arquivos da polícia sob o foco da historia patto rapm 48, 2012

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artigo sobre os fundos da polícia sob guarda do APM

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  • Dossi 61

    O Fundo Chefia de Polcia, acervo composto por mais de 600 mil pginas de documentos relativos atuao do aparato policial mineiro no perodo de 1842 a 1956, foi franqueado pelo APM aos pesquisadores, que ali podem encontrar importantes subsdios para o captulo da construo da ordem em Minas Gerais.

    Revista do Arquivo Pblico MineiroRevista do Arquivo Pblico Mineiro

    Arquivos da polcia sob o foco da HistriaRodrigo Patto S Motta

  • estrito comando da Coroa, para os ltimos, enquanto os

    primeiros defendiam maior autonomia para as provncias

    e as autoridades locais.

    Com a vitria dos saquaremas, a tica conservadora

    se imps e os rgos de polcia permaneceram sob o

    controle do governo imperial, assim como os demais

    setores importantes do Estado. Por isso mesmo o acervo

    documental comea em 1842, quando o regresso

    conservador produziu leis que definiram a forma que

    a polcia viria a manter at o fim do Imprio. Alm de

    nomear o chefe do Poder Executivo nas provncias (o

    presidente), o governo imperial tinha a prerrogativa de

    nomear o respectivo chefe de Polcia. A este cabia sugerir

    ao presidente de Provncia os nomes para ocuparem

    os cargos de delegados e subdelegados de Polcia, que

    atuavam em nvel local. interessante mencionar que,

    naquele contexto, as normas legais conferiam notvel

    poder polcia, em alguns casos atribuies que a cultura

    liberal considerava prerrogativas do Judicirio.

    Com a proclamao da Repblica, os anseios

    descentralizadores puderam ser finalmente atendidos.

    A principal mudana foi retirar o controle poltico-

    -administrativo exercido pelo Rio de Janeiro (Corte

    e depois Distrito Federal), conferindo assim maior

    autonomia s elites estaduais. O chefe de Polcia passou

    a ser escolhido pelo chefe do Poder Executivo mineiro

    (em Minas o cargo era presidente do Estado), ficando o

    nomeado subordinado Secretaria do Interior. Durante

    os anos iniciais da Repblica, o servio policial foi se

    tornando mais complexo, com a incluso de novos tipos

    de funcionrios (escrives, agentes, carcereiros) e novas

    sees, como o Gabinete de Identificao e Estatstica

    Criminal e a Guarda Civil. Mais adiante foram criados o

    Gabinete de Investigaes e Capturas (1922) e a polcia

    poltica, cuja primeira denominao foi Delegacia de

    Ordem Poltica e Social (1927). Nas primeiras dcadas

    republicanas novas atividades e setores policiais foram

    surgindo, por vezes para atender s mudanas que

    ocorriam na sociedade, em outras para contemplar

    demandas surgidas nos contextos autoritrios.

    Nessa fase, as polcias estaduais exerciam atividades

    que depois seriam atribudas exclusivamente Polcia

    Federal, como o servio de censura e o controle de

    passaportes, por exemplo. Em razo das cada vez mais

    amplas atribuies da polcia, em 1956 o governo

    estadual fez uma reforma administrativa que lhe deu

    maior poder e visibilidade pblica. A antiga Chefia de

    Polcia at ento um departamento da Secretaria do

    Interior foi extinta e no seu lugar surgiu a Secretaria de

    Segurana Pblica e Assistncia Social. O ano de 1956

    foi efetivamente um marco na reestruturao da polcia

    mineira no mesmo ano, a Delegacia de Segurana

    Pessoal e Ordem Poltica e Social (Dops) foi ampliada e

    passou de Delegacia a Departamento o que coincide

    tambm com o perodo final da documentao do Fundo

    Chefia de Polcia.

    Breve incurso no acervo documental

    A documentao que integra o acervo de tipologia rica

    e variada e engloba atividades policiais realizadas na

    capital do Estado e em cidades do interior. Os ttulos

    das 15 sries que constituem o arranjo do fundo

    oferecem uma viso geral sobre o tipo de documentos

    ali contidos: correspondncias recebidas e expedidas;

    Gabinete de Identificao e estatstica criminal; matrcula

    de autoridades, funcionrios, policiais e rus; pessoal;

    finanas; contratos; ocorrncias policiais; operaes

    policiais; diversos; expediente; construo, manuteno e

    fornecimento a cadeias e quartis do Estado; assistncia

    a alienados; Guarda Civil da capital e inspetoria de

    veculos; servio mdico legal e pronto-socorro policial.

    Em meio aos papis distribudos por essas 15 sries

    podem ser encontrados: cartas, ofcios, inquritos,

    diligncias, mandados de busca, relatrios, registros

    estatsticos, contratos, certides, exames periciais,

    Revista do Arquivo Pblico Mineiro | Dossi62 | Rodrigo Patto S Motta | Arquivos da polcia sob o foco da Histria | 63

    A trajetria das instituies policiais configura

    aspecto importante da histria do Estado, portanto, da

    histria poltica em sentido tradicional. Entretanto, trata-se

    de tema capaz de gerar pesquisas de grande interesse

    tambm a partir das perspectivas da histria social e da

    histria cultural, como tentarei mostrar neste texto.1

    O termo polcia surgiu no perodo clssico, obviamente

    derivado de polis, que tambm originou a expresso

    poltica. No sentido original, polcia tinha relao com

    o ordenamento da cidade e a arte de bem governar.

    Posteriormente, o termo passou a ter duas acepes

    distintas, embora de sentido aproximado: o conjunto de

    leis e regras concernentes administrao da cidade,

    desde abastecimento at moralidade e ordem pblica;

    os guardies da lei, ou seja, os policiais, cidados

    responsveis por defender a cidade dos transgressores das

    normas comuns.2

    Polcia, portanto, sempre implicou garantia de ordem

    pblica e defesa dos valores e costumes dominantes em

    uma determinada sociedade. O seu papel fiscalizar e

    reprimir os transgressores da ordem, de acordo com um

    cdigo de valores estabelecido pela prpria sociedade,

    ou, mais frequentemente, pelos grupos sociais dirigentes.

    Ainda que a atividade policial gere relaes opressivas

    e autoritrias, ou voltadas apenas para defesa dos

    interesses da elite, parte dos valores que fundam sua

    ao so largamente disseminados socialmente, como a

    represso a crimes como roubo e assassinato. A depender

    do momento, a polcia pode ser acusada de abuso e

    chamada para proteger interesses ofendidos, s vezes,

    paradoxalmente, pelas mesmas pessoas.

    Com a formao de aparatos estatais complexos, a

    partir do mundo moderno, comearam a ser criadas

    instituies policiais mais organizadas no interior da

    burocracia estatal, e mais distantes da sociedade. No

    perodo contemporneo, o surgimento de movimentos

    em defesa de liberdades e direitos para afirmao

    da cidadania colocou em pauta a necessidade de os

    cidados controlarem sua polcia, para que a garantia

    da ordem pblica seja compatvel com princpios

    democrticos. Em meio luta por instituies policiais

    submetidas a regras e valores democrticos, a questo

    do acesso pblico aos arquivos policiais tornou-se

    fundamental, como mais uma forma de controle social

    da polcia. Para alm da relevncia desse tema para o

    fortalecimento da cidadania, os documentos policiais

    constituem fontes inestimveis para o historiador e

    demais pesquisadores interessados.

    O Arquivo Pblico Mineiro (APM), recentemente,

    disponibilizou para consulta pblica mais um acervo

    policial de grande importncia histrica, o Fundo Chefia

    de Polcia. Aps um trabalho de organizao que levou

    cerca de trs anos, o APM franqueou aos pesquisadores e

    ao pblico acesso ao novo conjunto documental. O acervo

    composto de aproximadamente 600 mil pginas de

    documentos, acondicionados em 465 caixas e 373 livros

    que correspondem a 169 metros lineares. Essa enorme

    massa documental se explica pela larga temporalidade

    abarcada, mais de 100 anos. O Fundo Chefia de Polcia

    rene documentos desde 1842 a 1956, um perodo

    importante na formao do aparelho do Estado mineiro.

    No decorrer desse amplo perodo ocorreram vrias

    mudanas administrativas que, evidentemente, no

    possvel detalhar no curto espao de um artigo.3

    Mas preciso mencionar os principais aspectos dessa

    histria poltico-administrativa que, a propsito, o

    acervo documental em questo vai ajudar a conhecer

    melhor. A trajetria da polcia guarda estreita relao

    com a histria do Estado, de que constitui um dos

    departamentos mais significativos. No caso brasileiro,

    o formato institucional da polcia esteve no cerne das

    disputas que dividiram a elite poltica nos anos de

    formao da jovem nao independente. Nos anos 1830

    e 1840, liberais e conservadores divergiram em relao

    estrutura do Estado, que deveria ser centralizado e sob o

  • No tocante Fora Pblica/PM, que passou a ter

    monoplio do policiamento ostensivo com o fim das

    Guardas Civis em 1967, quando a ditadura imps

    controle mais rgido sobre os policiais militarizados,

    sua relao com a Chefia de Polcia precisa ser mais

    bem esclarecida. Decerto a fora policial militarizada

    era distinta da polcia civil e tinha comando prprio,

    no entanto, durante uma parte do perodo ela foi

    subordinada tambm ao chefe de Polcia. Por isso, no

    acervo encontram-se documentos sobre os quartis

    da fora militar, cuja gesto administrativo-financeira

    era controlada pela Chefia de Polcia. Na mesma srie

    documental constam registros sobre os crceres mantidos

    pela polcia, com informaes sobre pagamento de

    aluguis, contratos para fornecimento de energia e outros

    tipos de gastos, dados muito teis para um mapeamento

    do processo de constituio do aparato de segurana.

    Alis, o acervo tem muita informao sobre aspectos

    administrativos e, principalmente, sobre questes

    relacionadas vida funcional dos servidores da polcia,

    com registros sobre pagamentos, nomeaes, licenas,

    exoneraes, termos de engajamento, entre outros. Com

    esse material possvel conhecer melhor o perfil dos

    policiais: em que grupos sociais eram recrutados, qual

    o seu regime de trabalho e padro de vida, com que

    recursos materiais contavam para o exerccio de sua

    atividade.

    Outras competncias e atribuies

    Como a polcia atual, as autoridades de segurana

    de pocas anteriores ocupavam-se do processo de

    identificao, um trabalho imprescindvel para o

    controle social, sobretudo em espaos urbanos cada

    vez mais populosos, como no caso brasileiro. Desde

    1909 a polcia mineira contou com uma repartio

    especfica para o trabalho de identificao. Alm dos

    cidados nacionais, a polcia cuidava de controlar as

    atividades e o registro dos estrangeiros, por motivos

    polticos e por preconceitos culturais. No ltimo caso,

    principalmente, devido a imagens recorrentes sobre

    documentos apreendidos, processos referentes a

    passaportes e registros de identidade, entre outros.

    Vale a pena destacar a existncia de vasta documentao

    iconogrfica, que rene imagens raras e visualmente

    impactantes. H centenas de fotografias que retratam,

    entre outras coisas, edificaes usadas como cadeias e

    quartis, pessoas acusadas de delito (entre elas, uma

    criana de 12 anos), laudos cadavricos e veculos

    relacionados a crimes como um automvel dos anos

    1930 crivado de balas. No acervo iconogrfico chamam

    a ateno, tambm, cartazes de indivduos procurados,

    alguns deles criminosos estrangeiros (geralmente

    gatunos) foragidos de seus pases, s vezes envolvidos

    em histrias de tom folhetinesco. Alm disso, h

    exemplares de cdulas e moedas falsas que a polcia

    preservou para realizao de atividades investigativas ou,

    quem sabe, por causa do fascnio que o material desperta

    mesmo ao olhar mais frio. Constata-se que a falsificao

    foi crime comum, ao ponto de as autoridades monetrias

    terem redigido um manual para facilitar o trabalho

    policial de identificar o dinheiro falso. Aparecem registros

    semelhantes no caso de bilhetes de loteria falsificados,

    atividade que cabia polcia monitorar.

    Os documentos da polcia civil mineira guardados no

    acervo do APM oferecem possibilidades interessantes

    aos historiadores. Eles podem fundamentar pesquisas

    que consolidem a historiografia dedicada s instituies

    policiais, campo que conta com bons trabalhos, mas

    ainda oferece largas avenidas a serem exploradas.

    Sobretudo, sero bem-vindas mais investigaes sobre

    a histria da polcia no sculo XX, perodo que tem sido

    menos visitado pelos pesquisadores.4

    Como foi dito, o tema implica tanto abordagens mais

    clssicas, voltadas histria poltica e administrativa,

    quanto pode sugerir investigaes prximas histria

    social e cultural. Seguem algumas incurses exploratrias

    com base em extratos da documentao do acervo,

    para mostrar algumas linhas que podem ser trilhadas

    pelos pesquisadores. H vertentes instigantes a explorar,

    tanto seguindo o vis da historiografia renovada quanto

    adotando os enfoques clssicos, mesmo porque a

    chamada Nova Histria ser beneficiada se puder contar

    com apoio de mais pesquisas dedicadas histria das

    instituies. E h muito ainda a pesquisar sobre a histria

    poltica mineira e sobre a formao do Estado e suas

    instituies, notadamente a polcia.

    Nesse sentido, uma das questes a explorar a relao

    entre a formao do Estado e a constituio dos aparatos

    policiais, o que implica o tema das alianas e das

    disputas entre o poder central e o poder regional. Que

    impacto efetivo a implantao da Repblica teve sobre

    a organizao da polcia? Houve de fato autonomia ou a

    polcia carioca seguiu influenciando as suas congneres

    estaduais? Considerando tambm os conflitos entre

    diferentes faces situadas dentro do Estado, qual o papel

    exercido pelos aparatos policiais nas disputas pelo poder?

    Alm disso, o acervo vai ser til para esclarecer o

    processo de constituio da prpria polcia, tema ainda

    no devidamente esclarecido. Por exemplo, ser possvel

    entender melhor a instituio da polcia judiciria (civil)

    e da polcia militar como corpos separados. Desde os

    primrdios da Repblica, essa diviso se cristalizou,

    com a formao da Fora Pblica5 atual Polcia Militar

    (PM) como corpo armado e treinado para a guerra, se

    necessrio, paralelamente existncia da polcia civil,

    responsvel por investigaes e processos criminais. No

    obstante existisse uma polcia de tipo militarizado, pelo

    menos desde o sculo XIX, o aumento do investimento

    nessa fora armada decorreu da estratgia das

    lideranas estaduais para garantir a autonomia diante

    do poder federal.6 Entre as funes da Fora Pblica

    e, em seguida, da PM estava o policiamento ostensivo.

    Entretanto, durante parte do sculo XX existiu tambm

    uma Guarda Civil, igualmente responsvel por atividades

    de policiamento preventivo.

    Revista do Arquivo Pblico Mineiro | Dossi64 | Rodrigo Patto S Motta | Arquivos da polcia sob o foco da Histria | 65

    Fotografias de indivduos registrados como criminoso (1899), ladro (1907) e gatuno no identificado (sem data), sendo os dois primeiros do Rio de Janeiro. Arquivo Pblico Mineiro, Fundo Chefia de Polcia, srie Operaes Policiais POL 062, POL 064, POL 082.

  • e vrios feridos. Outro crime comum nos arquivos

    o chamado uxoricdio, o assassinato da esposa pelo

    marido e, nesse caso, no se pode afirmar que a

    frequncia tenha diminudo, embora a expresso hoje

    soe um pouco bizarra. A violncia domstica uma

    questo plena de atualidade e que pode ser pesquisada

    desde o prisma da histria.

    Em meio aos papis aparecem outros temas

    interessantes a investigar no campo da cultura e

    dos valores. No obstante a legislao da Repblica

    estabelecesse a liberdade de culto religioso, na

    realidade, o respeito a esse direito nem sempre era

    observado, notadamente quando se tratava de prticas

    realizadas por grupos populares. Existem alguns estudos

    sobre a represso policial aos cultos afro-brasileiros,

    principalmente na Bahia,9 mas pouco se sabe sobre a

    situao em Minas Gerais. No que se refere relao

    do Estado com a religiosidade, a documentao da

    polcia mineira revela algumas surpresas. As autoridades

    policiais podem ter atuado para reprimir cultos no

    dominantes, porm, na direo diametralmente

    contrria, foram tambm acionadas para defender o

    direito liberdade religiosa. No primeiro caso, h na

    documentao alguns processos de investigao policial

    sobre o espiritismo e a prtica de macumba, nesse

    ltimo caso envolvendo o argumento de que se trataria

    de espcie de curandeirismo.

    os perigos associados aos estrangeiros, considerados

    portadores de costumes e, s vezes, ideologias exticas.

    No quadro de descentralizao do poder estatal

    caracterstico da Repblica Velha coube s autoridades

    estaduais o controle dos passaportes dos estrangeiros,

    grupo numeroso devido ao crescente fluxo imigratrio.

    A polcia estadual cuidava igualmente de processos

    de naturalizao, no obstante eles dependessem da

    chancela federal. Mesmo depois da centralizao de

    poder empreendida pelo Estado Novo, alguns Estados

    continuaram a monitorar os estrangeiros, porque a polcia

    do governo federal no tinha meios para faz-lo, o que

    veio a mudar com a criao do Departamento de Polcia

    Federal, em 1967.

    A partir da anlise do acervo podemos perceber

    algumas mudanas nas atribuies da polcia ao

    longo do tempo, j que em pocas passadas ela tratava

    de questes estranhas ao universo policial de hoje.

    Um exemplo aparece na denominao de uma das

    sries do Fundo: a assistncia a alienados. Durante

    muito tempo foi trabalho da polcia recolher as pessoas

    consideradas loucas e providenciar sua internao

    em hospcios. A maioria dos alienados recolhidos era

    enviada para a instituio pblica situada em Barbacena,

    que se tornou lugar clebre no imaginrio social e

    inspirao para ditos jocosos (e preconceituosos).7

    A questo reveladora das diferenas nos valores e

    nas atitudes diante dos problemas mentais. Se

    atualmente h uma sensibilidade maior em relao aos

    direitos das pessoas nessa condio, em um passado

    nem to distante a loucura era caso de polcia. No

    se trata de dizer que a polcia reprimia os considerados

    loucos, pois ao que parece os policiais deveriam

    contribuir com a assistncia aos alienados ao

    retira-los das ruas e envi-los para hospcios onde

    seriam tratados. Ainda assim, o fato de a polcia ser

    acionada nesses casos revela uma concepo

    que aproximava a loucura de desvios sociais graves

    como o crime.

    Outro aspecto peculiar da atuao policial em perodos

    anteriores diz respeito ao controle sobre entidades

    associativas, que hoje seria considerada intromisso

    indevida nos direitos dos cidados. Os arquivos

    policiais contm registros sobre entidades as

    mais diversas, como clubes de lazer, associaes

    carnavalescas, grmios literrios e clubes de futebol.

    Era necessria autorizao policial para o funcionamento

    de tais entidades, embora compreenso mais precisa

    dos mecanismos desse controle demande incurso mais

    profunda no acervo. O fato de a polcia ter guardado

    os estatutos de certas entidades indica a existncia

    de controle, cuja motivao era coibir a existncia de

    organizaes sociais desviantes em relao aos valores

    polticos e morais dominantes.8

    Quanto represso aos crimes, assunto que,

    naturalmente, ocupa parte importante do acervo,

    os documentos oferecem muitos caminhos a serem

    explorados, alguns deles prximos ao enfoque da histria

    social. Primeiramente, podem-se fazer estimativas sobre

    a quantidade de pessoas presas em diferentes perodos,

    pois a Chefia de Polcia se ocupava regularmente da

    chamada estatstica policial. No arquivo h vrios mapas

    e levantamentos estatsticos sobre os crimes cometidos

    no Estado, considerando tanto as localidades de

    ocorrncia como a tipologia dos delitos. Observando-se

    os registros policiais, fica a impresso de que havia

    elevado ndice de ocorrncias de crimes hoje menos

    frequentes, ou menos relevantes nas estatsticas

    criminais. Por exemplo, h inmeras menes ao crime

    de abigeato que o termo jurdico para o furto de

    animais , cuja incidncia compreensvel em vista de

    tratar-se poca de sociedade predominantemente rural.

    Mencionarei especificamente um episdio por ter sido

    especialmente violento e envolver verdadeiro mito das

    zonas rurais brasileiras, os ciganos. Em 1940, no vale

    do rio Jequitinhonha, nas proximidades de Diamantina, a

    polcia perseguiu e trocou tiros com um grupo de ciganos

    acusado de roubar animais, de que resultou uma morte

    Revista do Arquivo Pblico Mineiro | Dossi66 | Rodrigo Patto S Motta | Arquivos da polcia sob o foco da Histria | 67

    Vista frontal da Cadeia Pblica de Itanhomi, MG, 1938. Arquivo Pblico Mineiro, Fundo Chefia de Polcia POL 003 (01).

  • comunistas e integralistas, ocorreu episdio marcante

    em Uberlndia. Segundo o registro policial, um grupo

    de militantes comunistas teria espancado e humilhado

    o padre Alaor Porfrio, que viera cidade para fazer

    palestras de natureza religiosa. O tipo de pregao do

    padre no explicado nas fontes, mas provavelmente

    tinha algum contedo poltico, de outro modo, no

    haveria explicao para as agresses. Ele teria sido

    retirado da casa paroquial noite, sob a mira de

    revlver, e depois espancado e amarrado a um poste.

    A polcia foi mobilizada para investigar o episdio e

    as suspeitas recaram sobre professores e alunos do

    Ginsio de Uberlndia, instituio com fama de abrigar

    esquerdistas.10

    No acervo do Fundo Chefia de Polcia encontram-se

    outros documentos teis para conhecer mais

    profundamente os embates polticos dos anos 1930,

    sobretudo em cidades do interior. Ainda no campo das

    aes da esquerda h registros sobre greves at agora

    desconhecidas, como uma paralisao de marinheiros

    na cidade de Pirapora, porto do rio So Francisco, em

    maro de 1935. Na outra ponta do espectro ideolgico,

    existe bastante material sobre os ncleos integralistas em

    Portanto, h registros a serem explorados para estudar

    como a polcia mineira foi mobilizada em aes que

    podem ter implicado represso a prticas e cultos

    dissonantes em relao religio dominante. Porm,

    surpreendentemente, houve situaes em que a polcia

    foi chamada para proteger os direitos constitucionais de

    religiosos no catlicos. Nesses casos, significativamente,

    os reclamantes diziam-se perseguidos pela intolerncia

    no do Estado, mas de grupos concorrentes no campo

    do sagrado. Trata-se de manifestaes de pastores

    protestantes que denunciaram polcia a violncia de

    que foram vtimas, sempre em cidades do interior, como

    Alm Paraba e Carmo do Rio Claro. H exemplos dessa

    natureza desde 1897 at 1938, sendo que, num episdio

    em que a polcia foi mobilizada, um templo protestante

    foi incendiado, motivando uma demanda do pastor ao

    chefe de Polcia exigindo proteo com base nas garantias

    constitucionais referentes liberdade de religio.

    Conflitos de natureza religiosa (imbricados poltica)

    comparecem em outros registros documentais da polcia,

    uma amostra da sua importncia no cenrio pblico.

    Um exemplo: no ms de agosto 1935, em meio s

    disputas esquerda versus direita protagonizadas por

    Revista do Arquivo Pblico Mineiro | Dossi68 | Rodrigo Patto S Motta | Arquivos da polcia sob o foco da Histria | 69

    Automvel do prefeito de Gro Mogol alvejado a tiros. Gro Mogol, MG, 1938. Arquivo Pblico Mineiro, Fundo Chefia de Polcia, srie Ocorrncias Policiais POL 046.

    Fotografia anexa ao inqurito policial referente exploso de dinamite ocorrida no Comando Militar de Porto Novo do Cunha, no contexto da Revoluo de 1930. Alm Paraba, MG, 1930. Arquivo Pblico Mineiro, Fundo Secretaria do Interior (SI), subsrie 6.1, cx. 05, pc. 59.

  • Por fim, o APM possui tambm acervo expressivo sobre

    a polcia poltica, um segmento do aparato de segurana

    particularmente importante no caso do Brasil. A polcia

    poltica o setor especializado na defesa do Estado, ou

    seja, seu papel investigar e reprimir crimes considerados

    polticos (subverso, conspiraes revolucionrias,

    atentados etc.). Devido a peculiaridades do pas, no

    Brasil a polcia poltica assumiu uma feio estadual,

    pois seu surgimento como rgo especializado se deu

    no quadro federalista da Repblica Velha. Coube ao

    governo federal a primeira iniciativa, com a criao da

    4a Delegacia Auxiliar, que tinha entre suas atribuies o

    trabalho de polcia poltica. Significativamente, a nova

    repartio surgiu no marcante ano de 1922, em que

    ocorreram, entre outros eventos, a primeira rebelio

    da jovem oficialidade militar e a criao do Partido

    Comunista. A nova delegacia, porm, tinha sua ao

    restrita ao Distrito Federal. Alm disso, como eram ciosos

    de sua autonomia e, em certos casos, tambm temiam

    a ao de grupos revolucionrios, os governos estaduais

    criaram sua prpria polcia poltica. A iniciativa do

    governo federal logo foi secundada pelo Estado de So

    Paulo, que em 1924 criou a Delegacia de Ordem Poltica

    e Social (Dops). Essa parece ter sido a primeira delegacia

    a adotar a denominao que ficaria to conhecida nos

    anos vindouros, dando origem famosa (e temida) sigla.

    Em 1927 seria a vez do governo mineiro, que criou a

    Delegacia de Segurana Pessoal e Ordem Poltica e Social.

    cidades do interior, o que permitir investigar melhor a

    atuao da Ao Integralista Brasileira (AIB) em Minas

    Gerais. Podem ser encontrados tanto documentos sobre

    os conflitos dos integralistas com a esquerda, ou seja,

    aliancistas (membros da Aliana Nacional Libertadora) e

    comunistas, quanto sobre as atividades de organizao

    da AIB: atas, cartas e publicaes. H tambm muitos

    processos de investigao realizados pela polcia,

    sobretudo na fase em que os integralistas se tornaram

    alvo do Estado, ou seja, depois de 1938.

    Documentos policiais em outros fundos do APM

    O acervo do Arquivo Pblico Mineiro possui outros

    fundos que contm documentos de natureza policial.

    Considerando os objetivos deste, artigo vale a pena

    mencionar essas outras fontes embora de maneira

    breve , j que so tambm importantes para pesquisar

    a organizao e a atuao das foras de segurana em

    Minas Gerais. De fato, esses outros acervos documentais

    so complementares em relao ao Fundo Chefia de

    Polcia e, se pesquisados em conjunto, podem oferecer

    um quadro mais completo da atividade policial no

    Estado. Na verdade, algumas sries documentais foram

    separadas por simples convenincia administrativa,

    apesar de conterem registros de natureza semelhante.

    Assim, os documentos enviados pela Chefia de Polcia

    Secretaria do Interior, qual estava subordinada, ficaram

    guardados nos arquivos dessa Secretaria, e no nos da

    polcia. Eles podem ser consultados no Fundo Secretaria

    do Interior, na srie documental Polcia. A Secretaria do

    Interior, vale a pena ressaltar, durante muitas dcadas foi

    um rgo central na gesto estadual, pois era responsvel

    por vrias reas de atuao do Estado que posteriormente

    foram transformadas em secretrias autnomas (como

    Segurana, Educao, Sade e Justia).

    Na documentao preservada no Fundo Secretaria do

    Interior existe outra srie documental significativa para os

    interessados em pesquisar a polcia. Refiro-me

    srie Fora Pblica, que corresponde aos documentos da

    instituio que deu origem atual Polcia Militar.

    So documentos importantes para o estudo das origens

    da Polcia Militar nas primeiras dcadas republicanas,

    com registros sobre despesas, fardas (usavam calas

    de cor branca!), armamento, entre outros itens. Ainda

    no Fundo Secretaria do Interior h mais duas sries

    documentais teis aos estudiosos da polcia, assim

    como aos pesquisadores da histria poltica: as sries

    Revoluo de 1930 e Revoluo de 1932. Entre outros

    temas, elas contm registros sobre o recrutamento e a

    movimentao das tropas mobilizadas que, em grande

    medida, foram compostas por soldados da Fora Pblica.

    H tambm cartas, boletins militares, manifestos,

    telegramas e relatrios de operaes.

    Entre os papis referentes Revoluo de 1930

    destaca-se um episdio trgico. Os eventos blicos

    ocorridos em Minas Gerais naquela ocasio so

    relativamente conhecidos, como o cerco ao quartel

    do 12o Regimento de Infantaria do Exrcito, em

    Belo Horizonte, que provocou a morte de militares

    e civis.11 Houve, porm, um incidente relacionado

    a esse conflito militar que permaneceu virtualmente

    desconhecido, embora provavelmente tenha gerado

    mais mortes que os tiroteios em Belo Horizonte.

    Em dezembro de 1930, quando a guerra j tinha

    acabado, um paiol de munies estocadas para uso no

    conflito explodiu, nas proximidades do entroncamento

    ferrovirio de Porto Novo do Cunha. A exploso destruiu

    vrios imveis e matou dezenas de pessoas.

    A polcia da capital foi chamada para investigar se havia

    implicaes criminosas, bem como para identificar as

    vtimas e mensurar os prejuzos trabalho que gerou

    um levantamento fotogrfico de cadveres e casas

    destrudas. A gravidade da exploso chamou a ateno

    do Exrcito e da Embaixada dos Estados Unidos, que

    pediram Chefia da Polcia mineira cpia dos processos

    de investigao.

    Revista do Arquivo Pblico Mineiro | Dossi70 | Rodrigo Patto S Motta | Arquivos da polcia sob o foco da Histria | 71

    Peas de corpo de delito apreendidas em conflito eleitoral em Alm Paraba, MG, 1897. Arquivo Pblico Mineiro, Fundo Chefia de Polcia, srie 8, cx. 18, pc. 21.

  • A delegacia de polcia poltica mineira foi renomeada

    depois como Delegacia de Ordem Pblica (DOP), antes

    de adotar a denominao Dops, que foi mantida at a

    extino do rgo, nos anos 1980.12 De uma modesta

    delegacia nos anos 1920, o Dops mineiro cresceu

    at ser transformado em Departamento, em 1956,

    em meio reforma administrativa que transformou a

    Chefia de Polcia em Secretaria de Segurana Pblica.

    Na fase inicial do regime militar o Dops viveu outro

    surto de crescimento, graas ao empenho dos governos

    autoritrios em preparar melhor as foras de segurana

    para reprimir o desafio das esquerdas e de outros

    grupos de oposio. Durante esse perodo o mineiro

    chamou para si o trabalho de combater outro tipo de

    subverso, as drogas, com a criao da chamada

    Brigada do Vcio. A iniciativa pode parecer inusitada,

    entretanto, era coerente com as peculiaridades da polcia

    poltica brasileira. De fato, a polcia especializada foi

    incumbida de cuidar no apenas da manuteno da

    ordem poltica, mas tambm da ordem social. Mais do

    que defender o Estado e seus ordenamentos bsicos, os

    Dops foram encarregados de preservar a ordem social

    dominante, o que significava a defesa da propriedade e

    dos valores morais tradicionais. Por isso, as pesquisas

    que podem ser realizadas tomando como base a

    documentao da polcia poltica so mais amplas do

    que poderia parecer.

    Implicaes polticas

    A criao do Fundo Dops foi precedida por uma

    batalha poltica. Nos anos 1990, quando o rgo j

    estava extinto, os deputados estaduais aprovaram

    lei determinando o recolhimento dos documentos ao

    APM, mas o Estado s a cumpriu aps uma Comisso

    Parlamentar de Inqurito (CPI) ter vistoriado as

    dependncias policiais em busca do material, em 1998.

    Aps essa presso poltica, que foi secundada pela ao

    de alguns grupos de direitos humanos, o Estado entregou

    ao APM 98 rolos de microfilme correspondentes a

    cerca de 200 mil pginas. O Fundo Dops foi aberto

    consulta pblica em 2006, aps trabalhoso processo

    de organizao, dado que os microfilmes no vieram

    acompanhados de adequado instrumento de pesquisa.13

    Durante a leitura dos documentos para estabelecimento

    do arranjo ficou claro que o material estava incompleto,

    pois havia poucos registros referentes aos anos de 1970

    e 1980. Como os membros da CPI estadual encontraram

    um nmero de rolos de microfilmes maior do que o

    recebido pelo APM, fortes eram os indcios de que a

    Secretaria de Segurana ainda guardava documentos

    relativos polcia poltica. Uma sutileza administrativa foi

    utilizada pelos agentes do Estado para no disponibilizar

    todos os documentos. No incio dos anos 1970, no

    auge da represso poltica, o governo estadual criou a

    Coordenao de Segurana (Coseg), um rgo cujas

    atividades ainda so pouco conhecidas, mas, certamente,

    tambm tinha atribuies de polcia poltica. Quando

    ocorreu a entrega dos arquivos do Dops, o acervo da

    Coseg foi mantido na Secretaria de Segurana com o

    argumento de que a demanda para recolhimento se

    restringia aos documentos do primeiro.

    Recentemente, e por interveno da Procuradoria da

    Repblica, o acervo da Coseg finalmente foi incorporado

    ao Arquivo Pblico. A Procuradoria demandou do governo

    estadual o acesso pblico ao acervo desse rgo, o que

    foi atendido em maro de 2013. Portanto, o APM viu

    seu j expressivo acervo policial ser enriquecido com

    mais um fundo significativo, um conjunto documental

    que comear a ser organizado em breve. A Secretaria

    de Defesa Social (sucessora da Secretaria de Segurana)

    entregou ao APM 521 rolos de microfilmes que, na

    maioria, correspondem efetivamente a documentos de

    polcia poltica. Nmeros exatos s estaro disponveis

    aps o trabalho de organizao, mas o novo Fundo

    contar com centenas de milhares de registros policiais

    referentes aos anos de 1970 e 1980, informaes

    preciosas para o estudo da fase mais aguda da ditadura e

    dos perodos de distenso e abertura.

    Enfim, espero que o propsito deste artigo tenha sido

    alcanado: apresentar ao leitor um dos acervos mais

    importantes para a histria da administrao pblica em

    Minas Gerais. O estudo da polcia revelar aspectos da

    construo do aparato estatal mineiro, com destaque para

    suas estratgias de coero e controle. Entretanto, ele

    mostrar tambm as debilidades e fracassos de algumas

    iniciativas: nem sempre a ordem levou a melhor. Por

    outro lado, as pesquisas podero mostrar a complexidade

    das relaes entre a sociedade e o aparelho policial, que,

    muitas vezes, objeto de crticas e repdio, mas, tambm

    acionado em defesa de direitos lesados. Alm disso,

    frequentemente as aes repressivas encontram respaldo

    em certos grupos sociais, cujos valores coincidem com

    os das instituies policiais. Tomara este texto ajude a

    atrair o interesse de jovens pesquisadores para esses

    promissores acervos documentais, que permitem explorar

    tema ainda pouco visitado pela historiografia.

    REsuMO | O artigo oferece uma apresentao geral dos acervos docu-mentais do Arquivo Pblico Mineiro referentes histria da polcia esta-dual. Confere-se nfase especial ao Fundo Chefia de Polcia, um dos mais importantes para a histria da administrao pblica em Minas Gerais, mas so comentados tambm outros acervos importantes, sobretudo relativos polcia civil, polcia militar e polcia poltica. O objetivo principal chamar a ateno para a riqueza de informaes contidas nesses acervos e incentivar a realizao de pesquisas que possam trazer contribuio inovadora historiografia.

    ABSTRACT | This article offers a general introduction to the document collection of the Minas Gerais Public Archives in regard to the history of the state police. Special emphasis is given to the Chief of Police Archive, one of the most important for the history of public administration in Minas Gerais. Other important collections are treated as well, principally those related to the civil police, the military police, and the political police. The primary objective is to call attention to the wealth of information contained in these collections and to foster the carrying out of research that can provide innovative and historiographical contributions.

    Notas |

    1. Agradeo a Thiago Veloso Vitral e a Christiane Las Fonseca da Costa, que me ajudaram na incurso ao acervo do Fundo Chefia de Polcia.

    2. Cf. MONET, Jean-Claude. Polcias e sociedades na Europa. So Paulo: Edusp, 2001. p. 20.

    3. Para uma histria sinttica da polcia judiciria em Minas Gerais, ver texto manuscrito de Guilherme Meirelles da Costa, disponvel no APM.

    4. Cf. BRETAS, Marcos Luis; ROSEMBERG, Andr. A Histria da Polcia no Brasil: balano e perspectivas. Topoi. Revista de Histria, Rio de Janeiro, v. 14, n. 26, p. 162-173, jan./jun. 2013.

    5. Nos anos iniciais da Repblica as denominaes oficiais utilizadas foram, sucessivamente, Corpo Militar de Polcia, Brigada Policial e Fora Pblica.

    6. Na verdade, como demonstrou Francis Cotta (Matrizes do sistema policial brasileiro. Belo Horizonte: Crislida, 2012), as razes militares do servio policial estavam presentes desde o sculo XVIII. Entre os raros estudos sobre a histria da polcia em Minas Gerais, vale a pena conferir tambm VELLASCO, Ivan de Andrade. Policiais, pedestres e inspetores de quarteiro: algumas questes sobre as vicissitudes do policiamento na provncia de Minas Gerais (1831-1850). In: CARVALHO, Jos Murilo de (Org.). Nao e cidadania no Imprio: novos horizontes. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2007. p. 238-265.

    7. O Hospital Colnia de Barbacena foi criado em 1903, como parte da poltica de assistncia pblica aos alienados. . Acesso em: 8 jul. 2013.

    8. Sobre as relaes da polcia com entidades carnavalescas no caso do Rio de Janeiro, ver PEREIRA, Leonardo A. Miranda. E o Rio dan-ou. Identidades e tenses nos clubes recreativos. In: CUNHA, Maria Clementina Pereira (Org.). Carnavais e outras frestas. Campinas: Editora da UNICAMP, 2002. p. 419-442.

    9. Cf. BRAGA, Julio. Candombl da Bahia: represso e resistncia. Revista USP, v. 18, p. 54-59, 1993.

    10. O caso foi divulgado pela imprensa e mereceu registro tam-bm no livro de tombo da Arquidiocese de Uberaba. Disponvel em: . Acesso em: 8 jul. 2013.

    11. As mortes de civis atribudas a balas perdidas foram comuns ao ponto de o assunto ser mencionado em poema de Carlos Drummond de Andrade (Outubro 1930).

    12. Exceto por um breve perodo nos anos 1960, quando o nome mudou para Departamento de Vigilncia Social.

    13. Cf. MOTTA, Rodrigo Patto S. O ofcio das sombras. Revista do Arquivo Pblico Mineiro, Belo Horizonte, v. XLII, n. 1, p. 52-67, 2006.

    Rodrigo Patto s Motta professor associado do Departamento de Histria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pesquisador do CNPq nos grupos de pesquisa Histria Poltica, Culturas Polticas na Histria (lder) e Grupo de Trabalho Nacional de Histria Poltica. autor de Em guarda contra o perigo vermelho: o anti-comunismo no Brasil (1917-1964); Introduo histria dos partidos polticos; e Jango e o golpe de 1964 na caricatura, entre outras publicaes.

    Revista do Arquivo Pblico Mineiro | Dossi72 | Rodrigo Patto S Motta | Arquivos da polcia sob o foco da Histria | 73

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    25.

  • Verso em ingls do pedido de captura e extradio, com o valor de recompensa, do suspeito de desvio de fundos do Banco Nacional da Sucia, supostamente em fuga para a Amrica, com sua mulher. Emitido tambm em espanhol,

    italiano, francs e alemo. Falun, Sucia, 1907. Arquivo Pblico Mineiro, Fundo Chefia de Polcia, srie 9, cx. 56, pc. 05. Notas falsas apreendidas pela polcia na Comarca de Muzambinho, MG, 1899. Arquivo Pblico Mineiro, Fundo Chefia de Polcia, srie 8, cx. 40, pc. 07.