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Aparte para a Arte “A DANÇA COMO INCLUSÃO SOCIAL”

Autora: Elaine Martins Veiga1

Orientadora: Sandra Borsoi2

Resumo

A arte desempenha papel fundamental no desenvolvimento humano e cultural,

sendo potencialmente estimuladora de atividades críticas e sensíveis, é capaz de

contribuir ou mesmo promover transformações sociais importantes. Sendo assim, a

Dança de rua pode ser instrumento valioso no que concerne a apreciação Crítica

dos processos de aculturação. Além de corresponder bem a realidade das escolas

públicas, onde esse tipo de dança, mais especificamente o Hip Hop é muito popular,

contribuindo para a construção de auto disciplina, no senso ético e estético dos

alunos participantes do projeto. O desenvolvimento da dança e o incentivo da prática

para a construção do conhecimento em arte e sobre arte. As atividades foram

desenvolvidas em oficinas, onde trabalhei em contra turno com alunos de 6os anos

vespertinos, em grupos de 10 alunos, eles receberam conhecimento sobre a história

do Hip Hop e demais assuntos ligados a ele. Houve a mobilização de atitudes

1 Pós-graduação em Educação Especial, Professora de Artes do Ensino Médio e

Fundamental ([email protected])

2 Possui graduação em Educação Artística Habilitação em Artes Plásticas pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (2001) e mestrado em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (2004). Pós-Graduada em Criatividade Arte e Novas tecnologias UNOCHAPECÓ (2008). Atualmente é professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa e Doutoranda do programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa( UEPG/PPGE). ([email protected])

positivas em relação à disciplina e a organização, o estímulo ao posicionamento

crítico e a valorização da cidadania desses jovens. O presente artigo trata do

resultado das ações desenvolvidas com o Hip Hop (desenvolvimento e apresentação

de coreografias) e Grafite (desenhos e pintura do muro da escola) implementadas no

Colégio Estadual Professor Nicolau Hampf, Castro-PR. Este artigo discute a

importância da dança na formação de valores na vida dos adolescentes. A

adolescência é uma fase de transformações psico-sociais e biológicas que podem

gerar diversos conflitos como uso de drogas, prostituição e transtornos na auto-

estima. O artigo mostra a importância que o Hip Hop pode ter na vida desses

indivíduos, sendo este, resultado de pesquisa bibliográfica. Concluiu-se que a dança

pode educar, conscientizar e auto-valorizar os participantes jovens e adolescentes

envolvidos, tornando-os indivíduos mais presentes na sociedade.

Palavras-chave: Dança, Inclusão Social, Arte.

Abstract

Art plays a fundamental role in human and cultural development, and potentially

stimulating activities critical and sensitive, can contribute to or even important social

change. Thus, the street dance can be a valuable instrument with respect to Critical

assessment of the processes of acculturation. In addition to well match the reality of

public schools, where this type of dance, more specifically Hip Hop is very popular,

helping to build self discipline, ethical and aesthetic sense of students participating in

the project. The development of dance and the encouragement of the practice for the

construction of knowledge in art and about art. The activities were developed in

workshops, where I worked in turn with students from the 6 th year evening, in groups

of 10 students, they received knowledge about the history of Hip Hop and other

issues related to it. There was the mobilization of positive attitudes towards discipline

and organization, stimulating critical positioning and value citizenship these youths.

The present article describes the results of actions taken with the Hip Hop

(developing and presenting choreography) and graphite (drawing and painting the

school wall) implemented in the State College Professor Nicolau Hampf, Castro-PR.

This article discusses the importance of dance in the formation of values in the lives

of adolescents. Adolescence is a phase transformation psycho-social and biological

characteristics that can generate many conflicts such as drug use, prostitution and

impaired self-esteem. The article shows the importance that Hip Hop can have on the

lives of these individuals, this being the result of literature. It was concluded that the

dance can educate, raise awareness and self-valuing the participants involved youth

and adolescents, making individuals more present in society.

Keywords: Dance, Social Inclusion, Art.

1 Introdução

Durante toda a existência do homem, a arte se faz presente. Através deste

projeto foi promovida a inclusão social por meio de uma educação sócio-educativa.

O público alvo deste trabalho foi alunos de 6o ano do Colégio Estadual Professor

Nicolau Hampf, Castro-PR. Este projeto desenvolveu a criatividade e o gosto pela

arte, utilizando a dança como instrumento de inclusão social e estimulando a

participação dos adolescentes e jovens carentes na modalidade Hip Hop, com a

finalidade de abrir as portas da escola para ensinar-lhes a dança.

A pesquisa desenvolvida de caráter quantitativo partiu do problema: De que

maneira é possível estimular a participação dos adolescentes e jovens carentes na

modalidade Hip Hop, possibilitando uma perspectiva de qualidade de vida através da

arte? As questões que nortearam a pesquisa foram: De que forma é possível trazer

os jovens para a escola através do conhecimento e da dança de forma lúdica, e

encaminhá-los à uma sociedade melhor? Os objetivos que fundamentaram o

processo investigativo foram: produzir conhecimento e mudanças na compreensão

entre mente e corpo; incentivar jovens e adolescentes a descobrirem suas

habilidades; possibilitar experiências que os levem à autovalorização; Possibilitar

que os jovens e adolescentes saíssem da inércia, da incapacitação, da rejeição e,

consequentemente da marginalidade; Possibilitar por meio da dança, o cuidado com

a higiene, com o corpo saudável e sem drogas, sexo precoce e conscientização para

a prevenção; entusiasmar e incentivar a dança como uma forma de socialização e

comunicação; Possibilitar que esses adolescentes e jovens, se tornassem em

futuros multiplicadores, pelas ruas, praças, e/ou qualquer outro lugar em que

possam testificar sua capacidade de serem úteis à sociedade. Para tanto, tornou-se

fundamental compreender e aprofundar acerca de temática Arte e Hip Hop. Para

tanto, os instrumentos de coleta de dados foram: entrevistas, reuniões com os pais e

pedagogos, diário de campo, pesquisas bibliográficas e portfólio

Este projeto estimulou a participação dos adolescentes e jovens carentes na

criação na modalidade Hip Hop, com a finalidade de propiciar uma perspectiva de

vida na criação e na qualidade de vida. O projeto “Aparte Para a Arte” teve como

proposta abrir as portas da escola nos finais de semana para ensinar dança e arte a

esses garotos e garotas, através de seu comprometimento, tendo como

desdobramento o amor pela própria vida e compreensão da arte.

Através da arte e da dança Hip Hop, orientou-se os jovens ao cuidado com a

higiene, corpo saudável, sem drogas, reflexão sobre o sexo precoce e sem

prevenção, bem como resgatá-los da inércia, da rejeição, e consequentemente da

marginalidade. Após isso, houve um resgate dos adolescentes e jovens das ruas,

formando-os como seres integrais, capazes de criar e executar. Os jovens e

adolescentes se aperceberam no contexto social e passaram a sentir-se parte

integral da sociedade. Descobriram assim, suas habilidades e puderam expressar

seus pensamentos e idéias. Para tanto, foram desenvolvidas leituras e pesquisas

sobre Arte, Dança com Arte, Hip Hop e Grafite.

2 Fundamentação Teórica

2.1 Arte

Santomauro (2009) cita que durante muitos anos, o ensino de arte se resumiu

a tarefas pouco criativas e marcadamente repetitivas. Desvalorizadas na grade

curricular, as aulas dificilmente tinham continuidade ao longo do ano letivo. Nas

últimas duas décadas, essa situação vem mudando nas escolas brasileiras. Hoje, a

tendência que guia a área é a chamada sociointeracionista, que prega a mistura de

produção, reflexão e apreciação de obras artísticas. É papel da escola ensinar a

produção histórica e social da arte e, ao mesmo tempo, garantir ao aluno a liberdade

de imaginar e edificar propostas artísticas pessoais com base em intenções próprias.

Só nos anos 1960, com surgimento do movimento da Escola Nova, idéias

modernizadoras começaram a influenciar as aulas de Arte. Na época, a proposta era

romper totalmente com a forma anterior de trabalhar. Segundo esse modelo,

batizado de escola espontaneísta (ou livre expressão), os professores forneciam

materiais, espaço e estrutura para as turmas de estudantes criarem e não

interferiam durante a produção, tudo para permitir que a arte surgisse naturalmente,

de dentro para fora e sem orientações que pudessem atrapalhar esse processo.

O conhecimento artístico não deve ser considerado como um meio para

outras áreas do saber, ele não pode ter como objetivo ilustrar os trabalhos de

português, geografia, história ou mesmo formar hábitos de limpeza, ordem, atenção,

concentração e ser usado como um instrumento para relaxar. O pensamento de

Freitas (2006) em relação ao conhecimento artístico deve ser visto como um fim em

si, como um saber carregado de especificidades, com objetivos e conteúdos próprios

e que, se fundamentado numa concepção estética, que vai além da própria

disciplina escolar, que envolve “beleza”, símbolo e diversidade de linguagens, pode

ser considerado como uma forma de sensibilização para além do ensino de artes. A

arte é um trabalho do pensamento, um pensamento emocional e específico que o

ser humano produz, com relação ao seu lugar no mundo. Daí a importância de

repensar a educação sob a perspectiva da arte e transformá-la numa atividade

estética, num ensino criador, em que haja uma integração entre a aprendizagem

racional e a estética, para além do ensino de arte. Assim, conhecer será também

maravilhar-se, divertir-se, brincar com o desconhecido, indagar a existência humana,

interpretar diferentes papéis, arriscar hipóteses ousadas, trabalhar duro, esforçar-se

e alegrar-se com descobertas.

Segundo Freitas (2006), a arte como conhecimento, como a mais importante concentração de todos os processos biológicos e sociais do indivíduo na sociedade, como um meio de equilibrar o homem com o mundo nos momentos mais críticos e responsáveis da vida. Como motivo de transformação do homem e consequentemente da sociedade. É esta transformação pela arte que busco alcançar, pois considero que a aprendizagem artística envolve um conjunto de diferentes tipos de conhecimento que visam à criação de significações, exercitando fundamentalmente a constante possibilidade de transformação do ser humano.

Infelizmente, ainda há professores trabalhando na chamada metodologia

tradicional, que supervaloriza os exercícios mecânicos e as cópias por acreditar que

a repetição é capaz de garantir que os alunos "fixem modelos". Sob essa ótica, o

mais importante é o produto final (e ele é melhor avaliado quanto mais próximo for

do original). Santomauro (2005) coloca que é por isso que, além de desenhos pré-

preparados, tantas crianças tenham sido obrigadas ao longo dos tempos a apenas

memorizar textos teatrais e partituras de música para se apresentar em datas

comemorativas - sem falar no treino exaustivo e mecânico de habilidades manuais

em atividades de tecelagem e bordado.

No Brasil, Ana Mae Barbosa (2009) formulou a Proposta Triangular (inspirada

em ideias norte-americanas e inglesas, recuperou conteúdos e objetivos que tinham

sido abandonados pela escola espontaneísta). Ela mostrou que o professor deveria

usar o seguinte tripé em classe: o fazer artístico, a história da arte e a leitura de

obras. (SANTOMAURO, 2009)

2.2 Importância da dança como arte

A capacidade de se expressar por meio do corpo é intrínseca ao ser humano,

é uma característica que se aprimora continuamente, desde as civilizações mais

antigas. Nessa medida o movimento se constitui em um dos principais meios de

interação entre o homem e o mundo a sua volta, desde as ações mais simples até o

conjunto de ações simbólicas e complexas que compõem a arte da dança (IDANÇA,

2004). A dança, para Coimbra (2003), é uma possibilidade de contribuição para a

construção da cidadania das crianças e jovens vítimas da exclusão social. Conforme

demonstrado na pesquisa Arte Cidadão Escola realizada por Coimbra (2003),

crianças e adolescentes em situações marginalizadas conseguem restabelecer o

contato social e um maior desenvolvimento do raciocínio lógico matemático ao

vivenciar a dança como expressão e comunicação do ser.

Idança (2004) cita que vivemos em uma sociedade que contribui para a

formação de pessoas fragmentadas, as quais se especializam em determinadas

atividades, em um tipo de raciocínio, hipertrofiam algumas funções cerebrais e

partes do corpo em detrimento de outras. Pessoas condicionadas pelo bombardeio

diário de informações provenientes dos meios de comunicação e da cultura de

massa, as quais impõem modelos prontos e influenciam diretamente na capacidade

de percepção e atuação na sociedade. Neste sentido, a prática da dança é uma

forma de resgatar e ampliar a percepção das pessoas, a partir da ampliação da

consciência corporal, buscando favorecer a integração do corpo, mente e emoções

por meio do contato com essa manifestação artística. Por isso, a importância de que

o ensino da linguagem da dança realmente ocorra nas escolas públicas. O que nos

parece a melhor alternativa para democratizar uma linguagem tão elitizada dentro da

realidade socioeconômica brasileira.

2.3 A arte da dança e a educação

O ensino da dança no Brasil até a década de 90 dava-se em locais

privilegiados como academias e escolas de dança, em sua maior parte de caráter

privado. Também ocorria em espaços públicos como centros culturais, associações

de bairros, e/ou em situações informais da comunidade e em espaços especiais

como as escolas de samba. A formação do professor dá-se através de cursos nas

escolas e academias de dança e, principalmente, nos cursos de graduação e pós-

graduação de Dança, Educação Física e Artes e, mais recentemente, podemos

perceber o crescimento de novos cursos de dança sendo oferecidos no contexto

universitário. (FREIRE, 2001) A seguir serão especificadas as ementas utilizadas no

projeto.

2.3.1 Dimensão histórica do ensino da dança e perspectivas – fundamentos

teóricos metodológicos

• Ementa I: Desenvolver o conceito de corpo como uma unidade psicofísica. A

percepção do eixo e a integração das partes do corpo em relação a esse eixo.

Trabalho de equilíbrio, flexibilidade, alinhamento e postura. Abordagem de

técnicas de dança, visando o fortalecimento do corpo. (ARRUDA, 1998).

• Ementa II: Aprofundar o estudo dos conceitos desenvolvidos na disciplina e

consciência corporal e explicativa do movimento, visando uma maior

integração às técnicas da dança. (LABAN, 1971; LABAN, 1990).

• Ementa III: Integração grupal através da comunicação. Recuperação e

desenvolvimento da espontaneidade, do sentido de humor e da ludicidade.

Desenvolvimento dos cinco sentidos e suas relações com o movimento

corporal. Exploração dos gestos e movimentos cotidianos. Exploração dos

apoios internos e externos. Iniciação ao estudo da força da gravidade da

gravidade e sua relação com o movimento corporal. Todos estes temas estão

relacionados com a dança e serão explorados pelos alunos através de

exercícios específicos e improvisações dirigidas. (MIRANDA, 1980;

PORTINARI, 1989).

• Ementa III: Introduzir os três elementos básicos da dança: eixo, equilíbrio e

postura. A organização da estrutura física para transferência de peso.

Combinação de alongamentos laterais através de movimentos pendulares no

plano vertical. Adequação do tônus muscular através de variadas dinâmicas,

tendo como referência elementos básicos da dança. (ARTAXO, MONTEIRO,

2003).

Através das ementas acima citadas por diferentes autores, segui-se as

metodologias de ensino e realizaram-se oficinas com objetivo de gerar

conhecimento aos alunos, o que foi de grande interesse aos mesmos.

A arte educação é compreendida como objetivo de conhecimento. O artista

vive o seu tempo, com as visões de mundo, o espírito da época, ideologias de

classe e de grupo, com universos de valores que se fazem presentes na hora da

criação artística e que são vividos com todo o seu empenho intelectual e ético,

revelando a idéia de que arte é conhecimento. (FREITAS, 2006)

2.3.2 O ensino da arte na dança

A dança apresenta-se como manifestação artística no espaço escolar em

importante meio de expressão corporal performática. Desta forma se possibilita a

ação pedagógica ao oportunizar a aquisição de habilidades físicas, a construção de

conhecimento e a consciência crítica relacionada ao meio em que vive e a

resinifique. No contexto de uma educação voltada à sociedade multicultural,

acreditamos na importância da valorização de modalidades de expressão artística

da dança que estejam inseridas no seio da comunidade. Não como simples forma de

reprodução, mas como meio de reflexão e estímulo do posicionamento crítico, com a

tentativa de se buscar maior envolvimento dos estudantes, pela oportunidade de se

desenvolver atividades que partam das representações que eles têm e/ou valorizam.

Sendo assim, não se estrutura uma coreografia. A Dança de Rua pode ser um

instrumento valioso no que concerne à precipitação crítica dos processos de

aculturação. Além de corresponder bem à realidade das escolas públicas, onde esse

tipo de dança é muito popular, podemos contribuir para a construção da

autodisciplina, do senso ético e estético (RIBEIRO, VILELA, 1999).

O movimento na dança se apresenta muito mais numa perspectiva de

expressão e vivência do que pela padronização e pela predeterminação dos gestos;

é onde se pode dar uma ênfase maior ao afetivo, ao estético e ao emocional -

aspectos bastante reprimidos em nome da racionalidade e da intelectualidade. Isso

não significa considerarmos que a dança não desenvolve o intelecto; ao contrário,

estamos é afirmando que esse aspecto tem sido pouco enfatizado pelos educadores

tradicionais das escolas. Correia (2008), compreendendo a dança nessa perspectiva

inclusiva e não formal, podemos trabalhar a dança na escola como uma atividade

espontânea, aberta às experiências individuais e coletivas e sem modelos e padrões

que inibam a criatividade e a liberdade de expressão.

A dança como meio educativo nasce das teorias filosóficas sobre a

necessidade do movimento fazer parte da educação. Entre outras qualidades, a

dança é um excelente meio de responder às necessidades lúdicas e promover as

capacidades criativas da criança. A dança surgiu como resposta espontânea a

diferentes tipos de música, mesmo a gêneros de música pouco conhecidos. Os

interesses dos jovens é, em primeiro lugar, dança de rua e de discoteca, assim

como Macara, Batalha (2010) apresentam.

2.4 Dança e seu histórico

A Dança é a arte de mexer o corpo, através de uma cadência de movimentos

e ritmos, criando uma harmonia própria. Não é somente através do som de uma

música que se pode dançar, pois os movimentos podem acontecer independente do

som que se ouve, e até mesmo sem ele (BARROS, 2009). Mundim (2010) cita que

devemos considerar que a dança (que não está inserida na cultura popular) não é

um signo tido como habitual para a população brasileira e que, portanto não é um

código comum de comunicação. No entanto, essa colocação nos faz refletir sobre

que dança é essa que fazemos e para que público? Será que temos criado códigos

tão fechados em si mesmos, que eles já não se comunicam mais com pessoas que

não sejam de nossa área ou afins? É possível, mas acreditamos que a dança

contemporânea tem caminhado na direção contrária, tentando se aproximar cada

vez mais de um diálogo corpóreo-sensorial, que não passa necessariamente pela

comunicação intelectual, mas principalmente pelo aspecto sensível e participativo.

Não a dança "vale tudo", mas a dança híbrida provida de sentidos (significados e -

por que não? - sinestesia). Sabemos que não é possível que o artista garanta as

impressões que o público terá ou de que modo se dará a recepção. E nem é esta a

proposta, já que um dos aspectos mais “mágicos” da arte é quando ela deixa espaço

para que o receptor capte a mensagem a partir de suas vivências, de sua formação,

a partir da óptica que tem do mundo que o cerca. O que esperamos com o nosso

trabalho é que a estética continue (sim) tendo um papel fundamental na dança, mas

que, acima de tudo, ela esteja a serviço de uma necessidade de comunicação com o

outro, instigando sensações e pensamentos sobre o tema em questão.

O artista deve saber que com o desenvolvimento da humanidade, já

perdendo o costume religioso, as danças apareceram na Grécia, em virtude das

comemorações aos jogos olímpicos. O Japão preservou o caráter religioso das

danças, onde as mesmas são feitas até hoje, nas cerimônias dos tempos primitivos.

Em Roma, as danças se voltaram para as formas sensuais, em homenagem ao

Deus Baco (Deus do vinho), onde se dançava em festas e bacanais. Nas cortes do

período renascentista, as danças voltaram a ter caráter teatral, que estava se

perdendo no tempo, pois ninguém a praticava com esse propósito. Praticamente daí

foi que surgiram o sapateado e o balé, apresentados como espetáculos teatrais,

onde passos, música, vestuário, iluminação e cenário compõem sua estrutura. No

século XVI surgiram os primeiros registros das danças, onde cada localidade

apresentava características próprias. No século XIX surgiram as danças feitas em

pares, como a valsa, a polca, o tango, dentre outras. Estas, a princípio, não foram

aceitas pelos mais conservadores, até que no século XX surgiu o rock’n roll, que

revolucionou o estilo musical e, consequentemente, os ritmos das danças.

Assim como a mistura dos povos foram acontecendo, os aspectos culturais

foram se difundindo (BARROS, 2009). Para Mundim (2010), uma prática comum que

temos observado nos espetáculos atuais de dança contemporânea é a dificuldade

de se unir técnica e conceito. É bastante frequente a predominância de apenas um

dos elementos: ou o espetáculo é extremamente técnico, proporcionando ao

espectador somente a apreciação da forma, ou é radicalmente conceitual, chegando

ao limiar do abandono ao aspecto técnico e veiculando-se de um modo quase

performático. Do nosso ponto de vista, a beleza da dança está justamente em

conseguir um diálogo no qual a técnica esteja a serviço do conceito, da mensagem,

do contexto, sem que haja abandono de nenhuma das partes envolvidas. Para que

os alunos continuem fazendo parte da escola e da sociedade, estes devem

prosseguir com oficinas de dança.

2.5 Inclusão social

Silva Neto (2008) afirma que a inclusão social está ligada a todas as pessoas

que não tem as mesmas oportunidades que outras dentro de uma sociedade. É

difícil acreditar que, em pleno século XXI, pessoas sejam excluídas do meio social

em virtude, apenas, de suas características físicas, como a cor da pele, a cor dos

olhos, altura e formação educacional por exemplo. E mesmo com todos os avanços

efetuados, hoje, em determinados lugares, ainda é possível ver gente sem acesso

às escolas, ao cinema, a teatros, computador e, até as igrejas, entre outras coisas.

Já Amaro (2001) considera a exclusão social, essencialmente como uma situação

de falta de acesso às oportunidades oferecidas pela sociedade aos seus membros.

Desse modo, a exclusão social pode implicar privação, falta de recursos ou, de uma

forma mais abrangente, ausência de cidadania, se, por esta, se entender a

participação plena na sociedade, aos diferentes níveis em que esta se organiza e se

exprime: ambiental, cultural, econômico, político e social. Para que um indivíduo se

torne parte de um grupo dentro da sociedade, ele deve possuir uma identidade

cultural, assunto que será abordado a seguir.

2.6 Identidade cultural

A identidade cultural é vista como uma forma de identidade coletiva

característica de um grupo social que partilha as mesmas atitudes. Está apoiada

num passado com um ideal coletivo projetado e se fixa como uma construção social

estabelecida e faz os indivíduos se sentirem mais próximos e semelhantes. É ela

responsável pela identificação e diferenciação dos diversos indivíduos de uma

sociedade, sendo está comparada em diversas escalas. A identidade cultural de

determinado povo está intimamente ligada à memória deste, mas não pode ser vista

como sendo um conjunto de valores fixos e imutáveis que definem o indivíduo e a

coletividade a qual ele faz parte. Faz parte do processo de sobrevivência das

sociedades a incorporação de elementos novos e isso é o que as mantêm ao longo

do tempo (VIANA, 2009). Já Oliveira (2010) conceitua identidade cultural como um

sistema de representação das relações entre indivíduos e grupos, que envolve o

compartilhamento de patrimônios comuns como a língua, a religião, as artes, o

trabalho, os esportes, as festas, entre outros. É um processo dinâmico, de

construção continuada, que se alimenta de várias fontes no tempo e no espaço.

Hesrzovici apud Hall (2001, pág. 14) cita que não podemos falar,

objetivamente, em identidade cultural numa coletividade dividida em classes sociais,

seja ela local ou nacional. A cultura não pode ser concebida como um processo

social homogeneizador que permitiria abranger a totalidade da coletividade. O fogo

da exclusão não permite definir elementos simbólicos comuns à totalidade dos

membros da sociedade.

Devido às barreiras sociais existentes em cada nação, devemos levar em

conta que apesar de qualquer diferença social que possa existir, a indústria cultural

trabalha exatamente para derrubá-las. Nesta reformulação de valores proposta pela

indústria cultural, as culturas de massa e os símbolos antes restritos somente dos

guetos são reintroduzidos na sociedade com novos apelos para o consumo da

massa (HERZOVICI apud HALL, 2001, pág. 14). Para Viana (2009), a identidade

cultural é fator condicionante da relação individuo - sociedade, pois é através dela

que o individuo se adapta e reconhece um ambiente como seu. Dessa forma, sem a

identidade cultural seria impossível que as pessoas se encaixassem em uma

sociedade com características próprias. Segundo a percepção de identidade, a

cultura adquire a função de delimitar as diversas personalidades e formar diferentes

grupos humanos.

Como conseqüência do processo de globalização, as identidades culturais

não apresentam hoje contornos nítidos e estão inseridas numa dinâmica cultural

fluida e móvel (OLIVEIRA, 2010), sendo que o homem, segundo Hall (2001, pág. 12

e 13), neste início de século, busca uma forma de identificar-se na sociedade em

que vive. Os principais problemas para que isso aconteça são várias transformações

que a identidade híbrida e vive sob o signo da pós-modernidade. O sujeito pós-

moderno, contextualizado não tem identidade fixa, essencial ou permanente.

2.7 Street Dance

2.7.1 Histórico do Street Dance

Ao pé da letra, "Street Dance" é dança de rua, mas, não precisa ser feita

necessariamente no asfalto. A primeira vez que isso aconteceu foi em 1929, quando

houve uma supercrise econômica nos EUA. O Street Dance é uma dança

eminentemente negra, de origem americana, cuja difusão se deu primeiramente nas

ruas de cidades grandes, onde, atualmente, estão situados os maiores focos do

RAP3 (Rythm And Poetry), gênero de música bastante conhecido atualmente. As

primeiras manifestações surgiram na época da grande crise econômica dos EUA,

em 1929, quando os músicos e dançarinos que trabalhavam nos cabarés ficaram

desempregados e foram para as ruas fazer seus shows. No decorrer da sua difusão,

houve a criação de diversos estilos da dança, como o Break4 e o Hip Hop (GUIL,

2009). Para Freitas (2006), o Street Dance surgiu nos Estados Unidos no início da

década de 70 expandindo-se mundialmente. A força, o vigor, a energia e a

integração, são trabalhados com movimentos fortes, rápidos e sincronizados, ao

som de músicas que fazem parte do repertório dos jovens. Os grandes benefícios do

Street Dance são o desenvolvimento da coordenação motora, agilidade, equilíbrio e

flexibilidade.

3 RAP: Estilo de música baseado em um canto falado, de improviso ou não, cujas palavras são escondidas sobre um ritmo fortemente marcado (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2010).

4 Break: A dança de rua surgiu com os negros das metrópoles Norte Americanas. O Break foi uma dança inventada pelos porto-riquenhos, através da qual expressavam sua insatisfação com a política e a guerra do Vietnam. É executada através de gestos bruscos e por vezes acrobáticos, dos quais se destacam os movimentos ondulatórios do corpo, a rotação do corpo apoiado apenas na cabeça ou nas costas, os movimentos das pernas tipo moinho de vento ou o arrastamento dos pés (GUIL, 2009).

Estudos recentes mostram que baixo crescimento econômico tem acarretado

ainda maior das desigualdades sociais, o que implica em urgência na busca de

novos conceitos de uma política econômica mais justa, que possibilite melhoria das

condições da vida dos brasileiros. No entanto, a Educação neste país, segue à

margem dos problemas atuais, lutando pelas mesmas causas de um século atrás.

De modo que a necessidade de situar a escola dentro da atual conjuntura premente.

(FREITAS, 2006). Guil (2009) diz que o Street Dance, apesar de denominação

genérica, no Brasil abrange a todos os estilos sem distinção. Houve uma mistura em

tal grau que a intenção das coreografias passou a ditar o estilo da dança. Além da

dança, o Street Dance promove aos interessados a possibilidade de interação. A

criação de grupos é o primeiro passo para a divulgação, pois trabalha o lado social

da dança; tanto no que se refere à atingir um determinado público, como também

cria um sentimento de amizade interno. Para entender melhor o Street Dance,

escolhemos uma vertente sua, o Hip Hop, a qual foi utilizada neste projeto.

2.7.2 Hip Hop

O Hip Hop, que significa literalmente saltar movimentando os quadris, é

considerado uma espécie de cultura e/ou movimento formado pelos seguintes

elementos: O RAP, o Graffiti5 e o Break. Para muitos é um estilo de vida, com

linguagem própria (OLIVEIRA, 2005). Para muitos é um estilo de vida, com

linguagem própria. Este estilo emergiu nos Estados Unidos no final da década de 60,

nos subúrbios de Bronx, Harlen e Brooklyn, redutos de negros e latinos em Nova

York, bairros de extrema pobreza, violência, racismo e tráfico de drogas. Na década

de 70, muitos jamaicanos migraram da ilha do Caribe para países americanos,

dentre eles os Estados Unidos. Nos guetos de Nova York, o MC KoolHerc foi um dos

principais responsáveis pela divulgação desse novo estilo de fazer música.

(RIBEIRO, VILELA, 1999). O DJ Afrika Bambaataa foi o criador do termo Hip Hop e

5 Graffitti: Inscrição ou desenho rabiscados à mão sobre um muro, uma parede, uma estátua etc.; pichação (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2010).

idealizador da junção dos elementos que compõe o movimento. Bambaataa (1970)

declarou:

Quando nós criamos o Hip Hop, o fizemos esperando que seria sobre a paz, amor, união e diversão e que as pessoas se afastariam da negatividade que estava contaminando nossas ruas. Embora esta negatividade ainda aconteça aqui e ali, à medida que a cultura cresce, nós desempenhamos em grande papel na resolução de conflitos e no comprimento da positividade.

Ribeiro, Vilela (1999), Oliveira (2005), assim como Giul (2009) citam que uma

das primeiras manifestações do Hip Hop pela vertente da dança de rua (Street

Dance) surgiram por volta de 1929, época de grande crise econômica nos Estados

Unidos. Músicos e dançarinos que trabalhavam em cabarés haviam perdido seus

empregos e foram para as ruas fazer seus shows.

Tocha (2006) diz que Hip-Hop é uma cultura que consiste em quatro

subculturas ou subgrupos, baseadas na criatividade6. Um dos primeiros grupos

seria, e se não o mais importante da cultura Hip-Hop, por criar a base para toda a

cultura, o DJing é o músico sem “instrumentos” ou o criador de sons para o RAP, o

B.Boying (a dança B.Boy, Poppin, Lockin e Up-rockin) representando a dança, o

MCing (com ou sem utilizar das técnicas de improviso) representa o canto, o Writing

(escritores e/ou graffiteiros) representa a arte plástica, expressão gráfica nas

paredes utilizando o spray. A "consciência" ou a "informação" não pode ser

considerada como elemento da cultura, pois isso já vem inserido às culturas do

DJing, B.BOYing, MCing e Escritor/WRITing (Graffiteiros), ou seja aos elementos da

cultura Hip-Hop, mais é válido para a nova geração, dizendo se fazer parte da

cultura Hip-Hop sem ao menos conhecer os criadores da cultura e suas reais

intenções.

O RAP - Rhythm and Poetry (ritmo e poesia) é a expressão musical-verbal da

cultura. Tem sua origem na Jamaica, por volta de 1960, onde a população dos

guetos, com poucas opções de lazer, ia para as ruas e ouvia músicas em sound

systems (sistemas de som). Enquanto as músicas tocavam, uma espécie de mestre

6 Criatividade: Faculdade ou atributo de quem ou do que é criativo; capacidade de criar coisas novas; espírito inventivo: criatividade (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2010).

de cerimônia (MC) discursava sobre as carências da população, os problemas

econômicos e a violência nas favelas. O Graffiti representa a arte plástica, expressa

por desenhos coloridos feitos por grafiteiros nas ruas das cidades espalhadas pelo

mundo e, o Break dance - literalmente significa dançar com movimentos quebrados -

forma a base da dança de rua nos moldes atuais. Ex. Filme Wild Stile (OLIVEIRA,

2005). Abaixo encontram-se imagens demonstrando a prática do Hip Hop.

2.7.3 Dança como elemento de reinserção sociocultural

A dança é uma linguagem através da qual o ser humano expressa sensações,

emoções, sentimentos e pensamentos com o corpo. A dança tem objetivo de romper

limites e estabelecer novas descobertas (NEVES, 2000). Sendo que, segundo Diniz

(1998), o homem, através de seus gestos, expressa suas manifestações de medo e

amor, descobrindo que o corpo é sensível e possui uma linguagem própria,

possibilitando sua comunicação com o mundo. O ser e o mundo são um elo unitário.

Toda a forma artística será gerada num processo de transformação ao gerarem suas

próprias formas de desdobramento. De acordo com Nanni (1995), a dança deve ter

como base as leis que regem a mecânica corporal; deve ser uma expressão global

do corpo, onde a emoção, sensibilidade e criatividade se tornam foco central, ou

seja, se convertem em uma expressão máxima ensejando ao homem a possibilidade

de se auto realizar e de se autoconhecer exercida de forma contextual pelo que a

exprimem. Dessa maneira, a dança não é mais um privilégio de uma classe, se torna

uma forma de desenvolvimento e aprimoramento do homem, possibilitando

enveredar para os caminhos de sua auto realização.

A dança sendo uma atividade não competitiva como lembra Neves (2000), é

um método eficiente de ensinar e aprender valores, através do enfoque de conceitos

inclusivistas como a autonomia, independência, equiparação de oportunidades e

inclusão social. Nanni (1995) afirma que a dança, hoje, retrata as ansiedades, idéias,

necessidades e interesses da nossa época, aliadas à forte necessidade do ser

humano de extrapolar a sua essência ou transcender a sua existência em evasões

positivas e significativas nas circunstâncias de sua vida real.

3 Desenvolvendo o processo

Num primeiro momento, os alunos realizaram pesquisas sobre a arte de

dançar nas ruas, gêneros, estilos e artistas. Houve muito interesse da parte dos

alunos sobre a origem e história do Hip Hop. Ouviram músicas do estilo, criaram

coreografias (Figura 1 e 2) e se divertiram aprendendo sobre o assunto. Nesta

primeira etapa, a pesquisa realizada foi altamente satisfatória, pois os alunos

demonstraram grande interesse pela pesquisa de campo, pois, sentiram-se

partícipes da sociedade e conseguiram visualizar a dança e a arte presente na

sociedade, mesmo que de maneira expontaneista.

Figura 1- Criação de coreografias de Hip Hop.

Fonte: Acervo da pesquisadora

Figura 2 – Aluno realizando passo da coreografia.

Fonte: Acervo da pesquisadora

Ainda, os alunos fizeram trabalhos sobre o grafite, aprenderam a diferença

entre pichação e grafite, entrevistaram os grafiteiros da cidade, tiraram fotografias

dos grafites encontrados, verificaram se os dançarinos de Hip Hop também são

grafiteiros ou não. Fizeram murais com desenhos de grafites confeccionados por

eles mesmos (Figura 3) e pintaram o muro da escola (Figura 4). A conclusão desta

etapa foi muito satisfatória, pois o espaço de produção artística foi ampliado para

além da sala de aula, os alunos envolveram-se muito mais, tornaram-se

participativos e não evidenciaram os problemas presentes antes do início da

pesquisa como a indisciplina. Os alunos perceberam novos conceitos acerca do Hip

Hop, Grafite e suas relações com a arte, não mais como uma forma de vandalismo

ou rebeldia.

Figura 3- Desenhos confeccionados pelos alunos embasados no Grafite.

Fonte: Acervo da pesquisadora

Figura 4- Muro grafitado pelos alunos.

Fonte: Acervo da pesquisadora

Neste processo, foram realizadas pesquisas sobre gafiteiros, dançarinos e

cantores de Hip Hop e descobriram quem são estes artistas de rua, sua origem,

faixa etária e vestuário. Assim, após a investigação, trouxeram as experiências para

então poderem compreender e assim, estarem estimulados a desenvolverem suas

próprias criações e realizarem os trabalhos em sala. Perceberam que, que nem

sempre esta arte é bem vista pela sociedade, pois muitos destes artistas acabam

infringindo leis para mostrar seu trabalho, mas quando há um verdadeiro

comprometimento as autoridades autorizam a produção quando esta imbuída de um

produzir comprometido com o social. Através destas atividades desenvolvidas pelos

alunos, observou-se que eles ampliaram sua conscientização quanto a possibilidade

de criação através da arte, e sendo assim ampliaram seus horizontes e expectativas

com o social por meio da análise de Hip Hop e Grafite.

Os alunos iniciaram uma pesquisa sobre as roupas usadas pelos dançarinos

de hip hop, a partir daí preocupados com as questões ambientais começaram a

esboçar trajes para serem confeccionados com sucata e materiais reciclados. Ao

final dos projetos puderam selecionar o melhor traje a ser confeccionado por eles.

Estes jovens e adolescentes, retornaram a sociedade e desenvolveram

conscientização ambiental na comunidade e resgataram materiais para produzirem

seus trajes para a apresentação na escola da coreografia criada por eles. Nesta

etapa os alunos envolvidos na pesquisa, sentiram-se parte da sociedade e

responsáveis pelo bem estar de todos e ainda, conseguiram posicionarem-se

criticamente diante da arte como criação, da dança e na sociedade também. Assim

como um aluno “X” fala: “Professora eu me sinto parte da comunidade, todos ouvem

o que temos pra dizê”. Desta forma, pode-se perceber que os alunos sentiram-se

parte integrante da sociedade, justificando assim, a nova postura que as turmas

passaram a adotar na escola também.

Após muitos debates e a possibilidade de desenvolvimento do conhecimento

sobre a dança Hip Hop e o valor em que se insere à arte, depois das oficinas e

pesquisas, chegou a hora de mostrar todo o conhecimento adquirido através da

integração entre professores e alunos. Neste processo, foi montado o mural com o

tema escolhido que foi o Hip Hop no Colégio Professor Nicolau Hampf, (grafite de

dançarinos do Hip Hop), para a dança e foi criado diversos painéis com trabalhos de

grafite. E através da orientação do professor, foi apresentada a coreografia do Hip

Hop, aos pais, alunos e funcionários da escola. Pode-se perceber que houve uma

grande aceitação dos espectadores, onde os alunos sentiram-se valorizados. Pode-

se dizer que esta proposta teve pelos alunos um desempenho surpreendente, pois

alguns que já haviam desistido dos estudos passaram à se dedicar mais e alguns

até retornaram para o colégio, pois querem fazer parte das oficinas de dança e

grafite, hoje sinto as aulas de arte, no tocante da disciplina e interesse melhorou

muito. Ainda pode-se dizer que houve outro ponto positivo não apenas para o

professor de arte, numa escola em que haviam problemas de relacionamento entre

alunos e comunidade, mas também para o colégio que tinha alunos agressivos,

agora tem grupos de dança e grafite, em que dialogam e cada um contribui com o

conhecimento que adquiriu no percurso do projeto, agora sentem-se multiplicadores.

Hoje temos alunos transformados e devido a positividade do trabalho desenvolvido

continuamos com o projeto. Ainda, este tornou-se tão importante para o

desenvolvimento social escolar que passará a fazer parte do currículo escolar, na

qual houve a possibilidade também de conseguimos trabalhar em todas as

disciplinas contando com o apoio de todos os professores da escola.

4 Conclusão

Os objetivos esperados no início da proposta de criação do projeto foram

alcançados com muito êxito e com resultados acima dos esperados, não esgotando

diferentes possibilidade que possam surgir. Os alunos criaram maior contato entre

eles e com alunos de outras turmas e de diferentes anos de escolarização, se

mobilizaram positivamente em relação à disciplina e à organização, se posicionaram

de forma crítica e cidadã aos estímulos gerados a partir da realização do projeto.

O papel do Hip Hop proposto no ensino da arte e na escola foi citado por

alguns autores durante a fundamentação bibliográfica, os quais apontam a

possibilidade de educar e conscientizar a nova geração através do Hip Hop. O jovem

pode, como se observou, aprender a se auto-valorizar, desenvolver o conhecimento,

sobre Arte e Cultura. Acreditamos que esta seja uma possibilidade, um meio para

que estes jovens não andem por caminhos tortuosos que não são do conhecimento

e da formação crítica social.

Quando estudada a Arte e seu ensino, existe a necessidade de se utilizar de

alternativas para poder conscientizar e ensinar os alunos sobre sua importância,

deixando-os livres para criarem e desenvolverem sua criatividade. Lembrando

sempre que não é uma liberdade sem comprometimento, muito pelo contrário, livres

para criarem a partir do conhecer e saber. O Hip Hop e o Grafite como ferramentas

pedagógicas mostraram-se como meios transformadores da sociedade através da

arte, sendo vinculado ao conhecimento científico.

De maneira geral, a “Dança como Inclusão Social” é um projeto que se

mostrou muito importante e funcional na transformação social, cultural e científica

dos indivíduos dentro da escola e se percebendo a partir da sociedade em que

vivem.

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