apresentação da monografia
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE DE CABO VERDE
Orientadora: Mestre Elisa Silva Orientando: Arlindo Rocha
2010/2011
Pascal
Monografia para obtenção do grau de
Licenciado em Filosofia para a Docência
Titulo Paradoxos da Condição Humana
Grandeza e Miséria
Blaise Pascal (1623-1662)
1 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
PERGUNTA DE PARTIDA
Até que ponto o legado filosófico de Pascal sobre a Condição Paradoxal do Homem (Grandeza e Miséria), revela-se actual?
Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana 2
OBJECTIVOS
Geral
Investigar sobre a filosofia pascalina, realçando o aspecto paradoxal da condição humana entre “Grandeza e Miséria”, como fundamentação o conhecimento humano.
Específicos I. Invstigar o contexto histórico da visão antropológica do homem em
Pascal;
II. Investigar sobre a condição paradoxal em pascal: miseria e grandeza / razãoe fé como problema da fundamentação do conhecimento na filosofia de Pascal;
III. Investigar sobre a problematização do racionalismo em pascal;
IV. Relacionar a actualidade do pensamento de pascal com o homem actual
Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana 3
Roteiro Dividimos o trabalho em três partes:
o I - A parte pré-textual
Dedicatória; Agradecimentos; Resumo; Introdução; Vida e obras e Fundamentação teórica.
o II - A Parte textual:
Primeiro capítulo (análise história/teológica ) Antropologia pascalina; Natureza do homem antes do pecado; Natureza do homem
depois do pecado, e A compreensão do homem
Segundo capítulo (análise cosmológico/epistemológia) Desproporção entre o homem e a natureza; Dimensões do conhecimento; Paradoxos
da condição humana.
Terceiro capítulo (análise psicologia) Constituição do eu no mundo; Grandeza e miséria do homem e A graça.
o III - Parte pós textual. Conclusão, Referências bibliográficas .
Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana 4
Citação
“O homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza. Mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo: um vapor, uma gota, de água, bastam para matá-lo. Mas, mesmo que o universo o esmagasse, o homem seria mais nobre do que quem o mata, porque sabe que morre e a vantagem que o universo tem sobre ele; o universo desconhece tudo isso...”
Pascal – “Os Pensadores” frag. 347. Pág 123
5 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Fundamentação Escolhemos Pascal para elaboração da monografia:
Pela proposta de ruptura epistemológica, em relação aos canônes da Modernidade (pluralismo metodológico)
Pela genialidade que revelou tendo dedicado a sua vida reflectindo sobre a ciência a filosofia e a teologia, tentando conciliar a fé e a razão.
Pela profundidade e actualidade das suas reflexões sobre a condição humana.
Por ter uma vasta rede de comentadores da sua obra e não ter uma dimensão académica a altura em Cabo Verde.
Pretendemos tornar inteligível sua visão antropológica enfatizando a miséria, grandeza, insuficiência e desproporção, como elementos norteadores do seu pensamento.
Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana 6
Dados bibliográficos
Pascal nasceu a 19 de Junho de 1623, em França, Filho de
Étienne Pascal e Antoniette Bejon;
Aos13 anos, juntou-se aos sábios do círculo de Mersenne;
Aos 17 anos, publicou alguns teoremas em geometria
projectiva, criou uma máquina de calcular...
A partir de 1647, dedicou ao estudo da aritmética e da física,
Entre suas obras, citam-se “Novas Experiências sobre o Vácuo;
Discurso sobre as Paixões do Amor; O Jogo da Geometria; Memorial;
Oração para pedir a Deus a graça de fazer bom uso das doenças e
Pensamentos”;
Morreu em Paris, aos 19 de Agosto de 1662, aos 39 anos.
Suas últimas palavras foram: "Que Deus jamais me abandone!"
7 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Resumo
Analisamos em três capítulos:
A concepção paradoxal do homem na sua dimensão antropológica “pré e pós queda” e o paradoxo entre miséria e grandeza;
Os limites do conhecimento do homem perante a natureza e o sobrenatural;
A constituição do “eu” no mundo como ser que reconhece a sua verdadeira identidade.
8 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Continuação
Começamos:
Estudo antropológico do homem nos dois eixos “antes e depois do pecado” e a sua verdadeira compreensão (dimensão histórica/teológica do homem)
A desproporção entre o homem e a natureza, as dimensões do conhecimento e os paradoxos da condição humana(dimensão cosmológica/epistemológica)
A constituição do “eu” no mundo, grandeza e miséria e a graça (dimensão psicológica)
9 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Introdução
Pascal desenvolveu uma influente leitura da condição humana, principalmente, por tentar conciliar fé e razão.
Analisamos a visão pascalina sobre a existência humana, partindo visão antropológica/ histórica, à constituição do eu no mundo.
Propõe a tomada da consciência das limitações, para se chegar às verdades que ultrapassam os limites do conhecimento racional.
Mais de três séculos já se passaram após a sua morte, achamos oportuno recorda-lo como um pensador preocupado com a condição e o destino do homem.
10 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Primeiro capítulo
Analisamos as bases teóricas para a compreensão do homem pascalino, através do estudo antropológico e a compreensão histórica/teológica do homem, através dos dois estados da natureza humana “antes e depois do pecado”, para melhor fundamentar o conhecimento do homem nas suas múltiplas dimensões, como ser natural e racionalmente limitado.
Verificamos que, Pascal, demarca dos seus contemporâneos, relativamente a aquisição do conhecimento;
11 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Continuação
Mescla a doutrina platónica (corpo e alma) e a agostiniana (noção de pecado original)
Enfatisa a dupla natureza humana (antes e pós queda) para melhor compreender o homem.
Mostra que o homem deve conhecer a si mesmo a partir das suas insuficiências “entre duas natutezas antagónicas”
Concluimos que, Pascal pode ser definido como “anti-humanista” (o humanismo significa esquecer o Divino).
12 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Segundo capítulo
Analisamos a desproporção entre o homem e a
natureza, as dimensões do conhecimento e os
paradoxos da condição humana;
Enfatizamos a situação de desproporção do homem
entre os dois abismos “o infinitamente grande e o
pequeno”.
A incapacidade do homem, em conhecer as verdades
físicas e ontológicas;
A situação paradoxal, entre a miséria como
insuficiência, e a grandeza como racionalidade.
13 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Continuação
Vimos que, o duplo infinito impossibilita o homem de
alcançar o conhecimento, por possuir um corpo finito, e a
razão ser insuficiente. “está vedado à razão, o alcance das verdades ”.
Pascal realizou uma “cisão” no conhecimento em duas
esferas, “coração e razão”. O coração, apreende os
“primeiros princípios” e a razão segue o percurso lógico-
demonstrativo.
O coração tem “o sentimento o instinto, como outras
dimensões do conhecimento.
14 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Continuação
A imaginação é a parte enganadora no homem, porque conduz ao erro.
A razão faz ver a miséria, a imaginação molda uma realidade cheia de promessas de prazeres e ilusões.
A razão, por si só não consegue alcançar o conhecimento, porque a sua miséria é o resultado dos limites do homem.
Existe em Pascal, uma desproporção teológica, cosmológica e epistemológica quando se trata dos limites do conhecimento humano.
15 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Continuação
Por isso, o homem não é racional por excelência (conhecimento local e parcial).
O coração é o parâmetro mais importante, porque, fornece a razão os primeiros princípios, através do sentimento e do instinto, de modo imediato;
A razão possui a memória, a imaginação e o costume que apreendem de modo mediato.
Por isso, existe um conflito entre as faculdades do conhecimento “sensações e razão”, uma vez que enganam-se mutuamente.
16 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Terceiro capítulo
Incidimos o estudo na dimensão psicológica do homem, abordando a constituição do “eu” no mundo, a grandeza e a miséria e a graça.
Destacamos a fuga do homem pela projecção de um ser imaginário e o divertimento como forma de esconder a verdadeira condição;
Destacamos a situação trágica do homem dilacerado por traços de grandeza e miséria, e a “graça” como sendo a solução pela qual o homem poderá ser resgatado.
17 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Continuação
A conclusão que chegamos é que o “eu” pascalino está cheio de misérias, mas quer ser objecto do amor dos outros, cria uma imagem de grandeza, mas, necessita do outro para reforçar a imagem que constrói.
Na psicologia pascalina, a construção do eu é marcada pela exterioridade, “o ser verdadeiro, opõe-se ao
imaginário”, que nega reconhecer as suas imperfeições, e para desviar-se da angústia refugia-se no divertimento.
O homem vive o “império do amor próprio”, que o torna escravo da concupiscência, dono e senhor do seu amor.
18 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Continuação
O homem deve aniquilar-se, para conhecer, opondo concupiscência à caridade, reconhecendo os traços de miséria, torna-se grande.
Somente através da graça e da revelação que se pode esvaziar-se das suas misérias e insuficiências.
A compreensão da miséria, será encontrada através de Cristo, que, reúne a dualidade da natureza humana e faz a mediação entre o homem e Deus .
Só há solução no campo teológico, ou seja, o retorno à “boa insuficiência adâmica”, o homem pode libertar-se do mundo empírico.
19 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Conclusão
Pascal é, acima de tudo, um teólogo com preocupações antropológicas e epistemológicas, pela qual pensa o destino e as possibilidades do homem.
Para alcançar a verdade do homem, partimos da visão antropológica “antes e depois do pecado” que marca uma ruptura entre a criatura e o criador .
O seu pensamento é marcado pela tensão entre dois elementos para a compreensão do pensamento moderno: “dualidade fé e razão”
A razão é insuficiente para alcançar a essência da realidade física e ontológica.
20 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Continuação
Enfatizamos a insuficiência cosmológica, que impossibilita o conhecimento da matéria.
Na dimensão epistemológica, observamos que “está vedado à razão, o alcance de verdades ontológicas, e a apreensão racional da essência humana”.
Relacionamos miséria, insuficiência e contingência, “matéria prima” para antropologia pascalina.
Focalizamos a imaginação e a vontade como faculdades produtoras de subjetividade que mascaram a miséria do homem.
21 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Continuação
Vimos que o “eu” concupiscente, nasce pelo desejo de independência “suficiência”, do homem tornar-se causa do bem. Vimos a oposição entre o divertimento e a angústia, como marca do homem empírico.
A filosofia de Pascal reflecte uma visão trágica do homem entre duas exigências contraditórias, “grande pela consciência e pequeno pela insuficiência”.
A verdade aparece inicialmente, em três ordens distintas: o corpo (sentidos), a razão (intelecto) e a fé (sobrenatural), dispondo cada, dos seus critérios para chegar as suas verdades.
22 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Continuação
Segundo Pascal, para encontrar a verdade é preciso mergulhar na miséria e compreender que a escravidão do desejo e do amor próprio impede o homem de realizar-se como um ser.
Os paradoxos são remetidos à explicação teológica, segunda natureza “miséria e grandeza”.
O homem só se realiza no desprendimento de si e no encontro com o sobrenatural ou seja, o Divino.
23 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Continuação
Só analizando a verdade, a luz do “drama teológico” é que aparece a situação que existimos: “completo vazio de comunicação com a verdade”.
Nossa situação exprime a quebra de elos entre Deus/mundo/homem/Deus; o homem vive isolado no mundo que não lhe oferece segurança, certeza e verdade.
A existência humana como ser de natureza é um fracasso “o natural é sinónimo de imperfeição, miséria e fracasso”.
24 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Continuação
Para Pascal, antropologia e epistemologia são áreas específicas dentro do drama teológico.
Pascal critica a pretensão da apreensão da verdade unicamente, pela razão e mostra a “insuficiência”, em que a distância entre as ordens (carne, espírito e vontade) impossibilita a explicação dos elementos através uma síntese conceitual.
25 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Continuação
No conhecimento contemporâneo, permanece a unidade de sua obra “um pensamento preocupado com o destino do homem”.
Dúvida, corrupção, inconstância, contingência, angústia, são figuras da mesma realidade:
condição insuficiente,vivida como o exílio do sobrenatural.
26 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Continuação
Com certeza Pascal reconheceria, no homem contemporâneo, o que definimos hoje como NARCISISMO EXACERBADO, que é a materialização da paixão pela suficiência ou a substituição do Deus pelo amor desmedido por si mesmo.
Desta forma, concordamos que, o homem é miséria e grandeza, mesmo que a sua grandeza esteja em reconhecer-se miserável.
“Conhecer-se é reconhecer-se miserável e insuficiente”.
27 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Referências bibliográficas
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 2ª Ed. Trad. Trad.
Alfredo Bosi. São Paulo: Mestre Jou, 1983.
__________. História da Filosofia. Trad. António R. Rosa. Volume 6.
Portugal: Presença, 2000.
ADORNO, Francesco Paolo. Pascal. 1ª Ed. São Paulo: Estação Liberdade,
2008 (col. Figuras do Saber)
ATTALI, Jacques. Blaise Pascal ou o Gênio Francês. 1ª Ed. Trad. Ivone
C. Benedetti. São Paulo: EDUSC, 2003
PASCAL, Blaise. A Arte de Persuadir. 1ª Ed. Trad. Rosemary Costhek
Abílio, Mário Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004 (Col. Breves
Encontros).
28 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Continuação
_________. Pascal. 2ª Ed. Trad. Sérgio Milliet, Marilena Chauí. São Paulo:
Abril Cultural, 1983 (col. Os Pensadores).
_________. Pensamentos de Pascal. 1ª Ed. Trd. Luiz A. Charbonneau. São
Paulo: Abba Press, 2002.
PONDÉ, Luiz Felipe. O Homem Insuficiente. 1ª Ed.São Paulo: EDUSP, 2001
(col.Ensaios de Cultura, 19).
________. Connhecimento na Desgraça. 1ª Ed. São Paulo: EDUSP, 2004 (col.
Ensaios de cultura, 27).
GASTON, Henri Gouhier. Blaise Pascal Conversão e Apologética. 1ª Ed.
Trad Erika Marie Itokazu, Homero Santiago. São Paulo: PAULUS, 2005.
ROGERES, Ben. Pascal Elogio do Efêmero. 1ª Ed. Trad. Luíz Filipe Pondé.
São Paulo: UNESP, 2001. (col. Grandes Filósofos). 29 Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana
Obrigada! Julho de 2011
Arlindo Rocha - Paradoxos da Condição Humana 30