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F E D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A
Ano 126 • Nº 2.149 • Abr i l 2008D EUS , CR I S TO E CAR I D AD E
R$ 5,00
ISSN 1
413
- 1
749
Fundada em 21 de janeiro de 1883
Fundador: Augusto Elias da Silva
Revista de Espiritismo CristãoAno 126 / Abril, 2008 / N o 2.149
ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRADiretor: NESTOR JOÃO MASOTTI
Diretor-substituto e Editor: ALTIVO FERREIRA
Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO
CESAR PERRI DE CARVALHO, EVANDRO
NOLETO BEZERRA E LAURO DE OLIVEIRA SÃO THIAGO
Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA
Gerente: ILCIO BIANCHI
Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE
Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR
TORRES E CLAUDIO CARVALHO
Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA
CARVALHO
REFORMADOR: Registro de publicação no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polí-cia Federal do Ministério da Justiça),CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503
Direção e Redação:Av. L-2 Norte • Q. 603 • Conj. F (SGAN) 70830-030 • Brasília (DF)Tel.: (61) 2101-6150FAX: (61) 3322-0523
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Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]
Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA
Capa: AGADYR TORRES PEREIRA
Editorial
O Primeiro Centro Espírita
Entrevista: Marival Veloso de Matos
Centenário da União Espírita Mineira
Presença de Chico Xavier
Em louvor do livro – Irmão X
Livro Espírita – Alfredo Nora
Esflorando o Evangelho
Socorre a ti mesmo – Emmanuel
A FEB e o Esperanto
Jubileu centenário da Associação Universal de Esperanto –
Affonso Soares
Seara Espírita
A doutrina da reencarnação – Juvanir Borges de Souza
Mente e vida – Joanna de Ângelis
Da primeira Sociedade aos Centros Espíritas daatualidade – Antonio Cesar Perri de Carvalho
Caráter da Revelação Espírita – Christiano Torchi
A identidade histórica de O Livro dos Espíritos –
Licurgo Soares de Lacerda Filho
Lançamento de livros em alemão e Seminário naSuíça
Cinqüentenário do Lar Fabiano de Cristo – Momentosublime (Cárita) – A caridade e o amor (Fabiano de
Cristo)
Revista Espírita e Sociedade Espírita de Paris –
Orson Peter Carrara
Em dia com o Espiritismo – A dor física –
Marta Antunes Moura
Cristianismo Redivivo – História da Era Apostólica –A fé transporta montanhas – Haroldo Dutra Dias
Fé e cultura – Emmanuel
Os outros em mim – Carlos Abranches
Identidade revelada após 150 anos – General X... –
Enrique Eliseo Baldovino
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SumárioExpediente
PARA O BRASILAssinatura anual RR$$ 3399,,0000Número avulso RR$$ 55,,0000
PARA O EXTERIORAssinatura anual UUSS$$ 3355,,0000
AAssssiinnaattuurraa ddee RReeffoorrmmaaddoorr:: Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274
EE--mmaaiill:: [email protected]
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EditorialO Primeiro
Centro Espírita
*Fonte: Texto “Divulgue o Espiritismo”, aprovado pelo Conselho Federativo Nacional da FEB e peloConselho Espírita Internacional (CEI).
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urante vários anos, especialmente a partir de 1975, os Centros Espíritasforam estudados pelos representantes do Movimento Espírita, em nívelestadual, nacional e internacional. A conclusão desse estudo, que procurou
ser o mais fiel possível às suas potencialidades, consta de textos que estão sendodivulgados pelos órgãos federativos, os quais observam:
“Os Grupos, Centros ou Sociedades Espíritas:• são núcleos de estudo, de fraternidade, de oração e de trabalho, praticados
dentro dos princípios espíritas;• são escolas de formação espiritual e moral, que trabalham à luz da Doutrina
Espírita;• são postos de atendimento fraternal para todos os que os procuram com o
propósito de obter orientação, esclarecimento, ajuda ou consolação;• são oficinas de trabalho que proporcionam aos seus freqüentadores opor-
tunidades de exercitarem o próprio aprimoramento íntimo pela prática doEvangelho em suas atividades;
• são casas onde as crianças, os jovens, os adultos e os idosos têm oportu-nidade de conviver, estudar e trabalhar, unindo a família sob a orientaçãodo Espiritismo;
• são recantos de paz construtiva, que oferecem aos seus freqüentadoresoportunidades para o refazimento espiritual e a união fraternal pela práti-ca do ‘Amai-vos uns aos outros’;
• são núcleos que se caracterizam pela simplicidade própria das primeiras casasdo Cristianismo nascente, pela prática da caridade e pela total ausência deimagens, símbolos, rituais ou outras quaisquer manifestações exteriores;
• são as unidades fundamentais do Movimento Espírita.” *
Ao relacionarmos todas as possibilidades de realização dos Centros Espíritas e,mais ainda, a sua fundamental importância para o estudo, a divulgação e a práticada Doutrina Espírita, colocando-a ao alcance e a serviço de todos os seres humanos,estamos prestando uma singela homenagem ao primeiro Centro Espírita domundo, criado pelo Codificador com o nome Sociedade Parisiense de EstudosEspíritas, exatamente há 150 anos, em 1o de abril de 1858.
Que os Centros Espíritas – “Postos Avançados” dos Espíritos superiores na Terra– possam continuar a prestar os seus nobres serviços em favor da construção doMundo de Regeneração, para o qual estamos destinados.
D
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Doutrina Espírita adota eensina a reencarnação –– a pluralidade das existên-
cias – como uma das leis naturais.Na questão 166-b, de O Livro
dos Espíritos (Ed. FEB), o Codifi-cador indaga aos Espíritos revela-dores, após obter esclarecimentossobre a forma de depuração dasalmas: “A alma passa então pormuitas existências corporais?”.
A resposta é peremptória, termi-nante, sobre a realidade das vidassucessivas: “Sim, todos contamosmuitas existências. Os que dizem ocontrário pretendem manter-vosna ignorância em que eles própriosse encontram. Esse o desejo deles”.
O ensino, seguido de outros es-clarecimentos, não deixou dúvi-das sobre a divina determinaçãoda sucessividade das vidas corpo-rais como forma de expiação emelhoramento progressivo de ca-da Espírito, lei que atinge toda aHumanidade.
É interessante assinalar queAllan Kardec, que antes das expli-cações dos Espíritos reveladoresnão aceitava a pluralidade dasexistências, modificou, desde en-tão, sua opinião, passando a ad-mitir a necessidade da reencarna-
ção como uma das leis naturaisou divinas necessárias à evoluçãodo Espírito imortal.
Prova cabal do imediato con-vencimento do Codificador, dian-te das explicações recebidas, sãoseus comentários formulados emaditamento à questão 171 da obrabásica da Doutrina, nos quais ex-pressa sua convicção sobre a justi-ça de Deus, ao determinar a su-cessividade da vida corporal, en-quanto necessária ao aperfeiçoa-mento do ser espiritual.
São palavras do Codificador:
Todos os Espíritos tendem para
a perfeição e Deus lhes faculta os
meios de alcançá-la, proporcio-
nando-lhes as provações da vida
corporal. Sua justiça, porém, lhes
concede realizar, em novas exis-
tências, o que não puderam fazer
ou concluir numa primeira prova.
....................................................
A doutrina da reencarnação, isto
é, a que consiste em admitir pa-
ra o Espírito muitas existências
sucessivas, é a única que corres-
ponde à idéia que formamos da
justiça de Deus para com os ho-
mens que se acham em condi-
ção moral inferior; a única que
pode explicar o futuro e firmar
as nossas esperanças, pois que
nos oferece os meios de resga-
tarmos os nossos erros por no-
vas provações. A razão no-la in-
dica e os Espíritos a ensinam.
Pelo ensino dos Espíritos, asdiversas existências nem sempreocorrem todas no mesmo mun-do material.
As almas podem reencarnar emum mesmo globo material, comoa Terra, ou podem passar de ummundo para outro.
O que determina a necessidadedas reencarnações, seja em ummesmo, ou em diferentes mun-dos, é o imperativo da evolução,do progresso, lei divina aplicável atodos os Espíritos, como uma dasdeterminações da Justiça Divina.
A crença nas existências suces-sivas não é exclusividade do Espi-ritismo. Foi admitida, sob formasdiversificadas, desde a mais remo-ta antigüidade, por doutrinas es-piritualistas de diversos povos, oupor personalidades eminentes, quese destacaram pelas suas idéias.
Os ensinos do Cristo, emboranão tenham explicitado a dou-trina reencarnacionista como a
A doutrina dareencarnação
AJU VA N I R B O RG E S D E SO U Z A
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entendemos na atualidade, deixa-ram referências ao renascimentodo Espírito em diversos relatosevangélicos, como é do conheci-mento dos espíritas.
Entretanto, o Cristianismo doshomens, as Igrejas Romana, Orien-tal, e as resultantes da Reformanão aceitam as vidas sucessivas.
Admitindo a criação da almano momento do nascimento ediante das desigualdades morais,intelectuais e sociais dos indiví-duos, evidenciando uma injustiçaflagrante às criaturas, formula-ram as igrejas e outras religiões,da atualidade e do passado, idéiasque se contrapõem inteiramente àJustiça Divina: o inferno eterno,ou o céu de delícias, também eter-no, como conseqüências irrecusá-veis de uma vida na Terra, que sealonga por algumas décadas, ou selimita a dias ou poucos anos.
A incoerência dos ensinos des-sas religiões é flagrante e foi per-cebida pelos pensadores indepen-dentes, no decorrer dos séculos.
A preocupação com a origem eo destino da criatura humanavem desde as eras mais recuadas.
Religiões e filosofias, as maisantigas e as atuais, interessaram--se por esse problema que, somen-te com as revelações do Consola-dor, prometido e enviado peloCristo de Deus, ficou esclarecidoem suas múltiplas faces.
Foram necessárias, entretanto,ao lado do progresso da Huma-nidade, sob diversos aspectos, asrevelações da Espiritualidade su-perior, essenciais à elucidação dequestões transcendentais, como
as que dizem respeito às vidassucessivas.
Se pesquisarmos o histórico devários povos antigos, vamos en-contrar a questão da palingenesiaformulada de diferentes formas,de conformidade com o entendi-mento de determinados gruposhumanos e as idéias de alguns fi-lósofos e pensadores.
Na Índia, desde tempos longín-quos, a pluralidade das existênciasera entendida com bastante apro-ximação da realidade, o que ocor-re até os dias atuais.
No Bhagavad Gita e nos Vedasencontram-se citações e referên-cias que não deixam dúvida sobrea percepção que os hindus tinhame ainda têm sobre a reencarnação.
Na Pérsia antiga, o Masdeísmodava ao povo uma noção bemrealista das vidas sucessivas, paraa redenção de todas as criaturashumanas.
Entre os hebreus, a idéia do re-nascimento das almas encontra--se veladamente admitida no Ve-lho Testamento, especialmente nosescritos de alguns profetas.
Mas nos Evangelhos há referên-cias explícitas em algumas passa-gens, como a resposta de Jesus aosseus discípulos, a respeito da voltade Elias: “Elias já veio e não o reco-nheceram, antes fizeram-lhe tudoo que quiseram”. (Mateus, 17:12.)
O comentário do Evangelista éque os discípulos compreende-ram que o Mestre se referia a JoãoBatista, como Elias reencarnado.
Outra passagem clara, registra-da no Evangelho de João (3:3), é aresposta de Jesus a Nicodemos, que
os espíritas conhecem bem, por sermuito citada:“Em verdade, em ver-dade vos digo, ninguém verá o rei-no de Deus, sem nascer de novo”.
Por mais que se procure inter-pretar as palavras do Mestre Jesusem outros sentidos figurativos,como o fazem os seguidores de re-ligiões que não admitem a reen-carnação, a expressão “nascer denovo” é peremptória, decisiva, pa-ra caracterizar um renascimentonovo do ser, máxime atentando--se na circunstância de que Jesusnão desconhecia uma crença co-mum a vários povos antigos, in-clusive, o hebreu.
Por isso, diante da dú-vida de Nicodemos,que objetou:
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“Como pode ser isso?”, o Mestrerespondeu: “Tu és mestre de Israele não sabes isso?” (João, 3:9-10).
Certo é que existiam, nas socie-dades antigas, ensinos ocultos aocomum dos homens, mas conhe-cidos e aceitos pelos iniciados. Acrença na imortalidade da alma enas vidas sucessivas eram ensinoscultivados, independentementeda aprovação dos detentores dospoderes constituídos.
Na Grécia, Pitágoras tomouconhecimento da sucessividadedos renascimentos das almas, emsuas viagens à Pérsia e ao Egito,introduzindo essa crença em suapátria.
Mas, entre os gregos, nãopodemos omitir a doutrina de
Sócrates e Platão, considera-
dos, com justa razão, precursoresdo Cristo e do Espiritismo.
Na “Introdução”, item IV, de OEvangelho segundo o Espiritismo(Ed. FEB), peça notável que os se-guidores da Doutrina Consolado-ra devem reler sempre, por seusesclarecimentos importantes, oCodificador refere-se aos dois fi-lósofos gregos como verdadeiros“precursores da idéia Cristã e doEspiritismo”.
Acrescenta Kardec que Sócra-tes, assim como Jesus, o Cristo,nada deixaram escrito: “[...] Assimcomo a doutrina de Jesus só a co-nhecemos pelo que escreveramseus discípulos, da de Sócrates sótemos conhecimento pelos escri-tos de seu discípulo Platão. [...]”.
Os romanos receberam a in-fluência dos gregos, especialmen-te no que se refere aos conheci-mentos e às crenças.
No poderoso império, pelo me-nos dois nomes se destacaram naaceitação da idéia reencarnacio-nista: Virgílio e Ovídio.
Nas Gálias, território da Françaatual, a religião dos druidas ensi-nava a existência de Deus e a cren-ça nas vidas sucessivas.
Vale recordar que o Codifica-dor da Doutrina dos Espíritos, oprofessor Hippolyte Léon Deni-zard Rivail, viveu entre os drui-das, com o nome Allan Kardec,conforme lhe foi revelado, o quelhe inspirou a idéia de adotar, co-mo pseudônimo, seu antigo no-me, o qual ficaria ligado, parasempre, à Doutrina Consoladora.
No período da Idade Média, alonga noite de mil anos, quando o
mundo Ocidental foi dominadopela poderosa Igreja Católica Ro-mana, a doutrina palingenésica, oudas vidas sucessivas, foi proscrita epraticamente esquecida. Somentealgumas sociedades secretas trans-mitiam oralmente esse conheci-mento tradicional de uma realida-de que acompanha a Humanidadedesde tempos imemoriais.
Nem a divisão da Igreja, com aseparação da Igreja Oriental, nema Reforma iniciada por MartinhoLutero e que resultou nas IgrejasProtestantes, espalhadas pelo Oci-dente, favoreceram a aceitação dadoutrina reencarnacionista, queficou adstrita às antigas religiões efilosofias orientais (Índia) e aosiniciados em ciências ocultas, quesempre existiram.
Somente com a conquista da li-berdade de pensamento e de ex-pressão, cujo símbolo maior é aRevolução Francesa, nos fins doséculo XVIII, tornou-se possível apropagação das idéias, das verda-des e dos conhecimentos, aosquais se opunham os poderosos.
Por isso é que a sabedoriado Cristo só determinou a vinda dooutro Consolador, que podemosidentificar na Doutrina dos Espí-ritos, na época apropriada – mea-dos do século XIX – para ficar de-finitivamente com os homens quetiverem olhos e ouvidos para per-cebê-lo e dele fazerem a orienta-ção para suas vidas.
Deste modo, sejam quais foremas provações em nossas vidas,agradeçamos a Deus por suas leisjustas, entre as quais se insere areencarnação.
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usina mental é possuido-ra de inimaginável podergerador de energia, man-
tendo-a neutra até o momentoem que o Espírito a movimenta,conforme as aspirações que aga-salha e o direcionamento que lhecompraz.
Conhecido, esse poder, desdeépocas imemoriais nas civilizaçõesdo Oriente, apresentava-se entãorevestido de mistério nas cerimô-nias religiosas, produzindo fenôme-nos que deslumbravam as massas.
Para bem canalizá-lo, surgiramos cultos e as doutrinas esotéricas,que estabeleceram regras de com-portamento e técnicas para a suaaplicação, mediante cujas práti-cas, depois de largo período deiniciação, elegiam os seus sacer-dotes, que se responsabilizavampela condução dos povos.
Entre as culturas primitivas,os xamãs encarregavam-se deaplicar os valiosos recursos men-tais, que conseguiam identificarneles próprios, abrindo espaçopara as comunicações espiri-tuais que comprovaram a imor-talidade da alma. Tornaram-se,desse modo, muito importantesnos grupos sociais, nos quaismourejavam.
Não existe um povo no qual,nas raízes de sua origem, a mente
não tenha sido responsável peloseu desenvolvimento e progresso.
Todos os grandes líderes reli-giosos do passado, nos primór-dios das civilizações, porque maisevoluídos do que os seus concida-dãos, aos quais orientavam, utili-zaram-se da energia mental paralograr êxito nos cometimentos aque se entregavam.
Com Jesus, porém, esse poderatingiu o clímax, em razão da Suasuperioridade moral e grandezaespiritual de Governador do pla-neta terrestre, demonstrado nosnotáveis momentos da multiplica-ção dos pães e dos peixes, da tem-pestade acalmada no mar da Ga-liléia, da pesca milagrosa, das curasextraordinárias, da visão a distân-cia, da precognição em torno doSeu martírio, dos acontecimentosfuturos, do fim dos tempos...
Depois dEle, ao largo dosséculos, homens e mulheres su-periores espiritualmente ao bió-tipo comum, aplicaram essa for-ça poderosa de maneira edifican-te e salutar, logrando demons-trar que o ser humano é o seupensamento.
De Mesmer a Allan Kardec,passando por eminentes estudio-sos da energia mental, pôde-seconstatar que a vida se expressano mundo objetivo, conforme o
direcionamento dessas grandio-sas forças.
Nada obstante, graças ao co-nhecimento do cérebro, cada diamais desvendado pelas neuro-ciências, vêm sendo identificadasas áreas onde se sediam essescampos de força que, bem condu-zidos, moverão montanhas...
O conceito de Jesus acerca dafé, que é capaz de todas as realiza-ções, centraliza-se na dinâmica daenergia mental. Ter fé representapossuir a coragem de lutar emfavor da concretização daquilo aque se aspira e entregar-se em con-fiança aos resultados que serão al-cançados.
O brocardo popular, que esta-belece o querer é poder, possuivalidade incontestável, porquan-to a aspiração, quando carrega-da da energia mental, culminapor concretizar aquilo que anela.
A princípio, as fórmulas decontrole mental passaram de ge-ração a geração envoltas em enig-mas, a fim de não serem enten-didas pelos não iniciados, osexotéricos.
À medida que a cultura adqui-riu cidadania e as doutrinas psi-cológicas aprofundaram a investi-gação na psique, mais fácil se fez oentendimento e a aplicação dessasfabulosas energias.
Mente e vidaA
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Mente é também vida.Todos nos encontramos mer-
gulhados no pensamento exterio-rizado pela Mente Divina, que tu-do orienta e conduz com seguran-ça, desde as colossais galáxias àsmicropartículas.
Conforme penses, assim viverás.Se te permites o pessimismo
contumaz, permanecerás na an-gústia, a um passo da depressão.
Se anelas pela felicidade, já teencontras fruindo as bênçãos quedela decorrem, como prenúnciodo que alcançarás mais tarde.
Se delineias sofrimentos para aexistência, sob o conceito da afliçãoque agasalhas, a jornada terrestreser-te-á assinalada pelo sofrimento.
Se reflexionas em torno dobem-estar e da alegria de viver,mesmo que ocorram acidentes depercurso em forma de dor, des-frutarás de mais tempo de con-tentamento do que de aflição.
Se projetas insucesso pelo ca-minho, seguirás uma trilha assi-nalada pelo fracasso elaboradopelo teu próprio pensamento.
Se arrojas em direção do futuroo êxito, encontrá-lo-ás à tua espe-ra, à medida que avances no rumodos objetivos superiores.
A mente produz aquilo queo pensamento direciona.
A abundância daVida encontra-se emtoda parte do Uni-verso, assim como apaz e a saúde, por-que procedem deDeus, o Criador.
Igualmente, vastas faixas deinfelicidade e de dissabores sãosustentadas pelas mentes confli-tivas e negativistas que as origina-ram e as preservam.
É necessário, portanto, pensar--edificando o bem, a fim de que obem se edifique nos teus senti-mentos.
O Evangelho de Jesus é fonteinexaurível de alegria e de satisfa-ções emocionais, de auto-realiza-ções e de felicidade.
Aborda, também, é claro, o so-frimento, o martírio, não porémde maneira masoquista, mas sim,como recursos de libertação dasmazelas anteriormente armaze-nadas, facultando a conquista daharmonia interior e propiciandoa perfeita vinculação com Deus.
Pensa, portanto, de forma sau-dável, edificante, e receberás as al-tas cargas de estímulos que proce-dem das faixas nobres da vida,através do pensamento.
Vivencia as experiências pro-vacionais dolorosas com o pen-samento em harmonia, sem dei-xar que o dissabor e o desalento
tomem conta das tuas paisagensmentais, e ser-te-ão menos pe-nosas as horas de purificação.
Ninguém transita no mundofísico sem a experiência de algumtipo de sofrimento, porquanto es-te é um planeta de provas e de ex-piações e não o paraíso, onde a dore o desespero não vigem, não seapresentam sequer.
A maneira, porém, de vivê-lo éque o tornará razão de desdita oude satisfação, em face da perspec-tiva de próxima libertação.
Quando Jesus afirmou que Elee o Pai são Um, demonstrou que,na Sua perfeita sintonia com avontade de Deus, mergulhara to-talmente no projeto que fora de-senhado para a Sua existência en-tre as criaturas da Terra, sem quei-xa ou mal-estar.
Quando consigas, por tua vez,entregar-te ao amor e vivê-lo emtotalidade, poderás assinalar, qualo fez o apóstolo das gentes: Já nãosou eu que vivo, mas o Cristo quevive em mim.
Aprofunda, portanto, reflexõesem torno do pensamento, deixa-tepotencializar pela sua força e cana-liza-o para a felicidade que te estádestinada, e a experimentarás
desde este momento.
Joanna de Ângelis
(Mensagem psicografada pelo mé-
dium Divaldo Pereira Franco, na ses-
são mediúnica da noite de 20 de junho
de 2007, no Centro Espírita Caminho
da Redenção, em Salvador, Bahia.)
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pós o lançamento de O Li-vro dos Espíritos foi inten-so o interesse pela Doutri-
na nascente. Allan Kardec foimuito procurado por aqueles quequeriam conhecê-lo pessoalmen-te e com ele trocar idéias.
O Codificador já realizava reu-niões às terças-feiras, há seis me-ses, em sua residência, na rua dosMártires, 8, em Paris. No início,ali compareciam de 8 a 10 pessoas,chegando, às vezes, até 30, movidaspelo desejo de conhecer o Espiritis-mo e o próprio Kardec. Este e seuscompanheiros chegaram à conclu-são de que deveriam organizar umasociedade, o que se efetivou com afundação, em 1o de abril de 1858,da Sociedade Parisiense de Estu-dos Espíritas (SPEE), que começoua funcionar na galeria de Valois,no Palais-Royal. Um ano depois eaté 1o de abril de 1860 a SPEE rea-lizou suas sessões numa outra alado mesmo edifício, em salão do res-taurante Douix, na galeria Mont-pensier. A partir desta última da-ta, a Sociedade passou a funcionar
em sede própria, na passagem Sain-te-Anne, na rua Sainte-Anne, 59.1
Allan Kardec divulgou muitasinformações sobre a SPEE nas pá-ginas da Revista Espírita, adaptan-do-as depois, em forma de orien-tações para reuniões, em capítulosde O Livro dos Médiuns, onde tam-bém transcreve o “Regulamento daSociedade Parisiense de EstudosEspíritas”.2
A SPEE foi um autêntico labo-ratório, viabilizando a experiênciacom atividades espíritas valiosaspara o Codificador e, sem dúvida,ponto de referência para os interes-sados na novel Doutrina Espírita.
Quase no final de sua jornadafísica, inclui na Revista Espírita3 in-teressante matéria intitulada “Es-tatística do Espiritismo”. O Codi-ficador destaca que “do ponto devista da difusão das idéias espíritas,e da facilidade com que são acei-tas, os principais Estados da Eu-ropa podem ser classificados co-mo se segue:
1o França. – 2o Itália. – 3o Espa-nha. – 4o Rússia. – 5o Alemanha
[...]” (destacamos os cinco pri-meiros). Kardec realiza o primei-ro estudo sobre a “proporção rela-tiva dos espíritas”, analisando vá-rios fatores e as categorias em que“[...]o Espiritismo encontrou, atéhoje, mais aderentes”.
O trabalho de difusão das idéiasespíritas também se concretizoucom as viagens feitas pelo Codifi-cador à França e Bélgica, dirigin-do-se, entre outros, aos espíritasde Lyon, Bordeaux, Tours, Antuér-pia e Bruxelas.
Léon Denis, que conheceu Kar-dec durante visita deste a Tours,em 1862, e depois esteve com ele emmais duas oportunidades no anode 1867,4 veio a se transformar nogrande divulgador do Espiritismoe consolidador do Movimento Es-pírita francês, visitando inúmerosgrupos espíritas e neles fazendopalestras. O Espiritismo se firmouem várias localidades francesas.Léon Denis considerou que “Lyoné a muralha do Espiritismo”. Estacidade chegou a possuir uma cre-che espírita fundada em 1903.5
Da primeira Sociedadeaos Centros Espíritas
da atualidade
AAN TO N I O CE S A R PE R R I D E CA RVA L H O
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Ao chegar em nosso país, anascente Doutrina encontrouabrigo inicial na primeira insti-tuição – o “Grupo Familiar do Es-piritismo” (Salvador, 1865) – e de-pois na cidade do Rio de Janeirocom o Grupo Confúcio (1873), aSociedade de Estudos Espíritas“Deus, Cristo e Caridade” (1876),o Grupo Espírita Fraternidade(1880), o Grupo Ismael (1880) e aprópria Federação Espírita Brasi-leira (1884). Seguiram-se funda-ções de grupos espíritas em váriosEstados do País e trabalhos pio-neiros como os de Antônio Gonçal-ves da Silva (Batuíra), Anália Fran-co, Eurípedes Barsanulfo, CairbarSchutel, entre outros.
Durante as comemorações doPrimeiro Centenário de Nascimen-to de Allan Kardec, promovidaspela FEB, no Rio de Janeiro, de 3a 5 de outubro de 1904, com aparticipação de representantesde várias instituições espíritas doBrasil, foi aprovado o documen-to “Bases de Organização Espíri-ta”, primeira orientação voltada àcriação de associações espíritasnas capitais de todos os Estados,para o estudo e a propagação daDoutrina, e a união de todos osnúcleos.
Nas primeiras décadas do sé-culo XX, graças à árdua dedica-ção de pioneiros, que difundi-riam a Doutrina, concretizandoações sociais, de certa forma ins-pirados na experiência do traba-lho da “Assistência aos Necessi-tados” da FEB, o Movimento Es-pírita se desenvolveu e conquis-tou espaços junto à população e
o respeito de autoridades gover-namentais.
Esses traços iniciais das insti-tuições espíritas do Brasil foramidentificados inclusive por es-trangeiros. No ano de 1941, Ga-briel Gobron anotou em Le Fra-terniste, após visitar nosso país:“[...] à frente do mundo no to-cante à organização espírita deassistência pública vem o Brasil.Não há Centros Espíritas que nãotenham ou cuidem de ter uma as-sistência aos necessitados. O Es-piritismo brasileiro é a caridadeem ação [...] e o Brasil e seus es-píritas são pobres!”.6
Em meados do século XX, asobras psicográficas e o trabalhode Francisco Cândido Xavier pro-vocaram impacto significativo naconsolidação e na expansão do Mo-vimento Espírita brasileiro. Tal fa-to se intensificou a partir dos anos
1960, com a presença do referidomédium na televisão.
A essa altura, já existiam pro-postas de incentivo ao estudo eaos cursos de Espiritismo, alimen-tadas principalmente pelas entãochamadas Mocidades Espíritas,notadamente em eventos regio-nais, estaduais e nacional, comofoi a I Confraternização de Moci-dades e Juventudes Espíritas doBrasil (Marília, SP, 1965). Expe-riências pioneiras de cursos eramlevadas a efeito por instituições deSão Paulo, Rio de Janeiro, RioGrande do Sul e Paraná. Impor-tante reforço surgiu em 1983, coma aprovação pelo Conselho Fede-rativo Nacional da FEB da “Cam-panha do Estudo Sistematizadoda Doutrina Espírita”.
A tendência de aumentar-sea procura pelos centros espíritas, a
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Eurípedes Barsanulfo fundou,em 2 de abril de 1907,
o Colégio Allan Kardec, emSacramento, Minas Gerais
Teles de Menezes foi o fundadorda primeira Instituição Espírita do
Brasil, em Salvador, 1865
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partir dos “Pinga-Fogos” na TV,com Chico Xavier, gerou a preo-cupação sobre algumas aparentesdistorções e obstáculos à organiza-ção doutrinária dos centros: açõesde assistência social apenas com amaterialização da caridade e a me-diunidade como fim, poderiamcomprometer as bases do Movi-mento Espírita. Seria importanteo fortalecimento em bases karde-quianas e a divulgação pelo livro.
A União das Sociedades Espíritasdo Estado de São Paulo (USE) pro-duziu significativos instrumentosde difusão e orientação, tais comoa “Campanha Comece pelo Come-ço”e a “Carta aos Centros Espíritas”.
No final dos anos 1970, as Enti-dades Federativas Estaduais, queintegram o Conselho FederativoNacional da FEB, aprovaram o tex-to “A adequação do Centro Espíritapara o melhor atendimento de suasfinalidades” na Reunião de 1o a 3de outubro de 1977, com base nasConclusões dos Conselhos Zonais.(out./1975 a abr./1977). Em segui-da, numa continuidade de apro-fundamento de estudos ao longo
de suas Reuniões Zonais (1978--1979), e na sua Reunião Plenária,em julho de 1980, o CFN aprovouo texto “Orientação ao Centro Es-pírita”, que passou a ser um mar-cante subsídio orientador para asinstituições espíritas do País.
Depois de quase três décadas,o referido documento foi reanali-sado com base em sugestões apre-sentadas pelas Entidades Federa-tivas Estaduais, discutido em Co-missões Regionais do CFN é, final-mente, aprovado um texto atua-lizado e ampliado na Reunião doCFN de 2006, sendo lançado porocasião do 2o Congresso EspíritaBrasileiro. Desta maneira, “a títu-lo de sugestão e de subsídio, ofe-
rece orientações e material deapoio, elaborados e disponibili-zados pelos órgãos federativos ede unificação do Movimento Es-pírita, para as atividades dosCentros e demais instituições es-píritas, visando facilitar as tare-
fas de seus trabalhadores, no en-caminhamento de assuntos dou-trinários, administrativos, jurí-dicos e de unificação”.8
Em nossos dias, o MovimentoEspírita brasileiro conta com maisde doze mil instituições em fun-cionamento. Cento e cinqüentaanos após a publicação de O Livrodos Espíritos e da fundação doprimeiro Centro Espírita do mun-do, há conquistas evidentes e, semdúvida, grandes responsabilida-des. De forma amadurecida e comelaboração coletiva, dispõe-se deoportunos materiais de orienta-ção e de apoio à ação espírita.
Referências:1WANTUIL, Zêus.; THIESEN, Francisco.
Allan Kardec: pesquisa biobibliográfica e
ensaios de interpretação. v. III. 4. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 1998. Cap. 1, item 3, So-
ciété Parisienne des Études Spirites.2KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. 80.
ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. XXX.3______. Revista espírita: jornal de estu-
dos psicológicos. (Trad. Evandro Noleto
Bezerra). Ano XII (1869). 2. ed. Rio de Ja-
neiro: FEB, 2005. “Estatística do Espiritis-
mo”, p. 21-22.4LUCE, Gaston. Vida e obra de Léon De-
nis. (Trad. Miguel Maillet). São Paulo:
Edicel, 1968. Cap. 1.5PONSARDIN, Mickaël. Le spiritism à Lyon.
Marly-le-Roi: Philman, 2004. p. 5, 105-106.6CARVALHO, Antonio Cesar Perri de. Espi-
ritismo e modernidade. São Paulo: USE,
1996. p. 56-57.7______. Estão os centros espíritas pre-
parados para receber grandes massas hu-
manas? Matão: O Clarim, 15/5/1975. p. 6-7.8Orientação ao centro espírita. Rio de Ja-
neiro: FEB, 2007. 4ª capa.
Anália Franco
Pinga-Fogo: programa deentrevistas com Chico Xavier
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Reformador: Qual sua visão so-bre as novidades no MovimentoEspírita?Marival: Somos conscientes deque ser um tarefeiro da imensaSeara do Cristo, onde os trabalha-dores ainda são poucos, represen-ta, antes que tudo, a extrema bon-dade do Pai em favor de todos,certos de que “servir se situa co-mo a melhor maneira de ganhar”.No sentido de nos adaptarmos aomoderno, na sua expressão maisautêntica, sem perdermos o focoda evolução, tomemos por baseesta Revista, permita-me o nobreentrevistador. Nas últimas déca-das tem ela passado por modifica-ções profundas, atualizando-sequanto à elaboração, visandoatender ao leitor no tocante à me-lhoria gráfica, mas sem abrir mãodo seu conteúdo doutriná-rio. Em razão disso,faz-se necessá-rio que nosestruture-mos ade-q u a d a -mente,
evitando que, de forma afoita, otradicional e outros reais valoressejam sepultados. Neste ponto, acautela e o bom senso têm queestar presentes. É imperioso, sim,buscarmos a atualização, mas semperder o foco, as bases do simples,do autêntico. Em termos práticos,referimo-nos ainda ao fato de nãonos distanciarmos do respeito, da
convivência fraterna, do amor aopróximo.
Certa feita, um radialista inda-gou a Chico Xavier: “Não corre-mos o risco de ficar defasados comrelação ao avanço científico, se per-manecermos preocupados apenascom a Consolação?”. Chico Xavierrespondeu com a cautela e preste-za que lhe eram peculiares, masbastante incisivo: “Se praticarmosoitenta por cento de amor ao pró-ximo e vinte por cento de tecno-logia, é o quanto basta”.
Para que não venhamos a co-meter equívocos, será sempre opor-tuno saber discernir o que é Movi-mento Espírita, do que seja Dou-trina Espírita. Movimento Espí-rita, o próprio nome diz: é a di-nâmica, o modus vivendi que rea-lizamos a fim de que o Espiri-tismo seja divulgado, por meiodos recursos de que dispomos,inclusive e principalmente pelo
exemplo, uma vez que o ver-dadeiro espírita deve ser
reconhecido “pela suatransformação morale pelos esforços que
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MA R I VA L VE LO S O D E MATO SEntrevista
Centenário daUnião Espírita Mineira
Marival Veloso de Matos, presidente da União Espírita Mineira, analisa o Movimento
Espírita de seu Estado, com destaque para os 100 anos da Federativa Estadual
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emprega para domar suas inclina-ções más”, como ensina Allan Kar-dec. Doutrina Espírita é esse arca-bouço, esse monumento forma-do pela sublime trilogia Ciência,Filosofia e Religião, que a Codifi-cação kardequiana nos oferece. OMovimento Espírita, por força dasmais variadas tendências de natu-reza cultural ou regional, apresen-ta características diferenciadas nomodo de ser posto em prática. Oideal, todavia, é que a conceitua-ção espírita-cristã seja a mesmaem toda parte. Às vezes insinua-mos defasagem na estrutura dou-trinária espírita. Na verdade, issoocorre porque nossos estudos têmsido periféricos e superficiais.
Reformador: Como está o Movi-mento Espírita em Minas Gerais?Marival: Nossa Federativa, porforça das dimensões relativamenteavantajadas do território mineiro,tem tido a responsabilidade de co-brir áreas imensas, com fronteiraslongínquas. Por isso, a setorizaçãoque se convencionou implantaratravés do 3o Congresso EspíritaMineiro, além de outras resolu-ções, representou um avanço alta-mente positivo. Posteriormente, apartir do 77o Conselho Federativode Minas Gerais (COFEMG), cria-ram-se as Comissões Regionaissob a inspiração das ComissõesRegionais do Conselho FederativoNacional da FEB. Pode-se conside-rar que novo vigor, novo alento foidado às atividades relacionadas aoMovimento. O mérito está em sesaber administrar tais diferenças,fazendo com que, apesar delas,
prossigamos pondo em prática osensinamentos de Jesus e Kardec,recordando com Emmanuel: “Je-sus, a porta. Kardec, a chave”. Fa-zemos também nossa homenageme momento de saudade. Entre se-tembro e novembro do ano passa-do, retornaram à Pátria Maior doisdos mais valorosos companheirosespíritas, molas mestras, lidima-mente integrados ao MovimentoEspírita federativo. Referimo-nosaos sempre queridos Martins Pe-ralva e Honório de Abreu. Se porum lado deixaram um vazio imen-so, por outro souberam nos legarpatrimônio incomensurável de di-namismo, de realizações e de subli-mados exemplos.
Reformador: No momento, quan-tos centros espíritas estão integradosà União Espírita Mineira? Marival: Em nosso Estado as casasespíritas se inscrevem nas Alian-ças Municipais Espíritas que, porregião, formam os Conselhos Re-gionais Espíritas, os quais aderemà UEM, conforme estrutura apro-vada no já mencionado 3o Con-gresso Espírita Mineiro. No orga-nograma que compõe o Movimen-to Espírita federativo, olhado dabase para o cume, vamos encon-trar cada Casa Espírita como a cé-lula fundamental do Movimento.Para sermos mais objetivos na res-posta à oportuna pergunta, infor-mamos que, presentemente, atra-vés do Departamento de Assistên-cia e Promoção Social Espírita,está se processando novo cadas-tramento junto às AMEs. Peloúltimo levantamento, chegavam a
1.200, mas estimamos que alcan-cem 1.400 instituições espíritas.
Reformador: Quais são as princi-pais comemorações pelo Centená-rio da União?Marival: Novamente tomamos aliberdade de mencionar nosso que-rido Honório de Abreu. Não hácomo abdicarmos de nos referira ele, principalmente ao nos vir àlembrança o empenho, o carinho,o entusiasmo quando o assuntoera relativo aos 100 anos da UniãoEspírita Mineira. Entre as inúme-ras providências comemorativas,duas se destacam sobremodo: arealização do IV Congresso Espí-rita Mineiro, programado para osdias 3 a 6 de abril do ano em cur-so. Este evento deverá ser um mar-co positivo para consolidar cadavez mais a convivência fraterna eamiga com o Movimento Espíritaem nosso país, embora seja umapromoção de âmbito estadual.Pretendemos que o evento seja le-gítimo catalisador do que preco-niza o tema central “Espiritismo:Amor e Educação”. Temos a espe-rança de que todos os Estados sefarão representar. Todos foramconvidados com muita convicçãode nossa parte. Além do Congres-so, daremos início à construçãode nossa segunda sede, cujo pro-jeto arquitetônico é simples, prá-tico, mas bem original. Com anova sede, o objetivo maior é ofe-recermos melhores condições deoperacionalidade aos trabalhos fe-derativos. A atual consiste na cria-ção de um centro de referênciaonde existe rico acervo histórico e
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cultural que ali será instala-do; há de ser o local que ha-veremos de, pelos seus regis-tros, memorizar todos quan-tos, desde Antônio Lima, ogrande fundador, até o úl-timo, foram os consolidado-res deste Centenário de luz.Será nossa maneira de, nomínimo, demonstrar nossagratidão aos abnegados es-píritas, pois muitos deles ti-veram que enfrentar, com de-nodo e desprendimento, pe-ríodo épico em que a tribunaespírita lhes era a arma maior.
Reformador: E os principaisprojetos programados e emexecução para este ano?Marival: Além desses regis-tros de vulto, outros ocorre-rão através de publicaçõescomemorativas, de simpó-sios, de feiras, da contínua e fre-qüente presença da União no Inte-rior, realizando cursos. Constituiráainda ponto alto nas comemora-ções centenárias o encontro daComissão Regional Centro doCFN da FEB nos dias 20, 21 e 22 dejunho deste ano. O calendário con-templa, também, neste ano-cente-nário, a VI Semana Espírita, Dou-trina e Unificação e a participaçãoda UEM no Encontro Nacional deComunicação Espírita.
Reformador: Como vocês sentem aatuação federativa em nível de Co-missões Regionais e das Reuniõesdo CFN?Marival: Entendemos que a im-plantação das Comissões Regio-
nais representou um avanço incal-culável no Movimento Espírita emnível de Brasil. Por quê? Porque setrata de uma “contaminação” alta-mente positiva, a partir de quandoo CFN da FEB houve por bem in-teragir diretamente com as comu-nidades de todo o país, através deseus quadros diretivos, com hu-mildade e presença carinhosa deseus pares, sem imposição, semdistanciamentos, mas, ao contrá-rio, em total integração com espí-ritas de cada Estado, onde ocor-rem os encontros, representando,para a região, um fato inacredi-tável. Os que nunca residiram noInterior, em pequenas cidades,talvez não saibam avaliar o quan-to a representação espírita de um
outro Estado, sem men-cionar o querido pessoalda FEB, valoriza e alegra oscorações. Contar com ir-mãos de entidades federati-vas se faz oportuno, atéporque o Movimento Fede-rativo infelizmente ainda en-contra resistências. Daí ver-mos na ação da interiori-zação, não só do CFN daFEB, mas igualmente daspróprias Federativas Esta-duais, a ação altamente efi-caz e positiva, que propor-ciona desfazer esses mitos.
Reformador: Qual mensa-gem deixa para os leitores deReformador?Marival: No primeiro mo-mento, agradecer a estaquerida revista, veículo designificação positiva incal-
culável que, em nome de Jesus,por via da Doutrina dos Espíri-tos, esclarece e consola os laresbrasileiros, nos mais aprofunda-dos rincões, pela abençoada opor-tunidade de, modestamente, teremacesso às suas ricas páginas. Aoensejo, rogar a Deus amparar eassistir o Mundo no sentido deque possamos suportar os obstá-culos da caminhada, aprendendoa superá-los sem desânimo. Quepossamos ver no livro espírita omanancial de luz de que carece-mos. Que jamais estejamos in-quietos por coisa alguma, comonos recomenda o admirado após-tolo Paulo. Que possamos fazerdo Evangelho de Jesus nossa maisautêntica Constituição.
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Cartaz do IV Congresso Espírita Mineiro, programadopara os dias 3 a 6 de abril em Belo Horizonte (MG)
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stranha você, meu irmão, que os Espíritosdesencarnados façam coro com os intelec-tuais de nosso tempo, devotando-se à organi-
zação de livros que concorram no mercado dasidéias e das letras e acrescenta:
– “Não precisamos de novos livros e sim de mãose pés, consagrados à caridade positiva, a fim de queos famintos e os doentes, os desabrigados e os infe-lizes tenham alimento e remédio, casa e consolo”.
Francamente, não somos contrário ao seu pro-grama.
Acreditamos, com o Apóstolo, que a fé sem obrasé um cadáver bem adornado; entretanto, admiti-mos que você não é justo para com a sementeira daeducação.
Que seria o mundo sem a bênção do livro? Exis-tiria, acaso, qualquer civilização sem ele?
Veículo do pensamento, confia-nos a luz espiri-tual dos grandes orientadores do passado.
Graças a ele, Hermes e Moisés, Sócrates e Platãoacham-se vivos na Terra, com a mesma sabedoria ecom a mesma sublimidade do momento remotoem que passaram entre os homens.
Reporta-se você, muitas vezes, ao necessário mo-vimento da piedade cristã; contudo, que seria doCristianismo sem o Evangelho registrado em ca-racteres de forma?
Realmente, o nosso Divino Mestre, segundo re-corda a sua palavra conselheiral, não escreveu qual-
quer pergaminho destinado à posteridade; no en-tanto, não parece haver desconhecido o valor doensinamento repetido e multiplicado. Não foi opróprio Jesus que recomendou, certa vez, aosaprendizes: “Ide e pregai o Evangelho a todas asnações”?
Diz você, com veemência e austeridade:– “Cristo não necessita de propaganda. Cristia-
nismo é caridade”.Que a Boa Nova é amor santificante, em ação,
não duvidamos; mas, ao que se nos afigura, Jesusnão subestimou a propaganda, quando esteve pes-soalmente entre nós. Se efetivamente multiplicouos pães e os peixes no monte, se curou leprosos ecegos, obsidiados e paralíticos, em nenhuma cir-cunstância menosprezou a pregação do Reino deDeus. Depois da Ressurreição, quando os trabalhosda caridade já funcionavam harmoniosamente emJerusalém, ei-lo que volta das Esferas Celestiais, empessoa. Para encher novos cestos de saborosa vian-da ou para transformar a água em vinho, satisfa-zendo aos caprichos do povo? Não. Regressava oSenhor, a fim de chamar Paulo de Tarso, nominal-mente, para atender à extensão dos serviços evan-gélicos, comprometidos pelo acúmulo das obras dealimentação e assistência hospitalar.
E diga-se, com franqueza, com toda reverênciaaos demais componentes do colégio apostólico,que a Boa Nova não encontraria mais digno agente
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E
Presença de Chico Xavier
Em louvordo livro
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de publicidade que aquele sincero e intransigenteDoutor da Lei, convocado por Jesus, às portas deDamasco, para a distribuição ativa dos princípiossalvadores.
É pelo concurso do livro que o Senhor e seuscontinuadores diretos se comunicam com os discí-pulos contemporâneos.
Através dos serviços gráficos, recebemos as in-terpretações renovadoras do ensinamento cristãopara todos os climas culturais da atualidade. E nãofosse a cooperação do livro, que seria da religião,da ciência, da filosofia, da política, da técnica in-dustrial, da arte e da socialização?
O posto da caridade que alimenta e agasalha é,indubitavelmente, sublime; mas sem a colabora-ção direta e eficiente da escola que educa e aper-feiçoa, pode converter-se em tutela da ociosidadee do vício.
A sua imagem das mãos e dos pés, imprescindíveisà materialização do socorro fraterno, traz-me à
lembrança a necessidade de lâmpadas numerosaspara as sombras da noite. Quando a treva se esten-de, é imperioso que as acendamos; mas, se nãohouver usina que as sustente, de que nos valeria aelevada expressão em que se alinham?
Quando a dor alonga os tentáculos da afliçãosobre a vida, de que nos serviriam milhões de mãose pés, sem equilíbrio, sem orientação adequada,sem ideal edificante ou sem estímulo ao bem?
Decididamente, você dispõe do amplo direito deproteger a benemerência pública, onde, como equando você quiser; contudo, meu amigo, para sercaridoso também conosco, não menoscabe o nossotrabalho de educação pelo livro.
Irmão X
(Mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier e
reproduzida de Reformador de abril de 1952.)
Fonte: Reformador, abril de 1979, p. 9(125).
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Livro EspíritaLivro espírita – alegria
Da verdade clara e boa,
Escola que aperfeiçoa,
Instrui, consola, auxilia...
Socorro – beneficia,
Refúgio – guarda e abençoa,
Ampara toda pessoa
Que à luz dele se confia.
Livro espírita – colmeia
De apelos à nova idéia,
Templo, lâmpada, charrua...
Onde serve de atalaia,
A morte recebe vaia
E a vida se perpetua.
Alfredo Nora
(Soneto recebido pelo médium Francisco Cândido Xavier, em reunião da Comunhão Espírita Cristã, na noite de26/2/69, em Uberaba, Minas.)Fonte: Reformador, abril de 2002, p. 9(103).
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ste é um dos mais impor-tantes temas para a compre-ensão correta da Doutrina
Espírita, porque abrange a estru-tura teórica da Ciência da Almaou da Ciência do Infinito, que éo Espiritismo. Como este espaçonão nos permite tratar do assuntocom profundidade, esboçaremosalgumas noções básicas que esti-mulem o leitor à pesquisa.
A Revelação Espírita tem porcaracterística essencial a verdade epossui natureza dúplice: é divina,por um lado, porque a sua inicia-tiva é dos Espíritos superiores; écientífica, por outro, porque a suaelaboração compete aos homens.
A Doutrina Espírita “[...] nãofoi ditada completa, nem impostaà crença cega; porque é deduzida,pelo trabalho do homem, da ob-servação dos fatos que os Espíri-tos lhe põem sob os olhos e dasinstruções que lhe dão, instruçõesque ele estuda, comenta, compa-ra, a fim de tirar ele próprio as ila-ções e aplicações. [...]”.1
“[...] o Espiritismo não é da al-çada da Ciência”,2 porque esta re-fere-se às ciências ordinárias (Fí-sica, Química, Biologia etc.), queestudam os fenômenos puramen-
te materiais e tratam das proprie-dades da matéria, que se podeexaminar e manipular livremente.
O Espiritismo, que tem basecientífica própria, “é uma ciênciaque trata da natureza, origem e des-tino dos Espíritos, bem como desuas relações com o mundo corpo-ral”,3 cujos fenômenos repousam naação de inteligências dotadas devontade própria e livre-arbítrio, asquais, geralmente, não estãodispostas a se submeter aopapel de cobaias nempermanecem ao sabordas exigências e doscaprichos dos in-vestigadores hu-manos. Apesar deserem indepen-dentes, a Ciênciae o Espiritismo secompletam reci-procamente.
Embora tenhasurgido em meadosdo século XIX, após oque, houve um espan-toso surto de progres-so científico, a Doutri-na Espírita não está de-satualizada. A razão disso éque os seus princípios se
encontram muito próximos do ní-vel fenomênico,4 havendo atraves-sado incólume as radicais mudan-ças de paradigma5 ocorridas nasprimeiras décadas do século XX.
Ademais, a revelação é graduale apropriada ao estágio evolutivoda Humanidade. De Moisés aoEspiritismo, passando por Jesus,temos cerca de 4.000 anos de sagaevolutiva, e ainda não superamos
Caráter daRevelação Espírita
ECH R I S T I A N O TO RC H I
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totalmente os instintos animaisque nos prendem à retaguarda, dosquais, muitas vezes, abusamos, porfalta da necessária renovação mo-ral, que exige profundas mudan-ças por meio da educação, que “éo conjunto dos hábitos adquiridos”.6
Não raro, vemos muitos dosmodernos modelos da Física e deoutras ciências sofrerem radicaisrevisões, todavia, “[...] a obra deKardec constitui um genuíno pa-radigma científico, e esse paradig-ma representa, até hoje, a únicadiretriz segura ao longo da qualse podem desenvolver pesquisascientíficas acerca dos fenômenosespíritas e do aspecto espiritual doser humano em geral”.7 (Grifei.)
A Metapsíquica e a Parapsicolo-gia malograram no seu propósitode interpretar os fenômenos psí-quicos, porque tentaram rea-lizá-lo fora do paradig-ma espírita, utilizandometodologia inade-quada, pertinenteàs ciências ordiná-rias, mais centra-das em aparelhos eem cálculos numé-ricos e estatísticas,quase sempre sujei-tos a equívocos.
Sem prejuízo dautilização combina-da, pela ciência es-pírita, dos métodosindutivo e dedutivo, preconizadospelas ciências positivas, a estabili-dade dos fundamentos espíritas es-tá garantida, também, pelo ensinocoletivo concordante dos Espíritos,característica que confere grande
autoridade e força moral à Revela-ção Espírita, imprimindo-lhe mar-cantemente o caráter divino.
Como adverte Ademir L. Xa-vier Jr., inspirado em André Luiz,“[...] experimentações científicasdetalhadas no campo espírita sópodem ser feitas com a expres-sa colaboração do Plano Espi-ritual superior que, para isso,exige uma definitiva demons-tração desses valores divinosem nós”.8 Não dá para fazerCiência Espírita sem os Espí-ritos superiores.
Ressalvem-se os legítimos es-forços dos pesquisadores espíritassinceros que, atentos ao avançodas ciências, procuram decifrardeterminadas indagações que ain-da se apresentam como desafiado-res enigmas para os estudiosos em
geral, contudo,
Pelo fato de o Espiritismo
assimilar todas as idéias
progressistas, não se se-
gue que se faça campeão
cego de todas as concep-
ções novas, por mais
sedutoras que sejam
à primeira vista, com
o risco de receber,
mais tarde, um
desmentido da
experiência e de se
expor ao ridículo
de haver patroci-
nado uma obra inviável. [...]9
Por isso, devemos nos espelharem Kardec, que sempre se pautoucom muita prudência, evitandoadotar teses científicas prematuras.
O Espiritismo, não tenhamosdúvida, é chamado a desempe-nhar imenso papel na Terra, pormeio de seus adeptos conscientes:“Na gênese dos males que afligemo homem e a Humanidade, per-manece a ignorância” e “há muitaangústia aguardando a contribui-ção espírita, e muita loucura ne-cessitada de socorro espírita”.10
As revelações sempre obedecema um fim útil, nunca para satisfa-zer a vã curiosidade. Sendo assim,é muito importante ter em mentea instrução dos Espíritos a Kardec:“não pedirdes ao Espiritismo se-não o que ele vos possa dar”.11
Serve-nos de grande alerta ocaso do “Processo dos Espíritas”,12
ocorrido logo após a desencarna-ção de Kardec, que, em virtude dainvigilância de um médium, levou
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William Crookes realizoudiversas experiências de
materialização do Espírito KatieKing através da médium Florence
Cook (1872-1874)
Alexander Aksakof: grandepesquisador espírita
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um inocente à prisão, no rumoro-so caso das “fotografias espíritas”.
Eis um meio preventivo exce-lente para nos livrar das armadi-lhas da caminhada, para não ser-mos vítimas da mistificação, paranão sermos ludibriados por nósmesmos nem pelos falsos profetasencarnados e da erraticidade:
[...] [o fim do Espiritismo] é o
melhoramento moral da Hu-
manidade; se vos não afastardes
desse objetivo, jamais sereis en-
ganados, porquanto não há duas
maneiras de se compreender a
verdadeira moral, a que todo
homem de bom senso pode
admitir.
Os Espíritos vos vêm instruir e
guiar no caminho do bem e não
no das honras e das riquezas,
nem vêm para atender às vos-
sas paixões mesquinhas. [...]13
(Grifei.)
Jesus é o nosso paradigmamaior. Confiemos nele e sigamos oseu exemplo, fazendo a nossa parte,e tudo o mais virá por acréscimo.
Enfim, atendamos aos sa-grados deveres que Elenos designou para cadahora, perseverando até ofim, quando então pode-remos, jubilosos e de cons-ciência tranqüila, colher osfrutos de nosso trabalho,em consonância com asleis da Criação Divina.
Referências:1KARDEC, Allan. A gênese. 52. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 2007. Cap. I, item 13.2______. O livro dos espíritos. 91. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 1992. “Introdução”, item
VII, p. 36.3______. O que é o espiritismo. 55. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 2007. “Preâmbulo”, p. 55.4As teorias fenomenológicas são erigidas
a partir da observação empírica direta
dos fatos, gozando, por isso, de alta es-
tabilidade, o que já não ocorre com as
teorias não-fenomenológicas (construti-
vas), que compõem, por exemplo, a maio-
ria das teorias da Física e da Química,
cujo alto grau de abstração reduz a segu-
rança na formulação dos seus princípios.5Sobre o paradigma e outros temas liga-
dos ao Espiritismo e à Filosofia da Ciência,
indicamos para consulta os seguintes arti-
gos, de autoria do prof. Sílvio Seno Chi-
beni, todos publicados na revista Refor-
mador: “O Paradigma Espírita” jun./1994.
p. 20(176)-24(180); “A Excelência Meto-
dológica do Espiritismo – I”, nov./1988,
p. 12(328)-17(333), e Parte II, dez./1988,
p. 25(373)-30(378); “O Espiritismo em seu
tríplice aspecto: científico, filosófico e re-
ligioso – Parte I”, ago./2003, p. 37(315)-
-41(319), Parte II, set./2003, p. 38(356)-
-41(359), e Parte III (final), out./2003, p.
39(397)-41(399); e “Questões acerca da
natureza do Espiritismo – II – Revisão
da terminologia espírita?”, ago./1999,
p. 30 (250)-32(252), bem como: “Ciência
Espírita”, do mesmo autor, publicada na
Revista Internacional do Espiritismo,
mar./1991, p. 45-52; “Polissemias no Es-
piritismo”, de Aécio Pereira Chagas, idem,
ibidem, set./1996, p. 247-9; e “Ciência e
Espiritismo: um alerta de Allan Kardec
e André Luiz”, de Alexandre Fontes da
Fonseca, idem, ibidem, out./2003, p. 476.6KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 91.
ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Questão
685-a, comentário de Kardec.7CHIBENI, Sílvio Seno. “O Paradigma
Espírita”. Reformador, junho de 1994.
p. 20(176)-24(180).8XAVIER JR., Ademir L. “Algumas conside-
rações oportunas sobre a relação Espiri-
tismo-Ciência”. Reformador, agosto de
1995. p. 24(244)-25(246).9KARDEC, Allan. Revista espírita: jornal
de estudos psicológicos. Ano XI. Julho de
1868. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. “A
geração espontânea e A Gênese”. p. 285-
-293.10FRANCO, Divaldo P. Reflexões espíritas.
Pelo Espírito Vizanna de Carvalho. Sal-
vador: LEAL, 1991. “Hora da Divulgação
Espírita”, cap. 28, p. 127-8.11KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. 80.
ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. XXVII,
item 303, p. 424.12Sobre o “Processo dos Espíritas”, con-
sulte a obra com o mesmo título, de Ma-
dame P.-G. Leymarie. (Resumo em portu-
guês por Hermínio C. Miranda). 3. ed. Rio
de Janeiro: 1999. p. 32.13KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. 80.
ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. XXVII,
item 303, p. 424.
20 Reformador • Abr i l 2008113388
Leymarie: acusado injustamenteno caso das “fotografias
espíritas” relatado no livroProcesso dos Espíritas
reformador Abril 2008 - a.qxp 22/4/2008 11:00 Page 20
21Abr i l 2008 • Reformador 113399
Esf lorando o EvangelhoPelo Espírito Emmanuel
“Pregando o Evangelho do reino e curando
todas as enfermidades.”
(MATEUS, 9:35.)
Socorre ati mesmo
ura a catarata e a conjuntivite, mas corrige a visão espiritual de teus olhos.
Defende-te contra a surdez, entretanto, retifica o teu modo de registrar
as vozes e solicitações variadas que te procuram.
Medica a arritmia e a dispnéia, contudo, não entregues o coração à impul-
sividade arrasadora.
Combate a neurastenia e o esgotamento, no entanto, cuida de reajustar as
emoções e tendências.
Persegue a gastralgia, mas educa teus apetites à mesa.
Melhora as condições do sangue, todavia, não o sobrecarregues com os resíduos
de prazeres inferiores.
Guerreia a hepatite, entretanto, livra o fígado dos excessos em que te comprazes.
Remove os perigos da uremia, contudo, não sufoques os rins com os venenos de
taças brilhantes.
Desloca o reumatismo dos membros, reparando, porém, o que fazes com teus
pés, braços e mãos.
Sana os desacertos cerebrais que te ameaçam, todavia, aprende a guardar a mente
no idealismo superior e nos atos nobres.
Consagra-te à própria cura, mas não esqueças a pregação do Reino Divino aos
teus órgãos. Eles são vivos e educáveis. Sem que teu pensamento se purifique e sem
que a tua vontade comande o barco do organismo para o bem, a intervenção dos
remédios humanos não passará de medida em trânsito para a inutilidade.
C
Fonte: XAVIER, Francisco C. Pão nosso. Ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 51, p. 115-116.
reformador Abril 2008 - a.qxp 22/4/2008 11:00 Page 21
e que maneira podeo Espiritismo contri-buir para o progresso?
Destruindo o materialismo,que é uma das chagas da socieda-de, ele faz que os homens compre-endam onde se encontram seusverdadeiros interesses.[...]”
Esta foi a resposta recebida porKardec, daquela que se tornou apergunta 799 de O Livro dos Es-píritos.
A preocupação dos Espíritossuperiores estava bem fundamen-tada, pois era o reflexo de uma si-tuação alarmante que dominavatodo o mundo civilizado no mea-do do século XIX.
Decepcionados com as amarrasdescabidas, criadas pelos dogmasestabelecidos pela religião oficial,filósofos e pensadores realizavamuma revisão geral no pensamentohumano, influenciando cientistas,políticos, artistas, e significativaparcela da população.
Entretanto, a transformaçãoque se operava, quase sempre, serevestia do radicalismo dos quese frustraram com os efeitos develhos paradigmas que se rompiamtão tardiamente.
Assim, as idéias materialistasganhavam força em todas as so-ciedades, e o homem se aprofun-dava no egoísmo social.
Os Espíritos superiores conhe-ciam bem o caminho que seguiriaa Humanidade caso fosse condu-zida unicamente pela motriz dasidéias materialistas. Na Antigüi-dade, no início do primeiro milê-nio, o imperador Otávio Augustotransformara a sua capital, Roma,na “Cidade de Mármore”, expres-são máxima do domínio da maté-ria, que terminou por prenunciara derrocada dos valores humanos,levando o mundo a viver a cha-mada Idade das Trevas.
Mil e oitocentos anos depois, omomento histórico suscitava preo-cupações. Muitas eram as opiniõesque surgiram apregoando a supre-macia da matéria. Por não com-preenderem a essência da ação edo pensamento divinos, muitos in-telectuais optavam por ignorar asopiniões que conduzissem à espi-ritualização da Humanidade.
Independentemente dos bene-fícios que possam ter sido obtidoscom os novos conceitos que re-volucionaram o pensamento de
então – que, algumas vezes, trou-xeram inegáveis benefícios sociais–, as doutrinas materialistas pro-vocaram muito mais estragos doque melhoramentos para a vidaem sociedade.
Coube a Kardec intermediar arevelação de uma Nova Luz, o ro-teiro para a libertação moral e in-telectual da Humanidade, enfei-xado em O Livro dos Espíritos.Era a reação espiritual a tantasmensagens materialistas e ime-diatistas que desviavam o homemde seu caminho natural e acaba-riam por conduzi-lo em meio apesados fardos sociais, provo-cando profundas diferenças queresultaram na miséria moral ematerial.
Passados cento e cinqüenta anosdesde a publicação da obra básicado Espiritismo, o roteiro perma-nece oculto à grande maioria da-queles que buscam explicações pa-ra a vida e para a ineficaz procurapela felicidade terrena. Cabe a nósespíritas tornar amplamente co-nhecido este Divino Roteiro, nãosomente compartilhando as ver-dades ali contidas, mas, essencial-mente, vivenciando-as.
A identidade histórica de
O Livro dos Espíritos
“DLI C U RG O SOA R E S D E LAC E R DA FI L H O
22 Reformador • Abr i l 2008114400
reformador Abril 2008 - b.qxp 22/4/2008 11:17 Page 22
O Conselho Espírita Interna-cional (CEI) promoveu, nos dias15, 16 e 17 de fevereiro, eventodesdobrado em algumas ativida-des na sede do Centro de Estu-dos Espíritas Allan Kardec, emWinterthur, Suíça, com apoio daUnião Espírita Alemã e da Uniãodos Centros de Estudos Espíritasna Suíça.
Houve reunião da ComissãoExecutiva do CEI, quando foramtratados assuntos e planos deação, como definições para o 6o
Congresso Espírita Mundial queocorrerá nos dias 9 a 14 de outu-bro de 2010, em Valencia, Es-panha, tendo como tema central“Somos Espíritos Imortais”.
Durante o dia16 realizou-seseminário so-bre Ativida-des Doutri-nárias e Ad-ministrati-vas dos Cen-tros Espíri-tas, desenvol-vido por Nes-tor João Masotti,Antonio CesarPerri de Carvalhoe Charles Kempf,tendo como pú-blico-alvo os dirigentes e colabo-radores de instituições, especial-mente dos países de idioma ale-
mão, com o com-parecimento
de setentacompanhei-ros da Suí-ça, Alema-nha, Áus-tria, Bélgi-
ca, Françae Luxembur-
go. Na opor-tunidade, o CEIlançou obras desua edição emidioma alemão:O Livro dos Espí-
ritos (Das Buch der Geister) e NossoLar (Nosso Lar. Eine spirituelleHeimat).
em alemão eLançamento de livros
O secretário do CEI, faz a entregado livro em alemão ao lado de
Josef Jackulak, da Áustria
Seminário na Suíça
Membros da Comissão Executiva do Conselho Espírita Internacional. Da esquerda para a direita: Nestor João Masotti, Charles Kempf, Vitor Mora Féria, Salvador Martín,
Elsa Rossi, Jean-Paul Évrard, Olof Bergman e Antonio Cesar Perri de Carvalho
23Abr i l 2008 • Reformador 114411
reformador Abril 2008 - b.qxp 22/4/2008 11:17 Page 23
24 Reformador • Abr i l 2008114422
aí, para realizar a jornadahabitual entre as criaturashumanas.
A cidade encantadora banha-va-se na rutilante luz do Sol.
Tudo era beleza e encantamento,muito diferente de quando as som-bras da noite a vestem de trevas.
Nessa ocasião noturna, os po-rões da miséria vomitam os seusresidentes nas ruas e praças para asobrevivência através da prática docrime e da hediondez, como algozesou sofredores transformados emvítimas das circunstâncias aziagas.
Diante da luz e da movimenta-ção contínua dos transeuntes, novaivém das suas necessidades edeveres, dos veículos apressados,os réprobos das sombras pare-ciam calmos e quase não chama-vam a atenção.
Alegre, encaminhei-me na dire-ção de uma praça famosa, para con-
templar as árvores frondosas e sen-tir o aroma das flores perfumadas.
Repentinamente, fui sacudidapelo vozerio de altercação, de gar-galhadas e zombarias estridentes.
Acorri, precípite, na direção dabalbúrdia, estacando de chofre an-te o espetáculo deprimente.
Jovens maltrapilhos molesta-vam um homem atormentado pe-la alienação mental, esbordoan-do-o e ferindo-o, ao tempo em queo agrediam também moralmente.
O infeliz gritava, tentava reagir,perdendo para os agressores queeram mais numerosos.
As pessoas seguiam o seu ru-mo, indiferentes, e algumas mur-muravam, coléricas:
– Todo dia é assim, a mesmacoisa. Onde anda a polícia quenão toma providências?
Outras afastavam-se, resmun-gando pragas.
Ninguém, que se acercasse dosofredor.
Eu, porém, que sou a caridade,envolvi o alucinado com os meusbraços e arrastei-o comigo na di-reção das árvores protetoras.
Ninguém me viu o gesto, nemele mesmo. Na sua aflição, ele re-lutava, exasperado, desejando fi-car para o enfrentamento.
Mas eu lhe balbuciei aos ouvi-dos, porque aquele era o meu mo-mento sublime:
– Venha comigo! Você estaráem segurança.
Os perseguidores, saciados nasua sanha covarde, deixaram-no,sem o seguirem.
Sentei-o sob um formoso ipêroxo, arrebentando-se de flores,enquanto ele, acalmando-se, to-mou de uma delas que estava nochão, examinou-a, e falou-lhe bai-xinho: – Também você parece terapanhado bastante até ficar dessacor, não é verdade?...
...E sorriu, na sua insânia.
Cinqüentenário do
Lar Fabiano de CristoNo dia 6 de janeiro deste ano comemorou-se o Cinqüentenário do Lar Fabiano
de Cristo. Orientada pela Espiritualidade desde a origem, a instituição tornou-sereferência em serviço social, sendo reconhecida pela UNESCO como órgão de educação básica. Atende diariamente a mais de 50.000 pessoas e, através
de convênios de complementação, a mais de 30.000 irmãos carentes. Dentro dos festejos de tão relevante efeméride, manifestaram-se os venerandos Espíritos
Cárita e Fabiano de Cristo, através das mensagens aqui reproduzidas
Momento sublime
S
reformador Abril 2008 - b.qxp 22/4/2008 11:17 Page 24
Foi então, que o acariciei comternura, enquanto ele, balançan-do-se, repetia o que eu lhe trans-mitia à mente:
– Com caridade, no mundo ésempre primavera e todos se tor-nam felizes.
Cárita
(Página psicografada pelo médium Dival-
do Pereira Franco, na sessão mediúnica
da noite de 7 de janeiro de 2008, no Cen-
tro Espírita Caminho da Redenção, em
Salvador, Bahia.)
25Abr i l 2008 • Reformador 114433
A caridade e o amoror mais se busquem defini-ções exatas, serão sempre in-suficientes para traduzir toda
a grandeza da caridade e do amor.A caridade é constituída de es-
sência divina, enquanto o amor éa força que a mantém no sublimeministério a que se dedica.
Antes do amor não existia aCriação, porque, exteriorizando--se de Deus, gerou o Universo.
A caridade seguiu-lhe em pós,trabalhando em favor da harmoniae do progresso, no rumo da perfei-ção relativa que será alcançada.
A caridade ilumina a consciên-cia humana e o amor dá-lhe re-sistência para conduzir todos osseres.
A caridade aplaina os cami-nhos por onde transitam os quesofrem e deixa ao amor a tarefa deos resguardar do mal.
A caridade abraça o desesperoe o amor o acalma.
Se não houvesse a caridade deJesus no mundo, o Seu amor nãoconseguiria sustentar a esperançade felicidade.
A caridade diminui as distân-
P
cias entre as criaturas por maisdiferentes que sejam. O amor une--as indefinidamente.
Quando a caridade se fragiliza,a fé se desestrutura pela falta docombustível do amor.
Enquanto houver o sentimentode caridade, o amor triunfará so-bre a inferioridade humana.
É o amor, na sua mais elevadaqualidade, que se transforma emcaridade.
O amor arrebanha a infância ea caridade a ampara, educando-a.
O amor envolve o adulto emternura, a fim de que a caridade odignifique para a vida.
O amor enternece-se junto aoidoso e a caridade socorre-o emtodas as dificuldades.
O amor afaga o enfermo e pre-para-o para a caridade que o re-cupera.
O amor do Pai Criador não de-seja a morte do pecador e a cari-dade vence nele o pecado.
Enquanto o amor de Jesus per-manecer nos corações, a caridadeinstalará uma sublime primaveraem todas as vidas.
Amor e caridade são manifes-tações perenes de Deus nas traje-tórias de todos os seres.
Ama sempre, nunca olvidando acaridade libertadora, que verte dosCéus em favor da Humanidade.
Fabiano de Cristo
(Página psicografada pelo médium Dival-
do Pereira Franco, na sessão mediúnica
da noite de 7 de janeiro de 2008, no
Centro Espírita Caminho da Redenção,
em Salvador, Bahia.)
O Lar Fabiano de Cristo tornou-se referência em serviço social
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reformador Abril 2008 - b.qxp 22/4/2008 11:17 Page 25
26 Reformador • Abr i l 2008114444
m 1858, por iniciativa deAllan Kardec – o Codifica-dor do Espiritismo –, surgi-
ram a Revista Espírita, tradicionalpublicação por ele dirigida até suadesencarnação em 1869 e aindaem circulação em vários idiomas,e a Sociedade Parisiense de Estu-dos Espíritas (SPEE), o primeiroCentro Espírita do Planeta.
Foi em janeiro daquele ano, con-forme expressa o próprio Kardecem nota publicada posteriormen-te em Obras Póstumas,1 Segundaparte, com o título “A Revista Es-pírita”, em anotação de 15 de no-vembro de 1857:
NOTA – Apressei-me a redigir
o primeiro número e fi-lo circular
a 1o de janeiro de 1858, sem haver
dito nada a quem quer que fosse.
Não tinha um único assinante e
nenhum fornecedor de fundos.
Publiquei-o correndo eu, exclusi-
vamente, todos os riscos e não tive
de que me arrepender, porquanto
o resultado ultrapassou a minha
expectativa. A partir daquela data,
os números se sucederam sem in-
terrupção e, como previa o Es-
pírito, esse jornal se tornou um
poderoso auxiliar meu. Reconhe-
ci mais tarde que fora para mim
uma felicidade não ter tido quem
me fornecesse fundos, pois assim
me conservara mais livre, ao pas-
so que outro interessado houve-
ra querido talvez impor-me suas
idéias e sua vontade e criar-me
embaraços. Sozinho, eu não tinha
que prestar contas a ninguém,
embora, pelo que respeitava ao
trabalho, me fosse pesada a tarefa.
Já a Sociedade Parisiense de Es-tudos Espíritas foi fundada em 1o deabril de 1858. Também de ObrasPóstumas,1 com o título “Fundaçãoda Sociedade Espírita de Paris”,com anotação na mesma data de 1o
de abril, extraímos parcialmente:
Havia cerca de seis meses, eu
realizava, em minha casa, à rua
dos Mártires, uma reunião com
alguns adeptos, às terças-feiras.
A Srta. E. Dufaux era o médium
principal. Conquanto o local
não comportasse mais de 15 ou
20 pessoas, até 30 lá se juntavam
às vezes. Apresentavam grande
interesse tais reuniões, pelo ca-
ráter sério de que se revestiam e
pelas questões que ali se trata-
vam. Lá não raro compareciam
príncipes estrangeiros e outras
personagens de alta distinção.
....................................................
A Sociedade ficou, em conse-
qüência, legalmente constituída
e passamos a reunir-nos todas
as terças-feiras no comparti-
mento que ela alugara, no
Palais Royal, galeria de Valois.
Aí esteve um ano, de 1o de abril
de 1858 a 1o de abril de 1859.
Não tendo permanecido lá por
mais tempo, entrou a reunir-se
às sextas-feiras num dos salões
do restaurante Douix, no mes-
mo Palais Royal, galeria Mont-
pensier, de 1o de abril de 1859 a
1o de abril de 1860, época em
que se instalou num local seu, à
rua e passagem Sant’Ana, 59.
Sociedade Espírita de ParisRevista Espírita e
EOR S O N PE T E R CA R R A R A
Galeria de Valois
reformador Abril 2008 - b.qxp 22/4/2008 11:17 Page 26
Formada a princípio de ele-
mentos pouco homogêneos e
de pessoas de boa vontade, que
eram aceitas com facilidade um
tanto excessiva, a Sociedade se
viu sujeita a muitas vicissitudes,
que não foram dos menores
percalços da minha tarefa.
As duas ocorrências, pois, com-pletam 150 anos em 2008. Motivode júbilo para a família espíritamundial, pelo significado de am-bas. A Revista Espíritaconstitui extraordiná-ria publicação que oCodificador transfor-mou num verdadeirolaboratório, em queseus relatos e experiên-cias têm muito a ensi-nar. Publicada sob suaresponsabilidade dire-ta até sua desencarna-ção, e ainda em circu-lação, a Revue é des-conhecida da maioriados espíritas, que nãoimaginam o tesouroque se encontra à disposição paraseus estudos e reflexões. Trata-se deuma coleção (de 1858 a 1869) pa-ra permanentes pesquisas, a qual foipublicada no Brasil, primeiramen-te, pela Edicel, depois pelo Institutode Divulgação Espírita (IDE), Ara-ras (SP), e recentemente a Federa-ção Espírita Brasileira (FEB) a pu-blicou em primorosa encaderna-ção, traduzida por Evandro NoletoBezerra.
A Sociedade Parisiense de Es-tudos Espíritas, o primeiro núcleoespírita do Planeta, alvo de lutas e
dificuldades internas, transformou--se, assim como a Revue, num im-portante foco de experiências pa-ra amadurecimento das idéias eno intercâmbio entre os espíritas.
As duas datas históricas incen-tivam o estudo e o conhecimentoespírita, mas, sobretudo, o envolvi-mento de todos nós, com mais com-prometimento e dedicação à divul-gação e à vivência do Espiritismo.
Já que falamos uma vez mais emjúbilos de sesquicentenário2, utili-
zando trechos de Obras Póstumas,acima transcritos, importante quevoltemos nossa atenção aos esfor-ços do Codificador. Suas impor-tantes e sempre oportunas conside-rações e argumentos, tão fartamen-te encontrados na Codificação, sur-gem também em Obras Póstumas,com detalhes impressionantes desuas lutas, nas anotações pessoais,deixadas para a posteridade. E nós,os espíritas da atualidade, com tão
ricos conteúdos à disposição, po-deremos encontrar muitos temaspara apuradas reflexões, tais co-mo se encontram na citada obra.
A genialidade do Codificador,tão bem expressa no seu alto bomsenso e discernimento, sua clare-za e lucidez, ao lado da manifestabondade da alma, entusiasma pe-la grande capacidade de síntese eintelecto perfeitamente ajustadoà íntegra moral, ofertando textosque encantam pela profundidadedas argumentações.
Alegremo-nos, portanto, porser contemporâneosdessa expressiva efemé-ride do Sesquicente-nário, agora em 2008,das expressivas ocor-rências da fundaçãoda Revista Espírita e daSociedade Parisiensede Estudos Espíritas,num autoconvite paracontinuarmos estudan-do e nos esforçando in-tensamente pelo pro-gresso individual, ta-refa prioritária da pre-sença do Espiritismo naTerra.
Referências:1Vale recordar que o livro Obras póstu-
mas reúne estudos e anotações de Allan
Kardec e foi publicado em 1890, portan-
to, após sua desencarnação, em 1869.2Em 2007 foram comemorados os 150 anos
de publicação de O livro dos espíritos.
Nota do autor: As transcrições foram ex-
traídas do CD-ROM – A Codificação – Os
Livros Básicos da Doutrina Espírita, edi-
ção da Federação Espírita Brasileira.
27Abr i l 2008 • Reformador 114455
Galeria Montpensier
Passagem Sainte-Anne, 59
reformador Abril 2008 - b.qxp 22/4/2008 11:18 Page 27
prestigiosa Associação In-ternacional para o Estudoda Dor (International Asso-
ciation for the Study of Pain-IASP),localizada em Seattle-WA, nos Es-tados Unidos, um dos mais impor-tantes fóruns do Planeta especiali-zado em ciência, prática médica eeducação no campo da dor, defi-niu 2008 como o “Ano Mundialcontra as Dores em Mulheres”.Trata-se de uma campanha quetem como finalidade analisar oconsiderável impacto das dorescrônicas nas mulheres e definirtratamentos e condutas clínicasmais eficazes. A Campanha tem ra-zão de ser, informa Troels S. Jen-sen, médico e atual presidente daIASP, professor de pesquisa clínicae experimental sobre a dor, da Uni-versidade de Aarhus, em Aarhus,Dinamarca: “As dores crônicas afe-tam uma proporção maior demulheres que de homens, mas in-felizmente elas têm menos proba-bilidade de receber tratamento emcomparação com os homens”.1
A IASP desenvolverá intensaprogramação ao longo do ano em
diversas nações, promovendo am-pla discussão sobre o assunto peloenvolvimento de cientistas, médi-cos, psicólogos, odontólogos, en-fermeiras, fisioterapeutas, farma-cêuticos, professores, pesquisado-res, estudantes e outros profissio-nais da saúde. O evento maisaguardado é o Congresso Mun-dial sobre a Dor (12th World Con-gress on Pain), a ser realizado en-tre 17 e 22 de agosto na cidade deGlasgow, Escócia.2
Dor física, segundo definiçãoda IASP, é uma “[...] experiênciasensitiva e emocional associada auma lesão real ou potencial nostecidos. Assim, a dor inclui nãosó a percepção de um estímulodesconfortável, mas também aresposta àquela percepção”.3 ParaLéon Denis “a dor é uma lei deequilíbrio e educação”.4 Esclarecetambém:
A dor e o prazer são duas for-
mas extremas da sensação. Pa-
ra suprimir uma ou outra se-
ria preciso suprimir a sensibi-
lidade. [...]
A dor física produz sensações;
o sofrimento moral produz
sentimentos. [...]
O prazer e a dor estão, pois,
muito menos nas coisas exter-
nas do que em nós mesmos; in-
cumbe, pois, a cada um de nós,
regulando suas sensações, disci-
plinando seus sentimentos, do-
minar umas e outras e limitar-
-lhes os efeitos.5
As principais manifestações dador física são: a) neuropática – ca-racterizada por alguma anomalianas vias nervosas; b) pós-operató-ria – dor intermitente, que se agra-va com a movimentação do doen-te; c) cancerígena – presente noscânceres, porém variável conformea intensidade e o tipo do tumor;d) psicogênica – relacionada a de-sarmonias psicológicas nas quaisnão se identifica lesão física corres-pondente. Denis acrescenta que,independentemente do tipo ou daintensidade de manifestação da dorfísica, ela sempre indica “[...] umaviso da Natureza, que procurapreservar-nos dos excessos. [...]”6
28 Reformador • Abr i l 2008114466
A
Em dia com o Espiritismo
A dor físicaMA RTA AN T U N E S MO U R A
reformador Abril 2008 - b.qxp 22/4/2008 11:18 Page 28
Sem intenção de fazer apologiada dor e mesmo não desconhecen-do a existência de conteúdos dou-trinários que extrapolam o sig-nificado espírita, percebe-se que oprocesso educativo do sofrimentofunciona como agente estimuladordo progresso espiritual, uma vezque – analisa Kardec – se “[...] todaimperfeição é fonte de sofrimento,o Espírito deve sofrer não somentepelo mal que fez como pelo bemque deixou de fazer na vida terres-tre”.7 À luz do entendimento espírita,Emmanuel fecha a questão ao apre-sentar a explicação que se segue.
Podemos classificar o sofrimen-
to do espírito como a dor-reali-
dade e o tormento físico, de
qualquer natureza, como a dor-
-ilusão.
Em verdade, toda dor física co-
lima o despertar da alma para
os seus grandiosos deveres, seja
como expressão expiatória, co-
mo conseqüência dos abusos
humanos, ou como advertência
da natureza material ao dono
de um organismo.
Mas, toda dor física é um fenô-
meno, enquanto que a dor mo-
ral é essência.
Daí a razão por que a primeira
vem e passa, ainda que se faça
acompanhar das transições de
morte dos órgãos materiais, e só
a dor espiritual é bastante gran-
de e profunda para promover o
luminoso trabalho do aperfei-
çoamento e da redenção.8
A ocorrência da dor indica,pois, manifestação da lei de cau-
sa e efeito, embora nem todo so-frimento esteja relacionado a atoscometidos em existências pretéri-tas. Pode ser conseqüência deações praticadas na atual existên-cia, conforme esta esclarecida in-formação de Kardec:
Quantos homens caem por sua
própria culpa! Quantos são ví-
timas de sua imprevidência, de
seu orgulho e de sua ambição?
Quantos se arruínam por falta
de ordem, de perseverança, pelo
mau proceder, ou por não terem
sabido limitar seus desejos! 9
A Ciência considera que o es-tado doloroso é influenciadopor uma série de fatores: fisioló-gicos, mentais, psicológicos, emo-cionais, sociais e culturais. Admiteque todas essas interações são di-nâmicas e estão em constante mu-dança. “Assim, a dor que é per-cebida como de certa intensi-dade numa ocasião pode, emoutra ocasião, ser per-cebida como menosou mais intensa,embora todosos demais fato-res sejam, apa-rentemente, osmesmos.”3
A experiência espírita não ig-nora tal assertiva. A situação se re-pete entre pessoas portadoras deprofundas dores ou sofrimentos,produzidos por enfermidades ex-piatórias, que buscam auxílio naCasa Espírita. Nos contatos ini-ciais, elas se revelam profunda-mente infelizes, sofridas, amargu-radas, desesperançadas. Com opassar do tempo, se o enfermopersiste em seguir as prescrições
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reformador Abril 2008 - b.qxp 22/4/2008 11:18 Page 29
médicas e as orientações espíritas,o quadro geral da doença modifi-ca-se, em razão da renovação men-tal, emocional e espiritual ocorri-da, como também devida à atua-ção misericordiosa dos benfeito-res espirituais, importa destacar.
A compreensão espírita dascausas e dos mecanismos da dorrepresenta oportunidade de rea-justamento do necessitado peran-te a Lei de Deus. O aproveitamen-to das lições oferecidas pela dormodifica-lhe a maneira de pensar,falar e agir, fazendo com que setorne pessoa mais reflexiva, calmae paciente. Aprende a suportar osofrimento, age com certo grau deestoicismo. Passa, então, a serguiada por uma força moral, quedesconhecia possuir, própria dosque revelam predominância doEspírito sobre a matéria.
Mesmo que a doença não sejadebelada, ainda que surjam diasamargos, exigindo dose extra de sa-crifício, tais companheiros não seentregam.“Arrastam-se” até o Cen-tro Espírita para receber os ele-mentos renovadores da fé e da es-perança, momentaneamente abala-dos. Mantêm-se sintonizados comos planos vibratórios superiores,pelos fios invisíveis da prece, deonde recebem o acréscimo de co-ragem necessário para prossegui-rem na sua luta provacional.
Concluída a existência física,são recebidos como vencedores noalém-túmulo. Os seus exemplosserão apontados como a referên-cia de indivíduos que souberamredimensionar a caminhada evo-lutiva, pela dor. A partir daí, o pro-gresso continuará incessante paraeles. A recompensa pelos seus es-forços não tarda a chegar, pois“[...] Deus limpará de seus olhostoda lágrima, e não haverá maismorte, nem pranto, nem clamor,
nem dor, porque já as primeirascoisas são passadas”, ensina o após-tolo João. (Apocalipse, 21:4.)
Referências:1INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR THE
STUDY OF PAIN (IASP). Declares the Glo-
bal Year Against Pain in Women.
htth://www.medicalnewstoday.com/arti-
cles/85593.php212TH WORLD CONGRESS ON PAIN.
http://www.iasppainorg//AM/Template.
cfm? Section=Home3DAVIS, F. A Dicionário médico enciclopé-
dico taber. Tradução de Fernando Gomes
do Nascimento. 1. ed. brasileira (17. ame-
ricana). São Paulo: Manole, 2000. p. 529.4DENIS, Léon. O problema do ser, do des-
tino e da dor. Rio de Janeiro: FEB, 2007.
Terceira parte, cap. XXVI, p. 520.5Idem, ibidem. p. 520-521.6Idem, ibidem. p. 527.
7 KARDEC, Allan. O céu e o inferno. 60. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 2007. Primeira parte,
cap. VI, item Código penal da vida futura,
6o código.8XAVIER, Francisco Cândido. O consola-
dor. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 2007. Questão 239.9KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
espiritismo. 127. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2007. Cap. V, item 4.
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passagem acima citada dizrespeito ao encontro damulher de Samaria com
Jesus. A samaritana indaga quan-to ao verdadeiro local de adoraçãoa Deus, se no monte Gerazim (Sa-maria) ou, ao contrário, no mon-te Sião (Jerusalém). O Mestrelhe responde, todavia, queos verdadeiros adoradoresadoram a Deus em espí-rito e verdade, não empontos geográficos fixos.
Com o Cristo, trans-portam-se as montanhassagradas, da tradição bí-blica, para o interior daalma. Assim, haverá umsantuário espiritual erguidoao Criador em todos os lugaresda Terra onde estiver presente umespírito sincero e fervoroso, vistoque a adoração terá lugar portasadentro do coração.
A fé transporta montanhas.Mudando o enfoque, urge re-
conhecer que a edificação do“Reino de Deus” representa ver-
dadeira obra divina a desdobrar--se, também, no coração dos se-res. No entanto, não raro, exige
trabalhos ingentes, inúmeros sa-crifícios e lutas acerbas, decorren-tes do esforço de superação dasnossas deficiências íntimas.
Desse modo, com o propósitode debelar o pessimismo, o de-
sânimo, a incerteza, a hesitação,Jesus nos ensina que: “[...] se
tiverdes fé como um grãode mostarda, direis a estamontanha: transporta-tedaqui para lá, e ela setransportará, e nada vosserá impossível”.2
A fé “é força que nas-ce com a própria alma,
certeza instintiva na Sa-bedoria de Deus que é a
sabedoria da própria vida[...]”,3 não obstante as adversi-
dades de cada dia. Consoante oensino de Emmanuel:
31Abr i l 2008 • Reformador 114499
A
História da Era ApostólicaA fé transporta montanhas
HA RO L D O DU T R A DI A S
Cristianismo Redivivo
“Acredita-me, mulher, vem a hora em que nem nesta montanha nem em Jerusalémadorareis o Pai [...] Mas vem a hora – e é agora – em que os verdadeiros
adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade.”1
1Bíblia de Jerusalém. 3. ed. São Paulo:PAULUS, 2004. João, 4: 21-24, p. 1851.
2Idem, ibidem. Mateus, 17: 20, p. 1735.3XAVIER, Francisco C. Pensamento e
vida. Pelo Espírito Emmanuel. 17. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 6, p. 32.
Jesus e a mulher samaritana
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Ter fé é guardar no coração a
luminosa certeza em Deus, cer-
teza que ultrapassou o âmbito
da crença religiosa, fazendo o
coração repousar numa energia
constante de realização divina
da personalidade.
Conseguir a fé é alcançar a pos-
sibilidade de não mais dizer:
“eu creio”, mas afirmar: “eu
sei”, com todos os valores da
razão tocados pela luz do sen-
timento. Essa fé não pode es-
tagnar em nenhuma circuns-
tância da vida e sabe trabalhar
sempre, intensificando a am-
plitude de sua iluminação, pe-
la dor ou pela responsabilida-
de, pelo esforço e pelo dever
cumprido.
Traduzindo a certeza na assis-
tência de Deus, ela exprime a
confiança que sabe enfrentar
todas as lutas e problemas, com
a luz divina no coração, e sig-
nifica a humildade redentora
que edifica no íntimo do espí-
rito a disposição sincera do dis-
cípulo, relativamente ao “fa-
ça-se no escravo a vontade do
Senhor”.4
Sensível aos desafios que o pro-gresso espiritual apresenta, AllanKardec asseverou:
[...] As montanhas que a fé
desloca são as dificuldades, as
resistências, a má vontade, em
suma, com que se depara da
parte dos homens, ainda quan-
do se trate das melhores coi-
sas. Os preconceitos da rotina,
o interesse material, o egoís-
mo, a cegueira do fanatismo
e as paixões orgulhosas são
outras tantas montanhas que
barram o caminho a quem
trabalha pelo progresso da
Humanidade.[...]5
A fé transporta montanhas.Noutro giro, consultando o di-
cionário constata-se que o vocá-bulo “fé” cobre um amplo espec-tro de significados, tais como:“[...] confiança absoluta (em al-guém ou algo); [...] crédito, [cre-dibilidade] (um homem dignode fé); [...] asseveração, afirma-ção, comprovação de algum fato;[...] compromisso assumido deser fiel à palavra dada, de cum-prir exatamente o que se prome-teu”.6 (Destaque do autor.)
A palavra “fé” é utilizada paratraduzir, na Bíblia hebraica (Ve-lho Testamento), o radical “aman”(confirmar, sustentar; estabele-cer-se; ser fiel; estar certo, crerem), bem como os seus deriva-dos, em especial, os termos“omen” (verdade, fidelidade) e“emuna” (firmeza, fidelidade).
Vê-se que, no âmago dos sig-nificados dessa raiz, está a idéia
de certeza, mas também o senti-do de “ser fiel” (2 Crônicas 19:9).
Por sua vez, no Novo Testa-mento, utiliza-se o vocábulo “fé”para traduzir a expressão grega7
“pistis” (fé, confiança depositadanas pessoas ou nos deuses), e es-pecialmente seu derivado “topiston” (confiabilidade ou fideli-dade daqueles que se obrigampor um contrato).
Nesse ponto, Humberto deCampos vem em nosso socorro,reproduzindo belíssimo diálogode Jesus com os discípulos:
– Na causa de Deus, a fidelidade
deve ser uma das primeiras vir-
tudes. Onde o filho e o pai que
não desejam estabelecer, como
ideal de união, a confiança in-
tegral e recíproca? Nós não po-
demos duvidar da fidelidade
do nosso Pai para conosco. Sua
dedicação nos cerca os espíri-
tos, desde o primeiro dia. Ain-
da não o conhecíamos e já Ele
nos amava. E, acaso, podere-
mos desdenhar a possibilidade
de retribuição? Não seria repu-
diarmos o título de filhos amo-
rosos, o fato de nos deixarmos
absorver no afastamento, favo-
recendo a negação?
...................................................
[...] É certo que as forças destrui-
doras reclamarão a indiferença
e a submissão do filho de Deus;
4XAVIER, Francisco C. O consolador. PeloEspírito Emmanuel. 27. ed. Rio de Janeiro:FEB, 2007. Questão 354.
5KARDEC, Allan. O Evangelho segundo oEspiritismo. 127. ed. Rio de Janeiro: FEB,2007. Cap. XIX, item 2.
6HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro deSalles; FRANCO, Francisco M. M. Dicio-nário Houaiss da língua portuguesa. 2. ed.Rio de Janeiro: OBJETIVA, 2007. p. 1317.
7Todos os manuscritos do Novo Testa-mento, encontrados e catalogados até opresente momento, estão redigidos nalíngua grega, excetuando-se os manuscri-tos referentes às diversas traduções dessemesmo texto.
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mas, o filho de coração fiel a seu
Pai se lança ao trabalho com per-
severança e boa vontade. Entra-
rá em luta silenciosa com o meio,
sofrer-lhe-á os tormentos com
heroísmo espiritual, por amor do
Reino que traz no coração plan-
tará uma flor onde haja um espi-
nho; abrirá uma senda, embora
estreita, onde estejam em con-
fusão os parasitos da Terra; ca-
vará pacientemente, buscando as
entranhas do solo, para que sur-
ja uma gota d’água onde quei-
me um deserto. Do íntimo desse
trabalhador brotará sempre um
cântico de alegria, porque Deus
o ama e segue com atenção.8
Munidos de fé sincera estare-mos em condições de atravessaresses difíceis momentos de transi-ção do orbe terrestre, bem comotriunfar nas provas e expiações,rumo à iluminação espiritual.
É preciso procurar “[...] aságuas vivas da prece para lenir ocoração, mas não nos esqueçamosde acionar os nossos sentimentos,raciocínios e braços, no progressoe aperfeiçoamento de nós mes-mos, de todos e de tudo, compre-endendo que Jesus reclama obrei-ros diligentes para a edificação deseu Reino em toda a Terra”.9
A fé transporta montanhas.
8XAVIER, Francisco C. Boa nova. PeloEspírito Humberto de Campos. 3. ed.especial. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 6,p. 49-50 e 53-54.
9XAVIER, Francisco C. Fonte viva. PeloEspírito Emmanuel. 36. ed. Rio de Janeiro:FEB, 2007. Cap. 69, p. 180-181.
33Abr i l 2008 • Reformador 115511
Fonte: XAVIER, Francisco C. Ceifa de luz. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007.Cap. 38.
Fé e cultura
ndubitavelmente, nem sempre a fé acompanha a expansão da cultura,tanto quanto nem sempre a cultura consegue altear-se ao nível da fé.
Um cérebro vigoroso pode elevar-se a prodígios de cálculo oudestacar-se nos mais entranhados campos da emoção, portas aden-tro dos valores artísticos, sem entender bagatela de resistência mo-ral diante da tentação ou do sofrimento. De análogo modo, um co-ração fervoroso é suscetível das mais nobres demonstrações de he-roísmo perante a dor ou da mais alta reação contra o mal, paten-teando manifesta incapacidade para aceitar os imperativos da per-quirição ou dos requisitos do progresso.
A Ciência investiga.A Religião crê.Se não é justo que a Ciência imponha diretrizes à Religião, in-
compatíveis com as suas necessidades do sentimento, não é razoá-vel que a Religião obrigue a Ciência à adoção de normas inconci-liáveis com as suas exigências do raciocínio.
Equilíbrio ser-nos-á o clima de entendimento, em todos osassuntos que se relacionem à Fé e à Cultura, ou estaremos sempreameaçados pelo deserto da descrença ou pelo charco do fanatismo.
Auxiliemo-nos mutuamente.Na sementeira da fé, aprendamos a ouvir com serenidade para
falar com acerto.
Diz o Apóstolo Paulo: “Acolhei o que é débil na fé, não, porém,para discutir opiniões”. É que para chegar à cultura, filha do tra-balho e da verdade, o homem é naturalmente compelido a indagar,examinar, experimentar e teorizar, mas, para atingir a fé viva, filhada compreensão e do amor, é forçoso servir. E servir é fazer luz.
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“Acolhei o que é débil na fé, não,porém, para discutir opiniões.”
– Paulo. (ROMANOS, 14:1.)
I
Emmanuel
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maior entidade internacional do Movimen-to Esperantista completa 100 anos de exis-tência em 28 deste mês, e seus membros, in-
dividuais e coletivos, disseminados por 117 países,comemoram dignamente o evento, bastante signifi-cativo, quando se trata da sustentação de um idealgrandioso, destinado à confraternização dos povos,portanto sujeito às vicissitudes que se erguem emnosso mundo contra o verdadeiro progresso, sobre-
tudo o progresso moral.Desde o surgimento
do esperanto, em ju-lho de 1887, até 1908,resultaram infrutífe-ras as iniciativas deorganização do Mo-vimento nascente.Nem mesmo a sábiae competente influên-cia do criador da lín-
gua, Lázaro Luís Zame-nhof (1859-1917), foi
suficiente para afastar ascausas de resistência dos
adeptos às tentativas de con-gregar a família esperantistaem torno de um núcleo con-
dutor e orientador. Vaidades, personalismo, interes-ses menores, entre outros, se alinhavam entre os mo-tivos dos fracassos iniciais que, ao mesmo tempo, evi-denciavam os verdadeiros fundamentos sobre os quaisse levantaria a desejada organização dos esperantistas.
Coube a um jovem suíço de apenas 21 anos a glo-riosa missão de imprimir rumo definitivo aos desti-nos do esperantismo mundial. Chamava-se HectorHodler (1887-1920) e era filho do renomado pintorFerdinand Hodler (1853-1918).
Fortemente impressionado com os conflitos nosquais o Movimento se debatia, Hodler iniciou, em1907, fecundo esforço de aglutinação de forças e, emmeio a uma das mais graves crises vividas pelos es-perantistas, convoca a todos para uma efetiva, concre-ta representação, através do periódico Esperanto, fun-dado em 1905 por Paul Berthelot (1881-1910) e tor-nado por Hodler, em 1908, órgão oficial da Associa-ção Universal de Esperanto. Mais de 100 gruposaderem ao novo e democrático sistema por ele idea-lizado, cujo principal objetivo era repelir as dispu-tas meramente teóricas em torno da língua e usá-lapraticamente a serviço dos elevados ideais a que elase propunha. Numa palavra, de acordo com EdmondPrivat (1889-1962), em sua excelente obra Historiode la Lingvo Esperanto (1900-1927) – O Movimento,lançada na Alemanha, em 1927, por Hirt & Sohn:“[...] ela [a Universala Esperanto-Asocio (UEA)] re-presentará os que usam o Esperanto, não para dis-
Jubileu centenário daAssociação Universal
de Esperanto
AAF F O N S O SOA R E S
Hector Hodler
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A FEB e o Esperanto
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cutir sobre gramática, mas para dar utilidade à lín-gua e enriquecê-la pela experiência”.
Incorporando idéias anteriormente concebidas porAlphonse Carles (?-1930) e Théophile Rousseau (1876--1916), respectivamente, a criação de cônsules e a fun-dação de escritórios esperantistas em todas as cidadesdo mundo, Hodler funda a Universala Esperanto-Asocio(UEA), cujos principais objetivos eram facilitar as rela-ções entre os homens de línguas diferentes e criar umpoderoso elo de solidariedade entre todos os adeptos.
A UEA venceu a prova do tempo, cumprindo semquaisquer desvios o seu nobre programa. Crises in-ternas e externas, duas guerras mundiais não lheabalaram os alicerces sólidos em que se assenta, con-ferindo-lhe assim rica experiência, rija têmpera e in-questionável autoridade com que pudesse ampliarsua ação em todos os continentes.
Com membros em 117 países, a UEA coordena otrabalho das associações nacionais para a divulgação
do idioma e prática do esperantismo, patrocina e or-ganiza anualmente os congressos universais de espe-ranto, mantém relações consultivas com a ONU e oUnicef e relações operacionais com a Unesco, parti-cipa das atividades do Conselho Europeu, colaboracom a Organização dos Estados Americanos (OEA)e com a União Européia, sendo ainda membro doConselho Lingüístico da Europa.
Porém, o mais precioso e fecundo patrimônio daUEA são os cerca de 2.000 adeptos que, espalhadosem quase uma centena de países, trabalham volunta-riamente como seus delegados, prestando gratuita-mente serviços à coletividade esperantista em dife-rentes campos da atividade humana.
Além da sede central em Rotterdam, Holanda(Nieuwe Binnenweg 176, NL-3015 BJ Rotterdam,Nederlando – [email protected] – www.uea.org), aUEA também mantém em Nova York seu Escritóriopara as Relações com a ONU e, em Lokossa, Benino,o Escritório Africano.
Seu prestígio é reconhecido mundialmente, tendosido proposta sua candidatura ao Prêmio Nobel daPaz para 2008, com base nas suas ações em favor daaproximação e do entendimento dos povos.
Diversas associações especializadas de esperantis-tas, incluindo-se as de caráter religioso, filiam-se, emdiferentes categorias, à UEA, que nelas vê fecundopotencial para a divulgação dos ideais esperantistas,ao mesmo tempo que, num esclarecido espírito deneutralidade positiva, lhes possibilita divulgar, atra-vés da Língua Internacional do Dr. Zamenhof, seusideais igualmente impregnados dos sentimentos defraternidade e justiça entre os povos.
Associam-se, portanto, os espíritas-esperantistas enão-esperantistas – às homenagens prestadas à Uni-versala Esperanto-Asocio no ano do seu centenário.
35Abr i l 2008 • Reformador 115533
Diretoria da UEA na abertura do 92ºCongresso Universal de Esperanto, em
Yokohama, Japão, em 2007
Fachada do prédio onde funciona a UEA, em Rotterdam
reformador Abril 2008 - b.qxp 22/4/2008 11:19 Page 35
36 Reformador • Abr i l 2008115544
s ações básicas de minhavida não são apenas resul-tado de atitudes instinti-
vas e originais. Elas foram progra-madas bem cedo, desde quandoouvi sugestões dos outros e comoas interpretei.
É evidente que os impulsos dopassado também agem no conjun-to geral de minhas manifestaçõesnesta vida, mas estou falando aquide uma nova etapa de aprendiza-
dos. Se o esquecimento das vivên-cias anteriores é necessário parareiniciar uma nova jornada, entãovou dar o devido peso ao que meacontece nesta encarnação, sem fi-car buscando a toda hora explica-ções no passado para o que meocorre agora. Se tiver de recorrer aexperiências anteriores a esta vida,propiciadas pelo conhecimento daDoutrina Espírita, o farei somentese for muito necessário.
Se sou perfeccionista em exces-so, por alguma pressão vinda de
figuras significativas como paisou educadores, posso me cobrar
exageradamente, fazendo comque a felicidade fique mais difícilde ocorrer em minha vida.
Se me comparo demais aosoutros, corro o risco de dei-
xar que surjam sentimen-tos de inferioridade. Aífica mais difícil gostarde alguma coisa quan-
do não gosto de mim.Caso permita que
me ocorram pensa-mentos típicos dequem age com ba-se no “tudo ou na-
da”, deixo-me dominar por idéiasde menos valia: de que por não sertudo que esperava alcançar, naverdade não sou nada.
Minhas palestras deixam de tero brilho que algumas pessoas per-cebem, porque, por não me acharintegralmente equilibrado e evo-luído, deixo transparecer minhacondição de “impostor”, sem qua-lidades morais para querer falarde virtudes que não possuo.
Assim, perco contato com o cin-za que há entre o branco e o preto,com o processo que caracterizatudo o que evolui na vida, sobre-tudo deixo de reconhecer as infin-dáveis faixas de evolução dos sereshumanos. Torno-me reprimido erepressor, absorvido pelos extre-mos, sem considerar o tanto desombra e luz que ainda me habi-tam e de agir com mais bom sen-so, pesando com auto-respeito arelatividade das coisas.
Se empurro para a frente a neces-sidade de me autoconhecer, apenastransfiro a investigação do quantoas figuras importantes de minhahistória continuam influenciandominha vida. Mesmo que já tenham
Os outrosem mim
ACA R LO S AB R A N C H E S
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morrido (como pode ter ocorridocom pais, educadores, amigos ouirmãos), não morreram aqui pordentro muitas de suas ordens,verdadeiras âncoras de sentençasdeterminantes de emoções, enca-minhamentos, orientações, tantopara o que me causa tristeza quan-to para o que me propõe felicidade.
Autoconhecer-me significa in-vestigar-me sem prejulgamentos,sem juízos de valor. É criar cora-gem a fim de “entrar” no campoemocional dessas pessoas, como ospais, por exemplo, para conhecer esentir quais teriam sido suas inten-ções positivas ao tomar esta ouaquela atitude, a ter decidido poreste ou aquele gesto para comigo.
Saber disso é saber-me. Ir a fun-do nisso é abrir espaço para operdão, para o autoperdão, parao domínio amplo da compreensãoprofunda que deve permear mi-nhas relações mais íntimas. Quemsabe de si consegue amar com maisliberdade, entregando-se com maisconfiança a sentimentos significa-tivamente libertadores.
A opinião que dou agora é legi-timamente minha? O que te falo éintegralmente meu? Até que pontoo que opino é filtro do que outrosjá pensaram, elaboraram e sugeri-ram que os demais dissessem, des-prezada aí a originalidade da idéia?
O que me importa não é somen-te se o que falo é opinião corriquei-ra, saída da boca de muitos e queapenas reproduzo. O que interes-sa é saber se tenho disponível oque me diferencia integralmentede qualquer outra pessoa da fa-ce da Terra, que são meus senti-mentos, minhas emoções.
Falar deles é falar de mim. Nin-guém sente como eu, ninguém lêa vida com meus olhos. Por isso,quando comunico o que sinto, es-tou sendo único, mesmo que ain-da não conheça a fundo as moti-vações reais que me levam por es-te ou aquele caminho.
O Espírito Emmanuel sugereuma lembrança oportuna:“Não nosesqueçamos de que nossos pensa-
mentos, palavras, atitudes e açõesconstituem moldes mentais paraos que nos acompanham”. O Ben-feitor acrescenta ainda que, “[...]como recebemos conforme atraí-mos, e colhemos segundo planta-mos, é imprescindível saibamosfornecer o melhor de nós, a fim deque os outros nos proporcionemo melhor de si mesmos”.*
Mais uma vez, o autoconheci-mento. Sem ele, sou um náufragoà deriva. Com ele, tenho rumo esei por onde seguir, em direçãoa outras e maiores descobertas.
Qual o impacto dos outros emmim? Qual o peso da minha pre-sença nos outros? Eis duas ques-tões que podem valer uma vida.Se não encontro as respostas, qual-quer uma pode me servir. Mas seas elaboro adequadamente, assu-mo as rédeas de minha vida e tor-no-me efetivo cuidador de mi-nhas forças.
*XAVIER, Francisco C. Fonte viva. PeloEspírito Emmanuel. 36. ed. Rio de Janeiro:FEB, 2007. Cap. 161.
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studando as páginas histó-ricas da Revista Espírita,brilhante manancial doutri-
nário que acaba de cumprir seuSesquicentenário de lançamento,detivemo-nos atentamente no mêsde julho do ano 1859, cujas con-clusões informamos nesta matériacomemorativa.1
Nesse artigo encontramos uma
interessante e reveladora informa-ção inserida nas questões 4 e 5, en-tre as quais existe uma valiosa No-ta de Allan Kardec (observação)que identifica claramente o Espíri-to comunicante (o mesmo aconte-ce na questão 13), identificaçãoque é a de um oficial superior fale-cido em combate na batalha deMagenta (em 4 de junho de 1859,
na Guerra da Itália), e que o Codi-ficador já conhecia de nome, por-que esse oficial superior (o generalX...) muito havia contribuído pa-ra ser obtida, em tempo recorde,a autorização legal, imprescindívelpara o funcionamento e formaçãoda Société Parisienne des ÉtudesSpirites (SPEE), a qual foi conse-guida em 13 de abril de 1858.2
Identidade revelada
E
No ano do Sesquicentenário da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, descobrimos
na Revista Espírita a identidade do célebre general X...
EN R I Q U E EL I S E O BA L D OV I N O
O general X..., que obteve a autorização para o
funcionamento legal da Sociedade Espírita de Paris
após 150 anos
Campo italiano na batalha de Magenta,por Giovanni Fattori
38 Reformador • Abr i l 2008115566
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Como também estamos noano do Sesquicentenário da fun-dação da SPEE, este estudo é, ain-da, uma pálida homenagem aoincansável trabalho doutrinárioque Kardec teve ao dirigir commestria e perseverança o pri-meiro Centro Espírita do mundo.Então, citemos, a seguir, algumasquestões ou partes da referidaRevue Spirite,3 na qual está regis-trado o primeiro dos diálogosentabulados (são duas entrevis-tas) entre Kardec e a personagemmencionada, que é objeto da nos-sa pesquisa. A data da evocação é10/6/1859, somente seis dias apósa desencarnação (4/6/1859) dogeneral X..., no terrível combatede Magenta (cidade daprovíncia de Milão, hojepertencente à Itália).
Um oficialsuperior mortoem Magenta
(Sociedade, 10 dejunho de 1859)
1. Evocação.
Resp. – Eis-me aqui.
2. Poderíeis dizer-nos como
atendestes tão prontamen-
te ao nosso apelo?
Resp. – Eu estava prevenido
do vosso desejo.
3. Por quem fostes preve-
nido?
Resp. – Por um emissário de
Luís.
4. Tínheis conhecimento da
existência de nossa Sociedade?
Resp. – Vós o sabeis.
Observação – O oficial em ques-
tão tinha realmente auxiliado a
Sociedade para a obtenção do
seu registro de funcionamento.
5. Sob que ponto de vista con-
sideráveis a nossa Sociedade
quando concorrestes para a sua
formação?
Resp. – Eu não estava ainda in-
teiramente decidido, mas me
inclinava muito a crer; não fos-
sem os acontecimentos que so-
brevieram, por certo teria ido
instruir-me no vosso círculo.
....................................................
13. Vós vos reconhecestes ime-
diatamente no momento da
morte?
Resp. – Quase que imediata-
mente, graças às vagas noções
que possuía do Espiritismo.
....................................................
Observação – O conhecimento
do Espiritismo auxilia o des-
prendimento da alma após a
morte; assim, concebe-se que
abrevie o período de perturba-
ção que acompanha a separa-
ção; o Espírito conhecia anteci-
padamente o mundo em que ora
se encontra.
....................................................
15. Assististes à entrada de nos-
sas tropas em Milão?
Resp. – Sim, e com ale-
gria. Fiquei encantado
pela ovação com que
nossas armas foram
acolhidas, a princípio
por patriotismo; de-
pois, pelo futuro que
as aguarda.
..................................
20. Voltaríeis de bom
grado se vos pedísse-
mos?
Resp. – Estou à vossa dispo-
sição e prometo vir, mesmo
sem ser chamado. A simpa-
tia que eu nutria por vós não
fez senão aumentar. Adeus.
O general X...
Vejamos agora o que o próprioCodificador Allan Kardec nos fala,em Obras Póstumas,4 sobre a im-portantíssima autorização legalpara o funcionamento e forma-
O general X... (Charles-Marie-Esprit Espinasse),que obteve a autorização imprescindível parao funcionamento legal da Sociedade de Paris
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reformador Abril 2008 - b.qxp 22/4/2008 11:20 Page 39
ção da Sociedade Parisiense deEstudos Espíritas (SPEE):
[...] Mas, então, fazia-se neces-
sária uma autorização legal, a
fim de se evitar que a autorida-
de nos fosse perturbar. O Sr.
Dufaux, que se dava pessoal-
mente com o Prefeito de Polícia,
encarregou-se de tratar do caso.
A autorização também depen-
dia do Ministro do Interior.
Coube então ao general X..., que
era, sem que ninguém o soubes-
se, simpático às nossas idéias,
embora sem as conhecer intei-
ramente, obter a autorização. Es-
ta, graças à sua influência, pôde
ser concedida em quinze dias,
quando, de ordinário, leva três
meses para ser dada.
Lembremos ocontexto histó-rico, político e
social francês da segunda meta-de do século XIX: uma lei da épo-ca, a lei de segurança geral, votadaem 19 de fevereiro de 1858 e pro-mulgada em 27 de dezembro de1858, proibia reuniões com maisde 20 pessoas sem a autorizaçãoda polícia imperial de NapoleãoIII, o qual havia sofrido um aten-tado político por parte do revo-lucionário nacionalista italianoFélix Orsini, que quase o matouno dia 14 de janeiro de 1858.Diante disso, Orsini foi condena-do à pena de morte, sendo exe-cutado na guilhotina em 13 demarço de 1858, isto é, só vintedias antes (1o/4/1858) da funda-ção da SPEE e exatamente ummês antes (13/4/1858) de obter-se a necessária autorização.5 Foipor este motivo que se endureceusobremaneira o controle policialsobre a reunião de mais pessoasdo que o permitido em recintofechado. Era uma lei muito rigo-rosa, que somente foi derrogada
12 anos após, em 1870.
O general Charles-Marie-Esprit
Espinasse
Como acabamos de ler emObras Póstumas, o general X... era,ao mesmo tempo, Ministro doInterior da França, cujo elevadocargo ministerial tinha, à época,a denominação completa de Mi-nistro do Interior e de SegurançaGeral. Nossa investigação da his-tória política francesa nos eluci-da que Napoleão III (1808-1873)nomeou para este cargo um ge-neral, oficialmente no dia 7 defevereiro de 1858.6 A história re-gistra que se trata do generalCharles-Marie-Esprit Espinasse(Castelnaudary [Aude], França,2/4/1815 – Magenta [Milão], ho-je Itália, 4/6/1859), que ocupouesse Ministério até o dia 14 dejunho de 1858, sendo que trêsdias depois de sua demissão foinomeado senador pelo regimeimperialista.
O general Espinasse participouativamente da Guerra da Itália emorreu na batalha de Magenta.Anos antes (1842) havia sido no-meado Cavaleiro da Legião de Hon-ra. Em 2 de dezembro de 1851 par-ticipou militarmente do golpe deEstado de Luís Napoleão Bona-parte, sobrinho de Napoleão I(1769-1821). Portanto, esta auto-rização legal foi obtida no perío-do em que o general Espinasse es-tava à frente do Ministério (de7/2/1858 a 14/6/1858).
Sabiamente, e com a sua pru-dência costumeira, Allan Kardecdesigna esse general com o codi-
Foto muito rara doministro Charles--Marie-EspritEspinasse, que,entre 7/2/1858e 14/6/1858,
ocupou o Ministé-rio do Interior e deSegurança Geral dogoverno imperialde Napoleão III(Foto: RMN.)
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reformador Abril 2008 - b.qxp 22/4/2008 11:20 Page 40
nome X..., por motivos óbviose porque ademais o estatuto daSociedade de Paris impedia quea atividade política partidáriafizesse parte da mesma, por seruma Sociedade de caráter apo-lítico. Hoje, esta nova informa-ção sobre a identificação nomi-nal do general X... tem unica-mente caráter de registro histó-rico, com o objetivo de que co-nheçamos as personalidadesque fizeram parte dos anais doEspiritismo.
Finalmente, tenhamos emconta, para compreendermelhor o contexto histó-rico, político e social daGuerra da Itália (1859),da qual a França partici-pou ativamente e, por con-seguinte, o general X..., que emObras Póstumas (Segunda parte,“Acontecimentos”, 7 de maio de1856, em casa do Sr. Roustan; mé-dium: Srta. Japhet) há uma clarareferência a este grave conflito,mensagem histórica em que osEspíritos já prediziam ao Codifi-cador que a primeira centelha daguerra partiria da Itália, confla-gração que tomaria grandes pro-porções, abrangendo a Terra. Eexatamente assim aconteceu, co-
mo os Espíritos anunciaram comantecipação de três anos.
Referências:1KARDEC, Allan. Revista espírita: jornal
de estudos psicológicos. Ano II. Julho de
1859. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
“Um oficial superior morto em Magenta”, p.
283-287. Artigo em seqüência: RE, set./1859:
“Conversas familiares de Além-Túmulo –
Um oficial do exército da Itália (Segunda
entrevista – Sociedade, 1º de julho de 1859.
[Vide o número de julho] )”, p. 362-364.
2Idem, ibidem. Ano I. Maio de 1858. 4.
ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. “Socie-
dade Parisiense de Estudos Espíritas –
Fundada em Paris no dia 1o de abril
de 1858”, p. 233-234.3Idem, ibidem. Ano II. Julho de 1859.
3. ed. “Um oficial superior morto em
Magenta”, p. 283-287.4______. Obras póstumas. 40. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 2007. Segunda parte,
“A minha primeira iniciação no Espiri-
tismo”, item Fundação da Sociedade
Espírita de Paris, p. 327. 5FEP. Círculo Parisiense de Estudos
Espíritas. Mundo espírita. Curitiba, PR,
ano LXXIII, set./2005, p. 6-7. Arti-
go de Enrique Eliseo Baldovino,
junto com o contexto histórico
extraído das Notas del Traductor y
de la USFF, no 150, sobre lei de
segurança geral, da Revista espí-
rita: periódico de estudios psicológicos, ano
1858, de Allan Kardec, traduzida do francês
ao espanhol por Enrique E. Baldovino. Bra-
sília: CEI, 2005. p. XLIII-XLIV.6CRONOLOGIA DOS MINISTROS DA FRAN-
ÇA. Charles-Marie-Esprit Espinasse. Atlas
Words, Itália, 1999-2008. Disponível em:
ht tp : / /www.at laswords .com/FRAN-
CIA%2051.htm (acesso em 2 de janeiro de
2008), junto com as pesquisas históricas
extraídas das Notas do Tradutor 116 e 129
(Guerra da Itália) da Revista espírita, ano
1859, a ser publicada.
ASSINE AGORA!(21) 2187-8264/8274
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Placa-homenagem ao general francês Espinasse,por parte da província de Milão (1859), em
gratidão à sua coragem e heroísmo, demonstradoscom a entrega da própria vida na batalha
vitoriosa de Magenta (Foto: Lettini.)
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Seara Espírita
Amazonas: Curso para trabalhadores Nos meses de janeiro e fevereiro, a Federação Espí-rita Amazonense ofereceu cursos de aperfeiçoamen-to a Evangelizadores e Dirigentes Espíritas. No perío-do de 19 a 26 de janeiro, promoveu o Curso de Pre-paração para Evangelizadores de Infância e Juventu-de em sua sede, com a presença de 30 participantes.No dia 22 de fevereiro, iniciou o curso de Capacita-ção Administrativa para Dirigentes Espíritas, comaulas presenciais e duração até o mês de novembro.Informações: [email protected], ou pelosite: www.feamazonas.org.br
Franca (SP): Encontro de UnificaçãoNo dia 30 de março, o Movimento Espírita de Francae Região viveu um domingo especial. A cidade se-diou o 3o Encontro Fraterno de Unificação, promo-vido pela União das Sociedades Espíritas do Estadode São Paulo (USE). O Encontro teve como finalida-de proporcionar um ambiente de troca de experiên-cias doutrinárias, conhecimento das realidades eabraços fraternos. Durante o evento, desenvolveu-seintensa programação; alguns temas foram tratados,como o opúsculo Orientação ao Centro Espírita; “Aadequação da USE Regional, para o melhor atendi-mento de suas finalidades”; e a revitalização daCampanha “O Evangelho no Lar e no Coração”. OEncontro Fraterno de Unificação foi uma oportuni-dade para os espíritas de Franca e Região conheceremas diretrizes de trabalho para o Movimento EspíritaEstadual, Nacional e Internacional.
França: Seminário sobre MovimentoEspírita
Nos arredores de Lyon, em Denicé (França), ocorreuo seminário sobre “Formação de Responsáveis e Fu-turos Responsáveis do Movimento Espírita”, promo-vido pelo Conselho Espírita Francês, nos dias 23 e 24de fevereiro. Compareceram quarenta dirigentes pro-venientes de 14 grupos e centros espíritas franceses;da União Espírita Belga e de Luxemburgo. O progra-
ma foi desenvolvido por Luc Moussu, CharlesKempf, Michel Buffet, Mickaël Ponsardin, FrancisDelattre e Antonio Cesar Perri de Carvalho, este últi-mo do Brasil, atendendo aos temas: Doutrina e Mo-vimento, União e Unificação; Objetivos e Atividadesdos Grupos e Centros Espíritas; Os Primeiros Passospara um Grupo Espírita, entre outros. Houve, tam-bém, uma reunião plenária para discussão dos temase delineamento de outra programação.
Brasília: O dom da mediunidade A Comunhão Espírita de Brasília e a Associação Mé-dico-Espírita do Distrito Federal (AME-DF) promo-veram na sede da Comunhão, no dia 15 de março, oseminário “O dom da mediunidade”, seguido de pa-lestra sobre o tema “Construindo a Espiritualidadena saúde do século XXI”, ambos desenvolvidos porMarlene Rossi Severino Nobre. O evento comemo-rou o primeiro ano de funcionamento da AME-DF.
Rio de Janeiro: Semana sobre a paz O 34o Conselho Espírita Unificado, órgão do Con-selho Espírita do Estado do Rio de Janeiro (CEERJ),da região de Cabo Frio, Arraial do Cabo e Búzios,promoveu a 21a Semana Espírita, com o tema “A paz– o grande desafio dos dias atuais”, de 24 a 30 demarço. Foram abordados assuntos tais como educa-ção, paz interior, aborto, violência, drogas.
CEI: Salão do Livro de Paris O Conselho Espírita Internacional (CEI) participoucom um estande do Salão do Livro de Paris, de 14 a19 de março, em Porte de Versailles, expondo 16livros de sua edição em francês, como O Livro dosEspíritos, Allan Kardec – O Educador e o Codificador,e obras psicográficas de Francisco Cândido Xavier,de autoria dos Espíritos Emmanuel e André Luiz. Naoportunidade foi lançada a mais recente edição emfrancês do CEI, Je te Pardonne! (Perdôo-te), de Ama-lia Domingo Soler. Informações: www.spiritist.org,ou pelo e-mail: [email protected]
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