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- 1 - ATUAÇÃO DO CNPq DURANTE O REGIME MILITAR: NOVAS BASES PARA A AFIRMAÇÃO DA PESQUISA CIENTÍFICA NACIONAL Marcelo Luiz Mendes da Fonseca Universidade Cândido Mendes UCAM/RJ - Mestrado em Economia Empresarial e-mail: [email protected] Área Temática: História Econômica. Resumo: A partir da Segunda Guerra Mundial, os avanços da tecnologia bélica (farmacêutica, aérea e principalmente a energia nuclear) despertam os países para a importância da pesquisa científica. Diversas nações montam estruturas de fomento à pesquisa, como no caso brasileiro. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico é o sucessor do antigo Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), do qual conserva a sigla. O CNPq desenvolve desde os anos 50 ações para a formação de recursos humanos para o desenvolvimento das atividades de pesquisa e sua história está diretamente ligada ao desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil contemporâneo. O órgão promove ciência, tecnologia e inovação e tem apoiado, ao longo dos anos, a formação de milhares de pesquisadores, cientistas e técnicos. O artigo tem como objetivo investigar a atuação do CNPq no período 1964-1975, quando se observa uma crescente ênfase, por meio do discurso do governo, no problema da ciência e da tecnologia como elementos fundamentais para o projeto desenvolvimentista nacional. O trabalho abordará a vontade política do governo federal durante o regime militar de reduzir a dependência tecnológica exterior. PALAVRAS-CHAVES: Políticas Públicas - Financiamento a C&T História Econômica. 1. INTRODUÇÃO No período que vai do final dos anos 40 aos anos 60, o Brasil criou sua base institucional para o desenvolvimento científico e tecnológico. Foi criada a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em 1948, que “representa a consolidação da percepção quanto à necessidade de se afirmar a identidade do cientista, baseada na sua neutralidade relativamente ao mundo dos interesses e na objetividade do conhecimento que produz” (BURGOS, 1999, p. 32). Também foram criados, nesse período, o Centro Brasileiro

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Page 1: Artigo-1-Autoria

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ATUAÇÃO DO CNPq DURANTE O REGIME MILITAR: NOVAS BASES PARA A

AFIRMAÇÃO DA PESQUISA CIENTÍFICA NACIONAL

Marcelo Luiz Mendes da Fonseca

Universidade Cândido Mendes – UCAM/RJ - Mestrado em Economia Empresarial

e-mail: [email protected]

Área Temática: História Econômica.

Resumo: A partir da Segunda Guerra Mundial, os avanços da tecnologia bélica (farmacêutica, aérea e

principalmente a energia nuclear) despertam os países para a importância da pesquisa científica. Diversas nações

montam estruturas de fomento à pesquisa, como no caso brasileiro. O Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico é o sucessor do antigo Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), do qual conserva a

sigla. O CNPq desenvolve desde os anos 50 ações para a formação de recursos humanos para o desenvolvimento

das atividades de pesquisa e sua história está diretamente ligada ao desenvolvimento científico e tecnológico do

Brasil contemporâneo. O órgão promove ciência, tecnologia e inovação e tem apoiado, ao longo dos anos, a

formação de milhares de pesquisadores, cientistas e técnicos. O artigo tem como objetivo investigar a atuação do

CNPq no período 1964-1975, quando se observa uma crescente ênfase, por meio do discurso do governo, no

problema da ciência e da tecnologia como elementos fundamentais para o projeto desenvolvimentista nacional.

O trabalho abordará a vontade política do governo federal durante o regime militar de reduzir a dependência

tecnológica exterior.

PALAVRAS-CHAVES: Políticas Públicas - Financiamento a C&T – História Econômica.

1. INTRODUÇÃO

No período que vai do final dos anos 40 aos anos 60, o Brasil criou sua base

institucional para o desenvolvimento científico e tecnológico. Foi criada a Sociedade

Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em 1948, que “representa a consolidação da

percepção quanto à necessidade de se afirmar a identidade do cientista, baseada na sua

neutralidade relativamente ao mundo dos interesses e na objetividade do conhecimento que

produz” (BURGOS, 1999, p. 32). Também foram criados, nesse período, o Centro Brasileiro

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de Pesquisas Físicas (CBPF), a Campanha de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior

(CAPES) e Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e o Conselho Nacional de Pesquisas

(CNPq) que foram marcos de institucionalização da política científica e tecnológica no Brasil.

O período é caracterizado pelos esforços na formação de recursos humanos em

pesquisa básica e pesquisa aplicada. Foram criados mecanismos de fomento e reestruturação

das universidades públicas e institutos de pesquisa. Não havia ainda um esforço articulado e

com metas claras para ligar o desenvolvimento científico e tecnológico ao desenvolvimento

sócio-econômico.

Com o Regime Militar de 1964, o laço existente entre nacionalismo e ciência e

tecnologia se reflete de forma mais marcante sobre o Estado, que passa a desenvolver mais

intensamente políticas públicas voltadas para o seu desenvolvimento. O que parece orientar a

ação dos militares nesta área é uma influente ideologia, baseada na doutrina de segurança

nacional. A questão da autonomia tecnológica assume importância estratégica no

desenvolvimento econômico do Brasil, a partir da implantação de um parque industrial de

base tecnológica nacional.

O CNPq ganha destaque neste novo quadro político. Em oito de dezembro de 1964, a

sua Lei de criação é alterada pela Lei nº. 4.533/641, que retirava a atribuição da política de

energia atômica, a qual passava para a Comissão Nacional de Energia Atômica (CNEN). O

artigo 3º da Lei atribui ao CNPq a tarefa de: “formular a política cientifica e tecnológica

nacional e executá-la, mediante planejamento com programas a curto e longo prazo,

periodicamente revistos”. O governo militar incentiva a formação de profissionais

especializados para a indústria e o fortalecimento do aparato técnico-científico ao projeto-

maior do regime: transformar o Brasil em grande potência mundial. A sua área de

competência passa a abranger o papel de formulador da política científico-tecnológica

nacional e de atuar, juntamente com o Ministério e outros órgãos do governo, na a resolução

de problemas relacionados com a ciência e tecnologia.

Dessa forma, o Conselho teve ampliado a sua área de competência: além de formular e

programar a política científica nacional do país, passa a ter a responsabilidade de coordenar a

busca de solução para vários problemas relacionados à ciência e suas aplicações. O CNPq já

contava com a assessoria da Academia Brasileira de Ciências (ABC), que se transformou no

1 BRASIL. Leis, Decretos. Altera a Lei 1.310 de 15 de janeiro de 1951, que criou o Conselho Nacional de

Pesquisas e dá outras providências. Publicado em 15/12/1964 no Diário Oficial da União.

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seu órgão consultivo. Paralelamente, a referida lei desvinculava definitivamente o órgão das

tarefas de execução de pesquisas no campo da energia atômica.

O CNPq passou por uma reestruturação da organização interna. Conforme o novo

Regimento Interno, publicado no Diário Oficial da União de 01 de fevereiro de 1966, a

estrutura geral passa a ser a seguinte:

I) Presidência (um presidente, um vice-presidente e um gabinete);

II) Conselho Deliberativo;

III) Procuradoria;

IV) Departamento Técnico-Científico;

V) Departamento Administrativo;

VI) órgão subordinados.

O CNPq permaneceu subordinado diretamente à Presidência da República e apesar da

Capital Federal estar localizada, desde 1960, em Brasília, o Conselho manteve sua sede no

Estado da Guanabara.

Para executar a nova política de C&T, fazia-se necessário a criação de instrumentos de

longo prazo para resolver o problema do êxodo de cientistas brasileiros e criar mecanismos

para promover a articulação entre ciência, tecnologia e setor produtivo. Para explorar o papel

do CNPq nesse período, este artigo abordará, na seção dois, as mudanças institucionais e

políticas pelas quais passou a área de C&T nos anos 1960/1970. Abordará também, na

segunda seção, o motivo do insucesso de tais políticas para o desenvolvimento tecnológico do

setor produtivo nacional.

A seção três investigará de forma detalhada o aprofundamento institucional e

funcional do CNPq, a partir de um levantamento das modificações ocorridas na estrutura

interna do órgão, entre 1964 e 1974, isto é, desde a alteração da sua lei de criação até a

passagem para o regime de Fundação.

Por fim, investigará, na seção quatro, como se desenvolveu Plano Qüinqüenal

do CNPq, e levantará detalhadamente as bases de uma programação para o desenvolvimento

científico e tecnológico do Brasil. As principais conclusões serão apresentadas na seção cinco.

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2. PANORAMA BRASILEIRO DO APOIO GOVERNAMENTAL ÀS ATIVIDADES

DE C&T

A mudança política ocorrida em 1964 garante uma crescente ênfase, por meio dos

discursos oficiais, na questão da ciência e tecnologia como elementos fundamentais para o

projeto desenvolvimentista do regime militar. Ainda que essa ênfase não se traduzisse a curto

prazo em ações coordenadas na área de C&T, cabe destacar a criação, nesse mesmo ano, do

Fundo de Desenvolvimento Técnico-Científico no Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico (BNDE). Trata-se de uma experiência ainda isolada, na política econômica então

desenvolvida pelo governo militar (CARVALHO, 1979, p.10).

Após alguns anos do novo regime dominados pela política liberal de abertura

comercial, a força da nova ideologia começa a se destacar. A primeira evidência foi dada em

1968 quando foi criado o Programa Estratégico de Desenvolvimento (PED), cujas propostas

iniciais eram: fortalecimento dos mecanismos financeiros de amparo ao desenvolvimento da

C&T implementadas pelo CNPq e BNDE e a criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (FNDCT). Era a primeira vez que a C&T ganhava o status de

prioridade de governo. Ocorreu importante reforço às atividades de pesquisa, principalmente

devido a criação do FNDCT, o que nas décadas seguintes, permitiu suporte para ação mais

efetiva na área de C&T. Observa-se que o Plano de Metas (1957-60), embora elaborado

apenas cerca de 10 anos antes do PED, não dava importância ao problema da C&T e,

consequentemente, ao problema da autonomia científica e tecnológica. De modo geral, os

problemas enfrentados pelo Plano de Metas podem ser resumidos pela seguinte passagem:

No contexto econômico, os analistas da época defendiam que o país vinha passando, desde a

década de 1930, por um processo de substituição de importações não-planejado, e essa

característica seria a causa dos constantes desequilíbrios no balanço de pagamentos. O Plano de

Metas pretendia corrigir essa falha. O Plano objetivava também a superação dos obstáculos

estruturais e os investimentos deveriam ser implementados em perfeita harmonia nos diversos

setores da economia. O crescimento econômico ocorreria em cadeia. A meta de mecanização da

agricultura, por exemplo, indicava a necessidade de fabricação de tratores e caminhões, prevista na

meta da indústria automobilística (FONSECA, 2011, p. 10).

O destaque conferido à C&T pelo PED explica-se, em parte, pela crescente

importância atribuída, pelos militares, ao problema da autonomia tecnológica. Os militares

passaram a ver a C&T não apenas como um meio de modernização da força militar, mas

como um elemento decisivo para a realização de um projeto maior: a construção da grande

potência. O PED possuía também os seguintes objetivos básicos: aumento da taxa de

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investimento por meio do fortalecimento das empresas privadas; combate à inflação;

consolidação da infraestrutura sob responsabilidade do Governo; ampliação do mercado

interno; e, minidesvalorização cambial. Pretendia-se criar condições para a retomada do

processo de crescimento mediante aumento da taxa global de poupança e de investimentos

público e privado e pela manutenção de alto nível de consumo privado e da demanda global.

A Reforma Universitária de 1968 foi decisiva para a execução da política científica e

tecnológica do PED e, mais tarde, do II PND. A Reforma criou condições propícias2 para que

determinadas instituições passassem a articular atividades de ensino e pesquisa, que ate então,

salvo raras exceções, estavam relativamente desconectadas. Essa nova estrutura viabiliza

também, a implantação de um sistema de pós-graduação nas universidades a partir de 1970.

Para atender a esse dispositivo, criou-se uma política nacional de pós-graduação, expressa nos

planos nacionais de pós-graduação e conduzidas pelo CNPq e CAPES, às quais caberiam a

responsabilidade sobre a distribuição das bolsas.

A implantação do sistema de pós-graduação propicia uma profunda alteração da vida

intelectual brasileira. A expansão dos cursos de pós-graduação se dá de forma exponencial,

permitindo a formação em massa de novos mestres e doutores. Destaca-se que entre 1969 e

1980, o número de cursos de pós-graduação passa de 228 para 992 e o número de estudantes

aumenta de 1.372 para 38.609 (OLIVEIRA, 1985, p. 37).

O objetivo da implantação da C&T no sistema universitário era criar uma nova

dinâmica de modernização no setor industrial que fosse capaz de fortalecer processos

endógenos de inovação. Entretanto, essa tentativa de modernizar a industrial nacional falhou,

pois o complexo industrial montado pelo governo militar para estimular a relação entre C&T

e setor produtivo não produz o efeito desejado. A C&T fica confinada, em sua maior parcela,

dentro das universidades, com pequena interação com o setor produtivo e a sociedade em

geral (BURGOS, 1999, p. 38).

Uma das possíveis razões para isso é que, ao longo dos anos 70, a economia estava

atravessando a última fase do ciclo de substituição de importações, com a instalação dos

complexos químicos e metal-mecânicos, fortemente baseados em tecnologia importada.

Hermann (2005) destaca que:

(...) O crescimento das exportações foi liderado pelos bens manufaturados (+639%) e, quanto à

composição das receitas, pelo aumento do quantum (volume físico) (+109%), embora a contribuição

os preços em dólares das mercadorias exportadas pelo Brasil tenha sido significativa (+77%). A

2 A Reforma Universitária de 1968 adota o sistema norte-americano de pós-graduação, com a organização das

universidades em institutos e departamento, e com cursos sob sistema de créditos (BURGOS, 1999, p. 37).

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expansão das importações teve um perfil semelhante, com maior crescimento dos volumes (+177%)

que dos preços (+54%). A elevada sensibilidade do quantum de importações ao crescimento do PIB

nesse período refletiu, essencialmente, o estágio de desenvolvimento industrial da economia

brasileira à época: fase a dependência externa do país com relação a bens de capital e insumos

(especialmente petróleo e derivados), o crescimento do setor de bens de consumo duráveis

pressionou as importações desses itens (HERMANN, 2005, p. 72)..

O I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND) reforça as intenções do PED, que o

antecedeu, e acrescenta a tendência de aceleração do crescimento econômico e orientação de

transferência de tecnologia para o país.

Os Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND’s) resultaram nos Planos Básicos de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PBDCT’s I, II e III). Os PBDCT’s receberam

apoio financeiro do Fundo de Desenvolvimento Tecnológico (FUNTEC) do Banco Nacional

de Desenvolvimento Econômico, substituído posteriormente pelo Fundo Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), gerido pela FINEP. O sistema regido

pelo PBDCT é integrado por todas as instituições de pesquisas científicas e tecnológicas,

usuárias de recursos governamentais.

No ano de 1972 é constituído o Sistema Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (SNDCT), que previa a constituição de estruturas setoriais e, posteriormente,

expandiu-se para estruturas estaduais. O CNPq passa a ser reconhecido como o órgão central

do sistema, ficando, em conjunto com o Ministério do Planejamento, encarregado das

seguintes tarefas: realizar estudos relativos à formulação da política nacional de

desenvolvimento científico; e incentivar, por meio de cooperação, a realização de pesquisas

por sociedades de economia mista e empresas do setor privado, bem como sua articulação

com órgãos de pesquisa governamentais.

Ao CNPq competia também acompanhar a execução dos programas, atividades ou

projetos de pesquisas decorrentes dos Planos de Desenvolvimento Científico e Tecnológico;

coletar, analisar, armazenar e difundir dados de interesse para a ciência e tecnologia; cooperar

financeiramente com a pesquisa, dentro do seu orçamento; e avaliar periodicamente, os

resultados obtidos através das políticas da área de C&T, e sua orientação aos objetivos do

governo. Pode ser observada, também neste período, a ampliação do leque de funções do

CNPq, tendo como consequência uma grande reorganização interna do órgão. Outro fato

marcante é a progressiva expansão da sua máquina burocrática para exercer tais funções

(ALBAGLI, 1986, p. 18).

O I Plano Nacional de Desenvolvimento (1972-1974) já fazia referências à

necessidade do fortalecimento e da modernização da estrutura do CNPq. Com a criação da

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Secretaria de Planejamento (SEPLAN), em maio de 1974, esta absorveu as atribuições do

antigo Ministério do Planejamento e Coordenação Geral, e o CNPq passou para sua esfera de

competência.

O I PBDCT (1973-74) estava aliado aos objetivos nacionais do I PND, de tornar a

economia brasileira dinâmica e moderna, que permitiria ao país enfrentar a competição

econômica e tecnológica. O I PBDCT já apresentava alguma preocupação com os problemas

regionais, ao criar o Programa de Pesquisa do Trópico Úmido, cujo objetivo era pesquisar as

condições de adaptação do ser humano às peculiaridades da região amazônica e preservação

do equilíbrio ecológico (CNPq, 1973, p. 99).

3. O APROFUNDAMENTO INSTITUCIONAL DO CNPq

A lei de criação do CNPq estabelecia como suas finalidades, a promoção e o estimulo

ao desenvolvimento da investigação científica e tecnológica, por meio da concessão de

recursos para a pesquisa, formação de pesquisadores e técnicos, cooperação com as

universidades brasileiras e intercâmbio com instituições estrangeiras.

Desde sua origem, as funções do CNPq tinham sido vinculadas à questão da segurança

nacional, sobretudo pelas atribuições relativas à política nuclear. Esta vinculação permanece

explícita através do art. 3º, item l da sua Lei de reestruturação, conforme transcrito abaixo:

“Colaborar, especialmente com o Conselho de Segurança Nacional e o Estado Maior das Forças

Armadas, na formulação do conceito estratégico nacional, nos aspectos que dependam da ciência e

da tecnologia3”.

A Lei de reestruturação do CNPq ressalta ainda no seu artigo 5º que:

“Ficarão sob o controle do CNPq ou quando necessário, do Estado Maior das Forças Armadas ou

de outro órgão que for designado pelo Presidente da República (grifo nosso), as atividades

relacionadas às pesquisas de interesse militar4.”

O grifo no artigo 5º aponta a mesma situação encontrada na lei de criação do órgão

(Lei 1.310/51), com relação ao controle da política nuclear. De acordo com Brunetti:

(...) o CNPq exerce, mas, ao mesmo tempo, não exerce de fato o controle das pesquisas de C&T na área

militar. No caso da energia atômica, foram vistas as dificuldades enfrentadas, os recursos utilizados com

respaldo na ressalva feita pela Lei, culminando com a criação do Conselho Nacional de Energia Nuclear –

3 BRASIL. Leis, Decretos. Lei 4.533 de 08 de dezembro de 1964. op.cit., art. 3º, item 1.

4 Id. ibid

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CNEN, no presente caso, pesquisas militares, o CNPq não chegou a exercer tal controle ficando essa

atividade a cargo de outros órgãos (BRUNETTI, 1981, p. 34).

Administrativamente, o CNPq permanece vinculado diretamente a Presidência da

República. O Conselho Deliberativo continua sendo o órgão soberano de planejamento e

orientação do CNPq, sofrendo apenas algumas alterações em sua composição: o número de

representantes dos ministérios passa de cinco para sete e o representante do órgão industrial

passa a ser o mesmo do BNDE.

Em 1966 foram criados dois novos setores na antiga divisão técnico-científica, então

transformada em Departamento: o Setor de Ciências Sociais e o de veterinária. É nesse

momento que o CNPq institucionaliza o apoio às ciências sociais, embora antes disso tivesse

concedido pequenas dotações a essa área (ALBAGLI, 1986).

QUADRO I

Número de bolsas distribuídas pelo CNPq para o país e o exterior (1964-1972)

ÁREA DE CONHECIMENTO

Anos

Agronomia

Ciências

medicas e

biológicas

Química

Astronomia

e Física Matemática

Tecnologia Ciências

sociais

veterinária

1964 83 217 212 74 30 52 - -

1965 189 307 125 76 45 48 - -

1966 189 396 134 120 62 86 14 41

1967 235 458 178 131 80 109 8 46

1968 238 416 189 139 120 188 31 54

1969 302 581 209 198 159 289 76 94

1970 361 758 244 250 259 343 110 142

1971 533 843 309 303 331 523 163 193

1972 782 781 252 289 351 507 161 296

Total 2.912 4.757 1.761 1.580 1.437 2.145 563 866

Fonte: Relatório de atividades do CNPq (1964-1972). Arquivo CNPq/Acervo MAST.

Observa-se no Quadro I, que os pesquisadores da área de ciências sociais são

beneficiados com as primeiras bolsas de estudo a partir de 1966, e que, ao longo do período

recebem sempre as porcentagens mais baixas de bolsas.

Como consequência da política de prioridades já comentada anteriormente, observa-se

uma acentuada concentração das bolsas em dois setores, biologia e agronomia, que, no

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período examinado, tem em conjunto uma participação superior a 40 % das bolsas

distribuídas pelo CNPq. O Quadro I demonstra, também, a orientação do órgão no sentido em

que o financiamento de estudos e pesquisas tecnológicas não constituía área de atuação

prioritária. O número de bolsas recebidas no período, pelo setor de tecnologia (incluído as

ciências de engenharia), corresponde apenas a terceira prioridade do Conselho relativa à

concessão de bolsas.

No que se refere à concessão de bolsas para o exterior (Quadro II), nota-se que, apesar

de mostrar crescimento em termos absolutos, sua participação no total de bolsas apresenta

oscilações significativas de ano para ano, e seu comportamento, ao longo do período, indica

claramente uma tendência relativa decrescente. A partir de 1969, e possivelmente em função

do maior estímulo, e conseqüente expansão dos programas de pós-graduação no país para o

qual concorreram as iniciativas do CNPq, a proporção de bolsas decai consideravelmente.

Assim, se em 1964, 10,1% das bolsas destinavam-se à realização de estudos no estrangeiro,

oito anos depois este percentual corresponde a 4,1% das mesmas.

Quadro II

Bolsas no exterior concedidas pelo CNPq (1968-1972)

Anos Número de bolsas

Percentual sobre total de

bolsas oferecidas em cada ano

(%) 1964 61 10,1

1965 76 8,9

1966 77 6,6

1967 95 6,8

1968 110 7,0

1969 154 7,2

1970 153 5,7

1971 140 4,1

1972 152 4,1

Fonte: Relatórios de atividades do CNPq (1964-72). Arquivo CNPq/Acervo MAST.

Com relação ao orçamento, observa-se uma relativa melhora a partir de 1964, quando,

conforme relatório do CNPq, “O órgão cumpre os compromissos financeiros assumidos em

anos anteriores e considera a quase totalidade dos pedidos de auxílio a ele dirigidos pelos

pesquisadores nacionais.” (CNPq, 1969, p. 12).

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3.1 PLANO QUINQUENAL DO CNPq

Quando da elaboração do Programa Estratégico de Desenvolvimento (PED), o CNPq

participou como coordenador de um grupo de trabalho que tinha a finalidade de elaborar

sugestões de políticas e programas de ação em ciência e tecnologia, que seriam incorporadas

ao Programa.

Com base no PED e em estudos realizados por membros da comunidade científica, o

CNPq elaborou um Plano Quinquenal (1968-72). O Plano tinha como objetivo a formulação

de projetos de investigação considerados importantes para o desenvolvimento do país,

principalmente nos setores de agricultura, astronomia, biologia, ciências sociais, física,

geologia, matemática, química e tecnologia. Havia também um item específico para o estudo

da Região Amazônica que demonstra a preocupação da agência na época com as questões

ambientais.

De acordo com as diretrizes do Plano Quinquenal:

A ciência e a tecnologia não têm preferidos e o gigantesco poder da tecnologia moderna é

acessível a qualquer país, desde que seus governantes efetivamente se dediquem a promover o

desenvolvimento científico, assistindo convenientemente seus tributários: ensino de ciência mais

prolongado e de alta qualidade, maior proporção de cientistas no corpo docente, laboratórios

adequados aos diferentes setores da investigação, pós-graduação em padrão internacional,

formação de técnicos, intercâmbio de cientistas, moderno serviço de documentação e informação e

condições salariais condignas à grandeza da missão que desempenha o pesquisador na sociedade

moderna5.

A perspectiva que regeu a elaboração do Plano Quinqüenal foi a de construir um

instrumento de formulação de políticas públicas científica e tecnológica de base nacional.

Esse plano também tinha como objetivo fornecer um retrato da situação da pesquisa

científica e tecnológica no Brasil. O Plano Quinquenal revelava esta preocupação ao assinalar

que:

O desenvolvimento da pesquisa científica nacional necessita da fixação de medidas básicas que se

identifiquem como essenciais ao estabelecimento de uma sistemática e se consubstanciem em planos

setoriais, em projetos de trabalho que assegurem sua perfeita coordenação e facilitem a avaliação

dos resultados alcançados e, sempre que oportuno, o reajustamento de planos e projetos ao longo do

plano qüinqüenal6.

5 Conselho Nacional de Pesquisas – Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Plano Qüinqüenal - 1968-1972).

IBGE, Serviço Gráfico, p.9 6 Relatório de atividades do CNPq, 1969. (Arquivo CNPq/Acervo MAST)

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Dentre os objetivos de curto prazo estabelecidos pelo plano, destacavam-se os

seguintes:

1 – Equipamento ou reequipamento de dois ou três melhores centros de pesquisa em cada setor

de atividade científica, de modo a assegurar sua plena participação na execução de projetos de

pesquisa e na formação de novos pesquisadores;

2 – Ampliação do efetivo de cientistas, tecnólogos e professores de ciências, através de cursos

de pós-graduação de alto nível, no país ou no exterior;

3 – Incentivo à criação de centros de pesquisa em domínios ainda pouco explorados e que se

enquadrem nas áreas prioritárias;

4 – O incentivo à elevação do padrão de ensino de ciências, nos meios universitários, através

de:

Ampla divulgação do que melhor se realiza nos países mais adiantados;

Intercâmbio de mestres, e;

Estágio de alunos em centros e institutos de pesquisa e em laboratórios industriais;

5 – Elevação do conhecimento científico e tecnológico,por meio de intenso programa de bolsas

de estudo no exterior com vistas à pós-graduação e ao aperfeiçoamento de pessoal nas diversas

áreas da ciência e da tecnologia, obedecidas as prioridades estabelecidas nos programas

nacionais;

6 – Estímulo à publicação de livros de ciências e tecnologia, especialmente de nível

universitário, em idioma nacional e a preços mínimos, bem como à importação de livros e

periódicos técnicos que não tenham similares em idioma nacional;

7 – A execução de uma política nacional destinada à modernização das bibliotecas, a

divulgação dos resultados científicos e tecnológicos e ao registro de patentes (ALBAGLI,

1986, p. 12-13).

Ao que parece, o Plano Quinquenal foi voltado para a construção e organização das

condições para a produção científica no país. Outra característica do plano foi a vinculação de

alguns programas de promoção científica e de pesquisas a determinadas prioridades fixadas

em nível nacional, tais como a produção de alimentos e a exploração nacional dos recursos

naturais da Região Amazônica.

Em vista da diversidade, a execução de todos os programas exigiria grandes quantias

de recursos financeiros. O plano previa várias fontes de recursos para a execução dos

programas e projetos, a saber:

1 – Recursos orçamentários do CNPq;

2 – Suplementação para pesquisa científica e tecnológica, a ser considerada no orçamento

plurianual do Ministério do Planejamento;

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3 – Percentual a ser estabelecido pelas universidades e destinado à Comissão de Pesquisa

Universitária em concordância com as prioridades estabelecidas no presente Plano Quinquenal;

4 – Cobrança, a preço justo, do serviço prestado pelos Institutos Tecnológicos, cuja quantia

arrecadada seria usado na melhoria de equipamentos e atualização das bibliotecas (ALBAGLI,

1986, p. 15).

Os fatores principais do Plano Quinquenal, ensino e pesquisa, refletem a preocupação

com a política educacional do período. Deve ser destacada, também, a instituição dos Centros

de Excelência. Em ambos os casos, o CNPq teve atribuições, seja como executor, seja com

colaborador.

Criados pelo Decreto 63.343/68 de 01.10.68, os Centros Regionais de Pós-Graduação

tinham como objetivo fixar os cientistas brasileiros no país. Caberia ao CNPq a tarefa de

determinar instituições aptas à criação dos centros, que vieram a ser chamados de “Centros de

Excelência”. Para cumprir a nova tarefa, o CNPq instituiu uma Comissão de Pós-Graduação

que, em 1969, indicou 47 centros de excelência. Esta atividade permaneceu por alguns anos

sendo posteriormente eliminada.

Mantendo suas características de apoio à pesquisa e à formação de recursos humanos,

o CNPq distribuiu conforme o Quadro III, suas dotações para bolsas e auxílios, nos anos de

1969-72.

Quadro III

Distribuição percentual de recursos para auxílios e bolsas concedidas pelo CNPq por

áreas de conhecimento.

Áreas

1969 1970 1971 1972

Agricultura 6,8 7,3 10,2 18,5

Biologia e C. Médicas 22,3 26,0 23,4 25,0

Ciências Sociais 2,0 2,3 3,7 2,9

Física e Astronomia 22,5 19,9 19,5 4,3

Ciência daTerra 9,6 10,4 9,4 8,5

Matemática 4,4 4,6 6,7 5,7

Química 11,1 10,4 9,1 8,0

Veterinária 2,5 2,6 1,8 4,8

Tecnologia 18,8 16,4 16,2 12,4

Total 100 100 100 100

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Fonte: Relatório de atividades do CNPq, 1969-72. Arquivo CNPq/Acervo MAST.

Podemos observar por este Quadro uma situação diferente daquele apresentado para a

década de 50 aonde:

Desde o início, o auxílio à pesquisa e a concessão de bolsas revelaram-se como as atividades

principais do Conselho, as quais se asseguravam a maior parcela de recursos. Tais recursos

distribuíam-se em função dos sete setores do conhecimento (mais o setor técnico) então

reconhecidos pelo órgão. (...). Para o período de 1951-56, observa-se a importância das dotações

concedidas às ciências biológicas. Esse fato explica-se provavelmente por ser esta uma das áreas

científicas de maior relevância até então. Destaca-se também a pesquisa física e química. Deve-

se dar especial atenção para o considerável decréscimo dos recursos destinados à física em 1956

(coincidentemente, neste ano é destituída a Comissão de Energia Atômica, criada pelo CNPq por

proposta do Almirante Álvaro Alberto), assim como para o constante decréscimo das dotações à

agronomia, que se recupera em 1955 (FONSECA, 2011, p. 8).

Destaca-se a crescente participação da agricultura e alguma distribuição entre os

demais setores. Neste período podemos notar quatro áreas que merecem destaque no CNPq:

biologia, agricultura, física, astronomia e tecnologia.

Observamos, também, que a área de tecnologia vem merecendo mais atenção no

período pós-68. “Os assuntos de C&T passaram a ser vistos como um campo específico de

intervenção do Estado e imputando a tecnologia como fator essencial de crescimento

econômico” (BRUNETTI, 1981, p. 12).

O Sistema Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (SNDCT), criado

em 1972, fica encarregado de:

1 – Em conjunto com o Ministério do Planejamento:

Realizar estudos relativos à formulação da política nacional de

desenvolvimento científico;

Incentivar, através de cooperação, a realização de pesquisas por sociedades de

economia mista e empresas do setor privado, bem como sua articulação com

órgãos de pesquisa governamentais.

2 – Em caráter privativo:

Acompanhar a execução dos programas, atividades ou projetos de pesquisas

decorrentes dos Planos de Desenvolvimento Científico e Tecnológico;

Coletar, analisar, armazenar e difundir dados de interesse para a ciência e

tecnologia;

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Cooperar financeiramente a pesquisa, dentro do seu orçamento de aplicações;

Avaliar periodicamente, os resultados obtidos através das políticas da área de

C&T, e sua orientação aos objetivos do governo.

Pode ser observada neste período a ampliação do leque de funções do CNPq, tendo

como consequência uma grande reorganização interna do órgão. Outro fato marcante é a

progressiva expansão da sua máquina burocrática para exercer tais funções.

A instituição do SNDCT representa um marco na história do CNPq. O sistema foi

reconhecido como um “instrumento de previsão, orientação e coordenação”, com a finalidade

de garantir “a atuação integrada do sistema nacional” (art. 4º, do Decreto 70.553 de 17.05.72),

da mesma forma que sua elaboração foi colocada sob responsabilidade do Ministério do

Planejamento, em articulação com o CNPq.

Ao mesmo tempo, o artigo 5º desse Decreto reconheceu o CNPq como “órgão central

do sistema”. Além de serem mantidas as atribuições descritas na Lei 4.533, de 08.12.64, e de

reforçar algumas dessas atribuições (trabalhos de documentação e informação e assistir

financeiramente à pesquisa), merece destaque, no Decreto nº. 70.553, a tarefa de, sempre em

conjunto com o Ministério do Planejamento, avaliar periodicamente a realização do programa

de C&T e também:

Realizar estudos relativos à formulação da Política Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico, compreendendo a definição de objetivos, princípios, diretrizes gerais, critérios e

prioridades tendo em vista a contribuição da ciência e tecnologia para o desenvolvimento

econômico e social do país7.

A coordenação do SNDCT deveria ser feita por meio de seu Conselho Científico e

Tecnológico, a partir de uma ação interativa com os demais integrantes do sistema.

Entretanto, segundo Albagli (1988):

Havia uma grande disparidade entre o desenho formal do SNDCT e a sua operacionalidade real,

devido ao fato de que a articulação interinstitucional não ultrapassava o plano normativo. Os

dispositivos dos vários decretos organizando o sistema não definem de forma clara o teor da

função de coordenação atribuída ao CNPq nem tampouco a relação entre o órgão diretamente

vinculado ao SNDCT e os órgão setoriais pertencentes ao sistema. (ALBAGLI, 1986, p. 37).

Ao que parece faltava força política do próprio CNPq dentro do aparato estatal como

órgão articulador do SNDCT. Consequência disto era o fato de que grande parte do orçamento

7 BRASIL. Leis, Decretos. Lei 70.553/72 de 17 de maio de 1972, art.5º,parágrafo I alínea “a”.

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nacional para C&T era destinado via órgãos subordinados aos diversos Ministérios, tais como

empresas estatais e fundações.

Embora em outras ocasiões já tivesse sido colocada a possibilidade de uma

coordenação das atividades de ciência e tecnologia, é nesse momento que a idéia toma força.

A partir daí o CNPq sofre grandes reformulações que vão culminar com a reforma de 1974. O

Conselho Nacional de Pesquisas passa a ser chamado de Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico, deixando de ser uma autarquia e passando a

condição de fundação. A sede do CNPq foi transferida do Rio de Janeiro para Brasília, aonde

permanece até os dias atuais. O Conselho Deliberativo foi extinto, e em seu lugar foi criado o

Conselho Científico e Tecnológico (CCT), um órgão consultivo de alto nível, associado à

Presidência do CNPq.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O atual sistema de apoio à pesquisa científica e tecnológica foi moldado ao longo da

década de 70 com a criação do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia (Decreto nº. 70.553

de 17/05/1972). A principal agência governamental da época era a Secretaria de Ciência e

Tecnologia, subordinada diretamente à Presidência da República e a qual se vinculava o

CNPq. Nesse período, o Conselho foi transferido da Presidência da República para o

Ministério do Planejamento, com a finalidade de aumentar sua atuação na área de tecnologia,

nos programas de intercâmbio internacional e informação científica.

O papel do CNPq, nesta época, é ampliado, seja como principal responsável pela

distribuição das bolsas de pesquisa dos programas de pós-graduação no país, seja como

formulador e executor da política cientifica e tecnológica nacional. A sua atuação no

aprofundamento institucional e aperfeiçoamento de seus mecanismos funcionais fornece

apoio inicialmente decisivo para a consolidação do projeto desenvolvimentista nacional.

Da observação dos quadros relativos ao acompanhamento da ação de fomento do

CNPq, constata-se que a distribuição de bolsas é extremamente irregular nesse período.

Apesar de detectar-se uma tendência ao crescimento a longo prazo, as distorções apresentadas

refletem-se não só no número de bolsas anuais, mas também na distribuição das dotações

segundo os setores do conhecimento. Os dados levantados evidenciam claramente a existência

de uma política de prioridade na concessão de bolsas, privilegiando as ciências médicas e

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biológicas e agronomia. A pesquisa tecnológica é apenas a terceira prioridade do órgão

relativa à concessão de bolsas.

Se não houve sucesso na articulação entre universidade, ciência, tecnologia e setor

produtivo, não foi tanto por falta de vontade política, mas pela incapacidade de reverter a

lógica de desenvolvimento do complexo industrial instalado no país. As empresas

multinacionais estavam presentes nos setores mais dinâmicos da economia, pois eram estes

que, ao se desenvolverem mais rapidamente, tinham mais necessidade de conquistar novos

mercados para manter seu ritmo de acumulação de capital. Assim, trouxeram para o Brasil as

tecnologias desenvolvidas em suas matrizes prontas ou quase prontas para uso, necessitando

de apenas algumas adaptações.

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5. Fontes:

5.1. Arquivo

Arquivo CNPq (acervo Museu de Astronomia e Ciências Afins/MCTI)

5.2. Obras citadas e consultadas

ALBAGLI, Sarita. Marcos institucionais do Conselho Nacional de Pesquisas. Rio de Janeiro:

Perspicillum ( Museu de Astronomia e Ciências Afins), 1 (Maio): 1-166, 1986.

____________ Ciência e estado no Brasil moderno: um estudo sobre o CNPq. Rio de

Janeiro: COPPE/UFRJ, 1988. [mimeo].

AZEVEDO, Thales. A evasão de talentos: desafio das desigualdades. Rio de Janeiro: Editora.

Paz e Terra, 1968.

BRUNETTI, José. CNPq: Um enteado da política oficial., Brasília, CNPq, 1981

BURGOS, Marcelo. Ciência na periferia: a luz sincontron brasileira. Juiz de Fora: EDUFJF,

1999.

CAGNI, Maria. A. A ação de fomento na história do CNPq, Brasília: CNPq, 1987.

CNPq. Relatório de Atividades do Conselho Nacional de Pesquisas. Rio de Janeiro: Ind.

Gráficas Tavares, 1965 a 1974.

CARVALHO, José Murilo. A política de ciência e tecnologia e seus mecanismos de decisão.

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Fazenda, 1979.

ERBER, Fábio Stéfano. Padrões de desenvolvimento e difusão de tecnologia. Texto para

discussão, nº 90. Rio de Janeiro: IEI/UFRJ, 1986.

FERNANDEZ, Ana Maria. A construção da ciência no Brasil, SBPC, Brasília: Ed. UnB,

1990.

FONSECA, Marcelo. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico –

CNPq e o ideal desenvolvimentista de JK. In: V Encontro de Economia Catarinense. Santa

Catarina. 28 e 29 de abril de 2011. Anais do Encontro. Santa Catarina: APEC, 2011. p. 01-19.

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HERMANN, Jennifer. Reformas, endividamento externo e o “milagre” econômico (1964-

1973). In: VILELA, André; GIAMBIAGI, Fábio; CASTRO, Lavínia Barros de Castro;

HERMANN, Jennifer (Orgs.). Economia brasileira contemporânea (1945-2004). São Paulo:

Campus, 2005.

JAGUARIBE, Ana Maria. A política tecnológica e sua articulação com a política econômica:

elementos para uma análise da ação do Estado. Rio de Janeiro, IEI/UFRJ, 1987. (Texto para

discussão, n. 115).

LEITE LOPES, José. Ciência e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1964.

MELO, Luiz Martins. Financiamento à inovação no Brasil: análise da aplicação dos recursos

do fundo nacional de desenvolvimento científico e tecnológico (FNDCT) e da financiadora de

estudos e projetos (FINEP) de 1967 a 2006. Revista Brasileira de Inovação, v. 8, p 87-120,

2009.

MOREL, Regina. Ciência e Estado: A política científica no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz,

1979.

OLIVEIRA, Daniel. Distorções da trajetória do financiamento à pesquisa. Revista Brasileira

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Companhia Editora Nacional, FINEP, 1979.

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2005.

5.3. Sites Consultados:

Centro de Memória do CNPq. Disponível em: <http://centrodememoria.cnpq.br/cmemoria-

index.html>. Acesso em: 06 jan. 2012.

Centro de Pesquisa e Documentação da História Contemporânea do Brasil. Disponível em:

<http://www.cpdoc.fgv.br>. Acesso em: 10 jan. 2011.