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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES
CENTRO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL - CEP
CURSO TÉCNICO EM QUÍMICA
APLICAÇÃO DE SURFACTANTE PARA MOBILIZAÇÃO
DE CONTAMINAÇÃO POR HIDROCARBONETOS
Marcos Rafael Kunzler
Lajeado, junho de 2014
1
Marcos Rafael Kunzler
APLICAÇÃO DE SURFACTANTE PARA MOBILIZAÇÃO
DE CONTAMINAÇÃO POR HIDROCARBONETOS
Monografia apresentada na disciplina de
Estágio, do Curso Técnico em Química,
como exigência para a obtenção do título
de Técnico em Química.
Orientador: Prof. Ms. Cátia Viviane
Gonçalves
Lajeado, junho de 2014
2
“Tudo é loucura ou sonho no começo.
Nada do que o homem fez no mundo teve
início de outra maneira - mas já tantos
sonhos se realizaram que não temos o
direito de duvidar de nenhum."
(Monteiro Lobato)
3
AGRADECIMENTOS
Deixo expressos meus sinceros agradecimentos às seguintes
instituições e pessoas, sem as quais o presente trabalho teria sido impossível:
- a Empresa Geo Ambiental, ao supervisor de estágio desta empresa
Ms. Telmo Boeri; a minha Coordenadora de estágio Prof. Ms. Cátia Viviane
Gonçalves, pela sugestão e incentivo ao desenvolvimento deste trabalho, bem
como o acompanhamento e total atenção ao mesmo;
- a minha família pelo afeto que sempre me deram, em especial a
minha mãe Neusa Natalícia Müller, aos meus colegas Filipi Xavier e Éderson
Stacke e amigos pelos momentos bons e ruins vivenciados no decorrer destes
anos.
Posso garantir que, a cada atividade profissional minha, serão sempre
lembrados e honrados.
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APRESENTAÇÃO
A presente monografia foi elaborada na forma de artigo científico, a ser
apresentado para a Revista Estudo e Debate, publicação do Centro
Universitário UNIVATES.
Após o artigo científico, disponibilizou-se dois apêndices: I) relatório de
análise e II) Instruções de submissão aos autores, disponível em
http://www.univates.br/revistas/index.php/estudoedebate.
Dentro do sistema de classificação de periódicos, anais, jornais e
revistas denominado de Qualis/CAPES, a referida revista é classificada como
B4 para a área interdisciplinar.
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APLICAÇÃO DE SURFACTANTE PARA MOBILIZAÇÃO DE
CONTAMINAÇÃO POR HIDROCARBONETOS
Marcos Rafael Kunzler1 & Cátia Viviane Gonçalves2
Resumo: Este trabalho tem como principal objetivo diagnosticar o uso de
surfactantes na remoção de hidrocarbonetos provenientes do petróleo no solo
sem a necessidade de aplicação de injeção de ar no sistema de remediação,
considerando uma minimização de custos e sua eficiência em relação a
hidrocarbonetos com estruturas aromáticas e alifáticas conforme resultados
analíticos.
Palavras-chave: Petróleo, remediação, solo.
1 – Introdução
Sabe-se que de 71% da superfície terrestre é coberta por água, porém
apenas 6% da hidrosfera correspondem à água doce, distribuída da seguinte
maneira: 4,34 % nas águas subterrâneas, 0,01 % em rios e lagos e 1,65 % em
capas de gelo e geleiras. Verifica-se, portanto, a importância do montante
correspondente aos aquíferos subterrâneos na sobrevivência de todas as
formas de vida do planeta e no equilíbrio do ecossistema em geral (SCHMIDT,
2010).
1 Acadêmico do Curso Técnico em Química do Centro Universitário UNIVATES,
[email protected]. 2 Bióloga, Mestre em Biologia, Responsável pela Gestão Ambiental do câmpus do Centro Universitário
UNIVATES e Professora do Curso Técnico em Química
6
A nossa sociedade é depende do petróleo. Desde que este passou a ser
usado, nos fins do século XIX, como combustível, ele tomou um papel cada vez
mais importante. Hoje em dia é usado para produzir eletricidade, como
combustível para a maioria dos meios de transporte e muitos usos domésticos,
para produzir plástico, sem o qual a nossa sociedade seria muito diferente de
como a conhecemos (SCHMIDT, 2010).
Ainda de acordo com o autor, não existe qualquer dúvida de que o
petróleo é de uma extrema importância para a nossa civilização. De fato, pode-
se dizer que toda a economia está dependente dele, como já foi mencionado.
Assim, é natural que ocorram certas reações de pânico quando é mencionado
que as reservas de petróleo estão perto do seu fim.
A sociedade moderna é dependente do petróleo, porém, representa uma
das piores fontes de poluição, ao causar efeitos ecológicos de curta e longa
duração e trazer prejuízos às atividades socioeconômicas nos territórios
atingidos (SCHMIDT, 2010).
1.1 - Tipos de combustíveis
Entre os combustíveis sólidos, inclui-se o carvão, que é queimado em
caldeiras para esquentar água, que pode vaporizar-se para mover máquinas a
vapor, ou diretamente para produzir calor utilizável em usos térmicos
(calefação). A turfa e a madeira são utilizadas, principalmente, para a calefação
doméstica e industrial. A turfa foi utilizada para a geração de energia nas
locomotivas, que utilizavam madeira como combustível, muito comum no
passado (SEBRAE, [entre 1997 e 2001] apud Serviço Brasileiro de Respostas
Técnicas, 2011).
Entre os combustíveis líquidos, encontram-se o óleo diesel, o
querosene e a gasolina ou nafta. Há, também, combustíveis líquidos de origem
vegetal, como o álcool e o óleo de mamona (SEBRAE, [entre 1997 e 2001]
apud Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas, 2011).
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Entre os combustíveis gasosos estão o gás natural ou gases liquefeitos
do petróleo (GLP), representados pelo propano e o butano. As gasolinas e até
os gases são utilizados para os motores de combustão interna (SEBRAE,
[entre 1997 e 2001] apud Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas, 2011).
Os combustíveis líquidos são constituídos por hidrocarbonetos:
compreendem todos os derivados do petróleo mais pesados do que a benzina,
destinados à queima em fornos e caldeiras, ou a serem usados em motores a
diesel, turbinas a gás, etc (SEBRAE, [entre 1997 e 2001] apud Serviço
Brasileiro de Respostas Técnicas, 2011).
Do petróleo, mediante destilação fracionada, obtêm-se, em ordem
crescente de peso específico, os seguintes grupos de produtos:
hidrocarbonetos gasosos (dos quais se destaca o gás líquido GLP), gasolina,
petróleo (querosene), gasóleo e resíduos de destilação (SEBRAE, [entre 1997
e 2001] apud Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas, 2011).
Em relação aos tanques de armazenamento de combustíveis, os
mesmos devem ser subterrâneos, de acordo com a Portaria ANP nº 116, de 5
de julho de 2000 .
A Resolução nº 273 do Conselho Nacional de Meio Ambiente
(CONAMA) determina que todos os tanques enterrados nos postos da classe 3
da Norma Técnica ABNT/NBR 13786/2005, tenham parede dupla e um
equipamento de monitoramento intersticial (instalado no interstício do tanque,
ou seja, no vão existente entre o tanque de aço e o tanque não metálico que o
reveste). É necessário instalar também um dispositivo antitransbordante. Em
alguns estados e/ ou cidades, como, por exemplo, no caso do Estado de São
Paulo, o órgão de licenciamento ambiental (Cetesb) classificou todos os postos
na classe 3, exigindo a instalação de tanque jaquetado em todos os
estabelecimentos.
Em resumo, a Resolução do CONAMA exige a aplicação da NBR
13786/2005, que determina os equipamentos a serem instalados nos postos.
Os tanques, denominados jaquetados, devem ser fabricados de acordo com a
norma NBR 13785/2005, e terem passado por todos os testes de resistência e
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desgaste previstos por ela. Conforme a Resolução do CONAMA, os órgãos
estaduais de controle ambiental são responsáveis pela fiscalização, pelo
fornecimento de licenças de operação para estabelecimentos e podem
estabelecer exigências mais rigorosas para os postos no seu Estado. Isto
significa que todos os novos tanques instalados precisam ser fabricados de
acordo com as Normas Técnicas da Associação Brasileira de Normas
Técnicas, a saber: NBR13312/2001, NBR 13785/2003 ou NBR 13212/2008,
conforme o caso (SEBRAE, [entre 1997 e 2001] apud Serviço Brasileiro de
Respostas Técnicas, 2011).
1.1.1 - A concessão de exploração de petróleo no Brasil
A partir de 06 de agosto de 1997, iniciava-se uma nova era na indústria
de petróleo no Brasil através da aprovação da Lei 9.478 (Lei do Petróleo).
Nesse sentido, a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis) adquiriu a tarefa de estabelecer regras que propiciem a
criação de um mercado mais competitivo e que, consequentemente, tragam
vantagens para o país e, principalmente, para os consumidores (Boletim de
Produção da ANP, 2010). No capítulo 3 da Lei 9.478/1997 que trata da
Titularidade e do Monopólio do Petróleo e do Gás Natural, fica estabelecido
pelo artigo terceiro que:
Pertencem à União os depósitos de petróleo, gás natural
e outros hidrocarbonetos fluidos existentes no território
nacional, nele compreendidos a parte terrestre, o mar territorial,
a plataforma continental e a zona econômica exclusiva
(BRASIL, 1997). Além disto, estão incluídas no monopólio da
União, as seguintes atividades:
I. A pesquisa e lavra das jazidas de petróleo e gás natural e
outros hidrocarbonetos fluidos;
II. A refinação de petróleo nacional ou estrangeiro;
9
III. A importação e exportação dos produtos e derivados
básicos resultantes das atividades previstas nos incisos
anteriores;
IV. O transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional
ou de derivados básicos de petróleo produzidos no País, bem
como o transporte, por meio de conduto, de petróleo bruto,
seus derivados e de gás natural.
Para realizar a exploração de um novo campo (ou novo poço de petróleo
e/ou gás), é necessário o desenvolvimento de muita pesquisa antes da
perfuração do poço. Primeiramente são realizados testes em simuladores para
obter conhecimento e viabilizar todas as tecnologias que serão usadas no
processo exploratório e para incorporar reservas de petróleo (PETROBRAS,
c2009a apud Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas, 2011).
Durante a perfuração de um poço, as rochas atravessadas são
descritas, pesquisando-se a ocorrência de indícios de hidrocarbonetos. Logo
após a perfuração são investigadas as propriedades radioativas, elétricas,
magnéticas e elásticas das rochas da parede do poço através de ferramentas
especiais (perfilagem) as quais permitem ler as propriedades físicas das
rochas, identificar e avaliar a ocorrência de hidrocarbonetos (PETROBRAS,
c2009a apud Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas, 2011).
Após a perfuração e com os avanços tecnológicos e o domínio de novas
ferramentas a Petrobras mudou os padrões da época e criou um sistema
antecipado de produção. Este sistema utiliza a estrutura de testes dos poços
para produzir petróleo enquanto a plataforma fixa não fica pronta
(PETROBRAS, c2009a apud Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas, 2011).
1.2 – Contaminação de solos e águas
Muitos fatores podem prejudicar o solo e as águas subterrâneas, porém
a maior ameaça advém dos contaminantes e poluentes a qual esses meio
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estão expostos. A origem desses fatores são as mais diversas possíveis,
podendo ser oriundas tanto do meio natural como por formas antropogênicas.
Contaminante é um produto encontrado em um determinado meio, em
concentração em níveis abaixo do tolerável em relação a critérios adotados.
Poluente é um produto encontrado em um determinado meio, em concentração
em níveis acima do tolerável em relação a critérios adotados (DYMINSKI,
2006).
A contaminação do solo ocorre pela adição de resíduos sólidos, líquidos,
gasosos e águas contaminadas, que modificam suas características naturais e
suas utilizações, com efeito negativo tanto ao próprio solo, como a quem dele
usufrui. Além da adição de substâncias, o solo sofre degradação por meio da
desertificação, uso de tecnologias inadequadas e destruição de sua vegetação,
pelo desmatamento ou queimadas. (Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas,
2007).
A contaminação dos solos e águas subterrâneas constitui-se hoje em
uma das grandes preocupações dos profissionais envolvidos com os
problemas relacionados ao meio ambiente. Uma das principais fontes de
contaminação são os vazamentos de combustíveis dos postos de distribuição
em função do envelhecimento dos tanques de combustíveis.
A contaminação por hidrocarbonetos está relacionada aos compostos
BTEX [benzeno (C6H6), tolueno (C7H8) e xileno (C8H10)], que são
hidrocarbonetos aromáticos extremamente tóxicos à saúde humana. Como
agravante deste problema, a adição de etanol na gasolina brasileira faz com
que a co-solubilidade gerada facilite a dispersão destes contaminantes na
superfície (FAVERA, 2008).
Na maioria dos casos de contaminação do solo, o problema só é
percebido após as consequências já terem aparecido. Devido a isto, cada vez
mais surgem maneiras para a remediação de solos. A remediação consiste em
técnicas complexas que fazem a remoção dos contaminantes do solo.
Há várias tecnologias para tratar o solo com as técnicas químicas,
físicas e as biológicas; entretanto, as técnicas biológicas, como a
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biorremediação, são consideradas de baixo custo e eficazes para redução do
petróleo no solo. Porém, alguns fatores podem limitar a ação dos
microrganismos para que esses sejam capazes de reduzir esse passivo
ambiental, como alto peso molecular, forte adsorção e baixa solubilidade
desses contaminantes. Contudo, a adição de surfactantes pode amenizar
esses problemas aumentando a efetividade do processo de biorremediação e,
dessa forma, a taxa de biodegradabilidade do óleo no solo (MILLIOLI et al.,
2008)
São vários os sistemas propostos para a remediação áreas impactadas
por petróleo. Contudo, o tratamento a ser adotado deve considerar as
condições singulares e intrínsecas da área contaminada. Algumas alternativas
de remediação são baseadas em tecnologias como: bombeamento e
tratamento (“pumpand-treat”), aeração in situ (“air sparging”), lavagem de solo
e re-injeção (recarga artificial); barreiras de contenção física pouco permeável,
biorremediação in situ, processos de oxidação química, processos térmicos, e
as barreiras físicas permeáveis, processo de encapsulamento e solidificação
etc. (FURTADO, 2005; NOBRE e NOBRE, 2003; RISER-ROBERTS, 1998).
Os mesmos autores citam que para solos contendo contaminantes
formados por componentes orgânicos voláteis (VOC’s), podem-se utilizar os
seguintes métodos com tratamento in situ: Extração vapor, aquecimento por
rádio frequência, e biorremediação.
Processos oxidativos avançados (POA’s) caracterizam-se pela geração
de espécies fortemente oxidantes, principalmente radicais hidroxila (OH-),
capazes de promover rapidamente a degradação de vários compostos
poluentes. A reação de eliminação para essas espécies é muito mais rápida
quando as etapas iniciais do processo de degradação são redutivas em vez de
oxidativas. O ferro de valência zero surge como uma ferramenta promissora
para a remediação destas importantes classes de compostos poluentes. Uma
das formas mais simples de se gerar a radical hidroxila, que consiste na
decomposição do peróxido de hidrogênio catalisada por Fe2+ em meio ácido.
O peróxido de hidrogênio é um reagente de custo relativamente baixo e
amplamente disponível no mercado e o ferro é um dos elementos mais
abundantes da crosta terrestre e ocorre em diversas espécies minerais
12
principalmente na forma de óxidos. Solos brasileiros possuem hematita, a qual
é constituída basicamente de Fe3+, espécie que catalisa a decomposição do
peróxido de hidrogênio com menor velocidade (FURTADO, 2005; NOBRE e
NOBRE, 2003; RISER-ROBERTS, 1998).
Surfactantes químicos são moléculas anfipáticas, constituídas de um
grupo polar (hidrofílico) e um grupo não-polar (hidrofóbico). Devido à sua
estrutura, as moléculas de surfactantes se concentram à superfície da água
diminuindo a tensão superficial e interagem entre si formando agregados
denominados de micelas. Se adicionados a líquidos imiscíveis, como
óleo/água, tendem a acumular na interface entre as fases de diferentes graus
de polaridade, causando a redução da tensão interfacial destes sistemas
(BOGNOLO, 1999; BANAT,2000; MULLIGAN, 2005).
1.2.1 - Solo
O solo é um recurso natural vital para o funcionamento do ecossistema
terrestre e dos ciclos naturais. Apresenta inúmeras funções: uma delas é atuar
como um filtro, graças a sua capacidade de depurar grande parte das
impurezas nele depositadas; ele age também como um “tampão ambiental”,
diminuindo e degradando compostos químicos prejudiciais ao meio ambiente.
Essa capacidade de filtração e tamponamento, no entanto, é limitada, podendo
ocorrer alteração da qualidade do solo em virtude do efeito acumulativo da
deposição de poluentes atmosféricos, da aplicação de defensivos agrícolas e
fertilizantes e da disposição de resíduos sólidos industriais, urbanos, materiais
tóxicos e radioativos (MIRANDA e ALVES, 2008 apud LIMA, 2012).
1.2.2 - Água
A água doce utilizada para consumo humano é proveniente das
represas, rios, lagos, açudes, reservas subterrâneas e em certos casos do mar
(após o processo de dessalinização). A água para o consumo é armazenada
em reservatórios de distribuição e depois enviada para grandes tanques e
caixas d’água de casas e edifícios.
13
Após o uso, a água segue pela rede de captação de esgotos. Antes de
voltar à natureza, ela deve ser novamente tratada, para evitar a contaminação
de rios e reservatórios (GOMES, 2011).
A água é, provavelmente, o único recurso natural que tem relação com
todos os aspectos da civilização humana, desde o desenvolvimento agrícola e
industrial aos valores culturais e religiosos arraigados na sociedade” (GOMES,
2011).
A importância da água remete-se a todos os níveis dos seres vivos,
sendo essa imprescindível a todos os estágios de vida. Tendo em vista que os
animais, as plantas, o homem assim como toda manutenção do planeta está
relacionado em forma de uma cadeia, a não preservação da água faz com que
todas as espécies assim como a vida no planeta sejam ameaçadas de
extinção.
De acordo com Gomes (2011) a água utilizada pelo homem é obtida dos
meios naturais e retoma as suas origens após o seu uso, devendo, portanto ser
observado a qualidade de seu retorno e as implicações da sua contaminação.
1.3 - Remediação
A técnica de remediação de áreas comprovadamente contaminantes
consiste em retirar ou diminuir a concentração do contaminante nos solos ou
nas águas subterrâneas (TUTIDA e FOGAÇA, 2012 apud LIMA, 2012).
Para que se realize a recuperação de um solo é necessário que se tenha
um perfeito entendimento das propriedades do mesmo, bem como dos fatores
de deterioração (LEITE et al.,2005 apud LIMA, 2012)
De um modo geral, os métodos preferenciais de tratamento do conjunto
água-solo são aqueles que reduzem permanentemente o volume, toxidez ou
mobilidade das substâncias poluentes. As alternativas menos desejáveis são
as que envolvem transporte entre local e disposição de substâncias perigosas
sem tratamento (DYMINSKI, 2006).
14
Na seleção de uma ou mais alternativas de remediação deve-se
considerar o tamanho, o local e o histórico da área, as características do solo
(estrutura, textura, pH, etc.), o tipo e estados físico e químico dos
contaminantes, o grau de poluição (distribuição e concentração do
contaminante), o uso final desejado para a área e os recursos técnicos e
financeiros disponíveis e as questões ambientais, sociais, legais e geográficas
(CARNEIRO et al., 2003 apud LEITE et al., 2005).
Umas da forma de remediação é o uso de surfactante para encapsular
as moléculas de hidrocarbonetos e removê-las do solo contaminado. A técnica
consiste na passagem do fluxo de ar com o surfactante quando é injetado sob
pressão abaixo do nível da água através do sistema de AS (Injeção de Ar) e no
direcionamento deste ao ser extraído através da pressão negativa induzida
pelo processo de SVE - Extração de vapor do Solo (ABDANUR, 2005).
A associação do AS e SVE confere um aumento significativo no
potencial de remoção de hidrocarbonetos livres presentes na franja capilar ou
situados logo abaixo da zona saturada do solo, assim como a degradação da
contaminação localizada abaixo da franja capilar também pode ser afetada
positivamente, pois, devido ao acréscimo nos teores de oxigênio no solo, o
potencial de degradação por microorganismos é aumentado (ABDANUR,
2005).
Para o desenvolvimento deste trabalho, buscou-se determinar a
eficiência do uso do surfactante sem a injeção de ar e sem a extração do vapor
do solo, minimizando os custos no setor da remediação.
2 - METODOLOGIA
No dia 24 de abril de 2014, foi coletado 2 kg de solo contaminado com
combustível diesel. A amostra apresentava solo de coloração cinza escuro de
textura arenosa e um forte e característico odor de combustível diesel.
Para fins de experimento, esta amostra inicial foi homogeneizada e
separada em 5 (cinco) partes iguais, recebendo tratamentos diferentes para a
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avaliação da eficiência do uso de surfactante. Uma das sub-amostras foi
separada e armazenada em 1 (um) frasco de vidro com a numeração 00263-
SOLO B não recebendo tratamento diferenciado, sendo considerada nula ou
controle.
As demais 4 (quatro) sub-amostras foram colocadas em canos de PVC
de 75 mm de diâmetro e 70 cm de comprimento, que continham 1 CAP de PVC
com 75 mm para tamponamento em cada extremidade. O tubo de PVC foi
mantido em posição vertical, sendo que o CAP inferior era vazado para que o
líquido utilizado nos diferentes tratamentos pudesse escoar para fora.
Os tratamentos utilizados nas 4 (quatro) sub-amostras foram definidos
por conveniência e com base nos conhecimentos empíricos do pesquisador.
Como veículo de arraste utilizou-se uma mistura de água da torneira e
diferentes concentrações de surfactante, no Quadro 1, apresenta-se as
concentrações utilizadas.
Quadro 1 – Identificação da numeração utilizadas nas sub-amostras e
quantidade em mL de água e surfactante utilizada como veículo de arraste.
Numeração Sub-
Amostra Água Surfactante
Veículo de
Arraste
00988 4950 50 1/100
06486 4966,67 33,33 1/150
06536 4975 25 1/200
14262 5000 0 0
Fonte: Do autor
Para a minimização das variáveis de degradação do surfactante e outras
não detectadas, todos os veículos de arraste foram preparados em 4 (quatro)
diferentes galões de 5 (cinco) L antes do inicio do experimento.
A adição do veículo de arraste foi realizado por 3 (três) dias
consecutivos, sempre da seguinte maneira: verificação das amostras e dos
líquidos, medição do volume a ser adicionado em um béquer graduado de
plástico de 1 L, abertura do CAP superior dos tubos de PVC, adição na forma
16
vertical do líquido em sentido horário e helicoidal e para finalizar, o tapamento
do CAP (Quadro 2). Ressalta-se que a quantidade de veiculo de arraste
adicionado variou durante os 3 (três) dias do experimento.
17
Quadro 2 - A leitura da quantidade em mL, veículo de arraste, horário e data
da adição destes líquidos pode ser feita a partir da seguinte tabela:
Numeração Data Horário Veículo de
Arraste Quantidade
00988 25/04/14 19:00 1/100 600 mL
06486 25/04/14 19:00 1/150 600 mL
06536 25/04/14 19:00 1/200 600 mL
14262 25/04/14 19:00 0 600 mL
00988 26/04/14 08:00 1/100 600 mL
06486 26/04/14 08:00 1/150 600 mL
06536 26/04/14 08:00 1/200 600 mL
14262 26/04/14 08:00 0 600 mL
00988 26/04/14 19:00 1/100 600 mL
06486 26/04/14 19:00 1/150 600 mL
06536 26/04/14 19:00 1/200 600 mL
14262 26/04/14 19:00 0 600 mL
00988 27/04/14 07:30 1/100 600 mL
06486 27/04/14 07:30 1/150 600 mL
06536 27/04/14 07:30 1/200 600 mL
14262 27/04/14 07:30 0 600 mL
00988 27/04/14 12:30 1/100 600 mL
06486 27/04/14 12:30 1/150 600 mL
06536 27/04/14 12:30 1/200 600 mL
14262 27/04/14 12:30 0 600 mL
00988 27/04/14 16:30 1/100 600 mL
06486 27/04/14 16:30 1/150 600 mL
06536 27/04/14 16:30 1/200 600 mL
14262 27/04/14 16:30 0 600 mL
00988 27/04/14 19:30 1/100 300 mL
06486 27/04/14 19:30 1/150 300 mL
06536 27/04/14 19:30 1/200 300 mL
14262 27/04/14 19:30 0 300 mL
00988 27/04/14 22:00 1/100 300 mL
06486 27/04/14 22:00 1/150 300 mL
06536 27/04/14 22:00 1/200 300 mL
14262 27/04/14 22:00 0 300 mL
Fonte: Do Autor
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Após estes 3 (três) dias de aplicação dos líquidos, no dia 28/04/14 as
07:00, cada sub-amostra foi transferida para um frasco de vidro semelhante a
amostra nula nº 00263 e encaminhada ao laboratório ALS – Grupo Corplab
Brasil na data de 29/04/14 para análise de TPH total e TPH resolvido.
3 – RESULTADOS E DISCUSSÂO
m dos parâmetros frequentemente usados para a avaliação de uma
contaminação proveniente de um vazamento de petr leo é o “Total Petroleum
Hydrocarbon” (hidrocarbonetos totais de petr leo), denominado TP , ue
fornece informaç es sobre a concentração dos hidrocarbonetos totais
presentes em determinada amostra (NASCIMENTO, 2008). De acordo com
rgão de proteção ambiental do Estado de São Paulo - CETES (pioneiro no
gerenciamento de áreas contaminadas no rasil), os valores de intervenção em
áreas contaminadas para TP em solo é de mg g e em água
subterrânea é de 6 μg L (IAP, 2 ).
Os resultados de TPH total e TPH resolvido das 5 (cinco) sub-amostras
usadas no experimento, são apresentados de forma sucinta no Quadro 3,
conforme relatório de análises do laboratório solicitado.
Quadro 3 – Numeração das sub-amostras, tipo de veículo de arraste e
resultados de TPH total (de cadeias aromáticas) e TPH resolvido (de cadeias
alifáticas):
Numeração Veículo de
Arraste
TPH Total
(mg/kg)
TPH Resolvido
(mg/kg)
00263 Nula 86675 15504
00988 1/100 4029 852
06486 1/150 8505 1669
06536 1/200 6851 1224
14262 0 7133 1465
Fonte: Do Autor
19
Diante dos resultados das 5 (cinco) sub-amostras de solo analisadas,
considerando o parâmetro TP , todas elas ultrapassam o valor limite de
mg g e por isso deve sofrer intervenção.
Os resultados apontam uma redução de 91,77% do valor de TPH total
no solo com apenas a aplicação de água da torneira e 95,35%, 90,19% e
92,20% nos respectivos veículos de arraste: (1/100, 1/150, 1/200), porém pela
proximidade dos resultados não é possível uma comparação de eficiência,
necessitando mais estudos e resultados.
4 – CONCLUSÂO
Houve um % maior de redução da contaminação na análise de TPH
Total do que TPH Resolvido, pois as estruturas aromáticas apresentam uma
maior mobilidade e solubilização em fases livres em relação a estruturas
alifáticas.
Considerando a eficiência da remoção de TPH apenas com o uso da
água de torneira, sugere-se que sejam realizados novos estudos com a
avaliação do solo e da água escoada do experimento. Uma vez que a água
possa estar carreando a contaminação para outros níveis do solo, gerando
assim um passivo ambiental. Passivos ambientais são definidos como danos
infligidos ao meio natural por uma determinada atividade ou pelo conjunto de
ações humanas, que podem ou não ser avaliados economicamente.
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5 – REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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