arborização urbana: princípios bioclimáticos e conforto ambiental
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ARBORIZAÇÃO URBANA: PRINCÍPIOS BIOCLIMÁTICOS E CONFORTO AMBIENTAL EM RUAS CENTRAIS DE BLUMENAU – SC. João Francisco Noll. Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Regional de Blumenau, doutor em Modernidad y contemporaneidade en la Arquitectura pela Escuela Técnica Superior de Arquitectura da Universidad de Valladolid, Espanha. Correio-e: [email protected] Bianca Regina Tenfen. Acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo, bolsista PIPE Art. 170. Correio-e: [email protected] RESUMO Umas das principais funções da vegetação urbana é a de proporcionar sombreamento para a redução do rigor térmico urbano, com a respectiva diminuição das temperaturas sobre materiais inertes, representados por pavimentos diversos, fachadas e coberturas das edificações. Ela começou a fazer parte do espaço urbano a partir das reformas promovidas por Haussmann, em Paris, com o replantio de árvores nas margens do Sena, seguindo por projetos como os parques urbanos de Frederick Law Olmsted e Calvert Vaux, durante o Séc. XIX. Hoje, a vegetação urbana é elemento fundamental em vias, parques e praças urbanos, contribuindo para a humanização e embelezamento das cidades, proporcionando conforto ambiental por meio de seu adequado uso e outros elementos arquitetônicos. Esta pesquisa analisou e avaliou qualitativamente soluções bioclimáticas a serem utilizadas em projetos de intervenções paisagísticas e arquitetônicas em Blumenau, especificamente no polígono central da cidade, definido pelas ruas Sete de Setembro, Getúlio Vargas, Kurt Hering, XV de Novembro, Beira-Rio e suas principais transversais delimitadas pelos ribeirões Velha e Garcia e pela Rua Paulo Zimmermann e Alameda Rio Branco. Analisou-se a arborização urbana de Blumenau, especificamente da área de estudo; realizou-se levantamento fotográfico para auxiliar na análise do estado atual da arborização urbana na referida área e na identificação dos vazios urbanos desprovidos de arborização passíveis de intervenção; avaliaram-se as soluções bioclimáticas mais adequadas para cada vazio urbano objeto de intervenção; e elaborou-se proposta de Arquitetura da Paisagem na área delimitada escolhida, adotando-se princípios bioclimáticos para a geração de conforto ambiental. PALAVRAS-CHAVE: princípios bioclimáticos; conforto ambiental urbano; arborização e elementos urbanos; paisagem urbana; paisagismo. ABSTRACT
One of the main functions of urban greenery is to provide shading to reduce urban heat rigor, with the corresponding decrease in temperatures on inert materials, represented by several pavements, facades and roofs of buildings. The vegetation became part of urban space since the reforms promoted by Haussmann in Paris, with the replanting of trees on the banks of the Seine, followed by projects such as the urban parks of Olmsted and Vaux, and Howard's Garden City, all developed during the nineteenth century, becoming almost today as obligatory part of the environment of roads, parks and squares, contributing to the humanization and beautification of cities, providing environmental comfort and helping to lower their unsustainability.This research examined and evaluated qualitatively bioclimatic solutions to be used in projects of architectural and landscape interventions in Blumenau, specifically in the central polygon of the city, set by the streets Sete de Setembro, Getulio Vargas, Kurt Hering, XV de Novembro, Riverside and its main transverses bounded by Velha and Garcia streams, and Paul Zimmermann Street and Alameda Rio Branco. It analyzed the urban trees of Blumenau, specifically the study area, it produced a photographic survey to aid in analyzing the current state of urban trees in that area and identifying gaps devoid of urban afforestation where interventions are possible, it evaluated the solutions and products most appropriate for each urban void object of intervention, and drafted a proposal for the Landscape Architecture in the designated area chosen by adopting bioclimatic principles to the generation of environmental comfort. KEY-WORDS: Bioclimatic principles, urban environmental comfort, forestry and urban elements, urban landscape, landscaping.
INTRODUÇÃO
O homem tem buscado ao longo dos anos, uma arquitetura que satisfaça às necessidades humanas
básicas da sociedade: um espaço dotado de uma atmosfera favorável e de bem-estar (OLGYAY, 1996). O
desenvolvimento da qualidade de vida também depende da qualidade do meio ambiente, tanto no que se
refere a seus aspectos naturais, sociais, mas também das condições de infra-estrutura mínimas de conforto
térmico de seus habitantes. Para atuar de maneira correta na transformação do meio físico, faz-se necessário
a instrumentalização através da aquisição de conhecimentos sobre os elementos físico-ambientais,
principalmente o clima, onde seus elementos sofrem variações em função de particularidades locais, gerando
micro-climas. Deve-se introduzir no desenho urbano e planejamento, as condicionantes de território, os
recursos naturais e seus sistemas biológicos. No caso de clima quente e úmido, como Blumenau, o fator de
alta temperatura associada ao alto grau de umidade relativa do ar, exigem áreas de circulação sombreadas.
Portanto, é necessário estabelecer diretrizes, mecanismos e produtos adequados para prover a cidade de
condições de conforto ambiental e estabelecer princípios objetivando o conforto térmico.
O presente trabalho analisa soluções bioclimáticas no centro de Blumenau por meio da arborização
urbana, onde as áreas verdes são de grande importância pelo seu papel social, pela criação de um microclima
mais ameno e proporcionando ambientes mais saudáveis e confortáveis quanto à questão térmica e
ambiental. A arborização das ruas torna-se fundamental para a melhoria da qualidade ambiental do espaço
urbano, qualidade esta aplicada a partir do conhecimento do comportamento climático urbano, como
temperatura, umidade, velocidade e direção dos ventos e brisas e geometria solar, dentre outros dados,
devida e adequadamente estudados por Barbirato, Souza e Torres (2007); Gehl (2006); Gouvêa (2003);
Higueras (2006); Odebrecht (1995); Romero (2000); Romero (2001); Salvador Palomo (2003); Vergara e de
las Rivas (2004). Para isso, deve-se entender a tipologia arbórea da flora brasileira mais adequada para o
plantio em áreas urbanas. Esse trabalho limita-se, porém, à escolha de árvores de pequeno/médio porte em
geral, devido a problemas de fiação elétrica, largura das calçadas, condições necessárias em relação ao clima
e adequação das mesmas em determinados locais, e não com a espécie a ser inserida na paisagem urbana.
MATERIAL E MÉTODOS
A análise e avaliação de soluções bioclimáticas a utilizar em projetos de intervenções paisagísticas
e arquitetônicas com o intuito de propiciar conforto ambiental, por meio de adequado uso de arborização e
outros elementos e produtos arquitetônicos, obedece a critérios derivados de suas características gerais, cujos
parâmetros se traduzam em contemporaneidade. Após revisão sobre intervenções bioclimáticas e
arquitetônicas, realizou-se levantamento de dados através de pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo para
determinar uma relação prévia de possíveis elementos vegetais e produtos arquitetônicos com características
adequadas para o uso em projetos de arquitetura da paisagem nos espaços urbanos livres de edificações. No
desenvolver da pesquisa identificaram-se exemplares, cujas expressão, relevância e representatividade são os
mais adequados aos intuitos almejados. No decorrer desta pesquisa conheceu-se a área de intervenção,
através da leitura in loco, de fotos e mapas, para a elaboração de projetos de intervenção arquitetônico-
paisagística nos limites estipulados por esta pesquisa, utilizando-se os elementos investigados com a devida
particularidade.
RESULTADOS E DISCUSSÕES: GENERALIDADES
A análise da concepção do espaço público e dos principais elementos que nele intervêm pode ser
feita por meio de enfoques estilísticos, formais, de interação entre arquitetura e sociedade, de sensações
geradas a partir de um espaço projetado para o convívio social, lazer, circulação e bem estar dos usuários em
geral, entre outros. Segundo Romero (2000), o elemento principal deste estudo é a concepção do espaço
público como objeto arquitetônico, onde se deve ter uma forma definida, pensada e construída com grande
intenção, no qual os elementos ambientais, climáticos, históricos, culturais e tecnológicos são os elementos
que o configuram como estímulos dimensionais.
A prática da arquitetura e do desenho urbano concretiza-se sem considerar os impactos causados ao
ambiente, repercutindo no desequilíbrio do meio e também no desconforto e na insalubridade da população
urbana, onde o meio natural objeto de intervenções não aparece devidamente tratado. Considerando somente
as variáveis bioclimáticas, na maioria dos casos, esse meio mostra-se agressivo ao ser humano – pela
presença da temperatura, da umidade, das precipitações, da insolação e do vento – necessitando ser
controlado para que atenda às necessidades da população. O clima urbano difere consideravelmente do
ambiente natural. Para isso, a organização da paisagem no espaço deve ser entendida como resultado de toda
a atividade sensorial do homem, representando a mediação vital entre o homem e o ambiente natural. Cria-se
a paisagem como instrumento e linguagem pelos quais uma cultura se expressa, conforme Corbella e Yannas
(2003).
Desde os primórdios da humanidade o homem buscou proteger-se das intempéries e do ambiente
hostil utilizando-se dos meios que lhe estavam disponíveis. O clima local, o conforto térmico e visual dos
espaços abertos é fortemente dependente do projeto urbano e determinante nas decisões projetuais para que
supra tais necessidades e desconfortos. Em zonas tropicais, não se deve se expor à radiação solar por um
período prolongado de tempo, pois causa desconforto térmico, além do visual, provocado pelo ofuscamento.
Os administradores das cidades dedicam hoje seus esforços a resolver os desajustes criados pelo
incremento do trânsito e dos deslocamentos maciços da sua população. A destruição do meio atinge tal
dimensão, que se torna cada vez mais difícil a construção de espaços onde se cumpram harmoniosamente as
exigências humanas. Por esse motivo, é fundamental saber da importância dos problemas térmicos e das
maneiras para resolvê-los. A cidade tem seu próprio microclima como resultado do conjunto de volumes e
materiais que a compõem. Conforme Rivero (1986), os vegetais em climas quentes são considerados
perfeitos condicionantes térmicos, onde as folhas absorvem, refletem e transmitem a energia incidente em
forma seletiva, isto é, em quantidades diferentes segundo os comprimentos de onda da radiação.
Como um ecossistema, a vegetação deve ser vista como uma associação interdependente, sensível a
mudanças, que variará com o clima, a região e o tipo do solo, e sua sobrevivência dependerá da maneira
como o lugar for planejado. Snyder e Catanese (1984) afirmam que as plantas são a matéria-prima do
paisagismo; as variedades de escala, de textura, de cor e de forma, juntamente com as mudanças sazonais,
fazem delas material ideal para definir o espaço. A vegetação tem sido de grande importância na melhoria
das condições de vida nos centros urbanos. No entanto, Hough (1998) observa que a sobrevivência das
árvores urbanas está sujeita a pressões ambientais diferentes das de seu ambiente natural, pressões esta que,
conforme Higueras (2006), são devido a que o ecossistema produz impactos diretos e indiretos, isolados e
sinérgicos no solo, na água e no ar. E dentro desse ambiente artificial e árido das cidades, sombra e beleza
são os mais lembrados benefícios que a arborização pode produzir. Conforme Ambiente Brasil, a arborização
urbana proporciona benefícios à população como proteção contra ventos, diminuição da poluição sonora,
absorção de parte dos raios solares, sombreamento, ambientação a pássaros e absorção da poluição
atmosférica, neutralizando os seus efeitos na população. As árvores produzem todo oxigênio da atmosfera
(HOUGH, Op. Cit.) e nos espaços urbanos absorvem o gás carbônico produzido pelas atividades humanas;
diminuem as ilhas de calor e, consequentemente, o consumo de energia elétrica de aparelhos de ar
acondicionado; filtram e purificam o ar pela fixação de poeiras e gases tóxicos e pela reciclagem de gases
através da fotossíntese; reduzem a velocidade dos ventos; influem no balanço hídrico, favorecendo
infiltração da água no solo e provocando evapo-transpiração mais lenta; auxiliam a diminuir a ocorrência de
enchentes e enxurradas, pela retenção, na copa, de grande quantidade de água, que lentamente se infiltra no
solo; atenuam a poluição sonora; permitem maior biodiversidade da avifauna, proporcionando maior
equilíbrio ambiental.
Segundo Barbirato, Souza e Torres (2007), a qualidade ambiental das edificações depende
fundamentalmente da qualidade ambiental urbana, e, portanto, os aspectos climáticos devem ser
considerados nos estudos relacionados ao conforto e desempenho de ambientes, como também nos estudos
sobre espaços urbanos. A legislação urbana raramente incorpora aspectos essenciais referentes às
solicitações energéticas e ambientais. Uma cidade sem planejamento adequado do uso do solo, pode colocar
em risco a qualidade de vida de seus habitantes. Devem-se aproveitar as potencialidades da natureza de
modo a conservar os recursos naturais e energéticos. A vegetação, além de produzir sombreamento em áreas
edificadas, diminui a necessidade de resfriamento através do uso de energia ativa no verão. Citam que
árvores plantadas próximas a edificações podem reduzir entre 15 a 35% os custos de acondicionamento do ar
no verão. Sob agrupamentos arbóreos, a temperatura do ar é de 3ºC a 4ºC menor que nas áreas expostas à
radiação solar. O sombreamento proporcionado pela vegetação urbana forma microclimas favoráveis ao
conforto urbano, melhorando as condições ambientais adversas e diminuindo as trocas por radiação da
superfície construída. Ao gerar menor quantidade de calor, significativamente reduzem os efeitos nocivos da
ilha de calor urbana, durante o verão. É importante que a vegetação seja aproveitada de maneira racional e
inteligente no ambiente urbano, para que se obtenham melhores e mais confortáveis condições
microclimáticas e evitem-se conflitos de interferência das raízes das árvores com os pavimentos de calçadas
e vias, ou das copas com redes aéreas.
A vegetação tem menor capacidade e condutividade térmica do que os materiais de construção.
Uma árvore pode controlar a radiação solar direta que chega ao solo, diminuindo o calor irradiado a partir
deste, e conseqüentemente, diminuir a temperatura do ar próxima. A radiação solar incidente é absorvida
pelas folhas, que possuem baixo índice de reflexão. Dependendo da densidade de sua folhagem e extensão e
espessura de sua copa, pode alcançar valores altos de radiação absorvida, sendo uma parte refletida e o resto
absorvido pela própria árvore. A pavimentação urbana pode ser substituída por vegetação rasteira, ou
associação desta com componentes construtivos. Desse modo, obtém-se diminuição da temperatura do solo,
e melhores condições de drenagem e escoamento das águas pluviais. A altura das plantas, a idade e o tipo de
folhagem das espécies arbóreas modificam a iluminância sob a cobertura vegetal. Assim, um espaço
gramado pode absorver maior quantidade de radiação solar e, por sua vez, irradiar uma menor quantidade de
calor que qualquer superfície construída, na qual toda energia absorvida é transformada em calor.
UMIDADE RELATIVA DO AR
Entende-se por umidade do ar o índice de vapor d’água contido no ar que se origina da evaporação
natural da água, da evapotranspiração dos vegetais e de outros processos. A umidade relativa do ar diminui
com o aumento da temperatura, segundo Romero (2000), e os elementos do clima, em especial a
temperatura, a radiação, a umidade e o movimento do ar, atuam sobre a percepção térmica das pessoas. O
corpo humano, no estabelecimento de equilíbrio térmico com o meio, produz diversos processos de trocas
térmicas que, em parte, se dissipam para o ambiente por condução, por convecção, por radiação e pela
evaporação da água produzida por transpiração, de forma a manter a temperatura interna do corpo.
CONFORTO TÉRMICO
Blumenau situa-se na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí Açu, e segundo Köppen (in Mattedi, 1995),
predomina o clima mesotérmico úmido, com verões quentes, e temperatura média anual oscilando entre
15,5°C e 24,5ºC, sendo que no verão a temperatura varia entre 30°C e 40°C e a umidade relativa do ar em
torno de 85%. O perfil topográfico de Blumenau é irregular e montanhoso, bloqueando, em determinados
locais, a ventilação que vem do mar. Em termos de regime de ventos, observa-se um predomínio de ventos
de nordeste no período de verão, início do outono e final da primavera; no inverno, predomina o vento de
sudoeste e na primavera predomina o vento leste. Considerando as necessidades de conforto térmico para
Blumenau ao longo do ano, identifica-se o vento nordeste como aproveitável para ventilação, mesmo
considerando as baixas velocidades médias encontradas; e o vento sudoeste deve ser barrado, pois é vento
frio de inverno, de acordo com Bogo (1999).
ANÁLISE DE DADOS E LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO
O levantamento fotográfico realizado no trecho compreendido entre as Ruas Sete de Setembro, XV
de Novembro, Avenida Beira Rio e suas transversais, teve como objetivo analisar e avaliar locais que
precisam e devem receber arborização ou outro tipo de produto arquitetônico-paisagístico bioclimático,
como a introdução de um sistema de tendas ou toldos e pérgulas para melhorar o conforto ambiental,
propiciando conforto térmico. Existem alguns trechos da Rua Sete de Setembro e Avenida Beira Rio que
estão com boa arborização, com adequado conforto ambiental em determinados horários.
Fig.01. Rua Sete de Setembro: Arborização ausente Fig.02. Proposta de intensificação da arborização Fonte: Bianca Regina Tenfen Elaboração: Bianca Regina Tenfen
Fig.03. Rua Sete de Setembro: Falta de arborização Fig.04. Proposta de arborização também no canteiro central. Fonte: Bianca Regina Tenfen Elaboração: Bianca Regina Tenfen
Fig.05. Rua XV de Novembro: Falta de arborização Fig.06. Proposta de adensamento da arborização Fonte: Bianca Regina Tenfen Elaboração: Bianca Regina Tenfen
Arborização urbana é o conjunto de áreas públicas ou privadas com vegetação arbórea, que se
apresenta dentro dos limites do perímetro urbano de uma cidade. E este trabalho limita-se à análise da
arborização situada em passeios de vias públicas. Na maioria das cidades brasileiras, incluindo Blumenau, a
arborização carece de planejamento, decorrendo uma série de problemas, como a inadequada escolha de
espécies quanto ao porte em relação à fiação aérea, aos espaços disponíveis, ao sistema radicular e pela
implantação junto ao meio fio. A área de estudo foi escolhida por se tratar de uma zona densamente ocupada
e se constituir no centro da cidade por excelência.
OUTROS PRODUTOS ARQUITETÔNICO-PAISAGÍSTICOS BIOCLIMÁTICOS
Toldos, tendas e pérgulas são produtos arquitetônicos e paisagísticos comumente usados para
proteção de pedestres contra as inclemências do clima. Toldos ou tendas são estruturas leves tensionadas que
se usam para se resguardar do sol ou das chuvas, dependendo do material empregado. As pérgulas prestam-
se como marquises e podem ser estruturas autônomas que propiciam sombra e refugio ao longo dos passeios.
Fig. 07 e 08. Toldos ou tendas em Madrid e Zaragoza, Espanha. Fig. 09 e 10. Pérgulas em Générargues, França. Fonte: João Francisco Noll DIRETRIZES PARA O PROJETO
O desenho urbano institucional, resultado do planejamento urbano, suas legislações e diretrizes,
deve considerar a arquitetura natural, geobiologia e arquitetura bioclimática para obter um desenho urbano
integrado, mais orgânico, adequado aos climas de nossas cidades e regiões, pois se tornam cada vez mais
contundentes as interações entre o ambiente e energia em relação à arquitetura e morfologia da cidade,
devendo-se acatar a afirmação de Frota (in MATTEDI, Op. Cit.), que diz que o pedestre deve caminhar em
espaços protegidos da radiação solar direta em qualquer dos climas quentes. Umas das principais funções da
vegetação urbana é a de proporcionar sombreamento para a redução do rigor térmico urbano. Le Corbusier,
um dos mais importantes expoentes do Modernismo europeu, na primeira metade do século passado já se
preocupava com a compatibilidade entre a tecnicista cidade moderna e a conservação, preservação, ou
melhor exposto, a criação de um ambiente natural melhor para se viver, conforme Mascaró e Mascaró
(2002). Buscando-se recriar esse ambiente natural, as diretrizes de projeto para o centro de Blumenau devem
buscar o sombreamento de passeios com uso de arborização ou tentar cobri-los, inseridos sob a projeção de
um sistema de toldos ou pérgulas, que criam passeios contínuos e protegidos.
CONCLUSÕES
Segundo o levantamento realizado na área de estudo, identificaram-se espaços urbanos que
carecem de arborização, com boa arborização, e que apresentam possibilidades de troca das árvores mais
velhas para melhorar o conforto térmico e ambiental, transformando ambientes de circulação e de
permanência em locais mais agradáveis de convivência mútua. Identificaram-se, também, ruas estreitas
sombreadas por prédios, com calçadas de reduzidas dimensões, que criaria conflito entre passeios e prédios,
caso alguma vegetação arbórea fosse introduzida.
Através da análise da arborização de ruas em Blumenau foi constatado que soluções de
sombreamento proporcionam melhores resultados se observadas as condições de ventilação dos espaços
urbanos, consideradas imprescindíveis a um clima temperado como o de Blumenau, para evitar o ar
estagnado e úmido. Para ocorrer um equilíbrio entre usuários e o meio onde estão inseridas, as cidades
devem ser projetadas visando a possível utilização de fatores climáticos que podem concorrer para o
conforto térmico por meio de arborização ou sombreamento através de tendas e pérgulas, como apresentadas
nesta pesquisa. No clima quente-úmido, as variáveis são a intensa radiação solar, altas taxas de umidade do
ar associada à temperatura elevada e grandes índices de precipitação.
Fig. 11. Áreas que poderão receber arborização ou sistema de toldos e pérgulas. Fonte: (PMB) Elaboração: Bianca Regina Tenfen.
ELEMENTOS/REFERÊNCIAS DA PAISAGEM URBANA
Prefeitura Municipal de Blumenau
Teatro Carlos Gomes
Igreja
Centro Comercial de Blumenau - Shopping
Ruas com potencial para receber arborização
Ruas com potencial para instalar sistema de toldos e pérgulas
Ruas estreitas e com calçadas também estreitas sem espaço para o plantio de árvores ou que não o necessitam, devido à sombra gerada pelos prédios.
01. Avenida Beira Rio 02. Rua XV de Novembro 03. Rua Sete de Setembro 04. Rua Dr. Amadeu da Luz
05. Rua Pres. John Kennedy 06. Rua Padre Jacobs 07. Rio Itajaí-Açu
Ruas estreitas e com calçadas também estreitas que não possuem espaço suficiente para o plantio
de árvores para o conforto ambiental ou que não o necessitam, devido à sombra gerada pelos prédios.
Conforme o mapa (fig. 11), consideráveis trechos da Rua Sete de Setembro e Avenida Beira Rio possuem
boa arborização, normalmente em grupos arbóreos e, portanto, não há a necessidade de se introduzir mais
árvores neste contexto, pois há sombreamento adequado nos horários mais quentes do dia, como constatado
no levantamento fotográfico realizado entre 13h 30min. e 15h 30min. Já os trechos próximos à Prefeitura
Municipal de Blumenau das mesmas ruas, incluindo a Rua XV de Novembro e algumas transversais, para
amenizar o calor intenso, há a necessidade de se fazer o plantio de árvores de pequeno ou médio porte de
forma a evitar problemas à fiação elétrica em geral, de marcante presença na paisagem.
Ruas como Dr. Amadeu da Luz, Pres. John Kennedy, Padre Jacobs e alguns trechos da XV de
Novembro, podem receber outro sistema ou produto gerador de conforto ambiental com toldos ou tendas
tensionadas que podem ser fixadas nos prédios, e pérgulas em madeira ou outros materiais (Fig. 07 a 10),
favorecendo o ambiente com a função de amenizar o calor e propiciar áreas agradáveis de passeio, de
convívio social, de permanência, de passagem e contemplação, pois além de proteger as pessoas contra a
exposição direta ao sol, esses produtos tornam essas áreas pontos de atração urbana e turística e de forte
orientabilidade no centro de Blumenau.
Segundo Odebrecht (1995), trabalhar com a interrelação usuário-meio e ambiente-espaço
construído não significa atentar apenas para que as variáveis do clima sejam observadas. Meio é um conceito
amplo e como tal deve ser entendido. O espaço produzido deve manter estreitos laços com o entorno,
procurando uma posição de equilíbrio ecológico auto-regulado com este, minimizando assim o impacto da
intervenção no meio.
Ao mesmo tempo, o espaço produzido deve conter as diversas manifestações culturais e sociais, a
forma de vida da população sendo contemplada. O entendimento do clima, do local, dos materiais locais e do
usuário pode contribuir para a recuperação do espaço para estimular diferentes atividades sociais, projetando
um espaço urbano que permita a permanência das pessoas, sem sofrer os rigores do clima, e favorecendo a
realização de práticas sociais que o atual espaço não permite. Portanto, a arborização propostas em trechos
carentes no polígono estudado, e a adoção de medidas e produtos arquitetônico-paisagísticos que propiciem
elementos e produtos de sombra, proporcionam melhor qualidade de vida no espaço público urbano.
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