apostila prevenção apostila prevenção e primeiros socorros 2015
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Primeiros socorrosTRANSCRIPT
LATE-UFRJ|2015
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7ª Edição Atualização 2014
Primeiros Socorros
8ª Edição Atualização 2015
Prevenção e
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“Se alguém procura a saúde, pergunta-lhe primeiro se está
disposto a evitar no futuro as causas da doença (...)”
Sócrates, Filósofo grego
“O destino do traumatizado está nas mãos daquele que faz o
primeiro curativo.”
Nicholas Senn, Cirurgião Norte-americano
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AGRADECIMENTOS
A todos os colegas já formados que iniciaram esse projeto, essa família, e que ainda
lutam pela mudança da triste realidade do trauma e emergência no país, agora não mais
somente como meros espectadores.
A todos os orientadores, que nos guiam e auxiliam nessa incessante busca pelo
conhecimento.
Aos acadêmicos da UFRJ que apoiam o nosso trabalho, incentivando-nos a aprimorar
nossas atividades, sempre em busca da excelência.
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APRESENTAÇÃO DA LIGA DE TRAUMA E EMERGÊNCIA
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
O trauma, considerado hoje uma doença, é a principal causa de óbito em indivíduos de
20 a 40 anos e representa um enorme e crescente desafio ao País em termos sociais e
econômicos. Entende-se por trauma todo tipo de lesão ao organismo, causada por
energias externas. Os acidentes e os eventos de violência no Brasil configuram um problema
de saúde pública, de abordagem interdisciplinar, de grande magnitude e transcendência, que
tem provocado forte impacto na morbimortalidade da população.
Por todo o Brasil, há mais de 10 anos, vêm sendo criadas organizações em
Universidades com o intuito de discutir, treinar e educar estudantes e sociedade a respeito da
real situação do trauma no Brasil, bem como o desenvolvimento de estratégias de prevenção,
combate ao acontecimento de tais eventos.
No início de 2006, por iniciativa do acadêmico do curso de Medicina Rodrigo Rego
Barros, formou-se um pequeno grupo de alunos interessados em discutir e se aprofundar nos
temas de Trauma e Emergência, tendo como fatores motivadores o grande interesse pelas
áreas e a experiência prévia em resgate e suporte básico e avançado de atendimento ao
trauma, obtida ao longo da graduação por alguns dos membros do grupo.
Nascia, assim, o embrião da LATE-UFRJ, uma ideia amadurecida ao longo de
inúmeras reuniões que se seguiram. Em 13 de março de 2007, com a estruturação dos
estudos desenvolvidos pelos membros do grupo, com o apoio recebido de professores-
orientadores da UFRJ e com a ampliação do campo de relacionamento com outras Ligas
Acadêmicas de Trauma e Emergência em nível nacional (VII Congresso Brasileiro de
Atendimento Integrado ao Trauma e o CoBraLT- Comitê Brasileiro das Ligas de Trauma), os
elementos necessários para a criação de uma nova entidade estavam reunidos e, assim, foi
realizada a Cerimônia de Inauguração da LIGA ACADÊMICA DE TRAUMA E EMERGÊNCIA
DA UFRJ.
Seus principais objetivos são:
I. Proporcionar aos seus membros, orientadores e à comunidade acadêmica da área da saúde
um novo espaço para a discussão e aprofundamento de temas, casos clínicos, novas técnicas
e condutas relacionados ao tema Trauma e Emergência;
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II. Promover e incentivar a produção científica por intermédio de Projetos de Pesquisa,
Jornadas, Seminários, Congressos e outros eventos relacionados e de caráter local, bem como
a participação de seus membros em eventos realizados em outras localidades;
III. Promover a integração entre o sistema de ensino Universitário e a sociedade;
IV. Promover parcerias com entidades que atuam na prevenção e combate aos eventos de
Trauma e Emergência para capacitar, treinar, simular e organizar eventos, que resultem em
uma melhor formação dos acadêmicos, bem como promover o apoio necessário à continuidade
desses trabalhos;
V. Promover integração entre as diversas áreas e cursos ligados direta ou indiretamente ao
Trauma e Emergência, por meio de uma abordagem interdisciplinar e multidisciplinar;
VI. Promover projetos de responsabilidade social frente ao impacto que a temática gera;
VII. Promover cursos de Qualificação Profissional no âmbito acadêmico; e
VIII. Promover e aumentar a visibilidade da Instituição Universitária Pública Federal (UFRJ)
como formadora de profissionais-cidadãos capacitados e preocupados com a sociedade em
que vivem.
Ao longo dos seus oito anos de existência, a LATE-UFRJ realizou e realizará ainda
inúmeras atividades de extensão sempre contando com o apoio de diversas entidades
parceiras de nossa luta.
Agradecemos pelo apoio e confiança em nós depositados durante todos esses anos,
desde a nossa criação. Temos agora uma grande responsabilidade por toda expectativa e
potencial que desenvolvemos, pelas atividades que pretendemos e iremos realizar.
Gostaríamos que você viesse fazer parte dessa iniciativa e família, a fim de perpetuar nossa
eterna busca pela excelência.
Cordialmente,
Coordenação LATE-UFRJ
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CARTA AO LEITOR Caro leitor,
Esse material, assim como tudo em nossa Liga, é resultado de um esforço conjunto de
inúmeros membros e diretores que passaram pela LATE e deixaram suas contribuições, assim
após passar por revisões, para que possamos oferecer-lhe o que há de mais recente na
literatura mundial sobre esse vasto tema que é a Prevenção e os Primeiros Socorros, no
âmbito do Trauma e da Emergência, chegamos a nossa 8° edição.
Bem vindo a “menina dos olhos da LATE”! Essa expressão carinhosa, que eu ouvia do
presidente do ano em que ingressei na Prevenção, me fez despertar para o quanto era
importante essa área, que muitas pessoas, infelizmente, não conseguem reconhecer a
validade de estudar e se dedicar a temática da prevenção e primeiros socorros. Entretanto,
existe outra parcela que, como você, compreende a magnitude e o valor destes
conhecimentos. Percebendo que a grande maioria dos traumas poderia ter sido evitada se
houvessem sido empregadas medidas de prevenção e que esses conhecimentos devem ser
levados à população para que reais mudanças ocorram.
Como muitos de vocês, em 2012, me encantei pela LATE, suas grandes atividades e a
família que eles tanto falavam, queria fazer parte disso e contribuir também e posso dizer que
sem dúvida foi a melhor coisa que fiz na faculdade. Ao longo desses anos, aprendi a
verdadeiramente amar a LATE, pode parecer loucura, mas foi isso que aconteceu, o
aprendizado, oportunidades e amizades que a Liga me proporcionou nunca conseguiria fora
dela.
Este ano tenho um objetivo como presidente, fazer os futuros ligantes sentirem a
mesma coisa, sentirem que juntos podemos aprender e ensinar mais, que podemos realmente
salvar vidas, mesmo que indiretamente, e que podemos nos tornar profissionais melhores,
independente de onde estivermos.
Porém, tudo isso irá depender de cada um de vocês, posso afirmar que os
conhecimentos que você irá adquirir, serão proporcionais a dedicação que está disposto a
oferecer para a Liga, não somos uma matéria da faculdade onde o seu nível de aprendizado é
avaliado por uma nota, aqui o único que pode dizer o que você aprendeu é você mesmo.
Gostaria de poder ter na liga todos aqueles que desejassem, mas atualmente nossa
estrutura física, material e pessoal não permite isso, nos levando a limitar o número de vagas.
Pois nossa grande preocupação é gerar um ambiente de grupo harmonioso, capaz de estudar,
discutir, treinar, se aperfeiçoar, ensinar e gerar conhecimento com qualidade.
Espero que a leitura dessa apostila seja o seu primeiro passo na Família LATE e que
na próxima edição desta apostila tenha a sua contribuição também.
Atenciosamente,
Lucas Pena de Araújo Góes
Presidente da LATE-UFRJ
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PREFÁCIO
Preparamos esse novo material de forma mais objetiva, com o intuito de tornar a sua
leitura mais dinâmica e aprazível. Vale destacar que nossa apostila não pretende encerrar
todos os assuntos selecionados, mas sim introduzir o leitor aos pontos essenciais na
abordagem de aspectos do trauma e da emergência na forma de um guia prático.
Nesse sentido, pretendemos despertar o seu interesse na busca de um conhecimento
mais profundo ao longo deste ano, principalmente junto a nós.
Essa é somente uma das diversas modificações que estabelecemos em nossas
atividades cotidianas a fim de reinventar a Liga como um todo, para estimular os nossos futuros
membros a participarem cada vez mais de nossos eventos, discussões e pesquisas, tornando-
os, portanto, mais ativos e próximos da coordenação LATE-UFRJ.
Esperamos que aprecie o material.
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IDEALIZADOR
Dr. Rodrigo Rego Barros (Pará)
MEMBROS FUNDADORES
Adriana Ouverney Braz
Ana Carolina de Alvarenga Menezes Gil
Ana Caroline Arouche Gomes de Souza
Bruno Duarte Silva
Cláudio Alberto Mule Monteiro
Diego Martins Ferreira
Helder Vilela de Oliveira e Silva
João Marcos Fonseca e Fonseca
José Manoel Couto Junior
Paulo Henrique Pereira Conte
Samara Pimentel de Souza
ORIENTADORES
Dr. Marcos Alpoim Freire
Orientador Geral
Enfª Adriana Ouverney Braz & Enfª. Juliana Faria Campos
Orientadora da Área de Prevenção e Primeiros Socorros
Dr. Rodrigo Rego Barros & Enfª. Graciele Oroski Paes
Orientador da Área de Atendimento Pré-Hospitalar
Dr. Eduardo Kanaan & Bruno Vaz de Melo
Orientadores da Área de Atendimento Intra-Hospitalar
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COORDENAÇÃO 2015
Presidência
Lucas Pena de Araújo Góes
Vice-presidência
Bruno Knaak de Abreu
Coordenação de
Planejamento
Erika dos Santos Lisbôa
Coordenação Científica
Luana de Castilho Kropf Penante
Coordenação de Extensão
Fernanda Turque Martins
Coordenação de Infraestrutura, Logística e
Finanças
Amália Elizabete Coelho Pinguello
Rafael Serafim Pinto
Coordenação de Atividades Teóricas da Área de Prevenção e Primeiros Socorros
Humberto de Castro M.
Araújo
Coordenação de
Treinamentos Práticos da Área de Prevenção e Primeiros Socorros
João Paulo Bortot Soares
Coordenação de
Atividades Teóricas da Área de
Atendimento Pré-Hospitalar
Thais Pinheiro de Carvalho
Coordenação de Treinamentos Práticos da
Área de Atendimento Pré-
hospitalar
Marcelo de Castro Lopes
Renata Mello Rezende
Coordenação de
Atividades Teóricas da Área de
Atendimento Intra-Hospitalar
Luis Eduardo Neves
Bevictori
Lucas Ming Chian Sun
Coordenação de Treinamentos Práticos da
Área de Atendimento Intra-hospitalar
Eduardo Sabino de Camargo
Magalhães
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MEMBROS 2014 (TURMA 8)
PREVENÇÃO E PRIMEIROS
SOCORROS
ATENDIMENTO PRÉ-
HOSPUITALAR
ATENDIMENTO INTRA-
HOSPITALAR
Bianca M. de Souza Gomes Amália Elizabete Coelho Pinguello Anna Carolina Lucchetti
Carolina Fernandes Junger Andréia Amanajás Loreiro Daphne Lourenço
Cynthia Rezende Medeiros Bruna Estevam Lima Eduardo Sabino
Felipe Mattos Gonzalez Bruno Knaak de Abreu Erika Lisbôa
Felipe Zanetti Comércio Camila Brizola de Oliveira Gabriel Keller
Fernanda Fernandes Junto Caroline Silva Jéssica de Bem
Fernanda Turque Martins Flávia Fenólio Keren Cozer
Gabriel Sá Reis e Silva Pinto João Paulo Bortot Soares Leonardo Bacelar
Greice Kelly Viel Larissa da Silva Conceição Luana Castilho
Huila Luiza Santos da Fonseca Leonardo Mendes da Silva Lucas Ming Chian Sun
Humberto de Castro M. Araújo Letícia Croce Stephani Lucas Góes
Ismael Ferreira dos Santos Lucca Jaeger Martins Lucca Xavier Gibelli
Italo Matheus D. de Andrade Marcelo de Castro Lopes Luis Eduardo Neves Bevictori
Julia Machado Angert Mateus Nunes Ferreirinha Marcos de Paula Valle Campos
Layza Costa Ribeiro Monique de Souza Machado Pedro Miguel Moraes Saad
Lorenzo Engel Fornasari Pedro Asthum Marcelino
Luiz Otávio Faraco Oliveto Pedro Henrique de Andrade
Marcelle Sinclair H. de Menezes Poliana Ferreira Stroligo Dias
Mario Manoel B. Brandão Rafael Serafim Pinto
Mateus Lins de Moraes Thais Pinheiro
Paula Bline Lazzari Thamires Mendes Peres
Pedro Lourenço R. G. Díaz
Pedro Teixeira da Silva
Rafael Luiz Mikaloski Penedo
Sabrina Fausto de Lima
Yárina Rangel Viera
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SUMÁRIO
(O número da página possui um link que leva ao seu respectivo capítulo)
1. Suporte Básico de Vida, 13
2. Doenças Súbitas, 24
3. Perda de Consciência, 37
4. Corpos Estranhos, 45
5. Afogamento, 49
6. Hemorragias e Feridas, 59
7. Lesões Musculoesqueléticas, 71
8. Queimaduras, 82
9. Trauma Elétrico, 92
10. Desidratação e Emergências Relacionadas ao Frio, 98
11. Prevenção de Acidentes Domésticos, 111
12. Intoxicações, 120
13. Reações Alérgicas, 128
14. Acidentes com Animais, 133
15. Trauma no Trânsito, 145
16. Avaliação de Múltiplas Vítimas, 160
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INTRODUÇÃO
Estima-se que, em 2010, aproximadamente
785 mil americanos sofreram uma parada cardíaca, e
que mais da metade destes sofrerão outra em
recorrência a primeira. A realidade em outros países,
entre eles o Brasil, não é muito diferente, a parada
cardíaca aparece entre as principais causas de morte.
A principal causa da parada abrupta da
função do coração é Síndrome Coronariana Aguda
(SCA), ou mais especificamente o Infarto Agudo do
Miocárdio (IAM). No entanto, também são causas
comuns: a parada respiratória, o choque elétrico, o
afogamento, o estrangulamento e o trauma.
Deve-se atentar a fatores de risco para ajudar
no diagnóstico imediato da síndrome. Os fatores de
risco mais importantes para SCA são: sexo
masculino, idade avançada, obesidade, tabagismo,
etilismo, diabetes, hipertensão arterial sistêmica,
dislipidemia (presença de xantelasmas) e estresse. O
reconhecimento desses pode ajudar no diagnóstico
imediato da síndrome, o que é essencial; uma vez
que, a morte por parada cardíaca pode ocorrer
minutos após o início dos sintomas.
Entre os sinais e sintomas clássicos de SCA,
que geralmente duram mais de 15 minutos, estão:
Dor em aperto no peito;
Desconforto na nuca, pescoço e braços;
Respiração ofegante (dispneia);
Sudorese intensa (diaforese);
Pulso fraco e rápido;
Náuseas e vertigem que duram em geral mais
que 15 minutos.
A precocidade do reconhecimento, diagnóstico e
tratamento de um infarto agudo do miocárdio é de
suma importância para limitar os danos ao coração;
sendo mais eficazes se realizados até algumas horas
após o início dos sintomas.
Apesar da grande ameaça à vida em casos
de parada cardíaca, 70 % dos cidadãos americanos
se sentem incapazes de oferecer ajuda nessa
situação. O desconhecimento da conduta correta pela
população se torna ainda mais preocupante pelo fato
de que 88% dos episódios ocorrem fora de hospitais,
se dando principalmente em casa.
Internacionalmente, as taxas de realização de BLS
variam de 1% a 44%, mostrando o custo da
deficiência de conhecimento.
Desta forma, é preciso que haja
conhecimento e treinamento das técnicas de
atendimento básico - conjuntamente chamadas de
Suporte Básico de Vida, do inglês, Basic Life Support
(BLS) - visando à redução da morbimortalidade
resultante de parada cardíaca.
SUPORTE BÁSICO DE VIDA
O Suporte Básico de Vida (SBV) consiste na
realização de ações sequenciais essenciais no
atendimento inicial da vítima que visam à manutenção
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da vida através de procedimentos acessíveis tanto ao
profissional de saúde quanto ao cidadão, até que a
vítima receba assistência especializada e suporte
avançado. Esse atendimento deve ser de urgência,
ou seja, o mais rápido possível para evitar agravos
e/ou de emergência quando se visa manter e/ou
recuperar os sinais vitais da vítima sob risco de
morte.
Dessa forma, o atendimento básico pode, e
deve ser efetuado por qualquer pessoa, desde que
possua orientação e treinamento adequados, de
modo que, seja possível ajudar e, sobretudo, não
piorar o estado da vítima.
SEQUÊNCIA SBV PARA ADULTOS
PRIMEIRO PASSO: Segurança da cena e
responsividade da vítima
Primeiramente, todo socorrista deve prezar
pela própria segurança, antes de decidir tomar
qualquer atitude em relação a uma vítima em
potencial parada cardiorrespiratória (PCR). Assim,
torna-se essencial a avaliação das condições de
segurança do local para entrar em ação, evitando que
ele próprio se torne mais uma vítima. Em caso de
condições adversas, o socorrista deve aguardar ou
tomar providências para poder acessar a vítima e, se
possível, retirá-la do ambiente de perigo.
Para verificar a responsividade da vítima, o
socorrista deve posicionar suas mãos sobre os
ombros da vítima e chamando-a alto, manobra
conhecida como shake and shout. Ao executar essa
manobra, uma vítima consciente pode levantar
subitamente e, assustada, acabar ferindo o socorrista.
Por esse motivo, o socorrista deve ajoelhar-se
mantendo uma das pernas em flexão de quadril com
pé no chão, permitindo que esse se levante
rapidamente caso seja necessário.
Deve-se considerar em parada cardíaca uma
vítima inconsciente que não esteja respirando, ou que
não o faça eficientemente, ou seja, respira com muita
dificuldade ou respira ofegantemente, com
irregularidade e ruído (comum nos primeiros minutos
da parada, perceptível em até 40% das vítimas).
SEGUNDO PASSO: Chamar o serviço médico de
emergência
Uma vez percebida a situação de
emergência, ou seja, quando a vítima está
inconsciente e sem respiração ou apresentando
respiração anormal, o socorrista deve acionar, ou
pedir que outro acione o serviço médico de
emergência, ligando para o número 193 (Corpo de
Bombeiros), caso esteja em ambiente externo, como
praias, ruas ou estacionamentos, ou para 192
(SAMU), quando a emergência ocorre em ambientes
fechados como residências ou locais de trabalho.
Ao acionar esses serviços, o socorrista, ainda que leigo, deve informar corretamente: o endereço do local onde se encontra, com referências adequadas; o tipo de emergência (desmaio, queda, etc.); o número de vítimas e suas condições; condições do ambiente ao redor; e o nome e telefone para contato.
Não se deve desligar o telefone até a confirmação e permissão do atendente.
Quadro 1.1 INFORMAÇOES
Fig. 1.1 Socorrista abordando a vítima pela frente, na posição correta para a sua própria segurança.
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Fig. 1.3 Posicionamento e execução corretos das
compressões torácicas.
TERCEIRO PASSO: A sequência da vida
REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR
Segundo os parâmetros para o suporte
básico de vida, estabelecidos pela American Heart
Association em 2010, deve-se preconizar a circulação
adequada de sangue para os órgãos vitais.
Estudos recentes mostraram que um melhor
resultado para os paciente é obtido se as
compressões torácicas forem iniciadas o mais cedo
possível e com o mínimo de interrupções. Isso
porque, durante os primeiros minutos de uma súbita
parada cardíaca por fibrilação ventricular (mecanismo
elétrico mais comum da parada cardíaca, 65-80%), a
pressão de oxigênio no sangue não circulante
permanece a mesma até que a RCP seja iniciada e
continua se mantendo adequada durante os primeiros
minutos de RCP. As compressões torácicas podem,
então, ser iniciadas imediatamente em caso de
emergência, enquanto posicionar a cabeça, preparar
e iniciar corretamente as ventilações de resgate
levam tempo e atrasam as compressões, reduzindo a
sobrevida do miocárdio.
Além disso, estudos mostraram que a maioria
dos leigos, e, espantosamente, alguns profissionais
de saúde não eram capazes de identificar
corretamente uma parada cardíaca e por isso não
iniciavam a RCP, ou faziam-no tardiamente, perdendo
um tempo precioso para a vítima.
Desse modo, uma vez que a vítima esteja
inconsciente, o socorrista deve iniciar as manobras de
reanimação cardiopulmonar. Caso a vítima não
respire, ou apresente respiração agônica, o socorrista
também deve assumir que há parada cardíaca.
Portanto, os mais recentes Guidelines da
American Heart Association para a RCP recomendam
a sequência CAB (Compressões, Abertura de vias
aéreas, Boa ventilação).
1. COMPRESSÕES TORÁCICAS
Essa manobra consiste em imprimir força e
pressão de maneira rítmica sobre a metade inferior do
esterno, criando um fluxo sanguíneo devido ao
aumento da pressão intratorácica e a compressão
direta do coração, permitindo assim o aporte de
oxigênio para o cérebro e para o miocárdio.
Para a realização eficaz das compressões, é
necessário que a vítima encontre-se deitada em uma
superfície rígida e o socorrista deve posicionar-se ao
lado da vítima, ajoelhando-se caso a vítima esteja
deitada no chão ou de pé ao seu lado, se ela estiver
em uma maca. Os braços do socorrista devem estar
estendidos à frente do tronco, ficando
perpendiculares a ele; deve posicionar suas mãos
uma sobre a outra, tendo por cima a mão dominante.
Fig. 1.2 “Elos” de sobrevivência para adultos.
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Figs. 1.4 e 1.5 Abertura de vias aéreas pela
manobra head tilt – chin lift.
Nessa posição, deve-se posicionar a parte
inferior loja tenar e hipotenar (metade inferior da
palma da mão) sobre a metade inferior do osso
esterno, ou entre os mamilos da vítima. A aplicação
correta e eficaz da manobra implica deprimir o
esterno no mínimo 5 centímetros e permitir que ele
volte totalmente, sem fletir os cotovelos. A força deve
ser gerada na coluna lombar e somente transmitida
aos braços. O ritmo de compressões deve ser de, no
mínimo, 100 por minuto, seguindo-se um ciclo de 30
compressões seguidas de duas ventilações.
2. ABERTURA DE VIAS AÉREAS
Um socorrista treinado que se sentir capaz de
realizar tanto compressões quanto ventilações, deve
promover a abertura das vias aéreas usando a
chamada head tilt - chin lift, que consiste em apoiar a
palma de uma das mãos sobre a testa da vítima,
fazendo pressão para trás, enquanto os dedos da
outra se apoiam no queixo, elevando a mandíbula.
Um profissional de saúde treinado deve aplicar essa
manobra em vítimas em que não há evidência de
traumatismo cranioencefálico ou cervical.
3. BOA VENTILAÇÃO
Uma vez iniciadas as compressões, deve-se
realizar a manobra de ventilação. O socorrista deve
inclinar-se sobre a vítima, abrindo suas vias aéreas,
segurando a testa e puxando-a para trás com uma
das mãos e comprimindo as narinas com a mesma,
enquanto a outra segura o queixo elevado, mantendo
a boca aberta. Depois, deve inspirar normalmente e
colocar os lábios ao redor da boca da vítima,
vedando-a totalmente.
O modo correto de efetuar as ventilações
requer uma expiração lenta, com duração de 1
segundo, assegurando-se que o tórax da vítima
expanda-se a cada respiração (observação visual). O
tempo de expiração não deve ser maior que 2
segundos, para evitar que o aumento da pressão
intratorácica reduza o retorno venoso para o coração
e diminua o débito cardíaco. Além disso, um grande
volume de ar pode resultar em expansão gástrica,
ocasionando refluxo e possível broncoaspiração do
conteúdo gástrico.
Também podem ser utilizados mecanismos
de barreira para a realização da ventilação, evitando
assim um contato direto com a boca da vítima. Eles
estão disponíveis em dois tipos: “face shield” e “face
mask/pocket mask”. Infelizmente, no Brasil, esses
equipamentos são caros.
O ciclo realizado é o de 30 compressões para
2 ventilações e deve ser mantido até que:
O desfibrilador externo automático esteja
disponível;
A vítima mostre reação, sinais de vida;
A equipe de emergência assuma o controle da
situação;
O socorrista esteja muito cansado para continuar.
Fig. 1.6 e 1.7 Face shield e pocket mask
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DESFIBRILAÇÃO
O ritmo cardíaco que ocorre inicialmente em
parada cardíaca com maior frequência é a fibrilação
ventricular. Neste ritmo, os ventrículos contraem-se
desordenadamente, não resultando em pulsação.
Sendo assim, a desfibrilação rápida é de suma
importância, pois o choque permite que os
marcapassos naturais do coração voltem a disparar
ordenadamente.
No entanto, o choque não é capaz de
recomeçar o coração, logo, se o coração parar
(assistolia), a desfibrilação não será viável. Além
disso, após o choque, o coração pode tomar um ritmo
ordenado, porém lento (bradicardia), que não é
eficiente para bombear o sangue. Neste caso o RCP
deve ser retomado.
Atualmente existem desfibriladores
automáticos externos (DEA), que são de fácil
utilização, já que o próprio aparelho instrui o
socorrista como utilizá-lo, e percebe o ritmo da vítima,
informando se o choque é ou não recomendado.
SBV EM CASO DE TRAUMA
Quando há trauma de múltiplos sistemas ou
trauma de cabeça e pescoço, a coluna cervical deve
ser estabilizada. A manobra jaw thrust, deve ser
utilizada ao invés da head tilt-chin lift para manter as
vias aéreas pérvias. Esse procedimento consiste na
tração anterior da mandíbula, e é executado
posicionando-se os polegares sobre os processos
zigomáticos e os dedos sob os ângulos da mandíbula,
deslocando-a para frente. Em um paciente com
respiração inadequada e o rosto ensanguentado, a
ventilação deve ser feita com o uso de dispositivos
como a pocket mask ou face shield, enquanto a
estabilização da coluna cervical é mantida. Nesse
caso, procure estancar diretamente hemorragias
visíveis usando compressas apropriadas. Caso o
paciente esteja completamente irresponsivo, inicie o
RCP e a desfibrilação como indicado.
Quadros 1.2 PASSOS COMUNS PARA
UTILIZAÇÃO DO D.E.A.
1) Ligar o D.E.A.
2) Aplicar os eletrodos (pás) auto-adesivos nos locais
indicados
3) Afastar -se da vítima e aguardar a análise do ritmo
pelo aparelho
4) Caso o choque seja recomendado- ritmo chocável-,
afastar-se da vítima e garantir que todos também o
façam
5) Pressionar o botão “choque”
6) Reiniciar o RCP por 5 ciclos, deixando a máquina
analisando o ritmo da vítima. Caso um novo choque
seja recomendado, realizar os passos 4 e 5
Todas as manobras devem ser realizadas com o intuito
de reduzir ao máximo as interrupções nas
compressões
Fig. 1.8 Imobilização da coluna cervical
Fig. 1.9 Manobra jaw thrust.
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Protocolo de BLS de adultos
Não responsivo
Sem respiração
ou em respiração
agônica
Acionar o serviço de
salvamento de emergência
Providenciar um DEA
(ou mandar um segundo
socorrista fazê-lo)
Checar pulso:
encontrado em até
10 segundos?
Iniciar ciclo de 30 COMPRESSÕES e
2 VENTILAÇÕES
•Fazer uma ventilação
a cada 5 ou 6
segundos
•Rechecar o pulso a
cada 2 minutos
Checar ritmo
Ritmo chocável?
Aplicar 1 choque
Reiniciar RCP
imediatamente
(por 2 minutos)
Reiniciar RCP imediatamente
(por 2 minutos)
Checar o ritmo a cada 2
minutos; continuando até que
a equipe de emergência
assuma
Pulso
ausente
Pulso
presente
Ritmo chocávelRitmo não
chocável
© 2010 American Heart Association
RCP de alta qualidade
•Ritmo de 100/min
•Compressões com aprox.
5cm de profundidade
•Permitir que o tórax se
expanda após cada
compressão
•Minimizar as interrupções
entre as compressões
•Evitar ventilação
excessiva
OBS:Os boxes de linha tracejada
são recomendados para
profissionais de saúde e não para
socorristas leigos.
1
Chegada do DEA/
desfibrilador
2
33a
4
67
5
Fig. 1.10 Algoritmo de SBV para adultos.
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SEQUÊNCIA SBV PEDIÁTRICO
Em bebês e crianças, a parada cardíaca por
asfixia é mais comum do que a parada cardíaca por
fibrilação ventricular, e as ventilações são de extrema
importância no SBV pediátrico. No entanto, não é
comprovada se há diferença prática entre a
sequência iniciada pelas ventilações (ABC) ou pelas
compressões torácicas (CAB).
A sequência CAB para bebês e crianças é
então recomendada no intuito de simplificar o
treinamento, com a esperança de que mais vítimas de
parada cardíaca súbita irão receber a RCP de
qualquer cidadão treinado.
O guideline discrimina uma série de ações
que funcionam como uma sequência de passos do
algoritmo SBV pediátrico. No entanto, eles devem ser
executados simultaneamente (ex. iniciar a RCP e
acionar o serviço médico de emergência), na
presença de mais de 1 socorrista. A sequência do
SBV para adultos e crianças é semelhante, porém
com algumas peculiaridades que serão mostradas
aqui. Os dois passos iniciais são os mesmos, checar
a segurança da cena e a responsividade da vítima.
Os socorristas profissionais devem checar
também o pulso periférico ou central – pulso braquial
em crianças menores de um ano e pulsos carotídeo
ou femoral em crianças maiores de um ano – da
vítima, verificando (em até 10 segundos) se este não
está presente, indicando uma parada
cardiorrespiratória. Caso o pulso esteja <60bpm
(bradicardia) e estejam presentes sinais de má
perfusão como palidez e cianose, apesar do suporte
ventilatório e de oxigênio, também é necessário iniciar
as compressões.
Se a criança estiver apenas desacordada,
coloque deitada sobre um dos lados (em posição de
recuperação), o que ajuda a manter as vias aéreas
pérvias e diminui o risco de broncoaspiração.
O socorrista deve considerar em parada
cardíaca uma vítima não responsiva e em respiração
agônica ou ausente, e então iniciar as compressões
cardíacas efetivas, ou seja, com ritmo e profundidade
apropriados. Para isso, o socorrista deve:
Realizar, no mínimo, 30 compressões em um
ritmo de 100/min;
Exercer força suficiente para deprimir, no mínimo,
esterno em 4 a 5 cm, dependendo do tamanho da
criança/bebê;
Permitir que o tórax se expanda após cada
compressão, facilitando o reenchimento do
coração;
Evitar ventilação excessiva.
Em bebês até 1 ano, as compressões são
realizadas com dois dedos de uma das mãos, ou os
dois polegares (recomendada na presença de mais
de 1 socorrista), posicionados sobre o tórax
imediatamente abaixo da linha intermamilar. Em
crianças até 10 anos, utiliza-se apenas uma das
mãos ou mesmo as duas, evitando o uso de força
excessiva.
Após as 30 compressões iniciais, deve-se
abrir as vias aéreas usando a manobra head tilt –
chin lift, realizar duas ventilações efetivas,
certificando-se de que houve enchimento do tórax em
cada uma delas. Quanto à técnica, a ventilação em
adultos e crianças é muito semelhante, exceto pelo
Fig. 1.11 Compressão em bebês até 1 ano
LATE-UFRJ|2015
20
volume de ar exalado, que deve ser menor,
respeitado o tamanho da criança. Em relação aos
bebês, o socorrista deve tentar selar a boca e as
narinas do bebê com a sua boca e então oferecendo
somente o volume de ar suficiente para encher uma
de suas bochechas. Caso não tenha sucesso, ele
pode efetuar o boca-a-boca semelhante ao SBV
adulto, comprimindo lateralmente o nariz do bebê, ou
soprar pelo nariz do bebê, fechando sua boca.
Para um socorrista sozinho, a relação
compressão-ventilação deve ser de 30:2; no caso de
dois socorristas, essa relação passa a ser de 15:2. No
primeiro caso, ele deve realizar cinco ciclos de RCP
completos antes de acionar o sistema médico de
emergência (193 ou 192) e/ou buscar um DEA, se
houver algum próximo; e então retornar para a vítima
assim que possível e reiniciar a RCP, continuando até
que os socorristas profissionais cheguem ou a vítima
comece a respirar espontaneamente. Essas ações
podem ser feitas simultaneamente caso estejam
presentes dois socorristas, ou seja, enquanto um
deles realiza a RCP, o outro aciona 193/192 e
providencia um DEA.
DESFIBRILAÇÃO EM CRIANÇAS
Quando uma criança entra em colapso súbito,
por exemplo, durante uma atividade esportiva, é
provável que ela esteja em FV e TV sem pulso
(definidos como ritmos chocáveis), e então necessite
de RCP imediata e rápida desfibrilação.
Para a desfibrilação em crianças, o aparelho a ser
utilizado deve conter pás pediátricas que se adequam
tanto no tamanho quanto na carga a ser oferecida a
vítima (2J/kg). Além disso, outro cuidado deve ser
tomado quanto a colocação dos eletrodos que
também é diferenciada: um é colocado anteriormente
no tórax, sobre o coração, enquanto o outro,
posteriormente na mesma direção. Na ausência de
desfibriladores adaptados, o novo guideline
recomenda a utilização do desfibrilador comum
(adulto).
Fig. 1.12 Compressões em crianças a partir de 1 ano.
Fig. 1.13 “Elos” de sobrevivência para crianças.
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21
Protocolo de BLS pediátrico
Não responsivo
Sem respiração ou em respiração agônica
Designar alguém p/ acionar o serviço de
salvamento de emergência, providenciar um
DEA/ desfibrilador
Checar pulso:
encontrado em até
10 segundos?
Um socorrista: Iniciar ciclos de 30 COMPRESSÕES e 2 VENTILAÇÕES
•Fazer uma ventilação a cada 3
segundos
•Incluir compressões caso o pulso
permaneça <60/min com pefusão
pobre apesar de oxigenação e
ventilação adequadas
•Rechecar o pulso a cada 2
minutos
Checar ritmo
Ritmo chocável?
Aplicar 1 choque
Reiniciar RCP
imediatamente
(por 2 minutos)
Reiniciar RCP imediatamente
(por 2 minutos)
Checar o ritmo a cada 2
minutos; continuando até que
a equipe de emergência
assuma
Pulso
ausente
Pulso
presente
Ritmo chocável
Ritmo não
chocável
RCP de alta qualidade
•Ritmo de 100/min
•Compressões com metade do
diâmetro do tórax (4cm/5cm
aprox.) de profundidade
•Permitir que o tórax se
expanda após cada compressão
•Minimizar as interrupções entre
as compressões
•Evitar ventilação excessiva
OBS:Os boxes de linha tracejada são recomendados para
profissionais de saúde e não para socorristas leigos.
1
2
33a
4
7 8
5
Socorrista sozinho:
Para COLAPSO SÚBITO, acionar
o serviço médico de emergência,
providenciar um DEA
Dois socorristas: Iniciar ciclos de 15 COMPRESSÔES E 2 VENTILAÇÔES
Após aprox. 2 minutos, acionar o serviço de emergência
e providenciar o DEA (caso não tenha sido feito).
Usar o DEA assim que disponível
6
Fig. 1.14 Algoritmo pediátrico
LATE-UFRJ|2015
22
HANDS ONLY (RCP SEM VENTILAÇÃO)
Pesquisas recentes mostram que os índices
de sobrevivência de vítimas de parada cardíaca que
receberam primeiros socorros de leigos com a RCP
completa e com a técnica sem ventilação são muito
semelhantes. Algumas pessoas e até profissionais de
saúde demonstram certa relutância em realizar
respiração “boca-a-boca” em pessoas desconhecidos;
mas, muitas vezes, o maior obstáculo ao atendimento
básico eficaz é o pânico do socorrista. O Hands Only,
por ser mais simples, pode ajudar a superar o pânico
e a hesitação para agir em momento de emergência.
No entanto, para vítimas de parada cardíaca
prolongada, tanto as ventilações quanto as
compressões são necessárias, porque o oxigênio do
sangue é consumido e o volume pulmonar desse gás
se torna insuficiente. Além disso, a manobra de RCP
sem ventilações não é recomendada para: crianças
vítimas de parada cardíaca; e vítimas de parada
cardíaca de origem não-cardíaca como trauma,
afogamento, obstrução de via aérea. Isso porque, na
maioria desses casos, as vítimas já estão com baixa
pressão de oxigênio no sangue (hipoxemia) no
momento da parada cardíaca.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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American Heart Association. 1 vídeo.
BERG et al. 2010 American Heart Association
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and Emergency Cardiovascular Care. Part 5: Adult
Basic Life Support. Circulation [online]. 2010, v. 122;
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VANDEN, H. et al. 2010 American Heart
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BERG et al. 2010 American Heart Association
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GUIMARÃES H. P.; LANE J. C. Uma Breve História
da Ressuscitação Cardiopulmonar Revista da
Sociedade Brasileira de Clínica Médica [online]. 2009,
v. 7, pp. 177-187.
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23
INTRODUÇÃO
A transição epidemiológica ocorrida neste
século, em decorrência do aumento do controle de
doenças transmissíveis, fez com que houvesse um
aumento da expectativa de vida em todos os países.
Isso fez com que as doenças não transmissíveis
passem a ter maior importância quando se pensa em
morbidade e mortalidade.
A cada ano morrem em média 17,5 milhões
pessoas pelo que é definido como “doenças não
transmissivas crônicas degenerativas”. Nesse
contexto, destacam-se as doenças cardiovasculares
(DCV), principalmente, o Infarto Agudo do Miocárdio
(IAM) e o Acidente Vascular Encefálico (AVE),
também conhecido por AVC. Essas são as doenças
de maior relevância, não só pela sua importância sob
o ponto de vista epidemiológico, mas também pelos
altos custos requeridos no seu tratamento e na
reabilitação dos pacientes acometidos, pois em geral
elas estão associadas à comorbidades e, por isso,
demandam assistência de alta complexidade.
As DCV prevalecem como a principal causa
mundial de mortalidade e incapacidade, respondendo
por mais de 300 mil óbitos anuais no Brasil e sendo
responsável por 45% das mortes na faixa etária
acima de 45 anos. No país, 40% das aposentadorias
precoces são devido à AVE ou ao IAM. Em 2013, as
DCV responderam por 37,1% de todas os óbitos,
contabilizando 1 morte a cada 26 segundos.
As DCV atualmente respondem por mais
óbitos todos os anos do que câncer, doenças
respiratórias crônicas e acidentes juntos. Em 2009, os
gastos com internações pelo SUS totalizaram R$ 1,2
milhão e, com o envelhecimento da população e
mudança dos hábitos de vida, a prevalência das DCV
tende a aumentar nos próximos anos, gerando ainda
mais custos para os cofres públicos.
As doenças cardíacas de origem isquêmica
são as principais doenças de sintomatologia súbita
que aparecem na emergência hospitalar. Assim como
as anginas e o IAM perfazem este ambiente, há
outras ocorrências que devem ser encaminhadas
rapidamente para um serviço de emergência. Neste
sentido, é importante estudarmos os seus fatores de
risco, de modo que possamos planejar
adequadamente medidas de prevenção e controle.
Portanto, trataremos neste capítulo das principais
doenças súbitas, focando na sua identificação e
medidas de primeiros socorros.
INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO (IAM) E
ANGINAS
A Doença Arterial Coronariana (DAC)
compreende a angina estável (forma crônica da
doença) e a Síndrome Coronariana Aguda (SCA), e
esta engloba a angina instável e o infarto agudo do
miocárdio (IAM). O mecanismo da DAC,
frequentemente, relaciona-se com a obstrução da
artéria coronária por uma placa de ateroma,
reduzindo o fluxo sanguíneo, que passa a ser
LATE-UFRJ|2015
24
insuficiente para uma determinada região do
miocárdio.
A maioria dos casos de SCA decorre de
redução súbita no fluxo sanguíneo coronariano
causado por aterosclerose com trombose sobreposta.
Na sua evolução natural, as placas de ateroma,
principalmente as ricas em lipídios, podem sofrer
ruptura abrupta (placas instáveis) com consequente
exposição de substâncias que promovem ativação e
agregação plaquetária, e, por último, formação de
trombo. A oclusão pelo trombo pode ser intermitente
(trombo oclui e libera o fluxo para a artéria, se
mantendo assim por algum tempo), podendo evoluir
para uma oclusão definitiva.
O trombo interrompe o fluxo sanguíneo
coronário, causando um desequilíbrio entre a oferta e
a demanda de oxigênio do músculo cardíaco. A
necrose miocárdica (morte do tecido) ocorre quando
essa interrupção é severa e prolongada.
Podem ser citadas como causas de IAM sem
aterosclerose coronária as arterites de coronária,
trauma, embolização para coronárias (p. ex.:
endocardites), anormalidades congênitas, hipotensão
prolongada, coagulação intravascular disseminada,
abuso de cocaína, etc.
As doenças cardiovasculares afetam
especialmente indivíduos adultos e idosos.
Particularmente o IAM possui relevante impacto na
mortalidade, no número de internações e na
letalidade hospitalar. Todo ano, estima-se que 785 mil
americanos sofrerão um novo infarto, e 470 mil terão
um ataque recorrente. Nos EUA, ocorre um infarto a
cada 34 segundos.
Em 2008, a DAC causou 1 a cada 6 mortes
nos EUA, e a porcentagem de mortes por isso foi de
70%. Das 1.133.761 mortes ocorridas no Brasil em
2010, 99.408 foram atribuídas às doenças isquêmicas
do coração, das quais 79.297 são decorrentes do
infarto agudo do miocárdio, o que representa 6,9% de
todas as mortes (www.datasus.gov.br). Um número
significativo de mortes ocorre fora do ambiente
hospitalar, com destaque para o domicílio do
paciente, sendo frequente o óbito antes da prestação
de socorro médico, geralmente por fibrilação
ventricular.
A admissão em uma unidade de terapia
intensiva, o tempo decorrido entre o início dos
sintomas e o primeiro atendimento contribuem para a
redução da letalidade por IAM. O tempo é essencial
na assistência ao paciente infartado antes de sua
chegada ao hospital, visto que mais de 50% dos
óbitos ocorrem na primeira hora de evolução.
Assim, o retardo no tratamento de pacientes com
suspeita de IAM é um fator crítico de redução na
sobrevida.
Diante disso, concluímos que o rápido
reconhecimento dos sintomas e o pronto atendimento
médico são de fundamental importância para um
melhor prognóstico da doença, bem como para evitar
complicações e mortes.
ANGINA ESTÁVEL
Síndrome clínica decorrente de isquemia
miocárdica transitória, caracterizada por dor pré-
cordial em aperto, que melhora em menos de 10
Fig. 2.1 Artéria coronária ocluída, levando à isquemia,
gerando angina instável e/ou infarto do miocárdio.
LATE-UFRJ|2015
25
minutos com repouso ou com uso de nitrato (isordil)
sublingual. Pode ser desencadeada normalmente por
esforço físico, ou também pelo estresse. Indica má
perfusão do miocárdio, geralmente por doença
aterosclerótica, mas que em repouso é assintomática,
e só agudiza frente ao aumento da demanda de O2
pelo miocárdio (exercício físico). Não denota urgência
no atendimento.
ANGINA INSTÁVEL
Refere-se a um padrão de dor pré-cordial em
aperto, irradiada para braço esquerdo e/ou
mandíbula, de duração variável (geralmente é
prolongada, podendo exceder 10 minutos), que
ocorre com uma frequência crescente. Pode ser
precipitada por esforços progressivamente menores,
podendo ocorrer durante o repouso (diagnóstico
diferencial em relação à angina estável), e melhora
com isordil sublingual. A angina instável representa
um estado mais grave que a angina estável,
necessitando, assim, de maior atenção do socorrista.
Importante notar que nem toda dor
torácica significa infarto, mas que a angina é um
alerta que predispõe a este quadro.
INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO
Consiste na morte do miocárdio, resultante de
isquemia grave prolongada. Caracteriza-se por dor
pré-cordial em aperto (sinal de Levine), porém não
melhora com repouso nem isordil sublingual. Tem
duração maior, e com frequência há sintomas como
náusea e vômitos, podendo haver desmaio, sensação
de morte, diaforese (transpiração excessiva) e palidez
cutânea. Em casos raros, pode apresentar
desconforto epigástrico (sintomatologia atípica). É um
quadro grave, devendo-se acionar o serviço de
emergência imediatamente.
FATORES DE RISCO
São fatores de risco: sexo masculino, idade
avançada (>55 anos em homens e >60 anos em
mulheres), obesidade, tabagismo, etilismo, estresse,
diabetes, hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia e
estresse.
PRIMEIROS SOCORROS
Acionar imediatamente o serviço de
emergência, acalmar o paciente e não lhe oferecer
alimentos ou líquidos. Se for constatada parada
cardiorrespiratória, iniciar o Suporte Básico de Vida
(SBV).
Fig. 2.2 Sinal de Levine – mão em garra sobre o peito.
Fig. 2.3 Zonas de dor no IAM: vermelho-escuro = área mais típica / vermelho-claro = outras áreas possíveis.
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26
No caso da ocorrência de angina instável e se
a vítima já for ciente de sua condição, deve-se
estimular a administração do isordil sublingual pela
mesma.
Tendo certeza do diagnóstico de infarto, o
socorrista deve administrar 300mg de aspirina (3
comprimidos de AAS infantil que devem ser
mastigados antes de engolir) e 5mg de isordil
sublingual (dose máxima de 3 comprimidos com
intervalo de 3 a 5 minutos entre eles). Geralmente o
cardiopata anda com esses medicamentos no bolso.
ATENÇÃO! Alguns pontos importantes devem ser
considerados:
O infarto pode ter apresentações atípicas, como
dor no estômago, dor apenas no braço, ou até
ausência de dor (é mais comum em diabéticos e
mulheres).
Deve-se estar atento para outras doenças que
também cursam com dor no peito como
pneumonia, espasmo esofagiano, dissecção
aguda de aorta, entre outras. Dessa forma,
havendo dúvida no diagnóstico, não deve ser
administrado nenhum medicamento.
O melhor hospital para transportar a vítima é o
hospital mais próximo.
PREVENÇÃO
Os objetivos da prevenção envolvem redução
do risco de eventos isquêmicos clinicamente
relevantes, com consequente diminuição da
mortalidade e da incapacitação prematuras, e
prolongamento da sobrevida.
Os indivíduos com maior risco devem ser
precocemente identificados para intervenções de
estilo de vida (e, quando apropriado, para
intervenções farmacológicas), no sentido de se obter
um maior controle e tratamento dos fatores de risco.
As principais recomendações incluem:
Seguir uma dieta balanceada, rica em frutas e
verduras e com baixa quantidade de gorduras e
sal;
Perder peso, em caso de obesidade ou
sobrepeso;
Parar de fumar.
Praticar atividades físicas regularmente, sob
orientação médica;
Tratar adequadamente doenças como o
colesterol alto, hipertensão arterial e Diabetes
Mellitus.
ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
(AVE)
O AVE, popularmente chamado de “derrame”,
é uma perda aguda, focal ou generalizada, da função
cerebral (ou da retina), de origem vascular e com
duração superior a 24h, que resulta no aparecimento
de déficit neurológico. Pode até mesmo ocorrer uma
perda súbita da consciência, resultante da falta de
oxigênio no cérebro devido à ruptura ou oclusão de
um vaso sanguíneo.
O AVE caracteriza-se por ser uma das
principais doenças na população idosa, sendo a
maior causa de mortalidade, seguido da DAC
(Doença Arterial Crônica), em todo o mundo. Em
2008, a estimativa era de que fosse responsável por
cerca de 10% do total de mortes no mundo, com
aproximadamente 6 milhões de óbitos, concentrados
principalmente em países pobres (dados de
mortalidade indicam que o AVC foi responsável por 1
a cada 18 mortes nos EUA).
Nos EUA, ocorre, em média, um AVC a cada
40 segundos, e uma morte relacionada ao AVC a
cada 3-4 minutos. Todo ano, aproximadamente 795
mil pessoas sofrem um novo, ou recorrente, AVC,
sendo que 610 mil são casos novos e 185 mil são
casos recorrentes. Projeções mostram que até 2030,
mais 4 milhões de pessoas terão tido um derrame, o
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27
que significa um aumento de 24,9% com relação à
prevalência de 2010.
No Brasil, há uma média de 68 mil mortes
anuais por AVC. Além das mortes, o distúrbio pode
levar a sequelas graves, que atingem em torno de
50% dos sobreviventes a um derrame. Outro ponto a
ser destacado é que parte considerável das mortes
por AVC no Brasil acontece em uma faixa etária
precoce – abaixo dos 65 anos de idade. Isto leva a
um prejuízo econômico muito grande por morte ou
incapacitação de uma pessoa produtiva.
O AVE é classificado em subtipos, e o
prognóstico e tratamento dessa doença diferem de
acordo com o subtipo. A incidência e distribuição dos
subtipos de AVC têm variações geográficas
moderadas que estão provavelmente relacionadas à
prevalência de fatores de risco cardiovasculares,
estrutura social e diferenças étnicas.
Assim como para as doenças coronarianas, a
identificação correta e rápida dos sintomas, e o pronto
atendimento médico, são fundamentais para
obtermos um melhor prognóstico da doença, evitando
complicações e mortes.
SINTOMATOLOGIA
A sintomatologia é variada, pois depende da
região anatômica do cérebro afetada:
Desvio de rima labial;
Dificuldade para falar ou entender comandos simples;
Confusão mental;
Perda visual em ambos ou dois olhos;
Crise convulsiva;
Perda de força e/ou sensibilidade em um ou ambos os lados do corpo (85% dos casos);
Perda de equilíbrio, coordenação ou dificuldade para andar;
Anisocoria (tamanho desigual das pupilas);
Ptose palpebral;
Cefaléia intensa
AVE ISQUÊMICO
No AVE isquêmico, ocorre disfunção
neurológica causada pela obstrução de um vaso
sanguíneo sem haver hemorragia, resultando em
redução da perfusão (isquemia). Esse é o subtipo
mais comum, responsável por 85% dos casos.
Fig. 2.5 Anisocoria
Fig. 2.6 AVE isquêmico.
Fig. 2.4 Ptose palpebral
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28
A oclusão aguda de um vaso intracraniano
reduz o fluxo sanguíneo para a região cerebral que
ele supre, causando necrose neuronal com perda
imediata da função celular (os neurônios não dispõem
de reserva de fonte de energia). Com isso, os
sintomas são instantâneos e dependem da região que
foi afetada pela isquemia.
A região vascularizada pela artéria ocluída
apresenta uma parte central, a mais afetada e onde
pode haver necrose, e a periférica, a menos afetada,
podendo ter algum aporte de oxigênio de um vaso
vizinho. A região periférica é a que se tenta salvar no
tratamento do AVE.
As causas principais são: arritmia cardíaca,
tromboembolismo arterial, trombose, IAM, hipotensão
medicamentosa, aumento da pressão intracraniana
(PIC) e choque, principalmente hipovolêmico.
ACIDENTE ISQUÊMICO TRANSITÓRIO (AIT)
O AIT é semelhante ao AVE isquêmico, mas
os sintomas têm duração mais curta (sintomas
passageiros) e denota um baixo risco ao paciente.
Assim, se caracteriza como um episódio breve de
disfunção neurológica súbita causada por isquemia
focal cerebral ou da retina, devido à perfusão cerebral
ou oftálmica inadequada, com sintomas clínicos que
duram tipicamente menos de 1h.
Resulta de uma isquemia transitória,
geralmente autolimitada, como uma oclusão arterial
seguida de desobstrução momentos depois, ou uma
hipotensão arterial manifestando sintomas
neurológicos, que desaparecem depois da
normalização da pressão arterial.
O prognóstico é muito mais favorável em
comparação a um AVE, porém pode ser fator de risco
para o mesmo.
AVE HEMORRÁGICO
É a disfunção neurológica causada pela
ruptura de um vaso intracraniano, resultando em um
sangramento intra ou extraparenquimatoso. É um
AVE geralmente mais grave, com maior risco de
morbimortalidade. Representa 13% dos casos de
AVE. Os sintomas são similares aos citados
anteriormente.
Para diferenciar um AVE hemorrágico de um
isquêmico, é necessário um exame complementar de
neuroimagem.
FATORES DE RISCO
Os AVEs têm em comum o seguinte grupo de
fatores de risco: hipertensão arterial sistêmica (HAS),
Diabetes Mellitus, hipercolesterolemia, tabagismo,
aterosclerose de carótidas e fibrilação atrial. Todos
esses fatores são agravantes para a formação de
trombos que, se embolizados, podem ocluir uma
artéria cerebral, configurando a causa mais comum
de AVE.
Fig.2.7 AVE hemorrágico
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29
PRIMEIROS SOCORROS
Muitas vezes, o paciente com AVE não
percebe que há algo errado (anosognosia), por isso é
mais comum que um espectador ou familiar peça
ajuda. É crucial que o serviço de emergência seja
acionado o mais rapidamente possível para que a
conduta terapêutica seja iniciada.
Até a chegada da ambulância, deve-se fazer
o suporte básico da vida, não oferecer comida ou
líquidos para o paciente, e não deixá-lo ficar em pé,
pois há risco de queda.
O AVE muitas vezes pode ser confundido
com uma crise epilética (e vice-versa), portanto, é
válido perguntar aos espectadores se houve alguma
crise convulsiva e prover essa informação aos
profissionais do serviço de emergência.
IMPORTANTE! Existem alguns sinais típicos
indicadores de AVE: paralisia facial, alteração de
força nos braços e fala enrolada. Para detectar
anormalidades nesses parâmetros, peça para a
vítima:
1. Sorrir (se a pessoa mover a face só para um dos
lados, pode estar tendo um AVC)
2. Levantar os braços (se houver dificuldade para
levantar um dos braços, ou após levantar os dois,
um deles cair, a pessoa pode estar tendo um
AVC)
3. Repetir uma frase simples (como: “Hoje o dia está
bonito”) ou cantar um trecho de uma música (se a
pessoa não responder ou falar enrolado, pode
estar tendo um AVC)
Esses procedimentos são essenciais para a
identificação de um AVE. Ao perceber qualquer
alteração em um desses parâmetros, procurar
imediatamente o serviço médico de emergência (1 só
sintoma é suficiente).
PREVENÇÃO
A prevenção se baseia na mudança dos
hábitos de vida para um estilo mais saudável, visando
controlar e tratar os fatores de risco que podem levar
o indivíduo a sofrer um acidente vascular. Esse é
ponto muito importante, pois, embora também seja
Fig. 2.8 Fatores de risco para AVE
LATE-UFRJ|2015
30
uma doença cardiovascular, o tratamento do AVE é
mais complexo do o que o do IAM, visto que não só
altera o funcionamento cerebral como incapacita o
indivíduo.
As recomendações são:
Seguir uma dieta balanceada, rica em frutas e
verduras, e de preferência com baixos teores de
gorduras e sal (a hipertensão arterial é o fator de
risco para doença cerebrocardiovascular mais
importante);
Parar de fumar;
Praticar atividades físicas regularmente, sob
orientação médica;
Tratar adequadamente doenças pré-existentes
como o colesterol alto, hipertensão arterial e
diabetes mellitus, que podem evoluir para um
AVE;
TROMBOSE VENOSA PROFUNDA (TVP)
EMBOLIA
Consiste na existência de um corpo (êmbolo)
sólido, líquido ou gasoso transportado pelo sangue e
capaz de obstruir um vaso. Em mais de 90% dos
casos os êmbolos se originam de trombos. No
entanto, existem outros tipos de embolia: gasosa,
gordurosa, de líquido amniótico, tumoral, entre outras.
TROMBOSE
A trombose é o processo patológico que
resulta na formação de um trombo. O trombo é
caracterizado pela formação de um coágulo
sanguíneo dentro do espaço vascular, no indivíduo
vivo. Esta característica é importante para
diferenciarmos trombo de coágulo. O trombo resulta
da ativação patológica do processo normal de
coagulação. Essa ativação pode ocorrer em três
situações (Tríade de Virchow):
Lesão endotelial;
Alteração de fluxo sanguíneo;
Hipercoagulabilidade do sangue.
LATE-UFRJ|2015
31
TROMBOEMBOLIA VENOSA (TEV)
É um distúrbio caracterizado pela formação
de trombos no sistema venoso, que se rompem e
liberam fragmentos (êmbolos). Os êmbolos, por sua
vez, irão causar entupimento de vasos de pequeno
calibre, resultando em consequências na perfusão
tecidual.
Existem dois tipos de TEV: trombose venosa
profunda (TVP) e trombose venosa superficial. A TVP
tem maior importância no que diz respeito aos males
súbitos, pois os êmbolos que se originam dos
trombos em veias profundas do membro inferior
podem causar embolia pulmonar (EP), ao contrário
daqueles originados de veias superficiais.
FISIOPATOLOGIA E COMPLICAÇÕES
A embolia ocorre quando os trombos venosos
se desalojam dos locais de formação, para a
circulação arterial pulmonar, ou, paradoxalmente,
para a circulação arterial por uma comunicação
interatrial.
A embolia pulmonar ocorre quando o êmbolo
obstrui um vaso pulmonar, gerando consequências na
microcirculação, na circulação sistêmica e na
capacidade de trocas gasosas. Cerca de 50% dos
pacientes com trombose de veias pélvicas apresenta
EP. É um mal súbito que acomete pacientes de
qualquer idade, possivelmente letal, de diagnóstico
bastante difícil (os sinais e sintomas podem ser muito
gerais) e que exige intervenção terapêutica imediata.
FATORES DE RISCO
Além dos fatores genéticos, os fatores
adquiridos que predispõem TEV são viagens aéreas
de longa distância, obesidade, tabagismo, uso de
anticoncepcionais orais, gravidez, reposição hormonal
pós-menopausa, cirurgia, trauma, câncer, HAS e
Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).
São passíveis de desenvolver EP: pacientes
de grandes cirurgias, acamados a mais de 3 dias,
com imobilização de membro inferior, com câncer
ativo, tabagismo e obesidade.
PREVENÇÃO
Deve-se evitar situações em que temos de
permanecer sentados durante muitas horas, como em
longas viagens de avião (daí a TVP também ser
conhecida como “Síndrome da Classe Econômica”).
Nestas situações, devemos nos levantar a cada 2h e
caminhar por alguns segundos.
Fig. 2.10: A – fluxo sanguíneo normal / B – Trombose em veia profunda / C – Desprendimento do êmbolo.
Fig.2.9: Sinais de TEV
LATE-UFRJ|2015
32
DIFICULDADE RESPIRATÓRIA A dificuldade respiratória pode resultar de
traumatismos ao tórax ou à cabeça, e de doenças
como infarto, anafilaxia ou asma.
Hiperventilação é a respiração rápida, que
pode ser causada por estresse emocional, ansiedade
e afecções clínicas.
RECONHECIMENTO DA DIFICULDADE
RESPIRATÓRIA
Respiração anormalmente rápida ou lenta;
Respiração anormalmente profunda (ofegante) ou
superficial;
Respiração ruidosa, incluindo sibilos (observados
na asma) ou sons gorgolejantes, sons roucos ou
abafados ou roncos;
Lábios arroxeados;
Necessidade de fazer uma pausa durante a fala
para recuperar o fôlego;
PRIMEIROS SOCORROS
Deve-se ajudar a vítima a encontrar a posição
mais confortável, que é geralmente sentada com as
costas retas, e procurar atendimento médico.
Caso a vítima apresente quadro de
hiperventilação (respiração rápida) devido à
ansiedade, peça que ela inspire pelo nariz, segure a
respiração por alguns segundos e, a seguir, solte
lentamente a respiração.
ATENÇÃO! Nunca peça a uma vítima com
hiperventilação para respirar dentro de um saco. Isso
não funciona e pode ser perigoso.
CRISE ASMÁTICA
A asma é uma doença inflamatória crônica
das vias aéreas inferiores, caracterizada por
hiperresponsividade e por limitação variável ao fluxo
aéreo, reversível espontaneamente ou com
tratamento.
Essa doença que surge na infância, sua
origem é desconhecida, mas com um componente
genético bem demonstrado, sendo, portanto, comum
em pessoas de família com grande número de
asmáticos (68% de chance). Demonstra-se como
resultado de uma interação entre genética, exposição
ambiental e outros fatores específicos que levam ao
desenvolvimento e à manutenção dos sintomas.
Frequentemente, ela coexiste com bronquite ou
enfisema, e a combinação de doenças pode causar
dano tecidual severo.
A asma afeta cerca de 300 milhões de
pessoas no mundo, e a frequência dessa doença tem
aumentado significativamente nos últimos anos. Há
indícios de que a prevalência da asma esteja
aumentando em todo o mundo, inclusive no Brasil.
Anualmente, ocorrem cerca de 350.000 internações
por asma no Brasil, constituindo-se na quarta causa
de hospitalização pelo SUS e sendo a terceira causa
entre crianças e adultos jovens. A mortalidade por
asma ainda é baixa, mas apresenta magnitude
crescente em diversos países e regiões, como nos
países em desenvolvimento.
FISIOPATOLOGIA
Pacientes asmáticos sofrem ataques súbitos
incontroláveis de constrição brônquica, com estímulo
à produção de secreção (espessa), o que leva à
obstrução brônquica por tampão mucoso,
exacerbando a dificuldade respiratória (o
estreitamento das vias aéreas e o acúmulo de muco
na luz do brônquio dificultam as trocas gasosas). A
inflamação por si só, e também o estímulo à formação
LATE-UFRJ|2015
33
de microvasos, leva à formação de edema nas vias
aéreas, contribuindo para a obstrução.
O processo de inflamação crônica leva a
várias alterações estruturais. Há lesão na superfície
de contato com o ar, facilitando a exposição aos
microrganismos como bactérias e vírus. A inflamação
crônica leva à fibrose das vias aéreas, com alteração
das vias, resultando em prejuízos para a função
pulmonar em longo prazo.
A inflamação brônquica constitui o mais
importante fator fisiopatogênico da asma, sendo
resultante de uma reação de hipersensibilidade do
tipo I (mediada por Imunoglobulina E - IgE), em que
ocorrem interações complexas entre células
inflamatórias das vias aéreas, com liberação de
citocinas.
Cerca de 70% dos casos de asma se devem
à hipersensibilidade imediata mediada por IgE. Nos
30% restantes, a asma pode não estar associada a
essa reação de hipersensibilidade, podendo ser
desencadeada por estímulos não-imunológicos como
drogas, frio e exercício.
O processo inflamatório apresenta a seguinte
tríade clinico-patológica:
Obstrução intermitente e reversível das vias
aéreas;
Inflamação brônquica crônica com infiltração
eosinofílica;
Hipertrofia e hiperreatividade das fibras
musculares lisas brônquicas frente ao uso de
substâncias broncoconstritoras.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Estridor;
Sibilo (chiado) à respiração;
Tosse seca ou produtiva, com dificuldade de
expectoração;
Falta de ar;
Taquipneia;
Sensação de aperto ou dor no peito;
Cansaço.
A tosse apresenta intensidade variável,
ocorrendo particularmente à noite e pela manhã ao
despertar. As crianças podem ter predomínio de tosse
seca.
Os pacientes podem referir dificuldade de
encher os pulmões de ar, e apresentar
hiperventilação e utilização dos músculos acessórios
da respiração. Quando a asma está controlada, o
paciente pode ter exame físico normal.
PRINCIPAIS FATORES DESENCADEADORES
Poeira;
Mofo;
Pólen;
Pelos de animais;
Poluição (fumaça de cigarro e carro);
Alterações climáticas;
Gripes, resfriados, infecções respiratórias;
Ingestão de alguns alimentos;
Medicamentos (ex.: aspirina, betabloqueadores);
Estresse emocional.
PRIMEIROS SOCORROS
Como em muitos casos a pessoa já teve esse
quadro antes, provavelmente ela saberá identificar, e Fig.2.12: Constrição brônquica.
LATE-UFRJ|2015
34
até mesmo saberá a necessidade de procura por
auxílio médico. Ainda assim, é importante mantê-la
calma para que a crise não seja exacerbada, pois
estresse físico e emocional também podem ser
fatores desencadeadores. A hidratação deve ser
mantida normalmente.
Caso a vítima possua um inalador para asma
(bombinha de aerossol), prescrito por um médico,
devemos ajudá-la a usá-lo. Se necessário, a vítima
pode usar o inalador novamente dentro de 5 a 10
minutos. Entretanto, se sua condição não melhorar
com o tempo ou após o uso do medicamento, ou
mesmo piorar, procure atendimento médico
imediatamente para o tratamento hospitalar da crise.
Enquanto a ajuda médica não chega, observe
a evolução do quadro, atentando para a ocorrência de
uma possível parada respiratória, no caso de a crise
se intensificar e a vítima não melhorar com nenhuma
das medidas acima. Ocorrendo uma parada
respiratória, iniciar o Suporte Básico de Vida (SBV) e
procurar ajuda médica o mais rapidamente possível,
não esquecendo de que o quadro pode ainda evoluir
também para uma parada cardiorrespiratória.
PREVENÇÃO
Não há como prevenir a existência da
doença, mas sim as suas exacerbações e seus
sintomas diários. Segue algumas medidas de
prevenção:
Evitar qualquer contato com alérgenos que
possam desencadear uma crise asmática;
Encapar colchões e travesseiro;
Lavar semanalmente as roupas de cama;
Retirar cortinas, tapetes, carpetes;
Evitar contato com animais domésticos e plantas;
Arejar os ambientes da casa;
Não fumar perto de crianças (a fumaça do
cigarro favorece em cinco vezes o
desenvolvimento de asma);
Evitar exercícios em dias muito frios.
A prática de esportes, preferencialmente os
de resistência, devem ser estimulados. O esporte por
excelência recomendado é a natação, sobretudo se
for praticada em atmosfera quente e úmida.
No entanto, devem-se evitar os esportes de
inverno, pois podem desencadear a asma devido ao
esforço e ao frio. Os esportes de esforço esporádico
também devem ser evitados.
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LATE-UFRJ|2015
36
INTRODUÇÃO
A Consciência é definida como a capacidade
do indivíduo de reconhecer a si mesmo e aos
estímulos do ambiente. As alterações da consciência
podem ocorrer no nível de consciência ou no
conteúdo da consciência; ambas juntas englobam as
funções mentais e cognitivas do indivíduo. O
conteúdo de consciência é o somatório das funções
nervosas superiores e cognitivas do indivíduo, como
atenção, memória e linguagem. Já o nível de
consciência é relacionado com o grau de alerta do
indivíduo.
As alterações do nível de consciência podem
variar entre dois extremos, desde uma desorientação
têmporo-espacial até um estado de coma profundo.
Coma seria definido como o estado de inconsciência
de si mesmo e do ambiente, mesmo após estímulos
de diversas modalidades e intensidades, em que o
paciente permanece inerte. Estados intermediários de
alteração da consciência podem anteceder a
instalação do quadro e precisam ser reconhecidos. A
sonolência ou letargia é considerada um estado de
diminuição do nível de consciência em que o paciente
consegue ser acordado com estímulos brandos. O
estupor é considerado um estado de sonolência mais
profunda em que o indivíduo precisa receber
estímulos vigorosos e repetidos para despertar.
Entre os estados que levam a alteração do
conteúdo da consciência encontra-se o delirium.
Caracteriza-se por desorientação, déficit de atenção,
sensação de medo, irritabilidade e alterações da
percepção de estímulos sensoriais, como as
alucinações visuais. As alterações são mais evidentes
no conteúdo da consciência, embora os pacientes
possam inverter o seu ciclo sono-vigília e alternar
períodos de alerta e agitação com períodos de
sonolência. A demência é caracterizada como um
quadro de perda permanente e progressiva, em geral,
evoluindo em meses a anos, das funções cognitivas,
sem alteração do estado de alerta ou nível de
consciência.
Morte encefálica ocorre quando o dano
encefálico é tão extenso que não há potencial para
recuperação estrutural e funcional do encéfalo e o
mesmo não pode manter a homeostase interna
(funções cardiovasculares, respiratórias,
gastrointestinais e controle da temperatura corpórea).
Embora haja métodos artificiais para preservação de
órgãos periféricos (medidas de suporte cardiovascular
e ventilação mecânica), um corpo em morte
encefálica desenvolve falência cardiovascular em
alguns dias, raramente em algumas semanas, apesar
do mais meticuloso cuidado intensivo. O que separa o
estado de coma do diagnóstico de morte encefálica é
a irreversibilidade do último, com repercussões
sistêmicas sobre a homeostase de órgãos vitais,
baseadas em danos permanentes estruturais focais
ou difusos no encéfalo.
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37
COMA
POSSÍVEIS CAUSAS DE COMA
Para manutenção da vigília é essencial o
funcionamento adequado do Sistema Reticular
Ativador Ascendente (SRAA) que coordena as
funções superiores do córtex. Logo, quase todos os
casos de redução da vigília podem ser
correlacionados com anormalidades dos hemisférios
cerebrais ou com atividade reduzida do SRAA, seja
por lesões que danificam o SRAA ou suas projeções,
destruição de extensas áreas dos hemisférios
cerebrais e supressão da função reticulo cerebral por
fármacos, toxinas ou anormalidades metabólicas.
A entrada em um estado comatoso pode
ocorrer de duas maneiras distintas. A primeira é lesar
apenas a área de ativação cerebral, localizada no
tronco. Essa lesão pode ser causada pela presença
de um tumor, por hemorragia, por isquemia ou por
outras causas menos comuns. A segunda maneira é
lesar todo o córtex. Essa lesão extensa só acontece
quando há uma isquemia generalizada no cérebro
(como ocorre na parada cardíaca), quando há
ausência de algum nutriente essencial para o
encéfalo ou quando alguma substância nociva ao
cérebro está presente no organismo. Estas duas
últimas causas são denominadas "causas
metabólicas de coma".
I. AFECÇÕES PRIMITIVAS DO SISTEMA
NERVOSO CENTRAL E SEUS ENVOLTÓRIOS
Acidentes vasculares cerebrais;
Traumatismos cranioencefálicos;
Infecções do SNC e seus envoltórios (meningite,
encefalite);
Processos expansivos intracranianos (neoplasias,
abscessos);
Encefalopatias metabólicas primárias e
desmielinizante.
II. AFECÇÕES METABÓLICA:
Diabetes mellitus e estados hiperosmolares;
Endocrinopatias (mixedema, hipopituitarismo);
Hipoglicemia;
Uremia;
Hepatopatias;
Hipercalcemia e hipocalcemia;
Anormalidades hidro-eletrolíticas e do equilíbrio
ácido-base.
Fig. 3.1 Pesquisa realizada na UTI do Hospital Souza Aguiar
Fig. 3.2 Diabetes mellitus é um fator de risco para o coma.
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38
III. INTOXICAÇÕES EXÓGENAS
IV. INFECÇÕES SISTÊMICAS
V. ALTERAÇÕES CARDIOVASCULARES
VI. TRAUMATISMOS CRÂNIOENCEFÁLICOS (TCE)
Entre homens maiores de 35 anos de idade,
em geral, as colisões de veículos motorizados são
uma grande causa de mortes. Em mais de 70% dos
casos TCE.
TIPOS DE TCE
CONCUSSÃO
Ocorre perda imediata (porém transitória) de
consciência associada a um curto período de
amnésia ou confusão mental. A concussão grave
pode desencadear uma crise epiléptica breve ou
sinais autônomos como palidez facial, bradicardia,
síncope com hipotensão discreta e reação pupilar
lenta a luz.
CONTUSAO
Na contusão, existem graus variáveis de
hemorragia, edema e destruição tecidual. Os sinais
incluem hemiparesia, coma quando a contusão é
bilateral e delirium quando na região temporal
FRATURA DE CRÂNIO
As fraturas são indicadoras do local e da
gravidade da lesão. Configuram-se como porta de
entrada para bactérias e como possíveis áreas de
extravasamento de líquor.
IDENTIFICAÇÃO E MANEJO DO TCE
Deve-se desconfiar de TCE quando estão
presentes os seguintes sinais e sintomas:
deformidade do crânio, sangramento pela orelha ou
nariz, fluido rosáceo aguado saindo da orelha ou do
nariz (líquido cefalorraquidiano), Sinal do guaxinim
(escurecimento da região ao redor dos olhos depois
de algumas horas decorridas após o trauma), Sinal de
Battle (equimose que escurece a região posterior das
orelhas horas após o trauma), pupilas
desbalanceadas, sangramento profuso de escalpo se
houver ferimento aberto, ferimento perfurante
Fig. 3.3 Intoxicações exógenas.
Fig. 3.4 Trauma automobilístico
LATE-UFRJ|2015
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produzido por PAF ou objeto empalado, sinais de
confusão mental e perda de memória.
Após a identificação do TCE, o socorrista
deve chamar o socorro especializado o mais rápido
possível e buscar imobilizar a cabeça e o pescoço da
vítima. O socorrista deve monitorar o ABC, cobrir
ferimentos com compressa limpa (de preferência
estéril) e seca, além de controlar o sangramento
aplicando pressão sempre ao redor do ferimento,
nunca sobre o local da fratura.
SÍNCOPE E LIPOTÍMIA
Síncope é a perda súbita e transitória de
consciência e do tônus muscular postural, tendo
quase sempre uma recuperação rápida da
consciência. Lipotímia ocorre sem a presença de
todos os sintomas anteriormente descritos (pré-
síncope). Suas causas podem ser psicogênicas ou
por redução aguda, mas transitória, do fluxo
sanguíneo cerebral.
Na maioria das vezes, a síncope se inicia
com uma sensação de fraqueza, tontura, sudorese e
palidez, ou pode acontecer sem manifestações
prodrômicas. A pressão arterial cai rápida e
intensamente, a frequência cardíaca diminui e a
respiração torna-se irregular. Após a recuperação,
pode haver confusão mental, cefaléia, tonturas, mal-
estar, ou o paciente pode apresentar nenhuma
alteração.
A investigação em um paciente que teve
desmaio compreende a análise do episódio em si:
tempo de duração, ocorrência ou não de convulsão,
incontinência fecal ou urinária, mordedura da língua,
sudorese e palidez, bem como eventuais sintomas
precedendo o ocorrido e manifestações surgidas após
a recuperação, assim como a investigação das
condições gerais do indivíduo acometido, o tempo
decorrido desde a última alimentação, o grau de
tensão emocional, a posição do corpo, a atitude do
paciente no momento da crise, se houve execução de
esforço físico ou mudança súbita de posição,
temperatura ambiente, doença recente ou prévia.
AS CAUSAS DA SINCOPE
Cardíacas (diminuição do fluxo sanguíneo
cerebral): taquiarritmias, bradiarritmias,
insuficiência cardíaca aguda, obstrução do fluxo
sanguíneo pulmonar, embolia pulmonar, estenose
pulmonar, hipertensão pulmonar primária,
estenose aórtica, hipotensão postural
(ortostática), diminuição mecânica do retorno
venoso, hipovolemia;
Extra-cardíacas: metabólicas (hiperglicemia,
hipóxia, alcalose respiratória), neurogênica
(Síndrome do seio carotídeo, Síncope vasovagal,
Síncope de micção, Neuralgia glossofaríngea,
epilepsia), obstrução extra-cardíaca de fluxo
sanguíneo (aterosclerose de vasos cerebrais,
reflexo da tosse, tamponamento cardíaco,
Fig. 3.5 Sinal do guaxinim.
Fig. 3.6 Deformidade no crânio.
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compressão torácica, manobra de valsalva) e
psicogênica.
A síncope neurogênica é o tipo mais comum
de desmaio, podendo ser desencadeado por impacto
emocional, lugar fechado e ambiente quente. Uma
das principais características é a duração de poucos
segundos (raramente prolonga-se por alguns
minutos) e rápida recuperação. O mecanismo é o
desvio do sangue para os músculos em consequência
da queda da resistência periférica por vasodilatação.
Desse modo, há inibição generalizada do tono
simpático com o aumento relativo da atividade vagal,
por isso costuma-se ser designada de síncope vaso-
vagal.
A hipotensão postural caracteriza-se pela
queda tensional quando o paciente se levanta do leito
e adota a posição ereta, com o acúmulo de sangue
nos vasos dos membros inferiores e consequente
diminuição da perfusão cerebral. Costuma ser
observada após exercícios físicos exaustivos,
enfermidades prolongadas, desequilíbrios
hidroelétricos com depleção de potássio e sódio e
grandes varizes nos membros inferiores. Atualmente
as causas mais frequentes são o uso de
medicamentos anti-hipertensivos, principalmente
diuréticos e bloqueadores simpáticos.
A síndrome do seio carotídeo é uma
condição rara que se caracteriza por queda da
pressão arterial e acentuada bradicardia após
estimulação do seio carotídeo. O paciente apresenta
tontura, escurecimento visual, cefaléia e desmaio.
A hiperventilação com alcalose respiratória
ocorre principalmente em mulheres jovens, tensas e
ansiosas. Os sintomas são dormência nas
extremidades, ao redor da boca e região peitoral,
confusão mental e, mais raramente, tetania. A
síncope é causada por diminuição da perfusão
cerebral devido ao aumento da perfusão periférica,
resultante de uma vasodilatação que resulta em
hipotensão.
COMO PROCEDER?
Deve-se colocar a vítima em decúbito dorsal
com elevação dos membros inferiores, posição que
permite fluxo sanguíneo máximo. Todas as roupas
apertadas e outras constrições devem ser afrouxadas
e a cabeça deve ser virada, a fim de que a língua não
bloqueie as vias aéreas superiores e seja evitada a
broncoaspiração. Também é útil aplicar estímulos
periféricos, tais como derramar água fria sobre a face
e pescoço. Os indivíduos precisam ser observados
cuidadosamente por alguns minutos após recobrarem
a consciência e se levantarem.
A prevenção do desmaio depende do
mecanismo envolvido. No caso da síncope vasovagal,
a orientação para que os pacientes evitem as
situações desencadeantes é o suficiente. Na
hipotensão postural, os pacientes devem ser
alertados para não se levantarem muito rapidamente
da cama. Em vez disso, devem primeiro exercitar as
pernas por alguns segundos e depois se sentarem na
beira da cama a fim de assegurarem que não estão
tontos antes de se levantarem. Em geral, também é
útil dormir com a cabeceira elevada e usar cinta
abdominal e meias elásticas. No caso da síncope do
seio carotídeo, deve-se orientar o paciente a usar
colarinhos frouxos e virar-se com o corpo todo, em
vez de girar apenas a cabeça, quando for olhar para
os lados.
Nos indivíduos idosos, o principal perigo de
um desmaio não é a doença subjacente, mas as
fraturas ou outros traumatismos devidos à queda.
Portanto, pacientes sujeitos às síncopes recidivantes
devem cobrir o chão do banheiro e boxe ou banheira
com tapetes de borracha e, se possível, colocar
carpetes nos cômodos da casa. Os passeios fora de
casa devem ser feitos em chão macio, além disso,
deve evitar ficar parado de pé, já que isso aumenta a
possibilidade de uma síncope.
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CONVULSÃO
As convulsões são movimentos musculares
súbitos, incoordenados, involuntários e paroxísticos
que ocorrem de maneira generalizada ou em
segmentos do corpo. Elas surgem de descargas
bioelétricas originadas em alguma área cerebral com
imediata estimulação motora. Ocorre em epilepsia,
tétano, estados hipoglicêmicos, intoxicações
exógenas (álcool, inseticidas), tumores cerebrais,
meningites e em episódios febris em crianças.
As convulsões podem ser tônica, clônicas ou
tônico-clônicas. Convulsões tônicas se caracterizam
por serem sustentadas e imobilizar as articulações; as
clônicas são rítmicas alterando-se contração e
relaxamento musculares em um ritmo mais ou menos
rápido; as tônico-clônicas possuem características
tônicas e clônicas.
O quadro mais típico de convulsão constitui
da perda abrupta da consciência com queda ao solo,
seguindo uma fase de enrijecimento global (fase
tônica) substituída por contrações musculares
sucessivas, generalizadas e intensas (fase clônica).
Em 2 a 5 minutos, a crise cessa e o paciente entra
em relaxamento total e sono profundo do qual é
dificilmente despertado. Algum tempo depois acorda
atordoado, com mal-estar e sem lembranças do
acontecido. Durante o episódio geralmente observa-
se cianose, sialorreia, incontinência de esfíncteres,
mordedura da língua e ferimentos diversos.
Epilepsia designa a existência de uma
desordem neurológica associada a crises episódicas
e recorrentes. Crises epiléticas são eventos clínicos
fundamentados em alterações crônicas do equilíbrio
excitatório/inibitório em regiões mais ou menos
extensas do córtex cerebral e das propriedades de
comunicação celular e programação dos potenciais
nas redes neurais. Estresse psicológico ou físico,
privação do sono, alterações hormonais, exposição a
substâncias tóxicas e alguns fármacos são
identificados como alguns dos fatores
desencadeadores das crises epiléticas.
A ocorrência de uma crise epilética isolada
por si só não representa evidência de doença
Fig. 3.7 Posição lateral de segurança.
LATE-UFRJ|2015
42
neurológica, eventos convulsivos isolados podem
representar somente respostas do sistema nervoso
central a uma grande variedade de agressores
esporádicos do equilíbrio excitatório/inibitório do
córtex cerebral.
Nos países desenvolvidos, sua incidência é
estimada em 40-50/100.000 hab/ano, enquanto que
nos em desenvolvimento é de 122-190/100.000
hab/ano. Pacientes com epilepsia apresentam uma
taxa de mortalidade maior que a população em geral
(maior para pacientes do sexo masculino). As causas
mais comuns são infecções pulmonares, suicídios e
acidentes. Morte súbita representa causas menos
frequentes.
COMO PROCEDER?
Devem-se afastar móveis e objetos que
estejam próximos da vítima, colocá-la de maneira
confortável e com algo macio atrás da cabeça
evitando que ela se machuque, afrouxar as roupas
(especialmente na região ao redor do pescoço) e
esperar o término da crise convulsiva e a retomada
de consciência pela vítima. Após o término da
convulsão, a vítima pode permanecer inconsciente,
porém respirando. Neste caso, deve-se colocá-la em
posição lateral de segurança. NUNCA segure a
vítima, coloque algo em sua boca ou dê comidas e
bebidas. Caso não esteja respirando após o término
da crise, seguir o protocolo do BLS.
HIPERGLICEMIA
A hiperglicemia é mais comum no indivíduo
diabético. No entanto, pode ser observada após
alimentação exagerada sem restrição, sedentarismo e
síndromes metabólicas. O aumento da glicose no
sangue coincide com seu aumento na urina,
causando diurese osmótica e polidipsia. No caso dos
diabéticos, a ausência ou deficiência de insulina
causa paralelamente cansaço, sonolência, polifagia,
pele seca e dor de cabeça, evoluindo para náuseas,
vômitos e hálito cetônico, podendo levar ao coma
diabético.
Recém nascidos com hiperglicemia não
cetônica são normais ao nascimento e, à medida que
recebem alimentação, desenvolvem progressivo
acúmulo de amônio no plasma. Os sintomas após as
primeiras 24h, uma vez iniciada a amamentação,
caracterizam-se por alterações da vigília, sonolência,
vômitos, crises de apneia, crises convulsivas de difícil
controle e coma. Se não for revertido, leva o recém
nascido a óbito ou produz lesões cerebrais graves.
Fig. 3.8 Sinais e sintomas da hiperglicemia.
LATE-UFRJ|2015
43
COMO PROCEDER?
A principal consequência da hiperglicemia é a
desidratação. Caso o indivíduo esteja inconsciente,
deve-se chamar o socorro e avaliar o ABC da vida.
Caso a vítima esteja consciente, mas houver
dúvida entre hipo ou hiperglicemia, deve-se
administrar uma bebida com açúcar, como por
exemplo, um refrigerante, e aguardar por 15
minutos. Caso não haja melhora chamar o socorro.
Esta medida leva em consideração que a
hipoglicemia é um estado de maior gravidade,
podendo causar seqüelas neurológicas, enquanto que
uma pequena dose de açúcar ao indivíduo
hiperglicêmico não irá causar danos maiores.
HIPOGLICEMIA
A hipoglicemia é mais comumente causada
por medicamentos usados para tratar o diabetes
mellitus ou exposição a outras drogas, como o álcool.
Entretanto, diversos outros distúrbios como sepse,
insulinoma, inanição, entre outros, podem causar
hipoglicemia.
Se for intensa e prolongada, a hipoglicemia
pode ser fatal. As manifestações clínicas são
resultado da privação de glicose ao sistema nervoso
central e incluem: alterações comportamentais,
confusão, fadiga, crises convulsivas e perda da
consciência.
Os sintomas neurogênicos são decorrentes
da resposta fisiológica à percepção da hipoglicemia e
incluem sintomas adrenérgicos como palpitações,
tremores e ansiedade; e sintomas colinérgicos como
sudorese, fome e parestesias. Os sintomas clássicos
da hipoglicemia são transpiração e palidez. Observa-
se também elevação da freqüência cardíaca e da
pressão arterial.
COMO PROCEDER?
Ao perceber sinais de hipoglicemia pode-se
administrar 15 gramas de açúcar (2 colheres de chá
ou 100ml de suco de laranja), e chamar o socorro
médico especializado. Em caso de perda de
consciência, deve-se seguir o protocolo do BLS.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PORTO. Semiologia Médica. 6. ed.
HARRISON. Medicina Interna. 17. ed. Rio de
Janeiro: Mc Graw-Hill Interamericana do Brasil, 2008.
DE ANDRADE, A. F. et al. Coma and other
consciousness disorders. Rev. Med. (online). 2007.
<http://gerenciadeprojetos.com/coma/CEV01001.htm
>. Acesso em: 03 mar. 2012.
<http://www.marimar.com.br>. Acesso em: 03 mar.
2012.
http://rmtonline.globo.com/banco_imagens/acidente_070_595b.jpg
Fig. 3.8 Sinais e sintomas da hipoglicemia.
LATE-UFRJ|2015
44
INTRODUÇÃO
Corpo estranho é qualquer material que
entrando em contato com algum local do organismo
pode causar desconforto, ferimento ou prejuízo de
alguma função. Vários tipos de objetos estranhos ao
nosso corpo podem penetrar acidentalmente nos
olhos, ouvidos, nariz e garganta, sendo um episódio
muito comum, podendo ocorrer nas circunstâncias
mais inesperadas.
São pequenas partículas, de variada origem
e constituição física que, muitas vezes, apesar de
aparentemente inofensivas devido ao tamanho,
podem causar danos físicos e desconforto sério. Os
exemplos mais clássicos são vidros, madeiras,
poeira, areia, limalha de ferro, grãos diversos, peças
de brinquedos, grampos e até mesmo insetos.
OLHOS
Os corpos estranhos nos olhos podem ser
classificados como móveis (tais como ciscos, cílios,
insetos) ou fixos (limalhas de ferro, vidros). A primeira
coisa a ser feita é procurar reconhecer o objeto e
localizá-lo visualmente.
Em casos de corpos estranhos móveis, pede-
se à vítima que feche e abra os olhos repetidamente
para permitir que as lágrimas lavem os olhos e,
possivelmente, removam o corpo estranho. Não
obtendo sucesso, deve-se realizar a lavagem do olho
com água corrente no sentido medial-lateral, durante
15 minutos. Muitas vezes a natureza e o local de
alojamento do corpo estranho não permitem o
lacrimejar, pois pode provocar dor intensa e até
mesmo lesão de córnea, nestes casos não se deve
insistir para a vítima abrir e fechar os olhos.
Caso o objeto estranho se encontre na
pálpebra superior pode ser realizada a manobra de
eversão palpebral para melhor acesso ao mesmo. A
vítima deve manter-se com o olho acometido fechado,
enquanto o socorrista, com as mãos devidamente
limpas, promove a eversão palpebral, expondo a
mucosa ocular. Essa manobra pode ser facilitada com
o uso de um cotonete de algodão umedecido com
água. Caso esteja alojado na pálpebra inferior
também pode-se remover o corpo estranho com
auxílio de um cotonete, conforme ilustrado na figura.
6ª Edição Atualização 2013
Fig. 4.1 Manobra para retirada de corpo estranho móvel
nos olhos.
LATE-UFRJ|2015
45
No caso de corpos estranhos fixos, tais como
limalha de ferro, farpas de madeira ou mesmo uma
faca, nunca deve-se tentar remover o objeto. O que
pode ser feito é a fixação do mesmo (com copos,
gazes e outros objetos), evitando destruição tecidual
pela movimentação do objeto, e a oclusão do olho
contralateral, já que os movimentos oculares tendem
a ser conjuntos.
Em nenhum caso é aconselhado esfregar os
olhos, utilizar colírio anestésico e colocar pomadas, já
que isso dificultaria a avaliação médica.
ORELHA
Corpos estranhos podem penetrar
acidentalmente também nas orelhas, especialmente
na área correspondente ao canal auditivo externo.
Estes acidentes são mais comuns com crianças.
Nesses casos, pode-se tentar identificar o
objeto estranho. Se o objeto estiver se
movimentando pensa-se em inseto. No caso de
pequenos insetos, a primeira medida é tentar atraí-lo
para fora usando uma luz colocada próximo ao canal
auditivo, puxando-se a orelha acometida para trás.
Recomenda-se realizar esse procedimento em um
ambiente escuro. Não havendo sucesso, a medida
seguinte deve ser a colocação de algumas gotas de
óleo, a fim de imobilizar os movimentos de asas ou
patas do inseto. Após, inclina-se a cabeça para o
lado na tentativa de colocar o inseto para fora do
ouvido, que deverá deslizar com o óleo.
No caso de objeto inerte, deve-se posicionar
a cabeça da vítima de forma que o lado afetado fique
para baixo. Após, movimente o lóbulo da orelha
acometida de um lado para outro e ao mesmo tempo
realize movimentos suaves com a cabeça, tentando
fazer com que o objeto caia por ação da gravidade.
Não introduza no ouvido nenhum tipo de
instrumento, como pinças e cotonetes, pois há o risco
de perfurar a membrana timpânica ou aprofundar o
corpo estranho.
NARIZ
Um corpo estranho, permanecendo no nariz,
pode causar irritação, infecção ou obstrução da
respiração. Para esses casos, deve-se apertar
suavemente a narina livre e pedir que a pessoa feche
a boca e expire pela narina obstruída. Normalmente
este procedimento ajuda a expelir o corpo estranho.
Se o mesmo não puder sair com facilidade, devemos
procurar auxílio médico imediatamente. Nunca deve-
se tentar remover objetos que não estejam visíveis ou
fáceis de serem retirados ou utilizar chumaços de
algodão e outros recursos semelhantes.
FARINGE
Corpos estranhos na garganta (como moedas
e, principalmente, espinhas de peixe) podem obstruí-
la, provocar lesões e asfixia, por impedir a entrada de
ar nos pulmões.
Morte por Obstrução de Vias Aéreas por
Corpo Estranho (OVACE) é muito comum, ainda que
totalmente evitável. O caso mais comum de OVACE
em adultos é por alimentos e ocorre durante as
refeições. Já as crianças, além de obstrução por
alimentos, podem engolir objetos pequenos que
acabam obstruindo as suas vias aéreas.
O socorrista, deve ser capaz de diferenciar
um OVACE de um AVC, convulsão ou desmaio, já
que esses podem ter alguns sinais em comum.
SINAIS MAIS COMUNS DE OVACE
Dificuldade de respirar
Cianose
Agitação
Tosse silenciosa
Inabilidade de falar (obstrução total)
Ausência de choro (criança)
Segurar o pescoço (“Sinal Universal de Asfixia”)
LATE-UFRJ|2015
46
FORMAS DE OVACE
De acordo com o posicionamento do corpo
estranho nas vias aéreas da vítima, podemos definir
duas formas de OVACE:
Obstrução parcial: a vítima ainda é capaz de
falar e até mesmo tossir, mesmo que com
dificuldade, pois ocorre a passagem de ar de
forma parcial. Neste caso, o socorrista não deve
interferir diretamente, mas sim estimular a vítima
a expelir o corpo estranho por meio da tosse.
Somente deve-se interferir caso a vítima
demonstre sinais de obstrução severa (total)
como o aumento na dificuldade de respirar, a
tosse tornar-se silenciosa, ocorrendo ou não
perda da consciência.
Obstrução total: nessa situação o corpo
estranho posiciona-se de tal forma que bloqueia
completamente a passagem de ar, tornando a
vítima incapaz de falar, tossir e, principalmente
respirar. Nesse caso, o auxílio do socorrista é de
grande valia, pois a vítima por si só
provavelmente não será capaz de expelir o corpo
estranho somente com seu reflexo de tosse; para
tanto serão necessárias algumas manobras
detalhadas a seguir.
MANOBRAS DE DESOBSTRUÇÃO DAS VIAS
AÉREAS
Existem algumas manobras que o socorrista
pode executar visando auxiliar à vítima a expelir o
corpo estranho. Lembre-se: antes da realização de
qualquer manobra, o auxílio especializado deve ser
chamado.
I. TAPOTAGEM
Esta manobra deve ser realizada para
lactentes e crianças pequenas.
Apoie a cabeça da vítima com sua mão e
deite-a com o rosto voltado para baixo sobre seu
antebraço e coxa, desse modo, a criança deve ser
colocada em desnível, permitindo o auxílio da
gravidade. Em seguida, com uma das mãos o
socorrista aplica cinco “palmadas” com sua mão em
forma de concha, no dorso da criança, em região
mediana na linha infraescapular. Após isso, vire a
criança anteriormente e observe a presença do corpo
estranho na cavidade oral da mesma. Caso não haja
nada que possa ser retirado, aplique mais cinco
compressões torácicas abaixo do ponto da
compressão cardíaca. Repita esse ciclo até que o
bebê expila o corpo responsável pela obstrução, ou
aplique o RCP pediátrico no caso de insucesso.
Quadro 4.1 “TAPINHA NAS COSTAS” O conhecido tapa aplicado no dorso em situações
de OVACE não deve ser utilizado como forma de auxiliar
uma pessoa que esteja obstruída, pois a força aplicada
pode fazer com que o corpo estranho movimente-se,
transformando, assim, uma obstrução parcial em uma total,
agravando o quadro.
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47
II. MANOBRA DE HEIMLICH
É utilizada para adultos e crianças maiores.
Não é recomendada para bebês e grávidas, pois
pode causar lesões.
Com a vítima em pé, o socorrista deve
posicionar uma de suas pernas entre as pernas da
vítima e a outra afastada posteriormente, de modo a
amparar a vítima caso perca a consciência. Após
esse posicionamento inicial, deve-se envolver a
região abdominal com os braços, posicionando a
porção medial da mão acima da cicatriz umbilical, em
seguida, cerrando o punho e rotacionando-o
superiormente até que o seu polegar posicione-se
abaixo do esterno (no apêndice xifóide) da vítima. A
outra mão envolve a primeira e realiza movimentos
rápidos para dentro e para cima, em “J”. A sequência
deve ser repetida até o corpo estranho seja expelido.
O objetivo da manobra é realizar compressões
abdominais que, aumentando a pressão abaixo da
obstrução, permita que o corpo estranho seja
expelido.
Caso a vítima perca a consciência, ampare-a até o
chão, posicionando-a em decúbito dorsal, e aplique
em seguida as manobras de RCP. Não é mais
recomendado que se aplique a compressão
abdominal, devido ao maior risco de broncoaspiração.
Após a vítima expelir o corpo estranho o socorrista
deve iniciar a sequência ABCD.
No caso da utilização de tal manobra em
crianças, o mais adequado é que o socorrista, sendo
um adulto, ajoelhe-se de modo a ficar na altura da
vítima, pois ao ficar em pé, a força aplicada contra o
diafragma da criança, pode acabar elevando-a
alterando a eficácia da manobra.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMERICAN HEART ASSOCIATION. Part 4: Adult
Basic Life Support. Circulation [online]. 2005, v. 112;
IV-19-IV-34.
ASSOCIAÇÃO CIVIL DE PESQUISA E
DESENVOLVIMENTO EM SAÚDE (ACINDES).
Primeiros socorros, RCP e DEA Padrão, Primeira
edição em português. 1. ed. São Paulo: Editorial
Médica A.W.W.E., 2008.
Fig. 4.3 Manobra de Heimlich.
Fig. 4.2 Manobra adequada de desobstrução das vias
aéreas em lactentes e crianças pequenas.
LATE-UFRJ|2015
48
BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo
Cruz. Manual de Primeiros Socorros. Rio de
Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2003. 170 p.
Disponível em:
<http://www.anvisa.gov.br/reblas/manual_primeiros_s
ocorros.pdf>. Acesso em 05 mar. 2012.
LATE-UFRJ|2015
49
INTRODUÇÃO
Em um país com quase dez mil quilômetros
de litoral e que abriga em suas bacias hidrográficas
mais de 10% da água doce de todo planeta, são
registrados números que revelam estatísticas
alarmantes. O Brasil é o 3° país com maior número
anual de mortes por afogamento; em 2011, foram
registrados 6.494 óbitos (3.4/100.000 habitantes).
Esta é a 2ª maior causa de morte entre crianças entre
um e nove anos. Em média homens morrem 6 vezes
mais que as mulheres por afogamento, e a maior
relação ocorre na faixa de 20 a 25 anos (13 vezes
mais). Felizmente, a maioria desses acidentes
aquáticos pode ser evitada, através de uma
orientação básica de prevenção, que qualquer
cidadão comum é capaz de seguir, e que reduziria
drasticamente os gastos anuais dos serviços de
saúde em consequência de afogamentos.
De acordo com a OMS, 0,7% de todos os
óbitos no mundo ocorrem por afogamento não
intencional, perfazendo mais de 500.000 óbitos
anuais (8.5 óbitos/100.000 hab.) passíveis de
prevenção. Entretanto o número exato é
desconhecido em razão de casos não notificados,
sem confirmação de óbito e, além disso, como o
Código Internacional de Doenças (CID 10) é ainda
inadequadamente preenchido e possui falhas na
identificação correta do problema, estes números são
ainda subestimados, mesmo em países
desenvolvidos. Afogamentos por enchentes e
Tsunamis, por exemplo, não são muitas vezes
contabilizados como afogamento.
Por outro lado, considerando a incidência de
1 morte para cada 13 sobreviventes num acidente
com afogamento (estatística norte-americana),
estima-se que aproximadamente 2 milhões de
pessoas sobrevivem a acidentes com afogamento
anualmente no mundo.
Junto a isso, quando consideramos o tempo
de exposição ao risco de acidente, o afogamento tem
200 vezes mais risco de óbito que os acidentes de
transporte. Informações coletadas diretamente dos
serviços de salvamento mostram que apenas 2% de
todos os resgates realizados por guarda-vidas
necessitam de cuidados médicos, e 0,5% sofreram
ressuscitação, evidenciando que ao analisar todo
atendimento hospitalar ou atestado de óbitos em
afogamento podemos apenas ver uma pequena parte
do problema, e que ainda hoje não temos ferramentas
para mensurar o fardo deste problema.
Desde 2003, adota-se o conceito de
afogamento publicado na revista Circulation, que
define esse tipo de trauma como o “processo que
resulta em dificuldade respiratória devido à
submersão/imersão em meio líquido. Implícito nessa
definição está o fato de que existe uma interface
líquido/ar na via aérea da vítima, impedindo-a de
respirar. A vítima pode permanecer viva ou vir a
falecer após esse processo, mas independente do
resultado diz-se que ela esteve envolvida em um
acidente com afogamento. Não há diferenças na
LATE-UFRJ|2015
50
fisiopatologia do afogamento em água doce ou água
salgada.
Um afogamento primário é aquele que não
apresenta nenhum fator desencadeante do acidente;
é o tipo mais comum. O afogamento secundário
ocorre quando existe alguma causa que tenha
impedido a vítima de se manter na superfície da
água, contribuindo para afogamento: drogas
(principalmente álcool), convulsão, traumatismos,
doenças cardíacas e/ou pulmonares, acidentes de
mergulho, hidrocussão, lipotímia e outros.
Um incidente com imersão ou submersão
sem evidência de dificuldade respiratória é
considerado resgate aquático.
PREVENÇÃO
Sabe-se que os banhistas mais suscetíveis a
se tornarem vítimas de afogamento são aqueles mal
orientados, que em sua maioria moram fora da orla
e/ou desconhecem características das águas da
região onde estão. Outros fatores de risco são: o sexo
masculino, idade inferior a 14 anos, uso de álcool,
epilepsia, baixa renda familiar, baixo nível
educacional, residência rural, maior exposição ao
meio aquático, comportamento de risco e falta de
supervisão.
Um estudo recente da Associação Americana
de Salvamento Aquático estima que para cada
resgate realizado, 43 outros casos são evitados pela
prevenção realizada pelos guarda-vidas em praias.
Esta consiste em advertências e avisos aos
banhistas, algumas regras de conduta em relação ao
lazer aquático: pequenas ações que podem salvar
vidas.
PRAIAS
Nade sempre perto de um guarda-vidas;
Pergunte ao guarda-vidas o melhor local para o
banho;
Não superestime sua capacidade de nadar:
46.6% dos afogados acham que sabem nadar;
Tenha sempre atenção com as crianças; elas
nunca devem entrar na água sem supervisão;
Antes de mergulhar no mar, certifique-se da
profundidade;
Procure mergulhar em águas fundas e nadar em
águas rasas;
Nade longe de pedras, estacas ou piers;
Evite ingerir bebidas alcoólicas e alimentos
pesados antes do banho de mar;
Crianças perdidas: leve-as ao posto de guarda-
vidas;
Fig. 5.2 Fisiopatologia da insuficiência respiratória pela aspiração (Hasibeder WR4)
Fig 5.1 Tipos de acidente na água e fases do afogamento (Modificado de Szpilman)
LATE-UFRJ|2015
51
Nunca tente salvar alguém em apuros se não
tiver confiança em fazê-lo. Muitas pessoas
morrem desta forma;
Ao pescar em pedras, observe antes se a onda
pode alcançá-lo;
Afaste-se de animais marinhos como água-viva e
caravelas;
Tome conhecimento e obedeça as sinalizações
de perigo na praia.
OS PERIGOS DO MAR: VALAS OU CORRENTES
DE RETORNO
Verificadas com maior frequência em praias
rasas, intermediárias e de tombo, essas correntes são
formadas devido à força gravitacional, por toda a
massa de água que reflui para o mar depois de
quebrar na forma de ondas em direção à areia. No
seu retorno, a água percorre o caminho de menor
resistência, aprofundando um canal em formação que
“arrasta” o banhista para alto mar.
As valas são consideradas áreas perigosas
pela alta velocidade e força das águas, capazes de
cansar um nadador a ponto de causar fadiga e
facilitar o afogamento. Tal fenômeno é a maior causa
de resgates executados pelos guarda-vidas, e é
responsável por aproximadamente 85% dos
afogamentos que ocorrem no litoral do Estado do Rio
de Janeiro. Assim, torna-se crucial a identificação de
como, onde e quando essas correntes se manifestam,
listando seus principais sinais e características, e a
respectiva divulgação através da mídia, para a efetiva
redução do alarmante número de casos de
afogamento anualmente.
Infelizmente, estudos mostram que 70% da
população jamais ouviu falar nesse tipo de corrente e
apenas 2% sabem reconhecê-las.
Fig. 5.3 Posto de guarda-vidas em praia
Fig. 5.4 e 5.5 Áreas de “valas” em praias
LATE-UFRJ|2015
52
Como identificá-las:
As ondas não quebram sobre elas, parecendo um
“corredor” sem ondas;
As correntes de retorno deixam a superfície
turbulenta, “mexida”;
Apresentam uma tonalidade mais escura ou
marrom, como se fossem sujas, por conta da
suspensão da areia do fundo do mar que
promovem.
Geralmente aparecem entre dois locais mais
rasos (bancos de areia).
Se você entrar em uma vala, nade
transversalmente a ela até conseguir escapar ou peça
imediatamente socorro.
PISCINAS
Cerca de 65% das mortes por afogamento
ocorrem em água doce, mesmo em áreas
quentes da costa;
Crianças devem sempre estar sob a supervisão
de um adulto, o que não ocorre quase 90% das
vezes;
Leve sempre sua criança consigo caso necessite
afastar-se da piscina;
Isole a piscina – tenha grades com altura de
1.50m e 12 cm entre as verticais. Elas reduzem o
afogamento em 50 a 70%;
Cuidado! Bóia de braço não é sinal de
segurança;
Evite brinquedos próximos à piscina, isto atrai as
crianças;
Desligue o filtro da piscina em caso de uso;
Use sempre telefone sem fio na área da piscina;
Não pratique hiperventilação para aumentar o
fôlego sem supervisão confiável;
Cuidado ao mergulhar em local raso (coloque
aviso);
Se você tem uma piscina, certifique-se que todos
na sua casa saibam realizar os primeiros
socorros.
Aulas de natação para crianças (idade depende
do desenvolvimento cognitivo e motor).
IDENTIFICANDO O BANHISTA
IMPRUDENTE
Saber identificar uma vítima em potencial pode
prevenir um caso de afogamento, e também evitar o
agravamento de uma situação de perigo. Portanto
observe com atenção:
Fig. 5.6 Dinâmica das correntes de retorno
Fig 5.7 Como escapar das correntes de retorno
LATE-UFRJ|2015
53
Idosos e crianças pequenas;
Pessoas obesas ou aparentemente cansadas;
Turistas e estranhos ao ambiente (vestimenta e
equipamentos inadequados, grupos grandes, etc);
Alcoolizados;
Pessoas que utilizam permanentemente objetos
flutuantes (elas podem não saber nadar sem
eles);
Pessoas que entram na água eufóricas ou depois
de comer muito;
Pessoas que ignoram a sinalização e entram, por
exemplo, diretamente em uma área de corrente
de retorno.
Na água: nada destacado dos outros; falta de
atenção; comportamento assustado.
Quando reconhecê-las, oriente-as a se banhar
próximo a um posto de salvamento e a informar-se
com o guarda-vidas sobre o melhor local para banho.
PRIMEIROS SOCORROS
Uma vítima que já está se afogando
apresenta expressão facial assustada ou
desesperada; afunda e emerge diversas vezes, com o
cabelo no rosto; nada ou bate os braços sem sair do
lugar; nada contra a correnteza; se posiciona na
vertical e olhando para a areia ou a margem.
Quando o socorrista perceber um afogamento
deve, primeiramente, prezar por sua própria
segurança, tomando os cuidados necessários para
não se tornar mais uma vítima. Uma pessoa se
afogando entra em pânico e, instintivamente, pode
tentar usar o socorrista como apoio, levando-o ao
fundo. Por isso, sempre se deve tentar realizar
socorro sem entrar na água.
Para uma vítima que se encontra em local
próximo à margem, procure um objeto longo, como
uma tábua, um cabo de vassoura ou um galho.
Mesmo a curta distância, não ofereça suas mãos,
pois você pode ser puxado e perder o equilíbrio
caindo na água.
Ainda fora da água, para ajudar uma vítima
distante da margem, procure arremessar algo que
flutue (uma garrafa pet fechada, uma tampa de isopor
ou uma bola), para que a vítima mantenha sua
cabeça fora da água. Preferencialmente, este objeto
deve estar amarrado à uma corda, para que a vítima
seja puxada para fora da água.
Lembre-se de que um bom socorrista não
tenta ser herói, e que chamar ajuda contribui muito
para o sucesso do resgate. Por isso, ao identificar
alguém se afogando, chame o guarda-vidas mais
próximo ou ligue para os bombeiros (193), ou peça
para alguém fazê-lo. Ao ser resgatada, esta pessoa
poderá precisar de cuidados médicos especializados.
Fig. 5.8 Maneira correta de auxiliar vítima próxima à
margem
Fig. 5.9 Arremesso de objeto flutuante no resgate à
vítima longe da margem
LATE-UFRJ|2015
54
Caso seja necessário e o socorrista esteja
seguro e confiante para entrar na água é preciso
avisar alguém que tentará resgatar a vítima e também
chamar o socorro profissional. Além disso, ele deve
levar consigo um material de flutuação (pranchas,
bóias, etc.), remover roupas e sapatos que possam
dificultar seu deslocamento e também procurar nadar
com a cabeça fora da água, sem tirar os olhos da
vítima.
Ao chegar próximo à vítima, o socorrista
deve, sem se aproximar muito, entregar-lhe o material
de flutuação, deixar que a vítima se acalme e rebocá-
la até uma área seca. Caso esteja sem forças, deve
manter a vítima flutuando e acenar, pedindo ajuda.
SE VOCÊ FOR A VÍTIMA
Mantenha a calma, evitando o desgaste muscular
desnecessário, flutue e acene por socorro;
No mar, uma boa forma de se salvar é nadar ou
deixar se levar para o alto mar, fora do alcance da
arrebentação e a favor da correnteza, acenar por
socorro e aguardar. Ou ainda, tentar alcançar um
banco de areia, quando visível.
Em rios ou enchentes, procure manter os pés à
frente da cabeça, usando as mãos e os braços
para dar flutuação. Não se desespere tentando
alcançar a margem de forma perpendicular tente
alcança-la obliquamente, utilizando a correnteza a
seu favor.
BLS NO AFOGAMENTO
Em vítimas inconscientes, verifica-se a boa
ventilação ainda dentro da água. Caso haja parada
respiratória, iniciar precocemente as ventilações de
resgate ainda dentro da água pode aumentar a
sobrevida sem sequelas desses pacientes em até três
vezes, por encurtar o tempo de hipoxemia (baixa de
oxigênio no sangue).
Esse procedimento só deve ser realizado
quando há dois socorristas ou um material de
flutuação, o que permite que a vítima esteja flutuando
enquanto o socorrista realiza as respirações, sendo
estas realizadas até a chegada à praia ou borda da
piscina, evitando a progressão para uma parada
cardiorrespiratória.
O transporte na transição entre água e área
seca deve ser feito com a vítima em posição vertical,
mantendo as vias aéreas abertas (“transporte
australiano”). Ao chegar em local seco, o socorrista
deve continuar realizando o BLS, ou iniciá-lo,
verificando desde a consciência da vítima e
executando duas ventilações de resgate. O afogado
deve ser colocado em posição paralela à água, de
forma que o socorrista fique com suas costas
Fig. 5.10 Início do BLS ainda na água: ventilações de
resgate.
LATE-UFRJ|2015
55
voltadas para o mar, e a vítima com a cabeça do seu
lado esquerdo. A cabeça e o tronco devem ficar no
mesmo nível.
A RCP deve ser iniciada imediatamente, para
que a oxigenação, ventilação e a perfusão sejam
restauradas o mais rapidamente possível, e o serviço
médico de emergência acionado o quanto antes.
Nos casos em que a causa presumida da
parada cardíaca é o afogamento, ou seja, de natureza
hipóxica, o novo protocolo da American Heart
Association preconiza o uso da sequência tradicional
ABC da RCP. Caso a vítima não recomece a
respiração após as ventilações de resgate, os devem
secar a área do peito e utilizar o DEA; ou, na
ausência deste, iniciar as compressões torácicas, que
devem obedecer a relação ventilações/compressões
de 2:30 (no caso de um socorrista), com reavaliações
a cada 5 ciclos.
ATENÇÃO! Nunca tente extrair água das vias
aéreas da vítima com manobras como colocar a
vítima de bruços, Heimlich, batidas no peito, etc.
Ainda que água tenha sido aspirada, o volume desta
é pequeno na maioria das vítimas, e a água pode ser
rapidamente absorvida para a circulação central.
Esses procedimentos são desnecessários e
potencialmente perigosos, ocasionando ejeção do
conteúdo gástrico com possível aspiração bronco-
pulmonar, piorando o estado da vítima.
A RCP deve ser realizada em todas as
vítimas de afogamento com tempo de imersão inferior
à 1 hora. Existem casos descritos de sucesso na
reanimação de afogados após 2 horas de manobras e
casos de recuperação sem danos ao cérebro até 1
hora de submersão.
As manobras podem ser paradas se houver
resposta da vítima de retorno da função respiratória e
dos batimentos cardíacos (continuar acompanhando
pelos próximos 30 minutos, pois há chance de nova
parada); em caso de exaustão do socorrista; ou ao
entregar o afogado à equipe médica. A RCP não deve
ser realizada em vítimas que apresentem rigidez
cadavérica; livores ou sinais de decomposição.
O afogamento pode ser classificado em graus
de 0 a 6, ou a vítima pode ser classificada como um
cadáver, segundo critérios de que levam em conta
sinais e sintomas e relacionam-se com procedimentos
realizados por profissionais para o Suporte Avançado
de Vida (ACLS).
Fig. 5.11 Os “elos” no afogamento
LATE-UFRJ|2015
56
OUTROS ACIDENTES NA ÁGUA
SÍNDROME DE IMERSÃO
Também conhecida vulgarmente como
“choque térmico”, a hidrocussão é provocada por uma
exposição súbita a uma temperatura abaixo da
corporal, produzindo então uma arritmia cardíaca, que
pode levar à parada cardiorrespiratória ou à perda de
consciência, uma vez que a capacidade do coração
de bombear sangue fica reduzida, gerando queda da
pressão e diminuição do fluxo sanguíneo para o
cérebro.
O “choque térmico” pode ser evitado se
molharmos a face e o pescoço antes de mergulhar.
Caso você testemunhe um caso de hidrocussão,
retire imediatamente a vítima de dentro da água e
inicie o suporte básico de vida.
HIPOTERMIA
As vítimas de submersão podem desenvolver
hipotermia primária ou secundária.
Se a submersão ocorrer em água gelada
(<5°C) pode reduzir a temperatura do corpo humano
abaixo de 35ºC em poucos minutos, quando os
mecanismos compensatórios corporais de produção e
conservação de calor começam a falhar, levando à
hipotermia primária. Como conseqüência, pode
ocorrer perda de consciência e afogamento
secundário ou até uma arritmia cardíaca com parada
cardíaca e consequente morte. A hipotermia pode ser
acelerada em águas mais frias; indivíduos pequenos
e magros; uso de pouca roupa (menor isolamento);
atividade física; uso de álcool (dilatação de vasos
superficiais).
Caso a vítima não possa ser resgatada
imediatamente, deve-se instruir que ela faça o mínimo
de esforço possível para flutuar. No caso de haver
mais de uma vítima, faça com que formem um círculo
fechado com seus tórax juntos para manter o calor.
A hipotermia pode também ser secundária,
como uma consequência da perda de calor por
evaporação durante a ressuscitação.
No afogamento, a hipotermia não é protetora.
Vários estudos clínicos pequenos em pacientes com
hipotermia acidental têm mostrado que a
sobrevivência pode ser melhorada por aquecimento
passivo ou ativo, fora e dentro do hospital.
Fig. 5.12 Tipos de afogamento
LATE-UFRJ|2015
57
Sabemos que todas as vítimas de
afogamento podem sofrer hipotermia, mesmo aquelas
afogadas em nosso litoral tropical. Portanto, em caso
de hipotermia, além de seguir todos os passos do
BLS, o socorrista deve ter cuidado especial com a
respiração e pulso, que podem estar reduzidos devido
à baixa temperatura central; e também remover
roupas molhadas, para evitar o agravamento da
situação, utilizando um cobertor para isolar a vítima.
Até o presente, não há evidência convincente
para se induzir hipotermia nos pacientes pós-
ressuscitados vítimas de afogamentos. Uma
abordagem prática seria instituir o aquecimento ativo
até que a temperatura corporal chegue a 32-34°C e
também ativamente se evitar a hipertermia (t >37°C),
durante o período subsequente de terapia intensiva.
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR
O número registrado de TRM em
salvamentos aquáticos pelos bombeiros não justifica
que todo resgate de afogado seja tratado com
imobilização cervical; apenas cerca de 0,5% das
pessoas que se afogam apresentam lesão cervical.
No entanto, identificar situações de possível
trauma raquimedular pode ser a diferença entre uma
vida saudável e a paralisia definitiva dos quatro
membros (tetraplegia).
Situações de suspeita de TRM na água:
Vítima se afogando em local raso*;
Vítima politraumatizada dentro da água;
Mergulhos de altura ou em águas rasas;
Esportes radicais na água (incluindo surf);
Sinais e sintomas sugestivos de TRM: dor em
região de coluna vertebral; traumatismo facial ou
de crânio; formigamento (anestesia) ou paralisia
de qualquer parte do corpo abaixo do pescoço.
*Outros fatores podem causar inconsciência em
águas rasas: traumatismo crânio-encefálico; mal
súbito (infarto agudo do miocárdio), convulsão,
lipotímia, hidrocussão (choque térmico); e
afogamento em que a vítima foi parar em águas
rasas.
Fig. 5.13 Atendimento ao afogado com suspeita de TRM
LATE-UFRJ|2015
58
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LATE-UFRJ|2015
59
SANGRAMENTO
DEFINIÇÃO
Um sangramento ou hemorragia corresponde
a qualquer perda de sangue do espaço vascular para
o compartimento extravascular (cavidade, interstício
ou para fora do organismo), decorrente de uma ou
várias rupturas nos vasos sanguíneos (hemorragia
por rexe) ou por afrouxamento da membrana basal
vascular por variadas causas, havendo a passagem
de hemácias por entre as células endoteliais
(hemorragia por diapedese).
A severidade de uma hemorragia reside tanto
na velocidade quanto na quantidade da redução
volumétrica, as quais variam em relação ao número,
tipo e localização dos vasos acometidos.
Caso a hemorragia persista, em face da
ineficiência de mecanismos fisiológicos de
hemostasia como vasoconstrição e coagulação
sanguínea, a vítima, sem a assistência adequada e,
principalmente, com perda superior a 25% do volume
sanguíneo corporal total, poderá evoluir rapidamente
para o óbito em consequência da morte celular por
depleção de nutrientes e oxigenação.
CLASSIFICAÇÕES
A. QUANTO À FONTE
Arterial: sangramento de fluxo pulsátil, expelido em
jatos e de coloração vermelho-vibrante. Corresponde
a uma grande ameaça à vida, pois um elevado
volume de sangue pode ser perdido em um curto
período de tempo.
Venoso: sangramento de fluxo constante,
apresentando escorrimento, geralmente, de coloração
escurecida. Raramente fatal.
Capilar: sangramento contínuo, discreto e lento,
geralmente, coagulando de forma espontânea.
Pequena importância.
Fig. 6.1 Fontes de sangramento
LATE-UFRJ|2015
60
B. QUANTO AO LOCAL OU PROFUNDIDADE
Externa: O sangue perdido é visível ao exame
primário do paciente, sendo relacionado às estruturas
superficiais e exteriorização. Geralmente, pode ser
controlada por compressão local.
Interna: O sangue perdido não é visível e pode ser
proveniente de lesões traumáticas de vísceras
internas ou grandes vasos. Alta gravidade, havendo
grande possibilidade de choque e óbito em pouco
tempo. Ocorre, principalmente, no abdome e no tórax.
Hemorragia interna exteriorizada: Os
sangramentos internos podem ou não permanecer no
interior do organismo, exteriorizando-se em alguns
casos. São mais representados por:
EPISTAXE: sangramento que se origina da
mucosa das fossas nasais, podendo ser anterior
(plexo de Kisselbach) ou posterior.
OTORRAGIA: sangramento pelo conduto auditivo
externo.
ESTOMATORRAGIA: sangramento proveniente
da cavidade oral, podendo ser originada por
ferimentos na bochecha, língua e extrações
dentárias.
HEMATÊMESE: sangramento originado do
sistema digestivo alto (esôfago, estômago e
duodeno) que é normalmente expelido pelo
vômito e que costuma apresentar coloração
escura como borra de café.
HEMOPTISE: sangramento espumante e de
coloração vermelha rutilante que é expelido pela
tosse. Tem origem do aparelho respiratório, em
geral dos pulmões e/ou da árvore brônquica.
As otorragias e epistaxes podem apresentar
saída de líquor ou líquido cefalorraquidiano (L.C.R.),
sendo esse um indício de T.C.E. (Traumatismo
Cranioencefálico), e, portanto, todos os cuidados com
a estabilização cervical devem ser tomados
prioritariamente.
RECONHECIMENTO DE UM SANGRAMENTO
A suspeita da existência de um sangramento
deve basear-se tanto na avaliação primária da vítima
quanto na própria cinética da injúria como:
Quedas
Perfurações traumáticas (principalmente em
abdome e tórax)
Acidente por desaceleração
Trauma contuso (ex.: colidir o abdome ou tórax
no volante)
Explosões (ondas supersônicas)
Sendo assim, há alguns sinais e sintomas que podem
apontar a existência de tal distúrbio hemodinâmico.
PRIMEIROS SOCORROS
Primeiramente deve-se sempre levar em
consideração a segurança do socorrista e de sua
equipe, destacando-se a avaliação da cena e a
utilização de Equipamentos de Proteção Individual
(EPI), como luvas descartáveis para prevenção de
contaminações por contato direto com o sangue da
vítima. Além disso, o alerta do serviço de emergência,
nas situações realmente necessárias, deve ser
adotado como uma das medidas iniciais, sendo
fundamental para o prognóstico da vítima.
Antes de iniciar-se o auxílio ao indivíduo
injuriado, caso o mesmo esteja consciente, deve-se
orientá-lo a parar de movimentar-se, pois a atividade
muscular aumenta o fluxo sanguíneo e, no caso de
lesão óssea, os fragmentos resultantes do trauma
LATE-UFRJ|2015
61
podem lacerar outros vasos e tecidos adjacentes,
agravando o quadro.
¹ sinais e sintomas comumente presentes em hemorragias
externas
² sinais e sintomas comumente presentes em hemorragias
internas
A. HEMORRAGIA EXTERNA
1. Exponha o ferimento removendo ou cortando a
roupa cuidadosamente para encontrar a fonte de
sangramento.
2. Realize a compressão direta do ferimento com uma
gaze esterilizada ou pano limpo e suas mãos,
atentando para o tempo e força aplicados de modo a
prevenir a isquemia do tecido acometido. Não
aplique essa conduta em caso de ferimentos
oculares ou fratura craniana.
3. Caso o curativo aplicado inicialmente sature de
sangue, não o retire e sim o mantenha no local,
aplicando outra gaze sobre a primeira e trocando
essa sempre que encharcar.
4. Caso o ferimento tenha ocorrido em um dos
membros, eleve-o, se possível, a uma altura logo
acima do coração, deixando que a gravidade auxilie
na redução da pressão sanguínea local. Não
obstante, evite a manobra em se tratando de fraturas
ósseas, injúria espinal ou objeto empalado.
5. Para ficar possibilitado de tratar outras eventuais
lesões, aplique uma bandagem compressiva para
manter o curativo sobre o ferimento. Atente também
para não realizar uma compressão muito intensa.
Quadro 6.1 SEMIOLOGIA DA HEMORRAGIA
SINAIS SINTOMAS
Descoloração no local de
injúria ¹ ² Sede ¹ ²
Sangramento por qualquer
orifício do organismo (reto,
vagina, uretra, orelha, nariz,
boca, etc) ²
Fraqueza ¹ ²
Vômito e expectoração
sanguinolentos
(hematêmese e hemoptise,
respectivamente) ²
Frio ¹ ²
Abdome distendido ² Ansiedade ou indiferença
¹ ²
Palidez cutâneo-mucosa ¹ ² Dor à palpação ¹ ²
Sudorese intensa com pele
fria e úmida ¹ ² Agitação¹ ²
Taquicardia (FC> 100 bpm)
e hipotensão arterial (PA
sistólica<100 mm Hg) ¹ ²
Cianose ¹ ²
Respiração rápida
(taquipnéia) e artificial
Fig. 6.2 Compressão direta
LATE-UFRJ|2015
62
6. Na presença de um sangramento no qual a
compressão local mostrou-se ineficaz, diante de uma
fratura exposta, ferida contendo um corpo estranho,
uma ferida na mão do socorrista que não tenha como
ser protegida, pode-se adotar a compressão arterial
indireta, ou seja, comprimir com os dedos pontos
localizados próximo à superfície cutânea ou ainda a
tecidos firmes e ossos referentes às artérias
principais que suprem a área lesionada, permitindo
que haja a interrupção do fluxo sanguíneo que chega
à lesão. Os principais pontos de compressão
correspondem ao da artéria braquial no membro
superior e da artéria femoral no membro inferior.
TORNIQUETE
O uso dessa ferramenta no controle da
hemorragia é muito discutido até os dias de hoje.
Consiste em uma bandagem constritora (“garrote
adaptado”) aplicada na circunferência de uma das
extremidades do corpo, membros, para conter a
hemorragia. Depois de aplicado, o torniquete contém
o fluxo tanto arterial quanto venoso, sacrificando
provavelmente a parte distal a ele por um processo
de morte celular desencadeado por privação do
suprimento sanguíneo. Sendo assim, uma vez
colocado, deve assim ser mantido até que um
cirurgião retire-o, portanto, tratando-se de uma
decisão irreversível.
A mera presença de uma amputação com
hemorragia não necessita necessariamente do uso de
Fig. 6.3 Curativo
Fig. 6.4 Pontos para se realizar compressão indireta.
LATE-UFRJ|2015
63
um torniquete, podendo-se controlá-la pelo uso das
técnicas convencionais acima citadas.
O torniquete somente deve ser aplicado
em situações nas quais os outros recursos
mostraram-se ineficazes, há ameaça iminente à
vida da vítima e o socorrista tenha ciência do
procedimento que virá a realizar. Em outros
contextos sua utilização é totalmente
desaconselhada. Nesse caso, sua presença deve
ser bem demarcada, deixando-o exposto e, na vítima,
deve-se escrever, por exemplo, um T/K em sua testa
juntamente com o horário de sua aplicação. Já na
vítima consciente, deve-se instruí-la a dizer a
qualquer prestador de serviço médico acerca da
presença do mesmo.
B. HEMORRAGIA INTERNA
A hemorragia interna é considerada uma
situação de emergência. O tratamento de primeiros
socorros consiste apenas em medidas que
beneficiem o paciente até que o transporte para um
centro de emergência possa ser realizado
apropriadamente. O controle real da hemorragia
somente poderá ser realizado no centro cirúrgico.
Portanto, devem ser seguidas as seguintes etapas:
1. Identificar a presença da hemorragia interna;
2. Acionar o serviço médico de emergência;
3. Posicionar a vítima em decúbito dorsal (posição
supina);
4. Verificar os sinais vitais frequentemente e não
oferecer nada para a vítima ingerir;
5. Realizar a manutenção da temperatura corporal,
cobrindo-se “levemente” o indivíduo e atentando
para não aquecê-lo demasiadamente com
cobertores.
6. Buscar aliviar ao máximo a dor do paciente,
mantendo-o em uma atmosfera quieta e tendo
atitudes plácidas de modo a transmitir-lhe
segurança.
C. SANGRAMENTOS ESPECIAIS
EPISTAXE
O tamponamento nasal deve ser realizado por
compressão da narina(s) com gaze inclinando-se
a cabeça em 45º anteriormente durante
aproximadamente 10 minutos.
Orientar a vítima a respirar pela boca.
O gelo pode ser aplicado externamente.
Após cessar o sangramento, orientar a vítima
para não assoar o nariz, evitar esforços e também
evitar exposição ao calor.
Caso o sangramento persista, repetir a ação por
mais duas vezes.
Se nenhuma das manobras resolverem a
situação, remova a vítima imediatamente para o
hospital mais próximo.
Fig. 6.5 Aplicação e sinalização do torniquete
LATE-UFRJ|2015
64
ESTOMATORRAGIA
Fazer compressão local com gaze;
Aplicar gelo externamente à lesão.
OTORRAGIA
Vítima consciente: posicionar em decúbito dorsal
Vítima inconsciente ou com suspeita de trauma:
lateralizar a vítima com a orelha que estiver
sangrando para baixo.
Ambos enquanto não ocorre o atendimento
especializado.
HEMATÊMESE
Acionar imediatamente o serviço médico de
emergência;
Em casos de vômito ou inconsciência, lateralizar
a vítima enquanto aguarda-se o atendimento
médico especializado.
HEMOPTISE
Buscar atendimento médico imediatamente;
Enquanto aguarda-se o atendimento, manter a
vítima consciente em posicionamento recostado e
tentar mantê-la calma e, em vítima inconsciente
ou com trauma associado adotar a lateralização.
COMPLICAÇÕES
As consequências das hemorragias são
variadas, dependendo da quantidade de sangue
perdido, da velocidade da perda e do local afetado.
O choque ocorre quando a perfusão tecidual
é reduzida, resultando na falta de entrega de oxigênio
e nutrientes que são necessários para a função
celular. O choque hipovolêmico, o tipo mais comum,
resulta de uma perda rápida de 1,5L ou mais de
sangue (cerca de 30% do volume corporal). Nessa
situação a perda de sangue excede a habilidade do
corpo de compensar e prover uma perfusão e
oxigenação adequada dos tecidos, destacando-se o
nervoso, cardíaco, renal e hepático, alterando suas
funcionalidades.
Seus sinais e sintomas estão relacionados
com circulação ineficaz e depressão dos processos
orgânicos.
Quadro 2.2 IDENTIFICAÇÃO DE CHOQUE
HIPOVOLÊMICO
Alterações de consciência, ansiedade, medo, confusão,
fadiga, fraqueza até inconsciência
Sede
Pulso periférico fraco, afilado ou ausente
Pele pálida, úmida e fria
Taquicardia e hipotensão arterial acompanhada de pulso
rápido
Respiração irregular, laboriosa e artificial
Náuseas e vômito
Midríase (pupilas dilatadas)
Pouco ou nenhuma produção de urina
Fig. 6.6 e 6.7 Controle de epistaxe anterior. (a) como
fazer (b) como não fazer
a) b)
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PRIMEIROS SOCORROS
1. Mantenha a calma, sendo gentil com o acidentado
e buscando mantê-lo também calmo;
2. Acione o sistema de emergência;
3. Avaliação primária do paciente - ABC da vida;
4. Adote os primeiros socorros à injúria ou doença
geradora do choque, no caso a hemorragia;
5. Afrouxe qualquer vestimenta apertada no pescoço,
tórax, cintura ou outras áreas (colarinho, manga,
cinto);
6. Posicione a vítima em decúbito dorsal com os
membros inferiores elevados sem realizar
movimentos muito abruptos;
7. Mantenha a vítima aquecida, cobrindo-a com um
cobertor.
FERIMENTOS
DEFINIÇÃO
Ferida é sinônimo de lesão tecidual,
deformidade ou solução de continuidade.
Corresponde a um comprometimento da integridade
de um tecido corpóreo, como cutâneo, muscular e
ósseo, em variadas extensões. Desenvolve-se em
consequência de uma agressão ao tecido vivo por
agentes físicos, químicos, térmicos, mecânico, mas
também podem ocorrer devido a distúrbios clínicos ou
fisiológicos. Portanto, as feridas podem ser causadas
por fatores extrínsecos, como incisão cirúrgica e
lesões acidentais por corte ou trauma, e por fatores
intrínsecos, como úlceras crônicas e vasculares,
defeitos metabólicos e neoplasias. Em geral, são
acompanhadas por sinais e sintomas como dor,
edema e sangramento, além de serem uma
importante via para o desenvolvimento de processos
infecciosos.
CLASSIFICAÇÕES
É imprescindível avaliar e documentar a
evolução da ferida para determinar o tratamento
apropriado para cada caso, o que deve ser feito de
forma sistemática, desde a ocorrência da lesão até
sua completa resolução. Existem alguns tipos de
abordagens para se avaliar/classificar uma lesão,
tornando a sistematização mais eficaz. Segue abaixo
alguns dos mais utilizados e conhecidos:
a) EXPOSIÇÃO
Abertas: ocorre o rompimento da superfície cutânea
e, eventualmente, de vasos sanguíneos, causando
sangramentos.
Fig. 6.8 Como proceder enquanto aguarda ajuda.
LATE-UFRJ|2015
66
Fechadas: a lesão do tecido mole ocorre abaixo da
pele, não havendo a perda da continuidade na
superfície. São causadas por impacto ou
compressão, podendo haver lesão de órgãos
internos.
b) GRAU DE CONTAMINAÇÃO
Limpas: realizadas em ambientes cirúrgicos, em que
não há contato com órgãos contaminados (dos
sistemas geniturinário e gastrointestinal),
apresentando baixo risco de contaminação (de 1 a 5
%).
Limpas contaminadas: com contaminação grosseira
por objetos ou contato com órgãos ou sistemas
contaminados. Risco de contaminação em torno de 3
a 11%.
Contaminadas: são feridas acidentais recentes e
abertas colonizadas por flora bacteriana considerável,
ou ainda feridas cujo tempo de atendimento foi
superior a seis horas entre o trauma e o atendimento
inicial. Observa-se a presença de reação inflamatória
local. O risco de contaminação sobe para 10 a 17%.
Infectadas: apresentam evidências do processo
infeccioso, como tecido desvitalizado, exsudação
purulenta e odor característico, sendo representadas
por lesões ulceradas infectadas e as escaras.
c) EVOLUÇÃO
Agudas: geralmente são feridas traumáticas, há
ruptura da vascularização e desencadeamento
imediato do processo de hemostasia. Ex: cortes,
queimaduras, escoriações;
Crônicas: Descritas como de longa duração ou
recorrência frequente. Ocorre um desvio na
sequência do processo cicatricial fisiológico.
d) NATUREZA
Abrasão / Escoriação / Arranhão / Queimadura por
atrito: Remoção por fricção ou força de camadas
cutâneas superficiais, sendo geralmente observada
em quedas. Apresentam sangramento discreto, mas
costumam ser extremamente dolorosos. Não
representam risco ao paciente quando isolados.
Incisão: corte com bordas limpas, bem delimitadas,
não havendo a presença de tecido fibroso. É
provocada por objetos cortantes amolados, como
facas, bisturis ou lâminas. Pode possuir expressiva
perda sanguínea.
Laceração: corte com bordas irregulares e
desvitalizadas na pele por um mecanismo de
superestiramento com ruptura do tecido. Possuem
grande risco de infecção. Pode ser ocasionada por
mordedura de animais.
Contusão: ocasionada pelo impacto fechado de uma
força ou esmagamento. Danifica pequenos vasos e
causa sangramento intersticial, usualmente sem
ruptura da continuidade do tecido mole.
Perfuração: causada pela introdução de objetos
pontiagudos, como prego, agulhas ou punhal na pele
e em tecidos subjacentes. Podem possuir apenas o
orifício de entrada ou um orifício de entrada e um de
saída por atravessamento dos tecidos justapostos –
transfixação. Há elevado risco de infecção, pois a
penetração do objeto transporta microorganismos e
debris para o interior dos tecidos.
Avulsão: lesões nas quais uma secção de tecido é
rasgada, havendo descolamento da pele em relação
LATE-UFRJ|2015
67
ao tecido subjacente, seja parcial, na qual o tecido
permanece ligado ao corpo, ou total, em amputações.
Apresentam graus variados de sangramento,
geralmente de difícil controle e são muito observadas
em acidentes automobilísticos.
EQUIMOSES x HEMATOMAS
Equimoses: correspondem a sangramentos com
difusão sanguínea pelo espaço subcutâneo, formando
um “lençol”. Variam de coloração com a degradação
da hemoglobina ali depositada após a fagocitose das
hemácias.
Hematomas: há o confinamento do sangue
extravasado dentro de um tecido de modo a formar
uma cavidade, podendo ser relativamente
insignificantes ou suficientemente grandes para
serem fatais por seu efeito de massa.
PRIMEIROS SOCORROS
Como em qualquer outra situação, a medida
inicial do atendimento de uma vítima com um
ferimento é avaliar a segurança da cena, garantindo
que não haja novas vítimas, além da utilização do
E.P.I.
1. Exponha o ferimento de modo a visualizá-lo e
determinar suas características;
2. Realize a antissepsia da ferida por meio da
aplicação de água corrente e sabão ou de soro
fisiológico;
3. Na presença de sangramentos, corrija-os
rapidamente pelas técnicas explicadas
anteriormente;
4. Não se deve remover possíveis corpos estranhos
(facas, lascas de madeira, pedaços de vidro ou
ferragens) que estejam fixados em ferimentos,
mas estabilizá-los por meio de outros objetos que
estejam disponíveis, de forma a evitar
deslocamentos acidentais. Tal manobra pode ser
auxiliada pelo emprego de cintos ou ataduras
como forma de fixação;
5. Cobrir os ferimentos com uma compressa
preparada com um pedaço de pano bem limpo ou
gaze esterilizada. Essa compressa dever ser
posicionada sobre a ferida e fixada firmemente
com uma atadura ou bandagem;
6. Dependendo da extensão, local e grau de
contaminação da lesão, a vítima deve ser
conduzida ao serviço médico especializado
Fig. 6.11 Limpeza da ferida
Fig. 6.9 e 6.10 Equimose (esq.) e Hematoma (dir.)
LATE-UFRJ|2015
68
(SME) para a realização de suturas e anti-sepsia
mais elaborada.
GELO
Somente deve ser utilizado em lesões
fechadas (ex. feridas contusas), envolvido por algum
tecido ou saco plástico, de modo a evitar o seu
contato direto com o tecido lesado, aplicando-se por
20 minutos com intervalos de mesmo tempo, três
vezes. Não deve ser utilizado em regiões como
mucosas e genitálias.
CONDUTAS ESPECIAIS
a) AMPUTAÇÕES
1. Abrir vias aéreas e prestar assistência
ventilatória, caso necessário;
2. Controlar a hemorragia, não utilizando torniquetes
como medida inicial;
3. Tratar o estado de choque, caso este esteja
presente;
4. Cuidados com o segmento amputado:
Limpeza com solução salina, sem imersão
em líquido.
Envolvê-lo em gaze estéril, seca ou
compressa limpa.
Proteger o membro amputado com dois
sacos plásticos.
Colocar o saco plástico em recipiente de
isopor com gelo ou água gelada.
Jamais colocar as extremidades em contato
direto com o gelo.
b) FERIMENTOS OCULARES
1. Realize a irrigação ocular com soro fisiológico,
durante vários minutos em caso de lesão por agentes
químicos, ou na presença de corpos estranhos;
2. Não tente remover objetos da córnea ou utilize
medicamentos tópicos (colírios ou anestésicos),
apenas estabilize-os com curativos adequados
realizando a oclusão ocular bilateral com gaze
umedecida e curativo frouxo mesmo em lesões
unilaterais.
3. Em caso de extrusão de globo ocular não tente
Fig. 6.12 Cuidados com o membro amputado.
Fig. 6.13 Curativo Ocular.
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recolocá-lo. Encaminhe a vítima para o serviço
médico o mais prontamente possível.
c) EVISCERAÇÃO
1. Não se deve, de forma alguma, tocar nas vísceras,
nem tentar colocá-las de volta para dentro da
cavidade abdominal. Cubra-as com curativo oclusivo,
de materiais não aderentes, embebido em soro
fisiológico ou água limpa. Envolva o curativo
cuidadosamente com bandagens fixadas firmemente,
mas nunca apertadas.
2. Posicione o acidentado em local confortável, em
decúbito dorsal, colocando uma manta ou cobertor
enrolado sob seus joelhos, para diminuir a pressão
sobre o ventre e impedir o afastamento muscular.
3. Não ofereça nada para o acidentado ingerir, ainda
que se queixe de muita fome ou sede.
d) FERIMENTOS NA CABEÇA
Qualquer traumatismo craniano é potencialmente
grave, pois remete à possibilidade imediata de
possíveis danos maiores às estruturas nobres
abrigadas na caixa craniana como o encéfalo. Além
disso, o couro cabeludo é altamente vascularizado, o
que promove importantes sangramentos quando
lesado. Portanto, o atendimento adequado e rápido a
uma vítima em tal situação é essencial.
1. Proceda a imobilização e estabilização da coluna
vertebral.
2. Monitore a respiração e preste atendimento, se
necessário.
3. Controle o sangramento com curativo limpo, não
aplicando a pressão diretamente sobre o ferimento,
mas sim ao redor das bordas da lesão.
4. Procure imediatamente o atendimento médico
especializado.
Fig. 6.14 Curativo ocular
Fig. 6.14 Imobilização da coluna cervical.
Fig. 6.15 Curativo para lesões cranianas.
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Quadro 2.3 SINAIS DE ALERTA INDICATIVOS DE
LESÃO GRAVE NO TRAUMATISMO CRANIANO
Rinorréia e otorréia (saída de líquido cefalorraquidiano -
claro- pelas narinas e conduto auditivo externo,
respectivamente)
Sinal de Battle (equimose na região mastoidea)
Sinal do Guaxinim (equimose periorbital)
Anisocoria (desigualdade entre as pupilas);
Expressão facial aturdida;
Desorientação mental;
Vômito após o incidente;
Ausência de responsividade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO CIVIL DE PESQUISA E
DESENVOLVIMENTO EM SAÚDE (ACINDES).
Primeiros socorros, RCP e DEA Padrão: Primeira
edição em português. 1. ed. São Paulo: Editorial
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BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo
Cruz. Manual de Primeiros Socorros. Rio de
janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2003. 170 p.
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ocorros.pdf>. Acesso em 05 mar. 2012.
BOGLIOLO. Patologia Geral. 7. ed. [S. l.]:
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HARRISON. Medicina Interna. 17. ed. Rio de
Janeiro: Mc Graw-Hill Interamericana do Brasil, 2008.
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PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO.
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Fig. 6.16 Curativo para lesões cranianas
Fig. 6.16 Sinais de lesão grave
LATE-UFRJ|2015
71
FRATURA
DEFINIÇÃO
Podemos definir uma fratura como sendo
uma interrupção da integridade do tecido ósseo de
origem traumática, decorrente da aplicação de uma
determinada pressão direta ou indiretamente em uma
área óssea.
Tal pressão deve ser superior ao que o tecido
é capaz de suportar, uma vez que os ossos têm
naturalmente uma capacidade de deformação para
que possam absorver impactos, voltando à sua forma
original, quando o agente causador se dissipa.
O conjunto de fragmentos ósseos produzidos
pela fratura e tecidos lesados em torno da lesão é
denominado foco de fratura.
Ao contrário do que muitos acreditam, um
osso trata-se de um tecido vivo, com elevado
metabolismo, além de contar com um grande
suprimento vascular e conter reservas adiposas
(principalmente quando nos referimos aos ossos
longos).
Dessa forma, uma fratura pode levar a
severas perdas sanguíneas, suficientes até mesmo
para causar um choque hipovolêmico, especialmente
quando se está diante de múltiplas fraturas ou
fraturas expostas.
Vários fatores podem influir na rigidez e
resistência de um osso, portanto, determinando a
facilidade com que o mesmo venha a sofrer tal tipo de
lesão. Entre eles temos:
Idade do indivíduo;
Características ósseas (tamanho, forma,
consistência);
Doenças metabólicas com influência no
metabolismo ósseo.
CLASSIFICAÇÕES
a) QUANTO À EXPOSIÇÃO
FECHADA
São aquelas em que não há exposição do foco
fraturário, todavia, envolve potenciais danos
subcutâneos e de outros tecidos moles, incluindo
artérias, veias, nervos, músculos e órgãos.
Quadro 7.1 PERDA SANGUÍNEA ESTIMADA POR FRATURA
OSSO PERDA SANGUÍNEA
Úmero 0,5 – 1,5 L
Tíbia 0,5 – 1,5 L
Fêmur 1,0 – 2,5 L
Pelve 1,0 – 4 L
6ª Edição Atualização 2013
LATE-UFRJ|2015
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ABERTA (OU EXPOSTA)
São fraturas na qual há lesão de continuidade
da pele, podendo o osso estar exteriorizado ou não.
O dano cutâneo pode ocorrer pelo trauma, pelos
fragmentos ósseos e/ou pelo manuseio intempestivo
da vítima, tornando aberta, uma fratura, até então,
fechada.
A exposição da fratura para o ambiente
externo produz contaminação local, o que aumenta o
risco de infecção, podendo ter consequências como:
Osteomielite, que retarda ou impede a
consolidação óssea;
Perda do membro lesado, em casos extremos;
Septicemia, em casos mais graves;
Pode levar a óbito.
b) QUANTO À SOLUÇÃO DE CONTINUIDADE
FRATURA EM FISSURA: são aquelas em que as
bordas ósseas ainda estão muito próximas,
assemelhando-se a uma rachadura ou fenda.
FRATURA EM “GALHO VERDE”: é a fratura
incompleta que atravessa apenas uma parte do osso
e corresponde a um envergamento do mesmo. Sua
ocorrência é mais comum em crianças, devido à
maior flexibilidade óssea, e nos antebraços (punho).
FRATURA COMPLETA: é a fratura na qual o osso
sofre descontinuidade total.
c) QUANTO À NATUREZA DO DANO
FRATURA COMINUTIVA: corresponde àquela na
qual o osso lesionado fragmenta-se em um ou
diversos pequenos pedaços, além das outras
metades do osso fraturado.
FRATURA ESPIRAL: é quando o traço de fratura
encontra-se ao redor e através do osso. Nessa
fratura, o osso é separado e a fratura forma espirais
ao redor do eixo longitudinal. Tais fraturas são,
geralmente, decorrentes de lesões que ocorrem com
movimentos de rotação sob descarga de peso.
Fig. 7.3 (a) em “galho
verde” e (b) completa
(a) (b)
Fig. 7.1 Exemplos de Fraturas Fechadas
Fig. 7.2 Fratura Exposta
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73
FRATURA IMPACTADA: é quando as partes
quebradas do osso permanecem comprimidas entre
si, interpenetrando-se.
FRATURA OBLÍQUA: é quando o traço de fratura
(borda da fratura) se apresenta diagonalmente.
FRATURA TRANSVERSA: ocorre quando o traço de
fratura atravessa o osso numa linha
aproximadamente reta.
d) QUANTO À PRESENÇA DE LESÃO
ASSOCIADA
SIMPLES: quando não há evidências de lesões
associadas.
COMPLICADA: acompanhada de lesões associadas,
que são geradas pelo mesmo trauma com velocidade
e energia altas. Exemplo de lesões associadas locais:
Musculares;
Tendinosas;
Nervosas;
Vasculares;
Sistêmicas (trauma abdominal, torácico e
craniano).
ETIOLOGIA DAS FRATURAS
FORÇA DIRETA: o local onde ocorre a fratura
corresponde ao local onde a força foi aplicada.
FORÇA INDIRETA: a força ou a energia cinética,
aplicada sobre um segmento é transmitida ao longo
do membro, causando fratura em ossos mais
distantes do impacto. Portanto, pode-se dizer que a
energia do trauma dissipa-se lesando a estrutura
menos resistente.
ESPONTÂNEA OU INDUZIDA POR ESPASMO: as
fraturas estão associadas com doenças e/ou violentos
espasmos musculares. Um exemplo disso seria no t
RECONHECIMENTO
DOR
As características da dor variam muito de
acordo com o paciente, mas é normalmente descrita
como intensa, profunda e localizada, que aumenta
com os movimentos ou pressão.
Ela é normalmente aliviada por manobras de tração,
alinhamento e imobilização.
EDEMA
Devido ao trauma, ocorre uma lesão dos
tecidos vizinhos à fratura, produzindo sangramento
local e inflamação, o que pode gerar edema e
hematoma.
DEFORMIDADE
O segmento fraturado apresenta angulações,
rotações e encurtamentos evidentes à simples
observação da vítima, comparando-se o membro
lesado com o não afetado.
Ocorre devido ao deslocamento das seções dos
ossos fraturados ou acúmulo de sangue ou plasma no
local.
Quadro 7.2 DOR NA FRATURA
A dor existente em uma fratura decorre da “irritação” do
periósteo, rico em terminações nervosas, o qual
compreende o tecido conjuntivo associado ao tecido
ósseo.
Fig. 7.4 Quanto à natureza da fratura
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74
CREPITAÇÃO ÓSSEA
Sensação transmitida durante a palpação
devido ao contato dos fragmentos da fratura uns com
os outros, produzindo um “som parecido com o
amassar de papel”.
No entanto, após a identificação da fratura,
não é aconselhado demais reproduções intencionais
de crepitação, pois provoca dor e aumenta a lesão
entre os tecidos vizinhos à fratura e pode gerar danos
aos órgãos internos e hemorragia interna.
No caso de dúvida, sempre considerar a
existência da fratura.
OUTROS SINAIS E SINTOMAS
Impotência funcional e/ou perda de força;
Feridas abertas;
Sinais e sintomas associados com perda
sanguínea (palidez cutânea, hipotensão,
taquicardia, suor frio, etc) ou com lesão de algum
órgão.
PRIMEIROS SOCORROS
O QUE FAZER
A avaliação de uma fratura não pode ser
iniciada sem que antes tenham sido providenciados
todos os cuidados referentes à segurança do próprio
socorrista e sua equipe, além da necessidade de se
atentar para que sejam estabilizados os demais
fatores que possam por em risco a vida da vítima
mais imediatamente. Isso é muito importante pois,
mesmo que uma fratura nos impressione pela sua
aparência fazendo-nos não perceber, por exemplo,
uma parada cardiorrespiratória. Para tanto, é
importante a avaliação do ABC da vida (vias aéreas,
respiração, circulação).
Aplicando-se essas primeiras medidas, há
uma série de outras que podem ser realizadas para a
avaliação e tratamento de fraturas em geral:
1. Acalmar o acidentado, de preferência evitando
que ele olhe para o local fraturado.
2. Para determinar as possíveis fraturas, realize um
breve exame físico da vítima, palpando-a no
sentido crânio-caudal, procurando pelos sinais
apontados previamente (lembre-se sempre de
utilizar luvas). Pesquisas mostram que cerca de
30% dos pacientes com fratura exposta
apresentam ainda outras lesões associadas.
3. Exponha as áreas de possível lesão de modo a
observar as características da fratura, como
presença de feridas, sangramentos, entre outros;
4. Remover joias, sapatos e qualquer objeto que
possa ficar preso com o edema e constringir a
circulação.
5. Trate a hemorragia, caso esteja presente, com a
aplicação de gaze esterilizada ou pano limpo
aplicando pressão adequada à redução da perda
de sangue, evitando sobrecarregar a área
fraturada;
6. Realize um curativo cobrindo toda a área
lesionada, protegendo-a contra possíveis
contaminações maiores;
7. Trabalhe com muita delicadeza e cuidado. Toda
atenção é pouca, pois os menores erros podem
gerar sequelas irreversíveis;
8. Imobilize a área fraturada, procurando colocar o
membro na posição que for menos dolorosa para
o acidentado, o mais naturalmente possível;
9. Aplique uma bolsa de gelo e eleve o membro se
possível, para prevenir o edema;
10. Providencie o atendimento médico especializado
o mais rápido possível, realizando o transporte
adequado. Nunca transporte alguém sem estar
devidamente imobilizado.
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O QUE NÃO FAZER
Tão importante quanto as atitudes a serem
tomadas para socorrer o fraturado são as que não
podem ser feitas. São elas:
Não movimente vítima com fraturas antes de
imobilizá-Ia adequadamente.
Se há risco real de incêndio, desabamento ou
explosão, e você ainda assim optar pelo risco do
resgate, arraste-a por meio do maior eixo do
corpo. Se há necessidade de posicionar a vítima
para instituir RCP, proceda de modo a manter em
alinhamento os segmentos fraturados.
Não dê qualquer alimento ao ferido, nem mesmo
água.
Jamais tente recolocar o osso no lugar ou retificá-
lo em caso de resistência limitante a essa
correção.
Quadro 7.3 REDUÇÃO DA FRATURA VS
REALINHAMENTO DE DEFORMIDADES
DECORRENTES DA FRATURA
Sob nenhuma justificativa deve-se tentar reduzir uma
fratura (reencaixar o osso fraturado de volta no seu lugar).
As manobras de redução de qualquer tipo de fratura só
podem ser feitas por pessoal médico especializado,
portanto, não force o retorno de um osso à sua posição
anatômica, pois além de muito doloroso à vítima, os danos
promovidos serão maiores. Entretanto, quando uma fratura
determina uma grande deformidade em um membro,
podem ocorrer discretas “dobras” nas artérias que passam
pela região, obstruindo o aporte sanguíneo a jusante deste
local. Dessa forma, realinhar suavemente o membro é um
procedimento adequado desde que não haja restrição
tecidual.
IMOBILIZAÇÃO
A imobilização objetiva estabilizar a
extremidade lesada em uma posição mais próxima da
anatômica, de modo a auxiliar na redução do
sangramento, dor e edema, além de atuar na
prevenção do agravamento da injúria, na medida em
que, a contenção do movimento do membro impede
que espículas ou fragmentos causem maiores danos
aos tecidos adjacentes. Para tal finalidade, em geral,
utiliza-se de uma tala.
Não gaste muito tempo tentando imobilizar
a lesão antes de contatar o serviço médico com
urgência!
Diversos princípios são aplicáveis para a
realização de uma imobilização adequada:
As talas devem ser bem “acolchoadas” de modo a
evitar a promoção de danos à pele e tecidos
superficiais, o que pode ser viabilizado a partir da
utilização de materiais macios como panos
limpos, camadas de algodão ou gaze, envolvendo
o membro injuriado;
A tala deve ser maior que o osso fraturado e
estender-se além das margens da lesão; sendo o
ideal que englobe tanto a articulação distal quanto
proximal à lesão, estabilizando-as com o auxílio
de tiras de pano, ataduras ou cintos para fixar a
tala;
Qualquer material rígido como madeira, metal,
plástico, revista enrolada, papelão ou jornal
grosso dobrado, pode ser utilizado na confecção
de uma tala rígida;
Para a estabilização do membro imobilizado o
mesmo pode ser fixado a uma região adjacente:
braço ao tórax, uma perna a outra, um dedo ao
adjacente;
Antes do início e depois de concluída a
imobilização, sempre verifique a circulação distal
a área tratada por meio da avaliação da coloração
da pele e da palpação do pulso, procurando notar
e registrar oficialmente se já havia sinais de
ausência de circulação sanguínea antes do
procedimento e, após a imobilização realizada,
observar se a compressão está elevada a ponto
de interromper o fluxo sanguíneo.
No caso de uma luxação ou fratura de
articulação, imobilizar a extremidade na posição
em que foi encontrada.
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Quadro 7.4 TIPÓIA
Para fixar o antebraço pode-se desenvolver uma tipóia. Ela também pode ser usada para melhor conforto do membro
já imobilizado. Para a sua execução utilize um pedaço grande de tecido com as pontas presas ao redor do pescoço.
Isto serve para sustentar um braço em casos de fratura de punho, antebraço, cotovelo, costelas ou clavícula. Só use
a tipóia se o braço ferido puder ser flexionado sem dor ou se já estiver dobrado.
Fig. 7.5 Como montar uma tipóia
Fig. 7.6 e 7.7 Exemplos de imobilizações: tala rígida para perna (esq.) e tala rígida com quatro bandagens para antebraço.
Fig. 7.9 Tala rígida para antebraço.
Fig. 7.8 e 7.9 Imobilização com materiais improvisados.
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FRATURAS DE DIFÍCIL MANEJO
Diante de tais situações, acionar o Serviço
Médico de Emergência (SME) corresponde à medida
mais imediata, todavia, o socorrista pode auxiliar de
algumas maneiras:
CRÂNIO
Fratura do crânio é, normalmente,
consequente de um Traumatismo Crânioencefálico
(TCE), portanto uma séria emergência, já que pode
comprometer as vias aéreas e centros neurológicos
de controle da respiração. Diante de tal situação, a
medida mais adequada a ser tomada é a
estabilização da coluna cervical até que o socorro
adequado chegue ao local. Além disso, deve-se estar
atento aos sinais vitais dessa vítima que pode a
qualquer momento sofrer recaídas.
TÓRAX
Para identificá-la é importante avaliar a
integridade das clavículas e costelas por meio da
palpação, sempre atento a qualquer abaulamento,
contusões e instabilidade. Esta pode ser observada
quando a vítima inspira: por conta da pressão
negativa, a porção instável é “sugada” internamente,
e torna-se protuberante durante a expiração. É
importante notar que muitos desses pacientes
possuirão também lesões torácicas internas.
PELVE
Sua identificação se dá pela palpação
simultânea das cristas ilíacas, que normalmente se
apresentariam fixas, mas, em tal situação, encontram-
se instáveis e com crepitação. É importante
mencionar que esta manobra deve ser feita uma
única vez, na dúvida não repita! Fraturas de pelve
podem levar à hemorragia fatal!
A medida a ser adotada é a estabilização da
pelve por meio de um cinto ou algo que possa
envolvê-la ao mesmo tempo em que realiza
compressão, como, por exemplo, uma toalha de
banho envolvendo a cintura pélvica e amarrada
anteriormente. Tal fratura também pode ser danosa
aos órgãos internos, assim como, devido à intensa
vascularização da pelve e à presença de artérias de
grande calibre, gerar grandes hemorragias as quais
podem evoluir para um choque hipovolêmico
rapidamente.
LESÕES DE TECIDOS MOLES
INTRODUÇÃO
As “lesões de tecidos moles” são traumas
relacionados aos músculos, tendões ou ligamentos.
As lesões podem ser internas e/ou externas;
causadas por trauma direto ou indireto. Neste capítulo
abordaremos Entorses, Luxações e Distensões.
As causas mais comuns das lesões de
tecidos moles são a prática de esportes, por golpes
indiretos ou movimentos articulares violentos, mas, às
vezes uma contração muscular é suficiente para
causar uma luxação, por exemplo. Dependendo da
violência do acidente, poderá ocorrer o rompimento
do tecido que cobre a articulação.
Fig. 7.10 Faixa compressiva da pelve
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As articulações usualmente mais atingidas
são a tibio-tarsal (tornozelo), fêmoro-tibio-patelar
(joelho), escápulo-umeral (ombro), úmero-radial
(cotovelo), articulações dos dedos e a têmporo-
madibular.
ENTORSE
Entorse pode ser definida como uma
separação momentânea das superfícies ósseas, ao
nível da articulação,
Geralmente, quando a articulação é forçada além de
sua amplitude normal (perda efêmera da congruência
articular). A lesão provocada pela deformação brusca
geralmente produz o estiramento ou até o
rompimento dos ligamentos na articulação ou perto
dela.
A severidade da entorse pode variar desde
um microtrauma aos tecidos envolvidos (leve) até um
rompimento total dos mesmos, incluindo estruturas
vasculares e nervosas (grave).
Quadro 7.5 SINAIS E SINTOMAS DE ENTORSES
Dor ao movimento
Edema
Sensibilidade à palpação
Derrame articular precoce ou tardio (aumento da secreção
do líquido sinovial)
Equimose
Impotência funcional
LUXAÇÕES
A luxação é uma lesão onde as extremidades
ósseas que formam uma articulação ficam
deslocadas, permanecendo desalinhadas e sem
contato entre si (perda permanente da congruência
articular). O desencaixe de um osso da articulação
(luxação) pode ser causado por uma pressão intensa,
que deixará o osso numa posição anormal, ou
também por uma violenta contração muscular. Com
isto, poderá haver ruptura dos ligamentos.
Esse tipo de injúria é muito grave e deve ser
considerado um caso de urgência, devendo receber
rápido diagnóstico e tratamento. Um tratamento
inadequado pode provocar danos aos tecidos como
rigidez articular, artrose, necrose por perda vascular,
infecções, etc.
Quadro 7.6 SINAIS E SINTOMAS DE LUXAÇÕES Dor intensa
Edema
Deformidade articular
Alterações de sensibilidade
Impotência funcional absoluta
Fig. 7.12 Exemplo de luxações
Fig. 7.11 Entorse de tornozelo
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79
LESÕES MUSCULARES
As lesões musculares podem ser divididas
em três tipos, contusão; laceração; e distensão ou
estiramento. Trataremos, neste capítulo,
principalmente sobre este último tipo, que é muito
comum também em atletas profissionais, mas pode
ser evitável, uma vez que o músculo dá sinais
precoces de fadiga (antes que a lesão aconteça).
A contusão é uma lesão por compressão,
causada por trauma direto que resulta em ruptura
capilar, com hematoma e resposta inflamatória.
A laceração é a injúria caracterizada por
perda de tecido muscular.
A distensão ocorre quando as fibras
musculares ou tendíneas são excessivamente
estiradas ou forçadas a se contrair contra uma
resistência além dos seus limites de capacidade tênsil
ou extensibilidade, levando ao seu rompimento. Essa
injúria pode ocorrer próximo à junção miotendinosa e
acarretar danos também a estruturas nervosas e
vasculares.
As lesões musculares são
classificadas: quanto à ação, que pode ser direta
(mais comum em esportes de contato), ou indireta
(comuns em esportes individuais); quanto à
funcionalidade, que podem ser parciais, onde o
músculo perde força, mas ainda consegue se contrair,
ou podem ser totais, quando a mobilidade articular e
a força muscular podem ser nulas, ou seja, o músculo
não se contrai mais.
Dentre os importantes tipos de complicações
que podem decorrer de uma Distensão, há a
síndrome compartimental: o edema e o
sangramento exercem pressão dentro da fáscia
muscular, que é pouco distensível, aumentando a
compressão de vasos sanguíneos e terminações
nervosas, acarretando em intensa dor e morte do
tecido por falta de nutrição, podendo levar à perda do
membro.
O complexo de músculos da região posterior
da coxa (jarrete) e panturrilha são os mais
frequentemente afetados por essas lesões, pois são
expostos a atividades que exigem muito da
musculatura.
Quadro 7.7 SINAIS E SINTOMAS DE LESÕES MUSCULARES Dor em queimação em repouso ou a movimentação ou
palpação
Impotência funcional muscular
Edema
Equimose distal a lesão
Deformidade muscular a palpação
PRIMEIROS SOCORROS
O cuidado no manejo de lesões envolvendo
tecidos moles deve, à primeira vista, ser semelhante
ao das fraturas, visto que os sinais e sintomas se
confundem entre elas. Portanto, incluem-se: chamar
ajuda médica, acalmar a vítima, remover objetos que
venham a constringir possíveis edemas, tratar
hemorragias, procurar por outras lesões, imobilizar
adequadamente os segmentos injuriados, tudo isso,
visando acelerar a recuperação e prevenir o edema,
além de reduzir o risco de injúrias recorrentes.
Além disso, é necessário reduzir a
temperatura local e as demandas metabólicas,
amenizar a dor, proteger o tecido lesado para evitar o
agravamento da lesão, minimizar a inflamação e
Fig. 7.13 Exemplo de distensão muscular
LATE-UFRJ|2015
80
evitar fibrose, que poderia gerar seqüelas funcionais.
Na prática, essa conduta pode ser facilmente
resumida a partir do método mnemônico PRICE:
Protection / Proteção
Proteger (imobilizar) o membro afetado,
utilizando bandagens, talas ou ataduras elásticas,
com o objetivo de amenizar a dor e permitir a
continuidade da cicatrização, além de evitar novas
lesões. Muletas podem ser utilizadas para permitir
sustentação do peso e tipóias, para imobilizar um
braço ou ombro.
Rest / Repouso
Descansar e evitar atividades que possam
causar dor, como andar, prevenindo o agravamento
da injúria e reduzindo o fluxo sanguíneo, o que
diminui a formação de edemas e hematomas.
Ice / Gelo
Aplicar gelo sobre a lesão, de preferência
picado e sempre envolvido em uma toalha úmida,
durante 20 minutos a cada uma ou duas horas.
Nunca coloque o gelo diretamente em contato com a
pele para evitar queimaduras por “geladura”. A baixa
temperatura causa vasoconstricção, que tem efeito
anti-inflamatório, reduzindo a dor e o edema.
Compression / Compressão
Aplicar uma bandagem firme que não
prejudique a circulação no local ou cause maior dor,
realizando uma pressão sutil e uniforme. Ocorre
então a redução do edema ao inibir a infiltração em
espaços tecido subjacente e ao auxiliar na dispersão
do excesso de fluido. Substitua a compressão após
24 horas e prossiga realizando-a, ao menos, durante
72 horas.
Elevation / Elevação
Elevar o membro acima do nível do coração,
se possível, sustentando com almofadas ou como
preferir, principalmente nas primeiras 72 horas. A
força gravitacional ajuda a reduzir o acúmulo de fluido
intersticial, relacionado ao edema.
Oriente o doente a evitar se expor ao calor
(que aumenta o fluxo sanguíneo e o edema) durante
as primeiras 48-72 horas; e também evitar ingerir
álcool, que, além de aumentar o fluxo sanguíneo,
pode tornar o paciente menos consciente de sua
lesão, agravando-a.
É importante ressaltar que, principalmente
nos casos de luxações, o socorrista deverá proceder
como em um caso de fratura, imobilizando a região
lesada, sem o uso de tração. Para os primeiros
cuidados, deve colocar cuidadosamente os dois
ossos numa posição de conforto que permita a
imobilização e o transporte com o mínimo de dor. A
articulação só deve ser reduzida por profissionais
médicos; não faça massagem ou aplicação de
calor; e procure imediatamente um serviço de saúde
para avaliação e tratamento adequado.
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LATE-UFRJ|2015
82
INTRODUÇÃO
Queimaduras são lesões dos tecidos
orgânicos em decorrência de trauma resultante da
exposição a chamas, líquidos e superfícies quentes,
frio, substâncias químicas, radiação, atrito ou fricçAs
queimaduras ocorrem com maior frequência no
ambiente doméstico, sendo as crianças e os idosos
os grupos de maior mortalidade. O derramamento de
líquidos superaquecidos (água fervente na cozinha,
água quente de banho, bebidas, óleo de cozinha, etc)
afeta mais as crianças (neste caso, as queimaduras
costumam ser mais superficiais e mais extensas) e
líquidos combustíveis acidentam mais adolescentes.
Ao contrário, os adultos queimam-se com mais
frequência com a chama de fogo e principalmente no
ambiente profissional. As queimaduras resultantes,
portanto, costumam ser mais profundas e,
usualmente, acompanham-se dos danos causados
pela inalação de fumaça.
Conforme dados da literatura mundial, a
maioria dos acidentes acontece na presença de
adultos. A epidemiologia desse trauma varia em
diferentes partes do mundo. No Brasil, estima-se que
ocorram por volta de 1 milhão de acidentes com
queimaduras por ano, sendo que a maioria (79%)
acontece dentro do ambiente domiciliar. Segundo a
OMS, as queimaduras são responsáveis por
aproximadamente 300.000 mortes por ano em todo o
mundo.
É importante ressaltar o papel do álcool etílico
líquido no Brasil. É o único país que o tem como
causa comum de queimadura, por um costume
popular de se limpar tudo com álcool. Além de ser
facilmente adquirido em qualquer supermercado,
costuma ser guardado em locais de fácil acesso às
crianças e adolescentes. Estudos demonstram que o
grande responsável pelas queimaduras ocasionadas
por inflamáveis é o álcool, que contribui para uma
grande parcela das mortes por fogo nas residências.
A prevenção é a arma mais importante para
diminuir o número de acidentes e mortes relacionados
às queimaduras, já que possuem causas previsíveis,
uma vez que apresentam epidemiologia própria, além
de serem facilmente identificáveis, se repetindo em
todas as classes sociais. Portanto, a divulgação de
medidas preventivas e orientação da população por
meio de campanhas educacionais são fundamentais
e de responsabilidade das equipes de saúde e do
poder público.
FISIOPATOLOGIA
A queimadura compromete a integridade
funcional da pele, responsável pela homeostase
hidroeletrolítica, controle da temperatura interna,
flexibilidade e lubrificação da superfície corporal.
Portando, a magnitude do comprometimento dessas
funções depende da extensão e profundidade da
queimadura. Além disso, a ferida da queimadura,
mesmo sendo estéril no começo, é colonizada
rapidamente por bactérias endógenas e exógenas,
deixando assim a possibilidade de uma infecção.
LATE-UFRJ|2015
83
As principais alterações fisiológicas que
ocorrem em um processo de queimadura são:
aumento de permeabilidade capilar e edema. A
lesão térmica causa desnaturação proteica,
determinando a exposição do colágeno no tecido
afetado, levando à liberação de mediadores
inflamatórios. Tais mediadores são responsáveis pelo
aumento da permeabilidade nos capilares,
propiciando a formação do edema.
CLASSIFICAÇÕES
a) QUANTO AO TIPO DE AGENTE CAUSADOR
QUEIMADURAS TÉRMICAS
Causadas pelo calor, representadas tanto por
fogo direto, vapor ou líquidos quentes, ou ainda
contato com objetos quentes.
QUEIMADURAS QUÍMICAS
Causadas pelo contato com agentes
químicos, principalmente ácidos, álcalis e compostos
orgânicos. Ao contrário da lesão térmica, causa dano
progressivo e contínuo à pele e tecidos subcutâneos,
até que a substância seja inativada por reação
tecidual ou diluída por lavagem mecânica do local.
Os acidentes industriais são os mais
preocupantes e os acidentes domiciliares com
desinfetantes caseiros, os mais comuns. A gravidade
de uma queimadura química é determinada pelo tipo
de substância, concentração e tempo de contato.
Assim, diferentemente dos outros tipos de
queimadura, nas quais o atendimento inicial ao
paciente é “esquecer” a queimadura e iniciar o
suporte básico de vida, o cuidado com a ferida é
prioritário, antecedendo essa avaliação.
As queimaduras com álcalis costumam ser
mais graves do que as ocasionadas por ácidos. Este
fenômeno ocorre pela maior penetração dos álcalis
nos tecidos e por sua inativação mais tardia. As
lesões causadas por agentes químicos são
consideradas como queimaduras de segundo ou
terceiro graus.
Tabela 8.1 Apresenta análise de 10 anos de atendimento à queimaduras do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Período de 2001 até 2011.
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QUEIMADURAS ELÉTRICAS
Causadas pelo contato da pele com correntes
elétricas (choque elétrico), geralmente aparecendo
nos locais de entrada e saída da corrente (esse tema
será abordado melhor no capítulo de Trauma
Elétrico).
Quadro 8.1 CAUSAS MAIS FREQUENTES
As causas mais frequentes das queimaduras
são a chama de fogo, o contato com água fervente ou
outros líquidos quentes e o contato com objetos
aquecidos. Menos comuns são as queimaduras
provocadas pela corrente elétrica, transformada em
calor ao contato com o corpo. Queimadura química é
denominação imprópria dada às lesões cáusticas
provocadas por agentes químicos, em que o dano
tecidual nem sempre resulta da produção de calor.
b) QUANTO A PROFUNDIDADE OU GRAU
Considera a profundidade das camadas de
tecido afetadas.
QUEIMADURAS DE 1º GRAU1
Afeta somente a epiderme, sem formar bolhas.
Eritema (ou “vermelhidão”, que clareia quando
pressionado), edema leve, calor e dor.
Evolui com descamação em 4-6 dias e regride
sem deixar cicatrizes.
O principal exemplo são as queimaduras solares.
QUEIMADURAS DE 2º GRAU
Afeta epiderme e derme, com formação de
bolhas.
Queimadura superficial: base da bolha rósea,
úmida e dolorosa.
Queimadura profunda: base da bolha branca,
seca e indolor.
Restauração das lesões entre 7 e 21 dias.
Pode deixar sequelas: discromia (superficial) e
cicatriz (profunda).
Exemplos: queimaduras por líquidos ferventes
QUEIMADURAS DE 3º GRAU
Atinge todas as camadas da pele e parte do
subcutâneo.
Indolor (há destruição das terminações nervosas
da pele). Pode haver apenas uma dor aguda
inicial e, além disso, pode ocorrer dor oriunda das
queimaduras circundantes de menor grau.
Lesão esbranquiçada ou enegrecida, dura
(textura coreácea), seca e inelástica.
Fig. 8.1 Queimadura de primeiro grau.
Fig. 8.2 Queimadura de segundo grau.
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OBS: a queimadura que envolve tecidos mais
profundos, como os músculos, ossos e órgãos
internos, é considerada por alguns autores como
queimadura de 4º grau.
c) QUANTO À EXTENSÃO
A determinação do percentual da superfície
corporal queimada (SCQ) é de importância
fundamental, sendo este valor diretamente
proporcional à gravidade da lesão, funcionando como
índice prognóstico. Vários são os diagramas e
fórmulas para sua determinação, mas uma regra
simples, a Regra dos Nove de Wallace, permite
avaliação rápida e segura nos pacientes, sendo que
este método deve ser ajustado para crianças
menores de 10 anos. Cada parte do corpo possui um
valor específico de SCQ, de acordo com o quadro
abaixo:
A partir dos valores da tabela, pode-se calcular de
maneira prática a extensão das queimaduras. Se, por
exemplo, determinada vítima queimou o membro
inferior e o membro superior direitos, sua SQC é de
27% (18% + 9%).
Quadro 8.2 EXTENSÃO DAS
QUEIMADURAS
REGIÃO DO CORPO SCQ *
Cabeça e pescoço 9%
Cada membro superior 9% (x 2)
Cada quadrante do tronco 9% (x 4)
Cada coxa 9% (x 2)
Cada perna e pé 9% (x 2)
Genitais e períneo 1%
Fig. 8.3 Queimadura de terceiro grau.
Fig. 8.4 Queimadura de quarto grau.
Fig. 8.5 Regra dos Nove para crianças e adultos.
* valores válidos para o corpo de adultos
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d) LOCALIZAÇÃO
Dependendo do local onde a queimadura
ocorre, considera-se o risco estético e funcional da
vítima, podendo haver maior ou menor risco potencial
de aprofundamento das lesões, de formação de
lesões subsequentes e formação de cicatrizes.
Q
U
Queimaduras nas seguintes áreas são
consideradas de maior relevância e podem se tornar
graves:
FACE: associada à queimadura de vias aéreas,
inalação de fumaça, intoxicação por monóxido de
carbono, desfiguração da vítima e edema de faringe;
MÃOS E PÉS: pode induzir incapacidade permanente
após o processo de cicatrização devido às retrações
da área afetada;
OLHOS: pode causar cegueira;
ORIFÍCIOS NATURAIS: apresentam alta incidência
de infecção, sendo de difícil tratamento.
e) COMPLEXIDADE
Refere-se à gravidade das queimaduras,
considerando diversos aspectos já citados, tais como:
causa, profundidade, extensão (%SCQ), localização,
associação com outras lesões, comprometimento de
vias aéreas e estado prévio do acidentado.
PEQUENO QUEIMADO
No pequeno queimado, as repercussões das
lesões são locais. Considera-se como queimado de
pequena gravidade o paciente com:
Queimaduras de 1º grau em qualquer extensão,
e/ou;
Queimaduras de 2º grau com área corporal
atingida até 5% em crianças (menores de 12
anos) e até 10% em adultos (maiores de 12
anos).
MÉDIO QUEIMADO
Quadro 8.3 QUEIMADURAS EM
CRIANÇAS
Para crianças entre 1 e 10 anos, alguns
valores são alterados, devido à proporção
diferenciada de seu corpo. A cabeça e o
pescoço correspondem a 18% da SCQ e os
membros inferiores equivalem 14% cada. Os
demais segmentos têm porcentagens iguais as
do adulto.
Quadro 8.4 SUPEITA DE QUEIMADURA DE
VIAS AÉREAS SUPERIORES
Queimadura de face
Sobrancelhas queimadas
Vibrissas (pêlos nasais) queimadas
Lábios edemaciados
Rouquidão - sinal precoce
Queimaduras orais ou periorais
Estridor (ruído agudo semelhante ao da foca)- sinal
tardio e indica cerca de 85% de obstrução
Escarro carbonáceo (negro)
Queimaduras em espaço confinado
Fig. 8.6 Retração das mãos depois de
cicatrização.
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Queimaduras de 2º grau com área corporal
atingida entre 5% a 15% em crianças e entre 10%
a 20% em adultos;
Queimaduras de 3º grau com até 10% da área
corporal atingida em adultos, quando não
envolver face ou mão ou períneo ou pé, e menor
que 5% nas crianças;
Qualquer queimadura de 2º grau envolvendo mão
ou pé ou face ou pescoço ou axila.
GRANDE QUEIMADO
As repercussões da lesão manifestam-se de
maneira sistêmica. Considera-se como queimado de
grande gravidade o paciente com:
Queimaduras de 2º grau com área corporal
atingida maior do que 15% em crianças ou maior
de 20% em adultos;
Queimaduras de 3º grau com mais de 10% da
área corporal atingida no adulto e maior que 5%
nas crianças;
Queimaduras de períneo;
Queimaduras por corrente elétrica;
Queimaduras de mão ou pé ou face ou pescoço
ou axila que tenha terceiro grau;
Queimadura de qualquer extensão que tenha
associada a esta lesão uma condição clínica que
possa deteriorar seu estado geral.
ATENÇÃO! Todo paciente deve ser reavaliado
quanto à extensão e profundidade 48 a 72h após o
acidente.
QUEIMADURAS CIRCUNFERENCIAIS
Todas as queimaduras circunferenciais
merecem atenção redobrada do socorrista e devem
ser tratadas como emergência, pois podem causar
complicações graves.
NO PESCOÇO: risco de obstrução de vias aéreas;
NO TÓRAX: pode restringir a ventilação pulmonar
(impede a expansão torácica);
NAS EXTREMIDADES: risco de obstrução à
circulação (efeito torniquete).
PRIMEIROS SOCORROS
A primeira atitude de quem presta socorro,
em toda queimadura, é retirar a vítima do contato com
o agente causador da lesão. Em seguida, cada tipo
de queimadura exige uma abordagem de conduta
diferenciada. A seguir, serão listadas as principais
medidas de ajuda nesse tipo de lesão.
Quadro 8.5 IDADE DO PACIENTE QUEIMADO
A idade deve ser considerada na avaliação da
gravidade das queimaduras. Idosos e crianças costumam
ter repercussão sistêmica mais crítica, os primeiros pela
maior dificuldade de adaptação do organismo, e os
últimos pela desproporção da superfície corporal em
relação ao peso. Nessas faixas etárias as complicações
são, portanto, mais comuns e mais graves.
Fig. 8.7 Efeito torniquete.
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QUEIMADURAS DE 1º GRAU
1. Resfriar a área afetada em água corrente, à
temperatura ambiente, por pelo menos 10 minutos ou
até que a dor seja aliviada;
2. Não se deve aplicar gelo, pois ele também pode
causar queimaduras, além de ser um agente
vasoconstritor, o que levaria à redução da irrigação
sanguínea para a área afetada;
3. Não aplicar pastas, pomadas, cremes, géis, pó de
café, etc, pois podem agravar a lesão por serem
fontes de contaminação. Remédios só devem ser
aplicados sob orientação de um profissional.
QUEIMADURAS DE 2º GRAU NÃO EXTENSAS
(< 20% SCQ)
1. São válidas as mesmas medidas aplicadas para a
queimadura de 1º grau;
2. A queimadura deve ser protegida com compressa
de gaze ou pano limpo umedecido ou ainda papel
alumínio;
3. Deve-se ter bastante cuidado para não estourar
as bolhas da lesão, pois a exposição da pele abaixo
das bolhas pode se tornar importante fonte de
infecções;
4. Como o edema costuma ser pronunciado, deve-
se remover jóias e vestes da vítima para evitar o
garroteamento da região lesada;
5. Não se deve retirar partes de roupas grudadas no
corpo do queimado nem corpos estranhos que não
foram eliminados com a lavagem, pois isso poderia
agravar ainda mais as lesões.
QUEIMADURAS DE 2º GRAU EXTENSAS (> 20%
SCQ) E QUEIMADURAS DE 3º GRAU
1. Nesse caso, como há repercussões sistêmicas da
queimadura, deve-se seguir o suporte básico de vida;
2. Observar sinais e sintomas e prevenir o choque;
3. Remover roupas e jóias da vítima, exceto aquelas
que estiverem grudadas no seu corpo;
4. Cobrir as queimaduras com curativo não
aderente, gaze ou pano limpo e umedecido;
5. Emergência médica! Encaminhar para Centro
Especializado de Tratamento de Queimados.
Quadro 8.6 CUIDADOS AO RESFRIAR AS
QUEIMADURAS
Nunca se deve resfriar mais que 20% da SCQ de
um adulto ou mais que 10% da SCQ de uma criança. O
resfriamento generalizado pode levar à hipotermia.
QUEIMADURAS QUÍMICAS
1. A lavagem da queimadura química deve ser feita
com grande quantidade de água por
aproximadamente 20 minutos. Se o agente causal for
Fig. 8.8 Resfriamento em água corrente.
LATE-UFRJ|2015
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um pó seco, antes de lavar a pele, deve-se retirar o
excesso com uma escova;
2. Deve-se ter cuidado com a pressão da água para
a lavagem. O jato deve ser abundante, porém não
pode ser forte, pois a água sob alta pressão, além de
danificar mais a área afetada, pode facilitar a
penetração da substância no tecido. O jato ideal para
o procedimento é o do chuveiro;
3. Roupas e outros acessórios da vítima só devem
ser retirados durante a lavagem;
4. A irrigação com água é o melhor método, não se
devendo utilizar substâncias neutralizantes. Isto pode
ser danoso para vítima, já que a maioria das reações
de neutralização libera calor, aumentando os riscos
de lesão ou agravamento dela, além de favorecer a
contaminação;
5. A área lesionada deve ser coberta com curativo
não aderente, gaze ou pano limpo úmido, como
recomendado para as demais queimaduras;
6. Procurar atendimento médico especializado.
Quadro 8.7 É RECOMENDÁVEL OFERECER ÁGUA
À VÍTIMA DE QUEIMADURA?
Se o acidentado estiver consciente e sentir sede,
deve ser-lhe dada toda a água que desejar beber, porém
lentamente. Sendo possível, deve-se adicionar à água sal
(uma colher das de café para meio litro de água). Para
acidentados inconscientes, nunca devemos dar água.
FOGO NO VESTUÁRIO
1. Quando a vítima está sob chamas, deve-se, antes
de tudo, pedir para que ela pare de correr, pois o
vento pode aumentar a extensão desse fogo;
2. Com a vítima parada, deve-se tentar abafar as
chamas com cobertores ou lençóis ou até mesmo
jogar bastante água na vítima para cessar o fogo;
3. Pode-se pedir também para que a vítima deite no
chão e role até eliminar as chamas.
CENTRO DE TRATAMENTO DE QUEIMADOS
(CTQ)
São critérios para encaminhar uma vítima de
queimadura para o CTQ:
Queimaduras de 2º grau em áreas maiores que
20% da SCQ em adultos e em áreas maiores que
10% em crianças ou maiores de 50 anos;
Queimaduras de 3º grau em qualquer extensão;
Queimaduras na face, olhos, mãos, pés, genitália,
períneo e/ou articulações importantes;
Queimaduras elétricas;
Queimaduras químicas;
Suspeita de lesão por inalação ou lesão
circunferencial de tórax ou de membros;
Doenças associadas (queimadura em pacientes
com problemas médicos preexistentes);
Qualquer paciente com queimaduras e trauma
concomitante (tais como fraturas, etc.) no qual a
queimadura apresenta o maior risco de
morbidade ou mortalidade;
Fig. 8.9 Manobra para apagar fogo no vestuário.
LATE-UFRJ|2015
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Crianças queimadas sendo tratadas em hospital
sem pessoal qualificado ou equipamentos para o
cuidado do caso;
Nesses casos, sempre dar relevância à
história do paciente para a passagem de caso ao
serviço especializado, pois lesões secundárias podem
estar associadas, como politraumatismo, lesões
internas, TCE, contusões miocárdicas e pulmonares.
É essencial estabelecer a hora em que ocorreu a
queimadura para as avaliações posteriores.
PREVENÇÃO
A prevenção é a melhor forma de minimizar
todos os prejuízos e incapacidades gerados por
queimaduras acidentais. A seguir, serão listadas
dicas importantes para evitar a ocorrência desse tipo
de emergência traumática.
QUEIMADURAS SOLARES
Podem ser prevenidas por atitudes simples
como o uso de bloqueadores solares, óculos escuros,
bonés/chapéus e guarda-sol, não se esquecendo de
manter-se hidratado através do consumo de líquidos.
Além disso, deve ser evitada a exposição nos
horários de maior incidência de raios solares,
correspondentes ao período de 10 às 16h. Aliás, essa
medida também ajuda a prevenir a insolação,
comumente associada às queimaduras solares.
QUEIMADURAS EM AMBIENTE DOMÉSTICO
Como dito anteriormente, o ambiente
doméstico é onde ocorre a maioria das queimaduras
em adolescentes e crianças, sendo estas as de maior
risco devido à sua pele fina, demora de reação, pouca
agilidade e grande curiosidade. Com isso, algumas
medidas devem ser adotadas:
Restringir o acesso da criança à cozinha;
Colocar cabos de panelas sempre voltados para
dentro do fogão e use preferencialmente as bocas
de trás do fogão;
Armazenar produtos químicos, inflamáveis e
fósforos em locais inacessíveis para os
pequenos;
Evite ligar vários aparelhos eletrônicos em uma
mesma tomada;
Prefira o álcool em gel, que tem menor poder de
combustão (explosão) que o álcool líquido;
Evitar velas próximas às camas;
Observar a temperatura do banho quente.
QUEIMADURAS POR BALÕES, FOGOS DE
ARTIFÍCIO, FOGUEIRAS
Soltar balões é um ato proibido por lei devido
ao risco potencial de causar incêndios. Essa prática
deve ser, sempre que possível, denunciada, sendo
comunicada às autoridades competentes. Manusear
fogos de artifícios e fogueiras, muito presentes na
época de festas juninas, também requer bastante
cuidado para não seja causado um acidente grave.
QUEIMADURAS EM AMBIENTE DE TRABALHO
Em grandes fábricas e indústrias, não é raro
ocorrerem casos de queimaduras por substâncias
químicas ou por líquidos incandescentes, ou até pelo
próprio ambiente fechado contendo vapor
excessivamente quente. Para evitar essas situações,
é necessário adotar medidas de segurança ao
trabalhador, bem como fornecer não só roupas e
equipamentos de proteção, mas também informá-lo
sobre os riscos da tarefa executada.
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LATE-UFRJ|2015
92
Introdução
Com advento da eletricidade na era moderna surgiu
um novo agente etiológico de queimadura, com
inúmeras particularidades epidemiológicas,
fisiopatológicas e de tratamento: a queimadura
elétrica que, como normalmente vem associada a
outros traumas, deve ser devidamente denominada
de trauma elétrico.
Queimaduras causadas por eletricidade representam
uma pequena porção das admissões em unidades de
queimados, porém revelam um dos mais agressivos
tipos de injúria térmica. Apresenta distribuição
bimodal, com um pico em crianças menores de seis
anos em ambiente doméstico e outro em adultos
jovens em ambiente de trabalho.
Acidentes elétricos em crianças se
devem principalmente ao contato manual ou oral com
componentes da instalação elétrica residencial. Em
geral, encontram-se abaixo dos 5-8 anos, com mãos
ou faces comprometidas. São queimaduras raras,
porém sua gravidade reside na ocorrência de lesões
desfigurantes.
O trauma elétrico acontece quando o corpo se torna
condutor de corrente elétrica. As lesões produzidas
resultam da conversão de energia elétrica em energia
térmica. Com isso, a extensão da lesão tecidual e o
calor gerado pelas correntes elétricas se dão em
função da resistência de cada tecido e sua
sensibilidade à destruição térmica.
A voltagem e a duração do contato são os principais
fatores que determinam a extensão e profundidade
das lesões.
FATORES QUE INFLUENCIAM NO TRAUMA
ELÉTRICO
RESISTÊNCIA
Os vários tecidos do corpo possuem resistências
específicas ao fluxo da corrente sendo em ordem
decrescente, osso, gordura, tendão, pele, músculo,
vaso sanguíneo e nervo. O osso, por sua maior
resistência, gera mais calor local, mas sua estrutura
torna-o mais resistente à lesão térmica, ao passo que
vasos e nervos possuem menos resistência, mas são
mais susceptíveis à lesão térmica.
VOLTAGEM
As correntes elétricas são arbitrariamente divididas
em baixa voltagem, de 500-1.000 volts, e alta
voltagem, superior a 1.000 volts. Os acidentes
domésticos comumente se enquadram no primeiro
tipo, enquanto que os de trabalho, no segundo.
A corrente de alta tensão tende a percorrer um
caminho mais curto entre o ponto de entrada e a terra
e frequentemente a vítima é atirada longe e as
alterações cardíacas (fibrilação ou assistolia) são
mais raras, sendo mais comum a depressão do
centro respiratório com parada respiratória. As lesões
por baixas tensões produzem queimaduras menos
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extensas, mas podem causar a morte por fibrilação
ventricular.
TIPO DE CIRCUITO
Se compararmos entre corrente alternada e contínua,
a primeira é muito mais perigosa, pois produz
contraturas musculares que mantém a vítima presa
ao condutor, aumentando seu tempo de contato, e
pode levar a fraturas e parada cardiorrespiratória. A
corrente contínua, por sua vez, causa uma contratura
muscular que afasta a vítima do condutor
interrompendo rapidamente o circuito, mas pode
causar traumatismos.
TRAJETO
Por ser imprevisível, é um dos fatores que
diferenciam esse trauma dos outros tipos de traumas
térmicos. Qualquer órgão pode ser acometido, porém
o dano causado é maior quando atinge órgãos vitais
como cérebro e coração.
TEMPO
Evidentemente, quanto maior for o tempo de contato,
maior a extensão dos danos causados.
EFEITOS DA PASSAGEM DA CORRENTE
ELÉTRICA
Lesões por eletricidade são descritas como feridas
tipo “iceberg” porque, muitas vezes, a aparência da
queimadura na pele não indica a quantidade de
danos em tecidos subjacentes. Geralmente, a lesão
cutânea é menor do que a destruição profunda das
estruturas adjacentes.
A passagem da corrente elétrica pode causar:
Contração muscular
Tetanização muscular
Queimaduras elétricas
Parada Respiratória
Parada Cardíaca
Danos ao sistema nervoso central
Danos renais
IDENTIFICAÇÃO
SINAIS E SINTOMAS
As feridas de entrada e saída são
características e geralmente significam destruição
local dos tecidos profundos. A ferida de entrada típica
é irregular e deprimida. A ferida de saída tem bordos
secos, deprimidos e dá a aparência que a corrente
elétrica explodiu quando fez sua saída. Geralmente a
lesão aparece como uma área isquêmica, de um
amarelo esbranquiçado ou pode apresentar-se
chamuscado. Ela é seca e indolor, com bordos
geralmente bem definidos, sendo a necrose o aspecto
dominante da lesão.
Além disso, os seguintes efeitos gerais
podem aparecer:
Mal estar geral;
Sensação de angústia;
Fig. 9.1 Diferentes percursos da corrente elétrica.
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Náuseas;
Cãibras musculares de extremidades;
Parestesias (dormências, formigamentos);
Ardência ou insensibilidade da pele;
Escotomas cintilantes (visão de pontos
luminosos);
Cefaléia;
Vertigem;
Arritmias cardíacas;
Dispneia.
ARCO VOLTAICO
Ocorre por uma diferença de potencial elétrico entre
os corpos, nele o circuito se completa mesmo sem
que a vítima tenha tocado no condutor. A vítima
torna-se parte do circuito. A corrente elétrica, nesse
caso, move-se externamente ao corpo, a partir do
ponto de contato para o solo.
Essas queimaduras estão associadas à corrente de
alta tensão e a profundidade depende de quão
próxima está da pele. As mesmas são graves já que o
arco elétrico tem uma temperatura de 2.500ºC.
LESÃO POR RAIO
A lesão por raio é muito rara. Os efeitos da lesão por
raio são extremamente variáveis. Geralmente a vítima
está desacordada. Ela pode conservar a respiração
espontânea ou tornar-se inconsciente, sem pulso e
com parada respiratória. Não deve necessariamente
ser tida como morta, devendo iniciar manobras de
reanimação oferecendo assistência respiratória e
cardíaca. Pacientes submetidos a grave lesão por
raio parecem suportar períodos prolongados de
apneia, talvez por cessação do metabolismo, de
modo que o processo degenerativo é retardado.
PRIMEIROS SOCORROS
SEGURANÇA DO ACIDENTADO E DO
SOCORRISTA
Antes de socorrer a vítima, é necessário ter em mente
que:
Cada segundo de exposição da vítima à
corrente elétrica diminui a sua chance de
sobrevivência;
O choque elétrico pode também oferecer
perigo à pessoa que está prestando socorro.
Assim, a primeira atitude a ser tomada é isolar o
acidentado da fonte da corrente elétrica. Isso pode
ser feito de duas maneiras principais:
Cortar a corrente elétrica, desligando a chave
geral de força, retirando os fusíveis da instalação
ou puxando o fio da tomada (desde que esteja
encapado) ou;
Tentar afastar a vítima da fonte de energia
utilizando luvas de borracha grossa ou materiais
isolantes, e que estejam secos (cabo de
vassoura, tapete de borracha, jornal dobrado,
pano grosso dobrado, corda, etc.), afastando a
vítima do fio ou aparelho elétrico.
Quadro 9.2 MATERIAIS CONDUTORES x
MATERIAIS ISOLANTES
Materiais Condutores: material que deixa a
corrente elétrica passar facilmente - cobre,
alumínio, água, etc.
Materiais Isolantes: material que não permite que
a eletricidade passe através dele - vidro, plástico,
borracha, madeira, etc.
LATE-UFRJ|2015
95
O socorrista não pode tocar na vítima antes que
tenha executado as ações citadas acima. Em
seguida, deve-se verificar o estado geral da vítima.
SOCORRENDO A VÍTIMA
O acidente elétrico de alta ou baixa voltagem
pode produzir mortes imediatas por parada cardíaca
ou cardiorrespiratória, por isto as manobras de
reanimação mediante massagem cardíaca e
ventilação são necessárias para evitar a morte
imediata da vítima. Priorizando-se, portanto, o suporte
básico de vida; após ter chamado ajuda ligando para
193 ou 192.
Após estabilização cardiorrespiratória do acidentado,
as queimaduras elétricas podem ser cobertas com
gaze ou com um pano bem limpo, ambos úmidos,
seguindo o mesmo tratamento para as queimaduras
de 3º grau.
Se a pessoa estiver consciente, pode ser
deitada em decúbito dorsal, com as pernas elevadas,
mas se estiver inconsciente, é melhor deixá-la em
posição lateral de segurança (de recuperação).
Se for necessário, deve-se cobrir a vítima
com um cobertor e também ajudá-la a manter a
calma. É essencial procurar assistência médica
imediata.
A recuperação das vítimas de energia elétrica
será tanto mais problemática quanto mais
tardiamente for instituída a terapêutica apropriada.
Isto porque, a anóxia que então se estabelece, pode
lesar de modo irreversível os tecidos mais nobres tais
como os do sistema nervoso.
PREVENÇÃO
CUIDADOS GERAIS NO MANEJO DE
INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
Utilização de fusíveis e disjuntores, aterramentos,
materiais isolantes e Equipamento de Proteção
Individual (EPI).
Plugar e usar os dispositivos elétricos de
segurança disponíveis como, por exemplo, a
tomada de 3 pinos;
Checar, com frequência o estado de todos os fios
e dispositivos elétricos; conserte-os ou substitua-
os, se necessário;
Instalar a antena de TV longe da rede elétrica. Ela
pode tocar nos fios e provocar choque;
Certificar-se de que a corrente está desligada,
antes de operar uma ferramenta elétrica;
Se um circuito elétrico em carga tiver de ser
reparado, chamar um eletricista qualificado para
fazê-lo;
Usar ferramentas "isoladas", que fornecem uma
barreira adicional entre você e a corrente elétrica;
Não sobrecarregar uma única tomada com vários
aparelhos elétricos, usando, por exemplo, um
Benjamin;
Os quadros de distribuição devem ter disjuntores.
Se os dispositivos de proteção ainda forem do tipo
chave-faca, com fusíveis cartucho ou rolha,
substitua-os por disjuntores;
Colocar protetores nas tomadas ao alcance de
crianças para evitar acidentes.
TROCANDO A LÂMPADA
Antes de trocar uma lâmpada, desligar o
interruptor;
Quadro 9.3 ALTA VOLTAGEM
Nunca se deve manipular alta voltagem com
pedaços de pau ou mesmo luvas de borracha. Nesse
caso, não se está protegido mesmo se o material for
isolante, pois qualquer substância pode se
transformar em condutor!
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96
Não tocar na parte metálica do bocal, nem na
rosca;
Segurar a lâmpada pelo vidro (bulbo). Não
exagerar na força ao rosqueá-la, pois há risco
de provocar acidentes;
Lembrar-se de executar a troca de forma
segura (usando escadas).
CHUVEIRO ELÉTRICO
Não mudar a chave liga/desliga e
verão/inverno com o chuveiro ligado. Dá
choque e pode ser fatal;
Instalar o fio terra corretamente, de acordo
com a orientação do fabricante;
A fiação deve ser adequada, bem instalada e
com boas conexões. Fios derretidos,
pequenos choques e cheiro de queimado
indicam problemas que precisam ser
corrigidos imediatamente;
Nunca diminuir o tamanho de resistências
nem reaproveite resistências queimadas.
CUIDADO COM A UMIDADE
Não mexer com eletrodomésticos em locais com água
ou umidade, nem com as mãos ou os pés molhados.
A água torna o choque muito mais perigoso;
Atenção ao executar consertos em instalações
elétricas quando o chão estiver úmido ou molhado.
Com água, o risco de choque é muito maior.
CUIDADOS EM AMBIENTE EXTERNO
Nunca se deve subir em postes. Apenas o
profissional especializado e portando
equipamento de segurança pode fazê-lo;
Cuidado com fios caídos ao andar na rua.
Deve-se desviar deles e comunicar a
companhia de eletricidade da região;
Soltar balões pode provocar muitos acidentes,
principalmente se eles caírem dentro de
subestações, sobre redes elétricas ou
residências;
Não soltar fogos de artifício perto das redes
elétricas, pois pode haver rompimento de
cabos com acidentes fatais;
Não soltar pipas ou papagaios próximo à rede
elétrica.
PERIGO DAS PIPAS PRÓXIMO A FIOS DE ALTA
TENSÃO
Uma brincadeira típica das crianças brasileiras têm se
tornado um grande perigo, principalmente no que se
refere aos choques elétricos. O hábito de soltar pipas
próximo a fios de alta tensão pode ocasionar
acidentes gravíssimos. É comum as crianças
tentarem pegar as pipas que ficam enroscadas na
rede elétrica. Basta um curto-circuito para que ela
seja atingida pela corrente elétrica.
COMO SOLTAR PIPA DE MANEIRA SEGURA?
Soltar pipa somente em espaços abertos e longe
da rede elétrica (campos de futebol, praias);
Evitar a brincadeira perto de aeroportos, estradas
ou nas lajes de casas. Qualquer distração pode
resultar em choques, caso a pipa prenda na rede
elétrica, e quedas, de quem está fazendo parte da
brincadeira;
Se a pipa ficar presa, a pessoa não deve subir em
telhados, postes ou torres, nem usar canos ou
bambus para tentar recuperá-la;
Em caso de tempestade, o ideal é deixar a
brincadeira para outro dia, por causa dos raios (a
pipa funciona como pára-raios);
É importante soltar pipa sem rabiola, como as do
tipo arraia, para que ela não fique presa em algum
lugar;
LATE-UFRJ|2015
97
Não usar papel laminado na pipa. Se ela tocar nos
fios vai provocar um curto-circuito que poderá
atingi-lo e deixar um bairro inteiro sem luz;
Não usar linhas metálicas no lugar da linha
comum, pois elas podem causar choques
elétricos, além de também ameaçar ciclistas e
motociclistas;
Ficar atento para que a linha da pipa não
atravesse no caminho de ciclistas e motociclistas.
Muitos acidentes acontecem porque as linhas não
podem ser vistas;
Nunca usar cerol, pois ele proibido e perigoso e
pode causar sérios acidentes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COLÉGIO AMERICANO DE CIRURGIÕES. ATLS:
Suporte Avançado de Vida no Trauma para Médicos.
7. ed. [S. l.]: Ver Curiosidades, 2004. 459 p.
DE MIRANDA. R. E. et al. Trauma elétrico: análise
de 5 anos. Rev. Bras. Queimaduras [online]. 2009, v.
8, n. 2, pp. 65-9.
GOMES, D. R.; SERRA, M. C.; MACIEIRA, L.
Condutas Atuais em Queimaduras. 1. ed. Rio de
Janeiro: Revinter, 2001. 158 p.
PORTUGAL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional
de Emergência Médica. Manual V.M.E.R. 2. ed. [S.
l.], 1999. 343 p.
<http://www.rogerioultra.com.br/rogerioultra.com.br/ler
.php?map=15>. Acesso em: 04 mar. 2012.
<http://www.portaleducacao.com.br/farmacia/artigos/2
806/lesoes-eletricas>. Acesso em: 04 mar. 2012.
<http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/choques-
eletricos/choques-eletricos-1.php>. Acesso em: 04
mar. 2012.
LATE-UFRJ|2015
98
REGULAÇÃO DA TEMPERATURA
CORPORAL
Os seres humanos são endotérmicos e são
capazes, portanto, de produzir calor, por meio da
contração muscular e taxa de metabolismo basal, e
de regular sua temperatura entre certos limites (por
volta de 37°C), propiciando uma ótima temperatura à
atividade enzimática.
Além disso, o ser humano é homeotérmico,
isto é, possui a capacidade de manter a temperatura
corporal dentro de certo intervalo pré-determinado
apesar das variações térmicas do meio ambiente
(homeostasia térmica). A temperatura de equilíbrio é
de 37ºC (98.6ºF1), com uma variação circadiana
entre 35,8ºC e 37.3ºC. A temperatura corporal é
menor pela manhã, aumenta ao longo do dia e é
máxima pelo início da noite. A tolerância ao calor
depende em grande parte do nível de umidade do
ambiente; Na presença de umidade intermediária, a
temperatura corporal central máxima tolerada é de
aproximadamente 40ºC, enquanto a temperatura
mínima ronda os 35,3ºC; a tolerância é menor em
ambientes mais úmidos.
O equilíbrio da temperatura corporal é obtido
mediante o balanço entre a perda e a produção ou
aquisição de calor, no qual o hipotálamo funciona
como o termostato responsável por ajustando o corpo
para que perca calor em ambientes quentes, e
produza calor em ambientes frios. Ele possui
eferências que alteram a taxa metabólica basal, a
atividade da glândula sudorípara, a atividade
muscular, a frequência respiratória, o grau catabólico,
o comportamento, o calibre vascular, entre outros.
A pele é um fator indispensável de interface
do meio interno com o meio externo. Sua espessura e
todas as suas camadas são fundamentais para que
essa transferência de energia ocorra e também como
mecanismo de resistência a esse processo (por
exemplo, a camada de tecido adiposo).
A perda de calor pelo corpo ocorre por meio
de quatro mecanismos: condução, convecção,
radiação e evaporação (sendo este o principal
mecanismo para temperaturas ambientais >36°C).
Por outro lado, o corpo conserva calor por
meio dos seguintes mecanismos: o sangue flui
rapidamente para superfície da pele, acompanhado
por vasoconstricção; os pêlos ficam eriçados,
Fig.10.1 Vascularização da pele.
LATE-UFRJ|2015
99
mantendo o ar quente perto da pele; diminuição da
sudorese.
DESIDRATAÇÃO
Como a água é o maior componente do corpo
humano, representando cerca de 45 a 70% do peso
corporal, as variações no equilíbrio hídrico corporal
normal, como perda excessiva de água, alteram a
homeostasia, produzindo, assim, sinais e sintomas
característicos. O nosso corpo perde água
diariamente através do suor, das lágrimas, da urina e
das fezes, a qual é reposta por meio do consumo de
líquidos e de alimentos que contenham água.
A desidratação, portanto, significa que o seu
corpo não possui a quantidade de água e fluidos que
deveria, podendo ser causada por perdas como a
ingestão insuficiente de água, vômito e diarreia,
atividade física com exposição ao calor e sudorese
profusa, exaustão por calor, febre, dentre outros.
As crianças são mais suscetíveis à
desidratação do que os adultos devido ao peso
inferior do corpo e maior circulação de água e
eletrólitos. Os idosos e os que se encontram doentes
também possuem maior propensão, por alteração dos
mecanismos reguladores.
A desidratação é classificada como leve,
moderada ou grave dependendo da quantidade de
fluido que o corpo perdeu ou que não foi reposto.
Quando grave, a desidratação é uma condição que
pode colocar a vida em risco; também leva a um pior
prognóstico em casos de intermação (ver adiante).
A desidratação é um achado comum em
doenças relacionadas ao calor. Durante a exposição
ao calor, a água é perdida primeiramente como suor.
Portanto, as bases para evitar o início da doença
relacionada ao calor são manter um equilíbrio hídrico
corporal e minimizar a desidratação durante as
atividades diárias, sobretudo em atividades físicas
cuja exposição ao calor seja de moderada a alta.
Quando em níveis de desidratação aguda de
leves a moderados (2% a 6% do peso corporal) os
indivíduos apresentam fadiga, diminuição da
tolerância ao calor, deterioração cognitiva e redução
na força e na capacidade física aeróbica. Nesse caso,
deve ser administrada uma solução hipertônica rica
Fig.10.2 Mecanismos de perda de calor.
LATE-UFRJ|2015
100
em eletrólitos e glicose para restaurar e manter o
volume intravascular. Pode ser utilizado um soro de
reidratação oral ou soro caseiro (meia colher de chá
de sal e seis colheres de chá de açúcar misturadas
em um litro de água).
Como os indivíduos normalmente não sentem
sede até terem perdido cerca de 2% do peso corporal
devido à sudorese, este é um pobre indicador da
necessidade hídrica corporal durante o repouso ou
atividade física. Portanto, sem um guia para ajuda-los
quanto à quantidade de líquido pra consumir por hora
quando expostos a calor de moderado a alto, as
pessoas continuarão a consumir menos que o
necessário permanecendo desidratadas em 1% a 2%
do peso corporal. Esse quadro é conhecido como
desidratação “voluntária” e consiste no consumo de
líquidos insuficiente para restaurar o equilíbrio hídrico.
A reposição de líquidos por via oral é tão
eificiente quanto a intravenosa, desde que seja
suplementada com eletrólitos (principalmente sódio) e
carboidratos. O volume de líquido ingerido deve
exceder o volume de sudorese e outras perdas.
A velocidade com que os líquidos podem ser
repostos por via oral está limitada pela velocidade de
esvaziamento gástrico (1 a 1,2 L/h) e pela sua
velocidade de absorção no intestino delgado.
Portanto, a melhor alternativa para evitar a
desidratação durante a exposição ao calor é iniciar o
consumo de líquidos antes e mantê-la frequente
durante e após a exposição ao calor, uma vez que
após ocorrer à desidratação torna-se um grande
desafio reidratar o indivíduo por via oral.
Os sinais e sintomas mais comuns de desidratação
são:
Diurese menos frequente;
Sede;
Pele seca e pálida;
Fadiga;
Fraqueza;
Sensação de leveza na cabeça;
Tontura;
Confusão;
Boca e membranas mucosas secas;
Aumento das frequências cardíaca e respiratória.
Em lactentes e crianças também podemos observar
os seguintes sintomas adicionais:
Boca e língua secas;
Falta de lágrimas ao chorar;
Fraldas secas por mais de 3 horas;
Abdome, olhos e bochechas encovados;
Febre alta;
Falta de atenção;
Irritabilidade;
Pele que não volta ao normal quando pinçada e
liberada.
Fig. 10.3 e 10.4 Sinais de desidratação.
LATE-UFRJ|2015
101
A desidratação também ocorre muito
facilmente no frio, especialmente com o aumento da
atividade física, basicamente devido à evaporação do
suor, perda de calor e líquidos por causa da baixa
umidade do ar frio, e à diurese induzida pelo frio. A
diurese é normalmente aumentada na exposição ao
frio como resultado da vasoconstrição cutânea que
leva ao aumento do volume circulatório efetivo, com
consequente aumento da pressão arterial, e aumento
da filtração glomerular nos rins. Nessas situações a
diurese pode reduzir o volume plasmático em 7-15%,
de modo que socorristas que trabalham nessas
condições devem estar preocupados em manter-se
hidratados.
LESÕES RELACIONADAS AO CALOR
Podemos enquadrar essas lesões em três
categorias principais: intermação, exaustão por calor
e cãibras por calor. Elas são mais comuns em
ambientes com temperatura e umidade altas e pouco
ou nenhum vento.
Os indivíduos mais susceptíveis são:
Atletas;
Pessoas que trabalham perto de fornos e fogões;
Pessoas fisicamente debilitadas;
Alcoólatras;
Obesos;
Pessoas com doenças crônicas;
Doentes cardíacos;
Usuários de certas drogas (ex: diuréticos);
Vítimas de queimaduras;
Extremos da idade.
1. INTERMAÇÃO
Considerada a forma de doença relacionada
ao calor com maior emergência e com risco de vida, a
intermação é definida como uma forma anormal de
hipertermia que resulta em insuficiência total do
sistema termorregulador.
Causada pelo sobrecarga excessiva de calor
(altas temperaturas, alta umidade, pouca circulação
de ar) e pela má resfriação do corpo - por
incapacidade de suar adequadamente (ex:
escledodermia), aumento da taxa metabólica (por
doenças ou uso de drogas), lesões no SNC
(hipotálamo), dentre outros - essa se instala
rapidamente sem dar sinais de alerta como cefaleia
ou tontura, a pessoa fica com a temperatura central
muito elevada (>40,3°C), com a respiração fraca,
pulso rápido e disfunção do sistema nervoso central,
que resulta em alterações no estado mental (delírio,
confusão, coma).
Após um episódio de intermação a
temperatura corporal da pessoa pode sofrer
alterações durante semanas. O paciente deve ser
levado ao hospital com urgência e o tratamento para
a intermação deve ser realizado imediatamente,
através do resfriamento do corpo da pessoa e uma
boa hidratação.
Na intermação o grau das complicações não
está inteiramente relacionado à magnitude da
elevação da temperatura, mas principalmente à
duração dessa temperatura elevada. Mesmo com
uma intervenção pré-hospitalar agressiva e com o
tratamento no hospital, a intermação pode ser fatal e
muitos pacientes que sobrevivem apresentam
incapacidade neurológica permanente.
A intermação tem duas apresentações
clínicas diferentes: a intermação clássica, na qual as
pessoas perdem a habilidade de suar (infecções,
desidratação em crianças e idosos ou pessoas com
doenças crônicas durante uma onda de calor) e a do
esforço, na qual as vítimas envolvidas em esforço
físico e tensão muscular excedem a perda de
temperatura pelo suor.
LATE-UFRJ|2015
102
SINAIS E SINTOMAS
Pele avermelhada e extremamente quente;
Pele seca (pode ser úmida a princípio);
Confusão mental, alucinações e irritabilidade;
Convulsões ou colapso repentino (principalmente
durante resfriamento);
Tontura e fraqueza;
Pressão sanguínea pode estar elevada ou
diminuída;
Pulso geralmente taquicárdico e filiforme;
Pupilas inicialmente contraídas (posteriomente
dilatadas);
Respiração superficial e fraca;
Náusea e vômitos.
As principais complicações da intermação
são: edema cerebral, insuficiência cardíaca,
insuficiência renal e morte.
PRIMEIROS SOCORROS
1. Fazer a vítima interromper suas atividades e
repousar em um local fresco.
2. Ligar para o SME (192 ou 193).
3. Caso a vítima não esteja respondendo, abrir vias
aéreas, verificar a respiração e fornecer o
atendimento apropriado.
4. Remover as roupas da vítima e resfriá-la
rapidamente: aplicar toalhas molhadas frias sobre
a pele da vítima, usando um ventilador para
diminuir a temperatura e colocar compressas de
água gelada nas regiões do pescoço, da virilha,
da axila e atrás dos joelhos. Estudos indicam que
imergir a vítima em uma banheira com água fria
também é eficaz (evitar resfriamento excessivo).
5. Monitorar a temperatura da vítima até a chegada
da equipe de resgate. Caso a temperatura volte a
subir, reiniciar os procedimentos para
resfriamento. A temperatura deve ser mantida
inferior a 37,7° C até que o perigo acabe.
Fig. 10.5 Sinais e sintomas da intermação.
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103
A insolação e a intermação apresentam sinais
e sintomas semelhantes, porém a insolação,
caracterizada pela falência dos mecanismos
reguladores da temperatura do organismo, é causada
pela exposição direta e prolongada a raios solares, e
parte dos sintomas, como a cefaléia e confusão
mental, tem instalação mais lenta. A intermação é
causada pela exposição a diversas fontes de calor e
tem instalação mais aguda, é mais grave e pode levar
à morte.
2. EXAUSTÃO POR CALOR
Distúrbio relacionado ao calor mais comum
visto pelos socorristas, a exaustão pelo calor pode se
desenvolver ao longo de dias de exposição, como em
pessoas idosas que vivem em locais pouco
ventilados, ou agudamente, como nos atletas.
Permanecer muito tempo em situações de calor
excessivo como ao sol de verão ou noutras situações
como trabalhar em locais com elevadas temperaturas
(como os forneiros, etc.) pode levar a uma vítima de
exaustão pelo calor e precisar de cuidados de
imediato. A permanência ao calor intenso leva à
perda profusa de água provocada pela transpiração e
perda de sais minerais.
Os sintomas mais frequentes nas vítimas
causados pela exaustão pelas elevadas temperaturas
são dolorosas contrações do tecido muscular (cãibra
ou breca) em decorrência da perda de eletrólitos,
cefaleias (dores nas cabeça), tonturas e ânsia de
vômito; aceleração na respiração. Ocorre taquicardia
e hipotensão, associado a débito cardíaco insuficiente
para sustentar o aumento da carga circulatória,
causado pelas demandas da competição da
dissipação termorreguladora do calor e aumento do
fluxo sanguíneo cutâneo; a vítima fica pálida, fria,
cansada e enfraquecida. Pode levar ao colapso
(perder todas as forças) se não for imediatamente
assistida.
Tais sinais e sintomas são decorrentes da
tentativa do restabelecimento da homeostasia, onde
há também redução do volume plasmático, redução
do retorno venoso pela vasodilatação e depleção de
sal e água induzida pelo suor.
Geralmente é difícil distinguir a exaustão
grave pelo calor da intermação, porém, uma forma de
Fig. 10.6 Primeiros socorros para intermação.
Fig. 10.7 Exaustão por calor.
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diferenciá-las é avaliar o nível de comprometimento
neurológico e pela temperatura da pele, que na
exaustão pelo calor se apresenta normal. Caso a
exaustão por calor não seja tratada, pode evoluir para
intermação, que apresenta incapacidade neurológica
e risco de vida. Portanto, a exaustão por calor é um
diagnóstico de exclusão quando não existe evidência
de intermação.
SINAIS E SINTOMAS
Sudorese intensa;
Pele úmida, pegajosa e pálida;
Sede excessiva;
Taquicardia, hipotensão e respiração superficial;
Fraqueza, falta de coordenação muscular e
tontura;
Cãimbras e calafrios;
Dor de cabeça;
Náusea e vômito.
PRIMEIROS SOCORROS
1. Fazer a vítima interromper a atividade e repousar
em um local fresco e ventilado.
2. Remover o excesso de roupas ou roupas
apertadas.
3. Se a vítima estiver respondendo e não apresentar
náuseas, oferecer água ou bebida isotônica
comercializada, em pequenas quantidades e
repetidas vezes.
4. Fazer a vítima se deitar e erguer as pernas a uma
altura de 15 a 30 cm.
5. Resfriar a vítima aplicando toalhas frias e úmidas
sobre a cabeça e o corpo da vítima.
6. Caso a condição não melhore em 30 minutos,
procurar atendimento médico.
Fig. 10.9 Se a vítima com exaustão por calor estiver
totalmente consciente, dê-lhe água fria.
Fig. 10.8 A vítima com exaustão por calor deve se deitar
de costas com os pés elevados.
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3. CÃIBRA POR CALOR
Cãibras são espasmos musculares fortes
provocados por uma perda excessiva de líquidos e de
sais (eletrólitos) como o sódio, o potássio e o
magnésio, devida a uma sudação intensa, tal como
acontece durante a prática de uma atividade física
extenuante, em condições de calor extremo. Essas
contrações musculares dolorosas e de curta duração
são vistas frequentemente nos músculos da
panturrilha, mas também ocorrem nos músculos
voluntários do abdome e das extremidades. A pele
fica úmida e fria. Nestes casos, a temperatura do
corpo estará normal ou ligeiramente baixa. Há
hemoconcentração e baixo nível de sódio no
organismo.
As cãibras provocadas pelo calor são muito
comuns entre os trabalhadores manuais e pessoas
com excesso de proteção, como o vestuário que
alpinistas ou os esquiadores usam, podendo ocultar
uma grande sudação.
Este tipo de cãibras costuma começar
inesperadamente, são dolorosas e impedem os
movimentos. Os músculos endurecem, ficam tensos e
torna-se difícil descontraí-los. Em casos excepcionais
a pessoa afetada deve receber líquidos e sais por via
endovenosa.
PRIMEIROS SOCORROS
1. Fazer a vítima interromper a atividade e repousar
em um local fresco.
2. Massagear suavemente e esticar o músculo
afetado; aplicação de bolsas de gelo também
podem aliviar os sintomas.
3. Remover o excesso de roupas ou roupas
apertadas.
4. Se a vítima estiver respondendo e não apresentar
náuseas, oferecer água ou uma bebida isotônica
comercializada.
PREVENÇÃO
Sempre se manter hidratado, o que não significa
ingerir grandes quantidades de água de uma vez
só. Tente fazer uma pré-hidratação, uma durante
o exercício, ingerindo de 10 a 15 minutos de 100
a 200mL, e após a atividade. Isto evita a
desidratação e a elevação extrema da
temperatura corporal.
Aliada à hidratação também deve ser realizada
uma reposição eletrolítica antes, durante e ao
final da atividade.
Fazendo alongamentos antes da atividade física,
estamos "avisando" aos músculos que serão
utilizados futuramente, assim como também se o
fizermos depois estamos nos prevenido contra
dores musculares que possam vir a aparecer no
período pós-exercício.
Comprimidos de sal podem ajudar a evitar
cãibras, mas normalmente provocam queixas
Fig. 10.10 Cãibra por calor.
LATE-UFRJ|2015
106
estomacais e a ingesta excessiva pode provocar
uma retenção de líquidos (edema).
LESÕES RELACIONADAS AO FRIO
Os indivíduos mais afetados por esse tipo de
lesão são moradores de rua, andarilhos, recém-
nascidos, idosos, crianças, pessoas imersas em
águas frias, alpinistas, pessoas alcoolizadas expostas
a temperaturas baixas e indígenas. Geralmente, a
morte pré-hospitalar por esse tipo de lesão ocorre
devido à demora ou falta de atendimento apropriado,
uma vez que esses casos são pouco frequentes no
país, o que culmina em um menor preparo para esse
tipo de situação. Os problemas mais comuns
causados pelo frio são a hipotermia e o
congelamento.
1. HIPOTERMIA ACIDENTAL
A hipotermia ocorre devido à exposição
prolongada a baixas temperaturas, o que ocasiona
uma perda de calor pelo corpo mais rápida do que
este pode ser produzido. Desse modo, o organismo
desencadeia termogênese muscular e liberação de
catecolaminas na tentativa de produzir mais calor.
Também ocorre em temperaturas mais amenas
quando o indivíduo está exposto a chuva e sudorese,
casos de imersão em água gelada por poucos
minutos e imersão em água mais morna por um
período prolongado de tempo.
Consiste no resfriamento generalizado do
organismo levando a temperatura central do corpo a
um valor inferior a 35° C, que é o limite para o
funcionamento do metabolismo. Pode ser classificada
como hipotermia branda (32-35°C), hipotermia
moderada (28-32°C) ou hipotermia grave (<28°C).
Como fatores pré-disponentes para
hipotermia, temos: uso de roupas inadequadas e/ou
molhadas; desnutrição; extremos de idade; uso de
álcool e drogas (narcóticos, anestésicos,
hipoglicemiantes, etc); imobilidade; alteração do
estado de consciência; lesões no SNC;
hipotireoidismo; dentre outros.
SINAIS E SINTOMAS
Tremores;
Movimentos lentos e descoordenados;
Confusão e fala arrastada;
Perda de memória;
Exaustão aparente e sonolência;
Pele fria, rubor/palidez e cianose em lábios,
orelhas e dedos (eventualmente pode haver
gangrena dessas regiões);
Taquicardia e taquipnéia (inicialmente).
PRIMEIROS SOCORROS
1. Levar a vítima para um ambiente quente e
protegido do frio;
2. Caso a vítima esteja usando roupas molhadas,
removê-las;
3. Não se deve massagear a vítima, de modo a não
prejudicar a perfusão dos tecidos, que já está
diminuída;
4. Aquecer, primeiramente, o centro do corpo (tórax,
pescoço, cabeça e virilha); se a vítima estiver
responsiva e tremendo (hipotermia leve), é
Aferir a temperatura da vítima (temperatura inferior
a 35°)
Chamar o serviço de emergência
Iniciar o aquecimento da vítima
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107
recomendado o uso de cobertores ou folhas
metálicas; se a vítima não estiver tremendo
(hipotermia moderada), deve ser usado
aquecimento ativo (ex: cobertor elétrico, garrafas
de água quente cobertas com meias); no caso de
hipotermia grave, o aquecimento central
(invasivo) deve ser realizado em ambiente
hospitalar, mas até que o paciente seja
transportado, diminuir a perda de calor e evitar
movimentação (risco de arritmias);
5. Se a vítima estiver consciente, dê a ela bebidas
quentes, mas não alcoólicas. Caso esteja
inconsciente, não tente dar bebidas à vítima;
6. Após o aumento da temperatura corporal,
mantenha a vítima enrolada em um cobertor,
incluindo a cabeça e o pescoço;
7. Dê atendimento médico o mais rápido possível;
8. Na ausência de pulso/batimentos cardíacos,
iniciar RCP imediatamente (sequência CAB).
ATENÇÃO! a vítima não pode ser considerada
morta antes que seja realizado o reaquecimento.
Estudos indicam altas taxas de sobrevivência mesmo
após períodos prolongados de hipotermia e RCP.
PREVENÇÃO
Repouse e se alimente antes de esforço físico;
Ingestão de alimentos ricos em energia quando
estiver ao ar livre;
Use roupas à prova de vento por cima de roupas
de lã;
Monte acampamento em caso de tempestade, se
estiver lesionado ou perdido;
Continue a se movimentar para manter a
produção de calor pelo corpo; se estiver
acampado, faça exercícios isométricos.
2. CONGELAMENTO (GELADURA)
Consiste no congelamento dos líquidos teciduais
nos espaços intra e extracelulares, culminando em
um comprometimento vascular e tecidual. As áreas
do corpo mais acometidas são as orelhas, o nariz, o
queixo, as bochechas e os dedos, áreas mais
expostas ao frio e ao vento.
A insuficiente assimilação de oxigênio e a
consequente interrupção das reações químicas
celulares, o que, adicionado à formação de
microcristais de água nas próprias células e tecidos
intersticiais, pode conduzir à necrose ou morte dos
tecidos afetados, sobretudo da pele, tecido
subcutâneo e músculos subjacentes.
É mais provável que o congelamento afete quem
tem circulação deficiente devido à arteriosclerose
(espessamento e endurecimento das paredes
arteriais), espasmo (que pode ser provocado pelo
tabagismo, por alguns problemas neurológicos e por
determinados medicamentos) ou dificuldade do fluxo
sanguíneo por compressão provocada por botas ou
luvas muito apertadas.
Consoante à profundidade das lesões e a sua
gravidade, é possível distinguir vários graus de
congelamento com uma evolução típica, são eles:
Primeiro Grau: No congelamento de primeiro grau,
que corresponde à lesão mais superficial, a pele fica,
após uma fase inicial de vermelhidão, mais pálida,
com formigamento ou prurido e, possivelmente, dor
espontânea, perante o mínimo contato, embora a
parte afetada fique posteriormente insensível, caso
permaneça a exposição ao frio. Apesar de o
aquecimento proporcionar a cicatrização da zona
numa ou duas semanas, podem ficar sequelas como
a diminuição do crescimento das unhas.
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108
Segundo Grau: No congelamento de segundo grau,
um pouco mais profundo, a superfície da pele
apresenta edema, fica fria e com cor azulada ou roxa.
Também aparecem inúmeras manchas, que se
convertem em vesículas ou bolhas, cujo rompimento
proporciona a libertação de um líquido seroso ou
sanguinolento, originando a formação de pequenas
úlceras que costumam unir-se até desenvolverem
uma grande úlcera. Caso essa lesão seja tratada
corretamente, cicatriza em algumas semanas,
embora por vezes seja necessário um transplante
cutâneo.
Terceiro Grau: O congelamento de terceiro grau, que
afeta as camadas mais profundas, leva à necrose da
pele e do tecido celular subcutâneo, o que
desencadeia a formação de uma escara negra no
centro da lesão rodeada por uma zona edematosa e
vesículas. A cicatrização nessa fase é pouco eficaz e
a lesão pode se aprofundar e afetar todos os tecidos
da zona, delimitados por um sulco dos tecidos
saudáveis. Neste caso, a evolução é variável, já que
a parte afetada pode mumificar-se através de um
processo de dessecação e até desunir-se ou, o que é
mais perigoso, o tecido enfraquecido pode ser
infectado por microorganismos que produzam uma
gangrena úmida. Para se evitar a extensão deste
processo costuma ser necessário amputar-se a parte
afetada; a avaliação da necessidade de cirurgia é
feita após reaquecimento da região.
SINAIS E SINTOMAS
Pele com aspecto branco ou amarelado;
Pele anormalmente rígida;
Pele inchada e dolorida;
Perda da sensibilidade da área.
PRIMEIROS SOCORROS
1. Acionar o serviço médico de emergência;
2. Levar a vítima imediatamente para um ambiente
quente e protegido do frio; não iniciar
aquecimento se houver qualquer chance de
recongelamento ou estiver próximo de uma
unidade médica;
Fig. 10.12 Estágios da Geladura
Fig. 10.11 Geladura de 1° grau nos pés.
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109
3. Evitar caminhar com os pés acometidos; havendo
a necessidade de andar, é melhor fazê-lo com os
pés congelados, pois após reaquecimento ficam
mais vulneráveis a lesões;
4. Retirar roupas e adornos que não estejam
colados na pele da área lesionada;
5. Imergir a região afetada em água morna (37-
42°C), mantendo a temperatura constante. A
temperatura da água deve ser confortável ao
toque para as regiões não afetadas do corpo; o
processo de descongelamento dura em torno de
20-30 minutos;
6. Pode-se usar o calor do corpo para aquecer um
congelamento superficial, envolvendo a área
afetada, mas sem massageá-la ou esfregá-la
(inclusive utilizando outras substâncias, como
álcool), pois estes procedimentos podem gerar
mais danos;
7. Não estourar bolhas;
8. Não utilizar fontes de calor externo, pois as
regiões acometidas encontram-se insensíveis e
podem ser facilmente queimadas.
9. Após descongelamento, cobrir a superfície com
curativos estéreis, frouxos e secos, inclusive entre
os dedos; levantar as extremidades; evitar novo
congelamento;
10. Ofereça bebidas quentes à vítima, mas não
bebidas alcoólicas e com cafeína, pois levam à
vasoconstricção, agravando ainda mais o quadro
clínico; não a deixe fumar;
11. Monitorar a vítima até a chegada do socorro.
PREVENÇÃO
Utilize roupas apropriadas para ambientes de
baixa temperatura;
Mantenha as extremidades aquecidas em dias
frios (mãos, pés, orelhas e ponta do nariz);
Evite ambientes de frio extremo, assim como
roupas molhadas e ventos frios;
Não utilize botas ou meias molhadas e frias por
períodos prolongados (pode levar a pé-de-
imersão);
Esteja sempre bem alimentado e descansado
quando for enfrentar o frio;
Evite ingerir bebidas alcoólicas antes de se expor
ao frio.
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LATE-UFRJ|2015
111
DEFINIÇÃO
O acidente doméstico é aquele que ocorre
dentro do perímetro do domicílio ou nas suas
proximidades e caracteriza-se por uma transferência
de energia de um ou mais objetos para a vítima, de
modo a causar danos. Ao contrário da violência, nos
acidentes não há intencionalidade, mas os mesmos
são ocasionados por fatores reversíveis e passíveis
de prevenção.
Segundo dados da Organização Mundial de
Saúde, o ambiente doméstico é o local onde é maior
a ocorrência de acidentes.
Quadro 11.1 FREQUÊNCIA E LOCAIS DE
ACIDENTES
Lar: 45%
Vias públicas: 30%
Trabalho: 14%
Autoestradas: 10%
O Sistema de Vigilância de Violências e
Acidentes (VIVA) aponta, em 2012, 15.098
atendimentos por acidentes domésticos realizados
em serviços de urgência e emergência do SUS. Deste
total, 32% eram menores de 9 anos de idade, ou seja,
4.740 crianças.
As principais causas de mortes foram os
riscos acidentais à respiração (como sufocação na
cama, asfixia com alimentos e outros), seguidos pelos
afogamentos e exposição à fumaça, ao fogo e às
chamas.
Os acidentes domésticos são mais comuns
nos extremos da idade, ou seja, nas crianças
menores de 5 anos e nos idosos.
Nas crianças isso é justificado por diversas
características como:
Imaturidade Física e Mental;
Inexperiência;
Incapacidade para prever e evitar situações de
perigo;
Tendência a imitar o comportamento dos adultos;
Falta de noção corporal e de espaço;
Falta de coordenação motora;
Características particulares como a hiperatividade, a
agressividade e a distração.
Os idosos estão mais suscetíveis a acidentes
devido ao processo de envelhecimento, o qual impõe
algumas limitações de caráter físico, como a perda de
elasticidade dos músculos, tornando os ossos mais
frágeis e sua calcificação prejudicada.
As quedas são o principal tipo de
acidente domiciliar que afeta os idosos e são
favorecidas, sobretudo, por uma casa não adaptada
ao idoso, a qual pode conter várias armadilhas como
observa-se no gráfico abaixo.
LATE-UFRJ|2015
112
As quedas apresentam diversos impactos na
vida de um idoso, que podem incluir morbidade
importante, mortalidade, deterioração funcional,
hospitalização, institucionalização e consumo de
serviços sociais e de saúde. Além das consequências
diretas da queda, os idosos restringem suas
atividades devido a dores, incapacidades, medo de
cair, atitudes protetoras de familiares e de cuidadores
ou até mesmo por aconselhamento de profissionais
de saúde.
PREVENÇÃO
a) AMBIENTE DOMÉSTICO EM GERAL
PARA TODOS OS INDIVÍDUOS
Os ambientes devem ter uma boa área de
circulação entre os móveis para evitar que as
pessoas batam pés, pernas e braços no mobiliário.
Entre sofá e mesa de centro, por exemplo, deixar
pelo menos cerca de 40 cm de área de passagem.
Se houver uma estante na parede, objetos
colocados no canto do móvel funcionam como
sinalizadores, impedindo que as pessoas batam o
ombro na prateleira.
Um ambiente bem iluminado evita muitos
acidentes. Dessa forma, os interruptores para luz
devem estar bem próximos das portas, e o
ambiente deve ter abajur (com lâmpadas de luz
tênue, só para deixar um foco claro), ou luz de
passagem ou noturna (colocada na tomada do
corredor).
Em casas e apartamentos nos quais há portas de
vidro do piso ao teto, adesivos funcionam como
sinalizadores para evitar que desavisados batam
com a face no vidro. Para maior segurança, o
vidro deve ser de composição
temperado/laminado, que, se quebrar, não
estilhaça.
Optar por pisos antiderrapantes e evitar o uso
excessivo de tapetes nos cômodos;
Substituir fios descascados;
Não utilizar móveis para alcançar algo no alto. Use
escada apropriada.
Fig. 11.1 Distribuição populacional de idosos segundo
fatores de risco ambientais presentes em sua residência
(RJ- 2005)
Fig. 11.2 Distribuição populacional de idosos segundo
consequência de quedas (RJ- 2005)
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113
PARA CRIANÇAS
Usar redes de proteção e/ou travas de segurança
em janelas e varandas de apartamentos;
Não deixar fios de equipamentos eletrônicos soltos.
Usar organizadores ou presilhas para cabos e fios,
mantendo-os o mais recolhido possível evita
tropeços e, principalmente, que sejam alvo de
brincadeiras;
Utilizar protetores nas tomadas para evitar choques;
Equipar escadas com corrimão, faixa antiderrapante
e instalar portões no topo e na base da escada;
Utilizar protetores de quinas de móveis e travas
para portas e gavetas de armários, as quais
impedem sua abertura pelas crianças;
Orientar as crianças a guardar os brinquedos
quando não estiverem em uso, pois podem
ocasionar quedas;
Chaves com fusíveis expostos devem ser
substituídas por disjuntores;
Grãos de cereais, chicletes, balas duras, botões,
colchetes, tachinhas, pregos parafusos, agulhas,
alfinetes, moedas e medalhinhas devem ser
mantidos em armários fechados e longe do alcance
de crianças.
PARA IDOSOS
Colocar corrimão, cuja extensão seja maior que o
início e o fim dos degraus, e faixa antiderrapante
nas escadas e rampas;
Usar maçanetas do tipo alavanca nas portas;
Evitar tapetes soltos, fios de extensão e objetos
espalhados no chão. Caso não seja possível a
retirada do tapete, aplique material antiderrapante
no forro;
Evitar excesso de móveis no mesmo cômodo;
Fig. 11.3 Grade de proteção nas janelas
Fig. 11.5 Medidas simples como utilização de móveis
com quinas arredondadas podem prevenir as quedas e
suas consequências aos idosos.
Fig. 11.4 Tomadas ou fiação elétrica devem estar
adequadamente protegidas
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Usar sofás e cadeiras com braços para auxiliar o
movimento de sentar e levantar;
Evitar pisos escorregadios (molhados, encerados,
entre outros).
b) NO BANHEIRO
PARA TODOS OS INDIVÍDUOS
Jamais utilizar pias ou vasos sanitários para
alcançar objetos no alto;
Evitar o uso de aparelhos elétricos, como secador
de cabelo, no banheiro. As paredes molhadas pelo
vapor da água podem conduzir uma descarga
elétrica provocando choque e, até, morte;
Utilizar pisos antiderrapantes, principalmente onde
vivem idosos. Se o imóvel não é novo e houver a
necessidade de fazer adaptações, pode-se trocar o
piso ou aplicar fita ou spray antiderrapante no
revestimento existente.
PARA CRIANÇAS
Nunca deixe uma criança sozinha no banho,
principalmente na banheira. Um simples descuido
pode ter sérias consequências;
Remédios, cosméticos e produtos de higiene
pessoal (inclusive o xampu e o condicionador)
devem ficar longe do alcance das crianças;
Mantenha a tampa do vaso sanitário fechada e, se
possível, utilize trava para a tampa de forma a
impedir que a criança tome água, mexa ou caia
dentro do vaso sanitário, correndo o risco de
afogamento.
PARA IDOSOS
Colocar barras de apoio nas paredes, no box,
próximo ao vaso sanitário e à pia;
Posicionar duchas em nível mais baixo que o
normal, facilitando o seu acesso;
Utilizar puxadores de armários em forma de alça
para facilitar o seu manuseio;
No boxe, além de usar tapetes com ventosas para
evitar escorregões e quedas, mantenha uma
cadeira ou um banco na área do banho para se o
idoso preferir tomar banho sentado.
Fig. 11.8 Tapete antiderrapante
Fig. 11.6 O uso de antiderrapantes e corrimãos é
outro importante meio de evitar quedas e suas
consequências aos idosos.
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c) NA COZINHA
PARA TODOS OS INDIVÍDUOS
A mangueira e o registro do gás (de botijão ou rua)
devem ser trocados a cada cinco anos, mesmo que
o uso do fogão não seja frequente, pois após esse
período as peças perdem a eficiência, podendo
causar vazamentos. Certifique-se de que a
mangueira meça 1,25 m no máximo, pois esta é a
medida-padrão de segurança;
Ao realizar múltiplas tarefas, como lavar roupas
enquanto cozinha, use um timer culinário, que avisa
quando o alimento está pronto e ensine os
adolescentes a usarem o acessório.
PARA CRIANÇAS
Dê preferência ao uso de potes com fechamento
anticriança para guardar grãos e outros alimentos
não perecíveis, o que evita que a criança coloque os
grãos no nariz, por exemplo;
Cozinhar, preferencialmente, nas bocas de trás do
fogão e virar os cabos das panelas para dentro do
fogão;
Mesmo com as válvulas de segurança para o
acendimento de forno presentes nos fogões desde
julho de 2006, mantenha o registro sempre fechado
quando o equipamento não estiver em uso. Além de
travas para a porta do forno, geladeira e armários
de cozinha, há placas de acrílico para serem
colocadas na frente dos botões dos queimadores do
fogão;
Não guarde nada que possa ser tóxico ou prejudicial
a criança, como detergentes, bebidas alcoólicas,
produtos de limpeza, itens cortantes, pesados ou de
louça/porcelana, em armários baixos e locais de
acesso fácil;
Se possível, instale um portão anticriança na porta
da cozinha para que ela não entre quando estiver
longe de adultos.
PARA IDOSOS
Para cozinhar, usar panelas pequenas e com alças
nas laterais;
Evitar cozinhar em panelas de pressão;
Usar luva para segurar objetos quentes;
Na geladeira, usar garrafas plásticas pequenas para
água e potes plásticos pequenos para comida;
Fig. 11.9 Cuidado com o direcionamento do cabo das
panelas.
Fig. 11.8 Banheiro planejado para o idoso
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Os itens de uso frequente devem ser guardados à
mão nos armários, a uma altura que não ultrapasse
a linha da cintura (para baixo) e nem a altura dos
ombros (para cima).
d) QUARTO
PARA TODOS OS INDIVÍDUOS
Quando for escolher a cama, confira se seus pés
encostam-se ao chão quando estiver sentado no
móvel.
PARA CRIANÇAS
Instalar grades no berço ou na cama da criança,
pois um dos principais tipos de acidente com
crianças é a queda do berço. Em geral, a cabeça é
mais pesada que o corpo e, quando o bebê se
debruça no berço, cai. Por isso, é importante ir
aumentando a altura da grade do berço conforme a
criança for crescendo;
Lençóis, mantas e cobertores devem estar sempre
presos ao colchão;
É sempre bom deixar um foco de luz no quarto das
crianças – pode ser um abajur ou uma tomada
iluminada;
Na hora de dormir, retire os brinquedos de dentro do
berço e coloque-o de barriga para cima, posição
que reduz em mais de 70% o risco de morte súbita.
Certifique-se de que as grades do berço e da cama
estejam bem travadas.
PARA IDOSOS
Coloque ventosas ou forro antiderrapante nos
tapetes ao lado da cama. Em alguns casos, o ideal
é banir esses tapetes para evitar acidentes;
Dê preferência aos móveis, como cama e cadeiras,
mais altos para facilitar os movimentos dos idosos.
e) ÁREA DE SERVIÇO
PARA TODOS OS INDIVÍDUOS
Armazene com cuidado produtos inflamáveis, como
álcool e removedor, mantendo- os longe de fontes
de calor;
Após o uso, o ferro elétrico deve ficar em local de
difícil acesso enquanto esfria;
Em geral, a lavanderia e a garagem acabam
servindo de local para guardar coisas velhas e de
Fig. 11.11 Medidas que auxiliam no quarto de um idoso
Fig. 11.10 Métodos de prevenção na cozinha
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117
pouco uso. Não amontoe os objetos formando
pilhas, pois podem despencar, causando acidentes;
Use um varal colorido no quintal, em vez de branco
ou transparente, para evitar bater com a cabeça ou
o pescoço nele;
No quintal, o botijão de gás deve,
preferencialmente, ficar em um tipo de gaiola com
trinco ou cadeado para evitar que crianças mexam
no registro do gás;
Nas áreas externas, o ideal são pisos
antiderrapantes com uma superfície mais rugosa
para garantir o bom atrito de pés descalços ou
sapatos de solado mais liso;
Tampas de ralo e grelhas de escoamento de água
mal fixadas podem ocasionar acidentes;
Bordas e degraus da piscina devem ser sempre
arredondados e as escadas precisam ter corrimão
para garantir a segurança contra deslizes.
PARA CRIANÇAS
Produtos de limpeza, sacos plásticos, caixa de
ferramentas, ferro de passar roupa e outros
aparelhos eletrônicos devem ser mantidos fora do
alcance de crianças para evitar intoxicação, asfixia,
ferimentos e queimaduras, respectivamente;
Baldes, bacias e piscinas de plástico com água
devem ser esvaziados após o uso e mantidos fora
do alcance de crianças;
Poços artesianos devem ser mantidos
completamente fechados e fora do alcance de
crianças;
ATITUDES SAUDÁVEIS COTIDIANAS
PARA CRIANÇAS
Ao utilizar elevadores e escadas rolantes, as
crianças menores devem sempre estar
acompanhadas;
Os pais devem estar atentos quando a criança sobe
em determinados brinquedos de parquinho;
Em churrasqueiras, é fundamental ter espaço para
armazenar espetos e grelhas de forma a evitar que
as crianças brinquem com eles;
PARA EVITAR QUEIMADURAS
Nunca colocar a criança na água do banho sem
antes testá-la;
Líquidos e alimentos quentes não devem ser
manuseados com a criança no colo;
Velas, isqueiros e fósforos nunca devem ser
manuseados por crianças;
Os banhos de sol das crianças devem ser restritos
ao horário anterior às 10h ou posterior às 16h e a
criança só deve expor-se ao sol com o uso de
bloqueador solar.
PARA EVITAR AFOGAMENTO
Na hora de dar banho em crianças pequenas, nunca
se deve deixá-las sozinhas;
Em piscinas, lagos, rios e praias, a criança deve
nadar acompanhada e sob máxima vigilância;
O uso de bóias de braço é desaconselhável, pois
não impede que a cabeça da criança afunde e ela
se afogue.
Se a piscina não é cercada, deve ser coberta com
uma manta plástica para evitar que a criança caia
na água.
É importante estimular a criança a fazer natação
desde pequena.
Fig. 11.12 Proteção das piscinas
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118
PARA EVITAR ASFIXIA, SUFOCAÇÕES OU
ENGASGO
Cordão e presilha de chupeta são
desaconselháveis, pois a criança pode se enforcar
com eles;
O uso de travesseiros é desaconselhável para
crianças muito pequenas, em especial os lactentes.
PARA EVITAR INTOXICAÇÕES
Dar preferência a produtos químicos cujas
embalagens disponham de travas de segurança e
armazená-los sempre em locais de difícil acesso à
criança;
Nunca armazenar produtos químicos fora de sua
embalagem original, como reaproveitar garrafas de
refrigerante ou de outros produtos. Isso pode
confundir a criança e fazê-la pensar que se trata de
um alimento;
Medicamentos só devem ser administrados sob
orientação médica, devem ser dados à criança por
um adulto responsável e devem estar fora do
alcance dos pequenos;
Não se refira a medicamentos como “docinho” ou
“balinha”. Do contrário, ela poderá ingerir o
medicamento quando estiver sozinha.
Evitar a presença de plantas ornamentais tóxicas
dentro de casa ou no quintal;
Verificar com frequência a validade e integridade
dos produtos alimentares.
PARA EVITAR CHOQUES ELÉTRICOS
A fiação elétrica deve ser verificada com frequência.
Nunca permitir que a criança solte pipas perto de
redes de fiação elétrica.
PARA EVITAR ACIDENTES COM ANIMAIS:
Não manter dentro de casa animais de
comportamento sabidamente agressivo;
Manter cães presos ou com focinheiras;
Manter em dia a vacinação dos animais domésticos;
Orientar a criança sobre o perigo de animais
estranhos.
PARA IDOSOS
Deixar objetos de uso frequente em locais de fácil
acesso;
Vestir as roupas sentado ou apoiado em algum
mobiliário;
À noite, ao deitar, colocar um copo plástico com
água para beber próximo à cama e manter o
caminho iluminado do quarto ao banheiro;
Ao acordar, levantar sempre por etapas, parra evitar
hipotensão postural;
Fig. 11.13 Não permitir o acesso de crianças a produtos
de limpeza e não utilizar embalagens para estoque de
produtos de limpeza
Fig. 11.14 Cães podem ser mansos, porém
imprevisíveis.
LATE-UFRJ|2015
119
Praticar atividade física com orientação médica,
evitando exercícios inadequados para a idade;
Manter as portas dos cômodos sem trancas;
Não usar remédios sem orientação médica.
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LATE-UFRJ|2015
120
INTRODUÇÃO
Intoxicação corresponde às alterações
biológicas, de gravidade variável, decorrentes da
interação entre um organismo vivo e qualquer
substância (química, natural ou sintética),
denominada tóxico, introduzida no organismo ou nele
formada. Os efeitos produzidos podem levar à
ocorrência de sequelas ou mesmo causar danos
letais, e dependem de alguns fatores.
A intoxicação pode ser, principalmente, do
tipo acidental ou intencional. Desta forma, é resultado
de negligência, uso abusivo ou ignorância no
manuseio de substâncias tóxicas, ou resulta de
tentativa de suicídio ou mesmo homicídio. Os
acidentes, em geral, ocorrem com a ingestão de
excesso de medicamentos ou substâncias químicas,
sendo as crianças as maiores vítimas. Estas, quando
expostas ao veneno, sofrem consequências mais
sérias quando comparadas aos adultos, pois
possuem metabolismo rápido e seus organismos são
menos capazes de lidar com toxinas químicas.
As substâncias capazes de causar
intoxicações são mais comuns do que imaginamos,
de modo que estão constantemente presentes em
nosso cotidiano, como os medicamentos,
domissanitários (produtos de limpeza), plantas e até
mesmo os alimentos.
As intoxicações compreendem um importante
problema de saúde pública mundial, porém
respeitando as características geográficas,
socioeconômicas e culturais de cada país ou região.
A estimativa, segundo a OMS, é de mais de cinco
milhões de casos novos a cada ano em nosso país.
Os dados nacionais referentes ao tema ainda
são escassos e pouco confiáveis, especialmente
porque a notificação de novos casos não é
obrigatória. No Brasil, os registros são feitos pela
Rede Nacional de Centros de Informação e
Quadro 12.1 INTOXICAÇÃO vs ANAFILAXIA E
ALERGIA
Intoxicação: alterações resultam da ação
direta do tóxico ou veneno sobre o organismo ou um
de seus órgãos, o que pode verificar-se em uma
única dose.
Anafilaxia e Alergia: alterações resultam do
choque antígeno-anticorpo, necessitando,
invariavelmente de uma primeira dose ou contato,
chamado sensibilizante, e, de uma segunda dose,
chamada desencadeante.
Tabela 12.2 PRINCIPAIS AGENTES TÓXICOS
Medicamentos Plantas
Domissanitários
Produtos químicos
industriais
Cosméticos Produtos veterinários
Drogas de abuso Metais
Alimentos Animais não peçonhentos
Raticidas
Animais
peçonhentos/venenosos
Agrotóxicos
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121
Assistência Toxicológica (RENACIAT), e a
coordenação da coleta, compilação, análise e
divulgação dos casos de intoxicação e
envenenamento é feita pelo Sistema Nacional de
Informações Toxico-Farmacológicas da Fiocruz
(SINITOX).
Segundo estes dados e os obtidos pela
Associação Americana dos Centros de Controle de
Envenenamento (AAPCC), em 2009, o grupo mais
acometido foi o formado pelas crianças
(especialmente as do sexo masculino e com idade
inferior a 5 anos), tendo como principal via de
intoxicação a ingestão oral, sendo os medicamentos e
os domissanitários os principais tóxicos. No entanto,
nossa preocupação não deve estar voltada somente
para este grupo, visto que há ainda outros, como
idosos, polimedicados, trabalhadores (intoxicação
ocupacional), pessoas com problemas psiquiátricos,
etc.
Com esses dados, fica clara a importância da
prevenção, tendo as medidas educacionais e de
conscientização como o elo fundamental na
abordagem das intoxicações.
Tabela 12.3 PRINCIPAIS VIAS DE INTOXICAÇÃO
Ingestão
Dérmica (pele)
Inalação/nasal
Ocular
Parenteral (intravascular)
Otológica (ouvido)
Retal
FATORES IMPORTANTES DO PROCESSO
DE INTOXICAÇÃO
Tempo de exposição – quanto maior o tempo de
exposição, maiores serão as chances de o produto
causar danos à saúde;
Concentração do agente - quanto maior a
concentração do agente químico, maior será a
chance de um efeito danoso à saúde;
Toxicidade;
Características químicas da substância – possui
relação com a forma de entrada deste tóxico no
organismo;
Susceptibilidade individual.
SINTOMATOLOGIA
As manifestações relacionadas às
intoxicações são bastante variadas, devido à
diversidade de substâncias tóxicas a que estamos
expostos. Os sinais e sintomas mais comuns e mais
evidenciados, em linhas gerais, são:
Transpiração, salivação e lacrimejamento
excessivos ou reduzidos
Sensação de queimação nos olhos e mucosas
Queimaduras ou manchas ao redor e/ou dentro da
boca
Tremores, agitação, apatia
Dificuldade para engolir
Odores característicos (na respiração, roupas,
ambiente)
Respiração anormal (rápida, lenta ou com
dificuldade)
Alterações do pulso (lento, rápido ou irregular)
Sinais de choque circulatório (baixa perfusão
tecidual)
Dor de cabeça, zumbido
Alterações do nível da consciência (sonolência,
agitação, confusão mental, coma)
Convulsões e alucinações
Alterações comportamentais (desinibição,
depressão)
Alterações no tamanho das pupilas (midríase ou
miose)
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Alterações na coloração da pele (pálida,
avermelhada ou azulada)
Alterações na temperatura corporal (hiper ou
hipotermia)
Dor abdominal
Náuseas e vômitos
Diarreia
Pode-se suspeitar de um caso de intoxicação sempre
que a vítima apresentar algum dos sinais ou sintomas
descritos acima, sem outras causas aparentes. Além
disso, devem ser procuradas pistas no local, tais
como: frascos de medicamentos caídos ou vazios,
produtos abertos, comprimidos espalhados,
substâncias químicas ou produtos de limpeza,
plantas, restos de comida ou bebida e vômitos.
CONSIDERAÇÕES PARA O
ATENDIMENTO BÁSICO
A primeira ação é sempre manter a calma. E antes de
prestar socorro à vítima, algumas informações
essenciais devem ser verificadas. Por isso, pergunte
diretamente a ela (quando possível) ou às
testemunhas em volta:
O que causou a intoxicação?
Qual foi a quantidade de agente tóxico?
Qual a idade e o peso da vítima?
Como e quando ocorreu a intoxicação?
Alguém tentou provocar vômito ou ofereceu algo
para a vítima beber?
A vítima tem alguma doença ou histórico de
alergias?
Ela usa permanentemente algum medicamento ou
droga ilícita?
É muito importante saber esses dados, e os mesmos
devem ser repassados ao Centro de Controle de
Intoxicações.
CONDUTAS DE PRIMEIROS SOCORROS
MEDIDAS GERAIS
1. Avaliar a segurança da cena. Certifique-se de que
não há perigo iminente no local do acidente.
PROTEJA-SE! Equipamento de Proteção Individual
deve ser utilizado durante todo o atendimento das
vítimas, em especial durante a remoção do tóxico.
2. Identifique o veneno e a via de intoxicação.
3. Abordagem primária e Suporte Básico de Vida.
CUIDADO! Não é recomendável realizar a
“respiração boca-a-boca” na presença de toxinas
como cianeto, sulfito de hodrogênio, corrosivos e
organofosforados.
4. Ligar para o Centro de Controle de Intoxicações e
fornecer todas as informações citadas
anteriormente. Em todo o Brasil pode-se ligar no
telefone 0800 722 6001 (Válido em 08/03/2014).
5. Se necessário, chame o serviço de emergência
(192 ou 193).
ATENÇÃO! Certifique-se de que a vítima que está
sendo atendida é a única intoxicada. Quando a vítima
for uma criança, verifique se ela estava sozinha ou se
brincava com outras, pois estas também devem ser
avaliadas.
a) INTOXICAÇÃO POR INALAÇÃO
Este tipo se dá com a absorção de
substâncias químicas nocivas pela respiração. Ocorre
mais frequentemente em locais fechados e mal
ventilados em geral (p. ex.: garagens).
Entrando em contato com o organismo, essas
substâncias podem causar irritação do nariz, garganta
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123
e pulmões, além de poder formar compostos ligados
à hemoglobina (no caso dos gases, como monóxido
de carbono), impedindo a oxigenação do sangue, e
levando a vítima à asfixia. O gás de cozinha também
se configura como uma importante fonte de
intoxicação. As condutas básicas nestes acidentes
são:
1. Verificar a segurança da cena.
2. Retirar a vítima do local do acidente, levando-a
para o ar livre (ambiente arejado). Deve-se tomar
cuidado para que o socorrista também não acabe
intoxicado, portanto alguma proteção deve ser
utilizada.
3. Afrouxar as roupas da vítima e deixá-la em
repouso absoluto.
4. Fazer a avaliação primária e, se necessário,
adotar medidas de manutenção das funções vitais.
5. Consultar o Centro de Controle de Intoxicações.
b) INTOXICAÇÃO POR CONTATO COM A
PELE / MUCOSAS
Algumas substâncias podem causar irritação
ou destruição tecidual através do contato com a pele,
mucosa ou os olhos, sendo capazes de penetrar o
organismo pela pele mesmo que o contato seja breve
e mesmo não havendo escoriações ou ferimentos.
Esse efeito irritante é geralmente causado por
produtos que se apresentam sob a forma de gases ou
vapores. Sendo assim, além de poeiras e fumaça,
vapores de ácidos, álcalis e solventes (removedores)
também constituem agentes causadores de
intoxicação. O contato com esses agentes pode
provocar inflamação e queimaduras na área afetada.
As recomendações para estes casos são:
Quadro 12.4 INTOXICAÇÃO POR MONÓXIDO DE
CARBONO
O monóxido de carbono (CO) é um gás inodoro, incolor e
de alta toxicidade comumente produzido por motores à
combustão, aquecedores, lareiras e chuveiros aquecidos
à gás, principalmente em locais mal ventilados. Os
sintomas típicos de intoxicação por CO são dor de
cabeça, náusea, vômito, fraqueza muscular
(especialmente em membros inferiores), perda de
consciência e convulsões.
Em suspeita de intoxicações por CO, todas as portas e
janelas do local devem ser abertas e a vítima deve ser
retirada do local o mais rápido possível. Se disponível, o
socorrista apto pode administrar oxigênio para as
vítimas. Nos casos mais graves (vítima inconsciente) é
necessário manter uma via aérea pérvia e, se
necessário, realizar manobras de ventilação.
Atenção, chame o socorro especializado o mais rápido
possível e só entre na cena se isso não envolver risco
para a sua saúde.
Fig. 12.1 Primeira conduta em caso de intoxicação –
retirada da vítima do local.
LATE-UFRJ|2015
124
1. Primeiramente, evite se contaminar com o
produto. Avalie a segurança do local para não se
tornar outra vítima.
2. Proteja as mãos, utilizando luvas ou mesmo saco
plástico. Se houve manipulação do produto, a
ssoa deve lavar as mãos para prevenir contato
com outras regiões do corpo (p. ex.: olhos).
3. Fazer a avaliação primária.
4. A substância em questão deve ser removida o
mais rapidamente possível. Para isso, deve-se
lavar abundantemente o local afetado com água
corrente por 20 minutos ou até a retirada do
produto. Não se deve esfregar o couro cabeludo e
a pele, para evitar escarificá-la, pois isso facilita a
absorção do tóxico. Atentar-se para a lavagem das
regiões axilar, retroauricular, genital, subungueal
(debaixo das unhas) e da cicatriz umbilical
(umbigo).
5. Se as roupas e calçados da vítima também
estiverem contaminados, a remoção destes itens
deverá ser feita sob o mesmo fluxo de água da
lavagem para auxiliar a rápida remoção do agente,
devendo ser isolados.
No caso de um tóxico liofilizado (em pó), a
retirada pode ser feita com a mão protegida com
uma luva ou peça de roupa. De qualquer modo,
cuidado para não se contaminar com o agente.
6. Consulte o Centro de Controle de Intoxicações.
7. Encaminhe um pedaço de roupa contaminada ao
hospital com a vítima, caso não reconheça o tipo
de produto que causou a intoxicação.
8. Se houve contato de substâncias químicas com os
olhos, oferecer atenção redobrada ao caso. Esses
agentes, além de serem absorvidos rapidamente
pela mucosa, podem produzir irritação intensa e
causar perda visual. Portanto, é preciso lavar os
olhos abundantemente com água corrente,
durante pelo menos 15 minutos, e depois
encaminhar a vítima ao hospital com curativo
oclusivo para atendimento especializado, em que
deverá ser avaliado por um oftalmologista.
INTOXICAÇÃO POR INGESTÃO
É o tipo principal e mais comum de
intoxicação, podendo ocorrer pela ingestão de
agentes tóxicos líquidos ou sólidos. A maioria das
intoxicações por ingestão ocorre no lar (92%), sendo
mais comum na faixa etária de 1 a 5 anos. Esses
dados revelam a curiosidade natural das crianças
pequenas e a falta de cuidado dos adultos ao
deixarem ao seu alcance substâncias tóxicas. Por
isso mesmo, a atenção deve ser redobrada quando
se trata de crianças, pois elas tendem a colocar na
boca tudo o que está ao seu alcance, intoxicando-se
facilmente.
De modo geral, as seguintes substâncias
encontram-se entre as que mais frequentemente
provocam acidentes tóxicos:
Alimentos estragados ou que sofreram
contaminação química
Domissanitários
Medicamentos – sedativos e hipnóticos
Fig. 12.2 Como proceder em casos de contato de
substâncias químicas com os olhos.
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125
Plantas venenosas
Alucinógenos e narcóticos
Bebidas alcoólicas
Inseticidas, raticidas, formicidas
Soda cáustica
Derivados de petróleo
Ácidos, álcalis, fenóis
As condutas recomendadas são:
1. Fazer a avaliação inicial. Se a vítima estiver
responsiva, deve ser colocada em decúbito lateral
esquerdo. Não estando responsiva, deve ser
colocada em decúbito dorsal, atentando-se para a
manutenção das vias aéreas pérvias e
monitoramento da respiração. Havendo parada
respiratória, faça o suporte ventilatório (1
ventilação a cada 6 a 8 segundos). E no caso de
parada cardiorrespiratória, comece as manobras
de suporte básico de vida.
2. Consultar o Centro de Controle de Intoxicações e
seguir atentamente as instruções.
3. Utilizando equipamentos de proteção individual (p.
ex.: luvas), remova da boca da vítima comprimidos
ou outros fragmentos que possam ser facilmente
removíveis por pinçamento. NÃO SE DEVE
FAZER VARREDURA DIGITAL por conta do risco
de deslocamento de corpos estranhos, o que
causaria obstrução das vias aéreas.
4. Toda vítima responsiva e respirando deve ser
mantida em posição lateral (Fig.12.4). Isso facilita
a drenagem das secreções, evitando, assim, sua
aspiração.
5. NUNCA INDUZA O VÔMITO, seja por estimulação
mecânica da orofaringe (dedo na garganta), ou por
xarope de ipeca. Além de a sua eficácia ser
duvidosa, essa conduta pode causar
traumatismos, leões das mucosas digestória e
respiratória e aspiração, especialmente em vítimas
inconscientes e na presença de convulsões.
6. NÃO ADMINISTRE qualquer substância (nem
mesmo água ou leite) por via oral para nenhuma
intoxicação por ingestão a não ser que
recomendado pelo Centro de Controle de
Intoxicações ou equipe médica de emergência,
pois isso pode gerar danos. Não há evidências
suficientes que demonstrem que a diluição do
tóxico com água ou leite traga algum benefício
como medida de primeiros socorros.
7. Levar para o hospital, juntamente com a vítima,
qualquer material suspeito de ter causado a
intoxicação (produtos tóxicos, partes de plantas),
incluindo vômito, em um recipiente limpo e
fechado.
PREVENÇÃO
As intoxicações acidentais são sempre
passíveis de prevenção através de cuidados simples
Quadro 12.5 NEUTRALIZAÇÃO DE
SUBSTÂNCIAS
Não se deve fazer a neutralização química de
substâncias tóxicas, pois a maioria das reações de
neutralização libera calor, aumentando os riscos de lesão
ou de agravamento de lesões mucosas. A lavagem da
pele ou mucosa afetada com água corrente abundante é
a melhor forma de prevenir contra lesões maiores ou de
minimizar os efeitos tóxicos resultantes.
Fig. 12.3 Posição em decúbito lateral esquerdo
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126
no dia-a-dia, no lar ou no trabalho. São apresentadas
a seguir algumas medidas básicas de prevenção:
CUIDADOS COM ALIMENTOS
Verificar sempre o prazo de validade dos alimentos.
Não comprar enlatados se as embalagens
estiverem velhas, estufadas ou enferrujadas.
Sempre verificar a integridade dos alimentos antes
de comê-los, especialmente a de enlatados.
Jogar fora alimentos estragados ou com o prazo de
validade vencido.
Armazenar os alimentos conforme indicação do
fabricante, e em local separado dos produtos de
limpeza e outros materiais tóxicos.
CUIDADOS COM DOMISSANITÁRIOS
Não misturar os produtos de limpeza com alimentos
ou medicamentos, de modo que eles devem ser
guardados separadamente.
Armazenar materiais de limpeza em locais de difícil
acesso, de preferência em armários trancados,
mantendo-os fora do alcance e da vista das
crianças.
Manter os produtos sempre em seus recipientes
originais, evitando colocá-los em embalagens
plásticas de refrigerantes e sucos reaproveitadas.
Dar preferência pela compra de produtos de limpeza
contendo travas de segurança.
Evitar a mistura de diferentes produtos com o fim de
criar novas soluções de limpeza.
Havendo dúvida, entrar em contato com o Centro de
Controle de Intoxicações de sua região.
CUIDADOS COM MEDICAMENTOS
Não deixar medicamentos ao alcance das mãos e
dos olhos das crianças. Elas podem fazer “escadas”
com cadeiras e alcançar produtos em locais mais
altos.
Guardar os medicamentos em armários trancados à
chave, porém evitando armazená-los nos armários
debaixo das pias.
Evitar a automedicação. Procurar um médico
sempre que necessário.
Não administrar medicamentos no escuro para
evitar trocas perigosas.
Evitar tomar medicamentos na frente de crianças,
pois elas podem imitar o gesto.
Nunca utilizar termos como “docinho” ou “balinha”
para se referir a um medicamento, pois assim a
criança pode pensar que não é perigoso ou que é
agradável de comer. Considerar o medicamento
como remédio na presença de crianças; do
contrário, ela poderá ingerir o medicamento quando
estiver sozinha.
Ler sempre o rótulo e as instruções antes de usar
qualquer produto ou medicamento.
Manter os medicamentos nas suas embalagens
originais.
Tomar cuidado com os medicamentos de uso
infantil e os de uso adulto cujas embalagens são
parecidas.
Nunca tomar medicamentos vencidos. Descartar
todos que estiverem fora do prazo de validade,
retornando-os para farmácias e drogarias ou
despejando-os em locais específicos de descarte.
Havendo dúvida, entrar em contato com o Centro de
Controle de Intoxicações de sua região.
CUIDADOS COM PLANTAS VENENOSAS
Conhecer as plantas que estão dentro ou próximas
de sua casa, procurando saber as peculiaridades e
características de cada uma.
Orientar as crianças sobre a presença de plantas
venenosas e ensiná-las a identificar essas plantas.
LATE-UFRJ|2015
127
Ensine as crianças a admirá-las sem pegá-las ou
levá-las à boca e a não utilizá-las como brinquedos.
Manter as plantas tóxicas fora do alcance das
crianças e também dos animais domésticos.
Nunca preparar chás ou remédios caseiros com
plantas sem a devida orientação de um profissional
(médico ou farmacêutico), especialmente se não for
uma planta conhecida. A toxicidade de uma planta
nem sempre é eliminada com o cozimento.
Tomar muito cuidado ao podar plantas que liberam
látex, pois este provoca irritação na pele e nos
olhos, principalmente. Sempre usar luvas ao lidar
com plantas tóxicas e lavar bem as mãos depois de
manuseá-las.
Em caso de intoxicação, guardar a planta para esta
seja identificada e procurar orientação médica
imediatamente.
Havendo dúvida, entrar em contato com o Centro de
Controle de Intoxicações de sua região.
OUTRAS MEDIDAS
Agentes tóxicos podem se parecer com comida ou
bebida. Ensinar as crianças a consultar um adulto
antes de provar qualquer coisa.
Se possível, ter detectores de fumaça instalados
dentro de casa. Eles são projetados para soar um
alarme antes que o monóxido de carbono
acumulado atinja um nível perigoso. Estima-se que
os detectores previnam cerca de metade das mortes
causadas por envenenamento por monóxido de
carbono. Se o alarme disparar, ao ouvi-lo, saia de
casa imediatamente e ligue para o Corpo de
Bombeiros (193) ou acione um serviço médico de
emergência (192).
Sempre manter os telefones de emergência por
perto. De preferência, mantê-los próximos aos
aparelhos de telefone de casa.
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129
INTRODUÇÃO
Reação alérgica é uma manifestação do
organismo em resposta à exposição a uma
determinada substância, que desencadeia uma série
de reações químicas envolvendo o sistema imune,
implicando alterações diversas por todo o organismo.
Esta substância, denominada alérgeno, geralmente é
inofensiva a outros indivíduos.
Qualquer substância pode causar uma reação
alérgica, mas também dependendo da suscetibilidade
de cada pessoa ao contato com os diferentes tipos de
sólidos, líquidos, gases e até mesmo radiação. As
reações são comumente causadas por contato com
animais e plantas (pólen, picada de abelha) e por
ingestão de medicamentos e certos alimentos.
Ocorrida a reação alérgica, os sintomas
podem ser locais, ficando restritos à área de contato,
ou adquirir um caráter sistêmico, se estendendo por
todo o organismo. Podem surgir após segundos,
minutos ou demorar dias. Quase sempre são
moderadas e permitem o tratamento em casa. No
entanto, exposições repetidas podem resultar em
reações mais graves. Importante lembrar que
ausência de histórico de alergia na família não
significa que o indivíduo não seja suscetível a
desenvolver hipersensibilidade a um determinado
alérgeno.
SINAIS E SINTOMAS
Os sinais e sintomas dependem do tipo de
contato do alérgeno com o organismo no qual a
reação imune foi provocada. Isto é, dependem de
como se deu a alergia.
CONTATO PELO AR
Se um alérgeno encontra-se no ar, como
uma partícula de pólen ou poeira, ele irá causar
sintomas nos locais em contato com ar, como olhos,
nariz e pulmão. Frequentemente, os sinais e sintomas
são: vermelhidão dos olhos, coceira do nariz e
espirros.
Quadro 13.1 SENSIBILIZAÇÃO
Em um primeiro contato com o alérgeno, o
sistema imune é ativado e o indivíduo é dito
sensibilizado. Não necessariamente haverá
manifestações neste momento, ou elas serão de leves a
moderadas. A partir disso, as exposições seguintes vão
desencadear uma resposta no organismo afetado,
iniciando um processo inflamatório, podendo levar a
quadros mais graves por intensificação dessa resposta.
Quadro 13.2 PRINCIPAIS ALÉRGENOS
Contato com a pele: plantas venenosas, arranhaduras
de animais, pólen, látex de luvas, inoculação de abelhas.
Ingestão: camarão e outros frutos do mar, amendoim,
medicamentos, contrastes para exames.
Inalação: pólen, poeira, mofo, pelos de animais.
LATE-UFRJ|2015
130
Quando atingem o pulmão, podem causar
sintomas asmáticos devido à broncoconstrição e
produção excessiva de muco, como dispneia
(sensação de dificuldade respiratória), tosse, roncos e
sibilos.
CONTATO POR INGESTÃO
Os sintomas de alergia a comidas incluem dor
abdominal, vômitos, diarréia, coceira na pele e
inchaço. Raramente causam reações asmáticas ou
rinite.
CONTATO COM A PELE
Alérgenos que entram em contato com a pele
(ex: látex) causam reação alérgica do tipo dermatite
de contato ou eczema, caracterizados por
vermelhidão (eritema) e inchaço (edema), podendo
ocorrer o aparecimento de lesões vesiculosas e
prurido.
CLASSIFICAÇÃO
Didaticamente, as reações alérgicas podem
ser divididas em três grupos, de acordo com a sua
gravidade, descritas a seguir:
REAÇÕES LEVES
O contato da substância com a pele provoca
alterações cutâneas locais. Dentre elas: eritema,
edema, prurido, aumento da temperatura na região e
dor local.
REAÇÕES MODERADAS
O contato com a substância se dá por
ingestão, inoculação (no caso de animais) ou contato
com a pele. Uma resposta orgânica se desencadeia,
podendo afetar diversos órgãos, e os sintomas
podem ser definidos a partir dos sistemas afetados:
Pele: eritema, edema, prurido difuso pelo corpo,
principalmente em região anterior do tórax e
pescoço.
Sistema digestivo: náuseas, vômitos, cólica e
diarreia.
Sistema nervoso: tonteira e vertigem.
Sistema cardiovascular: taquicardia e aumento da
pressão arterial.
As reações moderadas geralmente afetam
apenas um dos sistemas e têm uma boa evolução. O
quadro se reverte depois de terminado o contato com
o agente alergênico.
REAÇÕES GRAVES
Ocorre uma evolução rápida e progressiva de
uma reação moderada, atingindo mais de um sistema
em poucos minutos, sendo a situação agravada por
edema das vias aéreas evoluindo para obstrução.
Além disso, ocorre queda abrupta da pressão arterial,
que pode levar ao choque e, em alguns casos, a uma
Fig. 13.1 (1) Angioedema de lábio; (2) Dermografismo;
(3) Eczema no antebraço.
LATE-UFRJ|2015
131
redução do nível de consciência e parada
cardiorrespiratória. Este evento grave e letal é
chamado de anafilaxia, podendo esta evoluir para o
choque anafilático, sua forma mais grave.
Dado todo este conhecimento, percebemos a
importância que é para um indivíduo reconhecer os
agentes que possivelmente venham a lhe causar
alguma reação alérgica; essa conduta é fundamental
para a manutenção da própria saúde. Inchaço nos
lábios, na língua e em outras regiões da boca, assim
como rouquidão, falta de ar ou dificuldade para
engolir, são sinais que representam gravidade,
devendo-se acionar um serviço médico de
emergência.
ORIENTAÇÕES GERAIS
NÃO SE DEVE
Assumir que quaisquer injeções que a vítima já
tenha tomado contra alergia darão a ela proteção
completa.
Colocar uma almofada sob a cabeça da vítima se
ela estiver com dificuldade em respirar. Isso poderá
bloquear as vias respiratórias.
Administrar nenhuma substância à vítima por via
oral caso ela esteja com dificuldade em respirar.
CHAME O SERVIÇO MÉDICO DE EMERGÊNCIA
IMEDIATAMENTE SE:
A reação alérgica da vítima for grave ou piorar
rapidamente (em alguns minutos).
A vítima já possuir um histórico de reações alérgicas
de natureza grave (procure pela identificação
médica).
PRIMEIROS SOCORROS
A correta identificação do quadro alérgico é
fundamental para evitar piores consequências. A
partir disso, é essencial identificar o agente causador
da reação alérgica e retirá-lo de contato com a vítima.
Muito importante também no atendimento inicial é
acalmar e confortar a vítima, pois a ansiedade pode
agravar a reação.
REAÇÃO ALÉRGICA LEVE
A maioria dos casos cessa sem maiores
complicações apenas com as condutas citadas
anteriormente. No entanto, não havendo melhora, ou
até mesmo piora dos sintomas após a retirada do
alérgeno, deve-se procurar atendimento médico.
Alguns pontos importantes:
1. Se a reação alérgica resultar de uma picada de
abelha de mel, retire o ferrão da pele com algo
firme (como a unha). Não use pinça, pois a
pressão no ferrão poderá liberar mais veneno.
2. Caso a vítima apresente um exantema com
prurido, aplique uma loção à base de calamina e
compressas frias. Evite loções com difenidramina
(Caladril).
3. É importante observar se o desconforto da vítima
aumenta.
REAÇÃO ALÉRGICA MODERADA
É necessário atendimento médico para alívio
dos sintomas e, apesar de normalmente haver uma
melhora rápida após a exposição, há ainda risco de
evoluir para formas mais graves.
REAÇÃO ALÉRGICA GRAVE OU ANAFILAXIA
Procure imediatamente por uma unidade de
saúde. O quadro pode evoluir rapidamente, podendo
levar a vítima ao choque, coma e até mesmo morte.
LATE-UFRJ|2015
132
Mas atenção: a vítima não deve procurar o
atendimento médico sozinha, devendo chamar a
ambulância ou, no mínimo, estar acompanhada. As
condutas são:
1. Enquanto a vítima não recebe atendimento
especializado, verifique seu estado e sinais vitais:
examine circulação, vias aéreas e respiração. Se
necessário, inicie a RCP.
2. Alguns pacientes, já cientes de sua alergia,
possuem um dispositivo autoinjetor de adrenalina,
que deve ser usado imediatamente, podendo ser
por qualquer indivíduo apto a fazê-lo. Portanto, se
a vítima tiver à mão esse medicamento de
emergência contra alergia, ajude a injetá-lo. A
aplicação é feita principalmente na parte
anterolateral da coxa, no seu terço médio
(músculo vasto lateral).
3. Procure tomar medidas para evitar o choque.
Mantenha a vítima deitada, erguendo seus pés
cerca de 30 cm, e cubra-a com um agasalho ou
cobertor. NÃO deixe a vítima nessa posição se
houver suspeita de lesão cerebral, pescoço,
costas ou pernas, ou se isso causar desconforto a
ela.
4. Se a vítima perder a consciência, aplique os
procedimentos de primeiros socorros para casos
de inconsciência.
PREVENÇÃO
1. Evitar o agente alergênico logo após identificá-lo.
Esta é a medida mais importante!
2. As pessoas que sabem ser passíveis de reações
alérgicas de natureza grave devem ter alguma
identificação médica (cartão ou bracelete) que
descreva as substâncias às quais elas são
alérgicas e as condutas que devem ser tomadas
caso elas venham a apresentar uma reação
alérgica.
3. Observar cuidadosamente seus filhos após ter
administrado um alimento novo ou medicamento.
De preferência, ler o rótulo do alimento ou a bula
do medicamento antes.
4. Em restaurantes ou casas de amigos, perguntar
os ingredientes usados na preparação dos
alimentos.
5. Instruir pessoas em casa e no trabalho sobre sua
alergia, o lugar onde guarda o medicamento e
como usá-lo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AEHLERT, B. Emergências em Cardiologia:
Suporte Avançado de Vida em Cardiologia. 3. ed. São
Paulo: Elsevier, 2007.
ALVAREZ, F. S. et al. Protocolo de atendimento
das Unidades de Pronto Atendimento 24 horas. 1.
de. Rio de Janeiro: [s. n.], 2009.
COSTA, B. K. Prevenção de doenças infecto-
contagiosas, prevenção de acidentes e primeiros
socorros para profissionais da educação infantil:
manual de orientações. Porto Alegre: UFRGS, 2010.
Disponível em:
<http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/250
57/000751031.pdf?sequence=1>. Acesso em: 01
mar. 2012.
IRWIN, R. S. RIPPE, J. M. Terapia Intensiva. 6. ed.
EUA: Guanabara Koogan, 2010.
IRWIN, R. S. RIPPE, J. M. Manual de Terapia
Intensiva. 4. ed. EUA: Guanabara Koogan, 2006.
MARTINS, H. S. Emergências Clínicas: Abordagem
Prática. 3. ed. São Paulo: Manole, 2007.
<http://health.learninginfo.org/first-aid-allergies.htm>.
Acesso em: 01 mar. 2012.
LATE-UFRJ|2015
133
INTRODUÇÃO
Muitas espécies de animais são dotadas de
mecanismos de defesa que possuem peçonhas ou
venenos. São os chamados animais peçonhentos.
Esses animais possuem glândulas de veneno que se
comunicam com aparelho inoculador, por onde o
veneno é injetado com facilidade, tais como insetos,
escorpiões, aranhas e cobras. Estima-se que
ocorrem anualmente no Brasil cerca de 26000 casos
com cobras, 21000 com aranhas e 39000 com
escorpiões, podendo estar relacionados a ocorrência
de óbitos ou produção de sequelas. É importante
ressaltar que todo acidente por animal peçonhento
atendido na unidade de saúde deve ser notificado,
independentemente do paciente ter sido ou não
submetido à soroterapia.
Além dos acidentes por animais peçonhentos,
as mordidas por animais também merecem atenção
especial, visto que além de ser um acidente muito
comum, é potencialmente perigoso pois pode haver a
transmissão de muitas doenças, sendo a raiva uma
delas (uma doença de alta letalidade). Assim, é
fundamental saber como proceder em cada situação,
para um melhor prognóstico da vítima.
Quadro 14.1 ANIMAIS VENENOSOS vs
PEÇONHENTOS
Animais venenosos produzem veneno, mas
não possuem um aparelho inoculador, provocando
apenas envenenamento passivo, ocasionado por
ingestão, contato ou compressão.
a) ACIDENTES OFÍDICOS
O ofidismo constitui, dentre os acidentes por
animais peçonhentos, o de maior interesse médico
devido a sua frequência e gravidade. A ocorrência
desse tipo de acidente é relacionada a fatores
climáticos e a atividade humana no campo, havendo
predomínio de incidência nos meses quentes e
chuvosos e em indivíduos do sexo masculino (15 a 49
anos).
Existem no Brasil 60 espécies de cobras
venenosas, sendo as jararacas as responsáveis pelo
maior número de ataques. Os acidentes ocorrem em
todo o país (principalmente nas regiões Norte e
Centro-Oeste), havendo predomínio do acidente
botrópico (73,5%), seguido do crotálico (7,5%),
laquético (3%), elapídico (0,7%) e por cobras não-
peçonhentas (3%). A letalidade geralmente é baixa
(0,4%), sendo que o tempo decorrido entre o acidente
e o atendimento e o tipo de envenenamento podem
elevar a letalidade em até 8 vezes.
Adaptado de guia de vigilância epidemiológica, 2009.
LATE-UFRJ|2015
134
CLASSIFICAÇÃO DOS ACIDENTES
O diagnóstico do tipo de cobra causadora do
acidente é feito, na maioria dos casos, com base nas
manifestações clínicas que o paciente apresenta no
momento do atendimento, uma vez que nem sempre
é possível a identificação do animal. Os acidentes são
classificados em:
Acidente Botrópico: Causado por serpentes do
gênero Bothrops, Bothriopsis, Bothropoides,
Bothrocopias e Rhinocerophis. Ex: Jararaca.
Acidente Laquético: Causado por serpentes do
gênero Lachesis. Ex: surucucu.
Acidente Crotálico - Causado por serpentes do
gênero Caudisona. Ex: Cascavel.
Quadro 14.2 INCIDÊNCIA DE
ACIDENTES OFÍDICOS POR REGIÕES
BRASIL 2008
Região N° casos
Incidência
(por 100.000
habitantes)
Norte 8.065 52,6
Nordeste 6.865 13,2
Sudeste 6.689 8,3
Sul 3.071 11,1
Centro-
Oeste 2.215 16,4
Brasil 26.905 13,8
Fig. 14.2 Surucucu
Fig. 14.3 Cascavel
Fig. 14.1 Jararaca
LATE-UFRJ|2015
135
Acidente Elapídico - Causado por serpentes do
gênero Micrurus. Ex: Coral verdadeira.
Acidente Por Serpentes Não-Peçonhentas - Sem
gravidade, porém freqüente. Pode causar edema, dor
e equimose na região da picada. Ex: Cobra-cipó,
falsa-coral, cobra d’água.
SINTOMAS GERAIS DOS ACIDENTES OFÍDICOS
VENENOSOS
Dor local
Rápido enfraquecimento
Perturbações visuais
Náuseas e vômitos
Pulso fraco
Respiração rápida
Extremidades frias
Perda da consciência
Rigidez da nuca
Coma e morte
AÇÃO DO VENENO
A reação à picada vai depender de variáveis
como a parte do corpo que foi atingida, quantidade de
veneno injetada, peso da vítima e o tipo da cobra
(espécie). As partes do corpo mais frequentemente
atingidas são as pernas (principalmente abaixo do
joelho), seguidas dos braços.
Os venenos ofídicos podem ser classificados
de acordo com suas atividades fisiopatológicas, cujos
efeitos são observados em nível local (região da
picada) e sistêmico.
Quadro 14.3 COBRAS VENENOSAS versus NÃO
VENENOSAS
Venenosas - fosseta lacrimal, cabeça triangular, olhos
pequenos, cauda afinando abruptamente, escamas com
desenhos irregulares, 02 presas no maxilar superior.
Fosseta lacrimal ou loreal – órgão termorregulador
localizado entre o olho e a narina
Não Venenosas - não têm fosseta lacrimal, possuem
cabeça arredondada, olhos grandes, cauda longa e
afinando gradativamente, dentes pequenos e mais ou
menos iguais. Exceção: Coral verdadeira (gênero
Micrurus), que apesar de ser venenosa, não possui
fosseta lacrimal.
Fig. 14.5 Cobra- cipó
Fig. 14.4 Coral verdadeira
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136
Quadro 14.4 CLASSIFICAÇÃO DOS VENENOS
ATIVIDADE VENENO EFEITOS
Inflamatória
aguda
Botrópico
e laquético
Lesão endotelial e necrose
no local da picada.
Liberação de mediadores
inflamatórios
Coagulante
Botrópico,
laquético e
crotálico
Incoagulabilidade
sanguínea
Hemorrágica Botrópico,
laquético
Sangramentos na região da
picada (equimose) e à
distância (gengivorragia,
hematúria, etc.)
Neurotóxica Crotálico e
elapídico
Bloqueio da junção
neuromuscular (paralisia de
grupos musculares)
Miotóxica Crotálico Rabdomiólise (mialgia
generalizada, mioglobinúria)
“Neurotóxica”
vagal Laquético
Estimulação colinérgica
(vômitos, dor abdominal,
diarréia, hipotensão,
choque)
Adaptado de guia de vigilância epidemiológica, 2009
PRIMEIROS SOCORROS
1. Segurança da cena: observar se a cobra ainda se
encontra no local, ou se existem outras ao redor.
OBSERVAÇÃO: Não perca tempo! Procure ajuda,
pois o tratamento deve ser feito em até 30 minutos
após a picada.
2. Deite e acalme a vítima: o acidentado não deve
locomover-se com os próprios meios.
3. Localize o local da picada e lave com água fresca
ou água e sabão.
4. Eleve o membro acometido e aplique compressa
fria no local.
5. Transporte (em maca, se possível) a vítima ao
atendimento médico mais próximo para tratamento
(aplicação do soro).
6. Se possível, leve junto a cobra (viva ou morta)
para identificação (para que a vítima receba o soro
específico).
IMPORTANTE
Não colocar folhas, pó de café ou qualquer
substância que possa contaminar a ferida.
Não oferecer bebidas alcoólicas, querosene ou
qualquer outro líquido tóxico.
Não fazer uso de qualquer prática caseira que
possa retardar o atendimento médico.
Não tentar retirar o veneno do local, chupando,
cortando ou espremendo o membro.
De acordo com AHA (American Heart
Association) 2010, a aplicação de uma atadura de
imobilização por pressão, com pressão entre 40 e 70
mmHg na extremidade superior e 55 e 70 mmHg na
extremidade inferior, em torno de toda a extensão da
extremidade picada, é uma maneira eficaz e segura
de retardar o fluxo linfático e, por conseguinte,a
disseminação do veneno. Na prática, uma estimativa
para esta faixa de pressão é a aplicação de uma
bandagem confortavelmente apertada, que permita a
inserção de um dedo sob ela.
A soroterapia deve ser realizada o mais
rapidamente possível e o número de ampolas
depende do tipo e da gravidade do acidente.
Especialistas do Butantã recomendam às vítimas que
recebam o soro de preferência nas primeiras 3h horas
após o ataque.
PREVENÇÃO
Usar botas de cano alto.
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137
Proteger as mãos: não enfiar as mãos em tocas,
cupinzeiros, ocos de troncos etc. Usar um pedaço
de madeira para verificar se não há animais.
Manter sempre limpos os terrenos, quintais e
plantações: facilidade para a proliferação de
roedores atraem as cobras, que os utilizam como
alimentos.
Conservar o meio ambiente: desmatamento e
queimadas, além de destruir a natureza provocam
mudanças de hábitos dos animais, que se
refugiam em celeiros ou mesmo dentro de casas.
Preservar os predadores (emas, gaviões, gambás
etc).
b) ACIDENTES ESCORPIÔNICOS
(ESCORPIONISMO)
Atualmente são conhecidas cerca de 1.600
espécies de escorpião em todo o mundo, e
aproximadamente 100 espécies ocorrem no Brasil.
Os escorpiões com importância para a saúde pública
pertencem ao gênero Tityus, sendo T. serrulatus
(Escorpião Amarelo) a espécie de maior interesse.
Essa espécie vem expandindo sua área de
distribuição devido à sua facilidade de proliferação (se
reproduz por partenogênese) e sua boa capacidade
de adaptação ao ambiente urbano, além de possuir o
maior potencial de gravidade de envenenamento.
Atualmente, o T. serrulatus é amplamente distribuído,
sendo encontrado desde o Paraná até o norte da
Bahia, com alguns relatos para Sergipe e Alagoas,
além da região central do país.
Outras espécies do gênero Tityus com
relevância clínica são o Tityus bahiensis, encontrado
em todo país, exceto a região Norte e o Tityus
stigmurus, espécie mais comum no nordeste.
Os escorpiões abrigam-se em terrenos
baldios com mato e lixo doméstico, embaixo de
pedras, sob cascas de árvores, em cupinzeiros,
buracos e frestas em paredes, sob rodapés soltos,
dentre outros, possuindo hábitos noturnos. São mais
ativos em meses quentes e chuvosos, mas não há
aumento significativo na incidência de picadas em
nenhuma época do ano.
O envenenamento ocorre pela inoculação de
veneno pelo ferrão contido na cauda de escorpiões
do gênero Tityus. Os venenos de escorpião são
menos complexos do que os de cobras. A maioria de
seus componentes são peptídeos tóxicos que agem
estimulando canais de sódio em terminações
nervosas, levando à estimulação de nervos
Fig. 14.6 Tityus serrulatus
Fig. 14.7 Tityus bahiensis
Fig. 14.8 Tityus stigmurus
LATE-UFRJ|2015
138
Adaptado Manual de Primeiros Socorros, 2003.
periféricos sensitivos, motores e do sistema nervoso
autônomo.
Podemos classificar os acidentes
escorpiônicos em 3 tipos: leves, moderados e graves.
A gravidade destes acidentes depende da espécie e
tamanho do escorpião (os acidentes com escorpiões
amarelos têm maior gravidade), da quantidade de
veneno inoculado e da sensibilidade da vítima ao
veneno. Os sintomas sistêmicos nos casos
moderados e graves podem surgir após intervalo de
minutos até 2 a 3 horas.
PRIMEIROS SOCORROS
1. Segurança da cena: Observar se o escorpião
ainda se encontra no local, ou se existem outros
ao redor. Não pegar o animal com as mãos
desprotegidas.
2. Lavar a região atingida com água fresca.
3. Elevar a extremidade acometida (para reduzir a
distribuição do veneno) e colocar compressa fria
sobre o local da ferroada para auxiliar no alívio da
dor.
4. Encaminhar imediatamente a vítima para
atendimento médico.
5. Se possível trazer junto o escorpião.
Toda atenção deverá ser dada para o caso de
desenvolvimento de reações sistêmicas. Ficar atento
à presença de sinais e sintomas de choque anafilático
(urticária, dispneia, fraqueza, confusão, ansiedade,
palidez, taquicardia, etc). Pode ser necessário a
instituição de suporte básico à vida.
IMPORTANTE! Não tentar retirar o veneno do local,
chupando, cortando, espremendo ou garroteando o
membro.
CONTROLE E PREVENÇÃO
Manter quintais, jardins e terrenos baldios limpos,
sem acúmulo de entulhos.
Aparar a grama dos jardins e recolher folhas caídas.
Vedar soleiras de portas.
Examinar roupas, calçados, toalhas e roupas de
cama antes de usá-las.
Andar sempre calçado e usar luvas quando
trabalhando com lenhas ou entulhos.
Preservar os predadores naturais, como aves de
hábitos noturnos, sapos, gansos, galinhas, pássaros
e lagartos.
Quadro 14.5 CLASSIFICAÇÃO DOS
ACIDENTES POR ESCORPIÕES
LEVES MODERADOS GRAVES
Dor
imediata,
intensa,
irradiada.
Parestesia
local.
Dor imediata,
intensa, irradiada.
Náuseas, vômitos,
dormência,
lacrimejamento,
sialorréia, palidez,
sudorese, hipo ou
hipertermia,
agitação.
Hipertensão
arterial.
Além das
manifestações
prévias
agravadas, pode
haver:
bradicardia,
quadro
tetaniforme com
dislalia, disfagia
e diplopia,
convulsões,
insuficiência
cardíaca, edema
agudo do
pulmão, choque,
coma,
insuficiência
renal.
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139
c) ACIDENTES ARACNÍDICOS
(ARANEÍSMO)
O envenenamento por aranhas é causado
pela inoculação de toxinas através de ferrões
localizados no aparelho inoculador. Apesar do grande
número de aranhas encontradas na natureza e de
praticamente todas produzirem veneno (99,4%),
poucas são consideradas de importância médica no
Brasil. São elas: Aranha Marrom (gênero Loxosceles),
a Aranha Armadeira (gênero Phoneutria) e a Viúva
Negra (gênero Latrodectus).
Aranha Marrom: De pequeno porte (3-4 cm).
Geralmente encontrada em fendas, tijolos, atrás de
quadros e móveis, sempre ao abrigo da luz. Tem
hábitos noturnos. Sua personalidade não é agressiva,
só causa acidentes quando é comprimida contra o
corpo. A maioria dos acidentes notificados acontece
na região Sul, durante o verão.
Aranha Armadeira: pode atingir até 15cm.
Tem hábito noturno e comportamento agressivo,
podendo saltar a uma distância de 40cm. Acidentes
com essa aranha geralmente ocorrem no ambiente
domiciliar ou peridomiciliar, durante o manuseio de
materiais de construção, telhas, tijolos ou ao calçar
sapatos. Os acidentes são mais frequentes nas
regiões Sul e Sudeste, principalmente entre os meses
de março e maio. O quadro clínico é muito
semelhante ao do escorpionismo, com predomínio de
manifestações locais.
Viúva negra: de pequeno porte, com hábitos
domiciliares e peridomiciliares, sedentários e não
possuem comportamento agressivo. Vive em
vegetações arbustivas e gramíneas. No Brasil, os
acidentes com esta aranha (só com a fêmea) ocorrem
principalmente na região Nordeste, em especial na
Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte e Sergipe, com
maior incidência entre os meses de março e maio.
Fig. 14.9 Aranha Marrom
Fig. 14.11 Viúva negra
Fig. 14.10 Aranha Armadeira
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Quadro 14.6 ARANHAS DE JARDIM E
TARÂNTULAS
A família das aranhas de Jardim e Tarântulas
(Lycosidae) e a subordem das caranguejeiras
(Mygalomorphae) apresentam grande variedade de
espécies, encontradas em todo o país, mas são
consideradas de menor importância para a saúde
pública. Eventualmente, podem ocasionar picada
dolorosa, porém sem repercussão sistêmica.
A gravidade dos acidentes provocados por
espécies perigosas depende da quantidade de
veneno injetada, do local da picada e da sensibilidade
da pessoa ao veneno, que geralmente é maior quanto
mais jovem for. De acordo com as atividades
fisiopatológicas, os efeitos dos venenos são distintos,
tanto em nível local, como sistêmico.
Quadro 14.7 EFEITOS DOS VENENOS DAS
ARANHAS DE ACORDO COM A ATIVIDADE
FISIOPATOLÓGICA
ATIVIDADE VENENO EFEITOS
Dermonecrótica Loxosceles Necrose cutânea no local
da picada
Hemolítica Loxosceles Hemólise intravascular
Sobre
terminações
nervosas
Phoneutria,
Latrodectus
Local: dor, edema,
sudorese
Sistêmico: contraturas
musculares, intoxicação
adrenérgica/colinérgica
PRIMEIROS SOCORROS
1. Segurança da cena.
2. Lavar o local da picada com água fresca.
3. Elevar a extremidade acometida (para reduzir a
distribuição do veneno) e aplicar compressa fria
sobre o local.
4. Procurar atenção médica imediata (A procura por
tratamento depois de muito tempo dificulta a
identificação do agente e o tratamento).
5. Se possível, aprisionar o animal e levá-lo ao
serviço de saúde (melhor identificação do agente
e, assim, tratamento facilitado).
6. Ficar atento à presença de sinais de choque. Pode
ser necessária a instituição de suporte básico à
vida.
IMPORTANTE! Não tentar retirar o veneno do local,
chupando, cortando, espremendo ou garroteando o
membro.
Tarântula
Caranguejeira
) )
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CONTROLE E PREVENÇÃO
Limpeza periódica do peridomicílio, evitando o
acúmulo de lenhas, tijolos, telhas, etc.
Manusear materiais como entulho, lixo, materiais
de construção com cuidado e, de preferência, com
as mãos protegidas.
Tapar buracos e frestas de paredes, portas,
janelas e rodapés.
Inspecionar e sacudir roupas, sapatos, toalhas e
roupas de cama antes do uso.
Evitar a proliferação de insetos, para evitar o
aparecimento das aranhas que deles se
alimentam.
Preservar os predadores naturais (sapo, galinha,
pássaros e lagartos).
D) MORDIDAS
São na grande parte causadas por cães,
ocasionando principalmente lesões em extremidades
nos adultos (principalmente as mãos), e na face, em
crianças. Além do trauma físico causado, deve-se ter
a preocupação com as doenças infecciosas que
podem ser transmitidas, sendo a raiva uma delas.
RAIVA
A raiva é uma zoonose viral, que se
caracteriza como uma encefalite progressiva aguda e
letal. No Brasil essa doença é endêmica, sendo a
região Nordeste responsável por 54% dos casos
humanos registrados de 1980 a 2008, seguida da
região Norte com 19%. Não há registros de casos de
Raiva humana no estados do Sul desde 1987. Em
2008 foi registrado o primeiro caso de cura de Raiva
humana no Brasil.
Todos os mamíferos são suscetíveis ao vírus
da raiva e, portanto, podem transmiti-la. A doença
apresenta dois principais ciclos de transmissão:
urbano e silvestre, sendo o urbano passível de
eliminação, por se dispor de medidas eficientes de
prevenção, tanto em relação ao ser humano, quanto à
fonte de infecção.
MODO DE TRANSMISSÃO
A transmissão ocorre pela inoculação do vírus
contido na saliva do animal infectado, principalmente
pela mordedura e, mais raramente, pela arranhadura
e/ou lambedura de mucosas. Nos cães e gatos, a
eliminação de vírus pela saliva ocorre entre 2 a 5 dias
antes do aparecimento dos sinais clínicos, persistindo
durante toda a evolução da doença. A morte do
animal ocorre, em média, entre 5 a 7 dias após a
apresentação dos sintomas.
Há relatos de casos de transmissão inter-
humana na literatura, que ocorreram por transplante
de córnea e outros órgãos. A transmissão por via
respiratória também é possível, porém remota.
Quadro 14.8 FATORES ASSOCIADOS COM O
PERÍODO DE INCUBAÇÃO
Localização, extensão e profundidade da mordedura,
arranhadura, lambedura ou contato com a saliva de
animais infectados
Distância entre o local do ferimento, o cérebro e troncos
nervosos
Concentração de partículas virais inoculadas e cepa viral.
Fig. 14.12 Ciclos epidemiológicos de transmissão da
raiva
LATE-UFRJ|2015
142
MECANISMO DE AÇÃO
O vírus rábico penetra no organismo,
multiplica-se no ponto de inoculação, atinge o sistema
nervoso periférico e, posteriormente, o sistema
nervoso central. Após um período variável de
incubação, aparecem os pródromos iniciais, que
duram de 2 a 4 dias e são inespecíficos, com o
paciente apresentando mal-estar geral, pequeno
aumento de temperatura corpórea, anorexia, cefaléia,
náuseas, dor de garganta, entorpecimento,
irritabilidade, inquietude e sensação de angústia.
Podem ocorrer hiperestesia e parestesia nos trajetos
de nervos periféricos, próximos ao local da mordida, e
alterações de comportamento.
A infecção progride, surgindo manifestações
de ansiedade e hiperexcitabilidade crescentes, febre,
delírios, espasmos musculares involuntários
generalizados e/ou convulsões. Ocorrem espasmos
dos músculos da laringe, faringe e língua, quando o
paciente vê ou tenta ingerir líquido, apresentando
sialorreia intensa. Os espasmos musculares evoluem
para quadro de paralisia, levando a alterações
cardiorrespiratórias, retenção urinária e constipação
intestinal. O paciente se mantém consciente, com
período de alucinações, até a instalação do quadro
comatoso e evolução para óbito.
São, ainda, observadas disfagia, aerofobia,
hiperacusia, fotofobia. O período de evolução do
quadro clínico, após instalados os sinais e sintomas
até o óbito, varia, em média, de 5 a 7 dias. A
característica mais determinante da evolução clínica
da doença é a forma furiosa e/ou paralítica.
PRIMEIROS SOCORROS
1. Segurança da cena: observar se o animal ainda
está no local ou se há outros por perto.
2. Acalmar a vítima.
3. Lavar a ferida com água e sabão, deixando a água
escorrer por alguns minutos sobre o ferimento. O
sabão deve ser totalmente removido após a
lavagem, para que não atrapalhe a ação dos
medicamentos que por acaso haja necessidade de
serem usados posteriormente pelo pessoal de
atendimento especializado.
4. Levar a vítima ao atendimento médico mais
próximo para tratamento.
5. Se possível, manter a posse do animal para
observação durante 10 dias após infecção.
IMPORTANTE!
Não feche a ferida com curativos!
Há fatores que aumentam o risco e elevam a
gravidade da ferida, independentemente do animal
envolvido no acidente, tais como idade e estado
imunológico da vítima, presença de doenças
vasculares, localização da lesão, tipos de lesões,
tratamento tardio e contaminação.
TRATAMENTO
Há um protocolo de tratamento da raiva
humana, elaborado pela Secretaria de Vigilância em
Saúde e colaboradores, que deve ser adotado frente
a casos suspeitos da doença, devendo ser aplicado o
mais precocemente possível.
1. É necessário orientar o paciente para que ele
notifique imediatamente a Unidade de Saúde se o
animal morrer, desaparecer ou se tornar raivoso,
uma vez que podem ser necessárias novas
intervenções de forma rápida, como a aplicação do
soro ou o prosseguimento do esquema de
vacinação.
É preciso avaliar, sempre, os hábitos do cão e
gato e os cuidados recebidos. Podem ser dispensados
do esquema profilático as pessoas agredidas pelo
LATE-UFRJ|2015
143
cão ou gato que, com certeza, não tem risco de
contrair a infecção rábica. Por exemplo: animais que
vivem dentro do domicílio (exclusivamente), que não
têm contato com outros animais desconhecidos, que
somente saem na rua acompanhados dos seus donos
e que não circulam em área com a presença de
morcegos. Em caso de dúvida, iniciar o esquema de
profilaxia indicado. Se o animal for procedente de
área de raiva controlada não é necessário iniciar o
esquema profilático. Manter o animal sob observação
e só iniciar o esquema profilático indicado (soro +
vacina) se o animal morrer, desaparecer ou se tornar
raivoso.
2. O soro deve ser infiltrado na(s) porta(s) de
entrada. Quando não for possível infiltrar toda
dose, aplicar o máximo possível e a quantidade
restante, a menor possível, aplicar pela via
intramuscular, podendo ser utilizada a região
glútea. Sempre aplicar em local anatômico
diferente do que aplicou a vacina. Quando as
lesões forem muito extensas ou múltiplas a dose
do soro a ser infiltrada pode ser diluída, o menos
possível, em soro fisiológico para que todas as
lesões sejam infiltradas.
3. Nos casos em que se conhece só tardiamente a
necessidade do uso do soro antirrábico ou
quando o mesmo não se encontra disponível no
momento, aplicar a dose de soro recomendada
antes da aplicação da 3a dose da vacina de cultivo
celular. Após esse prazo o soro não é mais
necessário.
Fig. 14.13 Esquema para profilaxia pós-exposição da raiva humana
LATE-UFRJ|2015
144
4. Nas agressões por morcegos deve-se indicar a
soro-vacinação independentemente da gravidade
da lesão, ou indicar conduta de reexposição.
PREVENÇÃO
Vacinar todos os animais domésticos anualmente.
Respeitar o espaço dos animais: não mexer na
comida que o cachorro está comendo, não puxar o
rabo dos animais etc.
Ensinar as crianças a não provocar cães e gatos e a
não brincarem com cães e gatos desconhecidos.
Colocar telas nos vãos, janelas e buracos e fechar
ou vedar porões, pisos falsos e cômodos pouco
utilizados que permitam o alojamento de morcegos.
Iluminar áreas externas nas residências.
REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo
Cruz. Manual de Primeiros Socorros. Rio de
janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2003. 170 p.
Disponível em:
<http://www.anvisa.gov.br/reblas/manual_primeiros_s
ocorros.pdf>. Acesso em 05 mar. 2012.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância
em Saúde. Departamento de Vigilância
Epidemiológica. Guia de Vigilância Epidemiológica.
7. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. Disponível
em: <
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/gve_7ed
_web_atual.pdf>. Acesso em 05 mar. 2012.
BRASIL. Ministério da Saúde. Doenças Infecciosas
e Parasitárias: guia de bolso. 8. ed. Brasília:
Ministério da Saúde, 2010.
<http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/virtual%20to
ur/hipertextos/up2/mordidas_animais.html>. Acesso
em: 05 mar. 2012.
MARKENSON, D. et al. Part 13: First Aid: 2010
American Heart Association and American Red
Cross International Consensus on First Aid
Science With Treatment Recommendations.
Circulation [online]. 2010, v. 122, pp. S582-S605.
Disponível em: <
http://circ.ahajournals.org/content/122/16_suppl_2/S5
82.full.pdf+html>. Acesso em 05 mar. 2012.
GUIMARÃES, H. P. et al. Destaques das Diretrizes
da American Heart Association 2010 para RCP e
ACE. 2010.
LATE-UFRJ|2015
145
INTRODUÇÃO
A Assembleia Geral da Organização das
Nações Unidas, no dia 2 de março de 2010,
proclamou oficialmente o período de 2011 a 2020
como a Década Mundial de Ação pela Segurança no
Trânsito a fim de estimular esforços em todo o mundo
para conter e reverter à tendência crescente de
fatalidades e ferimentos graves em acidentes no
trânsito no planeta.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas
– ABNT, em sua NBR 10697, define acidente de
trânsito como: “Todo evento não premeditado de que
resulte dano em veículo ou na sua carga e/ou lesões
em pessoas e/ou animais, em que pelo menos uma
das partes está em movimento nas vias terrestres ou
áreas abertas ao público. Pode originar-se, terminar
ou envolver veículo parcialmente na via pública.”.
Mais de 35 mil mortes, anualmente, ocorrem
em acidentes de trânsito nas estradas e vias urbanas
brasileiras, representando uma média de 183 óbitos
por dia (7,6 por hora).
Perdas de vidas dessa forma estão
compreendidas em segundo lugar nas chamadas
mortes por causas externas no Brasil, as quais
ocupam, por sua vez, a terceira posição nas taxas de
principais causas mortalidade do país, sendo
superados somente pelas doenças cardiovasculares
e neoplasias, em todas as faixas etárias.
As principais estatísticas nacionais
disponíveis atualmente são as estatísticas de óbitos e
de internações de vítimas de acidentes do trânsito,
publicadas pelo Ministério da Saúde. Os dados mais
recentes são: 42.800 óbitos em 2010, 174.000 feridos
internados em 2011.
O gráfico abaixo mostra a evolução do
número de óbitos de 2001 a 2010, com crescimento
de 40% no período.
Fig. 15.1 Causas de óbito no Brasil (dados preliminares
de 2010). Fonte: DATASUS
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146
O Brasil tem prejuízo anual de R$ 105
milhões com acidentes de trânsito. Esse prejuízo se
dá por meio de custos com: perdas em produção,
médicos, previdência social, custos legais (perdas
materiais, despesas com seguro) e custos com
emergências, entre outros. Isso acontece,
principalmente, porque as maiores vítimas do trânsito
são jovens de 20 a 29 anos de idade (significativa
parcela produtiva da sociedade), mais
preferencialmente os homens brancos com
escolaridade entre 4 e 7 anos de estudo.
Diante desses dados estatísticos, fica
evidente a importância do estudo do trauma no
trânsito, visto que corresponde a uma temática muito
presente em nosso cotidiano, além de representar
uma forma evitável e prevenível de morte.
Um acidente de trânsito corresponde a todo
acontecimento desastrado, casual ou não, o qual
possui como consequências desagradáveis, danos
físicos e ou materiais, envolvendo veículos, pessoas
e ou animais nas vias públicas.
Os acidentes de transporte podem ser de
vários tipos, tais como classificados pela Décima
Revisão da Classificação Internacional de Doenças:
acidentes com pedestres, ciclistas, motociclistas,
ocupantes de triciclos, de automóveis, de
caminhonetes, de veículos de carga pesada, de
ônibus e, demais formas de acidente de transporte.
Podemos classificar tais acidentes, quanto às
suas consequências, em:
Simples: sem vítimas ou com danos de pequena
importância;
Graves: com vítimas ou com danos de grande
monta.
PRINCIPAIS CAUSAS
Relacionando-se os principais fatores que
determinam a ocorrência de acidentes no trânsito, o
destaque maior é dado ao erro humano, o qual é, em
todo o mundo, responsável por mais de 60% dos
acidentes registrados sendo que o comportamento do
motorista (velocidade do veículo, observação de
sinais, velocidade de reação), apresenta-se como
grande fator determinante. No Rio de Janeiro, 41%
dos acidentes são causados por excesso de
velocidade, sendo também o Estado onde os
registros de infrações desse tipo são mais frequentes,
seguido de São Paulo (28%) e Brasília (21%).
Quadro 15.1 CAUSAS DE ACIDENTES NO
TRÂNSITO
Falhas humanas (64%)
Problemas mecânicos (30%)
Má conservação da via (6%)
Fonte: DENATRAN
Os fatores humanos de risco são:
subavaliação da probabilidade de acidente
desatenção, cansaço, deficiências (auditiva, visual,
motora), consumo de álcool, consumo de droga,
excesso de velocidade, desrespeito à distância
mínima entre veículos, ultrapassagem indevida e
outras infrações dos motoristas (não utilização do
cinto de segurança, de capacete, de cadeira especial
para as crianças de acordo com as faixas etárias).
Além da imprudência de pedestres, de ciclistas e de
motociclistas.
Fig. 15.2 Mortos em acidentes de transito por ano.
LATE-UFRJ|2015
147
Os problemas relacionados aos veículos
como: defeitos de manutenção (pneus lisos ou com
falta de calibragem, faróis com defeito ou mal
ajustados, retrovisores deficientes, falhas na
mecânica), utilização incorreta (visibilidade
prejudicada: carga obstruindo ângulos de visão,
sobrecarga, carga mal condicionada, carga fora do
gabarito).
Fatores ligados à infraestrutura e ao meio
ambiente: condições de conservação da via;
mudanças do contexto da rodovia (urbanização de
uma zona atravessada pela rodovia, construção de
acessos intermediários sem a necessária visibilidade,
criação de linhas de ônibus sem paradas
devidamente instaladas e protegidas); da evolução do
tráfego (certas disposições que eram corretas na
época da construção, mas não são mais aceitáveis);
acostamentos estreitos; canteiro central não
protegido; objetos fixos não protegidos; velocidade
autorizada excessiva; e condições meteorológicas
(chuva, aquaplanagem ou hidroplanagem, neblina ou
cerração, vento, fumaça proveniente de queimadas e
condições de luz).
Quadro 15.3 FATORES DE IMPRUDÊNCIAS NO
TRÂNSITO
Impunidade / legislação deficiente
Fiscalização corrupta e sem caráter educativo
Baixo nível cultural e social
Baixa valorização da vida
Ausência de espírito comunitário e exacerbação do
caráter individualista
Uso do veículo como demonstração de poder e
virilidade
Quadro 15.2 PRINCIPAIS IMPRUDÊNCIAS
DETERMINANTES DE ACIDENTES FATAIS NO
BRASIL, POR ORDEM DE INCIDÊNCIA
Velocidade excessiva
Dirigir sob efeito de álcool (anexo 16.1)
Distância insuficiente em relação ao veículo
dianteiro
Desrespeito à sinalização
Dirigir sob efeito de drogas
Inexperiência e falta de conhecimento
Falta de atenção e falha de observação
Anexo 15.1: Modificação do Código Nacional de
Trânsito
“Metade das mortes no trânsito envolvem
motoristas embriagados. Mesmo em pequenas
doses, o álcool prejudica a percepção de velocidade
e distância, podendo causar dupla visão e
incapacidade de coordenação. A pessoa alcoolizada
não consegue observar tudo o que acontece no
trânsito.”
Desde 19 de março de 2009, a Operação Lei
Seca já salvou milhares de vidas com a importante
missão de diminuir estatísticas preocupantes e alertar a
população sobre todos os riscos da combinação do
álcool com a direção, esta Política Pública permanente
do Governo do Estado do Rio de Janeiro tem mobilizado
diariamente centenas de motoristas na Capital, Região
Metropolitana e Baixada Fluminense.
O Rio de Janeiro virou referência nacional em
redução dos altos índices de mortes e acidentes de
trânsito, preservando vidas, e educando e
conscientizando cidadãos sobre responsabilidade e
segurança no trânsito. Essa mudança de atitude e
conscientização é uma das maneiras mais importantes
de colaborar. Quanto mais pessoas colaborarem, mais
vidas serão salvas.
Seja você também um colaborador da Operação
Lei Seca. Deixe o carro em casa quando sair para beber
e preserve vidas.
A BLITZ DA LEI SECA
A abordagem feita na blitz da Lei Seca, chamada
LATE-UFRJ|2015
148
“Abordagem Cidadã”, é estruturada em dois pilares:
fiscalização e educação. Com caráter não apenas
punitivo, mas principalmente educativo, os funcionários
públicos envolvidos na abordagem não só são
responsáveis pelos procedimentos, como também
transmitem conhecimentos da legislação ao condutor.
Ao abordar o condutor do veículo, o policial militar
informa as alterações ocorridas no Código de Trânsito
Brasileiro advindas com a Lei 11.705, de 19 de junho de
2009 (possuindo tópicos relacionados ao assunto no
decreto n.º 6488, de 19 de junho de 2008, e na resolução
n.º 206, de 20 de outubro de 2006), e com a Lei 12.760,
de 20 de dezembro de 2012, e solicita a documentação
do condutor (CRLV e CNH) para que o agente do
DETRAN possa avaliá-los e, caso seja necessário, tomar
as medidas administrativas previstas para o caso.
Chegando à barraca, é mostrado ao condutor que o
bocal do bafômetro é descartável e é pedido ao condutor
que o mesmo visualize todas as informações do visor do
bafômetro, principalmente o valor de álcool indicado.
Sendo realizado o teste do bafômetro, os
procedimentos a seguir são:
Caso o resultado do teste seja negativo, ou seja,
não registre qualquer teor de álcool expelido pelos
alvéolos pulmonares (pulmões), o condutor é liberado.
Quem for flagrado sob efeito de álcool (com até 0,29 mg
de álcool por litro de ar expelido) é enquadrado no artigo
165 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB): comete
infração gravíssima (7 pontos na CNH), com penalidade
de multa (R$ 1.915,40) e suspensão do direito de dirigir
por 12 (doze) meses. O veículo ainda fica retido até a
apresentação de outro condutor habilitado e em
condições de dirigir. Em caso de reincidência em menos
de 12 (doze) meses, o valor da multa é dobrado, ou seja,
de R$ 3.830,80.
Já o condutor que atingir ou ultrapassar o limite
de 0,30 mg de álcool por litro de ar expelido dos
pulmões comete crime de trânsito, pelo artigo 306 do
CTB, que prevê penas de detenção, de seis meses a três
anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Além do teste do bafômetro, perícia, vídeo, prova
testemunhal ou outros meios de prova em direito
admitidos, observado o direito à contraprova, também
podem ser utilizados para comprovar embriaguez.
As equipes de educação e conscientização são
responsáveis pelo desenvolvimento de ações de
prevenção para um trânsito mais seguro e livre da
combinação bebida e direção. O público-alvo está em
bares, eventos, casas noturnas e outros locais de grande
concentração pública.
São realizadas ainda palestras em escolas e
empresas; as ações contam com relatos de pessoas
cadeirantes, vítimas de acidentes de trânsito envolvendo
bebidas alcoólicas e direção, que atuam como porta-
vozes da campanha.
Órgãos integrados que apoiam a Operação Lei Seca
O Batalhão Policial Militar da área onde ocorre a
operação, bem como os Batalhões Policiais Militares
adjacentes, utilizam o aparato da Operação Lei Seca
para realizar testes de alcoolemia em condutores
trazidos pelos mesmo e, caso necessário, autuar os
condutores que estiverem transgredindo as normas de
trânsito.
Fonte: Operação Lei Seca. 2013.
TEMPO DE REAÇÃO
O tempo de reação trata-se do intervalo de
tempo entre o reconhecimento de uma situação
perigosa e a ação de resposta à mesma, e
depende da condição física e do estado emocional
do indivíduo, já que envolve sua capacidade de
atenção. O tempo médio de reação de uma pessoa
jovem, em bom estado de saúde, é de
LATE-UFRJ|2015
149
aproximadamente 0,75 segundos, ou seja, nesse
intervalo seu cérebro processa as informações que
está recebendo e define uma ação.
Este parâmetro é de grande importância no
que se refere à ocorrência de acidentes, pois
corresponde a uma das variáveis quando avaliamos,
por exemplo, a parada de um veículo, juntamente do
tempo de percepção da necessidade de frear e a
distância de frenagem (que por sua vez, depende das
condições do piso, freio, pneus).
Muitos fatores podem alterá-lo, de forma
definitiva (idade, deficiência física), ou temporária
(enfermidades passageiras: resfriado, cefaleia, álcool,
drogas, medicamentos, estado emocional). Segundo
alguns especialistas, dependendo da pessoa, apenas
dois copos de cerveja podem fazer seu tempo de
reação aumentar para dois segundos.
Portanto, fica evidente que para se evitar um
acidente, o motorista deve sempre ter em mente os
seus limites referentes a esse intervalo, assim
mantendo um distanciamento correto dos automóveis
e outros possíveis obstáculos a sua frente, por meio
da avaliação de parâmetros como:
Velocidade: quanto mais veloz estiver, maior
será a distância que deverá manter do carro à
frente, já que o veículo demora mais para parar
quando sua a velocidade é maior;
Condições da via / Tempo atmosférico/ Pneus:
as condições do clima e da via influenciam no
atrito entre o pneu e o solo e, consequentemente,
na redução da velocidade do veículo;
Condições do motorista: caso o motorista
esteja, por exemplo, sonolento ou abalado
emocionalmente, sua atenção estará
comprometida e, consequentemente, sua reação
ficará mais lenta.
CINEMÁTICA DO TRAUMA NO TRÂNSITO
A cinemática do trauma estuda a
transferência de energia de uma fonte externa para
um corpo, no caso, o da vítima, como ocorre em um
acidente de trânsito. Durante um acidente de trânsito,
a absorção de energia cinética do movimento é o
componente básico da produção de lesão. Pode
ocorrer em três eventos: colisão do veículo contra o
corpo, colisão do ocupante contra o interior do veículo
e colisão de órgãos contra as paredes corporais.
Os acidentes envolvendo veículos ocorrem
em várias formas e cada uma delas é associada com
certos padrões de lesão, sejam diretos ou por
desaceleração de órgãos.
PRINCIPAIS TIPOS DE ACIDENTES
I. COLISÕES
Fig.15.3 Distância de parada.
Fig.15.4 Campanha da Lei Seca
LATE-UFRJ|2015
150
São acidentes em que ocorre impacto entre
dois veículos em movimento, podendo ser:
Frontal: sendo causada principalmente, por
ultrapassagens ou curvas mal realizadas, quando
os veículos transitam em sentidos opostos. As
principais lesões geradas relacionam-se a coluna
cervical, tórax, contusão cardíaca, pneumotórax,
transecção de aorta (pela desaceleração), lesões
de fígado, baço, joelho, quadril, punhos.
Traseira: quando os dois veículos transitam no
mesmo sentido, e o de trás vai de encontro ao
veículo que segue à frente. Sua causa principal
decorre do desrespeito à distância de segurança
do veículo. Está fortemente relacionada às
fraturas da coluna cervical por chicoteamento.
Lateral: quando os veículos transitam no mesmo
sentido e no momento da ultrapassagem sofrem o
impacto nas laterais, ou quando transitam em
sentidos opostos e ao se cruzarem tocam um no
outro lateralmente. É ocasionada por
ultrapassagens e curvas mal realizadas,
desrespeito à distância lateral de segurança,
excesso de velocidade, não manutenção do
veículo na faixa própria e desrespeito à
sinalização. Pode levar às fraturas de coluna
cervical, lesão contralateral do tórax,
pneumotórax, ruptura traumática da aorta, ruptura
diafragmática, lesão de fígado ou baço, fratura de
pelve ou acetábulo.
Transversal: quando os veículos transitam em
sentidos que se cruzam, sendo causada ao se
efetuar o cruzamento sem a devida atenção.
Fig.15.8 Exemplo de colisão lateral
Fig.15.7 Campanha de segurança no trânsito.
Fig.15.6 Exemplo de colisão traseira.
Fig.15.5 Exemplo de choque frontal
LATE-UFRJ|2015
151
Colisão com objeto fixo (choque): caracteriza-
se pelo impacto de um veículo em movimento
contra qualquer obstáculo físico ou em veículo
estacionado. Suas causas principais são a falta
de atenção, desrespeito à sinalização, excesso
de velocidade, imprudência (falta de cuidado) e
imperícia (falta de habilidade).
II. TOMBAMENTO
Acidente no qual um veículo em movimento
declina sobre um dos seus lados, imobilizando-se.
Pode ocorrer por má distribuição da carga no interior
do veículo; carga com excesso de altura, velocidade
acima da permitida, não obediência à sinalização e
pneus com más condições de uso.
III. CAPOTAMENTO
Acidente em que o veículo em movimento
gira em torno do seu eixo longitudinal, chegando a
tocar com o teto no solo, imobilizando-se em qualquer
posição. Suas causas principais são o desrespeito à
sinalização, tráfego nas curvas em velocidade
superior à estabelecida, desatenção e imperícia.
IV. ATROPELAMENTO
Acidente em que um veículo em movimento
vai de encontro a uma ou mais pessoas ou a um ou
mais animais, causando lesões leves ou graves.
Esse tipo de acidente é um dos mais
preocupantes no trânsito e o seu risco de morte é
Fig.15.12 Exemplo de capotamento.
Fig.15.11 Exemplo de tombamento
Fig.15.10 Exemplo de colisão com objeto fixo.
Fig.15.9 Exemplo de colisão transversal
LATE-UFRJ|2015
152
maior entre os idosos acima de 60 anos e entre as
crianças.
Os atropelamentos são responsáveis por 36%
das mortes nas estradas brasileiras. O pedestre só
tem chance de sobreviver se o veículo estiver no
máximo a 30 km/h. Caso o motorista esteja a 40
km/h, a chance de óbito vai para 15%, a 60 km/h,
70% e a 80 km/h, provavelmente o pedestre não terá
qualquer chance de sobrevivência.
As lesões produzidas por atropelamentos
tendem a ser mais graves, pois o pedestre não possui
proteção (no caso do ocupante do veículo, a
carroceria do automóvel se deforma e absorve parte
da energia cinética da colisão). Normalmente as
vítimas sofrem lesões internas importantes, porque a
massa do veículo é tão grande que ocorre
transferência de grande quantidade de energia,
mesmo com baixas velocidades.
Os danos tendem a ocorrer em três estágios:
impacto inicial do automóvel contra o corpo da vítima,
impacto secundário do corpo contra o veículo ao rolar
sobre este e impacto final contra o solo. Após o
impacto inicial, em que são produzidas lesões
importantes principalmente em membros inferiores e
cintura pélvica, a vítima pode ser lançada sobre o
veículo (impacto secundário), sofrendo danos na
cabeça, no tórax, no abdome, dependendo da
posição em que se encontrava no momento do
impacto. O estágio final é a queda da vítima sobre o
solo, quando os traumatismos da cabeça, coluna
cervical e membros superiores são frequentes.
Anexo 15.2: Epidemiologia do atropelamento
“No estudo, que analisou 1.248 vítimas de acidentes de
trânsito nas seis capitais selecionadas, contemplando as
cinco Regiões do País, o atropelamento apresentou a
segunda maior frequência entre os acidentes registrados
em Manaus, Brasília e São Paulo; enquanto no Recife e
em Curitiba, a queda foi à segunda forma de acidente
mais frequente. Nas faixas etárias mais extremas, o
atropelamento foi o acidente mais frequente, atingindo
cerca de 52% das vítimas com 60 e mais anos e 47%
das vítimas com idade até 9 anos.” (Portal da Saúde,
2011).
ATENDIMENTO PRIMÁRIO
Lembre-se que a omissão de socorro, além
de ser uma irresponsabilidade, é crime previsto no
Código de Trânsito Brasileiro em seu artigo 304.
Diante de um acidente de trânsito, de acordo
com a gravidade, número de socorristas e vítimas,
você pode estar diante de um “Acidente com Múltiplas
Vítimas”, dessa forma, os cuidados a serem adotados
serão outros (como será explicitado no capítulo 15),
Fig. 15.13 Distribuição dos óbitos por categoria de
acidentes de transportes terrestres no Estado do Rio
de Janeiro (números preliminares para o ano de
2010). Fonte: DATASUS
LATE-UFRJ|2015
153
no entanto, algumas condutas simples podem ser
adotadas em eventos de menor gravidade:
1. Garanta a segurança da cena, para isso realize o
balizamento (sinalização, visando isolar a área na
qual se encontram as vítimas), certifique-se que
não há perigos adicionais e afaste os curiosos, e
lembre-se de parar seu carro em local seguro;
2. Cheque a responsividade da vítima, deve-se
considerar em parada cardíaca uma vítima
inconsciente que não esteja respirando, ou que
não o faça normalmente, ou seja, respira com
muita dificuldade ou respira ofegantemente, com
irregularidade e ruído.
3. Acione o Serviço Médico de Emergência
(seguintes números 192 ou 193), consciente da
cinemática do evento para possíveis informações
adicionais (por exemplo, número de vítimas);
4. Caso possua os conhecimentos básicos de
atendimento e confiança em si mesmo, auxilie as
vítimas, não se esquecendo de garantir a sua
bioproteção por meio da utilização de seu
equipamento de proteção individual;
5. Acalme as vítimas, realize uma avaliação inicial
identificando lesões que possam comprometer a
vida das mesmas e, concomitantemente,
estabeleça condutas para a estabilização dos
sinais vitais. Este processo constitui o BLS,
seguindo os novos guidelines da American Heart
Association, com considerações especiais em
relação à coluna vertebral, já que pode haver
fratura com lesão da medula espinhal. O
socorrista deve garantir a imobilização da coluna
cervical e, sempre que possível, não mobilizar a
vítima, sob risco de agravar suas lesões.
6. A seguir à sequência da vida (C.A.B.), faça
perguntas corriqueiras (ex. que dia é hoje?) ou dê
uma ordem simples, para avaliar superficialmente
as condições neurológicas da vítima, como o
nível de consciência e a orientação no tempo e
espaço. Enfim, faça a exposição da vítima,
afrouxando ou mesmo cortando suas roupas, à
procura de ferimentos ou hemorragias;
7. Não permita a ingestão de líquidos ou água pela
vítima, nem que ela fume. Caso ela esteja
consciente, pergunte-a sobre dores e outras
queixas.
8. Caso estejam presentes sinais de
envenenamento (ex. inalação de gases tóxicos),
queimaduras, feridas, hemorragias, convulsões,
desmaios ou fraturas, siga a conduta indicada nos
capítulos anteriores dessa apostila.
Quadro 15.4 RESGATE E TRANSPORTE
O conhecimento de várias técnicas de resgate
incluindo suas indicações e contraindicações é muito
importante para a prática do atendimento. O uso da
técnica incorreta pela equipe de resgate é arriscado para
a vítima, que pode desenvolver o segundo trauma, e
para o próprio socorrista que pode desenvolver lesões
musculares ou de coluna vertebral. A escolha da
estratégia de transporte depende da situação, riscos no
local, número de socorristas e estabilidade do paciente.
A extricação é um conjunto de manobras que
tem por objetivo retirar o indivíduo de um local onde ele
não pode ou não deve sair por seus próprios meios. Este
é um conceito mais abrangente do que o
desencarceramento, que é retirar uma pessoa presa por
obstáculos físicos.
Todavia, todas essas técnicas dependem de um
determinado treinamento e experiência, sendo assim,
não devem ser realizadas por qualquer pessoa. O
melhor a se fazer é aguardar o socorro especializado.
No caso de incêndio, risco de explosão ou de
outro acidente, afogamento ou queda, utilize o seu bom
senso, pensando sempre na sua própria segurança
ANTES DE TUDO!
LATE-UFRJ|2015
154
ATENÇÃO! O tratamento não é a finalidade dos
primeiros socorros. Isto deve ser indicado e
executado por profissionais habilitados, em locais
adequados. Desta forma, após realizar o primeiro
atendimento, solicite ou encaminhe a vítima para
avaliação médica.
PREVENÇÃO
Como indicado inicialmente neste capítulo,
acidentes automobilísticos são, em grande parte,
preveníveis e evitáveis. Portanto, uma série de
medidas pode ser adotada tanto pelo poder público
quanto pelos indivíduos, sejam eles condutores de
veículos ou pedestres, no sentido de garantir o
respeito à vida.
Nunca dirija alcoolizado, porém se realizá-lo,
reconheça que seu "tempo de reação" ficará
alterado, portanto procure dirigir em velocidades
muito mais baixas do usual na via que estiver
trafegando;
Não utilize drogas antes e nem durante a
condução de veículos;
Reduza a velocidade quando seu estado
emocional estiver comprometido ou evite dirigir;
Respeite a distância de segurança em relação
aos outros veículos, principalmente em situações
adversas, como tempo chuvoso;
Respeite e procure entender a razão da
sinalização de trânsito, tanto como pedestre
quanto como condutor do veículo;
Evite colocar - se em uma condição causadora de
acidente, dirija para si mesmo e pelos demais
condutores, praticando a direção defensiva
(conjunto de medidas e procedimentos utilizados
para prevenir ou minimizar as consequências dos
acidentes de trânsito);
Utilize as vias adequadas de tráfego (calçadas,
pista preferencial);
Utilize sempre e adequadamente os dispositivos
de segurança como o cinto de segurança (tanto
nos assentos anteriores quanto nos posteriores
do veículo) e capacetes;
Mantenha o seu veículo sempre em condições
adequadas de trânsito realizando periodicamente
revisões;
As vias devem ser corretamente conservadas
pelo poder público ou iniciativa privada,
garantindo a qualidade do asfalto, iluminação e
sinalização corretas;
Incentivo a políticas educacionais de tráfego, que
sejam capazes de atingir as diversas faixas
etárias.
Fig. 15.14 e Fig. 15.15 Realização de Manobra de
extricação e Tesoura de extricação.
LATE-UFRJ|2015
155
DISPOSITIVOS DE SEGURANÇA
Cinto de Segurança
Com o cinto de segurança, o ocupante tem
maior chance de sobreviver, pois são protegidos de
grande parte do impacto no interior do carro e são
impedidos de ser ejetados do mesmo; porém, ainda
estão suscetíveis a certas lesões.
Existem dois tipos de cinto: o abdominal e
aquele com fixação em três pontos ou cruzado. O
cinto abdominal não é seguro para crianças e
gestantes.
O cinto de três pontos oferece maior proteção
porque a força do impacto é distribuída e absorvida
por ele em toda área de contato com o corpo,
trabalhando com a estrutura esquelética humana
adulta. Para usá-lo corretamente devemos sentar
com a coluna ereta fazendo um ângulo de noventa
graus com as pernas, daí o cinto diagonal passa pelo
meio do ombro e se estende pela coluna vertebral até
o engate nos quadris e o cinto sub-abdominal ou
pélvico deve ser colocado na articulação dos quadris
e não na barriga.
Seja qual for o modelo, não pode ser usado
torcido, embaixo do ombro, desgastado pelo sol, as
fibras das cintas se desprendendo, amarrado,
costurado, sistema de engate-desengate e
estiramento defeituoso, modificado ou não instalado
por profissionais com conhecimento específico, banco
reclinado, postura torácica inadequada, isto anula o
sistema de segurança. Nestes casos se acontecer
acidentes, não foi o cinto o causador das lesões e
mortes, já que assim ele não era mais dispositivo de
segurança.
Não obstante, a cabeça continua não sendo
contida, sendo assim, o pescoço é ainda submetido a
estresses que podem causar fraturas, luxações ou
lesões de medula espinhal. O cinto deve ser usado
inclusive nos bancos traseiros do veículo.
AIRBAGS
Os air bags, caso funcionem corretamente,
amortecem o impacto da cabeça e do tórax no
momento do acidente, sendo muito eficientes em
reduzir as lesões de face, pescoço e tronco.
Fig.15.16 O cinto de segurança fixa o indivíduo ao carro
diminuindo as lesões.
Fig. 15.15 Posições corretas para utilização dos
dispositivos de segurança: em adultos, gestantes e
bebês.
LATE-UFRJ|2015
156
CADEIRA DE SEGURANÇA PARA CRIANÇAS
O cinto de segurança é desenvolvido para o
adulto, com no mínimo 1,45m de altura, portanto não
são dispositivos de segurança para as crianças, daí a
existência das cadeiras de segurança cujo objetivo é
mantê-las seguramente fixas no banco do veículo, e
reduzir a incidência e gravidade que a força do
impacto gera no corpo humano em colisões, freadas
bruscas e violentas, capotamentos, etc.
Bebê-conforto: Desde o nascimento até 13 quilos
ou 1 ano de idade, constituem a forma adequada
à anatomia dos pequenos, mantendo-os na
posição semiereta, impedindo fraturas de coluna
e crânio por possuírem anteparos de proteção
para a cabeça e pescoço, para que os bebês
permaneçam confortavelmente seguros e fixos
nas freadas, turbulências provocadas por buracos
ou outras irregularidades na pista e é claro, nos
acidentes. Deve ser fixado no centro do banco
traseiro, ou no lado direito do passageiro
preferencialmente no cinto de três pontos, de
costas para o movimento.
Cadeira de segurança: Entre 1 e 4 anos de idade,
(mais ou menos entre treze e dezoito quilos)
devem estar fixos pelo cinto de segurança do
banco traseiro e de frente para o painel, protegem
a cabeça e o tronco, podem possuir fitas de
contenção de cinco pontos ou anteparos em
forma de T ou de concha. Não é seguro para
crianças com menos de um ano de idade.
Assento de elevação ou booster: Para crianças
entre 4 e 7 anos e meio, são utilizados quando a
criança ultrapassa os limites de tamanho para a
utilização dos assentos de segurança, mas ainda
não possuem altura para utilizarem a cinta do
ombro do cinto de três pontos do veículo. Quando
o veículo possuir cinto de três pontos no banco de
trás, dar preferência para este modelo.
É importante ressaltar que bebês e crianças
jamais devem ser transportados no colo. Além de ser
projetada para frente numa colisão, sofrerá
esmagamento pelo peso do corpo do adulto, pois, no
momento do acidente, a força com que a criança e o
adulto são projetados é muito grande, impossível para
uma pessoa segurá-la.
É muito perigoso também levar crianças no
bagageiro interno, esse compartimento é projetado
visando absorver choques decorrentes da força do
impacto, que deforma facilmente a parte de trás da
Fig.15.18 Formas de transporte de acordo com a idade.
Fig.15.17 Motorista sem a utilização do airbags e com a
utilização do airbags.
LATE-UFRJ|2015
157
carroceria, não oferecendo proteção alguma para
quem estiver lá, além do que, podem ser projetadas
para fora do veículo durante o acidente.
Quadro 16.5 LAZER vs. PERIGO
Outra importante causa de acidentes no trânsito
trata-se uma simples brincadeira de criança, mas capaz
de trazer trágicos resultados: a pipa. Muitos garotos
utilizam-se da mistura de cola e vidro moído, o conhecido
“Cerol”, para tornar essa forma de lazer mais
interessante, todavia, por descaso ou desconhecimento,
muitos condutores de veículos, essencialmente,
motociclistas, são feridos nessa situação.
Atualmente, a chamada “linha chilena” agravou
os acidentes, pois o óxido de alumínio contido nessa
mistura aumentando o poder de corte da linha em quatro
vezes. Desse modo, é importante como forma de
prevenção, também conscientizar esses jovens quanto
ao perigo que eles podem estar impondo aos outros,
assim como incentivar a utilização de “antenas contra
linhas de pipa” pelos motociclistas.
DIREÇÃO DEFENSIVA
A direção defensiva é a técnica indispensável para o
aperfeiçoamento do motorista que trata de forma
correta o uso do veículo na maneira de dirigir,
reduzindo a possibilidade de envolvimento nos
acidentes de trânsito; ou seja: é uma atitude de
segurança e prevenção dos acidentes.
O desenvolvimento de alguns requisitos na
condução do veículo possibilitará ao motorista a
prevenção de acidentes.
Conhecimento: É preciso conhecer as leis e normas
que regem o trânsito. Este conhecimento é repassado
através do Código de Trânsito Brasileiro e do
aprendizado na prática.
Atenção: Deve ser direcionada a todos os elementos
da via e também às condições físicas e mentais do
condutor, aos cuidados e à manutenção do veículo,
tempo de deslocamento e conhecimento prévio do
percurso, entre outros.
Previsão: É a antecipação de uma situação de risco
e podem ser desenvolvidas e treinadas no uso do seu
veículo.
Decisão: Dependerá da situação que se apresenta e
do seu conhecimento das possibilidades do veículo,
das leis e normas relacionadas ao trânsito, do tempo
e do espaço que você dispõe para tomar uma atitude
correta. É ser ágil nas suas ações, mas não
esquecendo o bom senso e sua experiência.
Fig.15.20 Moto com antena contra linhas de pipa.
Fig. 15.19 Lesão extensa em pescoço causada por linha
de pipa com cerol.
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158
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LATE-UFRJ|2015
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LATE-UFRJ|2015
160
INTRODUÇÃO
À medida que a sociedade humana
moderniza-se, um número cada vez maior de
pessoas passa a aglomerar-se nos grandes centros
urbanos, além de haver um aumento progressivo na
formulação e utilização de novas tecnologias
possibilitando maior comodidade e praticidade ao
cotidiano.
Por outro lado, tal modernização é
proporcionalmente acompanhada pelo agravamento
das condições sócio-ambientais, o que expõem cada
vez mais populações a situações de risco, nas quais
determinados cenários podem produzir um grande
número de vítimas. Isto é evidenciado diante do que
se presencia diariamente nos noticiários os quais
divulgam um aumento avassalador das tragédias
capazes de gerar um sofrimento imenso das famílias
e da sociedade em geral, o que é exemplificado com
os eventos ocorridos no Haiti (2010), Região Serrana
do Rio de Janeiro (2011) e o incêndio da boate em
Santa Maria- RS (2013).
Portanto, o conhecimento da abordagem de
situações que envolvam não somente o cuidado
individual assim como o coletivo, assume um
importante papel, na medida em que o atendimento
adequado depende tanto da atuação de profissionais
da saúde, quanto do auxílio de pessoas devidamente
treinadas capazes de desempenhar a assistência
primária e secundária. Todavia, vale ressaltar que,
indubitavelmente, a prevenção deve ser o objetivo
principal tanto dos serviços públicos quanto dos
cidadãos como um todo, na abordagem desse e
outros temas.
CONCEITOS
ACIDENTE COM MÚLTIPLAS VÍTIMAS
De acordo com a Defesa Civil, “os acidentes
com múltiplas vítimas são aqueles que apresentam
desequilíbrio entre os recursos disponíveis e as
necessidades, e que, apesar disso, podem ser
atendidos com eficiência desde que se adote a
doutrina operacional protocolada.”
Pode ser também definido como evento
complexo que requer comando e controle agressivo e
coerente, de maneira a fornecer os melhores
Fig. 16.1 Desastre na região serrana do RJ
LATE-UFRJ|2015
161
cuidados às vítimas sob condições caóticas. Como
parâmetro de magnitude, consideramos acidente com
múltiplas vítimas aqueles eventos súbitos com mais
de 5 (cinco) vítimas graves.
DESASTRE
O conceito de desastre compreende um
acontecimento calamitoso, resultado de eventos
adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre
um ecossistema (vulnerável aos efeitos do evento),
ocasionando grandes danos (humanos, materiais
e/ou ambientais) e, consequentemente, prejuízos
econômicos e sociais. Segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS), relaciona-se a um
fenômeno de causa tecnológica de magnitude
suficiente para necessitar de ajuda externa.
Características do desastre:
Insuficiência de recursos humanos e
materiais;
Escassez de meios de transporte de vítimas;
Meios de comunicação inadequados;
Inexistência ou não respeito a cadeia de
comando;
Interferências externas;
Descoordenação entre os Órgãos de
atuação;
Inexistência de Doutrina de Desastres.
Os desastres podem ser de evolução aguda
(súbito), como em uma enxurrada, explosões ou
acidente aeronáutico; evolução crônica (gradual),
como em uma seca, enchente cíclica ou erosão; ou
por somação de efeitos parciais, como desastres
rodoviários ou pandemia de AIDS.
Outra classificação dos desastres é quanto à
tipologia:
Natural: Inundações, deslizamentos, ciclones
Humana: Acidentes de tráfego, colapsos
estruturais, explosões, incêndios, produtos
perigosos.
Mista: ações ou omissões humanas, que
contribuem para intensificar, complicar ou
agravar os desastres naturais.
O atendimento a acidentes com múltiplas
vítimas é um desafio, no qual os serviços de
atendimentos pré-hospitalares e os hospitais se
deparam com freqüência. Diante dessas situações
ocorre uma incapacidade dos serviços de lidarem
com esse problema, havendo, desta forma,
necessidade de se estar preparado e treinado para
atender esses acidentes.
Em um desastre, o conceito do melhor
esforço, ou seja, o melhor atendimento para a vítima
mais grave deve dar lugar ao conceito de o melhor
atendimento para o maior número possível de
vítimas, no momento que elas mais precisam e no
menor tempo possível.
ATENDIMENTO BÁSICO
Diante de um cenário contendo múltiplas
vítimas, como apontado anteriormente, o auxílio de
diversas pessoas é requerido e importante. Porém,
para tal é necessário o prévio desenvolvimento de
uma série de habilidades, dentre as quais se
destacam o conhecimento técnico e o preparo
emocional e físico, todos podendo ser desenvolvidos
no processo de treinamento intensivo e reciclagem
periódica. Essa é a base da formação dos socorristas
e de toda a equipe pré-hospitalar.
Contudo, mesmo não sendo um profissional
especializado da equipe de atendimento de
emergência ou mesmo da área de saúde, qualquer
cidadão pode contribuir muito para o atendimento e
socorro das vítimas de outras formas.
LATE-UFRJ|2015
162
ACIONAMENTO DO SISTEMA DE EMERGÊNCIA
A forma mais imediata de contribuição e que
pode ser realizada por qualquer testemunha da cena
é o acionamento do sistema de emergência local:
ligar para o número 192 (SAMU – Sistema de
Atendimento Móvel de Urgência) ou 193 (Corpo de
Bombeiros Militar). Para que tal comunicação seja
eficaz e contribua para o atendimento, informações
precisas devem ser fornecidas à respectiva
autoridade, com tranquilidade e segurança, tais como:
Quem está ligando?
O que ocorreu?
Quantas vítimas?
Endereço?
Pontos de referência?
A ligação só deve ser finalizada quando for
orientado pelo atendente.
AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA DA CENA
Compreende umas das etapas essenciais a
qualquer tipo de atendimento, objetivando a garantia
de segurança tanto para o socorrista quanto para sua
equipe, pessoas que rodeiam a vítima e para esta
mesma. Sendo assim, toda equipe ou pessoa que
escolhe ajudar o outro, somente deverá fazê-lo
quando o cenário/local de atuação estiver seguro.
São vários os fatores responsáveis por tornar
o local inseguro, como:
Características do próprio evento:
desabamentos, incêndios, conflitos armados,
existência de produtos perigosos, etc;
Características ambientais e locais: chuva,
vento, neblina, excesso de frio ou calor,
luminosidade local, desenho de ruas e estradas,
existência de fluxo de pessoas ao redor, tráfego
de veículos, e outros.
Tal destaque na avaliação da cena dá-se por
óbvios motivos: em um local inseguro, um socorrista
ou a equipe de saúde tornam-se potenciais vítimas,
independentemente de suas nobres intenções, dessa
forma, há grandes chances do cenário vitimizar um
número maior de pessoas além de reduzir as
possibilidades de socorro.
Lembre-se sempre que a cena é dinâmica.
Assim, a segurança da cena deve ser periodicamente
verificada.
BIOPROTEÇÃO
Toda e qualquer pessoa que deseje prestar
auxílio, deve inicialmente garantir a sua bioproteção a
partir de determinadas ações e utilização de
equipamentos de proteção individual (EPI´s).
Podemos destacar alguns dos itens básicos
de proteção, os quais são de fácil acesso e transporte
pelo cidadão comum: luvas, óculos de proteção e
máscaras.
Quadro 16.1 CUIDADO ADICIONAL
Não se esqueça da higiene das mãos. Lavá-las é o
princípio fundamental no controle de infecções. Portanto,
após a retirada das luvas, deve-se higienizá-las com sabão
e água corrente, ou por meio de antissépticos a base de
álcool.
Fig. 16.2 Atendimento inicial
LATE-UFRJ|2015
163
Há três princípios básicos no atendimento
dessas situações são fundamentais: triagem,
tratamento e transporte.
Para que estes três princípios básicos sejam
plenamente atendidos é necessário que haja
comando, comunicação e controle, que são pontos
capitais, indispensáveis para o sucesso do
atendimento.
É preciso que haja um comandante da área
no local, junto a um Posto de Comando, identificável
por todos e que todos obedeçam a suas ordens e
orientações; um coordenador médico para chefiar as
atividades médicas locais e um coordenador
operacional para as atividades de salvamento, todos
trabalhando conjuntamente.
É necessário que haja comunicação entre as
equipes de atendimento, bem como comunicação
com a central de operações. Tal comunicação não
deve interferir na rede de comunicações da unidade,
para evitar congestionamento.
Congelar a área mediante o controle total do
local do acidente é o primeiro objetivo do comandante
da área. Este objetivo visa limitar a extensão do
acidente, organizar ações e medidas efetivas de
segurança proteção e atendimento pré-hospitalar a
todas as vítimas envolvidas, no menor tempo
possível.
A função de comando tem por objetivo evitar
três grandes transtornos:
● Ocorrência de novos acidentes;
● Tratamento e transporte inadequado das
vítimas aos hospitais;
● Que o caos local seja transferido ao hospital
mais próximo.
TRIAGEM
Palavra de origem francesa significa “pegar,
selecionar ou escolher”
A doutrina do atendimento a acidentes com
múltiplas vítimas (AMUV), diante do desequilíbrio
momentâneo dos recursos disponíveis em relação ao
grande número de vítimas, preconiza: empregar todos
os esforços para o maior número de vítimas.
Assim sendo, no atendimento a múltiplas
vítimas, triagem significa atendê-las, classificando-as
em graus de prioridades para que resulte no
salvamento do maior número de vítimas, empregando
o critério do melhor atendimento para o maior número
de vítimas.
A triagem consiste numa avaliação rápida das
condições clinicas das vítimas para estabelecer
prioridades de tratamento médico. É uma tática que
determina prioridades de ação que, quando bem
utilizada, determina sucesso na diminuição da
mortalidade e morbidade das vítimas de acidentes
coletivos.
Cabe à primeira guarnição que chega no local
do acidente, procurar congelar a área e iniciar a triagem
Fig. 16.3 Esquema área de atendimento a AMUV
LATE-UFRJ|2015
164
preliminar, enquanto solicita apoio, visando salvar o
maior número de vítimas de óbito iminente. A triagem é
dinâmica e repetida, pois as vítimas podem evoluir para
melhor ou pior estado de saúde. A triagem consiste de
ações simples e rápidas, gastando no máximo de 60 a
90 segundos por vítima.
Durante todos estes procedimentos dentro do
teatro de operação (TO) pode haver confusão devido à
rapidez com que tudo tem que ser feito juntamente com
a quantidade de pessoal envolvido, vitimas e voluntários.
Se não houver uma estrutura de identificação haverá um
caos geral e muitas pessoas vão ficar no local sem saber
o que fazer, pra onde levar as vítimas, com quem falar
ou até mesmo quem obedecer.
As equipes e os locais são imediatamente
identificados por cores, sendo por bandeiras e coletes
específicos.
A sequência de cores são as seguintes:
AZUL: Coordenação Médica (posto de comando)
LARANJA: Triagem (pessoal na zona quente)
AMARELO: Tratamento Enfermagem e
Socorristas (área de tratamento)
VERMELHO: Tratamento Médico (área de
tratamento)
VERDE: Transporte (pessoal responsável em
conduzir até as ambulâncias)
CINZA: Morgue (pessoal responsável em
movimentar e identificar os mortos)
Já em relação a área do desastre, ela deve
ser dividida em zonas de segurança para permitir o
trabalho das equipes de salvamento.
A zona quente é aquela que ainda oferece
riscos, imediatos ou potenciais, contendo a zona
central do TO.
A zona morna é aquela intermediária entre a
quente e a fria. A delimitação destas áreas varia com
o tipo de evento, riscos envolvidos e deve ser
estabelecida por profissionais do Corpo de Bombeiros
ou da Defesa Civil.
A zona fria é segura, não oferecendo riscos; a
área de tratamento e a de transporte normalmente
são montadas nesse local.
Todo o processo de triagem é dinâmico e
deve ser feito em todas as etapas do atendimento,
devendo-se ter em mente que as vítimas podem
passar de um nível de gravidade para outro
rapidamente, mudando a sua prioridade no
tratamento.
Para agilizar tanto o próprio atendimento
quanto facilitar a memorização e implementação,
diversos algoritmos foram criados para a realização
da triagem. Sendo que um dos mais utilizados pelos
sistemas de emergência como um todo corresponde
ao método S.T.A.R.T. (Simple Triage And Rapid
Treatment - Triagem Simples e Tratamento Rápido), o
qual permite que os primeiros a chegarem na cena Fig 16.4 Coletes de identificação
Fig. 16.5 Zonas da área de desastre.
LATE-UFRJ|2015
165
(“first responders”), independente de serem
socorristas ou cidadãos, identifiquem os pacientes
mais graves indicando a sua prioridade de
atendimento e tratamento.
Além desse, há o método CRAMP
(Circulação, Respiração, Abdome, Motilidade e
Palavra), realizado apenas por profissionais da
saúde, devido à sua complexidade.
SIMPLE TRIAGE AND RAPID TREATMENT
( S.T.A.R.T.)
O sistema S.T.A.R.T. foi desenvolvido para
permitir que os socorristas triem múltiplas vítimas em
30 segundos ou menos, reconhecendo as prioridades
de atendimento, baseando-se em três observações
primárias: Respiração, Circulação e Nível de
consciência das vítimas.
Tal avaliação pode ser, portanto indicada ou
transmitida a partir da utilização de um código
formado por quatro cores, cada uma determinando
um grau de prioridade à vítima. Normalmente
utilizam-se cartões, que podem ser fixados nas
pessoas injuriadas, para permitir a identificação pelos
serviços de emergência, todavia na ausência desse
material, qualquer medida de improviso, como fitas
coloridas, que permita classificação por cores é
válida.
CARTÃO VERMELHO - PRIORIDADE 1 / IMEDIATA
São classificadas como vítimas vermelhas
aquelas que apresentam risco imediato de vida,
apresentando respiração somente após manobras de
abertura de vias aéreas ou frequência respiratória
igual ou maior que 30 movimentos respiratórios por
minuto, ou frequência respiratória normal, mas com
tempo de enchimento capilar maior que 2 segundos.
Elas necessitam de algum tratamento médico
no local do acidente e/ou precisam ser transportadas
rapidamente ao hospital para cirurgia.
Observa-se em pacientes desse nível,
situações como: choque; amputações; hemorragia
severa; lesões arteriais; lesões por inalação; lesão de
face e olhos; lesões intra-abdominais; lesões
extensas de partes moles; insuficiência respiratória;
pneumotórax hipertensivo; queimaduras em face;
queimaduras de 2º grau maior que 20% a 40% ou de
3º grau maior que 10% a 30%.
CARTÃO AMARELO - PRIORIDADE 2 /
SECUNDÁRIA
Vítimas classificadas como amarelas não
apresentam risco de vida imediato, mas necessitam
Fig. 16.6 Socorrista determinando a prioridade de atendimento
da vítima utilizando o cartão de triagem como identificação.
a)
Fig. 16.7 Na ausência do cartão, outras formas de improviso
podem ser adotadas, como a fixação de uma fita com a cor
correspondente à prioridade da vítima.
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de algum tipo de tratamento no local enquanto
aguardam transporte ao hospital.
São vítimas sem indicativo de que podem
morrer nos próximos minutos caso não sejam
socorridas. Além da exclusão dos critérios usados
para a prioridade 1, as vítimas devem ser capazes de
executar ações simples, que foram orientadas pelo
socorrista, como por exemplo levantar o braço direito.
Se a vítima só conseguir deambular com o auxilio de
um ou mais socorristas, ela também se adequará a
esta classificação.
São situações observadas nos pacientes
desse nível: fraturas; TCE leve, moderado;
queimaduras menores; traumatismos abdominais e
torácicos; ferimentos com sangramento que
necessitam suturas.
CARTÃO VERDE - PRIORIDADE 3 / TARDIA
Vítimas com capacidade para andar sozinhas
são classificadas como verdes. Elas não necessitam
de tratamento médico ou transporte imediato,
possuem lesões sem risco de vida. Apesar disso, não
podem ser consideradas isentas de lesão, apenas
não prioritárias naquele momento.
Situações observadas nos pacientes desse
nível: contusões; hematomas; escoriações; pequenos
ferimentos.
CARTÃO CINZA OU PRETO - PRIORIDADE ZERO /
ÚLTIMA
Vítimas em óbito ou que não tenham chance
de sobreviver. Elas não respiram, mesmo após
manobras simples de abertura da via aérea. Se
houver socorristas suficientes para o atendimento de
todas as vítimas, todo o esforço deve ser tentado,
exceto para as vítimas com morte óbvia.
Situações observadas nos pacientes desse
nível: em óbito; múltiplos traumas graves;
queimaduras de 2º e 3º graus extensas.
AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS
Para a classificação das vítimas segundo sua
prioridade de atendimento, alguns parâmetros devem
ser observados na sequência apresentada a seguir.
I. RESPIRAÇÃO
Deve ser avaliada a partir de sua frequência e
qualidade.
Caso a vítima não respire, de início deve-se
excluir a possibilidade de obstrução das vias aéreas
por meio da presença de corpos estranhos. Fazem-
se, então, as manobras de abertura das mesmas por
meio da elevação do mento ou tração da mandíbula,
em caso de suspeita de lesão cervical.
Se após a manobra a vítima voltar a respirar,
ela recebe a classificação de vítima VERMELHA,
devendo, se possível, manter as vias aéreas pérvias.
Porém, se posteriormente a realização da manobra a
pessoa não respirar, a mesma será classificada como
vítima CINZA ou PRETA, não se devendo iniciar a
respiração artificial. Fig 16.8 Cartão de triagem
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Há outra situação, em que a vítima é
encontrada respirando, nessa circunstância deve-se
avaliar a freqüência: dentro de 30 irpm (eupneica),
não se classifica a vítima nesse momento, mas acima
desse valor (taquipneica), temos uma vítima
VERMELHA.
Além disso, mesmo constatando-se que a
vítima respira a respiração muito dificultosa também
representa um sinal de gravidade, portanto de
priorização. Outra forma de avaliação é a própria
observação da capacidade de falar e gritar de uma
vítima, pois denota que as suas vias aéreas estão
pérveas.
II. CIRCULAÇÃO
O enchimento capilar é o melhor método para
avaliar a perfusão: pressiona-se o leito ungueal ou os
lábios, soltando-os em seguida e observa-se o
retorno da coloração normal.
Se o resultado de tal manobra demorar
menos que dois segundos, a vítima não é classificada
até a avaliação do nível de consciência, mas acima
desse valor, pode-se considerá-la com prioridade
VERMELHA.
Outra manobra que pode ser utilizada é a
detecção do pulso radial: se ausente, a vítima é
classificada como VERMELHA; se presente, também
se deve avaliar o nível de consciência. Nesse
momento, qualquer hemorragia grave deve ser detida
e o choque evitado.
III. NÍVEL DE CONSCIÊNCIA
O socorrista solicita comandos simples como:
“Feche os olhos”, “Aperte minha mão”, “Ponha a
língua para fora”. Se a vítima não obedece aos
comandos sua prioridade é VERMELHA, caso
contrário, é classificada como AMARELA.
O cartão VERDE é usado para os pacientes que
estejam andando ou que não se enquadrem em
nenhuma das situações acima;
Toda vítima inconsciente que respire (com ou
sem manobra de abertura de vias aéreas) é
classificada como VERMELHA;
Além da gravidade, deve-se pensar também
em alguns outros aspectos durante o atendimento.
Inicialmente faz-se uma avaliação para dimensionar
os recursos necessários, devendo também ser feita a
triagem das áreas a serem priorizadas (lembre-se que
a segurança do socorrista vem em primeiro lugar).
As vítimas classificadas com as cores
VERMELHA e AMARELA necessitam de auxílio para
se movimentar. Nesse caso, se a região do acidente
for instável, a remoção direta deve ser feita pela
atividade operacional.
Após realização de triagem das vítimas, há o
transporte para os locais das lonas das respectivas
cores que as vítimas foram classificadas, sendo que
as vítimas com prioridade VERDE deambulam até o
local, sem auxílio para o transporte, contudo são as
que precisam do auxílio da equipe para o apoio
psicológico e para contensão naquele local, para não
atrapalharem o trabalho da equipe no atendimento
das outras vítimas.
As vítimas após estarem na lona, não devem
ser abandonadas no local, sempre deve haver um
membro da equipe reavaliando as vítimas, pois seu
quadro pode modificar, mudando o estado de
prioridade, ou seja, a vítima pode ser classificada
como AMARELA e evoluir para prioridade
VERMELHA.
À medida que a ajuda especializada chega à
cena do acidente, é possível recategorizar as vítimas
para continuar com a avaliação, o transporte e o
tratamento.
O transporte deve ser feito de maneira
organizada, a fim de que as vítimas saiam da cena no
veículo mais adequado às suas necessidades, rumo
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ao serviço de saúde definido pela central de
regulação. As vítimas de cor VERMELHA e
AMARELA devem ter prioridade no transporte para
unidades hospitalares.
Fig. 16.9 Fluxograma S.T.A.R.T.
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CIRCULAÇÃO, RESPIRAÇÃO, ABDOME,
MOTILIDADE e PALAVRA (CRAMP)
Felizmente, existem acidentes em que apesar
de o número de vítimas ser elevado, ele não
ultrapassa a capacidade de recursos do serviço de
emergência. Nesse caso, a triagem não é necessária
e o atendimento inicial dos pacientes baseia-se no
ABCDE. Nesse caso, o atendimento prioriza o
paciente mais grave.
O exame clínco é realizado em cinco
estágios, e ao final de cada um é atribuída uma
pontuação de acordo com o seguinte critério:
Exame normal: 2 pontos;
Exame anormal: 1 ponto;
Exame grave: zero ponto.
A partir da pontuação, é definida a prioridade
das vítimas:
Prioridade 1 (escore entre 2 e 6):
caracteriza pacientes críticos recuperáveis;
exigência de atendimento imediato; cor
vermelha.
Prioridade 2 (escore entre 7 e 8):
caracteriza pacientes graves; o atendimento
de pacientes graves pode aguardar até que
os pacientes críticos sejam atendidos; cor
amarela.
Prioridade 3 (escore entre 0 e 1):
caracteriza pacientes críticos irrecuperáveis;
o atendimento de pacientes terminais pode
aguardar até que os pacientes graves sejam
atendidos; cor preta.
Prioridade 4 (escore entre 9 e 10):
caracteriza pacientes leves; o atendimento de
pacientes leves pode aguardar até que todos
os demais sejam atendidos; cor verde para a
borda inferior da ficha de evacuação.
Quadro 16.2 UTILIZAÇÃO DOS MÉTODOS DE TRIAGEM
O método S.T.A.R.T. é utilizado geralmente na triagem
inicial, na zona quente, enquanto que os métodos
C.R.A.M.P. e A.B.C.D.E. são mais utilizados no posto
médico e no meio intra-hospitalar.
PREVENÇÃO
Torna-se evidente que a meta prioritária a ser
garantida trata-se da prevenção de acidentes que
gerem múltiplas vítimas, pois tais eventos são
prejudiciais às diversas esferas de nossa sociedade.
Interessantemente, o que se busca é a minimização e
não a eliminação completa do risco de desastres, pois
devemos admitir que em muitos casos temos pouco
ou nenhum controle sobre os eventos que causam os
desastres.
De início, destacamos a magnitude dos
acidentes automobilísticos, responsáveis por uma
considerável parcela dos acidentes com múltiplas
vítimas. A mudança desse cenário deve implicar na
educação dos pedestres e motoristas, acompanhada
de ações públicas de fiscalização e punição com
rigor. Alguns tópicos essenciais no âmbito
educacional são:
Uso de equipamentos de proteção adequados
para motoristas e passageiros (cinto de
segurança de três pontas e capacete);
Respeito aos limites de velocidade e à sinalização
das placas e semáforos;
Não dirigir um veículo após o consumo de álcool;
Manutenção periódica das vias públicas e
privadas garantindo boas condições de trânsito,
sinalização e iluminação.
Desastres naturais como enchentes e
desabamentos de encostas podem ter seus efeitos
danosos minimizados através de:
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Uso racional do espaço geográfico;
Implementação de legislação de segurança e de
normas técnicas, relacionadas com a redução
dos riscos de desastres;
Promoção da obrigatoriedade de Relatórios de
Segurança Contra Desastres;
Promoção da mudança cultural e
comportamental, e de educação pública,
objetivando a redução das vulnerabilidades das
comunidades em risco (Defesa Civil);
Medidas estruturais como construção de galerias
de captação de águas pluviais e obras de
engenharia; e não-estruturais, como
mapeamento e monitorização de áreas de risco,
análises de vulnerabilidade, sistemas de
previsão, dentre outras.
Em qualquer tipo de atendimento é de
extrema importância não permitir que os socorristas
tornem-se novas vítimas, o que pode ser garantido se
a segurança da cena for inicialmente avaliada de
forma correta e garantida antes da realização do
socorro:
É imprescindível parar o trânsito antes de iniciar
um resgate na rua, mantendo alguma espécie de
sinalização (uso de triângulo, cones ou galhos de
árvores) alertando os motoristas e forçando a
redução de velocidade. Essa sinalização, visando
isolar a área na qual se encontram as vítimas e
desviar o trânsito chama-se balizamento;
Após desabamentos, não se pode adentrar o
local sem garantir que não haverá novos
episódios e que a estrutura está suficientemente
firme para suportar o peso do socorrista e da
vítima que estará sendo carregada;
Não se esquecer de usar equipamentos de
proteção individual (E.P.I.).
Quadro 16.3 A MAIOR AJUDA
Caso não haja a segurança necessária, não tente
realizar o socorro sem ajuda de especialistas! A maior ajuda
que um cidadão pode oferecer a qualquer pessoa é acionar
o atendimento de emergência o mais rápido possível.
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Atendimento a Múltiplas Vítimas. In: Manual do
Atendimento Pré-Hospitalar. Curitiba: Corpo de Bombeiros
do Paraná, 2006. p. 354-362.
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econômicos dos acidentes de trânsito nas rodovias
brasileiras. Relatório Executivo. Brasília:
IPEA/DENATRAN/ANTP, 2006. 80 p.
MARCELINO, E.V. Desastres Naturais e Geotecnologias.
Conceitos Básicos. Santa Maria: INPE, 2007. p.12-14.
MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. SECRETARIA
NACIONAL DE DEFESA CIVIL. Conferência geral sobre
desastres: para prefeitos, dirigentes de instituições
públicas e privadas e líderes comunitários. Brasília:
Ministério da Integração Nacional, 2007.
MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. SECRETARIA
NACIONAL DE DEFESA CIVIL. Manual de Medicina de
Desastres. Volume I. Brasília: Ministério da Integração
Nacional, 2007. 92 p.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE ATENÇÃO À
SAÚDE. DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO
ESPECIALIZADA. Regulação Médica das Urgências.
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NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL
TECHNICIANS. PHTLS: Prehospital Trauma Life Support.
6. ed. Missouri: Elsevier, 2007.