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ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE HOMICÍDIOS NA ZONA URBANA DE ILHÉUS-BA Glauber Cassimiro Santos Guirra Graduando em Geografia – UESC [email protected] Laércio Evangelista de Souza Graduando em Geografia – UESC [email protected] Maurício Santana Moreau Docente DCAA/UESC [email protected] Resumo O fenômeno da criminalidade urbana atualmente é uma das mazelas sociais que mais preocupa a sociedade como um todo. A escassez de políticas públicas eficazes ao enfrentamento dessa problemática, bem como a falta de mobilização da sociedade civil, dos órgãos de segurança pública e dos gestores públicos tornam ainda mais agravante esse quadro já bastante complexo. Diversas são as contribuições da ciência geográfica a compreensão desse fenômeno, sobretudo referente a sua dimensão espacial. Nesta perspectiva, o presente trabalho explora a distribuição espacial dos homicídios na cidade de Ilhéus/BA, tomando como referência o agregado de ocorrências policiais registradas no período entre 2007 - 2009 e o emprego de técnicas de geoprocessamento. Foram incorporados a esta análise informações sobre o perfil das vítimas (sexo, idade, raça/cor), a causa básica dos homicídios e a sua sazonalidade (mês, dia e horário) evidenciando os bairros Malhado, Teotônio Vilela e Conquista como os mais violentos da área urbana, os vítimas são maioria homens de cor parda com idade entre 20 a 29 anos. Palavras-chaves: Urbanização, Criminalidade urbana, Análise espacial, Geoprocessamento, Políticas públicas. 1. Introdução O crescimento da criminalidade urbana, em especial das taxas de mortalidade por homicídios nas cidades médias brasileiras, tem promovido verdadeira mudança no mapa da violência homicida no país (GUIRRA, SANTOS, SOUZA, 2010). Constata-se desde as últimas décadas um processo de interiorização do fenômeno da criminalidade - antes de predomínio dos grandes centros urbanos, que atinge com maior intensidade os adolescentes e adultos jovens, sobretudo do sexo masculino, pobre e baixa escolaridade. O Código Penal Brasileiro em seu artigo 121 define o crime de homicídio da seguinte forma: matar alguém. Jesus (2007, p. 17) conceitua: “Homicídio é a destruição

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ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE HOMICÍDIOS NA Z ONA URBANA DE

ILHÉUS-BA

Glauber Cassimiro Santos Guirra Graduando em Geografia – UESC

[email protected] Laércio Evangelista de Souza

Graduando em Geografia – UESC [email protected] Maurício Santana Moreau

Docente DCAA/UESC [email protected]

Resumo

O fenômeno da criminalidade urbana atualmente é uma das mazelas sociais que mais preocupa a sociedade como um todo. A escassez de políticas públicas eficazes ao enfrentamento dessa problemática, bem como a falta de mobilização da sociedade civil, dos órgãos de segurança pública e dos gestores públicos tornam ainda mais agravante esse quadro já bastante complexo. Diversas são as contribuições da ciência geográfica a compreensão desse fenômeno, sobretudo referente a sua dimensão espacial. Nesta perspectiva, o presente trabalho explora a distribuição espacial dos homicídios na cidade de Ilhéus/BA, tomando como referência o agregado de ocorrências policiais registradas no período entre 2007 - 2009 e o emprego de técnicas de geoprocessamento. Foram incorporados a esta análise informações sobre o perfil das vítimas (sexo, idade, raça/cor), a causa básica dos homicídios e a sua sazonalidade (mês, dia e horário) evidenciando os bairros Malhado, Teotônio Vilela e Conquista como os mais violentos da área urbana, os vítimas são maioria homens de cor parda com idade entre 20 a 29 anos. Palavras-chaves: Urbanização, Criminalidade urbana, Análise espacial, Geoprocessamento, Políticas públicas. 1. Introdução

O crescimento da criminalidade urbana, em especial das taxas de mortalidade por

homicídios nas cidades médias brasileiras, tem promovido verdadeira mudança no mapa

da violência homicida no país (GUIRRA, SANTOS, SOUZA, 2010). Constata-se desde as

últimas décadas um processo de interiorização do fenômeno da criminalidade - antes de

predomínio dos grandes centros urbanos, que atinge com maior intensidade os

adolescentes e adultos jovens, sobretudo do sexo masculino, pobre e baixa escolaridade.

O Código Penal Brasileiro em seu artigo 121 define o crime de homicídio da

seguinte forma: matar alguém. Jesus (2007, p. 17) conceitua: “Homicídio é a destruição

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da vida de um homem praticada por outro. Em suma, o homicídio é a prática do crime em

que um ser humano tira de outrem seu bem mais precioso, a vida.

Segundo dados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da

Saúde, no Brasil, são registrados anualmente aproximados 50 mil homicídios, o que

representa 137 vítimas diárias. Número bem maior que um massacre do Carandiru1 a

cada dia. Além das vítimas diretas, ela é responsável pelo sentimento de insegurança e

pelo medo generalizado - em que pese o sensacionalismo bem alimentado pela mídia -

que afligem grande número de pessoas alterando paisagens e comportamentos.

Dentre os prováveis componentes capazes de auxiliar na explicação/compreensão

da criminalidade nas cidades estão, a saber: os históricos, culturais, sociais, políticos,

econômicos e urbanísticos. Para Briceño – León (2002), a estreita coexistência da

pobreza e riqueza nos centros urbanos é responsável pelo desencadeamento de atos

criminosos. Por outro lado, a criminalidade e o sentimento de medo e insegurança

associados ao seu aumento são geradores de impactos sócio-espaciais negativos, os

quais servirão de obstáculos para o enfrentamento de vários fatores de injustiça social

(SOUZA, 2010).

O aumento da exclusão social nas cidades médias brasileiras traz consigo a

produção e ampliação de territórios marginalizados com ausência de identidade social,

econômica e cultural e com infra-estrutura urbana incipiente, refletindo na formação de

espaços fragmentados e desiguais, potencializando a expansão da violência urbana. Há

que se considerar a expectativa de que os condicionantes da violência não apresentam a

mesma significância na sua manifestação espacial.

Entre as cidades médias do estado da Bahia, a violência está adquirindo caráter

epidêmico e os índices de homicídios que já são bastante altos apresentam tendências

preocupantes de crescimento, revelando uma situação extremamente grave (SANTOS,

GUIRRA, SOUZA, 2010). Obviamente que esse aumento acentuado da violência

homicida não é uma característica apenas das cidades médias baianas, mas se estende a

todos os estados brasileiros. No entanto, é consenso, entre os estudiosos, que o aumento

desse fenômeno no estado tem atingido proporções preocupantes, saltando de uma taxa

1 Um tumulto na Casa de Detenção do Complexo de Carandiru, na zona norte de São Paulo, originou a intervenção das forças policiais que deixou um saldo de 111 mortes segundo os dados oficiais. Esse fato ficou conhecido internacionalmente como “Massacre do Carandiru”

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geral de homicídios de 9,50 (/100 mil habitantes) em 2000, para impressionantes 29,20

(/100 mil habitantes) em 2008.

Assim, com gravíssimos problemas relacionados à urbanização acelerada e

expressivas desigualdades sócio-espaciais, a cidade de Ilhéus - importante centro

regional do Sul da Bahia - registra desde a última década o trágico aumento das suas

taxas de homicídios, sobretudo entre a população de adolescentes e adultos jovens.

Entretanto, ainda são raros os estudos que buscam explicar essa problemática nas

cidades baianas, sobre o aspecto da dimensão espacial do fenômeno da criminalidade

urbana.

Neste contexto, o presente trabalho explora a distribuição espacial dos homicídios

na cidade de Ilhéus/BA, tomando como referência o agregado de ocorrências policiais

registradas no período entre 2007 - 2009 e o emprego de técnicas de geoprocessamento.

Foram incorporados a esta análise informações sobre o perfil das vítimas (sexo, idade e

raça/cor), a causa básica dos homicídios e a sua sazonalidade (mês, dia e horário).

2. Área de estudo

O município de Ilhéus encontra-se localizada na “Mesorregião Sul do Estado da

Bahia2” e divide com Itabuna o posto de centro regional da “Microrregião Ilhéus-Itabuna”,

tradicionalmente conhecida como Região Cacaueira. Ilhéus ocupa uma área territorial de

1.840,99 Km² e conta atualmente com uma população de 184.231 (cento e oitenta e

quatro mil, duzentos e trinta e um) habitantes, segundo dados do IBGE (Censo 2010), a

sétima maior população entre os municípios no Estado da Bahia, atrás de Salvador, Feira

de Santana, Vitória da Conquista, Camaçari, Itabuna e Juazeiro, ocupando o

correspondente a 1,31% da população do Estado, sendo sua densidade demográfica de

112,34 habitantes por Km².

2 O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 1990), agrupou, sobretudo para fins estatísticos os 417 municípios baianos em sete Mesorregiões, e cada uma delas em um certo número de Microrregiões Geográficas. Segundo classificação da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia - SEI, Ilhéus está localizado na região econômica Litoral Sul.

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Figura 1. Mapa de localização do município de Ilhéus - BA. Fonte: IBGE, SIDRA 2009.

3. Metodologia

3.1 Coleta e gerenciamento de dados

A coleta dos dados de homicídios registrados nos anos de 2007 a 2009 na cidade

de Ilhéus foi realizada na sede da 7ª Coordenadoria de Polícia do Interior (7ª COORPIN),

junto ao Centro de Estatística e Atividades Policiais, através do programa Lótus/Notes,

gerador de ocorrências e estatísticas policiais. Após a organização desses dados em

planilhas do software Excel 2007, procedeu-se uma filtragem dos mesmos a fim de

evidenciar somente os ocorridos na cidade. Fez-se uso ainda do software na geração dos

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gráficos de perfil das vítimas e as taxas da violência homicida para cidade de Ilhéus nos

anos estudados.

Analisando os dados da DATA SUS, na planilha do DOBA (Dados de Óbitos da

Bahia) foram identificadas o perfil das vítimas nos anos de referência, observando as

variáveis: sexo, idade, cor/raça e ainda a causa dos homicídios. Na mesma consulta foi

observado também as variáveis sobre a sazonalidade os homicídios como: meses, dias e

horas que os homicídios foram cometidos.

Os softwares de mapeamento e georreferenciamento, que fazem parte de um SIG,

que foram utilizados na pesquisa, são sistemas automatizados usados para armazenar,

analisar, manipular e visualizar dados geográficos, ou seja, dados que representam

objetos e fenômenos em que a localização geográfica é uma característica inerente à

informação e indispensável para analisá-la. O software utilizado para a confecção do

banco de dados e dos mapas, foi o ArcGis 9.3, que armazena a base de dados

disponibilizadas pela Bahia SEI e IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Assim, juntando a duas bases de dados trabalhadas na confecção dos mapas, foram

adicionados os Shapefiles, sobrepondo as bases e gerando os mapas dos bairros mais

violentos da cidade de Ilhéus.

As tabelas do Microsoft Excel 2007 foram lançadas na Tabela de atributos dos

ArcGis 9.3, inserindo dados sobre os homicídios ocorridos nos ano de 2007 a 2009.

3.2 Causas Básicas dos homicídios no Município de I lhéus através das Informações

sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde

Pela legislação vigente no Brasil (Lei nº 15, de 31/12/73, com as alterações

introduzidas pela Lei nº 6.216, de 30/06/75), nenhum sepultamento pode ser feito sem a

certidão de registro de óbito correspondente. Esse registro deve ser feito à vista de

atestado médico ou, na falta de médico na localidade, por duas pessoas qualificadas que

tenham presenciado ou constatado a morte (SILVA et. al.).

A certidão de óbito, normalmente, fornece dados de idade, sexo, estado civil,

profissão, naturalidade e local de residência. Determina igualmente a legislação, que o

registro do óbito seja sempre feito "no lugar do falecimento", isto é, no local da ocorrência

do evento (SILVA et. al.).

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Uma outra informação relevante para o nosso estudo, exigida pela legislação, é a

causa básica da morte. Até 1995, tais causas eram classificadas pelo Sistema de

Informações sobre Mortalidade (SIM) seguindo os capítulos da nona revisão da

Classificação Internacional de Doenças (CID-9), proposta e sistematizada em nível

internacional pela Organização Mundial da Saúde – OMS (PERES, 2004). A partir

daquela data, o Ministério da Saúde adotou a décima revisão (CID-10) da OMS.

Os aspectos de interesse para o presente estudo estão contidos no que o CID-10,

em seu Capítulo XX, classifica como "causas externas de morbidade e mortalidade".

Quando um óbito devido a causas externas (acidentes, envenenamento, queimadura,

afogamento, etc.) é registrado, descreve-se tanto a natureza da lesão como as

circunstâncias que a originaram. Assim, para a codificação dos óbitos, foi utilizada a

causa básica, entendida como o tipo de fato, violência ou acidente causante da lesão que

levou à morte. Dentre as causas de óbito estabelecidas pelo CID-10, foi utilizado o

agrupamento X85 a Y09 em relação à análise dos homicídios, que recebe o título

genérico de Agressões. Este grupamento caracteriza-se pela presença de uma agressão

de terceiros, que utilizam qualquer meio para provocar danos, lesões ou a morte da vítima

(PERES, 2004).

Assim, pode-se evidenciar que mais de 70% dos homicídios cometidos em Ilhéus

são por arma de fogo, como mostra a tabela abaixo.

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Tabela 1: Homicídios por causa básica em Ilhéus 2007 - 2009 Fonte: Ministério da Saúde – MS/SE/DATASUS Nota: Causas Externas de Morbidade e de Mortalidade - CID-10 Esta classificação é uma versão da Lista Básica de Tabulação da Classificação Internacional de Doenças - 10ª Revisão, adaptada à realidade brasileira pela Secretaria de Vigilância em Saúde.

3.3 Espacialização dos homicídios utilizando Densid ade de Kernel

Um estudo de Souza (2000) violência urbana são as diversas manifestações da

violência interpessoal explícita que, além de terem lugar no ambiente urbano, apresentam

uma conexão bastante forte com a espacialidade urbana, bem como com os problemas

decorrentes entre a interação do homem e esta espacialidade.

Para selecionar os bairros mais violentos de Ilhéus, em relação aos homicídios,

observou-se a quantidade de homicídios no ano entre os anos de 2007 a 2009, sendo

assim, esses bairros podem ser considerados Hot spots (pontos quentes) da violência

homicida na cidade. Para a distribuição desses Hot spots foram gerados mapas temáticos

utilizando o estimador de densidade conhecido como kernel. A estimação de kernel é um

método de análise de padrões espaciais de eventos pontuais muito utilizados em diversas

áreas de pesquisa, especialmente com a recente proliferação de bancos de dados

georreferenciados. Trata-se de uma ferramenta bastante eficaz na análise de ocorrências

criminais, pois a partir desse método, é possível ter uma maior compreensão da

ocorrência e delimitar as áreas vulneráveis nas proximidades do crime.

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4. Resultados e discussão

4.1 A evolução dos homicídios no município de Ilhéu s-BA

Segundo as informações evidenciadas no “Mapa da Violência 2011: Os jovens do

Brasil”, a cidade de Ilhéus ocupa a 60º no ranking das cidades brasileiras segundo as

taxas médias de homicídios calculadas no período entre 2003 a 2008. Observa-se que

neste período o número de homicídios registrados na cidade de Ilhéus saltou de 51 no

ano de 2003 para 129 em 2009 (Gráfico 1). Esses dados revelam sensíveis alterações

nas taxas de violência homicida, com expressivo aumento verificado num curto espaço de

tempo e sugerem uma diminuição da qualidade de vida da população dessas cidades.

Gráfico1: Evolução das taxas de Homicídios em Ilhéus-BA 2003 a 2009. Fonte: 7ª COORPIN - Ilhéus e Mapa da Violência.

4.2. Distribuição espacial dos homicídios na área u rbana de Ilhéus-BA

A coleta de dados referentes aos homicídios ocorridos na área urbana de Ilhéus

deu-se na 7ª COORPIN (Coordenadoria de Polícia do Interior), no qual foram colhidas

informações sobre os homicídios ocorridos no espaço temporal de 2007 a 2009. Nesse

levantamento, as principais variáveis obtidas foram a quantidade de homicídios e a suas

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devidas localizações (endereços e logradouros) com o objetivo de analisar e distribuir os

homicídios no espaço urbano de Ilhéus-BA.

Tabela 2: Tabela de homicídios por Bairro 2007 a 2009. Fonte: 7ª COORPIN - Ilhéus

Ao realizar o levantamento das informações sobre os bairros e os nomes das ruas,

o georreferenciamento dos dados é iniciado com a utilização do Software ArcGis 9.3 no

qual as informações foram inseridas na tabela de atributos para um melhor

processamentos dos dados. Posteriormente, foram elaborados os mapas dos bairros mais

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violentos da zona urbana de Ilhéus, levando em consideração os índices dos homicídios

no recorte temporal.

A tabela dos homicídios evidencia que os bairros Malhado, Teotônio Vilela e

Conquista são os quais possuem o maior número de homicídios no acumulado dos três

anos. O Bairro do Malhado possui um elevado índice de homicídios (68) por conta de sua

área espacial, pois, é contida de vários morros sem infra-estrutura urbana havendo

disputas pelo tráfico de drogas. Logo, a maioria dos homicídios concentra-se na área

central do bairro (Mapa 1), nas proximidades em toda a extensão da Avenida Ubaitaba,

na rua Monteiro Lobato e na rua Antônio Carlos Magalhães onde há um grande índice de

vulnerabilidade social.

Mapa 1: Densidade de Homicídios entre os anos 2007 a 2009, Bairro Malhado. Fonte: 7ª COORPIN - Ilhéus

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O outro bairro que possui uma grande quantidade de homicídios é o bairro

Teotônio Vilela (28). Situado na zona oeste da cidade (mapa 2), possui um contingente

populacional bastante elevado devido às ocupações irregulares às margens do Rio

Cachoeira, adentrando os manguezais. Possui infra-estrutura urbana precária, facilitando

assim o uso e consumo de drogas na região. A maioria dos homicídios ocorreram na

Avenida Central, na Rua das Orquídeas, na Rua Primavera e na Rua Joana Darc.

Mapa 2: Densidade de Homicídios entre os anos 2007 a 2009, Bairro Teotônio Vilela. Fonte: 7ª COORPIN - Ilhéus

O Bairro da Conquista está situado na parte “central” da cidade e possui a 3ª maior

taxa de homicídio da zona Urbana de Ilhéus (17). As possíveis causas desse alto índice, é

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a presença de duas “artérias” rodoviárias nas proximidades dos bairros, ao sul situa-se a

Avenida Princesa Isabel, que é a principal via de ligação do oeste da cidade ao sul e a

Avenida Itabuna, que dá continuidade a BR-415 e liga ao centro da cidade e as Avenidas

Candeias e Brasil. Este bairro possui muitas vielas e ruinhas, facilitando assim a fuga de

criminosos por essas grandes avenidas.

Mapa 3: Densidade de Homicídios entre os anos 2007 a 2009, Bairro Conquista. Fonte: 7ª COORPIN - Ilhéus

4.3. Análise temporal dos homicídios no município d e Ilhéus-BA

Os homicídios no município de Ilhéus entre os anos de 2007 a 2009 variaram no

que se refere aos meses do ano, segundo informações adquiridas no Sistema de

Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde. Observando no gráfico abaixo, é

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notório que no ano de 2007 o mês que maior índice de criminalidade foi o fevereiro, tendo

em vista que é uma época no qual a cidade recebe um fluxo maior de pessoas por conta

das festividades carnavalescas. No ano de 2008, os meses de Maio e Outubro foram os

que se destacaram. Já em 2009, os meses de Setembro e Novembro atingiram as

maiores taxas dos 3 anos estudados.

Gráfico 2: Distribuição dos homicídios por meses, 2007 a 2009. Fonte: Ministério da Saúde – MS/SE/DATASUS

Ao analisar os dias da semana que são acometidos os homicídios percebem-se

uma maior concentração de crimes aos finais de semana, principalmente aos domingos.

Gráfico 3: Distribuição dos homicídios pelos dias, 2007 a 2009. Fonte: Ministério da Saúde – MS/SE/DATASUS

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Quanto aos horários dos crimes cometidos, dividiu-se em 4 (quatro) intervalos de

tempo de 6 horas cada: (00:00 - 05:59, 6h – 11:59, 12h – 17:59, 18h – 23:59). Ao

observar os horários, constatou-se um ligeiro equilíbrio, com um leve predomínio do

intervalo de tempo das 18h às 23:59, com 28% dos homicídios analisados.

Gráfico 4: Distribuição dos homicídios por hora do dia, 2007 a 2009. Fonte: Ministério da Saúde – MS/SE/DATASUS

4.4. Análise do perfil das vítimas dos homicídios n o município de Ilhéus.

O presente estudo também analisou o perfil das vítimas de homicídios no município

de Ilhéus através das informações disponibilizadas pelo DATA SUS. Buscou-se averiguar

com propriedade a vitimização dos homicídios dolosos, a fim de compreender quais

políticas públicas devem ser implementadas.

A variável das idades observadas no estudo evidencia que o município de Ilhéus-

BA está incluído na realidade brasileira, onde os dados comprovam que a população

jovem está sucumbindo aos homicídios dolosos. Para melhor compreensão dos dados,

dividiu-se em oito classes de idades, sendo que a faixa etária entre 20 e 29 anos

sobressai nos três anos estudados, como mostra o gráfico abaixo.

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Gráfico 5: Idade das vítimas de homicídios em ilhéus, 2007 a 2009. Fonte: Ministério da Saúde – MS/SE/DATASUS

Outras variáveis analisadas nos homicídios foram o sexo e a raça/cor, onde

constatou-se que há um predomínio de homens de cor parda (Gráfico 6 e 7).

Gráfico 6: Sexo das vítimas de homicídios em ilhéus, 2007 a 2009. Fonte: Ministério da Saúde – MS/SE/DATASUS

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Gráfico 7: Raça/Cor das vítimas de homicídios em ilhéus, 2007 a 2009. Fonte: Ministério da Saúde – MS/SE/DATASUS

5. Considerações Finais

O presente estudo buscou evidenciar quais são os bairros mais vulneráveis em

relação aos homicídios na área urbana de Ilhéus.

Ao espacializar os dados adquiridos pelos órgãos de Segurança Pública e do

Sistema Único de Saúde, pode observar onde ocorrem esses crimes e qual o perfil

dessas vítimas a fim de proporcionar uma melhoria da qualidade de vida com

investimento em infra-estrutura urbana nos bairros mais necessitados e políticas públicas

voltadas para os jovens.

A ampliação das taxas da violência homicida na cidade de Ilhéus sugere que as

condições de vida da sociedade ilheense vêm decaindo ano a ano. E com problemas que

se agravam a partir da urbanização acelerada e da ampliação do quadro de exclusão

social, com reflexos diretos no aumento dos índices de criminalidade, sobretudo entre

adolescentes e adultos jovens. Essa exacerbação da violência urbana em Ilhéus alcança

patamar máximo nas disputas territoriais pelo controle do tráfico de drogas nos bairros

Malhado, Teotônio Vilela e Conquista cujos principais envolvidos são adolescentes e

jovens adultos com idades entre 15 e 21 anos.

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7. Referências

7ª COORPIN – Coordenadoria Regional da Polícia do Interior/Ilhéus-BA. BRICEÑO-LEON, Roberto. Violencia, sociedad y justicia en América Latina. CLASCO. Buenos Aires. 2002. GUIRRA, G. C. S.; SANTOS, A. A. P.; SOUZA, L. E. Análise da Criminalidade em Cidades Médias: Um Estudo de caso da evolução dos homicídios em Ilhéus, Bahia, Brasil. In: Dos espaços do medo à psicoesfera da civilidade, a premência de uma nova economia política/territoral . Recife: Ed. Universitária da UFPE. p. 327-337, 2010. JESUS, Damásio Evangelista. Direito Penal: 2º volume: parte especial: dos cri mes contra a pessoa e dos crimes contra o patrimônio . 28 ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

PERES, M. F. T. Violência por armas de fogo no Brasil – Relatório Nacional. São Paulo, Brasil: Núcleo de Estudos da Violência, Universidade de São Paulo, 2004. SANTOS, A. A. P.; GUIRRA, G. C. S.; SOUZA, L. E. Desigualdade, vulnerabilidade social e ampliação da violência homicida em cidades médias do Brasil: um estudo de caso de Itabuna e Ilhéus. In: INFORME GEOGRÁFICO. 20º ed. Ilhéus. 2010. SILVA, K. A.; DURANTE, M. O.; ROSA, V. da, S. V. L. Mapa da Distribuição dos Homicídios Registrados pelo Ministério da Saúde, na s Regiões Metropolitanas do Brasil, entre 1998 e 2002 . Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Segurança Pública. Brasil. 2004. SOUZA, Marcelo Lopes de. O desafio metropolitano: um estudo sobre a problemá tica sócioespacial nas metrópoles brasileiras. RJ: Bertrand Brasil, 2000. SOUZA, Marcelo Lopes de. Fobópole: O medo generalizado e a militarização da questão urbana . Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. WAISELFISZ, J. J. Mapa da Violência 2010: Anatomia dos Homicídios no Brasil . São Paulo: Instituto Sangari, 2010.