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ÁREAS CONTAMINADAS E A GESTÃO DO PASSIVO AMBIENTAL: ESTUDO DE CASO SHELL PAULÍNIA
Daniela Gerdenits 1 ; Raquel Carnivalle Silva 2 ; Ricardo Penteado Ferreira 3 ; Wilson
Roberto Leme de Godoy 4
1 Mestranda em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente. Centro Universitário
Senac. Av. Eng. Eusébio Stevaux, 823. 04696-000 São Paulo – SP – Brasil.
[email protected] 2, 3, 4 Mestrandos em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente. Centro
Universitário Senac.
RESUMO A indústria química é o ramo que mais cresce entre as empresas, pelo uso de seus
produtos e processos tanto internamente como para servir outros setores econômicos. A
geração de resíduos torna-se uma consequência inevitável, contribuindo para o
surgimento das áreas contaminadas. O acidente químico da Shell na cidade de Paulínia
(SP), confirmado em 2001 por diferentes relatórios, caracteriza-se por uma contaminação
crônica, que por suas características não possibilita um diagnóstico final às áreas e aos
seres vivos contaminados. Por envolver substâncias poluentes persistentes (Drins), nota-
se que a “herança” permanece. Pessoas foram retiradas de suas residências, adoecem e
morrem por causa da contaminação e até hoje sofrem, reivindicando por seus direitos
ainda ignorados. A situação serviu de alerta, mas não implicou mudança geral de
comportamento de grandes empresas, pois outras contaminações ainda ocorrem. São
consequências de descaso ao país e desrespeito às suas leis, por mais frágeis que estas
sejam.
Palavras-chave: áreas contaminadas; acidentes crônicos; Shell Paulínia; risco
socioambiental.
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O tema brownfields, surgido há algumas décadas, tem ganhado cada vez mais
destaque quando nos referimos a áreas contaminadas, tendo sido inicialmente conhecido
apenas nos Estados Unidos. De fato, o nome brownfields contraria o nome greenfields,
pois o objetivo desses nomes era o de distinguir campos marrons/escuros dos campos
verdes. É importante mencionarmos que a definição de brownfields é encontrada na lei
pública norte-americana 107-118 (H.R. 2869), intitulada “Small Business Liability Relief
and Brownfields Revitalization Act”, assinada em 11 de janeiro de 2002 (VASQUES,
2006).
Percebe-se a importância de aprofundarmos estudos no Brasil sobre brownfields
de forma que sejam discutidas formas de redesenvolvimento dessas áreas contaminadas.
Com base nesses estudos serão traçadas estratégias de planejamento, ferramentas de
gestão, políticas públicas e também da iniciativa privada com o forte propósito de criar
uma visão integrada sobre a reconversão dessas áreas (SÁNCHEZ, 2001).
Quando pensamos no território nacional, é possível imaginarmos a necessidade
de estudos aprofundados que demonstrem as quantidades, abrangência e locais de
brownfields, pois, para os estados e municípios existe uma estrutura que pode e deve ser
aproveitada no sentido de favorecer o redesenvolvimento dessas áreas esquecidas,
abandonadas ou mal cuidadas no passado. Não podemos deixar de enfatizar que muitas
áreas no mundo e no Brasil sofreram reconversões positivas, revitalizando plenamente
áreas anteriormente descartadas da mira dos governantes (SÁNCHEZ, 2001).
Historicamente, a produção e a utilização de substâncias químicas tiveram grande
elevação após a Segunda Guerra Mundial, com o aumento da industrialização e o
emprego de tecnologias geralmente mais eficientes e desenvolvidas em países mais
evoluídos. Os efeitos de tais substâncias ainda não são totalmente conhecidos; apesar
disso, são largamente comercializados em todos os cantos do mundo globalizado
(FREITAS et al., 1995).
Os acidentes químicos ampliados possuem várias definições, mas de modo
abrangente incluem eventos agudos e graves envolvendo substâncias perigosas que
podem prejudicar o meio biótico e abiótico (DEMAJOROVIC, 2003).
Vale destacar que o presente artigo não trata de um acidente químico ampliado,
propriamente dito, já que o caso difere em suas principais características, mas pode ser
classificado como acidente químico crônico, em razão de sua ocorrência branda, mas
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cumulativa ao longo de décadas, e dos seus efeitos degradantes, que em muito se
assemelham aos acidentes químicos ampliados.
Até 1985, no discurso das empresas predominava a resistência a qualquer
iniciativa de abrandar impactos socioambientais decorrentes dos processos produtivos.
Simplesmente os empresários alegavam que controlar a poluição prejudicaria lucros,
competitividade e empregos, e ainda traria custos adicionais para acionistas e
consumidores. A partir de 1985 os discursos que não contemplavam questões ambientais
perderam força, e essa temática veio à tona para não mais desaparecer.
Grandes empresas, em especial do ramo químico, entraram no alvo de
ambientalistas. Tragédias com vazamentos radioativos, contaminações, explosões,
liberações agressivas na atmosfera, entre outras, aconteceram com diversas frequências
e abrangências. O certo é que milhares de vidas foram levadas, gerando preocupação em
escala mundial.
O objetivo deste artigo é o de realizar uma análise sobre o problema das áreas
contaminadas baseando-se no estudo de caso Shell Paulínia. Para tanto, um
levantamento bibliográfico foi feito através de livros, relatórios técnicos, artigos, manuais e
sites eletrônicos específicos, a fim de enriquecer o conteúdo do trabalho.
A INDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL
No Brasil a industrialização seguiu o mesmo modelo aplicado em outros países
considerados como periféricos à economia mundial. A partir da década de 1950 e
intensificando-se na década de 1970, verificou-se a formação dos centros metropolitanos
e das grandes cidades, o que deixou marcas conhecidas como problemas ambientais
urbanos, com destaque para a questão da “disposição dos resíduos industriais, da
desativação industrial e da ocorrência de áreas degradadas e/ou contaminadas”
(GÜNTHER, 2006, p.107).
De modo semelhante ao que se viu no México e na Índia, houve no Brasil entre as
décadas de 1960 e 1980 uma rápida e desordenada industrialização e um intenso e
incontrolado processo de urbanização, acompanhado de grande fluxo migratório do
campo e das regiões pobres para os grandes centros urbanos (FREITAS et al., 1995).
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Geralmente a força de trabalho aglomerava-se no espaço adjacente à fábrica,
onde o ambiente doméstico era a extensão natural do ambiente de trabalho. Com isso, os
trabalhadores se expunham duplamente aos poluentes, no ambiente de trabalho e após a
jornada laboral, continuando expostos às emissões industriais em suas moradias
(GÜNTHER, 2006).
1. A expansão da indústria química e o processo de contaminação
O crescimento das atividades de produção, armazenamento e transporte de
substâncias químicas em nível global provocou um aumento no número de seres
humanos expostos aos seus riscos – trabalhadores e comunidades. Paralelamente,
observou-se aumento na frequência e gravidade dos acidentes químicos nessas
atividades (FREITAS et al., 1995).
A história demonstra que à medida que os acidentes no passado aconteceram nos
países desenvolvidos, por conta de seus parques industriais serem em maior número e de
maior capacidade tecnológica de produção, a sociedade local se mobilizou para impedir
que eles tornassem a se repetir, e, caso ocorressem, tivessem efeitos muito menores que
os anteriores. Essa mobilização se deu por meio de instrumentos jurídicos punitivos e
severos, incluindo prêmios de seguros incrivelmente majorados, políticas de preservação
ambiental mais consistente, ações de controle governamental regulando o uso, produção,
transporte e armazenamento de produtos químicos, e ainda, a atuação forte de sindicatos
e participação efetiva da população adjacente aos empreendimentos industriais e rotas de
distribuição (CASTLEMAN, 1996).
Além dos passivos ambientais produzidos pelas indústrias que se destacam pela
quantidade de operações, volume e diversidade de substâncias químicas envolvidas em
seus processos produtivos, há varias fontes de poluição que podem dar origem a áreas
degradadas ou contaminadas, como no caso de “sistemas de tratamento e disposição de
efluentes líquidos e de resíduos sólidos; lançamento e infiltração no solo de esgotos
sanitários e efluentes industriais; emissões gasosas de compostos poluentes que são
trazidos ao solo pelo vento ou pela chuva; aplicação indevida de agrotóxicos; acidentes
no transporte de cargas perigosas; armazenamento e distribuição de substâncias
químicas, com destaque para a comercialização de combustíveis; vazamento de tanques
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e tubulações; abandono de embalagens contendo produtos químicos ou resíduos
perigosos; e depósitos de rejeitos radiativos (GÜNTHER, 2006).
Segundo Rodrigues Jr. (2003), a descoberta da problemática das áreas
contaminadas e a influência da sociedade levaram os países a desenvolverem diferentes
abordagens que resultaram na elaboração de políticas na tentativa de equacionar os
problemas relacionados às áreas contaminadas, através de instrumentos de intervenção.
Assim, a maior parte das políticas e instrumentos relacionados ao gerenciamento de
áreas contaminadas é de caráter predominantemente corretivo, ainda que pudessem
envolver também instrumentos de caráter preventivo.
Conforme propõe Sánchez (2001), podemos classificar as estratégias ou políticas
adotadas como resposta às áreas contaminadas da seguinte maneira:
1. Negligência – Não fazer nada, esperar que o problema se manifeste ou não seja
descoberto;
2. Reativa – Ação desarticulada e resposta caso a caso;
3. Corretiva – Adoção, de forma planejada e sistemática, de medidas visando
remediar um problema, após identificação e diagnóstico, e, ainda, estudo e
eventual recuperação quando há mudança no uso do solo;
4. Preventiva – Planejar o fechamento de empreendimentos em atividade que
possam causar contaminação do solo e adoção de instrumentos que garantam a
desativação adequada (por exemplo, garantias financeiras);
5. Proativa – Planejamento e gestão ambiental de todas as etapas do ciclo de vida
de um empreendimento.
De acordo com Silva (2007), de todas estas iniciativas, as pró-ativas são as mais
bem alinhadas com o interesse atual de preservação dos recursos naturais e têm como
finalidade evitar o acúmulo de passivos ambientais por conta do empreendimento
industrial, minimizando os impactos ambientais ao longo da vida de uma instalação
industrial. Sánchez (2001) ressalta que esta nova abordagem “pressupõe uma visão
radicalmente nova de um empreendimento industrial, que passa a ser encarado como
uma forma temporária de uso do solo, que pode ser reversível e dar lugar a novos usos
depois de encerrada a atividade”. Assim, ao planejar uma instalação industrial inclui-se o
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planejamento de seu eventual fechamento, como parte do ciclo de vida, de forma que as
medidas empreendidas tornam-se mais amplas que as ações preventivas.
Obviamente, observa-se hoje um processo em constante evolução no que tange à
gestão de áreas contaminadas, sobretudo por parte dos países mais avançados no
tratamento desse tema. Verifica-se a adoção de posturas negligentes e reativas no início,
passando pelas fases corretivas e preventivas, em especial em segmentos industriais de
alto potencial de contaminação do solo. Ainda assim resta a efetivação de iniciativas pró-
ativas, imprescindíveis aos dias atuais (SILVA, 2007).
2. A migração dos riscos ambientais e os duplos padrões
Uma vez que as empresas sentiram o peso das políticas de controle ao mesmo
tempo em que aumentou a demanda pelos produtos químicos no mercado mundial,
observou-se o fenômeno da transferência dos riscos industriais de países desenvolvidos
para os que ainda estão em desenvolvimento e coincidentemente desprovidos de políticas
de proteção ambiental e à saúde do trabalhador. Movimento motivado sobretudo por
interesses econômicos das empresas multinacionais nos recursos e facilidades dos
países subdesenvolvidos onde elas abrem suas subsidiárias (CASTLEMAN, 1996).
Segundo Castleman (1996, p.48), “a combinação de informações, regulamentos e
indenizações elevaram os custos do uso de substâncias tóxicas em certos países. Em
alguns casos, as empresas transferiram plantas inteiras e exportaram os produtos
banidos para os países em desenvolvimento”.
Num segundo instante pode-se dizer que com essa prática elas estavam
transferindo até mesmo os passivos ambientais oriundos dos processos de fabricação
proibidos em seus países de origem.
Outro ponto importante verificado nos movimentos das indústrias químicas
multinacionais em direção aos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento é a
prática do duplo padrão, pelo qual a mesma empresa aplica recursos e padrões diferentes
dos encontrados em suas matrizes, quase sempre com a estratégia de aumentar os
lucros cortando certos custos relativos à manutenção preventiva e à proteção ambiental e
do trabalhador. O caso da Union Carbide em Bophal demonstrou que havia vários duplos
padrões concernentes ao projeto e à operação da planta, às auditorias de segurança, ao
treinamento dos trabalhadores, às equipes de trabalhos de risco, à manutenção da planta
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e à atribuição de responsabilidade à gerência quando comparada com uma planta
semelhante da mesma empresa nos Estados Unidos (CASTLEMAN, 1996). Uma vez que
os padrões locais eram praticamente inexistentes, a empresa sempre buscou eximir-se de
maiores responsabilidades com base no atendimento às normas e leis indianas.
3. A problemática das áreas contaminadas
Segundo Sánchez (2001), os quatro principais problemas decorrentes de áreas
contaminadas são: risco à saúde humana e aos ecossistemas, risco à segurança dos
indivíduos e da propriedade, redução do valor imobiliário da propriedade e restrições ao
desenvolvimento urbano. Ainda há a possibilidade de contaminação dos recursos
hídricos, especialmente águas subterrâneas utilizadas para abastecimento público.
O Brasil ainda não possui uma legislação federal específica sobre o
gerenciamento das áreas contaminadas, apesar de sua vasta legislação ambiental. De
forma semelhante, os estados brasileiros também não dispõem de artifícios legais para
tratar especificamente da temática em questão. Apesar disso, algumas leis apresentam
instrumentos capazes de auxiliar no processo de gerenciamento de sítios contaminados.
Entre eles, podemos citar: a obrigatoriedade da recuperação de áreas degradadas – uma
vez que estas também incluem o caso das áreas contaminadas – imposta aos poluidores
identificados, conforme a Lei nº 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente); a
aplicação de sanções penais e administrativas para os que contaminam o solo (atividade
lesiva ao meio ambiente) que tem respaldo na Lei nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais);
a Ação Civil Pública, que é disciplinada pela Lei nº 7.347/85, e que pode ser utilizada
como um mecanismo de responsabilização pelo Ministério Público, caso se comprove a
responsabilidade pela poluição no solo e na água subterrânea (SILVA, 2007).
A única exceção fica por conta do estado de São Paulo, que além de possuir um
sistema de cadastro para áreas contaminadas, é o único estado brasileiro, como lembra
Rodrigues Jr. (2003), onde existem metodologias de identificação, de avaliação, de
monitoramento, de projeto e execução de sistemas de remediação e, ainda, de critérios
para tomada de decisão quanto ao nível de contaminação ou de risco aos bens a
proteger.
Segundo Günther (2006), o Brasil ainda carece de uma política específica para a
questão das áreas contaminadas, e a política nacional de resíduos sólidos, que se espera
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venha contemplar os aspectos da superposição entre essas duas políticas, permanece
sem definição.
Na Figura 1 são apresentados, de maneira esquemática, os procedimentos a serem
adotados para o gerenciamento de áreas contaminadas na Alemanha. Tanto as obrigações
como a abordagem metodológica para combater e reparar o problema são definidas na Lei
Federal de Proteção do Solo e na Portaria sobre Proteção do Solo e Áreas Contaminadas.
Conforme esses dispositivos legais, a investigação deve ser feita em etapas, de forma a
garantir uma avaliação com boa relação custo-benefício e que permita a comparação entre as
áreas.
Figura 1 – Fluxograma de Gestão de Áreas Contaminadas na Alemanha (GTZ, 1998).
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Fica evidente que uma atuação efetiva neste assunto requer uma integração em
nível político, jurídico e institucional. Um mecanismo que compreende essas três esferas
para uma atuação institucional eficaz e eficiente, conforme o manual da Cetesb/GTZ
(2001, p.14) é o Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC), podendo ser definido
como: “Atuação interdisciplinar, interinstitucional e integral dos órgãos competentes no
trato do problema ambiental gerado pelas áreas contaminadas, inclusive dos
procedimentos institucionais e técnicos, o quadro normativo-legal e o sistema financeiro”.
Desta forma, Cetesb/GTZ (2001) definiu dois processos que constituem a base do
gerenciamento de Áreas Contaminadas (AC), denominados processo de identificação e
processo de recuperação.
O processo de identificação de áreas contaminadas tem como objetivo principal
a localização das áreas contaminadas, sendo constituído por quatro etapas:
definição da região de interesse;
identificação de áreas potencialmente contaminadas;
avaliação preliminar;
investigação confirmatória.
O processo de recuperação de áreas contaminadas tem como objetivo principal
a adoção de medidas corretivas nessas áreas que possibilitem recuperá-las para um uso
compatível com as metas estabelecidas a serem atingidas após a intervenção, adotando-
se dessa forma o princípio da “aptidão para o uso”. Esse processo é constituído por seis
etapas:
1. Investigação detalhada;
2. Avaliação de risco;
3. Investigação para remediação;
4. Projeto de remediação;
5. Remediação;
6. Monitoramento.
Para o gerenciamento de AC faz-se necessária a atribuição de controlar os
problemas ambientais na região de interesse a um órgão federal, estadual, municipal ou
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até mesmo privado com credibilidade reconhecida. Tal órgão deve ser capaz de gerenciar
o processo de identificação de áreas contaminadas e realizar a fiscalização nas etapas de
recuperação, que caberá, normalmente, ao responsável pela contaminação, de acordo
com o princípio do “poluidor-pagador”. Esse princípio estabelece que o poluidor deve
pagar pelo dano ambiental ocorrido, e ainda arcar com a compensação de tal dano
(SILVA, 2007).
No estado de São Paulo o gerenciamento das AC é realizado pela Cetesb, e, de
acordo com os dados (Figura 2) por ela disponibilizados, a identificação de novas áreas
contaminadas no estado de São Paulo é muito maior que a adoção e conclusão de
soluções de remediação.
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Figura 2 – Evolução da classificação das áreas contaminadas
Fonte: Cetesb, 2007.
Um dos casos que integram essa estatística é o do Bairro Recanto dos Pássaros e
as antigas instalações da Shell em Paulínia (SP), o qual será mais bem abordado neste
artigo e ainda carece de uma solução de gerenciamento integrado depois de tantos anos
da sua identificação e reconhecimento.
PRINCIPAIS CONTAMINANTES E A TOXICIDADE PARA A SAÚDE HUMANA
Independentemente dos demais contaminantes, os contaminantes ambientais de
maior preocupação no caso Shell Paulínia são os DRINS (Aldrin, Dieldrin e Endrin). O
aldrin, o dieldrin e o endrin são inseticidas organoclorados sintéticos que foram
intensamente utilizados a partir da década de 1970 até o final de 1987, quando o uso foi
restrito ao controle de cupins e, então, banido por muitos países em razão da persistência
desses inseticidas (UMBUZEIRO et al., 2008).
O aldrin, no meio ambiente, é rapidamente epoxilado e convertido em dieldrin, que,
em virtude de suas propriedades físico-químicas, apresenta características de
bioacumulação e biomagnificação no ambiente. Uma vez absorvidos, tanto o aldrin quanto
o dieldrin são rapidamente distribuídos por todo o organismo, concentrando-se
principalmente no tecido adiposo. No organismo, o aldrin também é convertido em
dieldrin, sendo sua conversão, distribuição e deposição no tecido adiposo mais rápidas do
que a biotransformação e excreção deste último, seja em estado inalterado seja sob a
forma de seus produtos de transformação. O endrin, no entanto, diferentemente do
dieldrin, se acumula pouco nos tecidos adiposos quando comparado a outros compostos
de estruturas químicas similares, sendo biotransformado (UMBUZEIRO et al., 2008).
A exposição crônica a esses compostos produz, entre outros sinais e sintomas,
hiperexcitabilidade, tremores e convulsões. Tais efeitos adversos do aldrin e do dieldrin
estão relacionados a níveis sanguíneos de dieldrin acima de 105 μg/L, o que corresponde
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a uma ingestão diária de 0,02 mg de dieldrin/kg de peso corporal por dia. Neste ponto, a
Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC) classifica os DRINS no Grupo 3
– classe das substâncias não-carcinogênicas para seres humanos em razão da limitada
de carcinogenicidade animal e evidências inadequadas de carcinogenicidade humana.
Todavia, a Agência de Proteção Ambiental Norte-Americana (USEPA), em 1974, assumiu
que qualquer composto capaz de promover tumores em animais era um carcinógeno
potencial para o homem, e classificou o aldrin e o dieldrin como carcinógenos, baseando-
se em estudos com camundongos, os quais desenvolveram tumores hepáticos em cada
linhagem testada, porém classificou o endrin no Grupo D – não-classificável como
carcinógeno para o homem (UMBUZEIRO et al., 2008).
Essas constatações demonstram a gravidade da contaminação ambiental
ocasionada pela Shell em Paulínia, porém, nota-se que a conduta adotada na gestão
dessa empresa no Brasil não é a mesma adotada ao redor do mundo.
O CASO SHELL PAULÍNIA
Em 1974, a empresa SHELL DO BRASIL S.A., adquiriu um terreno com área de
78,99 hectares no bairro Recanto dos Pássaros, município de Paulínia, a 126 km da
capital do estado de São Paulo, Brasil, para a instalação de uma indústria de defensivos
agrícolas (AMBIOS, 2005). Em 1975, a Shell iniciou a construção da planta industrial para
a fabricação dos agrotóxicos, incluindo a produção de Endrin e Aldrin e o processamento
de Dieldrin, três agrotóxicos organoclorados (GREENPEACE, 2001).
As instalações da empresa consistiam em 26 edificações que ocupavam
aproximadamente 14 hectares, e os limites das instalações seguiam o contorno do rio
Atibaia a norte, sul e oeste. O restante do terreno permaneceu sem desenvolvimento. A
fábrica iniciou suas atividades no ano de 1977, com 191 funcionários. Às margens do rio
existia uma área residencial (Condomínio Recanto dos Pássaros), composta por
chácaras, que após as denúncias de contaminação foram desocupadas e as casas
demolidas. O entorno abrigava diversas outras indústrias, entre elas ICI, Tagma, Rhone
Poulenc, DuPont, Dow e a Replan (AMBIOS, 2005).
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A produção anual estimada em 1977 pela SHELL DO BRASIL S.A. apresenta-se
na Tabela 1, o que demonstra que essa empresa já produzia tais substâncias, antes
mesmo da liberação pela Cetesb, ocorrida em 1978.
Tabela 1 – Produção anual estimada pela Shell, no ano de 1977
Fonte: Ambios, 2005.
O desconhecimento de possíveis fatores negativos ligados à saúde tanto por parte
da Shell quanto da sociedade local e a esperança ilusória de amenizar o problema de
desemprego levou a Shell ao disfarce dos reais acontecimentos ambientais e de saúde
ocorridos na cidade de Paulínia.
A Shell, em 4 de julho de 1978, recebeu da Cetesb (Companhia de Tecnologia de
Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo) a Licença de Funcionamento.
Aproximadamente seis meses após a liberação da Licença de Operação, a Cetesb
começou a receber as primeiras reclamações sobre emissões atmosféricas com forte
odor tóxico (AMBIOS, 2005).
Em junho de 1979, a própria Cetesb constatou em vistoria que a empresa emitia
poluentes na atmosfera provenientes da incineração, em forno desprovido de sistema de
exaustão e filtragem ou equipamento de controle de poluentes, e também de baldes com
defeitos e tambores com resíduos organoclorados. Além disso, no relatório de inspeção
foi citado como fonte de poluição outro incinerador que era utilizado na incineração de
Produto
Quantidade
(Toneladas/an
o)
Produto Quantidade
(Toneladas/an
o)
Aldrin 11.888 Gardona 1.060
Azodrin 2.140 Malation 95
Azodrin EC e WSC 5.210 Metilparation 1.090
Azodrin-Bedrin WSC 250 Nemagon 170
Bedrin WSC 270 Phosdrin EC 95
Bidrin 390 Toxafeno 3.100
Carbaril 4.350 Triona 2.150
Endrin 11.330 Vapona 20
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resíduos de pesticidas organoclorados. Em decorrência dessas irregularidades, a Shell
recebeu um Auto de Infração da Cetesb (AMBIOS, 2005).
Em fevereiro de 1980, a empresa recebeu Auto de Infração por emitir fumaça com
densidade colorimétrica acima do padrão estabelecido, e, entre 1981 e 1999, foram
constantes as reclamações à Cetesb da população residente no entorno da Shell,
sobretudo no período noturno e nos finais de semana, referentes às emissões
atmosféricas dos incinerados e odores provenientes da produção (AMBIOS, 2005).
Em 1989 a Shell solicitou à Cetesb licença de implantação de um aterro industrial.
Nesse mesmo ano a licença foi concedida, no entanto a liberação para o uso do aterro só
ocorreu em 1992. Em julho desse ano, a Cetesb foi favorável à ampliação das instalações
da Shell para produção de borracha termoplástica, com uma produção estimada de 1.700
ton/mês (AMBIOS, 2005).
Na mesma década, a empresa recebeu novo Auto de Infração da Cetesb em razão
do lançamento de efluentes no rio Atibaia, provenientes do setor de produção de
organofosforados, em desacordo com a legislação vigente (Resolução Conama 20). Em
relatório de Auditoria Ambiental, datado de março de 1995, a Shell confirmou o
comprometimento do aquífero pela infiltração de águas do processo industrial na Unidade
Opala. Relatou, ainda, que a contaminação foi causada por sucessivos vazamentos
ocorridos no tanque subterrâneo de coleta de águas existente sob o prédio dessa
unidade. Inspeções realizadas em 1978 acusaram estufamento do revestimento interno
do tanque, e inspeções realizadas nos anos de 1982 e 1985 detectaram novos
estufamentos (AMBIOS, 2005).
Com relação aos dados de contaminação por DRINS (Aldrin, Dieldrin e Endrin),
estes foram apresentados através de relatório técnico elaborado pela empresa Ceimic em
2001 e reafirmados por mais dois relatórios técnicos, um elaborado pelo Instituto Adolfo
Lutz em 2001 e outro pela empresa holandesa de consultoria ambiental Haskoning/Iwaco,
no mesmo ano, todos contratados pela Shell. O último relatório analisou solo e água
subterrânea em nove pontos localizados nas chácaras vizinhas à área da indústria. Os
índices de contaminação por Dieldrin chegaram a 17 ppb (partes por bilhão) no solo e
0,47 ppb na água (GREENPEACE, 2001).
Os números ultrapassaram os limites internacionais, e o índice de contaminação
da água foi maior que o permitido na legislação brasileira (Portaria 1469/2000 – Ministério
da Saúde – Valor Máximo Permitido: 0,03 ppb). As análises realizadas anteriormente
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eram restritas apenas às águas subterrâneas. Dados emitidos pela Cetesb corroboram os
dados de contaminação apresentados pela Shell (GREENPEACE, 2001). As reclamações
de moradores continuaram até chegar a condições insustentáveis.
A área residencial foi interditada pelo Poder Público municipal em 2002 (decreto
municipal, em resposta à análise da vigilância sanitária do município de Paulínia).
Entretanto, nesse contexto, deve-se assinalar que os moradores das chácaras evacuaram
o local e tiveram assegurado pela prefeitura um acompanhamento de sua saúde, o que
difere bastante da situação dos trabalhadores e ex-trabalhadores, que até o momento não
têm uma avaliação e um acompanhamento de saúde adequado (AMBIOS, 2005).
No Relatório Final da empresa Ambios (2005), concluiu-se que com relação à
saúde dos trabalhadores não havia, até então, a possibilidade de estabelecer associação
entre os achados dos problemas expressos ou potenciais de saúde dos trabalhadores
com a exposição ocupacional; evidências sugestivas indicavam, todavia, a necessidade
de maiores investigações.
Já em relação aos moradores, a Secretaria de Saúde de Paulínia (2003) salienta
que, dentre os 181 moradores avaliados 66,3% – ou seja, 120 pessoas – apresentaram
algum tipo de intoxicação crônica por organoclorados e/ou metais pesados; 24% – ou
seja, 44 pessoas – estavam sob suspeita de quadro sugestivo de intoxicação crônica, a
ser averiguado com outros exames complementares, e com a observação da evolução
clínica, após afastados da fonte de exposição aos produtos tóxicos respectivos; e, 9% –
ou seja, 17 pessoas – não confirmaram diagnóstico de intoxicação crônica.
As análises foram realizadas em sangue periférico e, quando necessário, foram
feitas biópsias de tecido adiposo (gordura), principal foco de acumulação de determinados
contaminantes. Fatores como índice de massa corporal e tabagismo foram levados em
conta para a avaliação final (SECRETARIA DE SAÚDE DE PAULÍNIA, 2003).
Nesse ponto concluiu-se que outros contaminantes ambientais, além de Aldrin e
Dieldrin desse site industrial, também atingiram a população do bairro, tais como: Endrin
(metabólitos), Endosulfan, DDT (isômeros), Hexaclorobenzeno, Chumbo, Alumínio,
Arsênio etc., e que tais contaminantes afetaram com maior ou menor incidência os
moradores de diferentes grupos localizados no entorno da empresa (SECRETARIA DE
SAÚDE DE PAULÍNIA, 2003).
A Shell foi obrigada, por força do contrato de venda à Cyanamid, a assumir o
passivo existente e realizar uma autodenúncia da situação à Curadoria do Meio Ambiente
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de Paulínia, da qual resultou um termo de ajuste de conduta. No documento a empresa
reconhece a contaminação do solo e das águas subterrâneas por produtos denominados
aldrin, endrin e dieldrin, compostos por substâncias altamente cancerígenas. Ainda foram
levantadas contaminações por cromo, vanádio, zinco e óleo mineral em quantidades
significativas, mas até o presente momento não se reconhece a ocorrência de problemas
de saúde em função da contaminação ambiental (REZENDE, 2005).
A Shell sabia dos efeitos e riscos dos produtos manipulados produzidos e
estocados em função de sua longa experiência no setor, e não tomou as medidas
mínimas necessárias para evitar os danos à saúde e impactos ao meio ambiente,
permitindo constantes vazamentos e derramamentos dos mais variados produtos tóxicos
ao longo de décadas de produção.
Segundo Rezende (2005), as informações foram liberadas de forma tendenciosa e
contraditória, com caráter sigiloso, privado e indisponível até mesmo aos trabalhadores.
Usou-se propaganda ideológica para a sociedade em geral e para o interior da fábrica,
apregoando a ideia de que o agrotóxico era indispensável à produção de alimentos e
única alternativa para a fome mundial, e que não havia risco ambiental e coletivo. Os
trabalhadores desconheciam os riscos dos produtos químicos e do processo produtivo, e
as ocorrências eram constantemente camufladas para preservar a imagem da empresa a
despeito do efeito produzido contra a saúde humana e ambiental.
O processo iniciado pelo Ministério Público em 2002 e os demais que se seguiram,
concomitantemente à interdição da fábrica pelo Ministério do Trabalho, produziram
diversos efeitos como a remoção de toda a população do bairro e a interdição com
controle de visitantes por parte da prefeitura. A Shell e a Basf foram obrigadas a adquirir
as propriedades adjacentes e promover medidas de remediação na área contaminada,
sob fiscalização da Cetesb. Ainda restam duas propriedades que não foram compradas.
Os moradores do bairro estão sendo assistidos pelo SUS e pela Secretaria Municipal de
Saúde, para o acompanhamento das possíveis complicações de saúde decorrentes da
exposição crônica (REZENDE, 2005).
A justiça concedeu em 2008 uma tutela antecipada ao Ministério Público,
obrigando as empresas Shell e Basf a contratar um plano de saúde vitalício para os ex-
funcionários expostos a riscos de contaminação na unidade de fabricação de agrotóxicos,
no bairro Recanto dos Pássaros, em Paulínia. A decisão se estende para os familiares de
empregados, prestadores de serviços e trabalhadores autônomos que se ativaram no
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local. Em 2009 a justiça concedeu liminar suspendendo a tutela antecipada para uma
tentativa de acordo quanto ao plano de saúde (INFORMATIVO DA PROCURADORIA
REGIONAL DO TRABALHO, 2009).
PADRÕES DA SHELL NO MUNDO E EM PAULÍNIA
Hoje a Shell tem 95 anos de Brasil e informa através do seu presidente que em
2005 investiu 200 milhões de dólares firmando compromissos de desenvolvimento
sustentável, questões socioambientais, éticas e de segurança do trabalho. As afirmações
couberam ao presidente Vasco Dias, em 2005. O caminho do desenvolvimento
sustentável tornou a empresa uma companhia integrada de energia (SHELL, 2005).
Quando observamos a trajetória da Shell no Brasil e no mundo, notamos que ela
sempre buscou aprimorar-se na tecnologia a ser adotada nos sites, o que nem sempre
garantiu o controle de riscos, pois não conseguiu evitar vazamentos de tanques em 1978,
1982 e 1985 que tiveram enorme contribuição para a contaminação que se prolongou até
os dias de hoje (SHELL, 2005).
Analisando a estrutura de governança e de administração dos sistemas de gestão
adotados atualmente, em qualquer parte do mundo, a Shell busca adotar princípios éticos
em seus negócios aliando visão de futuro e de desenvolvimento sustentável. Na
realidade, essas anotações fazem parte do relatório de 2004/2005, porém, provavelmente
as premissas foram desprezadas no passado, pois não impediram que ocorresse essa
enorme contaminação na região do Recanto dos Pássaros em Paulínia, com a presença
de contaminantes extremamente resistentes ao longo dos anos.
Afirma o relatório que a Shell, ao longo de toda sua trajetória, sempre realizou
estudos de viabilidade, mas, no caso em questão, se o fez, fez de forma totalmente falha
e sem considerar aspectos de segurança, meio ambiente, aspectos éticos e sociais e
muito menos utilizando uma visão de desenvolvimento sustentável. Relações com a
sociedade e diálogos constantes são práticas mais recentes da Shell e que também
falharam no período inconveniente ocorrido em Paulínia.
Para se ter uma ideia da relação atual, mais próxima, que consistiu em ouvir os
seres humanos da Planta em especial, foi só em 2005 que a empresa passou a fazer
entrevistas de desligamento dando atenção plena a todo e qualquer desvio informado
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pelo ex-colaborador. Essa ferramenta é uma boa prática para melhorar as ações a serem
tomadas, mas não foi praticada durante os eventos catastróficos de Paulínia.
Fica claro o fato de que a própria Shell entende e aceita que não se utilizou das
melhores práticas nas suas instalações em Paulínia, até pelo fato de que em fevereiro de
2001 admitiu publicamente a responsabilidade pela contaminação das chácaras vizinhas
à área onde funcionou sua fábrica de agrotóxicos. Os agrotóxicos organoclorados Endrin,
Dieldrin e Aldrin foram encontrados no lençol freático sob as chácaras localizadas entre a
fábrica e o rio Atibaia, um dos principais afluentes do rio Piracicaba e que abastece de
água, entre outras, as cidades de Americana e Sumaré (SHELL, 2005).
DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
A vulnerabilidade dos moradores, trabalhadores e meio ambiente se mostrou
pungente nesse episódio do Recanto dos Pássaros, em Paulínia. Evidencia-se
claramente a sujeição da saúde humana e do meio ambiente aos interesses econômicos
e corporativos das empresas, que parecem dominar as ações dos órgãos públicos. Estes,
antes de zelarem pelos interesses da sociedade, estão mais preocupados em não
afrontar as determinações e práticas das empresas.
A não divulgação proposital de informações aos implicados sugere uma
articulação defensiva por parte da empresa, dos organismos de controle e do poder
público. A falta de informação talvez tenha sido a maior das violências praticadas contra
moradores e trabalhadores, tirando-lhes a possibilidade de defesa ou mesmo da
precaução.
As indústrias químicas necessitam pesquisa intensa, mas de modo interdisciplinar,
incluindo não apenas cientistas, mas também governos, a fim de se criarem novas
políticas públicas de produção e consumo das diversas substâncias. Tal situação constitui
desafio para diversos setores, sobretudo para a saúde pública (FREITAS, 2005).
Segundo a classificação de Sánchez (2001), podemos identificar os estágios pelos
quais o caso de Paulínia já passou:
Negligência – Por parte da Empresa, que não empenhou os recursos necessários
para controlar e reverter a contaminação desde os primeiros indícios e
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escondeu da sociedade as informações sobre os riscos envolvidos; Por
parte da Cetesb, que não cumpriu a sua missão de fiscalização e ainda
permitiu o agravamento com a emissão de novas licenças de operação; Por
parte da Vigilância Sanitária e da Secretaria Municipal do Meio Ambiente,
que só se posicionaram quando o caso ganhou notoriedade na mídia, anos
depois da autodenúncia; Por parte da Segurança Pública, que tratou com a
habitual morosidade cada um dos inquéritos instaurados;
Reativa – Numa ação desarticulada, Cetesb, Vigilância Sanitária, Segurança
Pública e Ministério Público tomaram medidas isoladas e praticamente sem
respaldo científico, o que permitiu que a contaminação perdurasse por anos
a fio;
Corretiva – Diversos estudos foram feitos, e os Termos de Ajustamento de
Conduta levam a crer que foram dados os primeiros passos para identificar,
avaliar e planejar as medidas corretivas para recuperação da área
contaminada, incluindo aí a evacuação total da área;
Já as Ações Preventivas para Planejar o Fechamento do empreendimento em
atividades que possam causar contaminação do solo e adoção de instrumentos que
garantam a desativação adequada, a sociedade continua a esperar, assim como uma
ação pró-ativa de planejamento e gestão ambiental de todas as etapas do ciclo de vida de
um empreendimento como esse.
Günther (2006) afirma que a falta de uma política específica para a questão das
áreas contaminadas e a ausência de política nacional de resíduos sólidos contribuíram
muito para a existência deste caso em Paulínia. É evidente que a Shell se utilizou dos
subterfúgios legais disponíveis para manter a produção sem, contudo, fazer investimentos
e adequações necessários para evitar a contaminação da área.
Essa ausência de políticas específicas favorece a ocorrência do duplo padrão que
também se evidenciou no caso da Shell em Paulínia, dadas as análises realizadas em
diversas épocas e os resultados obtidos em comparação com os padrões aceitáveis no
país de origem da empresa, a Holanda.
Os esforços iniciados pela Cetesb, ainda que pareçam insuficientes para tratar a
questão das áreas contaminadas conforme se apresentam atualmente no Brasil,
demonstram uma alternativa digna de maiores adesões e fortalecimento por parte do
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poder público, sociedade e empresariado em geral. Tal metodologia, se devidamente
gerida e respaldada, pode apresentar no futuro excelentes resultados, devendo ser
expandida para todos os estados da Federação, a ponto de se conseguir, por todo o país,
o que pretendem os idealizadores do Manual para Gerenciamento de Áreas
Contaminadas, citado anteriormente.
E mais ainda, que os próximos projetos sejam idealizados com base nas
experiências anteriores e com visão de ciclo completo do empreendimento de forma pró-
ativa, conforme definido por Sánchez (2001), evitando assim novas áreas contaminadas
como a do Recanto dos Pássaros em Paulínia, priorizando fundamentalmente a
prevenção.
É possível observarmos que a morosidade na tomada de ações acomete vários
países, havendo necessidade imediata e imprescindível de que ocorra equilíbrio de
atuação nas áreas contaminadas, aproveitando-se as boas práticas utilizadas em
determinadas regiões. Além disso, é preciso buscar equilíbrio técnico e aprimoramento
contínuo quanto à reconversão e à revitalização de áreas contaminadas. Percebe-se que
as pressões das populações e governantes fazem a diferença na revitalização e, portanto,
na reutilização de áreas contaminadas e abandonadas, sobretudo quando o retorno
oferece melhor qualidade de vida para as populações. É importante que o conhecimento e
a experiência nas questões de áreas contaminadas sejam uma busca permanente dos
governantes. As citações, comentários e informações têm como objetivo contribuir com o
contexto amostral das causas e consequências das áreas contaminadas, bem como são
tratadas, revitalizadas, reutilizadas e recuperadas.
REFERÊNCIAS
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