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ARMADILHAS DE UM TEMPO III
“As Ovelhas de Laguna”
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ARMADILHAS DE UM TEMPO
ARMADILHAS DE UM TEMPO III
“As Ovelhas de Laguna”
9
T.Reche
ARMADILHAS DE UM TEMPO III
“As Ovelhas de Laguna”
ARMADILHAS DE UM TEMPO III
“As Ovelhas de Laguna”
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SAGA
Nas Brasas da Inquisição
No Cárcere da Inquisição
As Ovelhas de Laguna
E eis que o Lobo era Cordeiro!
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“As Ovelhas de Laguna”
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Este livro é uma obra de Ficção, os
contos são totalmente advindos da
imaginação da autora, sendo que não
são baseados em fatos verídicos.
Portanto, qualquer semelhança com o
presente ou passado são mera
coincidência.
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“As Ovelhas de Laguna”
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Ao meu filho José Matheus Dias, amigos
e familiares. Em especial ao meu pai
José Martinho Iatarola (in memoriam).
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“Tenho-vos dito estas coisas, para que não vos
escandalizeis. Eis que os expulsarão das
sinagogas, mas vem a hora quando todo o que
vos matar pensará que, com isso, estará
prestando culto à DEUS...” João 16-1,2
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AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus familiares e amigos, que
incentivaram e acreditaram em meu sonho desde
o início. Em especial ao meu filho e ao meu pai
que jamais me deixaram desistir.
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Prefácio
O século XVI trouxe inúmeras
armadilhas, aos que amavam aos que
jamais saberiam o que era amar... Mas
naqueles dias, foram ainda mais
tenebrosos do que muitos podem
imaginar. A inquisição, diferente do que
se pensa, não foi um cenário sangrento
apenas causado pela igreja romana... A
inquisição foi um rio amargo, vindo dos
mais soberbos corações, estes eram
aplacados por almas como a de Esteban
e Catalina, que juntos, simplesmente por
se amarem tanto, mudaram o rumo
daquela época. Entretanto, os frutos
desse amor converteriam em mais e mais
sangue, contrariando o esforço por eles
exercido.
E entre dores, espadas, intrigas e fugas...
Surge um suposto “lobo”, que não
necessariamente faria o papel de
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predador em tempos em que muitas
eram as ovelhas inocentes quais viriam a
sucumbir... E cordeiros eram lobos, e
lobos eram cordeiros!
“ Armadilhas de Um Tempo “ é uma
saga composta de quatro romances
sequenciais:
I. Nas Brasas da Inquisição
II. Nos Cárceres da Inquisição
III. As Ovelhas de Laguna
IV. E eis que o Lobo era Cordeiro
Nos tempos em que a Inquisição
aterrorizava a Terra do século XVI,
houve vidas que destemidamente
clamaram por paz e justiça!
Esteban teve dois grandes amores,
Catalina e a Verdade... E quando seus
frutos vieram ter com ele, os que eram
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ovelhas se tornaram os lobos... E o lobo
eis que era o Cordeiro!
Sangue, torturas, o fogo do Santo Ofício,
intrigas e paixão, não foram o bastante
para desviar a alma do líder Huguenote e
seus sucessores. E a história que até
então era banhada de sangue inocente,
recebeu finalmente a geração que
merecia!
ARMADILHAS DE UM TEMPO - III PARTE
“As Ovelhas de Laguna”
Após a troca de “fúrias”, Esteban como que voltando de
um transe, soltava devagar os cabelos da espanhola, e ela
ainda lânguida, mantinha-se solta nos braços dele.
Silenciosos se mantinham, o rapaz não acreditava no que
havia feito confuso voltava aos poucos para a realidade, e
a pouca visão amarelada da luz fraca do fogo que
iluminava o rosto de Antoinet, demarcava que estava
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próximo á seu quarto. – Agora me diga, como, quando e
onde a encontraremos?
Ainda entorpecida e clamando em seu interior por ele,
respondeu buscando no mais intimo do seu ser alguma
porção de frieza, se é que encontraria numa situação como
aquela e naquele momento em especial. – Foi só um
beijo Esteban.
- O que?! - Exclamou inconformado com a
ousadia da moça.
- Eu preciso de você Esteban, eu te amo, será que não
entende isso?
- Me prometeu que se eu a beijasse me diria como
encontrar Catalina, cumpra sua promessa. Agora!
- Voltou á toma-la pelo braço furiosamente. E ela próxima
dele, quase a sentir sua respiração novamente, sussurrou
mais uma vez. – Me possua, e eu o levarei até ela.
- Já está possuída! É pior que o próprio diabo! -
Gritou ele afastando-a dele. – Está blefando não é
Antoinet, não sabe nada sobre Catalina, diz isso por que
sabe como estou desesperado. Não tem consideração pelo
sofrimento alheio. Como pode dizer que ama alguém?
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- Você é quem sabe Esteban, poderia ter Catalina com
você o quanto antes, mas se prefere fazer esse jogo... Faça.
Vou dormir, se mudar de ideia, estarei em minha cama,
pronta, para amá-lo. – Deixou-o ali, confuso e ainda
mais pensativo que antes.
Andava de um lado para o outro levando ora as mãos á
cabeça, ora limpando o rosto agora ensopado de um suor
de desespero e ansiedade. Precisava saber sobre Catalina,
mas não poderia ceder aquele jogo de sedução e traição de
Antoinet, parecia enlouquecer, seu cérebro fritava em sua
caixa óssea enquanto seu coração pedia pela resposta de
Catalina...
As pressas foi até o quarto, quando chegou quase á tocar a
maçaneta, sentiu como uma punhalada no peito, não
poderia fazer isso com Brício... Mas e sua amada... Como
á encontraria se a espanhola tinha a resposta!
Suas mãos trêmulas se desaproximaram da maçaneta
lentamente, e levando-as ao peito, parecia querer arrancar
sua alma por ele, e jogá-la ao vento, para quem sabe essa
ser livre de tanta dor... Agarrando as vestes dominicanas,
em uma força desumana, quase á destroçar a roupa, gritou
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terrivelmente, um grito de dor... De ódio pela chantagista,
de renúncia pela amizade fiel de Brício, e pelo desejo de
sair pelas campinas naquele momento em busca de
Catalina...
Antoinet ao ouvir o grito de Esteban fechou os ouvidos,
era doloroso demais saber que causara-lhe tanto
sofrimento, algumas lágrimas começavam a cair pelo belo
rosto dela, e deitando-se na cama escondeu-se de tudo
aquilo em meio aos lençóis brancos a espera do líder.
Esteban parecia enlouquecer de dor e confusão mental...
Mais um grito de revolta foi lançado, e
inacreditavelmente, sincronizado ao da boca recém-
chegada a este mundo... O de seu filho...
- Augusto! Chamar-se-á Augusto! - Disse a freira
portuguesa tomando o bebê ensanguentado e liso nas
mãos, enquanto a “herege” Catalina, exaurida, mantinha-
se como morta, deixada no chão...
Seu pouco e fraco sangue misturava-se á imundície
daquele cárcere, e logo notaram que ela demorava á
acordar.
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- Ela morreu? - questionou a freira friamente, enquanto
ainda sorria brincando com a criança e limpando sua
sujeira puerperal com a barra do hábito.
- Vou ver. – O carrasco jogou água no rosto da moça,
que numa resposta automática de afogamento, voltou á se
movimentar. Aos risos o carrasco prosseguiu: - Viva, a
herege está viva.
- Vou leva-lo como combinado. Se ela questionar, diga
que morreu.
- Pode deixar irmã. – A freira saiu as pressas com a
criança, e ambos deixaram Catalina ali, da forma que
estava. Uma carruagem levou a freira para Portugal, no
Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Este seria no futuro
conhecido como Universidade de Coimbra, neste mosteiro
havia um grande hospital que atendia á necessitados, e era
um dos maiores centros culturais e intelectuais de
Portugal. Lá havia uma escola para escribas, e muitos
meninos eram levados até lá, para crescerem cultivando
conhecimento e adoração á doutrina católica. Pretendia-se
induzir a nova geração á um ensino maçante acerca do
catolicismo e com isso obter futuros inquisidores e
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clérigos desde sua infância fieis, e bem instruídos
conforme o molde determinado pela igreja.
Catalina permanecia adormecida em sua fraqueza, se
viesse a sobreviver, despertaria em mais um pesadelo, o
desaparecimento de seu filho...
O dia estava próximo de raiar, encolhido, feito uma
criança assustada, o líder daquele grupo que
sorrateiramente e de forma tão singela, quase
despercebida, endireitava as veredas dos ideais reformistas
contrariando a violência gerada por Lutero, estava
desolado.
Os companheiros voltavam um a um, silenciosamente
após uma noite de culto e oração da madrugada fria,
enquanto ele, em seu aposento permanecia acordado com
os olhos ressequidos de sono, e uma olheira justa para
toda a prova que passara á poucas horas.
Os passos tão calmos dos amigos, eram por sua alma
invejados agora... Onde encontraria essa paz de volta para
si? Após o desaparecimento de sua amada, ela parecia
leva-la juntamente com ela. Ali, a força que fazia para
manter o ritmo de sua respiração, a fraqueza sequer o