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GLEYDSON KLEBER LOPES DE OLIVEIRA APELAÇÃO NO DIREITO PROCESSUAL CIVIL Doutorado em Direito PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO SÃO PAULO 2005

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GLEYDSON KLEBER LOPES DE OLIVEIRA

APELAÇÃO NO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Doutorado em Direito

PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

SÃO PAULO

2005

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GLEYDSON KLEBER LOPES DE OLIVEIRA

APELAÇÃO NO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Direito , sob a orientação

PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

SÃO PAULO

2005

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Banca Examinadora

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Laércio e Aldeíza, a justa e inesgotável

homenagem pela educação e lição de vida;

À minha esposa, Themis, pela compreensão e

companheirismo;

Aos meus irmãos, Gley e Karina, e cunhados, Geórgia e

Francisco, pelo convívio e amizade;

Ao meu pequeno sobrinho Enzo;

Aos mestres Arruda Alvim, Thereza Alvim, Nelson Nery

Junior, João Batista Lopes, Marcelo Navarro Ribeiro Dantas e Willis

Santiago Guerra Filho, pela dedicação e exemplo na árdua tarefa do

exercício da academia do direito;

À minha orientadora Teresa Arruda Alvim Wambier, pelo

apoio, presteza, e, acima de tudo, simplicidade, desde o ingresso no

Mestrado em 1999.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................... 09

CAPÍTULO I – SENTENÇA

1.1. Noções Gerais...............................................................................................

1.2. Requisitos de admissibilidade......................................................................

1.3. Pressupostos processuais..............................................................................

1.4. Condições da ação........................................................................................

1.5. Mérito...........................................................................................................

1.6. Sentenças processuais...................................................................................

1.7. Sentenças de mérito......................................................................................

1.8. Elementos.....................................................................................................

1.9. Classificação por sua eficácia.......................................................................

1.10. Congruência entre sentença e pedido........................................................

12

19

21

31

39

44

49

52

59

62

CAPÍTULO II – APELAÇÃO NO DIREITO COMPARADO E ANTERIOR

2.1. Recursos........................................................................................................

2.2. Antecedentes.................................................................................................

2.3. Direito comparado........................................................................................

2.3.1. Direito Alemão...................................................................................

2.3.2. Direito Italiano....................................................................................

2.3.3. Direito Português................................................................................

2.3.4. Direito Argentino................................................................................

2.3.5. Código de Processo Civil Modelo para países Íbero-Americanos.....

2.4. Direito anterior.............................................................................................

80

88

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93

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CAPÍTULO III – REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE

3.1. Cabimento.....................................................................................................

3.2. Legitimidade recursal...................................................................................

3.3. Interesse recursal..........................................................................................

3.4. Tempestividade.............................................................................................

3.5. Regularidade formal.....................................................................................

3.6. Preparo..........................................................................................................

3.7. Inexistência de fato impeditivo e extintivo do direito de recorrer................

3.8. Apelação adesiva..........................................................................................

111

124

143

157

178

190

198

210

CAPÍTULO IV – EFEITOS

4.1. Efeito devolutivo..........................................................................................

4.2. Nulidade processual em grau recursal..........................................................

4.3. Questões novas de fato e documentos novos................................................

4.4. Produção de prova em grau recursal.............................................................

4.5. Efeito suspensivo..........................................................................................

4.6. Capítulos da sentença...................................................................................

4.7. Agravo e sentença não recorrida..................................................................

4.8. Sentença e a eficácia da tutela de urgência...................................................

4.9. Tutela antecipada em grau recursal..............................................................

4.10. Efeito translativo.........................................................................................

4.11. Efeito substitutivo.......................................................................................

4.12. Efeito regressivo.........................................................................................

222

255

264

268

279

302

313

317

321

324

327

330

CAPÍTULO V – PROCEDIMENTO

5.1. Poderes do relator.........................................................................................

5.2. Tramitação nos juízos a quo e ad quem........................................................

333

345

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CAPÍTULO VI – TENDÊNCIAS DO PROCESSO CIVIL

CONTEMPORÂNEO

6.1. Busca pela efetividade..................................................................................

6.2. Direito intertemporal....................................................................................

6.3. Anteprojetos que visam alterar o CPC.........................................................

357

365

370

CONCLUSÃO.....................................................................................................

376

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................

390

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RESUMO

A apelação é um importante recurso no âmbito do processo

civil que visa a impugnar o pronunciamento decisório intitulado sentença.

A presente tese sistematiza estudo acerca do recurso de apelação no direito

processual civil, com a análise dos múltiplos aspectos relacionados com a

matéria, à luz da legislação, da doutrina e da jurisprudência. Na primeira

parte do trabalho, aborda-se a sentença no âmbito dos pronunciamentos

judiciais. A sua segunda parte tem início com o estudo sobre o recurso de

apelação nos direitos comparado e anterior brasileiro, para, em seguida,

examinar os requisitos de admissibilidade (cabimento, legitimidade

recursal, interesse recursal, regularidade formal, ausência de fato extintivo

ou impeditivo do direito de recorrer, preparo e apelação adesiva); os efeitos

(devolutivo, suspensivo, translativo, substitutivo e regressivo); alguns

pontos polêmicos (nulidade processual em grau recursal, questões novas de

fato e documentos novos, capítulos da sentença, produção de provas em

grau recursal, agravo e sentença não recorrida e tutela antecipada em grau

recursal). Ao final, são analisados os poderes do relator, o procedimento

nos juízos de primeira e segunda instâncias, as tendências do processo civil,

o direito intertemporal e os projetos em trâmite no Congresso Nacional,

propondo alteração no CPC, na parte referente à apelação.

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ABSTRACT

The appeal is an important resource in the scope of civil action

that aims to impugn the decisive pronouncement entitled sentence. This

study systemizes about the appeal in the civil procedural law, with the

analysis of the multiple aspects related to the subject, under the light of

legislation, doctrine and jurisprudence. The first part of this work copes

with the sentence in the scope of judicial pronouncement. Its second part

studies the appeal as a resource in the compared and previous Brazilian

law, for then, examine the requirements of admission (suit, resourceful

legitimacy, interest legitimacy, formal regularity, lack of extinctive or

impeditive fact of the right to appeal, preparation and adhesion appeal), the

effects (returnable, suspensive, transferable, substitute and regressive), and

some polemic points (procedural nullity in a resourceful level, new

questions and documents, chapters of the sentence, proof arrangements in a

resourceful level, aggravation and not appealed sentence and anticipated

guardianship in a resourceful level as well). Finally, the powers of the

relator are analyzed, as well as the procedure in judgments of first and

second instance, the trends of civil action, interpersonal law and the

projects in process in the National Congress, proposing alteration of the

CPC, from the appealing part.

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INTRODUÇÃO

A apelação constitui um dos recursos mais importantes no

direito processual civil, exigindo da doutrina estudo sobre os múltiplos

aspectos da sua dinâmica.

Trata-se de temática de grande relevância na vida forense,

porquanto corresponde ao recurso que impugna a decisão judicial que põe

fim ao procedimento de primeira instância, apreciando a lide.

Apesar de existirem valiosos trabalhos sobre os recursos

cíveis, o exame da doutrina revela a inexistência de trabalhos monográficos

que sistematizem a apelação no direito processual civil.

A presente tese tem por objetivo a análise dos diversos

aspectos relacionados com o recurso de apelação cível, sistematizando

matéria tão importante e abordando temas até então não apreciados em

trabalhos monográficos, o que vem a configurar o ineditismo.

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Nos primeiro e segundo capítulos, examinam-se a sentença,

que é pronunciamento decisório culminante do processo jurisdicional, e o

recurso de apelação no âmbito dos direitos comparado e anterior no Brasil.

Os requisitos de admissibilidade da apelação – cabimento,

legitimidade recursal, interesse recursal, tempestividade, regularidade

formal, preparo, inexistência de fato impeditivo e extintivo do direito de

recorrer e apelação adesiva – são analisados no capítulo terceiro, com

ênfase na distinção entre admissibilidade e mérito recursais.

No capítulo quarto, enfocam-se os efeitos devolutivo,

suspensivo, translativo e substitutivo, incluindo-se, ainda, a análise de

temas polêmicos e novos, tais como as questões novas de fato e

documentos novos, os capítulos da sentença, agravo e sentença não

recorrida, sentença e eficácia da tutela de urgência, nulidade processual em

grau recursal, produção de provas no âmbito recursal, tutela antecipada em

grau recursal, e efeito regressivo.

O fortalecimento dos poderes do relator e o procedimento nos

juízos a quo e ad quem são abordados no quinto capítulo, com exame das

diversas regras procedimentais no processamento e julgamento da

apelação.

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No sexto capítulo, registra-se a tendência doutrinária da

efetividade do processo jurisdicional, com referência breve e meramente

ilustrativa dos projetos de lei em trâmite no Congresso Nacional, visando a

alterar a sistemática do recurso de apelação. Em face das constantes

mudanças legislativas, torna-se imprescindível o estudo sobre o direito

intertemporal.

Na bibliografia, somente estão consignados os artigos e os

livros citados ao longo desta tese, de modo que outros trabalhos

eventualmente consultados, porém não citados, deixam de constar das

referências bibliográficas.

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CAPÍTULO I - SENTENÇA

1.1 - NOÇÕES GERAIS

A idéia do processo judicial repousa na aplicação da lei por

quem investido na função judicante aos fatos trazidos a conhecimento pelas

partes, com escopo de compor o litígio.

A sentença é o ato processual culminante do processo

jurisdicional, pelo qual o juiz emite uma resposta ao pedido das partes,

aplicando o direito à espécie, esgotando a função jurisdicional.1

Numa época em que as preocupações dos estudiosos do direito

estão voltadas, sobretudo, para a efetividade do processo de resultados, a

própria noção de tutela jurisdicional não mais corresponde simplesmente ao

ato processual de sentenciar.

A noção moderna de tutela jurisdicional assenta-se nos

resultados do processo em que a função jurisdicional é exercida, de sorte

que, ao lado das normas jurídicas atributivas de direitos subjetivos, é

1 Alfredo Rocco declara que “Essa pertanto può definirsi l’atto com cui lo Stato, a mezzo dell’organo della giurisdizione a cio destinato (giudice), aplicando la norma al caso concreto, accerta quale tutela giuridica il dirtto objettivo concede a un determinato interesse” (La Sentenza Civile, p. 28).

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imprescindível que existam instrumentos processuais adequados e idôneos

que conduzam à realização prática.2

Na doutrina italiana, Andréa Proto Pisani declara que

“Si è già accennato nell’introduzione al carattere strumentale del

processo rispetto al diritto sostanziale e si è detto como il

processo civile si ponga, all’interno dell’ordinamento giuridico,

quale sorta di contrapartita Che lo Stato dà ai cittadini a seguito

della imposizione del divieto di farsi ragione da sé: uma símile

constatazione comprta che questa contrapartita per essere

effettiva, deve tradursi nella predisposizione di mezzi di tutela

giurisdizionale (di procedimenti, provvedimenti e misure

coercitive) adeguati ai bisogni di tutela delle singole situazioni

di diritto sostanziale”.3

No direito brasileiro, a sentença é conceituada como

pronunciamento processual pelo qual o juiz põe fim ao processo, com ou

sem julgamento do mérito (CPC, art. 162, § 1º).

Decisão interlocutória vem a ser o pronunciamento decisório

proferido no curso do processo (CPC, art. 162, § 2º), enquanto que o

despacho consiste no pronunciamento jurisdicional desprovido de cunho

decisório, destinado a dar impulso ao processo (CPC, art. 162, § 3º).

2 Cf. José Roberto dos Santos Bedaque, Direito e Processo, p. 30-33. 3 Lezioni di diritto processuale civile, p. 32.

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O legislador adotou o critério topológico para definir os

pronunciamentos judiciais; isto é, o pronunciamento judicial é definido de

acordo com a finalidade para a qual se presta.4

Assim, se tem o condão de colocar termo ao processo, denota-

se que o pronunciamento judicial é definido como sentença.

A doutrina não empresta uma definição clara e precisa do que

vêm a ser o processo e o procedimento. É bastante comum a afirmativa de

que o processo corresponde ao instrumento da jurisdição, entendida esta

como a atuação estatal em substituição às partes, voltada à composição dos

conflitos, por meio da aplicação do direito.5

A noção de processo reflete a relação jurídica travada entre as

partes e o juiz, e tem que ser acompanhada pelos objetivos social, político e

jurídico que visam a ser alcançados pelo Estado.

Nesse contexto, Cândido Rangel Dinamarco assevera que

“É vaga e pouco acrescenta ao conhecimento do processo a

usual afirmação de que ele é um instrumento, enquanto não

acompanhada da indicação dos objetivos a serem alcançados

4 Cf., por todos, Nelson Nery Junior, Teoria Geral dos Recursos, p. 238. 5 Sobre as características da jurisdição, ver Arruda Alvim, Tratado de Direito Processual Civil, vol. 1, p. 61.

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mediante o seu emprego. Todo instrumento, como tal, é meio; e

todo meio só é tal e se legitima, em função dos fins a que se

destina. O raciocínio teleológico há de incluir então,

necessariamente, a fixação dos escopos do processo, ou seja,

dos propósitos norteadores da sua instituição e das condutas dos

agentes estatais que o utilizam. Assim é que se poderá conferir

um conteúdo substancial a essa usual assertiva da doutrina,

mediante a investigação do escopo, ou escopos em razão dos

quais toda ordem jurídica inclui um sistema processual”.6

O processo visa, portanto, à consecução de escopos jurídico,

social e político.

A justa aplicação da lei aos fatos trazidos pelas partes, ao

conhecimento do Poder Judiciário, é o objetivo jurídico da jurisdição.

A pacificação social e a proibição da autotutela, por meio da

aplicação do direito, correspondem aos escopos sociais da jurisdição.

A afirmação do poder de o Estado impor as suas decisões, a

proteção das liberdades públicas e a participação popular nos destinos da

sociedade são os escopos políticos da jurisdição.

6 A instrumentalidade do processo, p. 149.

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Na lição de Elio Fazzalari, o processo é conceituado como um

procedimento em que participam, com a incidência do contraditório, as

partes envolvidas no litígio.

Segundo o citado autor italiano,

“Come ripetuto, il processo è um procedimento in cui

partecipano (sono abilitari a partecipare) coloro nella cui sfera

giuridica l’atto finale à destinato a svolgere effetti: in

contraddittorio, e in modo Che l’autore dell’atto non possa

oblitare le loro attività. Non basta, per distinguere il processo dal

procedimento, il rilievo che nel processo vi è la partecipazione

di più soggetti, Che cioè gli atti lo costituiscono sono posti in

essere non dal solo autore dell’atto finale, ma anche da altri

soggetti. Como rilevato, quando si parla di procedimento

plurisoggettivo ci si riferisce allo schema di attività in sequenza,

poste in essere da più soggetti, ma lo si distingue dallo schema

del vero e proprio processo”. 7

A rigor, a inserção do que se denomina relação jurídica no

conceito de processo justifica-se, sobretudo, pela incidência ampla e

irrestrita do princípio do contraditório imposto pela Constituição Federal

(art. 5º, inc. LV).

Já o procedimento vem a ser a exteriorização, o modo pelo

qual se desenvolvem os atos processuais; isto é, trata-se do aspecto exterior

7 Istituzioni di diritto processuale, p. 82.

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da emissão, do desenvolvimento e da concatenação dos atos processuais e

da própria relação jurídica travada entre as partes e o juiz.

O processo vem a ser o procedimento com contraditório

voltado para consecução de objetivos social, político e jurídico da

jurisdição. Enquanto que o procedimento vem a ser o traço exterior da

emissão e desenvolvimento dos atos processuais.

A sentença é ato intelectual deduzido de forma lógica que

impõe ao magistrado a análise dos fatos trazidos pelas partes e a

identificação da norma jurídica incidente sobre a controvérsia.8

Segundo um difundido entendimento na doutrina, a sentença

vem a ser considerada um ato processual lógico, o qual é resultado de um

silogismo ou de uma série de silogismos sobre a norma, os fatos e a

conclusão derivada da subsunção dos fatos à norma.9

A atuação do juiz é visualizada em um esquema de silogismo.

A norma jurídica abstrata constitui a premissa maior, os fatos representam

a premissa menor, e a parte dispositiva seria a conclusão. 8 Cf. Nagib Slaibi Filho, Sentença cível, p. 216 e ss. 9 Segundo Antonio Palermo, “Ora, secondo uma diffusa tendenza della douttrina, la sentenza viene considerata come um giudizio logico, il quale è risultato di un comune sillogismo o di una serie di sllogismi tra loro collegati e espressi dal giudice in maniera esplicita o sottintesi” (Il processo di formazione della sentenza civile, p. 6).

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No entanto, esse silogismo é apenas o retrato lógico do

julgamento, a partir da verificação da sua motivação. A atividade do juiz

revela-se muito mais complexa e compreende momentos que não se

resumem à simples dedução lógica.10

Michele Taruffo averba

“Che la motivazione della sentenza non consista di um

sillogismo o di una serie di sillogismi, e che sia priva di forme

particolari, non significa che essa equivalga o sai paragonabile

ad uma tranche di discorso comune, nella quale il giudice

esprime liberamente ed informalmente le ragioni della

decisione. Al contrario, la motivazione possiede solitamente

un’apparenza di rigore lógico nel passagio dalle premesse di

fatto e di diritto alle conclusioni, e nell’articolazione di tale

passagio quando esso implica etappe intermedie. Se protrebbe

anzi dire che il modello fondamentale, al qual ela maggior parte

di giudici si ispira, è quello in cui la decisione appare come um

prodotto conseguinete e necessitato dalle premesse e dalle

inferenze che ne vengono tratte, ossia come l’única decisione

logicamente e giuridicamente valida nel caso di specie”. 11

O ato de inteligência consubstanciado na análise, no exame

das alegações, das provas, enfim das questões de fato e de direito, é

denominado de cognição. 12

10 Cf. Teresa Arruda Alvim Wambier, Controle das decisões judiciais por meio de recurso de estrito direito e de ação rescisório, p. 100 e ss. 11 “La fisionomia della sentenza in Itália”, La sentenza in Europa, p. 194-195. 12 Cf. Kazuo Watanabe, Da cognição no processo civil, p. 41. Ver da nossa autoria “Ações possessórias: enfoque sobre a cognição”, p. 81-86.

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Para decidir a demanda, o juiz é forçado a efetuar uma

atividade intelectual investigativa e valorativa acerca das questões de fato e

de direito, com o propósito de se manifestar sobre o pedido deduzido na

petição inicial.

No direito brasileiro, em que há a distinção entre

admissibilidade e mérito, o juiz deve examinar três ordens de matéria, a

saber: os pressupostos processuais, as condições da ação e o mérito.13

1.2 - REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE

O CPC de 1973, adotando a teoria eclética de Enrico Tullio

Liebman, impõe a presença de pressupostos processuais e das condições da

ação, para que o mérito da ação possa ser examinado pelo juiz.

Deve-se a Oskar von Büllow o entendimento de que, no

processo judicial, há uma relação jurídica formada pelas partes e o juiz,

distinta da relação jurídica de direito substancial.14

13 Segundo José Carlos Barbosa Moreira, “Na perspectiva da lei brasileira, são dois os planos preliminares que a cognição judicial tem de atravessar para atingir seu alvo final, o mérito da causa. E pode-se considerar definitivamente incorporada à nossa tradição doutrinária essa distribuição, em três patamares sucessivos, da matéria sujeita ao exame do juiz” (“Sobre os pressupostos processuais”, Temas de direito processual, quarta série, p. 83). 14 Cf. La teoria de lãs excepciones procesales y los presupuestos procesales, passim.

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A legislação processual impõe aos atos postulatórios o

preenchimento de requisitos de admissibilidade do julgamento de mérito.

Numa perspectiva instrumental, o legislador impôs o

preenchimento das condições da ação e dos pressupostos processuais como

medida condizente com a economia processual.

Marcelo Navarro Ribeiro Dantas ressalta que a

admissibilidade

“impõe-se como uma espécie de ‘mecanismo de filtragem’,

separando, dentre os pedidos que batem às portas do Judiciário,

aqueles que se apresentam como possíveis de exame substancial

do que podem, de pronto, ser descartados, já por questões

respeitantes à existência e validade do processo, apenas, através

do qual se desenvolve a ação, já por motivos que prenunciam ser

esta mesma insusceptível de levar a uma decisão de fundo sobre

o direito invocado”. 15

A matéria afeta à admissibilidade da demanda é uma questão

prévia à de mérito, visto que, no plano lógico, aquela deve ser decidida

antes deste.

15 “Admissibilidade e mérito na execução”, RePro, n. 47, p. 25.

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É sabido que a questão prévia ao exame do mérito pode ser

preliminar ou prejudicial. Diz-se preliminar a questão prévia que, conforme

a apreciação possibilita ou não a análise da questão posterior. Enquanto

que a prejudicial é uma questão prévia ao exame do mérito que, uma vez

acolhida, condiciona o teor da questão posterior.16

À luz da definição, as condições da ação e os pressupostos

processuais são questões preliminares. De sorte que, constatada a ausência

de requisito de admissibilidade do julgamento de mérito, o juiz deve

extinguir o processo sem exame do mérito.

Por serem requisitos do julgamento de mérito, o CPC, nos

termos do art. 267, § 3º, e 301, § 4º, estabelece que o juiz pode examinar de

ofício, a qualquer tempo, e em qualquer grau de jurisdição, as matérias

afetas às condições da ação e aos pressupostos processuais.

1.3 - PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

Os pressupostos processuais são requisitos impostos pela lei,

para que a relação jurídica processual exista e se desenvolva validamente.

16 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Questões Prejudiciais e Coisa Julgada, p. 22; Thereza Alvim, Questões prévias e os limites objetivos da coisa julgada, p. 15.

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Adotando-se uma das várias classificações, são assim classificados os

pressupostos processuais: de existência, de validade e negativos.17

Os pressupostos processuais de existência são a petição inicial,

a jurisdição, a citação e a capacidade postulatória.

Em conformidade com o princípio da inércia da jurisdição, o

Poder Judiciário somente age após a provocação da parte (CPC, art. 2º),

não podendo, portanto, agir ex officio. Proposta a demanda, vige o princípio

do impulso oficial, devendo o juiz dar andamento ao feito.

A petição inicial deve ser proposta perante a autoridade

judiciária, isto é, o pedido deve ser deduzido perante um órgão judiciário.

A autoridade perante quem é proposta a ação há que estar, pois, investida

na função judicante.

O processo retrata uma relação jurídica formada entre autor,

juiz e réu, isto é, a relação processual é trilateral. A citação vem a ser o ato

de comunicação processual por meio do qual se dá conhecimento acerca da

propositura de uma demanda, oportunizando o direito de defesa (CPC, art.

17 Cf. Teresa Arruda Alvim Wambier, Nulidades do processo e da sentença, p. 49-50.

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213). Somente com a citação do réu, é que se forma a relação jurídica

processual.

Equipara-se à inexistência de citação, quando no processo a

referida comunicação é nula, e o réu é revel. Nessa situação, a rigor o réu

não foi instado a participar da relação processual, já que a citação viciada

não atingiu a finalidade para a qual é imposta pela lei.18-19

A capacidade postulatória vem a ser a exigência de o autor

pleitear em juízo por meio de advogado, salvo as exceções legais. O CPC, a

teor do art. 36, estabelece que os atos postulatórios devem ser feitos por

advogado, cuja atuação pressupõe a juntada aos autos do instrumento do

mandato.

O art. 37 do CPC permite que o advogado proponha ação e

realize atos processuais urgentes sem o instrumento do mandato, conquanto

que promova a juntada da procuração no prazo de 15 dias, prorrogável por

igual período mediante despacho do juiz.

18 Cf. Teresa Arruda Alvim Wambier, Nulidades do processo e da sentença, p. 356. 19 “RESCISÓRIA – VÍCIO DE CITAÇÃO NO PROCESSO DE CONHECIMENTO – ART. 741 DO CPC. – Para a hipótese prevista no art. 741, I, do atual CPC – que é a da falta ou nulidade de citação, havendo revelia -, persiste, no direito positivo brasileiro, a querela nullitatis, o que implica dizer que a nulidade, nesse caso, pode ser declarada em ação declaratória de nulidade, independentemente do prazo para a propositura da ação rescisória que, em rigor, não é a cabível” (STF-2ª Turma, RE 96.374-0-GO, rel. Min. Moreira Alves, v.u., DJU 11.11.1983).

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24

A urgência do ato processual é comprovada com a afirmação

do advogado, nos termos do art. 5º, § 1º, da Lei nº 8.906/94.20-21 No tocante

aos recursos extraordinários, a súmula 115 do STJ firma o entendimento de

que “Na instância especial é inexistente recurso interposto por advogado

sem procuração nos autos”.

Já o parágrafo único do art. 37 do CPC impõe que, não

havendo a ratificação no prazo, os atos processuais consideram-se

inexistentes. A capacidade postulatória não é exigida ao réu como

pressuposto processual de existência, já que, com a citação, em tese se

forma a relação jurídica processual.

À defesa do réu a legislação processual impõe a capacidade

postulatória, isto é, a defesa do réu para ser válida deve ser subscrita por

advogado legalmente habilitado.

Os pressupostos processuais de validade consistem na petição

inicial apta, na citação válida, no juízo competente, no juiz imparcial, na

capacidade processual e na legitimidade processual.

20 Cf. Paulo Luiz Netto Lôbo, Comentários ao Estatuto da Advocacia, p. 39. 21 Contra: “A interposição de recurso não é passível de enquadramento entre os atos reputados urgentes. É que concorre, sempre, a possibilidade de o provimento judicial ser contrário aos interesses sustentados no processo, cabendo à parte precatar-se” (STF, RE 184.642-9-SP, rel. Min. Marco Aurélio, j. 08.11.1994, DJU 24.11.1994, p. 32.196).

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25

É por meio da petição inicial que o autor insta a máquina do

Poder Judiciário que é inerte (CPC, art. 2º), e leva ao conhecimento do juiz

a pretensão insatisfeita ou resistida, narrando os fatos que conduzem à

conclusão.

Sobreleva a importância da petição inicial, em virtude da

incidência do princípio da congruência entre pedido e sentença, segundo o

qual o juiz deve decidir de acordo com o que foi pleiteado pelo autor, sendo

defeso decidir fora (extra), acima (ultra) ou abaixo do pedido (citra ou

infra), nos termos dos arts. 128 e 460 do CPC.

Prescreve o CPC, no art. 282, que a petição inicial deve conter:

do juízo, a que é dirigida; nomes e qualificação das partes; fatos e

fundamentos jurídicos do pedido; pedido com as suas especificações; valor

da causa; as provas e o requerimento de citação.

A petição inicial deve indiciar o juízo a que é dirigida,

cabendo observar as regras de direito processual sobre competência (CPC,

arts. 86 a 124).

A petição inicial dirigida a juízo incompetente não conduz à

extinção do feito, uma vez que, verificada a incompetência absoluta, o juiz

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26

deve remeter os autos ao juízo competente, sendo nulos os

pronunciamentos decisórios, a teor do que estabelece o art. 113, § 2º, do

CPC.

Na petição inicial, deve haver a indicação das partes e da

respectiva qualificação. Compete ao autor noticiar os fatos e fundamentos

do pedido, vale dizer, a demonstração de que os fatos descritos na petição

inicial e os seus respectivos fundamentos jurídicos conduzem à conclusão

pleiteada.

O objeto litigioso do processo, que corresponde ao mérito, é

delimitado pelo pedido formulado na petição inicial, sobre o qual recairá a

sentença (CPC, arts. 128 e 460).

Para Karl H. Schab,

“El litigio gira alrededor del contenido de sentencia solicitado

por el actor. La clase de tutela jurídica pedida, su forma, no debe

separarse de su contenido. La autorización de la tutela jurídica,

dada bajo forma de una sentencia de prestación [condena],

declaración o constitución, forma partge de la resolucióne

solicitada por el actor. (...) El contenido de sentencia peticionado

por el actor determina el alcance del objeto litigioso”.22

22 El objeto litigioso en el proceso civil, p. 242-243.

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27

A causa de pedir é composta pelos fatos e fundamentos

jurídicos do pedido, e corresponde aos fatos jurídicos em razão dos quais o

autor postula em juízo uma pretensão de direito material.

O CPC adotou a teoria da substanciação, segundo a qual os

fatos e os respectivos fundamentos jurídicos correspondem ao fundamento

jurídico da demanda. A causa de pedir é, pois, composta pelos fatos que

são juridicamente aptos a justificar a conclusão formulada na petição

inicial.23

A causa de pedir é dividida em remota e em próxima. A

primeira diz respeito aos fatos jurídicos, enquanto que a segunda refere-se à

repercussão jurídica dos fatos.24

O autor deduz, na petição inicial, o pedido que é o bem

jurídico da vida solicitado. O pedido, que pode ser imediato (providência

jurisdicional solicitada) e mediato (bem da vida), delimita o objeto litigioso

do processo e corresponde ao mérito.

A toda causa deve ser atribuído um valor que corresponde ao

benefício econômico imediato ou mediato visado pelo autor. Nos casos em 23 Cf. Leo Rosenberg, Tratado de derecho procesal civil, tomo II, p. 42-43. 24 Cf. Araken de Assis, Cumulação de ações, p. 149-150.

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28

que há critério legal fixado, é lícito ao juiz alterar de ofício o valor da

causa, uma vez que se trata de matéria de ordem pública consubstanciada

em um requisito da petição inicial (pressuposto processual).25-26

No tocante à comprovação dos fatos, o autor deve indicar as

provas com que pretende demonstrar a veracidade dos fatos. Apesar da

regra estatuída no art. 283 do CPC, é lícito ao autor proceder à juntada de

documentos no decorrer do processo.27

A partir da noção de que a relação processual somente se

forma com a citação do ré, o autor deve requerer a referida comunicação

processual. A teor do princípio dispositivo, o ato de requerimento de

citação do réu deve provir do autor, sendo vedado ao juiz agir ex officio.

Constatado que a petição inicial não preenche os requisitos

estabelecidos em lei, e em sendo possível a correção do vício, o CPC, em

seu art. 284, preceitua que o juiz deve oportunizar ao autor emendar a

petição inicial.28 Caso o autor se mantenha inerte, a petição inicial deve ser

25 Cf. Moniz de Aragão, Comentários ao Código de Processo Civil, v. II, p. 355. 26 “Nos casos em que há critério fixado em lei, pode o juiz alterar de ofício o valor da causa” (VI ENTA 66). 27 Cf. Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart, Manual do processo de conhecimento, p. 388-389. 28 Em situação análoga, cumpre transcrever a lição de José Carlos Barbosa Moreira: “No sistema do Código, a eventual infração do art. 283 não dá ensejo ao indeferimento da inicial sem a prévia concessão ao demandante de oportunidade para suprir a falha. (...) Essa disciplina é aplicável, sem dúvida, às hipóteses em que, apesar de deferida a inicial, vem o Juízo, posteriormente, a extinguir o processo sem

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29

indeferida, com a conseqüente extinção do processo sem julgamento do

mérito.

À citação – entendida como a comunicação processual feita ao

réu, noticiando a propositura de uma ação e oportunizando o ônus da defesa

– o CPC prescreve a observância de requisitos formais. É, pois, nula a

comunicação processual, quando feita em inobservância das prescrições

legais (CPC, art. 247).

A competência, definida como a medida ou a delimitação da

jurisdição, é o atributo do órgão do Poder Judiciário para exercer parcela da

jurisdição, nos termos da legislação vigente. Na competência interna, o

legislador adotou alguns critérios de repartição da competência, a saber:

valor da causa, matéria, funcional e território.29

A partir do critério de sofrer ou não alterações, a competência

interna classifica-se em absoluta e relativa. A competência absoluta,

insusceptível de prorrogação, é definida pelos critérios material e funcional.

exame do mérito, com base nalgum motivo que poderia ter justificado o indeferimento” (“Decisões não fundamentadas: nulidade. Indeferimento de petição inicial. Condenação em honorários de advogado”, Direito Aplicado II, p. 307). 29 Cf. Patrícia Miranda Pizzol, A competência no processo civil, passim.

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30

O Juízo há de ser absolutamente competente, para que a

relação jurídica processual possa validamente se desenvolver. Reconhecida

a incompetência absoluta, os autos devem ser enviados ao juízo

competente, sendo nulos os pronunciamentos decisórios, nos termos do art.

113, § 2º, do CPC.

O juiz há de ser imparcial, não devendo subsistir qualquer

motivo de ordem objetiva descrito no art. 134 do CPC.

Detém capacidade processual aquele que está no exercício dos

seus direitos. O CPC incorporou os critérios adotados na legislação civil, de

sorte que todos aqueles que estejam no exercício dos seus direitos detêm a

capacidade processual.

Já a legitimação processual é a manifestação da capacidade de

exercício no plano do direito processual. Os absoluta e relativamente

incapazes podem ser parte, mas são impedidos de praticar atos processuais.

Os pressupostos processuais negativos são a coisa julgada, a

litispendência e a cláusula compromissória.

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31

A litispendência resta configurada, quando estão pendentes

ações idênticas (identidade de partes, causa de pedir e pedido).

A coisa julgada material vem a ser a qualidade que se agrega à

parte dispositiva da sentença que a torna imutável e imodificável. Assim,

proposta uma ação, cujos elementos coincidem com uma outra já trânsita

em julgado, mostra-se que a legislação processual impede a prolação de

sentença de mérito.

A cláusula compromissória vem a ser um ajuste feito pelas

partes no corpo de um contrato, com o propósito de submeter o eventual

litígio dele decorrente a um árbitro (ver Lei nº 9.306/97).

1.4 - CONDIÇÕES DA AÇÃO

O CPC de 1973 adotou a teoria eclética formulada por

Liebman, segundo a qual o direito de ação é autônomo, distinto do direito

material. Porém, vislumbrou-o como direito ao processo e ao julgamento

do mérito.

O direito de suscitar a prestação jurisdicional é reconhecido a

todos. Contudo, faz-se necessário configurar o titular do direito, bem como

demonstrar a necessidade do provimento solicitado.

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32

O processo, à luz da doutrina de Liebman, é dividido em três

etapas ou “círculos concêntricos”: os pressupostos processuais, as

condições da ação e o mérito da causa.30

Deverá o autor preencher determinadas condições para que

haja direito de ação, quais sejam: legitimidade ad causam, interesse de agir

e possibilidade jurídica do pedido.31

A legitimidade ad causam é a atribuição, pela lei ou pelo

sistema, do direito de ação ao autor, possível titular ativo de uma dada

relação ou situação jurídica, bem como a sujeição do réu aos efeitos da

providência solicitada.

Para não se confundir com a relação de direito material, deve a

legitimidade ad causam ser auferida a partir da simples narração dos fatos

constante na peça vestibular, independentemente de qualquer investigação

probatória.32

A legitimidade ad causam corresponde à coincidência entre a

situação jurídica de uma pessoa e a situação legitimante prevista na lei para

30 Cf. Rodrigo da Cunha Lima Freire, Condições da ação, p. 75 e ss. 31 O doutrinador, nas edições 3ª e 4ª do seu Manual de Direito Processual Civil, suprimiu a possibilidade jurídica do pedido como uma das condições da ação. 32 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, “Legitimação passiva: critério de aferição. Mérito”, Direito Aplicado II, p. 377.

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33

a posição processual.33 Aquele que afirma ser titular do direito material tem

legitimidade para discuti-lo em juízo.34

Quer-se com isto dizer que a legitimação ad causam é apenas a

titularidade meramente afirmada do direito subjetivo – relação ou estado

jurídico – cuja existência ou inexistência se pretende tutelar no processo,

abstraindo-se, portanto, da efetiva existência ou inexistência desse mesmo

direito.35

O interesse de agir é o elemento material do direito de ação e

consiste no binômio necessidade-utilidade do provimento jurisdicional

solicitado.36

A necessidade consiste na obtenção, através do processo, de

proteção do interesse substancial. A utilidade é a relação de adequação

entre a afirmada lesão de um direito e o provimento jurisdicional

solicitado.37

33 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, “Apontamentos para um estudo sistemático da legitimação extraordinária”, in Direito Processual Civil (Ensaios e Pareceres), p. 59. 34 Cf. Nelson Nery Junior, “Condições da ação”, RePro n. 64, p. 35. 35 “Legitimação para a causa – Mérito. Afirmando o autor ser titular de uma relação jurídica, de que sujeito passivo o réu, a decisão que o negue, recusando sua pretensão, terá decidido a lide, julgado o mérito. Nada importa, para isso, que se considere outro o devedor. Releva, para o processo, unicamente a lide a ele trazida. Admissibilidade, em tese, da rescisória, nada obstando tenha-se dado pela carência de ação, quando o julgamento foi de mérito” (STJ-3ª Turma, REsp 21.544-8-MG, rel. Min. Eduardo Ribeiro, RSTJ 4/263). 36 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, “Ação declaratória e interesse”, Direito Processual Civil (ensaios e pareceres). Rio de Janeiro: Borsoi, 1971, p. 17. 37 Cf. Thereza Alvim, O direito processual de estar em juízo, p. 57.

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34

A exemplo do que ocorre com a legitimidade ad causam, o

magistrado controla o interesse de agir do autor a partir da análise dos fatos

constantes na peça vestibular, independentemente de investigação

probatória.38

Por possibilidade jurídica do pedido entende-se a

previsibilidade, em abstrato, do pedido. A pretensão há de ser admitida,

explícita ou implicitamente, pela ordem jurídica, ou seja, o pedido somente

será impossível, quando houver vedação explícita na ordem legal.

A apreciação desta condição – ao contrário das demais –

envolve matéria de mérito, pois, ocorre, inequivocamente, pronunciamento

acerca do pleito.39-40

A principal crítica apontada à teoria eclética de Liebman é a

de que as condições da ação não passam de aspectos da relação de direito

material.

38“Interesse processual – Condição da ação reveladora pela utilidade e necessidade do processo, a serem analisadas em face da exposição fática trazida pela parte – Irrelevância do nome dado a ação – Carência da ação afastada” (TAPR-4º Grupo de C. Cíveis, EI 30680701, rel. Juiz Rotoli de Macedo, deram provimento, v.u., DJ 06.05.94). 39 Cf. J. J. Calmon de Passos, “Em torno das condições da ação – A possibilidade jurídica”, Revista de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 1961, v. 4, p. 63. 40 “Processo – Extinção – Carência de ação – Impossibilidade jurídica do pedido – Equiparação a sentença de improcedência. Dizer que determinado pedido não pode ser conhecido por força de expressa vedação legal, dando-se pela carência de ação, significa reconhecer que inexiste o direito subjetivo, da mesma forma que a sentença de improcedência. A distinção estaria apenas no grau de evidência. Enquanto nos casos de improcedência o reconhecimento de ausência do direito depende de apreciação menos sumária, as hipóteses de impossibilidade jurídica apresentam tão patente inexistência do direito material que autorizam a declaração liminar” (2ºTACivSP, RT 599/139).

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35

Há a alegação de que, se for adotada a ação como um direito a

uma sentença de mérito, como defende Liebman, reconhecer-se-á que não

cabe o exame das condições da ação senão na relação de mérito, para só

então concluir-se se a sentença deve ou não ser favorável.41

É de bom alvitre consignar que o próprio Liebman não

desconhece a relação entre as condições da ação e o direito material.

Assenta o processualista italiano que a ação tem por garantia constitucional

o genérico poder de agir, mas que em si mesma nada tem de genérico: ao

contrário, guarda relação com uma situação concreta, decorrente de uma

alegada lesão a direito ou a interesse jurídico do seu titular.42

O exame da legitimidade ad causam e do interesse de agir não

induz ao exame do mérito, porquanto inocorre pronunciamento acerca do

pedido com base no acervo probatório.

A aferição é, pois, estritamente superficial, tendo como

parâmetro a mera afirmação, que é tida como verdadeira (juízo meramente

hipotético). Ao contrário, pois, da impossibilidade jurídica do pedido ante o

pronunciamento acerca do pedido.

41 Cf. Galeno Lacerda, Despacho Saneador, p. 57-58. 42 Ob. cit., p. 151.

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36

O conteúdo objeto do exame cinge-se, portanto, ao direito

substancial meramente afirmado, independentemente da sua efetiva

ocorrência, constituindo em técnica destinada a abortar, logo no início do

processo, o exame da relação material em atenção ao princípio da economia

processual.

O decreto de carência do direito de ação somente ocorrerá

quando, inequivocamente, estiver ausente a legitimidade ad causam ou

interesse de agir; ou seja, se houver dúvida, deve o magistrado passar à

análise do mérito.

A aferição efetiva e real das chamadas condições da ação

implica o exame de pontos que se encontram no âmbito da relação de

direito material posta à apreciação do juiz e, por via de conseqüência, ao

julgamento do pedido, que se consubstancia no mérito.43

É inegável a importância do direito de ação, autônomo e

desvinculado do direito substancial, para o surgimento e embasamento do

direito processual enquanto ciência, máxime diante da constatação de uma

43 “É de improcedência da ação possessória, e não de carência, a sentença que, após saneamento, tomada de volumosa prova e exame da mesma, denega ao autor a tutela por ele postulada, particularmente quando essa conclusão é extraída justamente da análise da prova” (TARGS, Ap. Civ. 25.521, rel. Juiz Adroaldo Furtado Fabrício, DOU de 10.11.81).

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37

relação jurídica de direito público travada em face do Estado, distinta do

direito substancial.

Oskar von Bülow, autor de obra que é o verdadeiro marco do

direito processual, declara que

“el tribunal no sólo debe decidir sobre la existencia de la

pretensión jurídica en pleito, sino que, para poder hacerlo,

también debe cercio rarse si concurren las condiciones de

existencia del proceso mismo”.44

O extraordinário avanço científico do direito processual nas

últimas décadas não teve o condão de aniquilar ou, ao menos, elidir a

insatisfação com a não efetividade do processo; pelo contrário,

proporcionou a desconfiguração do processo enquanto instrumento

concebido à realização do direito substancial, em face da exacerbação do

formalismo da técnica processual.

A supremacia do processo sobre o direito substancial, em

última análise a supremacia da forma sobre a substância, fez com que os

doutrinadores defendessem a ligação do processo com o direito material em

prol da efetividade.

44 La Teoría de las Excepciones Procesales y los Presupuestos Procesales, p. 6.

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38

A influência do direito substancial sobre o direito processual é

efeito lógico do caráter instrumental do direito processual, pois, tratando-se

de ciência instrumental, não é possível concebê-la sem a perfeita

identificação dos problemas existentes na sua área de atuação.

O excesso de formalismo e a utilização da técnica processual -

como se constituíssem fim em si mesmos - constituem um mal, pois

desconsideram o objeto na construção do instrumento.

Na lição de Proto Pisani,

“la tutela giurisdizionale non è una forma astratta, indifferente

alle caratteristiche della situaziones sostanziales bisogna de

tutela, ma all’opposto è un quid di estremamente concreto che si

modella – spesso in modo estremamente articolato – sulle

particolarità e sulle esigenze di tutela della situaziones

sostanziale dedotta in giudizio”. 45

Nessa ordem de idéias, abandonou-se o entendimento de que o

direito de ação significa apenas direito à sentença de mérito, pois essa

concepção não mais se coaduna com as novas realidades, as quais exigem

do Estado tutela efetiva das situações conflitivas concretas, nos termos do

inc. XXXV do art. 5º da Constituição Federal.46

45 “Tutela giurisdizionale differenziata e nuovo processo del lavoro”, Studi di diritto processuale del lavoro, p. 101-102. 46 Cf. José Roberto dos Santos Bedaque, Tutela cautelar e tutela antecipada, p. 62.

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39

O direito de ação implica, pois, o dever do Estado em dar a

quem tem direito tudo aquilo e precisamente aquilo a que tem direito, de

forma eficaz e temporalmente adequada.47

O preceito constitucional da inafastabilidade da jurisdição (art.

5º, inc. XXXV) não exprime, somente, a idéia de acesso formal ao Poder

Judiciário, mas, sim, do acesso à ordem jurídica justa e efetiva, conquanto a

efetividade do processo constitui condição sine qua non para a garantia real

e concreta de qualquer interesse individual ou coletivo assegurado pelo

ordenamento jurídico, vinculando o operador do direito em geral, e

obrigando-o à leitura das normas infraconstitucionais, à luz do citado

princípio constitucional.

1.5 - MÉRITO

Na petição inicial, o autor traz ao conhecimento do Poder

Judiciário uma situação de direito substancial – geralmente um conflito de

interesses -, e postula uma providência jurisdicional, mediante a aplicação

do direito à espécie.

47 Rogério Lauria Tucci e José Rogério Cruz e Tucci, Devido processo legal e tutela jurisdicional, p. 106-107.

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40

Em conformidade com os princípios dispositivo e da

congruência (CPC, arts. 2º, 128 e 460), a sentença judicial é emitida,

obedecendo aos limites e aos parâmetros postos na petição inicial.

Os três elementos da ação servem como limites ao

pronunciamento decisório pelo qual o juiz põe fim ao procedimento de

primeiro grau de jurisdição, uma vez que identificam a sua natureza

(cautelar, execução e conhecimento), delimitam o objeto (pedido) e os

fundamentos de fato e jurídicos (causa de pedir remota e próxima), e

indicam o alcance subjetivo almejado (partes).

Mérito no processo civil vem a ser o pedido, isto é, a pretensão

deduzida pela parte na petição inicial. O objeto litigioso do processo, que

coincide com o mérito, corresponde ao pedido formulado na petição inicial,

sobre o qual recairá a sentença.48

Ultrapassada a fase de admissibilidade do processo, o juiz

deve emitir pronunciamento decisório sobre o mérito, acolhendo ou

rejeitando o pedido formulado pelo autor.

48 cf. Cândido Rangel Dinamarco, “O conceito de mérito em processo civil”, Fundamentos do processo civil moderno, tomo I, p. 254-255.

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41

O mérito da ação é fixado pelo autor na petição inicial, no

instante em que formulada a pretensão. Na petição inicial, o autor deve

noticiar ao juiz os fatos em razão dos quais se impõe a conclusão pleiteada,

ou seja, é necessário que se opere uma relação de causa e efeito entre os

fatos e a pretensão.49

Na contestação, compete ao réu impugnar, especificamente, os

fatos e a pretensão deduzida na petição inicial, fixando os pontos

controvertidos, ou aduzindo fatos novos, extintivos, impeditivos ou

modificativos do direito do autor. Não há, portanto, uma ampliação do

objeto litigioso.50

Nesse contexto, o objeto litigioso é delimitado pelo autor, ao

formular o pedido na petição inicial. De outro lado, o réu fixa os pontos

controvertidos, suscita questões de fato e de direito, mas não aumenta o

objeto litigioso, salvo se formular pedido por meio da reconvenção ou de

ação declaratória incidental.51

49 Cf. Cândido Rangel Dinamarco, “Causa de pedir e ônus de afirmar”, Fundamentos do processo civil moderno, tomo II, p. 933. 50 Cf. Kazuo Watanabe, Da cognição no processo civil, p. 81. 51 Cf. Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, vol. 1, p. 484.

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42

Ponto, no direito processual civil, vem a ser alegação do

fundamento de fato ou de direito suscitado pela parte que, existindo

controvérsia, surge a questão.52

No decorrer da relação jurídica processual, o juiz deve

examinar os pontos relevantes suscitados pelas partes e resolver as questões

de fato e de direito.

Na formação da sentença, o juiz terá que efetuar o exame dos

fatos e do direito, a fim de que, subsumindo os fatos à norma jurídica,

extraia a conclusão.53

Elio Fazallari afirma que

“nel processo di cognizione si svolgono attività dirette ad

allegare fatti, a raccogliere le relative prove, a inquadrare i fatti

nelle norme sostaziali, cosicché il giudice possa conoscere qual

è, nel caso concreto, la situazione sostanziale: citoè rendersi

conto se sussista la fattispecie da cui la norma fa sorgere um

obbligo e il corrispondente diritto soggettivo; se questo obblito

è stato violato e il diritto è rimasto insoddisfatto. In base alla

convinzione cosi formata, il giudice civile saprà se deve

52 Cf. Francesco Carnelluti, Instituições do Processo Civil, vol. 1, p. 86. 53 Segundo Enrico Tullio Liebman, “Ridotta alla sua struttura elementare, la decisione del giudice consta dell’aplicazione di una norma a um fatto. Per decidir ela causa è dunque necessário individuar ela norma e pervenire ad uma rappresentazione quanto più esatta del fatto. Le questioni, più o meno numerose, secondo i casi, che il giudice deve risolvere confluiscono perciò in due ricerche fondamentali: la ricostruzione storiografica di uma vicenda del passato com rifereimento ai fatti affermati dalle parti e secondo i risultati dell’istruzione probatória; e uma ricerca e interpretazione della regola giuridica astratta applicabile a quei fatti, ricavata da uma esplorazione e uno studio del diritto vigente” (Manuale di diritto processuale civile, II, p. 236).

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emettere la sentenza di accoglimento della domanda (e, quindi,

di condanna, o di accertamento, o costitutiva), oppure rifiutarla

(sentenza di rigetto)”.54

A despeito de distribuir o ônus da prova, o CPC, em seu art.

130, confere ao juiz amplos poderes instrutórios, devendo participar

ativamente do conjunto probatório, a fim de efetuar, nos limites da lide, a

justa aplicação do direito.55

José Carlos Barbosa Moreira ressalta que

“Em matéria de instrução, prevalece igualmente nas leis

contemporâneas a tendência a confiar papel ativo ao juiz,

deferindo-lhe ampla iniciativa na verificação dos fatos

relevantes para a solução do litígio, tal como submetido a sua

cognição, isto é, nos limites do pedido e da causa de pedir.

Nada mais natural: é intuitivo, em linha de princípio, que um

bom julgamento descansa na correta aplicação da norma a fatos

reconstituídos com a maior exatidão possível; e julgar bem é

preocupação que não pode ser estranha ao órgão judicial. Nessa

perspectiva, ao contrário do que insinuam certas fórmulas

tradicionais, recusar-lhe a possibilidade de comprovar

espontaneamente os fatos parece tão pouco razoável, afinal de

54 Istituzioni di diritto processuale, p. 121. 55 “Recurso Especial. Processual Civil. Prova. Produção. Iniciativa. Princípio dispositivo. Igualdade das partes. Ordem de oitiva das testemunhas. Admite-se no processo moderno a iniciativa probatória do juiz, pois a efetividade do processo e a absorção do conflito no plano social depende de uma decisão cunhada a partir do princípio da verdade real dos fatos. Tal poder, entretanto, deve ser exercido, sem que o julgador desmereça dos demais princípios que norteiam o processo civil. A dispensa da prova oral pelo juiz, como conseqüência sancionatória à ausência do advogado do autor à audiência de instrução e julgamento do rito sumário, o impede de, mais tarde, determinar a inquirição das mesmas testemunhas. Violação aos princípios da imparcialidade do julgamento, do ônus da prova, da ordem de oitiva de testemunhas e do tratamento igualitário que deve conferir às partes. Recurso especial provido” (STJ-3ª Turma, REsp 151.924-PR, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 19.06.2001, v.u., DJ 08.10.2001, p. 210).

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contas, quanto negar-lhe a de procurar por si mesmo a norma

aplicável: o conhecimento daqueles não lhe é menos necessário

que o desta para cumprir sua função essencial de modo

satisfatório”. 56

Na sentença, o juiz é compelido a apreciar os pontos

suscitados pelas partes e a decidir sobre todas as questões surgidas no

processo, devendo a conclusão recair sobre o objeto litigioso.

1.6 - SENTENÇAS PROCESSUAIS

Constatada a ausência de algum requisito do julgamento de

mérito da demanda – condições da ação e pressupostos processuais -, a

sentença coloca fim ao procedimento de primeiro grau de jurisdição sem

julgamento do mérito.

As sentenças processuais têm o condão de propiciar coisa

julgada formal, não impedindo que, com a correção do defeito processual,

o conflito possa ser novamente examinado pelo Poder Judiciário.

56 “Os poderes do juiz na direção e na instrução do processo”, Temas de direito processual, Quarta Série, p. 47.

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Entretanto, as hipóteses de sentenças processuais não se

resumem à ausência das condições da ação ou dos pressupostos

processuais. Há, ainda, outros motivos que conduzem à extinção do feito

sem exame do mérito.

Estão previstas no art. 267 do CPC as hipóteses em que o juiz

deve emitir sentença pondo fim ao procedimento sem exame do mérito.

Vejamos os incisos do art. 267 do CPC.

De acordo com o inc. I, o processo deve ser extinto sem

julgamento do mérito, quando o juiz indeferir a petição inicial. Trata-se de

vício que afeta um dos pressupostos processuais de validade (petição inicial

apta) e impede a formação válida da relação jurídica processual.

Deferida a petição inicial, nada obsta a que o juiz possa

extinguir o feito sem julgamento do mérito, uma vez que inocorre

preclusão quanto ao exame das matérias afetas à admissibilidade da

demanda (CPC, arts. 267, § 3º, e 301, § 4º), isto é, em relação às matérias

de ordem pública não há preclusão pro judicato.57

57 “A circunstância de não ter o juiz indeferido liminarmente a inicial não o impede de extinguir posteriormente o processo” (IV ENTA-concl. 23, un.).

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Preceitua o art. 295 do CPC que a petição inicial deve ser

indeferida, na hipótese de: inépcia (falta de pedido ou causa de pedir,

inexistência de relação de causa e efeito entre os fatos e o pedido, pedido

juridicamente impossível e pedidos incompatíveis); ausência de condições

da ação (ilegitimidade de parte e ausência de interesse processual);

inadequação do procedimento; e falta de requisitos formais (arts. 39, par.

único, e 284).

Registre-se que é de mérito a sentença que indefere a petição

inicial, em virtude da configuração de decadência ou prescrição.58

O inc. II prescreve que deve ser extinto sem julgamento do

mérito o processo que, em virtude da contumácia das partes, permanecer

sem andamento durante mais de 1 ano. A paralisação do processo por tal

período tem que advir da inércia das partes, para que possa o feito ser

extinto sem exame do mérito.

É lícito ao juiz de ofício extinguir o feito sem julgamento de

mérito na hipótese do inc. II do art. 267 do CPC, ressalvada a providência

58 “Quando o juiz indefere a petição inicial por motivo de decadência ou prescrição, há encerramento do processo com julgamento do mérito” (SIMP-concl. XXVI, RT 482/271).

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de intimação pessoal da parte para suprir a omissão (§ 1º do citado preceito

legal).59

O inc. III dispõe que, havendo abandono da causa pelo autor

por mais de 30 dias, o processo deve ser extinto sem julgamento do mérito,

se o juiz for instado a se pronunciar pelo réu, nos termos da súmula 240 do

STJ: “A extinção do processo, por abandono da causa pelo autor, depende

de requerimento do réu”.60

Estabelece o CPC, no art. 267, § 1º, que somente haverá a

extinção do processo sem julgamento do mérito pelos motivos descritos

nos incs. II e III, se a parte, instada a se pronunciar por meio de intimação

pessoal, permanecer inerte.

59 “A extinção do processo, sem julgamento do mérito, poderá ser decretada de ofício, na hipótese do item II do art. 267” (SIMP-concl. XIV, RT 482/271); “Execução. Extinção do processo com base no art. 267, II e III, do Código de Processo Civil. Súmula nº 240 da Corte. 1. Extinto o processo também com fundamento no inciso II do art. 267 do Código de Processo Civil, não se aplica a Súmula nº 240 da Corte, que alcança, apenas, a extinção por abandono da causa pelo autor, objeto do inciso III do mesmo artigo. 2. Recurso especial não conhecido” (STJ-3ª Turma, REsp 554.773-MG, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j. 04.05.2004, v.u., DJ 21.06.2004, p. 218). 60 “PROCESSUAL CIVIL. EXTINÇÃO DO PROCESSO POR ABANDONO (ART. 267, III, § 1º, CPC). IMPOSSIBILIDADE DE EXTINÇÃO DE OFÍCIO. ENUNCIADO Nº 240 DA SÚMULA/STJ. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO. INTERESSE DO RÉU NA SOLUÇÃO DO CONFLITO. INEXISTÊNCIA. POSSIBILIDADE DE EXTINÇÃO DE OFÍCIO. DOUTRINA. PRECEDENTES. RECURSO DESACOLHIDO. I – Não é dado ao juiz, na hipótese do inciso III do art. 267, CPC, extinguir o processo de ofício, sendo imprescindível o requerimento do réu, dado ser inadmissível presumir-se desinteresse do réu no prosseguimento e solução da causa. II – Diversa é a situação, no entanto, quando se trata de ação na qual não tenha ocorrido a citação. Nesse caso, não há como presumir eventual interesse do réu na continuidade do processo. III – Na linha de precedente da Turma, ‘o processo, em sua visão contemporânea, é instrumento de realização do direito material e de efetivação da tutela jurisdicional, sendo de feição predominantemente pública, que não deve prestar obséquios aos caprichos de litigantes desidiosos ou de má-fé"(REsp n. 261.789-MG, DJ 16/10/2000)” (STJ-4ª Turma, REsp 439.309-MG, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 20.03.2003, v.u., DJ 14.04.2003, p. 228).

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Os incs. IV, V e VII estabelecem que, ausente algum dos

pressupostos de existência, validade ou negativo, o processo deve ser

extinto sem julgamento do mérito. Inclui também a perempção, que vem a

ser a perda do direito de ação pela desídia do autor que deu motivo por 3

vezes à extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 268 do CPC).

O inc. VI prescreve que, ausente alguma das condições da

ação (legitimidade para a causa, interesse de agir e possibilidade jurídica do

pedido), o processo deve ser extinto sem julgamento do mérito.

O inc. VIII dispõe que, em o autor requerendo a desistência da

ação, o processo deve ser extinto sem análise do mérito. Pelo princípio do

contraditório, impende destacar que, após a citação, o réu tem que anuir ao

pedido de desistência formulado pelo autor, para que o feito seja extinto

sem análise do mérito. A impugnação do réu quanto ao pedido de

desistência tem que ser motivada, não obstando a extinção a negativa

genérica.

O inc. IX estipula que, quando o direito de ação for

intransmissível, o feito deve ser extinto sem exame do mérito. A rigor, a

extinção do processo sem julgamento do mérito se impõe, quando o direito

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material discutido em processo judicial for intransmissível por disposição

legal.

O inc. X prescreve que, ocorrendo confusão entre autor e réu,

o processo deve ser extinto sem julgamento do mérito. Nos termos do art.

1.049 do CC, extingue-se a obrigação quando se confundem na mesma

pessoa as qualidades de credor e devedor.

1.7 - SENTENÇAS DE MÉRITO

Presentes os requisitos de admissibilidade do processo –

condições da ação e pressupostos processuais -, o juiz passa a examinar o

mérito, isto é, deverá prestar a tutela jurisdicional nos limites da demanda

(CPC, arts. 2º, 128 e 460).

No processo civil, mérito vem a ser o pedido formulado na

demanda, de sorte que a sentença de mérito aprecia o objeto litigioso da

demanda.

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50

Por isso é, a rigor, de mérito a sentença que, a despeito de se

pronunciar sobre o pedido, põe fim ao feito sem julgamento de mérito.61

A sentença de mérito, ao contrário da processual, tem o

condão de formar coisa julgada material, de sorte que o comando ou parte

dispositivo do referido pronunciamento decisório torna-se, em regra,

imutável e imodificável.

Nos incisos do art. 269, o CPC enumera as hipóteses em que a

sentença extingue o processo com o exame do mérito.

O inc. I estabelece que é de mérito a sentença que acolhe ou

rejeita o pedido formulado na demanda. Nesta hipótese, o juiz analisa o

mérito, julgando procedente ou improcedente o pedido, nos limites da

demanda e da contestação.

O inc. II prescreve que, havendo o reconhecimento jurídico do

pedido pelo réu, a sentença põe fim ao processo com julgamento de mérito.

O reconhecimento jurídico do pedido consiste num ato processual praticado

pelo réu que admite, total ou parcialmente, a procedência do pedido 61 “Para verificar se houve exame do mérito, há que pesquisar se a pretensão formulada foi decidida. Isso tendo ocorrido, não importa que a sentença haja, equivocadamente, afirmado que o autor era carecedor da ação. Fica o tribunal, no julgamento da apelação, autorizado a examinar todas as questões pertinentes ao merecimento” (STJ-3ª Turma, REsp 31.766-0-RS, rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 25.04.1994, v.u., DJU 30.05.1994, p. 13.480).

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formulado na demanda, e recai sobre o direito – in casu, disponível -, ao

contrário do que ocorre com a confissão que vem a ser admissão da

veracidade de um fato que lhe é desfavorável.

O inc. III dispõe que a transação vem a ser uma das

modalidades de extinção das obrigações, pela qual as partes em concessões

recíprocas põem fim ao litígio. A exemplo do que ocorre com o

reconhecimento jurídico do pedido, a transação pressupõe direitos

disponíveis, isto é, somente os direitos passíveis de renúncia é que podem

ser objeto de transação. A transação pode ser firmada judicial ou

extrajudicialmente e produz efeitos imediatos (CPC, art. 158), sendo a

coisa julgada material condicionada à sua homologação.

O inc. IV prescreve que, em havendo declaração de prescrição

ou decadência, a sentença examina o mérito da demanda. A rigor, como é

sabido, a prescrição e a decadência são questões prévias da espécie

prejudicial ao mérito. Nada obstante, o legislador brasileiro optou por

equiparar a pronunciamento de mérito a declaração de prescrição ou

decadência.

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Por fim, o inc. V reza que é de mérito a sentença, na hipótese

de o autor renunciar ao direito material em que se funda a ação. Trata-se de

ato jurídico, pelo qual o autor abre mão de direitos disponíveis.

1.8 - ELEMENTOS

O CPC, no art. 458, estabelece os elementos que devem estar

presentes nas sentenças judiciais. Vale dizer, a lei dispôs sobre as partes

componentes e essenciais da sentença, para que sejam produzidos os efeitos

jurídicos.62

Faltante um dos elementos, a rigor o ato processual inexistirá,

já que a ausência de um requisito essencial implica inexistir parte da

própria essência.63

Por ser a sentença o ato culminante do processo, pelo qual o

juiz define, por meio da aplicação da lei ao caso concreto, a norma jurídica

individual que efetua a justa composição do conflito, o legislador houve

62 Giuseppe Tarzia assinala que “In quest’ordine di idee si è perspicuamente osservato che regolare la forma de in atto vuol dire indicarne i caratteri giuridicamente rilevanti, nel senso che solo in quanto il singolo atto li possieda, lo effeto giuridico se ne produca, e che, pertanto, la determinazione dell’effetto giuridico avuto di mira non può mai mancare” (Profili della sentenza civile impugnabilie, p. 17). 63 Cf. Arruda Alvim, “Sentença no processo civil – as diversas formas de terminação do processo em primeiro grau”, Estudos e pareceres – 2, p. 334.

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por bem inserir elementos essenciais, sem os quais o pronunciamento

padece de grave vício.

Impôs o legislador que a sentença conterá o relatório, a

motivação ou fundamentação e o dispositivo.

O relatório vem a ser o resumo dos atos processuais praticados

no processo, com a exposição dos fatos, dos fundamentos jurídicos da

demanda, do pedido, dos fatos e dos fundamentos de defesa. No relatório, o

juiz efetua a exposição da história relevante do processo e o registro dos

atos processuais nele praticados.

Feito o relatório, no qual não há emissão de juízo de valor, o

juiz passa a expor a fundamentação ou motivação da sentença, examinando

as alegações de fato e de direito, os pontos controvertidos, as questões

prévias e aquelas propriamente de mérito.

Pela Constituição Federal de 1988 (art. 93, inc. IX), a

motivação foi erigida em princípio constitucional, em razão do qual os

pronunciamentos decisórios emanados do Poder Judiciário devem ser

obrigatoriamente motivados, sob pena de nulidade.

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54

Esta regra posta na Constituição Federal implica que todas as

decisões judiciais devem ser explícitas e motivadas. Inexiste, no direito

brasileiro, decisão implícita.64

Motivar significa expor as razões de fato e de direito que

convenceram o juiz a proferir o pronunciamento decisório, devendo ter

implicação substancial acerca dos fatos, dos fundamentos e dos

requerimentos postos na demanda e na defesa.65

A cognição do juiz recai sobre os fatos, as provas produzidas

em juízo e os fundamentos jurídicos suscitados pelas partes.

Elio Fazzalari assenta que

“Il giudice deve, innanzitutto, ricostruire la situazione di fatto

(che struttura la situazione giuridica sostanziale, oggetto di

questione) in base alle allegazioni ed alle prove. Questa parte del

giudizio si suole indicare – l’abbiamo rilevato – como giudizio

di fatto: essa mette capo allá affermazione o negazione, da parte

del giudice, della esistenza dei fatti rilevanti nella specie, i quali

si possono chiamare, perciò, fatti principali... Il giudizio di

diritto, cioè la valutazione dei fatti in base alle norme

sostanziali, è l’ulteriore addendo del giudizio”.66

64 Cf. João Batista Lopes, “Breves considerações sobre o instituto da preclusão”, RePro, n. 23, p. 53. 65 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, “A motivação das decisões judiciais como garantia inerente ao Estado de Direito”, Temas de direito processual civil, segunda série, p. 86-87. 66 Istituzioni di diritto processuale, p. 382.

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55

A motivação do pronunciamento decisório envolve uma

operação complexa, em que o juiz exerce esforço intelectual na análise e na

valorização da verdade jurídica que emana das provas produzidas em juízo,

para, em seguida, efetuar a justa aplicação da norma jurídica.67

É assente, no direito brasileiro, que os atos postulatórios

podem exigir do juiz a análise da admissibilidade e do mérito.

As condições da ação e dos pressupostos processuais

consistem em matéria prévia da espécie preliminar ao exame do mérito,

isto é, o juiz somente analisa o mérito, desde que estejam presentes os

mencionados requisitos de admissibilidade. Ausente um dos requisitos, o

juiz sequer passa ao exame do mérito.

Assim, antes de analisar o mérito, o juiz, independentemente

de manifestação das partes, deve examinar se estão presentes as condições

da ação e dos pressupostos processuais (CPC, arts. 267, §3º, e 301, §4º).

67 Segundo José Augusto Delgado, “A atividade desenvolvida pelos Juízes de entregar a prestação jurisdicional tem características de finalidade pública e sentido de colaboração para apresentar o processo de desenvolvimento e de criação do Direito. Em conseqüência, isso obriga a que a autoridade judiciária exerça maior esforço intelectual para intensificar o grau de racionalidade na descoberta da verdade jurídica que se exige seja sempre objetiva. Em assim ocorrendo, o Juiz há de se conscientizar de que o seu julgamento deve conter motivação suficiente, de modo que se apresente de forma lógica e com compreensão ao nível da capacidade de entendimento dos jurisdicionados” (“A sentença judicial e a Constituição Federal de 1988”, RePro, n. 61, p. 58).

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56

Há, ainda, as matérias prévias da espécie prejudicial que, se

acolhida, tem o condão de condicionar o conteúdo do mérito. Os exemplos

típicos de matéria prejudicial são a prescrição e a decadência, as quais, se

acatadas, têm o condão de condicionar o mérito da demanda.

Ultrapassada a admissibilidade da demanda, passa o juiz a

examinar os fatos e fundamentos jurídicos suscitados pelas partes na

petição inicial e na contestação.

O exame dos fatos e dos fundamentos jurídicos suscitados

pelas partes e a resolução das questões de mérito se situam nos

fundamentos ou motivos da decisão.68

68 A palavra questão é utilizada como sinônimo de ponto controvertido, isto é, é a matéria a respeito da qual as partes se controvertem. Na legislação processual, questão também pode ser entendida como o tema objeto da decisão. Veja a lição de José Carlos Barbosa Moreira: “É oportuno, a esta altura, um esclarecimento de ordem não só terminológica, mas sobretudo conceptual. A palavra ‘questão’ vê-se empregada em dois sentidos diversos na linguagem da lei. Ela serve, primeiro, para designar o teor do pronunciamento judicial. Nessa acepção, dir-se-á com propriedade que a solução das ‘questões’ é o meio de que se vale o Juiz para julgar: a ‘questão’ não constitui, em si, objeto de julgamento, mas, uma vez resolvida, insere-se entre os fundamentos da decisão, entre as razões de decidir. Assim, por exemplo, a questão consistente em saber se ocorreu ou não o fato constitutivo alegado pelo autor, ou o fato extintivo alegado pelo réu: a questão relativa à vigência ou a à constitucionalidade da regra jurídica cuja incidência se afirma etc. É com tal significado que o vocábulo ‘questão’ aparece no texto do art. 458, II, do atual CPC, onde se incluem, entre outros ‘requisitos’ (rectius: elementos) essenciais da sentença, os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito, assentando as premissas de que extrairá a conclusão. Outras vezes, ‘questão’ é o próprio thema decidendum, ou ao menos cada uma das partes em que ele se fraciona. Se alguém, v.g., pleiteia a resolução da promessa de compra e venda e a reintegração na posse do imóvel, dir-se-á, neste outro sentido, que o juiz deve julgar duas ‘questões’, a da resolução contratual e a possessória. Existe aí manifesta correspondência entre ‘questão’ e pedido, havendo mais de um pedido, ou – o que afinal é o mesmo – compondo-se o pedido de mais de um item, estarão subpostas à cognição judicial tantas ‘questões’ quantos forem os pedidos, ou os itens do pedido” (“Do pedido sobre o qual não houve decisão. Possibilidade de reiteração em outro processo”, Temas de direito processual civil, p. 243).

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57

É imprescindível, pois, a análise da causa de pedir descrita na

petição inicial e os fundamentos suscitados na contestação pelo réu, sob

pena de nulidade da sentença. Isso porque a causa de pedir, a despeito de

não integrar o mérito, identifica e individualiza o pedido.69-70

Impende destacar que é assente na jurisprudência o

entendimento de que o juiz não é compelido a analisar todos os pontos do

processo, sendo suficiente uma motivação idônea que sustente a

conclusão.71

Quando se tratar de extinção do feito sem exame do mérito, o

CPC prevê que o juiz emitirá a sentença de forma concisa, nos termos do

art. 459. Mesmo na sentença processual é de rigor a presença dos

elementos estabelecidos no art. 458 do CPC.72

69 Cf. Arruda Alvim, “Ação de indenização por ter havido sonegação de bens na partilha e porque a partilha, em si mesma, foi prejudicial à autora. Necessidade de o juiz decidir ambos os pedidos relativos às duas causas de pedir”, RePro, n. 59, p. 210-211. 70 “Se o pedido está desdobrado em dois fundamentos e apenas um deles foi apreciado na sentença, é nula essa decisão” (RT 600/163). 71 “PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. SENTENÇA. NULIDADE DECLARADA PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. INOCORRÊNCIA. CPC, ARTS. 458, II E 515, § 1º. I. Não se configura nulidade na sentença que se manifestou sobre a matéria objeto da discussão, ainda que não tenha enfrentado especificamente todos os argumentos suscitados pela parte. II. Incidência da regra do art. 515, parágrafo primeiro, do CPC. III. Recurso especial conhecido e provido” (STJ-4ª Turma, REsp 239.737-RN, rel. Min. Aldir Passarinho Junior, j. 21.03.2002, v.u., DJ 29.04.2002, p. 246). 72 “A sentença que encerra o processo sem julgamento do mérito deverá conter o suficiente à sua conformação como ato decisório final” (SIMP-concl. XXXVII, RT 482/271); “PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA EXTINTIVA. FUNDAMENTAÇÃO CONCISA. POSSIBILIDADE. INÉPCIA DA INICIAL. MOMENTO DE APRECIAÇÃO. 1. Não é nula a sentença suficientemente concisa que, sem indicar expressamente o dispositivo legal no qual se embasa, extingue o processo sem julgamento de mérito, dado o não cumprimento de determinação judicial para sanar irregularidade constante no processo. 2. A inépcia da inicial pode ser apreciada e declarada até o momento do despacho saneador. 3. Recurso conhecido e provido” (STJ-5ª Turma, REsp 202.998-RJ, rel. Min. Edson Vidigal, j. 27.04.1999, v.u., DJ 31.05.1999, p. 186).

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58

Na motivação, o juiz, examinando as matérias de fato e de

direito e resolvendo as questões processuais e de mérito, fixa as premissas

fundamentais da conclusão.

Na parte dispositiva, o juiz deve emitir pronunciamento sobre

o pedido formulado na petição inicial. O dispositivo da sentença é

delimitada pelo objeto litigioso, ou seja, acerca do pedido formulado na

petição inicial é que a conclusão da sentença se pronuncia.

A incongruência entre o pedido e a conclusão do ato decisório

acarreta a configuração de vício processual que torna o pronunciamento

judicial inválido.

O termo “questões” previsto no art. 458, III, do CPC equipara-

se a mérito ou ao objeto litigioso, porquanto é na parte dispositiva que o

juiz se pronuncia sobre o pedido.

É a parte dispositiva da sentença que tem a aptidão de fazer

coisa julgada formal e material. Ausente a parte dispositiva, resta

configurado um gravíssimo vício processual – inexistência jurídica - que

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59

tem o condão de macular a sentença, em razão da falta da própria atividade

jurisdicional.73

1.9 - CLASSIFICAÇÃO POR SUA EFICÁCIA

Adotando classificação de Pontes de Miranda, pela eficácia

preponderante as sentenças podem ser declaratória, constitutiva,

condenatória, mandamental ou executiva.74

A sentença declaratória tem como finalidade a declaração da

existência ou inexistência de relação jurídica, dissipando o estado de

incerteza jurídica.75-76

O interesse do autor na ação declaratória pode se limitar à

declaração de existência ou de inexistência de relação jurídica, ou de

autenticidade ou falsidade de documento (CPC, art. 4º).

73 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, “Do pedido sobre o qual não houve decisão. Possibilidade de reiteração em outro processo”, Temas de direito processual civil, p. 243. 74 “Não há nenhuma ação, nenhuma sentença, que seja pura. Nenhuma é somente declarativa. Nenhuma é somente constitutiva. Nenhuma é somente condenatória. Nenhuma é somente mandamental. Nenhuma é somente executiva” (Tratado das ações, v. 1, p. 137). 75 Cf. João Batista Lopes, Ação declaratória, p.31-33. 76 “Ação declaratória. Objeto. Trata-se de ação que não se presta para atender a mera pretensão à interpretação da lei em tese, mas a afastar estado de incerteza objetiva acerca da existência, ou não, de relação jurídica” (STJ-RT 672/228).

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60

A sentença declaratória não dá ensejo à propositura posterior

de ação de execução, já que o comando emergente da parte dispositiva já

satisfaz o autor, com a dissipação da incerteza jurídica. Isto é, a sentença

declaratória não proporciona a formação de título executivo judicial,

ressalvando a eficácia condenatória decorrente do ônus da sucumbência.

A sentença constitutiva pressupõe a declaração de direito, mas

visa à criação, extinção ou modificação de um estado ou relação jurídica. A

sentença constitutiva produz efeitos no próprio processo de conhecimento,

tornando-se dispensável posterior processo de execução. Não há que se

cogitar, portanto, de título executivo judicial, ressalvando a eficácia

condenatória remanescente decorrente do ônus da sucumbência.

A sentença condenatória dispõe de duplo conteúdo e dupla

função, a saber: de início declara o direito existente e, em seguida, aplica a

regra de sanção concreta. Com o trânsito em julgado da sentença

condenatória, forma-se, portanto, o título executivo judicial, possibilitando,

em caso de inadimplemento, a propositura de ação de execução por quantia

certa.

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61

Em caso de inadimplemento do devedor, a satisfação da

sanção imposta na sentença condenatória pressupõe a propositura da ação

de execução, o que é um fato decisivo para a sua ineficácia.77

Nas sentenças declaratória e constitutiva, não remanesce

qualquer necessidade de a parte vencida tomar alguma atitude para que o

direito reconhecido na sentença seja satisfeito.78

Na sentença mandamental há uma ordem para coagir o réu, a

cumprir o direito declarado, proporcionando uma tutela independentemente

de instauração de processo de execução.

Destaca-se a distinção entre condenar e ordenar: com a

sentença condenatória, há a formação de um título executivo judicial, cujo

descumprimento enseja um novo processo intitulado de execução;

enquanto, com a ordem, há a determinação efetiva de cumprimento

específico do comando do juiz.79

77 Marcelo Lima Guerra assinala que “a insuficiência apontada da sentença condenatória postula que o ordenamento predisponha os meios jurídicos necessários a que se possa atingir o resultado material igual ou equivalente à prestação que essa sentença impõe ao réu, em reparação ao direito lesionado do autor, na hipótese de o mesmo réu não realizar espontaneamente, a prestação devida. Tais meios correspondem, precisamente, à tutela executiva prestada através do processo de execução” (Execução forçada, p. 22). 78 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Tendências na execução das sentenças, Temas de direito processual civil, 1ª série, p. 38-39. 79 Cf. Ovídio A. Batista da Silva, Curso de processo civil, vol. II, p. 348-351.

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62

Para que a decisão seja cumprida, a legislação coloca à

disposição do juiz uma série de medidas coercitivas com a finalidade de

impor o cumprimento específico da obrigação, tais como a multa ou

astreintes e a prisão civil. Há, ainda, as medidas subrogatórias destinadas a

conduzir ao resultado prático equivalente ao adimplemento (CPC, art. 461,

§ 5º).80

Já as sentenças executivas lato sensu são também cumpridas

no próprio processo em que proferidas, independentemente de ser

instaurado processo de execução. Diferem das sentenças mandamentais

pelo seu conteúdo principal, que não é uma ordem para o réu cumprir, mas

a autorização para o órgão judicial executar, independentemente da vontade

do demandado, nos próprios autos do processo de conhecimento.

1.10 - CONGRUÊNCIA ENTRE A SENTENÇA E O PEDIDO

Consectário do princípio dispositivo, a correlação entre a

decisão e o pedido foi expressamente consagrada nos arts. 128 e 460 do

CPC.

80 Cf. Joaquim Felipe Spadoni, Ação inibitória, p. 195 e ss.

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Os três elementos da ação servem como parâmetros e

delimitam a sentença judicial, uma vez que identificam a sua natureza

(cautelar, execução e conhecimento), fixam o objeto (pedido) e os

fundamentos de fato e de direito (causa de pedir remota e próxima), e

indicam o alcance subjetivo almejado (partes).

A causa de pedir identifica e individualiza o pedido, de forma

que a parte dispositiva da sentença é emitida a partir da análise e da

valoração dos fundamentos de fato e de direito suscitados pelo autor na

petição inicial e pelo réu na contestação.81

Na sentença, é defeso ao juiz apreciar fatos que não estejam

incluídos na causa de pedir enunciada na petição inicial.82

A reformulação narrativa de circunstâncias acidentais dos fatos

litigiosos suscitados no processo, a alteração da qualificação jurídica dos

81 “AR (AI) - PROCESSUAL CIVIL - AÇÃO - A causa ‘petendi’ e o pedido delimitam a extensão da sentença, pena de decisão ‘ultra’, ‘citra’, ou ‘extra petita’ (STJ-6ª Turma, AgRg no AG 198.751-SP, rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, j. 15.12.1998, v.u., DJ 01.03.1999, p. 430); “Recurso especial. Processo civil. Previdenciário. Julgamento ‘extra-petita’. - A sentença deve ater-se às questões postas pelas partes. Indispensável vincular a causa de pedir ao pedido, caso contrário, será ‘citra’, ‘ultra’ ou ‘extra-petita” (STJ-5ª Turma, REsp 61.714-SP, rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, j. 22.10.1996, v.u., DJ 02.12.1996, p. 47.696). 82 “Causa de pedir – Impossibilidade de o julgamento considerar fatos outros que não os apontados na inicial como fundamento do pedido” (STJ-3ª Turma, Resp 86.279-SP, rel. Min. Waldemar Zveiter, j. 18.02.1997, v.u., DJ 19.05.1997, p. 20.631).

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fatos ou alteração do amparo legal não implica alteração de causa de

pedir.83-84

Impende assinalar a distinção entre fundamento jurídico e

legal. O primeiro refere-se aos fatos e às respectivas qualificações jurídicas

que fundamentam o pedido, ao passo que o segundo diz respeito ao

dispositivo legal que ampara o pedido.

O juiz não se encontra vinculado aos fundamentos legais

invocados pelas partes, mas, sim, ao pedido e aos fundamentos jurídicos

suscitados no processo.

Sobre o assunto, enuncia José Augusto Delgado que

“Uma outra regra que incide no momento de sentenciar e que se

liga ao dever de motivar é a de que o Juiz não está vinculado ao

dispositivo ou dispositivos legais invocados pelas partes. Na

verdade, o Magistrado desenvolve as suas atividades segundo a

regra que pode fundar-se em argumentação jurídica não vinda

para os autos. Prevalece, assim, o conteúdo do brocardo latino

da mihi factum, dabo tibi ius – dá-me os fatos, que dar-te-ei o

direito. O que o julgador não poderá alterar é a causa de pedir,

83 Cf. José Rogério Cruz e Tucci, A causa petendi no processo civil, p. 198. 84 “A narrativa de circunstâncias acidentais feita após a contestação com intuito de esclarecer a petição inicial, sem modificação dos fatos e fundamentos jurídicos delineados na peça de ingresso, não importa alteração de causa de pedir” (STJ-4ª Turma, REsp 55.083-SP, rel. Min. Sálvio de Figueiredo); “Decidindo o Magistrado na audiência de conciliação deferir prazo para que a parte autora descreva a ‘mecânica do evento’, não há falar em alteração da causa de pedir, ainda mais quando o acórdão recorrido reconheceu que a peça vestibular está bem redigida e fundamentada, afastando a inépcia da inicial” (STJ-3ª Turma, REsp 231.751-RJ).

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pois, conforme adverte Celso Agrícola Barbi, in Comentários

ao Código de Processo Civil, v. I, p. 536, se isso ocorresse,

estaria ele decidindo, em verdade, demanda diversa daquela que

fora ajuizada”.85

Não há óbice a que a sentença se afaste dos fundamentos

legais suscitados pelas partes, desde que respeitados os limites da

demanda.86 Trata-se de aplicação do conhecido adágio “iuria novit curia”.87

Além da relação com o dispositivo, a congruência entre o

pedido e a sentença encontra fundamento no princípio constitucional do

contraditório e da ampla defesa.

Quando contemplou a mencionada regra da correspondência, o

legislador procurou preservar o contraditório e a ampla defesa, na medida

85 “A sentença judicial e a Constituição Federal de 1988”, RePro, n. 61, p. 59. 86 “Processual Civil. Causa de Pedir e Pedido. Julgamento Extra ou Ultra Petita. 1. Identificar a causa petendi é a identificação do fato ou dos fatos capazes de produzirem o pretendido efeito jurídico. Não há julgamento extra ou ultra petita quando o julgador aprecia os fatos e decide adstrito aos fundamentos legais, exercitando atividade que lhe está reservada e não à parte interessada em obter resultado diferente. 2. Recurso provido” (STJ-1ª Turma, REsp 273.797-SP, rel. Min. Milton Luiz Pereira, j. 06.08.2002, v.u., DJ 30.09.2002, p. 197); “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA REVISIONAL DE CONTRATO. NOMEN IURIS. CAUSA DE PEDIR E PEDIDO. Não importa o nome jurídico dado pelo autor à ação, devendo o magistrado atentar para a causa de pedir e para o pedido, aspectos que definem a natureza jurídica da ação” (STJ-3ª Turma, REsp 169.404-RS, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j. 13.03.1999, v.u., DJ 24.05.1999, p. 163). 87 Cf. Fritz Baur, “Da importância da dicção iuria novit curia”, RePro, n. 3, p. 169-177. Declara Cândido Rangel Dinamarco que “se o autor narra determinados fatos na petição inicial e com fundamento neles pede a anulação do contrato por erro, nada o impede – e nada impede o juiz também – de alterar essa capitulação e considerar que os fatos narrados integram a figura da coação e não do erro. O resultado prático será o mesmo, porque qualquer um desses vícios do consentimento conduz à anulabilidade do negócio jurídico e, portanto, autoriza a sua anulação (CC, art. 147, inc. II). Mas os fatos o autor não pode alterar, nem pode o juiz apoiar-se em outros para fazer o seu julgamento. É claro que, se a nova capitulação jurídica atribuída aos fatos narrados não conduzir ao resultado postulado, a pretensão do autor não poderá obter sucesso” (Instituições de direito processual civil, v. 2, p. 127-128).

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66

em que o réu tem a ciência acerca de qual a pretensão foi deduzida pelo

autor e quais os fatos que a amparam.

José Carlos Barbosa Moreira observa a relação entre o

princípio da congruência e o contraditório:

“a meu ver, a que apresenta maiores credenciais é a que

relaciona esta problemática com a garantia do contraditório. O

que se tem em vista, sobretudo, é preservar o contraditório e o

direito de defesa do réu. (...) O exercício amplo do direito de

defesa implica necessariamente para o réu um mínimo de

previsibilidade. É preciso que ele saiba, ao ser convocado a

juízo, ou possa verificar os com os dados de que dispõe, quais

são as suas chances, tanto para o melhor, quanto para o pior. É

preciso que ele possa avaliar desde logo qual a pior coisa que

lhe pode acontecer na hipótese de derrota”. 88

Há também implicações para o autor, uma vez que deve

formular o pedido de modo completo, ressalvada a hipótese de aditar a

petição inicial até a citação (CPC, art.294).

Nessa temática, faz-se imprescindível examinar, ainda que de

forma sucinta, algumas regras previstas no CPC sobre o pedido.

O pedido tem de ser em regra certo e determinado, nos termos

do art. 286, caput, do CPC. Compete, pois, ao autor discriminar, na petição 88 “Correlação entre o pedido e a sentença”, RePro, n. 83, p. 209.

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inicial, a pretensão quanto à natureza do provimento jurisdicional, à

espécie, à qualidade e à quantidade do bem jurídico solicitado.89

O CPC, em seu art. 288, prevê a possibilidade de o autor

formular pedidos alternativos, quando, pela natureza ou da obrigação, o

devedor puder cumprir a prestação de mais de um modo. Qualquer um dos

pedidos satisfaz o autor, de forma que as prestações são disjuntivas.

Permite o CPC, no art. 289, que o autor formule mais de um

pedido em ordem sucessiva, a fim de que o juiz conheça do posterior, em

não podendo acolher o anterior. Nos pedidos sucessivos -, a rigor há um

pedido principal e um ou vários subsidiários, os quais somente serão

apreciados, caso o primeiro não seja acolhido.

O CPC estabelece, ainda, ser possível a cumulação de pedidos,

por meio da qual, em uma única petição inicial, o autor formula mais de um

pedido em face do mesmo ou diferentes réus.

Quando os pedidos são formulados simultaneamente em uma

petição inicial, a rigor há cumulação de ações, com a identificação

específica dos elementos da demanda (partes, causa de pedir e pedido).

89 Cf. Milton Paulo de Carvalho, Do pedido no processo civil, p. 103.

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A cumulação de pedidos pode ser simples ou sucessiva. Na

primeira, a decisão sobre um pedido não tem o condão de afetar o outro, ao

passo que, na segunda, o acolhimento de um pedido pressupõe o do pedido

anterior.90

Na cumulação de ações em face de um mesmo réu, o art. 292

do CPC exige a presença de certos requisitos: compatibilidade dos pedidos;

competência do juízo; e adequação do procedimento.

À luz do princípio dispositivo, impõe o CPC, no art. 293, que

os pedidos serão interpretados restritivamente. No entanto, o próprio

preceito legal admite pedido implícito, ao encerrar regra de que os juros

estão compreendidos no pedido principal.

Ainda que a sentença seja omissa, é lícita a inclusão de juros

moratórios, quando da liquidação ou execução do crédito. Nesse sentido, é

o conteúdo da súmula 254 do STF, segundo a qual “Incluem-se os juros

moratórios na liquidação, embora omisso o pedido inicial ou a

condenação”.

90 Cf. Araken de Assis, Cumulação de ações, p. 254-255.

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Encontram-se abrangidos no pedido a correção monetária (Lei

nº 6.899/81), as prestações vincendas (art. 290, CPC) e os ônus decorrentes

da sucumbência (art. 20, CPC).

Portanto, na petição inicial o autor fixa o objeto litigioso, ao

formular a pretensão, e veicula a causa de pedir que é retratada pelos

fundamentos de fato e jurídicos que amparam o pedido.91

Preenchidos os requisitos de admissibilidade do julgamento de

mérito, o juiz deve prolatar pronunciamento decisório, apreciando todo o

pedido, à luz da causa de pedir que o identifica e o individualiza.

Segundo Arruda Alvim,

“o perfil jurídico do pedido decorre da qualificação jurídica dada

pelo autor, à luz dos fatos trazidos ao juiz. (...) Ademais, além do

respeito aos fatos jurídicos deduzidos pelo autor (respeito à

informação trazida), deverá o juiz atender, exclusivamente, às

conseqüências jurídicas solicitadas pelo autor (respeito à

vontade), e não outras que, eventualmente, fossem possíveis,

mas que não foram pedidas. Deve, assim, haver respeito ao

relato e ao pedido (conseqüências jurídicas). Não poderá o juiz

emprestar ao pedido uma conseqüência jurídica que não tenha

sido expressamente pedido, pois que infringiria

indiscutivelmente o art. 128 do CPC. Ademais, estaria sendo

infringido o próprio direito do réu em ter discutido aquela

91 Cf. Adolfo Schönke, Derecho Procesal Civil, p. 150.

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conseqüência jurídica, que não fora pedida e com a qual será o

réu certamente surpreendido na sentença”. 92

A sentença deve ser proferida nos limites da demanda, sendo

defeso ao juiz proferir aquém (citra), acima (ultra) e fora (extra) do pedido,

bem assim com base em causa de pedir não suscitada na petição inicial.

Presentes os requisitos de admissibilidade do processo, o juiz

deve emitir pronunciamento decisório que aprecie o pedido formulado na

petição inicial. O mérito deve ser, pois, integralmente analisado.

Quando não se pronuncia sobre todo o pedido formulado na

petição inicial ou não são examinadas as questões processuais e de mérito,

diz-se que a decisão é infra ou citra petita.93

Tratando-se de pedidos sucessivos, é citra petita a sentença

que, denegando o principal, abstém-se de apreciar o subsidiário.94 Nessa

92 “Sentença no processo civil – as diversas formas de terminação do processo em primeiro grau”, Direito processual civil, vol. 2, p. 353-354. 93 “PROCESSUAL CIVIL. JULGAMENTO CITRA-PETITA. NULIDADE. DECRETAÇÃO DE OFÍCIO. - A nulidade da sentença que deixa de apreciar pretensão material que integra o pedido formulado na inicial, decidindo citra-petita, pode ser decretada de ofício pelo Tribunal ad quem. - Recurso especial não conhecido” (STJ-6ª Turma, REsp 243.294-SC, rel. Min. Vicente Leal, j. 29.03.2000, v.u., DJ 24.04.2000, p. 82); “PROCESSO CIVIL. NULIDADE. JULGAMENTO ‘CITRA PETITA’. Sentença que não decidiu todas as questões controvertidas no processo. Recurso especial conhecido e provido” (STJ-2ª Turma, REsp 195.467-SP, rel. Min. Ari Pargendler, j. 03.12.1998, v.u., DJ 22.02.1999, p. 99). 94 “PROCESSUAL - PEDIDOS SUCESSIVOS - OMISSÃO NO JULGAMENTO DE UM DELES - DECISÃO CITRA PETITA - PROCESSO INCOMPLETO - O pedido sucessivo deve ser obrigatoriamente apreciado, em sendo indeferida a súplica preferencial (CPC, Arts. 458 e 459). Do contrário, o julgamento não estará completo. Incompleto o julgamento, o acórdão é nulo” (STJ-1ª Turma, REsp 259.058-RJ, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 28.11.2000, v.u., DJ 16.04.2001, p. 105); “Pedidos sucessivos. Hipótese em que, rejeitado o primeiro, não foi o segundo integralmente apreciado, não se propiciando, ademais, a produção de provas. Processo anulado a partir da sentença, inclusive” (STJ-3ª Turma, REsp 135002-SP, rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 21.02.2000, v.u., DJ 15.05.2000, p. 156).

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hipótese, se o principal é denegado, impõe-se a análise do subsidiário,

sendo, a rigor, incompleta a prestação jurisdicional.

A decisão, que, analisando a controvérsia na sua inteireza, vem

a acolher parcialmente o pedido formulado na petição inicial, não pode ser

considerada infra petita, uma vez que houve apreciação completa da

pretensão deduzida em juízo.95

É infra petita a decisão que, em cumulação sucessiva de

pedidos, denega o pedido posterior sem ter analisado o antecedente.96 Na

espécie, tendo presente que o pedido posterior pressupõe o acolhimento do

antecedente, é de rigor a apreciação judicial deste.

95 “PROCESSUAL CIVIL. PROCEDÊNCIA PARCIAL DO PEDIDO. JULGAMENTO 'EXTRA PETITA' NÃO-CARACTERIZADO. 1. Não enseja a improcedência total da ação o fato de a sentença acolher apenas em parte o pedido inicial. 2. ‘Não há vício da sentença 'quando a decisão proferida corresponde a um minus em relação a ambas as pretensões em conflito' (RTJ 86/367), nem se julgada procedente em parte a ação, porque no pedido mais abrangente se inclui o de menor abrangência’ (RE n. 100.894-6-RJ, Rel. Min. Moreira Alves). 3. Recurso especial a que se nega provimento” (STJ-2ª Turma, REsp 212.344-RJ, rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 16.11.2004, v.u., DJ 09.02.2005, p. 188). 96 PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ‘CITRA PETITA’. ART. 460 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. - Formulada cumulação de sucessivos pedidos em função da qual o acolhimento do pedido subsidiário depende do acolhimento do pedido principal, não é lícito ao juiz rejeitar o pleito conseqüente sem se pronunciar acerca da pretensão antecedente. - Inatacado o vício pelo oferecimento dos Embargos de Declaração, nem suprido pela amplitude do efeito devolutivo (art. 515, § § 1º e 2º do CPC) sobressai a nulidade do julgado citra petita. - Havendo julgamento citra petita na instância de origem, interdita-se ao STJ a análise das questões omitidas porquanto a Constituição Federal exige o julgamento da causa, na sua integralidade, para abrir a via especial. (Art. 105, caput da CF)” (STJ-1ª Turma, REsp 390.282-DF, rel. Min. Luiz Fux, j. 07.03.2002, v.u., DJ 08.04.2002, p. 156).

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Se se abstiver de resolver, em parte, o que foi pedido na

petição inicial, diz-se que a sentença é viciada. Mas, qual o vício de que

padece a decisão?

Confira-se o exemplo de cumulação de pedidos, em que o juiz

não emite comando decisório sobre a inteireza das pretensões deduzidas em

juízo, apreciando somente um deles.

Há do ponto de vista substancial duas sentenças: uma válida

que apreciou um dos pedidos; e a outra é inexistente juridicamente, uma

vez que não houve decisão sobre o outro pedido, inocorrendo a formação

da coisa julgada material.

De acordo com a teoria dos capítulos da sentença e com o

princípio processual da conservação dos atos processuais, o

pronunciamento decisório é cindível em partes autônomas entre si, de sorte

que o vício somente teria o condão de atingir uma das partes.

Constatando em sede de recurso de apelação que o

pronunciamento recorrido é citra petita (exemplos anteriormente

transcritos), o tribunal deve declarar a nulidade parcial da sentença,

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aproveitando o capítulo autônomo desprovido de qualquer invalidade, e

reconhecendo o vício que recai sobre o outro capítulo.

Nesse sentido, é a lição de Cândido Rangel Dinamarco,

segundo a qual,

“Diz-se citra petita a sentença que decide sobre um objeto

menor do que o objeto do processo. (...) A mais significativa

conseqüência prática dessa omissão é que, passando em julgado

a sentença, a coisa julgada não impedirá o autor de voltar a juízo

com a pretensão não decidida – porque a auctoritas rei judicatae

nada mais é do que a indiscutabilidade dos efeitos substanciais

da sentença e, obviamente, jamais poderia incidir sobre efeitos

que a sentença não houver declarado. O vício citra petita não

pode implicar, todavia, nulidade do decidido, a ser pronunciada

em grau de recurso. Se os capítulos efetivamente postos na

sentença não forem em si mesmos portadores de vício algum,

anulá-los seria como inutilizar todo o fruto de uma plantação,

pelo motivo de uma parte da roça nada haver produzido. Não se

anulam capítulos perfeitos, só pela falta de um outro capítulo

autônomo. Torna-se aqui às considerações já expendidas sobre o

princípio da conservação dos atos jurídicos, máxima utile per

inutile non vitiatur e art. 248 do Código de Processo Civil,

ressaltando-se que a falta de um capítulo não faz com que os

capítulos efetivamente presentes na sentença citra petita sejam

prejudiciais a quem quer que seja – sabendo-se que não se

anulam atos não-prejudiciais, ainda quando sejam imperfeitos

(art. 249, §1º)” .97

97 Capítulos de sentença, p. 89-90. Idêntica conclusão firma Teresa Arruda Alvim Wambier: “a sentença que aprecia mais de um pedido, seja caso de cumulação, reconvenção, de oposição etc., é formalmente uma, mas materialmente dúplice e cindível. Portanto, se se decidiu ‘um’ dos pedidos, e se ‘não se considerou o outro’ (ou os outros), parece que estaremos, na verdade, em face de duas sentenças: uma delas não eivada do vício e a outra inexistente, fática e juridicamente” (Nulidades do processo e da sentença, p. 317).

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Dada a gravidade o vício deve ser declarado ex officio pelo

juiz, não havendo preclusão pro judicato.

Em que pese a teoria dos capítulos, impende consignar que a

jurisprudência orienta-se no sentido de que, reconhecido o vício

consubstanciado na sentença infra petita, o tribunal deve declarar a

nulidade de toda a sentença.98

Quando o juiz decide a causa de forma diversa do que foi

solicitada na petição inicial, concedendo providência jurisdicional fora do

que pleiteada, diz-se que a sentença é extra petita.99

98 “PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. SENTENÇA CITRA PETITA. CASSAÇÃO: POSSIBILIDADE, MESMO QUE O APELANTE NÃO TENHA INTERPOSTO EMBARGOS DECLARATÓRIOS. MULTA POR PROCRASTINAÇÃO. FUNDAMENTAÇÃO: IMPRESCINDIBILIDADE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. I- A nulidade da sentença citra (ou infra) petita pode ser decretada até mesmo de ofício, pelo que não há que se condicionar a apelação à previa interposição de embargos de declaração” (STJ-2ª Turma, REsp 115.458-MG, rel. Min. Adhemar Maciel, j. 19.05.1997, v.u., DJ 15.09.1997, p. 44.340); “PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA CITRA PETITA. ANULAÇÃO PELO TRIBUNAL A QUO. POSSIBILIDADE. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. A eg. Terceira Seção desta Corte, pelas Turmas que a compõem, firmou entendimento no sentido de que a decretação de nulidade da sentença citra petita pode ser realizada de ofício pelo Tribunal ad quem. Nesse caso, o recurso de apelação não está condicionado à prévia oposição de embargos de declaração. 3. Recurso especial improvido” (STJ-6ª Turma, REsp 243.988-SC, rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, j. 27.10.2004, v.u., DJ 22.11.2004). 99 “NULIDADE. DECISÃO EXTRA PETITA. Arts. 128 e 460 do CPC. Se a ação proposta visa tão-somente à declaração (ação declaratória) de existência de relação jurídica entre a autora e a ré, para que se reconheça o direito daquela ao recebimento de pensão correspondente ao valor integral do que perceberia o ex-servidor, mostra-se nula, por se caracterizar como extra petita, a sentença que condena a ré ao pagamento de diferenças não pleiteadas na inicial. Recurso especial conhecido e provido” (STJ-5ª Turma, REsp 328.539-RN, rel. Min. Felix Fischer, j. 04.10.2001, v.u., DJ 05.11.2001, p. 137); “RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. PREVIDENCIARIO. JULGAMENTO ‘EXTRA PETITA’. - A sentença deve ater-se às questões postas pelas partes. Indispensável vincular a causa de pedir ao pedido, caso contrário, será ‘citra’, ‘ultra’ ou ‘extra petita’. Esta significa que o julgamento decidiu matéria estranha ao pedido. Recurso conhecido pela letra ‘a’ e provido” (STJ-5ª Turma, REsp 61.714-SP, rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, j. 22.10.1996, v.u., DJ 02.12.1996, p. 47.696).

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75

Há também julgamento extra petita, quando o juiz concede

providência pleiteada com base em causa petendi não suscitada na petição

inicial.100-101

Em face da fungibilidade imposta às ações possessórias pelo

art. 920 do CPC, é lícito ao juiz deferir proteção possessória diversa da que

tenha sido pleiteada na ação, quando proposta uma ação possessória em

lugar de outra.102

Incide ainda o princípio da fungibilidade no processo cautelar.

A teor do art. 805 do CPC, ficando reservado ao juiz o poder de definir

qual a medida cautelar que desempenhará a feição instrumental,

assegurando a eficácia e utilidade do processo principal.103

Não há que se cogitar de julgamento extra petita, quando o

juiz examina de ofício matérias de ordem pública (condições de ação e 100 Vallisney de Souza Oliveira observa que “se o juiz considerar outra causa de pedir (fatos essenciais), com desprezo e omissão dos fatos suscitados pelas partes, advirá o mesmo fenômeno, partindo-se do pressuposto de que o termo pedido, agora empregado, abrange também a causa de pedir. O acréscimo de fundamento fático decisório, com desprezo à lide, apesar da simetria com o pedido, causará tanto a infringência ao preceito da correlação (com a causa de pedir, mas especificamente), como a violação ao princípio do contraditório, bem assim com o da indeclinabilidade do julgamento” (Nulidade da sentença e o princípio da congruência, p. 261-262). 101 “PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA. NULIDADE. É nula a sentença que, afastando-se dos limites da demanda, não aprecia a causa posta, decidindo-a em função de dados não discutidos no processo” (STJ-3ª Turma, REsp 29.099-GO, rel. Min. Dias Trindade, j. 15.12.1992, v.u., DJ 01.03.1993, p. 2.513). 102 Sobre o assunto, já tivemos a oportunidade de ressaltar que “A regra da fungibilidade estatuída no art. 920 do Estatuto de Processo Civil Pátrio confere ao magistrado a possibilidade de conhecer de pedido diverso do que foi pleiteado na ação, quando tenha sido proposta uma ação possessória em lugar de outra. A fungibilidade abrange erro do autor quanto ao fato em si, quanto à qualificação do fato, bem como quando ocorre alteração da violência no decorrer do processo” (Ações possessórias, p. 73). 103 Cf. Humberto Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil, vol. II, p. 399.

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pressupostos processuais), já que a respeito das quais não se exige a

iniciativa das partes (CPC, art. 267, §3º, e 301, §4º).

Utilizando a mesma razão, não se cogita de julgamento extra

petita, na hipótese de o juiz examinar, como fundamento da decisão, ex

officio matéria substancial, a cujo respeito a legislação estabelece tal

possibilidade - tais como na nulidade absoluta dos negócios jurídicos no

âmbito do CC (art. 168, parágrafo único) e do CDC (art. 51) -, desde que

esteja abrangida pelo objeto litigioso da demanda.

Se for estranha ao objeto litigioso, o juiz não deve examinar ex

officio a matéria substancial, mesmo que a legislação estabeleça a

mencionada atuação, sob pena de proferir decisão extra petita.

Assim sendo, não é lícito ao juiz, por exemplo, declarar a

nulidade de uma cláusula que estabeleça mandato em contrato de

empréstimo bancário em demanda em que se discute a legalidade da

incidência de juros moratórios.104

104 Conforme assinala Joaquim Felipe Spadoni, “Para a questão nos chamou atenção respeitável julgamento proferido pela 7ª Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul (TARS), no curso de Apelação Cível 193051216, que teve como relator o Exmo. Sr. Dr. Antônio Janyr Dall’agnol Júnior. Naquela oportunidade, embora o objeto de conhecimento fixado pelo recurso de apelação interposto fosse relacionado apenas à cláusula contratual que previa os juros a serem cobrados em virtude do mútuo pactuado, os julgadores do TARS também conheceram e declararam a abusividade de cláusula-mandato inserida no contrato, sem que qualquer das partes houvesse argüido e pleiteado o reconhecimento judicial de tal nulidade. (...) Percebe-se, portanto, que as matérias de ordem pública em que o CPC expressamente autoriza o conhecimento de ofício pelo magistrado, em qualquer tempo e grau

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Considerando que, na sentença extra petita o juiz concede

providência jurisdicional estranha ao objeto litigioso do processo, o vício

que atinge o mencionado pronunciamento decisório é a inexistência

jurídica, porquanto não houve a formulação do pedido, que é um

pressuposto processual de existência, para que o Estado prestasse a atuação

jurisdicional.105

De outro lado, por exemplo se tratar de demanda em que o

autor se limitou a postular a rescisão de um negócio jurídico, e a sentença

conceder o desfazimento do negócio e a condenação em perdas e danos, o

vício atinge apenas o capítulo que conferiu a pretensão não pleiteada,

permanecendo incólume o outro capítulo.106

de jurisdição, consistem, todas elas, em fundamentos do julgamento do pedido delimitado pelo autor. Sua cognição e reconhecimento em juízo não têm a virtude de conceder a qualquer uma das partes bem jurídico diverso daquele sobre o qual recai o litígio. Coisa diversa é se declarar ex officio a nulidade de cláusula contratual não englobada no objeto litigioso. Neste caso, não se estará diante de fundamento de julgamento, mas sim diante de julgamento abrangente de objeto mais amplo do que aquele delimitado pela atividade das partes. Estar-se-á não apenas julgando a lide fixada inicialmente, mas atribuindo-se a uma das partes bem jurídico diverso daquele delimitado pelo autor em sua petição inicial” (“Cláusulas abusivas nas relações de consumo e sua declaração judicial: alguns aspectos recursais”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e de outras formas de impugnação às decisões judiciais, vol. 4, p. 596-599). 105 Afirma Teresa Arruda Alvim Wambier que “a sentença extra petita comporta, sob certo aspecto, a qualificação de sentença inexistente, uma vez que não corresponde a pedido algum. Falta, portanto, pressupostos processual de existência para que aquela sentença seja considerada juridicamente existente” (Nulidades do processo e da sentença, p. 312). 106 Para Cândido Rangel Dinamarco, “Quando o vício consistir na concessão de um provimento ou de um objeto não pedido em vez do provimento ou do objeto indicados na inicial – a sentença será inteiramente nula, não havendo partes hígidas a preservar. Mas na vida do processo pode ainda acontecer que, além do provimento ou do objeto pedido (e não em vez deles), o juiz conceda também mais um provimento ou mais um objeto. Pedi a rescisão do contrato por inadimplemento (sentença constitutiva negativa) e o juiz me concedeu também a condenação do réu a indenizar; pedi a reintegração na posse de um imóvel e o juiz me concedeu a reintegração no imóvel postulado e mais no imóvel vizinho. Nesses casos, torna-se à regra utile per inutile non vitiatur (sempre, art. 248 CPC) e só se anula o capítulo sentencial infiel aos limites do pedido inicial: anula-se o capítulo que concedeu a condenação em perdas-e-danos além da

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Por se tratar de inexistência jurídica, o juiz pode declarar ex

officio, a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição, o vício de que

padece a sentença.

Diz-se que a decisão é ultra petita, quando o juiz decide acerca

do pedido formulado na petição inicial, conferindo mais do que fora

pleiteado.107

O julgamento ultra petita não se confunde com o extra petita.

No primeiro, a parte dispositiva da sentença se pronuncia sobre o pedido

formulado na petição inicial, atribuindo-lhe, no entanto, um elastério mais

amplo do que fora pleiteado, ao passo que, no segundo, o juiz confere

providência estranha ao pedido.

rescisão do contrato, anula-se o capítulo que concedeu a reintegração na posse do segundo imóvel etc., mas preservam-se os capítulos que correspondem ao pedido feito e que portanto foram precedidos de regular contraditório” (Capítulos de sentença, p. 88-89). No mesmo sentido, arremata Teresa Arruda Alvim Wambier: “Acreditamos, também, que, em certos casos, pode-se, quando materialmente possível, reduzir a sentença aos limites correspondentes ao pedido, ainda quando se trate de sentença extra petita, desde que, além da decisão que desborda os limites do pedido, tenha o juiz decidido, também, o pedido, propriamente dito” (Nulidades do processo e da sentença, p. 318). 107 “PROCESSUAL CIVIL. JULGAMENTO ‘ULTRA PETITA’. REDUÇÃO. O juiz não poderá conceder mais do que o pedido pelo autor, sob pena de julgamento ser ‘ultra petita’. A sentença que decide ‘ultra petita’ – atribuindo ao promovente mais do que o formulado na inicial – não é nula, devendo apenas ser reduzida. Assim, sendo deferida – como foi no caso – uma indenização acima do pedido inicial, que foi certo e determinado, consubstanciado no valor que indica, deve-se reduzi-la aos limites do pedido. Recursos parcialmente conhecidos e, nessa parte, providos” (STJ-4ª Turma, REsp 113.355-RS, rel. Min. Cesar Asfor Rocha, j. 18.12.1997, v.u., DJ 27.04.1998, P. 170); “PROCESSO CIVIL. JULGAMENTO ULTRA PETITA. Ação proposta por condomínio contra a construtora que edificou o respectivo prédio, requerendo fosse condenada a fazer os consertos detalhados em laudo pericial anexado à petição inicial; sentença que aumenta o leque de reparos, incorrendo em julgamento ultra petita. Recurso especial conhecido e provido” (STJ-3ª Turma, REsp 206.717-SP, rel. Min. Ari Pargendler, j. 30.04.2002, v.u., DJ 17.06.2002, p. 255).

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De acordo com a teoria dos capítulos da sentença, o

julgamento que se opera ultra petita não se mostra integralmente nulo,

devendo ser retirado do mundo jurídico a parte dispositiva que excede ao

pedido formulado.108

108 “PROCESSO CIVIL. JULGAMENTO ULTRA PETITA. EFEITOS. O reconhecimento do julgamento ultra petita não implica a anulação da sentença; seu efeito é o de eliminar o excesso da condenação. Hipótese, todavia, em que o julgado se ateve aos termos do pedido. Recurso especial não conhecido” (STJ-3ª Turma, REsp 84.847-SP, rel. Min. Ari Pargendler, j. 17.08.1999, v.u., DJ 20.09.1999, p. 60); “PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ULTRA PETITA. NULIDADE. DECRETAÇÃO EX OFFICIO. POSSIBILIDADE. ECONOMIA PROCESSUAL. ADEQUAÇÃO AOS LIMITES DO PEDIDO. 1. A sentença ultra petita é nula, e por se tratar de nulidade absoluta, pode ser decretada de ofício. Contudo, em nome do princípio da economia processual, quando possível, a decisão deve ser anulada apenas na parte que extrapola o pedido formulado. Precedente. 2. Recurso especial conhecido em parte” (STJ-6ª Turma, REsp 263.829-SP, rel. Min. Fernando Gonçalves, j. 04.12.2001, v.u., DJ 18.02.2002, p. 526).

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CAPÍTULO II – APELAÇÃO NO DIREITO COMPARADO

E ANTERIOR

2.1 - RECURSOS

No desenvolver da relação jurídico-processual, o Estado-Juiz

profere vários pronunciamentos, muitos dos quais são classificados como

decisões. Diante da falibilidade humana e do natural inconformismo com

situações adversas ou desfavoráveis, os ordenamentos jurídicos têm

contemplado meios de impugnação às decisões judiciais.109

No campo da axiologia jurídica ou deontologia, há o

entendimento segundo o qual o espírito humano não permanece passivo

diante do direito positivo e da decisão judicial ou administrativa; tende a

não aceitar pacificamente o fato consumado, como se ele fosse um limite

insuperável, uma vez que o homem sente em si a faculdade de julgar e

avaliar o direito existente na sociedade.110

109 Cf. J. M. Othon Sidou, Os Recursos processuais na história do direito, passim. 110 Cf. Del Vecchio, Lezioni di Filosofia del Diritto, p. 3-4.

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A doutrina moderna rechaça a concepção privatista do

processo, que o vislumbra apenas como instrumento de defesa de direitos

subjetivos, estando, portanto, vinculado à vontade das partes.

O interesse público, na correta atuação da norma jurídica, deve

prevalecer sobre o interesse particular das partes. Eis a razão pela qual é

assente o entendimento de que o processo, em tempos modernos, persegue

dois objetivos: a proteção dos direitos subjetivos e a da ordem jurídica ou

do direito objetivo.111

Como um dos escopos do processo é, justamente, a correta

aplicação do direito objetivo, verifica-se que a existência de meios de

impugnação às decisões judiciais tem estreita ligação com o tema da

unidade de inteligência do direito, já que a norma, quando aplicada pelos

tribunais, tende a ser reconduzida, o quanto possível, à unidade para a qual

é dirigida, em virtude do caráter unificador e estabilizador da

uniformização da jurisprudência.112

111 Cf. Hans W. Fashing “O desenvolvimento do Código de Processo Civil austríaco nos últimos 75 anos”, RePro, n. 5, p. 115-127. 112 Cf. Arruda Alvim, “Notas a respeito dos aspectos gerais e fundamentais da existência dos recursos – Direito Brasileiro”, RePro, n. 48, p. 7-9.

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Neste quadrante, dois são os valores que influenciam a política

legislativa: celeridade do processo e garantia de solução adequada ao

direito e à justiça. A exigência cada vez mais atual da celeridade do

processo – bem como da sua efetividade – entra em colisão com a

tendência da segurança jurídica.

No intuito de prestigiar este princípio geral de direito, os

sistemas processuais prevêem meios de impugnação às decisões judiciais,

fazendo com que, em tese, não somente se reduzam as possibilidades de

erros nos julgamentos, mas também se obtenha a unidade e a certeza do

direito objetivo aplicado pelos órgãos do Poder Judiciário.113

Por outro lado, o entendimento de que o direito de ação

significa apenas direito à obtenção de uma sentença de mérito faz parte do

passado e, em muito, contribuiu para a cientificidade do direito processual.

Essa concepção não mais se coaduna com as novas realidades, as quais

exigem do Estado uma tutela jurisdicional efetiva das situações conflitivas

concretas, nos termos do inc. XXXV do art. 5º da Constituição Federal.114

113 Cf. Jaime Guasp, Derecho procesal civil, vol. II, p. 24-25. 114 José Roberto dos Santos Bedaque, Tutela cautelar e tutela antecipada, p. 62.

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Diante do conflito envolvendo dois valores previstos na ordem

jurídica, é de suma importância a aplicação do princípio da

proporcionalidade, que tem por objetivo obter um ponto de equilíbrio entre

ambos, sem que se cogite da total exclusão de um ou de outro.

Tornar irrecorríveis todas as decisões judiciais contribuiria, em

tese, para a celeridade do feito, contudo aniquilaria a possibilidade de

revisão de erros porventura cometidos pelo juiz.

Por outro lado, prever uma quantidade enorme de meios de

impugnação às decisões judiciais acarretaria, igualmente em tese, a

morosidade do processo e, por conseguinte, a sua inefetividade.

Nesse contexto, tende a política legislativa do Estado a

contemplar uma posição de equilíbrio, ao prever, de forma taxativa e não

exemplificativa, os meios de impugnação às decisões judiciais.

A previsão assim estabelecida atende, também, à finalidade

eminentemente política de proteger as liberdades públicas contra o arbítrio

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despótico susceptível de ser cometido pelo juiz, além de preservar o

princípio de que nenhum ato estatal pode ficar imune ao controle.

Apesar de, em regra, possibilitar ao vencido a revisão da

decisão por outro órgão do Poder Judiciário, é de bom alvitre ressaltar que

a finalidade dos meios de impugnação não é a de permitir o controle da

atividade do juiz, a partir de uma idéia de subordinação, mas apenas a de

propiciar a revisão do julgado.

Meios de impugnação às decisões judiciais consideram-se

gênero do qual são espécies os recursos e as ações autônomas de

impugnação.

O critério de distinção a ser adotado tem que levar em conta o

vigente direito positivo brasileiro, segundo o qual é inegável que o recurso

é utilizado na mesma relação jurídica, proporcionando a mera extensão do

procedimento já em curso, enquanto que as ações autônomas de

impugnação originam o surgimento de outra relação jurídica processual.115

115 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 230-231.

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Destarte, o traço distintivo entre os recursos e as ações

autônomas de impugnação consiste em que, com os primeiros, não se

instaura uma nova relação jurídica processual, mas opera apenas o

prosseguimento do procedimento já existente; enquanto, nas segundas,

ocorre o exercício de uma nova relação jurídica, não havendo o mero

prosseguimento de um procedimento em curso.

Infere-se, à luz do direito positivo, que os recursos são

instrumentos que o ordenamento jurídico coloca à disposição das partes, do

Ministério Público ou de terceiro interessado para impugnar decisão

judicial, dentro da mesma relação jurídica processual, com o escopo de

reformá-la, anulá-la, aclará-la ou esclarecê-la, a serem julgados pelo

mesmo órgão prolator da decisão ou por outro hierarquicamente superior.

O recurso é caracterizado como ônus processual, pois os

benefícios são auferidos por aquele que o interpôs, da mesma forma que os

efeitos danosos provenientes do ato omissivo atingem somente aquele que

se omitiu.

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Como não dá ensejo a outra relação jurídica processual, mas

prorroga o procedimento já instaurado, o recurso consiste em extensão do

direito de ação ou de defesa.116

Outra característica dos recursos é o fato de obstar, retardar,

adiar a formação da coisa julgada. Isso porque, em regra, prolatada a

decisão e não sendo interposto o recurso cabível, dá-se a formação da coisa

julgada.

Discute-se, ainda, qual a natureza jurídica da decisão sujeita a

recurso. Quatro são as correntes existentes: ato jurídico sujeito a condição

suspensiva; ato jurídico sujeito a condição resolutiva; mera situação

jurídica e ato jurídico perfeito.

Eduardo J. Couture, na esteira da doutrina de Vassali e

Calamandrei, entende que a sentença, enquanto não trânsita em julgado,

mas ainda sujeita à impugnação, é ato submetido a condição suspensiva.117

116 Cf. Manuel Ibañes Frocham, Tratado de los Recursos en el Proceso Civil, p. 90-91. 117 Fundamentos do Direito Processual Civil, p. 266.

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Para outros – como Mortara –, com a impugnação exsurge um

evento futuro e incerto que consiste na possibilidade de reformar a decisão

recorrida.

Já para Chiovenda, a decisão sujeita a recurso é uma simples

situação jurídica, sendo fato que apenas se cristaliza como declaração de

direito, após o trânsito em julgado.118

Para Hugo Rocco, a decisão sujeita a recurso é um ato perfeito,

válido, não sujeito a condição, podendo a lei limitar os efeitos dela

decorrentes ante a possibilidade de outra decisão.119

No direito brasileiro, a doutrina tende a acolher a posição

segundo a qual a decisão passível recurso é ato sujeito à condição

suspensiva.120

No entanto, a doutrina, que sustenta ser a decisão sujeita a

recurso ato válido, é a que melhor explica a natureza da decisão sujeita a

recurso. Isso porque, como pronunciamento jurisdicional, ela é, em tese,

118 Instituições de Direito Processual Civil, p. 258. 119 Derecho Procesal Civil, p. 191. 120 Cf. Ada Pellegrini Grinover, O processo em evolução, p. 76.

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válida. Não é simples fato ou situação jurídica, nem está sujeita a qualquer

espécie de condição.

Como ato jurídico, a decisão vale por si só, podendo os seus

efeitos ser obstados pela mera previsão de recurso dotado de efeito

suspensivo.121

Ademais, a previsão de execução provisória de sentença

sujeita a recurso rechaça a tese segundo a qual a decisão sujeita a recurso é

ato sujeito à condição suspensiva.

2.2 - ANTECEDENTES

Os autores são concordes em afirmar que, em Roma, havia um

instrumento processual que guardava as características de recurso de

apelação.122

121 Neste sentido, vale a pena consignar a lição de Salvatore Satta, para quem “Com quanto abbiamo detto è eliminato anche quell’altro falso problema che si suol chiamare della sentenza soggetta a gravame. Il problema è sorto especialmente per la sentenza di primo grado sotto l’influenza del c.d. principio del doppio grado di giurisdizione: e si è detto che, proprio per questo, la sentenza soggetta a gravame non è una sentenza, ma una situazione giuridica, un elemento che col concorso di altri elementi può diventare sentenza o una sentenza soggetta a condizione risolutiva, ecc. Ma non è possibile seguire la dottrina in queste astrazioni: la sentenza soggeta a gravame è né più né meno che una sentenza soggetta a gravame, cioè determina il concreto che può essere rimosso com l’impugnazione, e como tale vale quel che vale, cioè per quello che vuole la legge” (Diritto Processuale Civile, p. 421-422). 122 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 402.

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No período republicano (legis actiones e per formulas),

entendia-se que o ato de recorrer correspondia a um desrespeito à atuação

do órgão estatal, em razão que de toda a sentença resultava a res judicata.

Apenas de forma indireta os efeitos da sentença podiam ser

suspensos, a saber: exercício do direito de veto solicitado a um tribuno

(tribunus plebis) ou a qualquer outro magistrado (magistratus populi

romani).

O referido instrumento denominado de intercessio não

impugnava a sentença, mas tinha a finalidade de sobrestar a execução,

mediante o veto de um magistrado de igual ou superior categoria à do que

sentenciou o feito.123

Na manus iniectio – ação de execução geral – propiciava a

interveniência de um vindex, que era um autêntico representante do

devedor em juízo, já que se subroga na pessoa do réu, protestando por um

reexame dos fatos.

Se a sentença portasse defeito grave ou manifesta violação de

regra de direito aplicável ao caso concreto, havia a possibilidade de suscitar

123 Cf. Alcides de Mendonça Lima, Introdução aos recursos cíveis, p. 5.

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a nulidade por meio da revocatio in duplum, com vistas a revogar os seus

efeitos, sujeitando-se, em caso de derrota, ao pagamento do dobro.124

Permitia-se a apelação para o povo (provocatio ad populum),

reunido em assembléia contra as decisões dos Duumviri perduellionis, em

matéria criminal, como as sentenças de morte e banimento.

Na época imperial, ao tempo da cognitio extra ordinem, o juiz

era funcionário do Estado, sendo considerado, portanto, um delegado do

Imperador. Nesse contexto, a sentença válida podia ser passível de

impugnação, formando-se a res judicata, quando não fosse mais admissível

a interposição de recurso.

A apellatio tinha como escopo, pois, a reforma da sentença

impugnada, devendo ser proferida por um órgão hierarquicamente superior

uma nova decisão sobre os fatos litigiosos.125

O recurso era interposto para um juízo de hierarquia superior

em relação ao prolator da decisão, de sorte que o direito de apelar podia se

manifestar de degrau em degrau até o tribunal do imperador.126

124 Cf. Humberto Cuenca, Proceso Civil Romano, 1ª ed., Buenos Aires, 1957, p. 105. 125 Cf. Rogério Lauria Tucci, Curso de Direito Processual, vol. II, p. 212. 126 Cf. Sergio Bermudes, Curso de direito processual civil (recursos), p. 16.

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O recurso podia ser interposto verbalmente, sem qualquer

formalidade, sendo suficiente a afirmativa de que se apela da decisão, ou

por escrito, dentro em três dias, pela interposição de libelli appellatorii.127

A apelação era recebida em qualquer hipótese, pressuposto da

regra processual moderna e universal da reapreciação do julgado.

Em princípio, somente a sentença definitiva admitia a

apelação, por imperativo do próprio sistema formulário, com a decisão a

cargo de um juiz privado (iudex); superado este sistema e publicizada a

justiça (cognitio extra ordinem), passou-se a admitir o recurso contra as

decisões interlocutórias, prática afinal proibida no direito justinianeu.

A apelação sempre teve efeito suspensivo e devolutivo, assim

não somente obstando a execução no juízo inferior, mas, também,

autorizando a que o juízo superior anule, mantenha ou reforma a decisão

recorrida.

No direito justinianeu, quando a causa envolvesse várias

matérias e cada uma fosse objeto de sentenças múltiplas, cada uma delas

podia ser objeto de apelação separada.

127 Cf. J. M. Othon Sidou, Processo civil comparado, p. 50.

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92

O prazo para apelar, que era de três dias desde o tempo de

Augusto até Justiniano e constante do Digesto e do Código, foi ampliado

para dez dias no direito das Novelas do próprio Justiniano.

A legitimidade recursal era conferida às partes e ao terceiro

prejudicado (alio condemanatio is cuius interest appellare potest).128

Cumprida uma formalidade correspondente ao preparo, o juiz

prolator da decisão disponibilizava, no prazo de um mês, as litterae

demissoriae (apóstolos), e uma cópia do processo ao recorrente, devendo

este se dirigir ao juízo superior.

Como sanção à interposição com finalidade protelatória,

Constantino estabeleceu a perda da caução, que o recorrente depositava no

ato de recorrer, e a condenação ao pagamento do quádruplo das custas.

A apelação admitia novas provas, podendo inclusive resultar

num fundamento distinto do apreciado no primeiro grau.

128 Cf. José Rogério Cruz e Tucci e Luiz Carlos de Azevedo, Lições de história do processo civil romano, p. 170.

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93

2.3 - DIREITO COMPARADO

2.3.1 – Direito Alemão

O recurso de apelação é cabível em face de sentença definitiva

proferida por órgão jurisdicional de primeira instância (ZPO, § 511).

Em se tratando de controvérsias de natureza patrimonial, a

apelação somente é admissível, quando o gravame exceder a certo valor

(1.500 DM, ZPO § 511 a).

Detêm legitimidade para interpor o recurso de apelação as

partes de forma principal ou adesiva.129 É indispensável a presença da

sucumbência, para que reste configurado o interesse em recorrer.

A apelação deve ser interposta por escrito, no prazo de um

mês, e dirigida ao tribunal de hierarquia superior, e não perante o juízo

prolator da decisão recorrida (ZPO, §§ 516, 518, I).130

129 Enrico Tullio Liebman averba que, no direito alemão, terceiros juridicamente interessados não detêm legitimidade recursal (Problemi del processo civile, p. 508). 130 Cf. Stefan Leible, Proceso civil alemán, p. 397.

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94

A petição recursal deve conter: a designação da sentença

recorrida; a declaração de que se interpõe o recurso em face da sentença; a

indicação dos apelante e apelado; a assinatura do advogado legalmente

constituído; indicação das razões recursais; e a formulação do pedido

(ZPO, §§ 518, II, 519).131

No que se refere ainda à regularidade formal, as razões

recursais devem indicar a extensão do pedido e os fundamentos invocados

que o justifiquem (ZPO, § 519, III).132

O exame referente ao preenchimento dos requisitos de

admissibilidade do recurso de apelação é realizado pelo tribunal

hierarquicamente superior ao juízo que proferiu a decisão recorrida,

podendo agir ex officio.133

Ausente algum pressuposto, é lícito ao tribunal declarar a

inadmissibilidade do recurso de apelação (ZPO, § 519, b, I). De outro lado,

presentes os requisitos, o tribunal passa a analisar o mérito recursal,

avaliando se a impugnação é fundada ou infundada.

131 Cf. Leo Rosemberg, Tratado de derecho procesal civil, tomo II, p. 370-371. 132 Cf. Adolfo Schönke, Derecho procesal civil, p. 306. 133 Cf. Walter J. Habschied, Giurisdizione civile e processo civile nella Repubblica Federale Tedesca, Rivista de Diritto Processuale, n. 3, p. 671.

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95

A decisão do tribunal deve respeitar os limites fixados pelas

partes (ZPO, § 520), podendo ser analisados todos os pontos suscitados

ainda que a primeira instância não tenha deliberado sobre eles (ZPO, §

537).

A decisão emitida pelo tribunal de apelação substitui a decisão

recorrida. É possível, no entanto, que o tribunal da apelação se limite a

anular a sentença recorrida, determinando a remessa dos autos à instância

inferior, para que outra sentença seja proferida. Isso pode ocorrer nas

hipóteses em que a primeira instância não tenha analisado por completo a

lide, ou quando restar configurada no procedimento uma deficiência

essencial que tenha o condão de macular o processo.134

2.3.2 – Direito Italiano

É cabível o recurso de apelação em face de sentença

pronunciada na primeira instância. A regra é a da recorribilidade das

134 Stefan Leible averba que “Excepcionalmente el tribunal de apelación puede revocar la sentencia de primera instancia también cuando está fundada la apelación y reenviar la controversia jurídica para la continuacion del tramite al tribunal de primera instancia. El ello por una parte se trata de casos, en los que em la primaira instancia no se considero o solo se considero parcialmente la cuestión, es decir no se trato la cuestión del proceso em sua totalidad (§ 538). (...) Um reenvio por el tribunal de apelación es posible además cuando, el procedimiento de primeira instancia padeció de uma deficiência esencial (§ 539). Con ello se alude a violaciones contra normas de procedimiento, es decir errores, que se refieren al camino hacia la sentencia o el modo y forma de su dictado, empro no errores em la búsqueda de la justicia, que se refieren al contenido de la sentencia” (Proceso civil alemán, p. 406).

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sentenças de primeiro grau, salvo nas exceções expressamente previstas em

lei (CPC, art. 339).135

Trata-se de um recurso de fundamentação livre, uma vez que a

lei não especifica os motivos que amparam as razões recursais, de sorte que

o efeito devolutivo é delimitado pela parte na impugnação (tantum

devolutum quantum appellatum).

O capítulo da sentença, que não for objeto de impugnação na

apelação, transita em julgado, já que configura a aquiescência tácita da

parte (c.p.c., art. 329).

Em sede de apelação, é vedado ao apelante postular nova

demanda, suscitando nova causa de pedir ou pedido (c.p.c., art. 345),

135 Vejamos algumas exceções: “a) la sentenze che il giudice há pronunciato secondo equità a norma dell’art 114 c.p.c., ossia su concorde richiesta delle parti e sempre che la causa riguardi diritti disponibili (art. 339, 2ª comma c.p.c.); b) le sentenze del conciliatore, le quali possono essere solo impugnate per cassazione (art. 339, 3ª comma c.p.c. c); “le altre sentenze per le quali l’appello ‘sai escluso dalla legge’ (cosi lê sentenze sulle opposizioni agli atti esecutivi ex art. 618 c.p.c, dichiarate ‘non impugnabili’ e pertanto soggette unicamente al ricorso per cassazione ex art. 111 Cost.); d) le sentenze rese dal pretore sull’opposizione ad ingiunzione per sanzioni amministrative (ai sensi dell’art. 23, ultimo comma della legge 24 novembre 1981 n. 689); e) le sentenze che decidono soltanto sulla litispendenza, continenza, competenza, connessione e i provvedimenti che dichiarano la sospensione del proceso ex art. 295 c.p.c., in quanto impugnabili unicamente col regolamento di competenza (art. 42 c.p.c.: cfr. supra, n. 29); f) le sentenze contro le quali le parti si siano accordate per omettere l’appello (art. 339, 1ª comma e 360, 2ª comma c.p.c.: v. infra, n. 70)” (Giuseppe Tarzia, Lineamenti del nuovo proceso di cognizione, p. 229-230).

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ressalvada a hipótese de ser suscitada nova argumentação jurídica ou

qualificação jurídica aos fatos jurídicos descritos na inicial.136

O recurso de apelação deve ser interposto diretamente perante

o tribunal, sob a forma principal ou adesiva (impugnazione incidentale). Os

requisitos de admissibilidade do recurso devem ser examinados de ofício

pelo tribunal, não se submetendo à preclusão.

Detêm legitimidade as partes e o Ministério Público, sendo

vedada a interposição por terceiros.

O prazo para interpor o recurso é de 30 dias (CPC, art. 326). A

petição do recurso deve conter a exposição sumária dos fatos, dos motivos

específicos da impugnação e do pedido.137

Alterando o panorama até então adotado, a Lei nº 353/90

alterou a sistemática do efeito suspensivo do recurso de apelação, adotando

136 Enrico Tullio Liebman assevera que “La funzione dell’appello è quella di provocare un nuovo giudizio sulle stesse domande che furono giudicate in primo grado. È perciò bem naturale che sai vietata la proposizione di domande nuova e che, se proposte, debbano d’ufficio dichiarandosi inammissibili (art. 345). (...) non è nuova la causa petendi se rimane idêntico il fatto giuridico su cui è fondata la domanda, ma muta il ponto di vista giuridico o la qualificazione giuridica dell fatto stesso; non è nuova la causa petendi se, rimanendo identido il fatto giuridico, si aggiungono nuove argomentazioni giuridique, o si allegano nuovi fatti secondari che possono avvalorare la fondatezza della domanda” (Manuale di diritto processuale civile, II, p. 303, p. 305). 137 Cf. Andrea Proto Pisani, Lezioni di diritto processuale civile, p. 515-516.

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a regra da execução provisória da sentença (execução ope legis), com a

redação emprestada ao art. 282 do C.P.C.

As sentenças de primeiro grau são provisoriamente

executáveis ex lege, não obstando a interposição do recurso de apelação a

eficácia daqueles pronunciamentos.138

A decisão do tribunal pode ser substitutiva (confirmação ou

reforma) ou rescindente (anulação). Nesta hipótese, afigura-se imperiosa a

remessa dos autos à primeira instância, para que outra sentença seja

proferida, o que ocorre nas hipóteses descritas nos arts. 353 e 354 do

C.P.C.

No direito italiano, o princípio do duplo grau de jurisdição não

tem o elastério de permitir, em todas as hipóteses, o reexame do mérito da

causa.

É lícito, em tese, que o tribunal examine o mérito da demanda,

quando do julgamento da apelação interposta em face de sentença

138 Cf. Giuseppe Tarzia, Lineamenti del nuovo processo di cognizione, p. 218-219.

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99

processual, desde que não seja uma das hipóteses descritas nos referidos

artigos.139

2.3.3 – Direito Português

É cabível o recurso de apelação da sentença final e do

despacho saneador que conheçam do mérito da causa (CPC, art. 691).

Referindo-se à ação de execução, estabelece o art. 992 que cabe recurso de

apelação da sentença que conhecer do objeto da liquidação ou dos

embargos do executado e da que graduar os créditos.

Detêm legitimidade recursal as partes e terceiros juridicamente

interessados (CPC, art. 680).

A apelação é classificada como um recurso ordinário, uma vez

que a decisão recorrida não transitou em julgado. São extraordinários os

139 Salvatore Satta observa que “Come già abbiamo detto, l’apello assicura um dúplice esame della controvérsia da parte di due diversi giudici... Ma naturalmente il dúplice esame non deve essere inteso come um dúplice esame del mérito: l’esigenza della legge è soddisfatta quando questo esame abbia portato a uma decisione del giudice, qualunque essa sai. Cosi potrà avvenire che il giudice di primo grado abbia ritenuto di non poter decidere il mérito perché sussisteva uma causa di nullità, improcedibilità, ecc.; il giudice di appello, andando in contrario avviso, potrà e dovrà decidere la causa nel mérito, senza che per questo ai inocrra in violazione del principio del doppio grado. Solo in casi tasativamente determinati, quando il giudice di appello rilevi um errore o um vizio della sentenza o deu processo di primo grado in base ai quali si può ritenere che il primo giudizio si interamente mancato, deve rinviare la causa al primo giudice: cio dispongono gli artt. 353 e 354 c.p.c. che saranno illustrati più avanti” (Diritto processuale civile, p. 450-451).

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100

recursos voltados à impugnação de decisões já transitas em julgado (CPC,

art. 676).140

Tratando-se de recurso ordinário, se a sentença for proferida

numa causa cujo valor estiver contido na alçada do tribunal que a proferiu,

há a irrecorribilidade.141

O prazo previsto para a interposição da apelação é de 10 dias

(CPC, art. 685).

A apelação deve ser interposta, por meio de petição, perante o

órgão jurisdicional prolator da sentença recorrida, devendo haver a

indicação do juízo a que é dirigida, da manifestação da vontade de recorrer,

da individualização da decisão recorrida, da espécie recursal e do pedido

(CPC, arts. 687 e 690).142

Ausentes as razões recursais ou quando deficientes ou

obscuras, é lícito ao juiz ou ao relator convidar o recorrente a apresentá-las,

completá-las ou esclarecê-las, sob pena de não conhecimento do recurso

(CPC, art. 690).

140 Cf. Fernando Pessoa Jorge, “O sistema de recursos em processo civil português”, RePro, n. 2, p. 174. 141 Cf. João Castro Mendes, Direito processual civil, p. 36-37. 142 Cf. João de Castro Mendes, Direito processual civil, p. 134-135.

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101

Em regra, o recurso de apelação é recebido nos efeitos

devolutivo e suspensivo, ressalvadas as exceções legais (CPC, art. 692),

sendo exigido para estas hipóteses requerimento do autor.143

Interposto o recurso, compete ao juízo prolator da decisão

recorrida efetuar o exame dos requisitos de admissibilidade (CPC, art. 687).

Do juízo negativo de admissibilidade, é cabível recurso.

A decisão do tribunal pode ser substitutiva (manutenção ou

reforma) ou rescindente, determinando-se nesta última hipótese a remessa

dos autos à instância inferior, no caso de deficiência, obscuridade,

contradição ou falta de fundamentação das respostas do tribunal coletivo.144

2.3.4 – Direito Argentino

O recurso de apelação é cabível contra sentença definitiva,

sentença interlocutória e as providências simples causadoras de prejuízo

que não pode ser reparado pela sentença definitiva (C.P.N., art. 242).

143 Cf. Alcides de Mendonça Lima, Introdução aos recursos cíveis, p. 113. 144 “Art. 715: Embora o tribunal de recurso declare nula a sentença proferida na 1ª instância, não deixará de conhecer do objecto da apelação”.

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102

Detêm legitimidade para interpor o recurso as partes, os

terceiros juridicamente interessados e o Ministério Público.

O prazo para interpor o recurso é de 5 dias, admitindo-se a

prorrogação por vontade das partes (C.P.N., art. 155).

O recurso deve ser interposto sob a forma escrita ou verbal

perante o juízo prolator da decisão recorrida, devendo ser indicado o

fundamento recursal específico (C.P.N., art. 271).

O não pagamento do imposto da justiça não tem o condão de

impedir o exame do mérito recursal (art. 252, C.P.N.).

Compete ao juízo prolator da decisão recorrida o exame de

ofício dos requisitos de admissibilidade. Da decisão judicial proferida pelo

juízo prolator da decisão que inadmite a apelação é cabível recurso.145

Em regra, o recurso de apelação deve ser recebido em ambos

os efeitos, salvo nas hipóteses de alimentos e de medidas cautelares.146

145 Cf. Enrique Vescovi, Los recursos judiciales y demás médios impugnativos em Iberoamérica, p. 145-146. 146 Cf. Manuel M. Ibañes Frocham, Tratado de los recursos em el proceso civil, p. 188.

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103

O objeto do reexame pelo tribunal é o mesmo examinado na

primeira instância, respeitada a limitação fixada pelo apelante no recurso

(Tantum devolutum quantum appellatum).

2.3.5 – Código de Processo Civil Modelo para os Países Ibero-

Americanos

O Instituto Ibero-americano de Direito Processual tem como

finalidade precípua a criação de um modelo de legislação processual que

servia de paradigma para os países íbero-americanos.147

O recurso de apelação é cabível em face de sentenças

definitivas, contra as interlocutórias em alguns casos e contra providências

que causam gravames irreparáveis (art. 220).

O mérito recursal pode se referir à anulação ou à reforma da

decisão recorrida, a depender dos motivos suscitados.

147 Cf. Cândido Rangel Dinamarco, “O futuro do direito processual civil”, RF, vol. 336, p. 31. Na exposição de motivos, há a referência de que “el Código Modelo no tiene la pretensión de regir em ningún país en forma efectiva. Es solo lo que su nombre dice, un ‘modelo’, que recoge múltiples instituciones comunes (com diferencia de nombres) y trata de introducir otras receptadas por el trabajo común de la doctrina y jurisprudencial iberoamericanas, especialmente” (El Código Procesal Civil modelo para Iberoamérica: História – Antecedentes – Exposición de Motivos, Texto del Antepryecto, p. 17-18).

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104

Detêm legitimidade recursal as partes e os terceiros

intervenientes, devendo ser o recurso de apelação interposto por petição

escrita, no prazo de 15 dias, perante o juízo prolator da decisão recorrida

(arts. 223, I, e 225).

O recurso pode ser interposto sob a forma adesiva, quando da

decisão decorrer sucumbência recíproca, ficando subordinado ao principal

(art. 224). Interposto o recurso, compete ao juízo prolator da decisão

recorrida o exame acerca da sua admissibilidade.

2.4 - DIREITO ANTERIOR

Nos primórdios da monarquia lusitana, o recurso de apelação

não fora previsto expressamente, sendo utilizadas por via oblíqua as

queixas formuladas ao rei contra as sentenças, denominadas de querimas ou

querimônias.

As Ordenações Afonsinas editadas em 1446 previram o

recurso de apelação cabível em face de sentenças definitivas no Livro III,

Título 73.

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105

Nas Ordenações Manuelinas editadas em 1521, o recurso de

apelação foi previsto no Livro III, Título 52.

Em 1602, as Ordenações Filipinas estabeleceram o referido

recurso no Livro III, Títulos 68/69, das quais se deu a extensão para o

direito nacional.148

Após a independência do Brasil, foi editado o Decreto de

20.10.1823 que adotou as Ordenações Filipinas como legislação nacional.

Portanto, a partir de 1823 o processo civil nacional foi regido pelas

Ordenações Filipinas.

Em 20.11.1850, foi editado o Código de Processo Civil

Comercial por meio do Regulamento nº 737. O processo civil permaneceu

sendo regido pelas Ordenações Filipinas, ao passo que o Regulamento nº

737 disciplinava o processo comercial.

O Governo da época imperial atribuiu, em 1871, ao

Conselheiro Ribas, a atividade de consolidação das Ordenações e das leis

extravagantes.

148 Cf. Sergio Bermudes, Curso de direito processual civil, p. 51.

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106

Em 1876, foi editada a Consolidação Ribas como legislação

processual, de sorte que as Ordenações Filipinas permaneceram

disciplinando o processo civil nacional.

Em 1890, foi editado o Decreto nº 763 que revogou as

Ordenações Filipinas e adotou o Regulamento nº 737 como a legislação

regente do processo civil.

No Regulamento nº 737, a apelação pressupunha alçada, sendo

cabível de sentença definitiva no prazo de 10 dias.

Com a edição da Constituição Federal de 1891, conferiu-se aos

estados federados a competência legislativa em matéria de direito

processual civil.

A partir de 1905, deflagrou-se a edição de códigos estaduais,

merecendo destaque os da Bahia e de São Paulo.

No Código do Estado da Bahia, a apelação era cabível em face

de sentença definitivas ou interlocutórias com forma de definitiva,

proferidas em primeira instância, e cujo valor excedesse a alçada do juiz,

desde que por disposição expressa da lei não fosse outro recurso admitido

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107

(art. 1.248). Detinham legitimidade para interpor o recurso as partes e o

terceiro prejudicado, devendo a petição ser interposta, no prazo de 10 dias,

perante o prolator da sentença.

Já no Código de São Paulo, a apelação era cabível em face de

decisões de primeira instância, definitivas ou interlocutórias com força de

definitiva, salvo se a lei denegasse qualquer recurso ou admitisse outro (art.

1.106).

Detinham legitimidade recursal as partes e terceiro

prejudicado, devendo a petição ser interposta, no prazo de 5 dias, perante o

prolator da sentença.

Em face dos efeitos deletérios decorrentes desta política

legislativa, a Constituição Federal de 1934 estipulou, no art. 11 das

Disposições Transitórias, que o governo nomearia uma comissão de três

juristas, com o propósito de se editar um Código de Processo Civil e

Comercial de abrangência nacional.

A Constituição Federal de 1937 manteve a intenção de se

unificar a nível nacional a legislação processual civil. A reunificação da

legislação processual civil operou-se com o Decreto-lei nº 1.608, de 18 de

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108

setembro de 1939, o qual instituiu o Código de Processo Civil de 1939. O

projeto do referido Código foi da autoria do advogado Pedro Batista

Martins.

O recurso de apelação era cabível das decisões definitivas de

primeira instância (art. 820). Descabia apelação, e sim embargos de

nulidade ou infringentes do julgado, das sentenças de primeira instância

proferidas em ações de valor igual ou inferior a duas vezes o salário

mínimo vigente nas capitais respectivas dos Territórios e Estados (art. 839).

Descabia apelação das sentenças proferidas em processos de

competência originária de tribunais superiores (arts. 144-146).149

No prazo de 15 dias (art. 823), devia ser interposto o recurso

por meio de petição dirigida ao prolator da decisão, e que contivesse: a

designação do juiz a quem é dirigida; o nome e qualificação; exposição do

fato e do direito, as razões do pedido de nova decisão (art. 821).

Detinham legitimidade recursal as partes, o terceiro

prejudicado e o Ministério Público (art. 814).

149 Cf. João Monteiro, Teoria do processo civil, tomo II, p. 675; Sergio Bermudes, Curso de direito processual civil, p. 52.

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109

Impunha-se ao recorrente providenciar o pagamento do

preparo após o recebimento da apelação, sob pena de deserção (art. 827).

A sentença poderia ser impugnada no todo ou em parte,

presumindo-se total a impugnação quando o recorrente não especificasse a

parte de que recorreu (art. 811).

É lícito à parte variar de recurso dentro do prazo legal, não

podendo, todavia, usar, ao mesmo tempo, mais de um recurso (art. 809).

Contemplava-se, expressamente, o princípio da fungibilidade pelo qual,

salvo hipótese de má-fé ou de erro grosseiro, a parte não será prejudicada

pela interposição de um recurso por outro (art. 810).

Interposto o recurso de apelação, compete ao prolator da

sentença recorrida avaliar a presença dos requisitos de admissibilidade. No

caso de admissão, o juiz deve declarar em quais efeitos o recurso é

recebido, determinando-se a intimação do recorrido, para, querendo,

apresentar resposta ao recurso.

Tratando-se de pronunciamento que inadmite o apelo, era

cabível o recurso de agravo de instrumento (art. 842, IX).

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110

Em regra, o recurso de apelação deve ser recebido no efeito

suspensivo, salvo nas hipóteses do art. 830: homologação de divisão ou

demarcação; julgamento de procedência de ações executivas e as de

despejo; liquidação de sentença; condenação à prestação de alimentos.

A apelação devolve à superior instância o conhecimento

integral das questões suscitadas e discutidas no processo, podendo ser

suscitadas novas questões de fato, desde que se prove que se absteve de

fazê-lo por motivo de força maior (art. 824).150

Registre-se que se fazia alusão também à apelação necessária,

a qual deveria ser interposta pelo juiz, por meio de simples declaração, nos

casos em que a lei assim determinava: das sentenças que declaram a

nulidade do casamento; das que homologam o desquite amigável; e das

proferidas contra a União, o Estado e o Município (art. 822).

150 Cf. Pedro Batista Martins, Recursos e Processos da Competência Originária dos Tribunais, p. 195.

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111

CAPÍTULO III - REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE 151

3.1 - CABIMENTO

Pelo princípio recursal da taxatividade, os recursos somente

podem ser criados e disciplinados por meio de lei federal.

O STF já teve oportunidade de decidir que a competência

concorrente do Estado para legislar sobre procedimentos em matéria

processual (CF, art. 24, XI) não alcança a criação de recurso, já que a

competência legislativa é privativa da União.152

A propósito, impende destacar que o princípio da

singularidade ou da unirrecorribilidade significa que, para uma decisão

judicial recorrível, há apenas um único recurso previsto pela lei.

O requisito do cabimento assenta-se, portanto, no binômio

recorribilidade da decisão e adequação da via recursal utilizada. Isto é, para

se identificar o cabimento do recurso, é indispensável que a decisão seja

151 Impende consignar que, no livro Recurso especial, tivemos a oportunidade de analisar os requisitos genéricos de admissibilidade dos recursos cíveis. 152 2ª Turma, AgRg 253.518-SC, rel. Min. Marco Aurélio, j. 09.05.00, Informativo STF n.º 188

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susceptível de recurso, e que a via recursal eleita seja adequada de acordo

com a legislação federal.

Segundo o CPC (art. 162), os pronunciamentos do juiz

consistem em despacho, decisão interlocutória e sentença.

Despacho é pronunciamento desprovido de cunho decisório –

ausência de prejuízo – e, por isso, irrecorrível, que visa apenas a dar

impulso ao processo.

Decisão interlocutória é o pronunciamento de cunho decisório

que resolve, no curso do feito, uma questão incidente sem que resulte dela a

extinção do processo.

Sentença é o pronunciamento de cunho decisório que põe

termo ao processo, com ou sem análise meritória.

O critério que norteou o referido preceito legal para a

classificação do pronunciamento judicial foi o topológico e não quanto ao

seu conteúdo. O pronunciamento judicial é classificado, pois, em função

das conseqüências por ele gerado no procedimento.

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Malgrado o tipo legal, é possível que os jurisdicionados

tenham dificuldades em identificar o recurso cabível, à luz da divergência

jurisprudencial.

Sobre o assunto, a doutrina e a jurisprudência são assentes no

sentido de que incide no campo recursal o princípio da fungibilidade,

mercê do qual o órgão do Poder Judiciário considera adequado o recurso

erroneamento interposto, desde que exista “dúvida objetiva”, que é

demonstrável a partir de divergência doutrinária ou jurisprudencial.

A inexistência de erro grosseiro ou inescusável não constitui

requisito específico para aplicação do princípio da fungibilidade, mas

constitui parcela integrante do requisito da “dúvida objetiva”.

Isso porque, mesmo que o texto legal seja explícito ao

identificar o recurso adequado contra determinada decisão, havendo

dissenso atual doutrinário ou jurisprudencial a respeito da matéria, o

princípio da fungibilidade deve ser aplicado em consonância com o

princípio da instrumentalidade do processo.

Registre-se, ainda, que a exigência no sentido de o recurso

errôneo seja interposto no prazo do correto é descabida. A um, porque o

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recurso estaria sendo regido por dois regimes, o que demonstra, por si só, a

inconsistência desse entendimento. A dois, porque a regra da fungibilidade

deve ser vislumbrada como óbice à formação da coisa julgada. A três,

porque, de acordo com o direito positivo, a má-fé não se presume.153-154-155

Apesar de fazer alusão aos arts. 267 e 269 que tratam do

processo de cognição, o art. 513 do CPC é aplicável, também, nos

processos cautelar, de execução e nos procedimentos de jurisdição

voluntária.

153 Cf. Alcides de Mendonça Lima, Introdução aos recursos cíveis, p. 254-258; Flávio Cheim Jorge, Apelação cível, p. 233-238; Grinover-Magalhães-Scarance, Recursos no Processo Penal, p. 40; Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 137-140; Teresa Arruda Alvim Wambier, O novo regime do agravo, p. 117-118. 154 “Embora não esteja inserto em nenhum dos dispositivos do Código de Processo Civil em vigor, o princípio da fungibilidade só tem aplicação quando o recorrente não comete erro grosseiro. Para que o equívoco na interposição do recurso seja escusável é necessário que haja dúvida objetiva, ou seja, divergência atual na doutrina ou na jurisprudência acerca do recurso cabível. Se, ao contrário, não existe dissonância ou já está ultrapassado o dissenso, não há que se invocar o princípio da fungibilidade recursal” (STJ-2ª Turma, REsp 117.429-MG, rel. Min. Adhemar Maciel, j. 09.05.1997, v.u., DJ 09.06.1997, RSTJ 96/216); “Recursos – Fungibilidade – Hipótese em que a propósito de cabimento de apelação ou agravo existia sério dissenso jurisprudencial, com reflexos no STJ. Admissibilidade do conhecimento da apelação como agravo, nas circunstâncias, embora apresentada quando findo o prazo para interposição desse” (STJ-3ª Turma, REsp 14.031, rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 07.02.1995, v.u., DJ 20.03.1995); “Se a lei é dúbia, se os doutrinadores se atritam entre si, e a jurisprudência não é uniforme, o erro da parte apresenta-se escusável e relevável, ainda que o recurso dito impróprio tenha sido interposto após findo o prazo assinado para o recurso dito próprio” (STJ-4ª Turma, REsp 12.610-MT, rel. Min. Athos Carneiro, RSTJ 30/474). 155 Contra: “A adoção do princípio da fungibilidade exige sejam presentes: a) dúvida objetiva sobre qual o recurso a ser interposto; b) inexistência de erro grosseiro, que se dá quando se interpõe recurso errado quando o correto encontra-se expressamente indicado na lei e sobre o qual não se opõe dúvida; c) que o recurso erroneamente interposto tenha sido agitado no prazo do que se pretende transformá-lo” (RSTJ 58/209); “O ato pelo qual o juiz decide acerca de concurso de credores nos autos do processo de execução tem natureza jurídica de decisão interlocutória, sujeita, portanto, à interposição do recurso de agravo. Patente dúvida objetiva, em face do dissenso na doutrina e na jurisprudência a respeito do cabimento do recurso, seria de admitir-se o princípio da fungibilidade recursal, inaplicável ao caso em virtude do recurso inadequado não ter sido interposto no prazo próprio” (STJ-4ª Turma, REsp 173.975-PR, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 18.08.1998, DJ 05.10.1998, p. 105).

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Tratando-se de cumulação de ações, e havendo o

pronunciamento judicial extinto liminarmente uma delas e dado

prosseguimento à outra, indaga-se qual a natureza da decisão. A partir do

critério legal, tem-se que se trata de decisão interlocutória, porquanto não

se pôs termo ao processo.156

Idêntica conclusão deve advir para as seguintes hipóteses de

decisão judicial que: extingue liminarmente reconvenção, sem contudo por

termo ao processo; exclui liminarmente um dos litisconsorte do processo;

extingue liminarmente denunciação à lide, chamamento ao processo ou

oposição, dando seguimento ao processo.157

156 Cf. Bernardo Pimentel Souza, Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória, p. 165; Eduardo Arruda Alvim, Curso de direito processual civil, vol. 2, p. 61; Nelson Nery Junior, Princípios fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 207. 157 “RECONVENÇÃO. Indeferimento. Recurso. Agravo. Cabe agravo da decisão que indefere liminarmente a reconvenção. Precedentes. Recurso não conhecido” (STJ-4ª Turma, REsp 443.175-SP, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, v.u., DJ 16.12.2002, p. 345); RECONVENÇÃO. INDEFERIMENTO LIMINAR. RECURSO CABÍVEL. CABE AGRAVO, E NÃO APELAÇÃO, DO PROVIMENTO JUDICIAL QUE INDEFERE LIMINARMENTE A RECONVENÇÃO, AINDA QUE POR EQUIVOCO HAJA SIDO O PEDIDO RECONVENCIONAL AUTUADO EM APARTADO. RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO” (STJ-4ª Turma, REsp 20.313-MS, rel. Min. Athos Carneiro, v.u., DJ 08.06.1992, p. 8.623); “EXTINÇÃO DA AÇÃO - SUBSISTÊNCIA DE RECONVENÇÃO - RECURSO CABIVEL. A EXTINÇÃO DA AÇÃO NÃO SIGNIFICA SE TENHA POSTO FIM AO PROCESSO, QUE PROSSEGUE RELATIVAMENTE A RECONVENÇÃO. AQUELE ATO HAVERA DE SER ATACADO POR AGRAVO E NÃO POR APELAÇÃO” (STJ-3ª Turma, REsp 53.470-SP, rel. Min. Eduardo Ribeiro, v.u., DJ 05.12.1994, p. 33.559); “PROCESSUAL CIVIL. DECISÃO QUE EXCLUI LITISCONSORTE PASSIVO, SEM PÔR TERMO AO PROCESSO. RECURSO CABÍVEL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA. 1. A decisão que exclui do processo um dos litisconsortes, sob o fundamento de ilegitimidade passiva ad causam, é impugnável por meio de agravo, uma vez que não põe termo à relação processual.inteligência do art.162 e parágrafos do CPC. Precedentes jurisprudenciais. (...) 3. Provimento do recurso especial, para reconhecer a inadmissibilidade do recurso de apelação interposto perante o Tribunal de origem, tanto mais que o princípio da fungibilidade pressupõe a tempestividade do recurso equivocadamente interposto” (STJ-1ª Turma, REsp 364.339-SP, rel. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, maioria, DJ 21.06.2004, p. 163); “PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. DECISÃO QUE EXCLUI LITISCONSORTE PASSIVO DA LIDE. CARÁTER INTERLOCUTÓRIO. APELAÇÃO INCABÍVEL. ERRO GROSSEIRO. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL. IMPOSSIBILIDADE. I - O pronunciamento judicial, embora se revestindo de caráter decisório, não pôs fim ao processo, mas, a contrario sensu, apenas excluiu litisconsorte da lide, dando prosseguimento à demanda. Assim sendo, desafia tal pronunciamento agravo

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No tocante às hipóteses anteriormente descritas, indaga-se se o

órgão do Poder Judiciário pode aplicar o princípio da fungibilidade por

meio do qual recebe o recurso como agravo de instrumento, caso tenha sido

interposto o recurso de apelação ou vice-versa.

A propósito, havendo “dúvida objetiva”, extraída de atuais

divergências doutrinárias e jurisprudenciais, de qual o recurso cabível

diante de determinada decisão, tem-se aceito a aplicação do princípio da

fungibilidade em consonância com o princípio da instrumentalidade das

formas.

Tendo presente que atualmente a jurisprudência do STJ é

pacífica no sentido de entender que a decisão que extingue liminarmente

ação, sem contudo por termo ao processo, comporta o recurso de agravo de

instrumento, por ser da modalidade interlocutória, infere-se que, nas

hipóteses acima descritas, não é aplicável o princípio da fungibilidade, não

podendo o órgão do Poder Judiciário receber a apelação como agravo de

instrumento.

de instrumento. II - Esta colenda Corte já decidiu, em inúmeros precedentes, que o pronunciamento proferido no sentido de excluir uma das partes da lide se constitui decisão interlocutória, e não sentença, sendo impugnado apenas por meio de agravo. III - Se inexiste dúvida objetiva acerca do recurso cabível, não se admite a aplicação do princípio da fungibilidade recursal. IV - Agravo regimental improvido” (STJ-1ª Turma, AgRg no REsp 544.378-MG, rel. Min. Francisco Falcão, v.u., DJ 15.12.2003, p. 211); “Denunciação da lide. Recurso cabível. Precedentes da Corte. 1. Nos termos de precedentes da Corte, da decisão que indefere a denunciação da lide cabe o agravo de instrumento. 2. Recurso especial conhecido e provido” (STJ, REsp 297.802, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, v.u., DJ 24.09.2001, p. 297).

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Em face de sentença proferida em execução fiscal ou nos

embargos à execução a esta opostos, cujo valor seja igual ou inferior

cinqüenta (50) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional – ORTN -, o

recurso cabível é o de embargos infringentes os quais são julgados pelo

mesmo órgão prolator da decisão, nos moldes do art. 34 da Lei nº 6.830/80.

Registre-se que, como o princípio do duplo grau de jurisdição

não é absoluto, é lícito ao legislador infraconstitucional minimizar, ou

restringir, a recorribilidade da sentença proferida nas execuções fiscais.158

No mesmo diapasão, não adotando o princípio do duplo grau

de jurisdição, a Lei nº 9.099/95, que instituiu os Juizados Especiais Cíveis e

Criminais, dispôs que em face da sentença é cabível um recurso inominado,

o qual deve ser apreciado por uma turma recursal composta por juízes de

primeiro grau de jurisdição.

O pronunciamento judicial que põe termo ao processo de

liquidação caracteriza-se como sentença e, como tal, é impugnável por

meio do recurso de apelação.

158 STF-2ª Turma, Ag 114.709-1-AgRg-CE, rel. Min. Aldir Passarinho, j. 29.05.1987, DJU 28.08.1987, p. 17.578.

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Importa ressaltar, por outro lado, que em face do

pronunciamento proferido em processo de execução que determina a

atualização dos cálculos é cabível o recurso de agravo de instrumento,

porquanto se trata de decisão que resolve questão incidente. É o que dispõe

a súmula 118 do STJ: “O agravo de instrumento é o recurso cabível da

decisão que homologa a atualização do cálculo da liquidação”.

Após a edição desse entendimento sumular, inocorrendo, pois,

qualquer dúvida de qual é o recurso adequado, não há mais espaço para a

aplicabilidade do princípio da fungibilidade.

Nas ações de competência originária de tribunais, não é

cabível o recurso de apelação. Apenas nas hipóteses taxativamente

previstas em lei, em face do pronunciamento proferido por órgão colegiado

do tribunal podem ser cabíveis os recursos ordinário, especial,

extraordinário e embargos infringentes, conforme o caso.

Como inexiste “dúvida objetiva” para a identificação do

recurso cabível em face de pronunciamento recorrível proferido por órgão

colegiado de tribunal, não é lícito ao órgão do Poder Judiciário receber o

recurso de apelação como se fosse um extraordinário, especial ou embargos

infringentes.

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No que se refere ao recurso ordinário, como possui

características assemelhadas com o recurso de apelação, não há qualquer

prejuízo ou incompatibilidade procedimental para se aplicar o princípio da

fungibilidade, recebendo o recurso de apelação como ordinário.

Por outro lado, é lícito que, como juiz preparador, o relator de

ação de competência originária de tribunal, por meio de uma decisão

monocrática, ponha termo ao processo, tal como a que indefere

liminarmente mandado de segurança. Nessa hipótese, o recurso cabível é o

de agravo inominado ou interno, porquanto as decisões proferidas por

órgãos singulares dos tribunais são susceptíveis de impugnação por meio

do recurso de agravo.159-160

Contra a decisão que resolve incidente processual, tal como a

que julga a impugnação ao valor da causa e as exceções processuais, é

cabível recurso de agravo.161

159 Cf. Nelson Nery Junior, Princípios fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 255. 160 “AGRAVO REGIMENTAL. MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO JUDICIAL. INDEFERIMENTO LIMINAR DA PETIÇÃO INICIAL. – Da decisão monocrática do Relator, que indefere in limine a inicial de mandado de segurança, o recurso cabível é o agravo regimental e não o recurso ordinário, que pressupõe decisão denegatória do Tribunal (art. 105, inc. II, letra "b", da Constituição Federal). – Embargos de declaração, apreciados pela Turma, cujo o único objetivo é discutir questão referente à prevenção. Agravo regimental improvido” (STJ-4ª Turma, AgRg no RMS 17.438-ES, rel. Min. Barros Monteiro, v.u., DJ 01.07.2004, p. 195); “MANDADO DE SEGURANÇA. INDEFERIMENTO LIMINAR. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ORDINÁRIO NÃO CONHECIDO. 1. Da decisão do relator que indefere liminarmente mandado de segurança de competência originária de Tribunal cabe agravo regimental, se previsto. Precedentes. 2. Recurso ordinário não conhecido” (STJ-6ª Turma, RMS 12.332-SC, rel. Min. Paulo Medina, v.u., DJ 15.03.2004, p. 299). 161 “PROCESSUAL CIVIL. CIVIL. IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA. RECURSO. DOAÇÃO. HERDEIROS NECESSÁRIOS. 1. O recurso contra decisão que julga impugnação ao valor da causa é o

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Por outro lado, quando se trata de processos incidentais, tais

como a ação declaratória incidental (art. 325) e argüição de falsidade

documental (art. 395), se o pronunciamento extinguir o processo, julgando,

portanto, também a ação principal, tem-se que se trata de sentença, sendo

cabível o recurso de apelação.

De outro lado, se o pronunciamento aprecia a ação declaratória

incidental, antes de ser proferida a decisão da ação principal, o recurso

cabível é o agravo de instrumento, por se tratar de decisão interlocutória.162

de agravo de instrumento e não o agravo retido, que deve ser admitido apenas quando se tratar de interlocutória dentro da mesma ação e não do incidente. 2. O doador, em decorrência da existência de herdeiros necessários, não pode dispor de mais da metade de seus bens. 3. Recurso especial não conhecido” (STJ-4ª Turma, REsp 403.553-SC, rel. Min. Fernando Gonçalves, v.u., DJ 14.02.2005, p. 267); “Exceção de incompetência. Suspensão do processo. I - No caso de exceção de incompetência, a suspensão do feito ocorre até a sua rejeição pelo juiz de primeiro grau, porquanto o agravo da decisão que a indeferir só é recebido no efeito devolutivo. II - Recurso especial conhecido mas desprovido” (STJ-4ª Turma, REsp 578.344-BA, rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, v.u., DJ 12.04.2004, p. 209). 162 “PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO CABÍVEL – SENTENÇA PROFERIDA NO MESMO PROCESSO EM DECLARATÓRIA INCIDENTAL SEM DECISÃO DE MÉRITO DA CAUSA. I – É DECISÃO INTERLOCUTÓRIA A QUE REPELE "IN LIMINE" OU OPÕE TERMO A DECLARATÓRIA INCIDENTAL ANTES DE JULGADA A AÇÃO PRINCIPAL, PASSÍVEL, PORTANTO, DE AGRAVO DE INSTRUMENTO. II - SERÁ ‘SENTENÇA’ SE PROFERIDA JUNTAMENTE COM A QUE JULGAR O MÉRITO DA CAUSA. III - RECURSO CONHECIDO E PROVIDO” (STJ-3ª Turma, REsp 66.674-SP, rel. Min. Waldemar Zveiter, v.u., DJ 29.04.1996, p. 13.415); “PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA INCIDENTAL. EXTINÇÃO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO. SENTENÇA INCIDENTE. ART. 325, CPC. JULGAMENTO ANTERIOR À AÇÃO POSSESSÓRIA PRINCIPAL. NATUREZA DE DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. RECURSO CABÍVEL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. I - Contra a "sentença" que põe fim à ação declaratória incidental, cabe agravo de instrumento se a ação versar, como no caso, questão prejudicial ao julgamento da principal e for julgada anteriormente a esta, liminarmente ou não, dada a natureza de decisão interlocutória. II - Ocorrendo extinção apenas parcial do processo(v.g., quando indeferida a declaratória incidental, a reconvenção ou excluído um dos litisconsortes), o recurso próprio é o agravo” (STJ-4ª Turma, REsp 323.405-RJ, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, v.u., DJ 04.02.2002, p. 386).

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Caso a decisão extinga a ação declaratória incidental, sem

contudo apreciar o pleito da ação principal, tem-se que se trata de decisão

interlocutória passível de impugnação por meio do recurso de agravo.163

No incidente de falsidade documental, que é uma ação

declaratória incidental, dispõe o CPC que correrá em autos apartados, caso

seja suscitado após o encerramento da instrução, e correrá nos próprios

autos principais, caso seja suscitado até o encerramento da instrução, nos

moldes do disposto no art. 393.

Em face do pronunciamento que julga o incidente de falsidade

documental isoladamente - isto é, não havendo julgamento simultâneo com

a ação principal – é cabível o recurso de agravo. Adota-se à espécie o

mesmo entendimento em relação à decisão que rejeita liminarmente

reconvenção.164-165

163 “Será sentença, se for proferida juntamente com a que julgar a ação principal; será, porém, decisão, passível de agravo, se repelir in limine a declaratória incidental ou lhe puser termo, antes de julgada a ação principal” (SIMP-conclu. XXXIV, RT 482/272). 164 Cf. Eduardo Arruda Alvim, Curso de direito processual civil, vol. 2, p. 63; Nelson Nery Junior, Princípios fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 122. 165 “PROCESSO CIVIL. INCIDENTE DE FALSIDADE DE DOCUMENTO. CPC, ART. 395. RECURSO PROPRIO. DIVERGENCIA NO TEMA. HERMENÊUTICA. RECURSO DESPROVIDO. - AFEIÇOA-SE MELHOR A SISTEMATICA DO CODIGO E DA A LEI EXEGESE COMPATIVEL COM OS FINS INSTRUMENTAIS DO PROCESSO, EVITANDO INCLUSIVE A LITIGÂNCIA DE MA-FÉ, O ENTENDIMENTO QUE PRESTIGIA O CABIMENTO DO AGRAVO QUANDO A DECISÃO SE LIMITA A JULGAR O INCIDENTE DE FALSIDADE PROCESSADO NOS AUTOS PRINCIPAIS SEM ADENTRAR NO MERITO DA CAUSA” (STJ-4ª Turma, REsp 10.318-PR, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, v.u., DJ 04.05.1999, p. 5.889).

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Pelo fato de não acarretar o término do processo, mas apenas

resolver questão incidente, contra o pronunciamento judicial que julga o

pedido de remição, embora intitulado pelo art. 790 do CPC como sentença,

é cabível o recurso de agravo de instrumento.166-167

É sabido que, no processo de execução, o devedor pode

suscitar exceção de pré-executividade, quando estiver ausente algum

requisito de admissibilidade, desde que não haja necessidade de instrução

probatória.

Admissível a exceção de pré-executividade, compete ao juiz

proferir decisão, acolhendo-a ou rejeitando-a. Na hipótese de acolher a

exceção de pré-executividade, o pronunciamento decisório põe fim ao

processo de execução, sendo admissível a interposição do recurso de

apelação.168

166 Cf. Araken de Assis, Manual do processo de execução, p. 1.088; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 411. 167 “RECURSOS. FUNGIBILIDADE. REMIÇÃO DA EXECUÇÃO. O ATO DO JUIZ QUE INDEFERE O PEDIDO DE REMIR A EXECUÇÃO, AINDA QUE NEGANDO PRETENSÃO DE USUFRUIR DO BENEFICIO DO ART. 47 DO ADCT, CONSTITUI DECISÃO INTERLOCUTORIA, SUJEITA A IMPUGNAÇÃO POR AGRAVO. INADMISSIBILIDADE DE APROVEITAR A APELAÇÃO, INTERPOSTA QUANDO JÁ EXAUSTO O PRAZO DO RECURSO CABIVEL, POIS NÃO SE TRATA DE TEMA SUJEITO A DIVERGENCIAS, DE MANEIRA A ENSEJAR DUVIDA. HIPOTESE DIVERSA DA REMIÇÃO DE BEM, A CUJO PROPOSITO EXISTE DISSIDIO” (STJ-3ª Turma, REsp 75.425-GO, rel. Min. Eduardo Ribeiro, v.u., DJ 09.06.1997, p. 25.533). 168 “RESP. PROCESSUAL CIVIL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. ACOLHIMENTO. RECURSO CABÍVEL. 1. A decisão que acolhe exceção de pré-executividade põe fim ao processo executório e, como ato extintivo, desafia recurso de apelação. 2. Recurso especial conhecido e provido” (STJ-4ª Turma, REsp 613.702-PA, rel. Min. Fernando Gonçalves, v.u., DJ 26.06.2004, p. 336).

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De outro lado, tratando-se de pronunciamento decisório que

indefere a exceção de pré-executividade, o recurso cabível é o de agravo de

instrumento, por se tratar de decisão interlocutória.169

Em face da decisão que, em sede de exceção de pré-

executividade, que exclui do pólo passivo novos adquirentes do imóvel

penhorado, mantendo a execução em face do proprietário originário, é

cabível recurso de agravo de instrumento, em virtude de não se operar a

extinção do processo de execução.170

169 “PROCESSUAL - EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTORIEDADE - DECISÃO QUE INDEFERE - AGRAVO DE INSTRUMENTO - MANDADO DE SEGURANÇA - ATO JUDICIAL - RECURSO ORDINÁRIO NÃO INTERPOSTO. I - Decisão que indefere exceção prévia de executoriedade, evidentemente, não é terminativa. Pelo contrário, ela assegura o curso do processo de execução. Se assim ocorre, o recurso apropriado para desafiá-la é o agravo de instrumento. II – ‘O Mandado de Segurança contra ato processual pressupõe a existência de recurso ordinário, sem efeito suspensivo, contra o ato objeto da impetração. III – ‘Admitir que o Mandado de Segurança substitua recurso não interposto é fazer imprestável o instituto da preclusão que possibilita o tratamento igualitário das partes, no processo.’ (RMS 5.182/Humberto)” (STJ-1ª Turma, REsp 11.127-SP, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, v.u., DJ 26.03.2001, p. 368). 170 “PROCESSO CIVIL - EXECUÇÃO FISCAL - EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE - ACÓRDÃO RECORRIDO QUE EXPRESSAMENTE DESTACOU QUE O ACOLHIMENTO DA REFERIDA EXCEÇÃO NÃO PÔS FIM AO PROCESSO - APELAÇÃO - NÃO CABIMENTO - INCIDENTE PROCESSUAL - AGRAVO DE INSTRUMENTO. 1. A exceção de pré-executividade é defesa interinal do executado no bojo de execução e que tem por finalidade obstar o início dos atos executivos em desconformidade com as prescrições legais, e que por isso não encerram certeza sobre a relação jurídica material discutida. 2. O acolhimento parcial da exceção de pré-executividade com o prosseguimento do processo de execução com latro em CDA inatacada, sem a extinção do processo na sua inteireza, com a subsistência da relação processual quanto à parte do crédito exeqüentes consubstanciado em terceira certidão de dívida ativa, desafia agravo de instrumento, ou retido, que, a fortiori, são os meios processuais adequados para evitar a preclusão. 3. A decisão que acolhe a exceção de pré-executividade em relação a duas das certidões de dívida ativa, embora tenha conteúdo decisório, não pôe fim ao processo. Aplicação dos arts. 162 e 513. Princípio da fungibilidade recursal. Inaplicabilidade quando o recurso erroneamente proposto infringe o requisito da tempestividade. Precedentes. 4. Recurso especial conhecido e improvido” (STJ-1ª Turma, REsp 435.372-SP, rel. Min. Luiz Fux, v.u., DJ 09.12.2002, p. 299).

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124

3.2 - LEGITIMIDADE PARA RECORRER

A exemplo do que ocorre com a legitimação para agir, quando

se exige, em regra, que o legitimado seja o titular do direito deduzido em

juízo, o legislador prescreve que o recorrente tenha legitimidade para

intepor o recurso, sob pena do seu não conhecimento.171

No art. 499 do CPC, enumera o legislador, levando em conta a

relevância e o interesse de determinadas pessoas em recorrer da decisão, os

legitimados para interpor recurso, quais sejam: a parte vencida, o terceiro

prejudicado e o Ministério Público.

Por conveniência e oportunidade, o legislador conferiu

legitimidade recursal às partes, ao terceiro prejudicado e ao Ministério

Público, por considerá-los pessoas mais atingidas pelos efeitos da decisão

judicial e, por isso, mais interessadas em dela recorrer.172

171 Segundo lição de Donaldo Armelin, “a legitimidade é uma qualidade do sujeito aferida em função de ato jurídico, realizado ou a ser praticado. Qualidade outorgada pelo sistema jurídico...” (Legitimidade para agir no direito processual civil brasileiro, p. 11). No mesmo sentido, é a doutrina de Arruda Alvim, para quem “(...) a legitimidade para a causa (legitimatio ad causam) constitui-se na própria titularidade subjetiva (ativa) do direito de ação, no sentido de dever ser movida a ação por aquele a quem a lei outorgue tal poder, figurando como réu aquele a quem a mesma lei submeta aos efeitos da sentença proferida no processo (legitimação passiva para a causa)” (Manual de direito processual civil, vol. 2, p. 26-27). 172 Afirma José Carlos Barbosa Moreira que, na legitimidade para recorrer, “(...) a valoração do interesse potencial compete ao legislador, e o seu resultado incorpora-se à norma atributiva de legitimidade, de tal sorte que, para o juiz, ele se torna irrelevante” (O Juízo de Admissibilidade no Sistema dos Recursos Civis, p. 53).

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125

Diante da regra contida no art. 499 do CPC, parte da doutrina e

da jurisprudência defende o entendimento de que a legitimação ativa

recursal funda-se no interesse em recorrer, isto é, “têm pretensão a usar de

recurso todos aqueles que sofrem com a resolução judicial”.173-174

No entanto, a legitimidade para recorrer não se apóia na

ocorrência de sucumbência, mas, apenas, na titularidade para a realização

de ato processual conferida pelo direito positivo. O legislador, tendo por

base interesse meramente potencial, atribui a legitimação para interpor

recurso a determinadas pessoas que julga mais interessadas em recorrer da

decisão judicial.

Por sua vez, o interesse em recorrer se apóia na perspectiva de

que a interposição do recurso seja meio necessário à obtenção de uma

situação jurídica mais favorável do que a derivada da decisão judicial

recorrida. 173 Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo VII, p. 51. No mesmo sentido: José Frederico Marques, Manual de Direito Processual Civil, vol. III, p. 185; Moacyr Amaral Santos, Primeiras linhas de direito processual civil, 3 vol., p. 82; Rogério Lauria Tucci, Curso de Direito Processual, p. 222. 174 “Processual civil – Ação de consignação em pagamento – Interesse para recorrer – Inexistência – Ilegitimidade ativa – Decisão favorável. I - O entendimento afirmado pela doutrina e jurisprudência dos tribunais é no sentido de que a legitimação ativa ao recurso funda-se no interesse em recorrer, e este decorre do prejuízo que a sentença ou acórdão possa ter causado. II – Hipótese em que falta ao recorrente o interesse para recorrer, já que o aresto o favorece. III – Recurso não conhecido” (STJ-3ª Turma, REsp 23.967-SP, rel. Min. Waldemar Zveiter, j. 15.09.1992, v.u., DJ 03.11.1992, p. 19.764); “Tributário e processual. ICM. Isenção. Embargos de declaração. Oposição indevida e desnecessária. 1. A arguição de nulidade da intimação só interessa à parte prejudicada. 2. A parte vencedora não tem legitimidade para recorrer da decisão que lhe favoreceu. 3. Embargos declaratórios desnecessários oferecidos em nome do opositor, não beneficiam o embargante da suspensão do prazo do recurso que lhe cabia interpor. 4. Correto o despacho que inadmite recurso intempestivo. 5. Recurso não conhecido” (STJ-2ª Turma, REsp 33.153-SP, rel. Min. Peçanha Martins, j. 31.03.1993, v.u., DJ 11.10.1993, p. 21.308).

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126

Do ponto de vista lógico, o órgão julgador analisa,

inicialmente, se o recorrente possui legitimidade recursal, isto é, se a lei

conferiu-lhe tal qualidade; em seguida, investiga se o legitimado tem

interesse recursal que deve ser atual e não potencial, o que significa dizer

que o recurso deve ser meio necessário à obtenção de um resultado mais

vantajoso do que a decisão recorrida.175

Acentadas essas observações, conclui-se que são legitimados

para a interposição de recurso aqueles que a lei arrolou como tais – partes,

Ministério Público e terceiro interessado -, sem que seja necessária a

demonstração da presença do interesse processual que é requisito autônomo

de admissibilidade dos recursos.

No processo, partes são quem formula pedido em juízo e

contra quem este é formulado. É irrelevante investigar se as partes são, ou

não, legítimas, isto é, mesmo que a decisão declare a ilegitimidade, ativa ou

passiva, da parte, esta pode recorrer na qualidade de parte. Neste conceito,

incluem-se os litisconsortes de qualquer espécie, desde que tenham

ingressado no processo antes da prolação da decisão recorrível.

175 Cf. Teresa Arruda Alvim Wambier, Os agravos no CPC brasileiro, p. 161.

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127

O assistente simples, que é aquele que intervém no processo

colaborando com a parte assistida à obtenção de uma decisão favorável,

tem legitimidade recursal, em virtude de possuir interesse jurídico na

resolução do processo e de ser considerada parte não-principal a partir da

exegese a contrario sensu do art. 52 do CPC.

Isso porque foram conferidos ao assistente simples os mesmos

poderes e direitos da parte assistida, sujeitando-se, inclusive, aos mesmos

ônus, estando o direito de recorrer neles incluído.176

Como o assistente age como auxiliar à parte assistida, estando

a ela subordinada, na hipótese de este praticar fato extintivo ou impeditivo

do direito de recorrer ou com este incompatível – preclusão lógica –,

eventual recurso interposto pelo assistente não pode ser conhecido. Como

os referidos fatos não se presumem, mas devem decorrer, inequivocamente,

da manifestação de vontade do assistido, mesmo que este se abstenha de

interpor recurso – preclusão temporal -, é lícito ao assistente fazê-lo, nos

moldes do art. 52 do CPC, pois não contraria a vontade daquele.

176 Cf. Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, vol. 2, p. 132; Athos Gusmão Carneiro, Intervenção de terceiros, p. 113; Celso Agrícola Barbi, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. I, p. 220; Ovídio A. Baptista da Silva, Curso de processo civil, vol. 1, p. 278.

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128

Na assistência litisconsorcial, o interveniente que tem relação

jurídica com a parte contrária àquela que presta auxílio é considerado

litisconsorte da parte principal, tendo, portanto, legitimidade recursal, uma

vez que os efeitos da decisão têm o condão de influir diretamente na citada

relação, nos termos do art. 54 do CPC.

Registre-se que o assistente litisconsorcial age com total

independência em relação ao assistido, podendo praticar, inclusive, atos

processuais contrários à vontade deste, por se sujeitar aos efeitos da

sentença.177

A oposição consiste em ação de conhecimento proposta pelo

opoente contra as partes em processo pendente, formando entre estas

litisconsórcio passivo necessário, deduzindo pedido sobre a coisa ou o

direito objeto da lide, nos moldes do art. 56 do CPC. Por ser parte, já que

formulou pedido, tem o opoente na ação de oposição legitimidade recursal.

A nomeação à autoria visa à correção da legitimidade passiva

em demanda em que o nomeante, por ser o detentor da coisa ou por ter

praticado o ato por ordem ou cumprimento de instruções de terceiros em

demanda indenizatória, indica o verdadeiro legitimado passivo.

177 Cf. Genacéia da Silva Alberton, Assistência litisconsorcial, p. 103.

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129

Somente após a aceitação do autor da demanda e do próprio

nomeado, é que este assume a qualidade de parte passiva, estando

legitimado para interposição de recurso.

Consiste a denunciação à lide em ação secundária que pode ser

ajuizada tanto pelo autor como pelo réu, visando à condenação do

denunciado, caso venha a sucumbir na ação principal.

Na ação secundária, o denunciado tem legitimidade recursal

por ser parte, já que contra si foi formulado pedido. Na ação principal, o

denunciado tem legitimadade recursal por ter sido considerado pelo CPC,

nos arts. 74 e 75, litisconsorte do denunciante.

Consiste o chamamento ao processo em ação condenatória

proposta pelo devedor solidário que visa a acertar a responsabilidade do

devedor principal ou dos demais co-devedores solidários, uma vez que foi

acionado pela totalidade da dívida.

O que chama ao processo, deduzindo pedido contra os

chamados, detém legitimidade recursal por ser parte. O chamado também

possui legitimidade recursal por ser parte na ação de chamamento e

assistente litisconsorcial na ação principal.

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130

O adquirente ou o cessionário da coisa ou do direito litigioso,

havendo consentimento da parte contrária, pode intervir no feito como

parte, de acordo com o § 1º do art. 42 do CPC. Mesmo que não haja o

consentimento da parte contrária, aqueles podem intervir no feito como

assistente, tendo, portanto, legitimidade recursal, nos moldes do § 2º do

citado preceito. O sucessor, a título singular ou universal, por substituir a

parte, tem legitimidade recursal.

O Ministério Público, quer atue como parte, quer como fiscal

da lei, possui legitimidade para recorrer, nos moldes do § 2º do art. 499 do

CPC, podendo interpor os mesmos recursos disponíveis às partes,

porquanto a norma não consignou qualquer restrição.

Apesar de o recurso adesivo não poder ser considerado um

recurso autônomo, mas apenas forma especial de interposição, o Ministério

Público, quando fiscal da lei, não possui legitimadade para interpô-lo, uma

vez que não pode ser considerado como parte vencida, nos moldes do art.

500 do CPC.178-179-180

178 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 316; José Afonso da Silva, Do recurso adesivo no processo civil brasileiro, p. 175. 179 Contra: Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 258. 180 “Recurso especial – Ministério Público – Legitimidade - O Ministério Público tem legitimidade para recorrer, seja como parte ou fiscal da lei. Os recursos são os mesmos de que dispõem as partes. A única ressalva decorre do art. 500 do CPC, quanto ao recurso adesivo” (STJ-2ª Turma, REsp 6.795-SP, rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, j. 17.12.1990, v.u., DJ 04.03.1991 PG:01981).

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131

Mesmo que não tenha intervido no feito, o Ministério Público,

convencendo-se da obrigatoriedade da sua presença como fiscal da lei,

possui legitimidade para interpor recurso, sob pena de inaplicabilidade da

regra do art. 82 do CPC.181

Cessada a causa que torna obrigatória a sua intervenção, não

detém legitimidade recursal o Ministério Público.182

Ainda que o direito discutido em juízo seja disponível, não fica

desconfigurada a legitimidade recursal do Ministério Público, quando atua

como fiscal da lei, visto que a lei não contemplou qualquer restrição.183

A legitimidade recursal do Ministério Público não está

condicionada à interposição de recurso pelas partes, isto é,

independentemente do fato de a parte ter recorrido da decisão, possui a

citada instituição legitimidade recursal.

181 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 294; Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 258. 182 “Civil/Processual. Execução por honorários de advogado em ação de usucapião. Ministério Público. Legitimidade para recorrer. Improcedente o pedido de usucapião cessa a causa de intervenção obrigatória do MP (art. 499 CPC), não tendo o seu representante legitimidade para recorrer de decisão, proferida em sede de execução por honorários de advogado, no que tange a incidência de correção monetária sobre os mesmos, questão apenas de interesse das partes e do advogado (art. 99 par-1 da Lei 4215/63)” (STJ-3ª Turma, Resp 2.852-PR, rel. Min. Dias Trindade, j. 18.12.1990, v.u., DJ 25.02.1991, p. 1.466). 183 Contra: “Processual – Recurso do MP – Direitos disponíveis. Falta de legitimidade ao Ministério Público para recorrer em processo versando direitos disponíveis por segurado devidamente representado por advogado com amplos poderes, inclusive para desistir de ações, acordar, discordar, adjuciar, remir, receber e dar quitação. Ao Ministério Púlbico não cabe substituir a parte, contrariando a vontade dela. Na qualidade de fiscal da lei não pode recorrer o Ministério Público pela parte capaz e legitimamente representada por advogado. Recurso improvido” (STJ-1ª Turma, AGA 9.819-RJ, rel. Min. Garcia Vieira, j. 20.05.1991, v.u., DJ 24.06.1991, p. 8.620).

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Por essa razão é censurável o entendimento em defesa da

ilegitimidade recursal do Ministério Público em ação acidentária, quando o

autor, embora devidamente representado por advogado, não recorra da

decisão, nos termos da súmula 99 do STJ: “O Ministério Público tem

legitimidade para recorrer no processo em que atuou como fiscal da lei,

ainda que não haja recurso da parte”.

Na hipótese de as partes realizarem transação, o Ministério

Público detém legitimidade para interpor recurso contra a decisão que a

homologa.184-185-186

Por se tratar de direito disponível, o Ministério Público, ao

recorrer dessa decisão, deve demonstrar que o referido negócio contrariou a

ordem jurídica, sendo vedada a censura sob a ótica da oportunidade e

conveniência.

184 Cf. Flávio Cheim Jorge, Apelação cível, p. 112. 185 “Processual civil. Acidente do trabalho. Liquidação de cálculo. Ministério Público. Legitimidade para recorrer in concreto. Recurso especial improvido. I - O recorrente especial (INSS) pondera que houve acordo entre o acidentado, através de seu advogado, e a autarquia previdenciária, no tocante aos cálculos. Assim, ao Ministério Público falece legitimidade recursal (agravo de instrumento). II - O Ministério Público tem legitimidade recursal nos termos do caput, e parag. 2, do art. 499 do CPC. No caso em foco, ele recorre como custos legis. Seu recurso não se faz in abstracto, mas in concreto. Mesmo com a anuência do acidentado, o curador de acidentes do trabalho teve por lesivo ao acidentado o índice aplicado nos cálculos. III – Recurso especial improvido” (STJ-6ª Turma, REsp 35.314-SP, rel. Min. Adhemar Maciel, j. 21.09.1993, v.u., DJ 11.10.1993, p. 21.350); “Processual civil. Ação acidentária. Sentença homologatória de conta de liquidação. Apelação do Ministério Público pretendendo a aplicação do índice integral. Não conhecimento. Recurso Especial. Art. 499, par-2 do CPC. – Além de legitimidade, tem o Ministério Público em recorrer de todas as decisões proferidas contra a parte sob sua proteção” (STJ-2ª Turma, REsp 5.507-SP, rel. Min. Américo Luz, j. 14.11.1990, v.u., DJ 10.12.1990, p.14.799). 186 Contra: “Acidente do trabalho – Recurso do Ministério Público. O Ministério Público tem legitimidade para recorrer como parte ou como fiscal da lei, mas é necessário o interesse da parte em nome de quem recorre, principalmente, quando não há interesse público atingido e se trata de direito disponível” (STJ-1ª Turma, REsp 6.945-SP, rel. Min. Garcia Vieira, j. 20.02.1991, v.u., DJ 18.03.1991, p. 2.782).

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133

Apesar de assente, no direito positivo, o brocardo da res inter

alios judicata aliis non praeiudicare (“A sentença faz coisa julgada às

partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros”

– CPC, art. 472), tendo presente a possibilidade de repercussão de efeitos

da decisão em pessoas alheias à relação jurídica processual, o legislador

editou normas regulando a atuação desses terceiros afetados por decisão

proferida em processo alheio, tal como se dá nas diversas modalidades de

intervenção de terceiros (assistências simples e liticonsorcial, oposição,

nomeação à autoria, denunciação à lide, chamamento ao processo), na ação

de embargos de terceiro, na interposição de recurso por terceiro e na

intervenção de credores no concurso de preferências (CPC, arts. 711 e

712).

Em tese de doutoramento, Donaldo Armelin afirma que

“(...) o processo especializou determinadas normas para regrar a

atuação desses terceiros afetados pelos efeitos de processo

alheio, na tentativa de eliminar ou minimizar tais efeitos. Essas

formas de atuação dos terceiros, rotuladas de intervenção de

terceiros, procuram, sob certa angulação, tornar eficaz aquele

famoso princípio supra citado, que impõe a limitação dos efeitos

do processo às partes que dele participam sem pretender,

contudo, eliminá-los por completo, já que são estes, como se

acentuou supra, irremovíveis na sua totalidade, pois derivam de

vinculações inerentes às próprias relações jurídicas. Daí porque

não são todos os efeitos colaterais do processo coibíveis pelas

formas de intervenção de terceiros, mas estas são restritas

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134

àqueles aos quais o sistema jurídico admitiu seu uso, face a

relevância do atingimento da sua esfera jurídica”. 187

No mesmo sentido, averba Enrico Tullio Liebman, para quem

“Da combinação dos dois princípios, positivo e negativo, deriva,

em resumo, a classificação dos terceiros em três categorias: a)

terceiros juridicamente indiferentes, estranhos à relação e

sujeitos de relação compatível com a decisão; para estes logram

aplicação combinada e atenuada ambos os princípios, de tal

modo que é a sentença juridicamente irrelevante para eles, mas

como vale como coisa julgada para outrem, e pode produzir

mero prejuízo de fato; b) terceiros juridicamente interessados,

não sujeitos à exceção de coisa julgada, são os titulares de

relação incompatível coma sentença; para estes logra aplicação

exclusiva o princípio negativo e, em conseqüência, podem

desconhecer a coisa julgada que se formou entre as partes; c)

terceiros juridicamente interessados, sujeitos à exceção de coisa

julgada, são os que se encontram subordinados à parte com

referência à relação decidida; para estes logra aplicação

exclusiva o princípio positivo, e a coisa julgada que se formou

entre as partes pode estender-se-lhes como sua própria”.188

O conceito de terceiro é obtido por exclusão com o de parte,

isto é, quem não for parte, ou deixar de ter sido anteriormente à prolação da

decisão, é considerado terceiro.

Entretanto, esse conceito não é satisfatório, visto que há várias

espécies de terceiros. Adotando classificação feita por Donaldo Armelin, os 187 Embargos de terceiro, p. 3. 188 Eficácia e autoridade da sentença e outros escritos sobre a coisa julgada, p. 92.

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terceiros podem ser classificados como: totalmente indiferentes à decisão

proferida em processo alheio; prejudicados de fato pela decisão; atingidos

juridicamente, mas não alcançados pela coisa julgada; e atingidos

juridicamente e alcançados pela coisa julgada.189

Para as duas primeiras categorias, o direito positivo não previu

meios de atuação, porque nada juridicamente existe a ser protegido. Às

duas últimas, porém, em face da relevância e do interesse potencial,

facultou o direito positivo meios de atuação do terceiro para excluir, ou

minimizar, os efeitos deletérios derivados de decisões proferidas em

processo alheio.

O terceiro é autorizado a utilizar-se dos meios regulados pelo

legislador para intervir em processo alheio, desde que seja atingido

juridicamente pela decisão, sendo ou não alcançado pela coisa julgada. É o

que prescreve o CPC, no art. 50, em relação à assistência simples:

“Pendendo uma causa entre duas ou mais pessoas, o terceiro, que tiver

interesse jurídico em que a sentença seja favorável a uma delas, poderá

intervir no processo para assisti-la”.

189 Ibidem, p. 25.

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136

De acordo com o art. 499 do CPC, a legitimação recursal do

terceiro decorre do prejuízo, direto ou indireto, derivado da decisão

judicial. Entretanto, dispõe o § 1º daquele preceito que “Cumpre ao terceiro

demonstrar o nexo de interdependência entre o seu interesse de intervir e a

relação jurídica submetida à apreciação judicial”.

Verifica-se que, à configuração da legitimidade recursal do

terceiro, há o exame prévio acerca do prejuízo derivado da decisão. Vale

dizer, para ter legitimidade recursal, o terceiro deve demonstrar o nexo de

interdependência entre a relação jurídica de que é titular e a relação jurídica

litigiosa, de cuja decisão resulta prejuízo.190

Tendo presente a noção de que a legitimidade recursal e o

interesse em recorrer são categorias jurídicas distintas – trata-se de dois

requisitos de admissibilidade dos recursos –, à configuração da

legitimidade recursal, é irrelevante a investigação acerca do prejuízo

decorrente da decisão.

Com precisão, Teresa Arruda Alvim Wambier arremata que

“É justamente o nexo de interdependência que existe entre a

esfera do terceiro e a relação jurídica ‘sub judice’ que

confere legitimidade para que este terceiro ingresse com

190 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 291; Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 258.

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recurso em processo alheio, e à primeira vista se tem a

impressão de que estão mesclados interesse e legitimidade,

na medida que esta nasceria daquele, guardando ambos, não

obstante esta quase identificação nesta circunstância,

independência conceitual, como categoria. (...) Não nos

parece, entretanto, que a legitimidade do terceiro nasça de

seu interesse, como pode parecer à primeira vista. Pensamos

que, porque o terceiro teria, em tese, legitimidade para

recorrer (enquanto terceiro) é que os reflexos da decisão, em

sua esfera, são considerados como prejuízo jurídico, mas

dependendo, é claro, do sentido em que foi proferida a

decisão, e podem gerar interesse em intervir no feito, na fase

recursal. A legitimação do terceiro é o resultado da sua

posição com respeito à relação jurídica objeto do processo

pendente”. 191

A legitimidade recursal do terceiro reside no nexo de

interdependência existente entre as relações jurídicas de que é titular e a

litigiosa, independentemente da constatação de efetivo prejuízo, donde se

infere que a regra contida no § 1º do art. 499 do CPC disciplina a

legitimidade para recorrer do terceiro.192

191 Os agravos no CPC brasileiro, p. 347-348. 192 “Recurso – Terceiro prejudicado. O interesse que justifica a intervenção do terceiro é o jurídico, reclamando-se a existência de vínculo entre a relação jurídica litigiosa e aquela de que é titular o terceiro” (STJ-3ª Turma, REsp 28.857-PR, rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 23.11.1993, v.u., DJ 07.02.1994, p.1.171); “Recurso especial. Terceiro prejudicado. Legitimidade para recorrer. Ação intitulada como declaratória. Nulidade de decreto estadual. Desapropriação. Prescrição e litisconsórcio necessário. Decreto n. 20.920/32 e artigos 36 e 47 do Código de Processo Civil. Recurso provido para declarar a prescrição. O terceiro prejudicado, demonstrado o nexo entre o seu interesse e a relação jurídica posta em juízo, tem legitimidade para recorrer. Embora rotulada como declaratória, ação tem como objetivo, na verdade, desconstituir decreto estadual que serviu de suporte a desapropriação de imóvel” (STJ-2ª Turma, REsp 24.232-MA, rel. Min. Hélio Mosimann, j. 15.06.1994, v.u., DJ 15.08.1994, p. 20.322); “Recurso – Terceiro prejudicado. Para que seja admissível, necessário se demonstre que a decisão recorrida afetará, direta ou indiretamente, relação jurídica de que o terceiro é titular” (STJ-3ª Turma, REsp 19.802-MS, rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 05.05.1992, v.u., DJ 25.05.1992, p. 7.397).

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138

Constadada a legitimidade recursal do terceiro, o órgão

julgador averiguará, num segundo momento, se presente está o interesse

recursal, que é traduzido na necessidade de interposição do recurso, a fim

de ser obtido um provimento jurisdicional útil, isto é, mais favorável do

que a decisão recorrida.

Isso porque, não havendo o liame entre as relações jurídicas, a

litigiosa e a de que é titular o terceiro, os efeitos da decisão não têm o

condão de atingir, juridicamente, a esfera deste.

Como a norma não fez qualquer ressalva, o terceiro dispõe dos

mesmos recursos que as partes. Apesar de o recurso adesivo não se tratar

de recurso autônomo, mas apenas de uma forma especial de interposição, o

terceiro não possui legitimidade para interpô-lo, uma vez que apenas as

partes sucumbentes parcialmente podem-no interpor.193

O recurso interposto pelo terceiro consiste numa modalidade

de intervenção de terceiros em grau recursal. Como é proibido inovar neste,

o terceiro tem que impugnar a lide retratada na decisão recorrida, sendo

defeso incluir outra lide ou formular pretensão contra as partes, a fim de,

indiretamente, defender seu direito.

193 Cf. José Afonso da Silva, Do recurso adesivo no processo civil brasileiro, p. 174.

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139

Diante do liame que deve existir entre as relações jurídicas de

que é titular o terceiro e a posta em juízo, a esfera jurídica daquele tem o

potencial de ser atingida, direta ou indiretamente, pelos efeitos da decisão,

sendo ou não alcançada pela coisa julgada.194

Por isso que parcela da doutrina defende o entendimento de

que o terceiro legitimado a recorrer é aquele que tem interesse jurídico, não

um mero interesse de fato ou econômico, em impugnar a decisão que, em

tese, o habilitaria a ser assistente simples no procedimento de primeiro grau

de jurisdição.195

O listisconsorte necessário não citado na ação, apesar de não

ser alcançado pela autoridade da coisa julgada, por se derivar a decisão

de processo inexistente, pode recorrer como terceiro, em virtude do

liame entre a relação jurídica de que é titular e a que é discutida em

juízo, cujos efeitos têm o condão de atingir a sua esfera jurídica.196

194 Cf. Donaldo Armelin, Embargos de terceiro, p. 25; Vicente Greco Filho, Da intervenção de terceiros, p. 72. 195 Cf. Arruda Alvim, Comentários ao Código de Processo Civil, v. III, p. 143; Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 259; Teresa Arruda Alvim Wambier, Os agravos no CPC brasileiro, p. 362-363. 196 “Recurso especial. Legitimidade para manifestá-lo do litisconsorte necessário que não participou da causa. Desnecessidade, em tal caso, de prequestionamento. Processual civil. Embargos à arrematação. Indispensabilidade da presença do arrematante como litisconsorte necessário (C.P.C., art. 47, parágrafo único). Nulidade do processo. I - O litisconsorte necessário pode manifestar recurso especial, mesmo que não tenha participação da causa, fazendo-o na qualidade de terceiro prejudicado (C.P.C., art. 499, ‘caput’ e parag. 1). II – Na hipótese mencionada, é dispensável o prequestionamento, pois o recorrente só entrou nos autos após a prolação do acórdão, para insurgir-se contra ausência da sua citação como litisconsorte

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O terceiro que poderia ter sido assistente simples (assistência

simples), assistente liticonsorcial (assistência litisconsorcial), nomeado

(nomeação à autoria), opoente (oposição), denunciado (denunciação à lide),

chamado (chamamento ao processo) no procedimento de primeiro grau de

jurisdição, em razão do assinalado liame entre a relação jurídica de que é

titular e a discutida em juízo, possui legitimitidade recursal.

Há controvérsia se o juiz, os auxiliares do juízo e o advogado

podem ser considerados como terceiros detentores de legitimidade recursal.

Em regra, o juiz não pode ser considerado terceiro legitimado a recorrer,

porquanto inexiste liame entre as relações litigiosa e a de que é titular, nem

tampouco pode ser considerado parte, visto que não formula pedido, nem

tem contra si pedido formulado.

Na exceção de impedimento ou de suspeição, em sendo

acolhido o requerimento nela formulado, o juiz é condenado ao pagamento

das custas e das despesas processuais – havendo atingimento da sua esfera

jurídica –, tendo legitimidade em dela recorrer não como terceiro, uma vez

necessário. III – É indispensável a presença do arrematante, na qualidade de litisconsorte necessário, na ação de embagos à arrematação, porquanto o seu direito será discutido e decidido pela sentença. IV – É pacífica a jurisprudência no sentido de que a falta de citação do litisconsorte necessário implica nulidade do processo. V – Recurso especial conhecido e parcialmente provido” (STJ-2ª Turma, REsp 18.550-SP, rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, j. 20.10.1993, v.u., DJ 22.11.1993, p. 24.931).

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que a lide não lhe diz respeito, mas como parte, cuja acepção centra-se,

também, na sujeição aos efeitos jurídicos da decisão.197

Os auxiliares do juízo – tal como o perito, o contador, os

assistentes técnicos – não possuem legitimidade recursal, uma vez que não

são partes, nem terceiros legitimados a recorrer, porquanto não formulam

pedido, nem têm contra si a formulação de pedido, e inexiste liame entre as

relações de que é titular e a litigiosa, respectivamente.198-199-200

Entretanto, nas exceções de impedimento e de suspeição, os

auxiliares do juízo podem recorrer como parte, porquanto se sujeitam aos

efeitos da decisão judicial.

197 Cf. Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery, Código de processo civil comentado e legislação processual civil extravagante em vigor, p. 975; Teresa Arruda Alvim Wambier, Os agravos no CPC brasileiro, p. 370. 198 Cf. Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 260. 199 “Processual civil. Perito. Legitimidade para recorrer. Ausência de interesse. CPC. Arts. 125, 139 e 499. O perito, na forma do artigo 139, CPC, é auxiliar do juiz, e como tal, deverá cumprir sua função com zelo, isenção, desempenho e honestidade, ou como diz a lei, conscienciosamente. Os preceitos ditados pelo art. 125 do CPC não são mera decoração, devendo o juiz exercer severa vigilância na tramitação do processo, com ações de repercussão direta sobre seus auxiliares, no sentido de que se faça cumprir estrita observância dos preceitos legais. Perito não é parte, muito menos tem interesse na demanda, não podendo intervir como terceiro interessado, dada a ausência de legitimidade para tanto (CPC, art. 499). Recurso não conhecido” (STJ-3ª Turma, REsp 32.301-SP, rel. Min. Cláudio Santos, j. 31.05.1994, v.u., DJ 08.08.1994, p. 19.562); “Recurso. Terceiro prejudicado. Perito. O perito não possui legitimidade para recorrer, visando ao aumento de sua remuneração. O prazo do recurso deferido ao terceiro é igual ao das partes. Recurso especial não conhecido” (STJ-4ª Turma, REsp 12.426-SP, rel. Min. Barros Monteiro, j. 14.09.1992, v.u., DJ 26.10.1992, p. 19.054). 200 Contra: “Processual civil. Assistente técnico. Legitimidade para recorrer. C.P.C., art. 499, parágrafo 1. I - O assistente técnico tem legitimidade para recorrer da sentença de liquidação, se, no cálculo, não foram incluídos os índices corretivos por ele almejados. II – Considera-se haver prejuízo do terceiro quando o ato decisório diretamente ou apenas por repercussão reflexa, necessária ou secundária, ofende o direito deste (Amaral Santos). É indispensável, porém, que se trate de prejuízo jurídico. III – Recurso especial não conhecido” (STJ-2 Turma, Resp 61.789-PR, rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, j. 16.08.1995, v.u., DJ 04.09.1995, p. 27.823).

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É sabido que, de acordo com os arts. 22 e 23 da Lei n.º

8.906/94, os honorários advocatícios, fixados por arbitramento judicial e os

decorrentes da sucumbência, consistem em direito autônomo do advogado,

cuja execução pode ser processada nos próprios autos da ação em que ele

tenha atuado.

No processo de execução de honorários advocatícios, o

advogado possui legitimidade recursal para impugnar decisões nele

proferidas, já que é parte ativa.

No processo do qual resulte condenação em honorários

advocatícios, de acordo com o conceito tradicional, o advogado não pode

ser considerado parte, tendo em vista que não formulou pedido, nem contra

si foi formulado pedido.201 Nem tampouco pode ser considerado terceiro,

uma vez que não há liame entre a relação jurídica posta em juízo e a de que

é titular, isto é, o direito material discutido não lhe diz respeito.

Entretanto, a sentença que fixa os honorários advocatícios

atinge, diretamente, a esfera jurídica do advogado, pois decide sobre seu

direito, inclusive com formação de coisa julgada material. Pelo fato de a

sentença dispor sobre direito seu, o advogado deve ser considerado parte,

201 Contra: Yussef Said Cahali, Honorários advocatícios, p. 804.

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143

tendo, portanto, legitimidade recursal.202 Negá-la significa frustar o

princípio da inafastabilidade da prestação jurisdicional, já que ele não

disporia de outro meio para impugnar a sentença que fixa os seus

honorários.

3.3 – INTERESSE RECURSAL

O exercício da atividade jurisdicional não pode ser inócuo,

sem que decorram conseqüências concretas da aplicação do direito

objetivo ao caso concreto. Por isso impõe o CPC que o autor da ação

demonstre o interesse processual que se traduz no binômio necessidade-

utilidade do provimento jurisdicional solicitado, sob pena de extinção

da ação sem julgamento do mérito.

Pelo mesmo motivo, é indispensável que o recorrente

demonstre o interesse em recorrer para efeito de admissibilidade do

recurso, nos termos do art. 499 do CPC, segundo o qual “O recurso

pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo

Ministério Público”.

202 Cf. Teresa Arruda Alvim Wambier, Os agravos no CPC brasileiro, p. 365.

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144

Com base em interpretação literal do citado preceito, parcela

da doutrina defende o entendimento de que o interesse em recorrer resulta,

tão-somente, da sucumbência, do gravame, do prejuízo, da lesão derivada

da decisão, devendo tal critério ser analisado do ponto de vista objetivo,

não bastando, apenas, a mera afirmação do recorrente de que da decisão

restou prejuízo.203-204

A partir dessa regra, defende-se o entendimento de que a

sucumbência estaria caracterizada ante a discrepância entre o que foi

requerido e o que restou decidido na decisão.

Com relação ao autor, o requerido consiste no pedido

formulado na petição inicial, enquanto que, com relação ao réu, o requerido

consiste na solicitação feita na contestação.

203 Cf. Enrique Vescovi, Los recursos judiciales y demás medios impugnativos en Iberoamérica, p. 40; Giuseppe Chiovenda, Instituições de Direito Processual Civil, vol. 3, p. 301; José Frederico Marques, Manual de Direito Processual Civil, vol. III, p. 171; Moacyr Amaral Santos, Primeiras linhas de direito processual civil, 3º vol., p. 82; Vicente Greco Filho, Direito Processual Civil Brasileiro, 2º vol., p. 301. 204 “EREsp — Processual Civil — Cálculo — Liquidação — Conta — Impugnação — Recurso — O interesse de recorrer surge no momento em que a decisão judicial lhe gera gravame (...)” (STJ - Corte Especial, EREsp 22.432-7-RS, rel. Min. Vicente Cernicchiaro, maioria, j. 25.05.95, RSTJ 77/15); “Processual — Recurso especial — Sucumbência — Acórdão que desprezando preliminar suscitada pela recorrente satisfez todas as suas pretensões — Falta de interesse — Recurso não conhecido. I — O Recurso especial, como todos os demais, tem como um de seus pressupostos a sucumbência: só a parte vencida tem interesse em recorrer (CPC, art. 499). II — A simples rejeição dos argumentos desenvolvidos pela parte não lhe outorga interesse para recorrer. É necessário que o dispositivo da decisão seja parcial ou totalmente contrário ao recorrente. Ressalva-se a hipótese de recurso adesivo” (STJ-1ª Turma, REsp 72.708-SP, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, v.u., j. 13.12.95, RSTJ 23/87); “Se a sentença acolher o pedido subsidiário, e não o principal, o autor pode apelar, porque não teve sua pretensão inteiramente acolhida” (RT 610/67); “Aquele que se saiu vencedor na ação não tem interesse em recorrer, não podendo ser conhecido o recurso por falta de prejuízo causado pela sentença ao recorrente” (1º TACivSP-7ª Câmara, Ap 596.068-3, rel. Juiz Álvares Lobo, v.u., j 14.03.95). No mesmo sentido: RTJ 66/204, 71/749, 72/574, 74/391, 76/512, 104/779, 148/928, 156/1.1018; STF-JTA 62/220; RF 71/102; RT 604/78, JTA 94/295; RJTJESP 64/90.

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145

Diante do julgamento de improcedência do pedido, exsurge a

sucumbência do autor, visto que restou vencido na demanda; já com

relação ao réu, desde que tenha “requerido” na contestação a

improcedência do pedido deduzido pelo autor, da decisão que julga

procedente o pleito resulta prejuízo, o que o torna vencido na demanda.

A esse conceito, a doutrina denomina de sucumbência formal,

que consiste justamente na discrepância entre o requerido e a parte

dispositiva da decisão.205

Com base, ainda, no conceito de sucumbência formal, resulta a

exigência de que a impugnação deve ser dirigida contra a parte dispositiva

da decisão, isto é, não se afigura admissível, em regra, a recorribilidade

contra apenas os fundamentos da decisão.

A parte, sendo totalmente vitoriosa na demanda, mesmo que

não concorde com os seus fundamentos, de fato ou de direito, não tem

interesse em recorrer, haja vista a ausência de sucumbência.206-207

205 Cf. Laura Salvaneschi, L’interesse ad impugnare, p. 47 e ss; Salvatore Satta, Diritto processuale civile, p. 417. 206 Cf. Eduardo Arruda Alvim, Curso de Direito Processual Civil, vol. 2, p. 106-107; Enrico Tullio Liebman, Manuale di diritto processuale civile, v. II, p. 265; Enrique Vescovi, Los recursos judiciales y demás medios impugnativos en Iberoamérica, p. 41; José Carlos Barbosa Moreira, O Juízo de

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Ocorre que, em determinados casos, o critério da sucumbência

formal não é suficiente para configurar o interesse em recorrer. O

Ministério Público, quando atua como fiscal da lei, tendo em vista que não

formula pedido, não pode ser considerado vencido na demanda, não tendo,

por conseguinte, interesse em recorrer. A mesma conclusão se impõe aos

terceiros prejudicados e ao réu revel.

A deficiência do critério do gravame ou da sucumbência como

identificador do interesse em recorrer reside na limitação do confronto a

um plano meramente retrospectivo, que coteja a decisão com a situação das

partes antes da prolação da decisão.208

Parte da doutrina formula, a partir de uma ótica prospectiva, o

conceito de sucumbência material, baseada na noção de necessidade de

interposição de recurso, a fim de se obter uma decisão mais favorável do

ponto de vista prático do que a derivada da decisão recorrida.

Admissibilidade no Sistema dos Recursos Civis, p. 77; Leo Rosenberg, Tratado de derecho procesal civil, tomo II, p. 361; Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 264-265. 207 “(...) O recurso não se presta à satisfação de vaidade intelectual ou convicção doutrinária. Seu escopo é a reforma do dispositivo da decisão” (STJ-1ª Turma, REsp 72.708-SP, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 13.12.95, RSTJ 83/72); “Ao litigante que obteve tudo quanto poderia obter não será dado recorrer, por falta de interesse. Entretanto, não se reformará decisão, cuja conclusão é correta, apenas porque acolhido fundamento errado” (RSTJ 34/243); “Não há interesse em recorrer apenas contra os fundamentos da decisão” (JTACivSP 108/323). 208 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, O Juízo de Admissibilidade no Sistema dos Recursos Civis, p. 75.

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Em obra específica sobre o tema, Laura Salvaneschi afirma

que o interesse em recorrer reside na

“(...) possibilità per il soggeto impugnante di ottenere, per il

tramite del proceso di gravame, un risultato di vantaggio

incidente nella sua sfera giuridica” 209

O interesse em recorrer, a partir do conceito de sucumbência

material, reside, portanto, no binômio necessidade-utilidade do provimento

jurisdicional solicitado. Para a obtenção do resultado prático a que o

recorrente almeja deve ser necessária a interposição do recurso. Por

utilidade, deve-se entender a possibilidade de obtenção de uma situação

mais proveitosa ou vantajosa, do ponto de vista prático, do que a decorrente

da decisão recorrida.210

No caso de decisão que extingue o processo sem análise

meritória, discute-se se o réu tem interesse em dela recorrer. Se se analisar,

tão-somente, a noção de sucumbência formal, infere-se que aquele não tem

interesse recursal, já que não é vencido na demanda.

209 L’interesse ad impugnare, p. 270. No mesmo sentido: Enrico Redenti, Diritto Processuale Civile, vol. 2, p. 330; José Carlos Barbosa Moreira, O Juízo de Admissibilidade no Sistema dos Recursos Civis, p. 75; Machado Guimarães, Limites objetivos do recurso de apelação, p. 87. 210 “Um dos requisitos genéricos de admissibilidade dos recursos é que a parte tenha interesse em recorrer. Requer-se dentro deste pressuposto que o recorrente possa esperar, em tese, situação mais vantajosa do que aquela advinda da decisão impugnada” (STJ-1ª Turma, REsp 34.578-2-SP, rel. Min. César Asfor Rocha, j. 13.12.93, v.u., RDC 70/136); “Falta interesse ao recorrente quando seu recurso não lhe proporciona situação mais vantajosa que a decretada pela decisão recorrida” (RSTJ 69/247); “Considera-se prejudicado o recurso manifestado pela parte se, posteriormente, o provimento de outro recurso por ela interposto lhe assegura situação mais favorável” (RSTJ 73/336); “Nos termos da melhor doutrina, ao réu assiste interesse em apelar da sentença que extingue o processo sem julgamento do mérito, objetivando obter com o processo a sentença de improcedência” (STJ-RT 717/252).

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No entanto, essa conclusão não deve prevalecer. Mesmo que

não seja vencido, o réu tem interesse recursal, desde que vise à obtenção de

uma decisão de improcedência do pedido, que é mais vantajosa do ponto de

vista prático do que a que extingue o processo sem análise meritória, haja

vista a formação da coisa julgada material, tornando imutável e indiscutível

a parte dispositiva da decisão.211-212

Idêntica é a conclusão, ainda que o réu tenha argüido matéria

preliminar na contestação que implicasse a extinção do feito sem análise

meritória, uma vez que, em face do princípio da eventualidade, deve alegar

todas as matérias de defesas, mesmo que contraditórias entre si.213-214

Na hipótese de decisão de improcedência do pedido, o recurso

interposto pelo réu, objetivando uma decisão sem análise do mérito ou uma 211 Cf. Flávio Cheim Jorge, Apelação cível, p. 131; José Carlos Barbosa Moreira, O Juízo de Admissibilidade no Sistema dos Recursos Civis, p. 75; José Frederico Marques, Manual de Direito Processual Civil, vol. III, p. 172; Laura Salvaneschi, L’interesse ad impugnare, p. 358-359; Leo Rosenberg, Tratado de derecho procesal civil, tomo II, p. 361; Nelson Nery Junior, “Extinção do processo sem julgamento do mérito – Legitimidade recursal do réu”, in RePro, n. 19, p. 173-178. 212 “Nos termos da melhor doutrina, ao réu assiste interesse em apelar da sentença que extingue o processo sem julgamento do mérito, objetivando obter com o processo a sentença de improcedência” (STJ-RT 717/252); “Civil e Processo Civil. Interesse recursal. Vencedor da demanda. Possibilidade. Seguro. Acidente no trabalho. Prescrição. Prazo. Enunciado n. 101, Súmula/STJ. Termo a quo. Ciência inequívoca. Perícia. Caso concreto. Microtraumas. Cobertura securitária. Orientação da Turma. Doutrina. Recurso da seguradora desacolhido e provido do autor. I - Em regra, apenas o vencido tem interesse em recorrer, sabido que o interesse recursal envolve o binômio necessidade-utilidade do provimento judicial. É possível admitir-se, no entanto, a interposição de recurso pela parte vencedora, a depender do resultado prático que seu provimento ensejar (...)” (STJ-4ª Turma, REsp 182.944-SP, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, j. 23.05.2000, v.u., DJ 07.08.2000, p. 110). 213 Cf. Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teorial geral dos recursos, p. 264. 214 Contra: “Recurso especial. Interesse em recorrer. Recurso especial apresentado pela parte excluída da relação jurídica processual a seu próprio requerimento, não é de ser conhecido (...)” (STJ-4ª Turma, REsp 17.193-DF, rel. Min. Athos Carneiro, j. 14.09.1992, v.u., DJ 05.10.1992, p. 17.107).

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de mérito com acolhimento de uma prejudicial – prescrição –, é

inadmissível por ausência do interesse recursal, porquanto da reforma da

decisão não resulta proveito do ponto de vista prático.

Mesmo que a parte autora tenha interposto recurso, ainda

assim faltaria ao réu interesse recursal, tendo em vista a ausência de

necessidade, porquanto poderia argüir a matéria de ordem pública nas

contra-razões de recurso.215

Outra hipótese é a relativa à admissibilidade do recurso

interposto pelo réu contra sentença de improcedência do pedido, por

insuficiência de provas, em ação popular ou em ação coletiva regulada pelo

CDC (Lei n.º 8.078/90), visando à improcedência do pedido sem que seja

arrimada na ausência de provas.

215 “Processo Civil – Art. 515, CPC – Preliminar de coisa julgada rejeitada pela sentença – Mérito favorável a quem a alegou – Falta de interesse para recorrer – Ausência de preclusão – Apelação da parte vencida – Devolução de toda a matéria discutida, inclusive da preliminar. A parte vitoriosa, em primeira instância, quanto ao mérito da causa, não tem interesse para recorrer por não ter sido acolhido o seu pedido preliminar de coisa julgada. Ausente esse requisito de admissibilidade do recurso, não se opera, quanto a esse aspecto, a preclusão. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento de todas as matérias discutidas na causa, com exceção das preclusas. Assim, deve o tribunal, em sede de recurso apelatório, apreciar a preliminar de coisa julgada, sobretudo quando a parte vitoriosa em primeiro grau ficou vencida na apelação, por ter a sentença sido reformada no seu mérito” (STJ-1ª Turma, REsp 60.637-3-RS, rel. Min. Cesar Asfor Rocha, j. 20.05.1995, RSTJ 84/100); “Seguro de vida em grupo. Pretensão julgada improcedente, com recurso não admitido. Recurso da seguradora sobre a prescrição. Falta de interesse para recorrer. Precedentes da Corte. 1. A Corte tem diversos precedentes afirmando que a parte vitoriosa em relação ao mérito, em segundo grau, com a improcedência da ação, não tem interesse em recorrer para desafiar a prescrição. 2. Recurso especial não conhecido” (STJ-3ª Turma, REsp 167.679-SP, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j. 05.10.1999, DJ 06.12.1999, p. 82); “Processual – Recurso Especial - Sucumbência – Acórdão que desprezando preliminar suscitada pela recorrente, satisfez todas suas pretensões – Falta de interesse. Recurso não conhecido” (STJ-1ª Turma, REsp 72.708-SP, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 13.12.1995, DJ 04.03.1996, p. 5.371; RSTJ 83/71).

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Em princípio, pode o intérprete aduzir que, como não houve

sucumbência formal, falece interesse em recorrer ao réu, além de estar

recorrendo contra os fundamentos e não contra a parte dispositiva da

decisão. Em sendo mantida por insuficiência de provas a sentença de

improcedência de ação popular ou de ação coletiva, é possível a

repropositura da demanda, em virtude de expresso preceito legal.

A partir da noção de sucumbência material, infere-se que o réu

tem interesse em recorrer dessa decisão. A utilidade do recurso reside na

possibilidade de reforma da sentença, de modo a obter-se uma sentença de

improcedência sem que seja motivada pela insuficiência de provas, tendo o

condão de fazer coisa julgada material, obstando a repropositura da

demanda.

Na hipótese de decisão que atesta o reconhecimento jurídico

do pedido, indaga-se se o réu tem interesse em recorrer. A rigor, não há

sucumbência formal, porquanto não restou vencido, já que reconheceu a

procedência do pedido formulado pelo autor.

Ressalte-se, ainda, que é assente a lição de que é defeso ao

recorrente contra se venire, isto é, ir de encontro com o que defendeu ou

postulou anteriormente e que foi acolhido pela decisão.

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151

Não tem o réu, que reconheceu juridicamente o pedido,

interesse em interpor recurso contra sentença que julgou procedente o

pedido diante do mencionado ato, salvo na hipótese de impugnar o

conteúdo e alcance do próprio reconhecimento.

Quando for deduzido pedido alternativo – entendido como

aquele em que, pela natureza da obrigação, o devedor puder cumprir a

prestação de mais de um modo, ou em decorrência de opção do autor –, e a

decisão acolher um dos dois alternativamente formulado, falece ao autor

interesse em recorrer, porquanto obteve tudo o que postulou.

Como o próprio termo alternativo denota, tanto faz ao autor a

decisão julgar procedente o primeiro ou o segundo, pois, se esse não fosse

seu desiderato, não teria formulado pedido alternativo.216

Solução diversa deve ser adotada em relação à formulação de

pedido sucessivo - entendido como aquele que é requerido, caso não possa

o juiz acolher o pedido principal -, na hipótese de a decisão acolher o

subsidiário, uma vez que persiste interesse ao autor na obtenção da reforma

da decisão, a fim de ser acolhida a pretensão principal.

216 “Processo Civil – Pedidos alternativos – Atendimento do primeiro – Postulação satisfeita. Sendo alternativos os pedidos formulados pelo autor, uma vez atendido o primeiro, falta-lhe interesse em recorrer” (STJ-1ª Turma, ROMS 3262-0-RJ, rel. Min. Milton Luiz Pereira, j. 14.12.1994, v.u., DJU 20.03.1995, p. 6.093).

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152

O recurso, visando ao acolhimento do pedido principal, tem o

condão de proporcionar mais proveito do ponto de vista prático do que o

obtido pelo acolhimento do subsidiário.

Apesar de a análise de as razões recursais serem ou não

fundadas pertencer ao mérito do recurso e não ao requisito do interesse

em recorrer, ressalte-se que, em alguns casos, deve o órgão do Poder

Judiciário fazer o cotejo entre as razões recursais e os fundamentos da

decisão, a fim de averiguar se todos os fundamentos da decisão foram

impugnados.

Caso o recurso não abranja todos os fundamentos

suficientes, por si só, para manter a decisão recorrida, configura-se

ausência do interesse recursal, uma vez que, mesmo que seja

procedente a razão recursal, o órgão competente não pode modificar a

decisão recorrida que se mantém, justamente, pelo fundamento

inatacado.217

217 “Processual Civil. Questão decidida na sentença. Inocorrência de impugnação via recurso de apelação. Trânsito em julgado da parte da sentença relativa a matéria não impugnada. Recurso especial no qual se pretende discutir a questão solucionada na parte da sentença que transitou em julgado. Requisito de admissibilidade de interesse em recorrer: insatisfeito, tendo em vista a inutilidade do recurso especial. Recurso não conhecido. I- Não se conhece do recurso especial, por insatisfeito o requisito de admissibilidade de interesse em recorrer (consubstanciado no binômio utilidade-necessidade), se a questão federal suscitada para esta Corte restou decidida na parte da sentença que transitou em julgado. Assim o é porque o recurso especial não tem o condão de modificar a parte da sentença que transitou em julgado. II – Recurso especial não conhecido” (STJ-6ª Turma, REsp 79.432-SP, rel.

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No caso de a sentença ser citra petita, indaga-se se o autor,

vencedor da demanda, tem interesse recursal. Como pode obter decisão

mais proveitosa do ponto de vista prático – consistente na totalidade do que

pediu –, inegável é o interesse recursal do autor.

No caso de a sentença ser ultra ou extra petita, o autor,

vencedor da demanda, tem interesse recursal, a fim de obter decisão

judicial que afaste a nulidade, ajustando-a ao seu pedido e afastando, em

tese, a propositura de ação rescisória por violação aos arts. 128 e 460 do

Código de Processo Civil.

No processo civil, o Ministério Público atua ora como parte

(art. 81, CPC), ajuizando ação, ora como custos legis (art. 82, CPC),

ofertando parecer. Quanto atua como fiscal da lei, não é possível a

ocorrência de sucumbência formal, já que não formula requerimento.

Min. Adhemar Maciel, j. 26.03.1996, v.u., DJ 03.06.1996, p. 19.291); “Processual Civil. Prazo em comum. Retirada dos autos do cartório. Impossibilidade. Precedentes. Prequestionamento. Necessidade. Decisão agravada. Fundametnos inatacados. Preclusão. Agravo desprovido. I - Segundo precedentes desta Corte, vislumbrando-se a possibilidade de obter, aquele que foi vencedor na causa, algo que a decisão não lhe deu, como a condenação em honorários, não se pode afastar, sem mais, o seu interesse em recorrer, pelo que não se pode autorizar a retirada dos autos do cartório pela parte contrária. II - Inexistindo pronunciamento do tribunal de origem sobre a questão posta no recurso, não há como analisá-la nesta corte, por lhe faltar o requisito do prequestionamento. III - A falta de impugnação específica dos fundamentos da decisão recorrida faz com que se opere a preclusão” (STJ-4ª Turma, AGA 161.403-MS, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, j. 30.04.1998, v.u., DJ 15.03.1999, p. 234).

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Pode-se cogitar da ocorrência de sucumbência material, desde

que demonstradas a necessidade – visto o recurso como meio indispensável

à obtenção do provimento solicitado na via recursal – e a utilidade que

consiste na obtenção de proveito prático mais vantajoso em favor do

interesse público do que o oriundo da decisão recorrida.

Tendo presentes as funções institucionais do Ministério

Público, há entendimento de que o seu interesse em recorrer decorre da

legitimidade conferida pelo direito positivo.218-219

De outra parte, há o entendimento de que o Ministério Público,

quer atuando como parte, quer como fiscal da lei, deve preencher o

requisito do interesse em recorrer, pois está sujeito aos mesmos requisitos

de admissibilidade que são exigidos às partes.220-221

218 Afirma Nelson Nery Junior que “Ao ingressar no processo, quer na função da parte, quer na de fiscal da lei, o Ministério Público está atuando na defesa do interesse público. Conforme referido acima, ao lhe ser outorgada legitimação para agir ou intervir em determinado processo, já se lhe reconheceu previamente o interesse” (Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 270). No mesmo sentido: Eduardo Arruda Alvim, Curso de Direito Processual Civil, vol. 2, p. 109; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo VII, p. 56. 219 “Processual Civil. Mandado de segurança. Ministério Público. Interesse em recorrer. Recurso especial. 1. O interesse do Ministério Público em recorrer de sentença denegatória de mandado de segurança está ínsito na sua própria legitimidade, diante do dever institucional de preservar a incolumidade da ordem jurídica. 2. Recurso conhecido e provido” (STJ-5ª Turma, REsp 55.823-MG, rel. Min. Edson Vidigal, j. 06.10.1998, v.u., DJ 09.11.1998, p. 128). 220 Cf. Cândido Rangel Dinamarco, “LX - interesse recursal”, in Fundamentos do processo civil moderno, tomo II, p. 1.151-1.156; Flávio Cheim Jorge, Apelação cível, p. 126; Grinover-Magalhães-Scarance, Recursos no Processo Penal, p. 86-87; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 293; Teresa Arruda Alvim Wambier, O novo regime do agravo, p. 145. 221 “Processual Civil. Liquidação de sentença. Índices. Lei 8.213/1991, art. 41. Recurso especial interposto pelo Ministério Público Estadual. – Havendo a parte concordado com o acórdão que determinou a aplicação do INPC somente a partir de dezembro de 1991, não manifestado recurso especial e discordando expressamente do recurso interposto, forçoso reconhecer a falta de interesse ‘in casu’ do Ministério Público. – Não é razoável impedir a parte de, livremente, decidir sobre a conveniência de

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A propósito, a legitimação e o interesse são categorias

jurídicas distintas: a primeira refere-se à titularidade para agir no processo

conferida pelo direito positivo, enquanto que o segundo refere-se à

necessidade-utilidade da obtenção de um provimento jurisdicional.

A aferição, sob o ângulo da utilidade, do interesse em recorrer

do Ministério Público deve ser feita pela própria instituição, quer quando

atue como parte, quer como fiscal da lei, tendo em vista que a interpretação

quanto à presença do interesse público a justificar a sua intervernção cabe à

própria instituição.

Basta, portanto, a alegação do Ministério Público de que, com

a alteração da decisão recorrida, advirá proveito do ponto de vista prático

para o interesse público, no sentido da correta aplicação do direito, para

que se preencha o requisito do interesse em recorrer.

Neste sentido, ensina Arruda Alvim, referindo-se à parte final

do inc. III, do art. 82, do Código de Processo Civil, que

receber mais rapidamente o benefício, ainda que de valor menor. Recurso especial não conhecido” (STJ-6ª Turma, REsp 56.144-SP, rel. Min. William Patterson, j. 12.08.1996, v. u., DJ 14.10.1996, p. 39.039); “Processual. Recurso especial pela letra a. Decisão que, em ação acidentária, concluiu pela ausência de interesse recorrer, por parte do Ministério Público. Invocada violação do art. 499, § 2º, do CPC. Fundando-se a decisão na ausência de interesse de recorrer, não pode ter violado, norma jurídica que versa coisa diversa, seja, a legitimidade para o recurso. Recurso não conhecido” (STJ-2ª Turma, REsp. 2.613-SP, rel. Min. Ilmar Galvão, j. 09.05.1990, RSTJ 18/429).

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“Efetivamente, quando a lei se refere à existência de interesse

público, evidenciado pela natureza da lide ou pela qualidade da

parte, cria para o Ministério Público, ao verificar se se trata de

hipótese em que deve intervir, certa margem de liberdade para

adaptar este conceito vago (o de interesse público) às hipóteses

concretas. (...) Parece-nos que esta necessidade de interpretação

do conceito cabe à instituição do Ministério Público, e não ao

Poder Judiciário, em última análise”. 222

Destarte, mesmo que a decisão esteja em consonância com o

parecer ministerial ou com o requerimento formulado na petição inicial,

convencendo-se o Ministério Público de que da alteração da decisão resulta

proveito do ponto de vista prático à ordem jurídica, subsiste o interesse em

recorrer, em consonância com o princípio estrutural da autonomia

funcional, nos termos do parágrafo único do art. 1º da Lei Complementar

n.º 75/93.223-224

222 Manual de direito processual civil, vol. 1, p. 540. 223 “O órgão do MP não está vinculado à manifestação anterior do outro promotor, podendo recorrer, se com ela não estiver de acordo” (RJTJESP 96/189). 224 Contra: “Processual Civil e Tributário – Intimação pessoal do representante do Ministério Público – Ausência – Nulidade – Inexistência – Imposto de renda – Plano de demissão voluntária – Não incidência. Sendo a sentença prolatada no sentido do parecer do Ministério Público, falece a este interesse em recorrer e a ausência de sua intimação pessoal não acarreta prejuízo. A manifestação do Ministério Público em 2ª instância supre a ausência de intimação pessoal do seu representante. Não incide o Imposto de Renda sobre verba indenizatória oriunda de rescisão contratual. Recurso do Ministério Público improvido. Recurso dos autores provido” (STJ-1ª Turma, REsp 226.664-SP, rel. Min. Garcia Vieira, j. 21.10.1999, v.u., DJ 29.11.1999, p. 137).

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Da mesma forma que se entender que houve violação da

ordem jurídica, pode o Ministério Público interpor recurso contra decisão

favorável à parte em razão da qual a sua intervenção é exigida.225-226

No tocante ao terceiro prejudicado, apesar de não decorrer

prejuízo ou gravame da decisão judicial, já que não é parte, desde que do

recurso por ele interposto possa resultar proveito do ponto de vista prático,

isto é, se a situação jurídica puder ser melhorada com a obtenção do

provimento pleiteado no recurso, considera-se presente o interesse recursal.

3.4 - TEMPESTIVIDADE

Impõe a legislação prazo para que o legitimado interponha

recurso contra decisão judicial, sob pena de, em não fazendo, ocorrer o

fenômeno da preclusão temporal. Vale dizer, o recurso tem que ser

inteposto tempestivamente, sob pena de inadmissibilidade.

225 Cf. Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, vol. 1, p. 540-541; Francisco Wildo Lacerda Dantas, Jurisdição, ação (defesa) e processo, p. 167. 226 “Ministério Público – Recurso em ação de investigação de paternidade, com pedido de alimentos, proposta pela mãe em nome do filho, menor impúbere – Legitimidade. Oficiando, em processos, como parte (órgão agente) ou como fiscal da lei (órgão interveniente), tem o Ministério Público legitimidade (ou interesse) para recorrer, sempre. Código de Processo Civil, art. 499, § 2. Recurso especial conhecido e provido, para que seja retomado o julgamento da apelação” (STJ-3ª Turma, REsp 5.333-0-SP, rel. Min. Nilson Naves, j. 22.10.1991, RSTJ 61/328). No voto, o relator asseverou que “Em razão da questão de estado, pode o Ministério Público recorrer em prol da busca da correta aplicação da lei material e processual, independentemente de a quem possa aproveitar o recurso. Por isso que nas ações de estado pode recorrer da procedência, da improcedência, ou até mesmo da carência, ou seja, em busca da correta aplicação da lei”.

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Os prazos previstos para interposição do recurso são legais,

isto é, são regulados pela legislação, e peremptórios, sendo defeso às partes

reduzi-los ou prorrogá-los, nos termos do art. 182 do CPC.227 A proibição

de reduzir ou ampliar os prazos não alcança o juiz que poderá fazê-lo,

desde que haja previsão legal.

O prazo para interposição, ou para apresentação de resposta,

dos recursos de apelação, embargos infringentes, ordinário, especial,

extraordinário e embargos de divergência, é de 15 (quinze) dias, nos termos

do art. 508 do CPC.

O prazo do recurso adesivo, que se mostra, em regra,

admissível nos recursos de apelação, embargos infringentes, extraordinário

e especial, é o mesmo para apresentação das contra-razões àqueles

recursos, isto é, de 15 (quinze) dias.

O prazo para interposição do recurso de apelação é de quinze

(15) dias contados da intimação da sentença, nos termos do art. 508 do

CPC.

227 “Às partes, por convenção, não se faculta suspender prazo recursal, haja vista que é peremptório” (STJ-RT 698/209).

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Ressalte-se que a tempestividade é aferida a partir da data em

que a petição do recurso foi protocolada em cartório ou segundo norma de

organização judiciária, sendo despicienda saber a data da juntada da petição

recursal.228

Mesmo na hipótese de ser interposta, no prazo legal, a

apelação em juízo equivocado, deve-se considerar tempestivo o recurso,

por ser uma mera irregularidade, à luz do princípio da instrumentalidade do

processo.229

Se, na legislação da organização judiciária, houver a adoção de

protocolos judiciários integrados, considera-se interposto o recurso na data

em que a petição foi apresentada aos mesmos.

Com a edição da Lei nº 9.800/99, tornou-se possível a

utilização de sistema de transmissão de dados tipo fac-símile ou outro

similar, para a prática de atos processuais, devendo os originais ser

entregues em juízo até cinco (5) dias contados da data do término do prazo.

228 “A contagem do prazo se faz com observância da data do protocolo, e não da juntada da petição” (STJ-5ª Turma, REsp 34.288-4-PR, rel. Min. Flaquer Scartezzini, j. 01.09.1993, v.u., DJU 27.09.1993, p. 19.826). 229 “Em consonância com os princípios da instrumentalidade e do acesso à Justiça, a apresentação equivocada de contestação em cartório diverso do qual tramita o feito, porém no prazo legal, deve ser admitida como tempestiva, sem prejuízo para o réu” (RSTJ 83/341).

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Nos termos do art. 538 do CPC, o recurso de embargos de

declaração tem o condão de interromper o prazo para qualquer das partes

interpor outros recursos. Após a intimação do julgamento do respectivo

recurso, o prazo para a interposição de outros recursos inicia-se na sua

totalidade.

Dá-se a interrupção do prazo para interposição de outros

recursos, desde que os embargos declaratórios sejam conhecidos.230-231 Isso

porque com a declaração de inadmissibilidade do recurso de embargos de

declaração operou a ocorrência da coisa julgada da decisão judicial.

Ressalte-se, de outro lado, que o exame sobre a presença de

obscuridade, contradição ou omissão na decisão judicial diz respeito ao

mérito recursal, sendo tecnicamente incorreta a decisão que não conhece

dos embargos declaratórios, diante da ausência de pelo menos um dos

citados vícios.

Destarte, caso a decisão, a despeito de atestar a inexistência de

obscuridade, contradição ou omissão, declare a inadmissibilidade dos

230 Cf. nosso artigo “Recursos de efeito devolutivo restrito e a possibilidade de decisão acerca de questão de ordem pública sem que se trate da matéria impugnada”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos, p. 251; Clito Fornaciari Jr., A reforma processual civil, p. 128; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 550. 231 “Recurso incabível ou intempestivo não interrompe o prazo para interposição de outro recurso” (RSTJ 13/239).

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embargos de declaração, ainda sim se opera a interrupção do prazo para

interposição de outros recursos.

A apelação adesiva, que é uma forma de interposição do

recurso de apelação, deve ser interposta no prazo para apresentação das

contra-razões ao recurso de apelação principal que é de quinze (15) dias.

É tradição, no direito brasileiro, a previsão de prazos

diferenciados para a Fazenda Pública e para o Ministério Público. Dispôs o

CPC, no art. 188, que “Computar-se-á em quádruplo o prazo para contestar

e em dobro para recorrer quando a parte for a Fazenda Pública ou o

Ministério Público”.

Como às disposições excepcionais deve ser emprestada uma

interpretação restritiva, o citado benefício não alcança as contra-razões ou

resposta ao recurso.232

Com vistas à preservação do interesse público, acabou a

legislação contemplando uma prerrogativa – benefício do prazo –

decorrente do interesse público. O interesse que a Fazenda Pública e o

232 “O prazo especial, previsto no art. 188 do CPC, deve ser contado apenas para recorrer. Tratando-se de contra-razões a recurso, a autarquia não tem o prazo em dobro para apresentá-las” (TRF-5ª Região, Pleno, AgRg no RO 534, rel. Juiz Araken Mariz, DJU-II 19.04.1991, p. 8.023).

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Ministério Público representam, no processo, é inegavelmente público,

pertencente, pois, a toda a coletividade.

Malgrado a expressão parte, o benefício do prazo aplica-se ao

Ministério Público quando atua como fiscal da lei, já que aquele termo

deve ser entendido como a atuação da instituição que é em prol da ordem

jurídica e do interesse público.233

A atuação do Ministério Público – como fiscal da lei ou como

parte – pressupõe o interesse público, razão, pois, da mantença da

prerrogativa do benefício de prazo.234-235

O termo Fazenda Pública compreende União, Estados,

Municípios, autarquias e fundações públicas (art. 10 da Lei n.º 9.469, de

10.07.1997), estando excluídas as sociedades de economia mista e as

empresas públicas. 233 Vale ressaltar que há entendimento doutrinário (Cândido Rangel Dinamarco, “LX – interesse recursal”, Fundamentos do processo civil moderno, vol. II, p. 1.152-1.153; José Frederico Marques, Manual de Direito Processual Civil, vol. I, p. 490), segundo o qual, pelo fato de desfrutar dos mesmos poderes, faculdades, ônus, deveres inerentes aos titulares da demanda, o Ministério Público, quando atua como fiscal da lei, é considerado parte. 234 Cf. E. D. Moniz de Aragão, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. II, p. 105; Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 295 e ss.; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo III, p. 151; Vicente Greco Filho, Direito processual civil brasileiro, 2º vol., p. 26-27. 235 “Processual Civil. Usucapião. Ministério Público. Prazo recursal. I – É entendimento pacificado pela jurisprudência e pela doutrina que o Ministéiro Público a qualquer título com que exerça seu munus faz jus ao prazo recursal em dobro. II – Assim, no usucapião, ao parquet, quer como parte, quer como custos legis, na exegese do art. 188 do CPC, não é possível estabelecer distinção quanto ao prazo em dobro que nesse dispositivo se garante. III – Recurso não conhecido. De conseguinte, confirma-se a decisão impugnada que deu pela tempestividade do recurso do Ministério Público” (STJ-3ª Turma, REsp 2.065-RJ, rel. Min. Waldemar Zveiter, j. 08.05.1990, v.u., DJU 28.05.1990, p. 4.732). Neste sentido: STF-RTJ 106/217, STF-RT 106/1.036.

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Correspondente prerrogativa de prazo em dobro foi concedida

ao defensor público ou quem exerça cargo equivalente, nos termos do art.

5º, § 5º, da Lei n.º 1.060/50, com a redação dada pela Lei n.º 7.871/89.236

Registre-se a edição da Lei Complementar n.º 80, de 12 de janeiro de 1994,

que organiza a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e

prescreve normas gerais para sua organização nos Estados, não há dúvidas

de que a prerrogativa da contagem em dobro de todos os prazos aplica-se

no âmbito dos tribunais superiores, nos termos do art. 128, inc. I.237

Prevê o CPC o prazo em dobro para recorrer aos litisconsortes

que possuírem distintos procuradores, nos termos do art. 191.

Havendo litisconsórcio e sendo diferentes os procuradores,

decorre da lei o prazo em dobro para recorrer, sendo desnecessária a

apresentação de requerimento para o deferimento do citado prazo.238

236 “Nos Estados onde a Assistência Judiciária seja organizada e por eles mantida, o Defensor Público, ou quem exerça cargo equivalente, será intimado pessoalmente de todos os atos do processo, em ambas as instâncias, contando-se-lhes em dobro todos os prazos.” 237 “Art. 128 - São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública do Estado, dentre outras que a lei local estabelecer: I – receber intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição, contando-se-lhe em dobro todos os prazos.” 238 “Processual Civil – Prazo em dobro – Litisconsortes passivos. I - O direito pretoriano e a doutrina assentaram entendimento no sentido de que não só é dispensável requerer-se o prazo duplo, no caso de litisconsorte passivo, como também o é pedi-lo, necessariamente, na primeira metade do prazo. II – Recurso não conhecido” (STJ-3ª Turma, REsp 5.409-SP, rel. Min. Waldemar Zveiter, j. 27.11.1990, v.u., DJ 04.02.1991, p. 575); “Processo Civil. Litisconsortes com procuradores distintos. Prazo em dobro. Inteligência do art. 191, CPC. Petição recursal subscrita por ambos. Intimação de patrono comum aos litisconsortes. Mandato revogado. Recurso conhecido. I — Tendo os litisconsortes procuradores distintos, mesmo que estes subscrevam a mesma petição, duplica-se o prazo, nos termos do art. 191, CPC, não

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No caso de conexão de ações, como não ocorre litisconsórcio,

mas apenas reunião dos processos com o fito de se evitar a prolação de

decisões díspares, inaplicável é o benefício do prazo em dobro.239

Desde que tenha procuradores distintos dos demais, aplica-se o

benefício do prazo em dobro para recorrer, por ser considerado

litisconsorte, ao assistente litisconsorcial240-241, aos opostos242, ao

denunciado 243-244-245 e ao chamado.

havendo necessidade que um dos recursos seja protocolado na primeira metade do prazo (...)” (STJ-4ª Turma, REsp 11.225-PR, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, j. 17.12.1991, v.u., RSTJ 32/336). 239 Cf. E. D. Moniz de Aragão, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. II, p. 111; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo III, p. 157. 240 Cf. Thereza Alvim, O direito processual de estar em juízo, p. 232 e ss. 241 “No caso de assistência litisconsorcial (art. 54), o assistente tem prazo em dobro para recorrer, de acordo com o art. 191” (RJTJESP 108/226). 242 Cf. Celso Agrícola Barbi, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. I, p. 232-233; E. D. Moniz de Aragão, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. II, p. 111. 243 Cf. Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, vol. 2, p. 109; E. D. Moniz de Aragão, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. II, p. 111; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo III, p. 156. 244 Em sentido contrário, entendendo que há assistência simples: Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 309; Ovídio A. Baptista da Silva, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. 1, p. 352. 245“Denunciação da lide. Posição do IRB, nas ações de seguro. Litisconsórcio. Recurso. Prazo para litisconsortes com diferentes procuradores. 1. Nas ações de seguro, o IRB é considerado litisconsorte necessário (Decreto-lei n. 73/66, art. 68). Precedente da 3ª Turma do STJ: REsp 11.629. 2. Na denunciação da lide, a posição do denunciado pelo réu é a de litisconsorte do denunciante. O litisdenunciado equipara-se ao litisconsorte, ainda que só ‘para efeitos estritamente procedimentais’ (CPC, art. 75-I). Opinião num e outro sentido. Precedentes do STJ: REsp’s 1.894, 5.460 e 14.854. 3. No caso de diferentes procuradores, conta-se em dobro o prazo para recorrer (CPC, art. 191)” (STJ-3ª Turma, REsp 25.519-SP, rel. Min. Nilson Naves, j. 14.12.1992, v.u., DJ 08.03.1993, p. 3.115); “Litisconsórcio. Prazo em dobro para apelar. Artigo 191 do Código de Processo Civil. Aplica-se a regra benévola do art. 191 do CPC ao réu denunciante da lide, quando denunciante e denunciado tiveram diferentes procuradores, ainda que o denunciado não haja apelado da sentença que julgou procedentes ação e denunciação. Recurso conhecido e provido” (STJ-4ª Turma, REsp 14.854-MT, rel. Min. Athos Carneiro, j. 01.04.1992, v.u., DJ 20.04.1992, p. 5.257).

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Indaga-se acerca do momento em que é necessária a existência

da diversidade de procuradores à aplicação da referida regra.

Para uma corrente, a legislação confere prazo em dobro, desde

que, na intimação da decisão, os litisconsortes possuam diferentes

procuradores.246

Para outra corrente, a demonstração da hipótese do art. 191

pode se dar até o termo final do prazo singelo.247-248

Por sua vez, uma terceira corrente, que é a majoritária na

jurisprudência do STJ, entende que não é necessária a demonstração de que

possuam os litisconsortes diferentes procuradores na primeira metade do

prazo.249

246 Cf. Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 310. 247 Cf. Flávio Cheim Jorge, Apelação cível, p. 160. 248 “É prudente que a juntada das procurações a advogados diferentes seja feita no prazo simples da contestação, para assegurar a sua contagem em dobro; sendo peremptório o prazo para resposta, não pode ser dilatado depois de vencido” (RT 557/170). 249 “Litisconsórcio. Prazo para litisconsortes com diferentes procuradores No benefício do art. 191, não é necessário que, na primeira metade do prazo, os litisconsortes demonstrem a existência de diferentes procuradores. Recurso conhecido pelo dissídio mas improvido” (STJ-3ª Turma, REsp 6.141-SP, rel. Min. Nilson Naves, j. 04.12.1990, v.u., DJ 17.12.1990, p. 15.379); “O direito pretoriano e a doutrina assentaram entendimento no sentido de que não só é dispensável requerer-se o prazo duplo, no caso de liticonsorte passivo, como também o é pedi-lo, necessariamente, na primeira metade do prazo” (STJ-RT 671/207). No mesmo sentido: STJ-3ª Turma, REsp 6.141-SP, rel. Min. Nilson Naves, v.u., DJU 17.12.90, p. 15.379; STJ-4 Turma, Resp 28.226-7-SP, rel. Min. Dias Trindade, j. 14.12.93, v.u., DJU 28.03.94, p. 6.326; STJ-RT 674/235, STJ-RT 683/190.

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166

Para que a citada regra seja aplicada é necessário que os

litisconsortes possuam distintos procuradores no momento da comunicação

da decisão ou que, no prazo singelo, demonstrem a existência de distintos

procuradores, sob pena de preclusão.

Até o escoamento do prazo singelo do recurso, devem os

liticonsortes juntar aos autos os instrumentos de procuração para que se

aplique o art. 191 do CPC.

Aplica-se o mencionado preceito na hipótese de assinarem os

diferentes procuradores dos litisconsortes conjuntamente as peças ou que

forem da mesma banca advocatícia.250-251

O fato de um dos liticonsortes não recorrer não tem o condão

de afastar a incidência da aludida regra, uma vez que a lei não impôs como

condição de sua incidência a recorribilidade por parte do outro litisonsorte.

250 Cf. Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo III, p. 157. Neste sentido: “Se há diferentes advogados, o prazo é em dobro, mesmo se todos os advogados se pronunciam conjuntamente” (RTJ 117/875 e STF-RT 609/246). 251 “Ainda que os advogados sejam companheiros de escritório, desde que seja, cada qual, procurador de litisconsortes diferentes, aplica-se o art. 191” (STJ-4ª Turma, REsp 28.226-7-SP, rel. Min. Dias Trindade, j. 14.12.1993, v.u., DJ 28.03.1994, p. 6.326).

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167

Portanto, havendo mera possibilidade de os litisconsortes que

possuam distintos procuradores recorrerem da decisão, aplica-se a citada

regra.252-253

Se decorrer sucumbência a apenas um dos litisconsortes – v.

g., recurso de agravo contra, por exemplo, decisão que inadmitiu recurso

especial interposto por apenas um dos litisconsortes -, inaplicável é o prazo

em dobro.254 Sobre a matéria o STF editou súmula 641, segundo a qual

“Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando um só dos

litisconsortes haja sucumbido”.

Pela mesma razão, inaplicável o art. 191 do CPC na hipótese

de a decisão de exclusão de litisconsórcio ter formado coisa julgada formal.

252 Cf. Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, vol. 2, p. 109; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 373. 253 “Não é possível, na aplicação do art. 191 do CPC, discutir se o recurso foi interposto apenas por um dos litisconsortes ou por mais de um, em ordem a contar-se, em dobro, o prazo, somente, na segunda hipótese. O prazo em dobro, ut art. 191 do CPC, é comum aos litisconsortes com diferentes procuradores” (STF-1ª Turma, RE 99.289-PR, rel. Min. Néri da Silveira, j. 03.12.1984, v.u., RTJ 121/182); “Aplica-se a regra benévola do art. 191 do Código de Processo Civil desde que o procurador de um dos litisconsortes não haja sido constituído também pelo(s) outro(s), pois sendo impossível saber de ante mão se ocorrera a hipótese incomum da revelia, não é exigível da parte que, na dúvida, renuncie a vantagem que o aludido dispositivo de lei lhe concede (...)” (STJ-4ª Turma, REsp 5.460-RJ, rel. Min. Athos Carneiro, j. 09.04.1991, v.u., DJ 13.05.1991, p. 6.085). 254 “Pluralidade de partes. Recurso. Prazo. Restrita a possibilidade de apelação a apenas um dos réus, não há falar em prazo dobrado para recurso seu. Especial não conhecido. Unânime” (STJ-4ª Turma, REsp 38.874-RJ, rel. Min. Fontes de Alencar, j. 12.09.1994, v.u., DJ 10.10.1994, p. 27.175); “Processual Civil. Agravo regimental. 1 – O benefício legal da contagem em dobro do prazo para recurso (art. 191, CPC) não merece aplicação, quando a decisão produz sucumbência somente em desfavor de um dos litisconsortes, o qual, inclusive, no caso vertente, foi o único a se insurgir contra a mesma. 2 – Agravo regimental desprovido” (STJ-4ª Turma, AGA 11.204, rel. Min. Bueno de Souza, j. 24.09.1991, v.u., DJ 11.11.1991, p. 16.150); “Processo Civil. Litisconsórcio. Despacho de inadmissão do recurso especial. Prazo do agravo. A regra benévola do art. 191 do CPC pressupõe a possibilidade de litisconsortes com diferentes procuradores manifestarem recurso. Se apenas o litisconsorte que interpôs o recurso especial poderia recorrer do despacho de inadmissão, não há cogitar de dobra de prazo para o agravo de instrumento. Agravo regimental a que se nega provimento” (STJ-3ª Turma, AGA 51.555-SP, rel. Min. Costa Leite, j. 22.11.1994, v.u., DJ 19.12.1994, p. 35.313).

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Vale dizer, enquanto não houver a formação da preclusão, substiste ao

litisconsorte excluído a possibilidade de interpor recurso, sendo, por isso,

aplicável a regra do art. 191 do CPC.255-256

O prazo de que dispõe o terceiro prejudicado é o mesmo

estabelecido às partes, em conformidade com os princípios da

igualdade e da segurança jurídicas.257

Segundo o art. 506 do CPC, o prazo para interposição do

recurso conta-se da leitura em audiência, da intimação às partes,

quando a sentença não for proferida em audiência, e da publicação da

súmula do acórdão no órgão oficial.

Verifica-se que o prazo para interposição do recurso conta-se a

partir da data em que os advogados são intimados da decisão. No direito

255 “Processual Civil. Litisconsórcio. Art. 191, CPC. Advogados distintos. Prazo em dobro. Litisconsorte aparentemente não sucumbente. Só depois do trânsito em julgado da sentença que afastou o litisconsorte, é que o litisconsórcio restará desfeito, cessando, assim, a partir desse momento, a aplicação da regra benévola do art. 191 do CPC, que concede prazo em dobro para os litisconsortes que forem patrocinados por advogados diferentes. Recurso provido” (STJ-1ª Turma, REsp 39.926-SP, rel. Min. César Asfor Rocha, j. 13.04.1994, v.u., DJ 16.05.1994, p. 11.719). 256 Contra: “Litisconsórcio. Benefício do art. 191 do Código de Processo Civil. Caso em que não se aplica. Desfeito, no correr do processo, o litisconsórcio, o litisconsorte remanescente não tem em dobro o prazo para recorrer. Recurso extraordinário convertido em recurso especial, de que a Turma não conheceu” (STJ-3ª Turma, REsp 2.727-RJ, rel. Min. Nilson Naves, j. 25.09.1990, maioria, DJ 22.10.1990, p. 11.662). 257 “O terceiro prejudicado, embora investido de legitimidade recursal (CPC, art. 499), não dispõe, para recorrer, de prazo maior que o das partes. A igualdade processual entre as partes e o terceiro prejudicado, em matéria recursal, tem a finalidade relevante de impedir que, proferido o ato decisório, venha este, por tempo indeterminado - e com graves reflexos na estabilidade e segurança das relações jurídicas -, a permanecer indefinidamente sujeito a possibilidade de sofrer impugnação recursal” (STF-1ª Turma, AGRRE 167.787-RR, rel. Min. Celso de Mello, j. 28.04.1995, v.u., DJ 30.06.1995, p. 20.451).

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vigente, a intimação pode se dar: por meio de órgão oficial (art. 236, CPC),

no Distrito Federal e nas Capitais, ou onde houver; pessoalmente, por

oficial de justiça, quando tiver domicílio na sede do juízo (art. 237, inc. I,

CPC); por carta registrada, com aviso de recebimento, quando domiciliado

fora do juízo (art. 237, inc. II, CPC); ou em audiência (art. 242, § 1º, CPC).

O escopo da intimação é dar conhecimento às partes de ato ou

termo do processo, para que se faça ou deixe de fazer alguma coisa (art.

234, CPC).

Em regra, o prazo para interposição do recurso inicia-se com a

intimação; no entanto, em casos excepcionais, desde que configurada a

ciência inequívoca da decisão por outro meio que não a intimação, tem-se

início o dies a quo do prazo recursal.258

É certo que, no caso de dúvida, não deve ser aplicado esse

entendimento, pois, em última análise, vê-se a parte privada de interpor o

recurso.259

258 “Apelação. Intempestividade. Ciência inequívoca da sentença antes da publicação. Em casos especialíssimos, considera-se intimada a parte que, antes da publicação, haja tomado conhecimento inequívoco da decisão por outro meio qualquer. Precedentes do STJ. Recurso não conhecido” (STJ-4ª Turma, REsp 44.152-ES, rel. Min. Barros Monteiro, j. 22.03.1994, v.u., DJ 18.04.1994, p. 8.510); “Recurso. Intimação. Prazo. I - O prazo para recurso tem início a partir da intimação da decisão ou do momento em que o advogado toma ciência inequívoca do julgado que pretende impugnar. II- Precedentes jurisprudenciais. III- Recurso não conhecido” (STJ-4ª Turma, REsp 1.338-RJ, rel. Min. Fontes Alencar, j. 28.11.1989, v.u., DJ 05.02.1990, p. 457). 259 “Prazo recursal. Artigos 242 e 506 do CPC. Início da contagem. A tese de que os prazos começam a correr também a partir da data em que o advogado toma ciência informal da decisão, antes mesmo de

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Impõem o CPC, no art. 236, § 2º, e a Lei n.º 8.625/93, no art.

41, inc. IV, que a intimação do Ministério Público seja pessoal.

Por essa razão, a jurisprudência orientava-se no sentido de que

o início do prazo conta-se, portanto, da data do “ciente” aposto pelo

membro do Ministério Público, sendo irrelevante a data da entrega dos

autos à respectiva repartição administrativa.260-261

No entanto, o STF modificou a exegese, de sorte que o prazo

para a prática de atos processuais inicia-se na data do ingresso dos autos na

repartição do Ministério Público, e não do ciente do membro da instituição.

Havendo discrepância entre a data do ingresso dos autos e o ciente do

membro, adota-se, para efeito de tempestividade, a primeira data.262

intimado na forma da lei, somente é aplicável aos casos de ciência inequívoca do conteúdo da sentença ou decisão recorrível. Nas hipóteses em que remanesce alguma dúvida, inclusive por não haver o advogado recebido os autos em carga, cumpre afastar a presunção e simplesmente aplicar a lei. Recurso especial conhecido e provido” (STJ-4ª Turma, REsp 14.939-PR, rel. Min. Athos Carneiro, j. 04.12.1991, v.u., DJ 24.02.1992, p. 1.875). 260 Cf. Hugo Nigro Mazzilli, Regime jurídico do Ministério Público, p. 332. 261 “Prazo de recurso extraordinário só computável a partir da ciência pessoal do acórdão recorrido, pelo membro do Ministério Público Estadual, e não desde o simples ingresso dos autos em serviço administrativo da Procuradoria Geral da Justiça (Lei Complementar n. 40/81, art. 20, V)” (STF-Pleno, RE 113.410-SP, rel. Min. Octavio Gallotti, j. 02.06.1988, v.u., DJ 17.08.1990, p. 7.870); “Processual Penal. Ministério Público. Intimação pessoal. Nulidades e inépcia da denúncia após sentença. Preclusão. 1. A intimação do Ministério Público há que ser pessoal, e somente após ciência de seu representante legal começa a fluir o prazo (...)” (STJ-5ª Turma, AGA 37.654-5-DF, rel. Min. Flaquer Scartezinni, j. 29.09.1993, v.u., RSTJ 54/457). 262 “RECURSO - PRAZO - TERMO INICIAL - MINISTÉRIO PÚBLICO. A entrega de processo em setor administrativo do Ministério Público, formalizada a carga pelo servidor, configura intimação direta, pessoal, cabendo tomar a data em que ocorrida como a da ciência da decisão judicial. Imprópria é a prática da colocação do processo em prateleira e a retirada à livre discrição do membro do Ministério Público, oportunidade na qual, de forma juridicamente irrelevante, apõe o "ciente", com a finalidade de, somente então, considerar-se intimado e em curso o prazo recursal. Nova leitura do arcabouço normativo, revisando-se a jurisprudência predominante e observando-se princípios consagradores da paridade de armas - precedente: Habeas Corpus nº 83.255/SP, Pleno, julgado em 5 de novembro de 2003” (STF-1ª Turma, HC 84.159-SP, rel. Min. Marco Aurélio, j. 18.05.2004, v.u., DJ 06.08.2004, p. 42); “HABEAS

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Correspondente prerrogativa foi conferida ao defensor público

pela Lei n.º 1.060/50, art. 5º, § 5º.263 Registre-se a edição da Lei

Complementar n.º 80, de 12 de janeiro de 1994, nos termos do art. 128, inc.

I, ficou assente que a mencionada prerrogativa deve ser aplicada em

qualquer grau de jurisdição, sob pena de nulidade.264-265

No tocante ao revel, impôs o CPC que os prazos correrão

independentemente de intimação, ou seja, o prazo recursal inicia-se a partir

da publicação da decisão em audiência, da sua entrega em cartório em

primeira instância ou do resultado do julgamento em segunda instância,

sem que se faça necessária a realização de intimação, nos termos do art.

322.266-267-268

CORPUS. PROCESSO PENAL. INTIMAÇÃO PESSOAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. MOMENTO DE OCORRÊNCIA. ORDEM CONCEDIDA. 1. Na linha do julgamento do HC 83.255 (rel. min. Marco Aurélio), a intimação pessoal do Ministério Público se dá com a carga dos autos na secretaria do Parquet. 2. Se houver divergência entre a data de entrada dos autos no Ministério Público e a do "ciente" aposto nos autos, prevalece, para fins de recurso, aquela primeira. 3. Ordem concedida, para cassar o acórdão atacado” (STF-1ª Turma, HC 83.821-SP, rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 01.06.2004, v.u., DJ 06.08.2004, p. 41). 263 “Nos Estados onde a Assistência Judiciária seja organizada e por eles mantida, o Defensor Público, ou quem exerça cargo equivalente, será intimado pessoalmente de todos os atos do processo, em ambas as instâncias, contando-se-lhes em dobro todos os prazos.” 264 “Art. 128 – São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública do Estado, dentre outras que a lei local estabelecer: I – receber intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição, contando-se-lhe em dobro todos os prazos.” 265 “Processual – Assistência judiciária – Intimação pessoal do defensor - Lei 1.060/50 (art. 5º, par. 5º) – No regime da Lei 1.060/50, o direito do defensor público a intimação pessoal restringia-se as duas instâncias ordinárias. - A Lei Complementar 80/94, que tornou obrigatória a intimação pessoal em todos os graus de jurisdição (art. 128, I), não alcança situações ocorridas antes de sua vigência. – Embargos declaratórios rejeitados” (STJ-1ª Turma, EDREsp 11.973-RJ, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 27.04.1994, v.u., DJ 30.05.1994, p. 13.450). 266 Cf. Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, vol. 2, p. 333-334; Bernardo Pimentel Souza, Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória, p. 69; Humberto Theodoro Júnior, Curso de Direito Processual Civil, vol. I, p. 390; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 359; Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 289. 267 “Revelia. Prazo. Publicação de sentença. Entregue em cartório a sentença, publicada fica, e o termo inicial do prazo para recurso independe de sua intimação ao revel. Recurso especial denegado. Unânime” (STJ-4ª Turma, REsp 16.879-0-SP, rel. Min. Fontes de Alencar, j. 29.06.1992, v.u., RSTJ 47/214); “Réu

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Comparecendo no processo, o revel recebe-o no estado em que

se encontrar, tornando-se obrigatória, a partir de então, a realização de

intimação dos atos processuais subseqüentes.269

Deve-se ressaltar que, havendo o revel constituído advogado

nos autos, não se aplica a mencionada regra, já que os seus efeitos referem-

se ao ausente e não ao que comparece em juízo, mas não contesta.270-271

Dispõe o CPC que os atos processuais realizam-se em dias

úteis, das seis às vinte horas, nos termos do art. 172. Todavia, pode a lei

local de organização judiciária regular o horário de funcionamento do

revel – Sentença – Publicação em cartório – Início do prazo no sistema do Código de 73. Não é obrigatória a publicação da sentença em audiência, mesmo porque, havendo julgamento antecipado da lide, não há lugar para realização daquela, em tais circunstâncias, tem-se por publicada com a entrega em cartório, momento em que ganha a natureza de ato processual. Coisa diversa é a intimação, ato de comunicação para dar às partes ciência de que aquela foi proferida. Ocorre que, tratando-se de revel, os prazos correm independentemente de intimação (CPC 322). Desse modo, publicada a sentença em cartório, daí fluirá o prazo para apelação” (STJ-3ª Turma, REsp 48.991-1-ES, rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 16.08.1994, v.u., RSTJ 63/471); “Súmula 12 do TJRS – O prazo recursal para o réu revel corre independentemente de intimação, a partir da publicação da sentença em audiência ou em Cartório”. 268 Contra: “Não sendo a sentença publicada em audiência, o prazo para o recurso, mesmo para o revel, contar-se-á da intimação” (STJ-1ª Turma, REsp 6.381-PR, rel. Min. Garcia Vieira, j. 05.12.1990, v.u., DJ 04.02.1991, p. 565); “Processual Civil. Revelia. Recurso. I – Consoante a jurisprudência de nossos tribunais, não sendo publicada a sentença em audiência (art. 506 do CPC), o prazo para interposição de recurso, mesmo para o revel, contar-se-á da intimação. II – Recurso conhecido e provido” (STJ-2ª Turma, REsp 31.037-RJ, rel. Min. José de Jesus Filho, j. 09.06.1993). 269 “Revel. Prazo para interposição de recurso. Comparecimento ao processo. Artigo 322 do Código de Processo Civil. O comparecimento do revel ao processo afasta, de então em diante, os efeitos da revelia, restabelecendo em sua integralidade o contraditório e tornando obrigatórias as intimações a seu advogado. Caso em que o advogado inclusive participou da audiência, devendo assim ser considerado intimado somente na data em que a sentença, posteriormente prolatada, foi publicada na imprensa oficial. Apelação tempestiva. Recurso especial conhecido e provido” (STJ-4ª Turma, REsp 19.094-RJ, rel. Min. Athos Carneiro, j. 31.03.1992, v.u., RSTJ 32/447). 270 Cf. Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, vol. 2, p. 334; José Joaquim Calmon de Passos, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. III, p. 382; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo IV, p. 205. 271 “Revelia. Réu com procurador nos autos. Necessidade de intimação. Ainda que não tenha sido admitida a contestação, se o réu possui procurador nos autos, deve ser ele intimado dos atos processuais. Inteligência do art. 322, última parte, do CPC. Recurso especial conhecido e provido” (STJ-4ª Turma, REsp 6.813-RS, rel. Min. Barros Monteiro, j. 27.06.1991, v.u., RSTJ 26/452).

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expediente, obedecendo aos limites fixados, conforme § 3º do citado

preceito.272

Cumpre distinguir suspensão de interrupção dos prazos dos

atos processuais, antes de consignar as hipóteses previstas na legislação.

A suspensão enseja a paralisação do cômputo do prazo, cujo

lapso já decorrido é considerado para efeito de contagem e identificação do

termo final, enquanto que a interrupção enseja a paralisação do cômputo do

prazo, cujo lapso decorrido é desconsiderado, de forma que se restitui o

prazo na sua integralidade.

Em preceito referente ao sistema recursal, prevê o CPC como

hipóteses de interrupção do prazo recursal o falecimento da parte ou de seu

advogado, a ocorrência de motivo de força maior de natureza

transindividual (arts. 265, inc. V, e 507) e a interposição e conhecimento do

recurso de embargos de declaração (art. 538, com a redação dada pela Lei

n.º 8.950/94).

272 Cf. Cândido Rangel Dinamarco, A reforma do código de processo civil, p. 86; Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 287-288; Sérgio Bermudes, A reforma do Código de Processo Civil, p. 19.

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174

Apesar de inexistir regra específica no sistema recursal,

aplicam-se os arts. 179 e 180 do CPC, que regulam hipóteses de suspensão

de prazo, à realização de atos processuais.

Segundo os mencionados preceitos, são hipóteses de

suspensão de prazo: superveniência de férias, obstáculo criado por outra

parte, perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu

representante legal ou de seu procurador e suscitação de exceção de

incompetência, de suspeição e de impedimento.

Registre-se que o obstáculo criado pelo próprio juízo,

malgrado a omissão legislativa, tem o condão de suspender o prazo

recursal, já que o legitimado não pode sofrer conseqüências danosas, em

virtude do mal funcionamento do aparelho judiciário.273

Impende tecer considerações acerca do momento da ocorrência

da suspensão e da interrupção do prazo. Considera-se suspenso ou

interrompido no momento da ocorrência da causa ou somente após o

reconhecimento judicial, desde que noticiado dentro do prazo recursal?

273 Cf. E. D. Moniz de Aragão, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. II, p. 89; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 363; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo VII, p. 139; Seabra Fagundes, Dos recursos ordinários em matéria civil, p. 82-83.

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175

Conquanto a causa ensejadora da suspensão ou interrupção do

prazo deva ser reconhecida pelo juiz, não há obrigatoriedade de a parte

noticiá-la dentro do prazo recursal, visto que o pronunciamento, que a

reconhece, tem natureza declaratória com eficácia ex tunc, donde se conclui

que a suspensão ou interrupção se dá a partir da ocorrência da respectiva

causa, ainda que suscitada pela parte ou reconhecida pelo juiz após o

transcurso do prazo recursal.274-275

Em face da ausência de previsão legal, o pedido de

reconsideração da decisão não tem o condão de suspender ou interromper o

prazo para a interposição do recurso.276-277

Em regra, o reinício da contagem do prazo, nos casos de

suspensão e interrupção, fica condicionado à realização de intimação dando

conta da cessação da respectiva causa, exceto no caso de suspensão, em

virtude de férias forense, hipótese em que a recontagem começa a ocorrer a

274 Cf. E. D. Moniz de Aragão, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. II, p. 365; Humberto Theodoro Júnior, Curso de Direito Processual Civil, vol. I, p. 299; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 365-366; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo III, p. 440. 275 “Havendo obstáculo criado pela parte contrária, considera-se suspenso o prazo a partir da data em que ocorre o impedimento, e não daquela em que a parte comunica o fato ao juiz” (STJ-4ª Turma, REsp 23.893-0-GO, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. 17.05.1994, v.u., DJ 13.06.1994, p. 15.110). 276 Cf. Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 289; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 487; Teresa Arruda Alvim Wambier, O novo regime do agravo, p. 307. 277 “Recurso. Prazo para a interposição. Pedido de reconsideração. O pedido de reconsideração não interrompe nem suspende o prazo para a interposição do recurso próprio. E não se pode transformar o pedido de reconsideração em agravo. Inventariante. Destituição. Inconformismo sem indicação da lei afrontada ou prova adequada de dissídio jurisprudencial. Recurso especial não conhecido” (STJ-4ª Turma, REsp 13.026-RJ, rel. Min. Athos Carneiro, j. 31.10.1991, v.u., DJ 02.12.1991, p. 17.543).

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176

partir do primeiro dia útil seguinte ao termo das férias, independentemente

de comunicação, nos termos do art. 179 do CPC.

Ocorrendo preclusão, extingue-se a faculdade de praticar ato

processual, sem que seja necessário pronunciamento judicial declarando-a.

Prescreve, no entanto, o CPC que, caso a parte comprove que deixou de

praticar ato em decorrência de justa causa, o juiz fixe prazo para a prática

do ato processual.

Trata-se de restituição do prazo para recorrer, que não se

confunde com suspensão ou interrupção, tendo em vista que ele corre por

inteiro sem qualquer paralisação.

Por justa causa, deve ser entendido, segundo o § 1º do art. 183

do CPC, “o evento imprevisto, alheio à vontade da parte e que a impediu de

praticar o ato por si ou por mandatário”.

Esse conceito não se confunde com o motivo de força maior

constante do art. 507, uma vez que, neste caso, a repercussão é

transindividual, enquanto que, naquele, é atingida de modo privado a parte

que a suscita.

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177

É indispensável que a parte comprove, por qualquer meio, a

ocorrência de justa causa, já que a norma não impôs qualquer restrição ao

meio de prova hábil a atestá-la.

Em regra, a tempestividade do recurso é auferida pela data em

que foi protocolarizada a petição no órgão do Poder Judiciário ou segundo

norma de legislação de organização judiciária.

Por previsão legal, pode a lei de organização judiciária local

disciplinar o recebimento da petição recursal por outro modo, tal como se

dá com a adoção do protocolo integrado, devendo a tempestividade do

recurso ser auferida pela data da apresentação ao citado protocolo.278

Com a edição da Lei n.º 9.800/99, é possível a interposição de

recurso por meio de fac-símile (fax) ou qualquer meio eletrônico, tendo o

recorrente o ônus de apresentar o original no prazo de cinco dias, contados

do término do prazo recursal, nos termos do art. 2º, sob pena de não

conhecimento do recurso.

278 “Processual Civil. Recurso. Prazo. Protocolo unificado e integrado dos foros do estado. 1. No sistema de protocolo unificado e integrado, a tempestividade do recurso há que se verificar pela data da apresentação da petição ao protocolo dos foros participantes, sendo irrelevante que o mesmo dê entrada no juízo de origem após o transcurso do prazo legal. 2. Precedentes. 3. Ressalva quanto aos recursos dirigidos ao Superior Tribunal de Justiça. 4. Recurso especial conhecido e provido” (STJ-4ª Turma, REsp 20.826-SP, rel. Min. Romildo Bueno de Souza, j. 30.03.1993, maioria, DJ 11.10.1993, p. 21.321).

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178

3.5 - REGULARIDADE FORMAL

O recurso deve-se revestir das formalidades estatuídas na

legislação, sob pena de inadmissibilidade.279 Em regra, impõe a lei que o

recurso seja interposto por meio de petição escrita, com exceção do agravo

retido, que pode ser interposto oralmente, de acordo com o art. 523, § 3º,

do CPC, com a redação dada pela Lei n.º 9.139/95.

Por isso que vedada é a interposição de recurso por intermédio

de lançamento de cotas nos autos do processo. Deve a petição recursal ser

assinada por advogado legalmente constituído mediante instrumento de

mandato.

Em consonância com a noção de preclusão, se a petição

recursal não for assinada pelo procurador, há entendimento de que o

recurso deve ser considerado inexistente.280

279 Cf. Leo Rosenberg, Derecho procesal civil, p. 360. 280 “Processual – Recurso – Falta de assinatura. O recurso que não porta assinatura é de ser considerado inexistente. Recurso não conhecido” (STJ-5ª Turma, REsp 23.899-RJ, rel. Min. Cid Flaquer Scartezzini, j. 04.11.1992, v.u., DJ 23.11.1992, p. 21.898); “Recurso ordinário em mandado de segurança não assinado pelo advogado. É inexistente o recurso sem assinatura do advogado. Recurso ordinário não conhecido” (STJ-2ª Turma, ROMS 2.319-MG, rel. Min. José de Jesus Filho, j. 08.06.1994, v.u., DJ 27.06.1994, p. 16.948).

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Consentâneo com a noção instrumental do processo, que é o

mais indicável na interpretação das normas de direito processual, tem-se

atenuado o rigor do citado entendimento, a fim de considerar admissível o

recurso, desde que haja assinatura na petição recursal ou nas razões

recursais, ou de possibilitar o suprimento dessa irregularidade.281

Em regra, o advogado para atuar em juízo deve estar munido

de poderes para tanto, mediante a apresentação de instrumento de mandato.

Pode, no entanto, o advogado, ainda que não apresentado o

instrumento do mandado, afirmando urgência, praticar atos processuais,

tendo o ônus de apresentá-lo no prazo de quinze dias prorrogável até outros

quinze, sob pena de inexistência do ato processual, nos termos do art. 5º, §

1º, da Lei n.º 8.906/94.282

281 “Recurso. Assinatura do advogado apenas nas razões. Dissídio. Conhecimento e provimento do especial. Recurso assinado por procurador ad judicia, ainda que apenas nas razões, é de ser considerado como existente. Recurso especial conhecido pelo dissídio e provido” (STJ-3ª Turma, REsp 12.683-MG, rel. Min. Cláudio Santos, j. 24.02.1992, v.u., DJ 20.04.1992, p. 5.250); “Processual Civil. Recurso. Petição sem assinatura. Apelação não conhecida. Decisão cassada para ensejar sanação do vício. Precedentes da Turma. Recurso conhecido pelo dissídio. Consoante precedentes da Turma, calcado no princípio da instrumentalidade do processo, salvo a hipótese de má-fé, se deve ensejar a parte recorrente oportunidade de seu procurador subscrever a petição recursal sem assinatura” (STJ-4ª Turma, REsp 18.729-RJ, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, j. 25.02.1992, maioria, DJ 20.04.1992, p. 5.258). 282 “Merece reforma decisão que deixa de receber recurso ante a falta de procuração do subscritor da peça processual, desconsiderando protesto pela juntada do instrumento de mandato no prazo previsto no art. 37 do CPC” (STJ-3ª Turma, REsp 34.151-0-MG, rel. Min. Cláudio Santos, j. 08.06.1993, v.u., DJ 02.08.1993, p. 14.244); “Postulação sem mandato. É admissível, nas hipóteses do art. 37 do CPC (idem, Lei 4.215/63, art. 70, § 1º). Compete, todavia, ao advogado exibir o instrumento de mandato no prazo de quinze dias, independentemente de qualquer ato ou manifestação da autoridade judiciária. Não o tendo exibido, nem requerido a prorrogação por outros quinze dias (aí sim, exige-se a manifestação do juiz), acertado o acórdão que, neste caso, não conheceu dos embargos de declaração” (STJ-3ª Turma, REsp 23.877-1-PR, rel. Min. Nilson Naves, j. 22.09.1992, v.u., DJ 03.11.1992, p. 19.764).

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180

Apesar de a ausência do instrumento de mandato não se

identificar com irregularidade ou defeito de representação, o STJ, por

intermédio da Corte Especial, decidiu que, mesmo ausente o requerimento

de juntada posterior do instrumento de mandato, ultrapassado o prazo legal,

deve o juiz oportunizar à parte a possibilidade de sanar a irregularidade.283

Em decorrência do princípio da dialeticidade, deve o

recorrente expor o motivo ou fundamento da pretensão recursal, a fim de

propiciar que o órgão competente aprecie a procedência ou improcedência

da impugnação (mérito recursal), bem como para que o recorrido possa

apresentar resposta à respectiva pretensão recursal.

Trata-se, pois, de exigência derivada do princípio

constitucional do contraditório, que, modernamente, é entendido como a

necessidade de se dar conhecimento dos atos processuais e a possibilidade

de reação aos atos que sejam contrários às partes.284

283 “Processo Civil. Representação postulatória. A falta de instrumento de mandato constitui defeito sanável nas instâncias ordinárias, aplicando-se, para o fim de regularização da representação postulatória, o disposto no art. 13 do CPC. Recurso conhecido e provido” (STJ-Corte Especial, REsp 50.538-0-RS, rel. Min. Costa Leite, j. 10.11.1994, v.u., RSTJ 68/384). 284 Cf. Andrea Proto Pisani, Lezioni di diritto processuale civile, p. 218; Cândido Rangel Dinamarco, “O princípio do contraditório e sua dupla destinação”, Fundamentos do processo civil moderno, tomo I, p. 127-128; Nelson Nery Junior, Princípios do processo civil na Constituição Federal, p. 133; Sergio La China, L’execuzione forzata e le disposizioni generali del codice di procedura civile, p. 394.

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181

Deve o recorrente expor, simultaneamente com a peça

recursal, as razões recursais pelas quais se pleiteia a pretensão recural, sob

pena de inadmissibilidade.285-286

Caso contrário, o recorrido vê-se, substancialmente, privado de

apresentar contra-razões ao recurso, já que não teria condições de impugnar

as razões recursais por serem inexistentes, bem como o órgão do Poder

Judiciário não poderia cotejar as razões recursais com as constantes da

decisão que fundamentaram a parte dispositiva.287

Mera reiteração aos fundamentos deduzidos na petição inicial

ou na contestação não tem o condão de suprir a exigência da motivação

recursal, uma vez que as razões recursais devem ser cotejadas com as

constantes da decisão e não com atos processuais anteriores.288

285 Cf. Enrique Vescovi, Los recursos judiciales y demás medios impugnativos en Iberoamérica, p. 47; José Carlos Barbosa Moreira, O Juízo de Admissibilidade no Sistema dos Recursos Civis, p. 103-104; José Frederico Marques, Manual de Direito Processual Civil, vol. III, p. 185; Marcos Afonso Borges, “Dos recursos”, in RT, n. 487, p. 14; Nelson Luiz Pinto, Manual dos recursos cíveis, p. 70; Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 313; Seabra Fagundes, Dos recursos ordinários em matéria civil, p. 102; Sergio Bermudes, Curso de direito processual civil (recursos), p. 64; Sergio Sahione Fadel, O processo nos Tribunais, p. 180. 286 “Súmula 4 do 1º TACivSP – Não se conhece de apelação quando não é feita a exposição de direito e das razões do pedido de nova decisão.” 287 Renzo Provinciali afirma que “L’impugnazione si compone della dichiarazione (elemento volitivo) e dei motivi (elemento ragionativo o descritivo)” (Delle impugnazioni in generale, p. 213). 288 “Não satisfaz a exigência legal a simples e vaga referência a inicial e outras peças dos autos” (STJ-3ª Turma, REsp 43.537-4-PR, rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 12.04.1994, v.u., DJ 16.05.1994, p. 11.767); “Processual Civil. Sentença homologatória de liquidação por arbitramento. Recurso apelatório. Princípio tantum devolutum quantum appellatum e acórdão que o transcende. Impossibilidade. Ato ilícito. Indenização por perdas e danos. Lucros cessantes. Inaplicação do artigo 1.060 do Código Civil. Coisa julgada. Imutabilidade. 1. Devolvendo, o recurso, ao Tribunal, apenas o conhecimento da matéria impugnada, ofende à regra sententia debet esse conformis libello a decisão que fez a entrega de prestação jurisdicional em desconformidade com a postulação. 2. Ao Tribunal é defeso, sem a provocação da parte, desbordar-se dos limites da formulação recursal e trazer para o desate e decisão matérias fáticas e

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182

Em suma, as razões recursais devem impugnar

especificamente os fundamentos constantes da decisão recorrida. Neste

sentido, é a súmula 182 do STJ: “É inviável o agravo do art. 545 do CPC

que deixa de atacar especificamente os fundamentos da decisão agravada”.

Embora a motivação recursal deva ter pertinência com os

fundamentos que deram supedâneo à decisão, é defeso ao órgão do Poder

Judiciário, em sede de juízo de admissibilidade, investigar se fundada ou

infundada é a respectiva motivação, pois essa atividade abrange o próprio

mérito recursal.

Impende ressaltar a tendência moderna de configurar o

processo como procedimento com contraditório, realçando-se a

participação dos seus sujeitos – partes e juiz – na formação da norma

jurídica individual.289

jurídicas estranhas ao pedido (recurso). 3. Ao interpor o seu apelo, a parte deve, desde logo, expender os fundamentos basilares, sendo-lhe defeso transmudar-lhes (os fundamentos) em mera remissão a arrazoados preexistentes, transferindo ao juízo ad quem a análise de extensas alegações, impondo-lhe (ao juízo) a obrigação de extrair a presença de referência a determinados fatos ou a preceitos de lei, porventura aplicáveis ao desfecho da controvérsia. 4. As razões do recurso apelatório são deduzidas a partir do provimento judicial recorrido, e devem profligar os argumentos deste, insubstituíveis (as razões) pela simples referência a atos processuais anteriores, quando a sentença inexistia, ainda. Impende, ademais, que o Tribunal ad quem, pelos fundamentos, se aperceba, desde logo, de quais as razões efetivamente postas, pelo apelante, acerca do novo julgamento que lhe seja mais favorável (...)” (STJ-1ª Turma, REsp 25.656-6-RJ, rel. Min. Demócrito Reinaldo, j. 22.09.1993, v.u., RSTJ 54/192). 289 Cf. Elio Fazzalari, Istituzioni di diritto processuale, p. 85-89.

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183

Essa participação tem o condão de legitimar o próprio

procedimento e a decisão. Vale dizer, a legitimação do procedimento

decorre da influência qualitativa e de conteúdo dos participantes sobre a

própria decisão.290

As razões recursais devem ser apresentadas simultaneamente

com a peça recursal, sendo defeso ao recorrente aduzi-las após a

interposição do recurso, ainda que tempestivamente, em virtude da

ocorrência de preclusão consumativa, haja vista que a lei não permite - a

exemplo do que ocorre no processo penal - a apresentação das razões após

a interposição do recurso.291-292

Deve o recorrente, sob pena de inadmissibilidade, formular

pleito na peça recursal em virtude do já citado princípio do contraditório,

bem como em virtude do efeito devolutivo, já que, em regra, vige o

princípio tantum devolutum quantum appellatum.

290 Cf. Peter Häberle, Hermenêutica constitucional, p. 31-32; Willis Santiago Guerra Filho, Teoria Processual da Constituição, p. 93-95. 291 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 420; Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 314; Ovídio A. Baptista da Silva, Curso de processo civil, vol. 1, p. 422. 292 Entendendo que a falta da motivação na peça recursal, desde que seja apresentada tempestivamente em nova petição, não implica inadmissibilidade do recurso: Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo VII, p. 165.

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O recurso de apelação deve ser interposto por petição escrita,

ser dirigida ao juízo prolator da decisão recorrida, e conter o nome e

qualificação das partes, os fundamentos de fato e de direito e o pedido de

nova decisão, nos termos do art. 514 do CPC.

Em consonância com o art. 506 do CPC, legislação de

organização judiciária pode disciplinar o recebimento da petição recursal

por outro órgão, tal como ocorre com a adoção do protocolo integrado.293

A ausência, ou equívoco, da indicação do juízo competente

para apreciar o mérito do recurso não acarreta qualquer nulidade, mas mera

irregularidade. Nessa hipótese, deve o órgão perante o qual o recurso foi

interposto, após a oportunização do contraditório e desde que declarado o

juízo positivo de admissibilidade, remeter os autos ao juízo ad quem.

Em virtude da exigência de ser interposto por meio de petição

escrita, entende-se inadmissível o recurso de apelação interposto oralmente

ou por lançamento de cotas nos autos do processo.

293 “Processual Civil. Recurso. Prazo. Protocolo unificado e integrado dos foros do estado. 1. No sistema de protocolo unificado e integrado, a tempestividade do recurso há que se verificar pela data da apresentação da petição ao protocolo dos foros participantes, sendo irrelevante que o mesmo dê entrada no juízo de origem após o transcurso do prazo legal. 2. Precedentes. 3. Ressalva quanto aos recursos dirigidos ao Superior Tribunal de Justiça. 4. Recurso especial conhecido e provido” (STJ-4ª Turma, Resp 20.826-SP, rel. Min. Bueno de Souza, j. 30.03.1993, maioria, DJ 11.10.1993, p. 21.321).

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Com o advento da Lei nº 8.900/99, tornou-se possível a

interposição de recurso por meio de fac-símile ou meio semelhante,

devendo o recorrente colacionar aos autos a petição original em cinco dias

contados do termo final do prazo para recorrer.

Em função do princípio da economia processual, que norteia a

técnica do controle bipartido de admissibilidade dos recursos, impôs o

legislador que o recurso de apelação deva ser interposto perante o juízo

prolator da sentença que deve efetuar inicialmente o exame dos seus

requisitos de admissibilidade e oportunizar o contraditório.

Apesar de imposto pela lei, a doutrina e a jurisprudência têm

atenuado a exigência da indicação da qualificação das partes, mormente se

já feita anteriormente, de modo que a ausência desse dado importa uma

mera irregularidade.294-295

Utilizando-se do ideal instrumental do processo, é assente o

entendimento de que, tratando-se de ação em que tenha se formado um

litisconsorte, é suficiente a indicação de uma das partes ao lado da

expressão “e outros”. Da mesma forma que a eventual omissão da

294 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 419; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo VII, p. 168. 295 “A qualificação das partes não é essencial, quando já consta de outras peças dos autos” (RJTJESP 60/143).

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indicação da citada expressão não implica o trânsito em julgado para os

litigantes não indicados na peça recursal.296

É indispensável a indicação dos motivos na petição do recurso

em razão dos quais o recorrente pleiteia a prolação de nova decisão, em

atenção ao princípio da dialeticidade, embora o juízo ad quem não fique

adstrito aos mesmos.297

Como o recurso de apelação é de fundamentação livre – isto é,

a lei não impõe os motivos que devem ser obrigatoriamente elencados no

recurso -, o recorrente pode suscitar a ocorrência de qualquer erro (in

procedendo ou in iudicando) cometido pelo juiz, mesmo que envolva a

apreciação e convencimento de matéria de fato e reexame de provas.

Não se trata, portanto, de um recurso extraordinário, o qual

admite apenas discussão de questão de direito em função da respectiva

finalidade primordial que é a defesa do direito objetivo.

296 “O esquecimento das palavras ‘e outros’, na interposição de recurso em favor de integrantes de consórcio voltado ao exercício de ação plurissubjetiva, não traduz abandono dos constituintes, pelo advogado” (STJ-1ª Turma, REsp 142.996-SC, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 01.12.1997, maioria, DJU 20.04.1998, p. 32); “Não há necessidade do nome e da qualificação das partes constarem na apelação quando já constam em outras peças dos autos, ou seja, se os autos já contêm o nome e a qualificação não há razão para repeti-las na fase recursal” (RJTJSP 60/143). 297 “O tribunal decidirá sobre a matéria impugnada. Para fazê-lo, entretanto, não se acha adstrito ao deduzido no recurso, podendo considerar fundamentos nele não apresentados, desde que não exista a vedação constante do art. 128, parte final, do CPC” (STJ-3ª Turma, Resp 31.023-8-GO, rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 09.05.1994, v.u., DJU 13.06.1994, p. 15.102).

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Eventual recurso de apelação interposto sem a indicação das

razões (fundamentos de fato e de direito) torna-se inadmissível.298

As razões apresentadas no recurso devem ser pertinentes e se

referir à motivação da sentença, sendo inadmissível a mera referência a

peças anteriores do processo.299-300-301

De outro lado, investigar se as razões constantes do recurso de

apelação são pertinentes não implica fazer juízo sobre a procedência da

impugnação, sob pena de usurpação da competência do juízo ad quem para

apreciar o mérito recursal.

Ante à ocorrência de preclusão consumativa – prática de ato

processual, sendo vedado novo exercício da faculdade processual, ainda

298 “Súmula 4 do 1º TASP: Não se conhece de apelação quando não é feita a exposição do direito e das razões do pedido de nova decisão”; “Não se conhece de apelação desacompanhada dos fundamentos” (6º ETA – concl. 62). 299 Cf. Araken de Assis, “Condições de admissibilidade dos recursos cíveis”, in Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a lei 9.756/98, p. 43; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 419. 300 Contra: Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo VII, p. 165. Segundo o autor, havendo a indicação aos argumentos de alguma peça do processo, considera-se satisfeita a citado exigência. 301 “Processual Civil. Recurso de apelação. Efeito devolutivo. Impugnação específica. – Deve o apelante impugnar, especificamente, cada questão versada na sentença recorrida, sob pena de não se transferir ao Tribunal ad quem a matéria discutida. Recurso especial conhecido e provido” (STJ-6ª Turma, Resp 217.985-MG, rel. Min. Vicente Leal, j. 15.06.2000, v.u., DJ 01.08.2000, p. 353); “Não satisfaz a exigência legal a simples e vaga referência a inicial e outras peças dos autos” (STJ-3ª Turma, Resp 43.537-4-PR, rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 12.04.1994, v.u., DJU 16.05.1994, p. 11.767); “As razões do recurso apelatório são deduzidas a partir do provimento judicial recorrido, e devem profligar os argumentos deste, insubstituíveis (as razões) pela simples referência a atos processuais anteriores, quando a sentença inexistia, ainda. Impende, ademais, que o Tribunal ‘ad quem’, pelos fundamentos, se aperceba, desde logo, de quais as razões efetivamente postas, pelo apelante, acerca do novo julgamento que lhe seja mais favorável” (RSTJ 54/192).

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que o prazo final não tenha se expirado -, é vedada a apresentação das

razões recursais posteriormente à interposição do recurso de apelação,

ainda que feita dentro do prazo.302-303-304

Igual entendimento deve ser adotado em relação à

comprovação com a interposição do recurso do preparo, quando for

exigível pela legislação.305

Se o recurso for provido da função rescindente (=anulação), o

tribunal, ao dar provimento ao recurso, limita-se a anular a decisão

impugnada, sem substituí-la, devendo os autos ser remetidos à instância

inferior para que outra seja proferida.

De outro lado, se o recurso for provido da função substitutiva

(=reforma), o tribunal, ao dar provimento ao recurso, deve proferir novo

julgado, substituindo a decisão impugnada.

302 Cf. Flávio Cheim Jorge, Apelação cível, p. 179; Nelson Nery Junior, Princípios fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 314. 303 Contra: José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 423; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo VII, p. 165. 304 Contra: “A apresentação de razões ainda no prazo do recurso regulariza a apelação interposta sem elas” (RT 516/106). 305 “A nova redação do art. 511 do CPC é muito clara ao determinar que o recorrente comprovará no ato de interposição do recurso respectivo preparo. Concretamente, o recurso preparado após a interposição, ainda que dentro do prazo recursal, deve ser considerado deserto, eis que assim impõe a parte final do mesmo artigo” (STJ-Corte Especial, REsp 105.669-RS, rel. Min. Menezes Direito, j. 16.04.1997, maioria, DJU 03.11.1997).

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A exemplo do que ocorre com a ação, a exegese em relação à

pretensão recursal deve ser restritiva, sendo defeso ao órgão do Poder

Judiciário substituir o ato de vontade dos litigantes, embora deva reinar

uma certa flexibilidade na exegese dos termos reforma e anulação da

decisão impugnada.306

Na perspectiva de minimizar o rigor da precisão do pedido

recursal, tem-se entendido, na doutrina e na jurisprudência, que se presume

total a impugnação, se o recorrente não a limitou.307-308-309

Na hipótese de o pedido recursal ser abrangente, impugnando

totalmente a decisão, é lícito ao órgão do Poder Judiciário impingir efeito

parcialmente modificativo.

É dizer, se o recorrente pleiteia a improcedência total do

pedido da ação, é lícito que o tribunal acolha parcialmente o recurso, de

forma a julgar parcialmente procedente o pedido da demanda.310

306 Cf. Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery, Código de processo civil comentado e legislação processual civil extravagante em vigor, p. 993-994. 307 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 420; Luiz Fux, Curso de direito processual civil, p. 859. 308 Contra: Pontes de Miranda, Comentários ao código de processo civil, tomo VII, p. 171. 309 “Presume-se total a impugnação, se a parte não a limitou” (JTA 93/404). 310 “No pedido mais abrangente se inclui o de menor abrangência” (STF-2ª Turma, RE 100.894-6-RJ, rel. Min. Moreira Alves, j. 04.11.1983, v.u., DJU 10.02.1984, p. 1.019); “Cuidando-se de apelação integral, no pedido de improcedência da ação, manifestado de modo implícito nas razões de recurso, compreende-se o de redução de condenação, de menor abrangência” (RSTJ 79/249).

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Com base nesse entendimento, entende-se que é lícito ao

tribunal reduzir a verba honorária, ainda que não haja impugnação

específica, desde que a pretensão recursal seja formulada de forma

abrangente.311

Tendo presente o princípio dispositivo, a decisão a ser

proferida pelo tribunal quando do julgamento do recurso deve estar em

conformidade com a pretensão recursal, sendo vedada a prolação de

provimento intra, ultra ou extra petita.312

3.6 - PREPARO

Consiste o preparo no pagamento prévio a ser feito pelo

recorrente de despesas relativas ao processamento do recurso, sob pena de

inadmissibilidade. Trata-se de uma das espécies do gênero despesas, não se

311 “Processual civil. Apelação. Efeito devolutivo. Extensão. Honorários advocatícios. Possibilidade de conhecimento pelo tribunal. Mesmo não havendo na apelação impugnação explícita da condenação sobre os honorários advocatícios, mas havendo pedido pela procedência integral do pedido, é permitido ao órgão julgador ad quem reduzer o percentual de tal verba, porque se considera que houve devolução de toda a matéria discutida nos autos. Precedentes. Recurso não conhecido” (STJ-5ª Turma, REsp 199.500-RJ, rel. Min. Felix Fischer, j. 04.04.2000, v.u., DJ 05.05.2000, p. 158). 312 “Devolvendo a apelação ao tribunal apenas o conhecimento da matéria impugnada (tantum devolutum quantum appellatum), ressalvadas as hipóteses de matéria apreciável de ofício, ofende a regra sententia debet esse conformis libello a decisão que faz a entrega da prestação jurisdicional em desconformidade com a postulação” (STJ-4ª Turma, REsp 4.530-RS, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, j. 23.10.1990, v.u., DJU 19.11.1990, p. 13.263); “A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada, art. 515 do CPC. Ampliando o efeito devolutivo da apelação, o tribunal a quo afrontou a regra inscrita no art. 515 do CPC” (STJ-2ª Turma, REsp 3.346-0-PR, rel. Min. José de Jesus Filho, j. 24.06.1992, v.u., DJU 10.08.1992, p. 11.941).

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confundindo com aquelas relativas ao porte de remessa e de retorno dos

autos.

O pagamento do preparo, quando exigível, deve ser

comprovado no ato de interposição do recurso, sob pena de

inadmissibilidade, nos termos do art. 511 do CPC com a redação dada pela

Lei nº 8.950/94.

Trata-se, portanto, de ônus do recorrente, cujo

descumprimento gera a deserção do recurso que é um juízo negativo de

admissibilidade do recurso.

O CPC disciplina, expressamente, a exigência do preparo para

o recurso de apelação, cujo descumprimento acarreta a declaração de

deserção, nos termos do art. 519.

A partir da noção de preclusão consumativa, recurso interposto

desacompanhado do comprovante do preparo, ainda que o recorrente

proceda à juntada do documento no prazo recursal, deve ser considerado

deserto.313-314-315-316

313 Cf. Araken de Assis, “Condições de admissibilidade dos recursos cíveis”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 45; Flávio Cheim Jorge, Apelação cível, p. 198; J. E. Carreira Alvim, Código de Processo Civil reformado, p. 180-181; Nelson Nery Junior, Princípios

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Registre-se que há precedentes que afastam a aplicação da

deserção, quando resta comprovado que o pagamento do preparo foi

contemporâneo à interposição do recurso, mesmo que o recorrente tenha

procedido à juntada do respectivo comprovante após a interposição da

impugnação.317

Discute-se se, no âmbito da Justiça Federal, é necessária a

comprovação do preparo no ato de interposição do recurso de apelação,

uma vez que as Leis nº 6.042/74 e, posteriormente, a de nº 9.289/96

disciplinam que o citado requisito deve ser comprovado até cinco dias a

contar da interposição do recurso.

fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 359; Vicente Greco Filho, Direito processual civil brasileiro, 2º vol., p. 296. 314 “A nova redação do art. 511 do CPC é muito clara ao determinar que o recorrente comprovará no ato de interposição do recurso o respectivo preparo. Concretamente, o recurso preparado após a interposição, ainda que dentro do prazo recursal, deve ser considerado deserto, eis que assim impõe a parte final do mesmo artigo” (STJ-Corte Especial, REsp 105.669-RS, rel. Min. Menezes Direito, j. 16.04.1997, maioria, DJ 03.11.1997, p. 56.203). 315 Contra: Cândido Rangel Dinamarco, A reforma do código de processo civil, p. 164; Ernane Fidélis dos Santos, Novos perfis do processo civil brasileiro, p. 193; Galeno Lacerda, “Recurso – Interposição fora do expediente bancário – Interpretação do art. 511 do CPC, na redação dada pela lei 8.950/94”, in RT, n. 736, p. 95; Theotônio Negrão, Código de processo civil e legislação processual civil em vigor, p. 517. 316 Contra: “Efetuado o preparo tempestivamente, não pode ser o recurso considerado deserto pela juntada da guia após a alteração do decurso do prazo” (STJ-5ª Turma, REsp 64.215-SP, rel. Min. Félix Fischer, j. 04.08.1998, v.u., DJ 08.09.1998, p. 85). 317 “PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. PREPARO. PAGAMENTO NA DATA DA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO. COMPROVAÇÃO POSTERIOR. VALIDADE DO ATO. DESERÇÃO AFASTADA. I. Comprovado o preparo da apelação no mesmo dia da sua interposição, é de se afastar a deserção recursal, independentemente de a juntada da guia de pagamento ter sido efetuada posteriormente. II. Recurso conhecido e provido” (STJ-4ª Turma, REsp 346.283-MG, rel. Min. Aldir Passarinho Junior, dj 15.04.2002, P. 227).

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Há entendimento no sentido de que o art. 511 do CPC, com a

redação dada pela Lei 9.756/98, revogou o art. 14, inc. II, da Lei nº

9.289/96, por ser uma norma federal posterior.318

De outro lado, há a orientação no sentido da permanência da

regra prevista no art. 14, inc. II, da Lei nº 9.289/96 mesmo diante da regra

do art. 511 do CPC, em face da sua especialidade.319-320

A partir da noção de que lei geral posterior não revoga norma

especial anterior – lex posterior generalis non derogat speciali, em

conformidade com o art. 2º, § 2º, da Lei de Introdução ao Código Civil -,

tem-se que, no âmbito da Justiça Federal, o preparo do recurso de apelação

deve ser efetuado e comprovado até cinco dias a contar da respectiva

interposição.321

318 Cf. Flávio Cheim Jorge, Apelação cível, p. 197. 319 Cf. Bernardo Pimentel Souza, Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória, p. 92; J. E. Carreira Alvim, Código de processo civil reformado, p. 236; R175Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery, Código de processo civil comentado e legislação processual civil extravagante em vigor, p. 987. 320 Em hipótese semelhante – compatibilidade da Lei nº 6.032/74 com o art. 519 do CPC -, o Superior Tribunal de Justiça entendeu que a regra especial se mantém em face da norma geral posterior: “Processual civil. Para realização do preparo na Justiça Federal. Art. 10, II, da Lei 6.032/74, e a anterior redação do art. 519, CPC. O prazo para a realização do preparo, na Justiça Federal, era de cinco dias, em observância ao regramento especial que prevalecia sobre o geral, de dez dias, previsto na anterior redação do art. 519, CPC. Ninguém se escusa do cumprimento de norma especial, sob o pretexto de desconhecê-la, muito menos os advogados, que atuam na seara jurídica e possuem o dever de saber e observar os seus mandamentos. Recurso provido, por unanimidade” (STJ-1ª Turma, REsp 96.449-PR, rel. Min. Demócrito Reinaldo, j. 10.10.1996, v.u., DJ 11.11.1996, p. 43.666); “Justiça Federal. Prazo para preparo. Lei 6.032/74, artigo 10, inciso II. Na Justiça Federal, o prazo para preparo é de cinco dias, nos termos do art. 10 da Lei 6.032/74, prevalecendo esta norma sobre a regra geral do art. 519 do Código de Processo Civil” (STJ-3ª Turma, AGA 72.659-RS, rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 11.09.1995, v.u., DJ 09.10.1995, p. 33.562). 321 “PROCESSUAL – PREPARO NA JUSTIÇA FEDERAL – PREPARO DE APELAÇÃO – ART. 511 DO CPC – NÃO INCIDÊNCIA - ART. 14, LEI 9.289/96 - INTIMAÇÃO DO RECORRENTE – CAMPO MINADO - NECESSIDADE. I - A regra do Art. 511 do CPC não alcança os processos de

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Nas hipóteses em que o preparo era insuficiente, a doutrina e a

jurisprudência do STJ entendiam ser possível a respectiva

complementação, não sendo lícita o reconhecimento de deserção.322-323

Adotando essa orientação, a Lei nº 9.756/98, ao incluir o § 2º

no art. 511 do CPC, disciplina que, constatada a insuficiência no valor do

preparo, o apelante tem direito subjetivo a complementá-lo no prazo de

cinco dias a contar da intimação que o órgão do Poder Judiciário deve

determinar para tal fim.

Como insuficiência não equivale à falta, tem-se que o apelante,

que não tenha efetuado o pagamento do preparo, não tem direito subjetivo a

obter do Poder Judiciário a oportunidade prevista no art. 511, § 2º, do

CPC.324-325

competência da Justiça Federal. II - A anacrônica instituição do preparo pode acarretar o perecimento de portentosos direitos. Bem por isso, qualquer dúvida fundada em torno da deserção há que ser resolvida em favor do recorrente, para evitar que o processo transforme-se naquilo a que o eminente Ministro Eduardo Ribeiro denominou ‘Campo Minado’. III - O Art. 14, II, da Lei 9.289/96 (novo Regimento de Custas da Justiça Federal) repetiu literalmente o texto do Art. 10, II da Lei 6.032/74. Se assim ocorreu, nada justifica a mudança de critério, para afirmar que o prazo de recolhimento de custas (que, antes, era contado da intimação do recorrente) passe a ser contado da própria interposição do apelo” (STJ-1ª Turma, REsp 460-464-MG, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 18.02.2003, v.u., DJ 17.03.2003, p. 190) 322 Cf. Sálvio de Figueiredo Teixeira, “A Lei 9.756/98 e suas inovações”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 544. 323 “O pressuposto da deserção é a falta de preparo e não sua insuficiência. Demais, seja pelo serventuário ou da parte, o erro na elaboração dos cálculos não tranca a possibilidade de complementação, passível de ser exigida, até mesmo após o julgamento do recurso, com a devolução dos autos à instância de origem” (STJ-1ª Turma, AI 98.082-RJ, rel. Min. Milton Luiz Pereira, j. 16.05.1996, DJ 24.06.1996, p. 22.744). 324 Cf. Donaldo Armelin, “Apontamentos sobre as alterações ao Código de Processo Civil e à Lei 8.038/90, impostas pela Lei 9.756/98”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 203; Sergio Bermudes (Atualização legislativa), Pontes de Miranda, Comentários ao código de processo civil, tomo VII, p. 133. 325 Contra: Vicente Greco Filho, “Questões sobre a Lei 9.756, de 17 de dezembro de 1998’, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 602.

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Pelo fato de a lei não ter fixado limites, não é lícito ao órgão

do Poder Judiciário impor limites à complementação, de forma que,

constatada a insuficiência do preparo, qualquer que seja a diferença, o

apelante tem direito subjetivo a efetuar a referida complementação.326

Prevê o CPC que, provado o justo impedimento, o magistrado

deverá relevar a deserção, determinando prazo para que se efetue o preparo,

nos termos do art. 519.

Por justo impedimento, deve-se entender o evento imprevisto,

alheio à vontade da parte e que a impediu de praticar o ato por si ou por

mandatário, nos termos do art. 183, § 1º, do CPC.

O pronunciamento que releva a deserção é irrecorrível, nos

termos do art. 519, § único, do CPC.

Ademais, ainda que não houvesse disposição expressa, seria

inadmissível recurso contra o citado pronunciamento em virtude da

ausência do interesse recursal, já que essa matéria pode ser suscitada nas

326 Segundo Carlos Maximiliano, “Quando o texto dispõe de modo amplo, sem limitações evidentes, é dever do intérprete aplicá-lo a todos os casos particulares que se possam enquadrar na hipótese geral prevista explicitamente” (Hermenêutica e aplicação do direito, p. 247).

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contra-razões de apelação ou ser analisada ex officio pelo tribunal, por ser

afeta à admissibilidade recursal.327

Por outro lado, o pronunciamento do juiz que indefere o pleito

de relevação da deserção é uma decisão interlocutória, sendo recorrível por

meio do recurso de agravo de instrumento, nos termos do art. 523, § 4º, do

CPC.

Caso o recurso seja interposto sem o comprovante do

pagamento do preparo, o recorrente não poderá apresentá-lo, ainda que

tenha efetuado o pagamento no lapso temporal previsto para o recurso,

diante da ocorrência da preclusão consumativa.328-329-330-331

327 “Cabe ao STF examinar, por provação do recorrido ou ‘ex officio’, o relevamento da deserção no Tribunal de origem” (RTJ 133/889). 328 Cf. Araken de Assis, “Condições de admissibilidade dos recursos cíveis”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 45; Flávio Cheim Jorge, Apelação cível, p. 198; J. E. Carreira Alvim, Código de Processo Civil reformado, p. 180-181; Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 359; Sergio Bermudes (Atualização legislativa), in Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo VII, p. 129; Vicente Greco Filho, Direito processual civil brasileiro, 2º vol., p. 296. 329 “A nova redação do art. 511 do CPC é muito clara ao determinar que o recorrente comprovará no ato de interposição do recurso o respectivo preparo. Concretamente, o recurso preparado após a interposição, ainda que dentro do prazo recursal, deve ser considerado deserto, eis que assim impõe a parte final do mesmo artigo”(STJ-Corte Especial, REsp 105.669-RS, rel. Min. Menezes Direito, j. 16.04.1997, maioria, DJ 03.11.1997, p. 56.203). No mesmo sentido: STJ-Corte Especial, REsp 135.612-DF, rel. Min. Garcia Vieira, j. 17.12.1997, maioria, DJU 29.06.1998, p. 3. 330 Contra: Cândido Rangel Dinamarco, A reforma do código de processo civil, p. 164; Ernane Fidélis dos Santos, Novos perfis do processo civil brasileiro, p. 193; Galeno Lacerda, “Recurso – Interposição fora do expediente bancário – Interpretação do art. 511 do CPC, na redação dada pela lei 8.950/94”, in RT, n. 736, p. 95; Theotonio Negrão, Código de processo civil e legislação processual em vigor, p. 517. 331 Contra: “Efetuado o preparo tempestivamente, não pode ser o recurso considerado deserto pela juntada da guia após a alteração do decurso do prazo” (STJ-5ª Turma, REsp 64.215-SP, rel. Min. Felix Fischer, j. 04.08.1998, v.u., DJ 08.09.1998, p. 85).

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Discute-se se, quando o recurso tiver sido interposto no

decorrer do expediente forense, porém depois de cessada a atividade da

instituição bancária, a quem compete, em regra, o recolhimento do preparo,

a juntada do comprovante do pagamento do preparo pode se dar até o

primeiro dia útil subseqüente à interposição do recurso.

Pela circunstância de o horário de fechamento das agências

bancárias não ser imprevisto, inocorre o justo impedimento a que alude o

art. 519 do CPC.332

Apesar de aparentemente não consistir o órgão arrecadador das

despesas em auxiliar do juízo, pelo fato de ser, substancialmente, privado o

recorrente da efetuação do pagamento do preparo, deve ser aplicado o art.

184, § 1º, inc. II, do CPC, desde que o fechamento da instituição bancária

ocorra antes do encerramento do expediente forense, de forma a possibilitar

a juntada do comprovante do preparo até o primeiro dia útil seguinte à data

da interposição do recurso.333-334

332 “O fechamento das agências bancárias, em seu horário habitual, ainda que antes do término do expediente forense, não configura justa causa para legitimar o pagamento do preparo após extinto o prazo recursal, uma vez que não há a imprevisibilidade exigida pelo art. 183, § 1º do CPC” (STF-Pleno, Ag 209.885-RJ, rel. Min. Marco Aurélio, j. 25.03.1998, maioria, Inf. STF 104, de 23.03.1998, p. 1). 333 “Recurso. Preparo. Órgão arrecadador. Expediente forense. CPC arts. 511, 172 e 184, § 1º, II. 1. Prepara-se o recurso no ato de sua interposição. 2. Prorroga-se, no entanto, o prazo se houver término do expediente do órgão arrecadador antes do encerramento do expediente forense. 3. Os atos processuais são realizáveis das seis às vinte horas. Em tal horário, a realização do preparo é possível, juridicamente. Precedentes da 2ª Seção do STJ: Recursos especiais 122.664 e 95.269” (STJ-Corte Especial, REsp 144.958, rel. Min. Nilson Naves, v.u., DJ 12.04.1999).

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A lei dispensa a exigência do preparo a partir de critérios

objetivo e subjetivo. Em razão do primeiro, o preparo é dispensado nos

recursos de agravo retido, de embargos de declaração, e nos regidos pela

Lei n.º 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Em razão do segundo critério, com a redação dada ao § 1º do

art. 511 pela Lei n.º 9.756/98, estão dispensados do preparo o Ministério

Público, como parte ou fiscal da lei, a União, os Estados e Municípios e

respectivas autarquias e as pessoas submetidas à Lei 1.060/50.

3.7 – INEXISTÊNCIA DE FATO EXTINTIVO OU IMPEDITIVO DO

DIREITO DE RECORRER

Os fatos extintivos ou impeditivos do direito de recorrer são

requisito de admissibilidade negativo, isto é, o mérito do recurso somente é

apreciado se ausentes estiverem todos os fatos que conduzam à extinção ou

impedimento do direito de recorrer.

334 Contra: “Processual civil. Preparo. Momento. Comprovação quando da interposição. Art. 511, CPC. Princípio da consumação. Deserção. Precedentes do tribunal. Recurso desacolhido. I – O preparo do recurso deve ser comprovado quando da interposição do recurso, pena de preclusão, nos termos do art. 511, CPC, na redação dada pela Lei 8.950/94, não servindo como obstáculo o fechamento dos bancos ocorrer em horário mais cedo que o encerramento do expediente forense. II – Tendo o recorrente antecipado o termo final do prazo recursal, opera-se o princípio da consumação do prazo, a impedir a prática posterior de qualquer ato próprio de recurso” (STJ-4ª Turma, REsp 147.794, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, DJ 26.04.1999).

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Os fatos impeditivos e extintivos do direito de recorrer

traduzem atos da parte que são logicamente incompatíveis com o ato de

interpor recurso, configurando a ocorrência de preclusão lógica que

consiste na perda ou na extinção de um ônus processual pelo fato de se

haver realizado uma atividade incompatível com o exercício dessa

faculdade.

Os fatos extintivos são a renúncia do direito de recorrer e a

aceitação, ou aquiescência, da decisão, enquanto que os impeditivos são a

desistência do recurso ou da ação, o reconhecimento jurídico do pedido e a

renúncia do direito sobre o qual se funda a ação.335

A renúncia do direito de recorrer consiste em ato não

receptício pelo qual o legitimado noticia o propósito de não interpor

recurso cabível contra a decisão.

Como se trata de fato excepcional, deve o intérprete eleger

uma interpretação restritiva, de forma que a renúncia não se presume; eis a

335Cf. José Carlos Barbosa Moreira, O Juízo de Admissibilidade no Sistema dos Recursos Civis, p. 98; Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 329.

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razão pela qual parcela da doutrina declara que a renúncia só pode ser

expressa e não tácita.336-337

A renúncia ao direito de recorrer tem que ser anterior à

interposição do recurso; após a sua interposição, é possível a sua

desistência. Segundo a majoritária doutrina, ela somente pode ser efetivada

após a prolação da decisão, não se cogitando da figura da renúncia prévia à

decisão.338-339-340

A propósito, o anteprojeto do CPC, da lavra de Alfredo

Buzaid, previa expressamente a renúncia prévia à prolação da decisão,

desde que proviesse da declaração comum de todas as partes.341 Entretanto,

o Congresso Nacional, quando da votação do citado projeto, rejeitou tal

possibilidade.

336 Cf. Pinto Ferreira, Teoria e Prática dos Recursos e da Ação Rescisória no Processo Civil, p. 52; Rogério Lauria Tucci, Curso de Direito Processual, p. 225. 337 Contra: Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 329-330; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo VII, p. 85. 338 Cf. Araken de Assis, “Condições de admissibilidade dos recursos cíveis”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 30-31; Bernardo Pimentel Souza, Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória, p. 57; Flávio Cheim Jorte, Apelação cível, p. 185; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 338; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo VII, p. 85; Seabra Fagundes, Dos recursos ordinários em matéria civil, p. 199. 339 “Processo civil. Homologação de conta. Recurso cabível. Irrenunciabilidade do direito de recorrer. Da decisão homologatória de conta de liquidação cabe recurso, ainda que a parte tenha anuído com os cálculos apresentados pelo contador, eis que inexiste na sistemática processual vigente a figura da renúncia à pretensão recursal anterior ao ato judicial passível de impugnação” (STJ-3ª Turma, REsp 38.359-5-SP, rel. Min. Cláudio Santos, j. 28.02.1994, v.u., RSTJ 69/353). 340 Contra: Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 332 e ss. 341 “Art. 500 – A renúncia ao direito de recorrer, manifestada depois da sentença, independe da aceitação da outra parte; mas a renúncia antecipada só é lícita quando provém da declaração comum de todas as partes.”

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A renúncia ao direito de recorrer somente pode ser exercida,

desde que ele já tenha sido incorporado ao patrimônio do legitimado, o que

se dá com a publicação da decisão, e a previsão legal da sua recorribilidade.

Antes de publicada a decisão, há apenas expectativa do direito

de recorrer, uma vez que, no momento em que for publicada a decisão, se a

lei não previr recurso contra ela, não há direito à interposição de recurso,

tornando-se, em tese, a decisão irrecorrível.

A natureza do direito discutido em juízo – disponível ou

indisponível – não é óbice à manifestação da renúncia, pois esta se refere a

um ônus processual e não, propriamente, ao direito material.

A renúncia independe da aceitação da outra parte, por não lhe

acarretar qualquer prejuízo, nos termos do art. 502 do CPC. Não conhecido

o recurso em face da renúncia ao direito de recorrer, decerto o recurso

adesivo não deve ser conhecido, em razão da dependência que lhe é

inerente, nos termos do art. 500, inc. III, do CPC.342

342 “Art. 500 – Cada parte interporá o recurso, independentemente, no prazo e observadas as exigências legais. Sendo, porém, vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir a outra parte. O recurso adesivo fica subordinado ao recurso principal e se rege pelas disposições seguintes: (...) III – não será conhecido, se houver desistência do recurso principal, ou se for ele declarado inadmissível ou deserto.”

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Deve o advogado do legitimado que renuncia o direito de

recorrer estar munido de poderes especiais, nos termos do art. 38 do CPC,

sob pena de invalidade do ato.

Não exige a lei formalidade especial para o legitimado

manifestar a renúncia ao direito de recorrer, podendo ser aduzida por

escrito ou verbalmente, de forma expressa ou tácita; nesta última hipótese,

a mencionada vontade tem que defluir inequivocamente do ato praticado.

Independe, ainda, a renúncia de homologação judicial,

surtindo efeitos desde a emissão da vontade, nos termos do art. 158 do

CPC, ficando reservado ao órgão perante o qual foi interposto o recurso ou

a quem compete julgá-lo o exame da validade da manifestação.343-344

A renúncia ao direito de recorrer acarreta a inadmissibilidade

de recurso posteriormente interposto, fazendo com que haja a formação da

coisa julgada, em conformidade com o princípio que proíbe o venire contra

factum proprium, segundo o qual a ninguém é dado se utilizar de recurso

para perseguir determinado objetivo, se o obstáculo à sua concretização,

partiu de ato praticado por aquele mesmo que pretende impugná-la. 343“Art. 158 – Os atos das partes, consistentes em declarações unilaterais ou bilaterais de vontade, produzem imediatamente a constituição, a modificação ou a extinção de direitos processuais. Parágrafo único. A desistência da ação só produzirá efeitos depois de homologada por sentença.” 344 Cf. José Frederico Marques, Manual de Direito Processual Civil, vol. III, p. 195; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo III, p. 65.

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Tratando-se de litisconsórcio simples, os atos ou as omissões

prejudiciais ou favoráveis somente atingem aquele que os praticou ou que

se absteve de praticar, não alcançando aos demais litisconsortes, nos termos

do art. 48 do CPC.345

Entretanto, no litisconsórcio unitário, diante da necessidade de

incindibilidade da decisão para todos os litisconsortes, em virtude da

presença de uma única lide, os atos ou omissões prejudiciais praticados por

um dos litisconsortes, embora válidos, são ineficazes, sem que haja a

confirmação por todos os demais, enquanto que os atos ou omissões

favoráveis praticados por um dos litisconsortes a todos aproveitam, sendo

exemplo a regra de que trata o art. 509 do CPC, segundo a qual o recurso

interposto por um dos liticonsortes a todos aproveita.346

Indaga-se se a renúncia ao direito de interpor o recurso

independente tem o condão de extinguir, também, o de interpor recurso

adesivo.

345 “Art. 48 – Salvo disposição em contrário, os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a parte adversa, como litigantes distintos; os atos e omissões de um não prejudicarão nem beneficiarão os outros.” 346 Cf. Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, vol. 2, p. 104; Cândido Rangel Dinamarco, Litisconsórcio, p. 150; José Carlos Barbosa Moreira, Listisconsórcio unitário, p. 174; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo. VII, p. 87.

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Utilizando-se do fundamento para justificar a impossibilidade

de renúncia prévia à decisão, como o direito de interpor recurso adesivo

nasce com a interposição do recurso independente pela parte contrária, ante

decisão da qual decorreu sucumbência recíproca, e não com a mera

publicação desta, a renúncia do direito ao recurso independente não tem o

condão de extinguir o direito de interpor o adesivo, à luz de uma

interpretação restritiva.347

Segundo o art. 503 do CPC, a aquiescência ou aceitação da

decisão é um fator extintivo do direito de recorrer pelo qual o legitimado

manifesta vontade de se conformar com o seu teor.348

A aquiescência pode ser total ou parcial, conforme se refira a

toda ou a parcela da parte dispositiva da decisão, respectivamente.

Regulam o caput e o parágrafo único do art. 503 que pode ser a

aquiescência expressa ou tácita, sendo esta considerada “a prática, sem

reserva alguma, de um ato incompatível com a vontade de recorrer”.

347 Embora parcela da doutrina admita que a renúncia ao direito de interpor recurso independente não extingue o direito de interpor recurso adesivo, há a ressalva de que, querendo, o legitimado pode, após publicação da decisão, renunciar aos recursos independente e adesivo. Nesse sentido, cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 341; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo VII, p. 87; Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 348-349. 348 “Art. 503 – A parte, que aceitar expressa ou tacitamente a sentença ou a decisão, não poderá recorrer.”

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Como se trata de fato excepcional, a interpretação deve ser

restritiva, de modo que o órgão julgador somente declara a

inadmissibilidade do recurso em razão da aquiescência, desde que a

vontade de conformação do legitimado com a decisão resulte inequívoca,

isto é, havendo dúvidas, o recurso não deve ser inadmitido por esse

motivo.349-350

Prolatada a decisão, o legitimado pode manifestar a sua

aquiescência, sendo inválida a aceitação prévia à decisão.351 Mesmo após a

interposição de recurso, é lícito ao legitimado manifestar aquiescência com

a decisão recorrida, devendo o órgão julgador declarar a inadmissibilidade

em razão da ocorrência de aceitação superveniente.352

Independe a aquiescência de aceitação da outra parte, já que é

ato unilateral, além de o prejuízo dela decorrente atingir somente aquele

que a emitiu. O CPC não impôs forma especial para a realização da

aquiescência, podendo, por isso, ser realizada por escrito ou verbalmente.

349 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 343; Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 353. 350 “Prática de ato incompatível com a vontade de recorrer (CPC, art. 503, par. único). Na dúvida, deve-se entender que não aquiesce a decisão a parte vencida que se reserva a possibilidade de recorrer. Recurso conhecido e provido” (STJ-3ª Turma, REsp 1.921-RS, rel. Min. Gueiros Leite, j. 25.09.1990, v.u., DJ 17.12.1990, p. 15.370). 351 “Aceitação da sentença. 1. Não é o seu caso, se a manifestação se verifica anteriormente. 2. Na dúvida, ‘deve-se entender que não houve aquiescência’. 3. Hipótese em que não ocorreu a prática de ato incompatível com a vontade de recorrer. 4. Recurso especial conhecido e provido” (STJ-3ª Turma, REsp 37.593-SP, rel. Min. Nilson Naves, j. 12.04.1994, v.u., DJ 16.05.1994, p. 11.761). 352Contra: Flávio Cheim Jorge, Apelação cível, p. 191. Diz o autor que, se o legitimado após a interposição do recurso cumprir o comando da decisão, é caso de ausência de interesse superveniente em recorrer.

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Aplicam-se à aquiescência as mesmas considerações feitas, quando se

analisou a renúncia ao direito de recorrer, em relação ao litisconsórcio

simples e unitário.

Desistência do recurso é o ato pelo qual o recorrente noticia ao

órgão julgador o propósito de não ser apreciado o mérito do recurso

interposto. Independe da anuência do recorrido, nos termos do art. 501 do

CPC, já que desse ato não acarreta prejuízo àquele e pressupõe recurso

interposto ao contrário do que se dá com a renúncia.

Não há que se cogitar de prejuízo ao recorrente adesivo, já que

o recurso dependente está subordinado ao principal, sendo aplicável o

inciso III do art. 500 do CPC, segundo o qual, inadmitido o recurso

principal, necessariamente o adesivo também o será.353

A desistência pode ser total ou parcial, conforme diga respeito

à totalidade ou à parcela do pedido formulado no recurso. Malgrado o art.

501 estabelecer que a desistência pode ser efetuada a qualquer tempo, deve-

se entender que ela pode ser manifestada até o início da votação do recurso,

353“Art. 500. Cada parte interporá o recurso, independentemente, no prazo e observadas as exigências legais. Sendo, porém, vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir a outra parte. O recurso adesivo fica subordinado ao recurso principal e se rege pelas disposições seguintes: (...) III – não será conhecido, se houver desistência do recurso principal, ou se for ele declarado inadmissível ou deserto.”

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podendo, por exemplo, ser aduzida quando da sustentação oral do

recurso.354-355

Não impôs a lei forma para a desistência do recurso, podendo

o legitimado manifestá-la expressamente, por escrito ou verbalmente,

como, por exemplo, em sustentação oral do recurso, ou tacitamente nas

hipóteses de que tratam os arts. 523, § 1º e 542, § 3º, do CPC.356

Deve o advogado do legitimado, que desiste do recurso

interposto, ter poderes especiais para tanto, nos termos do art. 38 do CPC,

sob pena de invalidade do ato.357-358

Os efeitos decorrentes da desistência – inadmissibilidade do

recurso e respectivo trânsito em julgado da decisão recorrida – independem

de homologação judicial, nos termos do art. 158 do CPC.359-360

354 Cf. Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 355-356; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo VII, p. 78. 355 “Penal. Processual penal. Recurso de 'Habeas corpus'. Desistência formulada por advogado na tribuna pouco antes do relator proferir o voto. – Homologa-se a desistência formulada pelo advogado do recorrente mesmo depois de apresentado o relatório a turma julgadora. – Desistência homologada (RISTJ, art. 34, IX)” (STJ-5ª Turma, RHC 979-RJ, rel. Min. Edson Vidigal, j. 15.04.1991, v.u., DJ 06.05.1991, p. 5.670). 356 “Art. 523 – Na modalidade de agravo retido o agravante requererá que o tribunal dele conheça, preliminarmente, por ocasião do julgamento da apelação. § 1º- Não se conhecerá do agravo se a parte não requerer expressamente, nas razões ou na resposta da apelação, sua apreciação pelo Tribunal”; “Art. 542 – omissis. § 3º - O recurso extraordinário, ou o recurso especial, quando interpostos contra decisão interlocutória em processo de conhecimento, cautelar, ou embargos à execução ficará retido nos autos e somente será processado se o reiterar a parte, no prazo para a interposição do recurso contra a decisão final, ou para as contra-razões”. 357 Cf. Arruda Alvim, Tratado de direito processual civil, vol. 2, p. 690. 358 “A cláusula ad judicia não dá ao advogado poderes para desistir de recurso já interposto, pois para desistir a lei exige poderes especiais, incidindo na espécie a segunda parte do CPC 38” (STF-1ª Turma, Ag 178.852-6-SP, rel. Min. Celso de Mello, DJ 28.02.1996, p. 4.443). 359 “Art. 158 – Os atos das partes, consistentes em declarações unilaterais ou bilaterais de vontade, produzem imediatamente a constituição, a modificação ou a extinção de direitos processuais. Parágrafo único. A desistência da ação só produzirá efeitos depois de homologada por sentença.” 360 Cf. José Frederico Marques, Manual de Direito Processual Civil, vol. III, p. 194; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo III, p. 64.

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Nada obstante, deve o órgão perante o qual foi interposto o

recurso ou o competente para o seu julgamento, antes de declarar a

inadmissibilidade do recurso interposto, exercer atividade cognitiva acerca

da validade daquela manifestação.

Manifestação de desistência de recurso independente não

impede posterior interposição de recurso adesivo, já que o direito de fazê-lo

adquire-se com a interposição de recurso independente contra decisão da

qual decorre sucumbência recíproca.361

Aplicam-se à desistência do recurso as mesmas considerações

feitas, quando se examinou a renúncia ao direito de recorrer, em relação ao

litisconsórcio simples e unitário.

A desistência da ação consiste em fato impeditivo de recorrer

pela qual o autor noticia o propósito de extinguir, sem análise do mérito, a

ação proposta, nos termos do inc. VIII do art. 267 do CPC.362

A manifestação de desistência do direito de ação pode ser

efetuada pelo autor, cujos efeitos dependem de homologação judicial, nos 361 Cf. José Afonso da Silva, Do recurso adesivo no processo civil brasileiro, p. 116; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 333; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo VII, p. 84. 362 “Art. 267 – Extingue-se o processo, sem julgamento de mérito: (...) VIII – quando o autor desistir da ação”.

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termos do parágrafo único do art. 158 do CPC, devendo o órgão julgador

examinar a sua validade, mormente no que se refere aos poderes especiais

de que deve estar munido o advogado do autor (art. 38, CPC).

Até o escoamento do prazo para resposta ou a sua

apresentação, é lícito ao órgão julgador homologar a desistência sem o

consentimento do réu, nos termos do § 4º do art. 267 do CPC.363-364 Isso

porque, formada a relação jurídica processual, o réu pode ter interesse no

julgamento de improcedência do pedido da ação com formação de coisa

julgada material. Opondo o réu resistência infundada, que não deve ser

aceita por configurar abuso de direito, cabe o órgão julgador homologar o

requerimento de desistência da ação.

O reconhecimento jurídico do pedido consiste em fator

impeditivo do direito de recorrer, pelo qual o réu admite fundado o pedido

formulado pelo autor, devendo o juiz julgá-lo procedente, nos termos do

inc. II do art. 269 do CPC.

Como se trata de ato de disposição de direito material, sob

pena de invalidade do reconhecimento jurídico do pedido, a lei exige que o

363 Cf. Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, vol. 2, p. 375-376. 364 “Art. 267 – omissis. § 4º – Depois de decorrido o prazo para a resposta, o autor não poderá, sem o consentimento do réu, desistir da ação.”

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advogado da parte capaz esteja munido de poderes especiais (art. 38, CPC),

e somente pode se referir a direitos disponíveis.365

A renúncia ao direito sobre que se funda a ação é fator

impeditivo do direito de recorrer, pelo qual o autor manifesta a

disponibilidade do direito deduzido na petição inicial, devendo o juiz julgar

improcedente o pedido da ação, nos termos do inc. V do art. 269 do CPC.

Registre-se que, ainda que se realize qualquer um dos fatos

extintivos ou impeditivos do direito de recorrer, é lícito ao legitimado

recorrer da decisão, objetivando discutir a existência ou a extensão do

aludido ato, porquanto inexiste preclusão lógica.366

3.8 - APELAÇÃO ADESIVA

Em muitos casos, as partes não obtêm do Poder Judiciário

decisão totalmente favorável. Na hipótese de decisão parcialmente

favorável e desfavorável, ambas as partes podem interpor recurso, visando

à obtenção de julgamento favorável na parcela que foi vencida. Dá-se o que

se denomina de sucumbência recíproca, isto é, ambas as partes são

parcialmente vencedoras e vencidas. 365 Cf. E. D. Moniz Aragão, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. II, p. 417. 366 Cf. Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 351-352.

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No sistema do CPC de 1939, cada parte tinha o ônus de

interpor recurso no prazo comum. Caso não o interpusesse, não mais seria

lícito impugnar a decisão na parcela desfavorável em virtude da formação

da coisa julgada.

Por isso que, ainda que se conformasse com o teor da decisão,

uma das partes era levada a recorrer, diante da possibilidade de a outra

recorrer e haver, portanto, a extensão do procedimento.

O CPC de 1973 introduziu a figura do recurso adesivo,

dispondo, no art. 500, que “Cada parte interporá o recurso,

independentemente, no prazo e observadas as exigências legais. Sendo,

porém, vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles

poderá aderir a outra parte. O recurso adesivo fica subordinado ao recurso

principal e se rege pelas disposições seguintes: I – será interposto perante a

autoridade competente para admitir o recurso principal, no prazo de que a

parte dispõe para responder; II – será admissível na apelação, nos embargos

infringentes, no recurso extraordinário e no recurso especial; III – não será

conhecido, se houver desistência do recurso principal, ou se for ele

declarado inadmissível ou deserto. Parágrafo único. Ao recurso adesivo se

aplicam as mesmas regras do recurso independente, quanto às condições de

admissibilidade, preparo e julgamento no tribunal superior”.

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De acordo com o citado preceito, as partes podem recorrer no

prazo comum da decisão que lhes foi desfavorável. No entanto, se inclinada

a se conformar com a decisão da qual resultou sucumbência recíproca e na

expectativa de que a parte adversa se abstenha de recorrer, a parte pode

aguardar o decurso do prazo comum para a interposição do recurso. Se a

parte adversária não interpôs recurso, há a formação da coisa julgada.

No entanto, se tiver ela interposto recurso, surge a

possibilidade de a parte, que ficou inerte no prazo comum do recurso,

interpor recurso adesivo, visando ao julgamento favorável na parcela que

foi vencida.

Na lição de José Afonso da Silva:

“Sua inserção [recurso adesivo] no sistema dos recursos provoca

um efeito psicológico diametralmente oposto ao que acontece

em sua falta. Neste caso, havendo sucumbência recíproca, todos

recorrem, mesmo quando se disponham a aceitar o julgado,

movidos pelo medo de recurso do adversário e pioramento de

sua situação no provimento deste, uma vez impossibilitado de

recorrer depois. Inverte-se a situação na presença do recurso

adesivo. Esse temor desaparece. Aquele que deseja recorrer é

que vai pensar duas vezes antes de abrir a via recursal, com

recurso principal, dando margem ao outro de, após o prazo,

aderir, propiciando julgamento contra o interesse daquele.

Então, balanceará a situação para verificar se não é mais

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conveniente ficar com o que já obtivera do que arriscar-se a

perdê-lo na busca de um pouco mais”.367

O recurso adesivo não é uma nova modalidade recursal, mas,

sim, um modo especial de interpor a apelação, os embargos infringentes, o

recurso especial e o recurso extraordinário. Isto é, as partes podem interpor

esses recursos de duas formas: pela via principal ou pela via adesiva.368

A terminologia adotada pelo direito brasileiro não é a mais

adequada, uma vez que a parte que interpõe o recurso adesivo não adere à

pretensão recursal formulada pela parte adversária.

Diante da idéia de que a parte que interpõe o recurso adesivo

se conformou inicialmente com a decisão, orienta-se a doutrina no sentido

de que é inadmissível o recurso adesivo quando o recorrente tenha

interposto o recurso principal inadmissível.

Segundo Flávio Cheim Jorge,

“É preciso, portanto, diante dessas considerações, ter sempre

presente que a própria interposição da apelação adesiva somente

se origina do fato de a parte contrária ter inicialmente apelado.

A parte, a princípio satisfeita com o julgamento obtido, interpõe

367 Do recurso adesivo no processo civil brasileiro, p. 109-110. 368 Cf. José Afonso da Silva, Do recurso adesivo no processo civil brasileiro, p. 117-118; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 313.

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o recurso porque a outra parte recorreu. Se a parte realmente

estivesse insatisfeita com a sua vitória parcial, recorreria desde

logo, por meio do recurso de apelação principal e independente.

(...) A apelação adesiva não serve, por essa razão, para socorrer

a parte que perdeu o prazo do recurso principal”. 369

Esse entendimento afigura-se correto não em virtude da noção

de que inicialmente a parte se conformou com a decisão, mas, sim, em

decorrência da preclusão consumativa.370-371

Nos termos do art. 500 do CPC, para que o recurso adesivo

seja admissível é necessário que: tenha ocorrido sucumbência recíproca; o

recurso principal, que pode ser a apelação, os embargos infringentes, o

recurso especial e o recurso extraordinário seja admitido; e sejam

preenchidos os requisitos de admissibilidade que são os mesmos do recurso

principal.

Ocorre a sucumbência recíproca quando o autor e réu são

parcialmente vencedores e vencidos. Sem que haja sucumbência recíproca,

inadmissível é o recurso adesivo.372

369 Apelação cível, p. 251. 370 Cf. Athos Gusmão Carneiro, “Observações sobre o recurso adesivo”, RT, vol. 18, p. 162; Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 162-163. 371 “Processual civil – Recurso adesivo – Aditamento da apelação interposta – Inadmissibilidade. Tendo em vista o propósito do recurso adesivo e o princípio da consumação, a parte que, no prazo legal, apresentou recurso autônomo não pode recorrer adesivamente. Recurso não conhecido” (STJ-2ª Turma, REsp 179.586-RS, rel. Min. Peçanha Martins, j. 16.11.2000, v.u., DJ 18.12.2000, p. 175); “Quem interpôs fora de prazo o recurso principal não pode interpor o adesivo, porque contra ele já transitou em julgado a sentença ou acórdão” (STJ-4ª Turma, REsp 9.806-SP, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, j. 10.03.1992, v.u., DJ 30.03.1992, p. 3.992). 372 “Não cabe recurso adesivo quando não há mútua sucumbência” (STJ-3ª Turma, REsp 5.548-RJ, rel. Min. Dias Trindade, j. 29.04.1991, v.u., DJ 01.07.1991, p. 9.190).

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No caso de julgamento simultâneo de duas ou mais ações

reunidas em razão de conexão ou continência, sendo o pedido de uma

totalmente acolhido e o da outra totalmente desacolhido, não há que se

cogitar de sucumbência recíproca, uma vez que, a rigor, se tratam de duas

ações, de cujos julgamentos não resultou sucumbência recíproca.373 Mesmo

raciocínio deve ser utilizado no caso de julgamento simultâneo de ação e

reconvenção.

Na hipótese de cumulação de ações, em que são deduzidos

dois ou mais pedidos, como a decisão judicial não pode ser, salvo exceções

legais de que é exemplo o art. 498, dividida em capítulos, há sucumbência

recíproca, caso não sejam acolhidos integralmente todos os pedidos

formulados.

Como o recurso adesivo é subordinado ao recurso principal,

caso este não seja conhecido aquele também não o será, nos termos do inc.

III do art. 500 do CPC.374

373 “Recurso adesivo – Âmbito – Julgamento simultâneo de duas ações – Sucumbência total em uma delas – Interposição ao principal da outra – Inadmissibilidade. Julgadas simultaneamente duas ações, quem perde in totum uma delas não pode aderir ao recurso principal da outra parte” (2º TACivSP, Ap. 151.329, rel. Juiz Franciulli Netto, j. 20.12.1982, RT 81/191). 374 “Agravo regimental. Recurso especial não admitido. Impossibilidade de seguimento do recurso adesivo. Artigo 500, inciso III, do Código de Processo Civil. 1. O recurso especial adesivo está subordinado ao recurso principal, assim, negado seguimento ao recurso especial principal, decisão da qual não se recorreu, inadmissível a pretensão de se determinar o prosseguimento do recurso adesivo independente do recurso especial principal. 2. Agravo regimental improvido” (STJ-3ª Turma, AGA 183.847-SP, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j. 22.09.1998, v.u., DJ 16.11.1998).

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216

O objeto do recurso adesivo limita-se à parcela da parte

dispositiva da decisão que foi desfavorável ao recorrente. Lógico que pode

o recorrente, à luz do princípio dispositivo, impugnar total ou parcialmente

a parte da decisão desfavorável.

É importante registrar que o objeto do recurso adesivo não

necessariamente deve ser conexo com a matéria impugnada no recurso

principal, pois a lei não fez qualquer restrição.375-376

A admissibilidade da apelação adesiva reclama, ainda, a

presença dos mesmos requisitos do recurso principal, isto é, todos os

requisitos de admissibilidade do recurso principal devem estar presentes no

recurso adesivo.

Assim, em qualquer recurso adesivo, devem estar presentes os

requisitos genéricos, que são o cabimento, a legitimidade para recorrer, o

interesse em recorrer, a tempestividade, a regularidade formal, a

375 Cf. Armando Roberto Holanda Leite, “Recurso adesivo – Subordinação ao principal”, RePro, n. 21, p. 294; José Afonso da Silva, Do recurso adesivo no processo civil brasileiro, p. 124-125. 376 “Recurso especial – Objeto do recurso adesivo – Ofensa ao artigo do CPC – Precedentes. I - O artigo 500 do CPC não impõe deva o adesivo contrapor-se unicamente ao tema impugnado no recurso principal, pois a lei faz referência apenas à sucumbência recíproca, à interposição do recurso principal, ao atendimento do prazo para oferecer as razões e ao conhecimento do recurso principal como condição para o exame do adesivo. II - Precedentes da Corte. III - Recurso Especial conhecido e provido” (STJ-3ª Turma, REsp 203.874-SC, rel. Min. Waldemar Zveiter, j. 16.02.2001, v.u., DJ 09.04.2001, p. 353); “O objeto da impugnação formulada no recurso adesivo não deve guardar, necessariamente, relação com a matéria cogitada na apelação principal” (STJ-3ª Turma, REsp 41.398-2-ES, rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 19.04.1994, v.u., DJ 23.05.1994, p. 12.605).

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217

inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer e, quando

exigível, o preparo.

A legitimidade do recurso adesivo compete à parte que é

recorrida em relação ao recurso principal.377-378

Indaga-se se o Ministério Público, quando atua como custos

legis, e o terceiro prejudicado possuem legitimidade para interpor recurso

adesivo.

Considerando que estes não ocupam a posição de parte, infere-

se que eles não detêm legitimidade para interpor recurso adesivo.379

Utilizando o mesmo argumento, conclui-se que é defeso às partes aderir ao

recurso interposto pelo terceiro prejudicado ou pelo Ministério Público.

No caso de haver a formação de litisconsórcio simples em um

dos pólos da ação, e em sendo o recurso principal interposto pela parte

adversa, somente tem legitimidade para interpor o recurso adesivo o

litisconsorte a quem o recurso principal diga respeito, vale dizer, o

litisconsorte deve ser recorrido em relação ao recurso principal, estando, 377 Cf. Sérgio Rizzi, “Recurso adesivo”, RePro, n. 30, p. 257. 378 “Na apelação, o recurso adesivo é amplo, não ficando limitado pelo alcance do recurso principal, embora deva ser obrigatoriamente dirigido contra o apelante principal” (RT 601/118). 379 Cf. José Afonso da Silva, Do recurso adesivo no processo civil brasileiro, p. 174-175; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 316.

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portanto, sujeito aos efeitos da decisão que vier a ser proferida nesse

recurso.

Se se tratar de litisconsórcio unitário, como a lide é única,

qualquer um dos litisconsortes possui legitimidade para interpor recurso

adesivo.380

O interesse em interpor recurso adesivo deve ser aferido com

base no binômio necessidade-utilidade do provimento jurisdicional

solicitado. Deve-se levar em consideração a finalidade do recurso adesivo,

que é devolver ao órgão competente para apreciar o recurso a cognição

sobre matéria não abrangida no objeto do recurso principal.

O recurso de apelação adesiva deve ser interposto no prazo de

15 (quinze) dias que a parte dispõe para apresentar contra-razões ao recurso

principal.

Como um dos requisitos do recurso adesivo é a presença dos

mesmos requisitos do recurso principal, deve aquele ser interposto por

petição escrita em separado das contra-razões e conter a exposição do fato e

380 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 315.

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de direito, a demonstração do cabimento do recurso interposto, as razões do

pedido de reforma da decisão recorrida, sob pena de inadmissibilidade.381

Os fatos impeditivos e extintivos do poder de recorrer

traduzem atos da parte que são aqueles logicamente incompatíveis com o

ato de interpor recurso, configurando a ocorrência de preclusão lógica que

consiste na perda ou na extinção de uma faculdade processual, ou ônus,

pelo fato de se haver realizado uma atividade incompatível com o exercício

da faculdade.

Caso a parte tenha praticado algum dos mencionados fatos em

relação ao recurso principal, pode ele, ainda, interpor recurso adesivo?

Como nessas hipóteses o aplicador do direito deve adotar uma

interpretação restritiva, eventual fato impeditivo ou extintivo que torne

inadmissível recurso principal não pode impedir que a mesma parte

interponha recurso adesivo.382

O recurso adesivo deve ser interposto perante a própria

autoridade judiciária competente para admitir o recurso principal. Incumbe 381 “Recurso adesivo – Necessidade para a sua consideração, de que seja interposto na forma prevista na lei adjetiva vigente – Simples pedido de reforma de sentença, formulado em contra-razões à apelação da outra parte – Inadmissibilidade – Inteligência e aplicação do art. 500 do Código de Processo Civil de 1973” (RT 471/237). 382 Cf. Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – teorial geral dos recursos, p. 348.

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ao juízo perante o qual foram interpostos os recursos principal e adesivo

emitir, provisoriamente, o juízo de admissibilidade a respeito dos dois

recursos.

Em virtude da subordinação, a admissibilidade do recurso

principal deve ser analisada antes da do recurso adesivo. Caso o principal

seja inadmitido, necessariamente o adesivo também o será.

Questiona-se se, na hipótese de o adesivo ter sido inadmitido

tão-somente pela inadmissão do principal, se o recorrente adesivo tem o

ônus de interpor o recurso de agravo, sob pena de preclusão. Como o juízo

negativo de inadmissibilidade ocorreu com base no fato de o recurso

principal ter sido inadmitido, em havendo reforma da decisão no sentido de

se admitir o recurso principal, o recurso adesivo também deve ser

analisado, ainda que não tenha havido interposição do recurso de agravo.

Da mesma forma que, se o recurso adesivo for inadmitido por

outras razões que não a referente à inadmissão do principal, deve o

recorrente adesivo interpor recurso de agravo, sob pena de preclusão.

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No órgão competente para julgar os recursos, em regra o

principal deve ser julgado antes do adesivo, haja vista a subordinação deste

em relação àquele.

No entanto, quando a matéria alegada no recurso adesivo for

prévia em relação à matéria do recurso principal, deve o tribunal analisar,

inicialmente, a admissibilidade do principal e, em seguida, apreciar a

admissibilidade e mérito do adesivo. Após julgar o adesivo, é que o

tribunal julga o mérito do principal.

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CAPÍTULO IV – EFEITOS

4.1 – EFEITO DEVOLUTIVO

O efeito devolutivo, que é consectário do princípio dispositivo,

consiste na devolução da matéria impugnada pelo apelante nas razões e

pedido recursais ao tribunal.

É o recorrente quem fixa a extensão do efeito devolutivo,

devendo o tribunal estar adstrito à pretensão recursal, em consonância com

o brocardo tantum devolutum quantum appellatum.

Neste prisma, tem-se que é lícito ao recorrente impugnar, total

ou parcialmente, a decisão recorrível.

Em relação à profundidade do efeito devolutivo, que se refere

às matérias cognoscíveis pelo tribunal quando do julgamento da apelação,

respeitada a extensão (tantum devolutum quantum appellatum), previu o

CPC, no § 1º do art. 515 do CPC, que todas as questões suscitadas e

discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por

inteiro, podem ser apreciadas.

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O § 2º do citado preceito prescreve que, quando o pedido ou

defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a

apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.

Verifica-se que, a partir do tratamento eleito pelo CPC, a

profundidade do efeito devolutivo é muito ampla, respeitada a extensão

que, em regra, é fixada pelo recorrente.

Destaque-se que, respeitada a extensão da devolução, as

questões de fato e de direito discutidas e apreciadas, ainda que a sentença

não as tenha julgado por inteiro, estão sujeitas à cognição do tribunal.

Registre-se que o acórdão a ser proferido pelo tribunal em sede

de apelação deve ser completo, de modo a analisar os fundamentos

jurídicos suscitados pelas partes no recurso de apelação e nas contra-razões,

à luz da feição do princípio da motivação.

Veja-se o entendimento de Teresa Arruda Alvim Wambier:

“A necessidade jurídica de a decisão ser completa, e não

simplesmente suficientemente fundamentada não existe com

relação às decisões que estão sujeitas a recurso cujo efeito

devolutivo tenha dimensão horizontal e vertical. O caso típico é

o da sentença de primeiro grau sujeita a apelação. (...) Mesmo

assim, terá o Tribunal de analisar – seja para acolhê-la ou

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224

rechaçá-la – a causa de pedir desprezada (não analisada) pelo

juízo a quo, cuja análise, àquela altura, ou seja, momento da

prolação da sentença, era desnecessária”.383

O acórdão proferido pelo tribunal em sede de apelação deve

analisar os relevantes fundamentos jurídicos ou de causa de pedir suscitado

pelo recorrente, sob pena de nulidade.384-385

De outro lado, as questões de fato não suscitadas e as não

discutidas no processo não podem ser examináveis pelo tribunal,

ressalvadas a hipótese constante do art. 517 do CPC e as matérias

cognoscíveis de ofício (CPC, art. 267, § 3º).386

Como, na jurisdição ordinária, vigoram os brocardos iura novit

curia e da mihi factum, dabo tibi ius, é lícito ao tribunal, em sede de

apelação, emprestar qualificação jurídica diversa da elencada pelas partes

383 Omissão judicial e embargos de declaração, p. 104. 384 Cf. Arruda Alvim, “Nulidade de acórdão e de sentença”, Direito Processual Civil, v. 1, p.229. 385 “Acórdão – Omissão – Pedido de declaração desatendido. Havendo o acórdão se omitido quanto ao exame de matéria relevante, deduzida pelo recorrente, haveria de ser a falta suprida no julgamento dos declaratórios. A falta importa violação do disposto no art. 458, II, combinado com o art. 165 do CPC, bem como do que se contém no art. 535, II, do mesmo Código” (STJ-3ª Turma, REsp 455-MG, rel. Min. Eduardo Ribeiro, DJU 13.06.1994, p. 15.108); “Processual civil. Sentença. Motivação. 1. É nula a sentença que não procede à análise das questões de fato indispensáveis ao deslinde da causa. Interpretação dos arts. 131 e 458, II, do CPC. 2. Recurso conhecido e provido” (STJ-3ª Turma, REsp 37.527-4-MA, rel. Min. Costa Leite, RSTJ 54/337). 386 “A questão não suscitada (nem discutida no processo) não pode ser objeto de apreciação pelo tribunal, no julgamento da apelação. De questão de fato, presa ao interesse da parte, não pode o tribunal tomar conhecimento de oficio. Hipótese em que ocorreu ofensa ao art. 515, § 1º, do CPC” (STJ-3ª Turma, REsp 29.873-1-PR, rel. Min. Nilson Naves, j. 09.03.1993, v.u., DJU 26.04.1993, p. 7.204).

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ou pelo juiz aos fatos colacionados nos autos, sem que se cogite de

violação ao princípio da congruência.

Neste contexto, enuncia Karl Engisch que

“Na subsunção, tal como agora a encaramos, trata-se de

sotoposição de um caso individual à hipótese ou tipo legal e não

directamente da subordinação ou enquadramento de um grupo

de casos ou de uma espécie de casos. (...) Deve no entanto

acentuar-se que a subsunção de uma situação de facto concreta e

real a um conceito pode ser entendida como enquadramento

desta situação de facto, do ‘caso’, na classe dos casos

designados pelo conceito jurídico ou pela hipótese abstrata da

regra jurídica. (...) Em que se fundamentam, por seu turno, a

determinação da própria classe e o enquadramento seguro dos

casos que servem como material de comparação, eis uma

questão que por enquanto deixaremos de remissa. Ela pertence

ao domínio dos problemas da interpretação”.387

Portanto, o tribunal de segunda instância não se vê vinculado

aos fundamentos legais invocados pelas partes ou pelo juiz, podendo

atribuir outra qualificação jurídica aos fatos, desde que respeitada a causa

de pedir invocada nas peças inicial e de defesa.388

387 Introdução ao pensamento jurídico, p. 94 e ss. 388 “Decisão extra petita. Somente ocorre quando o acórdão contempla questão não incluída na litiscontestatio. Não está o Tribunal adstrito a usar os mesmos fundamentos acolhidos pelo julgador singular ou aqueles invocados pelas partes” (STJ-3ª Turma, REsp 12.414, rel. Min. Garcia Vieira, j. 13.10.1993, DJU 08.11.1993, p. 23.518); “Não ocorre julgamento extra ou ultra petita quando o juiz, decidindo a causa, dá aos fatos, narrados pelo autor na inicial, definição jurídica, simplesmente, qualificando-os, para, em decorrência, arbitrar o valor da indenização” (STJ-3ª Turma, REsp 10.002-SP, rel. Min. Nilson Naves, j. 09.12.1991, v.u., DJU 17.02.1992, p. 1.373).

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Caso o órgão do Poder Judiciário examine, de ofício, questão

não abrangida pela causa de pedir suscitada no processo, tem-se que a

decisão judicial viola o princípio da congruência (CPC, arts. 128 e 460),

porquanto aquela considera-se incluída na pretensão deduzida em juízo,

além de incorrer também na violação ao princípio do contraditório e da

ampla defesa.

É o que afirma José Carlos Barbosa Moreira:

“O primeiro dado relevante consiste no fato (ou conjunto de

fatos) que o autor alega com fundamento de sua pretensão:

causa de pedir, causa petendi na habitual expressão latina.

Conquanto a lei não se preocupe em tratá-lo com ênfase igual à

que dá ao pedido, aquele dado, a bem dizer, importa tanto

quanto este para a delimitação da atividade decisória. (...) É fora

de dúvida que o órgão judicial não pode pronunciar-se sobre o

pedido a não ser em função da causa petendi invocada.

Costuma-se negar, em termos restritos, a possibilidade de que o

juiz acolha o pedido por entender que o autor tem direito

alegado, com base não no fato afirmado como causa de pedir,

mas em fato diverso: está-se pensando na hipótese mais

provável de erro. Na verdade, tem-se de excluir também, com

igual rigor, a possibilidade de que o juiz rejeite o pedido por

entender que o direito alegado pelo autor não acha base em fato

diverso do posto como causa petendi”.389-390

389 “Argüição de prescrição. Sentença omissa. Devolução de questão ao conhecimento do tribunal”, Direito Aplicado II, p. 333. No mesmo sentido, é o entendimento que se extrai da lição de Vallisney de Souza Oliveira: “se o juiz considerar outra causa de pedir (fatos essenciais), com desprezo e omissão dos fatos suscitados pelas partes, advirá o mesmo fenômeno, partindo-se do pressuposto de que o termo pedido, agora empregado, abrange também a causa de pedir. O acréscimo de fundamento fático decisório, com desprezo à lide, apesar da simetria com o pedido, causará tanto a infringência ao preceito da correlação (com a causa de pedir, mais especificamente), como a violação ao princípio do contraditório, bem assim com o da indeclinabilidade do julgamento” (Nulidade da sentença e o princípio da congruência, p. 261-262).

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Assinale-se que a alteração da narrativa de circunstâncias

acidentais, a mudança da qualificação jurídica dos fatos ou a mudança

na invocação da norma jurídica não configuram alteração da causa de

pedir.391 -392

Por força da profundidade do efeito devolutivo da apelação, as

questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido

objeto de apreciação na sentença, devem ser analisadas pelo tribunal em

sede de apelação.

Respeitada a extensão da devolução, o tribunal deve

empreender atividade de cognição nas questões que não foram apreciadas

na sentença, malgrado terem sido suscitadas e discutidas pelas partes,

independentemente de manifestação das partes, sob pena de incorrer no

vício de omissão.393-394

390 “PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA. NULIDADE. É nula a sentença que, afastando-se dos limites da demanda, não aprecia a causa posta, decidindo-a em função de dados não discutidos no processo” (STJ-3ª Turma, REsp 29.099-GO, rel. Min. Dias Trindade, j. 15.12.1992, v.u., DJ 01.03.1993, p. 2.513). 391 Cf. José Rogério Cruz e Tucci, A causa petendi no processo civil, p. 198. 392 “A narrativa de circunstâncias acidentais feita após a contestação com intuito de esclarecer a petição inicial, sem modificação dos fatos e fundamentos jurídicos delineados na peça de ingresso, não importa alteração de causa de pedir” (REsp 55.083-SP). 393 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 439; Nelson Luiz Pinto, Manual dos recursos cíveis, p. 108; Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery, Código de processo civil comentado e legislação processual civil extravagante em vigor, p. 997. 394 “Processual civil. Apelação. Efeito devolutivo. Matéria suscitada pelo autor na inicial e nas razões da apelação. Tema abrangido pela devolutividade do recurso. Violação dos arts. 515 e 535 CPC. Acórdão cassado. Recurso provido. I – O recurso de apelação é dotado de efeito devolutivo amplo, não restrito às questões efetivamente resolvidas na sentença, podendo abranger também aquelas que poderiam tê-lo sido, como no caso das ‘questões que, não sendo examináveis de ofício, deixaram de ser apreciadas, a despeito de haverem sido suscitadas pelas partes. II – O acórdão que não se manifesta sobre um dos fundamentos do pedido, embora provocado por embargos declaratórios pratica violação do art. 535-II, CPC” (STJ-4ª

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Por conseguinte, se a impugnação formulada na apelação visa

à reforma integral da sentença de mérito, é correta a orientação de que é

devolvida ao tribunal a integralidade da matéria impugnada, devendo ser

analisadas todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que

não apreciadas na decisão final.395

É lícito ao tribunal, em sede de apelação, examinar matéria

não suscitada e, portanto, não discutida no processo, desde que haja

previsão legal nesse sentido.

A propósito, é sabido que a decadência e a prescrição referente

a direitos não patrimoniais pode ser examinada de ofício pelo órgão do

Poder Judiciário.396

Turma, REsp 237.984-MG, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, j. 16.12.1999, v.u., DJ 08.03.2000, p. 127); “Apelação. Efeito devolutivo. Extensão. Sem dúvida que tanto se devolve quanto se apela (CPC, art. 515), mas o tribunal, no julgamento da apelação, há de tomar conhecimento das questões suscitadas e discutidas no processo, ‘ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro’ (CPC, art. 515, § 1º). Recurso especial conhecido e provido” (STJ-3ª Turma, REsp 78.918-SP, rel. Min. Nilson Naves, j. 10.12.1998, v.u., DJ 15.03.1999, p. 214); “Processual civil. Embargos de declaração. Omissão e contradição no acórdão recorrido. Vícios inexistentes. Apelação. Efeito devolutivo. Extensão. Análise pelo tribunal de matéria argüida em contestação mas não analisada pela sentença. Possibilidade. CPC, art. 515, § § 1º e 2º. 1. Não vinga o Recurso Especial fundado no CPC, Art. 535, I e II, se não caracterizada a alegada omissão e contradição no Acórdão recorrido. 2. A extensão do efeito devolutivo do Recurso de Apelação submete ao conhecimento do Tribunal os fundamentos do pedido e da defesa, independentemente de reiteração nas razões ou contra-razões de Recurso. Inteligência do CPC, art. 515, § § 1º e 2º. 3. Isento o INSS de qualquer condenação pela sentença de 1º grau, descaberia interpor apelação ou contra-arrazoar o Recurso da parte contrária, para insistir no fundamento da prescrição qüinqüenal, a cujo respeito silenciou a sentença; a devolução produz-se de qualquer maneira. 4. Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte, provido” (STJ-5ª Turma, REsp 243.094-RJ, rel. Min. Edson Vidigal, j. 11.04.2000, v.u., DJ 22.05.2000, p. 135). 395 “Quando o recurso de apelação tem como pedido a reforma integral da sentença, devolve ao tribunal o conhecimento também integral da matéria de mérito” (JSTJ 58/196). 396 “A prescrição, mesmo não alegada em contestação, poderá ser argüida em apelação” (RSTJ 28/380).

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Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento

jurídico e o juiz acolher apenas um deles, a profundidade do efeito

devolutivo da apelação abrange os demais fundamentos,

independentemente de manifestação da parte.

Existindo na defesa duplo fundamento e tendo a sentença

acolhido apenas um, o apelo do autor devolve ao Tribunal ad quem o

conhecimento inclusive do fundamento repelido.

Desnecessário e até mesmo inadmissível, ao réu, vencedor na

demanda, interpor recurso de apelação para fazer prevalecer uma das teses

recusadas ou não apreciadas na sentença.

Desta forma, por falta de interesse recursal – ausência de

utilidade -, eventual recurso interposto pela parte vencedora, visando ao

acolhimento de uma das suas teses jurídicas, não analisada ou rechaçada,

deve ser considerado inadmissível, porquanto é assente o entendimento de

que a impugnação deve se dirigir à parte dispositiva da decisão e não aos

seus fundamentos.397-398

397 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao código de processo civil, vol. V, p. 440. 398 “Processual civil. Recurso especial. Admissibilidade. Dissídio jurisprudencial. Matéria constitucional. Apelação. Efeito devolutivo. Questão não apreciada na sentença. CPC, art. 515, par. 2. – Se o pedido inicial tem dois fundamentos, e apenas um deles é apreciado pela sentença, que julgou a ação procedente, o tribunal em segunda instância, ao julgar apelação do réu, deve conhecer de ambos os fundamentos do pedido, por força do art. 515, par. 2., do CPC. O efeito devolutivo na apelação, em profundidade, é o mais

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Com base no art. 515, § 2º, do CPC, segundo o qual “quando o

pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um

deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais”,

afigura-se correta a orientação no sentido de o tribunal, afastada a

prejudicial de decadência ou prescrição, apreciar imediatamente o mérito

da causa, desde que o processo esteja “maduro para julgamento”.

Apesar de serem, tecnicamente, questões prévias da espécie

prejudicial, a prescrição e a decadência foram consideradas pela legislação

como matérias de mérito, de forma que sentença que as reconhece faz coisa

julgada material, nos termos do art. 269 do CPC.

As citadas matérias são questões prévias, pois devem ser

apreciadas, logicamente, antes da questão dita principal, da espécie

prejudicial, porquanto o seu acolhimento tem o condão de condicionar o

teor da questão principal.

amplo possível, abrangendo, além daquelas questões apreciadas na sentença, também aquelas que poderiam tê-lo sido. – Desnecessidade, até por impossibilidade – de o autor interpor recurso de apelação contra sentença que julgou procedente sua ação, apenas para ter uma de suas teses apreciadas...” (STJ-5ª Turma, REsp 54.774-DF, rel. Min. Felix Fischer, j. 25.11.1997, v.u., DJ 16.02.1998, p. 117); “Apelação. Efeito devolutivo. Defesa com dois fundamentos. Tendo a sentença rejeitado a preliminar de carência de ação, acolhendo a defesa de mérito oferecida pelo réu e assim concluindo pela improcedência do pedido, o apelo do autor devolve ao tribunal ad quem o conhecimento inclusive do fundamento repelido. Desnecessidade, mesmo inviabilidade de o réu, vencedor na demanda, interpor recurso de apelação para fazer prevalecer uma das suas teses recusadas ou não apreciadas na sentença. Ofensa ao artigo 515, par. 2. Do CPC. Recurso conhecido e provido” (STJ-4ª Turma, REsp 55.361-RJ, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. 10.04.1995, v.u., DJ 29.05.1995, p. 15.522).

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Por serem consideradas matérias de mérito, o entendimento

majoritário na doutrina é o de que, afastado o reconhecimento de prescrição

ou de decadência em sede de apelação, o tribunal pode apreciar

imediatamente o mérito da causa, desde que haja condições para o

respectivo julgamento, embora o tema seja discutível na jurisprudência.399-

400-401

Em sendo a prescrição e a decadência consideradas pela lei

como matéria de mérito, é inegável que o tribunal, afastando fundamento

399 Cf. Ada Pellegrini Grinover, O processo em evolução, p. 78-79; Eduardo Arruda Alvim, Curso de direito processual civil, vol. 2, p. 141; Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery, Código de processo civil comentado e legislação processual civil extravagante em vigor, p. 997; 400 “Recurso especial. Administrativo. Prescrição. Reconhecimento em primeiro grau. Provimento da apelação. Julgamento da causa pelo tribunal. 1. Afastada a alegação de prescrição acolhida na sentença, o Tribunal deverá prosseguir no exame da causa. 2. Inteligência do artigo 515 do Código de Processo Civil. Precedentes. 3. Recurso conhecido e provido” (STJ-6ª Turma, REsp 102.386-MG, rel. Min. Hamilton Carvalhido, j. 19.10.2000, v.u., DJ 05.02.2001, p. 2.132); “Prescrição. Interrupção. Demora em efetuar-se a citação, sem que, para isso, haja concorrido procedimento desidioso do exeqüente. Aplicação do entendimento traduzido na Súmula 106. Prescrição. Reconhecimento em primeiro grau. Provimento da apelação. Julgamento da causa pelo Tribunal. Acolhida, em primeiro grau, a alegação de prescrição, a decisão é de mérito. Superado o óbice, em segundo, devem os juízes do recurso prosseguir no exame da causa, se presentes as condições para isso. Apenas quando terminativa a sentença reformada, deverão os autos, obrigatoriamente, tornar para apreciação da lide pelo órgão monocrático” (STJ-3ª Turma, REsp 154.660-SP, rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 28.03.2000, v.u., DJ 05.06.2000, p. 154); “Processual civil. Prescrição acolhida em primeiro grau após completa instrução probatória. Apelação provida afastando a prescrição e logo julgando procedente o pedido inicial. Possibilidade. Artigo 515/CPC. O efeito devolutivo da apelação não se restringe às questões resolvidas na sentença, compreendendo também as que poderiam ter sido decididas, seja porque suscitadas pelas partes, seja porque conhecíveis de ofício (§ 2º, do art. 515/CPC). Se o juízo de primeiro grau acolhe a argüição de prescrição após concluída a instrução do processo, pode o Tribunal, estando a lide em condições de ser apreciada, afastar a prescrição e prosseguir no exame dos demais pontos postos em debate, julgando procedente ou improcedente a ação. Recurso especial conhecido pelo dissídio, mas improvido” (STJ-4ª Turma, REsp 141.595-PR, rel. Min. Cesar Asfor Rocha, j. 23.11.1999, v.u., DJ 08.05.2000, p. 95). 401 Contra: “Processual civil. Sentença. Prescrição do fundo de direito. Extinção do processo. Afastamento em segundo grau. Exame das demais questões de mérito. Supressão de instância. Sendo o processo extinto em primeira instância com base no art. 269, IV, do CPC, reconhecendo-se a prescrição do fundo do direito dos autores, não pode o Tribunal de apelação, após afastar a incidência da prescrição, prosseguir no julgamento para apreciar as demais questões de mérito, sob pena de supressão de instância. Precedentes. Recurso conhecido e provido” (STJ-5ª Turma, REsp 84.220-SP, rel. Min. Felix Fischer, j. 13.12.2000, v.u., DJ 12.02.2001, p. 129); “Processo civil. Reconhecimento da prescrição em sentença. Acórdão que faz por afastá-la, prosseguindo no julgamento. Nulidade decretada. A prescrição no 1º grau de jurisdição, o acórdão deixar de reconhecê-la não pode prosseguir no julgamento da apelação; deve anular a sentença, para que outra seja proferida. Recurso especial conhecido e provido” (STJ-2ª Turma, REsp 21.008-BA, rel. Min. Ari Pargendler, j. 14.03.1996, v.u., DJ 22.04.1996, p. 12.556).

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da sentença que acolhera uma das citadas matérias, deve proferir

pronunciamento apreciando o mérito da causa, desde que haja elementos

suficientes para tanto.402

Como se trata de matéria de mérito, não há espaço para a

discussão acerca da eventual contrariedade ao princípio do duplo grau de

jurisdição.

No tocante à extensão da apelação contra sentença que

reconhece a decadência ou a prescrição, o que se faz necessário discutir é

se o tribunal tem condições materiais para proferir, desde logo, o

julgamento apreciando o mérito da demanda.

Vale dizer, é indispensável averiguar se o processo encontra-se

“maduro para julgamento”. Se o processo não contiver elementos

indispensáveis para que o seu mérito seja apreciado imediatamente – por

402 “PROCESSO CIVIL. PRESCRIÇÃO AFASTADA NO 2º GRAU. EXAME DAS DEMAIS QUESTÕES NO MESMO JULGAMENTO. POSSIBILIDADE, DESDE SUFICIENTEMENTE DEBATIDA E INSTRUÍDA A CAUSA. DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL. EXEGESE DO ART. 515, CAPUT, CPC. PRECEDENTES DO TRIBUNAL E DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. LEI N. 10.352/2001. INTRODUÇÃO DO § 3º DO ART. 515. EMBARGOS REJEITADOS. I - Reformando o tribunal a sentença que acolhera a preliminar de prescrição, não pode o mesmo ingressar no mérito propriamente dito, salvo quando suficientemente debatida e instruída a causa. II - Nesse caso, encontrando-se ‘madura’ a causa, é permitido ao órgão ad quem adentrar o mérito da controvérsia, julgando as demais questões, ainda que não apreciadas diretamente em primeiro grau. II - Nos termos do § 3º do art. 515, CPC, introduzido pela Lei n. 10.352/2001, ‘o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento’” (STJ-Corte Especial, EREsp 89.240-RJ, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 06.03.2002, maioria, DJ 10.03.2003, p. 76).

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exemplo, não realização de necessária instrução ou até não implementação

do contraditório e da ampla defesa -, deve o tribunal cassar a sentença,

determinando a remessa dos autos à instância inferior, a fim de que outra

decisão seja proferida.

Ressalte-se que, a partir da finalidade da norma e do ideal do

acesso à justiça, com o advento do § 3º do art. 515 do CPC, tal discussão

tende a se esvaziar, porquanto deve se entender incluída no citado preceito

legal a possibilidade de o tribunal, afastando a prescrição ou decadência,

apreciar imediatamente o mérito do processo, desde que esteja “maduro

para julgamento”.

Quando o recurso for interposto por réu revel, como não houve

sua participação no desenvolver do procedimento, tem-se que o tribunal

somente pode analisar as questões que foram objeto de apreciação na

sentença judicial.

O fato de o réu ter sido revel não implica a veracidade dos

fatos descritos na inicial, podendo o juiz singular afastá-la, mormente

diante da possibilidade de determinação ex officio de realização de provas.

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Ressalte-se que, se constatada a formação de litisconsórcio

passivo, e um dos réus tiver apresentado defesa à pretensão do autor, não

há a ocorrência dos efeitos da revelia, desde que os interesses dos

litisconsortes forem comuns.403

Nesta hipótese, a apelação interposta pelo réu revel tem o

condão de transferir ao tribunal as questões suscitadas e discutidas pelo

litisconsorte que tenha participado no processo, podendo dessa análise

advir vantagem para aquele.

No campo ainda do efeito devolutivo, discute-se qual a

exegese que deve ser dada ao art. 516 do CPC pelo qual “Ficam também

submetidas ao tribunal as questões anteriores à sentença, ainda não

decididas”.

Segundo parte da doutrina, entende-se que as questões

incidentais surgidas no curso do processo, conquanto não tenham sido

objeto de decisão pelo órgão singular, devem ser examinadas pelo tribunal.

403 “A aplicação da regra do art. 320, I, do CPC pressupõe impugnação a fato comum ao réu atuante e ao litisconsorte revel” (STJ-3ª Turma, REsp 44.545-0-SP, rel. Min. Costa Leite, j. 19.04.1994, v.u., DJU 20.03.1995, p. 6.112).

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Não haveria a ocorrência de preclusão, uma vez que inocorreu

a prolação de provimento decisório. Assim, por exemplo, a impugnação ao

valor da causa não decidida pelo juiz singular deve ser apreciada pelo

órgão ad quem.404-405

Com efeito, outra parte da doutrina firma o entendimento de

que ficam transferidas ao tribunal as questões decididas de ordem pública,

a cujo respeito não se operou a preclusão.406

A partir da ilação de que a uma norma legal deve ser dada uma

exegese que a torne útil, afigura-se razoável o entendimento de que o art.

516 do CPC diz respeito às questões incidentais suscitadas e que não foram

objeto de decisão.

Destaque-se o que consta do art. 515, e seus parágrafos, do

CPC, a extensão da apelação mede-se pela impugnação do recorrente, e a

profundidade, abrange todas as questões suscitadas e discutidas, ainda que

não tenham sido objeto de decisão.

404 Cf. Bernardo Pimentel Souza, Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória, p. 176; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao código de processo civil, vol. V, p. 443, Sergio Bermudes, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. VII, p. 137; Theotônio Negrão, Código de processo civil e legislação processual em vigor, p. 541. 405 “Apesar de, em tese, ser possível a interposição simultânea de apelação e agravo contra decisão proferida em audiência, o manejo do último, consoante dispõe o art. 516 do CPC, somente é viável em se tratando de questões anteriores à sentença que não tenham sido na mesma apreciadas” (RSTJ 74/266). 406 Cf. Eduardo Arruda Alvim, Curso de direito processual civil, vol. 2, p. 144; Nelson Nery Junior, Princípios fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 410.

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Com relação às questões de ordem pública, o art. 267, § 3º, do

CPC, estabelece a regra da inocorrência de preclusão a respeito dessas

matérias, podendo o órgão julgador examina-la ex officio.

Caso o juiz singular tenha proferido decisão no curso do

processo a respeito da questão incidental, entende-se que, em consonância

com o princípio do ônus de recorrer, a parte deve interpor recurso de

agravo, sob pena de configurar a preclusão.

Ressalve-se, entretanto, que, por força do efeito translativo, a

decisão interlocutória que aprecie questão incidental relativa à matéria

de ordem pública não gera preclusão, podendo ser examinada em

grau de apelação, ainda que não tenha havido interposição do recurso

de agravo.407-408

Importa destacar, ainda, que parcela da doutrina ressalta que a

profundidade do efeito devolutivo abrange, também, as questões de ordem

pública, as quais podem ser examinadas de ofício.409

407 Cf. Nelson Nery Junior, Teoria geral dos recursos, p. 483. 408 “Em se tratando de condições da ação e de pressupostos processuais, não há preclusão para o magistrado, mesmo existindo expressa decisão a respeito, por cuidar-se de matéria indisponível, inaplicável o enunciado n. 424 da Súmula/STF a matéria que deve ser apreciada de ofício” (STJ-4ª Turma, REsp 43.138-SP, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, j. 19.08.1997, v.u., DJU 29.09.1997, p. 48.208); “Exceto quanto aos requisitos de admissibilidade da tutela jurisdicional, ao juiz não é dado, inocorrendo nulidade pleno jure, rever matéria já decidida” (STJ-4ª Turma, REsp 2.973-RJ, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, j. 29.05.1990, v.u., DJU 18.06.1990, p. 5.687); “Em se tratando de condições da ação, não ocorre preclusão, mesmo existindo explícita decisão a respeito (CPC, art. 267, § 3º)” (VI ENTA-concl. 9). 409 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao código de processo civil, vol. V, p. 439.

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Entretanto, como tal possibilidade advém da inquisitoriedade e

não do princípio dispositivo inerente ao efeito devolutivo, afigura-se

correta a orientação no sentido de defender que tal poder deriva do efeito

translativo que diz respeito à possibilidade de o órgão do Poder Judiciário

apreciar, ex officio, matérias atinentes à admissibilidade da tutela

jurisdicional, a cujo respeito não se opera a preclusão, nos termos do art.

267, § 3º, do CPC.410

O efeito devolutivo tem uma feição no plano subjetivo. A

propósito, o recurso interposto aproveita a quem o interpôs, da mesma

forma que, da não realização desse ato processual, resulta uma

conseqüência desfavorável àquele que restou inerte.

Tendo presente os princípios da voluntariedade e do ônus de

recorrer, exsurge a inferência da personalidade do recurso, segundo a qual

este aproveita a quem o interpôs, não surtindo qualquer efeito a outros

sujeitos do processo.

Essa regra, contudo, não é adotada em termos absolutos. Em

exceção à regra da personalidade, o direito positivo disciplina a

410 Cf. Gleydson Kleber Lopes de Oliveira, “Recursos de efeito devolutivo restrito e a possibilidade de decisão acerca de questão de ordem pública sem que se trate da matéria impugnada”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos, p. 236 e ss.; Nelson Nery Junior, Teoria geral dos recursos, p. 482; Teresa Arruda Alvim Wambier, Nulidades do processo e da sentença, p. 187-188.

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possibilidade de a decisão tornar-se mais abrangente do que a matéria

impugnada no recurso.

Nesse sentido, dispõe o CPC, no seu art. 509, que “O recurso

interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se distintos ou

opostos os seus interesses”.

É preciso tecer algumas considerações acerca do

litisconsórcio, a fim de fixar a noção e alcance do aludido preceito. Com

efeito, o litisconsórcio pode ser definido como pluralidade de partes ou de

mais de uma pessoa no papel de parte no mesmo pólo da relação jurídica

processual.

Quanto à liberdade de formação, o litisconsórcio pode ser:

facultativo, que é formado pela vontade das partes, submetidas às hipóteses

do art. 46 do CPC; ou necessário, que é aquele formado em virtude de

previsão legal ou pela natureza da relação jurídica, sob pena de inexistência

da relação jurídica processual.

Quanto à sua sorte ou destino no plano do direito material, o

litisconsórcio pode ser: unitário, quando a ação é julgada idêntica para

todos os litisconsortes que estão agregados em uma única lide; simples,

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quando o julgamento da ação não é necessariamente idêntico para todos os

litisconsortes, em virtude da existência de mais de uma lide.411

O CPC adota, no seu art. 48, a regra geral do regime jurídico

do litisconsórcio, que é o da independência, sendo considerados, “em suas

relações com a parte adversa, como litigantes distintos; os atos e as

omissões de um não prejudicarão nem beneficiarão os outros”.

A mencionada regra incide nos casos de litisconsórcio simples,

facultativo ou necessário, porquanto não necessariamente a decisão tem

que ser idêntica para todos os litisconsortes.412

Em se tratando de litisconsórcio unitário, o CPC é omisso

quanto ao seu regime. Saliente-se, desde logo, que a regra da

independência não pode ser adotada, uma vez que, por haver somente uma

lide a que estão agregados os litisconsortes, a decisão, que é una, tem que

ser idêntica para todos eles.

Em virtude dessa característica, aduz-se que o regime é

especial, pois os atos benéficos praticados por um dos litisconsortes

411 Cf. Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, vol. 1, p. 106; Cândido Rangel Dinamarco, Litisconsórcio, p. 152; Thereza Alvim, O direito processual de estar em juízo, p. 150-157 412 Ressalte-se que, em certas hipóteses, a regra da independência do litisconsórcio simples é relativizada, tal como ocorre, por exemplo, no caso do art. 320, inc. I, do Código de Processo Civil.

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aproveitam aos demais, ao contrário dos prejudiciais que dependem da

anuência de todos os demais para surtirem efeito.413

O CPC, ao disciplinar excepcionalmente no art. 509 a

dimensão subjetiva do recurso interposto por litisconsorte, não fez menção

a qual espécie deste vai estar sujeita a esse preceito.

A partir de uma interpretação literal, sem exame mais

aprofundado sobre os regimes dos litisconsórcios e os princípios dos

recursos, há entendimento doutrinário no sentido de ser o art. 509 aplicável

aos litisconsortes em geral, salvo se distintos ou opostos os seus

interesses.414-415

413 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Litisconsórcio unitário, p. 174. 414 Cf. Moacyr Amaral Santos, Primeiras linhas de direito processual civil, 3º vol., p. 93; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo VII, p. 126. 415 “Processual Civil. Litisconsortes facultativos. Alcance do recurso apelatório. O litisconsórcio constituído de vários demandantes, em ação plurissubjetiva, objetivando o mesmo fim, gera uma universalidade de interesses e o recurso interposto por um dos autores aproveita aos demais (CPC, art. 509). Em inúmeras hipóteses semelhantes, quando a totalidade dos demandantes constitui um só advogado, esta Eg. Corte tem admitido que o recurso manifestado por um aproveita a todos. Com a ressalva do signatário, sob a consideração de que o recurso só alcança a todos os demandantes na hipótese de litisconsórcio unitário, deu-se provimento ao recurso. Decisão por maioria de votos” (STJ-1ª Turma, REsp 154.509-SC, rel. Min. Garcia Vieira, j. 07.05.98, por maioria, DJ 19.10.98, p. 28); “Processo Civil - FGTS – Litisconsortes facultativos – Extensão dos efeitos do recurso interposto. Recentes decisões do Superior Tribunal de Justiça firmaram entendimento no sentido de que, nas ações que versam sobre a correção monetária dos saldos de contas vinculadas do FGTS, o recurso interposto por um litisconsorte alcança os demais, ainda que não necessário” (STJ-1ª Turma, REsp 196.055-SC, rel. Min. Garcia Vieira, j. 20.04.99, v.u., DJ 21.06.99, p. 85).

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Por sua vez, a maioria da doutrina defende o entendimento de

que somente ao litisconsórcio unitário deve ser aplicado o citado

preceito.416

Conjugando os regimes dos litisconsórcios e os princípios

regentes do sistema recursal, mormente o da voluntariedade e o do ônus de

recorrer, constata-se que a previsão constante no art. 509 deve ser aplicada

ao litisconsórcio unitário.

A um, porque o regime especial deste exige que a decisão seja

idêntica para todos os litisconsortes, ao contrário do que ocorre com o

litisconsórcio simples. A dois, porque a regra na teoria geral dos recursos é

a da voluntariedade e do ônus de recorrer (= personalidade dos recursos), e

não da comunhão dos recursos. A três, porque o CPC, no art. 509,

parágrafo único, somente prevê a incidência do efeito extensivo, em relação

a litisconsórcio simples, a recurso interposto por um dos litisconsortes na

hipótese de solidariedade passiva, quando as defesas opostas ao credor lhes

forem comuns.417

416 Cf. Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, vol. 2, p. 104; Cândido Rangel Dinamarco, Litisconsórcio, p. 152; Celso Agrícola Barbi, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. I, p. 210; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 378; José Frederico Marques, Manual de Direito Processual Civil, vol. III, p. 193; Ovídio A. Baptista da Silva, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. 1, p. 253; Sérgio Bermudes, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. VII, p. 113. 417 “Processual Civil - FGTS – Correção monetária do saldo – Configuração de litisconsórcio simples, e não unitário – Aplicabilidade do art. 48 do CPC, e não do 509 – Precedentes STJ. O artigo 509 do CPC só é aplicável aos casos de litisconsórcio unitário, naquelas hipóteses em que, evidentemente, a decisão

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Em exceção à regra do regime de independência do

litisconsórcio simples, estipula o CPC, no parágrafo único do art. 509, a

extensão subjetiva dos efeitos do recurso interposto por um dos

litisconsortes passivo, desde que haja solidariedade, e as defesas opostas ao

credor lhes forem comuns.

Nesse sentido, é a lição de Thereza Alvim:

“(...) exemplificativamente, volta-se ao exemplo de cobrança de

dívida solidária de dois devedores, com fundamento, pois, no

mesmo contrato e no inadimplemento, ou seja, por não terem os

réus pago a dívida no vencimento. À primeira vista, parece

haver uma só lide a ser decidida, que o pode ser de forma

diversa em relação a cada um dos réus. E, evidentemente, um

dos devedores pode ter tido sua dívida remida pelo credor,

enquanto o outro, pode ser realmente devedor relapso. Pode,

porém, ocorrer que ambos sejam, inadimplentes e contestem a

ação alegando pagamento, provado por documento inábil para

tanto. A defesa sendo uma só, ambos sendo inadimplentes, o

juiz decidirá o pedido (os pedidos, em verdade) de maneira

uniforme. Aqui, de maneira uniforme porque são duas as

judicial não possa ser cindida, devendo atingir os litisconsortes de modo uniforme, quanto ao direito material postulado, razão pela qual o recurso interposto apenas por um deles se estenderá aos demais. Tratando-se de pretensão à correção monetária das contas vinculadas ao FGTS, o caso é de litisconsórcio facultativo simples, eis que os autores optam por ingressar, conjuntamente, com a ação, não havendo obrigatoriedade de decisão uniforme para todos, incidindo, assim, a norma do art. 48 do CPC” (STJ-2ª Turma, REsp 142.904-SC, rel. Min. Francisco Peçanha Martins, j. 16.03.00, v.u., DJ 02.05.00, p. 128); “Processual Civil. Ação Ordinária. Correção monetária das contas vinculadas ao FGTS. Recurso apelatório interposto por um dos autores. Hipótese de litisconsórcio facultativo e não unitário. Inaplicabilidade do artigo 509 do CPC – Inclusão dos expurgos inflacionários somente em relação ao litisconsorte que interpôs recurso de apelação” (STJ-1ª Turma, REsp 155.693-SC, rel. Min. Demócrito Reinaldo, j. 18.08.98, v.u., DJ 21.09.98, p. 59); “Não é pela característica de ser necessário o litisconsórcio que o recurso de um a todos os outros aproveita. O ponto nodal da questão está no caráter unitário do litisconsórcio, de modo que, se a situação jurídica tiver de ser decidida uniformemente para vários litigantes em determinado pólo da demanda, a insurgência de um deles beneficiará os demais” (STJ-4ª Turma, REsp 84.079-SP, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, j. 10.3.98, deram provimento, v.u., DJU 25.5.98, p. 120).

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decisões. Na solidariedade inexiste lide única. O pedido mediato

e imediato são, efetivamente, os mesmos bem da vida devido e a

condenação no pagamento deste. Doutra parte, a causa de pedir

remota também é a mesma, ou seja, o contrato em virtude do

qual existe a dívida. Entretanto, a causa de pedir próxima é

única para cada réu, por se constituir em seu próprio

inadimplemento”. 418

Pretendeu o legislador evitar a contradição lógica de julgados,

haja vista a possibilidade, em se tratando de litisconsórcio simples, de

decisões não uniformes.

Assente, ainda, é o entendimento de que o apelante somente

pode impugnar o que realmente foi objeto de decisão, de forma que o

recurso de apelação não transfere ao tribunal matéria não analisada na

decisão recorrida.

Com base nesse entendimento e no princípio do duplo grau de

jurisdição, parcela majoritária da doutrina e da jurisprudência entendia que,

em se tratando de apelação interposta contra sentença terminativa, seria

defeso ao tribunal examinar, desde logo, o mérito. Ao dar provimento ao

418 O direito processual de estar em juízo, p. 155.

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recurso de apelação, deveria o tribunal determinar a remessa dos autos à

instância de origem, para que outra decisão fosse proferida.419-420

No tocante ao recurso de apelação interposto em face de

sentença que, ao invés de por fim com análise do mérito, equivocadamente

extinguiu o feito em razão da carência de ação, já prevalecia o

entendimento de que inexistia obstáculo a que o tribunal, em sede de

apelação, emitisse acórdão com o exame do mérito.

Assim, se a sentença declarasse a carência de ação à guisa de

uma cognição exauriente, o tribunal poderia apreciar o mérito em sede de

apelação, pois, a rigor, o objeto litigioso da demanda fora apreciado.421-422

419 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 425; José Frederico Marques, Manual de direito processual civil, vol. III, p. 206 420 “A extensão do efeito devolutivo mede-se pela extensão da matéria impugnada (tantum devolutum quantum appellatum). Como não se pode impugnar algo que não existe, segue-se que a cognição, no tribunal, há de limitar-se ao que foi decidido na sentença apelada. Se esta é apenas terminativa, deve o órgão ad quem, ao reformá-la, devolver os autos ao juízo de primeiro grau para o julgamento de mérito” (STJ-4ª Turma, REsp 39.210-1, rel. Min. Antônio Torreão Braz, j. 29.08.1994, v.u., RJTJRS 169/32); “Sentença terminativa – Apelação – Limitações a que se sujeita o julgamento desta. Se a sentença extingue o processo, sem julgamento do mérito, não é lícito ao julgador de segundo grau, a pretexto de modificar-lhe os fundamentos, decidir o mérito da causa” (STJ-3ª Turma, REsp 1.418, rel. Min. Eduardo Ribeiro, RSTJ 7/447). 421 Sobre as falsas carências de ação, cf. Cândido Rangel Dinamarco, Nova era do processo civil, p. 166-167. 422 “O exame do mérito, em segundo grau, condiciona-se a que o haja sido em primeiro. Para verificar se o foi, há que se pesquisar se decidida a pretensão formulada na inicial. Isso tendo ocorrido, não importa que a sentença, equivocadamente, haja afirmado que o autor era carecedor da ação” (RSTJ 63/451); “É lícito ao acórdão examinar o pedido pelo mérito, se a sentença não deixou de fazê-lo, embora tenha extinto o processo sem julgamento do mérito. Inocorrência de ofensa ao art. 515 do CPC” (STJ-3ª Turma, REsp 7.417-SP, rel. Min. Nilson Naves, j. 02.04.1991, v.u., DJU 22.04.1991, p. 4.787).

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Tendo presente que o princípio do duplo grau de jurisdição

não é absoluto (STF-Pleno, MS 21.689-1-DF, rel. Min. Paulo Brossard, DJ

07.05.1995, p. 18.871) e que o § 1º do art. 515 do CPC dispõe que serão

objeto da apreciação todas as questões suscitadas e discutidas no processo,

ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro, já entendíamos que,

em consonância com o ideal de acesso à justiça, o tribunal, ao dar

provimento à apelação, afastando a carência de ação por exemplo, podia

apreciar o mérito da causa, desde que o processo estivesse “maduro para

julgamento”.

Vale dizer, quando o processo contiver elementos suficientes

para o julgamento em razão da instrução já realizada ou, na hipótese da não

realização, comportar julgamento antecipado da lide, desde que respeitados

o contraditório e a ampla defesa, o tribunal, ao reformar a sentença

terminativa, pode apreciar, desde logo, o mérito da causa.

Sobre o assunto, já tivemos a oportunidade de assinalar que

“a limitação da extensão do efeito devolutivo na hipótese de

sentença terminativa é arrimada no princípio do duplo grau de

jurisdição, que consiste na possibilidade de revisão, por via de

recurso, das causas já decididas pelo juízo de primeira instância,

tendo em vista que a sentença pode estar eivada de erro ou

injustiça. Mais ainda, garante um duplo juízo sobre o mérito da

causa.

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O duplo grau de jurisdição, mesmo que não expressamente

previsto, é um princípio constitucional derivado do devido

processo legal, o que, aliás, não tem o condão de tornar-se

obrigatório, pois é assente a inexistência de direitos

fundamentais absolutos.

Willis Santiago Guerra Filho, neste diapasão, arremata que

‘não há princípio do qual se possa pretender seja acatado de

forma absoluta, em toda e qualquer hipótese, pois uma tal

obediência unilateral e irrestrita a uma determinada pauta

valorativa – digamos, individual – termina por infringir uma

outra – por exemplo, coletiva. Daí se dizer que há uma

necessidade lógica e, até, axiológica, de se postular um princípio

de proporcionalidade para que se possa respeitar normas, como

os princípios – e, logo, também normas de direitos

fundamentais, que possuem o caráter de princípios -, tendentes a

colidir’.

Por isso, em tese, pode o legislador ordinário afastar o

princípio do duplo grau de jurisdição sem que seja arranhado o

princípio do devido processo legal. Exemplo da supressão do

duplo grau de jurisdição é a hipótese contemplada no art. 34 da

Lei 6.830/80, que já foi reputada constitucional pelo Pretório

Excelso (Cf. Ag 114.709-1-AgRg-CE, rel. Min. Aldir

Passarinho, j. 29.05.1987, negaram provimento, v.u., DJU

28.08.1987, p. 17.578).

(...)

Com efeito, à luz do acesso à justiça e da

instrumentalidade do processo, é possível emprestar exegese ao

§ 1º, do art. 515, do Código de Processo Civil, de forma a

possibilitar que o tribunal, ao afastar a carência de ação, aprecie

o meritum causae, desde que, no processo, haja elementos

necessários para o respectivo julgamento, pois o citado preceito

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impõe ao tribunal a apreciação e julgamento de todas as

questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a

sentença não as tenha apreciado.

Destarte, se o processo estiver ‘maduro para julgamento’,

ou seja, quando contiver elementos suficientes para o

julgamento em razão da instrução já realizada ou, na hipótese da

não realização, comportar o processo julgamento antecipado da

lide (art. 330 do CPC), o tribunal pode apreciar o mérito da

causa. (...) Convém observar, outrossim, que a adoção desse

entendimento não proporciona qualquer prejuízo às partes,

desde que respeitados o contraditório e a ampla defesa no juízo

a quo”.423

Com o advento da Lei nº 10.352/01, que inseriu o § 3º ao art.

515 do CPC, torna-se lícito ao tribunal apreciar o mérito da causa, em sede

de apelação interposta contra sentença terminativa, desde que verse sobre

questão exclusivamente de direito e esteja em condições de imediato

julgamento.424

A rigor, incorreu em equívoco o legislador ao se referir à

questão exclusivamente de direito. Isso porque o fato não pode ser

separado, quando da aplicação da norma jurídica pelo magistrado.

423 “Carência de ação e efeito devolutivo da apelação”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos, p. 224-226. 424 “Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento”.

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Sobre o assunto, já assentamos que

“o fenômeno jurídico pressupõe que aquelas [questões de fato]

não podem ser definitivamente separadas destas [questões de

direito], haja vista que o fato deve ser verificado em função da

norma que o regula; por outro lado, a norma deve ser

individualizada e interpretada em função do fato que a regula.

Como o fenômeno jurídico deve ser analisado a partir da

incidência da norma jurídica aos fatos, não há de cogitar a

separação absoluta entre fato e direito. Com inteira razão está

Recasens Siches, quando afirma que a determinação da norma

jurídica e a apuração do fato, incluída a qualificação jurídica,

não se dão em momentos distintos e sucessivos no processo

judicial, mas que ‘son algo así como el anverso y reverso de

uma misma operación”.425

Daí dizer Karl Larenz que todas as situações de fato a serem

apreciadas juridicamente não representam uma pura enumeração de fatos,

mas são o resultado de uma certa escolha em atenção ao que nisso pode ser

juridicamente relevante.426

Assim, embora a norma se refira à questão exclusiva de

direito, deve-se, à luz de uma interpretação teleológica, entender que é

lícito ao tribunal, provendo apelação interposta contra sentença terminativa,

apreciar o mérito da causa, desde que o processo esteja “maduro para

julgamento”, ainda que a questão seja de fato ou de fato e de direito.

425 Recurso especial, p.279. 426 Metodologia da ciência do direito, p. 335.

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Se a controvérsia envolver questão de fato, comprovada por

prova documental, ou quando unicamente de direito, tornando-se

desnecessária a realização de instrução probatória, não há óbice a que o

tribunal, afastando a sentença processual em sede de apelação, passe a

analisar o mérito.

A nova regra tem a mesma abrangência e a finalidade prevista

no art. 330, inc. I, do CPC, podendo ser denominada de julgamento

antecipado da lide em âmbito recursal.

De outro lado, se a causa não estiver suficientemente instruída,

eventual julgamento do tribunal que, em sede de apelação em face de

sentença terminativa, venha a examinar o mérito, incorre em violação aos

princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa.

Se o tribunal der provimento a recurso de apelação interposto

em face de sentença que indeferiu liminarmente a petição inicial,

inocorrendo, portanto, o contraditório e a ampla defesa, devem os autos ser

remetidos à instância inferior para que outra sentença seja proferida.

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O propósito do citado preceito é o de evitar que o tribunal,

afastando sentença terminativa, deva necessariamente determinar a remessa

dos autos à instância de origem, ainda que haja condições de apreciar desde

logo o mérito da causa, por ser desnecessária a produção de provas.

Trata-se, portanto, da incidência do postulado da

desnecessidade de produção de provas irrelevantes para o deslinde da

causa.

Sob o pretexto de aplicar os princípios do contraditório e da

ampla defesa, os litigantes em processo judicial não são titulares do direito

subjetivo de produzir provas desnecessárias ou irrelevantes para o

julgamento do processo.427

De qualquer forma, a citada inovação trazida pela Lei nº

10.352/01 atende aos reclamos da aplicação da norma processual dirigida,

primordialmente, ao primado do acesso à justiça.

Presentes os requisitos previstos na norma (CPC, art. 515, §

3º), é dever do tribunal de segunda instância efetuar o julgamento imediato

427 “O julgamento antecipado da lide, quando a questão proposta é exclusivamente de direito, não viola o princípio constitucional da ampla defesa e do contraditório” (STF-2ª Turma, AI 203.793-5-MG-AgRg, rel. Min. Maurício Correia, j. 03.11.1997, v.u., DJU 19.12.1997, p. 53); “Constantes dos autos elementos de prova documental suficientes para formar o convencimento do julgador, inocorre cerceamento de defesa se julgada antecipadamente a controvérsia” (STJ-4ª Turma, Ag 14.952-DF-AgRg, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, j. 04.12.1991, v.u., DJU 03.02.1992, p. 472).

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do mérito. Não se trata de mera faculdade, ou de poder discricionário,

conferida ao órgão judicial de segunda instância pela citada norma jurídica.

Discute-se se a providência autorizada pelo art. 515, § 3º, do

CPC, com a redação dada pela Lei nº 10.352/01, pode ser aplicada ex

officio pelo tribunal ou depende de requerimento do recorrente.

Parcela da doutrina manifesta-se no sentido de que o tribunal

pode aplicar o comando da regra prevista no citado dispositivo, sem que o

recorrente formule pedido específico nesse sentido.

Isso porque os parágrafos do art. 515 do CPC constituem, a

rigor, exceções à regra do princípio dispositivo descrito no caput, pelo qual

o recurso somente tem o condão de devolver a matéria impugnada.

Manifestando-se sobre o tema, Arruda Alvim averba que

“Diga-se preambularmente que o atual §3º do art. 515 (como

ficou redigido em decorrência da Lei 10.352) expressa uma das

exceções à regra geral do caput, que dispõe: ‘A apelação

devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada’.

Dessa forma, pode-se correlacionar o efeito devolutivo àquilo

que haja sido objeto de pedido na apelação, filiado que é esse

efeito, no patamar recursal, ao princípio dispositivo. (...) O que

parece legítimo sustentar, no caso, é que a regra geral da

apelação – e também dos demais recursos – é a de que o órgão

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jurisdicional conheça o que lhe tenha sido submetido em virtude

do efeito devolutivo. O que se passa, em relação ao § 3º desse

art. 515 – como também se passa em relação aos precedentes §§

1º e 2º do mesmo art. 515 – é que, para deverem ser apreciadas

as matérias a que se refere, tanto basta a existência de

apelação”.428

Sustenta-se, ainda, que a regra prevista no § 3º do art. 515 do

CPC deve ser aplicada independentemente de pedido do recorrente, uma

vez que a agilidade e a celeridade dos processos são matérias de interesse

público e, como tal, este deve ser perseguido pelos órgãos do Poder

Judiciário.429

Há, ainda, o entendimento de que o art. 515, § 3º, do CPC

confere ao tribunal uma competência originária de analisar, pela primeira

vez, matéria não apreciada pelo juízo a quo.430

De outro lado, a doutrina consagra entendimento no sentido de

que a regra do § 3º do art. 515 do CPC somente pode ser aplicada,

428 “Notas sobre algumas das mutações verificadas com a Lei 10.352/2001”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos e de outros meios de impugnação às decisões judiciais, vol. 6, p. 81-82. No mesmo sentido, cf. José Roberto dos Santos Bedaque, “Apelação: questões sobre admissibilidade e efeitos”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e de outros meios de impugnação às decisões judiciais, vol. 7, p. 452. 429 Cf. Luiz Rodrigues Wambier e Teresa Arruda Alvim Wambier, Breves comentários à 2ª fase da reforma do código de processo civil, p. 143. 430 Cf. Nelson Nery Jr., Teoria geral dos recursos, p. 434.

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mediante pedido do recorrente, em conformidade com o princípio

dispositivo do qual decorre o efeito devolutivo no campo recursal.431

Analisando a abrangência e os contornos dos §§ 1º, 2º e 3º do

art. 515 do CPC, impõe-se reconhecer que consubstanciam exceções à

regra geral prevista no próprio caput e à idéia de que o recurso deve

impugnar, objetivamente, o que tiver sido alvo do pronunciamento judicial

decisório.

O legislador ordinário contemplou, expressamente, uma

extensão do efeito devolutivo da apelação, ao positivar o § 3º do art. 515 do

CPC, cuja aplicação pelo tribunal pressupõe a interposição de recurso de

apelação e o preenchimento dos requisitos nele impostos.432

De sorte que o tribunal não se verá vinculado a seguir os

limites do pedido recursal, podendo aplicar de ofício a regra prevista no §

431 Cf. Flávio Cheim Jorge, Fredie Didier Júnior e Marcelo Abelha Rodrigues, A nova reforma da reforma, p. 159-160; José Rogério Cruz e Tucci, Lineamentos da nova reforma do CPC, p. 57-58; Ricardo de Carvalho Aprigliano. Os efeitos da apelação e a reforma processual. A nova etapa da reforma do Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 261. 432 “POLÍCIA. ATRIBUIÇÃO. ESCOLTA. PRESOS. RMS. CAUSA ‘MADURA’. A Turma, ao prosseguir o julgamento, entendeu que, no Estado de Minas Gerais, a escolta e condução de presos por ordem da Justiça devem ser cumpridas pela Polícia Militar, isso em razão do que apregoam a Constituição estadual e a lei local, pois são esses dispositivos que determinam a fixação das atribuições das polícias civil e militar nos estados. Firmou, também, que o órgão representativo de categoria funcional, no caso, de delegados da polícia civil, pode e deve providenciar, em juízo, o esclarecimento a respeito das atribuições da respectiva classe. Por último, assentou que, ao estar a causa ‘madura’, este Superior Tribunal pode valer-se do art. 515, § 3º, do CPC e avançar no julgamento do RMS, em razão da semelhança desse à apelação” (Informativo STJ n. 0244, RMS 19.269-MG, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 26/4/2005).

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3º do art. 515 do CPC, ainda que a impugnação recursal se restrinja à

matéria processual.

Mesmo que o recorrente postule a reforma da sentença

processual e a remessa dos autos à instância inferior, com o propósito de

serem produzidas novas provas, o tribunal, preenchidos os requisitos do §

3º do art. 515 do CPC deve examinar o mérito da controvérsia, não se

cogitando de violação ao princípio do devido processo legal.433

Impende destacar que, a par de uma interpretação teleológica,

a regra posta no § 3º, do art. 515, do CPC, pode ser aplicada na hipótese em

que se interpõe agravo de instrumento em face de decisão que indefere

pedido para que o julgamento se procedesse de forma antecipada, desde

que o tribunal constate a desnecessidade de dilação probatória.

Entendendo que nos autos já se encontram provas suficientes

para o julgamento antecipado da lide, tornando-se desnecessária a

realização de instrução voltada à produção de provas irrelevantes e inúteis,

o tribunal pode, em sede de agravo de instrumento, e após reformar a

433 Cf. Cândido Rangel Dinamarco, Nova era do processo civil, p. 169-170; Estevão Mallet, “Reforma de sentença terminativa e julgamento imediato do mérito (Lei 10.352)”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis, v. 7, p. 196-197.

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decisão que indeferiu o pedido de julgamento antecipado da lide, apreciar

desde logo o mérito da controvérsia.434

Deve-se registrar que a aplicação do § 3º do art. 515 do CPC

pode ensejar uma situação de reformatio in pejus. É possível que o tribunal,

após afastar a sentença de carência de ação em sede de apelação, venha a

examinar o mérito da demanda, julgando improcedente o pedido da ação.435

Trata-se de previsão de uma hipótese admitida pela lei de

reformatio in pejus, de sorte que é lícito ao tribunal, afastada a sentença

processual, apreciar o mérito, decidindo de forma contrária ao recorrente.

4.2 – NULIDADE PROCESSUAL EM GRAU RECURSAL

Neste tópico, não se pretende abordar as mais diversas

correntes doutrinárias que se manifestam sobre as nulidades processuais,

mas, sim, de fazer uma abordagem sumária do assunto e suas repercussões

no âmbito do recurso de apelação.

434 Cf. José Roberto dos Santos Bedaque, “Apelação: questões sobre admissibilidade e efeitos”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e de outros meios de impugnação às decisões judiciais, vol. 7, p. 451. 435 Contra: J. E. Carreira Alvim, Código de processo civil reformado, p. 243.

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A legislação impõe ao ato jurídico – entendido como uma

exteriorização de vontade dirigida a obter um resultado juridicamente

protegido ou não proibido e possível - o preenchimento de requisitos afetos

ao sujeito, ao objeto e à forma.

O ato processual deve ser entendido como o ato jurídico

praticado pelos sujeitos do processo dirigido à produção de efeitos no

processo, tais como a criação, modificação ou extinção de situações

jurídicas processuais.436

É sabido que certos atos jurídicos, por estarem presentes os

requisitos essenciais, existem no mundo jurídico; são válidos porque o tipo

legal previsto na lei foi observado no plano dos fatos; e são eficazes por

produzirem efeitos jurídicos.

Em linhas gerais, os atos jurídicos podem ser vislumbrados em

três planos, a saber: existência, validade e eficácia.437

436 Cf. Cintra-Grinover-Dinamarco, Teoria geral do processo, p. 331; Calmon de Passos, Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às nulidades processuais, p. 43. 437 Cf. Marcos Bernardo de Mello, Teoria do fato jurídico, p. 75 e ss.

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Diz-se que o ato é existente, quando, no suporte fático,

estiverem presentes os elementos essenciais ou nucleares previstos para sua

configuração jurídica.438 Os elementos essenciais de um ato jurídico vêm a

ser o agente, a forma, o objeto e o conteúdo.

Segundo Roque Komatsu,

“A norma jurídica prevê elementos, que são indispensáveis à

existência de todo e qualquer fato, ato ou negócio jurídico.

Quais são os seus elementos? A rigor, tomada a palavra

elemento, no seu significado de ‘tudo aquilo de que algo mais

complexo se compõe’ ou de ‘tudo aquilo que efetivamente

constitui o fato, ato ou negócio é que pode ser considerado

elemento. Dentre os elementos gerais do ato jurídico se apontam

os intrínsecos (constitutivos): a forma, o objeto (e as

circunstâncias negociais, na hipótese do negócio jurídico) e os

extrínsecos (pressupostos): agente, lugar e tempo. (...) Sem os

citados elementos (agente, forma, objeto, lugar e tempo),

qualquer fato jurídico torna-se impensável. Basta a falta de um

deles para inexistir o fato, o ato ou negócio jurídico e até a

relação processual”.439

A validade vem a ser a qualidade que o ato ostenta ao

ingressar na seara jurídica, em virtude de o suporte fático se subsumir à

hipótese normativa. Isto é, o ato processual é considerado válido, quando o

438 Victor de Santo assinala que “Los actos inexistentes, sumamente estudiados por la doctrina, se definem por lo general como aquellos actos que carecen de los recaudos mínimos necesarios para su configuración juridica (v. gr. Em lo procesal, la sentencia pronunciada por quien no reviste la condición de juez)” (Nulidades Procesales, p. 35). No mesmo sentido: Ugo Rocco, Tratado de derecho procesal civil, p. 287-288; Ricardo Perlingeiro Mendes da Silva, Teoria da inexistência no direito processual civil, p. 50-51. 439 Da invalidade no processo civil, p. 32-33.

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ato praticado pelo sujeito do processo se subsumir ao tipo legal previsto na

lei.440

A análise do ponto de vista da existência do ato implica uma

pesquisa acerca da presença dos elementos essenciais, ao passo que o

controle da validade conduz à pesquisa acerca das qualidades dos

elementos essenciais.441

O plano da eficácia envolve a produção dos efeitos jurídicos a

que o ato jurídico se destina. Por se aproximar da noção de invalidade, a

eficácia não se limita à aptidão de produzir efeitos. A eficácia vem a ser

realização do efeito a que o ato jurídico visa.442

A temática das nulidades processuais deve ser estudada à luz

dos princípios que norteiam o direito público, não podendo ser adotada

integralmente no processo civil a sistemática das nulidades prevista no

Código Civil.

440 Aldacy Rachid Coutinho arremata que “Validade, no direito, é a qualidade, que o negócio, o ato, devem ter, ao entrar no mundo jurídico, consistente em estar de acordo com as regras jurídicas. A validade é a qualidade imanente à gênese do ato. (...) A validade reside na tipicidade total, ou seja, na situação de adequação de todos os elementos do suporte fático com a hipótese normativa” (Invalidade processual, p. 48-49). 441 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, “Citação de pessoa falecida”, Revista da associação dos magistrados do Rio Grande do Sul, n. 58, p. 93. 442 Cf. Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, p. 36-37.

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259

Além disso, devem ser aplicados na sistemática das nulidades

processuais os princípios da instrumentalidade das formas, do prejuízo, da

convalidação, da proteção do interesse, e da causalidade.

Segundo Adolfo Gelsi Bidart,

“Em cuanto a la calidad de las normas, tampoco se duda hoy, de

que el Derecho Procesal pertenece al Derecho Público, de donde

deriva um enfoque diferente, en algunos momentos al menos,

para el estúdio de las nulidades procesales. ‘No deve creerse que

la instituición de la nulidad y la anulabilidad tengan ludar en el

proceso del mismo modo que en el derecho substancial’, dice

Chiovenda.

El proceso apresenta también em este punto, algunas

particularidades notables, que se derivan siempre de la especial

natureza de esta relación jurídica... el la cual campea y domina

con su importância, cualquiera outra actividad, la actividad del

órgano del Estado. (...) Si queda salvaguardado el interés

público de hacer justicia, impersonal y general, podrá sostenerse

la validez de un acto que tal vez si sólo estuviésemos em

presencia de um choque ‘libre’ de intereses privados, deveria ser

considerado nulo.

‘El carácter decididamente publicístico que la ciencia moderna

atribuye al proceso civil’ en palabras de Calamandrei, explica

que se tienda a eliminar todos los casos de presunta nulidad,

cuando no atentan contra su finalidad esencial. Explica también,

como, por ejemplo, no sea posible ‘determinar la validez de la

sentencia, expresión de la voluntad del Estado, con los mismos

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260

princípios sobre cuya base se mide la eficácia del negocio

jurídico, expresión de la voluntad privada”.443

Uma das peculiaridades apontadas é que, em princípio, as

nulidades no âmbito do direito processual são sanáveis.

No direito brasileiro, Teresa Arruda Alvim Wambier averba

que

“O processo civil integra o direito público, porque as normas de

natureza processual civil dizem respeito a uma relação jurídica

de que o Estado (no papel de Estado-juiz) necessariamente faz

parte. Angel Fermin Garrote alude à opinião de Palácio, no

sentido de que todos os vícios do ato processual são

convalidáveis, e recusa integralmente que se recorra ao Código

Civil. Concordamos inteiramente com a forma como vê, citado

professor, as nulidades do processo. Discordamos, todavia,

quando, no mesmo citado texto por Garrote, assevera Palácio

que, por serem sanáveis (= emendáveis) todos os vícios do

processo, seriam todos eles anulabilidades (ou nulidades

relativas). A nosso ver o caráter de sanabilidade, no direito

público, não liga à circunstância de se tratar, necessariamente,

de nulidade relativa. Ao contrário, no processo, sana-se até

mesmo a inexistência jurídica (v., por exemplo, art. 37,

parágrafo único, do CPC). A vinculação entre a sanabilidade e a

nulidade relativa só ocorre no direito privado, segundo a visão

que propomos, como adiante se verá, com mais vagar”.444

443 De las nulidades em los actos procesales, p. 38-39 444 Nulidades do processo e da sentença, p. 151-152. No mesmo sentido: Daniella Zagari Gonçalves, A violação de literal disposição de lei como fundamento da ação rescisória no direito brasileiro, p. 216-217.

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261

Reconhecida a nulidade absoluta do ato processual no âmbito

do julgamento do recurso de apelação, o tribunal declara a invalidade,

decretando a nulidade dos atos posteriores que com ele sejam

incompatíveis (princípio da causalidade), inclusive a sentença, e remete os

autos à primeira instância, a fim de que seja corrigido o vício e para que

outra sentença seja proferida.

Vejamos alguns exemplos. Tratando-se de sentença infra

petita, parcela majoritária entende que o tribunal, ao reconhecer o vício da

decisão, por ofensa aos arts. 128 e 460 do CPC, deve simplesmente cassar a

sentença, devendo os autos ser remetidos à instância inferior para que seja

proferida uma nova decisão, em atenção ao princípio do duplo grau de

jurisdição, evitando-se uma supressão de instância.445-446

Na hipótese de sentença extra petita, com base nas mesmas

lições, há entendimento no sentido de que o tribunal, ao reconhecer o vício

de que padece a decisão, deve simplesmente cassá-la, determinando a

445 Cf. Bernardo Pimentel Souza, Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória, p. 174; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 438; Teresa Arruda Alvim Wambier, Nulidades do processo e da sentença, p. 245. 446 “Processual civil e tributário. Sentença citra petita. Cassação: possibilidade, mesmo que o apelante não tenha interposto embargos declaratórios. Multa por procrastinação . Fundamentação: imprescindibilidade. Recurso parcialmente provido” (STJ-2ª Turma, REsp 115.458-MG, rel. Min. Adhemar Maciel, j. 19.05.1997, v.u., DJ 15.09.1997, p. 44.340).

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remessa dos autos à instância inferior para que outra decisão seja

proferida.447

De outro lado, parcela outra da doutrina entende que o tribunal

pode corrigir o vício da decisão extra petita, tendo o julgado uma função

substitutiva, desde que o juízo a quo tenha apreciado o pedido formulado

na ação. Isso porque não se configuraria violação ao princípio do duplo

grau de jurisdição.448-449

No caso de a sentença ultra petita, assente é o entendimento de

que o julgado a ser proferido pelo tribunal tem função eminentemente

447 “Apelação. Decisão estranha ao que foi pleiteado. Entendendo o acórdão que a decisão recorrida se afastara da matéria que lhe fora devolvida, deixando de examinar o que se deduzira nas razões de apelação, o que, segundo se decidiu, não lhe seria dado fazer, cumpria-lhe anular o julgado e devolver os autos ao Tribunal de origem para apreciar os temas versados no recurso. Impossibilidade de simplesmente ter-se como subsistente a sentença, o que importaria privar o apelante do exame de seu recurso. Embargos declaratórios. Multa. Não se justifica a imposição da penalidade com base apenas em que inexistente alegada contradição ou omissão” (STJ-Corte Especial, EREsp 121.120-RJ, rel. Min. Eduardo Ribeiro, v.u., DJ 29.05.2000, p. 106); “Execução. Embargos. Sentença anulada. 1. Entendendo o Acórdão recorrido que a sentença é nula, está a matéria devolvida ao Juízo monocrático, não havendo, no caso, violação aos artigos 535 e 614, II, do Código de Processo Civil seja porque o vício encontrado não autoriza o exame das demais questões postas pelo recorrente seja porque não se cuidou da ausência de demonstrativo de débito, mas, sim, de configuração de sentença extra petita. 2. Recurso especial não conhecido” (STJ-3ª Turma, REsp 246.166-MG, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j. 23.11.2000, v.u., DJ 05.02.2001). 448 Cf. Teresa Arruda Alvim Wambier, Nulidades do processo e da sentença, p. 244. 449 “Civil e Processual. Acidente de trabalho. Indenização civil. Perda parcial de audição. Pensão. Apelação. Matéria devolvida. CPC, art. 515. Limites. Julgamento extra petita. Danos moral e estético. Fundamentação. I. Insurgindo-se a apelação da ré apenas quanto ao termo ad quem do pensionamento e não quanto à pertinência da condenação em si, decide extra petita o acórdão que suprime o pagamento vitalício, substituindo-o por verba única, significativamente inferior. II. Cabível o dano moral, na forma fixada na sentença monocrática. III. Exclusão das demais verbas fundamentadamente pelo Tribunal estadual, sem enfrentamento objetivo do mérito pelo recurso especial. IV. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, provido” (STJ-4ª Turma, REsp 266.721-SP, rel. Min. Aldir Passarinho, j. 26.06.2001, v.u., DJ 15.10.2001, p. 268).

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substitutiva, apesar de reconhecer o vício de que padece a decisão, isto é,

há a correção judicial do vício da decisão judicial.450

A propósito, na hipótese de sentença ser ultra petita - ou extra

petita com a apreciação do pleito formulado na ação -, o julgado a ser

proferido pelo tribunal tem função substitutiva da decisão recorrida, sendo

correta a decretação do vício, sem que seja necessário o envio dos autos à

instância inferior.

Nesse caso, não há que se cogitar de violação ao princípio do

duplo grau de jurisdição, porquanto se opera o duplo exame sobre a decisão

de mérito.

Com efeito, a interpretação das normas processuais impõe aos

aplicadores do direito uma constante e inafastável busca do ideal de

instrumentalidade das formas e do primado do efetivo acesso à justiça.

A técnica processual deve ser manuseada como um

instrumento para a consecução desses ideais, que são um dos verdadeiros

450 “Processual civil. Sentença extra petita e ultra petita. Entendimento. Anulação da sentença apenas no caso de condenação extra petita.Tratando-se, como se trata, de sentença ultra petita, descabe a sua anulação, mas apenas a sua redução pelo Tribunal aos limites do pedido. Recurso conhecido, mas desprovido” (STJ-5ª Turma, REsp 250.255-RS, rel. Min. Gilson Dipp, j. 18.09.2001, v.u., DJ 15.10.2001, p. 281).

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escopos da jurisdição, e não como um fim em si mesma, como estivesse em

total abstração em relação à aplicação do direito material.

Nesse contexto, a regra estatuída no art. 515, § 3º, do CPC

autoriza que, em certas circunstâncias e por aplicação extensiva, o tribunal,

constatando a presença de nulidade processual sanável, possa determinar a

sua correção ou a realização do ato processual, com vistas a examinar

desde logo o mérito da causa.

Verificando a existência de nulidade sanável, é lícito ao

tribunal determinar a realização ou correção do ato processual, com o

propósito de, em seguida, apreciar o mérito da causa, quando do

julgamento da apelação, desde que o processo esteja “maduro para

julgamento”.

4.3 - QUESTÕES NOVAS DE FATO E DOCUMENTOS NOVOS

Como exceção à regra de que somente as questões suscitadas e

discutidas no processo, ainda que não apreciadas na sentença, dispõe o

CPC, em seu art. 517, que as questões de fato, não propostas no juízo

inferior, poderão ser suscitadas na apelação, desde que a parte comprove

que se absteve de fazê-lo por motivo de força maior.

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Considerando que é defeso inovar na causa em sede de

apelação – quer suscitando uma nova causa de pedir, quer formulando um

novo pedido -, tem-se que, sob pretexto de suscitar originariamente questão

de fato, não é possível alterar a causa de pedir ou o pedido da demanda.451

A aplicação de direito superveniente não configura inovação

na causa, devendo o tribunal aplicá-lo ex officio em conformidade com os

brocardos iura novit curia e da mihi factum, dabo tibi ius.

Qualquer uma das partes pode suscitar o exame de novas

questões de fato em recurso de apelação ou em resposta a esta, desde que

demonstre que deixou de fazê-lo por motivo de força maior.

Exemplificativamente, a inexistência do fato até a prolação da

sentença, o desconhecimento de fato também até a prolação da sentença e a

impossibilidade de comunicar a ocorrência do fato ao órgão do Poder

Judiciário, em razão de causa alheia à vontade da parte, configuram motivo

de força maior, ensejando a aplicação do art. 517 do CPC.452-453

451 Cf. Bernardo Pimentel Souza, Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória, p. 181. 452 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 449. 453 “Somente os fatos ainda não ocorridos até o último momento em que a parte poderia tê-los eficazmente argüido em primeiro grau de jurisdição, ou os de que a parte não tenha conhecimento é que podem ser suscitados em apelação ou durante o seu processamento. Inocorrendo qualquer exceção ou força maior, de se concluir pela inadmissibilidade de apreciação dos fatos novos argüidos, devendo-se

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Como o art. 517 do CPC não fez restrição quanto ao momento

adequado para agitar originariamente novas questões de fato, parece

razoável o entendimento de que, pendente de julgamento a apelação, é

lícito a qualquer das partes suscitá-las, desde que demonstre motivo de

força maior.454-455

Nesta hipótese, antes da análise do pleito de produção de

provas, o tribunal deve determinar a intimação da parte contrária para,

querendo, manifestar-se acerca do aludido requerimento, em consonância

com o princípio do contraditório e da ampla defesa.

No tocante ao fato novo surgido após a prolação da sentença,

aplica-se o art. 462 do CPC, devendo o tribunal levar em consideração fato

constitutivo, modificativo ou extintivo de direito que possa influir no

julgamento da demanda.456

julgar a matéria impugnada no recurso de acordo com o princípio ‘tantum devolutum quantum appellatum” (RT 638/159). 454 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 449. 455 Contra: É inadmissível a argüição de fato novo após a apresentação da apelação, estando o recurso no juízo ad quem, ‘ex vi’ do art. 517 do CPC” (TRF-3ª Região-Bol. 9/52). 456 “A regra do art. 462 do CPC não se limita apenas ao juiz de primeiro grau, mas também ao tribunal, se o fato é superveniente à sentença” (RSTJ 45/352); “Ocorrendo o julgamento do recurso especial em data posterior à condição inibidora da desocupação do imóvel, incide a regra do art. 462 do CPC, segundo a qual a prestação jurisdicional há de compor a lide como ela se apresenta no momento da entrega” (STJ-4ª Turma, REsp 2.041-RJ, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, j. 03.04.1990, v.u., DJU 07.05.1990).

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Na hipótese de o tribunal admitir a questão de fato nova, o

tribunal deve, se necessário, determinar a realização da produção de prova

que deve obedecer, por analogia, à regra do art. 492 do CPC.

Discute-se se é possível a apresentação de documentos novos

referentes a questões de fato suscitadas e discutidas no processo.

Partindo de uma interpretação restritiva do art. 517 do CPC,

entende parcela da doutrina ser inadmissível a apresentação das questões de

fato, haja vista ser a única exceção admitida pela lei.457

De outro lado, corrente doutrinária em contrário entende que,

provado o motivo de força maior, é lícita a produção de provas em sede de

apelação.458

A partir de uma interpretação extensiva do art. 517 do CPC - a

qual prestigia o princípio da instrumentalidade do processo, bem como o

direito constitucional à prova -, e sistemática, analisando-se o art. 485, inc.

VII, do CPC, mostra-se razoável a orientação no sentido de admitir a

457 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 449. 458 Cf. Bernardo Pimentel Souza, Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória, p. 176; Pontes de Miranda, Comentários ao código de processo civil, tomo VII, p. 178-179.

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apresentação de documentos novos referentes a fatos suscitados no

processo, desde que provado o motivo de força maior.

4.4 – PRODUÇÃO DE PROVA EM GRAU RECURSAL

O direito à prova se ampara nos princípios constitucionais do

contraditório, da ampla defesa e do acesso à justiça, não podendo ser

analisado apenas na temática de distribuição de ônus.

O reconhecimento do direito à prova pressupõe que os sujeitos

parciais do processo tenham condições de influir ativamente nas operações

desenvolvidas para a constituição do material probatório que irá servir de

base da decisão judicial.459

Ao assegurar os postulados do acesso à justiça por meio de um

devido processo legal, no qual sejam assegurados, dentre outros, os

princípios do contraditório e da ampla defesa, a Constituição Federal

contemplou aos litigantes o direito à prova.

459 Cf. Antonio Magalhães Gomes Filho, Direito à prova no processo penal, p. 85.

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Ressalte-se que o direito à prova não tem conotação absoluta,

sendo disciplinada por regras e princípios processuais previstos no CPC,

mormente a da instrumentalidade do processo.

No âmbito da relação processual, deve o juiz indeferir a

produção de provas inúteis que recaiam sobre fatos irrelevantes para o

julgamento da causa.460

Em face do pronunciamento do juiz que indefere o pedido de

produção de provas, é cabível o recurso de agravo, na modalidade de

instrumento ou retido, impedindo-se a ocorrência da preclusão.

Caso a parte prejudicada não interponha o recurso em face da

decisão que indefere o pedido de produção de provas, haverá a ocorrência

da preclusão, sendo defeso à parte prejudicada suscitar tal matéria em sede

de apelação.461

460 “A questão ou não de deferimento de uma determinada prova (testemunhal referida) depende da avaliação do juiz, dentro do quadro probatório existente, da necessidade dessa prova. Por isso a possibilidade de indeferimento das diligências inúteis e protelatórias, prevista na parte final do CPC 130” (STJ, Ag. 56.995-0-SP, rel. Min. Assis Toledo, v.u., DJ 10.04.1995, p. 9.322). 461 “PROCESSUAL CIVIL. DEPOIMENTO PESSOAL. INDEFERIMENTO. PRECLUSÃO. PROVA PERICIAL EM CÓPIA FAC-SÍMILE. I - Indeferido o depoimento pessoal na audiência em decisão contra a qual não foi apresentado agravo, precluso se tornou o direito, não podendo se insurgir somente quando da apelação. II - Alegada "Confissão de Dívida", juntada aos autos em reprodução fac-símile, não se presta a exame pericial para realização de análise de assinatura; nesse caso, é necessária a apresentação do respectivo original. Precedentes. Ademais, como afirmado, a cópia inicialmente exibida tem conteúdo diverso da cópia enviada através do fax, o que afastou mais ainda a sua credibilidade. III - Agravo regimental desprovido” (STJ-3ª Turma, AgRg no Ag 467.330-SP, rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, v.u., DJ 17.12.2004, p. 517).

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Da mesma forma que, concordando ambas as partes com o

julgamento antecipado da lide, não é lícito suscitar cerceamento de defesa

em sede de apelação, sob pena de violação ao instituto da preclusão.462

De outro lado, o requerimento dos sujeitos parciais do

processo de produção de provas acerca de fatos relevantes da causa deve

ser analisado à luz do postulado constitucional que assegura o acesso à

justiça e o contraditório.

Assim, configura-se cerceamento de defesa, quando a decisão

julga improcedente o pedido do autor, sob o fundamento de ausência de

provas, as quais foram requeridas e indeferidas pelo juiz.463

462“Direito processual civil. Julgamento antecipado da lide, requerido por ambas as partes. Preclusão quanto à produção de outras provas. Cerceamento de defesa não caracterizado. I - Se ambas as partes concordaram com o julgamento antecipado da lide, não pode uma delas, após proferida sentença, insurgir-se contra o julgamento antecipatório a pretexto de cerceamento de defesa. II - Em tal caso, configura-se a preclusão do direito da parte quanto à produção de outras provas. III - Recurso especial conhecido e provido” (STJ-3ª Turma, REsp 200.402-PR, rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, v.u., DJ 18.02.2002, p. 407); “PROCESSO CIVIL. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. MANIFESTAÇÃO EXPRESSA EM CONTESTAÇÃO, REQUERENDO-O. PRECLUSÃO QUANTO À PRODUÇÃO DE OUTRAS PROVAS. INOCORRÊNCIA DE CERCEAMENTO DE DEFESA. ANULAÇÃO DE DUPLICATAS. AUSÊNCIA DE PROVA AUTORIZADORA DA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. ÔNUS DA PROVA. AGRAVO DESPROVIDO. I - SE EM CONTESTAÇÃO O RECORRENTE REQUEREU O JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE, PRESUME-SE SUA RENÚNCIA À PRODUÇÃO DE OUTRAS PROVAS, OCORRENDO PRECLUSÃO A DESAUTORIZAR ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA. II - SE O SACADO IMPUGNA A CAUSA QUE AUTORIZARIA A EXTRAÇÃO DA DUPLICATA, CUMPRE AO EMITENTE PROVAR, DOCUMENTALMENTE, A OCORRÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS DO SAQUE EFETUADO” (STJ-4ª Turma, AgRg no Ag 22.627-SP, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, v.u., DJ 26.10.1992, p. 19.058). 463 “Embargos à execução. Cobrança de cheques preenchidos indevidamente. Reconhecimento de que insuficiente a prova apresentada. Julgamento antecipado. Cerceamento de defesa. 1. Quando as instâncias ordinárias admitem que não houve a comprovação eficaz e não oferecem oportunidade para a apresentação da prova, aí, sim, existe o cerceamento de defesa se julgada antecipadamente a lide, considerando que a inicial indicou provas a produzir. 2. Recurso especial conhecido e provido” (STJ-3ª Turma, REsp 649.191-SC, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, v.u., DJ 13.09.2004, p. 241); “Se o juiz dispensou a prova e julgou antecipadamente a lide, reconhecendo a pretensão da autora, não podia o acórdão do Tribunal inverter aquela decisão em favor da outra parte, sem ensejar, no caso, a possibilidade

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Atualmente, é pacífica na doutrina a orientação de que o juiz

detém amplos poderes instrutórios, devendo ter participação ativa no

campo probatório, à luz de uma tendência publicista do processo.464

A atuação do juiz independe da iniciativa das partes, de forma

que a interpretação conjugada dos arts. 130 e 333 do CPC conduz à

orientação de que incumbe às partes o ônus da prova, mas não está o juiz

impedido de determinar, de ofício, a produção de provas necessárias à

instrução do processo.

Não mais deve prevalecer, pois, a orientação de que o juiz

somente podia agir ex officio no campo probatório, quando restasse

evidenciado o estado de perplexidade ou de desigualdade entre as partes.

A par de uma tendência publicista, afigura-se que o juiz deve

ter uma participação ativa no campo probatório, independentemente da

iniciativa das partes, na medida em que um dos escopos da jurisdição vem

a ser a outorga do acesso à ordem jurídica justa.

de realização de perícia oportunamente requerida e indispensável à elucidação dos fatos constitutivos da demanda” (RSTJ 21/416). 464 Cf. João Batista Lopes, A prova no direito processual civil, p. 68; José Carlos Barbosa Moreira, “O juiz e a prova”, RePro, n. 35, p. 180; José Roberto dos Santos Bedaque, Poderes instrutórios do juiz, p. 97 e ss.

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Segundo Enrique Véscovi,

“Las principales modificaciones de nuestros códigos modernos

aparecen em lo concerniente a facultades de juez, tanto em

materia probatoria como en el impulso oficial. (...) En este

sentido se sostiene que el juez debe ser el verdadero director del

proceso, figura que se proclama como solución intermédia entre

la posición del espectador y la del dictador (Alcalá Zamora y

Castillo). También aprecen ampliadas, en general, las facultades

probatórias del juzgador”. 465

Nesse contexto, destaque-se que, por ser destinatário das

provas, o juiz não é alcançado pela preclusão no tocante ao

pronunciamento que aprecia o requerimento de produção de provas.466-467

A propósito, diz-se que as decisões interlocutórias que deferem

o requerimento de produção de provas geram preclusão pro judicato. De

465 Teoria general de proceso, p. 46-47. 466 Cf. Manoel Caetano Ferreira Filho, A preclusão no direito processual civil, Juruá, 1991. 467 “AÇÃO QUANTI MINORIS.IMPROCEDÊNCIA DA DEMANDA, EM JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE, COM DISPENSA DE PERÍCIA DEFERIDA NO SANEADOR. CONFIRMAÇÃO DA SENTENÇA PELO JUIZO DE 2. GRAU. ALEGAÇÃO, EM RECURSO EXTREMO, DE DIVERGÊNCIA COM A SÚMULA 424 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. TENDO A SENTENÇA E O ACÓRDÃO, COM BASE NA PROVA, CONSIDERADO TRATAR-SE DE VENDA AD CORPUS E NÃO AD MENSURAM, PODERIA SER DISPENSADA A PERICIA ANTERIORMENTE AUTORIZADA. A NORMA DO ART. 473 DO CODIGO DE PROCESSO CIVIL, ALUSIVA A PRECLUSÃO DAS ''QUESTÕES JÁ DECIDIDAS'', DIRIGE-SE AS PARTES, NÃO AO JUIZ, MAXIME EM MATERIA PROBATORIA, E SOB O AMPARO INCLUSIVE DO ART. 130 DO MESMO CODIGO. SÚMULAS 279 E 454 DO STF, TORNANDO DEFESA A REVISÃO DO ARESTO. RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. VOTOS VENCIDOS” (STJ-4ª Turma, REsp 13-SP, rel. Min. Athos Carneiro, maioria, DJ 06.11.1989, p. 16.689); “AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. DECRETAÇÃO DA NULIDADE DA PERÍCIA EM 2. GRAU DE JURISDIÇÃO. PRECLUSÃO. INOCORRÊNCIA. NÃO SE ACHA SUJEITA A PRECLUSÃO PARA O JUIZ A MATÉRIA RELACIONADA COM A INSTRUÇÃO PROBATÓRIA DA CAUSA. PRECEDENTE DO STJ. INEXISTÊNCIA DE CONTRARIEDADE AO ART. 515 DO CPC. RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO” (STJ-4ª Turma, REsp 12.223-BA, rel. Min. Fontes de Alencar, v.u., DJ 11.04.1994, p. 7645).

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outro lado, não geram preclusão pro judicato as decisões interlocutórias

que indeferirem o requerimento de produção de provas.468

Apesar do silêncio na doutrina, impende analisar se é lícito ao

tribunal, em sede de apelação, determinar a realização de produção de

prova.

Inexiste qualquer óbice inserto em regra ou princípio

processual a que o tribunal, em sede de apelação, determine a produção de

provas, com o propósito de prolatar um julgamento justo da demanda,

formando-se o livre convencimento.

O princípio do duplo grau de jurisdição e o cânone de que, na

apelação, o órgão jurisdicional reexamina toda a matéria litigiosa, amparam

a faculdade de o tribunal determinar, em sede de apelação, a produção de

determinada prova.

Como a apelação devolve o conhecimento da matéria

impugnada, sendo o recurso ordinário típico voltado à análise das questões

468 Para Teresa Arruda Alvim Wambier, “As interlocutórias do grupo ‘prova’ geram preclusão do tipo pro judicato quando são proferidas em sentido afirmativo. Não gerarão impossibilidade de o juiz alterar sua decisão, entretanto, por força do princípio do livre convencimento motivado, as decisões concernentes à prova, que tenham sentido negativo. Isto porque, acreditamos, nestas circunstâncias, à regra da livre convicção deve atribuir-se mais força e importância que às normas relativas à preclusão” (Os agravos no CPC brasileiro, p. 394).

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de fato e de direito, o tribunal não fica adstrito à prova produzida no

primeiro grau de jurisdição, podendo, se necessário, ser determinada a

produção de provas, a fim de formar o livre convencimento.

Os poderes instrutórios previstos no art. 130 do CPC são

dirigidos aos juízos de primeira e segunda instâncias, não havendo restrição

a que, em sede de apelação, venha a ser determinada a produção de provas

indispensáveis para a outorga da ordem jurídica justa aos litigantes.469

Nesse sentido, é a lição de Sálvio de Figueiredo Teixeira, para

quem

“O Código acolheu o princípio dispositivo, segundo o qual o

juiz deve julgar segundo o alegado pelas partes (iudex secundum

allegata et probata partium iudicare debet). Mas o abrandou,

permitindo a iniciativa probatória do juiz (v. Exposição de

Motivos nº 18), haja vista que a publicização do processo e a

socialização do direito implicam, cada vez mais, a busca pela

verdade real. O juiz, entretanto, somente deverá tomar a

iniciativa probatória quando a prova se fizer necessária ‘ao

conhecimento da verdade que interessa ao melhor e mais justo 469 “Processual Civil. Iniciativa probatória do segundo grau de jurisdição por perplexidade diante dos fatos. Mitigação do princípio da demanda. Possibilidade. Ausência de preclusão pro judicato. Pedido de reconsideração que não renova prazo recursal contra decisão que indeferiu prova pericial contábil. Desnecessidade de dilação probatória. Provimento do recurso para que o tribunal de justiça prossiga no julgamento da apelação. – Os juízos de primeiro e segundo graus de jurisdição, sem violação ao princípio da demanda, podem determinar as provas que lhes aprouverem, a fim de firmar seu juízo de livre convicção motivado, diante do que expõe o art. 130 do CPC. – A iniciativa probatória do magistrado, em busca da verdade real, com realização de provas de ofício, não se sujeita à preclusão temporal, porque é feita no interesse público de efetividade da Justiça. – Não é cabível a dilação probatória quando haja outros meios de prova, testemunhal e documental, suficientes para o julgamento da demanda, devendo a iniciativa do juiz se restringir a situações de perplexidade diante de provas contraditórias, confusas ou incompletas” (STJ-3ª Turma, REsp 345.436-SP, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 07.03.2002, maioria, DJ 13.05.2002).

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julgamento da causa’. Essa iniciativa reclama, no entanto, estado

de perplexidade do julgador em face de provas contraditórias,

confusas, incompletas ou de cuja existência o juiz tenha

conhecimento. A iniciativa probatória do juiz pode ocorrer em

qualquer fase, uma vez que a mesma não se sujeita à

preclusão”.470

Por ser um porta-voz do órgão colegiado e juiz preparador do

recurso, afigura-se lícito ao relator determinar, monocraticamente, a

realização de diligência tendente à produção de provas.

Discute-se, no entanto, reconhecida a necessidade de produção

de provas, se o tribunal deve se limitar a anular a sentença, determinando a

remessa dos autos à primeira instância, a fim de que, após a produção da

prova, outra sentença seja proferida.

Há julgados no âmbito do STJ que fixam a orientação de que,

reconhecida a necessidade de produção de provas em sede de apelação, a

sentença deve ser anulada, devendo os autos ser remetidos à instância

inferior.471

470 Código de Processo Civil Anotado, p. 98. 471 “ PROVA. DISPENSA PELAS PARTES. DILAÇÃO PROBATÓRIA DETERMINADA PELA 2ª INSTÂNCIA. ADMISSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE PRECLUSÃO. – Em matéria de cunho probatório, não há preclusão para o Juiz. Precedentes do STJ. Recurso especial não conhecido” (STJ-4ª Turma, REsp 262.978-MG, rel. Min. Barros Monteiro, v.u., DJ 30.06.2003, p. 251). No voto do relator, o Min. Barros Monteiro, restou assentado que: “Julgado improcedente o pedido em 1º grau, a Quinta Câmara Civil do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais não conheceu do recurso adesivo interposto pela ré, e, de ofício, anulou a sentença, a fim de que se proceda à instrução processual. (...) Em matéria relacionada com a instrução probatória, não há falar-se em preclusão para o Juiz. Tal é a

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De outro lado, há julgados no âmbito do STJ que fixam

entendimento diametralmente oposto, segundo o qual o tribunal de segunda

instância pode converter o julgamento em diligência.472

orientação de há muito traçada pelo STJ (Resps nºs 12.223-BA, 61.107-PR e 431.941-DF, todos de minha relatoria). Num dos primeiros recursos apreciados por este órgão fracionário, assentara-se que ‘a norma do art. 473 do Código de Processo Civil, alusiva à preclusão das ‘questões já decididas’, dirige-se às partes, não ao Juiz, máxime em matéria probatória, e sob o amparo inclusive do art. 130 do mesmo Código’ (Resp. 13-SP, relator designado o Sr. Ministro Athos Carneiro). Assim se decidiu, por igual, quando do julgamento do Resp 222.445-PR, Relator Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira. Efetivamente, dispõe o referido art. 130 do CPC que ‘caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias’. Destarte, se a eg. Câmara reputou necessária a dilação probatória neste feito, inocorre óbice legal algum; ao reverso, há base legal para tanto, firmada no supramencionado cânone legal, ainda que as partes a tenham dispensado e o Juiz singular tenha entendido tratar-se, no caso, de matéria exclusivamente de direito. (...) Do quanto foi exposto, não conheço do recurso”. 472 “DIREITOS CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. PROVA TESTEMUNHAL PRECÁRIA. PROVA GENÉTICA. DNA. NATUREZA DA DEMANDA. AÇÃO DE ESTADO. BUSCA DA VERDADE REAL. PRECLUSÃO. INSTRUÇÃO PROBATÓRIA. INOCORRÊNCIA PARA O JUIZ. PROCESSO CIVIL CONTEMPORÂNEO. CERCEAMENTO DE DEFESA. ART. 130, CPC. CARACTERIZAÇÃO. RECURSO PROVIDO. I - Tem o julgador iniciativa probatória quando presentes razões de ordem pública e igualitária, como, por exemplo, quando se esteja diante de causa que tenha por objeto direito indisponível (ações de estado), ou quando, em face das provas produzidas, se encontre em estado de perplexidade ou, ainda, quando haja significativa desproporção econômica ou sócio-cultural entre as partes. II – Além das questões concernentes às condições da ação e aos pressupostos processuais, a cujo respeito há expressa imunização legal (CPC, art. 267, § 3º), a preclusão não alcança o juiz em se cuidando de instrução probatória. III – Pelo nosso sistema jurídico, é perfeitamente possível a produção de prova em instância recursal ordinária. IV – No campo probatório, a grande evolução jurídica em nosso século continua sendo, em termos processuais, a busca da verdade real. V - Diante do cada vez maior sentido publicista que se tem atribuído ao processo contemporâneo, o juiz deixou de ser mero espectador inerte da batalha judicial, passando a assumir posição ativa, que lhe permite, dentre outras prerrogativas, determinar a produção de provas, desde que o faça com imparcialidade e resguardando o princípio do contraditório. VI - Na fase atual da evolução do Direito de Família, não se justifica desprezar a produção da prova genética pelo DNA, que a ciência tem proclamado idônea e eficaz” (STJ-4ª Turma, REsp 192.681-PR, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, v.u., 24.03.2003, p. 223); “PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE SENTENÇA. JULGAMENTO DE 2º GRAU. TRANSFORMADO EM DILIGÊNCIA PARA REALIZAÇÃO DE NOVA PERÍCIA. SÚMULA Nº 7/STJ. 1. Não se conhece de recurso especial intentado contra acórdão que transformou o julgamento de apelação em diligência para que nova perícia seja realizada a fim de ser encontrado o real valor da indenização reconhecida como devida ao exeqüente. 2. Disparidade entre o valor encontrado pelo assistente do perito (R$ 261.251,93, mais acessórios) e o fixado pela sentença (R$ 568.650.661,18, mais acessórios). 3. Acórdão que, com base no laudo pericial, determinou nova perícia para que sejam considerados os seguintes elementos: a) a exatidão dos cálculos; b) a conversão dos valores ao padrão monetário vigente e o cômputo ou não de cada parcela; c) os movimentos operacionais da autora desde 1973 até a data do distrato voluntário entre os cotistas; d) as atualizações, a consistência ou não da mais valia, do fundo de comércio e dos lucros cessantes, sempre de forma contábil a possibilitar acatamento ou não dos itens controvertidos. 4. Acórdão de segundo grau que reconheceu ser impossível, com base nos trabalhos periciais existentes nos autos, a fixação de um julgamento equânime, capaz de dar cumprimento ao acórdão. 5. Aresto baseado em fatos que entendeu, de modo incensurável, que os trabalhos periciais realizados contêm falhas impossibilitadoras de determinar-se o real valor da indenização reconhecida em juízo. 6. Aplicação da Súmula nº 7/STJ. 7. Precedentes jurisprudenciais: Resp 606.636; AGRESP 172.840; Resp 37.085; Resp 117525; Resp

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Reconhecida a necessidade de produção de provas, impõe-se

que o tribunal converta o julgamento em diligência, a fim de propiciar a

formação do livre convencimento das provas e da lide, podendo ser

atribuída tal atividade ao juízo a quo, a teor da aplicação analógica do art.

492 do CPC.

Não há que se cogitar de decretação de nulidade da sentença,

haja vista que o fato de o tribunal entender necessária a produção de

determinada prova não implica, por si só, o reconhecimento de que o

processo padece do vício da nulidade absoluta.

Na temática do cerceamento do direito de defesa ou do direito

à prova, prevalece a orientação jurisprudencial de que, verificando o

tribunal que o juízo a quo indeferiu o requerimento de produção de provas

necessárias e úteis para o julgamento da causa, há nulidade absoluta do

feito, a partir da decisão que indeferiu a instrução, devendo os autos ser

remetidos à instância inferior para a realização de instrução e prolação de

outra sentença.473

195991; Resp 17.591 e Resp 5.268, entre outros. 8. Recurso especial não conhecido” (STJ-1ª Turma, REsp 648.474-SP, rel. Min. José Delgado, v.u., DJ 17.12.2004, p. 458). 473 “ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. JOGOS LOTÉRICOS. PEDIDOS DE DESIGNAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO E INDICAÇÃO DE PROVAS A PRODUZIR NEGADOS. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. PREJUÍZO COMPROVADO. ACÓRDÃO QUE APONTA FALTA DE PROVAS. ANULAÇÃO DO FEITO A PARTIR DO INDEFERIMENTO PELO JUÍZO DE 1º GRAU. 1. Ação ordinária que visa ao reconhecimento do direito à exploração de jogos denominados ‘sorteio Mais Fácil’ e ‘raspadinha Mais Fácil’, garantindo-se a livre distribuição das cartelas nas lotéricas conveniadas à Caixa Econômica Federal. Suposta tentativa da CEF de garantir

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Entretanto, de acordo com os poderes instrutórios que o CPC

concede ao tribunal (art. 130), e com a teleologia do regramento contido no

art. 515, § 3º, mostra-se que, reconhecido o cerceamento do contraditório

ou do direito à prova, é lícito ao tribunal converter o julgamento em

diligência, com vistas a se produzir provas.

Exaurida a instrução probatória, a qual pode ser delegada ao

juízo a quo de acordo com a aplicação analógica do art. 492 do CPC,

ocorrendo a correção do vício, o tribunal deve proceder ao julgamento do

recurso, analisando o mérito da demanda, desde que a causa esteja madura

para julgamento.

reserva de mercado para os seus produtos, ao proibir seus conveniados de comercializar os jogos da autora. Mandado de Segurança transitado em julgado autorizando a comercialização dos jogos. Pedidos improcedentes em primeiro grau. Manutenção da sentença pelo Tribunal, ante o entendimento de que, tendo o contrato de distribuição de um dos jogos (sorteio) natureza temporária, não preenchidos os requisitos para a sua renovação, é cabível o seu encerramento. Decidiu, ainda, o TRF, pelo acerto quanto ao indeferimento das audiências de conciliação e de instrução e julgamento, uma vez que a CEF não demonstrou qualquer intenção em realizar acordo. Reconheceu, por fim, que não restou comprovado a proibição da CEF quanto à venda do outro produto (raspadinha) da autora. Recurso especial pugnando pela anulação da sentença em razão do indeferimento das provas que a recorrente pretendia produzir, da não apreciação de todos os pedidos da inicial e da existência de documento proibindo a venda das "raspadinhas" pelas lotéricas conveniadas à CEF, fato desconsiderado na sentença e no acórdão. 2. A audiência de conciliação, a teor do que dispõe o art. 331 e §§ do CPC, só não se realizará caso ocorra extinção do feito sem julgamento do mérito ou seja julgada antecipadamente a lide. 3. O julgamento antecipado da lide, por sua vez, pressupõe a existência de questão de mérito exclusivamente de direito ou, sendo de direito e de fato, não seja necessária a produção de provas. 4. Acórdão que negou provimento à apelação sob o fundamento da inexistência de prova constitutiva do direito do autor, cuja produção foi requerida tempestivamente pelo interessado e indeferida pelo juízo de primeiro grau. 5. Prejuízo comprovado, ensejando a nulidade do processo a partir da decisão indeferitória. 6. Recurso especial parcialmente provido” (STJ-1ª Turma, REsp 688.654-RS, rel. Min. José Delgado, v.u., DJ 04.04.2005, p. 215).

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4.5 - EFEITO SUSPENSIVO

Pelo efeito suspensivo, impede-se que a decisão proferida

produza efeitos até o escoamento do prazo para a interposição do recurso.

A rigor, basta a previsão de recurso dotado desse efeito para que a decisão

não surta qualquer eficácia.

Na ordem jurídica vigente, a regra é a de que a apelação seja

recebida no efeito suspensivo, salvo nas hipóteses em sentido contrário, nos

termos do art. 520 do CPC.

Em consonância com os incs. I a VII do art. 520 do CPC, não

deve ser recebida no efeito suspensivo a apelação interposta contra

sentença que: homologar a divisão ou a demarcação; condenar à prestação

de alimentos; julgar a liquidação de sentença; decidir o processo cautelar;

rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes;

julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem; e confirmar a

antecipação dos efeitos da tutela.

Na legislação processual extravagante, encontram-se,

exemplificativamente, previsões no mesmo sentido.

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A Lei nº. 1.533/51 estabelece que a sentença de concessão da

ordem em mandado de segurança produz efeitos imediatos, podendo ser

executada provisoriamente, nos termos do art. 12.

A execução imediata da sentença do mandado de segurança

independe de requerimento do impetrante e da extração da carta de

sentença.474

A Lei nº. 4.348/64, que estabeleceu normas processuais à ação

de mandado de segurança, instituiu o pedido de suspensão de liminar ou de

sentença, que pode ser feito por pessoa jurídica de direito público junto ao

tribunal, ao qual couber o julgamento de eventual recurso, a fim de evitar

grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas.

Trata-se, a rigor, de um incidente processual, porquanto dá

ensejo ao surgimento de uma questão que pode provocar desvio

procedimental significativo no feito em que recaiu.475

474 “Sentença de natureza mandamental, antes de transitada em julgado, pode ser cumprida provisória e imediatamente via simples notificação por ofícios, independentemente de caução ou de carta de sentença’ (STJ-1ª Turma, RMS 2.019-8-CE, rel. Min. Milton Luiz Pereira, v.u., DJU 23.05.1994, p. 12.220); “Mandado de segurança. Execução das sentenças que o concedem. Cumprimento imediato. Desnecessidade de extração da carta de sentença. Art. 12 da LMS. I – A provisoriedade da execução das sentenças que concedem mandado de segurança não implica em exigência de caução ou de extração de carta de sentença. II – É que, na ação mandamental, se a liminar concedida é executada independentemente de tais requisitos, seria ilógico a sua exigência para a execução da decisão de mérito. III – Dessa forma, pelo rito desse tipo de ação e pela natureza mandamental de suas decisões, a execução deve se dar através de simples notificação pelo Juiz prolator do decisum, independentemente da extração da carta de sentença. IV – Precedentes jurisprudenciais. V – Agravo provido” (TRF-5ª R., 2ª Turma, AI 2.023-PE, rel. Juiz Nereu Santos, j. 08.09.1992, v.u., TRF-Lex 50/566).

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Apesar de tecnicamente não ser considerado recurso,

porquanto não impugna a validade da decisão recorrida, mas, funciona, em

vias transversas, o pedido de suspensão como uma medida cautelar

tendente a suspender a eficácia da liminar ou da sentença até que seja

apreciado, em definitivo, o pleito da demanda.476

Sendo considerado incidente processual, nada obsta que o ente

legitimado possa interpor recurso contra a decisão de cuja execução resulta

grave lesão aos interesses públicos maiores (ordem, saúde, segurança e

economia públicas).477

A Lei nº 9.507/97 disciplina que o recurso de apelação em face

da sentença concessiva de habeas data deve ser recebido apenas no efeito

devolutivo.

475 Cf. Cândido Rangel Dinamarco, “XXIX - suspensão do mandado de segurança pelo presidente do Tribunal”, Fundamentos do processo civil moderno, tomo I, p. 613; Gleydson Kleber Lopes de Oliveira, “Incidente de suspensão de liminar e de sentença em mandado de segurança”, Aspectos polêmicos e atuais do mandado de segurança, p. 381 e ss.; Marcelo Abelha Rodrigues, Suspensão de segurança, p. 92. 476 “A suspensão de segurança, concedida liminar ou definitivamente, é contracautela que visa à salvaguarda da eficácia plena do recurso que contra ela se possa manifestar, quando a execução imediata da decisão, posto que provisória, sujeita a riscos graves de lesão interesses públicos privilegiados – a ordem, a saúde, a segurança e a economia pública” (RT 742/165). 477 Cf. Arruda Alvim, “Mandado de segurança contra decisão que nega ou concede liminar em outro mandado de segurança”, RePro, n. 80, p. 45-46.

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A sistemática prevista na Lei nº 7.347/85, a qual disciplina a

ação civil pública, adota a regra de que os recursos não são dotados de

efeito suspensivo, nos termos da interpretação a contrario sensu do art. 14.

Havendo perigo de dano irreparável e plausibilidade do direito,

é lícito ao juiz emprestar efeito suspensivo aos recursos no âmbito da ação

civil pública, providência essa que, a rigor, consiste numa medida cautelar.

As regras postas na Lei da Ação Civil Pública, máxime a da

ausência do efeito suspensivo dos recursos, devem ser aplicadas às ações

regidas pelo Código do Consumidor, nos termos do art. 90 deste diploma.

Aplicam-se à ação civil pública e ao habeas data as regras

afetas ao incidente de suspensão de segurança já anteriormente descritas no

tocante ao mandado de segurança.

O art. 14 da Lei nº 5.478/68, com a redação dada pela Lei nº

6.014/73, prescreve que, nas ações de alimentos, o recurso de apelação será

recebido no efeito devolutivo.

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283

Os alimentos devidos em razão de sentença de reconhecimento

de união estável sujeitam-se ao regime do art. 14 da Lei nº. 5.478/68, em

face da referência feita pelo art. 1º da Lei nº. 8.971/94.

A Lei nº. 8.245/91 dispõe, no art. 58, inc. V, que a apelação

interposta em face de sentença que julga as ações de despejo, consignação

em pagamento de aluguel e acessório de locação, revisionais de aluguel e

renovatórias de locação terá recebimento apenas no efeito devolutivo,

ressalvada as locações de imóveis públicos, de vagas de garagens ou

estacionamentos, de espaços publicitários e em apart-hotéis, hotéis-

residência ou equiparados.

A Lei nº. 8.069/90, que trata do Estatuto da Criança e do

Adolescente, dispõe que o recurso de apelação deve ser recebido no efeito

meramente devolutivo, ressalvadas as hipóteses de adoção por estrangeiro e

de que haja perigo de dano irreparável ou de difícil reparação, nos termos

do art. 198, caput e inc. VI.

Além do periculum in mora, exige-se, para a concessão de

medida cautelar com o propósito de suspender a execução imediata da

sentença proferida em ação regida pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente, a demonstração da plausibilidade do direito.

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Da sentença que estabelece o preço a ser pago pelo bem

imóvel no processo de desapropriação é cabível recurso de apelação, a ser

recebido em ambos os efeitos, se interposta pelo poder expropriante, e no

efeito meramente devolutivo, se interposta pelo expropriado, nos termos do

art. 28 do Decreto-lei 3.365/41.

O Decreto-lei nº. 911/67, que trata da alienação fiduciária em

garantia, disciplina que a apelação interposta em face da sentença que julga

a ação de busca e apreensão deve ser recebida apenas no efeito devolutivo,

nos termos do art. 3º, § 5º.

O Decreto-lei nº. 413/69 estabelece que a apelação não terá

efeito suspensivo, quando for interposta em face de sentença que julga

ações de cobrança de cédula de crédito industrial.

O Decreto nº. 59.566/66, no título sobre locação, estabelece o

efeito meramente devolutivo ao recurso de apelação nas ações sobre

parceria e arrendamento rurais, nos termos do art. 86, parágrafo único.

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A Lei nº. 6.383/76 disciplina que o recurso de apelação

interposto em face de sentença que julga ação discriminatória de terras

devolutas deve ser recebido somente no efeito devolutivo.

A Lei nº. 9.099/95, que dispõe sobre os Juizados Especiais

Cíveis, prescreve que o recurso cabível em face da sentença deve ser

recebido somente no efeito devolutivo, podendo o juiz atribuir-lhe efeito

suspensivo, se existir perigo de dano irreparável ou de difícil reparação, nos

termos do art. 43.

Para que o juiz conceda o efeito suspensivo, é indispensável a

demonstração da plausibilidade do direito e do perigo de dano irreparável

ou de difícil reparação, por se tratar de uma medida cautelar.478

Na ação de responsabilidade civil por danos morais e materiais

decorrentes do exercício da liberdade de manifestação de pensamento e de

informação, a Lei nº. 5.250/67 atribuiu ao recurso de apelação o efeito

meramente devolutivo, nos termos do art. 61, § 5º.

478 Cf. Joel Dias Figueira Junior, Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, p. 291.

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A Lei nº. 6.014/73 dispõe que o recurso de apelação em face

da sentença que cancelar a naturalização deve ser recebido no efeito

meramente devolutivo.

A Lei nº. 4.504/64, que instituiu o Estatuto da Terra,

estabelece que o recurso de apelação interposto em face de sentença

proferida nas ações disciplinadas deve ser recebido apenas no efeito

devolutivo, nos termos do art. 107, § 1º.479

Discute-se se a apelação interposta em face de sentença que

aprecia simultaneamente duas ações, para as quais a lei prevê recursos com

distintos efeitos, deve ser recebida em ambos os efeitos ou com efeitos

distintos para cada ação, tal como a que julga as ações principal, para a

qual a lei prevê o recebimento do recurso em ambos os efeitos, e cautelar,

para a qual a lei prevê o recebimento apenas no efeito devolutivo.

479 Contra: Processual Civil. Despejo de imóvel rural. Apelação. Efeitos. Art. 107, § 1º do Estatuto da Terra (Lei n. 4.504/64). Art. 520, CPC. Conclusão n. 54 do VI ENTA. Precedente da Turma (RMS n. 3.268-0-MG). Recurso provido. Como assentou o VI Encontro Nacional dos Tribunais de Alçada (Conclusão n. 54, Belo Horizonte, 1983), ‘nas causas sob o procedimento sumaríssimo do art. 107, § 1º, do Estatuto da Terra, o recurso deve ser recebido em ambos os efeitos, por força da sistemática do atual Código de Processo Civil” (STJ-4ª Turma, RMS 3.895-5-MS, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, JSTJ 63/55).

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Nesta hipótese, corrente jurisprudencial apregoa que o recurso

de apelação deve ser recebido em ambos efeitos, porquanto o acessório

(ação cautelar) segue o principal (ação principal).480

Com efeito, outra corrente entende que o recurso de apelação

deve ser recebido em distintos efeitos, porquanto não é lícito ao órgão do

Poder Judiciário afastar o tratamento legal dispensado às hipóteses.481-482

Apesar de, formalmente, um pronunciamento ter julgado

simultaneamente duas ações, a rigor há, substancialmente, dois

provimentos sentenciais: um que julgou a ação cautelar e o outro que

julgou a ação principal.

Dessa forma, para que não se efetue violação ao art. 520, inc.

IV, do CPC, a apelação dirigida contra a sentença que julgou a ação

480 “Cautelar e principal. Apelação com efeito suspensivo. Encontra apoio na doutrina (Barbosa Moreira) a orientação da jurisprudência segundo a qual, em face do conflito entre o CPC 807 e 520 IV é de se dar efeito suspensivo à apelação não apenas quanto ao processo principal, mas, também, quanto à cautelar de sustação de protesto até o deslinde do recurso” (JTACivSP 75//227); “Tratando-se de julgamento simultâneo de ações com recursos de efeitos distintos, mais razoável parece se aplicar ao caso a regra de que o acessório segue o principal. Sendo dupla a eficácia do recurso contra a sentença na ação principal, o lógico é que, na cautelar, sejam igualmente duplo os efeitos” (RT 698/113). 481 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao código de processo civil, vol. V, p. 439; Nelson Nery Junior, Teoria geral dos recursos, p. 459-460. 482 “Causas conexas. Julgamento simultâneo. Apelação. Efeitos. Se a apelação relativa a uma das causas deve ser recebida apenas no efeito devolutivo, não se há de emprestar-lhe duplo efeito, em virtude de ser esse o próprio para a outra causa, julgada na mesma sentença” (STJ-3ª Turma, REsp 61.609-3-MG, rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 23.04.1996, v.u., DJU 03.06.1996, p. 19.249); “Julgadas concomitantemente a ação principal e a cautelar, interposta apelação global, ao juiz cabe recebe-la com efeitos distintos, a correspondente à medida cautelar tão-somente no efeito devolutivo” (STJ-4ª Turma, REsp 81.077-SP, rel. Min. Barros Monteiro, j. 26.06.1996, DJU 23.09.1996, p. 35.117).

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principal deve ser recebida em ambos os efeitos, enquanto a que julgou a

ação cautelar não deve ser recebida no efeito suspensivo.

Nessa mesma linha, tratando-se de apelação que julga

procedentes pedidos formulados em ação de investigação de paternidade,

ou anulação de cláusula inserta em separação judicial, cumulada com

alimentos, afigura-se correta a orientação no sentido de a apelação dirigida

contra a decisão que condena ao pagamento de prestação alimentícia não

deve ser recebida no efeito suspensivo, a teor do art. 520, inc. II, do

CPC.483

A problemática da não concessão de efeito suspensivo a

recurso de apelação diz respeito, em regra, à possibilidade de obtenção da

execução provisória do julgado, enquanto o feito estiver pendente. Ocorrida

a formação da coisa julgada material da decisão, dá-se ensejo à execução

definitiva.

No entanto, situação peculiar ocorre quando a sentença rejeita

liminarmente embargos à execução ou julga improcedente o respectivo

483 “Civil e processual civil – Investigação de paternidade – Alimentos – Apelação – Efeito – Devolutivo. I – Interposta de sentença que condena a prestação de alimentos, a apelação será recebida, apenas, no efeito devolutivo (art. 14 da Lei Lei 5.478/1968 e 520, II do CPC). Precedentes do STJ. II – Recurso não conhecido” (STJ-3ª Turma, REsp 66.731-SP, rel. Min. Waldemar Zveiter, j. 09.09.1996, v.u., DJ 21.10.1996, p. 40.257).

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pedido. A apelação em face do citado pronunciamento não deve ser

recebida no efeito suspensivo, nos termos do art. 520, V, do CPC.

Nesta hipótese, como já houve a propositura da ação de

execução definitiva, cuja eficácia foi suspensa quando da propositura dos

embargos do devedor, tem-se que o recurso de apelação não deve ser

recebido no efeito suspensivo, dando ensejo ao andamento da execução

definitiva que até então estava suspensa.484-485

Por ser considerada uma ação de conhecimento incidental ao

processo de execução – a exemplo do que ocorre com os embargos do

devedor -, afigura-se incensurável a orientação no sentido de ser desprovida

de efeito suspensivo a apelação interposta contra sentença que julga

improcedente o pedido dos embargos de retenção por benfeitorias486, à

arrematação e à adjudicação.487-488

484 Cf. Araken de Assis, Manual do processo de execução, p. 1.048. 485 “A execução fundada em título extrajudicial será definitiva, tão-somente, quando não forem interpostos embargos do devedor ou estes tenham sido julgados definitivamente, quer quanto ao mérito, quer por via de rejeição liminar” (STJ-1ª Turma, REsp 172.320-RS, rel. Min. José Delgado, j. 20.08.1998, v.u., DJU 26.10.1998, p. 41); “É definitiva a execução fundada em título extrajudicial, ainda que pendente de julgamento de apelação da sentença que repeliu embargos do executado” (RSTJ 78/306). 486 “Processual civil – Embargos de retenção por benfeitorias rejeitados in limine – Apelação – Efeito devolutivo – Art. 520, V, do CPC. I – Embargos de retenção por benfeitorias rejeitados porque ausentes os requisitos contemplados no art. 744, par. 1, do CPC. A apelação contra essa decisão será recebida, apenas, no efeito devolutivo. Deferir-se a ela os dois efeitos estar-se-ia conferindo-lhe um privilégio que não tem lógica, e tal medida constitui afronta ao ordenamento jurídico. II – Agravo regimental improvido” (STJ-3ª Turma, AGA 52.521-MG, rel. Min. Waldemar Zveiter, j. 16.08.1994, v.u., DJ 10.10.1994, p. 27.172); “Da sentença que rejeita embargos de retenção cabe apelação, sem efeito suspensivo” (STJ-4ª Turma,RMS 2.264-0-SP, rel. Min. Fontes de Alencar, j. 06.06.1995, v.u., DJU 19.06.1995, p. 18.074). 487 Cf. Cassio Scarpinella Bueno, Execução provisória e antecipação da tutela, p. 137.

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Discute-se, ainda, em quais efeitos a apelação contra sentença

que julga os embargos na ação monitória deve ser recebida.

Uma corrente assinala que, em não havendo preceito expresso

em sentido contrário, o recurso de apelação deve ser recebido no efeito

suspensivo.489-490

De outro lado, outra corrente ressalta que, como a hipótese se

enquadra à descrita no inc. V do art. 520 do CPC, o recurso de apelação

não deve ser recebido no efeito suspensivo.491

Em consonância com a tendência de efetividade do processo

que norteou as recentes inovações legislativas inseridas no CPC, e levando-

se em conta que os embargos à ação monitória assumem a feição

semelhante à dos embargos à execução, afigura-se mais razoável o

488 “EMBARGOS À ARREMATAÇÃO. Apelação. Efeito devolutivo. A apelação da sentença que julga os embargos à arrematação, em processo de execução de título extrajudicial, tem efeito apenas devolutivo. Precedentes. Recurso conhecido e provido” (STJ-4ª Turma, REsp 471.865-SP, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, v.u., DJ 14.04.2003, p. 232). 489 Cf. Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery, Código de processo civil comentado e legislação processual civil extravagante em vigor, p. 1.389. 490 “Embargos. Monitória. Apelação. Efeitos. O recurso de apelação interposto contra sentença que julgou improcedente ou rejeitou liminarmente os embargos opostos em ação monitória deverá ser recebido no seu duplo efeito. Inaplicabilidade da regra do art. 520, V, do CPC, uma vez que se tratando de norma de execução deve ser interpretada restritivamente. Precedentes citados: Resp 207.750-SP, DJ 23/8/1999 e Resp 207.266-SP, DJ 16/10/2000” (STJ-3ª Turma, Resp 207.728-SP, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 17.05.2001, Informativo STJ n. 96). 491 Cf. Antonio Carlos Marcato, “A sentença dos embargos ao mandado monitório e o efeito suspensivo da apelação”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos, p. 32-33; Vicente Greco Filho, Comentários ao procedimento sumário, ao agravo e à ação monitória, p. 54.

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entendimento de que essa hipótese se subsume à descrita no inc. V do art.

520 do CPC.

Interessante situação ocorre quando a sentença julga

improcedente o pedido de ação, a despeito de ter sido concedida

anteriormente uma tutela de urgência, e o recurso de apelação deve ser

recebido no efeito suspensivo.

Discute-se se a tutela de urgência deve ser considerada

revogada, em virtude de não mais existirem os requisitos autorizativos para

a sua concessão, ou permanece incólume, diante do recebimento do recurso

no efeito suspensivo.

No instante em que o magistrado julga improcedente o pedido

da ação, a tutela de urgência anteriormente concedida considera-se

revogada, porquanto não mais subsistem os requisitos para a sua concessão,

ainda que não haja referência expressa à revogação.

Vale dizer, é um consectário lógico da sentença a revogação da

tutela de urgência anteriormente concedida, já que, com base em uma

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cognição exauriente e não sumária, declarou-se a inexistência da

plausibilidade do direito do autor.492

Aplica-se, por conseguinte, o enunciado descrito na Súmula

405 do STF: “Denegado o mandado de segurança pela sentença, ou no

julgamento do agravo dela interposto, fica sem efeito a liminar concedida,

retroagindo os efeitos da decisão contrária”.

Sobre o assunto, Nelson Nery Junior assinala que

“Problema crucial relativo ao efeito suspensivo dos recursos é o

referente à duração das medidas liminares concedidas em

mandado de segurança, ação civil pública, ação cautelar, ação

possessória, quando a sentença é de improcedência do pedido ou

de extinção do processo sem julgamento do mérito. Julgado

improcedente o pedido, não mais subsistem os motivos que

autorizaram a concessão provisória da liminar. Se antes havia

fumus boni iuris, deixou de existir pelo decreto de

improcedência do pedido; se havia periculum in mora, isto é,

perigo de perecer o direito, não mais existe porque declarado

inexistente o direito que se quis proteger com a liminar. O

provimento de improcedência do pedido é juridicamente

492 “Processo civil. Ação cautelar. Medida liminar. Sentença superveniente. A sentença substitui a medida liminar, de modo que, prolatada aquela, esta fica sem efeito, qualquer que seja o teor do julgado; se procedente a ação cautelar, a tutela judicial passa a resultar da sentença, que é de execução imediata, a vista do efeito meramente devolutivo da apelação; se improcedente, o provimento liminar não subsiste, cedendo aquele proferido a base de cognição completa. Recurso ordinário improvido” (STJ-2ª Turma, ROMS 6.890-SP, rel. Min. Ari Pargendler, j. 17.06.1996, v.u., DJ 12.08.1996, p. 27.463); “Tributário e processual civil – Liminar – Sentença de mérito denegatória de segurança – Suspensão da exigibilidade do crédito tributário (art. 151, IV, CTN – súmula 405/STF). 1. Denegada a segurança, revogada a liminar que suspendeu provisoriamente a exigilidade do crédito tributário (art. 151, IV, CTN), ressurge a obrigação fiscal, só podendo ser afetada pelas demais causas de suspensão (art. Ref. incs. I, II e III). 2. Novamente exigível o crédito tributário, a suspensão só efetiva-se com depósito integral do valor devido desde a sua constituição, incluindo-se os consectários legais. 3. Recurso improvido” (STJ-1ª Turma, REsp 7.725-SP, rel. Min. Milton Luiz Pereira, j. 08.06.1994, v.u., DJ 27.06.1994, p. 16.884).

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incompatível com a manutenção da liminar, de sorte que,

decretada a improcedência, ipso facto perde a eficácia a liminar,

independentemente de haver ou não interposição de recurso”.493

É predominante o entendimento de que a antecipação dos

efeitos da tutela jurisdicional pode ser concedida no bojo da sentença, por

significar o empréstimo de eficácia executiva aos efeitos da tutela pleiteada

em juízo, devendo a apelação, portanto, ser recebida apenas no efeito

devolutivo.494-495

A teor do princípio recursal da singularidade, é inadmissível a

interposição de recurso de agravo de instrumento em face da parte da

sentença que concede a antecipação dos efeitos da tutela.496

493 Teoria geral dos recursos, p. 465. No mesmo sentido, cf. Betina Rizzato Lara, Liminares no processo civil, p. 115. 494 Cf. Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, vol. 2, p. 397; Eduardo Talamini, “Recorribilidade das decisões sobre tutela de urgência”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e de outras formas de impugnação às decisões judiciais, p. 295; Fernando César Zeni, “Deferimento do pedido de tutela antecipatória na sentença. Novas considerações”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e de outras formas de impugnação às decisões judiciais, p. 358. 495 “A antecipação da tutela pode ser deferida na própria sentença, decisão que, sujeita ao recurso de agravo de instrumento, não se submete ao efeito suspensivo da apelação. Diante do convencimento do magistrado é de se deferir a antecipação da tutela, afastando-se o perigo de irreversibilidade da medida pela cautela de se condicionar o levantamento da importância à prestação de caução” (TAPR-3ª Câm. Civ., AI 136.669-6, rel. Juiz Rogério Coelho); “A tutela antecipatória, cujo deferimento está subordinado a expresso requerimento do autor, inexistente na espécie, de modo algum pode ser, ademais, deferida na própria sentença do processo de conhecimento. Inteligência do art. 273, caput e § 5º, do CPC” (TRF-3ª Região, 1ª T., AC 96.03.053618-0-SP, rel. Juiz Theotônio Costa). 496 “PROCESSO CIVIL. SERVIDOR PÚBLICO CIVIL. SENTENÇA QUE ANTECIPA OS EFEITOS DA TUTELA. PRINCÍPIO DA SINGULARIDADE DOS RECURSOS. 1. Esta Corte firmou compreensão de que é a apelação o recurso a ser manejado em ataque à sentença que antecipa os efeitos da tutela. 2. Segundo o princípio da singularidade dos recursos, segundo o qual, sendo una a sentença, mesmo que solucionadas várias questões em seu âmbito, o recurso a desafiá-la, por sua abrangência maior, há de ser a apelação. 3. Recurso provido” (STJ-6ª Turma, REsp 456.682-MG, rel. Min. Paulo Galloti, v.u., DJ 21.03.2005, p. 447).

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294

Adotando, parcialmente, a orientação da doutrina e da

jurisprudência, a Lei nº. 10.352/01 incluiu um novo inciso ao art. 520 do

CPC, prescrevendo uma hipótese em que a apelação deve ser recebida

apenas no efeito devolutivo, qual seja: confirmar a antecipação dos efeitos

da tutela.

O referido preceito fez alusão apenas à hipótese de a tutela

antecipada ser confirmada na sentença, isto é, o caso de a tutela antecipada

anteriormente concedida ser ratificada pela sentença.

A partir de uma interpretação literal da norma em questão,

poder-se-ia defender o entendimento de que a apelação interposta contra

sentença na qual foi concedida originariamente a tutela antecipatória

deveria ser recebida no efeito suspensivo.

Ressalte-se que, em hermenêutica, não se deve render

hegemonia a um só dos métodos interpretativos. Nas normas jurídicas de

natureza processual, sobreleva-se a importância dos métodos teleológico e

sistemático, em virtude da inexorável perspectiva instrumental que deve

norteá-las.

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295

Tendo presente a finalidade do instituto da tutela antecipatória,

que é a obtenção da execução dos efeitos da tutela pleiteada, afigura-se que

a apelação interposta contra sentença que tenha concedido originariamente,

e não apenas a que confirma, a tutela antecipatória não deve ser recebida no

efeito suspensivo.

Aplicam-se à espécie os métodos teleológico e sistemático de

exegese das normas jurídicas, a fim de se considerar a concessão originária

da tutela antecipada na sentença abrangida na hipótese prevista no inc. VII

do art. 520 do CPC.

Dada a finalidade do processo cautelar, que é assegurar a

utilidade e eficácia do processo principal, orienta a doutrina a aceitar a

propositura de ação cautelar para emprestar efeito suspensivo a recurso que

não o tem ou a suspender os efeitos da decisão judicial recorrível.497

A competência para apreciação da ação cautelar é fixada pelo

art. 800, parágrafo único, do CPC, de modo que, interposto o recurso, a

medida acautelatória deve ser requerida diretamente ao tribunal.

497 Cf. José Roberto dos Santos Bedaque, “Breves considerações sobre recursos e tutela cautelar”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 377.

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No tocante ao recurso de apelação, o art. 558, parágrafo único,

do CPC estabelece que o relator pode, a requerimento do recorrente,

atribuir efeito suspensivo ao recurso de apelação que não o tem, desde que

presentes a relevância da fundamentação e o perigo de lesão grave ou de

difícil reparação.

Há divergência na doutrina acerca de qual o juízo competente

para apreciar esse requerimento que, a rigor, tem natureza jurídica de

medida cautelar.

Para uma parcela da doutrina, como o recurso de apelação é

interposto perante o órgão a quo, o requerimento de concessão de efeito

suspensivo deve ser feito na própria peça da apelação, competindo ao juízo

de primeiro grau a sua apreciação.498

Por sua vez, parcela outra da doutrina entende que o

requerimento deve ser dirigido ao relator, a quem for distribuído o recurso

de apelação, já que não é razoável que o mesmo juiz que, com base em

498 Cf. José Miguel Garcia Medina, “Antecipação da tutela recursal e efeito suspensivo – análise de alguns problemas decorrentes da aplicação do art. 558 do CPC”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 355; José Roberto dos Santos Bedaque, “Breves considerações sobre recursos e tutela cautelar”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 381; Nelson Nery Junior, Atualidades sobre o processo civil, p. 193.

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cognição exauriente julgou desfavorável a demanda, atribua efeito

suspensivo à apelação com base na probabilidade do seu provimento.499

Considerando a regra presente no parágrafo único do art. 558,

que manda aplicar o caput às hipóteses do art. 520, bem como o fato de

com essa inovação pretendeu o legislador evitar a propositura de mandado

de segurança contra ato judicial perante o tribunal, mostra-se incensurável

o entendimento de que esse requerimento deve ser formulado ao relator.

Analisando o que estabelece o art. 558, parágrafo único, do

CPC, Humberto Theodoro Júnior declara que

“Não há necessidade de agravo contra a decisão que recebeu a

apelação apenas com efeito devolutivo, nem muito menos terá

cabimento o mandado de segurança, pois o juiz de primeiro

grau, ao aplicar o art. 520 do CPC, não cometeu ilegalidade

nenhuma. A pretensão, repita-se, é de natureza cautelar e, após a

interposição do recurso, é de competência exclusiva do Tribunal

ad quem, por meio do relator. (...) Não há, repita-se, prazo fatal

para o pedido cautelar de suspensão da decisão recorrida,

499 Cf. Humberto Theodoro Júnior, O processo civil brasileiro no limiar do novo século, p. 187; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 648; Vicente Greco Filho, Comentários ao procedimento sumário, ao agravo e à ação monitória, p. 42-43; Teresa Arruda Alvim Wambier, “Efeito suspensivo do agravo e recorribilidade da decisão que o concede (ou não concede) e outros assuntos”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos, p. 651-652.

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podendo a parte formulá-lo a qualquer tempo enquanto não

julgado o recurso”. 500

Entretanto, vulnerando o que estabelece o art. 800, parágrafo

único, do CPC, há entendimento jurisprudencial no sentido de que a

postulação para que seja concedido efeito suspensivo a recurso de apelação

tem que necessariamente ser formulada ao juízo a quo, sendo inadmissível

a propositura de ação cautelar perante o tribunal.501

Considerando que a providência pleiteada é a concessão de

uma medida cautelar com o escopo de obstar a execução imediata da

decisão recorrida por recurso desprovido de efeito suspensivo, infere-se

que, com a interposição do recurso de apelação, a competência é exclusiva

do juízo ad quem, nos termos do art. 800, parágrafo único, do CPC.

500 O processo civil brasileiro no limiar do novo século, p. 187-188. 501 “PROCESSUAL CIVIL. MEDIDA CAUTELAR. APELAÇÃO EM SEDE DE MANDAMUS. EFEITO DEVOLUTIVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CABIMENTO. O recurso adequado contra sentença proferida em writ é o de apelação e contra a decisão que define os efeitos do recebimento da apelação (suspensivo ou devolutivo) é o agravo de instrumento, não podendo ser substituído pela propositura de ação cautelar autônoma, máxime pela possibilidade de concessão imediata de efeito suspensivo ope judius, pelo relator. Recurso especial improvido” (STJ-1ª Turma, REsp 423.241-SP, rel. Min. Luiz Fux, v.u., DJ 19.08.2002, p. 149); “PROCESSUAL CIVIL – MEDIDA CAUTELAR – MANDADO DE SEGURANÇA DENEGATÓRIO – APELAÇÃO – EFEITO DEVOLUTIVO – AGRAVO DE INSTRUMENTO – RECURSO CABÍVEL – SÚMULA 83/STJ. - A medida cautelar não é a via adequada para conferir efeito suspensivo à apelação interposta em mandado de segurança e recebida apenas no efeito devolutivo. - O recurso cabível para atacar a decisão que recebeu a apelação em mandado de segurança apenas no efeito devolutivo (questão incidente), é o agravo de instrumento, que não suspende o curso da lide. - Incidência da Súmula 83/STJ. - Recurso especial não conhecido” (STJ-2ª Turma, REsp 168.505-PR, rel. Min. Francisco Peçanha Martins, v.u., DJ 18.02.2002, p. 283).

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Tendo presente a divergência, afigura-se razoável o órgão do

Poder Judiciário aceitar qualquer uma das formas, em consonância com o

princípio da fungibilidade.502

À luz da instrumentalidade, o que importa substancialmente é

proporcionar o exame do pedido de tutela de urgência, a fim de evitar a

consumação de um dano irreparável ou de difícil reparação.503

Registre-se que o art. 588, parágrafo único, do CPC não fixa

prazo para que o requerimento seja formulado, de modo que parece

razoável o entendimento segundo o qual, pendente o recurso de apelação, é

lícito ao recorrente pleitear ao relator a concessão de efeito suspensivo à

apelação.

Por oportuno, a partir de uma interpretação teleológica e

sistemática, mostra-se razoável o entendimento de que a regra prevista no

502 Sobre uma nova perspectiva do princípio da fungibilidade, cf. Teresa Arruda Alvim Wambier, “Fungibilidade de ‘meios’: uma outra dimensão do princípio da fungibilidade”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e de outras formas de impugnação às decisões judiciais, passim. 503 Em trabalho monográfico sobre o tema, Gustavo de Medeiros Melo averba que “A dúvida objetiva decorrente da divergência jurisprudencial vem invadindo pouco a pouco o terreno das tutelas de urgência. O problema referente ao cabimento dos provimentos envolve sempre uma questão técnica sobre a adequação da medida apropriada. Nessa visão instrumentalista, casos práticos da vida vêm acenando para a possibilidade de se abstraírem determinadas filigranas da lei em salvaguarda do livre e desembaraçado ingresso nos canais da jurisdição. (...) O que importa substancialmente é atingir na medida do possível a finalidade preventiva contra o perigo da demora. Tão preocupante é a questão de fundo relativa à preservação da tutela jurisdicional adequada que a tendência vem sendo a aplicação do princípio da fungibilidade (rectius, fungibilidade hermenêutica) sobre a dúvida objetiva que paira sobre a espécie de tutela a ser manejada, daí admitindo a suspensão por qualquer dos dois meios” (O princípio da fungibilidade nas tutelas de urgência, p. 318-319).

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art. 558, parágrafo único, do CPC aplica-se às hipóteses constantes do

próprio estatuto ou de leis extravagantes em que a apelação não deve ser

recebida no efeito suspensivo.504

No intervalo em que a apelação ainda se encontra no juízo de

primeiro grau de jurisdição, é lícito ao apelante, exibindo cópia do recurso,

prova da sua interposição e do recolhimento do preparo, apresentar

requerimento por meio de simples petição junto ao tribunal, a quem

competir a análise da apelação, o qual deve ser distribuído a um dos seus

membros, a fim de analisar a concessão de efeito suspensivo, tornando-se

prevento para a apelação.505

Ao receber a peça recursal, deve o juiz declarar os efeitos em

que ela é recebida. Considerando que a regra é ser provida de efeito

suspensivo, entende-se que, no caso de omissão, a apelação impede a

produção de efeitos da decisão recorrida, sem prejuízo de se interpor

embargos declaratórios para o suprimento dessa omissão.

504 Cf. Edson Ribas Malachini, “Atribuição de efeito suspensivo à apelação (CPC, art. 558, parágrafo único), Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 229; Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery, Código de processo civil comentado e legislação processual civil extravagante em vigor, p. 1.072. 505 Cf. Sérgio Bermudes, A reforma do CPC, p. 125.

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301

Em face do pronunciamento que declara quais os efeitos em

que é recebida a apelação, é cabível o recurso de agravo, por ser uma

decisão interlocutória.

Antes da edição da Lei nº 10.352/01, havia discussão quanto à

possibilidade de interposição de recurso de agravo de instrumento contra a

decisão que declara os efeitos em que a apelação é recebida, mormente em

face da antiga redação do art. 523, § 4º, do CPC, a qual prescrevia que

“Será sempre retido o agravo das decisões posteriores à sentença, salvo

caso de inadmissão da apelação”.

Malgrado a peremptoriedade da norma, parcela majoritária da

doutrina entendia, acertadamente, ser cabível o agravo de instrumento,

porquanto o impugnante não teria interesse para interpor o retido.506-507

Acolhendo sugestão da doutrina e tendo presente a orientação

da jurisprudência, a Lei nº. 10.352/01 emprestou nova redação ao art. 523,

506 Cf. Cássio Scarpinella Bueno, “Novas perspectivas do recurso de agravo”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 147; Teresa Arruda Alvim Wambier, Os agravos no CPC brasileiro, p. 322 e ss.; Vallentina Jungmann Cintra Alla, O recurso de agravo e a Lei 9.139, de 30 de novembro de 1995, p. 111-112. 507 “Quando enfrenta decisão que recebe apelação, disciplinando-lhe os efeitos, o agravo deve ser processado em instrumento” (STJ-1ª Turma, REsp 156.171-PE, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 04.05.1999, v.u., DJU 14.06.1999, v.u., DJU 14.06.1999, p. 109); “Agravo de instrumento – efeito suspensivo a recurso que não tem – admissibilidade – alteração instituída pela Lei 9.139/95. – Admite-se a discussão, em agravo de instrumento, de matéria que não pode aguardar apreciação conjunta com a apelação” (TJSP-2ª Câm., AI 464.655, rel. Des. Vianna Cotrim, j. 05.08.1996, in Boletim da AASP 1976/3).

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302

§ 4º, do CPC, dispondo que “será sempre retido o agravo das decisões

proferidas na audiência de instrução e julgamento e das posteriores à

sentença, salvo nos casos de dano de difícil e incerta reparação, nos de

inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é

recebida”.

Por conseguinte, após a citada alteração legislativa, é inegável

a possibilidade de interposição de agravo de instrumento contra a decisão

que declara em que efeitos a apelação é recebida.

4.6 - CAPÍTULOS DA SENTENÇA

É sabido que, na sentença, o juiz é compelido a decidir várias

questões de mérito e processuais. Vários são os exemplos, a saber: sentença

que julga ação em que foram formulados pedidos cumulados; condenação

na sentença do vencido aos ônus da sucumbência; sentença que julga ação

e reconvenção, denunciação da lide, chamamento ao processo, ação

declaratória incidental; sentença que rejeita matérias preliminares e analisa

o mérito.

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303

Nos exemplos anteriormente transcritos, pode-se afirmar que,

a despeito da unidade formal, na sentença há mais de uma decisão, passível

de divisão dada à autonomia da parte ou capítulo.

Enrico Tullio Liebman assinala que

“La sentenza conserva formalmente la sua unità anche quando

contiene più d’uma decisione. Ad es. le sentenze definitive

contengono anche la condanna del soccombente nelle spese del

giudicio; la sentenza che pronuncia su um cumulo di domande

contiene uma pluralità di decisioni; la pornuncia su una

preliminare processuale è uma decisione distinta da quella che

giudica il mérito; anche se le due decisioni si trovano riunite

nella stessa sentenza; se la domanda há per oggetto uma quantità

di cose fungibili (uma somma di denaro, uma quantità

determinara di uma mercê qualsiasi) e se il giudice accoglie la

domanda in parte e in parte la respinge, la sentenza contiene due

decisioni distinte, uma di accoglimento e pro parte uma di

rigetto. In tutti questi casi la sentenza è divisibile a certi effetti in

tante parti distinte, quante sono lê diverse pronunce (o

statuizioni) che vi sono contenute, cosi come si può scomporre

un corpo composto nelle sue varie componenti. La legge chiama

‘parti della sentenza’ queste distinte pronunce (art. 329, secondo

comma e art. 336 cod. proc. civ.), che nel códice previgente

avevano il nome, forse più espressivo, di ‘capi di sentenza. Parte

di sentenza è ogni decisione su um autônomo oggetto del

processo, sia che decida sulla sua ammissibilità, sai che decida

sulla sua fondatezza”. 508

508 Manuale di diritto processuale civile, II, p. 231-232. Do mesmo autor, cf. “Parte o ‘capo’ di sentenza, p. 55.

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304

Apesar de o CPC não prever dispositivo específico, o estudo

do capítulo da sentença é parte integrante do que se intitula teoria da

sentença, desempenhando importante solução para a resolução de

discussões doutrinária e jurisprudencial, mormente no campo recursal e das

nulidades processuais.

Há diversas teorias que explicam os capítulos da sentença,

quais sejam: incidem somente no comando decisório que aprecia o mérito

da demanda (Chiovenda); incidem no comando decisório, incluindo as

questões processuais (Liebman); incidem no exame das questões

(Carnelutti); incidem no comando decisório e na motivação (Allorio,

Andrioli).509

O direito brasileiro adotou a teoria dos capítulos da sentença

defendida por Enrico Tullio Liebman. O capítulo da sentença, quer de

mérito, quer processual, é uma unidade elementar autônoma, exigindo do

juiz uma decisão específica assentada em fundamentos próprios.

A autonomia não se confunde com independência, de sorte que

aquela retrata uma distinção funcional entre os capítulos. A despeito da

509 Cf. Cândido Rangel Dinamarco, Capítulos de sentença, passim.

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305

autonomia, os capítulos processuais não têm o condão de constituir o

objeto de demanda própria.

Cândido Rangel Dinamarco declara que

“Cada capítulo do decisório, quer todos de mérito, quer

heterogêneos, é uma unidade elementar autônoma, no sentido de

que cada um deles expressa uma deliberação específica; cada

uma dessas deliberações é distinta das contidas nos demais

capítulos e resulta da verificação de pressupostos próprios, que

não se confundem com os pressupostos das outras. Nesse plano,

a autonomia dos diversos capítulos de sentença revela apenas

uma distinção funcional entre eles, sem que necessariamente

todos sejam portadores de aptidão a constituir objeto de

julgamentos separados, em processos distintos e mediante mais

de uma sentença: a autonomia absoluta só se dá entre capítulos

de mérito, não porém em relação ao que contém julgamento da

pretensão ao julgamento deste (capítulo que aprecia preliminares

– supra, n. 7).

Na teoria dos capítulos de sentença, autonomia não é sinônimo

de independência, havendo capítulos que comportariam

julgamento em outro processo e também, em alguns casos, um

capítulo que não o comportaria (o que rejeita preliminares)”.510

É lícito ao recorrente impugnar, total ou parcialmente, a

decisão no âmbito do recurso. O art. 505 do CPC refere-se expressamente

ao recurso de apelação, estabelecendo a incidência do princípio dispositivo

no âmbito recursal.

510 Capítulos da sentença, p. 34.

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306

É o recorrente, pois, que fixa os limites da impugnação em

face de um pronunciamento decisório. Tratando-se de impugnação total,

toda a matéria decidida é devolvida ao conhecimento da instância superior.

Tratando-se de impugnação parcial, somente capítulo ou parte

da decisão impugnada é devolvida à instância superior, deixando sem

impugnação outro capítulo ou parte.

O recurso, que impugna o capítulo principal, abrange o

capítulo dependente ou acessório, ainda que o recorrente não efetue

manifestação expressa.511

Assim, interposta apelação em face de sentença que impôs

obrigação de indenizar, os capítulos referentes à multa, aos juros e aos

honorários advocatícios, ficam também submetidos ao efeito devolutivo do

recurso.

Discute-se quais as conseqüências no processo, quando o

recurso impugna parcialmente a decisão.

511 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 352.

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307

O capítulo da decisão não impugnado pelo recurso fica coberto

pela autoridade da coisa julgada formal ou material, conforme a hipótese,

sendo defeso ao tribunal reexaminá-lo, desde observadas certas condições:

cindibilidade dos capítulos da decisão; autonomia entre a parte da decisão

que se pretende executar e a parte impugnada; e existência de litisconsórcio

não unitário.512

No julgamento da apelação parcial, é defeso ao tribunal

reexaminar o capítulo inatacado da decisão recorrida, em consonância com

o princípio da congruência entre a decisão e o pedido.

Se, no julgamento da apelação, reexaminar capítulo da

sentença que não foi objeto da impugnação, o tribunal incorre na violação

aos arts. 128, 515 e 460 do CPC.

Acerca da limitação do recurso de apelação, José Carlos

Barbosa Moreira registra que

“Desde que, pelo esgotamento do prazo (para a interposição por

via independente ou, se for o caso, para a adesão), ou por outra

causa, se torne inadmissível a impugnação da(s) parte(s)

restante(s) da decisão, das quais primitivamente não se

recorrera, aí nenhuma dúvida pode sofrer que, com o respectivo

trânsito em julgado, precluso fica o seu reexame. O objeto da

512 Cf. Nelson Nery Junior, Teoria geral dos recursos, p. 454.

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308

cognição no grau superior é delimitado pelo âmbito do recurso,

embora não tenha o órgão ad quem, necessariamente, de cingir-

se à análise dos fundamentos invocados pelo recorrente, ou às

questões suscitadas por ele e pelo recorrido: isso depende da

disciplina legal adotada em cada caso e variável de um para

outro recurso. O que o órgão ad quem não pode fazer é

ultrapassar os marcos postos pelo recorrente”.513-514

Indaga-se se é possível a execução imediata do capítulo não

impugnado no recurso, estando a causa na pendência de apelação.

Por não estar abrangido pelos efeitos devolutivo e suspensivo

do recurso de apelação, o capítulo de mérito não impugnado deve ser

passível de execução.

Paulo Henrique dos Santos Lucon registra que

“O recurso será parcial quando, ‘em virtude de limitação

voluntária, não compreenda a totalidade do conteúdo

impugnável da decisão’. A suspensividade está também 513 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 352. 514 “PROCESSO CIVIL. SENTENÇA. DIVISÃO EM CAPÍTULOS. POSSIBILIDADE. IMPUGNAÇÃO PARCIAL. PRINCÍPIO TANTUM DEVOLUTUM QUANTUM APELLATUM. TRÂNSITO EM JULGADO DOS DEMAIS CAPÍTULOS, NÃO IMPUGNADOS. NULIDADE. JULGAMENTO EXTRA PETITA. FUNDAMENTOS AUTÔNOMOS E INDEPENDENTES. ANULAÇÃO PARCIAL. DOUTRINA. RECURSO PROVIDO. I - A sentença pode ser dividida em capítulos distintos e estanques, na medida em que, à cada parte do pedido inicial, atribui-se um capítulo correspondente na decisão. II - Limitado o recurso contra parte da sentença, não pode o tribunal adentrar no exame das questões que não foram objeto de impugnação, sob pena de violação do princípio tantum devolutum quantum appellatum. III - No caso, a sentença foi dividida em capítulos, e para cada um foi adotada fundamentação específica, autônoma e independente. Assim, a nulidade da sentença, por julgamento extra petita, deve ser apenas parcial, limitada à parte contaminada, mormente porque tal vício não guarda, e nem interfere, na rejeição das demais postulações, que não foram objeto de recurso pela parte interessada (a autora desistiu de seu recurso). IV - Outra seria a situação, a meu ver, se a sentença tivesse adotado fundamento único, para todos os pedidos. Nesse caso, o vício teria o condão de contaminar o ato como um todo” (STJ-4ª Turma, REsp 203.132-SP, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 25.03.2003, v.u., DJ 28.04.2003, p. 202).

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309

relacionada com a devolução da matéria impugnada

proporcionada pelo recurso. Portanto, a parte autônoma da

decisão de mérito não recorrida transita materialmente em

julgado, podendo ser objeto de execução definitiva”.515

O capítulo de mérito não impugnado no recurso de apelação,

por transitar em julgado, formando-se a coisa julgada material, enseja a

propositura de ação de execução definitiva e não provisória.

Apesar de formada a coisa julgada material de um capítulo não

impugnado no recurso, orienta-se a jurisprudência no sentido de que o

prazo decadencial para a propositura da ação rescisória inicia-se a partir do

trânsito em julgado da última decisão da causa.516

515 Eficácia das decisões e execução provisória, p. 222. No mesmo sentido: Nelson Nery Junior, Teoria geral dos recursos, p. 454. 516 “PROCESSUAL CIVIL - EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL - AÇÃO RESCISÓRIA - PRAZO PARA PROPOSITURA - TERMO INICIAL – TRÂNSITO EM JULGADO DA ÚLTIMA DECISÃO PROFERIDA NOS AUTOS - CPC, ARTS. 162, 163, 267, 269 E 495. - A coisa julgada material é a qualidade conferida por lei à sentença /acórdão que resolve todas as questões suscitadas pondo fim ao processo, extinguindo, pois, a lide. - Sendo a ação una e indivisível, não há que se falar em fracionamento da sentença/acórdão, o que afasta a possibilidade do seu trânsito em julgado parcial. - Consoante o disposto no art. 495 do CPC, o direito de propor a ação rescisória se extingue após o decurso de dois anos contados do trânsito em julgado da última decisão proferida na causa. - Embargos de divergência improvidos” (STJ-Corte Especial, EREsp 404.777-DF, rel. para o ac. Min. Francisco Peçanha Martins, maioria, DJ 11.04.2005, p. 169); “RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. PRAZO DECADENCIAL. TERMO A QUO. TRÂNSITO EM JULGADO DA ÚLTIMA DECISÃO PROFERIDA NA CAUSA. ENTENDIMENTO FIRMADO PELA CORTE ESPECIAL. O certo é que, havendo um único processo e uma única sentença, não há cogitar de coisa julgada material progressiva. A coisa julgada material somente ocorre com o trânsito em julgado da última decisão proferida na causa. É impossível dividir uma única ação, que deu origem a um único processo, em tantas quantas forem as questões submetidas ao Judiciário, sob pena de se provocar um verdadeiro caos processual, ferindo os princípios que regem a preclusão, a coisa julgada formal e material, e permitindo, até mesmo, a rescisão de capítulos em relação aos quais nem sequer se propôs ação rescisória. A ação rescisória representa a última barreira para a definição permanente dos direitos discutidos no processo e tem como fundamento rigorosa ponderação entre o princípio de justiça e o da segurança jurídica. Por esse motivo, no dizer do mestre Pontes de Miranda, ‘é processo sobre outro processo’, razão pela qual pressupõe, obviamente, extinção do processo rescindendo, operada a coisa julgada material. Dessa forma, a jurisprudência desta Corte Superior se orienta no sentido de que ‘o termo inicial para a contagem do prazo do artigo 495 do CPC deve ser o do trânsito em julgado da última decisão da causa, momento em que ocorre a coisa julgada material’ (AR 846, da relatoria deste Magistrado, DJU 1.8.2000) e, bem assim,

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310

A teoria do capítulo da sentença é decisiva para justificar a

orientação jurisprudencial de que é possível a previsão de diferentes

regimes de efeitos, máxime o suspensivo, da apelação interposta em face de

sentença com múltiplos capítulos.

No que se refere à atribuição dos efeitos da apelação,

mormente o suspensivo, compete ao juiz analisar, de forma autônoma, cada

capítulo da sentença.

Por exemplo, se a sentença julga simultaneamente as ações

principal e cautelar, deve ser atribuído o efeito suspensivo ao recurso de

apelação interposto no tocante à ação principal, mantendo-se a

executoriedade imediata da parte da sentença que julgou o processo

cautelar.517

de que ‘o prazo de decadência para ingresso de ação rescisória conta-se a partir do trânsito em julgado da decisão rescindenda que ocorre com o término do prazo para interposição do último recurso, em tese, pela parte, sem se levar em consideração a situação peculiar de cada parte’ (EDAR 1.275/SP, Rel. Min. José Arnaldo, DJU 22.10.01). Ainda que se considere ter um determinado tema se tornado absolutamente imutável durante o caminhar do processo, seria escusado afirmar que o prazo para o ajuizamento da ação rescisória a seu respeito estaria suspenso, visto que essa ação, como já se explicitou, pressupõe o encerramento do processo. De acordo com os fundamentos acima explicitados, portanto, forçoso concluir que a presente ação rescisória foi proposta dentro do prazo decadencial de 2 anos. O raciocínio acima expendido foi o que prevaleceu no julgamento, pela colenda Corte Especial, do EREsp 404.777/DF (Rel. p/acórdão Min. Peçanha Martins, j. em 03.12.2003). Recurso especial improvido” (STJ-2ª Turma, REsp 705.354-SP, rel. Min. Franciulli Neto, v.u., DJ 09.05.2005, p. 373). 517 “Agravo regimental. Medida cautelar. Efeito suspensivo. Recurso especial. Sentença única. Ação cautelar e principal. Efeitos da apelação. 1. Na linha da jurisprudência da Corte, o julgamento simultâneo da cautelar e da ação principal em sentença única, interposta apenas uma apelação, não desqualifica o recebimento desta com efeitos distintos, sendo o devolutivo para a primeira e ambos para a segunda. Assim, ausente o fumus boni iuris na hipótese presente. 2. Agravo regimental desprovido” (STJ-3ª Turma, AgRg na MC 8131-SP, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, v.u., DJ 02.08.2004, p. 359).

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311

Mesma conclusão se impõe – diferentes regimes de efeito

suspensivo - à hipótese de causas conexas, ou de pedidos cumulados, em

que a legislação imponha ao recurso de apelação de um dos capítulos de

mérito a ausência de efeito suspensivo.518

Tratando-se de sentença em que o juiz se omite no julgamento

de um dos pedidos que foram cumulados na causa, afigura-se que há

violação ao princípio da congruência entre a decisão e o pedido.

A rigor, do ponto de vista substancial, há duas sentenças: uma

válida que apreciou um dos pedidos; e outra que é inexistente

juridicamente, uma vez que não houve decisão sobre o outro pedido,

inocorrendo a formação da coisa julgada material.

Nesse sentido, adverte Teresa Arruda Alvim Wambier:

“a sentença que aprecia mais de um pedido, seja caso de

cumulação, reconvenção, de oposição etc., é formalmente uma,

mas materialmente dúplice e cindível. Portanto, se se decidiu

518 “CAUSAS CONEXAS - JULGAMENTO SIMULTANEO - APELAÇÃO - EFEITOS. Se a apelação relativa a uma das causas deve ser recebida apenas no efeito devolutivo, não se há de emprestar-lhe duplo efeito, em virtude de ser esse o próprio a outro causa, julgada na mesma sentença” (STJ-3ª Turma, REsp 61.609-MG, rel. Min. Eduardo Ribeiro, v.u., DJ 03.06.1996, p. 19.249); “CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE - ALIMENTOS - APELAÇÃO - EFEITO - DEVOLUTIVO. I- Interposta de sentença que condena a prestação de alimentos, a apelação será recebida, apenas, no efeito devolutivo (art. 14, da Lei 5.478/1968, e 520, II do CPC). Precedentes do STJ. II- Recurso não conhecido” (STJ-3ª Turma, REsp 66.731-SP, rel. Min. Waldemar Zveiter, v.u., DJ 21.10.1996, p. 40.257).

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‘um’ dos pedidos, e se ‘não se considerou o outro’ (ou os

outros), parece que estaremos, na verdade, em face de duas

sentenças: uma delas não eivada do vício e a outra inexistente,

fática e juridicamente”.519

De acordo com a teoria dos capítulos da sentença e com o

princípio processual da conservação dos atos processuais, se o

pronunciamento decisório é cindível em partes autônomas entre si, o vício

somente tem o condão de atingir uma das partes. Assim, deve o tribunal

declarar a nulidade parcial da sentença, aproveitando-se o capítulo

autônomo desprovido de qualquer invalidade.520-521

519 Nulidades do processo e da sentença, p. 317. 520 Segundo Cândido Rangel Dinamarco, “Diz-se citra petita a sentença que decide sobre um objeto menor do que o objeto do processo. (...) A mais significativa conseqüência prática dessa omissão é que, passando em julgado a sentença, a coisa julgada não impedirá o autor de voltar a juízo com a pretensão não decidida – porque a auctoritas rei judicatae nada mais é do que a indiscutabilidade dos efeitos substanciais da sentença e, obviamente, jamais poderia incidir sobre efeitos que a sentença não houver declarado. O vício citra petita não pode implicar, todavia, nulidade do decidido, a ser pronunciada em grau de recurso. Se os capítulos efetivamente postos na sentença não forem em si mesmos portadores de vício algum, anulá-los seria como inutilizar todo o fruto de uma plantação, pelo motivo de uma parte da roça nada haver produzido. Não se anulam capítulos perfeitos, só pela falta de um outro capítulo autônomo. Torna-se aqui às considerações já expendidas sobre o princípio da conservação dos atos jurídicos, máxima utile per inutile non vitiatur e art. 248 do Código de Processo Civil, ressaltando-se que a falta de um capítulo não faz com que os capítulos efetivamente presentes na sentença citra petita sejam prejudiciais a quem quer que seja – sabendo-se que não se anulam atos não-prejudiciais, ainda quando sejam imperfeitos (art. 249, §1º)” (Capítulos de sentença, p. 89-90). 521 “PROCESSO CIVIL. SENTENÇA. DIVISÃO EM CAPÍTULOS. POSSIBILIDADE. IMPUGNAÇÃO PARCIAL. PRINCÍPIO TANTUM DEVOLUTUM QUANTUM APELLATUM. TRÂNSITO EM JULGADO DOS DEMAIS CAPÍTULOS, NÃO IMPUGNADOS. NULIDADE. JULGAMENTO EXTRA PETITA. FUNDAMENTOS AUTÔNOMOS E INDEPENDENTES. ANULAÇÃO PARCIAL. DOUTRINA. RECURSO PROVIDO. I - A sentença pode ser dividida em capítulos distintos e estanques, na medida em que, à cada parte do pedido inicial, atribui-se um capítulo correspondente na decisão. (...) III - No caso, a sentença foi dividida em capítulos, e para cada um foi adotada fundamentação específica, autônoma e independente. Assim, a nulidade da sentença, por julgamento extra petita, deve ser apenas parcial, limitada à parte contaminada, mormente porque tal vício não guarda, e nem interfere, na rejeição das demais postulações, que não foram objeto de recurso pela parte interessada (a autora desistiu de seu recurso). IV - Outra seria a situação, a meu ver, se a sentença tivesse adotado fundamento único, para todos os pedidos. Nesse caso, o vício teria o condão de contaminar o ato como um todo” (STJ-4ª Turma, REsp 203.132-SP, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 25.03.2003, v.u., DJ 28.04.2003, p. 202).

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4.7 - AGRAVO E SENTENÇA NÃO RECORRIDA

Assunto bastante controvertido no âmbito da doutrina e da

jurisprudência é o referente à admissibilidade de recurso de agravo de

instrumento contra decisão interlocutória, quando a decisão final não tenha

sido impugnada por recurso, ou quando este não é conhecido.

Com base nos efeitos devolutivo e substitutivo do recurso,

parcela da doutrina entende que a decisão final da qual não se recorreu fica

condicionada ao desprovimento do agravo de instrumento na parte que for

incompatível.522-523

Veja, por todos, a lição de Nelson Nery Junior:

“O problema surge quando, da sentença, não houver sido

interposto o recurso de apelação. Neste caso, há preclusão

quanto à impugnação da sentença, mas não quanto à

interlocutória. Relativamente à questão incidente, a preclusão

foi obstada pela interposição do agravo. Assim, pelo efeito

devolutivo do agravo já interposto, aquela matéria não foi

alcançada pela preclusão do decisum. A decorrência natural

522 Cf. Francisco Glauber Pessoa Alves, “Agravo de instrumento julgado depois de proferida a sentença, não tendo sido conhecida a apelação”, RePro, n. 95, p. 253; Rogério Lauria Tucci, Curso de Direito Processual, vol. II, p. 268. 523 “O efeito devolutivo do agravo de instrumento, interposto contra decisão de saneamento do processo, faz com que a sentença, proferida na causa, fique com sua eficácia condicionada ao desprovimento do agravo, no que concerne às questões nele ventiladas” (STF-RTJ 91/320); “Resta sem eficácia a sentença extintiva de processo de produção antecipada de prova pericial, tendo em vista o provimento de agravo de instrumento determinando o reentranhamento de laudos periciais, posta que a extinção se deu por perda do objeto da ação, em face do desentranhamento dos ditos laudos” (STJ-3ª Turma, REsp 15.081-SP, rel. Min. Dias Trindade, j. 10.02.1992, v.u., DJU 09.03.1992, p. 2.577). No mesmo sentido: RSTJ 95/142, RSTJ 105/396, REsp 15.081-SP, REsp 182.562-RJ.

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disto é que a eficácia da sentença fica condicionada ao

desprovimento do agravo. Se este for provido, todos os atos

posteriores do procedimento terão sido anulados e outra

sentença deverá ser proferida em lugar daquela sobre a qual se

operou a preclusão”.524

O referido entendimento de que o agravo não fica prejudicado

com a ausência de impugnação da sentença se ampara, por analogia, no

princípio da causalidade ou da concatenação dos atos processuais, em razão

do qual, provido o agravo, devem ser desconstituídos todos os atos

processuais posteriores que lhe sejam contrários, inclusive a sentença.525

Por outro lado, parcela outra da doutrina entende que a decisão

final, ao transitar em julgado, somente pode ser desconstituída mediante a

propositura de ação rescisória e não por meio do recurso de agravo de

instrumento, pois este recurso tem, somente, o condão de impugnar a

decisão interlocutória, em razão do princípio da unirrecorribilidade.526-527

524 “Liminar impugnada e sentença irrecorrida: a sorte do agravo de instrumento”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos, v.7, p. 523-524. 525 Cf. Francisco Glauber Pessoa Alves, “Agravo de instrumento julgado depois de proferida a sentença, não tendo sido conhecida a apelação”, RePro, n. 95, p. 255. 526 Cf. Athos Gusmão Carneiro, “Poderes do relator e agravo interno”, RePro, n. 100, p. 13; Teresa Arruda Alvim Wambier, O novo regime do agravo, p. 355-356. 527 “Direitos de Família e Processual Civil. Direito intertemporal. Investigação de paternidade cumulada com anulação de registro civil. Regime posterior ao art. 27 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Decadência da ação de impugnação do reconhecimento. Inocorrência. Arts. 178, § 9º, VI, 348 e 362, CC. Orientação da Turma. Agravo. Lei 9.756/98. Posterior decisão de mérito, transitada em julgado. Agravo prejudicado. Recurso especial não conhecido. (...) II – Tem-se por prejudicado o agravo de instrumento interposto contra a decisão de primeiro grau que rejeitou a preliminar de decadência, nas duas instâncias, se a sentença de mérito vem posteriormente a transitar em julgado” (STJ-4ª Turma, REsp 112.208-RS, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, j. 08.06.1999, DJ 28.06.1999, p. 114). No mesmo sentido: REsp 2.855-SP, AgRgAG 43.374-9-SP, REsp 112.208-RS.

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315

Em hipótese análoga – julgamento da apelação antes do agravo

-, afirma José Carlos Barbosa Moreira adverte que

“Ademais, transitando em julgado o acórdão da apelação, não é

razoável admitir que, na hipótese de incompatibilidade, tenha a

força de desconstituí-lo o posterior julgamento do agravo, à

semelhança de eventual decisão de procedência em iudicium

rescindens”.528

O agravo de instrumento não tem o condão de impugnar a

sentença que, ao não sofrer impugnação, dá ensejo à formação da coisa

julgada formal ou material, conforme a hipótese.

Registre-se que há o entendimento jurisprudencial de que a

não interposição da apelação em face da sentença configura renúncia do

direito de interpor o agravo de instrumento.529

É de bom alvitre consignar que somente há que se cogitar da

ocorrência dos efeitos devolutivo e substitutivo do recurso, desde que este

seja conhecido, isto é, em caso de inadmissibilidade do recurso, a cognição

do órgão do Poder Judiciário exaure-se na própria declaração, sendo defeso

impingir qualquer efeito modificativo. 528 Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 651. 529 “Processual civil. Agravo provido para o fim de homologação de desistência da ação quando já havia nos autos sentença de improcedência, trânsita em julgado. Hipótese em que a ausência de apelação constitui comportamento incompatível com a vontade de dar seguimento ao agravo, o qual, por isso mesmo, seria de ser havido por renunciado, a exemplo do que se verifica na hipótese prevista no art. 522, § 1º, do CPC. Decisão que infringiu o disposto no art. 503 do mencionado Código. Recurso provido” (STJ-2ª Turma, REsp 2.855-SP, rel. Min. Ilmar Galvão, DJU 06.08.1990).

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Havendo o trânsito em julgado da decisão final, o agravo de

instrumento torna-se inadmissível naquilo que for incompatível com a

decisão final ante a ausência de utilidade, uma vez que, em face do direito

positivo vigente, não tem ele o condão de desconstituir decisão trânsita em

julgado.

No Agravo Regimental no Agravo de Instrumento de n.º

43.374-9-SP, julgado pelo STJ, o Min. Sálvio de Figueiredo de Teixeira

expôs que

“Se a parte não manifestou o recurso que obstasse o trânsito em

julgado da sentença, não restava ao Tribunal outra solução que

não a adotada, uma vez que, se acolhido o agravo, teria ele o

efeito de rescindir decisão afetada pela imutabilidade da coisa

julgada, que a legislação processual não admite”.

Pela sistemática adotada pelo CPC, não é viável o

entendimento de que o recurso de agravo de instrumento faça, por via

oblíqua, o papel de ação rescisória, com vistas a modificar a coisa julgada

material.

Vale dizer, considerando o patamar constitucional do instituto

da coisa julgada (CF, arts. 1º, 5º, XXXVI), afigura-se que os meios de

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impugnação tendentes a desconstitui-la devem estar expressamente

previstos em lei, tal como ocorre com a ação rescisória (CPC, art. 495).

Portanto, a interpretação segundo a qual a sentença ficaria

condicionada ao desprovimento do agravo de instrumento esbarra na

abrangência e na extensão que a Constituição Federal e o CPC emprestam

ao instituto da coisa julgada.

4.8 – SENTENÇA E A EFICÁCIA DA TUTELA DE URGÊNCIA

É sabido que a tutela de urgência pode ser concedida a

qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição. Neste contexto, o CPC,

em seu art. 558, prescreve que em regra o recurso de agravo de instrumento

não é dotado de efeito suspensivo.

Sendo assim, a interposição do recurso de agravo de

instrumento não tem o condão de suspender a eficácia da decisão

interlocutória concessiva de tutela de urgência.

Quais são as conseqüências da prolação da sentença em

relação à tutela de urgência anteriormente deferida?

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A superveniência de uma sentença denegatória tem como

conseqüência lógica a revogação da tutela de urgência anteriormente

concedida, já que não mais subsiste o requisito da plausibilidade do direito,

aplicando-se à espécie a súmula 405 do STF.530

Opera-se a revogação da tutela de urgência anteriormente

deferida, mesmo que, na sentença, não seja consignada expressamente tal

observação, já que, por meio de uma cognição exauriente, o juízo declara a

inexistência do direito afirmado.

A propósito, a discussão não recai sobre o eventual efeito

suspensivo do recurso de apelação. Não há lógica na manutenção de uma

decisão proferida mediante uma cognição sumária, quando, em decisão

definitiva proferida mediante cognição exauriente, o juízo declara a

inexistência do direito pleiteado.

Revogada a tutela de urgência anteriormente concedida com a

prolação de sentença de improcedência, remanesce ao autor da demanda a

possibilidade de, após a interposição do recurso de apelação, requerer a

530 Cf. Cássio Scarpinella Bueno, Liminar em mandado de segurança, p. 268 e ss; José Roberto dos Santos Bedaque, Tutela cautelar e tutela antecipada, p. 186-187. Segundo Giuseppe Tarzia, “Na Itália, a medida cautelar perde eficácia se a ação é declarada infundada com uma decisão de mérito ainda não transitada em julgado (art. 669 novies do CPC). O legislador italiano inspirou-se na idéia de que a decisão, fundada no conhecimento completo da lide, deve prevalecer sobre um provimento emanado com base em cognição sumária quando declara inexistente o direito à tutela da qual a medida provisória foi concedida” (“Medidas cautelares atípicas”, RePro, n. 99, p. 216).

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referida providência ao tribunal, nos termos do art. 800, parágrafo único, do

CPC.

Se os autos estiverem no juízo de primeira instância, competirá

ao autor formular ao tribunal - ao qual couber o julgamento da apelação - o

requerimento de concessão de tutela de urgência, instruindo-o com as

cópias do processo e do recurso de apelação. O referido requerimento deve

ser distribuído a um relator, a quem competirá a sua análise, atuando como

porta-voz do órgão colegiado.

Na hipótese de confirmar a tutela de urgência anteriormente

deferida, a sentença proferida mediante uma cognição exauriente absorve

aquela providência.

Sobre o assunto, vale transcrever o magistério de Nelson Nery

Junior:

“Situação diferente ocorre quanto às medidas liminares de

caráter antecipatório, como as do CPC 273, 461 e 928. Nestes

casos a superveniência de sentença de mérito não depende da

manutenção ou da cassação da liminar antecipatória, já que

ambas – liminar e sentença – decidirão sobre a mesma matéria

(mérito ou efeito dele decorrente). Se a interlocutória (liminar

antecipatória) aprecia o mérito ou algum de seus efeitos e a

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sentença de mérito também, são decisões da ‘mesma classe’,

razão por que a sentença absorve a liminar antecipatória”.531

Cabe examinar o sucesso do agravo de instrumento interposto

em face da decisão que aprecia a tutela de urgência com a superveniência

da sentença.

A partir da noção de que a sentença superveniente é proferida

mediante uma cognição exauriente, afigura-se que se torna inadmissível o

agravo de instrumento interposto em face da decisão que aprecia a tutela de

urgência, por falta superveniente do interesse em recorrer. É que o agravo

de instrumento não é idôneo a proporcionar uma situação mais vantajosa,

uma vez que a sentença, por ser proferida em um momento posterior e com

base em cognição exauriente, se sobrepõe à decisão que aprecia a tutela de

urgência, quer revogando-a (liminar concessiva e sentença de

improcedência), quer substituindo-a (liminar concessiva e sentença de

procedência).532-533

531 “Liminar impugnada e sentença irrecorrida: a sorte do agravo de instrumento”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos, v.7, p. 532-533. 532 Teresa Arruda Alvim Wambier declara que “É por isso que me parece poder-se afirmar que agravos que impugnem decisões concessivas ou não concessivas de medidas urgentes, tanto antecipatórias de tutela quanto cautelares, não devem ser julgados. Na verdade, todo o segmento recursal derivado de decisões interlocutórias concessivas ou denegatórias de liminares cai por terra, depois de proferida a sentença, estando aí abrangidos também os embargos de declaração, o recurso especial e o recurso extraordinário. A prolação de sentença é o piparote que derruba a primeira carta, que, caindo, faz com que todas as outras que estão de pé, enfileiradas, à sua frente, caiam também. Todos os recursos que tenham sido sucessivamente interpostos da decisão concessiva ou denegatória de liminar ‘perdem objeto’. Ou melhor, perdem a utilidade” (“O destino do agravo depois de proferida a sentença”, in Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis, v. 7, p. 691).

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Havendo a concessão da tutela de urgência na sentença, após o

indeferimento da concessão de medida liminar, afigura-se que o agravo de

instrumento interposto em face desta, torna-se inadmissível em face da

ausência superveniente de interesse.

De outro lado, havendo decisão interlocutória denegatória da

tutela de urgência e sentença de improcedência, o agravo de instrumento

interposto em face daquela torna-se inadmissível, em face da ausência

superveniente do interesse recursal. Isso porque a sentença proferida

mediante cognição exauriente tem o condão de substituir a decisão

indeferitória da tutela de urgência.

4.9 – TUTELA ANTECIPADA EM GRAU RECURSAL

É sabido que o instituto da tutela antecipada foi introduzido no

direito brasileiro como uma medida tendente a emprestar efetividade ao

processo judicial, ficando o magistrado autorizado a deferir tutelas de

533 “Processual Civil – Medida Cautelar – Recurso especial contra acórdão em agravo de instrumento – Tutela antecipada contra a Fazenda Pública – Artigo 273 do CPC e Lei n.º 9.494/97 – Sentença definitiva prolatada – Plausabilidade do bom direito e perigo da demora preenchidos – Cautelar procedente com processamento imediato do recurso especial. (...) - Em sendo a tutela antecipada convolada em definitiva nada resultaria em desconstituir tal tutela, posto que seus efeitos persistiriam por força da sentença. - Medida cautelar procedente, com imediato processamento do recurso especial interposto. Decisão unânime” (STJ-2ª Turma, MC 1.794-PE, rel. Min. Franciulli Netto, j. 22.02.2000, v.u., DJ 27.03.2000, p. 82); “Processual Civil. Agravo de instrumento. Suspensão dos efeitos no Tribunal ‘a quo’. Indeferimento. Sentença superveniente. Perda do objeto. 1. Indeferido o pedido de suspensividade do agravo de instrumento contra decisão de primeiro grau e sobrevindo a sentença, é inequívoca a perda do objeto não só do agravo como do recurso especial. 2. Recurso especial não conhecido” (STJ-2ª Turma, REsp 165.838-MS, rel. Min. Francisco Peçanha Martins, j. 17.08.1999, v.u., DJ 03.11.1999, p. 105). No mesmo sentido: REsp 203.103-SP, REsp 109.400-SP, REsp 126.755-SP, ROMS 7.948-SP.

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urgência de natureza satisfativa, desde que presentes os requisitos legais

previstos no art. 273 do CPC.

Antecipar os efeitos da tutela jurisdicional pleiteada significa

outorgar ao litigante os efeitos daquilo que foi solicitado em juízo,

significando uma providência que pode possui natureza jurídica de

execução lato sensu ou mandamental.

Presentes os requisitos e demonstrado o interesse jurídico, é

admissível a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional em sede de

apelação, devendo o citado requerimento ser encaminhado e analisado pelo

relator, que é o juiz preparador do recurso, a partir de uma exegese

consentânea com o princípio constitucional do acesso à justiça, aliado ao

fato de o art. 273 do CPC não vedar, expressamente, o deferimento em sede

recursal.534

Aplica-se à espécie, por analogia, o que estabelece o art. 800,

parágrafo único, do CPC, segundo o qual, interposto o recurso, o pleito de

concessão de tutela de urgência deve ser formulado diretamente ao tribunal.

534 Cf. Humberto Theodoro Júnior, “Tutela antecipada”, Aspectos polêmicos da antecipação de tutela, p. 197; José Roberto dos Santos Bedaque, “Considerações sobre a antecipação da tutela jurisdicional”, in Aspectos polêmicos da antecipação de tutela, p. 233; Roberto Armelin, “Notas sobre a antecipação de tutela em segundo grau de jurisdição”, Aspectos polêmicos da antecipação de tutela, p. 446 e ss.

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323

Da decisão monocrática que aprecia o requerimento de tutela

antecipada é cabível o recurso de agravo interno, dirigido ao órgão

colegiado do tribunal, aplicando-se à espécie o art. 557 do CPC.

Há entendimento no sentido de ser defeso ao tribunal, por

meio do relator, deferir a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional que

implique, por vias transversas, a retirada de efeito suspensivo a recurso de

apelação, diante da regra do art. 520 do CPC. Somente após a alteração

desse preceito, é que tal providência pode ser deferida pelo tribunal.535

Entretanto, o citado entendimento não pode prevalecer. Na

hermenêutica do direito, não se pode privilegiar uma interpretação das

normas jurídicas de forma isolada. Isto é, impõe-se a adoção do método

sistemático, em virtude do qual o operador do direito deve levar em

consideração os preceitos aplicáveis à espécie, sem reduzir a eficácia de

qualquer um.

Apresentado o recurso de apelação, para o qual a lei prevê

efeito suspensivo, é lícito à parte, preenchidos os requisitos legais, pleitear

e obter do tribunal, por meio do relator, a concessão da antecipação dos

efeitos da tutela jurisdicional, de forma a propiciar, a título provisório, a 535 Cf. Roberto Armelin, “Notas sobre a antecipação de tutela em segundo grau de jurisdição”, Aspectos polêmicos da antecipação de tutela, p. 446 e ss.

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execução da sentença. Em outras palavras, com a antecipação da tutela,

suprime-se do recurso de apelação o efeito suspensivo.

A partir da noção de que o mérito do recurso não se confunde

com o mérito da causa, com fundamento no art. 273 do CPC, torna-se

admissível ao tribunal, a requerimento do recorrente e desde que

demonstrados os requisitos legais, antecipar provisoriamente efeitos da

tutela recursal pleiteada.

4.10 - EFEITO TRANSLATIVO

Entende-se por efeito translativo a possibilidade de o órgão do

Poder Judiciário examinar, ex officio, questão de ordem pública, a cujo

respeito não se opera a preclusão, nos termos dos arts. 267, § 3º, e 301, §

4º, do CPC.

Importa destacar que a possibilidade de o órgão julgador

examinar de ofício questão de ordem pública não se inclui na amplitude do

efeito devolutivo, já que o traço norteador é a inquisitoriedade e não o

dispositivo.

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325

Malgrado referirem-se os citados preceitos às condições de

admissibilidade da tutela jurisdicional, parece que, no âmbito do direito

processual civil, por questão de ordem pública, deve-se entender toda a

matéria atinente aos requisitos de admissibilidade da tutela jurisdicional

que, quando desatendida, tem o condão de viciar o processo.

Portanto, todas as matérias, cujo transgressão legal gere

nulidade absoluta ou inexistência, devem ser consideradas questão de

ordem pública, podendo o juiz examiná-las ex officio.536

Conhecido o recurso de apelação, por força do efeito

translativo, o tribunal pode examinar de ofício questão de ordem pública.

Em caso contrário, não conhecimento do recurso, como a atividade de

cognição exaure-se na declaração de inadmissibilidade do recurso, tem-se

que é defeso ao tribunal impingir efeito modificativo à decisão recorrida.

Com escopo no princípio translativo, afigura-se lícito ao

tribunal, em sede de apelação interposta pelo autor da demanda, declarar,

536 Segundo Teresa Arruda Alvim Wambier, “A nosso ver, inexiste preclusão quer para o juiz, quer para as partes, a respeito de questões que podem, mais tarde, uma vez constituída a própria coisa julgada, dar origem, até, à ação rescisória” (Nulidades da sentença e do processo, p. 188).

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326

por exemplo, a ilegitimidade passiva ad causam, sem se cogitar da

ocorrência da reformatio in pejus.537-538

Veja a lição de Nelson Nery Junior:

“Da mesma maneira, como as questões de ordem pública podem

ser examinadas a qualquer tempo e em qualquer grau de

jurisdição (CPC 267 §3º), devendo, inclusive, ser pronunciadas

ex officio pelo juiz ou tribunal, seu exame independe de

alegação da parte ou interessado. Esse exame das questões de

ordem pública ocorre em nome do princípio inquisitório e nada

tem a ver com o efeito devolutivo do recurso, que é decorrência

do princípio dispositivo. Assim, não haverá reforma para pior

proibida se o tribunal, a despeito de só haver um recurso

interposto, decidir contra o recorrente em razão do exame de

uma dessas matérias de ordem pública”.539

A proibição de reforma para pior está atrelada ao princípio

dispositivo, enquanto que o efeito translativo é derivado do princípio

inquisitório e foi contemplado, expressamente, no art. 267, § 3º, do CPC.

Registre-se, por oportuno, que, em relação aos capítulos de

mérito da decisão recorrida que não foram impugnados no recurso, é defeso

537 Cf. Ernane Fidélis dos Santos, Manual de direito processual civil, vol. 1, p. 565; Humberto Theodoro Júnior, O processo civil brasileiro no limiar do novo século, p. 171; Pontes de Miranda, Comentários ao código de processo civil, tomo VII, p. 173. 538 “O tribunal da apelação, ainda que decidido o mérito na sentença, poderá conhecer de ofício da matéria concernente aos pressupostos processuais e às condições da ação” (RSTJ 64/156). 539 Teoria geral dos recursos, p. 183-184.

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327

ao tribunal reexaminá-los, em sintonia com o princípio da proteção da coisa

julgada e com a teoria dos capítulos da sentença.540

As matérias das quais resultem nulidade processual absoluta

da sentença e do processo, ou até inexistência, tais como sentença ultra,

extra ou infra petita, devem ser analisadas de ofício pelo tribunal.541-542

4.11 - EFEITO SUBSTITUTIVO

Preenchidos os requisitos de admissibilidade, passa o órgão

competente à análise do mérito do recurso – pedido - do qual resulta o

reconhecimento se a impugnação é fundada ou não.

540 “PROCESSO CIVIL. SENTENÇA. DIVISÃO EM CAPÍTULOS. POSSIBILIDADE. IMPUGNAÇÃO PARCIAL. PRINCÍPIO TANTUM DEVOLUTUM QUANTUM APELLATUM. TRÂNSITO EM JULGADO DOS DEMAIS CAPÍTULOS, NÃO IMPUGNADOS. NULIDADE. JULGAMENTO EXTRA PETITA. FUNDAMENTOS AUTÔNOMOS E INDEPENDENTES. ANULAÇÃO PARCIAL. DOUTRINA. RECURSO PROVIDO. I - A sentença pode ser dividida em capítulos distintos e estanques, na medida em que, à cada parte do pedido inicial, atribui-se um capítulo correspondente na decisão. II - Limitado o recurso contra parte da sentença, não pode o tribunal adentrar no exame das questões que não foram objeto de impugnação, sob pena de violação do princípio tantum devolutum quantum appellatum. III - No caso, a sentença foi dividida em capítulos, e para cada um foi adotada fundamentação específica, autônoma e independente. Assim, a nulidade da sentença, por julgamento extra petita, deve ser apenas parcial, limitada à parte contaminada, mormente porque tal vício não guarda, e nem interfere, na rejeição das demais postulações, que não foram objeto de recurso pela parte interessada (a autora desistiu de seu recurso). IV - Outra seria a situação, a meu ver, se a sentença tivesse adotado fundamento único, para todos os pedidos. Nesse caso, o vício teria o condão de contaminar o ato como um todo” (STJ-4ª Turma, REsp 203.132-SP, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 25.03.2003, v.u., DJ 28.04.2003, p. 202). 541 Cf. Teresa Arruda Alvim Wambier, Nulidades do processo e da sentença, p. 246. 542 “A nulidade consistente no fato de se ter deixado de apreciar um ou dois pedidos formulados é absoluta e deve ser decretada de ofício” (RJTJESP-Lex 123/218).

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Segundo o art. 512 do CPC, “o julgamento proferido pelo

tribunal substituirá a sentença ou a decisão recorrida no que tiver sido

objeto de recurso”.

O efeito substitutivo consiste, pois, na aptidão da decisão

proferida pelo órgão ad quem em substituir a decisão recorrida, desde que o

órgão competente conheça o recurso e aprecie o seu mérito.

No entanto, nem sempre que o recurso seja conhecido e

provido, há a substituição, pois, em algumas hipóteses, poderá o órgão

competente limitar-se a anular a decisão recorrida, sem que outra seja

proferida em seu lugar.

Dá-se o efeito substitutivo nas hipóteses de improvimento ou

provimento do recurso fundado em error in judicando e de improvimento

quando fundado em erro in procedendo. O efeito rescindente dá-se quando

for dado provimento ao recurso fundado em erro in procedendo.543

Registre-se, por oportuno, que, a par do conteúdo descrito no

art. 515, § 3º, do CPC, afigura-se lícito ao tribunal, reconhecendo o vício de

543 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 400; Nelson Nery Júnior, Princípios Fundamentais – Teoria Geral dos Recursos, p. 415. Contra: Robson Carlos de Oliveira, “O efeito rescindente e substitutivo dos recursos”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 509-510.

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procedimento, examinar desde logo o mérito da causa, após determinar a

correção do vício processual, desde que esteja o processo devidamente

instruído.

A substituição pode ser total ou parcial. Parcial, se o recurso

não impugnar toda a decisão recorrida ou quando, mesmo que haja

impugnado in totum a decisão, o juízo ad quem não conheça parcela da

matéria impugnada.

Total, se o recurso impugnar toda a extensão da decisão

recorrida, e o juízo ad quem conheça e negue ou dê provimento, ainda que

parcialmente, quando fundado em vício de julgamento, bem como na

hipótese de conhecer e negar provimento ao recurso fundado em vício de

atividade.

Se a hipótese for de substituição parcial, há o trânsito em

julgado da parcela da decisão não impugnada ou aquela em que se não

conheceu o recurso, sendo possível a execução definitiva, desde que: haja

autonomia ou cindibilidade entre a parcela da decisão que se pretende

executar e aquela objeto da impugnação; e havendo litisconsórcio, que não

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seja unitário em virtude do parâmetro subjetivo do efeito devolutivo, nos

termos do art. 509 do CPC.544

4.12 - EFEITO REGRESSIVO

Em certas hipóteses, o recurso de apelação produz efeito

regressivo, em razão do qual é lícito ao juiz reformar a sentença

recorrida.545 A rigor, o efeito regressivo nada mais é senão manifestação

decorrente do efeito devolutivo do recurso.

A possibilidade de o juízo prolator da decisão retratar-se da

sentença recorrida foi instituída pela Lei nº 8.952/94.

Tratando-se de sentença que indefere a petição inicial,

extinguindo a causa sem (vícios processuais) ou com o julgamento do

mérito (prescrição ou decadência), é lícito ao juiz, no prazo de quarenta e

oito horas (48 horas), após a interposição do recurso, utilizar-se do juízo de

retratação.

544 Cf. Araken de Assis, Manual do processo de execução, p. 285; Paulo Henrique dos Santos Lucon, “Efeitos imediatos da decisão e impugnação parcial e total”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos, p. 531; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo VII, p. 96. 545 Cf. Alcides de Mendonça Lima, Introdução aos recursos cíveis, p. 288-289.

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Por se tratar de prazo impróprio, eventual descumprimento não

gera qualquer conseqüência maléfica.

Com a modificação instituída pela Lei nº 8.952/94 à redação

do art. 296 do CPC, tornou-se desnecessária a prolação de despacho

determinando a citação do réu.

Na hipótese de o juiz manter a decisão recorrida –

indeferimento da petição inicial -, devem os autos ser remetidos ao juízo ad

quem, nos termos do art. 296, parágrafo único, do CPC, ainda que tenha

apreciado o mérito da demanda.

Há entendimento no sentido de defender a realização de

citação do demandado para, querendo, responder ao recurso, quando a

sentença tiver reconhecido a prescrição ou a decadência, por ter apreciado o

mérito da causa.546

Pode-se alegar, por exemplo, que, na hipótese de ser provido o

recurso de apelação, o tribunal deve proferir decisão de mérito, sem que

tenha sido implementados os princípios do contraditório e da ampla defesa.

546 “A decisão que mantiver, em juízo de retratação, o indeferimento da petição inicial, fundado no reconhecimento de decadência ou de prescrição, mandará citar o réu para responder ao recurso” (CED do 2º TASP, enunciado 39, unânime).

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332

No entanto, esse entendimento não pode mais prevalecer em

virtude da peremptoriedade do previsto no art. 296, parágrafo único, do

CPC, o qual afastou a necessidade da realização de citação, expediente que

era previsto na redação antiga do preceito.

De outro lado, a exemplo do que ocorre com a impugnação da

sentença terminativa, o tribunal, ao prover a apelação interposta em face de

sentença que indeferiu petição inicial, por haver reconhecido a prescrição

ou decadência, somente pode apreciar, desde logo, o mérito da causa, desde

que haja elementos suficientes para tal – “processo maduro para

julgamento” – e que tenha havido a implementação do contraditório e da

ampla defesa.

Por conseguinte, não havendo a implementação do

contraditório e da ampla defesa, o tribunal, afastando a ocorrência de

prescrição ou decadência em feito cuja petição inicial tenha sido indeferida

liminarmente, deve anular a sentença, remetendo os autos à primeira

instância, para que haja a formação da relação jurídica processual.

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333

CAPÍTULO V - PROCEDIMENTO

5.1 – PODERES DO RELATOR

É inegável a forte tendência do direito processual brasileiro em

ampliar os poderes do juiz relator do recurso, tendo em vista a pletora

crescente de recursos.

Em 1963, o regimento interno do STF disciplinou a

possibilidade de o relator “mandar arquivar o recurso extraordinário ou o

agravo de instrumento indicando o correspectivo número da Súmula” (art.

15, inc. IV).

No CPC de 1973, contemplou-se regra que possibilitava o

relator indeferir o agravo de instrumento, desde que fosse manifestamente

improcedente (art. 557).

Posteriormente, a Lei n.º 8.038/90, que institui normas

procedimentais para os processos perante o STF e o STJ, atribui ao relator

a incumbência de julgar o agravo de instrumento interposto contra

decisão que inadmitia recursos extraordinário e especial (art. 28, § 2º).

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334

Estabeleceu, ainda, a citada lei que podia o relator julgar

pedido ou recurso, quando configurada a perda do objeto, a manifesta

intempestividade, inadmissibilidade, improcedência ou que contrariasse

súmula do respectivo tribunal (art. 38).

Por sua vez, a Lei n.º 9.139/95, modificando a redação do art.

557 do CPC, dispôs que o relator poderia negar seguimento a recurso

manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou contrário à

súmula do respectivo tribunal ou tribunal superior.

Posteriormente, com a redação dada pela Lei n.º 9.756/98 ao

art. 557 do CPC, o relator pode negar seguimento a recurso manifestamente

inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou

com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do STF ou de

tribunal superior.547

Pode, também, dar provimento a recurso, desde que a decisão

recorrida esteja em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência

547 “O art. 557 tem como escopo desobstruir as pautas dos tribunais, a fim de que as ações e os recursos que realmente precisam ser julgados por Órgão Colegiado possam ser apreciados o quanto antes possível. Por essa razão, os recursos intempestivos, incabíveis, desertos e contrários à jurisprudência consolidada na tribunal de segundo grau ou nos tribunais superiores deverão ser julgados imediatamente pelo próprio relator, através de decisão singular, acarretando o tão desejado esvaziamento das pautas. Prestigiou-se, portanto, o princípio da economia processual e o princípio da celeridade processual, que norteiam o direito processual moderno” (STJ-2ª Turma, REsp 224.968, rel. Min. Paulo Gallotti, j. 27.03.2000, v.u., DJ 12.04.2000).

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335

dominante do STF ou de tribunal superior, nos termos do art. 557, caput e §

1º-A, do CPC.

Entende-se que os mencionados poderes do juiz abrangem,

também, a remessa de ofício, nos termos da súmula 253 do STJ: “O art.

557 do CPC, que autoriza o relator a decidir o recurso, alcança o reexame

necessário”.

Apesar da literalidade da citada regra, parcela da doutrina

defende o entendimento de que, tendo presente a função do STJ e do STF,

de serem, respectivamente, os intérpretes e guardiões da lei federal e da

Constituição Federal, por jurisprudência dominante deve ser entendida a

oriunda apenas desses tribunais, quando se trate de discussão a respeito de

preceito constitucional ou de preceito de lei federal.548-549

Verifica-se que, a par da tendência de fortalecimento dos

poderes do relator do recurso, a alteração legislativa teve o propósito de

prestigiar a jurisprudência dos tribunais, ao possibilitar que o relator

548 Cf. Athos Gusmão Carneiro, “Poderes do relator e agravo interno”, RePro, n. 100, p. 19; Luiz Rodrigues Wambier, “Uma proposta em torno do conceito de jurisprudência dominante”, RePro, n. 100, p. 83-84. 549 “A expressão ‘jurisprudência dominante do respectivo Tribunal’ somente pode servir de base para negar seguimento a recurso quando o entendimento adotado estiver de acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, sob pena de negar às partes o direito constitucional de acesso às vias ordinárias” (STJ-2ª Turma, REsp 193.189-CE, rel. Min. Franciulli Netto, j. 20.06.2000, v.u., Informativo de Jurisprudência do STJ, n. 62, 19 a 23.06.2000).

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aprecie a admissibilidade ou mérito de qualquer recurso, desde que,

convencendo-se da manifesta (in)admissibilidade ou (im)procedência),

esteja arrimado em súmula ou jurisprudência dominante do respectivo

tribunal ou de tribunal superior.

É certo que a jurisprudência do STJ, antes mesmo da edição da

Lei n.º 9.756/98, já entendia que a orientação jurisprudencial pacífica

equivalia à súmula, de forma que a inovação legislativa somente veio a

confirmar a prática daquela corte.550

Por jurisprudência dominante, deve-se entender aquela

derivada de julgamento em incidente de uniformização de jurisprudência

ou prolatado por órgão especial, bem como de reiterados e significativos

julgados no mesmo sentido, proporcionando à comunidade jurídica a

sensação de estabilidade no entendimento da norma jurídica.551

Mesmo havendo orientação jurisprudencial majoritária em

favor ou em desfavor da pretensão recursal, diante da possibilidade de

550 “Para fins do art. 38 da Lei n. 8.038, de 1990, tem prevalecido a orientação de que julgados reiterados e no mesmo sentido das Turmas especializadas, quanto a determinada questão federal, equivalem a Súmula deste Tribunal” (STJ-2ª Turma, AGA 23.940-2-SP, rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, j. 16.11.1992, v.u., DJ 30.11.1992, p. 22.600). 551 Teresa Arruda Alvim Wambier faz correlação entre a jurisprudência predominante e pacífica, ao enunciar que “Não parece exagerado sustentar-se que a jurisprudência dominante é aquela que já poderia estar sumulada. É aquela que diz respeito a um número tal de acórdãos, que permite a inferência no sentido de que a opinião do tribunal àquele respeito não deve mais alterar-se” (Os agravos no CPC brasileiro, p. 443).

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337

alteração desse entendimento e considerando, sobretudo, o caráter

paradigmático das decisões proferidas por tribunal, é imperativo que o

relator, tendo cautela na aplicação do art. 557 do CPC, não prolate

julgamento monocrático, mas remeta o feito para julgamento no órgão

colegiado.552

É temerário que, em face de divergência jurisprudencial, o

relator, desconsiderando uma das finalidades dos recursos, que é a

uniformização da norma jurídica em atenção ao princípio da igualdade,

prolate decisão monocrática, embora recorrível mediante recurso de agravo

de que trata o art. 557 do CPC.

A atuação monocrática do relator de julgar o recurso, mesmo

que verificados os requisitos previstos na lei, não é obrigatória, ficando sob

seus critérios de oportunidade e conveniência fazê-lo.553

552 Oportuna é a observação de José Carlos Barbosa Moreira: “(...) cumpre determinar o justo ponto de equilíbrio entre os interesses contrapostos, a fim de não lançar a barra longe demais. As teses prevalecentes, de maneira tranquila, na jurisprudência de um tribunal, é de supor que hajam sido incorporadas à respectiva Súmula. Quanto às que ainda não o foram, o que se presume é que o terreno permanece instável, sem o grau de consolidação suficiente para que salte aos olhos, bem definido, o perfil da paisagem. Incorreria em excesso de afoiteza quem se precipitasse a cortar cerce evolução em curso, que a rigor não se sabe aonda conduzirá. Tenha-se mente que, às vezes, sucessivas decisões tomadas numa única sessão bastam para converter em majoritária, no tribunal, tese a cujo favor, até então, falava número menor de precedentes” (“Algumas inovações da Lei 9.756 em matéria de recursos civis”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 325). 553 Cf. Athos Gusmão Carneiro, “Poderes do relator e agravo interno”, RePro, n. 100, p. 17; Cândido Rangel Dinamarco, “O relator, a jurisprudência e os recursos”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 132.

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338

Por razões ligadas, sobretudo, à excessiva sobrecarga de

trabalho dos tribunais, mormente nos superiores, o legislador ordinário,

contrariando a característica do julgamento colegiado, tem-se valido do

expediente de editar leis que prevêem a possibilidade de o relator, atuando

como porta-voz do órgão colegiado, julgar monocraticamente os recursos.

Como afirma Cândido Rangel Dinamarco,

“A crescente opção pela singularidade no julgamento em

diversas situações representa uma legítima tentativa de inovar

sistematicamente na luta contra a lentidão dos julgamentos nos

tribunais. Sabe-se que o aumento do número de juízes não

resolve o problema, como já não resolveu no passado remoto e

próximo. É preciso inovar sistematicamente. O que fez a

Reforma e o que agora vem fazer a lei de 1998 representa uma

escalada que vem da colegialidade quase absoluta e aponta para

a singularização dos julgamentos nos tribunais, restrita a casos

onde se prevê que os órgãos colegiados julgariam segundo

critérios objetivos e temperada pela admissibilidade de agravo

dirigidos a eles”. 554

Apesar de se afastar da tendência normal de os julgamentos

dos tribunais serem colegiados, a lei que prescreva a possibilidade de o

recurso ser julgado monocraticamente não é inconstitucional.

554 “O relator,a jurisprudência e os recursos”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 131.

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339

Isso porque, tendo presente que a Constituição Federal não

exige o julgamento colegiado, é lícito ao legislador disciplinar o

julgamento por órgão singular, desde que haja previsão de recurso contra

essa decisão dirigido a órgão colegiado.555-556

Contra a decisão monocrática do relator acerca do juízo de

admissibilidade ou de mérito do recurso de apelação, cabe, no prazo de

cinco dias, o recurso de agravo de que trata o § 1º do art. 557, do CPC,

dirigido à turma.

O agravo interno deve ser interposto por meio de petição

escrita, dela constando as razões recursais e pedido, sob pena de

inadmissibilidade, aplicando-se, por analogia, o disposto no art. 524 do

CPC.

Por essa razão, agravo interno que não impugna os

fundamentos da decisão recorrida, mas, apenas, repete as razões constantes

no recurso especial, é inadmissível, sendo aplicável a súmula 182 do STJ:

555 Cf. Athos Gusmão Carneiro, O Novo Recurso de Agravo e outros estudos, p. 112; Donaldo Armelin, “Apontamentos sobre as alterações ao Código de Processo Civil e à Lei 8.038/90, impostas pela Lei 9.756/98”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 208. 556 “Constitucional – Mandado de Injunção – Seguimento negado pelo relator – Competência do relator: constitucionalidade. Pressupostos do mandado de segurança. Legitimação ativa. I – É legítima, sob o ponto de vista constitucional, a atribuição conferida ao Relator para arquivar ou negar seguimento a pedido ou recurso intempestivo, incabível ou improcedente e, ainda, quando contrariar a jurisprudência predominante do Tribunal ou for evidente sua incompetência (RI/STF, art. 21, § 1º; Lei 8.038/90, art. 38), desde que, mediante recurso – agravo regimental – possam as decisões ser submetidas ao controle colegiado” (STF-Pleno, MI 375-PR-AgRg, rel. Min. Carlos Velloso, RTJ 139/53).

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“É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar

especificamente os fundamentos da decisão agravada”.

Interposto o mencionado recurso, é lícito ao relator retratar-se

da decisão recorrida, ocasião em que, se reformada ou anulada a decisão,

pelas mesmas razões, apresenta-se cabível a interposição de novo agravo

dirigido ao órgão colegiado.

De acordo com o § 2º do art. 557 do CPC, interposto o agravo

e não havendo retratação, deve o relator apresentar o processo em mesa no

órgão colegiado, proferindo voto.

Omisso foi o legislador quanto à obrigatoriedade de formação

do contraditório no recurso e à inclusão em pauta de julgamento.

Defendendo a supralegalidade da Constituição jurídica em face

da “Constituição real”, Konrad Hesse afirma que

“A Constituição jurídica logra conferir forma e modificação à

realidade. Ela logra despertar ‘a força que reside na natureza das

coisas’, tornando-a ativa. Ela própria converte-se em força ativa

que influi e determina a realidade política e social. Essa força

impõe-se de forma tanto mais efetiva quanto mais ampla for a

convicção sobre a inviolabilidade da Constituição, quanto mais

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341

forte mostrar-se essa convicção entre os principais responsáveis

pela vida constitucional”.557

Por imperativo constitucional, é o contraditório assegurado

para os litigantes em processo judicial ou administrativo, que é traduzido

no binômio informação e possibilidade de reação, devendo, por isso, o

relator intimar o recorrido para, no prazo de cinco dias, querendo,

apresentar contra-razões ao recurso, sob pena de nulidade da decisão.558-559

No tocante à inclusão do feito em pauta de julgamento, há

corrente doutrinária que defende o entendimento de que, em consonância

com o princípio da publicidade dos atos processuais, o agravo interno deve

ser incluído naquela.560

Por outro lado, há corrente doutrinária que defende o

entendimento de que é possível a lei restringir a publicidade dos atos

557 A força normativa da constituição, p. 24. 558 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, “Algumas inovações da Lei 9.756 em matéria de recursos civis”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 327; Teresa Arruda Alvim Wambier, Os agravos no CPC brasileiro, p. 434-436. 559 Contra: Athos Gusmão Carneiro, “Poderes do relator e agravo interno”, in RePro, n. 100, p. 17. Diz o autor: “Vale aqui assinalar que o contraditório, como garantia constitucional, em primeiro lugar já foi exercido anteriormente à manifestação do relator (na apelação, v.g., pelas razões de apelante e de apelado; no recurso extraordinário ou no recurso especial, pelas razões de recorrente e de recorrido), isso sem falar na sempre ampla possibilidade de as partes, a qualquer tempo, apresentarem memoriais; em segundo lugar, a ‘amplitude’ do contraditório é definida pela lei processual, que pode permitir ou vedar a sustentação oral, que pode ampliar ou reduzir os prazos, que pode determinar ou dispensar a inclusão do recurso em pauta de julgamento”. 560 Cf. Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery, Código de processo civil comentado e legislação processual civil extravagante em vigor, p. 1.074.

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342

processuais, tornando desnecessária a inclusão do feito na pauta de

julgamento, como a que ocorre no agravo interno.561-562

Deve-se entender obrigatória, sob pena de nulidade da decisão,

a inclusão do feito em pauta de julgamento, dando publicidade às partes do

julgamento do recurso, em consonância com o princípio constitucional da

publicidade.

A um, porque a norma não a excluiu expressamente, não sendo

defeso ao intérprete fazê-lo.563-564 A dois, porque mesmo que prevista a

exclusão, ainda que implícita, não haveria motivos que a justificassem. A

três, porque, embora admitida a restrição à publicidade fundada em

motivos relevantes, tal medida somente atingiria a terceiros e não às partes.

561 Cf. José Carlos de Moraes Salles, Recurso de agravo, p. 183; Marcelo Ribeiro de Oliveira, “Agravo de instrumento contra despacho denegatório de seguimento de recursos especial e extraordinário”, in Aspectos polêmicos e atuais do recurso especial e do recurso extraordinário, p. 403. 562 O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADIn 1.105-7-DF, suspendeu, liminarmente, a eficácia do inc. IX, do art. 6, da Lei 8.906/94, que declara direito do advogado “sustentar oralmente as razões de qualquer recurso ou processo, nas sessões de julgamento, após o voto do relator, em instância judicial ou administrativa ...”. 563 “Não é dispensável a inclusão do agravo de instrumento em pauta de julgamento com apoio em regra regimental. Tal regra não tem força para vencer a disciplina do Código de Processo Civil (art. 552) que, expressamente, comanda a publicação da pauta no órgão oficial, dispensando-se a publicação por dispositivos próprios, apenas para o conflito de competência e para os declaratórios” (STJ-3ª Turma, Resp 71.423-SP, rel. Min. Menezes Direito, j. 25.03.1997, v.u., DJ 16.06.1997, p. 27.362). 564 Mesmo nos processos de mandado de segurança, cujo art. 17 da Lei 1.533/51 dispõe que terão prioridade sobre os demais, salvo em habeas corpus, devendo ser levados a julgamento na primeira sessão que se seguir à data em que forem os autos conclusos ao relator, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça entende obrigatória a inclusão daquele na pauta de julgamento, dando ciência às partes do respectivo julgamento, sob pena de nulidade (cf. STJ-2ª Turma, RMS 414-RJ, rel. Min. Américo Luz, j. 22.05.1991, v.u., DJ 17.06.1991, p. 8.192; STJ-1 Turma, RMS 1.875-1-RJ, rel. Min. Cesar Rocha, j. 25.08.1993, v.u., DJ 27.09.1993, p. 19.775; STJ-5ª Turma, RMS 7.143-RJ, rel. Min. Felix Fischer, j. 16.04.1998, v.u., DJ 29.06.1998, p. 232).

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A Lei n.º 9.668/98, ao acrescer o inc. VII ao art. 17 do CPC,

considera litigante de má-fé, estando sujeito à sanção de pagamento de

multa, cuja alíquota não excederá a um por cento sobre o valor da causa, e

à indenização em favor da parte contrária dos prejuízos, mais honorários

advocatícios e despesas, aquele que interpõe recurso com intuito

manifestamente protelatório.565-566

A Lei n.º 9.756/98, ao dar redação ao § 2º do art. 557 do CPC,

disciplina que, quando manifestamente inadmissível ou infundado o

agravo, o tribunal condenará o agravante a pagar ao agravado multa entre

um e dez por cento do valor da causa.

Dispôs, ainda, o legislador que, imposta a referida sanção, a

interposição de qualquer outro recurso depende do depósito do respectivo

valor.

A rigor, criou o legislador um requisito de admissibilidade do

recurso, pois, o recorrente, se condenado ao pagamento de multa, deve

565 Registre-se que, antes mesmo da edição da Lei n. 9.668/98, parcela da doutrina já entendia que a interposição de recurso meramente protelatório configurava oposição injustificada ao andamento do processo ou provocação de incidente manifestamente protelatório a ensejar a condenação por litigância de má-fé (cf. Arruda Alvim, Tratado de direito processual civil, vol. 2, p. 442) 566 “Caracteriza-se como evidentemente protelatória a atitude da Caixa Econômica Federal em recorrer, por meio de petição padronizada, de decisão rigorosamente pacífica nesta Corte. Multa pela litigância de má-fé que se aplica, fixada em 20% sobre o valor da causa” (STJ-1ª Turma, Resp 163.883-RS-AgRg, rel. Min. José Delgado, j. 05.05.1998, maioria, DJ 15.06.1998, p. 62).

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provar o seu recolhimento no ato de interposição de outro recurso, a

exemplo do que ocorre com o preparo, sob pena de inadmissibilidade.567

Fazendo alusão ao art. 268 do CPC, que exige a prova do

recolhimento das despesas e dos honorários do advogado para

repropositura de ação em havendo extinção do processo sem análise

meritória, parte da doutrina não aponta qualquer inconstitucionalidade do §

2º do art. 557, do CPC.568

Por sua vez, outra parcela da doutrina entende que esse

preceito é inconstitucional por restringir o acesso à justiça.569

O só fato de a regra, que cria requisito de admissibilidade para

os recursos interponíveis contra decisão prolatada por órgão colegiado de

tribunal local em agravo interno, não estar inserta em norma constitucional,

mas, sim, em lei ordinária, não implica a sua inconstitucionalidade, visto

que se trata de requisito genérico, podendo ser instituído por lei ordinária, a

exemplo do que ocorre com o preparo, a tempestividade, o interesse, a

567 Cf. Araken de Assis, “Condições de admissibilidade dos recursos cíveis”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 34. 568 Cf. Donaldo Armelin, “Apontamentos sobre as alterações ao Código de Processo Civil e à Lei 8.038/90, impostas pela Lei 9.756/98”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 21. 569 Cf. Sergio Bermudes (Atualização legislativa), in Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo VIII, p. 230; Teresa Arruda Alvim Wambier, Os agravos no CPC brasileiro, p. 438; Vicente Greco Filho, “Questões sobre a Lei 9.756, de 17 de dezembro de 1998”, in Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 610.

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legitimidade, a ausência de fator impeditivo ou extintivo do poder de

recorrer.

O que se torna imprescindível é investigar se a regra em

questão é compatível, explícita ou implicitamente, com os preceitos da

Constituição Federal.

Considerando que, de acordo com o direito positivo vigente, a

sanção adotada, decorrente da interposição de agravo manifestamente

inadmissível ou infundado, constitui condenação pecuniária imposta pela

lei em favor da parte contrária, por presumir a ocorrência de prejuízo -

tendo, por conseguinte, natureza indenizatória -, conclui-se que o prévio

pagamento de multa como requisito de admissibilidade recursal não é

compatível com a ordem constitucional, porquanto o não-pagamento de

indenização não pode ser, por si só, considerado óbice legítimo ao acesso

aos tribunais superiores.

5.2 – TRAMITAÇÃO NOS JUÍZOS A QUO E AD QUEM

Mantendo a regra prevista no CPC em harmonia com o

princípio da economia processual, tem-se que o recurso de apelação deve

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346

ser interposto perante o órgão prolator da decisão recorrida, a quem

incumbe a emissão de pronunciamento acerca da sua admissibilidade.

O legislador visou evitar a remessa imediata de recursos

desprovidos dos requisitos de admissibilidade, em consonância com o

princípio da economia processual.

Quando o controle de admissibilidade é efetuado pelo próprio

órgão prolator da decisão recorrida, entende-se que aquele é provisório, de

modo que ao órgão ad quem não pode ser subtraído o exame da

admissibilidade do recurso, além de, pelo mesmo motivo, não ficar adstrito

à conclusão firmada pelo órgão a quo.

Ressalte-se que o controle de admissibilidade efetuado pelo

órgão prolator da decisão não pode dizer respeito ao mérito do recurso, sob

pena de usurpação de competência do órgão ad quem. Vale dizer, é defeso

ao órgão a quo inadmitir recurso de apelação, sob a justificativa de que o

seu mérito não merece acolhimento.

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347

Se o fizer, além do recurso de agravo de instrumento, mostra-

se lícita a propositura da ação de reclamação ante a manifesta usurpação de

competência do tribunal.570

O exame dos requisitos de admissibilidade, por serem matéria

de ordem pública, não tem o condão de ensejar preclusão pro judicato,

podendo, por conseguinte, o órgão do Poder Judiciário apreciá-los, de

ofício ou a requerimento, a qualquer tempo, nos termos do art. 267, § 3º, do

CPC.571-572

Por conseguinte, constatada a ocorrência de fato extintivo, que

é posterior à interposição do recurso, é lícito ao órgão a quo a sua

declaração, evitando o envio dos autos à instância superior.573

Interposto o recurso de apelação, o juiz deve examinar os seus

requisitos de admissibilidade, admitindo ou inadmitindo o meio recursal.

570 Sobre este instituto, cf. Marcelo Navarro Ribeiro Dantas, Reclamação constitucional, passim. 571 Segundo Renzo Provinciali, “L’indagine sulla inammissibilità dell’impugnazione deve esser svolta d’ufficio, in relazione all’obbligo del giudice di accertare se concorrano i presupposti procesuali ed all’interesse pubblico che sta a fondamento dell’istituto” (Delle impugnazioni in generale, p. 167). 572 “Os pressupostos recursais, notadamente aquele concernente ao requisito da tempestividade, traduzem matéria de ordem pública, razão pela qual mostra-se insusceptível de preclusão o exame de sua ocorrência pelo tribunal ‘ad quem’, ainda que tenha sido provisoriamente admitido o recurso pelo juízo ‘a quo’” (RTJ 133/475 e STF-RT 661/231). 573 Contra: Grinover-Magalhães-Scarance, Recursos no processo penal, p. 69; José Carlos Barbosa Moreira, O Juízo de Admissibilidade no Sistema dos Recursos Civis, p. 118; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo VII, p. 180-181.

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348

Se admitir, deve indicar em que efeitos a apelação é recebida e

determinar a intimação do recorrido para, querendo, apresentar resposta ao

recurso.

A apresentação das contra-razões ao recurso não constitui ônus

processual, não gerando da sua não apresentação qualquer prejuízo.

À resposta recursal, não se aplica a regra do art. 188 do

Código de Processo Civil, haja vista a exigência de interpretação restritiva

dos preceitos excepcionais ou contempladores de regras de exceção.

Antes da edição da Lei nº 8.950/94, que introduziu o parágrafo

único ao art. 518 do CPC, havia o entendimento de que, admitido o recurso

de apelação, era vedado ao órgão a quo o reexame dos requisitos de

admissibilidade.

Isto é, admitido o recurso de apelação, o juiz prolator da

sentença recorrida não poderia, em um reexame dos requisitos de

admissibilidade, inadmiti-lo, ainda que o motivo para tal estivesse presente

quando da interposição do recurso.574-575

574 Cf. Flávio Cheim Jorge, Apelação cível, p. 285; João Batista Lopes, “Breves considerações sobre o instituto da preclusão”, RePro, n. 23, p. 56; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 454; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo VII, p. 180. 575 “Uma vez recebida a apelação, não pode o juiz retroceder e negar-lhe seguimento” (STJ-3ª Turma, REsp 6.446-RJ, rel. Min. Dias Trindade, j. 10.12.1990, v.u., DJU 18.02.1991, p. 1.040).

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349

De outro lado, havia o entendimento de que, dada à

provisoriedade e à revogabilidade do juízo de admissibilidade feito pelo

órgão prolator da decisão recorrida, mostrava-se lícita a possibilidade de

reexame do pronunciamento que tenha admitido o recurso de apelação,

podendo, portanto, declarar-lhe a inadmissibilidade.576

Após a inserção do parágrafo único ao art. 518 do CPC,

atendendo ao ideal da economia processual, aliado ao fato de inexistir

preclusão pro judicato das matérias relativas à admissibilidade dos

recursos, é inegável a possibilidade de o juiz, mesmo já tendo admitido o

recurso de apelação, modificar a decisão, a fim de declarar a

inadmissibilidade da figura recursal, ainda que o recorrido não tenha

apresentado resposta ao recurso.

Em que pese o disposto no referido preceito, a doutrina é

omissa com relação à possibilidade de o órgão perante o qual o recurso foi

interposto modificar a decisão que anteriormente tenha inadmitido o

recurso de apelação.

576 Cf. Alcides de Mendonça Lima, Introdução aos recursos cíveis, p. 300; Araken de Assis, “Condições de admissibilidade dos recursos cíveis”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 13; Cândido Rangel Dinamarco, A reforma do Código de Processo Civil, p. 129; Moacyr Amaral Santos, Primeiras linhas de direito processual civil, 3º vol., p. 117; Nelson Nery Junior, Princípios fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 227; Sérgio Bermudes, A reforma do Código de Processo Civil, p. 61.

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350

A propósito, no instante em que o juiz declara a

inadmissibilidade do recurso de apelação, há o exaurimento da cognição

judicial, sendo defeso modificar a citada decisão.

Com isso, caso o recorrente não interponha recurso de agravo

de instrumento da decisão que declara a inadmissibilidade da apelação, há a

ocorrência de preclusão. 577-578

O pronunciamento sobre a admissibilidade da apelação

prolatado pelo juiz é uma decisão interlocutória, sendo obrigatória a

motivação, nos termos do art. 93, inc. IX, da Constituição Federal.

Quando o juízo de admissibilidade da apelação fornecido pelo

juiz for positivo, há o reconhecimento provisório e revogável de que,

quando da interposição do recurso, estavam presentes todos os

pressupostos recursais.

Apesar de ser uma decisão interlocutória, entende-se que o

pronunciamento que admite a apelação é irrecorrível, porquanto o recorrido

577 “Da decisão local que julga deserto o recurso cabe agravo de instrumento, endereçado ao STJ. Acaso não agravada a decisão, opera-se a preclusão” (STJ-3ª Turma, REsp 43.428-9-MS, rel. Min. Nilson Naves, j. 25.04.1994, v.u., DJU 30.05.1994, p. 13.482). 578 Contra: “Não constitui inovação proibida pelo art. 521 o despacho do juiz que, depois de indeferir a apelação, por entendê-la tardia, reconsidera sua decisão e recebe o recurso, considerando-o tempestivo” (TARJ-2ª Cam., Ap. 42.875, rel. Juiz Áureo Carneiro, j. 17.07.1975).

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351

dispõe de um meio mais rápido e econômico para suscitar a matéria ao

órgão ad quem.

Ademais, o tribunal pode examinar de ofício os requisitos de

admissibilidade da apelação, não estando vinculado à decisão proferida

pelo juiz.579-580

Quando o juízo de admissibilidade proferido pelo juiz for

negativo, há o trancamento do processamento da figura recursal e impede a

sua apreciação pelo tribunal.

Em face desse pronunciamento, que é uma decisão

interlocutória, é cabível o recurso de agravo de instrumento dirigido ao

tribunal a quem competir o julgamento da apelação.

Aspecto interessante ocorre quando o tribunal aprecia o

recurso de agravo de instrumento interposto em face de decisão que

inadmite apelação.

579 Cf. Flávio Cheim Jorge, Apelação cível, p. 69-71; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 260-261. 580 “O ato do juiz de primeiro grau que recebe a apelação é irrevogável e não pode ser impugnado por recurso, mas apenas nas contra-razões de apelação” (RT 606/95).

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352

Caso seja conhecido e provido o agravo de instrumento, deve a

apelação ser processada, a fim de que o órgão ad quem a aprecie.

Indaga-se: este pode alterar o seu entendimento fixado no

julgamento do agravo de instrumento, de forma a declarar inadmissível a

apelação?

Por se tratar de matéria de ordem pública, os requisitos de

admissibilidade do recurso não são susceptíveis de preclusão, de modo que

não há óbice para que o tribunal, mesmo que haja dado provimento ao

agravo de instrumento, modifique a decisão, a fim de declarar a

inadmissibilidade da apelação.581-582

O pronunciamento que declara em quais efeitos o recurso de

apelação é recebido caracteriza-se como uma decisão interlocutória e é

impugnável pelo recurso de agravo de instrumento, nos termos do art. 523,

§ 4º, do CPC com a redação emprestada pela Lei nº 10.352/01.

581 “Súmula 289 do STF – O provimento do agravo, por uma das Turmas do Supremo Tribunal Federal, ainda que sem ressalva, não prejudica a questão do cabimento do recurso extraordinário”. 582 Contra: José Carlos Barbosa Moreira, O Juízo de Admissibilidade no Sistema dos Recursos Civis, p. 143. Segundo o autor, “Se, no julgamento do recurso interposto contra a pronúncia da inadmissibilidade na instância inferior, o juízo positivo, expresso na decisão de provimento, abrangeu a questão que, depois, se intenta ressuscitar, o reexame esbarraria no obstáculo da preclusão”.

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353

Apesar de ser recorrível por meio de agravo de instrumento,

nada obsta que o juiz, reconhecendo o equívoco na indicação dos efeitos

em que a apelação é recebida, modifique a decisão que recebeu o recurso

de apelação, porquanto tal proceder não se enquadra na regra da proibição

de inovação no processo prevista no art. 521 do CPC.583-584

Após a declaração positiva da admissibilidade da apelação

feita pelo juiz ou pelo tribunal, em sede de agravo de instrumento dirigido

contra decisão que inadmitiu o apelo, devem os autos ser enviados ao

tribunal a que competir o julgamento do aludido recurso.

Recebido o processo, o recurso de apelação deve ser

distribuído de acordo com o regimento interno do tribunal, observados os

princípios da publicidade, da alternatividade e do sorteio, nos termos do art.

548 do CPC.

Após o recebimento dos autos em virtude da distribuição, o

relator, que é o juiz preparador do recurso, pode, monocraticamente,

apreciar o recurso de apelação, desde que presentes os requisitos do art.

557 do CPC.

583 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 454. 584 “Não inova no processo o juiz que, ao perceber o equívoco em que incidiu ao receber o recurso em efeito que não tinha, modifica aquela decisão, de ofício ou a requerimento da parte, declarando novamente em que efeitos recebe o apelo” (JTAMG 9/47).

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354

De acordo com o caput do art. 557 do CPC, o relator poderá

inadmitir, que é um juízo negativo de admissibilidade, ou negar provimento

à apelação, que é um juízo negativo de mérito, desde que se verifique que o

mesmo seja manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado, ou

em desconformidade com súmula ou jurisprudência dominante do

respectivo tribunal ou de tribunal superior.

De outro lado, se a decisão recorrida estiver em

desconformidade com a jurisprudência predominante de tribunal superior, o

relator poderá dar provimento ao recurso.

Como o relator é o juiz preparador do recurso e “porta-voz” do

tribunal, do pronunciamento monocrático que inadmitir, prover ou

improver o recurso, é cabível o recurso de agravo interno, no prazo de

cinco dias, ao órgão colegiado competente para apreciar o respectivo

recurso, nos termos do art. 557, § 1º, do CPC.

Caso não decida monocraticamente o recurso, o relator deve

lançar relatório nos autos, nos termos do art. 549 do CPC.

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355

Em seguida, se for o caso, deve o relator determinar a remessa

dos autos ao revisor, a fim de analisar o feito e pedir dia para julgamento,

sob pena de nulidade do julgado a ser proferido.585

Nos casos do § 3º do art. 551 do CPC, não há necessidade de

envio dos autos ao revisor, devendo o relator apresentar relatório, por

escrito ou oralmente, até o julgamento do recurso.586

Após o pleito de dia para julgamento, o presidente do órgão

colegiado deve designar data para a apreciação do recurso, determinando a

publicação da pauta no órgão oficial, nos termos do art. 552 do CPC.

Estabelece o CPC, no § 1º do art. 552, que, entre a data de

publicação da pauta e a sessão de julgamento deve decorrer o lapso de

quarenta e oito (48) horas.

Na hipótese de inobservância do referido prazo e desde que as

partes não compareçam no julgamento, o julgado padece do vício de

nulidade. É o que estabelece a súmula 117 do STJ: “A inobservância do

585 “É nulo o julgamento sem revisão, nos casos em que exigida em lei – CPC, art. 551, X 2” (STJ-4 Turma, Resp 24.218-0-RS, rel. Min. Athos Carneiro, j. 08.09.1992, v.u., DJU 28.09.1992, p. 16.433). 586 “Acórdãos e sentenças têm, como um dos requisitos essenciais, o relatório – CPC, arts. 165 e 458. A circunstância de não haver revisão faz dispensável seja o relatório lançado nos autos, antes do julgamento. Deverá, entretanto, ser feito oralmente e integrar o acórdão” (STJ-3 Turma, RMS 460-BA, rel. Min. Eduardo Ribeiro de Oliveira, j. 04.09.1990, v.u., DJU 09.10.1990, p. 10.891).

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prazo de 48 horas, entre a publicação de pauta e o julgamento sem a

presença das partes, acarreta nulidade”.

Efetuada intimação regular da pauta de julgamento e o tribunal

não tendo julgado o recurso na data mencionada na comunicação do ato

processual, não há óbice para que o mesmo recurso seja julgado em sessão

posterior, independentemente de nova intimação.587

Registre-se que, se houver a retirada de pauta do processo, é

obrigatória nova publicação, sob pena de nulidade.588

Quando do julgamento do recurso de apelação, o relator deve

expor o relatório e os pontos importantes da causa. Em seguida, desde que

requerido as partes podem sustentar oralmente as razões do recurso e das

contra-razões pelo prazo improrrogável de quinze (15) minutos, nos termos

do art. 554 do CPC.

587 “Incluído o feito em pauta e intimadas as partes e seus advogados, pode o tribunal julgar o caso noutra sessão, independentemente de nova publicação” (STJ-1 Turma, Resp 11.280-RJ, rel. Min. Garcia Vieira, j. 05.08.1991, v.u., DJU 02.09.1991, p. 11.794); “Pauta. Intimação feita para determinada sessão, em que o julgamento, entretanto, não se realizou. Regularidade do que foi feito em sessão subseqüente, de cuja intimação constou que seriam julgados os constantes da pauta, bem como ‘as sobras e adiados’” (STJ-3 Turma, Resp 45.318-6-SP, rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 13.06.1994, v.u., DJU 27.06.1994, p. 16.976). 588 “É também nulo o julgamento de processo retirado de pauta, se não houver nova intimação do advogado da parte” (RTJ 97/294).

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357

CAPÍTULO VI - TENDÊNCIAS DO PROCESSO CIVIL

CONTEMPORÂNEO

6.1 – A BUSCA PELA EFETIVIDADE DO PROCESSO

O processo civil denominado de clássico sofreu influência dos

valores emergentes da Revolução Francesa, mormente o individualismo, a

neutralidade do juiz e a segurança jurídica exacerbada.

A estrutura do CPC de 1973, na sua redação originária,

assentava-se na tripartição estanque de segmentos, a saber: conhecimento,

execução e cautelar.

O processo de conhecimento tendia a ser essencialmente

declaratório, haja vista que o juiz se limitava a proferir pronunciamento

decisório com o propósito de declarar, constituir ou condenar.

O processo cautelar visa, tão-somente, a tornar útil e eficaz o

processo principal, sendo vedado, em tese, ao juiz deferir providência

antecipatória dos efeitos da tutela jurisdicional pleiteada.

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358

A realização do direito ocorria em sede de processo de

execução e assentava-se na formação do título executivo judicial, a saber:

sentença condenatória transitada em julgado.

Remanesce a possibilidade de se propor execução provisória,

quando a decisão recorrida estivesse pendente de recurso desprovido de

efeito suspensivo, cuja finalidade não estava voltada à realização

propriamente dita do direito, limitando-se a preparar a execução

definitiva.589

A estrutura recursal prevista no CPC de 1973 mostra-se

bastante complexa, já que o legislador contemplou a idéia da ampla

recorribilidade de todos os pronunciamentos decisórios.

Além disso, indo ao encontro do princípio da segurança

jurídica, confere, em regra, o legislador ao recurso de apelação o efeito

suspensivo, de sorte que o pronunciamento que põe fim ao procedimento

de primeiro grau de jurisdição não produz, por si só, efeitos no plano fático.

No âmbito científico, o direito processual civil consolidou-se

como uma disciplina distinta da do direito material, fazendo parte do

589 Cf. Ricardo Hoffman, Execução Provisória, p. 116.

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359

Direito Público, isto é, do direito subjetivo de que os jurisdicionados

dispõem de exigir do Estado a atuação da tutela jurisdicional, com o

propósito de compor os conflitos.

As novas tendências no âmbito do direito processual civil

nacional justificam-se sobretudo pelas modificações profundas por que tem

passado a sociedade nas últimas décadas.

O surgimento dos movimentos de massa após a 2ª guerra

mundial, e o do Estado Social exigiram do Estado a inserção de uma tutela

jurisdicional voltada à proteção dos novos direitos.

Nesse instante, é que se iniciou o movimento pelo acesso à

justiça, concebendo o direito processual como um meio voltado à efetiva

concretização dos direitos.

Veja-se a lição de Arruda Alvim:

“As tendências contemporâneas no campo do Direito Processual

Civil devem-se a uma profunda modificação de todas as

sociedades nas últimas décadas, cujas transmudações são o

resultado da evolução que, essas mesmas sociedades, sofreram

neste e no século passado. Era profundamente diferente a função

do Processo Civil, antes dessa evolução, em comparação com a

época atual. Mais antigamente era o processo circunscrito à

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360

tutela do Direito subjetivo, mas o seu evoluir foi enormemente

acelerado no mundo inteiro, nestas duas últimas décadas, em

especial, ampliando-se o espectro de sua função. O Processo

Civil emergente ou contemporâneo aos tempos da Revolução

Francesa era eminentemente individualista; era um tipo de

instrumental feito para o indivíduo, enquanto considerado

isoladamente, ou seja, unicamente para o indivíduo.

(...)

A evolução porque passou o Processo Civil, enquanto

disciplina e direito positivo, foi a de se vir a entendê-lo como

matéria autônoma do Direito Privado, e, conseqüentemente,

tudo o que respeitasse o processo, veio a ser entendido e

disciplinado positivamente como matéria de Direito Público.

Distinguiu-se, em fins da segunda metade do século passado,

com grande nitidez, o objeto do processo como sendo tema de

Direito Público, informado pelos princípios de Direito Público,

diversos dos que presidem o objeto do Direito Civil. A essa

tendência, que se pode dizer irreversível, que se acentuou

bastante nos últimos tempos, somou-se outra, que é a de indagar

da funcionalidade efetiva do processo, a partir de dados

estatísticos e sociológicos. Com isto o processo vem ganhando

um novo sentido, qual seja, além de o Processo Civil ser matéria

de Direito Público, vier a ser encarado como um instrumento,

menos de ordem nominal ou formal, senão como um

instrumento que, cada vez mais, é concebido e tratado como

visando a uma efetiva realização da Justiça”.590

A temática do acesso à justiça identificou obstáculos ao efetivo

exercício da jurisdição, quais sejam: a) custas judiciais; b) inexistência de

Juízos de Pequenas Causas; c) ausência de instrumentos processuais

590 Tratado de Direito Processual Civil, vol. 1, p. 105-106.

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voltados à proteção dos interesses difusos; d) conflituosidade da sociedade

moderna.591

A preocupação dos estudiosos do direito volta-se para um

processo judicial efetivo, porque de nada adianta a positivação de direitos

sem que existam mecanismos processuais eficientes para a sua

consecução.592

Destaquem-se alguns itens que devem ser adotados em prol da

efetividade:

a) o processo deve dispor de instrumentos de tutela adequados,

na medida do possível, a todos os direitos (e outras posições jurídicas de

vantagem) contemplados no ordenamento;

b) os instrumentos devem ser praticamente utilizáveis, ao

menos em princípio, sejam quais forem os supostos titulares dos direitos;

591 Cf. Mauro Cappelletti e Bryant Garth, Acesso à Justiça, p. 15-31. 592 No direito nacional, Arruda Alvim averba que: “(...) sem a articulação do direito processual civil ao direito material, na ordem prática, a proteção, somente deste último, revelar-se-ia sem grandes objetivos práticos, porque não ancorados numa tábua instrumentos destinados a tornar eficaz o direito material, construído em torno de valores sociais contemporâneos, em que se pretende traduzir um sentimento mais adequado de Justiça. Por isso, é insuficiente proteger no plano do direito material, se inexistirem formas de viabilizar essa proteção” (“Anotações sobre as Perplexidades e os Caminhos do Processo Civil Contemporâneo – Sua Evolução ao Lado do Direito Material”, Coord. Sálvio de Figueiredo Teixeira, As Garantias do cidadão na justiça, p. 180).

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c) impende assegurar condições propícias à exata e completa

reconstituição dos fatos relevantes;

d) em toda a extensão da possibilidade prática, o resultado do

processo há de ser tal que assegure à parte vitoriosa o gozo pleno da

específica utilidade a que faz jus segundo o ordenamento;

e) cumpre que se possa atingir semelhante resultado com o

mínimo dispêndio de tempo e energias.593

Nesse contexto, em que a atenção está voltada aos resultados a

serem atingidos eficazmente pelo processo judicial, emerge a importância

da leitura ao direito de ação ou à cláusula constitucional da inafastabilidade

da jurisdição (art. 5º, inc. XXXV).

Atualmente, é assente o entendimento de que o direito de ação

não se limita apenas ao direito à obtenção da sentença de mérito. A rigor, o

referido direito garante aos jurisdicionados o direito à adequada e à eficaz

tutela jurisdicional.594

593 Cf. José Carlos Barbosa Moreira, “Notas sobre o problema da efetividade do processo”, Temas de Direito Processual, terceira série, p. 27. 594 Cf. José Roberto dos Santos Bedaque, Tutela cautelar e Tutela Antecipada, p. 60-64.

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Por isso que é de grande valia o princípio da adaptabilidade do

procedimento às situações de direito material. O princípio do acesso à

justiça vincula o legislador ordinário a que sejam criadas normas

processuais providas de instrumentos que proporcionem a tutela efetiva,

adequada e tempestiva dos direitos.595-596

Segundo Donaldo Armelin,

“A temática de uma tutela jurisdicional diferenciada posta em

evidência notadamente e também em virtude da atualidade do

questionamento a respeito da efetividade do processo, prende-se

talvez mais remotamente à própria questão da indispensável

adaptabilidade da prestação jurisdicional e dos instrumentos que

a propiciam à finalidade dessa mesma tutela. Realmente,

presentes diferenciados objetivos a serem alcançados por uma

prestação jurisdicional efetiva, não há porque se manter um tipo

unitário desta ou dos instrumentos indispensáveis a sua

corporificação. A vinculação do tipo da prestação à sua

finalidade específica espelha a atendibilidade desta; a adequação

do instrumento ao seu escopo potencia o seu tonos de

efetividade”.597

Nesse contexto, o legislador brasileiro instituiu verdadeiras

tutelas jurisdicionais diferenciadas, tais como se operam com as tutelas de

595 Cf. Luiz Guilherme Marinoni, Tutela antecipatória, julgamento antecipado e execução imediata da sentença, p. 20. 596 Comentado o art. 24 da Constituição, a doutrina italiana afirma que se contemplou um direito à adequada tutela jurisdicional: Luigi Paolo Comoglio, Commentario della Costituzione, Bologna-Roma, Zanichlli-Foro italiano, p. 10; Vittorio Denti, La giustizia civile, Bologna, Il Mulino, 1989, p. 73; Ferruccio Tommaseo, Appunti di diritto processuale civile, Torino, Giappichelli, 1995, p. 169. 597 “Tutela jurisdicional diferenciada”, RePro, n. 65, p. 45.

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urgência dotadas de auto-executoriedade, afastando os riscos do fator

tempo na relação jurídica processual.598

A propósito, a adoção do procedimento comum, regido pelo

rito ordinário, como mecanismo apto a resolver todas as situações de

direito material, implica o afastamento da idéia da instrumentalidade do

processo.

O surgimento das denominados tutelas de urgência adveio da

manifestação incisiva da doutrina com o propósito de que as regras

processuais fossem criadas à luz e em prol da aplicação do direito material

em juízo.599

Utilizando-se da técnica da cognição sumária, o legislador

brasileiro positivou regras pelas quais, havendo urgência e sendo plausível

o direito pleiteado na ação, é lícito ao juiz conceder provimento provisório,

ora assegurando a eficácia da prestação jurisdicional, ora antecipando os

efeitos da própria tutela pleiteada.

598cf. Andréa Proto Pisani, Sulla tutela giurisdizionale differenziata, Rivista di Diritto Processuale, 1979, p. 536 e ss. 599 Luiz Guilherme Marinoni declara que “O procedimento ordinário, caracterizado por ser um procedimento alheio ao que se passa no plano do direito material, é a maior prova de que o isolamento do processo não produziu bons resultados, haja vista a crescente preocupação com as chamadas tutelas jurisdicionais diferenciadas, imprescindíveis para proteção efetiva de determinadas situações de direito substancial e, portanto, alternativas à neutralidade imposta pela ordinariedade” (Tutela inibitória, p. 20-21).

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6.2 – DIREITO INTERTEMPORAL

Diante das constantes alterações que o Código de Processo

Civil vem sofrendo, mormente no campo recursal, é de suma importância a

análise acerca do direito intertemporal.

A Constituição Federal, no seu art. 5º, inc. XXXVI, dispõe que

“a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa

julgada”. Em virtude de um dos princípios basilares do direito, que é o da

segurança jurídica, o constituinte originário disciplinou que as leis devem

respeitar as situações jurídicas já consolidadas sob a égide da norma

jurídica vigente a seu tempo.600

É importante consignar que o aludido preceito funciona como

limitador à aplicação retroativa da lei somente nas hipóteses de direito

adquirido, do ato jurídico perfeito e da coisa julgada, donde se infere

que a regra da irretroatividade da lei não é absoluta.601-602

600 Como afirma José Afonso da Silva, “Uma importante condição da segurança jurídica está na relativa certeza que os indivíduos têm de que as relações realizadas sob o império de uma norma devem perdurar ainda quando tal norma seja substituída” (Curso de direito constitucional positivo, p. 412). 601 Neste sentido, já ensinava Rui Barbosa, interpretando a Constituição Federal de 1891, que “Não é (...) absoluto o cânon constitucional da irretroatividade. Perante a nossa constituição, como perante a americana, que nesta matéria traduzimos, vertendo o ex post facto law em leis retroativas, há leis juridicamente, naturalmente, inevitavelmente retroativas” (“Leis Retroativas e Interpretativas no Direito Brasileiro”, in Obras Completas, v. 25, p. 158).

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366

A Lei de Introdução ao Código Civil, no seu art. 6º, caput,

estipula que “A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato

jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada”.

Esse preceito adotou a teoria de Roubier, ao estabelecer que a

lei em vigor terá efeito imediato geral, atingindo os fatos futuros (facta

futura), e não abrangendo os fatos pretéritos (facta praeterita). Em relação

aos fatos pendentes (facta pendentia), nas partes anteriores à data da

mudança da lei, não haveria retroatividade; nas partes posteriores à lei

nova, se aplicável, teria efeito imediato.603

Na esteira da Lei de Introdução ao Código Civil, impera, na

doutrina, o entendimento de que as leis processuais têm aplicação imediata,

respeitados o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.

Adota-se o sistema do isolamento dos atos processuais segundo o qual a lei

nova respeita os atos processuais já realizados.604

602 “A irretroatividade das leis é somente um princípio de utilidade social, daí não ser absoluto, por sofrer exceções, pois, em certos casos, uma nova lei poderá atingir situações passadas ou efeitos de determinados atos” (RD 97/465, 86/415; RT 684/111; RF 1/12, 8/501, 25/432, 26/160). 603 Les conflits des lois dans le temps, p. 371. No mesmo sentido: Maria Helena Diniz, Lei de introdução ao código civil brasileiro interpretada, p. 182; R. Limongi França, A irretroatividade das leis e o direito adquirido, p. 208-210, Vicente Ráo, O direito e a vida dos direitos, vol. 1, p. 376. 604 Cf. Humberto Theodoro Júnior, Curso de Direito Processual Civil, vol. I, p. 22; José Frederico Marques, Manual de Direito Processual Civil, vol. I, p. 82; José Rogério Cruz e Tucci, Tempo e processo, p. 44; Moacyr Amaral Santos, Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, 1º vol., p. 32; Waldemar Mariz de Oliveira Júnior, Curso de direito processual civil, vol. 1, p. 32.

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367

Em matéria de recursos, a regra é a de que estes são regidos

pela lei vigente ao tempo da publicação da decisão.605-606

Isso porque, no momento em que a decisão torna-se pública,

surge aos legitimados o ônus de interpor o recurso previsto na legislação

vigente. Neste ponto, não se adota a noção de direito adquirido processual

defendida por Galeno Lacerda, porquanto a noção de ônus é que regula a

dinâmica da relação jurídica processual.607

605 Cf. Galeno Lacerda, O novo direito processual e os feitos pendentes, p. 70; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 266; José Frederico Marques, Manual de Direito Processual Civil, vol. I, p. 83; Nelson Nery Junior, Princípios Fundamentais – Teoria Geral dos Recursos, p. 426; Seabra Fagundes, Dos recursos ordinários em matéria civil, p. 25. 606 “Agravo de petição. Recurso extinto pelo novo Código de Processo Civil. Regula o cabimento do recurso a lei vigente ao tempo da decisão recorrida” (RTJ 68/879); “Agravo Regimental. Princípio do direito intertemporal. Art. 27, § 1º do ADCT da Constituição de 1988. Ação declaratória negativa. Artigos 119, III, a, da CF (anterior), 321 e 325, do RISTF. I - Consoante princípio do direito intertemporal, o recurso é regulado pela lei vigente à época da decisão recorrida. II - Inteligência do art. 27, § 1º, do ADCT da nova Constituição. III - Inexistência de requisitos de admissibilidade de recurso extraordinário. IV - Agravo Regimental improvido” (STJ-3ª Turma, AgRg 112-MT, rel. Min. Waldemar Zveiter, j. 29.08.89, v.u., RSTJ 4/1195); “Segundo princípio de direito intertemporal, salvo alteração constitucional, o recurso próprio é o existente à data em que publicada a decisão” (STJ-2ª Seção, CC 1.133-RS, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, DJU 13.04.92, p. 4.971); “Processual Civil e Direito intertemporal. Recurso especial: satisfeitos os requisitos de admissibilidade, o STJ aplica o direito à espécie, julgando a causa. Sentença publicada quando vigorava a lei anterior. Apreciação do recurso à luz da lei nova: impossibilidade. Precedentes do STJ e do TST. Recurso não conhecido. I – Satisfeitos os requisitos de admissibilidade do recurso especial, o STJ passa ao exame do mérito recursal, aplicando o direito à espécie. Por tal razão, pode a Corte superior instituída pela Constituição de 1988 afastar a tese aplicada pelo juiz de primeiro grau, bem como a orientação agasalhada pelo tribunal de segundo grau, optando por prestigiar uma terceira tese. O STJ não é mera corte de cassação, pelo que, ultrapassado o juízo de admissibilidade, aplica o direito à espécie, julgando a causa. Aplicação do art. 257 do RISTJ e da Súmula 456 do STF. II – Os recursos são regidos pelas regras em vigor ao tempo da publicação da decisão causadora da insatisfação, e não pelos preceitos que posteriormente venham a entrar em vigor. Precedentes do STF e do STJ: RE 83.169/PR, Resp 88.747/SP, Resp 140.862/RS e Ag 2.617/MG – AgRg. III – Recurso não conhecido” (REsp 149.379, rel. Min. Adhemar Maciel, j. 18.12.97, RSTJ 105/155). 607 Segundo Arruda Alvim, “toda a dinâmica do processo é ligada a essa idéia nuclear (realidade estimuladora), consistente em que, não praticado um ato, ou, se praticado incorretamente, via de regra, seguir-se-á um dano para aquele a quem incumbia a respectiva prática” (Manual de direito processual civil, vol. 1, p. 121).

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Resta anotar o que vem a ser publicação da decisão. Não se

deve confundir publicação (ato de tornar pública a decisão) com intimação

(comunicação de ato processual). Na primeira instância, a decisão pode ser

publicada em dois momentos distintos: em audiência ou em mãos do

escrivão ou do chefe de secretaria. Na segunda instância, considera-se

publicada a decisão no momento em que é declarado o resultado do

julgamento.608

Em relação à lei que deve reger o procedimento, há

divergência na doutrina. Para uma corrente da doutrina, o procedimento

deve ser regido, também, pela lei vigente ao tempo da publicação da

decisão.609

Por sua vez, outra parcela da doutrina entende que a lei vigente

no dia em que foi efetivamente interposto o recurso é a que regula o seu

procedimento.610

608 Cf. Galeno Lacerda, O novo direito processual civil e os feitos pendentes, p. 71; J. J. Calmon de Passos, “O recurso extraordinário e a emenda n. 3 do regimento interno do Supremo Tribunal Federal”, in RePro, n. 5, p. 48-49; Nelson Nery Junior, “A forma retida dos recursos especial e extraordinário – apontamentos sobre a Lei 9.756/98”, in Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 480. 609 Cf. Teresa Arruda Alvim Wambier, “Anotações a respeito da Lei 9.756, de 17 de dezembro de 1998”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 562. 610 Cf. Cândido Rangel Dinamarco, “O relator, a jurisprudência e os recursos”, in Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 144; Nelson Nery Junior, Princípios fundamentais – teoria geral dos recursos, p. 426.

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369

Há, ainda, a corrente doutrinária que entende ser a lei nova que

regula o procedimento do recurso interposto sob a égide de lei vigente ao

tempo da publicação da decisão, por ter efeito imediato e geral.611

Impende ressaltar, outrossim, que as duas principais teorias

sobre a aplicação da lei no tempo – do direito adquirido e do fato realizado

– negam a possibilidade de subsistência de uma situação jurídica individual

em face de uma alteração do regime ou de um instituto jurídico. Por isso,

não há que se cogitar de direito adquirido a regime jurídico de instituto de

direito.612

O direito positivo prescreve o respeito às relações jurídicas já

consolidadas – direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada –,

resguardando a possibilidade de acesso ao Poder Judiciário para prevenir a

lesão ou para corrigi-la.

Assegura-se o controle da inafastabilidade da jurisdição, mas

não o direito adquirido ao procedimento que rege o processo ou o recurso,

donde se conclui que, no plano da admissibilidade, o recurso é regido pela

lei vigente ao tempo da sua publicação, enquanto que a lei que regula o 611 Cf. Donaldo Armelin, “Apontamentos sobre as alterações ao Código de Processo Civil e à Lei 8.038/90, impostas pela Lei 9.756/98”, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98, p. 217; Grinover-Magalhães-Scarance, Recursos no Processo Penal, p. 63; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p. 267. 612 Cf. Carlos Maximiliano, Direito Intertemporal, p. 9-13.

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regime do recurso tem incidência imediata e geral, ainda que este tenha

sido interposto sob a égide de lei outra, vigente ao tempo da sua

publicação.613-614

6.3 - ANTEPROJETOS QUE VISAM ALTERAR O CPC

Após ser promulgada a Reforma do Judiciário, com a edição

da Emenda Constitucional nº 45, foram enviados ao Parlamento Nacional

diversos Projetos de Lei, visando à alteração da legislação

infraconstitucional, especialmente a do Código de Processo Civil.

Apesar de não ser objeto deste trabalho, mostra-se importante

a análise estritamente superficial das principais propostas legislativas em

trâmite no Congresso Nacional, com vistas à reformulação do CPC.

O Projeto de Lei nº 136/04 determina que em regra a apelação

não será dotada de efeito suspensivo.

613 Cf. ibidem; Eduardo Espínola, Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro, v. 1, p. 184; Gilmar Ferreira Mendes, Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade, p. 134-140; Pontes de Miranda, Comentários à Constituição de 1967 com a EC n. 1/69, vol. V, p. 99; Vicente Ráo, O direito e a vida dos direitos, vol. 1, p. 383. 614 “(...) em matéria de direito adquirido vigora o princípio – que este Tribunal tem assentado inúmeras vezes – de que não há direito adquirido a regime jurídico de um instituto de direito. Quer isso dizer que, se a lei nova modificar o regime jurídico de determinado instituto de direito (como é o direito de propriedade, seja ela de coisa móvel ou imóvel, ou de marca), essa modificação se aplica de imediato” (RE 94.020, rel. Min. Moreira Alves, j. 04.11.81, RTJ 104/269). No mesmo sentido: RE 105.137, rel. Min. Cordeiro Guerra, RTJ 115/379; ERE 105.137, rel. Min. Rafael Mayer, RTJ 119/783; RE 105.322, rel. Min. Francisco Rezek, RTJ 118/709.

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371

Adota-se como parâmetro a regra da imediata execução da

sentença, pondo ao fim uma contradição do sistema processual vigente, a

saber: a decisão provisória fundada em cognição sumária que antecipa os

efeitos da tutela jurisdicional tem mais eficácia do que a decisão final do

processo, que é proferida com base em cognição exauriente.615

A execução imediata da sentença, retirando o efeito suspensivo

da apelação, é uma das mudanças que a doutrina nacional tem defendido,

como forma de tornar mais eficaz a prestação jurisdicional, equilibrando os

ônus do fator tempo na relação jurídica processual.616

De qualquer forma, a previsão em regra da ausência do efeito

suspensivo ao recurso de apelação não tem o condão de trazer maiores

prejuízos aos litigantes, já que subsiste, a par do poder geral de cautela, a

admissibilidade de requerimento de concessão de medida acautelatória,

com vistas a suspender a exeqüibilidade imediata da decisão sujeita a

recurso desprovido de efeito suspensivo, desde que presentes os requisitos

legais.

615 Cf. Cássio Scarpinella Bueno, Execução provisória e antecipação da tutela, p. 404; João Batista Lopes, Tutela antecipada no processo civil brasileiro, p. 77; Paulo Henrique dos Santos Lucon, Eficácia das decisões e execução provisória, p. 354. 616 Cf. Ada Pellegrini Grinover, A marcha do processo, p. 128; Cássio Scarpinella Bueno, Execução provisória e antecipação da tutela, p. 48 e ss.; Luiz Guilherme Marinoni, “Garantia da tempestividade da tutela jurisdicional e duplo grau de jurisdição”, Garantias Constitucionais do Processo Civil, p. 223 e ss.

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372

O Projeto de Lei 4724/04 propõe importantes mudanças no

CPC. Cria-se um novo parágrafo ao art. 515, pelo qual “Constatando a

ocorrência de nulidade sanável, o tribunal poderá determinar a realização

ou renovação do ato processual, intimadas as partes; cumprida a diligência,

sempre que possível prosseguirá o julgamento da apelação”.

Pela regra prevista, tratando-se de nulidade passível de

correção, por medida de economia processual o tribunal determinará a

correção do vício, com a realização ou renovação do ato processual, ao

invés de se limitar a anular o processo, com a conseqüente remessa dos

autos à primeira instância, a fim de que outra sentença seja proferida.

Estabelece ainda o referido projeto que a sentença proferida

em conformidade com súmula do STJ ou do STF não é passível de recurso

de apelação, de forma que “o juiz não receberá o recurso de apelação

quando a sentença estiver em conformidade com súmula do Superior

Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal” (§1º, art. 518, CPC).

A referida regra constante do projeto de lei disciplina o

requisito de cabimento do recurso de apelação, tornando irrecorrível a

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373

sentença que for proferida em conformidade com a súmula do STF ou do

STJ.

Não incorre no vício de inconstitucionalidade o referido

projeto de lei, porquanto é cediço no âmbito da jurisprudência do STF que

a Constituição Federal não adotou expressamente o princípio do duplo grau

obrigatório de jurisdição, podendo o legislador ordinário afastá-lo.

A intenção do legislador é, sem sombra de dúvidas, reduzir as

impugnações pelos litigantes a respeito de matérias sobre as quais as cortes

superiores já tenham assentando entendimento em súmula.

De qualquer forma, cabe registrar que, malgrado a regra, da

decisão do juiz de primeira instância que inadmite o recurso de apelação é

cabível o recurso de agravo de instrumento dirigido ao tribunal de segundo

grau.

Estabelece-se, ainda, o § 2º ao art. 518, pelo qual “apresentada

a resposta, é facultado ao juiz, em cinco dias, o reexame dos pressupostos

de admissibilidade do recurso”.

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374

Como as matérias afetas à admissibilidade dos recursos são de

ordem pública, não gerando preclusão pro judicato, afigura-se que é lícito

ao juiz de primeira instância, por exemplo, inadmitir apelação cuja

admissibilidade já tenha sido anteriormente declarada.

O Projeto de Lei 4.728/04 cria o art. 285-A, em razão do qual

“Quando a matéria controvertida for unicamente de direito, em processos

repetitivos e sem qualquer singularidade, e no juízo já houver sentença de

total improcedência em caso análogo, poderá ser dispensada a citação e

proferida sentença reproduzindo a anteriormente prolatada”.

A exemplo do que ocorre com a rejeição liminar da petição

inicial com exame do mérito, no caso de declaração de prescrição ou

decadência, o legislador estendeu o referido mecanismo aos casos dos

processos repetitivos já julgados improcedentes pelo juízo, em que a

matéria é unicamente de direito, de forma que é lícito ao juiz dispensar a

citação e proferir sentença de mérito de improcedência, reproduzindo a

anteriormente proferida.

Prevê, ainda, o referido projeto de lei a recorribilidade da

sentença, podendo o juiz, no âmbito do efeito diferido, cassar a decisão e

determinar o prosseguimento da demanda (§1º, art. 285-A). Caso o juiz

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375

prolator da decisão mantenha a sentença, o réu deverá ser citado para

responder ao recurso (§2, art. 285-A).

Em face da necessidade de implementação do contraditório do

réu, se interposto o recurso de apelação, não se afigura inconstitucional a

citada proposta.

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376

CONCLUSÃO

À guisa de conclusão, infere-se que:

1) os pronunciamentos judiciais – despacho, decisão

interlocutória, sentença e acórdão – são conceituados pelo CPC de acordo

com o critério topológico;

2) a sentença é o pronunciamento decisório que põe fim ao

procedimento de primeiro grau de jurisdição, com ou sem julgamento do

mérito;

3) presentes os requisitos de admissibilidade da demanda –

condições da ação e pressupostos processuais -, o juiz passa a examinar o o

mérito, sobre o qual recairá a sentença;

4) os três elementos da ação – partes, pedido e causa de pedir –

identificam a sua natureza, delimitam o objeto e indicam o alcance

subjetivo, devendo a sentença ser proferida de acordo com os limites da

demanda;

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5) os recursos são mecanismos que a legislação federal confere

às partes, ao Ministério Público e ao terceiro interessado, voltados à

impugnação de decisão judicial, dentro da mesma relação jurídica

processual, a serem julgados pelo mesmo órgão prolator da decisão ou por

outro hierarquicamente superior;

6) a apelação é o recurso estabelecido no CPC para impugnar o

pronunciamento decisório intitulado sentença que põe fim ao procedimento

de primeiro grau de jurisdição, com ou sem exame do mérito;

7) o duplo grau de jurisdição, apesar de ser considerado

princípio constitucional, não é absoluto, sendo lícito ao legislador ordinário

afastar as hipóteses de recorribilidade da sentença;

8) para que o mérito da apelação seja analisado, é

imprescindível que estejam presentes os requisitos de admissibilidade

previstos no CPC, tais como cabimento, legitimidade recursal, interesse

recursal, regularidade formal, preparo, ausência de fato impeditivo ou

extintivo do direito de recorrer;

9) o cabimento ampara-se no binômio recorribilidade da

decisão e adequação do recurso interposto, ressalvada a aplicação do

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princípio da fungibilidade, quando existente “dúvida objetiva” entre meios

de impugnação, que é demonstrável a partir da divergência doutrinária e

jurisprudencial;

10) o CPC, levando em conta a relevância e o interesse,

assegura legitimidade recursal às partes, ao Ministério Público e ao

terceiro juridicamente interessado. A legitimidade recursal se ampara na

titularidade conferida pelo CPC para a realização do ato processual;

11) o assistente simples, o assistente litisconsorcial, o opoente,

o nomeado, o denunciado, o chamado ao processo e o adquirente ou o

cessionário do direito litigioso detêm legitimidade recursal como parte;

12) o Ministério Público, na condição de custos legis, detém

legitimidade recursal, ainda que não haja recurso da parte;

13) a legitimidade recursal do terceiro juridicamente

interessado ampara-se na demonstração do nexo de interdependência entre

a esfera daquele e a relação jurídica litigiosa, independentemente da

constatação do prejuízo;

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14) aqueles que poderiam ter intervido como assistente

simples, assistente litisconsorcial, nomeado, opoente, denunciado,

chamado, detêm legitimidade recursal na condição de terceiro;

15) o interesse recursal se apóia na ocorrência da sucumbência

formal ou material, sendo imprescindível a demonstração da necessidade

de ser interposto o recurso, como meio de se obter uma decisão mais

favorável, do ponto de vista prático, do que a decorrente da decisão

recorrida;

16) o réu tem interesse em recorrer da sentença que põe fim ao

processo sem análise do mérito, assim como da sentença que julga

improcedente o pedido formulado por insuficiência de provas, em ação

popular ou ação coletiva;

17) o autor detém interesse em recorrer da sentença citra, extra

e ultra petita;

18) tratando-se de recurso interposto pelo Ministério Público,

o interesse recursal é aferido pelo próprio membro da instituição;

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19) o prazo para o Ministério Público recorrer da decisão

inicia-se na data do ingresso dos autos na repartição ministerial, e não da

data da aposição do ciente;

20) os litisconsortes sucumbentes com diferentes procuradores

à época da intimação da decisão judicial dispõem de prazo em dobro para

recorrer. Entretanto, no caso de citação de litisconsórcio passivo, estes

dispõem do prazo em dobro, desde que demonstrem a existência de

diferentes procuradores;

21) o prazo recursal para o revel inicia-se a partir da

publicação da decisão, independentemente de intimação;

22) a interposição de recurso de apelação por advogado não

habilitado nos autos, ou sem a assinatura do advogado, configura mera

irregularidade, devendo ser oportunizada a correção;

23) o recurso de apelação é de fundamentação livre e enseja o

reexame de fatos e provas, sendo lícito ao recorrente suscitar erro in

procedendo ou in judicando;

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24) o recurso de apelação é inadmissível, quando as razões da

impugnação são apresentadas após a data da interposição do recurso, em

virtude da preclusão consumativa;

25) o recurso interposto sem o comprovante do pagamento do

preparo é considerado inadmissível, por ser deserto;

26) na justiça federal, por força do art. 14, inc. II, da Lei nº

9.286/96, o preparo da apelação pode ser efetuado até 5 (cinco) dias a

contar da sua interposição;

27) prorroga-se para o primeiro dia útil subseqüente o prazo

para juntar aos autos o comprovante do preparo, na hipótese de o recurso

ser interposto após o horário de fechamento da instituição financeira;

28) os fatos extintivos ou impeditivos do direito de recorrer

constituem atos configuradores da preclusão lógica;

29) a apelação adesiva é um modo especial de interposição do

recurso de apelação e exige, para efeito de juízo de admissibilidade, a

sucumbência recíproca, a admissibilidade da apelação principal e o

preenchimento dos demais requisitos genéricos;

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30) a teor do art. 515 do CPC, pelo efeito devolutivo da

apelação, opera-se a devolução da matéria impugnada no recurso (tantum

devolutum quantum appellatum);

31) o efeito devolutivo pode ser vislumbrado nos planos da

extensão, profundidade e subjetivo;

32) a extensão do efeito devolutivo da apelação é delimitada

pelo recorrente, à luz do objeto litigioso da demanda;

33) a profundidade do efeito devolutivo da apelação é a mais

ampla possível, podendo ser analisadas todas as questões suscitadas e

discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por

inteiro, nos limites da extensão, a teor do art. 515, §1º, do CPC;

34) no julgamento da apelação, é lícito ao tribunal emprestar

outra qualificação jurídica aos fatos litigiosos suscitados pelas partes no

processo, sem que reste configurada violação ao princípio da congruência;

35) o exame de matéria de fato essencial não suscitada pelas

partes implica violação ao princípio da congruência;

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36) o acórdão a ser proferido pelo tribunal em sede de

apelação deve examinar os relevantes fundamentos jurídicos suscitados

pelo recorrente, sob pena de nulidade, à luz do princípio constitucional da

motivação;

37) quando o pedido ou a defesa for amparada em mais de um

fundamento jurídico, e o juiz acolher apenas um deles, a profundidade do

efeito devolutivo transfere à instância superior os demais fundamentos, a

teor do art. 515, § 2º, do CPC;

38) afastada a ocorrência de prescrição ou decadência

reconhecida na sentença, é lícito ao tribunal examinar o mérito do processo,

desde que este esteja “maduro para julgamento”;

39) as questões incidentais suscitadas e não decididas pelo

juízo de primeiro grau de jurisdição ficam transferidas ao tribunal, de

acordo com a exegese do art. 516 do CPC;

40) o plano subjetivo do efeito devolutivo da apelação

possibilita, nos termos do art. 509 do CPC, que o recurso interposto por um

dos litisconsortes, quando a espécie for unitário, aproveita a todos, salvo se

distintos ou opostos os interesses;

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41) afastada a sentença terminativa em sede de apelação, é

lícito ao tribunal apreciar, desde logo, o mérito da causa, contanto que o

processo esteja “maduro para julgamento”, a teor do art. 515, § 3º, do CPC;

42) o art. 515, § 3º, do CPC é constitucional e, para que seja

aplicado pelo tribunal, exige que a causa esteja suficientemente instruída,

independentemente de pedido expresso do recorrente;

43) se reconhecer a desnecessidade de produção de provas em

sede de agravo de instrumento interposto em face da decisão que determina

a instrução probatória, é lícito ao tribunal apreciar o mérito da demanda,

desde que o feito esteja suficientemente instruído, aplicando-se à espécie o

art. 515, § 3º, do CPC;

44) o art. 515, §3º, do CPC autoriza que, reconhecida a

nulidade sanável em sede de apelação e após a correção do ato, o tribunal

examine o mérito, desde que o processo esteja suficientemente instruído,

como por exemplo com a sentença infra petita;

45) apesar de, em sede recursal, ser defeso às partes inovar na

causa, permite o CPC, em seu art. 517, que, presente o motivo de força

maior, as questões novas de fato possam ser suscitas na apelação;

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46) o art. 517 do CPC não autoriza que as partes suscitem nova

causa de pedir ou alterem o objeto da demanda;

47) o juiz detém amplos poderes instrutórios no processo civil,

devendo ter participação ativa na produção de provas, independentemente

da atuação das partes;

48) os poderes instrutórios previstos no art. 130 do CPC

aplicam-se aos tribunais de segunda instância, podendo, se necessário, o

julgamento da apelação ser convertido em diligência. Após a produção da

prova, deve o tribunal examinar o mérito da demanda, nos limites da

extensão do efeito devolutivo;

49) em face do art. 130 e da teleologia do art. 515, §3º, ambos

do CPC, reconhecida a violação ao direito à prova ou ao cerceamento de

defesa, é lícito ao tribunal, em sede de apelação, determinar a realização de

produção de provas, após o que passa a examinar o mérito, desde que o

processo esteja suficientemente instruído;

50) o CPC, no art. 520, contemplou a regra de que a previsão

do recurso de apelação tem o condão de impedir que a sentença produza

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efeitos. A execução provisória da sentença condiciona-se à previsão

expressa da lei, suprimindo o efeito suspensivo;

51) a apelação interposta em face de sentença que julga

simultaneamente as ações principal (para a qual a lei estabelece o efeito

suspensivo) e cautelar deve ser recebida em distintos efeitos, a saber:

suspensivo para a principal e sem efeito suspensivo para a cautelar;

52) mesmo susceptível de apelação com efeito suspensivo, a

sentença de improcedência tem o condão de revogar a tutela de urgência

anteriormente deferida, aplicando-se à espécie a súmula 405 do STF;

53) no âmbito do poder geral de cautela, é admissível a

concessão de medida cautelar, a fim de emprestar efeito suspensivo a

recurso que não o tem;

54) interposto o recurso, a competência para apreciar a

concessão de medida cautelar é do tribunal ao qual couber o julgamento

daquele, a partir da exegese dos arts. 558, parágrafo único, e 800, parágrafo

único, ambos do CPC;

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55) em face da divergência sobre o assunto, deve ser aplicado

o princípio da fungibilidade, com o propósito de ter como adequado o

pleito de concessão de medida cautelar formulado ao juízo de primeira

instância. Do indeferimento do pedido de atribuição de efeito suspensivo, é

cabível o recurso de agravo de instrumento;

56) o capítulo da sentença de mérito ou terminativa é uma

unidade elementar autônoma, que exige do juiz uma decisão específica

assentada em fundamentos próprios;

57) tratando-se de recurso parcial, o capítulo da sentença não

objeto da impugnação transita em julgado, sendo vedado ao tribunal de

segunda instância reexaminá-lo;

58) o recurso de agravo de instrumento torna-se inadmissível,

em virtude da ausência superveniente do interesse recursal, quando a

sentença não tenha sido impugnada pelo recurso de apelação. O recurso de

agravo de instrumento, por impugnar somente a decisão interlocutória, não

tem o condão de desconstituir uma sentença transitada em julgado;

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59) o agravo de instrumento interposto em face de decisão que

aprecia a tutela de urgência torna-se prejudicado com a superveniência da

sentença;

60) é lícito ao tribunal em sede de apelação, por meio do

relator, conceder antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional, desde que

atendidos os requisitos do art. 273 do CPC;

61) o efeito translativo, consectário da inquisitoriedade,

conduz à possibilidade de o juiz ou tribunal examinar, de ofício e em

qualquer grau de jurisdição, as matérias de ordem pública, de acordo com o

art. 267, §3º, do CPC;

62) as matérias de ordem pública correspondem àquelas

atinentes aos requisitos de admissibilidade da tutela jurisdicional, os quais,

quando violados, geram a nulidade absoluta ou inexistência do processo;

63) no âmbito do efeito translativo, não há reformatio in pejus

se o tribunal, reconhecida a presença de uma questão de ordem pública,

decidir em desfavor do recorrente, único a interpor o recurso;

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64) o efeito translativo do recurso não permite que o tribunal

examine questão de ordem pública referente a um capítulo da sentença não

impugnado, em harmonia com a proteção da coisa julgada;

65) conhecido o recurso de apelação em que se sustenta error

in judicando, a decisão do tribunal tem o condão de substituir a decisão

recorrida. Acolhido o error in procedendo suscitado no recurso de

apelação, a decisão do tribunal tem a função rescindente, ressalvada o caso

da aplicação do art. 515, §3º, do CPC;

66) o efeito regressivo previsto no art. 296 do CPC permite

que o juiz, após a interposição de apelação em face de sentença que indefira

liminarmente a petição inicial, utilize-se do juízo de retratação;

67) no direito intertemporal, a regra em matéria de recursos é a

de que sua admissibilidade reger-se-á pela lei vigente ao tempo da

publicação da decisão;

68) a lei que regula o regime ou procedimento do recurso tem

incidência imediata e geral, aplicando-se, inclusive, ao recurso interposto

sob a égide de norma já revogada.

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___________. “Fungibilidade de ‘meios’: uma outra dimensão do

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