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ANÁLISE COMPARATIVA DE CUSTOS NA EXECUÇÃO DE MURO DE
CONTENÇÃO PELO SOFTWARE EBERICK E PELOS MÉTODOS
CONVENCIONAIS
RESUMO
Vencer as dificuldades que o terreno impõe são metas traçadas desde o início dos tempos. Nesse
contexto, a Engenharia Civil se desenvolveu para fornecer condições de construção em lugares
que impõem dificuldades topográficas. Dessa forma, o aperfeiçoamento da técnica e dos
profissionais envolvidos na contenção de maciços tornou-se necessária, em especial, o muro de
arrimo. Embora essas técnicas já estejam muito enraizadas na construção civil, muitas vezes
elas esbarram na pouca experiência do profissional envolvido. Além disso, há diversas maneiras
de elaboração dos cálculos, detalhes construtivos e levantamento de insumos necessários,
apresentando, cada uma delas, diferentes características finais. Sob essa perspectiva, este
trabalho visa o desenvolvimento dos cálculos de uma estrutura de arrimo e análise de valores
aplicados no mercado, através de duas metodologias: uma segundo as bibliografias de Marchetti
e Caputo; e a seguinte através da plataforma do software Eberick. O local utilizado como estudo
foi um terreno localizado no condomínio Gran Royalle, em Montes Claros – MG. A tipologia
de arrimo escolhida foi a de muro por gravidade e os parâmetros do solo foram recolhidos in
loco. Com a realização deste estudo, identificou-se que o Eberick apresenta maiores dimensões
estruturais e maiores preços de execução, se comparados a metodologia manuscrita de cálculo.
Sendo, portanto, mais indicado o dimensionamento dessas estruturas seguindo métodos
manuais.
Palavras-chave: muro de arrimo; dimensionamento; comparação.
INTRODUÇÃO
A necessidade do ser humano de construir em diferentes condições de terreno não é um
desafio recente. Segundo Kinder e Hilgemann (1964) apud Pinto (2013), há registros de obras
de contenção realizadas em tempos remotos, entre 3200 a 2800 a.C. na região da Mesopotâmia,
mais precisamente na região sul, onde hoje se localiza o Iraque.
Nesse contexto, a Engenharia Civil se desenvolveu para acompanhar e favorecer as
mudanças requeridas pelo homem ao longo da história. Esses avanços trouxeram consigo a
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necessidade de se expandir e ocupar novas regiões, muitas das quais de difícil acesso (FREITAS
et al., 2014).
À vista disso, construção em locais com topografias acidentadas, tais como morros,
encostas e montanhas, se tornaram desafios a serem superados pelo ser humano. Desta forma,
a utilização de novas técnicas construtivas, tal qual a necessidade de aprimoramento dos
profissionais envolvidos, passaram a ser necessárias. Dentre as mais importantes técnicas,
destacam-se as estruturas de contenção, em especial, o muro de arrimo (PINTO, 2013).
Consoante a Pinto (2013), a aplicação da técnica de contenção e estabilização de relevos
irregulares tornou-se importante fator de estudo e aperfeiçoamento na esfera da construção
civil. A carência cada vez maior de espaços disponíveis às novas estruturas, sobretudo quando
se pensa em regiões muito urbanizadas com alta valorização da metragem quadrada, expandiu
ainda mais o aproveitamento dessas áreas de difícil concepção de edificações.
No Brasil, este método construtivo se desenvolveu consoante ao desenvolvimento
econômico e processo de urbanização passado pelo país, sobretudo nas últimas décadas. A
escolha de soluções de engenharia para idealização de muro de arrimo nas diversas áreas do
território brasileiro é justificado por vários aspectos, desde econômicos a climáticos e sociais
(PINTO, 2013).
Embora já muito enraizadas e diversificadas, as várias técnicas de construção de muro de
arrimo em território nacional esbarram muitas vezes nas limitações técnicas e de mão de obra
disponíveis. Outro aspecto relevante é a limitação que os estudantes e profissionais
principiantes possuem, justificados, em sua maioria, pela pouca experiência na elaboração de
contenção. Muitas vezes tais estruturas são superdimensionadas e construídas sem muito estudo
de concepção de projetos nesta esfera (ALVES, 2011).
Dessa forma, a escolha desse tema é oriunda da necessidade de embasamento técnico no
que tange ao dimensionamento deste tipo de estrutura e à possibilidade de contribuição
acadêmica, a fim de prover conhecimento quanto aos cálculos construtivos de muro de arrimo,
estrutura essa largamente utilizada na construção civil.
Segundo Vergutz et al. (2010), os projetos estruturais podem ser realizados tanto de
maneira manuscrita, com auxílio de métodos preestabelecidos, como os cálculos de empuxo
Rankine, ou por meio de pacotes computacionais, como o software Eberick, apresentando
mudanças no dinamismo da elaboração de projeto e, por vezes, diferentes precisões no
quantitativo de insumos.
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Optou-se, na elaboração dos cálculos e detalhamento construtivo, pelo método do muro
de arrimo por gravidade, amplamente utilizado na construção civil e aplicável, em especial, em
alturas não superiores a cinco metros (RANZINE E NEGRO, 1998).
Portanto, o objetivo deste trabalho é a elaboração de uma análise comparativa de
resultados obtidos pelo método proposto por Rankine e o software Eberick, realizando
levantamento de dados do quantitativo de materiais e custos de insumos necessários.
MÉTODOS
Levantamento de dados
O presente estudo foi realizado na cidade de Montes Claros - MG, localizada na parte
norte de Minas Gerais, ocupando uma área territorial de aproximadamente 3.583 km², entre
zona urbana e rural e fica a 418 km de Belo Horizonte (capital mineira). Segundo o IBGE
(2017), a cidade possui uma população de 402.027 habitantes.
O terreno estudado se localiza em condomínio residencial, situado na Rodovia Júlio
Garcia, 1205-1247 - Santo Expedito, Montes Claros – MG. O condomínio possui uma área total
de 749.842,23 m² com 505 lotes de dimensões a partir de 600m². Ele se encontra
aproximadamente a 7,3 km do centro da cidade.
A Figura 1 apresenta o terreno a ser contido através da construção do muro de arrimo.
Figura 1 – Terreno do condomínio escolhido como área de estudo.
Fonte: Autoria própria.
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Para o desenvolvimento do estudo, foram realizadas visitas in loco no segundo semestre
de 2017 e no primeiro semestre de 2018. Nessas visitas foram observadas as características do
terreno a ser estudado, recolhidas as informações obtidas através de sondagem do solo,
levantadas memórias fotográficas do local e analisado o perfil da edificação a ser construída.
Neste terreno, que possui 600 m², foi realizada a escavação do terreno. A área escavada
possui dimensões de 11 m x 20 m, com cota constante de -3,20 m ao longo de toda a escavação.
Dessa forma, a área destinada à construção do muro feita no subsolo da estrutura residencial.
Em conformidade com a NBR 7185 (ABNT, 1986), ainda in loco, realizou-se um ensaio
de massa específica aparente através do método do frasco de areia. Uma amostra do terreno foi
retirada e levada ao laboratório de mecânica dos solos da Faculdade de Ciências Exatas e
Tecnológicas Santo Agostinho – FACET, onde três amostras de 50 g foram pesadas em
balanças de precisão e postas em estufa para secagem e obtenção de massa específica, esta
usada como parâmetro de cálculo dos empuxos ativo e passivo encontrados no maciço
escolhido como objeto de estudo.
Foi recolhida uma cópia da sondagem à percussão (SPT), essa requisitada anteriormente
pelo proprietário do lote. Segundo o ensaio, o solo apresenta composição mista ao longo de sua
profundidade, com predominância até a cota da escavação, de argila concrecionada, não
plástica, rija a dura e de coloração vermelha. Estes dados foram utilizados como parâmetros de
cálculo dos empuxos ativo e passivo e, por conseguinte, da estrutura de arrimo como um todo
(PEREIRA FILHO, 2015).
O tipo de muro de arrimo escolhido a ser aplicado foi o por gravidade. A escolha justifica-
se pela sua boa aplicabilidade em alturas inferiores a 5 metros a serem contidas, além de grande
disponibilidade de material didático pertinente aos cálculos desta estrutura (MOLITERNO,
1994).
Após a adoção do método construtivo e levantamento de dados, foram feitos os cálculos
construtivos na plataforma Eberick e outros através da metodologia proposta pelas bibliografias
de Marchetti (2007) e Caputo (1987).
Metodologia proposta por Marchetti e Caputo
Procedeu ao recolhimento dos parâmetros do solo e das características físicas do terreno,
a elaboração do cálculos construtivos seguindo as bibliografias de Marchetti (2007) e Caputo
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(1987), utilizando o método proposto por Rankine no cálculo dos empuxos, de maneira
manuscrita.
Consoante ao proposto por Marchetti (2007) realizou-se o pré-dimensionamento,
adotando dessa maneira, a geometria que seria usada no dimensionamento manual.
Os cálculos dos empuxos (passivo e ativo), foram feitos seguindo as equações propostas
nas bibliografias de Caputo (1987), seguindo método proposto por Rankine. Os coeficientes de
empuxo ativo e passivo são encontrados através da Equação 1 e 2.
𝐾𝑎 = 𝑡𝑔² (45 - ϕ/2) (1)
Em que ka representa o coeficiente de empuxo ativo e tg, a tangente do ângulo de atrito.
𝐾𝑝 = 𝑡𝑔² (45 + 𝜙/2) (2)
Onde kp representa o coeficiente de empuxo passivo e tg, a tangente do ângulo de atrito.
Verifica-se o empuxo ativo pela Equação 3.
𝐸𝑎 = 𝛾 𝑥 𝐻 𝑥 𝐾𝑎 𝑥 𝐻/2. (3)
Em que:
𝐸𝑎 = empuxo ativo (KN/m);
𝛾 = peso específico do solo (KN/m³);
𝐻 = altura do maciço (m);
𝐾𝑎 = coeficiente de empuxo ativo.
O empuxo passivo é aferido pela Equação 4.
𝐸𝑝 = 𝛾 𝑥 𝐻 𝑥 𝐾𝑝 𝑥 𝐻/2. (4)
Onde:
𝐸𝑝 = empuxo passivo (KN/m);
𝛾 = peso específico do solo (KN/m³);
𝐻 = altura do maciço (m);
𝐾𝑝 = coeficiente de empuxo passivo.
Ainda com as informações provenientes dos cálculos de empuxo, foram feitos os cálculos
dos momentos provenientes dos mesmos. Os momentos decorrentes dos empuxos são
verificados pela Equação 5 e 6.
𝑀𝑡 = 𝐸𝑎 𝑥 𝑐 (5)
Mt representa o momento de tombamento (kN.m), Ea o empuxo ativo (kN/m) e c o centroide
de área.
𝑀𝑅𝐸𝑝 = 𝐸𝑝 𝑥 𝑎 (6)
Em que:
𝑀𝑅𝐸𝑝 = momento de resistente do empuxo passivo (KN.m);
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𝐸𝑝 = empuxo passivo (KN/m);
𝑎 = centroide de área (m).
Conforme Marcheti (2007), o muro de arrimo foi seccionado em 3 (três) seções, a fim de
identificação do peso e momentos totais da estrutura. Foi identificado o peso de cada seção,
utilizando como referência o peso específico do concreto ciclópico 2,2 t/m³. Após identificação
do peso, seus valores foram multiplicados pelos seus respectivos braços de alavanca,
encontrando-se seus momentos.
O peso total do muro é reconhecido através da Equação 7.
𝑃 = 𝛾 𝑥 𝐴 𝑥 𝐹𝑎𝑖𝑥𝑎 𝑑𝑒 1 𝑚 (7)
Na qual P é o peso do muro, 𝛾 o peso específico do solo e A, a área.
Após a identificação do peso, verifica-se os seus momentos através da Equação 8.
𝑀𝑅𝑚 = ∑〖 (𝑃 𝑥 𝑑) 〗 (8)
Em que:
𝑀𝑅𝑚 = momento resistente do muro (KN.m);
𝑝 = peso do muro (KN);
𝑑 = centroide de área (m).
Os muros são calculados com base em comprimentos de 1 (um) metro, identificando-se
o comportamento do mesmo em cada uma dessas faixas de comprimento.
Por fim, realizou-se nas verificações de segurança ao deslizamento, a segurança ao
tombamento e à ruptura do solo, em acordo com a NBR 11682 (ABNT, 2009). Primeiramente,
verificou-se a segurança ao tombamento com base na seguinte Equação 9.
𝐹𝑆 = 𝑀𝑅/𝑀𝑇 = (𝑀𝑅𝐸𝑝 + 𝑀𝑅𝑚)/𝑀𝑇 (9)
Em que:
𝐹𝑆 = fator de segurança;
𝑀𝑅 = momento resistente (KN.m);
𝑀𝑇 = momento de tombamento (KN.m);
𝑀𝑅𝐸𝑝 = momento resistente do empuxo passivo (KN.m);
𝑀𝑅𝑚 = momento resistente do muro (KN.m).
O fator de segurança para garantir resistência ao tombamento deve ser superior a 1,5 (um
e meio), de acordo com a NBR 11682 (ABNT, 2009).
Posteriormente, realizou-se verificação de segurança ao deslizamento seguindo a
Equação 10.
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𝐹𝑆 = 𝑆+𝐸𝑝
𝐸𝑎 =
𝑃 𝑥 𝑡𝑔𝜙+𝐸𝑝𝐸𝑎
. (10)
Onde:
𝐹𝑆 = fator de segurança;
𝑆 = força de atrito;
𝐸𝑝 = empuxo passivo (kN/m);
𝐸𝑎 = empuxo ativo (kN/m);
𝑃 = peso do muro (kN).
𝑇𝑔𝜙 = tangente do Angulo de atrito (Graus).
Para aferir a funcionalidade do muro no que tange ao deslizamento, o valor encontrado
de fator de segurança deve ser superior a 1,5 (um e meio), segundo a NBR 11682 (ABNT,
2009).
Finalmente, realizou-se a verificação de segurança quanto a ruptura do solo, dada pela
Equação 11.
Ϭ𝑚 = 𝑉
𝐵𝑥 (1 +
6𝑒
𝐵) (11)
Em que:
𝑒 = excentricidade;
Ϭ𝑚 = tensão máxima de ruptura do solo (kN/m²);
𝐵 = base do muro (m);
𝑉 = forças verticais atuantes (kN).
A NBR 11682 (ABNT, 2009) demanda que os valores encontrados de tensão máxima de
ruptura do solo (Ϭm) sejam inferiores à tensão admissível (Ϭadm) do mesmo. A tensão
admissível é dada pela Equação 12.
Ϭadm = 0,133 x N [1 + (0,3 X B
L)] (12)
Na qual:
Ϭadm = tensão admissível (KN/m²);
𝐵 = base do muro (m);
N = Índice de resistência a penetração ou N (SPT) do solo;
𝐿 = Comprimento ou maior dimensão da fundação
Metodologia no elaboração em software Eberick
Após as identificação dos parâmetros do solo a ser contido, tais valores foram colocados
em na plataforma Eberick. O software, largamente utilizado na construção civil, exige a
inserção do tipo de concreto a ser utilizado no muro, no caso, o concreto ciclópico. O valor do
peso específico conferido pelo programa foi de 2,4 t/m³ (VERGUTZ, 2010).
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O software por sua vez determina, ainda dentro de sua plataforma, a geometria da base
necessária para a aprovação quanto aos fatores de deslizamento, tombamento e ruptura do solo.
Apenas os dados largura do topo e altura da base foram determinadas pelo projetista. Dessa
forma, a fim de se obter homogeneidade quanto aos quantitativos financeiros, adotaram-se para
essas dimensões valores semelhantes aos das bibliografias citadas anteriormente.
As medidas e critérios adotados na elaboração dos cálculos e detalhamentos construtivos
elaborados no Eberick, são apresentados nas Figuras 2 e 3.
Figura 2 – Parâmetros adotados no Eberick.
Fonte: Autoria Própria.
Figura 3 – Dimensões de largura do topo e largura da base adotados no Eberick.
Fonte: Autoria própria.
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Uma vez que ambas as metodologias foram aplicadas no mesmo maciço, adotando-se a
mesma cota altimétrica e parâmetros do solo, a drenagem, a fim de uma análise comparativa,
foi descartada, posto que a mesma apresenta características semelhantes.
As dimensões dadas pelo Eberick e pela metodologia proposta pelas bibliografias de
Caputo (2007) e Marchetti (1987) nos deram o quantitativo em relação às faixas de um metro
de seu comprimento. Dessa forma, nos cálculos quantitativos, os valores dos insumos foram
multiplicados por seu comprimento total de 51 metros.
Os valores dos quantitativos encontrados foram calculados baseados no Sistema Nacional
de Pesquisas de Custos e Índices da Construção Civil (SINAPI, 2018), geridas pela Caixa
Econômica Federal e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,), sendo o
primeiro responsável pela base técnica e o segundo pela pesquisa mensal de preços.
As variações encontradas na comparação entre os resultados obtidos pelo software
computacional e pelo método proposto pelos autores Osvaldemar Marchetti (2007) e Homero
Caputo (1987), foram destacadas e contrapostas a fim da realização de análise pertinente ao
quantitativo dos materiais necessários à execução do projeto do muro de arrimo em questão.
Parâmetros do solo
A definição dos parâmetros do solo é de suma importância para a correta elaboração das
estruturas de contenção. Realizar os ensaios in loco e utilizar referências normativas dão maior
segurança quanto aos métodos construtivos de arrimo.
Realizou-se uma correlação entre o índice de resistência à penetração (N), da sondagem
a percussão (SPT) e granulometria do solo, a segunda com 2,67 micrômetros), com os valores
de coesão do solo (c), ângulo de atrito do solo (ϕ) e peso específico do solo (γ) (JOPPERT, 2008).
Além disso, através do ensaio de frasco de areia, foi possível identificar a saturação do
solo no valor de 12%. O valor de saturação foi utilizado também como dado de correlação da
tabela de Joppert (2008), a fim de se identificar o ângulo de atrito usado no dimensionamento.
A Tabela 1, que relaciona o N do SPT com peso específico das argilas, coesão do solo,
ângulo de atrito, foi elaborada considerando os dados apresentados por Joppert (2008).
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Tabela 1 - Variação do peso específico, coesão efetiva e ângulo de atrito do solo com o N do SPT
Tipo de Solo Descrição γ (kN/m³) c' (kPa) ϕ’ (º)
Argila Arenosa Dura 17 26 29
Argila
Arenossiltosa Dura 16 29 29
Argila Siltoarenosa Dura 15 31 28
Argila Siltosa Dura 15 36 27
Argila Dura 14 43 26
Fonte: Adaptado de JOPPERT (2008).
Utilizou-se de argila nos cálculos para obter os parâmetros de peso específico e ângulo
de atrito do maciço. A fim de calcular o muro sob uma solicitação de pior possibilidade, adotou-
se uma coesão nula do terreno. Dessa forma, a estrutura foi dimensionada para um caso
extremo, em que o empuxo ativo aja sobre o mesmo desde suas altimetrias iniciais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Cálculos estruturais propostos por Marchetti e Caputo
Utilizando-se dos critérios estabelecidos por Marchetti (2007), no pré-dimensionamento,
adotou-se 200 centímetros como base do muro de arrimo. O topo, que corresponde à área
superior da estrutura, possui 40 centímetros totais. Por fim, ainda dentro do pré-
dimensionamento, a altura da base utilizada (lado interno da base) foi de 48 centímetros.
A Figura 4 apresenta a geometria do muro de arrimo por gravidade, calculada através de
Marchetti (2007).
Figura 4 – Geometria calculada do muro de arrimo por gravidade.
Fonte: Autoria própria.
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Os resultados encontrados mediante os cálculos de empuxo e seus respectivos momentos
são apresentados nas Tabela 2.
Tabela 2 – Resultados dos cálculos provenientes dos empuxos ativo e passivo
Tipo de Empuxo Coeficiente de Empuxo
(adimensional)
Resultado dos Empuxos
(kNm/m)
Momentos Provenientes
do Empuxos (kNm)
Ativo 0,39 36,97 45,35
Passivo 2,56 4,13 0,512
Os resultados encontrados nos cálculos de peso do muro e seus respectivos momentos são
dados pela Tabela 3.
Tabela 3 – Pesos e momentos encontrados na estrutura
Seções do
muro Peso do muro (KN/m) Centroide de área (m)
Momento proveniente
do muro (KN.m/m)
01 22 x 3,2 x 0,4 x 1 = 28,16 2 – (0,4/2) = 1,8 28,16 x 1,8 = 50,7
02 22 x ((1,60 x 3,2) /2) x 1 = 56, 32 (2/3) x 1,6 = 1,067 56,32 x 1,067 = 60,1
03 22 x 0,48 x 2 x 1 = 21,12 2/2 = 1 21,12 x 1 = 21,12
Total 105,60 131,92
No que tange às verificações de segurança, os resultados obtidos apresentaram aprovação
se considerados os fatores de segurança. Quanto ao tombamento, razão entre o momento
resistente e o momento de tombamento, foi de 2,92. Tal resultado ficou acima do 1,5, exigido
pela norma de estabilidade de taludes. Situação semelhante encontrou-se na verificação de
segurança quanto ao deslizamento. O resultado da equação apresentando foi de 1,51, valor
acima dos 1,5 exigidos pela NBR 11682 (ABNT, 2009).
Na verificação de segurança quanto à ruptura do solo, o resultado encontrado foi de 79,73
kPa. A norma acima citada recomenda que esse valor seja 2x (duas vezes) inferior à resistência
do solo. O valor encontrado é inferior à tensão admissível do solo de 274 kPa encontrada nos
cálculos propostos por Caputo (1987).
Vale ressaltar que, através das verificações de excentricidade, foi verificada não
existência de esforços de tração na estrutura. Logo, descartou-se a utilização de aço na
contenção e no levantamento dos insumos.
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Cálculos estruturais propostos pelo Eberick
Foram inseridas altura do maciço, que possui cota de 3,2 metros. Altura da base de 48
centímetros e largura do topo de 40 centímetros, ainda seguindo modelo proposto por Marchetti
(2007). As demais dimensões foram definidas pelo software e suas configurações operacionais.
A Figura 5 apresenta as dimensões conferidas pelo Eberick após fornecer todas as
informações necessárias.
Figura 5 – Representação esquemática das dimensões encontradas pelo software Eberick.
Fonte: Autoria própria.
O software, em sua própria plataforma, realiza as verificações de segurança, de
tombamento e de ruptura do solo, atualizando sua dimensão mediante à necessidade de
aprovação nessas verificações.
Os fatores de segurança quanto ao tombamento, ao deslizamento e à ruptura do solo
utilizados são semelhantes aos utilizados através das metodologias propostas por Caputo (1987)
e Marchetti (2007).
Comparação entre os quantitativos encontrados
Após a identificação da geometria do muro de arrimo de maneira manuscrita, seguindo a
metodologia de Marchetti (2007) e Caputo (1987), os resultado do quantitativo e valores
financeiros através desta metodologia foram expostos na Tabela 4.
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Tabela 4 – Quantitativo de material e preço de implantação segundo os cálculos manuscritos, utilizando-se a
SINAPI como referência (Data base: março/2018)
Item Código Uni. Quant.
Valor
Unitário
(R$)
Valor
Total (R$)
1.0 MURO DE ARRIMO
1.1 93358
Escavação mecânica a céu aberto, incluindo
carga, descarga e transporte, em solo de 1ª
categoria
M³ 59,50 10,41 619,40
1.2 94098
Preparo de fundo de vala com largura maior ou
igual a 1,5 m e menor que 2,5 m em local com
nível baixo de interferência
M² 112,20 1,89 212,06
1.3 96619 Lastro de concreto magro, aplicado em
fundações, espessura de 5 cm. M³ 102,00 17,66 1.801,32
1.4 92431
Montagem e desmontagem de forma com área
média das seções maior que 0,25m³, pé-direito
simples, em chapa de madeira compensada
plastificada, 10 utilizações.
M² 139,45 30,15 4.204,42
1.5 73843/001 Concreto ciclópico para muro de arrimo com
30% de pedra de mão M³ 244,80 272,02 66.590,50
1.6 93382 Reaterro manual de valas com compactação
mecanizada M³ 4,90 17,08 87,22
Total(1) 73.514,91 (1) Conforme explicado anteriormente, foi desconsiderado os custos referentes à drenagem.
Os valores e quantitativos encontrados através da identificação das dimensões da
estrutura de arrimo pelo software Eberick, são apresentados na Tabela 5.
Tabela 5 – Quantitativo de material e preço de implantação segundo o software Eberick, utilizando-se a SINAPI
como referência (Data base: março/2018)
Item Código Uni. Quant.
Valor
Unitário
(R$)
Valor
Total (R$)
1.0 MURO DE ARRIMO
1.1 93358
Escavação mecânica a céu aberto, incluindo
carga, descarga e transporte, em solo de 1ª
categoria
M³ 457,93 10,41 4.767,05
1.2 94098
Preparo de fundo de vala com largura maior
ou igual a 1,5 m e menor que 2,5 m em local
com nível baixo de interferência
M² 198,90 1,89 375,92
1.3 96619 Lastro de concreto magro, aplicado em
fundações, espessura de 5 cm. M³ 188,70 17,66 3.332,44
1.4 92431
Montagem e desmontagem de forma com área
média das seções maior que 0,25m³, pé-direito
simples, em chapa de madeira compensada
plastificada, 10 utilizações.
M² 195,33 30,15 5.889,20
1.5 73843/001 Concreto ciclópico para muro de arrimo com
30% de pedra de mão M³ 425,14 272,02 115.645,49
1.6 93382 Reaterro manual de valas com compactação
mecanizada M³ 4,90 17,08 87,22
Total(2) 130.098,42 (2) Conforme explicado anteriormente, foi desconsiderado os custos referentes à drenagem.
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Ao comparar os resultados estruturais obtidos em cada uma das metodologias analisadas,
notam-se maiores dimensões nos resultados apresentados pelo Eberick, em relação dimensões
apresentadas pelos cálculos sugeridos por Caputo (1987) e Marchetti (2007).
As diferentes dimensões, quando analisadas sob o ponto de vista financeiro, justificam
uma significativa diferença econômica entre o muro proposto por cada um dos métodos de
cálculo realizados. Houve um aumento superior a R$ 56 mil no preço encontrado pelo Eberick
em relação ao preço apresentado pelo cálculos manuscritos.
CONCLUSÃO
Observou-se, após comparação entre os resultados estruturais encontrados por cada um
dos métodos que, apesar do Eberick ser uma plataforma largamente utilizada pelos engenheiros
do dimensionamento de estruturas, o mesmo apresenta-se menos atrativo no tange aos
quantitativos financeiros.
O muro de arrimo, quando calculado pelo software, apresentou grande geometria
construtiva. As dimensões da base e, por conseguinte, a inclinação do muro encontrada, foram
significativamente superiores às encontrados pelos cálculos propostos por Marchetti (2007) e
Caputo (1987). Tais dimensões justificaram um acréscimo de quase 77% no valor final de
execução.
Em relação ao volume do concreto encontrado pelos diferentes métodos, há um claro
superdimensionamento da estrutura no método Eberick. As dimensões encontradas pelo método
de Marchetti se aproximam dos valores usualmente encontrados na aplicação da estrutura,
enquanto o software apresentou dimensões maiores, especialmente na base da estrutura, com
valor próximo a 4 (quatro) metros.
Tal discrepância poderia ser justificada pelo modelo de cálculo utilizado no programa
computacional, resultando em uma diferença significativa. É necessário, dessa forma, um
estudo mais aprofundado na metodologia de cálculo utilizada no algoritmo computacional.
Vale ressaltar, porém, que as observações aqui apresentadas são válidas para este estudo
específico. Uma análise de outro tipo de estrutura também é fator importante para determinação
correta da real causa das divergências, bem como uma análise e dimensionamento realizados
em outras versões do Eberick.
Outro fator de grande relevância é que, apesar do muro por gravidade ser indicado para
conter maciços com alturas inferiores a 5 metros de altura, o mesmo não é muito eficiente em
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regiões em que se busca bom aproveitamento do espaço disponível, posto que seu próprio corpo
ocupa significativo espaço em uma edificação. Dessa forma, ainda que utilizada a metodologia
bibliográfica manuscrita, recomenda-se a utilização do muro de arrimo por flexão, esse por sua
vez mais esbelto.
Sugere-se a realização de estudo comparativo semelhante entre os métodos executivos de
contenção por flexão para avaliar a relação de viabilidade financeira da substituição do cálculo
manual em relação a essa plataforma computacional.
Destarte, observa-se que este tipo de comparativo é fundamental para uma correta
aplicação de uma estrutura que é muito utilizada no campo da construção civil, como são as
estruturas de contenção. Adequar a metodologia de dimensionamento à situação presente na
prática auxilia numa redução dos custos de implantação sem perder a efetividade e bom
desempenho do muro de arrimo em si.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7185/1986: Solo –
Determinação da Massa Específica Aparente, “In Situ”, com Emprego do Frasco de
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