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GONÇALO M. TAVARES um escritor pós- Auschwitz “Tenho consciência do que aconteceu”

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GONÇALO M. TAVARES

um escritor pós- Auschwitz

“Tenho consciência do que aconteceu”

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ESCREVER POR QUÊ?“escrevo porque perdi o mapa”Mapa (1. , p. 163)

O mapa

Senti sempre a matemática como uma presença Física; em relação a ela vejo-meComo alguém que não conseguiuEsquecer o pulso porque vestiu uma camisa demasiado Apertada nas mangasPerdoem-me a imagem: comoNum bar de putas onde se vai beber uma cervejaE provocar com a nossa indiferença o desejoInteresseiro das mulheres, a matemática é isto: umMundo onde entro para me sentir excluído;

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Para perceber, no fundo, que a linguagem, em relaçãoAos números e seus cálculos, é um sistema,Ao mesmo tempo, milionário e pedinte. EscreverNão é mais inteligente que resolver uma equação;Porque optei por escrever? Não sei. Ou talvez saiba;Entre a possibilidade de acertar muito, existente Na matemática, e a possibilidade de errar muito,Que existe na escrita (errar de errância, de caminharMais ou menos sem meta) optei instintivamentePela segunda. Escrevo porque perdi o mapa.

1, Poesia

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LITERATURA – PARA QUE SERVE?

Para INVESTIGAR, RE-PARAR, DES-FAMILIARIZAR, INTENSIFICAR.

“O instinto de pesquisa é este: quero tentar perceber. Começamos a pesquisar quando não sabemos e nunca se para de pesquisar, porque nunca se sabe, terminado assunto, tudo. Para mim a escrita é um estado de investigação, e o que me interessa essencialmente é investigar os comportamentos humanos”

• DESFAMILIARIZAR Linguagem poética como DESVIO da língua cotidiana

• INTENSIFICAR A arte expressa a vida vivida, mas acrescentando-lhe um artifício; porque viver é não saber sentir, é saber sentir de maneira confusa. SÓ A ARTE PERMITE APRENDER A SENTIR, SENTIR MELHOR, sabendo o que se sente e sentindo MAIS INTENSAMENTE. Nesse sentido, a arte prolonga a vida.

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• INVESTIGAR “Tenho muito respeito pelos filósofos e pela filosofia. E a palavra investigação agrada-me. Investigar, tentar perceber. O filósofo, se calhar, está marcado pela ideia de verdade ou de tentar perceber a verdade. Eu quero perceber mas não no sentido de apanhar uma verdade. Pergunto-me muitas vezes: se encontrar a verdade, que farei no dia a seguir? NÃO QUERO DESCOBRIR A VERDADE; quero descobrir um infinito de mentiras, que são as ficções. Descobrir um infinito de ficções, porque, de certa maneira, e por exclusão, vou descobrir a verdade”.

Entrevista Diário de Notícias, 05.12.2004

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LITERATURA E AMBIGUIDADE

A ambiguidade do texto poético não é sinónimo de obscuridade mas de MULTIPLICIDADE, essa riqueza de níveis em que um texto pode ser lido. A possibilidade de haver não uma leitura, a certa, mas várias leituras possíveis.

Ex. em Machado de Assis: CAPITU TRAIU OU NÃO TRAIU?

O Senhor Valéry“Um dos meus livros a que dou a maior importância é o Sr. Valéry, precisamente porque tem leituras que passam pela filosofia – leitores da ‘pesada’ associam-no a Wittgenstein e a outros filósofos e escritores – ao mesmo tempo que pode ser lido por crianças. Ser simples e ter diferentes leituras (camadas) agrada-me.” Entrevista, editora Caminho, disponível em http://www.caminho.leya.com/

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LINGUAGEM

A literatura de Gonçalo M. Tavares parte de uma atenção à linguagem, à materialidade da linguagem. Ao fato da linguagem ser um código, um sistema com leis próprias, uma convenção. Houve momentos em que a literatura ignorou o fato, evidente, de que as palavras não são coisas.

Mas é preciso lembrar que “a palavra cão não morde.”

A partir de Mallarmé, de Proust, de Joyce, o escritor passa a dar mais atenção à materialidade da linguagem.

E também passa a entender a sua relação com aquilo que escreve de uma forma menos possessiva. O autor torna-se menos importante do que aquilo que escreve.

“Dar iniciativa às palavras”, escreveu Mallarmé

“Que importa quem fala, perguntava Beckett?”

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LITERATURA E POLÍTICA

A literatura pode mudar o mundo?A literatura pode ser política não porque tem uma transmita uma “mensagem”: sigam estas ideias, façam isto, façam assim. Política no sentido de propor ao leitor outras formas de olhar, outros ângulos, outros aspectos das coisas, e desta forma levá-lo a se questionar.

Texto: A escrita para teatro

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1. A escrita para teatro

Toda a literatura é assunto de letras paradas fazerem ou não as coisas do mundo moverem-se. A literatura poderá ser um esplêndido sistema, mas é feito de letras, um alfabeto estático. Campo em estado de invenção, preparado para as flores e para as árvores do descanso e do alimento, o alfabeto, eis. Mas parado.

Mas agir é diferente.

Ninguém escreve atos, nem o I, nem o II, muito menos o último. Escrever ações é talvez uma das grandes vontades de qualquer escritor, mas escrever ações é acontecimento que não ocorre desde que os homens perceberam que entre as palavras e as coisas há um incêndio; e tanto as palavras como as coisas são feitas de material que cede a este fogo a sua forma. Nem as palavras nem as coisas sobrevivem ao incêndio que é feito de temperatura exata. Se quiseres ir para o outro lado perderás todas as tuas qualidades, eis a conversa de café entre a literatura e as ações do mundo. Nem se escrevem atos, nem os atos deixam letras atrás de si. São dois mundos: um, dois.

Toda a escrita, pelo menos a decente, ou seja: a magnífica, toda a escrita instala, é certo, uma promessa de movimento, de ação.

Há versos de uma beleza tão rápida que fazem com que o futuro seja imediatamente à frente do sítio onde agora agimos. Se esticarmos a mão podemos tocar o futuro, é isto também a literatura.

Em: A colher de Samuel Beckett e outros textos, 2002

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A LITERATURA É UM ASSUNTO DE HOMEM, NÃO DE PÁTRIAS

“O meu instinto primário foi escrever romances para tentar perceber o mal, como é que ele surge, em que situações se desenvolve e manifesta, etc. a possibilidade de o homem fazer o mal não é característico do nosso país, é característico dos homens em geral. Pessoalmente não quero conhecer e investigar o Homem Português, quero sim perceber e investigar o homem, em geral, e os seus comportamentos.

Julgo que não é muito entusiasmante definir e ficar circunscrito a um pensamento ou uma escrita portuguesa. Eu escrevo em língua portuguesa e esse é um ponto de partida fundamental. Mas a literatura é assunto de homem, não de pátrias. Os grandes temas humanos atravessam os vários homens dos vários países. Podemos exprimir a dor que sentimos numa língua, mas a dor, ela própria não tem gostos ou restrições linguísticas.”

Entrevista ao Círculo dos leitores, Online.

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A OBRA poesia, romance, epopeia, aforismos, investigações, breves notas (sobre a ciência, o medo, sobre as ligações). E livros de difícil definição.

“As categorias literárias não me interessam muito. Tudo é sempre uma misturada”. Talvez o que exista sejam apenas porcentagens mais altas ou mais baixas de uma matéria. Mais percentagem de poesia, mais percentagem de ensaio, mais percentagem de narração.”

OS GÊNEROS “é difícil, é impossível, separar ficção de ensaio ou, mais especificamente, do pensamento.”

O PROJETO LITERÁRIO de Gonçalo Tavares pode ser pensado a partir da tensão entre utopia e distopia.

Utopia – Projeto de construção de uma sociedade melhor.

Distopia – Análise crítica das características da sociedade atual.

“Olhar com atenção para o pior, e para o possível-melhor”.

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2 PROJETOS : LIVROS PRETOS E O BAIRRO

LIVROS PRETOS

LIVROS PRETOS “Considero que estes romances são livros emocionais e portanto que incluem o leitor no seu mundo. Não há nada de abstrato em “Jerusalém”, a violência entre pessoas e os laços amorosos e familiares existem em todo o lado. Estamos todos no mesmo barco. [As personagens] aparecem num lugar paralelo ao nosso. Não é um lugar estrangeiro porque não há nenhum lugar estrangeiro ao medo, à agressividade, à loucura, à ligação entre pais e filhos. Pertencemos todos ao mesmo país.”

Em: “Jerusalém”. Canto interrompido – O incomodar. Entrevista ao Círculo dos leitores

O tema destes livros é a CONDIÇÃO HUMANA NA SOCIEDADE MODERNA E CONTEMPORÂNEA, seus modos de organização social e mecanismos de controle. Trata-se de uma tetralogia que pode ser lida como estágios da civilização ocidental: Do primeiro, A máquina de Joseph Walser, ao último, Aprender a rezar na Era da Técnica, assiste-se à expansão e sofisticação técnica: cada vez mais, máquinas mais sofisticadas dominam as existências. Nos dois primeiros romances, numa era ainda prosaicamente metálica, o clima é o de conspiração que antecede a guerra. A técnica adquire vida própria e impõe decisões. Em Jerusalém, Theodor tenta encontrar uma fórmula que explique a ocorrência do horror, o que prova que a racionalidade não foi posta em causa. A loucura de Mylia ou os delírios de seu marido, Theodor, qual a maior loucura? O último romance a técnica muda de ângulo: do domínio da corpo para o domínio da vontade. “O mundo reduzido a um fazer”.

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QUEM O HOMEM PENSA QUE É?

Mas esse pessimismo é compensado pelo movimento que se desenvolve em paralelo: a des-antropomorfização que percorre estas fábulas. É aí, na forma diferente de situar o homem no mundo, que podemos encontrar o lado positivo destas narrativas. Um homem destronado, posto em contato com o mundo, mundo esse habitado não por essências mas por substâncias e energias. O homem situado ao lado de, não “acima”. Esta é a moral destes livros.

UM NOVO HUMANISMO ou uma NOVA ECOLOGIA?

O que está em questão é a maneira de viver daqui em diante sobre este planeta, no contexto da aceleração das mutações técnico-científicas e do crescimento demográfico.

É preciso REINVENTAR MANEIRAS DE SER no interior no interior da família, da sociedade, do trabalho, da cidade.

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UMA POÉTICA DO CORPO Livro da dança – projeto para uma poética do movimento 70.

uma parte do movimento é excremento. a outra é desejo. Não sai apenas esperma e Fluxo MATERNAL. Caem Fezes das ancas. Caem Fezes das ancas lateralmente, atravessam o ar, roubam o AROMA Escondido do invisível e FAZEM-NO aparecer de modo feio, CLARO, MORTAL. As Fezes são Mortais. Matam. uma parte do movimento é esse excremento. a outra é desejo. Caem Fezes dos Pés da bailarina que é delicada e é bailarina. Não pode ter vergonha das Fezes, a bailarina. Se o Mortal tem medo da Morte tem medo de si, do corpo, do Ego, da consciência, de pensar, tem medo do corpo, Medo da Morte e do corpo e de tudo. Não pode ter vergonha das Fezes, a bailarina. Em: Livro da dança, 2001

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PROJETO O BAIRRO Imagine um bairro de uma cidade qualquer, com novos vizinhos chegando a cada dia e outros de despedindo. Agora imagine que esses vizinhos são personagens inspirados nas obras das mais geniais mentes criativas; escritores como T.S Eliot, Paul Valéry, Ítalo Calvino, Bertold Brecht... ESCREVEMOS SEMPRE DEPOIS DOS OUTROS “Quem faz algo sem ouvir o que se fez, sem falar para o que já se fez, entra num monólogo um pouco tonto; pensando estar a inaugurar um mundo qualquer está, afinal, só a varrer para o canto só restos de uma festa anterior. Ninguém faz nada de novo a partir do zero, só se faz algo de novo a partir do antigo, parece-me.”

“há uma série de escritores de que gosto tanto que já os esqueci. Quando se recebe algo de alguém, o melhor é fazer alguma coisa com o que se recebeu. É nesse sentido que digo esquecer.”

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Quem é Gonçalo Tavares?

BIOGRAFIA Gonçalo M. Tavares. 43 anos, mais de 20 livros publicados. Estão em curso cerca de 230 traduções com edição em quarenta e seis países. Os seus livros deram origem, em diferentes países, a peças de teatro, peças radiofónicas, curtas metragens e objectos de artes plásticas, vídeos de arte, ópera, performances, projectos de arquitectura, teses académicas, etc.

Em Portugal recebeu vários prémios entre os quais o Prémio José Saramago 2005 e o Prémio LER/Millennium BCP 2004, com o romance - "Jerusalém" (Caminho); o Grande Prémio de Conto da Associação Portuguesa de Escritores "Camilo Castelo Branco" com "água, cão, cavalo, cabeça" 2007(Caminho). Prémio Branquinho da Fonseca/Fundação Calouste Gulbenkain com "O Senhor Valéry", Prémio Revelação APE com "Investigações Novalis" e com "Uma Viagem à Índia"

PRÉMIOS INTERNACIONAIS: - Prémio Portugal Telecom 2007 (Brasil). - Prémio Internazionale Trieste 2008 (Itália). - Prémio Belgrado Poesia 2009 (Sérvia). - Prix du Meilleur Livre Étranger 2010 (França) - Grand Prix Littéraire du Web - Culture 2010 (França) - Finalista do Prix Femina (2010, França) - Finalista do Prix Médicis (2010, França) (com "Aprender a Rezar na Era da Técnica") - Prix Littéraire Européens 2011, "Étudiants Francophones" (França) (com "O Senhor Kraus e a Política") com "Jerusalém" - Nomeado para o Prix Cévennes 2009, Prémio para o melhor romance europeu (França) com "Jerusalém" . Veja aqui o blogue do autor http://goncalomtavares.blogspot.com

Projeto heteronímico: “Há uma ideia de que uma pessoa é só uma pessoa. Mas não, todos somos uma quantidade de coisas diferentes, como toda a gente sabe e sente”.

Apresentação Madalena Vaz-Pinto Profa. Adjunta UERJ/S. Gonçalo 16 de maio de 2013

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