arq romana em bracara augusta.uma analise das tecnicas edili.pdf
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Jorge Manuel Pinto Ribeiro
Arquitectura romana em Bracara Augusta.Uma anlise das tcnicas edilcias
Volume I - Texto
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Universidade do MinhoInstituto de Cincias Sociais
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Bolsa no mbito do CREN - POPH - Tipologia 4.1 / Formao avanada, comparticipadapelo Fundo Social Europeu e por fundos nacionais MCTIS, com referncia SFRH / BD / 27753 / 2006
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Dezembro de 2010
Tese de DoutoramentoArqueologia
Trabalho efectuado sob a orientao doProfessora Doutora Maria Manuela MartinsProfessor Doutor Ricardo Mar
Jorge Manuel Pinto Ribeiro
Arquitectura romana em Bracara Augusta.Uma anlise das tcnicas edilcias
Volume I - Texto
Universidade do MinhoInstituto de Cincias Sociais
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DECLARAO
Nome: Jorge Manuel Pinto Ribeiro
Endereo electrnico: [email protected]
Telefone: 919533272
N Bilhete de Identidade: 12073543
Ttulo da Dissertao:
Arquitectura Romana em Bracara Augusta Uma Anlise das Tcnicas Edilcias
Orientadores:
Professora Doutora Maria Manuela Dos Reis Martins
Professor Doutor Ricardo Mar
Ano de concluso: 2010
Ramo de Conhecimento do Doutoramento:
Arqueologia, rea de conhecimento de Materiais e Tecnologias
DE ACORDO COM A LEGISLAO EM VIGOR, NO PERMITIDA A REPRODUO DE
QUALQUER PARTE DESTA TESE/TRABALHO.
Universidade do Minho, ____/_____/2010
Assinatura:______________________________________
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Agradecimentos
Um trabalho de investigao desta natureza seria inexequvel sem a colaborao de um
grande nmero de pessoas. Gostvamos de agradecer a todos aqueles que, directa ou
indirectamente, contriburam para tornar esta tese possvel. A lista longa, contudo, peo
desculpa s pessoas que porventura no so nomeadas.
Gostvamos de agradecer em primeiro lugar aos nossos dois orientadores por terem
aceite dirigir esta tese e pelos conhecimentos cientficos que nos transmitiram. Professora
Manuela Martins, a quem devemos a oportunidade de trabalhar no Projecto de Salvamento de
Bracara Augusta, que esteve na origem do projecto e nos aconselhou ao longo destes quatro
anos, agradecemos a amizade, os seus conselhos, correces meticulosas e os seus numerosos
comentrios crticos, mas sempre pertinentes ao nosso trabalho. Ao Doutor Ricardo Mar que
conhecemos em Roma, agradecemos as incessantes orientaes dadas e a oportunidade de
partilhar com ele o seu extraordinrio conhecimento. O nosso muito obrigado por nos ter
recebido na sua casa em Barcelona, pelos estmulos e ensinamentos a que sempre se prontificou
e pela sua disponibilidade.
Gostaramos seguidamente de expressar a nossa gratido Dra. Isabel Silva, directora do
Museu Regional de Arqueologia D. Diogo de Sousa (MRADDS), por todas as facilidades que
sempre concedeu no acesso aos materiais, desenhos e arquivos fotogrficos daquela instituio.
Tambm gostvamos de agradecer a colaborao de todos os funcionrios do MRADDS, em
particular, Clara Lobo, pela sua disponibilidade, profissionalismo e amizade. Um obrigado
igualmente ao Manuel Santos, Felismina Vilas Boas, pela rapidez e eficcia com que atendiam
os nossos pedidos. Gostaramos ainda de destacar a contribuio de uma pessoa que j no faz
parte do nosso mundo, o Filipe Antunes, uma parte desta tese iniciou-se com base nas suas
pesquisas.
Ao Dr. Armandino Cunha, responsvel pelo Gabinete de Arqueologia da Cmara
Municipal de Braga (GACMB) agradecemos as facilidades que nos concedeu no acesso aos
materiais, arquivos fotogrficos e desenhos daquela instituio. Uma palavra tambm para os
seus colaboradores pela sua ajuda logstica e disponibilidade.
A nossa gratido estende-se tambm ao Cnego Dr. Jos Paulo Abreu, director do Museu
Pio XII, pelas facilidades que nos concedeu no acesso ao esplio arquitectnico daquela
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instituio. Gostvamos igualmente de deixar aqui um agradecimento aos seus colaboradores
pela sua disponibilidade.
Ao Cnego Dr. Pio Alves de Sousa, director do Tesouro do Museu da S de Braga,
agradecemos s facilidades que nos concedeu no estudo dos elementos arquitectnicos que
integram a coleco daquela instituio. Um obrigado igualmente aos seus colaboradores, pela
pacincia e disponibilidade.
Uma palavra de especial gratido igualmente Fundao para a Cincia e Tecnologia
(FCT) pela concesso de uma bolsa que representou um apoio fundamental para a realizao
desta tese.
Expressamos, igualmente, a nossa gratido Universidade do Minho e a Unidade de
Arqueologia (UAUM) por nos ter propiciado todas as condies para a execuo da nossa tese.
Ao Dr. Rui Morais e Dra. Manuela Delgado com quem aprendemos a gostar dos
materiais arqueolgicos, agradecemos o encorajamento constante. Ao Dr. Rui Morais, em
particular, agradecemos o entusiasmo contagioso com o qual sempre acompanhou os nossos
trabalhos. A ele tambm devemos dados que ajudaram em muito a realizao de algumas partes
desta tese, designadamente o seu estudo sobre os materiais de construo e numerosos
documentos grficos.
No queramos ainda deixar de referir os investigadores, funcionrios e colaboradores,
actuais e passados, da Unidade de Arqueologia: Dr. Jos Meireles, pelo apoio e amizade, Dra.
Maria do Carmo Ribeiro, pelos encorajamentos constantes. Um obrigado igualmente ao Dr. Lus
Fontes e ao Dr. Jos Manuel Freitas Leite, pela disponibilidade, conselhos e amizade. Um
agradecimento especial Cristina, com quem partilhamos muito mais do que trabalho e
Fernanda, pelo sua amizade e apoio constante. Merecem destaque porque estiveram presentes,
em todos os passos possveis e imaginveis. Uma palavra igualmente para o Z Nuno que
distncia continua a fazer parte da equipa. Cumpre-nos ainda agradecer ao Eurico Machado,
com quem demos os primeiros passos em arqueologia aps a concluso da licenciatura. Um
obrigado igualmente Engenheira Natlia Botica e Clara Rodrigues. Gostvamos ainda de
manifestar o nosso agradecimento aos restantes funcionrios e colaboradores da Unidade de
Arqueologia.
Ao Dr. Carlos Alves do Departamento de Cincia da Terra da Universidade do Minho
agradecemos a ajuda e orientaes preciosas dadas na anlise dos granitos de Braga e da
regio.
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Gostaramos igualmente de agradecer ao Sr. Vasco Jcome Avelar, titular da Casa do
Avelar, pela sua amabilidade e pelas facilidades que nos concedeu no estudo dos elementos
arquitectnicos pertencentes sua famlia.
A realizao deste trabalho contou com a ajuda de vrias pessoas. No tratamento da
documentao grfica trabalharam Cristina, Fernanda, a quem agradecemos as vrias plantas e
restituies cedidas, Eurico Loureiro e Paula Gis. O desenho dos capitis e bases monumentais
deve-se a Csar Figueiredo. A insero dos dados recolhidos numa base de dados em Access foi
realizada por Diana Barbosa.
Os nossos agradecimentos vo tambm para todas as pessoas que nos acompanharam
ao longo destes quatros anos e que sempre nos apoiaram. Obrigado Jlia Andrade, Andr
Machado, David Mendes, Pedro Silva, Ricardo Silva, meus amigos desde os tempos da
Licenciatura no podiam deixar de ser referidos.
Gostvamos ainda de deixar uma palavra de agradecimento aos nossos amigos, que
sempre estiveram presentes e que, de perto ou de longe, contriburam para a concretizao
deste trabalho. Sabemos quem eles so e quanto so importantes para ns, no queremos
desvalorizar a nossa amizade atravs de uma concluso que consistisse numa simples listagem
de nomes.
Um agradecimento muito especial para a Sara, que nos bastidores sempre nos apoiou,
pelo seu amor, pacincia e amizade. A nossa relao cresceu em paralelo com este trabalho, a
primeira servindo de base slida para o desenvolvimento do segundo.
Finalmente devo um agradecimento muito especial minha famlia cuja presena
constitui os pilares fundadores daquilo que sou e daquilo que fao. Aos meus pais que sempre
me apoiaram, por me terem disponibilizado aquilo que nunca tiveram e minha famlia prxima
no seio da qual sempre encontrei reconforto e possibilidades de evaso: a minha irm Manuela,
o meu cunhado Antnio e o meu sobrinho Rodrigo.
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minha me e ao meu pai,
Eles sabem porqu
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Resumo
Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma anlise das tcnicas edilcias
Pretendeu-se com este trabalho caracterizar a arquitectura romana de Bracara Augusta,
partindo de uma anlise detalhada e diacrnica dos materiais de construo e das tcnicas
construtivas que foram utilizadas. No se trata, portanto, de um estudo arquitectnico de carcter
morfolgico e funcional, mas antes de uma valorizao da arquitectura pblica e privada tendo
por base o uso das matrias-primas e materiais (pedra, argila, madeira, cimentos) e das
tecnologias usadas na execuo dos elementos verticais e horizontais das construes (muros,
colunatas, pavimentos, coberturas). Na verdade, as dezenas de escavaes realizadas em
Braga, desde 1976, forneceram um conjunto significativo de vestgios susceptveis de permitirem
caracterizar a arquitectura da cidade e, simultaneamente, verificar as particularidades dos
materiais utilizados e as tcnicas construtivas que formalizaram solues para resolver certos
problemas, como sejam, desnveis, terraos, ou coberturas em abbada. A circunstncia de
Bracara Augusta ser uma cidade romana que utilizou basicamente o granito como matria-prima,
onde at hoje no foi encontrado qualquer vestgio de opus caementicium, mesmo na construo
de edifcios pblicos de grande envergadura, como as termas ou o teatro, justifica a oportunidade
desta investigao, uma vez que ela far salientar a especificidade da construo nesta
importante cidade do NO peninsular. Assim, foi feito um estudo detalhado dos edifcios pblicos
j descobertos, que consideramos mais relevantes, como as termas e o teatro, bem como de
todos os edifcios privados susceptveis de fornecerem informaes teis relativamente edilcia
romana. Estruturas relacionadas com o abastecimento e saneamento de guas da cidade, com a
tecnologia de aquecimento dos balnerios e outros equipamentos, foram, tambm, tidos em
conta neste trabalho. O estudo das matrias-primas foi completado com uma caracterizao dos
tipos de granito usados na construo, numa perspectiva diacrnica, os quais foram
confrontados com as principais manchas daquele material permitindo identificar as provveis
zonas de extraco.
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Abstract
Roman Architecture in Bracara Augusta. An analysis of edilician techniques
The purpose of this work is to characterize the roman architecture of Bracara Augusta,
from a detailed and diacronical analysis of construction materials and constructive techniques
that have been used. Therefore its not an architectural study based on morphologic and
functional criterions, but a valuation of public and private architecture having for base the use of
raw materials and materials (stone, clay, wood, cements) and technologies applied in the
execution of constructions vertical and horizontal elements (walls, colonnade, floors, coverings)
Actually, excavations carried out in Braga, since 1976, had supplied a significant amount of
vestiges liable to allow city architecture characterization and, simultaneously, to verify the used
materials particularities and constructive techniques that had legalized solutions to clear up
certain problems, like, unlevellings, terraces, or coverings in vault. Bracara Augusta was a roman
city where construction was essencialy realized in granite, and, until today any vestige of opus
caementicium was found, even in imposing public buildings construction, as the baths or the
theater. This fact justifies the opportunity of this research, since that it will emphasize
construction specificity in this important city of north-west Iberian Peninsula. Thus, we made a
detailed study of the public buildings already discovered, that we consider more relevant, as the
baths and the theater, as well as of all private buildings susceptible to supply useful information in
relation to roman edilice. Water supply and sanitation structures, heating baths systems and other
equipment, had been, also, considered in this work. Raw materials study was completed with a
characterization of the granite types used in construction, in a diachronical perspective, which had
been compared with the main granite massifs allowing to identify the probable areas of roman
quarrying.
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Les villes portent les stigmates des passages du temps, occasionnellement les promesses dpoques futures
Marguerite Yourcenar, escritora (1903-1987)
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ndice Agradecimentos iii Resumo ix Abstract x Lista de figuras xxi Lista de quadros xxvii Abreviaturas xxix Introduo 3 PARTE I Introduo ao estudo da edilcia de Bracara Augusta 1 Introduo 9 2 A evoluo dos estudos de arquitectura e construo romanas 9 2.1 Do estudo dos monumentos ao estudo da construo romana 9 2.2 A investigao dos sistemas decorativos 18 3 O contexto de anlise: Bracara Augusta 21 3.1 A fundao da cidade 21 3.2 O desenvolvimento urbano 23 3.3 A economia da cidade 27 4. Problemtica, objectivos, fontes e metodologia 31 4.1 Arquitectura e construo em Bracara Augusta: estado das investigaes 31 4.2 Objectivos 34 4.3 As fontes 35 4.3.1 As fontes literrias e histrico-documentais 35 4.3.2 As fontes iconogrficas 38 4.3.3 As fontes cartogrficas 39 4.3.4 As fontes arqueolgicas e os monumentos conservados 42 4.4 Metodologia 44 4.4.1 Etapas do trabalho 44 4.4.2 A base arqueogrfica: as escavaes 47 4.4.2.1 ZA Termas do Alto da Cividade 47 4.4.2.2 O Edifcio Pr-Termal 49
4.4.2.3 ZA Teatro do Alto da Cividade 50 4.4.2.4 ZA As Carvalheiras 51 4.4.2.5 ZA Escola Velha da S 54 4.4.2.6 ZA ex Albergue Distrital 56 4.4.2.7 ZA R. Frei Caetano Brando, 183-185/Santo Antnio das Travessas, 20-26 57 4.4.2.8 ZA R. D. Afonso Henriques, 20-28 58 4.4.2.9 ZA Aqueduto de Gualtar 60 4.4.2.10 A muralha baixo-imperial 61 4.4.2.11 Outros stios arqueolgicos 63
a. Rua Gualdim Pais, n 28-38 63 b. Claustro do Seminrio de Santiago 64 c. Cardoso da Saudade (Antiga Fbrica) 65 d. Outros arqueosstios 66
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PARTE II - Os materiais de construo em Bracara Augusta
1 Introduo aos materiais de construo na arquitectura romana 73 1.1 Os materiais ptreos 74 1.1.1 As pedreiras (lapicidinae) 77 1.1.2 O transporte 79 1.1.3 O modo de trabalho 83
1.2 As argamassas e aglomerados com cal 84 1.2.1 A cal 85 1.2.2 As argamassas 86 1.3 Os materiais latercios 88 1.3.1 O processo de fabrico 88 1.3.2 Tipos de elementos 90 1.4 A madeira 91 1.5 Os materiais metlicos 94 1.6 O vidro 95 2 Os materiais utilizados em Bracara Augusta 97 2.1. Os materiais ptreos 97 2.1.1 Materiais ptreos locais 97 2.1.1.1 Tipos de granitos identificados 98 2.1.1.2 As pedreiras (lapicidinae) que abasteceram Bracara Augusta 99 2.1.1.3 O transporte 101 2.1.1.4 O modo de trabalho 103 2.1.1.5 Exemplos de uso de materiais ptreos locais 105 2.1.1.5.1 Edificios Pblicos 105 2.1.1.5.2 Edificios Privados 107 2.1.1.5.3 Os elementos arquitectnicos 108 2.1.2 Materiais ptreos importados 110 2.1.2.1 Exemplos de uso de materiais ptreos importados 110 2.1.2.2 O transporte 111 2.2 Argamassas e aglomerados com cal em Braga 112 2.2.1 Argamassas para alvenaria e preparao de solos 113 2.2.2 Opus signinum 114 2.2.3 Argamassas de revestimento 115 2.3 A terra 116
2.4 Os materiais latercios 117
2.4.1 O processo de fabrico 117 2.4.2 Os tipos de elementos 119 2.4.2.1 Elementos quadrangulares 119 2.4.2.2 Elementos rectangulares 121
2.4.2.3 Elementos circulares, em quarto de crculo e triangulares 122 2.4.2.4 Os tijolos em aduela 123 2.4.2.5 Os tubuli 126 2.4.2.6 As telhas 127 2.4.2.7 Os canos e canalizaes 129
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2.4.3 Marcas nominais e sinais 130 2.5 A madeira 133
2.6 Os materiais metlicos 134 2.6.1 As oficinas 135 2.6.2 Os materiais 136 2.7 O vidro 138 2.7.1 As oficinas 138 2.7.2 Os materiais 139 PARTE III - As fundaes e substrues
1 Introduo s fundaes e substrues no mundo romano 147 1.1 As fundaes 148 1.1.1 A profundidade das fundaes 149 1.1.2 As tcnicas de construo 150 1.1.3 A classificao das fundaes 152 1.2 As fundaes em terreno plano 153 1.3 Fundaes em terrenos em declive ou com pendente (muros de conteno e
substrues) 155 2 As fundaes dos edifcios de Bracara Augusta 158 2.1 Edifcios com fundaes em terreno plano 159 2.1.1 Fundao linear simples (contnua) alicerada numa vala (A1) 159 2.1.1.1 Domus das Carvalheiras 160 2.1.1.2 Domus do ex Albergue Distrital 161 2.1.1.3 Domus da Escola Velha da S 162 2.1.1.4 Domus das Ruas Frei Caetano Brando/ Santo Antnio das Travessas 162 2.1.1.5 Domus do Seminrio de Santiago 163 2.1.1.6 Edifcio pr-termal 164 2.1.1.7 As termas pblicas do Alto da Cividade 164 2.1.1.8 O teatro 165 2.1.1.9 Edifcio pblico da rua D. Afonso Henriques ns 20-28 166 2.1.2 As fundaes descontnuas (A3) 169 2.1.2.1 Fundaes descontnuas de prticos exteriores 170 2.1.2.2 Fundaes descontnuas de prticos interiores 175 2.1.3 As fundaes lineares de edifcios termais com cobertura abobadada (A4) 177 2.1.3.1 As termas do Alto da Cividade 179 2.1.3.2 O balnerio das Carvalheiras 182 2.1.3.3 O balnerio da rua D. Afonso Henriques, 42-56 183 2.1.3.4 O balneum da Escola Velha da S 184 2.1.3.5 Outros balnea 184 2.2 Edifcios com fundaes em declive ou pendente (muros de conteno) 186 2.2.1 Os grandes muros de conteno que criam plataformas (B1) 187 2.2.1.1 Domus das Carvalheiras 187 2.2.1.2 O edifcio Pr-Termal 188 2.2.2 Os muros de conteno que no definem plataformas (B2) 189 2.2.3 Substruturas complexas (criptoprticos) (B3) 190
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PARTE IV - Os elementos verticais: alados dos muros e decorao arquitectnica 1 Introduo aos alados dos muros romanos 197 2 Os muros de Bracara Augusta 199 2.1 Alvenaria irregular 199 2.1.1 Os materiais 203 2.1.2 O aparelho 203 2.1.3 A aplicao em obra 203 2.1.4 Muros de alvenaria irregular 204 2.2 Alvenaria regular 231 2.2.1 Os materiais 236 2.2.2 O aparelho 236 2.2.3 A aplicao em obra 236 2.2.4 Muros de alvenaria regular 237 2.3 As pedras de talhe 269 2.3.1 Os materiais 272 2.3.2 O aparelho 272 2.3.3 Os tipos de elementos 273 2.3.4 A aplicao em obra 273 2.3.5 Estruturas em pedra de talhe 273 2.4 Muros com solues mistas 309 2.5 Muros e estruturas em material latercio 311 3 A decorao arquitectnica 313 3.1 Introduo 313 3.2 Importncia dos elementos arquitectnicos 314 3.3 A decorao arquitectnica em Bracara Augusta 316 3.3.1 Os materiais 316 3.3.2 Os tipos de elementos 316 3.3.3 Caracterizao dos elementos estudados 317 3.3.3.1 Enquadramento arquitectnico 318 3.3.4 Elementos conclusivos 329 PARTE V - As coberturas 1 Introduo s coberturas no mundo romano 345 2 Coberturas de edifcios de Bracara Augusta 348 2.1 Os telhados 348 2.2 Abbadas em material latercio 351 2.3 Abbadas em caementicium e silharia 355 PARTE VI - Os acabamentos e as infra-estruturas de aquecimento, abastecimento e drenagem de guas 1 Introduo aos acabamentos e infra-estruturas do mundo romano 361 2 Os acabamentos em Bracara Augusta 377 2.1 Os solos 377 2.1.1 Solos em terra batida 381
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2.1.2 Solos em opus signinum 382 2.1.3 Solos em tijolo 384 2.1.4 Solos revestidos com mosaicos 385 2.1.5 Solos em pedra 389 2.2 Revestimento de paredes 389 2.2.1 Os rebocos 391 2.2.2 Revestimento em opus signinum 392 2.2.3 Revestimento em mosaico 392 2.2.4 As pinturas 393 3 As infra-estruturas de aquecimento em Bracara Augusta 395 3.1 Introduo 395 3.2 Os dispositivos de aquecimento 398 4 Infra-estruturas de abastecimento e drenagem de guas em Bracara Augusta 405 4.1 Introduo 405 4.2 Infra-estruturas de abastecimento e armazenamento de gua detectadas 411 4.2.1 Aquedutos 411 4.2.2 Canalizaes 413 4.2.3 Poos 414 4.2.4 Tanques 415 4.2.5 Cisterna 415 4.3 Infra-estruturas de drenagem de gua detectadas 415 4.3.1 Cloaca 415 4.3.2 Canalizaes 416 PARTE VII Os processos construtivos 1 Introduo aos processos construtivos no mundo romano 433 2 A construo de obras pblicas 440 2.1 A tomada de decises 441 2.2 O financiamento das obras 442 2.3 A concepo e projecto de obra 444 2.4 A planificao das obras 449 2.5 A execuo das obras 452 2.5.1 A preparao do terreno 452 2.5.2 A montagem do estaleiro de obra 453 2.5.3 A obra 455 3 A construo de obras privadas 455 4 O clculo dos custos de obra 458 5 Agentes envolvidos no processo construtivo 465 5.1 Tomada de deciso e direco da obra 465 5.2 Trabalhos de agrimensura 466 5.3 Execuo da obra 466 5.4 Acabamentos 467 5.5 Execuo de trabalhos complementares 467 5.5.1 Corte da madeira 467 5.5.2 Extraco de pedra na pedreira 467 5.5.3 Maquinaria de obra 467
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5.5.4 Transporte e abastecimento dos materiais de construo 468 6 As ferramentas 468 6.1 O trabalho da pedra 469 6.1.1 Ferramentas de extraco e aparelhamento 469 6.1.2 Ferramentas de talhe 470 6.2 O trabalho da madeira 473 6.2.1 Ferramentas usadas na fase do corte 473 6.2.2 Ferramentas usadas na oficina 473 6.3 Instrumentos de agrimensura 474 7 As machinae 475 7.1 Machinae tractoriae et elevatoriae 477 7.2 Os andaimes 481 7.3 As escoras e cimbres 483 8 Ensaio de abordagem dos processos construtivos em Bracara Augusta 484 8.1 O processo construtivo do teatro de Bracara Augusta 485 8.1.1 A tomada de deciso 486 8.1.2 O financiamento da obra 487 8.1.3 A elaborao do desenho / projecto 489 8.1.4 A planificao da obra 490 8.1.5 A preparao do terreno 491 8.1.6 A execuo 492 8.1.6.1 Os intervenientes 492 8.1.6.2 Os materiais 493 8.1.6.3 A construo 495 Muro perimetral 496 Cavea 497 Orchaestra 498 Corpo cnico 499 A scaena 499 A frente cnica 500 O postscaenium 501 A baslica norte 501 Aditus norte 503 Sistemas de drenagem 504 Acabamentos 504 8.1.7 Concluso 505 8.2 O processo construtivo da domus das Carvalheiras 509 8.2.1 Decises e desenho de projecto 510 8.2.2 Preparao do terreno 511 8.2.3 Implantao do traado do edifcio 512 8.2.4 A execuo da obra 513 8.2.4.1 Os intervenientes 513 8.2.4.2 Os materiais 515 8.2.4.3 A construo 517 Muro de conteno 518 Muros perimetrais e interiores 518 trio e peristilo 520
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Coberturas 522 Prticos externos 522 Acabamentos 523 8.2.4.4 Custos de obra 524 8.3 Agentes do processo construtivo em Bracara Augusta 525 8.3.1 Os encomendadores 525 8.3.2 Os arquitectos 526 8.3.3 Os artesos 526 8.4 As ferramentas usadas em Bracara Augusta 531 8.5 As machinae usadas em Bracara Augusta 537 Consideraes finais 559 Bibliografia 571
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Lista de figuras
Figura 1 - Mapa do Imprio Romano no sc. II 21 Figura 2 - Cidades fundadas no NO 22 Figura 3 - Mapa da cidade com a localizao das principais vias e necrpoles 26 Figura 4 - Mapa simplificado da rede viria da Pennsula Ibrica com representao das principais vias que ligavam a Bracara Augusta 26 Figura 5 - Planta de Bracara Augusta com localizao das vias e das necrpoles 27 Figura 6 - Disperso na cidade dos vestgios relacionados com as oficinas locais 30 Figura 7 - Planta da cidade de Braga atribuda a Georgius Braun (1594) 68 Figura 8 - Mappa da cidade de Braga Primas de Andr Soares (1868) 69 Figura 9 - Folha XX da planta topogrfica de Fransciso Goullard (1883/4) 69 Figura 10 - Planta da cidade de Braga de Jos Teixeira (1910) 70 Figura 11 - Fotografia area de Braga (RAF 1938-1948) 70 Figura 12 - Negativo de extraco de silhares no substrato rochoso das Termas 100 Figura 13 - Identificao de diclases no substrato rochoso das Termas 100 Figura 14 - Tijolos em aduela formas identificadas em Braga 124 Figura 15 - a. fistula aquariae encontrada na domus das Carvalheiras
b. Estela descoberta nas cercanias do Convento dos Remdios 136 Figura 16 Pedreiras subterrneas 140 Figura 17 Pedreira subterrnea 140 Figura 18 Pedreiras a cu aberto 140 Figura 19 Extraco com cunhas 140 Figura 20 Extraco com cunhas 140 Figura 21 Extraco de fustes 140 Figura 22 Talhe de um silhar 140 Figura 23 Faces de um silhar 140 Figura 24 Negativos de extraco Termas 140 Figura 25 Diclases Termas 140 Figura 26 Transporte na pedreira 141 Figura 27 Sistema de Ctesiphon 141 Figura 28 Sistema de Metagenes 141 Figura 29 Carro de bois 141 Figura 30 Carpentum 141 Figura 31 Benna 141 Figura 32 Cisium 141 Figura 33 Rheda 141 Figura 34 Barco de transporte fluvial 141 Figura 35 Nave onerariae 141 Figura 36 Utilizao dos tijolos na construo 142 Figura 37 Utilizao dos tijolos na construo dos espaos termais 143 Figura 38 Croquis do balnerio das Carvalheiras 193 Figura 39 Proposta de restituio do corpo 4 do edifcio Pr-Termal 194 Figura 40 UE0333 e 0340 CARV 333 Figura 41 UE0388 CARV 333 Figura 42 Muro 83 Ed.PT 333 Figura 42 UE0165 RAH20-28 334
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Figura 44 UE0581 FCB/SAT 334 Figura 45 Muro 27 T 334 Figura 46 Muro 1 Ed.PT 335 Figura 47 UE0326 T 336 Figura 48 B3 Ed.PT 336 Figura 49 B5 Ed.PT 336 Figura 50 B7 Ed. PT 336 Figura 51 B8 Ed.PT 336 Figura 52 B9 Ed.PT 336 Figura 53 B10 Ed.PT 336 Figura 54 B11 Ed.PT 336 Figura 55 B12 Ed.PT 336 Figura 56 B13 Ed.PT 337 Figura 57 B14 Ed.PT 337 Figura 58 B15 Ed.PT 337 Figura 59 B19 Ed.PT 337 Figura 60 B23 Ed.PT 337 Figura 61 B26 Ed.PT 337 Figura 62 B29 Ed.PT 337 Figura 63 B30 Ed.PT 337 Figura 64 B32 Ed.PT 337 Figura 65 B33 Ed.PT 337 Figura 66 UE0820 TR 338 Figura 67 UE1501 TR 338 Figura 68 UE1502 TR 338 Figura 69 UE1502 TR 338 Figura 70 UE1631 TR 338 Figura 71 UE1631 TR 338 Figura 72 UE1637 TR 338 Figura 73 UE1637 TR 338 Figura 74 UE1704 TR 339 Figura 75 UE1708 TR 339 Figura 76 UE1710 TR 339 Figura 77 Contraforte sul TR 339 Figura 78 UE0783 TR 339 Figura 79 UE0784 TR 339 Figura 80 UE0786 TR 339 Figura 81 UE0409 CARV 339 Figura 82 UE0412 CARV 339 Figura 83 UE0419 CARV 340 Figura 84 UE0419 CARV 340 Figura 85 UE0438 CARV 340 Figura 86 UE0439 CARV 340 Figura 87 UE020 EVS 340 Figura 88 UE060 EVS 340 Figura 89 UE0272 EVS 340 Figura 90 UE079 EVS 340
-
xxiii
Figura 91 UE0630 FCB/SAT 340 Figura 92 UE0664 FCB/SAT 340 Figura 93 UE0872 FCB/SAT 341 Figura 94 UE0872 e UE0843 FCB/SAT 341 Figura 95 UE0884 FCB/SAT 341 Figura 96 UE0884 FCB/SAT 341 Figura 97 UE0158 RAH20-28 341 Figura 98 UE0153 RAH20-28 341 Figura 99 UE0153 RAH20-28 341 Figura 100 UE0824 Colina 341 Figura 101 Exemplo de telhado 357 Figura 102 Elementos constituintes do telhado 357 Figura 103 Tegulae e imbrice 357 Figura 104 Sistema de encaixe das telhas 357 Figura 105 Tegulae e imbrice 357 Figura 106 Cimbre e abbada 357 Figura 107 Representao de um hipocausto em corte 366 Figura 108 Hipocaustum 367 Figura 109 Pont du Gard Gravura de Clerisseau 371 Figura 110 Algumas medidas do Pont du Gard 374 Figura 111 Castellum Aquae de Nemausus 374 Figura 112 Area 6 T 427 Figura 113 Area 12 T 427 Figura 114 Area 13 T 427 Figura 115 Area 13 T 427 Figura 116 Area 35 T 428 Figura 117 UE0161 e UE0185 EVS 428 Figura 118 UE0324 T 428 Figura 119 UE0341 T 428 Figura 120 UE0342/0343/0344 T 428 Figura 121 UE0150 e UE0280 EVS 428 Figura 122 Pr4 UE0322 T 428 Figura 123 Pr5 UE0317 T 428 Figura 124 UE003 UM 429 Figura 125 Canalizao E Colina 429 Figura 126 Canalizao E Colina 429 Figura 127 Canalizao F T 429 Figura 128 Canalizao H T 429 Figura 129 Canalizao J T 429 Figura 130 UE1507 TR 429 Figura 131 UE1508 TR 429 Figura 132 UE1509 TR 429 Figura 133 UE0754 FCB/SAT 429 Figura 134 Arquitecto 542 Figura 135 Construtor 542 Figura 136 Agrimensor 542 Figura 137 Canteiro 542
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xxiv
Figura 138 Canteiro 542 Figura 139 Escultor 542 Figura 140 Carpinteiro 542 Figura 141 Carpinteiro 542 Figura 142 Carpinteiro 542 Figura 143 Ferreiro 542 Figura 144 Ferreiro 543 Figura 145 Ferreiro Bellicus 543 Figura 146 Ferreiro 543 Figura 147 Pedreiros 543 Figura 148 Ferramentas de pedreiro 543 Figura 149 Oleiro 543 Figura 150 Oficina de carpinteiro 543 Figura 151 Representao de uma obra 543 Figura 152 Ferramentas associadas ao trabalho da pedra (extraco e talhe) 544 Figura 153 Ferramentas para o talhe da pedra 545 Figura 154 Serra 546 Figura 155 Upupa 546 Figura 156 Serra de madeira 546 Figura 157 Serpa 546 Figura 158 Ferramentas associadas ao trabalho da madeira 546 Figura 159 Ferramentas associadas ao trabalho da madeira 546 Figura 160 Groma 547 Figura 161 Estela do agrimensor pompeiano Nicostratus 547 Figura 162 Chorobates 547 Figura 163 Dioptra 547 Figura 164 Mecnica de funcionamento dos guindastes 548 Figura 165 Utilizao das polias 548 Figura 166 Colocao de silhares com alavanca 548 Figura 167 Ajustamento lateral dos silhares 548 Figura 168 Cabrestante de traco vertical (sucula) e horizontal 549 Figura 169 Cabra representada na pintura de Estabias 549 Figura 170 Polipastos 549 Figura 171 Guindaste para cargas pesadas 549 Figura 172 Trofu de Augusto na Turbie (Mnaco) 550 Figura 173 - Perspectiva do trofu de Augusto na Turbie 550 Figura 174 Lajeado acompanhado de marcos situado na base do monumento 550 Figura 175 Elementos que denunciam o uso de mquinas 550 Figura 176 Grua dos Haterii 551 Figura 177 Gravura do tmulo dos Haterii 551 Figura 178 Cabrestante 552 Figura 179 Restituio de uma mquina adaptada ao levantamento de fustes monolticos 552 Figura 180 Machinae de levantamento e de traco 553 Figura 181 Machinae de levantamento e de traco 553 Figura 182 Solues diversas utilizadas para a fixao dos blocos 481 Figura 183 Andaime mvel utilizado para trabalhos de reduzida altura 554
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Figura 184 Andaime embutido 554 Figura 185 Andaime independente 554 Figura 186 Cimbre para arcos e abbadas de pequeno porte 555 Figura 187 Cimbre para arcos e abbadas de grande porte 555
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Lista de quadros
Quadro 1 Nveis de opus signinum detectados em Braga 115 Quadro 2 Tijolos em aduela da forma I detectados em Braga 124 Quadro 3 Tijolos em aduela da forma II detectados em Braga 125 Quadro 4 Tijolos em aduela da forma III detectados em Braga 125 Quadro 5 Tubuli detectados em Braga 127 Quadro 6 Diferentes tipos de tegulae e imbrices detectados em Braga 129 Quadro 7 Canos detectados em Braga 129 Quadro 8 Tijolos em U detectados em Braga 130 Quadro 9 Marcas nominais e sinais identificados em Braga 131 Quadro 10 Listagem dos materiais de construo representativos dos tipos estudados 132 Quadro 11 Vidraa plana recolhida em Braga, em quilogramas, por escavao 139 Quadro 12 Bases ticas monumentais identificadas em Braga 328 Quadro 13 Capiteis monumentais identificados em Braga 328
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xxviii
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xxix
Abreviaturas ALB Albergue ALT - Altura CARV Carvalheiras CS68 Cardoso da Saudade 1968 CS93 Cardoso da Saudade 1993 CVL Cavalarias DIAM - Dimetro DDS D. Diogo de Sousa EA Elemento arquitectnico Ed.PT Edifcio Pr Termal EVS Escola Velha da S FCB Rua Frei Caetano Brando FCB/SAT Rua Frei Caetano Brando n183/185 - Rua Santo Antnio das Travessas n 20/26 FUJ Fujacal GACMB Gabinete de Arqueologia da Cmara Municipal de Braga GP Rua Gualdim Pais HOSP Hospital IMC Imaculada Conceio MRADDS Museu Regional de Arqueologia D. Diogo de Sousa N. Inv. Nmero de inventrio R - Rua RAH 20/28 Rua Afonso Henriques n 20/28 RAH 42/46 Rua Afonso Henriques n 42-46 SST Seminrio de Santiago T Termas do Alto da Cividade TMSB Tesouro do Museu da S de Braga TR Teatro UAUM Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho UE Unidade estratigrfica ZA Zona Arqueolgica
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xxx
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INTRODUO
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Introduo
3
Toute construction rsulte de lassemblage volontaire de matriaux naturels divers, plus
ou moins transforms par lhomme. Traduction matrielle dune volont intellectuelle dfinie,
sa ralisation apparat intimement tributaire des connaissances techniques acquises, des
moyens matriels et financiers disponibles au moment de sa ralisation, ainsi que des matriaux
et des ouvriers pouvant tre runis pour la mise en uvre1".
Jacques Seigne (2004 : 51)
Introduo
O objectivo fundamental deste trabalho teve em vista caracterizar a arquitectura da
cidade romana de Bracara Augusta, localizada no NO peninsular, integrada, at Diocleciano, na
provncia Citerior ou Tarraconense.
O ponto de partida da nossa abordagem da arquitectura romana de Braga constituiu-se
na anlise detalhada e diacrnica dos materiais de construo e das tcnicas construtivas que
foram utilizados em vrios edifcios pblicos e privados, conhecidos a partir das escavaes
realizadas nos ltimos 35 anos, no mbito do Projecto de Bracara Augusta, da responsabilidade
da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho.
Tendo por base uma anlise das caractersticas das construes presentes nas
diferentes zonas arqueolgicas intervencionadas procedeu-se a uma seleco de um conjunto de
7 zonas, totalizando 3 edifcios pblicos e 4 privados, que foram valorizados em funo da sua
diversidade construtiva e funcional, mas tambm da sua diacronia
Pretendeu-se deste modo valorizar a edilcia de Bracara Augusta, tendo por base o uso
das matrias-primas e materiais necessrios construo, como a pedra, a argila, a madeira, ou
os cimentos, bem como as tecnologias usadas na execuo dos elementos verticais e horizontais
das construes, sejam eles muros, colunatas, pavimentos, ou coberturas. Foram igualmente
valorizadas as tcnicas usadas nos acabamentos dos edifcios, bem como as infra-estruturas
associadas ao aquecimento e ao sistema de abastecimento e drenagem das guas.
Tendo como objectivo principal o estudo da edilcia romana de Braga, este trabalho
norteou-se, igualmente, por outros objectivos secundrios.
1 Qualquer construo resulta da mistura voluntria de materiais naturais diversos, mais ou menos transformados pelo homem. Traduo
material de uma vontade intelectual definida, a sua realizao surge intimamente tributria dos conhecimentos tcnicos adquiridos, dos meios
materiais e financeiros disponveis no momento da sua realizao, assim como dos materiais e dos operrios que puderam ser reunidos para o
cumprimento da obra.
-
Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma anlise das tcnicas edilcias
4
Um deles articulou-se com a identificao das fontes de abastecimento dos materiais
ptreos e argilosos usados na construo, pretendendo-se, deste modo, valorizar a explorao
dos recursos do territrio. Procurmos, deste modo, estabelecer uma necessria articulao
entre a cidade e o territrio, percepcionada atravs de uma das actividades econmicas mais
importantes dos centros urbanos: actividade construtiva.
Um outro objectivo teve em vista a identificao tcnicas usadas na construo de
diferentes categorias de edifcios. Para o efeito foram analisadas as fundaes e substrues, as
tcnicas de execuo dos suportes verticais, designadamente as que se relacionam com a
construo dos muros e das colunatas. Foram igualmente valorizados os sistemas de cobertura
dos edifcios e os acabamentos, tanto ao nvel da construo dos pavimentos, como dos
revestimentos das paredes. Tambm as infra-estruturas que formalizam os sistemas de
aquecimento do edifcios e os sistemas de abastecimento e drenagem das guas sujas
mereceram a nossa ateno, tendo sido analisados os vestgios arqueolgicos mais sugestivos
que se articulam com os referidos sistemas, de inegvel importncia na vida urbana.
Finalmente, um ltimo objectivo teve em vista avaliar as evidncias que nos pudessem
levar a interpretar o processo construtivo em Bracara Augusta, de modo a identificar os agentes
envolvidos na actividade edilcia, ensaiando-se, igualmente, uma aproximao ao uso das
ferramentas de trabalho de diferentes materiais e utilizao de mquinas.
Atravs da anlise e interpretao sistemtica da informao disponvel relativa
arquitectura pblica e privada de Bracara Augusta, procurmos, assim, identificar eventuais
recorrncias, quer de natureza cronolgica, nomeadamente quanto hiptese de alguns
materiais e tcnicas possurem dataes especficas, quer de natureza funcional,
designadamente quanto possibilidade de alguns materiais e tcnicas serem especficos ou no
de determinadas formas de arquitectura, quer ainda de natureza tecnolgica, relacionadas com
a eventualidade de algumas pedreiras terem sido selectivamente exploradas para a construo
de alguns edifcios e de alguns elementos construtivos, denunciarem a possvel existncia de
ateliers locais.
Pretendeu-se, assim, ensaiar uma valorizao dos edifcios romanos conhecidos at ao
momento, no apenas de um ponto de vista cronolgico e funcional, mas, sobretudo, do ponto
de vista dos materiais usados, das tecnologias empregues e dos sistemas construtivos que
deram expresso arquitectura de Bracara Augusta.
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Introduo
5
Este trabalho encontra-se estruturado em dois volumes, integrando o primeiro toda a
informao usada para responder aos objectivos que nos propusemos atingir com a nossa
investigao, sendo o segundo dedicado apresentao do catlogo dos elementos
arquitectnicos e construtivos estudados em vrios edifcios e da parte grfica que ilustra o
estudo desenvolvido.
O primeiro volume encontra-se estruturado em sete partes distintas. A Parte I representa
um apartado introdutrio ao estudo da edilcia romana em Bracara Augusta, no qual se
apresenta um breve historial da evoluo dos estudos de arquitectura romana, bem como do
processo construtivo. Nele se procede igualmente abordagem e caracterizao do contexto no
qual desenvolvemos o nosso trabalho, a cidade de Bracara Augusta, sistematizando-se a as
vrias fontes disponveis para o estudo da sua edilcia, bem como a metodologia que foi
utilizada. Na Parte II sero analisados os vrios materiais de construo utilizados na cidade: a
pedra, as argamassas, os tijolos, os metais e, finalmente, a madeira. Cada um destes materiais
ser objecto de uma anlise detalhada no que respeita sua obteno, fabrico, transporte e
aplicao na obra, procurando-se, igualmente valorizar as questes relacionadas com o
aprovisionamento das diferentes matrias-primas.
Nas partes seguintes so equacionados diferentes aspectos relacionados os sistemas e
tcnicas construtivas, desde a implantao das fundaes e substrues, construo dos
muros, colunatas, pavimentos e telhados, sendo igualmente abordados os acabamentos e infra-
estruturas. Assim, na Parte III procede-se anlise dos vrios tipos de fundaes e de
substrues assinaladas nos edifcios romanos de Braga. A Parte IV est dedicada valorizao
dos elementos verticais dos edifcios, isto , aos muros e respectivos alados, subdivididos por
categorias: muros de alvenaria irregular, muro de alvenaria regular, elementos em pedra de talhe
e estruturas mistas. Neste apartado ser igualmente valorizada a temtica dos sistemas de
decorao arquitectnica. A Parte V aborda a problemtica das coberturas, designadamente dos
telhados e abbadas, estando a Parte VI reservada aos acabamentos e s infra-estruturas.
Analisa-se aqui o revestimento dos solos e paredes, bem como as infra-estruturas relacionadas
com as instalaes de aquecimento e com os sistemas de abastecimento e drenagem de guas.
Por ltimo, na Parte VII procuramos avaliar o processo construtivo, luz das evidncias
disponveis, nomeadamente quanto aos agentes envolvidos no processo de obra e ao uso de
elementos auxiliares de trabalho que tm interveno nas diferentes etapas da construo, como
as maquinarias e as vrias ferramentas usadas no contexto da obra.
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6
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PARTE I
Introduo ao estudo da edilcia de Bracara Augusta
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Parte I Introduo ao estudo da edilcia de Bracara Augusta
9
1. Introduo
objectivo deste captulo definir o contexto temtico, geogrfico e metodolgico do nosso
trabalho. Aps uma breve abordagem relativa problemtica do estudo da arquitectura e
construo romanas (2), proceder-se- a uma apresentao da cidade de Bracara Augusta,
assim como da sua evoluo ao longo do mundo romano (3). Em seguida sero definidos a
problemtica relativa ao estudo da arquitectura e construo da cidade (4.1), os objectivos que
nos propusemos atingir no nosso trabalho (4.2.), as diferentes fontes disponveis, sendo
particularmente valorizada a informao arqueogrfica relativa a vrios stios escavados (4.3).
Finalmente, ser equacionada a metodologia de anlise usada na nossa investigao (4.4).
2 A evoluo dos estudos de arquitectura e construo romanas
2.1 Do estudo dos monumentos ao estudo da construo romana
O interesse pelos monumentos romanos data dos finais da Idade Mdia, materializando-
se em estudos e descries que se basearam em metodologias de anlise muito distintas e em
diferentes olhares que se foram desenvolvendo sobre as construes da poca clssica,
apreciadas quer do ponto de vista esttico, quer tecnolgico ou funcional. Paralelamente, foi-se
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Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma anlise das tcnicas edilcias
10
desenvolvendo a arte da representao grfica dos grandes monumentos, que constitui hoje
uma fonte de estudo dos mesmos, pese embora a sua frequente natureza idealizada.
O sculo XV marca o arranque dos estudos dos edifcios romanos, sendo de referir o
papel desempenhado pela obra de Vitrvio no desenvolvimento desses trabalhos. Efectivamente,
a redescoberta do 10 livros de Arquitectura do autor supra-citado provocou uma onda de
interesse pela construo romana.
Escrito sensivelmente na ltima metade do sculo I a. C. o Tratado de Vitrvio
corporiza uma srie de conhecimentos bsicos e prticos para a construo quer de obras
pblicas, quer privadas que denunciam, em parte, a sua formao de engenheiro militar.
Desenvolvendo uma srie de conceitos fundamentais que deviam ser aplicados arquitectura,
como a proportio, a euritmia, a symetria ou a firmitas, a utilitas e a venustas, Vitrvio apresenta
a sua experincia e enuncia uma srie de conselhos para aplicao dos conceitos citados
referidos.
Ao longo dos sculos seguintes a obra de Vitrvio foi interpretada de diferentes ngulos e
perspectivas, tendo sido simultaneamente elogiada e criticada, beneficiando, todavia, de uma
grande divulgao, sendo a nica fonte histrica que se preservou sobre a arquitectura da
antiguidade.
A descoberta do tratado de Vitruvio, no sculo XV, por parte de humanistas como Leon
Battista Alberti deu lugar a uma utilizao intensa dos conceitos vitruvianos, criando uma nova
linguagem arquitectnica de inspirao clssica.
A obra de Alberti, De re aedificatoria libri decem, baseada na obra de Vitruvio de
consulta mais simples, sendo de destacar o criticismo de Alberti (Tavernor, 1998) relativamente
a alguns conceitos vitruvianos que considera pouco claros e imprecisos. Tal como o tratado de
Vitruvio a compilao de Alberti distribui-se em dez livros, sendo os trs primeiros considerados
genericamente como mais interessantes. No primeiro livro o autor trata as distintas partes de um
edifcio e as questes que antecedem a construo em si. O segundo livro aborda os materiais
de construo, enquanto que o terceiro desenvolve os mtodos de construo.
A partir da obra de Alberti e at meados do sculo XVI, surge uma srie de tratados que
pretende explicar os conceitos vitruvianos, com base na anlise dos monumentos antigos,
potenciando simultaneamente conceitos de teoria arquitectnica novos. Estas obras das quais
fazem parte Lidea della architettura universale de Vincenzo Scamozzi (Oechslin, 1997) ou M.
Vitruvius per Iocundum solito castigador factus, cum figuris et tabula, ut iam legi et intellegi
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Parte I Introduo ao estudo da edilcia de Bracara Augusta
11
possit, de Fra Giovanni Giocondo (Fontana, 1988), tiveram por objectivo explicar a obra de
Vitrvio e aplicar os termos tcnicos usados pelo autor arquitectura renascentista (Pizzo, 2007:
8).
Surge ento uma nova linguagem arquitectnica que potencia uma srie de estudos nos
quais dado grande valor ao aspecto grfico. Estes trabalhos favoreceram igualmente o estudo
das regras tericas das ordens clssicas, o que permitiu entender melhor os elementos
arquitectnicos descontextualizados.
Mais tarde, com Guarino Guarini (sculo XVII) e a sua obra Disegni di architettura civile
ed eclesistica y Architettura civile (Grnert, 2003) regista-se uma mudana de paradigma, pois
este autor considera que a arquitectura da poca devia corrigir as regras usadas na Antiguidade
e desenvolver outras novas, tendo por base a combinao de conhecimentos retirados de
Arquitectura, da Geometria e da Matemtica (Pizzo, 2007: 9).
. Em substncia, os estudos da arquitectura clssica desenvolvidos entre o sculo XVI e
os incios do XVIII constituem uma prtica erudita caracterizada pela vontade de criar uma
linguagem arquitectnica nova, capaz de fomentar um novo gosto esttico, atravs da
sistematizao terica dos conhecimentos tcnicos da antiguidade clssica. Paralelamente, os
estudos realizados permitiram a criao de um importante corpus grfico da arquitectura antiga.
Tendo tido origem na Pennsula itlica, inspirados nas obras de arquitectura romana
sobreviventes, os estudos difundem-se rapidamente por outros pases, designadamente, pela
Alemanha, Frana, Inglaterra e Espanha. Neste mbito merecem destaque alguns autores e
obras de referncia, como Walter Rivius1 (Vitruvius Teutsch, de 1548), Hans Blum2 (Von den fnff
Slen de 1550), Henry Wotton3 (The elements of Architecture, do sculo XVII), Franois Blondel4
(Cours dArchitecture), Jean Louis de Cordemoy5 (Nouveau trait de toute larchitecture ou lart
de batir) e, finalmente, Claude Perault (Les dix livres darchitecture de Vitruve, corrigez et traduits
nouvellement en Franais) e Fray Lorenzo de San Nicols6 (Arte y Uso de Architectura).
No sculo XVIII, com a descoberta de Pompeia e Herculano regista-se uma nova
aproximao ao mundo clssico, com a realizao de vrios estudos sobre a tcnica edilcia
romana que se desenvolvem naturalmente na Pennsula Itlica. Nesta fase surgem novas linhas
1 Zimmer, 2003 2 Zimmer, 2003b 3 Ruhl, 2003 4 Freigang, 2003 5 Middleton, 1962-1963 6 Borngsser, 2003
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Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma anlise das tcnicas edilcias
12
de investigao que vm acrescentar-se corrente anterior de estudar e compreender as
tcnicas clssicas para aplic-las ao mundo contemporneo. J. Ciampini, na sua obra Vetera
Monimenta realiza uma importante inovao, relacionando os edifcios de Roma com a tcnica
construtiva utilizada, explicando os diferentes tipos de paramentos e as suas caractersticas
tcnicas. Esta obra tambm importante porque contempla uma srie de lminas onde se
apresenta uma primeira tipologia de paramentos murrios, marcando, indiscutivelmente, uma
mudana na tcnica de representao grfica dos edifcios antigos.
Ao longo do sculo XVIII o estudo da arquitectura antiga preterido em favor de outras
reas da Antiguidade, reconhecendo-se que os ensinamentos retirados do estudo dos
monumentos resultam da leitura e interpretao de quem os realiza, sendo como tal subjectivos.
O sculo XIX assiste, numa primeira fase, continuao das teorias desenvolvidas no
sculo anterior e paralelamente continuidade da reinveno da Antiguidade Clssica. Nesse
mbito, surgem alguns trabalhos que, numa primeira anlise, parecem nada acrescentar ao
estudo da edilcia romana. Contudo, algumas obras revelam algumas inovaes importantes,
como seja o uso da fotografia na documentao dos edifcios, como acontece, concretamente,
no trabalho de J.H. Parker (De variis structurarum generibus penes Romanos veteres). Esta obra
revela de forma clara os conhecimentos da edlicia romana naquela poca, apresentando de
forma ordenada os materiais e tcnicas. Outro autor que convm referir A. Nibby, cujas
publicaes demonstram uma particular ateno pelos materiais de construo (Nibby, 1830;
1838), oferecendo, simultaneamente, uma perspectiva inovadora sobre a anlise dos
monumentos, pois considera os edifcios como composies de caractersticas tcnicas.
Pode-se afirmar com propriedade que data deste perodo a verdadeira preocupao com
o estudo dos materiais de construo. No que respeita representao grfica das construes
registam-se igualmente algumas inovaes, sendo de destacar a obra de L. Canina,
LArchitettura antica descritta e dimostrata coi monumenti, que integra uma seco dedicada
arquitectura, na qual o autor faz referncia s influncias etruscas e gregas, fornecendo uma
srie de indicaes sobre a construo das muralhas, o tipo dos materiais utilizados ou a
tipologia dos edifcios romanos e o uso das ordens arquitectnicas, oferecendo uma componente
grfica bastante rica em pormenores construtivos e arquitectnicos. A importncia desta obra foi
sublinhada por Antnio Pizzo (2007: 46) que salienta a capacidade do autor percepcionar o
edifcio do ponto de vista da estrutura, facto que lhe permitiu realizar uma anlise muito
detalhada dos elementos arquitectnicos, decorativos e estruturais.
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Parte I Introduo ao estudo da edilcia de Bracara Augusta
13
Datam igualmente do sculo XIX os primeiros grandes estudos dos aspectos tcnicos da
arquitectura romana, abordados em obras de mbito geral no seio das quais as questes
relacionadas com as tcnicas construtivas passaram a assumir crescente importncia.
Ser justo considerar que a valorizao desta temtica beneficiou de duas grandes obras
de referncia: Lart de btir chez les romains, de A. Choisy, publicada em Paris, em 1873 e La
tcnica della construzione presso i romani, de A. Giovannoni, editada em Roma, cerca de 1925.
Estes estudos pioneiros apoiaram-se essencialmente nos edifcios romanos ou itlicos,
centrando-se em trs tipos de questes: os materiais construtivos e o estudo dos aparelhos; os
aspectos tcnicos relacionados com a construo das abbadas e, finalmente, toda a informao
relacionada com o trabalho da pedra.
G. Lugli (1957) considera mesmo que A. Choisy demonstrou uma invulgar capacidade
para estudar o opus caementicium e para efectuar um estudo relevante sobre a arquitectura dos
arcos e das abbadas (Pizzo, 2007: 52). O recurso axonometria faz com que as
representaes grficas de estruturas complexas, como as abbadas, apresentem grande
qualidade, sendo possvel perceber perfeitamente a sua volumetria. O autor adapta a
componente grfica aos fins de explicao do mecanismo construtivo da estrutura. A obra
comea por tratar a questo das abbadas (estrutura, componentes, materiais e tcnica
construtiva), passando seguidamente para as obras de cantaria e terminando com uma
aproximao econmica aos custos de obra.
O sculo XX marcado pela afirmao de duas perspectivas distintas no estudo da
arquitectura romana. Uma associa-se claramente vontade de experimentar novas metodologias
e tcnicas de investigao ao estudo dos edifcios e, uma outra, relacionada com a valorizao
de hipteses baseadas nos trabalhos anteriores de maior relevncia.
O interesse crescente pelas tcnicas de construo e de engenharia romana est
igualmente presente na obra de Giuseppe Cozzo, Ingegneria Romana, publicada em Roma em
1928, com vrias reedies em 1954 e 1970. Este manual ilustra perfeitamente o tipo de obra
cientfica dedicada aos aspectos tcnicos da construo, apresentando vrias ilustraes
relativas ao ciclo completo de produo de uma tcnica edilcia, descrevendo as suas vrias
fases, desde a extraco do bloco de pedra, ao transporte e construo. Inclui ainda um
esquema que ilustra a construo de um arco, uma reproduo da montagem de um andaime e
do respectivo edifcio, bem como uma tipologia de materiais latericios.
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Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma anlise das tcnicas edilcias
14
Outro autor que teve um papel bastante importante nos estudos da arquitectura foi G.T.
Rivoira, que publicou, em 1921, um manual intitulado Architettura Romana, no qual desenvolve
a temtica dos sistemas abobadados e a questo da esttica dos edifcios numa perspectiva
histrica e tcnica. Este autor integra-se numa corrente de pensamento, bastante divulgada nas
primeiras dcadas do sculo XX, que defendia que a compreenso dos vestgios arquitectnicos
era apenas inteligvel com o auxlio de uma forte formao histrica acompanhada por amplos
conhecimentos tcnicos e cientficos.
Da mesma corrente faz parte Giovanoni (1925), autor que defende uma colaborao
estreita entre arquelogos e arquitectos na compreenso e anlise da arquitectura romana. Na
obra de Giovannoni possvel observar a desmontagem do edifcio em vrias actividades
construtivas sequenciais. A obra estrutura-se em torno de duas orientaes fundamentais: uma
primeira que valoriza a questo dos elementos estruturais sob uma perspectiva funcional e, uma
segunda, em que a estrutura contextualizada no monumento, sendo a primeira imprescindvel
para o entendimento do edifcio como um todo.
Podemos considerar que, at meados do sculo passado, o interesse fundamental das
investigaes cingiu-se basicamente definio de sequncias tipolgicas e cronolgicas de
construo dos edifcios. Nesse mbito, podemos referir os trabalhos de autores como G. Lugli
(1957) e M.E. Blake (1947, 1959, 1973).
O trabalho de Lugli constitui uma referncia obrigatria no estudo da edilcia romana.
Com efeito, o autor estudou em profundidade os monumentos romanos do Lacio, procedendo
datao dos edifcios estudados atravs da tcnica construtiva ou ento atravs de paralelismos
com edifcios de Roma, tipologicamente semelhantes. As cronologias construtivas por ele
apontadas constituem ainda hoje um instrumento e uma metodologia importante para a datao
de monumentos romanos.
A obra de Blake (Ancient Roman Constructions), constitui um trabalho monumental, em
trs volumes, no qual o autor analisa a totalidade dos monumentos romanos italianos
conhecidos, organizados por tipos (edifcios de carcter privadopblico). Num outro captulo a
autora elabora uma anlise exaustiva dos materiais de construo.
As dcadas de sessenta e setenta do sculo XX representaram uma nova etapa na
evoluo dos estudos sobre a construo romana, comeando a ser publicados vrios trabalhos
sobre diferentes tipos de materiais, designadamente cimentos e argamassas, ou materiais
latercios e respectivas marcas. Nesta altura verifica-se igualmente um interesse acrescido pelo
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Parte I Introduo ao estudo da edilcia de Bracara Augusta
15
estudo das tcnicas e materiais construtivos no mbito de estudos arquitectnicos que vo
sendo realizados sobre diferentes categorias de edifcios. Neste mbito merecem destaque as
obras de L. Crema e J. B. Ward Perkins.
L. Crema publicou, em 1959, um artigo sobre lArchitettura Romana, na Enciclopdia
Clssica, que funciona como um manual bastante completo e eficiente, no qual os edifcios
apresentam-se muito bem estudados e distribudos por seis grandes perodos, desde a fase ps-
etrusca primeira metade do sculo IV. Cada perodo contempla uma introduo sobre as
caractersticas tcnicas que a identificam, sendo depois analisadas vrias temticas, como
sejam os materiais e a estrutura dos edifcios, os princpios de desenho e decorao, o
planeamento da cidade, a arquitectura militar, os edifcios civis, templos, termas, teatros,
anfiteatros e circos, os arcos monumentais e portas, as casas e vilas e os sepulcros.
Alguns anos mais tarde J.B. Ward Perkins editou um manual, publicado em 1974, no qual
a arquitectura romana analisada em termos de evoluo cronolgica e de evoluo tcnica.
Trata-se de uma obra de sntese que aborda a arquitectura romana desde o perodo republicano
at Antiguidade Tardia, centrando-se nos edifcios mais monumentais.
Os anos 80 do sculo XX marcaram um terceiro momento neste tipo de estudos. Com
efeito, nesta altura surgem importantes manuais sobre as tcnicas de construo romanas,
como a obra de referncia de Jean-Pierre Adam (1995) e outros mais especficos como a obra
editada por R. Ginouvs e R. Martin (1985).
A obra La Construction Romaine de J.P. Adam consiste num manual de referncia que
aborda a questo da construo de uma forma muito prtica. Todos os processos construtivos
encontram-se representados atravs de esquemas e de uma componente grfica muito prpria.
O autor explica de forma clara e ilustrada as vrias tcnicas utilizadas, os materiais utilizados na
construo romana, bem como a sua extraco e produo.
R. Ginouvs o autor de um dicionrio, publicado em trs volumes, entre 1985 e 1998,
que estuda as caractersticas tcnicas da arquitectura grega e romana. O dicionrio comporta
um nmero exaustivo de termos tcnicos, traduzidos em vrias lnguas, que constitui um
precioso auxiliar na descrio dos elementos de arquitectura, contribuindo para uniformizar os
lxicos descritivos.
O primeiro volume est dedicado aos materiais e tcnicas de construo, o segundo aos
elementos construtivos realizados com os materiais e tcnicas indicados no volume precedente,
enquanto o terceiro aborda os volumes e funes da arquitectura, ou seja, os edifcios
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Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma anlise das tcnicas edilcias
16
caractersticos da arquitectura do mundo romano, apoiando-se nos elementos descritos no
segundo volume. importante ainda referir que esta obra beneficia de uma componente grfica
de grande qualidade, que junta fotografias, desenhos e vrios esquemas.
C. F Giuliani publicou, em 1990, (com reedio melhorada em 2006) a obra LEdilizia
nellAntichit, um manual cujo contedo bastante inovador. O autor considera que o
arquelogo deve adquirir algumas noes de engenharia de forma a entender o monumento e o
seu comportamento, dando particular ateno s questes das deformaes (geolgicas e
trmicas) e da esttica dos edifcios. Num dos primeiros captulos o autor tenta transmitir
algumas das noes de fsica que esto presentes e influenciam o comportamento das
estruturas, como a presso, a flexo composta, a toro, procurando definir os vrios elementos
que podem influenciar uma construo. Seguidamente, o autor aborda o edifcio, de cima para
baixo, analisando coberturas, alados, fundaes e acabamentos, no deixando de referir os
materiais de construo, separando-os em materiais naturais e artificiais. Aborda, tambm, a
questo da organizao e gesto de obra e as maquinarias associadas. Finalmente, o autor
dedica um ltimo ponto s leses associadas aos edifcios e respectivas consolidaes. A obra
revela-se igualmente bastante informativa do ponto de vista grfico, uma vez que comporta uma
grande quantidade de desenhos tcnicos bastante elucidativos dos contedos, bem como um
CD realizado com imagens e reconstrues.
Datam igualmente dos anos 90 do sculo passado dois trabalhos de R. Marta nos quais
o autor desenvolve as questes relacionadas com a funcionalidade dos edifcios romanos, com
as vrias tcnicas edilcias e os materiais de construo.
A esta fase ficamos a dever a publicao de uma srie de monografias dedicadas a
temticas muito variadas, relativas construo, versando sobre cimentos, opus caementicium,
material latercio, bem como sobre o trabalho da pedra.
Tentando valorizar o mbito geogrfico dos estudos em causa, poderamos considerar
que eles foram particularmente importantes na Pennsula Itlica, onde se desenvolveu a
investigao das tcnicas construtivas, tendo por base vrias cidades, designadamente Roma e
stia. J a panormica noutros pases e regies oferece uma imagem de maior atraso, apenas
superada, j nos anos 90, quando se verifica o aparecimento de vrios estudos monogrficos
sobre cidades ou mesmo sobre edifcios especficos. Destaque-se ainda a edio no Reino Unido
de trabalhos sobre a indstria latercia, em Frana de obras sobre o estudo do trabalho da pedra
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Parte I Introduo ao estudo da edilcia de Bracara Augusta
17
e sobre materiais construtivos, o mesmo se verificando em certas zonas orientais do Imprio e
no Norte de Africa.
O panorama de estudos dedicados temtica da construo romana na Pennsula
Ibrica oferece-se algo distinto, uma vez que o impulso para a investigao de tais temticas foi
bastante mais tardio em Espanha e Portugal do que nos outros pases, sendo os seus resultados
igualmente bastante mais heterogneos. No entanto, haver que salientar alguns trabalhos
importantes realizados nos dois pases, bem como publicaes sobre temticas arquitectnicas
e construtivas, sendo contudo de destacar uma maior investigao destes domnios na vizinha
Espanha, muita da qual realizada no mbito do estudo monogrfico de monumentos de
diferentes cidades romanas, designadamente de muralhas, aquedutos, fora, edifcios termais, ou
teatros.
J o estudo de materiais e tcnicas construtivas mereceu menor ateno, muito embora
tenham sido publicados vrios trabalhos sobre os materiais ptreos e latercios, com destaque
para o estudo das marcas, de diferentes stios romanos. No cenrio peninsular no deixa de ser
igualmente louvvel o esforo empreendido nos anos 90 por Lourdes Roldn Gmez no sentido
de sistematizar o estudo das tcnicas de construo e dos materiais utilizados nos edifcios
pblicos da Btica, em particular de Carteia (1992) e Itlica (1993).
Tambm as cidades de Tarragona e de Mrida tm sido objecto de estudos relacionados
com a tcnica edilcia, cabendo destacar o recente trabalho de Antnio Pizzo, arquelogo
associado ao projecto de estudo de Mrida. Na sua tese, defendida em 2007, com o ttulo Las
tcnicas constructivas de la Arquitectura pblica de Augusto Emerita aborda de forma muito
aprofundada uma srie de questes muito relevantes, designadamente, no mbito das
metodologias de investigao, com claro destaque para a Arqueologia da Arquitectura e da
abordagem dos edifcios pblicos romanos de Augusta Emerita, apresentando para cada um
deles a histria da investigao, a anlise das estruturas, a descrio do edifcio, a anlise
estratigrfica, a tcnica construtiva e os elementos arquitectnicos. O captulo IV da tese encerra
uma sntese sobre os materiais de construo, os aparelhos e os elementos funcionais dos
edifcios, descritos com grande pormenor, enquanto que o seu captulo V constitui uma
aproximao arqueologia da construo, atravs da qual se analisa a organizao do trabalho
na arquitectura pblica emeritense.
A nvel nacional o quadro dos conhecimentos relativos ao estudo das tcnicas
construtivas, no mbito da arquitectura romana, apresenta-se ainda bastante deficitrio, mau
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Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma anlise das tcnicas edilcias
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grado a longa tradio de estudos assumida pela investigao nacional no domnio da
arqueologia clssica. Esta situao decorre de um deficiente / inexistente estudo de grande
parte das estaes romanas escavadas no nosso pas, a maioria das quais aguarda publicao
monogrfica. Neste contexto, justo sublinhar o contributo dado para a valorizao desta
temtica pela publicao das escavaes de Conimbriga (1974-1979) e de Tongobriga (Dias,
1997).
2.2 A investigao dos sistemas decorativos
Os primeiros trabalhos realizados sobre elementos decorativos da arquitectura romana
datam dos incios do sculo XX e constituem estudos dedicados geralmente ao capitel corntio,
como o de Ronczewski, nos anos 20. Posteriormente, na dcada de 30, surgem algumas obras
que prosseguem os estudos centrados naquele tipo de capitis.
Neste contexto, cabe destacar a obra de Kahler Die Romschen Kapitelle des Rhein
Gebietes, trabalho dedicado aos capitis corntios renanos, que permitiu demonstrar a
existncia de variantes dos modelos itlicos, indicadores de diferenas de estilos consoante as
regies de provenincia.
Mais tarde surgem vrios trabalhos realizado por autores italianos, dando incio na
dcada de 40 a um corpus de capitis, nos quais participaram inicialmente Scrinari (1952) e
Belloni (1958), com estudos realizados sobre materiais provenientes de Aquileia e de Milo
respectivamente.
J na dcada de 70 surge a importante obra de W Heilmeyer, intitulada Korinthische
Normal kapitelle. Studien zur Geschichte der rmischen Arkitekturdekoration, na qual se realiza
um estudo cronolgico e tipolgico dos capitis alto-imperiais essencialmente de Roma e da sia
Menor.
Os estudos desenvolvidos sobre esta matria apresentam um novo dinamismo nas
dcadas de 70 e 80 do sculo passado, momento em que se comea a dar particular ateno
aos elementos da arquitectura decorativa. Surgem assim grandes obras de referncia no
contexto internacional tais como os trabalhos de Patrizio Pensabene (1973), sobre os capitis de
Ostia ou o de Jos Lus de la Barrera Anton (1982), relativo aos capitis de Mrida.
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Parte I Introduo ao estudo da edilcia de Bracara Augusta
19
A monografia dedicada aos capitis de stia apresenta um estudo exaustivo de 774
capitis que passou a funcionar como obra de referncia, muito til na catalogao e anlise
deste tipo de elementos arquitectnicos. Por sua vez, o estudo dos capitis de Mrida engloba
109 peas, tendo o autor conseguido afinar cronologias para o material do templo de Diana e do
teatro, identificando o tipo de artista que os teria realizado (Encarnao, 2000-2001). Estes
trabalhos assentaram numa metodologia inovadora caracterizada por uma anlise minuciosa das
peas e na identificao das pedreiras de origem das matrias-primas.
Em 1992 surgiu uma obra que forneceu uma viso global dos capitis da Pennsula
Ibrica, da autoria de Maria Angeles Gutierrez Behemerid, baseada no seu estudo de cerca de
1000 capitis, divididos por perodos cronolgicos: tardo-republicano/ Augusto, Jlio-Claudio,
Flvio, Trajano/ Adriano, segunda metade do sculo II, sculo III e finalmente sculo IV. Cada
pea apresenta-se descrita sumariamente, tendo-lhe sido atribuda a respectiva cronologia.
Os dados obtidos neste estudo permitiram abordar a cronologia de introduo das
diferentes correntes artsticas na Pennsula Ibrica, o seu grau de divulgao, a sua durao.
Bem como os gostos particulares de cada poca. Cada corrente encontra-se precedida por um
texto introdutrio que fornece noes gerais sobre a mesma e que seguido da listagem dos
respectivos capitis.
Jos Lus de la Barrera publicou em 2000, um trabalho sobre La decoracin
arquitectnica de los foros de Augusta Emerita, que consiste numa catalogao exaustiva dos
elementos arquitectnicos presentes na cidade e no Museu Nacional de Arte Romano de Mrida,
uns descontextualizados e outros conservados ainda in-situ nos edifcios.
Trata-se de uma obra estruturada em cinco captulos, que fornece um catlogo das
peas, uma anlise tipolgica e estilstica do conjunto, abordando-se, tambm a arquitectura dos
fora a partir das ilaes e resultados do estudo dos elementos decorativos. No captulo IV o autor
desenvolve alguns aspectos mais tcnicos relacionados com os materiais, as pedreiras
solicitadas e os ateliers / oficinas emeritenses. Finalmente, nas concluses o autor refere a
existncia de um grande dinamismo da cidade de Mrida nos primeiros anos aps a sua
fundao, indicando tambm que a cidade beneficiou da proximidade de grandes quantidades
de granito e que era esse o material mais representado na construo (granito revestido com
estuque), at ascenso da cidade a capital de Provncia, acontecimento que alterou os usos
construtivos em vigor e deu maior protagonismo ao mrmore com toda a mestria tcnica e
formao que esse material nobre requer.
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Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma anlise das tcnicas edilcias
20
O caso de Emerita Augusta constitui um exemplo muito interessante para estudo de
programas arquitectnicos implementados pelas magistraturas locais nas construes pblicas.
Neste mbito, os materiais de decorao arquitectnica analisados por Jos Lus de La Barrera
parecem representar um veculo da propaganda imperial que se manifesta na edilcia romana
provincial.
Em 2006 surge uma tese de doutoramento, da autoria de Jvier A. Domingo,
subordinada ao tema dos Capiteles Tardorromanos y Altomedievales de Hispania (ss. IV-VIII
d.C.). O trabalho, que inclui um catlogo de 900 peas analisadas, encontra-se dividido por
zonas geogrficas: Nordeste Peninsular, Levante Peninsular, Sul Peninsular, Oeste Peninsular,
Centro Peninsular, Noroeste Peninsular, ncleo mozrabe e ncleo asturiano.
A nvel nacional, merecem destaque os trabalhos de Ldia Fernandes (1998) e Maria
Antonieta Brando Ribeiro (1999).
Ldia Fernandes defendeu em 1998 uma tese de mestrado subordinada ao tema dos
Capitis romanos da Lusitnia ocidental, tendo estudado um conjunto de 116 peas. Este
trabalho particularmente interessante uma vez que a autora no se limita a uma abordagem
arqueolgica, tentando interpretar o mundo do simbolismo e das ideias para chegar aos artistas
que executaram cada uma das peas.
Maria Antonieta Brando publicou em 1999 um trabalho sobre os capitis de Beja, num
total de 28 elementos, dos quais 22 capitis e 6 fragmentos. A obra integra quatro captulos,
onde se fala de Pax Iulia, enquanto enquadramento histrico-cultural aos capitis estudados. No
captulo III abordam-se os vrios tipos de capitis: jnico, corntio, corintizante e o compsito. No
ltimo captulo insere-se o catlogo descritivo, indicando, para cada pea, localizao,
provenincia, bibliografia, reconstituio, estudo analtico e comparativo. A obra integra ainda um
glossrio muito til explicando cada um dos elementos constituintes de um capitel.
No que respeita ao estudo dos capitis deu-se globalmente sempre maior ateno ao
capitel corntio relativamente aos das outras ordens. Contudo, existem alguns trabalhos pontuais
sobre capitis toscanos. Lezine desenvolveu um estudo sobre dois capitis toscanos encontrados
na Tunsia, Patrizio Pensabene abordando os capitis de Cherchel Arglia. Obras nas quais os
autores apresentam tipologias. Para a ordem jnica a referncia a obra de Bingl: Das
Ionische Normalkapitelle in Hellenistischer und rmischen Zeit in Kleinasien na qual estudado
um grande conjunto de peas originrias de sia Menor. Os conhecimentos sobre o capitel
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Parte I Introduo ao estudo da edilcia de Bracara Augusta
21
compsito beneficiaram dos trabalhos de Zorzi e Strong que fornecem informaes valiosas
sobre a sua criao e desenvolvimentos.
3.O contexto de anlise: Bracara Augusta
3.1 A fundao da cidade
Figura 1. Mapa do Imprio Romano no sc. II (Ribeiro, 2008: 208)
Quando os romanos iniciaram a conquista da Pennsula Ibrica, no sculo III a.C., j
existiam cidades, localizadas essencialmente na costa ibrica, no vale do Gualdalquivir e no sul
de Portugal. No entanto, medida que avana a conquista romana e o controlo de novos
territrios peninsulares, estabelecem-se acampamentos e fundam-se novos aglomerados
urbanos.
No que respeita ao NO peninsular o primeiro contacto das populaes pr-romanas com
os exrcitos romanos ocorreu j no sculo II a.C., no contexto de uma expedio militar levada a
cabo pelo cnsul Decimus Junius Brutus, em 138-136 a.C. (Martins, 2009: 184), data que
marca o incio do processo de pacificao desta regio, igualmente assinalado pelo grande
desenvolvimento econmico da mesma e pela reorganizao de alguns povoados que, cuja
dimenso e estrutura urbana justifica a sua designao como oppida (Martins, 2009: 185).
Pese embora a pacificao precoce da rea meridional do NO, que ser posteriormente
integrada no conventus bracarense, a submisso definitiva da Pennsula Ibrica do ponto de
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Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma anlise das tcnicas edilcias
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vista militar e poltico estar apenas concluda com o fim das guerras cantbricas, por volta de
19 a.C.
Figura 2. Cidades fundadas no NO
Augusto ir aplicar medidas poderosas de reorganizao no territrio hispnico que
passaram por trs pontos fundamentais: a diviso administrativa de toda a Pennsula Ibrica em
provncias, conventos e civitates; a criao de uma rede de importantes centros urbanos,
estabelecidos em pontos estratgicos, que obedeciam, necessariamente, a critrios hierrquicos,
dentro do quadro administrativo e territorial romano e a implantao de uma rede viria densa,
que assegurava a ligao entre os diferentes centros urbanos (Martins, 2009: 188). neste
contexto que vamos assistir fundao de um significativo nmero de cidades durante o
governo de Augusto, cujo estatuto jurdico variou consideravelmente.
No NO peninsular Augusto fundou trs novas cidades, Lucus Augusti, Asturica Augusta e
Bracara Augusta, destinadas a funcionar como capitais conventuais. Grande parte dos
investigadores considera que a fundao daqueles centros urbanos ter sido decidida aquando
da estadia do imperador na Hispnica, isto entre 16 e 15 a.C. (Le Roux, 1994 apud Martins,
2004: 152).
A circunstncia relacionada com o precoce controlo romano do actual territrio situado
no Entre-Douro-e-Minho ter facilitado a criao de Bracara Augusta, que ocupou uma posio
central no contexto daquela regio (Lemos, 2002: 96; Martins, 2009: 170). Trata-se
efectivamente de uma regio que manteve desde muito cedo contacto com as reas mais
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Parte I Introduo ao estudo da edilcia de Bracara Augusta
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romanizadas do sul da Pennsula, o que permitiu a disseminao de tecnologias, produtos e de
ideias de origem mediterrnica, que facilitaram uma rpida integrao social da populao
indgena no modo de vida romano e no modelo de organizao territorial imposto por Augusto
(Martins, et al. 2006: 28).
A criao de Bracara Augusta numa regio pacificada, desenvolvida e aberta a novas
formas de organizao constitua uma medida fundamental no processo de consolidao da
poltica imperial, pois como centro urbano a cidade constituiu-se como plo agregador de outras
iniciativas, funcionando como centro administrativo, n da rede viria e como local de residncia
das elites indgenas oriundas dos castros da regio, as quais tiveram um papel fundamental na
implantao de uma nova ordem social, econmica e cultural (Martins, 2009: 170).
Bracara Augusta representa a nica fundao urbana de Augusto no territrio portugus
a norte do Douro, sendo uma das grandes capitais administrativas do NO peninsular,
controlando, por isso, um amplo territrio politico-administrativo, constitudo por uma complexa
malha de civitates (Martins, 2009: 168).
3.2 O desenvolvimento urbano
O conhecimento que se tem da cidade romana resulta de mais de trs dcadas de
escavaes realizadas na rea urbana de Braga. Esse conhecimento permite admitir a fundao
civil da cidade, ao contrrio do que ter acontecido com Lucus Augusti e Asturica Augusta que
tero tido origem em campamentos militares (Rodrguez Colmenero e Covadonga Carreo,
1999; Sevillano Fuertes e Vidal Encinas, 2002). Os dados arqueolgicos permitem saber
igualmente que a cidade beneficiou de um plano ortogonal, que orientou os eixos virios e
estabeleceu uma malha de quarteires quadrados, estimada em 150 ps de lado, entre o eixo
das ruas (Martins, 2004: 154; Ribeiro, 2008: 253).
O forum da cidade encontrava-se situado na plataforma mais alta, junto da actual Capela
de S. Sebastio, ocupando a totalidade do actual Largo Paulo Orsio, sendo a sua localizao
sugerida por uma referncia escrita ao forum romanorum no mapa quinhentista de Braga,
atribudo a Georg Braun e pelo achado de vrias bases de colunas em granito, de grandes
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Arquitectura romana em Bracara Augusta. Uma anlise das tcnicas edilcias
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dimenses, encontradas na zona do actual quartel dos Bombeiros Voluntrios (Martins, 2004:
154; 2009: 178:).
Os eixos de circulao principais da cidade devero corresponder actual Rua de S.
Sebastio, para o decumanus maximus ocidental, sendo ainda problemtico o traado do
mesmo na parte oriental (Carvalho, 2008: 99). Atendendo largura da rua romana identificada
na zona arqueolgica do antigo Albergue Distrital, bem como monumentalizao da mesma,
com prticos de ambos os lados e ao facto de sob ela correr uma grande cloaca (Lemos e Leite,
2000: 21), entende-se que a referida rua dever corresponder ao cardo mximo norte, tendo
persistido na Idade Mdia com o nome de Rua Verde (Ribeiro, 2008: 100). Na parte sul da
cidade presumvel que o cardo mximo coincida com o traado da actual Rua dos Bombeiros
Voluntrios (Martins, 2008: 100).
As primeiras dcadas de vida da cidade so ainda mal conhecidas, muito embora os
estudos epigrficos e arqueolgicos indiquem que as cidades augstea e jlio-cludia
conheceram um programa de povoamento relativamente rpido (Martins, 2009: 174), que
permitiu uma florescente actividade econmica que teve a sua mxima expresso no urbanismo
e arquitectura da cidade flvia-antonina.
Com efeito, a maior parte dos edifcios pblicos e privados identificados nas escavaes
realizadas at ao momento em Braga podem ser datados entre a poca Flvia e os incios da
dinastia antonina, com particular destaque para a poca de Trajano / Adriano, perodo em que
se construiu o teatro (Martins et al., 2006: 27) e as termas pblicas do Alto da Cividade
(Martins, 2005: 9).
Com base nos resultados dos trabalhos arqueolgicos realizados em Braga possvel
indicar que a cidade romana ter atingido a sua mxima expanso no sculo II, com a edificao
de vrios edifcios de prestgio como as j referidas termas e teatro, a que podemos juntar um
anfiteatro erguido fora da rea urbana, identificado a partir da anlise da fotografia area, mas
cujas runas eram ainda visveis no sculo XIX (Morais, 2001: 56).
A importncia e desenvolvimento da cidade no Alto-Imprio so ainda comprovados pela
comple