anexo 1 documentos para a história do teatro do bairro
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ADL 1
12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 28, ff. 82-83.
Escritura de arrendamento do palácio de conde de Soure para nele se fazer a Casa
da Ópera do Bairro Alto (6 de Outubro de 1760).
[82] Em nome de Deus, ámen, saibam quantos este instrumento de arrendamento e
obrigação virem, que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e
setecentos e sessenta, ao primeiro dia do mês de Outubro, nesta cidade de Lisboa, no
escritório de mim, tabelião, pareceram presentes, a saber de uma parte, Francisco Xavier
Freire em nome e como procurador do ilustríssimo e excelentíssimo senhor conde de
Soure, Dom João da Costa e Sousa Carvalho Patalim, e de outra parte, João Gomes
Varela, que foi boticário, morador no Bairro da Cotovia, e de outra parte António
Rodrigues Gil, mestre-de-obras do ofício de pedreiro, morador na Rua de São Bento, e
João da Silva Barros, que foi entalhador, morador em a Rua do Vale. E logo por ele
Procurador Francisco Xavier foi apresentado o alvará de procuração do dito
excelentíssimo conde de Soure, cujo teor é o seguinte: o conde de Soure, do conselho de
sua majestade, pelo presente alvará de procuração, dou poder a Francisco Xavier para
assinar uma escritura de arrendamento que faço do meu palácio do pátio da Rua da Rosa
das Partilhas, por tempo de quinze anos, a João Gomes Varela e a António Rodrigues
Gil e a João da Silva Barros, para nele fazerem casa de ópera, e todas as acomodações
que lhe forem precisas, tanto para a dita casa, como para poderem alugar as casas que
lhe não servirem, demolindo algumas paredes, e levantando outras que lhe forem
precisas, tudo à sua custa, pagando-me de renda cada ano duzentos e quarenta mil réis,
pagos às pagas costumadas, de Natal e São João; cujo arrendamento há de ter princípio
no primeiro de Janeiro do ano próximo que vem de mil e setecentos e sessenta e um,
aproveitando-se dos materiais que acharem no dito palácio, excepto do que se acha no
quarto que está principiado de novo, sem que dos ditos materiais lhe peça em tempo
algum remuneração; e eles, rendeiros, findos os quinze anos, deixarão ficar no dito
palácio todas as benfeitorias que fizerem de paredes, telhados, frontais de pedra, ou
tijolo, portas, e madeiramentos; e só poderão levar a fábrica da casa e placa, camarotes e
seus corredores, e repartimentos de madeiras, que não ofenda as casas, ou paredes; e
passados os quinze anos, não continuando o palácio, querendo alugá-lo, preferirão eles a
outra qualquer pessoa, e os conservarei pagando-me mais cinquenta mil réis, além dos
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duzentos e quarenta mil réis, assim não poderei alugar o dito palácio a outra pessoa,
nem poderei deitá-los fora, salvo for para fazer o palácio novo, isto passados os quinze
anos, que antes de completos e findos o não poderei fazer sem consentimento deles
rendeiros. E querendo pôr fora aos ditos rendeiros antes de findos os quinze anos, o não
poderei fazer sem primeiro depositar em poder deles rendeiros ou seus bastantes
procuradores, toda [82v] a importância do gasto que se tiver feito, tanto nas benfeitorias
como na fábrica da casa, que tudo será avaliado por louvados por uma e outra parte
como também todos os interesses que podiam perceber, no tempo que lhe faltar para
findar o dito arrendamento dos quinze anos; e serão obrigados, eles, rendeiros, a fazer
todos os reparos e consertos no dito palácio à sua custa enquanto o ocuparem. E no caso
que no dito palácio velho não tenham comprimento bastante para a dita casa, se poderão
valer do quarto novo que fica para o jardim, até vinte palmos, pouco mais, ou menos,
não ofendendo a pedraria nova do dito quarto. E serão obrigados eles, rendeiros, dar-me
um camarote junto à boca do teatro para todos os dias de ópera, ou qualquer
divertimento que houver na dita casa, sem dele pagar cousa alguma, e dar-me a chave
dele, e sua serventia separada; e poderá o dito meu procurador assinar a escritura na
forma declarada, para o que lhe concedo os poderes em direito necessários e para assim
o cumprir e guardar obrigo meus bens; e para fazer bom o dito arrendamento por mim e
meus sucessores, querendo tirarão eles rendeiros provisão real, para mais segurança
deles, assinando também a escritura o imediato sucessor ao morgado, meu irmão Dom
José da Costa, obrigando-se eles rendeiros, uns por outros, como fiadores e principais
pagadores, e para todo o referido mandei passar este alvará em Lisboa, a trinta de
Setembro de mil sete centos e sessenta: Declaro mais que o meu camarote não há de ter
menos comprimento que o que tem o marquês de Louriçal na Rua dos Condes; e o vão
de vinte palmos, que ocuparem na obra nova para o comprimento do teatro, há-de ficar
o vão de baixo livre para o uso que eu lhe quiser dar e será vista a obra que se fizer pelo
mestre Francisco da Costa, para que me não faça prejuízo ao quarto novo, e ao mais que
me pertence; Lisboa, a trinta de Setembro de mil e sete centos e sessenta = conde de
Soure = E trasladado o dito alvará de procuração, o concertei com o próprio a que me
reporto que fica em meu poder e cartório na forma do estilo. E reconheço o sinal dele
ser do dito excelentíssimo conde; e por ele procurador, Francisco Xavier foi dito perante
mim, tabelião e testemunhas abaixo nomeadas, que por esta escritura e na melhor forma
de direito em virtude do dito alvará de procuração, arrenda e dá de arrendamento o dito
palácio aos ditos João Gomes Varela, António Rodrigues Gil e João da Silva Barros,
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pelos ditos quinze anos que hão-de principiar o primeiro de Janeiro do ano próximo que
vem de mil e setecentos e sessenta e um e acabar no último de Dezembro do ano de mil
e setecentos e setenta e cinco, e com todas digo e setenta e cinco; pelo dito preço de
duzentos e quarenta mil réis cada ano pagos às meias pagas costumadas por São João e
Natal; e com as mais condições e cláusulas, declarações, penas e obrigações
mencionadas no dito alvará de procuração acima trasladado, a que em tudo e por tudo se
reporta ele procurador do dito senhor; e por eles João Gomes Varela, António
Rodrigues Gil e João da Silva Barros foi dito que eles assim aceitam este arrendamento
pelo dito tempo de quinze anos e pelo dito preço de duzentos e quarenta mil réis cada
ano, pagos às meias pagas costumadas por São João e Natal, e com as mais cláusulas,
condições, penas e obrigações declaradas no referido alvará de procuração do dito
excelentíssimo conde, e ao cumprimento de tudo obrigam eles rendeiros pelo que lhes
toca cumprir suas pessoas e todos seus bens móveis e de raiz presentes e futuros e o
melhor parado deles, e isto cada um per si e cada um por todos três, como correos
debendi, e como fiadores e principais pagadores cada um de todos três, à eleição do dito
excelentíssimo conde senhorio, que poderá, se quiser [83] se quiser, obrigar e executar a
todos três a um mesmo tempo, e haver o seu inteiro pagamento por todos ou somente
por aquele, ou aqueles que melhor lhe parecer, e mais bem parados achar; e a sentença
alcançada contra qualquer deles se poderá executar nos bens de todos; e outorgam de
responder por todo o aqui conteúdo, nesta cidade de Lisboa perante os corregedores do
cível da corte, para o que renuncio o juízo de seu foro domicílio e os mais privilégios
presentes e futuros que em seu favor alegar possam. E que havendo qualquer deles
rendeiros de serem citados e requeridos pelo cumprimento desta escritura e por qualquer
dependência dela, em qualquer tempo que seja, se estiverem, ausentes desta corte, o
poderá ser em seus nomes o Distribuidor dos Tabeliães de Notas desta cidade, ao qual
constituem seu procurador bastante com poder de confessar as dívidas e obrigação desta
escritura em Juízo e fora dele assinar termo de confissão, nomear bens à penhora e para
todas as mais diligências necessárias até final e execução e real pagamento. E porquanto
depois de estar até qui lavrada esta escritura, sucedeu arrepender-se o dito António
Rodrigues Gil e se ajustou entrar em seu lugar neste arrendamento Francisco Luís,
mestre pedreiro, morador na travessa das Vacas, acrescentou o dito excelentíssimo
conde no dito seu alvará de procuração a declaração do teor seguinte - "Declaro que em
lugar do dito António Rodrigues Gil entra Francisco Luís" - com a rubrica do dito
excelentíssimo conde = e assim declararam eles partes, que este arrendamento se
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entenderá feito com as referidas obrigações e condições a eles ditos João Gomes
Varela, João da Silva Barros e Francisco Luís, e estes todos três obrigados cada um per
si e cada um por todos três na forma acima referida e estando com efeito também
presente o dito Francisco Luís por ele foi dito que ele assim aceita e entra neste
arrendamento e se submete a todas as cláusulas desta escritura em lugar do dito António
Rodrigues Gil com quem estava continuada. E em testemunho de verdade assim o
outorgaram, pediram, e aceitaram e eu, tabelião, por quem tocar ausente e declaro que
esta escritura se outorgou e assinou aos seis do dito mês de Outubro. Dizendo mais o
dito Francisco Xavier Freire que ele como procurador que também é do dito imediato
sucessor Dom José da Costa, presta a sua outorga e consentimento a todo o estipulado
nesta escritura e isto em virtude de uma sua procuração que apresentou reconheço por
verdadeira e abaixo irá trasladada e foram a tudo testemunhas presentes Francisco
Borges, mestre carpinteiro, morador na dita Travessa das Vacas, e João Lucas Lopes,
mestre serralheiro, morador de fronte do chafariz do Rato, que disseram conheciam a
eles rendeiros e eu, tabelião, conheço ao procurador do senhorio e todos nestas notas
assinaram e eu António da Silva Freire, tabelião, o escrevi = risquei = São Bento
=interlinhei= Vale = Francisco Xavier Freire
João Gomes Varela
Francisco Luís
João da Silva Barros
De João Lucas Lopes testemunha Francisco Borges Traslado da Procuração do Imediato
sucessor de que
[83v] se faz menção. Pelo presente alvará de procuração, dou poder a Francisco Xavier
Freire, para que por mim e em meu nome possa assinar uma escritura de arrendamento
que se faz do palácio do pátio da Rua da Rosa para se fazer casa de ópera, para o que
dou o meu consentimento e não tenho dúvida se faça a dira escritura, para o que lhe
concedo os poderes em direito necessários. Lisboa, vinte e cinco de Setembro de mil e
setecentos e sessenta, Dom José da Costa. E tresladada a concertei com a própria a que
me reporto e eu, António da Silva Freire, tabelião, o escrevi.
Confirmada por mim tabelião
António da Silva Freire
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12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de notas, liv. 28, ff. 92v-94v.
Escritura de constituição de sociedade entre os empresários do Teatro do Bairro
Alto e João Pedro Tavares e José Duarte (11 de Outubro de 1760).
[92v] Em nome de Deus, ámen. Saibam quantos este instrumento de contrato, sociedade
e obrigação ou qual em direito melhor lugar haja virem que no ano do nascimento de
Nosso Senhor Jesus Cristo, de mil e setecentos e sessenta aos onze dias do mês de
Outubro, nesta cidade de Lisboa, no escritório de mim, tabelião, pareceram presentes, a
saber: de uma parte, João Gomes Varela, morador na Cotovia, João da Silva Barros,
morador na Rua do Vale, e Francisco Luís, morador na Travessa das Vacas; e de outra
parte, João Pedro Tavares, morador na Cotovia e José Duarte, morador na Rua das
Parreiras do Jogo da Péla. E logo por eles, João Gomes Varela, João da Silva Barros e
Francisco Luís, foi dito que eles tinham tomado de arrendamento ao excelentíssimo
Conde de Soure o seu palácio do Pátio da Rua da Rosa das Partilhas, por tempo de
quinze anos que hão de principiar no primeiro de Janeiro próximo pelo preço e mais
condições que constam da escritura do dito arrendamento feita nesta nota em o primeiro
dia do mês de Outubro, e isto para nele fazerem casa de ópera e todas as acomodações
precisas, tanto para a dita casa da ópera como para poderem alugar as casas que para
isso lhe não servirem; outrossim disseram que a respeito das ditas óperas têm ajustado
sociedade e contrato com eles, João Pedro Tavares e José Duarte, cujo contrato
celebram por esta escritura, na forma e com as condições seguintes: que eles [93] João
Gomes Varela e seus companheiros João da Silva Barros e Francisco Luís se obrigam a
pôr pronta no dito palácio uma casa para se representarem as ditas óperas, feita e
acabada, da largura e comprimento que é preciso, com todas as acomodações e
serventias necessárias, tudo à sua custa, sem que os ditos João Pedro e José Duarte
concorram com cousa alguma, tanto para a factura da mesma casa como para os
alugueis dela, nem ainda conserto algum em todo o tempo que conservarem entre si este
contrato e sociedade, porque tudo fará por conta deles João Gomes Varela e seus
companheiros; que eles João Pedro e José Duarte se obrigam a pôr na dita casa tudo o
que pertence à casa do teatro de dentro, como são bastidores, figurados, vistas, pinturas,
óperas, solfas e tudo o mais que for preciso para a execução das mesmas óperas, e
poderão fazer representar e continuar na sobredita casa de ópera com as figuras
artificiais enquanto estas tiverem aceitação e delas regular conveniência. E no caso que
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eles João Pedro e José Duarte queiram fazer representar na dita casa comédias
portuguesas ou castelhanas ou outro qualquer divertimento, em que possam também
entrar algumas danças, o poderão fazer, bem entendido que todas estas despesas de
bastidores, figurados, vistas, pinturas, óperas, solfas, vestuários, vistas movediças,
tramoias, pinturas e tudo o mais que for preciso para a execução das ditas óperas,
comédias ou qualquer outro divertimento há de ser por conta deles, José Duarte e João
Pedro, excepto as quantias que se houverem de dar às pessoas representantes e mais
despesa diária porque a respeito dessa se há de praticar o que abaixo em outra condição
vai declarado; e as pessoas que se houverem de ocupar nas ditas óperas, comédias e
mais divertimentos serão ajustadas cada uma per si; que eles, José Duarte e João Pedro,
serão obrigados a terem tudo pronto para que tanto que a dita casa se acabar de pôr
corrente poderem dar logo princípio aos ditos divertimentos; outrossim ficam obrigados
a pôr prontas óperas novas com solfas todas aquelas que forem precisas em cada um
ano, e assim mais todos os seus preparos e tudo à sua custa na forma que fica dito; e não
poderão usar de óperas velhas já representadas, salvo for alguma que tenha tido boa
aceitação, por remédio enquanto se prepara outra nova, e assim mais serão obrigados a
tomar por sua conta o fazerem as diligências necessárias para as licenças de todos os
divertimentos que se houverem de fazer na dita casa, tanto para a representação de
figuras artificiais como para comédias portuguesas ou castelhanas, ou outro qualquer
divertimento, de sorte que não padeça a casa por falta das ditas licenças nem por outra
qualquer cousa das que eles José Duarte e João Pedro ficam obrigados pôr prontas,
sendo toda a despesa delas por sua conta, tanto nas óperas artificiais como para qualquer
divertimento de figuras vivas, excepto a despesa diária, que esta há de sair do
rendimento que produzirem as mesmas óperas, comédias e mais divertimentos; que
depois de tirado do rendimento de cada dia de divertimento a despesa diária, o que
sobejar se repartirá em três partes, a saber: uma para João Gomes Varela e seus
companheiros João da Silva Barros e Francisco Luís, e as duas para eles, João Pedro
Tavares e José Duarte; que no caso que em alguns dias não chegue o rendimento da dita
casa para a despesa diária o resto que faltar serão eles, João Pedro e José Duarte,
obrigados a satisfazê-lo à sua própria custa, sem que para isso [93v] devam eles, João
Gomes Varela e seus companheiros, concorrer com porção alguma; e isto em todo o
tempo que durar este contrato e sociedade; que eles, João Pedro Tavares e José Duarte,
se obrigam dar a eles, João Gomes Varela e seus companheiros, dois bailes livres em
cada um ano, tanto nas figuras artificiais como nas figuras vivas, e isto enquanto durar
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esta sociedade, de sorte que eles João Gomes Varela e seus companheiros poderão
escolher os tais dois dias no ano quando lhes parecer, excepto nos três dias de Entrudo,
e poderão eles, João Gomes Varela e seus companheiros, nos tais dois dias do ano que
assim escolherem receber das mãos dos cobradores todo o produto que renderem os tais
dois dias sem que deles sejam obrigados a partirem nem darem conta alguma, por lhes
ficar pertencendo in solidum e livremente o rendimento dos ditos dois dias, abatida
somente a despesa diária; que a eles, João Gomes e seus companheiros ficam
pertencendo livremente em todo o tempo deste contrato e sociedade dois camarotes, um
na frontaria de preço de três mil e duzentos réis no segundo andar, e outro de mil e seis
centos réis na ilharga do mesmo andar, de sorte que todo o rendimento destes ditos dois
camarotes fica pertencendo in solidum a eles, João Gomes e seus companheiros, sem
que deva ir ao monte maior, e hão-de preferir em primeiro lugar, a alugarem-se; e eles,
João Pedro e José Duarte, terão da mesma sorte um camarote na frontaria do mesmo
preço de três mil e duzentos réis e do mesmo andar, e o poderão alugar ou fazer dele o
que quiserem, sem que o seu rendimento deva vir ao monte maior; outrossim terão eles,
João Gomes Varela e seus companheiros, em cada dia de representação e divertimento,
oito bilhetes livres; e eles, João Pedro e José Duarte, outros oito para poderem repartir
pelos seus amigos; que para a eleição e aprovação das óperas, novas e velhas, que se
houverem de representar, solfas e pessoas que se houverem de ocupar no teatro e tudo o
mais que for preciso para o bem desta sociedade elegem eles, partes, a ele, João Gomes
Varela, e a ele, José Duarte, para por sua direcção de ambos ser tudo elegido e regulado,
e na falta ou ausência dele, João Gomes Varela, fará as suas vezes ele seu companheiro
João da Silva Barros, e na falta ou ausência dele, José Duarte, fará as suas vezes ele seu
companheiro João Pedro; que do primeiro rendimento da dita casa pertencente às duas
terças partes deles José Duarte e João Pedro Tavares se tirarão trezentos mil réis que
deverão ter sempre prontos em uma caixa para as despesas que forem precisas, e eles
são obrigados fazerem por sua conta para a execução das óperas e mais divertimentos, a
qual caixa terá duas chaves de que terá uma ele José Duarte e outra ele seu companheiro
João Pedro, mas estará a dita caixa em poder do dito João Gomes Varela ou de qualquer
dos seus companheiros, e depois de tirada da dita caixa qualquer porção para qualquer
das ditas despesas se tornará logo a inteirar a dita quantia de trezentos mil réis em caixa
pelo primeiro rendimento que se seguir pertencente às duas partes deles José Duarte e
João Pedro, de sorte que não possam eles José Duarte e João Pedro em tempo algum
durante esta sociedade cobrar coisa alguma do seu rendimento enquanto não estiver
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preenchida a dita quantia de trezentos mil réis na dita caixa, para o referido fim das
despesas que possam ser precisas daquelas a que eles ficam obrigados; que se em algum
tempo o Hospital Real pretender que se lhe pague aquela porção que algum tempo se
lhe costumava pagar e se deva pagar com efeito sairá do rendimento da casa como
despesa diária; que se em algum tempo eles, João Pedro e José Duarte, forem chamados
e obrigados por Agostinho da Silva para irem com a sua fábrica para o seu Teatro da
Rua dos Condes em virtude da condição da escritura do contrato [94] que com eles
tinham celebrado serão obrigados a dar parte disso a eles, João Gomes e seus
companheiros, para verem se querem ser com eles interessados na outra fábrica que lá
queiram pôr no outro Teatro da Rua dos Condes; que se em algumas ocasiões ou em
qualquer tempo forem chamados eles João Pedro e José Duarte com a sua fábrica por
ordem de pessoas reais para executarem qualquer divertimento, sempre do líquido
rendimento que isso traduzir serão obrigados a dar a terça parte a eles João Gomes e
seus companheiros; e isto se entende durante o tempo deste contrato e sociedade; que
todos os divertimentos avulsos que não são perduráveis e que costumam vir a esta
cidade em tempos que se não representam óperas, ou estando a casa parada, ficará
pertencendo todo o seu rendimento a eles João Gomes Varela e seus companheiros,
inquilinos do dito palácio, e só terão eles João Pedro e José Duarte livre o seu camarote
e bilhetes que nas mais representações lhes são permitidos, e quando por causa dos ditos
divertimentos seja preciso desmanchar dentro do teatro alguma coisa pertencente à
fábrica deles, João Pedro e José Duarte, neste caso serão obrigados eles João Gomes e
seus companheiros mandar pôr outra vez tudo no mesmo estado à sua custa; que no caso
que em algum tempo cheguem a esta corte algumas companhias italianas ou castelhanas
e queiram arrendar a dita casa a eles João Gomes e seus companheiros, neste caso serão
eles, José Duarte e João Pedro, obrigados a despejar logo a dita casa dentro em três
meses. Porém, enquanto não chegarem as ditas companhias, não poderão, eles partes,
desfazer entre si esta sociedade, salvo virem que se não tira utilidade alguma e neste
caso, concordando entre todos que não é conveniente continuar com as ditas
representações, se poderá desfazer esta sociedade. E nesta forma houveram eles partes
por acabada esta escritura que prometem cumprir e guardar como nela se contém, ao
que obrigam suas pessoas e bens, cada um pelo que lhe toca cumprir, e outorgam de
responder por todo o aqui conteúdo nesta cidade de Lisboa perante os Corregedores do
Cível da Corte ou da Cidade para o que renunciam o Juízo de seu foro domicílio e os
mais privilégios presentes e futuros que em seu favor alegar possam. E em testemunho
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de verdade assim o outorgaram, pediram e aceitaram e eu, tabelião, por quem tocar
ausente, sendo testemunhas presentes João Caetano Álvares Negrão, meu oficial
papelista, e Manuel Maciel de Araújo, mercador de capela, meu vizinho, e Pedro
Frenchi, homem de negócio, morador na Bica de Duarte Belo, que nesta nota assinaram
com eles partes a quem conheço e declaro que esta se outorgou e assinou aos dezoito do
dito mês de Outubro e ultimamente declararam eles partes que a eleição e aprovação das
óperas novas e velhas e de tudo o mais que a isso respeitar será feita por comum
consentimento deles partes ou da maior parte deles. E eu, António da Silva Freire,
tabelião o escrevi. Risquei = abatida somente a despesa diária = entrelinhei = e seus
companheiros = e outra =
Francisco Luís
João Gomes Varela
João Pedro Tavares
João da Silva Barros
[94v] José Duarte
Pedro French
Manuel Maciel de Araújo
João Caetano Álvares Negrão
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ADL 3
12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 30, 82v-83v.
Escritura de formação de uma sociedade para exploração da Casa da Ópera do
Bairro Alto, onde estiveram presente João Gomes Varela, João da Silva Barros,
Francisco Luís, João Pedro Tavares e Teotónio José Duarte (23 de Fevereiro de
1761).
[82v] Em nome de Deus, ámen, saibam quantos este instrumento de sociedade, contrato
e obrigação virem que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, de mil e
setecentos e sessenta e um, aos vinte e três dias do mês de Fevereiro, nesta cidade de
Lisboa, no escritório de mim, tabelião, pareceram presentes, a saber: de uma parte, João
Gomes Varela, morador na Cotovia, João da Silva Barros, morador na Rua do Vale, e
Francisco Luís, morador na Travessa das Vacas; e de outra parte, João Pedro Tavares,
morador na Cotovia e Teotónio José Duarte, morador no Largo do Real Mosteiro da
Encarnação; e logo por eles, João Gomes Varela e seus companheiros, João da Silva
Barros e Francisco Luís, foi dito que eles tinham tomado de arrendamento ao
excelentíssimo Conde de Soure e seu palácio da Rua da Rosa das Partilhas, por tempo
de quinze anos que já tiveram principio no princípio de Janeiro deste presente ano pelo
preço e mais condições que constam da escritura do dito arrendamento feita na minha
nota em primeiro de Outubro do ano próximo passado; e isto para nele fazerem casa de
ópera e todas as acomodações precisas, tanto para a mesma casa da ópera como para
poderem alugar as casas que para isso lhe não servirem; e outrossim disseram que a
respeito das ditas óperas tinham feito sociedade com o dito João Pedro Tavares e com
José Duarte, na forma que consta por outra escritura outorgada em minha nota, em onze
do dito mês de Outubro, e por falecer da vida presente o dito José Duarte ficou
caducando a dita sociedade e agora por esta nova escritura celebram nova sociedade
com o mesmo João Pedro Tavares, e com ele, Teotónio José Duarte, irmão do dito
defunto, na forma e com as condições seguintes: que eles, João Pedro Tavares e seu
novo companheiro Teotónio José Duarte, serão obrigados a pôr pronta uma ópera para
no Domingo de Páscoa da Ressurreição próximo que vem se principiar a representar; a
qual ópera há-de ser acompanhada com danças, em que há-de entrar a Chequi[n]a, e os
dois bufas da Ópera da Estrela, para representarem os seus entremezes; e com as vistas
que são precisas, de pintura e vestuário novo, tanto para as figuras, como para as danças
e entremezes, tudo a com muito asseio e primor = que logo que a dita ópera se puser em
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execução darão logo ordem a pôr outra pronta, para que logo que houver de descair a
primeira se dar princípio a outra, sendo sempre acompanhada como a primeira e com as
mesmas circunstâncias sobreditas; e assim por este modo se irá seguindo o mesmo até o
Entrudo do ano próximo que vem, tempo em que há-de findar esta sociedade por ser só
feita por tempo de um ano, que há de acabar no dito Entrudo; e faltando eles, João
Pedro Tavares e Teotónio José Duarte, a qualquer das sobreditas coisas, desde já para
esse tempo ficam expulsos e excluídos desta sociedade sem que para isso seja preciso
mais contenda de juízo, porque desde logo se dão por despedidos; e eles, João Gomes
Varela e seus companheiros, inquilinos do dito palácio, concorrem com a casa que nele
tem feito, para eles João Pedro e Teotónio José Duarte, fazerem nela representar as
referidas óperas de bonecos na forma referida pelo dito tempo de um ano debaixo do
interesse seguinte = Que despois de tirado do rendimento de cada de divertimento a
despesa diária, o que sobejar se repartirá em três partes; a saber: uma parte para eles,
João Gomes Varela e seus companheiros, João da Silva Barro e Francisco Luís, e as
duas para [83] para eles, João Pedro Tavares e Teotónio José Duarte; que no caso que
em alguns dias não chegue o rendimento da dita casa para a despesa diária e resto que
faltar, serão eles João Pedro e Teotónio José Duarte obrigados a satisfazê-lo à sua
própria custa, sem que para isso devam eles, João Gomes Varela e seus companheiros,
concorrer com porção alguma; e isto em todo o tempo do ano desta sociedade – que
eles, João Pedro Tavares e Teotónio José Duarte, se obrigam dar a eles, João Gomes
Varela e seus companheiros, dois bailes levres em cada um ano, digo livres, no ano
deste contrato, e poderão eles, João Gomes Varela e seus companheiros, escolher os tais
dois dias no dito ano quando lhes parecer, dizendo na véspera o dia que querem tomar,
exceptuando desta liberdade os três dias de Entrudo, em que não poderão fazer a dita
escolha porque estes em todo o caso hão de ceder em benefício do comum da sociedade;
e poderão eles, João Gomes e seus companheiros, nos tais dois dias do ano que assim
escolherem receber das mãos dos cobradores todo o produto que renderem os tais dois
dias, sem que deles sejam obrigados a partirem nem darem conta alguma por lhes ficar
pertencendo in solidum e livremente o rendimento dos ditos dois dias – que a eles, João
Gomes Varela e seus companheiros, ficam pertencendo livremente em todo o tempo do
ano desta sociedade dois camarotes, um na frontaria do preço de três mil e duzentos reis
no segundo andar, e outro de mil e seis centos réis na ilharga do mesmo andar, de sorte
que todo o rendimento destes ditos dois camarotes fica pertencendo in solidum a eles,
João Gomes e seus companheiros, sem que deva ir ao monte maior, e hão de preferir em
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primeiro lugar, a alugarem-se; e eles, João Pedro Tavares e Teotónio José Duarte, terão
da mesma sorte um camarote na frontaria do mesmo preço de três mil e duzentos réis e
do mesmo andar, e o poderão alugar, ou fazer dele o que quiserem, sem que o seu
rendimento deva ir ao monte maior e outrossim terão eles, João Gomes Varela seus
companheiros, em cada dia de representação e divertimento, oito bilhetes livres; e eles,
João Pedro e Teotónio José Duarte, outros oito para poderem repartir pelos seus amigos;
que todos os divertimentos avulsos que não são perduráveis e costumam vir a esta
cidade em tempos que se não representam óperas, ou estando a casa parada, ficará
pertencendo todo o seu rendimento a eles, João Gomes Varela, e seus companheiros
inquilinos do dito palácio, e só terão eles, João Pedro e Teotónio José Duarte, livre o seu
camarote e bilhetes que nas mais representações lhes são permitidos; e quando por
causa dos ditos divertimentos seja preciso desmanchar dentro do teatro alguma coisa
pertencente à fábrica deles, João Pedro e Teotónio José Duarte, neste caso serão
obrigados eles, João Gomes e seus companheiros, mandar pôr outra vez tudo no mesmo
estado à sua custa; que faltando eles, João Pedro Tavares e seu companheiro, Teotónio
José Duarte, em terem pronto para o dia de Páscoa próximo tudo o que é necessário para
se executar e dar princípio à dita ópera no dito tempo, pagarão por cada um dia que mais
demorarem o dito apresto seis mil e quatrocentos réis a eles, João Gomes e seus
companheiros, isto se entende, sendo por falta sua de não porem prontas todas as coisas
que forem precisas, ou dinheiros para se fazerem; porque estando tudo pronto sem falta
que provenha da sua parte, e havendo algum incidente que se mova, ou seja preciso por
algum motivo conveniente, o não se principiar no dia de Páscoa, não estarão sujeitos à
dita pena, digo, não terá lugar a dita [83 v] a dita pena; e o mesmo se entenderá a
respeito das mais óperas, que pelo discurso do dito ano se hão de executar, por ser assim
conveniente para a casa não estar parada pelo prejuízo que disso se segue; que querendo
eles, partes, de comum consentimento continuar esta sociedade por mais algum ano, ou
anos, se entenderá ser debaixo de todas as condições e cláusulas desta escritura e nesta
forma hão eles partes por acabada esta escritura, que prometem cumprir e guardar como
nela se contém ao que o obrigam suas pessoas e bens; e disseram outrossim eles, João
Pedro Tavares e Teotónio José Duarte, que naquelas duas partes em que eles ficam
interessados nesta negociação, constituem por seu sócio e igual companheiro a ele dito
João Gomes Varela, tanto a respeito dos lucros como da perda que possa haver e como
tal seu sócio e companheiro será o dito João Gomes obrigado a concorrer com a terça
parte da despesa que para o efeito desta negociação for precisa; e se declara que em
14
qualquer tempo, que ele, Teotónio José Duarte quiser vender e trespassar a sua terça
parte, fará a dita venda e trespasso a ele socio João Gomes Varela por aquele preço em
que for avaliada a metade que ele ao presente tem e lhe toca nos trastes e móveis da dita
ópera; porque a despesa que de hoje em diante se fizer de novo na dita fábrica, há-de ser
por conta de todos os três; e por isso, no caso da dita venda, só há-de pagar ele,
comprador, ao dito vendedor aquela metade que ao presente lhe toca nos trastes da dita
fábrica existentes e a terça parte dos mais trastes que daqui em diante se fizerem e isto
tudo pela avaliação do estado em que estiverem e valerem ao tempo da dita venda e
trespasso, ao tempo em que se fizer a dita avaliação se atenderá a reformação dos trastes
que com efeito de hoje em diante se reformarem, para a qual despesa há-de concorrer
ele João Gomes com a sua terça parte. E, por todo o aqui conteúdo, outorgam todos eles
partes de responderem nesta cidade de Lisboa perante os Corregedores do Cível da
Corte ou da Cidade para o que renunciam o juízo de seu foro domicílio e os mais
privilégios presentes e futuros que em seu favor alegar possam. E em testemunho de
verdade assim o outorgaram, pediram e aceitaram e eu, tabelião, por quem tocar
ausente, sendo testemunhas presentes António Pereira de Miranda, mestre carpinteiro,
morador na Rua de Nossa Senhora do Cabo e José Rufino de Andrade, meu oficial
papelista, que nesta nota assinaram com eles partes a quem conheço e eu, António da
Silva Freire, tabelião o escrevi = entrelinhei = a eles João Gomes e seus companheiros
João Tavares
João Gomes Varela
Teotónio José Duarte
Francisco Luís
António Pereira de Miranda
João da Silva Barros
José Rufino de Andrade
15
ADL 4
6º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de Notas, liv. 20, ff. 93v-94v.
Escritura de venda de trastes e figuras de Teotónio José Duarte a João Gomes
Varela, empresário do Teatro do Bairro Alto (8 de Janeiro de 1762).
[93v] Em nome de Deus ámen. Saibam quantos este instrumento de venda, cessão e
trespasse, qual mais em direito firme seja, quitação e obrigação virem que no ano do
nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos sessenta e dois, em oito dias
do mês de Janeiro na cidade de Lisboa, Rua de São Bento da parte do Rato, no meu
escritório apareceram presentes partes, a saber de uma Teotónio José Duarte que vive de
seu negócio, morador no Largo do Mosteiro da Encarnação, freguesia de Nossa Senhora
da Pena, em seu nome e como procurador de sua mulher Joaquina Perpétua Rosa
Xavier, em virtude de uma procuração de sua letra e sinal que ao diante irá tresladada, e
de outra João Gomes Varela, que também vive de seu negócio, morador na Rua da Rosa
das Partilhas, freguesia de Nossa Senhora da Encarnação. Por ele, Teotónio José Duarte,
foi dito em presença de mim tabelião e das testemunhas ao diante nomeadas que por
uma escritura outorgada em notas de António da Silva Freire, tabelião nesta corte,
continuada em onze dias do mês de Outubro de mil setecentos e sessenta se havia seu
irmão José Duarte ajustado com ele João Gomes Varela e outros companheiros em uma
sociedade a respeito da casa de ópera que todos tinham estabelecido no palácio do
excelentíssimo conde de Soure, na qual escritura se declaram a parte que a cada um dos
sócios [94] ficava pertencendo nos lucros e os trastes e figuras com que para a mesma
casa entraram e falecido da vida presente o dito seu irmão José Duarte lhe fizera ele
Teotónio José Duarte penhora na sua respectiva parte pela execução que fizera à viúva
sua mulher no Juízo da Correição do Cível da Cidade, escrivão Jerónimo Nicolau de
Velasco Galiano e onde rematara para seu pagamento a mesma parte e dela tomara
posse em vinte e dois dias do mês de Agosto do ano próximo passado de mil setecentos
sessenta e um, como de um auto da mesma posse, e que se acha nas costas de um
mandado subscrito pelo dito escrivão, e assinado pelo doutor José Pinto de Morais
Bacelar, corregedor de mesmo juízo; e que em razão do falecimento do dito seu irmão e
da sua penhora ou execução havia celebrado com ele João Gomes Varela e mais
companheiros segunda sociedade por outra escritura outorgada nas notas do mesmo
tabelião continuada em vinte e três dias do mês de Fevereiro do dito ano próximo
passado na qual tem continuado até ao presente a respeito da dita ópera. E porque daqui
16
em diante lhe não fazia conta o continuar na dita sociedade se ajustam com ele, João
Gomes Varela, para lhe fazer venda da sua respectiva parte assim de bonecos como de
tudo o mais que se achar na referida casa de ópera a ele pertencente, como com efeito
em seu nome e no da dita sua mulher e por este instrumento na melhor forma de direito
lhe faz a dita venda e cessão com procuração em causa própria de tudo quanto lhe podia
pertencer a respeito do que dito fica, e isto pelo preço e quantia de duzentos noventa e
dois mil e oitocentos réis, que tantos ele João Gomes Varela em minha presença e das
ditas testemunhas entregou a ele vendedor em dinheiro de contado corrente neste reino
que ele contou e recebeu de que eu tabelião dou fé, com cuja quantia disse se dava por
pago e satisfeito do dito preço e dela dava plena e geral quitação a ele comprador e não
tem dúvida a que este desde logo em virtude desta escritura sem mais autoridade de
justiça possa tomar posse de tudo quanto constar pertencer a ele vendedor na referida
casa, cuja posse tomará real, actual, cível e natural, e quer a tome ou não desde já lhe há
por dada e transferida por clausulam constitutis pondo a ele comprador em seu próprio
lugar, efeito e causa com procuração em causa própria e mais faculdade que de direito
se requeira para de hoje em diante poder continuar na mesma sociedade e cobrar os
interesses que dela lhe puderem resultar, ficando também sujeito às perdas e ele
vendedor delas inteiramente absoluto. E esta escritura promete de sempre e em todo o
tempo cumprir e guardar como nela se contém, pela qual fará a ele comprador e a seus
sucessores a venda nela declarada, certa, segura e de paz até lhe compor a evicção que o
direito outorga, e para tudo assim cumprir disse obrigar a sua pessoa e bens presentes e
futuros e o melhor parado deles. E é declaração desta escritura que a ele cessionário
comprador ficam também pertencendo todas as dívidas que se deverem até o dia de hoje
ao teatro, excepto o que deve [94v] Francisco Xavier Fidalgo porque esta obra do que
seja pertencerá a ele vendedor a sua respectiva parte e que no acto dele recebeu ele
vendedor somente noventa e cinco mil quatrocentos e oito réis e o mais que falta para
complemento do preço referido fica compensado na dívida de que era devedor a ele
comprador procedida de despesa que por ele tinha feito e percas que por ele tinha
suprido no tempo da sua sociedade, de que ele comprador disse lhe dava também
quitação e haviam entre ambos as suas contas por ajustadas até o dia de hoje para nunca
mais em razão delas terem acção alguma um contra o outro. E assim o outorgaram e
aceitaram sendo testemunhas presentes Tomás Marques de Araújo, residente neste
escritório, e António Carvalho Henriques Salema, morador no sítio da Cotovia da parte
17
do Norte que afirmou serem eles partes os próprios que na nota assinaram e
testemunhas. Manuel Inácio da Silva Pimenta, tabelião, o escrevi.
Teotónio José Duarte
João Gomes Varela
Tomás Marques de Araújo
António Carvalho Henriques Salema
18
ADL 5
7º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 18, ff. 16v-20.
Contrato entre Agostinho da Silva e vários cómicos (17 de Fevereiro de 1762).
Transcrição de Licínia Ferreira.
[16v] Saibam quantos este instrumento de contrato de locação de óperas virem que, no
ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos sessenta e dois, aos
dezassete dias do mês de Fevereiro, nesta cidade de Lisboa, na Rua dos Condes e
aposentos de Agostinho da Silva, que vive de seu negócio, onde eu, tabelião, vim, e
sendo aí presente de uma parte, e da outra estava Rodrigo César, morador na Rua Nova
dos Arciprestes que vai para Campolide, e Francisco Xavier Vargo, morador per si e sua
filha Maria Joaquina, moradores à Cotovia de Baixo, João de Almeida, morador na Rua
do Capelão, e António Jorge, morador na Rua Direita de S. José, e Silvestre Alexandre,
morador na Rua do Carvalho. Por eles, partes, foi dito, perante mim, tabelião, e
testemunhas, que eles se acham contratados a continuar e estabelecer a mesma
representação que actualmente há na Rua dos Condes, e entre as condições com que
reciprocamente se têm ajustado para a comum utilidade de todos são as seguintes: que
tudo que respeita ao teatro e seu governo ficará privativamente pertencendo a ele,
Agostinho da Silva, como senhor que dele é. Que ao tempo deste [17] contrato, que se
entende ser por dois anos úteis, os quais hão de ter princípio em dia de Páscoa do
presente ano [até Páscoa de 1764], bem entendido que no que diz respeito à obrigação
dos cómicos, e não dele, Agostinho da Silva, porque, sentindo desconveniência na
continuação das representações, poderá fazer parar com elas a seu arbítrio, sem que, no
tempo desta suspensão, vençam os cómicos emolumento, não sendo por mais de dois
meses, que nunca serão mais em cada ano e sucessivos, porque, passado este termo,
vencerão os emolumentos como se com efeito representassem de ordinário durante todo
o tempo dos dois anos, pois para isto ficam obrigados a não representarem durante os
ditos dois meses em outro teatro ou lugar na corte, não se incluindo em todo o referido o
tempo de Quaresma, em que é sabido não haver representações nos teatros. Que serão
obrigados os ditos cómicos a representar nos dias que a ele, Agostinho da Silva, lhe
parecer, e as óperas ou comédias que ele ordenar, executando nelas cada um as suas
respectivas habilidades, até as de canto, sendo conveniente, e se, na mesma comédia
ocuparem a representação de diversas pessoas, sendo preciso, e cabendo brevidade na
19
habilidade do papel de algum deles, nem por isso levarão maior estipêndio que o abaixo
declarado. Que se ensaiarão todos os dias que forem precisos, ou no teatro ou em casa
dele, Agostinho da Silva, de sorte que saibam bem seus papéis, e estarão sempre
prontos, o qual ensaio respeitará também a comédias castelhanas quando a ele,
Agostinho da Silva, pareça conveniente se representarem algumas. Que vencerão de
emolumento, em cada dia de representação, a saber: Francisco Xavier Vargo dois mil
réis, sua filha Maria Joaquina dois mil réis por cantar e representar, Rodrigo César mil
[17v] e oitocentos réis, João de Almeida mil e oitocentos réis, António Jorge mil
quatrocentos quarenta réis, e dos ditos salários vencerão a metade em tempo de doença
que não dure mais de mês e meio, e por este mesmo emolumento serão os ditos cómicos
obrigados a paramentarem-se dos pequenos vestuários do costume, e, caso que algum
deles faleça ou adoeça, buscará ele, Agostinho da Silva, pessoa que substitua o seu
lugar, e se irão continuando as representações, e vencendo eles, cómicos, os seus
emolumentos, ou parecendo-lhe a ele, Agostinho da Silva, poderá fazer cessar a
representação por algum tempo, incluindo-se nele ou parte ou todo dos dois meses que
fica a seu arbítrio o poder cessar em cada um ano com as ditas representações. Que, por
qualquer contravenção culpável dos cómicos, pagará o que contravier, pela falta ao
ensaio, seis mil e quatrocentos réis, por cada vez que falta da representação ou cântico,
cem mil réis, e outra tanta quantia igual a esta última por cada vez que, durante o tempo
deste contrato, for qualquer dos ditos cómicos representar a diverso lugar, bem
entendido que, a respeito de haverem de cantar, nem eles ditos cómicos ficam obrigados
a fazê-lo, nem igualmente por parte dele, Agostinho da Silva, a obrigação de que as
representações sejam com música, sendo igualmente o que hão vencer três récitas em
cada semana no tempo do Inverno, que terá princípio no dia quinze de Outubro, e duas
em cada semana no tempo de Verão, que se fica regulando da Páscoa do Espírito Santo
até o dia quinze de Outubro do ano seguinte; havendo de vencer eles, cómicos, os
salários estipulados, ainda no caso que se não façam as [18] representações nos termos
que vão regulados nesta escritura, exceptuando a Quaresma, referidos dois meses acima
ditos, e caso que em qualquer das semanas haja mais algum dia de récita que ele,
Agostinho da Silva, determine, como poderá livremente fazer, ficarão sempre vencendo
os respectivos salários, e, sendo preciso e conveniente a ele, Agostinho da Silva, que os
ditos cómicos vão fazer algumas das ditas récitas a que acima ficam obrigados ao Teatro
do Bairro Alto, pelo decurso deste contrato, serão obrigados assim e na mesma forma
como se nestes dias representassem no Teatro da Rua dos Condes, com os mesmos
20
salários. E este contrato de locação passará aos herdeiros dele, Agostinho da Silva, se o
quiserem continuar; o qual Agostinho da Silva e por ele seus herdeiros se obrigam neste
caso a manter pela sua parte este contrato, e, contravindo pela sua parte, será obrigado a
todo o interesse a eles ditos cómicos que por ele estiverem como se com efeito
representassem, o que se entende contravindo culpavelmente, pois, havendo caso
fortuito solito ou insolito que embarace a representação ou a conveniência dela, todos
eles partes ficam desobrigados durante este impedimento, e em qualquer intervalo que
tenha a representação no dito teatro poderão eles ditos cómicos, tendo nisso
conveniência, ir representar fora da corte aonde lhes parecer, contanto que, sendo
avisados quinze dias antes para se acharem nesta corte prontos, com suas partes sabidas,
para se continuarem as representações, serão obrigados a fazê-lo assim logo,
participando o lugar para onde vão, para ali haver de lhe remeter o dito aviso, e, para
este fim, antes que vão para fora da corte, nomearão pessoa assistente nela a quem ele,
Agostinho da [18v] Silva, dê o dito aviso, e ele será obrigado a participar aos ditos
cómicos, e com a ciência da pessoa que nomearem bastará para se haverem eles ditos
cómicos por cientes e participantes do tal aviso. Que ele, dito Francisco Xavier, se
obriga per si e pela dita sua filha quanto em direito pode a manter este contrato. Que o
que não sendo legítimo provado, e removível impedimento e faltar vir à representação
às sobreditas horas, além da pena pecuniária estipulada, ficará no arbítrio dele,
Agostinho da Silva, cumpri-lo a vir preso à ordem de qualquer ministro a fazer o seu
ministério, porém não pagará outra pena pecuniária vindo com efeito por força desta
coacção praticada em todos os teatros. Que, findo o tempo deste contrato, querendo ele,
Agostinho da Silva, que eles, cómicos, continuem a representar no seu teatro, serão
obrigados tanto pelo tanto que lhes der outro qualquer, e faltando serão obrigados a
pagar a ele, Agostinho da Silva, todo o interesse e perda que se lhe seguir, e igualmente
no caso contrário não poderá ele, Agostinho da Silva, tomar outros cómicos passado o
dito tempo, querendo eles continuar o tempo que se ajustarem, porque noutros o que
quiserem fazer, e é declaração que nenhuma ópera nova ou representação se fará sem
que primeiro precedam quinze dias contados do em que se der a cada um a parte
respectiva que deve estudar, e dentro dos mesmos quinze dias e mais não a darão sabida
e em termos de se representar logo, e, não o fazendo, ficarão sujeitos à pena dos cem
mil réis que ficam referidos. E nesta forma disseram eles, partes, ser o seu ajuste e
contrato, o qual prometem e se obrigam fazer em todo o tempo bom na [19] forma que
nesta escritura fica declarado, sem que a possam revogar ou reclamar nem por outro
21
modo contravir, e ao cumprimento e satisfação de tudo obrigam suas pessoas e bens
presentes e futuros e o melhor parado deles, e não têm dúvida eles, partes, que, para
maior validade e segurança deste mesmo contrato, se julgue esta escritura por sentença
de qualquer julgador pelo que reciprocamente se dão desde logo por citados e
confessam suas obrigações e mais necessário. E outorgaram responder pelo o aqui
conteúdo perante as Justiças a que for requerido e este instrumento se apresentar digo
requerido o cumprimento desta escritura, para o que renunciam juízes de seu foro,
domicílio, privilégios presentes e futuros e mais que alegar possa, e estando a esta
outrossim presentes Pedro António Pereira, casado e morador na Calçada da Glória, e
José Félix da Costa, morador à Bica de Duarte Belo, e Desidério Ferreira, morador na
Travessa das Vacas, e José da Cunha, morador na Rua de S. Pedro Mártir, também
cómicos do Teatro da Rua dos Condes, por eles foi dito que eles haviam celebrado uma
escritura com ele, Agostinho da Silva, em quatro de Outubro, na nota do tabelião Tomás
da Silva Freire, a respeito das mesmas representações de que nesta escritura se trata, e
cláusulas que dela consta, e porque ora pretende ele, Agostinho da Silva, que vão eles
ditos quatro últimos cómicos, vão também representar ao Teatro do Bairro Alto durante
o tempo de seu contrato os dias que lhe forem convenientes e ele determinar, não têm
eles, ditos cómicos dúvida assim o fazerem debaixo dos preços e condições e cláusulas
de sua escritura com advertência que esses dias que eles, cómicos, representarem no
Bairro Alto se incluirão no número das récitas a que, em cada um ano, ele, Agostinho da
Silva, se obriga no seu teatro, e suposto que na [19v] dita escritura eles, quatro últimos
cómicos, lhe esteja denegado o poderem ir representar fora da terra quando o teatro
esteja sem exercício, lhe permite ele, Agostinho da Silva, o poderem-no fazer, assim
como acima fica referido a respeito dos mais cómicos, com todas as mais condições
referidas nesta escritura, renúncia de foro e obrigação de suas pessoas e bens e que
também se possa julgar por sentença a seu respeito pelo o que uniformemente também
se dão por citados pelo todo o mais necessário. E porque alguns dos ditos cómicos
tinham feito obrigações aos empresários no Teatro do Bairro Alto a qual por ordem
superior se houve por de nenhum efeito, e contudo temem eles, cómicos, que daí lhe
venha algum prejuízo, ele, Agostinho da Silva, o toma todo sobre si e se obriga a pô-los
a par e a salvo, no caso que os empresários os queiram constranger a estar pela dita
obrigação. Em testemunho de verdade assim o outorgaram e pediram e aceitaram, sendo
testemunhas presentes José António de Mesquita, oficial de cabeleireiro, morador na
Calçada de Agostinho Carvalho, Daniel Eduardo, sem ofício e morador na Rua dos
22
Calafates, que afirmaram serem as partes as próprias a quem conheço, e eu, José
Manuel Barbosa, tabelião, o escrevi. Risquei «cabendo», entrelinhei «brevidade», ele,
Agostinho da Silva, que vão
Agostinho da Silva
Francisco Xavier Vargo em meu nome e de minha filha menor
João de Almeida
Rodrigo César
António Jorge
Pedro António Pereira
José Félix da Costa
José da Cunha
Desidério Ferreira
[20]
José António de Mesquita
Daniel Eduardo
23
ADL 6
3º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de Notas, liv. 639, ff. 42v-43
Contrato de Sebastião António Pientzenauer, Luís José Pientzenauer e José Conti
com Francesca Battini (29 de Março de 1762).
[42v] Saibam quantos este instrumento de ajuste e contrato e obrigação virem que no
ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e sessenta e dois, aos
vinte e nove dias do mês de Março nesta cidade de Lisboa, no sítio de Campo de
Ourique, freguesia de Santa Isabel e casas de morada de Francisca Batini, estando ela aí
presente de uma parte; e outra, Sebastião António Pientzenauer e seu filho, Luís José
Pientzenauer, e José Conti, todos assistentes nesta cidade. E logo por eles, partes, foi
fito na presença de mim, tabelião, e testemunhas ao diante nomeadas, que eles estavam
entre si ajustados e contratados na forma seguinte: que ela, Francisca Batini, se obriga a
ir dançar e executar as suas habilidades da dança ao teatro que determinarem e alugarem
os ditos Sebastião António Pientzenauer e seus companheiros, segundo a ideia dos
mesmos empresários e todas as vezes que eles determinarem e isto pelo tempo preciso
desde o dia de Páscoa da Ressurreição próximo que vem deste presente ano até o dia de
Entrudo do ano próximo que vem; que ela, Francisca Batini vencerá de prémio por
todas as representações que se fizerem na forma sobre dita quantia de setenta e seis mil
e oitocentos em dinheiro contado por mês pelo referido tempo preciso e pagas em duas
meias em cada mês e sempre uma paga adiantada e assim mais vencerá ela, Batini, um
dia chamado de benefício, o qual será a arbítrio da mesma, não sendo nos dias
determinados para a casa nem os dias de Entrudo, sendo a casa pronta com todas as suas
partes e iluminada à custa deles empresários, os quais serão também obrigados a dar-lhe
à sua custa uma sege cada vez que ela tomar de ir às representações ou ensaios para ir e
vir; que ela, Batini, fica obrigada a não faltar aos ensaios que se determinarem e não
dançar em outra alguma parte nesta corte ou fora dela e não faltar aos dias determinados
para as representações sem ser por causa de moléstia e constando o contrário se lhe
abaterá por cada vez faltar vinte mil réis e os empresários ficam obrigados a dar-lhe
para cada representação nova sapatos, meias e luvas e a pôr-lhe vestido pronto conforme
o caracter for preciso para o tal baile; que sucedendo adoecer, ela, Batini, que dure a
moléstia o tempo de dois meses sempre vencerá o referido prémio da mesma forma que
fosse representar e excedendo o dito termo de dois meses a sua moléstia, todo o mais
24
tempo que durar a moléstia não vencerá mais prémio algum e, da mesma sorte, não
vencerá prémio algum caso que suceda parasse com as representações por causa da
morte de príncipe, terramoto ou incêndio; e fazendo as representações no Teatro do
Bairro Alto, terá ela, Batini, além do referido camarote que no mesmo teatro se lhe
costuma dar. E nesta forma disseram eles, partes, nos nomes que representam ser o seu
ajuste e contrato, o qual prometem cumprir como nesta escritura fica declarado ao que
obrigam suas pessoas e bens presentes e futuros e não revogarem, nem recla[ma]rem
este contrato debaixo de pena de pagarem toda a perda e dano que causarem. Em
testemunho da verdade, assim outorgaram, pediram e aceitaram e [43] eu, tabelião, por
quem tocar ausente; e se declara que eles, empresários, ficam todos os três obrigados à
satisfação deste contrato e cada um in solidum e que fechando-se o teatro por causa de
terramoto, durará a suspensão do pagamento da dita Batini enquanto se não abrir outro
qualquer teatro nesta corte, não destruindo-se e arruinando-se totalmente inabitável o
teatro em que representarem; e foram a tudo testemunhas presentes Julião Martelli,
morador na Rua de Santo António da freguesia de Santa Catarina, e Alexandre Mateus,
romano de nação, morador na Rua Direita de Esperança, que nesta corte assinaram com
eles partes a quem todos conhecemos e eu, Tomás da Silva Freire, tabelião,
Francisca Batini
Sebastião António Pientzenauer
Luís José Pientzenauer
José Conti
Julião António Martelli como testemunha
Alessandro Matten[?] como testemunha
25
ADL 7
3º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de Notas, Liv. 639, ff. 50-50v.
Escritura de contrato e obrigação entre os bailarinos António Jorge, José Joaquim
Welch, Francisco Xavier de Sousa, Francisco Trocate e os empresários António
Pientzenauer, Luís José Pientzenauer e José Conti (3 de Abril de 1762).
[50] Saibam quantos este instrumento de contrato e obrigação virem que no ano do
nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e sessenta e dois, aos três
dias do mês de Abril, nesta cidade de Lisboa, na Calçada do Combro e escritório de
mim tabelião, apareceram presentes a saber: de uma parte Sebastião António
Pientznaver e seu filho, Luis José Pientzenauer e José Conti, todos assistentes nesta
corte e de outra parte António Jorge, morador no sítio da Palhavã, e José Joaquim
Welch, morador na Travessa de André Valente, freguesia de Nossa Senhora das Mercês;
e por eles partes foi dito que eles se haviam ajustado e contratado, obrigam-se eles
António Jorge e José Joaquim Welch a exercitarem as suas habilidades de dança e com
efeito por esta escritura se obrigam e ficam obrigados, eles, António Jorge e José
Joaquim Welch a exercitarem as suas habilidades de dançar no teatro que eles Sebastião
António e seu filho José Conti elegerem e determinarem no determinado tempo, desde o
dia de Páscoa da Ressureição próxima que vem deste presente ano até ao dia de Entrudo
do ao próximo que vem, e isto tantas quantas vezes os mesmos Sebastião António e
seus companheiros determinarem, pelo prémio de dois mil e quatrocentos réis cada um
deles, António Jorge e José Joaquim Welch, e por cada um a vez que se fizerem as
representações, sendo também obrigados a irem prontamente a todos os ensaios que
determinarem, debaixo do mesmo prémio de dois mil e quatrocentos réis cada um, por
cada dia de baile, ficando também debaixo do dito prémio obrigados a paramentarem
dos pequenos vestuários como é estilo, cujo prémio ficam eles, Sebastião António e
seus companheiros, obrigados a pagarem em dinheiro de três em três récitas vencidas
que sejam pelo determinado tempo da Páscoa até o Entrudo e ainda que senão
representarem, digo, se não faça representação alguma em todo ou em parte do referido
tempo por qualquer causa que seja, sempre eles, Sebastião António e mais empresários,
lhe farão bom e pagarão como se representasse três récitas cada semana e Domingos e
dias santos e, nos dois meses de Verão, duas récitas em cada semana com os seus
Domingos e dias santos; porque estas récitas ficam sendo precisas para o prémio e
26
interesse deles, António Jorge e José Joaquim, Welch, excepto se por causa de fogo,
terramoto ou morte de príncipe se não puder fazer representação algum[a], pois, neste
caso, fica cessando o referido prémio e enquanto se não remover o tal embaraço e causa
e faltando os ditos dois cómicos ou qualquer deles aos dias de ensaios ou aos dias de
récitas e representação pagará o que com efeito faltar por cada uma vez vinte mil réis e
pena convencional e toda a mais perda e dano que conforme o direito devam restituir; e
ficam eles, António Jorge e José Joaquim Welch, obrigados a representarem no dito
determinado tempo dois dias de benefício que eles, empresários, determinarem sem por
eles levarem prémio algum e os mais dias de benefício que houver lhes serão pagos na
mesma forma que os mais dias ordinários; estando também presentes Francisco Xavier
de Sousa, morador na Cotovia e Rua da Procissão, e Francisco Trocate, morador na Rua
do Carvalho do Bairro Alto, por eles foi dito que eles por esta [50v] mesma escritura se
obrigam, submetem e sujeitam da mesma sorte que os ditos António Jorge e José
Joaquim, Welch ficam obrigados, somente com a diferença do prémio ser mil e
duzentos réis cada récita e cada um deles, Francisco Xavier de Sousa e Francisco
Trocate; e estando também presentes José Rodrigues Rollis, pai do dito Trocate, por ele
foi dito presta a sua outorga e consentimento e também se obriga pelo dito seu filho ao
cumprimento deste contrato, o qual todos eles, partes, querem e prometem cumprir
como nesta escritura fica declarado, ao que obrigam suas pessoas e todos os seus bens
presentes e futuros; e não tem dúvida que para maior validade deste contrato se julgue
esta escritura por sentença, para o que se dão, desde logo, por citados e prometem não
revogar, nem reclamar em parte nem em todo o estipulado nesta escritura. Em
testemunho da verdade assim outorgam, pediram e sujeitaram e eu, tabelião, por quem
tocar ausente, sendo testemunhas presentes António Januário Cordeiro e João de Pavia
Souto Maior que me escrevem e nesta nota assinaram com eles, partes, a quem todos
conhecemos serem os próprios e eu, Tomás da Silva Freire, tabelião, o escrevi,
Sebastião António Pientzenauer
Luís José Pientzenauer
José Conti
José Joaquim Welch
Antonio Giorgio
Francisco Xavier de Sousa Machado
28
ADL 8
3º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de Notas, liv. 639, ff. 50v-51.
Escritura de contrato e obrigação entre Sebastião António Pientzenauer, Luís José
Pientzenauer e José Conti e os empresários do Teatro do Bairro Alto (3 de Abril de
1762).
[50v] Em nome de Deus, ámen. Saibam quantos estes instrumento de contrato e
arrendamento e obrigação virem que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus
Cristo de mil setecentos e sessenta e dois anos, aos três dias do mês de Abril nesta
cidade de Lisboa, na Calçada do Combro e escritório de mim, tabelião, apareceram
presentes a saber: de uma parte Sebastião António Pientzenauer, seu filho Luís José
Pientzenauer e José Conti e doutra parte João Gomes Varela e seus sócios João da Silva
Barros e Francisco Luís, todos moradores nesta Corte. E logo por eles, partes, foi dito
na presença de mim tabelião e testemunhas ao diante nomeadas que eles João Gomes
Varela e mais sócios são senhores e possuidores do teatro que se acha erigido no fim da
Rua da Rosa das Partilhas, e no palácio do excelentíssimo conde de Soure, e que agora
por esta escritura e pela melhor via de direito arrendam e dão de arrendamento o dito
teatro com todas as casas e oficinas pertencentes ao mesmo teatro a eles, Sebastião
António Pientzenauer e seus companheiros, pelo preço, condições, cláusulas e
obrigações seguintes: que este arrendamento se entende pelo tempo preciso do dia de
Páscoa da Ressurreição próximo que vem deste presente ano até o dia de Entrudo do
ano próximo que vem e mais não; que neste arrendamento se compreende o dito teatro
com todos os seus aprestos de pinturas, bastidores e vestuários da mesma forma que
presentemente se compõem; que eles, empresários, farão a seu arbítrio no dito teatro
todos os divertimentos e representações que bem lhes parecer, usando dos vestuários
que nele há, fazendo as mudanças que forem precisas neles de sorte que fiquem sempre
sendo de homem ou de mulher para o que estiverem já feitos e da mesma sorte usarão
eles [ar]rendatários do tablado, fazendo nele as mudanças e obras que forem precisas
para as suas representações de sorte que se não mude a forma dele e tudo à sua própria
custa e despesa; que eles, senhorios da casa e teatro, receberão e lhe ficarão pertencendo
de seu prémio e arrendamento [51] uma sexta parte de todo e qualquer rendimento de
cada uma das noites ou dias que se fizerem as representações ou outro qualquer
29
divertimento e isto livre de toda e qualquer despesa, tanto da casa como da
representação que serão feitas à custa deles, [ar]rendatários; e assim mais ficarão
percebendo eles, senhorios, toda a utilidade que dos consertos do dito teatro e vestuários
resultar, por lhes ficar tudo pertencendo no fim deste arrendamento, porque só a
benfeitoria que for portátil no dito teatro que eles rendeiros fizerem e poderão levar
consigo e da mesma sorte os vestuários novos que se fizerem, que todos se entenderão
feitos à custa dos mesmos rendeiros; que eles, senhorios, terão mais, além do referido o
prémio e interesse, um dia chamado de benefício que não seja nos três dias de Entrudo,
quando eles muito quiserem avisando primeiro a eles, rendeiros, três ou quatro dias
antes que lhe porão prontos e sua custa, todas as partes e a mesma casa livre de despesas
para que eles, senhorios, recebam todo o rendimento e produto do tal dia de benefício,
porque todas as despesas que forem preciso fazer, farão por conta deles, rendeiros; que
o produto e prémio diário que na forma sobredita fica pertencendo a eles, senhorios, que
é a sexta parte de todo o rendimento, o receberá logo ao ajustar das contas ele, João
Gomes Varela ou qualquer dos outros seus sócios; que eles, senhorios, haverão quatro
mil e oitocentos réis e eles, rendeiros, outra tanta quantia em cada um dia de
representação do monte do seu rendimento e do resto é que há de fazer o abatimento da
sexta parte que fica pertencendo a eles, senhorios; que na plateia e nos camarotes não
entrará pessoa alguma sem bilhete e também ficará livre da conta, digo bilhete, e que
além dos camarotes que era costume darem-se no dito teatro de graça, se poderá dar
também de graça um dos camarotes ao excelentíssimo marquês de Marialva e também
haverá quatro bilhetes de graça para cada uma das partes os repartirem pelos seus
amigos que bem lhe parecer; que eles, rendeiros, ficam obrigados a oferecerem
divertimentos no dito teatro o mais cedo que puderem logo depois da Páscoa e a
continuarem no todo o mais determinado tempo deste arrendamento; com declaração,
porém, que se pararem com as representações um mês sucessivamente poderão eles
senhorios usar e determinar do seu teatro como lhe parecer daí por diante e querendo os
rendeiros continuar os divertimentos no mesmo teatro daí por diante o poderão fazer e
ficam obrigados daí por diante até o fim do tempo determinado a pagarem seis mil e
quatrocentos réis por cada dia determinado do estilo que não fizerem divertimento; que
eles, rendeiros, ficam obrigados a fazerem o divertimento duas vezes cada semana e nos
domingos e dias santos; que eles, rendeiros, também farão um dia de benefício para si e
que não haverão eles coisa alguma, digo eles, senhorios, prémio algum; que para dei
digo algum. E nesta forma disseram eles, partes, ser o seu ajuste e contrato que
30
prometem e se obrigam fazer em todo o tempo bom todo o estipulado nesta escritura,
sem que a possam revogar, reclamar, nem por outro algum modo contravir; ao que
obrigam suas pessoas e todos os seus bens presentes e futuros e outorgam responder por
todo o aqui conteúdo, nesta cidade de Lisboa, perante as justiças a que for requerido o
cumprimento desta escritura para o que renunciam o juízo de seu foro domicílio e os
mais privilégios presentes e futuros que em seu favor alegar possam. E em testemunho
da verdade assim o outorgaram, pediram e aceitaram e eu, tabelião, por quem toca
ausente sendo testemunhas presentes Félix Vicente de Almeida, morador na travessa de
Santo António ao Senhor Jesus da Boa Morte, e António Januário Cordeiro que me
escreve e nesta nota assinaram com eles, partes, a quem todos conhecemos serem os
próprios e eu, Tomás da Silva Freire, o escrevi
João Gomes Varela
Sebastião António Pientzenauer
Luís José Pientzenauer
João da Silva Barros
José Conti
Francisco Luís
Félix Vicente de Almeida
António Januário Cordeiro
31
ADL 9
3º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de Notas, liv. 639, ff. 66-66v.
Escritura de contrato e obrigação entre Sebastião António Pientzenauer, Luís José
Pientzenauer e José Conti e o bailarino Pietro Campanella (28 de Abril de 1762).
[66] Saibam quantos este instrumento de contrato e obrigação virem que no ano do
nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e sessenta e dois, aos vinte e
oito dias do mês de Abril, nesta cidade de Lisboa, na Calçada do Combro e escritório de
mim, tabelião, apareceram presentes a saber de uma parte Sebastião António e seu filho
Luís José Pientzenauer e José Conti, todos assistentes nesta Corte, e de outra parte
Pedro Campanella, também assistente nesta cidade. E logo por eles, partes, foi dito na
presença de mim, tabelião, e testemunhas ao diante nomeadas, que eles estavam justos e
contratados obrigam ele, Pedro Campanella, a exercitar as suas habilidades de dançar e
representar pelo preço e na forma ao diante declarada na conformidade do qual ajuste
com efeito agora por esta escritura e pela melhor via de direito se obriga ele,
Campanella, a executar todas as suas habilidades de dançar, representar e cantar
conforme lhe for distribuído no teatro que eles, Sebastião António e seu filho e José
Conti, elegerem e determinarem e todas quantas vezes e dias os mesmos determinarem
as suas récitas, desde o dia de hoje até o dia de Entrudo do ano próximo que vem pelo
prémio e preço de quarenta e oito mil réis em dinheiro cada um mês pago em quatro
pagamentos iguais no fim de cada semana, cada pagamento contados com o vencimento
de vinte e quatro do corrente mês de Abril em diante, ficando o mesmo Campanella
obrigado debaixo do mesmo prémio a paramentar-se dos pequenos vestuários do estilo e
a ir prontamente a todos os ensaios que se fizerem; cujo prémio ficam eles, empresários
Sebastião António e seu filho e José Conti, obrigados todos juntos e cada um in solidum
pelo todo a pagarem na forma sobredita, ainda que se não façam representações
algumas, excepto se por causa de fogo, terramoto ou morte de príncipe se não puder
continuar o divertimento, pois neste único caso fica cessando o referido prémio,
enquanto se não remover o tal embraço e causa e [66v] faltando o dito Campanella a
qualquer récita ou ensaio determinado, não sendo por causa de moléstia, pagará de pena
convencional vinte mil réis por cada vez que com efeito faltar e toda a mais perda e
dano que conforme o direito lhe deva restituir; e nesta forma disseram eles, partes, ser o
seu ajuste e contrato que prometem cumprir como nele se declara sem que o possam
32
revogar, nem reclamar por modo algum; e ao cumprimento e segurança de tudo obrigam
suas pessoas e todos os seus bens presentes e futuros. E em testemunho da verdade
assim o outorgaram, pediram e aceitaram e eu, tabelião, por quem tocar ausente, sendo
testemunhas presentes Paulino Jaques Godfroy e António Januário Cordeiro que me
escrevem e nesta nota assinaram com eles, partes, a quem conhecemos serem os
próprios; e eu, Tomás da Silva Freire, o escrevi,
Pedro Campanella
Luís José Pientzenauer
Sebastião António Pientzenauer
José Conti
Paulino Jaques Godfroy
António Januário Cordeiro
33
ADL 10
6º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de notas, liv. 23, ff. 69-71.
Escritura de contratação de cómicos para o Teatro do Bairro Alto (12 de Março de
1763).
[69] Em nome de Deus ámen. Saibam quantos este instrumento de contrato e obrigação
virem que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus [69v] Cristo de mil, setecentos
sessenta e três em doze dias do mês de Março na cidade de Lisboa no fim da Rua da
Rosa das Partilhas dentro em um quarto do palácio dos excelentíssimos Condes de
Soure aonde apareceram presentes partes; a saber, de uma, João Gomes Varela, João da
Silva Barros, moradores dentro do mesmo palácio e Francisco Luís morador na
Travessa das Vacas junto à rua do Salitre; e da outra João de Sousa, morador na dita
Rua da Rosa, Lourenço António, morador na Calçada de Sant'Ana, Rodrigo César,
morador ao Rato; João Florêncio, morador ao Coleginho da Graça, Francisco de Sousa,
morador na Cotovia junto à Barraca de Nossa Senhora da Piedade das Chagas, Teófilo
Pedro, morador na Rua do Capelão, António de Paula, morador dentro do mesmo
palácio; Quitéria Margarida e sua irmã Teresa Joaquina, filhas de Luís da Silva,
moradoras aí junto. Por eles João Gomes Varela, João da Silva Barros e Francisco Luís
foi dito em presença de mim tabelião e das testemunhas ao diante nomeadas que como
eles têm estabelecido dentro do mesmo palácio uma casa de ópera, na qual também se
costumam representar algumas comédias e mais brincos de divertimento e para ela
necessitem de pessoas cómicas para esse ministério, se ajustaram, digo, ministério, do
qual usam ele João de Sousa, e os mais depois dele nomeados se ajustaram e
contrataram com eles debaixo das condições e cláusulas seguintes: Que eles cómicos
serão obrigados a representar no teatro da dita casa de ópera desde o dia de Páscoa do
presente ano até o de Entrudo do futuro de mil setecentos sessenta e quatro, para o que
se acharão prontos no dito dia de Páscoa na dita casa com os seus vestidos e ornatos
conducentes aos seus caracteres para darem princípio à representação; para o que serão
mais obrigados a saberem os seus respectivos papéis de qualquer comédia ou ópera, que
eles, empresários, lhes ordenaram, e isto dentro em quinze dias, que se contarão desde
aquele que se lhe entregarem sucessivamente para a dita representação. Que nenhum
deles cómicos faltará a todos os ensaios que se houverem de fazer àquela hora que se
lhes determinar, e aquele que faltar pagará de pena convencional por cada uma vez
34
duzentos e quarenta réis que os mais companheiros poderão aplicar para o que melhor
lhes parecer, para cuja aplicação eles empresários darão logo dinheiro e as quantias que
assim forem dando se descontarão nos ordenados daqueles que faltarem ao tempo do
pagamento dos ditos ordenados, sem que seja necessária outra contenda mais do que o
[?] que se lhe fizer da sua falta, no que eles cómicos reciprocamente consentem que
nenhum deles cómicos poderá faltar em dias determinados que [70] para as
representações das óperas ou comédias a acharem-se prontos e vestidos na dita casa
para se dar princípio a uma ou outra coisa àquela hora conveniente e que lhes for
determinada conforme os tempos e a determinação deles empresários e isto por qualquer
motivo que seja, não sendo o de moléstia, no qual caso serão obrigados a mandarem o
aviso a tempo competente a eles empresários para estes lhe mandarem médico ou
cirurgião que possam examinar a dita moléstia e se essa o priva ou não de poder
representar; sendo por outro qualquer motivo e juntamente se descuidar de dar sabido o
seu papel naquele tempo que dito fica poderão eles empresários com o treslado desta
escritura requerer a qualquer ministro ordem de prisão contra aquele que faltar, o qual
não poderá ser solto da cadeia sem primeiro lhes satisfazer todo o prejuízo que pela tal
falta lhes resultar. Que nenhum deles cómicos nos dias de representação poderá sair fora
do teatro depois de vestidos com os ornatos com que devem representar para se irem
meter nos camarotes, ou plateia, a conversar com outras pessoas, e o que assim o fizer
perderá por cada vez a mesma quantia de duzentos e quarenta réis com a mesma
aplicação que dito fica; Que eles cómicos ficam obrigados a representar dois dias de
benefício em quaisquer que eles, empresários, quiserem, a saber um para as obras de
São Pedro de Alcântara e outro chamado o benefício da casa sem que por estes dois dias
eles empresários lhes satisfaçam algum ordenado; Que eles cómicos ficam obrigados a
não porem dúvida alguma a saírem ao tablado em companhia dos dançarinos naquelas
danças em que lhes for preciso, como também a aceitarem as partes na forma que o
autor da ópera ou comédia lhes distribuir ou por eles, empresários, sem que a isso
possam pôr dúvida alguma, e isto debaixo da mesma pena retro mencionada. Que eles,
empresários, serão obrigados a pagar a eles, cómicos, por cada dia que representarem,
não sendo os dos ensaios, o seguinte: a ele, João de Sousa, mil e seiscentos réis; a ele,
Rodrigo César, mil e seiscentos réis; a ele, João Florêncio, mil e duzentos réis, a ele,
Lourenço António, mil e seiscentos réis; a ele, Teófilo Pedro, novecentos e sessenta
réis; a ele, Francisco de Sousa, quando entrar em qualquer comédia ou ópera oitocentos
réis e quando ficar de fora quatrocentos réis, com obrigação de se ocupar em outro
35
qualquer ministério que eles, empresários, determinarem; a ele, António de Paula, mil e
duzentos réis; a ela, Quitéria Margarida, mil e duzentos réis; e a ela, Teresa Joaquina,
outra tanta quantia, cujos pagamentos lhes farão eles empresários prontamente [70v] em
cada uma das noites de representação ou no dia a ela sucessivo; Que eles, empresários,
serão obrigados a fazerem certos a eles, cómicos, desde o dia de Páscoa de Flores até
quinze de Novembro, dois dias de representação em cada semana, reservando dois
meses de Verão que ficarão à eleição deles empresários para os repartirem ou tomarem
juntos como melhor conveniência fizer; Que findos os quinze de Novembro ficam
obrigados a fazer certas três representações em cada semana e todas as mais que
quiserem fazer, pagando a eles cómicos acima e retro declarados até o dito dia de
Entrudo de mil setecentos e sessenta e quatro, o que se entenderá não havendo ordem
em contrário que proíba a dita representação, como também no caso de moléstia ou falta
de algum deles cómicos enquanto com a prontidão possível se lhe não der a providência
necessária e nisto não ser por culpa ou omissão deles empresários; Que sucedendo
adoecer algum deles cómicos serão eles empresários obrigados a pagar-lhe a metade do
seu ordenado de todos os dias de representação o que se entenderá durando a moléstia
por tempo de um mês, porque excedendo lhe não pagarão mais coisa alguma; Que eles
cómicos serão obrigados a conservar todo o segredo das óperas e comédias que se
houverem de representar não mostrando os seus respectivos papéis a pessoa alguma e
fazendo o contrário perderá o salário de um mês que se repartirá entre os mais
companheiros. E nesta forma disseram eles partes estarem contratados sobre o declarado
nesta escritura que cada um pela que lhe toca prometem cumprir e guardar, não revogar
nem reclamar por nenhuma via que seja, antes a seu cumprimento obrigam suas pessoas
e bens presentes e futuros e o melhor parado deles e não tem dúvida a que em todo o
tempo se julgue por sentença de [preceito?] para o que e para a sua execução desde logo
se dão por citados e confessam as suas obrigações nela declaradas e em virtude da dita
sentença se poderá proceder contra aquele ou aqueles que faltarem ao nela expressado.
E estando também presente Nicolau Luís, morador na dita Travessa das Vacas, que
actualmente se acha servindo o dito teatro com as suas composições, por ele foi dito que
ele se obrigava a dar para ele todas aquelas obras que lhe for possível, com a condição
que as não aplicará para outro qualquer teatro público durante o tempo referido,
preferindo eles empresários a outra qualquer pessoa, e pelo seu trabalho lhe darão por
cada noite dois mil réis, sendo a obra sua e sendo alheia vencerá somente dois tostões
[71v] com a condição de que faltando ao que dito fica, perderá em cada noite de
36
representação a mesma pena que eles cómicos, submetendo-se e sujeitando-se às
condições retro declaradas. E assim o outorgaram e aceitaram, sendo testemunhas
presentes José Bernardino de Lima e Abreu, cavaleiro na Ordem de Cristo e Guarda-
Mor do Consulado e Lourenço da Cunha, pintor, morador em Alcântara, que disseram
serem eles partes os próprios que na nota assinaram testemunhas. Manuel Inácio da
Silva Pimenta, tabelião, o escrevi. E declaro que não assinou o dito Francisco de Sousa
por não estar presente, dito tabelião declarei.
João Gomes Varela
João da Silva Barros
Nicolau Luís da Silva
Francisco Luís
Quitéria Margarida
Teresa Joaquina
António José de Paula
João de Sousa Coutinho
Rodrigo César
Lourenço António Pinheiro
Teófilo Pedro
João Florêncio
Lourenço da Cunha
José Bernardino de Lima e Abreu
37
ADL 11
7º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de notas, liv. 1, ff. 32-33
Escritura de contrato e obrigação entre o Teatro da Rua dos Condes e a bailarina
Francesca Battini (16 de Março de 1763).
Transcrição de Licínia Ferreira.
[32] Saibam quantos este instrumento de ajuste e contrato e obrigação virem que, no
ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e setecentos e sessenta e três
anos, aos dezasseis dias do mês de março, no sítio de São Sebastião da Pedreira, e
quinta de Pedro Arce onde eu, tabelião, vim, e sendo aí presente Francisca Batini, no
estado de solteira, e da outra estava Agostinho da Silva, que vive de seu negócio, e
morador na Rua dos Condes. Por eles, partes, foi dito, perante mim, tabelião, e
testemunhas, que ela, Francisca Batini digo e testemunhas, que estão convindo que este
contrato, que há de ter princípio em dia de Páscoa da Ressurreição deste presente ano de
mil e setecentos e sessenta e três, para findar em dia de Entrudo do ano próximo futuro
de mil e setecentos e sessenta e quatro, na forma seguinte. Que será obrigada ela,
Francisca Batini, a dançar todo o referido tempo no teatro dele, Agostinho da Silva,
cada vez que ele determinar e for uso no mesmo teatro, e não poderá dançar em outro
algum teatro, por conveniência ou gratuitamente, dentro ou fora desta corte, durante o
dito tempo. Outrossim será obrigada a vir a todos os ensaios quando for avisada por ele,
Agostinho da Silva, em cujo teatro terá ela, Francisca Batini, o predicamento de
primeira dançarina. Que ele, Agostinho da Silva, será obrigado e se obriga a pagar a ela,
Francisca Batini, setenta e seis mil e oitocentos réis em dinheiro de contado por cada
mês; que outrossim será mais obrigado ele, Agostinho da Silva, a dar-lhe um camarote
junto à boca do teatro do andar do meio, com as duas chaves de serventia para o
corredor e para o teatro, e ela, Francisca [32v] Batini, se obriga a não alugar nunca o
dito camarote a pessoa alguma, debaixo da pena de três mil e duzentos, e somente o
poderá emprestar a quem lhe parecer nos dias em que não estiver doente, porque
estando pertencerá o camarote a ele, Agostinho da Silva, a quem se entregará a dita
chave e se obriga o mesmo Agostinho da Silva a dar por cada dança nova à dita
Francisca Batini dois mil e quatrocentos para os pequenos vestuários, e outrossim mais
um dia de benefício a arbítrio da mesma Francisca Batini, não sendo nos dias ordinários
da repartição digo da representação do teatro, e outrossim se obriga ele, Agostinho da
38
Silva, a dar-lhe a casa pronta com todas as suas partes e iluminada à custa dele,
Agostinho da Silva, e principiando ela, Francisca Batini, a dançar, logo no mesmo dia
lhe pagará ele, dito Agostinho da Silva, trinta e oito mil e quatrocentos, que é a meia
paga, e aos quinze dias do mesmo mês outra tanta quantia, de sorte que sempre um da
meia paga há de ser adiantado, e sempre irá continuando sucessivamente da mesma
sorte nos mais meses, e mais dará ele, Agostinho da Silva, oitocentos réis para uma sege
para ir dançar, e para os ensaios e dança quando para ele for avisada, e virá ela,
Francisca Batini, a horas competentes, sem que dê detrimento ao público, e havendo
alguma proibição, morte de Príncipe, incêndio ou terramoto por que venha a cessar a
representação do Teatro dele, Agostinho da Silva, ficará esta obrigação in suspenso até
finalizar o dito embaraço, e continuará a ter outra vez o seu vigor. Que todas as vezes
que se abrir novamente o teatro dele, Agostinho da Silva, ou outro desta corte, contanto
que o teatro dele, dito Agostinho da Silva, não padeça total ruína, porque então não será
obrigado a reeficalo digo obrigado a reedificá-lo para haver de subsistir o presente
contrato, e sucedendo que adoeça a dita Francisca Batini que dure a moléstia o tempo de
dois meses, sempre vencerá o referido prémio de setenta e seis mil e oitocentos já
referidos, e, excedendo o dito termo de dois meses a dita moléstia, todo o mais tempo
que durar a moléstia não vencerá mais prémio algum senão depois digo algum; e que
cada vez que ela, Francisca Batini, faltar alguma cláusula desta escritura, pagará a ele,
Agostinho da Silva, vinte mil réis. E nesta forma disseram eles, partes, haviam por bem
feita esta escritura, que prometem cumprir, sem que a possam revogar ou reclamar por
modo algum, antes ao seu cumprimento obrigam suas pessoas e bens presentes e [33]
futuros e o melhor parado deles, e não têm duvida que se possa julgar por sentença ao
seu respeito para o caso da falta do que fica expressado, e pelo aqui conteúdo
outorgarão responder nesta cidade perante quem cumprir e este instrumento se
apresentar, para o que renunciam juízes de seu foro, domicilio, privilégios e o mais que
alegar possa. E nesta forma aceitam este contrato na forma dele, e em testemunho de
verdade assim o outorgaram, sendo testemunhas presentes José António Platez, que vive
de seu negócio, e morador na Rua Larga das Olarias, e o Reverendo Padre José Faustino
Gomes, morador a São Sebastião da Pedreira, que afirmaram serem as partes as próprias
conteúdas. Caetano José Dantas Barbosa, tabelião, o escrevi.
Entrelinhei “da representação”na forma seguinte”estão convindos”por” Risquei q”avir”.
Francisca Batini
40
ADL 12
6º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de notas, liv. 24, ff. 71-72v.
Escritura de contrato e obrigação entre Manuel José de Aguiar e os empresários
do Teatro do Bairro Alto (6 de Julho de 1763)
[71] Saibam quantos este instrumento de contrato e obrigação virem, que no ano do
nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e sessenta e três, em os seis
dias do mês de Julho, na cidade de Lisboa, na Rua da Rosa das Partilhas, em um quarto
do palácio dos Excelentíssimos Condes de Soure, aonde ao [71v] presente assiste João
Gomes Varela, estando ele aí presente e bem assim João da Silva Barros, morador
dentro do mesmo palácio, e Francisco Luís, morador na Travessa das Vacas, junto da
Rua Direita do Salitre, isto de uma parte, e da outra o estava Manuel José de Aguiar,
professor de música, morador no mesmo palácio. Por eles, João Gomes Varela, João da
Silva Barros e Francisco Luís foi dito, em presença de mim tabelião e das testemunhas
ao diante nomeadas, que em razão de serem igualmente empresários da casa de ópera
estabelecida ao presente no mesmo palácio e necessitando de mais algumas pessoas para
se empregarem no ministério dela, se ajustaram e contrataram com ele, Manuel José de
Aguiar, para na mesma o admitirem, e isto debaixo das condições e cláusulas seguintes:
Que ele, Manuel José de Aguiar, será obrigado a entrar, desde logo, para a dita casa de
ópera para nela usar do ministério da sua arte, ou seja, para tocar rabeca ou outro
qualquer instrumento que souber, e sem distinção alguma, em todas as ocasiões que
necessário for, e no mesmo modo entrarão, desde logo, suas filhas chamadas Cecília,
Isabel e Luísa Inácia e, juntamente, seu filho chamado António José, que todos se
acham debaixo de seu pátrio poder, os quais serão obrigados a representar na mesma
casa todos aqueles papéis cómicos que eles empresários lhes derem para esse fim na
forma praticada com os mais cómicos dela, e isto sem diferença alguma, qualquer que
ela seja, nem levantar a esse respeito dúvidas nem contendas a respeito de melhores ou
piores figuras. Que ele, Manuel José, será mais obrigado a ensinar tudo o que souber
assim aos ditos seus filhos como aos mais cómicos da referida casa, e que for em
benefício dela para se recitar no seu teatro, ou seja falado ou cantado, ao que ficam
sujeitos os mesmos seus filhos para representarem de um e outro modo, para o que uns e
41
outros se acharão sempre prontos e vestidos em todos aqueles dias que se representar na
referida casa assim óperas como comédias de qualquer idioma que seja assim português
como espanhol ou italiano e com os seus papéis sabidos a tempo competente, ao que
faltando pagarão a eles empresários todo prejuízo que resultar; Que este contrato durará
por tempo de três anos contados da data desta, sucessivamente, no qual ele, Manuel
José, e seus filhos, não poderá fazer outro semelhante com qualquer pessoa que seja e
fazendo-o, ou qualquer dos [72] referidos seus filhos, perderá a quantia de quatrocentos
mil réis aplicados para eles empresários por modo satisfatório de qualquer prejuízo que
em esse respeito se lhes possa seguir na sobredita casa; Que por todo o trabalho que ele,
Manuel José de Aguiar, e referidos seus filhos, hão de ter nos respectivos ministérios
serão eles empresários obrigados a darem-lhe em cada um ano quatrocentos mil réis,
pagos em mesadas, que logo principiam a vencer, um dia de benefício na forma
costumada e o quarto de casas em que ao presente vivem gratuitamente, cujo quarto fica
por baixo da sobredita casa de ópera, cuja quantia lhes pagarão eles empresários, pronta
e sucessivamente, quer trabalhe ou não trabalhe a mesma[?] casa; porque deixando de
trabalhar por omissão deles, empresários, nunca estes deixarão de lhes satisfazer a
mesma quantia, salvo no caso de haver qualquer embaraço superior pelo qual não possa
ter exercício a mesma casa, porque, então, ficará cessando a contribuição dos ditos
quatrocentos mil réis, porém, nunca ele, Manuel José e seus filhos, desobrigados desta
escritura antes e todo o tempo que cessar o dito embaraço, serão obrigados a continuar
nos seus ministérios até com efeito completarem os ditos três anos: e nesta forma
disseram eles, partes, estarem contratados sobre o declarado nesta escritura que cada
um, pela que lhe toca, prometem cumprir e guardar, não revogar nem declinar por
nenhuma via que seja, antes a seu cumprimento obrigavam suas pessoas e bens
presentes e futuros e o mais bem parado deles e que para sua maior segurança não
tinham dúvida a que ela se julgue por sentença de preceito para o que para a sua
execução, desde logo, se davam por citados e confessavam cada um a sua obrigação
nela declarada para em virtude de dita sentença sem mais outra alguma acção, se
proceder contra aquele que faltar em todo ou em parte ao que nela fica obrigado; e pelo
aqui conteúdo responderão eles partes nesta corte perante as justiças dela a quem este
instrumento for apresentado, e seu cumprimento se requer, para o que disseram,
renunciavam juízo de seus foros e domicílios e todos os mais privilégios que em seu
favor alegar possam; e assim o outorgaram e aceitaram sendo testemunhas presentes
José Bernardino de Abreu e Lima, cavaleiro na Ordem de Cristo e José Fróis Leitão,
42
[72v] cavaleiro na mesma ordem, que todos conhecemos serem eles partes os próprios,
que na nota assinaram. Testemunhas. Manuel Inácio da Silva Pimenta, tabelião, o
escrevi.
João Gomes Varela
João da Silva Barros
Francisco Luís
Manuel José de Aguiar
José Fróis Leitão
José Bernardino de Abreu Lima
43
ADL 13
6º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de notas, liv. 26, ff. 41v-43.
Escritura de constituição de sociedade entre Agostinho da Silva, empresário do
Teatro da Rua dos Condes, e os empresários do Teatro do Bairro Alto (25 de
Fevereiro de 1764).
[41v] Em nome de Deus, ámen. Saibam quantos este instrumento de sociedade e
obrigação virem que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil
setecentos sessenta e quatro, em vinte e cinco dias do mês de Fevereiro na cidade de
Lisboa, na Rua Nova que se abriu na Quintinha do Saldanha e casas de morada do
reverendo padre José António Marques aonde apareceram presentes partes, a saber, de
uma Agostinho da Silva, empresário da Casa de Ópera da Rua dos Condes, e na mesma
morador, e da outra João Gomes Varela, João da Silva Barros, moradores na casa de
ópera do Bairro Alto e Francisco Luís, morador na Travessa das Vacas, ao Salitre, todos
três empresários da dita casa de ópera do Bairro Alto. Por eles, partes, foi dito em
presença de mim, tabelião, e das testemunhas ao diante nomeadas, estarem ajustados e
contratados para haverem de estabelecer entre todos uma sociedade, como, com efeito,
por este instrumento na melhor forma de direito a estabelecem, debaixo das condições e
cláusulas seguintes: Que esta sociedade terá seu princípio em dia de Páscoa do corrente
ano e findará em dia de Entrudo do futuro de mil, setecentos sessenta e cinco; Que ele
Agostinho da Silva concorrerá com toda a despesa necessária para o seu teatro até nele
pôr prontas todas aquelas obras cómicas que no decurso do dito ano nele se houverem
de representar e [42] com toda a perfeição que necessária for, tanto para as ditas obras
como para as danças a elas pertencentes, e por tal modo que bem convide os curiosos, e
pôr a renda da casa, concertos dela, decência, maneio, e com toda a mais despesa que
não seja diária; Que ele, João Gomes Varela, e seus companheiros observarão o mesmo
a respeito da sua casa do Bairro Alto, e só eles, partes, ficam reciprocamente obrigados
a entrar para as despesas diárias que se fizerem naqueles dias de óperas, a saber: ele,
Agostinho da Silva, na casa do Bairro Alto com uma terça parte da perda que puder
acontecer, e no mesmo modo perceberá outra tanta parte dos lucros que houverem
depois de rebatidas todas as ditas despesas; Que ele, João Gomes Varela e seus
companheiros, entrarão na mesma conformidade nos dias de óperas que se fizerem na
dita casa da Rua dos Condes com a metade da perda que puder acontecer e perceberão
44
outra tanta parte dos lucros, havendo-os; Que todos os camarotes que em uma e outra
casa se derem fiados fará o seu aluguer por conta do dono da casa que assim o fizer e
será obrigado no fim de um mês pagar aos interessados as suas respectivas partes que no
dito aluguer lhes pertencer, quer a esse tempo o tenha ou não cobrado das pessoas que
os ocuparem; Que sendo necessário a qualquer dos teatros das ditas duas casas valer-se
de alguma cousa que houver no outro se lhe emprestará com toda a prontidão, e depois
de servir, e não sendo necessário, será logo restituída à casa que a emprestar, fazendo a
despesa do transporte por conta daquela que a pedir, ficando esta incluída na que não for
diária, como dito fica; Que dos cómicos que há nesta cidade e dos que puderem
alcançar-se se farão duas companhias que hão de representar de sorte que fiquem ambos
os teatros fornecidos igualmente, e a respeito dos ditos cómicos e dançarinos se não fará
ajuste algum de preços sem concordarem ele, Agostinho da Silva, com ele, João Gomes
Varela e seus companheiros, no que cada um deve vencer, exceptuando Manuel José de
Aguiar e seus filhos, que esses ficarão vencendo aquela quantia estipulada no seu
contrato, de que ele, Agostinho da Silva, tem certa ciência; Que como, ele, João Gomes
Varela, tem mandado vir duas dançarinas e um dançarino de Itália e para isto expedira
letra antes que se efectuasse esta sociedade, ele, Agostinho da Silva, pela sua parte
aprova a dita resolução e no caso de virem os ditos dançarinos ou parte deles será
obrigado a concorrer com a terça parte da sua despesa, na forma que fica dito a respeito
da diária; Que eles, Agostinho da Silva e João Gomes Varela, serão obrigados em cada
uma das noites de ópera que houver nas suas respectivas casas a fazerem a conta da
despesa diária, ficando em poder de cada um deles a importância da mesma despesa
[42v] para com ela fazer pagamento à sua gente mandando cada um deles donos da
casa, no dia em que em ambas houver ópera, uma pessoa pela sua parte assistir às ditas
contas; Que eles, sócios, desde logo por este mesmo instrumento desistem de todas as
causas e demandas que entre si e alguns cómicos até ao presente correrem a respeito das
mesmas casas e contratos a elas pertencentes, seja pelo modo qual for, para que fiquem
sem efeito algum como se ajuizadas não fossem, pondo-se nelas desde já perpétuo
silêncio; Que ele, Agostinho da Silva, será reconhecido no Teatro do Bairro Alto como
sócio e interessado nele, e havendo algum cómico, dançarino, ou outra qualquer pessoa
do serviço da casa, digo pessoa que tenha ocupação na casa que o haja de desatender
por qualquer pretexto que seja será a tal pessoa logo em continente expulsa fora da
mesma casa, e o mesmo se observará com os mais sócios na casa da Rua dos Condes;
Que porquanto eles, sócios, nas suas respectivas casas de ópera costumam nos dias dela
45
darem alguns lugares de graça assim na plateia como nas varandas a algumas pessoas da
sua amizade e obrigação, e a sua tenção não seja prejudicar a sociedade, se convençam
eles, partes, que quando houver muita gente que ocupe os lugares que as tais pessoas
podiam ocupar, que eles, donos das casas, nessas ocasiões evitem as entradas às tais
pessoas pelo melhor modo que puderem, ficando-lhe sempre a liberdade de as
admitirem naqueles dias que houver menos gente e que por essa razão se não siga
prejuízo nem a uns nem a outros; Que no caso de ficarem alguns camarotes por alugar
na casa do Bairro Alto ele Agostinho da Silva terá a liberdade de pedir ao chaveiro a
chave daquele que estiver desocupado e dá-lo a quem bem lhe parecer gratuitamente
sem entrar em conta o seu aluguer, e o mesmo se observará com os mais sócios na casa
da Rua dos Condes, havendo entre todos uma recíproca união e correspondência; Que
em todas as noites de bailes de uma e outra casa se fará pelos donos delas uma exacta
relação do que em cada uma rendeu o teatro para pela dita relação se ajustarem logo as
contas e receber cada um dos sócios a sua respectiva parte dos interesses ou pagar a
perda que puder resultar; Que correndo algum embaraço ou impedimento total por
qualquer acontecimento que seja que por ele deixe alguma das ditas casas de continuar
nas suas óperas e mais divertimentos sempre esta sociedade ficará em [43] seu vigor
com aquela que não tiver o tal impedimento, saindo todas as despesas necessárias, assim
extraordinárias como diárias por conta de todos os interessados. E nesta forma disseram
eles partes estarem ajustados e contratados sobre o declarado nesta escritura, que cada
uma pela que lhe toca prometem cumprir e guardar, não revogar nem reclamar por
nenhuma via que seja, e aquele que o pretender fazer perderá para aquele que a cumprir
a quantia de seiscentos mil réis de pena convencional e sem primeiro dela fazer depósito
não poderá ser ouvido nem admitido em juízo nem fará dele com acção alguma que
seja, à satisfação do que obrigaram suas pessoas e geralmente seus bens presentes e
futuros e o melhor parado deles. E assim o outorgaram e aceitaram, sendo testemunhas
presentes o dito reverendo padre José António Marques e o reverendo padre Pedro
Joaquim da Costa, que todos conhecemos serem eles partes os próprios que na nota
assinaram, e testemunhas. Manuel Inácio da Silva Pimenta, tabelião, o escrevi.
Entrelinhei e seus companheiros.
Agostinho da Silva, João Gomes Varela, João da Silva Barros, Francisco Luís, José
António Marques, Pedro Joaquim da Costa
46
ADL 14
6º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de notas, liv. 26, ff. 69v-70v.
Escritura de esclarecimento das condições da sociedade entre o Teatro da Rua dos
Condes e o Teatro do Bairro Alto com distribuição dos cómicos (10 de Abril de
1764).
[69 v] Saibam quantos este instrumento de declaração, desistência e obrigação virem
que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos sessenta e
quatro, em dez dias do mês de Abril na cidade de Lisboa, dentro do palácio dos
excelentíssimos Condes de Soure, que é na Rua da Rosa das Partilhas, aonde
apareceram presentes partes, a saber, de uma Agostinho da Silva, empresário da sala de
ópera da Rua dos Condes, e nela morador, e da outra João Gomes Varela, João da Silva
Barros e Francisco Luís, empresários da casa de ópera do Bairro Alto, que se representa
no dito palácio. Por eles, partes, foi dito em presença de mim tabelião e das testemunhas
ao diante nomeadas que por uma escritura outorgada em minha nota em vinte e cinco
dias do mês de Fevereiro do presente ano haviam estabelecido uma sociedade a respeito
das suas casas de óperas, e isto debaixo das condições e cláusulas declaradas na dita
escritura a que se referem. E porque depois da dita sociedade estabelecida sucedera
moverem-se algumas controvérsias, as quais querendo evitar por este instrumento na
melhor forma de direito declaram a dita escritura e sociedade debaixo das condições e
cláusulas seguintes: Que as companhias de cómicos que hão-de trabalhar este ano em
ambos os teatros com os supra estabelecidos são, a saber: na Rua dos Condes Pedro
António, que vence por representar e cantar dois mil e quatrocentos réis em cada noite;
Silvestre Vicente, pelo mesmo ministério, outros dois mil e quatrocentos réis em cada
noite; João de Sousa, mil e oitocentos réis; Desidério Ferreira, mil e seiscentos réis; José
da Cunha, mil e oitocentos réis; seu filho, mil e seiscentos réis; António Manuel, mil e
duzentos réis; Francisco Xavier Vargo, dois mil réis; João de Almeida, mil e oitocentos
réis; Maria Joaquina, dois mil e quatrocentos réis, Luzia Teresa Rosa, dois mil réis; Que
as pessoas cómicas que hão-de representar na Casa de Ópera do Bairro Alto são os
seguintes: Cecília Rosa e seus irmãos e irmãs vencem cada [70] ano quatrocentos mil
réis e casas; Quitéria, mil e seiscentos réis; Gertrudes, oitocentos réis; Teresa, mil e
duzentos réis; Ana, oitocentos réis; José Félix, dois mil e quatrocentos réis; António
Martins, mil e seiscentos réis; Rodrigo César, dois mil réis, António Jorge, mil e
oitocentos réis, João Florêncio, mil e duzentos réis, António José de Paula, mil e
47
duzentos réis, Lourenço António, mil e quatrocentos réis, e Teófilo novecentos, sessenta
réis; Que se não poderão pedir as partes principais de uma casa para a outra sem eles
sócios concordarem entre si se é ou não conveniente à sociedade; e só sim aqueles que
ficarem de fora ou sobresselentes poderão ser chamados para aquela aonde houver
necessidade delas; Que no caso de eles, empresários, terem feito algum contrato com
alguns dos cómicos nomeados por mais do ano da sociedade declarada na dita escritura
ou seja por outros ou por escritos particulares desde logo desistem do tal contrato ou
contratos em favor uns dos outros para que fiquem sem vigor algum como se
estipulados não fossem; Que dos camarotes que ficarem por alugar se não darão
gratuitamente nos dois andares de cima de uma e outra casa e que quanto aos lugares de
plateia e varanda se fará um número de bilhetes para eles sócios os poderem repartir
com quem lhe parecer; Que sendo conveniente à sociedade o tirarem ou mudarem os
porteiros das ditas casas de uma para outra o poderão fazer e o mesmo se observará a
respeito dos chaveiros. Que havendo alguma dúvida entre eles partes a respeito da boa
administração e execução da sociedade recorrerão e se louvarão em pessoa ou pessoas
de boa e sã consciência que a haja de decidir e pelo seu arbítrio estarão eles sócios sem
mais alguma controvérsia de juízo e nesta forma disseram eles partes haviam a dita
escritura por declarada ficando esta em tudo e por tudo valendo como parte dela a qual
prometem cumprir como nela se contém ao que obrigam suas pessoas e bens e estando a
esta também presente o dito Francisco Xavier Vargo, morador na Cotovia, Freguesia de
São José, por ele foi dito em minha presença e das ditas testemunhas que porquanto por
uma escritura outorgado em notas de Inácio Matias de Melo continuada em doze dias do
mês de Janeiro do presente ano ele Agostinho da Silva lhe havia largado sociedade da
terça parte dos lucros que neste ano puderem haver na referida casa da Rua dos Condes
por esta mesma desistia de toda a sua administração que nela podia ter e juntamente do
título de empresário, e somente lhe ficará pertencendo a terça parte dos lucros que a ele
Agostinho da Silva pela sua sociedade lhe ficam pertencendo tanto em uma como em
outra casa ficando no mesmo modo obrigado às perdas que puderem acontecer no modo
declarado em outra escritura na mesma nota em vinte e dois dias do mesmo mês. E
nesta forma
[70 v] assim outorgaram e aceitaram sendo testemunhas presentes Pedro Fumantino e
José Conti que todos conhecemos serem eles partes os próprios que na nota assinaram e
testemunhas.
48
Manuel Inácio da Silva Pimenta, tabelião, o escrevi.
Agostinho da Silva
João Gomes Varela
João da Silva Barros
Francisco Luís
Francisco Xavier Vargo
Pedro Fumantino
José Conti
49
ADL 15
12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 42, ff. 43-43v
Escritura de contrato e obrigação entre o Teatro do Bairro Alto e a bailarina
Francesca Batini (2 de Outubro de 1764).
[43] Em nome de Deus, ámen, saibam quantos este instrumento de contrato e obrigação
virem que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e setecentos e
sessenta e quatro, aos dois dias do mês de Outubro, nesta cidade de Lisboa, no Bairro de
São Sebastião da Pedreira, e casas de morada de Francisca Batini estando ela aí presente
de uma parte, e de outra estava João Gomes Varela, empresário da Casa de Ópera do
Bairro Alto; logo, por eles, partes, foi dito perante mim, tabelião, e testemunhas abaixo
nomeadas, que eles estão ajustados por este contrato que há de ter princípio por dia de
Páscoa da Ressurreição do ano próximo que vem de mil e setecentos e sessenta e cinco,
para findar em dia de Entrudo do ano de mil e setecentos e sessenta e seis na forma
seguinte: que ela, Francisca Batini, será obrigada a dançar todo o referido tempo no
teatro da dita Casa de Ópera do Bairro Alto todas as vezes que ele, empresário João
Gomes Varela, determinar e for uso; e não poderá dançar em outro algum teatro, por
conveniência ou gratuitamente dentro ou fora desta corte, sem licença por escrito dele
dito empresário durante o dito tempo. E outrossim, será obrigada a ir todos os ensaios
quando for avisada por ele, empresário; que a ela se lhe dará e fará bom o predicamento
e lugar de Primeira Dançarina em todos os carácteres, em todo o referido tempo; que,
ele, empresário, se obriga a pagar a ela Francisca Batini, sessenta e sete mil e duzentos
réis por mês, e assim mais será obrigado a dar lhe livre um camarote dos pequenos do
andar de cima junto à boca do teatro, de que se lhe entregará a chave; que ele,
empresário, se obriga mais a dar a ela, Francisca Batini, por cada dança nova, dois mil e
quatrocentos réis para os pequenos vestuários; e um dia de benefício a arbítrio dela,
Francisca Batini, não sendo nos dias ordinários da representação do dito teatro com a
casa pronta com todas as suas partes e iluminada à custa dele empresário; Que ele,
empresário, se obriga mais a dar a ela, Francisca Batini, oitocentos réis para uma sege
em todos os dias de representação e ensaios; que ela, Francisca Batini, se obriga a ir a
horas competentes, sem que dê detrimento ao público, e havendo alguma proibição,
morte de príncipe, incêndio, ou terramoto por que venha a cessar a representação do dito
teatro, ficará este contrato e obrigação em suspenso até finalizar o dito embaraço, e
continuar a ter outra vez o seu vigor todas as vezes que se abrir o teatro dele João
50
Gomes, ou outro qualquer desta corte em que ele, neste caso, seja interessado pelos
ditos motivos; que sucedendo que adoeça ela, Francisca Batini, o tempo de um mês,
sempre vencerá o referido prémio de sessenta e sete mil e duzentos réis; e excedendo o
dito termo a moléstia, o mais tempo que durar não vencerá prémio algum até vir ao
teatro, em que se lhe continuará o dito prémio; que cada vez que ela, Francisca Batini,
faltar a alguma das cláusulas e condições desta escritura pagará a ele, empresário João
Gomes vinte mil réis; e a mesma pena se sujeita e obriga ele, empresário João Gomes,
por qualquer falta que haja da sua parte; e nesta forma disseram eles, partes, ser o seu
ajuste e contrato e assim o prometem cumprir e guardar, e não revogar, reclamar, nem
por outo algum modo contra vir em juízo, nem fora dele, antes a seu cumprimento
obrigam suas pessoas e bens; e não tem dúvida a que esta escritura se julgue por
sentença de qualquer julgador, para o que e para a sua execução se dão eles, partes,
desde logo por citados; e outorgam de responder por todo o aqui conteúdo nesta cidade
de Lisboa perante os corregedores do cível [43v] da corte, ou da cidade para o que
renunciam o Juízo de seu foro Domicílio, e os mais privilégios presentes e futuros que
em seu favor alegar possam; e em testemunho de verdade assim outorgaram, pediram e
aceitaram e eu, tabelião, por quem tocar ausente, sendo testemunhas presentes João de
Melo Pereira, morador na Rua Direita de S. Sebastião da Pedreira, e Manuel José,
cirurgião, morador à Cruz da Pedra na Estrada de Benfica, que nesta nota assinaram
com eles partes a quem confesso e eu, António da Silva Freire, tabelião, o escreveu.
Declaro que as casas em que esta escritura se outorgou são da morada de Bartolomeu
Batini, irmão dela, dançarina; porque ela é moradora no mesmo bairro, na quinta do
Masa [?] e eu, sobredito tabelião, António da Silva Freire, o escrevi = entrelinhei = Alto
Francisca Batini
João Gomes Varela
João de Melo Pereira
Manuel José Lopes Matos
51
ADL 16
12º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de Notas, liv. 42, ff. 81-81v.
Escritura de contrato e obrigação entre o Agostinho da Silva e a bailarina
Francesca Battini (9 de Outubro de 1764).
Transcrição de Licínia Ferreira.
[81] Saibam quantos este instrumento de contrato, e obrigação virem que no ano do
nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos sessenta e quatro, em nove
dias do mês de Outubro, nesta cidade de Lisboa, à Rua dos Condes e casas de morada
de Agostinho da Silva Seixas, estando ele aí presente de uma parte, de outra estava
Francisca Batini italiana, assistente nesta corte. Por eles, partes, foi dito a mim, tabelião,
perante as testemunhas ao diante nomeadas, que estão ajustados por este contrato que há
de principiar no dia de amanhã, dez, do corrente mês para findar no dia de Entrudo do
ano que vem de mil setecentos sessenta e cinco a que será obrigada ela, Batini, a dançar
o referido tempo no teatro dele, Agostinho da Silva, todas as vezes que for uso, e ele
determinar, sendo também obrigada a vir a todos os ensaios para que for avisada em
nome dele Agostinho da Silva Seixas e que se lhe dará e fará sempre bom o lugar de
Primeira Dançarina, em todos os caracteres; sendo obrigado ele, Agostinho da Silva, a
pagar a ela, Batini, sessenta e sete mil e duzentos réis em dinheiro de contado por cada
mês; e que ou [81v] outrossim será ele, Agostinho da Silva Seixas, obrigado a dar-lhe
um camarote junto à boca do tablado do andar do meio; e também se obriga a dar por
cada dança nova a ela, Batini demais, dois mil e quatrocentos réis para os pequenos
vestuários; e outrosim um dia de beneficio a arbítrio dela, Francisca Batini, não sendo
nos dias ordinários de representação de teatro: obrigando-se elle Agostinho da Silva
Seixas a dar-lhe a casa pronta e iluminada à sua custa e contadas as suas partes; e
principiando ela, Batini a dançar logo no mesmo dia lhe pagará ele, Agostinho da Silva
Seixas trinta e três mil e seiscentos réis pela meia paga do mês; e no fim dos outros
quinze a outra meia paga de sorte que sempre uma meia paga será satisfeita
adiantadamente e irá continuando na mesma forma em os mais meses; e outrossim dará
mais ele, Agostinho da Silva Seixas, a ela, Batini, oitocentos réis para uma carruagem
assim nos dias de ensaio, como nos dias de representação, vindo ela, Batini, sempre a
horas competentes, sem que dê algum deterimento ao público; e querendo ele,
Agostinho da Silva, que ela vá dançar ao Teatro do Barro Alto somente será obrigada a
52
ir com a sua companhia sem a qual nunca irá; excepto no caso em que por algum
incidente que não seja da parte dos empresários, se feche algum dos teatros por que
então será ela, Batini, obrigada naquele que lhe destinarem com a companhia que os
mesmos empresários quiserem; sendo porém, obrigados a conservar-lhe o lugar de
Primeira Dançarina em todos os caracteres; e havendo algua proibição, morte de
princípe, incêndio, terramoto, etc. por que venha a cessar a representação dos ditos
teatros, ficará esta obrigação em seu vigor digo obrigação suspensa até finalizar o dito
embaraço; porque finalizado que seja, tornará a seu vigor este contrato, e faltando a
alguma destas clásulas, ela, Batini; por cada vez será obrigada a pagar vinte mil réis a
ele, Agostinho da Silva Seixas, e á mesma pena se sujeita ele, Agostinho da Silva, por
cada falta que fizer; e nesta forma disseram estavam ajustados, e prometem cumprir a
presente escritura não a revogarem ou reclamarem por nenhuma via que seja, e para
maior firmeza são contentes que esta escritura se julgue por sentenaça e por todo o
necessário até real execução se dão por citados, para serem condenados de pronto. E em
testemunho de verdade assim o outorgaram, pediram, e aceitaram, e foram testemunhas
presentes o regedor doutor Pedro Joaquim da Costa do hábito de S. P.º, morador na Bica
de Duarte Belo, e João Teixeira Pinto, morador nesta mesma cidade, e todos
conhecemos serem eles partes os próprios que na nota assinaram e testemunharam e eu,
Inácio Matias de Melo, tabelião, o escrevi.
Fransesca Batini
Agostinho da Silva Seixas
Pedro Joaquim da Costa
João Teixeira Pinto
53
ADL 17
7º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 3, ff. 55-55v.
Escritura de constituição de uma companhia de cómicos (30 de Janeiro de 1766).
[55] Saibam quantos este instrumento de obrigação e constituição de companhia virem
que, no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos sessenta e
seis anos, aos trinta dias do mês de Janeiro, nesta cidade de Lisboa, na Rua Direita de
São José e escritório de mim, tabelião, pareceram presentes Pedro António Pereira e
José Félix e Rodrigo César e António Jorge e João de Sousa e António Manuel, todos
cómicos de teatro da Rua dos Condes desta corte. Por eles partes foi dito, perante mim,
tabelião, e testemunhas ao diante nomeadas, que eles querem constituir entre si uma
companhia de cómicos portugueses para estarem prontos a representarem em uma ou
mais casas de ópera que nesta corte se abram ou nas que já actualmente trabalham,
como em efeito constituem por esta escritura na melhor forma de direito, debaixo das
condições e cláusulas seguintes. Que o corpo desta companhia ficará sempre inseparável
no mester de representar, porque o não poderão fazer sem que todos convenham na
separação com cominação de incorrer qualquer deles que o pretender nas penas que ao
diante se dirá. Que qualquer pessoa de qualquer estado que for que se quiser agregar a
esta companhia será por todos aprovado, e nela será admitida sujeitando-se por escritura
às condições e penas que nela se expressar. Que esta companhia estará pronta [55v]
pronta a representar em qualquer casa de ópera que se fizer ou nas que estão feitas,
contanto que o empresário ou dono da Casa que se ajuste com a companhia a respeito
do que cada um deve vencer, cujos preços serão estipulados pela mesma companhia, ou
por cada uma récita ou por mês ou por ano. E pelo que entre si ajustarem e concordarem
com o empresário dono da Casa, poderão celebrar seu contrato, a que todos ficarão
sujeitos, constando dele que a maior parte das pessoas desta companhia o assinaram,
sem a isto porem dúvida alguma. Que nenhuma pessoa da companhia poderá abrir preço
do que deve ganhar para si e seus companheiros sem que primeiro estes lhe dêem esta
faculdade por escrito, e de outro modo não terá efeito o que por ele for ajustado. Que
todos eles sócios ficam obrigados, e assim mais todas as mais pessoas que se agregarem
a esta companhia, a irem ter as suas conferências quando tratarem dos seus ajustes a
casa do companheiro dito Pedro António Pereira, todas as vezes que para isso forem
avisados. Que todos eles cómicos se sujeitam inviolavelmente ao cumprimento das
54
condições desta escritura e cada um de per si se obriga a que, faltando a qualquer delas
ou separando-se da companhia, pagar de pena pelo melhor e mais bem parado de seus
bens e [56] e em melhor cuja aplicação desde já se faz a beneplácito de todos a metade
para o Hospital Real de Todos os Santos, e a outra metade para todos os companheiros
que estiverem vínculos no corpo da companhia, e além desta pena não tem dúvida
aquele que faltar ser degredado por tempo de um ano para um dos lugares de África que
lhe for nomeado por qualquer dos magistrados aonde se requerer o cumprimento desta
pena. E para maior firmeza deste contrato não têm eles partes dúvida todos juntos e cada
um de per si a que se julgue esta escritura por sentença, para ter execução aparelhada e
pronta para se requerer o cumprimento dela contra qualquer pessoa da companhia que
às condições deste contrato faltar. E pelo aqui conteúdo outorgaram responder perante
quem cumprir e este instrumento se apresentar, para o que renunciam juízes de seu foro,
domicílio e o mais que em seu favor alegar possam, e para se julgar por sentença sua
devida observância uniformemente se dão por citados e confessam o estipulado, e
aceitam conforme ele este contrato na forma dele. Em testemunho de verdade assim o
outorgaram, pediram e aceitaram, sendo testemunhas presentes José Pedro Rodrigues da
Silva, estribeiro do Ilustríssimo e Excelentíssimo Principal da Câmara, morador na Rua
Direita de S. José, e Manuel Dias, meu criado, que afirmaram serem os próprios os que
assinados. E eu, José Manuel Barbosa, tabelião, o escrevi. Risquei «da Rua dos
Condes», entrelinhei «desta Corte» e «assinaram». Dito o declarei.
[56v]
Pedro António Pereira
Rodrigo César
José Félix da Costa
António Jorge
João de Sousa
António Manuel
José Pedro Rodrigues da Silva
António Dias
56
ADL 18
12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 48, ff. 24v-25v.
Escritura de cessão e trespasso, quitação e obrigação entre o sócio cessionário,
Matias Ferreira da Silva, e o sócio cedente Francisco Luís (30 de Maio de 1766).
[24v] A obrigação dos seiscentos mil réis que o cessionário ficou devendo ao cedente
está distratada como consta do instrumento de quitação geral e distrato, outorgado em
minha nota, em sete de Janeiro de 1768
Freire
Em nome de Deus, ámen, saibam quantos este instrumento de cessão e trespasso,
quitação e obrigação virem, que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de
mil e sete centos e sessenta e seis, aos trinta dias do mês de Maio nesta cidade de Lisboa
no escritório de mim, tabelião, pareceram presentes, a saber de uma parte Francisco
Luís, mestre Pedreiro, morador na Travessa das Vacas, e de outra parte Matias Ferreira
da Silva homem de negócio, morador na Rua da Rosa das Partilhas, ao cunhal das
Bolas. E logo por ele, Francisco Luís, foi dito que ele e juntamente João Gomes Varela
e João da Silva Barros tomaram todos três de arrendamento ao excelentíssimo Conde de
Soure o seu palácio do pátio da Rua da Rosa das Partilhas, por tempo de quinze anos,
que tiveram princípio no primeiro de Janeiro do ano de mil e sete centos e sessenta e
um, e hão-de acabar no último de Dezembro de mil e setecentos e setenta e cinco, para
nele fazerem casa de ópera, e todas as acomodações precisas e por preço de duzentos e
quarenta mil réis cada ano e com as mais condições que constam da escritura do dito
arrendamento outorgada nas notas de mim, tabelião, em onze de Outubro de mil e
setecentos e sessenta a que se refere; E que depois [25] depois por escrito particular se
aumentou mais no preço do dito arrendamento quarenta e oito mil réis cada ano, vindo a
ser ao todo duzentos e oitenta e oito mil réis de renda cada ano e feita a dita casa de
ópera e suas acomodações celebraram eles arrendatários entre si uma sociedade a
respeito dos lucros ou perdas resultantes da mesma casa de ópera e suas dependências,
ficando nesta sociedade interessado ele, Francisco Luís em uma quarta parte como
consta dos acentos e clarezas que entre eles, sócios, há; e disse, outrossim, ele,
Francisco Luís, que ele está ajustado e com efeito por esta escritura cede e trespassa
com procuração em causa própria em o dito Matias Ferreira da Silva, assim a quarta
parte que lhe toca no arrendamento do dito palácio por todo o tempo que falta para
57
completar os quinze anos dele, como a quarta parte que lhe toca na sociedade e
negociação da mesma casa da ópera e seus lucros e interesses e mais dependências dela
e da mesma sorte lhe cede a acomodação que ele, cedente, para si fez à sua custa na
mesma casa de ópera; bem entendido que nesta cessão e trespasso se compreende todo o
direito e acção de tudo quanto a ele, cedente, toca e tocar possa no arrendamento do
dito, e na negociação e sociedade da mesma casa de ópera, e da acomodação que para si
fez, que tudo fica pertencendo de hoje em diante a ele dito cessionário, Matias Ferreira
da Silva, como sub-rogado, em tudo e por tudo no lugar dele cedente, Francisco Luís; e
que esta cessão lhe assim faz, pela quantia de um conto e duzentos mil réis, por conta
dos quais logo aí perante mim, tabelião e testemunhas abaixo nomeadas contou e
recebeu ele cedente, Francisco Luís, da mão do dito cessionário Matias Ferreira da Silva
seiscentos mil réis em moedas de ouro correntes neste reino, sem erro, nem falta de que
eu, tabelião, dou minha fé, e de que ele cedente dá quitação ao dito cessionário, e ele
cessionário fica obrigado a pagar os outros seiscentos mil réis restantes na forma
seguinte, a ele dito cedente, a saber: trezentos mil réis no fim do mês de Setembro
próximo que vem deste presente ano, e os outros trezentos mil réis em o mês de Janeiro
do ano próximo que vem de mil e setecentos e sessenta e sete; e, além disto, será mais
obrigado, ele, cessionário Matias Ferreira da Silva, pagar ao sócio João Gomes Varela
tudo o que ele, cedente, Francisco Luís lhe está devendo até o dia presente; procedido
da parte que lhe tocava pagar das despesas e perdas que tem havido na dita casa de
Ópera, e que o dito João Gomes Varela supriu por ele, cedente, e a tudo isto obriga ele,
cessionário Matias Ferreira da Silva, sua pessoa e bens; e se declara que nesta cessão se
compreende também aquela parte e direito e acção que a ele cedente toca e tocar possa
nas dívidas que se estão devendo atrasadas, pertencentes às ditas óperas e sua sociedade
e assim mesmo a parte que lhe toca nas acomodações feitas na dita casa de ópera por
conta da dita sociedade, que tudo fica pertencendo ao dito cessionário Matias Ferreira
por virtude desta cessão. E nesta forma promete ele, cedente Francisco Luís, fazer boa
esta cessão e trespasso com declaração que a boa e má cobrança das acções cedidas fará
por conta do dito cessionário; e por ele, Matias Ferreira da Silva, foi dito que ele assim
aceita esta cessão e trespasso e toma e remove sobre si a obrigação que lhe fica tocando
de concorrer com a sua parte os pagamentos da renda do dito palácio e de concorrer
com a quarta parte das despesas da dita sociedade que daqui em diante se houverem de
fazer, como sócio e interessado que fica sendo na dita quarta parte, e finalmente remove
sobre si o bom e mau sucesso do dito arrendamento da dita sociedade, como sub-rogado
58
no lugar do dito cedente, e se obriga tirá-lo, a paz e a salvo, de todas as obrigações, a
que o dito cedente estava obrigado, por causa [25v] do dito arrendamento e sociedade e
contas dela; estando tão bem presente o dito João Gomes Varela, por ele foi dito que se
necessário presta a sua outorga e consentimento a esta cessão e trespasso e aceita a
obrigação que nela lhe faz o dito cessionário Matias Ferreira da Silva de lhe pagar pelo
cedente tudo quanto este lhe deve do que por ele tem suprido, como fica dito neste
instrumento. E porquanto ele cedente, Francisco Luís, da sua quarta parte que lhe tocava
na sociedade das ditas óperas, tinha largado alguma porção a Clemente Ferreira de
Sousa, morador na Rua do Teixeira, estando este agora também presente, disse que ele
dá a sua outorga e consentimento a esta cessão e trespasso que o dito Francisco Luís por
esta escritura ao dito Matias Ferreira da Silva, para que tenha efeito como nela se
contém, sem embargo de qualquer ajuste ou sociedade que ele, Clemente Ferreira de
Sousa tivesse feito com o dito cedente Francisco Luís; e, outrossim se declara que na
referida sociedade das ditas óperas era ele interessado o dito João Gomes em metade; e
ele, Francisco Luís era interessado na quarta parte que agora cede no dito Matias
Ferreira, e o dito João da Silva Barros em outra quarta parte, que por ser falecido ficou
pertencendo a sua filha e herdeira, Joana Inácia, casada com Bruno José, o qual, estando
agora também presente, disse que se necessário era também prestava a sua outorga e
consentimento a esta cessão e trespasso que o dito Francisco Luís faz por esta escritura
ao dito Matias Ferreira, tanto a respeito da parte do arrendamento do palácio como da
quarta parte da sociedade e negociação das óperas; e nesta forma houveram eles partes
por acabadas estas escrituras declarando que sem embargo do arrendamento do dito
palácio ter sido feito aos ditos João Gomes Varela, João da Silva Barros, e Francisco
Luís sem distinção da parte que cada um ficava interessado, contudo, na sociedade
particular que eles ditos rendeiros entre si fizeram, assentaram em ficar sendo
interessado ele, João Gomes Varela, em metade, e ele Francisco Luís, em um quarto e o
dito João da Silva Barros em outro quarto; e isto assim a respeito do arrendamento do
dito palácio como da negociação das ditas óperas e dos lucros ou perdas que de tudo
pudesse resultar; e por isso a cessão e trespasso que ele, Francisco Luís, agora faz ao
dito Matias Ferreira da Silva é da sua quarta parte que em tudo lhe pertence; e em
testemunho de verdade assim o outorgaram, pediram e aceitaram e eu, tabelião, por
quem tocar ausente, sendo testemunhas presentes José Alvares Rangel e José António
Bernardes, meus oficiais papelistas, que nestas notas assinaram com eles partes, a quem
59
confesso serem os aqui conteúdos; e eu António da Silva Freire, tabelião, o escrevi =
dizem os emendados = quarta =
Francisco Luís
Matias Ferreira da Silva
João Gomes Varela
Clemente Ferreira de Sousa
Bruno José do Vale
José António Bernardes
José Alvares Rangel
60
ADL 19
12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 49, f. 50.
Escritura de quitação pela qual se garante o pagamento do sócio cessionário,
Matias Ferreira da Silva, ao sócio cedente Francisco Luís, por quinhão da Casa da
Ópera do Bairro Alto (30 de Setembro de 1766).
Saibam quantos este instrumento de quitação virem que no ano do nascimento de Nosso
Senhor Jesus Cristo, de mil e setecentos e sessenta e seis, aos trinta dias do mês de
Setembro, nesta cidade de Lisboa, no escritório de mim, tabelião, pareceu presente
Francisco Luís, mestre pedreiro, morador na Travessa das Vacas, e por ele foi dito que
por uma escritura outorgada em minhas notas, em trinta de Maio deste presente ano,
cedeu e trespassou ele toda a parte e quinhão, direito, e acção que tinha na Casa da
Ópera do Bairro Alto, em Matias Ferreira da Silva, morador na Rua da Rosa das
Partilhas, pela quantia de um conto e duzentos mil réis, por conta dos quais recebeu
logo ele, cedente, seiscentos mil réis de que deu quitação, e ficou o dito cessionário
obrigado a pagar-lhe os outros seiscentos mil réis em dois pagamentos iguais, um no
fim do corrente mês de Setembro e outro em Janeiro próximo que vem, como tudo
melhor consta da dita escritura de cessão a que se refere; e porque agora perante mim,
tabelião e testemunhas abaixo nomeadas, recebeu ele, cedente, Francisco Luís de mão
do dito cessionário que presente estava, os trezentos mil réis do pagamento que se
venceu no dia de hoje, em dinheiro de conta do corrente neste reino, sem erro nem falta
de que eu, tabelião, dou minha fé, portanto disse ele, dito cedente Francisco Luís, que
por este instrumento dá quitação ao dito cessionário, Matias Ferreira da Silva, destes
trezentos mil réis que dele agora recebeu e nesta parte há por distratada a obrigação da
dita escritura e quer que na nota dela se ponha verba deste pagamento. E por ele, Matias
Ferreira da Silva foi dito que ele assim aceita esta quitação. E em testemunho de
verdade assim o outorgaram, pediram e aceitaram e eu, tabelião, por quem tocar
ausente; e declaro que esta se outorgou assinou aos quatro do mês de Outubro do dito
ano, sendo testemunhas presentes José Alves Rangel e José Cardoso Lisboa, meus
oficiais papelistas, que nesta nota assinaram com eles, partes, a quem confesso serem os
próprios aqui conteúdos; e eu, António da Silva Freire, tabelião, o escrevi.
Francisco Luís
Matias Ferreira da Silva
José Alvares Rangel
62
ADL 20
12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 49, f. 50.
Escritura de procuração cedida por João Gomes Varela para tratar da restituição
do pagamento adiantado ao violinista François Hippolyte Barthélemon (27 de
Novembro de 1766).
Saibam quantos este instrumento de procuração em causa própria e cessão virem que,
no ano do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo, de mil e setecentos e sessenta e
seis, aos vinte e sete dias do mês de Novembro, nesta cidade de Lisboa, no escritório de
mim, tabelião, pareceu presente João Gomes Varela, empresário do Teatro da Ópera do
Bairro Alto desta cidade e por ele foi dito que na corte de Londres entregou ele sessenta
cequins a José Justinieri [Giuseppe Giustinelli], músico cantor, digo sequins, a
Francisco Hipólito Bartholemó [François Hippolyte Barthélemon], senador de violino
de nação francesa, por conta do ajuste que com ele fez para vir exercitar a sua ocupação
na dita casa de ópera desta corte, como consta do seu recibo. E porque o dito Francisco
Hipólito Barthlemó faltou em vir como tinha ajustado, está obrigado a repor a dita
quantia que recebeu e consta do dito seu recibo, e na moeda portuguesa corresponde a
noventa e seis mil réis. E disse, outrossim, ele outorgante, João Gomes Varela, que por
este instrumento constitui seu procurador bastante a José Justineri [Giuseppe
Giustinelli], músico cantor, que será o mostrador da presente para que em nome dele,
outorgante, possa o dito seu procurador cobrar do dito Francisco Hipólito Barthelemó
[François Hippolyte Barthélemon] os ditos sessenta sequins e citá-lo, demandá-lo e
executá-lo por eles, como melhor lhe parecer e cobrar tão bem quaisquer custas, e dar
quitações e descargas de tudo o que receber e assinar em nome dele outorgante em tudo
o que necessário for e requerer tudo o que for a bem de suas justiças e jurar em sua alma
qualquer lícito juramento e de calúnia, e tudo seguir em todas as instâncias e tribunais a
que tocar e substabelecer os procuradores que quiser, e os revogar e desta sempre usar
que para tudo lhe dá ele outorgante todos os seus poderes com livre e geral
administração, reservando somente para si nova citação, bem entendido que o dito seu
procurador, José Justineri [Giuseppe Giustinelli], poderá cobrar a dita quantia para si
como cousa sua própria que lhe fica pertencendo, para o que ele, outorgante, lhe cede
todo o seu direito e acção com procuração em causa própria, em razão dele outorgante
haver recebido do dito seu procurador outra tanta quantia; e, outrossim, bem entendido
63
que a boa e má cobrança da dita quantia fará por conta do dito seu procurador
cessionário; e tudo por ele feito e cobrado, promete haver por bom firme e valioso; e
assim o outorgou, pediu e aceitou e eu, tabelião, por quem tocar ausente, sendo
testemunhas presentes José Cardoso Lisboa e José António Bernardes, meus oficiais
papelistas, que nesta nota assinaram com ele outorgante, ao qual confesso e dou fé ser o
próprio aqui conteúdo; e eu, António da Silva Freire, tabelião, o escrevi e entrelinhei =
de Violoni =
João Gomes Varela
José Cardoso Lisboa
José António Bernardes
64
ADL 21
12º Cartório Notarial de Lisboa /Antigo 5º B, Livros de Notas, liv. 50, f. 14.
Procuração cedida por Matias Ferreira da Silva a António José Gomes para
ajustar contas relativas à sociedade da Casa da Ópera do Bairro Alto (1 de Janeiro
de 1767).
Saibam quantos este instrumento de procuração virem que no ano do nascimento de
nosso senhor Jesus Cristo de mil e setecentos e sessenta e sete, ao primeiro dia do mês
de Janeiro, nesta cidade de Lisboa, no escritório de mim, tabelião, pareceu presente
Matias Ferreira da Silva, homem de negócio, morador na Rua Direita do Loreto; e por
ele foi dito que a ele, como cessionário de Francisco Luís, lhe pertence uma quarta parte
na Casa da Ópera do Bairro Alto, e todas suas dependências e pertenças e lucros, como
constam de uma escritura de cessão e trespasso outorgada nas notas de mim, tabelião,
em trinta de Maio do ano próximo passado de mil e setecentos e sessenta e seis a que se
refere. E disse, outrossim, que por este instrumento constitui seu procurador bastante a
António José Gomes, morador na Travessa das Mercês; e lhe dá poder, quanto em
direito se requer, para que em nome dele, outorgante, possa o dito seu procurador
assistir a todas as dependências, e ajustes de contas, das ditas óperas e comédias e mais
festejos que se fizerem na dita Casa de Ópera do Bairro Alto e receber e haver a si toda
a parte e quinhão tocante a ele outorgante e tudo o mais que por razão da dita casa de
ópera e suas representações pertencer a ele outorgante e dar quitações e descargas de
tudo o que receber e assinar em nome dele outorgante, em tudo o que necessário for e
procurar e requerer todo o seu direito e justiça em todas as suas causas movidas e por
mover em que seja autor ou réu; oferecer acções, justificações, habilitações, protestos,
requerimentos, pedimentos, louvamentos; embargos de sequestros e execuções, lanços,
rematações, e tomar poses, jurar na alma dele outorgante qualquer lícito juramento e de
calúnia, por contraditas e suspeições, apelar, agravar, embargar, e tudo seguir em todas
as instâncias ou renunciar e desistir quando lhe parecer e substabelecer os procuradores
que quiser e os revogar e desta sempre usar que para tudo lhe dá todos os seus poderes
com livre e geral administração, reservando somente para si nova citação e tudo por ele
feito promete ele outorgante haver por bom firme e valioso; e assim o outorgou sendo
testemunhas presentes José Cardoso Lisboa e José António Bernardes, meus oficiais
papelistas, que nesta nota assinaram com ele outorgante, a quem confesso ser o próprio
aqui conteúdo, e eu, António da Silva Freire, tabelião, o escrevi,
66
ADL 22
12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 53, f. 84v.
Francisco Luís, empresário da Casa da Ópera do Bairro Alto, dá a plena e geral
quitação do seu quinhão ao sócio cessionário, Matias Ferreira da Silva (7 de
Janeiro de 1768)
[84v] Saibam quantos este instrumento de quitação e distrato virem que, no ano do
nascimento de nosso senhor Jesus Cristo de mil e setecentos e sessenta e oito, aos sete
dias do mês de Janeiro, nesta cidade de Lisboa, no escritório de mim, tabelião, pareceu
presente Francisco Luís, mestre-pedreiro, morador na Travessa das Vacas; e por ele foi
dito que por uma escritura outorgada em minha nota, em trinta de Maio de mil e
setecentos e sessenta e seis, cedeu e trespassou ele toda a parte e quinhão, direito e
acção que tinha na Casa da Ópera do Bairro Alto em Matias Ferreira da Silva, agora
morador na Rua Direita do Loreto, pela quantia de um conto e duzentos mil réis; por
conta dos quais recebeu ele cedente do dito cessionário, ao assinar da mesma escritura,
seiscentos mil réis, de que deu quitação na mesma escritura e despois recebeu mais do
mesmo cessionário trezentos mil réis de que também deu quitação por outra escritura
continuada em minha nota, em trinta de Setembro, e assinada em quatro de Outubro do
mesmo ano de mil e setecentos e sessenta e seis; e agora neste acto perante mim,
tabelião, e testemunhas abaixo nomeadas, recebeu ele cedente do mesmo cessionário,
por mão de Joaquim António Bergili Maldonado que também estava presente, os
últimos trezentos mil réis restantes em moedas de ouro correntes neste reino, sem erro
nem falta de que eu, tabelião, dou minha fé; e, portanto, disse ele, Francisco Luís, que
com estes trezentos mil réis, que agora recebeu, fica inteiramente pago e satisfeito do
um conto e duzentos mil réis, preço da dita cessão, e que por este instrumento dá tudo
plena e geral quitação ao dito cessionário Matias Ferreira da Silva, e distrata e há por
distratada a obrigação da dita quantia; e promete fazer boa em todo o tempo esta
quitação geral; e por ele, Joaquim António Bergili Maldonado, foi dito aceita esta
quitação para o dito Matias Ferreira da Silva de quem tinha recebido os ditos três dos
mil réis para este último pagamento e comissão vocal para a aceitação desta quitação; e,
em testemunho de verdade, assim o outorgaram, pediram e aceitaram e eu, tabelião, por
quem tocar ausente sendo testemunhas presentes José Cardoso Lisboa e José Alvares
Rangel, meus oficiais papelistas, que nesta nota assinaram com eles partes a quem
67
confesso serem os próprios aqui conteúdos, e eu, António da Silva Freire, tabelião, o
escrevi
Joaquim António Bergili Maldonado
Francisco Luís
José Alvares Rangel
José Cardoso Lisboa
68
ADL 23
12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 54, ff. 28-28v.
Revogação da procuração cedida por Matias Ferreira da Silva a António José
Gomes (23 de Fevereiro de 1768).
[28] Saibam quantos este instrumento de revogação virem que no ano do nascimento de
Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e setecentos e sessenta e oito, a os vinte e três dias do
mês de Fevereiro, nesta cidade de Lisboa, no escritório de mim, tabelião, pareceu
presente Matias Ferreira da Silva, homem de negócio, morador na Rua Direita do
Loreto; e por ele foi dito que para a cobrança e mais dependências da quarta parte que
lhe pertence na Casa da Ópera do Bairro Alto desta cidade, havia ele constituído seu
procurador bastante a António José Gomes com os mais poderes mencionados em um
instrumento de procuração outorgado nas notas de mim, tabelião, em o primeiro de
Janeiro do ano próximo passado de mil e setecentos e sessenta e sete; outrossim, disse
ele, Matias Ferreira da Silva, [28v]que por este instrumento revoga a sobredita
procuração feita ao dito António José Gomes para não poder usar mais dela nem outra
alguma pessoa por ele substabelecida e quer que na nora dela se ponha verba porque
conste desta revogação para ficar sem vigor algum, como se outorgada não fora. E em
testemunho de verdade, assim outorgou, pediu e aceitou sendo testemunhas presentes
José Cardoso Lisboa e José Alvares Rangel, meus oficiais papelistas que nesta nota
assinam com ele, outorgante, ao qual confesso e dou fé ser o próprio aqui conteúdos; e
eu, António da Silva Freire, tabelião, o escrevi
[não há assinaturas]
69
ADL 24
7º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício A, Livros de Notas, liv. 575, ff. 9v-10.
João Gomes Varela constitui António Jorge, de partida para Itália, como seu
procurador, de modo a contratar dançarinos em seu nome para o dito teatro (14 de
Abril de 1768).
[9v] Saibam quantos este instrumento de procuração virem que no ano do nascimento
de nosso senhor Jesus Cristo de mil setecentos sessenta e oito, aos catorze dias do mês
de Abril nesta cidade de Lisboa, na Rua Direita do Moinho de Vento, no escritório de
mim, tabelião, apareceu presente João Gomes Varela, empresário do teatro da Casa da
Ópera do Bairro Alto desta cidade e nela morador. E por ele foi dito que por este
instrumento constitui seu procurador bastante a António Jorge, de partida para Itália, e
lhe dá poder quanto em direito se requer para que em nome dele outorgante possa o dito
seu procurador ajustar lá na Itália dois dançarinos e duas dançarinas para o mesmo
teatro dele outorgante pelos preços, [10] tempos e mais condições declaradas na ordem
assinada por ele outorgante, que valerá como parte deste instrumento e dos ditos ajustes
poderá celebrar e assinar escritos ou escrituras públicas com as cláusulas, penas e
obrigações que precisas forem para a sua validade e segurança, obrigando a pessoa e
bens dele outorgante ao cumprimento delas, requerer todo o seu direito e justiça,
substabelecer os procuradores que quiser, revogá-los e desta sempre usar, reservando
ele outorgante toda a nova citação para si, mas para tudo o mais que preciso for a bem
dos ditos contratos disse dava ao dito seu procurador todos os seus poderes, com livre e
geral administração, ainda para aqueles casos e actos em que de direito se necessite de
especial mandato, e aqui não vão expressados, como se de cada um deles se fizesse
especial menção, e tudo pelo dito seu procurador feito promete haver por firme e
valioso, como se a tudo presente fosse. E assim o disse e outorgou, pediu e aceitou,
sendo testemunhas presentes João Alves, morador na Rua da Madre de Deus, e José da
Vitória, meu vizinho, que nesta nota assinaram com ele outorgante, a quem conheço. E
eu, José Rufino de Andrade, tabelião, o escrevi.
João Gomes Varela
João Alves
José da Vitória
70
ADL 25
7º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício A, Livros de Notas, liv. 575, f. 73v.
João Gomes Varela constitui Bruno José do Vale como seu procurador, de modo a
poder contratar em Itália uma companhia de representação e bailarinos (21 de
Novembro de 1768).
Saibam quantos este instrumento de procuração virem que no ano do nascimento de
nosso senhor Jesus Cristo de mil setecentos sessenta e oito, aos vinte e um dias do mês
de Novembro, nesta cidade de Lisboa, na Rua Direita, no escritório de mim, tabelião,
apareceu presente João Gomes Varela e Companhia, empresário do Teatro do Bairro
Alto donde é morador. E por ele foi dito que por este instrumento constitui seu
procurador bastante a seu companheiro Bruno José do Vale e lhe dá poder quanto em
direito se requer para que em nome dele outorgante e companhia possa o dito seu
procurador e companheiro passar à Itália e nela ajustar a companhia de representação
italiana a qual chamam do Saque [Sacchi], ou outra qualquer do mesmo carácter, como
também os dançarinos e dançarinas que forem precisos, pelos preços, tempos e mais
condições que julgar precisas, além da dita sua companhia, sendo obrigados a estarem
em Génova a primeira até a segunda semana da Quaresma próxima futura, donde deve
achar navio pronto para a sua partida, cuja cláusula será estipulada nos referidos ajustes,
dos quais poderá assinar escritos ou escrituras públicas com as cláusulas, penas e
obrigações que precisas forem para a sua validade e segurança, obrigando a pessoa e
bens dele outorgante e Companhia ao cumprimento delas, requerer todo o seu direito e
justiça, substabelecer os procuradores que quiser, revogá-los e desta sempre usar,
reservando ele outorgante para si toda a nova citação, mas para tudo o mais que preciso
for a bem dos ditos contratos disse dava aos ditos seus procuradores todos os seus
poderes, com livre e geral administração, ainda para aqueles casos e actos em que de
direito se necessite de especial mandato, e aqui não vão expressados, como se de cada
um deles se fizesse expressa e declarada menção, e tudo pelo dito seu procurador feito a
bem da dita sua Companhia promete haver por bom, firme e valioso, pois para tudo
disse dava todos os seus poderes em direito necessários ao dito seu procurador, o qual
guardará em tudo suas ordens e avisos, que valerão como parte deste instrumento. E
assim o disse e outorgou, pediu e aceitou, sendo testemunhas presentes José da Vitória e
meu irmão João Xavier de Andrade, que nesta nota assinaram com ele outorgante, a
71
quem todos conhecemos ser o próprio. E eu, José Rufino de Andrade, tabelião, o
escrevi. Interlinhei = sua.
João Gomes Varela
José da Vitória
João Xavier de Andrade
72
ADL 26
7º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício A, Livros de Notas, liv. 575, ff. 74v-75.
Procuração cedida por Bruno José do Vale, de partida para Itália, a Matias
Ferreira da Silva (22 de Novembro de 1768).
[74] Saibam quantos este instrumento de procuração virem, que no ano do nascimento
de nosso senhor Jesus Cristo de mil setecentos, sessenta e oito, aos vinte e dois dias do
mês de Novembro nesta cidade de Lisboa, dentro no Pátio da Ópera do Bairro Alto, e
casas de morada de Bruno José do Vale, de partida para Itália. Por ele foi dito que por
este instrumento constitui seu procuradores bastantes a Matias Ferreira da Silva, homem
de negócio nesta corte, e a Joana Inácia Teodora, sua mulher, dele outorgante, e lhes dá
poder quanto em direito se requer para que em nome dele outorgante possam os ditos
seus procuradores, e qualquer deles in solidum, cobrar, e haver a seu poder todas e
quaisquer suas dívidas, dinheiro, efeitos, bens, e acções, e tudo o mais que a ele
outorgante se lhe dever, e pertencer em qualquer parte, em qualquer tempo, e por
qualquer via e título que seja, ainda que lhe venda remetido das partes ultramarinas e da
casa da moeda desta corte em cofres, ou fora deles, e do Erário Régio, e depósito geral,
ajustar, e pedir contas, e dar quitações do que receber, e assinar em seu nome em tudo o
que necessário for, e procurar, e requerer todo o seu direito, e justiça em todas as suas
causas movidas e por mover em que for autor, ou réu; oferecer acções novas de
qualquer qualidade contra quaisquer pessoas, fazer citações, justificações, habilitações,
protestos, requerimentos, pedimentos, louvamentos, embargos, sequestros, execuções,
penhoras, lanços, rematações, cessões, trespassos, transacções composições, ajustes, e
tomar posses; jurar na alma dele, outorgante, qualquer lícito juramento, e de calúnia, e o
fazer dar, e deixar em quem lhe parecer, por contraditas, e suspeições, apelar, agravar,
embargar, tudo seguir em todas as instâncias, ou renunciar, e desistir, quando lhe
parecer, e substabelecer os procuradores, que quiserem, e os revogar, e desta sempre
usarem, e só para si reserva ele outorgante toda a nova citação, mas para tudo o mais
disse dava aos ditos seus procuradores, e a qualquer deles in solidum todos os seus
poderes com livre, e geral administração e tudo por eles, e qualquer deles feito promete
ele outorgante haver por bem firme, e valioso, e assim o disse, e outorgou, pediu e
aceitou sendo testemunhas presentes João Gomes Varela, empresário do dito teatro e
73
António Baptista Ancora, morador na Rua da Paz, que nesta nota assinaram com ele
outorgante a quem todos conhecemos, e eu José Rufino de Andrade, tabelião, o escrevi,
Bruno José do Vale
[75] António Baptista Ancora
João Gomes Varela
74
ADL 27
12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 61, ff. 35-35v.
Escritura de cessão e trespasso do quinhão do sócio cedente da Casa da Ópera do
Bairro Alto, João Gomes Varela, aos sócios cessionários Bruno José do Vale e
Matias Ferreira da Silva (6 de Julho de 1770).
[35] Em nome de Deus, ámen. Saibam quantos este instrumento de cessão e trespasso
com procuração em causa própria e obrigação, e qual em direito melhor lugar haja e
mais firme seja, virem que no ano do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo de mil e
setecentos e setenta, aos seis dias do mês de Julho nesta cidade de Lisboa, no escritório
de mim, tabelião, pareceram presentes, a saber, de uma parte João Gomes Varela e de
outra parte Bruno José do Vale e Matias Ferreira da Silva; e logo por ele, João Gomes
Varela, foi dito que ele e juntamente João da Silva Barros e Francisco Luís tomaram de
arrendamento ao excelentíssimo conde de Soure o seu palácio do Pátio da Rua da Rosa
das Partilhas para nele fazerem casa de ópera e todas as acomodações que lhe fossem
precisas, tanto para a dita casa de ópera, como para poderem alugar as casas que lhes
não servissem; e isto por tempo de quinze anos, que tiveram princípio no primeiro de
Janeiro do ano de mil e setecentos e sessenta e um, por preço e renda, em cada um dos
ditos anos, de duzentos e quarenta mil réis, e com as mais cláusulas e condições,
mencionadas na escritura do dito arrendamento que foi outorgada na nota de mim,
tabelião, em o primeiro de outubro de mil e setecentos e sessenta a que se refere; e
depois, por um escrito particular feito nas costas de um traslado da mesma escritura se
aumentou o preço do dito arrendamento com mais quarenta e oito mil réis, para ficarem
pagando duzentos e oitenta e oito mil réis de renda cada ano; e eles, arrendatários,
fizeram entre si sociedade a respeito do mesmo arrendamento e casa de ópera e
negociação dela e suas pertenças, ficando em tudo interessado ele, João Gomes Varela,
em metade, e os seus companheiros, João da Silva Barros e Francisco Luís, cada um
destes, em uma quarta parte; e falecendo da vida presente o dito João da Silva Barros,
ficou a sua quarta parte pertencendo a ele seu genro Bruno José do Vale, por cabeça de
sua mulher Joana Inácia; e outra quarta parte pertence a ele, Matias Ferreira da Silva
como cessionário do dito Francisco Luís, em virtude da escritura de cessão que este fez
na nota de mim, tabelião, em trinta de Maio de mil e sete centos e sessenta e seis;
outrossim, disse ele, João Gomes Varela, que ele está agora ajustado e com efeito por
este instrumento cede e trespassa aquela sua a metade que lhe toca assim no
75
arrendamento da dita casa de ópera, como na sociedade das mesmas óperas e suas
pertenças, uma e outra coisa respectiva aos cinco anos e meio que faltam por cumprir do
tempo do dito arrendamento e tiveram princípio no primeiro dia do corrente mês de
Julho; e isto a favor deles seus companheiros, Bruno José do Vale e Matias Ferreira da
Silva, aos quais põe e sub-roga no seu próprio lugar e efeito e causa com toda a cessão e
trespassação de seu direito e justiça e procuração em causa própria, mas com as
obrigações e condições seguintes: que eles, cessionários Bruno José do Vale e Matias
Ferreira da Silva, serão obrigados a pagar pontualmente ao dito excelentíssimo conde de
Soure os duzentos e oitenta e oito mil réis cada ano da renda da dita casa de ópera que
se vence desde o primeiro dia do corrente mês de Julho em diante até o fim dos ditos
cinco anos e meio que faltam por cumprir dos quinze anos do dito arrendamento e a tirar
ao dito cedente, João Gomes, a paz e a salvo, dessa obrigação e, além disso, ficar [35 v]
mais obrigados eles cessionários a darem e pagarem a ele cedente, João Gomes Varela,
por preço e causal desta cessão e trespasso quatrocentos mil réis em cada um dos ditos
cinco anos e meio, e pagos aos quarteis de três em três meses, sendo o pagamento do
primeiro quartel no fim do mês de Setembro próximo deste ano, e os mais seguinte e
sucessivamente de três em três meses sem interpolação, falta, nem demora até o fim dos
ditos cinco anos e meio; e a tudo isto obrigam eles cessionários, Bruno José do Vale
e Matias Ferreira da Silva suas pessoas e todos seus bens presentes e futuros; cuja
obrigação fazem eles cessionários ambos juntos, cada um per si, e cada um por ambos,
como correos debendi, e como fiadores e principais pagadores cada um do outro; e
porquanto os trastes e vestuários e mais coisas que tocam à representação das óperas,
que presentemente existem na mesma casa, são pertencentes à sociedade que eles,
outorgantes, até agora tiveram, se declara que dentro de quinze dias primeiros seguintes
se fará um inventário de tudo com avaliação do seu justo valor que tem no tempo
presente, para no fim dos ditos cinco anos e meio se entregar e restituir a ele, João
Gomes, a sua metade que lhe toca na mesma qualidade de trastes e vestuários que então
houver, pelo justo valor em que então forem avaliados; e porquanto ele, João Gomes
Varela, fez, in solidum, à sua própria custa junto ao mesmo palácio ou dentro nele, o
quarto de casas em que ele actualmente reside com a sua família; e também os quartos
em que moram as cómicas Cecília Rosa e Peppa Olivares, que deles lhe pagam renda, se
declara que estes tais quartos não entram nesta cessão e trespasso, antes ficam livres a
ele, João Gomes, para os poder habitar e perceber a renda deles como coisa sua própria
a que in solidum lhe pertence e fica pertencendo, como até agora se pratica; que ele
76
cedente, João Gomes, se não poderá intrometer, nem ter voz activa, nem passiva em
coisa alguma pertencente à dita casa de ópera, governo e administração dela e dos seus
cómicos, e mais pertenças; porque de tudo fica privado por virtude deste ajuste, tudo
fica inteiramente pertencendo a eles, cessionários Bruno José do Vale e Matias Ferreira
da Silva, para ambos igualmente tudo governarem, administrarem e disporem a seu
próprio arbítrio como melhor lhes parecer e em tudo assinarem ambos, pois por conta de
ambos fica correndo, daqui em diante, o bom e mau sucesso e a boa e má cobrança e os
lucros ou perda resultantes da dita casa de ópera e suas pertenças; que por todo o aqui
conteúdo responderam todos eles partes, nesta cidade de Lisboa, perante os
corregedores do cível da corte ou da cidade, para o que renunciam o Juízo de seu foro
Domicílio, e os mais privilégios presentes e futuros que em seu favor alegar possam. E
em testemunho de verdade assim o outorgaram, pediram e aceitaram e eu, tabelião, por
quem tocar ausente, sendo testemunhas presentes Leonardo Severo de Figueiredo,
escrivão da Correição do Crime do Bairro Alto, e José Cardoso Lisboa, meu oficial
papelista, que nesta nota assinaram com eles partes, a quem confesso serem os próprios
aqui conteúdos; e eu, António da Silva Freire, tabelião, o escrevi
Matias Ferreira da Silva
Bruno José do Vale
João Gomes Varela
Leonardo Severo de Figueiredo
José Cardoso Lisboa
77
ADL 28
12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício A, Livros de Notas, liv. 32, ff. 88-88v.
Escritura de reconhecimento de dívida de Bruno José do Vale, empresário do
Teatro do Bairro Alto, ao sócio e credor Matias Ferreira da Silva (7 de Agosto de
1770).
[88] Saibam quantos este instrumento de obrigação virem que no ano do nascimento de
nosso senhor Jesus Cristo de mil setecentos e setenta, em sete dias do mês de Agosto,
nesta cidade de Lisboa e Rua Larga de São Roque em meu escritório apareceram
presentes: Bruno José do Vale, que vive de seu negócio, morador no pátio do Conde de
Soure da Ópera do Bairro Alto, e se achou também presente sua mulher, Joana Inácia,
de uma parte, e a outra Matias Ferreira da Silva, que também vive do seu negócio,
morador ao Loreto. E por ele, Bruno José do Vale e dita sua mulher, foi dito a mim,
tabelião, perante as testemunhas ao diante nomeadas que precisando da quantia de um
conto de réis para com eles aumentar a utilidade que percebe na administração e
regência do quarto da casa digo rerência da parte que lhe compete na Casa da Ópera do
Bairro Alto, pediram ao dito Matias Ferreira da Silva lho quisesse emprestar à razão de
juro de cinco por cento debaixo da geral obrigação de suas pessoas e bens e da hipoteca
do quarto da dita casa da ópera que possui de propriedade com todos os seus pertences,
e não tendo dúvida ele Matias Ferreira da Silva em lhe fazer o referido empréstimo logo
aí em minha presença e das testemunhas deu e entregou o dito conto de réis a ele Bruno
José do Vale e dita sua mulher em dinheiro de contado corrente neste reino, que
contaram e receberam sem falta alguma, de que eu, tabelião, dou fé; por bem do qual
recebimento disseram se constituem devedores obrigados da dita quantia ao mencionado
Matias Ferreira da Silva e se obrigam pagar-lhos de hoje a um ano seguinte com os seus
juros na forma da lei, e se de consentimento dele credor eles obrigados tiverem em seu
poder mais algum tempo a referida quantia que a do dito ano se entenderá ser sempre ao
mesmo respeito a razão do juro, porém não lhe convindo, logo que findo seja o ano lhe
dará [88v] e pagará não só o principal ainda os reditos vencidos sem a isso porem
dúvida alguma, porque de todas quantas possam alegar desde já desistem, para de nada
se valerem senão tudo pagarem como dívida certa e para aumento da sua casa, e para
mais segurança obrigam e hipotecam a esta dívida o quarto que possuem na dita casa da
ópera com todas suas pertenças, sem que por esta especialidade derrogue a geral
obrigação dos mais seus bens nem pelo contrário e não tem dúvida que ele seu credor
78
faça julgar esta por sentença, para o que se dão por citados confessam a dívida e
obrigação para serem condenados de preceito e em virtude da sentença proceder
penhora na dita hipoteca e nos mais bens que bem bastem para pagamento da dita
quantia, juros e custas e terem em sua execução aparelhada para continuar nos termos
dela na falta do pronto pagamento e ainda neste caso se sujeita às leis de fiéis
depositários do juízo e ao cumprimento de tudo obrigam suas pessoas e ditos bens e
tudo o mais que possuem de presente e de futuro. E pelo credor foi dito aceita esta
escritura na forma dela e eles partes renunciam juízo de seu foro e os mais privilégios
que em seu favor alegar possam. E assim o outorgaram, pediram e aceitaram; e foram
testemunhas presentes Joaquim António Virgílio Maldonado que vive de seu negócio,
morador ao Loreto, e José Martiniano Rodrigues de França, por quem sirvo, que todos
conhecemos serem eles partes os próprios que na nota assinaram, e testemunhas. José da
XFonseca X Rodrigues, tabelião, o escrevi
Bruno José do Vale
Joana Inácia
Matias Ferreira da Silva
Joaquim António Virgílio Maldonado
José Martiniano Rodrigues de França
79
ADL 29
1º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, liv. 751, ff. 75v- 76v.
Escritura de arrendamento do Teatro da Graça entre o seu proprietário Henrique
da Costa Passos e o arrendatário Bruno José do Vale (23 de Outubro de 1770).
[75v] Em nome de Deus, ámen. Saibam quantos este instrumento de arrendamento,
quitação, cessão, desistência e obrigação virem, que no ano do nascimento de Nosso
Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e setenta, em vinte e três dias do mês de Outubro,
na cidade de Lisboa, junto à Portaria do Salvador, no meu escritório, pareceram
presentes de uma parte Henrique da Costa Passos, morador nesta cidade, e de outra
Bruno José do Vale, empresário da casa do Bairro Alto, donde é morador, por ele
Henrique da Costa Passos foi dito a mim tabelião em presença das testemunhas ao
diante nomeadas que ele se acha ajustado com ele Bruno José do Vale e Companhia em
lhe arrendar a sua casa e teatro de que é senhor na Calçada da Graça como disse que por
esta escritura lhe arrenda e dá de arrendamento a dita casa e teatro com todas as mais
casas e acomodações, cenário e mais mobília pertencentes à mesma casa, tudo debaixo
das cláusulas e condição seguintes, a saber: que este arrendamento tem o seu princípio
no dia de hoje e decorrerá até ao último dia de Carnaval do presente ano [?], por cujo
tempo pagará de renda a ele Henrique da Costa Passos a quantia de cento e quarenta e
quatro mil réis, e porquanto ele Bruno José do Vale satisfez a ele Henrique da Costa
Passos neste acto setenta e dois mil réis em dinheiro que ele recebeu por conta da
mesma renda disse lhe dá deles quitação, e os outros setenta e dois mil restantes a
inteiro em pagamento da dita renda os satisfará ele Bruno José do Vale no fim deste
arrendamento; que ele, Henrique da Costa Passos, ficará com um camarote dos da
ilharga do dito teatro, sendo obrigado a mandar à sua custa consertar os telhados do
mesmo teatro, repartir os camarotes por dentro da boca do teatro e cobrir os corredores
do último andar de guarda-pó, e mandar caiar os corredores todos para maior asseio;
que ele, Henrique da Costa Passos, não terá no dito teatro voz activa nem passiva, nem
domínio ou mando algum que seja; e querendo ele Bruno José do Vale continuar por
mais anos no arrendamento do mesmo teatro, não poderá ele Henrique da Costa Passos
fazer arrendamento a outrem, mas sim conservará a ele arrendatário não podendo
exceder o preço anual de cinquenta moedas de ouro de quatro mil e oitocentos réis cada
uma; que ele, Bruno José do Vale, poderá servir-se do dito teatro como seu próprio em
todo [76], o tempo que o tiver de arrendamento, sem impedimento ou controvérsia de
80
pessoa alguma, fazendo executar nele os divertimentos que lhe parecerem, sejam de que
qualidade forem para o que terá somente livre despotismo; e toda a obra que se fizer de
portas, janelas, telhados, reparo e reedificação de paredes e ainda escadas serão por
conta dele Henrique da Costa Passos; e toda a mais benfeitoria de bastidores, cenas e
outras cousas precisas para o adorno preciso, vestiário para os ditos divertimentos serão
precípuos dele Bruno José do Vale; e nesta conformidade faz o presente arrendamento a
ele Bruno José do Vale e Companhia que inteiramente se obriga cumprir pela sua parte;
e porquanto tinha feito arrendamento da mesma casa e teatro a Cláudio José António de
Azevedo por escritura em minhas notas, o qual se findava no último de Novembro
próximo futuro deste corrente ano e fosse preciso para inteira validade desta escritura
que ele Cláudio José desistisse do direito que lhe assistia ao dito arrendamento pelo
tempo que dele lhe faltava, neste mesmo acto apareceu presente o dito Cláudio José
António de Azevedo, e por ele foi dito que ele desiste de todo e qualquer direito que
pela dita escritura lhe possa assistir ao tempo que lhe falta para o dito arrendamento
para por ele não poder repetir cousa alguma, porquanto se dá por satisfeito com a
quantia de quarenta e nove mil setecentos setenta e seis réis que pro rata lhe
correspondiam no preço deste arrendamento pelo tempo que lhe faltava para
complemento do seu, cuja quantia lhe satisfez neste mesmo acto este Henrique da Costa
Passos da meia renda que recebeu dele Bruno José do Vale, de que lhe dá plena
quitação. E por ele, Henrique da Costa Passos, foi mais dito se obriga a fazer sempre
bom este arrendamento a ele, Bruno José do Vale e Companhia, e a tirá-lo a paz e salvo
de quaisquer dívidas ou demandas com que lho encontrem. E por ele Bruno José do
Vale e Companhia foi dito que na forma referida aceita o presente arrendamento, o que
tudo eles partes outorgantes cada um se obriga observar em juízo e fora dele na forma
expendida com a declaração, porém que sem embargo de se dizer que este arrendamento
decorrerá até ao Carnaval do presente ano, se entenderá ser até dia de Entrudo do ano
futuro de mil setecentos setenta e um e daí por diante se observará tudo na forma
advertida. Em testemunho de verdade assim o outorgaram, pediram e aceitaram; e foram
testemunhas presentes o Doutor Teodoro Clemente Silva Torres, e José Teixeira, e João
Baptista do Espírito Santo, e meu pai Manuel António de Brito, que com eles partes
assinaram na nota. Eu, Joaquim José de Brito, tabelião, o escrevi.
Bruno José do Vale
Cláudio José António de Azevedo
81
Henrique da Costa Passos
[76] José Teixeira
João Baptista do Espírito Santo
Teodoro Clemente Silva Torres
Manuel António de Brito
82
ADL 30
6º Cartório Notarial de Lisboa, liv. 42, ff. 95v-97v.
Escritura de cessão e trespasse em que o sócio cedente, Matias Ferreira da Silva,
vende a sua quota-parte ao sócio cessionário Manuel Bonifácio dos Reis (29 de
Dezembro de 1770).
[95v] Saibam quantos este instrumento de cessão, e trespasso com procuração em causa
própria e obrigação virem, que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de
mil e setecentos e setenta e um, em vinte e nove dias do mês de Dezembro, fim do ano
de mil e setecentos e setenta, na cidade de Lisboa, de frente da Igreja de Nossa Senhora
do Loreto e casas de morada de Matias Ferreira da Silva, que vive do seu negócio,
estando ele aí presente, de uma parte; da outra o estava Manuel Bonifácio dos Reis, que
também vive de seu negócio, morador ao Paço do Benformoso. Disse ele, Matias
Ferreira da Silva, em presença de mim, tabelião, e das testemunhas ao diante nomeadas,
que por escritura outorgada em notas de António da Silva Freire, tabelião nesta cidade,
continuada em um dos dias dos mês de Maio [dia 30] de mil e setecentos e sessenta e
seis havia feito compra a Francisco Luís de um quarto de todo o interesse, ou perda, que
houvesse na casa e Teatro da Ópera do Bairro alto em que tinha igual parte Bruno José
do Vale, e bem assim a outra metade João Gomes Varela, se aumentaram depois esse
mesmo interesse entre ele, Matias Ferreira da Silva, e o dito Bruno José do Vale pela
separação que foi deste negócio o dito João Gomes Varela, pela obrigação que ambos
lhe fizeram por escritura na nota do mesmo tabelião, continuada em o primeiro de Julho
[6 de Julho] do presente ano, em que se obrigaram a lhe pagar quatrocentos mil réis em
cada um ano dos que faltarem para se [96] completar o sólido arrendamento que das
mesmas casas e teatro se havia feito ao excelentíssimo conde de Soure, causa porque
ficou pertencendo a ele outorgante, Matias Ferreira da Silva, metade do interesse da
mencionada casa, como ao seu sócio Bruno José do Vale, suposta a satisfação referida
que imediatamente se tem feito ao dito João Gomes Varela; e porque ao presente, por
justas causas e motivos de seus interesses se lhes faz penoso continuar na mesma
sociedade, tem convencionado com ele, Manuel Bonifácio dos Reis, a lhe ceder, e
trespassar, como com efeito pela presente cede e trespassa todo o domínio útil, acção e
pretensão que na mesma tenha, ou possa ter, assim de pretérito como de futuro, para que
tenha, haja e possua a referida metade que pelo mencionado título pertence a ele,
cedente, como coisa sua própria, que desde já fica sendo, e isto debaixo das condições e
83
cláusulas seguintes: Que ele, Manuel Bonifácio dos Reis, será obrigado a satisfazer aos
quartéis, de três em três meses, a quantia de cinquenta mil réis com que, no fim dos
cinco anos de arrendamento do mesmo teatro e casas, se completa um conto de réis,
produto de todas as pertenças que no fim do dito tempo houvesse de tocar a ele,
outorgante, por se terem inovado sobre o fundo da mesma casa, as quais solidamente
lhe ficam pertencendo sem dúvida alguma por este donativo; e bem assim mais que por
ele, cedente, ter entrado com mais um conto de réis para a dita compra, e sociedade,
deve deles ser embolsado por ele, cessionário, na forma que entre si tem convencionado
em pagamentos de trezentos mil réis em cada um ano até extinção deste capital, por ser
esta a forma com que ele cedente de si demite, na forma mencionada, todo o direito e
acção que tem na dita casa. E por ele, cessionário, foi dito e declarado que ele aceita e
toma sobre si a presente cessão [96v] com todas as cláusulas, e circunstâncias aqui
estipuladas, obrigando-se por si e por sua pessoa e bens presentes e futuros e o melhor
parado deles a todas as obrigações, escrituras e convenções, dívidas activas e passivas
que ele, cedente, tenha assinado até o presente dia, cumprindo-as e satisfazendo-as sem
dúvidas, ou embargo algum; tanto para o efectivo pagamento dos cinquenta mil réis no
fim de cada três meses futuros que terão princípio no primeiro de Janeiro próximo
futuro, como dos trezentos mil réis anuais que da mesma forma tem princípio no dito
Janeiro próximo futuro de mil setecentos e setenta e um; e além da hipoteca
fundamental destes mesmos pagamentos que vêm a ser o fundo da caxa desta
negociação, e mobília a ela pertencente, e da geral de sua pessoa, e bens, será ele,
cedente, obrigado a cobrar e haver a si o produto de qualquer crédito ou execução que
ele, cessionário, a benefício destes pagamentos lhe ceda, cuja parcela, ou parcelas,
sendo cobradas terão seu abatimento na adição do conto de réis capital da sociedade
dele cedente na constante obrigação de lhe dar para este fim todos os documentos
precisos, como fazendo por sua conta toda a falência que nelas possa haver, por não ser
da sua intenção que ele, cedente, tenha à vista da cessão que lhe faz prejuízo próprio na
aplicação que ele cessionário lhe fizer para o seu efectivo pagamento; Que para a
cobrança de todos, e quaisquer lucros provenientes desta cessão lhe faz ele, cedente a
ele, cessionário, com procuração em causa própria, e o põem em seu próprio lugar,
efeito e causa, e causa com toda a trespassaram de seu direito, e justiça, e mais
faculdades que de direito se requeira, podendo desde logo, em virtude desta escritura,
sem mais autoridade de justiça, ele, cessionário, tomar posse de tudo o que por esta lhe
fica pertencendo real actual, cível e natural, e quer a tome ou não desde já ele cedente
84
lha há por dada e transferida per clausulam constituti; e a presente promete cumprir e
guardar, não revogar, nem reclamar por [97] nenhuma via que seja antes o seu
cumprimento obrigado ele, cedente, sua pessoa, e bens presentes e futuros, e o melhor
parado deles. E para maior segurança deste contrato se poderá em qualquer tempo julgar
por sentença de preceito para o que, e para a sua execução desde logo ele, cessionário,
se dá por citado, e confessa obrigação declarada e em virtude da dita sentença poderá
ele, cedente, mandar fazer penhora na respectiva parte cedida da dita casa e teatro, e em
todos os mais bens e acções em que ele, credor, melhor poder segurar a sua dívida, e em
todos ter a sua execução aparelhada, para na falta dos prontos pagamentos, no modo que
dito fica, correr nos termos dela até realmente ser pago de principal, e custas que que
acrescerem até extinção desta dívida; e nesta forma assim o outorgaram e aceitaram,
sendo testemunhas presentes Joaquim José de Abreu, porteiro chancelaria das Ordens de
Avis e São Tiago, morador n travessa dos Fiéis de Deus, freguesia das Mercês, e
Joaquim António, Bargilli Maldonado, que também vive de seu negócio, morador aqui
junto, que disseram serem eles, partes, os próprios que na nota assinaram, e
testemunhas. Tomás Marques de Araújo, tabelião, o escrevi; entrelinhei – ele –
Matias Ferreira da Silva
Manuel Bonifácio dos Reis
Joaquim António Bargili Maldonado
Joaquim José de Abreu
85
ADL 31
14º Cartório Notarial de Lisboa, liv. 47, ff. 12-12v.
Escritura de cessão e trespasse do arrendamento do Teatro da Rua dos Condes a
Bruno José do Vale (29 de Dezembro de 1770)
[12] Em nome de Deus, ámen. Saibam quantos este instrumento de cessão e trespasso
obrigação virem que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, de mil
setecentos e setenta, em vinte e nove dias do mês de Dezembro, nesta cidade de Lisboa,
em a Rua Direita dos Anjos e casas de morada do doutor Guilherme Baptista Garvo,
cavaleiro professo da Ordem de Cristo e juiz do Crime do Bairro da Mouraria e
Andaluz, aí estavam presentes de uma parte João Teixeira Pinto, empresário do Teatro
da Casa da Ópera da Rua dos Condes onde assiste, e de outra, Bruno José do Vale e
Companhia, empresários da Casa da Ópera do Bairro Alto, estabelecido no palácio do
excelentíssimo Conde de Soure, onde são moradores. Por ele, João Teixeira Pinto, foi
dito a mim tabelião, perante as testemunhas adiante nomeadas, que ele arrendara o dito
Teatro da Casa da Ópera da Rua dos Condes por tempo de dois anos a Jacome Felipe
Bricio, como procurador de seu cunhado, o doutor Henrique Quintanilha, e a José
Palmer, como tutor de seus filhos, por tempo de dois anos, que principiaram em o
tempo que da escritura de arrendamento constara que se refer [?] e isto pelo preço de
três mil cruzados cada ano, pagos na formalidade da sobredita escritura, e porque ele,
João Teixeira Pinto, está ajustado com eles, Bruno José do Vale e Companhia, a ceder-
lhe e trespassar-lhe o dito, digo, o resto do tempo do dito seu arrendamento com todas
as cláusulas exaradas na dita escritura, dele disse que por este instrumento e na melhor
via de direito, cede neles, Bruno José do Vale e Companhia, todo o direito e acção que
tenha p’lo referido [12v] arrendamento ao dito Teatro da Rua dos Condes para dele
usarem como seu, e isto com mais as cláusulas seguintes: que toda a renda, lucros e
despesas pertencentes ao dito teatro até o fim do presente mês de Dezembro do corrente
ano de mil e setecentos e setenta farão por conta dele, cedente João Teixeira Pinto, e
toda a renda, lucros e despesas do primeiro de Janeiro de mil e setecentos e setenta e um
atá findar o resto dos dois anos do dito arrendamento, farão por conta deles
cessionários, Bruno José do Vale e Companhia; Que ele, cedente, cede a eles, Bruno
José do Vale e Companhia, desde o dito dia primeiro de Janeiro, do ano próximo futuro
de setenta e um, as escrituras de todos os bailarinos que presentemente tem, obrigando-
86
se ele, cessionário, a cumpri-las até o último dia nelas estipuladas: com declaração,
porém, que a escritura da Catarina Verga, uma serata que nela se contém, ele,
cessionário, se não obriga a cumprir, e todas as dúvidas que nisto ocorrer fará por conta
dele, cedente; Que cumprirá juntamente, ele cessionário, o ajuste dos cómicos pelo
apontamento que lhe for mostrado, outrossim se obriga ele, cessionário, a tomar a ele,
cedente, todo o vestuário e cenário que for dele, empresário cedente, e bem assim todas
as músicas e mais trastes que forem pertencentes ao teatro dele, cedente, os quais trastes
hão de ser avaliados por dois louvados peritos nomeados um por parte dele, cedente, e
outro p’la dele, cessionário, e depois de feita a avaliação e inventário dos ditos bens a
sua importância ficará na mão deles, Bruno José do Vale e Companhia, para do produto
deles se pagar a quem se lhe determinar; Que caso eles, cessionários, em algum tempo
quererão ceder o dito teatro em outra alguma pessoa o não poderão fazer sem ser ouvido
primeiro ele, cedente, para ver se o que para si, porque prefira, digo porque, querendo-o,
preferirá a quem quer que for: e para tudo cumprirem, obrigam eles, partes, suas pessoas
e bens de sua companhia, geralmente assim móveis e de raiz, presentes e futuros, e o
melhor parado deles, e que não reclamarão esta escritura por forma alguma e que, p’lo
deduzido nela, responderão nesta cidade perante os magistrados a que este instrumento
for presentado para o que renunciam a juízo de seu foro domicílio e os mais privilégios
que em seu favor alegar possam. E em testemunho de verdade, assinaram, outorgaram,
pediram e aceitaram na presença do dito doutor Guilherme Baptista Garvo, como
inspector da dita casa da ópera da Rua dos Condes, sendo testemunhas presentes
Francisco Ricardo José Bari, criado grave do dito ministro, e Bento José, também
sobredito e todos conhecemos serem eles partes os próprios que nesta nota assinaram
testemunhas Narciso José da Luz e Sousa, tabelião, o escrevi
Bruno José do Vale
João Teixeira Pinto
Bento José
Francisco Ricardo José Bary
87
ADL 32
12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício A, Livros de notas, liv. 33, ff. 91v-92.
Escritura de constituição de uma sociedade entre Bruno José do Vale e Manuel
Bonifácio dos Reis (31 de Dezembro de 1770).
[91v] Saibam quantos este instrumento de sociedade e obrigação virem que no ano do
nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e setenta, em trinta e um
dias do mês de Dezembro findo ano de mil, digo, Dezembro nesta cidade de Lisboa e
Rua Larga de São Roque em o meu escritório apareceram presentes de uma parte Bruno
José do Vale, morador no pátio do excelentíssimo conde de Soure; de outra, Manuel
Bonifácio dos Reis, que vive de seu negócio, morador ao Paço do Benformoso. E por
ele, Bruno José do Vale, foi dito a mim, tabelião, perante as testemunhas ao diante
nomeadas, que ele, Manuel Bonifácio dos Reis, como cessionário de Matias Ferreira da
Silva, era com ele interessado em metade do lucro ou perda que possa haver, assim no
Teatro da Ópera do Bairro Alto, como no da Graça e, presentemente, no da Rua dos
Condes, que se lhe adjudicaram, e porque por algumas ocorrências precisas a bem da
mesma negociação e interesse tinham convencionado que assim à importância do conto
de réis de que é cessionário como outra tanta quantia com que ele dito Bruno José do
Vale havia entrado se unisse mais a quantia de quinhentos mil réis com que se
completam cinco quintos, interessava mais no lucro proveniente ou perda que possa
haver a ele dito sócio Manuel Bonifácio dos Reis em um quinto deste todo bem
entendido fica tendo pela cessão e presente escritura três quintos e ele sócio dois cuja
importância ao fazer desta recebeu em dinheiro de contado corrente neste reino que
contou e achou certo sem dúvida de cuja numeração dou minha fé para entrarem na
caixa da mesma sociedade que entre eles ambos ditos sócios será regalada havendo para
a boa forma e arrecadação por forma mercantil e venal todos os assentos e clareza
precisas, os livros necessários, correndo todas as dívidas ou contas que se contraírem
em nome dele dito sócio Bruno José do Vale e Companhia, sendo conferidas e lançadas
em receita e despesa no livro-caixa que assim houver, tendo mais convencionado que
este mesmo interesse o fica tendo ele sócio Manuel Bonifácio dos Reis desde o primeiro
do mês de Julho passado do ano presente cujas contas e balanço será dado pelo dito
sócio Bruno José do Vale como caixa da dita negociação, o qual durará enquanto durar
[92] o arrendamento principal e outro qualquer que o mesmo caixa faça a benefício
deste mesmo contrato. E nesta forma disseram eles partes tinham feito seu contrato e
88
sociedade sem que em nenhum tempo qualquer deles possa inovar coisa alguma mais do
que por ela se declara literalmente a cujo cumprimento obrigam suas pessoas e bens,
podendo ele sócio, Manuel Bonifácio dos Reis, desde já tomar posse das partes que lhe
competem e quer a tome ou não lha transfere por cláusulas competentes; e que querendo
qualquer deles julgar esta escritura por sentença o poderá fazer para o que se dão por
citados, confessam o deduzido nesta escritura para serem condenados de preceito e em
virtude da sentença procederem na forma dela. E assim o outorgaram, pediram e
aceitaram, e foram testemunhas presentes José de Almeida Rodrigues, meu oficial, e
Luís António, meu criado, que todos conhecemos serem eles partes os próprios que na
nota assinaram e testemunhas. José Martiniano Rodrigues de França, tabelião, o escrevi.
Bruno José do Vale
Manuel Bonifácio dos Reis
José de Almeida Rodrigues
De Luís + António
89
ADL 33
4º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de Notas, liv. 33, ff. 8-10.
Arrendamento do Teatro da Graça a Bruno José do Vale e Companhia (26 de
Fevereiro de 1771)
[8] Em nome de Deus, ámen. Saibam quantos este instrumento de arrendamento,
quitação, e obrigação virem, que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de
mil setecentos setenta e um, em vinte e seis dias do mês de Fevereiro, na cidade de
Lisboa, no meu escritório, pareceram presentes da uma [parte] Henrique da Costa
Passos, morador nesta cidade à Calçada da Graça, e da outra parte estava Bruno José do
Vale e Companhia, empresário dos teatros desta corte, morador em o Pátio do Teatro do
Bairro Alto, logo por ele Henrique da Costa Passos foi dito a mim tabelião presentes
[8v] as testemunhas ao diante nomeadas que ele se acha ajustado com ele Bruno José do
Vale e Companhia em lhe arrendar a sua casa e teatro da Calçada da Graça com todas as
mais casas e acomodações, cenário e mais mobília a ele pertencente, com as cláusulas e
condições seguintes: que este arrendamento terá o seu princípio no primeiro de Março
do presente ano e findar[á] em outro tal dia do ano de mil setecentos e setenta e dois,
por cujo tempo pagará de renda a ele Henrique da Costa Passos a quantia de cinquenta
moedas de ouro de quatro mil e oitocentos; item que ele Henrique da Costa Passos
haverá o dito pagamento aos quartéis de três em três meses em ratiada porção e assim
também ficará com um camarote para dele se servir como seu próprio, que será o
mesmo que teve em o tempo do outro arrendamento que finalizou ao fazer deste, sendo
obrigado a mandar consertar à sua custa os telhados do dito teatro, portas e todo o mais
reparo de que carecer, e não terá ele Henrique da Costa Passos voz activa nem passiva,
mando ou domínio algum que seja, durante o tempo deste arrendamento. E que
querendo ele Bruno José do Vale e Companhia continuar mais anos no arrendamento do
mesmo teatro, não poderá ele Henrique da Costa Passos arrendar a outrem tanto pelo
tanto, com declaração, porém, que este arrendamento terá o seu devido efeito por tempo
de dois anos, e no segundo pagará de renda cinquenta moedas de ouro, o qual findará no
primeiro de Março de mil setecentos setenta e três com todo o mesmo domínio e posse
que acima fica exposto com [9] o primeiro referido ano sendo assim conservado com
todo o seu despotismo sem impedimento nem controvérsia de pessoa alguma fazendo
executar no dito teatro todo o divertimento que lhe parecer; item, que toda a benfeitoria
de bastidores, cenas e outras movediças e vestuário para o dito divertimento serão
90
precípuos dele Bruno José do Vale como suas próprias; e nesta conformidade celebram
o presente arrendamento que inteiramente se obrigam cumprir, a cujo cumprimento
obrigam todos seus bens, ficando aliás desobrigado deste cumprimento o dito Bruno
José do Vale em todos os casos fortuitos como são mortes de príncipes, incêndio de
teatro e suspensão em o mesmo por ordens superiores, que neste caso ficará cessando a
contribuição da dita renda ratiada pelo tempo que durar, ficando também ele Henrique
da Costa Passos em o segundo ano deste arrendamento já referido sem domínio algum
mas também com o camarote que lhe fica pertencendo para dele usar como seu próprio,
e deste modo conviram eles partes nas condições e cláusulas conteúdas e declaradas
nesta escritura, pela qual hão de nenhum efeito a antecedente que do mesmo teatro
tinham feito na nota do tabelião Joaquim José de Brito, e só esta querem se observe
inviolavelmente por estar continuada e conforme o que entre si tinham estipulado, e à
factura desta esteve presente José da Silva e Cunha, sócio do sobredito Henrique da
Costa Passos com uma décima oitava parte em os lucros e rendimentos do dito teatro, o
qual também conveio e dá a este arrendamento seu expresso consentimento [9v], cujo
cumprimento pela parte que lhe toca se obriga também seus bens; item que ele Bruno
José do Vale pagará as sessenta moedas do segundo ano referido também aos quartéis
em ratiada porção de três em três meses do mesmo ano de cada um arrendamento,
ficando sempre preferindo a outro qualquer rendeiro tanto pelo tanto que outrem der os
anos que mais quiser ter de renda o dito teatro. E foram testemunhas presentes Joaquim
Garcia de Sousa que escreve no meu escritório e Mateus Correia Coutinho, morador nas
casas de Garcia e todos conhecemos a eles, partes, serem os próprios que na nota
assinaram. O tabelião José António Soares tabelião o escrevi; entrelinhei - da Calçada
da Graça - sobredito o escrevi.
Bruno José do Vale
Teodoro Clemente Silva Torres
Leonardo José de Barros Preto
Mateus Correia Coutinho
Henrique da Costa Passos
José da Silva e Cunha
Joaquim Garcia de Sousa
E declararam mais eles partes que ele Bruno José do Vale fica obrigado a dar mais o
camarote do número trinta e dous para ele Henrique da Costa Passos usar dele em todas
91
as representações como seu próprio e dar livre e desembaraçada a Casa da Espera no dia
de sexta-feira da procissão dos Passos da Graça, e pelo que respeita às benfeitorias que
ele Bruno José do Vale fizer além das movi [10] diças que ficam referidas ficarão
pertencendo a ele Henrique da Costa Passos como suas próprias sem que ele Bruno José
do Vale possa repetir em nenhum tempo, e com esta declaração assinaram na presença
das sobreditas testemunhas Joaquim Garcia e Mateus Correia Coutinho e eu José
António Soares o escrevi, e se declara que o dito camarote nº trinta e dois se possa dele
usar Simão Aranha Rebelo Costa Falcão, proprietário do chão em que se acha situada a
casa, sobredito o escrevi
Bruno José do Vale
Henrique da Costa Passos
José da Silva e Cunha
Joaquim Garcia de Sousa
92
ADL 34
7º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 56, ff. 98v-100.
Escritura de cessão e trespasse entre Matias Ferreira da Silva e Manuel Bonifácio
dos Reis (6 de Fevereiro de 1773).
[98v] Saibam quantos este instrumento de cessão e trespasso procuração em causa
própria e obrigação virem que, no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, de
mil, e setecentos, e setenta e três anos, aos seis dias do mês de Fevereiro, nesta cidade
de Lisboa, na rua direita de São José, no meu escritório pareceram presentes partes de
uma Manuel Bonifácio dos Reis, que vive de seu negócio morador na Rua da Fé; e da
outra o estava Matias Ferreira da Silva, que também vive de seu negócio, morador ao
Loreto. E logo por ele, Manuel Bonifácio dos Reis, foi dito perante mim, tabelião, e
testemunhas, que por escritura continuada em notas de Tomás Marques de Araújo,
tabelião nesta cidade, continuada em vinte e nove de Dezembro de mil e setecentos e
setenta, lhe havia cedido ele, Matias Ferreira da Silva, todo o interesse ou perda que
houver no Teatro da Ópera do Bairro Alto, com as cláusulas, condições e obrigações na
mesma escritura contempladas a que se refere; e bem assim havia ele, dito Manuel
Bonifácio dos Reis, celebrado outra escritura de interesse e entrada da quantia de
quinhentos mil réis como administrador que então era do mesmo teatro Bruno José do
Vale, em notas do tabelião José Martiniano Rodrigues de França, em os trinta e um de
Dezembro do mesmo ano, e com efeito, por esta escritura na melhor forma e via de
direito, disseram eles partes estarem contratados na dita sessão debaixo de um escrito
que fizeram por um feito, e por ambos assinam com as testemunhas, [99] com as
testemunhas que nele se acham assinados, o qual tem a data de cinco de presente mês de
Fevereiro e ano o qual é do teor seguinte: «Por este e por mim feito e assinado, digo eu,
Matias Ferreira da Silva, que eu dou por desobrigado ao senhor Manuel Bonifácio de
todas as obrigações contempladas nas escrituras, feita uma em vinte e nove de
Dezembro de mil e setecentos e setenta, em notas de Tomás e Marques de Araújo, e
outra em trinta e um do dito mês e ano, em notas de José Martiniano Rodrigues França,
por quantos pelas cessou que de novo fez à minha satisfação, em seis de Maio de mil e
setecentos e setenta e um, o dei por desobrigado de toda a satisfação, e obrigação que
deverá fazer como meu cessionário de tudo o que pertencer ao Teatro do Bairro Alto, e
Graça, porquanto ajustando com o sobredito amigavelmente contas na presença das
testemunhas abaixo nomeadas de todo o tempo que administrou os ditos teatros sobre
93
mim fica recaindo todo e qualquer pagamento que se deva fazer fora da conta geral que
recebo por ele assinada, como da particular, que também havia entre nós, e ao fazer
deste recebi do sobredito senhor o livro das receitas sem vício ou entrelinha, e os
recibos, e folhas com que se comprova a despesa dos três contos, trezentos e três mil
oito centos, e sete reis, e todos os papeis, róis, e documentos pertencentes a entrega do
fato que se fez da Rua dos Condes, e por passar tudo na verdade, assinei com o dito
senhor, e testemunhas, Lisboa, cinco de Fevereiro de mil, e setecentos, e setenta, e três
Matias Ferreira da Silva, e Manuel Bonifácio dos Reis, como testemunha Francisco
Manuel de Almada, Jacinto Ferreira, Agostinho de Brito e Macedo»; E trasladado o
concertei com o que me foi apresentado a que me reporto, que eles, partes, disseram
perante as testemunhas serem os sinais no dito escrito [?], pois ele, Manuel Bonifácio
dos Reis cede e faz cessão do acima contemplado, e lhe dá procuração em causa própria
com todos os poderes em direito necessários como se presente for. E nesta forma
aceitam eles, partes, esta escritura como nela se contém e bem assim fica ele o dito [?]
Matias Ferreira da Silva obrigado a pagar a Henrique da Costa Passos, ou a quem
direito for, o que restar na execução que o dito Henrique da Costa faz ao mesmo Manuel
Bonifácio no escritório de Domingos Rodrigues, sendo lhe nela abonado a quantia [99v]
de cinquenta e seis mil réis que o dito Manuel Bonifácio dos Reis confessou ter recibo
ao tempo de sua entrega debaixo das condições, e clausulas desta escritura, e [?] e as
verbas necessárias, tanto nas notas dos ditos tabeliães como nas suas cópias e em
testemunho da verdade assim o outorgaram, sendo testemunhas presentes Agostinho de
Brito e Macedo que vive de seu negócio e morador na Rua das Pretas, e José Pedro da
Costa que me escreve, e morador ao Rossio que afirmaram serem as partes as [100]
próprias conteúdas, Caetano José Dantas Barros, tabelião, o escrevi interlinhei seis /
risquei cinco
Manuel Bonifácio dos Reis
Matias Ferreira da Silva
Agostinho de Brito Macedo
José Pedro da Costa
94
ANTT 2
Registo Geral de Testamentos, liv. 322, ff. 198v-201.
Testamento de João Gomes Varela (15 de Fevereiro de 1786).
[198v] 15 de Fevereiro de 1786
O testamento de Joaquina Bernardina, mulher do testador vai registado a fólio 95 verso
do Livro nº 328.
Testamento e codicilo de João Gomes Varela – testamentária Joaquina Bernardina,
moradora ao Salitre.
Em nome da Santíssima Trindade, Padre, Filho e Espírito Santo, três pessoas
distintas e um só Deus verdadeiro: Eu, João Gomes Varela, achando-me há tempos
doente de moléstia crónica, segundo declaram os médicos na junta que proximamente
fiz, e desejando dispor com mais sossego e melhor conhecimento das coisas que
conduzem para a salvação da minha alma e fazer distribuição dos bens que possuo,
antes que por causa de algum ataque repentino o não possa fazer, faço este meu
testamento pela forma seguinte: primeiramente declaro que creio firmemente em todos
os mistérios da fé católica na mesma forma que [199] o crê e ensina a santíssima madre
igreja de Roma e nele vivi sempre e espero morrer, constantemente e nela confio e
espero em Deus me haja de salvar pelos merecimentos infinitos de Jesus Cristo seu filho
e pelos de Maria santíssima e de todos os anjos e santos e santas da corte do céu pois o
amo sobre todas as coisas por quem é e por que toda a minha vida me encheu [?] de
benefícios e me não castigou como mereciam os meus grandes e enormes pecados:
imploro para a hora da minha morte o patrocínio de Maria Santíssima como mãe e
advogada dos pecadores e a intercessão de São José e do Patriarca São Francisco e anjos
da minha guarda para que me ajudem nela a conseguir a misericórdia do meu redentor e
por ela a salvação da minha alma; quero que meu corpo seja amortalhado no hábito de
Nossa Senhora do Monte do Carmo e sepultado na sua igreja, sendo meu corpo levado à
sepultura na tumba de Santa Casa da Misericórdia na forma que se costuma praticar
com irmãos dela da qual sou também o mais indigno; dei de oferta ao meu reverendo
pároco vinte mil réis e lhe rogo que pelo amor de Deus tome à sua conta fazer, que no
dia do meu falecimento, as missas que na sua igreja se disserem até o número de trinta
sejam todas pela minha alma e não se podendo dizer nele por não serem horas, se dirão
95
no dia seguinte; mando que nos nove dias sucessivos do do meu falecimento se mandem
dizer na minha freguesia duas missas, uma no altar de Nossa Senhora da Conceição e
outra no de São José, e imploro da mesma senhora e do mesmo santo em assistam e
acompanhem a minha alma até chegar à presença do meu senhor Jesus Cristo, e o
mesmo suplico a meu patriarca São Francisco, e no seu convento da cidade se mandarão
dizer quarenta missas de corpo presente na igreja de Nossa Senhora do Monte do
Carmo, na de São Pedro de Alcântara, na da Santa Casa da Misericórdia se mandarão
dizer outras quarenta, em cada uma delas também de corpo presente de que se dará de
esmola a cento e cinquenta, e pelas que mando se digam na minha freguesia se dará de
esmola duzentos réis por cada uma; quero se mandem dizer pelas almas de meus pais,
cem missas, e pela de minha primeira mulher outras cem e pelas do purgatório,
cinquenta, todas de esmola de cento e vinte réis e recomendo muito a meu filho António
Gomes se não esqueça de continuar a beneficiá-las com missas e esmolas, como ele
sabe eu tenho praticado. Deixo ao arbítrio de minha mulher e filhos os mais sufrágios
que me poderem mandar fazer, segundo o estado em que ficar a casa ao tempo do meu
falecimento, pois lho mereço pelo muito que sempre cuidei em todos eles;
Declaro que sou casado com Joaquina Bernardina de que tenho dois filhos por
nome António Gomes, que assiste em minha companhia, e Joaquim Gomes, que está em
Pernambuco, e três filhas, Vitória Joaquina, casada com Francisco da Silva, Maria
Joaquina e Ana Joaquina, e como estas são menores lhes nomeio a sua mãe por tutora e
administradora para o que lhe aprovo a sua pessoas com todas as cláusulas e
circunstâncias que pela lei do reino se requerem e em sua falta lhes nomeio da mesma
forma a meu filho António Gomes;
Deixo a meus filhos por meus herdeiros e a minha mulher por minha
testamenteira e herdeira do usufruto da minha terça para melhor de poder sustentar e as
ditas menores e para esse efeito tomo na mesma terça as casas que tenho na Rua Direita
da Patriarcal Queimada e as que ficam nas costas delas;
Por falecimento da minha mulher, mando que repartido em seis partes o líquido
da mesma terça dessas [?] se entreguem a Joaquim Gomes, meu filho, ou a seus
herdeiros e isto em razão do pouco que com ele tenho despendido e as quatro partes que
ficam se repartirão pelos outros quatro filhos porque a todos amo igualmente e lhes
96
recomendo muito acompanhem a sua mãe e que a estimem e venerem como ela lhes
merece pelo muito que ela por meu e seus respeitos tem padecido;
Declaro que tenho contas com D. Margarida Inês de Brum as quais estão
lançadas no meu livro e por ela e seu filho primogénito assinadas o que igualmente
consta do termo de composição julgado por sentença na Correição do Cível da Cidade o
escrivão António José de Sousa [199v] e também tenho contas com Gregório Xavier,
que está ausente há mais de quinze anos por ter ido determinado [?] e sua mulher para o
Pára ou Maranhão procedendo as ditas contas das benfeitorias que fiz no último andar
das suas casas ao Pátio das Galegas, ou Boavista, de cujo rendimento estou de posse
para por ele ser pago e porque passados poucos anos depois do Terramoto de 1755
deram grande baixa as casas em todo aquele distrito em razão da mudança da Praça que
os homens de negócio faziam no sitio da Esperança e por serem muito altas estiveram
em diversos tempos por alugar, razão porque para se não arruinarem e haver quem as
mostrasse às pessoas que as quisessem que as quisessem ver por terem escritos meti
nelas pelo amor de Deus à dita Margarida, que nelas esteve seis anos por não haver em
todos eles quem as alugasse, como ela e seus filhos podem dizer, o que não obstante,
mando se abone ao dito devedor nos ditos anos em que a dita D. Margarida assistiu nas
ditas casas a renda delas à razão trinta e três mil e seiscentos em cada um ano, preço
porque foram alugadas a Basílio Ribeiro, que para elas foi e como me dizem estar
errada a conta que está lançada no meu livro do que tenho recebido por ser carregar nela
juros de juros; mando que se emende para que nem se prejudique aquele devedor, nem
meus herdeiros tenham para o futuro dúvidas pelo dito respeito;
As contas da sociedade da Praça dos Touros do Terreiro do Paço, e as deste sítio
do Salitre estão juntas até ao presente ano, como consta das quitações passadas no livro
delas, e ficam continuando os mesmo sócios no interesse da dita Praça, a saber,
Gervásio da Silva Lopes, até ao fim do futuro ano, quando inteiramente finda p.o [?]
com ele a dita sociedade, e Marcos António Fernandes, suposto que na forma da
escritura o seu interesse finda no último de Junho do ano que vem; com tudo por novo
ajuste, que com ele fiz, continua o seu interesse até ao fim do ano de 1787;
Declaro que a minha filha Vitória Joaquina dotei em três mil cruzados, os quais
lhes dei em umas casas na Rua da Cruz de que está de posse, e no valor do seu enxoval,
e porque nele se compreendeu uns brincos de topázios, que se compraram com o
97
produto de outros que sua avó materna lhes havia dado, e uns pentes também de
topázios que ela havia comprado com o seu dinheiro, mando que o seu valor se lhe
perfaça do monte para ficar inteirada dos três mil cruzados em que a dotei;
A meu filho, António Gomes, também dotei em três mil cruzados para casar,
como casou com Maria Gertrudes, filha de Gervásio da Silva Lopes, nomeando-lhe o
prazo que ao presente possuo neste sítio do Salitre, cuja nomeação ratifico na forma
declarada na escritura do tal a que me reporto;
Declaro que tudo quanto se acha feito no mesmo prazo, tanto de casas, como da
Praça dos Touros, e Casa da Ópera, foi com dinheiro do casal e outro que tomei a juro,
que ainda se está devendo; e por esta forma hei por acabado este meu testamento que
quero se cumpra e guarde como tal, ou como cédula, qual em direito melhor lugar haja,
o qual roguei a Luís Feliciano Velho que este por mim fizesse o que eu dito fiz a rogo
dele testador, e depois de feito lho li por ele o não poder fazer pela falta de vista com
que se acha e por me dizer estar [à] sua vontade, como testemunha como ele, testador,
assinei
Lisboa, 16 de Outubro de 1784
João Gomes Varela
E logo como testemunha,
Luís Feliciano Velho
Aprovação
Saibam quantos este instrumento de aprovação de testamento e última vontade vir, que
no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1784 aos 16 dias do mês de
Outubro, nesta cidade de Lisboa, Rua Direita do Salitre e casas de morada de João
Gomes Varela, onde um tabelião vem, e sendo ele aí presente [200], doente de cama de
doença que Deus Nosso Senhor foi servido dar-lhe, mas em seu juízo perfeito e
entendimento, segundo o meu parecer e das testemunhas abaixo assinadas. Pelo qual
das suas mãos as de mim, tabelião, me foi dado o seguinte testamento retro escrito em
três meias folhas de papel em que entra esta aprovação e vão por mim rubricadas com o
meu apelido – Sermenho – e as perguntas que lhe fiz na forma da lei me respondeu que
98
era o seu testamento e a seu rogo lho fizera Luís Feliciano Velho, e depois de escrito lho
lera, e pelo achar conforme a sua vontade o assinara. Portanto disse ele, testador, o
aprova e ratifica por seu, bom e verdadeiro testamento, e por ele revoga e anula todas as
disposições, quantas antes deste tenha feito, porque só este quer que valha, tenha sua
força e vigor em juízo e fora dele por assim ser a sua última e derradeira vontade, a que
foram testemunhas presentes chamadas e rogadas por parte dele, testador, Manuel de
Assunção, que vive de sua agência, morador na Rua Direita de São José, Joaquim
Pedro, oficial contínuo do Tribunal do Santo Ofício, morador na Praça da Alegria,
Manuel Inácio Calheiros, que vive do seu negócio, morador aí junto, José Rodrigues,
oficial de bordador, Joaquim Serrano com sua loge de mercearia, João António Vieira e
Joaquim José, ambos fiéis da casa dele, testador, e os mais moradores aí junto, que
todos os conhecemos ser o testador o próprio conteúdo e eu, José Pedro da Costa
Sermenho, tabelião público de notas, por sua majestade nesta cidade de Lisboa e seu
termo, esta aprovação de testamento fiz, subscrevi e assinei em p.co [?]; Lugar do sinal
p.co [?]; em testemunho de verdade; José Pedro da Costa Sermenho; João Gomes
Varela; Manuel Assunção e Sousa; Joaquim Pedro; José Rodrigues; Manuel Inácio
Calheiros; Joaquim Serrano; João António Vieira; Joaquim José.
Abertura
Manuel Varela de Almeida, prior da Paroquial Igreja de São José, certifico que hoje, em
15 de Fevereiro de 1786 anos, me foi apresentado o testamento com que faleceu João
Gomes Varela, o qual testamento estava fechado e lacrado com cinco pingos de lacrar
por banda, escrito por Luís Feliciano Velho em oito laudas de papel, entrando a
aprovação do tabelião José Pedro da Costa Sermenho e não tinha alguma entrelinha ou
alguma coisa que dúvida faça. Lisboa, 15 de Fevereiro de 1786. O Prior Manuel Varela
de Almeida.
Codicilo
Em nome da Santíssima Trindade, Padre, Filho e Espírito Santo, três pessoas distintas e
um só Deus verdadeiro em quem eu, João Gomes Varela, creio e espero nele me há-de
salvar pelos merecimentos de Jesus Cristo, seu filho, e pelos de Maria Santíssima e de
todos os santos da corte do céu; declaro que tenho feito meu testamento e porque nele
não fiz todas as declarações precisas respeito a várias contas que tenho com diversas
99
pessoas por não se terem liquidado, por haver ao presente certeza do alcance de
algumas, faço a esse respeito as declarações seguintes:
Tenho contas com Félix António Oliveira e pela que dele tenho se vê ser-lhe eu devedor
de cento e cinco mil novecentos e quarenta e assim mesmo pelas de Manuel Alves da
Silva Guimarães consta dever-lhe cem mil réis e pela de Joaquim Caetano dos Santos,
cinquenta mil, duzentos e dez réis; ao padre António Vieira devo cento e trinta e sete
mil e quarenta réis; igualmente, tenho contas com Tomás do Passo da Madeira, com
Manuel de Almeida, com Basílio Ribeiro, com quem se ajuntaram, pois ignoro o seu
líquido; a meu filho, António Gomes, devo dinheiro de empréstimo, que lhe veio do
dote de sua mulher, trezentos quarenta e quatro mil, seiscentos e sessenta réis, e além
desta dívida lhe sou devedor dos seus ordenados que venceu no contrato da limpeza e
carretos das suas bestas, que segundo a conta calculada lhe resto [200v] duzentos mil
réis; também devo mais ao dito meu filho e a meu genro, Francisco da Silva Lopes,
duzentos, vinte e quatro mil e seiscentos réis em que foram avaliados pelos mestres
Francisco Luís e Isidoro José Pereira os materiais que se tiveram da barraca que eles,
com meu consentimento, haviam feito e de que me servi para a praça de touros; com as
religiosas da Esperança correu uma causa com António Baptista Ancora, e hoje com
seus herdeiros, e porque me pertence deve minha testamenteira mandar cuidar nela; as
contas do contrato da limpeza com Manuel da Costa Castelão estão justas e somente há
uma dívida que se deve liquidar respeito a umas palhas para se saber se sou ou não
devedor de algum resto e, igualmente, se saberá dele se ainda me toca alguma coisa no
contrato do realete[?] em que fui interessado; com Matias Ferreira da Silva tenho
contas que estão em juízo e paradas há anos, só a fim de as concluir amigavelmente, e
pelo não ter conseguido, minha testamenteira e meus herdeiros prosseguirão na causa,
pois pelas ditas contas mostro ser eu credor; as contas da casa da ópera com meu
companheiro Gervásio da Silva Lopes estão justas por Luís Feliciano Velho, com
assistência do meu escriturário delas e meu filho António Gomes, cujo ajuste aprovo e
fiz procuração a minha mulher para as assinar por mim, obrigando-me ai seu alcance e
formalidade do pagamento dele; também se mandará cuidar na causa que me moveu um
estrangeiro por sobrenome Mercadil; a dívida dos seis mil cruzados que tomei a juro a
D. Damiana está hoje no padre Clemente Alexandrino da Congregação do Oratório, a
quem tenho pago os juros que se venceram até Junho passado. E porque por causa da
minha prolongada moléstia me pode ter esquecido alguma dívida, mando a minha
100
testamenteira e a meus herdeiros satisfaçam não só as aqui declaradas, mas todas as que
se mostrarem estou devendo. Nome meu testamento mandei se abonasse a Gregório
Xavier da Silva a renda dos anos que D. Margarida Inês de Brum esteve nas casas
daquele meu devedor, não obstante não haver quem as alugasse, e eu lha dar para tratar
delas pondo-lhe escritos, como punha e como feita a conta das despesas que com as
mesmas casas fiz importa muito além de outras que por causa da minha moléstia não
acho clareza delas, revogo nesta parte o meu testamento, e por equidade e não por
descargo algum de consciência, pois nenhum tenho a este respeito, mando se abonem ao
dito meu devedor três anos de renda, como se esteve sem alugado as ditas casas ao
inquilino que para ela foi Basílio Ribeiro e isto tudo se entende e se em minha vida não
completar os ajustes de todas, ou de cada uma das referidas dívidas, sendo bastante que
minha testamenteira por sua declaração diga as que se ajustarão em minha vida para não
ser responsável no juízo da conta.
E porque no meu testamento nomeei somente a minha mulher por minha testamenteira,
agora nomeio também a meu filho, António Gomes Varela, para o caso dela falecer
ficar ele por testamenteiro. E por este modo hei por concluído e acabado este codicilo
que quero se cumpra como nele se contém e como parte que fica sendo do mesmo
testamento, e por não poder assinar pela total falta de vista, roguei a Luís Feliciano
Velho, que por mim o escrevesse e assinasse o que eu dito Luís Feliciano fiz depois de
lho ler e o achar a sua vontade. Lisboa, 30 de Novembro de 1784. A rogo do testador.
Luís Feliciano Velho.
Aprovação
Saibam quantos este instrumento de aprovação de codicilo e última vontade virem que
no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1784, aos 30 dias do mês de
Novembro, nesta cidade de Lisboa, Rua Direita do Salitre e casas de morada de João
Gomes Varela, onde eu, tabelião, vim e sendo ele aí presente, doente de cama de doença
que Deus Nosso Senhor foi servido dar-lhe, mas em seu juízo perfeito e entendimento,
segundo o meu parecer e das testemunhas abaixo assinadas pelo [201] qual das suas
mãos às minhas me foi dado o codicilo retro escrito e as perguntas que lhe fiz na forma
da lei me respondeu que era o seu codicilo, que a seu rogo lhe escrevera Luís Feliciano
Velho, e depois de escrito o lera e pelo achar conforme a sua vontade, lhe pedira
assinasse, também a seu rogo, por ele testador o não poder fazer por causa da sua
101
moléstia que padece de falta de vista. Portanto, disse ele, testador, o aprova e ratifica
por seu, bom e verdadeiro codicilo que é parte de seu testamento e por ele revoga outra
qualquer disposição que antes deste codicilo e dito testamento haja feito, porque tudo
quer que valha, tenha força e vigor em juízo e fora dele por assim ser a sua última e
derradeira vontade a que foram testemunhas presentes chamadas e rogadas por parte
dele, testador, o reverendo prior Manuel Varela de Almeida, que o é da Paroquial Igreja
de São José, o reverendo padre Joaquim Eugénio da Silva Domingos Monteiro
Ramalho, Isidoro José Pereira, Joaquim Pedro, Joaquim José, todos familiares da casa
dele testador, que todos conhecemos ser o testador o próprio conteúdo e a rogo do
mesmo por não poder escrever por causa da sua moléstia assinou Domingos Monteiro
Ramalho e eu, José Pedro da Costa Sermenho, tabelião público de notas por sua
majestade nesta cidade de Lisboa e seu termo, esta aprovação de codicilo fiz subscrever
e assinei em p.co lugar do sinal p.co. Em testemunho de verdade. José Pedro da Costa
Sermenho. A rogo do testador e como testemunhas, Domingos Monteiro Ramalho;
Manuel Varela de Almeida; Joaquim Pedro; o padre Joaquim Eugénio da Silva; Isidoro
José; Joaquim José.
Abertura
Manuel Varela de Almeida, prior da Paroquial Igreja de São José, certifico que hoje, em
15 de Fevereiro de 1786 anos, me foi apresentado um codicilo com que faleceu João
Gomes Varela, o qual estava fechado e lacrado com cinco pingos de lacar por bando e
escrito por Luís Feliciano Velho em cinco laudas de papel, entrando a aprovação do
tabelião José Pedro da Costa Sermenho, e não tinha nota ou entrelinha que dúvida faça.
Lisboa, 15 de Fevereiro de 1786. O prior Manuel Varela de Almeida. Não contém mais
os ditos testamento e codicilo suas aprovações e aberturas que aqui registei dos próprios
a que me reporto nos quais não achei borrão, emenda, entrelinha em coisa que dúvida
faça e me foram apresentados por António Gomes Varela, a quem os tornei a entregar e
assinou comigo de como os recebeu. Lisboa, 14 de Março de 1786. Joaquim Inácio da
Rocha Pereira de Magalhães, escrivão do Registo Geral dos Testamentos desta cidade
de Lisboa e seu termo por sua majestade fidelíssima que Deus guarde, o escrevi,
concertei e assinei.
Concertado por mim, escrivão
Joaquim Inácio da Rocha Pereira de Magalhães
António Gomes Varela
102
AST
Carta do conde Scarnafis ao ministro em Turim (13 de Dezembro de 1768)
Archivio di Stato di Torino - Lettere Ministri Portogallo, maço 4.
Transcrição e tradução disponível na base Documentos para a História do Teatro
online (Centro de Estudos de Teatro,
http://ww3.fl.ul.pt/cethtp/imgLib/imgBrowser.aspx?oT=image&pN=docId&pV=2687&
i=0).
Le 8 du courant leurs majestés très fidèles, l’enfant D. Pietro et les infantes ont
assisté à la première représentation que les comédiens portugais ont donné du Tartuffe,
traduit en langue portugaise avec cette différence de l’original: que Tartuffe était
exactement habillé en jésuite, que dans le courant de la pièce il est très expressément
question des pères de la Compagnie et qu’on y trouve des lambeaux entiers de la
première partie de l’ouvrage, dont vous me dites que Mr. de Meneses venait de
présenter la seconde partie. Je suis assuré que la reine y a été à coeur. Cependant,
comme le comte d’Oeiras avait probablement persuadé au roi qu’il était convenable
qu’il y allait elle ne put faire à moins que de l’y accompagner et d’y mener les infantes,
pour ne pas donner à cette pièce une désapprobation tacite.
Cette représentation a non seulement surpris ceux du pays, mais aussi les
étrangers qui n’ont pu se refuser à la réflexion qu’en faisant paraitre ce habillement sur
le théâtre on a exposé à la risée du public l’habillement (à peu de chose près) d’une
grande partie de nos ordres religieux.
Malgré cela, tous les Portugais de crainte d’être soupçonnés de partialité
s’empressent d’aller à ce spectacle. […]
Lisbonne, ce 13 Decembre 1768
Votre très humble et très obéissant serviteur
De Scarnafis
103
BNP 1
Carta de Sulpice Gaubier de Barrault ao conde de Oeiras, D. Henrique, filho do
Marquês de Pombal (7 de Fevereiro de 1771).
Biblioteca Nacional de Portugal, Res., Pombalina cód. 619, ff. 335-336 (F. 3657).
Transcrição e tradução disponível na aplicação HTP on line - Documentos para a
História do Teatro online acessível em
http://ww3.fl.ul.pt/cethtp/webinterface/documento.aspx?docId=236&sM=t&sV=ga
ubier
[335] Monsieur le Comte-Président
J’étais si fatigué hier du bal de la nuit que je n’ai eu ni la force ni le courage d’écrire a
Votre Excellence; j’avois justement passé une partie de l’après midi qui preceda le bal a
l’etude d’un ouvrage qu’on m’avoit remis, d’un style fort serré et difficile a
comprendre. Je sortis vers les trois heures du matin de l’assemblée qui fut nombreuse et
gaie* et n’ayant point envie de dormir, je me remis au travail jusqu’a huit heures que
comprenant deja l’oeuvre en partie, mais voiant qu’il etoit impossible de le penetrer et
de l’approfondir sans plus / d’etude et de patience, je laissai la besogne pour une autre
fois et je sortis pour aller chez Anselmo da cruz qui me remit, on ne [peut] pas plus
honnetement, le tabac pour lequel je lui avois demandé une permission. De la je fus voir
un moment Madame May qui s’était trouvé mal au bal et je dinai chez Madamee de
Leibzeltern. Le soir je fus au Bairro Alto où l'on nous donna la burlette nouvelle
intitulée Le Beiglierbey de Caramanie. C'est le plus joli opéra bouffon que j'ai jamais
entendu. La musique en est charmante et dans un goût nouveau. Scolari a eu l'adresse de
tirer tout le parti possible de tous les acteurs et a doublé leurs talents par l'art qu'il a eu
de les développer et de proportionner sa musique à la qualité et à l'étendue de leurs
organes. Chacun d'eux se trouve dans son cadre. Louise n'a jamais chanté si juste ni
avec autant de voix. Maria Joaquina a deux très beaux airs qu'elle exécute bien. Trebbi
est un très beau Turc. Calcini, premier eunuque, s'est habillé de façon qu'il ressemble un
*Je n’ai jamais vu Mademoiselle Charlotte Die si jolie et si bien mise, ni si galamment
coiffée. Elle avait la fraîcheur de Flore, la jeunesse d’Hébé et les grâces de l’Amour.
104
Que je sais bon gré a Gilde mestre qui faisait les honneurs de m’avoir ménagé le plaisir
de danser un mouvement avec Elle!
[336] vieux châtré réformé de la Patriarcale; il chanta entre autres un air qui est unique
dans son genre. Cécile en turc est passable. Isabelle a deux ariettes légères dont elle se
tire fort joliment, mais Louise a dans le second acte une ariette qui est magnifique et
qu'elle a chanté supérieurement. Nous sommes privés dans cet opéra du plaisir
d’entendre mademoiselle Brusa. Les finales sont pleines, harmonieuses, bien coupées,
enfin tout a plu dans cet opéra, jusqu'à Pedro. Aussi n'ai-je jamais rien vu de si bien
reçu. Car le public non content d'applaudir les acteurs redoublait ses battements de
mains a chaque beau morceau de l'ouvrage en criant «vivat maestre Scolari».
Je suis bien fâché que Votre Excellence ne puisse pas voir cette jolie bourlette et d'être
privé aussi moi-même par l'assemblée et le souper de Madame de Clermont du plaisir
d'y aller ce soir. Vendredi je ne sais si j'irai, ayant promis a Madame de Leibzeltern
d'aller à la Comédie Italienne voir le nouvel Arlequin et voir aussi la toute petite
Napolitaine danser un menuet en homme avec la fille de la Smeraldini. Elle l'a dansé
dernièrement et on dit qu'elle s'en acquitte parfaitement bien. La Augusta était y hier a
la mort et sans esperance d’une inflamation de matrice dont elle souffre depuis dix
jours.
Monsieur le Comte-President
Votre très humble et très obéissant serviteur
Gaubier de Barrault
Ajuda, ce jeudi, 7 de février
105
BNP 2
Carta de Sulpice Gaubier de Barrault ao conde de Oeiras, D. Henrique (11
Fevereiro de 1771).
Biblioteca Nacional de Portugal - Res., Pombalina cod. 619, f. 339-340v; 342v-344
(F. 3657).
Transcrição e tradução disponível na aplicação HTP on line - Documentos para a
História do Teatro online acessível em
http://ww3.fl.ul.pt/cethtp/webinterface/documento.aspx?docId=252&sM=t&sV=ga
ubier
Monsieur le Comte Président
J’ai a rendre compte à Votre Excellence d’evenements comiques, tragiques et tragi-
comiques. Commençons par le comique.
Vendredi au soir la Rosa Campora, danseuse du tiers ordre de la Rue dos Condes nous
donna une scêne de furie dans les coulisses de la Comédie Italienne. Marana que Bruno
avoit prié de composer un pas de quatre nouveau pour réchauffer un peu de théatre dans
ces derniers jours de Caranaval, choisit pour l’executer la Guadagnini qui est sous la
protection d’Israël, et le danseur Bachini, d’une part; et la Rosa Campora, qui a un
interet clandestin dans la fabrique roiale de faiance, a la quelle on donna pour
compagnon le nouvel arlequin nommé Branbilla, mari de la première actrice. Ce dernier
avant d’etre comédien, époux de comédienne, danseur etc, était perruquier, et en
conséquence a quelque fois peigné et frisé la Campora en Italie; ici même il n’a pas cru
déroger a la dignité du théâtre en exerçant son premier talent en faveur de deux ou trois
dames distinguées qui l’ont envoyé chercher, parce qu’il coiffe très bien. Notre Nymphe
subalterne a qui personne n’a fait un crime d’exercer ici depuis qu’elle y est, le métier
primitif par le quel elle a commencé en Italie, et auquel elle a réunit depuis la profession
de danseuse, s’est trouvée scandalisée de ce qu’on voulait l’appareiller avec un homme
qui, disait-elle, avait été son domestique, et quelque bonne raison qu’on ait voulu lui
donner, elle s’est absolument refusée à s’y prêter. Le chef suzerain du tripot comique,
vint en conséquence vendredi au soir interpeller la suivante de Terpsichore de donner sa
dernière réponse: mais tout ce qu’il lui dit de plus raisonnable pour vaincre son
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opiniâtreté qu’intense n’eut d’autre succès que de la mettre en fureur / et déployant
l’éloquence des Poissardes de la halle avec toutes les grâces d’une harpie, elle jura
qu’on ne la ferait jamais danser avec un tel homme; qu’on pourrait la faire pendre, mais
jamais, disait-elle, en prenant ses jambes l’une près l’autre, on ne me fera faire avec ces
jambes la, ce que je ne veux pas faire. Bruno lui répondit, que puisqu’elle ne voulait pas
faire son devoir, elle n’eut point à se plaindre, s’il lui arrivait quelque disgrâce.
Aussitôt, Ministre en jeu, nouveau désespoir da la faiseuse d’entrechats et offre de
prendre son congé dans le même moment. Bruno ne se fait pas prier, l’accepte, témoins
pris a voix haute de part et d’autre, tant de l’offre que de l’acceptation. Je voulais
raccomoder les affaires, mais Bruno me prenant par la main, et me menant un peu à l’
écart. Pour l’amour de Dieu, Monsieur, me dit-il, laissez aller les choses comme elles
vont. C’est ce qui pourrait m’arriver de plus heureux. Cette fille a un engagement pour
jusqu'au mois de mai prochain, avec clause de la payer pendant le carême comme si elle
dansait, je me suis obligé en prenant ce théâtre de faire bons tous les engagements, je ne
veux point d’elle pour l’année prochaine, de sorte qu’en prenant son congé d’elle même
a présent, ce sont trente ou quarante monnaies d’or que je gagnes et un sujet qui ne veut
rien d’ont je me trouve débarrassé. Je ne pus m’empêcher de rire de son habilité a
profiter de l’occasion. Je l’envoyai faire part au ministre de tout ce qui se passait; Le
ministre trouva ainsi que moi qu’il n’avait pas tort. Aussitôt Bruno envoya chercher de
l’argent chez lui pour la payer tout de suite. Cela s’était passé pendant la première
danse. Dans l’intervalle de la première a la seconde, l’homme de la faïence vint me
trouver dans ma loge pour m’annoncer que mademoiselle Rosa Campora ne paraissait
point et que vraisemblablement, elle s’était évadée pour ne point danser dans le Second
Ballet; / je lui répondis qu’en ce as elle pourrait bien aller a Limoeiro, parce que
certainement le ministre qui était notre judicieux Garbo, ne souffrirait pas une telle
insolence, mon homme sortit aussitôt de la loge fort effrayé et peu après parut sa
Dulcinée qui dansa dans le 2e ballet. A la fin de l’opéra, Bruno lui envoya dans sa loge
son compte par écrit et l’argent qui lui revenait pour le tems de sa Direction ce qui
montait a 28000 Reys ordonnant a son commis de ne lui délivrer l’argent qu’après lui
avoir fait faire une quittance de congé. Il lui fit dire en même temps que pour environ
cent mille Reys qui lui étaient dus par la Direction précédente, il donnerait le lendemain
un manda sur le ministre pour qu’ils lui fussent payés des fonds qu’il a entre les mains
pour l’acquis des dettes: mais elle ne voulait pas accepter ni le compte ni l’argent, disant
qu’elle voulait examiner tout cela chez elle. Cela est resté dans cet état: Samedi elle n’a
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point dansé et est venue en grande loge voir l’opéra du Bairro Alto. Hier dimanche elle
n’a point paru non plus de sorte qu’il me parait que c’est une affaire finie.
Samedi, je fus au théâtre de la Grace ou il y avait un monde prodigieux. Les Dames et
les ministres étrangers s’y trouvèrent, on nous donna Alecrim e Mangerona, suivi d’un
nouvel intermède intitulé o Velho Peralta qui est un Salmigondi détestable, et un
fandango très insipide. On nous régala dans les entractes de concertos de différentes
espèces, et dans la comédie, de beaucoup d’ariettes qui m’ont faire désirer de la vielle
musique française, l’exécution sur tout débanquait sans contredit les accords
harmoniques da la fameuse musique qui nous vient écorcher les oreilles tous les ans la
veille de Noël et le jour de Rois. On nous a tenu la jusqu’a minuit. Ensuite on m’a
entraîné malgré moi a un bal de contrebande qui consistait en douze bouts de chandelles
de Juif, un violon ivre, un clavecin dont personne ne savait jouer, une vingtaine de
grisettes demi-castor, parmi lesquelles brillait une blanchisseuse vêtue d’une robe de
Durante ou étamine blanche; j’eus le bonheur d’être choisie pour danser par une des
plus jeunes grâces de l’assemblée qui avait une robe de moire de soie couleur de rose. A
une heure on servit un soupé composé d’un Rosbif furieux, deux dindons, un pâté et un
jambon des Salades et quelques assiettes de fruits. Mais il n’y avait malheureusement
pour les conviés, ni assiettes, ni couteaux ni fourchettes./ Désespéré de me trouver a
table entre deux dames de cette considération qui avait une faim enragée, et qui ne
savaient comment faire pour manger, J’ai pris mon parti en brave, j’ai attaqué le dindon
corps a corps et après l’avoir déchiré avec mens ongles, j’ai présenté de mes deux mains
toutes grasses un morceau de la victime a chacune de mes voisines et renversant sur le
Rosbif un plat de salade qui se trouvait devant moi, je l’ai fait servir d’assiette pour
nous trois. Rien ne manquait pendant la fête, car après ce brillant festin, il y avait dans
un autre appartement un homme qui servait du café plus clair que de l’eau de Roche, du
chocolat épais comme de la bouillie et jusques dans l’antichambre même on trouvait
une négresse qui criait, quentinhas en rôtissant des châtaignes. Vers les quatre heures du
matin comme j’étais fort échauffé, ma conquête émue de compassion, a parlé a l’oreille
de la dame du bal qui était une mégère d’environ soixante et dix ans, et avec son
consentement ma tendre compagne qui pouvait avoir dix-sept a dix-huit ans, me conduit
Elle même a pied, a cent cinquante pas de la maison ou était le bal, et me fis
mystérieusement monter dans un grenier, précédés tous deux de la négresse aux
châtaignes, qui après avoir illuminé l’appartement avec un bout de chandelle collé sur
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un bahut nous laissa attendre le jour sans autres sièges pour nous reposer qu’un petit lit
de trois palmes de large, sur lequel on ne pouvait tenir deux qu’en pyramide. A peine le
jour a-t-il commencé a paraître, que je me suis aperçu que les fenêtres de la maison ou
j’étais, se trouvent justement en face du comte Mazin, je me sui au plus tôt dépiramidé,
et m’enveloppant de mon manteau, j’ai déniché avant que personne me vit et j’ai gagné
a pied la maison de Dubosc ou après avais déjeuné je me suis jeté sur un lit jusqu'à deux
heures, j’ai dîné là et je me suis rendu ensuite a l’opéra du Bairro Alto, ou l’on m’a
conté en entrant l’aventure arrivée au Lieutenant Colonel Betty le matin du même jour a
onze heures et dont je vais faire part a V.E. telle qu’elle m’a été contée par Mackinteir
Lieutenant Colonel da Ponte récit conforme a tout ce qui m’en a été dit par tout ceux qui
m’en ont parlé et qu rapport qui en a été envoyé a Mr votre père et au Maréchal Marquis
d’Alvito [...].
Il est trop tard pour que je puisse donner à Votre Excellence un détail bien
complet de la tragi-comédie qui s'est passée hier au Bairro Alto. Je me borne donc à dire
à Votre Excellence que le spectacle qui était ce jour-là nombreux et magnifique fut
troublé par une querelle qui s'éleva à l'orchestre entre Scolari et Todi, sur le mouvement
d'une ariette que chantait Pedro. Scolari, qui voulait qu'elle marchât plus presto, se mit à
charger l'accompagnement de clavecin de toute sa force et selon sa louable coutume
apostropha Todi, qui n'allait pas apparemment à sa fantaisie, de l'épithète de porco, Todi
lui répondit par asno, d'autres gentillesses se suivirent rapidement et je vis le moment
que Todi hors de lui allait jeter son violon à la tête de Scolari; j'étais dans la loge de
Madame Votre Mère, qui était ce jour là à l'opéra. Nous entendions bien que l'on se
disputait mais nous ne pouvions pas savoir pourquoi, parce que la musique continuait
toujours et le bruit que cette affaire excitait dans le parterre nous empêchait de rien
distinguer. Madame Votre Mère m'envoya voir ce que c'était. J'appris à la porte du
théâtre qu'ils étaient les deux champions. Je passai tout de suite dans la loge de Maria
Joaquina qui est sur l'orchestre et à peine y entrais-je que j'aperçus un caporal et deux
soldats baïonnette au bout du fusil, qui après avoir traversé le parterre par-dessus tout le
monde, a jambèrent l'orchestre. Le caporal arrêta Todi et lui dit de le suivre. Todi se
leva et obéit. Dans le moment que Todi sortait de l'orchestre accompagné des soldats, la
Louise entrait sur la scène; voir son mari conduit par des soldats, jeter un cri terrible et
voler après son mari fut l'affaire d'un clin d'oeil. Tandis que cela se passait sur le théâtre,
il se passait une autre scène dessous, par où il faut passer pour sortir de l'orchestre. Todi
ne s'y était pas plutôt vu à l'obscurité que, profitant de la connaissance qu'il a du local, il
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s'échappe d'entre les soldats, prend les détours qu'il connaissait, monte au théâtre, gagne
la petite porte de derrière et se sauve. Un moment après, les soldats retrouvent leur
chemin et courent après lui. Louise renverse tout ce qui se trouve sur son passage,
sentinelle, hommes, femmes, rien ne l'arrête, elle saute les escaliers quatre à quatre et
court après son mari presque jusqu'à la porte de la grande cour de derrière. Là on me
conjure de la suivre, j'y cours, et rencontrant un des soldats qui me dit que Todi s'était
échappé j[e l'] attrape; survient le Comte d'Alvizan qui était de garde / et le Ministre;
nous la faisons remonter. Elle ne pleurait pas, elle hurlait; ce qu'il y a eu de plus plaisant
c'est que pendant tout ce tapage l'opéra n'a pas arrêté un instant, par l'habileté de la
petite Isabelle, qui se trouvant sur le théâtre au moment de la catastrophe a continué le
rôle de sa [soeur] et l'a chanté jusqu'à la fin de l'acte sans la moindre erreur. J'étais
pourtant fâché que Todi se fut enfui, parce que cela arrêtait par force tout l'opéra. Louise
n'aurait certainement ni voulu ni même pu continuer son rôle. En rentrant au théâtre je
la trouvai qui demandait son mari à tue-tête et qui me crie en me voyant: «O meu
marido». Moi, je répondis aussitôt: «Seu marido é um tolo; para quê fugir?» À peine ai-
je lâché le mot de tolo qu'elle entre [en] fureur contre moi: «Vossa Mercê tem o
atrevimento de chamar o meu marido tolo adiante de mim?» J'ai eu, ma foi, peur qu'elle
m'arrachât les yeux, je voulais l'apaiser, il n'y avait pas moyen. On vint m'appeler de la
part de Madame la Marquise et je pris le parti de la laisser crier et de m'en aller. Nous
remontâmes, le Ministre et moi, dans la loge de Madame Votre Mère, où nous
trouvâmes tous les Ministres étrangers, Monsieur Manuel Bernardo de Melo et le Comte
d'Alvizan à qui Madame Votre Mère se tuait de dire qu'il fallait relâcher Todi et le
pauvre Comte se tuait de répondre qu'il ne savait pas où il était, mais il avait beau jurer
et protester, madame votre mère n'en voulait rien croire, et s'était mis dans la tête que
c'était une défaite du comte. Au milieu de tout cela arrive la Todi en larmes, la Cécile
toute bouffie de colère demandant grâce. Le comte d'Alvizan qui avait envoyé de tous
côtés à la suite de Todi, sort lui même pour savoir si on en avait des nouvelles, et dans
le temps qu'il allait par un endroit, Todi arrive par un autre, amené par le Caporal qui
l'avait suivi de près et l'avait arrêté. Sachant, en arrivant, qu'il était libre, il vint tout de
suite à la loge de madame votre mère. La femme, aussitôt qu'elle le vit, passa de
l'extrême douleur à l'extrême joie. Ce fut un spectacle touchant pour Madame la
marquise et pour tous les assistants. Après les premiers mouvements de tendresse, Todi,
la Louise et la Cécile se réunirent pour crier tous les trois en choeur contre Scolari, mais
ils faisaient un tel tapage que madame votre mère les fit taire, fit une leçon à Todi et le
110
renvoya à l'orchestre après lui avoir recommandé de continuer à faire son devoir sans
dire mot, sans la / moindre rancune et comme si rien ne fût arrivé. Ensuite elle fit
appeler Scolari à qui elle dit d'être moins vif et plus prudent et lui recommanda très
expressément qu'il ne fût plus question de cette affaire. Tout a en conséquence rentré
dans l'ordre accoutumé et l'opéra a continué on ne peut pas mieux jusqu'à la fin. Le
pauvre Bruno, au milieu de tout cela, avait l'air d'un criminel qui est dans l'oratório.
«C'est moi qui paierai toutes ces sottises-là», disait-il tristement. La vérité est que cela
est malheureux pour lui; et la vérité est aussi que, quoique Todi soit un crâne il n'avait
cependant pas le premier tort dans cette occasion. Scolari est un insolent qui vient
presque tous les jours ivre au théâtre, qui depuis qu'il est ici a fait vingt de ces
incartades. La même chose lui est arrivée avec la Sestini et la Falquini et tous les jours
ici, il a quelques duretés obscènes à dire à ces pauvres filles qui font ce qu'elles peuvent.
Il est maître de chapelle et a raison de vouloir que son ouvrage soit exécuté comme il le
veut, mais cela ne lui donne aucun droit d'outrager personne. C'est un fort bon musicien
mais c'est un fort dangereux et fort brutal personnage.
Madame votre mère en arrivant a l’opéra, trouva avec monsieur votre frère
Lambert et moi, Le comte de Soure et le comte de Saint Laurent qui s’y étaient réfugiés,
parce qu’il y avait huit dames dans la loge de madame ja comtesse de Soure: ils se
retirèrent après les premiers compliments; madame votre mère qui comme vous savez
aime a trouver sa loge libre quand elle vient, me dit qu’elle serait très contente quand
V.E. aurait fait remettre a l’entrepreneur as loge ainsi que les autres, parce qu’elle en
trouvait une dont personne qu’elle n’aurait la clef sans me la demander, «Pas même
vous autres dit-elle a madame la comtesse de San Payo; et le même soir a souper, elle
me chargea de louer pour l’année prochaine a son compte la Camerote des Secondes
loges qui est au dessus du sien. Elle prétend qu’elle y sera plus a son aise, et plus libre
d’y aller en négligé quand elle le voudra, étant moins apportée d’être vue. C’est un bel
exemple pour les autres ministres et votre Excellence pourrait / bien saisir cette
occasion de leur parler et de les engager a rendre leurs clefs.
Voici la dernière lettre que j’écris à Votre Excellence ; dans deux jours nous
vous posséderons ici, et vous connaitriez a la joie que nous aurons de vous revoir, la
sincérité des regrets que nous a causé votre absence. J’ai l’honneur d’être ave une
tendresse aussi inaltérable que respectueuse/ de Votre Excellence, Monsieur le Comte-
President, le très humble et très obéissant serviteur Gaubier de Barrault
111
P.S. J’oubliais de dire a V.E. que monsieur le comte d’a Ponte a été inconsolable de
n’être arrivé au théâtre qu’au moment après l’aventure de Todi. Je ne connais personne
Qui se plaise plus que lui dans le désordre. Malgré sa mutabilité continuelle, j’ai trouvé
le secret de le faire rester a l’opéra jusqu’a la Seconde danse inclusivement. Miracle!
Aussi m’a-t-il fort recommandé de vous en faire part.
Ajuda, ce lundi 11 février 1771
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BGUC 1
Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Miscelâneas, Misc. 664.
Soneto dedicado ao Teatro do Bairro Alto.
113
BGUC 2
Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Miscelâneas, Misc. 664.
Soneto dedicado a Cecíla Rosa de Aguiar.
114
BGUC 3
Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Miscelâneas, Misc. 664.
Soneto dedicado a Francesca Battini.
115
BGUC 4
Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Miscelâneas, Misc. 664.
Soneto dedicado a Gertrude Pini.