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ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 ANÁLISE DO USO E OCUPAÇÃO EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE ATRAVÉS DA MATRIZ DE IMPACTO AMBIENTAL Delony de Queiroz Ribeiro (a) , Renata Maria Sousa Castro (b) , Gabriel Irvine Ferreira Alves dos Santos (c) , Walefe Lopes da Cruz (d) , Ediléa Dutra Pereira (e) . (a) Graduanda do curso de Geografia da UFMA; [email protected]. (b) Mestranda do Programa de Pós-graduação em Geografia, Natureza e Dinâmica do Espaço da UEMA; [email protected]. (c) Graduando do curso de Geografia da UFMA; [email protected]. (d) Graduando do curso de Geografia da UFMA; [email protected]. (e) Prof.ª Dr. ª do Departamento de Geociências da UFMA; [email protected] (Orientadora). Eixo: Dinâmica e gestão de bacias hidrográficas Resumo/ A escolha pelo alto curso da bacia hidrográfica do rio Paciência da bacia com uma área de 46,6km² justifica-se pela importância que a região das nascentes representa para a hidrodinâmica nos trechos de jusante da bacia, além do rio Paciência ser um dos mais importantes mananciais genuinamente ludovicense. O presente estudo pretende avaliar o estado das áreas de APP’s frente ao intensivo uso e ocupação e ao processo de urbanização no alto curso da bacia do rio Paciência, tendo em vista a relevância dessa bacia para a Ilha do Maranhão. A matriz de impacto ambiental e o mapa de uso e ocupação das APP’s mostram que o alto curso da bacia do rio Paciência está intensamente impermeabilizado, causando a perda da biodiversidade, risco à saúde pública e a degradação da beleza cênica da paisagem, sendo definidas as seguintes classes: Área Urbanizada (50%); Área Vegetada (33,5%) e Solo Exposto (16,5%). Palavras chave: Áreas de Preservação Permanente, uso e ocupação, matriz de impacto ambiental, alto curso, bacia do rio Paciência. 1. Introdução A Ilha do Maranhão, composta pelos municípios de São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa, é considerada uma Ilha populosa, por apresentar um contingente

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Page 1: ANÁLISE DO USO E OCUPAÇÃO EM ÁREAS DE ......impacto ambiental e o mapa de uso e ocupação das APP’s mostram que o alto curso da bacia do rio Paciência está intensamente impermeabilizado,

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ANÁLISE DO USO E OCUPAÇÃO EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO

PERMANENTE ATRAVÉS DA MATRIZ DE IMPACTO AMBIENTAL

Delony de Queiroz Ribeiro (a), Renata Maria Sousa Castro (b), Gabriel Irvine

Ferreira Alves dos Santos (c), Walefe Lopes da Cruz (d), Ediléa Dutra Pereira (e).

(a) Graduanda do curso de Geografia da UFMA; [email protected].

(b) Mestranda do Programa de Pós-graduação em Geografia, Natureza e Dinâmica do Espaço

da UEMA; [email protected].

(c) Graduando do curso de Geografia da UFMA; [email protected].

(d) Graduando do curso de Geografia da UFMA; [email protected].

(e) Prof.ª Dr. ª do Departamento de Geociências da UFMA; [email protected] (Orientadora).

Eixo: Dinâmica e gestão de bacias hidrográficas

Resumo/

A escolha pelo alto curso da bacia hidrográfica do rio Paciência da bacia com uma área

de 46,6km² justifica-se pela importância que a região das nascentes representa para a

hidrodinâmica nos trechos de jusante da bacia, além do rio Paciência ser um dos mais importantes

mananciais genuinamente ludovicense. O presente estudo pretende avaliar o estado das áreas de

APP’s frente ao intensivo uso e ocupação e ao processo de urbanização no alto curso da bacia do

rio Paciência, tendo em vista a relevância dessa bacia para a Ilha do Maranhão. A matriz de

impacto ambiental e o mapa de uso e ocupação das APP’s mostram que o alto curso da bacia do

rio Paciência está intensamente impermeabilizado, causando a perda da biodiversidade, risco à

saúde pública e a degradação da beleza cênica da paisagem, sendo definidas as seguintes classes:

Área Urbanizada (50%); Área Vegetada (33,5%) e Solo Exposto (16,5%).

Palavras chave: Áreas de Preservação Permanente, uso e ocupação, matriz de impacto

ambiental, alto curso, bacia do rio Paciência.

1. Introdução

A Ilha do Maranhão, composta pelos municípios de São Luís, São José de Ribamar,

Paço do Lumiar e Raposa, é considerada uma Ilha populosa, por apresentar um contingente

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populacional superior a 1 milhão de habitantes (IBGE, 2010), a cidade de São Luís detém

uma população estimada de 1.094.667 (IBGE, 2018).

A bacia do rio Paciência é um dos mais importantes mananciais genuinamente

ludovicense, possuindo dois sistemas de abastecimento, Paciência I e II, estas reservas de

água são de importância para o abastecimento da população da Ilha, o planejamento e gestão

desse espaço é fundamental.

São inúmeras as causas que provocam alterações nos recursos hídricos, mas uma das

principais são as atividades humanas no que se refere ao uso e ocupação do solo, pois as

ocupações presentes em uma bacia normalmente não consideram a aptidão e a fragilidade da

mesma, por conseguinte, desencadeando danos irreparáveis ao meio ambiente. Além disso, as

condutas antrópicas desordenadas intensificaram os processos do meio físico como erosão,

escorregamento de massa, assoreamento, contaminação, entre outras problemáticas,

provocando como consequência o desaparecimento de cursos d’águas. Todos esses problemas

interferem diretamente na quantidade e qualidade da água, este recurso essencial que está

cada vez mais escasso, posto que as atividades humanas representam fator decisivo na

modificação da dinâmica desse elemento na bacia hidrográfica.

Destaca-se que as Áreas de Preservação Permanente (APP) consistem em espaços

territoriais legalmente protegidos, ambientalmente frágeis e vulneráveis, podendo ser públicas

ou privadas, urbanas ou rurais, cobertas ou não por vegetação nativa (BRASIL, 2012). Essas

áreas têm a função ambiental de proteção dos rios e igarapés, evitando enchentes, inundações,

poluição das águas, assoreamento dos rios, além da manutenção da permeabilidade do solo e a

recarga de aquíferos, evitando o comprometimento do abastecimento público de água em

qualidade e em quantidade, dentre outras. Nesse sentido, o presente estudo pretende avaliar o

estado das áreas de APP’s frente ao intensivo uso e ocupação e ao processo de urbanização no

alto curso da bacia do rio Paciência, tendo em vista a importância dessa bacia para o

abastecimento público da Ilha do Maranhão.

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2. Materiais e Métodos

O método científico que se fez uso é o hipotético-dedutivo. Conforme Marconi e

Lakatos (2010, p. 95) a primeira etapa do método proposto por Popper é o surgimento do

problema. Toda investigação nasce de algum problema teórico/prático sentido. Este

demonstrou os fatos relevante ou irrelevante a observar, os dados que devem ser selecionados.

Esta seleção exige uma hipótese, conjectura e/ou suposição, que servirá de guia ao

pesquisador. Com o surgimento da hipótese seguirá a fase de teste e comprovação ou

superação da hipótese.

2.1. Levantamento e Análise de Material Bibliográfico

Os procedimentos metodológicos para a investigação do problema constaram de

levantamento e análise de materiais relacionados com a temática, na biblioteca Central da

Universidade Federal do Maranhão – UFMA e acervos particulares (incluindo periódicos,

livros, monografias, dissertações e teses, e-books e periódicos on-line), além das bases de

dados do Laboratório de Estudos de Bacias Hidrográficas (LEBAC/DEGEO).

2.2. Elaboração do Material Cartográfico

A base cartográfica foi elaborada no ambiente SIG - Sistema de Informação

Geográfica, ArGIS, versão 10.4.1 e consistiu na delimitação da bacia do rio Paciência,

definição da rede de drenagem. As Folhas da DSG (1980) que compreendem o alto curso da

bacia foram 14, 15, 16, 23, 24, 25, 31, 32 e 33, em escala 1:10.000, as quais foram editadas e

reunidas em forma de mosaico, facilitando assim, a leitura das cotas altimétricas, dos cursos

d’água e dos limites da bacia do rio Paciência.

As informações da drenagem foram comparadas com as de 1980, encontradas nas

folhas cartográficas DSG, e atualizadas para a realização do procedimento do buffer

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(ferramenta cujo objetivo é a geração ou ampliação de uma área de influência) de 30 metros

(rios) e de 50 metros (nascentes) nas áreas de APP’s (BRASIL, 2012).

A atualização da drenagem foi realizada a partir da análise da DigitalGlobe, WV02

(resolução espacial de 0.5m) e GEO1 (resolução espacial de 0.4m), de 2017, com o auxílio

das curvas de nível de 1m em 1m da Aerofoto (Instituto da Cidade, Pesquisa e Planejamento

Urbano e Rural - INCID, 2009), nesta mesma imagem foi elaborado o mapa de uso e

ocupação das áreas de APP’s do alto curso da bacia hidrográfica do rio Paciência e seus

afluentes com escala 1:53.000, na tentativa de melhor visualização das classes de uso e

ocupação também foi realizado recortes das APP’s com escala 1:36.000.

2.3. Trabalhos de Campo

Para a realização desta pesquisa, fizeram-se necessários trabalhos de campo em

junho de 2017 e 2018 para reconhecimento da área da bacia do rio Paciência, seus cursos

d’água e nascentes e identificação do estado real das APP’s do alto curso para comprovar as

análises realizadas em ambiente SIG. Além de registro fotográfico e levantamento dos

principais impactos e danos ambientais da área.

2.4. Matriz de Impacto Ambiental

O objetivo da matriz é identificar as interações possíveis entre os componentes do

projeto e os elementos do meio (SANCHEZ, 2008, p. 202-203). A matriz de impacto

ambiental usada é uma adaptação da Matriz de Leopold (Leopold et al., 1971), as mudanças

foram realizadas com base na análise e interpretação das imagens de satélites, associado a

percepção ambiental advindos dos trabalhos de campo e com o material bibliográfico

estudado da área.

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Nesta pesquisa, a matriz de impacto ambiental se tornou uma importante ferramenta

de avaliação da condição ambiental e para a construção das principais medidas mitigadoras,

decorrentes das identificações dos impactos diretos na bacia.

3. Área de Estudo

A bacia hidrográfica do rio Paciência situa-se nos municípios de São Luís, São José

de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa, na porção central da Ilha do Maranhão e apresenta

uma área de 146 km², padrão dendrítico, de 5ª ordem, alongada, com baixa densidade de

drenagem (CASTRO, 2017). O rio Paciência apresenta direção nordeste e um comprimento

de 32 km inserido num ambiente estuarino desembocando na Baía de São José (Figura 1).

.

Figura 1 – Mapa – bacia hidrográfica do rio Paciência - MA, 2018.

Fonte: Acervo da pesquisa, 2018.

O alto curso situa-se nos municípios de São Luís, São José de Ribamar, Paço do

Lumiar e apresenta uma área de 46,6 km². Ademais, a escolha pelo alto curso da bacia

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justifica-se pela importância que a região das nascentes representa para a hidrodinâmica nos

trechos de jusante da bacia (Figura 1).

4. Resultados e discussões

A cartografia ambiental como instrumento de gestão é essencial na tentativa de

análise da realidade de uma determinada região. No caso da carta de uso e ocupação do solo,

esta se torna fundamental para o planejamento territorial de uma cidade, pois retrata as

principais classes de uso e suas ocorrências no espaço podendo esta servir para elaborar uma

melhor política de uso da terra para desenvolvimento da área.

O mapa de uso e ocupação das áreas de APP’s do alto curso da bacia hidrográfica do

rio Paciência – MA foi elaborado a partir da identificação e interpretação visual de imagens

satélites da DigitalGlobe, WV02 (0.5m) e GEO1 (0.4m), de 2017, sendo definidas as

seguintes classes Área Urbana 50%, Solo Exposto 16,5% e Área Vegetada 33,5%, (Tabela I)

e (Figura 2).

Tabela I – Classes de uso e ocupação das áreas de APP’s do alto curso da bacia do rio Paciência – MA, 2018.

CLASSES ÁREA (km²) (%)

Urbanizada 0,25 50

Vegetada 0,17 33,5

Solo Exposto 0,08 16,5

Total 0,5 100

Fonte: Acervo da pesquisa, 2018.

Mesmo com os inúmeros benefícios das formações ciliares como estabilização de

ribanceiras, tamponamento e filtragem, diminuição e filtragem do escoamento superficial,

contribuição para a integração com a superfície, interceptação e absorção da radiação solar,

fornecimento de matéria orgânica e substrato de fixação, é visível o crescimento de áreas

impermeáveis. Estas que interferem no funcionamento do ciclo hidrológico, pois repercutem

na capacidade de infiltração da água no solo, favorecendo o escoamento superficial, em razão

disso, provavelmente a porcentagem da água que infiltra na bacia possivelmente foi reduzida.

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Figura 2 – Classes de uso e ocupação: Área Urbanizada, Solo Exposto e Área Vegetada - APP’S do alto curso,

bacia hidrográfica do rio Paciência - MA, 2018.

Fonte: Acervo da pesquisa, 2018.

Analisando o solo exposto como consequência do processo da urbanização (Figura

2), destaca-se que as somatórias dessas duas classes seriam equivalentes a 66,5% das áreas de

APP’s do alto curso do Rio Paciência e restando apenas 33,5% de área vegetada na bacia

(Tabela I).

A bacia do rio Paciência encontra-se grande parte urbanizada, apenas uma porção do

baixo curso que ainda apresentam características do pré – urbano para o urbano inicial, pois o

desenvolvimento está tendendo em direção ao baixo curso da bacia, em virtude da procura e

necessidade de espaços territoriais ocupáveis. E o alto curso por naturalmente ter uma altitude

mais elevada e plana, sempre foi alvo de intensiva especulação imobiliária, com ocupações

do setor industrial e urbanísticas, porém altamente impactado (Figura 4).

O desenvolvimento urbano tem sido um dos principais vetores de mudanças da

drenagem do rio Paciência, que vem se intensificando nas últimas décadas com o crescimento

populacional, posto isto os desvios de cursos d’água e a canalização dos canais são

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características notáveis no alto curso dessa bacia (Figura 3), consequentemente a urbanização

na rede de drenagem e a perda desses canais impõem desafios aos gestores e moradores da

Ilha.

Figura 3 – Modificações nos canais de drenagem do alto curso da bacia hidrográfica do rio Paciência - MA,

2018. Fonte: Acervo da pesquisa, 2018.

A predominância da urbanização no alto curso da bacia com vegetação escassa e

sendo mais presente ao longo das margens do rio principal, observa-se que há diversas áreas

na bacia sem função social ou de produção, havendo mais desmatamento e degradação do

ambiente do que a utilização dessas áreas ou a recuperação vegetal (Figura 4).

As nascentes classificadas como preservadas estão localizadas na porção sudoeste do

curso superior da bacia, dentro da área do aeroporto Marechal Cunha Machado no bairro

Tirirical e uma localizada na porção sudoeste do curso superior da bacia, dentro de instalações

do IBAMA” (CANTANHEDE, 2017), contudo as áreas verdes como um todo têm sido

progressivamente pressionadas pela urbanização (Figura 4).

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Figura 4 – Uso e ocupação nas APPs do alto curso da bacia hidrográfica do rio Paciência - MA, 2018.

Fonte: Acervo da pesquisa, 2018.

Os principais impactos e danos ambientais notados no alto curso da bacia do rio

Paciência são típicos do crescimento urbano, o desmatamento, oriundo de abertura de vias e

de lotes, a pavimentação das vias e a ocupação de lotes, todos esses processos interferem no

funcionamento do ciclo da água. E conjutamento com o incremento da urbanização da Ilha do

Maranhão e consequentemente com a política habitacional do Governo Federal, novas áreas

da bacia foram sendo escolhidas para a expansão urbana afetando mais ainda o rio Paciência

(Quadro 1).

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Quadro 1: Matriz de impactos ambientais das APP’S do alto curso da bacia do rio Paciência – MA, 2018.

Fonte: Adaptado de Leopold et al., 1971.

A remoção da cobertura vegetal e a impermeabilização do solo vêm transformando o

rio Paciência, com a perda de suas características naturais tornando-se cada vez menos visível

nas imagens de satélites e in loco. Em trabalho de campo, através de conversas informais com

os moradores da bacia hidrográfica do rio Paciência foi percebido que eles próprios

desconhecem a existência do Rio Paciência, pois tratam o rio como um grande esgoto a céu

aberto (Figura 3). No canal do rio se observam diversos resíduos sólidos e efluentes que

foram descartados inadequadamente, promovendo a contaminação dos seres vivos e a

transmissão de doenças.

A partir disso, o alto curso da bacia se encontra altamente degradada, apresentando

problemas socioambientais como desmatamento e a remoção das matas ciliares, ocupações

espontâneas em áreas de APP’s, poluição e assoreamento do rio, e em razão ao grande

contingente populacional existe uma significativa quantidade de resíduos sólidos depositados

principalmente no leito do rio, causando a perda da biodiversidade, risco a saúde pública e a

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degradação da beleza cênica da paisagem, desta forma as APP’s frente ao intensivo uso e

ocupação estão em um estado de tendência a se tornarem completamente urbanizadas com

áreas verdes cada vez mais pontuais, demonstrando uma profunda ausência da aplicação da

Lei Federal Nº 12.651, de 25 de maio de 2012 (BRASIL, 2012), (Tabela I, Figura 4 e Quadro

1).

5. Considerações finais

O uso intensivo e não planejado do solo da Ilha tem provocado vários níveis de

degradação ambiental, sobretudo dos recursos hídricos, por esse motivo o mapa de uso e

ocupação nas áreas de APP’s no alto curso da bacia do rio Paciência é fundamental para

identificar as incoerências e as concentrações destes usos. As Áreas de Preservação

Permanente - APP’s são aquelas áreas protegidas nos termos dos arts. 3º e 4º do Código

Florestal, e que se mostram como um mecanismo de defesa de zonas estratégicas.

Destaca-se que 50% das áreas de APP’s do alto curso do rio Paciência se encontram

urbanizadas, 16,5% desmatada e com solo exposto restando apenas 33,5% de área vegetada.

Encontrando-se impermeabilizadas, causando a perda da biodiversidade, risco a saúde pública

e a degradação da beleza cênica da paisagem. Destaca-se também a importância da aplicação

da matriz ambiental, pois esta fornece um direcionamento inicial bastante útil para estudos

mais aprofundados.

O alto curso é caracterizado por problemas socioambientais como desmatamento e a

remoção das matas ciliares, ocupações espontâneas em áreas de APP’s, poluição e

assoreamento do rio, em razão disso, recomenda-se a implantação de políticas públicas e

como principais medidas mitigadoras a serem aplicadas são o controle do desmatamento,

melhoramento das drenagens de águas pluviais, proteção dos recursos hídricos com a

aplicação da Lei Federal Nº 12.651, expansão da infraestrutura sanitária, e a aplicação de

técnicas de recuperação das matas ciliares e das nascentes. Além do desenvolvimento de

estratégicas com base na educação ambiental voltada para os moradores da bacia.

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6. Referências Bibliográficas

BRASIL, Lei Nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação

nativa; altera as Leis nºs 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996,

e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e

7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e

dá outras providências. BRASILIA.

CANTANHEDE, Waldiana Almeida. Relatório Final: Levantamento das condições

geoambientais das principais nascentes na bacia do rio Paciência, 2017.

CASTRO, R.M.S. Análises morfométricas da bacia do rio Paciência e seus impactos

geoambientais - São Luís – Ma. Monografia em Geografia. Universidade Federal do

Maranhão, 60p., 2017.

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<https://censo2010.ibge.gov.br/>. Acesso em nov., de 2017.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA – IBGE. Cidades/São

Luís. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ma/sao-luis/panorama>. Acesso em

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MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia

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Oficina de Textos, 2008.