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ANÁLISE DE CLUSTERS OBTIDOS COM A RELAÇÃO CARGA TRIBUTÁRIA E IDH João Alberto Neves dos Santos (UFF) Marcelo dos Santos de Oliveira (UFF) Resumo Há muito no Brasil, se fala que a carga tributária é alta. Entretanto, tal afirmação nos leva a questionar se o resultado produzido pelas ações públicas promovidas obrigatoriamente pelo Estado oferecidas à população e financiados com os reccursos oriundos principalmente da arrecadação tributária estão à altura do volume desta arrecadação. As ações públicas de responsabilidade do Estado brasileiro e que serão abordados nesta pesquisa são, prioritariamente àquelas que determinam a ordem social considerando os fatores de longevidade, educação e renda da população, que são baseadas na seguridade social, saúde e previdência e assistência social; educação, cultura e desporto. Este artigo tem como objetivo mostrar como pode ser feita a análise da relação Craga Tributária e Índice do Desenvolvimento Humano - IDH como forma de identificar as similaridades entre os diversos atores econômicos públicos (estados e municípios), oferecendo um contraponto ao critério muito utilizado de análise do volume da carga tributária que se baseia em comparar seu volume com o PIB - Produto Interno Bruto, como consta do próprio Relatório do “Resultado do Tesouro Nacional” divulgado pelo Ministério da Fazenda. Este critério considera apenas a dimensão econômica da carga tributária, desprezando a correlação entre a performance das ações públicas de responsabilidade do Estado colocadas à disposição da população e refletidas no seu desenvolvimento, com as contribuições tributárias desta mesma população. Palavras-chaves: Carga tributária. Políticas Sociais Efetivas. Desenvolvimento humano. IDH 12 e 13 de agosto de 2011 ISSN 1984-9354

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Page 1: ANÁLISE DE CLUSTERS OBTIDOS COM A RELAÇÃO CARGA … · 2016. 2. 25. · Aurélio Buarque de Holanda (1986), define população como o conjunto de habitantes de um território,

ANÁLISE DE CLUSTERS OBTIDOS COM A

RELAÇÃO CARGA TRIBUTÁRIA E IDH

João Alberto Neves dos Santos

(UFF)

Marcelo dos Santos de Oliveira

(UFF)

Resumo Há muito no Brasil, se fala que a carga tributária é alta. Entretanto, tal

afirmação nos leva a questionar se o resultado produzido pelas ações

públicas promovidas obrigatoriamente pelo Estado oferecidas à

população e financiados com os reccursos oriundos principalmente da

arrecadação tributária estão à altura do volume desta arrecadação.

As ações públicas de responsabilidade do Estado brasileiro e que serão

abordados nesta pesquisa são, prioritariamente àquelas que determinam a

ordem social considerando os fatores de longevidade, educação e renda

da população, que são baseadas na seguridade social, saúde e previdência

e assistência social; educação, cultura e desporto.

Este artigo tem como objetivo mostrar como pode ser feita a análise da

relação Craga Tributária e Índice do Desenvolvimento Humano - IDH

como forma de identificar as similaridades entre os diversos atores

econômicos públicos (estados e municípios), oferecendo um contraponto

ao critério muito utilizado de análise do volume da carga tributária que se

baseia em comparar seu volume com o PIB - Produto Interno Bruto, como

consta do próprio Relatório do “Resultado do Tesouro Nacional”

divulgado pelo Ministério da Fazenda. Este critério considera apenas a

dimensão econômica da carga tributária, desprezando a correlação entre

a performance das ações públicas de responsabilidade do Estado

colocadas à disposição da população e refletidas no seu desenvolvimento,

com as contribuições tributárias desta mesma população.

Palavras-chaves: Carga tributária. Políticas Sociais Efetivas.

Desenvolvimento humano. IDH

12 e 13 de agosto de 2011

ISSN 1984-9354

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1. Formulação da Situação Problema

1.1 Carga Tributária no Brasil

Há muito no Brasil os contribuintes dos impostos e contribuições, sejam pessoas ou

empresas, individualmente ou representados através de entidades de classe, reclamam da elevada

carga tributária. Estas sucessivas reclamações levam a questionar qual o resultado efetivo da

aplicação dessa arrecadação tributária e se a mesma tem se refletido em benefício real para a

população, caracterizado, principalmente pelas condições necessárias para o seu

desenvolvimento, como, por exemplo: saúde, previdência e assistência social; educação, cultura e

desporte; e geração de renda, por meio de políticas de distribuição.

Destaca-se que a principal fonte de financiamento das políticas públicas voltadas para o

desenvolvimento da população e definidas na Carta Magna de 1988, em seus artigos 193 ao 219

é a arrecadação tributária. Nessa direção, um desafio para os gestores públicos é o de

implementar políticas que sejam capazes de aumentar o nível do bem-estar social de sua

população com esses recursos captados.

No Brasil, a cobrança de tributos está definida na Constituição Federal de 1988 (BRASIL,

2009) em seus artigos 145 ao 162 e regulamentados pelo Código Tributário Nacional (CTN) - Lei

Complementar nº 5.172, de 25 de outubro de 1966, e diversos decretos, leis e normas legais. Os

Tributos, segundo o artigo 5º do CTN (1966) são os impostos, taxas e contribuições de melhoria.

Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer

atividade estatal específica, relativa ao contribuinte, por exemplo, Imposto de Renda. Taxas são

exigências financeiras a pessoa física ou jurídica para usar certos serviços fundamentais, por

exemplo, Taxa de Incêndio. Por sua vez, Contribuição de Melhoria é o tributo cuja obrigação tem

por fato gerador uma situação que representa um benefício especial auferido pelo contribuinte,

por exemplo, em decorrência de obras públicas de que decorra valorização imobiliária.

Os impostos cobrados no Brasil, atualmente, podem ser de competência da União

(importação de produtos; exportação; renda e proventos de qualquer natureza; produtos

industrializados; operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos e valores

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mobiliários; propriedade territorial rural; e grandes fortunas), de competência dos Estados e do

Distrito Federal (transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos; operações

relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e

intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações se iniciem no exterior; e propriedade de

veículos automotores) e de competência dos Municípios e do Distrito Federal (propriedade

predial e territorial urbana; transmissão “inter vivos” a qualquer título, por ato oneroso, de bens

imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia,

bem como cessão de direitos a sua aquisição; e serviços de qualquer natureza) (CTN, 1966).

Além dos tributos, são cobrados ainda exclusivamente pela União, as contribuições sociais

destinadas ao financiamento da seguridade social. O artigo 194 da Constituição Federal

compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade,

destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. O artigo

195 do mesmo dispositivo determina que a seguridade social será financiada por toda a

sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da Lei, mediante recursos provenientes dos

orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal, e dos Municípios.

Segundo pesquisa da Receita Federal do Brasil (2009), a carga tributária de um país

representa a massa de contribuição de sua população com tributos. O resultado apurado constitui

um indicador do esforço da sociedade para o financiamento das atividades do Estado. Um método

muito utilizado para a leitura do volume de arrecadação tributária, baseia-se na sua comparação

com o PIB – Produto Interno Bruto. Esta comparação considera apenas a dimensão econômica ou

quantitativa da carga tributária.

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Figura 1 – Carga Tributária do Brasil no período de 2000 a 2010

Fonte: Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário

No Brasil, o total da carga tributária apurada no ano de 2010 foi de 35,13% em relação ao

PIB. Ela permite ao governo desenvolver ações e realizar despesas, o que corresponde a uma

variável do cálculo do PIB.

1.2 IDH e Desenvolvimento Social

Aurélio Buarque de Holanda (1986), define população como o conjunto de habitantes de

um território, de um país, de uma região, de uma cidade, etc.. Para fins desta pesquisa, a

população é a demográfica, sendo que Demografia é o estudo estatístico das populações, no qual

se descrevem as características de uma coletividade (Buarque de Holanda, 1986).

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2008), o

desenvolvimento humano, mensurado através do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

criado pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq (1934-1998) com a colaboração do

economista indiano Amartya Sen, Prêmio Nobel de Economia em 1998, tem como objetivo

oferecer um contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a

dimensão econômica do desenvolvimento. O IDH, pretende medir o nível de desenvolvimento

humano a partir da renda per capita, o grau de escolaridade e a expectativa de vida de sua

população ao nascer. O PIB per capita representa o valor que cada habitante receberia caso o PIB

fosse dividido igualmente entre toda a população.

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O Brasil, segundo o “Relatório do Desenvolvimento Humano 2007/2008” do PNUD

(2008), ocupou, em 2005, a 70º posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano.

O Estado é o principal articulador de políticas públicas que refletem no desenvolvimento

de sua população. Suas ações são financiadas principalmente com recursos oriundos da

arrecadação tributária. Assim, estabelecer uma correlação entre a arrecadação tributária e o grau

de desenvolvimento da população, permitiria uma leitura de dimensão qualitativa dos tributos

arrecadados, revelando a eficiência e eficácia da aplicação destes recursos em políticas públicas

implementadas pelo governo. Essa leitura tornaria possível a comparação da região analisada

com a performance de outras regiões, facilitando ações de benchmark, com vista a um melhor

direcionamento de ações governamentais voltados para o desenvolvimento da população.

Quanto mais forem eficientes e eficazes estas políticas públicas, melhor será o

aproveitamento do produto da arrecadação tributária.

A questão que se coloca é a seguinte: a associação do IDH com a Carga Tributária pode

ser utilizada como meio para medir o desenvolvimento de uma população? É certo que o IDH

possui em sua composição matemática as variáveis necessárias à comparação qualitativa

desejada. Uma vez confrontado o volume da arrecadação tributária per capita com o IDH de uma

região, será possível estabelecer comparações entre regiões para identificar quais os atores mais

efetivos na utilização da Carga Tributária? Parte-se do princípio que o estabelecimento da relação

entre IDH e Carga Tributária é adequado para que sejam criadas categorias para a criação de

agrupamentos ou clusters representados por regiões com níveis de eficiência e eficácia

semelhantes na aplicação de suas arrecadações tributárias, considerando que o IDH é um valor

suficiente para avaliar o desenvolvimento humano de determinadas regiões, de forma a poder

compará-la com outras regiões.

A figura a seguir sintetiza os impactos das políticas públicas financiadas com recursos

oriundos principalmente da arrecadação tributária, fazendo seu relacionamento com o

desenvolvimento humano.

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Seguridade Social

Saúde

Assistência Social

Segurança

Educação

Cultura e Desporto

Res

ult

ado

s d

a A

tivi

dad

e Ec

on

ôm

ica

(PIB

)

Fontes de Financiamento

Arrecadação Tributária

Longevidade

Educação

Renda

Origem das Fontes de Recursos

Fontes de Recursos

Políticas Públicas

Condições para o Desenvolvimento

Humano

Figura 2 – Origens e fontes de recursos, políticas públicas e condições para o desenvolvimento humano

Fonte: Os autores

As políticas públicas que norteiam as despesas do governo, inclusive aquelas voltadas

para investimentos e ações que promovam a educação e a longevidade, e financiadas com

recursos oriundos principalmente da arrecadação tributária, poderão influenciar diretamente no

cálculo do IDH. Assim, o aumento do Índice de Desenvolvimento Humano corresponderá ao

reflexo da eficiência e da eficácia destes investimentos na gestão pública do sistema de ensino,

cultura e desporto, do sistema de saúde, da seguridade e assistência social e do desenvolvimento

da atividade econômica.

Nessa ótica, poderemos segregar as variáveis inseridas no cálculo do IDH, classificando-

as em causas e efeitos, obtendo os seguintes resultados:

Causas Efeitos

Figura 3 – Relação de causas e efeitos das despesas do governo em políticas sociais

Fonte: Os autores

DESPESAS DO GOVERNO

EM POLÍTICAS SOCIAIS

EDUCAÇÃO

LONGEVIDADE DESENVOLVIMENTO DA

ATIVIDADE ECONÔMICA

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Existe outras formas de se avaliar o tamanho da carga tributária de uma região como já

mencionado anteriormente, como a comparação desta com o PIB, meramente quantitativa.

Existem também diversas formas de avaliar as políticas públicas, mas, em geral, tratam de

análises específicas, ou seja, sobre determinada ação isolada.

2. Objetivo

Esse artigo tem como principal objetivo apresentar os resultados da avaliação da carga

tributária dos estados do Brasil, utilizando para esse fim um método de leitura qualitativa. Esse

método poderá servir como ferramenta de avaliação, baseada na verificação da eficiência e da

eficácia da arrecadação tributária de uma região, relacionando-a aos indicadores de

desenvolvimento humano de sua população, podendo servir de base para a comparação com

aqueles apurados em outras regiões.

Além disso, o artigo se propõe a averiguar a relação existente entre a arrecadação

tributária e o desenvolvimento humano, de forma a verificar a compatibilidade entre a carga

tributária, a população demográfica e o Índice de Desenvolvimento Humano. Para isso, serão

necessários dados sobre a arrecadação tributária dos estados da federação brasileira, sobre a

população brasileira, além do conhecimento sobre a estrutura de cálculo do IDH e a

disponibilidade de dados em regiões e micro-regiões. A partir destes elementos, se compatíveis,

poderá ser desenvolvido um modelo de análise, qualitativo e regional, da carga tributária.

3. Método

O método proposto poderá ser utilizado como ferramenta para avaliação de dimensão

qualitativa do produto da arrecadação de tributos refletida no grau de desenvolvimento humano

da população, por intermédio da identificação do grupo em que uma região está localizada,

permitindo a comparação de seus resultados com o de outros grupos que congregam outras

regiões, bem como o seu posicionamento no grupo a que pertence.

Essa leitura de grupos, associada à análise da composição do IDH, poderá estabelecer o

viés em que as políticas públicas deverão ser norteadas, com foco na melhoria das condições de

vida da população, podendo servir como mais uma ferramenta do painel de bordo (KAPLAN e

NORTON, 2008) de gestores públicos, permitindo a estes, dentre outras possibilidades:

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a) Identificar regiões que se destacam pelo nível de desenvolvimento humano atingido com

a maior eficiência e eficácia da arrecadação tributária;

b) Analisar as políticas públicas que estão sendo executadas nessas regiões e que

influenciam o aumento do IDH da população, possibilitando o benchmark para uma

possível implementação destas ações em sua própria região, desde que adaptadas à sua

realidade, acelerando seu processo, por meio de experiências já vivenciadas;

c) Analisar a realidade do agrupamento em que a sua região encontra-se posicionada e de

seus demais componentes.

Os dados estatísticos utilizados neste trabalho foram disponibilizados por diversos órgãos

como: STN – Secretaria do Tesouro Nacional (STN, 2008), Receita Federal do Brasil (RFB,

2008), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE1, 2009; IBGE2, 2009; IBGE3, 2009;

IBGE4, 2009); Organização das Nações Unidas (ONU, 2008), Programa das Nações Unidas para

o Desenvolvimento (PNUD1, 2008; PNUD2, 2008; PNUD3, 2008; PNUD, 2009).

Este trabalho não propõe discutir a relação existente entre a carga tributária e o IDH,

utilizando essa relação como ferramenta para o desenvolvimento de um método de análise

qualitativa da efetividade das políticas públicas. A metodologia segue os seguintes passos:

3.1 Coleta de Dados

Nesse passo é feita a coleta dos dados pertinentes a cada indivíduo da população a ser

analisada. Essa população amostral pode ser composta entre os entes de cada categoria, quais

sejam: países; estados; municípios ou microregiões.

Os dados a serem coletados, necessários à realização das análises são:

Volume da arrecadação tributária;

População demográfica;

Índice de Desenvolvimento Humano.

Com estes dados, poder-se-ia construir um modelo de análise a partir do cruzamento de

dados explicitado a seguir.

3.2 Cruzamento dos Dados

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Nesse passo é feito o cruzamento dos dados obtidos, por exemplo, dados de arrecadação

tributária per capita relacionados com o IDH. Com esse cruzamento, obtém-se uma leitura, por

meio de gráfico de dispersão, do grau de eficiência e eficácia da arrecadação tributária, mediante

o confronto do volume dessa arredação com o nível mensurado de desenvolvimento da

população, ou seja, com o IDH. Essa leitura poderá viabilizar a determinação de clusters,

objetivando a segmentação das análises. A seguir, é apresentada a visualização desejada para a

apresentação do resultado do cruzamento de dados.

Figura 4 – Modelo de Gráfico de Dispersão

Fonte: Os autores

3.3 Identificação dos clusters ou agrupamentos a serem analisados

Nesse passo, para segmentação das análises obtidas nos cruzamentos de dados, serão

destacados os grupos da amostra que se encontram em situação equivalente. Os clusters serão

identificados por meio do cálculo da média aritmética do IDH e da média aritmética da

arrecadação tributária e da arrecadação tributária per capita. O critério adotado para a definição

dos clusters permite identificar os grupos que se encontram acima ou abaixo da média da

população amostral, revelando, graficamente, os entes que aplicam, com maior ou menor

eficiência e eficácia, o produto da arrecadação tributária.

IDH

Cluster

1

Cluster

2

Média

Carga Tributária

per capita

IDH

Média

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Figura 5 – Identificação dos Clusters no Gráfico de Dispersão

Fonte: Os autores

3.4 - Análise das condições determinantes para o enquadramento nos clusters

Nesse passo, serão analisadas as questões comuns e as diferenças observadas entre os

grupos categorizados nos clusters, bem como dos componentes do próprio grupo.

Cluster 1 - É composto pelos indivíduos (países, estados, municípios, microregiões) que

possuem nível do IDH acima da média, alcançado com maior eficiência e eficácia, tendo em vista

que este grupo possui volume de arrecadação tributária per capita abaixo da média analisada.

Cluster 2 – É composto pelos indivíduos que possuem nível de IDH acima da média da

população analisada. Contudo, a configuração deste grupo é menos eficiente e eficaz que a do

Cluster 1, tendo em vista que possuem volume superior de arrecadação tributária per capita.

Atenção especial deve ser dada às regiões classificadas no Cluster 2, que possuem nível de IDH

no mesmo nível das regiões classificadas no Cluster 1 o que caracteriza, neste caso, que o ente ou

indivíduo analisado não possui problema de desenvolvimento econômico, se comparado às

demais regiões analisadas, mas sim de ações públicas eficientes e eficazes capazes de elevar o

nível de desenvolvimento humano de sua população.

Cluster 3 – Realidade adversa dos demais, os indivíduos componentes do Cluster 3,

apesar de possuírem arrecadação tributária elevada, possuem um nível baixo do IDH o que

mostra claramente, ineficiência e ineficácia na utilização dos recursos obtidos com a arrecadação

tributária em ações públicas voltadas para o desenvolvimento da população. Os indivíduos

classificados nesta categoria caso não adotem políticas públicas mais eficientes e eficazes

direcionadas para o aumento do IDH, poderão ver sua arrecadação tributária se deteriorando, pois

as condições para o desenvolvimento humano são a base de sustentação da arrecadação.

Cluster 4 - É composto pelos indivíduos que possuem nível de arrecadação tributária e de

IDH abaixo da média da população analisada, o que coloca este cluster em situação desfavorável

aos demais. Esta leitura, permite identificar claramente que o ente ou indivíduo analisado, possui

Carga Tributária

per capita

Cluster

4

Cluster

3

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sérias deficiências, tanto no seu desenvolvimento econômico, quanto nas ações públicas voltadas

para o desenvolvimento humano de sua população, quando comparado aos demais clusters.

4. Resultados

4.1 Coleta de Dados

Os dados utilizados neste trabalho foram obtidos junto às seguintes fontes:

- IDH do ano de 2000 por estado brasileiro - Atlas do Desenvolvimento Humano no

Brasil (PNUD, 2009; PNUD1, 2008; PNUD3, 2008);

- População – IBGE, Censo demográfico 2000 (IBGE3, 2009; IBGE4, 2009)

- Arrecadação tributária do ano de 2008 – Secretaria do Tesouro Nacional (SNT, 2009)

Os resultados da coleta de dados estão apresentados na Tabela 1 a seguir.

Estados brasileiros Volume de Arrecadação

Arrecadação População Tributária IDH

Sigla Nomes (Ano 2008) (Ano 2000) Per Capita (Ano 2000)

DF Distrito Federal 38.355.507.701 2.051.146 18.699,55 0,844

RJ Rio de Janeiro 143.087.666.312 14.391.282 9.942,66 0,807

SP São Paulo 314.262.282.463 37.032.403 8.486,14 0,820

ES Espírito Santo 18.778.616.135 3.097.232 6.063,03 0,765

AM Amazonas 12.668.691.756 2.812.557 4.504,33 0,713

PR Paraná 38.778.401.937 9.563.458 4.054,85 0,787

RS Rio Grande do Sul 41.727.634.424 10.187.798 4.095,84 0,814

SC Santa Catarina 21.876.323.027 5.356.360 4.084,18 0,822

MG Minas Gerais 59.074.219.491 17.891.494 3.301,80 0,773

MS Mato Grosso do Sul 6.746.281.126 2.078.001 3.246,52 0,778

MT Mato Grosso 7.033.709.706 2.504.353 2.808,59 0,773

GO Goiás 14.037.176.438 5.003.228 2.805,62 0,776

PE Pernambuco 14.964.851.413 7.918.344 1.889,90 0,705

RO Rondônia 2.697.084.051 1.379.787 1.954,71 0,735

RR Roraima 604.067.103 324.397 1.862,12 0,746

BA Bahia 22.321.950.786 13.070.250 1.707,84 0,688

SE Sergipe 2.807.162.719 1.784.475 1.573,10 0,682

RN Rio Grande do Norte 4.419.709.332 2.776.782 1.591,67 0,705

TO Tocantins 1.727.440.217 1.157.098 1.492,91 0,710

AC Acre 815.984.367 557.526 1.463,58 0,697

CE Ceará 10.525.433.987 7.430.661 1.416,49 0,700

AP Amapá 724.861.850 477.032 1.519,52 0,753

PA Pará 7.745.816.391 6.192.307 1.250,88 0,723

PB Paraíba 3.794.012.762 3.443.825 1.101,69 0,661

AL Alagoas 2.981.456.465 2.822.621 1.056,27 0,649

MA Maranhão 5.315.570.481 5.651.475 940,56 0,636

PI Piauí 2.195.258.559 2.843.278 772,09 0,656

Totais 800.067.170.999 169.799.170 93.686,47 19,918

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Média aritmética 29.632.117.444 3.469,87 0,738

Fonte: IBGE1 (2009) e adaptações feitas pelos autores

Tabela 1 – Dados coletados

4.2 Cruzamento dos Dados - Arrecadação tributária per capita x IDH

A partir dos dados da tabela 1, confrontaremos a arrecadação tributária per capita dos

estados brasileiros com seus respectivos níveis de IDH, utilizando-se gráfico de dispersão. Este

gráfico apresenta a população da amostra, divididas em quatro clusters que foram obtidos com

base na média aritmética da arrecadação tributária per capita e na média aritmética do IDH,

comforme demonstrado na referida tabela.

Figura 6 – Gráfico do cruzamento de dados entre a Carga tributária per capita e o IDH

Fonte: Os autores

A Tabela 1 aliada à Figura 5 permitem a realização de uma leitura do ranking que revela a

eficiência e a eficácia da utilização da arrecadação tributária em ações voltadas para o

desenvolvimento humano. Alguns estados brasileiros possuem o custo tributário por habitante

muito altos, como o Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo, enquanto que alguns outros

estados se destacam pelo seu valor baixo, tais como: Piauí, Maranhão, Alagoas, Paraíba e Pará.

4.3 Identificação dos clusters ou agrupamentos a serem analisados

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Os clusters classificados a partir do cruzamento de dados da arrecadação tributária,

considerando a quantidade de habitantes (per capita) com o IDH, estão compostos pelos

seguintes estados brasileiros:

CLUSTERS

1 2 3 4

Goiás

Mato Grosso

Mato Grosso do Sul

Minas Gerais

Amapá

Roraima

Santa Catarina

Rio Grande do Sul

Paraná

Espírito Santo

São Paulo

Rio de Janeiro

Distrito Federal

Amazonas Rondônia

Pará

Tocantins

Pernambuco

Ceará

Acre

Bahia

Sergipe

Paraíba

Piauí

Alagoas

Maranhão

Rio Grande do

Norte

Fonte: Os Autores

Tabela 2 – Tabela de clusters: Arrecadação tributária per capita x IDH

A Figura 6 apresenta o mapa do Brasil, identificando os clusters a serem analisados,

obtidos a partir do cruzamento de dados da arrecadação tributária per capita com o IDH.

Figura 7 – Mapa dos clusters (Arrecadação tributária per capita x IDH)

Fonte: Os autores

4.4 Análise das condições determinantes para o enquadramento nos clusters

Preliminarmente, faz-se emprescindível apresentar os gráficos comparativos dos estados

brasileiros com os seguintes dados:

Composição do IDH

População demográfica

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Arrecadação tributária per capita

COMPOSIÇÃO DO IDH DOS ESTADOS BRASILEIROS

0,50

0,55

0,60

0,65

0,70

0,75

0,80

0,85

0,90

0,95

1,00

MT MS GO MG RR AP DF SP RJ RS SC PR ESAM RO PE AC RN TO PA SE BA CE PB AL PI

MA

ÍNDI

CE

IDHM Renda Longevidade Educação

Figura 8 – Gráfico da composição do IDH dos estados brasileiros

Fonte: Os Autores

POPULAÇÃO DEMOGRÁFICA

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

35000

40000

AP RR GO MTMS

MG PR SC RS ES SP RJ DF AM RO PA TO PE CE AC BA SE PB PI ALMA RN

QUAN

TIDA

DE (1

.000

)

Figura 9 – Gráfico da populaçao demográfica

Fonte: Os Autores

Cluster 1 Cluster 2 Cluster 4 Cluster 3

Cluster 1 Cluster 2 Cluster 3 Cluster 4

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ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA per capita

POR ESTADO BRASILEIRO

-

2.000,00

4.000,00

6.000,00

8.000,00

10.000,00

12.000,00

14.000,00

16.000,00

18.000,00

20.000,00

AP RRGO MT MS

MG PR SC RS ES SP RJDF

AM RO PA TO PE CEAC BA SE PB PI

AL MA RNVOLU

ME

DE

AR

REC

AD

ÃO

(R$)

Figura 10 – Gráfico da arrecadação tributária per capita por estado brasileiro

Fonte: Os Autores

Adiante, passamos a analisar as condições determinantes para o enquadramento em cada

cluster.

Cluster 1 - Está representado pelos estados brasileiros de Goiás, Mato Grosso, Mato

Grosso do Sul, Minas Gerais, Amapá e Roraima, que possuem maior eficiência e eficácia na

aplicação do produto da arrecadação tributária em ações com foco no desenvolvimento humano.

Os estados componentes deste grupo possuem um nível de IDH acima da média dos

clusters 3 e 4 obtido com uma arrecadação tributária abaixo da média dos clusters 2 e 3.

Uma característica predominante do grupo é o volume da população demográfica,

correspondente a 16,65% do total da população brasileira o que contribui para o aumento da

arrecadação tributária per capita. Verifica-se que os estados de Goiás, Mato Grosso e Mato

Grosso do Sul possuem forte produção agrícola, o que pode contribuir para um IDH Renda não

muito alto, mas na educação eles se comparam aos estados com maior carga tributária, e a

longevidade também é beneficiada pela reduzida existência das condições de geração de

violência. Por sua vez, Roraima e Amapá possuem IDH Renda maior que os estados do nordeste

Cluster 1 Cluster 2 Cluster 3 Cluster 4

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e são beneficiados pelos resultados do IDH Educação, que está no mesmo nível dos estados com

maior arrecadação tributária.

Na comparação analítica com outros clusters parece possuir considerável vantagem na

aplicação da carga tributária em ações voltadas para meloria das condições do desenvolvimento

humano.

Individualmente, em relação aos partícipes do mesmo grupo, destacam-se negativamente

os índices de longevidade e de renda da população nos Estados de Roraima e Amapá, em volume

expressivamente inferior à média do grupo. Assim, os governos deverão, prioritariamente

desenvolver esforços através da adoção de políticas públicas mais eficientes e eficazes voltadas

para o aumento da longevidade e principalmente da geração de renda para a população, com

investimentos, financeiros e/ou sociais na área de saúde; lazer; desporto; assistência social; e

fomento do desenvolvimento econômico.

Destaque positivo, nesse tipo de análise, é o desempenho do estado de Minas Gerais, que

tem uma população significativamente maior que a do estado do Rio de Janeiro (cerca de 3

milhões de habitantes a mais), porém com uma arrecadação tributária muito inferior à estado do

Rio de Janeiro, e com um IDH acima da média dos estados (0,738). Isso pode ser compatível com

as políticas públicas que estejam sendo desenvolvidas no estado de Minas Gerais e podem servir

de base para serem aplicadas em outras unidades da Federação.

Cluster 2 - Os estados brasileiros de Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de

Janeiro, Distrito Federal, Santa Catarina e Espírito Santo, integrantes deste cluster, apesar de

possuírem um nível de IDH acima da média, possuem um volume consideravelmente maior de

arrecadação tributária por habitante o que pode apontar para uma menor eficiência e eficácia na

aplicação dos recursos dos tributos quando comparado com os estados classificados no Cluster 1.

O melhor nível de renda da população em relação aos estados dos demais clusters é

predominante no grupo e o melhor nível de educação do país observado nos Estados do Distrito

Federal, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina são fatores positivos que

contribuem para o aumento do IDH.

Entretanto, atenção especial deverá ser dispensada pelos governos dos Estados do Distrito

Federal, São Paulo e Rio de Janeiro em ações públicas voltadas para o aumento da longevidade.

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Isso pode estar relacionado à violência urbana nesses estados, pois também nesses estados existe

uma grande concentração populacional, correspondente a 46,1 % da população brasileira, sendo

21,81% somente no Estado de São Paulo o que caracteriza também a necessidade de um grande

esforço do governo para ampliar a assistência social.

Para os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, a atenção dos governos

deve ser dada às ações públicas voltadas para o aumento da renda, pois ela ainda não está

adequada para a alta carga tributária desses estados. Por sua vez, no Espírito Santo verifica-se que

são necessárias ações públicas voltadas para o aumento da educação, longevidade e renda, pois

estão abaixo dos demais estados componentes do Cluster 2.

Por ocasião da exclusão do volume de habitantes da análise, ou seja, considerando apenas

os valores absolutos da carga tributária, há o deslocamento dos Estados de Santa Catarina e

Espírito Santo para o Cluster 1. Este fato é explicado porque o volume de arrecadação tributária

destes estados, isoladamente, se situam abaixo da média da população amostral. No sentido

inverso, há também a movimentação do Estado de Minas Gerais do Cluster 1, devido ao fato de

que seu volume de arrecadação tributária, isoladamente, encontra-se acima da média da

população amostral.

Cluster 3 - O único estado brasileiro classificado neste cluster foi o Amazonas, que,

apesar de possuir arrecadação tributária por habitante, acima da média dos clusters 1 e 4, possui

um IDH abaixo da média. Essa é uma situação bastante interessante, tendo em vista que sua

arrecadação de R$ 12,7 milhões é próxima à dos Estados do Ceará, Pernambuco e Goiás, porém

sua população é um pouco menor do que 3 milhões de habitantes e está altamente concentrada na

capital do estado, Manaus, conforme divulgado pelo IBGE através do Atlas do Censo

Demográfico 2000. Esta concentração pode ser explicada pela criação da Zona Franca de Manaus

(ZFM), pelo Decreto-Lei nº 288 em 1967, com o objetivo de estimular a industrialização da

cidade e sua área adjacente, bem como ampliar seu mercado de trabalho, estimulando o

desenvolvimento econômico e a geração de renda da população.

Contudo, seu IDH é desfavorecido pelo baixo índice de renda da população, comparável à

dos Estados do Acre, Tocantins e Rio Grande do Norte, tanto que, se fosse excluída a população

demográfica, considerando somente a carga tributária, o Amazonas passaria para o Cluster 4. As

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políticas públicas, que devem ser alvo prioritário do governo do Amazonas, precisam ser voltadas

para o aumento da renda da população, o que elevaria o IDH.

Verifica-se, neste caso, que o crescimento econômico é a síntese. Não existe

desenvolvimento social sem desenvolvimento econômico, mas isto não e tudo. Há também a

necessidade de se desenvolver políticas públicas para a sociedade que se reflitam em aumento do

IDH.

Cluster 4 - Composto pelos Estados do Pará, Tocantins, Pernambuco, Ceará, Acre, Bahia,

Sergipe, Paraíba, Piauí, Alagoas, Maranhão, Amazonas, Rio Grande do Norte e Rondônia,

possuem baixa arrecadação tributária por habitante e baixo nível de IDH.

Este cluster está composto por 48% dos estados brasileiros e que arrecadam somente 10%

do total da arrecadação nacional, sendo que os Estados da Bahia, Pernambuco e Ceará,

respondem, sozinhos por 6% da arrecadação, ou seja, 10 estados brasileiros respondem por

apenas 4% do total da arrecadação tributária. Isso mostra a necessidade premente de se ter

políticas públicas para aumentar a renda da população, não apenas com transferências diretas às

famílias, mas incentivando a criação de novos empreendimentos nessas regiões, que gerem

emprego e renda para a população. A partir dessa geração de renda, será possível melhorar as

condições de saúde da população, com impacto direto na longevidade da população, e o nível de

educação.

Esse investimento em políticas públicas voltadas para, prioritariamente, o

desenvolvimento econômico e de geração de renda visa, enfim, propiciar condições sustentáveis

de melhoria do desenvolvimento humano.

5. Conclusão

Esse artigo possibilitou apresentar os resultados da avaliação da carga tributária dos

estados do Brasil. Esse método mostrou-se adequado para verificar a efetividade da arrecadação

tributária dos estados, fazendo seu relacionamento aos IDH, servindo de base para a comparação

com indicadores apurados em outros clusters.

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Além disso, foi possível averiguar a relação existente entre a arrecadação tributária e o

desenvolvimento humano, verificando a compatibilidade entre a carga tributária, a população

demográfica e o Índice de Desenvolvimento Humano. Para isso, foram utilizados dados sobre a

arrecadação tributária dos estados do Brasil, sobre a população brasileira, além do IDH. A partir

destes elementos foi desenvolvido um modelo de análise, qualitativo, da carga tributária e do

IDH, em conjunto.

A aplicação do método proposto neste trabalho, para o estudo de caso tratado, confirma a

possibilidade de se estabelecer um método de leitura qualitativa da carga tributária a partir do seu

confronto com o IDH, respeitando a proporção da população demográfica existente em cada

região, sendo capaz de estabelecer um contraponto ao método de leitura que considera as

dimensões econômicas da carga tributária quando comparada ao PIB.

Esta confirmação nasce do fato de que o Governo é o principal articulador de políticas

públicas que refletem no desenvolvimento de sua população, com alguns aspectos contemplados

no cálculo do IDH, como educação, longevidade e renda e suas ações são financiadas

principalmente com recursos oriundos da arrecadação tributária.

Os dados utilizados, agrupados por meio dos clusters formados, permitem aos governos

tratar com isonomia suas regiões ou microregiões que se encontram em situação equivalente,

através da verificação dos dados qualitativos da carga tributária. Estes dados são importantes para

o processo decisório da gestão pública, facilitando as medidas de correção de distorções sócio-

econômicas que podem trazer consequências desastrosas para as regiões que se encontram em

situação desvantajosa, se não tratadas de forma adequada. Cabe aos governos orientar a utilização

dos recursos, por intermédio dos planos plurianuais e orçamentos.

O estudo também é capaz de fornecer alguns elementos técnicos importantes para o

embasamento de discussões relevantes de interesse nacional, como a destinação de parte dos

recursos originados dos royalties obtidos com a exploração do petróleo na camada pré-sal que,

apesar de sua faixa se estender ao longo dos Estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, São

Paulo, Paraná e Santa Catarina, podem ser utilizados em outras regiões visando desenvolver

ações que tenham por finalidade melhorar a renda, as condições de saúde e de educação da

população, podendo trazer dividendos para a melhoria do IDH dessas regiões atendidas pelos

investimentos.

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Os gestores das regiões ou microregiões, atuando como agentes ativos no processo de

transformação econômica e social, podem verificar o posicionamento nos clusters ou mapa,

interpretar e entender sua realidade, comparar sua performance com a de outras regiões,

possibilitando o direcionamento de estudos mais específicos que podem ser feitos através da

análise da composição do IDH, permitindo um benchmarking adequado para o desenvolvimento

de ações públicas mais eficientes e eficazes, capazes de melhorar as condições de vida de sua

população, influenciando também no direcionamento de recursos públicos.

Este benchmarking poderá ser realizado a partir da identificação das regiões que se

destacam pela maior eficiência e eficácia da arrecadação tributária, que venham adotando

políticas públicas que promovam um aumento do índice de desenvolvimento humano da

população, possibilitando uma possível implementação destas ações em sua própria região, desde

que adaptadas à sua realidade e à de seu cluster, acelerando seu processo de desenvolvimento

através de experiências já vivenciadas.

Também a população contribuinte dos tributos, com estes dados, tem condições de

monitorar as ações públicas desenvolvidas pelos gestores de sua região, avaliando de forma

qualitativa o reflexo dos gastos públicos em ações voltadas para o seu desenvolvimento,

comparando com o desempenho obtido em outras regiões.

Recomenda-se, ainda, a aplicação do método proposto neste trabalho em relação às

microregiões de municípios brasileiros, aos mais de 5.500 municípios brasileiros, aos municípios

de cada estado brasileiro, ou em regiões específicas do Brasil.

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