ano 1 • nº 1 • outubro/2003...principal ator da mudança educacional de que o brasil tanto...
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Ano 1 • Nº 1 • Outubro/2003
CenáriosSaeb aprofunda suas análises
EntrevistaMaria José Féres, secretária
de Educação Infantil e Fundamental
ParceriasTécnicos empreendedores e suas criações
Alunos de informática rompemlimites da escola em Guaraí (TO)
Novas TecnologiasAlunos trocam informações sobre rios
ArtigoAmérico Bernardes – Informatização nas escolas
Teoria e PráticaTV para despertar o gosto de aprender
Emoções trabalhadas em sala de aula
Português AfiadoTira-dúvidas para educadores
Crédito AutomáticoCEF oferece financiamento para casa própria
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Valorização e FormaçãoO que está em pauta para aeducação de qualidade
ComportamentoComportamentoComportamentoComportamentoComportamentoPrevenção e Saúdeao alcance da escola
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DesafiosRespeito à tradição na Educação Indígena
DesafiosBrasil combate o analfabetismo
ArtigoOsvaldo Russo – Uma escola de todos
EntrevistaAntonio Ibañez, secretáriode Educação Média e Tecnológica
DebateEspecialistas analisam inserçãosocial dos alunos especiais
AgendaNotícias do MEC
Pelo MundoEducação, Ciência e Tecnologiaem debate internacional
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Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva |Ministro da Educação Cristovam Buarque | Coordenadoria de Comunicação Social – Jornalistasresponsáveis Luís Natal Coordenador de Comunicação Social | Joyce Del Frari Chefe da Assessoria de Comunicação Social | Jaqueline Frajmund
Chefe de Marketing e Propaganda | Conselho Editorial Antônio Carlos Queiroz – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Ana Lúcia Galluf – Secretaria deEnsino Infantil e Fundamental (SEIF), Sandra Branchine – Secretaria de Ensino Médio e Tecnológica (Semtec), Luzinete Marques – Secretaria de Inclusão Social, Samira Jorge –Secretaria de Educação Especial (SEESP), Luiz Motta – Secretaria de Educação a Distância (SEED), José Marcelino Rezende – Instituto Nacional de Estudos e PesquisasEducacionais (INEP), Elizabete Rosa – Secretaria de Comunicação da Presidência da República | Produção Alô Comunicação | Editoras Angélica Torres, Taisa Ferreira | Direçãode Arte Edu Branquinho, Edu Henrique | Editoração Eletrônica Eduardo Krüger | Reportagem Alexandre Marino, Ana Cristina Vilela, Ana Suelly Leite, Cristiano Torres, DulcídioSiqueira, Ionice Lorenzoni, Nicolas Bonvakiades, Marcos Magalhães, Rodrigo Farhat, Súsan Faria, Vilany Kehrle | Fotografia Cristiano Mariz | Colaboração Dad Squarisi |Supervisão Geral Adriano Lopes de Oliveira e Maria Teresa Fernandes | Fotolito e impressão Gráfica Brasil| Endereço para correspondência Esplanada dos Ministérios, Bloco L,Sala 905 – CEP 70074- 900 – Brasília – Distrito Federal | Fones (61) 410 8484 / 8133. Fax: (61) 410 9195 / 9196 | Sítio www.mec.gov.br | Endereço eletrônico [email protected]
Expediente
LivrosColeções literáriasna escola pública
LegislaçãoHasteamento da
Bandeira nas escolas
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PROFESSOR vai receber e publicar, nesta página, a cada edição, as dúvidas, críticas, sugestões, refle-
xões, e o que mais for de seu interesse formular e encaminhar ao Ministério da Educação. Escolha o meio
de envio de sua preferência no Endereço para Correspondência, ao final do expediente, na página 5.
Neste primeiro número da revista publicamos, com os respectivos esclarecimentos, questões relativas a um
tema recorrente junto ao público – o Fundo de Desenvolvimento e Manutenção do Ensino Fundamental e de Valori-
zação do Magistério (Fundef) – que nos chegam por telefone, fax, correios e endereço eletrônico.
Como os recursos do Fundef devem ser aplicados?
Os recursos devem ser utilizados da seguinte ma-
neira: 60%, no mínimo, para a remuneração dos pro-
fissionais do magistério em efetivo exercício no Ensi-
no Fundamental público, e 40%, no máximo, em ou-
tras ações de manutenção e desenvolvimento do En-
sino Fundamental público – como, por exemplo,
capacitação de professores, aquisição de equipamen-
tos, reforma e melhorias de escolas da rede de ensi-
no e transporte escolar.
Quem são os profissionais do Magistério?
Os profissionais do magistério são aqueles que
exercem atividades de docência e aqueles que ofere-
cem suporte pedagógico a tais atividades, como
administração ou direção de escola, planejamento,
inspeção, supervisão e orientação educacional.
Qual o valor do salário que deve ser pago ao Magistério?
A legislação do Fundef não estabelece um valor
mínimo (piso) ou valor máximo (teto) de salário. As
escalas salariais deverão integrar o Plano de Carreira
e Remuneração do Magistério que cada governo
(estadual e municipal) deve implantar. Assim, os salá-
rios serão definidos de acordo com a realidade de
cada um desses governos, ou seja, dependem do nú-
mero de profissionais, de alunos, da receita, da jor-
nada de trabalho, entre outras variáveis.
Onde e como apresentar reclamações e denúncias
sobre o mau uso de verbas do Fundef?
Em caso de descumprimento dos dispositivos le-
gais sobre o Fundef, recomenda-se procurar, primei-
ramente, os membros do Conselho de Acompanha-
mento e Controle Social do Fundef, para que solici-
tem ao responsável, se necessário, a correção das
irregularidades praticadas. Na seqüência, procurar os
representantes do Poder Legislativo local, para que
estes, pela via da negociação ou adoção de providên-
cias formais, possam buscar a solução com o
governante responsável. Ainda, se necessário, recor-
rer ao Ministério Público (Promotor de Justiça), direta-
mente ou com a ajuda e a intermediação do Conse-
lho do Fundef, formalizando suas denúncias e enca-
minhando-as, também, ao respectivo Tribunal de Con-
tas (do Estado ou dos municípios).
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Diálogo aberto
A revista PROFESSOR nasce com a proposta de ser um espaço
de reflexão e debate sobre a escola pública brasileira. Foi pensada
para atender às demandas dos educadores e para ser um instru-
mento de apoio para quem enfrenta os desafios cotidianos da vida
escolar. É um canal direto de comunicação entre o Ministério da
Educação e você, professor.
O seu lançamento, no dia 15 de outubro, marca o compro-
misso do MEC com os profissionais da Educação. O objetivo é
trocar idéias, por meio do diálogo aberto e transparente, com o
principal ator da mudança educacional de que o Brasil tanto
precisa. Como afirma o ministro da Educação, Cristovam Buarque,
seremos um bom país quando, ao nascer uma criança, o pai ou a
mãe idealizarem: “Quando crescer, vai ser professor”.
Aqui, todos os meses do ano letivo, você vai encontrar reporta-
gens, entrevistas, notas, artigos e fórum de debates sobre temas
de seu interesse. Vai conhecer as novidades na área educacional,
os projetos e as políticas do MEC e, ainda, compartilhar experiên-
cias positivas locais, regionais, nacionais e internacionais.
Nesta primeira edição, os temas centrais são a formação e a
valorização do professor, com a apresentação dos planos, projetos
e ações para seu aperfeiçoamento profissional e a revisão de sua
remuneração. Duas entrevistas, com os secretários da Educação
Infantil e Fundamental e do Ensino Médio, complementam a refle-
xão sobre o assunto. Também são destaques o debate sobre a
Educação Especial e os desafios do programa Brasil Alfabetizado.
Outra boa notícia é a oferta, feita pela Caixa Econômica Fe-
deral, de condições especiais no financiamento da casa própria
aos professores com renda familiar de até 10 salários mínimos.
Os primeiros beneficiados serão os docentes dos 100 municípios
do projeto Escola Ideal do MEC.
Boa leitura.
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VALORIZAÇÃO E FORMAÇÃO
A cada novo dia, o professor brasi-
leiro tem encontro marcado com o
conhecimento. Nas mais populosas
ou remotas regiões do País, em sa-
las de aula improvisadas ou diante
de modernos equipamentos, sozinho
ou com os colegas, ele tem aposta-
do na educação como um processo
permanente. Com maior ou menor
apoio dos governos municipal, esta-
dual e federal, os profissionais de
educação estão marcando presença
em cursos de aperfeiçoamento, gra-
duação e pós-graduação e procuram
fazer a sua parte no processo de
construção de um novo modelo edu-
cacional para o País.
A curva ascendente da participa-
ção dos professores em iniciativas
voltadas ao aperfeiçoamento profis-
sional contrasta, muitas vezes, com
a imobilidade de seus rendimentos.
Os baixos salários e a necessidade
de buscar outras fontes de renda
muitas vezes sopram no ouvido de
cada profissional a tentação de dei-
xar a carreira ou de postergar indefi-
nidamente a adesão ao movimento
de formação continuada. Mesmo
diante de uma realidade às vezes pou-
co generosa, os professores estão dis-
postos a dar sua contribuição.
“Ao mesmo tempo que enfrenta,
muitas vezes, uma situação difícil na
educação, o docente tem demonstra-
do postura muito positiva na busca de
novos cursos para o seu aperfeiçoa-
mento”, atesta a professora Nilda Gui-
marães Alves, presidente da Associa-
ção Nacional de Pós-Graduação e Pes-
quisa em Educação (Anped). “Há uma
campanha difamatória dizendo que o
professor não quer nada, mas o que
eu me pergunto é por que, diante des-
sas provocações, ele simplesmente
não pega o boné e vai embora”.
saberEducadores ampliam conhecimentospara garantir educação de qualidade
EM BUSCA DO
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10 $$$
Jogo de cinturaA baixa remuneração e a falta de
estímulo ao crescimento na profis-
são têm colocado boas intenções de
sobreaviso. Na modesta cidade de
Santa Maria, a 35 quilômetros da
capital do País, um professor de se-
gundo grau buscou por sua própria
iniciativa atrair o gosto dos jovens
pela Matemática.
Com material reciclado, criou tabu-
leiros e peças de xadrez para tornar
menos penoso aos alunos o aprendi-
zado de temas como matrizes. “O xa-
drez é um jogo de raciocínio lógico, que
eu uso para tornar a disciplina mais
atrativa”, relata Léo de Faria. A iniciati-
va deu certo, muitos jovens se encan-
taram pela Matemática e o aprendiza-
do tem fluído mais suavemente. O pro-
fessor é chamado a dar entrevistas e
se tornou popular na região, mas, como
diz em tom de brincadeira, ele ainda
não recebeu nenhum real a mais por
isso. “A grande maioria dos professores
quer se aperfeiçoar, mas a educação
não tem como evoluir sem a valoriza-
ção do profissional”, opina.
Na Unidade Escolar Fontes de
Ibiapina, no Piauí, repete-se um fe-
nômeno cada vez mais comum no
País todo: os professores têm que tra-
balhar em uma ou duas outras esco-
las para garantir a manutenção da fa-
mília. Com um agravante, lembra a
diretora da unidade, professora Fáti-
ma Lopes: os salários não passam de
R$ 240 mensais, acrescidos de
R$ 150 por regência de turma.
“Se o professor fosse valorizado, não
precisaria agir dessa forma”, pondera
Fátima, à frente de um estabelecimen-
to com 2.317 alunos dos ensinos fun-
damental e médio. Mesmo assim, ela
afirma que os professores estão em
busca de novas oportunidades de aper-
feiçoamento. “A Secretaria de Educa-
ção precisa ofereçer mais cursos, e o
que o Ministério da Educação fizer para
melhorar o nosso rendimento em sala
de aula será bem-vindo”, diz.
Formação continuadaO MEC está procurando fazer a sua
parte. A formação continuada do pro-
fessor é prioridade na pasta e diversos
programas vêm sendo desenvolvidos
pelas várias secretarias. Um deles, ain-
da em gestação, prevê a oferta de cur-
sos superiores a distância e tem como
fonte de inspiração a Open University –
ou Universidade Aberta – da Inglaterra.
Entre os programas que estão sen-
do aperfeiçoados está a TV Escola, que
tem levado a 50 mil escolas com mais
de 100 alunos uma programação de
Estudo realizado pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (INEP) sobre salári-
os das diferentes ocupações nas
cinco regiões do País mostra que
o rendimento mensal dos profes-
sores de Educação Básica é infe-
rior ao de várias outras categori-
as, apesar da função estratégica
da educação para o desenvolvi-
mento do País (ver tabela ao lado).
No Brasil, médicos e advogados
ganham, em média, quatro vezes o
que recebe um professor das séries
finais do Ensino Fundamental. A pro-
fissão em destaque é a de juiz, com
rendimento médio de quase 20 ve-
zes o valor do rendimento médio men-
sal do professor da Educação Infantil.
Diferenças salariais no Brasiluniversitários e apenas 14 mil delega-
dos e 10 mil juízes. O que se observa –
em especial nas carreiras onde o po-
der público é o maior empregador –
é que, quanto maior o número de pro-
fissionais, menor o salário.
Tornar uma profissão mais atrativa
requer, entre outros fatores, a possibi-
lidade de obtenção de bons salários.
Há, de fato, correlação entre nível sa-
larial da carreira e demanda nos pro-
cessos seletivos para ingresso em cur-
sos superiores. Nesse aspecto, se é evi-
dente que bons salários não bastam
para melhorar a qualidade do ensino,
sem eles dificilmente a escola conse-
guirá atrair os graduandos mais bem
preparados para a atividade docente na
Educação Básica.
VALORIZAÇÃO E FORMAÇÃO
A região com maior variação é o
Nordeste, onde as médias salariais de
diversas profissões chegam a ser de
sete a até 34 vezes o valor do salário
de um professor da Educação Básica.
As regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul
apresentam médias salariais maiores
do que a média do Brasil, sendo a pri-
meira, provavelmente, bastante influ-
enciada pelo Distrito Federal. As regi-
ões Norte e Nordeste encontram-se
abaixo da média nacional.
Outra forma de analisar as diferen-
ças é comparar os salários com o nú-
mero de profissionais existentes em
cada área. Havia, em 2001, cerca de
dois milhões de professores da Educa-
ção Básica, para 271 mil advogados,
257 mil médicos, 137 mil professores
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qualidade voltada à melhoria do traba-
lho em sala de aula. Até 2006, o Go-
verno pretende alcançar outras 15 mil
escolas do mesmo porte, além de uni-
dades com menos de 100 alunos. Tam-
bém se pretende aumentar o número
de escolas que gravam os programas e
organizam as próprias videotecas.
“A TV Escola é um instrumento
fantástico de Educação a Distância.
Precisamos estimular sua utilização
pelos professores e adoção pelos sis-
temas educacionais”, observa Jean-
Claude Frajmund, diretor do programa.
Até 2002, a programação era com-
posta, em 85%, por documentários ad-
quiridos no exterior e em 15%, por pro-
gramas nacionais. Segundo Frajmund,
pretende-se aumentar a participação da
produção brasileira para até 50%, dos
quais a maior parte será de vídeos pe-
dagógicos e cursos de formação conti-
nuada. O primeiro deles, feito em par-
ceria com o Gabinete de Segurança
Institucional da Presidência da Repúbli-
ca, mostrará como é possível fazer pre-
venção do uso de drogas nas escolas.
Outra iniciativa importante é o pro-
grama de capacitação inicial e conti-
nuada de professores do Ensino Bá-
sico em Educação Ambiental. Foram
enviados questionários de avaliação
da experiência a 200 professores-
formadores, que trabalharam na pre-
paração de outros professores ao lon-
go dos últimos anos. A partir desse
levantamento serão traçadas diretri-
zes atualizadas de formação de re-
cursos humanos para atuar no setor.
LetramentoEntre os programas novos, um dos
destaques é o Praler, criado recente-
mente pelo Fundescola e destinado aos
professores das duas primeiras séries
do Ensino Fundamental das regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Por
meio de sugestões de práticas peda-
gógicas simples e criativas, como a ela-
boração de histórias em quadrinhos,
adivinhações e brincadeiras, o programa
pretende estimular o professor a compre-
ender a estrutura da língua materna em
cursos de seis a sete semanas.
A preocupação faz sentido. Segun-
do levantamento do Sistema Nacio-
nal de Avaliação da Educação Básica
(Saeb), 59% das crianças da quarta
série – ou 980 mil estudantes em
todo o País – ainda podem ser consi-
deradas analfabetas. Desse total,
508 mil somente na região Nordes-
te. Para alterar o quadro do Ensino
Fundamental e reduzir o número de
alunos que ainda se encontram na ca-
tegoria de “desempenho muito críti-
R e n d i m e n t o m é d i o m e n s a l p o r p r o f i s s ã o e r e g i ã o – 2 0 0 1 ( e m R $ 1 , 0 0 )
Professor de Educação Infantil
Professor de 1ª a 4ª série
Professor de 5ª a 8ª série
Funções adm. de nív. sup. em educ.
Professor de nível médio
Suboficial das Forças Armadas
Professor pesquisador no ens. sup.
Agente Administrativo Público
Administrador de empresas
Técnico em nível superior - público
Policial civil
Oficial das Forças Armadas
Economista
Auditor
Advogado
Professor de nível superior
Delegado/Perito
Médico
Juiz
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de domicílios (PNAD) - 2001. Notas: 1) Valor em R$ de setembro de 2001.
Tipo de profissionaisNº de profissionais
no Brasil
Rendimento médio por regiões geográficas 1
Brasil Norte Nordeste Sudeste SulCentro-Oeste
201.232
881.623
521.268
139.575
348.831
517.038
6.448
316.761
502.895
421.318
72.743
89.387
44.772
68.870
271.241
136.977
13.973
257.414
10.036
422,78
461,67
599,85
849,16
866,23
868,73
898,80
911,82
1.202,86
1.310,56
1.510,64
2.091,53
2.254,66
2.408,40
2.496,76
2.565,47
2.660,52
2.973,06
8.320,70
388,89
443,17
600,99
753,20
826,28
817,55
215,33
661,40
986,87
1.053,94
1.344,46
2.129,41
1.700,77
3.512,94
3.893,83
1.800,30
2.753,91
4.429,82
5.905,38
232,79
293,18
372,81
549,60
628,08
723,52
1.150,16
679,31
774,85
794,02
1.320,40
1.674,46
2.009,08
1.584,94
2.245,35
2.252,08
1.347,25
2.576,78
8.038,88
522,44
599,19
792,82
1.092,85
979,16
986,19
946,56
1.072,50
1.411,18
1.586,97
1.457,90
2.250,53
2.227,19
2.588,47
2.431,04
3.086,95
2.650,73
2.801,77
9.018,42
435,87
552,72
633,92
738,27
804,32
747,23
712,65
926,14
1.057,85
1.308,30
1.488,02
1.949,68
1.641,35
1.986,32
2.597,39
2.122,77
3.714,45
3.260,41
9.750,00
749,61
567,38
593,52
834,86
872,20
910,93
875,47
1.103,37
1.123,93
1.876,79
2.087,23
2.321,03
3.592,64
3.133,88
2.768,25
2.190,10
5.969,61
4.110,87
7.331,08
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co” no sistema de avaliação, o Gover-
no Federal decidiu apoiar, por meio
do Fundo Nacional de Desenvolvimen-
to da Educação (FNDE), projetos
emergenciais de Estados e municípios
destinados a garantir o letramento de
crianças não-alfabetizadas com mais de
dois anos de escolarização e patroci-
nar a construção de sistemas estadu-
ais de avaliação da Educação Básica.
As medidas fazem parte do progra-
ma Toda Criança Aprendendo, da Se-
cretaria de Educação Infantil e Funda-
mental, que tem entre suas principais
ações a criação do Exame Nacional de
Certificação de Professores da Educa-
ção Básica, realizado anualmente, da
Bolsa Federal de Incentivo à Formação
Continuada e da Rede Nacional de Pes-
quisa e Desenvolvimento da Educação
Básica. As iniciativas se combinam, de
forma que o professor certificado no Exa-
me Nacional possa receber uma bolsa
federal de incentivo à formação conti-
nuada, com duração de cinco anos, cuja
renovação dependerá de nova cer–
tificação. Por sua vez, a rede de pes-
quisa estimulará estudos de temas
como alfabetização e letramento e edu-
cação matemática e científica.
Carência de educadoresProblema sério é a carência de
professores. Para atender à deman-
da das turmas de Ensino Médio e de
5ª a 8ª série do nível fundamental,
que exigem formação superior em li-
cenciatura, o sistema escolar precisa
de mais 250 mil docentes. Só na área
de Física faltam 55 mil professores.
Também é significativa a carência de
professores de Química, Matemática
e Biologia e já começa a faltar pro-
fessor de Português e de Línguas Es-
trangeiras. O alerta está no levantamen-
to realizado pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais
(INEP) a pedido da Secretaria de Ensi-
no Médio e Tecnológico (Semtec).
O MEC acompanha esses números
com atenção, até porque, com a regu-
larização do fluxo de alunos no Ensino
Fundamental, os estudantes começam
a se formar em maior número e pas-
sam a integrar o exército de jovens em
busca do Ensino Médio.
Resultado: se, de um lado, o Go-
verno começa a analisar a possibilida-
de da adoção de mecanismos emer–
genciais para a formação de novos pro-
fessores em tempo menor do que os
usuais quatro anos da licenciatura, por
outro precisa promover a reciclagem dos
que já se encontram em sala de aula,
mas necessitam de aperfeiçoarmento.
Duas iniciativas estão sendo toma-
das nesse sentido. A primeira é o
credenciamento, pelo MEC, de proje-
tos de formação continuada que aten-
dam às demandas das secretarias es-
taduais. Identificadas as demandas, as
universidades envolvidas no programa
elaboram um programa curricular para
aulas presenciais e a distância, de
modo a garantir ao professor a
certificação em nível de especialização.
Os cursos que atenderem aos requisi-
tos necessários serão credenciados pelo
MEC e poderão ser contratados pelas
secretarias estaduais, com apoio téc-
nico e financeiro do Governo Federal.
A segunda iniciativa é a criação, pelo
MEC, de seu próprio programa de for-
mação continuada, que poderá ser ado-
tado pelas secretarias estaduais, es-
pecialmente nos casos de unidades da
Federação que não tenham tradição na
reciclagem de professores. As duas
possibilidades poderão se conectar, no
futuro próximo, a uma comunidade de
educadores do Ensino Médio, cuja
criação terá o apoio do Governo e co-
locará os professores em rede, na
Internet, abrindo espaço para a troca de
experiências e a solução de dúvidas.
“Não houve, nos últimos anos,
preocupação direta de deixar o profes-
sor mais antenado com os novos tem-
pos”, avalia a diretora de Ensino Médio
da Semtec, Marise Nogueira Ramos.
“O professor de Ensino Médio ficou um
pouco à margem, por causa da priori-
dade ao Ensino Fundamental”.
A maneira mais correta para se
garantir melhor formação ao profes-
sor de Ensino Médio ainda levanta con-
trovérsias. Apesar da necessidade
apontada pelo Governo do uso de me-
canismos não presenciais para a
reciclagem, há especialistas que con-
testam a eficácia desse método. “É
complicado ensinar Física, Química
e Biologia a distância”, observa a se-
cretária da Associação Nacional pela
Formação de Profissionais de Educa-
ção (Anfope), Helena Freitas.
VALORIZAÇÃO E FORMAÇÃO
O MEC estácredenciandoprogramas de
formaçãocontinuada que
atendam àsdemandasestaduais
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“Se bonssalários nãobastam paramelhorar a
qualidade doensino, sem
eles serádifícil atrair
graduandos bempreparados
para a atividadedocente do
Ensino Básico”
(Do estudo do INEP sobrediferenças salariais)
O papel da universidadeHelena afirma que a real valoriza-
ção do Magistério precisa ter três ali-
cerces sólidos: boa formação inicial,
boa formação continuada e boas con-
dições de trabalho, salário e carreira. A
iniciativa que ela considera mais im-
portante para valorizar o professor é a
adoção de uma política de formação
de professores em nível superior nas
instituições públicas. “Precisamos de
um investimento grande nas universi-
dades para que elas possam respon-
der a esse desafio”, sustenta.
A opinião é compartilhada pela pre-
sidente da Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Educação,
Nilda Alves, para quem existe um jul-
gamento equivocado de que as univer-
sidades, por se localizarem nos gran-
des centros, não teriam capacidade de
formar professores que vivem no interior.
“Existe um movimento de universida-
des públicas em direção ao interior. A
participação delas na formação de pro-
fessores de cidades menores é com
certeza mais cara do que a certificação,
mas a certificação é um caminho equi-
vocado”, atesta.
Entre os estudiosos do tema da for-
mação e da valorização do professor, a
necessidade da criação de vínculos
mais estreitos com a universidade pú-
blica parece unanimidade. De acordo
com a presidente da Anfope, Márcia
Ângela Aguiar, as universidades deve-
riam ser “elemento impulsionador” de
um amplo programa de formação de
mestres em todo o País, que incluiria
programas de Educação a Distância.
Nesse sentido, a Secretaria de En-
sino Superior (SESu) tem tido um pa-
pel importante. Entre as ações imedia-
tas, a SESu se empenha em aplicar a
Resolução 04/97 do Conselho Nacio-
nal de Educação (CNE), que fixa as con-
dições para que os bacharéis possam
dar aula em suas respectivas áreas. Isto
quer dizer, por exemplo, que um médi-
co poderia ministrar aulas de Ciências
Biológicas e um engenheiro aulas de
Matemática e Física.
A Resolução prevê um total de 540
horas de formação específica, das quais
240 seriam voltadas ao estudo e atua-
lização do conteúdo e outras 300 ao
estágio. Especialistas na área sugerem
a ampliação para 880 horas, conside-
rando o tempo necessário para o pre-
paro de material didático e prático. O
processo não levaria mais do que um
semestre e meio.
LicenciaturaPara suprir o déficit de professo-
res de licenciatura, já foi encaminha-
do à Casa Civil projeto do PAE (Plano
de Apoio Estudantil) que garantirá 30
mil bolsas de estudo. Desse total, 20
mil bolsas serão destinadas às insti-
tuições privadas para licenciaturas em
todas as áreas. As 10 mil restantes
serão distribuídas entre as instituições
públicas para todos os cursos.
A seleção terá como critério essen-
cial a baixa condição econômica do can-
didato. O PAE deve ser votado ainda este
ano pelo Congresso Nacional. “A falta
de professores no Brasil hoje não será
resolvida de ime-
diato, porque
não conseguire-
mos solucionar,
de uma hora
para outra,
problemas que
se arrastam
há anos”,
prof
esso
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14
afirma o professor Waldemiro Gremski,
diretor do Departamento de Projetos
Especiais de Modernização e Qualificação
do Ensino Superior da SESu.
A SESu também quer incentivar os
cursos noturnos de licenciatura nas
universidades públicas, que respondem
por apenas 15% das formações em li-
cenciatura no País. Também considera
imprescindível a adoção de uma políti-
ca salarial dividida em vários níveis, com
acréscimos definidos a partir de crité–
rios que incluirão avaliação de desem-
penho e educação continuada. Além
disso, a SESu já encaminhou ao gabi-
nete do ministro proposta sobre piso
salarial, carreira do professor de Edu-
cação Básica, diretrizes de formação
docente e benefícios sociais. A propos-
ta deve ser discutida com urgência.
ProformaçãoNa área de Educação Especial
também existe uma preocupação
crescente com a formação dos pro-
fessores. A Secretaria de Educação
Especial criou um programa nacional
de capacitação de recursos humanos
do ensino regular para atuar junto aos
portadores de necessidades espe-
ciais, inclusive por meio de programas
de Educação a Distância. Com recur-
sos do FNDE, o programa está dispo-
nível para todas as secretarias esta-
duais e municipais.
Os mecanismos de formação a dis-
tância, que podem tornar mais fácil a
integração educacional dos portado-
res de necessidades especiais, tam-
bém ajudarão o Governo a extinguir,
até 2006, a categoria dos professo-
res leigos – aqueles que, principal-
mente nas regiões mais pobres do
País, exercem o Magistério sem for-
mação adequada. Dos 85 mil profes-
sores leigos que lecionavam no País,
em 1998, 27 mil foram atendidos
pelo programa Proformação, da Se-
cretaria de Educação a Distância, e 7
mil devem se formar até ju-
lho de 2004, depois de
exper imentarem
um curso de
dois anos, durante os quais mantêm
encontros presenciais de oito horas
de duração, a cada duas semanas.
Ao final desse período, os profes-
sores obtêm diploma de nível médio em
Magistério e, segundo avaliação exter-
na solicitada pela própria secretaria, pas-
sam a contribuir de forma mais intensa
para o aperfeiçoamento da educação.
“O curso realmente eleva a qualidade
do ensino, além de aumentar a auto-
estima dos professores leigos, que ti-
nham vergonha de sua formação e
eram também discriminados”, relata
Carmen Moreira de Castro Neves, di-
retora do Departamento de Política de
Educação a Distância.
O resultado da iniciativa, diz ela, é
que muitos dos professores que obti-
veram o diploma de Ensino Médio de-
sejam repetir a experiência, agora para
alcançar um certif icado de nível
superior. Por isso, o Governo Federal
já incluiu entre as suas prioridades
para esses quatro anos, expressas no
Plano Plurianual 2003-06, recursos
destinados à formação de todos os
professores leigos – e não mais ape-
nas os do Norte, Nordeste e Centro-
Oeste, como até agora – e o lança-
mento de um programa de gradua-
ção a distância.
A ousadia da iniciativa, que pode
representar um grande passo na
melhoria da qualidade do ensino ofe-
recido no País, deve estar unida, na
opinião da diretora, a medidas desti-
nadas a garantir a permanência do
professor em sala de aula. “A forma-
ção continuada tem que vir acompa-
nhada da valorização da carreira”, su-
gere Carmen. “Caso contrário, o pro-
fessor pode deixar o magistério e fa-
zer outra coisa na vida”.
Uma propostasobre piso
salarial, carreirado professore benefícios
sociais vai serdiscutida com
urgência
prof
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15
Quem trabalha com educação no
Brasil já ouviu falar do Saeb, mesmo
que superficialmente. Sigla para Sis-
tema Nacional de Avaliação da Edu-
cação Básica, trata-se de uma aferi-
ção da qualidade do ensino de Leitu-
ra e Matemática nas 4ª e 8ª séries do
Ensino Fundamental e na 3ª série do
Ensino Médio. Realizado pelo Institu-
to Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP), é
aplicado a cada dois anos numa amos-
tra de escolas de todas as unidades
da Federação.
Paralelamente às provas, alunos,
professores e diretores respondem a
um questionário que colhe várias in-
formações de contexto, com o ob-
jetivo de identificar fatores que in-
f luenciam no aprendizado. São
questões relacionadas, por exemplo,
à formação dos professores, aos há-
bitos de leitura dos alunos e ao uso
de material didático em sala de aula.
Uma nova leitura da última edi-
CENÁRIOS
O SAEB
Aferição do desempenhoem Leitura e Matemática vaiaprofundar análise de temasrelacionados ao aprendizado
ção do Saeb, de 2001, mostrou que
na 4ª série do Ensino Fundamental,
em Leitura, 22% dos alunos não de-
senvolveram habilidades compatíveis
à série e 37% aprimoraram algumas
competências, mas ainda apresen-
tam desempenho bem abaixo do
desejado. Isso demonstra que 59%
dos estudantes estão nos estágios
“crítico” ou “muito crítico” do apren-
dizado.
DepoimentosQuem está na sala de aula, lidan-
do diariamente com as carências co-
muns à maioria das escolas, não se
espanta com os resultados. A direto-
ra da escola Ayrton Senna da Silva,
de Boa Vista (RR), que tem turmas de
5ª a 8ª série do Ensino Fundamental,
comenta que os alunos já chegam
com sérios problemas de leitura e com-
preensão de textos, que deveriam ter
sido sanados nos primeiros anos de
escolarização.
reexaminado
prof
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16
CENÁRIOS
Identificar esse problema e as
razões das deficiências, fornecendo
informações que sejam úteis para
quem está na ponta do processo
educacional, são atribuições de um
sistema de avaliação, assunto que
mobiliza diferentes opiniões de es-
pecialistas e gestores.
João Filocre, secretário-adjunto de
Educação de Minas Gerais, afirma que
não é possível administrar um siste-
ma educacional sem avaliação. “Pre-
cisamos ter um tipo de avaliação mais
freqüente, que consiga abranger ou-
tras séries e disciplinas para poder-
mos ter informações mais completas
de cada escola”.
O pesquisador Júlio Jacobo, coorde-
nador da Unesco no Nordeste, também
defende a avaliação, mas faz ressalvas
quanto à forma de divulgação dos re-
sultados. “O método de divulgação usa
escalas interpretadas que vão de 200
a 500 pontos. Fica muito difícil saber o
que fazer se os alunos, ou o Estado, ou
o município, tiveram 250 pontos. Jun-
to com a avaliação é preciso ter um
leque de respostas que oriente uma
ação determinada”, afirma.
Políticas públicasA dificuldade na interpretação dos
dados do Saeb foi uma das razões que
levaram o INEP a fazer nova divulga-
ção dos resultados da edição de 2001,
a fim de permitir maior entendimento
da situação atual do ensino no País.
Dessa percepção nasceu uma escala
com cinco faixas que se inicia no “muito
crítico” e vai até o estágio “avança-
do”, estratégia que procura traduzir a
escala de desempenho em linguagem
acessível a todos, principalmente aos
gestores das redes de ensino.
Mesmo que ainda parcialmente
compreendido, o Saeb tem fornecido
elementos para a implantação de polí-
ticas públicas. O diagnóstico realizado
auxiliou, por exemplo, na formulação
do Toda Criança Aprendendo, progra-
ma lançado pela Secretaria de Educa-
ção Infantil e Fundamental do MEC, em
junho, que se apóia em quatro pontos
básicos: uma política nacional de valo-
rização e formação de professores; a
ampliação do atendimento escolar; o
apoio à construção de sistemas estadu-
ais de avaliação da Educação Básica; e o
letramento da população estudantil.
A construção dos sistemas esta-
duais de avaliação depende do forta-
lecimento do intercâmbio entre o Mi-
nistério da Educação e os Estados.
Segundo Carlos Henrique Araújo, di-
retor do Saeb, 11 unidades da Fede-
ração mantêm atualmente alguma
parceria com o Saeb nacional na mon-
tagem de seus próprios sistemas,
principalmente quanto à utilização de
itens de prova e ao suporte técnico
para o desenvolvimento de meto–
dologias que propiciam a produção de
informações comparáveis.
Críticas e sugestõesCríticas e sugestõesCríticas e sugestõesCríticas e sugestõesCríticas e sugestõesCom o objetivo de aprimorar o ins-
trumento de avaliação, foram reali-
zados quatro encontros regionais.
Neles, os gestores das redes, direto-
res e professores puderam conhecer
melhor e discutir os resultados do
Saeb. Em seminário realizado no
Recife (PE), que reuniu representan-
tes das Secretarias de Educação dos
Estados nordestinos, os presentes
indicaram, por exemplo, problemas
como a desarticulação entre Secre-
tarias de Educação e o Ministério, a
linguagem técnica dos relatórios e
a não utilização dos resultados para
a elaboração de projetos político-
pedagógicos.
Araújo explica que várias críticas e
sugestões apresentadas nos encon-
tros regionais estarão contempladas
no Saeb 2003, com aplicação previs-
ta para novembro próximo. Como pri-
meiro resultado prático dessa articu-
lação, os Estados do Mato Grosso do
prof
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Sul e do Acre tomaram a iniciativa de
implantar a avaliação universal nas
suas rede de ensino.
UniversalizaçãoManuel Palácios, coordenador do
Sistema Mineiro de Avaliação da Edu-
cação Pública (Simave), é um dos de-
fensores da idéia de que cada unidade
da Federação deva desenvolver seu pró-
prio sistema de avaliação. “É preciso
produzir um consenso técnico a respei-
to dos métodos a serem utilizados. Eles
devem permitir comparações e também
o desenvolvimento de instrumentos de
avaliação por parte dos próprios Esta-
dos e municípios, de acordo com suas
peculiaridades”, diz.
A universalização da avaliação é
defendida pelo secretário-adjunto de
Educação de Minas Gerais. Para ele,
os professores reconhecem suas difi-
culdades quan-
do estão dian-
te de um relatório que fala sobre seus
próprios alunos. “Quando você fala do
grupo de alunos da escola, a comuni-
dade escolar recebe aquelas informa-
ções de modo muito especial”. Essa é
também uma das metas da diretoria
do Saeb, que projeta para 2005 a apli-
cação universal de um sistema de ava-
liação em todas as escolas do País. Isso
deverá ser feito em parceria com as
Secretarias Estaduais de Educação e
as universidades.
Próxima avaliaçãoEntre os dias 3 e 7 de novem-
bro, as provas do Saeb serão apli-
cadas a uma amostra de cerca de
350 mil estudantes de 7,5 mil es-
colas públicas e particulares de to-
dos os Estados e do Distrito Federal.
A partir deste ano, a avaliação pas-
sará a acompanhar o desempenho
dos alunos que participam do progra-
ma Bolsa-Escola. Outra novidade diz
respeito ao questionário socioeconô-
mico aplicado a alunos, professo-
res e diretores, que vai
incluir questões so-
bre o problema
da violência.
A diretoria doSaeb projetapara 2005a aplicação
universal de umsistema de
avaliação emtodas as
escolas do País.Isso deverá ser
feito emparceria com as
SecretariasEstaduais de
Educação e asuniversidades
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docentes
ENTREVISTA / MARIA JOSÉ FÉRES
VALOR AOS
A secretária de Educação Infantile Fundamental anuncia: o MEC vaiinvestir no educador como peçafundamental na mudança daqualidade de ensino
Ampliar o atendimento escolar – com a inclusão de crianças de seis anos no
Ensino Fundamental e escolas de tempo integral – e implementar o Sistema
Nacional de Formação Continuada e Certificação. Essas são algumas das medi-
das anunciadas pela Secretária de Educação Infantil e Fundamental do Minis-
tério da Educação, Maria José Féres, para o combate ao analfabetismo que
atinge quase 60% dos estudantes na Educação Fundamental.
Historiadora, formada pela Universidade Federal de Juiz de Fora, a se-
cretária defende a valorização do professor e a criação de um piso salarial
nacional como instrumentos fundamentais para a garantia da qualidade
na escola pública brasileira – propostas que vem discutindo com repre-
sentantes de vários segmentos da educação, entre os quais professores,
membros de instituições formadoras e gestores da educação.
prof
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19
Quais os principaisprojetos e programasdo atual Governo paraa Educação Infantile Fundamental?
O nosso desafio é ir além do Toda
criança na escola, feito pelo governo
anterior – hoje faltam de três a cinco
por cento de crianças no Ensino Fun-
damental para serem incluídas. E te-
mos as crianças na escola sem apren-
der, o que é uma inclusão pela meta-
de. Inclusão significa que a criança está
na escola, permanece na escola e
aprende na escola. Então lançamos o
programa Toda criança aprendendo.
Como parte das ações da Secretaria,
vamos implementar a Política Nacional
de Valorização e Formação do Profes-
sor, porque entendemos que ele é o
ator fundamental para qualquer mudan-
ça na qualidade de ensino.
Como está a situação daEducação Fundamental noPaís hoje?
Temos 59% das crianças na 4ª sé-
rie de escolaridade formal que não
adquiriram as competências básicas
de leitura e letramento para esse ní-
vel de escolarização. Das que não
lêem nada, o percentual chega a
22,8%. Outras lêem e não identifi-
cam informações explícitas no texto.
Esse problema vai se arrastando e,
quando você chega na 8ª série,
encontra, de novo, o problema do le-
tramento: as competências não foram
adquiridas como deveriam ter sido. O
grande desafio desse Governo é ga-
rantir qualidade na educação, com
inclusão real e não por matrícula,
como tem dito o ministro Cristovam
Buarque.
Qual a diferença entreinclusão e matrícula?
Matriculei o aluno na escola, mas
se ele não aprende, se não tem aces-
so ao mundo letrado, aos bens cultu-
rais e ao mundo da escrita, significa que
não está, de fato, incluído. É uma in-
clusão de faz-de-conta. É importante
fazer com que as crianças permane-
çam na escola e aprendam.
Como o programa Todacriança aprendendo podecolaborar nesse processo?
O programa procura agir em dire-
ção à qualidade da educação com po-
líticas estruturais, sem descartar as
ações de emergência. A emergência
maior é não ignorar que há 59% de
crianças na 4ª série sem saber ler. En-
tre as ações estão a aceleração de
aprendizagem e a promoção de cursos
para que as crianças comecem a recu-
perar o tempo perdido. Mas é impor-
tante fechar a torneira, senão vamos
fazer aceleração o resto da vida. Vou al-
fabetizando as que estão na 4ª série
agora e, se eu não cuidar da 1ª série,
quando elas chegarem na 4ª vou ter de
novo o mesmo problema. Para isso são
necessárias políticas estruturantes.
Que políticas são essas?A primeira é o Programa Nacional
de Formação e Valorização de Profes-
sores, que são os atores fundamentais
para qualquer mudança na qualidade
do ensino. A segunda busca ampliar
para nove anos a duração do Ensino
Fundamental, com a inclusão das crian-
ças de seis anos, que deve ser univer-
salizada. É preciso alterar diretrizes pe-
dagógicas do Ensino Fundamental para
garantir a inclusão dessas crianças.
Estamos fazendo um levantamento jun-
to aos sistemas estaduais e municipais
Maria José: “Vamos ampliar para nove anos a duração do Ensino Fundamental”
prof
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20
não cumpre 40 horas numa mesma es-
cola. Para ele, o piso não valeria. Vale
para um professor que trabalhe numa
mesma rede de ensino.
Qual é o prazo para aimplementação do piso?
No máximo, 2005. Outra questão
é que o piso salarial, atualmente,
está ligado ao Fundef. Queremos que
ele tenha vinculação com o novo fun-
do de financiamento que vai atender
a toda a Educação Básica. Hoje, o
professor que pode receber em fun-
ção do Fundef é só o do Ensino Fun-
damental e isso cria dificuldades nas
redes de ensino, porque as prefeitu-
ras só podem aumentar o salário des-
ses professores se houver recursos no
Fundef. A ampliação do Fundef vai ser
discutida em 2004 e já temos uma
Proposta de Emenda Constitucional
(PEC) que está sendo encaminhada
pelo ministro.
Que outras ações vãobeneficiar os professores?
As Diretrizes Nacionais de Carrei-
ra para o Magistério. Já as temos
hoje, como resolução do Conselho
Nacional de Educação (CNE), e que-
remos transformá-las em lei. Outro
ponto é a institucionalização do Sis-
tema Nacional de Formação Continua-
da e Certificação dos Professores. O
sistema inclui uma Rede Nacional de
Pesquisa e Desenvolvimento da Edu-
cação Básica, responsável pela pro-
dução de cursos de formação conti-
nuada de professores, incluindo ins-
trumentos de Educação a Distância.
Vamos lançar um edital, ainda este ano,
chamando as universidades brasileiras
a concorrerem para a elaboração de
projetos para essa rede de formação
continuada. Ela deve atuar nas áreas
também previstas para certificação do
professor: Educação Infantil, Ensino
Fundamental (quatro primeiros anos),
Língua Portuguesa e Letramento, Ma-
temática, Ciências Humanas, Ciências
da Natureza, Gestão da Educação, Edu-
cação Física, Artes e Avaliação Educa-
cional. Nós discutimos e votamos as
matrizes de referência do sistema em
encontros regionais que contaram com
a participação de 7 mil pessoas.
Como serão os cursos equantos docentes podemser beneficiados?
Vamos discutir com as instituições
formadoras, gestores e os próprios pro-
fessores. O objetivo é que todos os do-
centes dos anos iniciais do Ensino Fun-
damental tenham acesso. A rede vai
ter um componente de formulação e
de execução. Como o MEC investe no
processo de Certificação Docente, que
ENTREVISTA / MARIA JOSÉ FÉRES
de ensino sobre as possibilidades de
cada um adotar essa medida, e como
o MEC poderia contribuir. A Rede Esta-
dual de Educação de Minas Gerais im-
plantará os nove anos do Ensino Fun-
damental a partir do ano que vem. Além
disso, está sendo proposta a amplia-
ção progressiva da jornada escolar e,
até 2010, a consolidação da escola de
tempo integral. Nossa proposta é co-
meçar nas periferias das regiões me-
tropolitanas das capitais, onde o risco
social normalmente é maior para
crianças e adolescentes, e ir gradativa–
mente expandindo.
Como superar asdesigualdades regionais?
Estamos defendendo a criação de
um piso salarial nacional para começar
a combater essas desigualdades. Os
professores, não importa onde estejam,
têm os mesmos direitos de acesso a
bens culturais, de se informar melhor.
Isso tudo exige remuneração mais ade-
quada. Não posso me conformar com
a história de que a criança que nas-
ceu no Estado X tenha uma educa-
ção melhor que a nascida no Estado
Y. Temos que respeitar a diferença,
mas combater a desigualdade.
Já se sabe de quantoserá o piso salarial?
Ainda não. Temos uma proposta de
projeto de lei que o ministro está enca-
minhando para outras esferas de go-
verno e que vamos discutir com a socie-
dade. O que posso dizer é que estamos
trabalhando com a idéia de piso salarial
ligado à jornada de trabalho, que deve
ser de 40 horas na mesma escola. Um
professor que trabalhe em duas redes
– municipal e estadual, por exemplo –
“Está sendo proposta
a ampliaçãoprogressivada jornadaescolar e,até 2010,
a consolidaçãoda escolade tempointegral”
prof
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21
é o outro lado do Sistema Nacional de
Formação e Certificação, a contra-
partida de Estados e municípios seria a
execução da formação continuada. O
MEC financia a Rede Nacional e a for-
mulação dos cursos, além da Cer-
tificação Docente. Os Estados e muni-
cípios executam a Formação Continua-
da de Professores.
Os professores vãoprecisar da Bolsa Federalde Incentivo à FormaçãoContinuada paraparticipar dos cursos?
Todos têm que ter acesso à forma-
ção continuada. A Certificação Docen-
te é um processo em que estamos in-
vestindo para contribuir com a identi-
dade profissional do professor e para,
ao mesmo tempo, trazê-lo para o cen-
tro da vida do Estado brasileiro. É um
compromisso do Estado com ele, ao
mesmo tempo em que certifica as com-
petências que ele foi acumulando ao
longo da carreira. A certificação não é
obrigatória, não é qualificação para dar
aula, não é a licença. É uma forma de
comprovar conhecimentos acumulados.
A certificação sedará por exame?
É o que consta da Portaria do mi-
nistro. Faremos um Exame Nacional de
Certificação Docente, começando com
os professores dos anos iniciais do En-
sino Fundamental, aberto a todos os
que quiserem participar. Das matrizes
aprovadas para o Sistema Nacional de
Formação e Certificação, uma se refe-
re a conhecimentos e habilidades que
todo professor deve ter. A outra, a sa-
beres e competências específicos dos
professores dos anos iniciais. Os apro-
vados nesse exame receberão um cer-
tificado nacional e uma bolsa, que será
um incentivo para que continue perma-
nentemente em formação.
Há proposta parao valor dessa bolsa?
Temos um critério: não será menos
de 20% da média salarial nacional dos
professores, que está entre R$ 550 e
R$ 650. Pode até ser que se amplie
esse valor. Nos encontros regionais so-
licitou-se a inversão na aplicação: pri-
meiro a Rede Nacional de Formação;
depois a Certificação Docente. Com
isso, temos tempo para discutir melhor
a proposta da bolsa e seu valor.
A imprensa tem ditoque o Exame Nacionalde Certificação Docenteé o Provão do professor.Isso é verdade?
Não é verdade, até porque o Provão
não tem matriz discutida com ninguém,
como fizemos com o Exame Nacional
em todo o País, e umas 7 mil pessoas
estiveram envolvidas no processo. Além
do mais, não se trata apenas de fazer
uma avaliação da formação continua-
da. Estamos fazendo um processo de
certificação voluntária dos professo-
res. O Exame Nacional é o modus
operandi dessa certificação e não um
instrumento de avaliação do profes-
sor. O trabalho dele tem que ser ava-
liado pela prefeitura e pelo Estado, pe-
los sistemas estaduais e municipais,
porque é lá que eles trabalham. A úni-
ca coincidência é que se trata de dois
exames. Mas não se pode com-
parar um instrumento com
o outro, fora do
contexto.
“A CertificaçãoDocente vai
contribuir coma identidade
profissional doeducador e, aomesmo tempo,trazê-lo para ocentro da vida
do Estadobrasileiro”
prof
esso
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22
humanoAlessandro Tavares e Paulo Men-
donça, estudantes, têm 18 anos.
Um mora em Sergipe, o outro em
Minas Gerais. Apesar da distância,
dividem o mesmo sonho: buscar so-
luções para um mundo melhor e
mais humano. Enquanto Paulo quer
ajudar o Brasil a incluir pessoas da
terceira idade no mundo digital,
Alessandro deseja que portadores
de necessidades especiais usem um
sistema operacional de computador
comandado por voz.
Alessandro e Paulo poderão tornar
seus sonhos realidade na segunda edi-
ção do Prêmio Técnico Empreendedor,
a ser entregue no dia 8 de dezembro,
em Brasília. O concurso, que teve o pra-
zo de inscrições encerrado agora em
outubro, é promovido pelo Ministério da
Educação e pelo Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae). O objetivo é estimular e pre-
miar soluções empreendedoras desen-
volvidas por alunos de cursos técnicos.
Os projetos, além de tecnicamente viá-
veis, devem contribuir para o desenvol-
vimento socioeconômico de comunida-
PARCERIAS
POR UM MUNDO MAIS
Prêmio Técnico Empreendedorestimula criatividade de alunosda rede federal de Educação
des ou empresas brasileiras.
Segundo Franclin Nascimento, as-
sessor da Secretaria de Educação
Média e Tecnológica (Semtec), há
duas razões para que estudantes de
todo o País participem da iniciativa: o
desenvolvimento de uma cultura em-
preendedora nos jovens e o estímulo
ao potencial criativo do aluno, útil tan-
to em sala de aula quanto na carreira
profissional.
Idoso independenteO sonho de Paulo Mendonça da
Silva, aluno do curso técnico de
Informática do Centro Federal de Edu-
cação Tecnológica (Cefet) de Bambuí
(Minas Gerais), nasceu em sua pró-
pria casa. Ele percebeu a dificuldade
dos avós de se adaptar às engenhocas
do mundo digital, como caixas eletrô-
nicos em bancos, tira-teima de pre-
ços em supermercados e outras.
“Eles ficaram tanto tempo indepen-
dentes, então por que, agora, preci-
sam pedir auxíl io em tarefas do
dia-a-dia?”, questiona Paulo. Segun-
do a professora Aleandra da Silva Fi-
prof
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23
gueira, orientadora do grupo de Pau-
lo, formado por Denison Viana, Gabriel
Mourão, Marilene Messias e Tiago Ara-
újo, os alunos trabalharão inicialmen-
te com as pessoas da terceira idade
do Centro Mocinhas de Ontem, de
Bambuí. “Eles têm que colocar o pla-
no em prática para poder analisar seu
impacto”, diz a professora.
Depois, será a hora de publicar os
resultados e ajudar a fazer a inclusão
digital de mais pessoas. Como um
sonho puxa outro, ganhando ou não o
prêmio, Paulo e os amigos pretendem
levar o projeto adiante.
Necessidades especiaisAlessandro Tavares Santos estuda
Informática no Cefet de Sergipe. Ele
pretende criar um sistema operacional
comandado por voz para pessoas com
necessidades especiais. Segundo o
estudante, há um programa parecido,
mas usado somente para editar tex-
tos e navegar na internet.
Tudo começou quando Alessandro
assistia a um jogo de basquete dispu-
tado por cadeirantes (portadores de
necessidades especiais em cadeiras de
rodas) no pátio da escola. O projeto
desenvolvido pela instituição para in-
centivar a sociabilização despertou em
Alessandro a disposição de trabalhar
com a inclusão. Ele já procura empre-
sas que se interessem pela idéia.
Michele de Andrade, 20 anos, co-
lega de Alessandro, também quer con-
tribuir com soluções para um mundo
melhor. A estudante apresentará um
projeto de portal na Internet sobre Saú-
de e Segurança no Trabalho, profissão
técnica que escolheu. Nesse espaço
virtual, segundo ela, empresários e alu-
nos terão informações para desenvol-
ver projetos, conhecer o ofício e firmar
convênios e parcerias. No portal tam-
bém haverá espaço para divulgar novi-
dades da área, como novos equipa-
mentos e mobiliário ergonômico.
Michele conhece a receita para a
manutenção do sítio na internet. “Virá
de anúncios de empresas, instituições
de ensino e sindicatos”, adianta. Seu
grupo será orientado pelo professor
Cícero Farias, que trabalha com pre-
venção de riscos. Eles querem que o
portal seja uma referência para a área
de saúde e segurança do trabalho.
Saiba mais sobre o prêmioAvaliação — A avaliação dos pro-
jetos será feita em duas etapas, uma
de âmbito regional e outra nacional.
Em cada uma das cinco regiões brasi-
leiras, três projetos serão seleciona-
dos para concorrer à etapa nacional.
Premiação — Na etapa regional,
os autores dos projetos vencedores e
os professores orientadores receberão
certificados de reconhecimento. Equi-
pes e instituições vencedoras ganha-
rão troféus. Na fase nacional, os prê-
mios são de R$ 5 mil para o primeiro
lugar, R$ 4 mil para o segundo, R$ 3
mil para o terceiro, R$ 2 mil para o
quarto e R$ 1 mil para o quinto. O
professor orientador do projeto ven-
cedor receberá, ainda, uma viagem de
estudos, no valor de R$ 4 mil.
Mais informações nos portaiswww.mec.gov.br e www.sebrae.com.br,
pelo endereço eletrô[email protected] pelos telefones (61) 410-8815
e 410-9681
Paulo (à esquerda) e colegas: projeto para ajudar os da terceira idade a lidar com o mundo virtual
FOTO
: AN
DR
ÉIA
LIM
A
prof
esso
r
24
Guaraí é uma cidade de 20 mil ha-
bitantes, a 200 quilômetros de Pal-
mas, Tocantins. Como acontece em
outros municípios do mesmo porte no
interior do Brasil, boa parte da popu-
lação espera que os poderes públicos
ofereçam melhores condições de vida.
O que torna Guaraí diferente é uma
escola, o Centro de Ensino Médio
Oquerlina Torres. Ela é tão importante
para a população carente quanto a
Prefeitura ou a Câmara de Vereado-
res. Isso porque os estudantes, rom-
pendo os limites das salas de aula,
encontraram soluções para problemas
urgentes da população.
A interferência da escola nas ques-
tões da comunidade favoreceu a cons-
trução de quadras de esportes e de
postos de saúde e policiais. Favoreceu
também a implantação de iluminação
pública e a criação de ruas de lazer e
de programas de aperfeiçoamento pro-
fissional em quatro bairros carentes da
PARCERIAS
JUVENTUDE
Estudantes rompem os limitesda escola e encontram soluçõespara carências da comunidade
cidade — Setor Aeroporto, Canaã,
Querência e Setor Pestana.
A ação da escola começa a se ex-
pandir para outros bairros, como o Se-
tor Serrinha. Lá, os moradores obtive-
ram da Prefeitura o fornecimento de
água. “Ninguém pensava que a atuação
da escola atingisse tal dimensão”,
disse a professora Iolanda Noleto, coor-
denadora da área de Ciências Huma-
nas do Centro Oquerlina Torres.
Tudo começou em 2000, no labo-
ratório de Informática da escola. Du-
rante um curso de capacitação, os
professores elaboraram a primeira
versão do projeto Bairros de Guaraí,
cujo objetivo era levar os estudantes
a praticar o que aprendiam nas diver-
sas disciplinas. Dessa forma, ajuda-
riam a alfabetizar famílias carentes,
estudariam a urbanização e a história
dos bairros. Com os conhecimentos
de Matemática e Informática, fariam
um diagnóstico dessa realidade.
protagonista
prof
esso
r
25
O projeto foi além do imaginado.
Quase todos os 949 alunos matricu-
lados se engajaram. Depois de pes-
quisas realizadas nas comunidades,
os estudantes, por meio de planilhas
e gráficos elaborados nos computa-
dores, identificaram uma realidade
cruel e a necessidade de interferir para
transformá-la. Passaram, então, a fa-
zer visitas à Prefeitura e à Câmara de
Vereadores para discutir os problemas
e reivindicar soluções.
Ao perceber o alcance de sua atua-
ção, os estudantes partiram para a se-
gunda etapa do projeto. Promoveram
campanha de doação de alimentos para
o Natal, coletaram brinquedos para as
crianças, organizaram brincadeiras e
contaram histórias escritas e editadas
por eles próprios, em pequenos livros,
nos computadores da escola. Também
foi desenvolvido o projeto Arte das Mãos,
que ensina trabalhos manuais às mu-
lheres e proporciona o aumento da ren-
da familiar.
“O projeto Bairros de Guaraí mu-
dou a escola e os alunos, que se tor-
naram protagonistas do movimento
social. De certa forma, mudou até a
cidade, já que moradores de outros
bairros passaram a procurar a escola
para reivindicar melhorias junto ao
poder público”, contou Leila Ramos,
coordenadora estadual do Programa
Nacional de Informática na Educação
(ProInfo).
Projetos premiadosEntusiasmados com a possibilida-
de de ajudar a comunidade, profes-
sores e estudantes passaram a de-
senvolver outras iniciativas. O Centro
de Ensino Oquerlina Torres teve dois
projetos premiados no concurso
Escola Jovem, da Secretaria de Edu-
cação do Tocantins. Com o dinheiro
dos prêmios será custeada a implan-
tação dos projetos. O primeiro, desen-
volvido pelos professores, é o Passan-
do a Bola, que proporciona a crianças
de sete a 12 anos a prática de espor-
tes em competições interbairros. O se-
gundo é o Entre Vizinhos, elaborado
pelos alunos para integrar as pessoas
da comunidade por meio de reuniões
de debate, concursos e atividades para
desenvolver habilidades diversas.
Os alunos do terceiro ano passa-
ram a ter cursos de Informática Bási-
ca nos 32 computadores da escola,
com orientação profissional e artísti-
ca. “O objetivo do laboratório de infor–
mática é apoiar atividades curri–
culares, mas os estudantes pretendem
trazer a comunidade para a escola e
oferecer conhecimentos úteis no dia-
a-dia”, explicou a coordenadora do
laboratório, Vênes Souza Lopes. “Es-
tou orgulhosa de fazer parte de uma
escola voltada para atender à comu-
nidade e construir um cidadão críti-
co”, afirmou Leila Ramos.
Rua de Lazer:uma das açõesdo projetoBairros deGuaraí, criadopelos estudantesno laboratóriode informática
Prefeito de Guaraí recebeos estudantes que elaboraramo projeto Bairros de Guaraí
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prof
esso
r
26
O Rio Vieira, que banha a cidade
mineira de Montes Claros, foi esco-
lhido pelos alunos da Escola Estadual
Benjamin Versiani para participar do
Riverwalk, projeto internacional que
tem a participação da Universidade de
Michigan (EUA). Estudantes de todo o
mundo trocam informações e fazem
estudos sobre rios e, em conseqüên-
cia, meio ambiente e cultura. Além da
escola mineira, outras dez, de nove
Estados, participam do projeto sob a
supervisão do jornalista Eduardo
Junqueira, estudante daquela univer-
sidade. O Riverwalk tem o apoio do
governo do Japão e parceria com o Pro-
grama Nacional de Informática na Edu-
cação (ProInfo).
No endereço www.riversproject.org
encontram-se informações e relatos
sobre as pesquisas realizadas e
atualizadas pelos próprios estudantes
e professores. Cabe a eles, ainda, re-
digir trabalhos e publicá-los na página
do Riverwalk, além de organizar ativi-
dades educacionais e viagens de estu-
do para pesquisas de campo. “A avalia-
ção é constante e integralizadora, por-
que é dirigida aos alunos e professo-
res”, analisou a professora Maria de
Lourdes Matos, do Núcleo de
Tecnologia da Secretaria de Educação
de Minas Gerais. “Os professores, as-
sim como os alunos, são avaliados e
NOVAS TECNOLOGIAS
RIOS
Escolas brasileirastrocam informaçõescom o mundopelo projetointernacionalRiverwalk
continuamente fazem reflexões sobre
o conhecimento produzido no transcor-
rer do projeto”.
Motivação“Escolhemos o rio Vieira por ser o
que drena a cidade, doente pela po-
luição”, explica Mariângela Paes Aze-
vedo, coordenadora do projeto na es-
cola. Informações e registros escritos
sobre o rio quase não existem. Entre-
tanto, a vontade de mostrar ao mun-
do o desejo de salvá-lo foi maior do
que a tendência de desistir. “Após ár-
duo trabalho, descobrimos que valeu
a pena enfrentar o desafio”, diz a pro-
fessora. Grande parte dos estudan-
tes e professores nem sequer tinha
conhecimento de informática quando
o trabalho começou. Além do diag-
nóstico da situação do rio, o esforço
permitiu aos alunos enriquecer os co-
nhecimentos em Português, Geogra-
fia, Biologia, História, Artes, Matemá-
tica, Física, Química e Inglês.
A Escola Estadual Benjamin Ver–
siani, no bairro Alice Maia, funciona
em três turnos e atende a estudan-
tes de comunidades carentes. São 1,8
mil alunos, que usam um laboratório
com dez computadores, duas impres-
soras e um digitalizador de imagens.
Segundo Eduardo Junqueira, as es-
colas foram escolhidas estrategica-
mente para representar a diversida-
de econômica, geográfica e cultural
do País. Foram escolhidas também
instituições de Brasília, Manaus, Cam-
po Grande, Jaguaribe (CE) e Tapera
(RS), entre outras.
virtuais
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prof
esso
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27
O Programa Nacional de
Informática na Educação (ProInfo)
dedica-se ao processo de informa–
tização e formação de pessoal para o
uso de novas tecnologias no proces-
so de ensino-aprendizagem. Iniciado
em 1997, o programa já instalou
53.895 computadores em cerca de
4,6 mil escolas públicas de todo o
País. Contudo, ele não se restringe à
aquisição e instalação de equipamen-
tos. Tão importante quanto a compra é
a formação de quem vai usar os com-
putadores. Justamente por isso, o
ProInfo já formou 40 mil professores.
Um elemento importante do pro-
grama é o sistema de gestão. Apesar
da execução dos recursos ser centra-
lizada no Ministério da Educação,
equipamentos e processos de forma-
ção são discutidos e negociados com
os Estados, num sistema que respei-
ta a autonomia administrativa e pe-
dagógica de Estados e municípios.
Ao assumirmos a direção do
ProInfo, nós o avaliamos, de fato,
como elemento importante para a
melhoria da Educação no Brasil. As-
sim, decidimos não só mantê-lo, mas
expandir suas metas. No planejamen-
to plurianual foi estabelecida a con-
clusão da proposta de informatização
do sistema escolar público para
2010. Damos, agora, novo passo,
com o lançamento do edital para aqui-
sição de aproximadamente 10 mil
computadores para cerca de mil es-
ARTIGO / AMÉRICO BERNARDES
Informatização das escolas
colas. Isso ocorre no momento em
que o Governo Federal discute a im-
plantação e uso de software livre em
suas várias áreas de atuação.
A discussão atende a vários obje-
tivos: livrar-se do pagamento de licen-
ças sobre softwares proprietários,
substituindo-os por equivalentes livres
de licenças; incentivar a indústria de
desenvolvimento e produção de
software nacional; garantir indepen-
dência e autonomia frente aos pro-
dutores, pois a utilização de software
livre permite o conhecimento do có-
digo que constitui o programa do
computador.
A questão-chave do programa, nes-
se aspecto, é conciliar um modelo de
gestão que respeite autonomias es-
taduais e municipais e, ao mesmo
tempo, incentive a util ização de
softwares livres. Em muitos Estados
já há iniciativas de maior ou menor
alcance visando ao uso desses
softwares. Contudo, a disseminação
pode encontrar resistências. Muitas
vezes, as pessoas sentem-se insegu-
ras antes de adotar uma solução que
ainda não conhecem, em relação à
qual construiu-se até certo mito de
“coisa de iniciados”. Desmistificar isso
e garantir segurança aos usuários é
papel da política que desenvolvemos.
Dessa forma, optamos por utilizar,
como passo para a introdução de
software livre, a distribuição de com-
putadores com dois sistemas ope–
e software livre
racionais: MSWindows e Linux. Ao
mesmo tempo, desenvolveremos
ações de capacitação que permitam
o suporte e o acompanhamento des-
sa política. Serão formados cerca de
mil técnicos e professores para os
mais de 300 núcleos de tecnologia
educacional existentes no País.
Criar comunidades locais e regio-
nais de usuários de software livre é
condição necessária para o sucesso
dessa política. Incentivar a produção
de material educativo baseado em
software livre também será elemento
dessa nova ação. Trata-se de cami-
nharmos em direção ao futuro, à ex-
pansão de possibilidades de uso e
construção do conhecimento, e de
nos recusarmos a aceitar a postura
de usuários passivos. A adoção de so-
luções livres abrirá novo espaço de
ação. O que buscamos, em síntese,
é trabalhar com os diversos elemen-
tos que permitirão o êxito dessa linha
de ação.
“Incentivar a produção dematerial educativo baseado
em software livre também seráelemento dessa nova ação”
EDU
CAR
VALH
O
Américo Bernardesé diretor do ProInfo/MEC
prof
esso
r
28
camiOs estudantes não são anjos: têm
sexo. Talvez a vida fosse mais simples
se eles só descobrissem isso depois de
adultos, mas hoje a atividade sexual do
jovem brasileiro começa, em média,
aos 14,5 anos. Não importa a posi-
ção, conservadora ou não, que as fa-
mílias assumam nessa polêmica. O fato
é que muitas acabam enfrentando si-
tuações bastante difíceis com os filhos
adolescentes, como gravidez precoce,
a disseminação de doenças sexualmen-
te transmissíveis (DST) e casos de Aids.
Os números assustam. Entre 1999
e abril de 2003, o Sistema Único de
Saúde (SUS) registrou 210.946 partos
de meninas entre dez e 19 anos. Os
atendimentos de curetagem por abor-
to totalizaram 219.834 casos. A ocor-
rência de Aids entre meninas e meni-
nos dos 13 aos 19 anos chegou a
5.597 casos naquele período.
Enquanto diminuiu o índice de con-
taminação pelo HIV entre os grupos ini-
cialmente mais atingidos pela doença
COMPORTAMENTO
VISTA ESTA
Saiba tudo sobre o projetode prevenção à saúde, jáiniciado na escola pública
(homossexuais e profissionais do sexo),
aumentou a ocorrência entre os hete-
rossexuais. A proporção de contamina-
ção feminina também cresceu: na fai-
xa etária de 15 a 19 anos, é de duas
mulheres para cada homem infectado.
Nesse contexto de preocupação e
alerta, os ministérios da Saúde e da
Educação lançaram o projeto Preven-
ção e Saúde nas Escolas. A proposta con-
siste, basicamente, em tornar disponível
em escolas públicas uma quantidade
determinada de preservativos masculinos
(oito por mês) para alunos entre 15 e 19
anos com vida sexual ativa. O objetivo é
bem claro: proteger e salvar vidas.
Mas nem todos os alunos de esco-
la pública receberão preservativos. O
MEC é enfático ao anunciar que não
haverá distribuição generalizada nas
escolas. Somente as que desenvolvem
ações preventivas de DST/Aids e têm
um trabalho de formação de professo-
res na área de sexualidade serão indi–
cadas pelas secretarias estaduais e
prof
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29
saSão muitas
as ocorrênciasde gravidez na
adolescênciae preocupa também
a disseminaçãodo HIV e outras DST
nessa faixa etária
prof
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30
COMPORTAMENTO
municipais de Educação e Saúde. Tam-
bém precisa haver concordância por
parte da comunidade.
AtendimentoO Brasil tem 17,7 milhões de ado-
lescentes entre 15 e 19 anos. A popu-
lação escolar nessa faixa etária é de
8.931.041 no Ensino Fundamental e
5.747.768 no Médio em escolas ur-
banas e rurais.
As metas de atendimento prevêem
a entrega de 256 mil camisinhas a
30 mil alunos até dezembro deste
ano, e de 235 milhões de unidades,
por ano, a 2,4 milhões de jovens, até
2006.
Os municípios selecionados para
o projeto-piloto são Xapuri, Rio Bran-
co (Acre), São José do Rio Preto, São
Paulo (São Paulo) e Curitiba (Paraná),
onde o programa foi lançado em 19
de agosto deste ano.
PesquisasPesquisas científicas realizadas no
Brasil e no exterior trazem luz sobre a
prevenção contra a DST/Aids e a gravi-
dez na adolescência. O professor Edgar
Hamman, da Universidade de Brasília,
doutor em Epidemiologia, foi o respon-
sável pela condução de uma delas em
duas escolas públicas do Distrito Fe-
deral, com a participação de 412 alu-
nos com idades entre 13 e 18 anos.
Nesse grupo, aproximadamente
60% das meninas e meninos admiti-
ram experiências sexuais com penetra-
ção. A média para as garotas era de
um parceiro; para os garotos, de três
parceiras. Enquanto 63% declararam o
uso de preservativo em relações even-
tuais, nas relações estáveis (namoro),
a grande maioria, o percentual caiu para
21%. “Constatamos que essa utiliza-
ção não era tão regular quanto deveria
ser”, afirma Hamman.
Mesmo que houvesse alguma inibi-
ção dos jovens ao pedir camisinhas nos
balcões de farmácias, 79% deles com-
praram os preservativos. Outros 4% usa-
ram material cedido por organizações
não-governamentais e 2% conseguiram
as camisinhas por meio do serviço pú-
blico de saúde. “Houve relato de pro-
cura nos postos de saúde, mas ali a
distribuição é restrita a participantes de
programas de planejamento familiar”,
pontua o pesquisador.
O professor Hamman afirma que
dar aos jovens o acesso gratuito a pre-
servativos é uma ação de prevenção
eficaz. “A experiência brasileira de-
monstra que foram obtidos bons re-
sultados em outros grupos”, diz. A pro-
moção à saúde, explica Hamman, é
o tipo de ação preventiva que
extrapola o âmbito dos hospitais,
como o ensino da escovação dentária
correta. Isso pode ser feito em em-
Serão entregues 256 mil preservativos a 30 mil alunos,até dezembro próximo, e 235 milhões de unidades,por ano, a 2,4 milhões de jovens, até 2006
prof
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31
O projeto não incentiva ainiciação sexual precocedos adolescentes?
Não. Pesquisas nacionais e inter-
nacionais comprovam que isso não
ocorre. Ao tornar preservativos mas-
culinos disponíveis nas escolas, preten-
de-se atender adolescentes sexualmen-
te ativos, e isso está vinculado ao con-
texto do trabalho de educação em saú-
de para a construção de vivência sau-
dável da sexualidade.
Os pais serão consultados?
Certamente. É necessário que toda
ação preventiva contemple os diversos
protagonistas. Pais, professores e alu-
nos serão consultados e estabelece-
rão a estratégia que a escola adotará
na implantação do projeto.
Como os alunos terãoacesso aos preservativos?
O acesso ao preservativo faz parte
de um trabalho amplo, a ser desen-
volvido junto às instituições de ensi-
no. O sistema de entrega obedecerá
a critérios estabelecidos em cada
município e adequados às necessida-
des e características específicas de
cada escola e região.
Quantos preservativosestarão disponíveis paracada aluno?
O cálculo estimado de preservativos
tem sido de oito unidades por mês por
adolescente. A distribuição deve con-
templar a população sexualmente ati-
va, o que corresponde, hoje, a 32% dos
adolescentes entre 15 e 17 anos e a
73% com idade superior a 18 anos.
O projeto pode integrar agrade curricular dasescolas de mododefinitivo e obrigatório?
O currículo é definido pelos siste-
mas educacionais e pelas unidades es-
colares a partir da formulação de seus
projetos político-pedagógicos. Não há
poder de gerência externa sobre ele.
A adesão de escolas será feita por
meio das secretarias municipais e es-
taduais de Saúde e Educação. As es-
colas selecionadas devem capacitar
professores e desenvolver trabalhos
preventivos em DST/Aids, além de
mobilizar a comunidade escolar.
Os professores terão aobrigação de participarda educação sexual dosalunos?
A educação no campo da sexuali-
dade ocorre nos mais diversos cená-
rios. Um deles é a escola. Lá, o profes-
sor pode participar de modo direto ou
indireto. Há professores dispostos a
contribuir na prevenção da Aids.
Qual a relação dasescolas com as unidadesde saúde?
As unidades de saúde participarão
do projeto como receptoras e arma–
zenadoras dos preservativos e como au-
xiliares no monitoramento e na avalia-
ção do processo. É necessário haver
interlocução e trabalho
conjunto das redes
de educação
e saúde.
TIRA-DÚVIDAS
presas, associações comunitárias e
em qualquer ambiente. “Pelo caráter
de formação do jovem, a escola é o
ambiente ideal para ações de promo-
ção à saúde”, enfatiza o pesquisador.
Conflito de geraçõesAs diferenças de mentalidade em
relação à atividade sexual existem,
com posições firmes de cada lado.
Mas a realidade muitas vezes atro-
pela crenças pessoais. No caso es-
pecífico dos adolescentes, os pais se
deparam com situações que não es-
colheram, mas que são obrigados a
enfrentar.
No Rio de Janeiro, a atriz
Alessandra Menezes, 32 anos, é uma
entre milhões de mães a lidar com a
situação. Ela tem um filho de 14 anos
que assumiu já ter mantido relações
sexuais. “Fazer o quê? Para quem é
da minha geração é muito cedo, mas
as coisas agora são assim. É compli-
cado impor uma mentalidade vista por
eles como ultrapassada”, afirma.
“A gente se preocupa e se esfor-
ça para conversar e orientar bem,
mas eles dizem que já sabem tudo”,
diz Alessandra.”Hoje, a turma não
namora, fica.E nesse ficar, não se
sabe quem ficou com quem ou até
onde chegaram”, pondera a atriz. Se
a situação não é a que ela conside-
ra ideal, uma atitude ela cobra do
filho: o uso da camisinha.
prof
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TEORIA E PRÁTICA
PLUGADOS NA
telinhaProfessora de Taguatinga (DF)usa televisão e cinema paraalfabetizar e motivar alunos
Melhorar a auto-estima dos estu-
dantes e valorizar os interesses que eles
manifestam. Essa é a receita usada pela
professora Nadir Oliveira, 42 anos e 20
de profissão, para atrair a atenção da
turma de aceleração da 3ª e 4ª séries,
formada por crianças semi-analfabetas,
de 11 a 15 anos, da Escola Classe n°
15, em Taguatinga, cidade-satélite de
Brasília. “Percebi que eles gostam muito
de ver televisão e que, a partir daí, era
possível despertar a vontade de apren-
der e a busca pelos sonhos, pois são
crianças em defasagem escolar, que acu-
mulam fracassos”, conta. O trabalho de
Nadir Oliveira foi recompensado, pois o
projeto De olho na tela, de sua autoria,
obteve o Prêmio Incentivo à Educação Fun-
damental, do Ministério da Educação/Fun-
dação Bunge (leia boxe).
Os filmes vistos em sala de aula,
assim como programas de televisão a
que as crianças assistem em casa, mo-
tivam discussões e atividades de clas-
se sobre vários temas – violência, fa-
mília, preconceito etc. Um dos casos
que mais chamaram a atenção da tur-
ma foi o do garoto Pedrinho, raptado
quando recém-nascido de uma mater-
nidade, em Brasília. Os alunos usaram
as contas de luz que traziam fotos de
crianças desaparecidas para fazer um
mural e aprender Matemática e Geo-
grafia do Distrito Federal. Passaram a
ler jornais e revistas e treinaram orto-
grafia escrevendo redações e cartas
para Lia, a mãe verdadeira de Pedrinho.
RelacionamentosO programa Big Brother Brasil, da
Rede Globo, deu o pontapé inicial no
projeto. Percebendo o interesse dos
meninos e meninas, Nadir propôs
realizar o Big Brother Sem Preconceito
e usou o teatro para discutir temas
como discriminação e diferença na
escola. Ela conta que foi um modo
de trabalhar problemas de relaciona-
mento entre os colegas, como brigas
e apelidos maldosos, além de trans-
prof
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33
mitir noções de respeito e responsa-
bilidade. Outros assuntos discutidos
foram a Guerra do Iraque e a impor-
tância da paz. Como resultado do tra-
balho, os estudantes apresentaram a
peça A Última Flor. O tema atual é o
idoso, por causa da personagem Dó-
ris, que maltratava os avós na novela
Mulheres Apaixonadas, da TV Globo. A
turma chegou a visitar um asilo e levou
produtos de higiene e agasalhos para
os idosos. Com o tema, Nadir está dis-
cutindo conteúdos como as fases da
vida (em Ciências) e cidadania.
Além dessas atividades, há
A Música da Semana – em que, com
o tema atual, idoso, estão sendo tra-
balhadas músicas antigas – e o Mu-
ral da Segunda-Feira (TV Notícias),
onde as crianças produzem textos
contando o que aconteceu na esco-
la, na comunidade, e o que elas vi-
ram na TV durante o fim de semana.
Leitura como diversãoA Escola Classe n° 15 tem 18 pro-
fessores e 474 estudantes. Embora
fisicamente pequena para atender ao
grande número de alunos da comu-
nidade, possui boa infra-estrutura e
conta com coordenação pedagógica,
sala de vídeo e biblioteca. O emprés-
timo de livros é alternado com apre-
sentações teatrais dos alunos e his-
tórias contadas pelos professores,
quinzenalmente.
A leitura é muito estimulada em sala
de aula. Toda semana, Nadir conta uma
história em sala e os estudantes levam
livros para casa. As leituras, no entan-
to, não são cobradas. “Os meninos sem-
pre associaram a leitura a uma obriga-
ção, a algo desagradável. Meu objetivo
é que eles tenham prazer lendo, ou
seja, que façam da leitura uma diver-
são. Por isso não cobro as leituras, nem
em provas, nem em trabalhos”.
O estímulo à criação de leitores e
escritores faz parte de um dos três
eixos do projeto pedagógico da escola,
chamado de Qualidade de vida. Os
outros dois são: A Retomada de Valores
Éticos e Morais e O Posicionamento Ético
em Relação ao Meio Ambiente.
Professora Nadir rodeada pelos alunos: “Percebi que eles gostam muito de TV”.Um dos temas que mais chamaram a atenção da turma foi o caso Pedrinho
Competênciareconhecida
As 20 professoras que conquis-
taram o Prêmio Incentivo à Educa-
ção Fundamental este ano foram
homenageadas no Dia do Profes-
sor, 15 de outubro, no Ministério
da Educação, quando receberam
R$ 5 mil, certificado da Fundação
Bunge, diploma de honra ao méri-
to, viagem e estadia na Capital
Federal, por quatro dias. Além das
20 vencedoras, entre 1.376 pro-
jetos inscritos, três professoras re-
ceberam Menção Honrosa.
As premiadasAs premiadasAs premiadasAs premiadasAs premiadasJaqueline Maria de Souza Dias
(AM); Raquel Sales Caldas de
Santana (BA); Ninfa Emiliana Freire
S. Fausto (BA) – Menção Honrosa;
Cláudia Simone F. Caixeta Gomes
(DF); Nadir da Trindade Chaves Oli-
veira (DF); Eliene Maria Ferreira
(GO); Eleusa Maria Rodrigues Viana
(MG); Maria Rita Lorêdo de Souza
(MG) – Menção Honrosa; Cleide
Maria Ferreira Pereira (MS); Suzi
Gleide Lewandowski de Aquino
(MS); Maria do Socorro Nunes
Francisco (PE); Josefa Rocha de
Abreu Saraiva (PI); Roméa Almeida
Ribeiro (PI) – Menção Honrosa;
Marisete de Souza Lacerda (PR);
Dinamara Padilha da Silva (PR); Ana
Maria Teixeira Costa (RJ); Maria So-
lange Nogueira de Aquino (RN);
Marilete Bernardi Nunes (RO); Tâ-
nia Traub Fries (RS); Ana Regina
Gehlen (RS); Cláudia Salete Mozer
(SC); Edelisía Magalhães Araújo
(SE); Luciana Regina Zaniratto (SP).
prof
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34
Crianças tristes, cabisbaixas, que
choravam à toa e detestavam ir à es-
cola. Era esse o retrato da Escola Mu-
nicipal Marcínio Pereira de Castro, em
Cruzeiro (SP). A situação começou a mu-
dar depois que a professora de Educa-
ção Infantil Vera Lúcia Gigliotti colocou
em prática o projeto E por falar em
saudade..., uma tentativa de resgatar
a auto-estima de alunos com sérios pro-
blemas familiares. O projeto deu tão
certo que a professora Vera Lúcia aca-
bou arrebatando o Prêmio Qua-
lidade na Educa-
TEORIA E PRÁTICA
EMOÇÕES EM
Professora trabalha auto-estima dealunos com a integração dos pais
ção Infantil 2003 (ver boxe).
“Depois que passamos a trabalhar
as emoções, com a participação dos
pais, as crianças ficaram mais alegres
e perderam o medo de expressar seus
sentimentos no papel. O trabalho des-
pertou o diálogo e resgatou valores”, co-
memora a professora. Ela conta que a
maioria das crianças da turma do Pré
III, formada por alunos de cinco e seis
anos, convive com pais separados, de-
sempregados, mães agredidas moral e
fisicamente, alcoolismo e drogas. Pro-
blemas que afetam diretamente o de-
sempenho escolar. Foi para lidar me-
lhor com a situação, que,
sala de aula
prof
esso
r
35
depois de um diálogo com a diretora
da escola, Suely Salotti, surgiu o E por
falar em saudade...
O projeto é baseado na história Col-
cha de retalhos, de Conceil Corrêa da
Silva e Ney Ribeiro Silva. Outro texto,
Descobrindo sentimentos, de Paula
Boulanger Noce, inspirou a escolha do
tema saudade, que aguçou a curiosi-
dade e mexeu com a emoção da
meninada.
Saudade-carinhosa, saudade-triste,
saudade-alegre, saudade-amor foram
os sentimentos trabalhados. Saudade
da avó que morreu; dos tempos de cri-
ança; de quando os filhos eram bebês.
Os alunos se interessaram e
interagiram com os pais, chamados a
participar do projeto. Depois que o livro
foi lido em casa, com a família, os pais
enviaram um pedacinho de pano com
O Prêmio Qualidade na Educa-
ção Infantil é uma parceria entre o
MEC, a Fundação Orsa e a União
Nacional dos Dirigentes Municipais
de Educação (Undime). Instituído
em 1999, o Prêmio objetiva esti-
mular e valorizar práticas educativas
vitoriosas e de qualidade, que pos-
sam servir de referência a outros pro-
fissionais. Nelas, o professor é o
principal agente no processo de
melhoria da qualidade do ensino. O
Prêmio também é um incentivo para
Estados e municípios investirem na
Educação Infantil.
Cada Estado teve um ganhador,
com direito a R$ 3.000,00, certifi-
cado e kit pedagógico, entregues no
dia 16 de outubro pelo ministro da
Experiências vitoriosasEducação, Cristovam Buarque. As es-
colas e as Secretarias de Educação do
município serão contempladas com
estatuetas. A Secretaria de Educação
Municipal de Cruzeiro – de onde saiu o
projeto E por falar em saudade..., da
professora Vera Lúcia Gigliotti dos Reis
– receberá materiais pedagógicos, brin-
quedos, livros, instrumentos musicais, dis-
cos, TV, vídeo e computador.
Estes são os ganhadores do Prêmio
Qualidade na Educação Infantil 2003:
Maria da Conceição Pinheiro de Oli-
veira Pedrosa (AC); Alda Martins San-
tos Bispo (AL); Cristiane Nascimento
(AM); Maria Saliana de Siqueira Batis-
ta (AP); Cecília Maria Mourão Carvalho
(BA); Vanny Bezerra de Araújo (CE);
Francinéia F. Gomes Soares (DF); Dul-
ce Mara de Lima Freitas (ES);
Adriane de Fátima Felipe Rosa (GO);
Lisiane de Jesus Carneiro Piancó
(MA); Stefânia Padilha Costa (MG);
Cristina Pires Dias Lins (MS); Juliethe
Aparecida Miranda Riva (MT); Maria
do Socorro Cezar da Silva (PA); Nadja
dos Santos Araújo (PB); Ana Lúcia
Hilário dos Santos (PE); Sandra Re-
gina Araújo de Souza (PI); Maria
Aparecida Duarte (PR); Maria Cristina
Rodrigues Silva Moreira (RJ); Evanir
de Oliveira Pinheiro (RN); José Gil-
berto Senger (RO); Isis Maia Malvas
(RR); Carla Seelig Soares Ribeiro
(RS); Andréia Roncáglio (SC); Elisa-
bete Teles Souza Santos (SE); Vera
Lúcia Carvalho Gigliotti dos Reis (SP);
Flaviana Rodrigues Silva (TO).
Vera Lúcia (de branco): destaque nacional entre os projetos premiados
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a sua história. Vieram fotos, relatos, de-
senhos, e assim nasceu Colcha de re-
talhos, na versão da Escola Marcínio
de Castro.
Para identificar sentimentos, os alu-
nos leram e dramatizaram outras his-
tórias infantis, além de assistirem a
vídeos, como A Bela e a Fera. “As
crianças descobriram que todo mun-
do sofre, e não apenas elas. Havia,
por exemplo, um distanciamento delas
com um dos alunos, cujo pai está na
cadeia. Por meio do trabalho, os cole-
gas passaram a entendê-lo e o aco-
lheram melhor”, revela Vera Lúcia.
E por falar em saudades foi desen-
volvido entre abril e junho deste ano e
beneficiou 60 crianças. A intenção agora
é expandir a iniciativa para outras es-
colas do município.
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36
PORTUGUÊS AFIADOA frase do mês
“Quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê.”
MaceteQuer que seu aluno perca o
medo de escrever? É fácil como
andar pra frente. Peça a ele que
escreva todos os dias uma página.
Pode ser sobre qualquer assunto: a
aula de segunda-feira, um comen-
tário sobre um capítulo da novela, a
partida de futebol, a paquera do fim
de semana, a discussão com o pai.
Depois, não recolha o texto.
Nem peça para lê-lo. Mande-o jo-
gar a obra no lixo. Em um mês, a
cabeça e as mãos do garoto fi-
cam desinibidas. O medo? Fará
companhia aos papéis descarta-
dos. Já vai tarde.
Monteiro Lobato
FFFFFeminismo lingüísticoeminismo lingüísticoeminismo lingüísticoeminismo lingüísticoeminismo lingüístico A discussão corria solta. O tema: o nome da revista do MEC.
Chamá-la Professor não seria sinal de machismo? Por que não
Professor e Professora? Alguém lembrou o slogan do Governo –
“Brasil de todos”. Não deveria ser Brasil de todos e todas?
A história começou com o movimento feminista. Nos anos 60, as
mulheres foram à luta. Queriam os mesmos direitos dos homens.
Abusaram dos trajes masculinos. Desfilaram barrigas grávidas. Quei-
maram sutiãs em praça pública. E chegaram lá.
Depois, partiram pra outras. O alvo foi a língua. “O português é
machista”, decretaram elas. Ao englobar os gêneros, a palavra fica
no masculino. “Dia do Professor” homenageia mestres e mestras.
“Meus filhos” inclui filhos e filhas. “É injusto”, disseram.
Os políticos, de olho no voto delas, entraram na onda. “Brasi-
leiros e brasileiras”, saudava José Sarney. “Meus amigos e mi-
nhas amigas”, dizia Fernando Henrique. “Companheiros e com-
panheiras”, cumprimenta Lula. Há pouco, João Paulo Cunha de-
cidiu: “Doravante, a Câmara dos Deputados será Câmara dos
Deputados e das Deputadas”.
A diferença de gênero virou obsessão. Reações não faltaram. Millôr
Fernandes dirige-se às “pessoas e pessôos”. Luiz Fernando Veríssimo
fala em “povo e pova”. Alguém sugeriu
distinguir “humanidade e mulhe–
ridade”. Em suma: a coisa passou a
cheirar a Odorico Paraguassu.
A língua é machista? Nada mais
injusto. A coitada nem marca o mas-
culino. O o de menino não caracte-
riza o sexo. É a vogal temática da palavra.
Opõe-se ao a de menina. O a, sim,
denuncia o feminino. O mesmo ocor-
re com professor, mestre & Cia. A
gente diz que pertencem ao gênero
masculino porque se opõem às for-
mas professora e mestra.
Em suma: a língua não está nem
aí pro masculino. Só marca o feminino.
Tudo falaSer professor é ser artista.
O mestre não só tem de ensi-
nar conteúdos. Tem, sobretudo,
de motivar a garotada, prender-
lhe a atenção. Um dos recursos
é harmonizar o corpo com as
palavras. Ao falar, a gente se
comunica por inteiro. A expres-
são do rosto, os gestos, o olhar,
a respiração, a voz, a maneira de
vestir-se – tudo conta. Segundo
pesquisa da Universidade de
Stanford, o corpo responde por
45% da mensagem; o tom da voz,
20%; as palavras, 35%.
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CAR
VALH
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Dad Squarisi
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Estado
Acre
Ceará
Goiás
Maranhão
Mato Grosso do Sul
Paraíba
Piauí
Município
Assis Brasil, Brasiléia, Epitaciolândia e Xapuri
Aratuba, Ibicuitinga, Jati e Icapuí
Cabeceira, Corumbá de Goiás, Mimoso e Vila Boa
Cajapió, Santana e Feira Nova
Corguinho, Douradina e Tacuru
Coxixola, Curral de Cima, São Mamede e Teixeira
Acauã, Bela Vista do Piauí, Cajueiro da Praia, Caxingo,
Guaribas, Paes Landim, Pimenteira, Santa Filomena,
São João do Piauí e Valença do Piauí
Municípios selecionados no âmbitodo Programa Escola Ideal
CRÉDITO AUTOMÁTICO
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva anunciou no Dia do Professor,
15 de Outubro, condições especiais
nos programas de financiamento da
casa própria para os educadores da
rede pública de ensino. Os minis-
t ros da Educação, Cr istovam
Buarque, e das Cidades, Olívio Dutra,
assinaram protocolo de intenções
formalizando a parceira, durante so-
lenidade em homenagem aos do-
centes no Palácio do Planalto.
O benefício será implantado por
meio de convênio entre a Caixa Eco-
nômica Federal (CEF) e as prefeitu-
ras ou os Estados, quando os edu-
cadores pertencerem à rede esta-
dual de ensino. O programa simpli-
fica as exigências para concessão de
crédito e, ainda, viabiliza o débito
das prestações como desconto na
folha de pagamento.
O protocolo, elaborado pelo Mi-
nistério das Cidades, prevê que es-
sas condições especia is sejam
implementadas, inicialmente, nos
100 municípios do Projeto Escola
Ideal do MEC (ver tabela). No en-
tanto, nada impede que qualquer
outro município adote o sistema.
Basta o prefeito formalizar um con-
vênio com a CEF. Como contra–
partida das prefeituras e dos Esta-
dos, o programa estabelece a dis-
posição de áreas ou infra-estrutura
para a construção de moradias.
CondiçõesA aprovação do financiamento pela
Caixa será praticamente automática
para professores das redes federal,
estadual e municipal. A análise da ins-
tituição financeira se limitará a verifi-
car o percentual de comprometimen-
to de renda, mediante apresentação
do comprovante de pagamento e a
pesquisa cadastral. Não será exigida
apresentação de perfil ou comporta-
mento em operações de crédito. Es-
sas condições serão destinadas aos
professores que tenham renda fa-
miliar de até dez salários mínimos.
Com os recursos, os professores
podem adquirir imóvel, arrendar ou
reformar unidades habitacionais. Os
critérios limitam as concessões de cré-
dito a educadores públicos que sejam
efetivos no cargo há mais de três anos,
não tenham propriedade ou imóvel em
qualquer localidade do País nem se-
jam beneficiários de outro tipo de fi-
nanciamento imobiliário e, ainda, pos-
suam dependentes ou agregados.
Mais informações no endereço eletrônicowww.cidades.gov.br
PROFESSORES COM
casa própria
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Creuza Prunkwyj Krahô é professo-
ra da escola indígena da aldeia Krahô,
no Tocantins. Sua filha mais velha,
Letícia, estuda na Escola Timbira do
Centro de Ensino e Pesquisa Pinxyj
Himpèjxà, em Carolina (Maranhão).
Creuza, que nunca estudou com pro-
fessores de outras etnias, foi alfabe-
tizada pelo marido, Sabino Koyame,
que também aprendeu a ler e a es-
crever com os professores da aldeia.
Ambos lecionam para cerca de 30 alu-
nos dos dois primeiros ciclos da esco-
la, que faz parte de um projeto de
ensino desenvolvido especificamente
para os povos Timbira, respeitadas
suas tradições, cultura e língua.
Os professores indígenas formados
pelo Centro de Ensino e Pesquisa de
Carolina fazem, posteriormente, o cur-
so de formação da Gerência de Desen-
volvimento Humano do Maranhão. Já
se formaram 146 professores de nível
médio, de acordo com proposta de
magistério indígena aprovada pelo Con-
DESAFIOS
tradiçõesRESPEITO ÀS
Povos Timbira querem formarsociedade autêntica, educada porprofessores de suas comunidades
selho Estadual de Educação.
O estabelecimento de uma pro-
posta curricular diferenciada, que res-
peite a cultura e a tradição dos índi-
os, é um dos grandes desafios da
Educação Escolar Indígena no Brasil,
assim como a formação de professo-
res como Creuza e Sabino, perfeita-
mente identificados com suas comu-
nidades e habilitados para passar à
frente seus conhecimentos.
Etnia De acordo com o Centro de En-
sino e Pesquisa de Carolina, os Timbira
são, hoje, cerca de oito mil índios, em
seis povos espalhados pelo Maranhão
e Tocantins, entre os quais os Krahô.
Em terras indígenas, contam com 38
escolas, que fazem parte do modelo
proposto pelo Centro Timbira, vincu-
lado à Associação Vyty-Cati dos Povos
Timbira do Maranhão e do Tocantins.
Letícia Jonkàkwy, filha de Creuza e
Sabino, representa a terceira geração
formada pelo programa de Educação
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39
Os Timbira são,hoje, cerca de oitomil índios, em seispovos espalhadospelo Maranhão eTocantins, entreos quais os Krahô
do Centro de Trabalho Indigenista (CTI),
organização não-governamental que
há 20 anos atua entre os Timbira. A
experiência inovadora desenvolvida
pelo Centro de Carolina, no qual es-
tudam 60 jovens indicados por pro-
fessores que atuam nas aldeias, é
considerada modelo.
LegalizaçãoA proposta curricular definida pela
Escola Timbira, que leva em conside-
ração o universo cultural indígena, foi
encaminhada à Gerência de Desen-
volvimento Humano do Maranhão e
aguarda aprovação pelo Conselho Es-
tadual de Educação. O procedimento
é estabelecido em lei. De acordo com
a super–visora de Educação Escolar In-
dígena da Secretaria, Kátia Núbia
Ferreira Correa, não há prazo definido
para a emissão do parecer.
O antropólogo Luís Augusto Nasci-
mento, que integra a equipe do CTI
em Carolina, explica que a proposta
curricular é elaborada com a partici-
pação de técnicos da Fundação Nacio-
nal do Índio (Funai), de educadores
do CTI e, especialmente, da Comis-
são de Professores Timbira, essa últi-
ma a principal articuladora da política
educacional para seu povo. A comis-
são atua ainda no Comissão Nacional
de Professores Indígenas do Ministé-
rio da Educação e no Conselho de Edu-
cação Indígena do Tocantins, com um
representante em cada entidade.
Críticos e conscientes“Meus alunos são crianças mehin
(índios) e estão aprendendo leitura
dos brancos, mas sabem cantar nos-
sos cantos, sabem da festa do ritual
e todas as coisas que a gente faz aqui
na aldeia — tecer esteira, mocó de
palha, fazer uma caçada e pescar”,
afirma Creuza.
Essa é a linha da política de
Educação Escolar Indíge-
na do MEC, expli-
ca Kle–ber
Gesteira, coordenador-geral de Educa-
ção Escolar Indígena do Ministério. Ele
esclarece que a proposta é respeitar e
apoiar o magistério indígena, que deve
ter autonomia para definir o próprio pro-
cesso educacional, como determina a
Constituição. Para isso, os diversos po-
vos contam com a assessoria técnica
do Ministério da Educação. As secreta-
rias estaduais exercem o papel
institucional de normatizar os projetos
pedagógicos.
A proposta formulada pelo Centro
Timbira prevê a formação de índios
com visão crítica e melhor conheci-
mento do que ocorre ao seu re-
dor, sem perder as
raízes da pró-
pria cultura.
A proposta curricular da EscolaTimbira aguarda aprovaçãopelo Conselho Estadual deEducação do Maranhão
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tureza e qualidade de vida.
São 250 horas de aula em Caroli-
na e 750 nas aldeias, a cada etapa
de aprendizagem. Em um ano, o es-
tudante deve cumprir três etapas. Para
a conclusão do Ensino Fundamental,
devem ser cumpridas 7,2 mil horas. A
equipe do CTI, integrada por profes-
sores indígenas, educadores e antro-
pólogos, entende que, no futuro, com
a evolução do preparo dos professo-
res, essas etapas serão cumpridas nas
próprias aldeias.
O Centro de Trabalho Indigenista
conta com financiamento da institui-
ção norueguesa Rain Forest. Sua par-
ticipação no orçamento do Centro de
Ensino e Pesquisa Timbira é de apro-
ximadamente 40% do total. O Estado
entra com 50% para alimentação e
fornecimento de material para as es-
colas. A Funai, com os 10% restantes
para transporte dos estudantes. O MEC
contribui com material didático, ela-
borado no idioma indígena coerente
com o seu universo cultural.
Os alunos Timbira têm 250 horas/aula em Carolina e 750 horas/aula nas aldeias, a cada etapa
DESAFIOS
“Esses índios serão os futuros pro-
fessores de suas comunidades”, ex-
plica Kleber Gesteira. “São pessoas de
formação complexa porque são lide-
ranças, mas não devem entrar em
conflito com as lideranças tradicionais.
Devem ter capacidade de pesquisa e
ser gerenciadores de conflitos.”
Segundo o antropólogo Augusto
Nascimento, a Escola Timbira propõe
que os índios dominem a língua por-
tuguesa para compreender documen-
tos e para entender a discussão polí-
tica, os projetos de desenvolvimento,
o sistema monetário e as técnicas de
comunicação e, ao mesmo tempo,
aprofundar os estudos de suas
próprias tradições.
Assim, estudam Matemática ele-
mentar, voltada para questões funcio-
nais, compreensão de textos, geogra-
fia regional, história dos povos indíge-
nas e os segredos das ervas medici-
nais. O currículo também respeita o
calendário de rituais indígenas, como
os períodos de festas, caças e outros
eventos tradicionais.
Entre a aldeia e a cidadeDe acordo com a proposta do Cen-
tro de Ensino e Pesquisa de Carolina,
os dois primeiros ciclos do ensino re-
gular indígena, equivalentes à primei-
ra parte da Educação Fundamental,
são ministrados nas aldeias. Em Ca-
rolina, os alunos cumprem os dois ci-
clos mais avançados. Mas alguns ain-
da procuram fazer o antigo ginásio nas
cidades mais próximas. Isso implica
aprendizado deficiente, repetência e
evasão, em função da inadequação
do modelo à realidade indígena.
Atualmente, 60 jovens, considera-
dos alunos adiantados e indicados
pelos professores das aldeias, partici-
pam da fase mais avançada do Ensino
Fundamental na Escola de Carolina. Lá,
o estudante desenvolve o curso de for-
ma modular. Participa de atividades
alternadamente na cidade, durante um
mês, e na aldeia, nos três meses se-
guintes. Nas chamadas aulas presen–
ciais, em Carolina, são realizadas ativi-
dades como elaboração de mapas, re-
dação, leitura de documentos impor-
tantes para os Timbira, visitas moni–
toradas, passeios recreativos e estudo
dos rituais.
Aulas presenciais Nos três meses
seguintes, o aluno volta para a aldeia,
onde participa de atividades inter–
disciplinares e faz pesquisas previamen-
te determinadas – as aulas não-
presenciais. Uma equipe de antropólo-
gos, matemáticos e historiadores circula
pelas aldeias para orientar o aluno nas
pesquisas. São desenvolvidos temas
como meio ambiente, relação com os
brancos, relação entre sociedade e na-
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Dignidade
Acabar com o analfabetismo no Bra-
sil. Garantir a todos os brasileiros o di-
reto de aprender a ler e escrever. Gerar
emprego e renda. Fazer com que, até
2006, 20 milhões de jovens e adultos
tenham uma nova perspectiva de vida.
Essas são propostas do programa
Brasil Alfabetizado, lançado em setem-
bro deste ano pelo Governo Federal. É
uma ação conjunta entre o Ministério
da Educação, Estados, municípios, or-
ganizações não-governamentais, em-
presas, associações e a sociedade civil
para riscar o analfabetismo da história
do País. Até agora, o programa colocou
56 mil alfabetizadores e mais de um
milhão de alunos em sala de aula.
De Norte a Sul, de Leste a Oeste,
do Oiapoque ao Chuí, o Brasil tem,
segundo o Censo Demográfico de
2000, do IBGE, 16.294.889 analfa-
betos. Levando-se em consideração
o aumento populacional que ocorreu
de lá para cá, e a omissão daqueles
DESAFIOS / BRASIL ALFABETIZADO
NA PONTA DO LÁPISPrograma Brasil Alfabetizado é criadopara abolir o analfabetismo no País
que se envergonham de dizer que não
lêem e não escrevem, o Governo tra-
balha com uma estimativa de 20 mi-
lhões de jovens e adultos que não ti-
veram a oportunidade de freqüentar
uma sala de aula.
São pessoas que não sabem se-
quer desvendar placas e endereços ou
simplesmente identificar o que vêem
escrito nos ônibus que tomam todos
os dias para ir ao trabalho ou voltar
para casa. Histórias de jovens de 15
anos em diante e de adultos que vão
poder resgatar sonhos, projetos, iden-
tidade e respeito por meio da leitura
e da escrita.
Gente como dona Edileusa Valdi–
vino da Silva, 61 anos, mãe de 12
fi lhos, moradora de Toledo, no
Paraná. Ela é toda felicidade porque,
em pouco tempo, não vai mais preci-
sar “colocar o dedão na tinta” na hora
de assinar o nome. Quando trabalha-
va na roça com o pai, em Alagoas,
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onde nasceu e cresceu, escutava sem-
pre: “Menina-mulher não devia estu-
dar”. Assim, a vida passou. Casou-se
aos 15 anos. Vieram os filhos, os 34
netos e os cinco bisnetos.
A oportunidade de mudar a história
apareceu com o Brasil Alfabetizado.
“Eu tinha muita vontade de aprender,
estou com dificuldades de formar as
palavras, mas mesmo assim sei que
vou conseguir”, diz, confiante e rindo
de tanto gosto. E o que dona Edileusa
vai poder fazer com a leitura e a es-
crita, além de assinar o nome? “Vou
poder andar na cidade, ler as placas
e os nomes dos ônibus”, planeja. E
não é só isso. Todos os filhos são al-
fabetizados, mas ela ainda quer po-
der ajudar os netos que estão na es-
cola. Estudar com eles.
Emprego e rendaO Brasil Alfabetizado, que atua por
meio de parcerias, prevê a alfabeti-
zação básica entre seis e oito meses
de aula e está em andamento em
quase 1,8 mil municípios brasileiros.
Até o momento, foram fechados 40
convênios entre o MEC, governos es-
taduais e municipais, ONG, empresas,
associações e entidades civis em todo
o País. O MEC repassa recursos para
a capacitação dos alfabetizadores
que, em sala de aula, recebem
R$ 15/mês por aluno.
Para esses 40 convênios, o MEC li-
berou R$ 94 milhões. O dinheiro chega
às instituições depois que seus proje-
tos são avaliados e aprovados pelo Fun-
do Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE) e pela Secretaria Ex-
traordinária de Erradicação do Analfa-
betismo (SEEA). Além de financiar a al-
fabetização, esses recursos ajudam a
economia a girar. Geram emprego e de-
senvolvimento.
O que o Governo Federal espera com
o programa, portanto, é bem mais que
ensinar a ler e a escrever. “Há uma
dinamização da economia pela base
social. Basta lembrar que, segundo da-
dos do Ipea, assim que uma pessoa
acaba de ser alfabetizada seu ganho
aumenta em 41%”, garante o secretá-
rio nacional de Erradicação do Analfa-
betismo, João Luiz Homem de Carva-
lho. Para ele, com a inclusão no mun-
do pela escrita e a leitura cria-se a de-
cência, amplia-se a visão e aumenta-
se a eficiência. “O vendedor de pipo-
cas, por exemplo, pode fazer uma pla-
ca para seu negócio, criar um diferen-
cial, colocar alguém para ajudar”, afir-
ma o secretário.
Mercado Melhorando as possibilida-
des de ganho, gera-se emprego. O
cálculo é o seguinte: o montante li-
berado para este ano (R$ 94 milhões)
representa uma média de 56 mil pes-
soas ganhando R$ 300 (cálculo mé-
dio por alfabetizador). Cada profes-
sor, dentro da estimativa de três mi-
lhões de alfabetizados, em 2003, vai
ensinar cerca de 50 mil alunos até
dezembro, o que pode gerar 50 mil
novos negócios e, conseqüentemen-
te, 100 mil novos empregos diretos.
No final, um giro de R$ 900 milhões
por ano no mercado.
No Recife, Genilson Antônio da Sil-
va, solteiro, 27 anos, aguarda ansio-
so a conclusão do curso para que
possa conseguir emprego. Antes, tra-
balhava de segurança à noite e dor-
mia de dia. Por isso, não estudou.
Hoje, aposta na educação. “Eu não
sabia nada; agora já estou juntando
as letras e sei assinar meu nome. Até
para procurar emprego é preciso sa-
ber ler, quanto mais para conseguir
uma vaga”, avalia ele, que sonha em
fazer Educação Física.
Portas abertasTodo mundo sabe – e o MEC tam-
bém – que ninguém passa a ler e a
escrever fluentemente em seis ou
oitos meses. João Luiz Homem de
Carvalho deixa claro que esse tempo
é para se colocar o adulto numa
condição de continuidade. “O Brasil
Alfabetizado é o primeiro degrau de
um processo de aprendizado. O alu-
no tem que sair sabendo, no míni-
mo, escrever, ler e interpretar um bi-
lhete, por exemplo”, esclarece.
O importante é despertar nas pes-
soas a vontade de não parar mais. E
não tem a idade para começar a
aprender. Por isso, o programa dá for-
ça inclusive aos idosos. O secretário
lembra que, em se tratando da mu-
lher idosa, há uma recompensa mui-
to grande, porque, em geral, ela quer
disseminar para filhos, netos e até vi-
DESAFIOS / BRASIL ALFABETIZADOre
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Foram liberadosR$ 94 milhões
para 40 convênios,e esses recursosgeram emprego edesenvolvimento,
além definanciarem aalfabetização
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O Alfa-Inclusãoquer ensinar oalfabetizando aagregar valores
ao trabalho,entender oporquê dapobreza,
enriquecer aalimentação
e se organizarpara melhorar
ganhos e acondição de vida
zinhos o que aprendeu, criando um
ciclo. “Quando a mãe não é analfa-
beta, a tendência é que seus filhos
também não sejam”, observa.
Aos 65 anos, dona Maria Nazaré
da Silva concluiu seu curso de alfabeti-
zação no clube de idosos que freqüen-
ta em Natal (RN). Mãe de dez filhos e
avó de 22 netos, todos alfabetizados,
ela, que não pôde estudar porque vi-
via no interior, quer ver toda a família
lendo e escrevendo muito bem.
“Incentivo a todos e se puder aju-
dar...”, sonha. Maria Nazaré não só
melhorou a leitura, pois “lia gaguejan-
do”, como também fez amizades. “Ar-
rumei colegas e agora participo até do
Boi de Reis”, conta, orgulhosa.
Dona Maria foi uma das 5.067
pessoas alfabetizadas em 210 turmas
nos primeiros meses de atuação do
programa em Natal – uma parceria
com a Prefeitura Municipal da capital
potiguar, segundo informa a coorde-
nadora do Programa Geração Cidadã/
Brasil Alfabetizado, Sandra Borba.
Agora, mais cinco mil alunos estão em
sala de aula com o propósito de cons-
truir um novo futuro.
Recife Também em Recife, a meta é
ensinar 10 mil pessoas este ano, por
intermédio de convênio firmado com
o MEC. Leila Loureiro, coordenadora
de Educação de Jovens e Adultos da
Secretaria Municipal de Educação de
Recife, conta que o atendimento da
rede municipal era de 14 mil estu-
dantes. Assim, de passo em pas-
so, de escola em escola, de
letra em letra, o Brasil vai
construindo uma nação de cida-
dãos. Como escreveu o mestre Pau-
lo Freire, “ninguém nasce feito, va-
mos nos fazendo aos poucos, na prá-
tica social de que tomamos parte”.
Alfa-Inclusão: o alunocontextualizado
O MEC estuda a possibilidade de
implantar o Alfa-Inclusão, programa
que também trabalharia com a alfa-
betização, levando para a sala de aula
o mundo e a vida do aluno, no con-
texto em que vive: sua profissão, con-
dição de higiene, moradia.
Para o secretário João Luiz Ho-
mem de Carvalho, essa capacitação
especial propõe ensinar itens como
agregar valores ao trabalho, entender
o porquê da pobreza, enriquecer a ali-
mentação e como se organizar para
melhorar os ganhos e a condição de
vida. “Seria o ensino contextualizado”,
acrescenta. A idéia, diz o secretário,
embute a proposta de esticar a teo-
ria de Paulo Freire, segundo a qual o
analfabeto não sabe ler a palavra es-
crita, mas sabe ler o mundo.
Informações – [email protected]/alfabetizaMinistério da EducaçãoEsplanada dos Ministérios,Bloco L, Sala 704.Brasília (DF). CEP: 70047-900
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As mudanças pelas quais passa o
Brasil têm colocado na ordem do dia
a reflexão sobre o papel da educação
na transformação da realidade brasi-
leira. Presenciamos pela primeira vez
no País um governo que tem como
principal meta minimizar os efeitos de
séculos de injustiça social, resquícios
de um passado escravista, cuja aboli-
ção manteve os escravos sem terra e
seus filhos sem escola. A esses se
juntaram, ao longo da história, uma
legião de brancos pobres, aumentan-
do ainda mais as desigualdades e as
injustiças sociais.
A pouca atenção historicamente dis-
pensada à educação impediu a confor-
mação de um processo educacional
capaz de destruir a barreira entre po-
bres e ricos. Vivemos, hoje, em um país
em que os 10% mais ricos da popula-
ção apropriam-se de aproximadamen-
te 50% da renda. Essa desigualdade
se expressa na educação formal: o dé-
cimo mais rico da população apresen-
ta a média de 10,7 anos de estudo; já
os 10% mais pobres não atingem, em
média, quatro anos de estudo.
Mas a questão da desigualdade e
da exclusão social não é só econômi-
ca, é também sociocultural. No Bra-
sil, das cerca de 15 milhões de pes-
soas com mais de 15 anos, que não
sabem ler e escrever, 65% são negras
ou pardas e somente 3% da popula-
ção negra conclui o Ensino Médio.
Entre os analfabetos brasileiros, mais
ARTIGO / OSVALDO RUSSO
de 50% são mulheres e, entre as
mulheres analfabetas, mais de 63%
são negras. Após séculos de igualda-
de racial formal, não exterminamos a
educação da escravidão. Mesmo com
a mulher ocupando um papel social
mais importante, não exterminamos
as desigualdades de gênero.
Uma educação que assuma a
acepção plena da palavra, contrapon-
do-se à qualquer forma de exclusão
passa pela implementação de políti-
cas públicas estruturantes. E é nesse
caminho por um processo educacio-
nal capaz de cicatrizar a divisão social
brasileira que o Ministério da Educa-
ção reconhece a sua missão. Nesse
sentido, o Governo transformou a Se-
cretaria do Programa de Bolsa-Escola
do MEC em Secretaria da Inclusão
Educacional (Secrie), à qual novos pro-
gramas foram agregados. Com isso, o
Ministério abre caminhos para ampli-
ar a sua atuação, assumindo um pa-
pel pró-ativo na promoção de uma
educação de qualidade para todos.
Com o controle mais rigoroso da fre-
qüência escolar dos beneficiários do
Bolsa-Escola – que passam a integrar
o Bolsa Família, resultante da unifica-
ção de diferentes programas sociais do
Governo – e a implementação de ações
educativas complementares, de com-
bate à evasão escolar, de superação
das desigualdades, de incentivo à per-
manência e promoção dos alunos do
Ensino Médio e do programa de
capacitação, a Secrie passa a ter uma
atuação efetiva na garantia do acesso,
da permanência e do sucesso escolar
de crianças e adolescentes em situa-
ções de desigualdade, pobreza e
vulnerabilidade social, bem como na
oferta de oportunidades educacionais
aos jovens e adultos nessas condições.
No entanto, não se desconstrói um
histórico de injustiça social em quatro
anos. Por isso, precisamos sensibili-
zar e mobilizar toda a sociedade –
Governo, iniciativa privada e ONG – na
construção das mudanças que não são
apenas econômicas e sociais, mas
também culturais. Criar uma rede em
prol de uma educação capaz de levar
a todos os instrumentos para comple-
tar a “abolição” e garantir o acesso à
cidadania. Educação como um meca-
nismo de transformação e de inclu-
são social. Para tenhamos uma esco-
la para todos, de todos.
Uma escolade todos
“A pouca atençãohistoricamentedispensada à
educaçãoimpediu
a conformaçãode um processo
educacionalcapaz de destruira barreira entrepobres e ricos”
Osvaldo Russo, estatístico, é Secretário deInclusão Educacional do Ministério da Educação
prof
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46
ENTREVISTA / ANTONIO IBAÑEZ
IncentivosA Coordenação de Aperfeiçoamentodos Professores de Ensino Médioe Profissional vai conceder bolsasde estudo e pesquisa aos docentes
Um sonho – o de garantir Educação Básica para todos – move o secre-
tário de Educação Média e Tecnológica e também professor na Universi-
dade de Brasília, Antonio Ibañez. PhD em Engenharia Mecânica pela
Universidade de Birminghan (Reino Unido), o secretário pontua, nesta
entrevista, as ações da Semtec voltadas para garantir o acesso dos jovens
ao Ensino Médio e Profissional. Destaca também a importância da for-
mação dos professores e discorre sobre os desafios com que se depara o
Governo, a fim de certificar 65 milhões de trabalhadores com mais de 18
anos que não cursaram a Educação Média – nível que, a partir de 2004,
será obrigatório no País. Segundo ele, o alvo das políticas públicas da
Semtec é o desenvolvimento do País. “É do aumento do número de alunos
no Ensino Médio,Técnico e Universitário e da qualidade dos cursos que
surgirão mais e melhores pesquisadores e cientistas”, diz o secretário.
BEM-VINDOS
prof
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47
Em janeiro, quando assumiu,como o senhor encontrou aSecretaria de EducaçãoMédia e Tecnológica?
Encontrei uma secretaria em tran-
sição para a extinção, apoiada em três
programas: o de Expansão da Educa-
ção Profissional (Proep), o de Expan-
são do Ensino Médio (Promed) e o Pro-
jeto Alvorada. Só que programas têm
tempo determinado; eles acabam. E a
base da Secretaria era essa. Nosso pri-
meiro trabalho foi formular políticas
públicas para o Ensino Médio e Tecno–
lógico, sem esquecer o dia-a-dia, man-
tendo os programas em funcionamen-
to e corrigindo problemas como a falta
de gestão democrática nos centros fe-
derais de educação tecnológica e nas
escolas agrotécnicas. Não foi possível
fazer uma reestruturação como quería–
mos, porque tivemos que cortar cargos
comissionados e porque a secretaria ti-
nha consultores, mas não quadros, que
são as pessoas que vão continuar o tra-
balho. Mesmo com essas dificuldades,
hoje temos uma feição do que queremos.
O que motivou a formulaçãode políticas públicas naSecretaria?
Partimos de dois seminários. Um da
Educação Média, com 600 participan-
tes, aconteceu no final de maio e início
de junho. Reunimos a representação
dos Estados, dos professores, dos sin-
dicatos e das redes públicas e priva-
das. Ainda em junho realizamos o se-
minário da Educação Profissional, com
900 convidados. Verificamos que os
professores estavam muito inseguros
em relação à reforma do Ensino Mé-
dio, que foi realizada no governo ante-
rior. Por isso, a necessidade de traba-
lhar mais essas reformas.
Então a reforma sóaconteceu no papel?
Foram feitas as Diretrizes Curri–
culares da Educação Média e os
Parâmetros Curriculares, mas, na prá-
tica, pouco aconteceu.
Quais são as políticaspara o Ensino Médio?
Estamos implementando a LDB de
fato. A partir de 2004, o Ensino Médio
será obrigatório, gradativamente. Para
aqueles alunos em idade regular ou
com uma pequena defasagem, o Ensi-
no Médio será obrigatório em 2004.
Quem concluir a 8ª série do Ensino Fun-
damental, em 2003, com até 16 anos,
será obrigado a se matricular na 1ª sé-
rie do Ensino Médio, em 2004; em
2005, na 2ª série; e em 2006, na 3ª.
Fizemos um levantamento, Estado por
Estado, e deu para perceber que os
concluintes com 16 anos são em nú-
mero pequeno, o que dá para garantir
vaga no próximo ano. Essa política visa
a estancar o problema da defasagem
na saída do Ensino Médio.
E os mais velhos, com 18, 19anos, não serão atendidos?
As Diretrizes Curriculares da Edu-
cação de Jovens e Adultos dizem que
é possível ter um modelo pedagógi-
co adequado para a Educação de
Jovens e Adultos, com carga horá-
ria diferente do
“A formaçãoinicial de
professoresé o grandegargalo daeducaçãopública.
Não dá parapensar em
implementarpolíticas semprofessores”
Ibañez: “Estáaberto editalpara inscriçãode projetos queserão avaliadose oferecidos aosEstados, paraa formação deprofessores doEnsino Médio”
prof
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48
Ensino Médio regular. Hoje são 65 mi-
lhões de trabalhadores com mais de
18 anos sem Ensino Médio. Temos um
dado importante: 80% dos alunos que
estão na escola, estão na escola públi-
ca; destes, 60% no ensino noturno, que
é onde ocorrem os grandes fracassos,
onde a repetência chega a quase 50%
e a evasão é acima de 15%. É um pú-
blico que trabalha, estuda em escolas
de periferia, está à procura de empre-
go, faz bicos, está na informalidade.
Então, esse modelo de 2.400 horas não
atende a esse jovem e ao adulto. Temos
que construir um modelo que leve em
conta a experiência, aliada a uma Educa-
ção Profissional motivadora, que permita
ao aluno sair do Ensino Médio com ex-
pectativa de encontrar um emprego.
O senhor diz que são mais de65 milhões de adultos acimade 18 anos sem o EnsinoMédio. O Governo vai ofere-cer formação a eles?
Estamos fazendo um levantamento
dos modelos pedagógicos que existem
para a Educação de Jovens e Adultos
junto ao Sistema S (Senai, Sesi, Senar
e Senac), centrais sindicais, ONG, sis-
temas públicos, para definir modelos
adequados de Educação Média e Pro-
fissional para os adultos. Vamos ver o
que cada parceiro pode fazer e definir
quanto tempo vai ser necessário para
certificar 65 milhões de trabalhadores
nos próximos 15 anos.
Quem vai fazer a formaçãocontinuada de professores?
A Secretaria abriu edital para inscri-
ção de projetos que serão avaliados e
os escolhidos receberão um selo de
qualidade do Ministério. Esses proje-
tos serão oferecidos aos Estados para
que eles, com recursos do Promed,
possam fazer a formação de professo-
res do Ensino Médio.
A exemplo da Capes, quefinancia a formação pós-universidade, o Ensino Médiotambém terá um apoio?
O Ministério da Educação vai criar a
Coordenação de Aperfeiçoamento dos
Professores de Ensino Médio e Profis-
sional (Capemp), que vai incentivar, com
bolsas de estudo e pesquisa, o apri-
moramento do professor de Ensino
Médio e Profissional. A Coordenação
terá um conselho técnico-científico que
vai definir as políticas. A montagem
desse projeto está sendo feita com as
sociedades de Física, Química, Mate-
mática, Biologia e com a Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência,
entre outras entidades afins.
Junto com o Ensino Médioobrigatório vem o livro didáti-co. Com quais livros o pro-grama começa?
Vamos começar a distribuir os livros
de Matemática e Português em feve-
reiro de 2005. Esses dois livros terão
todos os conteúdos que o aluno vai estu-
dar da 1ª à 3ª série do Ensino Médio.
Hoje a Educação Profissionalestá amparada no Decreto2.208/97, mas o senhordefende uma legislaçãoespecífica. Por que?
A Educação Profissional é algo tão
sério, mas tão sério, que não pode ser
tratada num simples decreto. Tem que
haver uma legislação que fale na Edu-
cação Profissional da mesma forma que
existe para o itinerário da universidade.
O estudante precisa saber, ainda no En-
sino Fundamental, que ele pode esco-
lher o Ensino Técnico, o Técnico Supe-
rior, profissionalizar-se e ainda cursar
uma universidade tecnológica. Hoje,
para ingressar no Ensino Técnico, o alu-
no tem que ter certificado de conclu-
são do Ensino Médio. Nós estamos mu-
dando isso na regulamentação dos ar-
tigos 35 e 36 da LDB, que tratam do
Ensino Profissional, para permitir que
as escolas que quiserem possam ofe-
recer a parte tecnológica desde o início
do Ensino Médio. Dessa forma, com
quatro anos de estudo, o aluno sai com
dois certificados. Mas se ele não qui-
ser o diploma de técnico em manuten-
ção, por exemplo, ele tem quatro
anos dedicados às disciplinas de cu-
nho científico que vão prepará-lo me-
lhor para a universidade.
Isso vai funcionar em 2004?Sim. Já estamos trabalhando a
formatação de dois projetos-piloto den-
tro dessa regulamentação, um no
Paraná e outro no Espírito Santo. Ao
mesmo tempo, vamos discutir com os
secretários estaduais de Educação, com
“Sem um pisosalarial,teremos
dificuldade demotivar os
professores,embora a fontede motivaçãonão seja só decunho salarial”
ENTREVISTA / ANTÔNIO IBAÑEZ
os diretores dos Cefets e escolas
agrotécnicas, com os sindicatos e com
os deputados, pois algumas mudanças
serão feitas via Congresso.
Para tornar o Ensino Médiomais atraente, reduzir aevasão e a repetência, queprojetos a Semtec pretendedesenvolver?
Estamos interessados em oferecer
uma escola mais agradável aos estu-
dantes, com uma participação deles
cada vez maior. Um projeto muito inte-
ressante, patrocinado pela Semtec e
pela Secretaria de Educação a Distân-
cia, está começando agora em 70 es-
colas de três Estados (Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul e Goiás). É a edu-
cação através do rádio. Vamos qualifi-
car os professores e os alunos, e de-
pois a Semtec vai financiar a monta-
gem de uma rádio dentro da escola,
onde os alunos e os professores vão pro-
duzir programas, musicais, teatro, rotei-
ros, entrevistas, o que eles quiserem criar
para aprender mais e melhor. Há outros
programas que estão sendo desenvolvi-
dos nos Estados para a juventude, como
é o caso do programa Protagonismo Ju-
venil de Pernambuco, que seria interes-
sante levar para outros Estados.
Faltam muitos professoresno Ensino Médio. Como issoserá resolvido?
A formação inicial de professores é
o grande gargalo da educação pública.
Não dá para pensar em implementar
políticas sem professores. Criamos um
grupo de trabalho com a SEED e com a
SESu para buscar alternativas e reali-
zamos um levantamento nacional para
verificar a demanda. Precisamos de 55
mil professores de Física para atender
da 5ª à 8ª série da Educação Funda-
mental e todo o Ensino Médio. Mas
precisamos também de professores de
Química, Matemática, Biologia e já co-
meça a faltar professor de Português e
de línguas estrangeiras. Olha o quadro
que encontramos: nos últimos 11 anos,
as universidades federais, estaduais,
municipais e particulares, todas, forma-
ram 7.700 professores, então, a defa-
sagem é muito grande. Sabemos que
em quatro anos vai ser impossível fazer
isso, mas vamos deixar equacionado e
definido em quanto tempo poderemos
resolver. O incrível é que, nos últimos oito
anos, o Governo Federal não mexeu uma
palha para melhorar esta situação.
E as dificuldades?Uma delas é a financeira, mas não
é a única. Essa não é uma questão só
da Secretaria, mas do Ministério todo.
Estamos trabalhando a transformação
do Fundef em um fundo da Educação
Básica capaz de financiar a Educação
Infantil, Fundamental, Média e a de
Jovens e Adultos. Nessa transformação,
o principal aporte de recursos tem que
vir da União. Para iniciar, seriam ne-
cessários R$ 4,5 bilhões, além dos re-
cursos já garantidos no Fundef, mas isso
pode ser negociado. Se tivermos, por
exemplo, R$ 1,5 bilhão, vamos come-
çar o Fundeb com isso. É necessário
incluir nesse fundo o piso salarial do
professor. Sem ele teremos dificulda-
de para motivar os professores, embo-
ra a fonte de motivação não seja só de
cunho salarial. Também para a Educa-
ção Profissional não há nenhuma res-
ponsabilidade sobre quem financia e
muito menos sobre a fonte para o fi-
nanciamento, e essa é a causa do afas-
tamento do Estado das políticas públi-
cas para a Educação Profissional.
O Programa de trabalho daSemtec vai além de oferecerEducação Média,Tecnológica, de Jovens eAdultos. Seria um programaque prepara uma base parao desenvolvimento?
Quando se pensa num modelo de
desenvolvimento para o Brasil, pensa-
se em exportações, duplicar o que te-
mos hoje. Por exemplo: a Coréia expor-
ta US$ 100 bilhões por ano, a Malásia
chega perto disso. O Brasil exporta tal-
vez a metade, mas, para exportar mais,
precisa agregar tecnologia, não apenas
vender matéria-prima. Para chegar a
isso, precisamos trabalhar toda a ca-
deia produtiva, desde a pesquisa, for-
mar engenheiros, técnicos, construir
projetos de qualidade. Precisamos, por-
tanto, de um projeto nacional que inte-
gre todo o Governo, as universidades.
Quando se pensa em desenvolvimen-
to, tem-se que agregar conhecimentos,
formar pesquisadores, professores,
técnicos, aumentar a
base de alunos do
Ensino Médio,
Profissional e
Universitário.
Do aumento da
base é que vão
surgir mais e
melhores
cientistas.
Ibañez: “Olha o quadro que encontramos: nos últimos11 anos, as universidades federais, estaduais,
municipais e particulares, todas, formaram 7.700professores. Então, a defasagem é muito grande”
prof
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50
DEBATE
SOLIDARIEDADE ENTRE
Especialistas analisam a inclusão dosalunos com necessidades especiais
diferentesAs pessoas com necessidades es-
peciais vêm, gradativamente, ganhan-
do espaço no contexto social brasilei-
ro. Os avanços são lentos, mas signi-
ficativos: rampas que começam a sur-
gir onde antes havia escadas, ônibus
com acesso especial, iniciativas de
profissionalização e inserção no mer-
cado de trabalho, sinalizações em
braille em elevadores e outros locais
públicos etc. Mas o passo mais im-
portante dado nos últimos anos foi o
entendimento do que vem a ser a Edu-
cação Especial após a LDB e as Dire-
trizes Nacionais para essa modalida-
de de ensino na Educação Básica.
Para discutir o processo de implan-
tação da Educação Especial no País,
foram convidadas três especialistas no
assunto. Fabiana Soares de Oliveira é
coordenadora nacional de educação
da Federação Nacional das Associa-
ções de Pais e Amigos de Excepcio-
nais (Apaes) e diretora pedagógica do
Centro de Educação Especial Girassol/
Apae-MS. Marlene de Oliveira Gotti é
assessora técnica da Secretaria de
Educação Especial do Ministério da
Educação e Erenice Soares de Carva-
lho é professora da Universidade Ca-
tólica de Brasília.
É delas a lição: a Educação Es-
pecial redefine seu papel na edu-
cação; oferece o atendimento edu-
cacional especializado; visa a aten-
der as necessidades educacionais
dos alunos para torná-los produti-
vos e integrados; e propicia a troca
de experiências entre colegas, pais,
educadores e comunidade.
prof
esso
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51
Fabiana Oliveira – Estamos nos
perguntando há muitos anos: o que é
Educação Especial? A quem se desti-
na? Seria outro sistema educacional
ou parte integrante da educação ge-
ral, conforme dito na Lei de Diretrizes
e Bases?
Erenice Carvalho – É uma moda-
lidade de educação escolar, certamen-
te, mas sem exclusividade, e tem
conotação muito abrangente: vai de
uma concepção muito abstrata até
questões como equipamentos, presta-
ção de serviços, apoio, se necessário,
e manejo curricular.
Marlene Gotti – A Constituição de
1988 deixou claro que pessoas com
deficiências têm direito a atendimento
educacional especializado, e a LDB
definiu que a Educação Especial é uma
modalidade de educação escolar que
oferece o atendimento educacional es-
pecializado previsto na Constituição.
Agora, esse atendimento educacional
especializado precisa ser visto na se-
guinte ótica: o aluno portador de defi-
ciência tem uma situação biológica que
pode refletir em sua situação edu–
cacional, interferindo na sua aprendi-
zagem. Por outro
lado, há
a questão psicológica: como essa pes-
soa vai se conduzir na vida social e na
vida educacional? Essas duas raízes
confundiam as ações da Educação Es-
pecial com as ações da saúde.
Fabiana Oliveira – A construção so-
cial dessa pauta de acesso ao aprendi-
zado é um trabalho de desconstrução
da ligação entre o não aprender e a
deficiência. O que cai na questão de
que ele não aprende porque tem defi-
ciência e, para aprender, precisa pas-
sar primeiro pela fisioterapia, pela
fonoaudiologia, com muito mais inten-
sidade. E o professor? Se der só quin-
ze ou vinte minutos de aula está tudo
bem? Ora, isso precisa acabar.
Marlene Gotti – É isso mesmo.
Esse aluno precisa de um atendimen-
to na área da saúde e da psicologia,
mas também de atendimentos edu-
cacionais. O aluno com deficiência
tem direito de ser atendido pelo sis-
tema de saúde, mas isso não deve ser
confundido com o di-
reito que ele tem à
educação e ao ser-
viço educacional
especializado. Até então, nós mes-
mos, da educação, confundíamos es-
sas ações. O aluno ia para a escola e
tinha, no mesmo horário, ações de
saúde e da educação simultaneamen-
te. Se ele tem direito a 20 horas/aula
semanais, mas sai da sala para aten-
dimentos da área da saúde, acaba
tendo carga horária menor que a dos
outros alunos. Ele não aprendeu por-
que tem deficiência? Não! Não apren-
deu porque não lhe dei a carga horária
a que tinha direito.
Fabiana Oliveira – Esse aluno com
deficiência tem o direito de cumprir a
mesma carga horária que os demais
estudantes. É necessário um tempo
para as ações da Educação Especial
acontecerem, conforme rege a legisla-
ção educacional.
Marlene Gotti – Para esclarecer o
que a LDB traz no capítulo 5 sobre Edu-
cação Especial, o CNE publicou as di-
retrizes para a Educação Especial na
Educação Básica, que é formada pela
Educação Infantil, Fundamental e Mé-
dia. O aluno com necessidades es-
peciais tem o direito de passar por
todas essas etapas, assim como
pela Educação Superior. E a Reso-
lução nº 2,
prof
esso
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52
DEBATE
de 2001, traçou diretrizes para o sis-
tema educacional brasileiro organi-
zar o atendimento a esse aluno e
para o papel de apoio do educador
especial.
Fabiana Oliveira – Além da fun-
ção da Educação Especial, que está
ali na retaguarda, a escola regular tem
a obrigação de prever e de prover os
serviços de apoio.
Marlene Gotti – A Resolução 02/
2001 define a Educação Especial
como um conjunto de recursos colo-
cado à disposição do aluno para que
ele possa ter acesso a todo o pro-
cesso de ensino. Esse conjunto de
serviços vai se distinguir conforme a
etapa em que o estudante estiver e
deve ocorrer preferencialmente na
rede regular de ensino. Todas as es-
colas têm que matricular alunos com
ou sem necessidade especial. Ma-
triculado o aluno, a escola tem que,
imediatamente, estar organizada
para atendê-lo. Essa organização não
é na área da saúde, mas na área da
educação. Dentro ou fora da classe
comum, o aluno com deficiência con-
tinua tendo o direito ao atendimento
educacional especializado. A função
da Educação Especial não é substi-
tuir a escolaridade promovida pela
escola regular comum. Seu papel é
apoiar o aluno.
Erenice Carvalho – Começamos
com medidas legais, mudança de
atitudes, distribuição de recur-
sos, persistência e diálogo. É
um processo cultural, também,
e não só de providência gover-
namental. Não se pode exi-
gir do MEC ou de um sis-
tema de ensino que,
num passe de mágica,
mude a cultura do País. O processo
de inclusão exige refinamento cultu-
ral, sobretudo. É uma responsabili-
dade de todos. Como estamos refle-
tindo sobre a diferença? Isso não pode
ser demarcado no tempo.
Marlene Gotti – A inserção é, na
verdade, social. O aluno com neces-
sidades educacionais especiais é
muito discriminado. No passado, era
muito comum nem se olhar para uma
pessoa com deficiência, porque era
“feio” fazer isso. Havia ainda a cultu-
ra da piedade, e é essa cultura que
estamos tentando alterar. Essa pes-
soa precisa ser vista por todos como
ser humano, com direitos como qual-
quer cidadão. A legislação hoje já bus-
ca mostrar isso. Para mudar a antiga
concepção, a partir da LDB, passa-
mos a utilizar a nomenclatura neces-
sidades educacionais de alunos. Por-
que não é função da escola ofertar
os serviços clínicos da área da saúde
relativos à deficiência do aluno, mas
verificar qual é a necessidade educa-
cional que ele tem. O aluno cego, por
exemplo, precisa de material em
braille, o surdo precisa de Libras.
Erenice Carvalho – Na formação
inicial o professor precisa ter clareza
de que existe uma diversidade de alu-
nos e que é preciso uma reflexão
sobre a educação nesse contexto.
Isso por muito tempo não foi feito e
ainda não acontece em todas as ins-
tituições de Ensino Superior,
porque as disciplinas, ou
não são obrigatórias, ou
contemplam parcialmente
a questão da diferença. É
muito mais fácil discu-
tir sobre o
a l u n o
numa perspectiva de homogeneidade, do
que pensar na diversidade, que é muito
mais desafiadora e complexa. Na forma-
ção continuada, voltada a professores já
formados, mas indevidamente prepara-
dos, deve-se viabilizar informações sobre
a construção do novo paradigma, ou os
professores vão estar sempre aquém do
que temos conseguido construir em ter-
mos de compreensão de educação.
Marlene Gotti – A instituição de En-
sino Superior tem que construir seu pro-
jeto pedagógico, ter um corpo docente
capaz de formar adequadamente profes-
sores na perspectiva de uma escola in-
clusiva na fase da formação inicial. Isso
ainda está iniciando. A legislação prevê
que a prática de ensino aconteça desde
o começo do curso, para que não ocorra
como antigamente, quando era dada so-
mente no último semestre e o aluno saía
sem saber nada sobre necessidades edu-
cacionais especiais de alunos.
Erenice Carvalho – É preciso lembrar
também do professor especialista. Pre-
cisamos dar um novo dimensionamento
a seu trabalho, porque antigamente ele
atuava em uma escola especializada.
Hoje, ele está orientando o professor da
classe comum e compartilhando seu
ensinamento com a equipe pedagógica
de uma escola regular. Não temos que
colocar regras, mas acompanhar o movi-
mento da educação que
estamos fazendo, e ir
redimensionando os papéis
desses profissionais.
Fabiana Oliveira
– Na perspectiva
do Direito, a esco-
la deverá dar a
esse aluno espe-
cial apoio para
ERENICE CARVALHO
FABIANA OLIVEIRA
prof
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53MARLENE GOTTI
chegar à universidade e ao mercado de tra-
balho. Hoje, essa educação não deve se
processar somente sob o ponto de vista
do professor. Toda a comunidade escolar
tem que se envolver no projeto político-
pedagógico da escola, para que promova
o sucesso do aluno, da Educação Infantil
à Superior, sempre com a mesma
conotação. Esse processo já começou.
Marlene Gotti – Precisamos lembrar
da Educação Profissional. Assim como todo
jovem tem direito a passar pela Educação
Básica e outras modalidades de educação
escolar, tem também o direito à Educação
Profissional – que é outra modalidade, que
a Apae, uma mantenedora, também ofer-
ta. O aluno com deficiência tem direito de
se qualificar profissionalmente para ser
uma pessoa produtiva na sociedade.
Fabiana Oliveira – É um trabalho de
mudança de cultura muito profunda, pois
as famílias dessas pessoas também fo-
ram espectadores desse processo, de ou-
vir dizer que não, que seu filho tem um
déficit intelectual e ele precisa de uma es-
cola especial. No passado, isso significava
que ele iria precisar da Apae a vida toda,
por exemplo. A visão era direcionada para
dentro da escola especial. Hoje trabalha-
mos para modificar essa visão, invertendo
a perspectiva da escola especial para fora.
Tentamos derrubar as barreiras para que
se enxergue o aluno com déficit intelectual
com competências e condições de partici-
par da vida produtiva do País. Essa é uma
mudança interna, que passa, primeiramen-
te, pelas cerca de 1,8 mil Apaes do Brasil.
Depois pela família e pela sociedade.
Marlene Gotti – Sem a família, não
há como promover uma boa educa-
ção. Prova disso são as crianças
que se evadem e que repetem
séries quando os pais não
estão envolvidos – e não estou falan-
do aqui só de pais de alunos com ne-
cessidades especiais. No caso da sur-
dez, por exemplo, os pais devem par-
ticipar até da aprendizagem da língua
que seus filhos vão desenvolver: Se
não sabem a língua de sinais que o
filho fala, como vão participar da vida
dele? E o professor deve atuar tanto
com os pais quanto com o colegui-
nha, porque há muitas formas de der-
rubar os mitos que acompanham a
pessoa com deficiência. Depende de
como o professor conduz o processo
pedagógico. Na primeira vez em que
colocamos crianças surdas na escola
da 113 Sul, em Brasília, a primeira
providência foi contar para os colegas
que criança surda é absolutamente
normal e que fala uma outra língua,
desconhecida dos professores. Todos
aprenderam a língua de sinais para
brincar com os professores. Ou seja,
o estar juntos é excelente para todos.
Fabiana Oliveira – Importante
lembrar: acesso ao ensino, flexi–
bilização, saber lidar com a questão
do tempo e como avaliar a po–
tencialidade sem aquela intenção de
derrubar o aluno.
Marlene Gotti – O aluno com ne-
cessidades especiais tem o direito ao
currículo estabelecido pela LDB. Há
uma base nacional comum – Portu-
guês, Matemática etc – e todos
os alunos têm o direito de ter
acesso a ela. Para tanto, po-
dem ser necessários ajustes
curriculares. Se o aluno de-
manda mais tempo para
aprender, a escola
pode flexibilizar sua
organização para
possibilitar o aprendizado. Quem de-
termina que o menino precisa apren-
der a ler em um ano? Quem vai de-
terminar o tempo é o potencial do
aluno. Currículo não é só o conteú-
do, é toda uma movimentação da es-
cola, que precisa ser aberta, flexível.
Erenice Carvalho – E se assim
não for, o aluno não terá suas neces-
sidades especiais atendidas e, em
relação à nota, dança. O que deve
ser avaliado é o que o aluno apren-
deu, de forma qualitativa.
Marlene Gotti – A função da es-
cola especial era a de atender a to-
das as crianças com deficiência, mas
hoje estamos enxergando com maior
clareza que a finalidade da educa-
ção é a de promover a inclusão soci-
al. O que faz com que a escola espe-
cial modifique também suas funções
ao realizar atendimento educacional es-
pecializado, com o objetivo de dar con-
dições ao aluno de viver na sociedade,
e não na escola. Um exemplo dessa
mudança é que está sendo estudada
pelo ministro da Educação a possibili-
dade de se criar Faculdades Integradas
de Educação Bilingüe: Libras/Língua Por-
tuguesa, no Instituto Nacional de Edu-
cação dos Surdos do Rio de Janeiro.
Tais faculdades permitirão aos surdos
e aos ouvintes que querem ser profes-
sores aprenderem duas línguas e a
utilizá-las em suas classes.
Fabiana Oliveira – A es-
cola especial tem que
acompanhar todo esse pro-
cesso de inclusão esco-
lar e social. Nossa
defesa não é aca-
bar com elas, mas
modificá-las.
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54
Um porrete em forma de remo cha-
mado puratigñ (porantim) é o maior
símbolo cultural dos índios Sateré-
Maué, que vivem na Área Indígena
Andirá-Marau, região do Rio Tapajós,
na divisa do Amazonas com o Pará.
Eles acreditam que o porantim foi res-
gatado de demônios, que o utilizavam
para matar inimigos. Inscrições dese-
nhadas em cada lado do instrumento
– um, representando o bem, o outro,
o mal – contam a história mítica des-
ses índios, também conhecidos como
os primeiros a cultivar as sementes do
guaraná.
Porantim é, portanto, arma, remo
e memória. Poderia perfeitamente
servir também de símbolo para o Pro-
grama Nacional Biblioteca na Escola
(PNBE), executado pelo Fundo Nacio-
nal de Desenvolvimento da Educação
(FNDE) que, este ano, distribuirá quase
38 milhões de livros de literatura para
mais de oito milhões de alunos das
4ª e 8ª séries da rede pública do En-
sino Fundamental e para as classes
da Educação de Jovens e Adultos (EJA).
LIVROS
A AVENTURA DE LER
Coleções do PNBE fazemdo estudante da rede públicaum leitor privilegiado
Afinal, para além do prazer da fanta-
sia, a leitura amplia a cultura das pes-
soas, abre seus horizontes para no-
vas viagens, virtuais e concretas, e as
torna mais aptas para lutar pela vida.
Coleções da 4ª sérieA história do porantim, relatada
pelo índio Yaguarê Yamã, 28 anos, faz
parte de uma das dez coleções do
PNBE destinadas à 4ª série. Cada
uma dessas coleções tem cinco livros
e seis gêneros – contos, poesias, no-
velas, narrativas da tradição popular
brasileira, peças de teatro e clássicos
da literatura universal.
Assim, a criançada poderá passar
o próximo ano letivo na companhia
de personagens como o Pequeno
Príncipe, Tom Sawyer, o Barão de
Münchhausen, os gregos Cupido,
Psiquê, Eco e Narciso ou os brasilei-
ros Boitatá, a Mãe-d’água, Tainá e o
Boto. Os alunos poderão também se
divertir recitando poemas de clássicos
como Casimiro de Abreu, Cecília
Meireles e Carlos Drummond de
o mundo
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55
Andrade, ou de moderníssimos como
Paulo Leminski, Arnaldo Antunes e
Millôr Fernandes. E ainda se emocio-
nar com as histórias de Lygia Fagundes
Telles, Carlos Heitor Cony e Moacyr
Scliar ou com as peças da carioca
Sylvia Orthof, dos cearenses Ronaldo
Correia de Brito e Assis Lima ou do
paulista Walcyr Carrasco.
Para a 8ª sérieDez coleções também estarão à
disposição do pessoal da 8ª série. Os
alunos poderão levar para casa e fa-
zer trabalhos em sala de aula. As co-
leções contêm uma antologia poética
brasileira, uma antologia de crônicas
e contos do Brasil, uma novela ou ro-
mance brasileiro ou estrangeiro, e uma
peça teatral nacional ou estrangeira.
Será interessante observar a reação
de um garoto de 14 anos se imaginan-
do na pele de Gregor Samsa, o perso-
nagem de Franz Kafka, de A Metamor-
fose, que certa manhã acorda transfor-
mado em inseto. Ou tendo pesadelos
na couraça de João Paulo, quase um
caranguejo, lutando contra a fome nos
manguezais do Recife, na novela de
Josué de Castro. Lições também po-
derão ser tiradas da alegria de uma me-
nina fazendo o papel de Titânia, a rai-
nha das fadas do Sonho de uma Noite
de Verão, de William Shakespeare, ou
de seus próprios devaneios diante da
Receita de Mulher, de Vinícius de
Moraes. Ou, ainda, da agonia que sen-
tiria se fosse Rosa, a nordestina obri-
gada a acompanhar o marido Zé-do-
Burro, na jornada de O Pagador de Pro-
messas, de Dias Gomes.
Jovens e adultos leitoresCom mais experiência de vida, os es-
tudantes do Fazendo Escola poderão re-
fletir, com Paulo Freire, que “a leitura do
mundo precede a leitura da palavra” e
que a leitura boa é aquela que conduz ao
mundo que nos interessa viver. O texto A
importância do ato de ler, do grande edu-
cador pernambucano, integra uma das
quatro coleções do PNBE destinadas a
esse grupo.
Dessa coleção fazem parte leitu-
ras de Domingos Pellegrini, Machado
de Assis, Olavo Bilac e Rubem Alves;
poemas de autores românticos brasi-
leiros, como Fagundes Varela e Cas-
tro Alves; a carta de Pero Vaz de Ca-
minha, relatando a chegada de Cabral
às costas da Bahia; as proezas de
João Grilo, em versos de cordel de João
Ferreira Lima (trata-se do mesmo per-
sonagem imortalizado no Auto da
Compadecida, de Ariano Suassuana);
e ainda a peça O burguês fidalgo, do
clássico francês Molière, cujo impa–
gável personagem, Monsieur Jourdain,
cultiva os hábitos da nobreza em de-
cadência no século 17.
Biografias As outras três coleções des-
tinadas ao EJA incluem biografias de
brasileiros ilustres, como o mestre da
música popular Pixinguinha e a
catarinense Anita Garibaldi, que lutou
na Guerra dos Farrapos e nas bata-
lhas pela unificação da Itália, por isso
mesmo denominada “heroína de dois
mundos”. Trazem ensaios sobre a
identidade cultural do Brasil (Roberto
da Matta), sobre a saúde pública
(Moacyr Scliar) e sobre a violência
na periferia das grandes cidades
(Fernando Pedrosa e outros).
Nas coleções destacam-se alguns
cordéis (ABC do lavrador e outros
cantos, de Silvio Romero, e Dicioná-
rio dos Sonhos, de J. Borges) e ainda
Lisístrata, peça do grego Aristófanes
(5º século antes de Cristo). A obra re-
gistra uma greve de sexo deflagrada
pelas mulheres dos soldados das ci-
dades inimigas Atenas e Esparta, para
impedir a carnificina.
No processo do conhecimento, as
pessoas não apenas apreendem os
dados já existentes no mundo, mas
constroem novos dados e até novas
realidades. Isso é ainda mais verda-
deiro no âmbito da literatura, univer-
so da fantasia por excelência. As co-
leções do PNBE, como o porantim dos
Sateré-Maué, são instrumentos e gui-
as para que os estudantes do Ensino
Fundamental participem dessa aventura
que é ler o mundo e as letras.
A criançada poderá passar o próximo ano letivo na companhia de personagens como O PequenoPríncipe, Tom Sawyer, os gregos Cupido e Psiquê e os brasileiros Boitatá e O Boto
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AGENDA
Um software inédito no mundo para facilitar o aprendizado dos alunos com necessidades auditivas está sendo
criado pela Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis), com apoio de uma equipe de
lingüistas da Universidade Estadual de Pernambuco (UPE). O programa traduzirá textos para a Língua Brasileira de
Sinais (Libras). Palavras ou frases digitadas em Português aparecerão, na tela do computador, na forma de imagens
(sinais da Libras). O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação apoiará financeiramente o programa. Reso-
lução nesse sentido foi publicada no DOU no último dia 8 de setembro.
Encontro ambientalVamos cuidar do Brasil é o tema da Con-
ferência Nacional do Meio Ambiente que
será realizada em Brasília, de 28 a 30
de novembro, para debater com a so-
ciedade questões de qualidade de vida
e de sustentabilidade socioambiental.
Eventos preparatórios à conferência se-
rão promovidos em várias capitais bra-
sileiras, entre outubro e novembro. A
agenda está no portal www.mma.gov.br,
do Ministério do Meio Ambiente, que
prepara o grande encontro e tem o apoio
do MEC. Em setembro, escolas públi-
cas e privadas de todo o País realizaram a Conferência Nacional Infanto-Juvenil do Meio Ambiente. A cartilha Passo a
Passo da Conferência encontra-se nos Núcleos de Educação Ambiental (NEA) do Ibama e nas comissões organizadoras.
Proteção à criançaOs professores vão ter acesso, em breve, ao Guia Escolar – Identificação de Sinais de Abuso e Exploração Sexual em
Crianças e Adolescentes, lançado pelo MEC, por meio da Secretaria de Inclusão Educacional, e pela Secretaria
Especial dos Direitos Humanos, ligada à Presidência da República, no dia 23 de setembro, em Brasília. O Guia
Escolar está dividido em três partes: a maneira como a escola pode participar no processo; a notificação dos casos;
e a rede de proteção à criança e ao adolescente.
Com tiragem inicial de três mil exemplares, a publicação está sendo entregue a todas as secretarias estaduais de
Educação e em locais com alto índice de violência. Sua versão em cd-rom estará também na página eletrônica
www.mec.gov.br. Em dezembro o Guia será apresentado e discutido em uma série de cinco programas da TV Escola.
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Tradução em Libras
prof
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Pela igualdade racialO Ministério da Educação e a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial (Seppir) criaram um grupo interministerial para, até dezem-
bro próximo, propor políticas públicas de acesso e permanência de estudan-
tes negros nas universidades públicas federais. O grupo vai estabelecer e
aperfeiçoar mecanismos de promoção da igualdade na formação acadêmica
de negros e de brancos, assim como levantar dados sobre as desigualdades
educacionais. Outra tarefa é ouvir dirigentes de entidades de ensino públicas
e privadas, especialistas, juristas e representantes de organismos internacio-
nais para colher subsídios que possam enriquecer a proposta.
Salário-Educação à mãoOs valores da arrecadação bruta e da distribuição do salário-educação encontram-se atualizados, mensalmente, na
página eletrônica www.fnde.gov.br. Os interessados podem obter informações sobre os números referentes à distri-
buição do recolhimento da contribuição social, junto à autarquia, por Estado e por região, bem como o valor que foi
repassado para cada Estado. O salário-educação é uma contribuição social prevista na Constituição, que serve
como fonte adicional de recursos do Ensino Fundamental público. Dois terços dos recursos são repassados mensal-
mente às Secretarias de Educação dos Estados e do Distrito Federal e o restante dos recursos (um terço) é aplicado
em programas administrados pelo FNDE, como o Dinheiro Direto na Escola, o Livro Didático, Biblioteca da Escola e
Alimentação Escolar.
Multiplicadores da InclusãoA Secretaria de Inclusão Educacional (Secrie) está capaci-
tando gestores municipais para formar a Rede de Agentes
de Inclusão – Movimento Nacional para Superação das
Desigualdades pela Educação – em todo o País. Iniciado
em setembro, o curso prossegue até 27 de novembro. A
meta é formar mais de 23 mil gestores nos 27 Estados.
Na primeira fase, presencial, deverão ser formados 1.400
multiplicadores. Na segunda etapa, o curso atenderá mais
22 mil pessoas, por meio de teleconferência. O objetivo
geral do projeto é consolidar uma Rede de Gestão dos
programas da Secrie, formado por gestores municipais dos
programas, educadores, parceiros estaduais e promotores
de ações educativas complementares. Informações nos
telefones 61-410-6156/6090/6027 e endereço eletrô-
nico [email protected].
As escolas pela InternetO usuário de informações educacionais dispõe hoje de
duas importantes ferramentas de pesquisa: o
Edudatabrasil (www.edudatabrasil.inep.gov.br),lançado
em maio, e o Databrasilescola, disponível desde se-
tembro, no endereço www.dataescolabrasil.inep.gov.br.
Nesse novo sistema, o usuário pode conhecer o nú-
mero e rendimento dos alunos matriculados e funções
docentes para cada nível de ensino da escola; suas
instalações e infra-estrutura; os equipamentos eletrô-
nicos de suporte pedagógico disponíveis; e a participa-
ção nos programas do MEC, como Transporte Escolar
e TV Escola. O Databrasilescola possui ainda um espa-
ço para que as escolas divulguem a realização e parti-
cipação em projetos de interesse da coletividade.
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altaNa Escola Municipal Mansões
Coimbra, em Águas Lindas de Goiás
(GO), cantar o hino e hastear a ban-
deira nacional já é uma realidade.
Pelo menos uma vez por semana,
300 alunos do Ensino Fundamental
participam do momento cívico. “Mui-
tas crianças e mesmo adultos não
têm o devido respeito pela bandeira
e sequer sabem cantar o nosso belo
hino. Isso tem que mudar”, decreta
Maria Helena Lobo, 47 anos, pro-
fessora de Artes, Educação Física,
Ensino Religioso e Inglês.
A escola do interior de Goiás é
um bom exemplo de que a noção
de civismo pode ser passada para o
aluno de maneira agradável e diver-
tida. “Mesmo sem ser obrigatório,
fazemos questão de ensinar aos
meninos os valores cívicos. Afinal de
contas, não é só na Copa do Mundo
que devemos ser patriotas”, atesta
a professora. Ela acrescenta que a
população dos países como Estados
Unidos, França e Argentina transpi-
ram patriotismo. “E isso vem desde
pequeno, na escola”, completa.
A professora Mirian Chaves Car-
neiro, 48 anos, da Fundação Peninah,
de Santa Efigênia, em Belo Horizonte
(MG), é outra entusiasta da hora cívi-
ca nas escolas. “Houve época em que
usar roupa com a figura da bandeira
era considerado crime. Hoje é moti-
vo de orgulho durante a Copa do
Mundo, mas, por que só durante a
Copa?”, indaga. Mirian entende que
é preciso hastear a bandeira e can-
tar o hino não apenas nos minutos
que antecedem partidas de futebol
e outros eventos.
Essas motivações levaram o Go-
verno Federal a editar o Decreto
4.835/2003, orientando as escolas
do País a hastearem a bandeira,
LEGISLAÇÃO
CIVISMO EM
A volta da hora cívica nasescolas resgata respeitopelos símbolos nacionais
prof
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pelo menos uma vez por semana. A
proposição sugere ainda que a so-
lenidade seja de forma espontânea,
sem a determinação de medidas
punitivas para as instituições que
não aderirem. “Quando as pessoas
são convocadas e motivadas, parti-
cipam”, disse o presidente da Re-
pública Luiz Inácio Lula da Silva, no
dia 7 de setembro, data da soleni-
dade de assinatura do decreto.
“Quem não se emociona quan-
do, num evento como as Olimpía-
das, por exemplo, se canta o hino
diante da bandeira nacional? No
meu tempo de estudante, hastear
a bandeira era uma honra, era mo-
tivo de orgulho para a gente. Acho
muito legal continuar a se cultivar esta
postura cívica”, lembra a professora
Vânia Almeida de Abreu, 50 anos, da
Escola de Ensino Fundamental Darcy
Ribeiro do Paranoá (DF).
História da Bandeira
Sua música foi composta em
1822 para comemorar a abdicação
de D. Pedro I, por Francisco Manoel
da Silva, com letra que saudava a
nossa emancipação política de Por-
tugal. Adotado como Hino do Impé-
rio, foi, durante muitos anos, exe-
cutado sem letra em todas as apre-
O Hino Nacionalsentações públicas de D. Pedro II.
Apenas em 1909 recebeu a letra de
Joaquim Osório Duque Estrada, que,
após algumas modificações, foi ofi-
cializada em 1922, às vésperas da
comemoração do Centenário da In-
dependência.
Quando surgiu
A Bandeira do Brasil foi adotada
pelo decreto no 4 de 19 de novem-
bro de 1889, preparado por Benja-
min Constant, membro do Governo
Provisório.
Responsáveispela criação
A idéia deve-se ao professor
Raimundo Teixeira Mendes, presiden-
te do Apostolado Positivista do Brasil.
Com ele colaboraram o Dr. Miguel Le-
mos e o professor Manuel Pereira
Reis, catedrático de Astronomia da
Escola Politécnica. O desenho foi exe-
cutado pelo pintor Décio Vilares.
As cores
O verde e amarelo estão associados
à casa real de Bragança, da qual fa-
zia parte o imperador D. Pedro I, e à
casa real dos Habsburg, à qual per-
tencia a imperatriz D. Leopoldina.
Círculo interno azul
Corresponde a uma imagem da es-
fera celeste, inclinada segundo a la-
titude da cidade do Rio de Janeiro
às 12 horas siderais (8 horas e 30
minutos) do dia 15 de novembro de
1889.
As estrelas
Cada estrela representa um Esta-
do da Federação e todas as estrelas
têm 5 pontas. Elas aparecem em cinco
dimensões: primeira, segunda, tercei-
ra, quarta e quinta grandezas. Não
correspondem diretamente às mag-
nitudes astronômicas, mas estão re-
lacionadas com elas. Quanto maior a
magnitude da estrela, maior é o seu
tamanho na bandeira.
A faixa branca
Embora alguns digam que representa
a eclíptica, ou o equador celeste ou
o zodíaco, na verdade a faixa bran-
ca é apenas um lugar para a inscri-
ção do lema “Ordem e Progresso”.
Não tem qualquer relação com de-
finições astronômicas.
O lemaOrdem e Progresso
É atribuído ao filósofo positivista
francês Augusto Comte, que tinha
vários seguidores no Brasil, entre
eles o professor Teixeira Mendes.
Receita de Lulaàs escolas:motivação eespontaneidade
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Quem ainda tinha dúvidas de que é
investindo em educação que os povos
conseguem dar o salto de qualidade
para as suas sociedades, pôde tira-las
no seminário internacional Educação,
Ciência e Tecnologia como Estratégias
de Desenvolvimento, em Brasília. O
seminário foi promovido, em setembro
passado, pela Unesco, com o apoio dos
ministérios da Educação e da Ciência e
Tecnologia. Durante dois dias, represen-
tantes de vários países relataram suas
experiências realizadas nas últimas dé-
cadas e provaram que foi a decisão
política de investir em educação que
os colocaram em destaque, quando se
trata de desenvolvimento econômico e
social. Malásia, Espanha, Irlanda e
Coréia foram alguns dos países que
deram lições ao mundo.
Alicerce para a Malásia“Passeamos pelos jardins do mun-
do recolhendo as práticas de cada
povo”, diz o professor de Administra-
PELO MUNDO
liçõesCONTEMPORÂNEAS
ção, Liderança e Políticas Públicas da
Universidade Tun Abdul Razak, da
Malásia, Ibeahim Ahma Bajunid, para
mostrar a amplitude do sistema edu-
cacional do seu país. Colonizada por
Portugal, Holanda, Inglaterra e Japão,
a Malásia teve que lidar com a diversi-
dade de culturas, línguas, costumes e
economias desses povos para construir
a sua unidade.
Há 40 anos, o país saiu do ciclo agrí-
cola, onde a borracha natural era um
dos principais produtos de exportação,
e partiu para a economia industrial. A
educação foi a plataforma que o país
usou para dar os saltos de um ciclo para
outro e que hoje é o alicerce para uma
sociedade pós-industrial onde os servi-
ços do conhecimento são cada vez mais
exigidos, segundo Bajunid. Isso se ma-
terializou na decisão política de aplicar
25% do orçamento em educação.
Três foram as decisões que deram
sustento ao programa: toda a família
precisa ter em casa um computador e
Seminário internacionalmostra que educação é a chavedo progresso socioeconômico
prof
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saber operá-lo; a educação deve ocor-
rer pela vida toda; o papel do professor
deve ser enaltecido e ele deve receber
o mesmo salário do servidor público.
No decorrer da implantação do proces-
so, que já dura cerca de 40 anos, o
Governo conseguiu reverter a situação
da educação. Há 30 anos, relata
Bajunid, por falta de universidades, 100
mil alunos da Malásia migravam para
estudar em outros países, a um custo
de US$ 1 bilhão por ano ao governo.
Hoje, 55 mil estudantes estrangeiros
procuram as boas universidades da
Malásia para estudar, trazendo recur-
sos para os cofres do país.
Mas esses avanços, diz Ibrahim
Bajunid, não são suficientes. A Malásia
trabalha para melhorar seu sistema
educacional e quer atingir 60% da for-
mação de sua mão-de-obra em Ciên-
cia para dominar os conhecimentos os
básicos da tecnologia e 40% em Hu-
manidades, para construir a cidadania
que é necessária e bem-vinda.
Política públicana Espanha
Acesso, eqüidade e qualidade cons-
tituem a base do sistema educacional
espanhol construído nos últimos 25
anos, relata o professor de Teoria e His-
tória da Educação na Universidade Na-
cional de Educação a Distância da
Espanha, Alejandro Tiana.
A reforma da educação, que hoje
garante acesso ao Ensino Médio a
79,5% dos jovens entre 15 e 19 anos,
começou nos anos 70, durante o pro-
cesso de abertura, ainda sob o governo
de Francisco Franco. Depois da morte
do ditador, em 1975, as forças demo-
cráticas construíram o Pacto de
Moncloa, celebrado entre o governo, os
partidos políticos e os sindicatos, que
deu impulso às reformas na educação.
Foi o pacto que permitiu multiplicar por
dois o orçamento da educação públi-
ca, entre 1977 e 1980, e registrar na
história do país decisões como a dos
trabalhadores que abriram mão de re-
ceber aumentos salariais para garantir
a quota da educação no orçamento do
Estado. Para o professor Alejandro
Tiana, o que tornou viável o avanço foi
a importância atribuída à educação
como política pública, pelo governo e
pela sociedade.
A democratização da Espanha, a
partir de 1975, ampliou o ensino em
mais dois anos. De 1982 a 1996, sob
o governo socialista, a Espanha tornou
obrigatórios o Ensino Fundamental, dos
seis aos 16 anos, e a Educação Infan-
til, a partir dos três anos. Nesse perío-
do, investiu em qualidade, promoven-
do a revisão dos currículos e a forma-
ção continuada dos professores. Hoje,
os professores espanhóis do Ensino
Básico têm horários reduzidos, mas
dedicação exclusiva. Os do Ensino Fun-
damental trabalham 25 horas sema-
nais e os do Ensino Médio, de 18 a 20
horas semanais, o que lhes garante
qualidade de vida e desejo de perma-
necer no Magistério, diz Tiana. A for-
mação permanente é outro atrativo da
carreira. Quanto maior a formação,
maior o salário.
Sem incentivar a competição entre
escolas e professores, a Espanha criou
a cultura da avaliação e introduziu ins-
trumentos democráticos de gestão,
dentre eles a eleição direta dos direto-
res. “Na Espanha, a educação é uma
responsabilidade compartilhada que
EDU
CAR
VALH
O
prof
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atingiu níveis importantes, mas que pre-
cisa continuar se aprimorando”, obser-
va o professor.
Ensino gratuito na IrlandaO ministro de Estado para Assuntos
Europeus, Richard Roche, conta que a
educação e, principalmente, o ingres-
so da Irlanda na Comunidade Européia,
em 1972, tiveram papel de destaque
na reconstrução da economia do país,
de perfil inexpressivo até o final da dé-
cada de 1980.
A educação, segundo Roche, é vis-
ta como uma espécie de cimento para
o desdobramento dos outros fatores.
Seu desenvolvimento teve início em
meados dos anos 60, quando o então
ministro da pasta decidiu pela
gratuidade do Ensino Secundário. Fo-
ram criadas oito escolas politécnicas em
áreas rurais. Em seguida, deu-se o ingres-
so da Irlanda na comunidade européia,
passo, segundo ele, considerado funda-
mental, “pois a instituição tem sido muito
generosa com os países membros”.
A mudança na economia irlandesa
começou a ocorrer, de fato, a partir dos
últimos 30 anos, por influência da
interação de fatores como: a entrada
de subvenções da União Européia e cli-
ma propício a investimentos; o idioma
do país (inglês) e a falta de barreiras
culturais; a abertura comercial e os
parceiros sociais; as instituições legais
e a estabilidade política; e, ainda, os
agrupamentos industriais e o investi-
mento nos recursos humanos.
“As gerações trabalharam ardua-
mente para que as transformações
ocorressem e, nas últimas décadas,
aprendemos muito sobre nós mes-
mos. Descobrimos em que áreas éra-
mos importantes e em quais outras,
insignificantes”.
Conselho de um coreanoNos últimos 50 anos, a Coréia mu-
dou de uma sociedade rural pobre ar-
rasada pela guerra para uma socie-
dade moderna, de rápida industriali-
zação, com uma economia dinâmica.
No campo da educação, a expansão
não foi menos notável.
O professor de Educação da Uni-
versidade de Hanyang, em Seul, Yun-
Kyung Cha, conta que, influenciada
pelo confucionismo, a educação for-
mal na Coréia teve início no século IV.
A educação moderna surgiu no final
do século 19, dentro do movimento
de reforma nacional.
Durante o período de colonialismo
japonês, de 1910 a 1945, as opor-
tunidades educacionais para o povo
coreano foram restritas. Com a liber-
tação, o povo passou a experimentar
oportunidade de educação.
A expansão quantitativa foi a ca-
racterística mais marcante no de-
senvolvimento educacional da Coréia
nos últimos 50 anos, segundo Yun-
Cha. O número de escolas, de pro-
fessores e alunos dobrou, drastica-
mente, em todos os níveis escola-
res. No Ensino Médio, as matrícu-
las aumentaram de 26,4% para
94%. O mais extraordinário aconte-
ceu na Educação Superior, segundo
relata Yun-Cha. De 19 instituições
de ensino, em 1945, o país chegou
a 1.261, em 2001; o número de
alunos matriculados aumentou de
7.819 (em 45) para 3,55 milhões
(em 2001), atingindo uma das ta-
xas mais elevadas do mundo.
Apesar de declarar-se “deslumbra-
do” com alguns indicadores educa-
cionais do seu país, Yun Cha diz que,
para a maioria dos coreanos, o signi-
ficado da educação formal está em
seus valores instrumentais: a educa-
ção é, para eles, simplesmente um
meio de ascensão social e de riqueza
material, estando ausente a perspec-
tiva humanitária.
Ele ressaltou que a expansão edu-
cacional impulsionada pela cobiça hu-
mana não tem capacidade de trans-
formar o mundo em um lugar melhor
para se viver. “Nossa sociedade pre-
cisa de seres humanos, e generosos,
que exercitem a compaixão, e não de
pessoas egoístas e competitivas. Não
desejo que o Brasil repita certos er-
ros adotados por nós”, desabafa.
Representantes dos países convidados provaram que a educação os colocou em destaque
TER
EZA
SO
BR
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A. A
CS
/MEC