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Área temática: Empreendedorismo e Inovação Título do trabalho: Desenvolvimento de Metodologia para o Ensino de Empreendedorismo em Séries Iniciais AUTORES FERNANDA MARIA FELÍCIO MACÊDO Universidade Federal de Ouro Preto [email protected] DIEGO LUIZ TEIXEIRA BOAVA Universidade Federal de Ouro Preto [email protected] AMANDA FONTES SILVA Universidade Federal de Ouro Preto [email protected] IAÍSA HELENA MAGALHÃES Universidade Federal de Ouro Preto [email protected] Resumo Basicamente há dois modos de aparição do fenômeno empreendedor: um que faz do homem um ser construtor de seu mundo e outro que por meio da razão instrumental, orienta o desenvolvimento do homem empreendedor, a técnica. Diante desses pressupostos, constrói-se uma metodologia para o ensino de empreendedorismo para crianças. Propõe-se neste trabalho apresentar os resultados preliminares da aplicação dessa metodologia de ensino de empreendedorismo em três turmas das séries iniciais do ensino fundamental, em uma escola municipal do interior do estado de Minas Gerais. Tal metodologia denomina-se Momento Empreendedor na Escola, sendo desenvolvida no segundo semestre de 2009. São empregadas como fonte de dados para avaliação de resultados da metodologia colocada em prática entrevistas efetuadas com professores e pedagogo ligados as turmas envolvidas no processo. Tais dados são analisados a partir do método fenomenológico. A elaboração da proposta metodológica apresentada é resultado das investigações desenvolvidas pelos pesquisadores na busca por teorizações constituintes da atividade empreendedora. Ou seja, é a aplicação, testes e validação de teorias. Assim, busca ensinar aos estudantes que qualquer pessoa pode empreender e inovar, em qualquer campo, bastando para isso ter consciência de seus atos, ou seja, a metodologia trabalha o modo de ser empreendedor. Palavras-chave: Empreendedorismo; Metodologia de Ensino; Empreendedor Infantil; Abstract Basically there are two modes of appearance of the phenomenon of entrepreneur: one who makes man a builder of his world, and other than through instrumental reason, guides the development of enterprising man (the technique). Given these assumptions, we build a

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Área temática: Empreendedorismo e Inovação Título do trabalho: Desenvolvimento de Metodologia para o Ensino de Empreendedorismo em Séries Iniciais AUTORES FERNANDA MARIA FELÍCIO MACÊDO Universidade Federal de Ouro Preto [email protected] DIEGO LUIZ TEIXEIRA BOAVA Universidade Federal de Ouro Preto [email protected] AMANDA FONTES SILVA Universidade Federal de Ouro Preto [email protected] IAÍSA HELENA MAGALHÃES Universidade Federal de Ouro Preto [email protected] Resumo Basicamente há dois modos de aparição do fenômeno empreendedor: um que faz do homem um ser construtor de seu mundo e outro que por meio da razão instrumental, orienta o desenvolvimento do homem empreendedor, a técnica. Diante desses pressupostos, constrói-se uma metodologia para o ensino de empreendedorismo para crianças. Propõe-se neste trabalho apresentar os resultados preliminares da aplicação dessa metodologia de ensino de empreendedorismo em três turmas das séries iniciais do ensino fundamental, em uma escola municipal do interior do estado de Minas Gerais. Tal metodologia denomina-se Momento Empreendedor na Escola, sendo desenvolvida no segundo semestre de 2009. São empregadas como fonte de dados para avaliação de resultados da metodologia colocada em prática entrevistas efetuadas com professores e pedagogo ligados as turmas envolvidas no processo. Tais dados são analisados a partir do método fenomenológico. A elaboração da proposta metodológica apresentada é resultado das investigações desenvolvidas pelos pesquisadores na busca por teorizações constituintes da atividade empreendedora. Ou seja, é a aplicação, testes e validação de teorias. Assim, busca ensinar aos estudantes que qualquer pessoa pode empreender e inovar, em qualquer campo, bastando para isso ter consciência de seus atos, ou seja, a metodologia trabalha o modo de ser empreendedor. Palavras-chave: Empreendedorismo; Metodologia de Ensino; Empreendedor Infantil; Abstract Basically there are two modes of appearance of the phenomenon of entrepreneur: one who makes man a builder of his world, and other than through instrumental reason, guides the development of enterprising man (the technique). Given these assumptions, we build a

methodology for teaching entrepreneurship to children. It is proposed in this paper presents the preliminary results of applying this methodology of teaching of entrepreneurship in three classes in the early grades of elementary school, in a municipal school in the State of Minas Gerais. This methodology is called Time Entrepreneur School, being developed in the second half of 2009. Will be employed as a source of data for assessing outcomes of the methodology put into practice interviews conducted with teachers and educators attached the classes involved. These data will be analyzed from the phenomenological method. The elaboration of the methodological proposal presented is the result of investigations conducted by researchers in search of constituent theories of entrepreneurial activity. That is, implementation, testing and validation of theories. Thus, seeking to teach students that anyone can undertake and innovate in any field, simply be aware of their actions, this is, the methodology works mode to be the entrepreneurial. Keywords: Entrepreneurship; Teaching Methodology; Entrepreneur Child;

1. INTRODUÇÃO Propõe-se neste trabalho apresentar os resultados preliminares da aplicação e

desenvolvimento de uma metodologia de ensino de empreendedorismo em três turmas das séries iniciais do ensino fundamental, em uma escola municipal do interior do estado de Minas Gerais.

Tal metodologia denomina-se Momento Empreendedor na Escola, sendo desenvolvida no segundo semestre de 2009. Serão empregadas como fonte de dados para avaliação de resultados da metodologia colocada em prática, entrevistas efetuadas com professores e pedagogo ligados as turmas envolvidas no processo. Esses dados serão analisados a partir do método fenomenológico.

A elaboração da proposta metodológica apresentada é resultado das investigações desenvolvidas pelos pesquisadores na busca por teorizações constituintes da atividade empreendedora. Ou seja, é a aplicação, testes e validação de teorias.

Neste sentido, considera-se que o empreendedorismo constitui-se algo próprio do homem. Onde houver homem e sociedade haverá atividades empreendedoras, independente da natureza de tais atividades (econômicas, sociais, políticas, esportivas, sociais, culturais, acadêmicas etc.).

Basicamente há dois modos de aparição do fenômeno empreendedor: uma que faz do homem um construtor de seu mundo, e que por meio dela faz ele se engajar e atuar de forma a desvelar sua concretude (um modo de ser, que revela a existência) e outra que por meio do uso único da razão instrumental, pode limitar o desenvolvimento pleno do homem empreendedor (a técnica). Entende-se por técnica um conjunto de conhecimentos empíricos transformados em manuais, boas práticas etc. Estas duas formas do empreendedorismo (modos de aparição) trazem questões importantes para seu estudo.

Empreendedorismo enquanto técnica é um modo de ver. Empreendedorismo enquanto possibilidade é um modo de ser. A distinção é clara: o modo de ver não informa sobre aquilo que se mostra, mas sim apenas sobre aquilo que se quer enxergar. O modo de ser é uma manifestação do fenômeno que se mostra como ele é, não como parece ser.

Esse modo de aparição técnico do empreendedorismo vincula-se a lógica dominante da produção científica do século XX, em que o homem foi reduzido a mero espectador dos avanços da ciência. Porém, o modelo técnico está enfrentando sinais de exaustão, em virtude de não fornecer respostas suficientes para a quantidade de interrogações surgidas.

Por sua vez, o empreendedorismo enquanto modo de ser indica que a atividade é algo que possui características bem delimitadas, podendo ser analisada a partir dela mesma, tal qual se mostra. Destarte, é possível identificar que o empreendedor dá significado a sua ação tendo como referência seus valores. A ação que ele desempenha, para ser empreendedora, não necessita ser ou ter cunho econômico.

Como modo de ser do homem, qualquer pessoa pode empreender. Não há condicionantes externos, limites ou impedimentos. O que fará ou não uma pessoa empreender é seu projeto existencial, ligado a um conjunto de escolhas que pode fazer (não escolher é uma escolha). Ao decidir-se conscientemente empreender, o homem efetua uma ruptura com aquilo que lhe dá segurança e estabilidade, entrando em uma zona de dúvidas e incertezas. Aquele que não empreende, não possui tantas incertezas, pois saberá, de antemão, das suas possibilidades futuras. Assim, verificar-se na sequência os pressupostos teóricos desta metodologia, que busca ensinar aos estudantes que qualquer pessoa pode empreender e inovar, em qualquer campo, bastando para isso ter consciência de seus atos, ou seja, a metodologia trabalha o modo de ser empreendedor.

2. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS Para a concretização do método de ensino proposto neste artigo, parte-se de um conjunto de teorizações acerca do fenômeno empreendedor. Ou seja, a metodologia apresentada deriva de pesquisas já desenvolvidas e em desenvolvimento. Não se trata de fazer compilações a partir de métodos já empregados, mas sim a proposição de um caminho originário da Teoria tridimensional do empreendedorismo (BOAVA e MACEDO, 2009b).

Na teoria tridimensional do empreendedorismo, demonstra-se que a área é composta de uma ação, observando um valor para um fim. A novidade é a introdução do valor como um Dever Ser da ação e da finalidade empreendedora. Esquematicamente, tem-se: Ação Valor Finalidade

Os estudos que são efetuados para se conhecer a realidade empreendedora baseiam-se quase que exclusivamente em uma ou duas dimensões, preponderantemente na ação e na finalidade. Com a teoria tridimensional, há uma orientação para se fazer a integração das três dimensões. Assim, há uma separação entre três esferas do empreendedorismo: a esfera concreta, de análise e filosófica, conforme esquema a seguir: Ação Valor Finalidade - Esfera concreta do empreendedorismo Praxeologia Axiologia Teleologia - Esfera de análise do empreendedorismo Epistemologia Axiologia Ontologia - Esfera filosófica empreendedorismo

A teoria tridimensional deixa explícito o campo fenomenal do empreendedorismo. O método Momento Empreendedor na Escola parte da esfera concreta do empreendedorismo. Observa-se que o empreendedorismo não é um fenômeno capitalista em sua origem, mas sim em seus desdobramentos. A ciência, incorporando a ideologia dominante, o vê como um instrumento de legitimação econômica, não como aquilo que ele é.

Advém dessa realidade a dificuldade em se encontrar estudos que considerem o empreendedorismo de forma diferente da forma tradicional. A própria Academia chega a ser refratária a um modo diferente de se fazer investigações. Mas isso é comum e próprio do se fazer ciência. De todo modo, isso não significa que não há espaço para o debate.

Porém, há de se evitar as ideias pré-concebidas, que podem tornar a ideologia dominante em um dogma. Para exemplificar, citam-se as dificuldades e incompreensão que Guerreiro Ramos (1963, 1965, 1966, 1981, 1983, 1984) sofreu em sua época, por buscar demonstrar a realidade de forma diversa daquela habitualmente empregada.

Deste modo, é possível esclarecer quais são os tipos de empreendedorismo existentes, elaborando uma taxonomia do empreendedorismo. Isto é importante para se conhecer os componentes centrais e estruturantes da atividade, para classificá-los. Basicamente, os tipos de empreendedorismo abordados pela ciência são:

1. Empreendedorismo de negócios: trata-se do mais estudado e conhecido tipo de empreendedorismo, relacionando-se a criação de empresas, especulação, negociações etc. 2. Empreendedorismo social: o foco não é o lucro, mas o benefício social, relacionando-se com atividades de melhoria e redução de problemas sociais. 3. Empreendedorismo cultural: busca-se explorar as possibilidades na área da cultura, relacionando-se a criação e exploração de empreendimentos culturais. 4. Empreendedorismo corporativo: também chamado de intra-empreendedorismo, relacionando-se com o desenvolvimento de ações de inovação dentro de empresas.

5. Empreendedorismo por necessidade: consiste em imperativos de natureza humana, relacionando-se com atividades que garantam a sobrevivência do empreendedor, podendo ser de qualquer dos tipos apresentados anteriormente, exceto o empreendedorismo social. Os cinco tipos apresentados constituem os mais estudados, e que servem de base para

as investigações sobre a temática. O empreendedorismo feminino não foi considerado por ser tautológico, em virtude de ser uma classificação, de certa maneira, sexista.

Outra possibilidade de classificação consiste em considerar o empreendedorismo próprio do homem (abordagem fenomenológica hermenêutica). Para tal, parte-se de uma diretriz orientadora (definição de empreendedorismo e empreendedor) em direção à elaboração da taxonomia.

As definições de empreendedorismo e empreendedor são as apresentadas por Boava (2006) e Boava e Macedo (2006, 2007), a saber:

Empreendedor: indivíduo executor de uma ação capaz de produzir uma ruptura com aquilo que lhe proporciona segurança e estabilidade (a acomodação, a alienação, a paixão etc.). Produz-se assim um efeito catártico que gera nesse indivíduo uma libertação daquilo que lhe é estranho à sua essência e que, por esta razão, limita sua capacidade empreendedora. Trata-se, portanto, de uma pessoa que transforma sua potencialidade em realidade, caracterizando-se por ser temporal e impermanente, abarcando as mais variadas esferas da vida social, tais como: negócios, política, esportes entre outras. Empreendedorismo: conjunto de atividades que visam proporcionar ao empreendedor, no decurso de sua ação, plena liberdade. Tal liberdade se manifesta devido à ocorrência de uma ruptura com aquilo que lhe proporciona segurança e estabilidade. O estado de dependência em relação a fatores externos (existente na segurança e estabilidade) é substituído pela possibilidade de ser sujeito da ação. Sua base é transdisciplinar e teleológica, sustentando-se na busca pela realização plena do ser. Com tais definições, pode-se classificar o empreendedorismo de forma

fenomenológica hermenêutica em: 1. Empreendedorismo imanente: estado próprio do homem, o ser-para-empreender. Trata-se do desenvolvimento de ações empreendedoras em qualquer campo da vida humana (no lar, na escola, na igreja etc.). Exemplos: Zilda Arns, Dom Pedro II. 2. Empreendedorismo transcendente: estado próprio do homem, o ser-que-empreende. Consiste em uma maneira de pensar e agir do homem, em todas as situações. Exemplos: Heidegger, Sartre. 3. Empreendedorismo tradicional: a criação de organizações, especulação, negociações, atividades mercantis e financeiras (com assunção ao risco e incerteza). Exemplos: Bill Gates, Eike Batista. 4. Empreendedorismo acadêmico: ruptura com o conhecimento pré-dado e criação de novos saberes, por parte de pesquisadores, professores e alunos. Desenvolve-se dentro e fora dos centros de pesquisa e ensino na busca de conhecimentos não vislumbrados. Exemplos: Einstein, Tesla. 5. Empreendedorismo sociocultural: ações de diversas naturezas, visando à superação de imperativos sociais e culturais, seja em uma comunidade ou na música, cinema etc. Busca-se ir além do convencional e do esperado, de modo a fazer coisas novas, não contempladas. Exemplos: Vila Lobos, Juscelino Kubitschek. 6. Empreendedorismo indígena: consiste no desenvolvimento de atitudes inovadoras por parte de indígenas, visando o bem-estar da comunidade em que vivem. Exemplos: Raoni, Juruna.

7. Empreendedorismo militar: trata-se de ações no campo estratégico militar, com a adoção de possibilidades não vislumbradas. Exemplos: Aníbal Barca, Cipião Africano. 8. Empreendedorismo infantil: processo próprio das crianças, em que desenvolvem ações empreendedoras mediante procedimentos de tentativa e erro. Exemplo: a primeira corte amorosa, com superação do medo e risco de rejeição. 9. Empreendedorismo esportivo: transformação de um talento em possibilidade e da possibilidade em realidade, ou seja, aprimoramento contínuo das técnicas e ações visando o estabelecimento de referência na área esportiva. Exemplos: Pelé, Oscar. 10. Empreendedorismo potencial: estado de espera, o ser-que-pode-empreender. Consiste na potencialidade que todo ser humano possui em empreender, mas não o faz e encontra-se em constante estado de adormecimento. Exemplo: toda pessoa que faz o que sempre fez, de forma irrefletida. Os dez tipos apresentados não são esgotativos, mas iniciais em possibilidades de

outras análises. Isso significa que a classificação não é fechada em si mesma, pelo contrário, é um caminho com direção e sentido claros. Observa-se a distinção entre os tipos de empreendedorismo tradicionalmente estudados pela ciência e os tipos fenomenológicos: o primeiro, basicamente, envolve capital (e a ideologia subjacente) ao passo que o segundo demonstra ser a atividade própria do homem.

É importante salientar que o empreendedorismo por necessidade, muitas vezes, não chega a ser um tipo de empreendedorismo desenvolvido, mas sim um tipo de empreendedorismo potencial, ou seja, o empreendedor, por si mesmo, não tinha o desejo e interesse em empreender; só o fez para manter-se vivo. Na taxonomia fenomenológica demonstra-se claramente que o ato de empreender é próprio do homem, em qualquer ramo, setor ou atividade humana. Onde houver homem e sociedade haverá empreendedor.

Por sua vez, na taxonomia tradicional, somente haverá empreendedor se houver um aparato modelado pelo modo de produção capitalista, que traz consigo a ideologia dominante que determina o que é ou o que não é empreendedorismo.

Dito isto, cumpre esclarecer que o empreendedorismo possui um conjunto de invariantes, relacionados às seguintes temáticas: ruptura, inovação, criação, melhoria, risco, incerteza, entre outros. Tais invariantes são, de certo modo, os efeitos das ações empreendedoras. Consistem no que se enxerga, não no que se mostra, mas constituem o que é.

Advém deste fato a dificuldade de se avançar no caminho de se haver definições claras sobre empreendedorismo, pois a forma atual de se ver o fenômeno é determinada pela positividade científica e pelos interesses subjacentes ao modo de produção capitalista. Assim, por exemplo, um psicólogo se interessa apenas pelo fator mental do empreendedor, um administrador visa o empreendedorismo nas organizações, um economista se preocupa com a dinâmica empreendedora da sociedade econômica contemporânea, um assistente social/sociólogo pode ver o empreendedor como alguém que tem um emprego precarizado, vítima do capitalismo etc.

Desta maneira, não é possível conhecer o empreendedorismo, pois a fragmentação dos estudos impede uma compreensão global. Kilby (1971) faz uma analogia entre a pesquisa e a busca da definição de empreendedorismo e a caça ao Elafante, personagem das histórias do Ursinho Puff:

A procura pela fonte do desempenho empreendedor dinâmico tem muito em comum com a caça do Elafante. O Elafante é um animal grande e muito importante. Ele foi caçado por muitos indivíduos usando vários dispositivos e engenhosas armadilhas, mas ninguém até agora conseguiu capturá-lo. Todos os que afirmam tê-lo avistado relatam que ele é enorme, mas há discordância em relação às suas particularidades. [Os caçadores] não exploram seu habitat atual com cuidado suficiente, usando como isca seus próprios pratos favoritos e depois tentam convencer as pessoas de que o que pegaram foi um Elafante. No entanto, poucos estão convencidos, e a busca continua (Kilby, 1971, p.1).

Diversos autores observam este aspecto da pesquisa em empreendedorismo, no tocante a dificuldade científica em se estabelecer compreensões mais aprofundadas sobre a temática (Mossberg, 1994; Galloway e Wilson, 2003; Kilby, 1983, Lock, 2009, Jackson, Gaulden e Gaster, 2001; Brown, 2007; Johnstone, 2008)

Isso ocorre em virtude de vários fatores, dentre os quais a questão polissêmica. Aparentemente, isso pode ser visto como um fator secundário na análise, mas na verdade esse é o principal fator. O primeiro sentido de empreendedorismo surge do latim imprehendere. Esta palavra, decididamente, estabelece o sentido abrangente do “ser” empreendedor, ou seja, é ela que informa o componente indubitável da atividade empreendedora.

Imprehendere tem como significado prender nas mãos, assumir, fazer. Ou seja, o termo qualifica um conjunto de ações em que o homem é responsável permanente pela consecução, comprometimento e engajamento na feitura de seu mundo. Assim, o empreendedor é alguém que sai da mesmice em que os seres humanos estão inseridos. Em outras palavras, o empreendedor rompe com a atitude natural.

Husserl (2006), discorrendo sobre a atitude natural, observa que o homem tende a olhar o mundo de modo espontâneo, ingênuo. Os objetos, as coisas etc. estão colocadas como realidades existentes em si mesmas. Não há reflexão sobre seu lugar no mundo, valores etc.

No cotidiano, o homem vive sua existência em um espaço-tempo definido, ocorrendo uma sucessão de acontecimentos e, muitas vezes, tal homem é refém de sua própria atitude natural. Ou seja, ele não tem controle dos acontecimentos, pois seu modo de ser é ingênuo.

O empreendedor, como indica a palavra imprehendere, rompe com essa atitude natural, pois assume o curso dos acontecimentos, tendo consciência disso.

Neste ponto pode-se objetar que nem todos os empreendedores rompem com a atitude natural, como, por exemplo, um ex-bancário que decidiu abrir uma padaria, mas que continua em sua vida de antes. Ora, tal pessoa não pode ser classificada como empreendedora, mas sim como alguém que tem um auto-emprego.

Como visto, a ideologia dominante tende a romantizar o empreendedorismo e fazer com que qualquer um se torne “empreendedor”, quando na verdade é simplesmente alguém que busca a manutenção de sua condição, não a transformação. Ou seja, atualmente a ideologia capitalista faz com que haja fomento e incentivo ao chamado espírito empreendedor, visando simplesmente a geração de riquezas. O empreendedorismo não é apenas riqueza, mas também.

Na realidade, a atividade é vista e pesquisada predominantemente como econômica. Já se observa, polissemicamente, a criação de novas palavras, como ecoempreendedorismo, empreendedorismo organizacional, empreendedorismo social, empreendedorismo feminino etc. Tal situação é resultado de um longo processo de esquecimento. Pode-se dizer que o primeiro filósofo conhecido foi também o primeiro empreendedor de negócios.

Há aproximadamente 2500 anos, Tales de Mileto (nascido em torno de 624 a.C e morto em torno de 547 a.C) foi um exímio sábio, geômetra, político e grande negociante que obtinha fortuna com seus negócios. A descrição de sua capacidade empreendedora para os negócios é relatada por Aristóteles (Pol. I, 11, 1259 a 8-10):

Trata-se de uma das especulações gerais para alcançar a fortuna, mas atribuída a ele [Tales] por causa de sua sabedoria. Como o censuravam pela pobreza e zombavam de sua inútil filosofia, o conhecimento dos astros permitiu-lhe prever que haveria abundância de olivas. Tendo juntado todo o dinheiro que podia, ele alugou, antes do fim do inverno, todas as prensas de óleo de Mileto e de Quios. Conseguiu-as a bom preço, porque ninguém oferecera melhor e ele dera algum adiantamento. Feita a colheita, muitas pessoas apareceram ao mesmo tempo para conseguir as prensas e ele as alugou pelo preço que quis. Tendo ganhado muito dinheiro, mostrou a seus amigos que para os filósofos era muito fácil enriquecer, mas que eles não se importavam com isso. Foi assim que mostrou sua sabedoria.

A citação demonstra que Tales, há aproximadamente 2500 anos, já desenvolvia a inovação, o emprego de capital de risco etc. Ao alugar as prensas, colher o capital necessário para tal e fazer uma especulação, ele praticamente inventava o empreendedorismo. Porém, o que ele fez era algo comum naquele período.

Diz Aristóteles (Pol. I, 11, 1259 a 11-13): Na Sicília, um homem que obtivera vários depósitos de dinheiro apoderou-se dos ferros das forjas. Quando os mercadores vieram de todas as partes para obtê-los, só ele pôde vendê-los, contentando-se com o dobro, de maneira que o que lhe custara cinquenta talentos vendia por cem. Dionísio, o tirano, informado do caso, não confiscou seu lucro, mas ordenou-lhe que saísse de Siracusa por ter imaginado, para enriquecer, um expediente prejudicial aos interesses do chefe de Estado. Aquele homem tivera a mesma idéia que Tales: ambos do monopólio fizeram uma arte.

O que Aristóteles chama de monopólio, foi realizado mediante uma ação empreendedora, com os riscos inerentes a atividade. Tales empreendia não apenas nos negócios, mas também em suas atividades científicas, filosóficas e sociais. Os teoremas que desenvolveu, as investigações sobre a natureza, as viagens de estudo e as intervenções políticas foram inovadoras em sua época, o que lhe valeu a posição de primeiro dentre os sete sábios da Grécia antiga (BARNES, 1997; BORNHEIM, 1999; BOAVA e MACEDO, 2009a).

Na antiga Grécia, a atividade empreendedora era incentivada. Basicamente, os empreendedores de sucesso recebiam distinções sociais e políticas. Ademais, vários escravos obtinham sua liberdade, sendo que existia um sistema de dissuasão para evitar o individualismo. O sucesso nos negócios era julgado por meio da análise dos meios empregados para tal, não pela quantidade de riqueza. Ou seja, o que importava eram os valores (KARAYIANNIS 1992, KARAYIANNIS 2003; ZANAKIS et all., 2003; BITROS e KARAYIANNIS, 2004; KARAYIANNIS 2008; BITROS e KARAYIANNIS, 2008).

Como verificado, a atividade empreendedora não é recente. Os estudos científicos sobre o tema que o são. Iniciam-se, basicamente, no século XIX, por meio da economia. Porém, o que se observa atualmente é um caminhar para o resgate do sentido esquecido do empreender.

Cardow (2006), analisando o empreendedorismo enquanto metáfora, observa que o mesmo esteve ao longo do século XX associado aos negócios, sendo que atualmente se verifica outros significados, ligados à inovação, risco, criatividade e proatividade, não apenas nos aspectos econômico-organizacionais. É exatamente essa transformação de significado, ou melhor, esse resgate de sentido, que auxilia no desenvolvimento da metodologia Momento Empreendedor na Escola, que será vista a seguir.

3. O MÉTODO MOMENTO EMPREENDEDOR NA ESCOLA

No segundo semestre de 2009 foi realizado em uma cidade do interior do estado de Minas Gerais a aplicação do método Momento Empreendedor na Escola. Tal método origina-se de um Projeto de Extensão combinado com um Projeto de Pesquisa do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Empreendedorismo, elaborados em uma Universidade Federal do estado. A escolha da cidade deu-se por conveniência e facilidade de acesso.

No total, cerca de 500 crianças foram atingidas pelo projeto, sendo que 50 passaram por todas as etapas e 450 por uma etapa.

Tal metodologia teve como objetivos: Geral: 1. Proporcionar aos alunos das séries iniciais (3 turmas) do ensino fundamental no

município selecionado um primeiro contato com o empreendedorismo, visando incentivar, nos mesmos, o surgimento e/ou desenvolvimento de habilidades e competências empreendedoras, demonstrando que qualquer pessoa pode empreender.

Específicos: 1. Solicitar a prefeitura municipal a indicação de escola para a realização do projeto; 2. Estabelecer contato com o corpo docente responsável pelo ensino das séries iniciais

do ensino fundamental visando aprofundar-se na realidade didática vivenciada na escola; 3. Elaborar um livro orientador para todas as séries que vise aproximar o aluno do

empreendedorismo, através da apresentação de um conteúdo de ensino em forma de histórias, desenhos e atividades lúdicas capazes de despertar o interesse da criança pelo tema em questão;

4. Elaborar um livro-texto sobre o primeiro empreendedor (Tales de Mileto) para apresentação no quarto momento empreendedor, através do método de contador de histórias;

5. Elaborar o Guia do Professor; 6. Realizar atividades integradoras entre todas as séries introdutórias visando fomentar

aspectos de comunicação interpessoal, criatividade, identificação de oportunidades, resistência ao fracasso, determinação;

7. Realizar um evento final com a participação de discentes, docentes e comunidade do município selecionado para divulgar os resultados logrados com o desenvolvimento do Projeto Momento Empreendedor na Escola.

A equipe de trabalho do projeto foi composta por 30 alunos dos cursos de graduação em Administração e Pedagogia da Universidade pesquisadora, além de dois professores do curso de Administração e um professor do curso de Comunicação Social/Jornalismo.

O projeto desenvolveu-se em quatro fases distintas: 1. Inventário de dados (realidade educacional da escola), pesquisa bibliográfica para

elaboração dos livros, estudo de experiências de sucesso congêneres, integração com os docentes da escola municipal.

2. Realização de momentos empreendedores na escola, ou seja, entrega e desenvolvimento das temáticas propostas no livro orientador, sendo esses momentos constituídos por três encontros na escola e um na Universidade.

3. Realização de momento empreendedor na Universidade, com a realização de palestras, exibição de vídeos, visitas monitoradas etc., para várias escolas da região. Tal etapa foi elaborada dentro da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2009.

4. Encerramento do projeto, com a execução de um evento para toda comunidade educacional relacionada com a escola em que ocorreu o desenvolvimento dos momentos empreendedores, visando apresentar os resultados dos mesmos.

A equipe envolvida foi avaliada mediante grau de frequência nas reuniões do projeto e atividades realizadas junto à escola. Foram elaborados ainda relatórios que contemplaram a descrição e análise do processo de desenvolvimento de atribuições designadas aos estudantes ao longo do projeto.

Isso ocorreu, pois o processo de retroalimentação é fundamental para a execução de um planejamento, posto que permite verificar se o mesmo está atingindo os objetivos definidos, assim como se há necessidade de adequar algum aspecto face a um novo rumo ou nova demanda identificada durante o processo de implantação do mesmo.

Assim, o desenvolvimento do projeto Momento Empreendedor na Escola foi monitorado a partir das seguintes estratégias:

1. Diálogo constante entre os envolvidos no projeto, sendo esses: docentes e discentes da universidade e alunos e professores das séries iniciais da escola municipal;

2. Observação dos indicadores de produção das ações designadas apresentados via relatório elaborado pelos alunos bolsistas;

3. Realização de reuniões de apresentação das atividades realizadas na escola, para sugestões dos docentes municipais;

4. Aplicação de questionários ao fim de cada atividade junto aos docentes e pedagogos da escola municipal, visando obter dados para desenvolver uma melhoria contínua das ações.

5. Documentação das ações realizadas na escola via fotos e gravação para fins de revisão e análise em reuniões posteriores, sempre na perspectiva de visualizar novos aspectos e comparar objetivo e resultado alcançado.

5. O MÉTODO NA PRÁTICA A primeira fase de elaboração da metodologia de ensino consistiu na pesquisa para elaboração da cartilha empreendedora, material de apoio didático a ser utilizado no processo de apresentação da criança ao universo empreendedor. Como base empregou-se a teoria tridimensional do empreendedorismo, trabalhando junto as crianças a ação, valor e finalidade. Como se tratava de um projeto inicial, piloto, ficou acordado entre a equipe responsável pelo projeto que a série que receberia destaque seria o quarto ano do ensino fundamental. Por questões de tempo e viabilidade financeira de execução, não houve como contemplar todas as séries iniciais do ensino fundamental de forma prática. Isso implicaria na necessidade de elaboração de mais cartilhas, expansão da equipe de trabalho, maior flexibilização do calendário escolar do colégio envolvido. Além do mais, na qualidade de piloto, entendeu-se que o projeto deveria ser focado para que seus pontos fortes e fracos fossem mais facilmente mapeados e, posteriormente, maximizados ou corrigidos. A cartilha empreendedora é um livro constituído por pequenas historinhas, mais precisamente quatro, que mostram aventuras de empreendedores infantis. A ideia básica do projeto é ir à sala de aula contar cada historinha de uma vez, sendo que no intervalo de um encontro em classe para outro, os alunos fazem atividades iguais às vividas pelos personagens da cartilha. Ou seja, em um primeiro momento, o aluno conhece o empreendedorismo na ficção e depois é estimulado a torná-lo realidade. Os personagens das historinhas são fixos, para que o aluno possa se identificar com os mesmos. O conteúdo das atividades foi proposto a partir do conhecimento já adquirido pelo aluno até o quarto ano do ensino fundamental, além de trabalhar com algumas matérias ensinadas para a faixa etária de nove anos. A versão definitiva da cartilha foi analisada por dois professores que lecionam para o quarto ano, um psicólogo e dois pedagogos, sendo seu conteúdo e embasamento aprovados. Por julgar pertinente para maior compreensão da importância da cartilha para despertar o interesse do aluno pelo empreendedorismo e desenvolvimento da ação empreendedora, apresentar-se partes do material empregado.

Figura 1: Personagens e Histórias da Cartilha Empreendedora

Cada história visa desenvolver na criança uma competência distinta. A história inicial, “Descobrindo o Empreendedorismo”, apresenta aos discentes o empreendedorismo. Trabalha ainda as áreas em que se pode empreendeder, mostrando que ação empreendedora possui sempre um valor e uma finalidade. A história “Camiseta dos Meus Sonhos” desperta a criança para a necessidade de sua ação ter sentido, saber o que quer é o primeiro passo para a busca por resultados, é o valor da ação. Em “Feirinha de Doces”, a criança aprende a como buscar recursos para a realização de seus sonhos. Essa história mostra a criança como ela pode inovar e transformar sua realidade na medida em que toma atitudes pró-ativas. Por fim, na historinha “Visita à Universidade” a criança aprende a valorizar o conhecimento e visualizar o futuro que possui além do ensino básico e fundamental. Trabalha-se no escopo dessa história a questão da finalidade, mostrando a criança que ela pode ser construtora de sua vida.

A partir das histórias, tem-se o esquema representativo da metodologia de ensino construída:

“Descobrindo o Empreendedorismo” “Camiseta dos Meus Sonhos” “Visita à Universidade”

Ação Valor Finalidade

“Feirinha de Doces”

Meio Transformação da Realidade

Diante dessa proposta, a Secretária Municipal de Educação efetuou a indicação do colégio a ser realizado o projeto. Manteve-se com a equipe da Secretaria uma relação bastante aberta, sendo que eles contribuíram com sugestões pertinentes para a melhoria da execução do projeto. O colégio definido como lócus do projeto apresentava três turmas de quarto ano, totalizando cinquenta alunos. Foram efetuadas várias reuniões de preparação para execução das ações do projeto, entre diretoria, professores das turmas, responsáveis e monitores do projeto.

Os monitores receberam treinamento para aplicação da cartilha, assitindo a palestras de pedagogos e assistentes sociais. Dentre essas reuniões ficou definido o calendário de desenvovlimento do projeto que compreendeu o mês de outubro e novembro do ano de 2009. O contato incial com as crianças se deu através de uma apresentação efetuada pela diretoria do colégio, sendo no mesmo dia contada a primeira história: “Descobrindo o Empreendedorismo”. Os alunos se interessam pelo tema e imediamente depois do término dessa historinha escreveram em folhas em branco em qual área queriam ser empreendedores. Na sequencia, apresentaram sua opção para turma e explicaram o porquê da mesma. Ao final dessa atividade foram instruídos a trazer um roupa apropriada para pintura e a sonharem com seu futuro, visando a realização da segunda atividade prevista na história posterior.

Vale destacar que essa atividade foi trabalhada a partir da divisão original de cada sala, sendo conduzida por três diferentes gurpos de monitores devidamente treinados. Optou-se por não colocar os ciquenta alunos em um mesmo ambiente, para todas as atividades desenvovlidas em sala. A segunda história “Camiseta dos Meus Sonhos”, também desenvovlida em classe, ocorreu na mesma semana que a anterior com diferença de um dia. Após a leitura da historinhas o alunos se dedicaram a pintura de sua camiseta.

Após a pintura da camiseta dos sonhos, os alunos foram preparados para a atividade “Feirinha de Doces”, sendo convidados a trazerem de casa no dia definido doces para vender na feira, com o preço a ser cobrado. Nisso, a professora responsável pela turma em parceira com os monitores do projeto trabalhou com as crianças o conceito básico de formação de preço e lucro. Durante os dias que faltavam para feira, os professores ensinaram a dividir o preço total de uma pacote de doces pela quantidade, somado a uma pequena parcela de lucro, entorno de 50%, por se tratar de valores baixos para, assim obter, o valor de venda do produto na feira de doces. Essa atividade foi divulgada pelos alunos na escola para que os colegas viessem comprar seus produtos.

No dia da feira, a equipe de monitores montou as barracas e dividiu os alunos por equipe. Os doces trazidos foram recolhidos e vendidos pelos preços que os mesmos calcularam. Foram no total, oito barracas montadas. A feira durou cerca de duas horas abragendo os diferentes horários de intervalos apresentados pelo colégio. Pais e convidados dos alunos também compareceram a feira. As sobras foram dividadas igualmente entre os alunos, assim como o lucro. Os alunos receberam o valor de custo do doce mais o lucro total dividido pelo número de alunos participantes da atividade.

A última historinha “Visita à Universidade” foi realizada após uma semana da execução da feirinha. Os alunos visitaram á universidade em ônibus cedido pela mesma e com a devida autorização dos responsáveis. Nessa atividade foram efetuadas visitas à laboratórios, bibliotecas, áreas de esportes da universidade. Em caráter especial, posteriormente, a pedido do colégio mais 450 alunos de diferentes faixas etárias, fizeram visita à universidade e assitiram palestras sobre empreendedorismo e receberam um livro texto denominado “Tales o Empreendedor” que contava histórias do empreendedorismo de Tales de mileto na Grécia Antiga. (BOAVA e MACEDO, 2009a). O encerramento do projeto se deu em um encontro com as ciquenta crianças e comunidade envolvida, apresentando as fotos do projeto e fazendo a entrega individual da camiseta pintada por cada criança. Essas foram aplaudidas por seus sonhos, valor da ação. 6. ANÁLISE DOS RESULTADOS DO PROJETO Para análise dos resultados logrados com o projeto descrito aima, foram efetuadas entrevistas com as professoras das três turmas e pedagogo responsável pela aprovação da secretaria municipal da educação para realização do projeto. Pretende-se com isso, identificar percepção dos agentes mais envolvidos com as crianças, vendo nelas possíveis alterações após realização do projeto. Além disso, buscou-se o depoimento de pessoas externas ao planejamento projeto, pois ainda que auxiliaram e opiniaram na realização do mesmo, na fizeram parte de sua estruturação, não apresentando, assim, vieses de concepção sobre a questão empreendedora. Os quatro depoentes respoderam as tes questões, em formato de entrevista semi-estruturada: 1 – Para você, o que é empreendedorismo? 2 – Você como educador, acha importante projetos que incentivam a educação empreendedora? Por que? 3 – Na sua opinião, qual é a idade para se iniciar um contato com o empreededorismo? 4 – Qual a sua análise do Projeto Momento Empreendedor na Escola? 5 – Você percebeu alguma mudança nas turmas participantes do Projeto “Momento Empreendedor na Escola”? 6 – Qual a repercussão que o projeto teve dentro do colégio? 7 – Você gostaria que o projeto fosse realizado novamente? 8 – Você propõe alguma melhoria?

Os dados coletados serão analisados a partir do metódo fenomenológico de Giorgi (1985). Convém apresentar as principais bases dessa metodologia:

I. Sentido do todo - Simples leitura do texto e a habilidade de entender a linguagem do sujeito. II. Discriminação das unidades de sentido - Considerando que é impossível analisar um texto

inteiro ao mesmo tempo, é necessário separá-lo em unidades manejáveis. As unidades são analisadas de acordo com o interesse da pesquisa (caráter psicológico, sociológico, conhecimento do sujeito sobre o tema abordado, vínculo emocional com o fenômeno, papel proativo frente à realidade do fenômeno etc.).

III. Transformação das expressões de linguagem do sujeito para linguagem com ênfase no fenômeno que está sendo investigado - A intenção do método aqui é de chegar a uma categoria geral partindo das expressões concretas.

IV. Resultado das unidades de sentido transformadas em colocações - O último passo de uma análise é sintetizar, integrar as descobertas das unidades significativas em uma descrição consistente da estrutura psicológica do acontecimento. A figura a seguir traz a representação do percurso metodológico empregado.

Figura 4: Percurso metodológico

Fonte: sistematizado a partir de Giorgi (1985) A partir da análise fenomenológica dos dados coletados, foi possível a identificação de

cinco unidades de sentido, sendo essas denominadas: perspectiva de futuro, aproximação da realidade, comportamento, visualização, oportunidades de melhoria. Para apresentar os dados categorizados serão extraídas frases das entrevistas efetuadas com os sujeitos de pesquisa.

UNIDADE DE SENTIDO – Perspectiva de Futuro 1 – “Tem que incentivar alguma coisa, e o empreendedorismo acho que fez isso, o projeto em si ele incentiva que os alunos tenham esse sonho coloquem seus sonhos, o que eles querem mesmo, buscar um objetivo na vida, e acho que o projeto busca isso”. 2 – “Com certeza, é importante porque a criança sente necessidade, porque às vezes onde ela convive, na família, em casa nem sempre ela tem todas as informações que ela precisa para o desenvolvimento dela. Então agente tem que estar buscando, para estar trazendo isto para sala de aula e estar mostrando, para que a criança possa desenvolver em todas as áreas e conteúdos que elas têm que estar trabalhando”. 3 – “Eu acho que a criança desde cedo tem que ter essas coisas bem claras. O que eu quero ser quando crescer, agente sempre pergunta, “o que você quer ser?” e, a partir do momento que você trabalha com esse tipo de projeto, a criança tem a oportunidade de saber qual é a meta e tentar atingir essa meta. Por exemplo, eu quero passar de ano, o que eu preciso para chegar ao terceiro ano? Eu preciso o que, eu preciso estudar. Então, quando você trabalha também esses objetivos, desde cedo a criança sabe que durante a vida dela toda ela vai ter que estipular uma meta e tentar atingir essa meta”.

UNIDADE DE SENTIDO - Aproximação da realidade 1– “A feirinha causou um impacto maior, despertou mais, essa busca de poder ta vendendo produto, pesquisado quanto que foi, comprei por quanto, por quanto que eu vou revender, então isto teve um objetivo maior para eles.” 2 –“ Com certeza, este projeto só tem a acrescentar, então ajuda muito em sala de aula”. 3 – “Eu acho que teve muitas coisas positivas. Agente sempre trabalha com o sistema de monetagem, mas sempre no imaginário. Vamos imaginar que vc tem tantos doces, você quer vender para tanto. Então, agente nunca tinha feito daquela forma. As meninas realizaram o concreto daquelas situações que agente vivenciava dentro da sala de aula, que a troca de dinheiro por mercadoria, que nós fizemos né?” 4 – “Projetar o ideal em direção ao real”.

UNIDADE DE SENTIDO - Comportamento 1 – “No dia da feirinha que os meninos se abriram mais ainda”... “Depois que vocês fizeram o projeto, aí eles ficaram ainda querendo buscar mais “o tia nós não vamos mais participar”?” Eles ficaram interessados querendo saber se iriam montar outro tipo de feirinha. Igual quando nós fomos ao Campus muitos alunos nunca tinham entrado ali, aí depois eles falaram “nó professora que enorme, eu vou vim estudar aqui” houve um comentário “minha prima estuda”. “Mais assim, muitos tiveram uma oportunidade de entrar lá no Campus.” 2 – “Eu achei interessante, os alunos, o retorno deles, eles gostaram muito, tanto que em alguns momentos durante as minhas aulas teve comentário sobre o assunto. E tudo que é novo, tudo que é interessante, que é diferente do dia a dia deles é importante. Igual eu falei, né? isto apareceu. É a mudança apareceu assim, com certos comentários, certos assuntos que às vezes eu estava introduzindo em sala saia comentário, que você via que eles estavam buscando mais autonomia, tentando expor suas ideias, né? Então, com certeza acrescentou para isto, este projeto”. “O comentário, principalmente quando os alunos descobriram as fotos no jornal, eles se acharam importantes”. 4 – “Houve envolvimento das turmas e dos monitores, a resposta dá-se na forma dos resultados demonstrados entre a teoria e na culminância do projeto, a feira de doces, sendo que todos se envolveram na empreitada”.

UNIDADE DE SENTIDO - Visualização 1 – “Algumas professoras ficaram perguntando, por que na minha turma também não?” 2 – “O comentário foi bom, eles gostaram...” 3 – “Foi assim, teve uma boa repercussão porque todo mundo queria saber o que estava acontecendo, o que que era, todo mundo queria comprar, então teve uma repercussão muito positiva.Todo mundo se interessou em saber “ah, por que só fez com o quarto ano?”, “por que não fez com todas as turmas?”. 4 – “O projeto, sendo um piloto, despertou e gerou movimento, proporcionou interação nos executores dos mesmos. A notícia que possuo é de que houve muito boa aceitação e conceitos avaliativos de grau elevado no tocante do projeto”.

UNIDADE DE SENTIDO - Oportunidades de Melhoria 1 – “Então assim, dá para trabalhar quase que todos os conteúdos, não só ficar com a matemática, mas envolver o português, a história, a geografia também, a questão de localização”. 2 – “O tempo poderia se estender um pouquinho mais. E é uma atividade diferente, que eles não estão acostumados, então eu acho que ele poderia ter acontecido em um tempo maior para desenvolver dentro da escola, que é um tema que você tem como trabalhar ele durante o ano inteiro, né? Então eu só achei o tempo curto, pequeno, que podia ter desenvolvido mais”. 3 – “Eu acho que deveria ter um tempo maior para desenvolver.” 4 – “O projeto deveria sair do piloto e ampliar para outros ambientes educacionais”.

As unidades de sentido identificadas revelam indicadores de resultados da realização do projeto piloto “Momento Empreendedor na Escola”. Essas unidades foram extraídas da percepção de docentes e pedagogo que tinham contato frequente com as crianças antes da realização do projeto e depois, podendo estabelecer uma base mais fiel de comparação sobre o efeito de cada atividade. A unidade de sentido perspectiva de futuro indica que foi despertado nos alunos a atenção para o futuro, levantando a questão da relevância do planejamento de uma ação. Isso foi executado a partir da discussão sobre objetivos, visando que a criança compreenda que sua vida é repleta de escolhas que devem ser feitas com base na obtenção de resultados que a tornarão felizes. E o empreendedor precisa saber o que deseja. Logo, tem-se o alcance de um dos propósitos do projeto. Já a unidade de sentido aproximação da realidade trata mais explicitamente da emergência de um aspecto que não era muito o foco do projeto, reforçar conteúdos ensinados no quarto ano do ensino fundamental. A atividade “Feira de Doces” foi vista pelos sujeitos de pesquisa como uma oportunidade única de aprendizado para o aluno em relação a matemática, pois tudo que se processava em sala de aula de forma imaginária, tornou-se realidade durante a realização da Feira. Essa unidade destacou um fator positivo que ainda não tinha sido pensado pelos autores do projeto.

Dando continuidade, a unidade de sentido “Comportamento” foi a de maior relevância, na medida em que mostra as reações dos alunos perante o projeto. Observa-se o despertar da curiosidade, autonomia, capacidade de exposição de idéias, auto-estima, vontade de continuar apreendendo, consciência da existência de um futuro, de alternativas e desejo de ir além. Nesse tópico, tem-se o alcance do objetivo principal do projeto, proporcionar as crianças um primeiro contanto com o modo de ser empreendedor. As unidades de sentido visualização e oportunidade de melhoria são um retorno mais direto sobre o projeto e não propriamente sobre os impactos ocasionados nas crianças, conforme as unidades anteriores retratam. A primeira evidencia a aceitação do projeto pela comunidade escolar do colégio envolvido no projeto, bem como o desejo que as atividades fossem realizadas também com outras turmas. Isso se configura em um ponto bastante positivo para o projeto. As oportunidades de melhoria se constituem no aumento do tempo de realização do projeto, assim como associá-lo a conteúdos de outras disciplinas como ciências, geografia e português. Esse desejo de ampliação do tempo de atividade e escopo do trabalho indica o reconhecimento da validade e relevância do projeto. A figura a seguir sintetiza os resultados do projeto:

Figura 4: Panorama Pós-execução do Projeto “Momento Empreendedor na Escola” Fonte: Elaborado pelos autores.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo objetivou discorrer sobre a metodologia de ensino do empreendedorismo proposta no projeto “Momento Empreendedor na Escola” realizado em um colégio Municipal, com três turmas do quarto ano do ensino fundamental, localizado no interior de Minas Gerais. Para isso, apresentou-se o referencial teórico que embasou a consecução da metodologia, seguido pela descrição do projeto e metodologia proposta. A partir disso, foi elaborada uma breve exposição do método na prática, sendo os resultados desse, identificados no processo de análise fenomenológica de entrevistas efetuadas com professores e pedagogo diretamente envolvidos com as crianças alvo. Como resultado, verificou-se que a metodologia se fez válida em seu intento principal que é despertar nos alunos o modo de ser empreendedor. Contudo, é necessário destacar o caráter preliminar dos resultados, pois investigou-se, em primeiro momento, somente os sujeitos que tinham uma forte ligação anterior e posterior com as crianças do projeto e não participaram do planejamento da metodologia, não apresentando, portanto, nenhum vies teórico-metodológico.

Projeto “Momento Empreendedor na Escola”

Alunos Participantes Estrutura do Projeto

Feedback Resultados

Ampliação do tempo de execução

Abordar conteúdos de outras disciplinas

Despertar para o futuro

Reforço de aprendizagem

MODO DE SER EMPREENDEDOR

Curiosidade, autonomia, capacidade de exposição de idéias, auto-estima, vontade de continuar apreendendo, consciência da existência de um futuro, de alternativas,objetivos, valores, desejo de ir além, continuar estudando.

Em estudos vindouros, pretende-se entrevistar os monitores que trabalharam no projeto, assim como as crianças, fazendo uma triangulação de dados. No entanto, a validade desses resultados preliminares está na evidência da efetividade da metodologia criada em se tratando do ensino do modo de ser empreendedor. 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARISTOTELES. Politics. Londres: Longmans e Green, 1877. Disponível na internet: <http://ia341333.us.archive.org/1/items/cu31924071172914/cu31924071172914.pdf> Acesso em 02 fev. 2010. [Texto de Bekker] BARNES, J. Filósofos pré-socráticos. São Paulo: Martins Fontes, 1997. BITROS, G.C.; KARAYIANNIS, A.D. The liberating power of entrepreneurship in ancient Athens, EconWPA - Method and Hist of Econ Thought, 2004. BITROS, G.C.; KARAYIANNIS, A.D. Values and institutions as determinants of entrepreneurship in ancient Athens. Journal of institutional economics, vol. 4, no. 2, p. 205–230, 2008. BOAVA, D.L.T.; MACEDO, F.M.F. Tales, o empreendedor. Ouro Preto: EDUFOP, 2009a. BOAVA, D.LT. Estudo sobre a dimensão ontológica do empreendedorismo. Londrina, 2006. Dissertação (Mestrado), UEL. BOAVA, D.LT.; MACEDO, F.M.F. Constituição ontoteleológica do empreendedorismo. In: XXXI Encontro anual da ANPAD, 31, 2007, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2007. BOAVA, D.LT.; MACEDO, F.M.F. Esboço para uma teoria tridimensional do empreendedorismo. In: XXXIII Encontro anual da ANPAD, 33, 2009, São Paulo. Anais... São Paulo: ANPAD, 2009b. BOAVA, D.LT.; MACEDO, F.M.F. Estudo sobre a essência do empreendedorismo. In: XXX Encontro anual da ANPAD, 30, 2006, Salvador. Anais... Salvador: ANPAD, 2006. BORNHEIM, G. A. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 1999. BROWN, C.R. Economic theories of the entrepreneur: a systematic review of the literature. Cranfield, 2007, Dissertação (Mestrado), Cranfield University. CARDOW, A. The metaphorical rise of entrepreneurship. Working paper series no. 8). Auckland: Massey University, 2006. GALLOWAY, L; WILSON, L. The use and abuse of the ‘entrepreneur’. Edinburgh: Heriot-Watt University, 2003. GUERREIRO RAMOS, A. A nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1981. GUERREIRO RAMOS, A. A redução sociológica: introdução ao estudo da razão sociológica. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1965. GUERREIRO RAMOS, A. Administração e contexto brasileiro: esboço de uma teoria geral da administração. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1983. GUERREIRO RAMOS, A. Administração e estratégia do desenvolvimento: elementos de uma sociologia especial da administração. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1966. GUERREIRO RAMOS, A. Mito e verdade da revolução brasileira. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1963. GUERREIRO RAMOS, A. Modelos de homem e teoria administrativa. Revista de administração pública, vol. 18, no. 2, p. 3-12, 1984. HUSSERL, E. Idéias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica: introdução geral à fenomenologia pura. Aparecida: Idéias & Letras, 2006. JACKSON, W.T.; GAULDEN, C.; GASTER, W. Who it is and what it does: Finding the “heffa-preneur.” Academy of entrepreneur journal, vol. 7, no. 2, p. 17-29, 2001.

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