análise molecular dos genes neurod4 fgfr1 e prokr2 em ...€¦ · bmp bone morphogenetic protein...
TRANSCRIPT
FERNANDA DE AZEVEDO CORREA
Análise molecular dos genes
NEUROD4, FGFR1 e PROKR2 em
pacientes com hipopituitarismo congênito
Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências
Programa de Endocrinologia
Orientadora: Profa. Dra. Berenice Bilharinho de Mendonça
Coorientadora: Dra. Luciani Renata Silveira de Carvalho
(Versão corrigida. Resolução CoPGr 5890, de 20 de dezembro de 2010. A versão original está disponível na Biblioteca FMUSP)
São Paulo
2015
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Preparada pela Biblioteca da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
©reprodução autorizada pelo autor
Correa, Fernanda de Azevedo Análise molecular dos genes NEUROD4, FGFR1 e PROKR2 / Fernanda de Azevedo Correa. -- São Paulo, 2015.
Tese(doutorado)--Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Programa de Endocrinologia.
Orientadora: Berenice Bilharinho de Mendonça. Coorientadora: Luciani Renata Silveira de Carvalho.
Descritores: 1.Hipopituitarismo 2.Hormônio do crescimento/deficiência
3.Hormônio do crescimento/genética 4.Receptores de fatores de crescimento de fibroblastos 5.PROKR2 6.NEUROD4 7.Estudos de associação genética
USP/FM/DBD-097/15
Este trabalho foi realizado na Unidade de Endocrinologia do
Desenvolvimento e no Laboratório de Hormônios e Genética
Molecular LIM 42 da Disciplina de Endocrinologia e
Metabologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade da São Paulo, com o apoio do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq-PQ 305743/2011-2) e da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP
2013/03236-5).
Dedicatória
Esta tese é dedicada ao meu pai Antônio de Azevedo
Corrêa (in memoriam), pesquisador do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Meu pai
sempre foi meu grande incentivador, vivenciou e
ensinou-me, entre outras virtudes, a lealdade e a
gratidão.
Agradecimentos
Durante o período de execução desta tese de doutorado reencontrei grande
parte da equipe que participou da minha formação na especialidade de
Endocrinologia e Metabologia durante a residência médica no HC-FMUSP.
Professores, médicos, técnicos, funcionários e colegas dedicados, solícitos e
companheiros. Não é possível citar um a um, nem descrever como cada um atuou na
minha formação científica, pois todos da disciplina de Endocrinologia e do
Laboratório de Investigação Médica LIM/42 atuam em conjunto para apoiar os
estudantes de pós-graduação, mas na pessoa de cada um abaixo citado todos estão
representados.
Profa. Dra. Berenice Bilharinho de Mendonça, minha orientadora e
professora titular da endocrinologia, aceitou-me incondicionalmente desde o
primeiro contato, sempre esteve ao meu lado, é o meu exemplo de médica e
pesquisadora, obrigado sempre!
Agradeço à minha coorientadora, Dra. Luciani Carvalho, exemplo de
persistência e entusiasmo científicos. Ao Dr. Ivo Arnhold, médico e pesquisador na
área de hipopituitarismo, o meu agradecimento por todos esses anos de ensinamentos
médicos, científicos e éticos. Ao Prof. Dr. Alexander Jorge, amigo que vi tornar-se
professor ao longo do meu trabalho, dedicado e entusiasmado e sempre com tempo
para dividir seus vastos conhecimentos científicos, obrigado pela generosidade. À
Profa. Dra. Ana Cláudia Latrônico por suas preciosas sugestões e incentivo!
Agradeço às principais colaboradoras deste trabalho, Dra. Éricka Trarbach e
Dra Cintia Tusset, pesquisadoras na área de biologia molecular e parte fundamental
no sucesso desta tese, pelas horas de trabalho, ensinamentos e discussão dos
resultados obtidos. Atitude repetida por todos os outros biólogos e pesquisadores do
LIM 42.
Agradeço aos funcionários administrativos e técnicos que me guiaram desde
os primeiros passos, aqui representados pelas queridas Nilda, Maria Aparecida e
Christina.
Agradeço aos meus colegas de doutorado, foram muitos neste período, com
todos tive experiências e aprendizados maravilhosos e com alguns uma amizade que
sei, perdurará...
Aos pacientes por sua generosidade em participar desta pesquisa esperando
contribuir para melhorias no diagnóstico e tratamento não de si próprios, mas de
outros pacientes no futuro.
Por fim, agradeço a minha família: meu pai, Antônio de Azevedo Corrêa (in
memoriam), minha mãe, Cleusa Maria Alho de Azevedo Corrêa, meu marido, André
Lasmar e meus dois filhos Bruno e Antônio. Aos meus pais e meu marido pelo amor
e incrível apoio emocional, espiritual e até logístico, e aos meus filhos pela
motivação para ir em frente.
“A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos.”
Hannah Arendt
NORMALIZAÇÃO ADOTADA Esta Tese está de acordo com as seguintes normas, em vigor no momento desta publicação: Referências: adaptado de International Committee of Medical Journals Editors (Vancouver). Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Divisão de Biblioteca e Documentação. Guia de apresentação de dissertações, teses e monografias. Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Julia de A. L. Freddi, Maria F. Crestana, Marinalva de Souza Aragão, Suely Campos Cardoso, Valéria Vilhena. 3a ed. São Paulo: Divisão de Documentação; 2011. Abreviaturas dos títulos dos periódicos de acordo com List of Journals Indexed in Index Medicus.
Sumário
Lista de Abreviaturas e Siglas
Lista de Figuras
Lista de Tabelas
Resumo
Summary
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1
2 OBJETIVOS ............................................................................................................. 9
3 PACIENTES E MÉTODOS ................................................................................... 11
3.1 Considerações éticas .................................................................................... 12
3.2 Casuística ..................................................................................................... 12
3.3 Análise molecular ........................................................................................ 15
3.4 Estudos funcionais do FGFR1 ..................................................................... 19
4 RESULTADOS ...................................................................................................... 21
4.1 Análise do NEUROD4 em pacientes com DIGH ........................................ 22
4.2 Análise do FGFR1 e PROKR2 em pacientes com DHHM ......................... 22
4.3 Descrição fenotípica .................................................................................... 26
4.4 Estudos funcionais das variantes identificadas no FGFR1 .......................... 33
4.5 Estudos funcionais das variantes identificadas no PROKR2 ....................... 36
5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 37
6 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 43
7 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 45
APÊNDICE “FGFR1 and PROKR2 rare variants found in patients with combined pituitary hormone deficiencies”
Listas
Abreviaturas e Siglas
Aminoácidos Ala Alanina Arg Arginina Asn Asparagina Asp Ácido aspártico Cys Cisteína Fen Fenilalanina Glu Ácido glutâmico Gly Glicina His Histidina Ile Isoleucina Leu Leucina Lis Lisina Met Metionina Pro Prolina Ser Serina Tir Tirosina Tre Treonina Trp Triptofano ACTH Hormônio corticotrófico BMP Bone morphogenetic protein BTK Bruton agammaglobulinemia tyrosine kinase Ca Cálcio CAPPesq Comissão de ética para análise de projetos de pesquisa CHUV Centre Hospitalier Universitaire Vaudois DHHM Deficiência hipotálamo-hipofisária múltipla DIGH Deficiência isolada do hormônio de crescimento DNA Ácido desoxirribonucleico DSO Displasia septo óptica ESP6500 Projeto de sequenciamento exômico FGF Fibroblast Growth Factor FGFR1 Receptor do fator de crescimento de fibroblastos tipo 1 FSH Hormônio folículo-estimulante GH Hormônio do crescimento GH1 Gene que codifica o hormônio do crescimento GHRH Hormônio liberador de hormônio do crescimento GHRHR Receptor do hormônio liberador de hormônio do crescimento GHSR Growth hormone secretagogue receptor GLI2 GLI-Kruppel family member 2 GnRH Hormônio liberador de gonadotrofinas HCFMUSP Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP HESX1 HESX homeobox 1 HHI Hipogonadismo hipogonadotrófico isolado
HPE Holoprosencefalia Ig Imunoglobulina IGF-1 Fator de crescimento insulino-símile tipo 1 IGFBP-3 Proteína ligadora de IGFs tipo 3 KDa Kilodaltons LH Hormônio luteinizante LHX3 LIM homeobox 3 LHX4 LIM homeobox 4 MAF Minor Allele frequency MAPK Mitogen-activated protein kinases MATH3 Protein MATH-3 mRNA Ácido ribonucleico mensageiro NEUROD4 Fator de diferenciação neuronal tipo 4 OTX2 Orthodenticle homeobox 2 PCR Reação em cadeia da polimerase Pit1 POU domain, class1, transcription factor POU1F1 POU class 1 homeobox 1 PRL Prolactina PROK2 Procineticina 2 PROKR2 Receptor da procineticina tipo 2 PROP1 Profeta do POU1F1 RM Ressonância magnética RT-PCR Reação da transcriptase reversa, seguida de PCR SEM Standard error of the mean SIHH Síndrome da interrupção da haste hipofisária SK Síndrome de Kallmann SNC Sistema nervoso central SOX2 Sex determining region Y – box 2 SOX3 Sex determining region Y – box 3 TCLE Termo de consentimento livre e esclarecido TRH Hormônio Liberador de tireotrofina TSH Hormônio treotrófico WNT Sítio de integração MMTV do tipo wingless
Figuras
Figura 1 – Organogênese da hipófise de camundongo mostrando a atuação têmporo-espacial de moléculas de sinalização e fatores de transcrição ............................................................................................. 3
Figura 2 – Análise in situ nos 17.5 dias de vida embrionária de hipófises de camundongos Neurod4-/- em comparação ao selvagem .................. 5
Figura 3 – RT-PCR quantitativo do Pit (Pou1f1)1, Prl, TSHß, GHRHR E GH no dia embrionário E17.5 de hipófises de camundongos ............... 6
Figura 4 – Fenótipo e modo de herança de acordo com a etiologia genética do hipopituitarismo congênito ............................................... 8
Figura 5 – Eletroferogramas das variantes encontradas no FGFR1 nas sequencias com primers vistas no foward .......................................... 22
Figura 6 – Eletroferogramas das variantes encontradas na PROKR2 (gráficos superiores) em comparação com eletroferograma de indivíduo controle (gráficos inferiores) .............................................. 23
Figura 7 – RM de hipófise e heredograma da paciente I com a variante p.Ser107Leu do FGFR1 ...................................................................... 26
Figura 8 – RM de hipófise e heredograma da paciente II com a variante p.Arg448Trp do FGFR1 ..................................................................... 27
Figura 9 – RM de hipófise e heredograma do paciente III com a variante p.Pro772Ser do FGFR1 ....................................................................... 28
Figura 10 – RM de hipófise e heredograma do paciente IV com a variante p.Pro772Ser do FGFR1 ....................................................................... 29
Figura 11 – RM de hipófise e heredograma da paciente V com a variante p.Arg85Cys da PROKR2 .................................................................... 30
Figura 12 – RM de hipófise e heredograma da paciente VI com a variante p.Arg248Glu da PROKR2 .................................................................. 31
Figura 13 – Análise funcional das variantes do FGFR1. A-C Atividade de sinalização dos receptores selvagem e alterados do FGFR1 em mioblastos L6 ...................................................................................... 34
Figura 14 – A, Análise por Western blot de células CHO transitoriamente transfectadas com vetor vazio (EV), FGFR1 selvagem (WT) ou construtos p.Arg448Trp ...................................................................... 35
Tabelas
Tabela 1 – Características clínicas e radiológicas dos pacientes com DIGH
(n=51).................................................................................................. 13
Tabela 2 – Características Clínicas e Radiológicas dos pacientes com DHHM (n=156) .................................................................................. 14
Tabela 3 – Oligonucleotídeos utilizados para amplificação do NEUROD4 ......... 16
Tabela 4 – Oligonucleotídeos utilizados para amplificação do FGFR1 ............... 17
Tabela 5 – Oligonucleotídeos utilizados para amplificação da PROKR2 ............ 18
Tabela 6 – Genótipo, frequência e predição funcional in silico das variantes identificadas em 6 pacientes com DHHM ........................... 24
Tabela 7 – Frequência do alelo menor (MAF) das variantes encontradas no FGFR1 e PROKR2 nos bancos de dados populacionais 1000GENOMES e ESP6500 .............................................................. 25
Tabela 8 – Fenótipo dos pacientes com variantes no FGFR1 e PROKR2 ............ 32
Tabela 9 – Características das variantes missense do FGFR1 encontradas em pacientes com DHHM ................................................................... 42
Resumo
Correa, FA. Análise molecular dos genes NEUROD4, FGFR1 e PROKR2 em
pacientes com hipopituitarismo congênito [tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina,
Universidade de São Paulo; 2015.
INTRODUÇÃO: O hipopituitarismo congênito está associado à importante morbi-
mortalidade. Muitos genes tem sido implicados na etiologia da deficiência isolada do
hormônio do crescimento (DIGH) e na deficiência hipotálamo-hipofisária múltipla
(DHHM). No entanto a maioria dos casos permanece sem diagnóstico etiológico,
sugerindo que outros fatores genéticos estejam envolvidos. OBJETIVOS: Pesquisar
a presença de mutações inativadoras nos genes NEUROD4, FGFR1 e PROKR2 em
uma grande coorte de pacientes com hipopituitarismo congênito. MÉTODOS:
Foram selecionados 51 pacientes com DIGH para pesquisa de mutações no
NEUROD4 e 156 pacientes com deficiência hipotálamo-hipofisária múltipla
(DHHM) para pesquisa de mutações no FGFR1 e PROKR2. O estudo molecular foi
realizado pelo método de Sanger e a função das novas variantes identificadas foi
avaliada in vitro. RESULTADOS: Não foram identificadas mutações inativadoras
no NEUROD4 nos 51 pacientes estudados com DIGH. Nos pacientes com DHHM
foram identificadas três variantes no FGFR1 – p.Ser107Leu, p.Arg448Trp e
p.Pro772Ser – em quatro pacientes não relacionados (dois masculinos) e duas
variantes na PROKR2 – p.Arg85Cys e p.Arg248Glu – em duas pacientes femininas
não relacionadas. Na genealogia de 5 dos 6 pacientes com as variantes no FGFR1 e
PROKR2 ao menos um familiar carreador não afetado foi identificado. O estudo
funcional das variantes do FGFR1 evidenciou redução da transcrição em relação ao
receptor selvagem em apenas uma das variantes identificadas: a p.Arg448Trp.
Estudos previamente realizados nas variantes da PROKR2 demonstraram o
comprometimento da mobilização do cálcio intracelular nas duas variantes e redução
da transcrição com a p.Arg85Cys. CONCLUSÕES: As variantes alélicas com efeito
deletério na proteína identificadas no FGFR1 e na PROKR2 em pacientes com
DHHM podem ter um papel adjuvante na determinação do hipopituitarismo
congênito. Outros fatores genéticos e/ou ambientais devem contribuir para a etiologia
deste fenótipo.
Descritores: 1.Hipopituitarismo 2.Hormônio do crescimento/deficiência 3.Hormônio
do crescimento/genética 4.Receptores de Fatores de Crescimento de Fibroblastos
5.PROKR2 6.NEUROD4 7.Estudos de Associação Genética
Abstract
Correa, FA. Molecular analysis of NEUROD4, FGFR1 and PROKR2 genes in
patients with hypopituitarism [thesis]. São Paulo: “Faculdade de Medicina,
Universidade de São Paulo”; 2015.
INTRODUCTION: Congenital hypopituitarism leads to considerable morbidity and
premature mortality. Many genes have been involved in the aetiology of isolated
growth hormone deficiency (IGHD) and combined pituitary hormones deficiencies
(CPHD), but the majority of cases remain idiopathic, suggesting that other, yet
unidentified, genetic factors are involved. AIM: To screen loss-of-function
mutations in NEUROD4, FGFR1 e PROKR2 in a large cohort of patients with
congenital hypopituitarism. METHODS: Loss-of-function mutations in NEUROD4
were screened in 51 patients with IGHD and loss-of-function mutation in FGFR1
and PROKR2 were screened in 156 patients with CPHD. The screening was
performed by Sanger sequencing. The new variants identified were tested with
functional studies. RESULTS: Loss-of-function mutations were not identified in
NEUROD4. We identified three FGFR1 variants – p.Ser107Leu, p.Arg448Trp and p.
Pro772Ser – in four unrelated patients (two males) and two PROKR2 variants –
p.Arg85Cys and p.Arg248Glu in two unrelated female patients from a cohort of 156
Brazilian patients with CPHD. Five out of six patients harbouring these rare variants
had a first degree relative that was an unaffected carrier. FGFR1 functional studies
performed in p.Arg448Trp variant showed decreased transcription relative to the
wild type. Previous functional studies in PROKR2 variants showed that p.Arg85Cys
moderately compromises intracellular Ca2+ increase and transcription and
p.Arg248Glu has normal transcription activity but decreased calcium mobilization.
CONCLUSIONS: It is possible that the loss-of-function variants identified in
FGFR1 and PROKR2 act as adjuvant to the phenotypic features found in these
patients. Other genetic and/or environmental modifiers may also play a role in the
aetiology of congenital hypopituitarism.
Descriptors: 1.Hypopituitarism 2.Growth hormone/deficiency 3.Growth
hormone/genetics 4.Receptors, Fibroblast Growth Factor 5.PROKR2 6.NEUROD4
7.Genetic Association Studies
1 Introdução
Introdução
2
INTRODUÇÃO
A deficiência congênita da secreção dos hormônios hipofisários pode se
apresentar de forma isolada, como por exemplo, na deficiência isolada do hormônio
de crescimento (DIGH) e no hipogonadismo hipogonadotrófico isolado (HHI), ou de
forma combinada, quando há presença de duas ou mais deficiências hormonais
(deficiência hipotálamo-hipofisária múltipla - DHHM) (1). O hipopituitarismo
congênito está associado à elevada morbidade e aumento da mortalidade (2). O
quadro clínico é determinado pelo tipo de deficiência hormonal com destaque para a
baixa estatura observada na deficiência de GH, e pelos sintomas de hipogonadismo,
hipotireoidismo e insuficiência suprarrenal determinados pela falta dos hormônios
LH/FSH, TSH e ACTH respectivamente. Frequentemente este quadro está associado
a alterações estruturais do SNC e da região hipotálamo-hipofisária que ocorrem
durante a embriogênese do sistema nervoso central (3).
A hipófise tem origem ectodérmica e se origina de duas linhagens: uma da
evaginação do teto ectodérmico do estomodeu – o divertículo hipofisário, e a outra
da invaginação do neuroectoderma do diencéfalo – o divertículo neuro-hipofisário (4). Pesquisas em vertebrados revelam que o divertículo hipofisário origina-se de uma
região denominada placa adeno-hipofisária que compartilha com a placa olfatória
uma região precursora chamada preplacodal region (5, 6). Esta região especial do
ectoderma é precursora de todas as placas cranianas e pode ser identificada por um
conjunto único de genes tais como fatores de crescimento de fibroblastos (FGFs),
proteínas morfogenéticas ósseas (BMPs) e wingless-type (Wnts). A formação da
hipófise requer, para o seu correto desenvolvimento, uma atuação têmporo-espacial
coordenada de fatores de transcrição e moléculas de sinalização tanto na bolsa de
Rathke, quanto nos tecidos adjacentes (7) (Figura 1).
Introdução
3
Figura 1 – Organogênese da hipófise de camundongo mostrando a atuação têmporo-espacial de moléculas de sinalização e fatores de transcrição. Modificado de Zhu, Gleiberman e Rosenfeld 2007 (7)
As causas genéticas do hipopituitarismo congênito foram identificadas em
uma pequena parte dos pacientes afetados, em alguns casos envolvendo genes
diretamente relacionados ao eixo GHRH-GH, e em outros, envolvendo genes de
fatores de transcrição e moléculas de sinalização importantes durante o período da
embriogênese hipotálamo-hipofisária. Na abordagem do tipo gene candidato é
importante o conhecimento prévio dessas vias biológicas. Até o momento a maioria
dos pacientes com DIGH ou DHHM não tem o diagnóstico molecular estabelecido (8,
9).
Deficiência Isolada do Hormônio do Crescimento – (DIGH): a deficiência
isolada do hormônio do crescimento é a deficiência hipofisária mais comum, com
uma incidência relatada de 1 a cada 4000-10000 nascidos vivos, e pode ter origem
congênita ou adquirida (10).
Os fatores congênitos implicados na etiologia da DIGH incluem os defeitos
genéticos que afetam os genes codificadores do hormônio do crescimento (GH1) ou
Introdução
4
do receptor do hormônio liberador do hormônio do crescimento (GHRHR). Embora
teoricamente possível, ate o momento não foram relatadas mutações no GHRH (10,
11). Raramente a DIGH pode resultar de mutações nos genes HESX1, GHSR, OTX2,
GLI2, SOX3 e BTK (os dois últimos de herança ligada ao X) alguns dos quais
também implicados nos casos de DHHM (10, 12, 13). Mutações nos genes que
codificam proteínas responsáveis pela diferenciação hipofisária foram avaliadas em
várias coortes e identificadas em aproximadamente 11% dos pacientes (9, 10). A baixa
frequência de defeitos genéticos identificados nos pacientes com hipopituitarismo
congênito pode ser justificada por fenômenos epigenéticos ou por mutações ainda
não identificados em outros genes.
Estudos em animais têm identificado novos fatores de transcrição envolvidos
no desenvolvimento hipofisário que poderiam estar envolvidos na etiologia tanto da
DIGH quanto na DHHM. O gene Neuronal differentiation 4 (NEUROD4),
anteriormente denominado MATH3, apresenta algumas características abaixo
apresentadas que o indicam como possível candidato a causar deficiência isolada de
GH.
A análise de hibridização in situ realizada em camundongos nocaute para o
gene Neurod4 (Neurod4 -/-) revelou que sua expressão na hipófise anterior começa
no dia embrionário 13.5 e persiste até a idade adulta com um padrão de expressão
têmporo-espacial que é reminiscente ao do Pou1f1. Além disso, a comparação in
silico das regiões promotoras do Neurod4 de camundongos e humanos pelo
programa VISTA identificou um sítio de ligação para o Pou1f1 dentro de uma região
altamente conservada do Neurod4. Estes achados sugerem que o Neurod4 é um alvo
direto do Pou1f1. Camundongos transgênicos Neurod4 -/- apresentam nanismo pós-
natal, hipoplasia da hipófise anterior e no dia embrionário 17.5 diminuição acentuada
da expressão de GH e GHRHR (14) (Figura 2).
Introdução
5
Figura 2 - Análise in situ nos 17.5 dias de vida embrionária de hipófises de camundongos Neurod4-/- em comparação ao selvagem revela que os marcadores de somatotrofos: GH e GHRHR estão diminuídos no mutante. A expressão do GHRHR permanece indetectável no período pós-natal (P8) nos mutantes. Adaptado de Zhu X, 2006 (14)
Em contraste, os animais mutantes não apresentam comprometimento das
outras linhagem de células da hipófise em análises por RT-PCR quantitativo,
mantendo quantidades adequadas de mRNA do Pou1f1, prolactina (Prl) e hormônio
estimulador da tireoide subunidade beta (TSH-ß) (Figura 3). Deste modo, o Neurod4
parece apresentar papel fundamental e específico na maturação e função dos
somatotrofos (14).
Introdução
6
Figura 3 – RT-PCR quantitativo do Pit (Pou1f1)1, Prl, TSHß, GHRHR E GH no dia embrionário E17.5 de hipófises de camundongos mostra significativa e específica redução do mRNA do GH e GHRHR
Deficiência hipotálamo-hipofisária múltipla (DHHM): em pacientes com
DHHM de origem congênita foram descritas mutações inativadoras em genes
codificadores de vários fatores de transcrição tais como PROP1, POU1F1, GLI2,
HESX1, LHX3, LHX4, SOX2, SOX3 e OTX2 (Figura 4). No entanto, mesmo com
vários genes afetados descritos, a maioria dos pacientes permanece sem diagnóstico
genético determinado (15, 16). A presença de uma origem embriológica comum e de
fenótipos semelhantes em pacientes com hipogonadismo hipogonadotrófico isolado
(HHI) e DHHM, tais como a presença de fenda palatina, palato ogival e agenesia
dentária, levantou a suspeita do envolvimento de genes classicamente implicados no
hipogonadismo na etiologia genética da DHHM (5, 17).
Os genes Fibroblast growth factor receptor 1 (FGFR1) e Prokineticin
receptor 2 (PROKR2) estão sabidamente envolvidos na morfogênese dos bulbos
olfatórios e na migração dos neurônios de GnRH. Mutações inativadoras nestes
genes são causa de hipogonadismo hipogonadotrófico isolado com e sem alteração
olfatória (18-22).
Introdução
7
Gene FGFR1: em camundongos, membros da família de fatores de
crescimento de fibroblastos (FGFs) atuam em múltiplas etapas da embriogênese
através de seus receptores do tipo tirosina-quinase. O uso de técnicas de imuno-
histoquímica e hibridização in situ identificou o padrão de expressão temporal dos
membros desta família na região hipofisária e tecidos adjacentes. Verificou-se o seu
surgimento na preplacodal region e posteriormente sua localização no diencéfalo
ventral de onde estimulam a proliferação celular na bolsa de Rathke (23). Parte de sua
ação se dá pela indução da expressão dos genes Lhx3 e Lhx4 na bolsa de Rathke (15).
O FGFR1 está localizado no cromossomo 8p12, possui 18 exons, e codifica
uma glicoproteína de aproximadamente 130 kDa denominada FGFR1 que constitui
um dos 4 receptores para os vários FGFs. O receptor, do tipo tirosina-quinase,
consiste de 3 alças extracelulares Ig-like, um domínio transmembrana, um domínio
acidic box e 2 domínios intracelulares tirosina-quinase (24-26).
Gene PROKR2: este gene, localizado no cromossomo 20p13, contem 2 exons
e codifica um dos receptores acoplados a proteína G das procineticinas, a PROKR2
de 384 aminoácidos (27). As procineticinas são proteínas bioativas envolvidas em
diversos processos biológicos tais como a morfogênese dos bulbos olfatórios e do
sistema reprodutivo, bem como angiogênese e migração neuronal (28, 29). Este
receptor está presente preferencialmente no sistema nervoso central. Camundongos
transgênicos nocaute (Prokr2 -/-) apresentam fenótipo semelhante ao de pacientes
com HHI com hipoplasia dos bulbos olfatórios e atrofia do sistema reprodutivo (28).
Considerando o grande número de pacientes com hipopituitarismo sem
diagnóstico genético definido e com base no conhecimento da embriologia
hipofisária e dos modelos animais transgênicos, escolhermos o NEUROD4 como
gene candidato para o estudo dos pacientes com DIGH e os genes FGFR1 e
PROKR2 como genes candidatos para o estudo dos pacientes com DHHM.
Introdução
8
Figura 4 – Fenótipo e modo de herança de acordo com a etiologia genética do hipopituitarismo congênito
NH-neuro-hipófise, AH-adeno-hipófise, DH-deficiências hormonais, MH-modo de herança, MF-malformações, NL-normal, DIGH-deficiência isolada de GH, DHHM-deficiência hipotálamo-hipofisária múltipla, AD-autossômico dominante, AR-autossômico recessivo, HPE-holoprosencefalia, DLM-defeito de linha média, DSO-displasia septo-óptica.
NH
AH
Gene
DH
MH
MF
2 Objetivos
Objetivos
10
OBJETIVOS
Pesquisar a presença de mutações inativadoras no NEUROD4 em pacientes
com deficiência isolada do hormônio de crescimento de origem congênita.
Pesquisar a presença de mutações inativadoras nos genes FGFR1 e PROK2R
em pacientes com deficiência hipotálamo-hipofisária múltipla de origem congênita.
3 Pacientes e Métodos
Pacientes e Métodos
12
PACIENTES e MÉTODOS
3.1 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
Este estudo foi conduzido de acordo com a Resolução do Conselho Nacional
de Saúde 466/2012 (30). O protocolo de estudo (0082/11) foi aprovado junto a
Comissão de Ética para Análise de Projetos de Pesquisa (CAPPesq) do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). O
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi obtido de todos os
participantes da pesquisa.
3.2 CASUÍSTICA
Foram selecionados pacientes com hipopituitarismo de origem congênita,
sem diagnóstico molecular definido, matriculados no serviço de Endocrinologia e
Metabologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (HCFMUSP). O diagnóstico das deficiências hormonais foi baseado na
falência em apresentar resposta normal aos testes provocativos: Teste da Clonidina
(clonidina 0,1 mg/m2 de superfície corporal VO), Teste de Tolerância à Insulina
(insulina 0,05-0,1 U/Kg EV) e Teste Combinado (insulina 0,05-0,1 U/kg, TRH 200
μg e GnRH 100 μg, EV) e/ou valores basais baixos de IGF-1, IGFBP3, T4 livre, e
cortisol. A altura dos pacientes foi medida com um estadiômetro, e o desvio padrão
de altura foi calculado usando referências britânicas (31). Os exames de ressonância
magnética (RM) foram realizados no aparelho Sigma; GE, Milwaukee, WI, 1,5
Tesla, utilizando varreduras ponderadas em T1 e T2, em cortes sagitais e coronais. O
grupo controle para análise das variantes alélicas identificadas nos pacientes foi
constituído de 400 brasileiros saudáveis.
Os pacientes estudados foram divididos em dois grupos:
DIGH – constituído por 51 pacientes portadores de deficiência isolada do
hormônio do crescimento nos quais foi realizada a pesquisa de mutações no
NEUROD4 (Tabela 1).
Pacientes e Métodos
13
DHHM – constituído por 156 pacientes portadores de deficiência hipotálamo-
hipofisária múltipla nos quais foi realizada a pesquisa de mutações no FGFR1 e
PROKR2 (Tabela 2).
Nestes pacientes foram descartadas mutações nos genes sabidamente
implicados na etiologia genética do hipopituitarismo congênito (GH1, GHRHR,
GLI2, LHX4, HESX1, OTX2 e SOX3).
Tabela 1 – Características clínicas e radiológicas dos pacientes com DIGH (n=51)
Características fenotípicas n %
Sexo
Masculino 32 63
Feminino 19 37
Consanguinidade 7 14
Casos familiares 12 24
Alterações hipofisárias na RM
Hipoplasia da adeno-hipófise 34 67
Haste ausente ou afilada 24 47
Neuro-hipófise ectópica 33 65
Neuro-hipófise não visualizada 2 4
Outras alterações cerebrais na RM
Displasia Septo-óptica 2 4
Hemiatrofia cerebelar D e agenesia do vermis 1 2
Alterações extra hipofisárias
Hipospádia 1 2
Hiperplasia Suprarrenal Congênita 1 2
Retinite Pigmentosa 1 2
Retardo Mental 2 4
Micropênis 1 2
Ceratocone 1 2
Pacientes e Métodos
14
Tabela 2 – Características Clínicas e Radiológicas dos pacientes com DHHM (n=156)
Características fenotípicas n %
Sexo
Masculino 98 63
Feminino 58 37
Consanguinidade 11 7
Casos familiares 37 24
Alterações hipofisárias na RNM
Hipoplasia da adeno-hipófise 130 83
Haste ausente ou afilada 112 72
Neuro-hipófise ectópica 111 71
Neuro-hipófise ausente 19 12
Outras alterações cerebrais na RNM
Displasia septo-óptica 8 5
Sela vazia 8 5
Malformação de Chiari 2 1
Hemiatrofia cerebral 1 0,6
Hemiatrofia cerebelar 1 0,6
Cisto arachnoide 1 0,6
Assimetria dos corpos mamilares 1 0,6
Alterações extra hipofisárias
Epilepsia 10 6
Defeitos crânio-faciais de linha média 7 4
Criptorquidismo 5 3
Retardo Mental 3 2
Micropênis 3 2
Clinodactilia 3 2
Limitação da rotação do pescoço 2 1
Estrabismo 2 1
Pacientes e Métodos
15
3.3 ANÁLISE MOLECULAR
Extração de DNA genômico humano: as amostras de DNA foram extraídas
de leucócitos periféricos pela técnica de proteinase-K-extração com sal (salting out).
Quinze mililitros de sangue venoso foram colhidos em tubos com 25 mM de ácido
etileno diaminotetracético (EDTA). O botão leucocitário foi obtido a partir da lise
dos glóbulos vermelhos utilizando-se para isso 2 volumes de solução de lise (NH4Cl2
114 mM, NH4HCO3 1 mM) e incubando-se a 4 C por 30 minutos. Centrifugou-se o
material a 4 C por 15 minutos a 3000 rpm (Sorvall RT7, GMI, Inc., Minnesota,
EUA), desprezando-se o sobrenadante. O procedimento da lise de glóbulos
vermelhos foi repetido por mais uma vez. O botão leucocitário foi suspenso em 9 ml
de solução de lise de glóbulos brancos (NaCl 150 mM; Tris-HCl pH 8,0 10 mM;
EDTA pH 8,0 10 mM) com 180 l de dodecilsulfato de sódio a 10% (SDS) (Sigma,
Saint Louis, MO, EUA) e 150 l de proteinase K (10 ng/ml) (Invitrogen Life
Technology, Gaithersburg, MD, Estados Unidos), sendo o material incubado a 37 C
por 18 horas. Após esse período, 3,6 ml de solução saturada de cloreto de sódio (6M)
foram adicionadas agitando-se o conjunto vigorosamente durante 15 segundos. O
material foi centrifugado por 15 minutos a 3000 rpm. O sobrenadante foi transferido
para um tubo limpo e o DNA foi precipitado acrescentando-se 2 volumes de etanol
absoluto gelado, homogeneizando-se com cuidado por inversão. O DNA precipitado
foi retirado do tubo, em seguida lavado em etanol 70%, repetindo-se a operação por
mais três vezes. Por último, o DNA foi lavado em etanol absoluto, sendo secado em
centrífuga a vácuo (Eppendorf, Concentrador 5301, Westbury, NY, EUA). Após tal
procedimento, o DNA foi ressuspendido em tampão TE (10: 0,1) (Tris-HCl 10 mM,
pH 8,0; EDTA 0,1 mM, pH 8,0). A concentração do DNA foi obtida através de
leitura em espectrofotômetro Bio Photometer (Eppendorf, Hamburg, Alemanha) no
comprimento de onda 260 nm (1,0 unidade DO 260 = 50 g/ml). Foi estabelecida a
relação de 1,8 entre as leituras de 260 e 280 nm como ideais para caracterização da
pureza do DNA. As amostras de DNA foram submetidas à eletroforese em gel de
agarose 1% em TAE (Tris 0,004 M; ácido acético glacial; EDTA 0,001 M, pH 8,0)
para verificar sua integridade.
Pacientes e Métodos
16
Amplificação de DNA genômico por PCR – Reação de polimerização em
cadeia: os protocolos utilizados na reação de polimerização em cadeia dos genes
NEUROD4, FGFR1 e PROK2R foram padronizados no Laboratório de Hormônios e
Genética Molecular/ LIM 42.
Análise do NEUROD4: os oligonucleotídeos para a amplificação do gene
foram criados com o auxílio do programa PRIMER3 (http://www-
genome.wi.mit.edu/cgi-bin/primer3www.cgi/) de acordo com a sequência
ENSG00000123307. Uma vez que o exon 2 possui 996 pares de bases este foi
dividido em 2 fragmentos (exons 2A e 2B) para amplificação e sequenciamento.
Tabela 3 – Oligonucleotídeos utilizados para amplificação do NEUROD4
Região Oligonucleotídeos específicos 5’ – 3’
Exon 2A F TCTTTCAGTTTTGGACTGGTCA
R TCCAGGAGGACAGACTGAGG
Exon 2B F CTGGCCAGGAACTATATTTGG
R GCTCAACCACTTGAATTATGGA
F-foward, R-reverse
Para cada reação de PCR em um volume final de 25 uL, foram usados 100 ng
de DNA genômico, 15 pmol de cada oligonucleotídeos foward e reverse, 200 uM de
cada desoxinucleotídeo (dNTP), 2,5 U de enzima Taq polimerase (Promega), 1X de
tampão 5X (Promega). A reação de amplificação foi realizada em um termociclador
GeneAmp PCR System 2400 (Perkin-Elmer, Foster City, CA, EUA) e consistiu das
seguintes etapas: desnaturação inicial a 95 C por 5 minutos; 35 ciclos de
desnaturação a 95 C por 45 segundos, hibridação em temperaturas variando de 52 a
54 C por 45 segundos e extensão a 72 C por 1 minuto e extensão final a 72 C por
10 minutos.
Análise do FGFR1: a PCR foi realizada em um volume final de 20 a 25uL
utilizando-se 50 a 200 ng de DNA genômico, 0,6 pmol de cada oligonucleotídeo
foward e reverse, 0,2 mM de cada dNTP, 1 U de enzima Taq polimerase, tampão de
Pacientes e Métodos
17
PCR 1X e 1,5 mM de MgCl2. A reação de amplificação foi realizada em um
termociclador GeneAmp PCR System 2400 (Perkin-Elmer, Foster City, CA, EUA) e
consistiu das seguintes etapas seguindo 30 ciclos: desnaturação a 94 C por 1
minuto; hibridação em temperaturas variando de 55 a 65 C por 1 minuto e extensão
a 72 C por 1 minuto. Os oligonucleotídeos utilizados na amplificação do gene estão
publicados em TRARBACH et al. (2006) (19), e as condições das reações foram
similares às descritas nesse trabalho.
Tabela 4 – Oligonucleotídeos utilizados para amplificação do FGFR1
Região Oligonucleotídeos específicos 5’ – 3’
Exon 2 F CTT TAA GCA GCC ACC ACA TGG
R GCT CCA CTT GGG AAG GAG CC
Exon 3 F GCT CAG TAG CCT CCA GTA AGT G
R GGT TCA CCT TCC TCT GAA ACT G
Exon 4-5 F CGT GTT CAT CTG GAA CTG CAC
R GCA TGT AAT CAG GAC TTC C
Exon 6 F CCA CCA GGC TCT GAT ATG GAG
R GAA GTG CCA ATC GCT ATC CTG
Exon 7 F CAT GAG CGA CTT ACT GTG ACT G
R CGT GAG GAA TGA TCC CAT TCG
Exon 8 F CAG CAT TTC TTC CTC TAG TC
R AGC CTG GAA ATG CAT GCT CC
Exon 9 F AGT CCT AGC TAG AAC TTG CC
R AGA CTC TAG AGC ACT TAG TTC
Exon 10-11 F TAC ACA GAC ATG TGC CTC TG
R CAG AGA AGC TGT TCT GCT GG
Exon 12 F TAT TGC AAC GGC TCC C
R TTG GGA CTG ATA CCC CAG C
Exon 13 F GGG TTT CTT TGA GGT GAA GCC
R GTG CTC AGT GCA TCC ACA ACG
Exon 14-15 F AAG TCG GCT AGT TGC ATG GG
R CTA CAG TGC TAG AAG CTC TC
Exon 16-17-18 F AGA TGT TGA AAG GCT GAT CT
R GGT GAA GGC AGG CCA CAC A
Pacientes e Métodos
18
Análise da PROKR2: as reações foram realizadas em um volume final de 25
μL. Para cada reação foram utilizados 100 a 200 ng de DNA genômico, 10 pmol de
cada oligonucleotídeo foward e reverse, 200 μM de cada dNTP, 1,25 U de enzima
Taq polimerase (Promega, Madison, WI ,EUA) e tampão da reação fornecido pelo
fabricante contendo 1,5 mM de MgCl2. A reação de amplificação foi realizada em
um termociclador GeneAmp PCR System 2400 (Perkin-Elmer, Foster City, CA,
EUA) e consistiu das seguintes etapas: desnaturação inicial a 95 C por 5 minutos,
seguida por 35 ciclos de desnaturação a 95 C por 45 segundos, hibridação em
temperaturas variando de 52 a 54 C por 45 segundos, extensão a 72 C por 1 minuto
e extensão final a 72 C por 10 minutos (22).Os dois exons da PROKR2 foram
amplificados utilizando-se os seguintes pares de oligonucleotídeos:
Tabela 5 – Oligonucleotídeos utilizados para amplificação da PROKR2
Região Oligonucleotídeos específicos 5’ – 3’
Exon 1 F TGAAAGAGCAGAAGGTCTGGA
R TCCTCATTTAGGCTCTGACAGG
Exon 2 F GATTCACTGTGCCACTGCTT
R CCAGTACTCAGAGCATCACCC
Os produtos de PCR dos três genes em estudo foram submetidos à
eletroforese em gel de agarose a 1%, corados com brometo de etídio (0,5 μg/mL) e
visualizados por transiluminação em luz ultravioleta para assegurar visualização da
banda específica e/ou a existência de produtos inespecíficos.
Purificação do produto de PCR e sequenciamento automático: os
fragmentos amplificados foram submetidos ao sequenciamento direto automático
pelo método de terminação de cadeia com dNTP modificado com dideoxi utilizando
o kit ABI Fsm BigDye Terminator Cycle Sequencing Ready Reaction (Applied
Biosystems, Perkin-Elmer Corporation, Inc., Foster City, EUA), com os primers
pertinentes . Os produtos de PCR foram analisados no sequenciador automático de
DNA - ABI PRISM 3100 Genetic Analyzer (PE Applied Biosystems the Perkin
Elmer Corporation CN, Foster City, EUA).
Pacientes e Métodos
19
Análise das variantes alélicas: os esferogramas foram analisados pelo
software Sequencher 4.8 (Ann Arbor, MI, USA). A análise da região codificadora e
das regiões de transição entre o exon e o intron foi feita em comparação com a
sequência referência do genebank.
Todas as variantes encontradas foram confirmadas em duas reações de PCR
distintas e nomeadas de acordo com as recomendações da Human Genome Variation
society (www.hgvs.org).
Foi realizada análise in silico para predição da natureza patológica ou não da
substituição na sequência da proteína. As ferramentas de bioinformática utilizadas
foram: Mutation Taster (http://www.mutationtaster.org/), SIFT (http://sift.jcvi.org/) e
Polyphen-2 (http://genetics.bwh.harvard.edu/pph2/).
3.4 ESTUDOS FUNCIONAIS DO FGFR1
Os estudos funcionais das variantes do FGFR1 foram realizados no
laboratório da Profa. Dra. Nelly Pitteloud no Centre Hospitalier Universitaire
Vaudois (CHUV), Faculté de Biologie et Médecine de l´Univesité de Lausanne,
Suisse.
Ensaio utilizando a luciferase como gene reporter: a atividade de
sinalização das variantes do FGFR1 foi avaliada em células de mioblastos L6
conforme descrição prévia (32). As células foram transitoriamente transfectadas com o
vetor de expressão FGFR1c selvagem ou alterado em combinação com o
osteocalcin-FGF-response-element luciferase reporter. As células foram então
tratadas com doses crescentes do ligante FGF2 e analisadas quanto à atividade da
luciferase. Os dados foram plotados em curvas sigmoides de dose-resposta utilizando
o Prism software (version 5; GraphPad). Os experimento de transfecção foram
realizados em triplicata e repetidos 3 vezes. Individualmente os experimentos foram
expressos como uma porcentagem do resultado da atividade da luciferase da proteína
selvagem. A atividade máxima média (topo da curva sigmoide) calculada oriunda de
3 experimentos independentes foi comparada utilizando o Prisms’F-test function.
Estudos de expressão e maturação do receptor: análises de western e
endoglicosidase foram realizados conforme previamente publicado (32). Células COS-
Pacientes e Métodos
20
7 foram transfectadas transitoriamente com Myc-tagged cDNA do FGFR1 selvagem
ou mutante. Quatro μL de lisado celular purificado (~ 5 μg de proteína total) foram
submetidos a digestão com PNGase e EndoH (New England Biolab), resolvido em
géis NuPAGE 3–8% Tris–Acetate Gels (Invitrogen) e depois submetidos à análise do
western utilizando um anticorpo primário (anti-Myc, clone 4A6, 1:2000; Upstate
Biotechnology, Inc., Lake Placid, NY) e um anticorpo secundário (goat anti-mouse
horseradish peroxidase-conjugated, 1:20,000, Upstate Biotechnology, Inc., Lake
Placid, NY). A immunoreatividade do FGFR1 e da β-actina foi quantificada por
densitometria em imagens adquiridas em filme (BioMAx, Kodak) usando o software
ImagJ. Os valores de expressão total dos receptores selvagens e mutantes foram
determinados a partir das amostras tratadas com PNGase e foram comparados aos
seus respectivos valores de β-actina. Os resultados foram expressos como a razão
entre o mutante e o selvagem. Para os estudos de maturação, as densidades das
bandas superiores (maduras) e inferiores (imaturas) foram determinadas
individualmente nas amostras tratadas com EndoH, e a percentagem da fração
madura foi calculada e expressa como a razão da expressão do mutante versus
selvagem. Os experimento foram repetidos três vezes e os valores de expressão e
maturação das proteínas foram comparados entre mutantes e selvagens usando o teste
t de Student. Os dados são apresentados com média ± SEM.
Expressão do receptor na superfície celular: A expressão do FGFR1
selvagem ou mutante na superfície celular foi quantificada em células COS-7
utilizando um ensaio de ligação de anticorpos (32). Os experimentos foram realizados
em quadruplicata e repetidos quatro vezes. A expressão específica de proteínas
alteradas do FGFR1 na superfície celular foi comparada àquela do selvagem com o
teste t de Student. Os dados foram apresentados em média ± SEM.
4 Resultados
Resultados
22
RESULTADOS
4.1 ANÁLISE DO NEUROD4 EM PACIENTES COM DIGH
Não foram identificadas mutações inativadoras no NEUROD4 nos 51
pacientes estudados com DIGH de origem congênita. Foi identificado o
polimorfismo rs2656804 em 23 pacientes em heterozigose e em 3 pacientes em
homozigose e foi identificado a combinação dos polimorfismos
rs2656804/rs138982886 em 2 pacientes ambos em heterozigose.
4.2 ANÁLISE DO FGFR1 E PROKR2 EM PACIENTES COM DHHM
FGFR1: foram identificadas três variantes do tipo missense em heterozigose,
p.Ser107Leu, p.Arg448Trp e p.Pro772Ser em quatro pacientes não relacionados
(dois masculinos) (Figura 5). A análise in silico da variante p.Arg448Trp foi predita
como deletéria pelas ferramentas Mutation Taster, SIFT e Polyphen-2, enquanto que
as variantes p.Ser107Leu e p.Pro772Ser foram preditas como causadoras de doença
apenas no Mutation Taster (Tabela 6).
Figura 5 – Eletroferogramas das variantes encontradas no FGFR1 nas sequencias com primers vistas no foward
A pesquisa das variantes no grupo controle de 400 brasileiros saudáveis
revelou que a p.Pro772Ser do FGFR1 foi identificada em 5 indivíduos (1,2%). As
variantes p.Ser107Leu, p.Arg448Trp não foram identificados no grupo controle.
Pesquisamos a frequência do alelo menor (minor allele frequency- MAF) nos
bancos de dados populacionais 1000GENOMES e Exome Sequencing Project
Resultados
23
(ESP6500). O 1000GENOMES é composto de várias subpopulações enquanto que o
ESP6500 apresenta apenas 2 subpopulações: afro-americanos e euro-americanos. A
variante p.Ser107Leu apresentou uma frequência do alelo menor (MAF) de 0,6% no
1000GENOMES. A variante não foi encontrada no banco de dados ESP6500. Uma
vez que esta paciente é filha de pais japoneses pesquisamos a frequência do MAF na
subpopulação japonesa do 1000GENOMES, na qual foi encontrado numa frequência
de 2,8% (Tabela 7). A variante p.Pro772Ser do FGFR1 tem uma MAF=0,5% na
população global do 1000GENOMES e uma MAF=4,2% na população afro-
americana do ESP6500 (Tabela 7). Até o momento a variante p.Arg448Trp do
FGFR1 não foi descrita nos bancos de dados populacionais consultados (Tabela 7).
PROKR2: Foram identificadas duas variantes missense, p.Arg85Cys e
p.Arg248Glu em duas pacientes não relacionadas do sexo feminino (Figura 6). Na
análise in silico a variante p.Arg85Cys foi predita como deletéria pelas ferramentas
Mutation Taster, SIFT e Polyphen-2, enquanto que a variante p.Arg85Cys foi predita
como benigna nas três ferramentas de predição (Tabela 6).
Figura 6 – Eletroferogramas das variantes encontradas na PROKR2 (gráficos superiores) em comparação com eletroferograma de indivíduo controle (gráficos inferiores)
A pesquisa das variantes no grupo controle de 400 brasileiros saudáveis
revelou que a variante p.Arg85Cys da PROKR2 foi encontrada em 1 indivíduo
(0,25%) e a variante p.Arg248Glu não foi encontradas no grupo controle.
A variante p.Arg85Cys apresenta uma MAF=0,2% na população global do
1000GENOMES e MAF=0,6% na população afro-americana do ESP6500. A
variante p.Arg248Glu não apresenta descrição da MAF nos bancos de dados
pesquisados (Tabela 7).
Resultados
24
Tabela 6 – Genótipo, frequência e predição funcional in silico das variantes identificadas em 6 pacientes com DHHM
Paciente Gene Troca no
nucleotídeo
Troca na
proteína Domínio funcional
Ferramentas de predição in silico
Mutation
Taster SIFT Polyphen-2
I FGFR1 c.320C>T p.Ser107Leu Ig-like C2-Type 1 domain Causadora de doença
Tolerada Benigna
II FGFR1 c.1342C>T p.Arg448Trp Juxta membrane domain Causadora de doença
Afeta a função da proteína
Provavelmente Deletéria
III FGFR1 c.2314C>T p.Pro772Ser C-terminal tail Causadora de doença
Tolerada Benigna
IV FGFR1 c.2314C>T p.Pro772Ser C-terminal tail Causadora de doença
Tolerada Benigna
V PROKR2 c.253C>T p.Arg85Cys 1st intracellular loop Causadora de doença
Afeta a função da proteína
Provavelmente Deletéria
VI PROKR2 c.743G>A p.Arg248Glu 3rd intracellular loop Polimorfismo Tolerada Benigna
Resultados
25
Tabela 7 – Frequência do alelo menor (MAF) das variantes encontradas no FGFR1 e PROKR2 nos bancos de dados populacionais 1000GENOMES e ESP6500
Variante Registro no dbSNP MAF 1000GENOMES MAF ESP6500
Todas as populações % Sub-populações ( %) Afro americanos % Euro americanos
p.Ser107Leu rs140382957 0,6 Japonesa (2,8) 0 0
p.Arg448Trp ND ND ND ND ND
p.Pro772Ser rs56234888 0,5 1,8 africana 4,2 0
p.Arg85Cys rs141090506 0,2 0,8 africana 0,6 0
p.Arg248Glu rs376142095 ND ND ND ND
dbSNP – banco de dados de polimorfismos de um único nucleotídeo (The Single Nucleotide Polymorphism Database) MAF – frequência do alelo menor (minor allele frequency) 1000GENOMES Project – banco de dados público da variação genética humana ESP6500 Project – Projeto de sequenciamento exônico (Exome Sequencing Project ) – banco de dados público de exomas completos da população norte americana
Resultados
26
4.3 DESCRIÇÃO FENOTÍPICA
Pacientes com as variantes alélicas no FGFR1
Paciente I: a variante p.Ser107Leu do FGFR1 foi identificada em
heterozigose em uma paciente feminina nascida de pais japoneses não
consanguíneos. Na primeira avaliação a paciente encontrava-se com 15,5 anos de
idade e apresentava baixa estatura grave (-7,6 DP), amenorreia primária e idade
óssea atrasada (10 anos). A avaliação laboratorial mostrou deficiências de GH e
LH/FSH. Foi iniciado o tratamento para ambas as deficiências, a paciente cresceu
15,7 cm atingindo uma altura final de 131,7 cm. A RM de hipófise mostrou adeno-
hipófise hipoplásica, haste normal e neuro-hipófise ectópica. No estudo de
segregação familiar constatou-se que uma irmã não afetada é carreadora da mesma
variante, a mãe não é carreadora e o pai era falecido à época do exame (Figura 7).
Figura 7 – RM de hipófise e heredograma da paciente I com a variante
p.Ser107Leu do FGFR1. A RM mostra adeno-hipófise reduzida de volume, haste normal e neuro-hipófise ectópica.
S107L/WT50a
S107L/WT
WT/WT
WT/WT WT/WT WT/WT
Resultados
27
Paciente II: a variante p.Arg448Trp do FGFR1 foi identificada em
heterozigose em uma paciente do sexo feminino que procurou atendimento médico
inicial aos 4 anos de idade. Ela nasceu de casamento não consanguíneo e não havia
história de baixa estatura na família. A queixa inicial era de baixa estatura (-3,0 DP).
A avaliação laboratorial endócrina inicial revelou a presença de deficiência de GH e
TSH. A paciente iniciou o tratamento com boa resposta apresentando recuperação da
altura e velocidade de crescimento atingindo o percentil de altura da família.
Durante o acompanhamento a paciente não apresentou sinais de puberdade até os 13
anos de idade, de modo que iniciou-se a indução puberal com estrogênios
conjugados. A RM de hipófise mostrou adeno-hipófise hipoplásica, haste afilada e
neuro-hipófise ectópica. No estudo da família demonstrou-se que o pai e a irmã não
afetados são carreadores da variante (figura 8).
Figura 8 – RM de hipófise e heredograma da paciente II com a variante
p.Arg448Trp do FGFR1. A RM evidencia adeno-hipófise hipoplásica, haste afilada e neuro-hipófise ectópica
R448L/WT 16a
156,3 cm
R448L/WT
R448L/WT WT/WT
Resultados
28
Pacientes III e IV: a variante p.Pro772Ser foi identificada em heterozigose
em 2 pacientes do sexo masculino não relacionados. O paciente III tinha uma história
de apresentação pélvica com o uso de fórceps no parto. Ele tinha 16,7 anos de idade
na apresentação inicial e suas queixas eram baixa estatura (-6,7 DP) e ausência de
desenvolvimento puberal. No exame físico inicial o paciente apresentava tamanho
peniano de 4,5 x 1,9 cm (< -2,5 DP), testículo direito 1,8 x 1,0 cm e testículo
esquerdo 1,4 x 0,9 cm. Na avaliação laboratorial inicial foram constatadas
deficiências de GH, TSH, ACTH e LH/FSH. O pacientes iniciou tratamento para
todas as deficiências e, após 6 anos de uso de GH, atingiu uma altura final de 172,5
cm. A RM mostrou adeno-hipófise hipoplásica, haste ausente e neuro-hipófise
ectópica. A mãe não afetada era carreadora da mesma variante (figura 9).
Figura 9 – RM de hipófise e heredograma do paciente III com a variante p.Pro772Ser do FGFR1. A RM evidenciou adeno-hipófise hipoplásica, ausência de haste e neuro-hipófise ectópica
P772S/WT
P772S/WT 29a
ND
Resultados
29
O segundo paciente portador da variante p.Pro772Ser nasceu em parto
domiciliar sem assistência médica, filho de casamento não consanguíneo. Aos 15
anos de vida procurou atendimento médico por baixa estatura (-3,5 DP) e ausência de
desenvolvimento puberal. Ao exame físico o pênis media 4,5x1,5 cm (<-2,5 DP), o
testículo esquerdo era retrátil e o direito media 2,8x1,5 cm. Os testes endócrinos
confirmaram as deficiências de GH, TSH e LH/FSH. Ele foi tratado para todas as
deficiências e o tratamento com GH teve a duração de 3,5 anos com uma altura final
atingida de 172 cm. O paciente evoluiu na fase adulta com obesidade grau III e DM2.
Na RM foi evidenciada adeno-hipófise acentuadamente hipoplásica, haste ausente e
neuro-hipófise ectópica. O paciente é filho único, sua mãe não é carreadora da
variante e o pai havia falecido á época do estudo (figura 10).
Figura 10 – RM de hipófise e heredograma do paciente IV com a variante p.Pro772Ser do FGFR1. A RM evidenciou hipoplasia acentuada da adeno-hipófise, ausência de haste e neuro-hipófise ectópica
P772S/WT 37a
WT/WT
Resultados
30
Pacientes com variantes na PROKR2
Paciente V: A pacientes com a variante p.Arg85Cys procurou atendimento
médico aos 19 anos de idade com queixa de amenorreia e ausência de caracteres
sexuais secundários. Ela era nascida de casamento não consanguíneo e desconhecia
casos semelhantes na família. Na avaliação laboratorial inicial foram constatadas
deficiências de GH, ACTH, LH and FSH. A paciente iniciou o tratamento para todas
as deficiências com exceção do GH e intrigantemente atingiu uma altura final de
168,3 cm. Evoluiu com diabetes insipidus (DI) 8 anos após a avaliação inicial. A
RM mostrava adeno-hipófise normal, ausência de haste e neuro-hipófise não
visualizada. O pai não afetado é carreador da mesma variante (figura 11).
Figura 11 – RM de hipófise e heredograma da paciente V com a variante p.Arg85Cys da PROKR2. A RM evidencia adeno-hipófise de volume normal, ausência de haste e neuro-hipófise não visualizada
P
WT/WT
R85C/WT
ND R85C/WT52a
WT/WT WT/WT
Resultados
31
Paciente VI: A variante p.Arg248Glu foi identificada em uma paciente
feminina, nascida de parto cesáreo, com 32 semanas de idade gestacional em virtude
de rotura prematura de membranas. Não existem outros casos semelhantes na família
e os pais não eram aparentados. Na primeira avaliação, aos 10 anos de idade, a
queixa principal era baixa estatura grave (-5,0 DP) e a avaliação inicial revelou
deficiências de GH, TSH, LH/FSH e parcial de ACTH. No exame físico a paciente
apresentava assimetria facial e clinodactilia. A paciente foi tratada por 8 com GH,
além da reposição das demais deficiências e atingiu uma altura final de 166,5 cm.
Aos 24 anos apresentou diabetes mellitus (DM) com testes negativos para diabetes
autoimune e elevação discreta das enzimas hepáticas com testes negativos para
hepatite viral. Na história familiar o pai faleceu por cirrose caracterizada como
alcoólica e era portador de DM e a paciente relata ter um irmão e vários tios
diabéticos. A RNM revelou adeno-hipófise hipoplásica, ausência de haste e neuro-
hipófise ectópica. A mãe não afetada é carreadora da variante.
Figura 12 – RM de hipófise e heredograma da paciente VI com a variante p.Arg248Glu da PROKR2. A RM mostrou adeno-hipófise hipoplásica, ausência de haste e neuro-hipófise ectópica
Todos os 6 pacientes tiveram sua função olfatória testada com o Pocket Smell
Test® ou o Brief Smell IdentificationTest®Sensonics, Inc. New Jersey e
apresentaram resultado normal. As características fenotípicas dos 6 pacientes estão
resumidas na tabela 8.
N
R248Q/WT 30a
R248Q/WT
ND WT/WT
Resultados
32
Tabela 8 – Fenótipo dos pacientes com variantes no FGFR1 e PROKR2
Paciente Gene Sexo
Idade ao
diagnóstico
(anos)
Deficiências
Hormonais RNM
Teste
Olfatório
Outras
Características
I FGFR1 F 15 GH, LH, FSH AHH, NHE,
haste normal NL Pais japoneses
II FGFR1 F 4 GH, TSH, LH, FSH AHH, NHE,
haste ausente NL
III FGFR1 M 16 GH,TSH, ACTH, LH,FSH AHH, NHE,
haste afilada NL Micropênis
IV FGFR1 M 15 GH, TSH, LH, FSH, AHH, NHE,
haste ausente NL Micropênis
V PROKR2 F 19 GH, ACTH, LH, FSH AHN, NHNV
haste ausente NL Diabetes insipidus
VI PROKR2 F 10 GH, TSH, partial ACTH,
LH, FSH
AHH, NHE,
haste ausente NL
Diabetes mellitus, assimetria facial, clinodactilia
Abreviações: F – feminino, M – Masculino, AHH – Adeno-hipófise hipoplásica, NHE – neuro-hipófise ectópica, AHN – adeno-hipófise normal, NHNV – neuro-hipófise não visualizada, ND – não disponível, NL – normal.
Resultados
33
4.4 ESTUDOS FUNCIONAIS DAS VARIANTES
IDENTIFICADAS NO FGFR1
As três variantes do FGFR1 – p.Ser107Leu, p.Arg448Trp e p.Pro772Ser –
foram consideradas deletérias em ao menos 1 das 3 ferramentas de predição in silico
testadas (tabela 6). A atividade de sinalização das variantes foi testada in vitro
usando o bem estabelecido sistema repórter FGF-responsive osteocalcin, que atua
downstream na via MAPK. As células expressando as variantes p.Ser107Leu e
p.Pro772Ser suscitaram uma curva dose-resposta similar ao FGFR1c selvagem
(Figura 13 A e B). Por outro lado a variante p.Arg448Trp demonstrou uma pequena
(~15%) porém significativa redução da atividade de sinalização máxima (p < 0.01;
Figura 13 C).
Complementarmente foram realizados estudos de expressão protéica para
avaliar o potencial mecanismo molecular causador da redução da atividade de
sinalização observada. A expressão protéica total e o nível de maturação da variante
p.Arg448Trp foram similares aos da proteína selvagem, sugerindo normalidade nos
processos de síntese protéica e dobradura (Figura 14 A, B e C). Entretanto os valores
de expressão na superfície celular da variante foram significativamente aumentados
comparados ao selvagem (~ 20%, p < 0.05; Figura 14 D), sugerindo um defeito no
processo de internalização do receptor.
Resultados
34
Figura 13 – Análise funcional das variantes do FGFR1. A-C Atividade de sinalização dos receptores selvagem e alterados do FGFR1 em
mioblastos L6. Estão plotadas as médias +/- SE (standard error) de 3 experimentos independentes. As variantes p.Ser107Leu (A) e p.Pro772Ser (B) apresentaram atividade de sinalização normal, enquanto que a variante p.Arg448Trp apresentou atividade de sinalização máxima reduzida (C)
Resultados
35
Figura 14 – A, Análise por Western blot de células CHO transitoriamente transfectadas com vetor vazio (EV), FGFR1 selvagem (WT) ou
construtos p.Arg448Trp. UT= untreated, EH = EndoH treated, PG = PNGase treated. B-D, análise densitométrica dos valores de proteína total e madura dos receptores selvagens e p.Arg448Trp. Plotados em média +/- SE (standard error) de 3 experimentos independentes. D, valores da expressão na superfície celular dos receptores selvagem e p.Arg448Trp avaliados em células COS7 vivas transfectadas transitoriamente. Plotados em média +/- SE de 5 experimentos independentes
Resultados
36
4.5 ESTUDO FUNCIONAL DAS VARIANTES
IDENTIFICADAS NA PROKR2
As variantes p.Arg85Cys e p.Arg248Glu já haviam sido anteriormente
identificadas em pacientes com SK/HHi e submetidas a estudos funcionais por
diferentes grupos (27, 33, 34) de modo que os aspectos funcionais serão apresentados
na discussão.
5 Discussão
Discussão
38
DISCUSSÃO
O hipopituitarismo congênito causa morbidade e leva à mortalidade
prematura (2). Embora a etiologia genética tenha sido esclarecida em alguns casos, a
maioria dos pacientes permanece sem diagnóstico definido (3, 8). Para elucidar o
diagnóstico desses pacientes investigamos a presença de mutações inativadoras em
genes candidatos em 2 populações distintas: 51 pacientes com deficiência isolada de
GH (DIGH) e 156 pacientes com deficiência hipotálamo-hipofisária múltipla
(DHHM). Nos pacientes com DIGH investigamos a presença de mutações
inativadoras no NEUROD4, um gene envolvido na diferenciação e maturação dos
somatotrofos. Em contrapartida, na casuística de pacientes com DHHM, em virtude
da sobreposição clínica e genética entre o hipopituitarismo e o hipogonadismo
hipogonadotrófico isolado/síndrome de Kallmann (HHI/SK) (17), investigamos a
presença de mutações inativadoras em genes classicamente envolvidos no HHI/SK:
FGFR1 e PROKR2.
O NEUROD4 é um fator de transcrição importante na fase final da
embriogênese hipofisária para maturação dos somatotrofos, e foi por isto considerado
um bom gene candidato a apresentar mutações inativadoras causadoras de DIGH (14).
Não há relatos anteriores do estudo deste gene em pacientes com DIGH. Apesar da
plausibilidade como candidato não identificamos mutações inativadoras neste gene
nos pacientes com DIGH, foram identificados apenas 2 polimorfismos, o rs2656804
e o rs138982886 em uma frequência alélica de 51 e 4% respectivamente nos
pacientes afetados.
Os genes FGFR1 e PROKR2 estão classicamente envolvidos na morfogênese
dos bulbos olfatórios e na migração dos neurônios de GnRH e mutações inativadoras
nestes genes são causa de hipogonadismo hipogonadotrófico isolado com e sem
alteração olfatória (18-22).
O FGFR1, é um receptor tirosina-kinase que atua em múltiplas etapas da
embriogênese. A primeira associação de DHHM com alterações no FGFR1 foi
descrita em um paciente masculino com uma deleção submicroscópica que incluía
este gene. O paciente apresentava deficiências de GH e LH/FSH associadas à
Discussão
39
anosmia e esferocitose (35). Outra deleção submicroscópica englobando o FGFR1 foi
descrita em um estudo que analisou 69 pacientes japoneses com DHHM. A paciente
descrita apresentava DHHM associada à epilepsia, dificuldade de aprendizado e
malformação de Chiari to tipo I (36). Neste estudo, além da deleção submicroscópica
foram descritas duas variantes missense (p.Val102Iso e p.Ser107Leu) no FGFR1 em
dois pacientes não relacionados. Essas variantes foram encontradas em baixa
frequência (1%) no grupo controle japonês. O estudo funcional destas variantes
mostrou, em ensaios de luciferase, transativação praticamente normal em relação ao
selvagem (tabela 9).
A variante p.Ser107Leu no FGFR1 também foi identificada em nossa
casuística em uma paciente nascida de pais japoneses (Paciente I). Como esperado,
não encontramos essa variante em nosso grupo controle de 400 brasileiros saudáveis
(Tabela 9). O estudo funcional foi repetido pelo nosso grupo e não houve diferença
na transativação em comparação à proteína selvagem, confirmando os achados da
população japonesa (36). Considerando a presença desta variante em controles
japoneses e bancos dos dados populacionais 1000GENOMES e ESP6500, a
existência de um parente de primeiro grau carreador não afetado e os dados dos
estudos in vitro, é improvável que esta variante seja responsável isoladamente pelo
fenótipo.
A variante p.Pro772Ser do FGFR1 foi encontrada em nossa casuística em 2
pacientes masculinos não relacionados. Essa variante foi encontrada numa frequência
alélica de 1,25% em nosso grupo controle de brasileiros normais (Tabela 9); a
frequência do alelo menor (MAF) é de 4,2% em população afro-americana no banco
de dados ESP6500, e a mãe do paciente III é uma carreadora não afetada. Esses
dados, somados ao estudo funcional que mostrou atividade de transativação
semelhante ao selvagem, nos levaram a concluir que a variante p.Pro772Ser do
FGFR1 trata-se de um polimorfismo benigno raro.
Por outro lado, a variante p.Arg448Trp do FGFR1, encontrada em uma
paciente feminina, não foi descrita até o presente momento nos principais bancos de
dados populacionais públicos (1000GENOMES e ESP6500) e tampouco esteve
presente na população controle brasileira, foi considerada deletéria em 3 ferramentas
de predição in silico e mostrou redução de atividade de sinalização em relação ao
Discussão
40
selvagem nos estudos in vitro. O mecanismo provável seria um defeito no processo
de internalização do receptor. Somando todas as informações anteriores é muito
provável que esta variante contribua para a ocorrência do fenótipo encontrado nessa
paciente com penetrância incompleta, uma vez que familiares de primeiro grau não
afetados são carreadores da mesma variante. A influência de fatores ambientais ou a
ocorrência de outro mecanismo genético como, por exemplo, a oligogenicidade tal
como observado no HHI/SK, não podem ser afastadas nestes casos (37).
Em outro estudo enfocando a superposição genética da DHHM, SK e DSO
em 103 pacientes com DHHM e DSO, foram identificadas três variantes em
heterozigose no FGFR1 (p.Thr112Thr, p.Ser450Phe e p.Pro483Ser) em três pacientes
não relacionados. As variantes p.Ser450Phe e p.Pro483Ser apresentaram redução da
atividade de sinalização nos ensaios utilizando a luciferase como gene reporter. Em
contrapartida apresentaram expressão total e maturação, avaliados por western
blotting, similar a do alelo selvagem (tabela 9) (17).
Considerando o nosso estudo e os dados previamente publicados das duas
coortes descritas acima (17, 36), até o momento um total de 328 pacientes com DHHM
e/ou DSO foram avaliados quanto à presença de mutações no FGFR1, e em 9
pacientes (2,7%) foram identificadas 8 variantes diferentes em heterozigose no
FGFR1, cada uma delas com diferentes resultados nos estudos funcionais e
diferentes probabilidades de ter um papel significativo no fenótipo dos pacientes.
A PROKR2 é um dos receptores das procineticinas, proteínas envolvidas na
morfogênese dos bulbos olfatórios e do sistema reprodutivo, bem como angiogênese
e migração neuronal que está expresso preferencialmente no sistema nervoso central.
Mutações na PROKR2 foram previamente pesquisadas em hipopituitarismo.
Reynaud et al estudaram 72 pacientes com a Síndrome da Interrupção da Haste
Hipofisária (SIHH) e encontraram 3 variantes missense em heterozigose
(p.Leu173Arg, p.Arg85His e p.Ala51Thr). As duas primeiras foram consideradas
deletérias nos estudos funcionais, evidenciando, de acordo com os autores, um papel
causativo no fenótipo (38). McCabe et al avaliaram 422 pacientes com
hipopituitarismo congênito, holoprosencefalia (HPE) e/ou DSO e identificaram 5
variantes missense em 11 pacientes não relacionados, 3 das quais (p.Arg85Leu,
Leu173Arg, Arg268Cys) deletérias nos estudos funcionais (39). Neste estudo, a
Discussão
41
variante p.Leu173Arg, deletéria no estudo funcional, foi herdada pelo paciente de
sua mãe não afetada que apresentava a variante em homozigose. De modo que esta
correlação genótipo-fenótipo pobre levou os autores a concluir que a contribuição
das variantes da PROKR2 para o fenótipo de hipopituitarismo é duvidosa (39).
As variantes na PROKR2 encontradas na nossa casuística de 156 pacientes
não haviam sido ainda descritas em hipopituitarismo congênito, SIHH ou DSO, mas
foram previamente descritas em pacientes com SK/HHI e confirmadas como
deletérias em estudos funcionais (27, 33, 34).
A variante p.Arg85Cys não apresentou comprometimento de sua ligação com
a PROK2, porém apresentou significativa redução na atividade máxima da MAPK.
Na análise por Western Blot a expressão do receptor na membrana foi similar à do
selvagem (33).
A variante p.Arg248Glu está localizada na última alça intracelular e sua
análise funcional evidenciou uma atividade de transcrição normal no ensaio de Erg-
Luc porém reduzida atividade de mobilização do cálcio (72% do selvagem) em
ensaios de fluxo de Ca2 aequorin based. Sua expressão na membrana é semelhante ao
selvagem em experimentos de Western Blot (27). Esta variante não possui uma MAF
descrito em bancos de dados populacionais, e a mãe não afetada da pacientes é
carreadora.
Até o momento, incluindo a nossa casuística, 650 pacientes com DHHM e/ou
DSO foram estudados para a identificação de possíveis mutações inativadoras na
PROKR2, e 16 pacientes (2,5%) apresentaram 8 variantes diferentes em
heterozigose. Estudos funcionais foram realizados para todas as variantes e 6 delas
apresentaram-se como no mínimo parcialmente deletérias.
Em concordância com os estudos prévios, acreditamos que variantes no
FGFR1 e na PROKR2 podem contribuir para o fenótipo dos pacientes com DHHM, e
que outros fatores genéticos e/ou ambientais provavelmente estão envolvidos na
etiologia do DHHM.
Discussão
42
Tabela 9 – Características das variantes missense do FGFR1 encontradas em pacientes com DHHM
Variante Atividade de Sinalização Expressão Pacientes Controles
Referência n Frequência n Frequência
p.Thr112Thr NR NR
103 * 3% 268
0
Raivio et al. (17) p.Ser450Phe ↓↓ = 0
p.Pro483Ser ↓↓ = 0
p.Val102Ile ↓ NR 69 3% 100
2/100 Fukami et al. (36)
p.Ser107Leu = NR 1/100
p.Ser107Leu = NR
156 2% 400
0
Estudo atual p.Arg448Trp ↓ = 0
p.Pro772Ser = NR 5/400
Abreviações: NR – Não Realizado; = similar ao selvagem. * Pacientes com DHHM e/ou DSO.
6 Conclusões
Conclusões
44
CONCLUSÕES
1- Nossa hipótese de que mutações inativadoras no NEUROD4 poderiam ser a uma
nova causa de DIGH não foi confirmada, uma vez que encontramos apenas
polimorfismos.
2- Nos pacientes com DHHM foram identificadas três variantes do tipo missense
em heterozigose no FGFR1 em quatro pacientes não relacionados e duas
variantes missense em heterozigose na PROKR2 em duas pacientes não
relacionadas.
3- Três variantes causaram efeito deletério na atividade da proteína, uma localizada
no FGFR1 e duas na PROKR2.
4- Variantes no FGFR1 e PROKR2 podem contribuir para o fenótipo dos pacientes
com DHHM porém é improvável que sejam responsáveis isoladamente por este
fenótipo.
7 Referências
Referências
46
REFERÊNCIAS
1. Kronenberg H, Williams RH. Williams textbook of endocrinology. 11th ed.
Philadelphia: Saunders/Elsevier; 2008. xix, 1911 p.
2. Tomlinson JW, Holden N, Hills RK, Wheatley K, Clayton RN, Bates AS,
Sheppard MC, Stewart PM. Association between premature mortality and
hypopituitarism. West Midlands Prospective Hypopituitary Study Group. Lancet.
2001;357(9254):425-31.
3. Mehta A, Hindmarsh PC, Mehta H, Turton JP, Russell-Eggitt I, Taylor D,
Chong WK, Dattan MT. Congenital hypopituitarism: clinical, molecular and
neuroradiological correlates. Clin Endocrinol (Oxf). 2009;71(3):376-82.
4. Moore KL, Persaud TVN, Torchia MG. Before we are born: essentials of
embryology and birth defects. 7th ed. Philadelphia, PA: Saunders/Elsevier; 2008. x,
353 p.
5. Bailey AP, Streit A. Sensory organs: making and breaking the pre-placodal
region. Curr Top Dev Biol. 2006;72:167-204.
6. Streit A. The preplacodal region: an ectodermal domain with multipotential
progenitors that contribute to sense organs and cranial sensory ganglia. Int J Dev
Biol. 2007;51(6-7):447-61.
7. Zhu X, Gleiberman AS, Rosenfeld MG. Molecular physiology of pituitary
development: signaling and transcriptional networks. Physiol Rev. 2007;87(3):933-
63.
Referências
47
8. Osorio MG, Marui S, Jorge AA, Latronico AC, Lo LS, Leite CC, Estefan V,
Mendonça BB, Arnhold IJ. Pituitary magnetic resonance imaging and function in
patients with growth hormone deficiency with and without mutations in GHRH-R,
GH-1, or PROP-1 genes. J Clin Endocrinol Metab. 2002;87(11):5076-84.
9. Wit JM, Kiess W, Mullis P. Genetic evaluation of short stature. Best Pract
Res Clin Endocrinol Metab. 2011;25(1):1-17.
10. Alatzoglou KS, Webb EA, Le Tissier P, Dattani MT. Isolated growth
hormone deficiency (GHD) in childhood and adolescence: recent advances. Endocr
Rev. 2014;35(3):376-432.
11. Franca MM, Jorge AA, Alatzoglou KS, Carvalho LR, Mendonca BB, Audi L,
Carrascosa A, Dattani MT, Arnhold IJ. Absence of GH-releasing hormone (GHRH)
mutations in selected patients with isolated GH deficiency. J Clin Endocrinol Metab.
2011;96(9):E1457-60.
12. França MM, Jorge AA, Carvalho LR, Costalonga EF, Vasques GA, Leite CC,
Mendonça BB, Arnhold IJ. Novel heterozygous nonsense GLI2 mutations in patients
with hypopituitarism and ectopic posterior pituitary lobe without holoprosencephaly.
J Clin Endocrinol Metab. 2010;95(11):E384-91.
13. Duriez B, Duquesnoy P, Dastot F, Bougnères P, Amselem S, Goossens M.
An exon-skipping mutation in the btk gene of a patient with X-linked
agammaglobulinemia and isolated growth hormone deficiency. FEBS Lett.
1994;346(2-3):165-70.
14. Zhu X, Zhang J, Tollkuhn J, Ohsawa R, Bresnick EH, Guillemot F,
Kageyama R, Rosenfeld MG. Sustained Notch signaling in progenitors is required
for sequential emergence of distinct cell lineages during organogenesis. Genes Dev.
2006;20(19):2739-53.
Referências
48
15. Kelberman D, Rizzoti K, Lovell-Badge R, Robinson IC, Dattani MT. Genetic
regulation of pituitary gland development in human and mouse. Endocr Rev.
2009;30(7):790-829.
16. Davis SW, Castinetti F, Carvalho LR, Ellsworth BS, Potok MA, Lyons RH,
Brinkmeier ML, Raetzman LT, Carninci P, Mortensen AH, Hayashizaki Y, Arnhold
IJ, Mendonça BB, Brue T, Camper SA. Molecular mechanisms of pituitary
organogenesis: In search of novel regulatory genes. Mol Cell Endocrinol.
2010;323(1):4-19.
17. Raivio T, Avbelj M, McCabe MJ, Romero CJ, Dwyer AA, Tommiska J,
Sykiotis GP, Gregory LC, Diaczok D, Tziaferi V, Elting MW, Padidela R, Plummer
L, Martin C, Feng B, Zhang C, Zhou QY, Chen H, Mohammadi M, Quinton R, Sidis
Y, Radovick S, Dattani MT, Pitteloud N. Genetic overlap in Kallmann syndrome,
combined pituitary hormone deficiency, and septo-optic dysplasia. J Clin Endocrinol
Metab. 2012;97(4):E694-9.
18. Dodé C, Levilliers J, Dupont JM, De Paepe A, Le Dû N, Soussi-Yanicostas
N, Coimbra RS, Delmaghani S, Compain-Nouaille S, Baverel F, Pêcheux C, Le
Tessier D, Cruaud C, Delpech M, Speleman F, Vermeulen S, Amalfitano A,
Bachelot Y, Bouchard P, Cabrol S, Carel JC, Delemarre-van de Waal H, Goulet-
Salmon B, Kottler ML, Richard O, Sanchez-Franco F, Saura R, Young J, Petit C,
Hardelin JP. Loss-of-function mutations in FGFR1 cause autosomal dominant
Kallmann syndrome. Nat Genet. 2003;33(4):463-5.
19. Trarbach EB, Costa EM, Versiani B, de Castro M, Baptista MT, Garmes HM,
de Mendonça BB, Latronico AC. Novel fibroblast growth factor receptor 1 mutations
in patients with congenital hypogonadotropic hypogonadism with and without
anosmia. J Clin Endocrinol Metab. 2006;91(10):4006-12.
Referências
49
20. Dodé C, Teixeira L, Levilliers J, Fouveaut C, Bouchard P, Kottler ML,
Lespinasse J, Lienhardt-Roussie A, Mathieu M, Moerman A, Morgan G, Murat A,
Toublanc JE, Wolczynski S, Delpech M, Petit C, Young J, Hardelin JP. Kallmann
syndrome: mutations in the genes encoding prokineticin-2 and prokineticin receptor-
2. PLoS Genet. 2006;2(10):e175.
21. Pitteloud N, Zhang C, Pignatelli D, Li JD, Raivio T, Cole LW, Plummer L,
Jacobson-Dickman EE, Mellon PL, Zhou QY, Crowley WF Jr. Loss-of-function
mutation in the prokineticin 2 gene causes Kallmann syndrome and normosmic
idiopathic hypogonadotropic hypogonadism. Proc Natl Acad Sci U S A.
2007;104(44):17447-52.
22. Abreu AP, Trarbach EB, de Castro M, Frade Costa EM, Versiani B, Matias
Baptista MT, Garmes HM, Mendonça BB, Latronico AC. Loss-of-function
mutations in the genes encoding prokineticin-2 or prokineticin receptor-2 cause
autosomal recessive Kallmann syndrome. J Clin Endocrinol Metab. 2008;93(10):
4113-8.
23. Ericson J, Norlin S, Jessell TM, Edlund T. Integrated FGF and BMP
signaling controls the progression of progenitor cell differentiation and the
emergence of pattern in the embryonic anterior pituitary. Development.
1998;125(6):1005-15.
24. Groth C, Lardelli M. The structure and function of vertebrate fibroblast
growth factor receptor 1. Int J Dev Biol. 2002;46(4):393-400.
25. Sato N, Katsumata N, Kagami M, Hasegawa T, Hori N, Kawakita S,
Minowada S, Shimotsuka A, Shishiba Y, Yokozawa M, Yasuda T, Nagasaki K,
Hasegawa D, Hasegawa Y, Tachibana K, Naiki Y, Horikawa R, Tanaka T, Ogata T.
Clinical assessment and mutation analysis of Kallmann syndrome 1 (KAL1) and
fibroblast growth factor receptor 1 (FGFR1, or KAL2) in five families and 18
sporadic patients. J Clin Endocrinol Metab. 2004;89(3):1079-88.
Referências
50
26. McCabe MJ, Gaston-Massuet C, Tziaferi V, Gregory LC, Alatzoglou KS,
Signore M, Puelles E, Gerrelli D, Farooqi IS, Raza J, Walker J, Kavanaugh SI, Tsai
PS, Pitteloud N, Martinez-Barbera JP, Dattani MT. Novel FGF8 mutations
associated with recessive holoprosencephaly, craniofacial defects, and hypothalamo-
pituitary dysfunction. J Clin Endocrinol Metab. 2011;96(10):E1709-18.
27. Cole LW, Sidis Y, Zhang C, Quinton R, Plummer L, Pignatelli D, Hughes
VA, Dwyer AA, Raivio T, Hayes FJ, Seminara SB, Huot C, Alos N, Speiser P,
Takeshita A, Van Vliet G, Pearce S, Crowley WF Jr, Zhou QY, Pitteloud N.
Mutations in prokineticin 2 and prokineticin receptor 2 genes in human
gonadotrophin-releasing hormone deficiency: molecular genetics and clinical
spectrum. J Clin Endocrinol Metab. 2008;93(9):3551-9.
28. Matsumoto S, Yamazaki C, Masumoto KH, Nagano M, Naito M, Soga T,
Hiyama H, Matsumoto M, Takasaki J, Kamohara M, Matsuo A, Ishii H, Kobori M,
Katoh M, Matsushime H, Furuichi K, Shigeyoshi Y. Abnormal development of the
olfactory bulb and reproductive system in mice lacking prokineticin receptor PKR2.
Proc Natl Acad Sci U S A. 2006;103(11):4140-5.
29. Lin DC, Bullock CM, Ehlert FJ, Chen JL, Tian H, Zhou QY. Identification
and molecular characterization of two closely related G protein-coupled receptors
activated by prokineticins/endocrine gland vascular endothelial growth factor. J Biol
Chem. 2002;277(22):19276-80.
30. Brasil. Conselho Nacional de Saúde. Resolução 466, de 12 de Dezembro de
2012. Diário Oficial da União - Conselho Nacional de Saúde, DF, Brasil, de
13/06/2013.
31. Tanner JM, Whitehouse RH, Takaishi M. Standards from birth to maturity for
height, weight, height velocity, and weight velocity: British children, 1965. II. Arch
Dis Child. 1966;41(220):613-35.
Referências
51
32. Raivio T, Sidis Y, Plummer L, Chen H, Ma J, Mukherjee A, Jacobson-
Dickman E, Quinton R, Van Vliet G, Lavoie H, Hughes VA, Dwyer A, Hayes FJ, Xu
S, Sparks S, Kaiser UB, Mohammadi M, Pitteloud N. Impaired fibroblast growth
factor receptor 1 signaling as a cause of normosmic idiopathic hypogonadotropic
hypogonadism. J Clin Endocrinol Metab. 2009;94(11):4380-90.
33. Abreu AP, Noel SD, Xu S, Carroll RS, Latronico AC, Kaiser UB. Evidence
of the importance of the first intracellular loop of prokineticin receptor 2 in receptor
function. Mol Endocrinol. 2012;26(8):1417-27.
34. Monnier C, Dode C, Fabre L, Teixeira L, Labesse G, Pin JP, Hardelin JP,
Rondard P. PROKR2 missense mutations associated with Kallmann syndrome
impair receptor signalling activity. Hum Mol Genet. 2009;18(1):75-81.
35. Vermeulen S, Messiaen L, Scheir P, De Bie S, Speleman F, De Paepe A.
Kallmann syndrome in a patient with congenital spherocytosis and an interstitial
8p11.2 deletion. Am J Med Genet. 2002;108(4):315-8.
36. Fukami M, Iso M, Sato N, Igarashi M, Seo M, Kazukawa I, Kinoshita E,
Dateki S, Ogata T. Submicroscopic deletion involving the fibroblast growth factor
receptor 1 gene in a patient with combined pituitary hormone deficiency. Endocr J.
2013;60(8):1013-20.
37. Sykiotis GP, Plummer L, Hughes VA, Au M, Durrani S, Nayak-Young S,
Dwyer AA, Quinton R, Hall JE, Gusella JF, Seminara SB, Crowley WF Jr, Pitteloud
N. Oligogenic basis of isolated gonadotropin-releasing hormone deficiency. Proc
Natl Acad Sci U S A. 2010;107(34):15140-4.
38. Reynaud R, Jayakody SA, Monnier C, Saveanu A, Bouligand J, Guedj AM,
Simonin G, Lecomte P, Barlier A, Rondard P, Martinez-Barbera JP, Guiochon-
Mantel A, Brue T. PROKR2 variants in multiple hypopituitarism with pituitary stalk
interruption. J Clin Endocrinol Metab. 2012;97(6):E1068-73.
Referências
52
39. McCabe MJ, Gaston-Massuet C, Gregory LC, Alatzoglou KS, Tziaferi V,
Sbai O, Rondard P, Masumoto KH, Nagano M, Shigeyoshi Y, Pfeifer M, Hulse T,
Buchanan CR, Pitteloud N, Martinez-Barbera JP, Dattani MT. Variations in
PROKR2, but not PROK2, are associated with hypopituitarism and septo-optic
dysplasia. J Clin Endocrinol Metab. 2013;98(3):E547-57.
8 Apêndice
Apêndices
Correa FA, Trarbach EB, Tussef C, Latronico AC, Montenegro LR, Carvalho LR, França MM, Otto AP, Costalonga EF, Brito VN, Abreu AP, Nishi MY, Jorge AAL, Arnhold IJP, Sidis Y, Pitteloud N, Mendonça BB. FGFR1 and PROKR2 rare variants found in patients with combined pituitary hormone deficiencies. Endocrine Connections. 2015;4:100-107.
Apêndices
Apêndices
Apêndices
Apêndices
Apêndices
Apêndices
Apêndices
Apêndices