíveis para uso

endovenoso68.

Tabela 9. Comparação entre os principais compostos com ferro para uso

endovenoso

Parâmetro Ferro dextran de alto PM

Ferro sacarato

Carboximaltose férrica

Dose máxima em mg por aplicação

500-1000 200 500-1000

Necessidade de dose teste

Sim Não Não

Tempo de Infusão

2 a 4h 100mg em 15 minutos

500-1000mg em 15 minutos

Reação anafilática Incomum Muito rara Muito rara

Reação tardia Comum Incomum Incomum

Fonte: Adaptado de Anirban, G.; Kohli, H.S.; Jha, V.; Gupta, K.L.; Sakhuja, V., 2008.

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3.3.4- CONSEQUÊNCIAS DA ANEMIA NA GESTAÇÃO

A associação da anemia à gestação, dependendo do seu grau, pode

ocasionar efeitos deletérios ao binômio materno-fetal. Aproximadamente 40% das

mortes maternas e perinatais são ligadas à anemia11.

As consequências da deficiência de ferro são inúmeras, podendo ser

reversíveis ou não. As principais repercussões maternas são: comprometimento do

desempenho físico e mental, labilidade emocional, pré-eclâmpsia, alterações

cardiovasculares, diminuição da função imunológica, alterações da função da

tireoide e catecolaminas, queda de cabelos, enfraquecimento das unhas, aumento

da mortalidade materna72,73.

Outro aspecto a ser considerado é a menor tolerabilidade às perdas

sanguíneas do parto, conduzindo a maior risco de anemia pós-parto e

hemotransfusão74.

Em relação ao comprometimento fetal, o estado anêmico relaciona-se com:

perdas gestacionais (abortamentos, óbito intrauterino); hipoxemia fetal;

prematuridade; baixo peso ao nascimento; ruptura prematura das membranas

ovulares; quadros infecciosos; restrição de crescimento fetal, e muitas vezes com

alterações irreversíveis do desenvolvimento neurológico fetal; anemia no primeiro

ano de vida, devido às baixas reservas de ferro no recém-nascido; além de várias

outras alterações da condição de saúde com impacto negativo na sua qualidade de

vida74,75.

O ferro é essencial para um normal desenvolvimento e funcionamento de

órgãos vitais, no feto em crescimento. A maior quantidade de ferro é utilizada na

síntese de hemoglobina, contudo o seu papel no desenvolvimento do sistema

nervoso central é fundamental na síntese de enzimas do metabolismo cerebral76.

Vários estudos mostram que a anemia ferropriva tem consequências deletérias para

a mãe e recém-nascido traduzidas pelo risco aumentado de mortalidade e

morbilidade materna, parto prematuro, baixo peso ao nascer e comprometimento de

funções cognitivas e comportamentais76,77.

Valores de hemoglobina materna inferiores a 6,5g/dL associam-se a

comprometimento da vitalidade fetal e aumento da mortalidade perinatal. As

implicações à saúde da mulher impostas pela anemia ferropriva passam a ser

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relevantes a partir do momento em que se destaca como um fator de risco para o

aumento da mortalidade materna, na medida em que a mulher torna-se suscetível a

diversas complicações tanto no período gestacional quanto no parto e puerpério74.

Confirmando as afirmações apresentadas anteriormente, a publicação de

2002 da OMS relata que a deficiência de ferro encontra-se entre os dez principais

fatores de risco para adoecer e relacionados à menor expectativa de vida78.

De acordo com o relatório do Banco Mundial, cerca de 5% do produto interno

bruto dos países em desenvolvimento são utilizados com os gastos em saúde

decorrentes da anemia ferropriva. Transferindo esses cálculos para o ano de 2008,

pode-se dizer que o Brasil, com um produto interno bruto estimado em R$ 2,3

trilhões, gastou, neste ano, R$ 116 bilhões para tratar problemas de saúde

decorrentes da deficiência de ferro79.

3.3.5- PREVALÊNCIA

Estima-se que a anemia não fisiológica acomete 20% a 80% das gestações.

Destas, a anemia por deficiência de ferro é a mais comum desordem nutricional

encontrada. Estima-se que aproximadamente 50% das grávidas em todo o mundo

são anêmicas, sendo que 23% encontram-se em países industrializados

(desenvolvidos) e 52% em países não industrializados (em desenvolvimento)11.

No Brasil, embora existam diferenças regionais, a prevalência de anemia

ferropriva é muito elevada, constituindo uma das mais importantes deficiências

nutricionais. No nordeste, a prevalência de anemia ferropriva em mulheres no

período reprodutivo varia de 18 a 46%. Essa elevada taxa de anemia na gestação

pode estar relacionada a uma dieta insuficiente de ferro associada ao aumento da

demanda deste mineral no período gestacional80.

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Tabela 10. Número e percentagem de gestantes normais, ferro-deficientes e

anêmicas, segundo estrato social82

Carência de ferro

Estrato

social

Normais Ferro-deficientes Anêmicas Total

N° % N° % N° % N° %

Baixo 7 24,1 10 34,5 12 41,4 29 100,0

Médio-baixo

49 54,4 26 28,9 15 16,7 90 100,0

Médio 14 60,9 7 38,4 2 8,7 23 100,0

Médio-alto

2 66,7 - - 1 33,3 3 100,0

Alto - - - - - - - -

Fonte: Martins, I.S, et al., 1987.

3.3.6- PREVENÇÃO

Em condições normais, estudos têm demonstrado que em gestantes não

suplementadas os valores de hemoglobina, hematócrito e ferritina apresentam-se

diminuídos durante a gestação, principalmente a partir do segundo trimestre83,84.

Apesar da redução da hemoglobina ser fisiológica no segundo trimestre da

gestação a queda dos estoques de ferro, refletidas pelos valores da ferritina,

justificam a utilização de ferro suplementar27.

A OMS recomenda, de modo geral, suplementação com 60mg de ferro

elementar para toda gestante a partir da 20ª semana de gravidez, o que corresponde

à suplementação com 300mg de sulfato ferroso, visto que a quantidade de ferro

elementar corresponde a 20% da dose total do sal27, 54.

A orientação nutricional deve ser realizada durante todo o acompanhamento,

de preferência já no período antenatal. O ferro proveniente da dieta pode ser de

origem vegetal, ferro não heme, que tem baixa absorção, ao redor de 1% a 7%,

contribuindo muito pouco para as reservas maternas; e o ferro de origem animal,

ferro heme, cuja taxa de absorção varia entre 20% a 30%, com boa disponibilidade,

e que definitivamente contribui para o estoque materno. Desta forma, recomenda-se

o consumo de carnes em geral, evitar associação com cereais integrais, uso de

frutas ricas em vitamina C, entre outras medidas. Nos casos de anemia ferropriva na

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gestação, além da identificação e correção da causa quando possível, orientação

dietética, recomenda-se terapia com reposição de ferro elementar84. Inclusive o

papel do farmacêutico é importante, assim como a assistência farmacêutica.

3.3.7- ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

Atenção farmacêutica é o compêndio de atitudes, dos comportamentos, dos

compromissos, das inquietações, dos valores éticos, das funções, dos

conhecimentos, das responsabilidades e das destrezas do farmacêutico na

prestação da farmacoterapia, com o objetivo de alcançar resultados terapêuticos

definidos na saúde e qualidade de vida dos pacientes85.

Na atenção farmacêutica voltada a gestante é importante informar em cada

fase da gravidez, sintomas e intercorrências, tendo uma relação cordial, com o

objetivo de que a mãe sinta-se segura e retorne nos meses seguintes85.

A gestação e a amamentação são de vital importância no desenvolvimento do

recém-nascido. Embora a farmacologia tenha obtido inúmeros progressos, muitas

vezes, por falta de informação adequada, a gestante acaba adotando

comportamentos de risco, os quais prejudicam o bebê. Desta forma, deve-se fazer

presente a constante orientação às gestantes sobre as condutas e fármacos

potencialmente danosos que devem ser evitados durante esse período. Esse

trabalho deve propiciar também um acompanhamento pós-parto, com a finalidade de

verificar e estimular as informações transmitidas. Além disso, a importância do

aleitamento materno deve ser estimulada, de forma que ressalte os incontáveis

benefícios tanto para a mãe quanto para o bebê85.

Essa informação, quando transmitida de forma clara e persuasiva, evita os

problemas que acometem grande parte dos casos de internação, resultando em uma

melhor qualidade de vida não só do bebê, mas também da mãe85.

Dessa forma, busca-se demonstrar a importância da consciência das

gestantes acerca dos malefícios que os fármacos, quando mal administrados,

podem causar a sua saúde85.

A importância de ampliar conhecimentos sobre a anemia ferropriva se deve

ao entendimento de que, no exercício da profissão, o farmacêutico assume a

responsabilidade das necessidades de um paciente em relação à medicação e

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adquire um compromisso a esse respeito87. O farmacêutico presta assistência no

diagnóstico, na prevenção e no tratamento da anemia ferropriva.

A atuação do farmacêutico envolve uma gama de atitudes e habilidades no

exercício da farmacoterapia, com o objetivo de alcançar resultados terapêuticos

eficientes e seguros, privilegiando a saúde e a qualidade de vida do paciente.

Supõe-se, então, que esse profissional, dentro de suas habilitações, deva estar

capacitado para conscientizar a gestante que os medicamentos utilizados

corretamente e sob orientação médica, aliadas às dietas equilibradas e ricas em

ferro, propiciam uma gestação saudável, evitando o comprometimento do

crescimento fetal, e consequentemente, do peso ao nascer88.

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4- CONCLUSÃO

As publicações analisadas possibilitaram o entendimento de que a anemia na

gravidez configura o problema hematológico mais frequente da gestação, sendo

diagnosticada em mais de 50% das grávidas. Definida como a presença no sangue

periférico de níveis inferiores a 11g/dL de hemoglobina, a anemia tem, dentre as

diversas causas etiológicas, a deficiência de ferro como sendo a mais prevalente.

Desta forma, torna-se de extrema importância a identificação da anemia ferropriva

em gestantes afim de que sejam adotadas medidas preventivas relativas à

ocorrência de complicações decorrentes dessa carência nutricional.

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