arqueologia e cinema, uma história em comum

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    Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008. pgs. 19-31.

    O cinema tem olhado sempre para a ar-queologia com relativo interesse, na medidaem que lhe proporcionava paisagens, cená-

    rios, objetos e,em definitiva, mundos pararecriar visualmente. A pura materialidade daarqueologia tem oferecido continuadamenteelementos visuais para serem filmados. Eevidentemente a arqueologia é –mesmo queisto não seja reconhecido por tudo o mundo-uma disciplina fortemente visual, como temdito bem Stephanie Moser (1998), pioneirana analise da dimensão propriamente visualda arqueologia. Os arqueólogos têm sido

    representados no cinema popular desde co-meços do Século XX (Day 1997: 3, Membury2002) e especialmente pelo cinema no estiloHollywood (Baxter 2001). Aos modelos dearqueólogo herói, estilo Indiana Jones(Zarmati 1995), o único durante muito tem-po, têm sido acrescentados os modelos das

    arqueólogas-heroínas como Lara Croft(Zorpidu 2004). Por outro lado, os arqueólo-gos tenderam ao uso do cinema inclusive

    como metáfora do seu trabalho. Philip Barker(1982: 12), em um dos manuais de arqueo-logia de campo mais celebrados dizia que,em última instância, a tarefa dos arqueólo-gos ao tentar representar o que aconteceuno passado a partir de uma escavação erasemelhante à realização de um filme da his-tória do sítio arqueológico.

    Que a pesquisa arqueológica é assimilávelà construção de um filme é provado, entre

    outras coisas, pela importância que têm osmédios audiovisuais para transmitir o conhe-cimento histórico gerado, sob a forma devídeos e documentários para apresentar aopúblico os resultados da escavação de umsítio arqueológico qualquer. Se olharmos paratrás, descobriremos na arqueologia dos tem-pos pioneiros a importância da fotografia(Lyons et alii 2005), do desenho e da recons-trução histórica (Hodgson 2001, Lewuillon2002), nos tempos mais recentes do vídeo

    (Hanson & Rahtz 1988), dos documentários(Kulik 2006), da reconstrução digital através

     ARQUEOLOGIA E CINEMA, UMA HISTÓRIA EM COMUM

    Gonzalo Ruiz Zapatero*  Ana Maria Mansilla Castaño** 

    Resumo: O presente artigo analisa as relações entre a arqueologia e ocinema, apresentando três diferentes tipos de cinema arqueológico, odocumentário, o docudrama e a dramatização ou cinema de fição pretéri-ta. Destaca-se seu potencial didático, a partir da experiência da sua utili-zação prática de visionado e avaliação crítica dentro do programa formativo

    universitário de Pre-história na UCM.

    Palavras Chave:  Arqueologia, cinema, recursos didáticos.

    (*) Departamento de Prehistoria. UniversidadComplutense de Madrid E-mail: [email protected](**) Departamento de Prehistoria. UniversidadComplutense de Madrid E-mail: [email protected]

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    Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

    de computadores (Forte e Siliotti 1997) e in-clusive dos grupos de recriação histórica,reenactment , para representar o passado(Appleby 2005). A prova mais impressionan-

    te de que as performances   têm hoje plenavigência tem sido a finais de setembro de2006, a representação ao vivo das cenas doBem-Hur (1959) de Billy Wyler, incluindo aespetacular carreira de quadrigas, em cená-rios criados no grande Stade de France deParis, com centenas de atores e extras, ecom vários centenas de milhares de espec-tadores que tinham pagado bilhetes mais doque caros por assistir ao vivo (http://news .bbc . co .uk /2 /h i / i n te r t a inmen t /5337836.stm). Este espetáculo imita ao ci-nema, embora é representação ao vivo econstitui uma particular mistura de teatro,cinema, experimentação, reenactment  e apa-rato visual do passado. (Fig.1 e Fig. 2)

    Se em geral o mundo do cinema temmostrado relativo interesse pela arqueolo-

    gia, os arqueólogos temos sido mais descon-fiados com o gênero cinematográfico, fun-damentalmente pela tendência a pensar queno cinema a ficção é o componente mais

    poderoso e pelo tanto uma coisa muito afas-tada do obsessivo cientificismo da nossa dis-ciplina. Aos arqueólogos tem-nos importadomuito pouco o cinema (Day 1997: 4), o te-mos desapreciado por ser anticientífico eveículo de anacronismos ou ucronias e ape-nas nas últimas décadas temos começado amanifestar interesse em várias direções(Hernández Descalzo 1997, Pohl 1996). Mes-mo assim, as coisas não resultam fáceis.

     Assim, ante o sucesso dos filmes de StevenSpielberg de Indiana Jones (Sánchez-Escalonilla 2004), os arqueólogos têm seposicionado sempre fortemente contra a vi-são que a trilogia oferece da arqueologia.

     Apenas consegui achar uma visão positivanum breve artigo do arqueólogo britânicoJohn Gowlet (1990) nas páginas de Antiquity no qual o que vinha a dizer era que Indiana

    Fig.1 - O Stade de France de Paris cenário contemporâneo da representação ao vivo das cenas do Ben-Hur.

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    era simplesmente o arqueólogo mais fa-moso do mundo porque tinha levado a ar-queologia a muita mais gente do que to-dos os arqueólogos que tinham vivido nahistória juntos. O que é rigorosamente cer-to. Desde então tenho partilhado a idéiade Gowlett e acredito que é mais inteligen-te se associar ao Professor Jones para in-teressar às pessoas e depois tentar expli-car algumas coisas que não funcionam bemnos filmes. Vale mais ensinar com Indy paramostrar alguns erros do que desqualificá-lo sem raciocinar (Baxter 2002). Pois final-mente, e por muito que tinha sido critica-do, Indy nunca está infectado pela obses-são de adquirir ou acumular riquezas, paraele a descoberta é a aventura e o conheci-mento a recompensa. “A Arqueologia tratade fatos não de verdades”, diz Indy aos

    seus estudantes, lhes proporcionando as-sim uma pequena verdade que bem mere-ce ser retida (Johanson 2003).

    O que tento expor aqui é que a arqueo-logia, tratada de formas diferentes no cine-ma, pode ser um importante recurso didáti-co, O cinema com diferentes formatos, ao

    tempo que os filmes de arqueologia, apre-sentam aspectos da arqueologia para mui-tas pessoas de nível cultural muito diverso.

     A arqueologia filmada tem chegado a serhoje, para muitos públicos, a primeira fontede conhecimento sobre o passado remoto. Éobvio que estes filmes utilizam modos derelatar muito diferentes dos da arqueologia,mas com tudo, como diz Rosenstone (2005:337), se trata de uma forma legítima demostrar a história, isto é, de dar sentidoexplicativo ao passado, mesmo que expostadesde necessidades e valores muito diferen-tes. Uma de essas necessidades é trasladarmensagens a umas audiências muito hete-rogêneas. A conexão cinema-história temchegado a ser tão atrativa que têm surgidorevistas acadêmicas para estudar suas liga-ções como é o caso de Screening the past (www.latrobe.edu.au/screeningthepast/) dauniversidade australiana de La Trobe ou a

    espanhola Film Historia , da Universidad deBarcelona (www.pcb.unb.es/filmhistoria) porcitar apenas alguns exemplos.

    Tipos de arqueologias cinematográficas

    O cinema de arqueologia, “cinema ar-queológico”, ou simplesmente o cinema so-bre passados remotos inclui gêneros diver-sos (Hernández Descalzo 1997: 312-313): i)O documentário, no sentido estrito, no qualos britânicos e os estadunidenses têm sidoos mestres inicialmente com produções jáquase míticas como as da BBC (Daniel 1978)e outras produtoras muito ativas comoChannel 4 (2005), com grandes sucessos depúblico (Kulik 2006); ii) O Docudrama, no qualse misturam imagens documentais junto comoutras de fição o que é o formato mais re-cente e o que tem o maior sucesso divulgativo

    (Bourdial 2002 e Gamble 2003 a); iii) adramatização ou cinema de ficção pretérita,que pode oscilar entre aqueles filmes que

    Fig. 2 - Cartaz de promoção da representação 

    das cenas ao vivo do Ben-Hur.

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    procuram as maiores cotas de rigor históri-co-arqueológico e os outros de ficção livreem simples “cenários” de passados pouco ounada críveis (Solomon 2002).

    Todos estes gêneros do “cinema arque-ológico” oferecem muitas possibilidades comorecursos didáticos no ensino da arqueologia.Especialmente numa época na qual tudo oaudiovisual nos envolve e domina e na quereconhecemos que –finalmente- a arqueolo-gia é uma disciplina “fortemente visual”,embora não o manifeste explicitamente(Smith & Moser 2005). As imagens de pai-sagens, assentamentos, tombas e objetos dopassado formam parte da centralidade daarqueologia e pelo tanto, o “cinema arqueo-lógico” tem muitas razões para ser conside-rado um instrumento de aprendizado(Rosenstone 2005). Concordo plenamentecom Robert Rosenstone (2005: 350) em que

     “o cinema oferece uma importante e com-plexa visão do passado”. É uma forma deapresentar a História que precisa da nossaminuciosa atenção, especialmente porque

    muito do que temos aprendido no passadosobre o passado nos é transmitido hoje pre-cisamente através deste médio e deste gê-nero, no telão e na tela da televisão paraaudiências muito amplas.

    Na verdade, os arqueólogos não temostido quase interesse pelo “cinema de arque-ologia”, daí que os estudos relevantes e in-clusive as recopilações de filmes, apenas têmcomeçado a serem realizadas nos últimos dezou quinze anos e nem sempre por parte dosarqueólogos. Em primeiro lugar, é precisodestacar que a consideração de “cinema dearqueologia” precisa ser incluída dentro deaquela de cinema de história. Este constituia categoria superior e tem recebido certointeresse por parte dos historiadores (Barra1998, Carnes 1995, Fraser 1988). Talvez oslivros de Rosenstone (1995a, 1995b, 1997)sejam os melhores exemplos de um olhar

    especializado e lúcido para os filmes históri-cos e para a leitura da história no cinema.Mas a bibliografia sobre o tema é já muito

    ampla (Ibars & López Soriano 2006). No ci-nema de arqueologia, em sentido amplo, atradição anglo-saxona (Archaeology & You2004, Baxter 2001, Downs, Allen, Meister e

    Lazio 1995, Day 1997, Pohl 1996) e a france-sa (Lambotte 1990, Bourdial 2002) têm sidoas mais ativas, mas outras, e também a es-panhola, vão se acrescentando à especiali-dade (Hernández Descalzo 1997, Moreno iGimenez 2002). Ao mesmo tempo, é conve-niente apontar que o interesse continua es-tando mais no lado do cinema do que da ar-queologia. E assim, a recopilação mais am-pla de por volta de 140 filmes e vídeos nosquais os protagonistas são arqueólogos, olivro de David Howard Day  A treasure Hard to Attain . Images of Archaeology in PopularFilm with a Filmography (1997), não é a obrade um arqueólogo. Mesmo que se pudessededuzir claramente depois da leitura dos onzebreves capítulos do ensaio que antecede àfilmografia comentada, verdadeiramente omais útil do livro. Muito mais amplo comocatálogo de filmes de Pré-História e Mundo

     Antigo é o livro de Herbert Verreth (2003 ) De 

    oudheid in film. Filmografie. E certamente, éclaro que a informação mais atualizada eampla é preciso procura-la na Internet(http:www.saa.org/public/fun/movies.html).

    Um gênero destaca por cima dos outros,o peplum ou “cinema de romanos” (Fig. 3).O estudo de Jon Solomon Peplum. O mundo antigo no cinema (2002)  é, sem dúvida algu-ma, o melhor, e na Espanha o estudo pionei-ro de Fernando Lillo O cinema de romanos e sua aplicação didática  (1994) tem seguido oensaio mais aprofundado e amplo de AlbertoPrieto A Antigüidade filmada (2004) O me-lhor site, com um amplíssimo repertório éPEPLUM Images de l´Antiquité Cinema et BD(http://www.peplums.com).

    Dimensão didática da arqueologiacinematográfica

    Sob o ponto de vista do professor é fun-damental estimular as práticas de visionado

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    crítico, sobre tudo nos filmes que reclamamestar baseados “completamente” na históriareal. As visões críticas não se referem ape-nas à crítica sobre a fraca informação quecontêm ou ficar ofendidos pelo vandalismocultural que é possível achar as vezes (http:/

     /www.ea r l ymode rnweb .o rg . u k /eu r /index.php/early-modernity-in-film/historians-and-historical-film). A visão crítica supõe queos filmes arqueológicos não devem ser vis-

    tos em termos de como são, comparadas coma arqueologia e a história escrita, mas comouma forma de volver a contar o passado com

    as próprias regras de representação docinema (Rosenstone 1995b: 3). A arque-ologia filmada não proporciona – não podefazê-lo de jeito nenhum- um conjunto claro

    e ordenado de elementos explicativos e dereferência. Um filme ou um documentárionão são textos científicos, nem têm biblio-grafia, nem notas a rodapé. Nesse senti-do, o filme arqueológico vai ser sempreum “passado-imperfeito” (Carnes 1995).Mas pode sim, mover à curiosidade, à in-dagação posterior e pode proporcionaridéias que vão mais além dos limites dopróprio filme (Hall 2004). Na minha opi-nião, as razões fundamentais do valoreducativo do cinema na arqueologia po-dem-se resumir da seguinte maneira:

    i) O cinema é um médio ideal paraanalisar, avaliar e explorar a importânciadas imagens na arqueologia (Smith & Moser 2005). A Arqueologia é imagem,praticamente tudo o que está relacionadocom a arqueologia pode se reduzir a ima-gens, os objetos, os restos das vivendas e

    das tombas, as paisagens, até os própri-os processos e trajetórias temporais po-dem ser apresentados em gráficos e dia-gramas. De alguma maneira, pensar emarqueologia é pensar em imagens. Pelotanto, o cinema supõe um médio interes-santíssimo de como traduzir em imagensnarrativas a história do passado.

    ii) A pura empatia que produz noespectador possibilita que nos desloque-mos melhor ao passado e que habitemos

     –mesmo que por alguns minutos- passados “vivos”; condição indispensável para se inte-ressar pela história e suscitar questões e te-mas de interesse. Mergulharmos na ficçãode um passado facilita a compreensão dascaracterísticas do passado histórico ao pro-porcionar chaves, tanto visuais quantointerpretativas, do mesmo. E pode proporci-onar, ao mesmo tempo, uma dimensãoemotiva e afetiva que com freqüência acom-

    panha também à arqueologia.iii)Permite utilizar os erros e anacronis-mos para introduzir informação arqueológi-

    Fig. 3 - Cartaz do filme Espartaco um dos peplum mais celebrado protagonizado por Kirk Douglas na década de 1960.

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    ca, não simplesmente para censurar mausassessoramentos históricos dos filmes, masbem mais para reconstruir esses erros epossibilitar uma verdadeira “genealogia do

    anacronismo”. A anal ise de f i lmes edocumentários permite identificar erros e no jogo da sua procura e sua crítica permitedespertar o interesse pela realização devisionados inteligentes e com critério histó-rico. Alguma coisa semelhante, salvando asdistâncias, ao desafio de alguns livros infan-tis e juvenis de arqueologia muito instrutivosque propõem a descoberta de erros e ana-cronismos em desenhos de reconstruçãocênica (Leronge 2006), ou aqueles que mos-tram simplesmente a evolução de uma ruaou uma cidade ao longo de milhares de anos(Millard & Noon 1999, Steele & Noon 2006).

    iv)Permite refletir sobre as vidas dos ele-mentos materiais do passado – autênticas “bi-ografias’ das coisas – até chegar à tela e des-vendar assim todo um complexo “imagináriopopular” do passado. A aparição no cinema deobjetos, artefatos, construções e máquinas quetentam vestir uma época determinada oferece

    a possibilidade de uma desconstrução de es-ses elementos. Permite, assim mesmo, sepa-rar os autenticamente históricos e ajustados àdocumentação arqueológica de aqueles quetêm ganho sua adscripção a uma época gra-ças aos erros transmitidos por diferentes viase que resultam pelo tanto, anacrônicos. Umexemplo: os capacetes com chifres dos celtas;excepto um exemplar britânico – o qual é in-clusive duvidoso que possa ser qualificado de

     “celta”- se desconhece a associação de estetipo de capacete aos celtas da Idade de Ferroeuropéia, mas as gravuras especialmente des-de o século XIX têm-na difundido erroneamen-te. No cinema se utilizam elementos que per-tencem ao imaginário popular mais do que àsimagens arqueológicas. O que importa não é oautêntico tipo de capacete celta, o que impor-ta é que seja identificado pelo público comocéltico, embora seja falso. Uma coisa é a ar-queologia e uma outra é o imaginário popular,

    a primeira é minoritária no entanto o segundoé majoritário. Tudo isso é tremendamente útilpara o aprendizado arqueológico.

    v) A partir da atração da imagem podese confrontar informação cinematográficacom informação arqueológica (menos atra-tiva no começo) e gerar assim curiosidade

    histórica sobre o passado. Não há dúvida quepoder comparar a reconstrução da Roma deum peplum   da década dos 50, a do filmeGladiator   e as das reconstruções arqueoló-gicas mais sérias e fidedignas constitui umexercício didático de grande atrativo (Wyke1997). Como se apresenta o Homen deNeandertal no filme O Clã do urso das ca- vernas   e como se tem representado antro-pologicamente e arqueologicamente? O con-traste das imagens do Neandertal gera inte-resse e curiosidade sobre os processos pararepresentar v isua lmente o passadopaleolítico. O sugestivo e atrativo do cine-ma, embora seja anti-histórico, cria um pontode interesse que dificilmente a arqueologiavai conseguir por sim mesma.

    Em última instância, o processo de re-presentação do passado no cinema podeservir para analisar e refletir sobre os pro-

    cessos que a arqueologia utiliza para repre-sentar os passados pré-históricos e históri-cos e contextualizar o que alguns arqueólo-gos têm chamado “imaginação arqueológi-ca” (Gamble 2003b). Como o diretor de umfilme constrói sua obra é uma boa metáforade como os arqueólogos construímos nos-sas representações do passado. E de fato,uma das últimas novidades nos estudos deposgraduação em arqueologia é a oferta doscursos “Masters Screen Media” (Máster2006) ou “Archaeology and the Media: Digi-tal Narratives in, for and about Archaeology” dirigido por Ruth Tringham (2006) na BerkeleyUniversity. Também sessões de congressosinternacionais se ocupam do tema como aMesa Redonda: “Teaching Archaeology usingFilm and Television” no 71 Annual Meeting of the Society for American Archaeology (SanJuan de Puerto Rico, 26-30 Abril de 2006).Na Espanha também não faltam cursos uni-

    versitários que abordam estes temas, o maisrecente O mundo antigo e medieval no cine-ma (Curso da Universidad Internacional

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    Menéndez y Pelayo em Valencia, 10-14 de julho de 2006).

    Resumindo, considero que o interesse dos

    arqueólogos no “cinema de arqueologia” devese centrar em duas questões fundamentais:primeiro, ver se seu conteúdo e discurso ge-rais proporcionam alguma coisa de interessesobre nosso passado com rigor histórico e se-gundo, ver se transmite, de forma clara, umsentido de passado e suas implicações atuaispara uma audiência ampla (Rosenstone 2005:350). E com caráter mais secundário, comotambém aponta Robert Rosenstone, avaliar averacidade da reconstrução dos detalhes.

    O documentário de arqueologiacomo gênero específico

    O gênero do documentário tem raízesantigas, e, pelo menos no âmbito anglo-saxão, uma tradição bem estabelecida des-de a década de 1960. Os vídeos da BBC eChannel 4 (Kulik 2006) e a National

    Geographic (www.nationalgeographic.com/siteindex/archaeology.html) têm tido, e con-tinuam tendo, um grande prestígio e atrati-vo. O formato tradicional oferece informa-ção de culturas, sítios arqueológicos ou fe-nômenos com três ingredientes chave: pri-meiro, a base documental visual, isto é, osmateriais arqueológicos, os sítios arqueo-lógicos e as paisagens; segundo, o apóiocientífico, normalmente sob a forma de ar-queólogos e especialistas que são entrevis-tados em seus respectivos escritórios ouque, de forma mais ativa e sugestiva, falamante os próprios monumentos e sítios ar-queológicos e terceiro, a interpretação vi-sual na forma de gráficos, mapas e diagra-mas que tem revolucionado sua capacidadeinformativa com a chegada da infografia(Aguilera 1990). Além das distribuidorascomerciais The Archaeology Channel(www.archaeologychannel.org) oferece uma

    extensa coleção que abrangre desde temasda Origem da Humanidade às civilizaçõesdo mundo clássico (Bahrami 2006).

    Nos últimos anos a tentativa de chegar amaiores audiências tem feito com que osdocumentários se orientem para o docudrama,no qual se combina o documental clássico com

    dramatizações que conseguem maior aten-ção do espectador. Até o ponto de que algunsdocudramas recentes, caso do Neandertal, éa história de ficção que articula o documentárioe de forma secundária, no fio da ficção, seapresentam dados informativos sob a formade rápidos flashes. Hoje contamos com óti-mos documentários de qualquer temática ar-queológica. Entre os mais significativos dosúltimos anos vale a pena destacar Caminhan-do entre as Bestas (Haines 2002) e Caminhan-do entre Homínidos (Lynch & Barret 2003,Gamble 2003a) da BBC e a produção franco-canadense A Odiséia da espécie (Bourdial2002). Na produção nacional Atapuerca (2002)de Javier Trueba sobre o famoso sítio arque-ológico de Burgos tem-se convertido em umagrande referência, mas também vão se re-alizando documentários vinculados a proje-tos de pesquisa arqueológica de grande qua-lidade como Castellón Alto, um povoado

    argárico na província de Granada. Pelo con-trário, o seriado da TVE Memória de Espanha(2003-2004), sob a direção de FernandoGarcía de Cortazar, teve uma encenação muitofraca, especialmente nos primeiros episódi-os com abuso de encenações, que ainda porcima resultaram muito ruins, e em geral,como poucos médios e menos idéias. O tex-to dos historiadores liderados por García deCortazar era bem aceitável, embora TVE nãocolocasse nem imaginação, nem dinheiro.Mesmo assim, os índices de audiência foramelevados, especialmente para um documentáriode história. Em qualquer caso, ao tomar al-gumas notas sobre aqueles episódios acabeipensando que a avaliação do seriado nãopodia ser realizada apenas pelos profissio-nais, e seria preciso pensar fórmulas paraconhecer a avaliação dos não-especialistas:Quais os valores que apreciam?, Que capa-cidade crítica têm? As respostas a estas per-

    guntas e a outras de semelhante índole seri-am de grande ajuda para os historiadores eos arqueólogos.

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    Nas aulas práticas, facilito aos estudan-tes algumas idéias gerais sobre como assis-tir a documentários e tomar notas, e maistarde lhes peço que escrevam suas avalia-

    ções, pontuem cada documentário – é im-portante ver diferentes tipos, incluindo osruins- e justifiquem dita pontuação. Na visãogeral que lhes ofereço incluo muitas das idéi-as aqui expostas e no plano prático insistonos seguintes aspectos: (i) que os vídeos têmdois grandes discursos: o visual, as mensa-gens exclusivamente transmitidas pelas ima-gens e o verbal, a informação falada em off que acompanha às imagens. Os dois sãoimportantes e precisam de uma analise si-multânea de cada um deles; (ii) que no dis-curso visual é preciso, por um lado, apren-der a catalogar os tipos de imagens (obje-tos, sítios arqueológicos, paisagens, mapase infografia, arqueólogos ou especialistasentrevistados ou apresentando informação –

     “bustos falantes” -, reconstruções dramati-zadas, gravuras antigas, etc...) e pelo outrolado é preciso realizar estimações temporaisde cada um dos tipos de imagens, isto é, se

    na porcentagem predomina o tempo dedica-do aos objetos, aos sítios arqueológicos ouàs reconstruções e como se distribui – apro-ximadamente- o tempo do conjunto das ima-gens. Pois esta distribuição não é casual edeve refletir as intenções do produtor. De-pois é preciso desenvolver estratégias paramedir o impacto e a força de cada imagem eseu grau de inteligibilidade; (iii) que o dis-curso verbal, os conteúdos específicos, exi-ge também uma analise hierarquizada, pri-meiro uma avaliação global, a quantidade deinformação e o ritmo de apresentação; se-gundo, uma analise das idéias centrais quese transmitem; terceiro, uma consideraçãodo léxico utilizado e finalmente, descobrir aspossíveis “iscas” do discurso falado e apre-sentar a arquitetura completa do “texto” parasua posterior crítica; e (iv) finalmente, incidirna importância de refletir sobre o grau decomplementaridade existente entre as ima-

    gens e as palavras, isto é, de que maneirase tem conseguido, ou não, um ajuste entreo que se vê e o que se escuta. Embora possa

    parecer qualquer coisa de irrelevante, emalguns casos a informação falada que nãoguarda relação alguma com as imagens quese visualizam, fica praticamente perdida,

    escondida, por trás de imagens, que literal-mente, engolem o discurso falado. Se emalgum caso se pode ter a filmação do Comose fiz... do documentário podemos acrescen-tar mais elementos de interesse para o de-bate, a mesma coisa que se proporcionar-mos algum texto que explique a realização,como no caso da Odisséia da Espécie(Bourdial 2002).

    Os resultados habitualmente são bastantebons, hoje a cultura audiovisual dos estudan-tes é muito alta e com apenas umas poucasidéias a modo de roteiro, como as arribaindicadas, eles são muito capazes de ofereceravaliações críticas e razoadas, que sem ne-nhuma dúvida me ajudam a re-situar meu pró-prio analise frente ao rico panorama que meusestudantes me oferecem. Uma tarefa final dedebate ou discussão completa perfeitamenteas opiniões pessoais colocadas por escrito.

    Os filmes de ficção arqueológica/histórica na moda

    O caso dos fi lmes de ficção comambientação arqueológica/histórica é umpouco diferente. Fundamentalmente pode-mos afirmar que a avaliação deve ser dife-rente pela simples razão de que, como te-mos visto com Rosenstone, os diretores decinema não são - e não pretendem ser – his-toriadores, mesmo que alguns deles reivin-diquem um altíssimo grau de verismo histó-rico nos seus filmes. Os cinco critérios queaplico para a analise didática nas aulas dearqueologia são perfeitamente aplicáveispara todos os filmes de este gênero, inde-pendentemente de que uns se situem na maisdisparatada ucronia e outros no intento maisencomiável de mergulhar-se na atmosfera de sua época histórica. O que se ganha em

    atrativo – parece claro que segura mais ointeresse dos estudantes uma boa ficção doque um bom documentário – é obvio que se

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    perde na qualidade da informação ofereci-da, mas ao mesmo tempo a ficção permitedebates mais críticos e mais abertos do queno caso dos documentários. Vou comentar,

    muito brevemente, apenas uns poucos filmesque reúnem muitos elementos de interessepara sua utilização em atividades didáticas: A guerra do fogo, Gladiator, Troja, Alexan- dre e O guia do desfiladeiro.

     A guerra do fogo de J.-J. Annaud (1981),baseada no celebrado romance de J.H. Rosny(2004) [1911], que tem tido um grande im-pacto (Felici 2000), é um filme fantástico (Fig.4). Continua sendo meu filme favorito no apar-tado de filmes de Pré-história, uma categoriaesta que na verdade não tem uma relação muitoampla de filmes atrativos e com um mínimo derigor arqueológico (Moreno i Jiménez 2002).

     As possibilidades didáticas são muito amplas,desde a coexistência de diferentes espécies ea possível interação entre neandertais-cro-magnons, às estratégias de caça e os modelossócias dos diferentes tipos humanos que apa-recem. A ambientação, vestimentas e armas,

    assim como a forma de se movimentar e defalar das diferentes formas humanas têm cria-do todo um modelo a seguir.

    Gladiator   (2000), de Ridley Scott temconseguido revitalizar, de forma espetacular,o cinema de romanos, o famoso peplum, quelevava anos em decadência (Landau 2000).O filme oferece múltiplas possibilidades paraexercitar as atividades didáticas que tenhoindicado acima e de fato conta com muitasleituras como recurso didático (GarcíaBeguería & Lérida Lafarga 2006). Po r suaparte , Troja (2004) de W. Petersen, com BradPitt no papel de estrela, tem seguido a trilhaaberta por Gladiator e, embora os muitoserros, logra transmitir ao grande público umcerto sentido histórico do grande poemahomérico (Solomon 2006, Winckler 2006 ) esobre tudo conseguiu que muitas pessoas semergulhassem na leitura de a Ilíada. Como

    no mais recente caso de  Alexandre   (2004)de Oliver Stone, inclusive com os erros quese podem detectar, é preciso pensar nos acer-

    tos (Fig. 5). Como bem tem dito FernandoQuesada (2005: 88) “não façamos de arque-ólogos fundamentalistas”, e celebremos quepor alguns dias Alexandre, bissexual, homos-sexual ou o que quer que fosse entre no co-ração de milhares de pessoas que de outramaneira jamais teriam ouvido falar da vidado grande personagem grego. Daí podemsurgir outros interesses mais sérios. Mas nemtodas são grandes superproduções. Em fil-mes de baixo orçamento é possível acharautênticas jóias que nos deslocam para pas-sados menos hollywoodienses, mas não porisso menos atrativos. É esse o caso do filmeO guia do desfiladeiro (1987), um deslumbran-te filme do norueguês Nils Gaup, ambientadona Idade de Ferro tardia da Escandinávia quemostra a vida de uma comunidade lapona ata-

    cada por uma mannerbunde  de sinistros guer-reiros que chegam de terras mais meridio-nais (www.imdb.com/tittle/tt0093668).

    Fig. 4 -  Cartaz do filme. A guerra do fogo de Jean-Jacques Annaud.

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    Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

    Conclusão

    Como reflexão final penso que é impor-tante destacar como as imagens do passa-

    do, que até há apenas dez ou quinze anosestavam sob a dominação quase exclusivado cinema, têm passado a formar parte dos

     “poliedros visuais” que trocam, transformame recriam imagens continuamente (Finn2001). Esses “poliedros” não são outra coisamais do que a interatividade crescente entrediferentes médios que “produzem/fagocitam” imagens: cinema (Pohl 1996), televisão(Fagan 2003, Payton 2002 e Silberman 1999),

    Internet, Vídeo e DVD, Vídeo-games (Watrall2002) e as próprias telas dos celulares e doiPOD. Todos eles estão gerando certo inte-resse entre os arqueólogos. O fascínio detodos os públicos pela arqueologia significaque os arqueólogos cada vez mais têm queestar tratando com os diferentes médios, comcerteza mais do que outras disciplinas, e pelotanto tem chegado a ser uma questão crucialcomo se comunicar com as audiências atra-vés dos diferentes médios e como os própri-

    os médios vêm a arqueologia (Clack & Brittain2007, Van Dyke 2006).

    Fig. 5 - Cartaz do filme Alexandre, protagonizado por Colin Farrell.

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