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Ano XXXI | ed. 346 | Jan | 2014 CARTÃO AMARELO EM 2014 O setor saúde está preparado para os grandes eventos? pág. 9 Assistência domiciliar precisa de legislação específica. págs. 10 e 11 Embora existam boas perspectivas, líderes da saúde veem com receio o baixo crescimento da economia e algumas decisões políticas que impactaram diretamente o setor no ano passado. Confira as opiniões. Páginas centrais

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Page 1: Ano XXXI ed. 346 Jan 2014 CARTÃO AMARELO EM 2014 · AMARELO EM 2014 O setor saúde está preparado para os grandes eventos? ... possuem um impacto sistêmico e devem ser analisadas

Ano XXXI | ed. 346 | Jan | 2014

CARTÃOAMARELOEM 2014

O setor saúde está preparado para os grandes eventos?pág. 9

Assistência domiciliar precisa de legislação específica.págs. 10 e 11

Embora existam boas perspectivas, líderes da saúde veem com receio o baixo crescimento da economia e algumas decisões políticas que impactaram diretamente o setor no ano passado. Confira as opiniões.Páginas centrais

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Editorial

| Jornal do SINDHOSP | Jan 2014

SINDHOSP - Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde, Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas e Demais Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de São Paulo • Diretoria

| Efetivos • Yussif Ali Mere Jr (presidente) • Luiz Fernando Ferrari Neto (1o vice-presidente) • George Schahin (2o vice-presidente) • José Carlos Barbério (1o tesoureiro) • Antonio Carlos de Carvalho (2o tesoureiro)

• Luiza Watanabe Dal Bem (1a secretária) • Ricardo Nascimento Teixeira Mendes (2o secretário) / Suplentes • Sergio Paes de Melo • Carlos Henrique Assef • Danilo Ther Vieira das Neves • Simão Raskin

• Marcelo Luis Gratão • Irineu Francisco Debastiani • Conselho Fiscal | Efetivos • Roberto Nascimento Teixeira Mendes • Gilberto Ulson Pizarro • Marina do Nascimento Teixeira Mendes / Suplentes

• Maria Jandira Loconto • Paulo Roberto Rogich • Lucinda do Rosário Trigo • Delegados representantes | Efetivos • Yussif Ali Mere Jr • Luiz Fernando Ferrari Neto | Suplentes • José Carlos Barbério

• Antonio Carlos de Carvalho • Escritórios regionais • BAURU (14) 3223-4747, [email protected] | CAMPINAS (19) 3233-2655, [email protected] | RIBEIRÃO PRETO (16) 3610-6529,

[email protected] | SANTO ANDRÉ (11) 4427-7047, [email protected] | SANTOS (13) 3233-3218, [email protected] | SÃO JOSÉ DO RIO PRETO (17) 3232-3030,

[email protected] | SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (12) 3922-5777, [email protected] | SOROCABA (15) 3211-6660, [email protected] | BRASÍLIA (61) 3037-8919 /

JORNAL DO SINDHOSP | Editora – Ana Paula Barbulho (MTB 22170) | Reportagens – Ana Paula Barbulho • Aline Moura • Fabiane de Sá • Rebeca Salgado | Produção gráfica – Ergon Ediitora (11) 2676-3211

| Periodicidade Mensal | Tiragem 15.000 exemplares | Circulação entre diretores e administradores hospitalares, estabelecimentos de saúde, órgãos de imprensa e autoridades. Os artigos assinados não re-

fletem necessariamente a opinião do jornal | Correspondência para Assessoria de Imprensa SINDHOSP R. 24 de Maio, 208, 9o andar, São Paulo, SP, CEP 01041-000 • Fone (11) 3331-1555, ramais 245 e 255

• www.sindhosp.com.br • e-mail: [email protected]

A firula, no futebol, pode ser bonita, enganar o adversário, e levar ao gol. Quando se governa um país de mais de 200 milhões de habitantes, no entanto, iludir é um verdadeiro desastre. Em especial quando o “jeitinho” diz respeito a áreas prioritárias como saúde, educação e desenvolvimento.

Infelizmente, temo que 2014 será o ano da ilusão. Muito se fala nos 30 dias de Copa do Mundo, que pela segunda vez se realiza no Brasil. Vemos o Ministério da Saúde envolvido de forma intensa nos projetos do mundial, traçando planos e estratégias. A meu ver, há uma preocupação excessiva com um evento que irá durar 30 dias, enquanto pouco se fala nos outros 335.

Basta olhar para os números. A saúde, em 2014, terá orçamento de R$ 106 bilhões. No entanto, os recursos para ações e serviços específicos são de apenas R$ 95,7 bi. Média e Alta Complexidades – que incluem UTI, cirurgias, tomografias, mamografias e pagamentos de médicos e enfermeiros – terão ape-nas R$ 38 bi, o mesmo valor de 2013, o que me parece um descalabro, já que um dos maiores gargalos do SUS está no atendimento em hospitais de média e alta complexidades. Quanto ao Programa Mais Médicos, espero sinceramente que não seja mais uma ação midiática.

A dobradinha Copa do Mundo + Eleições pode comprometer ainda o encaminhamento de deba-tes fundamentais para o setor, como a aprovação do projeto de lei 4.330/2004. O texto, que trata da questão da terceirização, é considerado o mais bem-sucedido em termos de flexibilização nas formas de contratação. Mas há sérias perspectivas de que ele fique na gaveta em 2014.

Num contexto mais amplo, os resultados do ano passado nos preocupam muito. Foi manchete do jornal O Estado de S. Paulo, no dia 14 de janeiro, o resultado desastroso da balança comercial brasileira de produtos indus-trializados: um rombo histórico de US$ 105 bilhões, segundo dados do próprio governo. A falta sistemática de investimento tem levado a perda da competividade da nossa indústria. No terceiro trimestre de 2013, registramos a maior queda do Pro-duto Interno Bruto (PIB) entre os países do G-20. E as proje-ções para 2014 são de crescimento de apenas 2,1%. Levando em conta que a saúde é um setor que depende fortemente do crescimento da economia para se alavancar, não me resta alter-nativa a não ser arriscar que teremos um ano pouco promissor. Tomara que eu erre!

. presidente

Yussif Ali Mere Jr

SAÚDE O ANO TODO

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Em dia

Jan 2014 | Jornal do SINDHOSP |

A ONA - Organização Nacional de Acreditação lançou a nova versão do Manual Brasileiro de Acreditação para as Organizações Prestadoras de Serviços de Saúde. A sétima edição do manual, que passou a vigorar em 1o de janeiro, vem com a chancela da ISQua - The International Society for

Quality in Health Care (Sociedade Internacional para a Qualidade do Cuidado de Saúde). Com a cer-tificação, a metodologia e os padrões de qualidade da acreditação ONA passam a ser reconhecidos internacionalmente.

O novo manual foi revisado por um Comitê Técnico, antes de ser submetido à aprovação da mais importante organização mundial de certificação na área de saúde e a única instituição que acredita os acreditadores. Para isso, alguns conceitos e diretrizes foram alinhados aos padrões inter-nacionais, trabalho que contou com a participação de vários representantes do Sistema Brasileiro de Acreditação - ONA e de especialistas convidados.

Entre as principais mudanças do novo manual está o alinhamento de conceitos à taxonomia da Organização Mundial de Saúde – aplicando a Classificação Internacional para a Segurança do Pa-ciente da OMS, para facilitar a comparação, mediação, análise e interpretação de informações sobre os cuidados em saúde. Outro critério apregoado pela ISQua - o paciente como cen-tro do tratamento - também fica mais evidente no manual, com a participação do paciente ou familiar nas decisões rela-cionadas ao seu tratamento.

A publicação está dividida em cinco seções: Gestão e Liderança; Atenção ao Paciente/Cliente; Diagnóstico e Tera-pêutica; Apoio Técnico; e Abastecimento e Apoio Logístico que, por sua vez, estão distribuídas em subseções. Algumas, como é o caso das subseções Liderança, Gestão de Pessoas, Gestão Administrativa, Gestão de Suprimentos, Gestão da Segurança Patrimonial e Gestão da Estrutura Físico-Funcional possuem um impacto sistêmico e devem ser analisadas na or-ganização como um todo. Outras, como a Gestão do Aces-so, da Assistência Farmacêutica e da Assistência Nutricional devem ser avaliadas juntamente com outros processos, pois têm impacto direto na assistência.

Segundo os organizadores do manual, cada subseção deve ser entendida como processo e jamais como setor ou unidade. “Para isso é importante entender que os processos não ocorrem somente dentro dos setores, como é o caso da assistência farmacêutica, que possui um processo muito maior do que as atividades desenvolvidas dentro do setor da farmácia,” exemplificam.

Essa é a razão da subseção “gestão da qualidade”, presente na versão de 2010, ser excluída na nova versão, pois existia uma interpretação errônea de que devia ser desenvolvida por um setor ou grupo de pessoas encarregadas de executar as atividades nesse sentido. “Muitos desses setores ou grupo de pessoas acabavam atuando de forma separada da gestão e liderança, enquanto os outros setores entendiam que as responsabilidades dos aspectos relacionados à qualidade cabiam apenas à área específica”, justificam os organizadores.

Com a mudança, a ONA enfatiza e reforça que a responsabilidade pela gestão da qualidade não acontece em um setor ou unidade exclusivamente, mas através da interação e do comprometi-mento de todos os envolvidos. O Manual Brasileiro de Acreditação para Organizações Prestadoras de Serviços de Saúde - versão 2014 está à venda no site www.ona.org.br.

NOVO MANUAL ONA TEM PADRÃO INTERNACIONAL DE ACREDITAÇÃO

PROJETO BÚSSOLA

Em fevereiro serão retomados os seminários de sensibi-lização que fazem parte da primeira fase do Projeto Bússola, parceria do SINDHOSP, FEHOESP, ONA e IBESS (Instituto Brasileiro para Excelência em Saúde) que tem como objetivo facilitar a obtenção da acreditação por parte das clínicas mé-dicas. Os seminários serão realizados em São Paulo, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto.

O projeto pretende angariar dez clínicas no Estado que estejam dispostas a investir na gestão da qualidade para par-ticipar do piloto. As empresas que queiram aderir ao Projeto Bússola devem obedecer alguns critérios. São eles: serem sócias e/ou contribuintes dos sindicatos filiados à Fehoesp;

serem pessoas jurídicas legalmente constituídas há mais de um ano, com CNPJ, CNES, alvará sanitário e licença de fun-cionamento; atuarem nas especialidades de clínica médica geral, alergologia, angiologia, cardiologia, vascular, cirúrgica, dermatologia, endocrinologia, gastroenterologia, ginecolo-gia, infectologia, oncologia, ortopedia, otorrinolaringologia, pediatria, pneumologia, urologia e vacinação; a estrutura da clínica não ser classificada como consultório; terem máxi-mo de 45 a 50 funcionários; e preencherem e enviarem o “Questionário Preliminar do Perfil da Clínica”, com a ficha de inscrição, que são entregues durante os eventos. Mais infor-mações pelo tel (11) 3331-1555, ramal 258.

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4 | Jornal do SINDHOSP | Jan 2014

Em dia

Dando continuidade à matéria veiculada na edição passada do Jornal do

SINDHOSP (dezembro/2013, no 345), a publicação traz programas de sucesso implantados pela Secretaria de Estado da Saúde (SES) de São Paulo e apresenta-dos em fórum, que aconteceu no final de novembro, na Capital paulista. “Muitas iniciativas ainda não foram amplamente divulgadas, por isso, é importante que os gestores privados da saúde conheçam o que o Governo do Estado vem de-senvolvendo no intuito de sanar os problemas do setor”, afirma o presidente do SINDHOSP, Yussif Ali Mere Jr.

Na edição passada foram relatados programas da SES nas áreas de distribui-ção de medicamentos, atendimento ao câncer e gestão da assistência. O con-teúdo da edição está disponível no site do SINDHOSP – www.sindhosp.com.br, página Publicações. Confira, a seguir, outras iniciativas.

PREVENÇÃO

Na área da prevenção, o Estado também tem se destacado com ações mobilizadoras, e inova-doras. Como nas linhas de cuidado à gestante e ao idoso, que conseguiram melhoria em diversos indicadores após a promoção de cursos de capacitação via sistema de telessaúde. Lançado em 2010, o curso tem oportunizado que profissionais de regiões distantes, e distintas, passem por trei-namento adequado, ao mesmo tempo. “Não fosse o telessaúde, não conseguiríamos reunir 600 pessoas, para um curso de 18 semanas, com tutores médicos, com este nível de qualidade”, con-tou uma das responsáveis pelos cursos, a médica Claudia Fló. Segundo a professora Marisa Ferreira Lima, o profissional brasileiro ainda não está acostumado a frequentar a capacitação a distância, daí a desistência ainda ser alta. “Mas foi o primeiro da área no Brasil. Temos que trabalhar isso”, disse.

Na região de Jundiaí, a palavra tem sido a intersetorialidade. Segundo a socióloga Lígia Maria de Almeida, o programa Primeiríssima Infância, da SES, já atinge nove cidades, promovendo ações de promoção de saúde e de prevenção de doenças para gestante e crianças até 3 anos. “Atuam juntos os serviços de saúde, a área da educação e a assistência social. E eu confesso: é a primeira vez que vejo a intersetorialidade sair do papel”, contou Ligia. O projeto, assim como os de telessaúde, é ba-seado na capacitação. Mas antes de promover qualquer tipo de treinamento, especialistas visitam os serviços de saúde, conversam com os profissionais e com os usuários, traçam os indicadores, e preparam os treinamentos. “Os capacitados se tornam multiplicadores, e são supervisionados após o treinamento”. Até agora foram 4.400 profissionais treinados, o que resultou em maior participa-ção dos pais no atendimento pré-natal, criação de espaços lúdicos nas Unidades Básicas de Saúde,

e na criação do Índice Paulista de Atenção à Primeira Infância (IAPI).

REGULAÇÃO DE VAGAS

O problema de vagas, para um siste-ma responsável por milhões de pessoas, também é um entrave ao melhor geren-ciamento da saúde pública. Por isso, em 2010, a SES criou a Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (CROSS). Antes, funcionavam 19 centrais, com cerca de 15 médicos cada uma, somando 300 médicos no total. “A CROSS é uma das

grandes experiências da Secretaria. Conseguimos unificar isso tudo, e hoje toda a central funciona com 300 funcio-nários, incluindo médicos”, afirmou Domingos Guilherme Napoli, coordenador do serviço. Segundo ele, a CROSS funciona em tempo real, 24 horas, e é o ponto de contato de todos os hospitais e serviços de saúde que atendem pelo SUS no Estado. Cada região distrital, por sua vez, possui a sua rede de regulação, que responde à Central.

Criada através de uma Organização Social de Saúde, a CROSS não regula apenas vagas, mas também consultas e exames. “Sua implantação diminuiu as interferências pes-soais, além de possibilitar a visualização de todos os recursos disponíveis, e a obtenção de dados estatísticos”, conta Na-poli. O portal da CROSS pode ser acessado pelo endereço eletrônico www.cross.saude.sp.gov.br

CUIDADOS PROLONGADOS

Com o envelhecimento da população, maior resolutivi-dade de enfermidades graves e o aumento das doenças crô-nicas, o problema dos cuidados prolongados tem sido alvo de algumas ações da SES. Em Ribeirão Preto, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, uma autuação da vigilância sanitária local disparou uma série de ações para desafogar os leitos. “Fomos autuados por alta taxa de ocupa-ção”, conta Antônio Pazin Filho, chefe da unidade de emer-gência do hospital. A ideia foi pactuar o encaminhamento de pacientes que precisavam de cuidados prolongados para instituições primárias com baixa taxa de ocupação. “Elas passaram a atuar como retaguarda. Foi preciso promover treinamento às equipes desses serviços, principalmente nos cuidados com traqueostomia, mas conseguimos resultados muito bons. Além de atingir o objetivo de baixar a taxa de ocupação do HC, estamos promovendo assistência adequa-da à população”.

SAÚDE DO ESTADO APRESENTA INICIATIVAS DE SUCESSO

Eduardo Ribeiro Adriano é coordenador do SEDI

Equipamento que transmite eletrocardiograma pelo celular nasceu em SP

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5Jan 2014 | Jornal do SINDHOSP |

Em dia

SAÚDE DO ESTADO APRESENTA INICIATIVAS DE SUCESSOPara o médico Paulo Carrara de Castro, os hospitais

grandes e mais tradicionais têm papel muito relevante para tratar a fase aguda. “Passado esse momento, as pessoas pre-cisam de outro tipo de abordagem”. Segundo ele, hospitais com menos de 50 leitos no Brasil possuem média de taxa de ocupação de 32%, e é preciso otimizar esses leitos. “Não é para criar desespero em ninguém, mas temos que tomar providências”, alertou.

Em Franca, a experiência de transformar hospitais me-nores em instituições de retaguarda foi inspirada no traba-lho da Rede de Cuidados Continuados com a União das Misericórdias de Portugal. “Visitamos o modelo, e realmente vimos que as pessoas voltam para casa após os cuidados certos”, afirmou Carrara. As santas casas da região, portan-to, têm servido como retaguarda. O projeto começou em agosto, não sem antes seis meses de treinamento com pro-fissionais de Portugal e Espanha. “Até agora temos 33 pacien-tes transferidos. São 33 leitos livres nos grandes hospitais. E se levarmos em conta que muitos desse pacientes crônicos chegam a ficar até um ano internados, dá para se ter ideia do impacto”.

Na cidade de São Paulo, o Hospital São José também assumiu o papel de serviço de retaguarda, conseguindo desafogar importantes conglomerados. “O Mandaqui foi o mais beneficiado”, conta o médico Antonio Jorge Martins. Com 35 leitos, e funcionando 24 horas, o São José recebe pacientes que precisam fazer algum tipo de preparo para ci-rurgias, que estão em tratamento de pneumonia, bronquite, asma, DPOC, entre outras enfermidades que não estão em sua fase aguda, mas que pedem acompanhamento médico e hospitalização.

DIAGNÓSTICO

Na área diagnóstica, um dos maiores cases é a implanta-ção do Serviço Estadual de Serviços por Imagem (SEDI). Até 2009, o Estado possuía parques radiológicos não integrados, 100% dos exames sendo revelados e descrição manual dos laudos. “A digitalização era feita pelas equipes administrati-vas. Tínhamos alto índice de repetição de exames e prazo alto para a entrega dos laudos”, conta Eduardo Ribeiro Adria-no, coordenador do serviço. Com a implantação do SEDI, foram criadas três centrais de laudos, que atendem 64 uni-dades hospitalares que encaminham mais de dois milhões de exames por mês. Médicos radiologistas ficam disponíveis nessas centrais, 24 horas, sete dias por semana, laudando os exames e enviando o resultado de volta às unidades hospi-talares, num prazo máximo de 4 horas. “Levava até 15 dias

para um laudo”, contou Adriano. Através de rede de internet de altíssima velocidade as centrais recebem as imagens dos exames (radiografia, mamografia, tomografia, densitometria óssea), que estão disponíveis em dez minutos aos médicos radiologistas. “O sistema permite agilidade, alta es-pecialização dos profissionais e ainda a emissão de uma segunda opinião”.

Uma nova tecnologia revolucionária, denominada teleeletrocardiograma (tele-ECG), também nasceu em São Paulo, dentro de uma instituição pública. O aparelho, que transmite eletrocardio-grama pelo celular e permite que qualquer unidade de saúde diagnostique precocemente proble-mas cardíacos, foi desenvolvido pelo Dante Pazzanese – em parceria com a Fundação Adib Jatene. O dispositivo requer basicamente sinais de celular para funcionar. O eletrocardiograma é realizado numa Unidade Básica de Saúde, serviço de emergência ou pequeno hospital e enviado, por tele-fonia celular, até o servidor (computador central que administra e fornece informações a outros computadores) do Dante Pazzanese. Na instituição, médicos autorizados acessam, via Internet, o exame enviado, interpretam os traçados e encaminham os resultados ao local de origem. Do envio ao recebimento do resultado, o processo não dura mais do que cinco minutos. O laudo, por fim, pode ser impresso pelo próprio tele-ECG e entregue ao paciente.

Segundo Amanda Souza, diretora-geral do Dante Pazzanese, cada unidade do equipamento custa R$ 2.400 por mês, sem limites de envio de eletrocardiogramas. O fluxo é contínuo, funciona 24 horas e a projeção era que fossem realizados, em 2013, 225.800 eletros. Em setembro, uma ideia do próprio professor Adib Jatene começou a ser implantada, que é levar o aparelho para os mu-nicípios com menos de 20 mil habitantes. “São 372 no Estado de São Paulo. O procedimento tem funcionado, e quando o paciente apresenta alterações importantes, é encaminhado para o centro de referência mais próximo”, contou Amanda.

SUSTENTABILIDADE

Economizar energia e água também é importante para a redução dos custos hospitalares. Daí a importância do programa Desperdício Zero, implantado pela SES em suas 40 unidades de saúde de administração direta. Segundo o arquiteto Adhemar Dizioli Fernandes, ações tec-nológicas estão sendo implantadas, alinhadas a uma reeducação pelo uso racional dos recursos. “Esperamos redução de até 30% no consumo de água, por exemplo”, afirmou. A economia anual, segundo ele, já atingiu R$ 900 mil com o programa Água Pura, da Sabesp. A repactuação dos contratos de energia elétrica, e medidas técnicas, também já diminuíram em mais de R$ 1 milhão as contas de luz dos hospitais, ao ano. “Somente a troca de lâmpadas reduziu em 20% o consumo”, afirmou o arquiteto.

Médica trabalha em uma das unidades de diagnóstico por imagem da SES

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Manchete

| Jornal do SINDHOSP | Jan 2014

O QUE SERÁ DO SETOR DA SAÚDE EM 2014

“Nossa expectativa para a saúde pública brasileira para 2014 não é das melhores, se pensarmos em qualidade. O acesso poderá ser ampliado, mas sem qualidade a

população vai sofrer muito, especialmente a mais pobre e carente, que depende exclusivamente do SUS. Necessário se faz investir mais em pesquisa e desenvolvimento, retirando as amarras existentes, para que o Brasil seja competitivo a nível mundial. Não vislumbramos melhorias se não acontecer aumento do financiamento, melhorias da gestão e sério combate à corrupção. Na saúde suplementar, a ANS precisa exercer melhor seu papel e entender que o Brasil precisa conviver bem com os dois sis-temas. O governo precisa focar em sua verdadeira vocação de agência reguladora. Precisamos cada vez mais trabalhar com diretrizes e saúde baseada em evidências.”

FLORENTINO CARDOSO , presidente da

Associação Médica Brasileira (AMB)

“O ano de 2013 foi um período de for-talecimento da ANS como a principal fonte de informações sobre o setor e de reconhecimento da sociedade de que é

também o principal canal de mediação de conflitos entre os consumidores e as operadoras de planos de saúde. Já somos o órgão mais procurado para esclarecimento de dúvidas e para registro de re-clamações sobre os planos. Atingimos o índice de 82,6% de solução de conflitos, solucionando com agilidade quatro em cada cinco demandas recebi-das sem a necessidade de abertura de processos. O programa de Monitoramento da Garantia de Atendimento teve seu escopo ampliado, passan-

do a proteger um número ainda maior de benefi-ciários com a medida preventiva de suspensão da comercialização dos planos mais reclamados. Para 2014, temos projetos muito importantes, como a implementação do novo modelo de fiscalização e de análise coletiva de processos, que tem o objetivo de aprimorar a eficiência na aplicação e na cobran-ça de multas. Vamos investir também no incentivo à qualificação dos prestadores de serviços de saúde e na divulgação dos atributos que diferenciam um hospital, uma clínica ou um profissional de outros. A ANS reforça, ainda, seu compromisso com a agenda regulatória em curso, com a regulação do mercado e o equilíbrio das relações entre consumi-dores, operadoras de planos de saúde e prestado-res de serviço. “

ANDRÉ LONGO, diretor-presidente da

Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)

“O ano de 2013 foi marcado por intenso debate sobre a saúde pública, encerrando com a aprovação de uma lei que interferiu fortemente no setor. Foram modificados

os processos de formação de médicos e o de es-pecialização profissional, permitindo o ingresso de formados no exterior sem passar por revalidação de seus diplomas. Também desrespeitou-se a le-gislação trabalhista, ao contratá-los sem a garantia de seus direitos. Para agravar ainda mais a situação, a mesma lei permite a abertura de um grande nú-mero de escolas médicas, apesar da falta de corpo docente e de hospitais apropriados para ensino de medicina. Na área da saúde suplementar também o cenário demonstrou problemas. Pesquisa feita pela APM através do Instituto Datafolha revelou enormes dificuldades enfrentadas pelos usuá-rios de planos de saúde, notadamente quanto a marcação de consultas com especialistas, falta de leitos hospitalares e sérios problemas no atendi-

mento de emergências. As eleições em nível fe-deral e estadual vão acirrar os debates sobre quais os melhores caminhos para se garantir o acesso a serviços de saúde de qualidade a toda a popula-ção. Os médicos, por sua posição estratégica no sistema de saúde, têm a possibilidade de contribuir de maneira significativa para tanto e a APM, junta-mente com as demais entidades médicas, tem o dever de se envolver decisivamente neste debate”

FLORISVAL MEINÃO, presidente da

Associação Paulista de Medicina (APM)

“Espero para 2014 o que acompanhamos em 2013 na saúde brasileira: investimen-to e crescimento da indústria, incentivo de pesquisa, ampliação dos serviços e a busca

pela melhoria na qualidade dos equipamentos e infraestrutura dos atendimentos pelo SUS, maior abrangência nas coberturas dos planos de saúde, e o esforço governamental para estimular os recur-sos destinados à saúde, como o orçamento recorde de R$ 100,3 bilhões previstos para este ano, o que oportuniza o fomento de toda a cadeia produtiva do setor, impactando na melhoria da assistência à população. Todos estes elementos positivos ao de-senvolvimento da saúde estão alinhados também com as transformações do cenário social do país, como aumento de renda da classe C, crescimento da população idosa e a criação de novas opor-tunidades de emprego através não somente da indústria segmentada, mas devido a realização da Copa do Mundo. Este vínculo de empregabilidade impulsionou o aumento de beneficiários de planos de saúde, que atualmente está em torno de 50 mi-lhões de usuários. Estes fatores potencializaram o cenário econômico do país, e estimularam uma po-lítica de saúde mais democrática, eficaz e atuante”.

WALESKA SANTOS, fundadora e presidente da

Hospitalar Feira + Fórum

O FUROR DO MAIS POPULAR EVENTO ESPORTIVO DO MUNDO NÃO PARECE CONTAMINAR CORAÇÕES E MENTES DA MAIORIA DOS EMPRESÁRIOS DA SAÚDE. ELES ESTÃO MAIS PREOCUPADOS COM O CRESCIMENTO PÍFIO DA ECONOMIA NO ANO PASSADO, COM A GERAÇÃO DE EMPREGOS – QUE DESACELERA – E COM O CERCO REGULATÓRIO SOBRE O SETOR DE SAÚDE SUPLEMENTAR, QUE CADA VEZ APERTA MAIS. PARA 2014, ESTAS SÃO AS PRINCIPAIS INQUIETAÇÕES DAS AUTORIDADES OUVIDAS PELO JORNAL DO SINDHOSP, QUE SAIU EM BUSCA DE AVALIAÇÕES SOBRE AS PERSPECTIVAS DA SAÚDE. ELEIÇÕES E COPA DO MUNDO DARÃO PROJEÇÃO INTERNACIONAL AO PAÍS, DEVEM MOVIMENTAR A ECONOMIA E O CAMPO POLÍTICO, MAS O CRESCIMENTO DO SETOR DEPENDERÁ MESMO É DO DESENVOLVIMENTO ESTRUTURAL DO BRASIL, SOBRE O QUAL PAIRAM MUITAS DÚVIDAS. CONFIRA AS OPINIÕES:

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Manchete

Jan 2014 | Jornal do SINDHOSP |

“Em 2014, deve-se re-petir o desempenho da saúde suplemen-tar do ano de 2013, quando se registrou um crescimento de no máximo 2%. Os planos de saúde estão ficando

muito caros devido à introdução de novo Rol de Pro-cedimentos e Eventos em Saúde, especialmente por conta da obrigatoriedade de fornecimento de medi-camento contra o câncer por via oral. E, tendo em vis-ta o envelhecimento da população, é de se esperar um número de casos de câncer cada vez maior. A grande preocupação é o fato de haver cada vez mais uma elitização dos planos de saúde devido aos custos dos procedimentos - e esse aumento pode não ser alcan-çado por grande parte da população. O que se prevê é uma participação cada vez maior do próprio usuário – por meio de coparticipação. Também se torna cada vez mais premente a educação da população quanto aos custos e a vigilância sobre o desperdício.”ARLINDO DE ALMEIDA, presidente da Associação

Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge)

“O sistema de saúde suplementar é impor-tante e fundamental para o setor. É respon-sável por 50 milhões de brasileiros e con-tinua em crescimen-to, proporcionando

atendimento de qualidade para seus usuários. Pre-cisamos continuar com disposição para dialogar diariamente a fim de proporcionar uma atenção à saúde com mais qualidade e segurança, sem perder o foco na humanização. Eu sou uma pessoa que pensa positivo e acredito que não podemos parar, nem retroceder. Às lideranças cabe o papel de esti-mular o desenvolvimento do setor.”

JOSÉ CARLOS ABRAHÃO, presidente da

Confederação Nacional da Saúde (CNS)

“Esperamos, sincera-mente, que 2014 seja um ano melhor do que 2013, tanto na saúde pública quanto na medicina privada. O brasileiro está en-frentando grandes di-

ficuldades no SUS e na saúde suplementar, especial-mente os idosos e as pessoas que não têm benefício saúde concedido pelo empregador. O ano já iniciará com mais 87 procedimentos obrigatórios no Rol da ANS, o que ampliará a cobertura oferecida aos clien-tes dos planos. Mas também há um inegável proces-so de concentração do mercado e de deterioração financeira das operadoras, que ameaça a continui-dade de suas atividades, que deve ser discutido e solucionado. Não há respostas prontas, porque esta área é complexa, vital e demanda grandes investi-mentos. Os atendimentos público e privado têm de melhorar. A população brasileira está envelhecendo e somente com saúde de qualidade a longevidade será acompanhada de mais qualidade de vida.”MARIA INÊS DOLCI, coordenadora institucional da

Proteste Associação de Consumidores

“Os planos de saúde ocuparam, por mais de 10 anos conse-cutivos, o nefasto primeiro lugar no ran-king de atendimentos realizados pelo Idec aos cidadãos que pro-

curaram o Instituto. Os temas mais problemáticos para os consumidores são negativa de cobertura, reajustes abusivos e descredenciamento de rede assistencial. Essas questões que já se encontram disciplinadas tanto pela Lei no 9.656/98 quanto pelo Código de Defesa do Consumidor. Porém ainda persistem normativas da ANS em sentido contrário aos direitos previstos e que endossam o descumprimento de obrigações por operadoras de

O QUE SERÁ DO SETOR DA SAÚDE EM 2014

planos de saúde. Diante desse cenário, não resta ao consumidor outra saída para a aplicação de seus di-reitos se não recorrer ao Poder Judiciário, que, feliz-mente, tem aplicado os direitos dos consumidores. Entretanto direito constitucional à saúde não pode depender somente da provocação, caso a caso, dos poucos consumidores que acionam a justiça para ser aplicado. É necessário uma mudança na regula-ção do setor e na prática das operadoras de forma a aplicar direitos que existem há mais de 20 anos.”

JOANA INDJAIAN CRUZ,

advogada e pesquisadora do Instituto Brasileiro

de Defesa do Consumidor (Idec)

“Há uma infinidade de temas relacio-nados à saúde em pauta no Congresso, como projetos de lei sobre a destinação de recursos federais para o setor, jornada

de trabalho da enfermagem, obrigatoriedade de avaliação e certificação de qualidade dos serviços hospitalares, capital estrangeiro, entre outros. Além disso, não podemos nos esquecer de iniciativas essenciais no âmbito da agência reguladora, envol-vendo os principais atores do setor privado, como a discussão sobre os novos modelos de remunera-ção e o programa de qualificação dos prestadores na saúde suplementar. Essas demandas certamente terão grande destaque em 2014 e mudarão o pata-mar do sistema de saúde no Brasil. Esperamos que boa parte dessas iniciativas tenha desdobramento positivo, contribuindo com o crescimento e evo-lução do sistema de saúde brasileiro. A Anahp e o SINDHOSP certamente continuarão contribuindo com as discussões, assim como as demais entidades representativas do setor, liderando processos fun-damentais para a sustentabilidade da saúde.”

FRANCISCO BALESTRIN, presidente do Conselho

de Administração da Associação Nacional de

Hospitais Privados (Anahp)

O FUROR DO MAIS POPULAR EVENTO ESPORTIVO DO MUNDO NÃO PARECE CONTAMINAR CORAÇÕES E MENTES DA MAIORIA DOS EMPRESÁRIOS DA SAÚDE. ELES ESTÃO MAIS PREOCUPADOS COM O CRESCIMENTO PÍFIO DA ECONOMIA NO ANO PASSADO, COM A GERAÇÃO DE EMPREGOS – QUE DESACELERA – E COM O CERCO REGULATÓRIO SOBRE O SETOR DE SAÚDE SUPLEMENTAR, QUE CADA VEZ APERTA MAIS. PARA 2014, ESTAS SÃO AS PRINCIPAIS INQUIETAÇÕES DAS AUTORIDADES OUVIDAS PELO JORNAL DO SINDHOSP, QUE SAIU EM BUSCA DE AVALIAÇÕES SOBRE AS PERSPECTIVAS DA SAÚDE. ELEIÇÕES E COPA DO MUNDO DARÃO PROJEÇÃO INTERNACIONAL AO PAÍS, DEVEM MOVIMENTAR A ECONOMIA E O CAMPO POLÍTICO, MAS O CRESCIMENTO DO SETOR DEPENDERÁ MESMO É DO DESENVOLVIMENTO ESTRUTURAL DO BRASIL, SOBRE O QUAL PAIRAM MUITAS DÚVIDAS. CONFIRA AS OPINIÕES:

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8 | Jornal do SINDHOSP | Jan 2014

Manchete

na medicina diagnóstica, colocando com clareza críticas e propostas para a defesa dos interesses da classe laboratorial, como remuneração, inova-ção tecnológica e melhoria da assistência comple-mentar. Pretendemos trabalhar junto ao Ministério da Educação e Cultura e às instituições de ensino públicas e privadas aperfeiçoando a formação e graduação dos futuros médicos, pois identificamos uma fragilidade nos programas de ensino, que não incluem a disciplina ou módulo da especialidade Patologia Clínica na grade curricular. Há médicos que se formam com um conhecimento superficial sobre exames de laboratório, como interpretá-los e como decidir condutas terapêuticas fundamenta-das nesses exames complementares à clinica, que é sempre soberana. Precisamos atuar fortemente na atualização de outras especialidades médicas em relação às inovações tecnológicas importantes que vêm ocorrendo no setor laboratorial.”

PAULA TÁVORA, presidente da Sociedade

Brasileira de Patologia Clínica e

Medicina Laboratorial (SBPC/ML)

“A intervenção do governo no setor da saúde com a cria-ção do Programa Mais Médicos deve instigar as entidades médicas a ter atitu-des propositivas em

relação ao novo cenário para 2014. Uma delas é a retomada do diálogo para que o governo federal passe a incluir os representantes dos médicos nos projetos ligados à saúde, como a reformulação do currículo dos cursos de Medicina e a outra, reaver a cadeira que tínhamos junto a algumas comissões na ANS para acompanhar a devida regulamenta-ção das operadoras de saúde. Aliás, tivemos alguns avanços nas negociações com as operadoras, mas ainda falta conquistar a implantação da CBHPM como parâmetro mínimo de remuneração dos honorários médicos, a contratualização, o reajuste anual dos contratos e o estabelecimento de índi-ces de reajuste. Da mesma forma, gostaríamos de contribuir para que o Exame do Cremesp - que teve sua 9a edição em 2014, a segunda com parti-cipação obrigatória para o recebimento de registro de médico no Estado de São Paulo - servisse de inspiração para uma avaliação indispensável e elimi-natória de sextanistas de Medicina de todo o país.”

JOÃO LADISLAU ROSA, presidente do Cremesp

“Preocupante é a forte tendência ao aumento das despe-sas com saúde que vem da ampliação de coberturas do Rol da ANS, da incorporação acrítica de tecnologia

e do aumento continuado da frequência de utiliza-ção. Esses fatores aumentam a distância entre os cus-tos assistenciais das operadoras de saúde e a inflação geral de preços, que servem de referência para o rea-juste dos salários e, portanto, do orçamento de famí-lias e empresas. Em 2014, esse cenário deve ensejar debates sobre a necessidade de revisão da regula-mentação de coberturas, introdução mais crítica de tecnologias médicas, maior eficiência e controle de custos e desperdícios. Por isso, o próximo ano será de muito diálogo entre operadoras e prestadores, na busca por soluções que garantam a sustentabilidade do setor e mantenham a demanda potencial aten-dida. Economicamente e financeiramente, o cresci-mento do segmento dependerá do desempenho da economia, particularmente dos indicadores de emprego, renda nacional e massa salarial.”

MARCIO SERÔA DE ARAUJO CORIOLANO,

presidente da Federação Nacional de

Saúde Suplementar (FenaSaúde)

“As tendências apon-tadas para a eco-nomia brasileira e o aumento da forma-lização do emprego são determinantes para o crescimento da saúde suplemen-

tar. Diante da realidade atual do sistema público de saúde, que apresenta problemas de financiamento e na qualidade dos serviços prestados, grande parte da sociedade brasileira deseja pertencer à parcela da população assistida pela saúde suplementar. Por isso, a expectativa é de crescimento para 2014. Para a UNIDAS, especialmente, expandir as autogestões e mostrar que esse modelo é o que apresenta a melhor relação de custo e benefícios são alguns dos principais focos para os próximos anos. Hoje temos mais de 20% de nossos beneficiários com idade acima de 60 anos, enquanto o mercado de saúde lucrativo apresenta cerca de 9%, e a população bra-sileira pouco mais de 12%. Portanto, as autogestões já trabalharam, em 2013, com um perfil etário e epi-

demiológico com o qual o Brasil só deverá conviver efetivamente em 2030.”

DENISE RODRIGUES ELOI DE BRITO, presidente

da União Nacional das Instituições de

Autogestão em Saúde (Unidas)

“Esperamos um ano de muitos embates. Eleição estará na or-dem do dia, e certa-mente a saúde será um dos destaques dos debates eleito-rais, já que é uma das

maiores preocupações dos brasileiros. No Rio de Ja-neiro, assim como em São Paulo, há muitas dificulda-des para a saúde pública, principalmente na questão do acesso. Acredito que será um ano decisivo para a consolidação, ou não, do Programa Mais Médicos, e para que os aspirantes a gestores apresentem pro-postas inovadoras. No setor privado, os problemas continuam os mesmos: seremos cobrados cada vez mais em relação aos programas de qualificação e teremos de nos adaptar a um novo modelo de pa-gamentos. Isso para citar apenas algumas das exigên-cias que virão. Diante de tantas mudanças, e sendo o setor privado de saúde tão importante para a as-sistência dos brasileiros, continuaremos na luta para que o governo nos conceda a contrapartida da de-soneração tributária. Precisamos de estímulo para, inclusive, enfrentar a concorrência, que se molda em um cenário formado por grandes grupos con-solidados. Levaremos em frente nossos projetos de capacitação, e permaneceremos na busca por uma relação mais harmoniosa com as fontes pagadoras.”

FERNANDO ANTONIO BOIGUES, presidente do

Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Casas de Saúde

do Município do Rio de Janeiro (SINDHRio)

“O ano de 2014 de-verá ser decisivo para o sistema de saúde. As eleições em nível federal e estadual vão acirrar os debates sobre quais os melho-res caminhos para se

garantir o acesso a serviços de saúde de qualidade para toda a população. A SBPC/ML, por sua posi-ção estratégica no setor laboratorial, tem a possi-bilidade de contribuir de maneira significativa para agir e interagir junto às demais entidades envolvidas

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9Jan 2014 | Jornal do SINDHOSP |

Em dia

Em junho o mundo inteiro estará de olho no Brasil para assistir a Copa do Mundo da Fifa. Já em 2016, os olhos se concentrarão no Rio de Janeiro, cidade sede dos Jogos Olímpicos. Mas a dúvida é: estamos preparados?

Entre os meses de setembro e novembro de 2013 diver-sas reuniões foram realizadas, com participação de represen-tantes estrangeiros, para montagem de um plano de ação com o objetivo de fazer da Copa um exemplo na questão saúde. Também estaria aberta, até 3 de fevereiro, uma Con-sulta Pública da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (An-visa), para definir os requisitos mínimos de serviços de saúde para o atendimento ao público. A expectativa da Agência é utilizar os modelos realizados durante o carnaval do Recife, Copa das Confederações, Jornada Mundial da Juventude e o Rock in Rio, no ano passado.

Em sua passagem pelo CISS - Congresso Internacional de Serviços de Saúde – na Feira e Fórum Hospitalar 2013, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, explicou que os gastos para atender a demanda dos grandes eventos de massa de-verão chegar a R$ 1,9 bilhão.

Durante seminário realizado em novembro no Hospital Sírio Libanês, Paulo de Tarso Monteiro Abrahão, coordena-dor geral de urgência e emergência do Ministério da Saúde e da Força Nacional do SUS, explicou como atuam os órgãos governamentais em casos de catástrofes, epidemias e episó-dios de grande porte. “Montamos o nosso QG em um local próximo. Nos unimos às Secretarias Estadual e Municipal da Saúde, bombeiros, defesa civil e ao Governo. Desta forma elegemos o porta-voz das notícias e começamos a pensar em uma estratégia de divulgação do que se passa. É claro que não é uma tarefa fácil, mas fazemos o máximo para ser-mos o mais ágil e fiel aos acontecimentos. Nossa prioridade obviamente é o atendimento ao público”.

Na 5a reunião da Câmara Temática de Saúde, a repre-sentante da Organização Mundial da Saúde (OMS), Roberta Andraghetti, concluiu que, mesmo com as deficiências já existentes num país, a chegada de mais turistas para acom-panhar os jogos não afeta o atendimento em saúde da po-pulação. “O acompanhamento começou na Copa da França, com o uso de monitores que forneciam informações sobre as ocorrências, e não foi notado nenhum grande impacto na comunidade local. Em 2002, na Coreia, um sistema de vigilância foi montado nos departamentos de saúde e emer-gências. No Japão, também sem grandes impactos, o siste-ma ganhou uma versão online para o compartilhamento de informações”, lembra.

Ainda de acordo com Abdraghetti, na Alemanha, houve um reforço no número de relatórios, que passaram a tratar

também de ocorrências menores, e, na África do Sul, um aprimoramento dividiu a avaliação de riscos em duas áreas: laboratorial e clínica, com postos avançados em locais específicos das cidades-sede e em pontos de entrada. Nas duas ultimas edições, nenhum incidente foi relatado. “O legado positivo para o país que sedia o evento vem do esforço de planejamento, que aumenta a capacida-de de atendimento dos sistemas de saúde pública”, concluiu.

Em janeiro de 2013, o governo canadense ministrou um treinamento, aqui no Brasil, contra po-tenciais ameaças químicas, biológicas, radiológicas, nucleares e de explosivos que talvez pudessem aparecer durante a realização dos eventos. Agências de segurança treinaram representantes da po-lícia, exército e força de segurança para identificar e avaliar cenas de crime, coletar provas, desarmar dispositivos de dispersão e lidar com outros perigos potenciais relacionados. As sessões tiveram como base o Programa Canadense de Treinamento para Socorristas, que foi utilizado nos preparati-vos para os Jogos Olímpicos de Inverno, em Vancouver, em 2010,e para as Cúpulas do G8 e do G20.

O país deve pensar desde ocorrências menores que geralmente acontecem em aglomera-ções, tais como náuseas, desmaios, vômitos e pequenas indisposições, como também em aciden-tes mais complexos, por exemplo, problemas cardíacos. É por isso que profissionais da rede hotelei-ra, gastronômica e motoristas de transporte público (táxis e ônibus) se candidataram a um curso de primeiros socorros. A proposta foi feita pelo Escritório Municipal da Copa do Mundo em parceria com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) e a Associação Brasileira de Bares e Res-taurantes (Abrasel) para qualificar os profissionais a atuarem dentro do Programa Saúde na Copa.

Em construção desde janeiro, o programa tem como objetivo garantir a saúde para as pessoas que irão trabalhar no evento, para os residentes e também para os turistas que visitarão o país. Com início em Brasília, o projeto foi dividido em quatro ações que vão desde a certificação dos estabele-cimentos comerciais que aderirem ao programa, a distribuição de cartilhas com orientações de saúde, vacinação para proteger 95% dos trabalhadores que terão contato direto com os turistas e intensificação das ações de saúde nos lugares de maior circulação de pessoas como shoppings, cinemas e teatros.

SENSIBILIZAÇÃONo que diz respeito a campanhas, o governo espera oportunizar a

grande concentração de pessoas para sensibilizar a população. Planeja, por exemplo, realizar testagem rápida e aconselha-mento sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) espalhando trailers pelas 12 cidades-sede da Copa do Mundo. “Futebol é uma paixão nacional, e usá-lo como veículo de informações sobre prevenção para a juventude, um dos grupos mais vulneráveis à epidemia da Aids, faz com que esse projeto seja promessa de um grande sucesso” afirmou o diretor do depar-tamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Mi-nistério da Saúde, Fábio Mesquita, durante o lançamento do projeto em Salvador, em dezembro passado.

A expectativa da OMS é que os eventos de grande porte também promovam um ambiente livre de tabagismo e ajudem a disseminar a prática de atividade física. Princípios de igual-dade, solidariedade, paz, harmonia, amizade, tolerância, vida saudável e excelência na saúde, segundo as entidades organi-zadoras, vêm a reboque dos eventos esportivos.

A SAÚDE NOS GRANDES EVENTOS:ESTAMOS PREPARADOS?

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Em dia

| Jornal do SINDHOSP | Jan 2014

ASSISTÊNCIA DOMICILIAR PRECISA DE LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA

O serviço de assistência domiciliar no Brasil é algo ain-da recente, quando analisado no contexto do sistema de saúde. É uma atividade que vem ganhando projeção nos últimos 20 anos e vem conseguindo superar o paradigma de que a internação hospitalar é sempre o melhor caminho, mostrando a facilidade e resolutividade da modalidade.

Com a conscientização tanto dos familiares como dos próprios pacientes, que estão compreendendo que esta forma de gerenciar o cuidado é uma maneira mais huma-nizada, aliada a outros fatores, como o envelhecimento po-pulacional e o aumento da expectativa de vida, os serviços prestados pelas empresas de home care estão em evidência e podem representar economia com gastos hospitalares e benefícios na qualidade do atendimento.

De acordo com um senso específico divulgado pelo portal Home Care, estas empresas atendiam, em 2011, uma média mensal de 25 mil pacientes, logo 300 mil pacientes/ano; possuíam cerca de 30 mil profissionais atuando no atendimento aos pacientes domiciliares e vinham mostrando, ao lon-go dos anos, um crescimento promissor. Segundo o site especializado, entre 2010 e 2012 a modalidade registrou um cresci-mento de 18%, com a melhora no reco-nhecimento da atividade no país e maior profissionalização do segmento, com o aumento das equipes multidisciplinares.

O momento era para ser de come-moração, mas as empresas especializadas em atendimento domiciliar estão enfren-tando um período delicado. A questão quanto ao regime de contratação da mão de obra dos pro-fissionais de enfermagem para atuar na residência dos pa-cientes tem deixado os empresários do setor apreensivos e levado prestadoras a fecharem as portas. As peculiaridades do setor, como sazonalidade dos pacientes, diferentes pla-nos assistenciais para o mesmo usuário, entre outros, fazem da terceirização o modelo que mais se adequa a essas par-ticularidades. Entretanto, o Tribunal Superior do Trabalho (TST), por meio da súmula 331, considera que a contratação de mão de obra terceirizada para a prestação de serviços relacionados à atividade-fim de uma tomadora de serviços é ilegal, ressalvados os casos de trabalho temporário. So-mente colaboradores para as atividades-meio (como área administrativa, segurança e limpeza) poderão ser objeto de terceirização, via cooperativa de trabalho ou empresa de prestação de serviços.

Dessa forma, as empresas de assistência domiciliar, por terem como atividade econômica principal a prestação de serviços de enfermagem, não podem contratar profissionais sob outro tipo de regime que não seja por meio da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Mas as clí-nicas declaram não ter como contratar auxiliares e técnicos de enfermagem sob este regime. “São empresas de pequeno porte e que registram demanda sazonal. Além disso, a escolha do profissional deve atender às preferências da família e do paciente, é um entendimento cultural. Uma empresa com essas características não tem como manter um alto número de funcionários contratados”, explicou a diretora do SINDHOSP, Luiza Dal Ben, que representa o segmento de assistência domiciliar.

O problema despertou a atenção da Justiça do Trabalho, que vem se posicionando contrária à utilização do sistema de cooperativas para locação de mão de obra. O Ministério Público do Trabalho (MPT) intensificou a fiscalização e tem considerado outra forma de contratação que não seja a celetista como “fraudulenta”. Em vários casos, a Justiça tem reconhecido o vínculo empregatício entre o profissional e o tomador de serviços pelos direitos trabalhistas. “Desde 2007, a fiscalização vem ocorrendo em São Paulo e houve uma intensificação nos últimos anos. Essa ação teve início nas cooperativas de trabalho e também atingiu os tomadores de serviços”, con-tou Luiza. Ela disse que a Procuradoria do Trabalho entende como precarização a contratação de

profissionais de saúde pelas empresas de assistência domiciliar por meio dessas cooperativas e determinou a proibição expressa de mão de obra cooperada.

Com esse entendimento, a única forma de contratação de colaboradores é por meio da CLT. A determinação é o registro na carteira de trabalho dos profis-sionais que atuam em domicílio a fim de eliminar a informalidade da contrata-ção e a intermediação da mão de obra.

No entanto, as empresas alegam que o impacto financeiro é muito alto e a atividade pode ficar inviável sob essas condições. Segundo especialistas da área trabalhista, o capital humano, em todos os segmentos, representa um alto cus-to. Cada trabalhador contratado em regime celetista custa aproximadamente 102% do salário a mais em impostos. Para as empresas de saúde que já arcam com despesas consideráveis, a obrigação de contratar tantos profissionais pode dificultar o acesso da população a um serviço de necessidade básica. Segundo a diretora do SINDHOSP, as empresas de assistência domiciliar não têm mesmo

como suportar esse impacto por vários motivos. “Não se consegue ter um número suficiente de profissionais aptos para o atendimento ao paciente que acompanhe a mudança repentina que pode acontecer no quadro clínico dele, tanto para melhor quanto para pior (reinternação hospi-talar); nem que se adeque às alterações de humor e satisfação do paciente e da família que, muitas vezes, solicita a troca dos profissionais; além da questão da locomoção desses colaboradores que dão preferência para atuarem próximo à região onde residem.”

Haveria também outros fatores, como as dificuldades com as fontes pagadoras (planos de saúde) dessas empresas. “Infelizmente, o olhar do MPT não é o mesmo para as operadoras que contratam esses serviços, mas que estão somente preocupadas em preservar suas margens de rentabilidade à custa de quem presta serviços em seu nome. O mercado é também muito com-petitivo, pois há muitas empresas de atenção domiciliar atuando e sendo credenciadas pelos pla-nos de saúde. Faltam profissionais qualificados e preparados para atuar nesse segmento. A dificul-dade de se conseguir recrutar e selecionar novos técnicos e auxiliares de enfermagem é enorme. O setor enfrenta hoje um apagão de mão de obra. Ainda falta um longo caminho a percorrer para a profissionalização da assistência domiciliar”, afirmou Luiza.

Para a superintendente Jurídica do SINDHOSP, Eriete Teixeira, a atividade de home care é nova

IMPACTO FINANCEIRO COM A CONTRATAÇÃO VIA CLT PODE LEVAR EMPRESAS A FECHAREM AS PORTAS

Presidente da FEHOESP e do SINDHOSP, Yussif Ali Mere Jr

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11Jan 2014 | Jornal do SINDHOSP |

Em dia

e muito diferente das demais empresas de saúde. Quando a CLT foi criada, em 1943, o foco era a indústria, e as legislações foram adequadas paras as questões trabalhistas da época. Passados 70 anos, as atividades mudaram e para as prestadoras de serviços de assistência domiciliar, o negócio tornar-se inviável economicamente sem a possibilidade de mão de obra terceirizada. “O regime celetista de contratação acaba engessando a atividade, devido às suas várias peculiaridades. Isso tem feito com que as empresas de home care acabem fechando as portas. A celetização desses pro-fissionais que o MPT vem exigindo está inviabilizando o negócio. A solução seria uma legislação específica para o segmento. Uma lei que autorizasse a terceirização da mão de obra para essa atividade”, afirmou Eriete.

De acordo com o presidente da FEHOESP e do Sindicato, Yussif Ali Mere Jr., é louvável que governo e entidades busquem alternativas para recuperar perdas salariais, assegurar benefícios trabalhistas e sociais dos trabalhadores, mas é im-prescindível a avaliação dos efeitos que qualquer proposta possa causar em todo um ramo da economia, a ponto de extingui-lo. “Não há receita de bolo. Enquan-to a CLT não flexibilizar o modo de contratação dos profissionais da saúde, con-templando, por exemplo, situações de remuneração por hora/dia efetivamente trabalhados, empresas do setor continuarão adotando a postura de hoje. E não há dúvida que todos perdem”, lamentou.

Essa rigidez e inflexibilidade das leis também vêm trazendo outros proble-mas e instabilidade para o serviço de atendimento domiciliar. A advogada Angé-lica Carlini, especialista em seguro privado, disse no XI Simpósio Brasileiro de Atenção Domiciliar (Sibrad), promovido pelo Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), no primeiro semestre de 2012, que a judicialização na saúde suplementar afetou a atenção domiciliar devido à falta de especiali-zação dos juízes em economia e saúde. “A lei trabalhista não acompanhou a evolução. O serviço de home care precisa criar um planejamento estratégico para sair da estagnação, criar parcerias e mostrar o quanto cada membro da cadeia produtiva em saúde é importante.”

Opinião apoiada pela diretora do SINDHOSP. Para Luiza Dal Ben, a solução passa, primei-ramente, pela necessidade de união das empresas de assistência domiciliar para demonstrar ao MPT que a modalidade precisa de uma legislação específica, por se tratar de profissionais que entram no domicílio das pessoas. “Nessa ‘intimidade’ há outras regras que somente a CLT não atende, por não se tratar apenas de questões legais e sim de regras humanas que prevalecem nessa relação.” Ela cita como exemplo o Programa Melhor em Casa, do governo federal, em par-ceria com estados e municípios, que oferece atenção domiciliar pelo SUS, com a visita periódica de equipe multidisciplinar às casas de pessoas com necessidade de reabilitação motora, idosos, pacientes crônicos sem agravamento ou em situação pós-cirúrgica. O governo teria a intenção, por meio de uma portaria, de implementar a internação domiciliar, exigindo a permanência do técnico de enfermagem na casa do paciente – de 6 até 24 horas de assistência, com a flexibilidade da carga horária dos profissionais.

TERCEIRIZAÇÃO NA SAÚDEA terceirização seria, segundo a superintendente Jurídica do SINDHOSP, a

possibilidade de se iniciar uma discussão com a Justiça do Trabalho. “Hoje não tem acordo: é CLT ou CLT para contratação de profissionais de enfermagem pe-las clínicas de home care. Isso tem deixado esses empresários em desespero. Não se tem recurso cabível. O projeto de lei (PL) 4.330/2004, que trata do contrato de prestação de serviços a terceiros e as relações de trabalho delas decorrentes, embora não atenda totalmente às especificidades da atenção domiciliar, se apro-vado, vai permitir que essas empresas possam pelo menos discutir o assunto na Justiça”, explicou. Ela ainda comentou que hoje o que as empresas de assistência domiciliar no máximo estão conseguindo é a fixação, pela Procuradoria do Tra-balho, de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que proíbe expressamente a contratação de mão de obra cooperada e exige o registro imediato dos profissionais de enfermagem no regi-me celetista e todos os diretos garantidos aos trabalhadores de um modo geral. E as penalidades são severas caso não haja o cumprimento do acordo.

O PL 4.330, de autoria do deputado federal Sandro Mabel (PMDB-GO), atualmente tramita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, e é considerado o texto mais

bem-sucedido em termos de flexibilização nas formas de con-tratação, pois propõe a terceirização das atividades especiali-zadas (caso da contratação de médicos), deixa de lado a polê-mica da atividade-meio e atividade-fim e determina que uma empresa contratada por outra deve assegurar os direitos tra-balhistas ao profissional que efetivamente prestará o serviço.

Enquanto não há a possibilidade de discutir a terceiri-zação com a Justiça do Trabalho, a deso-neração da folha de pagamento para o setor da saúde pode ajudar. “A questão da folha de pagamento é um tema que atinge e aflige qualquer ramo da econo-mia. No caso da saúde, a desoneração é uma mudança necessária, já que ao mesmo tempo em que diminui a carga tributária incidente sobre as empresas, possibilita que os serviços se tornem mais efetivos, que haja maior estimulação na formalização do mercado de trabalho e mais investimento no setor. É lamentável

que a saúde seja renegada a segundo plano e ainda não te-nha sido contemplada”, afirmou Yussif, lembrando que “a contratação celetizada no segmento de home care tem leva-do as margens de rentabilidade das empresas a níveis cada vez menores. As fórmulas hoje utilizadas por todo o setor passa pela mão de obra cooperada, terceirizada e contrata-ções de pessoas jurídicas. É isso que ainda mantém viável a continuidade dos serviços de atenção domiciliar no Brasil. Não podemos esquecer que a saúde é o setor econômico que tem a maior carga tributária, quando comparado aos demais, apesar do seu relevante papel social”.

Outra solução para o segmento seria o aumento na demanda. Fato este que vem ocorrendo devido ao au-mento da expectativa de vida e o número de idosos, e, por consequência, a incidência de doenças crônicas. Esses fatores acarretam uma demanda de pacientes com neces-sidades de tratamento constante, mas que não precisam

de internação e podem ser tratados em domicílio. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), as es-timativas para os próximos 20 anos indi-cam que a população idosa poderá ex-ceder 30 milhões de pessoas, chegando a representar quase 15% da população brasileira, com expectativa de vida entre 77 e 80 anos.

Mas, segundo Luiza Dal Ben, o au-mento na procura pelos serviços de as-sistência domiciliar não necessariamente reflete num crescimento de receita o

suficiente para suportar o impacto financeiro causado pela contratação de tantos funcionários.

Outro aspecto lembrado pela superintendente Jurídica do SINDHOSP que poderia, no futuro, colaborar para que seja permitida a contratação de mão de obra cooperada pe-las home care, seria a legitimação das cooperativas de trabalho.

Superintendente Jurídica da Fehoesp e do SINDHOSP, Eriete Teixeira

Diretora do SINDHOSP, Luiza Dal Ben

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12 | Jornal do SINDHOSP | Jan 2014

Perfil

SOBRE EDUCAR E SONHAR

O prédio, na região da Berrini, é imponente. A estrutura física da empresa é moderna e igualmente grandiosa, com uma vista privilegiada da cidade, que se revela através de uma imensa parede de vidro. Ao ser recepcionado, o visitante vê o seu nome ao lado dos dizeres “Bem-vindo” surgirem na TV de LCD, posi-cionada bem à entrada. A reunião é com o presidente, Adelson de Souza. O que se espera é encontrar um executivo emoldurado por terno e gravata, que terá apenas vinte minutos para um bate-papo, segundo sua secretária. Afinal, era início de dezembro, época de fechamento e planejamento nas empresas. E Adelson lidera um dos maiores grupos de produção de conteúdo em saúde e tecnologia do país, responsável pela realização de eventos de grande porte.

O castelo de expectativas se desfaz com a forma despojada com que Adel-son se apresenta, se veste e se comporta. Ele é jovem, possui o pensamento rápi-do e não usa gravata. Nem terno. Lembra um pouco os meninos do Vale do Silício, geniais no con-teúdo, desencanados na forma. E conta a história de seu projeto social – o real motivo do encontro, uma entrevista sobre o Instituto IT Mídia – de maneira surpreendente.

Tudo começou, segundo ele, com uma espécie de gincana. A IT Mídia realiza, todos os anos, grandes eventos corporativos, como o Saúde Business Fórum, que chega a ter quatro dias de duração. Neles, são oferecidas inúmeras atividades aos participantes. Como forma de estímulo, a organização resolveu distribuir um passaporte no início do evento, com uma série de campos que devem ser preenchidos com selos. A cada reunião, palestra ou visita realizada pelo participante, ele recebia um selo. Ao completar a cartela, ganhava o direito a participar de sorteios concorridos, que distribuíam de viagens de primeira classe a Paris a motos Harley Davidson. “Até que, em 2008 to-mamos a decisão de virar o jogo e não dar mais presentes. Pegamos esse dinheiro para investir em bolsas de faculdade para jovens em situação de exclusão. Só que os passaportes foram mantidos. E a cada 25% dos passaportes completos, entregávamos uma bolsa de estudo”, detalha Adelson. A metodologia fez com que aumentasse o comprometimento dos participantes em completar seus passaportes. “Num evento de 200 pessoas, se 199 entregassem o passaporte completo e apenas uma não entregasse, somente três quartos estariam completos, e a quarta bolsa não era dada. Daí a adesão maciça”, revela o idealizador do jogo.

Segundo ele, as pessoas deixaram de ganhar o bem para fazer o bem. E esta foi a origem de tudo. Naquele ano, 12 bolsas foram distribuídas através desta metodologia. E, a cada ano, o número aumentava. Aos poucos a iniciativa foi ganhando nome – Instituto IT Mídia -, virou uma organização social e desenvolveu o projeto Profissional do Futuro, com o objetivo de não apenas promover a capacitação de jovens nas áreas de saúde e tecnologia da informação, mas também de oferecer

networking e oportunidades de emprego imediatas aos bolsistas.

Hoje, todos os jovens encami-nhados para o programa são pro-venientes da Fundação Bradesco. Há um processo de seleção entre os interessados, e são oferecidas bolsas em diversas instituições re-conhecidas pelo mercado, como a Universidade São Camilo, em cur-sos como Nutrição, Administra-ção Hospitalar, Psicologia. Na área de tecnologia, há bolsas em insti-

tuições como a Fiap e a Impacta Bandtech, em São Paulo. Há ainda a parceria com o Grupo Ser Educacional, no Nordeste.

“A parceria com a Fundação Brades-co, para nós, é fundamental. São 100 mil alunos no Brasil todo que estão sendo mobilizados para a formação na área da saúde, especialmente, que tanto precisa de gente capacitada para atuar”, comenta Adelson.

O projeto, que começou pequeno – distribuiu 12 bolsas em 2008 – deve che-

gar em 2014 com 500 vagas distribuídas em universidades, para cursos técnicos profissionalizantes, de bacharelado e de pós-graduação. Para garantir que esses alunos concluam os cursos, há uma série de exigências, como envio de notas semestrais aos tutores. A Fundação Dom Cabral está por trás da gestão do projeto, auxiliando na elaboração do plano de metas. Encontros semestrais também são promovidos na sede da própria IT Mídia, a fim de conectar e motivar os alunos. Adelson faz questão de mencionar que todos os recursos do projeto são provenientes da IT Mídia. “Já investimos cerca de R$ 1 milhão desde o início. Bancamos os cursos integralmente e não aceitamos doações”.

Exemplos vivos dão a prova de que o projeto está fa-dado ao sucesso. No ano passado, os três melhores alunos da Fiap, eleita a melhor escola de tecnologia do Brasil, foram alunos do Instituto. E a própria IT Mídia abre as portas para os seus meninos. Caso de Marco José da Silva, 25 anos, um dos primeiros alunos beneficiados com bolsas de estudo do Instituto IT Mídia. De origem humilde, morador de uma região carente da zona Sul de São Paulo, Marco teve a opor-tunidade de cursar Gestão de Projetos. Terminou os estudos e foi convidado a trabalhar na própria IT Mídia. Hoje, é um dos bolsistas da pós-graduação e faz planos para o futuro: “acabo de receber a notícia de que serei promovido daqui a seis meses, se atingir todas as metas propostas. É um estímulo para concluir minha pós e assumir o novo cargo”, comemora.

Quem fez o convite ao colaborador foi o próprio Adel-son. Ninguém melhor que ele, afinal, para saber o valor da educação. Nosso entrevistado, ao final da conversa, nos faz uma revelação: “Para mim os resultados do Instituto têm muito significado. Eu não tenho educação formal, estudei apenas até a 8a serie e tive que trabalhar muito cedo. Por-tanto sei de todos os desafios que um jovem sem educação formal enfrenta e quero modificar esta realidade”.

INSTITUTO IT MÍDIA INVESTE EM JOVENS CARENTES

Presidente da IT Mídia, Adelson de Souza

Semestralmente, alunos se reúnem na IT Mídia

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