“tirar da constituição as regras é genocídio ...§ão-3.681-7-e-8-de...ante outubro, o setor...

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“Eles não veem o cidadão como gente” Cármen Lúcia alerta para recuo ‘perigosamente conservador’ Pág. 3 Luta contra a corrupção é uma questão de princípios Ildo: “O que não falta à Petrobrás é capacidade de financiamento” “Tirar da Constituição as regras é genocídio previdenciário”, diz Arnaldo Faria de Sá Pagar abaixo do salário mínimo ‘é excrescência de economista’, afirmou deputado federal Arnal- do Faria de Sá (PP-SP) condenou o plano de ataque à Previdência que está sendo debatido pela equipe de Bolsona- ro. A proposta foi apresentada pelo ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga. “Re- tirar as regras da Previdên- cia Social da Constituição seria um genocídio previden- ciário”, afirmou. Para ele, “essa conversa de Benefício de Prestação Continuada (BPC – LOAS) inferior ao salário mínimo é uma excrescência dos economistas que não veem os cidadãos como gente, mas como meros números”. P. 5 Para o PT, ao aceitar o Ministério da Justiça, Moro confirma o que eles sempre disseram: que Lula é inocente e o juiz faz parte de uma or- questração para incriminá-lo. Ocorre que Lula não é inocente, e Moro, mesmo não sendo um Lenin, prestou grande serviço ao país e à de- mocracia, mandando para a cadeia políticos, empresários e funcionários que assaltaram o Estado – independente do tamanho de cada um, das motivações e dos matizes ideo- lógicos que dizem representar. Ao contrário do que prega a narrativa petista, não é ne- cessário ser de esquerda para prestar bons serviços ao país. E muito menos basta ter feito algo positivo em alguma qua- dra da vida, para ser “o bom” para sempre. Renegados como Kautsky, Gorbachev, Tsipras, Ortega, Lula produziram grande es- trago no campo progressista. Honestidade e integridade valem mais do que o registro partidário. Página 3 7 e 8 de Novembro de 2018 ANO XXIX - Nº 3.681 Imitando Trump, Bolsonaro faz o Brasil se indispor com meio mundo Depois de afirmar que ma- taria suspeitos à distância com atiradores, o governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Wit- zel, anunciou que pretende usar drones - aviões controlados por controle remoto - para as execu- ções. Marcou uma viagem para Israel para se “familiarizar” com os drones assassinos. P. 4 Rio: Witzel quer trazer de Israel a tecnologia de matar à distância Nas bancas toda quarta e sexta-feira 1 REAL BRASIL “Desinformação é uma péssima conselheira”, diz resposta de FHC “Sobretudo vinda dos podero- sos”, completou Fernando Hen- rique, respondendo Bolsonaro que o chamou de comunista. P . 3 Denúncia do MP contra executivo da Samarco foi revertida pelo TRF-1. P. 3 Três anos de impunidade para crimes da Samarco O professor Ildo Sauer, vice-diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP (IEE) e ex-diretor de Energia e Gás da Petrobrás, contestou a afirmação de Bolsonaro de que “a Petrobras não tem mais capacidade de investir, então tem que buscar fazer parcerias e vender algumas áreas”. Para Ildo, por trás dessa afirmação estão planos de subordinar os interesses da Petrobrás às grandes potên- cias, ao sistema financeiro e às multinacionais do petróleo. “Querem transformar o Brasil numa neocolônia petrolífera”, alertou. Página 2 Bolsonaro veta Estadão, Globo, Folha em coletiva com a imprensa Também proibiu a entrada do Valor Econômico, CBN e EBC no que chamou de primei- ra entrevista coletiva. Pág. 3 O buraco atual da área da Samarco chamada de Nova Bento Rodrigues. Degradação parece repetir os erros Tânia Rego - ABr Zeca Ribeiro - Câmara dos Deputados Se Trump faz uma coi- sa, ele macaqueia: desde o Twitter até a embaixada em Jerusalém - transgredindo o direito internacional e se isolando da comunidade internacional - e a hostili- zação da China. O Egito já cancelou visita de comitiva brasileira que ocorreria de 8 a 11 próximos. Página 3

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Page 1: “Tirar da Constituição as regras é genocídio ...§ão-3.681-7-e-8-de...Ante outubro, o setor produtivo tombou -1,8% – com contribuição expressiva da queda na produção de

“Eles não veem o cidadão como gente”

Cármen Lúcia alerta para recuo ‘perigosamente conservador’Pág. 3

Luta contra a corrupção é uma questão de princípios

Ildo: “O que não falta à Petrobrás é capacidade de financiamento”

“Tirar da Constituição as regras é genocídio previdenciário”, diz Arnaldo Faria de Sá

Pagar abaixo do salário mínimo ‘é excrescência de economista’, afirmou

deputado federal Arnal-do Faria de Sá (PP-SP) condenou o plano de ataque à Previdência que está sendo debatido pela equipe de Bolsona-

ro. A proposta foi apresentada pelo ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga. “Re-tirar as regras da Previdên-

cia Social da Constituição seria um genocídio previden-ciário”, afirmou. Para ele, “essa conversa de Benefício de Prestação Continuada (BPC – LOAS) inferior ao salário mínimo é uma excrescência dos economistas que não veem os cidadãos como gente, mas como meros números”. P. 5

Para o PT, ao aceitar o Ministério da Justiça, Moro confirma o que eles sempre disseram: que Lula é inocente e o juiz faz parte de uma or-questração para incriminá-lo.

Ocorre que Lula não é inocente, e Moro, mesmo

não sendo um Lenin, prestou grande serviço ao país e à de-mocracia, mandando para a cadeia políticos, empresários e funcionários que assaltaram o Estado – independente do tamanho de cada um, das motivações e dos matizes ideo-

lógicos que dizem representar.Ao contrário do que prega

a narrativa petista, não é ne-cessário ser de esquerda para prestar bons serviços ao país. E muito menos basta ter feito algo positivo em alguma qua-dra da vida, para ser “o bom”

para sempre.Renegados como Kautsky,

Gorbachev, Tsipras, Ortega, Lula produziram grande es-trago no campo progressista.

Honestidade e integridade valem mais do que o registro partidário. Página 3

7 e 8 de Novembro de 2018ANO XXIX - Nº 3.681

Imitando Trump, Bolsonaro faz o Brasil se indispor com meio mundo

Depois de afirmar que ma-taria suspeitos à distância com atiradores, o governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Wit-zel, anunciou que pretende usar drones - aviões controlados por controle remoto - para as execu-ções. Marcou uma viagem para Israel para se “familiarizar” com os drones assassinos. P. 4

Rio: Witzel quer trazer de Israel a tecnologia de matar à distância

Nas bancas toda quarta e sexta-feira

1REAL

BRASIL

“Desinformação é uma péssima conselheira”, diz resposta de FHC

“Sobretudo vinda dos podero-sos”, completou Fernando Hen-rique, respondendo Bolsonaro que o chamou de comunista. P. 3

Denúncia do MP contra executivo da Samarco foi revertida pelo TRF-1. P. 3

Três anos de impunidade para crimes da Samarco

O professor Ildo Sauer, vice-diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP (IEE) e ex-diretor de Energia e Gás da Petrobrás, contestou a afirmação de Bolsonaro de que “a Petrobras não tem mais capacidade de investir, então tem que buscar fazer parcerias e vender algumas áreas”. Para Ildo, por trás dessa afirmação estão planos de subordinar os interesses da Petrobrás às grandes potên-cias, ao sistema financeiro e às multinacionais do petróleo. “Querem transformar o Brasil numa neocolônia petrolífera”, alertou. Página 2

Bolsonaro veta Estadão, Globo, Folha em coletiva com a imprensa

Também proibiu a entrada do Valor Econômico, CBN e EBC no que chamou de primei-ra entrevista coletiva. Pág. 3

O buraco atual da área da Samarco chamada de Nova Bento Rodrigues. Degradação parece repetir os erros

Tânia Rego - ABr

Zeca Ribeiro - Câmara dos Deputados

Se Trump faz uma coi-sa, ele macaqueia: desde o Twitter até a embaixada em Jerusalém - transgredindo o direito internacional e se isolando da comunidade internacional - e a hostili-zação da China. O Egito já cancelou visita de comitiva brasileira que ocorreria de 8 a 11 próximos. Página 3

Page 2: “Tirar da Constituição as regras é genocídio ...§ão-3.681-7-e-8-de...Ante outubro, o setor produtivo tombou -1,8% – com contribuição expressiva da queda na produção de

2 POLÍTICA/ECONOMIA 7 E 8 DE NOVEMBRO DE 2018HP

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“Eles querem manter o país subordinado à lógica de acumulação em favor dos grandes grupos econômicos”

Professor Ildo Sauer, vice-diretor do IEE-USP e ex-diretor de Energia e Gás da Petrobrás

Ildo Sauer: governo quer fazer do Brasil uma neocolônia petrolífera

O professor Ildo Sauer, vice-dire-tor do Instituto de Energia e Am-

biente da USP (IEE) e ex-diretor de Energia e Gás da Petrobrás, contestou a afirmação de Jair Bolso-naro, feita em entrevista coletiva na quinta-feira, 31, de que a Petrobrás não tem capacidade de fazer os investimentos para a produção de petróleo. O especialista denunciou, em entrevista exclusiva ao HP, que por trás dessa afirmação estão planos do governo de subordinar os interesses da Petrobrás e do país às grandes potên-cias, ao sistema financeiro e às multinacionais do petróleo. “Querem trans-formar o Brasil numa neocolônia petrolífera”, alertou Sauer.

Hora do Povo: O pre-sidente eleito Jair Bol-sonaro afirmou na en-trevista que a Petrobrás não tem mais capacidade para fazer investimentos. Como o senhor avalia essa declaração?

Ildo Sauer: Dizer que não tem financiamento é uma grande mentira, porque financiamento não falta. Quem tem reservas e tem capacidade tecno-lógica e de gestão para produzir diretamente, ou em associação, não tem como não obter recursos financeiros. Isso ocorre porque o custo direto da produção de petróleo é de 10 dólares e ele é vendido agora a 80 dólares. É um sistema com alto exceden-te. A própria China, para quem o Brasil exporta petróleo, financiaria a Petrobrás.

O que está por trás des-sa afirmação, na verdade, é outra coisa. É a entrega da hegemonia do proces-so de produção e venda do nosso petróleo para o sistema financeiro. Um sistema que, na década de 70, destronou a tríade que comandava a economia do pós-guerra (Banco Mun-dial, FMI e OMC), e passou a ser dirigido diretamente de Wall Street. O sistema financeiro quer afastar os controles governamentais sobre as áreas estratégicas para mandar nos processos de financiamento. Assim ele consegue extrair para si mais excedentes do pe-tróleo. E quer fazer isso com o uso dos instrumentos especulativos criados com o neoliberalismo, que se implantaram no mundo a partir de Wall Street. Neste governo, ao que tudo indica, é esta a lógica que vai prevalecer. O Ministro da Fazenda é da Escola de Chicago, defensora desta lógica.

Com essas afirmações, o que se quer é retirar a Petrobrás do centro para abrir as entranhas do Brasil para as moribun-das e antigas herdeiras do Cartel das Sete Irmãs, dado que nos outros pa-íses a exploração está vedada para elas. As suas sucessoras, aquelas em-presas que foram hege-mônicas no mundo até os anos 90, quando a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) – criada nos anos 60 – con-seguiu se impor, através dos Estados Nacionais, se enfraqueceram. Os Esta-dos passaram a controlar o seu ritmo de produção. A ação da Opep fez com que o excedente econô-mico do petróleo passasse a ser apropriado dentro desses países. A banca in-ternacional quer agora se utilizar dessas empresas para atuar no pré-sal em detrimento da Petrobrás.

Hora do Povo: Bol-sonaro disse também que o Brasil tem que buscar

PRISCILA CASALE

Produção industrial cai em setembro. Setor pode ter Ministério extinto

Em setembro, a produção industrial brasileira caiu pelo terceiro mês consecuti-vo, conforme apontam os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (1).

Ante outubro, o setor produtivo tombou -1,8% – com contribuição expressiva da queda na produção de bens de consumo duráveis e da produção de automóveis. Sobre setembro do ano passado, o recuo foi de -2%.

O IBGE destaca que esta é a queda mais intensa para o mês desde 2015.

“Desde 2015 a gente não via três meses seguidos de queda na margem”, destacou André Macedo, gerente da pesquisa. Em agosto, após revisão dos dados levando em consideração o aspecto sazonal, a queda foi de -0,7% – ao invés do recuo de -0,3% anunciada anteriormente. Já o resultado de julho foi revisado para uma queda de -0,2%, ante recuo de -0,1% estimado ini-cialmente.

A análise feita pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) é que a indústria permanece em um “qua-dro de recessão”.

“A indústria não só criou menos em-prego no período como também registrou três meses de perda sucessiva de produção, com um grave aprofundamento no mês de setembro”.

EXTINÇÃO

Mesmo diante desse quadro de recessão, as perspectivas para o setor continuam sendo de retrocesso. Além de não se ter em vista nenhum projeto nacional de desenvolvimento da indústria no governo eleito de Bolsonaro, o que se vê são ainda mais cortes.

A proposta da equipe do governo eleito é extinguir o Ministério da Indústria, fun-dindo-o com o Planejamento e a Fazenda. O plano foi criticado por diversos empre-sários do setor industrial.

“Tendo em vista a importância do setor industrial para o Brasil, que é responsável por 21% do PIB [Produto Interno Bruto] nacional e pelo recolhimento de 32% dos impostos federais, precisamos de um mi-nistério com um papel específico, que não seja atrelado à Fazenda”, disse o presiden-te da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson de Andrade.

Com o país em recessão, a produção de automóveis que anda pendurada nas exportações, recuou -10,3% apenas em setembro. O IBGE afirma que verificou um grande número de montadoras com paralisações e férias coletivas em função da queda nas exportações, especialmente alimentadas pelo mercado Argentino – também em crise.

No segundo trimestre, a indústria re-gistrou contração de -0,6%, contribuindo para que o Produto Interno Bruto (PIB) do país registrasse crescimento de apenas 0,2% sobre os três meses anteriores.

SÉRGIO CRUZ

Produção de carros caiu -10,3%

Armínio Fraga propõe a Bolsonaro assalto mais radical à Previdência

parceiros para a explora-ção do petróleo do pré-sal. O que ele pretende com essa afirmação?

Ildo Sauer: O Brasil é o foco da disputa geo-política mundial entre os países da OCDE mais a China, para desestabilizar a hegemonia da Opep, li-derada pela Arábia Saudi-ta mais a Rússia. A Opep trabalha para manter o preço do petróleo elevado e, com isso, se apropriar da maior parte dos be-nefícios do petróleo em favor dos países produto-res. De outro lado está a OCDE, comandada pelos EUA mais a China, que querem transladar esses benefícios para os países consumidores de petróleo. Tirar a Petrobrás da fren-te faz parte desse jogo.

Como o Brasil estará entre os países com gran-des reservas no mundo, que chegam, segundo estimativas, a mais de 100 bilhões de barris, quando a Venezuela, a maior re-serva mundial, tem 300 bilhões de barris, e a Ará-bia Saudita, 270 bilhões, a situação do nosso país se alterou. O Brasil passou a ser o grande foco em disputa. A estratégia que está sendo anunciada vai na linha da subordinação do país, para se tornar uma espécie de neocolônia petrolífera. Aquilo que nem a Arábia Saudita, nem o Iraque e nem a Lí-bia aceitaram fazer, agora parece que, finalmente, encontraram um vassalo.

Em nome dos crimes cometidos contra a Petro-brás pela irresponsabili-dade dos governos Lula e Rousseff, estão cometen-do um crime ainda maior. A população brasileira, ao invés de se libertar da atuação nefasta do gover-no Lula e do governo Rou-sseff, cai numa segunda armadilha, talvez até de maiores proporções.

Definitivamente, que-rem transformar o Brasil num país não só subor-dinado e sangrado, mas, num instrumento para desestabilizar a capaci-dade da Opep e da Rússia de manter a hegemonia do petróleo em favor dos países produtores.

No Brasil era grande a esperança, desde a desco-berta do pré-sal, e antes disso, já com a mobilização dos recursos hidráulicos. Essas rendas iriam pro-porcionar o desenvolvi-mento do país. Esse foi o eixo dos debates a partir do enfrentamento da re-forma neoliberal de Collor e FHC. Parecia termos a chance de prosperar. Mas essa meta acabou sendo massacrada no interior da disputa intestina dos grupos econômicos, com o beneplácito de Lula da Sil-va e da senhora Rousseff.

Agora, em vez de re-tomar um eixo a favor do povo, o Brasil passa a assumir um papel, se esta declaração de Bolsonaro se confirmar, de subordi-nação ainda maior. Subor-dinação que era o sonho do Obama, quando, em 2011, visitou a senhora Rousseff e ambos teriam concordado em acelerar a produção do pré-sal como uma das estratégias para enfrentar a Opep. Era isso, ao lado da produção de biocombustíveis e da abertura do golfo do Méxi-co, o que está sendo feito.

Estamos progressiva-mente seguindo um cami-nho onde as escaramuças do debate sobre a corrup-ção abriu as portas para a destruição de toda uma construção. Estão que-rendo destruir e estrutura orgânica da Petrobrás. Eles querem manter o país subordinado à lógica de acumulação em favor dos grandes grupos eco-

nômicos e das economias mais dinâmicas do siste-ma capitalista, incluindo nesse caso a China que, mal ou bem, está lá posi-cionada ao lado da OCDE no que tange ao acesso ao petróleo.

Hora do Povo: Na entrevista, Jair Bolso-naro afirmou que esse assunto da Petrobrás e do pré-sal não tinha mui-ta importância porque, segundo ele, os combus-tíveis fósseis estão com os dias contados. Qual a sua opinião sobre isso?

Ildo Sauer: Isso não é verdade. Na lógica do sistema econômico hege-mônico, o papel do petró-leo ainda vai prevalecer por muito tempo. Apesar do movimento em curso, decorrente da preocu-pação com as mudanças climáticas e do esforço de transitar da mobilidade baseada no motor da combustão interna, que efetivamente é ineficien-te, se comparado com outros operativos, como o elétrico, o petróleo se-gue sendo o carro chefe, ao lado do setor elétrico e das telecomunicações.

Isso marcou a segunda fase da revolução indus-trial, do fim do século XIX, até o começo do século XXI. Foi neste pe-ríodo que se construiu o dinamismo do sistema ca-pitalista e a enorme pros-peridade e acumulação, apesar da primeira e da segunda guerra mundial.

O petróleo foi e ainda é um dos pilares de tudo isso. Por que se deu isso? Porque ele tem duas ca-racterísticas intrínsecas extremamente favorá-veis. Alta densidade, isto é, quantidade de energia por volume e por peso e, em segundo lugar, o pe-queno esforço econômico para mobilizá-lo. Com isso, ele incrementa a produtividade do sistema social de produção de for-ma extraordinária e gera grandes lucros, permitin-do grande acumulação. Até hoje as fontes alter-nativas ao petróleo estão longe de suplantar essas duas características.

Então, mesmo que ve-nhamos a ter uma transi-ção para a mobilidade elé-trica, e isso abra horizon-tes para que fontes como a fotovoltaica, eólica e outras tenham uma participação maior como suprimento de fontes primárias de energia, elas não vão ex-cluir o papel hegemônico do petróleo. Isso, mesmo nessa situação, mesmo atendendo à dinâmica que está se desenhando no horizonte, por exemplo, de acabar com o motor a diesel e motor otto.

A lógica do que prevale-ce sempre esteve e estará vinculada à acumulação. É irônico que quem diz que os fósseis estão com os dias contados acha que o Acordo de Paris não deva prevalecer. E infelizmen-te não está prevalecen-do. Porque os sistemas políticos e econômicos são renovados periodica-mente, sempre criando empecilhos às políticas propostas pelos cientistas das mudanças climáticas.

Esses cientistas anun-ciam as consequências das não mudanças. Mas, confrontada a consequ-ência de aderir a elas e adotar soluções mais cus-tosas economicamente, isto é, abandonar o pe-tróleo e adotar as outras soluções, a realidade tem demonstrado que essa trajetória não tem sido seguida. Portanto, não está no horizonte ainda a declarada substituição do petróleo por outras tecnologias.

A Previdência Social pública, conquistada na Constituinte de 1988, está sob intensa ameaça. Ar-mínio Fraga, um escroque que assumiu a presidência do Banco Central de 1999 a 2003, se ofereceu para Bolsonaro apostando na “oportunidade” de emplacar um assalto mais radical nas aposentadorias. Paulo Gue-des, fraudador de fundos de pensão, que planejava votar de afogadilho a proposta de Temer, acabou convencido a não se afobar na empreitada.

O bate cabeça desta sema-na entre Guedes (Economia) e Onyx Lorenzoni (Casa Civil) sobre a Reforma da Previdência, mais do que apenas um desentendimento entre nulidades do governo Bolsonaro, expressou, na realidade, a dúvida do go-verno sobre qual é o melhor caminho para dar o bote e transferir os recursos da Previdência Social para o chamado “mercado”, com os bancos à frente.

Tanto Temer, com a re-animação de sua PEC 287, quanto Armínio Fraga, com sua proposta de tirar os direitos previdenciários da Constituição, querem mos-trar serviço e facilitar os trâmites para que Bolsonaro e Guedes concretizem o as-salto dos recursos dos apo-sentados para transferi-los aos bancos. Fraga disse que ficou “animado com a re-ceptividade de sua proposta junto ao governo”.

Os assaltantes repetem a ladainha da suposta falta de recursos na Previdência So-cial, mas o que eles querem na realidade é se apoderar dos cerca de R$ 700 bilhões arrecadados pela Segurida-de. A fonte de custeio da Se-guridade, determinada pela Constituição, engloba além das contribuições de traba-lhadores e patronais sobre folha, as incidentes sobre as receitas das empresas (PIS e a COFINS), sobre o lucro (CSLL), sobre importação (PIS/COFINS-importação) e sobre a receita dos concursos de prognósticos.

As duas propostas de ataque à Previdência ele-vam a idade mínima para a aposentadoria. Armínio Fraga para 65 anos, indis-criminadamente, e Michel Temer para 65 para homens e 62 para mulheres. Os dois projetos igualmente acabam com a aposentadoria exclu-sivamente por tempo de contribuição.

Uma diferença entre elas é que Fraga advoga a capi-talização do sistema, que é o principal meio para que o sistema financeiro privado possa abocanhar de vez os recursos das aposentadorias dos trabalhadores. Já Temer

não teve tempo de pensar nessa alternativa, porque essa ideia de jerico da capi-talização, velha ladainha do Banco Mundial, só surgiu publicamente durante a cam-panha eleitoral deste ano.

O sistema de capitaliza-ção, que prevê que cada tra-balhador deposite sua con-tribuição individual numa conta privada para financiar sua futura aposentadoria, retira a participação dos patrões e do Tesouro – ou seja, da sociedade, através das contribuições sociais – do sistema de Previdência. A ló-gica passa a ser cada um por si. Com isso os recursos que são destinados à Seguridade Social pela Constituição, poderão ser mais facilmente drenados pelo governo para o pagamento de juros. Essa proposta de Fraga soa como música para os banqueiros e demais rentistas.

O objetivo estratégico das duas propostas [de Temer e Armínio Fraga] é exatamente o mesmo. Reduzir aposentado-rias, dificultar que o trabalha-dor se aposente e se apossar dos recursos arrecadados. A trupe de Bolsonaro está indeci-sa apenas sobre qual das duas propostas vai abraçar.

Mas, Fraga ganha no que-sito “quem é mais serviçal” porque, além de tudo, propõe tirar o tema da Previdência Social da Constituição Fede-ral. Pela proposta os assuntos da Previdência seriam tra-tados por lei complementar. Isto é, por uma legislação infraconstitucional. E ele não esconde que “rasgar” a Constituição de 88 é o melhor caminho para o governo ter mais “flexibilidade a even-tuais futuras mudanças, que podem se tornar necessárias de acordo com o envelheci-mento da população”. Ou seja, Fraga quer tirar a Pre-vidência da Constituição para que Bolsonaro possa esfolar o povo precisando de menos votos no Congresso.

O porta-voz da agiotagem não esconde que sua propos-ta visa facilitar o acesso dos bancos privados aos recursos da Previdência. Ele diz tex-tualmente que seu projeto objetiva “recuperar” R$ 1,3 trilhão em dez anos”. “Recu-perar” de onde? Logicamente das aposentadorias e dos benefícios. E para onde iriam esses recursos que pertencem aos trabalhadores?

No plano de Fraga, os des-tinos desses recursos serão dois. O primeiro diretamen-te para os banqueiros, que passarão a “gerir” as contas individuais da capitalização, e o segundo, o superávit primário – leia-se dinheiro reservado para pagar juros aos bancos.

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3POLÍTICA/ECONOMIA7 E 8 DE NOVEMBRO DE 2018 HP

Imitação de Trump por Bolsonaro isola o Brasil

Fez o país se indispor com meio mundoFHC: Bolsonaro será um impacto negativo para as relações internacionais

Fala sobre mudar embaixada brasileira para Jerusalém repercutiu mal

Luta contra a corrupção é uma questão de princípios

Reprodução

Tucano é ex-presidente da República

Juiz Sérgio Moro dirigiu carta aos colegas

Comissão adia projeto “Escola só com o partido de Bolsonaro”

Folha, Globo, Estadão e outros foram vetados em entrevista de Bolsonaro

ABr

Moro a colegas juízes: “continuem independentes, mesmo contra, se for o caso, o Ministério da Justiça”

Para o PT, ao aceitar o Ministério da Justiça, Moro confirma o que eles sempre disseram: que Lula é inocente e o juiz faz parte de uma orquestração para incriminá-lo.

Ocorre que Lula não é inocente, e Moro, mes-mo não sendo um Lenin, prestou grande serviço ao país e à democracia, mandando para a cadeia políticos, empresários e funcionários que assal-taram o Estado – inde-pendente do tamanho de cada um, das moti-vações e dos matizes ideológicos que dizem representar.

Ao contrário do que prega a narrativa pe-tista, não é necessário ser de esquerda para prestar bons serviços ao país. E muito menos basta ter feito algo posi-tivo em alguma quadra da vida, para ser “o bom” para sempre.

R e n e g a d o s c o m o Kautsky, Gorbachev, Tsi-pras, Ortega, Lula pro-duziram grande estrago no campo progressista.

Honestidade e integri-dade valem mais do que o registro partidário.

Sob a inspiração de Moro, a Lava Jato pegou uma seleta plêiade de apóstolos da corrupção, que ocupavam cargos de direção nas mais diver-sas legendas partidárias.

Mas a Lava Jato não acabou. Muitos culpados não receberam ainda as suas sentenças. A pres-são para “estancar a san-gria” é poderosa e vem de todos os pontos do con-sórcio estabelecido entre políticos que ocuparam fatias do poder nos últi-mos governos e a banda podre do empresariado.

Como Bolsonaro cer-cou-se de um séquito no mínimo problemá-tico e emite sinais de que pretende levar para

sua base parlamentar o Centrão, a começar pelo DEM e o PP cuja den-sidade de indiciados na Lava Jato é das maiores, a Hora do Povo alertou o juiz Moro de que o inte-resse do novo governo é o de parasitar o seu pres-tígio e não o de contar no Ministério da Justiça com a isenção mantida por ele em Curitiba.

Provavelmente, por não ter hoje, como 57,7 milhões de brasileiros, avaliação igual à nossa sobre o futuro gover-no, Moro aceitou o convite. A prática dirá se ele vai se tornar maior – contrariando o lobo em sua própria toca – ou menor.

Mais importante que prognósticos sobre seu futuro, é o nosso compromisso de não dar trégua à corrupção, onde quer que ela se manifeste.

SÉRGIO RUBENS

Em mensagem diri-gida aos juízes federais, postada na rede interna (intranet) da magistra-tura, o juiz Sérgio Moro, depois de referir-se à aceitação do convite para ser ministro da Jus-tiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro, pede que seus colegas “continuem dignifican-do a Justiça com atuação independente (mesmo contra, se for o caso, o Ministério da Justiça)”.

“Da minha parte”, diz Moro, “sempre terei orgulho de ter partici-pado da Justiça Federal e os magistrados terão sempre o meu respeito e admiração”.

Moro agradece as congratulações dos co-legas, e, quanto ao que pretende fazer como mi-nistro, “trabalharei para principalmente aprimo-rar o enfrentamento da corrupção e do crime organizado, com respeito à Constituição, às leis e aos direitos fundamen-tais”.

A íntegra da men-sagem de Sérgio Moro é a seguinte:

“Prezados colegas magistrados federais,

“A todos que me ende-reçaram congratulações aqui, meus agradeci-mentos.

“Foi uma dec isão muito difícil, mas pon-derada.

“Em Brasília, tra-balharei para princi-palmente aprimorar o enfrentamento da cor-rupção e do crime orga-nizado, com respeito à Constituição, às leis e aos direitos fundamentais.

“Lembrei-me do juiz Falcone, muito melhor do que eu, que depois dos sucessos em romper a impunidade da Cosa Nos-tra, decidiu trocar Paler-mo por Roma, deixou a

toga e assumiu o cargo de Diretor de Assuntos Penais no Ministério da Justiça, onde fez gran-de diferença mesmo em pouco tempo. Se tiver sorte, poderei fazer algo também importante.

“Da minha parte , sempre terei orgulho de ter participado da Justi-ça Federal e os magistra-dos terão sempre o meu respeito e admiração. Continuem dignificando a Justiça com atuação independente (mesmo contra, se for o caso, o Ministério da Justiça).

“Abs a todos,“Sergio Fernando

Moro.”

Em sua primeira en-trevista coletiva como presidente eleito, reali-zada na quinta-feira (1), Bolsonaro apresentou uma lista prévia de ve-ículos de imprensa que poderiam comparecer e não permitiu a entrada da Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, O Globo, CBN, EBC e Va-lor Econômico.

Segundo o que foi pu-blicado por estes jornais, apenas emissoras de te-levisão e sites foram per-mitidos de entrar. Uma agente da Polícia Federal foi escalada para dar as credenciais a partir de uma lista previamen-te organizada. Quando questionada quanto ao método de triagem, a agente apenas afirmou que a autorização vinha de “dentro para fora”, referindo-se à equipe que estava dentro da casa.

Mais tarde, foi alega-da limitação de espaço, mas, de acordo com a reportagem da Folha, foram apresentadas fo-tos que desmentem esta situação, além do que alguns veículos conta-vam com mais de um profissional na coletiva.

O presidente eleito tem afrontado de forma mais direta a Folha de S. Paulo desde que esta fez uma reportagem mos-trando uma funcionária fantasma que era man-tida por seu gabinete e a denúncia de que empre-

O ex-presidente Fernando Henrique Car-doso (PSDB) afirmou, durante evento em Lisboa, que as medidas que Bolsonaro têm prometido afetarão negativamente a imagem do Brasil no exterior.

FHC vê com maior preocupação as si-nalizações que Bolsonaro tem feito para as relações internacionais. “Será um impacto, no meu modo de ver, negativo. Ele disse que o Mercosul não é prioridade, o que abala a relação do Brasil com parceiros do Sul. Foi dito que, eventualmente, o Brasil poderia cortar relações com certos países”.

“Se formos por esse caminho, vamos levar o Brasil para uma posição como se fosse os Es-tados Unidos, mas sem ser os Estados Unidos. Nós não temos esta possibilidade. A China é nosso maior parceiro comercial e, se o Brasil tomar certas medidas, eles vão reagir”, afirma.

Desde que foi eleito, Bolsonaro já afirmou que transferirá a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, o que somente a Guatemala fez, submissa aos EUA, e sinalizou um possível rompimento das relações diplomáticas com Cuba.

Durante o evento Fronteiras XXI, promo-vido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e transmitido pela TV RTP, o tucano também afirmou que não acredita na pos-sibilidade de uma nova ditadura no Brasil. “O Congresso é forte, os tribunais são fortes. As Forças Armadas são bastante treinadas no sentimento democrático e de respeito à Constituição”, comentou.

O tucano também destacou que no período em que foi presidente da República sequer ouviu falar de Jair Bolsonaro. “Eu fui presi-dente durante oito, fui ministro durante dois, fui senador por mais não sei quanto tempo e não o conheço. Nunca o vi ou ouvi. Ouvi só agora recentemente”, afirmou.

Após o evento, o jornal Folha de S. Paulo entrevistou FHC rapidamente que disse: “Eu quero ver o que ele vai fazer. Uma coisa é o que as pessoas dizem na campanha, outra coisa é o que fazem. Se for [extrema-direita], contará com a minha oposição”.

Ele também avaliou a situação do seu partido após as eleições, comentando que “como a maior parte dos partidos, o PSDB sai bastante atingido, com menos força do que tinha antes, talvez até mesmo fragmentado”.

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sas privadas bancaram ilegalmente a distribuição de centenas de milhões de mensagens da sua campanha por WatsApp aos eleitores brasileiros.

Durante entrevista ao Jornal Nacional, con-cedida após sua eleição, Bolsonaro afirmou que a Folha não receberá recursos de propagan-da oficial do governo, mesmo que estes devam ser guiados por termos técnicos, e não políticos.

O jornal publicou um editorial chamado “Acostume-se” onde afirma que não deixará de “escrutinar o exer-cício do poder porque seus detentores de tur-no resolveram adotar a tática da intimidação”.

Segundo o Globo, a Direção-Geral do Se-nado, que organiza as reuniões do Congresso — Câmara e Senado —, decidiu proibir a entrada de jornalistas no plená-rio da Câmara, durante a sessão desta terça-feira (6) que marcará o retor-no de Jair Bolsonaro ao Congresso.

Em comunicado dis-tribuído internamente, o órgão afirma que “o acesso ao plenário da Câmara dos Deputados será restrito às autori-dades, parlamentares e servidores autorizados”.

A Polícia Legislativa da Câmara confirmou o veto estranho a jornalis-tas no plenário da Casa.

A votação do Proje-to de Lei “Escola sem partido” foi adiada em uma semana pelo pre-sidente da Comissão Especial que analisa o projeto, Marcos Ro-gério (DEM-RO).

O projeto obscu-rantista foi apresen-tado em 2014 sob o número 7.180 e prevê que os professores e materiais didáticos

não poderão mais debater política, ide-ologia e orientação sexual.

A verdade é que os obscurantistas não querem nas escolas os partidos dos outros para implantar o do-mínio do seu partido, da sua ideologia mes-quinha e autoritária.

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A ministra Cármen Lúcia, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou na segunda-feira (5) que o Brasil e outros países têm passado por mudança “perigosa-mente conservadora” nos costumes e que a sociedade não deve re-cuar de direitos sociais já conquistados.

“Estamos vivendo mudança que não é só no Brasil. Uma mu-dança inclusive con-servadora, em termos de costumes. Às vezes, na minha compreensão

de mundo e é só na minha, não quer dizer que esteja certa, perigo-samente conservadora. Porque a tendência na humanidade é de di-reitos sociais que são conquistados, a gente não recua”, afirmou a ministra.

Cármen Lúcia deu esta e outras declara-ções durante evento em Brasília sobre os 30 anos da Constitui-ção Brasileira. Além de Cármen Lúcia, também participaram do evento os ministros Gilmar Mendes, Edson Fachin,

Ricardo Lewandowski e Luiz Fux.

A ministra frisou a importância da convi-vência com quem pensa diferente. “O brasileiro está nas ruas, o brasi-leiro está presente. Se ele está presente, e fala algo que o eleito não gosta, o diferente não é meu inimigo. É apenas isso, é diferente. E é de diferenças que nós fazemos a igualdade. Porque se não é diferen-te, eu não teria por quê cogitar de igualação, mas estou cogitando”, disse Cármen Lúcia.

Cármen Lúcia: “tendência da humanidade é de direitos conquistados, a gente não recua”

Reprodução

A imitação de Donald Trump parece ser o credo de Bol-sonaro.

Entre tantos presiden-tes dos EUA, ele escolheu o mais desclassificado de todos para imitar. Para Bolsonaro, Trump tem um atrativo: é o presidente que, no momento, está no poder.

Entretanto, não é só isso: Trump é um manipulador, tão sem pedigree quanto sem limite, rei dos esquemas ilegais na Internet, com laços mal explicados que vão até a atual cúpula israelense, etc. & etc.

Trump é um lúmpen da polí-tica, tanto quanto antes foi um lúmpen dos negócios.

Portanto, um modelo perfeito, ou quase perfeito, para Bolsona-ro. A presença do marketeiro de Trump, Steve Bannon, no Brasil, durante a campanha eleitoral, frisou o quanto a imitação de Trump por Bolsonaro vai além da pura macaqueação. Bannon, nos EUA, é conhecido pelas chamadas “fake news”. Em uma entrevista em São Paulo, disse ele:

“Eles [Eduardo Bolsonaro e assessores] me encontraram em Nova York. Fiquei impressionado com a dinâmica jovem da coisa. E eu acompanho Bolsonaro há anos. Eles me ligaram e disseram que estariam em Nova York, que encontrariam algumas pessoas e que gostariam de me ver. Então nós sentamos e conversamos sobre a corrida eleitoral, eles me mostraram coisas da campanha e o que estavam tentando conquis-tar como partido” (v. Valor Eco-nômico, 26/10/2018, grifo nosso).

COVEREntão, se Trump foge da im-

prensa para não dar satisfações e se comunica pelo Twitter – Bolso-naro faz a mesma coisa.

Se Trump passa a escrever seu nome, no Twitter, como “Donald J. Trump”, Bolsonaro passa a es-crever seu nome, no mesmo Twit-ter, como “Jair M. Bolsonaro”.

Se Trump usa, na mesma rede, o título “45º presidente dos Estados Unidos da América”, com uma bandeira americana ao lado, Bolsonaro passa a se intitular “capitão do Exército Brasileiro, eleito 38º Presidente da Repú-blica Federativa do Brasil”, com uma bandeira brasileira ao lado.

Mas não é apenas nesses aspec-tos aparentemente superficiais – e, a bem dizer, ridículos - que Bolsonaro imita Trump.

Se Trump desrespeita os países do mundo, a comunidade interna-cional, e muda a embaixada dos EUA em Israel para Jerusalém – Bolsonaro promete fazer a mesma coisa com a embaixada do Brasil.

Se Trump estabelece medidas econômicas contra a China – Bol-sonaro promete fazer o mesmo (disse ele na campanha eleitoral que era preciso conter os chineses, pois “a China está comprando o Brasil”; quanto aos EUA, ele não tem a mesma preocupação; aliás, não tem preocupação alguma).

Se Trump hostiliza o Mercosul (não é outra coisa a sua tentativa de acordo com a União Europeia, com o objetivo de substituir os pa-íses sul-americanos pelos EUA nas importações agrícolas europeias), imediatamente Bolsonaro – aliás, Paulo Guedes – diz que o Mercosul “não é prioritário” (o desmentido posterior de Bolsonaro é tão pouco convincente, que ele mesmo, nesse desmentido, disse que “é possí-vel fazer acordos bilaterais com outras nações”, ou seja, acordos por fora do Mercosul, acordos, evidentemente, antes de qualquer outro, com os EUA).

Se Trump cancela o acordo fir-mado por Obama com Cuba, Bol-sonaro declara que “não vê sentido em manter relações diplomáticas” com a nação do Caribe, ameaçando um retrocesso de 54 anos em nossa política diplomática.

COMÉRCIOA retórica de Bolsonaro é aque-

la, da época de Campos Salles, de que o Brasil é um país demasia-damente “fechado”.

Deve ser algum prodígio, pois há mais de 20 anos o país está sob governos que escancaram nossa economia para todo tipo de im-portação – inclusive, provocando uma brutal desindustrialização, pari passu com uma intensa de-sindustrialização.

Trata-se de uma fraude – ulti-mamente expelida aos borbotões, tanto por Bolsonaro quanto por Paulo Guedes, o escroque que ele pretende nomear para o exumado (da época de Collor) Ministério da Economia, repetindo a ladainha do chamado “mercado financeiro” (uma abordagem dessa fraude foi realizada em recente artigo de Paulo Nogueira Batista Jr.,

v. Abertura da economia?, Carta Capital, 29/10/2018).

Pelo contrário, o Brasil é um dos países mais desprotegidos, mais escancarados do mundo (v., por ex., o artigo de Carlos Drum-mond, A economia do Brasil não é uma das mais fechadas do mundo).

No entanto, a macaqueação de Trump, por Bolsonaro, ameaça nos isolar política e economicamente – ou seja, tornar o país “aberto” somente aos EUA, Israel e alguns outros poucos do mesmo time.

Tomemos, por exemplo, nosso comércio exterior, isto é, nossas exportações, que tem como pro-dutos principais a soja em grão e o minério de ferro.

Não estamos, aqui, discutindo se isso é bom ou não – até porque o leitor sabe que não achamos bom. Mas Bolsonaro – ao contrário de Geisel durante a ditadura - não está propondo a substituição desses pro-dutos por produtos industrializa-dos, em nossa pauta de exportação.

Qual, dentre os países, é o maior comprador de soja em grão e minério de ferro brasileiros?

A China, em 2017, absorveu 61% das nossas exportações de minério de ferro e 80% das expor-tações de soja em grão.

Pois Bolsonaro, na imitação de Trump, quer hostilizar logo o prin-cipal comprador das exportações brasileiras.

ISOLAMENTOBolsonaro declarou a um jornal

de Israel – um desses panfletos, existentes naquele país, que pa-recem à direita de Hitler – que irá transferir a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém.

Ou seja, irá reconhecer Jerusa-lém como capital de Israel – algo que nem a ONU, nem país algum do mundo, com duas exceções, reconhece, porque a anexação de Jerusalém por Israel é ilegal diante das leis internacionais.

A Resolução nº 478, do Con-selho de Segurança da ONU, aprovada em 20 de agosto de 1980 (nem os EUA votaram contra, preferindo a abstenção), determi-nou que a anexação de Jerusalém é uma violação do direito inter-nacional - e proíbe aos estados--membros da organização manter embaixadas naquela cidade.

Pela Carta da ONU, todos os estados-membros são obrigados a acatar as resoluções do Conselho de Segurança.

Por isso, nem mesmo os EUA estabeleceram, até Trump, em-baixada em Jerusalém, diante do repúdio de todos os países.

Depois que Trump anunciou que irá transferir a embaixada para Jerusalém, um único outro país o acompanhou: a Guatemala.

E, agora, Bolsonaro, que está querendo acabar com o respeito do Brasil ao direito internacio-nal, transgredir uma resolução da ONU – tão irretorquível, tão justa, que nem os EUA votaram contra – para seguir Trump.

É claro que isso significa isolar o Brasil da comunidade internacional.

Nem insistiremos no fato, já apontado por outros, que, do ponto de vista de nossas relações comerciais, se essa decisão é leva-da a efeito, será outro desastre.

Ou no fato de que existem, entre os brasileiros, 10 milhões de descendentes de árabes – e apenas 120 mil judeus.

ESTATURAO ex-presidente Fernando

Henrique Cardoso disse que Bol-sonaro afetará negativamente a imagem do Brasil no exterior, mencionando, de passagem, a sua imitação de Trump: “Se formos por esse caminho, vamos levar o Brasil para uma posição como se fosse os Estados Unidos, mas sem ser os Estados Unidos” (v. Bolso-naro será um impacto negativo nas relações internacionais, prevê FHC).

No entanto, esse não é o princi-pal problema. O principal problema é que a macaqueação de Trump por Bolsonaro afetará o Brasil. A imagem, se verdadeira, é uma consequência.

Bolsonaro não acha que o Brasil é os EUA. O que ele acha é que o Brasil deve se submeter aos EUA. Por isso, ele deve ser um sub-Trump. Por consequência, o que transparece, em sua imitação de Trump, é essa desgraça de que o melhor destino possível para o Brasil é ser uma sub-nação.

Daí, o incensamento de Bolso-naro à ditadura. Em um texto que publicamos, o general Nelson Wer-neck Sodré mostra que a ditadura do período Médici, no Brasil, era uma expressão do capitalismo mo-nopolista dos países centrais.

C.L.Leia a matéria completa

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Page 4: “Tirar da Constituição as regras é genocídio ...§ão-3.681-7-e-8-de...Ante outubro, o setor produtivo tombou -1,8% – com contribuição expressiva da queda na produção de

4 POLÍTICA/ECONOMIA HP 7 E 8 NOVEMBRO DE 2018

Depois de afirmar que o governo contrataria atiradores para matar suspeitos à distância nas comunidades do estado,

o governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) disse que preten-de adotar a tecnologia de drones para efetuar disparos e eliminar suspeitos.

Os chamados “drones assassinos” que Witzel quer implantar são conheci-dos pelo uso por tropas americanas no Oriente Médio em ambiente de guerra – evitando o contato direto com o alvo

O jornal O Globo informou no último final de semana que Witzel e o senador eleito e filho de Jair Bolsonaro, Flávio Bolsonaro (PSL), estão marcando juntos uma viagem a Israel para se “familiari-zarem” com os drones de ataque.

Com a implantação desses equipa-mentos, o governo estará decretando uma verdadeira guerra nas comunida-des, com balas em todas as direções. E mais, ninguém vai conseguir impedir os bandidos de também usarem equi-pamentos similares. Especialistas dizem que o risco é muito alto.

ABATEO governador eleito já havia defendi-

do em entrevista ao ‘Estado de S. Paulo’, que seu plano para a segurança pública do estado gira em torno do “abate” de “bandidos de fuzil”. De acordo com ele, “a polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e… fogo! Pra não ter erro”.

Witzel faz questão de classificar a execução de criminosos, sem qualquer direito a julgamento, por “abate” – como se não tratasse de outros seres huma-nos, ou talvez algum tipo inferior de ser humano. Segundo ele, a execução dos criminosos pode ser considerada uma medida efetiva de combate ao crime organizado.

O ex-juiz fala de utilizar helicópteros com “snipers” para sobrevoar opera-ções em favelas, orientados a “abater” traficantes com fuzis, mesmo que estes estejam fora de situação de combate e não ofereçam risco imediato às tropas.

Quando perguntado se isso não iria aumentar os índices de letalidade, apenas respondeu que “vai reduzir os índices de bandido com fuzil em circu-lação”. “Se matar bandido reduzisse a violência, o Rio seria um paraíso”, comentou a entrevistadora. “Então não está matando, não é? Está deixando de matar”, respondeu o governador, sem entender a ironia.

A entrevistadora questionou se os ca-sos em que a polícia matasse sem que a vítima tivesse agredido também seriam considerados legítima defesa. “Também

tem que morrer. Está de fuzil? Tem de ser abatido”, respondeu o governador do PSC.

ESTADO DE EXCEÇÃOAs ideias de Witzel foram muito

criticadas por diversos setores da socie-dade, desde órgãos internacionais até estudiosos do assunto. De acordo com o professor de Direito Constitucional da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Leonardo Vizeu, ouvido pelo jornal “O Globo”, o abate de uma pessoa com fuzil só seria possível numa situação de guerra, com declaração de estado de defesa ou de sítio.

“Precisaríamos estar num estado de exceção, com autorização constitucional para supressão de direitos fundamen-tais. Sem regras de engajamento ade-quado e segurança jurídica, o policial vai ter que responder criminalmente se o laudo pericial confirmar que houve execução”, explicou o professor.

De acordo com a organização Anistia Internacional as declarações de Witzel “são uma afronta à legislação brasileira e à legislação internacional”. Para a Anistia, o plano de Witzel desrespeita “as regras de uso da força e armas de fogo por parte dos agentes da segurança pública”.

“Tal medida tem um potencial im-pacto desastroso de aumento dos homi-cídios e da violência armada nas cidades. Não se combate violência com mais vio-lência, confrontos diretos e desrespeito à legislação vigente. Violência armada se combate com ações estratégicas de inteligência, investigação, prevenção, e maior controle de circulação de armas de fogo”, afirmou a Anistia Internacional.

A organização ressaltou ainda que a proposta não combate a violência e ainda contribui para o aumento dos índices de violência no estado. “Autorizar previamente as policias e as forças de segurança a atuarem de forma ilegal, violenta e violando direitos humanos só resultará em uma escalada da violência e colocará em risco a vida de centenas de milha-res de pessoas, inclusive os próprios agentes da segurança pública”.

Lembrado, pelos entrevistado-res, dos casos em que pessoas foram mortas por portar furadeiras e até guarda-chuvas, confundidos com armamentos, Witzel disse que “em nenhum desses casos os tiros partiram de snipers (atiradores de elite). Não serão quaisquer policiais orientados a isto e os snipers vão passar por ainda mais treinamentos. Eu sempre digo o seguinte: prefiro defender um policial no tribunal do que ir ao funeral dele. Atirou, matou, está correto”.

Três anos depois, a maior tragédia am-biental do Brasil, o rompimento de barragem de Fundão em Mariana (MG) que matou 19 pessoas e despejou 39 milhões de metros cúbi-cos (m³) de rejeitos de minério de ferro sobre o leito do Rio Doce, chegando até o Espírito Santo, os crimes da mineradora Samarco e de suas subsidiárias Vale e BHP Billiton seguem impunes e as vítimas abandonadas.

Na Justiça criminal ou nos tribunais cí-veis a questão ainda não foi resolvida. Nem mesmo as famílias dos 19 mortos receberam uma indenização financeira condizente com a sua perda.

A barragem era administrada pela Samar-co, que por sua vez é controlada pelas minera-doras Vale e BHP Billiton e. A empresa firmou acordos com 16 famílias que até hoje não foram pagos. A estimativa mais otimista dos promo-tores de Justiça que atuam na força-tarefa do Rio Doce é de que os ressarcimentos comecem a ser pagos em meados de 2020.

“Aquilo que a gente mais quer é voltar a ter a nossa casa, nossos vizinhos. Já passou muito tempo para um sofrimento desses e a gente ainda ficava sem saber se ia ser pago, se ia ficar tudo por isso mesmo”, disse o comercian-te Mauro Marques da Silva, de 49 anos, que vivia em Bento Rodrigues e atualmente mora numa casa alugada no Centro de Mariana.

O temor dos parentes das vítimas é de que manobras jurídicas que têm ocorrido possam tornar os crimes mais leves, livrando os exe-cutivos e administradores de penas severas. “Acho que vão todos ficar sem punição. A empresa (Samarco) tem muita força. Só não pode mais do que Deus”, disse a dona de casa Marli de Fátima Felício Felipe, de 34 anos, que perdeu a mãe na tragédia, não foi indenizada e não acredita que a Justiça punirá criminal-mente os réus.

No último dia nove de outubro, André Ferreira Cardoso executivo da Samarco teve a denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF) revertida pelos desembar-gadores do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) para inundação seguida de morte. A pena original poderia chegar a 30 anos, enquanto a do crime de inundação não passa de oito. Cardoso que além do tipo do crime revertido, recebeu hábeas corpus, era o representante da BHP Billiton no conselho da Samarco.

Outro executivo, José Carlos Martins, que integrava o conselho da Samarco em nome da Vale, teve a sua ação extinta e o processo foi trancado. O MPF recorre da decisão, que pode valer para os demais 21 acusados de homicídio.

No momento em que a tragédia completa três anos o sentimento é de que uma justa reparação ainda está muito distante da vida dos atingidos.

Crime da Samarco em Mariana segue impune após 3 anos

RJ: Witzel quer drones assassinos e atiradores contra comunidades

O Bobo da Corte de Kurosawa fala ao Brasil

Governador eleito do Rio de Janeiro confirmou ida a Israel para conhecer a tecnologia utilizada para matar palestinos

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rod

ução

Comissão do Congresso aprova MP da privatização do saneamento básico

Polícia indicia bolsonarista por crime racial

Declarações de Witzel são “uma afronta à legislação brasileira”

Maior tragédia ambiental do país matou 19 pessoas em Minas Gerais

No Rei Lear, de Shakespeare, o Bobo da Corte pede, em determinado momen-to, que o Rei lhe arranje um professor de mentiras: “Gostaria muito de aprender a mentir”. O Rei o contesta: “Se menti-res, maroto, serás açoitado”. Assim, fica claro que ao Bobo da Corte está faculta-do dizer sempre a verdade, jamais será punido por isso, mesmo que desagrade ao Rei, o que muitas vezes acontece, pois esta é a função do Bobo, ser a consciência crítica do soberano e, dentro do enredo, contribuir para a da plateia. O Bobo, sabedor de que se falar a verdade será açoitado pelas duas filhas gananciosas do Rei, entre as três que este tem, ambas prontas para expulsar o Rei do palácio, deixa nítida sua posição: “Não posso compreender que tu e tuas filhas sejam aparentados. Elas me açoitam por eu dizer a verdade, enquanto tu pretendes fazer o mesmo se eu mentir. Sem contar que algumas vezes sou açoitado apenas por ficar quieto” (Ato I, Cena IV).

O diretor Akiro Kurosawa, ao adap-tar a peça para o Japão medieval, no belíssimo Ran (1985), filme premiado mundialmente e no Oscar do ano seguin-te, cria uma cena muito interessante entre o Rei e o Bobo da Corte. À época, tive o cuidado de anotá-la, e recordei--me insistentemente dela em função dos últimos acontecimentos. O Rei está desolado e sente-se traído, pois cedeu o poder a dois de seus filhos e baniu o terceiro por este revelar a ganância dos irmãos (em substituição às filhas do original), enquanto o Bobo, de quimono e cabelo rabo-de-cavalo, dá cambalhotas e faz piruetas num cenário de escarpa e pedras, igualmente desolado. Sempre pulando, o Bobo critica os erros do Rei através de um koan, gênero oriental de história curta e enigmática: “O ovo da serpente é branco e bonito. O ovo do pássaro é manchado e feio. O pássaro chocou o ovo branco, jogando fora o manchado. Do ovo trocado nasceu a serpente. O pássaro criou a serpente e a serpente comeu o pássaro”.

Naturalmente, uma cena artística deste porte busca a amplitude, permane-ce aberta a muitas e diferentes reflexões, mas gostaria de trazê-la para o nosso ambiente. Ao aderir, passo a passo, ao propósito de administrar todo um país com o objetivo central de transferir juros, os mais altos do planeta, para o sistema financeiro e especuladores, quem quebrou a economia e deixou ao

povo a penúria do desemprego? Quem entregou a maior bacia de petróleo do mundo, abrindo a porteira do pré-sal às petroleiras multinacionais, riqueza que deveria ser a redenção do Brasil, para agora até combustível importar-mos? Quem atendeu os interesses do cartel do bilhão, roubou e prejudicou a Petrobrás e outras estatais, para obter propinas milionárias? Quem estimulou a criação de monopólios locais como as fraudulentas JBS e Odebrecht? Quem disse que gostaria de ter dez empresários como Eike Batista, repu-tando como exemplar o pior falcatrua dos últimos tempos? Em suma, quem preferiu, chocou e criou o terrível ovo branco em detrimento do belo ovo manchado, que a esta gente pareceu feio e sem valor?

Não por acaso, quando denunciou a corrupção dos governos Lula e Dilma, buscando afastar-se dela, o ex--governador e ex-ministro Olívio Dutra falou em Ovo da Serpente, referindo-se não ao filme japonês em questão, mas a outro, com este preciso título, do di-retor sueco Ingmar Bergman, em que é narrada criticamente a ascensão do nazismo desde seu débil surgimento. O petista gaúcho conhece Lula muito bem, foi seu Ministro das Cidades, a segunda liderança nacional do PT durante décadas, além de residirem ambos num mesmo apartamento de Brasília, quando eram deputados. Ain-da que Olívio tenha silenciado sobre tudo o mais e nem mesmo voltou a falar sobre o assunto, não é de pequena monta a sua comparação.

Pouco se comenta, mas é um fato que Bergman esteve na Alemanha nazista antes do início da Segunda Guerra, fazendo intercâmbio estudan-til, um costume das famílias suecas de então, e ali se tornou simpático ao na-zismo. De volta à Suécia, manteve esta posição mesmo após o final da Segunda Guerra e a divulgação das atrocidades dos campos de concentração, que ele julgava fossem apenas filmagens de contrapropaganda, meras trucagens não factuais, mentiras dos norte--americanos, aos quais ele tinha mais acesso que aos soviéticos. Como seria de esperar, a posição de Bergman não se sustentou e, quase imediatamente, ele vivenciou importante crise de revi-são autocrítica. No recente documentá-rio Ingmar Bergman 100 anos (2018), da diretora sueca Jane Magnusson, tais situações estão registradas. É

precisamente esse processo de revisão autocrítica que, anos mais tarde, origi-nará o filme Ovo da Serpente (1977), dirigido com brilhantismo.

Não lembramos desta revisão exa-tamente para falar de Bergman, mas para constatar que, entre nós, muitos brasileiros, das mais diferentes classes e matizes, também se decidiram por um momentâneo apoio a Bolsonaro. Ao externarem seu legítimo repúdio ao desgoverno petista (ao estelionato eleitoral, ao roubo desenfreado, à des-truição do trabalho e das empresas na-cionais) apoiaram num primeiro reflexo o que lhes pareceu o exato oposto. Sem atentar, no entanto, que Bolsonaro e seu programa de governo são a continuação da política econômica petista de modo ainda mais extremado, com viés antide-mocrático que objetiva sua sustentação. Se a Sra. Roussef entregou o pré-sal de Libra e Temer o de Carcará, entre outras áreas, Bolsonaro quer entregar tudo, “a Petrobrás completa”, “todas as estatais com exceção de Furnas, da Caixa e do Banco do Brasil”, aprofundar as reformas da previdência realizadas pelos governos FHC, Lula e Dilma, e a intentada sem sucesso por Temer, para tirar ainda mais direitos dos trabalha-dores e aposentados. E, igualmente, quer destinar os vultosos recursos ad-vindos destas medidas para garantir os sacrossantos juros dos empanturrados banqueiros e rentistas. O que é isso senão a continuidade em grau extremo do que tivemos nos últimos tempos?

Se Lula atendeu o banqueiro Mei-relles, Dilma o banqueiro Levy, Temer os banqueiros Meirelles e Goldfajn, qual diferença haveria em Bolsonaro, que terá o banqueiro e malversador de fundos públicos Paulo Guedes no Ministério da Economia e chegou a convidar Ilan Goldfajn, um dos sócios do Itaú, a permanecer no Banco Central? É preciso cuidado, olhar bem para a reali-dade, pois se não o fizermos, poderemos nós mesmos favorecer involuntaria-mente a sibilante e diabólica criatura.

Em relação às eleições do ponto de vista estrito, quando boa parte da nação justamente votou em Haddad somente por julgar Bolsonaro ainda pior, é preciso verificar, quem chocou e criou o ovo da serpente? Quem elegeu Bolsonaro seu adversário ideal, após as eleições de 2014, para ainda tentar posar de progressista, após a tremenda traição do estelionato eleitoral que re-voltou o povo? Quem, quando Temer

esteve muito perto de ser derrubado, mandou recolher as faixas de “Fora Temer” e aliou-se a ele no julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE, com o objetivo de ganhar tempo, impedir a realização de novas eleições e “deixar Temer sangrar” até o final do manda-to, enquanto quem sangrava era o povo brasileiro? Quem, pensando apenas no seu próprio umbigo, desidratou a única candidatura em condições de derrotar Bolsonaro no segundo turno, conforme mostravam todas as pesqui-sas, em favor da sua própria sorte de presidiário corrupto e em desfavor do país? Quem desfavoreceu inclusive a seu pupilo, que assumiu o humilhan-te papel de impedir a vitória real do povo brasileiro nas eleições? Quem, após patrocinar a perda das eleições, com a vitória do pior candidato (como disse Ciro Gomes lucidamente, “o PT elegeu Bolsonaro”) ainda quer impor aos outros partidos e às outras forças a sua hegemonia na Oposição, o que só favoreceria a Bolsonaro e à aplicação do seu nefasto programa entreguista? Sem estas questões, não vamos agluti-nar uma ampla frente das forças vivas da nação, uma ampla frente nacional e democrática, capaz de impedir as delirantes vontades dos que acham normal bater continência à bandeira dos Estados Unidos e fatiar a Amazô-nia entre as corporações daquele país.

Um amigo lembrou que já está-vamos há quarenta anos nessa luta, assinalando a perspectiva de mudança que desde então em nós se entranhou. Após a conquista do fim da ditadura, tivemos vitórias importantes, como a

Constituição de 1988, o impeachment do entreguista Collor, a não privatiza-ção da quase renomeada Petrobrax, o arquivamento da Reforma da Previdên-cia, mas não foi possível avançar mais muitíssimo em função deste Cavalo de Tróia dentro da Nação Brasileira que tem sido o PT, principalmente através da ação de Lula, da subserviente direção partidária e certas lideranças.

Denunciar as sucessivas traições dos governos e líderes petistas, também as autocríticas miúdas não mais do que cosméticas, inclusive certo mau--caratismo próprio apenas de ladrões e criminosos, é a maneira concreta de alcançar a união do maior conjunto vi-ável de forças em torno da libertação da nossa Pátria das ameaças que sobre ela pairam. E não o silêncio, como a alguns inicialmente possa parecer. A hora não é de passar a mão em cima de erros e traições, principalmente quando tão graves e destrutivas, mas sim de superar esta fase já demasiado longa da quinta coluna. Quem tiver compromisso com o povo acabará por se perfilar a seu lado.

Ninguém está negando a realização de alianças eventuais, em situações específicas ou próprias da dinâmica do parlamento, mas a fase da hegemonia imposta no grito ou através da compra de parlamentares, podem ter certeza os dirigentes petistas, e basta olhar ao redor as forças da Oposição, esta acabou.

Algumas pessoas falam que o país está a caminho das trevas. Temos, antes de mais nada, que aprumar o nosso Sol. Assim garantiremos, tão logo quanto possível, o desenvolvimento e o voo do pássaro. E a derrota da serpente.

Kyoami, o bobo (Shinnosuke Ikehata), com o Senhor Ichimonji Hidetora (Tatsuya Nakadai), em Ran, de Akira Kurosawa

A Medida Provisória 844/2018, que atuali-za abre espaço para a privatização do sanea-mento básico no Bra-sil, foi aprovada nesta quarta-feira (31) pela comissão mista do Con-gresso Nacional. Dos 24 parlamentares presen-tes à votação, apenas 4 foram contrários à MP.

O texto aprovado estabelece a atuação da Agência Nacional

de Águas (ANA) como reguladora dos serviços públicos do setor, in-cluindo as atividades de abastecimento de água, limpeza urbana, manejo de resíduos sólidos, dre-nagem urbana e esgota-mento sanitário. Essas diretrizes nacionais do saneamento básico an-teriormente estavam a cargo do Ministério das Cidades. Ministé-rio esse que de acordo

com o novo presidente eleito, Jair Bolsona-ro (PSL), “[o ministé-rio] vai ser extinto”.

Enquanto o gover-no federal insiste em dizer que a MP tem como objetivo atrair mais investimentos privados para o setor de saneamento, sabe-mos que a verdadeira intenção é angariar lucros gigantescos com a privatização do setor.

O estudante de di-reito Pedro Bellintani Baleotii, autor de um vídeo onde aparece indo votar com uma camise-ta do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) pregando um discurso de ódio com frases do tipo: “Tá vendo essa ne-graiada? Vai morrer!”, foi indiciado pela Polícia Civil por crime racial.

Segundo a Delega-cia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) do DHPP, o estudante vai responder

pelas penas incluídas no artigo 20, parágrafo 2., da Lei do Crime Ra-cial 7.716/89: “Praticar, induzir ou incitar a dis-criminação ou precon-ceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza, estando su-jeito a reclusão de dois a cinco anos e multa”.

Após a repercussão de seu vídeo, o estu-dando da Universidade

Presbiteriana Macken-zie gravou um pedido de perdão, onde afirma não ser “racista, nem preconceituoso, muito menos violento”. “Só queria pedir perdão pelos sentimentos que eu causei nas pessoas que se sentiram até ameaçadas , en f im, agredidas, pela con-tundência do meu áu-dio aí completamente infeliz”, disse Baleotii à reportagem da TV Globo por telefone na última terça-feira (30).

SIDNEI SCHNEIDER

Page 5: “Tirar da Constituição as regras é genocídio ...§ão-3.681-7-e-8-de...Ante outubro, o setor produtivo tombou -1,8% – com contribuição expressiva da queda na produção de

5GERAL7 E 8 NOVEMBRO DE 2018 HP

Ataque à Previdência Social proposto pelofuturo governo é ainda pior que o atual

Continuação da página 8

Contra reajuste zero e perda de direitos trabalhadores da MWL mantêm greve

A importância do refino de petróleo no cenário mundial

Para Dória, Kassab réu por corrupção não é “problema”

A ideia é justamente ‘flexibilizar’ os direitos, podendo reduzi-los ainda mais, ou até mesmo extingui-los, conforme a vontade do ‘mercado’, denuncia deputado

Centrais definem plano de luta contra reforma da Previdência

PAULO CÉSAR RIBEIRO LIMA *

Cerca de 1 milhão e meio de servidoresestaduais devem ficar sem 13º salário

Na China6, o número de refinarias privadas diminuiu drasticamente com o crescimento da Sinopec e da CNPC7.

Deputado Faria de Sá: “retirar as regras daConstituição seria genocídio previdenciário”

O deputado federal Arnaldo Faria de Sá (PP-SP) con-denou, em decla-

ração ao Hora do Povo, o plano de ataque à Previ-dência que está sendo de-batido pelo atual e futuro governo de Bolsonaro. A proposta foi apresenta-da pelo ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga. (Veja em Armínio Fraga propõe a Bolsona-ro assalto mais radical à Previdência).

Uma das medidas seria reduzir o BPC (Benefício de Prestação Continuada) – que garante um salário mínimo para aqueles ido-sos com renda familiar de até um quarto do salário mínimo, independente-mente de contribuição – que passaria a pagar 70% do salário mínimo para todas as pessoas acima de 65 anos. Para receber acima desse valor, seria preciso contribuir com o sistema previdenciário e, para chegar a 100%, a pessoa teria que trabalhar e contribuir por 40 anos.

Atualmente, todas as aposentadorias do regime geral da previdência, por respeitar o princípio da seguridade social, não po-dem ser pagas em valores abaixo do salário mínimo. Para o deputado Arnaldo Faria de Sá, “essa con-versa de BPC – LOAS inferior ao salário mínimo é uma excrecência dos economistas que não vê os cidadãos como gente, mas como meros números”, declarou.

O deputado também condenou o plano de re-

tirar os direitos previden-ciários da Constituição, como propõe Fraga, que passariam a ser defini-dos em lei complemen-tar. A ideia é justamente “flexibilizar” os direitos, podendo reduzi-los ain-da mais, ou até mesmo extingui-los, conforme a vontade do “mercado”.

“Retirar as regras da Previdência Social da Constituição seria um genocídio previdenciário, já tentaram FHC, Lula, Dilma, Temer e todos os outros insensíveis, não conseguiram. Vamos re-sistir”, afirmou Arnaldo Faria de Sá.

A proposta de Fraga prevê ainda a instituição da idade mínima de 65 anos, tanto para homens quanto para as mulheres e a criação de fundos de pensões nos estados, que seriam geridos por bancos privados.

O plano é privatizar a Previdência com o cha-mado “sistema de capi-talização”, que prevê que cada trabalhador deposite sua contribuição indivi-dual numa conta privada para financiar sua futura aposentadoria. Com isso retira-se a participação dos patrões e do Tesouro – ou seja, da sociedade, através das contribuições sociais – do sistema de Previdência.

A lógica passa a ser cada um por si. Com isso os recursos que são desti-nados à Seguridade Social pela Constituição, poderão ser mais facilmente dre-nados pelo governo para o pagamento de juros.

A CNPC já opera refinarias no Japão, Sin-gapura, Sudão, Escócia e França, e está em negociações no Brasil para uma parceria que pode dar à China sua primeira capacidade de refino nas Américas8.

Em 16 de outubro de 2018, a Petrobrás informou que assinou com a China Natio-nal Oil and Gas Exploration and Develo-pment Company (CNODC), subsidiária da CNPC, um Acordo Integrado de Modelo de Negócios9.

Segundo o Acordo, serão desenvolvidos estudos de viabilidade para avaliação técnica do estado atual do Comperj, planejamento do escopo e investimentos necessários para conclusão da refinaria e avaliação econômi-ca. Os estudos serão conduzidos por especia-listas de ambas as empresas e consultores externos. Uma vez quantificados os custos e benefícios do negócio, pretende-se formar uma Joint Venture, que será responsável pela conclusão do projeto e pela operação da refinaria, com 80% de participação da Petrobrás e 20% da CNPC.

Também é importante mencionar que a CNPC está negociando projetos de refino com a Abu Dhabi National Oil Corporation (ADNOC), estatal dos Emirados Árabes que planeja dobrar sua capacidade de refino e triplicar seu potencial no setor petroquímico até 202510.

A estatal da Arábia Saudita, Saudi Aram-co, investirá pesadamente para aumentar sua capacidade de refino e seus negócios no setor petroquímico para assegurar mercados de derivados para seu petróleo11.

A Saudi Aramco planeja aumentar sua capacidade de refino de 5 para 10 milhões de barris de petróleo por dia e dobrar sua produção petroquímica até 2030. A área química é estratégica para a estatal nas próximas décadas para diversificar o risco de uma queda na demanda de petróleo.

A estatal saudita anunciou um acordo inicial para um gigantesco complexo de refi-naria e petroquímica na costa oeste da Índia com um consórcio de empresas indianas. O megaprojeto, estimado em US$ 44 bilhões, contempla uma grande refinaria com capa-cidade para processar 1,2 milhões de barris de petróleo por dia.

A Saudi Aramco também tem um projeto na Malásia com a estatal Petronas para o desenvolvimento de uma refinaria integrada a uma petroquímica (Refinery and Petro-chemical Integrated Development, RAPID) com capacidade de 300 mil barris por dia no primeiro quadrimestre de 2019.

No mercado doméstico, a estatal saudita assinou um memorando de entendimento com a empresa francesa Total para cons-truir um grande complexo petroquímico, em Jubail, que prevê investimentos de US$ 9 bilhões.

Observa-se, então, que as privatizações das unidades de refino, terminais e dutos das regiões Nordeste e Sul pela Petrobrás não estão em linha com o cenário internacional.

Ao que tudo indica, a descoberta da província petrolífera do Pré-sal, ao invés de reforçar a visão histórica e estratégica de uma empresa integrada, pode levar à desintegração da Estatal, o que pode ter graves consequências até para o Brasil. O Pré-sal, que é uma benção, se mal gerido, pode tornar-se uma maldição.

NOTAS:* Paulo César Ribeiro Lima é PhD em

Engenharia pela Universidade de Cranfield, ex-Consultor Legislativo do Senado Fede-ral e ex-Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados. É comentarista do Duplo Expresso sobre Minas e Energia às segun-das-feiras.

1 Disponível em https://cdn.exxonmobil.com/~/media/global/files/summary-annu-al-report/2017-financial-and-operating-re-view.pdf. Acesso em 25 de outubro de 2018.

2 Disponível em http://www.petrobras.com.br/fatos-e-dados/planejamento-e-ca-pacidade-tecnica-de-nossas-equipes-levam-a-recorde-de-producao.htm. Acesso em 25 de outubro de 2018.

3 Disponível em https://monitordigi-tal.com.br/produ-o-da-petrobras-crescer-46-at-2019. Acesso em 5 de setembro de 2018.

4 Disponível em https://www.rosneft.com/business/Downstream/Neftepererabotka/. Acesso em 25 de outubro de 2018.

5 Disponível em https://www.statista.com/statistics/273578/oil-refinery-capacity-of-china/. Acesso em 24 de outubro de 2018.

6 Disponível em http://abarrelfull.wiki-dot.com/asian-refineries. Acesso em 26 de outubro de 2018.

7 Disponível em https://www.forbes.com/sites/augustrick/2018/06/12/chinas-priva-te-oil-companies-struggle-against-soes-wi-th-new-tax-policy-from-beijing/#5b581c-7c2a43. Acesso em 26 de outubro de 2018.

8 Idem. Acesso em 26 de outubro de 2018.9 Disponível em http://www.investidorpe-

trobras.com.br/pt/comunicados-e-fatos-re-levantes/fato-relevante-petrobras-e-cnpc-definem-o-modelo-de-negocios-para-parce-ria-estrategica-no-comperj-e. Acesso em 26 de outubro de 2018.

10 Disponível em https://www.reuters.com/article/us-china-emirates-adnoc-cnpc/cnpc-to-sign-oil-exploration-refining-pac-t-with-uaes-adnoc-this-month-sources-i-dUSKBN1JW19M. Acesso em 26 de outubro de 2018.

11 Disponível em https://oilprice.com/Energy/Energy-General/Saudi-Aramco-Looks-To-Double-Refining-Capacity.html. Acesso em 26 de outubro de 2018.

Após ter anunciado o nome de Gilberto Kassab como futuro secretário da Casa Civil, o governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), declarou que o processo de caixa dois em que o atual minis-tro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações é réu não deve “gerar problemas” à sua futura equipe de trabalho.

Anunciado na segunda-feira (5) como o primeiro nome a formar o secreta-riado do governo paulista a partir de 2019, Kassab virou réu em setembro por atos de improbidade administrativa, depois que a Justiça aceitou denúncia apresentada em 2017 pelo Ministério Público estadu-al de que ele recebeu R$ 21 milhões da Odebrecht, não declarados, para a cam-panha eleitoral de 2008 à Prefeitura de São Paulo.

Na decisão, o juiz José Gomes Jardim Neto, da 9ª Vara da Fazenda Públi-ca, também determinou o bloqueio dos bens do

ministro até o valor de R$ 21.251.676,00. Kassab, que também foi ministro das Cidades no governo Dilma Rousseff, ficará res-ponsável pela articulação institucional e política na futura administração.

Indagado se o processo não traria constrangimen-tos ao futuro governo, Doria afirmou: “A nós, obviamente, isso não gera nenhum tipo de problema, ao contrário: ele demons-trou ao longo de sua traje-tória como homem público, como presidente do PSD e apoiador de primeira hora da nossa candidatura, [como] um competente mi-nistro de Ciência, Tecnolo-gia e Comunicação, toda a sua capacidade”.

“Não há juízo final”, alegou o governador elei-to, tentando minimizar a questão judicial envolven-do o aliado e futuro secre-tário. Doria ainda elogiou o futuro chefe da Casa Civil, a quem chamou de “um dos melhores articuladores políticos do país”.

As Centrais Sindicais se reuniram na última quin-ta-feira (1) para discutir as formas de combate a reforma da Previdência que ameaça voltar à pauta do Congresso Nacional. O primeiro encontro das entidades após as eleições reuniu CTB, CSP- Conlu-tas, Força Sindical, CUT, Intersindical e CSB.

Diante das ameaças de um retorno da reforma à pauta, ameaçando direitos históricos dos trabalhado-res, as centrais convocaram para o próximo dia 12 de novembro um seminário so-bre a previdência que possa indicar pontos importantes para que o sindicalismo pos-sa defender, caso essa dis-

cussão volte, efetivamente.Miguel Torres, presiden-

te da Força Sindical, concla-mou a unidade das Centrais “Só a unidade vai nos dar forças para fazer frente a esse e a outros ataques do novo governo, que estão por vir”, disse.

Wagner Gomes, secretá-rio geral da CTB, disse que “estamos diante de uma proposta ainda pior que a de Temer. Não só acaba com a aposentadoria tornando-a um serviço que será gerido pelos bancos, o que eles es-tão chamando de modelo de capitalização. Ou seja, mais uma vez querem que a classe trabalhadora pague a conta. Não iremos aceitar”, alertou.

Em nota, as entidades

estabeleceram quatro dire-trizes para o próximo perío-do. São elas: (1) Intensificar a luta contra a proposta da reforma da Previdência Social, divulgada recente-mente pelos meios de co-municação; (2) Organizar o movimento sindical e os segmentos sociais para esclarecer e alertar a so-ciedade sobre a proposta de fim da aposentadoria; (3) Realizar um seminário, em 12 de novembro, para iniciar a organização da campanha nacional sobre a Previdência que queremos; (4) Retomar a luta por uma Previdência Social pública, universal, que acabe com os privilégios e amplie a proteção social e os direitos.

Os trabalhadores da m u l t i n a c i o n a l M W L Brasil, empresa que fa-brica rodas e eixos para o setor ferroviário, de-cidiram em assembléia na quinta feira (01) a manutenção da greve pela falta de diálogo com a empresa.

A greve teve início no dia 23 de outubro contra a proposta da MWL de reajuste zero para os sa-lários e para o Programa de participação nos Lu-cros e Resultados, afir-mando que não assinará acordo coletivo, signifi-cando “a perda de todos os direitos conquistados em acordos anteriores”, afirma nota do Sindica-to dos Metalúrgicos de São José dos Campos.

“Os direitos não po-dem ser descartados. A MWL está agindo de for-ma totalmente intransi-gente. Os trabalhadores estão em greve há dez dias e assim permane-cerão enquanto a fábrica não ceder” , af irma o presidente do Sindicato, Weller Gonçalves.

O Rio é um dos estados que desde 2016 não consegue pagar a remuneração no mesmo ano

Pelo terceiro ano con-secutivo, os servidores estaduais poderão ficar sem 13° salário. Neste ano, segundo sondagem do jornal O Estadão, pelo menos 1,5 milhão de servidores dos estados do Rio Grande do Sul, Mi-nas Gerais, Rio de Janei-ro, Rio Grande do Norte, entre entes federativos, correm riscos de ficarem sem beneficio, pois não há ainda dinheiro em caixa para o pagamento.

O jornal procurou to-dos os governos estadu-ais, do total, 16 responde-ram e disseram que estão buscando mecanismos para contornar a crise. Os governos do Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte ainda não quita-ram todas as parcelas do 13° dos servidores refe-rente ao ano de 2017.

O governo gaúcho já avisou que não tem di-nheiro para o benefí-cio do ano. O salário de outubro, que deveria ter entrado no dia 31, ainda não caiu na conta dos servidores. Já o Rio Grande do Norte ainda não conseguiu pagar o 13.º de 2017 para quem ganha acima de R$ 5 mil. Sobre o pagamento de 2018, não há nenhu-ma posição do governo estadual.

Em Minas, o governo afirmou que a questão será discutida com repre-sentantes dos sindicatos dos servidores públicos do Poder Executivo, en-tretanto a data para a reunião não foi definida até agora. Já faz dois anos e meio que os fun-

cionários do executivo estão recebem seus salá-rios de forma parcelada todos os meses. Nos ano passado, o 13.º teve de ser parcelado em qua-tro vezes. Neste ano, os atrasos de salários também passaram a ser mais rotineiros para os servidores mineiros.

Desde 2016, o estado do Rio não consegue pagar a remuneração no mesmo ano. O de 2016 foi debita-do em dezembro do ano

passado e o de 2017, em janeiro e abril de 2018. O Palácio Guanabara fe-chou um acordo de ajuda financeira com o governo federal no fim do ano passado, e diz que está trabalhando para efetu-ar o pagamento do 13.º salário dentro do prazo legal, em dezembro. Mas segundo fontes do Esta-dão, não há garantia de que haja dinheiro sufi-ciente para fazer todos os pagamentos.

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INTERNACIONAL 7 E 8 DE NOVEMBRO DE 2018HP6

Gabriel Alves com o presidente Assad

Um brasileiro na Síria que resistiu

A partir da esquerda, Iraklis, Socorro Gomes (CMP), presidente Assad, Tofari e Larduet (FMJD)

Ingleses usam 13% do salário com transporte; espanhóis, 5%; alemães, 4% e italianos, 3%

GABRIEL ALVES*

Bashar al Assad à Missão Internacional: “Preservamos a Pátria e a independência”

Os subsídios governamentais às ferrovias privatizadas foram multiplicados por quatro desde 1993 enquanto tarifas aumentaram em até 245%

Privatização de ferrovias custa £ 5 bilhões por ano aos ingleses

Reut

ers

Filhos do jornalista saudita querem o corpo do pai para “um funeral digno”

Desde a privatiza-ção das ferrovias inglesas, planeja-da por Margaret

Thatcher e implementada pelo primeiro-ministro John Major, após a devi-da “aprovação real”, em 1993, a população sofre com os preços das tarifas, que dispararam 20% em média, com os serviços despencando, falta de pon-tualidade e as reclamações trabalhistas se multipli-cando. Ao mesmo tempo, a infraestrutura – que segue em mãos do Estado – tem se deteriorado cada vez mais. Este é o resultado da privatização da British Rail, que continua cus-tando aos contribuintes a exorbitante quantia £ 5 bilhões (Cinco bilhões de libras esterlinas!) por ano, aponta recente estudo realizado pelo Partido Tra-balhista para lembrar o 25º aniversário da dilapidação deste patrimônio público.

Conforme o levanta-mento, os subsídios go-vernamentais às ferrovias privatizadas foram multi-plicados por quatro desde 1993. E logo após a British Rail começar a ser vendida, em 1995, as tarifas foram catapultadas. O custo de uma passagem em horário de pico de Londres para Manchester, por exemplo, aumentou em 238%, de £ 50 para £ 169 - três vezes mais do que a inflação do perío-do. Uma única passagem de Londres para Exeter saltou de £ 37,50 para £ 129,50 – absurdos 245% - enquanto a passagem de Londres para Swindon mais que triplicou, de £ 20 para £ 66.

Com reajustes vitami-nados nas tarifas, sem qualquer critério, alerta o Sindicato Nacional Inglês TUC (Trades Union Con-gress), os trabalhadores estão sendo obrigados a deixar 13% de seu salário para cobrir o gasto com os transportes, contra 5% dos espanhóis, 4% dos alemães e 3% dos italianos.

De acordo com a secretá-ria-geral do TUC, Frances O’Grady, “o fato é que as pessoas no continente estão usufruindo de pre-ços muito mais acessíveis, além de melhores serviços, enquanto nossos trens

continuam se deterioran-do”. “A única solução é que as ferrovias voltem a ser públicas. Isso evitará os subsídios dados às com-panhias privadas e servirá para colocar os passageiros em primeiro lugar”, acres-centou a sindicalista.

Diante dos abusos cres-centes, multiplicam-se os protestos contra as tari-fas ferroviárias “os mais velhos e os mais caros da Europa”. Manifestantes erguem cartazes denun-ciando “o grande roubo do trem” e exigindo “preços justos agora”.

“O que estão nos fa-zendo equivale a uma ex-torsão”, protestou Sarah Beer, que para percorrer a distância de 60 quilôme-tros entre Linfield e Lon-dres necessita desembolsar 4.000 libras anuais (4.500 euros ou 18 mil reais). Para Sarah, “o preço é um escândalo, porém ainda mais grave é o lamentável e pouco confiável serviço”.

“Vinte e cinco anos de-pois, está claro que a privati-zação das ferrovias tem sido um fracasso catastrófico, com o contribuinte investin-do cada vez mais dinheiro no sistema privatizado”, alerta o Partido Trabalhista, de-fendendo a nacionalização para que se comece a colocar ordem na casa.

Comprometidos em fa-zer com que as ferrovias britânicas voltem a ser propriedade pública, os trabalhistas denunciam que “os beneficiários do financiamento público des-viado através de privatiza-ções de transporte têm sido os ganhos dos diretores, os dividendos dos acionistas e os cofres dos governos estrangeiros”.

“O trabalhismo prio-rizará o serviço público em detrimento do lucro privado. E começaremos trazendo nossas ferrovias de volta à propriedade pú-blica, à medida que as fran-quias expirarem ou, em outros casos, com revisões de franquia ou cláusulas de quebra”, enfatiza o partido oposicionista, comprome-tido ainda em limitar as tarifas, introduzir o wi-fi gratuito nos trens e melho-rar a acessibilidade para pessoas com deficiência.

Argentinos acampam em repúdio a cortes no orçamento da província de Buenos Aires

A chance de viajar para a Síria foi uma coisa que me empolgou desde o começo.

Conhecer uma nova cultura, conversar com as pessoas e entender mais sobre o que acontece por aqui. Só que eu precisei chegar até Damasco pra descobrir que ela é a cidade, atualmente povoada, mais antiga mundo, e isso me convenceu de vez que eu deveria escrever algo sobre a viagem. Muito mais do que explicar as coisas ou tentar analisar com detalhes o conflito na Síria, a ideia foi escrever sobre o que eu vi neste país tão diferente do nosso.

Acho que vai ser difícil conseguir expres-sar algumas coisas aqui, porque conseguir explicar em palavras as emoções de co-nhecer um país tão rico em cultura, e que vem sofrendo há 7 anos com uma agressão cometida pelo imperialismo, vai muito além da minha capacidade de escrever sobre as coisas. Principalmente porque umas das faces mais cruéis da agressão é uma violenta campanha de mentiras e desinformação.

O cenário que eu imaginava encontrar era completamente diferente da realidade. Para chegar em Damasco é necessário ir até o Líba-no e cruzar a fronteira de carro. É uma viagem rápida, um pouco mais de duas horas, e é um caminho montanhoso e bem bonito. E a parte síria da estrada é muito boa, bem melhor do que a libanesa, mesmo com os vários anos de guerra e bloqueio que o país vive.

Acho que a entrada em Damasco foi o momento em que vi o quanto era igno-rante em relação ao que era a cidade e o país. Damasco é uma cidade que funciona plenamente, com gente andando na rua sem medo e sem nenhum sinal de guerra. É uma cidade grande, com muitos prédios, universidades e muita gente indo daqui para lá sem nenhum receio ou repressão pela parte do governo ou por conta da guerra.

A agressão que a Síria sofreu nos últimos anos não foi pequena. O país foi atacado por terroristas mercenários de mais de 80 nacionalidades, foi submetida a vários bombardeios e ataques de importantes potências militares (como EUA, França, Inglaterra), além de Israel e ainda teve que resistir a um criminoso bloqueio econômico realizado pelos mesmos países que a ataca-ram. Ou seja, não somente atacaram o país como ainda tentaram sufocar os sírios para impedir a reconstrução do país e também detonar com a condição de vida das pessoas. Fizeram isso para derrubar o governo sírio e obrigar a população a ser governada por al-gum fantoche. É exatamente pelo tamanho da agressão que foi cometida contra a Síria que é absolutamente impressionante a re-sistência do povo e que Damasco e a maioria da Síria hoje estejam de pé e vivendo bem.

É claro que essa agressão teve um custo grande para os sírios. Damasco foi atingida várias vezes por bombardeios e até com o uso de armamentos proibidos como o fósforo branco, por exemplo. Morreram pessoas nesses ataque e o o bloqueio econômico dei-xou vitimas, mas o povo e seus lideres não vacilaram e acreditaram que era possível ganhar essa parada. São heróis.

Nos arredores de Damasco existe um lindo monumento homenageando o Soldado Desconhecido e aqueles que tombaram na guerra. Dentro desse monumento existem cinco pinturas que lembram dos mortos em cinco diferentes batalhas: contra o Império Bizantino, contra as tropas das cruzadas, contra os franceses e duas guerras contra Israel. A Síria é um país milenar, berço da civilização, e que para se estabelecer teve que resistir e vencer vários impérios. Não foi a primeira vez em que eles tiveram que lutar contra a injustiça e um poder de fogo superior e não será a primeira vitória contrariando as previsões. Infelizmente, é normal na história da humanidade os im-périos acharem que podem através da força submeter os povos e roubar suas riquezas, mas ainda bem que em vários momentos a luta dos povos foi capaz de resistir e der-rotar a injustiça. É um desses momentos heróicos que estamos vendo hoje.

* Coordenador Nacional da Juventude Pátria Livre

No quadro da Missão Internacional de Solidarie-dade, integrantes do Conse-lho Mundial da Paz (CMP) e da Federação Mundial da Juventude Democrática (FMJD), encontraram-se com o presidente da Síria, Bashar Al Assad, dirigen-tes da União Nacional dos Estudantes Sírios (NUSS), estudantes da Universida-de de Damasco e diversas lideranças do país.

Ao final dos encontros, que transcorreram de segunda a quarta, os re-presentantes de 52 orga-nizações e partidos vindos de 37 países, em declara-ção conjunta, afirmaram que o povo sírio é o único responsável por decidir o seu futuro, unidade e soberania.

NA UNIVERSIDADE

A declaração final se deu na Universidade de Damasco, onde os pre-sentes ao encontro sauda-ram a “luta do povo sírio contra o terrorismo e o imperialismo”, afirman-do que esta luta “é um exemplo a ser seguido por todos os povos do mundo que lutam por suas justas causas”. Também acres-centaram que “o grande heroísmo do povo sírio demonstrou a possibilida-de de derrotar os inimigos dos povos”.

Finalizaram decla-rando a felicidade com a qual presenciam que a vida já voltou ao nor-mal na maior parte do território da Síria, destacando seu inteiro apoio “à luta do povo sírio até a conquista de uma vitória completa contra o terrorismo”, condenando os complôs e sanções com as quais tentam, em vão, minar a vontade do povo sírio. Manifestaram repúdio à presença de forças dos Estados Unidos e da OTAN a leste do Eufra-tes e perto da fronteira jordaniana.

BASHAR AL ASSAD

“Pagamos um alto pre-ço para preservar a nossa Pátria e a independência de nossas decisões”, afir-mou o presidente sírio, Bashar Al Assad, ao agra-decer aos participantes pelo posicionamento em apoio à Síria desde o co-meço da guerra, e acres-centou que “os princípios fundacionais do CMP e da FMJD podem contribuir muito para produzir um mundo mais seguro e onde a justiça prevaleça para as futuras gerações”.

“O peso do CMP e da FMJD reside em sua ade-são aos princípios e à defesa da verdade, como encarnações dos funda-mentos da paz em um tempo em que grande parte das políticas inter-

nacionais se baseiam em mentiras e enganação”, acrescentou o presidente.

“O mundo precisa des-tas organizações e par-tidos especialmente em meio a tentativas por algumas superpotências de transformar organi-zações internacionais em instrumentos para atingir a estabilidade e pressionar pela destrui-ção ao invés de exercerem esforços para consolidar a paz e a estabilidade no mundo”, concluiu Assad.

CMP E FMJD

A presidente do CMP, Socorro Gomes (do Bra-sil), afirmou que “os ter-roristas não conseguiram vencer o povo sírio que em breve estará cele-brando a vitória completa sobre esses invasores, sob o comando do presidente Bashar Al Assad, que se comprovou como um grande líder na luta ela preservação da soberania de seu país”.

O presidente da FMJD, Iacovos Tofari (da Or-ganização Unificada da Juventude Democrática (EDON) do Chipre), afir-mou que as delegações presentes levarão as in-formações que reuniram nestes dias de debates para as organizações nas quais participam, fortale-cendo o apoio internacio-nal ao povo sírio.

ESTUDANTES SÍRIOS

Por seu lado, o diretor de Relações Internacio-nais da NUSS, Arsheed Sayasneh, agradeceu a solidariedade e reafirmou a certeza de que todos logo serão novamente convidados para junto com os sírios celebrarem a conquista da vitória contra o terrorismo.

O coordenador nacio-nal da Juventude Pátria Livre, Gabriel Alves, relatou que “nesses três dias de atividade pude-mos conhecer uma Síria completamente diferen-te daquela que é apre-sentada pela campanha americana de mentiras. Vimos um país pacífico e com um povo feliz e unido na defesa de sua soberania. Os sete anos de guerra trouxeram muitos prejuízos para o país, mas o compromisso das lideranças sírias em defender sua pátria e sua história construiu uma imensa unidade. E essa unidade está criando um caminho para a vitória.”

“Nos reunimos com diversos líderes, inclu-sive com o presiden-te Bashar Al Assad e conversamos com muitas pessoas, tra-zendo a solidariedade da juventude do Brasil e de outros países. Saí-mos daqui com o com-promisso de espalhar a verdade em nosso retorno e fazer uma ampla campanha pela paz na Síria, contra o terrorismo financiado pelo imperialismo, e em defesa da unidade territorial do país”, finalizou Gabriel.

Também integraram a Missão Internacional o secretário-geral da FMJD, Yusdaquy Larduet da Uni-ón de Jóvenes Comunis-tas (UJC), de Cuba, o secretário-executivo do CMP, Iraklis Tsavdaridis (da Grécia). O Cebrapaz (Centro Brasileiro de So-lidariedade aos Povos e Luta Pela Paz) esteve representado por Antônio Barreto, Moara Crivalen-

Salah e Abdullah, fi-lhos do jornalista Jamal Khashoggi, assassinado há um mês no consulado da Arábia Saudita na Turquia, exigiram a de-volução do corpo do pai, na primeira entrevista após o assassinato.

Eles pedem que o cor-po do pai seja entregue para que possam fazer um enterro digno. "Tudo o que queremos é o direi-to a sepultá-lo em Al-Baqi [um cemitério] em Medi-na [na Arábia Saudita], onde está o resto da nossa família. Falei sobre isso às autoridades sauditas e espero que isso possa acontecer em breve", as-sinalou Salah Khashoggi.

"É um mistério o que aconteceu com o meu pai e tem sido um enorme fardo para todos nós. Todos estão à procura de informação e pensam que nós temos acesso, infelizmente não temos", afirma Salah, de 35 anos. Destacaram que procu-ram respostas para o que

aconteceu com o jornalis-ta do Washington Post e crítico do regime saudita, depois de ter entrado há um mês no consulado em Istambul, e nunca mais ter sido visto. "Os deta-lhes são muito vagos. Não sabemos o que aconteceu lá dentro. Cada um conta uma história diferente. Eu tento não pensar nis-so", disse Abdullah, de 33 anos, quando confronta-do com as informações do governo turco de que Khashoggi foi torturado, morto e esquartejado.

Numa primeira fase as autoridades sauditas negaram qualquer envol-vimento no desapareci-mento do jornalista, mas acabaram por admitir que este morreu durante um interrogatório que “correu mal”.

A versão publicada por jornais em todo o mundo, com base em fontes da polícia turca, é de que Khashoggi foi sub-metido à tortura e teve seu corpo despedaçado.

Trabalhadores convoca-dos por sindicatos e organi-zações sociais da Argentina acamparam na Praça San Martín de La Plata, capital da província de Buenos Ai-res, onde ficarão até a próxi-ma quinta-feira, em rechaço aos cortes de orçamento que a governadora María Euge-nia Vidal pretende executar na província em 2019.

Durante a medida frente a Câmara dos Deputados provin-cial, também serão apresen-tadas uma série de propostas para “demonstrar que o ajuste não é o único caminho”, assi-nalou o presidente da Asso-ciação de Trabalhadores do Estado, ATE, Oscar de Isasi.

"Os trabalhadores nos opomos a qualquer orça-mento que tente consolidar a desigualdade", sublinhou o dirigente. Acrescentou que "vamos a por em debate com a sociedade e com os legislado-res nossas propostas de como deveria estar conformado o orçamento para melhorar as condições de vida de milhões de compatriotas que habitam o território da nossa provín-cia e que hoje estão numa situação muito ruim".

"Queremos que se invista em saúde, educação, emergên-cia alimentar e nos setores pro-dutivos. Necessitamos também que se reinvista no Estaleiro Río Santiago para que volte a ser a empresa emblemática da região capital e que realize embarcações de grande calado", disse Isasi, referindo-se a um

dos estaleiros de maior im-portância na América Latina. Fundado em 1953, durante a presidência de Juan Domin-go Perón, empregou mais de 8000 trabalhadores, e reali-zou trabalhos no setor naval, industrial e ferroviário. Em agosto de 2018 teve centenas de funcionários demitidos e hoje é ameaçado de fechamento.

Outras organizações que também participam no acam-pamento contra o orçamento provincial para 2019 são a Associação Sindical de Profis-sionais da Saúde da Província de Buenos Aires (CICOP), Associação Judicial Bonae-rense (AJB), Associação de Funcionários do Legislativo (APL), Sindicato da Constru-ção (Sitraic), Confederação de Trabalhadores da Economia Popular (CTEP).

O anteprojeto apresenta-do pelo governo coloca para a principal província da Ar-gentina um ajuste fiscal de cerca de 6 bilhões de reais. Porém, indica Iasi, “deram isenções impositivas a gru-pos econômicos, principal-mente multinacionais, por 490 bilhões de pesos (apro-ximadamente 51 bilhões de reais), oito petroleiras levam subsídios por 114 bilhões de pesos (12 bilhões de reais)”. Se a isso se somam os impos-tos que teriam que pagar por suas ganâncias os 30 maiores exportadores agropecuários, “a soma dá uma cifra que demonstra que há recursos”, frisou o dirigente.

Page 7: “Tirar da Constituição as regras é genocídio ...§ão-3.681-7-e-8-de...Ante outubro, o setor produtivo tombou -1,8% – com contribuição expressiva da queda na produção de

INTERNACIONAL7 E 8 DE NOVEMBRO DE 2018 HP

Trump faz boca de urna com arame farpado e 15 mil soldados na fronteira

ANTONIO PIMENTA

Tropas recebem instruções para a “guerra ao invasor”. Ou caçada ao voto difícil

Multidão rechaça sanções e Rouhani afirma que ‘o Irã seguirá vendendo seu petróleo’

7

AFP

Bielorrúsia aconselha Polônia a não criar ‘Forte Trump’ ou resposta será inevitável

Arame farpado na fronteira

Pyongyang e Seul marcam conversação sobre cooperação intercoreana em Saúde

EUA, Venezuela e Bolsonaro Há cerca de um século, os Estados Unidos

da América consideram a América Central e a América do Sul como sua área de influência. As razões variaram ao longo dos anos. No início do século XX, era a ideologia do “Grande Porrete”, cujo nome vem de um provérbio africano que o então presidente dos EUA, Theodore Roo-sevelt, gostava de repetir: “fale suavemente e carregue um grande porrete; você irá longe”. No berço da Guerra Fria, os anos 40 e 50, havia diversos ditadores simpáticos aos EUA, ou seja, anticomunistas. Os Somoza na Nicarágua, Ful-gêncio Batista em Cuba, Trujillo na República Dominicana, Stroessner no Paraguai, Marcos Pérez Jiménez na Venezuela e por aí vai.

Em 1959 veio a Revolução Cubana, a menos de 300 quilômetros da costa dos EUA. Um gru-po de guerrilheiros liderados por Fidel Castro, Raul Castro e Che Guevara derrubou o governo de Batista e se alinhou com a União Soviética. Isso fez com que a Central Intelligence Agen-cy, a CIA, fizesse um forte investimento para derrubar Castro, culminando na tentativa fracassada de invasão na Baía dos Porcos, em 1961. Em 1963 o então presidente John F. Ke-nnedy declarou que era necessário “usar todos os recursos para prevenir o estabelecimento de outra Cuba neste hemisfério”. Se sucederam ditaduras no Brasil, na Argentina, no Uruguai, em Honduras e na Nicarágua, entre outros.

Em 2002, após Hugo Chávez nacionalizar a exploração do petróleo na Venezuela sob o controle da Petróleos de Venezuela S. A. (PD-VSA), o país sofreu um golpe de estado. Um novo presidente, Pedro Carmona, foi instalado e rapidamente reconhecido como legítimo pelos EUA. No entanto, uma movimentação rápida do exército e da população resultou na destitui-ção de Carmona e na volta de Chávez ao poder. Este golpe é o foco do incrível documentário “A Revolução Não Será Televisionada”. Chá-vez ganhou sucessivas eleições até sua morte em 2013, quando seu vice, Nicolás Maduro, assumiu e se mantém na presidência até hoje. O país, apesar de ter as maiores reservas de petróleo do mundo, vive uma gravíssima crise hiperinflacionária e de abastecimento.

O giro do BrasilNos anos dos governos Lula e Dilma, o Brasil

foi aliado da Venezuela. Por causa da crise no nosso vizinho, esse apoio foi assunto durante a campanha para a Presidência do Brasil. Outro assunto recor-rente entre os eleitores foi o nosso regime militar. Por um lado, o temor de um governo de esquerda causar aqui a mesma catástrofe que Maduro causou por lá. Ao mesmo tempo, a certeza de que o regi-me militar combateu duramente os comunistas, e, portanto, para prevenir que o Brasil “virasse uma Venezuela”, era necessário eleger alguém da linhagem do regime militar e não da esquerda. Esse alguém foi Jair Bolsonaro, capitão reformado do Exército, do Partido Social Liberal (PSL).

Inspirado em Donald Trump – um apresen-tador de TV de língua solta com uma forte pre-sença nas redes sociais que se elegeu presidente dos EUA contra todas as probabilidades – o capitão conquistou o eleitorado com o discurso anticomunista e anticorrupção – uma corrupção ligada ao Partido dos Trabalhadores (PT), a principal força de esquerda no Brasil e o partido do seu oponente Fernando Haddad. Ganhou o segundo turno com 57 milhões de votos, a segunda maior votação da história do Brasil, atrás apenas daquela recebida por Lula, o líder encarcerado do PT, no segundo turno de 2006.

Num ato a favor de Bolsonaro, no domingo anterior à votação, o candidato fez um discurso inflamado contra a esquerda, dizendo que iria “varrer os marginais vermelhos” e que diver-sas figuras do PT, incluindo seu adversário no pleito, “iam apodrecer na cadeia”. Seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, no mesmo ato disse, em relação a Venezuela, que o Brasil iria “libertar nossos irmãos da fome e do socialismo”, que “a melhor solução para a crise migratória que nós vivemos é a saída de Maduro do poder” e que “a gente vai dar uma lição nesse narcoditador”. Ele também citou o então candidato a vice-presidência General Hamilton Mourão, que disse em sabatina à GloboNews que “a nossa próxima força de paz será na Venezuela”. Durante a apuração dos votos, o deputado estava reunido com um grupo de oposição à Maduro, o Rumbo Libertad.

Por sua vez, o presidente dos EUA, Donald Trump, falou em “opção militar” em agosto do ano passado, a respeito do nosso país vizinho. No início de setembro o New York Times fez uma matéria sobre as discussões entre oficiais dos EUA e co-mandantes militares da Venezuela sobre um golpe no país. No final do mesmo mês, em reunião com o presidente do Chile, Sebastián Piñera, Trump disse que iriam falar da Venezuela e que o país era um “desastre que precisa de uma limpeza”. Na se-gunda-feira, dia 29, um dia após o segundo turno, uma matéria da Folha com uma fonte anônima do alto escalão do governo colombiano afirmou que a Colômbia apoiaria uma operação militar contra a Venezuela lançada por Trump ou Bolsonaro. O governo colombiano, por meio de uma declaração em vídeo, negou qualquer sugestão de intervenção militar, porém a Folha não se retratou e manteve a matéria no ar. A Colômbia tem tratados milita-res com os EUA, faz manobras em conjunto com o exército estadunidense e é um forte aliado do país na região. No mesmo dia, Trump ligou para Bolsonaro e disse que teve uma boa conversa com o presidente eleito, e que os EUA irão trabalhar junto com o Brasil “no comércio, forças armadas e tudo mais”.

Também no dia 29, o ex-diretor da CIA e atual secretário de Estado Mike Pompeo ligou para Bolsonaro e conversou sobre o compromisso com a democracia e os direitos humanos e sobre a cooperação na política externa, incluindo sobre a Venezuela. Em relação aos direitos humanos, vale lembrar que a CIA e o Departamento de Es-tado sabiam que o alto escalão do regime militar no Brasil, na década de 70, estava diretamente envolvido na execução ilegal de pessoas conside-radas “subversivas”, como revelou o pesquisador Matias Spektor em maio deste ano. Esses assas-sinatos, no entanto, não geraram comoção nos EUA e nem resultaram em sanções ou qualquer tipo de manifestação negativa pública, na época.

Finalmente, na sexta-feira, dia 2, o Conse-lheiro de Segurança Nacional de Trump, John Bolton, fez elogios à eleição de Iván Duque, na Colômbia, e Jair Bolsonaro, no Brasil, atacou os governos de Cuba, Venezuela e Nicarágua, os chamando de “troika da tirania”, e disse que os EUA vão impor sanções a eles.

*É colaborador do HP e editor do blog caiorearte.blogspot.com – Twitter: caiorearte2

Leia mais em: https://horadopovo.org.br/os-es-tados-unidos-a-venezuela-e-bolsonaro/

Em um comício de campanha no sá-bado, o presidente Donald Trump enal-

teceu sua boca de urna nas eleições intermediárias desta terça-feira (6), que decidirão os rumos do Congresso, atualmente controlado pelos republicanos. “Nós temos nossos militares na frontei-ra. E notei todo aquele lindo arame farpado que sobe hoje. O arame farpado usado corretamente pode ser uma bela vista”.

“Bela vista” com arame farpado à parte, de acordo com as pesquisas, cuja con-fiabilidade é contestável, os democratas poderiam ven-cer a disputa na Câmara, por uma margem de 7% a 15%, onde todas as cadei-ras estão em disputa, en-quanto a turma de Trump deve manter o controle do Senado, em que estão em jogo 35 assentos – um terço -, sendo que 26 já ocupados por democratas.

Um sintoma da disputa em curso foi o vídeo divul-gado por Trump nas redes, considerado o mais racista em 30 anos, em que o alvo é, claro, os imigrantes, de-monizados na figura de um delinqüente (e que repete um anúncio da eleição de Bush Pai, contra os negros).

Dobrando todas as apos-tas, Trump ameaçou cas-sar, com uma canetada, o direito à cidadania de filhos de imigrantes em situação ilegal, concedida pela 14ª Emenda e referendada por decisão da Suprema Corte após a morte de Lincoln.

No voto a voto de Trump, são mais de 170 milhas de arame farpado, barricadas em pontos de passagem de fronteira, e 3500 soldados realizando ostensivamente operações, e com quase 12 mil a ca-minho - um contingente do tamanho do que ocupa atualmente o Afeganistão. Conforme a mídia, o custo da operação está orçado em US$ 200 milhões.

Tudo para empurrar às urnas os xenófobos ou os simplesmente assusta-dos pela odienta retórica do presidente, contra a “invasão” da caravana de miseráveis e famintos que fogem da violência e fome que Washington espalhou na América Central.

Dois ou três dias depois de um neonazista tuitar que “estava indo” para uma sinagoga para deter a “invasão” e matar 11 ju-deus idosos, Trump anun-ciou que as tropas que es-tava enviando para a fron-teira poderiam disparar em resposta “a uma pedrada”. Precisou do general ‘Mad Dog’ para demovê-lo. A caravana está chegando à capital do México e ainda levará dias até à divisa.

Ainda por pura coinci-dência Trump marcou a retomada do bloqueio à ex-portação de petróleo do Irã para a véspera da eleição, dia 4, com as manifestações de repúdio em Teerã servin-do para apavorar eventuais eleitores e engrossar o coro das fake news e do ódio. Foi Trump quem rompeu o acordo, não o Irã.

Também estão em dis-puta os governos de 36 de 50 estados. Um fator a favor de Trump é que a ‘bolha de tudo’ não estou-rou – ainda -, e a situação da economia é considerada “boa”, com o alívio tempo-rário no imposto dos mais pobres ainda tendo efeito, o que passará logo depois da eleição (já o imposto das corporações foi reduzido de forma permanente de 35% para 20%). Nos últimos tempos, ele tem chiado que o Fed anda aumentando o juro rápido demais e ele também tenta quase dia-riamente capitalizar sua guerra econômica contra a

China e o resto do planeta.Os democratas colocaram

no centro da campanha a questão da saúde, principal-mente a defesa do Obama-care, mas com os candida-tos alinhados com Bernie Sanders indo mais longe e propondo o Medicare para Todos – a extensão a todos os cidadãos da saúde pública já disponível há quatro dé-cadas para os aposentados.

Em paralelo, insufla-ram todo tipo de pauta identitária, do #MeToo ao controle das armas. Um número sem precedentes de mulheres apresentou sua candidatura. Em re-lação aos imigrantes, os democratas varreram para debaixo do tapete a con-dição de Obama como de-portador-em-chefe, o pre-sidente que mais deportou na história do país foi às ruas engrossar a campanha democrata. Também uma bancada de egressos da CIA se lançou como candidatos democratas.

A campanha também é permeada por aquele ambiente agressivo, que Trump insuflou por seu lado, contra os imigrantes e muçulmanos, e os demo-cratas, pelo açulamento da farsa do Russiagate, a ‘inge-rência russa’, que alimenta a hostilidade contra a outra superpotência nuclear e agudiza o risco de guerra – e agora, com o próprio Trump embarcando na saída uni-lateral do Tratado de proi-bição de mísseis nucleares intermediários (INF).

ESPANTALHOTrump também acenou

com o espantalho da Ve-nezuela, dizendo que se os democratas vencerem – no caso, os que pedem univer-sidade gratuita e Medicare para Todos, vão fazer dos EUA “outra venezuela”.

Conforme vários ana-listas, desde o início da campanha Trump buscou tornar a eleição em um “referendo” sobre seu go-verno. A mídia continua acusando-o de fomentar a “divisão” e o “ódio”, com o Washington Post asse-verando que, na reta final de campanha, o presidente subiu da marca de cinco mentiras para 30 mentiras cabeludas por dia.

Em sua tuitada de vés-pera de eleição, Trump ridicularizou as “falsas pesquisas de opinião” da CNN e as “baixas avalia-ções”. “É tão engraçado ver as pesquisas de supressão falsa da CNN e a falsa re-tórica”, teclou Trump. Ele convocou seus eleitores – “os deploráveis”, segundo Hillary – “não caia no Jogo da Supressão [a pressão de uma campanha para indu-zir o não-comparecimento do eleitorado adversário]”. “Saia e vote. Lembre-se, agora temos talvez a maior economia (empregos) na história do nosso país”. 35 milhões de pessoas vota-ram antecipadamente.

Em conversação com o chanceler polonês, Yacek Chaputovich, o presidente da Bielorrussia, Alexander Lukashenko, se pronunciou contra a anunciada oferta de Varsóvia aos EUA para gastar até US$ 2 bilhões para criar uma base dos EUA, com uma divisão do exército ianque, em território da Polônia. Ele advertiu que se o chamado “Forte Trump” – o nome é do próprio governo polonês – for criado, a resposta será inevi-tável e junto com os russos.

Lukhashenko assinalou que não se trata de ameaça, mas de “uma medida lógica espelhada”. “Não vamos en-trar em luta, portanto não é preciso criar bases [milita-res] extras”, assinalou. “Caso contrário, nós com os russos teremos que responder. En-tão teremos que postar algo

para neutralizar vocês”.Ao mesmo tempo, o pre-

sidente da Bielorrússia sublinhou que a política externa do país é constru-ída de acordo com o prin-cípio “viver bem com seus vizinhos”. “Somos pessoas pacíficas, não queremos guerra. Nós não somos ricos, mas nada pedimos a ninguém. Nós mesmos ga-nharemos nossa felicidade. Eu já disse que dezenas e centenas de anos de nego-ciações são melhores do que um dia de guerra”, reiterou Lukashenko.

A questão já havia sido levantada por ele em 31 de outubro. “Se os políticos na Polônia dizem que estão dispostos a gastar bilhões de dólares para colocar armas americanas lá e introduzir batalhões norte-americanos,

criar um certo Forte Trump, nós, é claro, reagiremos”. A criação do Forte Trump foi oferecida pelo ministro da Defesa polonês, Mariusz Blašczak, durante visita a Washington em setembro, enquanto o chanceler Yacek Chaputovich manifestou sua expectativa de uma decisão positiva “na primavera do próximo ano”.

Em entrevista, o chance-ler russo Sergei Lavrov ad-vertiu que “a ideia de nossos colegas poloneses de convi-darem uma divisão ameri-cana para seu território seria uma violação direta do Ato de Fundação Rússia-Otan, que proíbe expressamente o envio de forças de combate substanciais de forma contí-nua nos territórios dos países membros da Otan da Europa Central e Oriental”.

A República Popular Democrática da Coreia – RPDC e a Coreia do Sul concordaram nesta segun-da-feira (5) em realizar durante a semana, prova-velmente na quarta-feira (7), conversações a nível de trabalho em saúde e coope-ração médica a realizar-se no Escritório Intercoreano em Kaesong, na fronteira entre Norte e Sul. O escri-tório conjunto foi aberto em setembro para estabelecer a comunicação entre os co-reanos permanentemente.

Durante a próxima reu-nião as duas partes trocarão amplamente opiniões sobre temas de interesse mútuos relacionados com saúde e cooperação médica incluin-do o estabelecimento de um sistema para o combate de

doenças infecciosas. Tais conversações são parte dos esforços para a imple-mentação da Declaração de Pyongyang firmada pelos presidentes Kim Jong Um e Moon Jae-in depois da terceira cúpula realizada em setembro.

No mesmo sentido, Nor-te e Sul decidiram começar nesta segunda (5) um es-tudo conjunto sobre a via marítima ocidental visando a que se permita que barcos civis naveguem livremente.

Uma equipe de 20 mem-bros com 10 funcionários militares e marítimos es-pecialistas em vias fluviais de cada parte planeja medir a profundidade da água ao longo de 70 km nos estuá-rios dos rios Han e Imjin.

Sob uma resolução mi-

litar firmada pelos dois lados foram suspensos todos os atos hostis a partir de pri-meiro de novembro quando se estabeleceu zonas de segurança ao longo da fron-teira em terra, água e ar.

As investigações estão previstas para serem fi-nalizadas no final deste ano e desenhará um mapa de navegação para permi-tir que os barcos civis de ambos os lados naveguem em área até aqui restrita em função das tensões na Península Coreana.

O presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, de-clarou à imprensa também nesta segunda que está pre-parando a visita do máximo líder da RPDC a Seul e que ela deve acontecer até o fim deste ano. R. C.

Multidões rechaçaram em Teerã e nas principais cida-des do Irã a reimposição das drásticas sanções contra o país, enquanto o presidente Hassan Rouhani afirmava que o Irã seguirá vendendo seu petróleo e que o ditame de Washington para ‘zerar exportações’ fracassará. As manifestações, acompanha-das de brados de ‘Morte ao Satã EUA’, aconteceram nas comemorações de 39 anos do episódio da Revolução em que a embaixada dos EUA foi tomada pelos estudantes indignados com a proteção ao tirano deposto, Pahlevi, que a CIA colocou no poder em 1953.

Em transmissão ao vivo pela tevê, Rouhani afirmou que “os americanos queriam reduzir a zero as vendas de petróleo do Irã, mas continua-remos a vender nosso petróleo para quebrar as sanções”. Ele advertiu que, sob a ameaça de zerar as exportações de petróleo, o Irã está vivendo “uma situação de guerra”. “Estamos em uma situação de

guerra econômica e enfren-tando um inimigo intimida-dor. Temos de nos manter de pé para vencer”.

O comissário para as-suntos econômicos da UE, Pierre Moscovici, pronun-ciou-se contra o reinício das sanções. “A União Europeia não aprova isso”, disse ele à rádio France Info. No mo-mento, temendo provocar um disparo no preço do petróleo, Washington isentou tempo-rariamente oito países, inclu-sive os maiores importadores de petróleo do Irã, China, Índia, Japão e Turquia, de zerar totalmente as compras.

Washington também está pressionando o sistema in-ternacional ocidental de pa-gamentos, o chamado Swift, para excluir o Irã, mas os paí-ses signatários que rechaçam que o acordo seja rasgado estão criando mecanismos que permitam canais inde-pendentes de pagamento, para que as empresas que co-mercializem com Teerã não sejam submetidas também

às sanções extraterritoriais norte-americanas.

Após Trump violar o acor-do que Obama assinou com o Irã, mais Rússia, China, Grã Bretanha, França, Alemanha e União Europeia, e consagra-do pelo Conselho de Seguran-ça da ONU, de fim das sanções em troca do mais severo regi-me de inspeção já realizado pela Agência Internacional de Energia Atômica, que atesta seu cumprimento estrito por Teerã, o atual governo dos EUA ainda decidiu que todos os países devem se sujeitar às suas violações e que a princi-pal exportação do Irã, de que o país depende para sobreviver, comprar máquinas, alimentos e remédios – o petróleo – tem que ser zerada.

Londres, Paris e Berlim condenaram a retirada unila-teral de Trump do chamado acordo nuclear com o Irã e se comprometeram, junto com Moscou e Pequim, a manter o intercâmbio comercial com Teerã enquanto o acordo for respeitado.

Campanha de Trump insulta imigrantes como “invasores”, estende arame farpado por 170 milhas de fronteira, exibe barricadas e 3.500 soldados e mais cerca de 12 mil em deslocamento

CAIO REARTE*

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A importância do refino de petróleo no cenário mundial

PAULO CÉSAR RIBEIRO LIMA *

ESPECIAL Fig. 1 – Cenário de consumo, refino e produção em diferentes países. Fonte: Elaboração própria a partir de dados da BP (2017)

Figura 2 – Capacidades de refino e produção de petróleo. Fonte: elaboração própria

Figura 3 – Aumento da capacidade de refino na China. Fonte: Statistica

O texto abaixo, de um dos nossos mais conheci-dos especialistas na área petrolífera, é, basicamente, sobre a política que predo-mina no mundo em relação à produção de derivados de petróleo – confrontada com a política imposta à Petrobrás pelos últimos governos (e, a já anunciada política de Bolsonaro e as-seclas para o setor).

Porém, não é somente por isso que aqui o reproduzimos.

O texto tem, também, o mérito de resumir infor-mações muito importantes sobre a atividade de refino e sua relação com a produção de petróleo.

Sucintamente, é possível aprender bastante com a clareza do autor.

Originalmente, o texto foi publicado em Duplo Expres-so, onde Paulo César Ribeiro Lima é hoje comentarista na área de Minas e Energia.

C.L.

s at iv idades de refino e logística não são importan-tes apenas para o Brasil e para a Petrobrás ; e las são fundamentais para todos os paí-

ses e para as grandes em-presas petrolíferas, pri-vadas ou estatais, como a ExxonMobil, Shell, Ros-neft e CNPC.

Nos Estados Unidos e China, a capacidade de refino de petróleo é muito superior à capa-cidade de produção. Na Rússia, segundo maior exportador de petróleo do mundo, a capacidade de refino é duas vezes maior que o consumo. No Brasil, a capacidade de refino é inferior tanto à capacidade de produção de óleo equivalente quan-to ao consumo. A Figura 1 mostra esses dados.

A busca pela autossu-ficiência em derivados de petróleo pelos países e pela redução da depen-dência externa ficam cla-ramente demonstradas pela Figura 1.

No cenário empresa-rial, a ExxonMobil é a maior empresa refinado-ra do mundo, com uma capacidade da ordem de 5,5 milhões de barris de petróleo por dia; a Shell vem em segundo lugar com uma capacidade de ref ino de 4,1 milhões de barris por dia. Essas empresas apresentam uma capacidade de refino superior à produção, ao contrário da Petrobrás.

A produção da Exxon-Mobil é de 4 milhões de barris de petróleo por dia¹ , enquanto a pro-dução da Shell é de 3,9 milhões de barris de pe-tróleo por dia. Ao con-trário da ExxonMobil e da Shell, a capacidade de refino da Petrobrás é da mesma ordem de gran-deza que a capacidade de produção de petróleo, que, em 2017, a foi de 2,22 milhões de barris por dia².

Em razão da entrada em operação de várias unidades na província do Pré-Sal, a produção diá-ria da Petrobrás de cerca de 2,6 milhões de barris de petróleo equivalente por dia deverá aumen-tar para 3,8 milhões de barris por dia, até 2019, segundo informações do Diretor de Desenvolvi-mento de Produção e Tecnologia da Petrobrás, em 17 de agosto de 2018³.

Observa-se, então, que a produção da Petrobrás poderá ser muito maior que sua capacidade de refino.

Se forem concretizadas as vendas da RNEST, RLAM, REPAR e REFAP, capacidade de refino da Petrobrás ficará muito menor que a capacidade de produção da empresa, pois, em conjunto, essas refinarias têm uma capa-cidade de processar cerca de 0,8 milhão de barris de petróleo por dia, admitin-do-se um fator de utiliza-ção de 90%. A Figura 2 ilustra esse cenário e a comparação com as duas maiores empresas petro-líferas privadas.

Também é importan-te destacar o esforço de grandes empresas esta-tais em aumentar sua capacidade de refino.

A estatal russa Rosneft é a principal empresa de refino no país, sendo responsável por mais de 35% do mercado4. A capacidade de refino na Rússia, como mostrado na Figura 1, é superior a 11 milhões de barris de petróleo por dia.

A empresa opera tre-ze grandes ref inarias na Rúss ia . A Rosnef t também opera vár ias pequenas refinarias no país. Em 2017, apenas na Rússia, a Rosneft refi-nou mais de 100 milhões de toneladas de petró-leo, um grande aumento em relação ao refino de 87,5 milhões em 2016. A Rosneft também possui refinarias na Alemanha, Bielorrússia e Índia. Na Alemanha, o volume de processamento foi de 12 milhões de toneladas. Na Índia, a Rosneft tem participação de 49% na segunda maior refinaria de alta tecnologia, que tem uma capacidade total de processamento de 20 milhões de toneladas de petróleo por ano.

A C h i n a N a t i o n a l Petroleum Corporation (CNPC) é uma empre-sa de propr iedade do governo da China. Sua subsidiária Petrochina

Company Limited (Petro-China) é listada em bolsa de valores. A CNPC e a PetroChina desenvolvem ativos em todo o mundo por meio de joint ventu-res. As estatais CNPC/

PetroChina e China Pe-troleum & Chemical Cor-poration (Sinopec) são as maiores empresas de refino na China.

De 2005 a 2017, a ca-pacidade de refino desse

país aumentou de 5,4 para 14 ,5 mi lhões de barris de petróleo por dia5, conforme mostrado na Figura 3, o que re-presenta um aumento de 268%. Nesse mesmo perí-

odo, no Brasil, a capaci-dade de refino aumentou de 2,04 para 2,4 milhões de barris de petróleo por dia, o que representa um aumento de apenas 18%.

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